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EXPOSIÇÃO

HISTÓRICA

DA

OCUPACÃO
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II VOLUME

agência geral das colónias

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da

EXPOSIÇÃO

HISTÓRICA

DA

OCUPAÇÃO
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MINISTÉRIO DAS COLÓNIAS
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EXPOSIÇÃO

HISTÓRICA

DA

OC UPAÇAO

II VOLUME

AGÊNCIA GERAL DAS COLÓNIAS


19 3 7
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1.A GALERIA
PENETRAÇÃO

E POVOAMENTO

ENETRAÇÃO, povoamento... — mas é tôda a coloni-


zação! Obra que não é de hoje, nem de um século,
— mas que começa no próprio dia da invenção pelos portu-
gueses do Mundo até at ignorado.
Chegados os navegadores até às novas paragens povoa-
das, logo a ânsia lusíada buscava inquietamente descobrir,
depois das terras, as riquezas, as gentes e os costumes; e
nunca houve curiosidade mais viva e audaz, nem sensações
mais frescas e perturbantes que as dos soldados, dos missio-
nários, dos aventureiros portugueses entranhados na rudeza
da barbarie ou no mistério subtil de milenárias civilizações.
Levados pelo espirito de aventura, pelo ardor evan-
gélico ou pela cobiça do oiro, ei-los que navegam rios e esca-
lam montes, que travam relações com indígenas, que se em-
brenham em florestas inexploradas, que palmilham a Pérsia,
a China e o Japão, vivendo incríveis lances e triunfando por
admiráveis rasgos.

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Assim correu a fase heróica da penetração, de carácter
sobretudo individual: quantas vezes um só português não
conquista, pela persuação e pelo prestígio pessoal, tribus
e reinos para os vir depor aos pés do seu rei! É que no cora-
ção de cada um dêsses arrojados exploradores iam, inteiras,
as aspirações imperiais e os ideais da civilização da sua pátria!
Mas a penetração não se féz só assim, caprichosamente,
ao sabor da imaginação e da vontade de portugueses isolados:
também revestiu outras vezes aspecto metódico, seguindo um
plano, ora por meio de entendimentos diplomáticos com os
soberanos locais, ora por lenta infiltração pacífica, ora sob a
forma de expedições punitivas ou visando a mera afirmação
de poderio. Era então o desenvolvimento inteligente de uma
politica, levado com persistência até estarem definitivamente
abertos e seguros os caminhos da civilização.

E se as terras descobertas eram ilhas desertas? ou se ofe-


reciam regiões imensas e ricas sem gente que as desbravasse
ou explorasse? Então, impunha-se povoá-las: mas restava sa-
ber com quem.
Levar do reino a gente necessária era impossível: nem
a metrópole dispunha de tantos braços, nem os climas onde
a obra havia de se realizar permitiam a brancos o rude tra-
balho que a terra exigia.
O problema resolve-se, pois, dando Portugal só os con-
dutores— capitãis, letrados, soldados, artífices, mercadores.
Partirá daqui a fé que tudo vence, a iniciativa, a inteligên-
cia e a direcção: a mão de obra buscar-se-á algures.
As possessões de maior riqueza demográfica darão para
as outras. Â Guiné se vão buscar braços para as ilhas de
Cabo Verde; de lá e dos reinos do Congo, Angola e Benguela
partem os negros precisos para os engenhos do Brasil. E como
os dirigentes também são poucos, incumbe-se ao brilhante
estado maior da India, o cuidado pelas feitorias e pelos portos
da costa oriental africana.

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Persistem, ainda, se bem que às vezes ignoradas, afini-
dades étnicas, psicológicas e linguisticas então criadas. A
Guiné ficou para sempre associada à vida de Cabo Verde,
donde ainda agora provêm muitos dos seus funcionários e
dos capitalistas que a exploram. No Brasil estão fincadas in-
deléveis influências angolanas — ou não fôra Angola antiga-
mente uma espécie de dependência da sua economia e até da
sua administração. E Moçambique continua a ser o lugar
preferido pelos indianos para destino da emigração.
Foi pois com o auxilio dos homens de umas possessões
que povoámos outras. Mas nem só êsse processo usámos: for-
maram-se colónias brancas, sobretudo em Cabo Verde, na
índia e no Brasil, e pela aliança com os indígenas, multipli-
cámos os mestiços que no Brasil constituem uma camada im-
portantíssima da população.
Hoje o povoamento branco intensifica-se. Surgem cida-
des enternecedoramente portuguesas — no tipo, na língua e
na alma. Abre-se um novo ciclo no destino imperial da Lu-
sitânia: e olhando tudo o que já fizemos, antevemos o muito
que os séculos futuros esperam do vigor da nossa raça e da
persistência do nosso génio.

Marcelo caetano

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Nas paredes quatro quadros de Cunha Barros, relativos à
expansão da ocupação portuguesa nos meados do século XIX,
um de Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe; outro de An-
gola; outro de Moçambique; e o último de Timor.
Nos quadros da escada e nas vitrinas das secções acham-se
expostos os seguintes documentos:

SECÇÃO I

Cabo Verde, Cuiné e S. Tomé e Príncipe

N.8 1 —Planta da Ilha de S. Nicolau — século XVIII.


(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.8 2 — Planta da Ilha de S. Vicente — século XVIII.


(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 3 — Planta da Ilha do Sal — século XVIII.


(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 4 — Planta da Ilha de Santa Luzia—século XVIII.


(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 5 — Planta da Ilha da Boa Vista — século XVIII.


(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 6 — Planta do Pôrto Real da Ilha de S. Vicente— 1819.


(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.8 7 — Planta do pôrto da Vila da Praia da Ilha de


Santiago — 1808.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 8 — Planta da bataria da Mulher Branca da Vila da


Praia.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial>

10
N° 9 — Planta das ilhas de S. Vicente e de Santo Antão —
1798.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

1 0 Planta da cidade da Ribeira Grande


Verde, com as suas fortificações— 1769.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

11 — Planta da fortaleza real da cidade da Ribeira Grande


na Ilha de Santiago de Cabo Verde — 1770.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 12 Tratado breve dos rios da Guiné do Cabo Verde,


desde o rio de Sanagá até os baixos de Santa Ana
— 1594, André Álvares de Almada.
(Cedido pela Biblioteca Municipal do Pôrto)

N.° 13 —Planta da praça de Bissau e suas adjacentes —


1796, 1 vol. foi., de Bernardino A. Alves de An-
drade.
(Cedida pela Biblioteca Municipal do Pórto)

N.° 14 — Plano da baía de Ana de Chaves, compreendendo a


planta da cidade de S. Tomé e a prespectiva e
planta da fortaleza de S. Sebastião— 1788.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.# 15— Ilha de Fernando Pó — portuguesa desde o sé-


culo XV —cedida à Espanha em 1774 como com-
pensação do tratado de limites do Brasil.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 16 —Vista e planta da Ilha de Ano Bom, portuguesa


desde o século XV, cedida à Espanha em 1774,
como compensação do tratado de limites do Brasil.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 17 —Elevação e prospecto da Ilha de Ano Bom, portu-


tuguesa desde o século XV, cedida à Espanha em

11
1774 como compensação do tratado de limites do
Brasil.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.® 18— Planta da Baía de Ana de Chaves e da Cidade de


S. Tomé. Anexa à consulta do Conselho Ultrama-
rino de 16 de Dezembro de 1644.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 19—Elevação e fachada mostrando em prospecto a Ci-


dade de Santo António na Ilha do Príncipe, no mar
da Etiópia, desenhada por José António Caldas.
(1757).
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 20 — Cidade de Santo António, Ilha do Príncipe—1690.


(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 21 —Planta da Baía e cidade de Santo António da Ilha


do Príncipe, compreendendo as fortalezas de San-
tana e da Mina, por José António Caldas— 1757.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 22-23 — Plantas (2) da Ilha do Príncipe, por Joaquim


de Sousa Braga— 1814.
(Cedidos pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 24—Planta Iconográfica da Cidade de Santo António


na Ilha do Príncipe, no mar da Etiópia (1757),
desenhada por José António Caldas.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 25 — Planta geográfica da Ilha do Príncipe, por José An-


tónio Caldas.
(Cedidas pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 26-27 — Plantas (4) da Ilha do Príncipe, por Joaquim de


Sousa Braga (1814).
(Cedidas pelo Arquivo Histórico Colonial)

12
N.° 28 — Plano da cidade de Santo António da Ilha do Prín-
cipe, por Joaquim de Sousa Braga— 1814.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

SECÇÃO II

Angola

N.° 29 — Mapa hidro-geográfico da Costa Ocidental da Áfri-


ca, compreendido entre 5o e 16° e 40' de latitude
Sul, por Luiz C. Pinheiro Furtado.
(Cedido pela Biblioteca Municipal do Pórto)

N.° 30 — Planta da fortaleza de S. Martinho de Luango, de-


senhada pelo sargento-mor engenheiro Luiz C. Pi-
nheiro Furtado.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 31 —Planta de Novo Redondo, no Reino de Angola, que


mandou construir o capitão-general José de Al-
meida Vasconcelos no ano de 1785.
(Cedida pela Biblioteca Municipal do Pórto)
N.° 32— Mapa geográfico da Costa Ocidental da África com
os portos, baías, rios e posição de tôda a Costa, por
Luiz C. Pinheiro Furtado.
(Cedido pela Biblioteca Municipal do Pórto)

N.° 33 — Mapa hidro-geográfico da Costa Ocidental da Áfri-


ca, compreendido entre 5o e 16° e 40' de latitude
Sul, por Luiz C. Pinheiro Furtado.
(Cedido pela Biblioteca Municipal do Pórto)

N-° 34— Planta do forte de S. José de Cabinda, desenhada


pelo sargento-mor de infantaria, engenheiro Luiz
C. Pinheiro Furtado.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

13
jsj • 35 Gravura panorâmica da vila de Mossâmedes
1865. Feita pelo Coronel Fernandes da Costa
Leal.
(Cedida pela Sociedade de Geografia)

jsj • 36 Planta da fortaleza de S. Sebastião do Molembo,


pelo sargento-mor de infantaria Luiz Cândido Pi-
nheiro Furtado.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N® 37 Planta duma parte da costa do Congo, pelo sar-


gento-mor de infantaria com exercício de enge-
nheiro Luiz Cândido Pinheiro Furtado — 1773.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

3 8 Planta
S. Felipe de Benguela — 1786. Contém a assinatura
do governador de Benguela, Alexandre José Bo-
telho de Vasconcelos.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

3 9 Prospecto
Reyno de Angola, por Luiz Antonio S.\ Anno de
1808. „ ,
(Cedido pela Sociedade de Geografia)

N,° 40 Acontecimentos notáveis do Município de Mossâ-


medes, exarados nos seus anais e que tiveram lugar
desde 1859 a 1862 inclusivé, pelo Presidente da
Câmara Municipal, João Duarte de Almeida.
(Cedidos pelo Arquivo Histórico Colonial)

No 41 Ofício referente ao estabelecimento de feitorias


em Benguela Velha — 1839.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

14,® 42 Memória sôbre o presídio de S. Jose do Encoge


1847.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

H
N.® 43 — Memória sôbre o presídio de Cambambe— 1847.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.® 44 — Memória sôbre o presídio do Duque de Bragança —


1847.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.® 45 — Primeiro volume da descrição e fundação do Pre-


sídio de Muxima, usos, costumes, estado e religião
dos povos, com notícias da Quissama, por José Joa-
quim Borralho, tenente, comandante do dito Pre-
sídio. 1849. Tem uma planta.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N." 46 — Conta da despesa feita pelo Consulado de Portugal


em Pernambuco com o transporte dos colonos e
compra de instrumentos agrícolas e outros objectos
para a colónia de Mossâmedes. Pernambuco, 31 de
Maio de 1849.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.® 47 — Memória histórica sôbre o sertão de Cassange, ofe-


recido a Sá da Bandeira por Francisco de Sales Fer-
reira. Luanda, 20 de Abril de 1853.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.® 48— Relatório sôbre Mossâmedes e esperanças que po-


dem haver de sua importância futura, por António
Sérgio de Sousa, governador do distrito. Mossâme-
des, 1 de Julho de 1850. Trata dos seguintes assun-
tos: Fortificações, edifícios públicos, almoxarifado,
igreja, hospital, casa de pesca, edifícios particula-
res, pescarias por conta do Estado, agricultura por
conta do Estado, arrecadação da Fazenda Pública,
feitorias, fornos de cal, sal mineral, água potável,
salga de carnes, bois-cavalos, movimento comercial.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

15
N.o 49 —Cidade de S. Paulo de Luanda (reprodução foto-
gráfica).
(Cedida pelo Govêrno de Angola)

N.° 50 — Banza de S. Salvador, capital do Congo (reprodu-


ção fotográfica).
(Cedida pelo Govêrno de Angola)

fsj o 51 Carta particular dos reinos de Angola, Matamba e


Benguela, de D'Anville— 1731 (reprodução foto-
gráfica) .
(Cedida pelo Govêrno de Angola)

N.° 52 — A Etiópia ocidental, por D'Anville— 1732 (repro-


dução fotográfica).
(Cedida pelo Govêrno de Angola)

N.o 53 — Carta particular do reino do Congo, por D'Anville


— 1731 (reprodução fotográfica).
(Cedida pelo Govêrno de Angola)
V '•> * • * • • . '
N.o 54 — Delienação geográfica dos reinos do Congo, An-
gola, etc., por Abbeville— 1656 (reprodução foto-
gráfica) .
(Cedida pelo Govêrno de Angola)

N.° 55 — Regna Congo et Angola (reprodução fotográfica).


(Cedida pelo Govêrno de Angola)

SECÇÃO III

Moçambique

N.° 56—Planta de Lourenço Marques, em 1876.


(Cedida pela Agência Geral das Colónias)

N.° 57 — Cidade e Pôrto de Lourenço Marques, em 1898.


(Cedida Dela Aaência Geral das Colónias)

16
N.° 58 — Aguarela representando uma vista da cidade de
Moçambique.
(Cedida pela Agência Geral das Colónias)

N.° 59 — A cidade e pôrto de Lourenço Marques em 1884.


(Cedido pela Agência Geral das Colónias)

N.° 60— Plano da Ilha de Moçambique, mandado tirar pelo


Governador da mesma Ilha, Isidro de Almeida
Sousa e Sá, pelo Sargento-Mor e Comandante do
Corpo de Artelharia, Carlos José dos Reis e Cama
— 1802.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 61—Carta plana de Mossuril e Cabaceira, por José


Amado da Cunha — 1802.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 62 — Plano do forte de Santo António na Ilha de Mo-


çambique e croquis da configuração topográfica da
mesma ilha— 1820.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 63 — Planta duma parte da costa da capitania de Cabo


Delgado na África Oriental, pelo capitão de Arte-
lharia António Francisco de Paula e Holanda Caval-
canti — 1817.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 63-A —. Auto de cessão que fazem os régulos de Nalu de


todo o seu território ao Governo de Sua Majestade
Fidelíssima, o Rei de Portugal.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 64 — Perspectivas das fachadas e planta do edifício da


alfândega de Moçambique—1784.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N." 64-A — Memória sobre um sistema para as Colónias Por-

17
tuguesas — Moçambique, por António Cândido
Pedroso Gamito. Autógrafo. Setúbal, 2 de Janeiro
de 1850.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

65 Descrição da capitania de Moçambique em 1789,


por Jerónimo J. Nogueira de Andrade—1 vol.
4.° incompleto.
(Cedida pela Biblioteca Municipal do Ptrto)

SECÇÃO IV

Macau e Timor

66 —Cópia duma carta de Mr. Belf, referente à nova


Companhia de Macau.
(Cedida pela Agência Geral das Colónias)

61 — Carta geográfica da Ilha de Timor e vizinhos, com


a demarcação de limites dos domínios portugue-
ses e neerlandeses, em conformidade com o Pro-
jecto do Tratado estipulado pela Comissão mixta
Portuguesa e Neerlandesa, em 28 de Agosto de
1852, levantado por ordem do Comissário Régio
Presidente daquela Comissão, pelo membro da mes-
ma Comissão, o capitão Alfredo Benedito César da
Silva.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

68 — Fotografias (7) referentes à colonização do pla-


nalto de Mossâmedes:
a) —Filhos de colonos (colónia da Chibia).
b) Primeiras habitações da colónia (Chibia).
c) —Os primeiros colonos.
d) —Grupo de crianças de famílias dos colonos de
Mossâmedes.
e)—Sá da Bandeira — 1888 — Vista geral.
f) —Habitação do chefe da colonização, D. José
da Câmara Leme.
g) —Grupo de filhos de colonos.
(Cediaas pela Agência Geral das Colónias)

DIAPOSITIVOS

CABO VERDE, GUINÉ E S. TOMÉ E PRÍNCIPE

— Antiga cidade da Praia.


— Rua antiga de Bolama (Guiné).
— Bissau antiga (Guiné).
— Antigo aspecto da cidade de S. Tomé — Séc. XIX.
— Vista tirada do mar, da cidade de Santo António da
Ilha do Príncipe.
— Aspecto antigo de S. Vicente (Cabo Verde) —
Séc. XIX.

ANGOLA

— Muxima.
— Novo Redondo.
— Benguela.
— Colungo Alto.
— Catumbela.
— Sá da Bandeira.
— Cabinda.
— N'Dala Tando (actual Vila Salazar).
— Ambriz.
— Luanda — Mercado ao ar livre.
— Ambrizete.
— Mossâmedes.

19
MOÇAMBIQUE

Praça Mousinho de Albuquerque (Lourenço Mar-


ques)— 1903.
Aspecto antigo de Quel imane.
Antigo Chinde.
Antigo aspecto panorâmico de Pôrto Amélia.
Vista panorâmica da Vila de Tete.
Uma rua da Ilha de Moçambique.
Praia de Machaquene.
Vista panorâmica da antiga vila Chai-Chai, hoje Vila
de João Belo.

TIMOR

Panorama de Viqueque.
Uma rua em Liquiçá.
Povoação em Lautem.
Povoação comercial em Maubara.
Um acampamento.
Uma rua em Dili.
Um trecho da povoação em Bobonaro.
Uma rua em Dili.
Uma povoação em Boibau.
Tranqueira e povoação de Bobonaro.
Uma rua de Dili.
Casas de Maubara.
777777777777777777777',

MAPA DA EXPANSÃO

DA LÍNGUA

(1* SALA ANEXA)

expansão da língua portuguesa no Mundo seguiu de


perto a expansão politica, económica e religiosa de
Portugal. Aonde o soldado, o comerciante e o missionário
levavam a sua actividade, logo se espalhava a sua lingua.
E assim foi que em muitas partes do Oriente e do Extremo-
-Oriente ela se falou nos séculos XVI a XVIII, como conse-
quência dessa actividade, e em algumas regiões se manteve
até hoje como dialecto, a-pesar-de deixar de haver lá há
séculos domínio português: em Ceilão, Mangalor, Cananor,
Cochim, Negapatão, Malaca, Tugo, etc.. João de Barros, que
viveu na febre dessa intensa actividade portuguesa, profeti-
zou a grande expansão da nossa lingua: «As armas e padrões
portugueses, postos em Africa, em Asia e em tantas mil
ilhas... materiais são e pode-as o tempo gastar; mas não gas-
tará doutrina, costumes, linguagem que os Portugueses nes-
sas terras deixarem» [Diálogo em louvor da nossa língua].
Estes dois exemplos mostram essa expansão, ainda nos

21
séculos XVII e XVIII, no Oriente e Extrémo-Oriente, quando
estava já muito decadente o nosso poder político.
Em 1600, o mercador inglês W. Adams escrevia do Ja-
pão: «Eu fui levado numa das galés do rei à côrte, em Osaca,
onde reside o soberano, cérca de 18 léguas do lugar onde
estava o meu navio. A 12 de Maio de 1600, cheguei à grande
cidade do rei, o qual mandou que eu fôsse ao Paço... Levado
à presença do rei, êle fitou-me e pareceu bem disposto a meu
respeito. Falou-me por sinais, dos quais uns compreendi e
outros não. Por fim apareceu alguém que sabia falar portu-
guês. Por êle o rei preguntou-me de que pais eu era e o que
me fizera vir ao seu, tão afastado do dêlen [David Lopes,
A expansão da língua portuguesa no Oriente]. — Cêrca de
7724, A. Hamilton escrevia: «Um grande infortúnio nos es-
pera a nós Europeus que viajamos na índia, isto é, o desco-
nhecimento das suas línguas: elas são tão numerosas que um
século seria pouco tempo para as aprender tôdas. Eu não pude
encontrar uma pessoa em 10.000 habitantes da India que
fôsse capaz de falar suficientemente inglês; e pelo contrário
os Portugueses deixaram ao longo das costas vestígios da sua
língua, posto que muito corrompida; ela é a lingua que a
maior parte dos Europeus aprendem primeiro para comuni-
carem uns com os outros, assim como com os diferentes habi-
tantes da índia» [David Lopes, A expansão da língua portu-
guesa no Oriente].
A sua expansão no passado e no presente pode ver-se no
seguinte quadro que é o traslado do mapa em exposição na
sala.
A (côr encarnada)

Regiões em que se fala o português como língua própria


ou como língua oficial.

1 — Portugal e Olivença
2 — Açores

22
3 — Madeira
j — Cabo Verde
3 — Guiné Portuguesa
6 — S. Tomé e Príncipe
7 — A ngola
8 — Brasil
9 — Moçambique
10 — Diu
11 — Damão
12 — Goa
13 — Timor
14 — Macau

B (côr verde)

Regiões em que o português é falado por colónias de


emigrantes.

15 — índia: Bombaim.
16 _ China: Hong-Kong e Xangai.
z7 — Ilhas de Hawai: Honolulu.
18 — Estados-Unidos da América: Newark, Nova-Bedford,
Fall-River, Providence, Cambridge-Boston (Estados de
Leste); S. Francisco, Oakland e Sacramento (Califórnia)

C (côr alaranjada)

Regiões em que se fala o português dialectal na forma


de crioulo:

19—Cabo Verde
20 — Guiné Portuguesa
21 — S. Tomé e Príncipe
22 — Ano Bom
23 — Diu
23
— Damão
25— Baçaim, Taná, Bombaim e Chaúl
26 — Mangalor
27 — Cananor
28 — Mahé
29 — Cochim
30 — Ceilão
31 — Negapatão
32 — Malaca e Singapura
33 — Java: Tugo.

D (côr a/.ul)

Regiões em que se falou o português:

34 — Colónias de judeus portugueses: Haia e Amesterdão


(Holanda); Hamburgo (Alemanha); Livorno (Itália)
55 Marrocos: Ceuta, Alcácer-Ceguer, Tânger, Arzila, Aza-
mor, Mazagão, Safim e Santa-Cruz (Agadir)
36 — Arguim (ao sul do Cabo Branco)
37 — Costa do Ouro: S. Jorge da Mina
38 — Daomé: S. João Baptista de Ajuda
39 — Loango
40 — Hha de Santa-Helena
41 — Quíloa
42 — Zanzibar
43 — Mombaça
44 — Melinde
43 — Sacotorá
46 — Arábia, costas de Oman: Curiate, Mascate, Soar, Cor-
facão e Dobá
47 — Pérsia: Ormuz e Comorão
48 — índia ocidental: costas de Diu ao Cabo Comorim
49 — índia oriental: costas do Cabo Comorim a Paleacate
50 — Ceilão

U
51 — Bengala: Ugolim (ao sul de Calcutá)
52 — Birmânia: Rangune, Martabão, Tavoi e Mergui
53— Malaca e Singapura.
54 — Sião: Bangkok
55 — Java: Batávia
56 — Ilhas de Flores e Solor
57 — Molucas: Tidore, Ternate e Ambóino
58 — China: Cantão
59 — Japão: Nagasáqui.

Hoje a língua portuguesa é falada em todas as partes do


Mundo por mais de 55 milhões de pessoas.

DAVID LOPES

-T7T77777'77777777'77'?y7',

VIAGENS DE CARACTER

CIENTÍFICO E POLÍTICO

OMO sintética, mas muito acertadamente escreveu


Manuel Murias, no magnifico prólogo à Travessia
de Africa, do Dr. Lacerda e Almeida (Lisboa, 1936), o plano
de atravessá-la é antigo parecer ter preocupado já o Infante
D. Henrique, que julgaria poder encontrar por terra passa-
gem para o Índico. Diogo Cão, ao chegar ao Zaire, era o que
procurava, a passagem, ao seguir rio acima até se desiludir.
A viagem de Bartolomeu Dias descobriu o caminho por mar,
mais útil evidentemente, e que, por isso mesmo, fêz pôr de
parte durante algum tempo os ensaios de travessia por terra.
Assim é que, de entre outras regiões do grande conti-
nente negro, o reino de Monomotapa atraia as melhores aten-
ções dos portugueses, mal definido de fronteiras e de popu-
lações.
A curiosidade de encontrar-se caminho mais perto para
a índia, indo de Portugal, por terras da Africa, era um dos
motivos de tantos projectos nacionais para a sonhada tiavessia.
27
Monomotapa figura em muitos dos livros e documentos,
desde o século XVI, como região assaz rica e digna de explo-
ração comercial (no tocante a minas), de atenção religiosa e
de conquista.
Aquêle mesmo historiador nos mostra, entre outros, um
curiosíssimo documento por onde se prova que, em começos
do século XVII, se pensava, com firmeza, no plano de explo-
rar e dominar o interior da África entre Angola e Moçam-
bique.
Sôbre as tentativas de exploração do continente, já bem
conhecidas, desde João Fernandes (1445), Duarte Lopes (1578-
-1587) a Capelo e Ivens e Gago Coutinho, outrem escreverá.
Limitamo-nos a breve resenha daquilo que deve Portugal aos
exploradores científicos e políticos dos fins do século XVIII
até ao século XX, como Lacerda e Almeida, Honorato, Serpa
Pinto, Capelo e Ivens, Henrique de Paiva Couceiro, etc.
Amadurecido o projecto de travessia desde a costa de
Angola à de Moçambique, em tempo do governador da pri-
meira colónia, D. Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho;
planeada a exploração dos grandes rios Zambeze e Cunene,
aquêle a desaguar no Oceano Indico, êste no Atlântico Meri-
dional; enfim, presente ao grande ministro D. Rodrigo de
Sousa Coutinho um relatório do sapiente colonialista José
Maria de Lacerda a respeito da ambicionada travessia, foi
encarregado desta dificílima missão o Dr. Francisco José de
Lacerda e Almeida, sábio geógrafo já bem treinado em inves-
tigações no Brasil, na última década do século XVIII.
Embarcou para a Africa no ano de 1797, provido no
cargo de Governador dos Rios de Sena e Tete. Em 1798,
depois de muitas contrariedades que venceu, pior ou melhor,
começava a travessia de Oriente para Ocidente.
Das informações que logrou colher sôbre o itinerário,
algumas as deveu a Gonçalo Caetano, velho negociante ser-
tanejo que se ofereceu para o acompanhar, visto que conhecia

28
bem a região entre Tete e Cazembe, esta no interior afri-
cano, entre Angola e Moçambique.
De facto, êle o seguiu até à morte e, depois, o Padre João
Pinto, continuador do malogrado Dr. Lacerda.
Porém, não conseguiram alcançar Angola. Chegados a
Cazembe, depois de lutas espantosas com doenças, traições dos
companheiros e serviçais, com fome e com sêde, já falecido o
Dr. Lacerda, Padre João Pinto mandou continuar a viagem
aos soldados brancos Paulo da Silva e Caetano da Costa. Mas
de Cazembe não saíram, porque o rei negro lho não permitiu.
E ali ficaram. Do Caetano da Costa nunca mais se soube.
Quanto ao Padre João Pinto e seus companheiros, o
tenente-coronel Nolasco e o citado Gonçalo Caetano, únicos
europeus, regressam a Tete. O heróico sacerdote fizera a via-
gem de Cazembe até ali em quatro meses, dezoito após a sua
partida, como parceiro dedicado do ilustre Dr. Lacerda e
Almeida. Êste verdadeiro mártir da Ciência e da Penetração
politica morrera em Cazembe a 18 de Outubro de 1798.
No valiosíssimo relatório dessa expedição, publicado pela
Agência Geral das Colónias e sob a autorizada direcção do
Dr. Manuel Murias, há notícias valiosas sôbre geografia, astro-
nomia, flora e fauna, antropologia e etnografia.

Dos continuadores do Dr. Lacerda falam-nos, entre ou-


tras obras, a do Comandante Quirino da Fonseca (Um drama
no sertão, 1936). Uns mais felizes, outros menos afortunados,
todos se sacrificaram à enorme emprêsa, que não envergo-
nhou Portugal perante as de outras nações que para lá man-
daram homens da envergadura de Livingston (1831 e 1836),
Stanley (1877), Brazza e outros.
No mesmo ano de 1797, em que o Dr. Lacerda fôra
incumbido de tão alta missão, era D. Fernando de Noronha
encarregado de diligenciar o estabelecimento da comunica-
ção entre Angola e os Rios de Sena, isto é, de Ocidente para
Oriente.

29
Noronha, capitão-general de Angola, por sua vez, indi-
cara a pessoa do tenente-coronel Francisco Honorato da Costa,
comandante da Feira de Cassange (perto de Malanje), para
levar a termo essa empresa.
Razões de variada ordem impediam o tenente-coronel
Honorato proceder, em pessoa, ao reconhecimento solici-
tado do Reino. O certo é que mandou fazê-lo por dois em-
pregados seus da Feira, Pedro João Baptista e Anastácio Fran-
cisco. O primeiro, indígena negro, inteligente e ousado, co-
mandou a expedição e cumpriu o que lhe fora determinado.
Saiu de Cassange em fins de 1802 e chegou aos Rios de Sena
9 anos depois, em 1811. Durante 4 anos os reteve na sua côrte
o régulo de Bomba, e outros 4 o de Cazembe.
Infelizmente, o tenente-coronel Honorato, feliz na esco-
lha dos dois aventurosos e dedicados pombeiros, não o foi no
modo como atendia às suas necessidades. Porém, feita a tra-
vessia, seguindo, sensivelmente, a rota do Dr. Lacerda, che-
garam a Tete em 2 de Fevereiro de 1811. Do curioso diário
de Baptista se colhe terem sofrido os esforçados pioneiros mui-
tas incomodidades e misérias pelo caminho, de que foram
responsáveis o próprio Honorato e o Governador de Tete.
Sabido é que a expedição regressou a Angola, donde partira,
em 1814! Da falta de recursos para a viagem de regresso se
queixa o valente Baptista, falta que se deve imputar ao citado
Governador de Tete.
Mais tarde, em 1 de Junho de 1831, partia de Tete para
Angola outra caravana de exploração até Cazembe, esta che-
fiada pelo major José Maria Correia Monteiro, que se féz
acompanhar do capitão António Cândido Pedroso Gamito.
O relatório da missão escreveu-o êste último, em livro que
denominou Muata Cazembe (Lisboa, 1834), muito valioso (l).
Numerosa era a companhia: mais de 400 homens. Nada

(') Esta obra foi recentemente editada pela Agência Geral das Coló-
nias. — (A. G. C.).

30
obstou a que, depois de longo caminho e chegados a Cazembe,
neste reino os detivesse o régulo durante largo tempo. Dai
escreveu o major Monteiro uma carta para Angola, que foi
recebida, de facto... mas passados 7 anos! No citado relatório
da expedição lêem-se inúmeras e valiosas informações de ca-
rácter político e cientifico, dignas de admiração.
Por motivos de ínfimos interesses de uma rica proprie-
tária de Golungo Alto, não conseguiu atravessar a Africa, de
Angola a Moçambique, o comerciante Joaquim Graça. Par-
tira éste em 24 de Abril de 1843, por incumbência do Gover-
nador de Angola Bressane Leite. Conseguiu fugir de Mua-
ta-Ianvo, onde chegara, escapando à traição armada por emis-
sários daquela proprietária. E regressou, açodado, a Angola,
sem, por isso, poder cumprir a sua missão.
Em 1852 nova tentativa executou o patriota, honrado e
heróico sertanejo António Francisco da Silva Pôrto, que tão
tràgicamente havia de suicidar-se, em i8po, no sertão, envôlto
na bandeira da Pátria e ao seu serviço.
Partindo de Belmonte, no Bié, e depois de ter atraves-
sado as regiões Lialui, Bungo, Zambeze, Lago Niassa, Pun-
gue e outras, chegou à cidade de Moçambique em 1853. Atin-
gira, portanto, as cabeceiras do Rio Zambeze, como lhe fôra
indicado.
O Império Colonial, o seu prestigio e a politica portu-
guesa ultramarina ficaram devendo a Silva Pôrto serviços que
a Nação jamais lhe pagou ou pagará!
O seu diário, valiosíssimo, revela-nos muitas noticias so-
bre as regiões que pisou na dura e longa viagem, uma das
mais notáveis que até hoje se fizeram.
Até que, em 1877, se abalançavam à emprêsa tanta vez
tentada, os inolvidáveis Brito Capelo, Roberto Ivens e Serpa
Pinto, os primeiros, oficiais da Armada, o último, capitão
de Infantaria.
Em 12 de Novembro daquele ano partiram de Benguela
os três exploradores. Chegados a Belmonte, localidade que já

31
mencionámos a propósito do sertanejo Silva Pôrto, separa-
ram-se desta forma: Capelo e lvens por um caminho, com des-
tino a Jaca, Serpa Pinto por outro, mais para o sul. Atraves-
sou êste último as terras onde nascem o Cuanza e o Zambeze,
habitadas pelos ambueles, luchazes e cuimbandes, chegou às
cataratas de Victoria, passando o Transvaal e o Natal.
De tudo o que observou e anotou, destacam-se as rectifi-
cações feitas aos documentos publicados por outros investi-
gadores, como Livingston. As observações de Capelo e lvens,
referentes à sua expedição às terras de Jaca, são deveras no-
táveis.
Em 1886-188j nova tentativa efectuaram êstes dois ofi-
ciais, desta vez por determinação do ministro da Marinha e
Ultramar, Manuel Pinheiro Chagas. Esta, como diz Quirino
da Fonseca foi a mais importante viagem de exploração efec-
tuada em África, pelos portugueses, até êsse tempo, devendo
apontar-se como notáveis circunstâncias, a visita às terras de
Garanganja, Catanga, do curso do Luapula, e a descida do
Zambeze, de Choa até ao Oceano Índico.
Tinham partido da vila de Mossâmedes (Angola) pas-
sando às terras de Chela, Huila e Hurnbe, as de entre os rios
Cunene e Cubango, costeando depois o Zambeze até Que-
limane.
Não devemos esquecer os nomes do oficial de Marinha
Augusto Cardoso, um dos companheiros de Serpa Pinto, e a
expedição de Henrique de Carvalho (1884) ao Muata-Ianvo.
Entre 1887-1889, são valiosas para a história do domí-
nio português em A fica as expedições de Paiva de Andrade
(Zambézia), Serpa Pinto (Tungue), António Maria Cardoso
(Niassa), Victor Cordon, Paiva Couceiro e outros.
A de Serpa Pinto, politicamente, foi das mais impor-
tantes (1889): tratava-se de procurar, por caminho de ferro,
ligação entre o lago Niassa e o mar. Esta expedição, compli-
cada e de grave repercussão na Inglaterra, que na Africa
mantinha largos interesses, originou fortes discussões em volta

32
do célebre mapa côr de rosa, traçado pelo Ministro Barros Go-
mes: de tudo nasceria, enfim, a afronta do ultimatum inglês,
já de todos bem conhecida. Obstava-se que se desse cumpri-
mento à ocupação, pelos Portugueses, de toda essa região
africana ou faixa entre Angola e Moçambique. A Conferên-
cia de Berlim (1885) e tratados imediatos impediram a exe-
cução dêsse plano.
A expedição fôra atacada pelos macololos, cuja acção a
Inglaterra fomentava, mas Azevedo Coutinho e Serpa Pinto
conseguem dominá-los. O que não conseguiram foi debelar
os maus informadores da nossa velha aliada, que exigiu de
Portugal a retirada das suas fôrças da região do Chire e da
terra dos macololos e machonos.
Quanto a Paiva Couceiro, um dos mais ilustres e herói-
cos dominadores de Africa, a sua acção foi das mais distintas.
Êle e Artur de Paiva confirmaram e estenderam o poderio
português nas regiões do Zambeze.
É digna de lembrança e de admiração a acção de Paiva
Couceiro na expedição ao Barotze (Bié). Tratava-se, agora,
de obter um ponto que servisse de ligação às duas províncias
de Angola e Moçambique.
É nesta época da História da Ocupação que morre o
her oiço sertanejo Silva Pôr to, que tão grandes serviços pres-
tou a essa expedição, com o seu prestigio invulgar entre os
sobas da região. Tal e tanto que, vendo-se injustamente jul-
gado por um dêles, preferiu morrer entre barris de pólvora a
que lançou fogo: a sua escrupulosa honestidade não venceria
o ultrage dessa injustiça! Morreu em defesa da Pátria e do
nome honrado de Portugal.
Mais chegadas ao nosso tempo são as excursões de reco-
nhecimento geográfico e limitação das fronteiras de Angola e
Moçambique (1912-1914): durante êsses trabalhos atravessa-se
a Africa de ocidente a oriente (1912-1913) e vice-versa (191 y
-1914). A expedição era comandada pelo glorioso marinheiro
Gago Coutinho.

33
Enormíssimo é o valor dêste gigantesco feito, que cerra
brilhantemente o ciclo de tudo o que até então fizeram os
portugueses entre Angola e Moçambique.
E se não conseguiu Portugal obter essa sonhada faixa
de terras que fossem a natural ligação das duas grandes coló-
nias, ao menos ficou de todas as tentativas a certeza do esforço
incomparável dos portugueses em matéria de exploração
geográfica, científica e politica em terras que foram os pri-
meiros a descobrir, a civilizar e a cristianizar!

LUIZ DE PINA

34
SECÇÃO V

Viagens dos pombeiros de Honorato da Costa, do dr. Lacerda


e Almeida, de Gamito e outros exploradores

Na parede o quadro de Sara Afonso sôbre as «Viagens


de Lacerda, Honorato e Gamito».
Em duas vitrinas acham-se expostos os seguintes do-
cumentos:

N.° 1 — Cópia do Diário da viagem dos Pombeiros do tenen-


te-coronel Francisco Honorato da Costa, director
da feira de Cassange, os quais, partindo de Muro-
pué, nos sertões de Angola, nos últimos dias de
Novembro de 1802, chegaram à Vila de Tete no
dia 2 de Fevereiro de 1811.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 2 — Carta de António Cândido Pedroso Gamito para


Sá da Bandeira acêrca da expedição de que foi
chefe o major José Maria Correia Monteiro, en-
viando desenhos de sua autoria, representando o
Cazembe no dia em que recebeu a expedição. Setú-
bal, 6 de Novembro de 1845.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 3 — Desenhos de António Cândido Pedroso Gamito.


(Cedidos pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 4 — Cópia do Diário da viagem do Muropué ao Cazem-


be — 1806 — e do Cazembe a Tete — 1810-1811
— pelo pombeiro do tenente-coronel Honorato, Pe-
dro João Baptista.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.® 5 — Preguntas que o governador de Tete, Constantino


Pereira de Azevedo, fêz aos Pombeiros de Francisco

35
Honorato da Costa, quando chegaram è Vila de
Tete.
Cópia da carta do tenente-coronel Francisco Hono-
rato da Costa, que anuncia ao marechal José de Oli-
veira Barbosa a chegada dos seus pombeiros, vindos
de Tete com cartas do Governador. — Feira de Ma-
curi, 13 de Junho de 1814.
(Cedidas pelo Arquivo Histórico Colonial}

N.° 6 — Ofício de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, de 6 de


Março de 1797 ao Rei, com instruções preparató-
rias da viagem do Dr. Francisco José de Lacerda e
Almeida.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial}

N.° 7 — Ofício do Dr. Lacerda, Governador de Rios de Sena,


ao Ministro da Marinha e Ultramar, D. Rodrigo de
Sousa Coutinho, datado de Tete, 22 de Março de
1798, com informações sôbre a viagem dali ao
Cazembe.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 8 — Carta do Dr. Lacerda e Almeida, escrita em Tete,


a 13 de Abril de 1798, ao Governador Geral de Mo-
çambique, acêrca da morte da Esposa e das con-
trariedades no govêrno dos Rios de Sena, antes da
partida para a sua viagem de travessia.
(Cedida pela Agência Geral das Colónias)

N.° 9 — Diário da viagem do Dr. Lacerda, de Tete ao Ca-


zembe, onde morreu a 18 de Outubro de 1798, a
meio da travessia que empreendera de Moçambi-
que a Angola. (Cópia mandada tirar do manuscrito
existente em 1844 na livraria do Conde de Linha-
res pelo Visconde de Sá da Bandeira, que a anotou
do seu punho).
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial}

36
10 — Mapa de que se serviu o Dr. Lacerda e Almeida na
tentativa de travessia de Moçambique.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.* 11 — Cópia do testamento do Dr. Lacerda e Almeida,


feito em Tete a 16 de Junho de 1798, antes da sua
partida para a travessia do Continente Africano,
durante a qual veio a morrer no Cazembe.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 12 — Diário da viagem de regresso de Cazembe a Tete,


da expedição, pelo capitão da mesma depois da
morte do Dr. Lacerda, padre Francisco João Pinto,
1798 e 1799.
(Cedido peto Arquivo Histórico Colonial)

DIAPOSITIVOS

HENRIQUE A. D. DE CARVALHO

Dirigiu em 1884 a expedição ao Muata-lanvo; defen-


deu os direitos de Portugal quando o Estado do Congo
pretendeu anexar a Lunda. Em 1880, reunida em
Bruxelas, a conferência da escravatura, dirigiu uma
carta ao Rei da Bélgica intitulada «L'influence de la
civilisation latine et surtout Portugaise en Afrique.»
1.° Governador da Lunda em 1895.

AGOSTINHO SEZINANDO MARQUES

Sub-chefe da expedição ao Muata-lanvo.


— Contratados da expedição ao Muata-lanvo.
— Acampamento.
— O explorador africano Henrique de Carvalho no sertão.
37
Estação 24 de julho.
Travessia de um rio.
Estação Ferreira do Amaral.
Estação Paiva de Andrade.
Acampamento da expedição ao Muata-lanvo.
Estação Luciano Cordeiro.
Ponte no Cuango.
Silva Porto, filho de gente humilde e pobre, partiu sozi-
nho, muito cêdo, criança ainda, em busca da fortuna; nem
doze anos completara quando em 1829 deixou o Pôrto — sua
terra natal — pela barra do Douro, a bordo do «lindo ve-
leiro» Rio Ave, em direcção ao Brasil!
— Pedra bulidiça não cria musgo... —Bem se lembrava
êle de ouvir esta sentença aos pais, como um aviso profético,
na hora dolorosa do apartamento. Mas o infantil e ousado emi-
grante não podia ser superior ao seu dinâmico destino...
Depois de haver tentado adaptar-se à prisão das lojas
de secos e molhados do Rio de Janeiro e da Baia; depois de
ter conhecido um bom número de patrões; verdadeira pedra
bulidiça, António Francisco Ferreira da Silva — que, em
1836, passou a usar definitivamente o apelido Pôrto, por que
ficaria conhecido na história — desistiu da vida monótona e
cativa de marçano, para que não sentia a minima vocação.

39
Tornou a embarcar. Atravessou o Atlântico. Pôs pé em
terras africanas. Voltou à Baía. Aías regressou logo a Angola,
e seguiu para o interior, com uma caravana de sertanejos.
Contava apenas 22 anos de idade.
Finalmente! Encontrara a profissão que o seu génio am-
bicionava. O sertão africano, infindável, cheio de perigos e
de mistérios, de riquezas, de promessas e de traições, forne-
cer-lhe-ia tudo quanto exigia a sua natureza ávida de novi-
dades, de aventuras arrojadas e de acção.
Fascinado por essa Africa avassaladora e portentosa, a ela
ficou prêso para sempre.
Fixou-se no Bié, onde fundou, a 1.670 metros de alti-
tude, a sua famosa Póvoa de Belmonte, próximo do Rio
Cuito, no cimo dum suave outeiro, em situação climática e
panorâmica privilegiada. Até 1869 viveu ai. Nesse ano mu-
dou a residência para a sua fazenda de Bemposta, próximo
de Benguela. Mas em 1879 voltou a habitar a sua querida e
aprozivel povoação de Belmonte.
Lá estiveram hospedados Capelo e Ivens, e logo a seguir
Serpa Pinto, em 1878, no inicio das suas gloriosas explora-
ções. Serpa Pinto, em Como eu atravessei a Africa, elogia a
beleza da situação e a excelência estratégica da «Libata» de
Silva Pôrto, e faz menção especial, não só dos sicómoros enor-
mes que orlavam as ruas da cerca, mas também da alta sebe
de roseiras, constantemente floridas, que envolvia o formoso
laranjal sempre em fruto e flôr, a cuja sombra perfumada
durante dias sem fim, «arrastando ainda os membros tolhidos
das dôres, e queimado de febre», êle, Serpa Pinto, organizou
na mente, com verdadeiro heroísmo, o plano da expedição
temerária que depois realizou.
Tendo o Bié como centro de irradiação, Silva Pôrto per-
correu durante cinquenta anos, em todos os sentidos, os ser-
tões da Provinda.
É claro que o principal objectivo de quási tôdas essas
viagens era comercial. Mas isso mesmo torna mais digno de

W
mérito o desinteressado e esplêndido esforço compreensivo e
nacionalizador desenvolvido pelo glorioso sertanejo durante
aquêle meio século que em África lutou desajudado, porém
cheio de fé, contra tódas as adversidades. Tudo quanto viu,
ou que consigo mesmo se passou; muito do que ouviu e até
do que pensou, deu-se êle ao trabalho, ou melhor ao deleite,
de minuciosamente registar em livros e livros que escreveu.
Infelizmente, a humildade e a pobreza dos seus progeni-
tores, cuja memória Silva Pôrto sempre agradecidamente
abençou, não lhe haviam permitido senão cursar modestís-
simos estudos de primeiras letras, nos seus tempos da infân-
cia; nasceu pobre... e pobre morreu. Se não fora essa falta
de preparação cientifica, da qual não era culpado, os seus
curiosíssimos e numerosos volumes de Diários — que descre-
vem largamente a sua vida em Africa desde 1846 até 1890,
as suas múltiplas viagens, as regiões que repetidas vezes atra-
vessou, os povos que conheceu, os costumes que observou, os
sucessos de que foi testemunha presencial — constituiriam
uma obra completa e perfeita sobre a geografia, a história e a
■etnografia de Angola no século XIX.
Mesmo assim, o valor da colecção dos seus Diários é
apreciável. Permite reconstituir a Angola daqueles tempos,
e diz-nos, com todos os permenores, o que era o domínio
português e a politica dos governos da Metrópole em relação
àquela Província, no gravíssimo período histórico compreen-
dido entre os anos de 1846 e 1890; permite sobretudo render
consciente justiça a uma vida inteira de trabalho indefeso e
honesto, a que quási só corresponderam decepções e amar-
guras, mas que foi inalteravelmente norteado por sentimen-
tos nobilíssimos de brio, de honra, de amor à Pátria e de res-
peito a Deus.
Longe de Portugal, nunca o seu coração deixou de bater
em uníssono com o dos que por cá viviam. Lia muitos jornais
e revistas da metrópole: O Jornal do Comércio, a Correspon-
dência de Portugal, a Gazeta de Portugal, o Archivo Pitto-


resco, o Panorama, etc. Com o papel da Gazeta de Portugal,
de que Silva Pôrto possuía em Belmonte a colecção com-
pleta, foi que Serpa Pinto preparou os cartuxos para a sua
famosa expedição!
A alma tam portuguesa do Sertanejo amargurava-se com
a incompreensão, motivada pelo desconhecimento completer
das realidades, que os nossos políticos e governantes a cada
passo manifestavam a respeito dos problemas coloniais. Mor-
tificava-o, sobretudo, o desinteresse com que o País olhava a
riquíssima Província de Angola, em volta da qual rugiam as
mais torvas ambições.
Lamentava que se não fomentasse com inteligência o de-
senvolvimento do comércio, da agricultura e das artes nas
colónias. Verberava o abandono de «pontos no interior», nãa
só por éles terem custado «muito sangue e muito dinheiro»,
mas também porque êsse acto trazia como consequência
«o crescente desafôro dos selvagens em presença da nossa fra-
queza, mostrando-lhes que já não somos o que fomos».
Insurgia-se contra um jornal de Lisboa que chamava
pestífero ao clima de Angola, sem distinguir entre o litoral
e o interior. No Bié, ao clima è temperado, os ares puros, as
águas as melhores do mundo, há tudo o necessário à vida em
abundância», e, além disso, «indígenas aptos a receber e a
compreender, se necessário fôr, todos os ramos da variada
ciência humana». Prestava a justiça devida ao poder civili-
zador das missões religiosas e do comércio, mas sustentava
que meios pacíficos não bastariam para fazer cessar, duma
vez para sempre, as rebeldias dos selvagens. Era precisa tam-
bém uma decisiva acção militar.
A certo governador de Benguela que em 1863 mani-
festara a opinião de que ao domínio português em Africa se
devia limitar ao litoral», Silva Pôrto respondia que, embora
o nosso Govêrno tratasse de fortalecer o seu domínio nas ter-
ras da beira-mar, não devia esquecer-se de «continuamente o
estender, o mais que fôr possível», para o interior, «porque-

kl
se o não fizer a tempo fá-lo-ão os Inglêses». E acrescentava,
deixando transparecer uma intima revolta: — Se Angola fôsse
estrangeira talvez «o interior já de há muito que estaria ex-
plorado, comunicando-se ambas as Costas; quiçá que o solo
se achasse sulcado por caminhos de ferro, ou mesmo belas
estradas à falta daqueles... Mas isto è de Portugal, onde só se
trata de fúteis rivalidades, deixando que o estrangeiro nos
apupe com escárneo, levando a sua audácia ao ponto de nos
escarrar nas faces. Miséria! Maldição sobre os indiferentes
Cobiças numerosas e ferozes, estavam voltadas para o
vasto continente africano, algumas disfarçadas sob a capa
de humanitarismo.
Silva Pôrto, em 1885, ao oferecer à Sociedade de Geo-
grafia Comercial da sua nunca esquecida cidade do Pôrto, os
dez volumes dos seus Diários, intitulados Apontamentos dum
Portuense em África, dizia: — A Africa está a ser partilhada,
anão em favor da civilização dos seus povos, do que menos se
curará, mas em beneficio do único móvel que dirige esta cru-
zada: o interêsse. E Portugal, adormecido à sombra dos seus
louros, cônscio dos seus direitos de conquista e precedência,
descansa das suas fadigas gloriosas, e descuidadamente não vê
que outros se aproveitam do seu abandono». Silva Pôrto
afirma que Angola estava em perigo iminente, e para conju-
rar o mal só via um remédio: realizarem-se com urgência
algumas imprescindíveis medidas de fomento.
Deviam construir-se apronta e imediatamente» linhas de
caminho de ferro, não uma só e que se limitasse a ir até Am-
baca, como era do projecto, amas que siga a Cassange, e que
se ramifique desde logo por outros pontos centrais do maior
comércio da Africa, como o Bié, Bailundo, etc. E, com o cami-
nho de ferro, outras medidas de interêsse palpitante se deve-
riam levar a cabo, como garantia de braços ao agricultor e ao
industrial».
Numa carta datada de 21 de Maio de 1887 escrevia:
a A gora estamos cercados por todos os pontos. Temos estian-
43
geiros no Oeste, Leste, Sul e Norte, e então é preciso fazer
o mesmo que esta gente procura fazer, estabelecendo-nos nos
pontos centrais de maior nomeada. Se assim não fizermos o
nosso domínio central deu fim».
Porém era já demasiado tarde... Não haviam encontrado
eco em Portugal os repetidos avisos do velho, bondoso, hon-
rado e patriótico sertanejo, cuja inteligente perspicácia tudo
previra, enquanto os Conselheiros de Estado se obstinavam
na sua funesta miopia.
E, antes de volvidos três anos, poucas semanas depois do
«Ultimatum», Silva Pôrto num momento de desvario, su-
pondo talvez que tudo estava perdido, envolve-se na bandeira
portuguesa — a bandeira feita por suas próprias mãos e que
durante cinquenta anos o acompanhara em todas as viagens
através dos sertões africanos — envolve nela o seu corpo ven-
cido por imensa dôr moral, coloca-se entre numerosos barris
de pólvora, chega-lhes o fogo, e morre vitima das queima-
duras provocadas pela formidável explosão.
No Altar da Pátria, em significativo holocausto, supremo
protesto contra uma politica inepta e criminosa, o velho Ser-
tanejo imolara a própria vida.

Pôrto, de Maio de 1937.

A. DE MAGALHÃES BASTO

U
SECÇÃO VI

Viagens de Silva Pôrto

Na parede um quadro de Sara Afonso, sôbre a «Viagem


de Silva Pôrto e seus pombeiros».

Determina de dar a doce vida


A trôco da palavra mal cumprida

(Canto III — 37)

Em duas vitrinas acham-se expostos os seguintes objectos


e documentos:

N.° 1 — Viagens e apontamentos de um portuense em Áfri-


ca— Silva Pôrto. — 1.° e último volumes.
(Cedidos pela Biblioteca Municipal do Pôrto)

N.* 2— Documentos relativos à viagem de Silva Pôrto, do


Bié à Contra-Costa em 1852. Contém correspon-
dência trocada entre Silva Pôrto e o Governador
de Benguela, indicando as medidas que convinha
tomar para fazer acompanhar por portugueses, no
seu regresso a Moçambique, uma comitiva de 5
árabes maometanos que tinham chegado a Angola.
Silva Pôrto oferece-se para realizar êsse serviço,
mas, atingido pela doença durante a viagem, vê-se
na necessidade de o confiar a pombeiros seus, que
atingiram a Costa de Moçambique, regressando por
mar a Angola.
Cedidos pela Misericórdia do Pôrto)

N.° 3 — Bandeira improvisada pelo sertanejo Silva Pôrto.


(Cedida pela Sociedade de Geografia)

45
N." 4—Bandeira de Silva Pôrto. O grande sertanejo fê-la
por suas mãos e nela se embrulhou para morrer.
(Cedida pela Saciedade de Geografia/

Junto à vitrina em que figura esta última bandeira, está,


reproduzida em «maquette», a «embala» de Silva Pôrto.

DIAPOSITIVOS

— Restos dum baluarte da fortaleza do Bié — Séc. XIX.


— Monumento a Silva Pôrto (Bié).
— Deputação para a entrega dos restos mortais de Silva
Pôrto (1891).
— Silva Pôrto em 1879.
— Último retrato de Silva Pôrto.
— Préstito de Silva Pôrto.

SECÇÃO VII

Viagens de Serpa Pinto

Na parede um quadro de Sára Afonso, sôbre a «Viagem


de Serpa Pinto».

Em duas vitrinas estão expostos os seguintes objectos e


documentos:

N.° 1 — Pasta de homenagem a Serpa Pinto «A Pátria Re-


conhecida» — 1890.
(Cedida pela Viscondessa de Serpa Pinto)

N.° 2 — Diário particular do major Alexandre de Serpa Pinto


— Viagem na África Austral, em 1877-78-79.
(Cedido pela Viscondessa de Serpa Pinto)

46'
N.° 3 — Album de desenhos feitos pelo major Serpa Pinto e
referentes à sua viagem ao interior da África Aus-
tral _ 1877-78-79. — Volume III.
(Cedido pela Viscondessa de Serpa Pinto)

N." 4 — Lenço de seda em homenagem a Serpa Pinto. (Tem


o retrato do homenageado).
(Cedido pela Viscondessa de Serpa Pinto)

N.° 5 — Espada e cinto que pertenceram ao major Serpa


Pinto.
(Cedidos pela Viscondessa de Serpa Pinto)

N.° 6 — Bandeira oferecida pelo explorador, major Serpa


Pinto, a Muéne-Cahenda, Soba de Cangamba (An-
gola), em Julho de 1878, quando da sua passagem
por esta região (Acompanha a bandeira um auto
da sua identificação).
(Cedida pela Agência Geral das Colónias)

N." 7 — Livro «Essai sur le duel», oferecido a Serpa Pinto


por M. D'Antas. Tem a seguinte dedicatória: —
«Ao meu amigo Serpa Pinto, à honra personificada,
ao homem que não provoca nunca e se bate sem-
pre» — 1886.
(Cedido pela Viscondessa de Serpa Pinto)

N.° 8 — Carabina usada por Serpa Pinto como explorador


na expedição Serpa Pinto-Cardoso, ao Niassa.
(Cedida pela Sociedade de Geografia)

N.° 9 — Estojo de desenho que pertenceu ao major Serpa


Pinto— 1877.
(Cedido pela Viscondessa de Serpa Pinto)

N.° 10— Lenço de homenagem a Serpa Pinto, com o retrato


do homenageado e desenhos alegóricos.
(Cedido pela Viscondessa de Serpa Pinto)
N.° 11 — Diário de Augusto Cardoso, oficial de marinha, que
acompanhou Serpa Pinto na expedição de 1884 e
cegou completamente por causa das privações so-
fridas. 13 de Maio de 1886.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial}

N.'1 12—Diploma promovendo Serpa Pinto ao pôsto de


tenente. — Tem junto um retrato da mesma época
— 1893.
(Cedido pela Viscondessa de Serpa Pinto}

N.° 13 — Autógrafo do Ministro da Marinha felicitando Ser-


pa Pinto pelo bom êxito da expedição.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 13-A—Autógrafo do Rei D. Luiz felicitando Serpa Pinto


por ter concluído a viagem de exploração.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 14 — Carta do major Alexandre Alberto da Rocha Serpa


Pinto, de Pietermaritzburg, 2 de Abril de 1879, ao
Ministro da Marinha e Ultramar, depois de aca-
bada a viagem de exploração.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 15 — Croquis da expedição científica «Pinheiro Chagas»,


efectuada por Serpa Pinto e Cardoso (1884-1886),
do Mêdo aos Montes Jangau (Novembro de 1885).
Esboço por Augusto Cardoso.
(Cedido por António Augusto Oliveira)

DIAPOSITIVOS

SERPA PINTO
Explorador, realizou a travessia científica do conti-
nente africano, de Benguela a Pretória (1877-1879).
Escreveu o livro «Como atravessei a África». Em 1884,

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chefiou uma expedição para estudar a comunicação
directa entre o lago Niassa e a costa de Moçambique
ao norte do Zambeze.
— Serpa Pinto durante a travessia.
— Atravessando um pântano.
— Sobas do Dombe na presença de Serpa Pinto.
— «Cora» companheira de Serpa Pinto nas explorações.
— Serpa Pinto ao concluir a travessia.
— El-rei D. Luiz I entrega uma medalha a Serpa Pinto.
Figuram nesta secção duas bandeiras:
N.° 1 — Bandeira da expedição de Serpa Pinto-Augusto
Cardoso ao Niassa em 1886.
N.° 2 — Bandeira nacional que acompanhou Serpa Pinto na
travessia da África, depois de se ter separado de
Capelo e Ivens no Bié. Entregue por Serpa Pinto à
Sociedade de Geografia de Lisboa em sessão solene
de 18 de junho de 1879.
(Cedida pela Sociedade de Geografia)
4
Na passagem para a 8.a secção, encontra-se a carta da
«Precedência dos Portugueses no Continente Africano», dese-
nhada por Lino António sôbre a carta anónima do século XVII
que constitue a prancha XXIV do Atlas do Visconde de San-
tarém.
Nêle estão indicados os seguintes fastos da penetração no
Continente Africano:
— 1415 — Tomada de Ceuta.
— 1434 — Viagem de Gil Eanes.
— 1482 — Viagens de Diogo Cão.
— 1560 — Viagens de Paulo Dias de Novais.
— 1587 — Viagem de Lopes Peixoto.
— 1617 — Viagens de Cerveira Pereira.
— 1787 — Viagens de Pinheiro Furtado.
— 1839 — Viagens de Pedro Alexandrino.

49
SECÇÃO VIII

Viagens de Capelo e Ivens

Na parede um quadro de Sara Afonso, «Viagens de Ca-


pelo e Ivens».
Nas duas vitrinas os seguintes objectos e documentos:

N.° 1 — «De Benguela às terras de lacca» — Capelo e Ivens.


1 vol.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N." 2 — Croquis de Hermenegildo Capelo.


(Cedido pela Sociedade de Geografia)

N.° 3 — Bússola de que se serviu Hermenegildo Capelo na


exploração que fêz com Roberto Ivens, atraves-
sando a África, nos anos de 1884-1885.
(Cedida pela Soeiedade de Geografia)

N.° 4 — Diário e cálculos da viagem de Capelo e Ivens, de


Angola à Contra-Costa (1885).
(Cedidos pela Sociedade de Geografia)

N.° 5 — Espada de honra que foi oferecida pela corpora-


ção da Armada ao explorador Roberto Ivens, após
a travessia de Angola à Contra-Costa.
(Cedida pela Sociedade de Geografia)

N.° 6—Bandeira nacional oferecida por algumas Senhoras


a Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens, no seu
regresso a Lisboa, da expedição de travessia da
África, na sessão solene da Sociedade de Geografia
de 1 de Outubro de 1886.
(Cedida pela Sociedade de Geografia)

N.° 7 — Espada que pertenceu a Hermenegildo Capelo.


(Cedida pela Sociedade de Geografia)

50
N« 8 —Álbuns (2) do itinerário da viagem de Capelo e
Ivens, de Angola à Contra-Costa (1885).
<Cedido» pela Sociedade de Geografia)

N.® 9 «De Angola à Contra-Costa» — Capelo e Ivens.


1 vol.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.® 10 Projecto do regulamento para a Estação civilizadora


do Zaire, assinado por H. Capelo, Luciano Cordeiro
e Roberto Ivens.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 11 — Croquis da Estação civilizadora de Cacongo e Mas-


sabi — Chinchoxo — 1884.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

|S|." 12 — Nota aproximada do pessoal e artigos mais impor-


tantes para constituir as missões civilizadoras —
Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

ts|.° 13 — Mapa de viagem dos oficiais da Armada, Capelo e


Ivens, de Benguela para o sertão do Bié. Trajecto
640 quilómetros.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

DIAPOSITIVOS

HERMENEGILDO CAPELO E ROBERTO IVENS EM 1878

Fizeram a viagem de Benguela às terras de lacca


(1877), descrita numa obra em dois volumes. Em
1883, deram comêço à travessia de Angola à contra-
-costa, terminada em 1885, e que tinha por objectivo
o estudo das bacias hidrográficas do Zaire e do Zam-
beze. Sobre esta viagem deixaram também outra obra.
— Os exploradores em África (1880).

51
— Os exploradores atravessando um rio.
— Material da expedição de 1877.
Panorama do memorável cortejo fluvial, na recepção
de Capelo e Ivens, em 16-9-1885, segundo um «cro-
quis» do príncipe real D. Carlos.
— Sessão solene na Sociedade de Geografia de Lisboa,
para a conferência dos exploradores Capelo e Ivens,
realizada no Real Teatro de S. Carlos («croquis» do
natural por Cristino).

Figuram nesta secção duas bandeiras:

(s| o 1 — Bandeira nacional em seda. Bordada e oferecida


pela esposa e mais senhoras da família de Luciano
Cordeiro, entregue pela Sociedade de Geografia de
Lisboa a Serpa Pinto, Hermenegildo Capelo e Ro-
berto Ivens, para ser arvorada durante a Expedi-
ção Geográfica Portuguesa ao Continente Africano,
em sessão de 4 de Julho de 1877. Acompanhou a
Expedição de Capelo e Ivens às Terras de lacca,
voltando com êles, e seguiu com a expedição dos
mesmos, que atravessou a África, de Mossâmedes
a Quel imane, sendo entregue, de novo, à S. G. L.,
em sessão solene de 1 de Outubro de 1885.
N.o 2 — Bandeira que acompanhou a expedição de Hen-
rique de Carvalho à Lunda em 1887.
(Cedida pela Sociedade de Geografia}

52
SECÇÃO IX

Viagens de Artur de Paiva, Paiva Couceiro


e outros exploradores

Na parede um quadro de Angola, de Francisco do Amaral,


«Viagens de Artur de Paiva e Paiva Couceiro».
Nas duas vitrinas os seguintes documentos e objectos
expostos:
N." 1 — Relatório da viagem entre Bailundo e as terras do
Mucusso, por Paiva Conceiro.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N." 2 —Caderno com o título «Tagebuch», contendo me-


dições de terreno e nivelamentos, de Artur de
Paiva.
(Cedido pelo Engenheiro Almeida Tórres)

N.° 3 — Carteira de apontamentos, com o título «Field


Book— 1880», assinada A. de Paiva. — II vol.
(Cedida pelo Engenheiro Almeida Tórres)

N." 4 — Croquis da expedição ao Bié — Estudos do pla-


nalto, por Artur de Paiva.
(Cedido por António de Oliveira)

N." 5 — Livro de apontamentos, com o título «Caderno das


observações de Caconda às Amboelas—1885»,
assinado por Artur de Paiva.
(Cedido pelo Engenheiro Almeida Tórres)

N.° 6 — Livro de apontamentos de Artur de Paiva.


(Cedido pelo Engenheiro Almeida Tórres)

N." 7—Ofício do Visconde de Atouguia ao Ministro da


Marinha e Ultramar enviando tradução da nota do
Encarregado dos Negócios da Inglaterra, que, em
nome do Govêrno, agradece a maneira como foi

53
tratado em Angola o explorador Dr. Livingston.
Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros, 18
de Dezembro de 1855.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 8 Cópia de uma memória sobre o rio Cunene, por


Bernardo José Brochado—1854.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial}

N.° 9 —Rio Cunene — Planta da parte explorada pelos


2.°* tenentes Almeida Lima e Gonçalves Pinto e
guardas-marinhas Nuno Queriol e Nunes da Silva,
da guarnição da canhoneira «Tâmega». Dezembro
de 1878.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 10 — Carta do explorador zoológico de Angola, José de


Anchieta, ao Ministro Pinheiro Chagas; queixa-se
de ataques de salteadores entre Caconda e Ben-
guela, de doenças e de falta de meios para em-
preender a viagem. No alto, o despacho de Pinheiro
Chagas concedendo-lhe um subsídio. Caconda, 1
de Agosto de 1884.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 11 —Telémetro que pertenceu a Artur de Paiva.


(Cedido pelo Engenheiro Almeida Târres)

N.° 12 — Sextante de algibeira que pertenceu a Artur de


Paiva.
(Cedido pelo Engenheiro Almeida Torres)

54
DIAPOSITIVOS

ARTUR DE PAIVA

Tomou parte nas guerras do Duque de Bragança e


Ambaca, 1882, campanha de Jau, 1883, campanha do
Tinde, 1885, guerra do Cubango, 1886 e 1889. Em
1890 e 1891, com Paiva Couceiro, bateu o régulo do
Bié e em 1898 fêz a campanha do Humbe. Prestou
relevantes serviços na instalação da colónia de S. Ja-
nuário, na administração dos distritos de Humpata e
Huíla, e na colonização branca dos distritos de Ben-
guela e Mossâmedes.
Travessia dum rio.
Através duma «queimada».

AUGUSTO CARDOSO
Explorador africano, acompanhou Serpa Pinto na ex-
pedição à África, em 1884, fazendo o percurso do
Mossuril a Quelimane (2.500 quilómetros).
Augusto Cardoso (expedição ao Niassa).
Residência de Augusto Cardoso (Lourenço Marques).

FREDERICO WELWITSCH

Naturalista, andou em 1853, em África, ao serviço


de Portugal, em explorações botânicas.

JOSÉ DE ANCHIETA

Naturalista, coleccionou numerosas espécies da fauna


e da flora da África, completamente desconhecidas,
que ofereceu ao Museu da Escola Politécnica de Lis-
boa. Fêz explorações zoológicas em Cabo Verde e
em tôda a província de Angola. Morreu, durante uma

55
exploração, em Caconda (1897). Entre outros tra-
balhos, escreveu: «Traços geológicos da África Oci-
dental Portuguesa».
— Anchieta no seu laboratório.

FONSECA CARDOSO
Autor de numerosas memórias de antropologia colo-
nial, deixou ainda apontamentos referentes a vários
grupos, coordenados e publicados, posteriormente à
sua morte, pelo Prof. Dr. Mendes Correia.

JOÃO DE RESENDE
Representante em Manica, da Companhia de Moçam-
bique, realizou diversas viagens no interior da provín-
cia, tratou com os régulos e esforçou-se por evitar
que as aluviões auríferas fossem exploradas por ele-
mentos estrangeiros.

O REV." JOSÉ MARIA ANTUNES


(Superior da Missão da Huíla)
Naturalista, estudou a fauna e a flora do sul de An-
gola, tendo enviado ao Museu Botânico da Univer-
sidade de Coimbra precioso documentário fotográfico
da mesma região.

Figuram nesta secção duas bandeiras:


N.° 1 — Bandeira nacional em filele, usada pela expedição
do capitão Teixeira Trigo à fronteira da Lunda
em 1891.
N.° 2 — Bandeira nacional em filele, usada pela expedição
de Henrique de Paiva Couceiro ao Cubango em
1890.
(Cedida pela Sociedade de Geografia)

56
SECÇÃO X

Viagens de António Maria Cardoso, Paiva de Andrada


e Vitor Cordon

Na parede um mapa de Moçambique, de Francisco do


Amaral, «Viagens de Paiva de Andrade e António Maria Car-
doso».
Nas duas vitrinas os seguintes objectos e documentos:

N <> 1 Bandeira portuguesa que António Maria Cardoso


entregou ao Régulo Matarica na sua expedição de
1888, e pelo mesmo régulo oferecida ao Comando
Militar de Milange, em 1898, quando ali foi reno-
var a sua vassalagem.
(Cedida pela Sociedade de Geografia)

N.° 2 Cuia passada ao condutor de Obras Públicas de


2.1 classe da Província de Angola, tenente Fran-
cisco Maria Victor Cordon. Luanda, 13 de Junho
de 1887.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

|\j ° 3 Espada usada por António Maria Cardoso nas ex-


pedições ao Niassa e ao país dos Namarrais.
(Cedida pela Sociedade de Geografia)

N.° 4 — Ofício confidencial do major Joaquim Carlos Paiva


de Andrade, de 11 de Janeiro de 1889, sobre a colo-
cação de uma residência no extremo oeste da Ma-
chona, e outra no extremo norte das terras de Chi-
gualaguala (Expedição de 1888 aos sertões de
Moçambique).
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 5 Revólver usado por Antonio Maria Cardoso nas

57
suas expedições ao Niassa e ao país dos Namar-
rais.
(Cedido pela Sociedade de Geografia}

Condecorações de Victor Cordon:


— Colar e medalha da Ordem da Torre e Espada
— Cavaleiro da Ordem Militar de Cristo
— Cavaleiro da Ordem Militar de Aviz
— Medalha Militar de prata de comportamento
exemplar.
— Colar da Sociedade de Geografia.
(Cedidas por Jorge Victor CordonJ

Ofício de Joaquim Carlos Paiva de Andrade, chefe


da expedição aos sertões de Moçambique, referin-
do-se às vassalagens feitas pela secção norte,
comandada pelo tenente Victor Cordon. Lisboa,
10 de Maio de 1890.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial>

Ofício do capitão Manuel Sertório de Almeida


Aguiar ao Ministro da Marinha e Ultramar, ofere-
cendo-se para ir na expedição militar, em socorro
do seu camarada António Maria Cardoso. Lisboa,
14 de Março de 1889.
Ofício do major Henrique Augusto Dias Carva-
lho, chefe da Expedição ao Muata-lanvo, ao Minis-
tro da Marinha e Ultramar, recomendando o capi-
tão Manuel Sertório de Almeida Aguiar, que foi seu
ajudante na mesma expedição e deseja tomar parte
no socorro que o Govêrno tenciona enviar ao ex-
plorador António Maria Cardoso, cercado pelo ré-
gulo Cuirassio, junto do lago Niassa. Lisboa, 14 de
Março de 1889.
(Cedidos pelo Arquivo Histórico Colonial>
N« 9 Espada de Victor Cordon com a inscrição: «Viva
Portugal».
(Cedida por Jorge Victor Cordon)

|M.° 10 Livro de apontamentos que pertenceu ao major


Paiva de Andrade.
(Cedido pelo General Vieira da Rocha)

DIAPOSITIVOS

JOAQUIM CARLOS PAIVA DE ANDRADE

Governador de Quelimane e Tete, fundou a Société


des Fondateurs de la Compagnie Générale du Zam-
beze, à qual foram feitas (1878) importantes con-
cessões. Percorreu Manica, na pesquisa de ouro, fun-
dando depois a Companhia do Ofir, que explorou as
minas de Manica e Quiteve. Estabeleceu ainda a fei-
toria da Beira, reconheceu e baptizou o pôrto da
região, abriu caminhos, etc..
— Expedição Paiva de Andrade (Zambézia).

ANTÓNIO MARIA CARDOSO


Explorador, visitou as terras da Mussila e, em 1888,
com Paiva de Andrade, Augusto Cardoso e Victor
Cordon, tomou parte na expedição ao Niassa, onde
se demorou a estudar a região.

VICTOR CORDON
Governador do Ambriz e do Novo Redondo, dirigiu
a construção da ponte sôbre o Lucala. Realizou explo-
rações em Moçambique, inaugurando na foz do Sa-
nhati, em 1889, as aringas Luciano Cordeiro e Vila
Amélia.
— Partida da expedição às terras da lacca.
59
— A expedição em terras da lacca.
— Construção do Quilombo.
— Na residência de N'Dumba.
— Sob a tempestade.
— Ataque à expedição.
— Cachoeira Caballo.
— Através do Bié.

— Escola de Sant'lago (Cabo Verde) —Séc. XIX.


— Escola no Planalto de Angola — Séc. XIX.
— Escola profissional de Luanda — Séc. XIX.
— Oficina de encadernação-escola de Landana — Sé-
culo XIX.
— Oficina de serralheria-escola de Landana — Séc. XIX.
— Escola portuguesa para chinas — Macau — Séc. XIX.
— Banda da Escola de Artes e Ofícios — Moçambique
— Séc. XIX. *
— Escola do Príncipe D. Luiz Felipe na Munhuana (Lou-
renço Marques) —Séc. XIX.
— Oficina de marcenaria — Zambézia — Séc. XIX.
— Oficina de carpintaria — Zambézia — Séc. XIX.
— Escola municipal do sexo masculino — Quelimane —
Séc. XIX.
— Escola municipal—Quelimane — Séc. XIX.

Figuram nesta secção duas bandeiras:

N." 1 — Bandeira nacional em filele, usada na expedição de


joão de Resende, em 1891-92, para a exploração
mineira em Manica.
N.* 2 — Bandeira nacional em filele, usada pela expedição
comandada por Victor Cordon ao Sanhati em 1888.
Esta expedição construiu no Sanhati a «aringa»
Luciano Cordeiro que foi uma das que provocaram
o «ultimatum» de 1890.
(Cedida pela Sociedade de Geografia)

60
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I NSTRUÇÃO

OUÇO antes do alvorecer do século XIX operava-se


em Portugal uma profunda transformação no ensino
público, passando só então verdadeiramente a ser considerado
como função do Estado. Por instituição de 6 de Novembro
de 1772, o Marquês de Pombal criara a Mesa Censória, fun-
dara uma escola em cada centro local, estabelecera a ins-
pecção do ensino, lançando assim as bases da instrução po-
pular. Foi garantido a tôdas as ordens religiosas o direito de
ensinar; e, paralelamente, ao professor público foi dado, com
o intento de o dignificar, o título de amestre régio», que por
largo tempo prevaleceu.
Tôdas estas profundas alterações correspondiam, porém,
a um aumento de despesa considerável, a que teve de se fazer
face com o lançamento de um imposto especial, conhecido
pela designação de «subsidio literário» (10 de Novembro de
1772), que mais tarde se tornou extensivo às colónias, sendo
61
«na América e Africa de um real em cada arrátel de carne,
da que se corta nos açougues; e nelas e na Asia, de 10 réis em
cada canada de aguardente das que se fazem nas terras, de-
baixo de qualquer nome que se lhe dê, ou venha a dar.»
Não foi, porém, desde logo que nas Colónias se fizeram
sentir os benefícios da reforma pombalina. Em Março de
1784 ainda Martinho de Melo e Castro se via na necessidade
de englobar nésse imposto um adicional sobre o tabaco
do Brasil vendido em Luanda, para pagamento ao professor
de latim e ao mestre de ler e escrever, mandado estabelecer
na capital de Angola.
O estado do ensino nesta colónia — que era, aliás, o de
tôdas as colónias — pode avaliar-se pelos termos duma carta
régia dirigida ao capitão general e governador D. Miguel An-
tónio de Melo (1795-1800), pela qual se procurava remediar
«o triste e deplorável estado em que se acham estabelecidas
as cadeiras necessárias para a instrução pública.»
As medidas tendentes a remediar os males do ensino
colonial eram por essa época raras e desconexas. Apalpa-se o
desinterêsse por esse problema vital, podendo, quando muito,
apontar o nome de uma ou outra autoridade que, desampa-
rada de medidas de carácter geral ou de planos reformadores,
lhe suspeitasse sequer o alcance. Assim se salienta honrosa-
mente em Angola o governador Saldanha da Gama, que cria
no próprio palácio do governo uma aula de matemática e
procura alentar a divulgação do ensino das línguas e da
música.
As mesmas causas fundamentais se opunham ao fomento
do ensino: irregularidade e exiguidade de pagamento aos
professores, selecção difícil do professorado, cuja função era
quási exclusivamente confiada às ordens religiosas, e, no fun-
do de tudo, o desvio das atenções para actividades mais lucra-
tivas, mormente para o tráfico dos escravos.
Nestas condições não poderia haver, como realmente
não houve, progressos no ensino. E por isso, tirante uma ou

62
outra medida isolada — tais como a criação dum museu,
duma livraria e dum jardim botânico em Macau (1838), ten-
tativa que se estendeu a Angola — è necessário esperar que
na metrópole se refunda o ensino pela reforma de 1844 (dec.'
com força de lei de 20 de Setembro), para que nas colónias
se opere reflexamente um tal ou qual progresso. Por essa
reforma foi o ensino dividido em dois graus distintos, esta-
belecendo-se pela primeira vez, ainda que somente como as-
piração, a obrigatoriedade do ensino primário. Criou-se,
como organismo director, o conselho superior de Coimbra, e
alargou-se a instrução ao sexo feminino.
Estes princípios, que caracterizam a reforma de 1844,
foram tornados extensivos às colónias pelo ministro da mari-
nha e do ultramar, J. Falcão, em 18 de Agosto do ano se-
guinte. Em cada uma das possessões ultramarinas foi insti-
tuído um conselho inspector de instrução primária e uma
escola principal, na qual eram também ministrados conheci-
mentos elementares de comércio e indústria, bem como esco-
las primárias gerais, em número correspondente às necessi-
dades da população. Os lugares de professores passaram a
ser providos por concurso, os seus vencimentos foram fixados
em harmonia com as condições locais e, no fim de 25 anos de
serviço, foi-lhes reconhecido o direito à jubilação.
Começava a generalizar-se definitivamente nas colónias o
ensino primário, pondo-se à frente dêsse movimento a índia
e Macau, onde por essa época chegaram a esboçar-se as primei-
ras tentativas de implantação do ensino secundário. Tam-
bém, como esforços exercidos no sentido da criação do en-
sino feminino, se podem registar medidas tomadas em 1846
em Macau, em 1852 em Mossâmcdes, em 1856 em S. Tomé
e em Santiago de Cabo Verde, no ano seguinte na Vila da
Praia, em 1858 em Damão e em 1861 em Diu.
Na índia é criado em Outubro de 1858, como primeira
pedra lançada para o estabelecimento do ensino secundário
no Ultramar, o liceu de Nova-Goa, e ainda uma escola nor-

C3
mal; e em Macau, passados quatro anos, funda-se uma escola
de pilotagem. . , . ,•
Mendes Leal, considerando aos escolas primarias o ali-
cerce e a base da instrução pública e um agente de civiliza-
ção que, pelo influxo dos progressos humanos, deve merecer
a mais esmerada solicitude e aturados desvelos a todas as
autoridades», impulsiona activamente a sua multiplicação.
Por decreto de 50 de Novembro de 1869, Rebelo da Sil-
va organiza de novo o ensino no Ultramar, dividindo-o em
primário, secundário e superior, alargando o número de esco-
las e impondo novos métodos de orientação pedagógica.
Quanto ao ensino técnico, estabelece-se na índia um instituto
para o ensino agrícola, industrial e comercial (i8ji), e cria-se
em Luanda o ensino profissional.
Sucedem-se largamente as medidas tendentes ao desen-
volvimento do ensino primário; e, em Abril de 1888, é o
liceu de Nova Goa equiparado aos liceus metropolitanos,
sendo aprovado o seu regulamento privativo em Julho de
1894, depois alterado em 1899.

*
* #

Acabamos de examinar neste rápido escorço da evolução


do ensino nas colónias durante o século XIX que soma de
esforços foi necessário desenvolver para nelas conseguir im-
plantar e depois generalizar a instrução primária, para só no
seu último quartel se esboçar o nascimento do ensino técnico
e secundário. Estes, porém, só no século corrente é que lançam
raizes, estendendo-se a todos os domínios ultramarinos, com
tendências de apropriada fusão, no sentido de corrigir o que
de excessivamente teórico e desinteressado existe no ensino
do tipo liceal metropolitano.
Os liceus coloniais existentes, valorizados pela anexação
de cursos de aplicação prática e em ligação com os estabeleci-
mentos técnicos locais, poderão assim continuar a desempe-
nhar as funções importantes de canalizar para as escolas su-
periores da metrópole uma minoria de alunos dotados de
inteligência e de meios materiais suficientes para poderem
aspirar aos cargos de direcção, e ajudarão ainda a preparar
a maioria de funcionários e técnicos subalternos, indispen-
sáveis à administração e ao fomento coloniais.

CASTAO SOUSA DIAS

65
SECÇÃO XI

Instrução

Na parede, tábua de Manuel Lima, com as seguintes


legendas:

23 de Agosto de 1805 — Carta régia acêrca de subsídios lite-


rários no Ultramar, particularmente referentes a Mo-
bique.
1807 — O governador de Angola, Saldanha da Cama, cria em
Luanda, uma aula de matemática e sua mulher,
D. Antónia Basílica de Brito, dá lições de leitura, fran-
cês e música a meninas das famílias principais.
1838 — Criação de bibliotecas, museus e jardins botânicos em
Angola, Moçamibque e Macau.
14 de Agosto de 1845—Organização da instrução primária
em todas as províncias ultramarinas.
1847 — Plano e regulamento duma escola de estudos públicos,
incluindo a instrução primária, a cargo da municipa-
lidade de Macau.
1852 — O professor primário do Príncipe deveria ensinar tam-
bém gramática e desenho linear.
1853 — Cria-se na índia uma aula de Física, Química e His-
tória Natural.
1856 — Autorizada a prontificação da casa para a aula de me-
ninas, de S. Tomé. Criado um colégio para meninas
em Santiago de Cabo Verde. Trata-se da educação dos
filhos dos régulos mais notáveis de Angola.
1857 — É instituído, em Angola, o ensino primário pelo mé-
todo de Castilho. São mandados vir à metrópole indí-
genas daquela província, a-fim-de se habilitarem a
ensinar a instrução primária (Sá da Bandeira).
1858 — Divisão do ensino primário em dois graus na índia:
criação do Liceu Nacional de Nova Goa e de escolas

66
normais em Bardez e Salcete (4 de Outubro. Sá da
Bandeira). O Govêrno de Angola recebe instruções
para elaborar um plano de ensino primário (23 de
Novembro. Sá da Bandeira).
1861 — lnstituiu-se em Diu a instrução primária para o sexo
feminino (15 de Janeiro).
1862 — Criação da primeira escola de pilotagem em Macau.
1864 — Criação de cinco escolas primárias em Timor (28 de
Julho).
1866 — Estabelecimento de uma aula de língua portuguesa
para chinas no Colégio de S. José, de Macau (Coelho
do Amaral).
1869 — Reorganização da instrução pública (30 de Novem-
bro — Rebelo da Silva).
1871—Criação dum instituto profissional na índia (11 de
Novembro — Jaime Moniz).
1873 — Principia o ensino profissional em Angola.
1893 — Criação dum Liceu Nacional em Macau (27 de Ju-
lho— Neves Ferreira) e do Instituto Rainha D. Amé-
lia, em Lourenço Marques (19 de Outubro).
1904 —Autorizada em Cabo Verde, Angola e Moçambique a
criação de escolas de português e línguas indígenas,
contabilidade, comércio e noções de cultura (R. Gor-
jão).
1906 — Organização do ensino profissional em África (18 de
Janeiro — Moreira Júnior).
1907 — Aprovado o regulamento da Escola de Artes e Ofícios
de S. Tomé (Aires de Orneias).
1908 — Aprovado o regulamento de ensino profissional em
Cabo Verde (31 de Dezembro).
191 1 —Criação da Escola Nacional para o sexo feminino de
Nova Goa (29 de Março) e da Escola Prática Comer-
cial e Industrial 5 de Outubro em Moçambique (5 de
Outubro).
1913 — Delineamento da reforma geral do ensino em Angola,

67
preconizando a criação do ensino secundário (Norton
de Matos).
1914 — Criação duma escola de agrimensores, em Moçambi-
que (28 de Agosto — J. J. Machado).

Nas vitrinas desta secção acham-se expostas as seguintes


livros e documentos:

N.° 1 — Dicionário cafre-tetense-português, por V. Cour-


tois — 1900.
(Cedido pelas Missões dos Padres Jesuítas PortuguesesJ

N.° 2 — Gramática do Chisena por I. Torrend — 1900.


(Cedida pelas Missões dos Padres Jesuítas Portugueses/

N.° 3 — Português ensinado aos indígenas.


(Cedido pelo Reu. D. Vieira/

N.° 4 — Rivuru Rakutoma, por V. Courtois— 1890.


(Cedido pelas Missões dos Padres Jesuítas Portugueses}

N.° 5 — Bzidapi na Bzindzano, por V. Courtois— 1890.


(Cedido pelas Missões dos Padres Jesuítas Portugueses)
N.° 6— Breve método da língua lunyaneka, pelos missio-
nários católicos da Huila.
(Cedido pelas Missões do Espírito Santo)

N.° 7 — Contos cafreais — Borrei.


(Cedidos pelas Missões dos Padres Jesuítas Portugueses)

N.° 8 — Manual do Chi-Nyanja, por H. M. Simon— 1908.


(Cedido pelas Missões dos Padres Jesuítas Portugueses)

N.° \9 — O ABC dos Vimbundus, pelo Padre Domingos


Vieira, das missões católicas do Espírito Santo.
(Cedido pelas Missões do Espirito Santo)

N.° 10—Guia de conversação português-ganguela, pelo pa-

68
dre Luiz Keiling, das missões católicas do Espírito
Santo.
(Cedida pelas Missões do Espirito Santo)

N.° 11—Kumbukani-lbzi-Buino, por V. Courtois—1904.


(Cedida pelas Missões dos Padres Jesuítas Portugueses)

N.° 12 — Ensaios de gramática nyaneka, pelo padre Afonso


Maria Lang, das missões católicas do Espírito
Santo.
(Cedido pelas Missões do Espirito Santo)

N.° 13 — Dicionário Português-Tetum, por Aparício Silva —


1889.
(Cedido pelas Missões dos Padres Jesuítas Portugueses)

N." 14— Método prático da língua mbundu, pelo Padre Er-


nesto Lecomte, superior das missões do Espírito
Santo no distrito de Benguela— 1897.
(Cedido pelas Missões do Espirito Santo)

N.° 15 — Documentos do govêrno geral de Moçambique refe-


rentes à organização do ensino primário— 1849.
(Cedidos pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.* 16— Notícia da criação da aula de física, química e his-


tória natural na índia Portuguesa, por Manuel Vi-
cente de Abreu. — 1873.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N." 17 — Ofícios do Governador de Timor sôbre o ensino


público naquela colónia— 1863.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 18 — Considerações gerais a respeito da Escola de Artes


e Ofícios de Moçambique, pelo director Dr. |osé de
Oliveira Ferrão de Azevedo— 1896.

69
DIAPOSITIVOS

Escola de Santiago de Cabo Verde.


Escola do Planalto de Angola (Bié).
Escola profissional de Luanda.
Oficina de encadernação (escola de Lândana).
Oficina de serralharia (escola de Lândana).
Escola portuguesa para chins (Macau).
Banda da Escola de Artes e Ofícios (Moçambique).
Escola do Príncipe Luiz Felipe (Munhuana — Lourenço
Marques).
Oficina de marcenaria (Zambézia).
Oficina de carpintaria (Zambézia).
Escola Municipal do Sexo Masculino (Quelimane).
Escola Municipal de Quelimane.
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POLÍTICA MÉDICA

E SANITÁRIA

UIS Sua Excelência o Ministro das Colónias dar-me a


subida honra de indicar o meu nome para, neste
go da Exposição Histórica da Ocupação, iniciar a Sec-
ção referente à Politica Médica e Sanitária.
Dignou-se assim repetir a mesma gentileza que teve
quando da realização do Ciclo de Conferências de Alta Cul-
tura Colonial. Deu-me então uma tarefa muito importante,
superior de-certo aos meus méritos, que procurei cumprir tão
completamente quanto pude e o melhor que soube; visto que
o assunto é o mesmo, um resumo do que eu nessa ocasião
disse, constituirá, creio, a melhor forma de satisfazer ao novo
encargo que agora me foi confiado.
Evidencia-se desde longa data a alta importância que
pelos nossos dirigentes tem sido dada à assistência médica
nas nossas possessões, quer aos colonos quer aos indígenas,
procurando facilitar o combate às diversas endemias tropi-
cais, evitar a sua disseminação, fazer todo o possível por

71
aplicar a terapêutica adequada que já seja conhecida, e tam-
bém para conseguir encontrá-la, colaborando para este fim
na série da investigações científicas que têm sido feitas nos
domínios da patologia exótica.
Vem de longe o cuidado que se tem dado ao ensino dos
médicos que têm que exercer a sua profissão nas Colónias.
Fomos a primeira nação colonizadora que fundou no Ultra-
mar uma Escola Médico-Cirúrgica; estabelecêmo-la em Nova-
-Goa para habilitar os naturais da índia Portuguesa a exer-
cer a clinica nêsse território. Os seus professores têm cola-
borado activamente nos estudos de investigação médica, têm
sido devidamente apreciados e publicados os seus trabalhos,
muitos dos quais constituíram o objecto de comunicações
cientificas em congressos nacionais e internacionais.
Quando o número dos profissionais médicos era ainda
escasso na Metrópole, e muito poucos poderiam ter a inten-
ção de, depois de terminada a sua formatura, irem exercer
a sua profissão nas Colónias, os nossos Governos estabelece-
ram um subsídio para os alunos durante o seu curso na Fa-
culdade de Coimbra ou nas Escolas de Lisboa e Pôrto, com
o fim de lhes permitir que o concluíssem, contraindo os alu-
nos a obrigação de, por um certo tempo, irem exercer a sua
profissão no Ultramar. Por êste modo se conseguiu manter
a assistência médica nas Colónias, e estes profissionais, assim
alistados, não só pelo exercício da sua clinica mas também
pelas suas valiosas indicações sôbre a forma de evitar as doen-
ças reinantes nessas regiões, contribuíram valiosamente para
manter na maioria dos habitantes a saúde, portanto as boas
condições para o trabalho e bom êxito de colonização. Al-
guns destes profissionais puderam colaborar activamente nas
investigações sôbre doenças tropicais e no combate contra as
endemias dominantes, obtendo resultados de valor, que vin-
cularam o nome português neste ramo das ciências médicas.
Tornou-se depois muito maior o número de profissionais
que se habilitam todos os anos com o curso das nossas Facul-

72
dades de Medicina de Coimbra, Lisboa e Pôrto, e deixou de
ser necessário subsidiar alunos a-fim-de obter clínicos para
prestar os seus serviços nas nossas Colónias
Foram notáveis neste período os progressos alcançados
pelo estudo e investigação cientifica nos diferentes ramos da
patologia dos climas quentes; descobertas muito importantes
se fizeram, e manifestou-se evidente a necessidade de ampliar
os conhecimentos desta especialidade que resumidamente
eram professadas nos cursos gerais de medicina. Fundaram-
-se nos diversos países colonizadores escolas de medicina tro-
pical e a nossa, uma das primeiras, começou a funcionar em
iço 2.
Persistiu como tal 32 anos, até 1935, tendo então pela
lei 1920, de 29 de Maio do mesmo ano, sido criado o Instituto
de Medicina Tropical, com o fim de poder dar maior desen-
volvimento ao ensino, para o que se aumentou o número das
Cadeiras, se desdobrou em duas a de parasitologia e ento-
mologia e se atribuiu a cada uma delas um professor efec-
tivo e um professor auxiliar; elevou-se também o mímero dos
preparadores e ajudantes de preparador. Mantiveram-se dois
assistentes e aconselhou-se a admissão de assistentes livres
não remunerados.
Todas estas medidas demonstram a boa politica sanitária
dos nossos Governos, agora pela orientação dada pelo Es-
tado Novo ainda melhorada.
Está portanto bem demonstrada a capital importância
que os nossos dirigentes têm dado à assistência médica nas
colónias, crentes no principio fundamental de que não é possí-
vel uma boa colonização sem procurar manter a saúde a todos
os que vivem nessas regiões de clima rigoroso.
Proporcionando assim o maior desenvolvimento à ins-
trução médica, nesta especialidade, facilitar-se-a a alta mis-
são de que, como terapeutas e higienistas, tem de exercer os
profissionais nos nossos domínios ultramarinos.
Muitos foram os alunos que se habilitaram na nossa an-
7.1
tiga Escola de Medicina Tropical, durante os longos anos
que ela viveu e muitos serão, de-certo, aqueles que cursarão
o novo Instituto.
Além dêste impulso ao ensino, os nossos Governos têm
dado o devido valor à nossa colaboração nos trabalhos de in-
vestigação sôbre patologia tropical, e têm procurado pro-
mover e auxiliar a realização de missões de estudo nas nossas
colónias e de combate contra as endemias aí reinantes, luta
esta orientada pelas conclusões sôbre a terapêutica, a etio-
logia e a profilaxia a que as missões de investigação científica
têm chegado.
Antes de fundada a Escola de Medicina Tropical de
Lisboa teve lugar, em 1901, a nossa primeira missão médica
de estudo da moléstia do sono, que fêz as suas investigações
na ilha do Príncipe e depois em Angola e publicou o seu rela-
tório em 1904. Foi chefiada pelo colega Aníbal Bettencourt y
então director do Instituto Bacteriológico Câmara Pestanay
e dela fizeram parte Aires Kopke, Correia Mendes, Gomes
de Rezende e um preparador.
A segunda missão portuguesa de estudo desta doença,
em 1904-1905, foi já feita pela Escola de Medicina Tropical
e constituída apenas por Aires Kopke, professor de Parasito-
logia da mesma Escola e um preparador. Os seus trabalhos
incidiram especialmente sôbre a terapêutica e com prio-
ridade se demonstrou o grau de eficácia do atoxil no trata-
mento dos doentes que dela sofriam, vitimas de infecção pelo
tirpanosoma gambiense.
A nossa terceira missão de estudo desta tripanosomiase
humana, missão que foi proposta pela Escola de Medicina
Tropical, trabalhou em 1908 na ilha do Principe sob a di-
recção de Aníbal Correia Mendes, então director do labora-
tório do Hospital de Luanda e dela fizeram parte os colegas
Damas Mora, Silva Monteiro e Bruto da Costa. O seu rela-
tório foi publicado em 1909.
A quarta missão continuou no Príncipe em 1914-1914

7//
05 trabalhos da antecedente, teve como chefe Bruto da Costa
e como colaboradores os colegas Firmino Sant'Ana, Correia
dos Santos e Araújo Alvares.
Estes trabalhos portugueses que mereceram o justo
apreço dos profissionais estrangeiros de maior renome que
se aplicavam então ao estudo destes assuntos, demonstraram
com prioridade o êxito do atoxil como agente terapêutico
nos casos de moléstia do sono em que não houvesse ainda a
invasão do sistema nervoso central, o valor desta substância
na profilaxia da tripanosomiase humana, e a última missão
conseguiu, pela sua persistência e energia na aplicação das
medidas adequadas, o saneamento da ilha do Príncipe onde
esta moléstia humana devida ao vírus gambiense desapa-
receu como endemia. O seu relatório foi publicado em 1913
e depois traduzido em inglês e novamente publicado.
Uma quinta missão proposta pela Escola de Medicina
Tropical em 1923, efectivou-se em 1927-1928 na Colónia de
Moçambique. Verificou a existência da moléstia do sono, de-
vida ao vírus rodesiense, numa parte importante da zona
oeste do nosso Niassa. Foi constituída por Aires Kopke, chefe,
e nela colaboraram valiosamente os colegas Aníbal de Maga-
Ihãis, Saraiva de Aguilar e Fontoura de Sequeira. Pelo chefe
da missão e Dr. António Aires, médico-veterinário, foi abor-
dado o problema de transmissão de tripanosimíases dos bo-
vinos em extensas áreas do distrito de Lourenço Marques até
Katuane e no de Inhambane até Vilanculos, onde se não tem
encontrado a môsca tsé-tsé habitual vector de algumas destas
enzootias.
O relatório em português dêstes trabalhos foi comuni-
cado à Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa e depois
apresentado à Conferência Internacional sobre a doença do
sono reunida em Paris em Novembro de 1928. Foi traduzido
em inglês e publicado pela Sociedade das Nações.
De 1930 a 1932 inclusive, foram pela Escola de Medi-
cina Tropical executadas outras missões de estudo em refe-
75
rência ao paludismo, à febre biliosa-hemoglobinúrica, à an-
quilostomíase e às tripanosomiases humanas e dos animais.
Encarregaram-se destes trabalhos os professores José de Ma-
galhãis, Firmino Sant'Ana e Fontoura de Sequeira, em Cabo-
-Verde, S. Tomé e Guiné. Fontoura de Sequeira verificou,
com segurança, a existência da moléstia do sono na nossa
Guiné, que ai deve grassar desde longa data, mas de forma
relativamente benigna em muitos casos, e nestes, segundo
julga, espontâneamente curável. Êste relatório foi publicado
em português e francês.
O Govêrno Português encarregou-me como professor da
Escola de Áledicina Tropical, de o representar, como seu
delegado, nas Conferências internacionais sobre a doença do
sono que tiveram lugar, a primeira, com duas sessões, em
Londres, 1907-1908; a segunda, igualmente em Londres, 1927,
e a terceira em Paris, 1928. Nesta última também tomou
parte, como delegado, o Dr. António Aires, médico-veteriná-
rio. As de 1927 e 1928 foram promovidas pela Sociedade das
Nações. Em todas elas apresentámos trabalhos originais e
tomámos parte nas discussões e votações, conforme consta das
respectivas actas.
Como sequência da reunião de 1927 em Londres orga-
nizou-se uma Comissão Internacional de investigação que tra-
balhou em Eutebe sob a direcção do Dr. Duke, director do
respectivo laboratório, e da qual fizeram parte os colegas La-
vier (França), Van-Hoof (Bélgica), Klein (Alemanha), Peruzzi
(Itália) e Máximo Pratas (Portugal). Os trabalhos muito im-
portantes desta Comissão foram publicados no seu relatório
em 1928 pela Sociedade das Nações.
Colaboraram a Escola de Medicina Tropical de Lisboa e
vários médicos das nossas Colónias e da armada nos Con-
gressos internacionais de Medicina, 1906 em Lisboa, 1907
em Berlim, 1909 em Budapest, 1917 em Londres, 1927 em
Luanda, 1928 no Cairo, 1971 em Paris e 1972 em Marselha.
A assistência médica a colonos e indígenas tem sido pro-

76
gressivamente melhorada em todas as nossas Colónias, pro-
curando preencher-se devidamente os Quadros dos Serviços
de Saúde, multiplicando e aperfeiçoando as instalações hos-
pitalares gerais e as enfermarias para indígenas, criando bri-
gadas de combate contra a moléstia do sono e outras ende-
mias e epidemias. Nesta luta têm sido incansáveis muitos dos
nossos colegas que exercem a sua profissão nessas regiões, e
foram obtidos resultados notáveis, especialmente o que se
alcançou em Angola sob a orientação do colega António Da-
mas Mora, então director dos Serviços de Saúde nessa Colónia.
Uma bela demonstração de todo êste esforço foi feita
na Exposição Colonial Portuguesa, Pôrto, 1934, e è conti-
nuada agora nesta Exposição Histórica da Ocupação que se
deve à grande iniciativa de Sua Excelência o Ministro das
Colónias, Dr. Francisco Vieira Machado.
Lisboa, 31 de Maio de 1937.

AIRES KOPKE
77
SECÇÃO XII

Política Médica e Sanitária

Tábua de Francisco da Silva, com as seguintes legendas:


Fisico-mor do reino—1835—A sua autoridade esten-
dia-se às colónias para onde eram despachados físicos-mores
e cirurgiões-mores que tinham obrigação de tratar doentes
civis e militares e de ensinar a medicina e a cirurgia.
14 de Setembro de 1844—1." organização regular dos
serviços de saúde. Reorganizações: 10 de Dezembro de 1851,
23 de Julho de 1862, 2 de Dezembro de 1869. Aumento do
número de médicos em vista da clínica hospitalar nas capitais
(Decretos de 1876 e 1880) 28 de Maio de 1896. Regula-
mentos: 20 de Outubro de 1862, Geral, 14 de Dezembro de
1900, Companhia do Niassa e Macau e Timor, 30 de Agosto
de 1907, Moçambique, 30 de Dezembro de 1907. Geral, 13 de
Agosto de 1856. Criação de hospícios para convalescentes em
Mossâmedes e Ilha Brava.
Ensino médico— 14 de Setembro de 1844 — Sua institui-
ção nas províncias ultramarinas (... sendo muito conveniente
que os naturais das ditas províncias possam facilmente adqui-
rir os conhecimentos médico-cirúrgicos mais necessários para
que não pereçam sem socorro as pessoas que viverem em
sítios remotos dos lugares onde residirem os facultativos...)
11 de Janeiro de 1847 — Criação da Escola Médico-Cirúr-
gica de Nova Goa.
11 de Dezembro de 1851—Considera-se inexequível o
ensino médico nas províncias ultramarinas, excepto na índia.
5 de Julho de 1879 — Obrigatoriedade em cada província
ultramarina da remessa mensal para Lisboa dum boletim
sanitário.
16 de Julho de 1901 —Aprovada a nomenclatura noso-
lógica para uso dos facultativos na verificação dos óbitos nos
hospitais e domicílios do ultramar.

78
23 de Setembro de 1906 — Mandado executar um regi-
mento para serviço interno do Hospital D. Carlos I, de Timor.
Combate à doença do sono—1901—Missão à Ilha do
Príncipe, chefiada pelo Dr. Aníbal de Bettencourt. «Portugal
foi a nação colonizadora que iniciou a série dos estudos mo-
dernos sôbre a doença do sono» (Aires Kopke, Política sani-
tária do Império) 24 de Abril de 1902 (Teixeira de Sousa).
Criação do Hospital Colonial e da Escola de Medicina Tropical
em Lisboa.
1904 — Primeira missão médica da Escola-Angola. 1905
— A Escola ensaia o Atoxil em animais experimentalmente
infectados com tripanosomas. «...A primeira a empregar êste
produto químico no tratamento.» (Aires Kopke, ob. cit.).
1908 — Missão à Ilha do Príncipe dirigida pelo Dr. Correia
Mendes. 17 de Abril de 1911 —Providências para combater
a doença do sono na Ilha do Príncipe. 14 de Outubro de
1911 —É mandado organizar nos principais centros de popu-
lação do ultramar um serviço de profilaxia de doenças tropi-
cais, 1913 — Nova missão médica à Ilha do Príncipe, chefiada
pelo Dr. Bernardo F. Bruto da Costa, de que fizeram parte os
Drs. Firmino Sant'Ana, Correia dos Santos e Araújo Álvares.
Esta missão contribuiu poderosamente para a solução dum pro-
blema que tinha delicados aspectos nacionais.
Nas duas vitrinas desta secção expõem-se os seguintes
livros e documentos:

N." 1 — Descrição de certas árvores, arbustos, plantas, tre-


padeiras, rasteiras, assim como do que é perten-
cente aos dois outros reinos animal e mineral; tra-
balhos feitos na Vila de Tete desde 20 de Julho até
25 do mesmo, em o ano de 1835.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 2— Planta do hospital, que os moradores da cidade de


S. Felipe de Benguela pretendem mandar edificar

79
debaixo da protecção do Sargento-mor e Gover-
nador da mesma Capitania, Francisco Paim da
Câmara e Orneias (1791).
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial>

— Receitas medicinais chinesas, coligidas das tradu-


ções de Pedro Nolasco da Silva, 1.° intérprete sinó-
logo, pelo cirurgião-mor de Macau, Lúcio Augusto
da Silva, 1862.
(Cedidas pelo Arquivo Histórico Colonial>

— Relação das raízes medicinais que se remetem ao


cuidado do comandante da Charrua Princesa Real,
nomes por que são conhecidas entre os habitantes
do País, uso que delas se faz e modo de prepa-
ração. As raízes foram enviadas pelo Govêrno inte-
rino de Luanda, a 25 de Fevereiro de 1837.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial>

— Regulamento do Conselho de Saúde Pública da Pro-


víncia de Macau, Solor e Timor. Macau, 30 de Ju-
nho de 1845.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

— Tratado das queixas endémicas e mais fatais nesta


conquista. Luanda, 1770.
(Cedido pela Biblioteca Municipal do Pórtof

— Reflexões acêrca da salubridade da Ilha do Prín-


cipe, das principais causas das doenças e da mor-
talidade, pelo Dr. José Correia Nunes, cirurgião de
1.* classe da Província. Ilha do Príncipe, 30 de
Agosto de 1854.
(Cedidas pelo Arquivo Histórico Colonial)

A — Relatório do Dr. B. Bruto da Costa, chefe da


missão médica de combate à doença do sono, en-
viada em 1913, à Ilha do Príncipe, missão de que
também fizeram parte os Drs. Firmino Santana,
Correia dos Santos e Araújo Álvares. Esta missão
contribuiu eficazmente para a solução dum pro-
blema que tinha graves aspectos nacionais.
(Cedido pelo Museu Colonial)
N. 7-B — Relatório da Missão de Estudo na Zambézia, mo-
tivada pela doença do sono. Relatório do Dr. José
Firmino Sant'Ana.
N° 8 — Relatório médico da expedição ao Bié em 1890, pelo
Dr. António Bernardino Roque.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)
N.° 9 — Relatório do serviço de saúde do distrito de Manica
relativo a 1889, pelo delegado de saúde, Dr. Custó-
dio Joaquim Barreto Xavier. Gouveia, 10 de Janeiro
de 1890.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)
N.° 10— Regulamento do Serviço Médico Militar da Provín-
cia de Moçambique, pelo Fisico-mor da Província,
Dr. Faustino José Cabral. Moçambique, 8 de Feve-
reiro de 1886.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)
N.° 11 — Relatório do Serviço de Saúde na ilha do Príncipe,
pelo delegado de Saúde, Aleixo Mariano. Príncipe,
28 de Julho de 1870.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)
N. 12— Relatório do Serviço de Saúde da Vila de S. José de
Bissau, referido ao ano de 1883, pelo Delegado de
Saúde, Dr. Albino da Conceição Ribeiro. Cacheu,
15 de Dezembro de 1884.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)
Nota — A enumeração dos documentos desta secção continua
na escada de acesso à 2.# galeria, em dois quadros
parietais.

81
N° 13 1.» Conferência internacional sôbre a doença do
sono. (Londres, 1907) — Representante de Portu-
gal, Dr. Aires Kopke).
jsj« 14 1 » Missão de estudo da moléstia do sono ao Prín-
cipe e Angola — Aires Kopke, Aníbal Bettencourt,
Correia Mendes, Gomes de Rezende, Braz de Gou-
veia — 1901-1902.
N." 15 — Visita do Coronel J. J. Machado, Governador Geral
da índia, ao hospital militar de Goa — 1900.
N.° 16— Hospital em S. Tomé.
N.° 17 Interior de uma enfermaria da Roça Pôrto Real
(Príncipe).
IM » 18 Pôsto sanitário de São Salvador do Congo.
N o i9 Senzala-enfermaria (Camatambo).
fsj 0 20— Casas primitivas do pôsto sanitário da Banga.
t\|.° 21—Senzala-enfermaria (Golungo Alto).
N o 21 Senzala-enfermaria do pôsto sanitário de Cama-
batela.
N.° 23 — Concentração de indígenas em Camabatela para o
tratamento da doença do sôno.
N.° 24 Hospital provisório de Lourenço Marques (princí-
pios do século XIX).
N.° 25 — Doentes junto da ambulância do Ambrizete.
N.° 26 — Pôsto sanitário de Quilalo.
N.° 27 — Doentes para consulta (pôsto sanitário do Dande).
N.° 28 — Senzala-enfermaria de Massangano.
N.° 29 — Um pôsto volante de concentração.
N.° 30 Dissertações inaugurais sôbre assuntos de sanidade
colonial apresentadas à Escola Médico-Cirúrgica do
Pôrto:

Profilaxia das doenças endémicas dos países


quentes — António de Matos Pinto de Aze-
vedo — 1907.

82
— Higiene colonial (Ilhas de S. Tomé e Principe)
— Joaquim M. dos Santos Junior— 1907.
— A doença do sono — Joaquim Aires Lopes de
Carvalho— 1906.
— Breve estudo sôbre etiologia e profilaxia do
paludismo — António Loureiro Dias—1901.
— Higiene alimentar nos países quentes — Júlio
Barbosa Nunes Pereira— 1896.
— Considerações gerais sôbre o impaludismo —
Rodolfo Augusto da Silva Teles— 1898.
— Alimentação e regime nos países quentes —
Pinho e Cruz — 1901.
— A peste da índia (ligeiros apontamentos para
a sua história) —António Xavier da Rocha
Pinto— 1901.
— Principais teorias sôbre a natureza do béri-
béri — António Rodrigues Pinto—1875.
— Etiologia das febres intermitentes e patoge-
nia da sua periodicidade — José de Passos Es-
teves Lisboa — 1877.
— A tísica pulmonar nos climas quentes — Por-
fírio Teixeira Rebelo— 1882.
— Influência da navegação e dos países quentes
na marcha da tísica pulmonar — António
José Gonçalves—1885.
— Sôbre o tratamento da malária — Alberto de
Queiroz — 1895.

DIAPOSITIVOS

— Hospital Central de Goa.


— Hospital de S. Tomé.
— Hospital de Macau.
— Hospital de Bolama.

83
Hospital «Dr. Carvalho» — Timor.
Hospital de S. Vicente —Cabo Verde.
Hospital «Miguel Bombarda» — Lourenço Marques.
Hospital de Ambriz.
Hospital de Quelimane.
Hospital «Maria Pia» — Luanda.
Velho Hospital de Moçambique.
Hospital «D. Amélia» — Mossâmedes.
Z222Z2222222ZZZ2Z2ZZZ1

SOCIEDADE DE

GEOGRAFIA

ODE afirmar-se, como expressão rigorosa da verdade,


que a vida da Sociedade de Geografia anda intima-
mente ligada à história da reconstituição do Império colonial
português nos tempos contemporâneos. Em todo o último
quartel do Século XIX e nos anos que vão decorridos do
Século XX, dia a dia, a Sociedade de Geografia exerce a sua
actividade em prol da defesa do Império, no estudo dos nos-
sos problemas coloniais, na propaganda das colónias portu-
guesas, e em uma intensa acção cultural, quer no país quer
no estrangeiro.
A criação filia-se nos primeiros ataques aos nossos direi-
tos históricos das descobertas, quando o Congo que nós tínha-
mos descoberto e onde havíamos estabelecido o primeiro
regime de protectorado, foi lavo de alheias cobiças. Foi então
que a Sociedade de Geografia, prevendo os perigos que
se avizinhavam, despertou a atenção dos Governos e do Pais
para a urgência de dar solução ao problema da ocupação
dos nossos vastos domínios africanos.
As expedições científicas que ela impulsionou foram a

85
primeira inteligente manifestação do renascimento da nossa
politica colonial.
Foi graças aos constantes esforços da Sociedade de Geo-
grafia, que, ao realizar-se a Conferência de Berlim, Portugal
pôde apresentar provas incontestáveis do seu regresso à acti-
vidade colonizadora.
Vem depois um período de luta contra a injusta expan-
são de certos países nas regiões africanas que nós tínhamos
descoberto, e onde mantinhamos soberania, embora precária
por vezes, e è na Sociedade de Geografia que se forma o
núcleo de resistência, que leva protestos ao estrangeiro, incre-
pa os nossos governantes e suscita em todo o pais um movi-
mento de entusiasmo pela continuação da nossa vocação colo-
nial.
Abre-se o período da delimitação convencional dos nos-
sos territórios africanos e é ainda a Sociedade de Geografia
a grande auxiliar dos Governos nos estudos daqueles com-
plexos problemas.
Incansàvelmente, a patriótica Sociedade exalta os nossos
heróis das campanhas de Africa, mantêm no espirito pú-
blico o interêsse pela acção colonial e dedica-se ao trabalho
construtivo do estudo da nova administração ultramarina.
Foi com êsse intuito que em içoi promoveu o primeiro
Congresso Colonial Nacional, que contribuiu largamente
para a criação da nossa Escola Colonial e que realizou várias
exposições coloniais de propaganda e estudo.
A Sala Portugal da Sociedade de Geografia ia tornando-
-se valioso Museu Colonial, e ali se realizavam as grandes
homenagens aos mais ilustres servidores do Império, como os
exploradores Serpa Pinto, Augusto Cardoso, Capelo e Ivens,
aos valentes militares, como o coronel Galhardo, o grande
Mousinho de Albuquerque, o vencedor dos vátuas, Sousa
Machado, chefe da expedição ao Mataca, João de Azevedo
Coutinho, o heróico marinheiro vencedor de tantos combates,
Alves Roçadas, o conquistador do Cuamato, etc.

86
Os créditos ganhos pela Sociedade de Geografia dão-lhe
um tal prestigio, que El-Rei D. Carlos se declara seu pro-
tector e preside à Sessão Magna do Centenário da Índia, pro-
movido pela Sociedade, e dois anos depois à comemoração
do quarto Centenário da descoberta do Brasil. Sempre que
algum estrangeiro em destaque vem a Lisboa, visita a Socie-
dade de Geografia como preito à acção colonial portuguesa.
Os soberanos, como o Rei Eduardo de Inglaterra, o Im-
perador Guilherme da Alemanha, o Presidente Loubet de
França, o Rei de Saxe, o Presidente dos Estados Unidos do
Brasil, ao virem a Lisboa, sempre prestaram homenagem à
grande defensora da acção colonial portuguesa, sendo home-
nageados nas suas salas com notáveis recepções em que o
Chefe do Estado e os Govêrnos do pais tomaram parte.
A acção da Sociedade de Geografia na solução de diver-
sos problemas coloniais mantém-se sempre com grande activi-
dade, precedendo muitas vezes a acção dos Governos. Foi
assim, por exemplo, que a Sociedade enviou uma missão
vacinica ao planalto de Benguela, que criou um prémio para
o melhor estudo sôbre a doença do sono, etc. No capitulo das
relações externas a persistente acção da Sociedade de Geogra-
fia tem assegurado a representação de Portugal em inúmeros
Congressos, mantém um valioso intercâmbio cientifico com
grande número das Sociedades suas congéneres, e frequente-
mente rectifica os erros e falsas interpretações publicadas
no estrangeiro sôbre a politica colonial portuguesa.
No pais, a Sociedade de Geografia é sem dúvida a mais
prestimosa inspiradora do nosso ambiente colonial. Basta re-
lembrar a criação da Semana das Colónias e o seu progressivo
desenvolvimento, para justificar esta asserção, aliás confir-
mada pela criação do Dia da Metrópole nas nossas oito coló-
nias, do intercâmbio escolar entre as escolas da Metrópole e
as das Colónias, da celebração do Congresso da Colonização,
etc.
Como público testemunho da gratidão do pais pelos ser-

87
viços patrióticos da Sociedade de Geografia distinguiram-na
os Governos com o seu reconhecimento como Sociedade de
Utilidade Pública, com a Grã-Cruz de Cristo e com o grande
Oficialato da Ordem do Império. Bem ganhas foram tais
distinções pela Sociedade, que por mera devoção patriótica
agremia tantos bons portugueses ao serviço do Império e tem
sempre prestado aos serviços oficiais o seu concurso generoso
e desinteressado.
A Sociedade de Geografia é, na verdade, uma associa-
ção cientifica mas com um carácter nitidamente colonial. O
seu Estatuto é bastante elástico para que ela tenha podido
ser e seja uma Sociedade popular eminentemente patriótica.
Embora consagrando uma parte da sua acção à activi-
dade cientifica, reserva a Sociedade de Geografia uma grande
parte a uma acção de propaganda e de realizações em ma-
téria colonial. Isto explica a sua inegável popularidade e a
sua crescente influência nas nossas colónias. Alheia a con-
trovérsias politicas ou confessionais, ela não soube esquecer
o valor dos nossos missionários na obra colonizadora portu-
guesa, tendo frequentes vezes celebrado a sua acção de sacri-
fício e dedicação patriótica, tendo até lançado as bases de
uma associação de protecção às missões nacionais e às obras
de assistência aos indígenas.
Através as vicissitudes politicas que atormentaram o
pais, a Sociedade de Geografia soube sempre manter uma
independência que lhe grangeou o respeito de todos pelos
serviços assinalados que ia prestando à causa colonial.
A Sociedade de Geografia tem constituído pouco a pouco
um valioso museu histórico, etnográfico, geográfico e peda-
gógico das colónias portuguesas. No dia em que o Estado
construir enfim êsse Palácio das Colónias, que se impõe como
consagração do grande esforço colonial português e como sím-
bolo da unidade politica e moral do Império, as colecções da
Soicedade de Geografia constituirão uma base incomparável
para o Museu Colonial Português. O mesmo diremos da sua

88
excelente Biblioteca especialisada em assuntos coloniais, que
será uma das riquesas espirituais do Palácio das Colónias.
Seria imperdoável esquecimento que a pessoa que subscreve
estas singelas linhas, e, que há cêrca de nove anos tem o hon-
roso encargo de presidir à Sociedade, não recordasse com
palavras de gratidão e de saudade os nomes dos dois Secre-
tários Perpétuos da Sociedade, Luciano Cordeiro e o Almi-
rante Ernesto de Vasconcelos, a cujo inteligente e dedicado
csfôrço se deve em grande parte a proveitosa acção da Socie-
dade de Geografia.
Durante a sua vida, já longa, a Sociedade de Geografia
tem exercido a missão que se propôs nos seus Estatutos com
actividade, dedicação, e com verdadeira paixão por aquêle
principio, que é o seu maior ideal, e que vem a ser a defesa
<e o engrandecimento de Portugal, daquele Portugal de
Aquém e de Além Mar, que constitue a gloriosa Nação
Portuguesa.

CONDE DE PENHA GARCIA


89
SECÇÃO XIII

Sociedade de Geografia de Lisboa

Tábua de Aurora Severo, com as seguintes legendas:

1875 — Funda-se a Sociedade de Geografia de Lisboa.


1876 — A Sociedade de Geografia de Lisboa pede ao rei o
envio à África Central da primeira expedição cien-
tífica.
— Protesta contra a exclusão de Portugal da Conferência
Africana de Bruxelas.
1877 — Constitue a Comissão Nacional Portuguesa de explo-
ração e civilização de África.
1878 — Pede ao Govêrno a criação de um Instituto de Estudos
Coloniais.
— Defende em Paris os direitos de Portugal à posse do
Zaire.
— Luciano Cordeiro prova a prioridade das explorações
dos portugueses na África Central.
1880 — Pede ao Govêrno a continuação das explorações geo-
gráficas.
1881 —Propõe a construção do Caminho de Ferro de Lou-
rençp Marques.
— Faz um apêlo ao País para o estabelecimento em
África de missões civilizadoras.
1883 — Suscita a organização dos serviços hidrográficos ultra-
marinos.
1886 — Estuda a colonização do sul de Angola.
— É inaugurado o cabo submarino Cabo Verde-Guiné^
proposto pela Sociedade de Geografia de Lisboa.
1889 — Reivindica os direitos portugueses no Zumbo, Ma-
chona, Zambeze, Chire e Niassa.
1890 — Protesta contra o «ultimatum».
1899 — Estuda o fomento das colónias portuguesas.

90
190 0 Presta a derradeira homenagem a Luciano
estrénuo defensor do património colonial.
190 1 Promove o 1.° Congresso Colonial Nacional.
1906— Inaugura a Escola Colonial.
Organiza a 1 .* Exposição de Produtos Coloniais.
191 2 Organiza a 2.1 Exposição de Produtos Colon
1913 _ Cria a Comissão Permanente de protecção aos indí-
genas das colónias portuguesas.
191 4 Envia uma missão vacínica ao planalto de
Institue um prémio ao melhor estudo sôbre a doença
do sono.
Na vitrina estão expostos:
N.* 1—Medalhas:
Sociedade de Geografia de Lisboa — Het Ned. Co-
mité ter Herd. v. H. 30 Jarig Bestaan v. H.
Aardruksk. Gen. te Lissabon. 1875 — 10 Nov.—
1905 (4 ex.).
Michael de Ruiter Provinciarum — Medalha co-
memorativa da morte do Almirante Ruyter, repro-
duzida por ocasião do seu tricentenário (Março de
1907) e oferecida à Sociedade de Geografia pelo
Govêrno dos Paises Baixos; sendo entregue pelo
Ministro Van Eys, em 15 de Abril de 1907 —
E. de V (2 ex.).
Rainha D. Amélia —A Pátria honrai que a Patria
vos contempla — 6-10-907 (1 ex.).
République Française — Souvenir de la première
fête nationale de 1'exposition, 30 Juin 1878 (1 ex.).
Congrès International de Géographie. Le Cairé,
1925 (1 ex.).
Vir probus. — Praestantissimus Civis. — Sapientia
Aedificavit Sibi Domum (1 ex.).
Real Academia de Ciências y Artes de Barcelona. —
Fundada en 1764 reinando Don Carlos III. Rei-
91
nando Don Alfonso XIII celebrose el CL aniversario
de su fondation—1914 (1 ex.).
Descobrimento da índia. — Quarto Centenário —
1498-1898 (1 ex.).
Academia de Ciências de Portugal. — Medalha An-
tónio Cabreira— 18-111-1922 (1 ex.).
Geologorum Conventus — IX — MDCCCIII —
Áustria. (1 ex.).
International Geographical Congress — Cambridge
— 1928 (1 ex.).
S. Geogius Equitum Patronus. — Intempestate Se-
curitas (1 ex.).
Marquês de Pombal (1 ex.).
Oeuvre National de I'Enfance — sous le haut pa-
tronage de L. L. M. M. le Roi & la Reine. — Loi du
5 Septembre 1919 (1 ex.).
Faculdade de Medicina de Lisboa — 1,° Centenário
da Fundação da Régia Escola de Cirurgia—1825-
-1925 (2 ex.).
Franz Joseph I, Kaiser von Oesterreich, Koenig von
Boehmen, etc., Apost. Koenig von Ungarn. Dem
Fortschritte Weltausstellung — 1873 — Wien.
(5 ex.).
IV Centenario de la vuelta al Mundo— 1522-1922
(1 ex.).
Exposition International d'Anvers— 1930 (2 ex.).
Congrés International d'Histoire. — Paris—1900
(1 ex.).
D. Luiz I, Rei de Portugal e dos Algarves — D. Ma-
ria de Sabóia, Rainha de Portugal e dos Algarves —
XXVII Setembro 1862 (lex.).
1." Centenário da Guerra Peninsular— 1908-1914.
— Ao valor e patriotismo do povo português —
1808-1814 (1 ex.).
1862 Londino. — Honoris causa (1 ex.).

92
République Française. — ExDOsition Universelle —
1 8 8 9 — Société d e Céographie d e Lisbonne
(5 ex.).
République Française — Exposition Universelle —
1889 Musée des Colonies a Lisbone (2 ex.).
République Française — Exposition Universelle —
1889 Musée Colonial de Lisbonne (7 ex.).
Instituto Geográfico e Histórico da Baía. Quar-
to Centenário do Descobrimento do Brasil — 1500-
-1900 (1 ex.).
Za Chlvbne Wvniki Pracy. — Miedzynarodowa
Wystawa Komvnikacji Tvrystvki. — Poznan
1930 (1 ex.).
E. F. São Paulo — Rio de Janeiro. — Brasil 1906 —
E. F. São Paulo — Rio Grande — Brasil (1 ex.).
D. Pedro V. Rei de Portugal e dos Algarves. D. Ste-
phania, Rainha de Portugal e dos Algarves. — 29
Abril 1858 (1 ex.).
Talent de bien faire. — A Cidade do Pôrto ao In-
fante D. Henrique—1394 — Cinquentenário
1894 (1 ex.).
Por Mares Nunca D'Antes Navegados — A Camões
a Sociedade de Geografia de Lisboa 1880
(1 ex.).
Exposition International — Rio de Janeiro. 1922-
.1923. — Brasil 7 de Setembro 1882-1922. — In-
dependência ou Morte! (1 ex.).
Centro Literário. — Academia Cearense. — Insti-
tuto do Ceará. — Comemoração do Tricentená-
rio da vinda dos primeiros portugueses ao Ceará.
1603-1903 (1 ex.).
Ateneu Comercial do Pôrto— 1885. Aos in-
trépidos e perseverantes exploradores Brito Capelo
e Roberto Ivens—1884-1885 (1 ex.).
93
Colónias Portuguesas. — Exposição Insular e Colo-
nial — Pôrto 1894 (1 ex.).
Associação dos Empregados no Comércio do Rio
de Janeiro—1880 (1 ex.).
Exposition Universelle — Agriculture - Industrie -
Beaux-Arts. Paris 1855 — Napoleon III Empereur
(2 ex.).
Opening Van den Delagoa Baai Spoorweg — Neder-
landsche Zuig — Afrikaansche Spoorweg — Maats-
chappij — 1895 (1 ex.).
Ao Ministro da Justiça Francisco António da Veiga
Beirão — Associação Commercial do Porto Pro-
jecto de Código Commercial— 1887 (1 ex.).
Exposition Universelle de 1867 a Paris. — Conseil
des Colonies portugaises. — Recompenses. — Napo-
leon 111 Empereur (1 ex.).
Leopold II, Roi des Beiges — Protecteur de (expo-
sition — Exposition Universelle. — Anvers — 1885
(7 ex.).
A Colónia Portuguesa em Pernambuco congratu-
la-se com o Povo Brasileiro pelo lanço amplíssimo
que acaba de juntar ao Templo da Humanidade. —
Lei n.° 3.353 de 13 de Maio de 1888 — Paz — Li-
berdade— Trabalho — Prosperidade (1 ex.).
Inauguração do novo edifício. —29 de Outubro de
1910. Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro
1810-1910 (1 ex.).
Napoleon III Empereur — Exposition Universelle
— Paris 1867 (1 ex.).
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro Lança-
mento da pedra fundamental do novo edifício
1905 (1 ex.).
A Luiz de Camões a Pátria reconhecida. — 10 de
Junho de 1880. Tricentenário de Camões. — Lis-
boa (1 ex.).
Zanzibar Exhition—1905 (1 ex.).
Dana — Jordomsejling—1928-1929-1930 (1 ex.).
A. E. Nordenskiold — A. A. I. Palander. — Invia
Tenaci Nulla Est Via.— Oras Asiae Boreales Pri-
mum Circumnavigations. — Reg. Acad. Scient.
Suec.— 1879 (1 ex.).
Descobrimento do Caminho Marítimo para a India.
— Gloriam Inclyto Navigator Vasco da Cama.—
1498-1898 (1 ex.).
Cristobal Colon descubrió el nuevo Mundo el doce
de Octubre de mil cuatrocientos noventa y dos, rei-
nando en Castilla y Aragon Dona Isabel y Don Fer-
nando.— Quarto centenário—1892 (1 ex.).
Wilhelm II Deutscher Kaiser. — Landwirtschaf-
liche Austellung Dar-Essalâm Deutsch Ostafrika —
1904 (1 ex.).
Société de Géographie de Marseille — La Société
de Géographie de Marseille à la Société de Géogra-
phie de Lisbonne — 1879 (2 ex.).
Congresso Cientifico Internacional Americano.—
Reunido en Buenos Aires con motivo de la Conme-
moración dei Centenario de la Revolución de Mayo
de 1810.— Julio de 1910. — Sociedad Cientifica
Argentina.— 1872 (1 ex.).
Terceiro Centenário de Camões— 10 de Junho de
1880.— Assentamento da Pedra Fundamental do
novo edifício. — Gabinete Português de Leitura no
Rio de Janeiro (1 ex.).
Al. v. Humboldt. — A. Bonpland. — 1799-1804 —
XVI Internati. Amerikanisten-Kongress. Stuttgart
18-23 August 1904 (1 ex.).
D. Pedro V, Rei de Portugal — Palácio de Cristal
Portuense. Inaugurado por El-Rei D. Pedro V em
3 de Setembro de 1861 (1 ex.).

95
A Província de Angola saúda Capelo e Ivens —
1883 — Moçambique 25 Junho, 3 h. e 1 m. Minis-
tro da Marinha. Lisboa. Êxito completo; cumpri-
mento ordens recebidas; viagem região Lagos; ori-
gens Luabo Luapula, caminho comercial entre nos-
sas províncias; seguimos Loanda, Capelo Ivens
(1 ex.).
Ao Povo Luso-Brasileiro. — 1500-1900. Pôrto Se-
guro da Ilha da Vera Cruz 3 de Maio. Pedro Álva-
res Cabral. — Descobridor do Brasil (2 ex.).
Exposição Internacional. — Pôrto, 1865. — Gloria
Victoribus (1 ex.).
Sous I'Auguste Patronage de S. M. Fouad ler. Roi
d'Egipte — 14ème. Congrès International de Na-
vigation — Le Caire. — 1926 (3 ex.).
Société de Géographie. — Fondée à Paris en 1821.
— Hommage a la Société de Géographie de Lis-
bonne a 1'occasion de son Cinquentenaire— 1925
(1 ex.).
Aangebo den door de Vice-Consuls van Portugal
in de Nederlanden. — Aan Baron Rosenthal ter
herinnering aan zijne aanstelling tot Consul-Gene-
raal van Portugal in de Nederlanden door Z. M. der
Koning van Portugal. — 1877 — 29 December —
1902 (1 ex.).
XV Congresso Internacional de Medicina — Lisboa
19-26 Abril de 1906 (1 ex.).
Placa de Grande-Oficialato da Ordem do Império
Colonial Português, com que foi condecorada a So-
ciedade de Ceografia de Lisboa, na sessão solene de
encerramento da Semana das Colónias, realizada
em 8 de Maio de 1935 (1 ex.).
Placa da Crã-Cruz de Cristo, com que a Sociedade
de Ceografia foi agraciada por Decreto-lei de 29 de
Março de 1928 (1 ex.).
2— Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, sé-
rie 1 a 54 (Colecção de 44 volumes) — Quarenta
e quatro volumes, encadernação de luxo.

DIAPOSITIVOS

— 6 aspectos interiores da sede da S. G. L.


— 1.* direcção:
— Luciano Cordeiro.
— Visconde de S. Januário.
— Rodrigo Pequito.
— João Carlos de Brito Capelo.
— António Augusto Pereira de Miranda.

97
MAPA DOS DESCOBRIMENTOS

(2.A SALA ANEXA)

/\ epopeia marítima dos nossos descobrimentos e nave-


-A i. gações e a terrestre das viagens de alguns portugueses
são qualquer coisa de verdadeiramente monumental. Aquela
ocupou principalmente os séculos XV e XVI, esta esten-
deu-se ainda até bem entrado o XVII.
Os nossos arrojadíssimos mareantes e valorosos pioneiros
abriram ao mundo novos mundos, novos mares, novas terras e
novos povos; as suas inolvidáveis viagens permitiram a solu-
ção de importantes problemas geográficos, até então ignorada.
Quanto à epopeia das conquistas dos portugueses, em ter-
ras de além-mar, ela foi algo de importante que a História
regista. Todos lemos os seus relatos com emoção religiosa-
mente patriótica.

i _ navegadores e descobridores

/ — Com D. Henrique. — Sob a enérgica, e única, di-


recção de D. Henrique os mareantes portugueses cedo redes-
99
cobriram o arquipélago da Madeira e, pouco mais tarde, todo
o dos Açores.
Atacadas as costas africanas, ao Sul do Não, conseguiu
Gileanes dobrar o Bojador em 1434; arrojada passagem que
cimentou o primeiro marco milenário dos Descobrimentos.
Com D. Henrique foi descoberta tôda a costa ocidental
africana até à Serra Leoa, com as ilhas do arquipélago de
Cabo Verde: Fogo, Sant'Iago e Maio, a sotavento, Boavista e
Sal, a barlavento.
De entre a brilhante plêiade dos marinheiros henriqui-
nos distinguiram-se principalmente:
Gileanes, João Gonçalves Zarco, Gonçalo Velho, Tristão
Vaz Teixeira, Gonçalves Baldaia, Antão Gonçalves, Nuno
Tristão, Gonçalo de Sintra, Deniz Dias, Alvaro Vasques,
Diogo Gomes e Pedro de Sintra.
Ainda devemos registar Diogo de Teive, que em viagem
para o ocidente dos Açores parece ter atingido o continente
americano; não há porém documentos precisos que confir-
mem êste descobrimento.

2 — Com D. Afonso V. — Foi descoberta a costa ociden-


tal africana, da Serra Leoa ao Cabo de Catarina, com as ilhas
do Golfo cie Biafra: Fernando Pó, S. Tomé, Príncipe e Ano
Bom e as restantes ilhas do arquipélago caboverdeano.
Poucos são os nomes de heróicos marinheiros que a His-
tória nos conservou: Pedro de Sintra, João de Santarém, Pêro
Escolar ou Escobar, Soeiro da Costa, Fernando Pó, Lopo
Gonçalves, Rui Sequeira, Soeiro Mendes de Évora e os Tei-
ves (Diogo e João).
É com D. Afonso V que as navegações para a Mina
— então Sarna — começam anualmente em intensidade sem-
pre crescente.

3 — Com D. João II. — São descobertos os pontos mais


importantes da costa ocidental africana, desde o Cabo de Ca-

100
tarina, até ao Cabo da Boa Esperança, incluindo todo o curso
navegável do Zaire, e. nu costa Sul, a caminho do Índico, até
ao Rio do Infante; são ainda exploradas e visitadas as costas
do Golfo da Guiné. A passagem daquele último cabo, por
Bartolomeu Dias, é o segundo marco milenário dos Desco-
brimentos.
Os mais notáveis mareantes desta época áurea, todos da
mais rija têmpera joanina, foram: Diogo de Azambuja, Diogo
Cão, Pêro Anes, Pêro Escobar ou Escolar, Bartolomeu Dias,
João Infante, Pêro de Alenquer, Duarte Pacheco Pereira, os
Sousas (Gonçalo e Rui), Pêro Vaz da Cunha (o Bisagudo) e
João Fernandes Labrador.
Com a construção do Castelo dc S. Jorge da Mina, nêste
reinado do maior dos nossos chefes do Estado, ainda as nave-
gações para o Golfo da Guiné se incrementam.

q — Com D. Manuel. — Com o rei Venturoso, ao desco-


brimento do caminho marítimo para a Índia seguiu-se o das
terras de Vera Cruz, o da Flórida, das I erras de Corte Real
e dos Bacalhaus e o das inúmeras ilhas que os mareantes iam
divisando, nas suas arrojadas rotas: S. Lourenco, Socotorá, As-
cenção e Santa Helena, as das costas brasileiras e muitas do
Oceano Índico; depois grande parte das do mar de Java. Logo
veio o do litoral brasileiro: no Sul até ao Rio da Prata, no
norte até ao Amazonas.
Não é possível citarem-se todos os mareantes desta época
venturosa; entre a grande élite registaremos somente: Vasco
da Gama, Pêro de Alenquer, Pedro Alvares Cabral, os irmãos
Dias (Bartolomeu, Pedro e Diogo), João da Nova, Tristão da
Cunha, D. Francisco de Almeida, Afonso de Albuquerque, os
Cortes Reais (Gaspar e Miguel), Fernão de Magalhãis, João
Dias de Solis, João de Lisboa, e João Alvares Fagundes.
Com D. Manuel começaram as grandes navegações atlân-
ticas e as dos mares de Java e da China.
As rotas africanas, as da carreira da índia e as dos mares

101
orientais, então estudadas, praticadas e sempre aperfeiçoadas
pelos mareantes dos nossos navios, foram depois adoptadas
por todas as marinhas.

5 — Com os restantes reis de Avis. — São atingidas a


Austrália e a Nova Guiné, as Carolinas, várias terras das duas
costas da América do Norte, Buenos Aires, etc.
De entre os nossos mareantes célebres mencionaremos:
D. João de Castro, Diogo Afonso, os irmãos Sousas (Pedro Lo-
pes e Martim Afonso), Luiz Tôrres, Estêvão Gomes, João Ro-
drigues Cabril, etc.
6 — Com os Felipes. — Os mais notáveis navegadores fo-
ram: Vicente Rodrigues, Gaspar Ferreira Reimão, Aleixo da
Mota, D. Luiz de Ataíde, todos notáveis roteiristas, João Mar-
tins, etc..
II— VIAGENS TERRESTRES

7 — Ficaram célebres as viagens terrestres de alguns por-


tugueses, na África, na Ásia, na América e nas ilhas orientais.
Apenas citaremos os nomes dos viajantes que marcaram.

a) África

1) João Fernandes a Hoden, e António Gonçalves a


buscá-lo.
2) Gregório de Quadra à Etiópia e Alto Congo.
3) Simão da Silveira ao Manicongo.
4) Lucas e o P.° Francisco Alvares, mais tarde Estêvão
da Gama, e também o P.° Fernandes, à Abissínia.
5) Frei António e Fr. Rodrigo de S. Salvador a Sunde,.
acima das cataratas do Congo.
6) Paulo Dias de Novais ao Rio Cuanza e Pungo An-
dongo, e, anos depois, a Lugenda e ao Bembo.
7) P.° D. Gonçalo da Silveira a Quelimane, Sena, Tete
e Monomotapa.

102
8) Francisco Barreto a Sofála, Monomotápa, Chicova e
Manica.
ç) Duarte Lopes ao Congo.
10) PJerónimo Lôbo e Francisco Pais ao Nilo Azul.
11) P.' Jerónimo Lôbo e Mendes à Abissínia.

b) Ásia)

12) António Tenreiro e Baltasar Pessoa de Ormuz à


Pérsia, Arménia e Síria (Cairo, Alexandria e Chi-
pre), voltando a Ormuz.
13) Gregório de Quadra (desde Lisboa) à Babilónia, Ba-
corá, Ormuz e índia, voltando a Lisboa.
14) Fernão Mendes Pinto à China, Japão e índia.
75) Fr. Bento de Góis à índia e Japão.
16) Da índia a Portugal: a) Nicolau da Horta, b) D. Al-
varo da Costa, c) Izack do Cairo e d) P* Manuel
Godinho.
iy) P.' António de Andrade do Tibet a. Portugal. Em
segunda viagem veio com o P.' Gonçalo de Sousa.
18) P' João Cabral ao Tibet.

c) América

19) Miguel Côrte Real em Providence e Terras pró-


ximas.
20) No interior do Brasil: Francisco Chaves, Martins de
Carvalho, Francisco Espinhoso, Braz Cubas e Luiz
Martins, António Dias Adorno, etc.

d) Austrália

21) João Caetano percorreu a parte Leste.

103
Ill — CONQUISTADORES

8 —Não é possível resumir sequer as nossas principais


conquistas nas terras africanas, asiáticas, americanas e das
ilhas do mar Java; nem tão pouco registar os nomes dos que
as fizeram.
Basta-nos citar somente o nome prestigioso dum grande,
entre os grandes nacionais e estrangeiros, expoente máximo
dos conquistadores de além-mar, que foi também um extraor-
dinário navegador e um inigualável administrador e politico
de fama mundial; êle concretiza admiràvelmente tôdas as ca-
racterísticas da expansão colonial portuguesa:

AFONSO DE ALBUQUERQUE

COMANDANTE FONTOURA DA COSTA

10k
Carta dos descobrimentos, navegação e conquistas. —
Ensaio histórico-cartográfico, (compilação, coordenação e pin-
tura) de Ventura Ferreira.
Enquadramento central (parte geográfica) em estilo de
portulano (6m,00x5m,90), contendo a representação de:

J.° — Viagens marítimas —

a) Com rotas tracejadas

1) as de:
Álvaro Fagundes
Bartolomeu Dias
David Melgueiro
Diogo Dias
Diogo Cão
Duarte Pacheco Pereira
Estêvão Gomes
Fernão de Magalhãis
Gaspar Corte Real
Jorge Álvares.
Jorge de Abreu e Francisco Serrão
João Vaz de Torres
João Martins
Pedro Álvares Cabral
Vasco da Gama
Volta da Mina.

b) Descobrimentos anotados

1) Ilhas:
Madeira
Açores
Ceilão
Socotorá

105
S. Tomé
S. Helena
Ascensão
Tristão da Cunha
Papuas
Mascarenhas
Celebes.
2) Continentes:
Cabo Bojador até S. Jorge da Mina, Golfo Pérsico,
Golfo de Bengala, Norte da China e Japão.

2.° — Viagens terrestres —

b) Sul da Mauritânia

1) Guiné, Senegal, Costa da Malagueta e dos Escra-


vos, Benin, Alta Negrícia e Gabão.
2) Congo, Região dos Lagos, Travessia da Costa à
Contra-Costa, Sul de Angola. Do Niassa até
aos Domínios do Sul do Reino de Monomotápa.
3) Moçambique, Norte de Moçambique, Abissínia,
Palestina, Pérsia, Arábia, Egipto, Alta Ásia,
China, Cochinchina e Japão.
5) Borneu, Java, Celebes, Flores e Solor.

Estão indicadas na carta as principais fortalezas e regiões


conquistadas.
Os quadros laterais contêm os nomes dos principais nave-
gadores, conquistadores, missionários e exploradores.

106
CULTURA COLONIAL

rôDA a expansão portuguesa mostra a quem a estuda,


com a profundidade, consciência e compreensão ne-
cessárias, uma permanente síntese de cultura e acção.
Acção sem cultura não é mais do que inútil agitação.
Cultura sem a sua natural e árdua revelação na acção não
passa de um intelectualismo inhumano e sem grandeza.
O Mundo deve a Portugal a criação de um tipo humano
perfeito em que a cultura e a capacidade de acção se con-
jugam com perfeita harmonia e equilíbrio de valores
É essa harmonia que torna possíveis os descobrimentos
e a primeira expansão desde o seu impulsionador, o Infante
D. Henrique — em que a cultura e o poder de acção são
igualmente fortes — até aos missionários, aos poetas, aos capi-
tãis e aos pilotos que levaram a nossa expansão, ao mesmo
tempo espiritual e material, a todo o Mundo.
A acção portuguesa colonial revela sempre, também,
uma perfeita reunião de alta cultura e forte qualidade de
107
acção. Para exemplo não precisamos de ir buscar esses for-
midáveis portugueses que fizeram o Império Oriental —
D. João de Castro entre os maiores, sábio, letrado, escritor
e herói — mas êsses outros portugueses do século XIX —
não menos grandes e a que apenas falta o recuo do tempo
para serem vistos como merecem — esses portugueses que
reconstruíram o Império no século XIX depois da separa-
ção do Brasil, e do desastre das nossas lutas intestinas.
Os maiores homens de acção no século XIX foram ho-
mens que meditaram a história, letrados, cientistas, escri-
tores como António Enes, Aires de Orneias, Eduardo Costa.
Era pois natural a criação de uma verdadeira cultura
colonial portuguesa. E ela permite e condiciona a acção, e
torna-a grande. Porque a acção que não foi prèviamente
meditada e estudada com o auxílio da maior cultura não
passa de errada agitação, sem sentido nem finalidade.
Através de quatro séculos de expansão — do século XV
ao século XIX — há a criação de uma verdadeira cultura
colonial portuguesa. Dispersa nas relações, comentários, me-
mórias, há uma verdadeira doutrina colonial, os fundamentos
para uma cultura colonial bem portuguesa.
Da doutrina de apolítica indígena», por exemplo, pode
fazer-se um livro admirável apenas recolhendo nos livros e
escritos dos nossos homens de acção durante esse período as
passagens que a êle se referem. E seria não só um admirável
livro, mas o melhor documento de grandeza humana da nossa
colonização.
Os problemas de acção colonial no século XIX e prin-
cípios do século XX careciam de uma doutrina, ainda mais
solidamente construída, que animasse a nossa acção.
E perante essa necessidade não houve deficiência do es-
pírito e da cultura.
No fim do século XIX, quando, pela nova eclosão de
um grande esforço expansivo na Europa e pelo seu alarga-
mento na acção colonial, se fêz notar a necessidade da cria-

108
ção de uma cultura e de uma doutrina coloniais entre os
que primeiro nela colaboram cncontram-se os melhores no-
mes dos homens de acção e dos homens do espirito — e esta
distinção ê difícil entre nós — numa palavra nos melhoies
homens de Portugal.
De homens de acção criadores de uma verdadeira cul-
tura colonial basta citar Eduardo Costa — um dos maiores
em tudo.
E nos centros de cultura nacional — em Lisboa, como
no Pôrto e em Coimbra — espontâneamente, por iniciativa
de alguns valores notáveis ou por criação do Estado come-
çam a realizar-se aqueles organismos criadores e mantenedores
de cultura sem os quais ela é dispersa actividade de indiví-
duos sem resultado eficaz.
Entre esses organismos é justo citar, já pelo valor que
representou no seu início, ja pela constante acção cultuial
que manteve sempre, a Sociedade de Geografia de Lisboa. E e
justo citar o nome de Luciano Cordeiro como o verdadeiro
criador e o forte impulsionador dêsse grande organismo de
cultura que tantos serviços prestou e presta à nossa acção
colonial.
Outros organismos — espontâneamente formados — po-
deriam ainda ser citados.
Algumas revistas em que se congregaram tantas activida-
des de cultura deveriam ser referidas. Actividades cientifi-
cas (como a de Júlio Henriques no Jardim Botânico de
Coimbra) deveriam também ser indicadas.
Não pode, porém, sem omissão que poderia ser in-
justa, fazer-se aqui o que teria de ser um estudo completo,
num verdadeiro livro, das manifestações da cultura colonial
portuguesa.
Marca-se apenas a sua existência e a sua natural direc-
triz. Esta, após as criações isoladas do passado, após o apare-
cimento espontâneo de organismos de cultura e seus meios
de expansão na Imprensa caminha desde os fins do sé-

109
culo XIX e princípios do século XX para a formação dos ver-
dadeiros órgãos da cultura colonial — os Institutos Cientí-
ficos de Investigação e o Instituto de Criação de Cultura e de
Ensino em que tôda esta cultura deve reflectir-se, desenvol-
ver-se, criar a sua ciência própria (a ciência colonial) e, pelo
ensino, facilitar aos futuros homens de acção a base de estu-
dos necessária para que ela seja perfeita.
A consciência desta necessidade e a força desta tendên-
cia espontânea agem por igual na criação da Escola Colonial,
criação a que devemos, por justiça, deixar unidos os nomes
do Rei D. Carlos e do Ministro Moreira Júnior.
Nessa Escola se agrupam desde 1906 os mais altos espí-
ritos e grandes valores de acção colonial. Nela se revê e se
cria a doutrina de Administração Colonial, com Tomaz de
Aquino de Almeida Garrett, Carneiro de Moura e outros.
Nela, pela primeira vez e com alta superioridade, se ela-
bora uma Ciência de Colonização. É da mais elementar jus-
tiça citar, grande entre tantos nomes notabilissimos, o nome
do Professor Lourenço Cayolla, primeiro criador dessa
ciência, como tal, com o seu corpo de doutrina e sistemati-
zação, no nosso país.
É também de elementar justiça dizer que o primeiro
tratado de «Politica Indígena» e a primeira criação dessa
ciência como ciência, tiveram origem em Portugal e na Escola
Colonial, honrando o nome do Professor Lopo Vaz de Sam-
paio e Melo.
Outros muitos nomes — o de todos os seus professores,
na verdade — haveria a citar como demonstração de que, em
todos os campos, houve e há nessa Escola uma criação cons-
tante de cultura colonial. Não é isso possível aqui, só me
cabendo lembrar que a publicação de uma «Biblioteca Colo-
nial» que reunisse as obras feitas pelos professores e diplo-
mados da Escola Superior Colonial seria a melhor maneira
de prestar justiça a tantos e que tanto a merecem.
A elevação da Escola Colonial a Escola Superior Colo-

110
nial pelo Ministro João Belo e a obra ali continuada e
desenvolvida pelos seus professores e diplomados afirmam a
existência em Portugal — e isto é da mais alta importância —
de um grande organismo de cultura que pode enfim dar
corpo à Cultura Colonial — em todas as suas ciências — e
levar, pelo seu ensino, a todos os homens de acção colonial a
cultura que lhes é necessária como base da própria acção.
Dos institutos de investigação científica e das escolas
técnicas (como o Instituto de Medicina Tropical), de museus,
das actividades de cultura colonial dispersas nos outros orga-
nismos de cultura portugueses, e da Escola Superior Colo-
nial — como base de todos êsses estudos e criação de cultura
que os sintetiza — pode nascer e nascerá a Universidade Co-
lonial, finalidade natural de uma actividade cultural que de
há tanto se vem manifestando em Portugal.
A obra do presente será — mercê da renovação total do
pais feita por um nacionalismo forte e inteligente — o natural
complemento do seu passado.
Digamos apenas, para terminar, que foi através de todos
estes organismos de cultura e pela acção persistente de todos
os valores que neles colaboram que se fêz a melhor propa-
ganda das colónias, aquela que as mostra ao País, como uma
obra a construir e a fazer perfeita, pensando e agindo, escre-
vendo e trabalhando, criando, sempre, pela cultura e pela
acção.

JOÃO DE CASTRO OSÓRIO

111
SECÇÃO XIV

Cultura Colonial

Na parede, quadro de Estrêla de Faria, indicando a evo-


lução da cultura colonial em Portugal. O quadro encerra as
seguintes legendas:

— A cultura acompanhou sempre a acção portuguesa


no Ultramar.
— Resultante da criação espiritual e da experiência
da acção há, bem definida, uma cultura colonial
portuguesa.
— Num organismo de cultura — Sociedade de Geo-
grafia— se renovou a nossa acção colonial no
século XIX.
— Num organismo de cultura — Escola Superior Colo-
nial— existe hoje a base indispensável da acção
colonial renovada e engrandecida de Portugal.

No terceiro quadro de acesso à 2.a galeria acham-se expos-


tas as seguintes fotografias:

N.° 1 — Escola Superior Colonial ao fim de 29 anos de fun-


cionamento. Um curso com os seus professores.
N.° 2— Escola Superior Colonial — Fachada actual.
N.° 3 — Alfredo Allen Archer, professor da Escola Superior
Colonial (falecido).
N.° 4 — Alfredo Augusto Lisboa de Lima, professor da Es-
cola Superior Colonial (falecido).
N.° 5 — Alvaro Xavier de Castro, professor da Escola Supe-
rior Colonial (falecido).
N.° 6— João Feliciano Marques Pereira, professor da Escola
Superior Colonial (falecido).
N.° 7 — João Crisóstomo do Patrocínio de São Francisco Xa-

112
vier Pinto, professor da Escola Superior Colonial
(falecido).
N.° 8—João Martins Delgado, professor da Escola Supe-
rior Colonial (falecido).
N.° 9 — Manuel da Costa Dias, professor da Escola Superior
Colonial (falecido).
N.° 10 — Tomaz de Aquino de Almeida Garrett, professor da
Escola Superior Colonial (falecido).

Nas duas vitrinas da secção da «Cultura Colonial» estão


expostos os seguintes livros:

N.° 1 1 — Memorias contendo a biografia do vice-almirante


Luiz da Mota Feo e Torres, a história dos governa-
dores e capitãis generais de Angola, desde 1575 até
1825, e a descrição geográfica e política dos reinos
de Angola e Benguela, por J. C. Feo Cardoso de
Castelobranco e Torres.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)
N.° 12— Ensaios sôbre a Estatística das possessões portugue-
sas, por José Joaquim Lopes de Lima.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)
N.° 13 — Ensaios sôbre estatística das possessões portugue-
sas, continuação da anterior, por Francisco Maria
Bordalo.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)
N.° 14—-África Ocidental — Notícias e considerações, por
Francisco Travassos Valdez.
(Cedida pela Agência Geral das Colónias)
N.° 15 — Sertum Angolense, sive stirpium quarundam nova-
rum vel minus cognitarum in itinere per Angolam
et Benguellam observatarum descriptio iconibus
illustrata, tentavit Fridericus Weswitsch.
(Cedido pela Agência Geral das Colónias)

113
N." 16— Luciano Cordeiro — Questões histórico-coloniais
(Cedido pela Agtncia Geral das Colónias)
N.° 17 — Angola e Congo, por F. A. Pinto (Conferência rea-
lizada na Sociedade de Geografia Comercial do
Pôrto, em 1886).
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)
N." 18 — Contribuições para o estudo da flora africana, por
J. A. Henriques.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)
N.° 19—Plantas da borracha e da guta-percha, por J. A.
Henriques.
(Cedido pela Agência Geral das Colónias)
N.° 20—Portugal nos mares, por Oliveira Martins.
(Cedido pela Agência Geral das Colónias)
N." 21 — Bosquejo das possessões portuguesas no Oriente,
por Joaquim Pedro Celestino Soares.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 22 — Ornithologie d'Angola, por J. V. Barbosa du Bocage.


(Cedido pela Agência Geral das Colónias)
N.° 23— Fauna de Angola, por J. V. Barbosa du Bocage.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)
N." 24— Herpétologie d'Angola et du Congo, por J. V. Bar-
bosa du Bocage.
(Cedido pela Agência Geral das Colónias)
N.° 25 — Plantas úteis da África Portuguesa — Conde de Fi-
ca lho.
(Cedido pela Agência Geral das Colónias)
N.° 26—Flora dos Lusíadas'—Conde de Ficalho.
(Cedido por Amadeu Cunha)
N.° 27 — Colóquios dos simples e drogas da índia, de Garcia
da Orta — Edição dirigida e anotada pelo Conde de
Ficalho.
(Cedida pela Agência Geral das Colónias)

íu
N.° 28 — Estudos sobre as províncias ultramarinas, por An-
drade Côrvo.
(Cedido pela Agência Geral das ColóniasJ

N.° 29—Ciência de colonização — Lourenço Cayolla.


(Cedido pela Ex." Sr.' D. Inácia de Almeida Cayolla)

N.° 30— Subsídios para a História de Cabo Verde e Guiné —*■


Cristiano José de Sena Barcelos.
(Cedido pela Agência Geral das Colónias)

N.° 31 — Política Indígena — Lopo Vaz de Sampaio e Melo.


(Cedido pela Agência Geral das Colónias)

DIAPOSITIVOS

Os diapositivos correspondentes à Secção XIV (Cultura


Colonial) acham-se no quadro da direita do corredor de pas-
sagem para a 2.a Galeria. Nêle estão figuradas as seguintes
individualidades:

D. RODRIGO DE SOUSA COUTINHO

1.° Conde de Linhares

(Século XVIII)

Ministro da Marinha em 1795, criou a Junta de Fazenda


da Marinha, o corpo de engenheiros construtores; desenvolveu
os trabalhos geodésicos; mandou Alexandre Rodrigues Fer-
reira em missão botânica ao Brasil e incumbiu o Dr. Lacerda
e Almeida de tentar a travessia da África. Escreveu uma «Me-
mória sôbre a verdadeira influência das minas dos metais pre-
ciosos na indústria das nações, especialmente na portuguesa».
Foi inspector geral do gabinete de História Natural e do
Jardim Botânico da Ajuda.

115
AUGUSTO RIBEIRO
Fundador do «Comércio de Portugal».
Deputado em 1887 e 1890.
Professor da Escola Colonial.
Como historiógrafo e cientista colonial, deixou, entre
outros, os seguintes trabalhos: «Études et observations mé-
téorologiques aux colonies du Portugal; Missions et explo-
rations portugaises du XV au XIX siècle»; «Du regime fidu-
ciaire et du crédit foncier aux colonies portugaises» ; «Os Aço-
res e os descobrimentos modernos: os Cortes Reais».
Foi autor, também, dum memorando acêrca do trabalha
indígena em S. Tomé.

CRISTIANO ). DE SENA BARCELOS


Oficial de Marinha, deputado, sócio da Academia Real das
Ciências de Lisboa, é autor dos «Subsídios para a história de
Cabo Verde e Guiné», obra publicada em 1899, por aquele
instituto.
ERNESTO DE VASCONCELOS
Engenheiro hidrógrafo, professor da Escola Naval e da
Escola Colonial, secretário perpétuo da Sociedade de Geogra-
fia, vogal permanente da Comissão de Cartografia, de que foi
depois presidente, — fêz parte da comissão inter-parlamentar
de colonização, e representou Portugal nos congressos geográ-
ficos de Berne, Londres e Berlim.
Em 1902, com o almirante Capêlo, foi a Haia tratar com
os delegados holandeses a questão dos limites de Timor. Em
1903 fêz parte da comissão nomeada para ir a Londres nego-
ciar com os inglêses o compromisso arbitral relativo ao traçado
da fronteira ocidental do Barotze. Em 1913 foi nomeado para
tratar com os belgas acêrca da demarcação de fronteiras no
Dilolo.
Deixou uma larga obra colonial científica e didática.

Í16
FRANCISCO MANUEL DE MELO
Conde de Ficalho

Lente da Escola Politécnica.


Conselheiro do Estado.
Escreveu um estudo sôbre «Garcia da Horta e o seu
tempo»; trabalhou numa história dos portugueses na índia, a
que pertencem as suas «Viagens de Pero da Covilhã»; com-
pôs ainda outros estudos, entre os quais «Flora dos Lusíadas»
e «Plantas úteis da África Portuguesa».
Sócio efectivo da Academia Real das Ciências de Lisboa.

FRANCISCO MARIA BORDALO


Continuador da obra de J. J. Lopes de Lima, «Ensaios sô-
bre a estatística das possessões portuguesas no Ultramar».
Em Abril de 1861 foi secretário da Junta encarregada de
propor ao govêrno meios eficazes de promover, nas províncias
ultramarinas, a cultura do algodão, e em 10 do referido mês era
escolhido para compor com outros a comissão directora da ex-
posição dos produtos nacionais em Lisboa.

J. DE ANDRADE CORVO

Depois de ter sido ministro das Obras Públicas, sobraçou


em 1871 a pasta dos Negócios Estrangeiros e em 1872 a da
Marinha e Ultramar.
Escreveu um notável estudo sôbre as províncias ultra-
marinas.
Foi lente da Escola Politécnica e professor do Instituto
Agrícola.
Sócio efectivo da Academia Real das Ciências de Lisboa.

J. FERREIRA MARNOCO E SOUSA


Doutorou-se na Universidade de Coimbra em 1897, foi
lente da Faculdade de Direito.
117
Jurisconsulto e economista, deixou uma obra de vulto, na
qual se destacam os seguintes trabalhos: «Poderes do Estado,
sua organização segundo a ciência política e o direito consti-
tucional português»; «Economia nacional, ciência económica,
sínteses financeiras»; «Tratado da Ciência das Finanças». De-
dicando-se ainda ao estudo dos problemas do Ultramar, foi
autor dum tratado de administração colonial.
Em 1910 geriu a pasta da Marinha e Ultramar.

J. J. LOPES DE LIMA

Oficial de Marinha. Foi Governador da índia de 1840


a 1842.
De ordem do govêrno da Rainha D. Maria II escreveu uma
obra, «Ensaios sôbre a Estatística das Possessões Portuguesas
na África Ocidental e Oriental, na Ásia Ocidental, na China
e na Oceania», obra publicada entre 1844 e 1846 e que ficou
incompleta, por motivo da morte do autor em Batávia (1852).
Continuou-a Francisco Maria Bordalo.

j. P. DE OLIVEIRA MARTINS

Historiador.
Autor, também, de estudos de economia colonial como
«O Brasil e as colónias portuguesas» e «Portugal nos mares».
Sendo deputado em 1883, apresentou um projecto sôbre
fomento rural.
Ministro da Fazenda em 1892.

j. V. BARBOSA DU BOCACE

Autor de diversos estudos sôbre a fauna africana: «Orni-


tologia de Angola»; «Contribution à la faune des quatre íles
du golf de Guinée»; «Notícia acêrca de um novo género de
mamíferos da África Ocidental»; «Lista dos répteis das pos-

118
sessões portuguesas da África Ocidental que existem no Mu-
seu de Lisboa»; «Fauna de Angola», etc.
Foi lente de zoologia da antiga Escola Politécnica; vice-
-presidente da Academia Real das Ciências de Lisboa, ministro
da Marinha e Ultramar (1883) e dos Negócios Estrangei-
ros (1890).

JÚLIO AUCUSTO HENRIQUES

Doutor em Filosofia, lente catedrático da cadeira de botâ-


nica na Universidade de Coimbra, director do Jardim Botâ-
nico da mesma Universidade, — fundou a Sociedade Brote-
riana e escreveu diversos trabalhos da sua especialidade refe-
rentes às colónias, como «Flora de África» e «Plantas da bor-
racha e da guta-percha».

LOURENÇO CAYOLLA

Sendo deputado em 1905, relatou o projecto sôbre o


ensino colonial.
Jornalista e homem de letras, escreveu no «Correio da
Noite», no «Diário de Notícias», de que foi por largo tempo,
até à morte, secretário geral, publicou diversas novelas e livros
de memórias. Foi professor da Escola Superior Colonial, desde
a fundação desta, e administrador da Companhia do Niassa.
É ainda obra sua o tratado «Ciência da Colonização».

LUCIANO CORDEIRO

Fundador da Sociedade de Geografia de Lisboa e seu


secretário perpétuo.
Com Mendes Leal, representou Portugal no Congresso
Internacional de Geografia Comercial de Paris, de 1878. Sendo
deputado, foi vogal da comissão de reforma e reorganização
das missões portuguesas do Ultramar. Fêz igualmente parte
da delegação portuguesa à Conferência de Berlim.
119
À sua pena devem-se numerosos estudos e artigos sôbre
questões coloniais, como as do Zaire e da prioridade dos nossos
direitos de soberania em África.

M. A. MOREIRA JÚNIOR

Deputado pela primeira vez em 1897, geriu em 1904 a


pasta da Marinha e Ultramar, tendo criado, então, a Escola
Colonial, mais tarde, Escola Superior Colonial.
Organizou ainda o ensino profissional nas colónias e apre-
sentou ao parlamento propostas sôbre a viação em S. Tomé e
os caminhos de ferro de Mossâmedes a Quelimane; acêrca da
navegação para as colónias e a ligação submarina destas com
a metrópole, etc.
Lente da Faculdade de Medicina da Universidade de
Lisboa.
VISCONDE DE SANTARÉM

Depois de ter ocupado diversos lugares diplomáticos e de


assistir nesta qualidade ao Congresso de Viena, foi nomeado,
em 24 de Julho de 1824, guarda-mor da Torre do Tombo.
Em 1827, sobraçou as pastas do Reino e da Marinha e Ultra-
mar, e em 1828, a dos Negócios Estrangeiros.
Autor do «Atlas» — monumento da ciência cartográfica
dos Portugueses. Membro da Sociedade de Geografia Fran-
cesa, da Academia e do Instituto de França, e da Sociedade
dos Antiquários de Paris.

no
2.A GALERIA
777777777777777777777^,

ADMINISTRAÇÃO COLONIAL

O terramoto pombalino, como lhe chamou Oliveira Mar-


tins, iniciou a transformação do sistema da adminis-
tração colonial do antigo regime, se é licito dar a designação
de sistema a essa organização tradicional, em que os organis-
mos se justapunham, cumulando, as funções administrativas,
judiciais e legislativas. Essa administração, «cujos abusos eram
patentes ao menos sagaz», escreveu o mais ilustre biógrafo de
Pombal, Lúcio de Azevedo, foi atingida no que respeita aos
negócios do ultramar pelas reformas pombalinas da Mesa da
Consciência, do Conselho Ultramarino, da Junta de Inten-
dência das Dívidas Antigas dos Armazéns da Guine e índia,
do Tesouro Geral com uma das suas contadorias destinadas
a receber as rendas do governos da Africa Oriental, Asia, e
Relação do Rio de Janeiro, do Conselho de lazenda, com os
seus vogais encarregados, por turno, dos processos do reino e
Africa, e da índia, (com a Africa Oriental), e da Casa da
índia cujo «regimento estava impraticável».
123
Estas providências, que devem ter lançado o terror no
mundo sonolento e mesureiro dos mangas de alpaca da época,
preparam as grandes reformas do liberalismo; o espírito claro
e geométrico do absolutismo do século XVIII è simplesmente
continuado pelo espírito revolucionário e ambos pretendem
o mesmo objectivo concretizado numa imagem de Taine: ao
velho edifício cheio de corredores e desvãos substituir um
amplo e claro edifício de largas escadarias e vastos salões,
acessíveis a todos, digamos que talvez demasiado aces-
síveis. ..
A-pesar-de Pombal, ao começar do século XIX ainda as
molas da administração central do ultramar se encontram
dispersas pelo Desembargo do Paço, por virtude das suas atri-
buições judiciais e consultivas, pela Mesa da Consciência e
Ordens, pelo que respeita ao numerosos e importantes assun-
tos relativos a Ordens Militares, bispados e espólios, pela
Secretaria de Estado da Marinha e Conquistas, pelo Conselho
Ultramarino e pelo Conselho de Fazenda, além dos juízos das
alfândegas e outros menores, que constituíam tribunais espe-
ciais. O alvará de j de Junho de 1793 é o símbolo do desabar
de uma época: reforma dos Armazéns da India e Guiné por
causa dos abusos «que não se poderão extinguir enquanto
subsistirem as origens dêles, que são: primeira a propriedade
dos ofícios; segunda a falta de uma escrituração correcta.)).
A ordem nas contas, a extinção de propriedade dos cargos...
Já em França ruge a Revolução e também assim começou...
Ao alvorecer do século o alvará de 9 de Junho de 1801
cria junto do Conselho Ultramarino um lugar de cosmógrafo
que deveria ser provido em um matemático, o qual assisti-
ria às sessões sempre que fôsse necessário: é o esboço da Co-
missão de Cartografia.
A grande, radical modificação dos órgãos centrais só o
novo regime a trará.
Com efeito, a seguir à revolução de 1820, a lei de 8 de
Novembro de 1821, informada pelos princípios da assimila-

m
ção absoluta e da unificação legislativa, distribuiu os servi-
ços relativos às colónias pelos diversos ministérios, e a Consti-
tuição de 22 só se referia ao Brasil. Restabelecido o regime
absoluto, a lei de 3 de Outubro de 1833 restabelecia as antigas
secretarias de Estado, mas a morte de D. João VI e a gueria
civil traziam a Carta Constitucional e a vitória definitiva do
regime constitucional. Na Carta, à-parte a defeituosa enume-
ração geográfica do art. 2.0, não havia qualquer referencia aos
domínios ultramarinos: foi o que Garrett chamou «.libeial
silêncio»; na reorganização dos Ministérios, em 28 de Julho
de 1834, foram outra vez os serviços relativos ao ultramar
distribuídos pelos restantes ministérios. Já antes, por decreto
de 30 de Agôsto de 1833, fora extinto o Conselho Ultrama-
rino, cujas funções eram incompatíveis com o princípio de
separação dos poderes. Por um momento o novo regime tem
a intuição do problema e cria a Secretaria de Estado dos
Negócios do Ultramar (lei de 23 de Abril de 1834) mas logo
a fada para curta vida destinando-a a ser anexada a outra,
como, por decreto de 2 de Maio realizou, ficando o Minis-
tério da Marinha e Ultramar que, com diferentes vicissitudes
chegou a 1911. O decreto de 8 de Outubro de 1910, que esta-
beleceu as designações dos Ministérios, deu ao antigo Minis-
tério da Marinha e Ultramar a designação de Ministério da
Marinha e Colónias, e o de 27 de Maio de 1911 reorganizou
os serviços que, finalmente, foram em 23 de Agosto dêsse ano
separados dos da Marinha, passando a constituir um Minis-
tério próprio.
Numerosas foram as reorganizações por que passaram os
serviços centrais da administração colonial durante este século
de regimes representativos, sem que valha a pena enumerá-
-las. Far-se-á excepção para o decreto de 13 de Fevereiro de
1843 (José Falcão) que organizou a secção do Ultramar da
Secretaria de Estado segundo o critério geográfico, organi-
zação que durou até 1839, mas foi abandonada, seguindo tôdas
as restantes organizações o critério de distribuição das repar-
125
tições por serviços e não por colónias. No entanto, a predi-
lecção dos colonialistas ia para a distribuição dos serviços por
colónias: nêsse sentido se manifestou Eduardo Costa na sua
notável Memória de 1901, a sub-comissão da Sociedade de
Geografia que em 1912 elaborou um parecer sôbre o assunto
e até o Ministro Cerveira Albuquerque no seu Relatório do
mesmo ano. Só, já fora do período de que nos ocupamos, o cri-
tério administrativo foi abandonado, na reorganização de
1920; no entanto pela lei de 30 de Junho de 1913 a Direcção
Geral de Fazenda das Colónias dividia-se em duas reparti-
ções, segundo o critério de distribuição geográfica, abando-
nado, porém, em 1917.
Outro facto a reter é o da mudança de designação. Não
só a ligação dos serviços das colónias à Marinha era comba-
tida, tendo Emídio Navarro advogado a sua ligação ao Alinis-
tério dos Estrangeiros, mas a designação de províncias ultra-
marinas era, pelos tratadistas considerada imprópria e até
inconveniente, pois os autores estrangeiros a apontavam como
simbolizando a nossa política excessivamente assimiladora.
A essa inspiração se deveu a designação de 1911 e, justifi-
cando-a, escrevia Cerveira Albuquerque no citado Relatório:
«implica a ideia de que as colónias devem ficar sob a influên-
cia de um regime especial e por tanto não devendo ser consi-
derada como parte integrante da Metrópole, mas como cons-
tituindo o nosso império colonial.»
Fastidioso seria falar de todos os organismos auxiliares
do Ministério, que, aliás, não indicaria novos traços a esta
vista geral. Mencionaremos todavia o mais importante deles
pela sua tradição, pois antecede a própria criação do Minis-
tério da Marinha e Conquistas, e pelas suas elevadas funções:
referimo-nos ao Conselho Ultramarino. Já vimos como o
constitucionalismo o suprimiu em 33. Fontes, porém, resta-
beleceu-o em 3/ e com tão largas atribuições que em parte
caia no mesmo vício de confusão de poderes e em alguns
casos se sobrepunha à Secretaria de Estado, podendo corres-

126
ponder-se directamente com os governadores das colónias.
Não se manteve assim e foi sucessivamente remodelado até
que, em nome da pobreza do Tesouro, foi em 1868 trans-
formado em Junta Consultiva do Ultramar. Ferreira do Ama-
ral, em 92, remodelou-a e introduziu a innovação de vogais
eleitos, indirectamente, como representantes das colónias,
procurando adaptá-la a funções de informação por intermédio
de indivíduos conhecedores das condições e problemas locais.
Passou em 1911 a Conselho Colonial e absorveu os restantes
organismos consultivos do Ministério, sendo-lhe então atri-
buídas principalmente as funções de Tribunal Adminis-
trativo.
Ao Ministro e Secretário de Estado da Marinha e Ultra-
mar, colocado à frente desta administração, não dava a orgâ-
nica constitucional maiores ou diferentes poderes do que con-
cedia aos seus colegas das outras pastas, com a diferença real
que êle tinha os seus administrados e executores das suas
ordens a milhares de quilómetros e que essas ordens levavam
meses a atingi-los. Não curara a Carta, inspiração de letrados
e burgueses, dêsse pormenor; possível é, mesmo, que longe do
espirito dos seus autores estivesse a idèia de os aplicar aos do-
mínios e conquistas. Logo a Constituição de 38 procurou re-
mediar a deficiência inserindo um título X denominado Das
Províncias Ultramarinas e dando a possibilidade de para elas
serem feitas leis especiais, e ao Ministro a de decretar as pro-
vidências urgentes quando não estivessem reunidas as cortes.
Caída a Constituição pela contra-revolução cabralina, veri-
ficou-se que era preciso manter essas disposições, para o que
se fizeram o decreto de 2 de Maio de 1842 e a lei de 2 de
Maio de 1843, esta com a brava oposição das cortes e ambos
de tão duvidosa constitucionalidade que foi preciso, mais
tarde, introduzir os seus preceitos no Acto Adicional de 32,
constituindo o seu art. 13.".
A sombra das disposições dêste artigo se fêz a quási tota-
lidade da legislação para as colónias, invocando a urgência,

127
que nem sempre era muita, e o facto de estarem encerradas
as côrtes, também frequente.
E pode dizer-se que toda a actividade legislativa e regu-
lamentar da monarquia constitucional se desenvolve em volta
dos §§ i.° e 2° do art. 15° do Acto Adicional: os governos,
aproveitando o primeiro para poderem legislar para o ultra-
mar fora do processo moroso e raras vezes bem orientado das
assembleias parlamentares, e condicionando o segundo, que
permitia que os governadores pudessem tomar providências
urgentes sem esperar pela decisão do govêrno, de forma a
reduzir-lhe ao mínimo a iniciativa, regulamentando a aplica-
ção do § 2." do art. 13.0 pelos decretos de 14 de Agôsto de
1856 e 28 de Dezembro de 1882.
O decreto de 23 de Abril de 1835 substituíra os «gover-
nadores e capitãis generais» por simples governadores, que
reuniriam as atribuições administrativas e militares asem con-
tudo terem ingerência alguma nos negócios judiciais».
Pelo decreto de 7 de Dezembro de 1836, de Vieira de
Castro, foram os «domínios africanos» divididos em três go-
vernos gerais, de Cabo Verde e Guiné, Angola e Moçam-
bique, um govêrno particular constituído por S. Tomé e
Principe e o Estado da índia, que constituía outro govêrno
geral, ficando a divisão dêstes govêrnos em distritos para
oportuna regulamentação. Estabelecia êste decreto, a que
já se chamou, com justiça, a primeira carta orgânica do
ultramar, as atribuições de governadores e conselhos de
govêrno.
Sucede-lhe em i86g o decreto de 1 de Dezembro, de
Rebêlo da Silva. Pretendia o legislador traduzir nêsse decreto,
que foi seguramente o de mais longa vigência na adminis-
tração ultramarina, o princípio da descentralização. «Con-
fiando à acção local o plano e os meios de execução em assun-
tos valiosos e chamando-as ao exame e decisão das questões
que principalmente devem interessá-la, tende esta reforma a
costumar as possessões a contarem para a solução dêstes gra-

128
ves problemas com o recurso dos próprios, da sua inteligência
e os seus cabedais».
O diploma de Rebelo da Silva continha com efeito os
germes de um desenvolvimento administrativo que poderia
conduzir a uma descentralização sem demasiadas peias, mas
sem exageros. Seria, porém, exigir muito supor que numa
época em que na metrópole se acentuava a tendência para
a centralização podia em relação à administração colonial, tal
como a permitiam os textos constitucionais, adoptar-se uma
mentalidade diferente. A unificação legislativa, a aplicação
dos códigos administrativos metropolitanos nas colónias inu-
tilizava as intenções do diploma fundamental, do decreto de
1869. Por outro lado, o decreto de 20 de Dezembro de 1880,
extinguindo as juntas de fazenda que existiam no ultramar e
mandando aplicar nas colónias o regulamento geral da con-
tabilidade pública de 31 de Agosto de 1881 e o regulamento
geral da administração de fazenda de 1870, acentuava a cen-
tralização. Fàcilmente se verificou a impraticabilidade dêsses
regulamentos no ultramar e por isso o decreto de 7 de No-
vembro de 1889 põe em vigor o primeiro regulamento de
fazenda para as colónias, mas nêsse e nos diplomas seguintes
vão colocar-se em conflito duas orientações: a do orçamento-
logista que exige a ordem nas contas e a fiscalização das des-
pesas e a do administrador colonial que quere que o gover-
nador tenha possibilidade de iniciativa e seja a primeira auto-
ridade na colónia. Seria possível conciliar as duas exigên-
cias, mas por infelicidade prevaleceu durante largo tempo
o critério de subordinar o governador ao funcionário de
fazenda. Contra êsse sistema se levantaram, clamorosamente,
as mais autorizadas vozes: António Enes, Mousinho, Eduardo
Costa...
A realidade tem os seus direitos e consegue prevalecer
às vezes sôbre os sistemas... Sob a pressão das circunstâncias
teve de se verificar que os poderes do governador eram insufi-
cientes e que o Ministro da Marinha e Ultramar, que tudo

129
dirigia do sen gabinete, estava muito longe para deliberar
com rapidez. Recorreu-se então ao sistema dos comissários
régios, em quem foram delegados os poderes que o art. 15." do
Acto Adicional conferia ao executivo nos casos de urgência.
Assim, foram nomeados António Enes e Mousinho, para Mo-
çambique, o infante D. Afonso, como vice-rei, e Neves Fer-
reira para a tndia.
Estes actos marcam o inicio de nova época na adminis-
tração colonial. Em 1895, António Enes não se limitara, se é
lícito empregar tal verbo a respeito dessa emprêsa, a conse-
guir, pela valentia dos oficiais e soldados cuja direcção lhe
fôra confiada, a submissão dos indígenas de Moçambique:
promulgara disposições administrativas que tinha mostrado a
vantagem da administração exercida directamente, na pró-
pria colónia, e não através dos ofícios e dos telegramas.
Mousinho, que lhe sucedeu no cargo, seguira a mesma
orientação. Mas essa orientação contrariava a tradição buro-
crática, e o decreto de 7 de Julho de 1898 vinha declarar que
«a delegação de faculades do poder executivo aos comissários
régios se deve entender por forma que não invada atribui-
ções constitucionalmente fixadas e só pode por isso com-
preender aquêles que legalmente pertencem ao ministro e
secretário de Estado e não requerem o concurso dos outros
ministros»... Perante êste decreto, Mousinho entendeu que
«a acção e a iniciativa do comissário régio ficavam anuladas
e a província passaria de novo a ser administrada quási direc-
tamente pela secretaria de Estado» e demitiu-se.
A orientação descentralizadora, um momento contraria-
da pela tradição burocrática, já não poderia parar.
No Congresso Colonial de 1901 fêz-se ela ouvir clara-
mente, sobretudo na Memória de Eduardo Costa. Em 1907
um dos companheiros de Mousinho, Aires de Orneias, era
ministro da Marinha e Ultramar e publicava a reorganização
administrativa de Moçambique que punha em prática, na-
quela colónia, os princípios de descentralização e especiali-

130
zação administrativa e supremacia do governador em relação
aos serviços de fazenda.
Não foi possível alargar então, devido aos acontecimentos
políticos da época, as excelentes disposições dêsse decreto de
23 de Maio de 1907 às outras colónias, com as modificações
exigidas pelas circunstâncias locais, mas proclamada a Repú-
blica a nova constituição declarava no art. 67." que una admi-
nistração das províncias ultramarinas predominará o regime
de descentralização, com leis especiais adequadas ao estado de
civilização de cada uma de elas» e no art. 85° incumbia o pri-
meiro Congresso da República de «elaborar as leis orgânicas
das províncias ultramarinas».
Não se ocupou êsse primeiro congresso, até 1914, de dar
cumprimento a êste dever constitucional, prova de quanto as
assembléias parlamentares são impróprias para tarefas dessa
natureza. Por isso, em 1914, o Dr. Almeida Ribeiro, ao tempo
ministro das Colónias, apresentou as suas propostas de leis
orgânicas de administração financeira e da administração civil
das províncias ultramarinas, precedida de um muito notável
relatório, substituindo as leis orgânicas para cada uma das
províncias, que o Congresso não elaborara, por Bases às quais
se subordinariam os diplomas orgânicos que o Poder Exe-
cutivo decretaria para cada uma das colónias. Dando a cada
colónia suficiente descentralização, e fazendo, de cada uma,
uma «entidade financeira autónoma sob a superintendência
e fiscalização da Metrópole» as leis n.0' 277 e 278, em que as
propostas do Dr. Almeida Ribeiro se converteram, davam
às colónias condições de administração suficientemente des-
centralizada e de organização financeira própria, acautelando,
porém, os direitos e interêsses da Metrópole.
Como em relação ao decreto de 1869 a regulamentação
posterior e, aqui, também o desequilíbrio que se seguiu à
guerra, vieram a exagerar as consequências do regime esta-
belecido por essas Bases. Elas não deixam, por isso, de repre-
sentar uma notável obra legislativa e o resultado final da

131
orientação preconizada por uma geração de legisladores e colo-
nialistas: Rebelo da Silva, Paiva Manso, Júlio de Vilhena,
Enes, Mousinho, Orneias e Eduardo Costa, para só falar dos
maiores e dos já desaparecidos.
A nomeação dos comissários régios foi o primeiro passo
para um sistema de administração colonial que teve como
remate as Bases Orgânicas de 1914.

JOSÉ GONÇALO SANTA RITA

132
SECÇÃO I

Administração Colonial

No quarto quadro da escada de acesso à 2." galeria começa


a secção de Política e Administração Colonial. É composto das
seguintes fotografias:

N.° 1—Residência de Farim (Guiné).


N.° 2 — Palácio do Govêrno (Mossâmedes).
N.° 3 — Câmara Municipal de Mossâmedes.
N.° 4— Residência do Governador (Cabinda).
N.° 5 — Residência do Govêrno (Benguela).
N.° 6 — Palácio de S. Paulo, residência do Governador Ge-
ral de Moçambique.
N.° 7 — Câmara Municipal (Ilha de Moçambique).
N.o 8 — Residência do Govêrno de Inhambane.
N.o 9 Repartição das Obras Públicas e Observatório me-
teorológico de Inhambane.
N.° 10 — Residência do Govêrno de Tete— 1902.
fsj o ii —Palácio do Govêrno de Quelimane.
N.° 12 — Câmara Municipal de Quelimane.
N.° 13 — Residência dos funcionários em Valpoi — índia.
N.® 14 — Viagem do Príncipe Real às Colónias em 1907.
D. Luiz Filipe entre o Ministro da Marinha, Aires
de Orneias, e o Governador Geral de Angola, Paiva
Couceiro.
N.° 15 —Viagem do Príncipe Real às Colónias em 1907 —
Luanda.

Na parede lateral, já na 2." galeria, quadro ideográfico de


João Augusto Silva, em que figuram as bandeiras dos regimes
absoluto, constitucional e republicano.

133
Regime absoluto
(Século XIX)

Secretaria de Estado da Marinha e Conquista


Extinta em 1821

Órgãos auxiliares:
Conselho Ultramarino, Mesa da Consciência e Ordens

Administração local:
Governadores e capitãis-generais
Ouvidores (1811), Junta de Melhoramentos de Agricul-
tura (1810), Cabo Verde e S. Tomé
Monarquia constitucional

1821—Dispersão dos serviços pelos Ministérios do Reino,


Justiça, Fazenda, Guerra e Estrangeiros.
1823 — Secretaria de Estado da Marinha e Conquistas.
1834 — Supressão daquela Secretaria de Estado e dispersão
dos serviços como em 1821.
1835 — Criação da Secretaria de Estado dos Negócios do Ul-
tramar para ser anexada a qualquer das secretarias de
Estado existentes.
1838 — Divisão da Secretaria de Estado da Marinha e Ultra-
mar em duas secções distintas: Marinha e Ultramar.
1859 — Divisão da Secretaria de Estado: Gabinete do Ministro
e Direcções: Marinha, Ultramar, Fazenda e Contabi-
lidade.
1868 — Divisão em três Direcções Gerais: Marinha, Contabi-
lidade e Ultramar. Modificações em 1868, 1869,
1878, 1887, 1892, 1900, ano em que foram criadas a
Direcção dos Caminhos de Ferro Ultramarinos e a
Inspecção Geral de Fazenda das Colónias.

m
Corpos consultivos

1910 — Junta Consultiva do Ultramar; Conselho dos Portos


Ultramarinos; Comissão de Cartografia; junta Cerai
das Missões Portuguesas; Conselho Superior de Ma-
gistratura Ultramarina; Comissão Superior Técnica
das Obras Públicas.

Administração local

1836 — Governos Cerais de Cabo Verde e Guiné, Angola, Mo-


çambique e Estado da índia.

Govêrno particular de S. Tomé e Príncipe

Órgãos auxiliares; Conselho de Govêrno; Juntas Gerais


(a partir de 1845) ; Juntas de Fazenda (1837) 1869:
Governador; Conselho de Govêrno; Junta Geral de
Província (Angola e índia) ; Conselho de Provín-
cia; Junta de Fazenda (extinta em 1888). 1894: Co-
missário Régio. 1898: Redução dos seus poderes.
1907: Reorganização administrativa de Moçambique.
1908: Redução dos poderes do Govêrno de Moçam-
Dique em matéria orçamental.

Regime republicano
1910
(8 de Outubro)

O Ministério passa a denominar-se «da Marinha e Co-


lónias».

Corpos consultivos
Conselho colonial
Administração local

135
Lei n.° 277
(15 de Agosto de 1914)
Autonomia moderada

Na parede fronteira, relação nominativa de «Alguns admi-


nistradores coloniais», realização artística de António Varela.

Cabo Verde —J. Fontes Pereira de Melo — 1839. Fortu-


nato José Barreiros — 1851. C. de Almeida e Albuquerque —
1869. J. Pais de Vasconcelos— 1881. J. Cesário de Lacerda
— 1886. A. de Serpa Pinto — 1894. Cuiné — Honório Barreto,
governador de Bissau—1837. E. Teixeira da Silva—1887.
J. A. de Oliveira Muzanty—1906. Carlos Pereira 1910.
S. Tomé e Príncipe— Vicente Pinheiro L. Machado — 1879.
Augusto C. Rodrigues Sarmento— 1886. F. de Paula Cid
1903. Angola —A. de Saldanha da Gama — 1807. P. Alexan-
drino da Cunha — 1845. A. Sérgio de Sousa — 1851. J. R. Coe-
lho do Amaral — 1854. J. Baptista de Andrade — 1862. Vasco
C. de Carvalho e Meneses— 1878. F. J. Ferreira do Amaral
1882. Eduardo Costa — 1903. H. de Paiva Couceiro — 1907.
General Alves Roçadas—1909. J. M. Norton de Matos —
1912. Moçambique —F. P. do Amaral Cardoso— 1805. J. Ca-
valcanti e Albuquerque— 1816. Sebastião Xavier Botelho —
1825. J. Pereira Marinho— 1840. Rodrigo de Abreu e Lima
— 1843. J. Tavares de Almeida — 1857. A. de Almeida Cor-
reia de Lacerda — 1867. Francisco Maria da Cunha—1880.
Carlos E. Correia da Silva — 1881. Agostinho Coelho — 1882.
Augusto de Castilho—1885. A. de Brissac das Neves Fer-
reira 1889. Rafael de Andrade—1891. António Enes —
1895. J. Mousinho de Albuquerque— 1898. Álvaro da Costa
Ferreira—1898. Tomaz Garcia Rosado—1902. J. de Aze-
vedo Coutinho — 1905. A. Freire de Andrade — 1906. Alfredo
de Magalhãis— 1912. índia — D. Manuel de Portugal e Cas-
tro— 1826. António C. de Vasconcelos Correia— 1855. A. C.
Cardoso de Carvalho—1886. General Eduardo Galhardo

136
1900. Macau — João M. Ferreira do Amaral — 1846. Visconde
de S. Januário—1872. General Eduardo Marques—1908.
A. Machado— 1910. Timor — A. de Castro— 1859. A. Fran-
cisco Costa— 1887. Cipriano Forjaz— 1890. J. Celestino da
Silva— 1805. Filomeno da Câmara— 1911.
A enumeração dos objectos segue nas vitrinas que iniciam
a 2." galeria.
N.° 14-A — Relatório do Ministro da Marinha e Ultramar,
Visconde de Sá da Bandeira, apresentado às Cortes
e mostrando o estado dos nossos domínios ultra-
marinos.
N.° 15-A— Relatório do Ministro e Secretário dos Negócios
da Marinha e Ultramar (F. F. Dias Costa), apre-
sentado à Câmara dos Senhores Deputados na ses-
são legislativa de 1898.
(Cedido pela Agência Geral das Colónias)

N.° 16 — Relatório, propostas de lei e documentos relativos


às possessões ultramarinas, apresentados na Câ-
mara dos Senhores Deputados da Nação portu-
guesa em sessão de 20 de Março de 1899, pelo
Ministro e Secretário do Estado dos Negócios da
Marinha e Ultramar, António Eduardo Vilaça
(vol. I) — 1899.
(Cedidos pela Agência Geral das Colónias)
N.° 17 — Relatório, propostas de lei e documentos relativos
às possessões ultramarinas, apresentados na Câ-
mara dos Senhores Deputados da Nação Portuguesa
em sessão legislativa de 1902, pelo Ministro e Se-
cretário do Estado dos Negócios da Marinha e Ul-
tramar, António Teixeira de Sousa.
(Cedidos pela Agência Geral das Colónias)
JM.° 18 — Relatório e propostas de lei referentes às provín-
cias ultramarinas e ao distrito autónomo de Timor,

137
apresentado na Câmara dos Senhores Deputados na
Nação portuguesa em sessão legislativa de 1905»
pelo Ministro e Secretário do Estado dos Negócios
da Marinha e Ultramar, Manuel António Moreira
Júnior.
(Cedidos pela Agência Geral das Colónias/

N.° 19 — Proposta de Almeida Garrett ao Conselho Ultra-


marino, sôbre leis orgânicas para as Colónias —
1854.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial>
N.° 20 — Relatório do Governador Cerai de Angola, Visconde
do Pinheiro— 1854.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial>

N.° 21—Memória sôbre a província de Moçambique, por


M. J. Mendes de Vasconcelos e Cirne — 1860, com
oferta de Rebelo da Silva ao Visconde de Sá da
Bandeira.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial>

N.° 22 — Projecto do Governador Cipriano Forjaz, para a or-


ganização de Timor como distrito autónomo —
1892.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial}

N.° 23 — Relatório do Governador Geral da índia, Rafael de


Andrade, sôbre a situação daquele Estado em 1896.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial>

N.° 24 — Condecorações que pertenceram ao general Joa-


quim José Machado:
— Comenda de N.* S." da Conceição;
— Comenda de S. Jorge e S. Miguel de Inglaterra;.
— Ordem de Sant'lago da Espada;
— Medalha de serviços distintos no Ultramar —
1891;

138
— Condecoração de Kim-Khanh (Grande Império
de Anam).
N.° 25 — Caixa de prata contendo uma mensagem dirigida
ao Conselheiro J. J. Machado (1897-1900) pelos
povos de Salsete.
(Cedido pelo Engenheiro Almeida Lima)

N.° 26—Caixa de prata que conteve uma mensagem diri-


gida ao Conselheiro Governador Geral Joaquim
José Machado, pelos cidadãos da índia Portuguesa,
residentes em Lourenço Marques, 1900.
(Cedido pelo Engenheiro Almeida Lima)

N.° 27 — Caixa de prata, que conteve uma mensagem diri-


gida ao General Joaquim José Machado. Governa-
dor Geral de Moçambique, pela colónia indiana
não-cristã, em 1915.
(Cedido pelo Engenheiro Almeida Lima)

N.® 28— Pasta de veludo com aplicações de ouro, contendo


uma mensagem dirigida ao Conselheiro Joaquim
José Machado pelos povos da índia (1897-1900).
(Cedido pelo Engenheiro Almeida Lima)

N." 29 — Mensagem da Comunidade Portuguesa de Hong-


-Kong, dirigida ao General Joaquim José Machado,
Alto Comissário e Ministro Plenipotenciário de Por-
tugal na China para a delimitação das fronteiras
de Macau e suas dependências.
(Cedido pelo Engenheiro Almeida Lima)

N.° 30— Espada de gala do General Joaquim José Machado,


Governador Geral da Província de Moçambique e
do Estado da índia.
(Cedido pelo Engenheiro Almeida Lima)

N.® 31 — Martelo usado na cerimónia da inauguração do Ca-


minho de Ferro de Mossâmedes (1905).

139
N.° 31-A — Pedaço de carril da linha do Caminho de Ferro
de Mossâmedes (1905).
N.° 32 — Caderneta de apontamentos do Governador Geral
de Angola, Dr. António Duarte Ramada Curto,
contendo: «Diplomas e factos mais dignos de men-
ção da Administração Superior de Angola— 1897-
-1900».
(Cedida por António Ramada Curto)

N.° 33 — Pasta contendo uma mensagem de agradecimento


dos Povos de Mossâmedes e Huíla, quando da
construção do Caminho de Ferro, dirigida ao
Governador Geral de Angola, Dr. António Ramada
Curto.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

DIAPOSITIVOS

No corredor de passagem para a 2.1 galeria:

D. FRANCISCO INOCÊNCIO DE SOUSA COUTINHO

(Século XVIII)

O Govêrno de Sousa Coutinho reage contra a ordem de


coisas estabelecida, representando uma era nova na adminis-
tração e no fomento, pela sua acção e idéias modernas. A êle
se devem os principais estabelecimentos públicos de Luanda,
a criação de escolas, a tentativa da criação da indústria meta-
lúrgica em Nova Oeiras (Luínha), onde fundou as ferrarias
e a fundição; fundou presídios; reformou os hospitais de
Luanda e Benguela; intentou explorar as minas de petróleo do
Dande e de enxofre de Benguela; mandou fundir em Angola
peças de artelharia; começou a construção de uma fragata em
Luanda, etc.

U0
AIRES DE ORNELAS

1895 —Chega a Moçambique em comissão de serviço. Pre-


sente no quartel da coluna de operações em Cum-
bana, em 8 de Julho, seguindo depois para Gaza; no
Chicomo, em Setembro, regressando no fim do ano à
metrópole.
1896 — Chefe do Estado Maior do Covêrno Geral da Província
de Moçambique; esteve, êsse ano, no combate da
Mujenga.
1897 — Tomou parte nas operações até à queda do Magui-
guana, no território de Gaza. Delegado técnico junto
dos plenipotenciários de Portugal à Conferência da
Haia, convocada para 1899.
1902 — Par do Reino hereditário.
1904 — Governador do distrito de Lourenço Marques.
1905 — Louvado pelos relavantes serviços prestados na comis-
são encarregada de negociar com os representantes do
Govêrno britânico o compromisso arbitral acêrca da
questão de Barotze e pelas memórias destinadas a
serem presentes ao rei de Itália, árbitro na mesma
questão.
1906 —Ministro da Marinha e Ultramar.
1907 —Acompanhou o Príncipe Real na viagem às colónias
portuguesas de África.
1907 — Reforma da administração colonial.

Condecorações

— Oficial da Tôrre e Espada.


— Medalhas de Prata da Classe de Valor Militar.
— Medalhas de Prata da rainha D. Amélia, das opera-
ções contra os Namarrais e das Operações de Gaza.
— Cavaleiro da Ordem de Aviz.
— Oficial da mesma Ordem militar.


ANTÓNIO DUARTE RAMADA CURTO

1870 — Aspirante a facultativo do Ultramar.


1880 — Chefe de Serviço de Saúde em Angola.
1889 — Chefe da 1." secção da 1." repartição da Direcção Ce-
rai do Ultramar.
1890 — Chefe de Serviço de Saúde de Angola.
1894 — Reformado no pôsto de coronel e nomeado chefe da
Repartição de Saúde da Direcção Geral do Ultramar.
1897/1900 — Governador Geral de Angola. Abertura à explo-
ração do Caminho de Ferro de Ambaca até ao Lucala.
Organização da coluna de operações do Humbe.
1904/1906 — Governador Geral de Angola. Ocupação da re-
gião de Mulondo, no sul da província.

Condecorações

— Comendador da Ordem de N. S.* da Conceição de


Vila Viçosa.

ANTÓNIO EDUARDO VILAÇA

1880 — Promovido a alferes.


1886 a 1905 — Deputado.
1898 — Ministro da Marinha e Ultramar. Delimitação de
fronteiras de Moçambique com os territórios britâni-
cos, o Transvaal e a colónia alemã. Propostas de lei
sôbre a reorganização da secretaria de Estado dos
Negócios da Marinha e Ultramar. Fomento industrial
das Colónias. Trabalho indígena. Reorganização das
forças militares ultramarinas. Colonização. Recensea-
mento geral da população nas colónias.
1904 — Ministro dos Negócios Estrangeiros. Promovido neste
ano ao pôsto de tenente-coronel.
1905 — Par do Reino.

Í42
1909 — De novo ministro dos Negócios Estrangeiros.
1910 — Continuou a regência das suas cadeiras na Escola do
Exército e no antigo Instituto Industrial.

Condecorações

— Medalha Militar de Prata da Classe de Comporta-


mento Exemplar.
— Cavaleiro, Oficial e Comendador da Ordem de
Aviz.
— Comendador da Ordem de N.* S.* da Conceição.

ANTÓNIO TEIXEIRA DE SOUSA


1889 a 1894 — Deputado.
1900/1903 — Ministro da Marinha e Ultramar. Concessão do
Caminho de Ferro de Benguela. Contrato para a ex-
ploração do Caminho de Ferro de Mormugão. Orga-
nização dos trabalhos para a conquista do Bàrué. Cria-
ção do Hospital Colonial e do ensino de Medicina Tro-
pical em Lisboa. Providências sôbre as obras do pôrto
de Lourenço Marques, cultura algodoeira e produção
do açúcar em Angola e Moçambique. Reforma do
regime bancário do Ultramar.
1901 — «Modus vivendi» com o Transvaal.
1903/1906 — Ministro da Fazenda.
1908 — Director geral das alfândegas.
1910 — Presidente do Conselho de Ministros e Ministro da
Fazenda.

FERNANDO DA COSTA LEAL


1854 — Governador de Mossâmedes. Viagem de exploração
para descobrir a foz do Cunene, a que deu o nome de
rio dos Elefantes. Com Sá da Bandeira construiu a
carta de Angola.

tk3
1863 — Governador de Mossâmedes, pela segunda vez.
1869 — Chega a Moçambique para governar a Zambézia, fale-
cendo então.

— Condecorado com a Ordem da Tôrre e Espada.

FRANCISCO A. GONÇALVES CARDOSO

1832 — 2.° tenente efectivo da Armada.


1846 — Serviços prestados na Catumbela, na derrota do
gentio.
1849/1850 — Governador de Macau.
1849/1872 — Deputado por Angola.
1863 — Vogal do Conselho Ultramarino.
1866/1869 — Governador Geral de Angola. Comêço da nave-
gação a vapor no rio Cuanza. Explorações comerciais
no Cubango. Primeira exportação de borracha in-
dígena.
1870 — Contra-almirante, comanda o corpo de marinheiros.

Condecorações

— Cavaleiro da Ordem de Tôrre e Espada.


— Cavaleiro da Ordem de N." S.1 da Conceição.
-—Cavaleiro da Ordem de S. Bento de Aviz.

FRANCISCO FELISBERTO DIAS COSTA

1882 — Lente da Escola do Exército, sendo tenente de En-


genharia.
1889/1894 — Deputado.
1896/1897 — Deputado.
1897 — Ministro da Marinha e Ultramar.
Importante relatório à sessão legislativa de 1898.

Í44
Condecorações
— Cavaleiro e Oficial da Ordem de Sant'lago.
— Oficial da Ordem de Aviz.
— Medalha Militar de Prata do Comportamento
Exemplar.

GUILHERME A. DE BRITO CAPELO

1870 — Acompanhou uma expedição científica francesa à


ilha do Fogo.
1873 — Covernador do distrito de Diu.
1880-1881 —Levantou as plantas hidrográficas da costa de
Luanda, portos interiores e baía do Ambriz.
1886 — Covernador Geral de Angola.
1886 — Covernador Cerai de Angola. Estabelecimento dum
correio regular por terra, entre Luanda e o Ambriz.
Ocupação do Ambrizete.
1896/1897 — Comissário régio em Angola. Vice-presidente
da Comissão de Cartografia.

Condecorações
— Conselheiro.
— Oficial e Comendador da Ordem de S. Bento de
Aviz.
— Cavaleiro da Tôrre e Espada e de Sant'lago.
— Medalhas de Ouro, de Bons Serviços e dos Serviços
no Ultramar.
— Medalha de Comportamento Exemplar.

JOÃO BELO
1896/1897 — Tomou parte nas operações de Moçambique.
1900 — Capitão dos portos de Moçambique.
1902 — Tomou parte nas operações do Bàrué e nas de repres-
são da escravatura no distrito de Moçambique.

1Í5
1904 — Serviu na Divisão Naval do Índico.
1906 — Comandante da esquadrilha de Gaza.
1907 — Chefe da Delegação Marítima de Inhampura.
1908 — Presidente da comissão municipal de Gaza.
1909 — Administrador do concelho de Chai-Chai.
1910 — Presidente da comissão administrativa para a cons-
trução, exploração e administração do caminho de
ferro de Chai-Chai a Manjacaze.
1913 — Chefe do gabinete do Governador Geral de Moçam-
bique.
1914 — Comandante da esquadrilha do Zambeze.
Falecido em 1928, sendo Ministro das Colónias desde
1927.

Condecorações

— Medalhas de Prata da Rainha D. Amélia, da expe-


dição aos Namarrais; da expedição a Gaza e das
operações no Bàrué.
— Medalha da Torre e Espada.
— Medalha Militar de Prata da Classe do Valor Mi-
litar.
— Cavaleiro da Ordem de Aviz (serviços distintos da
Armada) ; Medalha Militar de Prata da Classe de
Comportamento Exemplar.
— Comendador da Ordem de Aviz.
— Medalha das Campanhas do Exército Português:
«Moçambique 1914-1918».
— Medalha da Classe de Bons Serviços como coman-
dante da canhoneira «Chaimite», durante todo o
tempo das operações na costa norte de Moçam-
bique contra os Namarrais.
— Medalha da Vitória.
— Grande Comendador da Tôrre e Espada, com palma.
— Comendador da mesma Ordem.
— Medalha Militar de Ouro da Classe de Bons Ser-
viços.
— Crã-Cruz da Ordem do Império Colonial.

GENERAL JOAQUIM JOSÉ MACHADO

1877 — Chefiou a missão de engenheiros a Moçambique.


1879/1880 —Director das Obras Públicas de Moçambique.
1882/1885 — Estudos do caminho de ferro de Lourenço Mar-
ques e da fronteira a Pretória.
1886/1888 — Fiscalização do caminho de ferro de Ambaca.
Direcção do caminho de ferro de Lourenço Marques.
Estudos do caminho de ferro de Mossâmedes.
1888 — Estudos sôbre o caminho de ferro de Mossâmedes.
1890 — Comissário do Govêrno para a demarcação das fron-
teiras de Lourenço Marques e Transvaal.
1890/1891 —Governador Geral da Província de Moçambique.
1892/1897 — Primeiro governador dos territórios da Com-
panhia de Moçambique.
1897/1900 — Governador Geral do Estado da índia.
1900 — Governador Geral da Província de Moçambique.
1900/1902 — Administrador-delegado da Companhia de Mo-
çambique.
1903/1909 e 1910/1914 — Administrador-delegado da Com-
panhia do Caminho de Ferro de Benguela.
1909/1910 — Alto Comissário de Portugal para a delimi-
tação de Macau.
1914/1915— Governador Geral de Moçambique.

Condecorações

— Carta de Conselho.
— Oficialato e Comenda da Ordem de S. Bento de
Aviz.

U7
— Medalha de Ouro de Serviços Relevantes no
Ultramar.
— Grande Oficialato de Aviz.
— Oficialato de Sant'lago.

JOSÉ MARIA DA SILVA MENDES LEAL

1836 — Oficial honorário da Biblioteca Pública.


1850 — Bibliotecário-mor da Biblioteca.
1851 a 1870 — Deputado.
— Sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa.
1857 — Encarregado de continuar a «História da Cosmografia
e da Cartografia» do Visconde de Santarém.
1862/1864 — Ministro da Marinha e Ultramar.
1871 —Ministro de Portugal em Madrid.
1874—Iguais funções em Paris.
1833 — Volta a representar o nosso país em Madrid.

JÚLIO DE VILHENA

1873 — Ajudante do Procurador Cerai da Coroa.


1874 a 1885 — Deputado.
1885 — Par do Reino.
1891—Ministro da Marinha e Ultramar, pela terceira vez,
tendo-o já sido em 1881 e 1890. Estudos administra-
tivos e económicos em Angola e Moçambique, por
Mariano de Carvalho, nomeado comissário régio
em 1890.
Criação das missões religiosas portuguesas na Huíla.
Regulação da corrente emigratória para as colónias.
Construção do caminho de ferro do Pungue.
1903 — Presidiu ao I Congresso Marítimo Nacional, reunido
na Sociedade de Geografia de Lisboa.
1904 — Delegado do Govêrno ao Congresso Marítimo Interna-
cional, de Lisboa.

U8
— Foi Conselheiro efectivo do Conselho de Estado, vogal
do Supremo Tribunal Administrativo e Vice-Presi-
dente da Academia Real das Ciências de Lisboa.

MANUEL PINHEIRO CHAGAS

1883 — Lente do Curso Superior de Letras.


1871 a 1886 — Deputado.
1883/1885 — Ministro da Marinha e Ultramar.
Contratos da ligação telegráfica das colónias de África
Ocidental com a Metrópole; do Caminho de Ferro de
Luanda a Ambaca e do Caminho de Ferro de Lou-
renço Marques ao Transvaal.
Renovação das tentativas de colonização no interior
de Mossâmedes.
Formação das colónias de Humpata, Sá da Bandeira
e Chibia.
Organização do novo distrito do Congo.
Estabelecimento da navegação no Zaire.
Explorações de Capelo e Ivens, Serpa Pinto, Augusto
Cardoso e Henrique de Carvalho.
1892 — Par do Reino vitalício.
1892 — Sócio da Academia Real de Ciências de Lisboa.

GENERAL RAFAEL GORJÃO

1871 —Alferes, tendo atingido em 1900 o pôsto de general


de brigada.
1874 — Director de Obras Públicas em S. Tomé.
1877 — Exerceu as mesmas funções em Angola.
1897 — Governador dos territórios de Manica e Sofala.
1900 — Governador geral de Moçambique, tendo sido nego-
ciador da Convenção entre Moçambique e o Transvaal.
1903 — Ministro da Marinha e do Ultramar.

U9
Entendendo que a ocupação só pela fôrça das armas
podia tornar-se efectiva, deu origem à política de
expedições militares sucessivas.

Condecorações

— Comendador e Crâ-cruz da Ordem da N.* S.* da


Conceição.
— Oficial e Comendador da Ordem de Aviz.
— Comendador da Ordem de Cristo.
— Medalha de Prata de Comportamento Exemplar.

SEBASTIÃO LOPES CALHEIROS E MENESES

Assentou praça com 16 anos, tendo atingido em 1881


o pôsto de coronel do Estado Maior.
Director da Escola Politécnica de Lisboa.
Deputado em várias legislaturas.
Governador Cerai de Angola, tendo melhorado as con-
dições higiénicas de Luanda e mandado ensinar a cul-
tura do algodão, para o que contratou, em Pernam-
buco, um técnico português e encomendou máquinas
de prensar e de desgrenar.
Ministro das Obras Públicas.
Par do Reino.
7222222222222222Z2ZZZ2

LUTA CONTRA OS NEGREIROS

QUÊLE sentido humano que a espaços, em ordena-


ções e alvarás da nossa antiga legislação, se prova
pelo cuidado de proteger e até de formar a alma cristã a
raças que a dureza dos tempos, a tradição, a conquista, uma
economia insuficientemente provida de instrumentos de
trabalho, destinavam à servidão — fomos nós, consoante
Luciano Cordeiro escreveu a propósito da questão do Zaire,
os primeiros, antes doutra qualquer nação, a abolir a
escravatura em domínios ultramarinos, — alcançado o sé-
culo XIX, no Liberalismo, encontrou a exprimi-lo com total
desdem pelos clamorosos interêsses de que ia tornar-se o fla-
gelo, um paladino: Sá da Bandeira, a cuja freima elas, em
Portugal e suas possessões, ficaram devendo, definitivamente,
o estatuto emancipador.
Combativo, porque o ânimo não lhe minguava a-pesar-da
perda do braço e da espada que se laureara — à volta da paz,
enquanto a concorrência a vantagens e a posições de predo-
mínio desencadeava o furor, entre os seus pares e as clien-

151
telas acaudilhadas, o marechal, ao serviço daquelas mesmas
convicções que tinham justificado a sua presença nas lutas
a que a convenção de Évora-Monte pôs epílogo, decidia-se a
uma nova campanha, doutra espécie. As rimas de papel que
a sua laboriosa pena cobriu, existentes no Arquivo Histórico
Colonial, permitem-nos medir sem êrro a amplitude, o ritmo
do fôlego e do pensamento que por elas, fôlha a fôlha, passou.
Não era, «não podia ser — conforme o juízo de Oliveira Mar-
tins, — um condottieri como Saldanha, nem um politico
como Palmela, nem simplesmente um instrumento militar
como Terceira, nem tampouco um tribuno, ídolo revolucio-
nário, como Passos». Debaixo da farda que vestiu, havia, po-
rém, com os seus exigentes latejos e princípios morais, — e
era-o mesmo nas suas durezas, — uma sorte de filósofo de
estilo estóico. Fiel às próprias idéias, obstinou-se nelas para
que lhe servissem de rigorosa pauta, delas fêz a raiz dos seus
actos, das suas atitudes, antepondo-as sempre aos sufrágios e
aos fumos endeusadores da popularidade. Fácil lhe fôra, por
isso, e de seu natural, atingir o extremo dessas idéias. Se se
houvesse de esquematizar-lhes o desenvolvimento, não descon-
viria por certo, ao intento, imaginá-lo pela inflexibilidade da
linha recta. É de supor que Sá tenha assim encontrado, ao
cabo, a apelar para a sua generosa têmpera, o negro dos enge-
nhos do açúcar, absurdo valor fiduciário em remotas transac-
ções de sertão. Que lógica séria o faria conformar-se com um
oportunismo indefinidamente dilatório e a existência de fer-
ros, os do pobre africano, sem comparação bem mais cruéis
do que aqueles de que, ao romper da aurora de 20, o fragor
da queda, despedaçados, trespassava o alaúde de Garrett,
pasmo, surpreendido:

Os ferros... os grilhões?... E as mãos já livres


E os descarnados pulsos
Desalgemados, soltos!... Nós escravos
Já míseros não somos?

152
A visão pungitiva dum ser humano, de que se praticava
a caça, preciosa e gratuita espécie como o animal do marfim,
trazido, depois, em manadas ao embarcadoiro dos impérios
negreiros, associava-se no espirito de Sá da Bandeira o pano-
rama duma Africa sem colonização merecedora de tal nome,
no seu infinito maninho e de intactas riquezas naturais, onde
em geral o branco, depressa conquistado pela bruteza do trá-
fico, não sentia mais que os árabes e os mouros das almadias
e das cáfilas, a pesarem-lhe sôbre os ombros, responsabili-
dades de civilizador. Desta maneira se lhe apresentou à inte-
ligência, na sua complexidade, o problema ultramarino. Mos-
tram-no o que legislou e o que compôs, à margem dos seus de-
cretos, inaugurando uma nova politica colonial.
Ministro naquele ano de 1836, de sedições de quartel
trazidas por outros luzidos marechais à rua, de agitação po-
pular, de conspirações no Paço, o do assassínio de Agostinho
José Freire, vitimado às mãos da populaça, na ocasião em
que, — consoante estampa o episódio o Portugal Contempo-
râneo, — de espadim afivelado, com os crachás sôbre a farda
vermelha, brunido, seguia Pampulha fora, de sege, em direc-
ção a Belém, donde o chamava a senhora D. Maria da Gló-
ria — dava com o decreto ditatorial de 10 de Dezembro, proi-
bitivo do grande negócio da exportação de escravos, o pri-
meiro passo na sua corajosa politica abolicionista. Esta pas-
sagem do respectivo relatório à Rainha, significava de resto
uma discreta exortação a mais: «Como preliminar indispen-
sável de tôdas as providências que, para êste fim, de acordo
com as Côrtes Gerais da Nação, Vossa Majestade não deixará
de dar em sua alta sabedoria, religião e humanidade»... As
Côrtes, porém, não padeciam da mesma mania do marechal.
aComo maníaco, realmente, — conta Lourenço Caiola — o
considerou muito tempo a grande maioria dos seus contem-
porâneos, desviados em preocupações muito diferentes». Com
efeito quando em 1842, na Câmara dos Pares, se levantou a
anunciar que ia remeter para a mesa o projecto, que mais

153
tarde transformaria em proposta ministerial, a grave assem-
bléia portou-se como se se tratasse de simples matéria de
campanário, — os cavacos dos grupos continuaram até o pri-
meiro discurso florido ferir os ouvidos, as atenções. O projecto
caiu em esquecimento. Sá é que, na sua teima, o não largou
mais de mão, voltando a renová-lo em 1845, 1848 e 1851. Que
montava que o decreto de 36 tivesse já provocado da parte
de negreiros e especuladores desaforada resistência? Se Aracati,
governando a província de Moçambique (1837-18)8) — eis
um caso característico — desistira de aplicá-lo, tamanha opo-
sição se lhe levantou ao propósito, soubera contudo fazê-lo o
novo governador Joaquim Pereira Marinho. À Inglaterra,
que só em 1820 emancipou os escravos das suas colónias,
também lhe fôra preciso tempo para nelas pôr côbro à mer-
cancia de negros. Não obstante isso, e a-pesar-do tratado de
1842, que de boa vontade subscrevêramos, Palmerston empe-
nhava-se em fazer crêr ao mundo que éramos relapsos e que
os seus navios e forças de desembarque praticavam a polícia
em águas e terras de soberania portuguesa em Africa, por mo-
tivo da nossa indiferença, se não acontecia carecermos de meios
de autoridade para impor aquilo a que as estipulações daquele
acordo nos obrigavam. A voz de Herculano, e não fôra até ali
a única, intervindo em 1840, na discussão da resposta ao dis-
curso da Coroa, invectivava: uPorque se acusa o povo portu-
guês de ser traficante de escravos, quando apenas vinte, trinta
ou quarenta navios andam nesse detestável tráfico de carne
humana e de servidão? Quando êsses mesmos vinte, trinta ou
quarenta navios, são tripulados por gente de diversas nações?»
Estamos chegados a 1838.
No mesmo dia em que por procuração se realizou em
Berlim, o casamento de el-rei D. Pedro V com Estefânia de
Hohenzollern-Sigmaringen — um idílio que duraria quási
apenas duma primavera à outra — levava Sá da Bandeira à
assinatura o decreto que aboliu definitivamente a escravatura
em Portugal e seus domínios ultramarinos. Representava

m
para o soberano a melhor dádiva dos esponsais. Com que
profunda efusão o assinava, apaixonado e compassivo — fe-
liz!... Também êle, naquela ocasião, alcançava, na intimi-
dade pacenga, uma difícil vitória, cobrando a sua liberdade
de amar. «Dieu m'a soutenu — confiava-se, depois, em carta
de que Júlio de Vilhena encontrou, na Ajuda, o rascunho —
dans cette lutte qui pendant longtemps aigrit mes relations
domestiques, et au lieu de ce qu'on nome communément un
brillant parti, il m'a fait trouver un bon parti qui vaut bien
mieux que cela». Aziagos destinos não tardariam a conjurar-se
para o triste desfecho do breve idílio régio. Efectivamente na-
quele ano de noivado desdobrara-se sobre o pais a asa negra da
colera-morbus; surgira uma questão irritante, a das irmãs da
Caridade; e, por causa do apresamento da barca negreira
Charles et George, surpreendida a traficar em águas de Mo-
çambique, enviara o Govêrno francês ao nosso um «ultima-
tum». Na emergência de nada nos valera o acôrdo anglo-luso
de 1842. A questão fechou-se, contava depois D. Pedro V ao
parente Leopoldo da Bélgica, «muito tristemente para nós.
A Inglaterra deixou fazer»... Por isso noutra carta, em dia
de Ano Novo, a tristura do Rei confidenciava nestes termos:
«L'année qui vient de s'écouler, mêlée de joies — essas mes-
mas prestes a fenecerem-se, mal êle o podia suspeitar! — et de
grandes contrariétés, ne me laisse point de régret»... Em Ju-
lho de 1859, a alma de Estefânia elevava-se da terra, ainda
nas vestes brancas do noivado.
Já D. Luiz tinha subido ao trono, quando o marechal
com o diploma de 25 de Janeiro de 1869, relativo à redução
do prazo para termo da condição de escravo, rematou a por-
fia que inquebrantàvelmente sustentara durante alguns lus-
tros. Se não tínhamos sido os primeiros a emancipar o negro,
não éramos os últimos — advertia. «À data dos nossos decre-
tos de emancipação, ainda a escravatura se exercia em vários
países civilizados.» Tinha sido o mais afortunado dos refor-
madores do regime. Mousinho da Silveira, enxotado do poder

155
antes que tivesse concluído a sua obra, acabara naquele
desolado isolamento que segue sempre os grandes insucessos.
Haviam pretendido uma vez atenuar-lhe o desfavor, colo-
cando-lhe sobre os ombros o manto de arminhos do pariato.
Recusou-o porém, ucalou-se, e sumiu-se», no dizer de Oli-
veira Martins. No extremo fio dos seus dias, Sá da Bendeira
compondo, talvez para que jàmais a História viesse a per-
der-se em conjecturas ou dúvidas sôbre o tom da sua alma, o
próprio epitáfio para o cemitério de Santarém, exarava, com
sinceridade: «Servindo o seu pais, serviu as suas convicções;
morre satisfeito, a Pátria nada lhe deve.))

AMADEU CUNHA
156
SECÇÃO II

Luta contra os negreiros

Na parede encontra-se o gráfico de Hugo da Costa Pe-


reira, intitulado «Luta contra os negreiros», contendo a indica-
ção da legislação publicada sobre êsse assunto e dos principais
factos dessa humanitária campanha, como segue:
A Política, a moral e o interêsse nacional nos devem de-
terminar a abolir êste tráfico, embora se excitem os clamores
dos especuladores e das autoridades corrompidas. É nêste caso
que a espada da justiça deve ser empunhada com mão de ferro.

Sá da Bandeira — Relatório de 19 de Fevereiro de 1836


Providências legislativas
Portaria de 19 de Dezembro de 1835:
Recomendava aos Governadores de Angola, Cabo Verde
e S. Tomé tôda a vigilância para que cessasse de vez o
tráfico da escravatura.
Portaria de 17 de Maio de 1837:
Procurou impedir que navios estrangeiros com bandeira
portuguesa se ocupassem no tráfico.
Acordo anglo-luso de 3 de Julho de 1842.
Idêntico ao que a Inglaterra celebrou em 1883 com a
França, e em 1835 com a Espanha, estabeleceu cru-
zeiros navais recíprocos e criou comissões mixtas para
julgamento das questões correlativas.
Decreto de 25 de Julho de 1842:
Sobre a pena que se deve aplicar ao crime de tráfico da
escravatura

157
Regulamento de 2 de Janeiro de 1855:
Proibir a emigração de negros para as possessões france-
sas das ilhas da Reunião e Maurícia.

Portaria de 5 de Dezembro de 1857:


Ordenou o cumprimento da legislação que mandava des-
manchar, antes de vendida, tôda a embarcação julgada
boa prêsa no crime de tráfico da escravatura.

Decreto de 2 de Julho de 1858:


Mandava que um navio da estação naval da África Oci-
dental Portuguesa visitasse frequentemente as ilhas
de S. Tomé e Príncipe, para impedir a entrada de
escravos.

Principais factos da repressão

1839 —Conluio urdido em África pelos negreiros para um


movimento separatista das províncias de Angola e
Moçambique.
1840 — Dizia o Duque de Palmela no Senado «Os 200 navios
de escravatura aprestados em 1839 eram quási todos
estrangeiros.»
1846 — Ataque a Angoche, principal centro de exportação de
escravos, por forças navais portuguesas e britânicas.
1855 — Ocupação, à força, do Ambriz pelo Governador de An-
gola, Major Coelho do Amaral.
1857 — É apresado pelo patacho «Zambézia» a barca «Char-
Ihes et George», condenada depois por tráfico de
escravos (15 de Dezembro).
1861 —José Bonifácio e o alferes Lançarote assaltam Angoche
aprisionando Mussa-Quanto (25 de Setembro).
1862 — Expedição ao Etagi. Aprisionamento de pangaios e da
«Bela Mahera», irmã do sultão (Agosto).

/58
1874 — Expedição ao Infusse e Quivolane. Aprisionamento de
pangaios e fuga de Mucusso-Omar (13 de Dezembro).
1885 — Submissão do xeque de Sangage à fôrça de desem-
barque do guarda-marinha João Coutinho, ido na
canhoneira «Vouga».
1888 — Bloqueio de navios de guerra portugueses, desde o
Rovuma até Lourenço Marques, por motivo do comér-
cio de negros e de armas praticado pela gente de
Zanzibar.
1897 — A lancha-canhoneira «Marracuene» limpa de embar-
cações negreiras o canal de Angoche.
1902 — Acção intensiva da marinha de guerra portuguesa na
costa de Moçambique.
1903 — O capitão J. Augusto da Cunha ataca e queima a
povoação do negreiro Farelay e monta o posto for-
tificado da Boila.
1910 — Operações do comando do coronel Massano de Amo-
rim. Dâmaso Marques aprisiona o Farelay, Ibraímo e
outros.

Nas vitrinas estão expostos os seguintes objectos e do-


cumentos:
N.° 1 — Espada do Marquês de Sá da Bandeira.
(Cedida pelo Museu da Escola Militar)

N.° 2— Livro «O Trabalho rural africano e a administração


Colonial», pelo Marquês de Sá da Bandeira — 1873.
(Cedido pela Biblioteca da Escola Militar)

N.° 3— Livro «O tráfico da escravatura», pelo Visconde de


Sá da Bandeira— 1840.
(Cedido pela Biblioteca da Escola Militar)

N.° 4—Livro «A emancipação dos libertos», pelo Marquês


de Sá da Bandeira.
(Cedido pela Biblioteca da Escola Militar)

159
N.° 5 — Relatório e projecto para a abolição gradual da
escravatura nas Ilhas de S. Tomé e Príncipe, reme-
tido para Lisboa em 3 de Agosto de 1852. Tem no
fim cópia da carta do Visconde de Sá da Bandeira
acompanhando o projecto e a resposta.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 6— Projecto de lei para a abolição da escravatura nas


Províncias Ultramarinas, apresentado na Câmara,
pelos Pares do Reino, Marquês de Sá da Bandeira
e Conde de Ávila— 1865.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 7 — Tratado para a completa abolição do tráfico da es-


cravatura entre Sua Majestade a Rainha de Portu-
gal e dos Algarves e Sua Majestade a Rainha do
Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda, assinado
em Lisboa pelos respectivos plenipotenciários, em
3 de Julho de 1842.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 8 — Busto de Sá da Bandeira (Marquesa de Palmela,


sculp.— 1888), Ministro da Marinha e Ultramar.
Impulsionador do ressurgimento colonial e nobre
figura de filantropo, a quem se deve a abolição da
escravatura nas colónias portuguesas.
(Cedido pela Sociedade de Geografia)

Êste busto encontra-se ao lado esquerdo da entrada para


a Sala do Acto Colonial.

160
DIAPOSITIVOS

JOSÉ ESTIVÃO

Tribuno eloquente, pronunciou na Câmara dos Depu-


tados, um famoso discurso sobre a questão da «Char-
les et George».
u^rnOfOTis.;^ t # ■ t'. VJ -*
LATINO COELHO

Um dos ministros que referendaram o decreto de Sá


da Bandeira, de 25 de Fevereiro de 1869. Ordenou,
como ministro da Marinha e Ultramar, ao governador
geral de Moçambique, que, finda a guerra contra o
Bonga, facultasse a Serpa Pinto os meios de reco-
nhecer o Zambeze.
Negreiro aprisionado.
O sultão de Zanzibar.
O «África» e a «Bartolomeu Dias» (Conflito do Zan-
zibar) .
Inauguração do monumento ao marquês de Sá da
Bandeira.

). B. DE ALMEIDA GARRETT

Foi membro do Conselho Ultramarino; ocupou-se, nas


Cortes, de assuntos coloniais e particularmente da
abolição da escravatura.

CONDE DE SAMODAIS

Referendou como ministro o decreto de 25 de Feve-


reiro de 1869 que aboliu o estado de escravidão em
todos os território da monarquia portuguesa desde o
dia da publicação do mesmo.

161
ANTÓNIO ALVES MARTINS (Bispo de Viseu)

Um dos ministros que referendaram o decreto de


25 de Fevereiro de 1869.
Esquadra portuguesa no bloqueio de Zanzibar.
Negreiro aprisionado.
O sultão de Zanzibar.
O «África» e a «Bartolomeu Dias» (conflito de Zan-
zibar) .
Inauguração do monumento de Sá da Bandeira (Lisboa).
Z2ZZZ2ZZZ222Z2ZZZ2ZZZ1

POLÍTICA INDÍGENA

l\l O relatório que precedeu a primeira publicação do


* Acto Colonial, encontra-se êste período, que, cons-
tituindo uma elevada síntese política, encerra ao mesmo
tempo uma grande verdade: «A soberania de Portugal no
Ultramar tem sido dominada através da história pelos mais
altos princípios da civilização cristã». «Fazei muita cristan-
dade, fazei justiça», aconselhava mesmo o Rei D. Sebastião
ao Viso-Rei da índia, D. Luiz de Ataíde, quando êste para
ali embarcou, em 1569.
Como é óbvio, referem-se especialmente estas duas fra-
ses, no seu mais alto significado moral e político, às raças
indígenas avassaladas por Portugal.
E, na verdade: conquistada Ceuta em 141$ e desfeitas,
com a passagem dos cabos Não e Bojador, as lendas e mis-
térios do Mar Tenebroso, constituído em Marrocos o primeiro
Império Português, e, mais tarde, dobrado o Cabo da Boa
Esperança e descoberto o Caminho Marítimo para a índia,
fundados os Impérios do Oriente e do Brasil, desde logo os
portugueses começaram a proteger e a acarinhar os indígenas

163
dos seus domínios, quer para lhes utilizar o trabalho no
comércio a que de princípio se dedicaram, quer para os con-
verter à fé cristã, arrancando-os da barbárie em que os ha-
viam encontrado.

Tanto nésses recuados tempos da nossa história, como


posteriormente até ao advento do regime liberal, o único sis-
tema de politica e administração colonial que dominou nas
nossas possessões ultramarinas, como, de resto, nos domínios
de todos os países coloniais, foi o da sujeição ou exploração,
sistema mediante o qual a Metrópole, por si e pelos seus dele-
gados, concentrava em si todos os poderes, explorando-as em
seu proveito, impondo-lhes as suas leis, regulamentando-lhes
o comércio, sobrecarregando-as de impostos e não lhes dei-
xando, em última análise, liberdade alguma, política ou
administrativa.
Ãs populações indígenas poucos direitos se lhes reconhe-
ciam e fracas garantias se lhes concediam contra os abusos
fiscais ou administrativos, muito embora a governação portu-
guesa nunca tivesse deixado de seguir uma politica inteli
gente, tolerante e generosa, como a preconizou sempre, no
Império da índia, o grande Viso-Rei Afonso de Albu-
querque .
Foi à sombra dêste sistema de administração que se insti-
tuíram os monopólios do comércio, primeiro em Arguim e
S. Jorge de Mina, a favor do Infante D. Henrique e da Ordem
de Cristo, de que era Grão-Mestre, e, mais tarde, muitos
outros, em proveito do próprio Estado, de Companhias e de
particulares, tendo sido através dêles que se fêz o resgate
ou comércio do ouro da Africa e do Brasil, bem como o das
pérolas de Ceilão e das especiarias da índia.
E foit ambém na vigência dêste regime que, conjunta-
mente com aquêle comércio, se fêz o tráfico ou comércio dos
escravos, como objectos de compra e venda, sem dúvida um

m
dos aspectos mais interessantes da vida indígena colonial de
então.
Alimentando-se fàcilmente da terra, (cultivada sobre-
tudo pelas mulheres), sem exigências de vestuário e higiene,
entregue a superstições e práticas selvagens, e vivendo das
guerras e das rapinas, nem talvez de outra forma o indígena,
nessas épocas, pudesse ser levado a um trabalho regular e
produtivo, trabalho que aliás os brancos não podiam exe-
cutar, em vista dos rigores e inclemências do clima.
Trataram, no entanto, e desde logo, os portugueses de
melhorar por tôdas as formas a condição dos indígenas, quer
temperando com provisões legislativas, entre elas, as contidas
nas Ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas, a triste
condição dos escravos, quer chamando esta e tôdas as outras
classes de indígenas à fé cristã, quer ainda espalhando entre
êles as primeiras noções de civilização, levando-lhes para tanto
os primeiros animais domésticos, modificando-lhes os usos e
costumes primitivos, dando-lhes conforto, assistência e bem-
-estar, criando-lhes necessidades pelo consumo de produtos
europeus, despertando nêles o amor da família e o culto do
trabalho, e chamando-os, enfim, à civilização e ao progresso.
Nêsse patriótico objectivo, ficou Portugal devendo desde
logo aos missionários e às Missões Religiosas os mais assina-
lados serviços.
Efectivamente, como já algures tive ocasião de dizer, no
luminoso período das descobertas e conquistas e mal extintos
ainda os últimos ecos das façanhas e vitórias dos nossos guer-
reiros e navegadores, desde logo as missões religiosas portu-
guesas começaram a desempenhar um papel do maior relêvo
na vida colonial, percorrendo os missionários as nossas coló-
nias em tôdas as direcções, construindo igrejas e capelas, fun-
dando aqui e além seminários e colégios, abrindo escolas e
oficinas, difundindo a nossa língua, enraizando nos indígenas
o amor a Portugal, fazendo estudos científicos do mais ele-
vado alcance, completando enfim, com o prestígio da Cruz,

165
a obra gloriosa e vastíssima que a Espada abrira à Nação
Portuguesa. E, talvez mais que os nossos actos de adminis-
tração directa, foram êles que concorreram para que ainda
hoje se mantenham, com os limites com que os possuímos, os
territórios que constituem o nosso vasto Império Colonial, —
o quarto Império por nós fundado.
Numa cruzada santa de abnegação e desinterêsse, não
haja dúvida, êles civilizaram os indígenas e engrandeceram
a Pátria.
Reporta-se especialmente ao século XIX a Exposição
Histórica da Ocupação, iniciativa a todos os títulos feliz do
actual Ministro das Colónias, Sr. Dr. Vieira Machado, e mais
um importante serviço a juntar a tantos outros que o Pais
já lhe está devendo.
Caracterizado por um alto espirito nacionalista, este no-
tável empreendimento alcança todo o período constitucional
da Monarquia até aos primeiros anos da proclamação da Repú-
blica. E, sendo um dos objectivos pôr em evidência, nêste pe-
ríodo de tempo, os factos mais notáveis da nossa administração
colonial e os homens que, durante éle, pelo seu heroísmo ou
tacto político, mais se distinguiram sob os pontos de vista
militar, administrativo, económico e social, compreende-se
bem que a Exposição Histórica da Ocupação não pudesse
deixar de consagrar às raças indígenas uma atenção muito
particular.
«Colonizar é essencialmente tratar do negro», disse-o,
num dos seus discursos, o anterior Ministro das Colónias,
Sr. Dr. Armindo Monteiro, e, na verdade, os indígenas das
nossas colónias, desde sempre, mereceram à Metrópole e aos
próprios colonos os mais especiais cuidados e atenções.
Nem doutra forma se explica o amor que êles desde sem-
pre manifestaram a Portugal e o facto de êste dominar, com
pequeníssimas guarnições militares, os milhões de indíge-
nas que se encontram espalhados pelas suas colónias de Africa
e Timor.

166
Com o advento do chamado regime constitucional, o siste-
ma da sujeição ou exploração cede o passo ao sistema político
de assimilação, centralização ou de govêrno directo, considera-
das as nossas colónias como simples províncias ultramarinas, e
os indígenas seus habitantes, como cidadãos portugueses, go-
zando dos mesmos direitos ou regalias que os cidadãos por-
tugueses da Metrópole, sem distinção de raça, côr ou religião.^
Haviam-lhes garantido esse direito os artigos i.°, 2.0 e 145.
da Carta Constitucional da Monarquia de 29 de Abril de
1826, e os Actos Adicionais de 5 de Julho de 1852, 24 de
Julho de 1885 e 5 de Abril de 1896: mas, não seria justo
esquecer que, já anteriormente, o grande Marquês de Pombal
havia suprimido as diferenças que se faziam entre os indígenas
das colónias e os nacionais da Metrópole, decretando a igual-
dade entre uns e os outros e estabelecendo severas penas para
todos aquêles que pretendessem manter uma tal distinção.
Baseado na Declaração dos Direitos do Homem de 1789,
uma das características dêste sistema era a representação das
províncias ultramarinas no Parlamento, precisamente nas
mesmas condições das províncias metropolitanas, constituindo
umas e outras um todo uno e indivisível, com as mesmas leis
e as mesmas regras de administração.
Pretendeu-se assim adaptar à nossa civilização as popu-
lações indígenas das colónias, sob o conceito filosófico de que
o homem, qualquer que seja o lugar do seu nascimento ou
residência, por isso mesmo que é homem, tem direitos natu-
rais, inalienáveis e imprescritíveis, cujo exercício é indispen-
sável ao desenvolvimento da sua personalidade.
Sem embargo de semelhante igualdade, várias reacções se
começaram de operar, e várias diferenciações foi necessário
estabelecer, sob o ponto de vista das leis civis, criminais, fis-
cais e administrativas, entre europeus e indígenas, consoante
os usos e costumes dêstes últimos e as concepções, tão dife-
rentes, do direito aplicável; e até em alguns pontos se che-
garam a publicar códigos privativos dos seus usos e costumes,
Í67
por não ser possível aplicar as leis metropolitanas aos indí-
genas das respectivas regiões.
São prova disto os códigos dos índios das Novas Conquis-
tas, Damao e Diu, dos chins de Macau, nas questões de com-
petência do procurador dos negócios sínicos, dos indígenas
de Timor, nas causas entre êles, dos grumetes da Guiné, dos
baneanes, batias, parses, mouros, gentios e indígenas de Mo-
çambique, nas questões entre uns e outros, etc..
O século XIX é particularmente interessante, debaixo do
ponto de vista da protecção às raças indígenas e dos altos
benefícios por estas auferidos das medidas publicadas.
Largamente espoliado na África, Asia e Oceania —para
o que tinham servido de óptimos pretextos, primeiro a usur-
pação espanhola, e sucessivamente, as guerras da Restaura-
ção, da Sucessão e as Invasões francesas, — e, perdido em 7 de
Setembro de 1822 o Brasil, essa obra-prima da colonização
portuguesa, na frase de Leroy Beaulieu, nem por isso Por-
tugal pôde voltar desde logo as suas atenções para os territó-
rios que restavam e que ainda constituíam um grande Impé-
rio colonial.
As lutas do liberalismo disso o impediram; e, para cúmulo,
a publicação, pelo Govêrno de D. Pedro IV, do Decreto Dita-
torial de 28 de Maio de 1834, que extinguiu as Ordens e
Congregações Religiosas, veio vibrar um golpe profundo no
chamamento à civilização dos indígenas, e cujo atraso era
ainda manifesto.
E foi preciso que êsse e idênticos diplomas fôssem mais
tarde virtualmente revogados, para que de novo Portugal
pudesse contar, na grande obra da sua colonização, com o
poderoso auxilio que os missionários e missões religiosas sem-
pre lhe haviam dispensado.
Tempos decorreram.
O agitado período das lutas liberais havia findado há
muito; nas nossas colónias tinham acabado os monopólios do
comercio, sendo substituídos por um regime de relativa liber-

168
dade económica, as restrições industriais haviam desapare-
cido, bem como os impostos exagerados, tinham melhorado
consideràvelmente os meios de comunicação com a Metrópole
e dentro das próprias colónias, e as explorações agrícolas de
há muito tinham entrado em equação, como elementos de
riqueza e de progresso.
E, desta maneira, pôde de novo o Estado Português consa-
grar-se à protecção e civilização dos indígenas das suas coló-
nias, promulgando em seu favor medidas cada vez mais efi-
cazes, cuidando desveladamente da sua saúde, instruindo-os
e educando-os em escolas e oficinas e tornando-os, enfim,
cidadãos úteis a si e ao seu Pais.
Outorgados, como lhes haviam sido, os mesmos direitos e
deveres dos portugueses metropolitanos, um assunto impor-
tante havia a resolver, ou seja o magno problema da escra-
vatura, que foi sem contestação o facto culminante e o mais
notável de toda a politica indígena durante o século XIX.
Portugal, aliás, já dêsse problema se havia ocupado muito
anteriormente, e por uma forma a mais nobre e elevada.
Com efeito, depois de ter promulgado a Carta Régia de
7 de Fevereiro de 1701, em que se tomaram importantes me-
didas protectoras dos escravos, Portugal publicou, antes que
qualquer outro país do Mundo, o Alvará com fôrça de lei de
iç de Setembro de 1761, proibindo no Reino a carga e des-
carga de escravos e concedendo a liberdade a todos os que aí
fôssem introduzidos passado um ano após a sua publicação;
e, onze anos mais tarde, o Alvará com fôrça de lei de 16 de
Janeiro de 1773, que considerava, dai em diante, como livres
todos os filhos de mãis escravas.
Extinguia-se, desta maneira, a escravatura em todo o ter-
ritório metropolitano.
E, pelo que diz respeito às Colónias, — assunto que lar-
gamente tratei no meu livro «O Trabalho Indígena nas Ilhas
de S. Tomé e Principe» e de que para aqui transcreverei
alguns trechos, — a verdade é que, se não coube a Portugal

169
a prioridade da abolição, é no entanto certo que o nosso Pais
enfileirou sempre na vanguarda das nações que mais se esfor-
çaram por abolir o tráfico dos escravos, a escravidão e tôda e
qualquer condição servil.
E tanto assim que, quando a Inglaterra de i8oy, à voz po-
tente de Wilberforce, desfraldou por sua vez o estandarte da
libertação, Portugal tomou logo com a Nação aliada, pelo
Tratado de Aliança anglo-luso de 19 de Fevereiro de 1810,
assinado no Rio de Janeiro, o compromisso de publicar as
mais enérgicas medidas para chegar à abolição do comércio
dos escravos em todos os lugares da Costa de Africa, situados
ao norte do Equador; comprometendo-se também a aboli-lo
totalmente nos restantes domínios do Ultramar, tão depressa
as circunstâncias lho permitissem.
E, mais tarde, tendo Lord Robert Stewart, Visconde de
Castlereagh, proposto, no célebre Congresso de Viena de
1815, conjuntamente com a liberdade de navegação em todos
os rios do continente africano, a abolição do tráfico, e, sendo
esta proposta aceita, em princípio, por tôdas as nações colo-
niais contratantes, Portugal nada mais fêz do que ratificar,
ai e no Tratado celebrado em 22 de Janeiro do mesmo ano,
o compromisso assim tomado, o qual figurou novamente na
Convenção adicional àquele Tratado de 28 de Julho de 18 iy,
no Alvará com força de lei de 26 de Janeiro de 1818 e nas
Portarias Régias de 22 e 26 de Outubro de 1835.
Atravessando Portugal nessa época um período de guerras
civis, nem sempre os compromissos tomados puderam ser
mantidos, e nem sempre as medidas repressivas do tráfico
dos escravos puderam ser respeitadas. Daí o aparecimento do
Decreto ditatorial de 10 de Dezembro de 1836, mediante o
qual o tráfico dos escravos foi definitivamente abolido em
todo o Ultramar português, tanto ao norte como ao sul do
Equador e sem as reservas e excepções que haviam ficado
consignadas no Alvará de 26 de Janeiro de 1818.
Pertence a iniciativa dêste Decreto ao Visconde, depois

170
Marquês de Sá da Bandeira, um dos homens mais notáveis da
colonização portuguesa e incontestàvelmente o homem que
mais pugnou pela extinção de todas as formas de escravatura.
Seis anos mais tarde, e depois de largamente versado o
problema abolicionista entre as duas chancelarias, era fir-
mado entre Portugal e a Inglaterra o célebre Tratado de
3 de Julho de 1842, pelo qual se estabeleceram os Cruzeiros
Navais, com reciprocidade de buscas a bordo dos navios sus-
peitos, e as Comissões Mixtas, para o julgamento em última
instância de todas as questões de escravatura.
A éste, outros Tratados internacionais se seguiram, como
foram — o Acto de Berlim de 26 de Fevereiro de 1883, a Con-
ferência de Bruxelas de 2 de Julho de 1890 e o Convénio com
a Inglaterra de 20 de Maio de 1891, (os dois primeiros revistos
no Tratado de Saint Germain en Laye de 10 de Setembro
de 1919), nos quais as Potências signatárias dêstes Tratados,
possuidoras de territórios africanos, se obrigaram a exercer
uma acção mais enèrgicamente repressiva, não ja tanto no
tráfico dos escravos há muito abolido, mas da escravidão e
da condição servil, nas vastíssimas regiões do interior de Afri-
ca, onde, a bem dizer, só há pouco mais de meio século para
cá os países coloniais começam a ter uma ingerência efec-
tiva, quanto ao seu domínio e ocupação.
Sob o pretexto da civilização das populações indígenas
e do melhoramento das suas condições materiais e morais, até
as missões religiosas estrangeiras, dos mais diferentes credos
e confissões, passaram a ser admitidas nas nossas duas coló-
nias de Angola e Moçambique.
Especialmente o Acto de Berlim, além do mais, veio
criar uma nova teoria de direito colonial internacional, me-
diante a qual os direitos históricos e tradicionais das nações
coloniais, isto é, os que provinham das descobertas e conquis-
tas, foram substituídos pelos direitos de ocupação, real e efec-
tiva, dos territórios coloniais.
Certo, com o objectivo de se associarem os indígenas de

171
Africa à civilização, ai se estabeleceu que as Potências signatá-
rias «deviam abrir o interior do continente africano ao comér-
cio, fornecendo aos seus habitantes os meios de instrução e
ainda às missões e às emprêsas tendentes a espalhar conheci-
mentos úteis», assim como deviam «assegurar a existência, nos
territórios por elas ocupados, duma autoridade suficiente, para
fazer respeitar os direitos adquiridos, e, sendo preciso, as liber-
dades do comércio e do trânsito».
O cumprimento destas cláusulas acarretou para o nosso
Pais dificuldades de tôda a espécie, entre elas um incidente,
cujas consequências o nosso patriotismo ainda hoje recorda
bem dolorosamente e por virtude do qual nos vimos forçados
a pôr de lado o célebre «.Mapa Côr de Rosa», em que entra-
vam territórios que, por todos os títulos, nos pertenciam, e
que exploradores portugueses, como o Dr. Lacerda e Almeida,
Serpa Pinto, Capelo, Ivens e tantos outros haviam percorrido
em tôdas as direcções.
Todavia, se por um lado aquelas cláusulas nos trouxe-
ram os maiores amargores, por outro lado fizeram surgir
entre nós, na ocupação efectiva, delimitação e pacificação das
nossas colónias de Africa e Timor, uma plêiade brilhantís-
sima de colonialistas, cujos feitos épicos vieram relembrar os
nossos antigos guerreiros e conquistadores e encher ao mesmo
tempo de prestigio o nome de Portugal.
A história nunca poderá esquecer, além do nome de
El-Rei D. Carlos, o grande animador dessa cruzada benemé-
rita, os nomes aureolados de Mousinho de Albuquerque,
António Enes, Eduardo Galhardo, João Coutinho, Paiva Cou-
ceiro, Aires de Orneias, Eduardo Costa, João de Almeida,
Freire de Andrade, Eduardo Marques, Vieira da Rocha,
oficiais e civis, a cujos actos de bravura e heroísmo a Expo-
sição Histórica da Ocupação vem dar o devido relêvo.
Se, internacionalmente, o Govêrno Português intervinha
e assinava todos estes Tratados, internamente, promulgava
uma longa série de diplomas, não só destinados à efectivação

172
das medidas ai acordadas, mas ainda a melhorar a condição
social dos indígenas das nossas colónias e seu chamamento à
civilização e à liberdade.
São em grande número os diplomas publicados, — leis,
cartas de lei, decretos, portarias régias ou simples regula-
mentos,— e impróprio seria mencioná-los a todos num tra-
balho desta natureza, bem como referir as variadíssimas medi-
das tomadas para atingir aqueles objectivos, entre as quais
avulta a criação das Curadorias dos Indígenas, e das Cura-
dorias e Juntas Protectoras dos Escravos e Libertos.
Destacarei apenas para aqui: — a Lei de 24 de Julho
de 1856, determinando que nascessem livres nas províncias
ultramarinas os filhos de mulher escrava (idênticamente ao
que, para a Metrópole, fôra legislado pelo Alvará de 16 de
Janeiro de 1773), — o Decreto com fôrça de lei de 29 de
Abril de 1858, publicado no dia do casamento de El-Rei
D. Pedro V com a Rainha Estefânia de Hohenzollern-Sigma-
ringen, o qual dispunha que, 20 anos depois, ou fôsse a par-
tir de 29 de Abril de 1878, ficaria totalmente abolido o estado
de escravidão em todas as nossas colónias, — o Decreto de 25
de Fevereiro de 1869, também da autoria do Marquês de Sá
da Bandeira, pelo qual foi definitivamente abolido o estado
de escravidão em tôdas as possessões portuguesas do Ultra-
mar, e a Carta de Lei de 29 de Abril de 1875, referendada
pelo então Ministro Andrade Corvo, e mediante a qual foi
extinta em todo o Ultramar português tôda e qualquer con-
dição servil.
E, embora não diga pròpriamente respeito a assuntos de
escravatura, seria grande injustiça não recordar aqui o De-
creto Orgânico das Províncias Ultramarinas de 1 de Dezembro
de 1869, da autoria do grande estadista Rebêlo da Silva, que,
reformando, num ensaio de prudente descentralização, a
nossa administração colonial, inseriu medidas e princípios os
mais salutares sob o ponto de vista da politica indígena, e bem
assim os Decretos, publicados entre 1894 e 1898, que, na Pro-

173
víncia de Moçambique, instituíram os Comissários Régios.
É assim que, com rigor, se pode dizer que, se Portugal
não foi a primeira nação a abolir o tráfico, a escravidão e a
condição servil nos seus territórios de Além-mar, também não
foi das últimas, pois que, à data dos seus decretos de extinção,
ainda ela existia, arreigada, nas colónias doutros países civi-
lizados.
Simultâneamente, com aquela Carta de lei, e em sua
execução, foi publicado o Regulamento Geral do Trabalho
Indígena de 20 de Dezembro do mesmo ano, em que ficaram
cuidadosamente regulados os contratos de trabalho, com cláu-
sulas as mais liberais e humanitárias (entre elas a da repa-
triação), confiada a tutela dos trabalhadores a autoridades es-
peciais, e em que se lhes deu, a par da mais ampla liberdade
da escolha do serviço, patrão e local do trabalho, tôdas as ga-
rantias para a efectivação dos seus direitos.
Extinta definitivamente a escravatura, indispensável se
tornava regularizar por esta forma o trabalho indígena nos
nossos domínios ultramarinos, sem dúvida o mais importante
capitulo da política indígena de tôdas as nações coloniais.
E, de facto, não sendo possível utilizar no comércio, in-
dústria e sobretudo na agricultura da maior parte das nossas
colónias de plantação ou exploração (ao contrário do que su-
cede com as colónias de povoação, como foi o Brasil), o traba-
lho dos europeus, devido ao clima, que em pouco tempo der-
ruba os organismos mais robustos e sãos, mister se tornou
aproveitar a mão de obra indígena ou mesmo do trabalho de
outras raças que possam resistir aos climas tropicais, ficando
tão somente os europeus a desempenhar o papel de guias e
dirigentes.
Devido à sua natural indolência e preguiça, ao preto é,
por via de regra, antipática e odiosa qualquer espécie de tra-
balho regular, e daí as enormes dificuldades que o problema
revestiu logo após a extinção da escravatura.
E foi, precisamente a fórmula mais suave desse trabalho,

m
em que num todo harmónico se conjugou o interêsse dos
patrões com a liberdade dos indígenas, os seus caracteres
étnicos e o seu temperamento especial, que a Lei de 29 de
Abril de 1875 e o Regulamento de 20 de Dezembro do mesmo
ano encontraram tudo dentro dos mais sãos princípios de colo-
nização e humanidade.
E foi ainda, animado dos mesmos princípios rasgada-
mente liberais e filantrópicos, que Portugal publicou poste-
riormente algumas outras medidas, melhorando e aperfei-
çoando o trabalho indígena nas suas Colónias, como nenhuma
outra nação as tem mais liberais, mais justas e mais humani-
tárias.
Nem significam outra coisa as muitas leis, decretos, porta-
rias e regulamentos publicados sôbre tão importante matéria,
posteriormente ao ano de 1875 e ainda dentro do período cor-
respondente ao sistema politico de assimilação ou centraliza-
ção, o qual, como é sabido, vai desde o advento do regime cons-
titucional até à Carta Orgânica da Província de Moçambique,
aprovada por decreto com fôrça de lei de 23 de Maio de 1907,
da autoria do Conselheiro Aires de Orneias, ou mesmo até à
publicação, em 1914, das primeiras Bases Orgânicas da Admi-
nistração Civil e Financeira, da autoria do então Ministro,
Conselheiro Dr. Almeida Ribeiro, abrangendo consequente-
mente todo o período a que particularmente respeita a Expo-
sição Histórica da Ocupação. Qualquer dêstes decretos são já
vasados em moldes acentuadamente descentralizadores.
São, todos aquêles, diplomas deveras interessantes; mas
dêles me permito citar aqui apenas o Regulamento Geral do
Trabalho Indígena de 21 de Novembro de 1878, os Decretos
de 21 de Dezembro de 1882 e 26 de Dezembro de 1889, os
Regulamentos Gerais de 9 de Novembro de 1899, 29 de Ja-
neiro de 1903, 23 de Abril de 1908, 31 de Dezembro do
mesmo ano, 17 de Julho de 1909, o Decreto regulamentar
com fôrça de lei de 27 de Maio de 1911, os Decretos de 8 de
Fevereiro, 16 de Setembro e 1 de Outubro de 1913, e o Regu-

175
lamento Geral do Trabalho Indígena de 14 de Outubro
de 1914.
Foi na plena consciência das medidas tomadas e fiel-
mente executadas que o Govêrno Central pôde oficialmente
dizer, no ano de 1906, que: «em todo o tempo o Govêrno Por-
tuguês cuidou atenta e dedicadamente de proteger e favo-
recer os indígenas das suas colónias, procurando inspirar-lhes
a compreensão dos deveres e virtudes do trabalho, sem pre-
juízo, antes com tôdas as garantias, de homens livres, tornan-
do-os úteis a si, às colónias e ao País, — que os contratos dos
trabalhadores indígenas nas colónias portuguesas são cele-
brados segundo regras e preceitos perfeitamente regulares e
legais, sob a fiscalização imediata das autoridades, e que
o Govêrno Português nem por um momento esqueceu os
seus altos deveres como potência colonial, antes pelo contrário
procurou sincera e lealmente cumpri-los, a bem da causa da
civilização e da humanidade, de que foi desde remotas eras o
mais extrénuo defensorn, (Vid. pág. 11 da Memória Justifi-
cativa sôbre o Trabalho Indígena nas Colónias Portuguesas,
que tão grande eco teve nos meios coloniais estrangeiros).
Tudo isto se passava nos últimos anos em que o sistema
politico de assimilação ou centralização vigorou em Portugal,
embora já a êsse tempo se viessem notando tendências aberta-
mente descentralizadoras.
Alcançando até essa época a Exposição Histórica da
Ocupação, deveriam porventura terminar aqui estas minhas
já tão longas considerações.

Mas, tendo nessa altura sido adoptado, na nossa admi-


nistração colonial o sistema político da autonomia, descentra-
lização ou associação, e, tendo-se publicado após a procla-
mação da República e sobretudo depois do advento da Dita-
dura Militar, profundas reformas que tanto interessam o
ponto de vista da colonização portuguesa, e designadamente

176
da política indígena, eu não resisto a jazer aqui umas, ainda
que ligeiras, referências acerca das mais importantes dessas
reformas e da posição actual do Estado Português em rela-
ção aos indígenas dos nossos territórios de Além-Mar.
Como è sabido, uma das primeiras leis que a República
mandou aplicar às Colónias foi a Lei da Separação das Igre-
jas do Estado de 28 de Abril de 1911, que extinguia as Or-
dens religiosas e os Estabelecimentos de formação missionária
em todo o território português, tendo o decreto n.° 253, de
22 de Novembro de 1913, que ai a mandou aplicar, criado em
substituição as missões civilizadoras ou missões laicas, e trans-
formado mais tarde o Real Colégio das Missões Ultramari-
nas de Sernache do Bonjardim no Instituto de Missões Civi-
lizadoras ou Missões Laicas.
Foi um gravíssimo êrro que se cometeu e cujas conse-
quências se não fizeram esperar.
De facto, expulsos os padres congreganistas portugueses
e os estrangeiros das mesmas ordens que obedeciam às auto-
ridades portuguesas, as missões e os padres estrangeiros, cató-
licos e não católicos, que os Tratados de Berlim e Bruxelas
nos haviam forçado a aceitar dentro das nossas colónias de
Africa, começaram de afluir ali em tão grande quantidade
que, em 1930, na nossa Colónia de Moçambique, ao lado de
500 estabelecimentos religiosos estrangeiros, entre missões,
sucursais e escolas, ricos e bem providos de tudo, existiam
apenas 30 estabelecimentos portugueses!
Esta desnacionalizante invasão estrangeira e a circunstân-
cia de, entre 1911 e 1922, nenhuns padres congreganistas e
muito poucos padres seculares portugueses terem ido para as
nossas duas Africas, fez abrir os olhos a muita gente que se
obstinava em os conservar fechados à própria evidência dos
factos.
Entretanto, as Missões Laicas e o seu Instituto de Ser-
nache do Bomjardim faliam estrondosamente.
E todas estas circunstâncias levaram o então ministro

177
das Colónias, sr. Comandante Rodrigues Gaspar, numa inte-
ligente visão política, a publicar, em 1919, os seus Decretos
n.0' 5.239, 5.778 e 6.322, publicando-se depois os n.°* 7.600,
de 21 de Junho de 1921, e 8.351, de 26 de Agôsto de 1922,
os quais, embora com insuficientíssimas dotações, vieram no
entanto permitir a vida das missões religiosas, pela relativa
protecção oficial que lhes dispensava.
Triunfante a revolução militar de 28 de Maio de 1926,
desde logo o Govêrno da Ditadura procurou remediar os
males causados, e, no intuito de restaurar, em tôda a sua
eficiência, as missões religiosas portuguesas, como instrumen-
tos de civilização e influência nacional, extinguiu definitiva-
mente as tais missões laicas e publicou o Decreto n." 12.485,
de 13 de Outubro de 1926, que aprovou o Estatuto Orgânico
das Missões Católicas Portuguesas de Africa e Timor, ainda
vigente, mediante o qual foi fixado o regime jurídico dessas
missões, como pessoas morais, em si e nas suas relações com
os estabelecimentos de formação missionária, e concedidos a
umas e aos outros os subsídios indispensáveis ao bom desem-
penho da sua missão.
Mais tarde, os mesmos patrióticos princípios foram fixa-
dos nos artigos 23° e 24° do Acto Colonial e artigos 247.0 e
248." da Carta Orgânica do Império Colonial Português.
E, assim, o Portugal de outrora que, em lances de heroís-
mo e maravilha, levou D. Afonso Henriques ao milagre de
Ourique e D. Nuno Alvares Pereira ao de Aljubarrota, o Por-
tugal da Fé e do Império, de novo pôde associar as missões
religiosas portuguesas aos seus altos objectivos nacionalistas e
cristãos, de ensinar, proteger e civilizar os indígenas dos seus
territórios.
A França, na Exposição de Vincennes, deu um lugar de
honra às missões religiosas, construindo para elas um Pavi-
lhão especial na grande Avenida das Colónias; e a «Sala da
Fé», tão criteriosamente mandada erigir na Exposição Histó-
rica da Ocupação, mostrará sem dúvida a todos os que ali

178
forem os valiosos serviços de que aos missionários são deve-
dores os indígenas das nossas colónias, e, duma maneira geral,
a colonização portuguesa.
Beneméritos da Fé, beneméritos da Pátria!
Ao mesmo passo que o Govêrno da Ditadura colocava no
seu verdadeiro lugar as missões religiosas portuguesas, ia pa-
ralelamente alterando o regime jurídico anterior, que sujei-
tara os indígenas das nossas colónias às mesmas leis civis, poli-
ticas e administrativas da Metrópole; e, atendendo às pró-
prias condições da sua existência simples e primitiva, man-
dava codificar os preceitos dos seus usos e costumes, e conser-
var as suas instituições e autoridades gentílicas.
É de justiça notar-se que já em 1914 0 Conselheiro
Dr. Almeida Ribeiro, nas suas Bases Orgânicas, chegara a
estabelecer, pela primeira vez numa lei de fundo, a distinção
entre o indígena civilizado ou assimilado, gozando os mesmos
direitos que qualquer cidadão da Metrópole, e o indígena
rude e selvagem, que se torna preciso chamar gradualmente
ao nosso convívio e civilização.
Estabelecera-se ai que os Governadores Gerais ou de Co-
lónia eram os protectores natos dos indígenas dentro das res-
pectivas colónias, a mandara-se elaborar, em cada uma delas,
códigos de usos e costumes, a-fim-de estes serem devidamente
considerados e respeitados; tendo sido estes preceitos repro-
duzidos, com mais ou menos variantes, na Lei n.° 552-D de
29 de Maio de 1916, nas Cartas Orgânicas que, em obediên-
cia àquelas Bases, foram publicadas em cada uma das Coló-
nias, nas leis n.0' 1.003 e 1.022, de 7 e 20 de Agosto de 1920,
e ainda no Decreto n.° 7.008, de 9 de Outubro de 1920, que
codificou as Bases anteriores, diploma êste completado e alte-
rado pelo Decreto n.° 7.030, de 16 de Outubro do mesmo
ano, e pelas leis n.0' 1.130, de 26 de Março de 1921, e 1.311,
de 13 de Dezembro de 1923.
Sem embargo, nenhum dos códigos ordenados de usos e
costumes se chegou a fazer; e foi o Govêrno da Ditadura que,
179
encarando finalmente o problema indígena pelo seu verda-
deiro prisma, publicou (não falando já nas Bases Orgânicas
da Administração Colonial, aprovadas por Decretos-Leis
n.0' 12.421, de 2 de Outubro de 1926, e 15.241, de 24 de
Março de 1928, hoje revogadas), uma série de diplomas orgâ-
nicos, que são bem uma honra e um brasão para a Adminis-
tração Portuguesa Ultramarina, sob o ponto de vista da polí-
tica indígena.
Refiro-me ao Estatuto Civil, Politico e Criminal dos In-
dígenas de Angola e Moçambique, aprovado por Decreto
n. 12.555, de 25 de Outubro de 1926, substituído mais tarde
pelo Estatuto aprovado por Decreto n.° 16.455, de 6 de Feve-
reiro de 1929, ao Código do Trabalho Indígena nas Colónias
Portuguesas de Africa, aprovado por Decreto n.° 16.199, de
6 de Dezembro de 1928, o Decreto n." 16.454, de 6 de Feve-
reiro de 1929 (relações de direito privado entre indígenas e
não indígenas), o Decreto n.° 16.455, da mesma data, (reserva
de mão de obra em Moçambique), o Acto Colonial, aprovado
por Decreto n.° 18.550, de 8 de Julho de 1950, (o qual, com
as alterações constantes da lei n.° 1.900, de 21 de Maio
de 1955, faz hoje parte da Constituição Politica da Repú-
blica), e, em seu complemento e regulamentação, a Carta
Orgânica do Império Colonial Português, aprovada por De-
creto-lei n.° 25.228, de 15 de Novembro de 1955, alterada
pela Lei n." 1.948, de 15 de Fevereiro do corrente ano, e pela
Portaria Ministerial n.° 8.699, de 5 de Maio do mesmo ano
(Cap. VIII, artigos 250° a 245.°) e a Reforma Administrativa
Ultramarina, aprovada por Decreto-lei n.° 25.229, de 15 de
Novembro de 1955 (artigos 28°, 51.0, 5o.0, 91.0 a 119.0, 294.0,
5ii.° a 515.0, e outros).
Não permite a estreiteza déste trabalho que aqui me
refira, em especial, a cada um dêstes diplomas e às impor-
tantes providências que nêles se acham consignadas.
Do seu conjunto, porém, se vê que o Estado, no cum-
primento da missão histórica de civilizar os indígenas das

180
suas colónias, — promulgou as mais rigorosas medidas para
impedir ou castigar, pelas suas autoridades, os abusos contra
êles cometidos, — criou Comissões Especiais e instituições des-
tinadas à defesa dos seus direitos, respeitando e mandando
codificar os seus usos e costumes em tudo o que não colida
com a sua soberania, com a moral ou com os princípios de
humanidade, — conservou as autoridades gentílicas, integran-
do-as nos seus quadros administrativos e criando, para a reso-
lução das suas questões, tribunais especiais em que elas en-
tram, — dispensou-lhes assistência médica e gratuita nos seus
hospitais e enfermarias, — aceitou as missões religiosas como
instrumentos de civilização e soberania, dando-lhes persona-
lidade jurídica e concedendo-lhes subsídios, e, finalmente,—
criou Estatutos especiais, regulando, em termos da mais abso-
luta liberdade e sob a sua fiscalização, o regime do trabalho
indígena; e, neste particular, mandando remunerar os que
forem empregados nas obras públicas, proibindo o forneci-
mento da mão de obra para o serviço de emprêsas ou de par-
ticulares, regulamentando o trabalho das mulheres e meno-
res, estabelecendo indemnizações nos casos de desastres ou
acidentes de trabalho, sujeitando-os apenas, fora dos casos
em que hajam de cumprir sentenças penais ou obrigações de
natureza fiscal, a ocupações que lhes sejam vantajosas e de
utilidade imediata, — e adoptou muitas outras medidas de
igual importância e transcendência.
Tais são, duma maneira geral, os preceitos essenciais con-
tidos nos aludidos diplomas, e tais são as directrizes por que
o Govêrno da Revolução Nacional está orientando a sua
acção, na defesa e protecção dos indígenas do seu vasto impé-
rio colonial, e no intuito de os integrar, já civilizados, no
grande todo espiritual e material que é a Nação Portuguesa.
Assim se tem ido realizando o pensamento politico que
o Sr. Dr. Oliveira Salazar, — o grande Ministro do Acto Co-
lonial, em cujo Titulo II aparecem, pela primeira vez em leis
constitucionais, preceitos especiais relativos a indígenas,—

181
deixou expresso no discurso que proferiu na Assembleia Na-
cional, por ocasião da inauguração da i." Conferência dos Go-
vernadores Coloniais, em i de Junho de i933> onâe disse:
u...e, por cima de tudo, porque mais alto e mais belo, deve-
mos organizar cada vez mais eficazmente e melhor a protec-
ção das raças inferiores, cujo chamamento à nossa civilização
cristã é uma das concepções mais arrojadas e das mais altas
obras da colonização portuguesa».
Atravessando nós um período de larga renovação social,
não foram também os indígenas esquecidos na i.° Conferência
Económica do Império, nem tão pouco na 2." Conferência dos
Governadores Coloniais, ambas há pouco realizadas em Lisboa.
Na primeira, foram apresentadas teses do maior inte-
rêsse sôbre o trabalho, assistência, pecuária e agricultura; na
segunda, adoptaram-se importantes medidas proteccionistas
das populações nativas, entre elas as contidas nos artigos
246." e 247.0 das Alterações à Carta Orgânica do Império.
E quem quiser compulsar a vasta obra da Colonização
Portuguesa, sob o ponto de vista da politica indígena, ime-
diatamente reconhecerá que, em todos os tempos e através
de tôdas as dificuldades, Portugal esteve sempre à altura das
suas gloriosas tradições e das responsabilidades que lhe com-
petem como a mais antiga Nação Colonial.

Lisboa, 10 de Junho de 1937.

ANTÓNIO AUGUSTO CORRÊA DE AGUIAR

182
SECÇÃO III

Primeiros princípios

Tábua de Maria Amélia de Mesquita Cardoso, sob o título


de «Primeiros princípios», contendo as legendas:

Antes ainda que nenhuma outra nação colonial, começá-


mos a abolir a escravidão nas nossas possessões.— (Luciano
Cordeiro).

...que todos que tiverem escravos de Cuinee os batisem. —


(Ordenações manuelinas).

Recomendava El-Rei D. Manuel, no regimento dado em


1506, a D. Francisco de Almeida, que não viessem nas suas
armadas escravos para Portugal com pena de serem perdidos
para quem os trouxesse ou mandasse.
Por diplomas governativos de 20-3-1570, de 11-1 1-1595,
de 26-7-1596, de 5-6-1605, de 30-7-1609, de 10-9-1611,
condenámos terminantemente, em nome do direito natural e
sob fortes penalidades, a escravidão e o tráfico dos indígenas
do Brasil, proclamando-os livres e iguais aos outros homens,
quer estivessem já convertidos à nossa fé, quer vivessem ainda
nas crenças da sua selvajaria. — (Luciano Cordeiro).

SECÇÃO IV

Precedentes próximos duma legislação


Tábua de Maria Amélia Mesquita Cardoso, sob o título:
«Precedentes próximos de uma legislação», contendo as se-
guintes legendas:
Por diplomas de 19-9-1761 e 2-1-1767, extinguimos o
comércio dos negros nos mercados do continente português na

183
Europa, e proclamámos livre o africano escravo que desembar-
casse no nosso território europeu.— (Luciano Cordeiro).
Alvará com força de lei de 16 de Janeiro de 1773.
Que, quanto ao futuro, todos os que nascerem no dia da
publicação desta lei em diante, nasçam, por benefício dela,
inteiramente livres, posto que as mães e avós hajam sido escra-
vas e fiquem hábeis para todos os ofícios e honras e dignidades.

SECÇÃO V
Século dezanove

Tábua de Maria Amélia Mesquita Cardoso, sob o título


«Século dezanove», contendo as seguintes legendas:
Decreto de 10-12-1836. — Proibiu a exportação de es-
cravos por mar ou por terra em todos os domínios portugueses,
assim como a sua importação por mar.
Portaria de 7-11-1838. — Declarou que os baneanes mou-
ros e gentios residentes em território de Ásia e África gozem
de todos os direitos concedidos pela constituição aos cidadãos
portugueses.
Decreto de 14-12-1854. — Concedeu a todo o escravo
residente em território da Coroa de Portugal o direito de rei-
vindicar a sua natural liberdade indemnizando ao Senhor do
preço dos seus serviços e tornou livre todo o escravo perten-
cente ao Estado—Lei de 24-7-1856. — Ordenou que de fu-
turo fossem considerados de condição livre os filhos de mulhe-
res escravas — Lei de 25-7-1856. — Outorgou a liberdade aos
escravos pertencentes às Igrejas — Lei de 18-8-1856. — Li-
bertou os escravos que entrassem em algum pôrto ao Reino,
bem como os que aportassem ao Estado da índia ou a Macau
— Decreto de 29-4-1858. — Declarando abolido o estado de
escravidão em tôdas as províncias ultramarinas no dia em que
se completarem vinte anos contados da data dêste decreto.

m
Decreto de 25-2-1869: — Reduziu o período anterior-
mente designado. — Carta de lei de 29-4-1878: — Extinguiu
no Ultramar português tôda ou qualquer condição servil. —
Regulamento geral do trabalho indígena. — 20-12-1875 — An-
drade Corvo. — Outros regulamentos gerais — 21-11-1878 —
Tomaz Ribeiro — 9-11-1899. — Eduardo Vilaça — 29-1 -1903.
— Teixeira de Sousa — 23-4-1908. — Augusto de Castilho —
31-12-1908. — Antonio Cabral—17-7-1909. — Terra Viana
— 14-10-1914.— Lisboa de Lima — Decreto de 27-5-1911.—
Azevedo Comes — Decreto de 1-10-1913. — Almeida Ribeiro.

Nas três vitrinas desta secções expõem-se:

N.° 1 — Carta de João Tavares de Almeida, Governador Ge-


ral de Moçambique, tratando do engajamento de
colonos livres, forma disfarçada de escravatura, que
procura evitar. Moçambique, 29 de Setembro de
1858.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 2 — Carta de Honório Pereira Barreto a Sá da Bandeira,


sobre escravatura, alfândega e govêrno da Guiné.
Cacheu, 18 de Agosto de 1856.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 3 — Carta de João Tavares de Almeida, Governador de


Moçambique, para o Visconde de Sá da Bandeira,
acêrca do aprisionamento da barca francesa «Char-
les et George», quando carregava negros na Qui-
tangonha para a ilha de Reunião. Moçambique, 16
de Dezembro de 1857.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 4— Requerimento do Príncipe de Ceilão, D. Felipe, que


por ordem régia veio estudar à Universidade de

185
Coimbra, por conta da Coroa Portuguesa. India,
1610.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial>
N.° 5 — Tratado pelo qual Sua Alteza o rei do Congo per-
mite que Sua Majestade Fidelíssima, a Senhora
D. Maria II, Rainha de Portugal, faça construir for-
talezas no Ambriz e coloque ali autoridades mili-
tares, civis e administrativas. Assinado em S. Sal-
vador, no Palácio do rei do Congo, aos 26 de Junho
de 1845.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial}
N.° 6— Instrução por que se deve regular o meu filho o
Infante D. Álvaro de Água Rosada de Serdónica,
Embaixador de Sua Majestade Católica, el-rei do
Congo. Palácio do Rei do Congo, 26 de Junho de
1845.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)
N.° 7 — Carta de D. Henrique 2.°, rei do Congo, à Rainha
D. Maria II, a quem participa a vinda a Portugal
do Infante D. Álvaro de Água Rosada de Serdónica
— 1845.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial/

N.° 8 — Ofício do Governador Geral de Angola, José Rodri-


gues Coelho do Amaral, que remete cópias de autos
de vassalagem de 6 sobas da jurisdição do concelho
de D. Pedro V. Luanda, 8 de Maio de 1858.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial>

N.° 9 — Ofício do Governador Geral de Angola, José Ro-


drigues Coelho do Amaral, remetendo 4 cópias de
autos de vassalagem e obediência, prestados por
outros tantos sobas do Concelho de D. Pedro V.
Luanda, 9 de Junho de 1858.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial>

186
N.o 10 — Ofício do Governador Geral de Angola, José Rodri-
gues Coelho do Amaral, remetendo o auto de vassa-
lagem dos sobas dos Gambos e de Quipungo.
Luanda, 14 de Agosto de 1856.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

fsl,° 11 — Oficio do Governador Geral de Angola, José Rodri-


gues Coelho do Amaral, remetendo o auto de vassa-
salagem do régulo de Chimbuco, na margem Sul do
Zaire. Luanda, 20 de Junho de 1856.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 12 — Oficio do Governador Geral de Angola, José Rodri-


gues Coelho do Amaral, que remete cópia do auto
de vassalagem prestado pelo soba de Engunde,
D. Manuel. Luanda, 11 de Setembro de 1858.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.» 13 — Ofício do Marquês de Aracaty, Governador de Mo-


çambique, ao Ministro da Marinha e Ultramar,
tratando da transacção amigável feita com o régulo
Quizongo, e que assegura a comunicação da capital
com o Govêrno de Quel imane.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 14 —Carta original do Sultão de Tungue, Amode-Sul-


tone, ao Governador de Cabo Delgado, Jerónimo
Romero, por ocasião das negociações acêrca do
nosso domínio na baía do Tungue.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 15 Ofício do Governador Geral de S. Tomé e Principe,


pedindo um navio de guerra para levar de Ajudá
a Lisboa os embaixadores do rei Dahomé. S. Tomé,
11 de Julho de 1867.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 16— Oficio de João Máximo da Silva Rodovalho, coman-


187
dante da Estação Naval de Angola, comunicando
que ao Palácio do Govêrno foi a embaixada do Rei
de Molembo, capitão Manipolo, render vassalagem.
Luanda, 18 de Janeiro de 1855.

DIAPOSITIVOS

Régulo de Fulacunda.
Indígenas cristãs de Bissau.
Indígena da Cuiné.
Mulheres «grumetes» (Cuiné).
Banda de música (S.Tomé).
Agricultores indígenas de S. Tomé.
Mulher assimilada (Ilha do Príncipe).
Serviçais caboverdeanos em S. Tomé.
Indígena assimilado (Ilha do Príncipe).
D. Henrique, rei do Congo.
Príncipe D. Nicolau, filho do rei do Congo.
Rainha Zíngara (Angola).
Régulo cristão com sua família (Angola).
Casal de ambaquistas (Angola).
Família indígena civilizada (Angola).
Banda de música (Angola).
Grupo de serviçais (Angola).
Um chefe indígena (Sul de Angola).
Casamento entre indígenas assimilados (Moçam-
bique).
Família cristã (Moçambique).
Uma família cristã (Moçambique).
Jovens assimilados (Moçambique).
Mulheres assimiladas da Beira (Moçambique).
Indígena assimilado (Lourenço Marques).
Costureiras indígenas de Moçambique.
Serviçal indígena (Moçambique).
Cantores «macuas» (Moçambique).
Pequena indígena assimilada (Timor).
Indígenas cristãos (Timor).
Uma família cristã (Timor).
Indígenas assimilados (Timor).
Jovem indígena assimilado (Timor).
A rainha de Camunaça e sua comitiva (Timor).
Um régulo (Timor).
Um chefe «dato» (Timor).
Um «macair Lulic» (sacerdote gentílico) (Timor).

189
?2ZZ792222Z22222ZZ22Z1

POLÍTICA DE LIMITES

í\l ESTA, como nas outras secções, procurou-se apontar


* o que parecia fundamental para se compreenderem
os objectivos ideais das acções empreendidas para se chegar,
como resultado, aos limites actuais das possessões ultramari-
nas portuguesas — e os factos principais, os homens que nêles
intervieram ou os dominaram, os incidentes sobrevindos.
Evidentemente que não era possível isolar esta secção.
Por um lado, relaciona-se com o esfôrço de penetração e colo-
nização realizado desde os séculos XV e XVI e não apenas em
Angola e Moçambique, mas até na Guiné, na índia e em
Timor; pelo outro, com a exploração das costas africanas, fun-
dação de estabelecimentos portugueses e encorporação no
domínio da coroa portuguesa de populações indígenas vizi-
nhas das feitorias ou presídios.
Ainda mais: as próprias tentativas de travessia de Africa,
a começar pela do Dr. Francisco José de Lacerda e Almeida
(para não descer mais longe, ao arrepio da história), relacio-

Í9i
nam-se com a politica de limites levada a cabo a partir da
segunda metade do século XIX.
Apontaram-se os factos a que se alude noutras secções,
mas, depois de se ter sublinhado com alguns mapas proposi-
tadamente estudados e executados, e com alguns documentos,
o domínio efectivo de Portugal em tôdas as colónias actuais,
no meado do século XIX, procurou-se fazer notar com dois
outros mapas as consequências, no que toca aos domínios por-
tugueses em Africa, da Conferência de Berlim.
Em seguida, o esfôrço dos organizadores da Exposição
cingiu-se especialmente ao vasto problema, mal estudado
ainda, do «mapa côr de rosa», cujas consequências acabaram
com a aspiração, que vinha do século XVI, de se unir, pelo
sertão africano, Angola a Moçambique.
Finalmente: com dois mapas deu-se a indicação dos tra-
tados que resolveram em Africa os litígios de fronteiras e a
comparação entre o que se poderia obter com o tratado
Hintze-Barjona, de 20 de Agôsto de 1890, e o que se perdeu e
ganhou com o tratado definitivo de 91.
Toda a acção diplomática, a partir do «Ultimatum», foi,
como se sabe, orientada por El-Rei D. Carlos. Com um busto
do grande Rei tão mal conhecido e compreendido preten-
deu-se iniciar o processo da revisão de juízos apressados ou
interesseiramente formulados no fragor das lutas politicas
em que Portugal se perdeu no fim do século passado e nas
primeiras décadas do actual.
Aqui, como em tôdas as outras secções, os organizadores
da Exposição têm plena consciência de que só fizeram um
ensaio, um apontamento. Não queriam, nem podiam fazer
mais, porque tôda a Exposição é uma síntese que, desenvol-
vida, daria, bem explorados os arquivos, diversas exposições.
Eis aqui...

MANUEL MURIAS

192
SECÇÃO VI

Antes e depois da Conferência de Berlim

Quadro de Roberto de Araújo, com o titulo: «Até à Con-


ferência de Berlim de 1884».
Contém as legendas:

Os estabelecimentos portugueses da África Austral, tirante


as fronteiras com o Transvaal, não conheciam limites para o
sertão, que os exploradores portugueses, desde Diogo Cão em
1842, foram pouco a pouco devassando.

Os estabelecimentos portugueses estendiam-se pela costa


sem limite determinado.

Quadro de Roberto de Araújo, com o título: «Após a Con-


ferência de Berlim de 1884».
Contém as legendas:
. .)
No sertão africano, que já havia sido atravessado de costa
a costa e mais de uma vez pelos exploradores portugueses, não
foram marcados limites ao domínio e à influência de Portugal,
exceptuada a fronteira com o Estado Livre do Congo.

A conferência de Berlim limitou ao norte e ao sul os domí-


nios portugueses de Angola, ficando para negociações entre os
dois países a delimitação rigorosa das fronteiras dos territórios
de Portugal e da Alemanha.

A Conferência de Berlim limitou ao norte e ao sul na


costa de Moçambique os domínios portugueses.

193
SECÇÃO VII

Mapa côr de rosa e mapa actual

Quadro de Lino António, representando o chamado mapa


«côr de rosa», e que era ainda a tradução de antiga aspiração
portuguesa de ligar as duas possessões de Angola e Moçam-
bique.

«A ocupação dos territórios, cujos direitos a Coroa de Por-


tugal se reservava nos tratados, ainda se não conseguiu, mas
quando diversas nações ali puserem seguramente pé, então
essa ocupação tornar-se-á impossível». (Andrade Corvo).

Em 1876 reunia a Conferência Internacional de Bruxelas,


onde nasceu a Associação Internacional Africana, primeira mo-
dalidade política do Estado Livre e Independente do Congo.

1877-1880 — Explorações de Capelo e Ivens, e Serpa


Pinto. Em 1884, Capelo e Ivens receberam o encargo de uma
viagem para o estudo das relações entre as bacias do Zaire e
do Zambeze.
Serpa Pinto e Augusto Cardoso procurariam noutra explo-
ração a comunicação directa entre o lago Niassa e a costa de
Moçambique, ao norte do Zambeze.
Henrique de Carvalho começava as suas viagens às terras
do Muata lanvo (1884-1888).

Tratado anglo-luso de 26 de Fevereiro de 1884 ou o reco-


nhecimento dos direitos de Portugal nas margens do Zaire até
aos limites do novo Estado do Congo.

Conferência de Berlim (1884-1885).


Escrevia por aquela ocasião Barbosa du Bocage, ministro
dos Negócios Estrangeiros e delegado à Conferência: «...é pre-

Í9k
ciso caminhar depressa, não demos tempo a que outros se
adiantem e tornem a nossa obra irrealizável.»

Capelo e Ivens regressavam, como disse Pinheiro Chagas,


tendo lançado as bases da nossa comunicação de costa a costa.

Entretanto, os alemãis alargavam a sua colónia do Sudoeste


Africano até Cabo Frio, e procuravam estender-se pelo nosso
distrito de Mossâmedes.

Por outro lado, os inglêses apropriavam-se da Bechuana-


lândia e rapidamente estendiam o seu domínio na África
Oriental.

Política de Barros Comes


(1886-1889)

Convenção de 12 de Maio de 1886 com a França.


Convenção de 20 de Dezembro do mesmo ano, com a
Alemanha.
Presentes em 1887, à Câmara dos Deputados, com a carta
da África Meridional Portuguesa (Mapa côr de rosa).

Em 1887, Paiva de Andrada tomava o comando da expedi-


ção à Zambézia, contra o Bonga.
Serpa Pinto completava a ocupação da baía do Tungue.
1888. Viagens de A. M. Cardoso ao Niassa, a-fim-de con-
tinuar os trabalhos de Serpa Pinto e Augusto Cardoso.
Paiva de Andrada e Victor Cordon recebiam instruções
para a ocupação dos territórios da Africa Oriental, onde a sobe-
rania portuguesa não fôsse efectiva.

«Desde que os inglêses se tinham instalado no Cabo


(1806), e a sua expansão para o planalto prosseguia, o pro-

195
pósito de ligar as duas costas representava um êrro político e
uma impossibilidade geográfica.» (Aires de Orneias).

Serpa Pinto subia o Zambeze.


Qual o seu objectivo?
A junção com a coluna de Paiva Couceiro que procederia
do ocidente, pelo Bié e Moxico, com ordem directa do minis-
tro, para descer pelo vale do Zambeze até encontrar-se com
Serpa Pinto, la tentar-se, finalmente, a execução do mapa côr
de rosa. (Vieira de Castro, «D. Carlos I»).

A 11 de Janeiro de 1889 o Govêrno Português recebia o


«ultimatum» britânico.
Paiva Couceiro chegando ao Bié, encontrava instruções
para não avançar mais.

Quadro de Lino António, indicando as várias convenções
pelas quais se foram definindo as actuais fronteiras de Angola
e Moçambique:

Convenção com a França de 30 de Janeiro de 1786. Con-


venção com a França de 12 de Maio de 1886. Protocolo de
23 de Janeiro de 1901. Tratado de Berlim de 30 de Dezembro
de 1886. Direitos reservados. Conferência de Berlim, 1885.
Convenção de 14 de Fevereiro de 1885 com a Associação In-
ternacional do Congo e convenções de 25 de Maio de 1891.
Direitos tradicionais. Tratado com a Inglaterra de 11 de Junho
de 1891, modificado pela sentença do rei de Itália, de 30 de
Maio de 1905.

Desde o século XVI era o coração da África conhecido dos


nossos exploradores e missionários, que sempre procuraram o
caminho do Congo e de Angola para a Abissínia. Sertanejos e
pombeiros trilharam estes territórios, levando o comércio até
às bacias do Cuango e do Cassai superior, à Lunda, ao Alto

196
Zambeze, à Garanganja, ao Jengi, ao Cuando e ao Cubango
inferior. A vasta zona de entre Angola e Moçambique passou,
com essas duas colónias, a constituir o sonho da criação duma
grande possessão de costa a costa.

Em 1628 D. Nuno Álvares Pereira, que por três vezes go-


vernou Moçambique, pediu que lhe fossem concedidas 400 lé-
guas de costa, desde Inhambane para a parte do Cabo da Boa
Esperança, como as capitanias do Estado do Brasil, podendo ali
fazer uma ou mais fortificações para conservação e segurança
do comércio. A convenção de 28 de Julho de 1817 com a
Inglaterra, adicional ao tratado de 22 de Janeiro de 1815, reco-
nhece Cabo Delgado como limite setentrional da colónia. Tra-
tado de 1869 com a República da África Meridional, sentença
de Mac-Mahon de 11 de Junho de 1875. O tratado limitava a
colónia também pelo oeste. Tratado com a Alemanha de 30 de
Dezembro de 1886, fronteira perdida em 1894, reintegrada
na posse de Portugal em 25 de Setembro de 1919. Fronteira
tradicional desde o meado do século XVIII, abolida em 1886,
restabelecida em 1894 e abolida em 1919.

Em 1824 o Conde de Subserra, nas suas instruções ao


Capitão-General de Moçambique, chama a atenção para os
progressos que os inglêses estavam fazendo no sertão, do Sul
para o Norte, penetrando em terras vizinhas de Rios de Sena
e concorrendo ao comércio e riqueza que até ali eram exclu-
sivo de vassalos portugueses. O conde de Basto, em 1829, nas
" instruções ao capitão Paulo J. M. de Brito, chamava a atenção
para a Companhia das índias Orientais da Grã-Bretanha, à
qual atribuía o projecto de se apoderar de Lourenço Marques,
pelo que recomendava que se criasse um estabelecimento em
Santa Luzia, para cobrir Lourenço Marques. Chamava também
a atenção do general para as explorações dos estabelecimentos
do Cabo da Boa Esperança pelo sertão.

197
Quadro de Silvino Vieira e José de Lemos, representando as
fronteiras de Angola e Moçambique, propostas em 1890, mas
que resultaram do tratado de 1891.

Neste quadro inscrevem-se as seguintes legendas:

Fronteira do tratado de 20 de Agosto de 1890, rejeitado


pelo parlamento em 15 de Setembro do mesmo ano.
Fronteira resultante do tratado de 28 de Maio de 1891
O que se ganhou com o novo tratado.
O que se perdeu com a rejeição do tratado.

N.° 1 — Factos e considerações relativas aos direitos de


Portugal sôbre os territórios de Molembo, Cabinda
e Ambriz — Lisboa, 1855.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 2 — La question du Zaire, Droits du Portugal — Memo-


randum da Sociedade de Geografia de Lisboa —
1883.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.* 3 — A statement of facts proving the right of the crown


of Portugal of the territories situated on the
Western Coast of Africa, laying between the fifth
degree and twelve minutes, and the eighth degree
of south latitude. Translated into english from the
original Portuguese of Viscount de Santarém.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial/

N.° 3-A — A questão do Zaire — Discursos proferidos na


Câmara dos Deputados em 1885, pelo deputado
Luciano Cordeiro — Lisboa, 1885.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 4 — Ofício do Ministro dos Negócios Estrangeiros, José


Vicente Barbosa du Bocage ao Ministro da Mart-

is
nha, Manuel Pinheiro Chagas, sobre limites para o
interior das fronteiras de Moçambique— 1885.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 5 — Delimitação de Manica— 1898-1899; relatório da


comissão de delimitação — Lisboa, 1899.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 6 — Ofício do Ministro dos Negócios Estrangeiros,


J. V. Barbosa du Bocage, ao Ministro da Marinha,
Manuel Pinheiro Chagas, propondo que se limitasse
a jurisdição de fiscalização consular do Governador
de Camarões — 1885.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 7 — Ofício do Ministro dos Negócios Estrangeiros, J. V.


Barbosa du Bocage ao Ministro da Marinha, Ma-
nuel Pinheiro Chagas, sobre a reunião em Paris, de
uma comissão encarregada de delimitar as posses-
sões francesas e portuguesas, tanto do Congo como
da Guiné — 1885.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 8 — Discurso pronunciado em 6 de Julho de 1840, na


Câmara dos Deputados por Alexandre Herculano
sôbre os limites da colónia portuguesa da Guiné.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N." 8-A — Retrato de Alexandre Herculano.


(Cedido pela Agíncia Geral das Colónias)

N.° 9 — Ofício de J. V. Barbosa du Bocage, Ministro dos


Negócios Estrangeiros, ao Ministro da Marinha,
Manuel Pinheiro Chagas, relativo à jurisdição, que
era pedida pelo govêrno alemão, do govêrno dos
Camarões sôbre os cônsules alemãis em territórios
portugueses de Moçambique— 1885.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

199
N* 10 — Ofício do Ministro dos Negócios Estrangeiros,
J. V. Barbosa du Bocage, ao Ministro da Marinha,
Manuel Pinheiro Chagas, devolvendo os ofícios do
cônsul de Portugal no Cabo da Boa Esperança,
C. A. de Carvalho, com informações sôbre a defi-
nição de limites de Moçambique e as possibilidades
de se estabelecer um protectorado de Portugal sô-
bre os matabeles— 1885.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial}

N.° 10-A — Carta original de Gago Coutinho com os itine-


rários de 1912-1913-1914 da Comissão de delimi-
tação de fronteiras de Angola.

N.° 11—A fronteira luso-alemã de Moçambique, por Au-


gusto Neuparth— 1908.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial}

N.° 12 — Fotografia do Presidente dos Estados Unidos da


América do Norte, Ulisses Grant, que arbitrou a
auestão de Bolama.
(Cedida pela Agência Geral das Colónias}

N.° 13 — Memorandum do comissário português António


Enes à delimitação das esferas de influência por-
tuguesa e britânica na África Central.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial}

N.° 14 — Memória sôbre Lourenço Marques, pelo Visconde


de Paiva Manso.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial}

N.# 15 — Cópia do Regimento para a conquista do reino de


Monomotapa, dada em 21 de Março de 1608 ao
Vice-Rei da índia, D. João Forjaz Pereira, Conde da
Feira.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial}

200
N.° 16 — Chegada ao Limpopo na junção de Pafuri no ex-
tremo da fronteira da missão portuguesa de deli-
mitação (fotografia).
(Cedida pela Agência Geral das Colónias)

N.° 17 — Confidencial do govêrno de S. Tomé ao Ministro da


Marinha, sôbre o protectorado do Dahomé — 1888.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 18 — Memória sôbre o estabelecimento dos portugueses


em Macau e na China, pelo Visconde de Santarém
— 1845.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 19 — Documento apresentado às Cortes, referente à


delimitação das possessões portuguesas e francesas
na África Ocidental — 1887.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 20 — Retrato do Presidente da República Francesa, Mac-


Mahon.
(Cedido pela Agência Geral das Colónias)

N.° 21 —Documentos apresentados às Cortes—-Questão da


Lunda — 1891.
(Cedidos pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 22 — L'hidrographie africaine au XIV" siècle d'apre les


premières explorations portugaises, par M. Luciano
Cordeiro— 1876.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 23 — Relatione del Reame di Congo et delle circonvicine


contrade, per Filippo Pigafetta. Traduzido dos es-
critos do capitão português Duarte Lopes e com
dois mapas portugueses do século XVI — 1591.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 24 — Ofício reservado de J. V. Barbosa du Bocage, Mi-

201
nistro e Secretário de Estado dos Negócios Estran-
geiros, a António Enes, sôbre os problemas de limi-
tes resultantes do ultimatum de 11 de Janeiro de
1890.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.* 25 — Ofício do Ministro dos Negócios Estrangeiros, co-


municando ao Ministro da Marinha a organização,
no gabinete daquele Ministério, dum serviço encar-
regado de colher elementos sôbre as contestações
de direitos de soberania e limites nas províncias
ultramarinas portuguesas—1885.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 26 — Ofício de J. V. Barbosa du Bocage, Ministro dos


Negócios Estrangeiros, ao Ministro da Marinha,
Manuel Pinheiro Chagas, sôbre os conflitos de limi-
tes existentes nessa época nas nossas colónias da
África Austral, e da organização de um mapa «côr
de rosa» que ligaria Angola a Moçambique— 1885.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 27 — Mapa «côr de rosa» publicado no periódico «As


Colónias Portuguesas», de António Augusto Fer-
reira Ribeiro, cinco dias antes do «ultimatum».
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.* 28 — Pasta com os seguintes documentos:


— Instruções para a missão do Barotze (Zambeze)
do capitão Paiva Couceiro— 1890.
— Ofício de que a missão é portadora, do gover-
nador geral de Angola, Guilherme Brito Capelo,
para o governador geral de Moçambique, de que
era portador o capitão Paiva Couceiro.
— Ofício do secretário do govêrno de Benguela ao
capitão Paiva Couceiro suspendendo a missão.

202
N.° 29 — Pasta com os seguintes documentos:
— Ofício e instruções para o serviço que substitue
a execução do mapa «côr de rosa», consistindo
na missão ao Mucusso, avassalamento dos sobas
respectivos e exploração do Cubango (Março de
1890).
— Ofício do capitão Paiva Couceiro, datado do
Forte Princesa Amélia (sobre o Cubango, 15 de
Outubro de 1890), dando conta da maneira
como as instruções foram cumpridas.

N.° 30 — Reprodução de um «mapa côr de rosa» organizado


em 1881.
(Cedida pelo Arquivo Hiitórico Colonial)

N.° 31 —Carta da África Meridional Portuguesa, (Comissão


de Cartografia), 1886, contendo o itinerário das
explorações portuguesas no continente africano,
desde 1798 a 1884.
(Cedida pelo Arquivo Hiitórico Colonial)

DIAPOSITIVOS

CONDE DE LAVRADIO

— Ministro plenipotenciário em Londres, sustentou, com


habilidade e energia, as razões de Portugal recusar a
renovação do protocolo secreto de 1817 e os direitos
da soberania portuguesa no Ambriz.

DUQUE DE ÁVILA E BOLAMA

— Encarregado de defender os direitos de Portugal, na


questão de Bolama submetida à arbitragem.

W3
DUQUE DE PALMELA

— Ministro de Portugal em Londres, em 1826, reclamou


contra o facto de, em Junho daquêle ano, o capitão
Owen, de nacionalidade britânica, se ter apoderado
do navio da mesma nacionalidade, «Eleonora», que,
no rio Maputo, havia sido apresado pelas autoridades
portuguesas. Este incidente foi um dos precedentes
da questão de Lourenço Marques.

VISCONDE DE PAIVA MANSO

— Defendeu os direitos da Coroa Portuguesa à baía de


Lourenço Marques. Levada, em 1871, a questão a
arbitragem do Presidente da República Francesa, Mac-
Mahon, a força das suas alegações jurídicas influiu
para o resultado da sentença, que reconheceu aquê-
les direitos, que a Inglaterra impugnava.

DELIMITAÇÃO DA FRONTEIRA DE MOÇAMBIQUE


(Comissão boer-portuguesa)

— (Vê-se Freire de Andrade).

HENRIQUE DE BARROS COMES

— Ministro dos Negócios Estrangeiros em 1886, no ga-


binete a que presidiu o conselheiro José Luciano de
Castro.
Ainda naquele ano, pretendendo resolver o problema
da fronteira do sul de Angola, entrou em negociações
com a Alemanha, terminadas pela convenção de 20
de Dezembro. Com a França tinha concluída anterior-
mente (12 de Maio) outra convenção. Acompanhou
a apresentação de ambas, em 1887, à Câmara dos

204
Deputados, a carta da África Meridional Portuguesa,
que ficou conhecida por «mapa côr de rosa», e contra
a qual reclamou em Agosto o governo britânico. Em
1 de Janeiro de 1890, o ministro da Inglaterra, George
Petre, entregava o «ultimatum» e o Ministério pedia,
em seguida, a demissão.

HINTZE RIBEIRO

— Não tendo encontrado quem relatasse o tratado de


Agosto, que Barjona de Freitas negociara com o Go-
vêrno britânico, em 1890, Hintze Ribeiro, ministro
dos Negócios Estrangeiros, solicitou a sua demissão, e
a de todo o Ministério.

BARIONA DE FREITAS

— Negociou em Londres um tratado de delimitação das


nossas possessões de África, tratado concluído em
Agosto de 1890. Barjona diligenciou obter o maior
número possível de vantagens. A especulação polí-
tica, porém, provocou o malogro dêsse tratado.

MARQUÊS DE SOVERAL

— Sugeriu ao rei D. Carlos I a viagem que o príncipe


real D. Luiz Filipe realizou às províncias últramari-
nas, com Aires de Orneias, ministro da Marinha e
Ultramar.
Prestou relevantes serviços a Portugal, no seu posto
de ministro em Londres, principalmente em 1891,
durante as negociações para o convénio anglo-luso.
Em 14 de Outubro de 1899 assinou com Salisbury a
declaração secreta anglo-portuguesa, que considerou
em pleno vigor os antigos tratados de aliança entre

205
Portugal e a Grã-Bretanha, sendo especialmente con-
firmados o artigo 1.° do tratado de 1642 e o artigo
final do de 1661.

DELECADOS PORTUGUESES A CONFERÊNCIA DE BERLIM

— Sentados: Luciano Cordeiro, A. de Serpa Pimentel e


Marquês de Penafiel.
De pé: Conde de Penafiel, Carlos Roma du Bocage e
Conde de S. Mamede,

ANSELMO BRAAMCAMP

— Presidente do Conselho, apresentou ao Parlamento o


protocolo e o artigo adicional ao tratado de 1879,
negociado por Andrade Corvo com a Inglaterra, acêrca
de Lourenço Marques.

CONDE DE MACEDO

— Assinou, por Portugal, o tratado de 25 de Maio de


de 1891, com a Bélgica, representada por Edmond
von Estevelde, relativo aos limites de Angola com o
Congo Belga.

MARQUÊS DE SABUGOSA

— Ministro da Marinha e Ultramar, no período da ques-


tão do Tratado de Lourenço Marques.

CONDE DE VALBOM

— Signatário, por Portugal, do tratado anglo-luso de


28 de Maio de 1891. Pela Inglaterra, assinou-o George
Petre, ministro em Lisboa.

206
DELIMITAÇÃO DA FRONTEIRA DE MOÇAMBIQUE-
-TRANSVAAL (Comissão portuguesa)

— (Vêem-se no grupo Caldas Xavier e Freire de An-


drade).

No ângulo da galeria, em frente do mapa que acabamos


de descrever, figura o busto do Rei D. Carlos I, do escultor
Maximiliano Alves, pertença da Agência Geral das Colónias.
Sendo príncipe real pensou um dia numa visita às colónias,
intento que só deixou de levar a efeito pela resistência que
lhe opôs Barros Comes, na ocasião ministro da Marinha e
Ultramar.
SECÇÃO VIII

Concepção portuguesa da hidrografia africana no século XVI

Mapa de João Augusto da Silva: «Concepção portuguesa


da hidrografia africana no século XVI: o grande Lago Central
que permitiria, por via fluvial, a travessia do Continente».
Contém as seguintes transcrições demonstrativas do velho
propósito da realização da travessia do Continente Africano:
«...porque El-Rey do Conguo me parece quer pôr em
hobra descobrir ho que a par este seu Ryo acyma...»
Carta de Baltasar de Castro, escrita do Congo a D. João III,
de 15 de Outubro de 1526.
«...Já, senhor, por outras fiz saber a Vossa Alteza que
huua das principaes causas por que me el-Rey de Conguo qua
deteve E me nam quys dar liçemça pelo lloguo me tornar foy
dizerme que querya mandar fazer dous brgantis acyma daquela
Entrada que ho Ryo tem para Eu dar aviamento a se daly Ir
descobryr o llaguo...»
Carta de Manoel Pachedo, escrita do Conguo a D. João III,
28 de Março de 1536.

207
«...Também determina Sua Magestade mandar conquystar
pela terra dentro e abrir caminho para as minas de Monomo-
tapa, terras de Moçambique, porque é o caminho mui breve
por esta parte...»
«Benguela e seu Sertão» — Manuel Cerveira Pereira —
1617-1622.

«...As províncias que eu entrei no descobrimento que


fazia para Monomotapa, por mandado de D. Manoel Pereira,
são grandes e mui ricas de mantimentos e muitos ryos; terra
mui fria e sádia, etc....»
«Terras e minas Africanas» — Baltasar Rebêlo de Aragão
— 1593-1631.

«...Tornando á cidade espedio-se Rui de Sousa pera este


reyno leixando-lhe pera a conversão dos pouos frey António,
que era a segunda pessoa depois de frey João, e outros quatro
frades: E assi algus homems leigos pera os acompanharem,
E outros pera entrarem o sertão da terra com algus naturaes,
como el-Rey Dom João mandaua, pera descobrir o interior
d'aquele grão reyno, E passarem alem do grão llago que dis-
semos...»
«Década 1.* da Ásia» —J. Barros liv. Ill, cap. IX.
«...Daqui ao reino de Monomotapa é perto, porque se não
metem no meio mais que dois reinos pequenos e é gente muito
mais capaz que esta de Angola...»
«Relações de Angola», do padre Diogo da Costa ao Pro-
vincial de Portugal—31 de Maio de 1586.
«...Sucedeu no governo de André Vidal de Negreiros
(1661-1666) ir um homem prático a descobir esta costa (de
Angola) por nome José da Rosa, por ver se achava notícia de
bôca de rio que entrasse para os de Cuama (Zambeze), etc...»
«História Geral das Guerras Angolanas» — Oliveira Ca-
dornega.

208
« ..Levava eu o grande projecto de unir as duas costas,
encaminhando para o Ocidente os riquíssimos canais de oiro
dos rios de Sena, obra a maior que pode fazer um vassalo por-
tuguês e obra extremamente fácil...»
D. Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho, Governador
de Angola — 1764-1772.

Êste mapa foi inspirado numa das cartas do Continente


Africano, que acompanham o livro de Felipe Pigafetta «Rela-
tione di Reami di Congo» — 1591, redigido em Roma sôbre as
informações do explorador português Duarte Lopes.

209
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ECONOMIA

ALGUMAS PALAVRAS SÒBRE


A OCUPAÇÃO ECONÓMICA

ÂO quero deixar de aceder ao gentil convite que me


dirigiu a Comissão Executiva da Exposição para
escrever algumas palavras que sirvam de introdução ao capí-
tulo do Catálogo que se refere à secção económica dêste
certame.
Parece-me que numa Exposição Histórica da nossa
ocupação ultramarina não pode deixar de figurar, em des-
tacado lugar, uma síntese da nossa actividade económica em
matéria de colonização.
Sabemos todos que lançando-se através dos mares à busca
de novas terras, Portugal não procurou apenas dilatar a fé e o
Império e obter os recursos materiais de que carecia. Â me-
dida que íamos realizando a ocupação militar e política dos
territórios descobertos ou conquistados, não descurávamos de
ourtos objectivos essenciais da colonização.
No domínio da economia não foi pequeno o esfôrço rea-
lizado. De coméço absorveram-nos preocupações comerciais,

211
mas sucessivamente a colonização interna foi-nos obrigando a
desbravar terras selváticas, transformar populações nómadas
em sedentárias, introduzir culturas, debelar doenças endémi-
cas, abrir estradas, construir linhas férreas, desassorear rios,
apetrechar portos.
Por certo esta verdadeira ocupação económica que reali-
zámos num esforço secular não teve o alcance, a importância
nem a extensão do que nesta matéria fizeram outras pode-
rosas nações colonizadoras, especialmente a Inglaterra. Mas,
por um lado a nossa escassez de recursos financeiros e técnicos
metropolitanos não permitiria um tal esforço e por outro, as
próprias condições naturais dos nossos territórios ultrama-
rinos o não justificariam.
Mas a-pesar-de ser modesta a nossa obra de fomento colo-
nial, a ocupação económica portuguesa foi-se desenvolvendo
dentro de um quadro a que não faltam sob o ponto de vista
de colonização comparada, certos elementos de originalidade
e de superioridade.
É bom não esquecer que nós procuramos, desde sempre,
na nossa política económica colonial defender três princípios
fundamentais: conservar a organização agrícola e familiar já
existente, aproveitando dos ensinamentos das práticas cultu-
rais e da tradição local; manter rigorosamente o direito de
propriedade dos indígenas, ressalvando os seus usos e costu-
mes e aceitando, dentro do possível, as suas organizações eco-
nómicas e sociais; admitir com a maior amplitude a inter-
venção da técnica e dos capitais estrangeiros, por vezes com
grave risco para a nossa própria soberania.
A economia colonial portuguesa tomou assim, a um tem-
po, uma feição agrária, humanitária e universalista. Como
seu factor dominante devemos destacar a tradicional colabo-
ração do colono com o indígena, êste orgulhoso de ser por-
tuguês e aquele absolutamente superior às diferenças de raça
ou de côr.
No momento que estamos atravessando, a nossa eco-

212
nomia colonial, sem perder as suas características seculares,
tem, a meu ver, outros objectivos fundamentais.
A ocupação económica, no nosso tempo, tem que ser
fatalmente precedida de uma séria ocupação cientifica e tem
que obedecer a um plano defenido da politica económica na?
cional. Dentro desta politica teremos, em primeiro lugar, de
caminhar gradual mas seguramente para a unidade econó-
mica da terra portuguesa, estabelecendo a solidariedade indis-
pensável entre os territórios metropolitano e o ultramarino,
como já foi estabelecido pelo Acto Colonial. Depois temos que
dar às colónias algumas compensações, comprando os seus
produtos, ligando-as por linhas de navegação à Metrópole e
fomentando a sua economia interna. Em seguida, temos que
realizar uma obra de verdadeira nacionalização económica,
defendendo a soberania portuguesa dos seus disfarçados ini-
migos externos, mas aceitando a colaboração estrangeira que
não tenha manifestamente propósitos políticos. Finalmente, a
ocupação económica do nosso Ultramar ficaria incompleta se
não resolvêssemos o problema da fixação dos colonos metro-
politanos nas colónias, problema êste que não é apenas demo-
gráfico mas também profundamente económico e social.

ARMANDO GONÇALVES PERE I RA

213
A PROPÓSITO DA EXPOSIÇÃO HISTÓRICA
DA OCUPAÇÃO

Um ensaio de estatística imperial

Sobre o comércio exterior, o» meio*


de comuriiceçSo e a Circulaç8o e o
Crédito, no Império Colonial Portu-
guês.
*A Estatística é a História em re-
pouso: A História a Estatística em
movimento.»
Frase citada no livro da Mirio Costa «Três
Épocas da Estatística» — 1936.

ENTILMENTE convidado, em Abril último, pelo


Ex.m° Agente Geral das Colónias a colaborar na orga-
nização da Exposição Histórica da Ocupação, mediante um
esquema que me foi presente, condicionei a minha modesta
colaboração às escassas possibilidades de ordem estatística
representadas pelas adequadas publicações de carácter oficial
existentes nos diversos departamentos do Estado e na Socie-
dade de Geografia.
Desejando apresentar em conformidade com o objectivo
primacial da Exposição, um trabalho estatístico de con-
junto, isto é, respeitante ao Império Colonial Português,
abrangendo o período mais recuado no século XIX, contra
minha vontade, rã ésse meu desejo — por absoluta carência
215
de elementos estatísticos apropriados, de carácter oficial —
limitado aos anos de 1901 (início do Século XX), de 1913 (vés-
peras da Grande Guerra, ou seja o último da normalidade
económica que a antecedeu) e ao período actual: 1930-934 e
1933 — o da maior intensidade da crise económica que, pre-
sentemente, começa a declinar, mercê, especialmente, da acti-
vidade armamentista que avassala o Mundo e da necessidade
de constituir «stocks» para a hipótese da 2." Grande Guerra.
Êste último período — o da actualidade — apresenta-se
por se contar, antecipadamente, com o natural desejo do visi-
tante da Exposição de poder verificar, comparativamente,
qual o grau do progresso realizado desde 1913 até à actuali-
dade. Assim se completa a apresentação estatística retrospec-
tiva com os elementos referentes ao quinquénio 1930-1934 em
publicação no «Boletim Financeiro da casa bancária do Pôrto,
Cupertino de Miranda & C.a»— e ao ano de 1933 — último
de que foi possível obter elementos mais completos.
Tendo em consideração o objectivo do presente Catálogo
— delimitando o espaço destinado a cada colaborador — sou
forçado a concretizar ao máximo o tema que me foi distri-
buído. Na pequena série de mapas estatísticos que se seguem
— dos quais se extractaram os necessários elementos que cons-
tam dos apropridos gráficos patentes na Exposição — julgo
ter correspondido ao mesmo tema, pelo que deixo à interes-
sada curiosidade do leitor a sua interpretação que, noutra
ocasião, me esforçarei por realizar, mediante mais dilatadas
possibilidades de tempo e de espaço.

Lisboa, 28 de Maio de 1937.

F. RIBEIRO SALGADO

216
O COMÉRCIO ESPECIAL DO IMPÉRIO COLONIAL PORTUGUÊS
excluídos os valores monetários e fiduciários

(no início do Século XX — nas vésperas da Grande Guerra — e na aclualidade) MAPA N.» i

IMPORTAÇÃO (a) EXPORTAÇÃO (b) POSIÇÃO RELATIVA DE CADA COLÓNIA


COLÓNIAS Antes da Grande Guerra Na actualidade Antes da Grande Guerra Na actualidade Importação Exportação
19OI 1913 Média do quin- 1935 19OI 1913 Media do quin- 1935 1901 ■9i3 1930/34 1935 1901 1913 1930/34 i935
quénio 1930/934 quénio 1930/934

Cabo Verde (a) 2.358.987 2.147.270 5.7726.599 51.012.221 1.762.449 1.253.442 35.117.287 3I.5I3.225 8,99 5,6i 5,83 5.81 7>79 4,00 5,85 5,i8
Guiné 504.249 1.628.009 24.917.746 26.063.5o5 348.572 1.485.245 3o.o52.5o3 28.925.029 1,92 4,25 2,52 2
,97 1,54 4,73 5,oi 4,76
S. Tomé e Principe (g). . . . 2.478.643 3.726.027 22.655.790 17.021.901 5.700.768 10.169.296 30.970.215 31.836.170 9*4 9,74 2,29 ',94 25,21 32*2 5,i6 5,24
Angola, (d) 4.098.374 6.049.1ÍP 18.4338.539 164.484.750 4.836.179 5.582.024 225.237.370 221.964.123 .5,6i 15,8i l8,6l '8,74 21,38 '7,8o 37,55 36,52
Colónias na África Ocidental ■ 9.440253
. 13.550.501 289.638.674 258.582.377 12.647.968 18.4C0.007 321.377.375 314.238.547 35,96 35,41 29,25 29,46 55,92 58,95 53,57 51,70
Moçambique:
Administ. do Estado (a) . . . 3.755.780 8.382.973 288.344.1 249.812.671 1.126.263 2.147.160 i3o.og6.8i 1 152.203.087 i4,3i 21,go 29,12 28.46 4,98 6,85 21,69 25,04
» da C.' Moçambique 2.oo3.i68 2.823.3I6 82.726.522 42.199.510 542.010 2.818.455 31.975.743 28.249.491 7,63 7,38 8,36 4.82 2*0 8,99 5,33 4,65
África Oriental Portuguesa ■ ■5.758.948
• 11.206.289 371.070.711 2923)12.181 1.668.273 4.965.615 162.072.554 180.452.578 21,94 29,28 37,48 33,28 7,38 15,84 27,02 29,69
Índia 2.943.772 129.159.017 116.266.135 543.624 1.020.403 24.462.959 21.048.662 6
*7 7,69 i3,o5 13.25 2,40 3,25 4,08 3*6
Macau 9.185.998 10.136.561 194.633.232 205.021.109 7.607.338 6.416.826 84.446.533 87.790.773 34,99 26,49 19,66 23,36 33,64 20,46 ■ 4,08 '4*4
Timor 167.636 432.847 5.520.822 5.738.993 149.104 470.357 7.496.472 4.269.690 0,64 i,,3 o,56 o,65 0,66 i,5o 1,25 °l7'
Colónias no Oriente 11.052 355 13.513.180 329.313.071 327.026237 8300.066 7.007.586 116.405.964 113.109.125 42,10 35.31 33,27 37.26 36,70 25,21 19,41 18,61
Império Colonial Português (Esc.) 26.25i.556 38.269.970 990.022.456 877.620.795 22.616.307 31.363.208 599.855.893 607.800.250 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

(a) Compreende a importação para consumo e a reexportação estrangeira efectuada por intermédio da Metrópole nos anos de 1901 e 1913.
(b) Compreende a exportação nacional e nacionalizada e a reexportação colonial efectuada por intermédio da Metrópole.
(c) Inclue, igualmente, na importação e na exportação o valor dos combustíveis fornecidos à navegação transatlântica: 1.389:187 escudos em 1901; 939:242 em 1913; 32.237:83i em 1930/34
e 28.405:293 em 1935.
(d) Excluído o movimento do Circulo Aduaneiro do Congo, em 1913; por não ser conhecido. No Volume III da «Informação Económica sôbre o Império» avalia-se a exportação total
de Angola em 6.144:243 e a importação em 6.273:949, no ano de igi3.
(e) Excluído o movimento do território administrado pela extinta Companhia do Niassa, nos anos de 1901 e igi3. Em igt3 exportou 354:449 e importou 581:445 escudos.
(f) Por deficiência da sua estatística aduaneira o «comércio especial», de Macau, confunde-se com o «comércio geral». Em igi3 inclue o movimento monetário.
(») Não tendo sido possível obter elementos estatísticos referentes ao ano de 1913, da colónia de S. Tomé, lança-se mão da estatística aduaneira respeitante ao ano de 1914.
OS PRINCIPAIS PAÍSES FORNECEDORES E CLIENTES DO IMPÉRIO COLONIAL PORTUGUÊS
excluídos os valores monetários e fiduciários

(no início do Século XX — nas vésperas da Grande Guerra — e na actualidade MAPA N. 2

IMPORTAÇÃO EXPORTAÇÃO (a) POSIÇÃO RELATIVA DE CADA PAÍS


Designação dos paises
principais fornecedores e clientes Antes da Grande Guerra Na actualidade Antes da Grande Guerra Na actualidade Como fornecedor Como cliente
do Império Colonial Português Média do quin- Média do quin-
1901(b) >9'3(b) quénio ig3o/g34 1935 1901 1913 quénio I93o/93.| ig35 1901 1913 I930/34 ig35 1901 igi3 1930/34 1935

Alemanha (e colónias até 1914) • • 2.IO3.853 5.639-256 56.447.511 42.410.346 3.028.975 3.110.775 47.354.o3l 40.694.307 8,01 '4,74 5,70 4,78 '3,39 9,92 7,89 7,00
Bélgica e Congo Belga 281.762 750.278 24.642.388 24.369.794 588.057 990.788 99.874.803 111.984439 1.07 >,96 2
49 2,75 2,61 3,i6 i6,65 1842
Brasil 49.422 8.173 279.178 347.207 178 36 7°7 0,02 0,02 o,o3 0,04
China (c) 3.211.496 2.326.36o 48.261.783 47.047.285 2.961.519 2.310.057 30.779.409 3i.65i.786 19,85 6,08 4,87 5,3o i3,og 7,37 5,i 3 5,21
Dinamarca 1.623 12.475 472.756 527.906 28.000 1.190.259 3.600.873 6.36i.53i 0,01 o,o5 o,o5 0,06 0,12 3.80 0,60 i,o5
Espanha e possessões 13.574 34.756 775.024 1.175.973 188.068 31.027 2I2.IOO 102.129 o,o5 0,09 0,08 0,13 o,83 0,I0 0,04 0,02
Estados U. da América do Norte . 476.082 840.988 49.788.647 44.286.036 742.137 1.527.855 l3.l6g.359 16.377.865 1,81 2,20 5,o3 4,99 3,28 4,87 2,20 2,69
França e Colónias 585425 810.943 i2.oi5.o36 10.013.627 535.679 1.012.378 38.2o5.i68 23.941.128 2,23 2,12 1,2' ','3 2,37 3,23 6,37 3-94
Holanda e Colónias 242.446 619.205 38.795.5i 1 35.310.774 9i5.o35 4.416.994 38.457.076 29.114.230 0,92 1,62 3,92 3.98 4,°5 14,08 64' 4,79
Inglaterra e Irlanda do Norte, sò-
mente 4.841.242 7-351.797 148.362.581 101.654.678 4.349.005 1.821.695 14.227.612 9.564.135 1844 19,21 '4-99 "45 19,23 5.81 2,37 ',57
Dominios e Colónias ingle-
sas (c) 6.925.162 11.824.693 334.614.307 286.227.288 5.812.570 6.516.949 107.835.178 111.001.855 26,38 3o,90 33,8o 32,24 25,70 20,78 17,98 18,26
Itália e Colónias 94-'37 258.223 6.445.252 2.975.981 88.714 1.155.475 6.981.632 9.875.393 o,36 0,68 o,65 0,34 o,3g 3.68 1,16 1.62
Japão 18.169 2.197.310 31.848.992 281.539 264.972 o,o5 0,22 3,59 0,11 0,04
Noruega 1 272,671 2.33o.855 2.084.248 367496 I.6I3.436 2.388.981 o,7' o,23 0,23 ','7 0,27 o,39
1 154.343 1.647 o,5g 0,01
Suécia 233.937 4.999.542 3.3gg.o38 57.900 327.064 567.599 0,66 o,5o o,5o 0,18 o,o5 0,09
Não especificados e navegação (d) 282.779 675.073 41.919.802 40.42S.493 1.718.145 1.684.' 78 39.964.088 35.935.270 1.08 1,76 4,23 4,33 7,60 5,37 6,60 5.63
Totais para os paises estrangeiros 21.283.446 31.697.097 772.247.483 674.104.666 20.957.719 26.194.262 442.884.075 429.825.590 81,07 82,82 78,00
75,94 92,67 83,52 78,83 70,72
Colónias Portuguesas 619.866 1.401.416 24.495.469 18.774.985 429.402 1.671.288 13.412.961 11.539.955 2,36 3,66 2,12
3,66 1,90 5,33 2,24 1,00
Portugat metropolitano (e) 4.348.244 5.171.457 193.279.504 184.741.144 1.229.186 3497.658 143.548.857 166.434.705 16.57 13,52 21,94
18.34 5,43 11,15 23,93 28,38
Totais gerais da Imp. e da Exp... 26.251.556 38.269.970 990.022456 887.686.769 22.616.307 31.363.208 5g6.855.8g3 607.800.250 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00
Valor médio anual da £ esterlina. 6#>35 5#>2i,3 IC>9#>36 I I05>00 6#>35 5#>2i,3 IC>9#36 I lOj&OOO

a) Inclue os valores da reexportação colonial efectuada por intermédio da Metrópole.


b) Inclue os valores da reexportação estrangeira efectuada por intermédio da Metrópole.
c) Os valores referentes à comparticipação de Macau não correspondem à realidade por englobarem, sob a rubrica «importação e exportação para a «China» e «Hong-Kong», todo o movi-
mento oriundo e destinado a paises estrangeiros.
d) Nesta rubrica, «navegação», inclue-se o avultado movimento dos combustíveis fornecidos à navegação transatlântica, por Cabo Verde, sòmente notados na importação pelas estatísticas
da Colonia.
e) Os valores referentes à comparticipação da Metrópole não condizem com os anotados nas estatísticas aduaneiras coloniais por se encontrarem deduzidos dos valores respeitantes à reex-
portação dos produtos coloniais e dos produtos estrangeiros, em 1901 e igi3, efectuada por intermédio da Metrópole.
A EXPORTAÇÃO DAS MAIS VALIOSAS MATÉRIAS PRIMAS E SUBSTÂNCIAS AUMENTARES PRODUZIDAS NO IMPÉRIO COLONIAL PORTUGUÊS

(no início do Século XX — nas vésperas da Grande Guerra — e na actualidade) MAPA N.® 3

QUANTIDADES EXPORTADAS VALORES EM ESCUDOS

No período anterior Indices-números No período anterior Posição relativa de cada


Designação dos principais produtos Na actualidade Na actualidade produto
exportados a Grande Guerra Antes da G. Guerra à Grande Guerra
Unidade Na actualidade Percentagens sòhre os totais
igoi igi3 Media do ig35 I9OI 1913 Media do
quinq.® 1930-^ I93o/34 i935 1901 I9l3 quinq." 1930-4 • 935 19OI 1913 ig35

Gado bovino Cabeça 540 6.016 8.323 9.674 00,00 1.114,07 1.541,3o 1.791*8 13.35o 92.918 4*92.948 4.096.767 0*6
De origem IOO.OO
animal ... Quilo 4.029.478 4.464.079 14499.484 12.975.840 89*9
Peixe seco e salgado (a) 00,00 > 10,79 164.594 201.690 16*75.557 15.366.253 1,34 1.00
240,56 202,75
Açúcar 1.942.027 34.062.952 90.854.997 101.617.206 00,00 1.753,99 4.678,36 5.232,53 i63.i52 2.331.022 58.23*120 74.288.884 .,33 1*59
Café 7.898.368 6.793.078 13.387.007 12.408.832 00,00 86,00 169*3 157,11 1.122.067 1.439.731 49.023.14135.051.920 9,12 7,16
Milho 3.441.360 13.839.256 88.660.921 55.937.819 00,00 402,12 2.576,18 1.625,36 89.599 287.396 4*502*37 26.648.629 0,73 1*2
Uc vegetal 33.355.o66 11.157.466 11.124.824
Cacau 14.927.879 00,00 223,44 74,74 74,52 4.179.806 7.I72.OO2 23.793.02522.517*53 33,97 35,65
<C8*-> 2.628.145 11.204000 27.571.160
'St Castanha de cajú 1.200.950 00,00 218,84 932,93 2.295,78 38.771 87.467 6.814.88011.097.512 0,32 o*3
-OD
C/D \ Cocos (fruto) . . Numero 21.723.602 36.280.044 31.241.630 22.874.823 00,00 167,01 143,21 1O5,23 202.418 499-794 7.367.553 4.689.793 1,65 2*8
mineral, Sal comum . . . Quilo 15.014.813 27.408.011 23.524.884 24.486.606 OO.OO 182,54 156,68 I63,O8 72.575 60.317 2.552.581 2.046.387 0,59 o,3o
Coiros bovinos . 339.121 627489 1.104.203 1.147.856 OO.OO 185,o3 325,61 338*8 68.647 222.38o *971.582 5.001.403 o,56 1,11
animal .
Cera 845.673 1.224.440 1.360.409 1.420.102 147.15 160,87 167,93 5II 434 659.840 10.408.05112.193.416 *16 3*8
Tabaco 1.059 61.692 408.715 547.636 5.875*3 38.928,57 Ô2.i55,8I 298 io.63i 790.257 869.362 o,53
Sisal em fibra. . 11.089 358.oo5 i5.38i.39o 23.941.948 00,00 3.228*7 138.708,54 215.907,18 459 16.519 21.957.52031.917.362 0,82
Algodão em rama 78.O58 324.823 2.492.614 4.266.816 00,00 416.16 3.193,28 5.466,21 9.263 79.689 11.769.84819.388.187 0,08 0*0
Amendoim . . . 10.676.431 18.067.776 48.797.574 46.819.961 00,00 169,23 457,o6 438,54 340.190 830.189 37.755.59748.630.682 2,76 4.1 3
Copra i.267.585 5.612.148 28.408.632 36.837.443 00,00 442,74 2.241,16 2.906,11 65.053 348.446 2*256.1 1726.642.875 o,53 ',73
vegetal Coconote .... 6.095.067 11.650.377 2o.83o.ioi 21.962.761 00,00 191,14 341,75 36o,34 i6/.757 889.987 18.090.38816.292.883 i,36 4A*
Oleaginosas não especificadas 4.538.915 13.106.584 11.234.554 12.192.770 00,00 288.76 247,53 2(58,63 136.021 424.804 8.127.917 8.988.008 1,11 2,11
l Palma. 407.0 !7 951.477 5.163.700 3.346.627 00,00 233.77 1.268,67 822*3 32.654 96.593 7.622.822 4.809.843 0,27 0*8
Óleos vegetais .
( Outros. 7.215 20.202 2.192.373 1.112.964 00,00 280,00 3o.386,32 i5*55,7i 1.483 2.600 *655.944 1.340.624 0,01
Borracha 2.720.907 3.852.80 1 27.205 152.370 00,00 141,60 1,00 5.67 3.325.916 2.366.625 66.197 2*4.065 27,o3 ">77
Madeira em bruto.... 1.522.273 1.985.452 2.144.231 3.866.272 00,00 127,91 i38,i3 249,00 44-277 61.932 939.004 1.718.003 o,36 o,31
Ouro em pó ou pepita . Grama 18.000 222.118 ioo.i83 262.849 00,00 1.233,99 556.56 1*60,27 8*33 104.631 '-477-934 3.88i.658 0,07 0,52
mineral ( Diamantes Carat 372.765 471.134 126,38 62.358.964 70.169.359
f Carvão de pedra .... Quilo 4.176.369 5.620.444 134,58 361.179 401.825
Produtos não mencionados 1.546.439 1.828.084 37.226.632 12,55 7,89
Valores totais da exportação nacional (a) . . 12.304.656 20.115.287 485.519.785 100,00
Valor médio anuaI da £ esterlina fí$35 5S21,3 110S00

(a) Nos anos de 1901 e igi3 não se indicam as quantidades e os valores referentes à Colonia de Macau.
(b) Nos anos de 1901 e 1913 não se incluem, neste avaliação, os valores referentes à Colonia de Macau, cuja produção nacional é constituída pelo peixe pescado, assim como pelo Cimento produzido
na Ilha Verde.
A EVOLUÇÃO DOS PRINCIPAIS MEIOS DE COMUNICAÇÃO EXISTENTES NO IMPÉRIO COLONIAL PORTUGUÊS

— O desenvolvimento quilométrico das vias de comunicação terrestres mapa n.« 4

LINHAS TELEGRÁFICAS E TELEFÓNICAS (a) CAMINHOS DE FERRO ESTRADAS


COLÓNIAS 1935 ig35
i858 '879 1913
1890 1896 1900 1910 i9i3 1888 1890 1895 1900 1910 1913 1900 1935
Quiló- Esta- Quiló- Linhas (b)
metros ções metros

Cabo Verde 7 11 11 3i8 38 70 216 366


Guiné i65 283 903 24 2.759
S. Tomé e Príncipe IOI l32 i3 '4 d) 19 I 18 c) 70 309
Angola 692 i.5og 4-151 4.594 8.575 I57 60 140 3oo 364 97' 1.104 2.318 4 1.654 10.000 34.434
Moçambique 3g5 1.146 2.532 3.711 5.423 15.636 193 34 89 171 428 537 565 1.740 7 i.854 c) 12.000 28.558
índia 35 35 296 3oo 390 5o5 599 83g 96 82 82 82 82 82 82 82 1 354 c) 400 525
Macau 46 I34 7 i3 i3 i3
Timor 45 955 1.758 7^ 12 967
Império Colonial Português 35 35 691 2.138 4.483 8.543 12.012 28.295 600 176 311 553 874 1.590 1.765 4.159 i3 3.975 24.599 67.931

II — Movimento marítimo (longo curso e cabotagem) nos portos ultramarinos testas de linhas férreas internacionais

(no início do Século XX — nas vésperas da Grande Guerrra — e na actualidade)

ENTRADAS SAlDAS VALORES EM CONTOS


ANOS PORTOS
Número Tonelagem Tonelagem
da carga
Passageiros Número Tonelagem Tonelagem Passageiros Da carga Da carga Total
de navios de arqueação desembaicada desem- de navios da carga
de arqueação desembarcada desem- desembarcada embarcada da carga
barcados barcados movimentada
Lourenço Marques 3io 630.248 142.060 8.55o 3o6 640.655 g.3o8 7.105

III
Beira 280 423.615 21.460 4.148 281 427.U9 5.643 4.556 c) 4.235 c) 2.3oo 6*535
Mormugão 874 176.342 7.613 '75 171.519 12.364

Lourenço Marques 559 2.481.190 372.873 7.300 556 2475.274 576.012 5.762 29.624 3.753 33.377
1913 Beira 534 1.023.021 136.942 3.593 529 991.843 82.923 2.804. l5.678 11.298 26.976
Mormugão 1.088 345.339 120.318 19.167 1.149 350.439 192.265 9.926 3.565 U.363 14.928

Lobito 3a3 1.532.629 16.010 322 1.544484 58.047 48423 55.084 io3.5O7
Lourenço Marques 955 5.377.846 693.492 25.125 958 5J95.994 555.562 25.816 1.247446 205.173 1452.619
i935
Beira 696 3.780.018 327.760 4.743 701 3.775.999 55o.651 5.015 384.595 930.667 1J15.262
Mormugão 853 786.397 222.112 8.85o 909 794429 248-377 7.822 io8.58o 126.078 234.658

a) As extensões das linhas telefónicas existentes em ig35 eram as seguintes: 3i8 quilómetros em Cabo Verde; i3a em S. Tomé e Principe; 5.318 em Moçambique; i34
b) São desconhecidas, oficialmente, as extensões das estradas existentes em 1913 nas colonias de S. Tomé, Moçambique, India e Timor, pelo que os números apre-
sentados são meras estimativas estatísticas. Na Guiné nao existiam estradas em 1913; fazia-se uso, especialmente, das suas numerosas vias fluviais.
c) Estimativa.
d) Para serviço das diversas roças existem 676 quilómetros de «decauville»
A CIRCULAÇÃO E O CRÉDITO

A acção dos Bancos emissores do Império Colonial Português


(Nas vésperas da Grande Guerra e na actualidade) MAPA N.° 5

BANCO NACIONAL ULTRAMARINO BANCO IMPÉRIO


Designação DE ANGOLA COLONIAL POR-
das principais operações Cabo Verde Guiné S. Tomé e Príncipe Moçambique índia Macau Timor Totais Gerais (c) TUGUÊS
efectuadas
igi3 1915 1913 1935 I9l3 1935 1913 i935 I9'3 ig35 igi3 tg35 1913 1935 igi3 ig35 1927 1935 igi3 1935
Valores em contos:
Movimento geral 13.628 615.329 11.972 1.095.479 49-797 338.587 158.711 18.387.417 29.182 2.717.947 12.909 2.012.577 3.o37 334.075 279.236 25.O5I.35I
» de caixa 2 o55 86.619 2.780 209.506 9-3'7 85.i56 70.061 3.939.562 2.o3l 462.362 2.587 453.023 947 8i.g85 93.248 5.3i8.2i3 1.148.887 i.o5o.565 6.368.778
» de depósitos.. 5i 11.362 3
77 22.753 1.190 29.820 31.278 917.428 383 117.840 1.608 178.242 100 41.961 34.987 1.319.406 397.605 637.122 1.956.528
Circulação fiduciária 332 9-377 68 9.162 376 2.126 1.280 93.23I 600 67.173 106 9.884 4-777 2.762 195.730 37.969 39.500 235.23o
Cambiais descontadas ... 94 1.002 242 '97 5 57 1.519 141.008 128 44.823 388 19.128 38 3.836 2.414 2IO.O5I 35.776 '4-399 224.450
Saques emitidos 295 5.041 244 15.479 916 g.2o3 2.108 255.664 582 73.396 209 5o.566 .78 2.699 4.552 413.048 137.289 328.807 741.855
Letras descontadas 5oi 3.55o 207 2.950 4.184 9-'79 2.566 40.603 i65 14.902 196 2.3O8 3 1.195 7.822 74.687 61.398 36.6o8 111.295
Letras a receber 286 8.076 94 . 8.320 454 6.412 3.oo6 95.53I 92 14.398 3o 7.070 81 2.689 4.043 142.41; 6 41.598 37.756 180.252
Empréstimos efectuados
ás actividades económi-
cas 1.448 19.871 792 1 9.185 4-388 12.254 io.58i 281.930 201 40.702 i.2 5O 9.526 II 3.202 18.671 386.670 d) 132.890 d) 133.169 519.839
Valores em milhares de
rupias e patacas: a) a) b) b) b) b)
Movimento geral 81.513 33I.459 22.258 191.674 5.236 3o.5og
» de caixa 5.673 56.386 IO.O99 43.145 1.632 7-847
» de depósitos.. 1.070 14.371 2.772 16.975 '77 3.832
Circulação fiduciária.... 1.678 8.192 184 94' 436 -
Cambiais descontadas ... 357 5.466 669 1.822 65 35o
Saques emitidos 1 1.625 8.951 361 4.816 307 246
Letras descontadas 460 1.817 339 220 5 IO9
» a receber — - 25g 1.756 5i 673 140 246
Empréstimos efectuados . 562 4964 2.155 907 '9 292
Quantidades (N.° de:)
Cambiais descontadas ... 1.827 1.040 36 27 3
4 22 1.179 5.592 328 1 i.5oi 244 I 223 55 212 3.703 19.617 - 2491 1.196 20.813
Saques emitidos 838 3.i66 1.098 4.001 2.5lO 2.562 11.296 35.422 2.507 8.346 1.531 5.02I 993 1.397 20.793 59.928 26.737 78.376 I38.3O4
Letras descontadas 1.257 1.039 182 113 3.421 1.334 4.183 3.g32 566 2.844 1.142 318 '4 149 10.765 9.729 5.962 6.194 15.923
» a receber 2.493 4-556 609 1.976 2.221 2.598 10.352 I8.3I5 23 1 3.167 180 343 116 490 16.196 3I.545 9-235 12.703 44.148

a) Rupias; b) Patacas; c) Os elementos fornecidos reportam-se sòmente ao ano em que o Banco iniciou a sua acção e ao ano de 1935 — o último a que se refere o trabalho em que se intregou o presente mapa.
d) Êste agrupamento concede as seguintes operações: Adiantamentos sobre Consignações e sôbre Letras, Contas-Correntes e Empréstimos Caucionados e Descontos (letras e câmbios).
SECÇÕES IX e X

Comércio exterior
SECÇÃO XI

Agricultura e Pecuária

Tábua de Aurora Severo relativa a operações comerciais


realizadas sobre açúcar, gado bovino, couros, tabaco, café. si-
sal, milho, algodão, cacau, castanha de cajú, coco e amendoim.

Nas vitrinas encontram-se as seguintes espécies:

N.° 1 Minuta sobre a introdução do tabaco na China.


17 de Agosto de 1730.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 2 — Apontamentos fito-geográficos — Espécies de vege-


tais que compõem a flora da Província de Angola.
Pelo Dr. Frederico Welwitsch — autógrafo. — 1858
(Publicados nos Anais do Conselho Ultramarino,
Série I, Fevereiro de 1854 a Dezembro de 1858,
pág. 527).
(Cedidos pelo Arquivo Histórico Colonial)

No 3 Relação de livros e utensílios de agricultura que se


devem enviar para a colónia de Mossâmedes.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

|sj0 4 Ofício do Governador Geral de Moçambique, João


Tavares de Almeida, que trata da cultura do algo-
dão e remete à consideração e aprovação do Rei a
Portaria relativa a êste assunto. Moçambique, 20
de Setembro de 1862.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

|sj o 5 Frutas e sementes de que se pode tirar vantagens,


extraindo-se-lhes o óleo, por Manuel Luiz de Sousa.
Lisboa, 28 de Abril de 1856.
N o 5_a Memória sôbre a indústria da cana sacarina no

219
distrito de Mossâmedes, pelo Governador do Dis-
trito, Fernando da Costa Leal — 1867.
(Cedidos pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 6 — Relação das madeiras que se criam nas Ilhas de


S. Tomé e Príncipe, por Francisco da Silva Brandão
— 1848.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 7 — Memória sôbre a agricultura da Ilha do Príncipe,


por joaquim José de Sousa Osório— 1857.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 8 — Memória sôbre a cultura do algodão, por Manuel


José Coelho de Freitas, no engenho de Santa Ana,
no distrito de Icolo e Bengo, a 28 de Fevereiro
de 1852.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 9 — Ofício de Sá da Bandeira sôbre a introdução nas


Ilhas de Cabo Verde da árvore de «argan», que
cresce em Marrocos e dá excelente comida para o
gado — 1855.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 10 — Ofício do Governador de Timor, José Maria Pereira


de Almeida, com as medidas que imagina para inci-
tar os povos da colónia à cultura do café e do
algodão. Dili, 24 de Janeiro de 1864.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 11 —Aforismos acêrca da fundação de Jardins de acli-


matação na Ilha da Madeira e em Angola, na África
austro-ocidental, oferecidos ao Covêrno de S. M.
pelo Dr. Frederico Welwitsch. Lisboa, 23 de Se-
tembro de 1852.
(Cedidos pelo Arquivo Histórico Colonial)

220
N.° 12—Representação do Conselho Ultramarino, sôbre a
conveniência da fundação de jardins de aclimata-
ção em Angola e na Ilha da Madeira, conforme o
estudo do Dr. Frederico Welwitsch. Lisboa, 9 de
Novembro de 1852.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

DIAPOSITIVOS

— Roça Boa Entrada (S. Tomé).


— Aspecto do Dande (Angola).
— Fazenda prototipo (Cazengo).
— Fazenda Bom Jesus (Rio Cuanza).
— Trabalhos agrícolas (Mossâmedes).
— Embarque de gado (Mossâmedes).
— Estufa de cacau (S. Tomé).
— Fazenda agrícola (Quelimane).
— Fazenda agrícola no Mahinde (Quelimane).
— Fazenda Michaúne (Quelimane).
— Trabalho de lavoura (Buzi).
— Plantação de sisal (Nameduro).

SECÇÃO XII

Vultos da Economia

Na parede um quadro dos «vultos da economia», de Maria


Amélia de Mesquita Cardoso, sôbre dados de Amadeu Cunha:
A. Sárrea Prado — Fêz em 1875 reconhecimentos
para construção da linha férrea entre Luanda e Am-
baca; foi um dos componentes da brigada de enge-
nheiros enviada a Angola, chefiada pelo oficial de
Engenharia Rafael Gorjão.

221
A. Silva Gouveia — Depois de ter, como piloto, via-
jado nos mares de África, da índia e das Américas,
fixou-se na Guine, onde fundou a maior casa co-
mercial portuguesa, concorrendo assim para a na-
cionalização do comércio desta Colónia.
Adolfo Loureiro — Primeiro engenheiro que estu-
dou os problemas do pôrto de Macau.
Assis Bélard — Um dos iniciadores da grande cul-
tura em S. Tomé e Príncipe (1855-1875).
l.° Barão de Água-lzé— A sua actividade acha-se
associada ao início da grande cultura em S. Tomé e
Príncipe. (1855-1875).
Bernardino F. F. de Abreu e Castro — Chefiou e
instalou em Mossâmedes os primeiros colonos por-
tugueses provenientes de Pernambuco, assumindo
a direcção da colónia. Sá da Bandeira consultou-o
sôbre assuntos da extinção da escravatura e da colo-
nização no sul de Angola.
F. Mantero — Um dos agricultores que em S. Tomé
desenvolveram as obras de assistência indígena.
Guilherme de Arriaga — Pioneiro zambeziano, con-
temporâneo de Paiva de Andrada e de Paiva Ra-
poso. Fundou a Companhia Colonial do Búzi
(1898).
Henrique M. de Mendonça — Um dos agricultores
de S. Tomé que deram impulso à obra social de
assistência ao trabalhador indígena.
Jerónimo J. Carneiro — Sendo capitão de marinha
mercante, adquiriu em 1864, no Príncipe, as suas
primeiras propriedades, formando, dêste modo, o
núcleo da fazenda do Sundy. Trabalhou durante
vinte e seis anos como agricultor.
João Baptista e Silva — Governador de S. Tomé e
Príncipe, introduziu em 1800, naquela província, a
cultura do cacau.

222
José Ferreira Comes — Introduziu em 1822, na
ilha do Príncipe, a cultura do cacau.
M. da Costa Pedreira — Nome ligado ao período
(1855-1875) do início da grande cultura em
S. Tomé e Príncipe.
Mariano Machado — Fêz ocupação, como na Ma-
canga (1885, distrito de Tete) e colonização. Ini-
ciou na Zambézia plantações; construiu o caminho
de ferro de Quelimane e Maquival, iniciou a explo-
ração das marinhas de Namenumo; criou no Chinde
uma secção de transportes fluviais; fundou, no
Chire a Vila Bocage e Chilomo-Português e foi um
dos animadores do caminho de ferro de Benguela,
principal factor do povoamento português do pla-
nalto.
Marquês de Vale-Flôr — Agricultor em S. Tomé, o
seu nome ficou ligado a empreendimentos de assis-
tência ao indígena.
Mateus de Sampaio — Fêz a ocupação pacífica da
região dos Angolares, na ilha de S. Tomé.
Sousa Lara — Estabeleceu, em 1903, no vale do
Cupororo, a primeira fábrica de açúcar em Angola,
fundida posteriormente com a companhia do
Dombe Grande, também sua criação; fundou, ain-
da, em 1920, a Companhia do Açúcar de Angola.
Visconde do Alto Dande — Manuel Pereira Guedes,
um dos pioneiros desta região, num tempo em que
a infestavam a mosca do sono e as incursões das
aguerridas tríbus dos Dembos. Fundou em 1891 a
«Fazenda Tentativa», onde as fôrças de Ribeiro
de Almeida acamparam e se reabasteceram para os
primeiros combates travados às portas de Caxito,
na região do Sassa.

223
Nas vitrinas da secção expõem-se:

N.o 1 — «Dezoito anos em África», notas e documentos para


a biografia do conselheiro José de Almeida — 1898.
N.° 2— «O Sul de Angola», suplemento de 4 de Agosto de
1892, contendo a relação nominal dos colonos saí-
dos de Pernambuco para Mossâmedes em 1849-
-1850.
N.° 3 — Alguns colonos da África portuguesa (fotografias).
N.° 4 — Resumo histórico dos melhoramentos pedidos, es-
tudados ou realizados no pôrto de Lourenço Mar-
ques, desde 1874 até à actualidade— 1895.
N.° 5 — Melhoramentos públicos na Ilha de S. Tomé, por
Ezequiel de Campos.
N.° 6—«1.° Barão de Água Izé», traços biográficos pelo
Dr. Manuel Ferreira Ribeiro.
N.° 7 — Relatório agrícola, social e económico sôbre a Ilha
do Príncipe, pelo Governador A. J. da Fonseca
(1.° Visconde de Santa Margarida).

DIAPOSITIVOS

A. DOS SANTOS GIL

— Figura da primeira colonização de Angola, contem-


porânea de Silva Pôrto.

CUSTÓDIO J. DE SOUSA MACHADO

— Pioneiro, agricultor e comerciante no Malanje.

GABRIEL FERNANDES DA SILVA

— Velho agricultor do Príncipe.

224
COMES NETO

— Fundador da Emprêsa Nacional de Navegação.

HENRIQUE BENSAÚDE

— Fundador da Emprêsa Nacional de Navegação.

J. A. LOPES GALVÃO

— Dirigiu a construção dos Caminhos de Ferro da Suazi-


lândia, começado em 1905, da Polana (1911), da
doca sêca de Lourenço Marques, e a reconstrução do
cais dêste pôrto. Fêz parte da conferência económica
e ferroviária de 1906, em Pietermaritzburgo.

J. ROMA MACHADO

— Colonial, ligado ao desenvolvimento agrícola da Zam-


bézia.
PEDRO COMES

— Fundador da Emprêsa Nacional de Navegação.

SIR ROBERT WILLIAMS

— Organizador do projecto do Caminho de Ferro de


Benguela.

SIR R. WILLIAMS E UM DOS CONSELHOS DE ADMI-


NISTRAÇÃO DA COMPANHIA DO C. F. DE BENGUELA

— Sentados: E. F. Pinto Basto, R. Williams, general


J. J. Machado.
De pé: D. M. Lane, E. Madeira Pinto, João J. Pereira.

225
GENERAL TEÓFILO DA TRINDADE

— Iniciou a carreira colonial como director das obras


públicas da Companhia de Moçambique. Governou
em 1902 os territórios de Manica e Sofala, tendo
construído a muralha de defesa da cidade da Beira.
Foi ministro das Colónias.

1.° VISCONDE DE SANTA MARGARIDA

— Governador do Príncipe, quatro vezes, de 1865 a


1880, tendo organizado e feito medir algumas roças
do Estado. Deixou diversos relatórios, um dos quais
sôbre a flora e a fauna daquela ilha.

SECÇÃO XIII

Indústrias

Na parede uma tábua de Hugo da Costa Pereira, intitu-


lada: «Indústrias, matérias primas, exploração florestal e mi-
neira, substâncias alimentares, pesca e salinas».

Nas vitrinas da secção expõem-se:

N.° 1 — Ofício de Sá da Bandeira ao Governador de Cabo


Verde, para que êste remeta ao Conselho Ultra-
marino «uma porção (duas ou três arrobas) do
mineral a que na Ilha do Fogo chamam salitre».
Lisboa, 24 de Janeiro de 1855.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)
N.° 2 — Sur un sable titanifére de 1'ile portugaise de San-
tiago, de I'archipel du Cap-Vert, por M. R. D. Silva
— 26 de Julho de 1867.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

226
N.° 3 — Relação das participações de descobertas de jazi-
gos minerais na Província de Angola, registados no
livro competente da Secretaria do Governo Geral
de Angola— 1855 a 1863.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 4—Indústria de tecidos de algodão em Mossâmedes.


Ofício do Governador do distrito, Fernando da Costa
Leal, de 22 de Agosto de 1863; acompanha o re-
querimento do tecelão Luiz José de Oliveira.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 5 — Mapa da zona aurífera descoberta em Angola por


Francisco António Flores—1867.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 6 — Ofício do Governador de Angola, Manuel Bernardo


Vidal, ao Barão do Bonfim, acêrca da grande por-
ção de urzela, que se descobriu na Província.
Luanda, 19 de Março de 1838.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 7 — Ofício do Governador de Angola, Manuel Bernardo


Vidal ao Barão de Bonfim, pedindo mineiros para a
extracção do salitre e ouro na Província. Luanda,
19 de Março de 1838.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 8 — Extracto da correspondência havida sôbre as minas


de carvão de pedra situadas em Rios de Sena, à dis-
tância de 8 léguas da Vila de Tete— 1841 a 1845.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

M.° 9 — Relação dos jazigos de minas de ouro, ferro e car-


vão de pedra conhecidos nos distritos de vila de
Tete e seus sertões, na Província de Moçambique.
(Cópia).
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

227
N.° 10 — Memória resultante do inquérito industrial em Ti-
mor, pelo tenente-coronel Frederico Leão Cabreira,
Governador da Capitania— 1842.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial>

DIAPOSITIVOS
— Salinas (Cabo Verde).
— Grupo de pescadores (Mossâmedes).
— Tôrre do Tombo (Mossâmedes).
— Preparando o algodão (Angola).
— Fábrica de arroz (Moçambique).
— Poço de uma mina (Moçambique).
— Secagem de sisal (Moçambique).
— Salinas (índia).

SECÇÃO XIV

Circulação e Crédito

Na parede, tábua de Nazaré, indicando as principais ope-


rações efectuadas pelo Banco Nacional Ultramarino no Im-
pério Colonial Português.

DIAPOSITIVOS
— Filiais do Banco Nacional Ultramarino.
(18 aspectos).

SECÇÃO XV

Comunicações

Na parede, tábua de Hugo da Costa Pereira relativa a por-


tos, caminhos de ferro, estradas, telégrafos e telefones do
Império Colonial, indicando para cada um as quilometragens
totais existentes.

228
DIAPOSITIVOS

— Estação do Caminho de Ferro de Luanda.


— Viaduto (Caminho de Ferro de Ambaca).
— Estação de Zenza (Caminho de Ferro de Ambaca),
— Estação de Ressano Garcia.
— Ponte de Arvolen (índia).
— Edifício dos Correios (Macau).

SECÇÃO XVI

Carreiras de navegação

Na parede, quadro de Silvino Vieira e José de Lemos


acêrca das «Comunicações marítimas das colónias africanas»,
indicando armadores, cabos submarinos e frota da Emprêsa
Nacinal de Navegação até 1914.
Nesta secção encontram-se diversos modelos de barcos de
longo curso e cabotagem da frota da Companhia Nacional de
Navegação e da Companhia de Moçambique:

N.° 1 — Vapor «Portugal», mandado construir pela Em-


prêsa Nacional de Navegação, na Inglaterra, em
1899.
Comprimento 111,25 metros
Largura 13,71 metros
Altura 5,79 metros
Tonelagem de registo ... 3,998 tonel.
Destinado à carreira da África Ocidental para carga
e passageiros, escalando nas suas viagens os portos
do Funchal, S. Vicente, Praia, Príncipe, S. Tomé,
Cabinda, Santo António do Zaire, Ambriz, Luanda,
Novo Redondo, Benguela, Mossâmedes, Pôrto Ale-
xandre e Baía dos Tigres. Inaugurou em 1903 as

229
carreiras regulares e mensais para a África Orien-
tal, após o contrato provisório celebrado com o
Govêrno para aquelas carreiras, que foi tornado
definitivo em Novembro de 1905 e assinado pelo
então Ministro da Marinha Dr. Moreira Júnior.
(Cedido pela Companhia Nacional de Navegação)

N» 2 Vapor «Zambézia», mandado construir pela Em-


prêsa Nacional de Navegação, na Inglaterra, em
1903.
Comprimento 67,50 metros
Largura 10.50 metros
Altura 3,35 metros
Tonelagem de registo 1.281 tonel.
Destinado ao serviço de cabotagem na África
Oriental, para carga e alguns passageiros, ali per-
maneceu até 1917. Devido a uma explosão de gaso-
lina que havia carregado, inutilizou-se, e foi afun-
dado na baía de Lourenço Marques com dois tiros
de peça disparados pelo cruzador «Adamastor»
a-fim-de extinguir o incêndio que ameaçava maio-
res calamidades.
(Cedido pela Companhia Nacional de Navegação)

N.® 3 —Vapor «Zaire», mandado construir pela Emprêsa


Nacional de Navegação, na Inglaterra, em 1893.
Comprimento 103,63 metros
Largura ..., 12,80 metros
Altura 5,48 metros
Tonelagem de registo 3.227 tonel.
Destinado à carreira da África Ocidental, para car-
ga e passageiros, na qual se manteve durante 29
anos, escalando, na ida e no regresso, os portos do
Funchal, S. Vicente, Praia, Príncipe, S. Tomé, Ca-

230
binda, Santo António do Zaire, Ambriz, Luanda,
Novo Redondo, Benguela, Mossâmedes, Pôrto Ale-
xandre, Baía dos Tigres. Conduziu várias expedi-
ções para a colónia de Moçambique e entre elas,
em 1895, a que tomou parte na campanha contra
o Gungunhana. Em 1897 conduziu da Índia para
Lisboa a expedição comandada pelo Infante
D. Afonso.
(Cedido pela Companhia Nacional de Navegação)

N.* 4— Vapor «Bolama», mandado construir pela Emprêsa


Nacional de Navegação, na Inglaterra, em 1899.
Comprimento 60,96 metros
Largura 9,14 metros
Altura 3.96 metros
Tonelagem de registo 985 tonel.
Destinado às carreiras da Guiné, para carga e pas-
sageiros, escalando, na ida e no regresso, os portos
de S. Vicente, Praia, Bissau e Bolama. Deixou a
carreira da Guiné em 1903 e seguiu para a África
Oriental, inaugurando ali o serviço de cabotagem
entre Lourenço Marques e o Tungue, onde se man-
teve até 1911.
(Cedido pela Companhia Nacional de Navegação)

N.° 5 — Vapor «Chinde», da Emprêsa Nacional de Navega-


ção.
(Cedido pela Companhia Nacional de Navegação)
N.° 6 — Draga «Pungue», da Emprêsa Nacional de Nave-
gação.
(Cedido pela Companhia Nacional de Navegação)

N.° 7 — Vapor «Luabo», mandado construir pela Emprêsa


Nacional de Navegação, na Inglaterra, em 1909.
Comprimento 73,15 metros
Largura 10,50 metros

231
Altura 5,79 metros
Tonelagem de registo 1.385 tonel.
Destinado expressamente para a cabotagem na
colónia de Moçambique, ali a tem exercido desde
1909 até à presente data, em viagens quinzenais
entre Lourenço Marques e o Tungue, extrêmo
norte daquela colónia, escalando em tôdas as via-
gens, na ida e no regresso, os portos de Inham-
bane, Beira, Chinde, Quelimane, Angoche, Mo-
çambique, Pôrto Amélia, Ibo e Tungue. Durante o
período da Grande Guerra foi êste vapor mobili-
zado pelo Govêrno e armado em transporte de
guerra desde 1914 até 1918, exercendo a fiscali-
zação e transporte de tropas no norte da colónia,
entre Moçambique e o Tungue, tendo também to-
mado parte nas operações para a tomada de
Quionga.
(Cedido pela Companhia Nacional de Navegação)

— Vapor «Príncipe», mandado construir pela Emprê-


sa Nacional de Navegação, na Inglaterra, em 1898.
Comprimento 33,52 metros
Largura 6,90 metros
Altura 2,40 metros
Tonelagem de registo 214 tonel.
Destinado ao serviço de cabotagem em volta da
Ilha de S. Tomé, onde permaneceu durante 5 anos;
em 1903 foi para a África Oriental, para o serviço
de cabotagem entre Lourenço Marques e Chai-
-Chai, actual vila João Belo; regressou a Lisboa em
1906 e foi vendido à corporação dos pilotos da
barra de Lisboa, destinado ao serviço de pilotagem
daquela corporação, que realizou até há poucos
anos.
(Cedido pela Companhia Nacional de Navegação)
1M.0 9 — Vapor «Dondo», mandado construir pela Emprêsa
Nacional de Navegação, na Inglaterra, em 1908.

Comprimento 109,72 metros


Largura 14,93 metros
Altura 5,18 metros
Tonelagem de registo 3.978 tonel.

Construído para carga, fêz carreiras para a África


Ocidental (S. Tomé e Príncipe) e algumas viagens
à África Oriental. Fêz também várias viagens à
América do Norte e à Inglaterra, principalmente
durante o período da Grande Guerra, conduzindo
carregamentos de trigo e carvão para abasteci-
mento do país. Foi vendido em 1925, para a
Grécia.
(Cedido pela Companhia Nacional de Navegação)

Nas vitrinas expõem-se as seguintes espécies:

N.° 10 — Estudos e reconhecimentos para aproveitamento e


exploração dos rios M'Brige, Cunene, Cuango,
Pungué Bungo, Lucala, Bengo, Zenza, Locunga,
Loge, etc.—Govêrno de Paiva Couceiro em An-
gola, 1907-09.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 11 — Planta e relatório, referentes à Ponte Pinheiro Cha-


gas, sobre o rio Lucala— 1886.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 12 — Ofício do Governador Geral de Angola, Guilherme


Augusto de Brito Capelo, participando a inaugura-
ção da ponte Pinheiro Chagas, sôbre o rio Lucala
— 1887.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

233
N.° 13 — Relação estatística dos serviços telegráficos em
Angola — 1897-1907.
(Cedida pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 14 — Traçado do prolongamento «Lucala-Malanje» do


caminho de ferro de Malanje— 1908.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 15 — Estradas da capitania-mor de Mossuril — 1901.


(Cedidas pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 16 — Mapa das estradas do distrito de Benguela — 1909.


(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)
N.° 17 — Estradas do distrito de Inhambane— 1899.
(Cedidas pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 18 — Regulamento dos serviços telegráficos da Provín-


cia de Angola, aprovado por decreto de 18 de
Agosto de 1898.
(Cedido pelo Arquivo Histórico Colonial)

N.° 19 — Tipo de lancha a vapor usada na exploração dos


rios ultramarinos—1908.
N.° 20 — Estradas reais da índia— 1896.
N.° 21 —Pirmeira atracação na ponte cais do Saco do Ciraul
(Mossâmedes) —2 de Agosto de 1908.

23k
NUM ISMÁTICA

MOEDAS COLONIAIS

SECÇÃO XVII '

A vida social da humanidade a moeda é o estalão


comparativo por que materialmente se afere o valor
de tôdas as coisas — é ela própria aquela coisa a que todos
reconhecem um determinado e constante valor.
Assim, no estado actual da nossa civilização, a moeda é
representada pelos metais — ouro, prata, cobre — e vulgar-
mente sob a forma de pequenos discos, caracterizados por
uma uniformidade pràticamente perfeita, a que anda ligado
um valor imutável. Porém, como è intuitivo, nem sempre
assim foi. Antes das moedas tal como hoje correm, fabricadas
pelos engenhos que lhes imprimem uma igualdade absoluta,
eram elas irregulares, batidas a martelo, e antes destas, lingo-
tes puncionados, que haviam sucedido ao metal em barra, ou
então apresentado sob forma de objectos de uso doméstico
(já estamos na fase pré-monetária), como trempes, caldeiras
ou machados, de que falam os poemas homéricos, contando-
-nos que assim eram avaliadas as multas antigas... e ainda
anteriormente havia a pecunia viva (moeda animal), bois, car-

235
neiros ou ovelhas. Tão grande e importante foi o uso que esta
primitiva amoeda» desempenhou na sociedade de então, que
a nossa linguagem está cheia de vocábulos que a recordam:
tais como, capital de capita, cabeça de gado, pecunia de pecus
ou gado, pecúlio de peculium que significava apequeno reba-
nho» e que tê-lo era então uma pequena fortuna, etc., etc.
Esta breve evocação do passado tem apenas por fim escla-
recer, por um paralelo do tempo no espaço, o emprêgo dos
variados objectos que ainda há décadas, e não séculos, cor-
riam no interior das nossas Colónias, como aliás ainda hoje
acontece em certas regiões menos civilizadas.

*
* *

Dentre tôdas as nossas Províncias Ultramarinas foram as


da tndia as que primeiro tiveram moeda própria, o que aliás
fàcilmente se explica pelo valor excepcional que desde o
momento da sua posse elas tiveram para nós.
A importância económica resultante da posse do Brasil,
não se fêz sentir logo de inicio como a da índia, por isso que
a Província de Santa Cruz só mais tarde teve moeda própria.
Outro tanto sucedeu às possessões africanas, cujo inte-
rêsse, por ordem cronológica, se pode dizer que sucedeu ao
do Brasil.


• •

As moedas da índia portuguesa foram cunhadas em vá-


rias cidades do Oriente. E, como pelo seu afastamento se bas-
tavam a si próprias em matéria económica, tendo cada qual
as suas moedas privativas, se devem por isso constituir tantas

230
séries quantas as oficinas que as lavraram. Eis a sua enume-
ração por ordem cronológica:

a) Goa
b) Malaca
c) Cochim
d) Ceilão
e) Baçaím
f) Damão
g) Chaúl
h) Diu.

A esta relação deve acrescentar-se que além dessas cunha-


gens privativas de cada qual, por vezes se batiam as moedas
numa cidade para terem curso noutra, ou ainda se lavravam
para correr simultaneamente em duas cidades de que osten-
tavam, a par, as suas iniciais, em regra ladeando o escudo
nacional: como vemos em peças de Chaúl e Baçaim ou Damão
e Baçaím.
Embora o agrupamento destas moedas por oficinas mo-
netárias seja a mais aconselhável disposição numismática, a
raridade dos exemplares que constituem esta série (e até
mesmo para os colectores menos experimentados a dificul-
dade de os destrinçar a qual pertencem) leva a agruparem-se
estes espécimes simplesmente pelos reinados em que foram
emitidos, ordem esta que aliás é a mais geralmente se-
guida.

• •

Ligada à série monetária da India portuguesa existem


umas peças a que se não pode deixar de fazer referência: os
primitivos «portugueses» que El-Rei D. Manuel mandou ex-
pressamente lavrar — de ouro puro e dum tamanho até então

237
nunca visto em moeda — para o almirante D. Vasco da Gama
levar na sua armada e mostrar às gentes da índia, como a
moeda do Rei de Portugal.
Foram pois, estas, as primeiras moedas portuguesas que
correram na índia, e da admiração que elas causaram no
Mundo, nos dão notícia os cronistas do tempo.
Outros «portugueses» mandou el-rei lavrar em Lisboa
quando do regresso da primeira frota que viera da índia em
J
499, e onde o novo título do soberano pela primeira vez
se lê: Rei de Portugal e dos Algarves, Dàquem e Além Mar
em África, Senhor da Guiné, e da Conquista, Navegação e
Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e índia.

A série das nossas moedas da índia contrasta singular-


mente com as demais pela irregularidade do tipo — tôsca-
mente batido a martelo. E deve notar-se o caso muito curioso
das moedas serem, no correr dos tempos, cada vez mais im-
perfeitas.
Dir-se-ia que os moedeiros indígenas dessas longínquas
paragens não eram susceptíveis de aperfeiçoamento na sua
arte!
Na verdade, não há comparação, sob êsse ponto de vista,
entre as que se bateram no alvor do século XVI, em tempo
do Rei Venturoso, e as que tardiamente se forjaram no sé-
culo XVIII, e até mesmo no século XIX!

a) GOA.

De todas as cidades da índia portuguesa, foi Goa a pri-


meira que teve oficina monetária e cunhou moeda própria.
Não admira que assim fosse porque desde sempre e dentre
todas as nossas cidades do Oriente, foi essa a que mais impor-
tância teve. A i residiram, de todos os tempos, os governadores
e vice-reis da índia. Por isso a oficina monetária de Goa

238
foi a única que, para assim dizer, ininterruptamente cunhou
moeda desde o tempo da sua conquista em iyio, até 1869, em
que o seu labor foi suspenso, por virtude duma convenção
monetária com a Inglaterra.
Eis como um cronista do tempo — Gaspar Correia — nos
conta a resolução que Afonso de Albuquerque tomou de
cunhar moeda em nome do Rei de Portugal.

«£ porque na terra corria a moeda do Sabayo, que nom


era bem, pois a terra era d'ElRey nosso senhor, sôbre éste caso
maginando o governador (Afonso de Albuquerque), fez ajun-
tamento dos capitães e fidalgos que erão pera ysso, e ante
todos prepôs a rezão, dizendo: Senhores nobres capitães e
fidalgos, leaes vassalos d'ElRey nosso senhor, bem vedes que
esta he a primeyra cidade e terra que EIRey nosso senhor tem
ganhado, e sua izentamente, e está sob seu senhorio, e estará
em quanto Nosso Senhor fôr servido; e porque assy he, nom
parece rezão que nesta sua cidade corra moeda alhea, senão
a sua própria, de suas ensinias, que corrão nesta cidade e por
todas partes pera os estranhos d'ella se aproveitarem; e por-
que bater nova moeda he tamanha cousa, que eu o nom pode-
ria fazer senão por seu especial mandado, com as mostras da
moeda de sua vontade, mas porque o tempo ha de ser longo
pera lhe fazer saber, que já nom viria sua resposta senão
daquy a dous anos, o que nom compadece a necessidade tanto
tempo esta cidade e povo estar sem moeda corrente d'ouro, e
prata, e de cobre miúda, pera a compra da praça, e paga-
mentos destas gentes que trazemos no trabalho das obras, as
quaes rezões todas vos apresento, pera que me deys vossos
pareceres, se he bem, e serviço de Sua Alteza bater nova
moeda nesta nova sua terra. O que todo ouvido pelos capi-
tães e fidalgos todos affirmaraõ que era bem que se fizesse...
Então disse o Governador que mandaria fazer a moeda, e
feita lha mostraria, porque se a todos parecesse boa a man-
daria solemnizar com pregões.

239
«Então o Governador falou com alguns homens ourives,
que entendiaõ da liga d'ouro e prata, e com ourives e camba-
dores da terra, que o muyto entendiaõ. Avia na terra pardaos
d'ouro... e huma moeda de prata boa, a quem chamavaõ bar-
ganym... e huma moeda de cobre, a que chamavão bazaruqos...
que todo o Governador mandou fazer e alealdar, e se fez
cruzados d'ouro de sua justa valia de quatrocentos e vinte
réis, em que poz de huma banda a cruz de Christus, e de outra
huma espera, que era a divisa d'ElRei Dom Manuel; e man-
dou que êste cruzado cambado valesse na terra quatrocentos e
oitenta réis, porque nom corressem pera fora, provendo da
gente a que avia de pagar cada mês, a um homem, hum cru-
zado de mantimento que lhe EIRei mandava pagar; e man-
dou lavrar moeda de prata, que era da valia de hum bargany;
fez moeda em que de huma parte pôs um A grego e da outra
a espera, e pôs nome espera, que valia dous vinteis, e meas
esperas, que valiaõ hum vintém; e nos bazarucos o propio pêso
que tinhaõ, com o A e espera; e de cada bazaruco fez quatro
moedas, a que chamavão cepaiqua, e aos bazarucos pôs nome
leaes; que pola conta destas moedas o cruzado se gastava na
contia de quatrocentos e oitenta réis.
«E tendo assy feitas estas moedas, todo visto e justificado
com o Timoja e Cojebequi, e os principaes e antigos da ci-
dade, toda ouveraõ por muy boa. Então a mostrou aos capi-
tães, que a todos pareceo muyto bem, indaque alguns mur-
murarão contra a letra do A, que era letra de seu nome; mas
não que ninguém lho faliasse; o que o Governador depois o
sabendo em pratica o fallou dizendo que na moeda baixa
posera letra de seu nome, porque se soubesse que fora elle o
moedeiro, e assy andaria até que EIRey mandasse o que fôsse
sua vontade. Então vendo que a moeda era aprazível a todos,
mandou pôr muyto delia em bacios de prata, cada huma
apartada, e com o Timoja e Cojebequi, com os tanadares e
gancares e com muyto povo, com muytos atabaqes e trom-
betas da terra, tangendo bacias e sestros segundo seus costu-

2W
7 8
mes e diante bailadeiras, e chocarreiros bradando e detrás as
trombetas, com a bandeyra real acompanhada da guarda do
Governador, e Tristão de Gá, e diante porteiro portuguez, e
da terra que por sua lingua apregoavaõ, dizendo que esta
moeda nova era d'ElRey nosso senhor, que mandava que cor-
resse em Goa, e suas terras, em suas valias que tinha. E aca-
bado o pregão Tristão de Gá deitava muytas mãos cheas por
cyma da gente que apanhavaõ ás rebatinhas; no que o Gover-
nador mandou assy despender mil cruzados polas principaes
ruas da cidade e arravaldes de que o povo ficou muy con-
tente, e EIRey, que por honra do Governador ouve por bem
que a moeda assy corresse, e correo em quanto elle viveon.

Do reinado de El-Rei D. Manuel vejam-se: o leal, de


cobre, que ostentava a Cruz de Cristo dentro de um círculo
dobrado; e no reverso igualmente num círculo a esfera (Vid.
Est. I, Fig. 1).

A meia esfera, de ouro, onde, dum lado, sob uma grande


coroa se lia MÉA dentro de um círculo pontuado, e do outro,
com igual cercadura uma «esfera» que ocupava todo o campo
da moeda (Vid. Est. I, Fig. s).

De D. João III apontaremos um exemplar do bazaruco


de cobre: dum lado um grande Y coroado; e do outro a cruz
de S. Jorge cantonada por quatro glóbulos, tudo dentro de
um círculo dobrado como no anverso (Vid. Est. I, Fig. 3).
Ainda que dum lavramento posterior veja-se o pardau de
ouro: escudo de Portugal ladeado por Io (João) e três peque-
nos anéis indicativos do numeral do monarca «terceiro». No
reverso a figura de S. Tomé sentado a direita com um bordão
(Vid. Est. I, Fig. 4).

D'El-Rei D. Sebastião deve notar-se o meio bastião; duas


flechas em sautor sob uma coroa, e dentro de um circuito gra-

24Í
nulado; escudo coroado de Portugal, tendo do lado direito a
letra A (restos das letras de GOA) (Vid. Est. I, Fig. 5). Esta
moeda foi lavrada pelo Vice-Rei D. Luiz de Ataíde, que revo-
gou com ela a ordem de D. Antão de Noronha que havia
proibido a cunhagem da moeda de prata. Aquele Vice-Rei
cunhou ainda S. Tomes de ouro. Dêste reinado temos tam-
bém os bazarucos.

No tempo de El-Rei D. João IV continuou-se o lavra-


mento das moedas com os tipos semelhantes às que os Felipes
haviam cunhado, porém substituindo a figura de S. Felipe
pela de S. João, e as respectivas iniciais. Em 1650 a Cruz da
Ordem de Cristo foi colocada nas moedas em vez da figura
do Santo. Isto no que respeitava às moedas propriamente de
Goa, pois que nessa mesma cidade se continuou a empregar
figura do Santo nas moedas que ai se fabricavam com destino
a outras cidades como Diu ou Colombo.

Para assim dizer, com pequenas diferenças continua a


moeda a bater-se nos reinados subsequentes, sendo especial-
mente de apontar que a primeira figuração, nestas moedas,
do busto real, se deu sòmente no reinado de D. João V e no
lavramento que teve lugar no ano de 1726. (Vid. o pardau
Est. I, Fig. 6). Essa ordenação estabelecia também a substi-
tuição do antigo xerafim pela rupia de dois pardaus. (Vid.
fig. 7 e dum lavramento posterior o n.° 8). Depois do que o
xerafim passou a valer sòmente um pardau ou meia rupia.
Dêsse mesmo reinado apontaremos ainda as curiosas
rodas de chumbo, que tinham dentro de um circulo dobrado
o escudo de Portugal, de coroa aberta entre as letras D-G
(De-Goa). E no reverso a roda de Santa Catarina — a Pa-
droeira de Goa (Vid. Est. II, Fig. 9).
No que respeita aos tipos, temos em 1728 uma nova reso-
lução, pela qual a figura de São Tomé ou a Cruz da Ordem
de Cristo, foram substituidas pela cruz de S. Tomé. Veja-se o

242
raríssimo exemplar do S. Tomé de dez xerafins, que dum lado
ostenta as armas de Portugal ornamentadas e no reverso a cruz
de S. Tomé entre a data 17-37; em volta a legenda: C.R. ...
5. D. — S. T. — M. E. (C R u S De S. T o M E) Ouro. Pesa
3,68 grs. (Vid. Est. II, Fig. 10).

Seguindo uma das raras leis da Numismática, qual seja a


das moedas antigas serem de melhor fábrica do que as poste-
riores a elas, temos isso bem patente no lavramento de ouro
que seguiu o dos S. Tomés de que acabamos de falar. Com
efeito, os S. Tomés resultantes da ordenação de 1762 (D. José),
do mesmo tipo dos anteriores, sendo de doze xerafins eram
ainda mais pequenos do que os de dez xerafins de D. João V,
pois o seu peso era de 4,89 grs., como o de que damos repro-
dução. (Est. II, Fig. 11).
De prata temos a rupia, o pardau, meio pardau e a
tanga. De cobre 60, 30, 12 e 6 réis. E de chumbo 13, 12, 10,
6, 4 e 2 bazarucos, do tipo de que damos reprodução sob o
número 12.
Nêste mesmo reinado, porém de emissões posteriores, são
as peças que embora mantendo, dum modo geral, o mesmo
tipo, têm contudo a novidade de trazerem a indicação do
valor: xerafins, rupias, pardaus e meios pardaus. (Vejam-se
as figuras 13, 14 e 15).

No reinado seguinte, de D. Maria I e D. Pedro III,


volta o desenho dos primitivos xerafins de D. José, em que o
valor era indicado por número e não por extenso como de-
pois o foi (Vid. Fig. 16).
Na moeda de ouro, além desta mudança, temos apenas o
escudo de Portugal que nos aparece muito mais floreado do
que o de D. João V.
É só na moeda de prata, que se vêem os bustos dos sobe-
ranos conjugados à direita — sendo esta a primeira vez que
nas moedas portuguesas (e neste particular na série da índia)

245
nos aparecem figurados os dois soberanos (Vid. Est. II, Fig.
17). É êste, com efeito, o elemento mais característico da pri-
meira fase monetária dêste reinado (Vid. Est. II, Fig. 18);
pois que na segunda, após D. Maria I ter enviuvado, volta a
representação simples do busto dessa soberana, por vezes tão
tôscamente lavrado, que dificilmente se dá conta que houve
a pretensão de representar uma Senhora! (Vid. por ex. o
pardau n.° 19, e ainda há pior!...)
Nêste capítulo do barbarismo dos gravadores indianos,
devemos aqui salientar o que noutro lugar dissemos: è que
essa pseudo-arte, em vez de se aperfeiçoar foi piorando!... São
disso testemunho flagrante as peças que apresentamos.

A seguir temos a distinguir no reinado de D. João VI, as


moedas lavradas como Príncipe Regente (1807-1818/19) e
como Rei (1818/19-1826). Nesta conformidade, a diferença
mais notável que existe entre essas duas fases monetárias é a
da representação das armas de Portugal: na primeira apare-
cemos o escudo real, ao passo que na segunda êle está assente
sôbre a esfera. (Vid. respectivamente as grav. n.°* 20 e 21).

Nos reinados subsequentes de D. Pedro IV e D. Miguel,


as moedas de prata seguem tal qual o mesmo titulo das de
seu pai — até mesmo as Armas de Portugal se encontram
ainda junto das do Brasil, muito embora a êsse tempo já a
independência da antiga Província de Santa Cruz houvesse
sido reconhecida. Só as moedas de cobre de D. Miguel é que
já tem o simples Escudo de Portugal coroado — sem esfera.

Nas moedas de D. Maria II nota-se um certo aperfeiçoa-


mento em relação às anteriores, porém, ainda batidas a mar-
telo e tôscamente. Vejam-se especialmente os dois tipos de
rupias, o xerafim e o pardau. (Vid. grav. n.M 22, 23, 24 e 25).
Deve ainda não esquecer-se que foi nêste reinado, e no
ano de 1841, que pela última vez se lavrou ouro na Casa da
moeda de Goa — o S. Tomé de 12 xerafins.

2U
As moedas do tempo de El-Rei D. Pedro V, salvo o nome
do soberano e a data, em tudo mais seguem os tipos das moe-
das anteriores.
No reinado de D. Luiz cunham-se, de 1866 a 1869, as
últimas moedas na oficina monetária de Goa. Depois do que
o Govêrno português encomenda à Casa da Moeda de Bom-
baim, em 1871, uma emissão de moedas de cobre dos seguin-
tes valores: tanga ou 60 réis; 1 /st tanga ou 30 réis, 1/4 de tanga
ou 13 réis, 10 réis, 5 réis e 3 réis. Moedas estas para correrem
não só em Goa mas em tôdas as outras cidades da índia
Portuguesa.
E finalmente, pela Convenção Monetária com a Ingla-
terra, em 1880, deixaram de correr tôdas as moedas lavradas
em Goa, e até mesmo as dessa emissão executada em Bom-
baim, para terem curso as novas moedas batidas, segundo
aquele convénio, nas cidades de Calcutá e Bombaim; tendo
os seus valores directa correspondência com o sistema mone-
tário inglês usado na índia.

b) MALACA.-

Malaca foi a segunda cidade da índia que teve Casa da


Moeda, e onde logo de início o grande Afonso de Albu-
querque mandou cunhar moeda de ouro, prata e calaim, tal
como o havia feito em Goa, mas ainda com maior cerimonial
no pregão dela.
Eis como uma testemunha do tempo, e de vista, nos relata
essa curiosa cerimónia:
O Governador (Afonso de Albuquerque) depois de ter
chamado os capitãis e lhe haver mostrado a nossa moeda de
ouro que El-Rei D. Manuel de Portugal mandara cunhar,
ordenou que ela fôsse apregoada, para o que a...mandou cha-
mar todos os bendarás regedores da cidade, que todos com o
Utemutarája, com seu filho e genro, e todos vestidos louçãos

215
com muyta gente, e em cyma dos alifantes alcatifas, que eram
onze todos em carreira hum atrás outro, e em cyma assen-
tados, que levavaõ bacias de prata de mãos em que levavaõ a
moeda, que era muyto fermosa. Detrás dos alifantes hia o alfe-
res com a bandeira real, com os capitãis e dozentos homens
de çoyça, com seus piques, atambor, e pífaro, e diante as
trombetas tangendo. E foram polas principais ruas da cidade,
em que hum porteiro portuguez apregoava: Esta he a moeda
nova que El-Rey Dom Manuel, nosso Senhor, mandou fazer
d'ouro, prata, calaym, pera com ella em esta populosa forta-
leza e cidade de Malaca todalas cousas se comprarem com ella,
e nom com outra nenhuma moeda; e quem outra moeda
tiver morrerá por ysso. Este pregão deitava hum portuguez,
e as próprias palavras fallava hum porteiro da terra em lingua
malaia, que entendido todas as outras gentes. O que acabado
tangião as trombetas, e de cyma dos alifantes deitavaõ por
cyma da gente a moeda espalhada, que apanhava quem que-
ria às rebatinhas; em que se gastaria três mil cruzados de
toda a moeda, de que a gente da terra fiquo muy espantada.
Com que se tornaraõ à fortaleza, em que o Governador fez a
todos muytas honras, com que os despediu todos muy con-
tentes...».
Destas primitivas moedas de Malaca apenas se conhecem
as de estanho: bastardos e soldos.
Nestas peças, lavradas pelo fundador do Império Por-
tuguês do Oriente — Albuquerque o Terríbil — claramente
se vê o piedoso sentimento cristão que animava os conquis-
tadores Portugueses na sua missão sagrada da expansão da
Pátria pela Cruz! E assim para a Pátria as conquistavam por
Deus! É o que se torna evidente nessas venerandas moedas,
cujas legendas se resumiam nesta frase: Crux Xpi spes nostre
única, (A Cruz de Cristo é a nossa única esperança), escrito
em volta dêsse sagrado símbolo; no reverso, uma esfera que
ocupava todo o campo da moeda — e nada mais, nem mesmo
o nome de Portugal, ou do seu Rei! (Vid. o «Bastardo»,

246
N.* 26 e o «Soldo», N.° 27, ou de emissão posterior àquele
outro o «bastardo» Est. IV N.# 28).
Desde então continuou Malaca a cunhar a sua moeda
própria, em nome dos soberanos, D. João III, D. Sebastião e
Felipes, (Vid. De D. João III, o ((bastardo», Est. IV, Fig. 29).
De D. Sebastião os «dois bazarucos», Fig. 30, e de D. Felipe
o «xerafim dobrado», Fig. 31' e a «tanga», Fig. 32, ambas
estas de prata), até que — pelo abandono a que estes votaram
as nossas possessões de além-mar — os holandeses se apode-
raram dessa histórica fortaleza em 1641.

c) CO CHIM

A cidade da índia portuguesa onde Vasco da Gama, em


1503, erguera uma fortaleza, teve também a sua oficina mone-
tária, cunhando moeda própria; porém, ainda hoje se não
sabe quando teve ela inicio.
Gaspar Correia nas afamadas Lendas da índia diz-nos
que em 1343 o Governador Martim Afonso de Sousa orde-
nou a fabricação de bazarucos semelhantes aos de Goa.
De 1368 conhece-se uma provisão do Vice-Rei D. Luiz de
Ataíde, em que se ordena o lavramento de moeda de ouro e
prata na cidade de Cochim. Todavia são peças que se não
conhecem.
Posteriormente mandou ainda o Governador António
Moniz Barreto, em 1377, bater em Cochim peças de 4, 2 e /
bazarucos de cobre, para correrem em Chaúl. Eis o seu tipo:
Escudo de Portugal dentro dum círculo granulado. Rev.:
Três flechas cruzadas e ligadas por um arco. (Vid. Est. IV,
Fig. 23). Lembraremos que estas flechas evocam as setas
com que foi martirizado D. Sebastião e que o Papa ofereceu
ao nosso monarca dêsse nome.
Como consequência da politica de abandono das praças
do Oriente, os holandeses apossaram-se de Cochim em 1663.
247
d) CEILÃO

O estabelecimento dos portugueses em Ceilão data dos


primeiros anos do século XVI. Desconhece-se, porém, desde
quando, ao certo, aí se estabeleceu casa de moeda. E, muito
embora a ela só tenhamos referências do comêço do sé-
culo X VII em diante, tudo leva a crer que, à semelhança do
que em nossas outras cidades da índia acontecia, em Colombo
como capital do Ceilão — se tivesse batido moeda no de-
correr do século XVI.
Do tempo do governador D. Jerónimo de Azevedo (1600-
-1614) sabe-se que êle cunhou moeda especial para Ceilão,
conhecendo-se uma tanga assim caracterizada:
Escudo de Portugal dentro dum círculo granulado.
Rev. Monograma das letras 7 A, igualmente num circuito
pontuado. (Vid. Est. IV, Fig. 34).
O mesmo aconteceu com a numária do governador Cons-
tantino de Sá de que se conhece um só exemplar da tanga.
D. Felipe III prossegue aqueles lavramentos semelhantes
na lei e tipo.
De D. João IV apontaremos uma tanga dobrada batida
em Goa para correr em Ceilão; assim nos indicam as marcas
monetárias: ao lado do escudo de Portugal as letras G-A
(GOA), dentro dum circulo de pontos. No rev. o monograma
TA (tanga) ladeado pelas letras D-S (De Seilão); por baixo
a data 1644. (Vid. Est. IV, Fig. 35).
Um símbolo de outra tanga evoca-nos o nome da forta-
leza que os portugueses levantaram em Colombo: a grade do
mártir S. Lourenço, que lhe dera o nome em memória do dia
em que Malaca foi conquistada, e é o em que a Igreja celebra
êsse afamado taumaturgo. Dum lado vê-se o escudo de Por-
tugal ladeado pelas letras G-A (GoA) dentro dum circulo
pontuado. Rev. a sobredita grade entre 16 — 45 igualmente
circundada de pontos. Moeda esta igualmente cunhada em
Goa para correr em Ceilão. (Vid. Est. IV, Fig. 36).

2ã8
Um novo tipo ainda nos aparece nas moedas de Ceilão.
É o que, tendo o anverso como o anterior, no reverso repre-
senta S. João em pé, à direita, levando um pendão com a Cruz
de Cristo. No campo C — I e em baixo 16 — 50. Em volta um
circulo de pontos. Prata. Tanga dobrada. (Vid. Est. V,
Fig- 37)-
A figura de S. João aparece-nos aqui nesta moeda em
homenaeem ao monarca português (D. João IV), tal como em
tempo dos Felipes se esculpia S. Felipe. Porém é aquela
moeda da última emissão dêsse tipo, posto que um decreto
de 1650 ordena que a figura do Santo seja substituída pela
Cruz de Cristo.
Para terminar lembraremos ainda que em Ceilão corriam
pequenos pedaços de ouro e prata, em forma de arames tor-
cidos e puncionados de caracteres persas, a que se chamavam
larins. (Vid. Est. V, Figs. 38 e 39).

e) BAÇAtM

A irregularidade da cunhagem da moeda em Baçaím, e a


escassez dos exemplares que dela nos restam, além da falta de
documentação a seu respeito, embora se saiba que teve Casa
de Moeda em 1611, faz com que se não possa determinar com
aproximação os lavramentos que aí tiveram lugar.
Não deixaremos todavia de apontar a curiosa roda
(moeda equivalente a 1 1/2 real), cuja descrição é esta: dentro
dum duplo círculo as Armas de Portugal bàrbaramente dege-
neradas, entre as letras B-B (Baçaym). No reverso a roda de
Santa Catarina. Chumbo, de 21/20 mm. de diâmetro e 3,79
gramas de pêso. (Est. V, Fig. 40).
Os jesuítas que tinham nas mãos o poder de Damão,
conseguem do Governo de Goa, em 1697, que Baçaim deixe
de cunhar moeda própria passando a recebê-la de Damão que
eles, para assim dizer, exclusivamente administravam.

249
Veja-se a roda de 10 bazarucos, que aos lados do Escudo
tem as letras D-B, as iniciais das cidades onde haviam de cor-
rer (Damão e Baçaim). No reverso vê-se claramente a roda
de Santa Catarina, a Padroeira da cidade de Goa — capital
do Oriente — em memória do dia em que a Igreja festeja
essa Santa, e foi o da tomada daquela cidade: 25 de Novembro
de 1510. (Vid. Est. V, Fig. 41).

f) DAMÃO
As primeiras moedas que em Damão se cunharam foram
bazarucos de cobre, por alvará de Rui Lourenço de Távora,
datado de 22 de Agosto de 161 /. Eis a sua descrição: O escudo
de Portugal ladeado por V — B (cinco bazarucos) e ao redor a
letra: F.R.E.X. P..R.T.V.G. (Filipus Rex Portugalli#). No
Rev. a Cruz do Santo Sepulcro cantonada por quatro rosetas e
em volta a legenda: 161 (I) P.D....F.A. (Vid. Est. V, Fig. 42).
E como o valor dessa moeda deveria ser o do próprio
metal, apenas deduzido o seu feitio, queixou-se o comércio do
prejuízo que ela lhe causava, por isso foi essa concessão sus-
pendida em 161^.
No último quartel do século XVII lavraram-se ainda
bazarucos de cobre (1678), mas dum módulo mais pequeno
do que o daqueles.
Em 1723 e 1724, ordenado pelos jesuítas, que então
eram os detentores da administração de Damão, cunharam-se
moedas de cobre e de chumbo — ditas tutenagas — para cor-
rerem nessa cidade e na de Baçaim.
As últimas emissões monetárias datam de 1840, 1843
e 1834.

g) CHAÚL
Em seguimento duma representação que a Câmara de
Chaúl féz a El-Rei, foi a essa cidade concedida licença para
bater moeda própria, em 1646.

250
E, como acima dissemos, não só essas moedas corriam em
Chaúl mas também na vila de Baçaim. Devendo, porém, no-
tar-se que aparecem nessas moedas alternadamente as ini-
ciais C-B e B-C aos lados do escudo, o que temos como indi-
cativo da cidade onde corriam, consoante era C (Chaúl) ou
B (Baçaim) que se encontrava à esquerda das Armas de
Portugal.
Das moedas de Chaúl conhecem-se dois tipos: a tanga
dobrada, de prata, que tem no anv. o Escudo de Portugal
ladeado pelas iniciais das cidades, e no rev. a figura de S. João
de pé, à direita, entre a data 16 — 53 (Vid. Est. V, Fig. 43);
e o bazaruco de cobre, que tem idêntico anv., ao passo que
no rev. se vê a Cruz do Santo Sepulcro cantonada pela data
do ano em que foi emitida (Vid. Est. V, Fig. 44).
Não se conhecem pormenores dos subsequentes lavra-
mentos de Chaúl, até que os maratas, em 1740, a ocuparam.

h) DIU

Foi só em meados do século XVII que a fortaleza de Diu


teve casa da moeda própria. Só então se lavraram os S. Thomés
de oiro de dez xerafins, as rupias de prata de oito tangas, os
pardaus e meios pardaus; e de cobre atiás ou patacas do valor
de 12, 6 e 5 réis; além dos bazarucos de calaim.
E, embora pelo alvará de 17 de Março de 1688 se deter-
minasse que esta moeda deveria ser da mesma lei e valia da
de Goa, tal se não deu com absoluto rigor.
Diu foi de tôdas as nossas cidades do Oriente a que mais
longamente sofreu com a circulação da moeda de calaim, que
se prestava a contrabando, pela facilidade da sua fabricação:
o metal (estanho) era simplesmente vasado em moldes de
areia. Com efeito, acabou essa moeda em Goa e Damão, e em
Diu perdurou ela ainda longo tempo.

251
MOÇAMBIQUE

A Província de Moçambique esteve durante longos anos


sob a administração directa de Goa; por isso que o meio
circulante era ali constituído pelas moedas do Reino e
de Goa.
Foi só no reinado de D. João V que pela primeira vez,
em 1725, Moçambique cunhou moeda de cobre de 30, /5 e
10 réis. Todas elas tinham o mesmo tipo, apenas se distin-
guindo pelo módulo e a indicação do valor — não tendo data.
No reverso, ladeando o escudo de Portugal coroado, as letras
M-E (MoçambiquE); no reverso: I." (Ioão V) e o valor 30, 13
ou 10. (Vid. Est. VI, Fig. 45 e 46).
Ainda no mesmo reinado se cunharam em Goa, mas com
destino a Moçambique, moedas de prata de dois cruzados
(800 réis), cruzados (400 réis) e meios cruzados (200 réis).
Eram estas também dum só tipo — como segue: Dentro dum
círculo pontuado as armas de Portugal, e aos lados G-A
(GoA), como marca da oficina monetária. No reverso IO ANN
— 800 — ES. V. R. P. (Vid. Est. VI, Figs. 47, 48 e 49).
Foi no reinado de El-Rei D. José, em 1732, que Moçam-
bique teve uma administração separada da da índia. Dai o
terem-se lavrado em Lisboa, em 1755, para correrem nessa
Província, as moedas seguintes: De ouro, todas com êste tipo:
IOSEPHVS. I. D. G. PORTUG. REX. Armas do Reino,
tendo dum lado o valor (4.000, 2.000 ou 1.000 reis) e do outro
três florões. Reverso: ET. DOMINVS. AF. OR. PORT.
REX. 1755. Cruz de S. Jorge no centro de quatro arcos ligados
por florões. (Vid. Est. VI, Fig. 50).
E as de prata igualmente dum tipo único: IOSEPHUS. I.
D. G. PORT. REX. ET. D. AF. OR. Armas do Reino, tendo
a corôa real entre os números 17-53; à esquerda do escudo o
valor (800, 400, 200 ou 100 réis) entre dois pontos, e à direita
florões entre pontos. Reverso: SUBQ-SIGN.-NA TA .-STAB.
entre os braços da Cruz de Cristo em que assenta a esfera.

252
Só no reinado de D. Maria II voltam a aparecer novas
emissões monetárias de Moçambique; devendo primeiramente
salientar-se a moeda provincial das barrinhas (Vid. Est. VI,
Figs. 51, 52 e 53) e meias barrinhas de ouro e as onças, pata-
cas, canelos, ou seis cruzados, de prata, de forma rectangular
semelhantes àquelas, porém com os cantos cortados.
Também de cobre se lavraram nêste reinado, a pedido
instante do Governador que trabalhava pelo desenvolvi-
mento económico daquela Província. O que foi levado a efeito
em 1840, cunhando-se as moedas de cobre de 80, 40 e 20 réis,
com a legenda no reverso: PECUNIA-TOTUM-CIRCUMIT-
-ORBEM.
Em 1853 são enviadas da Metrópole para correr em Mo-
çambique as moedas de 20,10 e 5 réis, além das que especial-
mente se cunharam com destino àquela Colónia, de dois réis
e um real. Sendo estas, as últimas que em Portugal se lavra-
ram de tão pequeno valor.
Por outro lado, para dar legalidade às moedas estran-
geiras que ali corriam em abundância, foi determinado, em
1888, que todas elas fôssem recolhidas para se marcarem com
as iniciais P. M. (Província de Moçambique) encimadas por
uma pequena coròa real.
Posteriormente, em 1893, volta a ser aposto nas moedas
estrangeiras uma nova contramarca para sancionar o seu
curso legal (P. M. dentro dum oval).

ANGOLA

Moeda, pode de algum modo dizer-se que é sinonimo de


valor; e valor tem tudo o que é estimado pelos homens.
Posto êste simples juízo, base da mais complexa poli-
tica económica, já nos não causa estranheza a diversidade de
objectos que nas regiões menos civilizadas têm corrido por
moeda. Assim, em Angola, dentre as variadas coisas que os

253r
indígenas de algum tempo apreciavam, como fazendas de
algodão, missangas de côres vivas, sal, caixas de música, etc.,
que os mercadores europeus davam em pagamento dos pro-
dutos africanos, figuravam também como meio circulante
determinados búzios ditos cauris, caurins ou coris, cuja natu-
reza e abundância se prestava — mais do que aqueles outros
objectos — a desempenhar a função de moeda propriamente
dita; isto é, de estalão comparativo do valor de todas as coisas.
Estes búzios, também chamados bouges, usavam-nos os
gentios como adornos, quer de suas pessoas, vulgarmente em
colares ou braceletes, quer de outros objectos estimados como
as armas ou os feitiços. E dêles já os escritores doutrora nos
dão noticia sob o nome de cyproea moneta ou cyproea caurica.
O seu valor variava consoante a maior ou menos distância
da costa onde em maior número se podiam colher, não
obstante alguns autores nos dizerem que no interior igual-
mente se encontravam aglomerados em fundas covas. A per-
muta dêles fazia-se de dois modos: por conta, se eram peque-
nas quantidades; por medida especial — em forma de al-
queire— se o montante da troca era elevado; e o seu valor
estimativo, além de oscilar com o local da transacção, como
acima dissemos, variou também no tempo, e... nas informa-
ções dos diversos escritores. Assim, difícil é dar uma ideia
exacta da estimação dessas peças; posto que, ora as vemos
computadas a 10 valerem i pano ou 5 réis provinciais, ora
ainda serem precisos 12 a /$ cauris para fazerem um real.
Tempo houve também — e por tristeza ainda não mui longe,
pouco mais dum século! — que um carregamento de qui-
nhentos ou seiscentos escravos se avaliava em 12.000 arráteis
dessas conchas!

Ao que parece, foi só na última década do século XVII,


em tempo de El-Rei D. Pedro II, que a Província Ultrama-
rina de Angola recebeu do Reino a primeira moeda metá-
lica para ai correr em substituição do pseudo-numerário ango-

25t
lense. Porém, não foi essa moeda privativa de Angola; pois
alèm-Oceano, na Província de Santa Cruz (Brasil), também
ela correu. Era de cobre e diziam suas legendas: PETRVS. II.
D. G. PORTUG. R. D. AETHIOP, Escudo de Portugal
ornamentado — e no reverso: MODERATO SPLENDEAT
USU —1694 — no campo o valor XX, X, ou V réis, entre
quatro P (indicativos da cidade — Pôrto — onde foram la-
vradas).

Com igual destino se cunharam em tempo do Rei Magnâ-


nimo moedas que simultaneamente circularam nas duas pro-
víncias que o Atlântico afasta. Eram também de cobre e com
esta leitura: IO ANNES. V. D. G. P. ET. BRASIL. REX. —
no campo a menção do valor XX, X, ou V, entre rosetas, tendo
por cima uma grande coroa e por baixo a data 1749; — no
reverso PECVN1A. TOTVM. CIRCVMIT. ORBEM, em
volta da esfera que ocupa todo o campo da moeda.
São ainda da primeira metade do século XVIII os curio-
sos pedaços de cobre que os negros fundiam em forma de X,
por copiarem o símbolo mais constante que éles verificavam
nas moedas. E assim, à sua maneira, forjavam éles essas peças,
aliás pouco manusiáveis, já pelo feitio e tamanho delas não
muito acomodativo às algibeiras, já por que pesavam mais de
quilo e meio, como o que apresentamos com 33,3 centíme-
tros de comprimento e 1.300 gramas de pêso!

Foi somente no reinado de El-Rei D. José que se cunha-


ram as primeiras moedas exclusivamente para Angola; muito
embora alguns anos antes dêsse lavramento se houvessem ba-
tido peças que, como aquelas outras, talqualmente correram
no Brasil e nessas paragens africanas. Eram estas em tudo
semelhantes às que apresentamos de D. João V; só o nome
do monarca fôra mudado e um novo valor aparecia: os
XL réis, além dos XX, X, e V réis.
O lavramento daquela moeda de D. José feito especial-

255
mente para Angola, duas grandes novidades trouxe: o ser de
prata, — além da de cobre — e de ter o valor indicado em
macutas, a moeda de conta de que os indígenas se serviam.
É pois curioso lembrar como então procediam na permuta
dos géneros; não tendo moeda efectiva, imaginàriamente ava-
liavam em macutas, tanto o que recebiam como aquilo que
em troca haviam de dar. Foi portanto uma inteligente medida
a de nomearem essa nova moeda pelo modo por que os negros
aferiam as suas transacções.
Eram essas moedas de prata de 12,10, 8,6, 4 e 2 macutas,
correspondendo respectivamente a 6, 5, 4, 3, 2 e 1 tostões.
Tinham na frente as Armas de Portugal ornamentadas, e as
letras: JOSEPHVS. I. D. G. REX. P. ET. D. GUINEAL — e
no reverso AFRICA PORTUGUEZA — '7^3 —em vo^a
duma coroa de louros que circunda a palavra macutas, por
extenso, e o algarismo indicativo do número delas.
Das moedas de cobre, pode dum modo geral dizer-se que
eram no tipo idênticas às de prata, devendo-se todavia salien-
tar as duas mais sensíveis diferenças: no anverso a especial
forma do escudo que assentava sôbre a esfera; e no reverso,
a coroa de louro daquelas foi nestas substituída por um cir-
culo pontuado, que rodeava o valor ai expresso: 1 macuta (que
correspondia a 50 réis), 1/2 e 114 de macuta ou equipaga,
com a proporcional valia daquela, e finalmente o denominado
pano ou 5 réis.

Perfeitamente com estes tipos e valores se repetiu o lavra-


mento destas moedas — de prata e cobre — no subsequente
reinado de D. Maria I, e nas duas fases que o caracterizam
monetàriamente: a série das peças que além do nome da Rai-
nha tem o de D. Pedro III, e a que depois novamente se
bateu após a morte dêsse soberano. A única moeda de que não
temos conhecimento dentre essas, é a de cinco réis, que, ao
que parece, não tornou a lavrar-se.
Após o governo da Rainha D. Maria I nunca mais, até

256
Moedas de Angola
Moedas de Angola
hoje, se tornou a cunhar prata para a Província de Angola;
foi a segunda metade do século XVIII, pois, o tempo áureo
— neste caso argênteo — do numerário circulante nesse rin-
cão de Portugal de além-mar.

D. João VI, além de mandar bater somente cobre para


essa Província, ainda quebra à moeda cinquenta por cento do
seu valor; isto é, forja-as com metade do pêso das dos reinados
anteriores (1814). Os tipos mantém-nos exactamente.
No entanto, para obstar à disparidade de valor, entre
essas novas peças e as antigas, que resultava de semelhante
determinação, resolve D. João VI mandar recolher toda a
moeda de cobre e marcá-la com um carimbo: o Escudo das
quinas, que lhe duplicava o valor.

Em breve veio o tempo da guerra entre liberais e migue-


listas, em que pouco se cuidou do património das províncias
ultramarinas, e dai o não haver qualquer lavramento de
moeda para Angola. Só em nome da Rainha D. Maria II —
e quási no fim do seu reinado — se fabricaram as meias ma-
cutas, sem que houvesse mais peças doutro valor. Eis a sua
descrição: MARIA. II. D. G. REGINA. PORTUG. ET D.
GUINEAí., em volta do escudo sobre a esfera coroada. No
reverso: AFRICA. PORTUGUEZA. 1851; no campo, dentro
de um circuito granulado e em duas linhas 1 /a Macuta, entre
rosetas. Cobre.

Poucos anos corridos, manda D. Pedro V que se lavrassem


macutas e meias macutas para essa possessão africana (1858-
-1860); e os tipos dessas moedas em tudo eram semelhantes
às do reinado transacto; só o nome do soberano mudava, e
tinham as macutas o dobro da espessura das outras, posto
que o módulo era sensivelmente o mesmo.

No reinado de D. Luis ainda houve uma tentativa de

257
amoedação para Angola, mas que não passou de ensaios. Além
de que essas moedas são no monetário angolense as primeiras
cujas legendas são tôdas escritas em português, à semelhança
das suas parceiras do Reino. A sua leitura é esta: D. LUIZ I.
REI. DE. PORTUGAL. 1886. entre dois círculos pontuados.
No campo a cabeça do soberano à esquerda. No verso:
PROVIN.IA (sic) DE ANGOLA — ULTRAMAR; dentro
de uma coroa de louro e carvalho 20, ao centro. Cobre.

Depois, só na República torna a haver moeda destinada


exclusivamente para Angola. Foi ela feita à imitação da
da Metrópole de 20 e 10 centavos de cupro-niquel, e das de
cinco, dois e um centavos de cobre, tendo unicamente a mais
do que aquelas a palavra ANGOLA.
Posteriormente, quando da cunhagem da moeda de al-
paca (1927) que ainda hoje circula, se forjaram também dessa
mesma liga e especialmente para essa Província moedas de
cinquenta centavos, quatro macutas, duas macutas e uma
macuta.

E agora, com o novo e magnífico Ressurgimento da


Nação, a que assistimos maravilhados, pouco nos faltará, por
ventura, para que vejamos como outrora, nessas terras do
Portugal de além-mar, o meio circulante do valorizado metal.

PEDRO BATALHA REIS

258
■T77777777'777T77777777',

FILATELIA

SECÇAO XVIII

PENAS com 48 horas antes da abertura, foi pedida


a nossa colaboração na parte filatélica colonial, repre-
sentada na Exposição Histórica da Ocupação, e uma me-
mória a publicar neste catálogo.
Para a apresentação dos espécimes de selos emitidos nas
colónias, embora o tempo fôsse muito limitado pudemos, com
uma relativa facilidade, coleccionar e dispor em vitrina, senão
todos, pelo menos os principais selos (tipo) das diversas emis-
sões; mas no que diz respeito à memória, havendo apenas
pequenos estudos parciais e muito dispersos, impossível se tor-
nava, em tão limitado tempo, apresentar um estudo com valor
real filatélico, pois só com uma larga e minuciosa investigação,
poderíamos dar satisfação a um tal pedido, como já dissemos.
Muito prazer teríamos, se tivéssemos tempo, deixar aqui
descrito detalhadamente o que são as nossas emissões colo-
niais. Algumas há, cuja história da fabricação é curiosís-
sima, assim como as sobrecargas e sobretaxas pelas necessi-

259
dades das colónias, têm as suas histórias, das quais muitas
sabemos e que deveriam interessar aos filatelistas, mas para
filatelistas não se destina êste resumo, pois ésses têm estudos
publicados por quem se tem interessado por selos, a ponto de
dedicar-lhes todos os momentos da sua vida, tal é a paixão
pela filatelia.
Entre vários autores, citaremos os nossos queridos amigos,
Carlos George, digníssimo Cônsul da Holanda em Lisboa,
Dr. Carlos Pinto Trincão, John Marsden, ilustre correspon-
dente do «Times» em Lisboa, etc., para não falarmos nos que
no estrangeiro têm escrito sôbre as nossas emissões, como Na-
pier, Harrisson, etc., aos quais recorremos neste pequeno
trabalho.
Primeiramente foram emitidos os selos de S. Tomé em
1869, seguidos dos de Angola em 1870, tipo coroa (Fig. 1) dese-
nhados por Gerard que também gravou os cunhos e que foram
impressos tipogràficamente, tipo êste usado mais tarde em
todas as colónias com diferenças de poucos anos, como segue:
Em 1877, Cabo Verde e Moçambique privativos; em 1879,
para a Índia também privativos; em 1881, foram postos em
circulação na Guiné os selos de Cabo Verde, com sobrecarga;
em 1884, para Macau privativos e em 1887, para Timor, selos
de Macau com sobrecarga.
Enquanto em Portugal se legislava para as outras coló-
nias, já em 1871 nos dava o Estado da índia, pois foram lá
fabricados, os selos chamados «Nativos» (Fig. 2) talvez os mais
curiosos de todos, e que têm merecido a atenção dos estu-
diosos, sendo sôbre êles publicados vários trabalhos mesmo no
estrangeiro.
Em 17 de Outubro de 1869, por decreto de El-Rei
D. Luiz, é autorizado o Govêrno a reformar os serviços dos
correios do Estado da índia e autorizadas todas as despesas ne-
cessárias para compra de material e máquinas destinadas à
fabricação de estampilhas para o mesmo Estado, referendado
por Luiz Augusto Rebêlo da Silva. Em portaria de 16 de

260
Agosto de i8ji o Governador Geral do Estado da tndia, Vis-
conde de S. Januário, regulamenta o serviço dos correios e
manda estampar e pôr à venda as estampilhas necessárias nos
termos da portaria. Em 25 de Agosto do mesmo ano publica o
Boletim Oficial, a ordem mandando que a fabricação das
estampilhas seja feita na Imprensa Nacional de Nova Goa.
O desenho destes selos é de José Frederico de Assa
Castel-Branco, sendo a gravura feita por um nativo de nome
Goindazó, gravura esta bastante imperfeita.
Em 1886 foram postos em circulação em tôdas as colónias
os selos tipo D. Luiz (Fig. 3), seguidos em 1893-94-98 e 1901
pelos de D. Carlos (respectivamente Figs. 4 e 5).
Mais tarde os selos com a efígie de D. Manuel e depois
sobrecarregados com República. Vieram a seguir os de tipo
Ceres e tôda uma série de sobrecargas e sobretaxas conforme
necessidades coloniais e que não é aqui lugar para detalhar.
Séries comemorativas tiveram circulação em 1913 para
tôdas as colónias: as do 4." centenário da descoberta do ca-
minho marítimo para a índia por Vasco da Gama; em 1923
a do Marquês de Pombal e em 1893 unicamente em Moçam-
bique a do 7.0 centenário do nascimento de Santo António
de Lisboa. Em Moçambique fêz-se em 1929 uma emissão
especial comemorativa das vitórias de Mousinho de Albu-
querque (Fig. 6) e na tndia também uma, especial, come-
morativa da Exposição de S. Francisco Xavier (Fig. 7)-
Devemos também fazer, ainda aqui, referência especial
às emissões privativas das Companhias de Moçambique e
Niassa.
Como já dissemos não têm estas notas pretensão a estudo
filatélico mas unicamente uma ligeira elucidação do que
expomos na vitrina da a.4 galeria.

HENRIQUE MANTERO
261
■SSS777S/S

SALA DO ACTO COLONIAL

M oito de Julho de mil novecentos e trinta foi publi-


cado o Acto Colonial.
Êsse diploma, cujo título está bem de harmonia com as
nossas tradições em direito público constitucional, estabe-
leceu os princípios fundamentais duma nova politica co-
lonial.
Seria injusto, ao falarmos dêsse diploma, esquecer o
nome de dois homens que estão ligados à sua publicação:
o do Sr. General António Óscar de Fragoso Carmona, vene-
rando e prestigioso Chefe do Estado, que tem posto no desem-
penho do seu tão alto cargo raras qualidades de inteligência
e de carácter, e o do Sr. Dr. António de Oliveira Salazar, Pre-
sidente do Conselho, que tão devotadamente se entregou à
missão de Servir o País e a quem a Nação deve o que, por
tão alto, jàmais pode ser recompensado ou sequer devida-
mente agradecido.
O Acto Colonial é uma notável síntese de directrizes

263
nacionalistas que marcam a trajectória da nossa política colo-
nial. Estabelece de forma insofismável princípios duma estrei-
ta solidariedade e comunidade entre a Mãi-Pátria e as colá
nias e mantém integra a nossa tradição de povo colonizador.
Ao abrir novos horizontes à administração colonial por-
tuguesa, êsse diploma abandonou o sistema de improvisações
de que usámos e abusámos largo tempo e deu à nossa política
ultramarina rumo diferente.
Êle foi a base duma nova e considerável orientação
colonial que permitiu a publicação dos diplomas que o
Sr. Dr. Armindo Monteiro promulgou quando Ministro das
Colónias: a Carta Orgânica do Império e a Reforma Admi-
nistrativa Ultramarina, que tão transcendente influência
tiveram na vida colonial portuguesa.
O estudo que a Conferência dos Governadores de
1936, sob a presidência do actual Ministro das Colónias,
Sr. Dr. Francisco José Vieira Machado, dêles fêz, concluiu
que, embora não se tocasse nas suas bases fundamentais,
seriam precisas algumas modificações que a experiência
aconselhava e o relatório que os precedeu previa.
Dêsse estudo nasceu a lei 1948 promulgada pela Assem-
bléia Nacional em 13 de Fevereiro de 1933.
Na Sala do Acto Colonial fazem-se justificadas referên-
cias especiais a todos êsses diplomas.

JÚLIO CAYOLLA

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Sala do Acto Colonial. — Estátua do Professor
Salazar, Presidente do Conselho, por Francisco
Franco
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Sala do Acto Colonial. — /.* Tábua. Respeito pelos usos e costumes gentílicos.
Reforma administrativa, 15 de Novembro de '933
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Sala do Acto Colonial. — 2.a Tábua. Da unidade e integridade do Império. Acto


Colonial, 8 de Julho de 1930
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Sala do Acto Colonial. — }.a Tábua. Defesa e protecção dos indígenas e seus
Carta orgânica do Império Colonial, 13 de Novembro de 1933
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Sala do Acto Colonial. — ^.a Tábua. Respeito pela propriedade indígena.


Lei n.° 1.948
Ao fundo desta sala encontra-se a estátua do Presidente
do Conselho, Sr. Doutor António de Oliveira Salazar, em vestes
de catedrático da Universidade de Coimbra, trabalho do es-
cultor Francisco Franco.
Por cima da estátua, correm os dizeres: «Aos oito de
Julho de mil novecentos e trinta, sendo Presidente da Repú-
blica o Senhor General António Óscar de Fragoso Carmona e
Ministro das Colónias o Senhor Doutor António de Oliveira
Salazar, foi publicado o Acto Colonial.»

Sôbre a porta:
Solidariedade, unidade, nacionalismo, eis a trin-
dade de princípios em que assenta a idéia im-
perial.

1." Tábua:
Respeito pelos usos e costumes gentílicos
Reforma administrativa ultramarina
15 de Novembro de 1933

Art. 91." — Para efeitos de administração e de polícia nas


circunscrições e na parte não urbana dos conce-
lhos deve a população indígena ser agrupada em
regedorias. As regedorias podem ser divididas
em grupos de povoações e em povoações.
§ único — Às regedorias poderá, em cada colónia ou pro-
víncia, ser consentida a designação que o uso
regional estabelecer (sobado, règulado, rei-
nos, etc).
Art. 103." — Os chefes gentílicos procurarão desempenhar-se
das funções que lhes incumbem, respeitando
tanto quanto possível os usos, os costumes ou
tradições indígenas que não contrariem as dispo-
sições legais em vigor; à autoridade administra-
tiva cumpre dirigi-los activamente por forma que

265
a acção benéfica que desenvolverem apareça às
populações em verdade como resultado da inter-
venção superior portuguesa, em que aos rege-
dores e chefes de povoação coube a função de
executores.

2.* Tábua:

Da unidade e integridade do Império


Acto colonial
8 de Julho de 1930

Art. 5.® — O Império Colonial Português é solidário nas suas


partes componentes e com a Metrópole.
Art. 6.® — A solidariedade do Império Colonial Português
abrange especialmente a obrigação de contribuir
pela forma adequada para que sejam assegurados
os fins de todos os seus membros e a integridade
e defesa da Nação.
Art. 7.® — O Estado não aliena, por nenhum modo, qualquer
parte dos territórios e direitos coloniais de Por-
tugal, sem prejuízo de rectificação de fronteiras,,
quando aprovada pela Assembléia Nacional.

3.® Tábua:
Defesa e protecção dos indígenas e seus direitos
Carta orgânica do Império Colonial Português
15 de Novembro de 1933

Art. 231.® — O Estado garante a protecção e defesa dos indí-


genas das colónias, conforme os princípios de
humanidade e da soberania nacional, as disposi-
ções legais e as convenções internacionais que
actualmente vigorem ou venham a vigorar. As
autoridades coloniais impedirão e castigarão con-

26tí
forme a lei todos os abusos contra a pessoa e
bens dos indígenas.
Art. 232.' — A tôdas as autoridades administrativas coloniais
pertence assegurar aos indígenas o exercício dos
seus direitos, o respeito pelas suas pessoas e coi-
sas, o gôzo das isenções e benefícios que a lei
lhes concede, defendendo-os contra as extorsões,
violências ou vexames de que possam ser vítimas
e impondo o pagamento dos salários que lhes
forem devidos.
Art. 244.° — O regime de contrato de trabalho dos indígenas
assenta na liberdade individual e no direito a
justo salário e assistência, intervindo a autori-
dade pública somente para fiscalização.

4.* Tábua:
Respeito pela propriedade indígena
Lei n.° 1.948

Promulgada pela Assembléia Nacional para nova


publicação da Carta orgânica do Império Colo-
nial Português — 13 de Fevereiro de 1937

§ único do Art. 239.° — A propriedade indígena nas colónias


de África e Timor não poderá ser alienada, nem
por qualquer forma obrigada, considerando-se
nulos todos os actos de transmissão que não
sejam admitidos pelo uso consuetudinário gen-
tílico entre os membros da respectiva família.

267
777777777777777777777^

Neste anexo expõem-se:

MAQUETES

— Uma cidade vátua (Moçambique).


— Fortaleza de Mombaça.
— Porta da fortaleza de Sena (Moçambique).
— Um tribunal indígena.
— Fortaleza de S. Sebastião da Ilha de Moçambique.
— Igreja da missão católica de Malatane (Moçambique).
— Hospital da Beira (século XIX).
— Igreja e Escola de Artes e Ofícios da Beira.
— Lobito antigo.
— Luanda antiga.
— Lourenço Marques.
— Beira antiga.

269
GRÁFICOS

— A colmeia missionária. As franciscanas missionárias de


Maria têm em Portugal e Colónias 12 «ateliers» com
233 operárias.
— A acção missionária franciscana. Desde a fundação do
Instituto das Franciscanas Missionárias de Maria parti-
ram para as missões 3.329 missionárias levando a boa
nova às mais longínquas terras.
— Franciscanas Missionárias de Maria. S. Salvador do
Congo, 160 alunas; Beira, 2 escolas, 208 alunas; Lou-
renço Marques,171 alunas e um jardim de infância com
206 crianças; Mocumbi, escola com 101 alunas; Ho-
moíne, com 117 alunas; Macau, 165 alunas. Em Por-
tugal, colégios e escolas com 1.572 alunas.

FOTOGRAFIAS

— Duas fotografias de Lourenço Marques actual, tiradas


de avião.
— Reprodução dum painel de azulejos, com um motivo
religioso, por Roberto Silva — Luanda.

QUADROS

— Oito quadros a óleo, de C. Marques, sôbre Luanda:


a) — Igreja da Nazaré.
b) —Traseiras da Igreja de N. S.* do Carmo.
c) — Igreja de N. S." do Carmo.
d) — Fachada da Sé de Luanda.
e) —Porta da fortaleza de S. Miguel.
f) — Fortaleza do Penedo.
g) — Jardim da Igreja de N. S.a do Carmo.
h) —Fortaleza de S. Miguel.

270
MAPAS

— Mapa em relêvo de Moçambique, indicando a penetra-


ção militar no século XIX.
— Mapa das escolas estabelecidas nos territórios sujeitos
à administração directa do Estado durante o século XIX
em Moçambique.
— Planta do projectado esgoto e atêrro do pântano de
Lourenço Marques, por R. Thall, Dezembro 1876, cópia
de Augusto de Castilho.

QUADROS ESTATÍSTICOS

Cercando o corrimão do primeiro pavimento exibem-se


catorze quadros estatísticos de Angola, referentes a:

— Casamentos.
— Baptismos.
— Missões católicas.
— Serviços missionários.
— Ensino primário oficial.
— Médicos e enfermeiros.
— População mestiça.
— População branca.
— Telégrafos e telefones.
— Estradas.
— Caminhos de ferro.
— Navegação.
— Comércio.

Vê-se também um Planisfério da autoria de Carlos Rocha,


indicando as regiões do globo sobre as quais se estende a acção
missionária dos portugueses.

27/
Na escada, os seguintes exemplares de material de guerra:

N.°* 1-11 — Pedreiros (2). Bôcas de fogo de 8 cm. de calibre,


com lm,59 de comprimento e 81,5 quilos de pêso.
Destinavam-se ao serviço de bordo. A culatra é
aberta e termina por uma cauda de 0m,44 de com-
primento. Têm munhões. Na bolada as armas por-
tuguesas. É de 1667.
(Cedidos pelo Museu Militar)

N.°" 2-10 — Falconetes de bronze (2), iguais, para uso de


bordo, tendo 4 cm. de calibre e lm,35 de compri-
mento. Pertencem ao princípio do século XVII.
(Cedidos pelo Museu Militar)

N.° 3 — Peça. Bôca de fogo de 5,5 cm. de calibre, com


lm, 10 de comprimento e alma lisa. Tem munhões,
asas de dragão, e a seguinte legenda: «LVIS DE
MELO SAMPAYO A MANDOU FAZER SENDO
GERAL DE CHINA EM DEZR0 DE 1679.» O cas-
cavel termina por uma mão em forma de figa. É
muito ornamentada. Luiz de Melo Sampaio foi um
dos mais distintos oficiais portugueses do sé-
culo XVII; serviu no ultramar em 1696 e governou
interinamente Moçambique. Em 1728 recebeu do
Vice-Rei da índia, João de Saldanha da Gama a mis-
são de reconquistar Mombaça; e com tanto acêrto
dirigiu a expedição que dentro em poucos dias
capitulava a cidade, cujo govêrno entregou a Álvaro
Caetano de Mesquita. Geral da China era um cargo
correspondente ao Capitão-General Síndico dos
Negócios da China. Foi mandada para o Museu pelo
Comissário Régio de Moçambique, major Mousinho
de Albuauerque.
N.°* 4-8 — Morteiros (2). Bôcas de fogo de 15 cm. de cali-
bre, com 0m,41 de comprimento e 66 quilos de

272
Outro aspecto dos jogos de água da fonte luminosa
pêso. Na bolada vêem-se as armas portuguesas e a
indicação «D. AFONSO VI — 1663» e por baixo do
ouvido uma carranca. Não tem asas e os munhões
estão na culatra.
(Cedidos pelo Museu Militar)

N.°" 5-7 — Columbrinas (2).


(Cedidas pela Sociedade de Geografia)

N.° 6 — Obus. Bôca de fogo de 15 cm. de calibre, com 0m,64


de comprimento e 152 quilos de pêso. No corpo
tem munhões e asas de golfinho; na culatra armas
reais e a indicação: «Mcl COMES DE CARÍO E S"
TEn" GN" DA ART™ DO Rno»; e por baixo «O TE"'
CORONEL BARTOLOMEU DA COSTA EM LXa
1773». Veio de Macau e está montada em reparo
de construção original, feito na índia.
N.° 9 — Peça. Bôca de fogo de 8 cm. de calibre, com lm,68
de comprimento. No segundo reforço tem munhões
e asas de golfinho; no primeiro armas portuguesas
por baixo a inscrição: «COVERND" ESTE ESTADO
O EX"0 FRAC" DE TAVORA CONDE DE ALVOR
DO CONSS" DO ESTADO V*-REI E CAPITÃO
GERAL DA INDIA SE FVNDIA ESTA PESSA» e na
faixa da culatra «M. SALVADOR DA COSTA FES».
O cascavel termina em botão. Esta peça é orna-
mentada.

273
ÍNDICES
COLABORADORES DO 2.° VOLUME

Pág.

Marcelo Caetano 7
David Lopes 21
Luiz de Pina 27
A. de Magalhães Basto 39
Gastão Sousa Dias 61
Aires Kopke 71
Conde de Penha Garcia 85
A. Fontoura da Costa 104
João de Castro Osório 107
José Gonçalo Santa Rita 123
Amadeu Cunha 151
António A. Corrêa de Aguiar 163
Manuel Murias 191
Armando Gonçalves Pereira 211
F. Ribeiro Salgado 215
Pedro Batalha Reis 235
Henrique Mantero 259
Júlio Cayolla 263
ÍNDICE DO 2.° VOLUME

I.' GALERIA

Pág.
Penetração e Povoamento 7
Mapa da Expansão da Língua (1.* sala anexa) 21
Viagens de carácter científico e político 27
Secção V —Viagens dos pombeiros de Honorato
da Costa, do dr. Lacerda e Almeida,
de Gamito e outros exploradores ... 35
Secção VI —Viagens de Silva Pôrto 45
Secção VII —Viagens de Serpa Pinto 46
Secção VIII—Viagens de Capelo e Ivens 50
Secção IX —Viagens de Artur de Paiva, Paiva
Couceiro e outros exploradores ... 53
Secção X —Viagens de António Maria Cardoso,
Paiva de Andrade e Vitor Cordon ... 57
Instrução 61
Política Médica e Sanitária 71
Sociedade de Geografia 85
Mapa dos Descobrimentos. (2.* sala anexa) 99
107
Cultura Colonial
2.- GALERIA

Pág.
Administração Colonial 123
Secção I—Administração colonial 133
Luta contra os negreiros 151
Secção II — Luta contra os negreiros 157
Política indígena 163
Secção III — Primeiros princípios 183
Secção IV — Precedentes próximos duma legislação 183
Secção V —Século dezanove 184
Política de limites 191
Secção VI —Antes e depois da Conferência de
Berlim 193
Secção VII —Mapa côr de rosa e mapa actual ... 194
Secção VIII—Concepção portuguesa da hidrogra-
fia africana no Século XVI 207
Economia 211
Secção XI —Agricultura e Pecuária 219
Secção XII —Vultos da Economia 221
Secção XIII — Indústrias 226
Secção XIV — Circulação e Crédito 228
Secção XV — Comunicações 228
Secção XVI—Carreiras de navegação 229
Numismática 235
Filatelia 259
Sala do acto colonial 263
Anexos 269
ÍNDICE DAS GRAVURAS

I.' GALERIA

A seguir
ò pág.:
Penetração e Povoamento — Mapa de Timor, por
Cunha Barros 16
Viagens de carácter científico e político — Viagem de
Serpa Pinto, quadro de Sara Afonso 16
Viagens de carácter científico e político — Viagem de
Silva Pôrto e seus pombeiros. Mapa de Sara Afonso.
No 1.° plano, «maquette» da embala de Silva
Pôrto, realizada por Pedro Veiga 48
Viagens de carácter científico e político — Viagens de
Paiva de Andrade, de António Maria Cardoso e Ví-
tor Cordon. Mapa de Francisco Amaral 48
Instrução, tábua de Manuel Lima 70
Política Médica e Sanitária — Tábua de Ferreira da
Silva 70
Fastos Memoráveis da Sociedade de Geografia, tábua de
Aurora Severo 88
A seguir
à pág.:
Precedência dos Portugueses no Continente Negro,
mapa de Lino António 88
Cultura Colonial, gráfico de Estrêla Faria 120

2." GALERIA

Política Indígena, tábua de Maria Amélia 120


Luta contra os Negreiros, gráfico de Hugo da Costa
Pereira 160
Até à Conferência de Berlim de 1884, mapa de Ro-
berto Araújo 160
Após a Conferência de Berlim de 1884, mapa de Ro-
berto de Araújo 192
Mapa côr de rosa e mapa actual, quadro de Lino
António 192
Mapa do reino do Congo, reproduzido do livro «Rela-
tione del Reame di Congo et dela circonvicine con-
trade», por Filippo Pigafetta. Ano de 1591 200
Costumes do reino do Congo — Gravura reproduzida
do livro «Relatione del Reame di Congo», por Fi-
lippo Pigafetta. Ano de 1591 200
Costumes do reino do Congo — Gravura reproduzida
do livro «Relatione del Reame di Congo», por Fi-
lippo Pigafetta. Ano de 1591 200
Gravura reproduzida do livro «Relatione del Reame
di Congo», por Filippo Pigafetta. Ano de 1591... 200
Mapa da Concepção Portuguesa da Hidrografia Afri-
cana no século XVI, feito sobre Pigafetta, por João
Augusto Silva 208
Carreiras de navegação e telegrafia sem fios, gráfico
de Silvino Vieira e José de Lemos 208
Comércio exterior — Gráfico por Morais de Carvalho 216
A seguir
ò pág.:
Circulação e Crédito, tábua de Nazaré 216
Numismática — Moedas Coloniais 240
w » » 240
» » » 248
» » » 248
^ — » » 256
» » 256
Filatelia — Selos emitidos nas Colónias 260
Sala do Acto Colonial — Estátua do Professor Salazar,
Presidente do Conselho, por Francisco Franco 264
Sala do Acto Colonial— 1* Tábua 264
» » >, » — 2.' » 264
264
» » » » — 3.* »
» » » » — 4." » 264
» » » » —Aspecto geral 272
Efeitos da iluminação da entrada do Parque Eduar-
272
do VII
Efeitos dos jogos de água da grande fonte luminosa... 272
Outro aspecto dos jogos de água da fonte luminosa 272
Este livro realizado feia Edito-
rial Atiça, Limitada, Rua das
Chagas, 23 a 27, Lisboa, foi
composto e impresso durante
o mês de Marpo de 1938
li A ÍÊ&

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