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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA – UFSC

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA – EEL


CENTRO TECNOLÓGICO – CTC

Comunicação entre relés para


proteção anti-ilhamento de geradores
distribuídos

Monografia submetida à Universidade Federal de Santa Catarina


como requisito para a aprovação na disciplina:
EEL 7890 – Projeto Final

Acadêmico: Thiago Gonçalves de Souza


Orientadora: Jacqueline Gisele Rolim, Dr.Eng.

Florianópolis, julho de 2011.


Agradecimentos
Agradeço em primeiro lugar a Deus que iluminou o meu caminho
durante esta jornada, onde busquei forças nos momentos de angústia.
Agradeço a minha orientadora pela paciência e dedicação na realização
desse trabalho e por puxar minha orelha quando achou necessário.
Agradeço aos meus amigos e familiares em especial aos meus pais,
João e Ondina, pelo exemplo familiar dado a mim e minhas irmãs e por
proporcionarem condições para a realização deste sonho.
Agradeço a Thaise minha antiga namorada, hoje minha noiva, pela
paciência e confiança demonstrada nos fins de semana que estive ausente.
Agradeço as minhas irmãs, Fabricia e Fabiane, por ofertarem pouso e
alimentação em suas casas quando necessário.
A todos os colegas e amigos conquistados ao longo do curso, em
especial ao Anderson por possibilitar estudos essenciais ao bom desempenho
acadêmico e ao Adrissom, por ajudar na configuração do software Elipse E3
utilizado nesse trabalho.
Agradeço e muito à Prefeitura Municipal de Garopaba, pelo transporte
escolar disponibilizado diariamente e sem custos aos estudantes da região de
Garopaba.
A todos os professores do Centro Tecnológico da UFSC, por
transmitirem a nós alunos o conhecimento adquirido ao longo de anos de
estudos no Brasil e no exterior.

2
Resumo
A implantação de unidades de Geração Distribuída (GD) nas redes de
distribuição de energia elétrica pode gerar vantagens e desvantagens para a
operação dos sistemas de potência, dependendo de vários fatores técnicos que
envolvem a conexão destas unidades.
Este trabalho apresenta uma proposta para proteção anti-ilhamento de
unidades de geração distribuída conectadas em alimentadores de distribuição
de energia elétrica, utilizando os recursos técnicos existentes nos sistemas
atuais de proteção. A implementação da proteção anti-ilhamento visa tornar o
sistema de proteção mais eficaz, independentemente do tipo de falta e
topologia do sistema elétrico.
São descritas algumas técnicas de detecção do ilhamento, as principais
funções de proteção empregadas nos alimentadores e nas unidades de
geração distribuída, os meios físicos existentes para comunicação e os
protocolos de comunicação mais utilizados na atualidade.
Um exemplo de comunicação entre dispositivos comerciais de proteção
empregando diferentes protocolos é apresentado. Os testes efetuados no
Laboratório de Automação e Proteção de Sistemas Elétricos (LAPSE)
demonstram a aplicabilidade da proposta para evitar a operação isolada de
geradores independentes.

3
Sumário
1. Introdução.............................................................................................................. 6

1.1. Geração Distribuída ........................................................................................ 6

1.2. Ilhamento de Geradores Distribuídos............................................................ 10

1.3. Técnicas de detecção de Ilhamento de Geradores Distribuídos ................... 10

1.3.1. Técnicas Locais ..................................................................................... 10

1.3.1.1. Técnicas Passivas ............................................................................. 11

1.3.1.2. Técnicas Ativas .................................................................................. 11

1.3.2. Técnicas Remotas ................................................................................. 11

1.3.2.1. Sistema SCADA ................................................................................. 12

1.3.2.2. PLCC ................................................................................................. 12

2. Proteção de Alimentadores de Distribuição e Geradores ..................................... 13

2.1. Proteção de Geradores................................................................................. 13

2.1.1. Proteção Diferencial de Geradores – 87G ............................................. 13

2.1.2. Proteção diferencial Grupo Gerador Transformador - 87U..................... 14

2.1.3. Proteção de Sobretensão – 59 .............................................................. 15

2.1.4. Proteção de Sobretensão de Sequência Negativa – 59Q ...................... 16

2.1.5. Proteção de Sobretensão de Sequência Zero – 59Q ............................. 17

2.1.6. Proteção de Subtensão – 27 ................................................................. 17

2.1.7. Proteção de Sub/Sobrefrequência – 81 ................................................. 17

2.1.8. Proteção de Sobrecorrente Limitado por Tensão - 51V ......................... 18

2.1.9. Proteção de Sobrecorrente Direcional - 67 ............................................ 18

2.2. Proteção de Alimentadores de Distribuição .................................................. 19

2.2.1. Chaves-Fusíveis .................................................................................... 19

2.2.2. Disjuntores............................................................................................. 19

2.2.3. Relés de Sobrecorrente ......................................................................... 20

2.3. Considerações.............................................................................................. 20

3. Meio Físico de Transmissão e Protocolos para comunicação entre Relés de


Proteção ..................................................................................................................... 21

4
3.1. Meios de Transmissão .................................................................................. 21

3.2. Protocolos de comunicação .......................................................................... 21

3.2.1. ModBus ................................................................................................. 23

3.2.2. DNP 3.0 ................................................................................................. 26

3.2.3. IEC 61850 ............................................................................................. 29

4. Caso de Estudo ................................................................................................... 31

4.1. Relé SEL-300G............................................................................................. 32

4.2. Relé SEL-451 ............................................................................................... 37

4.3. Configuração no Elipse ................................................................................. 38

4.3.1. Configuração do E3 para o SEL-451 ..................................................... 39

4.3.2. Configuração do E3 para o SEL-300G................................................... 41

4.3.3. Testes realizados................................................................................... 43

5. Conclusão............................................................................................................ 47

Bibliografia .................................................................................................................. 48

5
1. Introdução
A fim de melhorar a oferta de energia elétrica frente à crescente
demanda de energia, necessária ao desenvolvimento do país, houve a
necessidade da reestruturação do sistema elétrico para atender os
consumidores com o menor investimento possível. Neste contexto surgiram as
Unidades de Geração Distribuída, que possuem capacidade reduzida, mas
atendem pequenas regiões ou participam no atendimento energético de
grandes centros consumidores. Algumas vantagens deste novo modelo são a
redução do impacto ambiental causado e dos custos associados à transmissão
da energia elétrica gerada, uma vez que estas centrais já se situam próximas
aos pontos de consumo. Entretanto este modelo traz alguns desafios ao
planejamento e à operação do sistema elétrico, sendo um deles a detecção da
geração ilhada.

Este trabalho apresenta uma proposta para proteção anti-ilhamento de


unidades de geração distribuída, utilizando os recursos técnicos existentes nos
sistemas atuais de proteção.

1.1. Geração Distribuída


O termo Geração Distribuída (GD) geralmente é aplicado às usinas de
geração de energia elétrica de pequeno e médio porte, localizadas próximas a
centros consumidores e que são conectadas em redes de distribuição e de
subtransmissão de energia elétrica. Os termos geração dispersa ou
descentralizada também são utilizados, embora menos frequentemente.

O decreto no 5.163, de 2004 limita o conceito de GD aos aproveitamentos


hidrelétricos com potência instalada inferior a 30MW e termelétricos com
eficiência energética maior ou igual a 75%.

No âmbito da GD, há a figura de Autoprodutor de Energia (APE) e do


Produtor Independente de Energia (PIE), cujas definições apresentadas no
decreto nº 2.003, de 1996, são reproduzidas abaixo.

• Autoprodutor de Energia (APE): É a pessoa física ou jurídica, ou


empresas reunidas em consórcio que recebam concessão ou
autorização para produzir energia elétrica destinada ao seu uso
exclusivo.

6
• Produtor Independente de Energia (PIE): É a pessoa jurídica ou
empresas reunidas em consórcio que recebem concessão ou
autorização para produzir energia elétrica destinada ao comércio
de toda ou parte da energia produzida, por sua conta e risco.

O decreto no 2003 de 1996 no Art. 13 garante tanto ao produtor


independente quanto ao autoprodutor o livre acesso aos sistemas de
transmissão e de distribuição de concessionários e permissionários de serviço
público de energia elétrica, mediante o ressarcimento do custo de transporte
envolvido.
A GD é parte importante do novo modelo para a matriz energética
brasileira, caracterizada por um número crescente de pequenos e médios
aproveitamentos, que utilizam diversas fontes de energia primária, tais como
energia eólica, solar, biomassa, nuclear e principalmente aproveitamentos
hidroelétricos. A GD apresenta inúmeras vantagens frente à geração
convencional, dentre as quais se destacam:

• Descentralização e diversificação da matriz energética;

• Menor impacto ambiental;

• Menores perdas de transmissão;

• Maior confiabilidade com um sistema de controle adequado;

• Fornecimento de energia para unidades consumidoras isoladas;

• Redução da necessidade de investimento em linhas de


transmissão;

• Menor tempo de implantação;

• Movimenta a economia nacional gerando inúmeros postos de


trabalho em diferentes regiões.

Entretanto há também desvantagens, uma delas é a necessidade de


estudos técnicos mais apurados para inserção da geração distribuída nos
alimentadores existentes. A inserção da GD modifica diversas características
do sistema elétrico, podendo, por exemplo, causar aumento nos níveis de curto

7
circuito em alguns trechos da rede de distribuição e inversão no sentido dos
fluxos de energia.

Avaliando as alterações que a inserção da GD causa nos sistemas de


distribuição, verifica-se a necessidade de aprimorar as estratégias de proteção
tradicionalmente empregadas. O avanço alcançado nos últimos anos pela
indústria eletrônica, fez com que os relés de proteção analógicos
tradicionalmente utilizados se tornassem menos vantajosos quando
comparados aos modernos relés digitais, mesmo quando se consideram seus
custos. Os relés digitais vêm sendo preferidos nos novos empreendimentos e
aos poucos vêm substituindo a tecnologia eletromecânica mesmo nas
instalações mais antigas. Estes dispositivos possuem maior flexibilidade e
disponibilizam recursos adicionais que, aliados a recursos computacionais de
comunicação, facilitam a tarefa de adaptar filosofias de proteção tradicionais à
nova realidade da presença da geração distribuída.

Devido à expansão da geração distribuída de energia elétrica no Brasil


um aspecto que deve ser avaliado, principalmente no caso de conexão da GD
a redes de distribuição é o ilhamento. O ilhamento ocorre quando parte do
sistema de distribuição de energia elétrica é desconectada da subestação da
concessionária, mas permanece alimentada pelo gerador distribuído. Tal
ocorrência é indesejada pela maioria das concessionárias distribuidoras de
energia elétrica, pois a usina ilhada em geral não terá condições de atender os
índices de qualidade que são garantidos aos consumidores pela
concessionária [ 1 ]. Para evitar esta situação as empresas estabelecem em
contrato que os proprietários de usinas de GD devem instalar um sistema de
proteção capaz de detectar a situação de ilhamento e desconectar-se da rede
de distribuição.

Com o objetivo de tentar padronizar a conexão da GD na rede de


distribuição, o Institute of Electrical and Electronics Engineers (IEEE) publicou
em 2003 o Standard 1547 – IEEE Standard for Interconnecting Distributed
Resources with Electric Power Systems. Este padrão compreende os requisitos
e critérios relevantes ao desempenho, operação, testes, condições de
segurança e manutenção da interconexão da GD com o sistema elétrico [ 2 ].

8
Para realizar a conexão do gerador distribuído ao sistema elétrico de
potência (SEP) se faz necessária a adequação da tensão no gerador ao
sistema. Dependendo das características do sistema elétrico, é possível utilizar
determinados tipos de acoplamento [ 3 ].
Tabela 1-1 - Tipos de acoplamento de GD no sistema elétrico [ 3 ]

Opção Tipo de acoplamento Característica Uso

1 Gerador diretamente acoplado Tensão gerada é igual a Sistemas elétricos


no Sistema da Concessionária do sistema de pequeno porte

2 Gerador e transformador Ajuste de tensão entre o Sistemas de


acoplados ao Sistema da gerador e o sistema é Geração de
Concessionária realizado pelo grande porte
transformador

3 Gerador acoplado ao Sistema Gerador pode ser Geradores de


da Concessionária através de desconectado do médio e pequeno
um transformador transformador porte

Figura 1-1 - Opções de acoplamento de GD no sistema da concessionária [ 3 ].

A Tabela 1-1 demonstra os tipos de conexão do gerador com o sistema


elétrico dependendo das características da GD. Esta conexão pode ser
realizada de três formas. Na primeira opção a GD pode ser conectada
diretamente ao sistema da concessionária, desde que verificado a
compatibilidade do sistema de aterramento.

9
1.2. Ilhamento de Geradores Distribuídos
A instalação de GD nos sistemas de distribuição de energia elétrica deve
ser precedida de uma série de estudos técnicos visando determinar condições
indesejadas de operação, controle e proteção desses geradores. Entre essas
condições indesejadas, há a detecção do ilhamento ou operação ilhada de
geradores distribuídos. A perda da conexão com a concessionária pode deixar
parte da rede de distribuição energizada e esta condição pode levar a uma
série de problemas técnicos e de segurança às pessoas envolvidas e aos
equipamentos da rede elétrica. Portanto, quando houver a detecção dessa
condição devem-se desconectar todos os geradores distribuídos.

Figura 1-2 - Alimentador de distribuição com possibilidade de ilhamento [ 4 ]

1.3. Técnicas de detecção de Ilhamento de Geradores


Distribuídos
Existem diversas técnicas para detecção do ilhamento, quanto ao
princípio operativo podem ser baseadas em Técnicas Locais e Técnicas
Remotas.

1.3.1. Técnicas Locais


As técnicas locais detectam o ilhamento por meio de medidas das
grandezas de tensão, corrente e alguma outra variável disponível no ponto de

10
instalação dos dispositivos de proteção. Estas técnicas podem ser ativas ou
passivas. Nesse trabalho iremos abordar apenas as técnicas passivas,
considerando geradores síncronos.

Os dispositivos mais comuns para este propósito são os relés de proteção


baseados em medidas de frequência e de tensão, são eles os relés de
sub/sobrefrequência, relé de taxa de variação de frequência e os relés de sub e
sobretensão.

Nesse caso, o funcionamento da proteção é baseado no fato de que a


intensidade da variação de frequência elétrica está fortemente relacionada ao
valor do desbalanço de potência ativa no subsistema ilhado. Quanto maior o
desbalanço entre o consumo e a geração de potência ativa na ilha energizada,
mais eficiente será o esquema de proteção baseado em medidas de
frequência. No entanto se ocorrem pequenas diferenças entre geração e carga,
o desempenho da proteção poderá ser prejudicado [ 5 ].

1.3.1.1. Técnicas Passivas


Estas técnicas são as mais simples e de menor custo, por se basearem
apenas na verificação dos limites programados nos equipamentos/relés de
proteção e nas medidas das grandezas elétricas obtidas do sistema. Para
detecção de operação ilhada, como já citado, as proteções mais facilmente
empregadas são proteções que verificam a tensão e a frequência do sistema.

1.3.1.2. Técnicas Ativas


Estas técnicas baseiam-se na injeção proposital de perturbações no
sistema. Essas perturbações são provocadas de forma que a resposta da GD
seja diferente em situações de ilhamento [ 5 ].

1.3.2. Técnicas Remotas


Este tipo de técnica, além de utilizar grandezas locais disponíveis como
tensão, corrente e frequência, necessita de um sistema de comunicação entre
os componentes do sistema, sendo eles os dispositivos de proteção,
subestação e as GDs. As principais técnicas remotas são baseadas no sistema
SCADA (Supervisory Control and Data Acquisition) ou em técnicas de PLCC
(Power Line Carrier Communication).

11
1.3.2.1. Sistema SCADA
O SCADA é o sistema capaz de coletar os dados de uma unidade
terminal remota (UTR) ou de controladores lógicos programáveis (CLP),
equipamento onde os sensores estão conectados, e mostrá-los em tempo real
de forma inteligível em uma interface homem máquina. Este sistema oferece
três funções básicas, sendo elas supervisão, operação e controle dos dados
coletados.

• Supervisão: Permite a monitoração dos dados adquiridos.

• Operação: Permite enviar comandos a equipamentos em campo.

• Controle: Pode atuar automaticamente em determinadas situações.

SCADA (Supervisory Control And Data Acquisition), controle supervisório


e aquisição de dados é o nome dado a todo o sistema que faz aquisição de
dados em campo, supervisiona-os e permite ao operador controlar ou tomar
decisões baseados nos valores [ 6 ].

1.3.2.2. PLCC
Está técnica utiliza a linha de transmissão para envio de informações
referentes ao estado de operação. Podemos imaginar um sinal sendo enviado
pela subestação e sendo recebido na GD sinalizando operação normal de
funcionamento ou qualquer evento (abertura de um disjuntor, rompimento do
condutor de alguma das fases, e outros) que interrompa o recebimento do sinal
na GD e que serviria como aviso para que a GD desconecte o seu gerador do
sistema evitando que ocorra a geração ilhada.

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2. Proteção de Alimentadores de Distribuição e
Geradores
Neste capítulo serão apresentas as principais funções de proteção
empregadas em redes de distribuição e geradores distribuídos. Também são
descritos os principais meios físicos e protocolos de comunicação que
permitem a troca de informações entre os relés de proteção de geradores e
alimentadores.

2.1. Proteção de Geradores


Vale salientar que o sistema de proteção de um grupo gerador é
constituído de dispositivos de proteção elétricos, hidráulicos e mecânicos. As
proteções hidráulicas e mecânicas estão diretamente associadas ao
equipamento em si e têm a função de evitar danos severos nas estruturas dos
equipamentos, tais como: condutos forçados, vertedouros, turbinas, geradores,
reguladores, barramentos, entre outros [ 7 ].

Os itens a seguir descreverão as principais funções de proteção usadas


em geradores; estas funções possuem um código determinado pelo ANSI
("Instituto Nacional Americano de Padronização").

2.1.1. Proteção Diferencial de Geradores – 87G


Faltas nos enrolamentos ou nos terminais do gerador produzem correntes
muito elevadas causando danos à isolação e submetendo o eixo e os
acoplamentos a choques mecânicos.

A proteção diferencial baseia-se na comparação entre grandezas que


entram e saem do circuito (Figura 2-1). Quando a proteção diferencial detecta
uma falha, envia um sinal de abertura (trip) aos disjuntores do gerador, aos
disjuntores de campo, e assim inicia-se a parada imediata do gerador [ 7 ].

13
 :         çã

 :          çã

 :        1

 :        2

O relé diferencial atua sempre que a ação de operação supera a ação de


restrição (   ) .

 
| || |
(1)

Figura 2-1 - Função Diferencial de Gerador [ 7 ]

2.1.2. Proteção diferencial Grupo Gerador Transformador - 87U


Esta proteção é similar à proteção 87G, mas agora responsável pela
proteção do conjunto gerador e transformador elevador (Figura 2-2). A proteção
87U é sensível às faltas entre fases desde os terminais do gerador até o lado
de alta tensão do transformador, além de proteger faltas a terra no lado de alta
dos transformadores.

14
Figura 2-2 - Função Diferencial do Grupo Gerador Transformador Elevador [ 7 ]

2.1.3. Proteção de Sobretensão – 59


A proteção de Sobretensão (Figura 2-3) atua quando há ocorrência de
condições não controladas pelo regulador de tensão, ou seja, o valor da tensão
ultrapassa um valor pré-ajustado, podendo ser classificado em relação ao
tempo de atuação como:

Instantânea: A atuação ocorre assim que detectada a elevação da tensão,


dependendo apenas das características construtivas do relé ou de seu
algoritmo.

Temporizada: A atuação ocorre após um tempo pré-determinado desde


que houve a detecção da elevação de tensão. Esse tempo pode ser ajustado.

Os relés baseados em medidas de tensão, como no caso do relé de


sobretensão, são largamente empregados na detecção da situação de
ilhamento. Na ocorrência de um ilhamento, as tensões do subsistema isolado
variam dependendo da diferença entre as potências ativas e reativas geradas e
consumidas [ 8 ].

15
Figura 2-3 - Proteção de Sobretensão [ 7 ]

Na tabela ANSI (American National Standards Institute) há também a


proteção 59Q (Proteção de sobretensão de sequência negativa) e a função de
proteção 59N (Proteção de sobretensão de sequência zero).

2.1.4. Proteção de Sobretensão de Sequência Negativa – 59Q


Está proteção atua sempre que o relé detectar situações que geram
sequência negativa de tensão, sendo elas [ 9 ]: Abertura de apenas um ou dois
pólos do disjuntor e faltas fase/terra, bifásicas e bifásicas/terra.

Esta situação pode ser facilmente detectada pelos relés digitais através
do Teorema de Fortescue, representado de forma matricial na expressão:

V#$ 1 1 1 V#$
!V#$ %  · (1 a# a# * · ! # %
V+

&
V#$ 1 a#  a# V#,
(2)

Onde:

#  1-120°

16
# : 2ã  34ê6 7
01

# : 2ã  34ê6  8


01

# : 2ã  34ê6 9 8


01

Dessa forma a tensão de sequência negativa é descrita conforme a


expressão.

:#;  =< · >:#; ? ;# · :#@ ? ;# · :#A B (3)

2.1.5. Proteção de Sobretensão de Sequência Zero – 59Q


Em sistemas conectados em delta ou sistemas estrela sem conexão
neutro/terra ou neutro/neutro, não há circulação de correntes de sequência
zero, pois existe uma impedância infinita bloqueando a circulação destas
correntes.

Em sistemas que utilizam a configuração estrela estas correntes podem


ser facilmente detectadas pelo teorema de Fortescue.

:#;C  =< · >:#; ? :#@ ? :#A B (4)

2.1.6. Proteção de Subtensão – 27


A proteção de subtensão atua quando o valor da tensão fica abaixo de um
valor pré-ajustado. Esta função normalmente é utilizada em combinação com
outras funções como a função de sobrecorrente. Há atuação da proteção
somente quando o relé de sobrecorrente e o relé de subtensão forem
sensibilizados.

Essa proteção pode ser utilizada para detectar situação de ilhamento.

2.1.7. Proteção de Sub/Sobrefrequência – 81


O relé atua quando a frequência elétrica do sistema se desvia da
nominal e se mantém por certo período inferior ou superior a um limiar. Sua
atuação ainda pode ocorrer por violação de um limiar de taxa de variação de
frequência.

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2.1.8. Proteção de Sobrecorrente Limitado por Tensão - 51V
Os relés de sobrecorrente atuam sempre que o valor da corrente excede
um valor pré-definido. Este relé é classificado em relação ao tempo de atuação
como:

• Relé instantâneo (Função ANSI - 50)

• Relé temporizado (Função ANSI - 51)

Os relés de sobrecorrente com restrição por tensão possuem a


sensibilidade diretamente relacionada com a tensão do sistema. A atuação do
relé (Figura 2-4) varia de acordo com a evolução da tensão terminal da
máquina [ 7 ].

Figura 2-4 - Proteção de Sobrecorrente Limitado por Tensão [ 7 ]

2.1.9. Proteção de Sobrecorrente Direcional - 67


Este tipo de função é utilizado em sistemas elétricos em anel, quando há
necessidade de monitorar o sentido do fluxo de energia.

18
Os relés de sobrecorrente adquirem a característica direcional através de
uma grandeza de polarização, que pode ser tensão ou corrente. A
direcionalidade é dada pela comparação fasorial das posições relativas da
corrente de operação e tensão ou corrente de polarização. A defasagem
calculada é que indica o sentido do fluxo de energia da corrente de operação
ou de falta [ 7 ].

2.2. Proteção de Alimentadores de Distribuição


Os alimentadores têm como principais componentes para sua proteção
as chaves-fusíveis, os disjuntores e os relés de sobrecorrente.

Figura 2-5 - Esquema Básico de Proteção de um alimentador de distribuição [ 1 ]

2.2.1. Chaves-Fusíveis
As chaves-fusíveis têm por finalidade básica a interrupção da passagem
de corrente elétrica quando da ocorrência de um curto-circuito ou sobre
corrente. São largamente utilizadas na proteção de alimentadores devido sua
eficiência e baixo custo de implantação. Estes dispositivos têm como principal
desvantagem a necessidade de troca manual quando da ocorrência de
atuação.

2.2.2. Disjuntores
São dispositivos eletromecânicos capazes de conduzir corrente elétrica
em operação normal de funcionamento e quando da ocorrência de um curto-
circuito ou sobrecarga abrem extinguindo a passagem de corrente elétrica. Em

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redes de distribuição os relés de proteção são responsáveis pelo envio de sinal
de comando de abertura (trip) dos disjuntores, quando faltas são detectadas.
Em redes de distribuição, em razão dos altos níveis de tensões e
correntes, existem mecanismos especiais para interrupção do arco elétrico no
momento de abertura do disjuntor, dentre os quais destacam-se:
• Disjuntores a grande volume de óleo
• Disjuntores a pequeno volume de óleo
• Disjuntores a ar comprimido
• Disjuntores a vácuo
• Disjuntores a hexafluoreto de enxofre (SF6)

2.2.3. Relés de Sobrecorrente


Como já explicado, este relé atua sempre que a corrente elétrica do
circuito ultrapassar a corrente elétrica pré-ajustada, podendo atuar
instantaneamente (ANSI 50) ou de forma temporizada (ANSI 51). Na proteção
de alimentadores como na de geradores o relé de sobrecorrente atua em
conjunto com um disjuntor para que ocorra a abertura do circuito elétrico antes
que a corrente ultrapasse valores destrutivos aos componentes do sistema.

2.3. Considerações
Com intuito de evitar o ilhamento da geração distribuída, precisa-se
aperfeiçoar o controle e a proteção do sistema. No caso da não detecção de
uma falta no alimentador pelo sistema de proteção do gerador verificaríamos
um sistema de geração ilhada, podendo acarretar diversos problemas aos
consumidores conectados a essa rede.

Uma solução para este problema seria a comunicação entre dispositivos


de proteção do alimentador e do gerador distribuído. Para alcançar esse
objetivo faz-se necessário um estudo sobre os protocolos de comunicação
existentes e como combinar técnicas de proteção local com teleproteção dos
alimentadores e geradores distribuídos utilizando os recursos disponíveis nos
relés digitais e os meios de comunicação existentes.

20
3. Meio Físico de Transmissão e Protocolos para
comunicação entre Relés de Proteção
Os protocolos podem ser entendidos como um conjunto de regras que
determinam como deverá ocorrer a comunicação entre duas estações numa
rede de comunicação e como os erros devem ser detectados e tratados. Na
operação de envio e recebimento de dados entre equipamentos devemos
observar alguns fatores, tais como: a sincronização dos quadros, o controle de
fluxo, a detecção de erros, o controle do erro, o endereço e a gerência do
enlace [ 10 ].

Os protocolos e os meios de transmissão utilizados são os principais


responsáveis pelo sucesso de uma comunicação entre dois pontos numa
determinada rede, o meio físico define o caminho a ser seguido e o protocolo
dita as regras para a comunicação, definindo o início e o fim de cada
mensagem efetuando a gerência entre os pontos da rede.

3.1. Meios de Transmissão


Os meios de transmissão são os caminhos físicos utilizados para
conexão entre dois pontos de uma rede, seja de dados ou energia. Podemos
classificar os meios de transmissão em dois tipos básicos, os meios guiados e
não guiados.

Os meios guiados são aqueles caracterizados pela utilização de um


meio físico, tal como cabo de rede, cabo coaxial, par metálico, guia de onda,
fibra óptica, etc. Os meios não guiados são aqueles que utilizam o ar livre,
como exemplos têm o uso do infravermelho, comunicação via satélite, celular,
etc. Em sistemas de proteção podem ser utilizados diversos meios de
transmissão dependendo da aplicação e geografia da localidade. Dentre os
principais meios destacam-se a fibra óptica e os próprios condutores de
energia elétrica, utilizando a técnica de comunicação PLCC.

3.2. Protocolos de comunicação


Quando o assunto é protocolos sempre surge à expressão Modelo
ISO/OSI, isso se deve ao fato de a ISO (International Organization for
Standardization) propor um modelo de referência conhecido por RM-OSI

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(Reference Model – Open Systems Interconnection). Este modelo foi proposto
para definir formalmente uma maneira comum de conectar computadores,
possibilitando a compatibilidade entre hardware e software de diferentes
fabricantes. Este modelo é dividido em 7 (sete) camadas (Tabela 3-1) [ 10 ]:
Tabela 3-1- O modelo de referência RM-OSI [ 10 ]

7 Aplicação
6 Apresentação
5 Sessão
4 Transporte
3 Rede
2 Enlace
1 Físico

A primeira camada do modelo é a camada Física, responsável pelas


definições elétricas e mecânicas da interface de rede. Esta camada define o
tempo de duração dos bits, os níveis de tensão de cada bit 0 (zeros) e 1(uns),
as direções possíveis de transmissão, a quantidade de pinos da placa de rede,
etc.

A camada de Enlace é responsável pela fragmentação dos dados


recebidos da camada superior em quadros e por seu envio. Esta camada é
responsável pelo início e fim de cada mensagem, controle de fluxo entre
remetente e destinatário e ainda pela forma de acesso ao meio.

A terceira camada ou camada de Rede faz a conexão com outros


sistemas computacionais, a manutenção e fechamento das conexões e ainda o
controle do congestionamento da rede.

A camada de Transporte é responsável pela detecção e correção de


erros, o controle de fluxo do transporte caso os pacotes recebidos cheguem
fora de ordem, a fragmentação e remontagem da informação.

A quinta camada ou camada de Sessão foi projetada para permitir a


comunicação com sucesso entre aplicações. Nesta camada, as aplicações
definem como será feita a transmissão de dados e como esses dados serão

22
identificados, para que na detecção de uma falha possa ser reenviada apenas
a mensagem perdida.

Na sexta camada ou camada de Apresentação os dados são convertidos


para um formato comum entre as partes. Nessa camada pode-se utilizar de
criptografia para aumentar a segurança, os dados serão decodificados na
mesma camada do segundo dispositivo.

Última camada, a camada de Aplicação, faz a interface entre o protocolo


de comunicação e o aplicativo que pediu ou receberá a informação através da
rede. Nessa camada encontramos os protocolos que auxiliam os processos
dos usuários.

Existem inúmeros protocolos utilizados na supervisão dos sistemas de


proteção. Alguns deles serão abordados nesse trabalho, são eles:

• MODBUS

• DNP 3.0

• IEC61850

3.2.1. ModBus
O MODBUS é um dos protocolos mais simples utilizados para
automação. Possui uma estrutura de mensagem desenvolvida pela antiga
Modicon em 1979, hoje Schneider Electric, utilizada para estabelecer
comunicação entre os dispositivos mestre e escravo em uma rede. Sua grande
utilização aumentou devido à sua simplicidade de implementação bem como
pela disponibilidade do código fonte gratuito na internet [ 11 ].

Os dispositivos que utilizam esse protocolo comunicam-se somente


utilizando a técnica mestre-escravo, a qual permite que somente um dispositivo
(mestre) possa iniciar as transações e os outros dispositivos (escravos)
respondam de acordo com o pedido do mestre.
As principais razões para o uso desse protocolo são [ 11 ]:

• Desenvolvido para aplicações industriais;

• Protocolo aberto (sem royalties);

23
• Fácil implementação.

Há algumas variações desse protocolo dependendo da aplicação. O


Modbus RTU descrito a seguir será o apresentado com maior clareza neste
trabalho, por ser compatível com o relé de proteção de geradores (SEL-300G)
disponível no Laboratório de Automação e Proteção de Sistemas Elétricos
(LAPSE) onde foram efetuados alguns testes que serão descritos no capítulo 4.

• Modbus ASCII (American Standart Code for Information Interchange): O


meio físico de comunicação é o RS-232 ou RS-485, permite um mestre
podendo ter vários escravos.

• Modbus TCP/IP (Transmission Control Protocol, Internet Protocol): utiliza


como meio físico de comunicação uma rede ethernet, esta variação do
protocolo permite utilizar vários mestres e vários escravos numa mesma
rede.

• Modbus Plus: É uma variação do protocolo ainda de propriedade da


Schneider Electric. Podendo utilizar vários mestres e escravos e o meio
físico utilizado é o RS-485.

• Modbus RTU (Remote Terminal Unit): É a variação mais comum do


protocolo, usado para comunicação entre sistemas de supervisão e
controladores lógicos programáveis (CLP). Utiliza como meio físico as
portas RS-232 ou RS-485, permite apenas um único mestre podendo ter
vários escravos.

O Modbus é um protocolo que oferece um serviço baseado em códigos


de função pré-determinados e bem definidos, permitindo uma fácil
implementação nas comunicações em vários tipos de arquitetura de rede,
podendo ser utilizados diversos meios físicos, tais como RS232, RS485 e
ethernet.

O protocolo MODBUS define um núcleo padrão para todas as suas


mensagens, denominada Unidade de Dados do Protocolo - PDU (Protocol Data
Unit). O mapeamento do protocolo Modbus em um barramento ou rede
específica pode adicionar alguns campos que juntos à PDU são denominados
Unidade de Dados de Aplicação - ADU (Application Data Unit) (Figura 3-1).

24
Figura 3-1 - Quadro de Mensagem Padrão Modbus [ 12 ].

No PDU têm-se dois campos: o código de função e os dados. O código


de função detém a solicitação pedida pelo mestre ao escravo. Quando não há
erros na mensagem este campo na resposta do escravo é igual à solicitação do
mestre. Quando o escravo não consegue executar a função demandada pelo
mestre, então na resposta o escravo coloca 1 no MSB (Bit mais significativo).
Esse campo utiliza-se de 1 byte. O campo dados quando respondido pelo
escravo é utilizado para colocar a informação pedida pelo mestre, além de
poder conter o código de erro quando ocorre.

O ADU tem três campos: o endereço, o PDU e a checagem de erro. O


campo endereço que pode variar de 0 a 247 é destinado ao endereço do
escravo, ou seja, quando o mestre solicita informação utiliza esse campo para
indicar quem deve responder a solicitação e quando o escravo responde esse
campo é composto pelo endereço do próprio escravo indicando quem
respondeu. Em uma rede que possui vários escravos o mestre pode indicar
endereço 0 informando que todos os escravos devem tratar a informação, esse
campo utiliza 1 byte. O campo verificação de erro é destinado à averiguação de
erro podendo ser baseado em dois métodos: a verificação de paridade ou a
verificação de quadro, no modo RTU um quadro (Figura 3-1) contém o
endereço, o código da função, os dados de informação e a checagem de erro.

A verificação de paridade é um dos mecanismos mais simples para


detecção de erros. A cada caractere (byte) transmitido é acrescentado um bit
de tal modo que o total de bits 1 seja par (even parity) ou impar (odd parity). É
habitual a utilização de paridade par para comunicações assíncronas (cada
mensagem enviada deve incluir a informação de início e fim da mensagem) e a
paridade ímpar para comunicações síncronas (os relógios do emissor e do
receptor devem estar em fase e com mesma frequência).

25
A verificação de quadro pode ser de dois tipos: CRC (Cyclical
Redundandcy Check) no modo RTU ou LRC (Longitudinal Redundancy Check)
no modo ASCII. O LRC realiza a mesma operação de verificação de paridade
para os caracteres transmitidos mostrado anteriormente. No final é
acrescentado um caractere de paridade e cada bit desse caractere está
associado aos mesmos bits dos caracteres transmitidos. A Figura 3-2
exemplifica este mecanismo para 4 (quatro) caracteres de 8 (oito) bits cada:

Figura 3-2 - Verificação da paridade por LRC [ 13 ].

No modo RTU o método de verificação de erro adotado é o CRC


(Cyclical Redundandcy Check) que calcula o conteúdo de toda a mensagem e
gera um valor de 16 bits sendo que na composição final deste campo, os 8 bits
menos significativos são enviados primeiro e depois os 8 bits mais
significativos. O dispositivo transmissor calcula o valor do CRC e o integra à
mensagem, transmitindo-a em seguida ao dispositivo receptor, que por sua
vez, recalcula o CRC de toda a mensagem após a sua total recepção e o
compara ao campo CRC da mensagem recebida, sinalizando erro caso não
sejam iguais.

3.2.2. DNP 3.0


O DNP (Protocolo de Rede Distribuída) foi desenvolvido pela GE
HARRIS, na década de 1990. Em 1996 a especificação foi liberada para uso
público, se tornando um protocolo aberto.
Este protocolo é padronizado, o que trouxe um primeiro nível de
interoperabilidade aos sistemas de automação de energia, porém ainda é
necessário um considerável esforço de engenharia no sentido de integração
dessas informações, devido a características de cada fabricante [ 14 ].
No DNP foi incluído o endereço de origem da mensagem, além do
endereço de destino, que já estavam presentes no MODBUS. Também foi

26
incluído o conceito de fragmentação de mensagens, com o objetivo de permitir
o transporte de grandes arquivos.
O Protocolo DNP 3.0, apresenta 4 (quatro) camadas conforme ilustrado
na Figura 3-3:

Figura 3-3 - Modelo OSI e OSI simplificado [ 10 ]

Cada camada é responsável por preparar a informação para a camada


seguinte. Na camada de Aplicação que as mensagens entre os equipamentos
transmissor e receptor são efetivamente processadas. Nessa camada é
montada a Unidade de Dado de Aplicação (APDU - Aplication Data Unit), essa
mensagem pode conter até 2048 bytes e possuem as informações a serem
processadas pela estação que recebe a mensagem e contém também as
informações de controle da mensagem. São elas APCI (Aplication Control
Information) e ASDU (Application Service Data Unit) (Figura 3-4).

Figura 3-4 - Formato do APDU [ 14 ].

A camada de Transporte ou Pseudo-Transporte é responsável pela


divisão da mensagem da camada de aplicação (APDU) em fragmentos, para
que possam ser transmitida pela camada de Enlace, nessa camada é
acrescentado apenas um byte, o Transport Header (TH). Os fragmentos são a
divisão do APDU em uma quantidade de bytes menor, viabilizando o transporte
na camada de enlace.

27
Figura 3-5 - Definição do TH [ 14 ].

O TH é um byte (8 bits) composto pelo FIN (bit 7) responsável pela


indicação de final ou não das mensagens fragmentadas (bit 7 igual a 1 – último
fragmento, bit 7 igual a 0 – Não é o último fragmento). Há também o FIR (bit 6),
este bit quando igual a 1 (um) indica que este quadro é o primeiro da
sequência. Os outros 6 (seis) bits (bit 0 a 5) são responsáveis por verificar a
sequência dos quadros, eles contam de 0 a 63 e recomeça a contagem.

Figura 3-6 - Formato mensagem nível de Enlace [ 14 ].

A camada de Enlace tem como função estabelecer e controlar o canal


físico de comunicação entre o equipamento transmissor e receptor. As
mensagens trocadas nessa camada são denominadas de DATA LINK
HEADER (Figura 3-6) destinadas à manutenção da comunicação entre os
equipamentos, onde o campo FLAG é composto por dois bytes, o byte F1 e F2.
Esses bytes sempre possuem os valores 05H (5 decimal) e 64H (100 decimal)
respectivamente. O byte TAM indica o tamanho da parte útil da mensagem
podendo variar de cinco, indicando que só o cabeçalho está presente na
mensagem, até o valor máximo de 255. O CTL (Figura 3-6) é o byte de
controle, contém as informações referentes à direção do quadro, tipo de quadro
e o controle do fluxo. O campo destino possui dois bytes podendo endereçar
até 65.536 (216) endereços. O campo ORIGEM possui o endereço do elemento

28
de origem da mensagem e por último tem-se o método de verificação de erro, o
DNP adota o CRC.

Figura 3-7 - Formato da mensagem DNP3.0 [ 14 ].

Na camada Física é que os elementos básicos da mensagem (bytes)


são transferidos de um equipamento a outro do sistema, podendo ser
transferidos no caso do relé SEL-451 pela porta RS232 ou ethernet (RJ45),
disponíveis em sua interface.

3.2.3. IEC 61850


Os sistemas atuais de teleproteção e automação do sistema de energia
elétrica, normalmente consistem de equipamentos de diferentes fabricantes e
de diferentes gerações. A integração entre esses equipamentos é difícil, pois a
maior parte deles usa protocolos específicos que leva ao uso de equipamentos
para conversão entre os protocolos ou a utilização de equipamentos com o
mesmo protocolo de comunicação, o que possivelmente implica no uso de
equipamentos de um mesmo fabricante ou elevados custos com equipamentos
capazes de integrar esses sistemas.
Se não houver um consenso que defina regras básicas que os
protocolos de uma determinada aplicação devam seguir (modelo de
referência), é imaginável que soluções proprietárias sejam propostas, ou seja,
cada fabricante pode definir um protocolo específico para os seus produtos e

29
isso poderia inviabilizar a comunicação com equipamentos de outros
fabricantes [ 15 ].
Pensando nisso em 1988, EPRI (Electric Power Research Institute) e
IEEE (Institute of Electrical and Electronics Engineers) iniciaram o projeto UCA
(Utility Communications Architecture), com o objetivo de desenvolver a
interoperabilidade entre os sistemas de controle utilizados na monitoração e
controle dos serviços públicos de energia elétrica. Inicialmente, o projeto previa
a comunicação entre os centros de controle e subestações.
Em 1997, EPRI e IEEE uniram esforços com um grupo de trabalho da
IEC (International Electrotechnical Commission) para construir um padrão
internacional comum para comunicações no setor de energia elétrica. Estes
esforços foram baseados nos conceitos e definições da arquitetura UCA e
levaram à criação de um padrão chamado IEC 61850, que foi especialmente
concebido para proporcionar a interoperabilidade, a comunicação de alta
velocidade entre os dispositivos, garantia de entrega de dados e suporte na
configuração [ 16 ].
O IEC 61850 basea-se no envio de mensagens GOOSE (Generic Object
Oriented Substation Event), e possui diversas vantagens, tais como:
• Menor custo de instalação, por possuírem manuais auto-
descritivos reduzindo o tempo de configuração.
• Redução do tempo de engenharia, por possuírem modelos de
objetos padronizados para todos os dispositivos, eliminando a
configuração manual e o mapeamento dos sinais de entrada e saída
para as variáveis do sistema de energia.
• Um conjunto completo de serviços de comunicação, acesso a
dados, registro de eventos e controle da maioria das aplicações.
• Máxima flexibilidade para os usuários escolherem os
equipamentos interoperáveis [ 17 ].
Diferente dos protocolos Modbus e DNP3.0 que não prevêem a
comunicação direta entre equipamentos, inviabilizando técnica e
economicamente a integração de alguns sistemas na supervisão. Com a
implementação da norma IEC 61850 nos sistemas de energia esses problemas
diminuíram, possibilitando um controle e supervisão mais aguçada do sistema.

30
4. Caso de Estudo
Este capítulo descreve e testa uma forma de comunicação entre o relé de
proteção do alimentador e o relé responsável pela proteção do gerador
independente. O objetivo é que o relé de proteção do alimentador, ao detectar
a ocorrência de uma falta, envie sinal de abertura ao disjuntor do alimentador e
também ao relé de proteção do gerador distribuído, visando evitar que os
consumidores que permaneçam alimentados pelo gerador ilhado sejam
prejudicados por uma possível perda de qualidade no fornecimento da energia
elétrica (ver Figura 4-1). Os relés comerciais utilizados não possuem um
protocolo em comum e a troca de informação entre eles foi feita através de um
sistema supervisório do tipo SCADA (Supervisory Control and Data
Acquisition).

Figura 4-1 - Sistema Elétrico de Estudo

O caso de estudo utiliza dois relés de proteção de fabricação da


Schweitzer Engineering, o SEL-300G (Multifunction Generator Relay) e o SEL-
451 (Protection, Automation, and Control System). Além dos relés, foram
empregados três computadores com interface RS-232, dois para comunicação
com os relés e um para comunicação com o equipamento SEL-AMS (Adaptive
Multichannel Source). Este último equipamento aplica sinais de tensão e
corrente nas entradas dos relés, o que possibilita simular situações de falta e

31
de operação normal. Todos estes equipamentos estão disponíveis no LAPSE e
serão descrito na sequência (Figura 4-2).

Figura 4-2 - Ligação Física dos Equipamentos

Para realizar a supervisão dos relés de proteção foi utilizada uma versão
de demonstração do software da Elipse o E3 v2.5.0.160 [ 24 ]. Esse software
monitora em tempo real o estado das portas digitais e analógicas dos relés de
proteção, podendo monitorar todas as variáveis acessíveis, como tensões,
correntes e frequência. Permite também, quando configurado de forma
adequada, o envio de comandos aos relés pelo sistema supervisório,
possibilitando a tomada de decisão pelo operador ou executando uma
operação pré-configurada no supervisório, utilizando como critério a mudança
de estado de alguma variável do relé, caso a ser demonstrado.

4.1. Relé SEL-300G


O relé SEL-300G (Figura 4-3) foi projetado para proteção de geradores,
possui diversas funções de proteção, como:

• Proteção Terra (ANSI 64)

• Proteção Diferencial (ANSI 87)

• Proteção de Sobrecorrente (ANSI 50)

• Proteção contra perda de excitação (ANSI 40)

• Proteção de Subtensão (ANSI 27)

32
• Proteção de Sobretensão (ANSI 59)

Este modelo aceita o protocolo de comunicação Modbus, que como já


descrito nos capítulos anteriores é um protocolo aberto.

Figura 4-3 - Relé SEL-300G [ 18 ].

No relé utilizando o protocolo Modbus, todas as consultas iniciam com


os campos descritos na Tabela 4-1.

Tabela 4-1 - Campos do Modbus [ 18 ].

O mestre inicia a comunicação enviando o endereço do escravo, o


código da função a ser executada (Tabela 4-2), algumas informações
adicionais (quando necessárias) e os bits para verificação de erros.

Tabela 4-2 - Código de Função relé SEL-300G [ 18 ].

33
O campo Código da Função é composto por dois bytes representados
na Tabela 4-2. Segue uma breve descrição dos códigos de funções para
utilização no Elipse:

• 01h – Comando que realiza a leitura do status da bobina.

Essa função pode consultar o status de mais de 2000 bits em uma única
consulta. Se o número de bits da resposta não for divisível por 8 (oito), o relé
adiciona zeros para formar o ultimo byte.

• 02h – Comando que realiza a leitura do status de entrada.

Utilizado para ler o estado 0 (zero) ou 1 (um) dos bits selecionados. Pode
ler até 2000 bits por consulta. Essa função é utilizada com apoio Tabela 4-3,
quando desejasse saber o status dos bits disponíveis no relé SEL-300G.
Tabela 4-3 - Exemplo do endereço de cada bit no SEL-300G [ 18 ].

• 03h – Comando que realiza a leitura da memória dos registradores.

Essa função é utilizada para ler diretamente o valor disponível no endereço


dado pelo Mapa de Registradores do Modbus (Tabela 4-7). Pode ser realizada
a leitura de no máximo 125 registradores de uma única vez. Esse função foi
utilizada para testes no Elipse, a fim de verificar a correta configuração do
supervisório.

• 04h – Comando que realiza a leitura dos registradores de entrada.

Esta função é utilizada para ler o valor disponível no endereço dado pelo
Mapa de Registradores do Modbus (Tabela 4-7). Pode ser realizada a leitura
de no máximo 125 registradores de uma única vez.

34
• 05h – Forçar bobina.

Este código é usado junto com a Tabela 4-4 para definir ou limpar o status
das bobinas. Na Tabela 4-4 estão listados os endereços físicos referente a
cada bobina disponível para execução dessa função.
Tabela 4-4 - Bobinas de comando do relé SEL-300G [ 18 ].

• 06h – Escreve registradores de memória.

O SEL-300G utiliza esta função para permitir que um mestre Modbus


escreva diretamente em um registrador do equipamento. Essa função utiliza a
Tabela 4-5 para definir o endereço a ser escrito e a Tabela 4-6 para definir o
valor a ser escrito no endereço, dependendo da aplicação. Esta função foi
utilizada nos testes realizados.

35
Tabela 4-5 - Endereços para escrita no Relé SEL-300G [ 18 ].

Tabela 4-6 - Código dos comandos [ 18 ].

• 07h – Comando de leitura de status

Este comando é utilizado para permitir que um mestre Modbus possa ler o
estado atual do relé e do circuito protegido por ele.

• 08h – Comando de diagnóstico do canal

Esta função permite que o mestre Modbus execute um teste de diagnóstico


no canal de comunicação.

• 10h – Escreve vários registradores de memória

Este comando é semelhante à função 06h exceto por um detalhe, ao invés


de escrever em um único registrador permite ao mestre Modbus a escrita em
até 100 (cem) registradores de uma única vez.

• 64h – Comando de leitura em diversos registradores

Esta função permite que o mestre Modbus possa ler endereços não
contínuos em uma única solicitação.

O relé SEL-300G traz em seu manual uma tabela denominada Modbus


Register Map (Tabela 4-7), que possui o endereço físico de todas os
registradores acessíveis do relé. Esta tabela é de extrema importância para
configuração no Elipse, por possuir o endereço da informação desejada.

36
Tabela 4-7 – Exemplo do Mapa de Registradores Modbus [ 18 ].

4.2. Relé SEL-451


O Sistema de Proteção, Automação e Controle SEL- 451 (Figura 4-4) é
utilizado na proteção de Linhas de Transmissão. Possui diversas funções de
proteção, como:

• Sobrecorrente Instantâneo (ANSI 50)


• Sobrecorrente Temporizado (ANSI 51)
• Sobrecorrente Direcional (ANSI 67)
• Religamento Tripolar (ANSI 79)
• Falha de Disjuntor (ANSI 50BF)
• Check Sincronismo (ANSI 25)
Pode comunicar-se também utilizando os protocolos de comunicação
DNP3.0 e IEC61850, esses protocolos foram descritos nos capítulos anteriores.

Figura 4-4 - Relé SEL-451 [ 19 ].

37
Como no Modbus cada mensagem DNP possui um código de função.
Os códigos de função mais comuns utilizados no DNP são listados na Tabela
4-8 esses códigos permitem leitura, escrita, seleção, execução e operação
direta com os registradores listados no mapa de registradores do DNP3.0.
Tabela 4-8 - Códigos de funções do DNP3.0 [ 19 ].

4.3. Configuração no Elipse


O Elipse E3 como descrito anteriormente será o software responsável
pela aquisição dos dados e tratamento das informações, mas para que isso
ocorra com qualidade deve-se obedecer as características inerentes aos
equipamentos supervisionados.

Para supervisionar um determinado processo com um sistema SCADA,


geralmente é construída uma aplicação que conterá a definição das variáveis
envolvidas, com nomes e endereços, telas, definições de alarmes e outros, a
qual se chama Banco de Dados da Aplicação [ 20 ].

O E3 possibilita a comunicação com o equipamento usando um arquivo


.dll (Dynamic link library). Este arquivo no E3 é denominado de driver e é
responsável pela comunicação entre o sistema supervisório e o relé. No E3
utilizando o driver compatível com o equipamento são inseridos alguns tags e
neles são configurados alguns parâmetros como endereço do escravo, código
da função a ser executado (leitura ou escrita), endereço do registrador no relé
(endereço da informação a ser monitorada ou endereço que recebe o código a
ser escrito no relé).

No caso em estudo como os protocolos são abertos, existem diversos


drivers disponíveis na internet. Em ambas aplicações os drivers utilizados no
caso em estudo foram obtidos diretamente do site da Elipse
(www.elipse.com.br). Para o protocolo de comunicação Modbus utilizado no

38
SEL-300G utilizou-se o driver denominado Modbus.dll e para o SEL-451 foi
utilizado o driver DNP3_Master.dll.

4.3.1. Configuração do E3 para o SEL-451


O SEL-451 permite o monitoramento de diversas informações, tais como
tensões, correntes, frequência, estado das entradas digitais e analógicas entre
outros, mas no caso em estudo faz-se necessário o monitoramento das
correntes nas fases A, B e C, esses dados são necessários para configuração
correta do driver. Pela opção de monitorar a falta por sobrecorrente na linha de
transmissão.

A Figura 4-5 mostra alguns campos do Elipse E3 imprescindíveis para a


comunicação correta entre o supervisório e o relé que serão descritos na
sequência:

O campo nome é editável e permite identificar a grandeza monitorada,


conforme escolha do usuário.

O campo P1/N1/B1 na linha definida com nome Driver1 é configurado


conforme Tabela 4-9, nas linhas que seguem abaixo conforme Tabela 4-10 a
coluna P1/N1/B1 é responsável por conter o endereço do relé (no Caso de
Estudo foi configurado como 100).

O campo P2/N2/B2 é o local designado ao código da função a ser


executada (zero significa leitura do endereço especificado).

O campo P3/N3/B3 é responsável por conter o código do objeto e


variação seguindo a seguinte regra objeto × 100 + variação. Para os três
primeiros tags (Corrente A, Corrente B e Corrente C) temos que o objeto é
representado pelo número 30 (Tabela 4-11), a variação é 1 (Corresponde a
uma entrada analógica), para o ultimo tag (TRIP) temos que o objeto
corresponde ao valor 01 (Tabela 4-11) e a variação é 1.

39
Figura 4-5 - Configuração do Driver de comunicação DNP3.0.

Tabela 4-9 - Parâmetro P de configuração do Driver [ 21 ].

Tabela 4-10 - Parâmetro B de endereçamento de tags [ 21 ].

Tabela 4-11 – Tabela simplificada com Objeto e Índice [ 19 ].

O último campo configurável é o P4/N4/B4 que corresponde ao


endereço do registrador no equipamento, informado na Tabela 4-11 na coluna
Índices. O endereço 1606 foi escolhido para o tag TRIP devido ao tipo de falta
monitorada, esse endereço conforme Tabela 4-12 corresponde ao registrador
que monitora o TLED_2 responsável por indicar falta de sobrecorrente
temporizada (Tabela ANSI função 51).

40
Tabela 4-12- Endereços dos registradores referentes aos leds frontais do Relé SEL-451 [ 19 ].

4.3.2. Configuração do E3 para o SEL-300G


O relé SEL-300G é um relé multifuncional, completo, projetado para
proteção primária e ou de retaguarda de máquinas síncronas de pequeno,
médio ou grande porte [ 18 ].

Conforme descrito no início do capítulo 4 o relé utiliza como protocolo de


comunicação o Modbus, e sua configuração no E3 será demonstrada a seguir.

Figura 4-6- Configuração do Driver de comunicação Modbus.

A Figura 4-6 mostra os campos imprescindíveis para a comunicação


entre o sistema supervisório E3 e o relé. Conforme descrito no item 4.3.1 o
campo nome é editável e permite identificar a grandeza monitorada, o campo
P1/N1/B1 na linha com o nome Driver1 é definida conforme Tabela 4-13, este

41
campo não foi alterado, pois conforme Tabela 4-13 qualquer valor abaixo de
1000 será adotado 1000ms.
Tabela 4-13 - Parâmetro P de configuração do Driver [ 21 ].

Na linha referente ao tag com nome TRIP o campo P1/N1/B1 é definido


com o endereço do relé, no caso em estudo o relé foi configurado com
endereço 10.

O campo P2/N2/B2 corresponde ao código de função requerido, o


código que corresponde ao envio de dados ao relé é 1. O campo P3/N3/B3 não
é utilizado para os tags, e o campo P4/N4/B4 corresponde ao endereço do
registrador a ser escrito conforme Tabela 4-14 (673 em decimal corresponde a
02A1 em hexadecimal) e por último o campo Valor, que corresponde ao dado a
ser escrito no endereço do registrador do relé sinalizando que o mesmo deve
retirar a GD do barramento. O código utilizado no caso em estudo foi 01 que
corresponde à abertura do disjuntor 1 conforme Tabela 4-15.
Tabela 4-14 – Endereço de comandos do relé SEL-300G [ 18 ].

Tabela 4-15 - Código de comandos do Modbus [ 18 ].

42
4.3.3. Testes realizados
Para possibilitar o monitoramento adequado do Sistema Elétrico
proposto utilizando os relés foi confeccionada no Elipse E3 uma tela para
supervisão dos alarmes. A Figura 4-7 mostra o sistema de potência
considerado, sendo o disjuntor 1 responsável pela abertura da linha de
transmissão, o disjuntor 2 responsável pela retirada da GD do barramento. Os
dois relés de proteção (SEL-451 e SEL-300G) são conectados aos dois
computadores representados na Figura 4-7 (servidores 1 e 2), que possuem o
software E3 instalado.

Figura 4-7- Tela do Sistema Supervisório.

Foram realizados alguns testes parciais para verificar a comunicação


com o sistema supervisório. Primeiro foi simulada uma falha de sobrecorrente
temporizada no alimentador, para verificar a detecção pelo relé SEL-451
(Figura 4-8). Neste teste as correntes nas fases A, B e C foram aplicadas
através da mala de teste simulando condições normais de operação e após
alguns segundos a corrente na fase A foi elevada em aproximadamente 5
(cinco) vezes. Decorridos alguns milissegundos após a elevação da corrente na
fase A ocorreu a atuação do relé sinalizada pela linha vertical pontilhada
(Figura 4-8).

43
Figura 4-8 - Falha de sobrecorrente temporizada no SEL-451.

A atuação do relé é sinalizada na tela do sistema supervisório


reproduzida na Figura 4-9. O relé SEL-451 em amarelo representa que este
enviou sinal de abertura (trip) ao disjuntor 1 (em vermelho). O sistema
supervisório no teste realizado para o SEL-451 recebe as informações em
tempo real do relé.

Figura 4-9 - Atuação do relé SEL-451 na tela do supervisório.

44
Nos testes isolados com o relé SEL-300G, o sistema supervisório envia
a este relé um sinal informando a atuação do relé de proteção do alimentador
(SEL-451). Ao receber este sinal, o relé SEL-300G também envia um sinal de
abertura ao disjuntor do gerador, desconectando-o do barramento. Para o teste
de envio de informação ao relé SEL-300G foi criado um botão na tela do
supervisório chamado de “Ativar Relé” (Figura 4-10) que simula o recebimento
no servidor 2 do sinal de abertura do disjuntor 1. O recebimento desta
informação é confirmado na tela do supervisório pelo bloco SEL 300G em
amarelo e o disjuntor 2 em vermelho, conforme Figura 4-10.

Figura 4-10 - Atuação do relé SEL-300G na tela do supervisório.

Foram feitas tentativas de comunicação entre os dois computadores


através do sistema E3, o que possibilitaria validar o sistema completo, ou seja,
quando houvesse uma falta no alimentador, o relé SEL-451 enviaria através do
servidor 2 um sinal via rede para o servidor 1 que se comunicaria com o relé de
proteção do gerador, SEL-300G, que também desconectaria o gerador

45
distribuído. No entanto, após diversas tentativas sem sucesso, verificou-se
com o suporte técnico da Elipse que utilizando a versão de demonstração do
software, este teste não seria possível. Entretanto, a parte considerada mais
importante da comunicação, a comunicação entre os relés e o sistema
supervisório utilizando dois protocolos diferentes, foi bem sucedida e
possibilitará a comunicação entre relés também com outros objetivos.

46
5. Conclusão
Através da revisão bibliográfica, verificou-se que a conexão das
unidades de Geração Distribuída no sistema elétrico pode interferir na
operação do sistema de forma positiva ou negativa. Uma dessas formas
negativas seria a não manutenção da qualidade da energia elétrica com a falta
do sistema elétrico principal, pois geradores de pequeno porte normalmente
não têm recursos suficientes para manter as tensões e frequência em níveis
adequados aos consumidores.

Todos os equipamentos nos sistemas de potência são protegidos ao


menos por um relé de proteção. O sistema de proteção como um todo inclui
também transformadores de instrumentos, disjuntores, fiação, etc. Para
configuração dos sistemas de proteção são realizados estudos prévios, tais
como verificação de níveis de curto-circuito e análise dos níveis de
carregamento do sistema na operação normal.

Este trabalho combinou conhecimentos adquiridos nas áreas de


operação de sistemas de energia, proteção de sistemas elétricos e
comunicações para proposta e implementação de uma lógica de teleproteção,
utilizando recursos disponibilizados no sistema de supervisão e nos relés
microprocessados utilizados. Esta lógica tem o objetivo de evitar a operação
isolada do gerador distribuído.

Os equipamentos, softwares e protocolos empregados para testar esta


proposta são utilizados nos sistemas de potências atuais e permitem
supervisionar de forma confiável sistemas de distribuição que incluam
geradores distribuídos, visando o fornecimento de energia elétrica aos
consumidores finais em níveis de qualidade adequados.

Mesmo sem a execução do teste integrado, devido à utilização da


versão de demonstração do software da Elipse pode-se verificar a eficácia da
teleproteção para evitar ilhamentos de Unidades Geradoras Distribuídas no
sistema elétrico.

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