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Sabrina Oliveira Santos RA: 11201810232 Arlene Martinez Ricoldi

Relato do filme “O Sal da Terra”

Lançado em circunstâncias quase impossíveis e retratando uma situação real, “O Sal


Da Terra” é um filme de Hebert Biberman, lançado em 1954, que aborda as más condições de
trabalho e de vida de uma comunidade mineradora mexicano-americana. A produção trata, de
forma única, a integração de três movimentos históricos: as lutas por direitos trabalhistas, pela
igualdade racial e de gênero.
A história se passa no sul do Novo México. A personagem explica, com poucas
palavras, como que a sua vila, antes chamada San Marcos, foi renomeada pelos anglos e
passou a ser conhecida como Zinc Town. Essa é uma referência à empresa proprietária,
chamada Delaware Zinc Inc, que também é dona das casas em que os personagens vivem.
Esse discurso revela o vínculo entre o lugar e a identidade da comunidade que vive nas terras
conquistadas: A terra, antes pertencente ao avô do personagem Ramon, agora pertence à
companhia mineradora. Nas terras em que se criavam gados, agora são exploradas com
dinamite.
O filme começa com uma narrativa pessoal de Esperanza Quintero sobre o cotidiano
dos personagens: grávida de seu terceiro filho e casada com Ramon, um dos empregados da
mina, ela é responsável pelas tarefas domésticas, como cortar pedaços de lenha e levá-los ao
fogo, lavar as roupas e cuidar das crianças. O marido, por sua vez, acende fusíveis de
dinamite nos poços das minas. Aqui, é possível notar a discriminação com os trabalhadores
mexicano-americanos: eles são obrigados a trabalhar sozinhos, sem ajudantes ou códigos de
segurança, sendo assim, expostos a situações perigosas. Além disso, seus companheiros
enfrentam, diariamente, situações de preconceito e humilhação, uma vez que são tratados
como inferiores aos brancos. Ele está em um constante esforço, junto com seus colegas, para
que seus salários, condições de trabalho e padrões de segurança estejam em paridade com os
mineiros anglo-americanos, uma vez que estes têm casas com sistemas de abastecimento de
água e banheiros.
Ramon, um dos principais agitadores sindicais, conclui que a empresa só levaria a
sério as questões de segurança, remuneração e condições de vida ao realizar uma greve.
Contudo, preocupações básicas reivindicadas pelas mulheres dos mineiros – confinadas em
um mundo doméstico e destituídas de poder decisório, tanto em casa quanto na comunidade –
como água encanada e quente, saneamento básico e pequenos confortos, como o acesso a um
rádio, são ignoradas pelos homens ativistas. Essa situação acaba mudando de forma gradual
quando um mandado de segurança contra os grevistas e um limiar da Lei Taft-Hartley faz
com que as mulheres substituam os homens nas linhas de piquete, uma vez que eles não
poderiam continuar protestando contra seus empregadores.
O envolvimento das mulheres nas greves deixou os homens responsáveis pelos os
deveres do lar, e isso os levou a perceber as dificuldades que suas esposas enfrentavam com a
falta de saneamento. As figuras femininas, antes subestimadas e vistas como inferiores, se
tornaram as protagonistas da luta, enquanto seus maridos permaneciam destituídos de poder.
Ultrapassando e superando padrões até então comuns aos papéis de gênero, elas evoluem de
uma posição de subordinação para uma posição de igualdade, lutando por um objetivo em
comum.
Sabrina Oliveira Santos RA: 11201810232 Arlene Martinez Ricoldi

O filme mostra um cenário social das zonas mineradoras, em que há a minimização


dos preços das forças de trabalho na tentativa de maximizar a eficácia produtiva. De acordo
com o sociólogo francês Robert Castel, autor de “As metamorfoses da questão social”, esses
processos alimentam a vulnerabilidade social, em conjunto com a flexibilização, a
precarização e a ausência de vínculos trabalhistas, que obrigam os mineradores a lidarem com
situações de risco. Esse ambiente de condições instáveis leva um processo de desfiliação, ou
seja, o desmantelamento da sociedade salarial. É importante levar em consideração que a
cidadania, para o autor, é definida pela condição de trabalhador assalariado, sendo a
remuneração o ponto central da organização da sociedade e de sua coletividade.
Se, por um lado, a coletividade dos mineradores mexicano-americanos foi fragilizada
pela ausência do salário, por outro, a formação de sindicatos prolongou seus sensos de
identidade. Suas lutas puderam acarretar, por exemplo, a possibilidade de efetividade de
emprego, a negociação coletiva e a uniformização da condição jurídica.
Outro ponto a ser debatido pela película é a participação da mulher na comunidade
mineira e seu efeito nos diferentes campos da sociedade: para T.H. Marshall, escritor de
“Cidadania, Classe Social e Status”, a cidadania é dividida em três partes: civil, política e
social. Aplicando essa divisão para analisar o filme, é possível perceber que, em meio a
problemas na força de trabalho masculina – que afetou o abastecimento de todos os membros
da família –, o auxílio das esposas deixou de ser vista com desdém paternalista e assumiu uma
questão de poder nas questões sindicais, procurando garantir os direitos legais e desenvolver
os direitos políticos.
Em conclusão, o filme discute como as brutais desigualdades, tanto sociais quanto
raciais e de gênero, fizeram com que os personagens – atuados em sua maior parte por
pessoas que realmente viveram essas situações – discutissem formas de participação política e
de emancipações sociais, contribuindo para desnaturalizar as diversas opressões às quais esses
grupos estiveram, durante anos, submetidos. A luta individual pelo fim da brutal desigualdade
se torna coletiva, em prol da melhora nas condições de vida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BIBERMAN, H., Salt of the Earth: the story of a film. Harbor Eletronic Publishng, New
York, 2003.
CASTEL, Robert. As metamorfoses da questão social - uma crônica do salário. Petrópolis,
Vozes, 2003. p. 415-436.
MARSHALL, T. H. Cidadania e classe social. In: Cidadania, classe social e status. Rio de
Janeiro, Zahar, 1967, p. 63-87.

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