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Os Livros Apócrifos

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por Verdade Viva · Publicado 10-10-2007 · Atualizado 28-03-2016

Desde que o homem iniciou o processo de escrita daquilo que por Deus era ordenado, houve a
necessidade de se distinguir entre o que era escrito por inspiração divina e o que era escrito
meramente por vontade humana. O Espírito de Deus agia de modo a que a pessoa que estava
escrevendo tivesse clara noção de que o que ela escrevia era texto autoritativo, ou seja, que
estava falando em nome de Deus, logo o que era escrito, era Palavra de Deus. Da mesma
forma aqueles que estavam com esta pessoa, também tinham esta noção, proveniente da
mesma origem: O Espírito Santo de Deus.

Cânon

“Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para
corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente
instruído para toda a boa obra” (II Timóteo 3:16 ACF1).

Ao conjunto dos livros que foram reconhecidos como tendo sido escritos desta forma, damos
o nome de cânon bíblico. A palavra cânon é proveniente da palavra grega kanwn, que
significa cana, junco, bastão ou vareta. Desta forma significando algo que deve estar reto ou
ser mantido reto, e assim algo que mede ou que pode ser medido. O termo veio a ser aplicado
às Escrituras, para denotar que elas continham a regra autoritativa de fé e prática, o padrão de
doutrina e dever2. Parece ter sido Atanásio (séc. IV) o primeiro a tratar a palavra com este
sentido. São, portanto chamados de canônicos os livros que foram inspirados por Deus, os
quais compõem as Escrituras Sagradas.

Apócrifo

A palavra “apócrifo” tem origem na palavra grega apokrufov que significa, segundo o léxico
de Liddell e Scott, algo “escondido”, “secreto”, “obscuro”, “de difícil compreensão”, e é
aplicada a textos que têm sua autenticidade incerta ou a escritos cuja autoria é desconhecida
ou questionada.

Tanto na teologia judaica quando na cristã, o termo “apócrifo” se refere a qualquer porção de
texto pretensamente escriturística, mas que não correspondendo à regra estabelecida para a
determinação de um livro como canônico, ficou fora do cânon oficial, sendo considerada,
portanto, como um texto cujo conteúdo é espúrio ou falseado, não devendo ser levado em
consideração na formação de quaisquer ensinos doutrinários, ou no estabelecimento de
quaisquer práticas eclesiásticas.

Uso atual dos apócrifos

Mesmo havendo, em geral, um consenso sobre este assunto entre o povo de Deus, desde
tempos remotos, a sociedade em geral não tem este conceito plenamente solidificado, ou
claramente compreendido, como conseqüência disto sempre houve escritos seculares que
tentam tratar os livros apócrifos como tendo o mesmo grau de autoridade que um texto
1
canônico, ou como tendo ainda maior autoridade, ocorrência esta que tem crescido em
quantidade e em vigor nos últimos tempos, como acontece, por exemplo, com o livro (e filme)
intitulado “O Código DaVinci” de Dan Brown, o qual baseia muito de sua argumentação em
textos apócrifos.

E pior, criou-se, por força do grande misticismo pós-moderno, uma “corrida” aos apócrifos
(inclusive por alguns estudiosos cristãos). São pessoas que equivocadamente supõem haver
nos livros apócrifos alguma nova “revelação” ou “informação pertinente”. Contudo, esta
busca é algo extremamente perigoso, uma vez que confiar em informações prestadas por um
livro que desde os primórdios do cristianismo foi considerado como sendo falso e espúrio é,
para dizer pouco, um ato de grande insensatez. Quem confia no que diz uma testemunha que,
sabidamente, ao longo do tempo tem mentido e enganado? Ela pode em algum momento até
dizer uma verdade, mas como saber? Como se ter certeza? Lembremo-nos da fábula do
menino e do lobo! Em verdade, não é possível ter-se confiança naquilo que diz um livro
apócrifo. Sua leitura pode, até certo ponto (DIANTE DE EXTREMA CAUTELA), ser
ilustrativa em alguns aspectos, mas, nunca deve ser tomada como tendo autoridade, ou
verdade reservada, ou revelação. Deve-se ter absoluto cuidado para não se ter a fé abalada por
quaisquer informações encontradas nestes livros. Muitos deles foram escritos exatamente com
este objetivo em mente, qual seja, enfraquecer ou abalar a fé dos leitores na Santa Palavra de
Deus.

A Questão da Septuaginta

A Septuaginta é uma tradução de alguns livros do hebraico para o grego. Foram traduzidos
todos os livros canônicos da Bíblia hebraica, entretanto, com grandes diferenças em relação
ao texto aceito por judeus e cristãos como canônico. Também estão traduzidos vários outros
livros espúrios, ou apócrifos. A tradução da Septuaginta está envolta em lendas, entre as quais
a mais famosa é a de que foi escrita por 72 sábios eruditos judeus (?), sendo 6 de cada tribo de
Israel (?). Segundo a lenda ela teria sido escrita para compor o rol de livros da biblioteca de
Alexandria, um populoso centro urbano, que à época (segundo ou terceiro século antes de
Cristo, segundo esta mesma lenda), já era o centro mundial da intelectualidade helenística e
pagã.

A esta tradução, que supostamente foi terminada ainda durante o reinado do macedônio
Ptolomeu II Philadelphus (de 281 a.C. a 246 a.C.) foi dado o título de LXX3, em algarismos
romanos (?), significando o número setenta.4 É importante notar que não há qualquer
confirmação para esta lenda, a qual se baseia em um único documento chamado “Carta de
Aristeas”, documento este que está crivado de dados claramente fictícios e mitológicos, o que
faz com que este escrito também conste da lista de livros apócrifos do Antigo Testamento.

Não há qualquer registro de um documento bíblico em grego, como tendo sido escrito em 250
a.C. Bem como, não há qualquer registro na história judaica de que tal esforço de tantos
eruditos hebreus, que tivessem à época também conhecimento pleno do grego, e que tivessem
se deslocado para Alexandria de modo a realizar tão grande tarefa. Algo assim teria sido, com
certeza, digno de nota. Lembrando também que as dez tribos do norte estavam (como hoje
ainda estão) perdidas, sem que se possa discernir sequer onde cada uma está, quanto mais
selecionar-se 6 eruditos de cada uma delas, que conhecessem profundamente o hebraico e
também o grego!

2
Os defensores desta lenda, quando pressionados a mostrar provas concretas de sua veracidade,
apontam para a Hexapla de Orígenes (do 3º século depois de Cristo), contudo, deste trabalho
pouco resta para se analisar, e entendendo-se a quinta coluna desta obra como sendo o texto
original da Septuaginta veríamos vários livros apócrifos incluídos, livros estes que se tivessem
sido traduzidos pelos supostos 72 sábios hebreus, o teriam sido antes mesmo de serem
escritos, pois a data destes livros é claramente posterior à suposta tradução dos setenta. Pode-
se concluir que se a quinta coluna realmente segue os manuscritos da Septuaginta, então ou
ela foi uma tradução realizada pelo próprio Orígenes ou é de qualquer forma um trabalho
posterior à alegada data da tradução da LXX.

Eusébio e Filo afirmaram que apenas o Pentateuco em grego existia à época de Jesus, e não
todo o Antigo Testamento. Na verdade, encontramos hoje somente o papiro de Ryland # 458
contendo os capítulos de 23 a 28 de Deuteronômio. Mas, como este papiro é datado de 150
a.C. podemos concluir que provavelmente havia razão para que Eusébio e Filo afirmassem a
existência do Pentateuco em grego à época de Jesus. Entretanto, mesmo sendo este o caso,
como parece ser, dificilmente tal documento teria qualquer influência fora do seu habitat, ou
seja, Alexandria e outras localidades onde o grego era a língua dominante, e teria menos
influência ainda, ou melhor, não encontraria qualquer guarida, em Israel, junto a fariseus e
zelotes que lutavam com todas as forças para manter sua religião e suas tradições intocadas.
Este argumento é reforçado pelos achados de Qumram, a partir dos quais se conclui que o
hebraico era língua conhecida e corrente à época do Senhor Jesus Cristo. Seja como for, as
evidências de uma completa LXX existente e em uso à época de Jesus Cristo, são poucas e
não conclusivas.

O mais provável é que uma tradução de todo o Antigo Testamento (ou uma revisão de um
texto já existente??) do hebraico para o grego tenha sido concluída posteriormente (no
decorrer do segundo século), usando inclusive como base o texto de passagens do Novo
Testamento em grego para completar e facilitar a tradução dos versos do Antigo Testamento
citados pelo Novo Testamento.

Nós podemos ver este fato claramente ilustrado no caso de Romanos 3:10-18, onde:

 3:10-12 é citação do Salmo 14:1-3 ou Salmo 53:1-3


 3:13 é citação de Salmo 5:9 e Salmo 140:3
 3:14 é citação do Salmo 10:7
 3:15-17 é citação de Isaías 59:7-8
 3:18 é citação do Salmo 36:1

Na Septuaginta, os versos de Romanos 3:13-18 estão anexados ao final do verso 3 do Salmo


14 (acrescentando ao seu conteúdo original), e em seqüência, verso a verso, palavra por
palavra, tal qual foram citados pelo apóstolo Paulo em Romanos. Neste exemplo podemos
perceber com clareza que não é o Novo Testamento que cita a Septuaginta, mas sim, é a
Septuaginta que cita o Novo Testamento, até porque não há um só manuscrito em hebraico
que traga uma leitura sequer semelhante à da Septuaginta no Salmo 14:3, nem tampouco se
encontra esta leitura em traduções antigas da Palavra de Deus como a Peshitta (antiga
tradução para o siríaco).

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Jerônimo, após ter comparado os manuscritos da Septuaginta com manuscritos em hebraico,
afirma:

“Seria tedioso agora enumerar, as muitas adições e omissões que a Septuaginta fez, e todas as
passagens que nas cópias das igrejas estão marcadas com cruzes e asteriscos [N.T.: símbolos
que indicavam palavras que apareciam no grego e não no hebraico e vice-versa]. Os judeus
geralmente riem quando ouvem nossa versão desta passagem de Isaías: ‘Bendito é aquele que
tem sementes em Sião e servos em Jerusalém [Isaías 31:9].’ Em Amós também … Mas como
nós devemos lidar com os originais em Hebraico nos quais estas passagens e outras como
estas estão omitidas, passagens tão numerosas que reproduzi-las irá requerer livros sem
conta?” – [Carta LVII de Jerônimo].

Diante de todos os fatos, é possível afirmar, com boa dose de certeza, que a Septuaginta é um
texto posterior (com exceção feita ao Pentateuco), e é, em geral, não confiável, e que assim o
foi desde o princípio. Não devendo, portanto, em momento algum, ser tomada como
autoridade escriturística.

Livros Deuterocanônicos

O termo deuterocanônico foi primeiramente usado por Sixto de Siena em 1566, para
descrever textos do Antigo Testamento, antes considerados apócrifos, mas que a igreja
católica romana havia canonizado durante o Concílio de Trento (que ocorreu entre
13/dez/1545 e 04/dez/1563), colocando-os em uma segunda lista de canonização. Este fato
lhes dá o nome: deuterocanônicos (segundo cânon). Estas porções de texto foram incluídas
juntamente com os textos sagrados, sendo que a igreja católica romana não faz qualquer
distinção entre os textos apócrifos (agora deuterocanônicos) e os textos verdadeiramente
canônicos. Os escritos que se enquadram neste cânon secundário são: Tobias, Judite,
Sabedoria, Eclesiástico, Baruque, I e II Macabeus, e partes de Daniel e de Ester. Há que se
destacar que os textos deuterocanônicos não são aceitos como canônicos nem pelos judeus,
nem pelos protestantes.

Livros “Anagignoskomena”

A Septuaginta (tratada acima), cujo exemplar mais antigo data do século IV d.C. contém
vários livros que não estão presentes na Bíblia hebraica. Estes livros apesar de serem
apócrifos na correta acepção da palavra, são chamados de “anagignoskomena” por serem
livros “reconhecidos” ou “publicados” (neste caso pela Septuaginta), mesmo que isto seja um
contraditório com o fato de serem apócrifos, ou seja, de serem livros não reconhecidos pelo
povo de Deus sob a ação do Espírito Santo.

Livros Pseudo-epígrafes (Pseudepígrafes)

Tecnicamente um livro pseudo-epígrafe é um texto em estilo bíblico que se atribui um autor


que não o escreveu. Há um outro uso para a palavra (apesar de não ser completamente
preciso), onde se atribui o título de pseudo-epígrafe a livros apócrifos que não fazem parte de
nenhuma impressão da Bíblia, opondo-se deste modo aos apócrifos que foram considerados
como deuterocanônicos ou “anagignoskomena”.

Apócrifos do Antigo Testamento


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Livros Deuterocanônicos:

 Tobias – Livro que conta a estória de um Judeu reto da tribo de Naftali chamado
Tobias enquanto vivia em Nínive, após a deportação das tribos do norte pela Assíria
em 721 a.C.
 Judite – Livro que conta a estória de uma mulher corajosa e bela em sua maturidade,
vestida para festa com todas as suas maravilhosas jóias, acompanhada por uma fiel
criada, que obtém sucesso em decapitar o general invasor Holofemes.
 Sabedoria – Livro sapiencial, cujo autor clama ser Salomão. Muitos estudiosos
atribuem sua autoria a algum judeu alexandrino, pois suas idéias são claramente
gregas, mais especificamente, se enquadram no pensamento helenístico alexandrino.
 Eclesiástico – Sua autoria é atribuída a alguém chamado Jesus, filho de Sirach. As
suposições para a sua data de escrita variam enormemente indo de 247 a.C. a 132 a.C.
O livro é formado por reflexões pessoais do autor, e teria sido transcrito por seu neto.
 Baruque – Livro é atribuído a Baruque, o escrivão de Jeremias, e foi pretensamente
escrito na Babilônia. Traz confissões de pecados, clamor por misericórdia, uma
exaltação à sabedoria, uma mensagem aos cativos, e uma carta pretensamente escrita
por Jeremias, a qual o próprio Jerônimo, teólogo católico romano, chamou de pseudo-
epígrafe (texto escrito por um autor que diz ser outra pessoa).
 I Macabeus – Livro histórico que narra o período de aproximadamente um século após
a conquista da Judéia pelos gregos sob o comando de Alexandre o Grande. Sem data
ou autor definidos, nem no livro, nem em escritos antigos de outros autores.
Provavelmente foi escrito entre os últimos anos do 2º século a.C. e antes de 63 a.C.
 II Macabeus – Livro que narra a revolta dos judeus contra Antíoco e conclui com a
derrota do general sírio Nicanor em 161 a.C. por Judas Macabeus. É uma sinopse
composta por um autor desconhecido de um trabalho maior, normalmente atribuído a
Jason de Cirene, do qual muito pouco se sabe, exceto pela inferência de que teria
vivido em Israel, supõe-se que não tenha sido escrito antes de 124 a.C.
 Adições a Daniel – Textos em grego, incluídos junto aos textos originais em hebraico.
São os versos 24-90 do capítulo 3 (oração dos jovens na fornalha), e os capítulos 13
(relato de Suzana) e 14 (a farsa do dragão).
 Adições a Ester – Textos em grego, incluídos junto aos textos originais em hebraico.
Há adições aos capítulos 1, 3, 4, 5, 8, 9 e 10.

Livros Anagignoskomena:

Todos os livros que depois foram considerados como deuterocanônicos também fazem parte
dos anagignoskomena. E além destes temos:

 III Macabeus – O livro na verdade não tem nada a ver com os Macabeus ou com sua
revolta contra o imperialismo grego, como acontece com I e II Macabeus. III
Macabeus conta a estória da perseguição dos judeus sob o reinado de Ptolomeu IV.
Provavelmente o título do livro vem da similaridade de sua estória com a estória
narrada em II Macabeus. Mas, seu conteúdo é claramente ficcional.
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 IV Macabeus – Este livro é na verdade uma homilia louvando a supremacia
religiosidade sobre as paixões, e para tanto faz uso de muitos pensamentos de origem
pagã. Também relata vários diálogos de mártires que diferem substancialmente dos
mesmos diálogos encontrados em II Macabeus.
 I Esdras – Sua autoria é desconhecida, e a data de escrita somente pode ser suposta em
um período de tempo extremamente longo, algo como um período entre 300 a.C. e 100
d.C. Este livro em sua maior parte segue um paralelo da narrativa contida em Esdras,
Neemias e no livro de II Crônicas, sendo que algumas seções são traduções diretas
destes livros. O nome de I Esdras vem do fato de que o livro canônico de Esdras é
conhecido na igreja ortodoxa grega como a primeira metade de II Esdras (a segunda
metade é Neemias). Contudo, na igreja ortodoxa russa o livro de II Esdras se refere ao
I Esdras da Septuaginta. Já no catolicismo romano o livro de Neemias é às vezes
chamado de II Esdras. Como pode ser visto, a confusão é grande quanto à
nomenclatura deste livro e dos livros canônicos, quando se tenta incluí-lo entre eles.
Odes – Sua autoria e data de escrita são desconhecidos. É um livro que está na
Septuaginta logo após o Salmo 151. Como o nome indica é um livro de canções que
em grande parte repete canções encontradas em outros livros da Bíblia, como as
canções de Moisés (Êxodo 15:1-19, Deuteronômio 32:1-43), a oração de Ana, mãe de
Samuel (I Samuel 2:1-10), inclui também orações e canções encontradas em outros
livros apócrifos, como a oração dos três jovens (complemento deuterocanônico de
Daniel). Mas, o mais interessante é o livro incluir orações que são encontradas no
Novo Testamento, como o Magnificat de Maria (Lucas 1:46-55) e o cântico de
Zacarias (Lucas 1:68-79). Algo realmente fantástico para um livro do Antigo
Testamento (Já que alguns defendem que a Septuaginta foi inteiramente traduzida e
reconhecida antes de Cristo).
 Oração de Manassés – É um curto escrito de 15 versos que relata uma oração de
penitência do rei Manassés de Judá enquanto esteve preso pelos assírios. O rei
Manassés é registrado pela Bíblia como sendo um dos reis mais idólatras de Judá em
todos os tempos (II Reis 21:1-18), mas quando foi tomado cativo pelos assírios, se
arrepende e clama misericórdia a Deus (II Crônicas 33:10-17). Este livro pretende
reproduzir a oração de Manassés a Deus neste momento.
 Salmo 151 – Este é um salmo curto, atribuído ao rei Davi, somente encontrado na
Septuaginta. Apesar de recentemente terem sido encontrados dois manuscritos, nas
cavernas de Qumram, que dão base hebraica para este salmo, ele continua sendo
considerado como apócrifo, exceto pela igreja ortodoxa grega que o tem como
canônico.

Livros Pseudo-epígrafes (Pseudepígrafes)

 Ahicar ou Haiquar – Segundo o livro ele foi um sábio Assírio conhecido por sua
grande sabedoria. O livro também conhecido como “As palavras de Ahicar” foi
encontrado em um papiro aramaico de aproximadamente 500 a.C. Ahicar profere
durante a narrativa várias palavras de sabedoria para seu sobrinho, como sendo de sua
autoria. Mas, de fato, elas são muito similares a partes do livro de Provérbios e
algumas outras a partes do livro apócrifo de Eclesiástico.
 Apocalipse de Abraão – É um apocalipse de origem hebraica que foi provavelmente
escrito entre 80 e 100 d.C. É somente encontrado em uma tradução para o eslovaco
6
antigo. O primeiro terço do livro narra a conversão de Abrão do politeísmo ao
monoteísmo, sendo seguido então do texto apocalíptico. Esta parte do livro se inicia
com Abraão sacrificando a Deus (Gênesis 15:7-16), mas ao invés de serem aves de
rapina que desciam sobre o sacrifício, este texto diz ter sido o anjo Azazel. Este nome
aparece na Bíblia primeiramente em Levítico 16:8, onde é traduzido como “o bode
emissário”. No livro apócrifo de I Enoque Azazel é descrito como um anjo caído do
grupo dos “vigilantes”, e está diretamente associado ao inferno. Seguindo a narrativa
apocalíptica o anjo Laoel guia Abraão e este aprende várias canções de louvor a Deus
e vê Azazel ser condenado ao mundo inferior. Abraão é então levado ao templo de
Jerusalém onde vê este ser usado para idolatria resultando na sua destruição por
estrangeiros. Mas, o Templo é por fim apresentado como tendo sido reconstruído em
data posterior.
 Apocalipse de Elias – Este é um trabalho anônimo que se apresenta como uma
revelação dada por um anjo. O seu título vem do fato deste livro citar o nome de Elias
por duas vezes. O livro se divide em cinco partes:

1. Trata da questão do jejum e da oração.


2. Uma profecia sobre os Assírios.
3. Referencia a futura chegada do filho da iniqüidade, o qual é descrito em detalhes.
4. Referencia o martírio de Elias e Enoque (baseado na morte das duas testemunhas
conforme registrado no livro canônico do Apocalipse de João), o martírio de Tabita
(Atos 9:36-42), e de mais sessenta outros homens.
5. Referencia a destruição do filho da iniqüidade após o último julgamento.

 Apocalipse de Esdras – É um texto que reclama ter sido escrito por Esdras, mas que
certamente foi escrito muito tempo depois, a sua datação é bem controversa, indo
desde o 2º século d.C. até o 9º século d.C. O seu texto se baseia fortemente em outro
apócrifo mais antigo conhecido como II Esdras (IV Esdras na vulgata ou III Esdras
para os ortodoxos russos). O texto mostra o autor tendo visões do céu e do inferno,
onde as punições a que são submetidos os pecadores são descritas em detalhe.
 Apocalipse de Sidraque – Também conhecido como Palavra de Sidraque, é um texto
apócrifo antigo, mas de datação incerta. Seu título provém da forma grega do nome de
Sadraque, um dos três que foram levados vivos à fornalha ardente pelo rei
Nabucodonosor. O texto descreve como Sadraque foi levado à presença de Deus, por
Jesus Cristo em pessoa. Mas, mesmo que o texto se mostre superficialmente Cristão,
ele é derivado de um texto judeu mais antigo, onde o nome de um arcanjo foi
substituído pelo nome de Jesus.
 Apocalipse de Sofonias – Este livro reclama ter sido escrito por Sofonias (o profeta),
sua narrativa consiste de Sofonias sendo levado a visitar o céu e o inferno. Em sua
visão do inferno Sofonias teria visto dois anjos gigantes, sendo que um deles é
apresentado como sendo Eremiel, e é o guardião das almas. O outro dá a Sofonias um
rolo contendo uma lista de todos os seus pecados, mas um segundo rolo é apresentado
e Sofonias é julgado inocente e é transformado em um anjo.

7
 Apócrifo de Ezequiel – É um livro escrito no estilo do Antigo Testamento e contém
revelações que teriam sido dadas a Ezequiel. Hoje sobrevivem apenas alguns
fragmentos em citações de Epifânio, Clemente de Roma e Clemente de Alexandria, e o
Papiro Chester Beatty # 185. É provável que tenha sido escrito entre 50 a.C. e 50 d.C.
 Ascensão de Isaías – Este apócrifo é datado do 2º século d.C. e foi compilado por um
estudioso Cristão do qual nada se sabe. O texto tem três partes distintas, sendo que a
primeira parece ter sido escrita por um autor judeu e as outras duas por autores
cristãos. A primeira parte, normalmente chamada de o Martírio de Isaías, repete e
expande os eventos descritos em II Reis 20. No meio desta narrativa foi inserido um
apocalipse cristão conhecido como o Testamento de Ezequias. A segunda parte do
livro se refere à Visão de Isaías e sua jornada assistido por um anjo.
 Assunção de Moisés – É um escrito de origem judaica, com data e autoria incertas. É
encontrado apenas em um manuscrito do século VI em latim. Traz uma breve
descrição da história judaica até aproximadamente o 1º século d.C. O texto com
aproximadamente vinte capítulos revela as profecias secretas reveladas por Moisés a
Josué no final de sua vida.
 II Baruque – Também conhecido como o Apocalipse siríaco de Baruque, é datado do
final do 1º século ou início do 2º d.C. após a queda de Jerusalém em 70 d.C. Este
trabalho (contrariando Jeremias que afirma ser Baruque um escriba) apresenta
Baruque como um profeta e bastante superior a Jeremias. É um misto de oração,
lamentação e visões, com um estilo de escrita próximo ao usado no livro canônico de
Jeremias. Trata especialmente da sobrevivência do povo judeu, mesmo após a
destruição do Templo.
 III Baruque – Também conhecido como o Apocalipse grego de Baruque, é datado do
final do 1º século ou início do 2º d.C. após a queda de Jerusalém em 70 d.C. Este texto
tal qual II Baruque também trata da sobrevivência do povo judeu após a destruição do
Templo, argumentando que o Templo está preservado no céu e é apresentado como
estando completamente funcional lá, sendo mantido por anjos, não havendo, portanto
qualquer necessidade de reconstruí-lo aqui na terra. Neste texto Baruque é apresentado
a vários “céus”, onde testemunha a punição dos construtores da torre de Babel, e da
serpente do Jardim do Éden até que finalmente chega ao portão do quinto céu, o qual
somente o arcanjo Miguel é capaz de abrir.
 IV Baruque – É também conhecido como as Omissões de Jeremias (Paraleipomena de
Jeremias) quando combinado com a Epístola de Jeremias. É considerado apócrifo por
todas as denominações Cristãs exceto a Igreja Ortodoxa Etíope. Sendo um pseudo-
epígrafe significa que Baruque não o escreveu. O texto está severamente editado,
sendo difícil definir quando cada parte foi escrita. Baruque é apresentado neste texto
como sendo um intermediário entre Jeremias e Deus, e não somente um escriba.
Advoga a xenofobia, o divórcio de esposas estrangeiras, e o exílio daqueles que não se
divorciarem. Deste modo, os que não se divorciaram são retratados como sendo os
ancestrais dos samaritanos.
 Conflito de Adão e Eva com Satanás – É um texto Cristão encontrado em etíope e
árabe, provavelmente do 5º século d.C. Descreve os acontecimentos que se seguiram à
expulsão do Jardim do Éden e segue até o testamento e o translado de Enoque.

8
 Livro de Enoque – Este é um título dado a um conjunto de livros que se atribuem a
Enoque, o bisavô de Noé (Gênesis 5:18-24). Normalmente o título “Livro de Enoque”
se refere a I Enoque, que existe inteiro somente em uma tradução em língua etíope. Há
outros dois livros chamados Enoque, II Enoque que existe somente em eslovaco
antigo, e III Enoque que existe somente em hebraico. O livro é dividido em cinco
partes distintas:

1. O livro dos Vigilantes (I Enoque 1-36).


2. O livro das Parábolas (I Enoque 37-71), também conhecido como as Comparações de
Enoque.
3. O livro dos Luminares Celestes (I Enoque 72-82), também conhecido como livro dos
Luminares ou Livro Astronômico.
4. As Visões de Sonhos (I Enoque 83-90), também chamado de o livro dos Sonhos.
5. A Epístola de Enoque (I Enoque 91-108).

A passagem de I Enoque 1:9 é citada em Judas 14-15. Devido a este fato, muitos dos
primeiros pais da Igreja consideraram este livro como sendo canônico, entre eles Justino
Mártir, Irineu, Orígenes, Clemente de Alexandria e Tertuliano. Contudo, a Igreja como um
todo negou a canonicidade deste livro. E isto gerou inclusive problemas para a aceitação da
carta de Judas, por citar um livro apócrifo. No fim o entendimento foi de que a citação de I
Enoque 1:9 em Judas foi canonizada pela ação do Espírito Santo ao permiti-la no Texto
Sagrado.

Este texto foi datado como sendo do período dos Macabeus (aproximadamente 160 a.C.).

 II Enoque – Também conhecido como Os Segredos de Enoque é um texto de origem


judia com data e autoria incertas. Ele sobrevive apenas em uma cópia em eslovaco
antigo, texto este que certamente foi traduzido a partir de uma cópia em grego. O livro
trata da jornada de Enoque através de dez céus até se encontrar com Deus, seguido por
uma discussão sobre a criação do mundo, e as instruções de Deus para Enoque para
que retornasse à Terra e disseminasse o que aprendera de Deus. Ao final Enoque é
levado de volta ao céu e é transformado no anjo Metatron. Neste ponto o texto passa a
tratar das histórias de Matusalém, Nir (irmão mais novo de Noé), e Melquisedeque.
 III Enoque – Existe somente em hebraico, sendo datado do 5º o 6º século d.C. o livro
clama ter sido escrito pelo rabi Ismael que se tornou sumo sacerdote após ter visões do
céu. O livro se inicia com o relato da Ascensão de Ismael (1-2), em seguida mostra
Ismael encontrando-se com o Enoque (3-16), e uma descrição das moradas celestiais
(17-40), termina apresentando as maravilhas celestes (41-48).
 História dos Recabitas – História dos descendentes de Recabe (II Samuel 4:2ss),
vivendo em uma ilha liderados por Jonadabe (filho de Recabe). O livro lembra muito
os escritos mitológicos gregos, mostrando particularmente similaridades com os
contos de Terapeuta.
 Carta de Aristeas – É uma falsificação de origem heleno-judaica atribuída a um certo
Aristeas que a teria escrito para Filócrates, descrevendo uma tradução para o grego das
leis judaicas por setenta e dois tradutores enviados ao Egito de Jerusalém a pedido da
9
biblioteca de Alexandria, o que teria resultado na tradução conhecida como
Septuaginta. Em 1684, Humphrey Hody publicou o documento “Contra historiam
Aristeae de LXX, interpretibus dissertario”, no qual mostrou que a assim chamada
“Carta de Aristeas” era uma falsificação tardia produzida por um judeu helenizante,
originalmente distribuída para atribuir autoridade à versão LXX. Esta dissertação é
normalmente tida como conclusiva.
 Vida de Adão e Eva – Este escrito de origem judaica foi originalmente escrito
provavelmente em torno de 70 a.C. A estória trata dos acontecimentos imediatamente
posteriores à expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden e continua até a morte de
Adão e depois de Eva. O livro também apresenta uma visão da queda da raça humana
do ponto de vista de Eva.
 Salmos de Salomão – É um conjunto de dezoito salmos apócrifos atribuídos a
Salomão, mas que provavelmente foram escritos por um fariseu da Judéia por volta do
período da tomada de Jerusalém por Pompeu em 63 d.C. São modelados de modo
semelhante aos salmos encontrados na Bíblia. E os salmos 17 e 18 são semelhantes ao
Salmo 72 do livro de Salmos.
 Pseudo-Filo – Texto em latim, chamado desta forma por estar normalmente anexado
ao trabalho de Filo de Alexandria, mas claramente, não sendo um trabalho de Filo.
Nesta obra o templo de Jerusalém é dito como ainda existindo, o que poderia indicar
uma data de composição anterior a 70 d.C.
 Testamento de Abraão, de Isaque e de Jacó – É um trio de trabalhos peculiares, apesar
de não haver indícios de que fossem originalmente uma única obra. Em seus estilos
lembram a bênção de Jacó encontrada em Gênesis 49:1-27. Os Testamentos foram
originalmente compilados provavelmente no final do segundo século d.C. por um
judeu cristão desconhecido, o de Abraão narra a relutância dele em morrer e como a
morte pessoalmente lhe veio e o enganou para que morresse. O Testamento de Isaque
está carregado de temas cristãos, apesar de se entender que estes temas foram
acrescentados ao trabalho originalmente judeu. Relata que um anjo o leva ao céu, onde
vê a tortura dos pecadores antes de se encontrar com o falecido Abraão. Isaque, não
estando ainda morto é instruído por Abraão a voltar e escrever seu testamento, o que
faz antes de morrer definitivamente. O Testamento de Jacó se inicia com Jacó sendo
visitado pelo arcanjo Miguel e avisado de sua morte iminente. Neste testamento são os
anjos que Jacó encontra que pregam a mensagem central.
 Testamento dos Doze Patriarcas – Este livro apócrifo traz os últimos desejos dos doze
filhos de Jacó. É considerado como literatura apocalíptica judaica. Os testamentos
foram escritos em hebraico, provavelmente no final do 2º século a.C. ou início do 1º,
sendo que estudos recentes apontam para uma data entre 135 e 63 a.C. Tudo indica
que teve um único autor, provavelmente um fariseu. Mas, sofreu edição posterior e
interpolação de material de origem cristã em seu texto original.
 Visão de Esdras – É texto apócrifo que clama ter sido Esdras seu escritor. Os seus
manuscritos mais antigos, compostos em latim, datam do 11º século d.C. O texto tem
grande dependência de II Esdras, possui um apocalipse incipiente e retrata Deus
respondendo às preces de Esdras, e enviando-lhe sete anjos para lhe mostrar o paraíso.

Apócrifos do Novo Testamento


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Praticamente todos os textos apócrifos do Novo Testamento são pseudo-epígrafes, ou seja, são
textos que clamam ter sido escritos por alguém que não os escreveu. Dividem-se em várias
categorias, como evangelhos da infância, evangelhos judeu-cristãos, evangelhos rivais aos
canônicos, visões, cartas, textos gnósticos, etc.

Evangelhos da Infância

A falta de informação sobre a infância de Jesus nos evangelhos canônicos levou os primeiros
Cristãos a uma fome por mais detalhes sobre a juventude de Jesus. Esta fome fez com que no
2º século e depois, alguns escrevessem contando lendas sobre este período da vida do Senhor,
nenhum deles canônico, mas certamente populares em seu tempo e depois, sendo que ainda
hoje vemos reflexos de seu conteúdo na religiosidade popular.

 Proto-evangelho de Tiago – Também chamado de Evangelho de Tiago, ou Evangelho


de Tiago da Infância, foi escrito provavelmente em torno de 150 d.C. O documento se
apresenta como tendo sido escrito por Tiago, passando por Tiago o Justo, irmão de
Jesus. O livro contém três partes de oito capítulos cada, iniciando-se com a estória do
nascimento e infância de Maria e consagração ao templo, a segunda parte conta a crise
causada por Maria se tornar mulher e, portanto sua iminente contaminação do templo
e a designação de José como seu guardião e os testes de sua virgindade, e por fim
relata o nascimento de Jesus em uma caverna, com a visita de parteiras, escondendo
Jesus de Herodes o Grande em uma manjedoura, e também o martírio de Zacarias pai
de João o Batista durante o massacre das crianças, e como João o Batista e sua mãe
foram escondidos de Herodes Antipas nas montanhas.
 Evangelho de Tomé da Infância – Não deve ser confundido com o Evangelho de
Tomé. O autor deste evangelho é desconhecido. A data provável de sua escrita está
entre 80 e 185 d.C. e descreve a vida do menino Jesus, com eventos extravagantes
sendo alguns deles malévolos. Em um dos episódios Jesus está fazendo pássaros de
barro, os quais em seguida ganham vida. Este ato é também atribuído a Jesus no
Corão. Em outro episódio uma criança espalha a água que Jesus está juntando. Jesus
então amaldiçoa a criança que murcha até morrer.
 Evangelho do Pseudo-Mateus – Também chamado de Nascimento de Maria e Infância
do Salvador, ou de Evangelho de Mateus da Infância. É uma composição em latim do
4º ou 5º século d.C. Este texto tem autoria, mas clama ter sido escrito por Mateus e
traduzido por Jerônimo. O seu conteúdo é basicamente uma reprodução editada do
Proto-evangelho de Tiago, seguida da fuga para o Egito, e de uma reprodução editada
do Evangelho de Tomé da Infância. É nele que primeiramente se menciona um boi e
um burro como estando presentes no nascimento de Jesus.
 Evangelho Arábico da Infância – Foi compilado, provavelmente, no 6º século d.C. e se
baseia no Evangelho de Tomé da Infância e no Proto-evangelho de Tiago. Consiste de
três partes: O nascimento de Jesus, os milagres durante a fuga para o Egito e os
milagres de Jesus como menino. Partes da narrativa deste evangelho, especialmente a
segunda parte (os milagres no Egito), também podem ser encontrados no Corão.
 Outros evangelhos da Infância – A Vida de João o Batista, supostamente escrito pelo
bispo Serapião em 390 d.C. e A História de José o Carpinteiro, provavelmente
composto no 5º século d.C. no Egito.

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Evangelhos Judeu-Cristãos

Alguns grupos dentre os primeiros Cristãos mantinham uma forte submissão ao judaísmo,
especialmente à lei mosaica, os quais o apóstolo Paulo chamou de judaizantes, acabaram por
criar evangelhos segundo suas próprias crenças.

A maior parte destes escritos sobrevive apenas como comentários críticos produzidos por
pessoas da cristandade paulina, que eram Cristãos que seguiam os ensinos do apóstolo Paulo,
também tratados em I Coríntios 1:12 e 3:4 como “os que são de Paulo”.

 Evangelho dos Hebreus – Este evangelho, composto em hebraico, está perdido exceto
por algumas citações de Epifânio, um escriba da igreja que viveu no final do 4º século
d.C. Este evangelho era também conhecido por Jerônimo, que afirma em um de seus
escritos que o estava traduzindo para o grego. Sua data e autoria são desconhecidas,
apesar de alguns o atribuírem ao próprio Mateus.
Em geral, segue o conteúdo do Evangelho canônico de Mateus, mas com algumas
divergências importantes. Um dos pontos de maior distinção é que ele referencia o
Espírito Santo como sendo a mãe de Jesus, coloca Tiago, o Justo, como cabeça da
igreja de Jerusalém, e se concentra em exortar para uma estrita obediência à lei
judaica. Também altera a oração do Senhor, substituindo o “pão nosso de cada dia”,
por “pão para amanhã”. Epifânio, em seu trabalho afirma: Eles dizem que Cristo não
foi o primogênito de Deus o Pai, mas criado como um dos arcanjos… que ele domina
sobre os anjos e sobre todas as criaturas do Todo-Poderoso, e que ele veio e declarou
em seu Evangelho, o qual é chamado Evangelho segundo Mateus, ou Evangelho
segundo Mateus aos Hebreus, dizendo: “Eu vim para fazer com que cessem os
sacrifícios, e se vós não cessardes com os sacrifícios, a ira de Deus sobre vós não
cessará”.
 Evangelho dos Nazarenos – Aparentemente deriva do Evangelho dos Hebreus, com
poucas diferenças. Quanto à data e local de escrita há muita controvérsia, mas como
Clemente usou o livro no final do 2º século, ele é certamente mais antigo que isto. O
local de escrita mais cotado é Alexandria no Egito.
 Evangelho do Ebionitas – Este evangelho tem grande afinidade com o Evangelho dos
Hebreus e com o dos Nazarenos. Como os outros dois ele também somente sobrevive
em pequenos fragmentos encontrados em citações de autores dos primeiros séculos.
Epifânio ressalta algumas diferenças entre o Evangelho dos Ebionitas e o Evangelho
dos Nazarenos. Segundo ele os Nazarenos eram considerados como parte da
cristandade ortodoxa, enquanto o Ebionitas eram considerados hereges, especialmente
por rejeitarem o nascimento virginal de Jesus. Neste evangelho Jesus aparece como
sendo vegetariano, e somente no batismo recebe sua “parte divina”.

Evangelhos rivais dos Evangelhos canônicos

Muitas versões alternativas, grandemente editadas, de evangelhos existiram durante os


primórdios do Cristianismo. Estas alterações normalmente serviam para dar suporte a alguma
visão religiosa particular, em geral, considerada herética pela igreja primitiva.

 Evangelho de Marcion – Também conhecido como Evangelho do Senhor foi um texto


usado em meados do segundo século por Marcion excluindo os outros evangelhos.
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Este evangelho sobrevive apenas em citações de seus críticos, contudo é possível
através destas citações se reconstruir praticamente todo o seu texto original. Este
evangelho se baseia no Evangelho canônico de Lucas, tendo sido editado para se
acomodar à teologia de Marcion, por exemplo, os dois primeiros capítulos de Lucas,
sobre o nascimento de Jesus e o início em Cafarnaum foram eliminados e foram feitas
modificações no restante para acomodar o Marcionismo, por exemplo, em Lucas
10:21 temos “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra”, em Marcion se lê:
“Graças dou, Pai, Senhor do céu”, destacando a visão gnóstica de que a terra é má,
logo, Deus não é seu Senhor.
 Evangelho de Mani – Este evangelho escrito por Mani, um persa que viveu no 3º
século d.C. Ele tentou fazer uma síntese das correntes religiosas de sua época:
cristianismo, zoroastrismo e budismo, produzindo com isto um novo evangelho. O
texto se parece mais com um comentário dos evangelhos do que uma nova
testemunha. Mani, afirma ser profeta e apóstolo, como em: “Eu, Mani, o Apóstolo de
Jesus o Amigo, pela vontade do Pai, o verdadeiro Deus, por quem comecei…”.

Evangelhos de Logia (ou de dizeres, frases e parábolas curtas)

 Evangelho de Tomé – Não deve ser confundido com o Evangelho de Tomé da


Infância. Este é um evangelho gnóstico que foi encontrado em 1945 nas cavernas de
Nag Hammadi, em um manuscrito copta. Diferentemente dos evangelhos canônicos,
este não traz uma narrativa conectada aos dizeres atribuídos a Jesus. É apenas uma
coleção de dizeres e parábolas que teriam sido proferidos por Jesus, alguns diálogos
com o Senhor, e dizeres que alguns dos discípulos teriam reportado a Tomé, chamado
Dídimo. A obra consiste de 114 dizeres atribuídos a Jesus, alguns dos quais lembram
as falas do Senhor nos evangelhos canônicos. No 4º século, Cirilo de Jerusalém
mencionou o Evangelho de Tomé, nos seguintes termos: “Não permita que ninguém
leia o evangelho segundo Tomé, porque esta obra, não é de um dos doze apóstolos,
mas de um dos três perniciosos discípulos de Mani”. Contudo, os textos em Nag
Hammadi são certamente mais antigos que a época de Mani. Os críticos tendem a
datar este Evangelho no final do primeiro século.
Em um de seus ditos (v.70) encontramos Jesus dizendo que a salvação está no interior
do ser humano: “Se colocardes para fora o que está em vosso interior, o que tendes vos
salvará. Se não o colocardes para fora, o que tendes em vosso interior vos matará”. No
v.3, temos: “O Reino de Deus está dentro de vós”. Escritos como este evangelho são
certamente a razão para a igreja ter buscado estabelecer de forma oficial o cânon do
Novo Testamento. Estabelecendo a crença na morte e na ressurreição do Senhor como
o coração da mensagem proclamada pela Igreja desde o seu início no livro de Atos dos
Apóstolos.
 Evangelho de Felipe – É um evangelho gnóstico datado do 2º ou 3º século, de autor
desconhecido. Similarmente ao evangelho gnóstico de Tomé este também é um
evangelho de dizeres, ou falas atribuídas ao Senhor, algumas das quais lembram as
palavras do Senhor encontradas nos evangelhos canônicos. Entre seus ditos
encontramos: “Aquele que tem o conhecimento da verdade é um homem livre, mas o
homem livre não peca, porque ‘Aquele que peca é escravo do pecado’. A verdade é a
mãe, o conhecimento o pai”. E ainda: “Jesus veio para crucificar o mundo”.

Evangelhos Morais

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Alguns textos tomaram a forma de discursos sobre a moralidade, e em particular sobre a
abstinência sexual, normalmente apresentando um debate entre Jesus e um de seus discípulos,
estes são os evangelhos morais.

 Evangelho dos Egípcios (em Grego) – Não deve ser confundido com o Evangelho dos
Egípcios em Copta, que é uma obra completamente diferente. Este evangelho foi
escrito provavelmente na primeira metade do 2º século em Alexandria. Ele foi citado
por Clemente de Alexandria. Este evangelho toma a forma de uma conversa entre a
discípula de Jesus, Salomé (Marcos 15:40) e Jesus, que advoga a causa do celibato,
como comenta Cameron: “cada fragmento endossa o ascetismo sexual como meio de
quebrar o ciclo letal do nascimento e de superar as diferenças pecaminosas entre o
homem e a mulher, permitindo a todas as pessoas retornar ao que foi entendido como
seu estado primordial de androgenia” (Cameron 1982).
 Evangelho de Tomé, o contendor – Ou livro de Tomé o contendor, não deve ser
confundido com o Evangelho de Tomé. O evangelho se inicia assim: “As palavras
secretas que o salvador disse a Tomé, as quais eu, eu mesmo, Matias, escrevi,
enquanto andava ouvindo-os falar um com o outro”. Este escrito foi achado na
biblioteca de Nag Hammadi, no deserto egípcio. Alguns consideram que este livro
pode ser o Evangelho de Matias, livro este que estava perdido. Nele Jesus trata Tomé
como seu próprio irmão gêmeo, e lhe expõe o tema da moralidade, e particularmente
da sexualidade. Jesus segue então mostrando como o celibato oferece a rota para a
salvação, e como a paixão sexual é um fogo que causa ilusão, e aprisionamento em um
estado de luxúria.

Evangelhos da Paixão

São evangelhos que tratam especificamente da questão da morte e da ressurreição de Jesus.

 Evangelho de Pedro – O evangelho de Pedro é uma narrativa da paixão, que foi bem
conhecida no início da história Cristã, mas que desapareceu com o tempo. Hoje é
conhecida apenas de ouvir falar, especialmente pela carta de Serapião, bispo de
Antioquia de 190 a 203 d.C., referenciada por Eusébio, que afirma o seguinte: “muito
dele se enquadra nos corretos ensinos sobre o Salvador, mas algumas partes podem
encorajar seus ouvintes a cair na heresia do docetismo”.
 Atos de Pilatos – Se inclui como um apêndice ao texto medieval em latim chamado
Evangelho de Nicodemos. O texto é provavelmente da metade do 4º século, sendo de
autoria desconhecida. A primeira parte do livro relata o julgamento de Jesus, com base
em Lucas 23 e a segunda trata da ressurreição. Nele, Lúcio e Carino, duas almas
ressuscitadas após a crucificação, relatam ao Sinédrio os acontecimentos da descida de
Cristo ao Limbo. O episódio do Angustiante Inferno descreve Dimas (nome dado por
este manuscrito ao malfeitor crucificado com Jesus e que recebeu Dele o perdão)
acompanhando Cristo no Inferno, e a libertação dos patriarcas do Antigo Testamento
que eram justos.
 Evangelho de Bartolomeu – As primeiras referências a este texto foram feitas por
Jerônimo e recentemente foram descobertos alguns fragmentos de manuscritos em
copta contendo o texto. Este texto contém as visões de Bartolomeu, e os atos de Tomé,
mas é predominantemente um texto sobre a paixão e a eucaristia. O texto começa com
a crucificação de Jesus, e então passa à ida de Jesus ao inferno, onde encontra com
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Judas e prega para ele. Jesus resgata todos os que estão no inferno, exceto Judas, Caim
e Herodes o Grande. Bartolomeu está presente à cena, e é depois levado ao mais alto
nível do céu, de modo a poder ver a liturgia (católica) indo celebrar a ressurreição.
 Questões de Bartolomeu – Não deve ser confundido com o Evangelho de Bartolomeu.
O texto sobrevive em cópias em grego, latim e eslovaco antigo, mesmo que cada cópia
varie grandemente da outra. O texto apresenta Jesus respondendo aos seus discípulos
algumas perguntas formuladas por Bartolomeu. O texto se atém fortemente ao
misticismo judaico (tal qual o Livro de Enoque), buscando dar explicações para os
aspectos sobrenaturais do Cristianismo. O livro mostra como Jesus desceu ao inferno,
por suas próprias palavras, trata da imaculada concepção de Maria, e finalmente,
Bartolomeu pede para ver Satanás, e então um coro de anjos arrasta Satanás
acorrentado do inferno, mas vê-lo faz com que os apóstolos morram. Jesus então
imediatamente os ressuscita e dá a Bartolomeu o controle sobre Satanás. O texto
também afirma que a queda do homem foi causada por Eva ter tido relações sexuais
com Satanás.

Atos dos Apóstolos de Leucius

São textos que tratam da vida dos apóstolos após a ressurreição de Jesus. Todos atribuídos a
Leucius Charinus supostamente um discípulo de João o apóstolo, e que se uniu a este em
oposição aos Ebionitas.

 Atos de João – É uma coleção de narrativas e tradições do 2º século d.C. inspirada no


evangelho canônico de João. Alguns atribuem sua autoria a Prócoro, um dos diáconos
selecionados em Atos 6. Este livro apresenta duas viagens de João a Éfeso, cheias de
eventos dramáticos, milagres como o colapso do templo de Ártemis, assim como
também apresenta João pregando no teatro para convencer os seguidores de Ártemis.
Contém também o episódio da última ceia com a “dança de roda da cruz” que teria
sido instituída por Jesus, dizendo: “Antes de eu ser entregue a eles, cantemos um hino
ao Pai e assim sigamos a ver o que mente diante de nós”, direcionou para que fosse
formado um círculo ao redor dele, dando-se as mãos e dançando. Os apóstolos
gritaram “Amém” ao hino de Jesus.
 Atos de Paulo – É um dos maiores textos apócrifos do Novo Testamento. Foi escrito
no final do 2º século d.C. O texto era composto de:

1. Atos de Paulo e Thecla – Neste texto Paulo está viajando a Icônio, proclamando “a
palavra de Deus sobre a abstinência, a virgindade e a ressurreição”. Thecla, é uma
virgem jovem e nobre, que ouve os discursos de Paulo sobre a virgindade de sua janela
na casa ao lado. Seu noivo então leva Paulo ao governador que o prende. Thecla vai à
prisão para ouvir Paulo, e é então condenada por estar dando ouvidos à questão da
virgindade à morte na fogueira, mas nada lhe acontece pois Deus manda um chuva e
terremotos para apagar as chamas. A história segue nestes termos, até que Thecla foge
para uma caverna (estando ainda virgem) e mora lá por mais 72 anos. Aos 90 anos um
homem tenta corrompê-la, mas Thecla consegue escapar e vai a Roma onde é
enterrada com Paulo.
2. Epístola dos Coríntios a Paulo – Este escrito clama descrever os ensinos de Simão, o
mago, incluindo a idéia de que Deus não é Todo-Poderoso, que a ressurreição é falsa,

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que Cristo não foi Deus verdadeiramente encarnado corporalmente (idéia docetista),
que os anjos fizeram o mundo, e que os profetas foram imprecisos.
3. Terceira Epístola aos Coríntios – Este texto foi posteriormente separado dos Atos de
Paulo. O texto escrito por um Pseudo-Paulo (provavelmente um presbítero cristão em
170 d.C.), é uma resposta à Epístola dos Coríntios a Paulo, e é estruturado para tentar
corrigir alguns problemas de interpretação nas Epístolas de I e II aos Coríntios.
(canônicas). Em particular a epístola tenta corrigir a interpretação da frase: “a carne e
o sangue não podem herdar o reino de Deus” (I Co.15:50), pela qual alguns diziam
que a ressurreição não seria corporal.
4. O Martírio de Paulo – Texto que retrata a morte de Paulo nas mãos de Nero.

 Atos de Pedro – Este texto da segunda metade do 2º século d.C. relata o miraculoso
embate entre Pedro e Simão o mago em Roma. Nele Pedro executa milagres como a
ressurreição de um peixe defumado, e fazer cachorros falarem. O texto condena
Simão, o mago, antiga figura ligada ao gnosticismo. Algumas versões deste texto
também fazem referência a uma mulher (ou mulheres) que prefere a paralisia ao sexo.
No Códice de Berlin, a mulher é apresentada como a filha de Pedro. Conclui
descrevendo o martírio de Pedro, crucificado de cabeça para baixo.
 Atos de André – É um texto do 3º século d.C. baseado em Atos de João e de Pedro,
descreve viagens de André e os milagres que fez durante estas viagens e finalmente
uma descrição da forma como supostamente morreu. Como nos outros livros
congêneres os milagres são extremamente sobrenaturais, e muito exagerados. Por
exemplo, além dos milagres usuais de levantar mortos, curar cegos, e outros, ele
sobrevive ao ser jogado aos animais selvagens, acalma tempestades, e derrota
exércitos apenas fazendo o sinal da cruz. André também faz com que um embrião
resultante de um relacionamento ilegítimo morra. Ao ser crucificado, André ainda é
capaz de pregar sermões por três dias.
 Atos de Tomé – Este texto gnóstico do início do 3º século d.C. é apresentado em uma
série de episódios, que ocorrem durante a missão evangelística de Tomé à Índia.
Termina com seu martírio no qual ele morre perfurado por lanças porque causou a ira
do Rei Misdaeus pela conversão de suas esposas e um parente.

Extratos das Vidas dos Apóstolos

 Atos de Pedro e André – Este texto não tem uma datação definida, e consiste de uma
série de contos curtos de milagres, como quando André cavalga uma nuvem para ir de
encontro a Pedro, e Pedro literalmente faz passar um camelo através do buraco de uma
agulha. O texto parece ser uma tentativa de continuar os Atos de André e Matias (que
faz parte dos Atos de André).
 Atos de Pedro e os Doze – O texto datado do 2º século, é constituído de uma alegoria
inicial, semelhante à descrita no Evangelho de Mateus, do negociante de pérolas
(Mateus 13:44ss.) mas que aqui está vendendo uma pérola de grande valor. O
negociante é evitado pelos ricos, mas os pobres vão a ele em grande quantidade, e
descobrem que a pérola está guardada na cidade natal do negociante, “Nove Portões”,
e aqueles que quiserem a pérola deverão empreender a dura viagem até Nove Portões.

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O nome do negociante é Lithargoel, que traduzido é pérola, ou seja, o próprio
negociante é a pérola. Por fim, o negociante se revela como sendo o próprio Jesus.
 Atos de Pedro e Paulo – Este é um texto tardio, do 4º século, que conta a lenda da
viagem de Paulo da ilha de Guadomelete para Roma, apresentando Pedro como sendo
irmão de Paulo. Também descreve a morte de Paulo por decapitação, uma antiga
tradição da igreja.
 Atos de Felipe – Este livro é uma fantasia datada do final do 4º século ou início do 5º
século d.C. envolvendo milagres e um suposto diálogo que fez Felipe conquistar
muitos convertidos. Termina com a crucificação de Felipe em uma cruz invertida.

Epístolas

Há uma série de epístolas não canônicas, mas escritas no formato de epístolas canônicas,
muitas das quais (apesar de espúrias) foram bastante consideradas pela igreja primitiva.

 Epístola de Barnabé – É um apócrifo encontrado no Códice Sinaíticus do 4º século.


Não deve ser confundido com o medieval Evangelho de Barnabé. Esta é uma pseudo-
epígrafe de autoria desconhecida, provavelmente escrita no início do 2º século. O texto
apesar de não ser gnóstico em um sentido heterodoxo, clama a que sua audiência
busque um perfeito conhecimento (conhecimento especial). A obra é mais um tratado,
ou homilia, que uma epístola. Sua lógica não é das mais primorosas, e sua mensagem
não traz novidades. É interessante que a epístola cita o Evangelho de Mateus
(canônico) como Escritura, contudo, também cita provavelmente IV Esdras e
certamente I Enoque. Em certo ponto parece advogar que o povo Cristão é o único
verdadeiro povo da aliança, e que os judeus nunca haviam estado em uma aliança com
Deus.
 I Clemente – É uma carta de autoria incerta, endereçada como sendo da “igreja de
Deus que está em Roma para a igreja de Deus que está em Corinto”. Sua datação
tradicional está colocada em 96 d.C. A carta é motivada por uma disputa em Corinto,
que excluiu do serviço vários presbíteros, mas já que nenhum foi acusado de
problemas morais a carta advoga que foram afastados injustamente. A carta cita em
profusão o Antigo Testamento, algumas cartas de Paulo e algumas falas do Senhor
Jesus, e está incluída no Códice Alexandrinus do 5º século. Apesar de não conter
problemas doutrinários, e de ser lida em várias igrejas, jamais atingiu os requisitos
canônicos, especialmente por sua autoria desconhecida.
 II Clemente – Esta homilia foi escrita em Roma em meados do 2º século, sendo uma
pseudo-epígrafe que tradicionalmente era atribuída a Clemente de Roma. Suas
citações aparentemente derivam do Evangelho dos Egípcios em Grego.
 Epistola dos Coríntios a Paulo – Já tratada acima como parte dos Atos de Paulo.
 Epístola aos Laodicenses – Curta epístola encontrada apenas em algumas edições da
Vulgata em latim, e em nenhum manuscrito grego. Ela se faz passar pela epístola de
Paulo à igreja de Laodicéia mencionada em sua Epístola aos Colossenses (4:16), carta
esta perdida, apesar de alguns suporem se tratar da Epístola canônica aos Efésios. É
quase que unanimemente considerada uma pseudo-epígrafe, constituindo-se de um
pastiche de frases tomadas de epístolas genuínas do apóstolo Paulo.

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 Pseudo-Correspondência entre Paulo e Sêneca, o jovem – Consiste de uma série de
oito cartas supostamente enviadas pelo filósofo estóico Sêneca, e seis respostas
supostamente enviadas pelo apóstolo Paulo. As cartas foram compostas provavelmente
na segunda metade do 4º século e tem autoria desconhecida. Baseiam-se na tradição de
que tanto Sêneca quanto Paulo estiveram em um mesmo período na cidade de Roma.
 III Coríntios – Já tratada acima como parte dos Atos de Paulo.

Apocalipses

 Apocalipse de Pedro – Não deve ser confundido com o Apocalipse gnóstico de Pedro.
Está datado na primeira metade do 2º século, foi considerado canônico por Clemente
de Alexandria, mas foi recusado pelo restante da Igreja. Subsiste em apenas dois
manuscritos, um em grego e outro e etíope os quais divergem grandemente entre si. O
texto tem um estilo literário simples, mas muito apreciado pelos populares em
Alexandria. Trata basicamente de uma visão do Céu e do Inferno. Roberts-Donaldson
afirma: “O Apocalipse de Pedro mostra impressionante parentesco com a segunda
epístola de Pedro… Também apresenta notáveis paralelos com os Oráculos de
Sibeline… É uma das fontes do escritor do Apocalipse de Paulo… E direta ou
indiretamente este texto pode ser considerado como o pai de todas as visões medievais
do outro mundo”.
 Apocalipse de Paulo – Este texto também é encontrado tendo a Virgem Maria no lugar
de Paulo como a pessoa que recebe a revelação. Este texto paralelo é conhecido como
o Apocalipse da Virgem. Não deve ser confundido com o Apocalipse gnóstico de
Paulo. A narrativa aparenta ser uma elaboração e um rearranjo do Apocalipse de
Pedro, inicia-se com um apelo de todas as criaturas contra os pecados da humanidade
segue essencialmente descrevendo uma visão do Céu e do Inferno. No final do texto
Paulo (ou Maria) consegue persuadir Deus a dar a todos no Inferno um dia de
descanso, fora do Inferno, a cada domingo.
 Apocalipse de Tomé – Aparentemente foi composto originalmente em latim em data
desconhecida, trata dos sinais do fim do mundo. Parece ser uma curta interpretação do
Apocalipse de João. Apresenta os fatos que acontecerão em uma seqüência de seis dias
de tormento antes da vinda de Jesus, e no final do sétimo dia se fará paz e os anjos
virão à Terra.
 Apocalipse de Estevão – Texto com autoria e datação incertas, descreve um conflito
sobre a natureza de Jesus de Nazaré. Estevão aparece em cena e reconta o apocalipse
como uma verdade literal. A multidão se insurge contra Estevão e o leva perante
Pilatos, a quem Estevão ordena que se cale e que reconheça Jesus. O texto conta que
Estevão sendo perseguido por Saulo, foi crucificado, mas solto por anjos, depois foi
levado ao Sinédrio onde recontou uma suposta profecia de Natã sobre Jesus, e foi
julgado e condenado ao apedrejamento. Sendo levado pela multidão iniciou-se o
apedrejamento, quando Nicodemos e Gamaliel tentaram impedir o processo e também
foram mortos. Após sua morte, Estevão foi enterrado por Pilatos em um caixão de
prata. Pilatos então recebe as visões celestiais de Estevão e se converte.
 I Apocalipse de Tiago – É um texto gnóstico encontrado em Nag Hammadi. A datação
e autoria ainda são incertas, mas provavelmente escrito depois do II Apocalipse de
Tiago. O texto se apresenta como um diálogo entre Tiago, o justo, irmão de Jesus, e o
18
próprio Jesus. Se inicia tratando do medo de Tiago de ser crucificado, e segue
apresentando uma série de senhas dadas por Jesus a Tiago de modo a que ele chegasse
até o mais alto dos céus (são 72) após morrer, sem ser bloqueado pelos poderes do mal
do demiurgo (segundo os gnósticos o ser que intermediou a criação).
 II Apocalipse de Tiago – Escrito provavelmente durante o 2º século d.C. esteve
perdido até ser reencontrado em Nag Hammadi. O texto é claramente gnóstico,
apresentando um beijo na boca que Jesus teria dado em Tiago, metáfora para a
passagem da gnose entre duas pessoas (deixa claro que não se trata de um
relacionamento homossexual). O texto termina com a horrível morte de Tiago por
apedrejamento, provavelmente refletindo uma antiga tradição sobre sua morte.

Livros dos Pais da Igreja

Enquanto a maior parte dos livros tratados até aqui tenham sido considerados heréticos
(especialmente aqueles de tradição gnóstica), outros não foram considerados como sendo
particularmente heréticos em seu conteúdo, em muitos casos sendo bem aceitos como obras
com alguma significância espiritual. Eles, contudo, não foram considerados canônicos, mas
pertencem à categoria de escritos dos pais da Igreja.

 I Clemente – Já citada acima.


 O Pastor de Hermas – Ou simplesmente “O Pastor”. É uma obra Cristã do 2º século,
considerada um livro valioso por muitos Cristãos, tendo sido considerada como
canônica por alguns pais da igreja. Alguns atribuem sua autoria a Hermas (Rm.16:14).
Mas, há grande controvérsia a este respeito. Trata-se de uma alegoria Cristã
consistindo de cinco visões dadas a Hermas, um ex-escravo, seguidas de doze
mandamentos, e dez parábolas. Apesar da seriedade dos assuntos tratados, o livro foi
escrito em um tom otimista e esperançoso, como muitos dos escritos dos primeiros
Cristãos. Tem vários e sérios problemas, especialmente quanto à questão da Trindade,
e à noção de que a Igreja é uma instituição necessária à salvação.
 Didaquê – Antes considerado como perdido, o Didaquê, ou Ensino dos Apóstolos, foi
redescoberto em 1883 no Códice Hierosolymitanus de 1053. O texto foi
provavelmente escrito já no 1º século, mas tem autoria incerta. O conteúdo pode ser
dividido em quatro partes: Os dois caminhos, o caminho da vida e o caminho da morte
(1-6), rituais de batismo, jejum e comunhão (7-10), o ministério e como lidar com os
ministros itinerantes (11-15) e um breve apocalipse (16). Há no texto, tal qual o
recebemos, claros sinais de que foi editado posteriormente para se adequar a certas
questões eclesiológicas, como o batismo por aspersão.

Evangelhos Harmônicos

Alguns textos buscaram prover uma harmonização dos evangelhos canônicos, tentando
apresentar, de alguma forma, um texto unificado. Entre estes textos o mais conhecido é o
Diatessaron:

 Diatessaron – Escrito por Taciano em 175 d.C. foi a mais proeminente harmonização
dos quatro evangelhos, ou seja, o material dos quatro evangelhos escritos de modo a
formar uma única narrativa. Somente 56 versos dos Evangelhos canônicos não tiveram

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uma contrapartida no Diatessaron, sendo que a maior parte das exclusões se deve às
duas genealogias de Jesus em Mateus e Lucas, juntamente com o relato sobre a mulher
adúltera em João 7:53-8:11. Contudo, a seqüência da narrativa do Diatessaron é
substancialmente diferente da encontrada em qualquer dos evangelhos.

Livros Perdidos

Há muitas obras e textos que são mencionados em algumas fontes antigas, mas que nenhuma
parte conhecida do texto sobreviveu.

1. Evangelho de Matias
2. Evangelho dos Quatro Impérios Celestiais
3. Evangelho da Perfeição
4. Evangelho de Eva – Uma citação deste evangelho é dada por Epifânio. É possível que
este seja o Evangelho da Perfeição que ele trata em outra parte. A citação mostra que
este evangelho era a expressão de um completo panteísmo.
5. Evangelho dos Doze
6. Evangelho de Tadeu – Alguns entendem ser este um sinônimo para o Livro de Judas.
7. Memória Apostólica
8. Evangelho dos Setenta
9. Lápide dos Apóstolos
10. Livro dos feitiços das serpentes
11. Porção dos Apóstolos

Outros Escritos

Há muitos outros escritos de importância menor, muitos textos gnósticos, e ainda orações,
sermões, liturgias e penitências, que não foram citados neste trabalho.

1. Todos os textos bíblicos citados neste estudo foram extraídos da tradução de João
Ferreira de Almeida – Corrigida e Revisada Fiel ao Texto Original (ACF), editada pela
Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, em 1995, exceto quando houver sido
especificado em contrário.
2. Definição baseada na explicação encontrada no Easton Bible Dictionary
3. L = 50, X = 10, X = 10, formado 70.
4. Algo realmente surpreendente é não ter sido escolhido o título de LXXII, o que seria,
com certeza, mais apropriado à lenda.

Bibliografia

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