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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS

António Filipe Garcez José

Ubi commoda ibi incommoda !


Ces sacrés romains ils ont tout
inventé.

CONTRATOS EM ESPECIAL

Universidade Autónoma de Lisboa


Ano lectivo 2005/2006

Teóricas: .......Doutor Luís Manuel Teles de Menezes Leitão


Práticas : .................................................Dr. Fernando Silva

Bibliografia : Direito das obrigações – Vol III - Dr. de Menezes Leitão

Apontamentos e resumos do curso, não isentos de eventuais erros ("errare


humanum est") "destilados" por António Filipe Garcez José, aluno n° 20021078,

Contrato de compra e venda

ARTIGO 874º
Noção

Compra e venda é o contrato pelo qual se transmite a propriedade


de uma coisa, ou outro direito, mediante um preço.

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 Sendo um contrato translativo de direitos, a compra e


venda pressupõe a existência de uma contrapartida
pecuniária

Se não existir qualquer contrapartida ...

- o contrato é qualificável como doação (art. 940°)

Se a contrapartida não consistir numa quantia pecuniária...

- trata-se de um contrato de escambo ou troca

CARACTERÍSTICAS
O contrato de compra e venda é um contrato...

1. nominado e típico

2. primordialmente não formal

3. consensual

4. obrigacional e real “quoad effectum”

5. oneroso

6. sinalagmático

7. normalmente comutativo, sendo por vezes aleatório

8. de execução instantânea

1. contrato nominado e típico

Nominado
Porque que a lei o reconhece como categoria jurídica

Típico
Porque a lei estabelece para este contrato um regime, quer no
âmbito do Direito Civil (arts. 874° e ss. CC), quer no âmbito do
Direito Comercial (arts. 463° e ss. CCom)

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2. contrato primordialmente não formal

Contrato não formal (art. 219°)


Regra geral, o contrato de compra e venda não depende de forma
especial, excepto quando a lei o exige ( ex: art. 875°)

3. contrato consensual

Contrato consensual (por oposição a real “quoad constitutionem” )


Porque a lei ao prever expressamente a existência de uma
obrigação de entrega por parte do vendedor (art. 879°/b), é o
acordo das partes que determina a formação do contrato, não
dependendo esta da entrega da coisa, nem do pagamento do preço
respectivo.

4. contrato obrigacional e real quoad effectum

Contrato obrigacional
A compra e venda determina a constituição de duas obrigações:

- obrigação de entrega da coisa (art. 879°/b))

- Obrigação de pagamento do preço (art. 879°/c))

Contrato real quoad effectum


Uma vez que produz a transmissão de direitos reais (art. 879°/a))

5. Contrato oneroso

Contrato oneroso
Porque existe uma contrapartida pecuniária em relação à
transmissão dos bens.

6. contrato sinalagmático

Contrato siinalagmático
Uma vez que as obrigações do vendedor e do comprador
constituem-se tendo cada uma a sua causa na outra (o que
determina que permaneçam ligadas durante a fase da execução do
contrato).

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7. Contrato normalmente comutativo, por vezes aleatório

Cumutativo
Uma vez que ambas as atribuições patrimoniais, se apresentam
como certas, não se verificando incerteza nem quanto à sua
existência (an) nem quanto ao seu conteúdo (quantum).

Em certos casos a lei admite que a compra e venda possa funcionar


como...

Contrato aleatório
Como nos casos de ...

- venda de bens futuros, frutos pendentes e integrantes, a


que as partes atribuem esse carácter (art. 880°/2)

- venda de bens de existência ou titularidade incerta (art.


881°)

- venda de herança ou de quinhão hereditário (arts 2124°


e ss.)

- venda de expectativas

8. Contrato de execução instantânea

Contrato de execução instantânea


Porque, quer em relação à obrigação de entrega, quer em relação à
obrigação de pagamento do preço, o seu conteúdo e extensão não
é delimitado em função do tempo.

FORMA
 A compra e venda é um contrato essencialmente
consensual (art. 219°)

Mas,...

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 Se a compra e venda tiver por objecto bens imóveis, esta só
é válida quando for celebrada por escritura pública (art.
875°),...
excepto se for uma ...

- compra e venda de imóvel com recurso ao crédito


bancário, em que basta a celebração de um documento
particular ( art. 2° do DL 255/93, de 15 de Julho)

- compra e venda de direito real de habitação


periódica (art.12° DL 275/93, de 5 de Agosto)

A escritura pública é, porém, ainda exigida para ...

- a transmissão de herança ou quinhão hereditário


(art. 2126°/1), quando abranja bens cuja alienação deva
ser feita por essa forma.

- as quotas de sociedades (art. 228° CSC)

- a transmissão total e definitiva do direito patrimonial


de autor (art. 44° do Código de Direitos de Autor e dos
Direitos Conexos)

a compra e venda, quanto a bens móveis, é por vezes sujeita a


forma escrita. Assim acontece com...

- a alienação de herança ou quinhão hereditário,


quando não abranja bens sujeitos a alienação por
escritura pública (art. 2126°/2)

- o estabelecimento comercial (ver o novo RAU)

- alienação de direitos sobre bens industriais e registo de


marcas (art. 31°/6 CPI)

 É exigida a redução a escrito do contrato de compra e


venda em certas situações, por razões de protecção do
consumidor ; assim acontece na venda a domicílio (art. 16°
do DL 143/2001, de 26 de Abril)

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 O art. 205°/2, refere expressamente que às coisas móveis
sujeitas a registo é aplicável o regime das coisas móveis em
tudo o que não seja especialmente regulado.

 Em certos casos, a compra e venda, para além da forma


especial pode obrigar à realização de certas formalidades.
Assim na compra e venda de prédios urbanos e fracções
autónomas, é necessário que se faça prova perante o
notário da inscrição na matriz predial e respectiva licença de
utilização (DL 281/99, de 26 de Julho.

EFEITOS
ARTIGO 879º
Efeitos essenciais

A compra e venda tem como efeitos essenciais:

a) A transmissão da propriedade da coisa ou da titularidade do


direito;

b) A obrigação de entregar a coisa;

c) A obrigação de pagar o preço.

Temos que distinguir, no contrato de compra e venda, entre ...

os seguintes efeitos :

- Um efeito real
a transmissão da propriedade da coisa ou da titularidade do
direito.

e...

- Dois efeitos Obrigacionais


Que se reconduzem à constituição da ...

1. obrigação de entregar a coisa,

e...

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2. Obrigação de pagar o preço

EFEITO REAL
É essencial à compra e venda a alienação de um direito, isto é,
uma aquisição derivada do mesmo.

 A celebração do contrato de compra e venda acarreta logo a


transferência da propriedade (art. 879°/a) e 408°/1)

 A transferência ou constituição do direito real é imediata e


instantânea.

 O efeito real verifica-se automaticamente no momento da


celebração do contrato ( princípio da consensualidade)

Princípio da consensualidade
a propriedade é transmitida apenas com base no simples consenso
das partes, sendo o efeito real verificado nesse momento.

 Foi a escola do jusnaturalismo racional (Grotius, Puffendorf) que


consagrou o princípio de que a vontade das partes
manifestada através do contrato, é por si só suficiente para
produzir o efeito real.

Ligado ao princípio da consensualidade está o ...

Princípio da causalidade
A existência de uma justa causa de aquisição é sempre
necessária para que o direito real se constitua ou transmita.

 Qualquer vício no negócio causal afectará igualmente a


transmissão da propriedade.

 No nosso Código, o contrato de compra e venda está


consagrado no âmbito da venda real.

Venda real
O adquirente após a celebração do contrato adquire imediatamente
a propriedade da coisa vendida que pode imediatamente opor erga
omnes, no caso dos bens não sujeitos a registo, ficando no caso

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dos bens sujeitos a registo essa oponibilidade a terceiros
dependente do cumprimento do ónus registral.

Excepções ao Pº da consensualidade (art. 408º/1 )


O art. 408º/1, deixa em aberto a possibilidade de se reconhecer
hipóteses de venda obrigatória, nos casos em que a transferência
da propriedade venha a ser temporalmente dissociada da
celebração do contrato.

Duas situações em que se verifica essa dissociação:

Primeira situação
ocorre sempre que a lei proceda a uma separação, entre o
momento em que se verifica a conclusão do contrato e o
momento em que ocorre o fenómeno translativo.

ocorre nos casos da...

- venda de coisas indeterminadas (designadamente coisas genéricas)


- venda de bens futuros
- venda de frutos naturais, ou partes componentes ou
integrantes de uma coisa
- venda com reserva de propriedade

 Venda de coisa indeterminada


Na venda de coisa indeterminada, a transmissão da propriedade
dá-se no momento em que ocorre a determinação da coisa com
conhecimento de ambas as partes (art. 408°/2), ... salvo se...

Se tratar de uma venda genérica, em que a transferência da


propriedade se dá no momento da concentração da obrigação
(arts. 540° e 541°).

 Venda de bens futuros (art. 880°)


A transferência da propriedade ocorre no momento em que a coisa
é adquirida pelo alienante.

 Venda de frutos naturais ou de partes componentes ou


integrantes de uma coisa
A transferência da propriedade verifica-se no momento da colheita
ou separação (art. 880°)

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 Venda com reserva de propriedade


A aquisição integral da propriedade apenas ocorre no momento do
pagamento do preço ou do evento em relação ao qual as partes
determinaram essa verificação (art. 409°)
Segunda situação
ocorre quando o fenómeno translativo não se pode verificar por um
impedimento originário, nos casos de venda de coisa alheia
(art.892° e ss.)

 Venda de coisa alheia (art. 892°)


Na venda de coisa alheia o fenómeno translativo não se pode
verificar em virtude de o vendedor não ser efectivamente o
proprietário do bem vendido.

 A venda de bens alheios é nula, sempre que o vendedor


careça de legitimidade para a realizar.

 Esta nulidade só pode ser sanada através da aquisição da


propriedade (art. 895°) , o que constitui uma obrigação para o
vendedor (art. 897°)

Podemos afirmar que...

No Direito português não existe a figura da venda obrigatória

Pois ...

mesmo nas hipóteses em que a venda possui uma eficácia


translativa não imediata ou dependente da eventual verificação de
certos actos ou factos, o contrato de compra e venda integra
sempre um esquema negocial translativo.

Venda obrigatória
Caracteriza-se especialmente pelo facto de o contrato de compra e
venda nunca produzir efeitos reais, apenas tendo por função a
constituição de obrigações (resultando assim a transferência da propriedade de
um segundo acto, que o vendedor se obriga a praticar, o qual produz os efeitos reais)

PUBLICIDADE

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A compra e venda terá que ser registada quando respeitar a
direitos reais sobre bens imóveis ou a bens móveis sujeitos a
registo (arts. 2º/a) CRPred. e 11º/1/a) CRBMóveis), sob pena de não
ser oponível a terceiros nem prevalecer contra uma eventual aquisição tabular,
desencadeada por uma segunda alienação do mesmo bem (arts. 5º e 17º/2
CRPred. e arts. 3º e 38º CRBMóveis)
 Sendo o direito real um direito absoluto com eficácia erga
omnes é conveniente e útil que todos os parceiros interessados
possam conhecer a sua existência.

 No nosso Direito, a publicidade é normalmente declarativa e


não constitutiva.

 A publicidade é apenas uma condição de eficácia,


relativamente a terceiros, do direito real validamente
constituído por mero efeito do contrato.

 A publicidade apenas será constitutiva na hipótese de


aquisição tabular, caso em que a segunda venda que primeiro for
registada prevalece sobre a primeira.

 No nosso sistema prevalece o interesse do proprietário em


detrimento da protecção de terceiros de boa fé (a posse não vale
título)

RISCO

 Na compra e venda, o comprador torna-se logo proprietário da


coisa vendida e não apenas credor do vendedor relativamente à
sua entrega.

 O comprador (novo proprietário) deixa de estar sujeito ao concurso


de credores no património do vendedor em relação a essa coisa
(art. 604º/1) uma vez que tem sobre ela a propriedade
(art. 1305º)

 Associada à transferência da propriedade aparece a


transferência do risco (art. 796º/1)

 A partir do momento em que é celebrado o contrato de compra e


venda, o risco fica a cargo do comprador (796º/1).

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 O risco continua a correr para o vendedor, se a coisa tiver
continuado em poder deste, em consequência de termo
estabelecido em seu favor; neste caso, a transferência do
risco só se verifica, com o vencimento do termo ou a entrega da
coisa, salvo se .... o devedor entrar em mora, o que produz a
inversão do risco (796º/2)

 No caso de aposição de uma condição resolutiva ao contrato,


o risco corre por conta do adquirente se a coisa lhe tiver sido
entregue.

 No caso de aposição de uma condição suspensiva, o risco


corre por conta do alienante durante a pendência da condição
(art. 796º/3)

ARTIGO 796º

Risco

1. Nos contratos que importem a transferência do domínio sobre


certa coisa ou que constituam ou transfiram um direito real
sobre ela, o perecimento ou deterioração da coisa por causa não
imputável ao alienante corre por conta do adquirente.

2. Se, porém, a coisa tiver continuado em poder do alienante em


consequência de termo constituído a seu favor, o risco só se
transfere com o vencimento do termo ou a entrega da coisa,
sem prejuízo do disposto no artigo 807º.

3. Quando o contrato estiver dependente de condição resolutiva, o


risco do perecimento durante a pendência da condição corre por
conta do adquirente, se a coisa lhe tiver sido entregue; quando for
suspensiva a condição, o risco corre por conta do alienante
durante a pendência da condição.

EFEITOS OBRIGACIONAIS

O dever de entregar a coisa


Em relação ao vendedor

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 A obrigação que surge através do contrato de compra e venda
reconduz-se essencialmente ao dever de entregar a coisa.

 É assim atribuído ao comprador um direito de crédito à


entrega da coisa pelo vendedor, o qual concorre com a acção de
reivindicação (art. 1311º), que pode exercer enquanto
proprietário da coisa.
Em relação ao objecto da obrigação de entrega

 O objecto da obrigação de entrega, corresponde, à coisa


comprada.

Há que distinguir entre ...

- Venda de coisa específica

- Venda de coisa genérica

Venda de coisa específica


O vendedor apenas pode cumprir entregando ao comprador a coisa
que foi objecto da venda, sem que a possa substituir.

 A coisa deve ser entregue no estado em que se encontrava ao


tempo da venda (art. 882º/1)

 Recai sobre o vendedor um dever específico relativamente à


custódia da coisa.

 Caso a coisa se venha a deteriorar entre o momento da venda


e o da entrega, presume-se existir responsabilidade pelo
vendedor por incumprimento dessa obrigação (art. 918º), a
menos que demonstre que a deterioração não procede de
culpa sua (art. 799º/1)

Venda de coisa genérica


O vendedor pode cumprir o contrato, entregando ao comprador
qualquer coisa dentro do género.

 O vendedor terá que entregar as coisas correspondentes à


quantidade e qualidade convencionadas no contrato de compra e
venda (arts. 539º e ss. , e 400º)

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 O desrespeito destas regras determinará a aplicação do regime
do incumprimento das obrigações (art. 918º)

 A obrigação de entrega abrange, salvo estipulação em contrário,


além da própria coisa comprada, as suas partes integrantes, os
frutos pendentes e os documentos relativos à coisa ou direito
(882º/2)

 A obrigação de entrega pode ainda incluir, outros objectos como,


por exemplo, a embalagem necessária ao acondicionamento do
bem vendido.

A obrigação de entrega está sujeita a ...

Regras gerais

- quanto ao tempo de cumprimento


- quanto ao lugar de cumprimento
- quanto ao não cumprimento

Regras quanto ao tempo de cumprimento

 Se as partes não convencionarem prazo certo para a sua


realização, o comprador pode exigir a todo o tempo a entrega
da coisa (art. 777º/1)

 Com a interpelação do comprador, o vendedor ficará


constituído em mora ( art. 805º/1)

 No caso de ter sido convencionado prazo certo, ou este


resultar da lei, o vendedor terá que entregar a coisa até ao fim
desse prazo, sem o que incorrerá em mora (art. 805º/2)

 A obrigação de entrega da coisa vendida está sujeita ao prazo


ordinário de prescrição de vinte anos (art. 309º)

ARTIGO 805º
Momento da constituição em mora

1. O devedor só fica constituído em mora depois de ter sido judicial ou


extrajudicialmente interpelado para cumprir.

2. Há, porém, mora do devedor, independentemente de interpelação:

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a) Se a obrigação tiver prazo certo;
b) Se a obrigação provier de facto ilícito;
c) Se o próprio devedor impedir a interpelação, considerando-se
interpelado, neste caso, na data em que normalmente o teria sido.

3. Se o crédito for ilíquido, não há mora enquanto se não tornar líquido,


salvo se a falta de liquidez for imputável ao devedor; tratando-se, porém,
de responsabilidade por facto ilícito ou pelo risco, o devedor constitui-se
em mora desde a citação, a menos que já haja então mora, nos termos da
primeira parte deste número.
Regras quanto ao lugar do cumprimento
(caso não ocorra qualquer estipulação das partes)

há que distinguir entre coisas móveis e imóveis ....

Relativamente às coisas móveis

O art. 773° determina que deve ser entregue no lugar em que se


encontravam ao tempo da conclusão do negócio as coisas ...

- determinadas

- genéricas a ser escolhidas de um conjunto determinado

- a ser produzidas em certo lugar

O art. 772° determina que nos outros casos, a coisa deve ser
entregue no domicílio do vendedor.

Relativamente às coisas imóveis

- Naturalmente que a entrega física só poderá ser feita no lugar


em que o imóvel se encontra.

- No caso em que as partes determinem que essa entrega será


realizada simbolicamente, dever-se-à aplicar o critério
supletivo geral do domicílio do devedor (art. 772°)

Em caso de não cumprimento (por parte do vendedor)

- pode o comprador, nos termos gerais, intentar contra o


vendedor uma acção de cumprimento (arts. 817° e ss.), ...

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- que tratando-se de coisa determinada, pode incluir a
execução específica da obrigação (art. 827°)

- O vendedor está também sujeito a ter que indemnizar o


comprador, pelos danos que lhe causar o incumprimento da
obrigação (arts. 798° e ss.)

O dever de pagar o preço


 A obrigação de pagamento do preço corresponde a uma
obrigação pecuniária, sujeita ao regime dos arts. 550º e ss.

 Não é necessário no contrato de compra e venda que o preço


se encontre determinado no momento da celebração do
contrato, bastando que seja determinável

 A lei pode supletivamente indicar a forma de


determinabilidade do preço (art. 883º)

ARTIGO 883º

Determinação do preço

1. Se o preço não estiver fixado por entidade pública, e as partes o


não determinarem nem convencionarem o modo de ele ser
determinado, vale como preço contratual o que o vendedor
normalmente praticar à data da conclusão do contrato ou, na falta
dele, o do mercado ou bolsa no momento do contrato e no lugar em
que o comprador deva cumprir; na insuficiência destas regras, o
preço é determinado pelo tribunal, segundo juízos de equidade.

2. Quando as partes se tenham reportado ao justo preço, é


aplicável o disposto no número anterior.

A obrigação de pagamento do preço está sujeita a regras


específicas quanto ao tempo e ao lugar:

ARTIGO 885º

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Tempo e lugar do pagamento do preço

1. O preço deve ser pago no momento e no lugar da entrega da


coisa vendida.

2. Mas, se por estipulação das partes ou por força dos usos o preço
não tiver de ser pago no momento da entrega, o pagamento será
efectuado no lugar do domicílio que o credor tiver ao tempo do
cumprimento.
 A obrigação de pagamento do preço é sujeita à prescrição
ordinária de vinte anos (art. 309º)

 Nos créditos de comerciantes pelos objectos vendidos a não


comerciantes, que não os destinam ao seu comércio , existe
uma prescrição presuntiva ao fim de 2 anos (art.317º/b))

 Transmitida a propriedade da coisa, ou o direito sobre ela, e


feita a sua entrega, o vendedor não pode, salvo convenção
em contrário, resolver o contrato por falta de pagamento do
preço (art. 886º).

 Verificada a definitiva transferência da propriedade e entrega


do bem, o vendedor fica restringido, contra o comprador, à
acção de cumprimento para cobrança do preço (art. 817º),
respectivos juros moratórios (art. 806º/1)

A resolução do contrato por incumprimento da obrigação do


comprador, só é possível nestas situações :

a) Haver convenção em contrário


Nada impede às partes de estipular igualmente que o
incumprimento da obrigação de pagar o preço por parte do
comprador constitua fundamento de resolução.

b) Ainda não ter sido entregue a coisa (mesmo que já tenha


ocorrido a transmissão de propriedade) O contrato ainda não se
encontra totalmente executado, podendo até o vendedor
recusar a entrega de coisa, enquanto o comprador não
satisfizer a obrigação de pagar o preço (art. 428º)

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c) Ainda não ter ocorrido a transmissão da propriedade
(mesmo que a coisa já tenha sido entregue) Quando o vendedor
conserva a propriedade com fins de garantia, pode em caso
de incumprimento, proceder à resolução do contrato e exigir a
restituição do bem.

 As despesas do contrato e outras despesas


acessórias ficam a cargo do comprador (art. 878º)

 As despesas relativas a actos de execução do


contrato, ficam a cargo do respectivo devedor.

Proibições de venda
Casos em que a lei veda a celebração do contrato de compra e
venda entre determinadas pessoas.

a) Venda de coisa ou direito litigioso

b) Venda a filhos ou netos

c) Compra de bens do incapaz pelos pais, tutor, curador,


administrador legal de bens ou protutor que exerça as funções
de tutor.

d) Venda entre cônjuges

Venda de coisa ou direito litigioso

ARTIGO 876º

Venda de coisa ou direito litigioso

1. Não podem ser compradores de coisa ou direito litigioso, quer


directamente, quer por interposta pessoa, aqueles a quem a lei não
permite que seja feita a cessão de créditos ou direitos litigiosos,
conforme se dispõe no capítulo respectivo.

2. A venda feita com quebra do disposto no número anterior, além


de nula, sujeita o comprador, nos termos gerais, à obrigação de
reparar os danos causados.

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3. A nulidade não pode ser invocada pelo comprador.

 Faz-se aqui uma remissão para a proibição da cessão de


créditos e direitos litigiosos (art.579º e ss.)

ARTIGO 579º

Proibição da cessão de direitos litigiosos

1. A cessão de créditos ou outros direitos litigiosos feita,


directamente ou por interposta pessoa, a juízes ou magistrados do
Ministério Público, funcionários de justiça ou mandatários judiciais é
nula, se o processo decorrer na área em que exercem
habitualmente a sua actividade ou profissão; é igualmente nula a
cessão desses créditos ou direitos feita a peritos ou outros
auxiliares da justiça que tenham intervenção no respectivo
processo.

2. Entende-se que a cessão é efectuada por interposta pessoa,


quando é feita ao cônjuge do inibido ou a pessoa de quem este seja
herdeiro presumido, ou quando é feita a terceiro, de acordo com o
inibido, para o cessionário transmitir a este a coisa ou direito cedido.

3. Diz-se litigioso o direito que tiver sido contestado em juízo


contencioso, ainda que arbitral, por qualquer interessado.

 Em certas situações onde não existe um receio de


especulação, a proibição de venda cessa (art. 581º) :

a) A alienação ao titular do direito de preferência ou


remição sobre o bem.

b) A alienação em defesa dos bens possuídos pelo


adquirente (ex: alienação ao arrendatário de um prédio em
risco de execução)

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c) A alienação ao credor em cumprimento do que lhe é
devido (ex: alienação em cumprimento de contrato-promessa
celebrado antes de o bem passar a litigioso)

 A venda é considerada nula ( no interesse do vendedor)


se apesar de ser proibida vier a ser realizada, sujeitando-se o
comprador, nos termos gerais à obrigação de reparar os
danos causados. (arts. 876º/2 e 580º/1)

 Esta nulidade não pode ser invocada pelo comprador (arts.


876º/3 e 580º/2)

Venda a filhos ou a netos

ARTIGO 877º

Venda a filhos ou netos

1. Os pais e avós não podem vender a filhos ou netos, se os


outros filhos ou netos não consentirem na venda; o consentimento
dos descendentes, quando não possa ser prestado ou seja
recusado, é susceptível de suprimento judicial.

2. A venda feita com quebra do que preceitua o número anterior é


anulável; a anulação pode ser pedida pelos filhos ou netos que não
deram o seu consentimento, dentro do prazo de um ano a contar do
conhecimento da celebração do contrato, ou do termo da
incapacidade, se forem incapazes.

3. A proibição não abrange a dação em cumprimento feita pelo


ascendente.

 Esse consentimento pode ser objecto de suprimento pelo


tribunal (art.1425º)

 A proibição não abrange a dação em cumprimento feita


pelo ascendente.

Compra dos bens do incapaz pelos seus pais e ...

ARTIGO 1892º

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Proibição de adquirir bens do filho

1. Sem autorização do tribunal não podem os pais tomar de


arrendamento ou adquirir, directamente ou por interposta pessoa,
ainda que em hasta pública, bens ou direitos do filho sujeito ao
poder paternal, nem tornar-se cessionários de créditos ou outros
direitos contra este, excepto nos casos de sub-rogação legal, de
licitação em processo de inventário ou de outorga em partilha
judicialmente autorizada.

2. Entende-se que a aquisição é feita por interposta pessoa nos


casos referidos no nº 2 do artigo 579º.
 Nestes casos se for celebrada uma compra e venda
sem autorização judicial, esta é anulável.

ARTIGO 1893º
Actos anuláveis

1. Os actos praticados pelos pais em contravenção do disposto nos


artigos 1889º e 1892º são anuláveis a requerimento do filho, até
um ano depois de atingir a maioridade ou ser emancipado, ou, se
ele entretanto falecer, a pedido dos seus herdeiros, excluídos os
próprios pais responsáveis, no prazo de um ano a contar da morte
do filho.

2. A anulação pode ser requerida depois de findar o prazo se o


filho ou seus herdeiros mostrarem que só tiveram conhecimento do
acto impugnado nos seis meses anteriores à proposição da acção.

3. A acção de anulação pode também ser intentada pelas


pessoas com legitimidade para requerer a inibição do poder
paternal, contanto que o façam no ano seguinte à prática dos actos
impugnados e antes de o menor atingir a maioridade ou ser
emancipado.

 Apesar de não autorizada, a compra pode ser objecto de


confirmação pelo Ministério Público (art. 1894º)

ARTIGO 1894º
Confirmação dos actos pelo tribunal

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O tribunal pode confirmar os actos praticados pelos pais sem a
necessária autorização.

Esta proibição é extensiva ao ...

- tutor (art.1894º e nº1 do DL 272/2001)

- curador (art.156º)

- administrador de bens (art. 1971º/1)

- protutor (art. 1956º/b))

 apesar desta proibição, se a compra e venda de bens do


menor vem a ser realizada, o negócio não é anulável, mas
nulo, apesar de sanável (art. 1939º)

venda entre cônjuges

 O Pº da imutabilidade das convenções antenupciais,


proíbe que os cônjuges venham alterar, depois da celebração
do casamento, quer as convenções antenupciais, quer os
regimes de bens legalmente fixados (art. 1714º/1)

 Entre os cônjuges esta proibição cessa a partir do momento


em que se encontrem judicialmente separados de pessoas e
bens.

 A dação em cumprimento feita por um dos cônjuges ao seu


consorte, é lícita (art.1714º/3)

Modalidades específicas de venda


1) Venda de bens futuros, de frutos pendentes e de partes
componentes ou integrantes de uma coisa

2) Venda de bens de existência ou titularidade incerta

3) Venda com reserva de propriedade

4) Venda a prestações

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António Filipe Garcez José

5) Venda a retro

6) Venda a contento e venda sujeita a prova

Venda de bens futuros, de frutos pendentes e de


partes componentes ou integrantes de uma coisa
Esta modalidade específica de venda está prevista no art. 880º CC
e 467º/1 CCom.

A venda de bens futuros ocorre sempre que o vendedor aliena


bens que ...

- não existem ao tempo da declaração negocial (ex. venda de uma


fracção autónoma)

- que não estão em seu poder (ex: venda dos peixes que vier a pescar
nesse dia no lago)

- A que ele não tem direito (ex: um agricultor vende os cereais que lhe
virão a ser fornecidos por outro agricultor)

 A venda de bens futuros é um contrato aleatório (art.880º/2)


no caso em que o objecto da venda é a mera esperança de
aquisição das coisas.

 Nos contratos aleatórios, o comprador está obrigado a


pagar o preço, ainda que a transmissão dos bens não chegue
a verificar-se (ex: a colheita se vir a perder por condições climatéricas
irregulares)

 A venda de bens futuros não constitui uma modalidade


específica de venda obrigatória, na medida em que, a
celebração do contrato já integra o esquema negocial

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translativo, que não fica dependente de uma segunda
atribuição patrimonial a realizar pelo vendedor.

Venda de bens de existência ou titularidade incerta

Esta modalidade de venda específica está regulada nos arts. 881º


CC e 467º/1CCom.

 Se se venderem bens de existência ou titularidade incerta e


no contrato se fizer menção dessa incerteza, o contrato é
válido (art. 881º)

 Se as partes recusarem ao contrato a natureza aleatória, o


preço só será devido no caso de os bens existirem e
pertencerem ao vendedor (art.885º/1)

Venda com reserva de propriedade


A reserva de propriedade vem referida no art. 409º

ARTIGO 409º

Reserva da propriedade

1. Nos contratos de alienação é lícito ao alienante reservar para si


a propriedade da coisa até ao cumprimento total ou parcial das
obrigações da outra parte ou até à verificação de qualquer outro
evento.
2. Tratando-se de coisa imóvel, ou de coisa móvel sujeita a registo,
só a cláusula constante do registo é oponível a terceiros.

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REGIME da venda com reserva de propriedade
 A cláusula de reserva de propriedade tem que ser estipulada
no âmbito de um contrato de compra e venda, do qual não
pode ser cindido.

 No âmbito do contrato de compra e venda, a reserva de


propriedade terá que obedecer à forma legalmente exigida
para o contrato, podendo ser consensual nos casos em que o
contrato de compra e venda não esteja sujeito a forma
especial.

 A cláusula de reserva de propriedade pode ser celebrada


exclusivamente em relação a coisa específicas e não
consumíveis.

 No caso de bens imóveis ou móveis sujeitos a registo, só a


cláusula constante do registo é oponível a terceiros (art.
409º/2)

 No que toca a bens móveis não sujeitos a registo, a cláusula


de reserva poderá ser normalmente oposta a terceiros de boa
fé, de acordo com os princípios da causalidade e da
consensualidade vigentes no nosso sistema jurídico.

 A reserva de propriedade extingue-se, se o terceiro adquirir


a propriedade a título originário (ex: na usucapião e na acessão).

 A cláusula de reserva de propriedade implica que por acordo


entre o vendedor e o comprador, a transmissão da
propriedade fique diferida para o momento do pagamento
integral do preço.

 A função da reserva de propriedade, visa apenas defender o


vendedor das eventuais consequências do incumprimento
do comprador.

 O vendedor pode reagir contra uma execução dirigida contra


os bens do comprador, através de embargos de terceiro
(art.351º CPC)

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 Ressalvadas as regras do registo, quando se trate de bens a
ele sujeitos, o comprador poderá opor eficazmente a sua
expectativa real de aquisição aos credores do vendedor,
através de processo de embargos de terceiro, dado que é
titular de um direito incompatível com a penhora desses bens
(art. 351º/2)

OPOSIÇÃO MEDIANTE EMBARGOS DE TERCEIRO

ARTIGO 351.º CPC

Fundamento dos embargos de terceiro

1 - Se a penhora, ou qualquer acto judicialmente ordenado de


apreensão ou entrega de bens, ofender a posse ou qualquer direito
incompatível com a realização ou o âmbito da diligência, de que
seja titular quem não é parte na causa, pode o lesado fazê-lo valer,
deduzindo embargos de terceiro.

2. Não é admitida a dedução de embargos de terceiro relativamente


à apreensão de bens realizada no processo especial de
recuperação da empresa e de falência.

 Relativamente a adquirentes do vendedor, sendo a reserva


oponível a terceiros, a posição jurídica do comprador
prevalecerá sobre a segunda aquisição, devendo aplicar-se a
esta o regime da venda de bens alheios (art. 892º),
ressalvando-se a situação da coisa comprada de boa fé a
comerciante (art. 1301º)
 Em caso de incumprimento por parte do comprador, o
vendedor continua a poder resolver o contrato nos termos do
art. 801º/2.

 Em caso de venda a prestações, é impossível de resolver o


contrato se o comprador faltar ao pagamento de uma única

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prestação e esta não exceder a oitava parte do preço
(art. 934º)

Risco
a partir da entrega da coisa, o risco corre por conta de quem
beneficia do direito, logo, por conta do comprador, devendo este
pagar o preço em caso de perda ou deterioração fortuita da coisa.

Natureza jurídica da venda com reserva de propriedade


Tese maioritária
Esta tese configura a venda com reserva de propriedade, como
uma venda em que o efeito translativo da propriedade é diferido ao
momento do pagamento do preço, obtendo o comprador logo com a
celebração do contrato uma expectativa real de aquisição.

Em relação ao vendedor

 O vendedor conserva a propriedade sobre o bem.

 A conservação da propriedade no vendedor visa


essencialmente funções de garantia do pagamento do preço.

 Se o comprador puser em perigo a subsistência da garantia, o


vendedor poderá exercer contra ele ou contra terceiros a
acção de reivindicação ou as competentes providências
cautelares.

Em relação ao comprador

 Até ao pagamento do preço, se ele não é ainda proprietário, a


sua posição jurídica não é de cariz meramente
obrigacional, pois esse negócio confere ao comprador uma
expectativa real de aquisição, a qual é oponível a terceiros.

 O comprador é titular de uma posição jurídica de natureza


real, uma vez que é dotada de inerência e de sequela.

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 O comprador é possuidor em nome próprio, não é um mero


detentor.

 O comprador pode utilizar as acções possessórias


(art. 1276º e ss.) , quer a acção de reivindicação (arts. 1311º e
1315º), bem como pedir uma indemnização pelos danos
causados, caso venha a ser violado o seu direito de gozo.

 Na reserva de propriedade o risco transfere-se logo que a


coisa lhe seja entregue.

Venda a prestações
A venda a prestações está regulada nos arts. 934º e ss.

ARTIGO 934º

Falta de pagamento de uma prestação

Vendida a coisa a prestações, com reserva de propriedade, e feita a


sua entrega ao comprador, a falta de pagamento de uma só
prestação que não exceda a oitava parte do preço não dá lugar à
resolução do contrato, nem sequer, haja ou não reserva de
propriedade, importa a perda do benefício do prazo relativamente
às prestações seguintes, sem embargo de convenção em contrário.

 Como resulta da segunda parte, esta norma refere-se à venda


a prestações em geral, com ou sem reserva de propriedade.

 Genericamente esta norma funciona como uma derrogação


ao art. 781º

 Prevê-se injuntivamente que na venda a prestações, a falta de


cumprimento de uma das prestações não acarrete a perda do
benefício do prazo para o comprador

 A posição predominante na doutrina vai no sentido da


imperatividade desta norma, que visa a protecção ao
comprador a crédito.

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 Sendo o comprador culpado pelo incumprimento, o recurso à
resolução do contrato não impede o vendedor de exigir
simultaneamente ao comprador a indemnização por todos os
prejuízos causados, sendo ao vendedor que cabe o ónus da
prova

 A indemnização pelo incumprimento do comprador, pode


tomar por base tanto o interesse contratual negativo como o
interesse contratual positivo (arts. 798º e 801º/2)

Venda a retro
Esta modalidade específica de venda está definida no art. 927º

Noção - Diz-se a retro a venda em que se reconhece ao vendedor a


faculdade de resolver o contrato.

 Modalidade de venda em que a transmissão da propriedade


não se apresenta como definitiva, na medida em que o
vendedor se reserva a possibilidade de reaver o direito
alienado, mediante a restituição do preço e o reembolso das
despesas feitas com a venda.

 A venda a retro desempenha uma função creditícia em


relação ao vendedor e uma função de garantia em relação ao
comprador.

 O pagamento do preço substitui a concessão de um


empréstimo pelo comprador ao vendedor e o exercício do
direito de resolução por este substitui o reembolso desse
mesmo empréstimo.

 O regime da venda a retro harmoniza-se integralmente com o


disposto nos arts. 432º e ss.

Venda a contento e venda sujeita a prova

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Os arts. 923º e ss. referem-se a modalidades específicas de venda
em que esta se realiza por etapas, como a venda a contento e a
venda sujeita a prova.

ARTIGO 923º
Primeira modalidade de venda a contento

1. A compra e venda feita sob reserva de a coisa agradar ao


comprador vale como proposta de venda.

2. A proposta considera-se aceita se, entregue a coisa ao


comprador, este não se pronunciar dentro do prazo da aceitação,
nos termos do nº 1 do artigo 228º.

3. A coisa deve ser facultada ao comprador para exame.


 venda a contento
o comprador reserva a faculdade de contratar, ou de resolver
o contrato, consoante a apreciação subjectiva (o seu gosto
pessoal) que vier a fazer do bem vendido.

 Venda sujeita a prova


Aqui está em causa uma apreciação objectiva do comprador
em relação às qualidades da coisa, em conformidade com um
teste a que esta será sujeita.

Venda a contento

A lei admite duas modalidades de venda a contento :

1ª modalidade

 A lei qualifica a situação como uma mera proposta de venda

 A transmissão da propriedade e a atribuição do risco ao


comprador só se verificarão com o decurso do prazo
estabelecido, que confirmará a sua intenção de adquirir nos
termos do art. 218º

 Até lá o comprador é considerado um mero detentor


precário.

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 Se se verificar o perecimento da coisa antes de findo o prazo
estabelecido, o risco corre para o vendedor.

2ª modalidade

ARTIGO 924º
Segunda modalidade de venda a contento

1. Se as partes estiverem de acordo sobre a resolução da compra e


venda no caso de a coisa não agradar ao comprador, é aplicável ao
contrato o disposto nos artigos 432º e seguintes.

2. A entrega da coisa não impede a resolução do contrato.

3. O vendedor pode fixar um prazo razoável para a resolução, se nenhum


for estabelecido pelo contrato ou, no silêncio deste, pelos usos.

 Corresponde à concessão de um direito de resolução


unilateral do contrato se a coisa não agradar ao comprador, o
qual segue as regras gerais (art. 432º ss.)
 As partes atribuem ao comprador o direito de resolver
unilateralmente o contrato se a coisa não lhe agradar

 A concessão de um direito de resolução unilateral não


impede que a propriedade se transmita (art. 408º) , logo o
risco por perda ou deterioração, verificada nesse prazo, corre
por conta do comprador (796º/1)

A venda sujeita a prova

Nesta modalidade de venda, o contrato não se tornará definitivo


sem que o comprador averigue, através de um prévio uso da coisa,
que ela é idónea para o fim a que é destinada e tem as qualidades
asseguradas pelo vendedor.

ARTIGO 925º
Venda sujeita a prova

1. A venda sujeita a prova considera-se feita sob a condição


suspensiva de a coisa ser idónea para o fim a que é destinada e
ter as qualidades asseguradas pelo vendedor, excepto se as partes
a subordinarem a condição resolutiva.

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2. A prova deve ser feita dentro do prazo e segundo a modalidade


estabelecida pelo contrato ou pelos usos; se tanto o contrato como
os usos forem omissos, observar-se-ão o prazo fixado pelo
vendedor e a modalidade escolhida pelo comprador, desde que
sejam razoáveis.

3. Não sendo o resultado da prova comunicado ao vendedor antes


de expirar o prazo a que se refere o número antecedente, a
condição tem-se por verificada quando suspensiva, e por não
verificada quando resolutiva.

4. A coisa deve ser facultada ao comprador para prova.

 Os requisitos específicos da venda sujeita a prova referidos


no art. 925º não se distinguem dos requisitos gerais (art. 913º)
Perturbações típicas do contrato de compra e venda
Três casos de perturbações que correspondem a situações de
cumprimento defeituoso das obrigações do vendedor:

- Venda de bens alheios

- Venda de bens onerados

- Venda de coisas defeituosas

Venda de bens alheios

O regime de venda de bens alheios está regulado no art. 892º e ss.

ARTIGO 892º
Nulidade da venda

É nula a venda de bens alheios sempre que o vendedor careça de


legitimidade para a realizar;

mas ...
o vendedor não pode opor a nulidade ao comprador de boa fé,
como não pode opô-la ao vendedor de boa fé o comprador doloso.

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 A nulidade da venda não ocorre se a venda tiver por objecto
coisa futura.

ARTIGO 893º
Bens alheios como bens futuros
A venda de bens alheios fica, porém, sujeita ao regime da venda de
bens futuros, se as partes os considerarem nesta qualidade.

 A venda de coisa genérica que não pertença ao vendedor, ao


tempo da estipulação do contrato, não pode ser considerada
nula ( 539º e ss.)

 Em todos os casos recai sobre o vendedor a obrigação de


aquisição e entrega ao comprador das coisas que se
comprometeu a vender, não sendo consequentemente
aplicável o regime da venda de bens alheios.

!!! O regime da venda de bens alheios apenas se poderá


aplicar se for vendida como própria uma coisa alheia específica
e presente, fora do âmbito das relações comerciais !!!

Haverá aplicação do regime da venda de bens alheios se for


vendida como própria coisa alheia, ainda que no interesse do seu
titular como sucede no ...

- mandato sem representação para alienar (art. 1180º e ss.)

- na gestão de negócios não representativa (art. 471º)

Efeitos da venda de bens alheios


 A venda de bens alheios é nula

 É proibida a invocação da nulidade pela parte que estiver de


má fé contra a outra de boa fé

A obrigação de restituição na venda de bens alheios é sujeita a


regras especiais (art. 894º)

ARTIGO 894º
Restituição do preço

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António Filipe Garcez José
1. Sendo nula a venda de bens alheios, o comprador que tiver
procedido de boa fé tem o direito de exigir a restituição integral do
preço, ainda que os bens se hajam perdido, estejam deteriorados
ou tenham diminuído de valor por qualquer outra causa.

2. Mas, se o comprador houver tirado proveito da perda ou


diminuição de valor dos bens, será o proveito abatido no montante
do preço e da indemnização que o vendedor tenha de pagar-lhe.

 A lei determina para a parte que está de boa fé, apenas a


restituição do enriquecimento, obrigando a restituir o obtido à
custa de outrem para a parte de má fé.

 O art. 894º determina uma restituição por enriquecimento sem


causa, que se harmoniza com os arts. 479º e 480º.

 Ao contrário do que ocorre no regime geral, a nulidade da


venda de bens alheios pode ser sanada (art. 895º)

ARTIGO 895º
Convalidação do contrato

Logo que o vendedor adquira por algum modo a propriedade da


coisa ou o direito vendido, o contrato torna-se válido e a dita
propriedade ou direito transfere-se para o comprador.

 A lei estabelece algumas restrições à Convalidação (art. 896º)

ARTIGO 896º
Casos em que o contrato se não convalida

1. O contrato não adquire, porém, validade, se entretanto ocorrer


algum dos seguintes factos:

a) Pedido judicial de declaração de nulidade do contrato, formulado


por um dos contraentes contra o outro;

b) Restituição do preço ou pagamento da indemnização, no todo ou


em parte, com aceitação do credor;

c) Transacção entre os contraentes, na qual se reconheça a


nulidade do contrato;

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d) Declaração escrita, feita por um dos estipulantes ao outro, de que


não quer que o contrato deixe de ser declarado nulo.

2. As disposições das alíneas a) e d) do número precedente não


prejudicam o disposto na segunda parte do artigo 892º.

 Na venda de bens alheios a nulidade instituída é uma


nulidade provisória, que pode ser sanada mediante a
aquisição da propriedade pelo vendedor, salvo se ocorrer
alguma destas situações acima referidas.

 A lei determina que, em caso de boa fé do comprador, o


vendedor seja obrigado a sanar a nulidade da venda,
adquirindo a propriedade da coisa ou o direito vendido
(art. 897º)

ARTIGO 897º
Obrigação de convalidação

1. Em caso de boa fé do comprador, o vendedor é obrigado a sanar


a nulidade da venda, adquirindo a propriedade da coisa ou o direito
vendido.

2. Quando exista uma tal obrigação, o comprador pode subordinar


ao não cumprimento dela, dentro do prazo que o tribunal fixar, o
efeito previsto na alínea a) do nº 1 do artigo anterior.

 Outra consequência da venda de bens alheios é a


possibilidade de atribuição de uma indemnização pelos
danos eventualmente sofridos.

ARTIGO 898º
Indemnização em caso de dolo
Se um dos contraentes houver procedido de boa fé e o outro
dolosamente, o primeiro tem direito a ser indemnizado, nos termos
gerais, de todos os prejuízos que não teria sofrido se o contrato
fosse válido desde o começo, ou não houvesse sido celebrado,
conforme venha ou não a ser sanada a nulidade.

ARTIGO 899º

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António Filipe Garcez José
Indemnização, não havendo dolo nem culpa
O vendedor é obrigado a indemnizar o comprador de boa fé, ainda
que tenha agido sem dolo nem culpa; mas, neste caso, a
indemnização compreende apenas os danos emergentes que não
resultem de despesas voluptuárias.

ARTIGO 900º
Indemnização pela não convalidação da venda

1. Se o vendedor for responsável pelo não cumprimento da


obrigação de sanar a nulidade da venda ou pela mora no seu
cumprimento, a respectiva indemnização acresce à regulada nos
artigos anteriores, excepto na parte em que o prejuízo seja comum.
2. Mas, no caso previsto no artigo 898º, o comprador escolherá
entre a indemnização dos lucros cessantes pela celebração do
contrato nulo e a dos lucros cessantes pela falta ou retardamento
da convalidação.

ARTIGO 901º
Garantia do pagamento de benfeitorias

O vendedor é garante solidário do pagamento das benfeitorias que


devam ser reembolsadas pelo dono da coisa ao comprador de boa
fé.

ARTIGO 902º
Nulidade parcial do contrato

Se os bens só parcialmente forem alheios e o contrato valer na


parte restante por aplicação do artigo 292º, observar-se-ão as
disposições antecedentes quanto à parte nula e reduzir-se-á
proporcionalmente o preço estipulado.

ARTIGO 903º
Disposições supletivas

1. O disposto no artigo 894º, no nº 1 do artigo 897º, no artigo 899º,


no nº 1 do artigo 900º e no artigo 901º cede perante convenção em
contrário, excepto se o contraente a quem a convenção aproveitaria
houver agido com dolo, e de boa fé o outro estipulante.

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2. A declaração contratual de que o vendedor não garante a sua
legitimidade ou não responde pela evicção envolve derrogação de
todas as disposições legais a que o número anterior se refere, com
excepção do preceituado no artigo 894º.

3. As cláusulas derrogadoras das disposições supletivas a que se


refere o nº 1 são válidas, sem embargo da nulidade do contrato de
compra e venda onde se encontram insertas, desde que a nulidade
proceda da ilegitimidade do vendedor, nos termos desta secção.

ARTIGO 904º
Âmbito desta secção

As normas da presente secção apenas se aplicam à venda de


coisa alheia como própria.

Venda de bens onerados


A venda de bens onerados encontra-se prevista no art. 905º.

 A disciplina da venda de bens onerados, baseia-se na


atribuição de sucessivos remédios ao comprador, que passam
em 1° lugar pela anulação do contrato por erro ou dolo ou
pela redução do preço, podendo ainda ser exigida uma
indemnização pelos danos causados.

ARTIGO 905º
Anulabilidade por erro ou dolo

Se o direito transmitido estiver sujeito a alguns ónus ou limitações que excedam


os limites normais inerentes aos direitos da mesma categoria, o contrato é
anulável por erro ou dolo, desde que no caso se verifiquem os requisitos legais
da anulabilidade.

 Esses ónus ou limitações constituem vícios do direito, que


afectam a situação jurídica e não as qualidades fáticas da
coisa .

Anulabilidade

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 O contrato é anulável por erro ou dolo, desde que se
verifiquem no caso concreto os requisitos legais de
anulabilidade.

 Os requisitos de anulabilidade para o erro,


são a essencialidade e a cognoscibilidade dessa
essencialidade do erro para o declaratário (arts. 251º e 247º)

 Os requisitos de anulabilidade para o dolo


Basta que o dolo tenha sido determinante da vontade do
declarante (art. 254º/1), salvo se provier de terceiro (art. 254º/2) .

ARTIGO 906º
Convalescença do contrato

1. Desaparecidos por qualquer modo os ónus ou limitações a que o


direito estava sujeito, fica sanada a anulabilidade do contrato.

2. A anulabilidade persiste, porém, se a existência dos ónus ou


limitações já houver causado prejuízo ao comprador, ou se este já
tiver pedido em juízo a anulação da compra e venda.
ARTIGO 907º
Obrigação de fazer convalescer o contrato. Cancelamento dos
registos

1. O vendedor é obrigado a sanar a anulabilidade do contrato,


mediante a expurgação dos ónus ou limitações existentes.

2. O prazo para a expurgação será fixado pelo tribunal, a


requerimento do comprador.

3. O vendedor deve ainda promover, à sua custa, o cancelamento


de qualquer ónus ou limitação que conste do registo, mas na
realidade não exista.

Indemnização

ARTIGO 908º
Indemnização em caso de dolo

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Em caso de dolo, o vendedor, anulado o contrato, deve indemnizar
o comprador do prejuízo que este não sofreria se a compra e venda
não tivesse sido celebrada.

ARTIGO 909º
Indemnização em caso de simples erro

Nos casos de anulação fundada em simples erro, o vendedor


também é obrigado a indemnizar o comprador, ainda que não tenha
havido culpa da sua parte, mas a indemnização abrange apenas os
danos emergentes do contrato.

ARTIGO 910º
Não cumprimento da obrigação de fazer convalescer o contrato

1. Se o vendedor se constituir em responsabilidade por não sanar a


anulabilidade do contrato, a correspondente indemnização acresce
à que o comprador tenha direito a receber na conformidade dos
artigos precedentes, salvo na parte em que o prejuízo foi comum.
2. Mas, no caso previsto no artigo 908º, o comprador escolherá
entre a indemnização dos lucros cessantes pela celebração do
contrato que veio a ser anulado e a dos lucros cessantes pelo facto
de não ser sanada a anulabilidade.
ARTIGO 911º
Redução do preço

1. Se as circunstâncias mostrarem que, sem erro ou dolo, o


comprador teria igualmente adquirido os bens, mas por preço
inferior, apenas lhe caberá o direito à redução do preço, em
harmonia com a desvalorização resultante dos ónus ou limitações,
além da indemnização que no caso competir.

2. São aplicáveis à redução do preço os preceitos anteriores, com


as necessárias adaptações.

Restrições convencionais a este regime

ARTIGO 912º
Disposições supletivas

1. O disposto nos nºs 1 e 3 do artigo 907º, no artigo 909º e no nº 1


do artigo 910º cede perante estipulação das partes em contrário, a

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António Filipe Garcez José
não ser que o vendedor tenha procedido com dolo e as
cláusulas contrárias àquelas normas visem a beneficiá-lo.

2. Não obsta à validade das cláusulas derrogadoras destas


disposições supletivas a anulação do contrato de compra e venda
por erro ou dolo, segundo as prescrições desta secção.

Venda de coisas defeituosas


Duas situações distintas ..

1ª - a coisa já e defeituosa ao tempo da celebração do contrato,


sendo a venda realizada, e a propriedade da coisa logo
transmitida ao comprador .

 Neste caso estamos perante uma situação de erro do


comprador ao adquirir uma coisa com defeitos, sendo o
contrato anulável por erro nos termos gerais (arts. 913º e
905º)

2ª - Se o defeito na coisa ocorre após a celebração do contrato


e esta é entregue nessas condições, estaremos perante uma...

situação de ...

- cumprimento defeituoso, (art. 918º) se o defeito é imputável ao


vendedor

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
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ou de ...

- risco, (art. 796º/1) em princípio a cargo do comprador

Efeitos da venda de coisas defeituosas

 aplicam-se também à venda de coisas defeituosas os


remédios da anulação do contrato por erro ou dolo ou a
redução do preço., podendo ainda ser exigida do vendedor
uma indemnização pelos danos causados.

ARTIGO 913º
Remissão

1. Se a coisa vendida sofrer de vício que a desvalorize ou impeça a


realização do fim a que é destinada, ou não tiver as qualidades
asseguradas pelo vendedor ou necessárias para a realização daquele fim,
observar-se-á, com as devidas adaptações, o prescrito na secção
precedente, em tudo quanto não seja modificado pelas disposições dos
artigos seguintes.

2. Quando do contrato não resulte o fim a que a coisa vendida se destina,


atender-se-á à função normal das coisas da mesma categoria.
Anulação do contrato

 O comprador que tiver adquirido a coisa com defeito pode


solicitar a anulação do contrato, por erro ou dolo, desde que
se verifiquem no caso concreto os requisitos legais da
anulabilidade, ou seja, ...

Em caso de erro
Exige-se a essencialidade e a cognoscibilidade dessa
essencialidade do erro para o declaratário (arts. 251° e 247°)

Em caso de dolo
Basta que o dolo tenha sido determinante da vontade do declarante
(art. 254°/1), salvo se provier de terceiro, caso em que se exige
igualmente que o destinatário conhecesse ou devesse conhecer a
situação (art. 254°/2)

Reparação ou substituição da coisa

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António Filipe Garcez José
ARTIGO 914º
Reparação ou substituição da coisa

O comprador tem o direito de exigir do vendedor a reparação da


coisa ou, se for necessário e esta tiver natureza fungível, a
substituição dela; mas esta obrigação não existe, se o vendedor
desconhecia sem culpa o vício ou a falta de qualidade de que a
coisa padece.

 No âmbito da venda de coisas defeituosas, o vendedor é


obrigado a reparar os defeitos da coisa, ou de a substituir, no
caso de ser necessário, e esta tiver natureza fungível

 Esta obrigação não existe se o vendedor desconhecia sem


culpa o vício ou a falta de qualidade de que a coisa padece.

 O desconhecimento não culposo do vendedor, não impede o


comprador de solicitar a anulação do contrato por erro ou dolo,
verificados os respectivos pressupostos

Indemnização

 Por força da remissão do art. 913° in fine a indemnização


prevista no art. 908° aplica-se no âmbito da venda de coisas
defeituosas.

 Sempre que o vendedor tiver actuado com dolo, no sentido


referido no art. 253°, tiver empregue sugestões ou artifícios no
sentido de dissimular ao comprador os defeitos existentes na
coisa, este adquire, sendo anulado o contrato com esses
fundamentos, o direito à indemnização pelos danos causados.

 Esta indemnização, embora abrangendo danos emergentes e


lucros cessantes, limita-se aos danos que não teriam ocorrido
se o contrato não tivesse sido celebrado, ou seja, limita-se ao
interesse contratual negativo, que constitui uma solução da
culpa in contraendo (art. 227°)

ARTIGO 915º
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Indemnização em caso de simples erro
A indemnização prevista no artigo 909º também não é devida, se o
vendedor se encontrava nas condições a que se refere a parte final
do artigo anterior.

Redução do preço

 A acção de redução do preço é aplicável à venda de coisas


defeituosas por força do art. 913°

 Esta acção constitui uma alternativa à anulação do contrato


em consequência de erro ou de dolo, que é imposta ao
comprador sempre que se possa comprovar que os vícios ou
falta de qualidades de que a coisa padece não influiriam na
sua decisão de adquirir o bem, mas apenas no preço que
estaria disposto a pagar por ele.

Forma e prazos de exercício do direito

ARTIGO 916º
Denúncia do defeito

1. O comprador deve denunciar ao vendedor o vício ou a falta de


qualidade da coisa, excepto se este houver usado de dolo.

2. A denúncia será feita até trinta dias depois de conhecido o defeito


e dentro de seis meses após a entrega da coisa.

3. Os prazos referidos no número anterior são, respectivamente, de


um e de cinco anos, caso a coisa vendida seja um imóvel.

ARTIGO 917º
Caducidade da acção
A acção de anulação por simples erro caduca, findo qualquer dos prazos fixados
no artigo anterior sem o comprador ter feito a denúncia, ou decorridos sobre
esta seis meses, sem prejuízo, neste último caso, do disposto no nº 2 do artigo
287º.

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ARTIGO 918º
Defeito superveniente
Se a coisa, depois de vendida e antes de entregue, se deteriorar, adquirindo
vícios ou perdendo qualidades, ou a venda respeitar a coisa futura ou a coisa
indeterminada de certo género, são aplicáveis as regras relativas ao não
cumprimento das obrigações.

ARTIGO 921º
Garantia de bom funcionamento

1. Se o vendedor estiver obrigado, por convenção das partes ou por força


dos usos, a garantir o bom funcionamento da coisa vendida, cabe-lhe
repará-la, ou substituí-la quando a substituição for necessária e a coisa
tiver natureza fungível, independentemente de culpa sua ou de erro do
comprador.
2. No silêncio do contrato, o prazo da garantia expira seis meses após a
entrega da coisa, se os usos não estabelecerem prazo maior.
3. O defeito de funcionamento deve ser denunciado ao vendedor dentro
do prazo da garantia e, salvo estipulação em contrário, até trinta dias
depois de conhecido.
4. A acção caduca logo que finde o tempo para a denúncia sem o
comprador a ter feito, ou passados seis meses sobre a data em que a
denúncia foi efectuada.

DOAÇÃO (art. 940º)

A doação encontra-se regulada no art. 940º

ARTIGO 940º
Noção

1. Doação
é o contrato pelo qual uma pessoa, por espírito de liberalidade e à
custa do seu património, dispõe gratuitamente de uma coisa ou de
um direito, ou assume uma obrigação, em benefício do outro
contraente.

2. Não há doação na renúncia a direitos e no repúdio de herança


ou legado, nem tão-pouco nos donativos conformes aos usos
sociais.

 Regra geral a doação tem carácter contratual, pois é


indispensável a expressão da aceitação do donatário.

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António Filipe Garcez José
Elementos constitutivos

a) Atribuição patrimonial geradora de enriquecimento


b) Diminuição do património do dador
c) Espírito de liberalidade

Atribuição patrimonial geradora de enriquecimento

 Acto que atribui a outrém uma concreta vantagem patrimonial


(coisa, direito ou assunção de uma obrigação art. 940º);

 O donatário sofre um incremento do seu património em virtude


quer da transmissão da coisa ou do direito objecto do
contrato, quer da aquisição de um novo crédito sobre o
doador, em virtude da obrigação assumida.

Diminuição do património do doador

 Supõe uma efectiva diminuição patrimonial, sem o que não se


estará perante uma doação

Espírito de liberalidade

 Intenção de atribuir o correspondente benefício a outrém por


simples generosidade ou espontaneidade;

 consiste no fim directo de atribuir um benefício ao donatário,


provocando o seu enriquecimento (causa jurídica da doação);

 não há doação na renúncia a direitos, o repúdio de herança


ou legado e os donativos conformes aos usos sociais (940º/2);

 No caso da remissão de créditos pode ser considerada nos


termos do art. 863º/2, bem como no caso de alienação
gratuita de herança nos termos do art. 2057º/2

CARACTERÍSTICAS

É um contrato ...

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José

- nominado e típico (940º a 979º)

- primordialmente formal (947º/1/2)

- primordialmente consensual (954º/b))

- que tanto pode ser obrigacional como real(940º e 954º/c))

- gratuito

- não sinalagmático

- tanto pode ser de execução instantânea como periódica

Nominado e típico

 regime próprio no Código Civil, art. 940º a 979º

Primordialmente formal

 Para coisas imóveis é necessário escritura pública (947º/1)

 Para coisas móveis é necessário documento particular;


apenas dispensa forma quando a coisa móvel é
acompanhada da tradição da coisa (947º/2)

Primordialmente consensual (por oposição a real quoad constitutionem)

 não associa a constituição do contrato à entrega imediata


da coisa, admitindo assim a sua vigência antes da coisa
ser entregue (art. 954º/b)

 A doação verbal de coisas móveis, constitui uma


excepção, pois é um contrato real quoad constitutionem,

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cuja validade depende da ocorrência concomitante da
tradição da coisa doada

Tanto obrigacional como real quoad effectum,


isolada ou conjuntamente

 A doação tanto pode ser um contrato obrigacional como real


ou quoad effectum, podendo reunir estas duas características
isolada ou conjuntamente, na medida em que se transmite a
propriedade da coisa ou a titularidade do direito para o
donatário (art. 954º/a), ao mesmo tempo que se onera o
doador com a obrigação de entregar a coisa (art. 954°/b).

 Pode também ser estritamente obrigacional (art. 940º in fine


e art. 954º/c)

Contrato gratuito

 não exige contrapartida pecuniária em relação à transmissão


dos bens ou à assunção de obrigações; o encargo previsto no
art. 963º não constitui contrapartida da atribuição patrimonial
do doador, sendo apenas uma mera restrição à liberalidade.

Contrato não sinalagmático

 porque é gratuito, só faz surgir obrigações para uma das


partes

tanto pode ser de execução instantânea como periódica

 normalmente de execução instantânea, porém o art. 943º


admite poder abranger prestações periódicas;

Objecto

ARTIGO 942º
Objecto da doação

1. A doação não pode abranger bens futuros.

2. Incidindo, porém, a doação sobre uma universalidade de facto


que continue no uso e fruição do doador, consideram-se doadas,

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salvo declaração em contrário, as coisas singulares que venham de
futuro a integrar a universalidade.

 não pode abranger bens futuros (art. 942º/1) pois não se


pode prescindir daquilo que ainda não se adquiriu;

 se incidir sobre universalidade de facto no uso e fruição do


doador, consideram-se doadas as coisas singulares que
venham a integrar essa universalidade (art. 942º/2)

 quando o objecto for prestações periódicas, a doação


extingue-se com a morte do doador (art. 943º)

ARTIGO 943º
Prestações periódicas

A doação que tiver por objecto prestações periódicas extingue-se


por morte do doador.

Forma do contrato de doação

 É um contrato formal uma vez que não há liberdade de forma.

 A doação de coisas imóveis está sujeito a forma especial a


escritura pública (art. 947º) sob pena de nulidade (art. 220º)

 A doação de coisas móveis sem tradição da coisa sujeito a


forma escrita, um documento particular (art. 947º/2); esta
forma é dispensada se for acompanhada da tradição da coisa.

ARTIGO 947º
Forma da doação

1. A doação de coisas imóveis só é válida se for celebrada por


escritura pública.

2. A doação de coisas móveis não depende de formalidade alguma


externa, quando acompanhada de tradição da coisa doada; não

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sendo acompanhada de tradição da coisa, só pode ser feita por
escrito.

A formação do contrato

 É um negócio jurídico bilateral porque está sempre


dependente de uma proposta e de uma aceitação.

Tem regras especificas que se desviam às regras gerais:

A proposta

 Enquanto a proposta de doação não for aceite o doador pode


proceder à sua revogação (art. 969°) extinguindo assim a
possibilidade de o donatário proceder à sua aceitação.

 O donatário pode aceitar a proposta de doação enquanto o


doador for vivo (art. 945°/1)

 Certas doações, mesmo que haja ingratidão do donatário, não


podem ser revogadas: doações para casamento e doações
remuneratórias.

 Por outro lado a ingratidão não opera automaticamente na


revogação da doação. O doador tem de querer revogar a
doação pessoalmente. Não podem os seus herdeiros revogar
essa doação.

A aceitação – tácita ou expressa.

ARTIGO 945º
Aceitação da doação

1. A proposta de doação caduca, se não for aceita em vida do


doador.

2. A tradição para o donatário, em qualquer momento, da coisa


móvel doada, ou do seu título representativo, é havida como
aceitação.

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António Filipe Garcez José
3. Se a proposta não for aceita no próprio acto ou não se verificar a
tradição nos termos do número anterior, a aceitação deve obedecer
à forma prescrita no artigo 947º e ser declarada ao doador, sob
pena de não produzir os seus efeitos.

 Se não se pronunciar no sentido da aceitação mas houver


traditio, há aceitação.

 O prazo para a aceitação da doação é o da vida do doador.

 O doador fica vinculado enquanto for vivo e enquanto não


revogar a proposta (art. 945º/1) esta não caduca (art. 228º),

 Só pode caducar por revogação do doador até ao momento


da aceitação (art. 969º)

 O contrato só está concluído com a recepção ou o


conhecimento da aceitação (art. 224º/1).

 Há uma dispensa de aceitação quando o donatário seja


menor ou incapaz e se a doação for pura (sem ónus ou encargos).
Neste caso basta a doação feita pelo doador (negócio jurídico
unilateral) (art. 951º)

Processo de formação do contrato

capacidade activa (art. 948º).

ARTIGO 948º
Capacidade activa

1. Têm capacidade para fazer doações todos os que podem


contratar e dispor dos seus bens.

2. A capacidade é regulada pelo estado em que o doador se


encontrar ao tempo da declaração negocial.

 quem tenha a capacidade de disposição dos seus bens.

 Faz-se aqui uma equiparação à capacidade contratual


geral (art. 67º);

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António Filipe Garcez José
 a capacidade é regulada pelo estado em que o doador se
encontrar ao tempo da declaração negocial (art. 948º/2)

capacidade passiva (art. 950º)

ARTIGO 950º
Capacidade passiva

1. Podem receber doações todos os que não estão especialmente


inibidos de as aceitar por disposição da lei.

2. A capacidade do donatário é fixada no momento da aceitação.

ARTIGO 951º
Aceitação por parte de incapazes

1. As pessoas que não têm capacidade para contratar não podem


aceitar doações com encargos senão por intermédio dos seus
representantes legais.

2. Porém, as doações puras feitas a tais pessoas produzem efeitos


independentemente de aceitação em tudo o que aproveite aos
donatários.
 Os incapazes não podem aceitar a doação senão por
intermédio dos seus representantes legais, excepto se a
doação for pura não necessitando, neste caso, de aceitação
(art. 951º/2); exemplo disto é a doação a nascituros de pessoa
viva (art. 952º)

 A doação pura a incapaz é um negócio jurídico unilateral,


produzindo todos os seus efeitos, incluindo a transmissão da
propriedade para o donatário, com base apenas na
declaração negocial do doador.

Mandato para doar

 A doação tem em regra carácter pessoal admitindo-se que


possa ser feita por mandato para doar - o donatário e o bem
têm de estar referidas no documento. (arts. 949º, 2182º/2 e
1159º/1)

ARTIGO 949º
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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
Carácter pessoal da doação

1. Não é permitido atribuir a outrém, por mandato, a faculdade de


designar a pessoa do donatário ou determinar o objecto da doação,
salvo nos casos previstos no nº 2 do artigo 2182º.

2. Os representantes legais dos incapazes não podem fazer


doações em nome destes.

contrato-promessa de doação

 Questão muito discutida na doutrina, pois este negócio


poderia pôr em causa a espontaneidade necessária deste tipo
de contrato bem como a proibição de doar bens futuros. Assim
não o considera a maioria da doutrina.

 Apesar do seu cariz vinculativo, o contrato-promessa de


doação, não admite a execução específica, por a tal se opôr a
natureza da obrigação (art. 830°/1)

Invalidade e confirmação da doação:

 pode ser nula por força de não ter obedecido à forma legal
(art. 947º) ou por indisponibilidade relativa (art. 953º)

Efeitos

Os Efeitos da doação estão previstos no art. 954º

ARTIGO 954º
Efeitos essenciais

A doação tem como efeitos essenciais:

a) A transmissão da propriedade da coisa ou da titularidade do


direito;

b) A obrigação de entregar a coisa;

c) A assunção da obrigação, quando for esse o objecto do contrato.

Este contrato gera sempre dois efeitos :

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José

- um de natureza obrigacional
para o doador a obrigação de entrega da coisa;

- outro de natureza real


porque é um contrato real que gera a transferencia da
propriedade. É um contrato quoad effectum, pois a partir da
celebração do contrato o direito de propriedade transfere-se
da esfera jurídica do doador para a esfera jurídica do
donatário.

Doação real

Contrato real quod effectum


Quando a doação respeita à transmissão de uma coisa ou direito,
constitui um contrato real quoad effectum , visto que a celebração
do contrato acarreta a automática transmissão da propriedade para
o donatário (arts 408°/1 e 954°/a))

Contrato real quoad constitutionem


Se se tratar de doação verbal de bens móveis, a lei exige a tradição
da coisa para a celebração do contrato, pelo que neste caso a
doação será um contrato real quoad constitutionem (art. 947°/2)

 Quando a lei não exige a tradição da coisa para constituir o


contrato de doação, o doador tem a obrigação de a entregar;
 A obrigação de entrega da coisa por parte do doador aparece
regulada no art. 955°

ARTIGO 955º
Entrega da coisa

1. A coisa deve ser entregue no estado em que se encontrava ao


tempo da aceitação.

2. A obrigação de entrega abrange, na falta de estipulação em


contrário, as partes integrantes, os frutos pendentes e os
documentos relativos à coisa ou direito.

doação obrigacional

 limita-se a constituir a assunção de uma obrigação art. 954º/c,


quando for esse o objecto do contrato.

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António Filipe Garcez José

 Neste caso estão preenchidos os requisitos do art. 940° , pois,


a assunção de uma obrigação para com o donatário diminui
o património do doador, e produz um enriquecimento do
donatário, sendo essa atribuição feita por espírito de
liberalidade, estamos perante uma doação.

 A doação pode ter como efeito não apenas a constituição de


uma obrigação , mas também a sua extinção (art. 863°/2)

Cláusulas acessórias (típicas) nas doações:

reserva de usufruto (art. 958º)

ARTIGO 958º
Reserva de usufruto

1. O doador tem a faculdade de reservar para si, ou para terceiro, o


usufruto dos bens doados.

2. Havendo reserva de usufruto em favor de várias pessoas,


simultânea ou sucessivamente, são aplicáveis as disposições dos
artigos 1441º e 1442º.

 presume-se feita a si próprio no caso de doação a nascituros


até ao nascimento do donatário (952º); pode ser feita a favor
de várias pessoas (958º/2 + 1441º + 1442º)

reserva do direito de dispor de coisa determinada ou de certa


quantia sobre os bens doados (art. 959º)

ARTIGO 959º
Reserva do direito de dispor de coisa determinada

1. O doador pode reservar para si o direito de dispor, por morte ou


por acto entre vivos, de alguma ou algumas das coisas
compreendidas na doação, ou o direito a certa quantia sobre os
bens doados.

2. O direito reservado não se transmite aos herdeiros do doador, e,


quando respeite a imóveis, ou móveis sujeitos a registo, carece de
ser registado.

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António Filipe Garcez José
 faculdade potestativa de disposição do doador que lhe permite
restringir o objecto da doação

cláusula de reversão – 960º

ARTIGO 960º
Cláusula de reversão

1. O doador pode estipular a reversão da coisa doada.

2. A reversão dá-se no caso de o doador sobreviver ao donatário,


ou a este e a todos os seus descendentes; não havendo
estipulação em contrário, entende-se que a reversão só se verifica
neste último caso.

3. A cláusula de reversão que respeite a coisas imóveis, ou a coisas


móveis sujeitas a registo, carece de ser registada.

 quando o doador quer limitar a doação ao donatário não


pretendo que esta suceda nos seus herdeiros.

substituições fideicomissárias – 962º + 2286º

 disposição pela qual o testador impõe ao herdeiro instituído o


encargo de conservar a herança, para que ela reverta por sua
morte a favor de outrém

doação sujeita a condição – 270º + 276+ + 272º,

 excepção 967º

doação modal – 963º

 oneradas com encargos que consiste numa restrição imposta


ao donatário que o obriga á realização de uma prestação no
interesse do próprio, do autor/doador ou de terceiro; Mesmo
em circunstancias em que ao donatário são atribuídos
encargos, não significa uma contraprestação, porque esse
encargo não tem o valor correspondente ao bem, é sempre

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inferior; se não cumprir pode ser responsabilizado
(indemnizar) podendo o doador resolver o contrato – cfr. 966º

ARTIGO 963º
Cláusulas modais

1. As doações podem ser oneradas com encargos.

2. O donatário não é obrigado a cumprir os encargos senão dentro


dos limites do valor da coisa ou do direito doado.

pagamento de dividas do doador – 964º

ARTIGO 964º
Pagamento de dívidas

1. Se a doação for feita com o encargo de pagamento das dívidas


do doador, entender-se-á a cláusula, na falta de outra declaração,
como obrigando ao pagamento das que existirem ao tempo da
doação.

2. Só é legal o encargo do pagamento de dívidas futuras do doador


desde que se determine o seu montante no acto da doação.

cumprimento dos encargos – 965º

ARTIGO 965º
Cumprimento dos encargos

Na doação modal, tanto o doador, ou os seus herdeiros, como


quaisquer interessados têm legitimidade para exigir do donatário, ou
dos seus herdeiros, o cumprimento dos encargos.

ARTIGO 966º
Resolução da doação

O doador, ou os seus herdeiros, também podem pedir a resolução


da doação, fundada no não cumprimento dos encargos, quando
esse direito lhes seja conferido pelo contrato.

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
condições ou encargos impossíveis ou ilícitos 967º, 2230º e ss.

ARTIGO 967º
Condições ou encargos impossíveis ou ilícitos

As condições ou encargos física ou legalmente impossíveis,


contrários à lei ou à ordem pública, ou ofensivos dos bons costumes
ficam sujeitos às regras estabelecidas em matéria testamentária.

confirmação das doações nulas – 968º

ARTIGO 968º
Confirmação das doações nulas

Não pode prevalecer-se da nulidade da doação o herdeiro do


doador que a confirme depois da morte deste ou lhe dê voluntária
execução, conhecendo o vício e o direito à declaração de nulidade.

Proibições de doação

casos de indisponibilidade relativa – 953º

aplica-se o regime previsto nos artigos 2192º a 2198º):

- a favor de tutor, curador ou administrador legal de bens, ou


protutor que substitua o tutor –

- a favor de médicos, enfermeiros ou sacerdotes

- a favor do notário, interprete ou testemunhas que tenham


intervenção no acto

- a favor de cúmplice do doador adúltero

- entre cônjuges sujeitos ao regime imperativo de separação de


bens – 1761º
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- a favor de partido políticos e sindicatos

Modalidades atípicas de doações

a doação remuneratória – 941º

 não pode corresponder a qualquer obrigação por serviços


prestados – é irrevogável cfr. 975º/b

a doação por morte – 946º/1

 à partida são proibidas (nulas) para os bens poderem estar


livremente na esfera do doador, pode ser havida como
disposição testamentária.

a partilha em vida – 2029º

doações para casamento – 1753º segs.

 não há uma liberalidade em sentido amplo, mas estamos


perante uma verdadeira doação, ainda que realizada em vista
do casamento, só produzindo efeitos com a celebração do
casamento – 1755º a 1760º

doações ente casados – 1761º a 1766º

 livre revogabilidade – 1765º)

Regime das perturbações da prestação no contrato de doação:

doação de bens alheios

 a mais grave perturbação que importa a nulidade – 956º +


942º + 406º/2;

ARTIGO 956º

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António Filipe Garcez José
Doação de bens alheios

1 . É nula a doação de bens alheios; mas o doador não pode opor a


nulidade ao donatário de boa fé

2 . O doador só responde pelo prejuízo causado ao donatário


quando este esteja de boa fé e se verifique algum dos
seguintes factos:

a) Ter o doador assumido expressamente a obrigação de


indemnizar o prejuízo;

b) Ter o doador agido com dolo;

c) Ter a doação carácter remuneratório;

d) Ser a doação onerosa ou modal, ficando a responsabilidade do


doador limitada, neste caso, ao valor dos encargos.

3. É imputável no prejuízo do donatário o valor da coisa ou do


direito doado, mas não os benefícios que ele deixou de obter em
consequência da nulidade.

4. Não havendo lugar a indemnização, o donatário fica sub-rogado


nos direitos que possam competir ao doador relativamente à coisa
ou direito doado.

doação de bens onerados ou de coisas defeituosas – 957º;

 O doador não responde por vícios ou limitações da coisa


doada, salvo se expressamente se tiver responsabilizado
( máxima de “a cavalo dado não se olha o dente”)

Extinção das doações:

Revogação das doações

Revogação da proposta de doação – 969º

ARTIGO 969º
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António Filipe Garcez José
Revogação da proposta de doação

1. Enquanto não for aceita a doação, o doador pode livremente


revogar a sua declaração negocial, desde que observe as
formalidades desta.

2. A proposta de doação não caduca pelo decurso dos prazos


fixados no nº 1 do artigo 228º.

Revogação por ingratidão do donatário

 na ingratidão está na base um acto ilícito praticado pelo


donatário arts. 970° e 974º.

ARTIGO 970º
Revogação da doação

As doações são revogáveis por ingratidão do donatário.

ARTIGO 974º
Casos de ingratidão

A doação pode ser revogada por ingratidão, quando o donatário se


torne incapaz, por indignidade, de suceder ao doador, ou quando se
verifique alguma das ocorrências que justificam a deserdação.

 É a indignidade e a deserção, ou seja, situações que


provocam a incapacidade sucessória – art. 2034º e 2166º. A
acção está sujeita aos prazos estipulados no art. 976º
a colação – 2104º

 obrigação que é imposta aos descendentes que pretendam


entrar na sucessão do ascendente de restituir á massa da
herança, para efeitos de igualdade, os bens ou valores que
lhes foram doados por este

a redução por inoficiosidade – 2168º;

 O donatário pode vir a ser afectado por vias sucessórias. Se a


doação afectar a legitima dos herdeiros estes podem vir pedir
a redução da doação. Esta situação só é possível se o bem

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António Filipe Garcez José
doado ainda estiver na esfera jurídica do donatário. Caso
contrário já não é possível.

casos de irrevogabilidade – 975º

ARTIGO 975º
Exclusão da revogação

A doação não é revogável por ingratidão do donatário:

a) Sendo feita para casamento;

b) Sendo remuneratória;

c) Se o doador houver perdoado ao donatário

ARTIGO 976º
Prazo e legitimidade para a acção

1. A acção de revogação por ingratidão não pode ser proposta, nem depois da
morte do donatário, nem pelos herdeiros do doador, salvo o caso previsto no nº
3 e caduca ao cabo de um ano, contado desde o facto que lhe deu causa ou
desde que o doador teve conhecimento desse facto.

2. Falecido o doador ou o donatário, a acção, quando pendente, é transmissível


aos herdeiros de um ou de outro.

3. Se o donatário tiver cometido contra o doador o crime de homicídio, ou por


qualquer causa o tiver impedido de revogar a doação, a acção pode ser proposta
pelos herdeiros do doador dentro de um ano a contar da morte deste.

ARTIGO 977º
Inadmissibilidade de renúncia antecipada

O doador não pode antecipadamente renunciar ao direito de revogar a doação


por ingratidão do donatário.

EFEITOS DA REVOGAÇÃO

ARTIGO 978º
Efeitos da revogação

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António Filipe Garcez José
1. Os efeitos da revogação da doação retrotraem-se à data da proposição da
acção.

2. Revogada a liberalidade, são os bens doados restituídos ao doador, ou aos


seus herdeiros, no estado em que se encontrarem.

3. Se os bens tiverem sido alienados ou não puderem ser restituídos em espécie


por outra causa imputável ao donatário, entregará este, ou entregarão os seus
herdeiros, o valor que eles tinham ao tempo em que foram alienados ou se
verificou a impossibilidade de restituição, acrescido dos juros legais a contar da
proposição da acção.

ARTIGO 979º
Efeitos em relação a terceiros

A revogação da doação não afecta terceiros que hajam adquirido,


anteriormente à demanda, direitos reais sobre os bens doados, sem
prejuízo das regras relativas ao registo; neste caso, porém, o
donatário indemnizará o doador.

CASOS PRÀTICOS
I)

Doação quanto ao objecto:

Miguel caminhava junto de seu amigo Nuno e, ao passarem por um


stand de venda de automóveis, este (Nuno) revelou especial gosto
por um modelo que se encontrava ali exposto.
Miguel ao ver o entusiasmo de seu amigo Nuno, disse que lhe
oferecia o carro, só não o comprando de imediato porque o stand se
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encontrava encerrado. Todavia assegurou-lhe de que no dia seguinte
o compraria e o entregaria tal como acordado.
Reduziram este acordo a escrito.
No dia seguinte, Miguel comprou o carro. Não obstante,
quando Nuno lhe solicitou a sua entrega, Miguel recusou-se,
invocando que decidira, entretanto, oferecer o carro à sua
namorada.

Nuno pretende saber como pode solucionar este problema.

Estamos perante um contrato de doação, existe uma vontade de


doar o carro. Corresponde a um contrato definitivo.
A doação tem como objecto uma coisa futura que ainda não está ao
dispor do disponente (art. 211.º do Código Civil).
A doação de bens futuros é proibida por lei – 942º.
Nos termos do art. 242.º do Código Civil não poderia ser celebrado o
contrato.
Diz o art. 294.º que os contratos celebrados contra a lei (proibidos)
são nulos
O contrato de doação pressupõe um sacrifício patrimonial e Miguel
não teve qualquer sacrifício porque, no momento da celebração do
contrato, o automóvel ainda não constava no seu património. Por
isso, trata-se de doação de bem alheio e bem futuro, não podendo
haver propostas de promessa de doacção.
Desta forma, a doação é nula de acordo com o previsto no art. 942.º
do Código Civil, que indica que a doação não pode abranger bens
futuros.
Nuno não poderia fazer qualquer exigência na presente relação com
Miguel.

II)

Paulo pretende agradecer a Rui o facto deste ter ajudado a sua


família enquanto ele esteve ausente em prestação de serviço militar
na guerra e, por isso, ofereceu a Rui um relógio antigo que pertencia
à sua família já há umas décadas.
Rui pegou no relógio e levou-o consigo sem proferir sequer uma
única palavra de agradecimento. Aliás, a partir desse dia deixou de
cumprimentar Paulo.

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António Filipe Garcez José
Descontente com a situação, Paulo pretende revogar a doação
por entender que Rui nem sequer declarou aceitar e por ver no seu
comportamento um gesto de ingratidão. Quid Juris?

Contrato enquanto acto – formalmente e substancialmente válido


A aceitação pode ser tácita e é feita com a tradição da coisa (não há
revogação porque houve tradição, logo aceitação – 945º/2 + 947º +
969º + 970º + 974º + 2034º
No caso concreto há uma declaração tácita (válida) e tradição da
coisa

A duração da proposta de acordo com o previsto no art. 228.º do


Código Civil vincula o autor durante 5 dias; todavia no contrato de
doação a lei estipula um prazo diferente, o donatário pode aceitar a
doação até à morte de doador.
Nos negócios jurídicos, quando é feita uma declaração e esta chega
aos seus destinatários, ela é irrevogável; na doação o doador pode
revogar a doação até à aceitação.
Revogação do contrato – a revogação é feita unilateralmente, a lei
permite que o doador possa revogar unilateralmente o contrato
assentado na ingratidão do contrato, e não por motivos de ordem
moral ou social:
O Código Civil remete para os arts. 2034.º e 2166.º nos casos de
ingratidão.
O art. 974.º do Código Civil remete-nos para as regras do Direito
Sucessório. Excluindo estas situações não poder haver lugar a
ingratidão.
No caso concreto, cabe ainda salientar que estamos perante uma
doação remuneratória, uma vez que Paulo queria compensar Rui
pelo serviço prestado enquanto este se encontrava ausente. Assim,
mesmo que se tratasse de um caso de ingratidão, as doações
remuneratórias jamais podem ser revogadas cfr. artº 975º/b, nem
mesmo nos termos previstos nos arts. 2034.º e 2166.º do Código
Civil, já anteriormente mencionados.
O contrato existe, está celebrado, houve aceitação (ainda que tácita)
e houve tradição da coisa, não há ingratidão jurídica e, mesmo no
caso de haver ingratidão, não poderia haver lugar a revogação por
se tratar de um contrato de doação remuneratório, tal como acima já
foi citado.

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CONTRATO DE SOCIEDADE art. 980º


 A sociedade é um contrato de execução continuada.

 Nele deve constar o elemento organização, que o artigo não


obriga.

Elementos do contrato sociedade

Instrumento
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 o primeiro elemento que constitui o contrato de sociedade: -


bens ou serviços.

 Não é um contrato quoad constitutionem porque não obriga a


uma constituição objectiva.

Objecto

 o exercício em comum de determinada actividade económica


que não seja de mera fruição.

 A sociedade não pode ter actividade comercial.

 A actividade económica não pode ser de mera fruição.

 A fruição não pode ser estática. Se for uma fruição estática


deverá recorrer-se ao instituto jurídico da compropriedade e
não do instituto jurídico sociedade.

 A sociedade pode ser gerida por todos os sócios, por um dos


sócios ou por terceiros que não sócios.

Organização

 instituição de um sistema de órgãos destinados a gerir a


sociedade.

 Deve ter um órgão próprio – 985º e ss.. Deve haver uma


relação de administração.
Fim

 a repartição dos lucros. É uma pessoa colectiva de fim


interessado (visa os lucros)

Características qualificadoras do contrato sociedade

 O contrato de sociedade destina-se a dar origem a


pessoas colectivas que são as sociedades civis.

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 É um contrato de caracter duradouro.

 Na generalidade dos contratos, os mesmos terminam com


o cumprimento das prestações.

 O contrato de sociedade é ao contrário, porque na vida da


sociedade estabelecem-se relações jurídicas, para além
das relações jurídicas da constituição da sociedade.

 Entre a sociedade e os sócios existe uma relação própria:

Especificidades do contrato de sociedade


relativamente aos outros contratos em geral:

 2033º/2/b) – as sociedades civis têm personalidade jurídica

 as partes têm direitos convergentes (diferente da


contraposição de interesses, como é a regra)

 contrato de plurilateralidade (a regra é de bilateralidade)

 contrato associativo ou de fim comum

 contrato consensual por oposição ao contrato quoad


constitutionem

 não formal

 oneroso (tem prestações para os sócios)

 sinalagmático no sentido de que os sócios se obrigam para


com a sociedade

 não sinalagmáticos no sentido de que os sócios não têm


prestações reciprocas entre si, mas pode um sócio exercer o
direito de resolução.

 É um contrato aleatório (os lucros podem não existir) (há uma


atribuição de prestação certas e outra incerta, características
dos contratos aleatórios)

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 Forma – 981º. Não há forma. Só é exigível forma se a
prestação para realização da entrada for de natureza que
exija forma (se entrar com bens imóveis então o contrato já
necessita de forma)

 O contrato sociedade é contrário à regra quando por


vicissitudes o art.º 981º/2 altera a regra geral e manda aplicar
primeiro o art.º 293º e só depois o art.º 292º, ou seja, primeiro
converte e se não for possível a conversão então parte-se
para a redução. A regra é exactamente o contrário, primeiro
reduz-se (292º) e só depois, se não for possível a redução é
que se converte (293º)

Há três circunstancias a analisar relativamente à


sociedades civis:

A personalidade jurídica

 em lado nenhum a lei diz que tem personalidade jurídica. Mas


tem efectivamente personalidade jurídica porque sendo
composta por vários sócios ela vai tornar-se independente dos
sócios. Ela passa a ser o centro jurídico de relações
autónomas. Mesmo entre os sócios e a sociedade estabelece-
se uma separação jurídica. Quando se celebram negócios
jurídicos é com a sociedade e não com os sócios. Todo o
regime é de como se tivesse, e tem, personalidade jurídica

A capacidade de gozo

 as pessoas colectivas regem-se pelo principio da


especialidade. Não tem uma capacidade de gozo ampla. Está
restringida aos actos relativos ao seu objecto social. Quando
no contrato da sociedade se estabelece o objecto da
sociedade, a partir daí ela tem de limitar-se ao seu objecto.

A capacidade de exercício

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 as sociedades sendo agrupamentos de pessoas é necessário
determinar a quem cabe a representação da sociedade. Aqui
entra em campo a sua organização.

 Toda a sociedade tem de ter uma organização. Neste sentido


entra em jogo a administração. Quem actua em nome da
sociedade, quem vincula a sociedade, quem a representa,
quem a gere. É à administração que cabe representar a
sociedade e não aos sócios.

 É necessário que o contrato defina quem são os


administradores. Podem ser pessoas diversas dos sócios. É
necessário definir o modelo de administração. Em
conformidade com o modelo de administração assim a
sociedade vai ser gerida.

O art.º 985º C.C. estabelece vários modelos de administração/


de estrutura organizativa :

O modelo de administração disjunta

 a administração será entregue a cada um dos sócios; os


sócios actuam isoladamente entre si e a concertação entre
eles faz-se pela oposição de um sócio ao outro; cada sócio
tem poderes de administração isoladamente e cada um dos
outros sócios pode, não concordando com os actos de
administração de outro sócio, opor-se à prática daquele acto,
reunindo-se depois decidindo-se por maioria (antes da prática
do acto).

O modelo de administração conjunta

 é ao contrário da anterior. Os actos de gestão são praticados


por todos os sócios. Os actos de administração são tomados
por todos os sócios e as decisões são tomadas por
unanimidade.

O modelo de administração maioritária

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 as decisões são tomadas por maioria (deliberação). A maioria
pode ser de 2/3 ou outra se assim o for designado no contrato
de constituição da sociedade.

 Art.º 987º - o administrador é tratado como mandatário.

No âmbito das regras que regulam o contrato de sociedade há


três tipos de regras:

Regras de formação e constituição do contrato de sociedade.

 Toda a sociedade nasce do contrato, sendo o contrato o acto


constitutivo da sociedade. Encontramos neste grupo de regras
quem pode celebrar os contratos, etc.

 é um contrato consensual porque não se exige forma


especifica para este tipo de contrato (a não ser que o bem que
serve de entrada esteja obrigado a forma, assim já este
contrato de sociedade carece de forma)

- Regras que regulam as regras internas da sociedade

 Relações dos sócios entre si e das relações dos sócios para


com a sociedade. Estamos no domínio das relações internas
da sociedade. Aos sócios é conferido o mesmo estatuto.
Todos têm o mesmo conjunto de direitos e obrigações, em
termo qualitativos. Não significa que quantitativamente
também tenha de ser igual, porque neste aspecto está
dependente da proporcionalidade da entrada. A análise
quantitativa é feita em relação à entrada de cada sócio. A
obrigação principal do sócio é a sua entrada. A entrada é
condição para se ter estatuto de sócio. A entrada tem de ter
valor pecuniário.

Há dois tipos de sócios:

o sócio de industria,
é aquele que entra com o trabalho e não entra com capital;

o sócio de capital
é aquele que entra com o capital. Em função da entrada é atribuído
uma participação na sociedade. Em regra a participação nos lucros

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depende da participação na entrada. No entanto as normas são
supletivas e podem ser afastadas.

 Os lucros são, em principio, para repartir. Mas os sócios


podem determinar que os lucros não são para repartir mas
sim para investir na sociedade ou outra coisa diversa.

 A entrada do sócio na sociedade é também importante para


quando o sócio pretenda sair e se liquida a sua quota. Esta
liquidação é feita com base na avaliação da sua entrada no
momento da liquidação e não reportando-se ao valor aquando
da entrada.

Normas dirigidas para as relações externas da sociedade

 São relações que se estabelecem entre a sociedade e


terceiros.

 Terceiro pode ser um sócio se ele se apresentar à sociedade


como um terceiro e não como sócio (ex.: se ele pretender
comprar produto da sociedade pode apresentar-se como um
terceiro).

 Nestas relações com terceiros a sociedade faz-se representar


por administradores e não por sócios. Se um sócio que não é
administrador invocar o nome da sociedade para celebrar um
contrato, em principio esse contrato não vincula a sociedade.
Tem de ser o administrador a praticar o acto em nome da
sociedade.

Relações entre os sócios

A entrada – 983º (dotação inicial)

 a entrada tem de ter valor pecuniário porque senão a


sociedade não retira proveito da prestação – 383º/2 (tem de
ter valor pecuniário). Ex.: - a entrada pode ser o próprio nome

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de um dos sócios se a utilização do nome revelar interesse
económico para a sociedade. Se for um nome que produza
uma imagem que se traduza em riqueza.

 Nula será a cláusula que defina que determinado sócio faz a


sua entrada na sociedade no sentido de se responsabilizar
ilimitadamente pelas dividas: pois essa é uma das obrigações
do sócio, não carece de ser contratado. (é uma característica
natural)

Os direitos dos sócios

 direito de exprimir a sua vontade durante toda a altura


relevante para a vida da sociedade: -

 982º, 990º, 1008º, são decisões por unanimidade.

 991º, 986º/3 e 1005 são decisões por maioria.

direito de fiscalização

que se traduz no …

- direito à informação que pode ser exercido a todo o tempo


e…
- no direito à prestação de contas, que só pode ser exercido
em determinadas alturas – 988º/2

direito aos lucros

há três entendimentos:

- O direito abstracto aos lucros


quer dizer-se que o sócio entra para a sociedade com
determinada prestação. Assume uma obrigação que vai ser
avaliada e que servirá para determinação dos lucros. A
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sociedade tem evolução e a quota passa a ter um valor diferente,
ou seja maior ou menor consoante a sociedade tenha ou não
evoluído ou regredido. Quando o sócio sai da sociedade é-lhe
liquidada a sua quota no valor actual e não no valor inicial (da
entrada)

- O direito à distribuição periódica


o sócio quer que o resultado do exercício seja distribuído
periodicamente.

- O direito aos lucros distribuídos


a sociedade tem lucros e os sócios adquirem um direito de
crédito sobre os bens da sociedade.

Há direito à distribuição periódica dos lucros?

 Os lucros a que se refere o art.º 980º, são direitos abstractos


de distribuição de lucros. Nada obriga à distribuição de lucros.
A sociedade pode determinar que os lucros são reinvestidos e
não repartidos.

 Art.º 991º - não há direito à distribuição periódica. E mesmo a


distribuição de lucros está sujeita à aprovação maioritária

 Art.º 992º/3/4: (sócios de indústria – não participam nas


perdas mas a participação nos lucros é menor que os outros
sócios)

 Art.º 993º - divisão dos lucros por terceiro.

 Art.º 994º - os sócios não podem renunciar aos lucros.


(proibição do pacto leonino)

A representação – 996º
 No contrato de sociedade há uma associação entre a
representação e a administração (996 – 985º)

 Os administradores são os representante da sociedade

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Tutela de aparência – 996º/2
 Há no entanto possibilidade de limitar a responsabilidade
pelas dívidas.

 A sociedade permite que haja alguns sócios com


responsabilidade limitada mas não podem ser todos – 997º

 Se a administração for feita por todos os sócios – a


responsabilidade é ilimitada

 Se a administração for feita por alguns dos sócios, os


administradores têm de ter responsabilidade ilimitada e só os
outros sócios não administradores podem ter
responsabilidade limitada.

 No caso da relação do comitente/comissário o credor não


pode demandar os sócios enquanto não excutir o património
da sociedade e do comissário – 998º

Extensão do vinculo da sociedade

- Limitada ao sócio – por morte (1001º) – exclusão (1003º) –


exoneração (1002º). É sempre feita a liquidação da quota do
sócio
- Extinção geral da sociedade – 1007º

A extinção da sociedade é um acto complexo.


A dissolução e o primeiro processo de extinção.
O processo extintivo é terminado com a liquidação e depois com a
partilha
O processo extintivo, até à ultimação das partilhas, pode ser
revogado – 1019º
A sociedade não pode ficar unipessoal por mais de 6 meses –
1007º/d)

CASOS PRÁTICOS
Ex.: A, B e C são administradores.
Em 24/4 C é destituído.
Em 25/4 C celebra um contrato em nome da sociedade.

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O terceiro desconhece a sua destituição e celebra o contrato
convencido que C era realmente administrador.

A substituição da administração só vincula o terceiro quando o


terceiro toma conhecimento dessa substituição. Logo o contrato
celebrado por C vincula a sociedade – art.º 926º/2
O objectivo é proteger o terceiro.
A sociedade terá de acautelar-se:
- ou comunica individualmente a substituição
- ou faz um anúncio publico dessa substituição em anúncio de
jornal.

Numa relação com terceiros estabelece-se uma relação triangular


entre a sociedade, o terceiro e os sócios.

Paulo, credor da sociedade Amigos unidos, sendo o seu crédito


proveniente de bens fornecidos à sociedade em DEZ/2000 e no valor
de 25.000€ vem exigir o pagamento a Vítor e Zulmira, sócios da
sociedade devedora

1 - Vítor recusa-se a pagar invocando, desde logo, que apenas


entrou para a sociedade em AGO/2001, não se considerando
responsável pelas dividas contraídas antes da sua entrada. Por
outro lado a divida foi contraída por Teresa, sócia, mas sem ouvir
qualquer dos outros sócios. Como o contrato de sociedade omisso
quanto ao modelo de administração entende que ela não pode
vincular sozinha a sociedade.

Colocam-se duas questões: - saber se a divida contraída vincula ou


não a sociedade. O art.º 985º diz que na falta de estipulação cada
sócio pode administrar. O que os restantes sócios poderiam fazer era
oporem-se à prática do acto. Não o fizeram antes da sua prática, não
o podem fazer agora. A oposição é para não praticar actos e não
para anular actos. Os administradores não são responsabilizados
pelos seus actos, a não ser por actos danosos, culposos. A divida é
anterior à entrada do sócio: - quando o sócio entra para a sociedade
entra no estado em que ela se encontra e assuma as coisas tais como
estão. O sócio pode entrar posteriormente de duas forma: - ou
adquirindo uma participação social de um dos sócios (cessão de
quota) ou – entra porque forma realizados novas entradas de capital

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e ele subscreveu parte ou todo desse capital. Na primeira hipótese
faz sentido a aplicação do art.º 997º/4.(esta interpretação do art.º
997º/4 deve ser feita de forma restritiva). Na segunda hipótese, ele
realizando capital, tem de haver uma alteração do contrato e podem
ocorrer duas situações: - ele exime-se das obrigações do contrato já
existentes, ou ele nada diz será obrigado como os restantes, pelas
dividas anteriormente contraídas.

2 - Zulmira informa que dois dias antes entregou à sociedade uma


carta contendo o seu pedido de desvinculação da sociedade e desta
forma já não tem nada a ver com aquela. Para além disso, mesmo
que fosse responsável apenas responderia por 10% da divida por ser
esse o valor da sua quota.

A outra sócia invoca que se desvinculou antes de ser contraída a


divida e que mesmo que seja responsável só será proporcionalmente
à sua quota: - em primeiro estamos perante a exoneração de sócio. É
uma forma dos sócios saírem da sociedade. Esta exoneração é livre?
– há duas hipóteses: - ou a sociedade tem uma duração fixada no
contrato ou – essa duração não está fixada no contrato. Na segunda
hipótese ele pode desvincular-se livremente (porque caso contrário
só com sua morte). Na primeira hipótese o sócio para se desvincular
tem de invocar justa causa. A exoneração implica a saída do sócio da
sociedade e a liquidação da sua quota. A saída do sócio só produz
os seus efeitos no final do ano social (normalmente corresponde ao
ano civil) mas nunca pode sair antes de três meses. Só se efectiva a
exoneração no fim do ano. Apesar do pedido de exoneração ela
ainda está vinculada, ainda é sócia. O art.º 1006º diz que ela
continua a ser responsável pelas dividas até à exoneração mas nem
era necessário porque ela ainda não foi exonerada. A
responsabilidade da sociedade é assegurada pela sociedade e pelos
sócios, na totalidade da divida. Pode é a sócia exigir o beneficio da
excussão prévia do património da sociedade. Nos plano das relações
externas o sócio é responsável pelas dividas da sociedade. No plano
das relações internas o sócio beneficia do direito de regresso sobre
os demais sócios. O regime da solidariedade vigora nesta
sociedades. Art.º 992º/1 – a nível interno. Quando o terceiro é credor

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da sociedade o sócio aparece como devedor solidário. A
solidariedade não é reciproca, isto é, a sociedade não responde pelas
dividas dos sócios. O património da sociedade +e autónomo e só
responde pela dividas da própria sociedade. A única coisa que
poderiam executar era: - os lucros; a quota que o sócio tem na
sociedade, mas isto não é da sociedade, mas sim do sócio.

COMODATO
Encontra-se regulado nos arts. 1129° e ss.

ARTIGO 1129º

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Noção

Comodato é o contrato gratuito pelo qual uma das partes entrega à


outra certa coisa, móvel ou imóvel, para que se sirva dela, com a
obrigação de a restituir.

Características
As características qualificativas do contrato de comodato são:

 Contrato real quoad constitutionem


 Contrato não formal
 Contrato gratuito
 Contrato não sinalagmático

Características
 O comodato é um contrato real quoad constitutionem
mediante qual uma das partes entrega à outra certa coisa,
móvel ou imóvel, para que se sirva dela, com a obrigação de a
restituir- art. 1129º

 O comodato é um contrato não formal pois a lei não exige


qualquer forma especial para a sua realização conferindo toda
a liberdade às partes envolvidas – art. 219º

 O comodato é um contrato gratuito pois apesar de fazer


surgir obrigações ao comodatário –art.1135º- nenhuma delas
se apresenta como contrapartida da utilização da coisa.

 É um contrato não sinalagmático.

Objecto
Podem ser objecto do comodato tanto as coisas móveis como as
imóveis.

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Objecto do comodato
 Conforme ao art. 1129º podem ser objecto de comodato tanto
as coisas móveis como imóveis. Porém, as coisas móveis não
podem corresponder a coisas consumíveis.

Obrigações do comodante
obrigação de não perturbar o uso da coisa pelo comodatário

 Por exemplo, reivindicar do comodatário a coisa emprestada


ou dispor dela a favor de outrém.

 Porém, pelo simples exercício dos seus poderes ele está


numa situação propícia a perturbar esse uso.

obrigação de reembolso de benfeitorias

 (1138º, nº 1 e 2 /1273º/1275º)
Obrigações do comodatário

obrigação de guardar e conservar a coisa emprestada – art.


1135º/a)
 actividade de vigilância directa sobre a coisa evitando
deteriorações e manter o bem no estado em que foi recebido;
é que o art. 1136º estabelece um regime especial pois o
comodatário responde se podia salvar a coisa ainda que com
sacrifício de coisa própria de valor não superior, o que
corresponde a um critério de diligência diferente;

 há presunção de culpa nos termos do art. 799º/1 incumbindo


ao comodatário demonstrar que não podia ter evitado a perda
ou deterioração da coisa mesmo com sacrifício de coisa
própria.

 Se o comodatário permitir a utilização da coisa emprestada


por outrém ou a aplicação a um fim diferente daquele a que
ela se destina é responsável objectivamente – art. 1136º/2.

 Porém, nestas situações pode o comodatário elidir a sua


responsabilidade objectiva mediante a relevância negativa da
causa virtual.
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 Refere ainda nº 3 do art. 1136º que a avaliação do bem faz


presumir que o risco de perecimento ou deterioração da coisa
corre por conta do comodatário – há como que uma
transferência do risco mesmo que ele não pudesse evitar o
prejuízo)

obrigação de facultar ao comodante o exame da coisa


emprestada – art. 1135º/b)(

 visa possibilitar ao comodante o controle do bom estado da


coisa e a aplicação que dela está a ser feita pelo comodatário,
podendo em consequência dessa averiguação determinar a
resolução do contrato -1140º- ou exigir responsabilidade pelos
danos causados na coisa emprestada – 1136º)

obrigação de não aplicar a coisa a fim diverso daquele a que


ela se destina art. 1135/c); art. 1131º e 1136º/2

obrigação de não fazer da coisa emprestada uma utilização


imprudente- art. 1135º/d); 1137º/3 e 1043º/1

 dever de manutenção da coisa no mesmo estado em que foi


recebida

obrigação de tolerar quaisquer benfeitorias que o comodante


queira realizar na coisa- 1135º/e)

obrigação de não proporcionar a terceiro o uso da coisa,


excepto se o comodante o autorizar – art. 1135º/f) –

 contrato intuitu personae; responsabilidade objectiva em


caso de desrespeito por esta obrigação – 798º e 1136º/2)

obrigação de avisar imediatamente o comodante, ...

 sempre que tenha conhecimento de vícios na coisa, ou saiba


que a ameaça algum perigo, ou que terceiros se arrogam
direitos em relação a ela, desde que o facto seja ignorado do
comodante - art. 1135º/g)

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obrigação de restituir a coisa emprestada, findo o contrato –
art. 1135º/h).

 Surge como consequência da natureza temporária do


contrato devendo aplicar-se ao comodato o regime do art.
1192º em que está vedado ao comodatário recusar a
restituição ao comodante com o fundamento de que este não
é proprietário da coisa, nem tem sobre ela outro direito.

 O comodatário fica constituído em mora se não restituir a


coisa dentro do prazo estabelecido ou logo que o uso finde -
art. 1137º/1 e 779º.

 Caso não tenha sido definido um prazo pelo comodante esta


dever-lhe-à ser entregue logo que solicitada – 1137º/2.

Extinção do contrato:
O contrato de comodato pode extinguir-se por...

- caducidade,
- denúncia ou ...
- resolução

nos termos gerais.

 O contrato de comodato caduca ainda por morte do


comodatário- art. 1141º

Caso prático
Vasco empresta a Xavier a sua caso no Algarve para este passar
férias durante o mês de Agosto juntamente com a sua família.

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Empresta-lhe ainda o seu automóvel para ele poder passear
durante as férias.
Durante as férias Xavier decide participar num rali com o
automóvel obtendo o primeiro lugar, ganhando um prémio no
valor de 1.000€.
Numa das noites Xavier resolva transformar a casa numa discoteca
dando uma festa para 50 pessoas.
No dia seguinte sem que Xavier consiga explicar as causas as
paredes encontram-se riscadas e o chão manchado.
Nessa mesma noite, inesperadamente, ocorreu um violento
temporal que arrastou um contentor do lixo que foi embater no
carro de Vasco que se encontrava estacionado na rua tendo
amolgado a parte da frente.
Ao tomar conhecimento deste facto por terceiro, Vasco decide
dirigir-se ao Algarve e aproveitando o facto de Xavier se encontrar
na praia mudou a fechadura da casa.
Vem agora a exigir-lhe que lhe sejam pagos os danos do veículo,
da casa e ainda que lhe seja entregue o prémio recebido no rali.
Xavier pede uma indemnização a Vasco por este não lhe ter
deixado usar a casa durante todo o mês. Quid iuris.

Relativamente ao comodante: a mudança da fechadura


Relativamente ao comodatário: - dano do veículo, danos da casa,
prémio.
Relativamente ao veículo:
O risco é suportado pelo comodante porque a propriedade não se
transferiu. Transfere-se o risco se o comodante provar que o
comodatário agiu negligentemente – art.º 1136º C.C..
Relativamente à casa:
O art.º 1135º impõe várias obrigações para o comodatário. Ele
utilizou a coisa par fim diverso. No contrato definiu-se que a coisa
se destinava a férias. A nossa lei aplica sanções quando o
comodatário viole as obrigações do contrato. Desta forma há a
inversão da responsabilidade e do ónus da prova. Aqui, sim, o
comodatário poderá invocar a relevância negativa da causa virtual,
o que neste caso não colhe. É uma excepção para as penalizações do
comodatário pela utilização diversa do estipulado no contrato.
Situações de inversão da responsabilidade da coisa: (são 3)
- quando aplique fim diverso ao estipulado;
- quando o comodatário se tenha responsabilizado por isso;

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- quando no momento da celebração do contrato haja uma
avaliação dos bens comodatados.
Quanto ao prémio:
Fruto é o que a coisa tenha capacidade de produzir periodicamente.
Os frutos advêm da própria coisa. Se o comodatário tiver
participado decididamente na obtenção do fruto, não é fruto.
Aqui não há fruto porque foi resultado da perícia do comodatário.
Ao participar na corrida o comodatário está a utilizar o carro para
fim diverso. Desta forma o comodante terá direito a uma
indemnização se provar que há prejuízos.
Quanto à mudança da fechadura:
A forma de celebração do comodato é consensual.
A resolução também pode ser consensual. As forma pode ser de
qualquer forma, porque não exige forma. Quanto à mudança da
fechadura: - podia invocar acção directa porque não conseguiu
contactar o comodatário. Podia invocar que foi o único modo que
ele encontrou para resolver o contrato.
O comodante pode resolver o contrato porque não tem de suportar
os prejuízos. O contrato é sempre feito tendo em conta o comodante
(pois se ele é gratuito não é lógico que seja a favor do comodatário)
(ex.: ele tinha oferta para venda. Mesmo que o comodatário
cumprisse todas as cláusulas do contrato, ele tinha fundamento para
a resolução porque se não vendesse tinha prejuízo, e isso não pode
acontecer.)
Se entendermos que esta forma não é a adequada à resolução do
contrato o comodante é obrigado a indemnizar o comodatário, nos
termos da restituição da posse.

MÚTUO
O mútuo encontra-se previsto nos arts. 1142° e ss.

ARTIGO 1142º

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Noção
Mútuo é o contrato pelo qual uma das partes empresta à outra
dinheiro ou outra coisa fungível, ficando a segunda obrigada a
restituir outro tanto do mesmo género e qualidade.

Características
Características qualificativas do contrato de mútuo :

1) Contrato nominado e típico


2) Contrato primordialmente não formal
3) Cariz real quoad constitutionem (polémico)
4) Contrato obrigacional e real quoad effectum
5) Contrato naturalmente oneroso, podendo ser gratuito
6) Contrato unilateral
7) Contrato cumutativo
8) Contrato sem cariz “intuitu personae”

Objecto
O mútuo tem por objecto dinheiro ou outra coisa fungível;

 O mútuo é considerado um acto de administração


extraordinária..
 É possível fazer um contrato-promessa de mútuo, mas é de
excluir a execução específica nesse âmbito.

Efeitos
O mútuo tem em primeiro lugar um efeito real (art. 1144°) e um
efeito obrigacional (1142°)

COMODATO: 1129º e ss.

Comodato – 1129º - é um empréstimo; é gratuito; incide sobre coisa


certa e determinada.

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O contrato de comodato não tem forma especial
Obrigação do comodatário – 1133º/1
Por ser um contrato gratuito não há grande responsabilidade pelo
comodante. Ele só responde pelo art.º 1134º

Direitos do comodatário:
- art.º 1132º - só tem direito ao uso e não aos frutos, salvo
convenção em contrário.

Obrigações do comodatário: - 1135º - 1136º


O art.º 1136º é uma excepção à regra do bom pai de família. É um
critério de responsabilidade mais alargado

Restituição: - art.º 1137º:


- convencional
- não convencional

o comodatário pode reter a coisa enquanto não for pago das


benfeitorias – 755º (contrário à regra)

MUTUO: 1142º e ss. C.C.

Mútuo – incide sobre coisas fungíveis, indeterminadas ou


determinadas apenas pelo género, qualidade e quantidade.
É em rigor um contrato em que há transmissão de bens porque
envolve bens fungíveis.
A entrega de coisas fungíveis implica a transmissão da propriedade.

Dátio de coisas fungíveis tem como consequência:


- transmissão da propriedade
- obrigação de transmissão de outro tanto do mesmo género
(tantum demus)

O mútuo é:
- juridicamente é um contrato de transmissão de bens
- economicamente é um contrato de gozo de bens alheios
- é um contrato real quoad constitutionem, porque sem a
entrega não há contrato

Sendo contrato real quoad constitutionem não é sinalagmático


porque só há obrigação para uma das partes, porque a entrega do

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dinheiro é condição para a existência do próprio contrato e não uma
obrigação do contrato.

Artº 1143º C.C.:


– o mutuo é formal se for superior a 20.000€
– o mutuo é formal se for superior a 2.000€
– o mutuo é consensual se for inferior a 2.000€

O mutuo é também um contrato real quoad effectum porque a


entrega do dinheiro produz efeitos reais ( a transferencia da
propriedade)
Mesmo que não seja verificada a forma exigida no art.º 1143º há
sempre a obrigação de restituir nos termos do art.º 289º por
nulidade do contrato.
O mutuo concede ao mutuário a propriedade sobre o capital e a
obrigação deste a restitui-la no final do contrato.
Se tiver de restituir todo o tempo é um depósito irregular e não um
mutuo – 1205º C.C.
O depósito bancário não é um mutuo mas sim um depósito irregular
porque pode ser levantado a todo o tempo.
A impossibilidade económica é incompatível porque só existiria se o
dinheiro fosse retirado do mercado.
A extinção do mutuo ocorre normalmente pelo cumprimento (pela
restituição do capital) mas pode ser também pelo não pagamento
dos juros – 1150º C.C.
Art.º 1151º - responsabilidade do mutuante em mutuo gratuito.
Art.º 939º - se o mutuo for oneroso. Há sempre a alienação de bens
e logo aplica-se o regime das coisas defeituosas (aplica-se o regime
da compra e venda)
O contrato de mutuo só passa a existir a partir do momento da
entrega. O mutuário enquanto não tem do dinheiro na sua
disponibilidade não há contrato.
Por vezes os momentos sã distintos acontecendo que antes há uma
prévia negociação do contrato.
Entre o banco e o cliente não há promessa de mutuo quando se
pede um crédito. Há é uma negociação tendente a um empréstimo.

EMPRÉSTIMO:

- comodato
- mutuo

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O comodato e o mutuo distinguem-se pelo objecto sobre o qual
incidem:

- no comodato o contrato incide sobre coisas infungíveis


- no mutuo o contrato incide sobre coisa fungíveis (as coisa
fungíveis determinam-se pelo género, qualidade e quantidade)

O caracter da fungibilidade e infungibilidade pode ser determinado


pelas próprias partes.
São os próprios contratantes que podem determinar a fungibilidade
da coisa, para além das características que a lei manda (género,
qualidade e quantidade)

Diferenças entre o mútuo e o comodato

1 -Quanto ao modo de cumprimento das obrigações:

- no comodato o comodatário tem de restituir a mesma coisa


- no mutuo o mutuário pode restituir outros (interessa a
quantidade, qualidade e género)

2 - Quanto aos efeitos:


- o mutuo atendendo á natureza dos bens fungíveis implica a
transferencia da propriedade, o que implica que o mutuário
seja proprietário da coisa objecto do mutuo e também que o
mutuante seja proprietário da coisa mutuada.
- No comodato não se transfere a propriedade

3 - Quanto à classificação no que concerne à gratuitidade ou não:


- o comodato é por natureza gratuito. Só se está perante um
comodato se for gratuito. Se houver alguma forma de
compensação já não será comodato, poderá, quando muito,
ser um contrato de locação.
- o mutuo pode assumir contrato oneroso ou gratuito,
dependendo das vontades das partes. A existência de juros
implica que seja oneroso e a não existência implica que seja
gratuito. No silêncio das partes o mutuo é oneroso, o que
implica o pagamento de juros.
-
4 - Quanto à forma:

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- o comodato é sempre consensual independentemente do tipo,
natureza e valor do bem. Como não opera a transferencia de
propriedade é consensual.
- O mutuo depende do montante envolvido. – até 2.000€ é
consensual; a partir de 2.000€ é formal, porque tem de ser por
documento escrito; a partir de 20.000€ tem de ser por
escritura pública – art.º 1143º C.C.. O vicio da forma implica a
nulidade do contrato, o que faz com que não haja juros,
embora tenha de ser restituído o dinheiro - art.º 289º. Quando
o mutuante é uma entidade bancária ele assume forma
diversa.

5 -Quanto ao risco:
- no mutuo o risco corre por conta do mutuário – 1144º - 796º
C.C.
- no comodato o risco corre por conta do comodante.

Casos práticos
I)
Vasco empresta a Xavier a sua caso no Algarve para este passar
férias durante o mês de Agosto juntamente com a sua família.
Empresta-lhe ainda o seu automóvel para ele poder passear durante
as férias.
Durante as férias Xavier decide participar num rali com o
automóvel obtendo o primeiro lugar, ganhando um prémio no valor
de 1.000€.
Numa das noites Xavier resolva transformar a casa numa discoteca
dando uma festa para 50 pessoas.
No dia seguinte sem que Xavier consiga explicar as causas as
paredes encontram-se riscadas e o chão manchado.
Nessa mesma noite, inesperadamente, ocorreu um violento
temporal que arrastou um contentor do lixo que foi embater no
carro de Vasco que se encontrava estacionado na rua tendo
amolgado a parte da frente.
Ao tomar conhecimento deste facto por terceiro, Vasco decide
dirigir-se ao Algarve e aproveitando o facto de Xavier se encontrar
na praia mudou a fechadura da casa.
Vem agora a exigir-lhe que lhe sejam pagos os danos do veículo, da
casa e ainda que lhe seja entregue o prémio recebido no rali.

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Xavier pede uma indemnização a Vasco por este não lhe ter deixado
usar a casa durante todo o mês. Quid iuris.

Relativamente ao comodante: a mudança da fechadura


Relativamente ao comodatário: - dano do veículo, danos da casa,
prémio.

Relativamente ao veículo:
O risco é suportado pelo comodante porque a propriedade não se
transferiu. Transfere-se o risco se o comodante provar que o
comodatário agiu negligentemente – art.º 1136º C.C..

Relativamente à casa:
O art.º 1135º impõe várias obrigações para o comodatário. Ele
utilizou a coisa par fim diverso. No contrato definiu-se que a coisa
se destinava a férias. A nossa lei aplica sanções quando o
comodatário viole as obrigações do contrato. Desta forma há a
inversão da responsabilidade e do ónus da prova. Aqui, sim, o
comodatário poderá invocar a relevância negativa da causa virtual,
o que neste caso não colhe. É uma excepção para as penalizações do
comodatário pela utilização diversa do estipulado no contrato.
Situações de inversão da responsabilidade da coisa: (são 3)
- quando aplique fim diverso ao estipulado;
- quando o comodatário se tenha responsabilizado por isso;
- quando no momento da celebração do contrato haja uma
avaliação dos bens comodatados.

Quanto ao prémio:
Fruto é o que a coisa tenha capacidade de produzir periodicamente.
Os frutos advêm da própria coisa. Se o comodatário tiver
participado decididamente na obtenção do fruto, não é fruto.
Aqui não há fruto porque foi resultado da perícia do comodatário.
Ao participar na corrida o comodatário está a utilizar o carro para
fim diverso. Desta forma o comodante terá direito a uma
indemnização se provar que há prejuízos.

Quanto à mudança da fechadura:


A forma de celebração do comodato é consensual.
A resolução também pode ser consensual, porque não exige forma.

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Quanto à mudança da fechadura: - podia invocar acção directa
porque não conseguiu contactar o comodatário.
Podia invocar que foi o único modo que ele encontrou para resolver
o contrato.
O comodante pode resolver o contrato porque não tem de suportar
os prejuízos. O contrato é sempre feito tendo em conta o comodante
(pois se ele é gratuito não é lógico que seja a favor do comodatário)
(ex.: ele tinha oferta para venda. Mesmo que o comodatário
cumprisse todas as cláusulas do contrato, ele tinha fundamento para
a resolução porque se não vendesse tinha prejuízo, e isso não pode
acontecer.)
Se entendermos que esta forma não é a adequada à resolução do
contrato o comodante é obrigado a indemnizar o comodatário, nos
termos da restituição da posse.

II)

Manuel celebrou com Natália um contrato por escrito pelo qual lhe
emprestava 15.000€.
Determinava o contrato que Manuel lhe entregava de imediato 50%
e passado um ano o restante.
Acordaram que Natália pagaria juros semestrais à taxa anula de
12%.
O empréstimo destina-se á compra de um automóvel.
1. Suponha que Natália apenas pagou juros no 1º semestre
deixando de o fazer a partir daí. Como pode Manuel reagir e
quais os efeitos daí decorrentes.
2. Natália após sair de casa de Manuel é assaltada sendo
desapossada do dinheiro. Como não chegou a empregá-lo no
fim a que se destinava entende nada ter a pagar.
3. no fim do ano Manuel recusa-se a entregar a Natália os
restantes 7.500€. Natália pretende saber como pode reagir.
Quid iuris.
Estamos perante um contrato de mutuo oneroso.
Os juros aplicados não são usurários porque os juros legais são de
7% onde acrescem 5%. O que não havendo garantia real, não
ultrapassa os 12%, logo não são usurários.
É um contrato que foi celebrado por escrito, logo é válido nos
termos do art.º 1143º C.C.

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1. o mutuante pode resolver o contrato – art.º 1150º. Quais as
consequências práticas da resolução? São as mesmas da
nulidade. Cada um restitui o que adquiriu. Mas aqui aplica-se
o art.º 434º. O mutuário devolve a quantia mutuada mas o
mutuante não tem de restituir as prestações já vencidas
porque a mutuária até ali usou o dinheiro e disso tirou
proveito pelo que deve juros.
2. o art.º 1144º estipula que as coisas mutuadas tornam-se
propriedade do mutuário. Transferindo-se a propriedade
transfere-se o risco. – art.º 796º C.C.
3. o contrato de mutuo para além de ser quoad effectum é
também quoad constitutionem porque a traditio é um acto de
constituição do contrato (é condição). Só há mutuo com a
entrega. Aqui estão dois contrato: - um de mutuo, quando
entrega parte do dinheiro; o outro não é mutuo porque não há
entrega. Se não é mutuo o que é?
Aqui surgem teorias diferentes:
Antunes varela: - se não é mutuo é promessa de mutuo.
Menezes Cordeiro: - não é promessa porque no contrato
promessa promete celebrar o contrato. Aqui ele não promete
emprestar, diz que empresta. Assim será um mutuo consensual.
É um mutuo atípico. Não se rege pelas regras do contrato mutuo,
mas por outras.
Para ser mutuo tem de haver entrega do bem. No contrato de
mutuo não nasce a obrigação de entrega do bem. Tem de
entregar logo. Se não entregar logo não é mutuo.
O contrato de mutuo neste caso é idêntico ao do comodato. São
ambos quoad effectum porque ambos só se celebram com a
entrega do bem.
Para quem considerar que é um contrato promessa aplica as
regras da promessa.
Para quem considerar que é um contrato atípico tem de ir-se ás
regras gerais do contrato.

MANDATO
O contrato de mandato está regulado no art. 1157° e ss.

ARTIGO 1157º

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Noção
Mandato é o contrato pelo qual uma das partes se obriga a praticar
um ou mais actos jurídicos por conta da outra.

Elementos essenciais

Obrigação de praticar um ou mais actos jurídicos

 Os actos jurídicos objecto do mandato são normalmente


negócios jurídicos, mas podem igualmente ser simples actos
jurídicos.

 Tanto há mandato quando alguém encarrega outrém de


comprar ou vender um bem, arrendar um imóvel, como
quando alguém encarrega outrém de interpelar os seus
devedores ou pagar aos seus devedores.

Actuação do mandatário por conta do mandante

 É necessário que os actos jurídicos praticados pelo


mandatário sejam realizados por conta do mandante.

 “Por conta” significa a intenção de atribuir a outrém os efeitos


do acto celebrado pelo mandatário, que assim se projectarão
na esfera do mandante e não do mandatário

A repercussão dos efeitos jurídicos na esfera do mandante


pode ocorrer de duas formas :

1) mandato com representação


no mandato com representação, os actos jurídicos praticados
pelo mandatário em nome do mandante produzem os seus
efeitos directamente na esfera jurídica deste último (arts.
1178° e 258°)

2) mandato sem representação


no mandato sem representação os actos jurídicos praticados
pelo mandatário produzem os seus efeitos na esfera jurídica
deste (art. 1180°)

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Características qualificativas
1) Contrato nominado e típico
2) Contrato primordialmente não formal
3) Contrato que tanto pode ser gratuito como oneroso
4) Contrato sinalagmático (oneroso) ou sinalagmático imperfeito
(gratuito)

Contrato nominado e típico

 A lei reconhece a sua categoria e estabelece o seu regime


nos arts. 1157° e ss. Do Código Civil

Contrato primordialmente não formal

 O mandato é normalmente um contrato consensual, dado que


a lei não exige forma especial

 Apenas o mandato judicial é sujeito a uma forma especial

 Quando o mandato seja associado à procuração (arts 1178° e


ss.) terá que revestir forma especial, pois a procuração é
sujeita a forma especial.

 O mandato sem representação não está sujeito a forma


especial (arts. 1180° e ss.)

Contrato que tanto pode ser gratuito como oneroso

 O actual código Civil estabelece uma presunção de


gratuitidade do mandato (art. 1158°)

 Presume-se oneroso o mandato que envolva actos que o


mandatário pratique por profissão.

 Presume-se gratuito o mandato estranho à actividade


profissional do mandatário.

 Ambas estas presunções são ilidíveis por prova em


contrário (art. 350°/2)

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 No mandato comercial o art. 232° C. Com. Consagra
injuntivamente a regra da onerosidade.

Contrato sinalagmático ou sinalagmático imperfeito

 O mandato pode ser sinalagmático ou sinalagmático


imperfeito, consoante constitua um mandato oneroso ou
gratuito..

 O mandato gratuito é um contrato sinalagmático imperfeito,


pois apesar de gerar obrigações tanto para o mandante (art.
1167/a)/c)d)°) como para o mandatário (art. 1161°), as
obrigações do mandante não se encontram num nexo de
correspectividade com as obrigações do mandatário, tendo
por fundamento factos acidentais, distintos da obrigação de
executar o mandato.

Forma do contrato
 O mandato é em principio um contrato consensual, dado que
a lei não exige forma especial.

 Exceptua-se apenas o mandato judicial, sujeito a uma forma


especial, nos termos do art. 35° CPC.

 A procuração é sujeita a forma especial (art. 262°/2) , estando


sujeita em princípio à forma do negócio que o procurador deva
realizar;

 No mandato com representação, a procuração associada a


esse contrato, terá de obedecer à forma especial para que o
negócio possa ser celebrado validamente.

 o mandato sem representação não é sujeito a forma


especial; mas, tem-se entendido que terá que obedecer à
forma do contrato-promessa (art.410°/2) para que a obrigação
de transferir os bens por parte do mandatário (art. 1181°/1)
possa ser sujeita à execução específica (art. 830°)
Mandato geral
Aquele que seja conferido para gestão dos interesses do mandante
em determinada região do país ou para uma das actividades
económicas a que ele se dedica.

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José

 O mandato geral só compreende actos de administração


ordinária, ou seja, actos que correspondem à normal
conservação e frutificação do património (art. 1159°/1)

 Para que se possam abranger actos de disposição, terá que


haver um mandato especial simultâneamente conferido com o
mandato geral.

Mandato especial
Aquele que abranja certos e determinados negócios.

 Uma regra específica no âmbito do mandato especial é a de


que ele abrange, além dos actos nele conferidos, todos os
demais actos acessórios e necessários à sua execução
(art.1159°/2).

 Quem encarrega outrém de vender um prédio, não lhe dá


igualmente mandato para o trocar ou hipotecar, nem sequer
para celebrar a respectiva promessa de venda, uma vez que
nenhum desses actos se pode considerar meramente
acessório da venda e indispensável à sua realização

Obrigações do mandante (art. 1167°)


1) Obrigação de fornecer os meios necessários à
execução do mandato, se outra coisa não foi
convencionada.

2) Obrigação de pagar a retribuição devida e fazer


provisão por conta dela, consoante os usos.

3) Obrigação de reembolsar o mandatário das despesas


feitas

4) Obrigação de indemnizar o mandatário do prejuízo


sofrido em consequência do mandato.

ARTIGO 1167º
Enumeração

O mandante é obrigado:
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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José

a) A fornecer ao mandatário os meios necessários à execução do


mandato, se outra coisa não foi convencionada;

b) A pagar-lhe a retribuição que ao caso competir, e fazer-lhe


provisão por conta dela segundo os usos;

c) A reembolsar o mandatário das despesas feitas que este


fundadamente tenha considerado indispensáveis, com juros legais
desde que foram efectuadas;

d) A indemnizá-lo do prejuízo sofrido em consequência do mandato,


ainda que o mandante tenha procedido sem culpa.

ARTIGO 1168º
Suspensão da execução do mandato

O mandatário pode abster-se da execução do mandato enquanto o


mandante estiver em mora quanto à obrigação expressa na alínea
a) do artigo anterior.

Direitos do mandatário
 Direito ao reembolso de despesas

 indemnização pelos prejuízos causados

 Pagamento da retribuição estipulada, no mandato oneroso

 Direito às provisões para despesas e para honorários

 Direito de retenção (art. 755°/1) – este artigo atribui ao


mandatário direito de retenção sobre as coisas que lhe
tiverem sido entregues para execução do mandato, pelo
crédito resultante da sua actividade

Obrigações do mandatário

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
1) Obrigação de executar o mandato com respeito pelas
instruções recebidas

2) Obrigações de informação e de comunicação

3) Obrigação de prestar contas

4) Obrigação de entregar ao mandante tudo o que recebeu


em execução ou no exercício do mandato

5) Obrigações acessórias perante o mandante, designadamente a


custódia de objectos que lhe sejam entregues por este para execução do
mandato.

ARTIGO 1161º
Obrigações do mandatário

O mandatário é obrigado:

a) A praticar os actos compreendidos no mandato, segundo as


instruções do mandante;

b) A prestar as informações que este lhe peça, relativas ao estado


da gestão;

c) A comunicar ao mandante, com prontidão, a execução do


mandato ou, se o não tiver executado, a razão por que assim
procedeu;

d) A prestar contas, findo o mandato ou quando o mandante as


exigir;

e) A entregar ao mandante o que recebeu em execução do mandato


ou no exercício deste, se o não despendeu normalmente no
cumprimento do contrato.

ARTIGO 1162º

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
Inexecução do mandato ou a inobservância das instruções

O mandatário pode deixar de executar o mandato ou afastar-se das


instruções recebidas, quando seja razoável supor que o mandante
aprovaria a sua conduta, se conhecesse certas circunstâncias que
não foi possível comunicar-lhe em tempo útil.

ARTIGO 1163º
Aprovação tácita da execução ou inexecução do mandato

Comunicada a execução ou inexecução do mandato, o silêncio do


mandante por tempo superior àquele em que teria de pronunciar-
se, segundo os usos ou, na falta destes, de acordo com a natureza
do assunto, vale como aprovação da conduta do mandatário,
ainda que este haja excedido os limites do mandato ou
desrespeitado as instruções do mandante, salvo acordo em
contrário.

ARTIGO 1164º
Juros devidos pelo mandatário

O mandatário deve pagar ao mandante os juros legais


correspondentes às quantias que recebeu dele ou por conta dele, a
partir do momento em que devia entregar-lhas, ou remeter-lhas, ou
aplicá-las segundo as suas instruções.

Substitutos e auxiliares do mandatário

 O regime da substituição e utilização de auxiliares pelo


mandatário resulta integralmente de uma remissão para oo
regime da procuração (art.264°)

Substituição do mandatário
Quando o mandatário encarrega outro mandatário de praticar os
mesmos actos jurídicos de que foi encarregado pelo mandante,
havendo assim um subcontrato de mandato, ou seja, um
submandato.

Utilização de auxiliares
Não implica que estes pratiquem os actos jurídicos de que o
mandatário foi encarregado.

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
 O mandatário só pode fazer-se substituir por outrém se o
mandante o permitir, ou se essa faculdade resultar do
conteúdo do mandato, ou da relação que o determina

O mandato é em princípio um contrato “intuitu personae”

 O mandatário pode em princípio recorrer a auxiliares para a


execução do mandato; neste caso será responsabilizado
objectivamente pelos actos dos auxiliares, por aplicação
directa do art.800°.

ARTIGO 1165º
Substituto e auxiliares do mandatário

O mandatário pode, na execução do mandato, fazer-se substituir


por outrem ou servir-se de auxiliares, nos mesmos termos em que o
procurador o pode fazer.

A pluralidade de partes na relação de mandato

ARTIGO 1166º
Pluralidade de mandatários

Havendo dois ou mais mandatários com o dever de agirem


conjuntamente, responderá cada um deles pelos seus actos, se
outro regime não tiver sido convencionado.

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José

MANDATO: artº 1157º C.C.


É um contrato de prestação de serviços:

- Não há subordinação jurídica do prestador ao contratante;

- a sua principal obrigação é a realização de uma actividade

- O carácter remuneratório do prestador de serviços não é


fundamental. Há contratos que são gratuitos.

- Obrigação do prestador de serviços (mandatário) praticar


actos por conta e no interesse do mandante. Ele assume uma
obrigação perante o mandante.

Características do mandato:

- é sempre conferido no interesse do mandante porque os actos


que o mandatário praticar repercutem-se na esfera jurídica do
mandante. Mas são exclusivamente no interesse do
mandante.

- O mandante acarreta com todas as despesas, prejuízos,


perdas no resultado do cumprimento do mandato.

- É um contrato de natureza revogável. É livremente


revogável.

- É sempre livremente revogável mesmo com cláusula de


irrevogabilidade do mandato.

- Esta cláusula é válida mas ineficaz quanto à irrevogabilidade.


Esta cláusula tem como consequência a indemnização do
mandatário ou mandante por parte de quem a revogue.

- Para o mandatário é sempre livremente revogável

- Para o mandante nem sempre é livremente revogável. Nos


casos de haver fixação de interesse de terceiro. Só será
revogável se tiver justa causa. É uma excepção à livre
revogabilidade do mandato.

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
- O mandato é restrito a : a prática de actos jurídicos (não
abrange actos materiais); por conta do mandante

- O mandato caracteriza-se também por não estar


necessariamente associado à representação (1178º -
mandato com representação; 1180º- mandato sem
representação);

- No mandato com representação, os actos jurídicos


praticados pelo mandatário em nome do mandante produzem
os seus efeitos directamente na esfera jurídica deste último
(arts. 1178º e 258º).

- Já no mandato sem representação, os actos jurídicos


praticados pelo mandatário produzem os seus efeitos na
esfera jurídica deste sendo necessário um posterior acto de
transmissão para que os direitos correspondentes possam ser
adquiridos pelo mandante (art. 1181º/nº 1)

- O mandato pode ser gratuito ou oneroso nos termos do art.º


1158º C.C.
- O mandato é um negócio normalmente não formal - é
consensual.

- A procuração é que é formal. – art.º 262/2º; Assim, quando o


mandato seja associado à procuração, como sucede no
mandato com representação (arts. 1178º e ss), naturalmente
que terá que ser adoptada forma especial para que o negócio
possa ser celebrado validamente (mesmo nestes casos,
porém, é a procuração e não o mandato que tem que
obedecer à forma especial).

- Já o mandato sem representação (arts. 1180º e s.) não é


sujeito a forma especial. Tem-se, porém, entendido que terá
que obedecer à forma do contrato-promessa (art. 410º/ 2),
para que a obrigação de transferir os bens por parte do
mandatário (art. 1181º/nº 1) possa ser sujeita à execução
específica prevista no art. 830º. Esta exigência não é porém,
requisito de validade do contrato, mas apenas uma condição
para que a obrigação de transferência possa ser executada
especificamente.

Subestabelecimento: - art.º 264º C.C. (com reserva; sem reserva)

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
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Obrigação do mandatário (1161º e ss. C.C.):

obrigação de executar o mandato com respeito pelas instruções


recebidas

- o mandatário deve respeitar o mandato não o executando em


desconformidade com a vontade do mandante – art. 1161º a).

- Tem que observar na execução do mandato a diligência do


bom pai de família, de acordo com as circunstâncias do caso
(799º/2; 487º/2). A excepção está contida no art. 1162º.

obrigações de informação e de comunicação.

- O mandatário está sujeito às obrigações de informação (art.


1161º/b)) e de comunicação (art. 1161º c)). A obrigação de
informação é executada a pedido do mandante, e destina-se a
mantê-lo ciente do estado da gestão. Já a obrigação de
comunicação é prestada espontaneamente, devendo o
mandatário, com prontidão, informar o mandante da execução
do mandato ou, se o não tiver executado, da razão por que
assim procedeu (art. 1161º c) e 1162º);

obrigação de prestar contas.

- Esta obrigação restringe-se naturalmente aos casos em que


existam créditos e débitos recíprocos das partes surgidos no
âmbito da relação de mandato, não se confundindo por isso
com as obrigações de informação e comunicação acima
referidas (art. 1161º/1/d)).

obrigação de entregar ao mandante tudo o que recebeu em


execução ou no exercício do mandato.

- O mandatário constitui-se em mora se não fizer a entrega nos


prazos estabelecidos – art. 1161º/e)

-
obrigações acessórias de custódia de objectos
que lhe sejam entregues aos quais se aplica o regime do depósito.

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Obrigações do mandante (art.º 1167º e ss C.C.):

obrigação de fornecer os meios necessários à execução do


mandato, se outra coisa não for convencionada

- trata-se da denominada provisão para despesas/preparos –


1167º/a). A lei atribui inclusivamente ao mandatário a
faculdade de suspender a execução do mandato enquanto o
mandante não cumprir essa obrigação (art. 1168º)

obrigação de pagar a retribuição devida e fazer provisão por conta


dela consoante os usos.

- O mandato presume-se gratuito, excepto se tiver por objecto


actos que o mandatário pratique por profissão, caso em que
se presume oneroso (art. 1158º/nº 1).

- Sendo oneroso, e se as partes não estipularem a


remuneração, esta é determinada sucessivamente pelas
tarifas profissionais, pelos usos ou por juízos de equidade (art.
1158º/nº 2). O art. 1167º/b) admite que o mandante possa ser
sujeito a efectuar uma provisão por conta da remuneração.

obrigação de reembolsar o mandatário das despesas feitas


(1167º/c)+468º/1+559º)

obrigação de indemnizar o mandatário do prejuízo sofrido em


consequência do mandato

- responsabilidade objectiva pois é independente da culpa do


mandante; porém, deve existir um nexo de causalidade que deverá
ser provada pelo mandatário nos termos gerais (art. 342º/1)

Direitos do mandatário:

Direito de retenção – 755º, c) C.C.

- Atribui-se ao mandatário direito de retenção sobre as coisas que


lhe tiverem sido entregues para execução do mandato, pelo crédito
resultante da sua actividade. Incluem-se aqui os créditos cobrados,
as mercadorias recebidas, títulos de crédito adquiridos ou
documentos relativos aos actos praticados, que o mandatário tem o
direito de reter até ver satisfeito o seu crédito sobre o mandante.

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Extinção do mandato:

- As causas de extinção normais dos contratos podem ser


aplicáveis ao contrato de mandato, podendo este extinguir-se
assim:

*por caducidade (arts. 1174º e ss);


*revogação por acordo das partes (art. 406º/nº 1);
*resolução por incumprimento das obrigações da outra
parte (art. 801º/nº 2), de que constitui exemplo o caso
do art. 1170º/nº 2;

*denúncia do contrato, desde que realizada para o fim do


prazo ou com a antecedência conveniente (art. 1172º c) e d)).

Mandato com representação (art. 1178º):


-
- É acompanhado de uma procuração. O mandatário agia ao
abrigo de um mandato mas também ao abrigo de uma
procuração.

- Há uma vinculação estreita entre o mandato e a procuração.


Só existe procuração porque existe mandato.

- São dois negócios jurídicos num contrato comum em que


cada um deles só faz sentido se o outro se mantiver,

- revogado um revoga-se automaticamente o outro. Art.º


265º - 1179º - revogação da procuração e do mandato.
Revogado um revoga automaticamente o outro, porque se
assim não for passamos de mandato com representação para
mandato sem representação.

- A revogação pode ser tácita ou expressa. Sendo tácita


pode ser com uma nova procuração ou nomeação. A
revogação só produz verdadeiramente efeitos quando o
mandatário toma conhecimento da revogação;

- No mandato com representação o mandatário actua por


interesse, por conta e em nome do mandante (contemplatio
domini). Tem procuração (poderes representativos). Significa
que os efeitos jurídicos repercutem-se directamente na esfera
jurídica do mandante por mero efeito do negócio;

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António Filipe Garcez José

- o mandato com representação constitui uma facti species


negocial complexa em que se integram procuração e o
mandato.

- O mandato constitui apenas o mandatário no dever de


praticar actos jurídicos por conta do mandante (1157º),

- enquanto que a procuração se reconduz a uma mera


concessão de poderes representativos (art. 262º).

- A junção dos dois negócios distintos faz surgir, porém, um


dever novo, que é o de exercer o mandato em nome do
mandante (art. 1178º/nº 2).

- As causas de extinção da procuração estendem-se ao


mandato e vice-versa (art. 1179º e 265º/1)

Mandato sem representação (art. 1180º):

- O mandatário actua por conta do mandante mas em nome


próprio, ou seja, sem contemplatio domini.

- Os actos que pratica, os seus efeitos repercutem-se na sua


esfera jurídica e não na do mandante.

Existem duas teses de interpretação:

tese da projecção imediata


(com ou sem representação é igual)

- segundo a qual os efeitos se repercutem na esfera do mandante,


sem ter que passar na esfera de património do mandatário.

tese da dupla transferência

- segundo a qual os efeitos se repercutem na esfera do mandatário,


sendo necessário um negócio autónomo para os transmitir para o
mandante.

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António Filipe Garcez José
Entre estas existe uma posição intermédia...

- que sustenta a dupla transferência no mandato para adquirir e a


projecção imediata no mandato para alienar.

Ex.: - A mandata B para comprar a C.


Com a tese da dupla transferência a coisa passa de C para B
e depois de B para C.
Com a tese da projecção imediata a coisa passa
automaticamente de C para A.

- O C.C. só fala em mandato sem representação para adquirir.


Neste âmbito a lei portuguesa consagrou claramente a tese
da dupla transferência ao referir no art. 1180º que o
mandatário ao agir em nome próprio adquire os direitos e
assume as obrigações resultantes dos negócios que celebra

- no art. 1181º refere-se a obrigação do mandatário de transferir


para o mandante os direitos adquiridos em execução de
mandato.

- A efectiva aquisição pelo mandante depende de um novo


negócio de transmissão o qual o mandatário é obrigado a
celebrar.

- Caso o mandatário não proceda à transferência dos direitos


adquiridos o mandante goza da possibilidade de intentar
contra o mandatário uma acção pessoal relativa à obrigação
de transferência assumida por este e não uma acção real, de
reivindicação dos bens adquiridos.

- Relativamente à execução específica parte da doutrina e


jurisprudência tem-se pronunciado no sentido de que a
aplicação do art. 830º não pode ter lugar fora do contrato
promessa.

- Porém, a posição contrária é claramente prevalecente


permitindo a aplicação analógica do 830º ao mandato sem
representação desde que este, quando visar a aquisição de
imóveis, seja celebrado por escrito nos termos do art. 410º/2.

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António Filipe Garcez José
- Outra questão pertinente resultante desta dupla transferência
é a do risco relativo à execução dos bens adquiridos pelo
mandatário pelos seus credores uma vez que estes estão na
sua esfera jurídica antes de serem transmitidos ao mandante.
Porém, o legislador entendeu adoptar a instituição de
separação de patrimónios na esfera do mandatário. (art.
1184º). Esta impenhorabilidade depende porém da existência
de documento anterior à penhora dos bens e do não registo
da aquisição pelo mandatário em ordem a evitar expectativas
de satisfação de crédito nos seus credores.

E se o mandato for para alienar?

É de seguir a tese da dupla transferência admitindo 2 hipóteses:

1. Há uma transferência fiduciária de A para B para este


transmitir a C, transmitindo-se a B o risco.
2. Há a hipótese de convalidar o negócio por B, isto é, B
vende um bem que não é seu mas fica obrigado a
convalidar o negócio, comprando o bem a A para o
entregar a C.

- Na tese da dupla transferência fiduciária defende-se que a


transferência no mandato sem representação corresponde a
um negócio fiduciário, pelo qual o mandatário adquire
previamente a propriedade do mandante, com a obrigação de
a retransmitir a terceiro.

- O prof. Menezes Leitão defende esta teoria pois não


considera concebível que, sendo o mandato sem
representação, ele venha a permitir da mesma forma a
alienação de bens do mandante como se houvesse
representação.

- O mandante deverá previamente transferir fiduciariamente a


propriedade ao mandatário (art. 1167º a)), que assume o
encargo de a retransmitir a terceiro. Se não ocorrer essa
transferência prévia, deverá considerar-se que o mandatário
celebra uma venda de bens alheios (art. 892º), a qual poderá
ser convalidada mediante a aquisição do bem ao mandante
(895º), podendo o mandatário exigir que o mandante
convalide esse negócio ao abrigo do art. 1182º.

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CASOS PRÀTICOS
I)

Francisco pretendia fazer investimentos imobiliários no Algarve.


Para concretizar esses negócios contratou com Guilherme para que
este adquirisse em seu nome próprio os imóveis para Francisco o
qual lhe pagaria uma remuneração de 2.500€.
1. Guilherme adquiriu os imóveis mas recusa-se a entregá-los a
Francisco por ter quem lhe pague uma remuneração superior.
Como pode Francisco reagir?
2. Suponha agora que após Guilherme adquirir os imóveis,
Francisco não lhe paga a remuneração acordada. Guilherme
pretende saber a que tem direito.
3. E se Hélder, credor de Guilherme, ao saber que ele tenha
adquirido os imóveis os pretendesse executar para satisfazer
o seu crédito? Seria diferente no caso de se tratar de um
mandato para alienar?

Estamos perante um mandato sem representação. O mandatário


actua em nome próprio mas por conta do mandante.
Quando a lei refere que o mandatário tem proveito no negócio,
refere-se aos actos que pratica e não relativamente ao negócio
propriamente dito ( os actos podem ser remunerados
individualmente)
1. É um mandato para adquirir. O mandatário celebra o negócio
em seu nome com o terceiro. Mas os seus actos destinam-se a
repercutir os seus efeitos na esfera jurídica do mandante.
Como se faz isso?
Há duas teorias:
- A tese da dupla transferência – o bem na primeira fase passa
do terceiro para a esfera jurídica do mandatário e depois do
mandatário para o mandante.
- A tese da projecção imediata - defende esta tese que não há
dupla transferência porque não é essa a Intenção (vontade) do
mandante e do mandatário. Deve haver uma projecção
imediata do terceiro para o mandante. O terceiro não sabe da
existência do mandante. O terceiro vai exigir a
responsabilidade é ao mandatário. (esta teoria era válida antes
de existir o art.º 1181º/1)

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António Filipe Garcez José
O nosso código prevê a tese da dupla transferência. Como é
que o mandatário faz a transmissão para o mandante? Como
os actos que pratica são para o mandante e estão sujeitos à
ratificação do mandante, esse problema resolvia-se com a
ratificação do mandante. Mas não faz sentido esta posição
(eram necessários dois negócios). O mandatário comprou, o
mandatário vende. Mas esta ideia inutiliza o mandato.
- Teoria de Galvão Teles: - o acto que o mandatário está
obrigado a praticar não está tipificado na lei. O objectivo é o
mandatário alienar. É um negócio de alienação. É o negócio
específico deste contrato. Por isso é um negócio alienatório
específico. Esta obrigação que existe é uma verdadeira
obrigação. O mandatário é obrigado a celebrar esta obrigação.
Esta obrigação é assumida aquando da celebração do
mandato. Assumiu duas obrigações: 1ª - cumprir o mandato;
2ª - se cumprir o mandato transmitir os bens para o mandante.
O que está presente no mandato é uma dupla obrigação. - A
obrigação de cumprir o mandato; - O que está inerente é o de
alienação especifica do mandatário para o mandante (é uma
promessa de alienação). Se o mandatário não cumprir esse
negócio o mandante pode invocar acção de incumprimento do
contrato. Pode também recorrer á execução especifica – 830º
C.C... É inerente no mandato uma promessa de venda
especifica ao mandante. O tribunal declara uma alienação
específica. Mas para aplicar o art.º 830º C.C., para além desta
fundamentação, requer ainda a presença de verdadeiros
requisitos formais (o contrato promessa validamente formado.
Tem subjacente as regras do art.º 41º C.C.). Para se recorrer às
regras da execução específica é necessário que as regras do
art.º 410º/1 e 2 estejam respeitadas (as do 410º/3 não fará
sentido). A forma do art.º 410ª é só necessário para se recorrer
ao art.º 830º. A analogia do art.º 410º com o mandato sem
representação é de que o mandatário assumiu a promessa de
vender, adquirindo o bem, ao mandante. Não se podendo
recorrer à execução especifica do art.º 830º recorre-se à acção
de incumprimento do contrato.

2. É um contrato oneroso.
É oneroso quando: as partes o estipulem; o mandatário faça
disso a sua profissão.
O mandante tem de pagar – art.º 1168º/f).

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O mandatário tem direito de retenção nos termos do art.º
755º/c).

3. O art.º 1184º não coloca em causa a tese da dupla transferência


porque os bens entram na esfera jurídica do mandatário para
ele cumprir o mandato. Não há um verdadeiro
enriquecimento patrimonial do mandatário. Os bens estão na
sua esfera jurídica transitoriamente. Se o credor pudesse
executar os bens estaríamos a prejudicar o mandante. Os bens
nesta fase estão na situação de impenhorabilidade transitória
ou temporária. O credor do mandatário pode penhorar os
bens que tenha para alienar? Temos de ver as condições do
mandato porque o art.º 1184º e 1181º referem-se a mandatos
para adquirir.
Há duas posições doutrinárias para resolver esta situação
porque a lei é omissa.
- Teoria de Antunes Varela: - nos casos de mandato para alienar
quando o mandatário vende o bem a terceiro não refere a
existência do mandato. Aqui vigora a projecção imediata, já se
não verificando a tese da dupla transferência.
Mas assim não cairíamos numa situação de venda de bens
alheios? – 892º C.C.. Não porque para ser vender bens alheios
o sujeito não vende o bem que é seu e também não tem
legitimidade para a venda.
Criticas: - se assim é não há a distinção entre o mandato com e
sem representação. No caso de venda de imóveis para a
escritura, não havendo procuração (mandato sem
representação) não poderá o mandatário ir à escritura.
- A tese tem de ser a da dupla transferência mas com forma
especial: - o bem passa para esfera jurídica do mandatário se e
quando ele vender ao terceiro. A transmissão do mandante
para o mandatário fica sob condição. Só adquiriu o bem se o
vende a terceiro. O bem entra e sai simultaneamente. A dupla
transferência actua em simultâneo. Se o mandatário não
vender o bem o bem não chega a entrar na esfera jurídica do
mandatário.
- Então o credor pode executar os bens que o mandatário tem
para alienar? Não porque o bem só entra na esfera jurídica do
mandatário quando este o vende. Se o comprar ao mandante
para depois os vende fica sem justificação para se poder

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António Filipe Garcez José
esquivar aos credores. Assim não estávamos na presença do
mandato.

No que diga respeito ao crédito e dividas que nasçam do contrato


sem representação:
- o terceiro só tem crédito perante o mandatário
- o mandatário nunca poderá dizer ao terceiro que não tem
nada a ver com isso porque ele esteve a exercer o mandato
sem representação.
- Os créditos que nasçam do mandato, o mandante pode
substituir-se ao mandatário. É uma verdadeira sub-rogação
directa.

EMPREITADA art. 1207º e ss.


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(baseado num trabalho de Ana Ramos aluna n° 20021287)

 Não devia estar no Código Civil.

 É uma actividade que exige uma profissionalização.

 Qualificada como um contrato comercial porque é


estabelecido com base numa organização estável (art. 236 C.
Comercial).

 É um contrato oneroso porque é um contrato comercial (é


para realizar uma obra, e se não fosse oneroso era um contrato de prestação
de serviços).

 Não tem um regime único, pois existe também o regime de


empreitada de obras públicas - é um regime especial de direito
administrativo e consta do DL 59/99.Trata-se de um regime bastante mais
protector para o dono da obra e tem vindo a ser aplicado a particulares (direito
privado).

 Nada impede as partes de aplicar um regime diverso do


C. Civil mesmo em contratos entre particulares, no qual se
podem aplicar as regras da empreitada de obres públicas.

 As normas civis (obrigacionais) são supletivas e salvo as normas


imperativas nada impede de se aplicar o DL 59/99.

O que é que está em causa neste tipo de contrato ?

a realização de uma obra material; envolve bens móveis, imóveis,


construção nova, modificação ou demolição do bem porém ...

o conceito de obra é muito polissémico;

podemos aqui abranger as obras intelectuais?

- Na doutrina existem duas posições divergentes:

 Para Antunes Varela e Menezes Leitão, a empreitada não


abrange a obra intelectual

 Para F. Correia pode ser abrangida tendo em conta o que tem


vindo a ser adoptado na doutrina estrangeira.

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José

 No contrato de empreitada a obrigação assumida pelo


empreiteiro é um resultado e o dono da obra só paga pelo
resultado.

 O empreiteiro não está vinculado a nenhum poder e não


está vinculado juridicamente ao dono da obra.

 A fiscalização é apenas para ver se a obra está a ser feita


conforme o que foi convencionado.

 O dono da obra tem a obrigação de pagar o preço.

 Os problemas principais surgem com a desconformidade


entre o contratado e o resultado.

Características do contrato de empreitada:

- Obrigacional (o contrato em si não produz efeitos reais


constitui uma excepção ao art. 408º/2)

- Sinalagmático

- Oneroso

- Consensual (não formal)

- Cumutativo (não é aleatório)

- Prazo – art. 777º/2

- Tipificado na lei como contrato de prestação de serviços –


1155º

Direitos do dono da obra:


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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José

- Adquirir e receber a obra.

- Fiscalizar a obra (art.1209º) - Apesar da doutrina divergir


Menezes Leitão defende que a fiscalização deve ser
entendida como injuntiva-imperativa, pois se a excluirmos
este contrato será de compra de um bem futuro.

Deveres do dono da obra:

 Pagamento do preço (é a obrigação principal que deve ser cumprida no


acto de aceitação da obra) – art.1211º.

Existem várias modalidades de pagamento do preço:

- preço global;
- por unidade de construção;
- por tempo de trabalho;
- por percentagem..

 Não perturbar – 1209º/1, parte final

 Fornecimento supletivo de materiais (supletivamente já que


normalmente são fornecidas pelo empreiteiro)

 Verificação da obra – art. 1218º (verificação e comunicação) – a


falta leva à aceitação tácita.

Direitos do empreiteiro:

 Receber o preço

Será que o empreiteiro goza do direito de retenção?


Poderá o empreiteiro reter a obra até ao pagamento do preço?

– o art.º 755º nada diz.

A doutrina diverge nesta questão:

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
- Para Antunes Varela o empreiteiro não goza do direito de
retenção;

- Para F. Correia o empreiteiro goza de direito de retenção, isto


porque, se atendermos que as despesas de reparação gozam
do direito de retenção (ex. reparação de um relógio), por maioria de
razão as despesas de construção possibilitam o direito de
retenção. Trata-se de uma interpretação extensiva do art. 754º
C.C..

- Menezes Leitão sustenta a atribuição de direito de retenção


ao empreiteiro

- O direito de retenção do empreiteiro tanto pode ser exercido


como coisas da propriedade do dono da obra, como coisas
da propriedade de terceiro, desde que constituam objecto da
empreitada.

- De salientar que o direito de retenção não é apenas uma


garantia legal mas também uma causa legítima de não
cumprimento.

Deveres do empreiteiro:

 Execução da obra – 1208º

 Fornecer os materiais – 1210º

Quem é o titular do direito de propriedade da obra? art. 1212º


(derrogam-se as regras da acessão)

No caso de empreitada de construção de coisa móvel

- se os materiais forem fornecidos no todo ou na sua maioria


pelo empreiteiro, então o risco corre por conta deste, sendo a
propriedade transferida para o dono da obra no momento da
aceitação da coisa; (art. 1212°/ 1)

- No caso dos materiais serem fornecidos pelo dono da obra a


propriedade continua dele, assim com é sua propriedade a
coisa logo que esta esteja concluída; (art.1212°/ 1)

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APONTAMENTOS SEM FRONTEIRAS
António Filipe Garcez José
No caso de empreitada de construção de imóveis

- sendo o solo ou superfície pertença do dono da obra, a coisa


é sempre propriedade deste mesmo que os materiais sejam
fornecidos pelo empreiteiro (que vão sendo adquiridos pelo
dono da obra à medida que vão sendo incorporados no solo
(art. 1212°/2)

Vicissitudes da empreitada:

A subempreitada – 1213º CC
Trata-se de um subcontrato semelhante ao previsto no art. 264º
(substituição do procurador)

Numa subempreitada quem responde pelos defeitos da obra?

Se o dono da obra não autorizou a subempreitada é como se o


subempreiteiro nem existisse.

- O dono da obra exige responsabilidade ao empreiteiro e o


empreiteiro depois terá direito de regresso sobre o
subempreiteiro.

- O empreiteiro não pode afastar a sua responsabilidade


perante o dono da obra.

- Neste caso não há direito de retenção para o subempreiteiro


porque este não tem relação jurídica com o dono da obra
(Galvão Teles). Ao exercer o direito de retenção iria afectar o
dono da obra quando este nem sequer tinha conhecimento da
sua existência.

- Desta forma nada impede o empreiteiro de fazer


subempreitada, mesmo sem autorização do dono da obra,
porém fica apenas o empreiteiro responsabilizado perante o
dono da obra.

Se o dono da obra autorizou a subempreitada, então o


subempreiteiro é responsável mas o empreiteiro também o é.

- O dono da obra pode exigir aos dois a responsabilidade pelo


incumprimento.

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- Neste caso já pode fazer sentido o direito de retenção para o


subempreiteiro. O direito de retenção faz-se perante um
direito de terceiro mas na mesma relação jurídica. Ao aceitar
o subempreiteiro na obra e ao aceitar a obra faz com que esta
passe para a sua esfera jurídica o que também faz com que o
dono da obra entre na relação jurídica com o subempreiteiro.

Alterações e obras novas: art.º 1214º e ss.

Apesar do art. 1208º estabelecer que o empreiteiro deve executar a


obra conforme esta tiver sido estabelecida, admite-se que possam
ocorrer alguns imprevistos/alterações à obra.

Alterações da iniciativa do empreiteiro (art.1214º)

- alterações sem autorização do dono da obra, unilaterais,


que são proibidas (nº 1) e gravemente sancionadas (nº 2) já
que o empreiteiro perde o direito ao preço suplementar e o
direito a invocar o enriquecimento sem causa por parte do
dono da obra.

- alterações com autorização do dono da obra (1214º/3 )

Neste caso é necessário ter em conta os seguintes aspectos:

- Se para a empreitada tiver sido fixado um preço global, a


autorização tem que ser dada por escrito com a fixação do
aumento de preço, se assim não for o empreiteiro só pode
exigir do dono da obra indemnização pelo valor do
enriquecimento.

- Se tiver sido fixado um preço por volume de construção a


autorização à alteração pode ser verbal.

Alterações necessárias (art. 1215º)


em consequência de direitos de terceiro ou de regras técnicas, que
torna necessário a introdução de alterações ao plano
convencionado.

- Na falta de acordo compete ao Tribunal fixar o preço e prazo.

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- Se em consequência das alterações o preço for elevado em
mais de 20%, o empreiteiro pode denunciar o contrato e exigir
uma indemnização equitativa.

Alterações exigidas pelo dono da obra (art.1216º)


regime diferente ao estabelecido no art. 406º (Eficácia dos contratos);

- O dono da obra pode exigir alterações desde que o valor não


exceda a quinta parte do preço estipulado e não haja
modificação da natureza da obra;

- o empreiteiro tem direito a um aumento do preço


correspondente ao acréscimo da despesa e trabalho, bem
como ao prolongamento do prazo.

- Se das alterações resultar uma diminuição do custo, o


empreiteiro mantém o direito ao preço estipulado, com
dedução das despesas que deixa de ter.

Alterações posteriores à entrega da obra (art.1217º)

- As alterações efectuadas depois da entrega da obra, ou com


autonomia em relação às previstas no contrato, não estão
cobertas pelo regime da empreitada;

- Estas alterações são obras realizadas de má fé em terreno


alheio, em que o dono da obra pode exigir a sua eliminação,
se for possível ou indemnização pelo prejuízo;

- Segue o regime da acessão previsto no art. 1341º.


(Exemplo: contrato para construção de moradia em que o empreiteiro resolve
acrescentar uma piscina não acordada previamente, nem autorizada)

-
Defeitos da obra e responsabilidade do empreiteiro
depois da obra feita – art. 1218º e ss.

Impossibilidade de execução da obra – 1227º

Risco pela perda ou deterioração da obra – 1228º

Extinção do contrato – 1229º

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António Filipe Garcez José

Casos Práticos

A acordou com B a construção de uma moradia a realizar no


terreno de B.
Acordaram que os materiais seriam de 1ª qualidade e fornecidos
por B.
Estipularam o preço de 500€ por metro quadrado de construção.
A casa teria 250 m2.
Durante a construção e ao implantar a casa no solo B
apercebeu-se que a dimensão do terreno permitia construir mais
uma divisão. Questionou A por conversa telefónica sobre essa
possibilidade tendo este respondido afirmativamente.
Concluída a obra B exige um aumento do preço correspondente
ao valor daquela divisão mas A recusa-se a pagar invocando que
não autorizou por escrito nem estabeleceu qual seria o aumento
do preço.

Resolução

Há duas formas de se estipular o preço numa empreitada:

a) a determinação do preço global, o que significa que


não está determinado o preço para a parte especifica
mas sim para a parte global.

b) A determinação do preço pela unidade a executar.

 Aqui o preço foi determinado pela unidade a


executar. (por metro quadrado).

 A aplicação à contrário do art.º 1214º/3 leva-nos


à determinação do preço pela unidade a
executar.

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Daqui se conclui que...

 O empreiteiro terá assim direito ao pagamento do que alterou


na medida do preço por m².

 Não há lugar ao enriquecimento sem causa.

 A fixação do preço pelo preço global importa que a alteração


tenha que ser escrita porque senão não há critério para
avaliar as alterações (só nesta situação havia lugar a enriquecimento
sem causa).

 O preço por unidade de construção é consensual pois não


carece de forma e portanto o negócio era válido.

 Alterações à obra feitas por iniciativa do empreiteiro têm de ter


autorização do dono da obra, neste caso teve oralmente a
autorização aquando da conversa telefónica.

Vejamos agora outra situação ...

B sem nada dizer a A resolveu aumentar o tamanho da cozinha


para o dobro e fazer ao lado da casa um campo de ténis que
sabia ser do agrado de A. Este apenas tomou conhecimento
quando a obra lhe foi entregue e exigido o aumento do preço.
A pretende ficar com essas alterações mas recusa-se a pagá-las.

Relativamente ao regime das alterações há que distinguir:

- alterações ao plano convencionado ou...

- obras novas.

Obras novas
são obras com autonomia relativamente à obra contratada.

Alteração
Uma obra que não tenha autonomia tem de ser considerada como
alteração

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Sendo feita uma alteração sem autorização do dono da obra

- aplica-se o art.º 1214º/2. e é tida como obra defeituosa não


ficando este obrigado a pagá-la.

Relativamente a obras feitas com autonomia funcional não se


aplica o regime das alterações, aplica-se o art.º 1217º/1.

- Trata-se de uma obra nova e portanto tem autonomia,


podendo o dono da obra exigir a sua eliminação, não
prevendo a lei a possibilidade de o dono ficar com a obra.

Na nossa hipótese ...

 houve a construção de obra nova e o dono quer ficar com


ela sem pagar,

 porém a obra é autónoma e se o dono da obra ficar com a


obra sem a pagar está a entrar numa situação de
enriquecimento sem causa.

 Alguns autores falam de que se pode recorrer às regras da


acessão industrial imobiliária – art.º 1341º,

porém ...

 esta só se podia aplicar se o terreno fosse do dono da obra.


Mas o terreno é do empreiteiro logo tem de se invocar as
regras do enriquecimento sem causa e não as regras da
acessão.

 Se o dono da obra quisesse o campo de ténis teria de pagá-lo


de acordo com o enriquecimento sem causa.

 Se as partes estivessem de acordo podiam fazer novo


contrato relativamente ao campo de ténis.

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António Filipe Garcez José

Vejamos mais uma situação ...

Finda a obra B comunicou a sua conclusão a A. Este passou a


ocupar a casa sem ter verificado se estava de acordo com o
projecto. Um mês depois tendo recebido a visita de um amigo
engenheiro civil, foi informado que os materiais utilizados eram
de 2ª qualidade. Que direitos tem?

 Qualquer desconformidade com o plano convencionado é um


defeito.

 A verificação é um direito que o dono tem, funcionando como


um direito e como um ónus.

 Nos termos do art.º 1218º/5 se não tiver feito a verificação


aceitou sem reservas, o que implica a aceitação da obra
com os defeitos aparentes.

Distinção entre defeitos aparentes e defeitos ocultos


A distinção de defeitos aparentes dos defeitos ocultos é feita
segundo os critérios do conhecimento de um homem médio
colocado naquela situação. Se o homem médio conseguisse
descobrir os defeitos seriam aparentes, caso contrário seriam
ocultos.

 No caso concreto devem ser entendidos como


defeitos ocultos, - pois os defeitos estão nos materiais e não
se descortinam facilmente.

Assim ...

 o dono da obra pode denuncia-los 30 dias após o seu


conhecimento.

 Os defeitos aparentes - têm de ser identificados logo ao


passo que os ocultos podem ser denunciados posteriormente.

 O dono da obra pode denunciar os defeitos nos termos do


art. 1220º/1.
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 Em 1.º lugar o dono da obra tem direito à eliminação dos


defeitos, se for possível (art.1221/1)

Se as despesas de eliminação forem desproporcionadas

 cessa esse direito conforme estipula o artº1221/2, (o que


acontece no nosso caso concreto), havendo então lugar a
uma redução do preço (art. 1222º).

Se o defeito for tal que torne o bem inapto à sua finalidade

 O dono da obra tem direito à resolução do contrato.

 Para além da redução do preço pode ainda pedir


indemnização pela parte que não for coberta pela redução do
preço . (art. 1223°)

B sabendo que A se prepara para não pagar a obra pretende


não lhe entregar a casa. Pode fazê-lo? Como pode A adquirir a
propriedade da casa?

A obra é do empreiteiro, pois foi construída no solo dele, logo não


há direito de retenção. O direito de retenção só se aplica a bens de
terceiros.
Nos casos em que elas se potenciam:
Para Antunes Varela: no art.º 754º não cabe a situação do
empreiteiro;
Para Menezes Cordeiro, Galvão Teles, Pedro Martinez: - há
direito de retenção. Aplica-se a interpretação extensiva do
art.º 754º. Se por obra/reparação pode reter por construção
ainda mais.

Porque a propriedade era do empreiteiro, como é que o dono da


obra pode adquirir a propriedade?
O art.º 1212º não resolve a questão.
O dono da obra deveria ter celebrado um contrato de promessa de
venda do solo. Depois de construída a obra, o dono da obra pode
obrigar o empreiteiro a vender-lhe o solo pois a casa está paga na
empreitada.
A melhor forma é celebrar dois contratos: um de empreitada e outro
de promessa de venda do solo.

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O contrato de empreitada não é um contrato real porque quando se
celebra o contrato ainda não há nada.
A propriedade da obra determina-se pela propriedade do solo.
Mesmo que não seja o dono da obra a fornecer os materiais ele vai
adquirindo a propriedade sobre eles à medida que vão sendo
aplicados na obra.

II)
A vende a B, pelo preço de 30.000 contos uma casa em ruínas
da qual era comproprietário juntamente com os seus três
irmãos.
B com o intuito de recuperar a moradia para a tornar habitável
celebrou com C, construtor civil, um contrato para reparação
do imóvel.
Acordaram que o preço da obra seria 20.000c e que os
materiais necessários para a sua execução seriam fornecidos
por B.
Após ter iniciado a obra e com a sua execução a meio ocorreu
um violento terramoto que provocou um desmoronamento total
da mesma. C informou B do sucedido e pretende que este lhe
forneça novos materiais lhe pague o trabalho já realizado para
que ele possa continuar a executar a obra. B exige que C
conclua a obra mas não lhe fornece mais materiais.

O art.º 1227º é incompatível com o art.º 1228º.


O art.º 1227º é relativo a casos de impossibilidade absoluta.
Aqui se o objecto é recuperar a obra e havendo uma destruição
total não é possível recuperar. Tem de se construir tudo de novo.
Assim aplica-se o art.º 1227º. Se se entendesse que era uma
construção nos termos do art.º 1212º afere-se quem é o dono da
obra.
O dono da obra é B. O dono da obra suporta o risco. Mas que
risco? O dono da obra suporta os riscos dos materiais.
O empreiteiro suporta o risco da mão de obra, do trabalho.
É um posição doutrinária de Pedro Martinez. Resulta do art.º 1227º
que o empreiteiro tem direito ao trabalho que já realizou. O art.º

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1228º na diz. Portanto o empreiteiro tem de suportar o risco do
trabalho. O dono da obra é obrigado a fornecer os materiais, porque
foi isso o estipulado no contrato. Se o dono da obra não fornecer os
materiais não é uma impossibilidade absoluta do art.º 1227º. Se ele
não fornecer os materiais o empreiteiro não pode cumprir o
contrato. O empreiteiro invoca a excepção do art.º 801º e não
cumpre por culpa do dono da obra.

Suponha que ao construir a moradia C atendendo às


dimensões do terreno e sem nada dizer a B constrói uma
piscina ao lado da casa. Ao entregar a obra exige a B um
aumento do preço de 10.000c correspondente ao preço da
piscina. B aprova a ideia da piscina mas recusa-se a pagar o
preço por a não ter autorizado.

A piscina é uma obra com autonomia. Tendo autonomia enquadra-


se dentro do art.º 1217º. O art.º 1217º é omisso quanto à aceitação
da obra. O problema pode resolver-se de duas formas: - faz-se
novo contrato se as partes assim o entenderem relativamente à
piscina. – invoca-se as regras do enriquecimento sem causa
conjugando com as regras da acessão industrial – 1341º - 743º. O
empreiteiro não tem direito ao preço que pede mas o dono da obra
também não pode ficar com a piscina sem pagar nada. Terá de ser
ressarcido o empreiteiro com obediências às regras do
enriquecimento sem causa. O art.º 1341º só se aplica se a
construção do imóvel for feita em solo do dono da obra.

Imagine que 3 anos após B se ter instalado na casa esta ruía


parcialmente por um vício do solo que ambos desconheciam.
B vem exigir a C que este lhe repara a moradia e ainda os
danos causados nas mobilais. C refere que não tem qualquer
responsabilidade no sucedido e que não paga.

O dono da obra tem o direito a exigir do empreiteiro a


responsabilidade do art.º 1225º. O prazo de cinco anos começa a
contar a partir da data da entrega.
O empreiteiro tem de recuperar o imóvel e a reparar os prejuízos
causados.
Regra geral o dono da obra tem 30 dias para denunciar os defeitos
– 1220º. Nestes casos do art.º 1225º tem um ano para denunciar os
defeitos. É uma excepção à regra geral do art.º 1220º.

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Questão relativa à compropriedade:


E se os irmãos de A ao tomarem conhecimento da venda que
este fez vierem a reclamar a B que este lhe entregue o imóvel e
B se recusar por desconhecer que A não era o único
proprietário e por já ter realizado as obras. Que direitos têm os
comproprietários de A e que direitos assistem a B?

É uma situação de compropriedade – art.º 1408º/2, aplicam-se as


regras da venda de bens alheios – art.º 892º e ss.
Os direitos do comprador são: - ou exige a restituição do preço –
894º juntamente com indemnização ou – exige a convalidação do
contrato – 895º.
Esta ultima hipótese só é possível se os outros comproprietários
assim o desejarem. Como aqui não é o caso pois eles exigem a
restituição do imóvel, ele é obrigado a restituir o imóvel. Só não era
obrigado a restituir o imóvel se fosse o vendedor alegar a nulidade
do negócio – 892º/2.
O comprador, porque está de boa fé tem direito a exigir o
pagamento das benfeitorias realizadas e o vendedor é obrigado ao
pagamento das mesmas nos termos do art.º 901º.
A indemnização é cumulável com qualquer pedido.

Questão relativa a Mandato:


Para comprar as telhas para a casa B contratou com E,
profissional do ramo da construção civil, que este adquiriria as
telhas para B. No entanto as telhas seriam compradas em
nome de E para que este pudesse beneficiar de preços
especiais. Após ter adquirido as telhas E pretende ficar com
elas para si referindo que não compraria outras. Como pode B
reagir atendendo a que tem urgência na conclusão da obra?

RESPOSTA:

Estamos na presença de um contrato de mandato. É um mandato


sem representação porque o mandatário compra em seu próprio
nome. O mandatário é obrigado a transmitir para o mandante o que

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adquiriu – 1161º. Quando o mandatário celebrou o contrato assumiu
duas obrigações: - cumprir o mandato; - quando cumprir o mandato
transferir o bem para o mandante. Por aqui podemos recorrer à
execução específica e com ela obter a declaração judicial que
substitua a vontade do mandatário. Para se recorrer à execução
especifica é necessário que o mandato tenha sido revestido da
forma do contrato promessa, nos termos do art.º 410º/1 e 2. Se
assim não for não pode recorrer-se à execução especifica mas sim
às outras – acção de incumprimento – art.º 817º

... será que o Tonybrussel vai


respeitar o nosso contrato !?

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