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Meister Eckhart e Dogen

Zenji
A VIRGEM
E A MULHER DE PEDRA

R Y O TA N T O K U D A
SUMÁRIO

Primeira Palestra -1) A noite e o silêncio........................ 3


-2) Subiu na montanha........................7
Segunda Palestra -1) Quando era de noite......................13

Terceira Palestra -1) A luz e a escuridão......................21

Quarta Palestra- 1) A luz e a escuridão(2° Parte).........29

Quinta Palestra -1) No meio da noite............................33

Sexta Palestra -1) Era na noite.....................................39

Sétima Palestra-1) A ovelha e as virgens ......................47


-2) O Pai e o Filho.................................
Oitava Palestra-1) Uma festa de noite ..........................53

Textos da Bíblia ........................................................63

Glossário....................................................................71
Este livro é uma coletânea de oito palestras proferidas pelo Mestre Zen
Ryotan Tokuda no Instituto Kamalashila, Centro de Budismo Tibetano, (próximo à
cidade de Bönn, Alemanha) durante o Sesshin (retiro de meditação) do Inverno de
1989.

A VIRGEM E A MULHER DE PEDRA- 1) A NOITE E O SILÊNCIO

1. A noite e o silêncio

Mestre Dogen diz: “O monge Fuyodokai do Monte Taiyo disse em certa


ocasião a uma congregação de monges: ‘O fato é que as montanhas verdes
caminham sempre, enquanto a mulher de pedra dá a luz durante a noite’.”
(Shobogenzo, Capítulo 62, Sansuikyo, A Escritura das Montanhas e Águas).

A mulher de pedra significa uma mulher infecunda; ou uma imagem de uma


mulher esculpida na pedra. Mas esta mulher dá a luz a uma criança à noite.

Meister Eckhart diz: “Eu tomei primeiramente esta citação dos Evangelhos
em Latim, e significa o seguinte: ‘Nosso Senhor Jesus Cristo foi a uma cidadela
fortificada e ali foi recebido por uma virgem, que era mulher’.”
Esta história consta no Evangelho de São Lucas- cap. 10, vers.38. Mas a
palavra virgem não aparece no Evangelho. Meister Eckhart colocou sua própria
idéia na interpretação. Muitas vezes é assim, ele muda as palavras e as usa
livremente para dar seu esclarecimento. Ele põe muito peso nas palavras, cujo
significado ele muda, por assim dizer, para sua própria compreensão.

É interessante notar que Mestre Dogen também assim procedia com relação a
Sutras e Koans e os interpretava totalmente diferente. Importante é em todo caso,
tocar a origem, as bases dos dois grandes mestres, a partir das quais eles proferiram
as suas palavras.

Meister Eckhart diz que, aquela que recepcionou Jesus, era uma virgem e ao
mesmo tempo uma senhora ou uma mulher. Este é um paradoxo: como podemos ser
virgem e mulher ao mesmo tempo?

Tanto a virgem como a mulher de pedra, ambas não podem ganhar uma
criança, mas à noite elas podem ter uma criança. Por quê?

Neste Sesshin eu gostaria de falar sobre esta citada noite. A mulher de pedra
significa a verdade e a criança significa todas as coisas deste mundo. Ambos, mãe e
filho, no mundo absoluto, de pronto tornam-se um. Uma mulher de pedra dá a luz a
uma criança à noite.

Meister Eckhart não fala em noite, ele apenas diz que uma virgem, que era
mulher, recebeu Jesus.

Há 28 anos comecei a estudar o Budismo, especialmente o Zen. Ao mesmo


tempo comecei a estudar o silêncio humano. O que significa o silêncio para nós,
criaturas humanas? Eu comecei a dar uma olhada nos livros religiosos, filosóficos e
literários atrás de palavras sobre o silêncio. No Oriente encontramos no Budismo
muitos tipos de silêncio. No Ocidente nós podemos encontrar principalmente no
misticismo cristão diversos tipos de silêncio.

A noite e o silêncio são para mim como o Nirvana - Paz e Descanso.

A caligrafia no Japão da palavra silêncio é composta de duas partes: uma parte


significa preto e a outra cachorro. Verifiquei por que estas duas palavras juntas
significam silêncio. No dicionário etimológico consta que, numa noite escura, um
cachorro preto corre atrás de um homem, simbolizando o silêncio. Numa noite
escura nós não podemos ver, e um cachorro preto, que corre atrás de um homem
numa noite escura, ambos não podem ser reconhecidos. Nós não vemos nada, mas
algum movimento é perceptível. Quando alguém guarda silêncio, isto traz um
significado em si. Buda disse: para nós, duas coisas são importantes: uma é o
sagrado silêncio e a outra é o nosso discurso sobre o Dharma. Este sagrado silêncio
é Zazen, um profundo Zazen, talvez a segunda etapa do mergulho dentro de nós
mesmos.

No princípio sentamos e sentimos dores ou no verão somos distraídos pelos


mosquitos. Isto ainda não é Zazen. Quando aprofundarmos nosso Zazen, nós
entramos mais em contato com a nossa origem. Então o nosso Zazen não mais será
interrompido pelas dores, pelos mosquitos ou ruídos perturbadores. Este é o sagrado
silêncio do Zazen. Neste momento sentimos uma espécie de felicidade, isto não é o
sentir da felicidade deste mundo, mas a felicidade de entrar no mundo do Dharma.

Neste Sesshin vocês podem experimentar esta felicidade e absorvê-la pelo


corpo e pelas sensações. É muito importante. Em cada livro sobre Zen é explicado
que a primeira exigência para isso é a postura correta que as costas estejam retas e a
respiração esteja tranqüila. Depois da postura, a respiração é a mais importante. A
longa expiração (para fora) ocorre como em cima da ponta de um triângulo. Mas a
expiração não termina na ponta do triângulo, mas continua abaixo da ponta, e este
alcance para a concentração no Zazen é fundamental.

No Shikantaza, simplesmente sentar, nós não precisamos de nenhum esforço


especial, mas nós precisamos como base esta concentração.

Antes de Gautama Sidharta se tornar o Buda, quando ele ainda era um


príncipe, ele estava sentado embaixo de uma árvore em meditação. Um dia ele
alcançou este estado de sagrado silêncio, e ele se sentiu muito bem e muito feliz. O
Sutra conta que a sombra da árvore na qual ele estava sentado, não se movimentou
para frente. Em todas as árvores, as respectivas sombras mudaram de lugar, mas a
árvore do Sidharta conservou a sua sombra sobre ele. Este não é um milagre, porém
uma expressão do Sutra para a importância daquele momento, aquele sagrado
momento. Seu pai, o rei Sudhodana, quando viu aquilo, reverenciou
espontaneamente seu próprio filho. Mais tarde, quando o Buda entrou na vida sem
domicílio e praticou muitos exercícios ascéticos que somente o levaram para
maiores aflições, ele se lembrou novamente daquele momento e pensou:
“Provavelmente é aquela meditação, que no início me fez tão feliz, que é o
Caminho para a grande realização”. Como um pressentimento, desceu a montanha
da sua prática ascética.

Importante é que a mente não fique sentada como um gato amarrado numa
pensão de animais, que todo infeliz estica o pescoço para fora da coleira, mas não
consegue sair. Vocês devem procurar se concentrar no ponto central do corpo e
deixar todas as idéias e pensamentos entrar com a expiração neste ponto, e
conservar a concentração neste ponto e cuidar do tempo. E este é então o sagrado
silêncio. E o silêncio é então como o cachorro preto, que corre numa noite escura.
Após este silêncio podemos nos aprofundar ainda mais e alcançarmos então uma
forma de felicidade, e tornarmos Sunya (o vazio), a base de nossa inteira existência.
O sagrado silêncio é por assim dizer a primeira verdadeira experiência do Zazen.

Mestre Hakuin disse: “Na noite escura quando ouvimos a voz do corvo
que não canta, temos saudades de nossos pais antes que tivéssemos nascido.”

Na noite escura um corvo negro, dois semelhantes, e assim nós nada


podemos ver. E a voz do corvo, que canta sem cantar, como nós a podemos ouvir?
Mas quando nós conseguimos ouvir esta voz, então nós teremos saudades da época
de antes de termos nascido. Por favor lembrem-se disso.

Meister Eckhart disse: “Deve necessariamente ser virgem a pessoa que


recebeu Jesus. ‘Virgem’ significa aquele que é vazio de imagens formadas a
partir do exterior, tão vazio como aquela época em que esta pessoa ainda não
era.

Se eu fosse de mente tão abrangente que todas as imagens, que todas as


pessoas até agora assimilaram e que elas estivessem em minha mente, mais
aquelas que tem Deus dentro de si, mas que eu fosse livre de qualquer ligação
egoísta delas, que eu não tivesse me apegado a nada com relação no que elas
fazem ou deixam de fazer, mas que eu estivesse muito mais livre neste agora-
presente, pela mais querida vontade de Deus, atendendo ao seu desejo sem
omissão, realmente assim eu seria virgem sem embaraço, através de todas as
imagens, tão seguro como eu era, quando ainda não era.

Assim como Jesus é vazio, livre e compreensivo em si mesmo, como os


mestres dizem, só a semelhança é a base para uma união, por isso a pessoa
precisa ser compreensivo para receber o Jesus compreensivo.

Mas se a pessoa fosse continuamente virgem, nenhum fruto viria dele. Se a


pessoa deve ser frutífera, então é necessário que ela seja mulher. Mulher é o
nome mais nobre que podemos acrescentar a uma alma, e é muito mais nobre
do que o nome de virgem. Que a pessoa receba Deus em si, é bom, e nesta
recepção ela é virgem. Mas que Deus se torne frutífero dentro da pessoa, isto é
melhor, porque se tornar frutífero, isto já é gratidão para o fim. E lá está o
espírito mulher na renascente gratidão, onde ele renasce Jesus no coração
paternal de Deus.”

Meister Eckhart diz aqui que virgem significa pureza. Jesus é muito puro. E
aquele que quiser receber Jesus precisa ser muito puro. E por isso é dito que
precisamos ser virgens, porque pureza atrai pureza. Somente uma pessoa muito pura
pode receber Jesus Cristo. Este é o primeiro significado. Na Bíblia muitas vezes
acontece que Jesus foi recebido por alguém, quando ele chegava a uma cidade.
Meister Eckhart todavia interpreta este acontecimento mais espiritualmente. A
cidade na qual Jesus foi recebido por alguém é interpretada pelo Meister Eckhart
como a alma. Se nós estivermos preparados para isso, então podemos recepcionar
Jesus em nossa alma, nosso espírito. Como podemos preparar a nossa alma para que
ela possa receber Jesus? Isto aponta para a noite, precisa acontecer durante a noite.

São João da Cruz cita muitos tipos de noites na “Subida do Monte Carmelo” e
“Noite Escura”. A “Subida do Monte Carmelo” tem três partes: a primeira parte
trata da purificação de todos tipos de desejos ligados com sentidos. Por isto se
chama “noite dos sentidos”. A segunda e terceira partes tratam “a noite do espírito”
como a noite do intelecto, a noite das memórias e a noite da vontade. Passar através
de muitos tipos de noite significa o processo de purificação para preparar a completa
união mística com Deus. Quando a alma aproxima-se de Deus ela mergulha dentro
da “escuridão de Deus”, que é a moradia de Deus. Assim, a “noite escura” é uma
experiência de alma de absoluta transcendência de Deus. Aqui também lembra
“escuridão de Deus” de Gregório de Nyssa originada com Filão de Alexandria e
passando por Gregório de Nyssa e que foi transmitida até Dionísio Areopagita. Mas
hoje não vamos entrar dentro deste assunto. Deixa para outra ocasião.

No Zazengi diz o Mestre Dogen: “Não pensem nem no bem nem no mal;
não lidem nem com o correto nem com o errado. Detenham as ondas da mente,
intelecto e consciência; parem os cálculos do pensamento, idéias e percepções.
Não tentem se tornar um Buda através de sentar em meditação.” Significa que
ficamos totalmente pobres, não possuímos mais nada e nos tornamos o próprio
vazio. Quando não temos nada, temos o vazio Sunya. Neste mesmo momento
estamos livres de todo tipo de imagem e concepções. Então somos puros, no estado
como estávamos antes de nascer. Neste momento podemos ouvir a voz do corvo, sem
cantar.

A próxima parte é importante, quando se fala da virgem que simultaneamente


era mulher. A virgem é pura e ela pode receber, mas ela não está em situação de
conceber uma criança. Muitas religiões procuram por êxtase e estão satisfeitas com
esta procura. Mas a vida Zen é um pouco diferente, primeiramente precisamos de
uma espécie de conhecimento, mas precisamos viver este conhecimento no nosso
dia-a-dia.

Existe um texto no Zen muito famoso, chama-se o Sandokai. San significa


verdade; Do todas as coisas do mundo e Kai quer dizer que os dois se fundiram e
formam uma unidade. Simplesmente só a verdade e o silêncio em si próprios não
tem para nós nenhum significado. Ambos precisam neste mundo ser vividos. Isto já
não quer dizer mais a virgem, mas mãe e criança, que formam uma unidade.

Meister Eckhart fala do nascimento do Filho de Deus em nossa alma. No


Evangelho de S.João fala-se que no princípio havia a palavra, e a palavra estava com
Deus. Durante a noite a palavra de Deus desceu dos céus. Para ouvir a palavra de
Deus, nós precisamos estar preparados. Neste caso existem obstáculos: a
multiplicidade, a corporalidade e a temporalidade. Isto quer dizer que a dualidade
produz diversificação e separação, mas nós precisamos da unidade, precisamos nos
tornar completamente unos, uma unidade. Para essa unidade é necessário ser noite.

2. Subiu na Montanha

Meister Eckhart disse: “Nós lemos no evangelho que Nosso Senhor evitou
a multidão e subiu a montanha. Então ele abriu sua boca e os ensinou sobre o
reino de Deus.”(Mat. 5:1) Aqui é dito que ele deixou o rebanho, o qual significa a
diversidade e subiu a montanha: Por que vocês estão agora aqui, por que vocês não
estão na cidade? Vocês se separaram de seus pais, amigos e conhecidos e vieram
sozinhos para cá, aqui está a montanha. O instituto Kamalashila é a montanha. E
vocês subiram a montanha.

Vocês já ouviram a voz de Deus? Talvez agora ainda não, mas talvez hoje à
noite. Nós precisamos ainda um pouco de tempo para nos prepararmos, isto significa
um processo. Primeiro nós precisamos nos preparar, isto quer dizer que nós
precisamos cortar todas as nossas relações exteriores. Segundo - nós precisamos
preparar o nosso ambiente. O ambiente aqui é muito bom. Isto aqui é um perfeito
centro de meditação. Porém isto ainda não é o bastante. O problema somos nós
próprios. Algumas vezes temos o verdadeiro silêncio a nossa volta, e então o
silêncio é tão barulhento, que não conseguimos dormir à noite, assim chegamos a
ter saudade dos ruídos e barulhos da cidade grande.

Então o ambiente não é suficiente, nós precisamos manter o silêncio dentro de


nós mesmos, nossa própria natureza precisa ser silenciosa, para isso precisamos
controlar nossos desejos e cobiças. Existem cinco tipos de desejo: O primeiro é o
desejo de comer; segundo é o desejo de dormir. Para continuar a viver, precisamos
comer e dormir, mas demais também não é bom, por isso precisamos controlar
ambos. O terceiro é o desejo por sexo, que é um campo importante e sagrado. Uma
relação sexual pode nos dar muito prazer, mas muitas vezes depois provoca
infelicidade. Quando comemos e dormimos estamos à sós. Na sexualidade, no
entanto, estamos sempre envolvidos com um companheiro, por isso precisamos
controlar o sexo. O quarto é o desejo por coisas materiais e o quinto é o desejo por
status e fama. Estes cinco tipos de desejos estão ligados aos cinco órgãos dos
sentidos, os olhos, os ouvidos, a boca, o nariz e o tato. Através do controle destes
cinco sentidos podemos preparar o nosso ambiente. E então podemos de fato nos
ocupar com o corpo e a alma.

A prática do Zazen significa tornar-se Buda. E tornar-se Buda significa que


cada célula, toda a carne e a pele tornam-se Buda através do Zazen. No início temos
sempre dores, isto é natural, é o processo inicial. Nosso corpo é deformado, por isso
temos no começo tais dificuldades. Depois vem a respiração. Uma respiração lenta,
profunda e tranqüila. E se nós assim respiramos, então esta é a respiração de Buda.
A respiração está em direta ligação com nossas emoções e estados de espírito.
Quando estamos muito zangados ou muito nervosos, então temos uma respiração
ofegante. Quando choramos, temos uma respiração soluçante. Muito lenta, muito
calma, e profunda, esta é a respiração de Buda. Façam-na! Se vocês o conseguirem,
vocês serão Buda. “Buda, eu?” “Sim”, “Eu, não”, “Sim, agora, você é Buda”
“Buda sem auréola”. A respiração está em relação direta com o espírito e quando a
respiração está calma e pacífica, então o espírito também está calmo e pacífico.

“Moisés foi para dentro de uma nuvem e subindo na montanha ali ele
encontrou a Deus e na escuridão ele achou a verdadeira luz.” (Ex. 20:21)
Moisés subiu na montanha e entrou na nuvem. Lá ele enxergou nada, mas nesta
escuridão ele achou a verdadeira luz. Subindo a montanha ele achou Deus. E assim
nós precisamos subir a montanha. Eu disse que o Instituto Kamalashila é uma
montanha e aqui nós precisamos subir a montanha e aqui precisamos ouvir a voz de
Deus e aqui achar a Deus. Para nós, achar Deus significa achar a nós próprios.
Achar-se a si próprios. Seu verdadeiro Eu, que existia antes de nascer. Nós nos
lembramos de um Koan do sexto Patriarca. “Quando não pensamos nem no bem e
nem no mal, qual é então a nossa face original?” Quando nascemos nós já temos
o pecado original. Nós já somos maculados, por isso precisamos voltar à origem,
antes do tempo, quando nasceram nosso pai e mãe. Este estado se chama corpo de
Buda cósmico. Para isso precisamos de prática, naturalmente também compreensão
e teoria. Mas isto não é ainda suficiente, por isso não devemos somente mudar corpo
e espírito, mas sim nosso subconsciente, o campo desconhecido. Neste campo
desconhecido temos muitos tipos de Karma em estoque.

No Sansuikyo Mestre Dogen diz que há quatro tipos de água. Para nós,água é
água, desde que possamos bebê-la. Para os pobres demônios famintos ela não é
potável. Para eles água é pus com sangue e fezes. Para os peixes a água é como um
palácio, e o lar, o espaço vital. Se dissermos para o peixe: a sua casa flui, então o
peixe diria: “minha casa não flui”. Para anjos e seres celestiais a água é como
espelho ou pedras preciosas brilhantes. Depende pois de nosso estado de
consciência, de que modo nós vemos as coisas. Mesmo que todos estejam vendo a
mesma coisa, cada um tem uma concepção diferente. Por isso devemos nos purificar,
e neste momento nós achamos Deus.

“Ele subiu a montanha. Isto quer dizer que Deus com isto mostra a
sublimidade e doçura de Sua natureza, da qual deve sair fora tudo aquilo que é
criatura”

Subir a montanha significa sublimidade, refinamento. Este estado é muito


elevado e esta prática é muito dolorosa, como galgar uma montanha não é muito
fácil. Trata-se de uma montanha muito alta. Assim é a prática e o caminho do Zen.
Muitas vezes este caminho muito escarpado não é para todos. Precisamos para isso
tomar uma clara decisão. Linha reta, sem rodeios e as vezes também muito frio e
estamos muito sozinhos. Muitas vezes ficamos primeiro com medo de estar sozinho,
mas depois que nos confrontamos, nos sentimos bem. Quando estamos sozinhos,
nos sentimos muito bem com a solidão. Um Mestre Zen disse que quando estamos a
sós sentados no Zazen, somos tão somente um e isto não é pouco. Quando sentamos
em Zazen com trezentas ou até mil pessoas, não é demais. Isto significa que quando
simplesmente sentamos então estamos no centro do universo e todo o universo é
simplesmente nós mesmos. Esta é a maravilha do zazen. Cada um é o centro do
universo. E todos os outros são uma parte de nós próprios. Possivelmente vocês
agora entendem o significado de montanha. Para um mosteiro Zen sempre existem
dois tipos de nomes, como também para os monges. Mestre Fuyodokai significa
Dokai da montanha Fuyo. Todo monge Zen tem dois tipos de nome, o nome do
Dharma e o nome do caminho da prática. Da mesma maneira cada templo tem dois
nomes, o nome do templo e o nome da montanha. Antigamente todos os templos e
mosteiros estavam nas montanhas. Também hoje cada templo na cidade grande tem
dois nomes: o nome do templo e o nome da montanha, porque o templo é ele próprio
uma montanha, o templo é a própria montanha. E aqui está a montanha Kamalashila.
Nós estamos em cima da montanha e as nuvens estão embaixo de nós. Quando a
montanha é muito alta, as nuvens estão abaixo de nós e nós estamos sozinhos aqui.
E estar sozinho significa que somos o centro do universo e o universo todo somos
nós, além disso não existe nada.

Por favor, experimente no próximo Zazen: vocês são o centro do universo e


tudo está no universo, o universo interior são só vocês próprios. Esta é a montanha
do Dharma.

“Há muitos casos em que um imperador visitou uma montanha para


reverenciar sábios e buscar conselhos dos religiosos. Nessas ocasiões eles
respeitam os sábios como seus mestres e prostram-se na frente deles, costumes
sociais e hierarquias não são obrigatórios. Indiferente quão grande seja a
virtude e o poder do imperador, sábios não se comovem com isso. Esses, que
vivem nas montanhas, estão completamente separados da sociedade.

Uma vez o imperador Ko, da China, visitou o ermitão Kosei na montanha


Kodo. Ele se aproximou dele de joelhos e curvou a sua cabeça até o chão, para
mostrar ao ermitão a sua humildade.

Shakyamuni deixou o palácio de seu pai e foi para as montanhas. O rei


não alimentou ódio, não ficou irritado sobre o comportamento de seu filho e não
discutiu a honestidade daqueles que iam até as montanhas para ensinar o
príncipe.

As doze práticas rigorosas de Shakyamuni realizaram-se quase totalmente


nas montanhas. Nós devemos saber que as montanhas não pertencem ao mundo
dos deuses e nem ao mundo dos homens. Não procure se aproximar das
montanhas, enquanto você usar somente sua limitada capacidade humana”,
assim dizia Mestre Dogen.

Existem muitas histórias sobre mestres, como por exemplo a história de um


mestre. Ele vivia nas montanhas e o imperador queria convidá-lo para o seu palácio.
Ele mandou um mensageiro com o seguinte convite: “Por favor venha a mim no
palácio”. Mas ele não foi; três vezes ele foi convidado, mas o mestre não foi lá.
Quando um ministro foi até a montanha para ir buscá-lo, ele encontrou um homem
pobre, que em um fogo de folhas secas cozinhava batatas doces. Ele estava de
cócoras na frente do fogo e assoprava com bochechas cheias para dentro das chamas
para aumentá-las. Seu nariz corria. O Ministro falou: “Mestre, Mestre!” “Espere,
que eu estou ocupado”, disse o mestre e ele continuava assoprando o fogo. O
imperador mudou de idéia de convidá-lo ao palácio mas com muito respeito e
saudades ele o imperador mandou plantar batata doce na montanha para que não
faltasse batata doce para o Mestre. O caso do Mestre Yakusan Iguen também o
imperador enviou um ministro o convidando para a corte, mas o Mestre não ligou
com isto. O ministro ficou aborrecido e disse: “Este Mestre não é tão formidável,
eu vou me embora.” Quando ele se virou para ir embora, o Mestre Yakusan o
chamou: “Ministro.” “Sim,” disse o Ministro, “Por que você respeita seus ouvidos,
mas não seus olhos?” Vocês entendem? Quando o ministro o olhou, ele pensou :
“Ah, ele não é tão importante” Quando ele ouviu a palavra “Ministro”, ele
respondeu “Sim”, isto significa que seus ouvidos reagiram sem dúvida. Neste
momento o ministro entendeu um pouco, e ele voltou para o Mestre Yakusan e
perguntou: “Qual é o caminho do Buda?” isto significa: o que é Buda? E Yakusan
respondeu: “As nuvens estão no céu e a água está aqui na garrafa.” Após isso o
ministro se tornou um discípulo e começaram a praticar.

Este exemplo do Mestre Yakusan é só um de muitos. Buda Shakyamuni deixou


o seu palácio e foi para as montanhas. Moisés foi para a montanha e Jesus também e
agora nós aqui também vemos a montanha.

Por isso, quem quiser receber o ensinamento de Deus, precisa subir a


montanha.

Com a prática do Zazen vocês podem receber o ensinamento de Deus, minha


palestra aqui não é tão importante. Com Zazen vocês podem diretamente encontrar a
Deus.
A VIRGEM E A MULHER DE PEDRA- QUANDO ERA DE NOITE
Segunda Palestra

N o Koan desta manhã constava: Uma mulher de pedra teve uma criança
durante a noite. Mestre Dogen fala a respeito: Isto significa a Iluminação. Eu
verifiquei o que o Meister Eckhart fala da noite e achei muitos materiais a respeito
disto.

Nós vamos agora entrar na escuridão da noite.

Jacó, o Patriarca foi a um certo lugar quando era de noite e tendo pego
algumas pedras que ali se encontravam, as colocou debaixo da cabeça e em
seguida, descansou. (Gen. 28:11).

Aqui é dito que Jacó, o patriarca, chegou a um lugar, quando já era tarde.
Aqui é dito à tarde, mas para mim são tarde e noite, neste caso, com a mesma
significação.
E ele pegou algumas pedras que estavam naquele lugar e as tendo colocado
embaixo da cabeça, descansou. Jacó, o patriarca, chegou a um lugar, talvez este
lugar seja uma montanha. Talvez ele tenha subido uma montanha, e anoiteceu. No
início da noite, ele procurou um lugar para descansar e deitou-se.

Hoje de manhã eu falei que quem quer ouvir a voz de Deus, deve subir a
montanha, e ao mesmo tempo, estar na escuridão da noite. Isto significa,
simplesmente, quietude, paz, descanso, que para nós quer dizer meditação: Zazen.
Mestre Dogen dizia: “Nossa escola não é a escola Zen e também não a escola
Soto-Zen, porém a verdadeira transmissão do Dharma de Buda.”

Todavia, existem hoje mais dois tipos de escolas Zen: Rinzai e Soto. A Escola
Rinzai, nós chamamos Kanna-Zen, que significa praticar com Koans ou com antigos
acontecimentos, que são transmitidos, que foram acrescentados à história do Zen.
Soto nós chamamos de Mokusho-Zen, significa o Zen do silêncio e da luz auto-
resplandescente. Silêncio, escuridão da noite esta é nossa imagem.

Jacó chegou a um lugar e descansou. Todos precisam de descanso. Como diz a


Bíblia: nós não vivemos só de pão. Algumas pessoas têm necessidade de algo mais:
arte, música, pintura e não querem, como os animais, só pensar em se alimentar,
exatamente como as cabras. Algumas pessoas precisam de paz, isto significa
religião, mas não no sentido de ordem religiosa, ou de comunidade religiosa.

Zazen é uma pequena cabana no cume de uma montanha. Sentado lá podemos


ver panoramicamente tudo o que acontece na cidade, até mesmo o passado, o
presente e o futuro. Poucas pessoas precisam de religião. Quem são essas pessoas?
Estas pessoas , são pessoas que se dirigem para a morte, que falecem. Todos
precisam morrer, mas nem todos pressentem a vinda da morte. Os que não
pressentem a vinda da morte, são os ignorantes ou os cheios de orgulho. Quando
somos jovens, temos ainda um certo orgulho. Nos sentimos fortes e não entendemos
o sofrimento da doença, do envelhecimento, dos diversos tipos de dores, porque não
as conhecemos ainda. Mas isto não quer dizer que possamos evitá-los.

No momento, aqui no Kamalashila, um outro grupo estuda sobre


Avalokitesvara, que em japonês de Kannon. Um dia um amigo meu que era
praticante Zen me perguntou o que era Kannon, e eu respondi: “ Kannon é o
Bodhisattva da grande compaixão, e ele sabe tudo”. Devido a isso um outro amigo
meu, que também praticava Zen há muito tempo, falou: “Então ele sabe também
que você vai morrer amanhã?” Estas palavras “que você vai morrer amanhã” foram
como uma grande pedra, que foi jogada em cima de mim. Eu precisei pensar sobre o
isto que foi dito. Amanhã é sempre amanhã, mas vamos morrer amanhã.

Quando estamos sentados no topo de uma montanha, podemos abarcar com um


olhar, durante 30 minutos, até que saia de nosso ângulo de visão, um automóvel que
corre a 200 Km/hora, na via expressa. Todos correm e correm em alta velocidade,
por que? Aonde querem essas pessoas chegar? Quando somos orgulhosos de nossa
juventude e saúde, e não sentimos nada, tudo é bom. Mas outros sentem de maneira
diferente, eles sentem que não há segurança nenhuma.

No Budismo dirigjimos a atenção para um mundo que parece ser uma casa em
chamas. Todos, em competição, correm uns contra os outros, para ganhar dinheiro e
poder e assim por diante, mas não estamos contentes com esta correria. Quem tem
pouco dinheiro, sente-se triste. Quem juntou dinheiro também não está contente, e
precisa acumular cada vez mais. Possivelmente, qualquer um pode querer ter grande
sucesso nos negócios. Quando consegue, para onde ele segue adiante? Podemos ser
muito feliz com o sucesso, mas no momento seguinte pode-nos esperar um
gigantesco buraco e derrota. No momento da queda, dentro do buraco, levanta-se
uma pergunta: “O que é a vida?” Alguns poucos certamente perguntam a si próprios:
O que é a vida? O que é eterno? O que é absoluto? Este tipo de pessoas iniciam a
procura atrás de uma certeza absoluta, porque tudo passa para o nada. Quando
alguém tem uma grande estima põe dinheiro, ou por sua casa, ou por sua família, ou
por outras coisas, tudo um dia se transformará em nada. Quando falamos assim,
pensam que o Budismo é niilista, mas isso não ocorre na realidade.

A pessoa que procura a verdadeira vida, quer realmente viver, precisa de


repouso. Aonde ele pode achar este repouso e descanso?

Jacó, o patriarca, chegou a um lugar, quando era tarde. Nós precisamos de um


lugar. O que é este lugar?

O lugar onde Jacó dormia não tinha nome, isto quer dizer que a Essência de
Deus apenas é o lugar da alma, e não tem nome. O lugar onde Jacó dormia não tinha
nome. Dormir significa repousar, e isto que dizer, que a Divindade somente é o lugar
de repouso da alma e não tem nome. O que significa a expressão "a divindade"
(Gothait)? É uma expressão especial usada pelo Meister Eckhart. Talvez ele quisesse
dizer com esta palavra a essência de Deus, mais do que o Deus pessoal, a origem ou
a essência, ou a essência da essência de Deus.

Este lugar é por si próprio a essência da essência de Deus. Quando


alcançamos este lugar, nós repousamos, nós conseguimos chegar à paz.

Nós, Budistas, podemos dizer que este lugar é o Nirvana. Este lugar não tem
nome, ele é anônimo. Sem nome, sem ação, paz absoluta. Isto é especificamente o
Zazen.

Quando um monge estava sentado no Zazen, perguntou-lhe o seu Mestre: “O


que você faz aí?” “Eu não faço nada!” “Então você está apenas passando tempo?”
“ Não, mestre, se eu estivesse passando tempo, isto significaria que eu ainda
estaria fazendo algo. Mas eu disse que não estou fazendo nada.” Confirmou o
mestre: “Muito bem!”

No Zazen estamos com as pernas cruzadas e boca fechada. Nós criamos o


nosso Karma através do corpo, fala e mente, mas no Zazen fechamos estes três
campos totalmente.

O lugar onde Jacó dormiu não tinha nome. Meister Eckhart também chamou
este lugar de "deserto". No deserto não há plantas, árvores, nenhuma vida. Praticar
Zazen pode ser comparado com um velho incensário, que está abandonado no velho
templo em ruínas. Este velho incensário ficou muito tempo frio e não foi usado.
Nenhuma vida pode ser reconhecida nele.

Jacó descansou naquele lugar que é sem nome. Não sendo nomeado, é
contudo nomeado. Quando a alma vem a um lugar sem nome, ela acha o seu
descanso. Jacó repousa num lugar, que é anônimo. Exatamente porque ele não tem
nome, ele tem um nome. Seu nome é seu anonimato. Quando a alma chega a este
lugar anônimo, ela acha a paz específica. Esta frase é um pouco peculiar: porque
não damos a este lugar um nome, exatamente por isso o lugar é nomeado. Este fato
corresponde exatamente à Teoria do Prajna Paramita Sutra. No Sutra do diamante é
dito: o homem não é homem, por isso nós o chamamos de homem. A mulher não é
mulher, por este motivo nós a chamamos de mulher.

Eu sou um homem, um homem japonês, porque não sou uma mulher ou por
que não sou um alemão. Este é meu conflito, que eu não seja absoluto, mas só uma
parte deste mundo.

Há uma interminável multiplicidade de incontáveis dualidades: homem e


mulher, japonês e alemão e não é só isso: eu sou monge e não leigo, por quê? Isto é
um conflito, um conflito original. Neste momento, eu não tenho paz e por isso
espero ansiosamente pela paz.

Jacó repousava à beira do lugar que era anônimo, sem nome, e por isso, como
este lugar não era provido de um nome, exatamente por isso ele está nomeado. Isto
significa, eu sou um homem, eu sou um japonês, mas simultaneamente não sou
homem, não sou japonês. Eu não sou um homem, isto significa que precisamos a
absoluta negação ou a dissolução de nosso próprio eu. Eu não sou homem, eu não
sou japonês, eu não sou o Tokuda. Por quê? Eu não tenho nome. Quando chego ao
citado lugar, eu consigo a minha paz. E neste momento eu me torno novamente
Tokuda. Isto é sabedoria, a teoria do Prajna, a negação imediata. Tokuda não é
Tokuda, mas exatamente por isso eu sou o Tokuda.

Quando começou o Movimento de Libertação Feminina, um mestre perguntou


a uma mulher: ‘Há quanto tempo você é mulher? Você entende o significado de ser
mulher?” Isto tem o mesmo significado que a pergunta: “Qual é o rosto original,
que você tinha antes do nascimento de seus pais?” Nós precisamos para responder
esta pergunta a completa negação de nossa mesmice ou a completa dissolução de
nossa mesmice.

Este processo da negação é muitas vezes doloroso e duro para nós, mas este é
um processo de purificação, é como a escalada de uma montanha ou como entrar na
escuridão. A isto se chama via negativa. Significa que precisamos morrer. Isto, no
entanto, eu preciso viver para sempre, eternamente.

Neste momento o carro na via expressa saiu de nosso ângulo de visão. Ele não
é mais visível para nós, para onde ele rodou? Nossa vida é assim. Como uma espuma
saindo da água. Como fumaça ou como uma estrela cadente, que se apaga no céu
num instante.

Nós somos muito orgulhosos de nossas ciências, mas este ponto não levamos
em consideração. Quando uma vez negamos nossos próprios egos, então podemos
renascer como um novo ser. Isto nós chamamos assim: antes de principiarmos nossa
prática de Zen, a montanha é montanha e a água é água. Mas quando iniciamos
com a prática Zen, a montanha não é mais a montanha e a água não é mais a
água. E eu não sou mais o Tokuda. Onde eu posso achar a mim mesmo? Começamos
a procurar ansiosamente e no fim precisamos de paz ou repouso.

Ele disse: “Em um lugar”. Ele porém não o nomeia. Este lugar é Deus. Deus
não tem nome próprio e é um lugar e é uma designação de todas as coisas e é o lugar
natural de todas as criaturas.

O lugar é Deus, mas neste lugar Deus não tem nome. Quando nós chegamos a
este lugar, então podemos descansar e dormir em paz. Enquanto nós permanecermos
na dualidade, não conseguiremos achar paz, nunca. Eu sou um homem, você é uma
mulher. Eu sou japonês e vocês são alemães ou franceses. Enquanto permanecermos
neste impasse, não conseguimos nos achar e reconhecer.

Eu morei dezoito anos no Brasil, e muitos brasileiros me perguntavam: “Por


que você veio para o Brasil?” Eu respondia: “Eu não emigrei para o Brasil, mas
sim, eu retornei ao Brasil”. Isto significa: eu fui para o Brasil e lá eu me encontrei a
mim mesmo, que significa a minha realização.

No Brasil e agora aqui na Alemanha me encontro com pessoas que de fato


querem praticar Zazen, e assim eu me encontro comigo mesmo em vocês. Este é o
motivo porque eu fui para o Brasil e agora vim para cá.

Ele disse “A um lugar”, mas ele não cita o nome do lugar. Este lugar é Deus.
Deus é o começo de nós próprios, e quando retornamos para este começo, então
poderemos achar paz. O início é o fim ou o último, igual a Alfa e Ômega. Quando
acharmos Alfa e Ômega, então encontramos a eternidade, e isto significa Paz e
Descanso.

É por isso que precisamos adentrar o espaço que jaz antes do nascimento de
nossos pais. Ali, onde todas as coisas estiverem sendo Deus em Deus, é que ela
descansa. Aquele lugar da alma que é Deus, é sem nome. Deus é não falado.
Impronunciável por meio de palavras, não é descritível e é inexprimível. Esta é uma
característica da experiência dos místicos, da pura experiência original. Lá não há
nenhuma palavra, nenhum nome, é não-pronunciado e não-pronunciável. Esta pura
experiência está ligada à grande bem-aventurança, que não é a felicidade deste
mundo.

Esta experiência queriam nos transmitir todas as grandes personalidades como


Jesus ou Buda, mas esta não é uma transmissão através de livros ou palavras, porém
só por meio da prática propriamente dita. Zazen é uma forma desta prática.

Naquele lugar a alma vai descansar, na parte mais elevada e mais interna
daquele lugar. E no mesmo chão, onde Ele tem o Seu próprio descanso, nós também
teremos o nosso descanso e o possuímos com Ele.
O mais elevado e íntimo lugar, é neste sentido que aponta a prática do Zen.
Para aquele lugar não podemos ir acompanhados de outros, para aquele lugar
precisamos ir sozinhos.

Uma outra expressão para isto é simplesmente só uma coisa, só uma, nenhuma
dualidade mais, só existe tudo uno, Deus e o mundo são duas coisas diferentes,
porque o mundo e Deus são nomes. Quando porém não existirem mais nomes,
também não mais existirão coisas diferentes.

Na própria divindade só existe um. Quando Deus criou este mundo, todas as
criaturas o chamaram Deus. E algumas pessoas loucas querem saber o que Deus
fazia antes de ter criado o mundo.

Estas pessoas não compreendem o que falamos aqui. Divindade para o Meister
Eckhart e Nirvana, Buda ou Tathata (ser, assim) designam o mesmo lugar. Quando
falamos sobre o lugar, então não falamos sobre Ele, porém é antes uma negação do
mesmo, o que Ele é, porque ninguém pode falar Dele de uma maneira apropriada.
Tão logo abrimos nossa boca e falamos, nós nos perdemos.

Assim é a experiência do Zen, uma direta e imediata intuição. Mas quando a


intitulamos de intuição, então já o sabor e o odor de duas diferentes coisas
aparecem, do objeto e do sujeito. Isto significa, que tem um nome, porque não tem
nome. Esta é a sabedoria de Prajna. Isso expressa bem a limitação da palavra.

Quando alguém pergunta: “O que você faz propriamente no Zazen?” Para esta
pergunta nós temos um famoso Koan: quando sentamos como uma montanha, o que
pensamos então? Então pensamos sobre aquilo, sobre o que não podemos pensar.
Como podemos pensar sobre aquilo, que não podemos pensar? A esta pergunta
responde Mestre Dogen com Hishiryo. Shiryo significa pensar. Fushiryo significa
não pensar, e Hishiryo significa pensar sobre os dois. Pensar com não pensar.

Este estado nós mesmos precisamos trilhar e perceber em nós próprios. Por
este motivo, nós estamos todos aqui.

Este lugar é indizível e ninguém pode expressar uma palavra apropriada sobre
ele.
A VIRGEM E A MULHER DE PEDRA- A LUZ E A ESCURIDÃO
Terceira Palestra

São João disse: a luz brilhou na escuridão, veio a si mesma, e tantos


quantos a receberam se tornaram com toda autoridade filhos de Deus; a estes
foi-lhes dado o poder de se tornarem como filhos de Deus. (João 1;5, 11-12)
Hoje quero tentar compreender este acontecimento.

É muito complicado, como disse Meister Eckhart: “Quando vocês não


entendem sobre o que estou falando, não se preocupem com isso, porque quem não
tem esta experiência, para estes é complicado entendê-la.” Relacionado a isso eu
me lembro de uma história da vida de Gautama Buda, que nós chamamos de "o
silêncio de Magadha".

Depois de Buda ganhar a Iluminação, ele continuou meditando embaixo da


Bodhi-árvore em grande bem aventurança. No Sutra é dito que a cada sete dias ele
trocava de árvore, embaixo da qual continua meditando. Finalmente, vieram à sua
mente algumas dúvidas. Ele pensou: “Eu consegui esta iluminação após seis anos,
mas se quiser transmitir esta experiência para outros, eles não a poderão entender,
porque o Dharma, que eu alcancei, é muito diferente deste mundo. É por isso que
ninguém o entenderá. Eu só vou me cansar, e isto será totalmente sem utilidade.
Por isso, vou preferir ficar no silêncio das montanhas ou das florestas.”

No Sutra consta que, neste instante, o Deus Brahma apareceu e lhe pediu que
ensinasse o Dharma, porque talvez existissem pessoas que poderiam entendê-lo.

Num outro Sutra consta que um demônio apareceu, e ele disse ao Buda: “Oh!
Gautama, permaneça no silêncio e retiro, porque isto é nobre”. Estas duas vozes
levantaram-se, e eu penso que seja uma descrição do conflito dentro da alma de
Gautama Buda.

Durante uma meditação, Buda viu um lago, que estava coberto com muitas
flores de lótus. Algumas flores ainda estavam submersas na água, outras estavam na
superfície, e mais outras já estavam florescendo acima da superfície da água. Isto
significa que nós já temos, dentro de nós, a natureza-Buda.

Quando as condições apropriadas estão presentes então florescerá a flor de


lótus da natureza-Buda. Quando as pessoas ouvirem o Dharma, então talvez elas o
possam entender. E Buda pensou quem poderia ser o primeiro a entender o
Dharma. “Talvez os meus professores de antigamente com os quais praticava
ascetismo”, pensou. Estes dois mestres, no entanto, já estavam mortos. O Buda tinha
também praticado ascetismo com cinco companheiros, que no entanto separaram-se
dele, quando ele desistiu do ascetismo.

Estes cinco companheiros continuaram sua prática ascética, e o Buda


continuou o seu caminho, que finalmente o levou à Iluminação. Buda pensou que
talvez esses cinco companheiros pudessem entender o novo ensinamento.

Estes cinco viviam em Sarnath, e Buda estava em Bodhigaya. Quando


olhamos no mapa da Índia, vemos que a distância entre os dois lugares é muito
grande. Então Buda teria que cobrir uma grande distância para se encontrar de novo
com os cinco ex-colegas.

Quando os cinco ex-companheiros viram Buda chegar de longe, eles


exclamaram: “- Ah, Gautama Siddharta está chegando. Ele interrompeu o seu
treinamento ascético, por isso não podemos respeitá-lo muito. Se ele quiser ficar
conosco, ele pode ficar, mas honras especiais não vamos lhe conceder”. Quando
porém o Buda chegava cada vez mais perto, eles se levantaram automaticamente, e
um deles lhe preparou um lugar para sentar, um outro foi buscar água para lavar os
pés dele. Todos fizeram preparativos para ele. Por quê eles se comportaram assim?

Sarnath é o lugar onde Buda fez seu primeiro sermão espontaneamente. Este
lugar é, sob alguns aspectos, muito importante para a vida de Buda. O que foi
transmitido no primeiro sermão, nós a chamamos o Sermão da Luz Radiante. Buda já
estava diferente na radiação. Um dia, quando Buda praticava Kinhin vieram dois
negociantes e queriam falar com ele. Quando eles o viram na floresta caminhando
Kinhin, eles ficaram tão emocionados, que se curvaram e se prostraram diante dele.
Quando a cabeça deles tocou o solo, ambos alcançaram um estado. Nós chamamos
este acontecimento de “o Kinhin do Buda”, o caminhar devagar do Buda. Cada
movimento do Buda é um sermão.
Numa citação consta que São João diz: “A luz brilhou na escuridão, veio a
si mesma e tantos quantos a receberam se tornaram com toda autoridade filhos de
Deus; a estes foi-lhes dado o poder de se tornarem como filhos de Deus”. (João
1;5, 11-12). A eles foi dado força para se tornarem filhos de Deus. Este é o primeiro
capítulo, versículo cinco, do Evangelho de São João. Esta parte é difícil de entender,
porque expressa a experiência mística de São João. No primeiro trecho é falado da
luz e da escuridão. Na escuridão brilha a luz. Esta é a pura, mística original
experiência da vida religiosa. No segundo trecho, eles se tornaram filhos de Deus.
No Shobogenzo de Mestre Dogen há um capítulo, onde se diz: “ Só Buda pode
transmitir para Buda.” Transmitir não é atividade de um ser humano, porém uma
atividade do próprio Buda. Quando alcançamos a Iluminação, é ao mesmo tempo
todo o universo iluminado, porque tudo é simplesmente uno. Compreendamos isto,
então não podemos mais matar e nem roubar ninguém. Por quê? Porque só existe
um, não existe mais ninguém que possamos matar, só há um. E também não
podemos mais roubar ninguém, porque só existe um. É como uma espada, que pode
cortar tudo, mas jamais pode cortar a si própria.

Com os olhos é a mesma coisa, nossos olhos podem olhar tudo, mas eles não
podem se olhar a si próprios. Esta é a expressão ou o significado de um. Como pode
o espírito de Buda ser transmitido? Quando ficamos totalmente Unos, podemos em
conjunto transmiti-lo. Mestre para o discípulo, Buda para o patriarca, pai para filho.

Esta frase “a luz brilha na escuridão” podemos entendê-la como a


Iluminação. Neste momento, nos tornamos filhos de Deus ou filhos de Buda. Isto
quer dizer que podemos receber esta transmissão. “A luz brilha na escuridão, mas a
escuridão não compreendeu” (João, 1.5) Isto significa que Deus não é somente
começo de todos os nossos atos e nosso ser, porém também um fim e a paz para
todos.

Com esta interpretação fica mais fácil compreender Alfa e Ômega. Alfa é o
princípio e Ômega é o fim. Alfa e Ômega juntos significam a eternidade. Quando
alcançamos a eternidade, nós alcançamos a paz e o repouso. Isto é Zazen. Zazen é
como retornar ao lar, onde tiramos os sapatos, o casaco, o terno, a gravata, e todas
as vestes não confortáveis. Nos sentimos novamente livres e leves. Tudo é novo,
fresco e à vontade.

O começo existe por causa do fim, pois no fim último tudo descansa, o que
jamais obteve o ser racional. O fim último do ser a escuridão ou essência da
Essência de Deus oculta, cuja luz ilumina, mas esta escuridão não a compreende.

Tentarei falar do último fim, o que significa esta escuridão, e como poderemos
alcançar paz, descanso e Nirvana. No Budismo chamamos Gautama Siddharta de
Shakyamuni Buda. Shakya indica o nome da família, e Muni significa Homem sábio.
O significado original de Muni é aquele que preserva o silêncio.

Na Índia, nas teorias do Brahmanismo, dos Vedas e Upanishads, aquele que


guarda o silêncio é o homem sábio. Os japoneses entre si não falam, e agora que eles
têm muito contato econômico e comercial com o mundo ocidental, eles têm muitos
tipos de dificuldades para se entenderem entre si. Os japoneses não falam muito.
Muitas vezes falam uma coisa e pensam outra. No Japão existe um método para isso
e assim não há problema. Mas no Ocidente não conhecemos este método, e ninguém
no Ocidente está acostumado a um tipo de comportamento assim. Isto chamamos de
choque de culturas. Homem e mulher, no Japão, depois de viver muitos anos
juntos, não falam mais muito entre si. Um pequeno gesto é suficiente para tornar
tudo compreensível. Isto é só possível, quando um estado de i shin den shin,
comunicação direta de coração para coração é alcançado, o que torna as palavras
desnecessárias.

Uma outra palavra aqui é muito interessante, a essência de Deus oculta. Existe
a trindade: Pai, o Filho e o Espírito Santo. O Pai é o céu, e não o podemos ver, ele é
oculto e nunca aparece. Mas ele mandou o seu único filho para nós, e ele é Jesus
Cristo.

Uma outra expressão para isto é a palavra. A função da palavra é nos indicar
algo oculto através da palavra. Quando Buda alcançou a Iluminação, ele exclamou:
“Oh! Maravilhoso, toda a existência tem a natureza-Buda”. E ele se levantou e
falou: “Quem tem ouvidos, que ouça meu Dharma”. A essência de Deus, quando
falamos de Deus, nós falamos de duas coisas, criador e criaturas, mas originalmente
não existe o nome de Deus, porém só existe a essência de Deus. A luz brilha na
escuridão, trata-se de uma experiência. Luz pode significar iluminação, mas o que é
propriamente subentendido é a luz da sabedoria, com a qual tudo é entendido com
clareza.

Todos nós temos a natureza-Buda, mas quando não praticamos, ela não tem
condições de se manifestar. E quando não alcançamos a Iluminação, não
conseguimos alcançar a natureza-Buda. É importante impregnar o corpo, a fala e o
espírito com o símbolo de Buda. Então Buda aparecerá através de nosso corpo.

O símbolo de Buda é o Buda sentado em meditação, com as mãos na posição


cósmica também chamado de mudra do mundo do Dharma.

No Cristianismo é usada com o símbolo a cruz. Quando vemos uma cruz, já


sabemos com segurança que ela representa o Cristianismo. A diferença entre símbolo
e marca é o seguinte: na marca só há indicação, enquanto que atrás de um símbolo
há uma sabedoria, uma essência, que entendemos através deste símbolo.

São João diz: Deus é uma verdadeira luz que brilha na escuridão. O que é
esta escuridão?

Em primeiro lugar: um homem não se deve apegar a nada e se segurar com


este nada, de ser cego e de nada saber das criaturas. Eu disse antes: “Aquele que
vê a Deus deve ser cego.”

Em segundo lugar: “Deus é uma luz que brilha na escuridão,” ele é uma luz que nos
cega, isto quer dizer uma luz de tal natureza que não é compreendida. E é sem fim, em outras
palavras, ele não tem um fim em vista e tampouco conhece fim algum. O cegar da alma quer
dizer que ela nada sabe e de nada se encontra ciente.

A terceira escuridão é a melhor de todas e quer dizer que não existe luz
alguma. Um mestre diz que o céu não tem luz, que é por demais elevado para tal:
ele não brilha e ele não tem nem quente nem frio por si mesmo. Assim nesta
escuridão a alma perdeu toda a luz, tendo superado tudo que nós chamamos de calor
e de cor.

Esta interpretação do Meister Eckhart alivia a nossa compreensão. Continua


muito difícil, mas é como uma chave para a compreensão. A atitude de não ficar
ligado à nada, que aqui foi citada, chama-se em Zen “hoge”, que quer dizer soltar,
deixar cair ou jogar fora.

Olhando do lado Zen, dizemos que não se deve tentar alcançar nada. Nossa
prática é assim colocada: soltar-se, deixar-se, esquecer-se e no final morrer
totalmente. Este é o significado de não se apegar a nada, não ter mais nada em que
se apegar.

Chegou um monge Zen para um mestre: “Mestre, eu não tenho nada em que
possa me segurar ou apegar. O que posso agora fazer ?” O mestre respondeu:
“Hoge!” que quer dizer: “Jogue fora.” O monge voltou a dizer: “Mas mestre, eu
realmente não tenho mais nada que eu possa ainda jogar fora.” Resposta: “Então vá
carregando isto embora”. Este conceito que não nos prendamos mais a nada, é
novamente uma forma de se prender. Aí reside a dificuldade.

Quando recebemos a Iluminação e ainda preservamos a consciência “eu


alcancei a Iluminação,” esta é chamada a doença do Zen. Nós precisamos esquecer
a nossa própria Iluminação. Esta é a nossa prática mais difícil, após a Iluminação.

Quais são os diferentes tipos de doença Zen? A primeira doença é: pensamos:


já alcançamos a Iluminação, e ficamos muito orgulhosos, muito orgulhosos mesmo,
e todos os outros com isso afundam-se alguns degraus mais baixo em relação à nós.
Pensamos: “Ele é doutor, mas ele não tem idéia nenhuma do Zen, o Zen é muito
melhor.” Esta é uma doença típica do Zen, é o cheiro do Zen, não o perfume do
Zen, mas o mau cheiro. O cheiro da própria urina pode ser agradável para a pessoa,
mas para os outros pode ser insuportável. Esta é a primeira doença Zen. Na segunda
doença Zen, ainda não alcançamos a Iluminação, nos esforçamos muito para
consegui-la, estamos em competição com outros, para constatar quem chega mais
depressa à Iluminação. Aqui há uma diferença visível entre as escolas Rinzai e Soto.
Primeiro eu pratiquei na escola Rinzai. Há muitas coisas na Rinzai que eu gosto
muito, mas a Soto é muito mais nobre. Embora eu tenha conseguido mais força da
Rinzai. Na Rinzai o treinamento é muito duro, por isso o cheiro da personalidade
fica mais forte. Na Rinzai estamos todo o tempo correndo, e durante um Sesshin,
cada dia há cinco Dokusan. No Sesshin Rohatsu, há ainda mais Dokusan.

Quando o mestre chama para Dokusan, todos correm. É dado um Koan para o
qual precisamos achar uma resposta. Eu não sabia a resposta, fiquei só sentado no
Zendô. Então apareceram uns monges mais veteranos e me levaram junto, me
catando pelas pernas e braços, como uma trouxa, me obrigando a ir para o Dokusan.
Eu então achei muitas respostas, mas cada resposta era nenhuma resposta. No fim,
tendo juntado todas as respostas possíveis, eu não sabia mais o que dizer. Então o
mestre falou: “Pronto, fale, fale agora.” E eu não tinha mais nada para falar. O
mestre de novo: “Fale, fale”. Nada. Às 9 ou 10 horas fomos para a cama, e o
dirigente saiu para fora. Quando ele fechava as portas corrediças totalmente,
podíamos ficar deitados e dormir. Mas quando ele deixava as portas corrediças
entreabertas, poderia haver mais um Zazen. Todos estavam deitados e olhavam para
a porta e pensavam: “Por favor, feche a porta totalmente.” E quando as portas
ficavam entreabertas, muitas vezes todos tínhamos que sair novamente para mais um
Zazen. Depois de trinta minutos sentados, levantava-se o monge mais veterano e
entrava novamente no dormitório. Depois, a cada cinco minutos e na seqüência de há
quanto tempo se encontravam no Mosteiro, os mais veteranos primeiro, os monges
se levantavam e deitavam para dormir. Nós eramos os principiantes, e havia muitos
monges antes de nós. Cada cinco minutos que passavam pareciam mais que uma
hora de espera. No verão tem mosquitos, não um ou dois porém uma coluna inteira
composta de mosquitos. Quando não havia mais dirigentes por perto, puxávamos as
mangas largas por cima de nossas cabeças. Nisto a escola Soto é diferente. Quando é
hora de dormir, todos vão dormir juntos (ao mesmo tempo). Quando é hora de
levantar, todos levantam na mesma hora. Esta é uma característica do Soto-Zen.
Viver juntos e morrer juntos.

Um monge chegou a um templo Soto, e se levantou muito cedo e começou a


praticar Zazen. O mestre chegou até ele e disse: “Você se tornou um monge, quando
você já era mais velho, por isso você se encontra num conflito. Você quer alcançar
a Iluminação o mais depressa possível, por isso você já está sentado, quando todos
os demais ainda estão dormindo. Mas neste mosteiro você não precisa fazer assim.
Você sabe qual é o maior sofrimento deste mundo? É quando estamos fazendo
Zazen e então pensamos que ainda há algo mais para alcançar ou conseguir além
do Zazen.” Esta é a descrição de Shikantaza, isto é o silêncio auto-resplandescente.
Mas isto é difícil de entender, por isso o Meister Eckhart repetiu muitas vezes: “A
essência da divindade oculta brilha sempre na escuridão, mas a escuridão não
compreendeu, nem a reconheceu.” Isto significa que nós ainda não reconhecemos o
Buda oculto dentro de nós. Isto é ação para pessoas humanas, mas é também ação do
Buda. Por quê vocês vieram para esta montanha fazer Zazen sem calendário? O que
vos trouxe aqui? É a própria natureza-Buda de vocês. Vocês estão respondendo a um
chamado. É o motivo de estarem aqui. Mais adiante falou Meister Eckhart: “Sejam
cegos e não saibam nada das criaturas.” Neste sentido nos lembramos da
experiência de São Paulo, em Damasco, quando ele ouviu a voz de Deus. Por três
dias consecutivos ele ficou cego, ele recebeu o reflexo da uma luz e não
conseguiu ver durante três dias, apesar de ter os olhos abertos. Cego é um cachorro
preto ou um corvo preto na escuridão. Nós não podemos ver nada. Nós também
podemos fazer a mesma comparação na cor branca. No Hokyozanmai se diz que a
cor branca é como neve em cima de bandeja de prata ou como uma garça branca em
noite de lua cheia. Há muitos outros exemplos. Diz-se que a pessoa ficou cega e não
sabia mais nada das criaturas. Precisamos ser virgens, eu disse ontem, livre de todas
as imagens e criaturas, assim como se ainda não tivéssemos nascido. Nosso
problema é que quando nascemos, recebemos um corpo e assim também precisamos
morrer. Quando entendermos o não-nascer então nunca morreremos.
A VIRGEM E A MULHER DE PEDRA- A LUZ E A ESCURIDÃO
Quarta Palestra

D esde o primeiro dia deste Sesshin eu repeti o mesmo tema sobre silêncio e
escuridão.

Estamos praticando este silêncio agora e aqui nesta montanha.

Importante é que vocês agora adentrem cada vez mais esta escuridão.

A alguns monges cristãos foi perguntado: “Vocês sempre rezam a Deus.


Podem vocês esperar uma resposta dele?” Todos responderam, mas uma resposta em
especial foi muito boa: “A fala de Deus é o Silêncio.” Meister Eckhart diz que a
fala de Deus é a palavra oculta. Esta palavra é Jesus Cristo. Jesus é a fala de Deus.
Jesus Cristo é uma palavra. A função da palavra é apresentar o que está oculto. E
aqui voltamos novamente ao Sandokai . San quer dizer teoria, do quer dizer prática.
Teoria e prática tornam-se uma coisa e assim nasce Kai.

A vida Zen significa unir completamente a nossa qualidade original com nossa
vida no dia-a-dia.

Uma mulher de pedra teve uma criança à noite. Esta parte é uma resposta à
seguinte citação: “Eu me sentarei em silêncio e ouvirei o que Deus me dirá.” Isto
significa que Cristo é nascido na própria alma, no próprio espírito.

Assim é uma virgem que recebe Jesus Cristo e que ao mesmo tempo é uma
mulher, porque ela dá à luz a uma criança. Isto pode parecer um pouco complicado,
mas se vocês realmente entenderem o que acontece, então diversas expressões não
são tão importantes.

Não tenho muito conhecimento de teologia cristã, por isso provavelmente


cometo muitos erros. Mas isto não é muito importante no momento. Eu quero
simplesmente entrar no terreno que estamos abordando, através de Mestre Dogen e
Meister Eckhart.

O terceiro céu é o conhecimento puramente espiritual, e ali a alma é levada


para longe de todas as coisas corpóreas e objetivas. Ali nós ouvimos sem som e
vemos sem matéria: não existe nem o branco nem o preto nem o vermelho.

Significa isto estar separado e livre de todas as coisas corpóreas, de toda a


multiplicidade e de toda temporalidade. Quando estivermos assim podemos ouvir,
mesmo não havendo som. Quando pudermos ouvir a voz do corvo preto, que não
tem voz, ou como diz um Koan: “Quando pudermos ouvir o ruído do bater de
palmas, com uma mão só.” Outra expressão é ouvir o som de uma flauta, que não
tem furos, ou a música de um violão sem cordas. Como é isso possível? Isto é
possível no terceiro céu. Diz-se que quando entramos através da meditação num
estado mais profundo e mais sutil então essas ocorrências podem possivelmente
ocorrer.

Ontem eu disse que o sagrado silêncio é o segundo degrau da meditação.


Quando vamos cada vez mais fundo, o que acontece?

Num Sutra é dito que antes de Gautama Buda entrar no Parinirvana, ele
meditou através de todos os céus até o trigésimo terceiro. Esta é uma expressão
diferente, mas parece ser a mesma coisa que o terceiro céu do Meister Eckhart. Lá
nós ouvimos sem haver ruído e vemos sem haver nada de material para ver.

De manhã há em cima das folhas gotículas de orvalho. Este orvalho não tem
cor, é transparente. Representa o vazio, sem cor e transparente, mas quando a gota
estiver em cima de uma flor vermelha ou folha verde, então ela assume a cor da flor
ou da folha. Assim podemos ver todas as cores da gota, mas na realidade a gota de
orvalho não tem cor.

Mestre Dogen disse: “Podemos pintar a primavera com o pincel? Como


podemos pintar a primavera?” Só quando pintarmos uma flor da primavera. No
Japão, por exemplo, é a flor da cerejeira. A primavera em si não podemos pintar,
mas quando pintamos a flor da cerejeira, indicamos que se trata da primavera,
apesar da flor da cerejeira não ser a própria primavera. Todavia, quando pintamos a
flor da cerejeira, pintamos a primavera, porque a flor da cerejeira floresce na
primavera, não no verão ou no inverno. Vocês entendem o significado? Vivemos
neste mundo agora, mas isto significa que não vivemos realmente, porque é somente
a flor da cerejeira, mas não a própria primavera. Quando realmente de fato
queremos viver esta vida, temos que nos tornar a própria primavera, vocês
entendem esta nuance? Cada um vive, mas em seu pequeno e de certo modo falso e
não verdadeiro modo. Quando encontrarmos nosso próprio Eu, nosso próprio e real
Eu, então viveremos na primavera, isto é importante. Quando não vivemos assim,
sem dúvida que vivemos neste mundo, mas mais nos parecendo um embriagado ou
a de um sonolento, e não entendemos o significado da própria vida. Este esboço não
é só a flor da cerejeira, mas também a própria primavera.

Está dito na Bíblia: “A escuridão oculta da luz invisível da eterna


divindade é desconhecida, mas será cada vez mais conhecida. E a luz do eterno
Pai brilhou eternamente nesta escuridão, mas a escuridão não compreendeu a
luz” (S.João-1.5).

Existe uma teoria da evolução espiritual descrita pelo mestre Tozan Ryokai,
que diz que o primeiro estado espiritual é aquele antes da lua aparecer ao redor da
meia-noite, quando se encontram duas pessoas na escuridão, e essas duas pessoas
não se conhecem entre si. Esta é a primeira experiência Zen, a escuridão. Há um
movimento e um encontro, mas não nos conhecemos entre nós. Isto quer dizer:
tornou-se totalmente uno. Quando todavia entendemos e reconhecemos, então isto é
igual a duas coisas distintas. Esta é a experiência do silêncio da escuridão da noite,
em segredo e no oculto.

Do chinês podemos atribuir esta experiência ao Yin, ao lado escuro ou


obscuro, à origem. A teoria do Yin e Yang é muito interessante, porque Yin não é
nunca Yin absoluto, e Yang não é nunca Yang absoluto. No Yang há Yin e no Yin há
Yang. A isto se chama o jovem Yin, ou jovem Yang. Quando Yin alcança seu
máximo, ele se torna Yang. E o máximo de Yang torna-se Yin. Por isso o máximo de
escuridão é luz, mas é a luz sem luz. E se olharmos para a vida dos santos como
S.Paulo e S. João, do ponto de vista de suas profundas experiências religiosas, eles
levaram uma vida com forte personalidade. Isto indica, quando podemos alcançar o
máximo de Yin, alcançamos depois fortemente a vida de Yang.

A vida de Jesus Cristo foi muita curta, e assim não podemos falar muito dela,
porém os três anos que são contados pela Bíblia foram cheios de energia e atividade.

Com Buda Shakyamuni foram quarenta e cinco anos, nos quais ele trabalhou,
após a Iluminação para os outros sem se abater.

De onde eles conseguiram esta forte energia? Nós precisamos voltar à fonte, à
origem, à fonte do universo. Voltar para a energia do universo, Qi, energia vital
original, universal. Quanto mais gastamos dela e damos para os outros, tanto mais
isto vem para nós. Neste contexto precisamos falar sobre Mahakaruna, sobre a
grande compaixão. “A luz do eterno Pai brilhou eternamente na escuridão, mas a
escuridão não a compreendeu.” Isto significa que a luz brilhou desde sempre, para
sempre e continuamente, na escuridão.
A VIRGEM E A MULHER DE PEDRA - NO MEIO DA NOITE
Quinta Palestra

É dito na Escritura: “No meio da noite, quando todas as coisas estavam


silentes, então Senhor, a tua palavra desceu dos tronos reais. (Sap. 18:14). Isto
quer dizer que na noite, quando não existe criatura que brilhe ou que olhe
dentro da alma, e na quietude, quando nada fala à alma, então a palavra é
falada ao intelecto.”

Eu quero continuar falando sobre a noite. Agora já não é mais noite, porém é
no meio da noite. Escuridão e silêncio predominam, e neste momento desce a
palavra. E esta palavra pertence à razão e chama-se Verbo. E Verbo significa o Filho
de Deus. Portanto deve haver silêncio e uma quietude e o Pai deve falar aqui
mesmo, e dar o nascimento ao Seu Filho e fazer o Seu trabalho livre de todas as
imagens. Quando todas as coisas estão paradas, no silêncio, onde nada e ninguém
fala, então o Pai precisa falar e fazer nascer seu Filho. Nós nos lembramos da
primeira palestra, onde era dito que Cristo chegou a um lugar e foi recebido por uma
virgem, que era mulher. E adiante era dito que uma mulher de pedra deu a luz à noite
a uma criança. Esta mulher de pedra ganhou à noite uma criança.

"A mulher de pedra dá luz a uma criança à noite" e "No meio da noite, o Pai
faz nascer seu Filho" querem dizer exatamente a mesma coisa. Quando tudo fica
calado, o Pai fala a palavra e a palavra desce à terra. E esta palavra é seu Filho Jesus
Cristo. Com esta frase nós fechamos o círculo dessas coisas que estão ligadas.

Esta é a escuridão silenciosa da Paternidade misteriosa. Quando Ele se


adiantou desde o mais elevado, Ele queria mostrar para ela o mistério oculto de Sua
essência de Deus secreta, onde Ele está em descanso consigo e com todas as
criaturas. Nós repetimos muitas vezes, mas cada vez repetimos de maneira diferente,
e assim vamos nos aprofundando. Na silenciosa escuridão da oculta paternidade. O
Pai é um homem, ele não pode dar luz ao seu próprio filho. Assim também é com a
virgem, que não pode dar luz a uma criança. Isto significa pois, que tanto o Pai
como a Virgem precisam se tornar mulher. Meister Eckhart disse que ser virgem é
muito bom, porque ela pode receber Jesus Cristo, mas ela não pode carregar e dar
frutos, isto só pode uma mulher. Carregar e dar frutos significa a concepção deste
mundo e a expressão da verdade na realidade por isso é a mulher muito mais nobre
do que a virgem. Talvez vocês se lembrem das palavras do Mestre Hakuin, que eu
citei anteriormente: “Na noite escura, quando nós ouvimos a voz do corvo preto,
que não tem voz, então vocês tem saudades dos seus Pais antes que tivessem ainda
sequer nascido”. Esta é a paternidade oculta e a verdadeira relação com o seu filho.
De onde ele saiu o Altíssimo?. Ele é nomeado (chamado por nome), mas não
está ligado somente a Si próprio, porém a cada um de nós. Cada um de nós precisa
originar-se do Altíssimo e nascer de dentro Dele. Isto é muito importante. Quando
estudamos velhos Koans, estes não são apenas conversas sobre a história de velhos
mestres, que se agruparam em torno deste assunto através dos anos.

Para estudar os Koans nós próprios precisamos nos tornar esses Koans. Isto
significa, não pensar sobre os Koans, mas sim nosso corpo e mente tornarem-se o
próprio Koan. Esta é a prática do Koan. Nós a chamamos de Nentei. O Nentei do
Koan. Nentei significa que sovamos uma massa como quando fazemos pão e não só
pensamos sobre o koan com o intelecto. Há um Koan: quando você subiu do mastro
de cem metros de altura, ainda não é suficiente, você precisa dar mais um passo
acima da ponta do mastro onde não tem mais nada, mas mesmo assim é necessário
subir mais um passo. Quando porém damos mais este passo, nós fatalmente cairemos
. Mas nós precisamos subir, dar exatamente mais um passo, isto quer dizer que
precisamos morrer. Quando quisermos a vida, a vida eterna, precisamos morrer uma
vez. Neste caso é assim, mas quando não queremos morrer, e dar este passo além,
então é que ficamos mesmo como um morto.

Eu vou lhes esclarecer o método, de como nos tornamos ricos: subimos numa
árvore muito alta e nos penduremos num galho. Um outro homem está lá embaixo e
nos chama: abra as suas mãos. "Não, se eu o fizer, eu vou cair. Não, nunca". E
seguramos firme. Este é exatamente o método como ficar rico, porque quando
tivermos uma vez dinheiro, não queremos soltá-lo mais. É importante dar um passo a
mais. Então Ele não nos quer mostrar o segredo oculto de sua divindade oculta.
Quando vocês quiserem este segredo ou essência de Deus, vocês precisam dar um
passo a mais. Em outras palavras, precisamos morrer. O ego precisa morrer. Nosso
egocentrismo precisa morrer todo.

Para a prática do Zen, três coisas são importantes: a primeira é a dúvida. O


que é a vida? O que é a morte? O que é o amor? Deve-se pensar sobre isto para
entrar na grande dúvida; não pensar sobre a dúvida dentro da cabeça, mas tornar-se
uma grande massa de dúvida, no corpo inteiro. Nesta altura precisamos de paz.
Precisamos de repouso. A segunda coisa importante para a prática do Zen é muita fé.
Fé no mestre, fé no Dharma, fé em si próprio. A terceira coisa importante é a grande
morte. Neste momento jogamos fora todas as relações com amigos, com o mestre e
com esta prática e exercícios. Precisamos morrer uma grande morte, para renascer de
maneira religiosa.

Um discípulo perguntou ao mestre: “O que é Buda?” O mestre respondeu: “A


cerca de arbustos no jardim.” “Quando entendermos isto, o que vem depois?” E o
mestre Ummon respondeu: “Um leão dourado”. Isto quer dizer que depois da grande
morte, nos tornamos um leão dourado. Este não é um leão comum. Seu corpo e todo
o seu pêlo são dourados. Ele é totalmente transformado e tem muito mais energia do
que jamais teve outro leão. Mas para chegar lá, precisamos primeiro morrer esta
grande morte.

Lá Ele repousa consigo próprio e com todas as criaturas. Depois deste pulo,
depois da morte do ego, então nós nos encontramos conosco, por isso falou o sábio:
“No meio da noite quanto todas as coisas estavam em calmo silêncio, foi-me falada
uma palavra oculta. Veio a mim como um ladrão e às escondidas”. (Sap. 18:14-15).
Novamente é no meio da noite, quando todos estavam em repouso e no silêncio. Este
silêncio não se refere só ao silêncio exterior, quando nenhuma voz, nenhum latido de
cachorro, nem pio de pássaro mais se ouvia, e havia paz dentro de nós também. O
mestre Zen às vezes diz: “Ficamos totalmente nus e despidos”. Então foi falado para
mim a palavra oculta. E esta palavra oculta significa Jesus Cristo.

No Shobogenzo do Mestre Dogen há um capítulo que se chama Mitsugo, a


palavra secreta. Lá diz o seguinte: “O grande mestre Hung Chuai da montanha Yun
Chu mandou um dia um funcionário público uma dádiva e perguntou: ‘O Bhagavat
tinha uma palavra secreta e Kasyapa nunca a ocultou. O que é a palavra secreta do
Bhagavat?’ Quando Hung Chuai o chamou pelo nome, ele respondeu: ‘Sim.’ E Hung
Chuai: ‘Você entende?’ ‘Não, eu não entendo’. ‘Se você não entende, então é porque
esta é a palavra secreta do Bhagavat, e se você o entende, isto então significa que
Kasyapa nunca escondeu nada’.”

Quando é muito frio o pato entra na água e a galinha sobe na árvore. Agora
temos inverno, e as árvores estão sem folhas. Assim todos falam do inverno e nada é
mantido em segredo.

A palavra secreta e oculta ainda tem outro significado, que é a palavra da


harmonia e da identidade. Mitsugo, “a palavra secreta”, é a palavra da harmonia e
da identidade. Primeiro é uma palavra secreta ou um ensinamento da verdade oculta.
Segundo é uma palavra absoluta, que é dada por um mestre Zen em comunicação
direta da verdade entre mestre e seu discípulo. A segunda parte da palavra secreta é
a confiança entre mestre e aluno.

Esta confiança para Meister Eckhart é a confiança entre Deus, seu filho Jesus
Cristo e o Espírito Santo.

No Budismo temos os três tesouros: Buda, Dharma e Sangha. Cada uma dessas
palavras tem três diferentes significados. O primeiro significado de Buda é o Buda
Shakyamuni histórico, que nasceu em Kapilavastú e morreu com oitenta anos em
Kushinagara. Neste nível o Dharma é a sua doutrina e a Sangha são seus discípulos.
É dito que o Buda tinha dez grandes discípulos e também quinhentos iluminados.

O segundo significado de Buda, Dharma e Sangha está descrito nos Sutras.


Nos Sutras é dito que existem muitos tipos diferentes de Budas como: Amitabha,
Vairocana ou Maitreya e cada Buda tem sua própria virtude, que é diferente da
virtude dos outros Budas. Estes Budas descritos nos Sutras são mitológicos, e cada
um deles representa uma virtude da prática budista.

Neste nível o Dharma são os Sutras e a Sangha são todos os budistas e a linha
de transmissão de patriarca para patriarca.

O terceiro significado são os quadros pinturas, desenhos e estátuas de Buda,


as quais nas mais variadas formas e nos mais variados lugares são objetos de
veneração. O livro dos Sutras propriamente dito também é uma forma de Dharma.
No Budismo existem cinco mil e quatrocentos diferentes rolos de Sutras. Além disso
ainda há os comentários sobre os Sutras escritos na Índia, depois vieram as
interpretações dos Sutras através dos grandes mestres chineses.
Na China houve grandes mestres Zen, fundadores de várias escolas, e cada
fundador dessas escolas escreveu longos escritos. Quando todo esse ensinamento
chegou ao Japão, tornou-se Budismo japonês. No Japão também houve grandes
mestres que escreveram seus próprios manuscritos e comentários.

Quando somamos só os manuscritos, temos oitenta subdivisões, e quando


ainda somamos os desenhos e pinturas então chegamos a cem trabalhos. Nós
chamamos esses materiais de o Kanon chinês. Também existe o Kanon tibetano, cuja
edição é diferente, mas também na escola tibetana há cerca de cem subdivisões.

Sangha é o monge e a monja, mas no final Sangha que dizer: vocês são a
Sangha. Só em vocês já está tudo contido: O Buda histórico, as pinturas, o Dharma
e a Sangha. Tudo isso está em vocês, só em vocês, porque a recepção e a
passagem adiante do Dharma, de geração em geração, depende de vocês. Assim tudo
passa simplesmente adiante através de vocês.

Agora vocês entendem a responsabilidade que assumimos para nós próprios


com a ordenação como monge budista. Quando a transmissão do Dharma termina
conosco, e não há mais alunos, então a linha de transmissão de todos os Budas e
patriarcas termina conosco. Todos os exercícios e práticas de Budas e patriarcas
terminam conosco. Todos os exercícios e práticas de Budas e patriarcas dependem de
nós.

Importante aqui é que tudo simplesmente se torna um em nós, se torna um em


nós mesmos. Todos os Budas, todos os Sutras todos os mestres dependem de nós.
A VIRGEM E A MULHER DE PEDRA
Sexta Palestra

“Porque é que ele a chamou de uma palavra, quando ela estava oculta? A
natureza de uma palavra é revelar o que está oculto. Ela se revelou a mim e
brilhou ante a mim me declarando algo e tornando Deus conhecido de mim, e
portanto foi chamada de uma palavra.”

Deus é um Deus oculto, nós não podemos vê-lo diretamente, Como nós
podemos vê-lo? Só através da "palavra" ele se manifesta, e esta palavra é Jesus
Cristo. Deus-pai, onde está o Pai, no céu de nosso espírito, lá não há forma, não há
cor, não há aroma e não há nenhum sabor, nada e assim ele precisa mandar Seu
próprio filho. E esta é a experiência da meia-noite, quando a palavra desce do trono
real.

Aqui falamos do grande problema da metafísica. No começo tudo é vazio,


Sunya. Isto é Deus, e ele manda a palavra Jesus Cristo para nós, também como
pessoa histórica, para que possamos vê-lo. O puro vazio se transforma em
maravilhosa existência. Nós somos nascidos e não vivemos nada de extraordinário,
mas podemos com este corpo nos manifestar de modo real. Sem forma, sem cor, mas
ele toma forma e cor. Esta é a nossa realização da vida. Um mais um é igual a dois;
porém zero mais zero é o vazio, o nada, Sunya. Vazio mais vazio igual a zero. Zero
com zero multiplicado continua zero. Zero com zero dá sempre zero, nada. Nunca
podemos ganhar desta combinação algo material. Zero é e fica sempre zero, como
então pode nascer o princípio da vida? Esta é a pergunta.
Na Bíblia, no Evangelho de São João consta: “No princípio era a palavra e a
palavra estava com Deus”. Esta palavra é Jesus Cristo. E ele estava com Deus lado
a lado, mas isto é invisível para nós. E quando ele veio para nós? A Bíblia diz que o
princípio não significa o princípio do tempo. Este princípio quer dizer a eternidade.
Esta eternidade vem através da palavra até nós. Esta é a realização da salvação do
ser humano. Como S. Paulo diz: “Eu não vivo, porém Deus vive em mim”. Esta
afirmação não é válida somente para S. Paulo, mas para todos nós. Este ponto
também é encontrado em nossa prática Zen. Há algo oculto, mas este oculto em
nosso corpo precisa ser trazido à tona. Na prática nós nos encontramos conosco
mesmo. Depois disso, começamos a trabalhar com as mais variadas situações no
nosso dia-a-dia.

Meister Eckhart disse que Deus é Uno, e assim são todas coisas do mundo em
Deus. Se vocês podem ver algo em Deus, então este algo, por exemplo, uma mosca,
é mais relevante que um anjo em si próprio. Isto significa que tudo neste
momento se torna radiante através desse ser divino.

Por isso falou assim Buda, quando alcançou a iluminação: “Maravilhoso, toda
a existência, todos os seres vivos tem a natureza-Buda”. Isto é como Mestre Dogen
disse: “Quando não praticamos, a natureza-Buda não se manifesta. Quando nós
mesmos não nos iluminamos, a natureza-Buda não consegue se manifestar”. Zazen
significa dar expressão a Buda em nosso corpo. No Prajna paramita sutra consta que
a forma é o vazio e o vazio é a forma. “Abriu-se e brilhava diante de mim, para
algo se tornar conhecido para mim, para me tornar Deus conhecido.” É o Deus
oculto. A divindade torna-se visível para nós.

No treinamento por meio de Koans há graduações . A primeira é Hosshin,


Dharmakaya, corpo do Buda cósmico, isto é, o próprio Deus-pai ou a natureza-Buda,
na não manifestação. Este Dharmakaya não tem movimento, porque está na
escuridão, no silêncio, sem ação. Mas quando atingimos o máximo em silêncio e
escuridão, então o silêncio torna-se palavra e a escuridão torna-se luz. Uma grande
morte se transforma em grande vida. Assim aconteceu com São Paulo, após sua
experiência em Damasco, tudo se transformou.

“E é contudo o que ficou oculto de mim. E foi assim que ela chegou
sorrateiramente para mim, em uma calma murmurante para se revelar. Veja
bem, justamente porque está oculta é que a pessoa deve sempre persegui-la.
Ela brilha e contudo está oculta.”

As expressões "estava oculto para mim" ou "intangível para mim" ou


"desconhecido para mim" têm o mesmo significado. Mestre Dogen disse no
Sansuikyo: “Nós devemos recordar que, embora um grande número de santos e
sábios estejam reunidos nas montanhas, eles não se encontram com ninguém mais.”
Nós podemos nos admirar quantos Budas e patriarcas já foram para as montanhas,
mas quando eles uma vez entram lá, ninguém mais é visto. Quando olhamos do pico
de uma montanha, podemos ver as montanhas, mas quando entramos nas
montanhas, não vemos mais montanha nenhuma. Esta é a condição do cachorro
preto ou do pássaro preto na escuridão. Há duas coisas diferentes, mas não podemos
vê-las, por isso elas não são tangíveis e ficam ocultas para nós. O Deus oculto
tornou-se filho de Deus, Jesus Cristo, mas sua origem existia anteriormente. Jesus
é o filho de Deus. Nós não o somos, mas podemos da mesma maneira ser filhos de
Deus, quando dermos nascimento a Cristo em nós mesmos; neste momento,
tornamo-nos Deus e nós mesmos, ou o pai e o filho, simplesmente um.

Quando recebemos o Shihõ, junto recebemos três documentos. O primeiro é o


Shisho, o documento de transmissão como sucessor do Dharma. O segundo é o
Ketsumyaku, a linha de transmissão sanguínea. O terceiro é o Ondaiji, algo
importante na forma de símbolos, que é esclarecido por nosso Mestre por ocasião da
transmissão do Dharma.

No primeiro documento está escrito em cima no começo, Buda


Shakyamuni e depois toda a linha de transmissão até o nosso próprio
mestre. Até o meu mestre foram 85 gerações. Depois vem o nosso
próprio nome neste documento. Depois vem outra linha atrás, que volta até o Buda
Shakyamuni, que é como um colar, cada pérola é diferente, mas elas formam um
colar, formam uma unidade. Quando as pérolas se tornam um colar elas não podem
se diferenciar uma das outras. Assim é o intangível e o desconhecido. É o
desconhecido da iluminação. Vejam o diálogo:

-Mestre, você já alcançou a iluminação?


-Não, não me ocupo com coisas malucas assim.

Alguém perguntou a Sawaki Roshi:


-O senhor alcançou a iluminação?
-Não, eu não tenho tal coisa.
Diante desta resposta, o discípulo começou a chorar, dizendo:
- Quando um mestre fala assim, então cada um depende de si próprio.

"As montanhas são o que são. Não existe vestígio da penetração nas
montanhas."

Há a seguinte história do mestre Hojo Daibai: Um dia ele perguntou ao mestre


Basô Doitsu: “O que é Buda?” Basô respondeu: “A mente é o Buda.” Através desta
frase Daibai alcançou a iluminação e desapareceu em seguida.

Um dia um monge entrou nas montanhas para achar um galho de árvore para
fazer um bastão. Ele se perdeu e por acaso encontrou uma choupana, na qual se
achava outro monge. Então ele perguntou ao monge da choupana:

- Há quantos anos você já vive aqui?


- Eu não sei, só sei que as montanhas trocaram de cor muitas vezes, verde,
amarelo. Muitas vezes.
- E como posso achar de volta o caminho para a cidade?
- Eu não sei, talvez você possa acompanhar o curso do rio.

O monge voltou e contou o caso para seu mestre Enkan, que foi irmão de
Dharma do Mestre Daibai. Mestre Enkan pensou: “Possivelmente trata-se do
próprio mestre Daibai, que desapareceu há muito tempo. Pode ser que seja ele.”
Esta história foi contada por Enkan para o Mestre Basô: “Um dos meus discípulos
achou Daibai nas montanhas.” Mestre Basô então pediu ao monge: “Por favor,
volte novamente para Daibai e diga-lhe : ‘Tudo no Budismo mudou. Quando
alguém pergunta o que é Buda, não dizemos mais que a mente é Buda’.”

O monge provavelmente não entendeu nada de tudo isso, mas ficou quieto
porque ele era apenas mensageiro.

Então o monge voltou para as montanhas para novamente encontrar Daibai.

Encontrou-o e lhe disse o que o Mestre Basô falou. Após ouvir o monge,
Daibai disse. “Oh, este velho maluco, se ele agora não quer nem a mente e nem o
Buda, então está bem, mas para mim a mente continua sendo o Buda”.

O monge novamente não entendeu nada, mas voltou com as palavras de Daibai
para Basô. Basô ouviu a mensagem e respondeu: “Muito bem, muito bem. A ameixa
ficou completamente madura”. Pois Daibai significa “grande ameixa”.

Um leigo, que ouviu esta história, meteu-se nas montanhas à procura de


Daibai. Quando o encontrou, disse-lhe: “Mestre Basô disse que a ameixa está
completamente madura, e eu quero saber se isto é verdade ou não.” “Você mesmo
pode experimentar”. “Eu já experimentei, mas até o caroço já está decomposto.”
“Então me mostre a amêndoa!”; Aí o leigo não conseguiu responder. Daibai de fato
estava maduro! Ele pensou, “Daqui a pouco todos vão conhecer o meu refúgio e
muito barulho e pó da cidade vão chegar até aqui. Melhor seria se eu fosse mais
para dentro das montanhas, lá há muitas frutas para me alimentar e folhas de lótus
que eu posso usar para cobrir o meu corpo.” Mais tarde porém, muitas centenas de
monges foram se agrupando em torno de Daibai, e no lugar formou-se um grande
mosteiro.

Vejam, pois, por ser oculto, devemos e precisamos correr atrás dele. Isto
significa para nós, que praticamos Zazen, prática incessante - Gyoji, onde não há
abismo entre o despertar para o espírito da iluminação e a prática, e entre o espírito
da iluminação e a própria iluminação.
Em geral há no Budismo duas teorias. A primeira chama-se em Japonês
Shikakumon, que quer dizer: através da prática chega-se à iluminação. A segunda é
Hongakumon, que significa que desde nossa origem nós já temos a iluminação, por
isso começamos com o treinamento.

A característica da escola Soto Zen é que ela afirma que a prática e a


iluminação são simplesmente uma coisa. A prática não é como uma negociação
comercial, em que com a prática chegamos a negociar a iluminação. Mestre Dogen
afirma: “Se vocês começam com a prática do Zazen, vocês estão no meio do
caminho, e vocês neste momento já alcançaram o fim, mas quando vocês chegam ao
fim, vocês não devem parar”. Isto forma um círculo: despertar para o espírito da
iluminação, a prática, a iluminação e o Nirvana. Porque vocês despertaram o
espírito da iluminação, por isso vocês chegaram até aqui, para fazer Zazen? Por
quê? Para alcançar a iluminação? Não, vocês respondem a um chamado de dentro
de vocês. Porque o espírito dentro de vocês quer voltar à sua origem. Por isso a
prática é necessária, mas esta prática vem da iluminação. E assim nós alcançamos de
modo muito natural através da prática a iluminação.

Devemos considerar as seguintes quatro coisas: o despertar do espírito da


iluminação, a prática do Zazen, a iluminação e o Nirvana, como uma só.

Existem escolas de pensamento que abordam este mesmo assunto da seguinte


forma: para a travessia de um curso d'água precisamos de um barco, mas quando
alcançamos a outra margem, e não precisamos mais do barco e o abandonamos na
margem. Neste caso Zazen é considerado simplesmente como um método para
chegar à iluminação, este não é o verdadeiro significado do Zazen.

“Era noite do dia. Então o nosso Senhor veio aos seus discípulos e se
quedando no meio deles, lhes disse: A paz esteja convosco! Naquele dia a
manhã, o meio dia e a noite ficam juntos e não terminam, mas no dia que é
temporal, a manhã, e o meio dia passam e a noite vai depois. Não é o que
ocorre no dia da alma, ali tudo permanece uma só coisa.

A luz natural da alma é a manhã. Quando a alma irrompe na parte mais


elevada e mais pura daquela luz e assim entra na luz do anjo, aquela luz é a
metade da manhã: e então a alma se levanta junto com a luz angelical até a luz
divina e a noite.”

Então ele fala (S.João): “Era noite naquele dia. Este é o dia da alma”. Ele
descreve aqui o processo dentro do desenvolvimento espiritual: primeiro a luz
natural, então a luz angelical e depois meio-dia e depois noite e então meia-noite,
que é a escuridão, que é a luz sem luz. Num dia de manhã, meio-dia e noite se
juntam e não se desunem um do outro, ficam um só. "O divino na alma abre-se
cada vez mais, até que um dia completo se realiza, mas a manhã não foge do meio-
dia, nem o meio-dia foge da noite: fecham-se totalmente num só". Tudo está fechado
em um.

A lua passa por diversas fases: lua cheia, lua nova, lua crescente e lua
minguante, estas quatro fases da lua comparam-se com o despertar do espírito da
iluminação: a prática, o espírito da iluminação, a iluminação e o Nirvana.

Estas quatro fases parecem ser diferentes, mas para nós e para o Mestre
Dogen elas formam uma unidade, um círculo ou um ciclo. Quando despertamos para
o espírito da iluminação, neste instante o despertar já está completado, por isso
começamos com a prática. Esta prática é uma manifestação da iluminação e assim
alcançamos a iluminação (capítulo do Bendowa do Shobogenzo). Muitos tem ilusões,
e quem tem ilusões na iluminação é um ser humano, mas quem ilumina as ilusões é
um Buda. Algumas pessoas acumulam ilusões sobre ilusões, e algumas realizam
iluminação após iluminação.

No meio está a lua cheia e lá a lua crescente e aqui a lua minguante e isto
representa o espírito do Bodhisattva. Aqui está o Bodhisattva, que quer ficar cheio, o
Bodhisattva que quer ficar Buda. E ele estuda mais e mais e aproxima-se assim da
lua cheia do estado de Buda. Isto significa que no momento ele bebe três ou quatro
luas cheias, porque ele ainda não está cheio, por isso ele precisa beber diversas luas,
para ficar cheio. Depois que ele se tornou lua cheia, ele emagrece novamente, e nós
dizemos que ele vomita sete ou oito luas. Este é o segredo do Bodhisattva, de um
lado ele quer ficar cheio, mas ao mesmo tempo ele quer ficar lá, onde ele está, e este
é o paradoxo do Bodhisattva. Outra maneira de falar é ter menos desejos.
Geralmente queremos cada vez mais coisas, e não há fim neste desejo.

No mundo social as pessoas querem cada vez mais, mas o espírito do


Bodhisattva não é assim. Eu não preciso me tornar Buda. Eu tenho, sem dúvida,
todas as condições para ser Buda, mas eu não quero me tornar Buda para através
disto ajudar os outros, mas quero continuar neste mundo com seus sofrimentos,
problemas, conflitos e deformações. Neste momento a lua ainda não está cheia, mas
ao mesmo tempo está cheia. Nesta situação não estamos cheios, mas estamos
satisfeitos com isso. Esta é uma atitude espiritual do Bodhisattva, mas este estado é
semelhante à lua cheia, que quer dizer, perfeito em si mesmo. Nós somos cheios de
problemas, mas nós também somos perfeitos e completos, este é uma questão da
simultaneidade. Eu disse que quando despertamos o espírito da iluminação, que já
alcançamos a iluminação. Mas quando alcançamos a iluminação, precisamos
mesmo assim continuar despertando o espírito da iluminação. Despertá-lo uma só
vez não é suficiente. Mestre Dogen disse que o despertar do Bodaishin, o espírito da
iluminação, é como o olho do peixe, que apodrece alguns dias depois. Quando
desejamos o espírito da iluminação, precisa ser uma pérola, que nunca
desaparece. Quer dizer que não devemos despertar o espírito da iluminação só uma
vez, ou cem vezes ou mil vezes, porém a cada momento, sempre de novo, mesmo
depois de já termos alcançado a iluminação.

Nós estamos agora neste lugar e nesta condição, mas dentro desta condição
estão contidas as três condições restantes, e quando chegamos à próxima condição,
então esta contém também as três outras e assim por diante.

A moderna psicologia Gestalt conseguiu entender esta teoria, um grupo de


pessoas anda em círculo. Eu estou aqui, um outro está lá e um outro está acolá, e
todos andam para a frente. Lá e acolá está meu futuro. No momento estou aqui, mas
se eu continuar andando eu chegarei até lá e depois acolá; e assim o futuro fica o
passado, e o passado fica o futuro, e assim por diante.

Quando queremos melhorar, precisamos estudar o nosso passado. E se


queremos ver como será o futuro, precisamos analisar as nossas ações e as ações
das outras pessoas no presente, então veremos o que acontecerá nos próximos dez
anos.

Deixem-nos voltar ao Meister Eckhart: “Quando a luz deste mundo cair e o


homem estiver recolhido em si mesmo e estiver descansando, aí fala Deus: ‘paz’ e
de novo ‘paz’ e recebe o Espírito Santo. Isto não é difícil de entender, eu o repeti
muitas vezes: ‘Quando a luz deste mundo cair e o homem tornar-se introspectivo e
repousar, então virá a paz, a eterna paz.’

E Ele também disse: ‘Era noite naquele dia e lá estava nosso Senhor no meio
de seus apóstolos e falou: "A paz esteja convosco".’ Que cheguemos à eterna paz e
ao lugar anônimo que é o ser divino.”
Eterna paz e ao mesmo tempo lugar anônimo, este lugar sem nome. Meister
Eckhart disse que a manhã torna-se meio-dia, o meio-dia vira tarde, e a tarde torna-
se noite; mas no dia das almas (as partes do dia) não se desassociam, tudo torna-se
uno.

Eu comparei a lua do Mestre Dogen ao sol ou à luz do Meister Eckhart, e


nota-se a semelhança no que foi expressado por todos eles. É simplesmente uno,
embora dito de maneiras diferentes.

Hoje em dia é diferente, mas antigamente as casas do Japão eram feitas de


madeira e papel. Esta é uma expressão da impermanência, de transitoriedade. Cada
trinta ou cinqüenta anos uma nova casa tinha que ser construída, de modo que
construíamos uma casa para mais tarde demolí-la. Mas este não é o fim, podemos
fazer uma nova, da mesma forma acontece com as plantas. Quando uma
planta desaparece, de sua semente virá uma nova planta, este fluxo sempre
continuará. É o ciclo da natureza, como inverno, primavera, verão e outono.
Em relação à vida humana é a mesma coisa. Depois da infância passamos à
puberdade. Nosso corpo muda, temos a primeira menstruação ou a primeira
ejaculação. Mais tarde casamos e temos filhos, ficamos velhos e finalmente
morremos. É o ciclo da natureza, e nós o aceitamos sem problemas e conflitos. Nós
vivemos simples e naturalmente com este ciclo.
A VIRGEM E A MULHER DE PEDRA- A OVELHA E AS VIRGENS
Sétima Palestra

“São João viu uma ovelha no Monte Sion e ela tinha escrito em sua testa
seu nome e o nome de seu Pai, ela tinha com ela cento e quarenta e quatro mil
pessoas. Ele diz que eram virgens e entoavam uma nova canção, que somente
elas podiam cantar, e elas seguiam a ovelha por onde quer que ela fosse.”

Este trecho da Bíblia fala novamente de uma montanha, o Monte Sion. Eu


falei diversas vezes que o Instituto Kamalashila é uma montanha. É como o Monte
Sumeru, aquele que na mitologia budista representa o centro do universo. Eu não
conheço bem o significado da ovelha dentro do Cristianismo, talvez seja uma coisa
ligada com submissão, mas segundo me consta, Jesus Cristo disse: “Eu vou
pastoreá-los como minhas ovelhas, que me conhecem e que me seguem.”

Aqueles que são apóstolos no Cristianismo, ou no Budismo aqueles que estão


na Sangha, todos que se esforçam para seguir o Caminho, estes são as ovelhas.

"Minhas ovelhas ouvem minha voz", diz Cristo.

Ele disse que todas eram virgens. Virgem significa aqui, como já falei
anteriormente, livre de todas as imagens. Para nós budistas, livre de todas as coisas
do mundo. Finalmente significa no Budismo trilhar mu-i, a não-ação mushin, a não-
mente e muga, o não-ego. Este mu, que quer dizer não, nada, é uma característica
do Zen-Budismo.

Meister Eckhart também fala freqüentemente sobre mu, dizendo que Deus é o
nada. "E elas cantavam uma nova canção, que só elas podiam cantar". O que é esta
canção? No Hokyozanmai há o seguinte trecho: "O homem de madeira se levantou
e começou a cantar e a mulher de pedra se levantou e começou a dançar."

Estas palavras não podem ser compreendidas com o intelecto, isto é, a pessoa
não pode refletir discriminatoriamente sobre estas palavras.

"Elas entoavam uma nova canção". O que significa a palavra "Nova"? Quando
alguém torna-se Buda, ele é uma nova pessoa. O velho ego precisa morrer, e
precisamos renascer, como um ser novo. Novo aqui não quer dizer o antônimo de
velho, porém sinônimo de absoluta verdade.

Há muitos tipos de música, música popular todos conhecem, mas música


clássica e religiosa nem todos conhecem e gostam.

Há a canção da terra e a canção do céu. Estas duas últimas são difíceis de


ouvir.

"Elas entoavam uma nova canção, que ninguém podia cantar" e "O homem
de madeira levantou-se e começou a cantar" e "A mulher de pedra levantou-se e
começou a dançar"; e isto eles o fizeram para o som da flauta sem furos e do violão
sem cordas.

Nós podemos ouvir esta canção e dançar com esta música. Nós podemos de
fato fazer isto. Nós podemos ouvir o som batendo palmas com uma só mão.

"E elas seguiam a ovelha independente de onde ele ia". Elas o seguiam. Esta é
a constante e ininterrupta prática, como eu esclareci ontem, Gyoji Dokan, o círculo
da prática incessante, a iluminação e o Nirvana. Ao despertamos o espírito da
iluminação, neste instante, ao mesmo tempo, recebemos Bodhi, a iluminação.
Quando praticamos, vem a iluminação e simultaneamente precisamos muitas vezes
continuar.

Nós temos um caminho, um super-caminho, nós subimos e subimos a


montanha, mas este subir é ao mesmo tempo um "descer". Este é o caminho do
Bodhisattva. Tratamos de nos tornar perfeito, mas ao mesmo tempo temos
necessidade de nos tornar Buda e retornar a este mundo de sofrimentos.
Recebemos, como as outras pessoas, sofrimento e dor, mas ao mesmo tempo
também não os recebemos, porque estes sofrimentos e dores não mais penetram até o
nosso âmago, porque não mais trabalhamos de modo egoísta neste mundo, mas sim,
trabalhamos para os outros.

Meister Eckhart disse que o sofrimento que vem a nós, quando estamos nesta
condição, não é mais absorvido por nós, mas já recebido por Deus.

Há muitos tipos de Bodhisattva, assim como por exemplo o Buda da medicina


Amitaba, que falou: “Quando nem todos podem ser Buda, então eu também não
quero ser Buda.” “Quando Amitaba torna-se Buda,” significa que todos nós seremos
Budas. Por que não acreditamos nisso, mas procuramos por algo fora de nós?

Quando alguém morre no Japão, dizemos que virou Buda. Isto quer dizer
que durante a sua vida neste mundo, ele viveu como um Bodhisattva.

Uma pessoa é a criança de seus pais, e ao mesmo tempo irmão ou irmã, neto
ou sobrinho, amigo e assim por diante. Assim tem a mesma pessoa muitos tipos de
relações com os outros, e assim ele trabalha para os outros.

Todos querem o absoluto, a eternidade ou o paraíso, mas após a prática Zen


nós mudamos esta noção por completo.

Dois monges subiram uma montanha e alcançaram o pico mais elevado e de lá


olharam a vista panorâmica. E um deles falou: "Maravilhoso", "Aqui realmente é o
paraíso". O outro monge retrucou: "Você tem razão, mas que pena!" Ele queria
dizer, vista maravilhosa, mas eles não podiam ficar lá para sempre, porque no pico
da montanha não tem o que comer, nem lugar para dormir, portanto eles precisam
retirar-se deste lugar novamente, e voltar novamente para o mundo, de volta para a
cidade, onde há muita sujeira, etc.

No Vimalakirti Nirdesa Sutra é dito que um dos discípulos de Buda era


especialista em meditação Zen. Um dia ele voltava de sua caminhada de
mendigação para o mosteiro. Quando ele ia subindo a montanha ele encontrou o
Vimalakirti e perguntou: “Aonde você vai?” Vimalakirti respondeu: “Eu estou
voltando para o mosteiro”, “Mas Vimalakirti, o mosteiro fica na direção contrária
a qual você está indo!” “Não, meu mosteiro também está na cidade”. Esta história
explica que onde estamos, lá está o mosteiro. Lá onde trabalhamos, no escritório ou
no hospital ou na escola ou onde for, lá está nosso mosteiro.

E nós chegamos aqui na montanha. No Zen dizemos que nunca estamos


separados do mosteiro durante toda a duração de nossas vidas. Em outras palavras,
lá onde vamos, lá está também o mosteiro.

A vida do mestre Kodo Sawaki foi exatamente assim. Ele viajava o ano inteiro
com sua agenda programada e ficava em muitos lugares, algumas vezes poucos dias,
outras vezes muitos dias. E onde ele ia, lá sempre havia um grupo Zen. Muitos e
muitos anos ele fez este trabalho, e foi assim até um ano antes de sua morte. Após a
sua morte apareceram muitos discípulos dele, que antes eram desconhecidos e que
muitas vezes nem se conheciam entre si, mas todos eram alunos de Kodo Sawaki.

Ele (São João) disse: Elas eram virgens e estavam na montanha e estavam
confiadas a uma ovelha, e separadas de todas as criaturas, e seguiam a ovelha,
aonde ela fosse.

Na montanha está este mosteiro. Em sânscrito dizemos Aranya, que quer


dizer floresta, onde a Sangha de três Budas pratica, distante de todo ruído e das
muitas coisas das grandes cidades. Lá está localizado o lugar correto para a
meditação.

"Na montanha" quer dizer "Nossa sublimidade e pureza". Precisamos


penetrar cada vez mais nesta sublimidade e pureza, até nos tornarmos uma "Virgem".

Há dias atrás eu disse que havia uma floresta de sândalos, na qual só viviam
leões. Os leões têm um costume especial de educar os seus filhotes. Quando os
filhotes de leão nascem, eles são testados. O pai ou a mãe jogam o filhote ladeira
abaixo, e o filhote começa a subir. Quando o filhote arrasta-se de volta ao topo do
lugar, ele é novamente estapeado para baixo. O filhote não entende e recomeça a
subida, a mãe novamente o empurra para baixo, o filhote torna a subir novamente e
finalmente antes da mãe o empurrar de volta, o filhote ruge energicamente para a
mãe. Neste momento diz a leoa: “Muito bem, muito bem, você é meu filho, vem cá.”
Quando o filhote cai encosta abaixo e não retorna sozinho, ele é fraco, então ele
morre, e deve morrer. O leão é o rei da selva, quando ele ruge para os outros
animais, todos ficam amedrontados.

O sermão do Buda é como o rugido do leão; por isso o leão se tornou o


símbolo do Budismo e até hoje na bandeira da Índia ainda está representada a cabeça
do leão. Este símbolo vem dos pilares do palácio do rei Ashoka.

Negar todas as criaturas, isto quer dizer estar livre de todas as imagens e
coisas da criação, isto é, virgem, o estado antes do nosso nascimento. Nós o
chamamos no Zen de fu-sho, o Zen do não nascimento, dessa forma as pessoas estão
livres de todos os tipos de pecados e sujeira. Um outro símbolo do Budismo é a flor
de lótus, ela é muito bonita, apesar de florescer na lama. Podemos também dizer
que nós temos muita ignorância, mas com purificação e limpeza transformam-se
nossas ilusões em sabedoria.

Em cada Sesshin nós recitamos: “Vivemos neste mundo como a flor de lótus,
livres de toda a sujeira.” Nenhum tipo de sujeira ou maldade podem jamais nos
macular. Nós nos inclinamos em gasshô, uns diante dos outros. Cada um possui a
natureza-Buda e por isso eu me inclino diante da natureza-Buda dos outros. Quando
eu faço gasshô, e me inclino diante de você, abre-se a flor de lótus da natureza-Buda
dentro de mim. No botão da flor já está contida a semente da natureza-Buda e
através do gasshô abre-se o botão da flor, tornando visível a semente da natureza-
Buda.

"Se você é uma virgem e está confiada ao cordeiro e negada a todas as


criaturas, então você segue o cordeiro para onde ele for.”

A virgem segue o cordeiro em todas as situações. Para nós Budistas isto


significa a constante prática, o que em japonês chama-se de gyoji.

No Shobogenzo do Mestre Dogen há dois capítulos sobre gyoji. Os dois


capítulos são bastante extensos, por isso Mestre Dogen os separou em dois. Lá são
citados muitos nomes de Budas e Patriarcas, cada um deles foi escolhido pelo
Mestre Dogen e quando nós achamos o nome de algum Mestre ou velho Patriarca lá,
essas pessoas são dignas de toda confiança. Há muitas histórias e episódios da vida e
das ações desses personagens (Budas e Patriarcas). Este capítulo não é muito difícil
de entender, porque fala somente da constante prática de cada um dos patriarcas. No
Shobogenzo há 95 capítulos, uma parte deles fala sobre profunda filosofia; uma
outra parte das tarefas diárias, como usamos o Oryoki (a tigela de mendigação),
como limpamos o banheiro, ou como usamos e lavamos o Kesa. Um outro capítulo
trata da vida monástica, e do Angô, o Sesshin de verão de três meses. Para nós a
transmissão do Zen se dá durante a prática intensa de zazen e do Sesshin. E depois
também há o Angô, que é prática intensiva durante noventa dias. Neste período de
noventa dias, todos se juntam como nós aqui. Onde o Angô é dado completo, lá o
Zen-Budismo é realmente transmitido. Para nós no Zen-Budismo a pergunta é: como
podemos continuar com a prática após nos tornarmos um Bodhisattva ou após
recebermos a ordenação de monge. Isto não significa que devamos nos esforçar para
subir para um grau hierárquico superior, porém como podemos continuar adiante
com a nossa prática.
A VIRGEM E A MULHER DE PEDRA
Oitava Palestra

Costuma-se dizer: alcançar a iluminação é como quebrar uma pedra, acontece


só uma vez porque depois precisamos eliminar aos poucos o pó. Estas são as muitas,
muitas coisas que estão armazenadas em nosso inconsciente.

Quando vivenciamos o Zen no começo, muitos obstáculos podem ser


encontrados no nosso dia-a-dia. Para isso existe um grupo de Koans, que em
japonês chama-se de Nanto. Nanto quer dizer que é difícil passar por estes Koans.
Difícil porque o Koan não depende só da compreensão, porém precisamos
vivenciar e absorver o Koan em nossa vida diária.

Há por exemplo a história de uma senhora idosa, que em seu terreno garantia
o sustento de um monge em uma choupana de eremita, que ali viveu às suas custas
durante 20 anos. Um dia ela mandou a sua filha ao monge para abraçá-lo e depois
lhe perguntar “O que você sentiu?”. O monge respondeu: “Eu sou como uma pedra,
com uma árvore seca em cima, no inverno. Quer dizer, sou todo frio e não tenho
mais o coração quente dos seres humanos.” A velha senhora retrucou: “Este monge
é um charlatão,” e botou fogo na choupana e a queimou.

Este Koan é interpretado de maneira diferente pelas várias escolas. O monge


abandonou a casa e foi embora sozinho. A velha senhora olhou atrás do monge e
chorando, disse: "Oh, como este monge cresceu durante estes 20 anos. Ele é grande
bastante para trabalhar para o mundo. Ele não pode ficar aqui."

A atitude da velha senhora, no final, foi uma atitude de grande compaixão.

Quando uma mulher jovem e bonita quer dormir conosco, então isto nos
parece agradável e positivo, mas quando alguém nos queima a casa isto nos parece
doloroso, mas o monge aceitou a situação com naturalidade, e foi embora.

Algumas vezes nos aparecem os demônios mascarados de Buda, e algumas


vezes nos aparece o Buda mascarado de demônio.

Uma outra história: Uma freira amava muito o Buda Amitaba, mas em seu
templo havia muitas imagens de outros Budas, não só do Buda Amitaba. Quando ela
queimava incenso, a fumaça ia naturalmente para todos os demais Budas, mas ela
queria que só o Buda Amitaba recebesse o aroma, e ela tentava pegar a fumaça para
conduzi-la unicamente para o Buda Amitaba, conduzindo-a por intermédio de um
tubo até o nariz do Buda Amitaba.
Uma noite Amitaba apareceu para a freira e ela ficou grávida, porque
demônios aproveitaram-se do relacionamento dela com Amitaba. Neste caso,
demônios usaram a máscara de Buda.

Logo, quando o sofrimento chega até você através de seus amigos ou através
de você mesmo, isto complica muito a sua vida diária.

Um outro Koan, encontrado no Mumonkan, é o da vaca, que atravessou uma


janela com a cabeça e as pernas, mas seu rabo ficou não passou pela janela. Por que
o rabo não passou, como o resto do corpo?

Se ela desse um passo adiante, ela cairia num buraco fundo e se ela desse um
passo para trás, ela novamente estaria na situação anterior. O que significa este
rabo? Quando vocês tiverem qualquer tipo de problema dentro de vocês, então este
momento é o rabo para vocês. Se vocês querem fugir ou esquecer este problema,
então vocês cairão no buraco. Se vocês querem voltar atrás, então vocês estarão
enfiados de uma vez no problema, e isto seria um erro. Não podemos evadir o
problema, e quando o seguramos, sofremos, esta é uma situação paradoxal. Mas
quando vocês são virgens e livres de todas as coisas deste mundo, livres das
criaturas e das imagens, então vocês não se incomodarão com nada, e este é o
caminho do meio.

“São João teve uma visão de uma ovelha ficando, junto com esta ovelha
haviam pessoa que não eram deste mundo e que não tinham o nome de esposa.
Elas eram todas virgens e ficavam tão próximas quanto possível desta ovelha.
E onde quer que a ovelha fosse, elas a seguiam, e elas entoavam uma canção
especial com a ovelha, e tinham os seus nomens e o nome do seu pai escritos em
suas testas.”

Importante é que elas não eram terrenas, não eram deste mundo. De onde
vieram? Talvez elas sejam um homem de madeira e uma mulher de pedra, que não
são deste mundo. Uma mulher de pedra e um homem de madeira não significam mais
do que emoções deixadas para trás. Trata-se do estado de morte religiosa. Nós
precisamos atravessar este estado.
Diz-se que numa maratona existe sempre um ponto em que não conseguimos
mais nos superar, a não ser com grande dificuldade. Nós o chamamos de
ponto da morte. Quando ultrapassamos este ponto, então tudo fica mais fácil.
Neste ponto os músculos, todas as partes do corpo e o fôlego não funcionam mais,
mas nesta altura precisamos dar mais um passo, é por isso que este treinamento é
tão difícil. O treinamento Zen propriamente dito não é difícil, porém a nossa vida
mesma é difícil. É muito difícil para nós olharmos a verdade nos olhos, mas vocês
sabem que as coisas que para nós têm muito valor são difíceis de alcançar. Como a
pérola do dragão, precisamos primeiro lutar com o dragão, antes de tirar a pérola
dele.

Elas eram todas virgens, e estavam tão perto da ovelha quanto era possível.
O que quer dizer tão perto da ovelha quanto era possível. Quedistância havia
então? 10mts, 5 mts, 1 mt, 5 cm, 1 cm, 1mm, zero mm? Tão perto quanto possível.

Quando vocês praticam Zazen, vocês não precisam se preocupar com a prática
do Zazen, pois depois estaremos com o mestre olho no olho, e veremos com os
mesmos olhos que o mestre e falaremos com a mesma boca do mestre. Este é o
significado da proximidade com a ovelha.

E elas o seguiam para onde a ovelha ia, e elas cantavam uma canção
especial. O que é uma canção especial? A canção de uma flauta sem furos e de um
violão sem cordas, esta é uma canção especial. Vocês gostariam de cantar e dançar
esta canção? Nós podemos fazer isto, cantar e dançar com elas, mas para tal
precisamos ser virgem.

“E São João diz que ele viu uma ovelha na montanha. Eu digo: S.João, ele
próprio, era a montanha, na qual ele viu a ovelha. Quem quiser ver a ovelha de
Deus deve ele mesmo ser a montanha e subir na sua parte mais pura e mais
elevada.”
São João era ele próprio a montanha. Esta é uma outra teoria típica Zen.
Santos e sábios vivem no fundo das montanhas. As montanhas são seu corpo e seu
espírito. Santos e sábios realizam as montanhas disse Dogen Zenji.

Vocês se separaram de sua famílias após o Natal e vieram aqui para a


montanha. Hoje no último dia deste Sesshin vocês penetraram mais fundo nas
montanhas, mas vocês não entraram só mais fundo nas montanhas vocês próprios se
tornaram montanha. Devido a isso diz o mestre Zen: “Quando você está sentado
como uma montanha,o que você pensa?” Este "como" não é termo de comparação,
porém vocês próprios são montanha, assim como o Monte Sumeru ou o Monte Sion,
está no centro do universo.Este mundo de sujeito e objeto ou de objeto e sujeito está
separado em dois: eu e vocês, bom ou mau, tudo é dividido em dois. No mundo
Zen olhamos da altura das montanhas mas a altura das montanhas está
abaixo da sola de nossos pés. Isto é muito difícil de entender, só através de muita
vivência. Um monge perguntou ao Mestre Joshu: “Qual é o significado da vinda de
Bodhidharma da Índia?” Mestre Joshu respondeu: “O carvalho no jardim.”

Aparentemente não há nenhuma relação entre pergunta e resposta. O monge


disse: “Mestre, não me mostre isso com um objeto.” “Não ,não lhe mostro isso
nunca com um objeto.” “Por que veio então Bodhidarma da Índia para a China?”
Mestre Joshu respondeu: “Olhe novamente o carvalho no jardim. E se você não
entende, então há Kyosaku.” Para nós, quando olhamos para algo, quando nós
olhamos a montanha, então a montanha olha para nós. No fundo, somos a própria
montanha, esta é a prática do Zen. Quando vocês praticam Zazen, então vocês e
Zazen são duas coisas diferentes. Mas no Sesshin, através do sentar, sentar, sentar,
Zazen se torna Zazen e depois Zazen torna-se vocês, e vocês se tornam Zazen. Neste
momento, nós e Zazen não podemos mais ser separados, e assim nós tornamos real o
Samadhi. Esta união, simplesmente um, esta é a misteriosa experiência.

Um samurai estava de viagem, então ele chegou a uma aldeia, onde diziam
que lá nas montanhas era muito perigoso, porque havia um demônio nas montanhas.
Muitas pessoas foram às montanhas e nunca mais voltaram. O samurai respondeu:
“Sim, eu sei, por isso vim até aqui.” “Muitos samurais também falavam assim, e
todos foram mortos.” “Não tem importância, eu quero tentar.” E ele continuou a
viagem e subiu a montanha e encontrou o demônio. Primeiro ele pegou o arco e
atirou com toda a força, mas o corpo do demônio era como borracha e a flecha
ricocheteou e caiu no chão. A lança, que ele também jogou com toda a força, ficou
espetada na superfície do corpo, e o samurai não conseguiu enfiá-la mais fundo no
corpo do demônio, e nem retirá-la. Como próximo passo, ele pegou a sua espada,
mas com todas as armas era a mesma coisa. No fim, ele ainda tinha uma pequena
faca disponível, e esta ele fincou com toda a força na barriga do demônio, mas este
último ria ainda e pegou o samurai. Mas o samurai preservou a sua calma, e isto
admirou o demônio, e o último disse:
Demônio : Você é diferente dos outros guerreiros, porque você não se lamenta
e chama por ajuda?
Samurai : Por que deveria eu pedir por ajuda?
Demônio : Todos os outros gritaram e lamentaram-se, e isto me fazia muito
feliz.
Samurai : Você é muito maluco.
Demônio : Por quê?
Samurai : Porque na verdade você está em mim e eu estou em você. Se você
me devorar, então você devorará a você mesmo. Você entende?
Demônio : Eu não entendo, mas você é diferente dos outros, e vá embora!

Há uma condição em que vocês e eu não estamos nunca separados. Quando


vocês tomam cachaça, eu fico embriagado. Esta é a promessa do Bodhisattva: se
todos os seres humanos não se tornarem Buda, ele não quer ficar Buda, porque ele e
todos os seres humanos são simplesmente um.

No Vimalakirti Nirdesa Sutra é dito: quando Vimalakirti ficou doente, quem o


visitou foi o Bodhisattva Manjusri junto com outros. Depois de alguma conversa
Manjusri perguntou: “Por que você, que é iluminado, ficou doente?” Resposta de
Vimalakirti: “Porque as pessoas têm muitas doenças, por isso eu também fiquei
doente.” Isto é fácil de entender, quando as próprias crianças ou a própria mãe ou
pai ou amigos próximos ficam doentes, então os tratamos incansavelmente sem
dormir e sem comer. Neste momento somos nós e a mãe e o pai ou as crianças uma
unidade só.

E assim é aqui: “Eu digo que S.João, ele próprio era a montanha, na qual ele
via a ovelha.” E quem quiser ver a ovelha de Deus, precisa se tornar montanha.
Quando quisermos realizar Deus, precisamos nos tornar como uma montanha; se
quisermos conseguir o verdadeiro Zazen, precisamos nos tornar a montanha, e
precisamos subir até o mais alto e mais puro ponto. Neste momento, não pensamos:
“Eu não sou capaz para isso.” Mestre Dogen disse:

“Nem os Budas e nem os patriarcas tinham ossos de ouro. Todos eram no


começo homens comuns como nós. Mas todos continuaram praticando, mesmo
tendo problemas, ou dores ou outras aflições. E finalmente, eles se tornaram
patriarcas.”

“Eu já disse de certa feita: Os virgens devem seguir a ovelha, onde quer
que ela vá, não se deixando ficar para trás. Alguns desses são virgens e outros
não são, apesar de acharem que são. Aqueles que verdadeiramente são virgens
seguem a ovelha onde quer que ela vá, na alegria ou na tristeza. Alguns seguem
a ovelha enquanto ela está na doçura e na tranquilidade; mas tão logo isto se
transmute para a tristeza e o desconforto e o sofrimento, eles dão as costas e não
mais a seguem. Estes não são verdadeiramente virgens. Muitos dizem: Pois é,
Senhor, eu talvez posso chegar até lá, na honra, na riqueza ou na ventura. Se a
ovelha assim vivia, assim eu os permito que também vivam; as verdadeiras
virgens o acompanham através das dificuldades das alegrias, aonde ela queira ir
(Eckhart).”

Aqui é comentada a qualidade das virgens, que seguem a ovelha aonde ele vá,
e não desejam voltar. No Budismo existe um estado, que descreve exatamente esta
condição, o não-voltar para trás. Quando alcançamos este estado, depois de longa
prática e experiência, mesmo quando queremos fazer algo errado ou ceder a
alguma tentação, não podemos mais fazê-lo. Um grande poder então está lá, que nos
põe novamente no caminho certo, ao invés de trilharmos caminhos errados.

No treinamento Zen é dito que somos dirigidos para a libertação, mas de certo
modo, no meu entender, isto não é certo. No caso do menor deslize, quando
tentamos não ser correto, somos imediatamente reajustados ao caminho certo por
Buda ou pelo mestre: “Não, assim não vai, assim não vai.”

Aquelas que são verdadeiras virgens, seguem a ovelha aonde ele for, na
alegria ou no sofrimento.

“Mas as verdadeiras virgens seguem a ovelha através dos apertos e


amplitudes, aonde ele for”.

Referente a esta frase eu me lembro do seguinte: “Não pensem nem bem nem
mal, sigam apenas o caminho de Buda e patriarcas.” Não é importante o que outra
pessoa pensa de nós, quando se trata do caminho. Nós o seguimos, seja debaixo de
reclamações ou de críticas, neste momento não colocamos a nossa idéia de bom ou
de ruim, porém simplesmente aceitamos os ensinamentos dos Budas e patriarcas, e
seguimos firmes em suas pegadas. Hoje este caminho no mato desapareceu, mas se
vocês olharem cuidadosamente, vocês descobrirão essas pegadas no mato. Quando
tivermos entrado no "mato" e olharmos à esquerda e à direita, então não mais
haverão acompanhantes. Estaremos simplesmente sozinhos, porque este caminho
não é para qualquer um, só alguns, como os heróis, escolhem este caminho. E estes
penetrarão cada vez mais fundo na floresta ou na montanha, e eles se tornarão a
própria floresta, a própria montanha.

“São João diz: a luz brilhava na escuridão, e entrava em seu próprio ser e
no dos outros que a luz recebiam. Eles se tornaram fortemente Filhos de Deus. A
eles foi dado força para se tornarem Filhos de Deus.”

Então fala Nosso Senhor: “Ninguém reconhece o Pai a não ser o Filho, e
ninguém reconhece o Filho, a não ser o Pai.” Certamente, para reconhecermos o Pai
precisamos ser o Filho, porque o Pai com o Filho não é mais do que o Filho sozinho,
e o Filho com o Pai não é mais do que o Pai sozinho.

Aqui fala o Meister Eckhart da união ou unidade do Pai e Filho, esta é uma
pura e original experiência religiosa. O pai é algo invisível como Sunya, o vazio,
como o universo, mas quando vocês o entendem, então tudo neste mundo é como
árvores, pedras, montanhas. Tudo está em Deus, e quer dizer que o Pai se tornou o
Filho. Ele mandou o seu único Filho para nós, alguém com estatura como o histórico
Jesus Cristo, que tem a mesma qualidade e o mesmo princípio que seu Pai.

Quando vocês estão na cidade, em uma rua cheia de movimento, e encontram


seu pai, vocês não precisam perguntar a uma outra pessoa, se este é seu pai ou não,
vocês o sabem de imediato, por experiência. Quando vocês uma vez têm esta
experiência, vocês reconhecerão o Pai sempre e não o esquecerão nunca.

Em uma passagem do Sansuikyo, do Mestre Dogen, é dito que nós precisamos


estudar como pai e mãe tornam-se filho, mas não só o pai torna-se filho, porém o
filho torna-se pai, isto significa que o Mestre transmite o Dharma a seus discípulos,
neste momento pode o aluno ensinar o Mestre. Se o aluno não tiver esta capacidade,
então o Dharma terminará com o mestre. É dito na escola Zen: “Quando o aluno
estiver com o mestre ombro a ombro, ou seja, se o ombro do aluno alcançar a
mesma altura do ombro do mestre, então ele ganha metade da força do mestre.
Quando o aluno puder subir nos ombros do mestre, o que quer dizer que ele pode
subir mais alto do que o mestre, então ele pode receber toda a força do mestre.” E
assim é de fato muitas vezes, que os alunos não só sentem gratidão pelas instruções
recebidas dos mestres, porém podem tornar-se também adversários do mestre.
Adversários aqui não tem significado negativo, porém positivo, porque quando
aparece um discípulo muito forte então o mestre também se torna muito mais forte
para poder ensinar o aluno, e isto é bom para o mestre.

Como vocês sabem, Jesus Cristo recebeu o Batismo de São João, que veio
batizado do deserto, ele precisou ser batizado. São João soube por si próprio como
batizar a água, mas este homem o batizou com o Espírito Santo.

Esta é a verdadeira maneira de transmitir o Dharma, de geração em geração.

De quem o fundador do Budismo, Buda Shakyamuni, recebeu a transmissão do


Dharma? Ele alcançou a iluminação sozinho. Quem confirmou que esta iluminação
era correta ou falsa? No Budismo, quem descobriu os seis Budas da Antiguidade,
cujos nomes nós recitamos, todas as manhãs, antes do Shakyamuni? Buda
Shakyamuni recebeu a transmissão do Dharma do Buda Kasyapa depois ele estava
preparado para ensinar seu mestre Kasyapa. Quando após o treinamento Zen,
recebemos do mestre o Shihô, a transmissão do Dharma, então precisamos possuir a
força de ensinar nosso mestre. Mas isto não é problema, porque o Budismo é a
transmissão de Buda para Buda, propriamente um só Buda, só um espírito. Isto é
externado através do i shin den shin, quer dizer que este espírito não é o espírito
com o qual nós pensamos, ou sentimos dores no joelho, ou sentimos sofrimentos e
aflições. Este espírito é todo o eterno universo, isto é Buda. Quando vocês deste
modo tornam-se Buda, vocês também se tornam o universo e assim é universo para
universo, e tudo é exatamente um só. Neste instante a transmissão do Dharma é
completa e perfeita.

Um homem preparou uma grande banquete, mas ele não tinha nome, vocês o
conhecem? Sim, ele é Deus. Deus não tem nome, ele preparou um grande banquete
de noite, e ele convidou algumas pessoas: “Por favor venham.” Muitos tinham
desculpas e pretextos e assim não foram, mas o banquete já estava pronto, já
preparado, e não podia esperar. Assim ele mandou seus serventes para as ruas para
buscar os doentes e paralíticos e os fracos e miseráveis, e para todas essas pessoas
foi um banquete maravilhoso.

As pessoas que não podem chegar, que têm compromissos com o mundo,essas
nunca terão oportunidade de saborear a ceia. Qual é o sabor desta ceia? É o sabor do
Dharma, é a alegria e a sorte do Dharma,e não é sorte deste mundo, não é sorte que
possamos achar neste mundo. Todos os mestres, tanto faz sejam cristãos ou budistas,
se uma vez provaram o gosto da ceia, nunca mais o esquecerão e querem levar outras
pessoas para a ceia para prová-la, mas as quando elas não querem ir, nada pode ser
feito.

Quando o Buda ainda era um príncipe, ele algumas vezes ia com seu cavalo
branco para a cidade. Um dia ele encontrou um doente na rua, e Buda perguntou ao
seu servente, “O que é isto?” “Este é um doente,” respondeu o servente. “O que é
doente?” E o servente respondeu: “Todos que têm um corpo ficam doentes.” “Eu
também?” Perguntou o Buda. “Naturalmente.” Buda ficou aflito com isso e voltou
para o palácio.

No outro dia ele encontrou um homem velho. “O que é isto?” “Um homem
velho.” “Quem nasce também envelhece.” Respondeu o servente. “Eu também?”
“Naturalmente.” Na terceira vez, eles encontraram um homem morto. “O que é
isto?” “Um morto.” “Todos que nascem precisam morrer.” “Eu também?”, “Sim,
todos.”

Buda era um príncipe que tinha tudo que podia pensar: saúde, juventude, luxo,
mas os que ele encontrou eram doentes, velhos e mortos, ele não sabia disso. Isto
chamamos de ignorância. Mesmo quando somos instruídos, doutores, quando não
compreendemos este ponto direito, não passamos de ignorantes.

Na quarta vez Buda encontrou um monge, que andava muito calmo e cheio de
dignidade. “O que é isto?” “Este é um monge.” “Oh, este é meu caminho.” Pensou
o Buda. Um dia foi preparado um grande banquete com música e dança, para alegrar
o príncipe, mas todos ficaram muito cansados, porque o príncipe não mostrava
nenhum interesse. Foram afinal deitar e dormir.

Quando Buda Shakyamuni viu todos deitados, então ele teve a impressão de
que se tratava de um cemitério cheio de cadáveres. Neste momento, ele tomou a
decisão, “Agora eu vou embora.” Esta separação de pais, filhos e mulher às vezes é
muito dura para nós. No Sutra é dito que quando ele ia embora com seu cavalo,
muitos anjos levantaram os cascos do cavalo, para que não fizessem barulho. E o
Dharma iluminou o caminho, enquanto Brahma jogava flores para Buda.

Esta é uma expressão literária, mas esta expressão tem vários significados
simbólicos para nós. O campo da religião não é um caminho deste mundo, este
caminho é propriamente uma linha divisória separando o mundo profano do
mundo sagrado.
A VIRGEM E A MULHER DE PEDRA
Textos da Bíblia
T EXTOS DA BÍBLIA QUE INSPIRARAM AS PALESTRAS,
COMENTADAS PELO MESTRE TOKUDA.

Quando Era de Noite

Jacó o patriarca veio a um certo lugar quando era de noite e ele pegou
algumas pedras que estavam naquele lugar e as colocou sob sua cabeça, e
descansou. (Gen.28:11)

O lugar onde Jacó dormia não tinha nome, isto quer dizer que a Essência de
Deus apenas é o lugar da alma, e não tem nome.

Jacó descansou naquele lugar que é sem nome. Não sendo nomeado, é
contudo nomeado. Quando a alma vem a um lugar sem nome, ela toma o seu
descanso.

Ali, onde todas as coisas estiverem sendo Deus em Deus, é que ela descansa.
Aquele lugar da alma que é Deus, é sem nome. Deus é não-falado.

Ele diz: há um lugar; ele não falou que lugar era este. Este lugar era Deus.
Deus não tem um nome para si mesmo, e é o lugar e a posição de todas as coisas e é
o lugar natural de todas as criaturas.

Naquele lugar a alma vai descansar, na parte mais elevada e mais interna
daquele lugar. E no mesmo chão, onde Ele tem o Seu próprio descanso, nós também
teremos o nosso descanso e o possuímos com Ele.

O lugar não tem nome, e não há quem o possa mencionar com palavras
adequadamente.

Nós lemos no evangelho que o Nosso Senhor evitou a multidão e subiu na


montanha. Então ele abriu a sua boca e os ensinou sobre o reino de Deus.

Moisés foi para dentro de uma nuvem e subindo na montanha ali ele
encontrou a Deus e na escuridão ele achou a verdadeira luz. (Ex. 20:21)

Ele subiu as montanhas. Isto quer dizer que Deus com isto mostra a
sublimidade e a doçura da sua natureza, da qual deve sair fora tudo aquilo que é
criatura.

Portanto, quem quer que queira receber o ensinamento de Deus deve subir
nesta montanha.

A Luz e a Escuridão

São João disse: a luz brilhou na escuridão, veio a si mesma, e tantos quantos
a receberam se tornaram com toda a autoridade filhos de Deus; a estes foi dado o
poder de se tornar como filho de Deus.(João 1;5, 11-12)

A luz brilha na escuridão, e a escuridão não a compreende.(João 1:5). Isto


quer dizer que Deus não é somente um começo de todas as nossas ações e de nosso
ser. Ele é também um fim e um repouso de todo o ser.

O começo existe por causa do fim, pois no fim último tudo descansa, o que
jamais obteve o ser racional. O fim último do ser é a escuridão ou essência da
Essência de Deus oculta, cuja luz ilumina , mas esta escuridão não a compreende.

São João diz: Deus é uma verdadeira luz que brilha na escuridão. O que é
esta escuridão?
Em primeiro lugar: um homem não deve se apegar a nada e se segurar com
este nada, de ser cego e de nada saber das criaturas. Eu disse antes: Aquele que vê a
Deus deve ser cego.

Em segundo lugar: Deus é uma luz que brilha na escuridão,ele é uma luz que
nos cega, isto quer dizer uma luz de tal natureza que não é compreendida. E é sem
fim, em outras palavras, ela não tem fim e não conhece fim algum. O cegar da alma
quer dizer que ela nada sabe e de nada está ciente.

A terceira escuridão é a melhor de todas e quer dizer que não existe luz
alguma. Um mestre diz que o céu não tem luz, que é por demais elevado para tal: ela
não brilha e ela não tem nem quente nem frio por si mesmo. Assim nesta escuridão
a alma perdeu toda a luz, tendo superado tudo o que nos chamamos de calor e de
cor.

Foi assim que o profeta disse: Eu me sentarei em silêncio e ouvirei o que


Deus vai me dizer.

O terceiro céu é o conhecimento puramente espiritual, e ali a alma é levada


para longe de todas as coisas corpóreas e objetivas. Ali nós ouvimos sem som e
vemos sem matéria: não existe nem o branco nem o preto nem o vermelho.

No Meio da Noite

É dito na Escritura: No meio da noite, quando todas as coisas estavam


silentes, então, Senhor, a tua palavra desceu dos tronos reais.(Sap. 18:14). Isto quer
dizer que na noite, quando não existe criatura que brilhe ou que olhe dentro da alma,
e na quietude, quando nada fala à alma, então a palavra é falada ao intelecto.

Portanto deve haver silêncio e uma quietude e o Pai deve falar aqui mesmo, e
dar o nascimento ao seu Filho e fazer o seu trabalho livre de todas as imagens.

Esta é a escuridão silenciosa da Paternidade misteriosa. Quando Ele se


adiantou desde o mais elevado, Ele queria mostrar para ela o mistério
oculto da sua essência de Deus secreta, onde ele está em descanso consigo e
com todas as criaturas.

No meio da noite quando todas as coisas estavam em silêncio calmo, foi


falada a mim uma palavra oculta. Veio a mim como um ladrão e escondida. (Sap.
18:14-15).

Por que é que ele a chama de uma palavra, quando ela estava oculta? A
natureza de uma palavra é revelar o que está oculto. Ela se revelou a mim e brilhou
ante a mim me declarando algo e tornando Deus conhecido a mim, e portanto se
chamou de uma palavra.

É contudo o que ficou oculto de mim. É assim que ela chegou sorrateiramente
a mim em uma calma murmurante para se revelar. Veja bem, justamente porque está
oculta é que a pessoa deve sempre persegui-la. Ela brilha e contudo estava oculta.

Era na noite do dia

Era na noite do dia. Então o nosso Senhor veio aos seus discípulos e ficou no
meio e disse: A paz esteja convosco!

Naquele dia a manhã, o meio dia e a noite ficam juntos e não passam, mas no
dia temporal a manhã e o meio dia passam e a noite se segue. Não é o que acontece
no dia da alma, ali tudo permanece uma só coisa.

A luz natural da alma é a manhã. Quando a alma irrompe na parte mais


elevada e mais pura daquela luz, e assim entra na luz do anjo, aquela luz é a metade
da manhã: e então a alma se levanta junto com a luz angelical até a luz divina, e
então é meio dia; e a alma permanece na luz de Deus e no silêncio do repouso puro,
e isto é que é noite; então é mais quente no amor divino.
Quando a luz divina irrompe na alma mais e mais, até que um dia perfeito e
puro venha, então a manhã não dá o seu lugar ao meio dia, ou o meio dia á noite,
mas tudo está fechado em uma só coisa.

Quando a luz deste mundo some o homem se retira e descansa. Então Deus
disse: Paz e novamente Paz e Recebam o Espírito Santo.

Que possamos nós virmos a esta paz eterna e àquele lugar sem nome que é a
essência divina.

A ovelha e as virgens

São João viu uma ovelha no Monte Sion e ele tinha escrito na sua testa o seu
nome e o nome do seu Pai, ela tinha com ela cento e quarenta e quatro mil pessoas.
Ele diz que eram virgens e cantavam uma nova cantiga, que apenas elas podiam
cantar, e elas seguiam a ovelha por onde ela fosse.

Se você é virgem e prometido a uma ovelha e separado de todas as criaturas,


então você seguirá a ovelha onde quer que ela vá. Assim, se o sofrimento vier a
você através dos teus amigos ou de você mesmo por causa de alguma tentação, você
não fica perturbado.

São João teve uma visão de uma ovelha se quedando, e com ela haviam
pessoas que não eram deste mundo e que não tinham o nome de esposa. Elas eram
todas virgens e ficavam tão próximas quanto possível desta ovelha. E onde quer que
a ovelha fosse, elas a seguiam, e elas cantavam uma canção especial com a ovelha, e
tinham os seus nomes e o nome do seu pai escritos em suas testas.

Quem quiser ver a ovelha de Deus deve ele mesmo ser a montanha e subir na
sua parte mais pura e mais elevada.

Eu já disse uma vez: Os virgens devem seguir a ovelha, onde quer que ela vá,
não se deixando ficar para trás. Alguns destes são virgens e outros não são virgens,
apesar deles pensarem que são.

Aqueles que verdadeiramente são virgens seguem a ovelha onde quer que ela
vá, na alegria ou na tristeza.

Alguns seguem a ovelha enquanto ela está na doçura e na tranqüilidade; mas


tão logo isto se transmute para a tristeza e o desconforto e o sofrimento, eles dão as
costas e não mais seguem a ovelha, mas a virgem vai atrás da ovelha através de
lugares apertados, estreitos ou amplos, onde quer que ela vá.

O pai e o filho

São João disse: a luz brilhou na escuridão, veio a si mesma, e tantos quantos
a receberam se tornaram com toda a autoridade filhos de Deus; a estes foi dado o
poder de se tornar em filho de Deus. (João 1:15; 11-12)

Agora o Nosso Senhor diz, Ninguém conhece o Pai exceto o Filho, nem o
Filho senão o Pai. (Mat 11:27)

Na verdade, para conhecer o Pai devemos ser o Filho, pois o Pai com o Filho
nada mais é do que o Filho apenas, e o Filho com o Pai nada mais é do que o Pai
apenas.

Observem: O homem que desta forma é o Filho único, o seu movimento e a


sua atividade e o que for que ele tenha, ele os tem de si mesmo, pois o Filho do Pai
é o Filho eterno, assim como ele desce desde o Pai.

Uma festa de noite


São Lucas escreve para nós em seu evangelho: Um homem havia feito um
grande jantar ou uma festa de noite.

Quem receber dignamente esta refeição deve vir de noite. Quando a luz deste
mundo some, é noite.

Havia um homem. Aquele homem não tinha nome, pois aquele homem é Deus.

Aquele Deus e homem preparou o jantar, aquele homem inexprimível para o


qual não existem palavras.

Quem preparou esta festa? Um homem. Vocês sabem qual é o nome dele?
Aquele que é impronunciável?

Agora o Rei Davi diz: Ó senhor, quão grande e quão múltipla é a tua festa, e
o gosto de doçura que você preparou para aqueles que te amam, não para aqueles
que te temem.(Ps. 31:1)

Agora ele disse ao assistente: Vai e convida aqueles convivas que eu convidei:
tudo está agora pronto.

A alma recebe tudo o que Ele é. Tudo o que alma deseja está pronto agora.
Tudo o que Deus dá tem vindo a ser eternamente: o seu vir a ser está agora novo e
fresco e completamente em um agora eterno.

Então um dos convidados disse. Eu comprei uma cidade, não posso


comparecer. Estes são aqueles que ainda estão ligados a coisas mundanas. Eles não
vão jamais provar desta refeição.

Um outro convidado disse: Eu comprei cinco parelhas de gado. As cinco


parelhas, me parece, referem-se na verdade aos cinco sentidos, pois cada sentido é
duplo, e língua ela mesma é dupla, isto quer dizer na verdade que aqueles que vivem
de acordo com os cinco sentidos não vão jamais provar desta refeição.

O terceiro convidado disse: "Eu me casei, eu não posso vir."

Então o senhor disse, na verdade, eles não provarão jamais as minhas


iguarias!", e ele disse ao assistente, vá por ruas estreitas e por ruas largas e pelas
cercas e pelas estradas principais.

Pelas cercas: alguns poderes estão cercados em um lugar. Eu não ouço com o
poder com o qual eu vejo, e eu não vejo com o poder com o qual eu ouço, e assim
também é com os outros, contudo a alma está por completo em cada membro, e
alguns poderes não estão de forma alguma cercados.

Agora, o que é assistente? O assistente é a fagulha. Ele disse ao assistente, Vá


até as cercas vivas e me traga estes quatros tipos de pessoas: os cegos e os
aleijados, os doentes e os fracos. De fato, não há outros tipos de pessoas que irão
provar da minha refeição.
A VIRGEM E A MULHER DE PEDRA
Glossário

São apresentados a seguir os significados de palavras em sânscrito(S) e


Japonês (J) às quais é feita alusão nos textos das palestras.

ARAHAT (S) - Aquele que alcançou o estado do Nirvana. Assim também são
chamados os grandes discípulos do Buda Shakyamuni.

AVALOKITESVARA (S) - Bodhisatva que representa a compaixão, que salva


todos os seres, assumindo várias formas de acordo com as necessidades.

ANANDA (S) - Discípulo do Buda Shakyamuni, que veio a ser o segundo


Patriarca budista, conhecido como aquele que recordava todas as palavras do Buda.

ANGÔ (J) - Período de treinamento de 100 dias consecutivos que é realizado


duas vezes ao ano nos mosteiros Zen budistas.

ALFA - Primeira letra do alfabeto grego.

AMITABHA (S) - O Buda mitológico que representa a luz eterna, nome do


Buda na escola Budista Terra Pura.

ASHOKA (S) - Rei hindu que viveu cerca de 100 anos após o falecimento do
Buda, considerado grande divulgador do Budismo, e estudado hoje em dia pela
UNESCO, pois tendo sido o único que ganhou todas as batalhas, após isto
abandonou as conquistas como meio de governar.

BHAGAVAT (S) - Um dos mais altos títulos do Buda, aquele que veio para
ensinar.

BRAHMA (S) - O Deus onipresente em seu aspecto criador das religiões


hindus dos Vedas e Upanishads.

BUDA (S) - O homem desperto. É a primeira das Três Jóias. Em outro


contexto representa a figura histórica de Shakyamuni, que viveu no século 5
a.C. na Índia, próximo onde hoje se localiza o Nepal.

BODHISATVA (S) - O ser iluminado que pratica o Caminho para salvar os


outros, que renuncia a entrar no Nirvana até que o último ser vivo se salve.

BASÔ DOITSU (J) - Mestre Zen Chinês do século 13.

BODHIGAYA (S) - Local da Índia onde o Buda Shakyamuni meditou até


atingir a Iluminação.

BODHIDHARMA (S) - Mestre hindu que introduziu o Budismo da Índia para


a China no século 6 D.C. É considerado o vigésimo oitavo Patriarca na Índia e o
primeiro Patriarca do Budismo na China. Chegou à China do Sul por volta de 520
D.C. Meditou durante 9 anos no mosteiro de Shoringi e transmitiu o Dharma aos
chineses.

DOKUSAN (J) - Nome que se dá à entrevista particular do Mestre Zen com


seu discípulo.

DHARMA (S) - O ensinamento budista e a Lei do Universo. É a segunda das


Três Jóias.
DHARMAKAYA (S) - O corpo do Buda cósmico.

EIHEI DOGEN (J) - Mestre Zen budista japonês, introdutor da Escola Soto
Zen da China para o Japão, nascido em 1200 e falecido em 1253.

ENKAN (J) - Mestre Zen budista chinês, discípulo de Basõ, que viveu no
século 6 D.C.

EIHEI-JI (J) - Principal mosteiro da Escola Soto Zen, fundado pelo mestre
Dogen em 13 de julho de 1244.

FUYODOKAI (J) - Mestre Zen Budista chinês, nascido em 947 e falecido


em 1024. É considerado um dos patriarcas da Escola Zen.

GENDRONNIÉRE - Mosteiro Zen budista localizado na França, fundado pelo


Mestre Taisen Deshimaru.

GASSHÕ (J) - O ato de cumprimentar outras pessoas reverenciando com as


duas mãos postas.

GESTALT TERAPIA - Corrente da psicoterapia surgida na Alemanha no


século 20. Procura encarar os fenômenos na sua totalidade.

GYOJI (J) - Prática contínua. É também o nome dado ao 66° capítulo do livro
Shobogenzo, escrito pelo mestre Eihei Dogen.

HAKUIN (J) - Mestre Zen budista Japonês, nascido em 1680 e falecido em


1769. É considerado o renovador da Escola Rinzai no Japão.

HUNG CHUAI (Chinês) - Mestre Zen budista chinês, nascimento não sabido e
falecido em 902. É citado no capítulo Mitsugo do livro Shobogenzo do Mestre
Dogen.

HOJO DAIBAI (J) - Mestre Zen budista chinês, nascido em 752 e falecido em
data desconhecida.

HÔSSHIN (J) - O corpo do Buda cósmico.

HOKYOZANMAI (J) - Seu significado é O Samadhi do Espelho. É um famoso


texto Zen budista, escrito pelo mestre chinês Tozan, nascido em 807 e falecido em
869.

HANNYA SHINGYO (J) - O Sutra do Coração, considerado o Sutra da


Sabedoria budista.

INSTITUTO KAMASHILA - Instituição localizada próximo à cidade de


Bonn na Alemanha, que se dedica ao aperfeiçoamento espiritual do ser humano.

JOSHU (J) - Mestre Zen budista chinês, nascido em 778 e falecido em 897.

KOAN (J) - Literalmente um "documento público". São trechos de Sutras,


textos ou casos de antigos mestres que são usados como técnica de meditação.

KARMA (S) - A lei de causas e efeitos que rege os fenômenos do universo.

KYOSAKU (J) - Um bastão de madeira que é utilizado para encorajar os


monges durante a meditação num mosteiro Zen. É considerado a espada de
Sabedoria, que corta as ilusões.

KINHIM (J) - Técnica de meditação em movimento utilizada nos mosteiros


Zen budistas.

KANNON (J) - O Bodhisatva da Compaixão.

KEIZAN JOKIN (J) - Mestre Zen budista japonês nascido em 1268 e falecido
em 1325.

KESA (J) - O manto do monge budista.

KODO SAWAKI (J) - Mestre Zen budista japonês da Escola Soto, nascido em
1880 e falecido em 1965. Um dos renovadores contemporâneos da Escola Soto
Zen. Jamais possuiu um templo.

KAPILAVASTU (S) - Local na Índia onde nasceu o Buda Shakyamuni.

KUSHINAGARA (S) - Local na Índia onde faleceu o Buda Shakyamuni.

KASYAPA (J) - Buda mitológico da Antiguidade.

KI (J) - Energia vital que atua no Universo, considerada a base da vida.

MEISTER ECKHART - Místico dominicano alemão, nascido em 1260 e


falecido em 1327.

MAHAKASYAPA (S) - Discípulo do Buda Shakyamuni, considerado o


primeiro patriarca do Budismo.

MU (J) - Literalmente quer dizer não. É um famoso Koan da Escola Zen.

MANJUSRI (S) - O Boshisatva da Sabedoria.

MUDRA (J) - Um gesto simbólico feito com as mãos.

MAGADHA (S) - Local na Índia onde Buda pregou seus ensinamentos.

MAITREYA (S) - O Buda mitológico que virá no futuro.

MAHAKARUNA (S) - A grande compaixão do Budismo.

MONTE SUMERU (S) - Montanha que na mitologia budista é localizada no


Centro do Universo.

NENTEI (J) - Técnica de se estudar um Koan.

NIRVANA (S) - A bem aventurança, o cessar dos sofrimentos causados pela


ignorância.

ORYOKI (J) - A tigela onde o monge budista faz suas refeições.

ÔMEGA - A última letra do alfabeto grego.

PRAJNA (S) - Sabedoria fundamental.

PRAJNA PARAMITA SUTRA (S) - Sutra da Sabedoria.

ROHATSU SESSHIN (J) - Um sesshin especial e intenso que comemora a


iluminação de Buda, que é levado nos mosteiros budistas nos dias 1 a 8 de
dezembro.

SAMADHI (S) - Estado da meditação de imperturbabilidade mental.

SHOBOGENZO (J) - Livro escrito pelo mestre Dogen com 95 capítulos. Seu
significado é O Olho da Verdadeira Lei. É considerado um dos mais profundos
tratados da Literatura budista.

SHIHÕ (J) - Entrega do Dharma. É uma certificação do mestre Zen para o


discípulo, confirmando o estágio espiritual do aluno e autorizando-o como professor
do Dharma.
SAMURAI (J) - Antigo guerreiro da época do Japão medieval.

SHAKYAMUNI (S) - O Buda histórico, que viveu na Índia no século 5 a.C.

SEXTO PATRIARCA - É o mestre Zen chinês Hui Neng, nascido em 601 e


falecido em 675.

SAWAKI ROSHI (J) - Mestre Zen japonês nascido em 1880 e falecido em


1965.

SANGHA (S) - A comunidade dos discípulos budistas, a ordem monástica do


Budismo. É a terceira das Três Jóias.

SESSHIN (J) - Literalmente "colecionar pensamentos". É um treinamento


típico da Escola Zen, que dura geralmente sete dias consecutivos, nos quais os
monges e praticantes dedicam-se inteiramente à prática do Zazen, treinando a
concentração em uma só atividade.

SHIKANTAZA (J) - Envolver-se em só sentar. Meditação típica da Escola


Soto Zen.

SUNYA (S) - Vazio, desprovido de atributos.

SÃO JOÃO DA CRUZ - Místico cristão espanhol, nascido em 1542 e falecido


em 1591.

SANDOKAI - Texto clássico da Escola Zen, escrito por Sekito (J), mestre Zen
chinês que nasceu em 700 e faleceu em 790 d.C. A palavra literalmente significa
"condição fundamental e suas atividades reunidas".
A Virgem e a Mulher de Pedra 76

SAMSARA (S) - Eternamente em movimento. É o mundo das multiplicidades,


do apego, sofrimento e da ignorância, colocado como antagônico de Nirvana (S).

SUTRA (S) - Literalmente "um recipiente onde são colocadas as jóias". São os
Sermões do Buda ou os textos de grandes mestres da antiguidade.

SUTRA DO DIAMANTE - Famoso sutra budista onde o Bodhisatva Subhuti


faz perguntas ao Buda.

SANSUIKYO (J) - O Sutra das montanhas e das águas. É o nome do 62°


capítulo do livro Shobogenzo escrito pelo mestre Dogen, considerado muito poético.

SARNATH (S) - Local da Índia onde o Buda ensinou.

TAISEN DESHIMARU (J) - Mestre Zen budista japonês que viveu na França,
falecido em 30 de abril de 1982.

TATHAGATA (S) - Aquele que vem como vem, o absoluto mesmo, um dos
mais altos títulos do Buda.

TRÊS JÓIAS - Buda, Dharma e Sangha.

UMMON (J) - Mestre Zen budista chinês nascido em 862 e falecido em 949.

UDUMBARA (S) - Rara flor da Índia, a qual Buda mostrou a Mahakasyapa


para transmitir-lhe o Ensinamento.

VAIROCANA (S) - Buda mitológico que representa a resplandecência do


Dharma.

VIMALAKIRTI NIRDESA SUTRA (S) - Famoso sutra no qual o Bodhisatva


Vimalakirti, discípulo leigo do Buda e famoso por sua sabedoria, expõe seus
ensinamentos.
YAKUSAN IGEN (J) - Mestre Zen budista chinês nascido em 745 e falecido
em 828.

YIN E YANG - Os dois pólos da realidade de acordo com a doutrina chinesa


do Taoísmo.

ZEN (J) -Provem do original sânscrito Dhyana (S), que quer dizer
meditação, em chinês C'han. É a escola budista fundada pelo mestre hindu
Bodhidharma na China.

ZAZEN (J) - Za quer dizer sentar. Zazen é a fundamental e tradicional prática


budista da meditação.

ZAZENGI (J) - Livro escrito pelo mestre Dogen no qual são relatados
instruções para os praticantes do Zazen, também conhecido como Fukan Zazengi.

ZENDÔ (J) - Sala de meditação dos mosteiros budistas.

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