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2. Transferência de culpa
No átrio do tabernáculo, na direção norte, junto ao grande altar de bronze
onde as chamas ardiam incessantemente, o transgressor impunha as mãos
sobre a cabeça do animal oferecido para sacrifício expiatório. Por essa
imposição de mãos, o ofertante não apenas identificava aquele animal
como seu (ou seja, “minha oferta”), mas no íntimo estava a dizer: será
sacrificado em meu lugar. Como diz Claudionor de Andrade, o crente
hebreu fazia ali ao pé do altar de bronze “uma oração que, apesar da
ausência de palavras, era eloquente e persuasiva; implicava em sua total
submissão ao querer divino” [1]. Ocorria, então, a total entrega do animal e
o sacrifício expiatório, para que a culpa do pecado fosse removida e o
ofertante encontrasse o perdão de Deus. Cristo se entregou totalmente,
sendo obediente até a morte, e morte de cruz! (Fp 2.5-11)
3. O trabalho do ofertante: matar o animal oferecido
O Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, discorrendo
sobre o sacrifício do holocausto (em hebraico, olah), ressalta:
Normalmente o ato de sacrifício era executado pelo sacerdote, mas no
que diz respeito ao ‘ola, apenas as aves eram mortas pelo sacerdote —
provavelmente devido ao tamanho pequeno do animal e à pequena
quantidade de sangue nele existente. Era essencial que o sangue fosse
posto sobre o altar. (…) Este [o sacerdote] então levava-o para o altar e
ajeitava-o ali, onde era inteiramente consumido pelo fogo. [2]
Baseado no manual do culto israelita, isto é, o livro de Levítico (cap. 1),
William MacDonald assim resume os deveres de todo aquele que
comparecia ao tabernáculo para oferecer sacrifício pelos pecados:
Enfatizaria ainda que, dado sua conotação de força ou poder, estes quatro
chifres nos cantos do altar de bronze bem podem ser uma referência a
Jesus Cristo, que “pode socorrer aos que são tentados” (Hb 2.18). Ao
pecador desesperado está dada mui preciosa esperança: Cristo tem poder
para livrar-nos da culpa e da condenação! Ele mesmo nos garante: “o Filho
do homem tem na terra autoridade para perdoar pecados” ( Mt 9.6).
Seguros do poder que há no sangue de Cristo para perdão de nossos
pecados, “cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que
possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados
em tempo oportuno” (Hb 4.16).
Sim, o sangue de Jesus tem poder!
III. O altar do holocausto é uma imagem do
calvário
1. Um lugar de expiação
A ideia-chave em torno do altar do holocausto era de expiação, do verbo
hebraico kaphar (ou kippur), que significa limpar, cobrir, remir. Ali a vida
do animal sacrificado encobria os pecados do penitente, afastando assim a
ira de Deus. Todavia, aqueles sacrifícios somente tinham efeitos porque
eram prefigurações do perfeito sacrifício de Jesus Cristo, “o Cordeiro que
foi morto desde a fundação do mundo” (Ap 13.8) nos eternos desígnios de
Deus. De tal modo que a salvação dos crentes da antiga aliança não seu
deu em razão do sangue de animais derramados sobre o altar de bronze,
mas em razão do sangue de Cristo vertido na cruz do Calvário, afinal o
sacrifício de Cristo também teve efeitos retroativos para aqueles que
morreram na fé. Ninguém chegará ao céu senão pelos méritos de Cristo!
Aliás, aqui reside a grande diferença entre os sacrifícios animais praticados
desde a antiguidade entre os pagãos e o sacrifício ordenado por Deus
através de Moisés: é que nas religiões pagãs, alienadas do verdadeiro
conhecimento do Senhor, o sacrifício é um mero presente que se oferece
aos deuses para aplacar-lhes a ira, mas nem há a ideia de substituição de
pecados e muito menos a prefiguração de um Salvador humano. Todavia,
está escrito: “é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os
pecados” (Hb 10.4). Os israelitas tinha a noção de substituição; certamente
não imaginavam todo o valor tipológico daqueles sacrifícios, embora a
revelação progressiva de Deus vá deixando isso cada vez mais claro, como
quando Isaías profetiza:
“Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas
dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e
oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído
por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava
sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos
desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas
o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos” (Is 53.4-6)
Em Isaías, Jesus é o cordeiro levado ao matadouro e a ovelha muda perante
os seus tosquiadores (Is 53.7); no Novo Testamento, Jesus é o verdadeiro
Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo! (Jo 1.29) Ele não só perdoa
nossos pecados, afastando de nós a ira de Deus, como também nos
justifica (Rm 5.1), declarando-nos inocentes no tribunal do céu, e ainda
mais: reconcilia-nos com Deus (2Co 5.19), fazendo-nos favoráveis diante
dele! Uma das estrofes do hino 39 da Harpa Cristã retrata com beleza
poética esta obra maravilhosa da graça de Deus em Cristo Jesus:
Se nós a Ti confessarmos,
E seguirmos na Tua luz,
Tu não somente perdoas,
Purificas também, ó Jesus;
Sim, e de todo o pecado!
Que maravilha de amor!
Pois que mais alvo que a neve.
O Teu sangue nos torna, Senhor.
2. O fogo arderá sobre o altar (Lv 6.13)
Conclusão
Tomamos as palavras do autor da Carta aos Hebreus: “temos um altar” ( Hb
13.10), e este altar é Cristo, cujo sacrifício uma vez efetuado no Calvário é
suficiente e poderoso para redimir toda a raça humana! Entretanto, nem
religiosos não convertidos a Cristo nem os ímpios podem ter direito aos
benefícios deste altar, senão somente aqueles que se achegarem a ele por
fé, crendo de todo coração, encontrarão perdão e purificação dos pecados.
Creiamos neste Cristo bendito, “o Salvador do mundo” (Jo 4.42). Amém!
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Referências