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ta de divulgação científica. “Não em seus ambientes.

A segunda ain-
PalEon to lo gia existe outra forma de representar da está sendo realizada no Museu
como foi o passado extinto da Ter- de Ciências Naturais (MCN) da
Paleoarte ra a não ser pela recriação artística.
Nesse sentido a paleoarte se tor-
Univates, localizada em Lajeado
(RS). Intitulada Paleontologia: uma
une arte na o rosto da paleontologia para aventura muito além dos dinossau-

e ciência o público”, acredita o paleoartista


Rodolfo Nogueira. Por outro lado,
ros, a mostra traz obras, réplicas,
ilustrações e fósseis, além de ofici-
segundo o artista Luciano Vidal, nas para alunos do ensino funda-
Os vestígios encontrados nos sí- é uma área ainda pouco explorada mental. A exposição foi aberta em
tios paleontológicos trazem in- no Brasil. “É um campo que pode 03 de setembro e vai até o início de
formações valiosas sobre a pré- crescer muito”, acredita. dezembro com entrada gratuita.
-história, possibilitando construir Para celebrar o trabalho desses pro-
um cenário da evolução da vida no fissionais, duas exposições foram Muito além dos dinossauros A pa-
planeta. No entanto, pedaços de organizadas recentemente. A pri- leoarte não retrata apenas dinos-
esqueletos e fósseis são geralmente meira aconteceu no Museu Nacio- sauros. Segundo Vítor Silva, seu
desprovidos de detalhes da morfo- nal da Universidade Federal do Rio trabalho, assim como de outros pa-
logia externa, como cor e textura. de Janeiro (UFRJ), de abril a julho. leoartistas consiste em retratar a vi-
Dar forma e vida a esse cenário A mostra Arte com dinossauros exi- da pré-histórica (animais, plantas,
pré-histórico é o trabalho dos pa- biu o trabalho de Maurilio Olivei- ambientes ou mesmo os próprios
leoartistas. Seu trabalho é funda- ra, um dos pioneiros da paleoarte fósseis) unindo técnicas artísticas e
mental para os cientistas testarem no Brasil. Foram expostas ilustra- rigor científico. “A paleoarte – ou
hipóteses a respeito de um fóssil e ções, esculturas em tamanho real e paleontografia (termo mais formal)
ainda uma importante ferramen- maquetes mostrando dinossauros – consiste na representação visual
de hipóteses científicas sobre a
Luciano Vidal
anatomia, aparência ou as relações
ecológicas de espécies fósseis. Essas
hipóteses são formuladas a partir
do estudo sistemático dos fósseis,
um campo de domínio da paleon-
tologia”, aponta o paleontólogo e
paleoartista Felipe Alves Elias, pes-
quisador do Museu de Zoologia da
Universidade de São Paulo (USP).
Um trabalho de paleoarte utiliza
desde técnicas tradicionais de de-
senho com nanquim até modernos
softwares de edição de imagens,
além de modelagem/escultura, ani-
mação etc. “Uso técnicas digitais e
tradicionais. No tradicional, traba-
lho com ilustração 2D (nanquim ou
grafite sobre papel) e com esculturas
em escala, utilizando porcelana fria.
Ilustração da espécie Caiuajara dobruskii No digital, faço ilustrações utili-

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Vitor Silva

zando uma mesa digitalizadora e o


photoshop”, conta Silva. O resulta-
do pode ser uma ilustração, uma es-
cultura, uma animação digital e até
mesmo um robô.
Quando se trata de dinossauros,
as obras são desenvolvidas a par-
tir dos ossos provenientes de es-
cavações, que geralmente trazem
marcas indicando onde havia in-
serção de músculos e ligamentos.
Porém, geralmente o esqueleto
desses animais não está completo.
Daí os paleoartistas têm que recor-
rer a esqueletos de animais seme-
lhantes para tentar completar as Ilustração da espécie Balaur bondoc
informações sobre a anatomia. A
comparação com animais extintos
(como outros dinossauros) e com Arte e ciência O material mais im- estar sempre atualizado quanto às
espécies que vivem hoje (como la- portante para se criar uma obra de descobertas, pois é comum aconte-
gartos e aves) é fundamental. É ela paleoarte é a ciência. Cada obra de- cerem mudanças na paleontologia,
que dá dicas quanto a textura, pa- pende de vasta e rigorosa pesquisa. seja por novos achados ou por novas
dronização e coloração da pele. “A “Embora a técnica artística seja fun- análises”, afirma Silva.
imaginação conecta as descobertas damental para dar forma às ideias, a
e preenche as lacunas e a arte tra- qualidade de uma produção paleon- Chris Bueno
duz o conhecimento acadêmico em tográfica depende intrinsecamente
imagens passíveis de entendimento da informação científica que a ali-
pela sociedade”, explica Nogueira. menta. Ela precisa estar muito bem
E, assim, surgem animais nunca embasada pelas evidências fósseis e
vistos por olhos humanos. deve traduzir as interpretações pale-
A aplicação da paleoarte é vasta. ontológicas da maneira mais acura-
As obras criadas por esses artistas da possível”, explica Elias.
podem compor projetos científi- Isso porque a paleoarte
cos, servir como ferramentas de deve não apenas encantar
divulgação para o público em geral seu público, mas tam-
em mostras e exposições, ilustrar bém informá-lo. Profis-
livros didáticos etc. “Tive o pri- sionais que atuam nessa
vilégio de participar de diversos atividade precisam ser
projetos, abrangendo vários seg- altamente capacitados para ex-
mentos com diferentes alcances, trair o melhor possível da escas-
desde exposições temporárias e sa informação disponível nos
projetos em museus, livros, revis- fósseis e transformá-la em um
Vitor Silva

tas, jornais e até mesmo álbuns de trabalho significativo, que te-


figurinhas”, conta Elias, do Mu- nha realmente algo a comunicar
seu de Zoologia da USP. e ensinar. “É importantíssimo Escultura da espécie Tupandactylus imperator

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