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S e Eu

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Recém-Ordenado ^
Se Eu
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Se Eu
Começasse *

Meu Ministério
De Novo

John M. Drescher

Editora Cristã Unida


Rua Taquaritinga, 118
13.036-530 Campinas - SP
Se Eu Começasse Meu Ministério de Novo

Traduzido do original em inglês:


I f l Were Starting M y Ministério de Novo
Abingdon Press

Copyright © 1995 Abingdon Press


Copyright © 1997 Editora Cristã Unida

Publicado no Brasil com a devida autorização.


EDITORA CRISTÃ UNIDA
Rua Taquaritinga, 118
Jardim Nova Europa
13.036-530, Campinas, São Paulo
Fone/Fax (019) 234-5194

Impresso nos Estados Unidos da América

Tradução: Rubens Castilho


Capa: Valdir Ribeiro Guerra
Desenhos: Jaziel Botelho

Ia Edição - 1997
CONTEÚDO
1.
Eu procuraria ser mais disciplinado no cultivo
da minha própria vida espiritual.
Página 13
2.
Eu procuraria dedicar muito mais tempo
ao estudo e pregação da Escritura.
Página 25
3.
Eu procuraria tomar meu ministério
mais centralizado em Cristo.
Página 31
4.
Eu procuraria lembrar que não é minha eloqüência,
e sim a habilitação do Espírito Santo, que cumpre
o propósito de Cristo em meu ministério.
Página 39
5.
Eu procuraria ter em mente que, a despeito de todas as suas falhas,
a igreja é o Corpo de Cristo realizando a obra de Deus no mundo.
Página 45
6.
Eu me empenharia em orientar e
equipar cada membro para a obra do ministério.
Página 53
7.
Eu procuraria e incentivaria a formação de centros criativos.
Página 56
8.
Eu daria uma ênfase preponderante à oração.
Página 59
9.
Eu procuraria sempre lembrar-me de que meu chamado
não é para controlar a fé das pessoas, mas para
amá-las dentro do reino de Deus.
Página 65
10 .
Eu procuraria estar sempre cônscio de que Deus está
operando, geralmente em pessoas, lugares e programas,
nos quais eu menos espero que Ele esteja agindo.
Página 71
11.
Eu procuraria sempre lembrar que estou ministrando
somente fora do transbordamento, e que o fruto é produzido
somente com base num novo crescimento.
Página 77
12 .
Eu seria fortemente atraído para a plantação de igreja,
e não para uma congregação estabelecida.
Página 83
13.
Eu procuraria ser mais disciplinado na prática do
contato pessoal através da visitação ao rebanho.
Página 87
14.
Eu tomaria cuidado com certas armadilhas do ministério.
Página 96
Mais Sabedoria...
Página 97
Notas
Página 107
Prefácio

p
JL or vários anos, especialmente os pastores mais jovens, e
tam bém aqueles que se preparam para o m inistério, me
incentivaram a escrever Se Eu Começasse Meu Ministério de
Novo. Não há dúvida de que este título foi sugerido pelos meus
dois livros anteriores, Se Eu Começasse Minha Família de Novo
(Editora Cristã Unida) e Se Nós Começássemos Nosso Casamento
de Novo (edição brasileira tem o título Começar de Novo, Editora
Mundo Cristão).
O que se segue resultou também de minha própria busca e
necessidade. Aqui estão apontamentos sobre o que me parece
importante quando me ponho a considerar onde deveria colocar
a ênfase, se tivesse de começar meu ministério de novo. Eles
também abordam pontos que eu teria desejado que alguém
compartilhasse comigo quando iniciei meu ministério. Talvez eles
tenham sido compartilhados numa extensão maior do que imagino
agora. Muitas coisas não são aplicáveis até que se chegue a
situações relevantes na vida.
Tenho servido como pastor em três congregações, como bispo
10 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

ou supervisor de congregações em três diferentes jurisdições, e


como professor de seminário durante uma década. Atuei também
como editor de uma revista semanal de uma denominação por
aproximadamente doze anos. Além disso, tem sido para mim um
privilégio falar a centenas de congregações e grupos de ministros
que ultrapassam as linhas denom inacionais— católicas e
protestantes— e em tais contatos os ministros têm perguntado:
“O que você faria se estivesse começando de novo?”
Por experiência, sei que há fases desfavoráveis no ministério.
Depois de vários anos, um ministro pode experimentar uma
depressão que chega a pôr à prova seu chamado e compromisso.
O entusiasmo de entrar no ministério pode dissipar-se quando
não vemos concretizar-se o grande crescimento que esperávamos
ou porque não alcançamos nossas metas. Na meia-idade, quando
a família deslancha e outras responsabilidades se tomam pesado
ônus, o ministro tende a ficar desanimado ou pensa em pastos
mais verdes. A meia-idade é uma crise em que buscamos
novamente nossa identidade e fazemos perguntas sobre o restante
da nossa vida. É um grande momento para tomar um rumo mais
reanimador e retomar aos fundamentos.
William Nelson, em Ministry Formation fo r Effective Leader-
ship (Formação Ministerial para Liderança Eficaz), leva-nos a
retomar a alguns desses fundamentos. “Que impulso motivou sua
vocação cristã? Qual é a meta que orienta sua formação para o
ministério neste momento? É uma dedicação ao estudo da Bíblia,
da história da igreja, ou da teologia cristã, para que se tome um
professor mais eficiente? É uma paixão pela reforma da estrutura
que controla nossa sociedade, de modo a tomá-la possível para
que todas as pessoas se tomem verdadeiramente humanas? E um
desejo de edificar o Corpo de Cristo como uma comunidade
reconciliadora da fé, objetivando a evangelização do mundo? A
PREFÁCIO 11

capacidade crítica para a auto-reflexão o ajudará a articular as


metas que pretende estabelecer para tomar-se um líder pastoral
eficaz.” 1
As oportunidades e alegrias a mim proporcionadas no
ministério cristão foram além das minhas expectativas. É certo
que, no curso de todo o trabalho, houve tempos difíceis. Porém o
ministério cristão, para mim, foi entremeado de desafios e
altamente satisfatório. Nenhum outro ofício abrange todos os
níveis da existência, do nascimento até à morte. Nenhum outro
trabalho absorve com mais intensidade os profundos sofrimentos
e as supremas alegrias da vida. Nenhum outro serviço compartilha
mais plenamente os tropeços e os sucessos das pessoas.
Apesar das fraquezas e falhas da igreja, ela ainda se constitui
num grupo que demonstra neste mundo o maior amor, sacrifício
e abnegação. E mesmo aqueles que não reconhecem a pessoa de
Cristo usufruem as bênçãos e benefícios do espírito e impacto da
ação cristã.
Em face disto, como alguém que já se encontra na quinta
década de seu ministério, permito-me expor algumas coisas que
resultaram em grandes bênçãos, falar de alguns pontos que
deveriam ser fortalecidos, bem como comentar sobre alguns atos
ministeriais que eu faria de modo diferente, caso me fosse possível
realizá-los de novo.
O que pretendo apresentar não se propõe a ser uma resposta
para cada ministro. Cada um deles deve buscar e apreender o que
Deus lhe está dizendo, onde se situa sua própria vocação, como
ela ocorreu. Uma pessoa não pode fazer todas as coisas, por isso
cada um deve, sob a direção divina, ser e fazer o que o chamado
de Deus lhe impõe, e descobrir os pontos fortes e fracos,
procurando, em ambos os casos, a bênção de Deus.
.eu procuraria ser mais disciplinado
no cultivo da minha própria vida e spiritual

D
- L / epois [Jesus] subiu ao monte e chamou os que ele mesmo
quis, e vieram para junto dele. Então designou doze— [os quais
constituiu apóstolos]—para estarem com ele e para os enviar a
pregar, e a exercer a autoridade de expelir demônios” (Marcos
3.13-15).
Esta experiência de estar “com Cristo” e praticar sua presença
para o desenvolvim ento de m inha vida interior não foi
suficientemente ressaltada durante minha preparação teológica.
Apenas um ou dois professores me deram a impressão de que
tinham uma vida devocional profunda, uma intimidade com Cristo
que me deixaram a sensação de terem vindo da presença do
Senhor, ou de terem uma vida de oração tão vibrante e vital que a
traziam para dentro da sala de aula.
Decidi-me pelo ministério com um claro sentido de vocação e
excitação para ser ministro de Cristo e da igreja. Entretanto, levei
algum tempo para aprender que o fruto é produzido somente com
14 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

base num novo crescimento e que a Palavra que tenho de


comunicar deve primeiro tomar-se came em mim. Ficou claro
para mim que Deus precisava produzir seu trabalho por meu
intermédio.
Não passou m uito tem po de pastorado para que eu
compreendesse que precisava alimentar minha própria vida
espiritual. Precisava nutrir minh’alma e conhecer o poder que
deriva do ato de estar na presença de Cristo e de sua Palavra, em
solidão, meditação, jejum e orações, se tivesse de realizar um
trabalho espiritual e etemo, e se tivesse de satisfazer às profundas
carências e clamores de pessoas que encontrava diariamente.
James N. McCutcheon afirma que um olhar de relance na vida
pessoal de Jesus “proporciona pelo menos três impressões da
prática habitual de nosso Senhor que fala diretamente à vida
devocional do ministro. Ele escolhia um momento e um lugar
onde possivelmente não fosse interrompido. Ele não permitia que
mesmo os que estavam mais próximos dele o importunassem no
momento de oração. Não obstante, sua vida devocional estava
sempre ameaçada e invadida pelas necessidades que o cercavam.”2
À medida que aprofundamos nosso relacionamento com Deus,
nosso relacionamento com os outros também se aprofundam.
David J. Bosch resume a diferenciação apresentada por Lesslie
Newbigin a respeito do “Modelo ‘Peregrino” e do “Modelo
‘Jonas” na vida espiritual. O peregrino sentiu a necessidade de
fugir da “cidade pecaminosa”. Jonas teve de entrar na cidade,
com todo o pecado e corrupção que nela havia. Bosch conclui:
“Os dois eram absolutamente indivisíveis. O envolvimento neste
mundo deve conduzir a um aprofundamento de nossa relação com
Deus e nossa dependência dele, e o aprofundamento de nossa
relação com Ele leva-nos ao crescente envolvimento com o
mundo.”3
VIDA ESPIRITUAL 15

Na realidade, precisamos ser chamados, separados do mundo,


antes de ser enviados a ministrar. ___________ '
Um Jovem pastor escreveu-me dizendo que tinha se perturbado
e que me criticou publicamente alguns anos antes numa reunião
de ministros pelo fato de eu enfatizar em demasia o cultivo e a
disciplina da vida interior. Ele achava que deveríamos nos ocupar
mais do trabalho da igreja.
Eu não me recordava do incidente. Agora, confessou ele, após
alguns anos no ministério, percebeu seu vazio interior e quão
essencial é recorrer à fonte do poder e do serviço espiritual. Ao
cultivar sua própria vida espiritual, todo um novo mundo espiritual
e um novo trabalho começaram a desenrolar-se diante dele.
E m bora os recursos verbais, as aptidões para a boa
administração, uma pregação atraente, e um método de visitação
agradável possam sustentar um ministro por algum tempo, logo
sua integridade moral estará em jogo, se ele estiver falando ou
procurando ministrar além de sua própria profundidade ou
desempenho espiritual.

A Vida Fermaneeente
Em João 15 Jesus nos diz, por duas vezes, que, se não
permanecermos nele e Ele não permanecer em nós, nenhum fruto
espiritual de valor eterno produziremos. Nenhum? A carne, no
entanto, sente que podemos, através de exercícios, educação, dons,
trabalho extenuante, e outras qualidades pessoais, realizar uma
obra espiritual. Jesus afirma que não.
A menos que nos entreguemos franca e diariamente à Escritura,
à meditação e à oração, em pouco tempo estaremos procurando
nossa própria identidade espiritual. Teremos menos fé e confiança,
e teremos um discernimento decrescente da realidade espiritual.
Sem a permanência diária em Cristo, estaremos sujeitos à
16 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

influência paralisante do secular e do material, e dedicaremos


nosso tempo a coisas secundárias—o mecanismo da organização,
os ofícios da igreja, o corre-corre da comunidade, fazendo em
suma coisas que podem ser todas explanadas em termos naturais.
A menos que creiamos, de todo o nosso coração, no que Jesus
disse:—“sem mim nada podeis fazer”—continuaremos a funcionar
no nível natural, obtendo somente o que um ser natural, inteligente
e educado pode realizar. Participamos de seminários atrás de
seminários com o propósito de aprimorar nossas aptidões, mas
dedicamos pouco tempo ao recolhimento e à oração para que
Deus modele as nossas inclinações.
O tempo a sós com Deus ajusta o enfoque de nossas prioridades
e alarga nossa percepção para recebermos sua presença e seu
poder. A intimidade da nossa vida com Cristo proporciona a
medida de nosso poder espiritual para com Deus.
G. Byron Deshler escreve em For Preachers Only (Somente
para Pregadores): “Encerrado o culto da manhã de domingo em
meu primeiro pastorado, um jovem leigo me disse: ‘Byron, você
deve ter dedicado muito mais tempo com Deus durante a semana.’
Sua observação me sacudiu. Eu tinha, realmente, consagrado mais
tempo na semana anterior à oração e meditação do que fazia
habitualmente. Não me ocorreu que meus ouvintes pudessem
perceber se eu havia ou não passado mais tempo com Deus. Se
alguma qualidade em minha prédica denunciou que o sermão se
desenvolveu em comunhão com Deus, segue-se que a ausência
dessa comunhão indicaria também algo a respeito de minha vida
de oração.”4
“A quietai-vos e sab ei” , diz a E scritu ra— que há um
conhecimento de Deus e da obra de Deus que vem unicamente
pela comunhão com Ele, até o ponto de sentirmos o próprio sopro
de Deus em nossa vida e em nosso trabalho.
VIDA ESPIRITUAL 17

O que exponho não é meramente um ofício técnico ou religioso.


Ele deve ser resultado da comunhão com Cristo. Deus é o “que
trabalha para aquele que nele espera” (Isaías 64.4).

Prioridades Pessoais
Com o objetivo de autodisciplinar-me, encontrei um grande
auxílio ao decidir estabelecer certas prioridades específicas.
Primeira Prioridade: Comprometi-me a ler a Palavra dé Deus
diariamente, antes de ler qualquer outra coisa. Antes de tomar o
alimento natural, é agradável receber o alimento para a alma e
satisfazer minha fome de Deus e da vontade de Deus. Esta
prioridade levou-me a levantar cedo, dividir o Novo Testamento
em trinta partes, de modo que ele possa ser lido no período de um
mês. Faço isto em meses alternados, e no mês intermediário leio
uma boa parte do Velho Testamento. Preciso desta disciplina, que
tem sido uma prática tão necessária à minha vida como apropriar-
me do alimento natural de cada dia.
Segunda Prioridade: Assumi o compromisso de falar com
Deus a cada manhã, antes de falar com qualquer outra pessoa.
Além de ser um momento de louvor e ações de graças, em que
procuro meditar sobre o caráter de Deus e seus dons, percebo
que uma lista de orações é muito útil para mim. Algumas orações,
petições e nomes de pessoas na lista são ocasionais ou por algum
tempo, enquanto outras figuram na lista por muito tempo. Há
pessoas por quem oro diariamente há muitos anos. Há outras que
são mencionadas nas orações por um tempo mais curto ou mesmo
por um período predeterminado.
Algumas pessoas têm-me perguntado o que acontece se, por
alguma razão, eu preciso atender a uma chamada telefônica ou
falar com alguém antes de minha leitura ou oração matinal. Minha
resposta tem sido que de modo algum isso quebra meu
18 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

compromisso. Um trabalhador tem o compromisso de estar no


emprego todos os dias úteis até uma certa hora. Quando surge
uma emergência, ele não diz: “O compromisso foi quebrado,
portanto creio que não preciso mais chegar ao trabalho
regularmente no horário fixado.” Tampouco uma emergência ou
interrupção, que aliás tem ocorrido muito raramente durante anos,
vai desobrigar-me do compromisso de ler a Escritura e orar.
Intimamente ligado a estas duas primeiras prioridades está o
diário pessoal. Embora não seja necessariamente um exercício
diário, registrar minhas reflexões, preces, idéias e aspirações é
de importância vital para mim.
Terceira Prioridade: Tenho o compromisso de jejuar pelo
menos uma refeição por semana e, periodicamente, por tempo
mais longo. Jesus usa as expressões “quando vocês orarem” e
“quando vocês derem esmola”, admitindo que seus seguidores
orem e dêem esmola. Ele não modifica sua recomendação para
“se vocês jejuarem”. Ele diz “quando vocês jejuarem”, admitindo
que seus seguidores jejuem. João Wesley não ordenava um
ministro que não jejuasse pelo menos duas vezes por semana, e
declarava que todos os metodistas deviam jejuar cada semana.
Toda a ocasião de reavivamento espiritual envolve também o
reavivamento na prática do jejum.
Jejuar com propósito espiritual dá-me um sentido maior de
dependência de Deus em tudo o que diz respeito à vida e ao
ministério, uma sensibilidade maior para com o Espírito Santo e
a Palavra, e uma conscientização maior da presença e da bênção
de Deus em tudo na vida. É também um grande auxílio para
enfrentar as tentações da carne e do espírito.
Em seu livro The Spirit o f the Disciplines (O Espírito das
Disciplinas), Dallas Willard escreve: “A disciplina nos ensina
rapidamente muito sobre nós mesmos. Ela certamente prova ser
VIDA ESPIRITUAL 19

humilhante para nós a revelação do quanto nossa paz depende


dos prazeres da comida. Ela pode também trazer-nos à mente o
modo como usamos o prazer do alimento para amenizar os
desconfortos causados em nosso corpo pela forma de vida e
atitudes infiéis e insensatas— falta de autovalorização, trabalho
inexpressivo, existência sem propósito, ou falta de descanso ou
exercício. Se nada mais houver, entretanto, ela por certo demonstra
quão poderoso e engenhoso é o nosso corpo em prover seus
próprios meios contra nossas decisões mais fortes.”5
Quarta Prioridade: Procuro ler todos os dias um capítulo de
algum livro valioso, além de me dedicar a leituras requeridas
usualmente para a preparação de sermões e outros trabalhos da
igreja. Procuro livros variados, entre os velhos clássicos e os mais
recentes. Raramente leio um best-seller no primeiro ano, mas, se
o livro for best-seller no segundo e no terceiro ano, ele
provavelmente valerá meu tempo.
“Fazer escolhas inteligentes a respeito do que ler é um ato de
mordomia responsável”, afirma Thomas R. Swears. “Uma norma
de procedimento para a tomada de decisões é manter um programa
de leitura equilibrado. Esse equilíbrio ajuda a evitar que o pastor
tenha um enfoque muito estreito no uso de idéias para o
aconselhamento, ensino ou pregação. As idéias ou imagens que
suprem o pensamento e a linguagem de um pastor devem ter
bastante diversidade para capacitá-lo a m anifestar-se
apropriadamente diante de uma ampla variedade de necessidades
humanas.”6
Sim, se eu estivesse começando meu ministério de novo,
começaria aqui— o aprofundamento da minha própria vida
espiritual, tendo como prioridades básicas as disciplinas acima.
Gostaria que alguém me tivesse sugerido tal enfoque no início
do meu ministério.
20 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

“Quem Dizem as Pessoas Que Eu Sou?”


O inglês Leslie Weatherhead estava certa vez escalado para
falar a um grupo de ministros de Manhattan, Nova Iorque. Seu
navio atrasou-se por causa da neblina e os ministros tiveram de
esperar algumas horas. Quando o Dr. Weatherhead chegou, foi
logo dizendo: “Vocês esperaram tanto tempo e eu vim de tão longe
para fazer-lhes uma simples pergunta: Vocês conhecem Jesus
Cristo?”
Num primeiro impacto, esta parece uma pergunta estranha
dirigida a um grupo de ministros. No entanto, é por aqui que
temos de começar, se pretendemos ministrar em nome de Cristo.
Eis aqui o que as pessoas estão esperando conhecer. E aqueles a
quem ministramos são capazes de perceber se conhecemos Jesus
pessoalmente e se viemos de sua presença.
A primeira das sete declarações feitas aos pastores no livro de
Jeremias é uma queixa: “Os sacerdotes não disseram: ‘Onde está
o Senhor?’ e os que tratavam da lei não me conheceram” (Jeremias
2.8). O resultado foi que o povo cometeu dois males: deixaram o
Senhor, “o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas,
cisternas rotas, que não retêm as águas” (Jeremias. 2.13).

As Primeiras Coisas Primeiro


Antes de se atribuir uma incumbência, deve haver o
companheirismo.
Devemos aprender a conhecer Cristo antes de podermos anunciá-
lo.
Devemos ter comunhão para que possamos comunicar.
Devemos ser ministrados antes de podermos ministrar.
Devemos ser disciplinados para que possamos disciplinar.
Devemos amar nosso Senhor antes de podermos trabalhar para
Ele.
VIDA ESPIRITUAL 21

Devemos adorar Cristo antes que possamos adornar sua doutrina.


Devemos ver a glória de Deus antes de podermos falar dela.
Devemos esperar pela visão antes que possamos compartilhá-la.
Devemos aguardar para podermos ensinar.
Devemos adorar antes que possamos realizar um trabalho
espiritual.
Devemos buscar a Cristo antes de podermos falar sobre Ele.
Devemos permanecer em Cristo antes de podermos produzir frutos
que permanecem.
Devemos praticar a presença de Cristo antes que possamos pregar
sobre sua pessoa.
Devemos meditar antes de podermos mediar.
O segredo do serviço eficaz é buscar Cristo em segredo.
Então ouviremos seu sussurro acima das palavras do mundo.
Então ouviremos seu chamado acima dos clamores da multidão.
Então sentiremos seu contato acima do contato da crítica.
Então conheceremos o amor de Deus acima do amor do eu e das
coisas.
Então conheceremos o poder de Deus acima do poder do Maligno.
Então ouviremos a mensagem de Deus acima dos murmúrios da
mensagem do mundo.
Então veremos o senhorio de Cristo acima de nossa posição,
prestígio ou prazer.
Então viveremos uma vida que não pode ser descrita em termos
comuns.

A Disciplina para Renovação


Finalmente, nas palavras de Suzanne Johnson, “a questão de
se entregar a qualquer prática de disciplina espiritual é a questão
da adequabilidade. As disciplinas espirituais autenticam a vida
cristã quando implantam em nós a compaixão, sensibilizam-nos
22 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

para aquilo que Deus está fazendo no mundo, impelem-nos a


abraçar o estranho, inspira em nós a sincera afeição por Deus e
pelo próximo, cria em nós a capacidade de nos doarmos em amor
e leva-nos ao autêntico amor próprio. Se a disciplina espiritual
não nos tornar abertos às qualidades de caráter, estaremos
provavelmente praticando uma falsa espiritualidade.”7
Estou certo de que muitas frustrações que atingem os pastores
decorrem da falta de disciplina. Não somente podem a vida
devocional costum eira e o estudo sério da B íblia ser
marginalizados, mas os dias podem ser malbaratados, desfazendo-
se em insignificâncias.
Sem um padrão e disciplina de meditação e oração, estudo,
preparação de sermão, visitação e relaxamento físico e mental o
ministro pouco realiza e toma-se superficial e moroso.
Procuro lembrar-me continuamente de que, quando a Escritura
fala sobre a vocação do ministro, compara sua disciplina à
inflexível preparação de um atleta (1 Timóteo 4.6-10), ao livre
compromisso assumido por um soldado (2 Timóteo 2.1-7), e ao
servo de Cristo desenvergonhado e fiel (2 Timóteo 2.14-19).
“Deus tem favoritos?” perguntou um ministro frustrado a um
bispo idoso.
“Não!” respondeu o bispo. “Mas Ele tem amigos íntimos.”
...eu procuraria dedicar muito mais
tempo ao estudo e pregação da Escritura

jtÈÊÊÊMMSÊÊÊÊ

A
i l segunda declaração sobre o desejo de Deus para os pastores
do povo de Deus em Jeremias é que Deus deseja dar-lhe pastores
segundo o seu coração, que os “apascentem com conhecimento e
com inteligência” (Jeremias 3.15).
A ordem da Escritura para o ministro é pregar a Palavra (2
Timóteo 4.2). Os primeiros discípulos entregaram-se à “oração e
ao ministério da palavra” (Atos 6.4).
Deveria ser óbvio que, para pregar a Palavra, o estudo da
Escritura é fundamental. Eu trataria de realizar um intenso
treinamento em estudos bíblicos. Dwight L. Grubbs escreve em
B eginnings— Spiritual Form ation fo r Leaders (Inícios—
Formação Espiritual para Líderes): “A dignidade de uma vocação
deve ser medida sempre pela seriedade da preparação que se faz
para ela.”8
Eu escolheria cuidadosamente uma escola em que houvesse
um alentado programa de estudos bíblicos, com ênfase na
espiritualidade e na pregação da Escritura, bem como um
26 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

inequívoco fervor evangelístico prático. Os professores que


demonstraram uma profunda reverência pela Escritura, uma vida
espiritual contagiante e uma mensagem centralizada em Cristo,
exerceram um poderoso impacto em minha vida.
Quando Alexander Maclaren foi convidado para pastorear a
igreja de Manchester, Inglaterra, ele perguntou: “Vocês querem
meus pés ou minha cabeça? Não posso dar ambos a vocês.” Se
quisessem seus pés para todas as pequenas tarefas, e transmissão
de todos os avisos, e participação em todos os comitês, não
deveriam esperar que ele pregasse os sermões ou ensinasse a
Bíblia com a devida profundidade. A congregação disse a
Maclaren que desejava que ele fosse fiel ao chamado de Deus
para “pregar a Palavra”. E ele fez isso.

Fugas Comuns
Um dos meios de escapar do estudo sério da Escritura é
envolver-se em juntas, comissões, encontros e organizações da
igreja e da comunidade. A incumbência de “pregar a Palavra” é
negligenciada, e o ministro ordenado acaba se devotando à grande
quantidade e variedade de mecanismos da igreja e da comunidade,
em detrimento do seu próprio crescimento espiritual, do ministério
espiritual e da vida da igreja. A tarefa de ministrar não consiste
em construir um império organizacional, mas exaltar a Cristo. E
provar plenamente o ministério do Evangelho. Não é dirigir um
escritório, mas alcançar pessoas com o oferecimento da graça e
da salvação.
Quer isto dizer que devo dedicar uma grande parcela de tempo
ensinando a meu povo as grandes verdades cardinais da Escritura.
Somente quando firmadas na Escritura as pessoas podem crescer
na fé, pois “a fé vem por ouvir a mensagem, e a mensagem vem
pela pregação” (Romanos 10.17, BLH). Não somos instados a
26 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

inequívoco fervor evangelístico prático. Os professores que


demonstraram uma profunda reverência pela Escritura, uma vida
espiritual contagiante e uma mensagem centralizada em Cristo,
exerceram um poderoso impacto em minha vida.
Quando Alexander Maclaren foi convidado para pastorear a
igreja de Manchester, Inglaterra, ele perguntou: “Vocês querem
meus pés ou minha cabeça? Não posso dar ambos a vocês.” Se
/ quisessem seus pés para todas as pequenas tarefas, e transmissão
\ de todos os avisos, e participação em todos os comitês, não
? deveriam esperar que ele pregasse os sermões ou ensinasse a
v' Bíblia com a devida profundidade. A congregação disse a
Maclaren que desejava que ele fosse fiel ao chamado de Deus
para “pregar a Palavra”. E ele fez isso.

Fugas Comuns
Um dos meios de escapar do estudo sério da Escritura é
envolver-se em juntas, comissões, encontros e organizações da
igreja e da comunidade. A incumbência de “pregar a Palavra” é
negligenciada, e o ministro ordenado acaba se devotando à grande
quantidade e variedade de mecanismos da igreja e da comunidade,
em detrimento do seu próprio crescimento espiritual, do ministério
espiritual e da vida da igreja. A tarefa de ministrar não consiste
em construir um império organizacional, mas exaltar a Cristo. E
provar plenamente o ministério do Evangelho. Não é dirigir um
escritório, mas alcançar pessoas com o oferecimento da graça e
da salvação.
Quer isto dizer que devo dedicar uma grande parcela de tempo
ensinando a meu povo as grandes verdades cardinais da Escritura.
Somente quando firmadas na Escritura as pessoas podem crescer
na fé, pois “a fé vem por ouvir a mensagem, e a mensagem vem
pela pregação” (Romanos 10.17, BLH). Não somos instados a
ESTUDO E PREGAÇÃO 27

orar para ter fé. Não podemos ter mais fé em Deus e em Cristo do
que sabemos a respeito deles. Portanto, procuro ampliar em meu
povo a compreensão de Deus, de Cristo, do Espírito Santo e de
todas as doutrinas básicas da fé. Eu pregaria mais mensagens
expositivas, guiando meu povo através de cada livro da Bíblia. A
tentação é escolher um texto e pregar sobre ele e, algumas vezes,
um pouco além dele. O Senhor não prometeu abençoar minha
palavra, mas prometeu abençoar a Palavra de Deus.
E preciso tempo para estudar a Bíblia. Isto significa que devo
evitar os comitês como se fossem praga. Eu deixaria que os que
possuem o dom da administração cuidassem o mais possível
dessas tarefas. Talvez mais do que por outra coisa qualquer, os
ministros ficam emperrados e são censurados por todas as espécies
de falha, pelo fato de se descuidarem da pregação e do ensino da
Palavra para se ocuparem da organização.
Nos dias em que o tempo limitava drasticamente as viagens,
os pastores “invemavam” com um assunto, autor ou um livro da
Bíblia. Isto significava que o ministro separava horas em cada
dia, durante seis meses ou mais, para fazer um estudo específico
de um livro da Bíblia ou de uma doutrina ou assunto bíblico.
Se eu estivesse começando meu ministério de novo, eu
invemaria cada ano com um livro da Bíblia, ou uma série de
livros pequenos, como as três epístolas de João, lendo, ouvindo o
Espírito através da meditação e oração, e aprendendo o que outros
disseram e tudo o que eu pudesse sobre o livro ou livros. Desta
forma, em vinte anos ou menos, eu poderia tomar-me profunda­
mente versado em todos os livros do Novo Testamento, e nos
demais livros da Escritura.
Eu também invemaria com grandes escritores. Um meio
fantástico de aprender a conhecer intimamente os grandes
personagens de todos os tempos é ler o que eles escreveram e
c o
...eu procuraria tornar meu
ministério mais centralizado em Cristo

- E / muito fácil tomar-se o centro da discussão ou o centro do


problema. E igualmente fácil ser envolvido por todos os tipos de
pergunta, sem jamais chegar a Cristo, que é a resposta.
A Escritura deve levar-nos a Cristo. Precisamos esforçar-nos,
em toda a nossa pregação, para fazer o mesmo. “Ninguém pode
lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus
Cristo” (1 Coríntios 3.11). Paulo escreve também: “Longe esteja
de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo,
pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu para o mundo”
(Gálatas 6.14).
Precisamos fazer tudo o que estiver em nossa capacidade para
ajudar as pessoas a verem, ouvirem e responderem a Jesus Cristo
na conversão, na consagração e no serviço. Não seremos seus
discípulos enquanto não o seguirmos completamente e enquanto
não ajudarmos outros a se tomarem seus discípulos.
Isto significa preliminarmente reconciliação com Deus através
da encarnação, da cmz e da ressurreição de Cristo. Significa
conduzir as pessoas à graça salvadora de Cristo e viver para Ele
32 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

e testemunhá-lo em todos os lugares e situações. Significa levar


as pessoas em submissão ao Espírito Santo, que anela revelar-
nos Cristo, revelá-lo em nós e revelá-lo por nosso intermédio.
Há m uitos anos um m issionário confidenciou-m e ter
descoberto que, toda vez que a morte e a ressurreição de Cristo
eram pregadas, o Espírito de Deus se punha ativo para trazer
salvação às pessoas. O Evangelho é “o poder de Deus para todo
aquele que crê”. Não nos surpreende que Paulo tenha escrito:
“Longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor
Jesus Cristo” (Gálatas 6.14). Quando pregamos Cristo, em sua
obra de salvação consumada, a energia do Espírito Santo é liberada
e vidas se transformam, libertadas da antiga vida, dos hábitos
pecaminosos e das algemas do pecado. Há sermões interessantes.
Porém o poder de transformar vidas está ausente quando Cristo e
sua cruz estão ausentes.
Uma parte considerável do problema é que pregamos e
ensinamos os efeitos do Evangelho e não o próprio Evangelho.
Por isso, o Espírito Santo não pode usar nossa mensagem para
convencer e converter as pessoas. Tomar alguém a cruz e seguir
a Cristo é claramente entendido somente depois que esse alguém
foi salvo pela cruz.
Nels Ferre tomou-se um teólogo muito conhecido nos Estados
Unidos. Ferrer nasceu na Suécia e, com treze anos de idade, deixou
seu lar e veio para a América. Sua partida foi inesquecível.
Naquela manhã a família tinha orado. Cada um dos oito filhos
orou. Quando terminaram, dirigiram-se juntos até à estação de
trem. Ferre narrou a despedida: “Pude ver minha mãe com sua
boca formando palavras, mas sem em itir qualquer som.
Finalmente, o condutor acionou o apito e o trem começou a mover-
se. Mamãe correu alguns metros ao longo da plataforma e,
finalmente, dominando sua emoção pelo trauma daquele difícil
momento, as últimas palavras que a ouvi dizer foram: “Nels,
CENTRALIZADO EM CRISTO 33

lembre-se de Jesus.”
Escrevendo ao pregador Timóteo Paulo diz: “Lembra-te de
Jesus Cristo” (2 Timóteo 2.8).

O Cristianismo é Cristo
Pregação cristã é pregar Cristo. Muita pregação é sobre Cristo.
Se eu estivesse começando meu ministério de novo, tomaria a
decisão de pregar Cristo em todos os sermões.
Pregar Cristo deve incluir pelo menos cinco áreas específicas.
Primeiro, eu o apresentaria como uma presença viva, como alguém
distinto da figura histórica do passado. Jesus está vivo. Ele ergueu-
se dentre os mortos como Salvador e Senhor glorificado. Esta é a
razão por que a ressurreição de Cristo é tão central. Assim, eu
lembraria aos meus ouvintes que Cristo está presente na
assembléia dos crentes. “Ide e pregai”, disse Jesus, “e eu estarei
convosco sempre” (Mateus 28.20).
Pregar Cristo significa também que eu procuraria apresentar-
me como embaixador dele, trazendo a mensagem do Senhor vivo.
Eu transmito suas idéias, suas palavras e sua mensagem, não as
m inhas próprias. Q uer isto dizer que eu apresentaria a
reivindicação de Cristo sobre meus ouvintes: “Eis o Cordeiro de
Deus, que tira o pecado do mundo!” (João 1.29).
Pregar Cristo também significa apresentá-lo como Aquele que
nos liberta agora do poder do pecado. Um libertador que precisa
ser crido, como escreveu Oswald Chambers: “A submissão a Je­
sus rompe qualquer forma de cativeiro em qualquer vida humana.”
É até mesmo possível testificar a obra de Cristo em nossa vida
de tal maneira que nos seja possível apontar para nós mesmos,
em vez de para Cristo.
Pregar Cristo significa pregar seus ensinos. Se Jesus é Senhor
e Mestre, então a mensagem do mestre é para nós. É a mensagem
34 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

que devemos também proclamar. E essa mensagem, encontrada


nos Evangelhos, não fala apenas de nossas crenças, mas também
de nossa conduta.
E. Stanley Jones, em The Christ o f the Mount (O Cristo do
Monte), escreve palavras dolorosas, mas poderosas e muito
necessárias. Como o Credo dos Apóstolos se encontra agora, você
pode aceitar cada uma de suas palavras e deixar o eu essencial
intocável.... Mantemos guardado a chave este ideal de Cristo [o
Sermão do Monte] em altas torres, com reverência e respeito.
Saímos para lutar a batalha da vida de nossa própria maneira,
com nossos próprios princípios, ou sem eles—para nosso próprio
desastre.”9
Mas, para sermos fiéis, ousamos não trancar os ensinos de
Jesus em alguma torre de marfim ou relegá-los a uma época futura,
quando os inimigos ou outros adversários, com os quais temos
de nos haver por meios cristãos, estiverem ausentes. Pregar Cristo
é pregar e ensinar as verdades centrais e eternas que Ele deu
especificamente aos seus discípulos.

Cuidado com Culto da Sua Personalidade


Para pregar Cristo ainda mais, eu procuraria convidar e atrair
as pessoas a Ele, não a mim, não a certa herança, ou outra doutrina
unificadora, ou a uma “verdade única”.
Em Signs o f Hope (Sinais de Esperança), Eldon Trueblood
discute o surgimento dos cultos da personalidade. Ele aponta para
certos perigos e nos adverte particularmente do maior de todos
os perigos.
“Este é o perigo que ocorre tão facilmente em relação com
indivíduos de personalidade forte e atraente. Alguns dos que
poderiam tomar-se esplêndidos movimentos no mundo moderno
são seriam ente arruinados pela presunção dos líderes e
CENTRALIZADO EM CRISTO 35

organizadores de receber adulação dos seus seguidores. O culto


da personalidade é sempre ruim. Um teste infalível de que um
movimento se transforma em culto está na presença ou ausência
de discípulos do líder do grupo. Se um homem estimula ou mesmo
permite a presença de discípulos, ele é sempre suspeito. Apenas
Um que aqui viveu foi suficientemente bom para ter discípulos.
Mais líderes religiosos são prejudicados pela bajulação de
admiradores do que por outro fator isolado. A cura real exige
duplo cuidado: uma devoção tão genuína a Cristo que o líder se
veja em sua própria dimensão, e um prazenteiro senso de humor.”10
O que acima foi exposto poderia ser escrito a respeito de
qualquer líder religioso, como professor ou pregador. O perigo é
ainda mais pronunciado numa época em que a propaganda é
voltada para as celebridades do mercado, de tal modo que os fãs
podem ser convencidos a continuar preferindo ainda mais a
mercadoria. Quando alguém procura unir as pessoas em tomo de
si mesmo, em vez de em tomo de Cristo, estamos diante de um
culto. A tendência pode também aplicar-se a denominações.
Quando o esforço é unir as pessoas em tomo de uma herança
comum ou uma doutrina peculiar, em lugar de fazê-lo em tomo
de Cristo, temos também um culto. Eu pregaria e ensinaria com
toda a franqueza a singularidade e exclusividade de Cristo para a
salvação e consagração a Ele como Senhor de tudo na vida. Isto
significa crer que não há outro nome dado entre os homens, pelo
qual devamos ser salvos.
/ Se aprendi uma coisa de um estudo cuidadoso dos grandes
Vavivamentos espirituais do passado, é que Cristo é apresentado e
/) a unidade em tomo dele ofusca toda outra diferença ou doutrina
l ! e prática peculiares.
Ou cremos na única mensagem do Evangelho de Cristo ou
não cremos. De minha parte quero dizer: “Estou firmado em
36 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

Cristo, a sólida rocha—qualquer outro terreno é areia movediça.”


Se eu estivesse começando meu ministério de novo, procuraria
afirmar a centralidade de Jesus Cristo para salvação e seu senhorio
em tudo na vida. Sem isto não há Boas Novas a proclamar.
...eu procuraria lembrar que não é
minha eloqüência, e sim a habilitação
do Espírito Santo, que cumpre o propósito
de Cristo em meu ministério

TX odas as bênçãos que Deus tem para nós tomam-se realidade


pelo Espírito Santo.
“E sua força se revela em minha fraqueza.” Muitos de nós são
muito fortes para que Deus os utilize. Sempre que sentimos que
podemos realizar um trabalho espiritual ou etemo por nós mesmos,
o Senhor nos permite tentar. Mas o resultado será apenas humano.
Isto significa que a menor das sementes plantada e regada pelo
Espírito pode produzir uma colheita abundante, ao passo que a
ação ou palavra motivada pelo eu permanece estagnada e inútil
no que se refere à obra espiritual. Deus não exige sucesso, mas j
fidelidade. ú7~
John Milton, frustrado por sua cegueira, chegou a crer que:

Deus não precisa


Nem dos trabalhos do homem nem de seus próprios talentos.
40 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

São os que melhor


Carregam seu suave jugo os que o servem melhor.

Significa isto também que não devemos achar que somos um


sucesso ou um fracasso simplesmente por acharmos o quão
habilidoso ou inadequado um serviço ou sermão parece ter sido.
Aprendi que não foram os sermões que me pareceram melhores
os que Deus usou. Foram freqüentemente os sermões e os serviços
que considerei inadequados ou mesmo fracassos que Deus
escolheu e usou como bênçãos.
Isto, naturalmente, não quer dizer que não devamos fazer o
melhor possível na preparação e apresentação de nossa mensagem.
O que isto quer dizer é que não fazemos o trabalho de Deus apenas
com recursos humanos, mas quando reconhecemos que “tudo é
vão, exceto o Espírito”, isto é, a menos que o Espírito Santo
transmita energia à nossa mensagem ou serviço com poder e
convicção.

O Evangelho Tem Poder


Prestamos mais atenção à voz interior que emana da oração e
da solidão.
Concordo com Henri Nouwen, em Making Ali Things New
(Fazendo Novas Todas as Coisas): “Quanto mais nos exercitamos
dedicando tempo a Deus e a sós, mais descobrimos que Deus
está conosco em todos os momentos e em todos os lugares.”11
Embora alguns possam achar que isto não é verdade, para mim,
obedecer à voz interior para visitar alguém, para dizer uma palavra
de conforto ou admoestação, para fazer um contato tem provado
ser a direção do Espírito Santo.
Recordo-me bem de um impulso que tive de visitar um homem
a uma boa distância da igreja. Eu não o conhecia muito bem.
A HABILITAÇÃO D O ESPÍRITO SANTO 41

Fiquei hesitante. Mas, obedecendo à voz interior, encontrei-o já


de volta do trabalho e mexendo no seu pequeno jardim. Encontrei-
o pronto também para aceitar Cristo. Ele instou comigo para que
falasse com sua esposa e, mais tarde, ela também conheceu Je­
sus, sendo ambos batizados juntos.
Ouvir a voz interior para mudar uma ilustração num sermão
ou até mesmo uma mensagem inteira, tem provado a direção do
Espírito Santo, Aquele que conhece a necessidade de cada pessoa
presente. E embora alguma palavra ou ilustração tenha sido usada
pelo Senhor num lugar, não quer dizer automaticamente que Ele
a use em outro lugar. Isto requer completa e constante dependência
da orientação do Espírito Santo.

Não Meramente Intelectual


Cometemos um grande equívoco quando imaginamos que a
verdade espiritual pode ser compreendida por meios intelectuais
ou racionais. É um engano acreditar que o estudo da Bíblia por si
pode remover o véu que impede a nossa percepção espiritual. A
Escritura não diz: “Ninguém conhece as coisas de Deus, exceto
aquele que estuda a Bíblia.” Ela diz que “as coisas de Deus
ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus” (1 Coríntios 2.11).
É possível crescer na igreja, conhecer toda a doutrina, ser
fanaticamente fiel e, mesmo assim, não conhecer absolutamente
Deus ou compreender a verdade espiritual. Admitamos que somos
espiritualmente cegos para as coisas de Deus sem a iluminação
do Espírito Santo. “Quem não tem o Espírito de Deus não pode
receber os dons que vêm do próprio Espírito de Deus, e de fato
nem pode entendê-los. ... porque o seu sentido só pode ser
entendido de modo espiritual” (1 Coríntios 2.14, BLH).
Grandes pessoas, fortes em poder intelectual, emocional e
volitivo, são sempre atuais. Mas não é a correta psicologia,
42 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

oratória, lógica superior, personalidade dinâmica ou força de


vontade que converte pessoas à verdade. “O mundo não o
conheceu [Deus] por sua própria sabedoria” (1 Coríntios 1.21).
Paulo diz: “A minha palavra e a minha pregação não consistiram
em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração
do Espírito e de poder” (1 Coríntios 2.4). A cultura da alma ou o
poder intelectual não podem abrir os olhos espirituais.
“Se você pretende racionalizar o Cristianismo, algum indivíduo
instruído pode contra-argumentar e confundi-lo! Porém, quando
o Espírito Santo lhe traz a iluminação interior, ninguém poderá
confundi-lo” (A. W. Tozer).

A Causa do Vazio
A causa capital do vazio em muito sermão, aula da escola
dominical ou estudo bíblico não é a ausência de fatos ou verdades
corretas. É porque não há mais do que uma discussão intelectual
de um ponto de vista racional. Daí o vazio, ou seja, a falta de
iluminação espiritual. Naturalmente, deve haver conhecimento
dos fatos. É por isso que a Bíblia ressalta nossa necessidade de
conhecer. Porém, enquanto não houver a iluminação do Espírito
Santo, nada acontece. Muitos podem testificar que, depois de anos
na igreja ouvindo muitos sermões e assistindo a aulas bíblicas,
de repente são tocados pelo amor, por um anseio e uma
compreensão de Cristo e de sua Palavra que não podem ser
apreendidos sem a ação do Espírito Santo.
Sou contra a disciplina da mente? Não, mas, antes de
progredirmos espiritualmente, temos necessidade de admitir que
não podemos, por nosso próprio intelecto, entender as coisas
espirituais. Nenhuma quantidade de raciocínio intelectual poderia
ter persuadido Paulo de que Cristo era o Salvador do mundo.
Nenhuma quantidade de persuasão intelectual teria levado Pedro
A HABILITAÇÃO D O ESPÍRITO SANTO 43

à convicção de toda a realidade: “A este Jesus que vós


crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo” (Atos 2.36). Ele
conheceu isto somente pelo Espírito de Deus. E sem o Espírito
podemos continuar repetindo as histórias e fatos do Evangelho,
mesmo de forma dramática e erudita, e no entanto deixar os
corações vazios de refrigério, discernimento e força espirituais.
Tem-se a forte sensação de que muito do que é chamado hoje
de irrelevante na pregação e no ensino não é a pobreza da pregação
e do ensino. O que faz a mensagem oca é a ausência do Espírito
Santo para dar-lhe vida e significado. Por quê?_Porque pensamos
que, de alguma maneira, podemos fazer por nós mesmos um
trabalho espiritual, porque não oramos pedindo a iluminação do
Espírito Santo, porque não reconhecemos nossa necessidade do
Espírito Santo nem ambicionamos sua obra. Assim sendo, Deus
está impossibilitado de conceder-nos dons e uma bênção de
iluminação espiritual. Deus não pode guiar-nos em toda a verdade
porque não desejamos e não procuramos a direção do Espírito.
Deus seja louvado porque pessoas de todas as idades estão
ficando cansadas do que a carne pode fazer, e porque não estão
satisfeitas com a superficialidade do raciocínio e intelecto
humanos! E, com a graça de Deus, muitos, confessando sua
própria inadequação e abrindo-se para o Espírito Santo, têm
encontrado nova liberdade e poder de vida e testemunho. Quando
isto acontece, Cristo toma-se precioso e seu poder se manifesta.
São muito mais significativas algumas poucas e simples palavras
de um crente que conhece o toque do Espírito do que palavras
majestosas daquele que sente que sua própria sabedoria ou poder
pode realizar a obra espiritual. Cremos realmente no ditado que
diz que “tudo é vão, exceto o Espírito” que realiza a obra e dá
testemunho de Deus?
...eu procuraria ter em mente que,
a despeito de todas as suas falhas,
a igreja é o Corpo de Cristo realizando
a obra de Deus no mundo
ÊÊÈIm

Jesus disse que as fortalezas do inferno não conseguiriam detê-


la. Esta persuasão afasta o pessimismo tão freqüente em nossos
púlpitos. Ela também acaba com a pressuposição de que o sucesso:
da igreja depende unicamente de nós.
Tal como em todas as melhores relações, há na igreja tempos
de amor e ódio. Por nos inquietarmos profundamente, estamos
muitas vezes profundam ente desapontados, e até mesmo
envergonhados, de pertencer a um grupo que professa tanto e
pratica tão pouco. É bom então lembrar-me de minhas próprias
fragilidades e infidelidades, e que jamais desejaria ser julgado
por meus piores momentosi^fampouco déVõ julgar a igreja~õu
jq ia K p è x ^ seus piores integrantes.
‘X ü H ^ ^ 'm m te s ^ é z ê s , que tenho me sentido como Cario
Carretto.

Quão instável és, ó igreja, e, no entanto,


quanto te amo!
46 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

Quanto me tens feito sofrer, e, apesar disto,


quanto te sou devedor!
Gostaria de vê-la destruída; entretanto,
preciso da tua presença.
Tu me tens proporcionado tanto escândalo—
não obstante, tens-me feito compreender a santidade.
Nada tenho visto no mundo mais devotado à obscuridade,
mais comprometido, mais falso, mas, por outro lado,
nada mais puro tenho tocado, nada mais generoso e mais belo.
Quantas vezes desejei fechar as portas de minha alma em
tua face, e quantas vezes tenho suplicado
para morrer na segurança de teus braços.
Não, não posso libertar-me de ti, porque eu sou
você, embora não completamente.
Epara onde eu iria?12

Deus é Fiel
Procuraria lembrar-me de que Cristo está sempre levantando
seus fiéis. E, se em alguma região do mundo a igreja falha em
responder ao Espírito Santo e na obediência à sua palavra, Ele
encontra seus fiéis noutra parte. Por isso, preciso evitar uma visão
estreita da igreja e observar que Cristo está em atividade no mundo
inteiro, para que sua causa não falhe nem se desencoraje.
Lembrar-me-ia, especialmente quando me sentisse isolado em
minha tarefa e posição, de que Deus tem um povo fiel. Lembrar-
me-ia da palavra de Deus a Elias quando ele disse ao Senhor:
“Eu fiquei só, e procuram tirar-me a vida.” Então o Senhor lhe
disse: ‘“Vai, volta ao teu caminho... conservei em Israel sete mil:
todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda boca que o
não beijou.”’
Elizabeth O íConnor escreveu: “Não somos chamados
A IGREJA 47

basicamente para criar novas estruturas para a igreja nesta época,


não somos chamados basicamente para um programa de serviço,
ou para sonhar sonhos ou visões. Somos chamados antes de tudo
para pertencermos a Jesus Cristo como Salvador e Senhor, e para
mantermos nossa vida aquecida na fornalha de sua vida. Está ali
o fogo ardente que cria novas estruturas e programas de serviço
que atraem outros para a igreja, a fim de discernirem e terem
visao. 13
...eu me empenharia em orientar e equipar
cada membro para a obra do ministério

T _ T ma das maiores responsabilidades e tarefas essenciais de


um pastor é equipar e capacitar cada membro para o ministério.
Cada cristão recebeu um dom. Cada um deve ser estimulado por
todos os meios a usar esse dom no trabalho do reino. Um pastor
que não esteja capacitando os membros para o ministério toma-
se finalmente um fracasso, não importando quão grande ele possa
ser como pregador, organizador ou empreendedor de programas
da igreja.
Efésios 4.12-16 é uma passagem que realça esta função básica
de um líder espiritual. Ela visa o “aperfeiçoamento dos santos
para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de
Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno
conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida
da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos
como meninos, agitados de um lado para outro, e levados ao redor
por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela
astúcia com que induzem ao erro. Mas, seguindo a verdade em
50 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

amor, cresçamos em tudo naquele que é o cabeça, Cristo, de quem


todo o corpo, bem ajustado e consolidado, pelo auxílio de toda
junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu
próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor.”
Esta bonita passagem dá uma clara orientação com vistas ao
objetivo final de toda nossa pregação, ensino e serviço. Todo nosso
trabalho é equipar cada membro para não somente crescer
conforme a semelhança de Cristo e ter discernimento espiritual,
mas para preencher o lugar de cada pessoa na edificação da
unidade, crescimento e amor no Corpo de Cristo. Nossa tarefa é
incentivar, edificar e capacitar cada membro do Corpo de Cristo,
de sorte que cada um sinta a significação do chamado de Cristo e
assuma a responsabilidade de utilizar seu dom para a edificação
do seu Corpo.

O Teste Final
Eis aqui uma espécie de teste final da efetividade de um
ministério. Alguns formaram muitos adeptos por meio da sua
eloqüência e personalidade dinâm ica ou habilidade de se
expresssar. Grandes congregações cresceram durante uma geração
em tomo desses líderes. Contudo, o teste ocorre quando essas
fortes personalidades saem de cena. O teste consiste em saber se
eles foram os equipadores de outrem para o ministério. Muitas
vezes tais líderes tiveram apenas um cortejo de admiradores, mas
não formaram um corpo de crentes que ministram realizando o
trabalho de Cristo no mundo.
Lembro-me de um destacado pregador de uma prestigiosa
congregação que lamentava precisamente este fato. Ele afirmou
que a congregação fora edificada em tomo de um bem conhecido
pregador. Após o falecimento desse pregador, a congregação
procurou outro ministro que pudesse comandar o mesmo tipo de
EQUIPAR CADA MEMBRO 51

ouvintes. Agora ele era um nessa sucessão de ministros. Seu


desapontamento era que a congregação, através dos anos, foi um
ajuntamento de sentadores e não de servidores. O povo gostava
de ouvir, mas nunca aprendeu a trabalhar para o Senhor. A
congregação era um grupo de indivíduos que se divertiam num
teatro, e não um corpo, bem estruturado, equipado e trabalhando
junto para sua própria edificação em amor.
Como muitos ministros, comecei supondo que o trabalho da
igreja era minha responsabilidade. Mas, que desafio e alívio tive
quando percebi que meu chamado era para equipar cada crente a
viver a vida de Cristo e a fazer o trabalho de Cristo no mundo,
exatamente onde cada um vivia! Hoje eu preferiria ser o pastor
de uma dúzia de pessoas que estão sendo equipadas e ativas em
todos os tipos de serviço do que ser o pastor de mil pessoas que
enchem os bancos da igreja, mas que têm pouca idéia do que
significa funcionar como Corpo de Cristo. Pelo menos Cristo deve
ter pensado que este era o meio de realizar esse trabalho. Ele é
nosso exemplo e mostra o meio de disciplinar pessoas para o
ministério.

A Grande Comissão
Na Grande Comissão (Mateus 28.18-20), a ordem é fazer
discípulos. Os outros três verbos “ir”, “batizar” e “ensinar” são
para o treinamento do ministério. Alguns observadores disseram
que o declínio da igreja na Europa Ocidental era devido à falta de
treinamento através dos anos. A igreja norte-americana está indo
atualmente na mesma direção.
Em The D isciple-M aking Pastor (O Pastor Fazedor de
Discípulos), o melhor livro recente sobre o discipulado de pessoas
de que estou informado, Bill Hull afirma que não muita coisa
mudará para melhor na igreja até que os pastores comecem a
52 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

treinar discípulos, como Jesus fazia. Enquanto as congregações


permitirem que os pastores dediquem seu tempo treinando a
minoria espiritualmente bem, em lugar de se preocupar com a
maioria de desmotivados e desobedientes, as pessoas não viverão
e servirão como Cristo espera.14
Se eu estivesse começando meu ministério de novo, eu
dedicaria preparação, tempo e atenção individualizada para
discipular pessoas que, por sua vez, discipulassem outras.
Um inadequado ministério de discipulado é evidente quando
é difícil encontrar pessoas que ocupem posições para ensinar e
servir na congregação, quando os grupos de estudos bíblicos e de
oração param de crescer, quando as contribuições declinam,
quando não há séria preocupação com os não freqüentadores da
igreja e as missões mundiais, e quando uma congregação não
produz ministros e líderes espirituais equivalentes à sua própria
necessidade, e além dela.
No centro da liderança pastoral está um discipulado leigo com
dons espirituais discernidos, desenvolvidos e estendidos. Se este
tipo de discipulado não está acontecendo, eu consideraria o
recomeço de meu ministério.
A certa altura de meu ministério, planejei um curso de
discipulado e convidei toda e qualquer pessoa a juntar-se a mim
num prolongado período de estudo e experiência prática. Eu queria
iniciar somente com aqueles que tivessem o real anseio de
participar dessa espécie de curso. Entretanto, somente umas
poucas pessoas manifestaram interesse. Diante disto, a idéia foi
descartada.
Percebo agora que Jesus selecionou e chamou certas pessoas
para integrarem um programa de treinamento, após oração e jejum.
Portanto, se eu estivesse começando meu ministério de novo, eu
proporia um curso e escolheria e chamaria dez ou doze pessoas
EQUIPAR CADA MEMBRO 53

da congregação, convidando-as a associar-se a mim neste extenso


e sério curso de discipulado. Um dos objetivos de tal estudo seria
o de que, uma vez terminado o curso, os novos discípulos de
Jesus se tomassem professores de outro grupo. Desta forma, o
discipulado poderia expandir-se grandemente no Corpo de Cristo.
Aparentemente, a escola dominical, a pregação e outros
programas congregacionais não estão realizando o trabalho de
discipular as pessoas. Um caminho melhor deve ser encontrado.
É impossível melhorar o método de Jesus, e se eu estivesse
começando meu ministério de novo, faria desse modelo de
discipulado a principal responsabilidade de meu ministério.
...eu procuraria e incentivaria
a formação de centros criativos

r* erto dia, numa viagem, comecei a ler uma revista de


negócios. Um artigo chamou minha atenção. O autor dizia que
qualquer negócio que encontra seu centro criativo e se fixa nele
prospera. Imediatamente, num erosos centros criativos na
congregação vieram à minha mente. Em todas as congregações
há pessoas que têm interesse específico por oração e jejum. Cada
congregação tem outros que têm interesse particular pelo estudo
da Escritura, administração, ensino, hospitalidade, diferentes tipos
de serviço e missão, atividade assistencial, música, orientação
familiar e aconselhamento aos jovens, idosos, solteiros, viúvos,
problemas de saúde, além de outras áreas de interesse cristão.
O líder que estimular os interesses de pessoas e habilitá-las
nessas áreas terá uma generosa recompensa. Esperar que todos
ou uma grande parte dos membros tenham a visão antes de ,f
estimular as pessoas com vistas a tais interesses e s p e c í f i c o s ^
significa que muitas idéias e projetos serão sufocados ou jamais
iniciados.
56 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

Por isso, se eu tivesse de fazer tudo outra vez, dispensaria


uma atenção peculiar a esses centros criativos, e faria tudo o que
pudesse para incentivar pessoas que manifestam interesse ou
mostram preocupação ou visão particular numa ou noutra área.
Creio que Deus concede esses dons à igreja para o benefício de
todo o Corpo, e freqüentemente as melhores coisas que acontecem
são aquelas que começam com o interesse ou visão de uma ou
duas pessoas. Se eu encontrasse tal centro criativo, eu o apoiaria
certo de que a igreja prosperaria.
/' Boa parte de meu tempo no ministério tem sido consagrado a
j pessoas que não querem crescer, ministrar ou ser assistidas. Penso
\ que eu teria avançado muito mais, se tivesse incentivado aqueles
\ que tinham interesse em crescer e servir, dando-lhes então
j oportunidades de compartilhar o que Deus estava fazendo em
suas vidas. Uma pessoa jovem inflamada por Cristo pode agitar
| todo um grupo j ovem. Um pai ou mãe fiel a Cristo pode estimular
/ toda a família. Uma pessoa de oração pode ser usada por Deus
/ para reverter a corrente da letargia espiritual. Tais pessoas
■ precisam de uma palavra de encorajamento para fazerem
| provavelmente mais pela renovação da vida espiritual do que
\ muitos e muitos sermões.
...eu daria uma ênfase
preponderante à oração

a terceira declaração de Deus aos pastores, em Jeremias,


Deus diz que os resultados da falta de oração da parte dos líderes
são a estupidez e a preguiça. Eles não têm mensagem, não
prosperam, e as ovelhas estão dispersas (Jeremias 10.21).
Antes de Deus realizar um trabalho no meio de seu povo, esse
trabalho é sempre precedido de uma oração da parte do povo.
Todo reavivamento espiritual começa como um movimento unido
de oração. Sabedor de que isto é verdade, e como uma pessoa
que tem estudado e demonstrado grande interesse na história dos
avivamentos espirituais através dos séculos, eu procuraria guiar
minha congregação para que ela se tomasse um povo de oração,,-/
A oração tinha um lugar preponderante na vida de nosso Senhor.
Ele era um exemplo de oração e impelia seus discípulos a orar
sempre. A igreja primitiva prosperou com oração e jejum.

Um Chamado Pessoal à Oração


Uma vida de oração persistente e eficaz é uma prova
60 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

consistente de que uma pessoa é chamada por Deus para o


ministério. A oração confirma o direito de uma pessoa à liderança
espiritual. Um líder ou professor que não tenha uma vida
essencialmente de oração não pode merecer confiança nas coisas
de Deus, porque a verdade espiritual é corretamente compreendida
somente em comunhão de amor com Deus por intermédio do
Espírito Santo.
Cario Carreto, em seu livro The God Who Comes (O Deus
Que Vem), discorre como a vontade de Deus se toma real para
nós na prática da oração e da contemplação. Ele enfatiza o quão
essencial é a oração para o entendimento da verdade espiritual. A
percepção espiritual diante da verdadeira natureza e obras de Deus
não é concedida a nível humano. Ninguém conhece as coisas de
Deus, a não ser pelo Espírito de Deus. Deus e a verdade espiritual
não podem ser conhecidos por meio do intelecto, ou somente
através de graus ou doutrinas ou teologia, mas somente quando
associado à oração. “Esta é a razão por que”, diz Carretto, “não
acredito em teólogos que não oram, que não estão em humilde
comunhão de amor com Deus.”
Enquanto não aprendermos a orar, a fé e o poder espiritual—
sim, a vida religiosa como tal é um livro fechado. Onde não houver
uma vida de oração eficaz, o próprio coração da vida espiritual
pára de bater, e nossa vida religiosa toma-se entorpecida na forma,
no comportamento e no dogma.
E. Stanley Jones escreveu: “Se eu tivesse um dom e um único
dom para servir à igreja cristã, eu ofereceria o dom da oração,
pois todas as coisas resultam da oração.
“A oração fortalece a vida total. Descobri que, pela efetiva
experiência, sou melhor ou pior à medida que oro mais ou menos.
Se minha vida de oração se enfraquece, toda minha vida se
enfraquece com ela. Se minha vida de oração se eleva, minha
vida como um todo se eleva com ela. Falhar aqui é falhar em toda
A ORAÇÃO 61

a linha; ser bem-sucedido aqui é ser bem-sucedido em toda parte.


“Na verdadeira oração a batalha da vida espiritual é perdida
ou vencida.”15
Pregadores ou professores ou demais líderes espirituais que
não oram não podem ser confiáveis para transmitir a verdade de
Deus. Sem a oração, as pessoas tomam-se estúpidas em coisas
espirituais.
Existe qualquer outra coisa que comprove nossa obediência à
Escritura mais do que a oração? Existe qualquer coisa que
com prove nossa fé em Deus? Existe algum a coisa mais
recomendada e ordenada do que a oração? Especialmente os
líderes do povo de Deus devem ser pessoas de oração. A grande
declaração apostólica é: “quanto a nós, nos consagraremos à
oração e ao ministério da palavra” (Atos 6.4). Líderes sem oração
são líderes sem poder, que produzem seguidores sem oração e
sem poder. Até que aprendamos a orar e conhecer a revelação à
verdade espiritual que a oração proporciona, permanecemos
descrentes no coração, independentemente de quantas doutrinas
declaramos ou quanta teologia ensinamos. Nosso trabalho deixará
de prosperar e nosso povo se desviará.
y Toda vez que há um a crise na igreja, ela é sem pre,
(j fundamentalmente, uma crise de oração. Particularmente em
relação aos líderes, pode-se questionar se eles têm um chamado
para o ministério, considerando que não são pessoas de oração.
Pode ser dito com certeza que um líder espiritual que não é uma
pessoa de oração é um líder que vive em desobediência às
reiteradas ordens da Escritura para devotar-se à oração.
Nossa influência em favor de Deus depende finalmente de
nosso conhecimento direto do mundo invisível e de nossa
experiência na oração. O amor, a percepção, o tato nascem da
oração e da contemplação. A inflexibilidade, a cegueira espiritual
e o conflito com outros resultam da falta de comunhão com Deus.
62 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

Durante os grande reavivamentos de Gales, um pregador era


maravilhosamente bem-sucedido. Ele tinha apenas um sermão,
mas, por meio dele, centenas foram levadas a Cristo.
Até bem distante do isolado vale onde vivia o fiel pregador as
notícias do seu esplêndido sucesso foram divulgadas e chegaram
a outro pregador. Este ficou ansioso por descobrir o segredo
daquele ministro. Então partiu seguindo por uma longa e cansativa
estrada, até alcançar finalmente a humilde cabana onde morava o
bom ministro.
“Amigo”, perguntou o visitante, “de onde você tirou esse
sermão?” Ele foi levado pelo hospedeiro a uma sala pobremente
mobiliada, e o pregador mostrou-lhe um lugar onde o tapete estava
gasto, perto de uma janela que dava para as montanhas majestosas.
O velho ministro disse: “Amigo, é daqui que eu tiro meu sermão.
Meu coração estava pesado durante semanas. Uma noite ajoelhei-
me ali e pedi a Deus poder para pregar como nunca tinha pregado
antes. As horas passaram até que o relógio assinalou meia-noite,
e as estrelas olhavam o vale adormecido e as montanhas silentes;
mas a resposta não vinha. Então orei até que vi um pálido ponto
cinzento no alto da montanha a leste. Logo o ponto ficou prata, e
eu olhei e orei até que a prata se tomasse púrpura e ouro, e por
toda a franja da montanha acendeu-se o altar de fogo de um novo
dia. Então o sermão veio, e veio o poder, e me deitei e dormi, e
levantei-me e preguei. E um grande número de pessoas caiu diante
do fogo de Deus. Foi dali que tirei meu sermão!”

A Prática da Oração
Eu também procuraria levar minha congregação a tomar-se
uma congregação de oração. Jesus disse: “A minha casa será
chamada casa de oração” (Mateus 21.13). Estou persuadido de
que qualquer congregação, com um décimo de seus membros em
intercessão diária pelo trabalho de D eus, prosperará
A ORAÇÃO 63

espiritualmente e de todas as formas. Assim, pois, eu procuraria


levar meu povo à prática da oração no quarto, da oração em grupo,
da oração pactuada, e da oração constante.
Jesus falou sobre o quarto para orar: “Tu, porém, quando
orares, entra no teu quarto, e, fechada a porta, orarás a teu Pai
que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará”
(Mateus 6.6).
A recom endação de Deus para orar em grupo, ou
coletivamente, espalha-se por toda a Escritura, sendo ilustrada
repetidas vezes através da história. Deus se manifesta de modo
poderoso sempre que seu povo se une em oração.
A oração pactuada contém uma grande promessa: “Se dois
dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer coisa
que porventura pedirem, ser-lhes-á concedida” (Mateus 18.19).
O privilégio e poder da oração pactuada, seja de marido e mulher
ou de um crente com outro, tem sido muito negligenciado. Mas,
quando é assumido e os crentes pactuam juntos, as promessas de
Deus se cumprem.
A oração constante é o privilégio de cada crente, onde quer
que ele se encontre. Então podemos orar literalmente centenas
de vezes por dia ao elevarmos nossas vozes em ações de graças,
louvor, intercessão e petição. A oração constante é uma prática
maravilhosa a ser seguida. E o ministro que ensina o povo a orar
colherá abundantes recompensas, não somente em orações
respondidas, mas em vidas e relações transformadas. É verdade
que “a oração muda as coisas” e “a oração muda as pessoas”.
Nenhuma congregação dará testemunho sem a oração unida,
e nenhuma congregação dará suporte a pessoas que são levadas a
Cristo, a menos que seja uma congregação de oração. A oração
prepara o povo, instilando nele compaixão pelos outros. A oração
prepara os corações daqueles que necessitam de Cristo.
...eu procuraria sempre lembrar-me
de que meu chamado não é para
controlar a fé das pessoas, mas para
amá-las dentro do reino de Deus

- t C m Jeremias 12.10,11 Deus se queixa dos pastores que não


têm compaixão. Sem compaixão eles se tomam destruidores das
vinhas de Deus.
É muito fácil perder um coração compassivo. Compaixão é a
palavra mais usada no Novo Testamento para descrever os
sentimentos de Jesus. As pessoas devem sentir nosso amor por
elas, se tiverem de reagir ao nosso ministério. Elas precisam sentir
a expressão de nossa compaixão nas crises, mágoas e anseios.
Há um surpreendente alívio em acreditar que Deus opera
mudança em vidas. Meu trabalho não é mudar as pessoas. Devo
amar as pessoas e aceitá-las. É trabalho do Espírito Santo
convencer, condenar e converter. Oswald Chambers escreveu:
“Tenha cuidado para não fazer o papel de hipócrita despendendo
todo o seu tempo tentando fazer dos outros justos antes de você
mesmo adorar a Deus.” Um crente espiritual não requer que as
pessoas creiam nesta ou naquela doutrina, mas que elas tenham
suas vidas conformadas à vontade e semelhança de Cristo.
66 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

É um alívio quando um servo de Cristo se compenetra de que


o serviço não é para mudar as pessoas ou controlá-las, mas para
prover um relacionamento que liberta as pessoas para que
compreendam que a liberdade em Cristo é que as livra de toda
prisão e sujeição.
No início, o ministro se inclina a pregar a verdade, como a
compreende, sem importar-se a quem e onde ele fere ou magoa.
Com alguma pessoas, a m aturidade espiritual, paciência,
compaixão e misericórdia se tomam mais importantes. Tenho
orado muitas vezes: “Senhor, permite-me falar a verdade em amor.
Se não puder dizê-la em amor, ajuda-me a não dizê-la.” As
saudações de Paulo nas Epístolas são “graça e paz”. Quando
escreve aos pregadores, ele escreve: “graça, misericórdia e paz.”

Amado no Reino
Se cometo enganos, oro para que eles sejam do lado da
misericórdia e do amor. Finalmente as pessoas são amadas no
Reino e alcançaremos tantas quantas tenhamos a capacidade de
amar. “O amor nunca falha.”
Andrew Blackwood, em seu livro The Voicefrom de Cross (A
Voz da Cruz), conta uma história aprazível de como o amor de
um pregador mudou uma comunidade inteira.
Duas comunidades rurais situam-se cerca de oito quilômetros
distantes uma da outra, sob o mesmo sol e nuvens. Os fazendeiros
de cada distrito cultivam as mesmas espécies de plantações. Eles
enfrentam os mesmos problemas ano após ano. Metade das
pessoas de uma comunidade têm parentesco com metade das
pessoas da outra. As duas vizinhanças são tão parecidas como
podem ser as vizinhanças, em tudo, exceto num importante
aspecto.
Numa comunidade há contenda. O corpo de bombeiros, o
O AMOR 67

conselho da escola e os sitiantes estão sempre se desentendendo.


Na outra comunidade há harmonia, carregando cada um o fardo
do outro, fazendo cada um o que é possível.
A diferença entre as duas comunidades pode ser determinada
pela influência de um homem, um ministro que viveu na
comunidade das boas relações por muitos anos. Ele não era
nenhum gênio do púlpito, nem era um organizador de igreja. Mas
uma coisa ele fazia constantemente e bem. Ele refletia o amor de
Cristo. Ele amava as pessoas.
Quando chegou à pequena igreja, ele encontrou uma
congregação dilacerada pela dissensão, numa vizinhança
permeada pelo ódio. Embora não deixasse de condenar, ele amava
ambas as partes em cada disputa e procurava guiá-las a uma
solução temente a Deus. Ele amava as pessoas quando eram
detestáveis, e algumas vezes elas o eram de forma surpreendente.
Procurava o lado bom nas mais desprezíveis delas, e incentivava
as pessoas boas a serem melhores. Ele viveu para ver uma
comunidade transformada.
De uma igreja isolada no topo da colina, onde ele labutava
com amor, uma contínua corrente de homens e mulheres jovens
abraçava as vocações cristãs. Os que decidiam ficar em casa
viviam como cristãos.16
Talvez tudo isto pareça um a pequena façanha, mas
consideremos o que acontece sem amor.
Há alguns anos um jovem líder brilhante e talentoso foi enviado
ao campo missionário. Ele era crítico e autoritário. Era facilmente
irritável e impaciente. Criava atritos por agir de forma errada e
provocava as pessoas.
Por fim, as pessoas escreveram à junta de missões pedindo
que ele fosse chamado de volta, uma vez que era mais um estorvo
do que uma ajuda.
68 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

Depois que a junta se reuniu e discutiu o que deveria ser feito,


o secretário escreveu uma carta ao jovem missionário: “Você
permanecerá com uma condição. A condição é que você leia 1
Coríntios 13 cada dia durante o próximo ano.” Antes que o ano
chegasse à metade, ocorreu uma transformação. As mesmas
pessoas que escreveram pedindo sua demissão agora escreveram
pedindo sua continuação. Passados alguns anos, as mesmas
pessoas escreveram à junta pedindo que ele fosse designado bispo.
E ele serviu por mais de cinqüenta anos como um líder eficiente
da igreja de Cristo.

Transbordamento
O verdadeiro trabalho pastoral é o fluxo do amor espontâneo.
Sem amor, nenhuma habilidade do mundo ajudará; com amor,
nenhuma quantidade de erros levará a pessoa a falhar. “O amor
nunca falha.”
Um jovem pastor começou num local difícil de uma grande
cidade. Parei ali para vê-lo. Quando conversávamos no parque
da cidade, ele disse: “Tenho um pacto com Deus de amar cada
pessoa que Ele enviar para minha igreja.” Não surpreende que
Deus esteja fazendo milagres de regeneração, e que pessoas
estejam vindo ouvir sua mensagem e receber sua ajuda.
Numa gande conferência interdenominacional, um pequeno
grupo reuniu-se para orar entre as sessões. No último dia um pas­
tor confessou que tinha ido à conferência em busca de ajuda. Se
ele não encontrasse ajuda, deixaria o ministério. “E Deus mostrou-
me aqui”, disse ele, “que eu não amo meu rebanho. Fico agitado
e irado com seu comportamento. Deus mostrou-me que devo,
com o amor de Cristo, voltar e amar meu povo.”
Juntamo-nos em oração, impondo as mãos sobre esse pastor,
pedindo a Deus que o enchesse do amor divino. Alguns meses
O AMOR 69

mais tarde recebi uma carta. “As coisas estão florescendo por
aqui”, disse ele. “Deus tem-me dado um grande amor por meu
rebanho.”
Malcolm Muggeridge informa que a maior doença hoje não é
a lepra ou a tuberculose, mas sim o sentimento de ser indesejado,
desprotegido e abandonado por todo mundo. E o maior mal é a
falta de amor, a terrível indiferença para com os que vivem em
necessidade à beira da estrada. Para esses precisamos permitir
que o amor de Cristo flua por nosso intermédio.
...e u procuraria estar sem pre cônscio
de que D eus está operando, geralm ente
em pessoas, lugares e programas, nos
quais eu m enos espero que E le esteja agindo

TA. enho aprendido mais e mais a temer colocar Deus numa caixa.
Os líderes religiosos do tempo de Jesus imaginavam Deus de tal
modo que não podiam ver ou compreender sua obra desenrolada
bem diante deles.
Deus é tão revigoradamente novo que raramente faz— se
alguma vez o faz— a mesma coisa duas vezes do mesmo modo.
Pessoalmente, quando penso que tenho Deus todo estereotipado,
Ele está operando em algum outro lugar e fazendo a coisa de um
modo diferente do que eu havia planejado ou esperado. Isto é
cada vez mais excitante.
Oswald Chambers disse em My Utmost fo r His Highest (O
Máximo de Mim para o Altíssimo): “Quando estamos certos do
modo como Deus vai agir, Ele nunca mais volta a agir do mesmo
modo.”
O teólogo italiano Cario Carretto disse em The God Who
Comes (op. cit.): “Se você me perguntar como Deus se revela a
mim, respondo: ‘Ele se revela com inovação.’ ... Deus é
72 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

eternamente novo. Ele nunca se repete.”


Um dos testes da sensibilidade espiritual é a capacidade de
ver Cristo em ação, ouvir seu sussurro acima das palavras do
mundo e sentir sua presença em toda parte. A natureza humana
espera e anela pelo método dramático e instantâneo pelo qual
Cristo opera. A natureza divina discerne sua presença e trabalho
na solidão e no silêncio, nos mínimos acontecimentos de cada
dia, na serena e pequenina voz. Devemos perceber que Deus já
está agindo antes de chegarmos lá.
t" Em seu livro Overhearing the Gospel (Ouvindo o Evangelho
. Por Acaso), Fred B. Craddock diz que não é nossa função decidir
I antecipadamente qual é o solo bom e reter a semente destinada a
1todos os outros solos. O Evangelho^jjuandp anunciado, cria
“determina seus próprios ouvintes. Craddock fala de uma lição
aprendidanuma experiência lembrada de sua adolescência tímida
e assustada. “Uma bonita jovem tinha mudado para nossa cidade
e para nossa escola. Ela se tornou imediatamente popular.
Admirando-a à distância, pedi-lhe, na privacidade de minha
mente, que fosse comigo ao cinema. Olhei para ela, depois olhei
para mim mesmo, e, na privacidade de minha mente, ela disse
não. Nos dias que se seguiram fiquei magoado e irado porque ela
me rejeitou—uma decisão que não se permitiu que ela tomasse.”
Assim, diz Craddock, “pode dar-se o caso de que, quando
falamos a muitos, somente uns poucos ouvem; entretanto, não
fomos chamados para falar a poucos e depois queixar-nos de que
não há muitos.”17
Temos de orar sempre e chegar até as pessoas com o
pensamento de que Deus já está operando em suas mentes e
corações. Cristo morreu por cada pessoa, e, sabendo disto, temos
Deus já trabalhando em nosso favor. O Espírito Santo está ansioso
por tomar a Boa Nova real a cada pessoa. Assim, temos essa
D EU S ESTÁ AGINDO 73

ansiosidade a nosso favor e sentimos que a Palavra de Deus não


voltará vazia. Temos também esta segurança para nos impulsionar
à fidelidade.
Tampouco podemos alegar que estamos preocupados com o
mundo perdido, se não estamos preocupados com aqueles que
encontramos dia após dia. Se eu estivesse começando meu
ministério de novo, eu me lembraria de que Deus está no meio de
seu povo. No poema “O Equívoco do Pregador”, Brewer Mat-
tocks (médico, escritor e filho de um ministro presbiteriano) nos
derruba de nosso campanário.

O sacerdote da Paróquia da Austeridade


subiu ao alto campanário da igreja
Para ficar mais perto de Deus,
de forma que pudesse transmitir
Sua palavra a seu povo.

Quando o sol estava alto,


quando o sol estava baixo,
O bom homem sentado distraído
coisas sublunares
Da transcendência
estava ele lendo continuamente.

E de vez em quando
ouvindo ele o ranger
do cata-vento girando,
Fechava seus olhos
e dizia: “Na verdade,
de Deus estou agora aprendendo. ”
74 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

E no manuscrito do sermão
ele escrevia diariamente
o que pensava tinha vindo do céu.
E ele deixava cair isto
sobre as cabeças de seu povo
duas vezes num dia da semana.

Em sua hora disse Deus—


“Desça daí e morra! ”
E ele gritou do campanário:
“Onde estás, Senhor? ”
E o Senhor respondeu:
“Aqui embaixo no meio do meu povo. ”18
...eu procuraria sempre ibrar que
estou ministrando somei fora do
transbordamento, e que Fruto é produ
somente com base num >vo cresci me

QU e estou eu mesmo precariamente fazendo isso, estou dando


pouco valor a qualquer outro.
Em sua primeira epístola, o apóstolo João diz que a Palavra
foi audível primeiro em Cristo: “Nós ouvimos.” Depois ela foi
visível— “Nós vimos.” A palavra tomou-se came. Finalmente
ela se tomou tangível— “Nós o tocamos com nossas mãos.”
Portanto, em nosso ministério, não é suficiente simplesmente
dizer, falar ou pregar a Palavra, por mais importante que isto seja.
As pessoas devem também ver essa palavra na vida daquele que
fala. “A palavra deve novamente tomar-se came.” Além disto,
essa palavra deve também comprovar que é verdadeira na prova
tangível, na qual nós mesmos dizemos e outros podem dizer: “A
verdade foi testada no crisol da experiência e da vida, e provou
que é verdadeira.”
78 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

Amor, perdão e todas as verdades do Evangelho devem não


somente ser proclamadas do púlpito, mas devem ser proclamadas
e retratadas nas relações terrenas da vida de cada dia. E aqui onde
a verdade é testada. Para isto, deve haver o desenvolvimento da
vida interior ou, do contrário, o que é dito e feito toma-se oco e
hipócrita.
O ministério eficaz surge daquelas áreas em que tenho
permitido que o Senhor me toque. Enquanto Deus não realiza
sua obra em mim, serei provavelmente mais um empecilho do
que uma ajuda a outros em meu ministério. Isto não quer dizer
que Deus não abençoe além da minha fraca fé e insuficiente
esforço. O que isto quer dizer é que serei mais eficaz nas áreas
para as quais Deus me chamou para mostrar maior fidelidade, e
nas quais tenho respondido com obediência. Não devo esperar
que as pessoas orem, se não sou uma pessoa de oração. Não devo
esperar que as pessoas sejam contribuintes com sacrifício, se não
contribuo com sacrifício. Não devo esperar que as pessoas
assumam um novo compromisso, se não sou um exemplo. Em
tudo isto a Escritura diz que um líder deve ser “um exemplo para
os que crêem”.
O ministro deve ser a primeira testemunha do que ele prega e
ensina. A mensagem que pregamos deve ser modelada. Somente
qüando somos libertados por Cristo podemos conduzir outras
pessoas à liberdade em Cristo. Somente quando estamos crescendo
podemos levar pessoas a um novo crescimento. Não devemos
esperar que nossa mensagem seja eficaz, se o que pregamos não
é verdadeiro em nossas vidas. Henri Nouwen escreve: “A grande
ilusão da liderança é pensar que uma pessoa pode ser tirada do

/ deserto por alguém que nunca esteve lá.”


u O Presidente Eisenhower demonstrou a arte da liderança co
um simples pedaço de barbante. Ele o colocou sobre uma mesa e
O FRUTO 79

disse: “Puxe-o e ele irá aonde você quiser. Empurre-o e ele não
irá a lugar algum. É exatamente este o caminho quando se trata
de liderar pessoas.”
Se eu estivesse começando de novo, procuraria ser não somente
alguém que conhece e mostra o caminho, mas também alguém
que anda no caminho. O pastor vai adiante das ovelhas.

Marcas dos Falsos lideres


Em suas últimas palavras dentro das paredes do templo, Jesus
nos deu três claras características dos falsos líderes. Ele os chamou
de hipócritas, guias cegos, insensatos e serpentes.
Esta é a forte linguagem em Mateus 23, usada para nos inculcar
o critério de avaliação de Jesus para diferenciar os líderes falsos
dos verdadeiramente espirituais.
1) Falsos líderes são aqueles que “não praticam o que pregam”.
Pedir ao povo que seja ou faça o que nós mesmos não queremos
ser nem fazer é hipocrisia. É uma marca de um falso líder. Jesus
diz que tais são também os que colocam fardos sobre os outros,
que eles mesmos não carregam. Cuidado com esses que pregam
ou ensinam o que não praticam. Os líderes espirituais primeiro
praticam, e em segundo lugar pregam e ensinam. Os verdadeiros
líderes dizem: “Sigam-me como eu sigo a Cristo.” Os verdadeiros
líderes são aqueles que não somente conhecem e mostram o
caminho, mas são também os que andam no caminho.
2) Os falsos líderes são ostentadores. Jesus diz: “Todas as coisas
que fazem é para serem vistos pelas pessoas.” Tais líderes adoram
um show. Eles fazem o que deixa uma impressão no eu, chama a
atenção e edifica o próprio status e reputação. Essas pessoas
podem fazer compridas orações em público, mas curtas na
privacidade. Eles contribuem somente se estão sendo notados.
Em primeiro lugar está o desejo de serem vistos. Esta prática está
80 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

longe de ser a postura do m inistério daqueles que dizem


sinceramente: “Não nós, mas Cristo seja honrado, louvado e
exaltado.”
3) Os falsos líderes amam a preeminência. Jesus diz que ele
“amam os lugares de honra nos banquetes e os assentos mais
importantes na igreja”. Eles amam ser saudados em lugares
públicos e de ser chamados de professor, doutor, presidente,
reverendo e bispo. Os falsos líderes estarão presentes quando
ficarem no centro do palco ou na direção, mas raramente se
apresentam quando uma outra pessoa ministra ou lidera. Os falsos
líderes gostam de ser honrados, elogiados e reconhecidos por sua
posição e feitos. “Em honra preferindo uns aos outros” é um lema
ausente de suas vidas.
Em contraste, Jesus menciona dois testes dos verdadeiros
líderes espirituais e que continuam vigentes e claros. São eles a
humildade e o espírito de serviço. Estes atributos estão em tão
completo contraste com as marcas dos falsos líderes que podem
ser facilmente discernidos. Eles sempre caracterizarão aqueles
que procuram servir e seguir a Cristo.
Cristo humilhou-se e tomou-se servo. Os líderes espirituais
verdadeiros serão sempre conhecidos por um espírito que desvia
os olhos das pessoas deles para Cristo. Os verdadeiros líderes
procuram o privilégio de servir e não uma posição para serem
servidos.
O fruto é produzido com o novo crescimento, e todo fruto do
Espírito Santo é produzido em relação a outras pessoas. Podemos,
por exemplo, crescer somente pela resignação, quando alguém
testa o quanto podemos sofrer; assim também para todo fruto. E
parece que Deus tem sempre permitido que as pessoas que nos
cercam testem nosso amor, paciência, alegria e outros frutos.
No correr dos anos, em muitas congregações por onde passei,
O FRUTO 81

aprendi que cada congregação tem “uma situação”. Depois de


estar numa congregação por vários dias, o pastor habitualmente
confidencia: “Temos uma ‘situação’ nesta congregação.” E essa
“situação” é geralmente uma pessoa que está se tomando difícil
para o pastor e para outros.
O teste é se posso continuar a tratar essas pessoas, que me
confrontam e desafiam, combenignidade, amor e respeito. Outros
estão esperando ver como um representante de Cristo lida com
pessoas difíceis. Eles sabem que amo meus amigos, mas eles
querem saber se posso amar os que se opõem a mim— até mesmo
meus inimigos—na congregação. É aqui que Deus me ensina o
sentido do amor não correspondido ou não retribuído.
...eu seria fortemefite atr; ido p<
a plantação de igreja, e ní para uma
congregação estabelecidc

E u ponderaria e oraria muito mais tempo antes de decidir


tomar-me pastor de uma congregação que tem ouvido o Evangelho
durante anos, que tem muitas pessoas capazes para ensinar a
Escritura, e a qual já está bem provida de muitos dons e pessoas
que às vezes disputam responsabilidade e posição. Por que não ir
aonde há maior necessidade?
Enquanto a congregação estabelecida é um desafio, e há ali
muita necessidade, ela é exatamente isto: “estabelecida”.
Geralmente, sem levar em conta a denominação, ela é
anticrescimento e exclusiva, a despeito de se expressar de modo
contrário. E raramente séria acerca do evangelismo. Em seus
melhores dias, ela está ali para acolher os justos e não para amar
os pecadores.
Tenho aprendido que a expressão mais comum numa
congregação estabelecida é: “Você jamais reconheceria esta
congregação.” Ou: “Esta congregação costumava ser uma
encantadora pequena congregação sem quaisquer problemas.” A
84 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

implicação destas declarações são grandes. E essas implicações


são logo percebidas pelo recém -chegado. A congregação
estabelecida pode receber uma pequena porcentagem de recém-
chegados—uns poucos que se casam dentro da família certa ou
que se mantêm absolutamente reticentes quanto à decisão a tomar.
A congregação estabelecida, grande ou pequena, também não
produz o equivalente à sua própria liderança pastoral. Muitas vezes
ela tem de sair à procura de seus líderes.
Embora, sem dúvida, o Senhor chame pastores para as
congregações estabelecidas, se eu estivesse começando meu
ministério de novo, eu sentiria um forte impulso em direção à
plantação de igreja, onde haveria liberdade e a excitação de
alcançar pessoas que não tiveram repetidamente de ouvir o
Evangelho ou, por algum a razão, se afastaram da igreja
estabelecida.
Eu procuraria ter em mente que a congregação manterá
provavelmente seu propósito original. Se uma congregação
começou para satisfa zer às n ecessidade dos m em bros
denominacionais que se mudam para a área, ela continuará com
esse propósito básico e, provavelmente, nunca será uma igreja
que atenda a comunidade. Se uma congregação foi iniciada com
o propósito fundamental de ir ao encontro das necessidades e das
famílias da com unidade, ela continuará a perseguir essa
perspectiva.
Portanto, se eu estivesse começando meu ministério de novo,
eu consideraria mais cuidadosamente a necessidade, antes de
decidir onde servir. Se dez pessoas estivessem carregando uma
pesada tora e nove estivessem numa ponta e uma na outra, qual
das pontas precisaria de minha ajuda? Se meio hectare tivesse
apenas umas poucas espigas de milho, enquanto ao lado cinqüenta
hectares estivessem maduros para a colheita, onde deveria eu
trabalhar?
...eu procuraria ser mais disciplinado
na prática do contato pessoal
através da visitação ao rebanho

as visitas aos lares os corações se abrem e o Evangelho de


Cristo pode ser ministrado por meios mais pessoais. E aí que o
ministro tem o privilégio peculiar de orar com e em favor das
ovelhas, de forma muito pessoal, sobre todos os tipos de
preocupações e necessidades. Éverdade: um pastor que visita os
lares tem a igreja cheia de fiéis. Porém, mais que isto, um
programa de visitação centralizado em Cristo estabelece relações
com Cristo e abre os corações das pessoas mais do que qualquer
outra coisa que um ministro possa fazer. A visitação também cria
um laço entre o púlpito e a família. Uma pessoa não terá anseio
de se apropriar de qualquer coisa que é pregada no púlpito, mas
não consolidada no lar. .
Um pastor que ama suas ovelhas tem de estar com as ovelhas.//
Henry B. Williams testemunha: “Posso conhecer mais da
importância prática a respeito dos membros de um dado lar por
meio de uma visita pastoral do que posso obter em dez anos de
encontros casuais e apressados com esses mesmos membros no
88 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

saguão da saída, após o culto da manhã de domingo.”


Numa visita aprende-se mais do que numa dúzia de seminários.
Na visita estou em contato com as perguntas que as pessoas estão
fazendo. “O sermão parece sempre melhor no domingo de manhã,
quando recebo um aperto de mão do pastor durante a semana.”
Talvez poucos podem ter a habilidade do pastor que conhecia
pelo nome cada um dos cinco mil membros da sua igreja, mas a
maioria pode ser muito enriquecida através de um programa de
visitação. Precisei chegar ao meu último pastorado para ter as
boas sensações da minha prática de visitação, e então percebi
que um trabalho muito melhor podia ser feito. Gostaria de poder
começar de novo.

Um Flano Definido
Pelo fato de fazer muito poucas visitas sem um itinerário
definido, considero útil preparar um plano para visitar um certo
grupo de pessoas toda semana, outro grupo a cada duas semanas,
e alguns uma vez por mês. Essas categorias não representam um
grande número dos congregados, mas incluem os que estão
internados, os idosos e aqueles que têm necessidades específicas.
Todos os membros devem figurar numa lista ocasional para serem
visitados pelo menos uma vez por ano. Isto é m inistrar o
Evangelho “de casa em casa” (Atos 20.20).
Uma experiência significativa, que procuro realizar até com
mais fidelidade, é fazer algum contato no refeitório da escola, ou
em outro ambiente, com todos os adolescentes da congregação.
Toda vez que fiz isto, senti que foi altamente compensador e abriu
a porta para os jovens me procurarem mais tarde quando surgiu
uma necessidade de uma ou outra natureza.
Sempre oro com minhas ovelhas e por elas quando as visito
no hospital ou em sua casa. Embora possa haver ocasionalmente
O CONTATO PESSOAL 89

uma circunstância ou situação em que não seja apropriado fazer


uma oração, isto ocorre muito raramente. As pessoas esperam
que um ministro seja uma pessoa de oração e esperam as orações
de seu líder espiritual. Freqüentemente tenho ouvido pessoas
lamentando que o pastor as visitou mas não houve oração.
Chaucer, em The Canterbury Tales (As Histórias de Canter-
bury), oferece um belo quadro de um pastor amoroso e visitador.

A Palavra de Cristo com fidelidade ele pregou,


E a seus paroquianos devotamente ensinou.
Benigno era ele, nos labores diligente,
Como provou muitas vezes...
Ampla era sua paróquia, espalhada por grande distância,
Contudo a ninguém negligenciou, sob chuva ou trovão.
Tristeza e doença recebiam seus cuidados bondosos;
Com o bordão à mão viajava a toda parte.
Este bom exemplo a suas ovelhas ele trouxe:
Que primeiro forjava e depois ensinava.
Esta parábola ele juntou à Palavra—
“Se o ouro enferrujar, que será do ferro? ”
Porque se um sacerdote, em quem confiamos, é corrupto,
Não admira que o homem comum enferruje!
Embora santo em si mesmo e virtuoso,
Ele com o homem pecador era implacável,
Não poupando, em sua prédica, a vã presunção,
Mas em seu ensino era amável e discreto.
Ele atraiu seu rebanho ao céu com nobre arte,
Pelo bom exemplo era sua santa arte.
Não menos ele censurava o obstinado,
Fosse ele de alta ou baixa posição.
Pela pompa e espetáculo mundano não se interessava;
90 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

Nenhuma consciência doentia fe z sua regra severa.


O saber de Cristo e dos doze apóstolos
Ele ensinava, mas primeiramente o seguia.19

Especialmente Novas Pessoas


Sim, se eu estivesse começando meu ministério de novo, eu
procuraria ajudar-me e a minhas ovelhas a dispensar atenção às
novas pessoas que se transferissem para nossas comunidades. Se
aproximadamente um quarto da população muda de local cada
ano, especialmente nas áreas mais urbanizadas, segue-se que uma
vasta oportunidade de novos contatos estaria sempre presente.
Meu trabalho mais bem-sucedido em alcançar novas pessoas
nos quarenta anos de meu ministério era entre aqueles, indivíduos
e famílias, que se mudavam para a área de minha atividade.
Quando diziam que faziam parte de outra denominação, eu
telefonava ao pastor daquela denominação naquela área e
indicava-lhe a pessoa ou família a ser contatada. Quando elas
não pertenciam a nenhuma denominação, eu retomava ao meu
escritório, escrevia uma carta de boas-vindas da comunidade e
da congregação com informações sobre a congregação, sua
história, atividades e oportunidades. Eu também punha as famílias
de minha congregação cientes de tais pessoas novas e incentivava
contatos entre elas. As famílias precisam ter a visão deste evento
e algum treinamento sobre como encontrar-se com os recém-
chegados.
Sim, se eu estivesse começando meu ministério de novo,
procuraria ajudar-me e aos membros de minha congregação a
dar atenção às pessoas novas que se mudassem para nossa
comunidade. Como já assinalei, se aproximadamente um quarto
da população muda de local a cada ano, especialmente em áreas
mais urbanizadas, então uma ampla oportunidade de novos
contatos estaria sempre ocorrendo.
...eu tomaria cuidado com
certas armadilhas do ministério
si

Q u a n d o jovem pastor, fui grandemente auxiliado por um


ministro idoso, o qual me explicou que, quando há um desastre
espiritual, a causa geralmente está numa de três áreas. Estas três
áreas são citadas em Hebreus 12.15-17. Aqui estão três barreiras
à bem-aventurança, utilidade e felicidade. A compreensão delas
protegerá nosso ministério e também nos capacitará a ajudar
outros.
A primeira é a barreira da amargura. “Que ninguém seja
faltoso, separando-se da graça de Deus; nem haja alguma raiz de
amargura que, brotando, vos perturbe e, por meio dela, muitos
sejam contaminados” (Hebreus 12.15).
A amargura é uma atitude para com outra pessoa, que começa
no coração. É uma raiz enterrada sob a superfície, de modo que
não pode ser notada em princípio. Mas ela impede a corrente da
bem-aventurança espiritual. Ela obstrui a oração. Ela sufoca nossa
mensagem. Ela aflige o Espírito Santo. A amargura, finalmente,
contamina muitos outros.
94 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

Vemos aqui a seriedade de permitir que mesmo uma pequena


raiz de amargura se infiltre em nós. Ela não somente despoja a
pessoa amarga da bênção espiritual e toma Deus distante, como
também destrói as relações na família, na igreja e além.
Portanto, o apelo da Escritura é para que não deixemos de
receber a graça de Deus, que é o amor não merecido dele por nós.
De nossa parte, devemos tratar os outros como Deus nos trata, e
não sejamos amargos com qualquer pessoa. Tomemos cuidado
com a raiz da amargura.
A segunda é a barreira do comportamento. Cuidemos para
que não haja “algum impuro ou profano” (Hebreus 12.16).
Devemos estar sempre em guarda contra qualquer espécie de
imoralidade, primeiro em pensamento e também em ato.
Ninguém é um fracasso moral de repente. A lascívia, como a
amargura, tem a faculdade de ir-se alojando no coração e na mente.
A imoralidade é uma barreira que nos impossibilita contemplar a
face de Deus. “O puro de coração vê a Deus.” O impuro também
desenvolve conceitos errôneos sobre Deus, sobre o pecado e sobre
outras pessoas.
Tenho notado que, quando há um pecado moral oculto, as
pessoas são inclinadas a mudar para uma de duas direções. Uma
é se tomarem muito libertinas e passarem a ter uma visão
complacente do pecado. A outra é se tomarem muito legalistas,
rígidas e inclementes diante do pecado, assumindo uma atitude
de juízo férreo sobre os outros.
Satanás é sutil e procura destruir os mais eficientes servos de
Cristo, conduzindo-os pouco a pouco aos pensamentos lascivos
e, em seguida, ao comportamento lascivo. E não podemos ser
apenas m uito cuidadosos em nossos conceitos de vida e
relacionamento. Precisamos recorrer à cerca de proteção de Deus
para que não caiamos nos engodos e seduções que certamente
ARMADILHAS 95

surgirão em nosso ministério. Através de artifícios lascivos, o


Diabo tem destruído a eficácia de muitos ministros. Através da
imoralidade, o Diabo tem matado muitos servos de Deus.
Eu respeito os ministros que querem uma janela em seu
gabinete e que não dão conselhos a pessoa do sexo oposto a sós
num edifício. E creio que, como ministro, devo continuamente
estar lembrado do padrão de pureza e fidelidade de Deus, porque
a impureza é uma das grandes armadilhas do pastor.
A terceira armadilha é a barreira dos pertences. Estejamos
alertas para não ser “como foi Esaú, o qual, por um repasto, vendeu
o seu direito de prim ogenitura. Pois sabeis também que,
posteriormente, querendo herdar a bênção, foi rejeitado, pois não
achou lugar de arrependimento, embora, com lágrimas, o tivesse
buscado” (Hebreus 12.16,17).
Esaú tomou-se o exemplo para todas as épocas daquele que
vende o espiritual em troca do material, que valoriza seu estômago
acima da sua alma, e que preza as propriedades e não as relações.
Sim, nós, como ministros, precisamos da grande advertência e
grande promessa de Hebreus 13.5: “Contentai-vos com as coisas
que tendes; porque Deus julgará os impuros e adúlteros; porque
ele tem dito: ‘De maneira alguma te deixarei e nunca jamais te
abandonarei.’”
Tenho conhecido ministros através dos anos que nunca deram
atenção a este ponto e que foram para sempre infelizes. Seus
serviços foram ineficazes. Eles se tomaram invejosos dos outros
e reclamavam de seu próprio salário e situação.
A inveja e a ganância são as tentações não somente dos ricos,
mas também dos pobres. Estes pecados, contra os quais a Escritura
adverte com tanta freqüência, podem ser uma barreira à bênção
de Deus em nossas vidas e uma barreira para os outros no
ministério de um pastor.
96 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

Se eu estivesse começando meu ministério de novo, eu me


com prom eteria a não perm itir que essas atitudes jam ais
ocorressem em minha vida. Estas três são armadilhas específicas
para as pessoas num ministério espiritual.
Mais sabedoria.

E u me comprometo a nunca dizer qualquer coisa do púlpito


que não estou disposto a dizer diretamente a uma pessoa. Em
outras palavras, o púlpito não é lugar para um ataque pessoal.
No começo do meu ministério, uma pessoa me censurou pelo
que ela julgava ser um ataque pessoal em minha pregação.
Assegurei-lhe que não tive ela ou qualquer outra pessoa em mente.
Citei o compromisso acima e perguntei-lhe se ele achava que eu
o havia cumprido. Ele respondeu que achava que eu tinha agido
assim, e o mal-entendido se desfez.

Eu procuraria sempre manter a confiança. Muitos ministros


têm perdido sua efetividade não por causa de falta de capacidade,
98 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

mas por terem traído uma confiança.

Eu procuria lembrar-me de não sair do trem quando estivesse


passando pelo túnel. Há muitos momentos de desânimo no
ministério, mas não é bom tomar uma decisão importante du­
rante os tempos de desânimo. Geralmente, nos três primeiros anos
de ministério, como no casamento, temos um período de desilusão.
Este não é o momento de fazer uma mudança repentina. É
particularmente sábio tomar conselho com algumas pessoas
espirituais e de discernimento em tais ocasiões, e não ouvir um
ou dois que tenham a tendência de ver somente o lado negativo
das coisas.

Eu procuraria lembrar-me que o líder mais bem-sucedido não


é aquele que sabe e faz todas as coisas, mas aquele que conhece
suas forças e fraquezas e que tem a capacidade de encontrar os
que são fortes em áreas em que ele é fraco e os autoriza a agir.

Eu oraria por somente bastante ânimo para continuar sendo


forte para com Deus. Deus permite raramente— se é que o faz—
que seus servos vejam quão grande bênção eles são. Ele permite
somente bastante ânimo para nos tomar férteis, mas o fruto mesmo
não é para o benefício do pregador, mas para o reffigério de outros.
Eu tomaria cuidado em permitir que cumprimentos servissem
p ara ensejar au toconfiança em coisas espirituais. Os
MAIS SABEDORIA 99

cumprimentos de outrem podem ser usados para o mal, se não


estivermos determinados a dar toda a glória a Deus. Quanto mais
aquinhoado, maior é a tentação e sede por louvor. À medida que
envelhecemos, o anelo por louvor leva a frustrações e amarguras,
seguidas de esforços planejados para obter atenção e afirmação.

Eu procuraria lembrar que, a despeito de quão difícil uma


pessoa pareça, cada um de nós tem uma abertura ou um ponto de
receptividade. Se eu tentar o bastante, encontrarei essa abertura
para levar a pessoa a Cristo, que morreu por essa pessoa tanto
quanto por qualquer outra.

Eu me lembraria de que Jesus mudou as pessoas por amor,


aceitação e perdão. Os fariseus procuraram mudar as pessoas por
meio de crítica, julgamento e condenação.

Eu procuraria lembrar que Jesus não dedicou tempo ou esforço


justificando-se ou defendendo-se. Agostinho orou: “O Senhor,
livra-me da luxúria de defender-me.” Uma grande armadilha de
muitos líderes é procurar defender-se, explicar-se, excusar-se de
falhas e colocar-se em boa posição. Jesus não fez nada disso.
A luxúria por defender-se é a luxúria por aprovação. Oswald
Chambers escreveu: “Nossa insistência em provar que estamos
certos é sempre, de certa forma, uma indicação de que tem havido
algum ponto de desobediência.”
100 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

Portanto, eu procuraria deixar que o Senhor combatesse minhas


batalhas por mim, como Ele prometeu. Quando procuro com­
bater minhas próprias batalhas, o Senhor fica de lado e me deixa
lutando sozinho. Quando me ponho de lado, Ele faz a justificação
e opera todas as coisas para sua glória e meu bem.
Foi dito de um pregador: “Se você quer sentir seu amor, magoe-
o.” Ele tinha tal amor divino que transbordava especialmente em
face da oposição, inimizade e ofensa pessoal.

■ *

Eu procuraria manter-me livre do amor e da luxúria pelas coisas


materiais. Alguns ministros que conheci tomaram-se infelizes e
até deixaram o m inistério completamente porque ficaram
descontentes com sua renda, deixando o espírito de sacrifício e
serviço de fora pelo interesse pelas coisas materiais. Um ministro
será infeliz para sempre e espiritualmente improdutivo, se
consentir que o espírito do descontentamento ou ganância comece
a crescer.

Eu buscaria diversos conselheiros espirituais, sábios e sólidos


que tivessem em seus corações preocupação pela igreja e por
meu bem-estar, a quem eu pudesse recorrer para conselho e
perspectiva. Isto pode evitar muitas armadilhas e perspectivas
equivocadas ou distorcidas que um ministro pode facilmente
desenvolver ou que podem desenvolver-se através de aplausos
ou críticas de uma ou duas outras pessoas.
Isto significa também que eu não tomaria a reação adversa de
uma pessoa muito seriamente sem avaliar tal crítica com outros
MAIS SABEDORIA 101

líderes confiáveis que podem aconselhar-me com sinceridade e


amor. Sofri muito no ministério por admitir crítica ampla e radi­
cal de uma pessoa que alegava estar falando em nome de muitos,
somente para descobrir depois que se tratava de uma reação
pessoal, apoiada tão-somente em alguma prevenção pessoal, e
não na opinião de outras pessoas.

Eu reu n iria em volta de m im um as poucas pessoas


profundamente comprometidas a orar diariamente e jejuar pela
igreja e pelo seu ministério. Orar é juntar-se aos santos de todas
as épocas e juntar-se a Cristo, o grande Sumo Sacerdote e inter-
cessor, em sua preocupação pelo mundo inteiro. O ministério do
Espírito Santo está associado à oração mais do que a qualquer
outro aspecto do ministério do Espírito.
Vim a crer que um ministro não deve procurar ministrar sem
um grupo de parceiros que irão apoiar o ministério diante do trono
da graça para a preservação, proclamação e autoridade divinas.

Eu evitaria a inveja como se fosse praga. Inveja é ficar triste


quando outro está alegre. Ela levanta sua hedionda cabeça quando
alguém é bem-sucedido na área em que eu trabalho ou na área
em que procuro obter sucesso. A inveja toma amargas as pessoas
e coloca um em competição com outro. A inveja deriva do mal
básico do orgulho.
Oscar Wilde, numa de suas histórias, conta que o Diabo estava
atravessando o deserto da Líbia quando encontrou um grupo de
seus associados tentando um santo eremita. Eles procuravam
102 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

tentar o santo homem com os pecados da carne, fazendo-o de


todos os modos que conheciam, mas sem êxito. O santo estava
firme e rechaçava todas as insinuações. Finalmente, depois de
constatar seu fracasso, desgostoso, o Diabo sussurrou aos
tentadores: “O que vocês fazem é muito grosseiro. Permitam-me
um momento.” Então o Diabo cochichou ao ouvido do santo
•homem: “Seu irmão acaba de ser nomeado bispo em Alexan­
dria.” Uma carranca de ciúme cruzou a face serena do eremita.
“Este”, disse Satanás a seus subordinados, “é o tipo de coisa que
recomendo.”

Uma das sutilezas da liderança e da pregação é pensar que, ao


preparar uma palavra do Senhor para meu rebanho, eu mesmo
estou fiel e obediente a ela. Eu me poria em guarda especial, de
sorte que a verdade que prego e ensino seja aquela à qual eu
mesmo de antemão me submeti e que experimentei.

Eu me lembraria de que meu amor por Cristo e pela igreja


revela-se genuíno quando posso sinceramente regozijar-me pelo
sucesso e realizações de meu sucessor e pelo sucesso de outros
ministros nas congregações.

Eu procuraria ter em mente que, ao encerrar meu ministério,


teria provavelmente influenciado os outros mais como pessoa do
que como pregador. O teste final não é o quanto sou dotado por
MAIS SABEDORIA 103

Deus, mas como tenho vivido minha religião. Will Garrison


escreveu: “No único julgamento que importa seremos avaliados
não tanto pelo que fizemos, mas pelo que nos tomamos.”

Eu pediria a Deus que acabasse com o orgulho de qualquer


espécie e me desse um espírito de genuína humildade cristã. C.
S. Lewis adverte que o mal extremo é o orgulho. Todos os pecados
da came são como picadas de pulga comparados a ele. “O orgulho
é essencialmente competivo.” Lewis sugere: “Se você quiser saber
o quanto é orgulhoso, o meio mais fácil é perguntar a si mesmo:
‘Quanto me repugna quando outra pessoa me despreza, ou se
recusa a tomar conhecimento de mim, ou me trata mal, ou me
protege, ou fica se exibindo?’ ”
Lewis afirma também que o orgulho ou amor próprio é o
pecado mais evidente nos outros e que não enxergamos em nós
mesmos. Quanto mais orgulho temos mais nos desagrada o
orgulho alheio. A virtude oposta é a humildade. O orgulho deleita-
se em brilhar ou corrigir os outros. É por orgulho que criticamos
e julgamos os outros. A humildade é mais consciente do próprio
fracasso e precisa da contínua graça de Deus.

Eu procuraria dar a minha família o lugar próprio. A ordem de


prioridade é Deus, família e trabalho. E isto inclui a família do
pregador. Se qualquer uma dessas prioridades sair desta ordem,
significa que os três relacionamentos sofrerão. Certamente há os
momentos em que, na experiência de qualquer um, a família deve
ficar no banco de trás. Porém, no melhor dos casos, minha família
104 SE EU COMEÇASSE MEU MINISTÉRIO D E NOVO

deve ter o mesmo direito em meu tempo do que os membros de


minha congregação têm. É de se esperar que minha família deva
ter uma parte especial em meu tempo, amor, atenção, paciência e
cuidado. É aqui também que preciso praticar aquilo que prego.
Que proveito haverá para mim em realizar um grande pastorado
e perder minha própria família? “Se alguém não sabe governar a
própria casa, como cuidará da igreja de Deus?” (1 Timóteo 3.5).

Eu procuraria aceitar os limites da minha humanidade. Eu


nunca seria capaz de fazer tudo o que precisa ser feito. Não posso
medir a necessidade de cada pessoa. Não posso estar no auge do
meu desempenho em cada reunião da junta, em cada sermão e
em cada reunião, e ainda ir ao encontro das necessidades que se
apresentam. Algumas coisas não poderão ser feitas.
Minha preocupação não deve ser minha fragilidade humana,
-e^sim evitar o espírito de preguiça, indiferença, negligência ou
postergação. Deus me ajudará na frouxidão de minha fragilidade,
mas devo desenvolver a disciplina da fidelidade e da diligência.

Eu me lembraria de que algumas das áreas da vida em que


tenho sido mais auxiliado como pessoa e como pastor foram
aquelas em que os leigos questionaram meu modo de pensar e
minha maneira de ser. Sem este desafio, esquecemo-nos de nossa
falibilidade. Dar atenção às dúvidas ou perguntas do leigo livra-
me, no final, de fazer o papel de Deus ou pontificar. Eu dedicaria
mais atenção aos humildes, porque Deus dá uma intuição e uma
sabedoria especial a tais indivíduos.
MAIS SABEDORIA 105

Se eu fosse um ministro de novo, faria tudo o que pudesse


para promover famílias fortemente centralizadas em Cristo,
iniciando com um cuidadoso programa de aconselhamento pré-
nupcial e contínua orientação aos recém-casados, jovens pais,
pessoas da meia-idade, idosos e solteiros. Em outras palavras, eu
procuraria prover contínua ajuda a toda a fam ília. Uma
congregação não pode ser mais espiritual do que suas famílias, e
se as famílias não estão sendo espirituais, toma-se difícil ouvir o
que Deus está dizendo em outras áreas da vida.

Eu procuraria lembrar-me de que qualquer grupo de líderes


precisa tanto do otimista como do pessimista. O Primeiro-Ministro
Lord Asquith disse: “É uma coisa excelente ter um otimista na
frente, contanto que haja um pessimista na retaguarda.” Jesus
tinha um Pedro que avançava rapidamente nas coisas e um Tomé
que questionava.
Os pastores precisam ser otimistas com esporas. Jamais conheci •
um pastor de sucesso que fosse um pessimista. No entanto, devcí
admitir, os pessimistas de minhas congregações eram uma
verdadeira irritação até que me dei conta de que tais pessoas muitas
vezes me livraram de uma ação prematura. Eu posso ter usado as
esporas, mas aqueles que seguravam as rédeas me fizeram pensar
uma segunda vez a respeito de uma idéia.
106 SE EU COMEÇASSE M EU MINISTÉRIO D E NOVO

Eu faria mais leituras. Nunca conheci um pastor ou professor


eficiente que não fosse também um grande amante de livros. Para
aqueles que ministram, deve haver uma constante leitura das
inexauríveis Escrituras. João Wesley insistia em que seus
J^-pregadores e assistentes fossem leitores. “Com firmeza consumam
7 toda a manhã nesta ocupação”, escreve ele, “ou pelo menos cinco
horas em vinte e quatro.”
Um historiador metodista atribui a Wesley a publicação de
371 trabalhos—isto de um pregador que viajava mais quilômetros
e pregava mais sermões do que qualquer outro homem jamais
fez.

Eu procuraria espalhar a alegria do Senhor. A palavra do


Evangelho é “Boas Novas” e ela proporciona “eterna esperança
e bom ânimo. A alegria do Senhor é a tua força”.
Os ministros vivem tanto tempo com os problemas das pessoas,
com câncer e ataques cardíacos, com alcoolismo e depressão,
nos funerais em casas e hospitais, que é possível começar a viver
na escuridão e na melancolia. Os ministros são atraídos pelas
pessoas aflitas.
Como a mensagem e a missão cristã não ousam encobrir ou
evitar a mágoa, o sofrimento e a melancolia, elas também não
ousam focalizá-los aqui. A luz de Cristo e a ressurreição penetram
a escuridão e trazem a gloriosa esperança e alegria a todos os que
colocam sua fé em Jesus Cristo.
NOTAS

1. William Nelson. Ministry Formationfor Effective Leadership (Abingdon,


1988), p. 23.
2. James N. McCutcheon. The Pastoral M inistry (Abingdon, 1978), p. 12.
3. David J. Bosch. A Spirituality o f the R oad (Herald Press, 1979), p. 13.
4. G. Byron Deshler. For Preachers Only (Zondervan, 1973), não paginado.
5. Dallas Willard. The Spirit o f the Disciplines (Harper & Row, 1988), p.
166.
6. Thomas R. Swears. The Approaching Sabbath (Abingdon, 1991), p. 86.
7. Suzanne Johnson. The Christian Spiritual Formation in the Church and
Classroom (Abingdon, 1991), p. 69.
8. Dwight L. Grubbs. Beginnings—Spiritual Formation forL eaders (Fair-
way Press), p. 56.
9. E. Stanley Jones. The Christ o f the Mount (Abingdon, 1931), pp. 13,14.
10. Eldon Trueblood. Signs ofH ope (Harper & Row, 1950), p. 122.
11. Henri Nouwen. Making Ali Things New (Harper & Row, 1981), pp. 79,80.
12. Cario Carretto. The God Who Comes (Orbis Books, 1974), pp. 183,184.
13. Elizabeth 0'Connor. Called to Commitment (Harper & Row, 1963), p.
94.
14. BillH ull. The D isciple-M akingPastor (Fleming H. Revell, 1988), p. 15.
15. E. Stanley Jones. H ow to Pray (Abingdon, 1943), p. 3.
16. Andrew Blackwood. The Voicefrom the Cross (Baker House, 1955), pp.
63,64.
17. Fred B. Craddock. Overhearing the Gospel (Abingdon, 1978), p. 39.
18. William A. Armstrong. Minister, Fleal Thyself(Pilgrim Press, 1985), pp.
21 , 22 .
19. Chaucer. The Canterbury Tales, “Prologue” (tr. H. C. Leonard).
Embarque numa viagem introspectiva através de dezesseis
verdades sempitemas que o ajudarão a revitalizar seu ministé­
rio. John M. Drescher oferece disciplinas espirituais que farão
com que seu ministério seja mais centralizado em Cristo e mais
capacitado pelo Espírito Santo.

O autor identifica erros do passado e, a partir daí, mostra como


renovar um ministério eficaz. Ao oferecer estas pérolas de sabe­
doria, o autor se dirige a todos os pastores que conhecem as
pressões diárias para refletir sobre seu relacionamento com sua
igreja e com o povo de Deus.

JOHN M. DRESCHER é um pastor menonita com mais de


quarenta anos de experiência. Ele é um Pregador radiofônico,
autor de Se Eu Começasse Minha Família d è Novo (Editora
Cristã Unida), Quando Seu Filho Tem Entre 6 e 12 Anos, As Sete
Necessidades Básicas da Criança (Editora Cristã Unida), entre
outras obras.

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