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DEPARTAMENTO DE ANTROPOLOGIA
Orquestra Da Grota:
Notas sobre estereótipos emocionais
Introdução
Antes de falar sobre o foco de meu trabalho, acho importante falar sobre como
eu escolhi o campo, e como escolhi a questão a ser trabalhada. Por esse motivo acharia
prudente começar o meu texto fazendo uma menção a minha própria experiência com a
musica, neste caso dando um foco para o projeto no qual eu faço parte chamado
Aprendiz Musica Nas Escolas, pretendo para esse trabalho utilizar a minha experiência
que tive ao longo do projeto que faço parte e as questões que já obtive em meu trabalho
na Grota1, para formular uma pequena conclusão sobre o tema escolhido para este
trabalho.
1
Grota do Surucucu, é uma favela situada no começo de São Francisco, é e considerada uma das favelas
mais violentas de Niterói. E é lá que fica a sede central da orquestra de cordas da Grota onde acontece
os ensaios e aulas do projeto.
2
monografia abordando está questão da antropologia das emoções, trabalho na questão
das emoções sentidas por esses jovens ao subir ao palco para uma apresentação, e
mostrar o ponto de vista deles sobre entrar em um teatro, por exemplo, como um artista
que vai se apresentar, e como se da essa relação de minutos antes de uma apresentação,
de o que eles esperam sentir em cima do palco, e depois o que eles realmente sentiram
em cima do palco, se teve nervosismo? Se eles sentiram as mesmas emoções do começo
ao fim da apresentação? Essas são questões que foram aparecendo no campo, e foram se
tornando cada vez mais interessante e importante para eu trabalhar as questões
emocional desses jovens.
2
Escola Municipal Francisco Portugal Neves.
3
O Aprendiz musica nas escolas é um projeto oferecido pela prefeitura de Niterói dentro das escolas
municipais.
3
uma ideologia um pouco diferente, que se da por alguns pontos nos quais irei trabalhar
mais para frente.
Quando comecei as minhas idas ao campo, estava achando que iria encontra algo
semelhante ao Aprendiz, mas assim que entrei na orquestra da Grota senti que as
relações, as pessoas, os professores, seriam bem distintas daquilo que eu já estava
acostumado no Aprendiz.
Até então eu tinha ido a campo com uma proposta de estudar o que mudaria na
vida educacional desses jovens que participavam ativamente da orquestra da Grota. Mas
logo na minha primeira ida ao campo, e na segunda se confirmou, foi o que eu já havia
comentado no paragrafo de cima, as relações, o ambiente, tudo era muito distinto
daquilo que eu já havia passado em minha vida musical. Foi então que encontrei o
ponto certo para dialogar de alguma forma com meu objetivo primário, que era saber
em qual ponto esses projetos sócias conseguem abranger um todo.
Chegando no campo
Esse capitulo tem uma relação direta com o anterior, pois nele irei expor como
se deu a escolha do campo, e como foi a chegada nele.
4
como havia começado o projeto — que começara com a mãe do Marcio no próprio
quintal de casa, oferecendo aulas de musica, com hortas, realizando o projeto em seu
próprio quintal, desde então podemos dizer que o projeto da Grota não tem como
objetivo, só o ensinamento da musica, mas sim tem a propostas de integrar toda a
comunidade no projeto — neste sábado já fui observando alguns pontos interessantes
para ser trabalhado, mas eu não achava o ponto certo para encaixar a questão da
antropologia das emoções. Foi então que eu encontrei meu antigo professor de flauta,
fazendo um projeto de extensão da UNIRIO lá na orquestra junto com uma professora
da universidade. Comecei a falar com ele que estaria ali fazendo uma pesquisa, foi então
que ele me convidou para assistir a aula do projeto de extensão, achei uma oportunidade
para me inserir em um grupo, para começar a me interagir com o pessoal da orquestra.
Então passei a frequentar a aula, e pude acompanha-la com facilidade pelo fato
de já ter uma bagagem de conhecimento nessa área, com o passar do tempo fui me
inserindo no grupo e tomando uma posição dentro do grupo, começando a virar um
antropólogo participante, o grupo por sua vez também já começava a interagir comigo.
E por esse fato acho que eu conseguir uma boa entrada em campo, e uma boa relação
com a orquestra, e cada vez mais sendo visto como “parte” da paisagem.
Favelas
“Nesse país todo mundo sabe falar, que favela é perigosa, lugar ruim
de se morar é muito criticada por toda a sociedade, mas existe
violência em todo canto da cidade”( Trecho da musica “Rap Das
Armas” de Mc Júnior e Leonardo de 1995.)
Com os estereótipos que são jogados nos moradores de favela, muitos acabam se
dizendo não pertencentes aquele local, como diz Patricia Birman no texto “Favela é
comunidade?”, mas o que quero discutir aqui seria o ponto de vista do jovem da
orquestra sobre eles próprios e o ponto de vista dos outros jovens sobre os jovens da
orquestra.
5
“Os jogos indenitários que há muito tempo ocupam a cena publica em
torno das favelas surgem, pois, tanto uma presença constante de um
tratamento dessas populações através de medidas segregadoras, como
de resistência dessas populações a estas politicas e as formas variadas
de serem identificadas com estas.” (BIRMAN, 2008,p.103)
Alguns jovens que conseguem sair do estereotipo do Favelado não querem ser
reconhecidos como pertencentes a favela, para tentar fugir desses estereótipos que são
impostos a eles, dessa forma começa a ter uma leve segregação na favela, por ambos os
lados, tanto alguns jovens não querem (ou não são) vistos como Favelados, como
alguns moradores da favela, não querem que esse jovem seja comparado com eles,
sendo que de alguma forma esses jovens não pertencesse mais aquele meio da favela.
Deixando estes jovens em um limbo, não pertencendo a “classe”4 da cultura da musica
clássica erudita, e também já não pertencendo mais a sua “própria” cultura.
E para fechar essa breve parte sobre o que é favela, quero apontar
resumidamente a questão trabalhada no texto da BIRMAN, que seria “favela é
comunidade?”, como não é meu proposito para este trabalho, discutir esta questão,
quero dizer que irei utilizar o termo favela, pois acho mais adequado para esta pesquisa,
levando em conta que não tem um regra para utilização de nem um dos dois termos, a
questão passada no texto, é que o termo utilizado dependera do cenário que queira se
passar.5
No meio onde esses jovens estão inseridos, algumas emoções são negadas e
renegadas por quem esta de fora das favelas e pelos próprios moradores dela, deixando
esses jovens em um estado de limbo.
Nesse ponto procuro trabalhar o que Gledson Meira diz em seu artigo sobre a
questão da musica popular urbana; ele desenvolve a ideia de que a musica tem que ser
trabalhada levando em consideração o contexto sociocultural, de onde ela esta inserida.
Pegando um citação do texto dele:
4
Utilizarei o termo entre aspas pelo motivo de achar que a cultura musical não tem (ou não teria que
ter) classe definida.
5
Para saber mais sobre o termo, ler artigo: BIRMAN, Patricia, “favela é comunidade?”, 2008
6
deve ser estudada apenas enquanto fenômeno acústico, mas, que deve ser
levado em consideração, o contexto sociocultural relacionado às diversas
músicas dos diferentes grupos humanos.” (MEIRA,Gledson, s.d, p.01)
“Comunidade que vive a vontade, com mais liberdade, tem mais pra
colher, pois alguns caminhos pra felicidade, são paz, cultura e lazer
(...)O futuro da favela depende do fruto que tu for plantar”( Trecho da
musica “Tá Tudo Errado”6 de Mc Júnior e Leonardo de 2010.)
Quero pegar esse trecho da musica, para discutir alguns pontos em cima dele; o
primeiro ponto a se discutir, é que quando um projeto e instalado em uma favela, todo o
funcionamento futuro dele, irá depender da forma com que ele surgiu naquele meio, e
isso seria uma vantagem da orquestra, que ela surge da própria favela. O projeto surge
em uma casa — onde hoje esta situado o “Espaço Cultural Da Grota” — no ano de
1983. Por esse motivo a relação com a favela se da de uma forma harmônica, e com
essa liberdade eles conseguem construir um ambiente de sociabilidade e cultura de uma
forma mais igualitária. E sendo assim o segundo trecho que utilizei, seria para relatar
além da criação do “Espaço Cultural Da Grota”, lá a musica é pensada como uma forma
de sociabilizar toda a comunidade, não só os músicos, mas as famílias e amigos acabam
se tornando parte da orquestra, incorporando mais ainda a orquestra na favela. E hoje o
que podemos ver na orquestra da Grota, não é só um espaço de aulas e ensaios, mas
6
Musica que faz parte a trilha sonora do filme “Tropa de Elite 2: o Inimigo agora é outro” lançado em
2010.
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também um espaço de sociabilidade e trocas de sentimentos, que irei trabalhar mais
afundo no próximo capitulo.
Para começar esse capitulo quero fazer uma citação, que servira como uma
introdução para este capitulo:
Com base na citação acima, desenvolvo minha ideia sobre uma troca de
sentimentos quase obrigatória para que possa fazer musica em cima de um palco,
quando esses jovens estão tocando para um publico, há uma relação de troca de
emoções, onde ambos os lados teriam que dar e receber, de um lado os músicos tem que
ter emoção ao tocar a musica e transmitir essa emoção para o publico, que não só estão
lá para ouvir a musica tocada, mas também para sentir as emoções que circulam no
espaço onde ocorrem as apresentações. Sendo esses lugares, espaços de trocas
emocionais muito marcantes, mesmo alguém da plateia ou algum musico da orquestra
que não sinta aquelas emoções — que estariam implícitas como regras naquele
ambiente — elas são de alguma forma obrigadas7 a sentir aquelas emoções, “Estes não
berram e não gritam só para expressar o medo, a ira ou a dor, mas porque são
encarregados, obrigados a fazê-lo” (MAUSS, 1981, p.150), pegando emprestado essa
fala do Mauss, posso dizer que alguém no meio daquele espaço de trocas das emoções,
não se expressar mais ou menos de acordo com o resto do publico — ou no caso do
musico, de acordo com o resto da orquestra — a pessoa pode ser má vistas por aqueles
que estão ali se emocionando com o concerto.
7
Obrigadas no sentido de ser uma regra. As pessoas teriam que de uma certa forma seguir um padrão
nos sentimentos.
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fisiológicos, mas sim fenômenos sócias, marcados por
manifestações não-espontâneas e da mais perfeita obrigação”
(MAUSS, 1981, p.147)
Conclusão
Para esse começo de pesquisa quero concluir, que muitos aspectos desses
projetos sócias em favelas não são explorados, e acaba se perdendo alguns pontos, que
não são falados ou estudado a fundo. Por esse motivo acho importante começarmos a
apontar outros rumos para pesquisas envolvendo essa temática, que hoje a ideia que se
tem sobre certos aspectos envolvendo esses projetos sociais, e uma visão muito
unificada e padronizada por certos aspectos.
A questão que quero apontar neste trabalho, acho que não só tem muita
relevância no campo da antropologia das emoções, mas também para olharmos com um
olhar diferenciado para a questão dos jovens nas favelas,
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“A sociedade limita e delimita a capacidade de ação de
um sujeito estigmatizado, marca-o como desacreditado e
determina os efeitos maléficos que pode representar. Quanto
mais visível for a marca, menos possibilidade tem o sujeito de
reverter, nas suas inter-relações, a imagem formada
anteriormente pelo padrão social.” (MELO, 1999, P.03)
E por fim quero concluir, que a imagem padronizada que se tem desses jovens,
acaba desmotivando milhares de jovens, que por carregar esses estigmas acabam
desistindo de certos projetos de vida, ou pior, muitos deles nem começam se quer, a
pensar em um futuro, por conta da sociedade já impor um destino a ele. Pegando para
fechar, a questão da emoção nas favelas, são descartadas de cara vários sentimentos que
não seriam “apropriados” no contexto da favela, isso quando esses jovens são vistos
como seres capazes de sentir emoções, que muitas das vezes, o “favelado” não poderia
ter emoção, isso não seria um realidade na favela.
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Bibliografia
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