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TAFONOMIA: PROCESSOS E
AMBIENTES DE FOSSI L1ZAÇÃO
Observações tafonômicas são tão antigas quan- incluindo as causas de morte de um determinado or-
to as paleontológicas, entretanto, a Tafonomia (do ganismo, sua decomposição, transporte e soterramento;
grego: taJos = sepultamento; nfJmos = leis), desemo!- b - Diagênese dos fósseis, reunindo os processos fí-
'leu-se independentemente na Paleontologia de sicos e químicos que alteram os restos esqueléticos após
Invertebrados, Vertebrados e Paleobotân.ica e, de modo o soterramento (Seilacher, 1976; Flessa et alii, 1992).
tardio, na Micropaleontologia e Palinologia. Atualmen- Alguns autores incluem também, no âmbito da Tafo-
te, ciências relacionadas à Paleontologia, como a .\r- nomia, o estudo da Necrólise, abrangendo a morte e
queologia e a Paleoantropologia, têm demonstrado decomposição dos organismos (Weigelt, 1927; Cadée,
também grande interesse pela Tafonomia (Brain, 1969: 1991; Allison & Briggs, 1991). Outros consideram ain-
Behrensmeyer, 1976; Hill, 1979). Entretanto, somen- da, na análise tafonômica, a fase de soerguimento tectô-
te a partir da década de 1980 é que houve, na literatu- nico e a influência das técnicas e métodos de coleta e
ra paleontológica internacional, um aumento preparação dos fósseis (Clark et alii, 1967). A figura
exponencial no número de artigos publicados referen- 3.1 resume esquematicamente algumas das relações
tes à Tafonomia, termo proposto por Efremov (1940) entre as áreas e disciplinas acima mencionadas.
para designar o estudo das "leis" que governam a tran- Um dos aspectos mais apaixonantes da Tafono-
sição dos restos orgânicosda biosfera para litosfera. Es:a mia refere-se justamente a sua natureza interdisciplinar,
definição é, no entanto, muito ampla consistindo, em envolvendo conhecimentos paleontológicos, geológi-
parte, em um sinônimo dos termos processos de cos, biológicos e ecológicos e a ampla escala (tempo-
fossilização, paleobiologia, bioestratinomia e ral/geográfica) de análise dos dados. Seilacher (1970)
actuopaleontologia. De acordo com a moderna defi- foi o primeiro autor a tratar os restos orgânicos como
nição apresentada por Behrensmeyr & Kidwell (1985 l. partículas sedimentares, as quais estão sujeitas aos
a Tafonomia refere-se ao estudo dos processos de pre- mesmos processos de transporte, concentração e sele-
servação e como eles afetam a informação no registro ção dos demais c1astos, no ciclo exógeno, sofrendo,
fossilífero, cOi-npreendendo duas amplas subdivisões: portanto, importantes distorções ou tendenciamen-
a - Bioestratinomia, que engloba a história tos no registro da biota. Neste trabalho, ele empre-
sedimentar dos restos esqueléticos até o soterramenw, gou apropriadamente os termos retrato de morte
20 Paleontologia
Eventos
Soerguimento
~
Diagênese
~ Figura 3.1 Relações entre a
Tafonomia, suas subdivisões e os even-
Soterramento
tos responsáveis pela origem das con-
~ centrações fossilíferas.
Transporte
~
Morte
t
Nascimento
campos, possibilitando, por exemplo, a identificação habitat time-averaged assemblage", Kidwell &
de eventos sedimentares e causa mortir d~ organismos Bosence, 1991)
fósseis, permitindo reconstituições paleoecológicas Formada por espécimens autóctones que não
acuradas (Simões & Kowalewski, 1998) ou auxiliando foram transportados para fora de seu hábitat original.
Tafonomia: Processos e Ambientes de Fossilização 21
d) Assembléia alóctone (= assembléia transportada) associações bióticas. Portanto, uma coleta malfeita pode
Composta por espécimens transportados para fora agravar substancialmente este problema, limitando seu
de seu hábitat de vida. estudo.
lente indicador de sedimentação rápida (episódica), sem bioelastos alongados, alinhados perpendicularmente à
significativo distúrbio junto ao substrato. Contrariamen- direção da corrente. Orientação polimodal decorre da
te, inversão completa do exoesqueleto de corais, por atuação de fluxo com velocidade inferior àquela neces-
exemplo, reflete a atuação de fortes ondas e correntes sária para movimentar os bioclastos ou da presença de
jumo ao fundo, sugerindo a ocorrência de eventos de fluxo turbulento durante a formação da assembléia
tempestade. O grau de transporte e reorientação pode fossilífera. Durante o transporte, a interferência entre
ser determinado a partir da análise de diferentes atribu- os bioelastos ou entre estes e outras partículas (bio-
tos bioestratinômicos (e.g., grau desarticulação/articula- elásticas ou clásticas) pode dar origem também a um
ção dos bioclastos, arredondamento, corrosão, padrão polimodal (Kidwell et alii, 1986; Kidwell &
bioerosão), bem como pelo arranjo tridimensional dos Bosence, 1991).
bioelastos na matriz sedimentar.
Não existe ainda nomenclatura consistente para
O arranjo tridimensional dos bioelastos pode descrição da distribuição dos bioclastos observados em
ser analisado a partir da disposição dos restos esque- corte (seção). Os termos concordante, perpendicular
léticos nos sedimentos, em planta ou seção (corte). e oblíquo, têm sido utilizados, respectivamente, para:
Este arranjo depende de diversos fatores, como o pro- a - bioelastos com eixo longo alinhado paralela ou
cesso de transporte dos bioelastos e suas característi- subparalelamente em relação ao plano de acamamento
cas hidrodinâmicas; da rotação e desarticulação du- (concordante), b - bioclastos dispostos na matriz em
rante o processo de compactação; das características ângulo reto, em relação ao plano de acamamento (per.
ecológicas e necrológicas dos organismos produtores pendicular) e c - bioclastos exibindo posições interme-
de bioelastos e a atuação de organismos predadores, diárias (oblíqüo) (figura 3.5). Adicionalmente, os bio-
necrófagos ou bioturbadores que modificam a dispo- c1astos convexos (conchas de biválvios, braquiópodes)
sição dos restos esqueléticos já incorporados ao podem estar distribuídos concordante mente na matriz,
substrato. Simões et alii (1999) demonstraram, por com a convexidade voltada para baixo ou para cima. A
exemplo, que conulariídeos devonianos preservados tabela 3.2 dá uma idéia dos processos que originam as
em posição de vida, nos sedimentitos da Formação feições bioestratinômicas acima.
Ponta Grossa, podem ter tido sua posição original mo-
dificada (com o eixo orientado 90° em relação ao pla- B.3 Outras feições bioestratinâmicas
no de acamamento) pela ação de organismos no inte-
rior do substrato, uma vez que as formas que estão Embora agentes biológicos possam causar de-
preservadas horizontalmente ocorrem nos estratos com sarticulação dos restos esqueléticos, ·esta feição re-
alto índice de bioturbação. sulta, normalmente, do retrabalhamento, a partir de
O estudo da orientação em planta (= azimutal) processos físicos, especialmente do transporte. Tem
dos bioelastos fornece importantes dados a respeito da sido notado que a desarticulação diminui com o de-
dinâmica deposicional, particularmente com respeito créscimo da eTtergia do meio, tanto que, nos ambien-
ao sentido de fluxo das paleocorrentes. Normalmen- tes marinhos de plataforma aberta, a proporção de
te, os bioelastos alongados (conchas de gastrópodes, valvas articuladas de bival\-es é maior do que nos
tentaculites, troncos, ossos longos) são mais apropria- hábitats de águas rasas (Henderson & Frey, 1986). Já
dos para este tipo de estudo. As conchas de o soterramento rápido, as condições anóxicas e a bai-
gastrópodes, por exemplo, orientam-se com o ápice xa energia do meio parecem ser os responsáveis pela
da concha voltada contra a corrente, enquanto as ocorrência de restos esqueléticos articulados. Speyer
espículas de esponjas orientam-se com o ápice apon- & Brett (1986) e Brett & Seilacher (1991) destacam
tando o sentido da corrente. Ossos longos ficam orien- que espécimens bem articulados parecem ocorrer pre-
tados paralelos ao fluxo, com a epífise maior ou mais ferencialmente nos ambientes caracterizados, freqUen-
larga apontando contra a corrente (Voorhies, 1969; temente, por soterramente catastrófico ou por baixas
AbJer, 1984). temperaturas e anoxia. Tais condições inibem ou dimi-
A orientação azimutal dos bioelastos pode ser nuem a ação de organismos necrófagos da infauna ou
representada em histogramas ou diagramas de roseta. epifauna e o curto período de tempo entre a morte e o
Diversos padrões de orientação dos bioelastos podem soterramento impede que as valvas se desarticulem.
ser reconhecidos: unimodal, bimodal e polimodal (fi- No caso de vertebrados, uma possibilidade de
gura 3.4). Orientação unimodal dos bioelastos indica a preservação de esqueletos completos, tanto em siste-
atuação de correntes unidirecionais, enquanto que a ori- mas deposicionais continentais quanto marinhos, en-
entação bimodal reflete a atuação de correntes volve transporte de carcaças inteiras. A produção de
oscilatórias (ondas, correntes de maré), estando os gases intestinais durante a necrólise causa um inchaço
24 Paleontologja
e uma conseqüente diminuição na densidade das carca- Abrasão, bioerosão e dissolução ocorrem,
ças, sendo levadas pelos rios ou pelas correntes litorâ- primeiramente, nos restos esqueléticos que permane-
neas. Observações atualistas e interpretações de regis- cem expostos na interface água/sedimento. por pro-
tros fossilíferos permitem visualizar transporte por longados períodos de tempo. Estes processos, contu-
flutuação, por períodos de dias e até semanas, envol- do, não atuam com a mesma intensidade em todos os
vendo dezenas a centenas de quilômetros de desloca- ambientes aquáticos. Em condições de águas muito
mento (Schafer, 1962, Wood et alii, 1988). Com o avan- rasas, agitadas, abrasão mecânica é o principal agente
ço dos processos de necrólise, os tecidos se rompem, de desgaste dos restos esqueléticos (Brett & Baird,
havendo escape de gases. Neste momento, as carcaças 1986). Adicionalmente, experimentos em laboratório
afundam, sendo soterradas pela sedimentação. O re- demonstraram que areia grossa, mal selecionada, é um
gistro paI conto lógico mostrará carcaças inteiras, relati- importante agente abrasivo, desgastando e destruin-
vamente completas e articuladas, preservadas de ma- do conchas de biválvios em poucas horas (Driscoll &
Tafonomia: Processos e Ambientes de Fossilização 25
SELEÇÃO
CLASSES DE TAMANHO
Hi 4 16 32 64 128256
I I I I
-1-2-3-4-5-6-7-8
H mm
(/J
40 -
%
20 -
o A
BEM SELECIONADO
40-
%
20-
o B
BIMODAL
%
20-
o c
MAL SELECIONADO
Mytilus
Figura 3.3 Grau de seleção dos bioclastos na matriz
sedimentar, modificado de Kidwell & Holland (1991).
~. ~ Turritella
Weltin, 1973). Por Outro lado, o processo de abrasão não
atua tão intensamente nos ambientes de águas mais
Figura 3.4 Padrões de orientação azimuta! dos
profundas, de fundo argiloso, onde a bioerosão e dis-
bioclastos na matriz, em planta. (A) unimoda! (correntes
solução são os principais agentes de destruição dos unidirecionais). (B/C) bimodal (correntes oscilatórias) e (O)
bioclastos (Driscoll, 1970; Driscoll & \Veltin, 1973). polimodal (fluxo turbulento), modificado de Allen (1990).
Geralmente, o desgaste de feições anatômicas proe-
minentes do esqueleto de invertebrados (umbo, carena,
horizonte de solo) e retrabalhados por eventos poste-
ornamentação, da concha de biválvios e braquiópodes)
riores de erosão e transporte, os ossos já perderam sua
são bons indicadores de abrasão.
elasticidade original e aumentaram sua densidade, vin-
Restos ósseos resistem melhor frente aos agen- do a sofrer maior desgaste e fragmentação (Reif, 1971;
tes de abrasão, a não ser quando pré-fossilizados. Os-
Behrensmeyer. 1976).
sos de animais recém-mortos são, em sua maioria, ele-
mentos pouco densos, passíveis de flutuar, apresen-
Dissolução dos restos esqueléticos pode estar
associada à atividade das águas intersticiais, de orga-
'tando, como já dito, certa elasticidade. Quando pré-
fossilizados (e.g., durante a fase eodiagenética em um nismos, no caso de bioerosão por organismos perfura-
26 Paleontologia
ORIENTAÇÃO concordante
PREFERENCIAL
o plano de
acamamento
H~)
aninhado
Figura 3.5 Terminologia empregada na descrição dos bioclastos na matriz, modificado de Kidwell et alii (1986).
dores ou das águas subterrâneas e superficiais, em re- sucessões ecológicas nas comunidades de organismos
lação ao intemperismo. Sob condições de águas não incrustantes, em substrado duro, isto é, a chamada retro-
saturadas em carbonatos ou de pH baixo os restos car- alimentação tafonômica (Kidwell & Jablonsky, 1983).
bonáticos tendem a se dissolver (Brett & Baird, 1986; A tabela 3.4 apresenta uma síntese das impli-
Speyer & Brett, 1988). cações tafonômicas dos processos discutidos.acima.
O termo corrosão é empregado para as feições
de desgaste originadas conjuntamente pelos proces- BA Feições estratigráficas
sos de abrasão, bioerosão ou dissolução. Na prática, o
grau de corrosão apresentado pelos restos esqueléticos A geometria e a estrutura interna constitu-
está diretamente relacionado com o tempo de exposi- em duas importantes feições estratigráficas das acu-
ção na interface água/sedimento. Brett & Baird (1986) mulações esqueléticos. A tabela 3.5 contém os princi-
ilustraram, por exemplo, corais rugosa exibindo corro- pais termos utilizados na descrição destas feições.
são diferencial entre a porção superior e inferior do
corallum. Normalmente, a porção superior do corallum B.5 Feições paleoecológicas
apresenta-se intensam.ente corroída, em decorrência
de sua exposição na interface água/sedimento. A composição taxonômica das concentrações
Biválvios, gastrópodes ou braquiópodes com conchas fossilíferas pode ser monotípica ou politípica, se com-
exibindo corrosão ao longo de toda superfície indicam posta por um único tipo de esqueleto ou por vários
prolongada exposição no fundo, porém, com freqüente tipos de esqueleto. Uma concentração monotípica
retrabalhamento, expondo toda a superfície das con- pode, entretanto, ser poliespecífica, se formada, por
chas aos processos de desgaste físico, químico e bio- exemplo, somente por conchas de braquiópodes de
lógico. Bioclastos intensamente bioerodidos ou incrus- diferentes espécies. Por outro lado, toda concentra-
tados indicam, também, pro~ongada exposição na ção monoespecífica é obrigatoriamente monotípica.
interface água/sedimento, ~specialmente nos casos Existe, porém, muita confusão no emprego dos
onde é possível a identificação de múltiplos episódi- termos acima. Por exemplo, uma concentração forma-
os de incrustação, possibilitando o reconhecimento de da exclusivamente por gastrópodes e biválvios seria
Tafonomia: Processos e Ambientes de Fossilização -27
uma concentração mono típica, uma vez que é consti- Fatores físico-químicos, ambientais e fisioló-
tuída apenas por conchas de moluscos? Não, de acor- gicos controlam as propriedades químicas dos esque-
do com a classificação de Speyer & Breu (1988), para letos dos organismos. Muitos minerais diferentes são
os diferentes tipos de esqueletos de invertebrados. De encontrados nos esqueletos de inverte brados viventes,
acordo com esta classificação, cinco categorias dife- porém dois polimorfos de carbonato de cálcio (calcita e
rentes são reconhecidas (tabela 3.6). aragonita) são os mais importantes, seguidos pelo
As concentrações monotípicas apresentam gran- fosfato de cálcio (hidróxido apatita) e sílica. Contudo,
de valor tafonômico ou paleoecológico, pois refletem a mineralogia do esqueleto de organismos extintos não
na maioria das vezes mortandade em massa, condi- pode ser determinada com precisão. A tabela 3.7 re-
ções de alto "stress" ambiental, de intensa seleção sume as principais informações sobre a composição
hidrodinâmica ou preservação diferencial, durante o mineral das partes duras de organismos viventes.
processo de diagênese. Contrariamente, uma baixa
Além da composição mineralógica, outra pro-
seleção hidrodinâmica pode levar à formação de uma
priedade interna importante das partes duras dos or-
concentração poli típica e poliespecífica.
ganismos diz respeito ao arranjo físico dos cristais no
Em concentrações fossilíferas de vertebrados, esqueleto. A estrutura esquelética pode ser examina-
o caráter mono típico de muitas ocorrências é, comu-
da a partir de dois níveis de detalhe. O primeiro, en-
mente, resultado de mortandade em massa. Por exem-
volve o estudo detalhado da forma e arranjo dos cris-
plo, a natureza mono típica das concentrações esque-
tais (ultra-estrutura esquelética) no esqueleto, como,
léticas encontradas nas fácies fluvial meandrante da
por exemplo, o exame do tamanho, da forma e orien-
Formação Judith River (Cretáceo de Alberta/Canadá),
tação dos cristais de aragonita, dentro da camada naca-
as quais contêm grandes concentrações de ossos de
rada da concha de um bivalve. O segundo, analisa as
dinossauros (ceratossauros) é explicada da seguinte
relações das grandes unidades de estruturas unifor-
maneira: osceratossauros viviam em manadas muito
mes dentro do esqueleto (microarquitetura), como,
grandes, nas áreas correspondentes às planícies de
por exemplo, a forma e a distribuição da camada naca-
inundação do sistema fluvial que gerou a Formação
rada na concha. Infelizmente, porém, a microarqui-
Judith River. Essas manadas, ao tentarem atravessar
tetura original da concha raramente fica preservada,
os rios, em época de cheia, talvez levadas pelo pânico
pois durante o processo diagenético a substituição pode
na situação de nível d'água crescente, sofriam baixas
se dar assincronicamente em relação à dissolução. Em-
consideráveis. Os animais morriam nas águas e enca-
bora o espaço deixado pela concha possa ser preen-
lhavam nas margens, onde eram temporariamente ex-
chido por um mineral, recuperando a sua forma geral,
postos e retrabalhados até serem definitivamente in-
a microarquitetura, obviamente. não poderá ser recu-
corporados aos sedimentos das barras fluviais CWood et
perada. Chama-se esta reprodução ou substituição de
alii, 1988). Mecanismo semelhante parece ser respon-
pseudomorfo ou contramolde.
sável pela origem de concentrações monotípicas de
mamíferos eocênicos do Wyoming, nos Estados Uni- Contrariamente aos restos de invertebrados, que
dos (Turnbull & Martill, 1988). podem se alterar substancialmente durante a fossili-
A mineralogia e microarquitetura (originais) zação, ossos e dentes de vertebrados podem ficar pre-
constituem importantes feições a serem analisadas. servados sem alteração substancial. Os mecanismos
A biomineralização envolve a elaboração de endo ou básicos de preservação são a incrustação e a permine-
exoesqueletos duros pelos organismos, os quais são ralização (Mendes, 1988), de modo que a estrutura
normalmente compostos de substâncias minerais e orgânica de ossos fósseis pode ser estudada e análises
por uma matriz orgânica (carbonato de cálcio + de isótopos (e.g., 016/ 018 para determinação de
conchiolina, nas conchas de moluscos). A composi- paleotemperatura), a partir do fosfato ósseo, podem
ção mineral primária (inalterada), pré-diagenética, fornecer dados muito acurados (.\Iartill, 1991). Con-
das partes duras dos esqueletos tem grande im~or-'" tudo, um osso, no ciclo pós-soterramento, não é um
tância para o entendimento de certos tipos de pre- sistema fechado e alterações diagenéticas significati-
servação. vas podem ocorrer.
28 Paleontologia
BIDlMENSIONAL
1 -2 VALVAS DE ESPESSURA
Eixo longo preferencial
concordante com o plano
de acamamento
TRIDIMENSIONAL
D
"pod" 10cm Figura 3.6 Geometria das concen-
trações fossilíferas, modificado de Kidwell
et a1ii (1986).
camada 100 m G
buição que reflete mais ou menos fielmente a compo- o registro scdimentar é dominantemente episódico, isto
sição original da comunidade, com proporção entre é, apenas os eventos de maior magnitude deixam seu
juvenis, adultos e senis, de acordo com a estrutura registro, obliterando o registro do dia-a-dia, quando a
populacional original (figura 3.7 J. sedimentação é menos expressiva. Isso se aplica tanto
A idade dos fósseis de uma concentração fos- para sistemas continentais, quanto marinhos. Um siste-
silífera pode ser estimada utilizando-se critérios es- ma fluvial, por exemplo, apresenta baixas taxas de
pecíficos para os diferentes taxa estudados. Para inver- erosão, transporte e sedimentação, durante boa parte
tebrados, por exemplo, são usadas feições como o ta- deseu período de existência, o que é a situação normal,
manho, o número de enrolamentos ou de linhas de observável no dia-a-dia. Eventos seculares, como
crescimento da concha. Já para os vertebrados utilizam- grandes enchentes, mudam completamente esse pano-
se feições como o desgaste dentário, a sinostose e o rama: o rio aumenta sua capacidade e sua carga, maior
tamanho dos ossos. quantidade de sedimento é mobilizado, ocorrem rom-
pimentos de diques marginais, com inundações nas
Uma vez determinado o tipo de mortandade
planícies adjacentes. Este evento ficará registrado na
ocorrida, uma outra questão essencial emerge, isto é:
forma de migração lateral das barras fluviais e na sedi-
qual foi o evento responsável pelo padrão constatado,
mentação final na planície de inundação.
especialmente em se tratando de morre catastrófica?
A resposta para esta questão está na análise sedimen- O mesmo se aplica para os sistemas marinhos.
tológica e estratigráfica dos sedimentiws que contêm Na plataforma marinha, sob condiçõ9 normais, uma
estas concentrações fossilíferas, bem como de sua análi- fauna bentônica desenvolve sucessivos ciclos de vida,
se bioestratinÔmica. O paleontólogo de\"e lembrar que sem ser afetado por nenhum evento significativo de
30 Paleontologia
sedimentação. Conchas desarticuladas resultantes de ou menor intensidade, certo grau de mistura temporal
mortandade não-seletiva, de animais da epifauna, por (mistura numa mesma concentração fossilífera, de ele-
exemplo, ficarão distribuídas pela plataforma, mistu- mentos ou restos esqueléticos não contemporâneos),
radas à fauna vivente. Durante uma tempestade de todo estudo paleoecológico detalhado deverá ser pre-
cedido de uma acurada análise tafonômica (Simões &
maior magnitude, o nível de ação das ondas fica muito
Kowalewski, 1998).
mais baixo, podendo retrabalhar significativamente as
camadas de fundo. Com isso, a fauna bentônica é exu-
mada e transportada de seu hábitat natural. Muitas Classificação das Concentrações
conchas pequenas e pouco espessas são mantidas em F ossilíferas
suspcnsão"durante a tempestade, e elementos recém-
Seilacher (1970, p.34) empregou o teimo
mortos poderão vir a ser concentrados juntamente com
jossil/agerstatten, para designar "um corpo rochoso que
os elementos mnrtos já existentes, quando a tempes-
contém, devido à qualidade e quantidade, um número
tade amainar. O resultado deste processo é um leito
incomum de informações paleontológicas". O autor dis-
altamente concentrado de bioclastos (coquinas), asso- tinguiu, basicamente, dois tipos de jossil/agerstatten: a
ciadas à facies sedimentares de tempestitos, caracteri- - as ocorrências por concentração (KonzentrafÍons-
zadas, principalmente, pela ocorrência comum de es- /agerstatten) e b - as ocorrências por conservação (KoJlser-
truturas sedimentares, do tipo estratificação cruzada vatlagerstatten). Trata-se de uma das primeiras tentati-
momicular (hummocky cross stratificatíon). A análise do vas de classificação genética das concentrações fossilí-
tipo de mortandade e do evento deposicional, portan- feras. O primeiro tipo caracteriza-se por concentrações
to, pode fornecer importantes evidências sobre as con- contendo partes duras, desarticuladas, concentradas por
dições ambientais às quais a paleobiota estava SU~
algum agente exôgeno, representando mistura de
biotas de tempos diferentes. O segundo tipo repre-
Associado ao estudo do tipo de morta;: 'e
senta concentrações caracterizadas pür decomposição
pode-se; a partir das características bioestratinônw.As, incompleta das proteírias, preservando substâncias or-
sedimentológicas e estratigráficas das concentrações gânicas não mineralizadas (quitina) eesqueletos com-
fossilíferas, inferir a chamada mistura temporal ou time- pletos, sendo que vários fatores podem impedir sua
averaging (Fürsich & Abérhan, 1990; Kowalewski, decomposição (sedimento sapropélico, armadilhas
1996) envolvido na gênese destes depósitos. Desde que de conservação como turfeiras ou âmbar, fluxos de
toda concentração fossilífera parece exibir, com maior massas).
I
não seletiva
I~ Morte
seletiva
. (catastrófica) (natural)
~Morte ~
Figura 3. 7 Padrões de classes de
tamanho (idades) decorrentes de morte
não-seletiva (catastrófica) e de morte se-
~ letiva (natural), modificado de Shipman
(1981).
1\ •
•••
•••
~~ •••
rápido soterramento rápido soterramento
. soterramento retardado soterramento retardado
Tafonomia: Processos e Ambientes de Fossilização 31
No Brasil, certamente, muitas das concentra- tar presentes. Em seção, os bioclastos podem estar dis-
ções fossilíferas da Formação Santana (Cretáceo), postos na matriz com a convexidade volta para cima
da Bacia do Araripe, contendo uma diversificada (e.g., biválvios). Em planta, os bioclastos podem apre-
fauna de peixes, vertebrados terrestres e semi-aquá- sentar distribuição bimodal, a qual é caracteristicamen-
ticos, insetos e vegetais, dentre outros fósseis ex- te formada por ondas, o que estaria de acordo com os
cepcionalmente bem preservados, constituem altos valores de abrasão e fragmentação dos bioclastos.
exemplos defossillagerstiitten. Outros exemplos im- Em muitos casos, a baixa seleção da matriz e dos
portantes são as concentrações fossilíferas da bioclastos pode indicar deposição em um ambiente
Formação Santa Maria (Triásico), Bacia do Paraná, intermarés (shorefaee).
no Estado do Rio Grande do Sul e as acumulações
b) Concentrações geradas por ondas de tempestade
de restos de mamíferos pleistocênicos da Bacia de
A principal diferença entre estas concentrações
São José de Itaboraí, no Estado do Rio de Janeiro.
e aquelas geradas por ondas de tempo bom diz respei-
to à melhor qualidade de preservação dos bioclastos
nas concentrações formadas por ondas de tempestade.
Trabalhos posteriores refinaram a proposta ori-
Tais concentrações exibem base erosiva, gradação e
ginal e levaram à classificações genéticas bastante
alguma seleção dos bioclastos (mistura de conchas frag-
abrangentes (Boy, 1977; Brett & Seilacher, 1991). Es-
mentadas e compleus). Em planta e seção, os
tas classificações estão fundamentadas, principalmen-
bioclastos estão distribuídos caoticamente na matriz.
te, na análise detalhada das feições tafonômicas des-
Bioclastos articulados (f.g., conchas de biválvios) são
critas anteriormente (grau de empacotamento, sele-
comuns, estes, porém. não exibem sinais de abrasão,
ção, fragmentação, desarticulação, corrosão) as quais
bioerosão e incrustação ..\ ocorrência freqüente de con-
parecem exibir uma distribuição característica ao lon-
chas articuladas fechad3.s de inverte brados da infauna,
go de um perfil de águas rasas-profundas (onshore-
nestas concentrações, indica exumação, reorientação
offshore). Por exemplo, bioclastos fragmentados são
e rápido soterramento de animais ainda vivos, o que é
mais comuns nos ambientes de águas rasas, enquanto
melhor explicado por ondas de tempestades (Fürsich
a corrosão é mais freqüente nos ambientes de águas
& Oschmann, 1993; Simões, 1996).
mais profundas.
c) Concentrações geradas por fluxos de tempes-
tade
A. Concentrações fossilíferas em sistemas
marinhos Concentrações suportadas pelos bioclastos (e.g.,
coquinas), com base erosiva e gradação descontÍnua.
Em seção, os bioclastos estão caoticamente distribuí-
No ambiente marinho, ondas de tempo bom,
dos na matriz, com a convexidade voltada para cima
ondas de tempestades, fluxos de tempestade, corren-
ou para baixo, aninhados ou empacotados, às vezes
tes unidirecionais ou oscilatórias de longa duração e
exibindo alto índice de fragmentação e abrasão ou con-
produtividade biológica são considerados os principais
tendo mistura de bioclasws bem preservados (Fürsich
processos responsáveis pela gênese das concentrações
fossilíferas. As concentrações fossilíferas resultantes & Oschmann, 1986, 1993; Simões et alii, 1994, 1995,
1996). A principal diferença entre tais concentrações
destes processos podem ser geneticamente agrupadas
e as geradas por ondas de tempestade diz respeito à
em diversos tipos (Fürsich & Oschmann, 1993), cujas
natureza da matriz que. no caso das concentrações for-
principais feições são descritas a seguir:
madas por fluxos de tempestade, é indicativa de trans-
porte.
a) Concentrações geradas por ondas de tempo bom
Concentrações contendo bioclastos bem pre- planície de inundação (B) podem ser soterrados nas
servados em associação com outros exibindo intensa épocas de cheia, quando ocorrem rompimentos de di-
fragmentação, bioerosão e incrustação. Cimentação ques e inundação da planície. A migração lateral, ca-
racterística dos sistemas meandrantes, pode erodir de-
diagenética precoce (e.g., hardground) é comum. As-
pósitos preexistentes, mobilizando restos pré-
sociados podem ocorrer também concreções retra-
fossilizados, dentro do horizonte de solo (C) e na pla-
balhadas. Elementos esqueléticos exibindo histórias
nície de inundação. Desta forma, ossos e fragmentos
tafonômicas distintas (mistura de bioclastos bem pre-
vegetais são incorporados à carga no canal, onde se
servados e bioclastos incrustados) indicam a comple-
misturam com ossos mais recentes, provenientes de
xidade destas concentrações, sendo que o longo in-
animais recém-mortos e ainda sujeitos à necrólise e
tervalo de tempo decorrido na sua gênese é eviden-
desarticulação. As concentrações fossilíferas nos siste-
ciado não apenas pela presença das concreções retraba-
mas fluviais são, portanto, representativas de uma am-
Ihadas, como pela ocorrência de hardgrounds.
pla faixa de tempo, podendo misturar restos de diver-
sas gerações e comunidades distintas (da ordem de
D Concentrações "primariamente" biogênicas centenas a milhares de anos; Kidwell & Behrensmeyer,
Concentrações suportadas por bioclastos ou não, 1993a). Em casos de intenso retrabalhamento do sis-
contendo alta porcentagem de fósseis preservados em tema fluvial, devido à acentuada avulsão de canais, o
posição de vida, normalmente, incluindo inverte brados período de tempo representado pelas concentrações
da epifauna, tais como: a - biválvios gregários, b - bra- fossilíferas, à denominada mistura temporal, pode che-
quiópodes e c - corais. A presença de conchas fragmen- gar à ordem de 105 anos (Behrensmeyer, 1982). Em
tadas é reduzida, embora conchas incrustadas sejam co- outras palavras, o período desde o tempo deposicional
muns. A presença de fósseis da epifauna preservados do primeiro organismo morto até o último a integrar a
em posiçJO de vida indica pouco ou nenhum distúrbio concentração fossilífera é relativamente amplo e não
de fundo. durante a gênese destas concentrações. pode ser esquecido no momento em que as paleoco-
munidades forem reconstituídas.
:\. figura 3.8 fornece uma idéia da distribuição
bati métrica e ambiental das concentrações descritas
aCima.
B.2 Ocorrências em sistema lacustre
Tipos de concentrações
esqueletais
-------...,,1"'-----------------------
concentração gerada por ondas de tem po· bom :
rasas/profundas dos processos
concentradores de material bio-
elástico e seus respectivos produ-
~', - - - - -,-I - - - 7 - - - - - - - -
I
tos (Fürsich & Oschmann, 1993).
~ :
concentração gerada por ondas de tempestade:
I
I
, - - - - - ~;iji:IH:mWjH~]!rUrA~Wlt~~- - - - - --
(11 I
o : " lag " transgressivo
:;
"O
I
I ~ ~
e I tempestito proximal : concentração condensada
c.. I
I ~----<1ll7~
I I tempestito distal
I I
I
.A
c
Figura 3.9 Diferentes tipos de ocorrências fossilíferas em sistema fluvial. Explicação no texto.
em sedimentos estuarinos ou de plataforma, uma das mistura temporal, e dar dimensão temporal aos níveis
mais conhecidas, é, possivelmente, a de mesossaurÍ- fossilíferos e às rochas encaixantes (e.g., Kidwell &
deos da Formação Irati (Permiano) da Bacia do Paraná Behrensmeyer, 1993a, b, c; Simões & Kowalewski,
(Boy, 1977; Holz & Soares, 1995). 1998). Outra tendência atual na Tafonomia é a de in-
tegrar os dados, em especial sobre a gênese de fossil-
lagerstiitten, aos arcabouços estratigráficos, em especial
Comentários Finais à Estratigrafia de Seqüência (Holland, 1995). A
inregração à Estratigrafia Dinâmica, ciência que es-
Sabemos hoje que na formação de uma ocorrên- tuda os ciclos e eventos de sedimentação e os meca-
cia fossilífera atuam uma ampla gama de processos bio- nismos de controle sobre sua freqüência e magnitu-
lógicos e geológicos, coadjuvados por processos geo- de, é outro caminho que a Tafonomia começa a tri-
gráficos-climáticos, que em seu total formam uma equa- lhar (Breu & Seilacher, 1991).
ção de muitas variáveis. Desta forma, por exemplo, não
existem, com algumas exceções, modelos tafonômicos Referências
semelhantes aos existentes para a gênese de fácies.
Cada caso é um caso. Este ditado é válido para a análise ABLER , W. L. 1984. A three-dimensional map of a
tafonômica. Para cada área de trabalho, para cada grupo paleontological quarry. Contributions to Geology, 23
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38 Paleontologia
Tabela 3.2 Relações entre a distribuição dos bioclastos na matriz e os processos sedimentares
e biológicos que dão origem a essas feições
CO:'iCORDANTE Reflete:
• redeposição de fragmentos bioclásticos ou conchas, não
colocadas em suspensão;
• rotação de bioclastos durante o processo de compactação;
• completa exumação de organismos da infauna, dispostos
verticalmente no substrato (biválvios escavadores), por
correntes tracionais de fundo (Emig, 1986);
• soterramento in situ de animais da epifauna bissada, com o
plano de simetria disposto horizontalmente, em relação ao
substrato (Stanley, 1970).
PERPENDICULAR Reflete:
• atuação de correntes e ondas oscilatórias sobre locais com
grande acúmulo de conchas (KidwelI & Bosence, 1991);
• preservação in situ de inverte brados marinhos solitários
(e.g., biválvios escavadores profundos) ou gregários
(e.g., biválvios da epifauna bissada) (Fürsich. 1980;
Anelli et alii, 1998).
40 Poleonto!ogjo
Biválvio escavador preservado com a concha articulada • Soterramento rápido, sem resposta de escape.
fechada em posição de vida.
Biválvio preservado com a concha articulada aberta • Soterramento rápido, porém não instantâneo.
(butterflied).
Biválvio escavador preservado com a concha articulada • Soterramento rápido, com erosão do subsrrato.
fechada, mas não em posição de vida.
Trilobitas intactos com carapaça não enrolada. • Soterramento episódico sem resposta do organismo a um
distúrbio ambienta!.
Exoesqueleto de cnidários (corais) invertidos • Erosão episódica do fundo por ondas ou correntes; ambientes
afetados por tempestades.
Fósseis de inverte brados preservados em posição • Soterramento rápido com pouco ou nenhum distúrbio do
hidronâmica instável fundo; ambientes de baixa energia abaixo do nível de base
das ondas de tempestade.
Bioclastos pequenos de tamanho similar, exibindo • Transporte seletivo por correntes. Normalmente, indica
fragmentação ou outras feições indicativas de transporte. ambiente de alta energia.
DISSOLUÇÃO • Mudanças químicas nas águas podem causar dissolução dos restos
esqueletais. Dissolução representa flutuação na temperatura,
pH ou pCOz nos esqueletos de carbonato de cálcio. A sílica é
solúvel sob condições de alcalinidade (pH > 7), já o carbonato de
cálcio se dissoh-e sob condições de acidez (pH < 7). .
Geometria
Pavimento • Feição bidimensional; concentrações lateralmente contínuas
(figura 3.6)
Estrutura Interna
Simples • Termo estritamente descritivo, aplicado para concentrações
que não exibem variação vertical ou lateral das feições
tafonômicas (composição taxonômica, biofábrica). Os
tempestitos distais constituem um exemplo de concentração
com estrutura interna simples.
CORAIS
Rugosa v V
Tabulata V V
BRIOZOÁRIOS
Trepostomata V
Cryptostomata V
BRAQUIÓPODES
Inarticulados V
Articulados V
MOLUSCOS
Biválvios
Gastrópodes v
Cefalópodes V
Escafópodes V
ARTRÓPODES
Trilobitas
Ostracodes V
Conchostráceos V
Insetos V
Filocarídeos V
EQUINODERMAS
Crinóides V
Blastóides V
Equinóides V
Ofiuróides V
44 Paleontologia
Mineral Taxo 11
Cocolitoforídeos (cocólitos)
F oraminíferos planctônicos
CALCITA Braquiópodes articulados
Ostracodes
Cirrípedes
F oraminíferos bentônicos
CALCITA MAGNESIANA Esponjas calcárias
Ostracodes
Equinodermas
Esclerospôngias
Mileporídeos
Hexacorais
Poliplacóforos
ARAGOl'."ITA Briozoários (em parte)
Escafópodes
Pterópodes
Cefalópodes
Vertebrados (otólitos)
Gastrópodes
CALCITA ou ARAGONITA Briozoários (alguns)
Biválvios
Diatomáceas
SÍLICA (opala) Silicoflagelados
Radiolários
Tafonomia: Processos e Ambientes de Fossilização 45
TIPOS DE FOSSILIZAÇÃO
Permineralização
(e.g., cavidades e poros de
ossos preenchidos por calcita)
Recristalização
(mudança na textura,
minerais visíveis a olho nu)
CARBONIFICAÇÃO SILICIFICAÇÃO
(perda gradual dos elementos (Substituição por sílica/SiOz)
voláteis, restando apenas uma PIRITIZAÇÃO
película fina, ocorrendo (Substituição por pirita/FeSz)
principalmente nas estruturas
constituídas por lignina, LIMONITIZAÇÃO
celulose, quitina e queratina) (Substituição por limonita
2(Fep)3Hp)
CALCIFICAÇÃO
(Substituição por calcita,
CaCO])