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TEXTO A

Charles Darwin1 vai ao teatro


Animais e outras espécies, ciência e história. Tudo isto vai estar no palco do
Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, com a peça A Origem das Espécies, de Carla
Maciel, Crista Alfaiate, Marco Paiva e Paula Diogo.
O espetáculo, de uma hora, baseia-se não só no livro A Origem das Espécies,
mas também em A Viagem do Beagle, obra em que o cientista inglês Darwin reúne os
diários escritos durante os cinco anos a bordo do navio que o levou a conhecer o
mundo e a elaborar as suas teorias sobre a seleção natural.
A peça de teatro divide-se em duas partes. Na primeira parte, sem texto,
destacam-se os efeitos visuais (jogos de luz e projeções) e os efeitos sonoros (sons
de trovoada ou de chuva), fazendo lembrar as sensações de Darwin ao descobrir
animais que ele nunca pensara que existissem, em lugares tão diferentes e distantes
como a Patagónia ou as ilhas Galápagos.
A seguir, entra-se no laboratório de quatro cientistas que discutem as teorias de
Darwin. Nesta segunda parte, fala-se da vida – sobretudo da juventude – de Charles
Darwin, o rapaz para quem «o prazer de observar era superior a tudo». Os atores
interpretam o papel de cientistas que discutem a origem e a evolução dos animais, e
como as espécies – incluindo o homem – se adaptam aos locais onde vivem.
A ideia do espetáculo surgiu há um ano, após Carla Maciel ter visto a série
Cosmos, de Carl Sagan. O objetivo dos atores é apresentar o lado humano de Darwin,
mais do que dar uma aula sobre a teoria da origem das espécies. Estes pretendem
estimular a curiosidade dos mais novos sobre o assunto e incentivá-los a não
deixarem de se questionar.
De quarta a sexta-feira, às 11h00, a Sala Garrett recebe escolas do ensino
básico. Ao fim de semana, às 16h00 (e às 11h00, nos dias feriados), são bem-vindas
famílias com crianças a partir dos seis anos. Os preços para o público em geral variam
entre os 5 e os 17 euros. Para os grupos escolares, o bilhete dá direito a visitar duas
exposições no Museu de História Natural e da Ciência: A Aventura da Terra e
Francisco Arruda Furtado, Discípulo de Darwin.
Adriana Dias, «Charles Darwin Vai ao Teatro – e Leva o Público com ele no seu Beagle», in
Público, n.º 9720, 26 de novembro de 2016, p. 34 (texto adaptado)

NOTA 1 Charles Darwin – cientista que viveu entre 1809 e 1882 e que se dedicou ao estudo da
História Natural.
Texto B

OS PIRATAS
Ana (Entrando) – Estás melhor?
Manuel – Estou, muito obrigado.
Mãe – Ainda tem um bocadinho de febre… Mas segunda-feira já vai à escola
outra vez. (Pausa:) E a senhora? Está melhor?
Ana (Para a Mãe) – Lady Elisabeth? Não, está cada vez mais fraca… Ficou a
dormir no hotel…
Mãe – Coitadinha… O que ela está a sofrer… (Mudando de tom:) E a Ana? Já
lanchou?… Vou buscar-lhe um bocadinho de torta de laranja…
(Dirige-se para a porta).
Ana – Não se incomode, obrigada…
A Mãe sai.
Ana e Manuel ficam sós.
Ana sorri.
A Mãe regressa com dois pratos com torta. Entrega um à Ana e outro ao
Manuel.
Mãe – Toma, Manuel, está muito boa.
Manuel – Não quero, mãe, obrigado.
Mãe – Vá lá, só para fazeres companhia à Ana.
Ana senta-se na cama, segurando o seu prato.
Manuel soergue-se, com o prato sobre o travesseiro.
Mãe (Saindo de novo) – Agora fiquem os dois um bocadinho a conversar que eu
vou lá dentro e já venho…
A Mãe sai.
Ana fica um momento em silêncio e depois volta-se para Manuel.
Ana – Lady Elisabeth está muito mal, não digas nada à tua mãe. Não quer ir-se
embora, nem sequer abre as cartas que recebe de Inglaterra… Nem fecha as janelas,
nem apaga a luz, nem de noite, sempre a olhar para o mar. (Pausa:) O que mais me
aflige é que não chora… Está convencida que, se chorar, Robert morre…
Manuel olha-a sem dizer nada.
Afasta o prato e torna a meter-se sob os lençóis.
Ana – Teve um sonho, sabes? Viu Robert apanhado por piratas e levado no barco
deles pelo mar fora, para muito longe… Está convencida de que os piratas hão de
voltar à ilha e que, então, tornará a encontrá-lo… (Pausa:) Passa os dias fechada no
quarto, a tentar dormir e sonhar o mesmo sonho, para ver Robert outra vez.
Manuel (Surpreso e assustado) – Um barco de piratas? Robert?…
Ana – Sim. Pediu-me que te contasse o sonho dela. Não quer que mais ninguém
o saiba, não digas nada à tua mãe, não? Nem ao capelão que a confessa ela o
contou.
Manuel – A mim? Porquê a mim?
Ana – Não sei. Gosta muito de ti! É estranho, mal te conhece… Mas és a única
pessoa da ilha de quem ela gosta.
A Mãe abre a porta e entra novamente.
Mãe (Para Ana) – Então a torta? Estava boa? (Para Manuel, reparando que ele
mal tocara no doce:) Oh, Manuel, não comeste nada… Uma torta de laranja tão boa…
Ana põe-se de pé.
Ana – Tenho que me ir embora… Lady Elisabeth pode precisar de mim…
Mãe (Para Ana) – Já? (Pegando-lhe na mão:) Tem razão, Ana, vá, vá… Ela
precisa de companhia, coitadinha.
Ana (Para Manuel:) – Até amanhã. Vê se ficas bom, sim?
Mãe – Até amanhã, Ana. Eu amanhã faço um bolo para levar à senhora…
Saem as duas. Manuel fica de novo só. Vira-se de lado e cobre a cabeça
com os cobertores. Extinguem-se as luzes.
Manuel António Pina, Os piratas – Teatro, 1.ª edição,
Porto Editora, Porto, 2016, págs. 72-78.

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