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Pode-se até mesmo pensar que não seja de muita utilidade um exame do
cerimonial dos sacrifícios, tendo-se em vista que atualmente não mais se
tem por eles a mesma compreensão cultural. Acontece porém que, por
causa disso mesmo, os cerimoniais litúrgicos são muitas vezes
incompreendidos, mal vistos ou menosprezados como mera e
desnecessária pompa. Além disso, por desconhecer a Teologia do Sacrifício
é que hoje não se tem na devida conta o valor da Cerimônia Eucarística em
seus elementos constitutivos bem como não se entende muitas vezes as
várias partes em que se costuma dividir a Missa. Há até quem admita que
venha contrariar os princípios da simplicidade e pobreza evangélicas. Não é
bem assim, porém! Principalmente por que a Igreja foi lá encontrar
inspiração para a sua liturgia, para vários conceitos de doutrina e até
mesmo de moral. Não que a Igreja tenha copiado ou plagiado tais
disposições assim propositadamente, mas decorre do próprio fato de que o
cristianismo foi sedimentado em cima do judaísmo. Tal como já se disse
alhures, Jesus não fundou uma nova religião mas deu plenitude à Lei e aos
Profetas (Mt 5,17), no que foi seguido pelos primeiros cristãos, que
acomodaram à doutrina cristã tudo aquilo que lhe era apropriado. Em virtude
disso, não se pode deixar de abordar pelo menos resumidamente certos
detalhes sacrificiais ou da liturgia dos Israelitas pela sua importância na
continuidade desejada por Jesus Cristo, na perspectiva de "pleno
cumprimento" (Mt 5,17-20) que lhe impôs.
"O Senhor falou a Moisés: "Manda dizer a Aarão e a seus filhos: Esta é a lei
do holocausto: o holocausto ficará sobre a lareira do altar a noite inteira, até a
manhã seguinte, e o fogo do altar será mantido aceso" (Lv 6,1-3 / Nm 28,3-
8).
"Com efeito, segundo a Lei, quase todas as coisas devem ser purificadas com
sangue e não há remissão sem efusão de sangue. Era necessário, pois, que
as 'figuras' das realidades celestes fossem purificadas. Mas as próprias
realidades celestes requerem sacrifícios mais excelentes do que aqueles. Pois
Cristo não entrou num santuário feito por mão humana, figura do verdadeiro,
mas no próprio céu, para comparecer agora na presença de Deus em nosso
favor. E não entrou para se oferecer muitas vezes a si mesmo, como o Sumo
Sacerdote que entrava todos os anos no santuário, para oferecer sangue
alheio. Do contrário lhe seria necessário padecer muitas vezes desde o
princípio do mundo. Mas só apareceu agora, uma vez apenas, na
plenitude dos séculos, para destruir o pecado pelo sacrifício de si
mesmo" (Hb 9,19-26).
"É com base na harmonia dos dois testamentos (v. "Dei Verbum" n.°s. 14-16)
que se articula a catequese pascal do Senhor (cf. Lc 24,13-49) e, depois, a
dos Apóstolos e dos Padres da Igreja. Esta catequese desvenda o que estava
oculto sob a letra do Antigo Testamento: o mistério de Cristo. É chamada
"tipológica", porque revela a novidade de Cristo a partir das "figuras"
(tipos) que a anunciavam nos fatos, palavras e símbolos da primeira Aliança.
Aquelas figuras são desvendadas por esta releitura no Espírito de verdade a
partir de Cristo (v. 2Co 3,14-16). Assim, o dilúvio e a arca de Noé
prefiguravam a salvação pelo Batismo (cf. 1Pe 3,21); igualmente a nuvem e a
travessia do Mar Vermelho, e a água do rochedo eram figura dos dons
espirituais de Cristo (cf. 1Co 10,1-6); e o maná do deserto prefigurava a
Eucaristia, "verdadeiro Pão do Céu" (Jo 6,32)" (n.° 1094, os negritos são
propositais).
"Vós sois o sal da terra. Mas se o sal perder o seu sabor, com o que se há de
salgar? Já não servirá para nada, apenas para ser jogado fora e pisado pelas
pessoas" (Mt 5,13).
"Sabeis muito bem que o Senhor Deus de Israel concedeu a Davi o direito de
reinar sobre Israel para sempre, a ele e seus descendentes, por uma aliança
de sal" (2Cro 13,4-5).
"Os corpos daqueles animais cujo sangue, para a expiação dos pecados, é
introduzido no santuário pelo Sumo Sacerdote, são queimados fora do
acampamento. Pelo que também Jesus, a fim de santificar o povo com
seu sangue, padeceu fora das portas. Saiamos, pois, para ir ter com ele fora
do acampamento carregando a sua ignomínia, pois não temos aqui cidade
permanente, ao contrário, buscamos a futura. Por ele ofereçamos
continuamente a Deus sacrifícios de louvor, isto é, o fruto dos lábios que
celebram seu nome. Da beneficência e da mútua assistência não vos
esqueçais, pois Deus se compraz com estes sacrifícios" (Hb 13,10-16).
"Se alguém vir o irmão cometer um pecado que não leva à morte, ore e
alcançará a vida para os que não pecam para a morte. Há um pecado para a
morte, mas não é por este que digo que se rogue. Toda injustiça é pecado,
mas há pecado que não é para a morte" (1Jo 5,16-17).
"Há um pecado para a morte...há pecado que não é para a morte" - eis ai
uma graduação bem clara com o que mais uma vez se identifica a
continuidade de algumas noções teológicas do judaísmo (cfr. Catecismo da
Igreja Católica n.°s. 1852 a 1861 e1862 a 1864).
Quanto aos demais conteúdos dos sacrifícios, basta uma simples leitura do
contexto todo para se distinguir todas as diferenças e semelhanças,
dispensando-se maiores comentários.