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Histórias de Sucesso
EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS
ORGANIZADO POR MARA REGINA VEIT

Histórias
de Sucesso
EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS

BELO HORIZONTE - 2003


Copyright © 2003, SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – É permitida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por
qualquer meio, desde que divulgadas as fontes.

Este trabalho é resultado de uma parceria entre o SEBRAE/NA, SEBRAE/MG, SEBRAE/RJ, PUC-Rio, IBMEC-RJ

Coordenação Geral
Mara Regina Veit
Coordenação e Concepção do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso

Supervisão
Cezar Kirszenblatt
Daniela Almeida Teixeira
Renata Barbosa de Araújo

Apoio
Carlos Magno Almeida Santos
Dennis de Castro Barros
Izabela Andrade Lima
Ludmila Pereira de Araújo
Murilo de Aquino Terra
Rosana Carla de Figueiredo
Sandro Servino
Sílvia Penna Chaves Lobato
Túlio César Cruz Portugal

Produção Editorial do Livro


Núcleo de Comunicação do Sebrae/MG

Produção Gráfica do Livro


Perfil Publicidade

Desenvolvimento do Site
Daniela Almeida Teixeira
bhs.com.br

Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas


SEBRAE
Armando Monteiro Neto, Presidente do Conselho Deliberativo Nacional
Silvano Gianni, Diretor-Presidente
Paulo Tarciso Okamotto, Diretor Administrativo-Financeiro
Luiz Carlos Barboza, Diretor Técnico

SEBRAE-MG
Luiz Carlos Dias Oliveira, Presidente do Conselho Deliberativo
Stalin Amorim Duarte, Diretor Superintendente
Luiz Márcio Haddad Pereira Santos, Diretor de Desenvolvimento e Administração
Sebastião Costa da Silva, Diretor de Comercialização e Articulação Regional

SEBRAE-RJ
Paulo Alcântara Gomes, Presidente do Conselho Deliberativo
Paulo Maurício Castelo Branco, Diretor Superintendente
Evandro Peçanha Alves, Diretor Técnico
Celina Vargas do Amaral Peixoto, Diretora Técnica
O projeto
O Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso foi criado para que histórias emocionantes de
empreendedores, que fizeram a diferença em sua comunidade, em suas empresas, em suas
instituições, possam ser conhecidas, disseminadas e potencializadas na construção de novos
horizontes empresariais.

O método
O livro Histórias de Sucesso foi concebido com o intuito de utilizar o método de estudo de
caso para estruturar as experiências do Sebrae, e também contribuir para a gestão do
conhecimento nas organizações, estimulando a produtividade e capacidade de inovação, de
modo a gerar empresas mais inteligentes e competitivas.

A Internet
A concepção do Projeto Estudo de Casos para o Portal Sebrae www.sebrae.com.br pretende
divulgar e ampliar o conhecimento das ações do Sebrae e facilitar para as instituições e
profissionais que atuam na rede de ensino, bem como instrutores, consultores e instituições
parceiras que integram a Rede Sebrae, um conteúdo didaticamente estruturado sobre
pequenas empresas, para ser utilizado nos cursos de graduação, pós-graduação, programas de
treinamento e consultoria realizado com alunos, empreendedores e empresários em todo o
País.

O Site dos Casos de Sucesso do Sebrae, foi concebido tendo como referência os modelos
utilizados por Babson College e Harvard Business School , com o diferencial de apresentar
vídeos, fotografias, artigos de jornal e fórum de discussão aos clientes cadastrados no site,
complementando o conteúdo didático de cada estudo de caso. O site também contempla um
manual de orientação para professores e alunos que indica como utilizar e aplicar um estudo
de caso em sala de aula para fins didáticos, além de possuir o espaço favoritos pessoais onde
os clientes poderão salvar, dentro do site do Sebrae, os casos de sucesso de seu maior
interesse

A Gestão do Conhecimento
A partir das 80 experiências empreendedoras de todo o país, contempladas na primeira etapa
do projeto – 2002/2003, serão inseridos em 2004 outros casos de estudo, estruturados na
mesma metodologia, compondo um significativo banco de dados sobre pequenas empresas.

Esta obra tem sido construída com participação e dedicação de vários profissionais, técnicos
do Sebrae, consultores e professores da academia de diversas instituições, com o objetivo de
oportunizar aos leitores estudar histórias reais e transferir este conteúdo para a gestão do
conhecimento de seus atuais e futuros empreendimentos.

Mara Regina Veit


Gerente de Atendimento e Tecnologia do Sebrae/MG, Coordenadora do Sebrae da Prioridade
Potencializar e Difundir as Experiências de Sucesso 2002/2003, Concepção do Projeto Desenvolvendo
Estudo de Casos e Organizadora do Livro Histórias de Sucesso – Experiências Empreendedoras.
Pedagoga, Pós-graduada:Treinamento Empresarial/PUCRS, Administração/ UFRGS, MBA/ Marketing-
FGV/Ohio, Mestranda Administração/FUMEC-MG, autora do livro Consultoria Interna - Use a rede de
inteligência que existe em sua empresa. Ed. Casa Qualidade - 1998.
A EXPERIÊNCIA DA ASSOCIAÇÃO DAS
RENDEIRAS DOS MORROS DA MARIANA
PIAUÍ

INTRODUÇÃO

N a cidade de Ilha Grande, no Piauí, em 1993, as rendeiras dos


Morros da Mariana estavam com seus rendimentos muito baixos e isso
lhes impedia de dar a seus familiares uma condição de vida adequada.
Sua ajuda nos rendimentos da família era insuficiente.
Resolver esse problema requeria ações fundamentais, como
desenvolver o associativismo entre as rendeiras, inovar seus produtos
e criar condições para torná-los mais atraentes para o mercado.
Foi fundada a Associação das Rendeiras dos Morros da Mariana,
que enfrentou diversas dificuldades, mas, com a inovação do design
dos produtos e a atuação no mundo da moda, encontrou o caminho
para seu desenvolvimento.

Luciana Mapurunga Pinheiro Machado, Técnica do Sebrae Piauí, elaborou o estudo de caso sob
a orientação de César Simões Salim, baseado no curso Desenvolvendo Casos de Sucesso,
realizado pelo Sebrae, Ibmec-RJ e PUC-RJ.

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003


RENDEIRA EM SUA ATIVIDADE DIÁRIA

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003

PRODUTOS PRODUZIDOS PELAS RENDEIRAS


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COMO TUDO COMEÇOU NOS MORROS DA MARIANA

O município de Ilha Grande teve origem, no ano de 1692, com


a denominação de Coroa Grande ou Coroa do Igaruçu, com a
instalação de Dona Mariana Alexandro Viana, próximo às margens do
igarapé ligado ao rio Igaruçu. Os morros existentes próximos ao local
eram avistados de longe, com suas areias brancas e cajueirais. Os
caçadores associaram os morros à desbravadora da região e passaram
a se referir ao local como Morros da Mariana, denominação mantida
até hoje. 1

O lugarejo foi emancipado em 1994, recebendo o nome de Ilha


Grande por estar situado no extremo norte da Ilha Grande de Santa
Izabel, principal ilha do delta do Parnaíba, único delta em mar aberto
das Américas, aproximadamente a 350 km de Teresina, capital do
Piauí. Em 2000, havia 7.891 habitantes, sendo 6.506 pessoas morando
em área urbana e 1.385 na área rural. A região é passagem constante
para os turistas que vão conhecer o Delta do Parnaíba. 1

O clima predominante é semi-árido com longos períodos de seca.


Essas condições climáticas reforçam a economia baseada na agricultura
de subsistência – arroz, cana-de-açúcar, feijão, mandioca e milho. Estão
presentes, também, o cultivo da banana, coco-da-baía e manga. Os
estabelecimentos são, na sua maioria, de pequeno porte, onde os
agricultores procuram diversificar as culturas, procurando se adequar
às variações climáticas e ao mercado consumidor.
Não se sabe a época certa de quando começou o artesanato das
rendas de bilros nos Morros da Mariana, acredita-se que já existia
desde os primórdios da implantação do lugarejo, quando se instalou a
sua primeira moradora, a rendeira Dona Mariana.
As rendeiras trabalhavam em suas casas. Quando terminavam os
afazeres domésticos, pegavam no final da tarde seu material para
confecção das rendas: as almofadas, os bilros, o desenho e a linha, e

Coordenação Técnica do Projeto: Raimundo da Silva, Rosa de Viterbo Cunha e Rosângela


Maria de Sousa Pires.
1
Diagnóstico socioeconômico de Ilha Grande/PI – 2000.
2
Censo Demográfico – 2000.

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levavam para a calçada, ficando até o anoitecer fazendo suas rendas.


Era uma tradição ver aquelas senhoras sentadas tecendo rendas
brancas e de linha bem fina, que era basicamente de algodão
mercerizado: quanto mais fina a linha, mais valorizado o trabalho da
trama. Todo o material de trabalho era feito pela própria artesã, com
materiais que são encontrados na região, e a matéria-prima adquirida
na cidade de Parnaíba/PI, que fica a 8 km de Ilha Grande.
A maioria das rendeiras aprendeu o ofício com sua tia, mãe ou
avó, que ensinavam as meninas e adolescentes a tecerem a renda.
Embora algumas moradoras fossem estudar, trabalhar ou morar em
outra cidade, quando retornavam sempre voltavam a fazer trabalhos
em renda. A produção era feita de forma não planejada, dissociada da
demanda. Não havia condições de conquistar novos compradores,
poucas sabiam calcular o preço dos produtos e muitas vezes eram
vendidos por valores que não estavam de acordo com seu custo real.
O trabalho da renda é muito demorado, podendo levar algum tempo
para sua conclusão, levando a artesã a passar esse período sem
receber nada.
A renda era um recurso complementar para o sustento de suas
famílias. Enquanto os homens trabalhavam na pesca e na agropecuária,
as mulheres colaboravam com seu artesanato. Muito apreciado em
enxovais de casamento e de nascimento e para decoração das residências,
as rendeiras recebiam encomendas e também confeccionavam produtos à
espera de compradores.
Dependendo do modelo da renda, a maioria das rendeiras
conseguia fazer até um 1 metro de renda linear por dia. Não se tinha
idéia de custo de produção, controle de qualidade, faturamento mensal
etc. Os modelos eram sempre os mesmos, onde os desenhos eram
reproduzidos e divididos entre as artesãs. Somente as artesãs mais
experientes conseguiam criar outros desenhos. Os produtos eram
basicamente: bicos de rendas, aplicações e outras peças que eram
agregadas em tecidos, que seriam transformados em guardanapos,
toalhas de mesa e lavabo e outros utensílios do lar, e também
camisolas e blusas. A única parte que a artesã fazia era a renda, ficando
a confecção das peças finais para quem adquiria a peça.
Esse tipo de artesanato foi a principal atividade da maioria das
mulheres dos Morros da Mariana. Quando a moradora já conseguia

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entender o trançado dos bilros, logo procurava aprender a fazer


rendas.
As vendas eram feitas nas próprias casas das rendeiras, a qualquer
hora e dia, onde o cliente saía de casa em casa à procura do modelo
desejado. Os clientes geralmente eram turistas ou moradores das
regiões vizinhas à Ilha Grande. Durante o período da tarde, quando as
rendeiras estavam produzindo, era a hora em que mais os turistas
procuravam adquirir os produtos das rendeiras, tiravam fotos e
achavam muito interessante o trabalho das artesãs.
Até que chegou uma época, em que a procura pelas rendas foi
diminuindo, os anos passavam e as vendas eram cada vez menores.
Em virtude da falta de planejamento, divulgação e acesso a outros
mercados, a cultura das rendas de bilros quase desapareceu, fazendo
com que as rendeiras trabalhassem mais por encomendas. Como era
uma atividade desenvolvida pela maioria das moradoras de Ilha
Grande, somente umas 20 rendeiras continuaram com a atividade. Era
um momento de mudança. O governo do Estado percebeu a
necessidade de construir uma casa que fizesse com que as rendeiras
trabalhassem juntas. Foi realizada uma reunião para discutir o processo
de construção da casa e analisar qual seria o maior objetivo em fazer
com que elas trabalhassem juntas. Mostrou-se às rendeiras essa
necessidade para o desenvolvimento da cultura das rendas. Desse
modo, essa atividade não desapareceria de Ilha Grande e também seria
mais fácil a localização por turistas e outros visitantes.
Após algum tempo e já com a "Casa das Rendeiras" construída, as
artesãs começaram a trabalhar, inicialmente, com 21 artesãs, que
faziam suas rendas e as vendiam no mesmo local. Mas, mesmo com
toda a nova estrutura, as rendeiras continuavam com dificuldades em
comercializar seus produtos. Foi aí que houve a necessidade de serem
capacitadas e de organizar uma associação.

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MUDANDO PARA MELHOR E VALORIZANDO AS RENDEIRAS

T udo começou quando as rendeiras receberam a visita da técnica


Raimunda da Silva do Sebrae/PI, que lhes forneceu um treinamento
sobre associativismo: a partir daí, em 15 de junho de 1993, foi fundada
a Associação das Rendeiras dos Morros da Mariana.
Começando a funcionar com 45 rendeiras, foi um desafio para
elas, já que estavam acostumadas a trabalhar sozinhas no aconchego
de suas casas. Com o tempo, viram que suas dificuldades eram ainda
maiores, pois a procura pelos produtos que criavam estava cada vez
mais escassa. Não possuíam nenhum tipo de ajuda de custo de órgãos
públicos ou privados. A associação quase fechou. Ficando apenas com
duas artesãs.
Através do Programa Sebrae de Artesanato, com a publicação de um
catálogo, que chegou às mãos de técnicos do Museu de Artes e Artefatos
B r a s i l e i ro – A Casa, houve o interesse em conhecer de perto o que eram
aquelas rendas de bilros, feitas de uma maneira toda especial: começava
aí o desenvolvimento da associação, onde foram realizadas várias ações
que revitalizaram o artesanato das rendas de bilro s .
No dia 4 de novembro de 1999, por meio de técnicos do
Sebrae/PI, visitou-as a pesquisadora Juliana Campos, que reuniu as
rendeiras e falou da possibilidade de desenvolverem um trabalho
juntas, com a execução de um projeto, em que associou moda e
artesanato. Este projeto fez parte do programa: "Intervenção do Design
no Artesanato" de A Casa, instituição que, com os profissionais das
diversas áreas do design, se empenhava na valorização da produção
artesanal brasileira em comunidades. Pertencer ao segundo estado
mais pobre do Brasil e já ter uma organização cooperativa ajudou-as a
serem escolhidas para fazer parte do projeto. O intuito era que o
trabalho chegasse ao conhecimento de um grande número de pessoas,
chamando a atenção para esta comunidade e o que se poderia realizar
com esta riqueza artesanal, que, na verdade, vem a ser uma grande
riqueza cultural.
A Casa convidou a especialista em moda Suzana Avelar e o estilista
Walter Rodrigues para conceber este projeto. Suzana trabalhou em
conjunto com Walter, e tornou-se curadora do projeto. Sua realização
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era o que iria dar uma perspectiva de melhoria para a comunidade. O


projeto constou da produção de algumas peças de rendas, onde foram
introduzidas novas tecnologias, através da utilização de diversos tipos
de fios e de cores, além da inovação de suas formas e funções, onde
estilista e artesão desenvolveram um trabalho conjunto, na busca do
reconhecimento e da valorização do artesanato, revitalizando e
otimizando cada peça produzida. As rendeiras seriam as parceiras
artísticas e não mera mão-de-obra.

"O projeto resgatava uma consciência não só da indústria em


relação ao artesanato mas também do próprio artesão em relação
ao seu produto", conta o estilista.

O resultado disso foi a participação na coleção de roupas criadas


na famosa exposição de moda que é o SP Fashion Week – 2001. Um
dos méritos de Suzana e Walter foi que escolheram as peças
conservando sua originalidade, mudando apenas suas cores e os tipos
de linhas. Começou aí a inovação dos produtos, sem perder sua
identificação sociocultural.
O interesse das artesãs foi muito relevante para a realização do
projeto, pois elas as confeccionaram de acordo com as orientações
recebidas, aceitando a mudança de cores e aprendendo a utilizar linhas
que até ali não conheciam. Tiveram de ampliar algumas peças, para
que pudessem atender à encomenda. Antes do desfile, as rendeiras
fizeram algumas camisetas, todas em renda, com matéria-prima fornecida
pelo projeto, e para o desfile foram feitas aplicações de um modelo
escolhido pelo estilista.

"A gente cobrou o mesmo valor que a gente sempre pede. Não
aumentamos em nada, não. Cada aplicação saiu por R$ 3,00. A
única diferença é que a gente teve um comprador certo. As peças
não ficaram encalhadas, como acontece com as outras coisas que
a gente faz e não acha comprador", explicou Maria de Fátima dos
Santos, que era tesoureira da associação.

Para assistir o desfile, foram convidadas três artesãs: Maria do


Socorro – presidente da Associação, Maria de Fátima dos Santos Souza
e Maria de José da Costa. Foram confeccionadas oito roupas com as
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rendas para o desfile, que aconteceu em 29 de junho de 2001. As


artesãs ficaram orgulhosas por verem seus trabalhos participarem de
um evento tão importante no mundo da moda e pela excelente
aceitação do público. Até este grande acontecimento, as rendas de
bilros eram conhecidas por um público pequeno, os trabalhos das
artesãs passaram a ser conhecidos em muitos lugares, no país e no
exterior. Este foi um grande incentivo que colaborou com o
crescimento da associação.
Reportagens em jornais e revistas de grande circulação no Brasil e
no exterior, entrevistas com as artesãs, tudo isto foi um grande salto
para as artesãs, houve uma divulgação em grande escala pelos meios
competentes. A falta desta divulgação era uma das principais carências
da associação. Mesmo depois de um tempo do desfile, a associação
continuou dando entrevistas sobre seus trabalhos.
Após o desfile, as rendeiras confeccionaram mais 600 aplicações e
250 camisetas de linha de seda na cor preta para o estilista.

"Este trabalho com o Walter Rodrigues, além de aumentar os


números da associação, fez nascer um sentimento de orgulho
muito grande nas rendeiras. Todas elas trabalham mais felizes",
relatou Maria do Socorro, presidente da associação.

Depois desse acontecimento, a prefeitura local fez uma reforma na


"Casa das Rendeiras", dando-lhes melhores condições para
desenvolverem seus trabalhos.
A novidade da Fashion Week chamou a atenção da comunidade e
da região, que passaram a adquirir peças feitas pelas rendeiras. Com
esta ação, houve um aumento no faturamento de 50% e foi ampliado
o número de artesãs na associação, passando para 80.
As rendeiras aprenderam muito com o trabalho para o desfile,
perceberam a importância do planejamento, da mesma forma que o
cumprimento de datas para a entrega de encomendas e a necessidade
de inovar para poder acompanhar o mercado. Por isso, passaram a
criar modelos novos, experimentaram outras linhas, misturaram cores,
p e rceberam que poderiam desenvolver qualquer outro tipo de
utilidade para suas rendas. Desenvolveram peças que antes nem
imaginavam ser possível com o trabalho das rendas: bolsas, saias,

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vestidos etc. E também começaram a produzir peças que eram agregadas


a tecidos, como toalhas de mesa e lavabo, guardanapos etc.
Passaram a se organizar de uma melhor forma, direcionaram os tipos
de trabalho, de acordo com a capacidade de cada artesã, dividiram
trabalhos mais elaborados e grandes encomendas. A "Casa das Rendeiras",
como ficou conhecida, começou a receber encomendas de lojas.
Como aumentou a demanda, houve a necessidade de sere m
treinadas mais artesãs para o ofício e, com isto, foi solicitado ao Sebrae
que realizasse treinamentos para essas novas trabalhadoras. Sentiram
também a necessidade de agregar valor aos produtos como a utilização
de embalagens. Também, foi ministrado um treinamento e elas próprias
passaram a produzir suas embalagens e diminuir o seu custo.
As artesãs trabalhavam na associação e, ao mesmo tempo,
vendiam seus produtos, pois como o trabalho era muito interessante
de ser visto, muitos turistas iam conhecer a forma de produção. O
fluxo de visitantes aumentou em 30%, em relação aos anos anteriores.
As moradoras, que não participavam da associação, mas que faziam
rendas em suas casas, passaram a levar seus produtos para serem
vendidos na associação, visto que o número de visitantes aumentou e
as peças eram mais rapidamente vendidas, pagando 10% de seu valor
pelo serviço prestado pela associação.
A presidente da associação, Maria do Socorro, conseguia organizar
e conduzir os trabalhos da melhor forma possível, sendo amiga,
instrutora e divulgadora dos trabalhos, participando de seminários,
palestras e entrevistas.
Na associação, eram feitas 500 peças por mês, sem considerar as
das outras artesãs que levavam seus produtos para sere m
comercializados. Essas peças tanto eram vendidas na região, como
também eram encomendas feitas por lojistas em São Paulo, Belo
Horizonte, Rio de Janeiro e Salvador. As peças também eram muito
apreciadas pelo turista estrangeiro. Todos os dias, a associação recebia
visitas de vários lugares do Brasil e do exterior, e todos ficavam
encantados com os trabalhos e com a receptividade simpática das
rendeiras.
Assim, a Associação das Rendeiras, com seu poder de criação e
trabalho, apoiada pela A Casa e pelo Sebrae, conseguiu reverter um
panorama de pobreza e falta de perspectiva.

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CONCLUSÃO

O s resultados alcançados pela associação foram de extrema


importância para o desenvolvimento da comunidade local, visto que os
moradores perceberam a importância de trabalhar em conjunto e
utilizar a força do grupo para obter melhores resultados. Enfim,
compreenderam o valor do associativismo.
A preservação da cultura de rendas ficou presente entre as
moradoras, pois continuaram trabalhando do mesmo jeito que as mais
antigas faziam. O material, como as almofadas, os bilros e a maneira
como a renda era feita continuaram os mesmos. Mudou somente o
modelo e a matéria-prima e foi acrescentada nova utilização, como
para vestuário e acessórios de moda.
Como a cidade oferecia poucos meios de geração de renda, as
mulheres encontram na renda de bilros uma profissão que lhes rende
pelo menos um salário mínimo mensalmente e lhes dá orgulho de
s e rem rendeiras. Com a renovação e o despertar para a importância
desse artesanato, esta era uma atividade fundamental para o
desenvolvimento da cidade, visto que existia muita mão-de-obra barata.
A persistência das rendeiras em manter seus trabalhos no mercado
é demonstrada por meio do interesse em participar das parcerias.
Estavam sempre disponíveis à nova capacitação que pudesse oferecer
informações para o seu desenvolvimento.
As ações realizadas contribuíram com o artesanato, tornando-o
auto-sustentável, adaptado às regras do mercado e mostro u ,
principalmente, às moradoras da região que poderiam tirar seu próprio
sustento do artesanato, não precisando, assim, migrar para outra cidade.
As rendeiras perceberam que poderiam se organizar com o objetivo
de ganhar mais mercado e de produzir com mais qualidade e em grandes
quantidades: pretendem alcançar uma meta de 1.000 peças por mês e
conquistar outros mercados. As próximas ações seriam procurar
capacitação em gestão, controle de qualidade, controle de materiais, enfim,
adquirirem conhecimentos que pudessem favorecer um desenvolvimento
mais seguro e consistente. Participar de exposições e feiras e divulgar mais
ainda seus produtos passaram a ser novos objetivos. Fazer coleções com
os modelos criados pelas próprias artesãs é sua ambição.
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"Depois do evento, recebemos vários pedidos. Também fomos


convidadas para participar de um curso de trabalhos manuais.
Quero cada vez mais! Meu grande sonho é um dia vender as
nossas peças fora do país. É muito bom ver que o nosso trabalho é
reconhecido e que hoje demos um salto em nossa melhoria de vida
a partir do artesanato", finalizou Maria do Socorro.

PONTOS PARA DISCUSSÃO

• Como poderia ser organizado o que aconteceu com a associação das


rendeiras, para que seja aplicado em outras associações?

• O que as rendeiras deveriam fazer para que o seu entusiasmo não


desapareça?

• Por que ação como estas seriam tão difíceis de acontecer?

Diretoria Executiva do Sebrae Piauí (2002): Antônio Cláudio Câmara Montenegro, Francisco
Antônio Freitas de Souza e Francisco Pereira de Caldas Rodrigues.

Agradecimentos:
Maria do Socorro Reis Galeano - Presidente da Associação das Rendeiras; Museu A Casa e
Sebrae/PI.

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