Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
(Grinspum, D. Franco, M. I. M.) Os Desafios Da Segurança em Museus PDF
(Grinspum, D. Franco, M. I. M.) Os Desafios Da Segurança em Museus PDF
Denise Grinspum
Maria Ignez Mantovani Franco
ICOM BRASIL
“Os roubos de obras de arte e objetos históricos cresceram em todo o mundo nos
últimos anos – no Brasil, porém, as ocorrências são raras. Por conta disso, o FBI, a
Polícia Federal dos Estados Unidos, criou em novembro passado uma divisão
especializada em investigar crimes cometidos contra as artes. Segundo o órgão,
esse tipo de ação virou um grande negócio. Pelas estimativas da entidade, o
setor criminoso movimenta por ano entre 1 e 2 bilhões de reais. Além de
colecionadores desconhecidos dispostos a gastar fortunas por itens roubados, o
FBI explica que a atitude mais comum dos criminosos é pedir resgate para os
proprietários.”
“A imagem do ladrão de quadros refinado dos filmes de James Bond, que bebe
um copo de Chardonnay antes do roubo espetacular de um Matisse, está longe
da realidade brasileira. Nos últimos roubos e furtos a museus brasileiros – como os
que dilapidaram a Biblioteca Nacional, no Rio, e o Museu do Ipiranga, em São
Paulo –, 6 mil peças raras desapareceram em ações toscas, por causa dos
sistemas de segurança deficientes e da falta de organização dos acervos.
O Brasil é hoje o quarto país onde mais se comete este crime.”
Creio que aqui está evidenciada uma das razões mais contundentes que
assinalam a pertinência deste Seminário que o ICOM Brasil, graças aos recursos
concedidos pelo Fundo ICOM Vitae, realiza, objetivando contribuir para uma mais
ampla conscientização de questões ligadas à segurança dos museus brasileiros,
por parte dos profissionais que neles atuam.
Ao longo desta apresentação, vocês verão uma seqüência de matérias já
publicadas pela imprensa brasileira que têm como objetivo evidenciar como a
questão de segurança dos museus e instituições patrimoniais brasileiras é muito
ampla, premente e deve ser abordada sistemicamente. Não pretendemos com
isso provocar alarde, mas evidenciar que as informações aqui apontadas de fato
ocorreram, e cabe a nós, com rigor profissional, nos aplicarmos de forma incisiva
para evitar que novas matérias similares a essas venham a ser estampadas nos
jornais brasileiros.
1Comitê Internacional do Escudo Azul foi criado em junho de 1996 com o propósito de
proteger e salvaguardar o patrimônio cultural, conforme estabelecido na Convenção de
Haia (1954) para a proteção dos bens culturais em caso de conflitos armados.
Por outro lado, esta mesma preocupação tem sido motivo de várias ações
governamentais, lideradas pelo IPHAN, Departamento de Museus, Secretarias
estaduais e municipais de Cultura, ICOM, envolvendo a Polícia Federal no Brasil
com conexões precisas com a Interpol, FBI, etc. Esta sintonia entre as entidades
patrimoniais e as policiais, no Brasil e no exterior, tem demonstrado que há um
sistema de inteligência em rede, de âmbito internacional; mesmo que incipiente
no Brasil, seus integrantes mostram-se atentos para evitar novos sinistros e prontos
a agir para recuperar, sem danos, os bens patrimoniais que já se esvaíram de suas
instituições de origem.
Estas questões, por mais complexas que possam parecer, seguem algumas
convenções, regras e recomendações que se encontram disponíveis na farta
bibliografia disponível. Contudo, é importante que se repise alguns pontos,
algumas atitudes de liderança e responsabilidade que devem nortear as ações:
1 – Conhecer é proteger
Cremos que não há mais razão para não se realizar um planejamento bem
estruturado para melhor proteção de nossos museus. Os alertas internacionais de
ontem já viraram notícia em nosso país hoje. Portanto, não temos nada a esperar,
e sim a antecipar. Não podemos nos tranqüilizar diante de falas aparentemente
reconfortantes que nos garantem que em determinado estado ou cidade isso
nunca irá acontecer. Pois acontece. Se assim fosse, não teríamos mudado nosso
posicionamento no ranking mundial, assumindo um pavoroso quarto lugar entre
os países assolados por perdas patrimoniais graves, em apenas dois anos; muito
menos assistido a roubos patrimoniais sérios em locais longínquos deste país afora.
Outro equívoco muito freqüente é imaginarmos que conosco ou com nosso
museu, especificamente, isso nunca irá acontecer. Perguntemos aos dirigentes
que já foram vítimas de processos de roubo, furto, incêndios ou inundações se
suas instituições não deveriam estar mais prevenidas para evitar o ocorrido. A
resposta é sempre sincera e reveladora.
Isso não ocorre por sorte ou milagre, por mais que desejemos proteção a nossos
museus. As ações a serem desencadeadas num momento de emergência
devem ser prévia e cuidadosamente estudadas, planejadas. Isso pressupõe
ampla capacitação integrada e treinamentos rigorosos de todos os envolvidos.
Não há melhor exemplo, neste sentido, do que a ação dos bombeiros no último
acidente da TAM, ocorrido no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, em julho
passado. Não por coincidência, mas por planejamento e competência, o Corpo
de Bombeiros de São Paulo havia há pouco tempo realizado um amplo
treinamento envolvendo exatamente aquela possibilidade de sinistro, por ser ele
considerado de alto risco, dadas as características da cabeceira da pista de
Congonhas. Haviam sido envolvidos no treinamento preventivo não apenas os
bombeiros que deveriam atuar na área, mas também todos os parceiros externos
que naturalmente seriam envolvidos em caso de sinistro: DSV, Infraero,
Eletropaulo, Sabesp, delegacias e hospitais da região, etc. No momento em que
a tragédia ocorreu de fato, todos os atores envolvidos sentiram-se seguros, por já
saber com precisão o seu papel, a sua competência, a quem seguir e se reportar,
o que fazer, o que evitar. Certamente esse plano integrado de segurança
desenvolvido pelo Corpo de Bombeiros de São Paulo não pôde evitar a tragédia,
mas soube minimizar o sofrimento de muitos, agindo com competência no longo
e penoso resgate das vítimas do acidente.
Finalizando, gostaríamos de deixar aqui algumas referências que possam lhes ser
úteis na desafiante tarefa que assumirão ao deixar este seminário, no momento
de retorno a suas instituições:
C – Reiteramos que o ICOM Brasil coloca-se como parceiro dos museus brasileiros
e de seus profissionais para propiciar entendimentos institucionais que possam
promover a melhoria das ações de proteção patrimonial e reitera seu papel
institucional como mediador de instituições de segurança internacionais, em
casos de sinistros, objetivando a recuperação plena dos acervos patrimoniais
envolvidos.