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A Percepc A o Sonora Do Espectador PDF
A Percepc A o Sonora Do Espectador PDF
Niterói
2016
KAREN SUZANE SILVA
Orientador:
Prof. Dr. Fernando Morais da Costa
Niterói
2016
KAREN SUZANE SILVA
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________
Prof. Dr. Fernando Morais da Costa - UFF
_____________________________________________
Profª. Drª. – Elianne Ivo Barroso - UFF
_____________________________________________
Prof. Dr. Antônio Carlos Amâncio - UFF
Niterói
2016
“A coisa da arte é aí identificada como a identidade, numa forma
sensível do pensamento e do não pensamento, da atividade de
uma vontade que quer realizar sua ideia e de uma não
intencionalidade, de uma passividade radical do ser aí sensível”
Jaques Ranciére
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, por viabilizarem meus estudos de cinema no Rio de
Janeiro, sem eles eu não teria a menor condição de estudar e desenvolver esse
projeto. Em particular minha mãe que leu meus textos e me deu apoio para
continuar a pesquisa.
This work has the objective of investigating a sound perception of a field of research
with 60 interviewees, evaluating the objects that the sounders identified in the short
film. Next floor, do the director Denis Villeneuve. It is divided into three distinct
chapters, the first step about a brief contextualization about the process of direct
sound capture and the role of the sound technician in Brazilian cinema. The second
describes the concepts of sound perception, which are directly linked to a subjectivity
of the subject. One concludes that an image becomes an almost invisible sound
perception in front of the events imposed on the screen and that the sound is little
perceived by itself. It is present, but not easily recognized, by the viewer.
INTRODUÇÃO .................................................................................... 9
1 O SOM DIRETO ................................................................................ 11
2 A PERCEPÇÃO SONORA ................................................................ 20
3 METODOLOGIA E ANALISE ............................................................. 30
CONCLUSÃO ................................................................................... 39
REFERÊNCIAS ................................................................................... 41
INTRODUÇÃO
O presente estudo traz uma visão geral sobre o som direto, a percepção
sonora e uma análise metodológica sobre a percepção sonora do espectador,
esses três temas estão diretamente ligados, quando se trata do que nós
estamos percebendo de sons, quando entramos em contato com uma obra
audiovisual.
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A percepção sonora por sua vez, ainda vem sendo explorada dentre os
campos teóricos do cinema, Carvalho (2009) e Flores (2013) foram minhas
principais fontes para tais conceitos que esboço aqui, o conceito de percepção
sonora foi discutido, tanto na área biológica, tanto na área reflexiva, e sua
correlação com as obras audiovisuais.
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1. SOM DIRETO
É interessante notar que o som direto por sua vez, torna-se capaz de
traduzir ao espectador os elementos sonoros da imagem em questão, partindo
de uma ideia de captação direta e direcionada ao som desejado. Godoy aponta
que o áudio gravado pelo som direto deve conter: um registro de voz
claramente inteligível; um plano sonoro verossímil à imagem correspondente;
continuidade de timbre e adequação com o espaço fílmico representado e por
fim forneça os elementos imprescindíveis para a edição de som, com os
ambientes próprios das locações, com os planos sonoros de cobertura e com
os ruídos de características especiais.
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mais uma veracidade em suas imagens, e com o som direto isso era totalmente
possível.
Hernani Heffner (2012, p.668) observa que até o inicio dos anos 80, os
filmes brasileiros eram praticamente todos dublados. O uso do som direto era
raro. Câmara (2015) explica que o atraso tecnológico ia da captação, mesmo já
se tendo Nagras disponíveis para tal, porém faltavam bons microfones
condensadores e a tecnologia de microfones sem fio ainda engatinhava,
passando pela transcrição do material gravado, quando se utilizava o
magnético usado para fazer essa transcrição, até a reprodução do som nos
cinemas que no geral era de péssima qualidade.
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Os laboratórios do Brasil também não colaboravam com o a qualidade
do som, geralmente eram distribuídas péssimas cópias, devido aos maus
procedimentos com a película, as produtoras geralmente procuravam
laboratórios nos estados unidos para uma melhor qualidade sonora:
É importante notar que, o som não era considerado como uma parte da
obra audiovisual, segundo Hernani Heffner e Ney Carrasco (2012) os cineastas
ainda não concebiam, o som, com um potencial poético imenso, indispensável
para a articulação narrativa do filme. Era uma parte essencial, mas que
pertencia à imagem, apenas um submisso a imagem, que não obtinha um
valor, um símbolo, dentro da narrativa.
Virginia Flores (2008) em um de seus artigos deixa bem claro que muitos
diretores e produtores escapavam da escolha de gravar som direto, pois tinham
dificuldades em saber trabalhar com o técnico de som no set de filmagem e
vice-versa. Havia uma demora e um grande numero de takes gravados, pois
nem sempre a cena era considerada boa quando o som estava sendo gravado
direto. Existia a questão de como dirigir os atores em voz alta durante as
cenas, sabendo que o som estava sendo captado. Todas essas considerações
ressaltadas por Virginia sinalizam que o som, como elemento que agrega valor
estético ao audiovisual, ainda não era apreciado e encarado como tal, no
cinema brasileiro.
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Em contrapartida Hernani e Ney explicam que, o cinema da década de
80, apresentava uma nova obsessão: a ambiência sonora e a necessidade de
abrir mais canais sonoros, para uma única cena, tornando o trabalho do som
demorado e meticuloso, assim a captação sonora seria algo tão importante
quanto os outros elementos necessários à produção fílmica. Essa sofisticação
se associaria, a uma lenta incorporação das tecnologias de redução de ruídos
e espacialização, representada pelos equipamentos Dolby Stereo, tanto na
produção quanto na exibição.
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Em entrevista a Marcio Câmara, Heron Alencar explica que havia
poucas oportunidades de trocas de informações entre os técnicos, ou seja, o
técnico de som só iria conhecer o resultado das suas decisões, da melhor
maneira de captar som direto, ouvindo e vendo esse filme projetado numa tela
grande.
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Em contrapartida Virginia Flores (2008) explicita:
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tratadas em sua estrutura relacional, sendo possível se esperar que novos
papéis sejam proporcionados ao som nessa escritura, sejam de ordem
linguística sejam de ordem material, pois o refinamento da resolução sonora foi
acompanhado, de mudanças na estética cinematográfica. O uso sem
preconceito de sons sincronizados, e uma maior possibilidade do trabalho no
sentido plástico da materialidade dos sons, de fato, o som mono ótico dos anos
1940 mal permitia, que se diferenciasse o som de um aplauso, do som de uma
chuva, o recurso era usar o som sempre ligado a uma imagem, àquela que se
queria como significado do som.
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daquilo que não é reflexivo, ou seja, a imagem indica todo o contexto, é nesse
momento que o som entra como um limitador de sentidos, religando-o sempre
a um único tipo de escuta, a causal.
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não precisa ser superior ao som e sim entrar em um estado de equilíbrio para
que toda a atmosfera artística seja concretizada.
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2 - A PERCEPÇÃO SONORA
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Em seu livro Schafer (2011), explica que os limites da audição humana
fazem-se tanto pelo audível, quanto pelo suportável. O ouvido humano é capaz
de captar ondas sonoras numa escala de 20 até 20.000 Hertz (Hz) e numa
amplitude aproximadamente entre 0 e 130 decibéis (dB), portanto passando
desses níveis, se caso a amplitude for acima de 130 dB o individuo sentirá dor,
podendo perder até audição, ou se um infrassom com uma frequência inferior a
20 Hz for emitido, junta-se com o sentido do tato, tornando-se em vibrações
não percebidas pelo ouvido, mas pelo corpo, provocando náuseas e
perturbações intestinais.
Contudo Carvalho (2009) deixa bem claro que não há uma regularidade
nem no espaço auditivo, nem nos sistemas de audição, essas relações podem
ser alteradas de acordo com cada ser humano, proporcionando inúmeras
relações possíveis, ou seja, a complexidade de percepção auditiva acontece
em diferentes níveis, de acordo com as capacidades do aparelho sonoro -
motor.
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Wisnik (1989) explica que de 8 a 13 Hz há o ritmo alfa, uma frequência
cerebral que determina o alcance de nossa percepção, funciona como uma
onda portadora de ondas, uma espécie de fundo condutor. Está relacionada a
uma atenção total ou superficial ao nosso primeiro estágio perceptivo, antes
mesmo do indivíduo se concentrar efetivamente em algum estímulo, está
relacionado com a sensação de tempo através das relações com o ambiente
em que se vive, determinando assim o que seria perceptível e imperceptível
para cada um de nós.
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incomum para qual se deve atentar durante sua projeção. No entanto, quando
se faz o corte do primeiro para o segundo plano, e, com ele, a sonorização é
normalizada, os espectadores comuns são levados a ignorar essa percepção
inicial sem perceber que ela teria sido inserida ali não por acaso.
Em sua tese, Flores (2013) deixa claro que é comum pensar o espaço
sonoro sendo construído apenas pelos dados visuais e não sendo
considerados os dados sonoros, salvo a título de informações complementares.
A noção de campo sonoro nasce com o cinema clássico, em que a imagem é
centro, e o som, seu subordinado, o espaço representado por qualquer filme é
imaginário e compete ao espectador construir à medida que a representação
se desenvolve.
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percepção auditiva, no dia-a-dia, o indivíduo tende a selecionar os sinais dentre
os sons fundamentais que o cerca, que lhe interessa.
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deva corresponder com precisão a tudo o que é visto, a sonorização pode
extrapolar os limites do quadro, porém as informações sonoras devem
corresponder ao universo imagético.
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Dentro da construção narrativa cinematográfica, Carvalho (2009) aponta
seis atitudes de escuta: a escuta causal que é a mais natural, permite situar o
indivíduo ao espaço sonoro e suas qualidades constitutivas; a escuta
semântica é a que se refere a um código, a uma língua, para interpretar uma
mensagem, significar os sons para que se estabeleça uma comunicação; a
escuta reduzida que prioriza os sons ouvidos, sem se ater à sua causa ou
sentido, colocando o som como objeto de observação, uma escuta consciente,
analise minuciosa de cada objeto sonoro; a escuta equiparada parte do
princípio da inexistência de um foco sonoro, quando a importância perceptiva
conferida a todos os sons que nos rodeiam é homogênea, só acontece quando
os sons percebidos pelo indivíduo já passaram pela escuta causal e semântica;
a escuta surda é uma percepção seletiva do mundo, ocorre de acordo com as
nossas escolhas, expectativas e capacidades de compreensão, o foco está na
ausência de uma sonoridade, na escolha de uma não percepção auditiva; e por
fim a escuta convergente que está diretamente ligada às escolhas do indivíduo,
numa percepção seletiva dos sons com um foco sonoro que esteja relacionado
a uma percepção diferenciadas dos sons ou a uma sensação interna do
personagem.
Flores (2013) usa o termo “significante puro” para explicar que quanto
mais separado estiver o som de sua origem (causa visual), mais ele estará
ocupando o espaço acústico da sala de projeção, pois esse é o lugar em que o
significativo se manifesta. Portanto, o esforço para classificar as ocorrências
acústicas e formalizar seu uso tende a limitar a faculdade de dispersão e de
transgressão das fronteiras espaciais do som, bem como a negar sua natureza
evanescente que constitui sua condição natural.
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As múltiplas sensações provocadas nos espectadores comuns,
ao confrontarem imagens e sons com suas lembranças mais
íntimas, podem despertar intenções das mais diferenciadas
possíveis, o que influencia e impulsiona uma relação tanto
afetuosa quanto crítica. Desta forma, enquanto uns podem se
sentir atraídos por determinadas narrativas, outros correm o
risco de não se agradar e não saber explicar o porquê, nem
mesmo ter condições de atribuir a este ou aquele fator o seu
descontentamento, pois apenas sentem que algo não se
encaixou, ou não respondeu às suas expectativas. (CARVALHO,
2009, P. 120)
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deve aproveitar dessas ambiências para caracterizar certos projetos que tem
como princípio expor uma determinada sociedade. Facilitando assim o
espectador de perceber como seria, ou como é a vida dentro desses lugares.
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excesso de barulho. Cria se então uma percepção centralizada apenas no
campo de visão do indivíduo e não para além dele.
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3. METODOLOGIA E ANÁLISE
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emocional do espectador, levando-o a se sentir alegre, triste, apreensivo,
excitado, sem lhe conferir uma atenção minuciosa.
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se os músicos, que geram uma espécie de música clássica para os
personagens sentados a mesa.
Primeiro
personagem Músicos
Pessoas do banquete
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Os planos detalhes também ajudam muito para esse entendimento. O
curta é repetitivo, os personagens comem e despencam para o próximo andar,
os garçons e músicos tem que correr para acompanha-los. Os garçons descem
tantos andares que quando a mesa cai, mas param no andar de cima, eles já
estão esperando no próximo andar, e ali mesmo, no andar de cima a câmera
aponta para os destroços. Logo em seguida os tambores começam a tocar, os
personagens se encontram cheios de poeira e se defrontando uns com os
outros, até que eles começam a comer desesperadamente, mesmo com toda a
sujeira e destroços causados pelas quedas.
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60
50
ENTREVISTADOS
40
30
20
10
0
talheres musica vozes Mastigação madeira tambores siêncio
percepções 50 32 29 27 18 14 3
SONS PERCEBIDOS
De acordo com o gráfico o som mais percebido foi o dos talheres, isso
evidência que esse ruído está diretamente ligado ao dia a dia dos
entrevistados. É um som diegético com uma amplitude superior a todos os
outros sons no inicio do curta, portanto além de visualizarmos os personagens
em uma mesa comendo, ainda temos o som muito marcante do garfo, da faca
batendo nos pratos, perfurando a carne.
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mesma geração, possuem percepções com grandes distinções, devidas suas
experiências de vida, conhecimentos adquiridos e entre outros.
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memória foi ativada e começou a comparar aquela experiência audiovisual
momentânea a uma experiência de vida.
Não só o som tem suas definições assim como Flores (2013) explica os
seres que entram em contato com eles também possuem algumas definições
subjetivas que cruzam com a realidade imposta no momento em que estão
sujeitos a uma obra audiovisual. Carvalho (2009) também ressalta esse tipo de
comportamento, dizendo que a partir da experiência subjetiva do individuo ele
percebe determinados sons mais do que outros.
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Percepção Sonora - Curta Next Flor
Quantidade de sons ouvidos Quantidade de pessoas
25 26
22 23
20
15 16
13 12 13
9 10
6 77 8 6
44 54 5 4
22 31 3 3 2 1 1 1 1 1 1
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
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presente, porém não é facilmente reconhecido. A imagem por sua vez, torna a
percepção sonora quase invisível diante dos acontecimentos impostos na tela.
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CONCLUSÃO
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qual ela se ressente em não possuir, há uma necessidade de se estabelecer
um valor equiparável entre ambos, num reconhecimento fiel de suas
qualidades.
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REFERÊNCIAS
COSTA, Fernando Morais da. "O Som no Cinema Brasileiro". Rio de Janeiro. 7
Letras, 2008.
CHION, Michel. "A audiovisão: som e imagem no cinema". Lisboa. Texto &
Grafia, 2011.
FLÔRES, Virginia Osorio. “Além dos limites do quadro: o som a partir do cinema
moderno.” Campinas, 2013.
FLÔRES, Virginia. "O cinema: uma arte sonora". Annablume. São Paulo,
2013.
SCHAFER, R.Murray. “Ouvido pensante.” Editora Unesp – São Paulo: 2°ed. 1986
WISNIK, José Miguel. “O Som e o sentido: uma outra história das músicas.”
Companhia das letras, São Paulo , 1989.