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http://www.verdade-viva.net/os-livros-apocrifos/
Desde que o homem iniciou o processo de escrita daquilo que por Deus era ordenado, houve a
necessidade de se distinguir entre o que era escrito por inspiração divina e o que era escrito
meramente por vontade humana. O Espírito de Deus agia de modo a que a pessoa que estava
escrevendo tivesse clara noção de que o que ela escrevia era texto autoritativo, ou seja, que
estava falando em nome de Deus, logo o que era escrito, era Palavra de Deus. Da mesma
forma aqueles que estavam com esta pessoa, também tinham esta noção, proveniente da
mesma origem: O Espírito Santo de Deus.
Cânon
“Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para
corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente
instruído para toda a boa obra” (II Timóteo 3:16 ACF1).
Ao conjunto dos livros que foram reconhecidos como tendo sido escritos desta forma, damos
o nome de cânon bíblico. A palavra cânon é proveniente da palavra grega kanwn, que
significa cana, junco, bastão ou vareta. Desta forma significando algo que deve estar reto ou
ser mantido reto, e assim algo que mede ou que pode ser medido. O termo veio a ser aplicado
às Escrituras, para denotar que elas continham a regra autoritativa de fé e prática, o padrão de
doutrina e dever2. Parece ter sido Atanásio (séc. IV) o primeiro a tratar a palavra com este
sentido. São, portanto chamados de canônicos os livros que foram inspirados por Deus, os
quais compõem as Escrituras Sagradas.
Apócrifo
A palavra “apócrifo” tem origem na palavra grega apokrufov que significa, segundo o léxico
de Liddell e Scott, algo “escondido”, “secreto”, “obscuro”, “de difícil compreensão”, e é
aplicada a textos que têm sua autenticidade incerta ou a escritos cuja autoria é desconhecida
ou questionada.
Tanto na teologia judaica quando na cristã, o termo “apócrifo” se refere a qualquer porção de
texto pretensamente escriturística, mas que não correspondendo à regra estabelecida para a
determinação de um livro como canônico, ficou fora do cânon oficial, sendo considerada,
portanto, como um texto cujo conteúdo é espúrio ou falseado, não devendo ser levado em
consideração na formação de quaisquer ensinos doutrinários, ou no estabelecimento de
quaisquer práticas eclesiásticas.
Mesmo havendo, em geral, um consenso sobre este assunto entre o povo de Deus, desde
tempos remotos, a sociedade em geral não tem este conceito plenamente solidificado, ou
claramente compreendido, como conseqüência disto sempre houve escritos seculares que
tentam tratar os livros apócrifos como tendo o mesmo grau de autoridade que um texto
1
canônico, ou como tendo ainda maior autoridade, ocorrência esta que tem crescido em
quantidade e em vigor nos últimos tempos, como acontece, por exemplo, com o livro (e filme)
intitulado “O Código DaVinci” de Dan Brown, o qual baseia muito de sua argumentação em
textos apócrifos.
E pior, criou-se, por força do grande misticismo pós-moderno, uma “corrida” aos apócrifos
(inclusive por alguns estudiosos cristãos). São pessoas que equivocadamente supõem haver
nos livros apócrifos alguma nova “revelação” ou “informação pertinente”. Contudo, esta
busca é algo extremamente perigoso, uma vez que confiar em informações prestadas por um
livro que desde os primórdios do cristianismo foi considerado como sendo falso e espúrio é,
para dizer pouco, um ato de grande insensatez. Quem confia no que diz uma testemunha que,
sabidamente, ao longo do tempo tem mentido e enganado? Ela pode em algum momento até
dizer uma verdade, mas como saber? Como se ter certeza? Lembremo-nos da fábula do
menino e do lobo! Em verdade, não é possível ter-se confiança naquilo que diz um livro
apócrifo. Sua leitura pode, até certo ponto (DIANTE DE EXTREMA CAUTELA), ser
ilustrativa em alguns aspectos, mas, nunca deve ser tomada como tendo autoridade, ou
verdade reservada, ou revelação. Deve-se ter absoluto cuidado para não se ter a fé abalada por
quaisquer informações encontradas nestes livros. Muitos deles foram escritos exatamente com
este objetivo em mente, qual seja, enfraquecer ou abalar a fé dos leitores na Santa Palavra de
Deus.
A Questão da Septuaginta
A Septuaginta é uma tradução de alguns livros do hebraico para o grego. Foram traduzidos
todos os livros canônicos da Bíblia hebraica, entretanto, com grandes diferenças em relação
ao texto aceito por judeus e cristãos como canônico. Também estão traduzidos vários outros
livros espúrios, ou apócrifos. A tradução da Septuaginta está envolta em lendas, entre as quais
a mais famosa é a de que foi escrita por 72 sábios eruditos judeus (?), sendo 6 de cada tribo de
Israel (?). Segundo a lenda ela teria sido escrita para compor o rol de livros da biblioteca de
Alexandria, um populoso centro urbano, que à época (segundo ou terceiro século antes de
Cristo, segundo esta mesma lenda), já era o centro mundial da intelectualidade helenística e
pagã.
A esta tradução, que supostamente foi terminada ainda durante o reinado do macedônio
Ptolomeu II Philadelphus (de 281 a.C. a 246 a.C.) foi dado o título de LXX3, em algarismos
romanos (?), significando o número setenta.4 É importante notar que não há qualquer
confirmação para esta lenda, a qual se baseia em um único documento chamado “Carta de
Aristeas”, documento este que está crivado de dados claramente fictícios e mitológicos, o que
faz com que este escrito também conste da lista de livros apócrifos do Antigo Testamento.
Não há qualquer registro de um documento bíblico em grego, como tendo sido escrito em 250
a.C. Bem como, não há qualquer registro na história judaica de que tal esforço de tantos
eruditos hebreus, que tivessem à época também conhecimento pleno do grego, e que tivessem
se deslocado para Alexandria de modo a realizar tão grande tarefa. Algo assim teria sido, com
certeza, digno de nota. Lembrando também que as dez tribos do norte estavam (como hoje
ainda estão) perdidas, sem que se possa discernir sequer onde cada uma está, quanto mais
selecionar-se 6 eruditos de cada uma delas, que conhecessem profundamente o hebraico e
também o grego!
2
Os defensores desta lenda, quando pressionados a mostrar provas concretas de sua veracidade,
apontam para a Hexapla de Orígenes (do 3º século depois de Cristo), contudo, deste trabalho
pouco resta para se analisar, e entendendo-se a quinta coluna desta obra como sendo o texto
original da Septuaginta veríamos vários livros apócrifos incluídos, livros estes que se tivessem
sido traduzidos pelos supostos 72 sábios hebreus, o teriam sido antes mesmo de serem
escritos, pois a data destes livros é claramente posterior à suposta tradução dos setenta. Pode-
se concluir que se a quinta coluna realmente segue os manuscritos da Septuaginta, então ou
ela foi uma tradução realizada pelo próprio Orígenes ou é de qualquer forma um trabalho
posterior à alegada data da tradução da LXX.
Eusébio e Filo afirmaram que apenas o Pentateuco em grego existia à época de Jesus, e não
todo o Antigo Testamento. Na verdade, encontramos hoje somente o papiro de Ryland # 458
contendo os capítulos de 23 a 28 de Deuteronômio. Mas, como este papiro é datado de 150
a.C. podemos concluir que provavelmente havia razão para que Eusébio e Filo afirmassem a
existência do Pentateuco em grego à época de Jesus. Entretanto, mesmo sendo este o caso,
como parece ser, dificilmente tal documento teria qualquer influência fora do seu habitat, ou
seja, Alexandria e outras localidades onde o grego era a língua dominante, e teria menos
influência ainda, ou melhor, não encontraria qualquer guarida, em Israel, junto a fariseus e
zelotes que lutavam com todas as forças para manter sua religião e suas tradições intocadas.
Este argumento é reforçado pelos achados de Qumram, a partir dos quais se conclui que o
hebraico era língua conhecida e corrente à época do Senhor Jesus Cristo. Seja como for, as
evidências de uma completa LXX existente e em uso à época de Jesus Cristo, são poucas e
não conclusivas.
O mais provável é que uma tradução de todo o Antigo Testamento (ou uma revisão de um
texto já existente??) do hebraico para o grego tenha sido concluída posteriormente (no
decorrer do segundo século), usando inclusive como base o texto de passagens do Novo
Testamento em grego para completar e facilitar a tradução dos versos do Antigo Testamento
citados pelo Novo Testamento.
Nós podemos ver este fato claramente ilustrado no caso de Romanos 3:10-18, onde:
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Jerônimo, após ter comparado os manuscritos da Septuaginta com manuscritos em hebraico,
afirma:
“Seria tedioso agora enumerar, as muitas adições e omissões que a Septuaginta fez, e todas as
passagens que nas cópias das igrejas estão marcadas com cruzes e asteriscos [N.T.: símbolos
que indicavam palavras que apareciam no grego e não no hebraico e vice-versa]. Os judeus
geralmente riem quando ouvem nossa versão desta passagem de Isaías: ‘Bendito é aquele que
tem sementes em Sião e servos em Jerusalém [Isaías 31:9].’ Em Amós também … Mas como
nós devemos lidar com os originais em Hebraico nos quais estas passagens e outras como
estas estão omitidas, passagens tão numerosas que reproduzi-las irá requerer livros sem
conta?” – [Carta LVII de Jerônimo].
Diante de todos os fatos, é possível afirmar, com boa dose de certeza, que a Septuaginta é um
texto posterior (com exceção feita ao Pentateuco), e é, em geral, não confiável, e que assim o
foi desde o princípio. Não devendo, portanto, em momento algum, ser tomada como
autoridade escriturística.
Livros Deuterocanônicos
O termo deuterocanônico foi primeiramente usado por Sixto de Siena em 1566, para
descrever textos do Antigo Testamento, antes considerados apócrifos, mas que a igreja
católica romana havia canonizado durante o Concílio de Trento (que ocorreu entre
13/dez/1545 e 04/dez/1563), colocando-os em uma segunda lista de canonização. Este fato
lhes dá o nome: deuterocanônicos (segundo cânon). Estas porções de texto foram incluídas
juntamente com os textos sagrados, sendo que a igreja católica romana não faz qualquer
distinção entre os textos apócrifos (agora deuterocanônicos) e os textos verdadeiramente
canônicos. Os escritos que se enquadram neste cânon secundário são: Tobias, Judite,
Sabedoria, Eclesiástico, Baruque, I e II Macabeus, e partes de Daniel e de Ester. Há que se
destacar que os textos deuterocanônicos não são aceitos como canônicos nem pelos judeus,
nem pelos protestantes.
Livros “Anagignoskomena”
A Septuaginta (tratada acima), cujo exemplar mais antigo data do século IV d.C. contém
vários livros que não estão presentes na Bíblia hebraica. Estes livros apesar de serem
apócrifos na correta acepção da palavra, são chamados de “anagignoskomena” por serem
livros “reconhecidos” ou “publicados” (neste caso pela Septuaginta), mesmo que isto seja um
contraditório com o fato de serem apócrifos, ou seja, de serem livros não reconhecidos pelo
povo de Deus sob a ação do Espírito Santo.
Tobias – Livro que conta a estória de um Judeu reto da tribo de Naftali chamado
Tobias enquanto vivia em Nínive, após a deportação das tribos do norte pela Assíria
em 721 a.C.
Judite – Livro que conta a estória de uma mulher corajosa e bela em sua maturidade,
vestida para festa com todas as suas maravilhosas jóias, acompanhada por uma fiel
criada, que obtém sucesso em decapitar o general invasor Holofemes.
Sabedoria – Livro sapiencial, cujo autor clama ser Salomão. Muitos estudiosos
atribuem sua autoria a algum judeu alexandrino, pois suas idéias são claramente
gregas, mais especificamente, se enquadram no pensamento helenístico alexandrino.
Eclesiástico – Sua autoria é atribuída a alguém chamado Jesus, filho de Sirach. As
suposições para a sua data de escrita variam enormemente indo de 247 a.C. a 132 a.C.
O livro é formado por reflexões pessoais do autor, e teria sido transcrito por seu neto.
Baruque – Livro é atribuído a Baruque, o escrivão de Jeremias, e foi pretensamente
escrito na Babilônia. Traz confissões de pecados, clamor por misericórdia, uma
exaltação à sabedoria, uma mensagem aos cativos, e uma carta pretensamente escrita
por Jeremias, a qual o próprio Jerônimo, teólogo católico romano, chamou de pseudo-
epígrafe (texto escrito por um autor que diz ser outra pessoa).
I Macabeus – Livro histórico que narra o período de aproximadamente um século após
a conquista da Judéia pelos gregos sob o comando de Alexandre o Grande. Sem data
ou autor definidos, nem no livro, nem em escritos antigos de outros autores.
Provavelmente foi escrito entre os últimos anos do 2º século a.C. e antes de 63 a.C.
II Macabeus – Livro que narra a revolta dos judeus contra Antíoco e conclui com a
derrota do general sírio Nicanor em 161 a.C. por Judas Macabeus. É uma sinopse
composta por um autor desconhecido de um trabalho maior, normalmente atribuído a
Jason de Cirene, do qual muito pouco se sabe, exceto pela inferência de que teria
vivido em Israel, supõe-se que não tenha sido escrito antes de 124 a.C.
Adições a Daniel – Textos em grego, incluídos junto aos textos originais em hebraico.
São os versos 24-90 do capítulo 3 (oração dos jovens na fornalha), e os capítulos 13
(relato de Suzana) e 14 (a farsa do dragão).
Adições a Ester – Textos em grego, incluídos junto aos textos originais em hebraico.
Há adições aos capítulos 1, 3, 4, 5, 8, 9 e 10.
Livros Anagignoskomena:
Todos os livros que depois foram considerados como deuterocanônicos também fazem parte
dos anagignoskomena. E além destes temos:
III Macabeus – O livro na verdade não tem nada a ver com os Macabeus ou com sua
revolta contra o imperialismo grego, como acontece com I e II Macabeus. III
Macabeus conta a estória da perseguição dos judeus sob o reinado de Ptolomeu IV.
Provavelmente o título do livro vem da similaridade de sua estória com a estória
narrada em II Macabeus. Mas, seu conteúdo é claramente ficcional.
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IV Macabeus – Este livro é na verdade uma homilia louvando a supremacia
religiosidade sobre as paixões, e para tanto faz uso de muitos pensamentos de origem
pagã. Também relata vários diálogos de mártires que diferem substancialmente dos
mesmos diálogos encontrados em II Macabeus.
I Esdras – Sua autoria é desconhecida, e a data de escrita somente pode ser suposta em
um período de tempo extremamente longo, algo como um período entre 300 a.C. e 100
d.C. Este livro em sua maior parte segue um paralelo da narrativa contida em Esdras,
Neemias e no livro de II Crônicas, sendo que algumas seções são traduções diretas
destes livros. O nome de I Esdras vem do fato de que o livro canônico de Esdras é
conhecido na igreja ortodoxa grega como a primeira metade de II Esdras (a segunda
metade é Neemias). Contudo, na igreja ortodoxa russa o livro de II Esdras se refere ao
I Esdras da Septuaginta. Já no catolicismo romano o livro de Neemias é às vezes
chamado de II Esdras. Como pode ser visto, a confusão é grande quanto à
nomenclatura deste livro e dos livros canônicos, quando se tenta incluí-lo entre eles.
Odes – Sua autoria e data de escrita são desconhecidos. É um livro que está na
Septuaginta logo após o Salmo 151. Como o nome indica é um livro de canções que
em grande parte repete canções encontradas em outros livros da Bíblia, como as
canções de Moisés (Êxodo 15:1-19, Deuteronômio 32:1-43), a oração de Ana, mãe de
Samuel (I Samuel 2:1-10), inclui também orações e canções encontradas em outros
livros apócrifos, como a oração dos três jovens (complemento deuterocanônico de
Daniel). Mas, o mais interessante é o livro incluir orações que são encontradas no
Novo Testamento, como o Magnificat de Maria (Lucas 1:46-55) e o cântico de
Zacarias (Lucas 1:68-79). Algo realmente fantástico para um livro do Antigo
Testamento (Já que alguns defendem que a Septuaginta foi inteiramente traduzida e
reconhecida antes de Cristo).
Oração de Manassés – É um curto escrito de 15 versos que relata uma oração de
penitência do rei Manassés de Judá enquanto esteve preso pelos assírios. O rei
Manassés é registrado pela Bíblia como sendo um dos reis mais idólatras de Judá em
todos os tempos (II Reis 21:1-18), mas quando foi tomado cativo pelos assírios, se
arrepende e clama misericórdia a Deus (II Crônicas 33:10-17). Este livro pretende
reproduzir a oração de Manassés a Deus neste momento.
Salmo 151 – Este é um salmo curto, atribuído ao rei Davi, somente encontrado na
Septuaginta. Apesar de recentemente terem sido encontrados dois manuscritos, nas
cavernas de Qumram, que dão base hebraica para este salmo, ele continua sendo
considerado como apócrifo, exceto pela igreja ortodoxa grega que o tem como
canônico.
Ahicar ou Haiquar – Segundo o livro ele foi um sábio Assírio conhecido por sua
grande sabedoria. O livro também conhecido como “As palavras de Ahicar” foi
encontrado em um papiro aramaico de aproximadamente 500 a.C. Ahicar profere
durante a narrativa várias palavras de sabedoria para seu sobrinho, como sendo de sua
autoria. Mas, de fato, elas são muito similares a partes do livro de Provérbios e
algumas outras a partes do livro apócrifo de Eclesiástico.
Apocalipse de Abraão – É um apocalipse de origem hebraica que foi provavelmente
escrito entre 80 e 100 d.C. É somente encontrado em uma tradução para o eslovaco
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antigo. O primeiro terço do livro narra a conversão de Abrão do politeísmo ao
monoteísmo, sendo seguido então do texto apocalíptico. Esta parte do livro se inicia
com Abraão sacrificando a Deus (Gênesis 15:7-16), mas ao invés de serem aves de
rapina que desciam sobre o sacrifício, este texto diz ter sido o anjo Azazel. Este nome
aparece na Bíblia primeiramente em Levítico 16:8, onde é traduzido como “o bode
emissário”. No livro apócrifo de I Enoque Azazel é descrito como um anjo caído do
grupo dos “vigilantes”, e está diretamente associado ao inferno. Seguindo a narrativa
apocalíptica o anjo Laoel guia Abraão e este aprende várias canções de louvor a Deus
e vê Azazel ser condenado ao mundo inferior. Abraão é então levado ao templo de
Jerusalém onde vê este ser usado para idolatria resultando na sua destruição por
estrangeiros. Mas, o Templo é por fim apresentado como tendo sido reconstruído em
data posterior.
Apocalipse de Elias – Este é um trabalho anônimo que se apresenta como uma
revelação dada por um anjo. O seu título vem do fato deste livro citar o nome de Elias
por duas vezes. O livro se divide em cinco partes:
Apocalipse de Esdras – É um texto que reclama ter sido escrito por Esdras, mas que
certamente foi escrito muito tempo depois, a sua datação é bem controversa, indo
desde o 2º século d.C. até o 9º século d.C. O seu texto se baseia fortemente em outro
apócrifo mais antigo conhecido como II Esdras (IV Esdras na vulgata ou III Esdras
para os ortodoxos russos). O texto mostra o autor tendo visões do céu e do inferno,
onde as punições a que são submetidos os pecadores são descritas em detalhe.
Apocalipse de Sidraque – Também conhecido como Palavra de Sidraque, é um texto
apócrifo antigo, mas de datação incerta. Seu título provém da forma grega do nome de
Sadraque, um dos três que foram levados vivos à fornalha ardente pelo rei
Nabucodonosor. O texto descreve como Sadraque foi levado à presença de Deus, por
Jesus Cristo em pessoa. Mas, mesmo que o texto se mostre superficialmente Cristão,
ele é derivado de um texto judeu mais antigo, onde o nome de um arcanjo foi
substituído pelo nome de Jesus.
Apocalipse de Sofonias – Este livro reclama ter sido escrito por Sofonias (o profeta),
sua narrativa consiste de Sofonias sendo levado a visitar o céu e o inferno. Em sua
visão do inferno Sofonias teria visto dois anjos gigantes, sendo que um deles é
apresentado como sendo Eremiel, e é o guardião das almas. O outro dá a Sofonias um
rolo contendo uma lista de todos os seus pecados, mas um segundo rolo é apresentado
e Sofonias é julgado inocente e é transformado em um anjo.
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Apócrifo de Ezequiel – É um livro escrito no estilo do Antigo Testamento e contém
revelações que teriam sido dadas a Ezequiel. Hoje sobrevivem apenas alguns
fragmentos em citações de Epifânio, Clemente de Roma e Clemente de Alexandria, e o
Papiro Chester Beatty # 185. É provável que tenha sido escrito entre 50 a.C. e 50 d.C.
Ascensão de Isaías – Este apócrifo é datado do 2º século d.C. e foi compilado por um
estudioso Cristão do qual nada se sabe. O texto tem três partes distintas, sendo que a
primeira parece ter sido escrita por um autor judeu e as outras duas por autores
cristãos. A primeira parte, normalmente chamada de o Martírio de Isaías, repete e
expande os eventos descritos em II Reis 20. No meio desta narrativa foi inserido um
apocalipse cristão conhecido como o Testamento de Ezequias. A segunda parte do
livro se refere à Visão de Isaías e sua jornada assistido por um anjo.
Assunção de Moisés – É um escrito de origem judaica, com data e autoria incertas. É
encontrado apenas em um manuscrito do século VI em latim. Traz uma breve
descrição da história judaica até aproximadamente o 1º século d.C. O texto com
aproximadamente vinte capítulos revela as profecias secretas reveladas por Moisés a
Josué no final de sua vida.
II Baruque – Também conhecido como o Apocalipse siríaco de Baruque, é datado do
final do 1º século ou início do 2º d.C. após a queda de Jerusalém em 70 d.C. Este
trabalho (contrariando Jeremias que afirma ser Baruque um escriba) apresenta
Baruque como um profeta e bastante superior a Jeremias. É um misto de oração,
lamentação e visões, com um estilo de escrita próximo ao usado no livro canônico de
Jeremias. Trata especialmente da sobrevivência do povo judeu, mesmo após a
destruição do Templo.
III Baruque – Também conhecido como o Apocalipse grego de Baruque, é datado do
final do 1º século ou início do 2º d.C. após a queda de Jerusalém em 70 d.C. Este texto
tal qual II Baruque também trata da sobrevivência do povo judeu após a destruição do
Templo, argumentando que o Templo está preservado no céu e é apresentado como
estando completamente funcional lá, sendo mantido por anjos, não havendo, portanto
qualquer necessidade de reconstruí-lo aqui na terra. Neste texto Baruque é apresentado
a vários “céus”, onde testemunha a punição dos construtores da torre de Babel, e da
serpente do Jardim do Éden até que finalmente chega ao portão do quinto céu, o qual
somente o arcanjo Miguel é capaz de abrir.
IV Baruque – É também conhecido como as Omissões de Jeremias (Paraleipomena de
Jeremias) quando combinado com a Epístola de Jeremias. É considerado apócrifo por
todas as denominações Cristãs exceto a Igreja Ortodoxa Etíope. Sendo um pseudo-
epígrafe significa que Baruque não o escreveu. O texto está severamente editado,
sendo difícil definir quando cada parte foi escrita. Baruque é apresentado neste texto
como sendo um intermediário entre Jeremias e Deus, e não somente um escriba.
Advoga a xenofobia, o divórcio de esposas estrangeiras, e o exílio daqueles que não se
divorciarem. Deste modo, os que não se divorciaram são retratados como sendo os
ancestrais dos samaritanos.
Conflito de Adão e Eva com Satanás – É um texto Cristão encontrado em etíope e
árabe, provavelmente do 5º século d.C. Descreve os acontecimentos que se seguiram à
expulsão do Jardim do Éden e segue até o testamento e o translado de Enoque.
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Livro de Enoque – Este é um título dado a um conjunto de livros que se atribuem a
Enoque, o bisavô de Noé (Gênesis 5:18-24). Normalmente o título “Livro de Enoque”
se refere a I Enoque, que existe inteiro somente em uma tradução em língua etíope. Há
outros dois livros chamados Enoque, II Enoque que existe somente em eslovaco
antigo, e III Enoque que existe somente em hebraico. O livro é dividido em cinco
partes distintas:
A passagem de I Enoque 1:9 é citada em Judas 14-15. Devido a este fato, muitos dos
primeiros pais da Igreja consideraram este livro como sendo canônico, entre eles Justino
Mártir, Irineu, Orígenes, Clemente de Alexandria e Tertuliano. Contudo, a Igreja como um
todo negou a canonicidade deste livro. E isto gerou inclusive problemas para a aceitação da
carta de Judas, por citar um livro apócrifo. No fim o entendimento foi de que a citação de I
Enoque 1:9 em Judas foi canonizada pela ação do Espírito Santo ao permiti-la no Texto
Sagrado.
Este texto foi datado como sendo do período dos Macabeus (aproximadamente 160 a.C.).
Evangelhos da Infância
A falta de informação sobre a infância de Jesus nos evangelhos canônicos levou os primeiros
Cristãos a uma fome por mais detalhes sobre a juventude de Jesus. Esta fome fez com que no
2º século e depois, alguns escrevessem contando lendas sobre este período da vida do Senhor,
nenhum deles canônico, mas certamente populares em seu tempo e depois, sendo que ainda
hoje vemos reflexos de seu conteúdo na religiosidade popular.
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Evangelhos Judeu-Cristãos
Alguns grupos dentre os primeiros Cristãos mantinham uma forte submissão ao judaísmo,
especialmente à lei mosaica, os quais o apóstolo Paulo chamou de judaizantes, acabaram por
criar evangelhos segundo suas próprias crenças.
A maior parte destes escritos sobrevive apenas como comentários críticos produzidos por
pessoas da cristandade paulina, que eram Cristãos que seguiam os ensinos do apóstolo Paulo,
também tratados em I Coríntios 1:12 e 3:4 como “os que são de Paulo”.
Evangelho dos Hebreus – Este evangelho, composto em hebraico, está perdido exceto
por algumas citações de Epifânio, um escriba da igreja que viveu no final do 4º século
d.C. Este evangelho era também conhecido por Jerônimo, que afirma em um de seus
escritos que o estava traduzindo para o grego. Sua data e autoria são desconhecidas,
apesar de alguns o atribuírem ao próprio Mateus.
Em geral, segue o conteúdo do Evangelho canônico de Mateus, mas com algumas
divergências importantes. Um dos pontos de maior distinção é que ele referencia o
Espírito Santo como sendo a mãe de Jesus, coloca Tiago, o Justo, como cabeça da
igreja de Jerusalém, e se concentra em exortar para uma estrita obediência à lei
judaica. Também altera a oração do Senhor, substituindo o “pão nosso de cada dia”,
por “pão para amanhã”. Epifânio, em seu trabalho afirma: Eles dizem que Cristo não
foi o primogênito de Deus o Pai, mas criado como um dos arcanjos… que ele domina
sobre os anjos e sobre todas as criaturas do Todo-Poderoso, e que ele veio e declarou
em seu Evangelho, o qual é chamado Evangelho segundo Mateus, ou Evangelho
segundo Mateus aos Hebreus, dizendo: “Eu vim para fazer com que cessem os
sacrifícios, e se vós não cessardes com os sacrifícios, a ira de Deus sobre vós não
cessará”.
Evangelho dos Nazarenos – Aparentemente deriva do Evangelho dos Hebreus, com
poucas diferenças. Quanto à data e local de escrita há muita controvérsia, mas como
Clemente usou o livro no final do 2º século, ele é certamente mais antigo que isto. O
local de escrita mais cotado é Alexandria no Egito.
Evangelho do Ebionitas – Este evangelho tem grande afinidade com o Evangelho dos
Hebreus e com o dos Nazarenos. Como os outros dois ele também somente sobrevive
em pequenos fragmentos encontrados em citações de autores dos primeiros séculos.
Epifânio ressalta algumas diferenças entre o Evangelho dos Ebionitas e o Evangelho
dos Nazarenos. Segundo ele os Nazarenos eram considerados como parte da
cristandade ortodoxa, enquanto o Ebionitas eram considerados hereges, especialmente
por rejeitarem o nascimento virginal de Jesus. Neste evangelho Jesus aparece como
sendo vegetariano, e somente no batismo recebe sua “parte divina”.
Evangelhos Morais
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Alguns textos tomaram a forma de discursos sobre a moralidade, e em particular sobre a
abstinência sexual, normalmente apresentando um debate entre Jesus e um de seus discípulos,
estes são os evangelhos morais.
Evangelho dos Egípcios (em Grego) – Não deve ser confundido com o Evangelho dos
Egípcios em Copta, que é uma obra completamente diferente. Este evangelho foi
escrito provavelmente na primeira metade do 2º século em Alexandria. Ele foi citado
por Clemente de Alexandria. Este evangelho toma a forma de uma conversa entre a
discípula de Jesus, Salomé (Marcos 15:40) e Jesus, que advoga a causa do celibato,
como comenta Cameron: “cada fragmento endossa o ascetismo sexual como meio de
quebrar o ciclo letal do nascimento e de superar as diferenças pecaminosas entre o
homem e a mulher, permitindo a todas as pessoas retornar ao que foi entendido como
seu estado primordial de androgenia” (Cameron 1982).
Evangelho de Tomé, o contendor – Ou livro de Tomé o contendor, não deve ser
confundido com o Evangelho de Tomé. O evangelho se inicia assim: “As palavras
secretas que o salvador disse a Tomé, as quais eu, eu mesmo, Matias, escrevi,
enquanto andava ouvindo-os falar um com o outro”. Este escrito foi achado na
biblioteca de Nag Hammadi, no deserto egípcio. Alguns consideram que este livro
pode ser o Evangelho de Matias, livro este que estava perdido. Nele Jesus trata Tomé
como seu próprio irmão gêmeo, e lhe expõe o tema da moralidade, e particularmente
da sexualidade. Jesus segue então mostrando como o celibato oferece a rota para a
salvação, e como a paixão sexual é um fogo que causa ilusão, e aprisionamento em um
estado de luxúria.
Evangelhos da Paixão
Evangelho de Pedro – O evangelho de Pedro é uma narrativa da paixão, que foi bem
conhecida no início da história Cristã, mas que desapareceu com o tempo. Hoje é
conhecida apenas de ouvir falar, especialmente pela carta de Serapião, bispo de
Antioquia de 190 a 203 d.C., referenciada por Eusébio, que afirma o seguinte: “muito
dele se enquadra nos corretos ensinos sobre o Salvador, mas algumas partes podem
encorajar seus ouvintes a cair na heresia do docetismo”.
Atos de Pilatos – Se inclui como um apêndice ao texto medieval em latim chamado
Evangelho de Nicodemos. O texto é provavelmente da metade do 4º século, sendo de
autoria desconhecida. A primeira parte do livro relata o julgamento de Jesus, com base
em Lucas 23 e a segunda trata da ressurreição. Nele, Lúcio e Carino, duas almas
ressuscitadas após a crucificação, relatam ao Sinédrio os acontecimentos da descida de
Cristo ao Limbo. O episódio do Angustiante Inferno descreve Dimas (nome dado por
este manuscrito ao malfeitor crucificado com Jesus e que recebeu Dele o perdão)
acompanhando Cristo no Inferno, e a libertação dos patriarcas do Antigo Testamento
que eram justos.
Evangelho de Bartolomeu – As primeiras referências a este texto foram feitas por
Jerônimo e recentemente foram descobertos alguns fragmentos de manuscritos em
copta contendo o texto. Este texto contém as visões de Bartolomeu, e os atos de Tomé,
mas é predominantemente um texto sobre a paixão e a eucaristia. O texto começa com
a crucificação de Jesus, e então passa à ida de Jesus ao inferno, onde encontra com
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Judas e prega para ele. Jesus resgata todos os que estão no inferno, exceto Judas, Caim
e Herodes o Grande. Bartolomeu está presente à cena, e é depois levado ao mais alto
nível do céu, de modo a poder ver a liturgia (católica) indo celebrar a ressurreição.
Questões de Bartolomeu – Não deve ser confundido com o Evangelho de Bartolomeu.
O texto sobrevive em cópias em grego, latim e eslovaco antigo, mesmo que cada cópia
varie grandemente da outra. O texto apresenta Jesus respondendo aos seus discípulos
algumas perguntas formuladas por Bartolomeu. O texto se atém fortemente ao
misticismo judaico (tal qual o Livro de Enoque), buscando dar explicações para os
aspectos sobrenaturais do Cristianismo. O livro mostra como Jesus desceu ao inferno,
por suas próprias palavras, trata da imaculada concepção de Maria, e finalmente,
Bartolomeu pede para ver Satanás, e então um coro de anjos arrasta Satanás
acorrentado do inferno, mas vê-lo faz com que os apóstolos morram. Jesus então
imediatamente os ressuscita e dá a Bartolomeu o controle sobre Satanás. O texto
também afirma que a queda do homem foi causada por Eva ter tido relações sexuais
com Satanás.
São textos que tratam da vida dos apóstolos após a ressurreição de Jesus. Todos atribuídos a
Leucius Charinus supostamente um discípulo de João o apóstolo, e que se uniu a este em
oposição aos Ebionitas.
1. Atos de Paulo e Thecla – Neste texto Paulo está viajando a Icônio, proclamando “a
palavra de Deus sobre a abstinência, a virgindade e a ressurreição”. Thecla, é uma
virgem jovem e nobre, que ouve os discursos de Paulo sobre a virgindade de sua janela
na casa ao lado. Seu noivo então leva Paulo ao governador que o prende. Thecla vai à
prisão para ouvir Paulo, e é então condenada por estar dando ouvidos à questão da
virgindade à morte na fogueira, mas nada lhe acontece pois Deus manda um chuva e
terremotos para apagar as chamas. A história segue nestes termos, até que Thecla foge
para uma caverna (estando ainda virgem) e mora lá por mais 72 anos. Aos 90 anos um
homem tenta corrompê-la, mas Thecla consegue escapar e vai a Roma onde é
enterrada com Paulo.
2. Epístola dos Coríntios a Paulo – Este escrito clama descrever os ensinos de Simão, o
mago, incluindo a idéia de que Deus não é Todo-Poderoso, que a ressurreição é falsa,
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que Cristo não foi Deus verdadeiramente encarnado corporalmente (idéia docetista),
que os anjos fizeram o mundo, e que os profetas foram imprecisos.
3. Terceira Epístola aos Coríntios – Este texto foi posteriormente separado dos Atos de
Paulo. O texto escrito por um Pseudo-Paulo (provavelmente um presbítero cristão em
170 d.C.), é uma resposta à Epístola dos Coríntios a Paulo, e é estruturado para tentar
corrigir alguns problemas de interpretação nas Epístolas de I e II aos Coríntios.
(canônicas). Em particular a epístola tenta corrigir a interpretação da frase: “a carne e
o sangue não podem herdar o reino de Deus” (I Co.15:50), pela qual alguns diziam
que a ressurreição não seria corporal.
4. O Martírio de Paulo – Texto que retrata a morte de Paulo nas mãos de Nero.
Atos de Pedro – Este texto da segunda metade do 2º século d.C. relata o miraculoso
embate entre Pedro e Simão o mago em Roma. Nele Pedro executa milagres como a
ressurreição de um peixe defumado, e fazer cachorros falarem. O texto condena
Simão, o mago, antiga figura ligada ao gnosticismo. Algumas versões deste texto
também fazem referência a uma mulher (ou mulheres) que prefere a paralisia ao sexo.
No Códice de Berlin, a mulher é apresentada como a filha de Pedro. Conclui
descrevendo o martírio de Pedro, crucificado de cabeça para baixo.
Atos de André – É um texto do 3º século d.C. baseado em Atos de João e de Pedro,
descreve viagens de André e os milagres que fez durante estas viagens e finalmente
uma descrição da forma como supostamente morreu. Como nos outros livros
congêneres os milagres são extremamente sobrenaturais, e muito exagerados. Por
exemplo, além dos milagres usuais de levantar mortos, curar cegos, e outros, ele
sobrevive ao ser jogado aos animais selvagens, acalma tempestades, e derrota
exércitos apenas fazendo o sinal da cruz. André também faz com que um embrião
resultante de um relacionamento ilegítimo morra. Ao ser crucificado, André ainda é
capaz de pregar sermões por três dias.
Atos de Tomé – Este texto gnóstico do início do 3º século d.C. é apresentado em uma
série de episódios, que ocorrem durante a missão evangelística de Tomé à Índia.
Termina com seu martírio no qual ele morre perfurado por lanças porque causou a ira
do Rei Misdaeus pela conversão de suas esposas e um parente.
Atos de Pedro e André – Este texto não tem uma datação definida, e consiste de uma
série de contos curtos de milagres, como quando André cavalga uma nuvem para ir de
encontro a Pedro, e Pedro literalmente faz passar um camelo através do buraco de uma
agulha. O texto parece ser uma tentativa de continuar os Atos de André e Matias (que
faz parte dos Atos de André).
Atos de Pedro e os Doze – O texto datado do 2º século, é constituído de uma alegoria
inicial, semelhante à descrita no Evangelho de Mateus, do negociante de pérolas
(Mateus 13:44ss.) mas que aqui está vendendo uma pérola de grande valor. O
negociante é evitado pelos ricos, mas os pobres vão a ele em grande quantidade, e
descobrem que a pérola está guardada na cidade natal do negociante, “Nove Portões”,
e aqueles que quiserem a pérola deverão empreender a dura viagem até Nove Portões.
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O nome do negociante é Lithargoel, que traduzido é pérola, ou seja, o próprio
negociante é a pérola. Por fim, o negociante se revela como sendo o próprio Jesus.
Atos de Pedro e Paulo – Este é um texto tardio, do 4º século, que conta a lenda da
viagem de Paulo da ilha de Guadomelete para Roma, apresentando Pedro como sendo
irmão de Paulo. Também descreve a morte de Paulo por decapitação, uma antiga
tradição da igreja.
Atos de Felipe – Este livro é uma fantasia datada do final do 4º século ou início do 5º
século d.C. envolvendo milagres e um suposto diálogo que fez Felipe conquistar
muitos convertidos. Termina com a crucificação de Felipe em uma cruz invertida.
Epístolas
Há uma série de epístolas não canônicas, mas escritas no formato de epístolas canônicas,
muitas das quais (apesar de espúrias) foram bastante consideradas pela igreja primitiva.
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Pseudo-Correspondência entre Paulo e Sêneca, o jovem – Consiste de uma série de
oito cartas supostamente enviadas pelo filósofo estóico Sêneca, e seis respostas
supostamente enviadas pelo apóstolo Paulo. As cartas foram compostas provavelmente
na segunda metade do 4º século e tem autoria desconhecida. Baseiam-se na tradição de
que tanto Sêneca quanto Paulo estiveram em um mesmo período na cidade de Roma.
III Coríntios – Já tratada acima como parte dos Atos de Paulo.
Apocalipses
Apocalipse de Pedro – Não deve ser confundido com o Apocalipse gnóstico de Pedro.
Está datado na primeira metade do 2º século, foi considerado canônico por Clemente
de Alexandria, mas foi recusado pelo restante da Igreja. Subsiste em apenas dois
manuscritos, um em grego e outro e etíope os quais divergem grandemente entre si. O
texto tem um estilo literário simples, mas muito apreciado pelos populares em
Alexandria. Trata basicamente de uma visão do Céu e do Inferno. Roberts-Donaldson
afirma: “O Apocalipse de Pedro mostra impressionante parentesco com a segunda
epístola de Pedro… Também apresenta notáveis paralelos com os Oráculos de
Sibeline… É uma das fontes do escritor do Apocalipse de Paulo… E direta ou
indiretamente este texto pode ser considerado como o pai de todas as visões medievais
do outro mundo”.
Apocalipse de Paulo – Este texto também é encontrado tendo a Virgem Maria no lugar
de Paulo como a pessoa que recebe a revelação. Este texto paralelo é conhecido como
o Apocalipse da Virgem. Não deve ser confundido com o Apocalipse gnóstico de
Paulo. A narrativa aparenta ser uma elaboração e um rearranjo do Apocalipse de
Pedro, inicia-se com um apelo de todas as criaturas contra os pecados da humanidade
segue essencialmente descrevendo uma visão do Céu e do Inferno. No final do texto
Paulo (ou Maria) consegue persuadir Deus a dar a todos no Inferno um dia de
descanso, fora do Inferno, a cada domingo.
Apocalipse de Tomé – Aparentemente foi composto originalmente em latim em data
desconhecida, trata dos sinais do fim do mundo. Parece ser uma curta interpretação do
Apocalipse de João. Apresenta os fatos que acontecerão em uma seqüência de seis dias
de tormento antes da vinda de Jesus, e no final do sétimo dia se fará paz e os anjos
virão à Terra.
Apocalipse de Estevão – Texto com autoria e datação incertas, descreve um conflito
sobre a natureza de Jesus de Nazaré. Estevão aparece em cena e reconta o apocalipse
como uma verdade literal. A multidão se insurge contra Estevão e o leva perante
Pilatos, a quem Estevão ordena que se cale e que reconheça Jesus. O texto conta que
Estevão sendo perseguido por Saulo, foi crucificado, mas solto por anjos, depois foi
levado ao Sinédrio onde recontou uma suposta profecia de Natã sobre Jesus, e foi
julgado e condenado ao apedrejamento. Sendo levado pela multidão iniciou-se o
apedrejamento, quando Nicodemos e Gamaliel tentaram impedir o processo e também
foram mortos. Após sua morte, Estevão foi enterrado por Pilatos em um caixão de
prata. Pilatos então recebe as visões celestiais de Estevão e se converte.
I Apocalipse de Tiago – É um texto gnóstico encontrado em Nag Hammadi. A datação
e autoria ainda são incertas, mas provavelmente escrito depois do II Apocalipse de
Tiago. O texto se apresenta como um diálogo entre Tiago, o justo, irmão de Jesus, e o
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próprio Jesus. Se inicia tratando do medo de Tiago de ser crucificado, e segue
apresentando uma série de senhas dadas por Jesus a Tiago de modo a que ele chegasse
até o mais alto dos céus (são 72) após morrer, sem ser bloqueado pelos poderes do mal
do demiurgo (segundo os gnósticos o ser que intermediou a criação).
II Apocalipse de Tiago – Escrito provavelmente durante o 2º século d.C. esteve
perdido até ser reencontrado em Nag Hammadi. O texto é claramente gnóstico,
apresentando um beijo na boca que Jesus teria dado em Tiago, metáfora para a
passagem da gnose entre duas pessoas (deixa claro que não se trata de um
relacionamento homossexual). O texto termina com a horrível morte de Tiago por
apedrejamento, provavelmente refletindo uma antiga tradição sobre sua morte.
Enquanto a maior parte dos livros tratados até aqui tenham sido considerados heréticos
(especialmente aqueles de tradição gnóstica), outros não foram considerados como sendo
particularmente heréticos em seu conteúdo, em muitos casos sendo bem aceitos como obras
com alguma significância espiritual. Eles, contudo, não foram considerados canônicos, mas
pertencem à categoria de escritos dos pais da Igreja.
Evangelhos Harmônicos
Alguns textos buscaram prover uma harmonização dos evangelhos canônicos, tentando
apresentar, de alguma forma, um texto unificado. Entre estes textos o mais conhecido é o
Diatessaron:
Diatessaron – Escrito por Taciano em 175 d.C. foi a mais proeminente harmonização
dos quatro evangelhos, ou seja, o material dos quatro evangelhos escritos de modo a
formar uma única narrativa. Somente 56 versos dos Evangelhos canônicos não tiveram
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uma contrapartida no Diatessaron, sendo que a maior parte das exclusões se deve às
duas genealogias de Jesus em Mateus e Lucas, juntamente com o relato sobre a mulher
adúltera em João 7:53-8:11. Contudo, a seqüência da narrativa do Diatessaron é
substancialmente diferente da encontrada em qualquer dos evangelhos.
Livros Perdidos
Há muitas obras e textos que são mencionados em algumas fontes antigas, mas que nenhuma
parte conhecida do texto sobreviveu.
1. Evangelho de Matias
2. Evangelho dos Quatro Impérios Celestiais
3. Evangelho da Perfeição
4. Evangelho de Eva – Uma citação deste evangelho é dada por Epifânio. É possível que
este seja o Evangelho da Perfeição que ele trata em outra parte. A citação mostra que
este evangelho era a expressão de um completo panteísmo.
5. Evangelho dos Doze
6. Evangelho de Tadeu – Alguns entendem ser este um sinônimo para o Livro de Judas.
7. Memória Apostólica
8. Evangelho dos Setenta
9. Lápide dos Apóstolos
10. Livro dos feitiços das serpentes
11. Porção dos Apóstolos
Outros Escritos
Há muitos outros escritos de importância menor, muitos textos gnósticos, e ainda orações,
sermões, liturgias e penitências, que não foram citados neste trabalho.
1. Todos os textos bíblicos citados neste estudo foram extraídos da tradução de João
Ferreira de Almeida – Corrigida e Revisada Fiel ao Texto Original (ACF), editada pela
Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, em 1995, exceto quando houver sido
especificado em contrário.
2. Definição baseada na explicação encontrada no Easton Bible Dictionary
3. L = 50, X = 10, X = 10, formado 70.
4. Algo realmente surpreendente é não ter sido escolhido o título de LXXII, o que seria,
com certeza, mais apropriado à lenda.
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