Você está na página 1de 3

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO – UFRPE

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

HISTORIA DAS MULHERES NO BRASIL

ELLEN JOSHUA ALVES DA SILVA

NATHÁLIA NIÉDJA DA COSTA BARBOSA

RESENHA “PROTAGONISMO IGNORADO” DE BEBEL NEPOMUCENO

Recife, julho de 2018


NEPOMUCENO, Bebel. Protagonismo ignorado. In: PEDRO, Joanna Maria; PINSKY,
Carla B. (Orgs.) Nova história das mulheres no Brasil. São Paulo: Editora Contexto,
2013

A autora deste capítulo, Bebel Nepomuceno, é historiadora e jornalista. Doutora


em História Social pela PUC/SP, com especialização em História da África
(CEAA/UCAM). Também foi bolsista do Programa Internacional de Bolsas da
Fundação Ford e Fulbright Visiting-Researcher junto ao African and African American
Studies Center, na Universidade de Boston, nos Estados Unidos. Atua, ainda, com
formação de professores em História e Cultura Africana.

Em sua contribuição para a obra “Nova história das mulheres no Brasil”


organizada por Joanna Pedro e Carla Pinsky, a história das mulheres negras ganha
uma ressignificação, que busca contemplar as mais diversas vertentes da vida destas
mulheres. O capítulo é especial na pena de Bebel Nepomuceno, que contempla as
mais diversas dimensões, iniciando-se na abordagem das raízes da desigualdade e
segue para o trabalho, educação, chefia de família, mobilização e visibilidade com
destaque para o protagonismo exercido por elas ao longo da história.

O texto relata como funciona a vida da mulher negra no período pós-abolição,


onde esta foi imediatamente excluída da sociedade, expulsa de onde morava, por ser
a área central da cidade. Estes locais estariam apenas reservados à sociedade
branca, que almejava se europeizar, por tanto marginalizou os negros, agora de forma
geográfica e não mais apenas social. Buscando esconder sua existência em cortiços,
nas áreas mais distantes, longe dos olhares dos europeus e turistas. Sem contar na
exclusão do mercado de trabalho, substituindo sua força de trabalho pela de
imigrantes europeus, com a desculpa de que estes estariam mais acostumados com
o trabalho em fábricas, por serem oriundos de países já industrializados. Por conta
deste fluxo de imigrantes, a população negra encontrou poucas alternativas, com
alguma dignidade que escapassem das atividades de baixa remuneração.

Quando havia alguma vaga de trabalho disponível, ainda que a mais subalterna
o preconceito racial era visível. A autora relata anúncios de jornais onde as que
anunciavam a vaga para empregada doméstica tinham como exigência principal a cor
clara na pele de quem fosse responder ao anúncio.
“Precisa-se de uma boa cozinheira alemã para casa de
família de tratamento, paga-se bem, dirija-se à rua Cosme
Velho n. 113” ou “Precisa-se de criada para todo o serviço
em casa de família sem crianças, prefere-se estrangeira,
rua do Resende n. 180” (NEPOMUCENO, 2013)

Tal expectativa, na maioria dos casos não era alcançada, pois as estrangeiras
não aceitavam se sujeitar às condições das famílias contratantes, que quase sempre
eram imensas jornadas de trabalho, ausência de direitos, pouca remuneração,
humilhações e abusos sexuais. Assim, mesmo com preconceitos, a presença de
mulheres negras no serviço doméstico continuou predominante, apesar de algumas
conquistas, muitas delas vêm enfrentando até hoje formas de exclusão e
desigualdades.

Nepomuceno segue relatando que mesmo sendo a educação uma forma de


retirar as mulheres negras da condição de miséria o acesso a ela não era facilitado.
As poucas que conseguiam a possibilidade de instruir-se muitas vezes não
conseguiam se inserir no mercado de trabalho, ainda que devidamente qualificadas.
O jornal “O Clarim da Alvorada” era um dos que buscava incentivar a educação e
inserção destas pessoas marginalizadas na população economicamente ativa.

Diante de tantos desmandes sociais a luta negra feminista ganhou força e


começou a provocar mudanças relevantes na agenda social dos governantes. Na
atualidade existem diversas medidas consideradas paliativas, mas ainda assim é
visível a desigualdade entre mulheres negras e brancas, nas mais diversas esferas
sociais.

Você também pode gostar