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C O N V I D A D O S : A c a d e m i a B r a s i l e i r a d e L e t r a s , M i s s e s c o m faixas, Banda
de I p a n e m a c o m J a g u a r , Escola de S a m b a v e n c e d o ra d o carnaval, Colégios
de Aplicação, Conservatórios, B a n d a d o C o l é g i o P e d r o II, P e d r o das
Flores, M e n i n o das Garrafas, T o r c i d a s u n i f o r m i z a d a s , Deputados e sena-
dores, I b r a h im Sued, Jacinto de T h o r m e s , Carlinhos de Oliveira, Nelson
Rodrigues, í n d i o s e p r o t e t o r e s de índios, Travestis, F ã - c l u b e da M a r l e n e e
E m i l i n h a , A s IO m a i s e l e g a n t e s , T u r i s t a s a m e r i c a n o s , C o r p o s d e p a z , C i r c o .
PRIMEIRA PARTE
"VIDA -1967
PAIXÃO
E
BANANA -1968
DO
TROPICALISMO"
CAETANO E GIL ( o f / )
— Somos compositores. Estamos aqui para realizar a primeira e
última manifestação conjunta de tudo que no ano de 67 e até hoje
recebeu o nome de tropicalismo foi uma tentativa crítica da cultura
brasileira através da utilização, como matéria de todas as tendências
e expressão dessa cultura. Para demonstrar a necessidade de criação
de uma cultura absolutamente nova. Por isso o tropicalismo é uma
fase crítica que se esgota quando cumpre o seu papel. Este programa
pretende mostrar p o r que sentimos essa necessidade, quand o ela
nos surgiu e de que modo daremos por concluída uma boa parte do
nosso trabalho. O tropicalismo está no fim. E apenas demos os p r i -
meiros passos de uma longa travessia.
TÉCNICA - Sobre toda esta seqüência deverá estar instalada uma série de
alto-falantes por todo o teatro, através dos quais se ouvem Villa-Lobos,
Missa Luba, Missa-Creoula etc.
CAMARA — Seqüências alternadas do hall de entrada e do interior do tea-
tro onde deverão estar colocadas inúmeras faixas como:
V A I QUE é MOLE
QUEM T E . V I U , QUEM TE V È
O PETRÓLEO É NOSSO
E AGORA, JOSÉ?
EM SI PLANTANDO TUDO DÁ
ORDEM E PROGRESSO
LOCUTOR
— Alô, alô seu Caetano, o tropicalismo vai entrar pelo cano?
CAETANO
— (Resposta)
GILBERTO FREIRE
— (Resposta)
JATOBÁ
— O tropicalismo não é confuso. E livre. Cada um diz o que bem
entende. E a democracia dos trópicos. O eclipse, o apocalipse, as
riquezas naturais, o berço de o u r o . . . A beleza cafona da alma brasi-
leira... Uma missa verde-amarela... O tropicalismo é urbe bandei-
ra. Vem com o grande elenco da Rádio Nacional. Com as terras e as
bananas em transe. Assistam ao direito de nascer e morrer do tropi-
calismo. O tropicalismo é a graça de Deus em sua casa. Em sua TV.
Assistam: está instaurado o tropicalismo na televisão brasileira. O
programa mais livre do Brasil.
(intervalo comercial)
SEGUNDA PARTE
—Corrente! Firme!
torq.uatdlia { 8 2 } d o l a d o de dentro
Os MUTANTES
— "Bonnie and Clyde .
Entra em seguida Bethânia.
Bethânia canta — "Era um garoto que como eu " e "Parque industrial".
No final entra Gil que canta Geléia geral" com discursos no meio.
Termina o número gritando.
GIL
— Fundi a cuca! Fundi a cuca!
Fundo musical discreto e sombrio. Entra Caetano e fala.
CAETANO
— Alô, alô pesquisadores do m u n d o particular do som, alô, alô
pescadores do som puro, como vai a minhoca? Alô, alô, o som pelo
som, não serve à música popular brasileira nem ao homem . O som
tem alternativas infinitas e eu escolho o que melhor serve para ferir,
saturar, finalizar, sorrir, comover, destruir. Eu escolho a tropica-
lista, que é mais pornográfica, livre e abrangente de todas. O som é
só para se conseguir as coisas, não é Gil?
Marcha fúnebre.
GIL
— O tropicalismo está quase morto. Perto das seduções da moda,
dos artifícios do tempo, da veleidade de ser o que não somos, ele
morre. Mas antes de velarmos este cadáver tropical, vamos prestar o
hino a todos os queridos tropicalistas de ontem, de hoje, de amanhã
e sempre, que são eles, vocês e nós. Maestro: 'Aquarela do Brasil."
A orquestra ataca "Aquarela do Brasil", que é cantada por todos os
participantes da cerimônia. Os atores seguram tabuletas com slogans. VAI
QUE É MOLE - AMO COM FÉ E ORGULHO - SEM ORDEM CADÊ PROGRESSO -
CRIANÇA. NÃO VEREI - REINA A MAIS PERFEITA ORDEM - no final os tambores
rufam. Silêncio. Entra música eletrônica. Transplante.
LOCUTOR
— Estamos assistindo neste m o m e n t o ao transplante do coração
do monumento da Tropicália, que vai falecer. O momento é de enor-
me tensão coletiva. A é o doador. Até o presente momento não pode-
mos informar quem será o receptor do coração tropicalista. Há notí-
cias de que será o PODERJOVEM. Mas por enquanto o coração restará
entregue a si mesmo, conservado numa solução de sangue, suor e
lágrimas.
O coração é colocado ritualmente no mapa da América do Sul.
Percussão. No instante em que os tambores param, Caetano e Gil se dis-
paramentam, ficando com roupas comuns.
GIL
— Você quase cai, h e i n ? Pensou que a onda era mesmo tropica-
lista e já tinha plantado bananeira na sala de visita...
CAETANO
— Não vamos sair daqui com alegria n e n h u m a . . . A hora É de
queimar toda a alegria. Queime, baby. Q u e i m e . ..
CORO
— Abaixo o tropicalismo! Viva o tropicalismo!
Entra um canhão em cena, a orquestra toca introdução do Miserere".
Gil canta "Miserere nobis ".
Slide em sobreposição com nome da obra e do autor. No final, quan-
do o canhão dispara, o monumento cai.
CORO
— Viva o tropicalismo! Abaixo o tropicalismo!
Caetano canta "E proibido proibir ". No final, desce com os atores e
comanda a destruição, enquanto Othon Bastos, de místico, faz a pregação
sobre uma escada Magirus, que sobe pelo telhado.
OTHON
— Q u e i m e m suas alegrias. Rasguem, rasguem. Tragam alegria
nova para o próximo programa. Nada de guardar passado, levem o
cenário para casa. Façam barracas. Levem os quadros para sua sala de
visitas. Os slogans para a rua. Não deixem nada de coisa n e n h u m a .
Somente os nossos patrocinadores. Livrem a cara dos nossos patro-
cinadores. Levem tudo para casa. Há de chover uma grande chuva de
estrelas e aí será o fim do m u n d o . Em 1980 se apagarão as luzes e em