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O Jardim dos Condes de Farrobo

eo
Éden Lusitano

Hugo M. D. Martins

2009-03-04
Jardim Zoológico, lugar de convívio, de família, de passeio, de emoções, de bem-estar. Este
lugar majestoso para a maioria é apenas um lugar de visita esporádica, onde se passa um
óptimo dia em família ou como um lugar para um belo passeio e admirar as diferentes
espécies de animais existentes no zoo. Contudo, o Jardim Zoológico é mais do que uma
simples visita e um dia bem passado.

Todas as personalidades que contribuíram para este lugar fascinante, o rei D. Fernando II, o
esotérico Carvalho Monteiro, os Condes de Farrobo e de Burnay, o escritor Camilo Castelo
Branco, os médicos Van der Laan e Sousa Martins, tiveram como grande objectivo simbólico
do local uma representação romântica do Paraíso Bíblico, dos Jardins do Éden, lugar de
perfeita comunhão e harmonia entre os reinos Vegetal, Mineral, Animal e Humano.

O Jardim Zoológico, na Quinta das Laranjeiras para além de um lugar de passeio, de relação e
visita é um lugar iniciático, de mistério e de espiritualidade. Prova disso, é a interpretação que
se faz do próprio espaço físico dotado de estátuas, colunas, pontes, fontes, jardins e roseirais
com determinada disposição no local, que passam um pouco desapercebidos à maioria das
pessoas, mas que retratam o culto iniciático e secreto a que os principais mentores deste
projecto pertenceram: Maçonaria (Conde de Farrobo), Rosa-Cruz (D.Fernando II) e Templo
(Carvalho Monteiro).

A sua interpretação bem descrita e investigada pelo Professor Doutor Vitor Manuel Adrião,
explica que a alegoria ao Paraíso Bíblico começa desde a localização geográfica, em Sete Rios,
ao qual o rio São Domingos originário do Monte Santo (Monsanto) descendo para a Quinta
das Laranjeiras sobre quatro regos se assemelhava ao Rio dividido (Pison, Gion, Tigre e
Eufrates) do Paraíso Terrestre.

O “Mito Edénico” do Jardim Zoológico, é iniciado através dos “Mistérios Egípcios” sobre uma
ponte com duas colunas caracteristicamente egípcias, e consagrado sobre o deslumbre ao fim
da sua travessia de duas esfinges andróginas (rosto de homem e seios de mulher) que
guardam e admiram um belo Roseiral, o “Lugar da Rosa” que caracteriza a chave de
interpretação do espaço.

Palácio dos Condes de Farrobo – A consagração do Jardim do Éden


Contudo, no Jardim Zoológico para além do magnífico Roseiral anteriormente referenciado,
existe não outro Roseiral, mas sim outro jardim pertencente ao anexado Palácio dos Condes de
Farrobo (proprietários iniciais da Quinta das Laranjeiras) no Jardim Zoológico, que também é
possuidor de um sentido esotérico confirmando assim fielmente a já interpretação realizada
pelo autor Vitor Manuel Adrião. Passemos então à explicação.

O Palácio dos Condes de Farrobo, foi herdado em 1802, por Joaquim Pedro Quintela, feito 1º
Barão de Quintela de seu tio Luís Rebelo Quintela que comprou o palácio em 1779, por 24
contos. Apesar de a edificação ter sido muito pela responsabilidade de Bartolomeu Quintela,
padre da Congregação do Oratório, um tio do citado 1º barão, foi por Joaquim Pedro Quintela
(mesmo nome que o pai), 2.º Barão de Quintela e 1.º Conde de Farrobo, que foi introduzido os
inúmeros melhoramentos na propriedade e palácio ordenando construir, em 1820, o anexo
Teatro Tália.
O 1º Barão tal como o 2º, pertenciam à Maçonaria e todos os melhoramentos e construções
realizadas na Quinta das Laranjeiras foi com um sentido simbólico e iniciático. Como havia já
sido descrito por Vitor Manuel Adrião e passo a citá-lo - “no gradeamento que interdita ao
exterior o acesso ao lugar do teatro (…), observa-se que as suas pontas terminam em estrelas
douradas, estas que afinal, indicam não só o “estrelado” de palco mas sobretudo o Arcano 17,
a “estrela dos Magos”, e que também o Arcano dos Mestres-Construtores, não esquecendo
ainda que 17 é o número do Biorritmo de Portugal” – é referenciada a presença de uma estrela
no gradeamento da cerca da Quinta de Farrobo. Aspecto interessante, quando também
analisamos o jardim do Palácio.

Segundo a minha observação, quando o Jardim do Palácio dos Condes de Farrobo é analisado
num plano superior, verificamos que a disposição artística que o jardim apresenta em
consonância com os diferentes elementos decorativos, é a forma exacta de uma estrela de
quatro pontas, tal como a que aparece no gradeamento.
Esta estrela de quatro pontas como se pode observar (figura 1), é elucidativa da Rosa-dos-
Ventos (Norte, Sul, Este, Oeste). Contudo, quando observamos se esta coincide com os
respectivos pontos direccionais – Norte, Sul, Este, Oeste – verificamos que apresenta uma
ligeira inclinação à direita. Facto este que vai de encontro, não ao norte verdadeiro, mas sim
ao norte magnético! De facto, quando nos deslocamos da entrada do jardim no sentido sul ao
longo do Jardim Zoológico, deparamo-nos com uma rosa-dos-ventos desenhada no solo, com
uma disposição geográfica exactamente igual com a estrela de quatro pontas a que nos
referimos.

1.

II. IV.
I. V. III.

2.
1. 2.

Figura 1. – Representação da coincidência entre a Estrela de Quatro pontas do Jardim do Palácio dos condes de
Farrobo (1.) e a Rosa-dos-Ventos (Foto de satélite do Jardim Zoológico) (2.)

Caso este facto se comprove (norte magnético), apesar de a própria Rosa-dos-Ventos a sul do
jardim já prever a confirmação desta hipótese, estamos perante um fenómeno esotérico
espectacular! Pois o norte magnético de acordo com a sua definição: “pólo norte magnético
onde o campo magnético terrestre aponta na vertical, no sentido do interior da Terra”. Assim
esta estrela de 4 pontas é sinónima ou representativa do interior da terra, do CENTRO AXIAL
DO MUNDO (AXIS-MUNDI), aponta na direcção do Mundo Subterrâneo de AGHARTA, antes, da
sua Capital: SHAMBALLAH.

Contudo, ainda neste jardim temos cerca de 4 estátuas representativas das estações do ano
(Primavera, Verão, Inverno e Outono) e um pequeno lago com uma estátua que se encontra
bem ao centro do jardim e entre as estátuas referidas. Ora como é sabido, as 4 estações do
ano têm uma associação aos 4 elementos da Natureza (Terra, Ar, Água e Fogo) e estes na sua
comunhão ou relação formam o QUINTO ELEMENTO ou QUINTESSÊNCIA ESTÉRICA ou
AKÁSHICA, o Éter (na mitologia grega e utilizado até ao século XIX na propagação da Luz -
luminiferous aether), que coincide com o pequeno lago com a estátua no seu interior.

Tendo em conta, o Norte magnético (interior da terra) com a Quinta-essência (Éter) estamos
perante uma perfeita comunhão entre Superior, o Divino, Aquilo que está em Cima e o
Inferior, o Terráqueo, Aquilo que está em Baixo. Isto vai de encontro ao que está expresso na
Tábua de Esmeralda ou Tabula Smaragdina , da lendária figura de Hermes Trimesgisto:

“É verdade, sem mentira, certo e muito verdadeiro. O que está em baixo é como o que
está em cima e o que está em cima é como o que está em baixo para cumprir o milagre da
unidade.
Assim como todas as coisas estiveram e vieram do uno, também todas as coisas nasceram
desta única, por adaptação.
O Sol é o seu pai; a Lua, a mãe; o vento trouxe-o no ventre; a Terra é a sua ama; aqui está
o pai de todo o telesma do mundo inteiro
O seu poder sobre o mundo não tem limites.
Tu separas a terra do fogo, o subtil do espesso, suavemente, com grande destreza.
Ele sobe da terra para o céu, e volta a descer sem demora para a Terra, e colhe a força das
coisas superiores e inferiores. Terá assim toda a glória do mundo, e é por esta razão que toda a
obscuridade se afastará de ti.
É a força forte de toda a força, pois ela vencerá todas as coisas subtis, e penetrará todas
as coisas sólidas.
Assim foi o mundo criado.
Foi por isso que me deram o nome de Hermes Trismegisto, aquele que possui as três
partes da filosofia universal. Está completo o que disse sobre a operação do sol”

A Tábua de Esmeralda, como sabemos é a grande referência, a obra mestra da doutrina


da “Ciência Sagrada”, “Ciência Divina”, da Ciência que tratava dos opostos (Céu, Terra; Fogo,
Água, Mulher, Homem, etc), ou seja, da Alquimia. Esta na sua base, tinha como grande
segredo arcano a manipulação das matérias opostas com o objectivo de as unificar, de
“conjugar os opostos numa unidade de um só e mesmo ser”. A obtenção deste processo daria
a verdadeira “unidade original da matéria-prima”, no fundo seria aquilo que estaria na origem
de todo o Universo. Citando a Tábua de Esmeralda “…É a força forte de toda a força, pois ela
vencerá todas as coisas subtis, e penetrará todas as coisas sólidas. Assim foi o mundo
criado…”. Então, no Jardim do Palácio, para além de outros aspectos, temos um verdadeiro
fenómeno esotérico, completando a já existente interpretação do Jardim Zoológico, através da
concretização simbólica da união dos opostos (Céu e Terra), o milagre da unidade,
funcionando como o veículo de obtenção do estado primordial ou sublime da matéria, a
condução ao retorno do seu estado glorioso, ou seja, ao Paraíso.

No Jardim Farrobo, além das estátuas alegóricas das Estações, igualmente tem-se as alegorias
escultórias dos Continentes. Pois bem, prosseguindo o traçado teremos:

STELLAE MUNDI – AMÉRICA (5.º CONTINENTE) – ÉTER (AKASHA) – CENTRO

PRIMAVERA – EUROPA– AR (VAYU) – NORTE

VERÃO – ÁFRICA – FOGO (TEJAS) – SUL

OUTONO – ÁSIA – ÁGUA (APAS) – LESTE

INVERNO – OCEÂNIA – TERRA (PRITIVI) – OESTE

As 4+1 direcções cardeais são assessoradas pelos “Quatro Anjos Coroados” da tradição
judaico-cristã, os mesmos “Devas Lipikas” ou “Anjos do Destino” da Tradição Iniciática,
assumida TEURGIA ou “OBRA DO ETERNO NA FACE DA TERRA”, que lhes dá os nomes
seguintes:

5) ARDHA-NARISHA – ESPIRITUAL

4) MANU – FÍSICO ….. MENTAL

3) YAMA – VITAL ….. EMOCIONAL

2) KARUNA – EMOCIONAL ….. VITAL

1) ASTAROTH – MENTAL ….. FÍSICO

Assim, Joaquim Pedro Quintela, tendo sido membro activo da Maçonaria e iniciado em data e
Loja desconhecidas, mas certamente recebendo luzes teosóficas de algum Adepto Real ou
Iniciado Verdadeiro as quais perpassam largamente as especulações simbologistas, de
especulação moral e humanista, do maçonismo. Portanto, sabia o que fazia e muito bem,
deixando o subentendido de Mensagem Espiritual neste seu espaço compreendendo quatro
mais um imóveis: Palácio (Físico) – Teatro (Vital) – Jardim (Emocional) – Roseiral (Mental) –
Toda a Quinta = Éden (Espiritual).

Não parece também que a entrada (antiga) do Jardim Zoológico, inaugurada em 1905 na
Quinta das Laranjeiras, tivesse ficado ao acaso sob a mesma direcção (sentido Norte) que o
próprio jardim do Palácio dos Condes. A entrada no mundo físico está em plena comunhão ou
sincronismo com a entrada (ou veículo) simbólica (o) ou espiritual para o Paraíso, para os
Jardins do Éden.

a.

Legenda:

a. Jardim do Palácio
b. Entrada Antiga do Jardim
Zoológico
c. Rosa-dos-Ventos

c.

b.

Figura 3. – Relação geográfica entre a Entrada


(Antiga) e o Jardim do Palácio dos
Farrobos (Foto de satélite do Jardim
Zoológico)
I. Estátua da Primavera e a
sua Inscrição

II. Estátua do Inverno e a sua


Inscrição

III. Estátua do Outono e a sua


Inscrição

IV. Estátua do verão e a sua


Inscrição

V. Estátua do Centro.
Representativo do 5º
elemento, o Éter.
ontes:
Fontes de consulta:

 Quinta da Regaleira (A Mansão Filosofal de Sintra), por Vitor Manuel Adrião. Editora
Occidentalis, Lisboa, Março de 2007.

 Lisboa Secreta (Capital do Quinto Império), por Vitor Manuel Adrião. Editora
Occidentalis, Lisboa, Abril de 2007.

 Alquimia uma Discurso religioso, por A. M. Amorim da Costa. Colecção Janus. Editora:
Vega. 1999

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