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OS DESAFIOS DA SEGURANÇA EM MUSEUS

Denise Grinspum
Maria Ignez Mantovani Franco
ICOM BRASIL

Em primeiro lugar, gostaria de esclarecer que falo em nome da diretoria do ICOM


Brasil e que esta palestra foi elaborada em conjunto com Denise Grinspum,
diretora do Museu Lasar Segall, do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional).

Iniciamos com duas citações de matérias publicadas em dois jornais de grande


circulação nacional:

13 de dezembro de 2005 – Folha de S.Paulo


Crimes contra arte crescem no mundo

“Os roubos de obras de arte e objetos históricos cresceram em todo o mundo nos
últimos anos – no Brasil, porém, as ocorrências são raras. Por conta disso, o FBI, a
Polícia Federal dos Estados Unidos, criou em novembro passado uma divisão
especializada em investigar crimes cometidos contra as artes. Segundo o órgão,
esse tipo de ação virou um grande negócio. Pelas estimativas da entidade, o
setor criminoso movimenta por ano entre 1 e 2 bilhões de reais. Além de
colecionadores desconhecidos dispostos a gastar fortunas por itens roubados, o
FBI explica que a atitude mais comum dos criminosos é pedir resgate para os
proprietários.”

Dois anos depois...

9 de setembro de 2007 – Agência Estado


Brasil ocupa 4º lugar no ranking de roubo de obras culturais

“A imagem do ladrão de quadros refinado dos filmes de James Bond, que bebe
um copo de Chardonnay antes do roubo espetacular de um Matisse, está longe
da realidade brasileira. Nos últimos roubos e furtos a museus brasileiros – como os
que dilapidaram a Biblioteca Nacional, no Rio, e o Museu do Ipiranga, em São
Paulo –, 6 mil peças raras desapareceram em ações toscas, por causa dos
sistemas de segurança deficientes e da falta de organização dos acervos.
O Brasil é hoje o quarto país onde mais se comete este crime.”

Creio que aqui está evidenciada uma das razões mais contundentes que
assinalam a pertinência deste Seminário que o ICOM Brasil, graças aos recursos
concedidos pelo Fundo ICOM Vitae, realiza, objetivando contribuir para uma mais
ampla conscientização de questões ligadas à segurança dos museus brasileiros,
por parte dos profissionais que neles atuam.
Ao longo desta apresentação, vocês verão uma seqüência de matérias já
publicadas pela imprensa brasileira que têm como objetivo evidenciar como a
questão de segurança dos museus e instituições patrimoniais brasileiras é muito
ampla, premente e deve ser abordada sistemicamente. Não pretendemos com
isso provocar alarde, mas evidenciar que as informações aqui apontadas de fato
ocorreram, e cabe a nós, com rigor profissional, nos aplicarmos de forma incisiva
para evitar que novas matérias similares a essas venham a ser estampadas nos
jornais brasileiros.

É importante salientar que as instituições brasileiras não estão de braços cruzados


com relação ao complexo tema de segurança de museus. O ICOM Brasil já
realizou seminários similares a este, até mesmo em décadas passadas, tendo
inclusive editado dois manuais internacionais, ambos em português.

A Fundação Vitae, saudosa entidade voltada ao amparo e fomento das políticas


patrimoniais no Brasil, que marcou indelevelmente a cena museológica em nosso
país, viabilizou vários programas de capacitação nessa área, além de
publicações, destacando-se dentre elas o volume 4 da série Roteiros Práticos de
Museologia, sobre o tema Segurança em Museus, em co-edição com a EDUSP,
com ampla distribuição gratuita pelo Brasil.

O Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), além de realizar anualmente um


curso sobre o tema da segurança com profissionais de todo o Brasil, lançou neste
ano, em parceria com o Museu Villa-Lobos, uma importante publicação sobre
Política de Segurança para Arquivos, Bibliotecas e Museus.

Há, por exemplo, hoje um grupo de profissionais de diversas instituições da cidade


de São Paulo, que se reúne freqüentemente com o objetivo de criar planos de
ações cooperativos, possibilitando a troca de conhecimento e a otimização de
recursos para casos de sinistros. Esse grupo manteve contato com o Escudo Azul 1 ,
e está sendo criado um grupo de trabalho em São Paulo que poderá se constituir
como um núcleo inicial de trabalho de socorro ao patrimônio cultural.

Como outro exemplo atual, neste mês em curso, o Departamento de Museus e


Centros Culturais do IPHAN promove, na Bahia, um seminário temático sobre
segurança, em paralelo a este que aqui se realiza. O próprio professor Serge
Leroux, renomado especialista em segurança do Ministério de Cultura e
Comunicação da França, em seguida à palestra desenvolvida em Belo Horizonte,
deverá rumar para o Rio de Janeiro, atendendo a convite conjunto do Fundo
ICOM Vitae e do DEMU – Departamento de Museus e Centros Culturais do IPHAN,
e proferirá nova conferência no Museu Histórico Nacional, reunindo-se ainda, em
especial, com os diretores dos Museus Nacionais sediados no Rio, para discutir
estratégias de segurança.

1Comitê Internacional do Escudo Azul foi criado em junho de 1996 com o propósito de
proteger e salvaguardar o patrimônio cultural, conforme estabelecido na Convenção de
Haia (1954) para a proteção dos bens culturais em caso de conflitos armados.
Por outro lado, esta mesma preocupação tem sido motivo de várias ações
governamentais, lideradas pelo IPHAN, Departamento de Museus, Secretarias
estaduais e municipais de Cultura, ICOM, envolvendo a Polícia Federal no Brasil
com conexões precisas com a Interpol, FBI, etc. Esta sintonia entre as entidades
patrimoniais e as policiais, no Brasil e no exterior, tem demonstrado que há um
sistema de inteligência em rede, de âmbito internacional; mesmo que incipiente
no Brasil, seus integrantes mostram-se atentos para evitar novos sinistros e prontos
a agir para recuperar, sem danos, os bens patrimoniais que já se esvaíram de suas
instituições de origem.

Considerando que os presentes terão a oportunidade de ouvir hoje o Professor


Serge Leroux e os mais gabaritados especialistas brasileiros que ministrarão o
workshop, ocorreu-nos abordar alguns aspectos cruciais sobre segurança que,
literalmente, tiram o sono dos dirigentes e responsáveis pelos museus:

• quais os grandes conceitos norteadores que precisam estar


permanentemente em nossas mentes para evitar novos sinistros?;
• quais as estratégias que cada um de nós que atua em museus deve
conhecer, desenvolver e tentar aplicar?;
• que relações profissionais devem ser estabelecidas e alimentadas para
garantir uma cobertura abrangente de segurança a um museu?
• com que forças aliadas, internas e externas à instituição, poderemos
contar num momento de emergência?
• como poderemos manter as equipes do museu alertas e atuantes
permanentemente para evitar situações de risco?
• como poderemos estar permanentemente atualizados sobre esta questão
e em contato contínuo com outras instituições para troca de experiências?

Estas questões, por mais complexas que possam parecer, seguem algumas
convenções, regras e recomendações que se encontram disponíveis na farta
bibliografia disponível. Contudo, é importante que se repise alguns pontos,
algumas atitudes de liderança e responsabilidade que devem nortear as ações:

1 – Conhecer é proteger

O primeiro ponto estruturador das ações preventivas é a necessária


documentação das coleções. Parece banal esta afirmação, mas já nos
deparamos recentemente com a impossibilidade de a polícia atuar na
recuperação de obras da Mapoteca do Itamaraty, no Rio de Janeiro, porque a
documentação não oferecia condições de identificação das obras. Além desta
questão, salientamos a importância da constituição e preservação de bancos de
imagens, de preferência digitais, mais ágeis e eficientes e menos onerosos, que
possam servir de referências seguras em casos de sinistros. Importante salientar
que as obras devem ser fotografadas em diferentes faces, posições, com e sem
adereços, ou seja, de todas as formas que possam favorecer a sua completa e
rápida identificação.
Além do conhecimento sobre o acervo que o museu já dispõe, é importante que
a instituição se mantenha conectada com especialistas no campo de
conhecimento em que o museu atua, de forma a ser natural procurá-los para a
articulação de ações preventivas e mesmo em situações de emergência. São
eles certamente os melhores canais para estabelecer redes solidárias, nacionais e
internacionais, envolvendo outros especialistas na matéria, que possam agir
cooperativamente para evitar que os bens roubados sejam facilmente
comercializados.

2 – Proteger é tarefa solidária e não solitária

Toda a complexa gama de atitudes, ações e responsabilidades envolvidas num


competente plano de segurança são planejadas e executadas por pessoas. Por
muitas pessoas, de diferentes formações, competências e esferas de decisão.
Assim sendo, é fundamental não se sentir só, saber envolver parceiros internos e
externos à instituição, favorecendo um clima cooperativo, de atuação conjunta
e solidária, capaz de garantir a segurança da instituição, das coleções, dos
funcionários e dos visitantes, de forma articulada e sistêmica.

Mais do que competentes e complexos sistemas mecânicos ou eletrônicos de


segurança, cada museu precisa necessariamente contar com uma equipe
profissional coesa e motivada, que responda a lideranças seguras e articuladas,
contando com agentes líderes em cada posição estratégica do plano, aptos a
atuar de forma coletiva, em prol da defesa da instituição.

3 – O edifício: continente que protege o conteúdo

O edifício é o continente protetor da instituição e de seu acervo, portanto temos


que nos concentrar em evitar ou retardar sua invasão, seja ela por intrusão,
incêndio, vandalismo ou inundação. Se os três primeiros conjuntos de riscos são
ameaçadores, gostaríamos de frisar, em países tropicais, o elevado risco das
inundações, que podem trazer sérios danos à conservação das coleções.

Conhecer bem a edificação, seus pontos fortes e frágeis, torna-se, portanto,


absolutamente essencial. Desenvolver um bom facility report pode ser um
exercício muito producente para que a própria equipe conheça melhor a
edificação pela qual deve zelar. É importante que se observe que a edificação é
um todo articulado, é operacionalizada por diferentes equipes, tais como
segurança, limpeza, manutenção, conservação, dispondo de entradas e saídas
simultâneas, durante todo o dia, para diferentes públicos, com autorizações de
acesso diferenciadas, ou seja, é um todo pulsante que necessita ser conhecido,
respeitado e observado continuamente. Não raro os edifícios que abrigam
museus são tombados, e isso demanda cuidados adicionais, pois, em casos de
qualquer sinistro, eles não só são o continente, como simultaneamente são o
conteúdo a ser preservado. Faz-se, portanto, necessário empreender um plano
específico que oriente as ações emergenciais que devam ser adotadas para
com o próprio edifício, ressalvando áreas de maior valor patrimonial a serem
priorizadas, cuidados especiais com parcelas da edificação que ofereçam maior
fragilidade de combustão, de inundação, de intrusão, etc.

4 – Medidas preventivas – energia bem investida

Cremos que não há mais razão para não se realizar um planejamento bem
estruturado para melhor proteção de nossos museus. Os alertas internacionais de
ontem já viraram notícia em nosso país hoje. Portanto, não temos nada a esperar,
e sim a antecipar. Não podemos nos tranqüilizar diante de falas aparentemente
reconfortantes que nos garantem que em determinado estado ou cidade isso
nunca irá acontecer. Pois acontece. Se assim fosse, não teríamos mudado nosso
posicionamento no ranking mundial, assumindo um pavoroso quarto lugar entre
os países assolados por perdas patrimoniais graves, em apenas dois anos; muito
menos assistido a roubos patrimoniais sérios em locais longínquos deste país afora.
Outro equívoco muito freqüente é imaginarmos que conosco ou com nosso
museu, especificamente, isso nunca irá acontecer. Perguntemos aos dirigentes
que já foram vítimas de processos de roubo, furto, incêndios ou inundações se
suas instituições não deveriam estar mais prevenidas para evitar o ocorrido. A
resposta é sempre sincera e reveladora.

As medidas preventivas não são poucas e não se estabelecem separadamente.


Elas devem partir de um diagnóstico claro e estruturador que aponte com
precisão as questões mais prementes a serem equacionadas. A seguir, há que se
desenvolver um plano de ação factível, passível de ser articulado e levado a
termo. Isto posto, há que se reunir condições financeiras e humanas para sua
viabilização, e conquistar alianças institucionais e pessoais fundamentais a sua
plena execução. Por outro lado, não se pode prescindir da contratação de
assessorias externas especializadas na matéria, pois, embora represente um custo
para o museu, muitas vezes pode ser menos onerosa do que inventar métodos
próprios, sem muito conhecimento de causa. A troca de experiências entre
museus pode ser também bastante valiosa como busca de caminhos corretos
para planejar e agir.

Ou seja, temos que nos colocar o desafio de conhecer a realidade, planejar os


pontos a serem corrigidos e potencializados e decidir atuar de forma
estruturadora para implementar uma estratégia global de ação coletiva em
direção ao cumprimento dos objetivos inicialmente traçados.
5 – Medidas combativas – não há lugar para lágrimas, mas sim para ações
emergenciais planejadas

As ações de proteção patrimoniais não se esgotam nas atitudes preventivas.


Pressupõem a elaboração de competente plano de emergência, dinâmico e
articulado. Saber enfrentar um sério momento de adversidade não é um desafio
a ser menosprezado. Em caso de sinistros, temos que estar preparados e
capacitados – dirigentes, funcionários e parceiros externos – a decidir da melhor
forma, a agir com precisão, a interagir corretamente, a respeitar competências e
lideranças predeterminadas, a minimizar todos os danos possíveis: às pessoas
envolvidas, ao acervo e à edificação.

Isso não ocorre por sorte ou milagre, por mais que desejemos proteção a nossos
museus. As ações a serem desencadeadas num momento de emergência
devem ser prévia e cuidadosamente estudadas, planejadas. Isso pressupõe
ampla capacitação integrada e treinamentos rigorosos de todos os envolvidos.

Não há melhor exemplo, neste sentido, do que a ação dos bombeiros no último
acidente da TAM, ocorrido no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, em julho
passado. Não por coincidência, mas por planejamento e competência, o Corpo
de Bombeiros de São Paulo havia há pouco tempo realizado um amplo
treinamento envolvendo exatamente aquela possibilidade de sinistro, por ser ele
considerado de alto risco, dadas as características da cabeceira da pista de
Congonhas. Haviam sido envolvidos no treinamento preventivo não apenas os
bombeiros que deveriam atuar na área, mas também todos os parceiros externos
que naturalmente seriam envolvidos em caso de sinistro: DSV, Infraero,
Eletropaulo, Sabesp, delegacias e hospitais da região, etc. No momento em que
a tragédia ocorreu de fato, todos os atores envolvidos sentiram-se seguros, por já
saber com precisão o seu papel, a sua competência, a quem seguir e se reportar,
o que fazer, o que evitar. Certamente esse plano integrado de segurança
desenvolvido pelo Corpo de Bombeiros de São Paulo não pôde evitar a tragédia,
mas soube minimizar o sofrimento de muitos, agindo com competência no longo
e penoso resgate das vítimas do acidente.

Da mesma forma devemos atuar em nossos museus. Não nos esqueçamos da


importância de definição de papéis e competências de cada um dos envolvidos,
já que as relações humanas e profissionais são a chave do sucesso no
planejamento e desenvolvimento de tais ações. É preciso manter reuniões
setoriais e globais, rigorosamente convocadas com freqüência semanal,
quinzenal ou mensal, de acordo com o planejamento efetuado. Além disso, não
descansar, checar procedimentos, verificar sistemas, estratégias, atuações,
proteções, e desenvolver treinamentos periódicos abrangendo os agentes
internos e externos atuantes no plano.
6 – O papel singular da educação nas estratégias interdisciplinares de prevenção
e segurança patrimonial

Partindo do pressuposto de que ação interdisciplinar é indispensável para a


obtenção de melhorias nos planos de proteção patrimonial, não podemos deixar
de ressaltar a importância da educação na mediação de dinâmicas coletivas e
na capacitação de diferentes agentes que deverão interagir no plano de
proteção global. Erroneamente, muitos museus consideram que a questão de
segurança envolve unicamente as instâncias diretivas e gerenciais, as equipes de
segurança e manutenção, e ninguém mais. As outras equipes do museu são
consideradas, nestes casos, como meras massas de manobra, ou seja, conjuntos
de pessoas que deverão responder e obedecer a comandos, sem ao menos
entender sua lógica, em momentos emergenciais. As visões mais globais quanto
aos planos de proteção e segurança evoluíram bastante e hoje preconizam que
todos os setores do museu devam ser englobados no desenvolvimento do referido
plano. Assim, os setores técnicos, tais como as áreas de museologia e
conservação preventiva, têm papel estratégico nas orientações relativas às
coleções, destacando-se nas interfaces com as equipes que se responsabilizam
pela própria edificação e seus sistemas complementares (climatização,
iluminação, manutenção, higienização, segurança, entre outros). Respondem
ainda por todo o plano de evacuação de acervos em casos de sinistros,
recomendações de como mitigar os danos às coleções, indicação das que
devem ter sua saída do edifício priorizada ou postergada, etc.

Por outro lado, fica evidente o papel insubstituível da educação como


mediadora das relações interáreas do museu: na orientação das dinâmicas e nos
fluxos de diferentes naturezas de visitação, protegendo assim tanto os visitantes
quanto o acervo, e na coordenação dos procedimentos de capacitação
previstos no plano de segurança.

Cabe mencionar o papel da diretoria de promover uma mudança de cultura em


relação ao compartilhamento de responsabilidades em todos os níveis. Vale
lembrar que não são só os técnicos e experts que cumprem papel importante. Os
funcionários de serviços gerais, como de vigilância, limpeza, portaria, são peças-
chave no processo permanente de alerta contra quaisquer tipos de ameaças e
na corrente de ações em planos de emergência.

7 – O desempenho da segurança na coordenação dos sistemas integrados

Há que se considerar que os museus se sofisticaram exponencialmente em todo o


mundo e passaram a receber uma infra-estrutura complexa que os caracteriza
como edifícios inteligentes. Esta cadeia de facilities cada vez mais sofisticada
propõe sistemas especiais de lógica, iluminação, climatização, sonorização,
segurança integrada, proteção contra acidentes elétricos e hidráulicos, entre
outros específicos que a natureza de seus acervos recomendam. Com tantos
sistemas interagindo em espaços e edifícios de forma simultânea, é preciso
planejar com muito critério as interfaces entre eles.
Temos hoje sistemas integrados de segurança já instalados em museus, no Brasil,
que organizam estas interfaces de forma conjugada, mantendo todos os sistemas
complementares em monitoramento constante.

Cada museu deve, portanto, conhecer as suas limitações e sua capacidade


quanto à rede lógica, elétrica, hidráulica, sistema de segurança e climatização,
de forma a mantê-los em condições estáveis de funcionamento, para que não
representem riscos para suas coleções e para a própria edificação. O grau de
sofisticação desses sistemas pode certamente variar, mas o fato de ser mais ou
menos complexo não altera o estado de atenção e monitoramento que tais
complexos requerem.
8 – As exposições temporárias e os acervos circulantes

A partir da segunda metade do século XX, os acervos museológicos passaram


progressivamente a itinerar por diferentes países. Em conseqüência dessa ação
cada vez mais freqüente e intensa, novas estratégias de conservação preventiva
foram desenvolvidas, técnicas de controle de empréstimos, logísticas de
deslocamentos de coleções, enfim, toda uma dinâmica própria ao abandono do
museu de origem foi desenvolvida, com crescente competência. A este
verdadeiro frisson de circulação de bens patrimoniais corresponderam novos
desafios para os museus; os próprios setores de segurança tiveram de responder
prontamente a múltiplas questões, tais como coberturas de seguro, condições de
embalagem e transporte, estudo de condições de segurança dos espaços
expositivos que receberiam as obras, monitoramento dos deslocamentos de
coleções por satélite, escoltas de proteção e acompanhamento, regras de
acesso para o público, controle de distância entre o público e as obras expostas,
controle de acesso portando bolsas, mochilas e objetos pessoais, acessibilidade
para portadores de necessidades especiais, entre outras.

Criou-se assim uma preocupação adicional para os museus, ou seja, os acervos


de terceiros que lhes são cotidianamente confiados. Além das próprias coleções
que já demandam atenção brutal e constante, as equipes tiveram que se haver
com outras características de diversos acervos visitantes que requerem,
normalmente, diferentes condições de segurança, climatização e visitação.

Diante da evidência de que as exposições temporárias e itinerantes são fato


consumado na programação dos museus, há que se pensar estratégicas de
segurança que possam referenciá-las de forma integrada e ao mesmo tempo
particularizada, para que o museu receptor possa cumprir com retidão os
compromissos assumidos, pelo contrato de empréstimo, com o museu ou
colecionador cedente.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Finalizando, gostaríamos de deixar aqui algumas referências que possam lhes ser
úteis na desafiante tarefa que assumirão ao deixar este seminário, no momento
de retorno a suas instituições:

A – Recomendamos a leitura atenta do texto, de autoria de Luiz Antônio Bolcato


Custódio, ex-presidente do ICOM, que se encontra encartado na pasta do
seminário que acabam de receber. Ele apresenta de forma objetiva um histórico
das principais legislações de proteção do patrimônio mundial e as validações
homologadas pelo Brasil com relação aos nossos bens patrimoniais. Além disso,
esclarece com precisão a atuação do ICOM no estabelecimento das conexões
internacionais em casos de sinistros, assim como todos os esforços que vêem
sendo empreendidos, internacionalmente, para a prevenção do tráfico ilícito de
bens culturais.

B – Informamos que o IPHAN lançou recentemente, em outubro, uma campanha


para coibir o tráfico de bens patrimoniais. Encontra-se disponível no site do
Instituto (www.iphan.gov.br) o banco de dados das obras subtraídas do
patrimônio brasileiro. A campanha é compartilhada com vários parceiros
institucionais e visa cercear o tráfico de bens culturais, recuperar e devolver aos
locais de origem os bens culturais tombados que foram extraviados, furtados ou
roubados. O IPHAN irá implantar, em 2008, o Programa Nacional de Segurança
Preventiva contra Incêndio e Intrusão, com o objetivo de proteger os imóveis
tombados que possuam acervo de significativo valor histórico e artístico.

C – Reiteramos que o ICOM Brasil coloca-se como parceiro dos museus brasileiros
e de seus profissionais para propiciar entendimentos institucionais que possam
promover a melhoria das ações de proteção patrimonial e reitera seu papel
institucional como mediador de instituições de segurança internacionais, em
casos de sinistros, objetivando a recuperação plena dos acervos patrimoniais
envolvidos.

Este seminário e mais particularmente os conteúdos do workshop que serão


ministrados nesta semana lhes oferecerão instrumentos para análise, reflexão e
aperfeiçoamento das estratégias de segurança que vivenciam em seus diferentes
museus, estados e regiões brasileiras. Não nos furtemos a fazer bom uso desta
oportunidade de empreender mudanças e implementar segurança e proteção
ao nosso patrimônio.

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