Leitura e Produção Textual

Você também pode gostar

Você está na página 1de 182

Universidade do Sul de Santa Catarina

Leitura e Produção Textual


Disciplina na modalidade a distância

Palhoça
UnisulVirtual
2011

leitura e producao textual.indb 1 09/09/11 14:57


Créditos
Universidade do Sul de Santa Catarina | Campus UnisulVirtual | Educação Superior a Distância
Avenida dos Lagos, 41 – Cidade Universitária Pedra Branca | Palhoça – SC | 88137-900 | Fone/fax: (48) 3279-1242 e 3279-1271 | E-mail: cursovirtual@unisul.br | Site: www.unisul.br/unisulvirtual
Reitor Coordenadores Graduação Marilene de Fátima Capeleto Patrícia de Souza Amorim Karine Augusta Zanoni
Ailton Nazareno Soares Aloísio José Rodrigues Patricia A. Pereira de Carvalho Poliana Simao Marcia Luz de Oliveira
Ana Luísa Mülbert Paulo Lisboa Cordeiro Schenon Souza Preto Mayara Pereira Rosa
Vice-Reitor Ana Paula R.Pacheco Paulo Mauricio Silveira Bubalo Luciana Tomadão Borguetti
Sebastião Salésio Heerdt Artur Beck Neto Rosângela Mara Siegel Gerência de Desenho e
Bernardino José da Silva Simone Torres de Oliveira Desenvolvimento de Materiais Assuntos Jurídicos
Chefe de Gabinete da Reitoria Charles Odair Cesconetto da Silva Vanessa Pereira Santos Metzker Didáticos Bruno Lucion Roso
Willian Corrêa Máximo Dilsa Mondardo Vanilda Liordina Heerdt Márcia Loch (Gerente) Sheila Cristina Martins
Diva Marília Flemming Marketing Estratégico
Pró-Reitor de Ensino e Horácio Dutra Mello Gestão Documental Desenho Educacional
Lamuniê Souza (Coord.) Cristina Klipp de Oliveira (Coord. Grad./DAD) Rafael Bavaresco Bongiolo
Pró-Reitor de Pesquisa, Itamar Pedro Bevilaqua
Pós-Graduação e Inovação Jairo Afonso Henkes Clair Maria Cardoso Roseli A. Rocha Moterle (Coord. Pós/Ext.) Portal e Comunicação
Daniel Lucas de Medeiros Aline Cassol Daga Catia Melissa Silveira Rodrigues
Mauri Luiz Heerdt Janaína Baeta Neves
Aline Pimentel
Jorge Alexandre Nogared Cardoso Jaliza Thizon de Bona Andreia Drewes
Pró-Reitora de Administração José Carlos da Silva Junior Guilherme Henrique Koerich Carmelita Schulze Luiz Felipe Buchmann Figueiredo
Acadêmica José Gabriel da Silva Josiane Leal Daniela Siqueira de Menezes Rafael Pessi
Marília Locks Fernandes Delma Cristiane Morari
Miriam de Fátima Bora Rosa José Humberto Dias de Toledo
Eliete de Oliveira Costa
Joseane Borges de Miranda Gerência de Produção
Pró-Reitor de Desenvolvimento Luiz G. Buchmann Figueiredo Gerência Administrativa e Eloísa Machado Seemann Arthur Emmanuel F. Silveira (Gerente)
e Inovação Institucional Marciel Evangelista Catâneo Financeira Flavia Lumi Matuzawa Francini Ferreira Dias
Renato André Luz (Gerente) Geovania Japiassu Martins
Valter Alves Schmitz Neto Maria Cristina Schweitzer Veit
Ana Luise Wehrle Isabel Zoldan da Veiga Rambo Design Visual
Maria da Graça Poyer
Diretora do Campus Mauro Faccioni Filho Anderson Zandré Prudêncio João Marcos de Souza Alves Pedro Paulo Alves Teixeira (Coord.)
Universitário de Tubarão Moacir Fogaça Daniel Contessa Lisboa Leandro Romanó Bamberg Alberto Regis Elias
Milene Pacheco Kindermann Nélio Herzmann Naiara Jeremias da Rocha Lygia Pereira Alex Sandro Xavier
Onei Tadeu Dutra Rafael Bourdot Back Lis Airê Fogolari Anne Cristyne Pereira
Diretor do Campus Universitário Patrícia Fontanella Thais Helena Bonetti Luiz Henrique Milani Queriquelli Cristiano Neri Gonçalves Ribeiro
da Grande Florianópolis Roberto Iunskovski Valmir Venício Inácio Marcelo Tavares de Souza Campos Daiana Ferreira Cassanego
Hércules Nunes de Araújo Rose Clér Estivalete Beche Mariana Aparecida dos Santos Davi Pieper
Gerência de Ensino, Pesquisa e Marina Melhado Gomes da Silva Diogo Rafael da Silva
Secretária-Geral de Ensino Vice-Coordenadores Graduação Extensão Marina Cabeda Egger Moellwald Edison Rodrigo Valim
Adriana Santos Rammê Janaína Baeta Neves (Gerente) Mirian Elizabet Hahmeyer Collares Elpo Fernanda Fernandes
Solange Antunes de Souza Aracelli Araldi Pâmella Rocha Flores da Silva
Bernardino José da Silva Frederico Trilha
Diretora do Campus Catia Melissa Silveira Rodrigues Rafael da Cunha Lara Jordana Paula Schulka
Elaboração de Projeto Roberta de Fátima Martins Marcelo Neri da Silva
Universitário UnisulVirtual Horácio Dutra Mello Carolina Hoeller da Silva Boing
Jucimara Roesler Jardel Mendes Vieira Roseli Aparecida Rocha Moterle Nelson Rosa
Vanderlei Brasil Sabrina Bleicher Noemia Souza Mesquita
Joel Irineu Lohn Francielle Arruda Rampelotte
Equipe UnisulVirtual José Carlos Noronha de Oliveira Verônica Ribas Cúrcio Oberdan Porto Leal Piantino
José Gabriel da Silva Reconhecimento de Curso
José Humberto Dias de Toledo Acessibilidade Multimídia
Diretor Adjunto Maria de Fátima Martins Vanessa de Andrade Manoel (Coord.) Sérgio Giron (Coord.)
Moacir Heerdt Luciana Manfroi
Rogério Santos da Costa Extensão Letícia Regiane Da Silva Tobal Dandara Lemos Reynaldo
Secretaria Executiva e Cerimonial Rosa Beatriz Madruga Pinheiro Maria Cristina Veit (Coord.) Mariella Gloria Rodrigues Cleber Magri
Jackson Schuelter Wiggers (Coord.) Sergio Sell Vanesa Montagna Fernando Gustav Soares Lima
Marcelo Fraiberg Machado Pesquisa Josué Lange
Tatiana Lee Marques Daniela E. M. Will (Coord. PUIP, PUIC, PIBIC) Avaliação da aprendizagem
Tenille Catarina Valnei Carlos Denardin Claudia Gabriela Dreher Conferência (e-OLA)
Mauro Faccioni Filho (Coord. Nuvem)
Assessoria de Assuntos Sâmia Mônica Fortunato (Adjunta) Jaqueline Cardozo Polla Carla Fabiana Feltrin Raimundo (Coord.)
Internacionais Pós-Graduação Nágila Cristina Hinckel Bruno Augusto Zunino
Coordenadores Pós-Graduação Anelise Leal Vieira Cubas (Coord.) Sabrina Paula Soares Scaranto
Murilo Matos Mendonça Aloísio José Rodrigues Gabriel Barbosa
Anelise Leal Vieira Cubas Thayanny Aparecida B. da Conceição
Assessoria de Relação com Poder Biblioteca Produção Industrial
Público e Forças Armadas Bernardino José da Silva Salete Cecília e Souza (Coord.) Gerência de Logística Marcelo Bittencourt (Coord.)
Adenir Siqueira Viana Carmen Maria Cipriani Pandini Paula Sanhudo da Silva Jeferson Cassiano A. da Costa (Gerente)
Walter Félix Cardoso Junior Daniela Ernani Monteiro Will Marília Ignacio de Espíndola Gerência Serviço de Atenção
Giovani de Paula Renan Felipe Cascaes Logísitca de Materiais Integral ao Acadêmico
Assessoria DAD - Disciplinas a Karla Leonora Dayse Nunes Carlos Eduardo D. da Silva (Coord.) Maria Isabel Aragon (Gerente)
Distância Letícia Cristina Bizarro Barbosa Gestão Docente e Discente Abraao do Nascimento Germano Ana Paula Batista Detóni
Patrícia da Silva Meneghel (Coord.) Luiz Otávio Botelho Lento Enzo de Oliveira Moreira (Coord.) Bruna Maciel André Luiz Portes
Carlos Alberto Areias Roberto Iunskovski Fernando Sardão da Silva Carolina Dias Damasceno
Cláudia Berh V. da Silva Rodrigo Nunes Lunardelli Capacitação e Assessoria ao Fylippy Margino dos Santos Cleide Inácio Goulart Seeman
Conceição Aparecida Kindermann Rogério Santos da Costa Docente Guilherme Lentz Denise Fernandes
Luiz Fernando Meneghel Thiago Coelho Soares Alessandra de Oliveira (Assessoria) Marlon Eliseu Pereira Francielle Fernandes
Renata Souza de A. Subtil Vera Rejane Niedersberg Schuhmacher Adriana Silveira Pablo Varela da Silveira Holdrin Milet Brandão
Alexandre Wagner da Rocha Rubens Amorim
Assessoria de Inovação e Jenniffer Camargo
Gerência Administração Elaine Cristiane Surian (Capacitação) Yslann David Melo Cordeiro Jessica da Silva Bruchado
Qualidade de EAD Acadêmica Elizete De Marco
Denia Falcão de Bittencourt (Coord.) Jonatas Collaço de Souza
Angelita Marçal Flores (Gerente) Fabiana Pereira Avaliações Presenciais
Andrea Ouriques Balbinot Juliana Cardoso da Silva
Fernanda Farias Iris de Souza Barros Graciele M. Lindenmayr (Coord.)
Carmen Maria Cipriani Pandini Juliana Elen Tizian
Juliana Cardoso Esmeraldino Ana Paula de Andrade
Secretaria de Ensino a Distância Kamilla Rosa
Maria Lina Moratelli Prado Angelica Cristina Gollo
Assessoria de Tecnologia Samara Josten Flores (Secretária de Ensino) Simone Zigunovas
Mariana Souza
Osmar de Oliveira Braz Júnior (Coord.) Cristilaine Medeiros Marilene Fátima Capeleto
Giane dos Passos (Secretária Acadêmica) Daiana Cristina Bortolotti
Felipe Fernandes Adenir Soares Júnior Tutoria e Suporte Maurício dos Santos Augusto
Felipe Jacson de Freitas Delano Pinheiro Gomes Maycon de Sousa Candido
Alessandro Alves da Silva Anderson da Silveira (Núcleo Comunicação) Edson Martins Rosa Junior
Jefferson Amorin Oliveira Andréa Luci Mandira Claudia N. Nascimento (Núcleo Norte- Monique Napoli Ribeiro
Phelipe Luiz Winter da Silva Fernando Steimbach Priscilla Geovana Pagani
Cristina Mara Schauffert Nordeste)
Fernando Oliveira Santos
Priscila da Silva Djeime Sammer Bortolotti Maria Eugênia F. Celeghin (Núcleo Pólos) Sabrina Mari Kawano Gonçalves
Rodrigo Battistotti Pimpão Lisdeise Nunes Felipe Scheila Cristina Martins
Douglas Silveira Andreza Talles Cascais Marcelo Ramos
Tamara Bruna Ferreira da Silva Evilym Melo Livramento Daniela Cassol Peres Taize Muller
Marcio Ventura Tatiane Crestani Trentin
Fabiano Silva Michels Débora Cristina Silveira Osni Jose Seidler Junior
Coordenação Cursos Fabricio Botelho Espíndola Ednéia Araujo Alberto (Núcleo Sudeste) Thais Bortolotti
Coordenadores de UNA Felipe Wronski Henrique Francine Cardoso da Silva
Diva Marília Flemming Gisele Terezinha Cardoso Ferreira Janaina Conceição (Núcleo Sul) Gerência de Marketing
Marciel Evangelista Catâneo Indyanara Ramos Joice de Castro Peres Eliza B. Dallanhol Locks (Gerente)
Roberto Iunskovski Janaina Conceição Karla F. Wisniewski Desengrini
Jorge Luiz Vilhar Malaquias Kelin Buss Relacionamento com o Mercado
Auxiliares de Coordenação Juliana Broering Martins Liana Ferreira Alvaro José Souto
Ana Denise Goularte de Souza Luana Borges da Silva Luiz Antônio Pires
Camile Martinelli Silveira Luana Tarsila Hellmann Maria Aparecida Teixeira Relacionamento com Polos
Fabiana Lange Patricio Luíza Koing  Zumblick Mayara de Oliveira Bastos Presenciais
Tânia Regina Goularte Waltemann Maria José Rossetti Michael Mattar Alex Fabiano Wehrle (Coord.)
Jeferson Pandolfo

leitura e producao textual.indb 2 09/09/11 14:57


Chirley Domingues
Mônica Mano Trindade

Leitura e Produção Textual


Livro didático

Revisão e atualização de conteúdo


Chirley Domingues

Design instrucional
Flávia Lumi Matuzawa
Isabel Z. Veiga Rambo

4ª edição

Palhoça
UnisulVirtual
2011

leitura e producao textual.indb 3 09/09/11 14:57


Copyright © UnisulVirtual 2011
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.

Edição – Livro Didático


Professoras Conteudistas
Chirley Domingues
Mônica Mano Trindade

Revisão e atualização de conteúdo


Chirley Domingues

Design Instrucional
Flavia Lumi Matuzawa
Isabel Zoldan da Veiga Rambo (4ª edição)

ISBN
978-85-7817-284-8

Projeto Gráfico e Capa


Equipe UnisulVirtual

Diagramação
Higor Ghisi Luciano
Anne Cristyne Pereira (4ª edição)

410
D71 Domingues, Chirley
Leitura e produção textual : livro didático / Chirley Domingues, Mônica
Mano Trindade ; revisão e atualização de conteúdo Chirley Domingues ;
design instrucional Flavia Lumi Matuzawa, Isabel Zoldan da Veiga Rambo. –
4. ed. – Palhoça: UnisulVirtual, 2011.
181 p. : il. ; 28 cm.

Inclui bibliografia.
978-85-7817-284-8

1. Língua e linguagem. 2. Leitura. I. Trindade, Mônica Mano.


II. Matuzawa, Flavia Lumi. III. Rambo, Isabel Zoldan. IV. Título.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul

iniciais.indd 4 26/01/12 09:48


Sumário

Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Palavras das professoras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

UNIDADE 1 - Linguagem. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
UNIDADE 2 - Leitura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
UNIDADE 3 - Texto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
UNIDADE 4 - Textos acadêmicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
UNIDADE 5 - Tópicos gramaticais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125

Para concluir o estudo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165


Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167
Sobre os professores conteudistas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169
Respostas e comentários das atividades de autoavaliação. . . . . . . . . . . . . . 171
Biblioteca Virtual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181

leitura e producao textual.indb 5 09/09/11 14:57


leitura e producao textual.indb 6 09/09/11 14:57
Apresentação

Este livro didático corresponde à disciplina Leitura e Produção


Textual.

O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autônoma


e aborda conteúdos especialmente selecionados e relacionados
à sua área de formação. Ao adotar uma linguagem didática
e dialógica, objetivamos facilitar seu estudo a distância,
proporcionando condições favoráveis às múltiplas interações e a
um aprendizado contextualizado e eficaz.

Lembre-se que sua caminhada, nesta disciplina, será


acompanhada e monitorada constantemente pelo Sistema
Tutorial da UnisulVirtual, por isso a “distância” fica
caracterizada somente na modalidade de ensino que você optou
para sua formação, pois na relação de aprendizagem professores
e instituição estarão sempre conectados com você.

Então, sempre que sentir necessidade entre em contato; você tem


à disposição diversas ferramentas e canais de acesso tais como:
telefone, e-mail e o Espaço Unisul Virtual de Aprendizagem,
que é o canal mais recomendado, pois tudo o que for enviado e
recebido fica registrado para seu maior controle e comodidade.
Nossa equipe técnica e pedagógica terá o maior prazer em lhe
atender, pois sua aprendizagem é o nosso principal objetivo.

Bom estudo e sucesso!

Equipe UnisulVirtual.

leitura e producao textual.indb 7 09/09/11 14:57


leitura e producao textual.indb 8 09/09/11 14:57
Palavras das professoras

Informações excessivas, instantâneas e superficiais,


características do século XXI, levam-nos a ter de fazer escolhas,
definir e manifestar nossas opiniões diante dos acontecimentos
do mundo e, especialmente, do nosso meio social. O fato é que
para sabermos nos posicionar ante esse dinamismo, precisamos
aprimorar nossas habilidades de escuta, leitura e escrita,
responsáveis pela nossa interação no mundo, o que somente
se torna possível por meio de um estudo de língua portuguesa
comprometido em nos preparar para a vida pessoal, acadêmica e
profissional.

Aqui, você está convidado a intensificar as suas habilidades de


leitura e escrita. Fará exercícios que o levarão a indagar sobre
a intenção contida nos textos, possibilitando-lhe desenvolver
uma postura mais crítica sobre a sua produção textual. De
forma integrada à leitura, você desenvolverá a prática de
produção de textos, possibilitando-lhe adequar a sua escrita ao
contexto que se fizer necessário.

Para desenvolver mais as suas habilidades na leitura e na


escrita, dedique-se ao estudo de cada unidade e lembre-se
da importância das atividades práticas, pois somente você
poderá investir na sua formação como leitor e escritor, duas
importantes funções que certamente exercerá ao longo da sua
vida acadêmica e profissional.

Bom trabalho!

As autoras

leitura e producao textual.indb 9 09/09/11 14:57


leitura e producao textual.indb 10 09/09/11 14:57
Plano de estudo

O plano de estudos visa a orientá-lo no desenvolvimento da


disciplina. Ele possui elementos que o ajudarão a conhecer o
contexto da disciplina e a organizar o seu tempo de estudos.

O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva


em conta instrumentos que se articulam e se complementam,
portanto, a construção de competências se dá sobre a
articulação de metodologias e por meio das diversas formas de
ação/mediação.

São elementos desse processo:

„„ o livro didático;

„„ o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem (EVA);

„„ as atividades de avaliação (a distância, presenciais e de


autoavaliação);

„„ o Sistema Tutorial.

Ementa
Níveis de linguagem: características dos diversos tipos de
linguagem e suas funções. Leitura: compreensão e análise
crítica de texto. Produção de texto: tipos e gêneros textuais;
coerência e coesão; adequação à norma culta.

leitura e producao textual.indb 11 09/09/11 14:57


Universidade do Sul de Santa Catarina

Objetivos

Geral:
A disciplina visa desenvolver a competência do estudante na
realização de atividades relacionadas ao uso da língua, tanto do
ponto de vista da produção quanto da recepção. Portanto, são
objetivos específicos:

Específicos:
„„ Estimular o acadêmico à realização de atividades práticas
de leitura e produção textual.

„„ Propiciar o conhecimento dos diversos gêneros textuais,


com a identificação das características e da linguagem
própria de cada um, bem como suas aplicações na
sociedade.

„„ Possibilitar o estudo de regras específicas para adequação


do texto à modalidade culta da língua.

Carga Horária
A carga horária total da disciplina é 60 horas-aula.

Conteúdo programático/objetivos
Veja, a seguir, as unidades que compõem o livro didático desta
disciplina e os seus respectivos objetivos. Estes se referem aos
resultados que você deverá alcançar ao final de uma etapa de
estudo. Os objetivos de cada unidade definem o conjunto de
conhecimentos que você deverá possuir para o desenvolvimento
de habilidades e competências necessárias à sua formação.

Unidades de estudo: 5

12

leitura e producao textual.indb 12 09/09/11 14:57


Leitura e Produção Textual

Unidade 1 - Linguagem
Esta unidade, de caráter introdutório, apresentará os conceitos
de língua, linguagem e variação linguística, definições básicas
e essenciais ao desenvolvimento da disciplina, bem como um
estudo sobre níveis de linguagem e funções de linguagem.

Unidade 2 – Leitura
Esta unidade abordará a importância da leitura e sua influência
na escrita, as características dos textos literários e não literários
e os níveis de informação explícito e implícito, enfocando a
aplicação desses conceitos, a partir de atividades de leitura e
interpretação textual.

Unidade 3 – Texto
Nesta unidade, serão apresentados os conceitos essenciais à
prática de produção de texto, a definição de gêneros textuais, e os
elementos responsáveis pela coerência e coesão dos enunciados,
enfocando a aplicação desses conceitos, a partir de atividades de
produção escrita.

Unidade 4 – Textos acadêmicos


Nesta unidade, serão apresentados alguns dos gêneros textuais
que circulam no ambiente acadêmico, como resumo, resenha
e relatório, focando o objetivo, as características e a linguagem
adequada a cada um desses textos.

Unidade 5 – Tópicos gramaticais


Nesta unidade, serão apresentados alguns tópicos gramaticais,
enfocando a necessidade do conhecimento de tais regras para a
adequação do texto à norma culta da língua.

13

leitura e producao textual.indb 13 09/09/11 14:57


Universidade do Sul de Santa Catarina

Agenda de atividades/Cronograma

„„ Verifique com atenção o EVA, organize-se para acessar


periodicamente a sala da disciplina. O sucesso nos seus
estudos depende da priorização do tempo para a leitura,
da realização de análises e sínteses do conteúdo e da
interação com os seus colegas e professor.

„„ Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço


a seguir as datas com base no cronograma da disciplina
disponibilizado no EVA.

„„ Use o quadro para agendar e programar as atividades


relativas ao desenvolvimento da disciplina.

Atividades obrigatórias

Demais atividades (registro pessoal)

14

leitura e producao textual.indb 14 09/09/11 14:57


1
unidade 1

Linguagem

Objetivos de aprendizagem

Ao final da unidade você terá subsídios para compreender:

n A diferença entre língua e linguagem.


n As causas da variação linguística.
n As situações de uso das modalidades da língua.
n As funções da linguagem.

Seções de estudo

Nesta unidade você vai estudar os seguintes assuntos:

Seção 1 Língua, linguagem e variação


Seção 2 Níveis de linguagem
Seção 3 Funções da linguagem

leitura e producao textual.indb 15 09/09/11 14:57


Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de conversa


Durante muito tempo, acreditou-se que dominar a língua
portuguesa era falar difícil, ou seja, empregar vocabulário culto
e usar frases de efeito com estrutura mais complexa. Hoje, no
entanto, sabemos que usar bem o português é, sobretudo, saber
adequar a linguagem a diferentes situações sociais das quais
participamos. Por exemplo, sabemos que é preciso ter um cuidado
especial com a língua quando nos submetemos a uma entrevista
de emprego, ou quando elaboramos um texto acadêmico. Mas,
em uma conversa com amigos ou familiares, podemos usar uma
linguagem mais coloquial. Assim sendo, pode-se dizer que a
língua apresenta variações e o que determina a escolha de tal ou
tal variedade é a situação concreta de comunicação.

Esse é o tema da presente unidade, que tem como objeto o estudo


da linguagem e suas variações. Aqui, você encontrará conceitos
básicos de introdução para um trabalho de leitura e produção de
textos.

São conceitos essenciais, que serão retomados no decorrer das


demais unidades, logo, precisam ser bem compreendidos para
facilitar o seu crescimento na disciplina.

Bons estudos!

Seção 1 – Língua, linguagem e variação


Comunicação provém de communicare, verbo latino que significa
pôr em comum. Para Medeiros (2000, p. 15), a finalidade da
comunicação é pôr em comum não apenas as ideias, sentimentos,
pensamentos, desejos, mas também compartilhar formas de
comportamento, modos de vida determinados por regra de
caráter social.

A comunicação implica, fundamentalmente, a utilização de uma


linguagem.

16

leitura e producao textual.indb 16 09/09/11 14:57


Leitura de Produção Textual

Como podemos observar na tirinha abaixo:

Como você pode ver, o papagaio se comunica com Hagar


utilizando a fala. Mas podemos observar que o cachorro também
se comunica, quando rosna para o papagaio, levando esse a
entender que o cão também queria bolacha. O humor da tira se
dá pelo fato de o papagaio, sentindo-se ameaçado, racionalmente
interpretar o desejo do cachorro e, imediatamente, fazer
algo que só os seres humanos são capazes de fazer, “produzir
enunciado consciente”. Ou seja, os animais apenas reproduzem
instintivamente a comunicação, ao contrário do homem que a
produz consciente e intencionalmente. Essa característica do ser
humano é que nos possibilita a vida em sociedade.

A linguagem humana, segundo Koch (1997a, p. 9), tem


sido concebida de maneiras diversas, e a mais recente dessas
concepções considera a linguagem como atividade, como forma
de ação, como lugar de interação, que possibilita aos membros de
uma sociedade a prática dos mais diversos tipos de atos.

Assim sendo, podemos afirmar que a linguagem Humana é


um sistema organizado de sinais, que permite a expressão ou
representação de idéias, desejos, sentimento, emoções, como
podemos observar nos dois exemplos abaixo:

É PROIBÍDO FUMAR

Unidade 1 17

leitura e producao textual.indb 17 09/09/11 14:57


Universidade do Sul de Santa Catarina

Como podemos ver, a linguagem se materializa de duas formas.


Na primeira, temos a linguagem verbal, em que são utilizados
signos (no caso, as palavras), os quais são uma modalidade
constituída de um sistema de sinais convencionados. Esse
conjunto de signos é o que denominamos de língua. No segundo
exemplo temos a linguagem não verbal que usa os gestos, os
sinais e as imagens.

A linguagem se materializa de duas formas. Na primeira,


denominada de linguagem não verbal, exploram-se sinais,
gestos e imagens. Na segunda, denominada de linguagem
verbal, utilizam-se signos, ou seja, é uma modalidade constituída
de um sistema de sinais convencionados. Esse conjunto de signos
é o que denominamos de língua.

Bem, agora que já abordamos os conceitos básicos sobre a


linguagem humana, vamos resumi-los para assimilá-los melhor.

• Linguagem: capacidade de o ser humano se


comunicar por meio de um língua.
• Língua: código, sistema de signos convencionais
usados pelos membros de uma mesma comunidade.
• Linguagem verbal: constituída de um sistema de
códigos convencionados.
• Linguagem não verbal: constituída por imagens,
gestos, emoticons, expressão facial etc

Observe os dois exemplos que seguem: A e B

Texto A
Uma das maneiras de ver o mundo é sob a figura da antítese.
Assim, as categorias que encontramos são: os ricos e os pobres, os
brancos e os negros, os homens e as mulheres, os heterossexuais e
os homossexuais etc.

18

leitura e producao textual.indb 18 09/09/11 14:57


Leitura de Produção Textual

Texto B

Figura 1.1 – Ilustração sobre antítese


Fonte: Platão e Fiorin. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Ática,1996.

É fácil perceber que no primeiro exemplo, por meio da


linguagem verbal, há uma afirmação genérica entre as diferenças
existentes no mundo. Da mesma forma, no segundo, essa
temática aparece, uma vez que a figura pretende, por meio da
oposição entre a cor e o tamanho das mãos, chamar a atenção
para a fome e a desnutrição no continente africano.

Há que se acrescentar, ainda, que podemos utilizar também a


linguagem mista, ou seja, a fala e as imagens, os gestos, os sinais
para nos comunicarmos. Nesse sentido, fazemos uso, então, da
chamada linguagem mista, como na charge abaixo.

Texto C

Figura 1.2 – Charge do Lula Papai Noel


Fonte: Folha de São Paulo, 18/11/2006.

A compreensão desse texto de humor ocorre pela associação


da imagem-figura de Papai Noel – com a linguagem verbal

Unidade 1 19

leitura e producao textual.indb 19 09/09/11 14:57


Universidade do Sul de Santa Catarina

– o conteúdo das cartas e a fala da personagem. Inclusive a


própria definição da personagem – Presidente Lula e Papai Noel
– depende do conteúdo de sua fala.

— Então, agora que você já sabe que língua é um código por meio do
qual as pessoas se comunicam e interagem entre si, passemos ao seguinte
questionamento:

A língua portuguesa, no Brasil, é um código único a


todos os falantes?

Para responder à pergunta acima, você deve levar em conta,


por exemplo, a diferença que existe na linguagem em diversos
níveis, como: a linguagem que você usa com o seu chefe não
é a mesma que você usa com os seus amigos. Ou ainda, o
vocabulário dos jovens está mais aberto às mudanças e novidades,
diferente do que acontece com os mais idosos, que tendem a um
conservadorismo. Aliás, causa-nos grande estranhamento ouvir
pessoas idosas, por exemplo, usando uma gíria, não é mesmo?
Isso acontece porque temos consciência de que há várias formas
de usarmos a língua que falamos.

Assim sendo, se você respondeu NÃO para a pergunta anterior,


então, você já está próximo do conceito do assunto que segue, ou
seja, Variação Linguística.

A língua portuguesa, como todas as línguas do mundo, não se


apresenta de maneira uniforme em todo o território brasileiro.
Aliás, assim como a cultura brasileira é plural, há também a
pluralidade linguística, o que é facilmente observado em nosso
país. Essa pluralidade é o que denominamos variação linguística,
e esse é o tema que vamos abordar agora.

Mas qual é o objetivo de estudarmos tal assunto?

Estudar a variação linguística oportunizará você a perceber que


diversos fatores, como região, faixa etária, classe social e profissão
são responsáveis pela variação da língua. Devemos observar, no

20

leitura e producao textual.indb 20 09/09/11 14:57


Leitura de Produção Textual

entanto, que não há um uso melhor que o outro. Em uma mesma


comunidade linguística, coexistem usos diferentes, não existindo
um padrão de linguagem que possa ser considerado superior.

O que determina a escolha de tal ou tal variedade é a


situação concreta de comunicação.

Níveis de variação linguística


É importante observar que o processo de variação ocorre em
todos os níveis de funcionamento da linguagem, sendo mais
perceptível na pronúncia ou no vocabulário. Também são vários
os fatores que determinam a variação, entretanto, vamos dar
ênfase à variação regional, social e por faixa etária, que serão
explicadas a seguir.

1) Variação regional (territorial ou geográfica)


Ocorre entre pessoas de diferentes regiões, em que se fala a mesma
língua. Segundo Travaglia, essa variação normalmente acontece

[...] pelas influências que cada região sofreu durante


sua formação; porque os falantes de uma dada região
constituem uma comunidade linguística geograficamente
limitada, em função de estarem polarizados em termos
políticos, econômicos, culturais e desenvolverem, então,
um comportamento linguístico comum que os identifica
e distingue. (2002, p. 42).

Então, como você pode ver, são diferentes os falares que se


encontram no Brasil, como: os falares gaúcho, nordestino,
carioca, o chamado dialeto caipira etc.

Essa diferença pode ser percebida em relação à pronúncia, como


por exemplo, a diferença do r e do s, na fala de cariocas, gaúchos,
paulistas. Além disso, também fica evidente a diferença em nível
vocabular, pois temos várias palavras usadas para fazer referência
ao mesmo objeto, e o uso de um ou outro vocábulo varia de
região para região. É o que ocorre em:

Unidade 1 21

leitura e producao textual.indb 21 09/09/11 14:57


Universidade do Sul de Santa Catarina

„„ pipa – papagaio – pandorga – maranhão;


„„ pão francês – pão de trigo – cacetinho;
„„ aipim – mandioca – macaxeira.

2) Variação social
Ocorre entre pessoas que pertencem a diferentes grupos sociais.
Nesse caso, podemos dividir a língua em vários “dialetos” ou
“jargões” que, na dimensão social, representam as variações que
ocorrem de acordo com a classe a que pertencem os usuários da
língua.

Podemos, então, considerar como variedades dialetais de


natureza social, os jargões profissionais (linguagem dos artistas,
médicos, professores, operários), como também as gírias usadas
por diversos grupos como: jogadores de futebol, cantores de Rap,
frequentadores de academias de ginástica etc. Assim, pessoas
com relações bastante estreitas e interesses comuns tendem a usar
uma linguagem mais específica.

Vejam os exemplos nos textos a seguir:


Então, a nossa filosofia é mostrar pras pessoas, né,
tentar passar pras pessoas que elas podem brilhar,
que elas são importantes (...) Então nós viramos pro
negro e falamos: pô, negócio seguinte, tu é bonito, tu
não é feio como dizem que tu é feio. Teu cabelo não
é ruim como dizem que teu cabelo é ruim, entendeu?
Meu cabelo é crespo, entendeu? Existe cabelo crespo,
existe cabelo liso. Não tem essa de cabelo bom,
cabelo ruim. Por que que cabelo de branco é bom e
meu cabelo é ruim?
(Fala de um cantor de Rap)

Outro dia o coruja estava batendo lata e encontrou


um tatu.
- E aí? Eles acertaram o pilão?
- Que nada, o espada abiu o caderno e passou o maior
chapéu no piolho!

(FUSARO, Kárin. Gírias de todas as tribos. São Paulo: Panda, 2001)

22

leitura e producao textual.indb 22 09/09/11 14:57


Leitura de Produção Textual

Você entendeu os textos dos exemplos? Talvez você sinta


dificuldades em relação ao segundo, caso você não compreenda a
gíria dos taxistas. Releia o texto, considerando este vocabulário:

Gíria Significado

Abrir o caderno Falar demais, contar a vida.

Bater lata Andar com o carro vazio, à procura de passageiro.

Chapéu Golpe, ato de não pagar ao taxista.

Coruja Taxista que trabalha no período noturno.

Espada Passageiro difícil de enganar.

Pilão Corrida prefixada.


Taxista que assalta o passageiro, até mesmo à mão
Piolho armada.
Tatu Passageiro inocente, vítima fácil.

Quadro 1.1 – Referência de gírias e seus significados


Fonte: Elaboração do autor.

3) Variação por faixa etária


Os dialetos, na dimensão de idade, representam as variações
decorrentes da diferença no modo de usar a língua de pessoas
de idades diferentes, normalmente em faixas etárias diversas:
crianças, jovens, adultos e velhos.

Assim, seria um fato raríssimo presenciarmos uma pessoa idosa


usando expressões como linkar (ligar um site a outro), subir um
arquivo (mandar um arquivo para a internet), até mesmo pela
pouca ou nenhuma intimidade que esse grupo de pessoas tem
com o computador e, consequentemente com a internet.

— Até aqui você viu algumas variações linguísticas. Na próxima


seção, você verá a variação de registro, que também é um conceito
importante no estudo da linguagem.

Unidade 1 23

leitura e producao textual.indb 23 09/09/11 14:57


Universidade do Sul de Santa Catarina

Seção 2 – Níveis de linguagem


Na seção anterior, você estudou os conceitos de língua e
linguagem, assim como as variações linguísticas. Dando
continuidade ao assunto, vamos abordar a variação de registro,
que se define pela forma de utilização da linguagem, levando em
conta o contexto da situação.

Um exemplo disso é a forma como falamos com


um adulto ou com uma criança. Quando falamos
com a criança, a nossa linguagem é mais gestual,
mudamos o tom da voz, ou seja, imitamos as
próprias crianças.

Antes de estudar esse tipo de variação, que chamaremos de níveis


de linguagem, é necessário que você reflita um pouco sobre as
características da língua falada e da língua escrita. Nas situações
de fala, há um contato direto entre os interlocutores, isto é, falante
e ouvinte, o que nos permite fazer repetições e explicações, caso
nosso ouvinte não nos compreenda. Quando estamos em uma
conversa, mudamos o tom, para dar ênfase a alguma informação,
interrompemos, ou somos interrompidos, deixamos frases
incompletas, ou, ainda, mudamos o “rumo” do assunto. Isso denota
uma outra característica da linguagem oral, a fragmentação. Ou
seja, na linguagem oral adequamos a nossa fala, ajustando-a ao
interlocutor para sermos por ele compreendidos.

Já nas situações de escrita, o contato entre autor e leitor


é indireto, logo, torna-se necessária a formulação de um
texto claro, possível de ser compreendido pelo leitor, sem a
possibilidade da intervenção simultânea do autor. No texto
escrito, as reformulações não são percebidas pelo interlocutor.
Ainda que seja reescrito, o texto que chega ao interlocutor não
apresenta essas marcas. Nesse nível de linguagem não há a
fragmentação e o uso de frases incompletas, a não ser que seja
uma atitude intencional do autor, ou o seu estilo de escrita. Mas,
normalmente, o texto escrito é completo, com um vocabulário
amplo, para evitar as repetições, comuns nas falas.

24

leitura e producao textual.indb 24 09/09/11 14:57


Leitura de Produção Textual

Veja o exemplo dos dois fragmentos abaixo. O primeiro, é um


trecho da música Valsinha, de Chico Buarque de Holanda, e o
segundo uma conversa informal.

Ex1.
Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costumava
olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto
convidou-a pra rodar

Ex2.
Putz... daí a pouco ele chegou e..... nossa! Tava meio estranho.
Olhou pra ela dum jeitão meio estranho ... eh.....Daí, chegou
junto e pegou ela pra dançar.

Como podemos ver, há uma série de diferenças entre fala e


escrita, em relação à estrutura e à organização do texto. Nos dois
exemplos percebemos que o texto escrito tem um vocabulário
amplo, as frases são completas, não há marcadores de oralidade
como “daí”, “putz”, “eh”, bem diferente do que ocorre no
fragmento da conversa informal.

Para deixar mais clara as diferenças entre a modalidade oral


e a escrita, apresentamos, a seguir, o resumo de algumas
características da linguagem oral, extraído do texto de Graciema
Pires Therezo, seguido de um quadro comparativo entre aquela
linguagem e a linguagem escrita.

Algumas diferenças apresentadas por Graciema são:

„„ Na linguagem oral é recorrente o uso de onomatopeia,


exclamações e entonações. Ex: Putz! Que “noia”!.
„„ Os anacolutos (rupturas de construção da frase, que se
desviam da trajetória) também são comuns na fala. Ex:
Essas empregadas, não tenho tido sorte com empregadas
domésticas nos últimos anos.

Unidade 1 25

leitura e producao textual.indb 25 09/09/11 14:57


Universidade do Sul de Santa Catarina

„„ A repetição de palavras é uma outra marca frequente


da linguagem oral. Ex: A notícia que eu li no jornal de
ontem é uma notícia muito séria e não é todo dia que se
lê uma notícia como essa.
„„ A fala emprega formas descontraídas e gírias. Ex: Tô na
pressão, mina... As provas na facu tão chegando.
„„ O uso de certas construções, consideradas difíceis, são
pouco usadas na linguagem falada. Ex: Os funcionários,
cujos cargos são indicados, têm melhores salários.

Língua oral Língua escrita

Repetição de palavras Vocabulário amplo e variado

Frases inacabadas e interrompidas Frases completas

Sequência de orações com ou sem conexão Orações coordenadas ou subordinadas

Frases feitas, clichês, provérbios, gírias Uso restrito de frases feitas, provérbios, gírias

Marcas da oralidade, como daí, né, tá etc. Ausência desses marcadores

Quadro 1.2 – Comparativo entre língua oral e escrita


Fonte : Elaboração do autor.

As características do Quadro 1.2 são predominantes, mas não


podem ser vistas como exclusivas do texto oral ou do texto
escrito.

Você sabe que nossa produção oral não é sempre igual.


Quando falamos, fazemos variações em função do contexto da
conversação e de nossos interlocutores. Assim também a escrita
não é uniforme. Podemos escrever de várias formas, considerando
a finalidade do texto e o leitor a quem nos dirigimos, concorda?

Isso significa que há outro tipo de variação, que pode ser


registrado tanto na fala quanto na escrita. Por isso, mais
importante que observar as variações entre fala e escrita é
observar e fazer uso das diferenças entre os níveis de linguagem.

26

leitura e producao textual.indb 26 09/09/11 14:57


Leitura de Produção Textual

Veja o quão estranho nos soa a linguagem de Calvin no quadrinho


abaixo:

Ainda que os personagens estejam usando uma linguagem correta,


fica evidente que ela é inapropriada, pois ninguém usa essa
formalidade quando conversa com os pais. Certo?

Assim sendo, fica claro que usar a linguagem correta também


é saber usar o nível de linguagem ideal para cada contexto
comunicativo. Perceba que em casa, no trabalho, no encontro com
os amigos, expressamo-nos de diferentes formas, ou seja, não nos
referimos ao nosso chefe da mesma maneira como nos dirigimos a
um amigo, não é mesmo? Nesse sentido, temos de estar atentos à
necessidade de usarmos adequadamente os níveis de linguagem, que
são: coloquial ou familiar, popular, padrão e culta.

A modalidade coloquial ou familiar é usada entre amigos. Com


um vocabulário suficiente para que a comunicação aconteça,
essa modalidade é arcada pela descontração da oralidade. Nela
podemos encontrar, também, o uso de algumas gírias ou, ainda,
inadequações, ou “deslizes” gramaticais.

A modalidade popular é mais usada por aqueles que têm pouco


conhecimento da língua portuguesa, ou seja, pessoas que pouco
frequentaram a escola. Essa modalidade é marcada pelo uso de
gírias, por graves erros gramaticais e por um vocabulário restrito.

Unidade 1 27

leitura e producao textual.indb 27 09/09/11 14:57


Universidade do Sul de Santa Catarina

A modalidade padrão é aquela considerada correta. Encontramos


facilmente essa linguagem nos jornais, escritos ou falados, É
marcada pelo uso correto das normas gramaticais e por um
vocabulário livre de gírias.

Alguns autores fazem uma distinção entre as modalidades padrão


e culta. Dentre eles destacamos Graciema Pires Therezo, para
quem a modalidade culta está acima da linguagem padrão (2008).
Essa é a variedade linguística de maior prestígio social. É aquela
usada nas situações formais, tanto na fala quanto na escrita. O
uso de um vocabulário amplo é a marca dessa modalidade. “É
utilizada nos textos didáticos de curso superior, nos comentários
críticos de cientistas políticos e econômicos, nas teses e dissertações
acadêmicas, em artigos científicos” (2008, p. 40).

A modalidade culta é a língua padrão. É a variedade


linguística de maior prestígio social. É aquela usada
nas situações formais tanto na fala quanto na escrita.

É facilmente observada em um discurso de formatura, na


apresentação de um projeto, na defesa de uma monografia, ou ainda,
na produção de textos acadêmicos, jurídicos, empresariais etc.

A modalidade coloquial é a linguagem que


utilizamos no nosso cotidiano, para situações
informais, tanto na fala quanto na escrita.

É a linguagem que usamos no nosso dia a dia, nas conversas


com os amigos, com a família, ou ainda, na produção de alguns
textos, como bilhetes ou mensagens eletrônicas.

Precisamos ficar atentos, porém, ao fato de que não há um limite


rígido para a distinção dessas modalidades. A distinção entre os
níveis de linguagem é determinada pela situação de interlocução,
ou seja, usa-se uma ou outra modalidade, ou nível de linguagem,
em função do nível de formalidade exigido pelo contexto.
Assim, situações mais informais permitem o uso da modalidade
coloquial e situações mais formais exigem o uso da modalidade
culta. Veja os seguintes exemplos:

28

leitura e producao textual.indb 28 09/09/11 14:57


Leitura de Produção Textual

Situação hipotética: confraternização entre os


funcionários da empresa X.
Contexto 1

Se você ficar encarregado de publicar um convite


a todos os funcionários, você se preocupará em
ser objetivo e, principalmente, ser compreendido
por todos, até mesmo pelos que não o conhecem.
Além disso, como pessoas que ocupam cargos
hierarquicamente superiores ao seu, também serão
seus interlocutores, você tenderá à formalidade.
Provavelmente, seu texto ficará parecido com o que
sugerimos abaixo.

“No espírito de encerramento de mais um ano de trabalho,


convidamos a todos os colaboradores desta empresa para um
jantar comemorativo.

Local: Restaurante XXX

Data: 15/12/2006

Horário: 20 horas

É necessário confirmar presença até dia 10/12/2006, pelo e-mail


XXX@XX.br.”

Contexto 2:
Agora você é um dos funcionários da empresa
que recebeu o convite. Seu interesse é saber se as
pessoas que trabalham mais próximas de você, ou
seja, aquelas com as quais você tem mais intimidade
comparecerão. Muito provavelmente, você mandará
a elas um e-mail, de forma descontraída, próximo ao
sugerido:
“E aí, pessoal. Tô a fim de ir no jantar do dia 15. Quem vai? Vamos
combinar um esquema de carona? Tô esperando. Abração.”

Sabemos que a maioria das situações de fala tendem a ser mais


informais que as situações de escrita, o que leva as pessoas a
uma conclusão equivocada: é comum que as pessoas façam uma
associação de conceitos e denominem uma modalidade como

Unidade 1 29

leitura e producao textual.indb 29 09/09/11 14:57


Universidade do Sul de Santa Catarina

linguagem oral/coloquial e a outra como linguagem escrita/


culta. No entanto, como você pode ver no exemplo acima, houve
a ocorrência dos dois níveis – culto e coloquial – nos dois textos
simulados, e ambos foram produzidos de forma escrita.

Além disso, lembre-se de que os conceitos anteriormente


apresentados explicitam que tanto a modalidade culta quanto a
coloquial aparecem em situações de fala e escrita.

É importante não confudir essa diferença entre


modalidade culta e coloquial com a diferença entre
fala e escrita.

Para finalizar esta seção, gostaríamos de reforçar que o objetivo


de estudar as modalidades que lhe foram apresentadas é fazer
com que você fique atento à necessidade de adequação de seu
texto falado ou escrito à situação de uso. O ideal é que você se
sinta apto a fazer uso da modalidade culta, quando isso se fizer
necessário, e da modalidade coloquial, em situações permitidas.
Lembre-se disso, no decorrer da disciplina, em todas as
atividades de produção textual.

A seguir, você estudará as funções da linguagem como um dos


recursos disponíveis para marcar a intencionalidade de um texto.

Seção 3 – Funções da linguagem


Como você já estudou na primeira seção, a linguagem é utilizada
para que a comunicação se efetive. Para isso, em um processo de
comunicação, alguns elementos são necessários, tais como:

„„ Emissor – aquele que emite, codifica a mensagem.


„„ Receptor – aquele que recebe, decodifica a mensagem.
„„ Mensagem – o conteúdo transmitido pelo emissor.

30

leitura e producao textual.indb 30 09/09/11 14:57


Leitura de Produção Textual

„„ Código – o conjunto de signos usado na transmissão e


na recepção da mensagem.
„„ Referente – o contexto relacionado ao emissor e ao
receptor.
„„ Canal – o meio pelo qual a mensagem circula.
No processo de comunicação, todos esses elementos estão
envolvidos, mas, em razão da intencionalidade do texto, um ou
outro elemento deve ser enfatizado, o que resulta nas funções da
linguagem.

A seguir, apresentamos cada uma das funções, suas características


e contextos de ocorrência, finalizando com um exemplo.

1. Função emotiva (ou expressiva)


É centralizada no emissor, revelando sua opinião ou emoção.
Portanto, é notável no texto o uso da primeira pessoa do singular,
das interjeições e exclamações. Predominante em textos literários,
biografias, memórias, cartas pessoais.

O meu amor, o meu amor, Maria


É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá)
Canta e vai-se embora
Outra nem isso, Mal chega, vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.
(POEMINHA SENTIMENTAL, Mário Quintana)

2. Função referencial (ou Denotativa)


É centralizada no referente, quando o emissor procura oferecer
informações da realidade. A linguagem do texto é objetiva, direta
e prevalece o uso da terceira pessoa do singular.

Unidade 1 31

leitura e producao textual.indb 31 09/09/11 14:57


Universidade do Sul de Santa Catarina

Predominante em textos acadêmicos, científicos e em alguns


textos jornalísticos, como a notícia.

EDUCAÇÃO NÃO REDUZ DESIGUALDADE RACIAL


Estudo do IBGE revela que quanto maior a
escolaridade do trabalhador brasileiro, maior é a
diferença no salário dos brancos em relação ao dos
pretos e pardos. O levantamento teve por base a
Pesquisa mensal de Emprego do instituto, restrita às
seis maiores regiões metropolitanas do país. (Folha de
São Paulo, 18/11/2006, p. 01)

3. Função apelativa (ou conativa)


É centralizada no receptor. Como o emissor se dirige ao receptor,
é comum o uso dos pronomes tu e você, ou o nome da pessoa
a quem o emissor se refere. Visa a persuadir, a convencer o
interlocutor.

Predominante em sermões, discursos e textos publicitários, já que


esses se dirigem diretamente ao consumidor.

Celular de graça
Na sua mão
CLARO
A vida na sua mão
Você ainda ganha o dobro de minutos do seu
plano por até 12 meses.

(Texto publicitário – NOKIA – publicado no Diário Catarinense em


19/11/2006)

32

leitura e producao textual.indb 32 09/09/11 14:57


Leitura de Produção Textual

4. Função fática
É centralizada no canal, tendo como objetivo prolongar ou
não o contato com o receptor, ou testar a eficiência do canal.
Predominante na conversação, como saudações, falas informais
e falas telefônicas, quando fazemos uso da linguagem mais
por exigência das relações sociais do que pela necessidade de
transmissão da mensagem.

No elevador:
- Bom dia!
- Bom dia!
- Que calor tem feito.
- Pois é.
- Até logo.
-Tchau.

5. Função poética
É centralizada na mensagem, revelando recursos imaginativos
criados pelo emissor. Valorizam-se as palavras e suas
combinações, além da forma como é transmitida a mensagem.
Predominante em textos com linguagem figurada, como poemas,
letras de música, textos publicitários.

Quando os sapatos ringem


- quem diria?
São os teus pés que estão cantando!

(QUINTANA, Mário. Verão. In: Mário Quintana de


Bolso. Porto Alegre: L&M, 1997, p. 140.)

6. Função metalinguística
É centralizada no código. É quando a linguagem é usada para
falar dela mesma. Ocorre quando um texto comenta outro texto,
ou quando o poema fala do próprio poema, ou o cinema explica
como se faz um filme.

Predominante em dicionários.

Unidade 1 33

leitura e producao textual.indb 33 09/09/11 14:57


Universidade do Sul de Santa Catarina

As expressões são data venia, permissa venia,


concessa venia. O senhor, para não usar de
aspereza com o juiz, o senhor bota data venia,
que quer dizer “com o devido respeito”, bota
antes data venia e aí fala o que quiser para o juiz.
Os sinônimos de data venia seriam permissa
venia, concessa venia. Eu jamais repito data venia
no mesmo processo. Só data venia, data venia,
fica enfadonho, né? (Fala de um advogado no
exercício de sua função).

É importante você observar que os textos selecionados


apresentam como função predominante aquela que pretendemos
exemplificar, mas isso não exclui a possibilidade de um mesmo
texto apresentar mais de uma função de linguagem, fato que
ocorrerá na atividade proposta para esse assunto.

Síntese
Ao término desta unidade, você deve ter compreendido alguns
conceitos básicos para o estudo da língua portuguesa, os quais
retomaremos aqui:

Linguagem deve ser definida como a capacidade de


comunicação do ser humano. Manifesta-se tanto por signos
linguísticos, ou seja, por palavras, quando denominada de
linguagem verbal, quanto por imagens, o que caracteriza a
linguagem não verbal.

Língua é um código, conjunto de signos, estabelecido por uma


determinada sociedade, em um determinado espaço geográfico.

As línguas não são uniformes. Elas variam, pois as pessoas falam


de modo diferente em relação à pronúncia, ao vocabulário, ao
uso de gírias e expressões e à estrutura gramatical. Vários fatores
podem influenciar essa variação, mas apresentamos como os
mais relevantes alguns fatores externos, tais como:

34

leitura e producao textual.indb 34 09/09/11 14:57


Leitura de Produção Textual

„„ Geográfico: variação decorrente do local onde o falante


vive.
„„ Social: variação decorrente do grupo social ao qual o
falante pertence, ou à profissão que exerce.
„„ Idade: variação decorrente da faixa etária do falante,
uma vez que as expressões coloquiais e as gírias mudam
rapidamente com o decorrer do tempo.
Além de a linguagem apresentar variações regionais, sociais e de
faixa etária, há que se considerar, ainda, a variação de registro.
Ou seja, o mesmo falante tem possibilidades de diferentes usos
da língua. Por exemplo, em situações informais temos a opção
de usar o nível coloquial; já em situações formais, o nível culto
certamente é o mais adequado. Ou seja, usar a linguagem culta,
a coloquial, a familiar ou a padrão depende das situações de
comunicação em que estamos inseridos.

Seis elementos compõem o processo de comunicação: emissor,


receptor, mensagem, código, contexto e canal. Quando
produzimos nossos textos, enfatizamos um ou outro elemento,
de modo intencional, o que resulta em seis diferentes funções da
linguagem: emotiva, centrada no emissor; apelativa, centrada
no receptor; poética, centrada na mensagem; metalinguística,
centrada no código; referencial, centrada no contexto, e fática,
centrada no canal.

Unidade 1 35

leitura e producao textual.indb 35 09/09/11 14:57


Universidade do Sul de Santa Catarina

Atividades de autoavaliação
1) Leia com atenção a história abaixo e em seguida responda:.

Fonte: http://www.portalimpacto.com.br
36

leitura e producao textual.indb 36 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

a) A que variedade linguística o personagem Analista de Bagé nos remete?

b) Destaque do texto palavras ou expressões que evidenciem a variedade


linguística apontada.

d) Destaque os marcadores linguísticos da linguagem oral apresentada no


diálogo dos dois personagens;

2) Analise o quadro abaixo e indique se a linguagem está ou não


adequada à situação. Justifique a sua resposta.
a)

Situação E-mail de uma adolescente a uma amiga


E aí, cara?
Enunciado
Vamos no cinema à noite? Bj
Adequação

Unidade 1 37

leitura e producao textual.indb 37 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

b)

E-mail de uma adolescente a uma


Situação
professora

Professora,
Mando-lhe este e-mail para justificar minha ausência no dia da prova.
Enunciado Adoeci de repente, mas amanhã estarei de volta na escola e levarei o
atestado médico Obrigada,
Juliana da Silva

Adequação

c)

Situação Fala de um adolescente, ao telefone, direcionada a um amigo.

Boa tarde. Como você está? Gostaria de saber se poderíamos ir ao


Enunciado cinema no sábado. É sabido que nos divertiremos muito.

Adequação

3) Leia atentamente o texto abaixo. Após a leitura, destaque do texto as


características da linguagem falada, exemplificando com as passagens
do texto cada característica destacada. Para concluir, reescreva o texto
usando a linguagem escrita.
“Essa coisa de que pobre é tudo marginal é uma....uma enrolação. Nun
tá cum nada isso. Lembro que... acho que foi cuns 9 ou 10 anos, tinha
uma grafinada lá no bairro que era pra lá de metida a besta. Putz!
Tinha um carinha, mesmo, que.... credo! Se achava! Só na pinta. Roupa
de marca, tênis da hora. Mas daí, sem mais nem menos, passou lá no
portão de casa e o Duque, meu vira-lata, latiu pra ele. O cara, na maior
estupidez, deu uma pedrada no bicho, bem no olho. Nossa! Meu pai,
que ..... meu pai era ignorante, mas não ofendia ninguém. Daí meu pai
pegou e foi lá na casa do cara. Chegou lá, aí a coisa ficou feia. Meu pai,
bem mais educado saiu dizendo, “seu fulano, seu filho jogou pedra no
meu cachorro,coitado. Agora o bicho ta lá, com o olho cego. Vê se dá
educação pra esse guri, né?” Sabe que o coroa nem ligou pro que meu
pai dizia. Minha nossa! Se fosse hoje.... Por isso é que eu acho, que num
ta cum nada achar que quem tem dinheiro tem educação e é bom...
Olha... Pra dize a verdade, sei lá, viu.... pra mim, quem maltrata um
bicho não devia nem ser considerado gente. Devia ser um monstro.

38

leitura e producao textual.indb 38 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

4) O texto que segue é um trecho de uma publicidade institucional


financiada pela Unicef e pela Fundação Odebrecht. Leia-o e identifique
pelo menos duas funções de linguagem.

Você acha normal


que uma criança carente
fracasse na escola?
Nós não.
Os altos índices de repetência escolar só não são mais perversos que o
conformismo da nossa sociedade com esse absurdo. Um absurdo que
está presente de modo significativo entre as classes sociais mais ricas e
de modo esmagador entre as classes mais pobres.

Unidade 1 39

leitura e producao textual.indb 39 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Saiba mais
Para aprofundar os tópicos abordados sugerimos a leitura de:

FARACO, Carlos Alberto e TEZZA, Cristóvão. Prática de


texto para estudantes universitários. Petrópolis, RJ: Vozes,
1992. (Do capítulo primeiro ao sétimo)

BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico: o que é, como se


faz? 51ª ed. São Paulo: Loyola, 2009.

__________. A língua de Eulália: novela sociolinguística. 11


ed. São Paulo: Contexto, 2004

SANTANA, Ana Paula Menezes de. As diferentes linguagens


na sociedade: o papel que as variantes lingüísticas sociais
exercem no processo de formação da língua padrão, causando o
“preconceito linguístico”. Disponível em:

http://www.partes.com.br/educacao/varianteslinguisticas.asp.
Acesso 23/01/2011. 17h39 min.

THEREZO, Graciema Pires. Redação e leitura para


universitários. 2. ed. São Paulo: Alínea, 2008.

40

leitura e producao textual.indb 40 09/09/11 14:58


2
unidade 2

Leitura

Objetivos de aprendizagem

Ao final da unidade você terá subsídios para:

n Diferenciar, a partir de características específicas, textos


literários e não literários.
n Compreender que o processo de leitura como
construção de sentido envolve conhecimento
contextual.
n Perceber que o processo de leitura como construção de
sentido envolve, também, o uso de estratégias como a
extrapolação do nível explícito de informações.
n Reconhecer as possibilidades de processar inferências
sobre as informações implícitas, tais como os
pressupostos e os subentendidos.

Seções de estudo

Nesta unidade você vai estudar os seguintes assuntos:

Seção 1 O que significa ler?


Seção 2 Possíveis leituras
Seção 3 Nas entrelinhas

leitura e producao textual.indb 41 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de conversa


Nesta unidade, você é convidado à leitura, pois desenvolver essa
competência é um dos objetivos da disciplina. É importante estar ciente
de que para fazer um bom curso superior você deverá dedicar um
tempo aos estudos extra-aula. Esses estudos pressupõem ter às mãos
boas fontes de leitura e fazer bom uso delas. Portanto, é preciso ler.
Sem o exercício da leitura, não será possível desenvolver competências
necessárias ao aprendizado esperado nas diversas áreas, como capacidade
de compreensão, síntese, argumentação e investigação científica.

Portanto, convidamos você a nos acompanhar no roteiro de


leitura proposto nesta unidade, partindo da conceituação básica
sobre o ato de ler, focalizando diferentes modos de leitura, até a
compreensão de como podemos inferir a partir do que lemos.

É necessário que você, ao realizar o estudo de cada seção, busque


ampliar sua prática de leitura, não só aproveitando as referências
bibliográficas que lhe serão indicadas, como também pesquisando
outras fontes nas bibliotecas.

Igualmente se faz necessário que você compreenda que o seu


desempenho nas atividades de escrita (direcionadas nas unidades
subseqüentes) dependerá de leituras prévias, ou seja, ler é
condição essencial para quem se propõe a escrever.

Seção 1 – O que significa ler?


Vamos trabalhar um pouco com a leitura, uma atividade
essencial para quem quer escrever bem. Para tanto, iniciaremos
com os conceitos de leitura de uma forma bastante resumida, e
exercitaremos a leitura e a interpretação de textos variados.

Definir o que significa LEITURA não é uma tarefa fácil, pois, a


cada dia, novos conceitos são atribuídos a esse vocábulo.

Poderíamos considerar, para início de conversa, o conceito mais


abrangente: ler é decodificar códigos. Mas será que apenas juntar
as letras e decodificar as palavras basta para que se faça uma
leitura? Obviamente que não. A leitura é uma atividade muito

42

leitura e producao textual.indb 42 09/09/11 14:58


Leitura e Produção Textual

mais abrangente, pois o ato de ler é um processo que envolve


habilidades que vão além da simples decodificação, como fica
claro no fragmento abaixo

“A leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho


ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir
de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto,
sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a linguagem etc.
Não se trata de extrair informação, decodificando letra por
letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que
implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e
verificação, sem as quais não é possível proficiência. O uso
desses procedimentos que possibilitam controlar o que vai
sendo lido, permite tomar decisões diante de dificuldades
de compreensão, avançar na busca de esclarecimentos,
validar suposições feitas.” (PCN: terceiro e quarto ciclos
do Ensino Fundamental: língua portuguesa/Secretaria de
Educação Fundamental – Brasília: MEC/SEF, 1998, pp.
69-70)

Assim, mais do que decodificar códigos, o que fazemos durante


uma leitura é construir significados a partir daquilo que lemos.
Portanto, se adotamos essa perspectiva de leitura, não podemos mais
considerá-la um simples ato de decodificação de um produto pronto,
mas sim, um processo de significação e de construção do texto.

Nesse sentido, devemos levar em consideração que a leitura é


um processo que se dá a partir da interação entre leitor e texto.
Assim sendo, o leitor constrói o significado do texto a partir dos
objetivos que guiam a leitura.

Pense um pouco: quais motivos levariam você à


realização de uma leitura?

Talvez, sejam diversos os objetivos que o impulsionam a ler um texto,


iniciando pelos mais prazerosos, como devanear, preencher um momento
de lazer, passando pelos mais úteis, como procurar uma informação
concreta, seguir uma pauta de instruções para realizar atividades (cozinhar,
conhecer regras de um jogo), até os mais complexos, como confirmar ou

Unidade 2 43

leitura e producao textual.indb 43 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

refutar um conhecimento prévio, aplicar a informação obtida com a leitura


de um determinado texto na realização de um trabalho.

Independente do objetivo que o conduza ao ato de ler, você deve


atentar para o fato de que, na realização de qualquer atividade de
leitura, como destaca Orlandi (1999), alguns fatores se impõem e,
entre eles, destacamos:

„„ as especificidades e a história do sujeito leitor;


„„ os modos e os efeitos de leitura de cada época e segmento
social.
Dessa forma, ainda que o conteúdo de um texto não mude, é
possível que dois leitores com histórias de leitura e objetivos
diferentes subtraiam dessa leitura informações distintas.

A partir do que vimos anteriormente, podemos


agrupar a definição de leitura em duas grandes
concepções:
• leitura como decodificação;
• leitura como construção de significado.

Considerando a segunda concepção – leitura como construção


de significado – a mais adequada à competência que se pretende
desenvolver nesta disciplina, iniciemos o nosso roteiro de leitura
pela observação de dois textos aqui propostos.

Neste momento, você está convidado a fazer a leitura dos textos para,
em seguida, prosseguir com o conteúdo da unidade. Então, vamos ler?

44

leitura e producao textual.indb 44 09/09/11 14:58


Leitura e Produção Textual

TEXTO 1
Ela tem alma de pomba

Que a televisão prejudica o movimento da pracinha Jerônimo


Monteiro, em todos os Cachoeiros de Itapemirim, não há
dúvida.

Sete horas da noite era hora de uma pessoa acabar de jantar,


dar uma volta pela praça para depois pegar a sessão das 8 no
cinema.

Agora todo mundo fica em casa vendo uma novela, depois


outra novela.

O futebol também pode ser prejudicado. Quem vai ver um


jogo do Cachoeiro F.C. com a estrela do Norte F.C., se pode
ficar tomando cervejinha e assistindo a um bom Fla-Flu, ou a
um Internacional X Cruzeiro, ou qualquer coisa assim?

Que a televisão prejudica a leitura de livros, também não há


dúvida. Eu mesmo confesso que lia mais quando não tinha
televisão.

Rádio, a gente pode ouvir baixinho, enquanto está lendo um


livro. Televisão é incompatível com livro – e com tudo mais
nesta vida, inclusive a boa conversa...

Também acho que a televisão paralisa a criança numa cadeira


mais que o desejável. O menino fica ali parado, vendo e ouvindo,
em vez de sair por aí, chutar uma bola, brincar de bandido,
inventar uma besteira qualquer para fazer. Por exemplo: quebrar
o braço.

Só não acredito que televisão seja “ máquina de fazer doido”.

Até acho que é o contrário, ou quase o contrário: é máquina de


amansar doido, distrair doido, acalmar, fazer o doido dormir.

Quando você cita um inconveniente da televisão, uma boa


observação que se pode fazer é que não existe nenhum aparelho de
TV, em cores ou em preto e branco, sem um botão para desligar.

Unidade 2 45

leitura e producao textual.indb 45 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Mas quando um pai de família o utiliza, isso pode produzir o


ódio e rancor no peito das crianças, e até de outros adultos. Se
o apartamento é pequeno, a família é grande, e a TV é só uma,
então sua tendência é para ser um fator de rixas intermináveis.

- Agora, você se agarra nessa porcaria de futebol.

- Mas, francamente, você não tem vergonha de acompanhar


essa besteira dessa novela?

- Não sou eu não, são as crianças!

- Crianças, para a cama.

Mas muito lhe será perdoado, à TV, pela sua ajuda aos
doentes, aos velhos, aos solitários. Na grande cidade – num
apartamentinho de quarto e sala, num casebre de subúrbio,
numa orgulhosa mansão a criatura solitária tem nela a grande
distração, o grande consolo, a grande companhia. Ela instala
dentro de sua toca humilde o tumulto e o frêmito de mil vidas,
a emoção, o suspense, a fascinação dos dramas do mundo.

A corujinha da madrugada não é apenas a companheira de gente


importante, é a grande amiga da pessoa desimportante e só, da mulher
velha, do homem doente ... ou dos que estão parados, paralisados, no
estupor de alguma desgraça ... ou que no meio da noite sofrem o assalto
de dúvidas e melancolias ... mãe que espera filho, mulher que espera
marido... homem arrasado que espera que a noite passe, que a noite
passe...

(Rubem Braga)

46

leitura e producao textual.indb 46 09/09/11 14:58


Leitura e Produção Textual

Você acaba de ler uma crônica de Rubem Braga e deve estar


pensando: como posso interpretar este texto?

Vamos esclarecer isso. Acompanhe o seguinte roteiro:

1. Você pode já ter lido outras crônicas do mesmo autor, o que


permitirá que você faça comparações deste texto com outros,
em relação à linguagem e ao estilo próprio de Rubem Braga.
Caso isso não tenha ocorrido, é uma boa oportunidade para você
pesquisar sobre o autor. Vá à biblioteca, pesquise na internet e
faça outras leituras.

2. Um dos primeiros aspectos que chama atenção na leitura de Sugestão: Leia Crônicas
5 – Para Gostar de
um texto é a linguagem utilizada: perceba que estamos diante Ler. Editora Ática. Você
de um texto de fácil leitura, uma leitura a ser feita no nosso encontrará outras crônicas
cotidiano, com uma linguagem próxima ao nível coloquial. de Rubem Braga e de mais
Esses traços caracterizam a crônica que, segundo Antônio três autores brasileiros:
Cândido, “não é um gênero maior, [...] é um gênero menor. Carlos Drummond de
Andrade, Fernando Sabino
‘Graças a Deus’, porque assim, ela fica perto de nós. [...] Por
e Paulo Mendes Campos.
meio dos assuntos, da composição aparentemente solta, do ar
de coisa sem necessidade que costuma assumir, a crônica se
ajusta à sensibilidade de todo o dia”.

3. Após essas observações mais gerais sobre o autor e o tipo de


texto por ele produzido, passemos a definir o tema abordado
e o ponto de vista assumido pelo autor em relação a isso. Veja
que o autor fala da “televisão”, um tema conhecido por todos e
já amplamente debatido em nossa sociedade. Em um primeiro
momento, ele nos apresenta as desvantagens da TV. E isso é
feito, em sequência, do primeiro ao sétimo parágrafo do texto.
Ao contrário, no oitavo e nono parágrafos, há a compensação,
quando o autor admite um aspecto positivo da TV. O mesmo
ocorre nos dois últimos parágrafos do texto. Em meio a essa
oposição entre vantagens e desvantagens da TV, o autor lança
uma outra questão. Aponta para a possibilidade que todos
nós temos de desligar o aparelho, caso a programação nos
incomode. E é nesse momento que ele retrata os conflitos
familiares que essa atitude pode causar, por meio de um
diálogo presente na maioria das famílias brasileiras. Então,
podemos concluir que o autor não se posiciona de forma a
defender exclusivamente um ponto de vista, mas nos apresenta
o problema, de forma a nos fazer ponderar sobre os dois lados
da questão. Essa é mais uma característica da crônica, que não

Unidade 2 47

leitura e producao textual.indb 47 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

tem como objetivo a defesa de uma única ideia para persuadir


o leitor. Ao contrário, lança-se o problema para a reflexão.

4. Dada a temática e o posicionamento do autor, passemos a


enumerar os argumentos e a forma como foram apresentados.
Identificamos no texto parágrafos em que são apresentadas
vantagens e desvantagens em relação à TV, então, facilmente
poderemos listar quais seriam esses aspectos:

„„ Negativos: prejudica outras atividades como passeios pela


praça, ida ao cinema, ida ao campo de futebol, leitura
e conversa. No caso das crianças, concorre com outras
brincadeiras que possibilitam mais criatividade e com as
atividades físicas.
„„ Positivos: auxilia no combate à solidão, permite às
pessoas o relaxamento e o desvio das preocupações.
Sim, resumidamente, são esses os argumentos apresentados pelo
autor. Você deve compreendê-los, não necessariamente aceitá-
los. Por fim, o interessante é perceber como esses argumentos
foram formulados: pela linguagem simples e pelos exemplos
do cotidiano, inclusive com locais e situações bem específicas
(Cachoeiros de Itapemirim). Ora, a leitura equivocada seria
aquela que julgasse que o tema do texto é a cidade citada. O uso
de exemplos específicos, no início do texto, não significa que o
problema debatido seja local. O exemplo é apenas uma forma de
representação de algo maior. Cabe a você, leitor ou leitora, fazer
as comparações e as adequações necessárias.

Veja agora o segundo texto, que aborda um tema nada novo, mas
ainda muito pertinente nos dias atuais.

48

leitura e producao textual.indb 48 09/09/11 14:58


Leitura e Produção Textual

TEXTO 2
A ética dos pequenos atos

O que a história real de um político que fura a fila nos ensina


sobre liderança.

É incrível como aprendemos sobre as pessoas


usando a técnica denominada “observação passiva”. Trata-
se, simplesmente, de prestar atenção ao comportamento
humano, especialmente nas pequenas coisas, sem interferir.
Tive recentemente uma experiência com a qual pude aprender
sobre coerência de conduta. Eu estava na sala de embarque do
aeroporto. Também estava ali um conhecido e controvertido
político, desses que passam a maior parte do tempo dando
explicações sobre suspeitas de corrupção.

Quando o funcionário anunciou o embarque,


recomendou que se apresentassem primeiro os passageiros
das filas 15 a 28. Os demais deveriam esperar. É uma técnica
para agilizar a operação. Como eu estava na fileira 12, esperei.
O político, porém, foi o primeiro a se postar no portão de
embarque. Certamente estava no fundo do avião, pensei.
Entretanto, quando entro no avião, ele está sentado em uma
das primeiras poltronas.

Durante o voo refleti sobre o episódio. Por que o fato


me incomodava? Ele não havia atrapalhado a viagem, nem
comprometera a segurança. Sim, mas, por menor que seja,
o descumprimento de uma norma de conduta – ponderei
– constitui uma contravenção. Pequena, inocente e até
insignificante, mas, mesmo assim, uma contravenção. Do
episódio sobraram uma constatação e um aprendizado. A
constatação: certamente, para ele, o negócio é levar vantagem,
mesmo descumprindo as normas, do avião ou da República. O
aprendizado: a ética nas grandes coisas começa nas pequenas.
As pessoas agem no atacado como no varejo. Creia, você
é observado nas pequenas coisas – positivas e negativas –,
principalmente se for o líder de um grupo. Sempre alguém
notará as sutilezas de seu comportamento cotidiano e pensará:
“Ele é assim”.

Unidade 2 49

leitura e producao textual.indb 49 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Para terminar a história do político, o motorista que


me apanhou no aeroporto era seu eleitor e fã, a ponto de
emocionar-se ao vê-lo. E comentou: “Ele é um bom político
– rouba, mas faz”. O que me levou a perguntar-lhe: “O
senhor não acha que ele poderia fazer sem roubar?”. “Mas
ele é um político...São todos assim”, ponderou. Esse conceito
conformista explica muita coisa. Segundo ele, quem detém
o poder, e pode ajudar os outros, fica livre de freios morais,
aplicáveis aos que dependem de sua compaixão.

Não se trata disso, e sim de obrigação. Ele foi eleito


para cuidar dos interesses da sociedade, e não dos seus
próprios. Sobre isso, diria Platão: “Ética sem competência não
se instala. Competência sem ética não se sustenta”. A não ser,
é claro, que levar vantagem em tudo seja um traço cultural, o
que significaria apunhalar a meritocracia. E isso não convém a
ninguém que considere a ética um valor, especialmente se for
um líder.

(Eugênio Mussak. Publicado na revista Você S/A, de


novembro de 2006, p. 114)

Agora, façamos um exercício de leitura, pautando-nos em um


roteiro equivalente ao do texto 1.

Pausa para exercitar a teoria

1. Como já informado, este texto foi publicado na


revista Você S/A. Essa revista é voltada a leitores
com interesse no mercado profissional, por isso
seu foco está em reportagens sobre o desempenho
das empresas, as possibilidades de atualização
e aperfeiçoamento dos profissionais, a busca do
equilíbrio entre carreira e vida pessoal, dicas
econômicas etc. Nesse contexto, é pertinente que haja
um espaço destinado à publicação de textos opinativos
sobre temas relevantes a esse mundo profissional,
como a seção Papo de líder, onde encontramos os
textos do professor Eugênio Mussak, consultor na

50

leitura e producao textual.indb 50 09/09/11 14:58


Leitura e Produção Textual

área de Liderança, Desenvolvimento humano e


profissional.
Caso você tenha mais
2. A compreensão do texto apresentado requer que você
interesse nessa área,
identifique, em um primeiro momento, o tema a ser acesse www.vocesa.com.
debatido e a forma como o autor o aborda. Definimos br e leia a coluna publicada
o assunto de um texto quando respondemos, de mensalmente.
forma bem ampla e genérica, do que o texto trata.
Nesse caso, o assunto em pauta é “ética”. Já o tema,
que é uma delimitação do assunto, só é definido
quando conseguimos especificar qual é o recorte
que o autor faz no texto, isto é, dentre as várias
possibilidades de abordar o assunto geral, qual é a
escolhida pelo autor. Nesse caso, o texto não fala de
ética, de forma geral, ao contrário, fala especificamente
da atitude ética esperada em pequenas coisas. Para isso,
é interessante notar os dois primeiros parágrafos: antes
do debate em si, o autor traz para o texto um trecho
narrativo, em que nos relata um fato ocorrido. A partir
desse relato, que envolve elementos como lugar e
personagens, somos levados ao ponto central do texto:
“o descumprimento a uma norma de conduta”, atitude
essa condenada pelo autor do texto.

3. Tendo clareza sobre o tema e o posicionamento do


autor, passemos a entender qual é a argumentação que
sustenta a sua tese. A pergunta que devemos fazer é:
Por que a atitude do político é condenada? Por que o
autor é contra a atitude do político que, segundo ele,
nem chega a causar problemas e é insignificante? A
resposta que encontramos no terceiro parágrafo é: “A
ética nas grandes coisas começa nas pequenas”. Sim,
esse é o ponto central do texto. Essa é a mensagem
a ser transmitida. Enfim, essa é a tese defendida
pelo autor, que acrescenta ao texto um elemento
mais sofisticado, uma figura de linguagem chamada
comparação, quando segue com “as pessoas agem no
atacado como agem no varejo”. Assim, todo o restante
do texto segue nessa linha argumentativa, chamando
a atenção para o fato de que sempre seremos

Unidade 2 51

leitura e producao textual.indb 51 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

observados e julgados pelos nossos pequenos atos.


Dando sequência, ainda encontramos, no penúltimo
parágrafo, uma crítica à própria postura do brasileiro
que, de um modo geral, aceita a atitude condenada
pelo autor, quando essa parte de um político.
Finalizando a leitura, podemos perceber que, no
último parágrafo, o autor reitera seu posicionamento,
defendendo a ética como um valor a ser considerado e,
como sustentação a sua argumentação, faz referência
a Platão, por meio de um recurso denominado de
citação.

Para finalizar essa seção, você viu que não há uma receita para
aprender a ler. Não há roteiro pré-estabelecido que dê conta de
nortear a leitura de todos os textos. O que propusemos nesta
seção foi mostrar a você alguns pontos que nunca podem ser
desconsiderados nessa atividade:

„„ Busque se informar sobre o contexto: conhecer o autor


e prestar atenção na época e no local de publicação
do texto já fornece pistas de como a leitura deve ser
conduzida. Diante da constatação de “quem escreveu” e
“quem é o leitor alvo”, você já consegue elaborar algumas
expectativas sobre a forma de abordagem do tema.
„„ Leia quantas vezes for necessário para identificar o tema,
a tese defendida, se for o caso, e os argumentos que
sustentam essa tese. Escreva isso em tópicos e observe
como esses tópicos estão divididos nos parágrafos.
„„ Volte ao texto e confira se você sabe o significado de
todos os termos utilizados. Use o dicionário.
Bem, como você pode ver, a compreensão de um texto exige
trabalho, concentração e dedicação. Para isso, um bom recurso
é usar uma estratégia de leitura. Leda Tessari Castello-Pereira,
no livro Leitura de estudo: ler para aprender a estudar e estudar
para aprender a ler, destaca algumas estratégias que são excelentes
recursos para que uma boa leitura seja feita. Dentre algumas
dessas estratégias destacamos:

52

leitura e producao textual.indb 52 09/09/11 14:58


Leitura e Produção Textual

1. Roteiro: essa estratégia sugere que o leitor siga os seguintes


passos:

„„ destacar a tese defendida;


„„ selecionar os argumentos em favor da tese;
„„ destacar os contra-argumentos levantados em teses
contrárias;
„„ apresentar a coerência entre tese e argumento.

2. Comentários de margem

„„ Podem ser resultantes de uma ideia que o texto suscitou,


da lembrança de outros textos.
„„ Servem para registrar o assunto principal daquele
parágrafo.
„„ Devem ser bastante objetivos e sintéticos.
„„ Funcionam como disparador da memória

3. Esquema

„„ É uma forma de reorganizar um texto em tópicos


sequenciais.
„„ Ajuda na seleção e na organização das informações mais
importantes.
„„ Deve apresentar apenas o “esqueleto”, ou seja, “as
palavras-chave” do texto.

4. Roteiro de Leitura

„„ Conjunto de instruções, apresentadas na forma de


tópicos, para orientar a leitura.
„„ Formulação de perguntas que possam guiar a leitura.
„„ Um bom exemplo de roteiro pode ser feito a partir dos
seguintes itens; encontrar o assunto, problema, tese
e argumentos; ou encontrar definições, exemplos; ou
apresentar a linha argumentativa utilizada pelo autor.

Unidade 2 53

leitura e producao textual.indb 53 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

5. Sublinhar

„„ É destacar as ideias principais.


„„ Sua finalidade é destacar elementos que servirão de
orientação para consulta futura; por isso, tem de ser
objetivo e se restringir a palavras ou frases.
„„ É uma estratégia que monitora a compreensão e permite
que se faça um mapeamento do texto.
„„ Auxilia na concentração na hora da leitura, pois com
um objetivo, uma tarefa a realizar, uma ação concreta,
se tem mais facilidade de fixar a atenção na leitura e na
compreensão das ideias.
„„ Possibilita voltar ao texto lido, num outro momento.
„„ Permite fazer uma retomada do texto
Até aqui, nossa intenção foi motivar você a ler e mostrar que
a leitura é um ato complexo, que exige mais que a simples
decodificação das palavras. Como aluno do ensino superior,
você não deve discordar que as leituras que você faz a partir
de agora exigem um comprometimento maior. Assim sendo,
qualquer atividade de leitura, para você, deve envolver disciplina
intelectual, comprometimento e postura crítica, pois o objetivo
dessa leitura, certamente, será a apropriação da “significação
profunda de um texto”. (CATELLO-PEREIRA, 2003, p. 55)

54

leitura e producao textual.indb 54 09/09/11 14:58


Leitura e Produção Textual

Seção 2 – Possíveis leituras


Vamos dar continuidade ao nosso roteiro de leitura, partindo da
observação dos dois textos. Analise-os a seguir.

TEXTO 1
Touro (21/04 a 20/05)

Quando um Taurino está apaixonado, a influência do planeta


de Vênus governa o seu dia. Eles precisam estar completamente
certos de seus parceiros, antes de se comprometerem. A
qualidade negativa dos Taurinos é a possessividade. São
apaixonados, generosos e gostam de presentear seus parceiros
com presentes caros, tendo um bom valor como investimento.
Felicidade e paixão é uma combinação perfeita para ambos,
você e seu parceiro.

TEXTO 2
Touro (21/4 a 20/5)

O que é que brilha sem

Ser ouro? – A mulher de Touro!

É a companheira perfeita

Quando levanta ou quando deita.

Mas é mulher exclusivista

Se não tem tudo, faz a pista.

Depois, que dona de casa...

E a noite ainda manda brasa.

(Vinícius de Moraes)

Os dois textos acima falam sobre o mesmo assunto, o signo de


Touro. Mas há muitas diferenças nos dois textos que podem ser
facilmente apontadas. Vamos apresentar pelo menos três delas:

Unidade 2 55

leitura e producao textual.indb 55 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

A primeira é em relação à forma: o primeiro texto é escrito em


prosa, como se escreve a maioria dos textos (cartas, e-mails,
notícias, resumos, romances etc). Já o segundo, apresenta uma
forma diferente, pois é escrito em versos.

No texto 1 as informações são precisas e tem o objetivo de


informar. No entanto, no segundo, a intenção do autor é
despertar emoção. É “brincar” com o tema e as palavras.

Outra diferença bastante fácil de ser percebida é a linguagem


usada nos dois textos. No primeiro encontramos uma linguagem
objetiva, ou seja, as palavras dizem o que querem dizer.
Dessa forma, temos o que é chamado de LINGUAGEM
DENOTATIVA. No segundo texto, por sua vez, algumas
palavras têm significados diferentes daqueles que encontramos no
dicionário. Um exemplo é a palavra BRASA. Aqui, sabemos que
quando o autor faz referência ao fato de a noite a mulher mandar
brasa, não quer dizer que ela manda literalmente o “carvão
incandescente, mas sem chamas”, como o dicionário define o
termo. Aqui, a palavra brasa está sendo usada no seu sentido
figurado. Essa linguagem é definida como LINGUAGEM
CONOTATIVA.

A partir dessas diferenças, podemos traçar algumas


características do texto literário. Primeiramente, é preciso
considerar que para conhecer o texto literário devemos partir
do princípio de que ele não tem compromisso com a realidade,
com a verdade, com a informação. Literatura é a arte da ficção.
São textos escritos para emocionar, mas também para instruir e
deleitar. Nesse sentido, a literatura em uma importante função
na formação do ser humano, pois, como já nos diz Umberto Eco,
“Ela representa visões de mundo e, como tal, objetiva despertar
sensações no leitor, para que ele sofra, se alegre, reflita, sonhe,
conteste, argumente”. (2003, p.12)

56

leitura e producao textual.indb 56 09/09/11 14:58


Leitura e Produção Textual

Para tanto, o uso da linguagem conotativa é fundamental,


pois esse recurso permite que o texto literário seja dotado de
multissignificação. Ou seja, não há apenas um sentido, uma
interpretação possível para o texto literário.

Concluindo, podemos dizer que o texto literário:

„„ é ambíguo, plurissignificativo e, portanto, aberto a várias


interpretações;
„„ tem uma intenção estética, procurando provocar
a surpresa e o prazer. Para tal, recorre a processos
estilísticos que reflitem um modo original, diferente de
ver e de falar do mundo;
„„ apresenta o compromisso com a verdade da mensagem,
em um plano secundário;
„„ apresenta como recursos predominantes a função poética
da linguagem e a linguagem conotativa;

É preciso tomar cuidado, porém, com a multissignificação que a


linguagem conotativa nos possibilita, pois, como afirma Umberto Eco:
“Há uma perigosa heresia crítica, típica de nossos dias, para a qual de
uma obra literária pode-se fazer o que se queira, nela lendo aquilo que
nossos mais incontroláveis impulsos nos sugeriram”. (ECO, 2003, p. 12)
Platão e Fiorin também nos alertam para os perigos da interpretação
equivocada da linguagem literária. No livro Para entender o texto:
leitura e redação, os autores afirmam que: “Sem dúvida, há várias
possibilidades de interpretar um texto, mas há limites.” (2007, p. 102) E os
autores alertam, “O leitor cauteloso deve abandonar as interpretações que
não encontrem apoio em elementos do texto”. (2007, p. 104)

O texto não literário, por sua vez, procura transmitir com


objetividade uma mensagem. São textos que lemos nos jornais, nas
revistas, nos artigos científicos etc. Assim sendo, o texto não literário:

„„ evita a ambiguidade, procurando a objetividade;        


„„ tem uma intenção utilitária;  
„„ estabelece como relevante a verdade da informação;      
„„ tem como recurso predominante a função informativa e a
linguagem denotativa;
„„ é quase exclusivamente em prosa.

Unidade 2 57

leitura e producao textual.indb 57 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

• A linguagem conotativa, predominante no texto


literário, constitui-se da apresentação das palavras
e das expressões em seu sentido não literal e não
estável. É a linguagem figurada, rica em recursos que
indicam o valor da subjetividade no sentido do texto.
• A linguagem denotativa, predominante no texto
não literário, faz uso das palavras e das expressões
em seu sentido mais literal e estável. É a linguagem
que visa à construção do sentido pelo viés da
objetividade..

Veja se você compreendeu e perceba, no exemplo a seguir, o que


caracteriza o primeiro texto como não literário e o segundo como
literário. Vamos praticar?

O Rio de Janeiro é uma cidade de fama mundial, consolidada como


destino turístico para os diferentes fluxos turísticos que se dirigem ao
cone sul.

Cartão postal do país, a cidade destaca-se por sua exuberante beleza


natural, formada pela perfeita harmonia entre o mar e a montanha.
Junte-se a esta topografia monumentos históricos, variada oferta de
meios de hospedagem, bares, restaurantes, o sol, a praia, o verde das
encostas e chega-se à receita do que faz com que o carioca seja um
povo alegre e hospitaleiro. Nele se identifica o estilo de viver, produzir,
comportar-se, estar atento a todos os acontecimentos, lançar moda e
expressões.

[...]

(http://www.rio.rj.gov.br/comudes/turismo.htm)

58

leitura e producao textual.indb 58 09/09/11 14:58


Leitura e Produção Textual

Retrato de uma cidade

Tem nome de rio esta cidade


onde brincam os rios de esconder.
Cidade feita de montanha
em casamento indissolúvel
com o mar.

Aqui
amanhece como em qualquer parte do mundo
mas vibra o sentimento
de que as coisas se amaram durante a noite.

As coisas se amaram. E despertam


mais jovens, com apetite de viver
os jogos de luz na espuma,
o topázio do sol na folhagem,
a irisação da hora
na areia desdobrada até o limite do olhar.

Formas adolescentes ou maduras


recortam-se em escultura de água borrifada.
Um riso claro, que vem de antes da Grécia
(vem do instinto)
coroa a sarabanda a beira-mar.
Repara, repara neste corpo
que é flor no ato de florir
entre barraca e prancha de surf,
luxuosamente flor, gratuitamente flor
ofertada à vista de quem passa
no ato de ver e não colher.

(Carlos Drummond de Andrade. In: http://www.memoriaviva.com.br/


drummond/poema061.htm)

Você notou que, apesar desses textos abordarem a


mesma temática, eles também possuem diferenças?

Pois bem, o primeiro texto (não literário) fala da cidade do Rio


de Janeiro de modo claro, pois sua linguagem é objetiva e possui
um único sentido: o denotativo. Já no segundo texto (literário),
a linguagem de Drummond é poética, portanto, provoca uma
interpretação por meio de associações, isto é, trabalha com o
sentido não literal: o conotativo.

Unidade 2 59

leitura e producao textual.indb 59 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Seção 3 – Nas entrelinhas


Dando continuidade ao nosso roteiro de leitura, propomos, que
você estude os níveis de informação textual. Quando lemos
um texto, podemos perceber que algumas informações estão
explícitas, ou seja, aparecem claramente expressas, enquanto
outras não. Observe o seguinte exemplo.

Figura 2.1 - Charge


Fonte: Folha de São Paulo, 18/11/2006, A26.

Nesta charge, o que há de informação explícita é exatamente


aquilo que expressa a fala do personagem: alguém foi selecionado
no teste de beleza. Isso nos leva a deduzir, do primeiro
quadrinho, que a selecionada é uma das candidatas presentes na
sala de espera. Claro que essa primeira interpretação se faz pela
associação da linguagem verbal com a não verbal.

No entanto, no segundo quadro, a leitura que podemos fazer da


linguagem não verbal é que o abajur foi selecionado. Porém, se a
nossa leitura se encerra neste ponto, deixamos de atribuir sentido
ao texto, uma vez que causa muita estranheza um objeto ser
selecionado em um teste realizado por pessoas.

Então, ao observarmos a charge mais atentamente, chegamos à


interpretação desejada: entendemos que o padrão de beleza é tão
exigente e até absurdo em relação à magreza das pessoas, que, no

60

leitura e producao textual.indb 60 09/09/11 14:58


Leitura e Produção Textual

ambiente retratado na charge, somente o abajur, sendo um objeto


de menor espessura, enquadra-se no perfil de modelo.

É relevante você saber que só compreendemos isso porque


acionamos o conhecimento que temos do contexto. Sendo
a charge um dos modelos de humor de maior conotação
sociopolítica, seu propósito é ironizar questões atuais da
sociedade, exigindo do leitor conhecimento de mundo, isto é, dos
fatores extralinguísticos aos quais elas se referem, para que ocorra
de fato a compreensão no momento de leitura.

Isso significa que, para a compreensão de enunciados, segundo


Ilari e Geraldi (1987), é necessário que o interlocutor faça
inferências, isto é, leia as informações que se apresentam no texto
de forma implícita.

Assim sendo, podemos afirmar que todo texto tem conteúdo


explícito e implícito. Ou seja, o que há de informações explícitas
é exatamente o que está dito no texto. São informações que
aparecem claramente expressas. As informações implícitas, por
sua vez, são aqueles que o leitor pode inferir da leitura do texto.

Logo, o que você vai aprender nesta seção são os tipos


de inferência, que se classificam como pressupostos e
subentendidos.

Por exemplo, quando dizemos “o professor parou de fumar”,


inferimos que o professor fumava. Esse tipo de inferência
classificamos como pressuposição.

Mas ainda podemos inferir que o professor tomou consciência de


que fumar é prejudicial à saúde. Esse tipo de inferência pode ser
classificada como “subentendido”.

Perceba que chegamos ao pressuposto fumava porque a locução


parou de é uma “pista” de que anteriormente a ação era feita.
Ao contrário, chegar ao subentendido requer conhecimento de
mundo, tanto que, em nosso exemplo, estamos imaginando um
leitor que saiba sobre a ligação entre cigarro e saúde. Isso pode
variar de leitor para leitor, logo, cabe a você fazer a inferência de
acordo com o contexto: ele poderia ter parado de fumar por uma
razão financeira, ou porque sua mulher exigira etc.

Unidade 2 61

leitura e producao textual.indb 61 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Resumindo
Há dois níveis de informação: explícito e implícito.
A informação explícita é a que está literalmente
expressa no texto.
A informação implícita é a que aparece velada no
texto, ou seja, de forma não direta.

Chega-se à leitura do nível implícito por inferências,


que se classificam em pressupostos e subentendidos.

Vamos saber um pouco mais sobre o pressuposto (explícito) e o


subentendido (implícito).

Podemos começar acrescentando que:

Pressuposto:

Ideia expressa de maneira implícita, mas pode ser compreendida


logicamente a partir do significado de certas palavras ou
expressões contidas no texto. É o dado que não se põe em
discussão.

Veja os exemplos:

1. Os resultados da pesquisa eleitoral ainda não chegaram


até nós

Pressuposto: Os resultados já deveriam ter chegado.

2. O caso de tráfico de influência no governo tornou-se


público.

Pressuposto: O caso não era público antes.

Como você viu, os pressupostos foram ativados por marcadores


que podemos denominar de indicadores linguísticos. Dentre
alguns desses marcadores podemos citar:

1. Certos advérbios: ainda, nunca, ontem, agora, depois,


possivelmente etc.

2. Certos verbos: tornar, andar, passar, continuar etc.

62

leitura e producao textual.indb 62 09/09/11 14:58


Leitura e Produção Textual

3. Orações subordinadas adjetivas: restritivas ou


explicativas.

Veja, agora, outros exemplos em que os marcadores linguísticos


ativam o pressuposto.

a) Ele passou a trabalhar.


Pressuposto: ele não trabalhava antes.

b) Ele continua bebendo.


Pressuposto: ele já bebia.

c) Lamento que ele tenha sido demitido.


Pressuposto: ele foi demitido.

d) Antes de meu irmão se casar, ele viajou para a


Europa.
Pressuposto: meu irmão se casou.

Nesses enunciados, estamos chamando atenção para a expressão


que ativa a pressuposição, mas podemos, ainda, retomar a leitura
e fazer outras inferências, ativadas pelo nosso conhecimento de
mundo, inclusas na categoria do subentendido, concorda? Veja
exemplos:

a) Ele passou a trabalhar. (Pressuposto: ele não


trabalhava antes)

Subentendido: ele pagará suas contas, sem precisar


dar satisfações a ninguém.

b) Ele continua bebendo. (Pressuposto: ele já bebia.)

Subentendido: ele terá problemas de saúde.

c) Lamento que ele tenha sido demitido. (Pressuposto:


ele foi demitido.)

Subentendido: a demissão foi injusta.

d) Antes de meu irmão se casar, ele viajou para a


Europa. (Pressuposto: meu irmão se casou.)

Subentendido: ele quis curtir a vida de solteiro.

Unidade 2 63

leitura e producao textual.indb 63 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

A partir dos exemplos acima, tornam-se mais claras as definições


para o subentendido. Nesse sentido, podemos afirmar que os
subentendidos:

„„ são insinuações escondidas por trás de uma afirmação;


„„ são da responsabilidade do ouvinte, pois são resultado da
inferência dele;
„„ podem variar de acordo com o contexto.

Lembre-se de que os subentendidos apresentados


são possíveis leituras, que podem variar de acordo
com o contexto, portanto, não podemos tomar tais
interpretações como “verdadeiras”, diferentemente da
pressuposição, que não pode ser negada por nenhum
leitor.

Observe como fazemos esses tipos de inferência em nosso


cotidiano:

1) Em um texto publicitário publicado na revista Época


(31/06/2006, p. 64), encontra-se o seguinte enunciado:

PROTEÇÃO PARA A GENTE NÃO É


SÓ SE PREOCUPAR COM AIR BAG .
E SIM COM O AIR DE MANEIRA GERAL.

A informação explícita é que a GM possui duas preocupações:


a segurança das pessoas e a preservação do meio ambiente. No
entanto, no nível implícito, há um pressuposto de que as outras
marcas teriam como único diferencial o AIR BAG. Ativamos
esse pressuposto, através da expressão ‘PARA A GENTE
NÃO É SÓ AIR BAG’, o que nos faz inferir que para os
demais concorrentes, apenas o AIR BAG é importante. Além do
pressuposto, podemos acrescentar outras inferências, tais como os
seguintes subentendidos:

64

leitura e producao textual.indb 64 09/09/11 14:58


Leitura e Produção Textual

a) A GM preocupa-se muito com a vida de seus


clientes.

b) A GM quer conquistar um público preocupado com


o meio ambiente.

c) A GM quer montar carros com mais detalhes do que


seus concorrentes etc.

2) Em um texto informativo publicado na Folha Online


(14/11/2006), encontra-se a seguinte chamada:

PASSAGEIROS ENFRENTAM ATRASOS EM VOOS NO


QUARTO DIA DA NOVA CRISE AÉREA

A informação explícita é que há atrasos nos voos. Porém,


implicitamente, há um pressuposto de que já houvera crises
antes. Perceba, então, que esse recurso da pressuposição tem
a função de relembrar o leitor das notícias anteriormente
publicadas. Ainda, caso o leitor desconheça essa informação,
ele poderá recuperá-la ao acionar esse tipo de inferência. Além
disso, o leitor que tem acompanhado as notícias sobre a crise em
questão extrapolará a interpretação, visto que estará munido de
informações contextuais para inferir com subentendidos, por
exemplo:

a) O governo ainda não autorizou a contratação de


novos controladores de voos.

b) O consumidor continua sendo a vítima.

c) As empresas aéreas não ligam para o consumidor


etc.

Desse modo, a partir dos conceitos expostos e dos exemplos


comentados, destacamos a leitura como um processo de
construção de sentido, e assumimos também que esse processo
depende que se alcance o nível implícito dos textos no ato da
leitura.

Unidade 2 65

leitura e producao textual.indb 65 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Atividades de autoavaliação
1) Leia o texto a seguir e responda às questões subsequentes, percebendo
que a interpretação de um texto requer conhecimentos prévios
adquiridos em leituras anteriores.

Que tal desligar a TV?


Brasília – Na minha infância, tínhamos apenas uma televisão em casa.
Quando estragava, o jeito era esperar pelo conserto.Mas não fazia muita
falta. Moleque, gostava mesmo era das brincadeiras de rua. Também a
programação não ajudava muito.
Hoje, com a violência nas ruas, trânsito infernal, drogas, as crianças
acabam ficando mais dentro de casa. Com isso, a TV ganhou um papel
importante no nosso cotidiano. Ainda bem que agora temos programas
educativos e infantis de qualidade.
Mas às vezes dá vontade de desligar o aparelho de TV. Foi a sensação
que tive ao assistir a um comercial de uma montadora de automóveis
dirigido ao público jovem.
Um adolescente chega em casa irritado, num estilo rebelde, jogando os
tênis no meio do quarto. Amuado e desolado, senta na cama, pensativo.
Lembra-se de seus amigos na escola. A maioria com seus belos carros.
Ele não.
Só fica satisfeito quando descobre, sobre a cama, uma caixinha. Dentro,
as chaves de um carro novinho em folha. Maravilha de exemplo esse
dado comercial.
Fico pensando nos adolescentes que não têm carro. Todos devem
começar a se sentir no direito de se transformar no mesmo rebelde do
comercial. Quem sabe eles não acabam conseguindo faturar um carro
zerinho?
Não fossem os bons programas educativos e infantis, além de um bom
futebolzinho, dá até vontade de seguir o conselho de um velho amigo.
O melhor é não ter televisão dentro de casa. Sobra mais tempo para ler
e conversar.
(Folha de S. Paulo, 3/06/1999)

66

leitura e producao textual.indb 66 09/09/11 14:58


Leitura e Produção Textual

a) Apresente, de acordo com seu ponto de vista, vantagens e


desvantagens da TV, não informadas pelo autor (mínimo duas).

b) Você considera a TV um auxílio ou um obstáculo à cultura?

c) Quem sustenta economicamente a TV?

2) Observe a tira a seguir:

A leitura atenta da tira permite identificar uma opinião implícita


(subentendido) de seu autor sobre os jovens.
a) Que opinião é essa?

Unidade 2 67

leitura e producao textual.indb 67 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

b) Ela é positiva ou negativa? Por quê?

c) Observe a publicidade abaixo e, em seguida, apresente o pressuposto e


o subentendido:
Renault Clio agora com 3 anos de garantia na linha 2011

Renault Clio agora com 3 anos de garantia na linha 2011


Pressuposto: _____________________________________________
Subentendido: ____________________________________________

3) Leia o texto abaixo e destaque os pontos principais usando a estratégia


do roteiro.

Trânsito e cidadania
(Rosely Sayão)
O comportamento no trânsito, de motoristas e de pedestres,
anda deplorável. A todo momento, cenas lamentáveis
ocorrem: motoristas insultam e ameaçam outros motoristas
ou pedestres e usam o carro como se fosse uma arma. Parece
uma guerra. E o problema não é só nosso: recentemente, a
França realizou o “dia da cortesia no trânsito”, em que manter
o sangue frio em todas as circunstâncias, sobretudo nos
engarrafamentos, e respeitar pedestres, crianças e ciclistas

68

leitura e producao textual.indb 68 09/09/11 14:58


Leitura e Produção Textual

foram orientações dos “dez mandamentos da cortesia ao


volante”, divulgados nesse dia.
Um dos motivos desse caos é que as pessoas não entendem
que o espaço que usam com seus veículos é público. Ao
entrar em um carro, propriedade privada, a fronteira entre o
público e o privado, que já anda tênue, parece se dissipar. Ao
dirigir ou andar nas ruas, as pessoas agem como se cada uma
estivesse unicamente por si: ignoram os outros ou se sentem
atrapalhadas por eles. As regras e os sinais de trânsito, que
existem para ordenar esse espaço público, são desrespeitados
repetidamente. Há movimento intenso no entorno da escola e
o filho está atrasado? Poucos pais vacilam na decisão de parar
em local proibido ou em fila dupla. Poucos hesitam em fazer
um retorno proibido para encurtar o caminho ou mesmo em
dirigir em velocidade maior do que a permitida para chegar
mais rápido.
Até parece que os sinais de trânsito são meros caprichos de
um grupo desconhecido de pessoas. Ninguém mais parece
entender que as leis de trânsito -aliás, como todas- existem
para proteger os cidadãos, e não para agredi-los ou restringir
suas vidas. Mas a questão é que o direito de cada um no caso
do trânsito -a segurança- só é garantido quando ele próprio
respeita as leis. Pelo jeito, o carro deixou de ser um veículo
de transporte cujo objetivo é levar as pessoas de um local a
outro. Virou sinônimo de poder ou de status. Uma pesquisa
britânica mostrou que dois em cada três homens trocariam
suas namoradas pelo carro de seus sonhos, vejam só!
A ideia de cidadania ganhou tom pejorativo por causa do
individualismo, e isso pode ser constatado principalmente no
trânsito. Cidadania supõe se responsabilizar pelo coletivo e,
sobretudo no trânsito, o que vemos são atitudes de confronto
e de competição. Creio que não é exagero afirmar que
vivemos tempos de barbárie nessa questão: cada um por si, e
vale tudo para atingir a meta pessoal.
Quando os adultos se comportam assim, ignoram também
que colocam os mais novos em risco. São os jovens as
maiores vítimas de acidentes de trânsito ou de brigas por
desentendimentos com outros motoristas, pedestres ou
motociclistas. Isso sem falar nas lições de incivilidade e de
grosseria que são passadas a eles. E os velhos? Eles que não
se atrevam a dirigir ou a andar pelas ruas. Afinal, lugar de
velho e de criança não é mais na rua. Não é isso o que temos
cultivado? Precisamos continuamente lembrar -e praticar-
que, no trânsito, o respeito às leis e os bons modos permitem
maior qualidade de vida a todos nós.

Unidade 2 69

leitura e producao textual.indb 69 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Elabore o seu roteiro apresentando os seguintes itens:


a) tema do texto apresentado;
b) tese defendida pela autora;
c) argumentos usados para confirmar a tese defendida.

Argumento1:

Argumento 2:

Argumento 3:

Argumento 4:

d) Conclusão:

4) Que tipo de inferência podemos fazer da leitura do seguinte texto:

Figura 2.2 - HQ
Fonte: Caco Galhardo – Folha de S. Paulo, 25/11/2006, Caderno Ilustrada, E15.

70

leitura e producao textual.indb 70 09/09/11 14:58


Leitura e Produção Textual

Síntese
Ao término desta unidade, você deve ter aprendido alguns
conceitos acerca de leitura e desenvolvido algumas técnicas de
interpretação de textos. Portanto, lembre-se:

„„ Ler é construir significados a partir da decodificação de


códigos e da análise contextual.
„„ Os textos, sob os aspectos aqui abordados, podem ser
classificados em literários e não literários. Os textos
literários são aqueles que não têm compromisso com
a realidade e podem ser escritos em verso ou prosa,
fazendo uso da linguagem conotativa. Os textos não
literários são aqueles que, geralmente, procuram
transmitir uma mensagem de modo claro e objetivo,
fazendo uso da linguagem denotativa.
„„ O ato de ler, independente de o texto ser literário ou
não, leva-nos a fazer inferências, o que se define pela
leitura de informações que se apresentam implícitas.
„„ As inferências podem ser classificadas em: pressupostos,
quando o texto apresenta expressões que nos levam a
deduzir o que está implícito, e subentendidos, quando
fazemos isso a partir do nosso conhecimento extratexto.
Esses conhecimentos, além de possibilitarem a compreensão nas
atividades de leitura, servirão de recursos a serem aplicados nas
atividades de escrita.

Saiba mais
Aqui vão algumas sugestões:

FIORIN, José Luiz. O dito pelo não dito. In: Revista Língua
Portuguesa. Ano 1. No. 6. São Paulo: Ed. Segmento, 2006.

ORLANDI, Eni. Leitura: teoria e prática. Porto Alegre:


Mercado Aberto, ano 3, nº 3, 1984.

Unidade 2 71

leitura e producao textual.indb 71 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

CASTELLO-PEREIRA, Leda Tessari. Leitura de estudo: ler


para aprender a estudar e estudar para aprender a ler. Campinas,
SP: Editora Alínea, 2003.

ECO, Umberto. Sobre a literatura. Rio de Janeiro: Record,


2003.

FARACO, Carlos Alberto e MANDRYK, David. Língua


Portuguesa: prática de redação para estudantes universitários.
12. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

FIORIN, José Luiz; PLATÃO SAVIOLI, Francisco. Para


entender o texto: leitura e redação. 17. ed. São Paulo: Ática 2007.

72

leitura e producao textual.indb 72 09/09/11 14:58


3
unidade 3

Texto

Objetivos de aprendizagem

Ao final da unidade você terá subsídios para:

n Compreender as diferenças entre os gêneros


textuais.
n Perceber as possibilidades de relações

intertextuais.
n Identificar e utilizar os recursos necessários à

construção de sentido do texto.


n Desenvolver a competência textual no que se
refere à habilidade de produção escrita.

Seções de estudo

Nesta unidade você vai estudar os seguintes assuntos:

Seção 1 Tipologia textual


Seção 2 Texto e construção de sentido

leitura e producao textual.indb 73 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de conversa


­ presente unidade tem como objeto de estudo o texto na
A
perspectiva da produção escrita. Aqui, você encontrará condições
de estudar o texto, desde sua conceituação, até os elementos
que lhe atribuem sentido, passando por temas essenciais como a
classificação em gêneros e a produção a partir dos elementos que
o constituem.

Lembre-se de que desenvolver a competência textual (leitura


e escrita) é o objetivo da disciplina. Portanto, focamos a sua
atenção para a prática de leitura e interpretação, esperando que
você se esforce na prática de produção escrita, uma vez que o
desenvolvimento dessa habilidade requer muito empenho.

A leitura atenta ao conteúdo aqui exposto permitirá que você


realize as atividades de autoavaliação com sucesso. Trata-se, na
maioria, de atividades de produção textual, às quais esperamos
que você se dedique e nas quais desejamos que você encontre o
prazer da autoria.

Aceite este nosso convite e entenda que escrever é, de fato, um


ato contínuo – de fazer e refazer; construir e reconstruir.

Seção 1 – Tipologia textual


Atente para o fato de que tudo o que você tem recebido como
objeto de leitura, independente de sua extensão ou da linguagem
de que é constituído, classifica-se como texto.

Então, como podemos conceituar texto?

74

leitura e producao textual.indb 74 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

Comecemos pelas propriedades textuais que podem ser facilmente


observáveis no processo de leitura e que devem ser consideradas
como essenciais no processo de produção de textos verbais:

a) Um texto não é um aglomerado de frases. Mais do que


isso, as partes devem estar articuladas entre si, compondo
um todo significativo.

b) Todo texto é produzido por um sujeito em um


determinado tempo, em um determinado espaço,
com uma determinada finalidade. Por isso, o texto
revela ideais e concepções de um grupo social de uma
determinada época.

c) Todo texto é escrito, intencionalmente, para um


interlocutor ou um grupo de interlocutores, o que implica
a escolha da estrutura e da linguagem adequadas.

A partir das afirmações acima, podemos definir texto como uma


prática comunicativa, escrita ou falada, de qualquer extensão,
cuja unidade compõe um todo significativo, é produzido
intencionalmente por um interlocutor, num tempo e em espaços
determinados, para um grupo de interlocutores.

Então, se eu leio numa placa a palavra SILÊNCIO, isso é


um texto? Certamente que sim, se essa palavra estiver
numa placa de um corredor de hospital, por exemplo,
ela será um texto, pois ela comunica algo a alguém,
num determinado contexto.

Vejamos, agora, os exemplos abaixo:

Unidade 3 75

leitura e producao textual.indb 75 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Como podemos ver, os exemplos acima são de textos com os


quais nos deparamos no nosso dia a dia. Cada um deles tem
características compartilhadas, como o objetivo para os quais
são escritos, a forma de apresentação e o público para o qual
se destinam. Assim como esses, temos outros exemplos, como
as notícias, os anúncios, os avisos, os relatórios, os manuais de
instrução, os sermões, as palestras, os contratos, os poemas, as
conversas, as notas fiscais, os recibos de pagamentos, as receitas
médicas, os atestados, as declarações, as certidões, os cartões
postais etc.

É preciso dizer, porém, que os exemplos apresentados e citados


são denominados GÊNEROS TEXTUAIS.

Mas, como poderíamos, então, definir GÊNEROS


TEXTUAIS?

76

leitura e producao textual.indb 76 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

Gêneros são modelos de textos que usamos em diversos contextos


comunicativos.

Para exemplificar, imaginemos os gêneros que a secretária de


uma grande empresa precisa saber redigir no seu dia a dia. Ela
pode precisar elaborar um memorando, para solicitar algum
material de expediente; um e-mail, para se comunicar com o
chefe, que está viajando. Deve saber redigir, ainda, uma ata, para
registrar o que foi discutido numa reunião, ou até mesmo um
convite, caso haja um evento na empresa e ser ela a responsável
pela organização desse evento.

Veja quantos modelos essa profissional precisa saber usar no seu


ambiente de trabalho. Agora, não esqueça que cada um desses
modelos pode incluir a narração, a descrição, a dissertação, a
argumentação etc. Ou seja, ela deve fazer uso de vários tipos de
textos ao elaborar gêneros textuais diversos.

Isso nos faz lembrar que durante a nossa vida escolar aprendemos
que dissertação, narração e descrição são gêneros textuais, não é
mesmo?. Hoje, porém, esses últimos são definidos como TIPOS
TEXTUAIS. Assim sendo, elaboramos os gêneros textuais
usando diferentes modalidades ou tipos textuais.

Você já parou para pensar quais são os textos que


o cercam em seu dia a dia? Seriam cartas, anúncios,
notícias, avisos, relatórios, crônicas, manuais de
instrução, contratos, bilhetes, histórias em quadrinho,
poemas e tantos outros?

Cada um desses exemplos equivale a um gênero textual, no qual


se agrupam textos com características compartilhadas, como
o objetivo, a forma de apresentação e o público para o qual se
destinam.

Unidade 3 77

leitura e producao textual.indb 77 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Pausa para exercitar a teoria


Lembre-se dos textos que você já conhece de sua leitura
cotidiana e tente responder às questões:
1. Quais seriam as características compartilhadas por todos os
textos classificados como notícia?

2. Como você poderia explicar a diferença entre um aviso e um


bilhete?

É importante destacar nesse momento que, segundo Koch (2006),


gêneros são tipos relativamente estáveis de enunciados, marcados
sócio-historicamente, visto que estão diretamente relacionados
às diferentes situações sociais. Não se deve confundir gênero com
as modalidades descritiva, narrativa e argumentativa.

Por exemplo, você pode escrever uma carta usando tanto a


modalidade descritiva (retratando um lugar) quanto a narrativa
(relatando fatos). Da mesma forma, em um relatório, você pode
descrever um ambiente e argumentar sobre as necessidades
de mudança neste ambiente. Logo, você não está produzindo
textos cujos nomes são descrição, narração ou dissertação. Ao
contrário, nas situações imaginadas você está produzindo textos
denominados carta e relatório e, nesses processos de produção,
você pode fazer uso de uma ou mais modalidade de escrita.

78

leitura e producao textual.indb 78 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

É preciso deixar claro, ainda, que os gêneros são modelos e


que esses não têm formas fixas, pois podem ser constituídos e
reconstituídos ao longo de nossa existência. Quer um exemplo?
Há alguns anos, para nos comunicarmos com alguém que
estava em um outro país, usávamos a carta. Hoje, porém, com
a tecnologia da informação, usamos o e-mail. Assim sendo,
podemos dizer que a carta é um gênero textual que evolui para o
e-mail em decorrência da evolução da tecnologia da informação.
Mas cuidado, isso não quer dizer que a carta não existe mais. Ela
ainda é um recurso usado, por exemplo, por alguém que mora em
um local onde não há internet. Certo?!

Mas você deve estar se perguntando:

Um bom motivo pode ser o fato de que aprender a lidar com os


textos, saber usá-los adequadamente, em quaisquer situações,
torna-nos, com certeza, mais competentes para o uso da
linguagem e para o ato comunicativo no contexto que se fizer
necessário.

Assim, estudar o conceito de gênero textual nos possibilita


compreender que um texto é uma unidade, que contém uma
estrutura e uma organização específica e que, o mais importante,
exerce uma função social.

Outra informação importante sobre os gêneros textuais refere-se


ao “suporte” em que eles são fixados ou produzidos. Ou seja,
estamos os referindo ao local ou ambiente de fixação do gênero.
Na antiguidade, por exemplo, os homens usavam as tabuinhas
ou as paredes das cavernas para escreverem seus textos. Hoje, há
diversas possibilidades como o papel, as telas ou qualquer espaço
virtual. O suporte é essencial para a circulação dos gêneros e
ele pode variar de acordo com as necessidades de quem o está
usando. Por exemplo, posso usar um telefone celular para mandar
um bilhete ou ler uma notícia.

Unidade 3 79

leitura e producao textual.indb 79 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

O suporte é tão importante que ele pode definir o gênero. Quer


ver. Leia o exemplo abaixo:

Ex:

Paulo, te amo, me ligue o mais rápido que puder. Te espero no


mesmo local e horário de sempre.

Verônica

Se encontrarmos esse texto num papel sobre a mesa, ele será um


BILHETE. Se o encontrarmos numa secretária eletrônica, é um
RECADO. Se for enviado pelo correio é um TELEGRAMA.
Caso esteja em um celular, será uma MENSAGEM. E se estiver
num outdoor, é uma declaração de amor.

A partir do que foi apresentado acima, podemos dizer que o


suporte é uma superfície física em formato específico que suporta,
fixa e mostra um texto. Essa ideia comporta três aspectos:

1. Suporte é um lugar (físico ou virtual).

2. Suporte tem formato específico – livro, revista.

3. Suporte serve para fixar e mostrar o texto.

É importante deixar claro, ainda, que existem os suportes


convencionais e os incidentais, que podem ser assim exemplificados:

a) Suportes Convencionais:

Livro Outdoor
Jornal Folder
Revista Faixas
Quadros de aviso Televisão

b) Suportes incidentais:

Porta de banheiro Paredes


Embalagem Pontos de ônibus
Parachoque e Janelas de ônibus
Paralama de caminhão Roupas
Corpo humano (tatuagem)

80

leitura e producao textual.indb 80 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

Para facilitar a compreensão


Apresentamos abaixo um quadro com uma pequena relação de
gêneros, associados ao contexto de ocorrência desses. Nesse
quadro, você deve estar atento a duas coisas:
a) Perceba que um mesmo gênero textual pode ser recorrente
em diferentes espaços. Por exemplo, a crônica, por sua
variedade (lírica, reflexiva, humorística) enquadra-se como
texto literário, jornalístico, humorístico.
b) Os gêneros textuais não constituem uma lista definitiva.
Novos gêneros surgem em decorrência de novos
propósitos para a utilização da linguagem e de novas
tecnologias.

a) Crônica
1. Textos literários
b) Novela
c) Poema
d) Conto
e) Romance

2. Textos jornalísticos a) Notícia


b) Editorial
c) Artigo de opinião
d) Resenha
e) Classificados

a) Resumo
3. Textos acadêmicos
b) Resenha
c) Relatório
d) Artigo
e) Monografia

4. Textos empresariais a) Carta


b) Memorando
c) Ata
d) Recibo
e) Ofício

7. Textos publicitários a) Anúncio


b) Outdoor

6. Textos humorísticos a) História em quadrinhos


b) Charge
c) Piada

Unidade 3 81

leitura e producao textual.indb 81 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Após a leitura de conceitos e de definições sobre texto e gêneros


textuais, cabe a você produzir seus próprios textos, o que lhe será
proposto na seção autoavaliação.

Seção 2 – Texto e construção de sentido


Esta seção possibilitará que você olhe para dentro do texto, para
as partes que o compõem, de forma específica, para os parágrafos
e para os períodos que os compõem, observando os elementos
linguísticos responsáveis pela construção de sentido no texto.

Assim, independente do gênero que você pretenda produzir - carta,


relatório, resenha, conto, memorando, resumo etc -, se pretende fazer
uso da modalidade padrão da língua, o que é exigido, na maioria dos
textos escritos, alguns são aspectos que devem ser considerados.

Portanto, o objetivo desta seção é propiciar a você o


conhecimento dos recursos linguísticos responsáveis
pela construção de sentido no texto e, por outro lado, o
reconhecimento das estruturas inadequadas à modalidade padrão.
Veja cada um desses recursos linguísticos a seguir.

1. Coerência
Um texto é coerente quando apresenta ideias organizadas e
argumentos relacionados em sequência lógica, de forma a permitir
que o leitor chegue às conclusões desejadas pelo autor. Assim, um
texto coerente deve satisfazer a quatro critérios básicos:

„„ A continuidade: diz respeito à necessária retomada de


elementos no decorrer do discurso. Tem a ver com a
unidade temática do texto. Uma sequência de temas
diferentes a cada parágrafo não será aceita como texto.
„„ A progressão: o texto deve retomar seus elementos
conceituais e formais, mas não pode se limitar a essa
repetição. É preciso que apresente novas informações a
propósito dos elementos retomados.

82

leitura e producao textual.indb 82 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

„„ A não contradição: as ocorrências presentes no texto não


podem se contradizer, devem ser compatíveis entre si e
com o mundo ao qual o texto representa.
„„ A articulação: refere-se à maneira como os fatos e os
conceitos apresentados no texto se encadeiam, como se
organizam, que papéis e valores exercem uns com relação
aos outros.

A escolha da profissão não é um ato simples, ao qual se


possa chegar sem hesitações e dúvidas. Entretanto, esse
momento deve ser respeitado pelos pais.

Nesse caso, o que fere a coerência é a contradição


existente entre os dois períodos. Vamos analisar a
relação entre esses períodos do seguinte modo:
n Ideia A: “a escolha da profissão é um ato difícil”;
n Ideia B: “o momento da escolha da profissão deve ser
respeitado pelos pais”.
Perceba que as ideias A e B não se contradizem,
pelo contrário, B é consequência de A. Porém, no
texto, as ideias A e B estão associadas pelo conectivo
“Entretanto”, cuja função é ligar informações opostas.
Estabelece-se, então, a contradição: o leitor sabe que não
há oposição entre os sentidos de A e B, mas é “forçado”,
diante do conectivo “entretanto”, a fazer tal leitura.
Onde está o problema? Na escolha do conectivo.
O equívoco do autor se resume em ter utilizado
um conectivo de oposição, enquanto pretendia
estabelecer ideia de conclusão. Para desfazer a
contradição e dar coerência ao texto, basta substituir
“entretanto” por algumas opções como: portanto,
logo, desse modo, assim.

Vamos analisar mais um caso de incoerência?

Observe este texto:


Meu filho não estuda na UNISUL. Ele não sabe que a
primeira Universidade do mundo românico foi a de
Bolonha. Essa universidade possui um imenso espaço
verde.

Unidade 3 83

leitura e producao textual.indb 83 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Uma sequência de três períodos sobre o mesmo assunto –


universidade – não implica um texto coerente. Nesse exemplo,
o que ocorre é a falta de continuidade, pois o autor provoca uma
ruptura ao se referir a diferentes universidades sem a mínima
relação estabelecida entre elas.

Fique atento!
É fácil perceber que não há coerência nos exemplos anteriores.
No entanto, muitas vezes, você conseguirá detectar esse problema
em textos produzidos por outras pessoas, sem perceber que
o mesmo ocorre em seus textos. Portanto, sempre releia com
atenção o que escreve, antes de enviar aos leitores.

Para finalizar esse item, acompanhe a definição apresentada por


Fávero: “A coerência refere-se aos modos como os componentes
do universo textual, isto é, os conceitos e as relações subjacentes
ao texto de superfície, unem-se numa configuração de maneira
reciprocamente acessível e relevante (2004, p. 10).

2. Coesão
Um texto é coeso quando suas partes estão estruturalmente bem
organizadas. Os elementos de coesão são os conectores existentes
entre as palavras, as orações, os períodos ou os parágrafos, que
garantem a ligação entre as ideias.

São também os recursos de referenciação, aqueles que


possibilitam a retomada das palavras no texto, sem repeti-las.

Observe nos exemplos a seguir como alguns recursos linguísticos


contribuem para a coesão textual:

a) O presidente chegará amanhã ao Estado de Tocantins,


onde ele participará de uma reunião com os líderes do MST.

b) A acadêmica fez a apresentação de seu trabalho.

c) O juiz olhou para o auditório. Ali estavam os parentes


e amigos do réu, aguardando ansiosos o veredicto final.

Perceba que, no enunciado (a), “onde” está associado a Tocantins


e “ele” a presidente. Em (b), “seu” faz referência à acadêmica e,
em (c), “ali” remete a auditório. Em todos esses exemplos, os

84

leitura e producao textual.indb 84 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

itens destacados são os recursos de ordem gramatical que fazem


referência a termos já citados no enunciado.

Trata-se da referenciação, ou seja, um processo


por meio do qual se retoma uma palavra ou uma
expressão, a fim de se evitar a repetição.

Além desses recursos de referenciação, há outras possibilidades


de se evitar a repetição de termos. Podemos, além de retomar
nomes com pronomes, fazer uso da substituição vocabular e da
elipse. Dando sequência aos exemplos, temos:

d) Todos queriam que o aluno participasse da pesquisa,


mas, por ser um acadêmico de primeira fase, seu projeto
não foi aceito.

e) Os vereadores deveriam aprovar o projeto. No entanto,


não participaram da reunião.

Em (d), temos a substituição do termo “aluno” por “acadêmico”,


o que caracteriza um caso de substituição vocabular. No
enunciado (e), há um vazio na posição indicada antes do
verbo, mas sabemos que o ato de não comparecer está ligado a
“vereadores”. Logo, o termo “vereadores” é retomado de forma
implícita, pois não está expresso, e esse recurso de omissão de
palavras é definido como elipse.

— Não se preocupe com as nomenclaturas utilizadas, pois o que


é importante no estudo sobre coesão é que você consiga perceber
como os períodos devem ser estruturados e usar os recursos até aqui
demonstrados em seus próprios textos!

“Podemos conceituar coesão como o fenômeno que


diz respeito ao modo como os elementos linguísticos
presentes na superfície textual se encontram
interligados”. (KOCH, 1997b, p. 35).

Importante: em alguns casos, coerência e coesão podem ser


dois aspectos interligados, assim, quando o enunciado está mal
estruturado, o sentido se altera.

Unidade 3 85

leitura e producao textual.indb 85 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Observe um exemplo em que o texto sofre de ambos os


problemas:

Como todos estavam decididos a votar contra a


alteração da data.

Tem-se aí um caso de enunciado com sentido incompleto. A


pergunta que se faz é: Como todos estão decididos a isso, o que
acontecerá? Falta coesão, pois falta articular uma última parte
a essa ideia. Também falta coerência, uma vez que não se
completou a ideia.

Já em outros casos, a falta de elementos coesivos não perturba a


coerência do texto.

Observe este exemplo dado em Fávero (2004):

Luiz Paulo estuda na Cultura Inglesa.


Fernanda vai todas as tardes no laboratório de física
do colégio.
Mariana fez 75 pontos na FUVEST.
Todos os meus filhos são estudiosos.

O texto está destituído dos elementos de coesão, ou seja, não há


elementos de ligação, mas há coerência, pois o último período
justifica os anteriores, atribuindo sentido ao todo.

Algumas vezes, ao contrário desse último exemplo, temos


situações em que os elementos coesivos não acarretam coerência
ao texto. Repare:

Maria está na cozinha. Lá os azulejos são brancos.


Também o leite é branco.

Apesar de haver os elementos de referência lá e também, não há


relação de sentido entre as partes.

86

leitura e producao textual.indb 86 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

Falar de coerência e coesão como mecanismos de construção de


sentido do texto, levou-nos a falar em vários momentos sobre
elementos de ligação, o que equivale a falar em conectivos.

É de fundamental importância que você saiba fazer


uso dos conectivos em seus textos, pois são eles os
elementos responsáveis pelo encadeamento lógico
das ideias, o que justifica denominá-los de conectores
argumentativos.

Mas o que seriam os conectores?

Como a própria palavra define, conectores são elementos que


unem, ligam elementos. Na língua portuguesa, os conectores são
elementos que permitem a “costura” do texto, deixando-o mais
coeso. Podemos utilizar diversos conectivos em nossos textos,
como:

„„ pronomes pessoais (ele, ela, nós, o, a, lhe);


„„ pronomes possessivos (meu, teu, seu...);
„„ pronomes demonstrativos (este, esse aquele...);
„„ pronomes relativos (que, o qual, a qual ....).
Além dos exemplos citados acima, podemos usar também os
conectivos que traduzem relações de:

„„ espaço: aqui, ali, defronte à, lá fora...;


„„ tempo: depois, antigamente, já ...;
„„ causa: por causa de, em razão de...;
„„ finalidade: a fim de, de modo a, para...;
„„ contraste: por outro lado, ou, ao contrário de...;
Cada um desses conectivos tem um valor e tem como objetivo,
além de ligar partes do texto, estabelecer relação semântica de:
causa, finalidade, conclusão, contradição, condição etc. Dessa
forma, ao produzirmos nossos textos, temos de “ter o cuidado de
usar o elemento adequado para exprimir o tipo de relação que se
quer estabelecer”, como já enfatizam Platão e Fiorin (2007).

Unidade 3 87

leitura e producao textual.indb 87 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Vejam o exemplo que os autores citados apresentam.

“Israel possui um solo árido e pouco apropriado à agricultura,


porém, chega a exportar certos produtos agrícolas”. (2007, p. 279)

De acordo com Platão e Fiorin, o conectivo PORÉM, usado


para unir as duas frases, apresenta uma relação de contradição
entre elas. Nesse caso, não teria sentido usar, por exemplo, o
termo PORQUE , pois sabemos que esse termo indica causa e se
assim o fosse, o enunciado apresentado ficaria sem sentido, pois a
exportação de produtos agrícolas não pode ser vista como a causa
de Israel ter um solo árido. Certo?

Veja, a seguir, um quadro organizado por grupos de conectores


com suas funções textuais.

3. Uso de conectores argumentativos

Para Para Para Para Para


Para apresentar
estabelecer estabelecer apresentar estabelecer estabelecer
CONCLUSÃO
ideia de ideia de EXPLICAÇÃO uma uma
OPOSIÇÃO ADIÇÃO CONSEQUÊNCIA CONDIÇÃO COMPARAÇÃO
/CAUSA

MAS E PORQUE LOGO SE DE UM LADO


PORÉM NEM JÁ QUE PORTANTO CASO POR OUTRO
NÃO SÓ...
TODAVIA VISTO QUE ENTÃO CONTANTO ENQUANTO
MAS TAMBÉM
CONTUDO COMO ASSIM DESDE QUE COMO
NO ENTANTO POIS DESSE MODO MAIS (DO) QUE
ENTRETANTO PORQUANTO POIS MENOS (DO) QUE
EMBORA UMA VEZ QUE POR CONSEGUINTE
MESMO POR ISSO
APESAR DE DE FORMA QUE
AINDA QUE
NÃO OBSTANTE

Quadro 3.1 - Conectores argumentativos


Fonte: Elaboração do autor.

Observe como podemos conectar várias ideias em um único


período, utilizando os recursos da tabela. Em princípio, temos
um aglomerado de frases desconectadas:

88

leitura e producao textual.indb 88 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

„„ As mulheres sempre lutaram pelos seus direitos.


„„ Em muitas empresas, os homens continuam ganhando
mais que as mulheres.
„„ Ainda há muita discriminação em relação às mulheres.
As possibilidades de se elaborar um período coeso e coerente
podem ser muitas. Eis dois exemplos:

As mulheres sempre lutaram pelos seus direitos, mas


ainda há muita discriminação em relação a elas, pois
os homens, em muitas empresas, ainda ganham mais.
“Mas”: estabelece relação de sentido entre ideias
opostas.
“Pois”: introduz uma explicação para ideia anterior.
“Elas”: retoma mulheres, evitando repetição do termo.

Em muitas empresas, os homens continuam


ganhando mais que as mulheres, o que indica haver
ainda muita discriminação em relação a elas, apesar
de sempre terem lutado pelos seus direitos.
„„ “Elas”: retoma mulheres, evitando repetição do
termo.
„„ “Apesar de”: estabelece relação de sentido entre
ideias opostas.

O conteúdo estudado nesta seção deve ser aplicado no momento


em que você produzir seus textos. Por isso, é importante
exercitar a prática da escrita a partir da construção de pequenos
parágrafos, como propomos na seguinte atividade.

Unidade 3 89

leitura e producao textual.indb 89 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Pausa para exercitar a teoria


Seguindo o exemplo anterior, escolha uma das propostas e
una os enunciados em um só período. Não se esqueça dos
elementos de ligação e procure evitar repetições.
Atividade 1:
„„ A terapia do eletrochoque está de volta.
„„ A terapia do eletrochoque foi criada no início do século XX
para tratar esquizofrenia e histeria.
„„ Um estudo da Universidade de Saint Louis acaba de
mostrar uma versão light da terapia.
„„ O estudo mostra que a técnica pode dar bons resultados
no tratamento de depressão severa.
Escreva sua resposta aqui:

Atividade 2:
„„ O filme Separados pelo Casamento estreou bem nas
bilheterias americanas.
„„ O filme recebeu algumas críticas maldosas.
„„ O críticos disseram que o casal de atores não tem a mesma
química demonstrada por Brad Pitt e Angelina Jolie em Sr.
E Sra. Smith.
„„ Separados pelo Casamento tem como protagonista um
casal interpretado por Jennifer Aniston e Vince Vaughn.
Escreva sua resposta aqui:

Agora que você já estudou sobre os recursos que contribuem


para a construção de sentido do texto, apresentaremos, como
finalização desta unidade, alguns dos problemas mais recorrentes
e que devem ser evitados quando se pretende produzir textos
objetivos e adequados à língua padrão.

90

leitura e producao textual.indb 90 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

Esclarecendo um pouco mais, em cada item, apresentaremos


uma definição do problema, seguida de exemplo e proposta de
reformulação do enunciado.

Queísmo
trata-se do uso excessivo da palavra que nos momentos de ligação
entre as orações.

O diretor determinou que a reunião que foi marcada


para a semana que vem terá que ser adiada.
O diretor determinou que a reunião marcada para a
próxima semana deve ser adiada.

Imprecisão sequencial

Trata-se do uso de uma palavra de forma indevida, pois seu


sentido não é adequado ao contexto.

Dessa forma, com transigência e diálogo, os


indivíduos discriminados pelo grupo passam a ser
assimilados.
(... passam a ser aceitos. Nós podemos assimilar
conhecimento, mas não indivíduo.)

Paralelismo
Consiste em apresentar ideias similares em uma forma gramatical
idêntica. Trata-se da manutenção do mesmo critério gramatical
no decorrer do período. O problema que se observa nos textos,
em geral, é a falta de paralelismo.

Em público, ele demonstra insociabilidade, ser irritável,


desconfiança e não ter segurança.
(Em público, ele demonstra insociabilidade,
irritabilidade, desconfiança e insegurança.)

Unidade 3 91

leitura e producao textual.indb 91 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Ambiguidade
Possuem ambiguidade as palavras, as expressões ou os períodos
com mais de um sentido. A ambiguidade pode ser estrutural,
lexical ou de referência.

„„ Estrutural: quando a duplicidade de sentido ocorre em


função da organização da frase.

O garoto viu o incêndio do prédio.


Há duas possibilidades de leitura: o garoto viu um
incêndio que ocorreu no prédio, ou o garoto estava no
prédio e, de lá, viu um incêndio.

„„ Lexical: quando a duplicidade de sentido ocorre em função


de um próprio item lexical já possuir mais de um sentido.

Eu o vi no banco.
Sem o contexto, não podemos saber se o enunciado
se refere a um banco de praça, ou a uma instituição
financeira.

„„ De referência: quando não fica definido qual é o nome


que um pronome deve retomar.

Os alunos disseram aos professores que todos eles


deveriam ser responsabilizados pelo fato.

Há uma tentativa de usar os pronomes todos eles para fazer


referência a um termo anterior, no entanto, não sabemos se eles
se refere a alunos ou a professores.

92

leitura e producao textual.indb 92 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

Importante!

Estamos listando ambiguidade como algo que deve ser evitado


nos textos. No entanto, cabe um comentário: a ambiguidade é um
problema em textos técnicos, científicos, empresariais, jurídicos,
ou seja, textos informativos em geral, que exigem clareza e
objetividade.

Em outras situações, como em textos humorísticos ou


publicitários, a ambiguidade passa a ser um recurso usado de
forma intencional. Vejamos, por exemplo, uma piada:

Marido 1 – Como você ousa dizer palavrões na frente


da minha esposa?
Marido 2 – Por quê? Era a vez dela?

Nesse caso, o sentido de humor se constrói exatamente pela


ambiguidade. O leitor deve, inicialmente, interpretar na frente
como marcador de espaço para depois perceber que o sentido
desejado da expressão na frente é como marcador de tempo.

Finalizando esta unidade, reiteramos que a importância dos


assuntos aqui abordados será percebida nos momentos em que
você realizar as atividades de escrita. Portanto, fique sempre
atento (a) ao gênero textual que pretende produzir, às referências
necessárias e faça bom uso dos conectores argumentativos,
responsáveis pelo encadeamento lógico do texto. Além disso,
evite os queísmos, os coloquialismos e a falta de paralelismo...
Quanto “ismo”!

— Agora, é com você. Aproveite as atividades de autoavaliação.

Unidade 3 93

leitura e producao textual.indb 93 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Síntese

Nesta unidade, você estudou o processo de elaboração textual e


deve ter compreendido que:

„„ Cada texto diferente utilizado pelos interlocutores


corresponde a um gênero textual específico, isto é, possui
finalidade, estrutura e linguagem própria.Desse modo,
você deve ter percebido a diferença entre bilhete, carta,
crônica, anúncio, charge etc.;
„„ Independente do gênero textual a ser elaborado, algumas
características são necessárias para que o texto possa ser
compreendido pelos seus interlocutores. Para tal, faz-se
necessário cuidar para que o texto contenha as seguintes
características:
a) coerência: organização lógica das ideias;

b) coesão: períodos gramaticalmente completos.

Além disso, fique atento para não cometer alguns erros bastante
comuns:

a) queísmo: uso excessivo da palavra “que”;

b) imprecisão sequencial: uso de palavra inadequada ao


contexto;

c) falta de paralelismo: uso de diferentes critérios


gramaticais em um mesmo período;

d) ambiguidade: uso de palavra, expressão ou período


com mais de um sentido.

94

leitura e producao textual.indb 94 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

Atividades de autoavaliação

1) Observe os textos a seguir, levando em consideração critérios como:


objetivos, estrutura, linguagem e interlocutor. Em seguida, classifique
cada um dos textos e justifique a sua classificação.
a)

Poema Tirado de uma Notícia de Jornal


João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da
Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
(Manuel Bandeira)
b)

Unidade 3 95

leitura e producao textual.indb 95 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

c)

Quando estiveres lendo essas parcas palavras, já não estarei mais


na tua vida.
Adeus
Cassandra.

d)
Uma operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro, deflagrada hoje,
apreendeu grande quantidade de medicamentos roubados de
hospitais públicos, que estavam sendo comercializados indevidamente
por uma distribuidora. (Último segundo. 15/02/2011)
e)
Tropa de Elite: o filme
O filme Tropa de Elite é uma obra que descreve fatos ocorridos na
segurança pública do Estado do Rio de Janeiro na década de 90,
durante a visita que o Papa João Paulo II realizou à Capital Carioca.
Sua narrativa é intensa em sua descrição da realidade diária da Polícia
Militar do Estado do Rio de Janeiro – PMERJ, totalmente pautada em
situações que, segundo o autor, baseiam-se em relatos de fatos reais,
que lhe foram feitos por Policiais Militares. O personagem central da
trama é um Capitão PM do Batalhão de Operações Especiais (BOPE),
Tropa de Elite da Policia Militar carioca, considerada internacionalmente
como a melhor força de Combate Urbano do Mundo.

f)
Título original: (Tropa de Elite)
Lançamento: 2007 (Brasil)
Direção:José Padilha
Atores: Wagner Moura, Caio Junqueira, André
Ramiro, Milhem Cortaz.
Duração: 118 min
Gênero: Ação
2) Propomos que você escreva três diferentes textos sobre um mesmo
tema. Procure assumir um posicionamento sobre a seguinte questão:
A TV exerce influência negativa na educação infantil? Tendo clara a sua
opinião, deixe-a expressa em três dos cinco gêneros textuais propostos:
a) Escreva uma carta a um diretor de emissora de TV
convencendo-o da necessidade de mudanças na programação
direcionada às crianças. Caso você não tenha críticas a fazer,

96

leitura e producao textual.indb 96 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

ou seja, caso você não concorde que a influência da TV seja


negativa, sua carta deve ser dirigida aos pais ou professores
da educação infantil, defendendo a programação televisiva e
sugerindo a sua utilização no processo de educação.
b) Invente um fato ligado ao tema e escreva uma notícia para um
jornal ou revista (impresso ou eletrônico).
c) Você é o responsável pela divulgação dos programas de
uma emissora. Faça um texto para a propaganda favorável à
programação infantil, especificando o conteúdo e a qualidade de
tal programação.
d) Faça um convite para uma palestra sobre o tema.
e) Suponha que você vá fazer uma pesquisa sobre o tema e decida
usar a entrevista como um método para obtenção de dados.
Elabore o roteiro da entrevista.
3) Construa um período, associando os enunciados a seguir. Não se
esqueça: para que seu texto fique coerente e coeso, utilize elementos
de ligação e evite as repetições desnecessárias.
„„ José Wilker é um dos ícones das artes dramáticas no Brasil.
„„ José Wilker fez 42 filmes e 31 novelas.
„„ José Wilker interpretou JK.

„„ José Wilker se diz um admirador do ex-presidente JK.

4) Considerando o que você estudou na Seção 2, propomos alguns


exercícios que vão exigir de você uma atenta observação dos
enunciados, para que possa reescrevê-los, adequando-os à norma
culta. Então, vamos praticar? Faça as devidas correções:
a) Espero que você me telefone para que possamos discutir as
alterações que foram introduzidas no projeto sem que nós
autorizássemos.
b) Os garotos acusados como responsáveis pelo acidente dão
exemplo de bom comportamento, todavia realizam trabalhos
voluntários em hospitais.
c) As etapas previstas para o trabalho são o levantamento das
famílias necessitadas, o cadastramento dos membros dessas
famílias e distribuir o material para que possam construir suas
casas.
d) Os movimentos ultranacionalistas não estão enterrados na
Alemanha. Os símbolos nazistas, em tese, são proibidos, logo
podem ser vistos em encontros de membros do Partido Nacional
Democrata, de extrema direita.

Unidade 3 97

leitura e producao textual.indb 97 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

e) O professor esperava que o orientando entregasse o seu


relatório ao coordenador.
5) A coesão das frases abaixo está prejudicada pela ausência de alguns
conectivos. Faça a devida conexão, usando os pronomes relativos e as
preposições quando o verbo assim o exigir.
a) O envolvimento de menores de ambos os sexos na prática de crimes é
uma verdade. Não podemos fugir. Os poderes constituídos deveriam
parar e refletir sobre esse fato os jornais enchem suas páginas
diariamente. De nada adiantou o Estatuto da Criança e do Adolescente,
muitos delinquentes adultos se valem da lei para incitar menores à
prática de roubos e assassinatos.

b) Falta dinheiro para tudo no Brasil, mas as mordomias continuam. A


verdade é que os impostos o governo mantém sua máquina emperrada
são mal empregados. Há notícias de que os órgãos públicos compram
copos de cristal, talheres de prata, porcelanas finas, luxo não querem
abrir mão, mesmo sabendo das dificuldades o povo passa.

Saiba mais

FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência textuais. São


Paulo: Ática, 2004.

98

leitura e producao textual.indb 98 09/09/11 14:58


4
unidade 4

Textos acadêmicos

Objetivos de aprendizagem

Ao final da unidade, você terá subsídios para:

n Identificar alguns dos gêneros textuais que circulam no


ambiente acadêmico, como resumo, resenha e relatório.
n Utilizar os recursos necessários à confecção do trabalho
acadêmico.
n Desenvolver a habilidade de produção escrita de textos
acadêmicos.

Seções de estudo

Nesta unidade você vai estudar os seguintes assuntos:

Seção 1 Resumo
Seção 2 Resenha
Seção 3 Relatório

leitura e producao textual.indb 99 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de conversa


Nesta unidade, faremos um recorte, focalizando os textos de
fundamental importância no decorrer de sua vida acadêmica, tais
como: resumo, resenha e relatório.

Não se trata de uma apresentação exaustiva de todos os tipos de


resumo, resenha ou relatório, tampouco uma abordagem para o
ensino das normas de estruturação e formatação dos textos. Essas
informações você encontrará nas referências indicadas na seção
Saiba mais. Trata-se de propor uma leitura desses textos, para
que você perceba o processo de elaboração textual, incluindo a
observação de aspectos como a finalidade de cada um deles (o
que inclusive os diferencia em categorias - gêneros) e a linguagem
utilizada. Aprender a redigi-los é uma tarefa para a qual você
constantemente será desafiado no processo de aprendizagem das
demais disciplinas do seu curso.

Seção 1 – Resumo
No seu dia a dia, muitas vezes, você é levado a contar ou registrar,
de maneira informal, o que você vê, ouve ou lê. Isso ocorre quando
você, por exemplo, conta um filme, faz anotações relevantes sobre
uma palestra ou aula, seleciona aspectos centrais de um texto
que esteja estudando etc. Nessas atividades, aparentemente tão
corriqueiras, você exercita sua capacidade de síntese, exigida na
elaboração de alguns textos, entre eles, o resumo.

Faça um teste: procure se lembrar de um filme que


tenha visto recentemente e, em seguida, experimente
contar o enredo dele em voz alta. Você percebe que,
ao fazer isso, pula alguns detalhes, contando apenas
o que julga essencial. Ótimo, pois, desse modo,
podemos definir resumo como uma apresentação
seletiva, em que destacamos os aspectos que
julgamos mais interessantes e/ou importantes.

100

leitura e producao textual.indb 100 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

Além das situações apresentadas, há outros momentos em que


você é levado a ler alguns textos que já lhe são apresentados de
forma sintetizada. Isso ocorre quando, por exemplo, você lê a
sinopse de um filme ou de capítulos de novela, a quarta capa
(parte posterior, externa) de um livro etc. Observe:

Quarteto Fantástico (2005)


n Sinopse: Um desastre atinge uma nave espacial, fazendo
com que seus quatro tripulantes sofram modificações em seu
organismo de forma a ganharem poderes especiais. Reed
Richards (Ioan Gruffudd), o líder do grupo, passa a ter a
capacidade de esticar seu corpo feito borracha. Sue Storm (Jessica
Alba), sua ex-namorada, ganha poderes que a permitem ficar
invisível e criar campos de força. Johnny Storm (Chris Evans),
irmão de Sue, pode aumentar o calor do seu corpo, enquanto que
Ben Grimm (Michael Chiklis) tem seu corpo transformado em
pedra e ganha uma força sobre-humana. Ao retornar à Terra,
após o acidente, logo os novos poderes começam a se manifestar,
fazendo com que todos tenham que se adaptar a eles e também à
condição de celebridades que os poderes lhes trazem.

(Fonte: <http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/filmes/quarteto-fantastico/quarteto-fantastico.asp>)

Nesse caso, temos a sinopse de um filme, cuja finalidade é


possibilitar ao leitor a informação rápida de aspectos importantes
como enredo, personagens, elenco, a fim de que possa optar por
assistir ou não a esse filme. Você já deve ter realizado a leitura de
textos como esse publicados em jornais ou na internet.

Logo, o resumo não é um texto que deva lhe causar


estranheza, o que nos leva a acreditar que não é
difícil estudar a importância deste gênero textual no
universo acadêmico.

Unidade 4 101

leitura e producao textual.indb 101 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Como você pode ver nos exemplos apresentados, podemos definir


resumo como a condensação de ideias ou fatos apresentados pelo
texto original. Mas, ainda que o resumo deva ser uma espécie
de esqueleto do texto, ele não pode deixar de apresentar alguns
elementos que são essenciais, ou seja:

„„ cada uma das partes essenciais do texto;


„„ a progressão em que elas se sucedem;
„„ a correlação que o texto estabelece entre cada uma dessas
partes.
A partir disso, podemos dizer que resumo não é uma colagem
de frases do texto original. Aliás, quem resume dessa forma não
demonstra o que é essencial para a elaboração de um bom resumo,
que é a compreensão do conteúdo global do texto.

Importante deixar claro também que a elaboração de um bom


resumo depende de estratégias de leitura e produção de texto. Para
tanto, podemos sugerir alguns passos que podem ajudar nessa
elaboração.

1. Faça uma primeira leitura do texto ininterruptamente, do


começo ao fim. Essa primeira leitura deve ser feita com
a preocupação de responder genericamente à seguinte
pergunta: do que trata o texto?

2. Com a primeira leitura você não terá a compreensão


necessária do texto. Uma segunda leitura, então, é de suma
importância. Mas essa segunda leitura deve ser feita com
o lápis na mão. Ou seja, sublinhando as palavras difíceis
que você não sabe o significado e, se preciso, recorrendo ao
dicionário, pois conhecer o vocabulário do texto é essencial
para captar o sentido de frases mais complexas (longas, com
inversões, com elementos ocultos). Nessa leitura, você deve
ter a preocupação de compreender bem o sentido das palavras
relacionais, responsáveis pelo estabelecimento das conexões
(assim, isto, isso, aquilo, aqui, lá, daí, seu, sua, ele, ela etc.).

3. Num terceiro momento, procure fazer uma segmentação


do texto em blocos de ideias que tenham alguma unidade
de significação.

102

leitura e producao textual.indb 102 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

Ao resumir um texto pequeno, pode-se adotar como primeiro


critério a divisão em parágrafos. Em seguida, com palavras
abstratas e mais abrangentes, tente resumir a ideia ou as ideias
centrais de cada fragmento.

4. Para a redação final use as suas palavras, procurando


não só condensar os segmentos, mas encadeá-los na
progressão em que se sucedem no texto e estabelecer as
relações entre eles.

Apresentamos, a seguir, as funções do resumo:

1. Em algumas situações de estudo, você deverá produzir


um resumo de filme, livro, capítulo de livro ou texto,
quando será avaliado quanto à sua capacidade de
compreensão da ideia expressa pelo autor e quanto à sua
capacidade de síntese.

Este livro retrata a história de um grupo de crianças


órfãs, que vivia nas ruas de uma cidade da Bahia.
Eram um grupo de meninos, conhecidos por todos
como os “capitães da areia”, viviam num trapiche
abandonado, perto da praia e ocupavam os seus dias
a tentar arranjar o que comer ou o que vestir, tendo
muitas vezes que roubar para o conseguir. A maioria
dos habitantes da cidade rejeitava-os e desprezava-os,
devido à sua fama de ladrões e rapazes conflituosos.
Contudo e apesar de por vezes terem determinadas
atitudes, esses rapazes eram simples crianças,
meninos, que por circunstâncias da vida foram
obrigados a viver sozinhos, a saber que só poderiam
contar com eles próprios para sobreviver. Muitas
vezes as suas atitudes eram justificadas pela carência
de amor e afeto que tinham, uns porque tinham
sido abandonados pelas mães, outros porque nunca
as tinham conhecido. No entanto, nenhum deles
desejava ir para um orfanato, pois sabiam o valor da
palavra liberdade, e não a trocavam por nada.
Ao longo do livro vão sendo retratados vários
episódios e peripécias da vida dessas crianças, e
apesar de todos eles viverem em condições tão
precárias, todos eram motivados por um sonho que
gostariam de alcançar.

Fonte: Amado, Jorge. Capitães de areia. In: http://pt.wikipedia.org/wiki/


Capit%C3%A3es_da_areia.

Unidade 4 103

leitura e producao textual.indb 103 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

2. Em outras situações, você deverá produzir outros gêneros,


como artigo, monografia, e apresentará um resumo que
indique ao leitor o que ele encontrará em seu texto. Trata-se
de um gênero – resumo – inserido em outro gênero – artigo ou
monografia.

Observe o texto a seguir, como exemplo de resumo obrigatório


antes do início do texto no artigo científico:

O texto da publicidade visa a um contexto


comunicativo que se realiza nos domínios da
persuasão, e essa se traduz na relação texto-contexto
e na força argumentativa da palavra. Logo, esse artigo
faz uma reflexão acerca da linguagem publicitária,
ressaltando os enfoques pragmático e argumentativo
em que esse tipo de texto se revela.

Nunes, Marcia Volpato Meurer. Pragmático e argumentativo: os enfoques


da publicidade. In: Palavra, Tubarão, v.1, n. 1, p. 91-101, jan./jun. 2002

Independente do tipo de resumo que você pretende fazer, deve


estar atento às seguintes orientações:

„„ em uma primeira leitura, procure captar a temática e o


objetivo do texto;
„„ em uma segunda leitura, preocupe-se em perceber
como o autor desenvolve as ideias principais do texto,
procurando descobrir como ele as organiza e de
que recursos se utiliza, tais como: provas, exemplos,
dados etc; que servem como explicação, discussão e
demonstração da proposição original (ideia principal);
„„ a seguir, volte a ler o trabalho, destacando – por meio de
grifos ou marcas – as ideias centrais;
„„ por fim, reescreva (com suas palavras) essas ideias
destacadas, articulando-as.
Vejamos, agora, bons exemplos de resumos apresentado por Anna
Rachel Machado, Eliane Gouvêa Lousada e Lília Santos Abreu-
Tardelli, no livro intitulado Resumo.

104

leitura e producao textual.indb 104 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

Texto 1:
Em 1948 e em 1976, as Nações Unidas proclamaram
extensas listas de direitos hmanos, mas a imensa maioria da
humanoidade só tem o direito de ver, ouvir e calar. Que tal
começarmos a exercer o jamais proclamado direito de sonhar?
Que tal delirarmos um pouquinho? Vamos fixar o olhar num
ponto além da infâmia para advinhar outro mundo possível:

– o ar estará livre do veneno que não vier dos medos


humanos e das humanas paixões;

– nas ruas, os automéveis serão esmagados pelos cães;

– as pessoas não serão dirigidas pelos automóveis, nem


programadas pelo computador,nem comparadas pelo
supermercado e nem olhadas pelo televisor.

(Eduardo Galeano, Fórum Social Mundial, 2001. Caros Amigos 01/2000.)

Resumo:

Segundo Eduardo Galeano, há uma contradição entre a


existência de extensas listas de direitos humanos e o fato de a
maioria da humanidade não ter nenhum. Diante disso, Galeano
convida o leitor a sonhar com um mundo possível e apresenta
algumas características desse mundo.

Texto 2:
Período de férias

O início do ano escolar no mês de fevereiro merece ser


revogado, voltando à antiga praxe de começo das aulas em
março. O carnaval geralmente cai em fevereiro e interrompe
as aulas recém-iniciadas. O verão escaldante torna as aulas
penosas e com baixo rendimento. Finalmente, as férias escolares
comandam grande parte das férias dos trabalhadores. E as férias
destes são o motor do turismo, atividade geradora de empregos
e riqueza para o País. (...) Portanto, há grande vantagem para
todos na transferência do início das aulas para o mês de março.

Unidade 4 105

leitura e producao textual.indb 105 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Resumo:

No texto intitulado Período de férias, o autor defende a tese de


que as aulas devem voltar a começar em março. Para defender
o seu ponto de vista, o autor apresenta como argumentos o fato
de que o carnaval normalmente cai em fevereiro, de que o calor
é forte e prejudica as aulas e que as férias dos trabalhadores,
coincidindo com as escolares, são benéficas para a economia.

Agora é com você. Leia atentamente o texto “A cultura da paz”,


de Leonardo Boff, e, seguindo as orientações apresentadas nesta
seção, use uma estratégia de leitura, em seguida, faça o resumo
do texto.

Texto 3
Cultura da paz

(Leonardo Boff)

A cultura dominante, hoje mundializada, estrutura-se ao


redor da vontade de poder que se traduz por vontade de
dominação da natureza, do outro, dos povos e dos mercados.
Essa é a lógica dos dinossauros que criou a cultura do medo
e da guerra. Praticamente em todos os países as festas
nacionais e seus heróis são ligados a feitos de guerra e de
violência. Os meios de comunicação levam ao paroxismo a
magnificação de todo tipo de violência, bem simbolizado nos
filmes de Schwarzenegger como o “Exterminador do Futuro”.
Nessa cultura, o militar, o banqueiro e o especulador valem
mais do que o poeta, o filósofo e o santo. Nos processos de
socialização formal e informal, ela não cria mediações para
uma cultura da paz. E sempre de novo faz suscitar a pergunta
que, de forma dramática, Einstein colocou a Freud nos idos
de 1932: é possível superar ou controlar a violência? Freud,
realisticamente, responde: “É impossível aos homens controlar
totalmente o instinto de morte…Esfaimados pensamos no
moinho que tão lentamente mói, que poderíamos morrer de
fome antes de receber a farinha”.

Sem detalhar a questão, diríamos que por detrás da violência


funcionam poderosas estruturas. A primeira delas é o caos
sempre presente no processo cosmogênico. Viemos de uma

106

leitura e producao textual.indb 106 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

imensa explosão, o big bang. E a evolução comporta violência


em todas as suas fases. São conhecidas cerca de 5 grandes
dizimações em massa, ocorridas há milhões de anos. Na
última, há cerca de 65 milhões de anos, pereceram todos os
dinossauros após reinarem, soberanos, 133 milhões de anos. A
expansão do universo possui também o significado de ordenar
o caos através de ordens cada vez mais complexas e, por isso
também, mais harmônicas e menos violentas. Possivelmente
a própria inteligência nos foi dada para pormos limites à
violência e conferir-lhe um sentido construtivo.

Em segundo lugar, somos herdeiros da cultura patriarcal que


instaurou a dominação do homem sobre a mulher e criou as
instituições do patriarcado assentadas sobre mecanismos de
violência como: o Estado, as classes, o projeto da tecnociência,
os processos de produção como objetivação da natureza e sua
sistemática depredação.

Em terceiro lugar, essa cultura patriarcal gestou a guerra


como forma de resolução dos conflitos. Sobre esta vasta base
se formou a cultura do capital, hoje globalizada; sua lógica
é a competição e não a cooperação, por isso, gera guerras
econômicas e políticas e com isso desigualdades, injustiças e
violências. Todas estas forças se articulam estruturalmente para
consolidar a cultura da violência que nos desumaniza a todos.

A essa cultura da violência há que se opôr a cultura da paz.


Hoje ela é imperativa.

É imperativa, porque as forças de destruição estão ameaçando,


por todas as partes, o pacto social mínimo sem o qual
regredimos a níveis de barbárie. É imperativa porque o
potencial destrutivo já montado pode ameaçar toda a biosfera
e impossibilitar a continuidade do projeto humano. Ou
limitamos a violência e fazemos prevalecer o projeto da paz ou
conheceremos, no limite, o destino dos dinossauros.

Onde buscar as inspirações para cultura da paz? Mais


que imperativos voluntarísticos, é o próprio processo
antroprogênico a nos fornecer indicações objetivas e seguras.
A singularidade do 1% de carga genética que nos separa dos
primatas superiores reside no fato de que nós, à distinção

Unidade 4 107

leitura e producao textual.indb 107 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

deles, somos seres sociais e cooperativos. Ao lado de


estruturas de agressividade, temos capacidades de afetividade,
compaixão, solidariedade e amorização. Hoje é urgente que
desentranhemos tais forças para conferir rumo mais benfazejo
à história. Toda protelação é insensata.

O ser humano é o único ser que pode intervir nos processos


da natureza e co-pilotar a marcha da evolução. Ele foi criado
criador. Dispõe de recursos de re-engenharia da violência
mediante processos civilizatórios de contenção e uso de
racionalidade. A competitividade continua a valer mas no
sentido do melhor e não de destruição do outro. Assim, todos
ganham e não apenas um.

Há muito que filósofos da estatura de Martin Heidegger,


resgatando uma antiga tradição que remonta aos tempos de
César Augusto, veem no cuidado a essência do ser humano.
Sem cuidado ele não vive nem sobrevive. Tudo precisa de
cuidado para continuar a existir. Cuidado representa uma
relação amorosa para com a realidade. Onde vige cuidado de
uns para com os outros desaparece o medo, origem secreta
de toda violência, como analisou Freud. A cultura da paz
começa quando se cultiva a memória e o exemplo de figuras
que representam o cuidado e a vivência da dimensão de
generosidade que nos habita, como Gandhi, Dom Helder
Câmara e Luther King e outros. Importa fazermos as
revoluções moleculares (Gatarri), começando por nós mesmos.
Cada um estabelece como projeto pessoal e coletivo a paz
enquanto método e enquanto meta, paz que resulta dos valores
da cooperação, do cuidado, da compaixão e da amorosidade,
vividos cotidianamente.

Resumo:

Leonardo Boff inicia o artigo “A cultura da paz” apontando


o fato de que vivemos em uma cultura que se caracteriza
fundamentalmente pela violência. Diante disso, o autor levanta
a questão da possibilidade de essa violência poder ser superada
ou não. Inicialmente, ele apresenta argumentos que sustentam
a tese de que seria impossível, pois as próprias características
psicológicas humanas e um conjunto de forças naturais e sociais

108

leitura e producao textual.indb 108 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

reforçariam essa cultura da violência, tornando difícil sua


superação. Mas, mesmo reconhecendo o poder dessas forças, Boff
considera que, nesse momento, é indispensável estabelecermos
uma cultura da paz contra a violência, pois esta estaria nos levando
à extinção da vida humana no planeta. Segundo o autor, seria
impossível construir essa cultura, pelo fato de que os seres humanos
são desprovidos de componentes genéticos que nos permitem sermos
sociais, cooperativos, criadores e dotados de recursos para limitar a
violência e de que a essência do ser humano seria o cuidado, definido
pelo autor como sendo uma relação amorosa com a realidade, que
poderia levar à superação da violência. A partir dessas constatações,
o teólogo conclui, incitando-nos a despertar as potencialidades
humanas para a paz, construindo a cultura da paz a partir de
nós mesmos, tomando a paz como projeto pessoal e coletivo.
(MACHADO et al, 2004, p. 16)

É importante observar que no resumo você não opina, ou seja,


você deve manter a proposta original do autor; ao contrário do
que se espera na elaboração da resenha, que será estudada na
próxima seção.

Seção 2 – Resenha
Para dar início a esta seção, é importante chamar a atenção
para as diferentes nomenclaturas atribuídas à resenha. Assim,
pautando-se na comparação com o resumo, na literatura acerca
do tema, encontramos as seguintes oposições:

„„ resumo crítico X resumo;


„„ resenha crítica X resenha;
„„ resenha X resumo, denominação essa assumida por nós
nessa unidade.

Retomando a última observação da seção anterior, cabe


esclarecer que enquanto no resumo devemos apenas sintetizar
o texto original, na resenha é obrigatório que, além da síntese,
expressemos nosso posicionamento crítico. Leia o texto a seguir:

Unidade 4 109

leitura e producao textual.indb 109 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

A Passagem. (Stay, Estados Unidos, 2005. estréia no


país na sexta-feira 30) - Um rapaz (Ryan Gosling) diz
para seu psiquiatra (Ewan McGragor) que pretende se
suicidar dali a três dias, e o analista, a fim de impedi-lo,
corre para deslindar os motivos que estariam por traz da
decisão - ou pelo menos essa é a situação que parece estar
se desenrolando no início. A partir dela, o diretor alemão
Marc Foster (de A Última Ceia) vai criar outras, cada
vez mais intrincadas, até que nem os personagens nem a
plateia saibam mais discernir o que é real. [...]

Com sua estrutura de quebra-cabeça, A passagem é um


programa absorvente - embora de ligeiro não tenha nada.
Pontos extras ainda para a concepção visual de Foster e
para o ótimo elenco, completado por Naomi Watts, em
cartaz também com king Kong.

(Fonte: Seção: Veja recomenda. Revista Veja, dezembro de 2005, p. 196)

Trata-se de uma simples resenha de filme, mas propusemos que


você a lesse, esperando que observasse como a associação de
síntese + crítica acontece de forma entrelaçada no texto.

Além de todas as informações (claro que resumidas) sobre o filme,


como título, local, data de estréia e enredo, há o posicionamento
crítico do autor, expresso nos trechos grifados (grifo nosso). Sua
opinião favorável conduz o leitor a assistir ao filme.

Como o objetivo da resenha, geralmente publicada em jornais e


revistas, é a divulgação de objetos de consumo cultural - livros,
filmes, peças de teatro etc. -, é preciso que o resenhista, responsável
pelo julgamento da obra, tenha conhecimento na área.

Veja mais este exemplo:

110

leitura e producao textual.indb 110 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

DURO DE MATAR
Jack Bauer ressuscita para vingar a morte de seu
melhor amigo.
Logo nos primeiros vinte minutos deste quinto dia na
vida do agente Jack Bauer (Kiefer Sutherland) já dá para
perceber que vem chumbo grosso pela frente. De cara, dois
de seus amigos são assassinados, enquanto um terceiro
fica gravemente ferido. É motivo mais que suficiente para
Bauer ressuscitar (sim, ele havia “morrido” no final da quarta
temporada) e voltar ao batente. E quando falamos de JB,
sabemos o que isso significa: conspiração, assassinatos,
correria e tortura. Ainda que Sutherland tenha levado o
Emmy de melhor ator dramático este ano (a série também
foi premiada), são os coadjuvantes que roubam a cena.

A começar pelo casal presidencial, o aparvalhado


presidente Charles Logan (Gregory Itzin) e a
problemática primeira-dama Martha (Jean Smart), a
mal humorada Chloe o’ Brien (Mary Lynn Rajskub) e
os vilões Vladimir Bierko (Julian Sands) e Christopher
Henderson (o Robocop Peter Weller), talvez o pior
inimigo de Bauer desde a infernal agente dupla Nina
Myers. A trama mais uma vez amarra conspirações
palacianas e ações terroristas em solo norte-americano,
com seguidas reviravoltas e mortes assustadoramente
cruéis. A lamentar, o fato de a produção ter desencanado
do reloginho e lançado ao espaço justamente aquilo que
tornou a série tão surpreendente: a ação em tempo real.
24 Horas – 5ª. Temporada (Fox)

(Luiz Rivoiro, Seção Neurônios, Revista Playboy, outubro de 2006, p. 40)

Apresentamos mais um texto que serve como representação


de um tipo de resenha constantemente publicada em revistas:
resenha sobre filmes e programas televisivos. Publica-se, então,
a opinião de quem produz a resenha, mas isso não significa
que você, na posição de leitor da revista, compartilhe dessa
mesma opinião. Filmes e programas televisivos são facilmente
transformados em objetos de crítica, pois são expostos a
julgamento por parte de seus espectadores.

Cabe ressaltar que, neste caso, permite-se a utilização de um


nível de linguagem menos formal, considerando o meio de
publicação do texto e, consequentemente, o provável público
leitor. Entretanto, no caso da resenha exigida no meio acadêmico,

Unidade 4 111

leitura e producao textual.indb 111 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

cujo objeto de crítica é, na maior parte das vezes, uma obra


literária ou de natureza técnico-científica, a linguagem utilizada
deve estar adequada à modalidade culta, como você poderá
observar no texto a seguir:

Este primeiro e vigoroso romance de um médico afegão,


que vive agora na Califórnia, narra uma história de intensa
crueldade, mas também de intenso amor redentor. Ambos
transformam a vida de Amir, o privilegiado jovem narrador de
Khaled Hosseini, que atinge a maioridade durante os últimos
dias de paz da monarquia, pouco antes da revolução em seu
país e sua invasão por forças russas.

Mas os eventos políticos, mesmo os dramáticos como os que


são apresentados em O caçador de pipas, são somente parte
dessa história. Um enredo mais pessoal, que se desenrola a
partir da íntima amizade de Amir com Hassan, filho de um
empregado de seu pai, acaba sendo o fio que amarra as pontas
do livro. A fragilidade desse relacionamento, simbolizada pelas
pipas que os meninos empinam juntos, é testada à medida que
eles veem seu antigo modo de vida desaparecer. [...]

(http://www.verdestrigos.org/sitenovo/site/resenha_ver.asp?id=347)

Trata-se da resenha de um livro e, mais uma vez, você pode


perceber que a resenha é um tipo de texto pautado no
posicionamento do autor acerca do assunto em questão. Neste
caso, o autor optou por iniciar o seu texto pela crítica favorável
à obra “primeiro e vigoroso romance”, seguida da síntese, para,
somente na segunda parte, indicar o título da obra.

Ao contrário, o autor poderia ter iniciado com os dados da obra


para, em seguida, apresentar o texto crítico, como podemos
observar em:

112

leitura e producao textual.indb 112 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

Este é um romance emocionante, envolvente, que nos


cativa logo nas primeiras páginas. Livro de estréia de Khaled
Hosseini, O caçador de pipas é uma narrativa insólita e
eloquente sobre a frágil relação entre pais e fi­lhos, entre os
seres humanos e seus deuses, entre os homens e sua pátria.
Uma história de amizade e traição, que nos leva dos últimos
dias da monarquia do Meganistão às atrocidades de hoje.

Amir e Hassan cresceram juntos, exatamente como seus pais.


Apesar de serem de etnias, sociedades e religiões diferentes,
Amir e Hassan tiveram uma infância em comum, com
brincadeiras, filmes e personagens. O laço que os une é muito
forte: mamaram do mesmo lei­te, e apenas depois de muitos
anos Amir pôde sentir o poder dessa relação.

Amir nunca foi o mais bravo ou no­bre, ao contrário de Hassan,


conhecido por sua coragem e dignidade. Hassan, que não
sabia ler nem escrever, era muitas vezes o mais sábio, com uma
aguda percepção dos acontecimentos e dos sentimentos das
pessoas. E foi esse mesmo Hassan que decidiu quem Amir
seria, durante a batalha da pipa azul, uma pipa que mudaria
o destino de todos. No inverno de 1975, Hassan deu a Amir
a chance de ser um grande ho­mem, de alterar sua trajetória e
se li­vrar daquele enjoo que sempre o acompanhava, a náusea
que denuncia­va sua covardia. Mas Amir não enxer­gou sua
redenção.

Muito depois de desperdiçada a úl­tima chance, Hassan, a


calça de veludo cotelê marrom e a pipa azul o fizeram voltar ao
Meganistão. não mais àquele que ele abandonara há vinte anos.
[...]

Khaled Hosseini. O caçador de pipas. Romance.

Fonte: HOSSEINI, Khaled. O caçador de pipas. São Paulo: Nova Fronteira, 2005.

Agora que você já sabe que a resenha é um gênero no qual a sua


opinião é de suma importância, lembre-se de que você precisa:

„„ ter consciência de que você vai elaborar um texto a partir


de outro já existente. Isso implica que compreenda e
respeite a opinião do autor no texto original;

Unidade 4 113

leitura e producao textual.indb 113 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

„„ conhecer detalhadamente o objeto a ser resenhado, caso


contrário, terá dificuldade até mesmo na elaboração da
síntese;
„„ buscar outras fontes sobre a temática a ser trabalhada, a
fim de se propor uma crítica fundamentada;
„„ ter capacidade de juízo crítico, isto é, saber filtrar as
informações que obteve sobre o assunto.
Cabe observar que na resenha você reúne as habilidades de
síntese do resumo com a de se posicionar com criticidade
perante determinado assunto, fatores imprescindíveis também na
elaboração de um relatório científico, objeto de estudo da seção
seguinte.

Seção 3 – Relatório
Em sua trajetória acadêmica, provavelmente, você será levado
a relatar determinada experiência pela qual tenha passado em
função de seus estudos de modo formal.

Neste momento, sugerimos uma atividade em que você deverá


descrever, minuciosamente e de forma ordenada, tudo o que
viu, ouviu, observou e/ou vivenciou em uma viagem, uma visita,
uma experiência de estágio, um experimento ou uma pesquisa.
Experimente trazer para o cotidiano e você verá que elaborar um
relatório não é uma tarefa tão difícil.

114

leitura e producao textual.indb 114 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

Pausa para exercitar a teoria


Lembre-se de quando era um adolescente e teve que dar
satisfação de algo de sua vida a alguém, ou ainda quando
resolveu contar detalhadamente uma aventura pela qual tenha
passado. Lembrou? Então, para ilustrar, leia o texto:

A cadeira do dentista
Fazia dois anos que não me sentava numa cadeira de dentista.
Não que meus dentes estivessem por todo esse tempo sem
reclamar um tratamento. Cheguei a marcar várias consultas, mas
começava a suar frio folheando velhas revistas na ante­sala e me
escafedia antes de ser atendido. Na única ocasião em que botei
o pé no gabinete do odontólogo - tem uns seis meses -, quando
ele me informou o preço do serviço, a dor transferiu-se do dente
para o bolso.
- Não quero uma dentadura em ouro com incrustações em rubis
e esmeraldas - esclareci -, só preciso tratar o canal.
- É esse o preço de um tratamento de canal!
- Tem certeza? O senhor não estará confundindo o meu canal
com o do Panamá?
Adiei o tratamento. Tenho pavor de dentista. O mundo avançou
nos últimos 30 anos, mas a Odontologia permanece uma
atividade medieval. Para mim não faz diferença um “pau-de-
arara” ou uma cadeira de dentista: é tudo instrumento de tortura.
Desta vez, porém, não tive como escapar. Os dentes do lado
esquerdo já tinham se transformado em meros figurantes dentro
da boca. Ao estourar o pré-molar do lado direito, fiquei restrito à
linha de frente para mastigar maminhas e picanhas. Experiência
que poderia ter dado certo, caso tivesse algum jeito para esquilo.
A enfermeira convocou-me na sala de espera. Acompanhei-a,
após o sinal-da-cruz, e entramos os dois no gabinete do dentista,
que, como personagem principal, só aparece depois do circo
armado.
- Sente-se - disse ela, apontando para a cadeira.
- Sente-se a senhora - respondi com educada reverência -, ainda
sou do tempo em que os cavalheiros ofereciam seus lugares às
damas.
Minhas pernas tremiam. Ela tomou a apontar para a cadeira. - O
senhor é o paciente!

Unidade 4 115

leitura e producao textual.indb 115 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

- Eu?? A senhora não quer aproveitar? Fazer uma obturaçãozinha,


limpeza de tártaro? Fique à vontade. Sou muito paciente. Posso
esperar aqui no banquinho.
O dentista surgiu com aquele ar triunfal de quem jamais teve
cárie. Ah! Como adoraria vê-lo sentado na própria cadeira
extraindo um siso incluso! Mal me acomodei e ele já estava
curvado sobre a cadeira, empunhando dois miseráveis ferrinhos,
louco para entrar em ação. Nem uma palavra de estímulo ou
reconforto. Foi logo ordenando:
- Abra a boca.
Tentei, mas a boca não obedeceu aos meus comandos. - Não vai
doer nada!
- Todos dizem a mesma coisa - reagi. - Não acredito mais em
vocês!
- Abra a boca! - insistiu ele. Abri a boca. Numa cadeira de dentista
sinto-me tão frágil quanto um recruta diante do sargento do
batalhão.
Ele enfiou um monte de coisas na minha boca e tocou o dente
com um gancho.
- Tá doendo?
- Urgh argh hogli hugli.
Os dentistas são tipos curiosos. Enchem a boca da gente de
algodão, plástico, secadores, ferros e depois desandam a fazer
perguntas. Não sou daqueles que conseguem responder apenas
movendo a cabeça. Para mim, a dor tem nuances, gradações que
vão além dos limites de um sim-não.
- A anestesia vai impedir a dor - disse ele, armado com uma
seringa.
- E eu vou impedir a anestesia - respondi duro, segurando firme
no seu pulso.
Ele fez pressão para alcançar minha pobre gengiva. Permaneci
segurando seu pulso. Ele apoiou o joelho no meu baixo ventre.
Continuei resistindo, em posição defensiva. Ele subiu em cima
de mim. Miserável! Gemi quase sem forças. Ele afastou a mão
que agarrava seu pulso e desceu com a seringa. Lembrei-me de
Indiana Jones e, num gesto rápido, desviei a cabeça. A agulha
penetrou na poltrona. Peguei o esguichador de água e lancei-lhe
um jato no rosto. Ele voltou com a seringa.

116

leitura e producao textual.indb 116 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

- Não pense que o senhor vai me anestesiar como aneste­sia


qualquer um - disse, dando-lhe um tapa na mão.
A seringa voou longe e escorregou pelo assoalho. Corremos os
dois para alcançá-la, caímos no chão, embolados, esticando os
braços para ver quem pegava a seringa. Tapei-lhe o rosto com
meu babador e cheguei antes. A situação se inverte­ra: eu estava
por cima.
- Agora sou eu quem dá as ordens - vociferei, rangendo os
dentes. - Abra a boca!
- Mas... não há nada de errado com meus dentes.
- A mim você não engana. Todo mundo tem problemas
dentários. Por que só você iria ficar de fora? Vamos, abra essa
boca!
- Não, não, não. Por favor - implorou. - Morro de medo de
anestesia.
Era o que eu suspeitava. É fácil ser corajoso com a boca dos
outros. Quero ver continuar dentista é na hora de abrir a própria
boca. Levantei-me, joguei a seringa para o lado e disse-­lhe, cheio
de desprezo:
- Você não passa de um paciente!

Fonte: NOVAES, Carlos Eduardo. A cadeira do dentista e outras crônicas. Coleção Para
gostar de ler. V. 10. São Paulo: Ática, 1994, p. 48-50.

Agora que você acabou de ler a crônica de Carlos Eduardo


Novaes, deve estar se perguntando: o que isso tem a ver com
um trabalho acadêmico? Que linguagem é essa? Pois é, essa
realmente não é a linguagem adequada ao trabalho acadêmico,
mas a descrição e o relato detalhado, esses sim nos remetem à
ideia de relatório.

Um relatório científico trabalha com a descrição


daquilo que se observa e com o relato dos
acontecimentos, entretanto, com o objetivo de
registrar permanentemente, por meio da divulgação,
os resultados encontrados em uma pesquisa ou em
um outro tipo de evento, como visitas e viagens.

Unidade 4 117

leitura e producao textual.indb 117 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Tendo em vista que esse é um tipo de registro de caráter


documental, perceba a importância dos gêneros acadêmicos
anteriormente estudados, pois, para darmos sustentação ao
relatório e assumirmos um posicionamento ante os resultados
nele apresentados, precisamos embasá-lo em outros teóricos, isto
é, precisamos saber resumir e resenhar.

Para o bom desenvolvimento de um relatório, é preciso:

a) traçar um plano, especificando o que se objetiva, qual


o ponto de partida e como será feito o armazenamento de
dados;

b) iniciar a descrição do trabalho, a partir da coleta de


dados já ordenada;

c) fazer as críticas sempre fundamentadas em teóricos de


renome na área.

Cabe ainda esclarecer que, em função dos diferentes contextos


em que se deve apresentar um relatório, há uma classificação
para esse tipo de texto. Em algumas situações, devemos fazer um
relatório parcial (diário, semanal, mensal, semestral etc). Em
outras, fazemos um relatório definitivo, como o relatório final
de uma pesquisa. Da mesma forma, quando não nos cabe emitir
o parecer da situação, não fazemos um relatório analítico, mas
somente descritivo.

Enfim, como todo trabalho acadêmico, o relatório possui uma


estrutura específica normatizada pela ABNT, mas que, dependendo
da temática abordada, sofre algumas variações.

Veja, como exemplo, o relatório: Atenção Farmacêutica no


Brasil: “Trilhando caminhos”, disponível no site:
http://www.opas.org.br/medicamentos/docs/rot-atencao-
farmaceutica.pdf.

118

leitura e producao textual.indb 118 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

Síntese

Ao final desta unidade, que contempla o estudo de três gêneros


textuais específicos, esperamos que você tenha compreendido as
características de cada texto, retomadas a seguir:

„„ O resumo consiste na síntese de uma obra completa,


de um capítulo da obra ou de um outro tipo de texto.
Para isso, você deve compreender as ideias apresentadas
no texto inicial, selecionar as que julgar relevantes e
reescrevê-las com as suas palavras. Atenção: selecionar
parágrafos de um texto e copiá-los não significa resumir
esse texto. Não cabe, neste gênero, o seu posicionamento
crítico sobre o tema apresentado no texto original.
Em algumas situações, você será o próprio autor do texto
original, o que facilitará a elaboração do resumo. Isso correrá
quando elaborar um resumo indicativo sobre o que escreveu em
uma monografia ou em um artigo científico.

„„ Ao contrário da imparcialidade apresentada no resumo,


a resenha se caracteriza por ser um texto composto da
síntese das ideias, acrescida da crítica. Nesse caso, caberá
a você obter, por meio de leitura, mais informações sobre
o tema abordado no texto inicial, para que possa, de
maneira fundamentada, expor sua opinião.
Estamos retomando resumo e resenha em uma abordagem
mais acadêmica, mas não se esqueça de que, muitas vezes,
encontramos tais textos publicados em jornais e revistas de
ampla circulação, fazendo uso, inclusive de uma linguagem mais
coloquial. Toda obra é passível de crítica (livro, exposição, filme,
novela etc), logo, toda obra pode vir a ser o objeto de sua resenha.

„„ O último texto abordado foi o relatório, que também pode


ser realizado em diferentes contextos. Trata-se de relatar a
outra pessoa uma situação de viagem, visita, experimento,
pesquisa, estágio etc. Caso você apenas descreva a situação
tal como observou, sem interferência, terá escrito um

Unidade 4 119

leitura e producao textual.indb 119 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

relatório descritivo. Caso você tenha que analisar o que


observou, fundamentando-se em conceitos teóricos,
emitindo um parecer, terá feito um relatório analítico.
Finalizando esta unidade, é de extrema importância chamar
sua atenção para duas questões: a) você poderá se deparar, ao
longo de suas tarefas acadêmicas, com outros textos, como artigo
científico e monografia. Trata-se de textos mais complexos, que
deverão ser escritos como resultados de pesquisa realizada sob
orientação. Você poderá se informar sobre a estrutura e a função
desses textos nas referências indicadas. b) A prática de escrita
dos textos aqui estudados deve ser uma constante e sempre
precedida de leitura e pesquisa, para que você possa aprimorar
as habilidades já relacionadas, como compreensão textual,
capacidade de síntese e crítica.

Atividades de autoavaliação

1) Leia o texto abaixo. Em seguida, faça uma nova leitura usando uma das
estratégias de leitura estudadas na Unidade 2. Elabore um resumo com
as ideias principais do texto.

Cotas para negros nas universidades do Brasil


Como podemos entender as “cotas” para o ingresso de negros em
universidades no Brasil, se não existe uma política voltada para a
educação de base? Investir na educação de base seria a melhor
forma de acabar com a deficiência do ensino brasileiro, tendo em
vista que o sistema de “cotas” pode se tornar mais uma forma de
descriminação contra os afros descendentes, (que poderão ser
taxados de incapazes para o ingresso no ensino superior). Mesmo
sabendo que nós, brasileiros, temos uma dívida de três séculos ou
mais para com os negros do nosso país, sabe-se que é de grande
urgência tomar uma atitude, mas talvez as “cotas” não sejam a
solução.
Atualmente, fala-se muito em “cotas” como se esse sistema fosse
resolver os problemas dos negros. Dados os fatos: as “cotas” são
aprovadas, os negros entram nas universidades, entretanto, pairam
as perguntas: como teria sido a formação dessa pessoa no ensino
fundamental e médio? Quando esses negros terminarem o curso

120

leitura e producao textual.indb 120 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

superior, quem irá garantir a sua vaga no mercado de trabalho?


Serão inventadas cotas para o exercício da profissão também?
Tendo em vista que essa dicotomia que relaciona problema social ao
racismo não se acabará, passará a existir uma dicotomia renovada a
de que o negro só tem uma formação acadêmica devido às “cotas“,
iniciando uma nova dialética na tentativa de provar a capacidade
intelectual, moral e social dos afros descendentes.
Esse não seria um problema mais econômico do que racista? Ora,
quem diz que se deve separar o que pertence ao negro do que
pertence ao branco? Quem determina que ser negro é ser raça, e
não que os negros estão incluídos na sociedade como todos os seres
humanos como todos os homens e as mulheres, com os mesmos
direitos econômicos, sociais e culturais? Quem cria a equidistância
entre homens brancos e os homens negros? Quem no Brasil pode
se dizer puramente negro ou puramente branco? É por isso que me
sinto à vontade para dizer que o racismo no país é fato, mas não é
substituindo responsabilidades econômicas para uma causa social
que poderemos solucionar o problema, transferindo o descaso da
educação (que é devido à má distribuição de renda no país) para
o problema racial, ao invés de se resolver a questão econômica..
Dessa forma, o próprio negro se rotula e cria o outro, tornando-se ele
(negro) mesmo racista ao ponto de não aceitar o que vem a ser feito
de forma aleatória para humanos, sem separar onde termina um
problema econômico e começa uma causa social, e quando os dois
estão juntos e devem ser estudados juntos.
Portanto, o sistema de “cotas” não é a solução do problema racial
no Brasil, até porque tem todo um arcabouço social, cultural e
econômico que envolve o problema de racismo no Brasil, esse
sistema pode ou não ajudar, mas com certeza não é a solução do
racismo em nosso país. Então, por que desde já não se começa a
investir na educação de base, de forma que, todos tenham acesso
a ela, (negros, brancos, pobres, índios, imigrantes e descendentes),
para que cheguem ao ensino superior em igual, sem que sejam
necessárias as “cotas” para que negros tenham possibilidades de
frequentar uma universidade e para que quando terminem o curso
superior o mercado de trabalho esteja aberto para os receberem
sejam ricos ou pobres, negros ou brancos, ou de qualquer linha
social de que venha a sua descendência? Acredita-se que as “cotas”
geram conflito entra as pessoas, ao contrário do que se acha, ou seja,
de que facilitaria a convivência entre “Negros e Brancos”, dentro de
uma sociedade sem raça e sem cor. Isso não resolve o problema.
Segundo a antropóloga Yonne Magie, professora da UFRJ, no lugar
de cotas para “Negros” deve-se abrir vagas nas escolas para todos, e
não é só vagas, mas investir na educação de base para que se tenha
uma educação de qualidade e não de quantidade. A antropóloga fala
também que “falar em ‘raça’ é tentar apagar o fogo com gasolina,
pois as ‘cotas’ são um cala-boca para a sociedade e a comunidade

Unidade 4 121

leitura e producao textual.indb 121 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

negra do país”. Com tantos problemas sociais e econômicos no país,


querer resolver os problemas de racismo através das “cotas” não é a
solução. Pode ser um paliativo, mas não resolverá a crise do racismo
no Brasil, tendo em vista que as “cotas” podem servir como novo
veículo de discriminação contra os afros descendentes.
José Carlos Miranda, do MNS (Movimento Negro Socialista), afirma
que a luta contra o racismo é a luta pela a igualdade, na tentativa
de afirmar que todos serão iguais, mesmo tendo em vista que são
diferentes e individuais enquanto pessoas. Os negros estão para a
sociedade como pessoa e não como raça, coitadinho ou um incapaz,
são pessoas que têm as mesmas capacidades como qualquer outro
indivíduo no meio social em que vive.

(Roniclay Vasconcelos. 02/04/07)

122

leitura e producao textual.indb 122 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

2) Agora, elabore um texto sobre a cultura de poder, violência e


dominação que perpetua na nossa atualidade. Publique o seu texto na
ferramenta Exposição.

Saiba mais

Sobre a elaboração de textos acadêmicos, consulte:

FLORES, Lúcia Locatelli. Redação: o texto técnico/científico


e o texto literário, dissertação, descrição, narração, resumo,
relatório. Florianópolis – SC: Editora da UFSC, 1994.

Unidade 4 123

leitura e producao textual.indb 123 09/09/11 14:58


leitura e producao textual.indb 124 09/09/11 14:58
5
unidade 5

Tópicos gramaticais

Objetivos de aprendizagem

Ao final da unidade, você terá subsídios para:

n Compreender e aplicar algumas das regras de


concordância.
n Compreender e aplicar algumas das regras de regência.
n Usar o acento de crase nas situações mais comuns.
n Pontuar o texto de acordo com a modalidade padrão.

Seções de estudo

Nesta unidade você vai estudar os seguintes assuntos:

Seção 1 Concordância nominal e verbal


Seção 2 Regência verbal
Seção 3 Crase
Seção 4 Pontuação

leitura e producao textual.indb 125 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de conversa


Produzir um texto na modalidade padrão ou norma culta da
língua, requer conhecimento de algumas regras gramaticais,
definidas na gramática normativa.

Dessa forma, propomos o estudo de algumas dessas regras. É


claro que não se trata de um estudo exaustivo da gramática,
para o qual precisaríamos de disciplinas específicas, mas de uma
apresentação de tópicos relevantes, como concordância, regência,
crase e pontuação. Também não se trata aqui de uma exposição
completa desses assuntos, porém da seleção dos casos mais
intrigantes, ou seja, aqueles que normalmente provocam dúvidas
nos momentos de produção escrita.

Assim sendo, as quatro seções desta unidade estão organizadas


em exemplos e explicações que se intercalam, visando a abordar
as regras de forma direta e objetiva.

Esperamos despertar em você a curiosidade para buscar mais


informações nas gramáticas sobre outras regras não estudadas
aqui, lembrando que o hábito de consultar gramáticas e
dicionários, associado à prática de revisão do próprio texto, é de
fundamental importância para que seu trabalho escrito apresente
uma linguagem mais adequada à modalidade padrão, exigida no
contexto acadêmico e profissional.

126

leitura e producao textual.indb 126 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

Seção 1 – Concordância
Nesta seção, você verá alguns casos de concordância que
merecem um estudo particular. Inicialmente, acompanhe a
apresentação de algumas regras de concordância verbal e, na
sequência, algumas regras de concordância nominal que, tanto
quanto as primeiras, também devem ser colocadas em destaque.

Vamos começar com duas situações:

a) O artigo realizado pela acadêmica será publicado.

b) Os acadêmicos participantes da pesquisa também


publicarão seus trabalhos.

Observando os termos destacados em negrito, você concluirá que,


no primeiro exemplo, será concorda com o artigo e, no segundo,
publicarão concorda com os acadêmicos.

Trata-se do mecanismo da concordância verbal, que tem como


regra geral: sujeito no singular, verbo no singular; sujeito no
plural, verbo no plural, ou seja:

O verbo concorda com o sujeito.

Concordar verbo com sujeito em situações como as exemplificadas


em (a) e (b) não deve ser uma tarefa difícil para você, que já faz
isso nos momentos de comunicação oral ou escrita. No entanto,
há algumas situações que geram dúvida quanto a deixar o verbo
no singular ou no plural. Normalmente, isso acontece quando não
conseguimos identificar quem é o “tal” sujeito.

Você verá aqui algumas dessas situações, que podem ser


consideradas como casos particulares de concordância verbal.

Unidade 5 127

leitura e producao textual.indb 127 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Caso 1 – Haverá ou haverão?

Uma das situações em que podemos usar o verbo HAVER é em


substituição ao verbo existir, uma vez que os sentidos de ambos
se equivalem. Veja a comparação:

1) Existem muitos brasileiros cuja sobrevivência depende de


programas governamentais.
2) Há muitos brasileiros cuja sobrevivência depende de
programas governamentais.

Observe que o verbo existir está no plural, concordando com o


sujeito “muitos brasileiros”, enquanto o verbo haver se mantém no
singular. O mesmo ocorre nos exemplos a seguir:

3) Existirão muitos problemas na região atingida pela guerra.


4) Haverá muitos problemas na região atingida pela guerra.

Mais uma vez, o verbo existir está no plural, concordando com


o sujeito “muitos problemas”, diferente do verbo haver, que
permanece no singular. Essa mesma diferença você ainda poderá
observar nos exemplos seguintes:

5) Devem existir meios de transporte mais confortáveis em


países mais desenvolvidos.
6) Deve haver meios de transporte mais confortáveis em países
mais desenvolvidos.

Novamente, no primeiro caso, o verbo está no plural,


concordando com o sujeito “meios de transporte”. No segundo
enunciado, isso já não ocorre. Observe que agora os verbos
principais “existir” e “haver” não estão sozinhos, pois vêm
acompanhados de um outro verbo com função auxiliar: o

128

leitura e producao textual.indb 128 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

verbo dever. Mesmo nesta situação, a regra de concordância se


mantém: o verbo que acompanha existir vai para o plural, e o
verbo que acompanha haver fica no singular.

A essa altura, você deve estar concluindo, ou pelo menos


questionando:

Nunca devo usar o verbo haver no plural?

Calma, não generalize: em alguns casos você verá o verbo haver


no plural.

Veja o seguinte exemplo:

7) Ele havia corrigido prova.

8) Eles haviam corrigido a prova.

Nesses enunciados, o verbo haver apenas acompanha/auxilia o


verbo corrigir. Perceba que, nessa função de verbo auxiliar, ele
concorda com o sujeito ele/eles, logo é expresso tanto no singular
quanto no plural. No entanto, não se trata do mesmo sentido do
verbo haver usado anteriormente.

Agora, retomando os enunciados de (2), (4) e (6), em todos esses


exemplos, o verbo haver tem sentido de existência. Temos falado
que, em situações como essa, o verbo existir concorda com o
sujeito e o haver não concorda.

A explicação para isso é muito simples: o verbo haver, quando


indica existência ou acontecimento, pertence a uma lista de
verbos chamados de impessoais, isto é, verbos que não possuem
sujeito, logo, não há com quem fazer a concordância, por isso são
usados sempre no singular.

Unidade 5 129

leitura e producao textual.indb 129 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Essa situação se estende a outros casos na nossa língua. Vamos


ver? Observe:

9) Faz um ano que te conheço.

10) Faz três anos que ele desapareceu.

Perceba que, independente de estar diante de uma


expressão singular (um ano) ou plural (três anos), o
verbo fazer permanece no singular.

Constantemente, ouvimos algumas pessoas, na intenção de


“caprichar” na concordância, dizerem frases como Fazem dois
anos que estão esperando ajuda. No entanto, agora você sabe
que isso está inadequado em relação à regra prescrita pelos
gramáticos. Em função de o verbo fazer (usado para indicar
tempo decorrido) pertencer à classe dos verbos impessoais,
admite-se apenas seu uso no singular: Faz dois anos que estão
esperando ajuda. Podemos, assim, sintetizar essa regra, conforme
o quadro abaixo:

Verbos Impessoais: permanecem no singular!

n Havia muitas propostas de emprego naquela época.


Haver no sentido de existir (Existiam)

Haver no sentido de acontecer


n Deve ter havido muitos acidentes no último feriado.
(Devem ter ocorrido)

Fazer no sentido de tempo


decorrido
n Faz três anos que eles se conhecem.

Dando sequência ao roteiro de apresentação de regras de


concordância verbal, você estudará outro caso que merece destaque.

130

leitura e producao textual.indb 130 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

Caso 2 - Aluga-se ou Alugam-se casas?


Quando circulamos pelas ruas de nossas cidades, é comum
nos depararmos com placas de venda ou aluguel de imóveis ou
produtos, situações em que podemos observar o uso, muitas
vezes equivocado, da regra de concordância prevista na gramática
normativa, como “aluga-se casas, alugam-se esta casa, terreno
vendem-se, conserta-se móveis etc.” Observe como se faz este
tipo de concordância:

1) Aluga-se casa.

2) Alugam-se casas.

A dúvida é: o verbo alugar deve concordar com a


palavra casa?

Isso pode lhe parecer estranho, uma vez que dissemos


anteriormente que o verbo sempre concorda com a palavra que
funciona como sujeito na oração. No entanto, no exemplo (1), a
palavra casa é sujeito do verbo ALUGAR, por isso, em (2), o
verbo vai, necessariamente, para o plural, concordando com o
sujeito plural.

A melhor forma de você conseguir identificar


isso é fazendo o seguinte teste: Veja se é possível
transformar a oração estruturada como alugam-se
casas em casas são alugadas. Isso parece perfeito na
nossa língua.

Sem dúvida, é mais fácil usar o verbo no plural na segunda situação:


casas são alugadas. Mas saiba que ambas as orações são equivalentes,
pois estão na voz passiva e, consequentemente, nas duas situações, a
palavra casas funciona como sujeito do verbo alugar.

Veja outros exemplos e observe como o verbo sempre está


concordando com a palavra em destaque:

Unidade 5 131

leitura e producao textual.indb 131 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

3) Vendem-se imóveis. OU Imóveis são vendidos.

4) Observaram-se os exemplos. OU Os exemplos foram


observados.

5) Compram-se quadros antigos. OU Quadros antigos são


comprados.

6) Aprovaram-se os orçamentos. OU Os orçamentos foram


aprovados.

Atenção, não pense que todas as situações de uso


do verbo seguido do pronome “se” pertencem a essa
regra.

Muitas vezes, para indeterminar o sujeito, isto é, de forma


intencional, não identificá-lo, construímos orações parecidas com
os exemplos anteriores, mas com uma condição diferente em
relação à concordância: o verbo deve sempre ficar no singular.

É o caso dos exemplos seguintes:

7) Precisa-se de ajudantes.

8) Trata-se de questões difíceis.

9) Necessita-se de verbas para o desenvolvimento de pesquisas.

10) Acredita-se em políticos honestos.

Repare que, mesmo seguidos de palavras no plural (em destaque),


os verbos permanecem no singular. Isso ocorre porque tais
palavras não funcionam como sujeito para os respectivos
verbos; aliás, como você já viu, nesses exemplos, o sujeito não é
identificado.

— Para finalizar esse caso, compare as duas situações apresentadas.

132

leitura e producao textual.indb 132 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

Se, nos exemplos de (3) a (6), conseguimos transformar as


orações, mostrando as duas estruturas de voz passiva na nossa
língua, o mesmo não ocorre com os exemplos de (7) a (10).

Vamos testar:

7) Precisa-se de ajudantes. (De ajudantes são precisados). (?)

8) Trata-se de questões difíceis. (De questões difíceis são tratadas). (?)

9) Necessita-se de verbas. (De verbas são necessitadas). (?)

10) Acredita-se em políticos honestos. (Em políticos honestos


são acreditados). (?)

De fato, a segunda opção parece sempre estranha aos nossos


ouvidos, e indicamos isso com o sinal de interrogação: (?).
Além disso, essas construções indicadas nos parênteses não são
permitidas na norma padrão.

Portanto, você deverá concordar o verbo do seguinte modo:

„„ Usar plural ou singular (dependendo do sujeito)


nos casos equivalentes ao primeiro grupo de
exemplos.

Compra-se livro

Compram-se livros

„„ Usar apenas a forma singular nos casos equivalentes ao


segundo grupo de exemplos.

Trata-se de um problema a ser resolvido.


Trata-se de vários problemas a serem resolvidos.

Se você é um bom observador, deve ter percebido um ponto


que diferencia os exemplos do primeiro grupo dos exemplos do
segundo grupo. Nesses últimos, de (7) a (10), o verbo sempre

Unidade 5 133

leitura e producao textual.indb 133 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

exige uma preposição (de, em) e isso impede que tratemos tais
orações como as dos exemplos anteriores, de (3) a (6).

Fica registrada aí mais uma dica: na presença de


preposição com a particula SE, o verbo permanece no
singular.

Observe o exemplo (7) aqui repetido:

Precisa-se de ajudantes.

Ainda no quadro das regras de concordância verbal, seguiremos com


uma breve relação de situações sobre as quais você pode ter dúvidas.

Caso 3 - Outros casos relevantes

Observe os seguintes exemplos:

A maioria dos examinadores aprovou o projeto.


A maioria dos examinadores aprovaram o projeto.

Observe que as duas opções apresentadas estão corretas,


pois o verbo pode concordar com a palavra maioria ou com
examinadores. O mesmo ocorre com os seguintes exemplos:

Metade dos alunos não apresentou o trabalho.


Metade dos alunos não apresentaram o trabalho.

Um grupo de crianças desapareceu.


Um grupo de crianças desapareceram.

Outra situação de concordância facultativa ocorre


quando escrevemos o verbo antes de um sujeito
composto.

134

leitura e producao textual.indb 134 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

Observe:

Discursaram o presidente e os ministros.


Discursou o presidente e os ministros.

Neste caso, o verbo discursar tanto pode concordar com os


dois núcleos do sujeito – presidente e ministros – quanto pode
concordar com o termo mais próximo: presidente.

Atenção: o mesmo não ocorreria se o verbo viesse


após o sujeito, caso em que obrigatoriamente
usaríamos o verbo no plural.

Observe o seguinte exemplo:

O presidente e os ministros discursaram.

Além desses casos abordados, em que podemos fazer a


concordância de modo flexível, vale a pena, ainda, fazer com
que você observe a concordância do verbo em situações em que
usamos porcentagens:

25% dos alunos faltaram à avaliação.


25% da verba é destinada a projetos educacionais.

Repare que, nos exemplos acima, a concordância não se dá


entre o verbo e a expressão que indica porcentagem, mas entre
o verbo e a palavra seguinte a essa expressão. Diferente seria se
a expressão que indica porcentagem viesse “desacompanhada”.
Neste caso, necessariamente, deveríamos concordar o verbo com
o numeral:

25% gostam do projeto.


Apenas 1% não compareceu à avaliação.

Até agora, mostramos a concordância que se pauta na relação entre


verbo e sujeito. Na sequência, abordaremos casos de concordância
nominal, ou seja, a concordância que se ocupa da relação entre os
nomes.

Unidade 5 135

leitura e producao textual.indb 135 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Caso 4 - Obrigado ou obrigada?


Agruparemos neste item os casos de concordância nominal nos
quais você deve prestar atenção, tanto em sua produção escrita
quanto oral.

„„ Palavras como próprio, mesmo, quite, obrigado, anexo e


incluso sempre devem concordar com o termo ao qual se
referem. Não se trata apenas da concordância de número
(uso de singular ou plural), mas também de gênero
(masculino e feminino). Portanto, são adequados os
exemplos a seguir:

Eles próprios planejaram toda a viagem.


Ela mesma revisou seu texto.
Os alunos estão quites com as parcelas da formatura.
Ela apenas disse: muito obrigada.
Seguem anexas as avaliações.
Seguem inclusos os comprovantes.

„„ Palavras como meio e bastante podem variar ou não.


Observe:

Ele está meio cansado.


Ela está meio cansada.

Quando usado no sentido de intensidade, equivalente a


expressões como “um pouco” ou “mais ou menos”, meio é
invariável. Ao contrário, quando usado no sentido de metade,
meio é variável, como fica claro em:

Usou meio copo de leite. Usou meia xícara de leite.

Portanto, diferente da forma como muitas vezes


ouvimos, o horário de 12:30 deve seguir a seguinte
concordância: meio dia e meia.

Na dúvida sobre o uso da palavra bastante, substitua-a pela


palavra muito e verifique se a opção é singular ou plural.

136

leitura e producao textual.indb 136 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

Exemplo:

Comprei bastantes livros. (muitos)


Estão bastante agitados. (muito)

Não é muito comum ouvirmos, mas, no primeiro caso, a forma


adequada é bastantes, indicando quantidade. No segundo, trata-
se de um uso invariável, quando indica intensidade.

Atenção: lembrete sobre concordância nominal


Menos é uma palavra invariável, portanto, não existe
outra maneira de escrevê-la ou pronunciá-la.

Finalizando esta seção, ratificamos que não se pretende esgotar o


assunto com esse roteiro aqui apresentado. Estamos apenas chamando
a atenção para alguns casos de concordância verbal e nominal que não
devem ser esquecidos. Busque outras informações em gramáticas a que
você tenha acesso, ou pesquise a partir da referência indicada na seção
Saiba Mais.

Dando sequência aos tópicos gramaticais, você estudará, na seção


seguinte, algumas das regras de regência que devem ser aplicadas no
texto escrito.

Seção 2 – Regência
Inicie o seu estudo sobre regência, observando os seguintes
exemplos, que não devem ser muito distantes daquilo que você
ouve/fala ou lê/escreve em seu cotidiano.

1) Gosto de sorvete.

2) Sempre implicamos com nossos vizinhos.

Unidade 5 137

leitura e producao textual.indb 137 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

3) As crianças pensaram em você?

4) Estava me referindo aos meus vizinhos.

O que esperamos que você perceba é o uso das preposições


(destacadas) em todos os enunciados. Trata-se de uma exigência
dos verbos, ou seja, sempre usamos os verbos acima seguidos das
preposições em destaque.

Desse modo, podemos conceituar regência verbal


como o comportamento do verbo em relação à
exigência ou não de preposição.

Por exemplo, não falamos gosto você ou gosto viajar; ao contrário,


sem nenhum esforço, dizemos gosto de você ou gosto de viajar.
Então, podemos concluir que o verbo gostar exige ou rege a
preposição de.

É claro que temos aí um exemplo que não causa grandes


problemas, dada a facilidade com que usamos o referido verbo.
No entanto, algumas vezes, você ficará em dúvida diante de
situações um pouco mais complicadas. Vale a pena, então,
conhecer ou relembrar a regência de alguns verbos, que merecem
atenção especial.

Caso 1 - Assistir o filme ou Assistir ao filme?


O verbo ASSISTIR pertence a um grupo de verbos que, pelo
fato de possuírem mais de um sentido, apresentam diferentes
regências. Observe:

5) Eles assistiram ao filme.

Neste exemplo, com o sentido de ver, presenciar, o verbo exige


preposição (em destaque). O mesmo ocorre quando usamos
assistir no sentido de pertencer, caber, como mostra o seguinte
exemplo:

6) Este é um direito que assiste ao consumidor.

138

leitura e producao textual.indb 138 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

Por outro lado, quando usado no sentido de ajudar, prestar


assistência, o mesmo verbo não exige mais preposição, fato que
podemos verificar neste último exemplo.

7) O enfermeiro assistiu o doente.

Outros verbos têm comportamento semelhante ao verbo assistir.


Observe a regra de regência para o verbo IMPLICAR.

8) O atraso na entrega do projeto implicará prejuízo financeiro.

Neste caso, usamos o verbo com o sentido de acarretar.


Geralmente, na linguagem cotidiana, usamos esse verbo com a
proposição em. Você já deve ter lido ou ouvido enunciados como
o exemplo acima do seguinte modo: “...implica em prejuízo...”,
cujo emprego é inadequado, nesse caso, pois segundo a norma,
quando usado nesse sentido, o verbo implicar não pede
preposição. Portanto, a forma usada em (8) é adequada.

Implicar também pode ser usado no sentido de ter implicância


e, quando isso ocorre, devemos usá-lo com a preposição com,
conforme exemplo a seguir.

9) Ele sempre implica com os namorados de suas filhas.

Então, tanto assistir quanto implicar são verbos que têm a regência
modificada, de acordo com o significado que assumem. Há, ainda,
outros verbos que se enquadram nesse grupo. Portanto... seja curioso
(a)! Abra uma gramática e veja a regência dos verbos aspirar, agradar,
custar, proceder, visar.

Caso 2 - Prefiro estudar do que trabalhar?


Há outras situações em que você também poderá ter dúvidas,
mesmo que o verbo seja usado apenas em um único sentido e
possua apenas uma regência. Veja os enunciados e decida qual
deles está adequado à norma prescrita na gramática.

Unidade 5 139

leitura e producao textual.indb 139 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

10) Prefiro estudar do que trabalhar.


11) Prefiro estudar a trabalhar.

Se você apostou em (11), há duas possibilidades: ou você já tem


essa regra memorizada, ou desconfia de que a opção (10) seja
muito óbvia. De fato, a forma apresentada no exemplo (10) é a
que utilizamos na modalidade coloquial. Na fala, torna-se quase
uma regra usar do que entre os dois complementos do verbo
preferir.

Entretanto, a forma apresentada em (11) é a adequada, pois a


regência de preferir é: “preferir uma coisa a outra”.

Mais uma vez você pode observar a diferença entre a linguagem


que utilizamos no dia a dia e a linguagem que nos é exigida em
textos escritos na modalidade padrão. Continue investigando
como essa diferença é visível em relação às regras de regência.
Volte à gramática, ou consulte o dicionário, e veja a regência dos
verbos obedecer e desobedecer.

Caso 3 - Informo alguém de algo? Informo algo a alguém?


Há, ainda, os verbos que permitem duas formas de regência para
a mesma situação. Assim, podemos usar o verbo INFORMAR
nas duas construções exemplificadas a seguir, ambas adequadas à
norma.

12) O deputado informou os eleitores sobre o projeto.


13) O deputado informou o projeto aos eleitores.

É importante saber que outros verbos têm a mesma regência do


verbo informar, como avisar, notificar, cientificar, prevenir.

Caso 4 - As pessoas que eu trabalho ou as pessoas com quem eu trabalho?


Finalizando, é necessário chamar a atenção para uma situação
muito comum na linguagem coloquial. Geralmente, ouvimos
enunciados semelhantes aos exemplos abaixo:

140

leitura e producao textual.indb 140 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

14) As pessoas que eu trabalho vieram de outra cidade.


15) Não encontrei as pessoas que você se referiu.
16) As pessoas que eu gosto não vieram à festa.

Você consegue identificar o problema de regência em cada um


desses exemplos? Vejamos:

14) O verbo TRABALHAR exige a preposição com. Logo,


se você diz “eu trabalho com as pessoas”, o mesmo deve ser
feito nas estruturas mais complexas em que aparecem pronomes
como que, o qual, quem. Assim, aplicando a regra de regência,
corrigimos o enunciado para:

As pessoas com quem eu trabalho vieram de outra cidade.

15) O verbo REFERIR-SE exige a preposição “a”. Por exemplo,


dizemos “eu me refiro aos alunos”. Então, devemos reescrever o
enunciado do seguinte modo:

Não encontrei as pessoas a quem você se referiu.

16) O verbo GOSTAR, o primeiro abordado nesta seção, exige


a preposição de. Você, com certeza, diria “eu gosto das pessoas”, e
não “eu gosto as pessoas”. Portanto, corrigindo o exemplo, temos:

As pessoas de quem eu gosto vieram à festa.

Observe que, mais uma vez, estamos chamando a atenção para


a estrutura permitida na modalidade coloquial, em oposição à
exigência da norma.

Esperamos que você tenha compreendido que o princípio da regência


verbal está na exigência que o verbo faz em relação à preposição.
Muitos verbos exigem a preposição a, e, quando essa coincide com
a ocorrência de outro a, temos o acento indicador de crase. Logo, é
praticamente uma consequência do estudo da regência estudar um
pouco sobre a crase, o tópico abordado na próxima seção.

Unidade 5 141

leitura e producao textual.indb 141 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Seção 3 – Crase
Para entender o uso da crase, é interessante que você relembre
seus tempos de estudante, em que sua professora dizia: “crase
é a fusão de duas vogais iguais em uma só, sendo que uma é
preposição e a outra é artigo”.

Então, para você não esquecer mais, vamos reforçar: em Língua


Portuguesa, crase é a fusão das vogais idênticas a (preposição) + a
(artigo) e é indicada por meio do acento grave.

a + a
à

Lembrou? Pois é, um dia já ouvimos essa explicação,


conseguimos lembrar, mas poucos sabem de fato usar
a crase. Por que será?

Antes de entrar na exemplificação dos usos obrigatórios ou


facultativos da crase, é preciso deixar claro que as pessoas
têm dificuldades para usá-la por falta de conhecimentos de
regência, pois, para saber se há crase ou não, temos de saber,
primeiramente, se a regência da palavra anterior exige ou não a
preposição a.

Quer ver?

O verbo IR, por exemplo, exige a preposição a, correto? Então,


quem vai, vai a algum lugar. Dessa forma, temos as seguintes
construções:

Ex1: Paulo foi ao cinema ontem.

Como você pode ver, o verbo Ir exige a preposição a e cinema


(substantivo masculino) exige o artigo o. Assim, temos a
(preposição) + o (artigo) = ao.

Vamos, agora, substituir a palavra CINEMA, por uma palavra


feminina.

142

leitura e producao textual.indb 142 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

Ex2: Paulo foi à praia ontem.

Bem, você já deve saber que, como no primeiro exemplo, aqui o


verbo Ir continua exigindo a preposição a. Então, ocorre crase
por que temos a (preposição) + a (artigo) = à

Acreditamos que a aplicação da crase apenas com base nas regras


gramaticais não nos garante o domínio de quando devemos ou
não usá-la. Portanto, a partir de agora, apresentaremos uma série
de situações cotidianas e dicas para que você saiba como bem
aplicá-la. Vamos lá?

Para início de conversa, a primeira coisa que precisamos deixar


claro quando se estuda crase é que ela só ocorre diante de
palavra FEMININA. Caso contrário, tem-se ao e não à.

A partir do que foi dito acima, você deve ter lembrado da


recomendação do seu professor de Língua Portuguesa quando
ele disse que para saber quando usar crase, basta substituir uma
palavra feminina por uma masculina e, se diante da palavra
masculina eu tiver ao, então ocorre crase. Certo?

Bem, essa dica até que tem a sua validade, mas cuidado, por que
nem sempre ela é eficiente. Quer ver!

Vejamos a frase abaixo:

Ex: Paulo foi a Roma com sua nova namorada

De nada adianta usar a regra, por que Roma não admite o artigo
a.
Hum! Agora você deve estar se perguntando: “Então, como faço
para saber se diante de nome de cidades, estados ou países ocorre
ou não crase?”

Uma boa saída é trocar o verbo que pede a preposição a pelo


verbo VIR.

Ex1: Paulo foi a Roma com a sua nova namorada.

Paulo voltou de Roma com a sua nova namorada.

Ex2: Paulo foi à Itália com a sua nova namorada.

Paulo voltou da Itália com a sua nova namorada.

Unidade 5 143

leitura e producao textual.indb 143 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Bem, não é difícil concluir que a dica é: se aparecer da


(de + a) depois do verbo vir, então ocorre crase, caso
contrário, não ocorrerá.

Agora que você sabe que precisa usar a crase sempre que houver
um verbo que exige a preposição a, vamos ver outros casos em
que o uso da crase é obrigatório, facultativo ou quando não se
deve usá-la.

Casos obrigatórios:

Situação 1:
Diante das locuções adverbiais formadas por palavra feminina,
como às pressas, à toa, às claras, à tarde, às vezes, à direita, à
esquerda etc.

Exs:

1. Escobar voltou à tardinha para encontrar Capitu.


(Machado de Assis)

2. O melhor hotel da cidade ficava à esquerda da ponte que


dava acesso ao portal principal.

3. Se não economizarmos energia, ficaremos às escuras.

4. Preferiu ser sincero, deixando a traição às claras.

5. Às vezes, é preciso rir para não chorar.

144

leitura e producao textual.indb 144 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

Deve-se ressaltar, porém, que nas locuções adverbiais que


indicam instrumento não ocorre crase.

Ex:

1. A carta foi escrita a mão.

2. As fantasias foram feitas a máquina.

3. João foi morto a facada.

4. Ele saiu com o barco a vela.

Isso fica claro quando você substitui qualquer expressão dessas


por uma masculina. Quer ver? Você não diz “A carta foi escrita
ao lápis”

Nem:

“João foi morto ao machado”.

Assim como você não diz: “Fiz o pagamento ao prazo”. Mas


diz: “Fiz o pagamento a prazo”.

CUIDADO!

Com a expressão a vista, pode ocorrer crase em outras


situações. Quer ver?

Ex: O resultado do ENEM está à vista de todos.

Por quê: à vista, aqui, significa ao alcance de todos.

Então: a expressão a vista de, quando significar ao alcance de, será


craseado.

Situação 2:
Diante dos pronomes demonstrativos aquele(s), aquela(s), aquilo,
quando esses vierem precedidos de verbos regidos pela preposição a.

Unidade 5 145

leitura e producao textual.indb 145 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Exs:

1. Todos irão àquela (a + aquela) praia.

2. Muitos irão àquele (a + aquele) baile.

3. Raquel referia-se àquilo que você fez ontem.

Situação 3:
Diante de locuções prepositivas à frente de, às custas de, à maneira
de etc.

Exs:

1. Por causa desses vícios e das mulheres é que as cruzes


nascem à beira das estradas. (Visconde de Taunay)

2. A polícia britânica deixou a população à mercê dos


terroristas.

Situação 4:
Diante da expressão à moda de ainda que esteja subentendida.

Exs:

1. A festa estava ótima, mas o maior astro da noite saiu à


(moda) francesa e não se despediu nem dos anfitriões.

2. Com um vestido à (moda) Chanel, Gisele chegou


deslumbrante ao evento.

3. Meu sonho é ter um casaco à moda italiana.

Situação 5:
Diante da palavra casa, terra e distância, quando estas forem
determinadas e mesmo que subentendidas.

Exs:

1. Joana chegou à casa de Laura com uma hora de atraso.

2. Chegamos há dois dias à terra de nossos pais.

146

leitura e producao textual.indb 146 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

3. O corredor ficou à (distância de) cem metros da linha de


chegada.

Mas cuidado: diante da palavra distância, quando não estiver


determinada, não ocorre crase. Assim, você deve escrever:
“Faço curso a distância”. “Fiz a matrícula numa faculdade a
distância”.

Situação 6:
Quando houver numerais indicando horas exatas.

Exs:

1. Regressaremos às dez horas.

2. A aula será das duas às seis da tarde.

3. Cheguei à festa às duas da manhã.

4. Encontrei meu amigo à uma hora da tarde.

Atenção!

Quando uma estiver se referindo à hora de relógio, usa-se crase,


mas quando significa distância, é diferente. O correto é

a) Meu novo emprego fica a uma hora da minha casa.

b) Itajaí fica a uma hora de Florianópolis.

Mas:

a) Para surpresa de todos, o assalto ocorreu à uma hora da tarde.

b) À uma da madrugada não se deve sair sozinho nas grandes


cidades.

Unidade 5 147

leitura e producao textual.indb 147 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Casos em que não se usa crase

Situação 1:
Diante de palavras masculinas:

Exs:

1. A entrevista foi concedida a Carlos Henrique Amorim.

2. O Banco do Brasil emprestou dinheiro a empreiteiros


estrangeiros.

Situação 2:
Diante de verbos no infinitivo (ou seja, não conjugados).

Exs:

1. Depois de uma noite mal dormida, ficou a ver estrelas


durante todo o dia.

2. Em Miami, não pude me limitar a comprar apenas o


básico.

3. Depois de muita explicação, comecei a entender o uso da


crase.

Situação 3:
Diante de uma palavra no plural, quando o a estiver no singular.

Exs:

1. Não devo obediência a leis injustas.

2. Na correção da prova, o professor só fez referência a


questões fáceis.

3. Na última eleição, as emissoras só deram espaço a


candidatas bonitas.

148

leitura e producao textual.indb 148 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

Casos em que o uso da crase é facultativo

Situação 1:
Diante de pronomes possessivos (minha, nossa, tua, sua )

Exs:

1. Obedeço a (à) minha mãe.

2. Disse a (à) tua prima que o jantar não era para qualquer
pessoa.

3. A crítica se referia a (à) nossa escola.

Situação 2:
Diante do nome de pessoas do sexo feminino.

Exs:

1. Vou dar emprestar a (à) Dilma o meu casado preto.

2. João fez referência a (à) Laura.

3. O professor fez alusão a (à) Cecília Meireles.

Agora que você já viu alguns tópicos gramaticais fundamentais


para a construção de enunciados na norma culta, como
concordância, regência e crase, fazemos outro desafio: que tal
aprender a usar os sinais gráficos, especialmente a vírgula, de
forma que o seu texto reflita o que você realmente deseja?

Afinal, são eles os grandes astros da construção de sentido de um


texto.

Vamos, então, à próxima seção.

Unidade 5 149

leitura e producao textual.indb 149 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Seção 4 – Pontuação
Iniciaremos esta seção convidando você à leitura do enunciado a
seguir. Veja se é possível compreendê-lo:

Os analistas desistiram logo o curso foi um fracasso.

A falta de pontuação dificulta a apreensão de um sentido


específico. Em princípio, não sabemos se “os analistas desistiram
rapidamente e, por isso, o curso foi um fracasso” ou se “o curso
foi um fracasso porque os analistas desistiram”.

Observe agora que esses dois sentidos podem ficar claros,


caso o enunciado seja refeito com a devida pontuação. Leia-os
novamente e perceba o quanto a pontuação é determinante na
construção do sentido.

Os analistas desistiram logo. O curso foi um fracasso.


Os analistas desistiram, logo, o curso foi um fracasso.

Na fala, esses sentidos seriam marcados pela


entonação, isto é, pelo tom que o falante dá à voz
para expressar sua intenção. Na escrita, os sinais de
pontuação cumprem a função de aproximar o texto
do sentido desejado pelo autor.

Como você já sabe, a pontuação abrange vários recursos gráficos,


como ponto final, dois pontos, ponto de exclamação, ponto de
interrogação, vírgula, ponto e vírgula etc.

No entanto, seguindo a proposta desta unidade, que consiste


em enfatizar as situações gramaticais mais relevantes, você verá
alguns casos de uso da VÍRGULA, acreditando que as regras
que determinam tal uso sejam o ponto de maior dúvida entre
maioria dos acadêmicos.

150

leitura e producao textual.indb 150 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

Você já deve ter ouvido falar que, ao ler um texto,


toda vez que fazemos uma pausa, deve haver uma
vírgula. Mas, cuidado: nem toda pausa requer o uso da
vírgula.

Na verdade, o uso da vírgula está pautado na estrutura sintática


dos períodos, não havendo, portanto, relação direta entre fala e
escrita. A seguir, listaremos algumas regras que podem lhe ser
úteis quando fizer suas atividades de escrita.

Regra 1
Há uma orientação básica quanto ao emprego da vírgula: Não se
separa sujeito de verbo. Observe os exemplos:

1) Os estudantes entregaram o relatório.


2) Todos os estudantes da área da Saúde deveriam participar
do evento.
3) Todos os estudantes inscritos no último congresso sobre
Saúde e Educação devem receber certificado.

Quando a regra número 1 é apresentada, parece que quem a


está explicando considera isso muito fácil, não é mesmo? Mas,
se assim o fosse, não teríamos tanta gente com dificuldades para
usar a vírgula em textos diversos. Então, vamos tentar deixar as
coisas mais claras.

Desde cedo, você aprendeu que VÍRGULA INDICA UMA


PEQUENA PAUSA. Certo? Bem, isso nem sempre acontece.
Então, vamos mudar essa sugestão e usar aquela que nos dá
Napoleão Mendes de Almeida, um importante gramático da
Língua Portuguesa, que diz o seguinte: “ONDE NÃO HÁ
PAUSA, NÃO HÁ VÍRGULA”.

Vejam os exemplos abaixo:

1. Confira o último CD do grupo Vozes da África.

2. Confira, na última listagem publicada, o nome dos


classificados no vestibular.

Unidade 5 151

leitura e producao textual.indb 151 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Ficou fácil, não é mesmo?

Bem, agora, então, vamos continuar apresentando a você algumas


regras que podem ajudá-lo a usar a vírgula com maior facilidade.

Regra 2
Há situações específicas em que se deve usar vírgula entre os
termos da oração. Vejamos.

Situação 1: Imagine que você está conversando com seu amigo


sobre o que você fez ontem à noite.

- (1) O que você fez ontem à noite?


- (2) Ontem? Após o curso de inglês, fui ao cinema.
- (3) Sozinho?
- (4) Não. Fui ao cinema com a Maria, aquela gatinha do 603.
- (5) É mesmo, ela é uma gatinha, ou melhor, uma gatona.
- (6) Paulo, para com isso! Eu já estou de olho nela faz tempo.

Observe que usamos a vírgula em quatro dos enunciados


apresentados, em função de terem diferentes estruturas
oracionais. No enunciado (2), a vírgula é usada para separar
termos que se encontram “fora do lugar”, isto é, termos que não
respeitam a ordem: sujeito + verbo + complementos. Veja:

- (2) [...] Após o curso de inglês, fui ao cinema.

Quem foi ao cinema? Eu (sujeito).


Qual é o verbo? “fui” (ir).
Qual o complemento? “cinema”

Então, a ordem padrão seria:

152

leitura e producao textual.indb 152 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

- (2) Fui ao cinema após o curso de inglês.

Mas, se essa ordem é quebrada, devemos separar aquilo que está


deslocado com vírgula, o que resulta em construções como a do
enunciado (2). No enunciado (4), a vírgula, após o nome Maria,
introduz uma explicação sobre ela, ou seja, é o que as gramáticas
trazem sob a denominação de aposto. Observe:

- (4) [...] Fui ao cinema com a Maria, aquela gatinha do 603.

No enunciado (5), a vírgula é utilizada para corrigir, ou melhor,


explicar que Maria não é uma gatinha, mas sim uma gatona.
Veja:

- (5) [...] ela é uma gatinha, ou melhor, uma gatona.

No enunciado (6), o nome Paulo necessariamente deve vir


separado por vírgula, pois indica a pessoa a quem o falante
(amigo de Paulo) se dirige. É o que as gramáticas trazem como
vocativo. Observe:

- (6) Paulo, para com isso!

Compreendeu?
Pois é, você deve estar pensando que é fácil falarmos dessas regras
quando usamos exemplos com uma linguagem coloquial, mas, na
modalidade culta, a aplicação delas se repete.

Observe, nos trechos a seguir, como a vírgula é aplicada:

“(1) Em Estética da criação verbal (1992), Bakhtin propõe uma


reflexão sobre os gêneros discursivos, (2) denominação dada por
ele aos tipos relativamente estáveis de enunciados, elaborados
em cada esfera da utilização da língua.”
(TRINDADE, Mônica Mano. Dissertação de mestrado. 2001)

Em (1), a vírgula separa um termo deslocado, que indica o


local (de publicação) onde o autor propõe uma reflexão. Entre

Unidade 5 153

leitura e producao textual.indb 153 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

as vírgulas indicadas em (2), temos uma explicação ao termo


antecedente (gêneros discursivos).

“A intertextualidade em sentido restrito é a relação de um texto


com outros textos previamente existentes, isto é, efetivamente
produzidos.”
(KOCH, Ingedore. O texto e a construção de sentidos. 1997b)

A expressão isto é introduz uma reexplicação à afirmação


anterior.

Regra 3
Cabe esclarecer que, além das regras apresentadas, há situações
de uso da vírgula entre as orações. Trata-se da pontuação de
estruturas mais complexas, isto é, de períodos compostos,
segundo as gramáticas. A seguir, apresentamos os casos mais
comuns.

1) Orações sobrepostas (em sequência)

O professor chegou à sala, pediu silêncio, aguardou alguns


minutos e começou a aula.

2) Antes de conectivos que estabelecem relações de oposição,


explicação, conclusão etc (ver quadro unidade 3 – seção 3)

Esforçou-se muito, porém, não conseguiu o prêmio. (oposição)


Estuda muito, logo, será recompensado. (conclusão)

3) Para isolar expressões cuja função seja corrigir ou explicar a


oração antecedente.

O meu amigo, que estuda na escola pública, foi aprovado em 1º


lugar no concurso. (explicação)

4) Para separar orações deslocadas em relação à ideia principal.

Como ele estava doente, não participou do encontro.

154

leitura e producao textual.indb 154 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

Dicas Importantes
Desde o início de nossa vida escolar, temos contato com a
aprendizagem da Língua Portuguesa. Mas, apesar de estudar
a nossa língua materna por tantos anos, ainda temos inúmeras
dúvidas quando vamos produzir um texto, pois o nosso idioma
é, de fato, bastante complexo e precisamos estar bem atentos na
hora de usá-lo em quaisquer situações comunicativas.

Para ajudá-lo, vamos apresentar, a seguir, algumas dicas para


você não se confundir na hora de usar a Língua Portuguesa.
Esperamos que possa usar dessas dicas para fugir das armadilhas
que muitas vezes o idioma parece nos preparar.

1. Você abre uma exceção ou excessão?


A escrita correta é exceção. Veja outras grafias corretas, ao lado
das erradas:

CORRETO INCORRETO
Paralisar paralizar
Beneficente beneficiente
Privilégio previlégio
Adivinhar advinhar
Bem-vindo benvindo
Ascensão ascenção
Empecilho impecilho
De repente derrepente

2. Quando devemos usar há ou a?


Simples: Há  indica tempo passado.

 pode ser substituído pelo verbo fazer.

Ex: Há muitos anos não vejo meus avós. (FAZ muitos anos
que não vejo os meus avós)

Ela o esperava há muito tempo. (Ela o esperava FAZ muito


tempo).

Unidade 5 155

leitura e producao textual.indb 155 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

A  indica tempo futuro

Ex: Daqui a dois dias vamos partir para nossa primeira


viagem à Europa. (a = tempo futuro)

3. Há diferença entra MAIS e MAS?


Claro que há. MAS é uma conjunção e é sinônimo de PORÉM.

MAIS é advérbio, indica quantidade e é o contrário de


MENOS. (Em caso de dúvida, troque o mais por menos.
Fazendo sentido, a frase estará correta).

Ex: Reclame menos e estude mais.

Ter um diploma é importante, mas ter conhecimento


também é.

4. Você conhece o Lobo Mal ou o Lobo Mau?


Lembre-se: MAL é o contrário de BEM.

MAU é o contrário de BOM.

Se não quiser confundir, veja uma dica legal. O que


vem antes no alfabeto, L ou U? Você responderá L, com
certeza. E o que vem antes no alfabeto, E ou O? E, é
claro. Então L está para E, assim como U está para O.
Então, maL – bEm e maU – bOm.

5. O correto é À-TOA, ou À toa?


À-toa significa fácil, desprezível.

Ex: O advogado metido era um sujeitinho À-toa.

À toa significa sem destino, sem rumo, ao acaso.

Ex: Andava à toa na vida, o meu amor me chamou.

6. Devo dizer A FIM de ou AFIM de?


Certamente, você fica A FIM DE. Essa expressão significa
finalidade. Corresponde a PARA.

156

leitura e producao textual.indb 156 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

Ex: Cheguei até aqui A FIM DE me tornar um ótimo


profissional.

Cheguei até aqui para me tornar um ótimo profissional.

AFIM ( numa única palavra) corresponde a semelhante,


próximo ou parente por afinidade.

Ex: Os crimes tinham provas afins.

7. Posso afirmar que: “SENÃO apresentar bons exemplos, a matéria não será
compreendida”?
Não, mesmo. Pois emprega-se SENÃO quando podemos
substituir essa expressão por APENAS, SOMENTE.

Ex: O meu amor é tanto que não vejo outra pessoa,


SENÃO você.

Já a expressão SE NÃO pode ser substituída por CASO, NA


HIPÓTESE DE.

Ex: SE NÃO for bem nessa matéria ficarei em prova final.

8. Se usarmos ONDE ao in vés de AONDE há algum problema?


Certamente, ONDE indica estada, permanência “em” um lugar.

Ex: Não sei ONDE está o meu dicionário.

Vou saber ONDE você mora.

ONDE deixei meu dinheiro, você nunca vai saber.

AONDE, porém, indica movimento “para” um lugar.

Ex: Não saio de casa com você se não disser AONDE


iremos.

Estudo muito, pois sei AONDE quero ir com o meu


conhecimento.

Unidade 5 157

leitura e producao textual.indb 157 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

9. Quando se usam essas expressões:


ACERCA DE - significa a respeito de, sobre.

HÁ CERCA DE - indica tempo decorrido, aproximado.

CERCA DE - dá idéia de aproximação, mais ou menos


quantidade.

Ex: O presidente vai falar ACERCA DOS (DE+O)


assessores corruptos.

O presidente vai falar CERCA DE duas horas.

O presidente falou pela última vez HÁ CERCA DE dois


meses.

10. Está coreto dizer: “Deixou todo o trabalho pra mim fazer?”
Se você achou que sim, está completamente equivocado. MIM
não faz, por quê:

1º- Antes do verbo no infinitivo (quando não está conjugado)


precisamos usar o pronome EU.

Ex: A professora indicou este livro para EU ler.

Deixou todo o trabalho para EU fazer.

11. Quando devo usar SESSÃO, SEÇÃO e CESSÃO?


SEÇÃO significa mera divisão, repartição.

SESSÃO equivale a tempo de uma reunião, função.

CESSÃO é o ato de ceder.

Ex: A SEÇÃO de brinquedos foi a mais visitada em todas


as lojas do país.

A última SESSÃO do filme acabou quase às duas horas da


manhã.

O prêmio foi uma CESSÃO da empresa patrocinadora do


evento.

158

leitura e producao textual.indb 158 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

12. Qual a grafia correta da palavra: ascender ou acender?


Depende de onde ela for usada. ASCENDER significa subir e
ACENDER significa colocar fogo.

Ex: Ela ASCENDEU ao cargo de gerente, mas foi


merecido.

Meu pai ACENDIA a lareira nas noites quentes e tocava


viola para a família reunida.

13. É preciso distinguir AO INVÉS DE e EM VEZ DE?


É claro que sim.

AO INVÉS DE = ao contrário de.

Ex: AO INVÉS DE ficar quieto, respondia ao juiz a cada


pergunta que esse fazia ao advogado.

EM VEZ DE = em lugar de

Ex: EM VEZ DE ficar assistindo a programas idiotas, leia


um bom livro.

14. Devo IR AO ENCONTRO DE ou IR DE ENCONTRO A?


Depende. Como há bastante semelhança nas duas expressões, a
tendência é confundir uma pela outra. Mas muito cuidado, pois
cada uma delas tem sentido próprio. Quer ver?

AO ENCONTRO DE - corresponde a “encontrar-se com”, “sair


ao encalço de” ou “estar de acordo”, “ter a mesma opinião”.

IR DE ENCONTRO A - corresponde a “opor-se”,


“defrontar-se com”, ou mesmo “contradizer”, “contrariar”.

Ex: A recepcionista foi AO ENCONTRO DA NOIVA,


antes que ela soubesse que o noivo não estava no altar.

A professora deixou claro que as respostas erradas não


vinham AO ENCONTRO DOS temas estudados.

Como estava em alta velocidade, o motoqueiro foi AO


ENCONTRO da árvore e não sobreviveu.

Unidade 5 159

leitura e producao textual.indb 159 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

A opinião dos funcionários veio DE ENCONTRO ÀS


necessidades da empresa.

15. Para finalizar, o que devo usar PORQUÊ, POR QUE, POR QUÊ ou PORQUE?
Sabemos que existem muitos “porquês” e que essa expressão é das
que trazem mais dúvidas na hora de escrever. Por outro lado, é
um assunto que encontramos facilmente em qualquer gramática
da Língua Portuguesa. Assim sendo, e para ajudar você a se
apropriar mais do conhecimento, deixamos a tarefa que segue:

Procure em gramáticas e sites especializados o emprego correto


das diversas formas do PORQUÊ. Socialize sua pesquisa,
resumidamente, mas de forma bem clara, no FÓRUM.

Síntese

Como você pôde observar, a adequação à modalidade culta da língua


implica o conhecimento de algumas regras prescritas pelos gramáticos,
o que justifica finalizarmos nossos estudos com esta unidade.

O roteiro aqui proposto partiu da seleção dos aspectos


gramaticais mais relevantes ao trabalho de produção de textos,
organizado do seguinte modo:

„„ Abordamos questões de concordância, dando ênfase aos


verbos impessoais e aos casos de voz passiva.
„„ Você estudou um pouco de regência, e deve ter percebido
que alguns verbos merecem destaque, pois exigem
preposição de um modo diferente ao que você está
acostumado a ouvir no cotidiano.
„„ Dentro do conceito mais amplo de regência,
apresentamos os casos mais comuns de uso do acento
indicativo da crase.
„„ Chamamos a sua atenção para a importância da
pontuação.

Apresentamos a você algumas dicas interessantes para que não


cometa erros comuns, que muitos universitários comentem ao
longo da vida acadêmica.

160

leitura e producao textual.indb 160 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

Em todas essas seções, ao contrário de propor um estudo


exaustivo que contemplasse todas as regras dos tópicos abordados,
tentamos mostrar a você que compreender apenas algumas
delas já o instrumentaliza para investigar e estudar mais, não só
sobre o assunto em questão, mas também sobre outros tópicos
gramaticais que julgue necessários.

Esperamos ter despertado em você a consciência de que o


conhecimento da norma culta requer muita leitura de textos
produzidos nessa modalidade, a tarefa árdua de escrever e
reescrever, mas, além disso, muito lhe será útil adquirir o hábito
da consulta às regras gramaticais na revisão dos próprios textos.

Atividades de autoavaliação
1) Reescreva os enunciados abaixo, adequando-os à norma culta.
a) Devem fazer três anos que não visitamos nossos parentes.

b) Verificou-se os problemas e constatou-se que não haviam formas de


solucioná-los.

c) Encontrei os profissionais que me referi.

d) Devem haver algumas possibilidades de encontrarmos as pessoas que


falávamos.

e) 80% da população preferem cinema do que teatro.

Unidade 5 161

leitura e producao textual.indb 161 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

f) A manifestação implicou na queda do presidente.

2) Explique a diferença de sentido entre:


a) A maior parte dos alunos não entregou a secretária.

b) A maior parte dos alunos não entregou à secretária.

3) Os enunciados abaixo, extraídos de textos publicados na revista ÉPOCA


(26/06/06), foram, intencionalmente, modificados. Faça a pontuação de
acordo com a norma culta da Língua Portuguesa:
a) Na terça-feira 20 o programa em homenagem a Cláudio Besserman
Vianna o Bussunda terminou com todos os integrantes do grupo
Casseta & Planeta no estádio do Maracanã. O comediante que morreu
vítima de um ataque cardíaco na Alemanha onde gravava programas
durante a Copa era uma espécie de artilheiro do grupo de humoristas
mais bem-sucedido do Brasil.
b) De acordo com Ziraldo as principais características do humor da turma
do Casseta e Planeta são a criatividade a irreverência e principalmente
a crueldade. Com a morte de Bussunda o programa perde seus
personagens mais populares Ronaldo Fofômeno uma imitação
impagável do jogador e o presidente Lula que ele fazia com o dedo
mindinho dobrado e a voz rouca.

162

leitura e producao textual.indb 162 09/09/11 14:58


Leitura de Produção Textual

4) Circule nas frases abaixo as expressões que estão em desacordo com


o uso correto da Língua Portuguesa e, em seguida, faça as devidas
correções.
1. A cerca de duas horas choveu muito na capital.
2. Ele chegou a igreja à uma hora.
3. Tinha mal comportamento, mais foi considerado inocente acerca de
duas semanas.
4. Aonde estão os mapas da cidade? Quero aproveitar que estou à-toa
para concluir meu trabalho.
5. Só verei minha irmã daqui há dois anos, quando for a Europa.
6. Desconheço o por que da minha dificuldade com crianças mau
educadas.
7. A comida ficou pronta à cinco minutos.
8. Algumas modelos são mais novas, mas parecem mais velhas
devido a maquiagem.
9. Entre eu pedir algo e vocês realizarem a uma grande diferença.
10. Não é muito fácil acender profissionalmente. É mas fácil para quem já
nasceu numa boa família.
11. A criança só incomodava, em vez de brincar.
12. Casei com Carlos por que tínhamos interesses a fins, mais tudo mudou
há cerca de dois anos.
13. Enviou aquele e-mail para mim ler depois da aula.
14. Após duas horas de espera, o público foi levado à sala de espetáculos.
15. Os telespectadores não sabem o por que da saída inesperada do
diretor da nova novela.
16. Depois da notícia, todos sentiram um profundo mau estar.
17. Próximo à casa de Joana há cerca de cinco postos de combustível.
18. Derrepente, começou a chover, mas ninguém saiu do show.
19. Senão fosse professora, seria jornalista.
20. Depois da crise, precisou de várias seções de terapia.

Unidade 5 163

leitura e producao textual.indb 163 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

5) Leia atentamente as frases abaixo e empregue a vírgula, quando for


necessário.
1. Os alunos apresentaram suas dúvidas com muita objetividade.
2. Com muita objetividade os alunos apresentaram suas dúvidas.
3. De acordo com o diretor que conhece bem o assunto não será fácil
resolver o problema da substituição do ator.
4. João Humberto grande jogador da década de 50 passa por
grandes dificuldades financeiras.
5. Uma das melhores feiras de informática do Brasil será realizada em
Brasília.
6. Naquela oportunidade o juiz que não estava convencido da
acusação depois de muito se opor aceitou com ressalvas os argumentos
da promotoria.
7. Os senadores de acordo com que veicula na imprensa aceitarão o
novo valor do salário mínimo.
8. Uma das maiores empresas automobilísticas do mundo não
aceitou as propostas do novo governo americano e manteve a firme
decisão de não aumentar o valor do carro zero.
9. O empresário que estava ansioso para fechar a proposta não
exitou em divulgar à imprensa seu mais novo pupilo.
10. Em caso de necessidade chame a polícia.

Saiba mais
No decorrer desta unidade, sugerimos a você que buscasse mais
informações em gramáticas da Língua Portuguesa, bem como
ressaltamos a importância da consulta no momento de produção
textual.

Os tópicos abordados serão encontrados em qualquer gramática


normativa, mas, caso você queira uma sugestão de referência,
deixamos aqui algumas dicas.

CEREJA, Roberto. Gramática reflexiva: texto, semântica e


interação. São Paulo: Atual, 1999.

CIPRO NETO, Pasquale Gramática da língua portuguesa /


Pasquale e Ulisses. São Paulo: Scipione, 1998.

CUNHA, Celso & CINTRA, Luís F. L. Nova Gramática do


Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

164

leitura e producao textual.indb 164 09/09/11 14:58


Para concluir o estudo

No decorrer deste estudo, você foi orientado às atividades de


leitura e produção escrita, conforme os objetivos previstos
no plano da disciplina. Como aporte teórico a esse trabalho
prático, apresentamos conceitos fundamentados em áreas e
autores da Linguística que contribuem para o processo de
aprendizagem da Língua Portuguesa.

Desse modo, propusemos a você um roteiro que se iniciou


com os conceitos básicos sobre língua, linguagem e variação,
perpassando pelas concepções de leitura e texto, incluindo
os níveis implícitos da linguagem, os gêneros textuais – com
especificidade nos textos acadêmicos, até a apresentação
de regras gramaticais relevantes à prática de escrita na
modalidade culta.

Nossa intenção foi, mais do que o inserir na discussão teórica,


oportunizar o desenvolvimento das habilidades de leitura e
escrita, o que justifica a natureza prática das atividades sugeridas.

Acreditamos que o desenvolvimento da aptidão para ler


e produzir textos só se dará pelo esforço constante de sua
parte, logo, as tarefas de leitura e produção textual não se
encerram com esta disciplina, mas se constituem em um
processo contínuo, integrado às atividades envolvidas nas
demais disciplinas do seu curso e à sua atuação profissional.

Esperamos apenas ter contribuído para o início desse


processo e que você, por ter aceitado nosso convite, tenha
concluído esta etapa consciente de que

o texto é um construto histórico e social,


extremamente complexo e multifacetado, cujos
segredos (quase ia dizendo mistérios) é preciso
desvendar para compreender melhor esse “milagre”
que se repete a cada nova interlocução – a interação
pela linguagem. (KOCH, 2006, prólogo)

Até breve,
Chirley e Mônica.

leitura e producao textual.indb 165 09/09/11 14:58


leitura e producao textual.indb 166 09/09/11 14:58
Referências

Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6028:


apresentação de resumos: procedimento. Rio de Janeiro, 2003.
CIPRO NETO, Pasquale. Gramática da língua portuguesa. São
Paulo: Scipione, 1998.
FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência textuais. São Paulo:
Ática, 2004.
ILARI, Rodolfo; GERALDI, João Wanderley. Semântica. São Paulo:
Ática, 1987.
KOCH, Ingedore. A inter-ação pela linguagem. São Paulo:
Contexto, 1997 (a).
_____. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo:
Contexto, 1997 (b).
_____. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez,
2006.
MEDEIROS, João Bosco. Comunicação em língua portuguesa.
São Paulo: Atlas, 2000.
ORLANDI, Eni P. Discurso e leitura. Campinas: Unicamp, 1999.
PÊCHEUX, Michel. Análise Automática do Discurso. In: GADET, F.
TAK, T. (orgs.). Por uma análise automática do discurso: uma
introdução à obra de Michel Pêcheux.. Campinas: Unicamp,
1990.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação. São Paulo:
Cortez, 2002.
TRINDADE, Mônica Mano. Ensinando e aprendendo com
humor: leitura e produção de textos humorísticos. Dissertacão
(Mestrado em Linguística). Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis, 2001.

leitura e producao textual.indb 167 09/09/11 14:58


leitura e producao textual.indb 168 09/09/11 14:58
Sobre os professores conteudistas

Chirley Domingues é graduada em Letras Português/


Francês e mestre em Literatura Brasileira pela UFSC.

É professora da Universidade do Sul de Santa Catarina,


onde leciona as disciplinas de Literatura Portuguesa e
Brasileira, Prática de Ensino em Língua Portuguesa,
ambas para o curso de Letras, e a disciplina de
Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa, para o
curso de Pedagogia.

Atua também como coordenadora do curso de Letras da


UNISUL – campus Grande Florianópolis.

Mônica Mano Trindade é graduada em Letras -


Licenciatura em Língua Portuguesa pela UNICAMP,
especialista em Análise do Discurso pela PUCCAMP,
mestre em Linguística Aplicada e doutora em
Linguística pela UFSC.

Atualmente, é professora da Univesidade Federal da


Paraíba (UFP).

leitura e producao textual.indb 169 09/09/11 14:58


leitura e producao textual.indb 170 09/09/11 14:58
Respostas e comentários das
atividades de autoavaliação

Unidade 1
1. a. A variedade linguística regional é a que encontramos nos
quadrinhos.
b. Aqui, tem-se o personagem O analista de Bagé, um gaúcho
com uma linguagem típica, em que se incluem os vocábulos
e expressões: buenas, se abanque,china, tchê etc.
c. Presença de anacolutos (interrupção do pensamento)
identificados pelo uso de reticências; redução de palavras,
como por exemplo “pra” ao invés de “para”; uso de
exclamações.
2. a. Adequado, apesar de contradizer algumas regras
gramaticais.
b. Adequado e não contradiz as regras gramaticais.
c. Inadequado, apesar de o enunciado não contradizer as
normas gramaticais

3. No texto, encontramos diversas características da linguagem


oral, como a ruptura da frase, a repetição, frases inacabadas,
vocabulário reduzido, uso de gírias e redução de palavras.
4. Na primeira parte do texto, você deve ter percebido uma
forma diferenciada de escrita, ou seja, não há parágrafo, e sim
versos centralizados, em destaque. Essa estrutura é percebida
visualmente e revela a escolha do autor pela função poética
(centralizada na forma de organização das palavras). Ainda
podemos afirmar que, há a presença da função inativa, devido
à presença da 2ª pessoa do plural e pelas expressões usadas
no contexto.

leitura e producao textual.indb 171 09/09/11 14:58


Na segunda parte, encontramos um parágrafo informativo, cuja
função é explicar a primeira parte do texto. Caracteriza-se aí a função
referencial (centralizada na informação direta e objetiva).

Unidade 2
1. Discuta o tema, fazendo associações com conhecimentos prévios. Por
exemplo, você pode pensar na relação existente entre as temáticas TV
e violência, TV e interesses econômicos, TV e aquisição de cultura etc.
Tente definir um posicionamento crítico, ou seja, identifique o que você
considera positivo e o que considera negativo. Discuta no fórum.

2. a. Na opinião do autor, os jovens não têm personalidade. Não criam


nada, apenas copiam.
b. Negativa. De acordo com Angeli, os jovens são altamente
influenciáveis, o que é um problema, pois isso os leva a seguir
caminhos nem sempre confiáveis. ]
c. Pressuposto: antes não tinha garantia de três anos
Subentendido: a garantia era menor de 3 anos ou... agora é uma boa
oportunidade; um bom negócio.

3. a. Tema: o trânsito nas cidades brasileiras


b. Tese: O comportamento no trânsito anda deplorável.
c. Argumentos que sustentam a tese:
1. As pessoas não entendem que o espaço que usam com os seus
veículos é público;
2. Há um desrespeito às regras e sinais de trânsito;
3. O carro virou sinônimo de poder e status;
4. Presenciamos atitudes de confronto e competição no trânsito.
d. Conclusão: respeitar as leis e ter bons modos resultam em qualidade
de vida a todos.

4. Infere-se deste texto que “os casamentos têm curta duração”.


Chegamos a essa inferência – subentendido – pelo conhecimento que
temos do contexto, o que inclui saber sobre os atuais problemas em

172

leitura e producao textual.indb 172 09/09/11 14:58


relações matrimoniais e as estatísticas para divórcio. Caso contrário, se
você não acionar esse contexto no momento de inferir, a última fala
ficará desprovida de sentido, pois causa estranheza alguém decidir,
simultaneamente, a data do casamento e a do divórcio.

Unidade 3
Pausa para exercitar a teoria: Seção 1
1. Independentemente de conhecer qualquer teoria a respeito da notícia
como um gênero jornalístico, você pode perceber, apenas pautado na
sua experiência como leitor, que normalmente a notícia é um texto que
tem por objetivo relatar um fato ocorrido em um determinado lugar,
em uma determinada data, envolvendo determinadas pessoas. Por isso,
algumas características textuais se repetem em cada notícia diferente,
como fato, lugar, tempo, pessoa. O texto ainda pode conter a causa (ou
uma suposta causa) para o ocorrido.
2. Você pode pensar que se trata do mesmo gênero textual, uma vez que
o bilhete e o aviso se assemelham em relação ao objetivo – transmitir
rapidamente uma informação – e ao fato de ambos não serem
extensos. No entanto, eles se diferem em relação ao interlocutor –
pessoa a quem o texto é direcionado – e, consequentemente, possuem
níveis diferentes de linguagem.
O aviso é destinado a um grupo de pessoas. Ocorre em locais de
trabalho ou locais públicos, quando há a necessidade de se transmitir
uma informação de interesse do grupo. Por exemplo: em um mural de
sala de aula, pode haver um aviso da secretaria, destinado a alunos-
bolsistas, informando-os sobre a necessidade de recadastramento. Em
uma loja, pode haver um aviso destinado aos clientes, informando-lhes
a mudança em relação ao horário de funcionamento. Perceba que,
nos dois exemplos, a informação é transmitida a um grupo específico
e delimitado, mas composto de diferentes pessoas. Isso requer que o
texto seja claro e objetivo, visando a ser compreendido por todos, e
impessoal, dado o fato de ser publicado em espaços públicos, o que
faz com que possa ser lido e observado por todas as pessoas que os
frequentam, mesmo quando o aviso não é direcionado a elas. Desse
modo, a linguagem do aviso aproxima-se da modalidade culta da língua.
Ao contrário, o bilhete tem um tom mais informal e pessoal, pois tem
como interlocutor uma pessoa específica. Mesmo que seja direcionado a
um grupo, a relação entre quem escreve o bilhete e quem lê é mais direta e
familiar. Por isso, ao escrever um bilhete, usamos a modalidade coloquial.

173

leitura e producao textual.indb 173 09/09/11 14:58


Por exemplo, posso entregar um relatório em um departamento e, pelo
fato de já ser uma pessoa conhecida do funcionário que receberia meu
relatório, sinto que me é permitido, no caso de sua ausência, deixar o
trabalho com o bilhete: “Fulano, este é o relatório para enviar amanhã,
conforme a gente combinou. Qualquer coisa me liga”.
Pausa para exercitar a teoria: Seção 2
1. Há várias possibilidades de você escrever um período, organizando
as ideias que lhe foram apresentadas. Eis uma para cada uma das
propostas:
A terapia do eletrochoque, criada no início do século XX para tratar
esquizofrenia e histeria, está de volta, pois um estudo da Universidade
de Saint Louis acaba de mostrar uma versão que pode dar bons
resultados no tratamento de depressão severa.

2. “Separados pelo Casamento”, protagonizado por Jennifer Aniston e


Vince Vaughn, estreou bem nas bilheterias americanas, mas recebeu
algumas críticas maldosas sobre a falta de química entre o casal,
quando comparados a Brad Pitt e Angelina Jolie, em “Sr. e Sra. Smith”.

Autoavaliação
1. a. Gênero Textual: poema. Escrito para emocionar e sensibilizar o leitor.
b. Propaganda. Esse tipo de gênero tem por objetivo persuadir as
pessoas para comprarem o produto divulgado.
c. Bilhete ou telegrama. Os gêneros em questão têm por objetivo
apresentarem uma comunicação breve.
d. Texto jornalístico. Tem por objetivo noticiar um acontecimento, ou
melhor, informar sobre determinado fato.
e. Resenha. Esse gênero textual é usado para divulgar livros, filmes,
peças teatrais etc. Além de divulgar o objeto resenhado, esse gênero
apresenta, ainda, uma avaliação sobre a obra.
f. Ficha técnica. O objetivo desse gênero é apresentar dados referentes
ao elenco, à direção e outros dados.

2. Na unidade 2, você já leu e discutiu o tema. Aproveite esse estudo


prévio para fundamentar os textos que deve redigir aqui.
Divulgue um dos seus textos para que seja lido pelos colegas.

174

leitura e producao textual.indb 174 09/09/11 14:58


3. Apresentamos aqui três sugestões. Envie sua resposta para correção,
caso tenha dúvida.
José Wilker, um dos ícones das artes dramáticas no Brasil, fez 42 filmes e
31 novelas e interpretou JK, de quem se diz admirador.
Um dos ícones das artes dramáticas no Brasil, com 42 filmes e 31
novelas, José Wilker interpretou o ex-presidente JK, de quem se diz
admirador.
Admirador e intérprete de JK, José Wilker também fez 42 filmes e 31
novelas, destacando-se como um dos ícones das artes dramáticas no
Brasil.

4. Problema: queísmo
a. Correção: Espero o seu telefonema para que possamos discutir as
alterações feitas no projeto sem a nossa autorização.
Problema: falta de coerência
“Todavia” liga idéias opostas, e, nesse caso, não há essa oposição entre
as orações.
b. Correção: Os garotos acusados como responsáveis pelo acidente
dão exemplo de bom comportamento, pois realizam trabalhos
voluntários em hospitais.
Problema: falta de paralelismo
As três etapas deveriam ser expressas de uma única forma, o que não
ocorre, pois há dois nomes – levantamento e cadastramento – e um
verbo – distribuir.
c. Correção: As etapas previstas para o trabalho são o levantamento das
famílias necessitadas, o cadastramento dos membros dessas famílias
e a distribuição do material para que possam construir suas casas.
Problema: falta de coerência
“Logo” é um conectivo usado para indicar conclusão. As ideias “os
símbolos nazistas são proibidos” e “podem ser vistos em encontros de
membros do Partido...” são contraditórias, por isso devemos usar um
conectivo que indique essa oposição, como “mas”, “porém”, “todavia”
(ver quadro de conectivos na seção 3, unidade 3).
d. Correção: Os movimentos ultranacionalistas não estão enterrados na
Alemanha. Os símbolos nazistas, em tese, são proibidos, mas podem ser
vistos em encontros de membros do Partido Nacional Democrata, de
extrema direita.
Problema: ambiguidade

175

leitura e producao textual.indb 175 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

Não fica claro a que palavra o pronome “seu” faz referência: professor
ou orientando. Isso autoriza duas interpretações: ou o relatório é do
professor ou o relatório é do orientando.
e. Correção:
O professor esperava que o seu relatório fosse entregue ao
coordenador pelo orientando. (O relatório é do professor)
O professor esperava que o relatório do orientando fosse por ele
mesmo enviado ao coordenador.(O relatório é do orientando)

5. a. O envolvimento de menores,de ambos os sexos, na prática de crimes


é uma verdade DA QUAL não podemos fugir. Os poderes constituídos
deveriam parar e refletir sobre esse fato COM OS QUAIS os jornais
enchem suas páginas diariamente. De nada adiantou o Estatuto da
Criança e do Adolescente, POIS muitos delinquentes adultos se valem
da lei para incitar menores à prática de roubos e assassinatos.
b. Falta dinheiro para tudo no Brasil, mas as mordomias continuam. A
verdade é que os impostos COM OS QUAIS o governo mantém sua
máquina emperrada são mal empregados. Há notícias de que os órgãos
públicos compram copos de cristal, talheres de prata, porcelanas
finas, luxo DOS QUAIS não querem abrir mão, mesmo sabendo das
dificuldades PELAS QUAIS o povo passa.

Unidade 4
1. O resumo não pode deixar de apresentar alguns elementos que
são essenciais, ou seja: cada uma das partes essenciais do texto; a
progressão em que elas se sucedem; e a correlação que o texto
estabelece entre cada uma dessas partes. A partir disso, podemos dizer
que resumo não é uma colagem de frases do texto original. Retome as
sugestões dadas na seção 1 da unidade 4 para a elaboração do resumo
proposto.
2. Não se esqueça de que a resenha, além da síntese, exige um
posicionamento crítico. Retome as sugestões da seção 2 da unidade 4
para a elaboração da atividade proposta.

Unidade 5
1. a. Deve fazer três anos que não visitamos nossos parentes.
b. Verificaram-se os problemas e constatou-se que não havia formas
de solucioná-los.
c. Encontrei os profissionais aos quais me referi / a quem me referi.

176

leitura e producao textual.indb 176 09/09/11 14:58


Leitura e Produção Textual

d. Deve haver algumas possibilidades de encontrarmos as pessoas de


quem falávamos/das quais falávamos.
e. 80% da população prefere cinema a teatro.
f. A manifestação implicou a queda do presidente.
2. a. A maior parte dos alunos não entregou a secretária.
b. A maior parte dos alunos não entregou à secretária.
Veja que a mudança em relação ao uso da crase remete-nos a sentidos
diferentes para o verbo entregar:
„„ O enunciado (a) só pode ser usado em um contexto em que os
alunos não tenham delatado a secretária para alguém.
„„ O enunciado (b) deve ser usado para indicar que os alunos não
entregaram algo à secretária. Por exemplo, se houvesse uma
pergunta como: “a quem os alunos entregaram o relatório?”,
caberia a resposta: “a maior parte dos alunos não entregou à
secretária”, deixando implícito que o relatório teria sido entregue
a uma outra pessoa.

3. a. Na terça-feira 20, o programa em homenagem a Cláudio Besserman


Vianna, o Bussunda, terminou com todos os integrantes do grupo
Casseta & Planeta no estádio do Maracanã. O comediante, que morreu
vítima de um ataque cardíaco na Alemanha, onde gravava programas
durante a Copa, era uma espécie de artilheiro do grupo de humoristas
mais bem-sucedido do Brasil.
b. De acordo com Ziraldo, as principais características do humor
da turma do Casseta & Planeta são a criatividade, a irreverência e,
principalmente, a crueldade. Com a morte de Bussunda, o programa
perde seus personagens mais populares: Ronaldo Fofômeno, uma
imitação impagável do jogador, e o presidente Lula, que ele fazia com o
dedo mindinho dobrado e a voz rouca.

4.
1. Há cerca de duas horas choveu muito na capital.
2. Ele chegou à igreja à uma hora.
3. Tinha mau comportamento, mas foi considerado inocente acerca de
duas semanas.
4. Onde estão os mapas da cidade? Quero aproveitar que estou à toa
para concluir meu trabalho.
5. Só verei minha irmã daqui a dois anos, quando for a Europa.

177

leitura e producao textual.indb 177 09/09/11 14:58


Universidade do Sul de Santa Catarina

6. Desconheço o porquê da minha dificuldade com crianças mau


educadas.
7. A comida ficou pronta há cinco minutos.
8. Algumas modelos são mais novas, mas parecem mais velhas devido à
maquiagem.
9. Entre eu pedir algo e vocês realizarem, há uma grande diferença.
10. Não é muito fácil ascender profissionalmente. É mais fácil para
quem já nasceu numa boa família.
11. A criança só incomodava, em vez de brincar.
12. Casei com Carlos por que tínhamos interesses afins, mais tudo
mudou há cerca de dois anos.
13. Enviou aquele e-mail para eu ler depois da aula.
14. Após duas horas de espera, o público foi levado à sala de
espetáculos.
15. Os telespectadores não sabem o porquê da saída inesperada do
diretor da nova novela.
16. Depois da notícia, todos sentiram um profundo mal-estar.
17. Próximo à casa de Joana, a cerca de cinco postos de combustível.
18. De repente, começou a chover, mas ninguém saiu do show.
19. Se não fosse professora, seria jornalista.
20. Depois da crise, precisou de várias sessões de terapia.

5.
1. Os alunos apresentaram suas dúvidas com muita objetividade.
2. Com muita objetividade, os alunos apresentaram suas dúvidas.
3. De acordo com o diretor, que conhece bem o assunto, não será fácil
resolver o problema da substituição do ator.
4. João Humberto, grande jogador da década de 50, passa por grandes
dificuldades financeiras.
5. Uma das melhores feiras de informática do Brasil será realizada em
Brasília.
6. Naquela oportunidade, o juiz, que não estava convencido da
acusação, depois de muito se opor, aceitou, com ressalvas, os
argumentos da promotoria.

178

leitura e producao textual.indb 178 09/09/11 14:58


Leitura e Produção Textual

7. Os senadores, de acordo com que veicula na imprensa, aceitarão o


novo valor do salário mínimo.
8. Uma das maiores empresas automobilísticas do mundo não aceitou
as propostas do novo governo americano e manteve a firme decisão de
não aumentar o valor do carro zero.
9. O empresário, que estava ansioso para fechar a proposta, não exitou
em divulgar à imprensa seu mais novo pupilo.
10. Em caso de necessidade, chame a polícia.

179

leitura e producao textual.indb 179 09/09/11 14:58


leitura e producao textual.indb 180 09/09/11 14:58
Biblioteca Virtual

Veja a seguir os serviços oferecidos pela Biblioteca Virtual aos


alunos a distância:

„„ Pesquisa a publicações online


www.unisul.br/textocompleto
„„ Acesso a bases de dados assinadas
www. unisul.br/bdassinadas
„„ Acesso a bases de dados gratuitas selecionadas
www.unisul.br/bdgratuitas
„„ Acesso a jornais e revistas on-line
www. unisul.br/periodicos
„„ Empréstimo de livros
www. unisul.br/emprestimos
„„ Escaneamento de parte de obra1

Acesse a página da Biblioteca Virtual da Unisul, disponível no EVA


e explore seus recursos digitais.
Qualquer dúvida escreva para bv@unisul.br

1 Se você optar por escaneamento de parte do livro, será lhe enviado o


sumário da obra para que você possa escolher quais capítulos deseja solicitar
a reprodução. Lembrando que para não ferir a Lei dos direitos autorais (Lei
9610/98) pode-se reproduzir até 10% do total de páginas do livro.

leitura e producao textual.indb 181 09/09/11 14:58


leitura e producao textual.indb 182 09/09/11 14:58

Você também pode gostar