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Uma Nuvem de CALÇAS, MAIAKOVSKI PDF
Uma Nuvem de CALÇAS, MAIAKOVSKI PDF
W. Maiakovski.
1
(Prólogo):
VOSSO PENSAR,
meditabundo no miolo mole,
igual a um lacaio gordo largado no imundo estofado
irei fustigar, com farrapos de coração ensangüentado,
até fartar cascando o bico descarado.
Miguchos,
o amor ao violino vós deitais
os brutos o deitam no bumbo.
Não podeis desrosquear igual eu faço
ininterruptos lábios serdes, nada mais?
Vinde aprender,
das salas de visita sintas-liga
e da liga angelical condecoradas funcionárias,
Quereis –
e serei carne rábica
– e, igual o céu, nuançando de tons –
Quereis –
e serei de impecável meiguice,
não homem, mas – uma nuvem de calças!
2
Não dou crédito a que haja a florida Nice!
Comigo de novo tamburibularão
os homens, largados, como macas de hospitais
e mulheres, gastadas, como palavras proverbiais.
1.
VÓS PENSAIS
que isto é um delírio de malária?
Isto foi,
foi em Odessa.
Oito.
Nove.
Dez.
3
E eis – imenso,
corcovado na fenestra
o vidro fundo com a testa.
Será amor ou não? Eu penso:
e qual – grande? minúsculo?
Maldita!
Então não basta disto tudo?
Logo a boca soltará um grito.
4
Escuto:
como, da cama, o doente,
um nervo que salta, silente.
E eis –
deu, bambo, de andar
e logo, bam bam bam, de acelerar.
Enervado, contável
já um terço deles sem conter-se
arrasta em celerado tchá tchá tchá.
Grandes,
pequenos, pelo menos
cem!
É a rábia – bamboleiam e, a seguir
bambeiam os braços também.
Lembras?
Dizias assim –
« Jack London, grana,
amor e paixão » –
e eu, que só via a ti, Gioconda
a qual se podia furtar
E furtaram então.
5
Mais uma vez malabarista neste jogo
arder na labareda enamorado.
E daí? Eu acostumo:
foi a casa consumida pelo fogo
e há desabrigados vagabundos
os quais nela têm morado!
Ei, senhores!
Diletantes – do delito,
amadores – dos tumultos,
amantes – violando túmulos sagrados,
vós já vistes algo tão aterrador
quanto
o rosto meu
quando
eu
estando
absolutamente sossegado?
E sinto – « mim »
que já não basta – bestas minhas
que se alastram.
Quem liga? ... Alô??
Mãma?
Mãma!
Teu filho está super doente!
Mãma!
Ele tem, no coração, um incêndio!
Diga às manas, Liúdia e Olga:
já não tenho onde meter-me.
6
Cada palavra, até a lorota,
pula (do puteiro, que está pelando
a toda pelada puta)
pela boca crepitante que a enxota.
Mamãe!
Cantar não posso.
Na igrejinha do coração
todo um coral faz música.
7
Figuras centelhas de números e nomes
do crânio
como, do arranha-céus que fulgura,
toda a prole
que cai.
Assim o medo
de agarrar-se ao céu
vai a pino, quando
do « Lusitânia » em brasas
os braços se levantam.
Para a gente que treme
à parte, no silêncio dos apês,
já uma clarão de olhos cêntuplos explode
do cais.
Grito último, -
tu, pelo menos, vai dizer
que eu ardo é pelo século dos levantes!
2.
GLORIFICAI-ME!
Não sirvo de par nem para os grandes.
Eu estaco o meu « nihil »
sobre tudo já feito antes
de mim.
Chegou o poeta
e, à guisa da boca de favas aberta
já logo se põe a cantar
inspirado simplório.
8
Ah, faz o favor! Descoberta:
antes que logo se punha a cantar
os punhos torcia, longamente
andando pra lá e pra cá
e já não pode respirar
no entupido coração de lodo
da imaginação o estúpido peixe-beta!
O nada a nadar, enquanto vervem
de todo guisado
quaisquer rouxinóis e donzelas...
vemver: que a rua murmura, analfabeta –
não há que conversar ou levantar a voz a ela.
Era a cidade
interditando a estrada em suas trevas...
9
E a rua, lá debaixo, igual o crocodilo
escancarado para a janta,
disse: « É hora de encher a barriga! »
Os poetas, desfalecidos
ensopados de pranto e soluço
escapulem da rua
desalinhando o penteado:
« Como, usando deste duo,
cantaremos
as señorinhas
o amor
e as florezinhas ao sereno? »
10
Vós, estirpe de sadios,
com passadas espaçadas,
já não tendes de escutar, mas extirpar o mal –
os malas, carrapatos de suplementos gratuítos
agarrados a todas as camas de casal!
Eu,
Crisostomíssimo,
de cuja cada palavra
re(cém-)nasce a alma
dizendo ao corpo: « aceito! »
digo-vos:
o átomo mais ínfimo de vida
mais vale
do que tudo o que eu já tenha feito!
Escutai!
Está a pregar
raios emana dentre os dentes
o Zaratustra dos dias atuais!
Vós
da cidade-leprosário dependentes
de ouro e lama, ataduras e ais;
11
Vós
De faces, dependuradas, como lençóis
de lábios, dependurados, como lustres
Vós, mais límpidos e ilustres
que o azul, depois, veneziano
de lavado por cem-sóis, cem-oceanos, Sois!
Viram o cão
como lambe a mão que o socou?!
12
Ridente da raça de hoje,
igual fosse comprida,
escabrosa anedota,
eu, sobre a montanha, já vejo
os dias vindouros que não vês;
onde o rabo de olho da gente se enrosca
na crista onda das hordas dos esfomeados,
a coroa de espinhos que traga
a revolução dos anos dezesseis.
Eu sou – convosco.
Eu, seu precursor, convoco-vos.
Estou em qualquer canto aonde doa.
Na cruz eu me coloco
se a lágrima queda da bilha.
Nunca mais a coisa alguma se perdoe.
Eu passo a foice nas almas
aonde brotou o milharal da ternura.
E esse passo
é mais difícil que tomar
milhares de bastilhas!
13
3
AI!
Para que isso?
De onde isso?
Para o clarão alegremente
os punhos sujos agitá-los!
Surgiu,
e mutila o pensamento a idéia
do, de loucos, internato.
E–
como, quando afunda o couraçado,
à escotilha aberta
as almas se atiram eletrocutas –
sobre eles, eclodindo o olho no gogó,
galgou, enlouquecido, Burliúk.
Quase estatelou
a jugular dos séculos
pisando-os na nuca contra o chão;
escalou,
levantou
foi
se bem que gordo, imprevistamente terno
ele pegou e disse:
« Isso é bom! »
Vós,
do pensamento bento, só pensais:
« É de gala, nesta valsa, este passo? »
Arre! Vede como, galinhão, eu me divirto –
sem virtude, e virtuose cafetão
nas cartas que trapaço!
Inverossimilmente trajado,
viajando pelo mundo
pra agradar farei verão.
E, adiante, como a um poodle
em rédias curtas guiarei Napoleão.
E alguém
embrenhando o braço pela bruma
faz menção para o café –
É suave igual a pluma
terno igual a mulher
qual um fuzil engatilhado.
Vós pensais
que isto é um gentil raio ensolarado
a puxar a alça da xícara de café?
É, de novo, a metralhar os sublevados
o general Galifet!
16
De sangue ressacadas, declarai
segunda e terça-feiras, feriados!
No corte da facada, a terra inteira
se recorde de quem ela quis ver rebaixados.
Xinguei,
abri a matraca
carquei a faca
subi atrás de alguém morder
o músculo do ombro inimigo.
Olhai –
o céu, outra vez, tramando a morte
como Judas, que trai
estrelas trazendo
na concha das mãos!
Ela chegou, como Mamai
sentando a bunda
sobre a populenta imensidão:
esta noite, negra como Azef
olho algum agüenta olhá-la.
17
Num canto de taberna me encolho,
em aguardente a alma debulhando e a toalha,
e vejo:
Do canto, olhos envoltos num manto,
coração adentro, Santa Maria dardeja.
Eu, talvez,
meio o amálgama humano,
o rosto meu cobrindo esteja.
E eu, talvez,
de todos filhos teus,
o mais bendito seja.
A eles,
estragados pelo prazer,
dai, de pronto, a hora grave,
para que as crianças,
quando estiverem prontas,
venham a ser,
os garotos – pais,
as garotas – grávidas.
Maria, veja:
já surge em mim a corcova!
19
Eis, carpideira da calçada
a chuva, Ave!
Larápia lacônica, ela lambe
oprimido como um paralelepípedo
das ruas
o cadáver.
E, dos sobrolhos grisalhos –
sim – como geleiras,
lágrimas dos olhos
sim – dos olhos paralapsos
dos encanamentos com goteiras!
Maria, me diga:
como, nesta orelha gordurenta, enfiaremos
uma palavra gentil?
A avezinha
desfiando canções, mendiga
beberando pio-pios –
reclamações de fome;
e eu, Maria, um homem
que não presta
escarro da estrela tuberculosa
na concha das mãos
da via Présnia.
Na rua
o mato alto segue a lei do « matarás »
e, no pescoço, o vulto dos dedos
da dileta companhia.
Maria, dói!
Deixou, já entro!
Meu tesouro!
Não te assustes,
em minha nuca de touro,
a cordilheira chuvosa
de mulheres que se sentam –
Isto pela vida se armazena:
milhões de grandes companhias
puras, limpas, como a sua
e, milhões vezes milhões, de pequenas...
companheiras
que suam.
Não te assustes
que, outra vez, na intempérie da traição
eu tenha, nos rostos
dessas lindas meninas,
meu consolo: « Amantes de Maiakovski ».
Esta série, no coração deste louco,
é uma dinastia – entronadas tzarinas
em estoque.
Maria, sói!
21
Dá-me o sésamo dos lábios
seja de tesão despido
ou de terror, o arrepio.
É que meu coração
jamais chegou a maio
mas, a vida vivida,
um só centésimo abril.
Maria!
O poeta pia
supersticiosamente
seus sonetos a Tiana.
E eu,
como os cristãos conjugam
“dai-nos hoje
o pão de cada dia”,
cônjuge supérstite,
inteiro carne humana.
Maria, dai!
Maria!
Receio esquecer o nome teu
como o poeta receia
esquecer de Deus na santa ceia!
Maria, sai!
O corpo teu
vou amá-lo
e cuidá-lo tão bem
quanto um soldado
mutilado da guerra,
inútil,
sem ninguém,
cuida
de sua única perna!
22
Maria!
Não queres?
Sim?
Não queres!
Dançai
os anos da minha carne
para o fim
e, para a casa de meu pai
pelas varizes
são milhares de caminhos carme
sins.
Que eu deslize
enlameado (de pernoitar na fossa)
e, lado a lado, possa
lhe dizer ao pé do ouvido:
23
- Senhor Deus, ouve:
não te estafas no céu
nesse pudim de nuvens
descansando
teu olhar dominical?
Construamos um carrossel
na árvore
do conhecimento do bem e do mal.
Queres?
Não queres?
24
Todo-poderoso, déste
a cada um
uma cabeça sobre o torso
e inventaste o par de mãos;
tu désses que pudéssemos
beijar, a outro par, sem a dor
da paixão!
Seguro?
Não me seguram!
Certo
ou errado,
eu não posso sossegar.
Vem ver só – outra vez,
no céu, ensangüentado igual um açougue,
as estrelas se decapta.
Ei vocês!
Céu!
Tira o chapéu
que estou adentrando!
25
Não me ouve.
Dorme o universo
e a orelha enorme
cheia de carrapatos de estrela
encostada sobre a pata.
1914/1915.
Notas:
26
Advertência:
Um dado da minha biografia vou citar, não por vaidade de tradutor, e sim
advertindo estas traduções, sobre de onde as estou advertendo. Muitos, neste
mundo, perdem as mães; poucos perdem a língua materna. Se poesia foi por
não saber língua nenhuma, crescer fazendo testes e gerando textos... As
traduções não necessitam ser atestados de experiência na outra língua; sejam
testes, experimentos desta “minha”. Admitindo toda a deficiência, faço-me apto
à admissão do emprego. Além da minha, não sei falar a língua de
Maiakovski... (faço o melhor que posso...). Depois das primeiras notas de
rodapé, apresentadas em estrofes de todo cheias de hipotéticas, estas notas
de agora são segundos rodapés. Mas não deixem de experimentar desta
cozinha, só por não ser ela típica. Estas traduções poderão ser estudadas
junto aos meus poemas que estão vindo (posso o melhor que faço!)
27
(Prólogo):
28
que necessitava de outra radicalidade. Esta surgiu pelas mãos do Acaso; eu respeito e
acrescento à minha tradução, sem contestar (e acasos desses são, é verdade, dos
meus principais critérios), as palavras proferidas pelo amigo que, além de tudo, se
chama Wladimir – Wladimir Vaz, a quem não falta a libido revolucionária, e sequer
sabia estar dizendo as palavras de minha salvação poética (ele pretendia homenagear
o amigo Divino, patriarca de nós ali reunidos, pelo sexagésimo aniversário dia desses
completado): “Sexy, não sexagenário!”.
→ (14/7)
Gostaria de ver esta frase, anotada de uma música do Caetano (talvez “Chove-chuva
[e gotas dágua que ela cataputa]” tenha daí alguma influência) tomada como segunda
e mais importante epígrafe destas notas. As duas palavras, “intensão” e “tesão”
(“Qual intensão que uma rocha dessas poderá? Mas esta rocha está é cheia de
tesão!”), são o mesmo verbo (“хотеться”, simplesmente: querer), empregado nos
dois versos, correspondendo ao adjetivo “жилистая”, “tencionada”. A conversão da
intensão no tesão é operada pela mudança de pontuação, de um verso (?) a outro (!);
pela mudança de uso do verbo, de um verso (poderá querer?) a outro (quer!); e a
relação transcendental destas mudanças (passagens de um estado a outro) com a
tensão (“tencionada”) e, enfim, a contorção (корчится). Isto, afirmando e negando
o que, no prólogo, é afirmado e negado: a meiguice (нежности/ “ternura”). Antes de
Maiakovski dizer “Se quiseres, então serei meigo”, diz não ter um só fio de meiguice.
A estrutura do poema seguinte está inscrita nesta fórmula “se, então”, a revoluta (e
que acaba dizendo algo sobre a revolução) tentativa de o não-meigo ser meigo.
Deste modo a pergunta: “que intensão que uma rocha destas poderá?” é feita por
um Maiakovski-fingidor e a resposta: “Mas esta rocha está é cheia de tesão!” é dada
pela sua consciência vulcânica de si (Maiakovski sabendo-se Vesúvio). Assinala-o na
mudança do vocabulário em questão – a resposta sobre o tesão conclui um
silogismo ternário, guardando implícita uma segunda pergunta entre os dois versos:
“Que intensão pode haver num vulcão?”
→ (14/7) Entre estas traduções, que estou a fazer, de Maiakovski, e aquelas de
Iessiênin, as quais há pouco fiz, encontra-se o dia (*1) em que descobri a sua Poética
29
(Ed. Global, 84). Em toda a segunda parte de sua Poética, Maiakovski se utiliza,
ilustração prática de “como fazer versos” (estas notas estão influênciadas deste
subtítulo da Poética), do causo de sua resposta ao poema de suicídio de Iessiênin.
“Finalidade: paralisar de modo refletido a ação dos últimos versos de Essenine,
tornar a morte de Essenine desinteressante, fazer preceder no lugar da fácil beleza
da morte uma outra beleza, porque todas as forças são necessárias à humanidade
operária para prosseguir a Revolução, que exige – apesar das dificuldades
encontradas no caminho, apesar dos contrastes da N.E.P. – que nós glorifiquemos a
vida, a alegria da mais difícil das caminhadas: a que conduz ao comunismo” (pág.39).
A briga entre a “pulsão de morte” (ele-Iessiênin) e a “glorificação da vida” (Eu-
Maiakovski) foi a frincha por onde entrou Maiakovski, acordando a felicidade de ser
Maiakovski – já estes pré-soviéticos poemas têm, como principal incisão, a
afirmação revolucionária da vida invés da repressão (dos impulsos e dos povos).
Especialmente lá onde Maiakovski diz não gostar de ler [“eu estaco o meu „nihil‟”/
“[está a pregar] o Zaratustra dos dias atuais”], Maiakovski demonstra conhecer as
palavras letradas da literatura filosófica a este respeito.
Foi nos idos destes dias, em visita ao amigo e poeta Tomaz Amorim e seus amigos
de proa, dianteira da luta política na sua cidade. No ônibus, perto das quatro, escrevi
“Chego às quatro” duas vezes: uma avisando Tomaz da minha chegada; outra, pois
eu chegava trazendo Maiakovski na bolsa (“ - Maria falara”). Dia de panfletagens e
reuniões... A tradução, na qual até então prosseguia em paz, ganhou caráter de
urgência: terminar ao menos até o dia das eleições. Das flores de Iessiênin senti
ligeira vergonha. Iessiênin representa, igualmente neste caso, o anti-mandato social
(ver Poética, pág.25, etc.). Pelas minhas mãos, depois de por elas voltar a negatividade
de Iessiênin, irrompeu outra vez Maiakovski, pela vida do comunismo (eterno
retorno do não-mesmo). A solução da urgência (“Substituir a lentidão no tempo por
uma mudança de lugar”, pág. 42) foi o que sucedeu pelo Acaso, igualmente na
Poética: “Eis o motivo por que adiantei mais o poema sobre Essenine durante o
caminho entre o Lubianski Proezd e a Direção do Chá, na Mianitskaia (...) [que] foi
o contraste violênto necessário depois da solidão de um quarto de hotel”. Enquanto,
eu, antes: “Os mesmos quartos de hotel, os mesmos tubos, a mesma forçada
solidão” (pág.40). A leitura deste “poema de amor” (?) de Maiakovski, o qual vai da
intensão ao tesão, estará ajudada pela transposição político-revolucionária da
passagem “de um estado para outro” até “de um Estado para outro”.
(*1) Por volta de 2011, um daqueles aforismos sobre “o milagre da multiplicação
dos parênteses”, alguns de meus escritos ainda não conhecidos: “(Um susto no
trânsito): A não-existência de algo furtado, ao final da frase, pelo aparecimento de um
diabrete, está sempre acompanhada de uma pista: a seta de sua cauda, decepada por
30
um parêntese-ratoeira, apontando a direção para onde ele terá fugido”. Embaixo:
“Esta frase foi integralmente capturada de um sonho e recuperada, desde sua
palavra final, „fugido‟, seguindo a verdade de seu conteúdo, a partir de uma cauda
encontrada!”
Dias atrás estou abrindo o livro de Maiakovski, Poética. Estas palavras, dali
transcritas, dão agora de apresentação à Nuvem de Calças:
32
1) Porta-voz, discutis
com umas portas?
2) Respublicas
para deixar cair ao rés-do-chão?
“Os fracos não conseguem avançar e esperam que o acontecimento passe, para
refleti-lo; os fortes ultrapassam-no de modo a arrastar o próprio tempo” (Poética).
No Brasil a palavra “realista” significa (acepção de igual influência prática dentro e
fora da academia literária) estar e agir conforme (conformado a) uma realidade dada.
Toda a realidade, para esse realista, que não está dada, é dadá. O “seja”, do “seja
realista” do realista, é repressivo: (seja (tu...) real). Mas o “seja” do poeta não chega
reprimindo; uma vindoura realidade desejada se põe ao lado deste “seja”, para se
realizar (seja real isso (tudo)). Senão tomarás por parede o que é porta – para entrar.
A temporalidade do arrastar é contada por um ponteiro que tem a forma da foice do
“vai ser”. Para o cubo-futurismo não terminar no vãguarda-roupa de conceitos,
[cubo] no qual se guardar, invés de cubo3 ao qual se elevar! A linha do tempo, na qual o
presente assinala o ponto futurista ao cubo, é arrastada, como que pela passagem da
seta em alta velocidade. Se não é desse jeito, o ponto futurista no cubo pode ser
guardado a qualquer “altura” (uma altura horizontal! Pois aqui não falamos de um
inseto que saiba saltar do plano do chão) da linha, e temos um tempo que se arrasta –
molenga, gordo, etc. O gênero preferido de Maiakovski, os versos de “agitação”,
para ler... em auditórios? (“Auditórios do Gólgota”). Poesia é a língua libertadora;
fora dela, onde não há suficiente agito, acidula-se a crítica, vira corrosão pela
corrosão – e, institutos além, arte pela arte. Tudo só há enquanto balança... Já no
discurso estacionado entre estes estacionamentos, a gente manobra suas bagagens, e
desse jeito tem de ser, quadradinho, para caber nessa vaga. A vaga poética é onda...
pra que venham mais vagas. Esta onda tem, em seu rodamoinho, a mantra “Om”; a
aspiração, na palavra vaga, que a tragamos, vagando lugares e vagalhando sentidos –
e direções a seguir. Quando for para mover a montanha, seja realista – para realmente
mover a montanha. Dentro da fórmula há, de fato, um explosivo, a explosão da
geração, para encarnar o mundo das plausibilidades infinitas. A teoria lógica do Ex
Contradictione Quodlibet
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Princ%C3%ADpio_de_explos%C3%A3o), Da
contradição obtem-se o que se queira, fez-se carne em Virgem-Mãe, e realizou-se o
milagre. Politicamente é a contradição das classes que dará a brecha, e então será
hora de a geração saber enunciar-se. E que a fé reaja ao estado de coisas, não
esperando, e sim almejando e obtendo (pois estamos de esperanças do dever ser).
33
→ (2/8) “Nos coros coralinos de arcanjas”/ “в хорах архангелова хорала”... Como
reproduzir esta redundância e não desmatar as aliterações? (Supondo que eu não
tenha mal-interpretado “в хорах” (“хор” [coro] no prepositivo plural) e “хорала”
(“хорал” [coral] no genitivo singular). “Coro coral” teria sido a minha precipitação...
na pobreza. “Coro coralino” surgiu do pulso de cada palavra, o qual a remete ao
assunto central, o mesmo da Poética: a poética revolucionária contraposta à poética
daquela ternura, a lírica das “florezinhas ao sereno”. Ignoro se Cora Coralina
corresponde a algum destes planos (de fato, talvez a mais distante referência desta
fagulha de idéia seja o dia no qual encontrei, na estante de literatura russa desta
biblioteca, o livro Kyra Kyralina, Panaït Strasti). Seja como for, ter escrito “coros
coralinos” na folha de papel, além de qualquer explicação, fez surgir uma canja em
“arcanjos”. (Dias depois surgiria uma última confirmação desta escolha: a entrevista
de Paulo Azeviche por Cara Caralina, http://xavante.art.br/2012/09/04/cara-
caralina-entrevista-paulo-azeviche/ )
→ (2/8) 2008, eu compunha o Bestiário, álbum de animais. O poema A MOSCA
surgiu fruto da compreensão da bela ambigüidade existente na palavra, em
português, “decomposição” (разлагаются). Por isso, apesar dos “aderentes e
vibrantes conteúdos acessórios”, o poema destaca “sobretudo os seus dois olhos/
no compor e decompor cartesianos/ nos cárceres de seus meridianos/ não há nada
que lhe escape à inquisição/ arctectônica no óptico fenômeno/ nas carnes faz
panópticos sardôneos/ assaz apaixonada pela decomposição”. Nesta poética uma
qualidade positiva da palavra será cruzar, copular as acepções do “carnal” e do
espiritual, destes decompor cartesiano e a decomposição das moscas. São palavras
lógicas (até as palavras “cruzamento” e “cópula” estão hora nos domínios do léxico
tradicional da lógica, hora dominadas pela carne); suas acepções não são, contudo,
assépticas. Uma felicidade para as nossas experimentações é ser Maiakovski usuário
de aspas – “miserável”, “s.o.p.a” – , ajuizador de palavras – “já falecidas (que)
decompõem-se... igual cadáver”. Chegou a ocasião, na meta-poesia da Nuvem, de,
decompondo “sopa” (борщ), redimir os Anonymous (e Sua Online Piracy Activity) de
não ter usado “tango down”. Abrindo mão do “кажется” (“parece”), o “como” de
“qualquer coisa como” (expressão que, sozinha, já é interessante...) devolve a sopa
para a sua decomposição fora da frieza de geladeira das siglas. A seguir, isso me
possibilita usar a palavra “ensopados” (размокшие), o que me libera acrescentar
“desfalecidos”, como se estivesse só a prefixar. “Pазлагаются” guarda perfeitamente,
de “decomposição”, a sua dupla face de dois cortes. É universal, já previsto pelos
olhos quadriculados da varejeira: a defunção natural nada é além da divisão de
elementos orgânicos. Podia ter usado a palavra “defunção”, para negar “função” –
34
aquela história da arte burgusa, quando não funciona às intenções aos tesões
proletários, ser chamada de “degenerada”.
→ (2/8) A idéia de escrever “fantástico Faustão” (Фауста,
феерией ракет) e, deste modo, colocar todo o horário nobre dominical da
televisão, junto a “Mefistófeles, deslizando no palanquete”, tendo sido represada,
contudo vazou e, vazando, torturou a palavra “foguetões”. Assim, quando citado o
nome de Goethe, talvez induza ao aumentativo dos nomes próprios ao redor. Isto
foi alguns dias depois de eu ter recusado (Idem Ibidem, por causa do “trabalho
fatigante”) um convite para ver, na séde sindical dos acadêmicos demingueiros, um
filme chamado “Fausto”.
→ (3/8) Uma violência ao poema: a fim de que “sois” fosseis “Sóis”, tive de trocar
“nós (мы)” por “vós (вы)” ao longo de algumas estrofes. Esta pira sacrificial, na
qual bem-sucedidamente produziu-se o sol, não é preciso realimentar.
→ (3/8) Revelei ao amigo Alfredo onde fica a cabine, no fundo da biblioteca (vale,
igualmente na biblioteca, a regra de que o oriente e, com ele, a grande literatura
russa, estejam geograficamente a postos o quão distante se vá), onde estudo; e ele
veio convidar a um café, falar de boas novas – lutier e helenista, segue aos
finalmentes da fabricação de sua lira. Dias atrás, noticiaram que morreu o último
espécime daquela espécie de tartarugas, de Galápagos, da qual Darwin se alimentava,
comendo – “sopa”. Um capacete de operário, encontrado na calçada entre a biblioteca
e aquele, fazendo sombra nela, imenso cubo em construção, autorizou-me fazer a
seguinte indagação: “Os esforços da lutieria, esticando neste capacete certas tripas,
conseguiriam transformá-lo em uma lira?” A lenda da criação da lira, Hermes e a
tartaruga, explica Alfredo, acha-se em Homero, “antes das relações capitalistas de
produção e da Classe Operária” – (Retratando-me ao Alfredo: justo a parte entre
aspas foi a que ele não disse). De volta à minha cabine, no fundo da biblioteca,
dando marcha ao combio de versos a traduzir, procedo na estrofe seguinte: “Não
me lixo que não haja/ em Ovídio, em Homero/ gente igual a gente”. (!)
→ (4/8) “O cabo teleférico dos mundos...” – “миров приводные ремни”, ao pé da
letra: “a correia de transmissão dos mundos”. Os cinco dedos ligam uma corrente
que, serpenteando entre eles, põe em funcionamento um sistema, como no motor
do automóvel. Já os mundos estão sendo levados ou trazidos (desrealizados ou
realizados) pelo teleférico – não é o movimento da alimentação do sistema. Esta
imagem foi para ser acessível – entrevistei algumas mulheres, descobri nem todos
terem idéia do que seja uma correia de transmissão. Protejo-me pela primeira cena
de Kárhozat, Béla Tarr: o prelúdio de Shostakovich e o teleférico, soviético por
excelência, transportando carvão, e não turistas, pela Sibéria, e não pela “cidade das
crianças”. A escolha me permitiria, além do mais, fazendo dois os cinco dedos,
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transformar a sofreguidão em guidão – aos operários, não só a força; a direção. Só
me decidi pela alternativa, a qual sei insuficiente, quando, entrando no escritório de
meu Pai, ouço: “Мы шли, мы просили работы”.
http://www.youtube.com/watch?v=7AR-A32mEZk
http://www.youtube.com/watch?v=gTHiP1uvhHk
→ (6/8) VALE: “Vale” se desenvolverá para o vale aquele dos “valiosíssimos
minérios”, de que estão cheias as nossas almas. (“O átomo mais ínfimo de vida/
mais vale/ do que tudo o que eu já tenha feito”) – equivalamos “tudo o que eu já
tenha feito” a “esmeraldas de loucura”, cifras versus cifrões. O ouro da alma está
acima até dessa vala. “Vale”, nós o dizemos desta forma: “mais vale (a vida)”; o
“vale da sombra e da morte” é o lugar onde predomina a realidade realista, “Jack
London, grana...”, onde o que “mais vale” mais valia.
→ (6/8) CUBA: Fala-se de uma revolta acontecendo, neste instante, no México.
Minhas leituras de Minha Descoberta da América estão surtindo efeito. Justamente, fui
levado a ler o capítulo “México”, para rebater a acusação de que seja montagem a
fotografia (a qual colei na minha “linha do tempo”) de Frida Kahlo, segurando um
revolver... ao lado de Maiakovski. Maiakovski diz: “Diego Rivera me encontrou na
estação. Por isso, a pintura foi a primeira coisa que conheci na Cidade do México.
Antes eu apenas ouvia dizer que Diego era um dos fundadores do Partido
Comunista, que Diego era o maior artista mexicano, que Diego acertava uma moeda
no ar com um (revólver) Colt. (...) Naquele dia almocei na casa de Diego. Sua
mulher é uma alta beldade de Guadalajara. Comemos só coisas mexicanas (...)
depois passamos à sala de estar. No centro do sofá, o filho de um ano, largado,
enquanto na cabeceira, em uma almofada caprichada, jaz um enorme Colt” (págs.
23-26). Seguindo silogisticamente, não importa qual a coisa mexicana, se dorme com
Diego, dorme na companhia de um Colt. Nesta linha do tempo cujo layout azul é o
céu, o lugar demarcado, onde o revólver-Maiakovski pode tornar a ser segurado,
renovadamente chega. E talvez não tenhamos de passar pelos auditórios do
Gólgota, tais palavras combinadas em algum lugar do mundo. 25 anos depois da
rápida passagem de Maiakovski pela ilha de Cuba, para comprar ananases (pág.15),
não terá derivado daquele “Viva o bolchevique!” (“... e apenas no fim disse
macarronicamente, para me safar: „I am rrãchã!‟. Essa foi a atitude mais precipitada.
O mendigo apertou minha mão entre as suas e pôs-se a vociferar: - Viva o
Bolchevique! I am bolchevique! Viva, viva! Esquivei-me sob olhares transtornados e
temerosos dos transeuntes”) o dia em que a ilha toda decidiu gritar: “Come ananás/
mastiga em paz/ seu último dia chegou, burguês!”? (Poética, pág. 22).
→ (4/8, 18 da tarde, praça da Sé, São Paulo): “Cadê a chave do carro?” –
perguntou, calibre debaixo da jaqueta, o assaltante... Espantado do forró ali debaixo,
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agora estou sentado ao pé da catedral. Saco Maiakovski da bolsa, e chego à frase
seguinte: “Só que, a mim, a gente, até essa/ a que ultrajou/ sobre todas as coisas,
Vós Sois, o meu raio/ de luz”). Pai, as coisas desejadas sobre todas as coisas estejam
sobre todas as Giocondas e chaves de carro, as quais se pode furtar, pouquinho acima
do teto de Tua catedral. (“Acima das cruzes e dos topos/ Arcanjo sólido, passo
firme/ Batizado a fumaça e fogo/ Salve, pelos séculos, Vladímir!” – Marina
Tsvetaeva, A Vladimir Maiakovski, trad. de H. Campos). É que a gente está tendo as
sacadas erradas. Maiakovski (salva, pelos séculos, Wladimir!) – calibre versus colibri.
E, apenas enquanto versus, versos.
→ (8/8) MISTÉRIOS DOLOROSOS DA ESTROFE: Não basta puxar setas da
estrofe russa e, impecavelmente, transportá-las à estrofe portuguesa, de modo a ter
tudo ligado entre elas, a segunda algo como o conjunto imagem da outra. Cada verbo
tenha seu verbete e, acima das definições de cada um, esteja a definição do princípio
(“Não perca de vista seu ponto de partida”) – a poética? Veja lá como vais definir.
O pecado inevitável deve deixar de ser chamado “pecado”. Disso já sabíamos: o
texto, na realidade, não é em português; mesmo se apresentado for, cada uma das
palavras portuguesas não significa o que significa. Achar palavras-vaga (“tiro”, ou
“liro”; “tira”, ou “lira”), onde está preservado o seu “nada é”, e de onde muito pode
ser. “Eu tiro, eu saco a minha alma”... A alma, a qual eu saco, é quase arma e, logo,
tiro. E, porque “salva” é salva de tiros ou de palmas, desta salva é o Salvador. Tomo
a liberdade, de canto de olho no dicionário, de substituir a definição do verbo
выжечь, “Я выжег” (reduzir a cinzas, “Eu... fulminei”), pela do verbo выжaть
(ceifar/ “Eu... passo a foice!) – estas duas expressões, fulminar e ceifar, no plano das
almas, não descrevem o mesmo evento? A foice, raio de luz desta fulminação
prestes surgirá na última linha: “Como se fosse uma bandeira”/ “как знамя”...
→ (9/8) O poeta, na foto, ao lado de Frida Kahlo, não é Maiakovski! Em letras
grandes, ali ... ao lado da fotografia, a ruina de todo este projeto: ... enlouqueci!
→ (11/8) Oculta num livro de desenhos díspar, a palavra “Colt”, tocada sem querer,
disparou esta terça parte.
→ (13/8) CUBO: “Na Escola apareceu Burliúk. Ar insolente. Lorgnon.
Sobrecasaca. Caminha cantarolando. Pus-me a provocá-lo. Quase chegamos às vias
de fato./ Sala de Reunião da Nobreza. Um concerto. Rakhmaninov. A ilha dos
mortos. Fugi da insuportável chatura melodizada. Instantes depois, também Burliúk.
Soltamos gargalhada, um na cara do outro. Saímos para vadiar juntos” (Ed.
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Perspectiva, pág. 39). Não é isto, saltar para fora de um concerto de Rakhmaninov
para, de uma noite de vadiagem (“...), fundar o futurismo, a introdução da terça
parte da Nuvem? – Burliuk, ao escapulir do naufragante século XIX, pisa-o na nuca,
para ser um ativista desse naufrágio – tem de afundar o real para fundar realizável
(... Da chatura rakhmaninoviana, passamos à da Escola, e da escolar a toda a chatura
clássica. Em David [Burliúk] havia a ira de um mestre que ultrapassara os
contemporâneos, em mim – o patético de um socialista, que conhecia o inevitável
da queda das velharias. Nascera o futurismo russo”) (pág. 40).
→ (23, 24, 25, 26, 27, 28/8) MISTÉRIOS DOLOROSOS DA ESTROFE: Burliúk
surge “с нежностью, неожиданной в жирном человеке” (“com ternura
inesperada numa pessoa gorda”)... “[foi] se bem que gordo, imprevistamente terno”.
Retiro, de “imprevistamente”, não “ternura”, mas “terno”, e “imprevistamente”
sofre uma tortura. Ela prevê uma dicotomia do vestuário – de um lado, “terno”
(“Lorgnon. Sobrecasaca...”); de outro, “macacão”/ “желтую кофту”, ao pé da letra:
“a blusa amarela” – a maior perda desta tradução, deixar de mancionar o
inverossimilmentre trajado Maiakovski (“A Blusa Amarela/ Eu nunca tivera um
terno. Tinha duas blusas, de aspecto miserável. Método já experimentado: enfeitar-
me com uma gravata. Não tinha dinheiro. Apanhei com minha irmã um pedaço de
fita amarela. Amarrei. Fiz furor. Quer dizer: o mais aparente e bonito numa pessoa é
a gravata. Logo: se você aumenta a gravata, também aumentará o furor. E visto que
as dimensões das gravatas são limitadas, lancei mão de esperteza: fiz da gravata uma
blusa e da blusa uma gravata. Uma impressão irresistível”, pág. 41). A “vista”, torcida
dentro de “imprevistamente terno”, saltou de lá, produzindo vagas – “revistas/ [tua
alma interna no, de couro, macacão]”/ (“в желтую кофту/душа от осмотров
укутана”). “Vista” que é vistoria (осмотров, de “revistar”) e, ainda, questão de
vestuário (de revestir), e “interna” no interior da vestimenta e (inevitável, ainda
quando o sujeito de “interna” é a alma eletrocuta), do internato. Depois dependeu
de eu ter quebrado a cabeça, sem entender o significado de “брошенный в зубы” e,
além disso, de, tendo ido buscar ajuda na nota de rodapés sobre Van-Guten, tomar
esta nota, como parte integrante da estrofe, para preencher a lacuna não-entendida –
“(estão falando nas revistas)”. A nota diz: “Маяковский имел в виду факт, о котором
писали тогда газеты: приговоренный к смерти согласился крикнуть в момент казни:
«Пейте какао Ван Гутена!» За это рекламное выступление фирма Ван Гутен обещала
большое вознаграждение семье казненного”; isto é: “Maiakovski tinha em mente o fato,
sobre o qual escreviam os jornais de então: um condenado à morte concordou em
gritar no momento da execução: „Beba cacau Van-Guten!‟ Em troca deste
aparecimento propagandístico a empresa Van-Guten prometera grande recompensa
à família do executado”.
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A atuação deste poema continua sendo o combate contra o “mole” (“Vosso pensar,
meditabundo no miolo mole, ... irei fustigar/ “Denominar-se de poeta e, mole como
um colibri...”), o tema desta Nuvem, ou seja: нежность, ternura, meiguice ou, se
quiser, “molice”. Tive que dar um jeito de fazer minha marreta (para não usar as
palavras “soco-inglês” ou “soqueira”/ кастетом) bater/entrar “миру в черепе”/ “no
crânio do mundo” – ... é que o soco de soqueira bate/entra. O jeito é fazer ele
bater/entrar (e aqui eu acerto justo o objeto combatido) pela moleira do mundo, para
o mal da molice; poesia do poeta-calibre, para o mal do poeta-colibri. Traduzirei
bater/entrar por “arrebentar”... Esta palavra se dividirá em duas, pois estas duas,
“bento” e, em resposta, “arre!”, são, novamente, a cisão-tema desta Nuvem. Esta
cisão, a partir de um “arrebentar” bem sucedido, ecoará até o fim do poema: o
“arre!”, em relação ao “bento” (“É de gala, nesta valsa, este passo?”), arreda o pé
(“уйду я”); o “arre!”, em relação ao “bento” (“que de lágrimas regado”), (“солнце
моноклем/ вставлю в широко растопыренный глаз”) o sol como monóculo/
coloca-o/ no olho arregalado, para incinerar o “de gala”. A “gala” logo há de
conhecer seu oponente: a “galera” da taberna. É a palavra-vaga, “arrebento”,
gerando rebentos – “os novos rebentos dessa prole”. A explosão dentro de
“arrebento”, igual a que existe dentro de Virgem-Mãe, a prole daquele proletariado:
“um clarão de olhos cêntuplos explode/ do cais”... é o Rex Contradictione.
→ (28/8) Alguns dias de meditação febril até descobrir: a alça da xícara é o tal elo,
longamente perseguido, entre “café” e “Galifet” – é o gatilho dos fuzilamentos. Esta
sugestão ficou boiando na sopa de possibilidades, pois tinha forma de gancho e
exigia ser puxada sem reflexão de conseqüências. E puxei-a, para ela assumir
inteiramente a palavra “щечке”.
→ (10/9) “Ela chegou, como Mamai,/ sentando a bunda/ sobre a populenta
imensidão:/ esta noite, negra como Azef...”. As notas, as que acompanham o
poema, estão aqui transcritas: Mamai – “A fala remete aos vencedores que se
banqueteavam sentando-se em tábuas colocadas sobre os corpos dos vencidos. Na
realidade, este vencedor não é o khan da Horda Dourada, Mamai, e sim o chefe
militar Genghis Khan, depois de conquistado o Cáucaso no ano de 1223”; e Azef –
“Provocador, trabalhou na espionagem socialista-revolucionária. Seu nome tornou-
se sinônimo de traição”. Cume da depressão, a bunda de Mamai encobre agora a
terça-parte da Terra. Maiakovski depara a proporção universal da Batalha: esta noite
“olho algum agüenta olhá-la”/ глазами не проломаем, ao pé da letra: “não
haveremos de fender com os olhos”. Reverberam as palavras ditas por Burliúk no
dia da criação (“Isso [o futurismo] é bom!”) e aquelas outras surgidas ao fim deste
estágio da luta: “e pedra sobre pedra não haver” (“Ничего не будет”/ ao pé da
letra: “Nada haverá/restará”). “Olho algum agüenta olhá-la” inverte a fórmula
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apocalíptica da vinda do Salvador: “todo olho O verá”. Na espiritualidade e na
fisiologia, o “todo olho O verá” só acontece no limiar a partir de onde “olho algum
agüenta olhá-la”. Esta idéia pressupõe uma desigualdade das forças e aposta na
vitória dos oprimidos, a qual só pode ser de virada, possibilitada pela fé, justo na
ocasião em que tudo está perdido. Herda desta disposição a crença de que a
intensificação das contradições favoreça a vinda do levante. O batalhador, ao provar
da aguardente (вином/ vinho), enxerga – a Virgem-Mãe. Há não-pedra sobre pedra
e, diante disso, quando, debulhando-se sobre a toalha, a toalha vira manto, naquele
instante em que o círculo passa pelo quadrado (“a auréola pela moldura vulgar”, “a
coroa de espinhos que traga”...), torna-se plausível explodir a montanha. As
próximas e últimas estrofes desta terça parte serão uma oração, na qual Maiakovski
conjugará, enunciará a geração por vir, a fim de que a gestem as forças celestiais, a
oração sintática feita apelação extrema. Maiakovski dissera: “Músculos, tendões,
invés de orações...”; a mudança de patamar, contudo, chega pela oração, encolhidas
palavras ditas baixinho na solitude da taberna e tanto mais decisivas que as gritadas
aos auditórios.
→ (29/8) “O sistema dos sete conhecidos (setimal). Dei início a sete relações de
jantar. Aos domingos, „janto‟ Tchukovski, às segundas, Ievriéinov, etc. Às quintas,
era pior: comia os capinzinhos de Riépin. Para um futurista de estatura quilométrica,
era inadequado. Ao anoitecer, vagueio pela praia. Escrevo a „Nuvem‟. Fortaleceu-me
a consciência da proximidade da revolução” (Idem, pág. 43). Foi ontem, quando
tirei da bolsa o livro de Maiakovski para ler esta passagem às novas amizades que fiz
no instituto de artes – Todos os dias, depois de uma tarde trabalhando nesta mesma
Nuvem, quando bate a hora da refeição, o estômago já roncando, ando por aí, alma
penada dos corredores desta universidade, à espreita de obter um cartão emprestado
para entrar no bandejão. Cortam abruptamente a comida dos formandos para
conscientizar, pelo choque, de que chegou a hora da miséria. Ao começar a fala de
Maiakovski em voz alta, pela fração do segundo entrou a questão: incluir ou não a
frase sobre a proximidade da revolução? E saiu pela boca. Estas orações são, eu o
digo, estômagos-vaga. Hoje pela manhã o sindicato soltou a seguinte nota: “Há um
ano, os trabalhadores do RU precisaram cruzar os braços para forçar a reitoria a
trocar a antiga máquina, etc. (...)Por isso, na tarde de ontem, o STU comunicou à
Fundação que, caso não sejam reconhecidos o direito aos 30 minutos de folga (...)
40
etc., os bandejões da UNICAMP terão o funcionamento interrompido a partir de
amanhã (29/08)”. (!)
→ (10/9) “Inferno”, de onde adverto esta poesia: a influência desse livro de Strindberg
(Ed. 34)e seus cyclamen verifica-se hoje quando, no crivo do crível, dou valor e o
maior valor aos sinaisinhos, pequenas piscadelas recebidas. Dado que venho
descrevendo até aqui, dispenso explicar o que são essas piscadelas. Exemplifica a
almôndega extra recebida hoje e o ponto-e-vírgula que se desenhou – se não fosse a
piscadela da, concha nas mãos, trabalhadora, talvez não tivesse notado, à tarde, indo
aos versos seguintes, algo de significativo no verbete: “котлетa: croquete,
almôndega, costeleta”, as “dobradinhas de costume”. A piscadela será, então, um
sinalzinho delgado, senão não penetra até a pontuação, e não é trazido por anjo, e
sim encontrado junto a um duende que habita os buraquinhos das letras. Sinais são
sempre de pontuação, para direcionar o trabalho. Podemos nos sentir acalentados:
este sinal vem do Mesmo que o pão nosso nos dá hoje e dará amanhã.
→ (7 de Outubro): Esta quarta parte foi sofrida. Volto agora a estas notas, atestado-
as eu ter me afastado nestes últimos dias (duas palavras carregadas) – pois as notas
vão se manifestando como compreensões – , como alguém que acaba de
compreender. O principal, até então: de que jeito não se condenar, o tradutor, pelas
afirmações do traduzido? Depois do acidente burocrático que me salvou de prestar
o juramento da colação de grau (“Não jureis nem pelo céu nem pela terra nem façais
qualquer juramento”, Tiago 5:12), dei-me conta. Foi uma angústia real que me fez
entrar naquela cabine de banheiro do instituto de artes, a meio caminho do salão
nobre. O violinista, que praticava embaixo das escadas, entoando o hino nacional,
quis dizer: “Vai lá, pra tua formatura; está tudo resolvido!”. Uma angústia dessas foi
o que me manteve afastado destas notas por alguns dias – os da gestação desta
última parte da Nuvem... - ; além da entranha, o inferno é a outra coisa que borbulha.
No dia 19/9 escrevia: “Os dedos convulsos, vou apertá-los/ na garganta de lata da
campainha./(...) Na rua o mato alto segue a lei do „matarás‟/ e, no pescoço, o vulto
dos dedos/ da dileta companhia”. Suado ainda destes versos, adentro a sala escura
onde já está rolando a sessão de cinema do escontro de estudos literários – ... um
“me dá! não dou!” de casal, homenagem a Nelson Rodrigues, e que dá... em
estrangulamento! Já quando traduzi “arrasta, pra casinha, a pata atropelada pelo
trem”, encontrava-me na plataforma, embarcando de volta a Poá, onde esta
tradução teve seu início. Chamado a participar do sarau, leio “Pedágio” pela
primeira vez. De volta a Campinas, noutro sarau, por conta da presença estonteante
das dançarinas de dança do ventre, um dos participantes pronunciou, por três vezes,
em alta voz: “Por você eu traria, agora, a cabeça de João Batista!”. Os versos
seguintes da Nuvem a traduzir foram: “Mil vezes dançará o sol em volta da terra/
41
como Salomé/ em volta/ da cabeça de João Batista” (!). Este experimento
tradutório, neste cenário, pressuposta a presença e interferência de um observador,
encrespou quando Maiakovski resolveu interpelar, diretamente, quem penso ser esse
observador. Já estava previsto: por intermédio de Santa Maria, Maiakovski terminou
a terça parte sugerindo um encontro com Jesus: “talvez venha, Jesus Cristo, farejar a
minha alma inesquecível”. Agora neste quarto poema, lado de lá da moldura do
ícone da Virgem-Mãe, a batalha transcorre no espiritual, tratando direto com as
entidades. E, neste ponto, tem de ter cuidado: sempre haver um pé de ouvido, para
aquele que chega na mesma altura (“lado a lado”) ter de falar, ainda, tão debaixo
quanto dos pés. Recorro, nalguns casos de alta periculosidade, ao russo-russo
(Akademia Nauk CCCP insitut ruskovo izika, Moscou, 1985); “Мотаешь” e
“Супишь” (“Balançar [a cabeça]” e “franzir [o cenho]”) serão reprovação, diante da
tentação sofrida por Maiakovski, ou sinal, vitória da tentação, de que a cabeça, de
que o cenho, já pondera? No verbete “Супить” encontrei: “„Хочешь? Не хочешь?
Мотаешь головою, кудластый? Супишь седую бровь?’ Mаяковский, Oблако в штанах”,
isto é: “„Queres? Não queres? Balanças a cabeça, desgrenhado? Franzes o cenho
grisalho?‟ Maiakovski, Uma Nuvem de Calças” (!) Entrando por rodamoinhos destes,
percebo estar adentrando a zona indeterminável da oração-vaga, na qual tratarei,
também eu, direto com as entidades. A dor (мук), a condicional da experiência do
amor (“tu désses que pudéssemos/ beijar, a outro par, sem a dor da paixão”), no
carnal (“beijar a outro par”) e espiritual (“beijar a outro par [de mãos]”), reclamação
de Maiakovski a Deus, não é pecado, estava em Cristo: “Pai, se é possível, afasta de
mim esse cálice; todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres” (Mateus
26:39). A questão recai (e nela fiquei decaído, ao longo de algumas semanas), era de se
esperar, na revolta, o conteúdo da estrofe seguinte, o que significa dizer: “Seja como
eu quero, e não como tu queres”. Aqui outra vez encontrei-me na minha cabine,
desesperado, até ouvir o hino que me dizia: “Vai lá, para a tua Nuvem; está tudo
resolvido”. 29/9, São Miguel: “Quando Lúcifer teve o pensamento de que poderia
ocupar o lugar de Deus (e não aos pés dele), produziu-se uma mancha na sua veste;
tentou escondê-la com a asa, mas foi notado por Miguel”; e, por ter botado minha
camisa branca (e traduzido, na véspera, o verso “Eu também sou anjo; na verdade,
já fui um - ”...), estive descuidado quando nela caiu um grãozinho de arroz. Surge a
chance descoberta do clinamen (“Ele pediu a Lúcifer que se desculpasse e a mancha
sumiria”), sumindo a mancha que encobria a solução da estrofe: “Meu encontro
com Jesus só eu sei destrinchar”. Esta consideração toda é retrospectiva a partir da
continuação de meu trabalho, na segunda-feira, 1º de Outubro, quando, num
cantinho do verbete “сапожный”, no dicionário, leio: “сапожный ножик:
trinchete, faca de sapateiro”. É claro – “ножик”, faca; “сапожный”, de sapateiro;
42
mas... trinchete? Esta palavra confirmou a autorização, não a última delas, para eu usar
“destrinchar” na tradução de “раскрою”, isto é (segundo o Moscovo Edições,
1989): “retalhar” (“Я тебя раскрою отсюда до Аляски”/ “Eu os retalho [velhacos
de asas] daqui até o Alasca”). Engloba a definição, exatamente, da palavra “trinchar
– cortar em pedaços ou fatias (iguarias à mesa, especialmente carne)” (Houaiss).
Tenho de corrigir os parentes que, em ocasiões natalinas, usam destrinchar para
falar de cortar o frango. Destrinchar é sutil: “separar em fios e fibras de; dizer ou
expor pormenorizadamente; desvendar, esmiuçar; achar solução de, resolver...”, etc.
Por outro lado, não deixa de significar o que minha tia quer dizer. Encontra-se a
ambigüidade ideal, pela qual não desmentir Maiakovski e não condenar-se junto a
ele a ad-entrar (entrar para o inferno). Pois, não deixando de fazer arrepiar tudo que
é galináceo, que pia e arcanja, o destrinchar que é encontro de solução encontro com
Jesus Cristo é, alvejante de almas. Agora vejo: estas notas são, e já vinham sendo
preparação, destrinchar – a apresentação em pormenores deste encontro. Estas
últimas palavras, as que dão fim a este trabalho de tradução, eu as anoto hoje, 7/10,
usando a caneta vermelha roubada da sede eleitoral. A palavra final (e abri minha
última estrofe para tal), eu a deixarei para que Deus a dê. E a solução final.
→ (9/10): MISTÉRIOS DOLOROSOS DA ESTROFE: No dia 3 de Outubro,
chegando dos correios (fiz algo que não faço todos os dias – despachei uma
epístola...) de volta para a biblioteca, abro um livro qualquer da estante e leio a oração
do começo da página: “Na primeira quinzena de outubro, escreve de Paris a Lauris:
„Georges, minha temperatura não me permite escrever-te por mais tempo.
Perguntas-me se Saint-Beuve está concluído. Como acertaste! O aborrecimento é
saber onde publicá-lo‟”. Foi quando percebi ter concluída a minha tradução, pelo
favor das chaves já apresentadas, e sequer ter o aborrecimento do qual me salvou
Wladimir Vaz, já interessado nestes estudos. Concluirei estas notas agora de volta às
palavras e dicionários.
A exclamação “arre!” segue repercutindo nesta quarta parte. “Arre!”, arroubo de
resposta revoltosa, necessariamente responde opondo-se a uma outra terminação, a
qual não é mais “bento” ou “gala”, e sim “pio” ou “ganha”. Ter visto “Papa” dentro
de “papada” (зобах)? Pia (Птица поет) o poeta (поэт), o larápio (... “tanto brio,
denominar-se de poeta e, mole como um colibri, chilrar”/ “O poeta pia,
supersticiosamente, seus sonetos a Tiana...” – duas menções ao poeta I. Severianin),
a quem Maiakovski rebate com, “de tesão despido ou de terror, o arrepio”. É aquela
tensão, a que apresentei no princípio destas notas, citando Caetano, entre a ternura e
o tesão. Ela produziu oposições e, entre essas oposições, lutas entre as classes de
palavras, ao longo de toda a tradução da Nuvem e, nesta última parte dela, conta
alguns exemplos; eles concluirão a série de assuntos começados. Sobre os ombros
43
recurvos consegui sustentar que, entre as “covinhas” (щеки) e as “corcovas”
(сутулиться) encontra-se o “provado por todos” (попробованный всеми) invés de
“à toda prova” (удивительно честный). Este já chamado “poema amoroso”
(“Parece-me evidente, hoje, que a parte que mais envelheceu, dessa poesia, são os
versos políticos de tom apologético [...] O civismo programado dos poemas de
„encargo social‟ é tão menos tolerável, quanto mais decepcionante se revelou a
utopia soviética [...] Extraordinariamente viva continua a ser a poesia amorosa de
Maiakóvski, da „Nuvem de Calças‟ aos fragmentos finais...”, etc. [!] A. Campos, Ed.
Perspectiva, pág.164) justamente fala do ideal da “companhia sua”, piada pelo poeta
e, de outro lado, motivo de piada para o poeta-Vesúvio, o qual tem nas costas as
“companheiras que suam”. “Nas meninas dos olhos, alfinetes de chapéu de...
Senhora”... (acrescentei “meninas dos ...[pupilas dos]” a “olhos” e traduzi
“дамских” [“de dama”] por “de senhora”), aquele ideal outra vez, que vem cegar
aquelas meninas para as quais temos olhos. Maiakovski-fingidor é este que se arrasta,
piada de si mesmo; Maiakovski-Vesúvio arrasta. Quando tira a faca, revela ter estado
fingindo ao se curvar (“Eu tiro, quando me curvo, uma faca de trinchete”). No final
da 1ª parte, Lusitânia em brasas, Maiakovski deseja não ser levantador desesperado
de braços. “Eu ardo”, ele diz, “(e apenas então levanto-me) é pelo século dos
levantes!”. Ele endereça seu último grito para dizê-lo após terminado este naufrágio
do qual é ativista, para que não o confundam num distante “hoje”, porque tenha
ontem afundado junto ao navio-Rakhmaninov. Será a vez do Lusitânia Brasil. A
mensagem portada por Maiakovski é dita por dentro de uma aspereza consonantal
igual a da língua, a qual faz doer a boca, de sua legião operária. Os poetas amorosos
portam massagens, e uma preguiça muscular é o que derrete a palavra na boca deles,
aquela decomposição. Fazer versos em português, para que reproduzam este
conflito, onde as consoantes são matéria de atrito. Já não faremos poemas dispersos;
eles chegam à batalha cósmica, cujo conflito das classes é uma das figurações,
declarando o ajuntamento de forças. Os cardumes das gentes andarão percebendo a
sombra dos grandes cascos. Induzido, pela coincidência dos nomes da amada de
Maiakovski e da Mãe do Amor, a enxergar maiúsculas em palavras-chave, vejo mais
verídica a decaptação de estrelas que as brigas de casal dentro dos apês. Metáforas?
Os dragões são a real forma das Babilônias, manifesta no céu para a dimensão
espiritual do profeta João, e a Foice e o Martelo uma variante, provida de hastes
(pontes de acesso para uso das mãos humanas), da Lua Crescente e a Estrela.
Tive de assumir: desde criança conjugo errado o verbo “decapitar”, e terei de
corrigir a autosensura praticada no meu Pedágio
(http://xavante.art.br/2012/09/30/p-acreditar-2/). Sem querer, substituindo o
“decapto” (o qual rimava “exacto”) por “decapitei”, assim que relembrei que se
44
tratava de meu vício, restitui a palavra de uma decaptação sofrida. A palavra
“decaptação”, por mais inadequada, diga ainda mais de perto a decapitação, fazendo
desaparecer a cabeça. Uma verdade, contida na palavra, que faz, da necessariamente
proparoxítona “espírito”, “esprito”. Nesta sopra-se, pra fora – os “pr”. Em “decapto”
alavanca-se, para fora – os “pt”. Solução para os corruptos!
45
ОБЛАКО В ШТАНАХ[1] Владимир Маяковский
ТЕТРАПТИХ
Вашу мысль,
мечтающую на размягченном мозгу,
как выжиревший лакей на засаленной кушетке,
буду дразнить об окровавленный сердца лоскут;
досыта изъиздеваюсь, нахальный и едкий.
Нежные!
Вы любовь на скрипки ложите.
Любовь на литавры ложит грубый.
А себя, как я, вывернуть не можете,
чтобы были одни сплошные губы!
Приходите учиться —
из гостиной батистовая,
чинная чиновница ангельской лиги.
Хотите —
буду от мяса бешеный
— и, как небо, меняя тона —
хотите —
буду безукоризненно нежный,
не мужчина, а — облако в штанах!
46
1
Это было,
было в Одессе.
Восемь.
Девять.
Десять.
Вот и вечер
в ночную жуть
ушел от окон,
хмурый,
декабрый.
И вот,
громадный,
горблюсь в окне,
плавлю лбом стекло окошечное.
Будет любовь или нет?
Какая —
большая или крошечная?
Откуда большая у тела такого:
должно быть, маленький,
смирный любѐночек.
Она шарахается автомобильных гудков.
Любит звоночки коночек.
Еще и еще,
уткнувшись дождю
лицом в его лицо рябое,
жду,
обрызганный громом городского прибоя.
47
Полночь, с ножом мечась,
догнала,
зарезала, —
вон его!
Проклятая!
Что же, и этого не хватит?
Скоро криком издерется рот.
Слышу:
тихо,
как больной с кровати,
спрыгнул нерв.
И вот, —
сначала прошелся
едва-едва,
потом забегал,
взволнованный,
четкий.
Теперь и он и новые два
мечутся отчаянной чечеткой.
Нервы —
большие,
маленькие,
многие! —
скачут бешеные,
и уже
у нервов подкашиваются ноги!
Вошла ты,
резкая, как «нате!»,
муча перчатки замш,
сказала:
«Знаете —
я выхожу замуж».
48
Что ж, выходите.
Ничего.
Покреплюсь.
Видите — спокоен как!
Как пульс
покойника.
Помните?
Вы говорили:
«Джек Лондон,
деньги,
любовь,
страсть», —
а я одно видел:
вы — Джиоконда,
которую надо украсть!
И украли.
Дразните?
«Меньше, чем у нищего копеек,
у вас изумрудов безумий».
Помните!
Погибла Помпея,
когда раздразнили Везувий!
Эй!
Господа!
Любители
святотатств,
преступлений,
боен, —
а самое страшное
видели —
лицо мое,
когда
я
абсолютно спокоен?
И чувствую —
«я»
для меня мало.
Кто-то из меня вырывается упрямо.
Allo!
Кто говорит?
Мама?
Мама!
Ваш сын прекрасно болен!
Мама!
y него пожар сердца.
Скажите сестрам, Люде и Оле, —
ему уже некуда деться.
Каждое слово,
49
даже шутка,
которые изрыгает обгорающим ртом он,
выбрасывается, как голая проститутка
из горящего публичного дома.
Люди нюхают —
запахло жареным!
Нагнали каких-то.
Блестящие!
В касках!
Нельзя сапожища!
Скажите пожарным:
на сердце горящее лезут в ласках.
Я сам.
Глаза наслезнѐнные бочками выкачу.
Дайте о ребра опереться.
Выскочу! Выскочу! Выскочу! Выскочу!
Рухнули.
Не выскочишь из сердца!
На лице обгорающем
из трещины губ
обугленный поцелуишко броситься вырос.
Мама!
Петь не могу.
У церковки сердца занимается клирос!
50
2
Славьте меня!
Я великим не чета.
Я над всем, что сделано,
ставлю «nihil». [4]
Никогда
ничего не хочу читать.
Книги?
Что книги!
Я раньше думал —
книги делаются так:
пришел поэт,
легко разжал уста,
и сразу запел вдохновенный простак —
пожалуйста!
А оказывается —
прежде чем начнет петься,
долго ходят, размозолев от брожения,
и тихо барахтается в тине сердца
глупая вобла воображения.
Пока выкипячивают, рифмами пиликая,
из любвей и соловьев какое-то варево,
улица корчится безъязыкая —
ей нечем кричать и разговаривать.
Городов вавилонские башни,
возгордясь, возносим снова,
а бог
города на пашни
рушит,
мешая слово.
И когда —
все-таки! —
выхаркнула давку на площадь,
спихнув наступившую на горло паперть,
думалось:
в хорах архангелова хорала
бог, ограбленный, идет карать!
51
Гримируют городу Круппы и Круппики
грозящих бровей морщь,
а во рту
умерших слов разлагаются трупики,
только два живут, жирея —
«сволочь»
и еще какое-то,
кажется — «борщ».
Поэты,
размокшие в плаче и всхлипе,
бросились от улицы, ероша космы:
«Как двумя такими выпеть
и барышню,
и любовь,
и цветочек под росами?»
А за поэтами —
уличные тыщи:
студенты,
проститутки,
подрядчики.
Господа!
Остановитесь!
Вы не нищие,
вы не смеете просить подачки!
Нам, здоровенным,
с шагом саженьим,
надо не слушать, а рвать их —
их,
присосавшихся бесплатным приложением
к каждой двуспальной кровати!
Их ли смиренно просить:
«Помоги мне!»
Молить о гимне,
об оратории!
Мы сами творцы в горящем гимне —
шуме фабрики и лаборатории.
Я,
златоустейший,
чье каждое слово
душу новородит,
именинит тело,
говорю вам:
мельчайшая пылинка живого
ценнее всего, что я сделаю и сделал!
52
Слушайте!
Проповедует,
мечась и стеня,
сегодняшнего дня крикогубый Заратустра![5]
Мы
с лицом, как заспанная простыня,
с губами, обвисшими, как люстра,
мы,
каторжане города-лепрозория,[6]
где золото и грязь изъязвили проказу, —
мы чище венецианского лазорья,
морями и солнцами омытого сразу!
Видели,
как собака бьющую руку лижет?!
Я,
обсмеянный у сегодняшнего племени,
как длинный
скабрезный анекдот,
вижу идущего через горы времени,
которого не видит никто.
53
Я выжег души, где нежность растили.
Это труднее, чем взять
тысячу тысяч Бастилий!
И когда,
приход его
мятежом оглашая,
выйдете к спасителю —
вам я
душу вытащу,
растопчу,
чтоб большая! —
и окровавленную дам, как знамя.
Пришла
и голову отчаянием занавесила
мысль о сумасшедших домах.
И —
как в гибель дредноута
от душащих спазм
бросаются в разинутый люк —
сквозь свой
до крика разодранный глаз[8]
лез, обезумев, Бурлюк.
Почти окровавив исслезенные веки,
вылез,
встал,
пошел
и с нежностью, неожиданной в жирном человеке,
взял и сказал:
«Хорошо!»
И эту секунду,
бенгальскую
громкую,
я ни на что б не выменял,
я ни на...
А из сигарного дыма
ликерного рюмкой
вытягивалось пропитое лицо Северянина.
54
Как вы смеете называться поэтом
и, серенький, чирикать, как перепел!
Сегодня
надо
кастетом
кроиться миру в черепе!
Вы,
обеспокоенные мыслью одной —
«изящно пляшу ли», —
смотрите, как развлекаюсь
я —
площадной
сутенер и карточный шулер!
От вас,
которые влюбленностью мокли,
от которых
в столетия слеза лилась,
уйду я,
солнце моноклем
вставлю в широко растопыренный глаз.
Вдруг
и тучи
и облачное прочее
подняло на небе невероятную качку,
как будто расходятся белые рабочие,
небу объявив озлобленную стачку.
И кто-то,
запутавшись в облачных путах,
вытянул руки к кафе —
и будто по-женски,
и нежный как будто,
и будто бы пушки лафет.
Вы думаете —
это солнце нежненько
треплет по щечке кафе?
Это опять расстрелять мятежников
грядет генерал Галифе! [10]
55
Выньте, гулящие, руки из брюк —
берите камень, нож или бомбу,
а если у которого нету рук —
пришел чтоб и бился лбом бы!
Идите, голодненькие,
потненькие,
покорненькие,
закисшие в блохастом грязненьке!
Идите!
Понедельники и вторники
окрасим кровью в праздники!
Пускай земле под ножами припомнится,
кого хотела опошлить!
Земле,
обжиревшей, как любовница,
которую вылюбил Ротшильд!
Изругивался,
вымаливался,
резал,
лез за кем-то
вгрызаться в бока.
Уже сумасшествие.
Ничего не будет.
Ночь придет,
перекусит
и съест.
Видите —
небо опять иудит
пригоршнью обрызганных предательством звезд?
Пришла.
Пирует Мамаем,
задом на город насев.[11]
Эту ночь глазами не проломаем,
черную, как Азеф! [12]
56
Чего одаривать по шаблону намалеванному
сиянием трактирную ораву!
Видишь — опять
голгофнику оплеванному
предпочитают Варавву? [13]
Дай им,
заплесневшим в радости,
скорой смерти времени,
чтоб стали дети, должные подрасти,
мальчики — отцы,
девочки — забеременели.
57
Мария,
видишь —
я уже начал сутулиться.
В улицах
люди жир продырявят в четыреэтажных зобах,
высунут глазки,
потертые в сорокгодовой таске, —
перехихикиваться,
что у меня в зубах
— опять! —
черствая булка вчерашней ласки.
Мария!
Как в зажиревшее ухо втиснуть им тихое слово?
Птица
побирается песней,
поет,
голодна и звонка,
а я человек, Мария,
простой,
[14]
выхарканный чахоточной ночью в грязную руку Пресни.
Мария!
Открой!
Больно!
Видишь — натыканы
в глаза из дамских шляп булавки!
Пустила.
58
Детка!
Не бойся,
что у меня на шее воловьей
потноживотые женщины мокрой горою сидят, —
это сквозь жизнь я тащу
миллионы огромных чистых любовей
и миллион миллионов маленьких грязных любят,
Не бойся,
что снова,
в измены ненастье,
прильну я к тысячам хорошеньких лиц, —
«любящие Маяковского!» —
да ведь это ж династия
на сердце сумасшедшего восшедших цариц.
Мария, ближе!
В раздетом бесстыдстве,
в боящейся дрожи ли,
но дай твоих губ неисцветшую прелесть:
я с сердцем ни разу до мая не дожили,
а в прожитой жизни
лишь сотый апрель есть.
Мария!
Поэт сонеты поет Тиане,[15]
а я —
весь из мяса,
человек весь —
тело твое просто прошу,
как просят христиане —
«хлеб наш насущный
даждь нам днесь».
Мария — дай!
Мария!
Имя твое я боюсь забыть,
как поэт боится забыть
какое-то
в муках ночей рожденное слово,
величием равное богу.
Тело твое
я буду беречь и любить,
как солдат,
обрубленный войною,
ненужный,
ничей,
бережет свою единственную ногу.
Мария —
не хочешь?
Не хочешь!
Ха!
59
Значит — опять
темно и понуро
сердце возьму,
слезами окапав,
нести,
как собака,
которая в конуру
несет
перееханную поездом лапу.
Вылезу
грязный (от ночевок в канавах),
стану бок о бок,
наклонюсь
и скажу ему на ухо:
Хочешь?
Не хочешь?
60
Всемогущий, ты выдумал пару рук,
сделал,
что у каждого есть голова, —
отчего ты не выдумал,
чтоб было без мук
целовать, целовать, целовать?!
Пустите!
Меня не остановите.
Вру я,
в праве ли,
но я не могу быть спокойней.
Смотрите —
звезды опять обезглавили
и небо окровавили бойней!
Эй, вы!
Небо!
Снимите шляпу!
Я иду!
Глухо.
Вселенная спит,
положив на лапу
с клещами звезд огромное ухо.
1914-1915
61
хотите, как бешеный, если хотите — буду самым нежным, не мужчина, а облако в
штанах».
До выхода поэмы в свет отрывки из пролога и 4-й части появились в сборнике
«Стрелец» (февраль 1915 г.) и несколько строф из 2-й и 3-й частей было
процитировано в статье Маяковского «О разных Маяковских» в «Журнале журналов»
(август 1915 г.). И в сборнике и в журнале поэма была названа «трагедией», а
затем в отдельном издании Маяковский дал ей подзаголовок «тетраптих» (т. е.
композиция из четырех частей).
Выход сборника «Стрелец» был отмечен вечером, устроенным в артистическом
подвале «Бродячая собака» 25 февраля 1915 года. На этом вечере, где присутствовал
М. Горький, Маяковский прочел отрывок из поэмы. Следует упомянуть также чтение
отрывков поэмы Горькому в июле 1915 года.
Первое издание поэмы было выпущено О. М. Бриком в сентябре 1915 года. Оно
содержало большое количество цензурных купюр. «Облако» вышло перистое. Цензура в
него дула. Страниц шесть сплошных точек» (см. «Я сам»).
Цензурой были изъяты: во 2-й части строки 250—253, 323—335, 348—355, 360—
363; в 3-й части — строки 456—459, слова «под ножами» в строке 467 («Пускай земле
под ножами припомнится»), 474—475, 501—505; в 4-й части — строки 620—623, 630,
668—708. Кроме того, в ряде строк были изъяты отдельные слова: «богоматерь»,
«евангелие», «апостол», «Иисус Христос», «господин бог».
В 1916 году поэма была перепечатана в сборнике «Простое как мычание» (изд.
«Парус», руководимое М. Горьким) с меньшим, но все же значительным числом
цензурных изъятий. После свержения самодержавия Маяковский напечатал в журн.
«Новый Сатирикон», № 11, 17 марта 1917 года не пропущенные ранее цензурой отрывки
из 2-й и 3-й частей поэмы под заглавием «Восстанавливаю» и со следующим
предисловием: «Моя книга «Облако в штанах» была послана в цензуру под
первоначальным названием «Тринадцатый апостол». Помещаю из этой изуродованной в
первом и кастрированной во втором издании книги — 75 строк».
Полностью с восстановлением всех изъятых цензурой мест поэма вышла в начале
1918 года в Москве под маркой организованного Маяковским издательства «Асис»
(Ассоциация социалистического искусства). В предисловии к этому изданию
Маяковский писал: «Облако в штанах» (первое имя «Тринадцатый апостол» зачеркнуто
цензурой. Не восстанавливаю. Свыкся) считаю катехизисом сегодняшнего искусства;
«Долой вашу любовь», «долой ваше искусство», «долой ваш строй», «долой вашу
религию» — четыре крика четырех частей.
2. ↑ Химеры Собора Парижской богоматери — изваяния мифических чудовищ на здании
собора.
3. ↑ «Лузитания» — пассажирский пароход, торпедированный германской подводной лодкой
7 мая 1915 года и сгоревший в открытом море.
4. ↑ nihil - Ничто (лат.)
5. ↑ Заратустра — мифический создатель религии в древнем Иране. У Маяковского это
имя употреблено в нарицательном смысле — глашатай, проповедник.
6. ↑ Лепрозорий — изолированное убежище для прокаженных.
7. ↑ ...Голгофы аудиторий... — Маяковский имеет в виду свою поездку по городам
России в конце 1913 — начале 1914 года. Буржуазная пресса встречала выступления
Маяковского руганью и издевательствами.
8. ↑ Сквозь свой до крика разодранный глаз... — Д. Бурлюк был слеп на один глаз.
9. ↑ Пейте какао Ван Гутена... — Маяковский имел в в виду факт, о котором писали
тогда газеты: приговоренный к смерти согласился крикнуть в момент казни: «Пейте
какао Ван Гутена!» За это рекламное выступление фирма Ван Гутен обещала большое
вознаграждение семье казненного.
10. ↑ Галифе — генерал, жестоко расправившийся с парижскими коммунарами в 1871 году.
11. ↑ Пирует Мамаем, задом на город насев... — Здесь речь идет о победителях, которые
пировали, сидя на досках, положенных на тела побежденных. В действительности так
пировал не хан Золотой Орды Мамай, а полководцы Чингисхана после битвы на Калке в
1223 году.
12. ↑ Азеф — провокатор, работавший в эсеровском подполье. Имя его стало синонимом
предательства.
13. ↑ Варавва — по евангельскому преданию, разбойник, осужденный в тот же день, что и
Христос. Толпа требовала от судей помилования Вараввы и казни Христа.
14. ↑ Пресня — улица в Москве, где жил Маяковский.
15. ↑ Тиана — женское имя из одноименного стихотворения И. Северянина.
16. ↑ Иродиада. — По евангельскому преданию, танцевала вокруг блюда с головой
казненного проповедника Иоанна Крестителя не Иродиада, а ее дочь Саломея.
17. ↑ Ки-ка-пу — модный в то время эстрадный танец.
18. ↑ Севрские вазы — вазы знаменитого фарфорового завода в Севре (Франция).
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