“Aqueles que se aproximam dos mistérios da Iniciação e aqueles que os ignoram, não
terão, quando de sua estadia no mundo das sombras, o mesmo destino.”
- Iamblichus
Irmão, irei lhe transmitir a Iniciação de acordo com nosso Mestre, Louis Claude de Saint
Martin, tal como a recebi de meu Iniciador, o qual, do mesmo modo, a recebeu, da forma
que vem sendo transmitida, desde o próprio Louis Claude de Saint Martin, há mais de
150 anos. Mas, primeiro, eu vos convido, tal como convido aos meus irmãos aqui
presentes, a unir-se a mim na santificação deste quarto, para que este se torne, na dupla
virtude da Palavra e do Verbo, o Templo Particular (do Latim particularis: Uma pequena
parte) para a celebração desta Iniciação tradicional. Deste modo, tal como nossos
mestres formalmente adotaram, permita-nos manifestar aos “Símbolos”.
Dezembro de 1940
A neve cobre Paris. Neste anoitecer, quando o pálido Sol se põe num avermelhado
horizonte, alguns homens estão reunidos em um quarto no andar superior de um bloco
de apartamentos no bairro latino. Trata-se de uma velha construção, do séc. XVIII, com
uma monumental escadaria de madeira. Lá fora, nas ruas, quartos, cafés, em toda parte,
o vitorioso Exército Alemão. Também, por toda parte, estão os agentes do Governo de
Vichy. Os temidos policiais, em seu reino, saem à caça das Sociedades Secretas e dos
Iluminados, encerrando as suas atividades e fazendo chover prisões sobre os fora-da-lei.
Mas aqui é um outro mundo. Em uma mesa, coberta com uma tripla toalha, preta, branca
e vermelha, simbolizando aos Três Mundos, uma espada espalha o seu brilho sobre o
Evangelho de São João. Por trás, sob a luz tremeluzente de três velas, dispostas em
triângulo, parcialmente encoberta pela fumaça perfumada, a imprecisa silhueta do
Iniciador, com o incensário nas mãos. Ele traça no espaço, em um gesto seguro, o Sinal
misterioso. Mais adiante, queimando solitária, uma outra vela. Diante da base do seu
castiçal, um cordão e uma máscara.
Ao Chamado da Palavra todos vieram. Apesar dos séculos eles aí estão, leais ao
encontro mágico: Henry Kunrath, o autor de “O Anfiteatro da Eterna Sabedoria”, Seton
o prestigioso “cosmopolita”, morto nos instrumentos de tortura do Eleitor da Baviera,
Jacob Boehme, o sapateiro iluminado, Robert Fludd, com a sua prodigiosa inteligência,
morto no calabouço da Inquisição, Francis Bacon, o qual alguns acreditam que era o
Grande Shakespeare, Martinez de Pasqually, o “mestre” que podia evocar os anjos,
Claude de Saint Martin, o porta-voz do Filósofo Desconhecido, Willermoz, agente leal
de seu mestre Martinez, e todos os outros cujos nomes me escapam e que, sendo nobres,
grandes senhores ou pessoas comuns, sob o longo manto negro do peregrino, ou peruca
coberta de pó, estiveram nos quatro cantos da velha Europa, durante o libertador séc.
XVIII, vivendo para realizar o “Grande Desígnio” da Rosa+Cruz, o misterioso eco do
“Mundo Perdido”.
Agora, dominando todas estas sombras, um outro se ergue, passando para o Oratório
como uma grande respiração do plano Espiritual, a verdadeira alma das Fraternidades!
Eis que tão misteriosa quanto inspiradora, inumana mas divina, irreconhecível mas
iluminadora, aqui passa a sombra de Elias Artista.
Quando a noite finalmente cai, Paris está envolta em um silencioso manto branco. Neva
continuamente e o frio se torna cada vez mais intenso. Nas ruas, nos quartos, por toda
parte o Exército Alemão, vitorioso. E também por toda parte, dúvidas e vigilância,
questionamentos e fechamentos, fechamentos e prisões. Através dos séculos, em
desconhecidas e violentas represálias, os reféns caíram, fuzilados. Em alguns meses
dolorosos, os primeiros comboios partirão dos campos de concentração para os trabalhos
forçados no fronte Leste, donde ninguém retornará. E, como no ensangüentado período
da Idade Média, o terror reina sobre os Iluminados.
Dezembro de 1940: A última frase do ritual dos “iniciados de Saint Martin” respondeu
para nós!