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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

BACHARELADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS


CIÊNCIA POLITICA II
RESENHA CRÍTICA

Aluno: Aurelano Estevam de Sousa Silva

LA BOÉTIE, Étienne De. Discurso Sobre a Servidão Voluntária. [S.l.]: L.C.C. Publicações
Eletrônicas, 2006.

Nessa obra o autor não tem como objetivo discutir se as outras formas de governo são
melhores que a monarquia, ele delimita-se esclarecer como tantos homens, tantas vilas, tantas
cidades e nações se submetem a um tirano que não tem poder para prejudicar a população,
que não seja o dado por ela própria concluindo é uma fraqueza humana se submeter a
servidão.
A submissão tratada pelo autor é diferente daquelas que são infligidas em povos que
foram dominados pela força, como ocorreu com Atenas, nesse caso devemos lamentar por ela
e esperar com paciência que o futuro traga dias mais felizes.
Essa submissão não pode ser chamada de covardia, pois a mesma só aconteceria em
menores escalas, neste caso onde são cidades e povos inteiros se submetendo a um único
tirano, que por seus atributos não devia inspirar medo. Para o autor, pensar em tal cenário,
onde inúmeras cidades têm sua liberdade tomada por um só indivíduo, mostraria como tal é
absurdo e que, se contado a outrem, dificilmente acreditariam, pois facilmente seria
considerado como invenção ou impostura.
Ele diz que, para sair do estado de servidão não seria necessário um ato de rebeldia ou
de oposição mas sim, simplesmente, recusar-se a servir. Então são os homens que se sujeitam
a servidão pois para obter a liberdade não seria necessário grandes ações de grande porte mas
somente recusar-se a servir.
Depois de ressaltar como se sustenta a relação entre servo e tirano, onde o povo, que
podendo escolher entre liberdade e servidão, escolhe a segunda e que a mesma só se sustenta
por consentimento daqueles. Com isso o autor passa a investigar de que maneira a servidão
voluntária se enraizou no homem a ponto dele não acreditar que a liberdade é o seu estado
natural.
Segundo o autor, se vivêssemos de acordo com a natureza e com seus ensinamentos,
seriamos naturalmente iguais. Para ele possuímos a razão em forma de uma semente
adormecida, e que, se cultivada da forma certa ela se apresentará em forma de virtude. Para
ele a natureza nos criou de forma igualitária, mas ao fazer a partilha das qualidades, deu a uns
mais que ou outros, de forma que, favorecendo uns e desfavorecendo outros, pretendia
alimentar o sentimento de irmandade e de interdependência. Dessa forma nenhum de nós
nasceríamos para a servidão.
Em um momento posterior, Boétie traz uma exemplificação através da observação do
mundo animal, onde constata a briga por busca de liberdade dos animais, onde ao serem
presos, ficam visivelmente abatidos, meio mortos e só continuam vivem na esperança de
serem libertos novamente, um elefante quebra seu marfim para não se verem preso e os
pássaros se debaterem nas gaiolas para se verem livres e nunca aceitam sua prisão. Busca essa
que parece não existir mais entre os homens, que os mesmos esqueceram de sua natureza e
assim perderam o desejo de liberdade.
Para o autor existem três tipos de tiranos: uns que chegam ao poder pela força das
armas, outros pela sucessão hereditária e outros chegam ao poder pela eleição do povo. E
mesmo essas sendo diversas, as formas de se manter o governo são sempre idênticas.
Objetivando a conservação da tirania procuram, por todos os meios possíveis, aumentar a
servidão fazendo com que os seus súditos esqueçam completamente o que é liberdade.
A primeira razão da servidão voluntária é o costume, pois os homens têm como naturais
as coisas a que estão acostumados e habituados pelo uso, é verdade que de inicio eles servem
pela força, mas as gerações seguintes que já nasceram escravos acreditam que sua condição é
natural, entretanto aqueles que provarão da liberdade dificilmente a esquece e conseguem
perceber o quando ela é importante. Além da razão inicial o autor acrescenta que, quando o
homem está submetido a tírania ,ele se torna fraco e efeminado, junto com sua liberdade,
perde completamente a valentia, E os tiranos sabendo, fazem de tudo para agravar a situação.
Eles, depois que estão no poder, oferece divertimento ao povo através de bordéis,
tabernas e jogos públicos, como fez Ciro, que, ao dominar a capital da Lídia, fundou bordéis e
criou leis que obrigavam os cidadãos a frequentá-los. Com isso os povos se divertiam com
tais passatempos, e assim ludibriados, habituavam-se a servir. O imperador nero que foi um
exemplo de maldade enquanto governava, ao morrer, deixou Roma praticamente de luto por
conta de seus festins e jogos
A partir dessas ações podemos fazer uma comparação com o mundo politico atual, onde
vários feriados, como o Dia da independência ou mesmo o carnaval, nos são bombardeados
de forma que, mesmo se o país estiver em crise o povo continuará quieto e conivente.
O autor conta que até mesmo os tiranos se espantavam com a forma como os homens podem
suportar um que lhes façam mau; utilizavam por isso o disfarce da religião, disso se servindo para
protegerem a má vida que levavam
após as conclusões anteriores, Boétie elucida, o que pra ele é o principal fundamento
para a manutenção da tirania: não são exércitos ou hordas de soldados, mas para ele são
sempre alguns poucos, principais aliados e companheiros na tirania, e seus beneficiários. A
partir daí monta-se uma teia social de tirania que engloba a todos os que são diretamente
beneficiados pela rapina do tirano. Entretanto, quanto mais próximo se está do tirano mais se
precisa abdicar sua liberdade para o servir, concluindo que mesmo o camponês é mais livre
que os que servem o tirano de perto.
O autor finaliza o texto demostrando como é deplorável a condição de alguém que vive
para agradar um amo que, a qualquer momento pode tirar-lhe a vida, de forma que não está
em condições de amar ou ser amado, nem muito menos se pode com ele estabelecer uma
relação próxima da amizade, pois para o autor não cabe amizade onde há crueldade,
deslealdade, e injustiça.
Essa obra, ainda que sendo do seculo XVI trata as relações de poder entre os homens de
forma bem atual, uma vez que alguns argumentos do autor são visiveis dentro da sociedade
contemporanea, como somos criados dependendo de um sistema, que mesmo com um lider,
temos ao seu lado toda uma hierarquia de rapinadores do sec XXI. Além disso, vemos, como
já dito, nas diversas festas anuais, a forma mais simples e eficaz de manipulação utilizada
pelos tiranos: o circo.

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