P ERGUNTA :
“A IGREJA DO NOVO TESTAMENTO
TEM SACERDOTES?”

  R ESPOSTA : Hugo McCord
Um dos grandes temas da Bíblia é o que se
denomina “sacerdócio”. O tema perpassa tanto
o Antigo como o Novo Testamento. Vejamos
mais de perto esse assunto.
O ANTIGO TESTAMENTO VERSUS
O NOVO TESTAMENTO
No Antigo Testamento o sacerdócio não era
universal. Nem todo israelita podia servir como
sacerdote. Somente Arão, seus filhos e netos
deveriam “se dedicar ao seu sacerdócio”, e o
leigo que tentasse executar as obrigações de um
sacerdote era morto (Números 3:10).
Essa exclusividade do Antigo Testamento
não faz parte do Novo Testamento. Pelo con-
trário, todos os que usam o nome “cristão” (1 Pe-
dro 4:16) são honrados pelo seu Criador como
um sacerdócio santo e real. Através de Jesus, os
membros da Sua igreja oferecem sacrifícios
“espirituais”, não literais, sacrifícios que agra-
dam a Deus
(1 Pedro 2:5,
“Vós, porém, sois raça 9). O apósto-
eleita, sacerdócio real, na- lo João lou-
ção santa, povo de proprie- vou a Cristo,
dade exclusiva de Deus, a fim que “nos ama,
de proclamardes as virtudes e, pelo seu
sangue, nos
daquele que vos chamou das
libertou dos
trevas para a sua maravi-
nossos peca-
lhosa luz” (1 Pedro 2:9).
dos, e nos
constituiu
reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a
glória e o domínio pelos séculos dos séculos.
Amém!” (Apocalipse 1:5, 6).
João também registrou uma doxologia ao
morto porém ressurreto Cordeiro porque com o
Seu sangue Ele comprou povos de todas as nações
e fez deles sacerdotes para Deus (Apocalipse
5:9, 10). Esses sacerdotes “dedicam a vida a ele
somente” 1 . Por isso, o Novo Testamento, em vez
de exaltar uma classe sacerdotal, destaca todos
os cristãos — homens e mulheres, jovens e adultos
— como sacerdotes.
O NOVO TESTAMENTO VERSUS
AS TRADIÇÕES DOS HOMENS
Dizem que as religiões populares abando-
naram o conceito do Novo Testamento preferindo
destacar um clero separado. Ensina-se que os
sacerdotes religiosos têm o poder de perdoar os
pecados dos cristãos “leigos”. O poder de absol-
vição (“Eu o absolvo”), conforme descrito por
um Dicionário Católico de Teologia, é “hierárquico”.
Esse dicionário também afirma que esse poder
foi dado por Cristo aos apóstolos e seus suces-
sores, bispos e sacerdotes, e não a todos os fiéis.
Todo adepto “leigo” é obrigado a entrar na cabine
de um confessionário, que contém um assento e
uma janela telada, pelo menos uma vez por ano.
Quem não cumpre isto é considerado negligente.
Todavia, conforme declara a mesma obra, “as
igrejas não dispunham de confessionários antes do
Concílio de Trento, e seria bastante incongruente
pensar nos apóstolos sentados para ouvir confis-
sões das seis às nova horas, todos os sábados”.
PARALELOS NO ANTIGO TESTAMENTO
Já podemos perceber que a exclusividade do
sacerdócio do Antigo Testamento não era uma prefi-
guração do sacerdócio do Novo Testamento. Toda-
via, existem paralelos entre o serviço araônico e o
sacerdócio dos cristãos. Consideremos sete deles:
1) Lavagem. Antes de Arão e seus filhos
servirem como sacerdotes, eles foram levados “à
11
C. G. Wilke e C. L. Wilibald Grimm, Greek-English
Lexicon of the New Testament (“Léxico Grego-Inglês do
Novo Testamento”), 12a. ed., trad. e rev. Joseph H.
Thayer. Grand Rapids, Mich.: Zondervan Publishing
House, 1973, p. 298. (Veja o verbete “hiereus”.)
1
porta da tenda da congregação” e foram lavados
“com água” (Êxodo 29:4; 40:12). Semelhantemen-
te, hoje, antes de uma pessoa se tornar cristã, ela
tem o seu corpo “lavado” nas águas do batismo
(Atos 22:16; veja 1 Coríntios 6:11; Efésios 5:26;
Tito 3:5; Hebreus 10:22).
2) Aspersão. Antes de Arão e seus filhos
poderem servir como sacerdotes, o sangue de
um carneiro foi aspergido sobre eles (Êxodo
29:21). Semelhantemente, hoje, antes de uma
pessoa poder servir no sacerdócio, o sangue de
Cristo é figuradamente aspergido no coração
dela (Hebreus 10:22; 12:24; 1 Pedro 1:2).
3) Unção. Arão e seus filhos só foram adequa-
damente consagrados como sacerdotes do Antigo
Testamento quando “o óleo sagrado da unção”,
preparado com perfume (“composto segundo a
arte do perfumista”), foi aplicado sobre seus
corpos (Êxodo 30:23–30). Moisés recebeu instru-
ções bastante particulares sobre o azeite de oliva
e as especiarias (cinamomo, cássia e cálamo) a
serem usadas.
Os corpos dos sacerdotes exalavam uma
fragrância agradável (Salmos 133:1, 2). A unção
sagrada, disse o Senhor, os qualificava para o
“sacerdócio perpétuo durante as suas gerações”
(Êxodo 40:15).
Traçando um paralelo disso com os cristãos,
após seus corpos serem lavados com as águas do
batismo e seus corações serem aspergidos com o
sangue de Jesus, eles também recebem uma
unção: recebem o Espírito Santo, que Deus dá
àqueles que obedecem a Ele (Atos 5:32). Quem
unge o candidato, segundo Paulo, é Deus. Ele
sela e dá a garantia do Espírito “em nossos
corações” (2 Coríntios 1:22).
4) Vestes. Deus foi específico ao ordenar que
Arão e seus filhos usassem vestes “finamente
tecidas” (Êxodo 35:19; 39:1). Calções de linho
retorcido, cobrindo dos quadris às coxas, eram
usados pelos sacerdotes no serviço sagrado para
que não levassem “iniqüidade e morressem”;
isto era “estatuto perpétuo para ele [o sacerdote]
e para sua posteridade depois dele” (Êxodo 28:42,
43). “Túnicas de linho fino” — juntamente com
outras peças de “linho fino retorcido, e de estofo
azul, e de púrpura, e de carmesim, obra de
bordador” — eram decoradas “para glória e
ornamento” (Êxodo 39:27–29; 28:40). Além disso,
o sacerdote devidamente trajado, também para
glória e ornamento, tinha tiaras na cabeça (Êxodo
28:40). O representante especial de Deus não
causava uma impressão agradável só pelo seu
perfume especial, mas também pelas suas vestes
2
que o deixavam atraente. Quando essas vestes
eram usadas por homens cujas vidas eram puras
e consagradas, servindo a Deus num traje santo
(2 Crônicas 20:21; Salmos 29:2), então tudo estava
como Deus planejara.
O traje correto e aceitável do cristão requer
modéstia, mas, para as mulheres, as instruções
incluem mais do que roupas suficientes: suas
vestes devem ser decentes e modestas (gr.: kosmio;
1 Timóteo 2:9). As mulheres cristãs devem dar
ênfase não às roupas físicas, externas, mas às
vestes internas incorruptíveis de um espírito
manso e tranqüilo (1 Pedro 3:4). Aos homens
cristãos nenhuma instrução é dada neste sentido,
o que pressupõe que eles, assim como as mulhe-
res, devem usar regularmente roupas não dispen-
diosas e enfocar as vestes interiores do coração.
Com essas vestes eles não serão pegos despidos
no dia do Juízo (veja 2 Coríntios 5:3). As vestes
permanentes de todos os cristãos não são roupas
literalmente finíssimas, mas, figuradamente, de
linho resplandecente e puro, ou seja, atos de
justiça (Apocalipse 19:8). O Novo Testamento
instrui todos os cristãos a se concentrarem em
vestes abstratas:
Revesti-vos, pois…, de ternos afetos de
misericórdia, de bondade, de humildade, de
mansidão, de longanimidade. Suportai-vos
uns aos outros, perdoai-vos mutuamente,
caso alguém tenha motivo de queixa contra
outrem. Assim como o Senhor vos perdoou,
assim também perdoai vós; acima de tudo
isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da
perfeição (Colossenses 3:12–14).
5) Atitude. Os sacerdotes da casa de Arão que
tinham a atitude correta eram cuidadosos em se-
guir as instruções divinas dadas por intermédio de
Moisés. Seria presunçoso para qualquer sacerdote
acrescentar ou omitir alguma coisa no serviço
sagrado que o Senhor ordenara (Deuteronômio
4:2; 12:32; Provérbios 30:6). Para pecados não
intencionais, a lei de Deus provia um meio de se
obter perdão (Levítico 5:18; Números 15:27, 28).
Quanto ao pecado intencional, porém, Deus disse:
Mas a pessoa que fizer alguma coisa atrevida-
mente, quer seja dos naturais quer dos estran-
geiros, injuria ao Senhor; tal pessoa será elimi-
nada do meio do seu povo, pois desprezou a
palavra do Senhor e violou o seu mandamento;
será eliminada essa pessoa, e a sua iniqüidade
será sobre ela (Números 15:30, 31).
Ficamos perplexos ao ler sobre a desobe-
diência de dois filhos de Arão, Nadabe e Abiú.
Ambos, mais velhos que seus irmãos Eleazar e
Itamar, gozavam de uma honra especial. Eles ha-
viam feito parte da caminhada até o monte Sinai
com seu pai e seu tio Moisés e mais setenta anciãos
de Israel. Uma coisa maravilhosa acontecera ali:
…E viram o Deus de Israel, sob cujos pés
havia uma como pavimentação de pedra de
safira, que se parecia com o céu na sua
claridade. Ele não estendeu a mão sobre os
escolhidos dos filhos de Israel; porém eles
viram a Deus, e comeram, e beberam (Êxodo
24:9–11; veja Números 3:2).
Esses dois homens, tão particularmente honra-
dos, ofereceram mais tarde “fogo estranho” ao
Senhor (Levítico 10:1, 2; veja 16:12). O Senhor
não pôde ignorar tal fato e os dois sacerdotes
presunçosos foram queimados vivos. Tornaram-
se um exemplo aos outros de que Deus quer que
Seus sacerdotes permaneçam dentro das diretri-
zes das instruções celestiais.
Os cristãos têm o exemplo de Nadabe e Abiú
como uma advertência divina (Romanos 15:4).
Somos advertidos a não assumir as coordenadas
(gr.: proago) ou “ultrapassar” as instruções de
Cristo (2 João 9). Uma vez que todas as instruções
de Cristo encontram-se hoje escritas nos vinte e
sete livros, um sacerdote reverente jamais “ul-
tra-passará o que está escrito” (1 Coríntios 4:6).
O princípio que orienta um cristão não é que ele
pode fazer qualquer coisa que não seja proibida,
mas que ele não deve fazer nada que não seja
autorizado. Fazer qualquer coisa que não seja
proibida no Novo Testamento abriria margem
para que água benta, imagens, incenso, música
mecânica, velas, rosários, maconha, danças e
frango assado fizessem parte da ceia do Senhor.
Fazer somente o que está especificado na adora-
ção do Novo Testamento requer que se siga o
ensino dos apóstolos quanto à comunhão, ao
partir do pão, à oração e ao louvor em ação de
graças (Atos 2:42; Hebreus 13:15). Os sacerdotes
do Novo Testamento podem não ter nenhuma
animosidade contra música mecânica ou incenso
ou frango assado, mas eles não ousam acrescentar
nenhum desses itens ao que o Senhor disse sobre
adoração. Não querem repetir o pecado de
Nadabe e Abiú.
6) Incenso. No lugar santo, de manhã e à
tarde, os sacerdotes do Antigo Testamento deve-
riam queimar especiarias doces, como “incenso
contínuo perante o Senhor” (Êxodo 30:1–9). Essas
especiarias (estoraque, ônica, gálbano, arômatas)
— puro e santo, temperado com sal (“a obra de
um perfumista”), bem batidas e depois queima-
das — subiam como uma nuvem de fragância.
Isto deveria ser feito “na tenda da congregação,
onde me avistarei contigo”, disse o Senhor (Êxodo
30:34–36). “Será para vós outros santíssimo.”
Essa especial composição de especiarias deveria
ser empregada somente para a adoração ao
Senhor. Aquele que fizesse incenso semelhante
para usar como perfume para si seria “eliminado
do seu povo” (Êxodo 30:37, 38).
A queima de incenso realizada pelos sacerdo-
tes do Antigo Testamento é completamente
ausente no Novo Testamento. Todavia, vemos
um paralelo dela nas orações oferecidas pelos
cristãs de manhã e à tarde ao grande Deus no
nome do seu sumo sacerdote, Jesus Cristo (veja
Apocalipse 5:8; 8:3, 4).
7) Sacrifícios. A maior função do sacerdócio
araônico era oferecer sacrifícios (veja Levítico
1–7). Se espíritos quebrantados, corações contritos,
viver limpo e obediência não acompanhassem os
bois e carneiros até o altar, seus sacrifícios eram
repulsivos a Deus (Salmos 40:6; 51:16; 1 Samuel
15:22; Isaías 1:11; Jeremias 6:20; 7:22, 23; Amós
5:22; Miquéias 6:6–8). Acompanhada de atitudes
e estilos de vida corretos, em observância ao
plano de Deus, a fumaça que subia dos sacrifícios
de animais era um aroma suave, que agradava ao
Deus do universo.
Embora Deus tenha ordenado ofertas de
animais, a todo o tempo Ele sabia que “é impos-
sível que o sangue de touros e de bodes remova
pecados” (Hebreus 10:4). Comparado, porém, ao
cordeiro literal, um corpo humano foi preparado
através de Maria e depois declarado como o
Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo
(Hebreus 10:5; João 1:29). Na plenitude dos tem-
pos, “não por meio de sangue de bodes e de
bezerros, mas pelo seu próprio sangue”, Jesus
“uma vez por todas” aniquilou “pelo sacrifício
de si mesmo, o pecado” (Hebreus 9:12, 26). O
sacrifício de Jesus não foi diário nem anual, pois,
do contrário, Ele teria sofrido muitas vezes desde
a fundação do mundo. Em vez disso, Seu sacrifí-
cio único, de uma vez por todas, foi eficaz para
todos os que obedecem a Deus em todos os tem-
pos (Hebreus 5:9; 9:15).
Nos sacrifícios oferecidos pelos cristãos,
bodes e bezerros estão eliminados. A lei perfeita
do Novo Testamento (Tiago 1:25) apela para os
cristãos “oferecerem sacrifícios espirituais” 2 e
não externos (1 Pedro 2:5). As ofertas cristãs
12
Ibid. (Veja o verbete “hierateuma”.)
3
aceitáveis a Deus incluem o sacrifício de louvor,
o dar graças ao Seu nome (Hebreus 13:15).
Também o ato de enviar dinheiro como oferta de
amor para ajudar outros necessitados é descrito
especificamente no Novo Testamento como um
sacrifício (Filipenses 4:18). Além disso, o uso do
próprio corpo — não como uma oferta morta, mas
como um sacrifício vivo — é aceitável a Deus co-
mo um culto racional do cristão (Romanos 12:1).
CONCLUSÃO
Como é bela a mensagem do Espírito aos
cristãos do Novo Testamento! Utilizando como
pano de fundo o Antigo Testamento, as Epístolas
exaltam os cristãos como sacerdotes para um
serviço nobre com o coração e a vida. A Ele que
é o Autor dos planos celestiais, ordenados sempre
para o bem do homem, seja a glória e a majestade
e a honra para todo o sempre!

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