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Formação da riqueza

e da pobreza de Alagoas
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
Reitora
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Vice-reitor
Eurico de Barros Lobo Filho
Diretora da Edufal
Sheila Diab Maluf

Conselho Editorial
Sheila DiaD Maluf (Presidente)
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Projeto grafico e diagramação: Vivían Rocha

Catalogação na fonte
Universidade Federal de Alagoas
Biblioteca Central - Divisão de Tratamento Técnico
Bibliotecária Responsável: Helena Cristina Pimentel do Vale

L768c Lira, Fernando José de.


Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas / Fernando Lira. - Maceió:
EDUFAL, 2007.
320p. : II., grafs., tabs.

Bibliografia: p. 313-320.

1. Economia regional - Alagoas. 3. Alagoas - Aspectos sociais. 3. Riqueza -


Alagoas. 4. Pobreza - Alagoas. I. Título.

CDU: 332.1(813.5)

ISBN 85-7177-313-4

Direitos desta edição reservados à


Edutal - Editora da Universidade Federal de Alagoas
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E-mail:edufal@edufal.ufal.br - Site: www.edufal.ufal.br
À minha mãe Aliete e ao meu pai João.
À Adeilda e a milha querida filha liana.

Aos meus irmãos e irmãs, especialmente a Petrúcio.


Agradecimentos

Este trabalho é fruto de pesquisas feitas com estudantes


de graduação, em trabalho de iniciação científica, com
mestrandos do Programa Regional de Desenvolvimento
e M e i o A m b i e n t e ( P R O D E M A ) , em d i s s e r t a ç ã o de
mestrado e, portanto, a essas pessoas, que contribuíram
direta e i n d i r e t a m e n t e , os n o s s o s a g r a d e c i m e n t o s .
Agradecimentos especiais aos colegas professores Cícero
Péricles de Carvalho e Rodrigo Ramalho Filho que leram
os originais. O conteúdo apresentado e os erros cometidos
são de minha inteira responsabilidade.
Agradecemos, ainda o SEBRAE pelo apoio fornecido,
particularmente ao Marcos Vieira.
Sumário

Introdução, 1
Capítulo I: Formação do paraíso sucroalcooleiro, 9
1.1 - A conquista da terra, 15
1.2 - Reprodução e subordinação da força de trabalho, 39
Capítulo II: O poder de base agrária, 51
2.1 - As raízes do poder ení alagoas, 52
2.2 - Os proprietários do poder, 80
2.3 - Um padrão de crescimento excludente, 87
2.4 - O aumento da riqueza, 93
2.5 - O modo latifundiário de produção, 97
Capítulo III: A ilusão da inclusão, 103
3 .1 - Características locais, 105
3.1.1 - Leste, 109
3.1.2 - Agreste, 110
3.1.3 - Sertão, 111
3.3 - Formas de ocupação, 113
3.4 - A indústria do Estado de Alagoas, 123
3.4.1 - Caracterização tecnológica, 124
3.4.2 - Estratégias de gestão da produção, 126
3.4.3 - Estratégias voltadas ao meio ambiente, 130
3.4.4 - Emprego e recursos humanos, 132
3.4.5 - Treinamento e educação formal, 150
3.4.6 - Caracterização geral das empresas inovadoras, 156
3.5 - A economia dos serviços em Alagoas, 158
3.6 - Emprego e recursos humanos, 164
3.7 - Requisitos de escolaridade formal, 173
Capítulo IV
4.1 - Ocupação, renda e exclusão, 179
4.2 - Retrato dos sem futuro, 193
4.3 - Os trabalhadores fora da lei, 211
Capítulo V: Alagoas aos pedaços, 221
5.1 - Caracterização socioeconómicas das sub-regiões, 224
5.2 - Dinâmica econômica, 225
5.3 - Aspectos sociais, 225
Capítulo VI: Estrutura produção monopolista, 251
6.1 - Emprego e renda, 281
6.2 - Natureza e realidade das empresas nas sub-regiões, 285
Considerações finais, 305
Blibiografia consultada, 313
Introdução

Em A l a g o a s , as sesmarias d o a d a s aos f u t u r o s
senhores de engenhos localizavam-se nas melhores terras.
Favorecida por solos de massapé, várzeas, encostas e rios todos
caudalosos e navegáveis, a atividade açucareira encontrou, nessa
província, condições excelentes para a implantação e expansão
dos engenhos de açúcar. Os engenhos, a princípio, localizados
em Porto Calvo, logo aumentaram em área e número, alcançando
todo o litoral e Zona da Mata alagoana.
Assim, com o apoio imperial, que tinha o açúcar como o
grande negócio estabelecido na colônia, a partir do século XVIII,
Alagoas transformou-se numa província de predominância
absoluta da cana-de-açúcar. Os amigos do governo provincial e
do Imperador recebiam sesmarias, recursos financeiros e escravos
para a v a n ç a r e m n a s o c u p a ç õ e s da r e g i ã o a l a g o a n a e,
conseqüentemente, produzirem mais açúcar para ser exportado
para a Europa.
No intuito de aumentarem a produção e a exportação de
açúcar, os s e n h o r e s de e n g e n h o d e r r u b a v a m as m a t a s ,
expulsavam os índios, confinando-os em aldeia, de modo a
permitir que o avanço da plantação de cana, na forma de
monocultura, fizesse de Alagoas a segunda região mais produtora
de açúcar, no Brasil colonial.
Esse domínio da monocultura da cana-de-açúcar, baseada
na doação de sesmaria e na mão-de-obra escrava, fazia dos
senhores de engenhos grandes latifundiários e possuidores de
poder econômico e político na província alagoana. A terra, doada

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 1


em abundância, para os senhores de engenho plantarem cana,
era de difícil acesso aos pequenos produtores de culturas voltadas
à produção de alimento para abastecer a p o p u l a ç ã o . Por
conseguinte, toda a população de Alagoas vivia na dependência
da importação de alimentos e dos grandes latifundiários, que
usavam a terra como um forte instrumento de poder.
Então, como senhores de engenho e do poder absoluto,
receberam todo o apoio da Corte Portuguesa, do governo impe-
rial brasileiro, bem como dos governos republicano e estadual.
Por mais de três séculos, o engenho de açúcar era a única unidade
de produção socialmente dominante e economicamente viável
que existia em Alagoas. As outras atividades surgiram derivadas
das necessidades do engenho. Assim foi com a pecuária, com a
p r o d u ç ã o de a l i m e n t o s , com os p e q u e n o s p r o d u t o r e s
independentes e com os comerciantes.
Nesse sentido, a formação econômica, social e política de
Alagoas tem raízes profundas no modo de implantação da
atividade canavieira, no Estado. Por conseguinte, do século XVI
ao século XX, a história de Alagoas tem como núcleo a história
da agroindústria do açúcar.
Nessas condições históricas, o padrão adotado é o agrário
tradicional que, pela sua importância econômica e política, acaba
por definir o comportamento da agropecuária, da indústria, do
setor serviço, do setor público e da sociedade em geral. Nesse
modelo, a prioridade é a grande empresa - com mais de 100
empregados, onde existe pouca diferenciação da produção, baixa
c o m p e t i t i v i d a d e s i s t ê m i c a e relações de t r a b a l h o predo-
minantemente informais, gerando forte exclusão social e um
ambiente desfavorável aos pequenos e microempreendedores.
No setor agrícola, como já destacamos, predomina a cultura
da^çana^clê^açúcar e a pecuária. de_ leite praticadas em grandes
propriedades - acima de 1.000 hectares de terras - ocupando uma
área de 538 mil e 295 mil hectares respectivamente e, por conseguinte,

2 Fernando José de Lira


a cana-de-açúcar ocupa 69,3% da área cultivada, sendo que sua
predominância está na Zona da Mata e nos Tabuleiros Costeiros. A
pecuária de leite no Sertão, principalmente em torno do município
de Batalha, representa 97,7% da área com pecuária.
Quanto à ocupação de mão-de-obra em 2000, a tabela 1 deixa
claro que as culturas da cana-de-açúcar, mandioca e milho foram
as que mais empregaram. Na pecuária, a bovinocultura de leite
demandou 80% dos ocupados nessa atividade. As culturas de
mandioca, milho, arroz e feijão, cultivadas por pequenos produtores
- com até 100 ha de terras - foram responsáveis por 12,3%, 10,2%,
4,6% e 3,4%, respectivamente, do total de mão-de-obra.
Juntas, essas culturas demandaram quase um terço dos
ocupados agrícolas. Localizadas principalmente no Agreste e
na região do Baixo São Francisco, são cultivadas em sistemas
agrícolas de baixo nível tecnológico e destinadas ao abastecimento
do mercado interno.
A cultura do fumo é uma atividade de alta produtividade
e, no passado recente, também de alta rentabilidade, além de
grande empregadora de mão-de-obra. A região fumageira fica
situada no Agreste, tendo por base o município de Arapiraca,
centro produtor, industrializador e distribuidor do produto. En-
tre 1973 e 1983, a taxa de crescimento da produção de fumo foi de
5% ao ano, praticamente como resultado da expansão da área
plantada. Já no período de 1984 a 1994, a produção caiu 3,4% ao
ano, tanto na área cultivada como no rendimento da terra.
Atualmente, o fumo apresenta baixo dinamismo, devido à
insuficiência em pesquisa, controle de qualidade e assistência
técnica, além de baixo preço.
No setor industrial, destacam-se as grandes unidades
agroindustriais das atividades sucroalcooleiras, representadas por
alimentos e bebidas que, em 1999, possuíam 49 u n i d a d e s
industriais, ocupavam 39,5% do total e 81,3% da mão-de-obra do
setor. A indústria intermediária, de bens de capital e de consumo

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duráveis, é pouco representativa e é basicamente indústria
química e de combustíveis que ocupa 68,5% dos empregados do
total das indústrias desse ramo.
Em suma, a característica mais marcante da indústria
alagoana é a enorme importância da divisão de alimentos e
bebidas decorrente da produção de açúcar. Essas. indústrias_
empregam 81 % de todas as pessoas ocupadas na indústria e junto
com os 9% dos trabalhadores empregados no segmento de
química e combustíveis, que também contém a produção de álcool
combustível, demonstram a verdadeira importância econômica
e política do complexo sucroalcooleiro.
A distribuição espacial desse tipo de indústria não privilegia
a microrregião de Maceió, uma vez que a usina de açúcar e a
destilaria de álcool localizam-se junto à fonte de matéria-prima e
mão-de-obra, contribuindo para o emprego de mão-de-obra
agrícola não qualificada e gerando muitas ocupações não-
agrícolas no meio rural.
Portanto, a agropecuária e a indústria alagoana, ao contrário
do que ocorre em Santa Catarina e nos demais Estados brasileiros,
são constituídas, principalmente, por unidades de grande porte,
o que se deve ao tipo de produção das usinas de açúcar que
demandam áreas de grande tamanho. E possível, todavia, que
pequenos produtores, organizados em cooperativas, possam cul-
tivar a cana-de-açúcar com grandes possibilidades de sucesso.
Em relação às condições de trabalho, em 2001, eram bastante
p r e c á r i a s , pois 8 6 , 8 % dos ocupados na a g r i c u l t u r a eram
trabalhadores informais. Na indústria, a informalidade chegava
a 60,5% dos empregados e, no setor serviço, mais de 72% não
tinham carteira de trabalho assinada e não contribuíam para a
previdência social.
Quanto ao nível de informalidade das ocupações, de forma
desagregada, a construção civil é o ramo que possui a maior
proporção de ocupados informais, 97,4%; seguida da agricultura

4 Fernando José de Lira


com 8 6 , 8 % ; outras atividades com 8 1 , 2 % ; o comércio de
mercadoria apresentando 76,6% e, nos serviços auxiliares da
atividade econômica, existiam 55,2% dos ocupados sem carteira
de trabalho assinada. Por seu turno, as atividades com maior grau
de formalidade eram o setor público, com 81,8% dos ocupados;
serviços, 76,5%; transportes e comunicação, 74,8%; e outras
atividades industriais nas quais 69,4% das pessoas tinham carteira
de trabalho assinada.
Assim, o padrão de desenvolvimento adotado partiu da
premissa de que o crescimento econômico seria capaz de promover
o desenvolvimento humano. Sabemos, hoje, pela experiência de
três décadas de aumento vigoroso da riqueza, que esse modelo
não se mostrou eficaz no que se propunha, entre outros motivos,
porque, oferecendo nível mínimo de desenvolvimento social às
sociedades, acarreta dificuldades para se expandirem de forma
sustentável. De acordo com Franco (2001), para uma sociedade
atingir o estágio de desenvolvimento, a acumulação do capital
humano e do capital social são dois fatores decisivos.
Nesse padrão adotado, o crescimento do Produto Interno
Bruto consegue acumular-se por um período limitado, mas não
alcança um n í v e l de desenvolvimento sustentável. Esse é
justamente o caso de Alagoas, onde o capital social e o humano
ficam muito abaixo da média do Nordeste, estando entre os mais
desfavoráveis do Brasil.
Franco (2001) argumenta, ainda, que, do ponto de vista do
capital social, a cooperação é o primeiro fator que cria um ambiente
favorável ao desenvolvimento. E, para que esse desenvolvimento
seja sustentável, é necessário que se instale, na coletividade, uma
cultura de cooperação sistêmica. O padrão vertical de organização
mais a subordinação e dependência que existem em Alagoas, no
setor agropecuário, impedem a geração, a acumulação e a
reprodução do capital humano e do social em condições favoráveis
ao desenvolvimento da sociedade como um todo.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 5


Ainda de acordo com Franco (2000), a acumulação de
capital social se dá num ambiente de cooperação em formação
de rede, ou seja, numa cultura de netxoork e de democracia,
significando dizer que a democracia é, juntamente com a rede,
um ambiente necessário ao desenvolvimento.
Assim, criar um ambiente favorável ao desenvolvimento so-
cial e humano sustentável é começar investindo no capital social e
no capital humano, sobretudo nas atividades de natureza familiar.
Alagoas é um espaço político, econômico e social que
garante certas especificidades no desenvolvimento social e
humano. Sua identidade foi construída através das imposições
de um setor agroindustrial dominante, cuja elite desenvolveu
formas de controle rígido e antidemocrático, apropriado a seus
L__interesses econômicos e de poder.
Esse poder político que, ao definir suas prioridades,
privilegiou uns poucos e excluiu o grosso da população da riqueza
gerada, é um poder autocrático, porque gera um ambiente
económico, social e político que dificulta a acumulação de capital
social e humano, bem como o acesso aos meios de sobrevivência
à maioria da população.
Nesse sentido, o modelo de produção não-agrícola e agrícola
dominante na microrregião de Maceió e no restante do Estado é
um padrão fechado, de consenso muito restrito, mas que
subordina toda a economia de Alagoas no que diz respeito à
produção, relações de trabalho, ocupação, cooperação, inovação
tecnológica, criação de redes e capacidade empreendedora, etc.
O Estado, fora da microrregião de Maceió e daquelas
dominadas pela cana-de-açúcar, é um vazio econômico que ainda
está por ser explorado de forma produtiva e empreendedora.
O modelo agrícola adotado pela maioria dos pequenos
produtores é herdado do período colonial, e, na verdade, vem
sofrendo apenas pequenas transformações. As práticas agrícolas
quase feudais, cujas ferramentas de trabalho são a enxada, o

6 Fernando José de Lira


machado e o facão, perduram até os dias atuais. São pequenos
produtores c o m a t é 2 e m p r e g a d o s , na sua m a i o r p a r t e
analfabetos funcionais e com baixa acumulação de capital social,
mas passíveis de se transformarem em pequenos empreendedores
em atividades agrícolas e não-agrícolas no meio rural.
Na seqüência, no primeiro capítulo, trataremos da forma
de implantação e avanço da cana-de-açúcar, desde o período co-
lonial até os dias atuais. No capítulo II, faremos uma abordagem
sobre o modo de produção da atividade açucareira e das relações
de propriedade, de produção, de trabalho e sociais, que esse modo
de produção engendrou. No capítulo III, faremos a análise do
modelo de desenvolvimento econômico e social adotado em
Alagoas, bem como do papel das elites canavieiras na formação e
sustentação desse modelo. Finalmente, na conclusão,
mostraremos que a economia e a sociedade alagoana estão
umbilicalmente dependentes das atividades geradas pela
agroindústria canavieira.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 7


Capítulo I

Formação do paraíso sucroalcooleiro


Os portugueses que, em 1500, viviam a fase do
capitalismo mercantil, ao chegarem à Bahia, estavam mais
preocupados c o m encontrar, no Brasil, produtos comerciais
possíveis de serem exportados para Europa, que lhes permitissem
fazer fortuna. Inicialmente, exploraram o pau-brasil que, em
abundância e facilmente extraído no litoral brasileiro, tinha grande
aceitação n o m e r c a d o externo, c o m o m a t é r i a - p r i m a p a r a
fabricação de tintas corantes.
Assim, a descoberta de uma nova colônia promissora
estimulou o g o v e r n o português a enviar ao Brasil outras
expedições importantes no processo de colonização. A expedição
de Martins Afonso de Souza estava interessada em explorar
atividades comerciais que, além de gerarem produtos aceitos no
mercado externo, contribuíssem para a efetiva ocupação da nova
colônia, no sentido de consolidar a presença portuguesa em
território brasileiro.
Para alcançar os dois objetivos, um imediato, que era a
exportação de produtos da terra, e outro - mais de médio e longo
prazos - a colonização, a Corte Portuguesa via, no açúcar produzido
a partir da cana, o produto ideal para garantir seus objetivos.
Informada da abundância de terras no Brasil, propícias à cana-de-
açúcar, a Corte Portuguesa proporcionou apoio à implantação e
exploração da atividade açucareira em escala comercial.
Introduzida no Brasil, no século XVI, é, principalmente na
Bahia, em Pernambuco e São Vicente, que a cana-de-açúcar vai

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 9


encontrar as condições de clima, solo e mão-de-obra capazes de
impulsionarem 6ua expansão. Além d i s s o , como produto
comercialmente aceito no mundo inteiro e como atividade agrícola
e agroindustrial, que ocupa muita terra e mão-de-obra, foi
considerada prioritária para o processo de povoamento e
ocupação da nova colônia.
Dividido o Brasil em capitanias hereditárias, nos séculos
XVI e XVII, as capitanias da Bahia e Pernambuco foram as que
mais prosperaram. Seus donatários, sob orientação da Corte
Portuguesa, criaram as chamadas sesmarias, que compreendiam
vasta extensão de terras cultiváveis. Essas sesmarias eram doadas
às pessoas amigas ou próximas ao poder de um donatário e do
Imperador, preferencialmente para o cultivo de cana-de-açúcar.
A política de Portugal consistia no estímulo à empresa
comercial com base em poucos produtos exportáveis, produzidos
em grande escala e baseados na grande propriedade. Conforme
afirma Mendes Jr. (1976, p.68), no século XV, o açúcar era uma
especiaria utilizada como remédio ou condimento exótico.
Somente no século XVI, passou a ser um produto de consumo de
massa e de alto valor comercial no mercado europeu.
Não se sabe bem a data em que a cana-de-açúcar foi
introduzida no Brasil, todavia nas décadas de 1530 e 1540 a sua
produção já era importante. Já em 1532, Martins Afonso de Souza,
em expedição ao Brasil, trouxe portugueses, italianos e flamengos
com experiência na atividade açucareira, adquirida na Ilha da
Madeira, que era uma colônia portuguesa com grande sucesso
no cultivo da cana e fabrico do açúcar de boa qualidade, aceito
em todo o continente europeu.
A partir da década de trinta, do século XVI, plantou-se cana
em todas as capitanias brasileiras. Porém, na verdade, os grandes
centros açucareiros da colônia foram Pernambuco]j\lagoas^Ba-
hia e São Vicente, em São Paulo. Fatores climáticos, geográficos,
políticos e econômicos justificam essa localização.

10 Fernando José de Lira


As capitanias de Pernambuco e da Bahia possuíam boa
qualidade de solo, um adequado regime de chuvas e estavam
localizadas mais perto dos centros importadores da Europa.
Contavam, também, com relativa facilidade de escoamento da
produção, pois Salvador e Recife se tornariam, como se sabe,
importantes portos de exportação.
Para atingir essa expansão, a cana necessitou de muita terra,
mão-de-obra e vias de escoamento. A terra foi doada aos
produtores na forma de sesmarias muitas vezes sem limites
definidos. Havia algumas cujos limites eram os rios, já_outras
possuíam em torno de 32 mil quüômgtojs quadrados. Por essas
dimensões, percebe-se o tamanho exageradamente grande da
propriedade onde a cana-de-açúcar começou a ser cultivada.
Essas grandes áreas de terra, aparentemente livres, não
eram tão livres assim. Em muitas delas, os seus proprietários,
que as recebiam como doação, tinham que conquistar, na
prática, cada quilômetro da propriedade, pois os índios que
ali v i v i a m t a m b é m s e c o n s i d e r a v a m d o n o s . E l e s n ã o
aceitavam pacificamente a sua expropriação, resistindo c o m
os meios que possuíam.
Acostumados a viverem na mata, os índios conheciam como
ninguém os seus esconderijos e se embrenhavam na floresta em
posições de ataque ou defesa, todavia suas armas eram muito
primitivas e de pequeno alcance. Quanto aos europeus, estavam
bem armados e viam os índios como grandes inimigos pessoais e
do progresso, portanto usavam de todos os meios para eliminá-
los ou expulsá-los para lugares mais distantes, até forçar a
desocupação das terras pertencentes aos sesmeiros.
Nessas condições, muitos índios morreram de fome ou se
suicidaram. A q u e l e s que suportaram o aldeamento e r a m
discriminados e perseguidos pelos colonos. Por tudo isso, o
avanço da cana-de-açúcar representou uma grande tragédia à
população indígena do Nordeste.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 11


De acordo com Bóris Fausto (2000, p.155) a escravidão
dos índios enfrentou uma série de dificuldades, tendo em vista
os objetivos dos plantadores de cana. Os índios tinham uma
cultura incompatível com o trabalho intensivo e regular que era
exigido pela atividade açucareira, principalmente se esse
trabalho fosse prestado na forma de escravidão.
Como os colonizadores queriam cultivar a cana-de-açúcar
num modo de produção racional, a escravidão dos índios teria
que ser feita também nesse modelo econômico de fluxos de
despesas, receitas e lucros, sem qualquer respeito à cultura
indígena, obrigando-os a trabalharem de sol a sol e a viverem em
c o n d i ç õ e s de h a b i t a ç ã o , saúde, t r a n s p o r t e e trabalho
extremamente difíceis.
Os custos de captura, a recusa do trabalho forçado, a fuga
relativamente fácil e a resistência pela guerra faziam dos índios
uma força de trabalho de custo baixo, mas totalmente desajustada
ao modo capitalista de produção que prevalecia no caso da cana-
de-açúcar.
Outro fator desfavorável à escravidão dos índios, apontado
por ^Carlos^ Fausto (1992, p.80), diz respeito às epidemias
adquiridas com o contato com os colonizadores. Sem possuírem
imunidade às doenças dos brancos, eles foram vítimas fáceis, pelo
menos do sarampo, da varíola e, principalmente, da gripe.
Em face dessa forte limitação do trabalho escravo prestado
pelos índios, a partir da década de 1570, a coroa portuguesa
incentivou a adoção de escravos africanos, e foram feitas várias
leis, proibindo a escravidão indígena. Em 1758 (quase dois séculos
depois), foi determinada a liberdade definitiva dos índios.
A partir de 1574, iniciou-se a escravidão africana, jgm 1638,
africajios_e-3fro»brasilÊÍros, compunham a força_de trabalho. Esse
tipo de mão-de-obra veio substituir a escravidão indígena, pois, por
serem mais disciplinados no trabalho, mais produtivos e por estarem
em terras estranhas, os negros produziam muito mais que os índios.

12 Fernando José de Lira


No século XVI, a Guiné e a Costa do Marfim forneceram o
maior número de escravos. A partir do século XVII, Congo e
Angola tornaram-se os centros de exportação mais importantes.
Entre 1550 e 1855, entraram pelos portos brasileiros milhões deles.
Alagoas recebeu muitos de Angola.
Em 1860, a população de Alagoas era de 249.704 habitantes.
Desse total, 44.418 eram escravos, sendo que 88,5% desses
estavam no meio rural e trabalhavam na cana-de-açúcar. Na
verdade, o povoamento de Alagoas iniciou-se no século XVII,
concentrando sua população em Porto Calvo, Alagoas do Sul,
Alagoas do N o r t e , Penedo e Atalaia. A cana-de-açúcar e,
associado a ela, o negro, foram responsáveis por assegurar o
povoamento da província.
O senhor de engenho achava-se dono do escravo, pois tinha
pago preço elevado por cada africano. Exigia que trabalhasse além
do limite de sua capacidade física e, por isso, muitos ficavam
doentes ou inválidos. Por qualquer falha cometida, o escravo
recebia punição.
Quanto às terras, essas eram doadas aos senhores de
engenho para que plantassem cana e povoassem toda a área. Para
Diégues J ú n i o r , ^ 9 7 6 ^ 7 ^ , o_povoamenio_de Alagoas começou
efetivamente ajDartJrxle.Cristóvão T.ins. Sua expedição, realizada
em Í S j ^ j i O J i ^ u j 3 j T Q r j £ _ d e Alagoas. A cana-de-açúcar se
tornaria, portanto, o principal produto comercial que veio
assegurar o povoamento e a vida econômica, social e política da
província de Alagoas. Esse povoa mento e essa formação dão-se
inicialmente em torno de rios e lagoas.
Por o u t r o l a d o , o p-ovoamen-to do Sertão d a r - s e - i a ,
principalmente, através do Rio São Francisco. Fixando-se nas suas
margens e aproveitando-se da riqueza dos seus vales, iria
desenvolver-se a colonização da província de Alagoas, baseada
na cultura da cana-de-açúcar, tendo como figura central a
chamada de senhor de engenho.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 13


Em Alagoas, aproximadamente dez famílias de senhores
de engenho, que eram donas de quase todas as terras do Estado
e que, na época, cultivavam cana, eram, também, as responsáveis
pelo povoamento das principais vilas e cidades do Estado.
Nesse sentido, o senhor de engenho está no núcleo da
formação econômica, social e política do Estado, portanto a
história do açúcar, em Alagoas, confunde-se com a própria história
da sua formação. A formação e o crescimento dos principais
municípios do Litoral, da Zona da Mata, do Baixo São Francisco
e até do Sertão alagoano devem-se ao avanço do senhor de
e n g e n h o na a p r o p r i a ç ã o de novas terras, a u m e n t a n d o a
produção de açúcar e pecuária.
A atividade canavieira, com o sistema de produção que
adotou, não conseguiu conviver harmoniosamente com outras
atividades agrícolas e não-agrícolas, que não estivessem em
colaboração estreita com o seu modo de produção. Assim foi, por
exemplo, com a pecuária. Os senhores de engenho, necessitando
de muitos animais para exercerem várias tarefas nos canaviais,
passaram a criar cavalos, burros e bovinos, mas o feijão, o milho e
a mandioca tinham suas áreas limitadas pela cana.
No século XIX, no Brasil e no Nordeste, passou-se a culti-
var muito algodão por muito tempo, pois o seu preço no mercado
internacional foi bastante atrativo. Essa grande rentabilidade
econômica do algodão não chegou, todavia, a afetar a atividade
canavieira. Apenas num período muito curto, imaginou-se que o
algodão poderia vir a ser uma segunda alternativa à cana, mas,
com a concorrência americana, logo esse surto de exportação de
algodão reduziu-se drasticamente.
Várias foram as crises da falta de alimentos na província.
Escassez de feijão e farinha foram as principais. Em algumas
dessas crises, o presidente da província, reconhecendo as
dificuldades por que passava a população, tomava a decisão de
importar os produtos de outros países, e o próprio Estado fazia a

14 Fernando José de Lira


distribuição nos engenhos. Em 1723, por exemplo, houve uma
grave crise de falta de farinha. O presidente teve que adotar
medidas especiais para importar esse produto.
A dependência da província de Alagoas do Estado de /
Pernambuco trazia uma série de problemas políticos, econômicos [
e adniinistrativos para os senhores de engenho, o que motivou
um movimento de independência, conquistada em 1817.
Assim, em 1817, Alagoas tornou-se independente de
Pernambuco, entretanto, completamente dependente da
atividade açucareira.
Com a independência, o poder político dos senhores de
engenho irradiou-se por todo o Estado. Vereadores, prefeitos,
deputados, senadores e governadores eram senhores de engenho,
ou membros de sua família. O modo de vida social e cultural da
população estadual era ditado pela unidade familiar, que
representava o senhor de engenho.
De acordo com Diégues Júnior fll986Íp.60), "o engenho era
o núcleo político e social do Estado. Foi nos engenhos que se
assentou a formação da família e sociedade alagoana, e o senhor
de engenho era a grande figura da paisagem social de Alagoas. É
nele que se centraliza a organização social da família alagoana."
Portanto, o senhor de engenho não era apenas o chefe de
sua propriedade. Seu prestígio dominava todo o espaço que o
cercava. Ele gerava um modelo de desenvolvimento que definiu
as linhas básicas de um sistema de produção, baseado na grande
propriedade e no escravo que, após a sua libertação, marcou
definitivamente a história do Estado.

1.1 - A conquista da terra


Considerações de ordem política, tais como possibilidade
de invasões de outros países e da própria França, que só
reconhecia como dono da terra aquele país que efetivamente a

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 15


ocupasse, a Coroa Portuguesa passou a ter a convicção de que
era necessário colonizar a nova terra descoberta. A partir de
1530, Portugal, temendo perder o controle da colônia, resolveu
fazer uma política de povoamento.
Em Alagoas, Duarte Coelho foi o primeiro colonizador a
pjantar^cana e t a m b é m doar terras aos a m i g o s . Procurou
escravizar os índios e conseguiu financiamento para instalação
de engenho, mas, de acordo com Andrade (1998, p.50), as
sesmarias podiam ter dimensões ilimitadas. A partir de 1695,
porém, passaram a ter extensões máximas de 4 léguas de
c o m p r i m e n t o por uma légua de largura. No século XIX,
passaram a ser de uma légua em quadrado.
Na realidade, Duarte Coelho, num período de 20 anos,
conquistou poucas terras, e "coube a Geronimo de Albuquerque,
após 1553, a conquista das várzeas, ampliando consideravelmente
a_áj£Ap_lantada com cana. Os filhos do donatário, Jorge e Duarte
Coelho de Albuquerque realizaram, na sétima década do século
XVI, a conquista das várzeas dos rios Jaboatão, Ipojuca, Serin.e 1
Paramarim, além de estenderem o povoamento europeu quase
até à foz do Rio São Francisco.
Para Andrade (1998, p.40), essa expansão fulminante para
o sul do Estado foi resultado do fortalecimento dos colonizadores
e da necessidade de terra para plantar cana. Esse avanço pelo
território indígena era feito com grande energia. Ao mesmo tempo
em que lhes tomavam a terra, aprisionavam-nos, colhiam-lhes as
lavouras encontradas e plantavam cana.
Considerando que, no início do processo de colonização, o
Brasil não tinha concorrente na produção de açúcar no mercado
internacional, e os preços eram muito favoráveis, esses fatores
serviam de estímulo para que os senhores de engenho ocupassem
novas terras na província de Alagoas.
Assim, o senhor de engenho vai se transformando num
símbolo da propriedade, confundindo-se com o latifúndio que,

16 Fernando José de Lira


até nossos dias, caracteriza atividade canavieira. Com esse
sistema de produção à base da grande propriedade, o engenho
tornou-se o sustentáculo da colonização de Alagoas. Ser grande
proprietário e bem-sucedido significava plantar cana e possuir
engenho de açúcar. A tabela 1.1 mostra a forte concentração de
terra registrada em 1950 pelo IBGE, resultado da má distribuição
da propriedade da terra, iniciada a partir das sesmarias e
fortalecida com a Lei de Terra, de 1850, que só permitiu a posse
da terra, através da compra ou herança.

TABELA 1.1 - Alagoas: Distribuição percentual do número


de estabelecimentos agropecuários e de sua área
correspondente, no ano de 1950.

EM PERCENTAGEM

EXTRATOS 1950

EM HECTARES NÚMERO EM % ÁREA EM %

MENOS DE 10 72% 8,4%

DE 10 AMENOS DE 100 23% 23% J


DE 100 A MAIS 5% 8,6% J
TOTAL 100% 100%

Como se vê, foi através da atividade açucareira feita à base


da grande propriedade que se expandiu a economia.
O período democrático, que vai de 1945 a 1963, foi também
muito favorável à atividade canavieira. A 1 8 de setembro de 1945,
era promulgada a nova Constituição Brasileira, com base na

Formação ãa riqueza e da pobreza de Alagoas 17


ideologia liberal democrática. O Brasil foi definido como uma
República Federativa, estabelecendo as atribuições à União,
Estados e Municípios. A representação política favorecia mais os
Estados menores, como Alagoas, Sergipe e o Espírito Santo, etc.
No início da década de cinqüenta, o governo federal
promoveu várias medidas destinadas a incentivaram^ o
d e s e n v o l v i m e n t o e c o n ô m i c o n a c i o n a l , c o m ênfase n a
industrialização. Uma delas, a fundação do Banco Nacional de
Desenvolvimento (BNDE), em 1952, para cuidar da infra-esn-utura
de estradas, energia e comunicação.
O d e s e n v o l v i m e n t o industrial era e s t i m u l a d o pela
concessão de crédito fácil ao setor privado, por parte dos bancos
oficiais, especialmente do Banco do Brasil. Esse interesse pela
i n d u s t r i a l i z a ç ã o n ã o afastou Getúlio V a r g a s dos grupos
econômicos dominantes em âmbito regional e local, como o do
café em São Paulo e o do açúcar no Nordeste.
A partir de 1956, Juscelino Kubstchek assume o governo
com as mesmas preocupações de Getúlio, no tocante ao processo
de industrialização. Também faz uma aliança com as oligarquias
regionais, garantindo privilégios e poder para os produtores de
açúcar do Nordeste.
O governo João Goulart era populista e defendia as reformas
de base, entre elas a reforma agrária, que deveria proteger a população
do campo, aumentar a produção de alimentos e gerar uma nova
demanda para os produtos industriais. Por isso, a elite nacional,
principalmente os grandes latifundiários do açúcar, deixa de apoiar o
governo, muito contribuindo para a sua queda, de forma que, em 31
de março de 1964, os militares assumem o poder, num golpe de Estado.
A criação do IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool), no
governo Vargas, aprofundou a relação do Estado com o complexo
canavieiro de Alagoas. Ao determinar os preços vantajosos e ao
buscar também um desenvolvimento equilibrado, no sentido de
que a produção de açúcar de São Paulo não inviabilizasse a

18 Fernando José de Lira


produção nordestina, o IAA acabou beneficiando duplamente
os usineiros do Nordeste.
Com o crescimento da produção paulista, desde os anos de
1930, já na safra de 1951/52, São Paulo passou a superar o princi-
pal produtor, que era Pernambuco. Assim pressionou o IAA para
que liberasse as cotas.
Aproveitando-se do clima democrático no país, os paulistas
conseguiram aumentar sua participação no mercado de São Paulo.
Tanto Alagoas como Pernambuco ficaram abastecendo o Distrito
Federal, e o excedente era exportado. V
Com apoios favoráveis, a produção de açúcar de Alagoas e
Pernambuco continuou crescendo, como vinha ocorrendo antes,
mediante incorporação de novas terras antes ocupadas por
moradores, fornecedores, foreiros, arrendatários, que cultivavam
produtos consumidos no mercado local.
Em face dessa expropriação de terra, feita pelos usineiros,
houve vários sinais de descontentamentos no meio rural,
principalmente com a criação das ligas camponesas, dos sindicatos
rurais e das cooperativas de fornecedores.
Para acalmar a situação do campo, foram garantidas cotas
de produção de açúcar para os fornecedores e idealizou-se o
Estatuto do Trabalhador Rural, que estendia aos desse meio os
mesmos benefícios que a legislação outorgava aos do meio urbano.
Esse estatuto não teve o efeito esperado. Ao contrário, muitos
usineiros procuraram preterir o trabalhador permanente e contratar
pessoas sem qualquer vínculo empregatício, através do empreiteiro,
que recrutava trabalhadores temporários, o que dificultou, ainda
mais, as condições de vida dos trabalhadores rurais de Alagoas.
As condições favoráveis oferecidas pelo governo à atividade
açucareira não davam margem a qualquer risco de preço e de
demanda do açúcar. Foi um forte estímulo para que houvesse uma
grande concorrência entre os usineiros de Alagoas em adquirirem
mais terras para a produção de cana e, por conseguinte, de açúcar.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 19


Com a concorrência acirrada, os usineiros começaram a
adquirir terras, muitas delas f a z e n d a s c o n s i d e r a d a s
inapropriadas para o plantio de cana, as quais, entretanto, depois
de altos investimentos agrícolas em adubação e mecanização,
transformaram-se nas melhores terras para essa produção.
Para Andrade (1997, p.55), quando o grupo pernambucano
dos irmãos Coutinho comprou a Usina Sinimbu, ela estava
condenada a ser uma pequena usina, por falta de terras. Todavia,
quando o governo ofereceu as condições privilegiadas à cana,
garantindo preço e c o m p r a da p r o d u ç ã o , os Coutinhos,
entusiasmados, resolveram investir nos tabuleiros e passaram a
derrubar florestas, expulsar colonos e sitiantes e a plantar cana.
A partir daí, com o aumento da área cultivada, a usina
começou a ser viável. Avançou muito em expansão de terra com
cana plantada. Essa expansão em direção aos tabuleiros, iniciada
pela Usina Sinimbu e, também, seguida por outras usinas,
provocou um grande desmatamento e a desapropriação de terras
de pequenos agricultores que, expulsos da Zona da Mata, do
Litoral e do Sertão, haviam buscado refúgio naquelas terras onde
imaginavam que a cana nunca pudesse chegar.
Foi através dessa expansão das usinas nas terras dos
tabuleiros, na primeira metade do século XX, que Alagoas
transformou-se no maior produtor de açúcar do Nordeste,
chegando a ocupar o segundo lugar no país.
Essa forte expansão veio completar a ocupação das terras de
Alagoas. Assim, além de estender-se pelo Litoral, Zona da Mata, Baixo
São Francisco, parte do Sertão e Agreste, a atividade canavieira passou
também a ocupar o planalto alagoano, porque, plantada na forma de
monocultura, acarretava a eliminação dos produtores agrícolas de
alimentos, obrigando o Estado a importar a maioria dos produtos
agrícolas de primeira necessidade para a população faminta.
Na visão de Andrade (1998, p.60), o que estava ocorrendo
era que as usinas, com elevada capacidade de esmagamento de

20 Fernando José de Lira


cana, tratavam de adquirir mais terras para satisfazer a fome de
cana de suas moendas. A ampliação das terras das usinas iria
incentivar, cada vez mais, a concentração da propriedade da terra,
iniciada no período colonial, com a doação das sesmarias.
Essa concentração aprofundou-se a partir de 1890 e se
intensificou com a criação do IA A, na década de 1930. De 1930 a
1950, avançou muito em Alagoas e no Nordeste. Levando-se em
conta que o principal, senão o único, meio de vida da população
estava na agricultura, a falta de terra deixa a sobrevivência do grosso
da população de Alagoas subordinada à vontade dos usineiros.
Em face desse avanço desmedido e da destruição dos
pequenos e médios produtores de cana, em 1941, o governo
resolveu, ainda que tardiamente, estabelecer o Estatuto da
Lavoura Canavieira. Tinha como objetivo principal fortalecer os
pequenos fornecedores e engenhos que ainda resistiam à
expropriação, durante mais de três décadas de destruição.
Para Ramos (1999, p.90), a Lei número 3855, de 21 de
novembro de 1941, dizia que os usineiros não poderiam moer mais
do que 60% de cana própria, e os outros 40% deveriam ser de cana
de fornecedores. Com essa lei, o governo procurava preservar da
extinção a média propriedade produtora de cana. Esse avanço da
compra e concentração da propriedade da terra vinha ocorrendo
desde os anos de 1850, com a Lei da Terra. No caso de Alagoas, a
Lei n° 3855 veio tarde, pois já havia sido destruída a possibilidade
de se criar uma classe média no meio rural e, por conseguinte,
inviabilizada a formação de um mercado interno importante, capaz
de dar suporte a um vigoroso processo de industrialização do
Estado, bem como às outras atividades auxiliares da indústria e à
área do setor serviço.
Na verdade, mesmo havendo preocupação com o aumento
descontrolado da produção de açúcar, nunca se conseguiu
deter o seu avanço. Produzir mais cana significava ter mais
recursos subsidiados do governo para comprar mais terra.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 21


Conseqüentemente, apesar de toda a legislação feita para proteger
os fornecedores de cana e para conter o excesso de produção, na
prática, essa legislação nunca produziu os resultados pretendidos.
Os usineiros eram os principais beneficiários da legislação.
O maior incremento da produção de açúcar ocorreu nas
décadas de 50 e 60, quando, mesmo aumentando o seu consumo,
a produção gerava um excesso significativo, que era comprado
pelo governo. Por conseguinte, o apoio do Estado à produção e,
como c o n s e q ü ê n c i a , o avanço do l a t i f ú n d i o a u m e n t a r a m
independentemente da capacidade de absorção de açúcar no
mercado interno ou externo.
A década de 50 foi, particularmente, muito favorável para
os usineiros de Alagoas, pois passam a ocupar os tabuleiros que,
como dissemos, nos anos 1930, eram tidos como área imprópria
para o plantio de cana. Nesse período, alguns usineiros de
Pernambuco não perderam a oportunidade de expansão e se
transferiram para Alagoas. Viam, no Estado, a possibilidade de
aumentarem suas terras e até mesmo de comprarem usinas inteiras.
De acordo com Andrade (1997, p.100), essa transformação
iniciou-se, principalmente, com os irmãos Coutinho, que foram
seguidos pelas famílias Assis, Inojosa, Maranhão, Brito, Bezerra
de Melo, Grupo Sampaio e pelos Lyra, fazendo aumentar muito
a disputa e valorização das terras férteis do Estado. O crescimento
da atividade canavieira e da produção de açúcar dependia, mais
e mais, de terras a serem incorporadas às usinas.
Para se ter idéia do avanço das usinas em território alagoano,
em 1965, o Estado já contava com29 usinas. Essas aumentaram muito
a produção, o que significa passar a incorporar mais terras na forma
de latifúndio. O Mapa 1 mostra (em vermelho) a grande área cultivada
com cana-de-açúcar por produtores que possuem mais de 100 hec-
tares. Só a usina Caeté, dispondo de grandes extensões de terra de
várzea e tabuleiro em São Miguel dos Campos, chegou a ultrapassar
a produção de 1 milhão de sacos de açúcar na safra 1976/77.

22 Fernando José de Lira


FIGURA 1.1 - No primeiro plano, notam-se as
instalações da usina Caeté e, no segundo, ao
fundo, observa-se a cidade de São Miguel dos
Campos.

FIGURA 1.2 - Cana-de-açúcar plantada pela usina


Caeté em área de Tabuleiro. Observa-se a grande
extensão da área cultivada, pois a topografia plana
permite maior mecanização.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 23


MAPA 1 - Alagoas
Área em cinza escuro: propriedades com
áreas plantadas com cana-de-açúcar,
em 1995/96

FONTE: IBGE, Censo agropecuário, 1995/96.

Como vimos, a forte expansão das usinas deu-se sob grande


incentivo do governo à mecanização e ao uso de pesticidas, o que
eliminou um considerável número de postos de trabalho
temporários e de moradores, substituídos por trabalhadores
eventuais, que ficavam ocupados menos tempo.
Isso gerou grande excedente de mão-de-obra no campo,
que cresceu à medida que as usinas expropriavam os pequenos
produtores e sitiantes, com suas culturas de subsistência. Não
encontrando espaço no campo, passaram a migrar para o meio
urbano, particularmente para Maceió.
Mesmo aqueles que passaram a prestar serviços temporários
nos canaviais foram residir na periferia das cidades. Percebeu-se,
portanto, que o avanço da cana mudou significativamente as
relações de trabalho bem como o espaço urbano. Agora, o
trabalhador presta serviço à usina, mas está subordinado a um
empreiteiro que, na maioria das vezes, era empregado ou morador

24 Fernando José de Lira


da usina e que, com a expropriação de sua terra, também foi morar
nas cidades próximas das usinas, com todas as conseqüências que
essa migração gera no meio urbano.
As aglomerações urbanas, e não mais as fazendas, passaram
a ser os novos locais de residência de trabalhadores rurais, sitiantes
e ex-empregados das usinas, ex-pequenos produtores e ex-
sitiantes. Para Beatriz (1998, p.40), os pequenos produtores
tinham origem nas sucessivas fragmentações das terras, em
decorrência, principalmente, da partilha de médias e grandes
propriedades, por motivo de herança.
O processo de expropriação a que foram submetidos nas
décadas de 60, 70 e 80, contemplava a compra da terra, pois, no
pequeno Estado de Alagoas, já não havia terras desocupadas.
Como, inicialmente, as terras não tinham muito valor, os
pequenos produtores vendiam-nas para comprarem áreas
maiores, em locais mais distantes e menos férteis. Ocorre que o
avanço da c a n a c h e g o u , t a m b é m , a essas l o c a l i d a d e s ,
impossibilitando aos pequenos produtores a compra de novas
áreas, pois os preços eram muito superiores aos que lhes tinham
sido pagos, fato que os fez transformarem-se em trabalhadores
das usinas.
Assim, o aumento das usinas, no Estado de Alagoas, além
de gerar uma forte concentração de terra e grandes conseqüências
sociais - incluindo a dificuldade de sobrevivência de ex-pequenos
proprietários, que lidavam com produtos de subsistência, e de
moradores e sitiantes dentro da própria propriedade da usina -
causou, também, irreparáveis danos à fauna e à flora alagoanas.
De acordo com Andrade (1999, p.lOO), os herbicidas e
pesticidas usados em grande escala mataram animais e plantas.
As poucas florestas que ainda existiam na década de 60, nos
tabuleiros, foram totalmente derrubadas. A tiborna das usinas,
que jogavam nos leitos dos rios, acabou por contaminar todos
°s que banhavam a Zona da Mata, Litoral e Tabuleiros.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 25


Essas condições ambientais desfavoráveis dificultaram a
vida de várias comunidades do Estado, que necessitavam de
água potável para uso doméstico, bem como inviabilizaram a
criação de peixes e crustáceos em escala comercial ou de
subsistência.
A poluição dos rios prejudicou bastante as populações
ribeirinhas que, além de ficarem privadas do uso da água e da
criação de peixe, passaram a contrair muitas doenças endêmicas,
sobretudo as verminoses, incluindo a esquistossomose. Esse
problema de poluição foi particularmente importante no período
de implantação do Proálcool.
Segundo Ramos (1999, p.lOO), para 1 litro de álcool, gastam-
se 35 litros de água potável e produzem-se 13 litros de vinhoto,
dos quais só uma pequena parcela pode ser utilizada em adubação
do solo dos tabuleiros. Sua maior parte é jogada nos rios do Estado,
causando a degradação do meio ambiente.
De acordo com Lima (1998, p.60), de todos os programas
lançados pelo governo federal nos anos 50, para expandir a
produção e oferecer condições privilegiadas aos usineiros, o
Proálcool foi o que proporcionou o maior aumento da produção
de cana e, conseqüentemente, resultou no mais intensivo processo
de poluição ambiental já registrado desde 1930. O aumento da
produção de álcool não foi conseqüência do aumento da
produtividade, mas tão somente de crescimento da área plantada,
com a lavoura canavieira. O gráfico 1.1 mostra que, enquanto
59% de toda área agricultavel de Alagoas são cultivadas com
cana-de-açúcar, as outras culturas, principalmente o algodão,
o coco e o fumo, utilizam uma área de tamanho irrisório.

26 Fernando José de Ura


GRÁFICO 1.1- Alagoas: Área colhida das principais
culturas temporárias e permanentes, em 2001.

30%

ÁREA CULTIVADA DAS PRINCIPAIS CULTURAS TEMPORÁRIAS E


PERMANENTES

O CANA-DE-AÇÚCAR • FEIJÃO • MILHO


• MANDIOCA W ALGODÃO • COCO-DA-BAÍA
• BANANA •LARANJA

FONTE: IBGE-SIDRA, 2002.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas


Na década de noventa, entre as permanentes, predomina
o coco-da-baía, havendo uma queda significativa na área
colhida, que passou de 68,6%, em 1990, para 54,5%. A banana,
de importância relativa para o Estado, sofreu queda da área
plantada em toda a década, ao contrário da laranja, que
apresentou um crescimento vigoroso, registrando de 2,4% da
área colhida, em 1990, para 18,2%, em 2001.
Em r e l a ç ã o às culturas t e m p o r á r i a s , p e r c e b e u - s e ,
c l a r a m e n t e , o p r e d o m í n i o da c a n a - d e - a ç ú c a r , m a n t e n d o
praticamente um percentual de área colhida próximo dos 70%,
seguida do feijão, com um comportamento muito inferior a esse,
crescendo de 1991 a 1995, para depois cair e permanecer na faixa
entre 12% e 13% da área colhida.
O que vale ressaltar é o fato de que, mesmo após duas décadas
de crise financeira profunda que afetou todos os produtores
agropecuários, a cana-de-açúcar não registra queda da área colhida.
Ao contrário, a partir da segunda metade da década de 90,
apresenta crescimento vigoroso, enquanto a mandioca, o algodão,
o milho e o fumo são culturas pouco expressivas em termos de área
colhida, observando-se, quanto ao seu comportamento, pequenas
variações nos dois primeiros e queda drástica nos dois últimos anos,
no final do período abordado.
Em Alagoas, em 1975, foram cultivados 228 mil hectares
de terra com cana, o que corresponde a 6 5 % de toda a área de
cultivo agrícola. Em 1987, passou-se a plantar 688 mil hectares,
o que representa aproximadamente 80% de toda a área cultivada
do Estado, e um aumento de área de 302%.
A crise econômica e financeira que vem afetando Alagoas, a
partir da segunda metade da década de 80, decorreu da crise que
deprimiu drasticamente a agroindústria açucareira. O Brasil, a partir
da segunda metade dos anos 80, também entra em crise financeira.
Não dispondo de recursos internacionais e nacionais, cortou quase
todos os subsídios agrícolas em todo o território nacional, deixando

28 Fernando José de Lira


as atividades da produção de cana-de-açúcar e álcool em extrema
dificuldade.Assim, segundo Lima (1998, p.40), não dispondo mais
de recursos e subsídios oferecidos pelo Proálcool, a atividade
canavieira entra em crise, diminuindo os impostos pagos ao Estado.
Vitoriosos em ação judicial em todo o Brasil, os usineiros
deixaram de pagar o Imposto de Circulação de Mercadoria (ICMS)
sobre a cana própria. Mas, em Alagoas, além de não pagar o ICMS,
receberam de volta o montante já pago. Em comum acordo com o
governo da época, os usineiros deveriam receber o montante em
120 parcelas corrigidas monetariamente. Portanto, como mostra a
tabela 1.2, a receita de ICMS das atividades sucroalcooleiras foi
decrescendo e, a partir de 1989, caiu vertiginosamente.

TABELA 1.2 - Alagoas: Participação das atividades


sucroalcooleiras na arrecadação de ICMS, no período de
1983 a 1991.
EM PERCENTAGEM

ANO ARRECADAÇÃO
DE ICMS EM PERCENTAGEM (%)
1983 58,02%
1984 51,46%
1985 43,86%
1986 31,95%
1987 33,21%
1988 16,84%
1989 4,48%
1990 6,12%
1991 1,48%

FONTE: Ministério da Fazenda, 1995.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 29


C o m o a economia e a receita do Estado de Alagoas
dependiam, em quase 60%, da atividade açucareira, a crise que
essa agroindústria passou a sofrer a partir de 1985, com o fim
do Proálcool, teve reflexos catastróficos em todos os setores da
economia alagoana, muito particularmente na manutenção dos
serviços públicos essenciais à população mais pobre, bem como
no custeio da folha de pagamento dos servidores públicos.
Lima (1998, p.40) confirma que, no período de 1983 a 1991,
houve uma severa redução de impostos pagos pelos usineiros
que, em 1983, contribuíam com 58,02% do ICMS pago ao Estado
de Alagoas; em 1988, passaram a contribuir com apenas 16,84%
e, em 1991, pagaram tão somente 1,48%.
O fato de Alagoas não ter diversificado suas atividades
econômicas agrícolas e não-agrícolas deixou o Estado
c o m p l e t a m e n t e d e p e n d e n t e de uma ú n i c a a t i v i d a d e ,
concentradora de terra, também a principal responsável pela
elevada concentração de renda do Estado e pela formação de
uma elite com poderes enraizados em todos os setores da vida
social de Alagoas.
Assim, quando a agroindústria açucareira vai bem, a riqueza
gerada beneficia apenas 24 famílias detentoras de grandes
extensões de terras e de capital, bem como dos meios de produção
necessários à sobrevivência de toda a população do Estado ao
qual não traz maior proveito. Todavia, quando vai mal ou enfrenta
crises prolongadas, a população fica em situação desesperadora,
pois o emprego, o comércio, a receita do Estado e o pagamento
dos funcionários públicos ficam comprometidos.
Essa é uma armadilha econômica, social e política que tem
afetado o Estado de Alagoas desde a época colonial, pois, até os
dias de h o j e , o E s t a d o continua d e p e n d e n t e quase que
exclusivamente da atividade canavieira.
Como sabemos, essa é uma situação muito peculiar, porque,
tanto em Pernambuco como em São Paulo, há uma diversificação

30 Fernando José de Lira


das atividades agrícolas e não-agrícolas, e a cana, ao contrário
do que ocorre em Alagoas, é apenas uma dentre tantas outras
atividades agroindustriais.
No Estado de São Paulo - que é o maior produtor de álcool
do Brasil - observaram-se as seguintes diferenças básicas
relativamente ao modelo praticado em Alagoas: o plantio da cana-
de-açúcar iniciou-se nas áreas do planalto, não no Litoral; a
propriedade da terra também se dava na forma de latifúndio
nos municípios onde essa cultura foi mais importante, mas a
estrutura de posse da terra permitia sua utilização para o cultivo
de alimentos, atividade praticamente inviabilizada pelo padrão
adotado em Alagoas.
No Nordeste, o próprio Estado da Bahia logo percebeu as
dificuldades que enfrentaria, se dependesse exclusivamente da
produção de açúcar. A partir dos anos 30 e, muito particularmente,
dos anos 60, passou a diversificar sua produção agrícola,
plantando, também em escala comercial, outros produtos como
soja, feijão, cacau, café, etc.
Este espaço privilegiado de atuação das usinas, que tem
sido o Estado de Alagoas, pode ser explicado pela singularidade
da força política da atividade açucareira, que tem demonstrado
uma grande capacidade de organização interna, formando um
poderoso grupo de pressão, capaz de garantir o apoio do Estado
para se manter. Como afirma Carvalho (2000, p.14), " e s s a
manutenção de uma boa performance política organizacional
tem conferido ao capital sucroalcooleiro do Nordeste um grande
poder de lobby, para pressionar e assegurar a proteção e o apoio
do Estado para compensar sua base econômica diferente ou
pouco competitiva".
C o m o v i m o s , desde o período imperial, a a t i v i d a d e
açucareira vem tendo o apoio do Estado. O perdão da dívida dos
senhores de engenho, a prorrogação dos prazos de pagamento
dos empréstimos, feitos junto aos estabelecimentos bancários

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 31


federais e estaduais, foram práticas constantes nas décadas de
50, 60 e 70. Com investimento maciço nessa atividade, faltavam
ao Estado m e i o s para estimular a g e r m i n a ç ã o de outras
atividades agrícolas e não-agrícolas, concentrando a maioria dos
recursos públicos nas mãos de, aproximadamente, 24 famílias
de produtores de açúcar.
A forte concentração da terra, a baixa produtividade e
o sistema de monocultura causaram, inevitavelmente, uma
forte concentração de recursos públicos e privados nas mãos
d e u m a p e q u e n a f r a ç ã o d a p o p u l a ç ã o . C o m essa b a s e
produtiva, 10% dos maiores produtores agrícolas do Estado
detêm mais da metade da receita agrícola, ou seja, 54%. Por
outro lado, 4 0 % dos menores produtores detêm apenas 7%
do total da receita agrícola do Estado.
Está, portanto, na concentração de renda, a origem de
todos os p r o b l e m a s econômicos, sociais, ecológicos e
políticos que, há séculos, assolam o Estado de Alagoas. O
analfabetismo, a miséria (com mais de 4 4 , 3 % da população
vivendo abaixo da linha de pobreza), a mortalidade infantil
elevada e a baixa expectativa de vida dos alagoanos (em
torno de 60 anos de idade) denunciam, claramente, a baixa
eficiência social do carro-chefe da economia alagoana, que é
a atividade açucareira.

32 Fernando José de Ura


FIGURA 1.3 - Vista parcial da cidade de
Branquinha. O município é totalmente dependente
da cana-de-açúcar. Nota-se, na figura, que esse
plantio obrigou a população a construir suas casas
à margem do rio Mundaú. um dos mais poluídos
de Alagoas.

FIGURA 1.4 - Vista parcial de uma das ruas da


cidade de Branquinha, onde se nota, claramente,
que as condições de vida da população estão
entre as mais precárias de Alagoas.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 33


Por isso mesmo, a partir de 1990, com a crise do setor
açucareiro, o q u a d r o social se agrava p r o g r e s s i v a m e n t e ,
chegando, em 1997, à situação praticamente de calamidade
pública. Com a queda de preços nos mercados nacional e
internacional, a agroindústria do açúcar não consegue pagar
impostos e dívidas junto ao Estado e às estatais, principalmente
à Companhia Energética de Alagoas (Ceai), nem criar os empregos
socialmente necessários.
Segundo Carvalho (2000, p.20), a partir de 1985, a Ceai
passou a sofrer graves conseqüências com a inadimplência de 40
milhões devidos pelos produtores de açúcar. O banco estadual
(Produban) não recebeu dos usineiros uma soma calculada em
torno de 76 milhões em empréstimos vencidos. Para completar o
quadro da crise estadual, um acordo fiscal, assinado em 1989,
transferiu para as usinas, durante seus 8 anos de duração,
aproximadamente 800 milhões de reais.
Para Lima (1998, p.20), também nas décadas de setenta e
oitenta, o endividamento dos usineiros junto aos órgãos federais
e estaduais foi sempre elevado. Na década de noventa, com a
crise aberta na atividade açucareira, os usineiros aprofundaram
essa dívida no Banco do Brasil, Tesouro Nacional, Receita Fede-
ral, INSS, Banco do Estado de Alagoas e no IA A. Só em 1993,
alcançava o montante de 1,02 bilhões de dólares.
Ainda segundo Lima (1998, p.60), a crise da atividade
açucareira, iniciada na segunda metade da década de oitenta,
provocou uma grande sangria de recursos públicos. No período
de 1986 a 1995, no início da crise, a receita tributária, em Alagoas,
atingiu um patamar negativo da ordem de 0,98%, deixando o
Estado impossibilitado de cumprir com seus deveres sociais,
financeiros e econômicos básicos, gerando uma crise sem
precedente na história recente da economia alagoana.
Atualmente, ainda dependente da cana e exposto aos
reflexos da crise da agroindústria canavieira, o Estado começa a

34 Fernando José de Lira


pensar em outras alternativas de produção agrícola e n ã o -
agrícola. Na agricultura, pensa-se na diversificação c o m
produção de cereais, olericultura e fruticultura; no meio urbano,
a prioridade do governo estadual tem sido o turismo.
Como vimos, nas décadas de setenta e oitenta, Alagoas
passou a ter 70% de sua área agricultável com cana. Além disso,
essa área é composta das melhores terras do Estado, que estão na
Zona da Mata, Planalto e Litoral, onde o clima é mais favorável
do que o do Agreste e do Sertão. Essas terras são de propriedade
dos usineiros que, com a sua concepção de grande latifúndio,
não disponibilizam parte delas para a prática de outras culturas,
que não sejam a cana ou a pecuária. Esse elevado índice de
concentração dificulta uma ação forte do Estado na diversificação
das atividades agrícolas, cuja conseqüência seria a fixação do
homem no meio rural onde acarretaria o surgimento de uma classe
média significativa.
A tabela 1.3 mostra a grande concentração da posse da terra
em Alagoas. Da observação direta de seus dados percebe-se que,
em 1995, os pequenos proprietários, que possuem menos de 10
hectares de terra, representavam cerca de 8 1 % do total de
produtores, todavia detinham uma exígua área de apenas 1 3 %
da área total do Estado. Por outro lado, os grandes latifundiários,
com áreas superiores a 100 hectares, eram, em 1995, 3% do total
dos proprietários, mas possuíam 62% de toda área agricultável
do Estado.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 35


TABELA 1.3 - Alagoas: Distribuição percentual do número
de estabelecimentos agropecuários e de sua área
correspondente, no ano de 1995.

EM PERCENTAGEM

EXTRATOS 1995
HECTARES (ha) NÚMERO % ÁREA %
MENOS DE 10 8 Po 13%
DE 10 A MENOS DE 100 16% 25%
DE 100 A MAIS 3% 62%
TOTAL 100% 100%

FONTE: IBGE - Censos Agropecuários.

Reduzir essa má distribuição da posse da terra é a medida


prioritária para melhorar as condições de vida no meio rural e
urbano do Estado. A divisão da propriedade da terra em frações
menores, quando associada à assistência técnica de qualidade e
ao crédito agrícola subsidiado, motivará maior diversificação
da produção, melhoria na produtividade por hectare e efetiva
criação de emprego no campo. Na cidade, melhor conservação
do meio a m b i e n t e e, s o b r e t u d o , m e n o r d e p e n d ê n c i a da
população rural e urbana em relação aos usineiros que pensam
e agem como grandes latifundiários, não como industriais,
segundo os parâmetros modernos concebidos em administração.
Essa desconcentração da propriedade da terra levará, ainda,
a uma desconcentração da renda que, por sua vez, terá um efeito
multiplicador muito maior na economia estadual, pois a maior
distribuição dos meios de produção gerará várias atividades agrícolas
e não-agrícolas no meio rural, dotando uma maior fração da
população do campo e da cidade de melhores condições de vida.

36 Fernando José de Lira


Para Beatriz (1986, p.40), as feiras públicas das áreas de
usinas têm uma movimentação de recursos financeiros e de
produtos vendidos em menor escala, se comparadas com as feiras
do Agreste. Isso ocorre, porque a Zona da Mata e o Litoral são
áreas de predominancia do grande latifundiário que, além de
empregar pouca mão-de-obra, paga salários irrisorios. No
Agreste, onde a posse da terra é mais bem distribuída, há um
maior número de pequenos produtores com maior capacidade
de renda e certa variedade na produção agrícola e não-agrícola.
Por conseguinte, as suas feiras livres são mais dinâmicas, como a
de Caruaru e de Arapiraca, onde ocorre melhor circulação da
riqueza gerada.
P o r t a n t o , a posse dos m e i o s de p r o d u ç ã o , m u i t o
particularmente a da terra, submetida a uma distribuição
adequada, sob o enfoque de uma administração eficaz, abre
perspectivas para a germinação de um conjunto de atividades
agrícolas, difíceis de serem praticadas no regime de grandes
propriedades, bem como para o surgimento de outras não-
agrícolas e de todos os benefícios que esse cenário oferece.
Em Alagoas, como vemos na tabela 1.4, a posse da terra
está distribuída na forma de extremos. De um lado, têm-se poucos
proprietários dominando grandes áreas, chamadas de latifúndios
e, de outro, grande número de pequenos produtores, com áreas
inferiores a 10 hectares, chamadas de minifúndios. Essa situação
gera uma grande injustiça e ineficiência na alocação dos recursos
públicos e privados, nos meios urbano e rural, ressentido-se este,
principalmente, de recursos financeiros.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 37


TABELA 1.4 - Alagoas: Distribuição percentual do número
de estabelecimentos agropecuários e de sua área
correspondente, no período de 1970/1985.

EM PERCENTAGEM

EXTRATOS 1970 1985


HECTARES (ha) NÚM. % ÁREA % NÚM. % AREA %
MENOS DE 10 75% 10% 82% 11%
DE 10 A MENOS
DE 100 21,6% 28,6% 15% 27%
DE 100 A MAIS 3,4% 61,4% 3% 61%
TOTAL 100% 100% 100% 100%

FONTE: IBGE - Censos Agropecuários.

Os fatos mostram que essa distribuição e a concentração


da propriedade da terra não surgiram do dia para a noite. São o
fruto de um processo histórico, que se inicia no século XVI, e
vem avançando ao longo de quase quatro séculos. Considerando
que o Estado é, essencialmente, agrícola, sua dependência do
latifúndio também é muito forte.
Foram os próprios latifundiários que mais lutaram pela
independência do Estado, visando a atender a seus interesses
locais. Dessa forma, poderiam mais facilmente dominar as
instituições estaduais e federais e direcionar os recursos do Estado
para benefício próprio. Com essa hegemonia da burguesia agrária
no aparelho estadual, o planejamento das ações do Estado orienta-
se para atender às necessidades dos grandes latifundiários, em
detrimento de uma atuação socialmente justa que beneficiasse a
maior fração da população.
E assim que as rodovias, as ferrovias e as hidrovias de
Alagoas foram e são construídas para atender, prioritariamente,

38 Fernando José de Lira


às necessidades do senhor de engenho e dos usineiros. As áreas
que não eram e não são de interesse da atividade canavieira
nunca foram prioridades do poder público.
Com isso, os pequenos e médios produtores do Agreste e
do Sertão sempre viveram no mais absoluto isolamento. A falta
de assistência técnica, de estradas, de energia e de comunicação
faz com que suas atividades agrícolas sejam marginais ou de
pura subsistência, pouco contribuindo para o desenvolvimento
estadual.
Nesse sentido, a dependência do Estado em relação à
atividade canavieira era e continua sendo quase que total.
Atualmente, a forte crise por que passa essa atividade abre boas
perspectivas na direção da geração de novas oportunidades de
produção, de emprego e de renda.

1.2 - Reprodução e subordinação da força de


trabalho
Durante todo o século XVI, XVII e até a metade do século
XVIII, os índios faziam parte da maior fração da força de trabalho
no engenho. Muitos indígenas, ao serem libertos, permaneceram
no engenho. A derrubada da mata, a poluição dos rios e a
dificuldade de encontrar peixes e caças não lhes permitiam
encontrarem os alimentos necessários à subsistência nas terras
que passaram a ser de propriedade dos senhores de engenho.
A partir de 1758, os senhores de engenho procuraram
substituir os índios pelos negros, pois os portugueses já tinham
experiência com escravos africanos nas ilhas do Atlântico onde
esses demonstravam uma produtividade muito maior do que a
obtida aqui, com aqueles. Além disso, os escravos negros não
tinham as mesmas facilidades de fuga como possuíamos indígenas.
Mesmo demandando um maior investimento, entre 1550 e
1815 entrou pela costa brasileira um elevado número de escravos

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 39


africanos, mais do que o suficiente para suprir as exigências de
trabalho da cana. A partir desse período, a atividade açucareira
iria passar por três séculos de uso dessa mão-de-obra que vai
constituir-se na principal força de geração de fortuna para os
senhores de engenho bem como de miséria, discriminação e
perseguição ao negro africano, ao afro-brasileiro e aos pobres em
geral, constituídos dessa raça e de uma miscigenação em sua maior
parte.
Ao contrário do ocorrido com os índios, nem a igreja nem a
coroa se opuseram à escravidão do negro. As ordens religiosas,
como as beneditinas, estiveram até mesmo entre os grandes
latifundiários de terra, que exploravam o trabalho escravo.
Outro fator favorável ao trabalho desses escravos era uma
certa imunidade que tinham às doenças tropicais dos brancos, o
que não ocorria com os índios. Todavia, apesar da resistência
imunológica e física dos negros, as condições de trabalho, de
habitação, alimentação e subordinação ao senhor de engenho eram
tão desumanas que, na segunda metade do século XIX, enquanto
no Brasil um escravo masculino tinha uma expectativa média de
vida de 18 anos, nos Estados Unidos essa expectativa era supe-
rior a 35 anos.
Quase todos os escravos de que o Brasil necessitava eram
importados, pois as condições de vida desfavoráveis faziam com
que as escravas tivessem uma baixa fertilidade. Criar uma criança
por 12 ou 14 anos, nas condições desumanas da escravidão, era
considerado um investimento elevado e de alto risco, a que o
senhor de engenho não queria submeter-se.
Com essa mão-de-obra abundante, o cultivo da cana e a
produção de açúcar aumentaram assustadoramente. Na verdade,
o negro era representante de uma civilização agrícola e já estava
acostumado ao regime servil na África. Daí a preferência, apesar
do elevado custo, por essa opção de força de trabalho. Mesmo
com a alta mortalidade, devida aos fatores já mencionados e aos

40 Fernando José de Lira


castigos severos, o alto preço e os quilombos não impediram os
senhores de engenho de continuarem a importar negros da África.
Cada engenho era uma unidade econômica na forma de
complexo rural. Em um engenho médio, existiam de 50 a 60
escravos, que vinham de Angola ou da Guiné. Os negros eram
obrigados a trabalhar todo o dia. Reunidos, formavam um
verdadeiro exército e recebiam ordem de um feitor. Só lhes era
permitido o descanso aos domingos e dias santificados.
Assim, a expansão da cana à base do trabalho escravo e da
grande propriedade definiu as linhas básicas de um sistema de
produção q u e c a r a c t e r i z o u o E s t a d o , m a r c a n d o - l h e ,
definitivamente, os aspectos políticos, sociais e econômicos. Nesse
sentido, o escravo negro deu uma grande contribuição para o
aumento da riqueza dos senhores de engenho e para a formação
econômica e social do Estado, que perdura até hoje.
Como diz Diégues I únior (1976, p. 100), o negro foi a princi-
pal força que permitiu o aumento da produção no meio rural e a
formação de centros urbanos importantes. Tornou-se essencial
às fazendas dos senhores de engenho, malgrado o tratamento
desumano que lhe davam. Sabiam que, sem os mesmos, não se
poderia aumentar a riqueza na forma de grande propriedade.
Desempenhando papel tão relevante na economia de
Alagoas, quando, no século XVIII, iniciou-se, na Europa, um
movimento de libertação dos escravos, os senhores de engenho
do Nordeste ficaram desesperados, pois afinal haviam empregado
grande soma de recursos na compra do negro.
No final do período colonial, Alagoas tinha uma população
de 111.973 habitantes, dos quais 42.879 eram livres e 69.094,
escravos. Esses números demonstram, claramente, a importância
que teve o n e g r o no p o v o a m e n t o , na p r o d u ç ã o e no
desenvolvimento econômico, social e cultural do Estado.
Com o rígido controle do processo de libertação dos negros,
e
m 1885 foi aprovada a Lei dos Sexagenários, que concedia

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 41


liberdade aos cativos maiores de sessenta anos e estabelecia
normas para a libertação gradual de todos os escravos, mediante
a indenização do Estado ao senhor de engenho. Somente em 13
de maio de 1888 - após indenizar todos os senhores de engenho
que tinham comprado escravos, foi aprovada a Lei Áurea.
Os escravos libertos, que não foram indenizados e não
dispunham de meios de produção ou de recursos para bancarem
sua subsistência, foram obrigados a permanecer no engenho como
moradores ou, simplesmente, como mão-de-obra livre, assalariada,
responsabilizando-se pela própria sobrevivência, o que os obrigava
a trabalharem todos os dias, exceto, pelo menos, nos dias santos e
feriados. Isso evidencia a ineficácia da Lei para mudar a
mentalidade dos senhores e a insuficiência desse ato legal, como
medida solitária, para transformar esse histórico cenário.
Como trabalhadores livres, a remuneração que recebiam
não dava para m a n t e r e m seu próprio sustento. Portanto,
reservavam os finais de semana para cultivarem, num pequeno
sítio, os produtos básicos de alimentação, a exemplo do feijão,
milho e mandioca, etc.
Dessa forma, a libertação dos escravos contribuiu para
aumentar, significativamente, a produtividade do trabalho no
plantio, nos tratos culturais, na colheita da cana, bem como no
fabrico do açúcar. Com isso foi possível aumentar, ainda mais, a
área c u l t i v a d a c o m cana e, c o n s e q ü e n t e m e n t e , e l e v a r a
acumulação de capital do senhor de engenho.
O processo de libertação dos escravos e a expropriação
do pequeno produtor formaram um enorme contingente de mão-
de-obra disponível. Essa força de trabalho excedia a quantidade
de braços necessários nos engenhos, obrigando o trabalhador a
submeter-se a baixas remunerações e a condições de trabalho
excessivamente precárias, visto que a cana-de-açúcar foi a primeira
atividade econômica praticada em grande escala, nos períodos
colonial, imperial e republicano.

42 Fernando José de Lira


Com a Independência do País, os Reis Dom Pedro I e Dom
pedro II c o n t i n u a r a m a p o i a n d o a a t i v i d a d e a ç u c a r e i r a ,
principalmente no âmbito financeiro, com créditos fornecidos pelo
Banco do Brasil que, criado em 1808, era uma instituição poderosa
no auxílio aos senhores de engenho, sobretudo liberando
empréstimos para comprarem terra e aumentarem a produção.
Com a República, esperava-se que as elites locais perdessem
força, todavia isso não ocorreu. Ao contrário, a burguesia agrária
estadual manteve o seu poder e a cana-de-açúcar continuou
avançando do litoral em direção à Zona da Mata, daí chegando
até o Sertão do São Francisco.
Durante essa conjuntura, que nasceu no período colonial e
atravessou o imperial e o republicano, os trabalhadores não possuíam
qualquer direito trabalhista. O senhor de engenho pagava-lhes como
salário aquilo que lhe convinha e que, quase sempre, ficava abaixo
do necessário para a manutenção fisiológica da família.
Nesse período, a expansão da cana-de-açúcar foi tal que,
a partir do início do século XX, Alagoas era uma espécie de paraíso
da cana. Possuía mais de 90% da Zona da Mata cultivada com
cana-de-açúcar. Para isso, usou quatro modalidades de trabalho:
o trabalhador morador, o trabalhador sitiante, o trabalhador
permanente e o pequeno produtor, fornecedor de cana.
Para se ter idéia da ocupação da terra de Alagoas com cana,
Beatriz (1998, p.20) informa que, a partir da segunda metade do
século XVIII, o número de engenhos da Província de Alagoas
passou de 73 em 1824, para 234, em 1850, alcançando 360, no
início do século XX. Entretanto, embora o controle das terras
produtivas fosse condição necessária para o aumento da produção
de cana, não era suficiente para assegurar trabalho à massa de
trabalhadores disponível, e era insuficiente a quantidade de terra,
necessária ao funcionamento dos engenhos.
Para garantir o trabalho a essa massa de assalariados e gerar
excedente de mão-de-obra, os senhores de engenhos teriam que

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 43


avançar até as terras não aptas para a c a n a , as que eram
cultivadas pelos pequenos produtores, na forma de culturas de
subsistência. Proprietários dessas terras, os senhores de engenho
t r a n s f o r m a r a m - n a s em pequenos sítios, cultivados pelos
moradores de engenho. Com isso, ficaram obrigados a prestar
serviços para o engenho, na cana e fabricação do açúcar, em
condições bastante subordinadas, perdendo a liberdade e as
condições de vida razoáveis.
Na medida em que a cana avançou, o trabalhador morador
passou a receber uma casa com uma pequena área onde tinha a
possibilidade de desenvolver e cultivar seu roçado, prestando,
como contrapartida, trabalho ao proprietário.
De acordo com Beatriz (1986, p.60), esse trabalho seria
desenvolvido nas condições de tempo e de tudo o mais exigidas
pelo senhor de engenho, que requeria do morador entre 4 a 5
dias da semana, reservando-se os demais para cuidar de sua
subsistência, sendo que ele só poderia trabalhar no sítio e morar
na propriedade, caso se subordinasse às exigências impostas pelo
proprietário. Caso contrário, o morador seria dispensado daquele,
tendo que se submeter às mesmas condições em outros engenhos
de Alagoas ou de Pernambuco.
Como o engenho era a forma social de produção dominante,
nas áreas onde se desenvolveu inibiu outras alternativas
econômicas de sobrevivência. Eram, portanto, os mesmos
pequenos produtores expropriados que procuravam os senhores
de engenho para pedir moradia e trabalho. Nessas ocasiões, o
próprio senhor de engenho era quem entrevistava o candidato e
decidia sua admissão, que só era possível depois de cumpridos
alguns requisitos.
Baseavam-se em informações sobre a história de vida do
candidato, inclusive sobre as razões pelas quais ele havia
a b a n d o n a d o seu ú l t i m o trabalho. D a v a - s e p r e f e r ê n c i a a
moradores que fossem chefes de família, com esposa e filho.

44 Fernando José de Lira


Nessas condições, ao chegar ao novo engenho, o morador
não tinha contraído apenas uma dívida monetária, porque vinha
reforçada por uma forte subordinação nas relações de trabalho e
moradia no novo engenho, bem como, ainda, por uma obrigação
de grande lealdade ao patrão. Aparentemente, ele era bem
remunerado, pois, além de receber pagamento pelo trabalho
realizado para o senhor de engenho, possuía os produtos
cultivados no roçado, que deveriam permitir-lhe saldar sua dívida
no barracão, sobrando-lhe o suficiente para adquirir os demais
bens necessários ao consumo da semana seguinte. Entretanto,
isso nem sempre ocorria. Freqüentemente, o morador permanecia
- por muitos anos - em dívida com o patrão.
O morador recém-admitido tinha que internalizar que o
trabalho realizado no roçado individual, para proveito pessoal,
só era possível como conseqüência do trabalho coletivo e prévio
que era feito para o senhor de engenho. Essa relação de dominação
m a t e r i a l i z a v a - s e , também, no a r m a z é m da p r o p r i e d a d e ,
conhecido como barracão.
O senhor de engenho, visando à reprodução da relação
morador/senhor, fazia um esforço permanente para intervir de
diferentes formas e em todos os níveis na vida dos seus subordinados.
Esse esforço incluía a utilização de alguns de sua confiança que,
durante a jornada de trabalho, sob ordens, percorriam a propriedade
a cavalo, visitavam os moradores isolados nos sítios, ou ainda, nas
horas de descanso, na varanda da Casa Grande, observavam o que
ocorria no espaço coletivo do engenho.
Para Beatriz (1986, p.60), nos dias de trabalho, ou seja, du-
rante a semana, só era permitido ao morador sair do engenho
quando autorizado pelo próprio senhor, com exceção dos feriados,
quando a saída era livre.
O comprometimento assumido não era somente do chefe
da família, mas de toda a família. No conjunto das atividades
do engenho e no roçado, com culturas de subsistência, a esposa

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 45


do morador e seus filhos solteiros - enquanto membros do grupo
doméstico - contribuíam conjuntamente com o morador para a
execução das tarefas exigidas, ainda que de forma diferente,
segundo o sexo e a idade.
Só era incorporado ou permanecia como morador do engenho,
com direito à casa e ao roçado ou sítio, se fosse chefe de família. Os
homens solteiros ou aqueles que ficassem sozinhos por qualquer
motivo não tinham esse direito. Eram alojados em galpões, que os
acomodavam em grande quantidade e precariamente.
A condição de maioridade só era obtida mediante o
casamento, quando o filho tinha a possibilidade de tornar-se,
também, morador. Assim, embora significasse, de fato, garantia
em termos morais, a família significava, também, a possibilidade
de reprodução de novos moradores no seu interior. Dessa forma,
assegurava-se a continuidade do próprio engenho. Tendo a
responsabilidade de sustentar a família, o morador oferecia, ainda,
o resultado da p r o d u ç ã o de subsistência, como forma de
c o m p r o m i s s o c o m sua c o n t i n u i d a d e n o t r a b a l h o , e m
cumprimento ao conjunto de obrigações que lhe eram impostas.
Com a transformação de alguns engenhos em usinas,
mudou também a relação de produção e de trabalho, porque as
moendas passaram a exigir muito mais canas. Para satisfazer essa
exigência, era necessário o avanço na ocupação das terras da
própria usina por todos os lados do território alagoano, o que,
num primeiro instante, significou a expulsão dos pequenos
produtores sitiantes, roceiros arrendatários e colonos dos
tabuleiros, transformando-os, assim, nos primeiros trabalhadores
rurais sem-terra. Esse fenômeno e a mecanização adotada em
todas as áreas planas de Alagoas contribuíram para o aumento
do número de trabalhadores temporários. No segundo momento,
estendeu-se o m e s m o tratamento aos próprios moradores,
sitiantes, pequenos fornecedores da fazenda, impelindo-os da
usina para a periferia de cidades e vilas mais próximas.

46 Fernondo José de Lira


Para Loureiro (1970, p.24), a ocupação, em grande escala,
dos Tabuleiros com cana iniciou-se em 1960, com a usina Sinimbu,
sendo seguida por outras usinas, aumentando as áreas dos grandes
proprietários e resultando, com o passar dos anos, na grande
expansão do cultivo e na ocupação total dos tabuleiros existentes.
Beatriz (1986, p . l l ) indica que essa ocupação redundou
num aumento significativo do número de grandes propriedades
e, principalmente, na instalação de novas e grandes usinas e
destilarias, aumentando, exponencialmente, a produção de açúcar
e a oferta de mão-de-obra.
Com isso, a grande massa de trabalhadores disponíveis, parte
dela incorporada às atividades agrícolas de cultivo de cana, passou
a não possuir vínculos de trabalho diretamente com os grandes
proprietários. Como diz Beatriz (1986, p.30), "essa relação passou a
ser mediada por um empreiteiro que recrutava a mão-de-obra
necessária às atividades das fazendas. Somente os trabalhadores mais
especializados permaneceram com carteira de trabalho assinada".
Os empreiteiros não têm carteira de trabalho assinada e
trabalham para grandes usineiros. Eles procuram recrutar os
trabalhadores necessários a determinada tarefa e, muitas vezes,
permanecem nas propriedades das usinas, j u n t o c o m os
trabalhadores que lá se fixam durante a semana.
Nesse modelo, cada trabalhador recebe por produção, no
final da semana. É muito comum o trabalhador receber parte de
seu trabalho já realizado na forma de vale a ser descontado no
dia do pagamento. Como explica Beatriz (1986, p.50), a existência
desse intermediário é considerada uma forma de exploração,
que se apresenta mais conflitante quando o empreiteiro é dono
do barracão da usina, onde os trabalhadores fazem suas compras.
Os preços das mercadorias são freqüentemente muito mais
elevados do que os praticados em outros locais de venda.
A presença do empreiteiro é muito favorável para os
u s i n e i r o s , p o r q u e lhes a s s e g u r a fixação p e r m a n e n t e d o

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 47


trabalhador na propriedade, sem arcarem com os custos de uma
ligação direta e formal, que incluiria a existência de vínculos
trabalhistas e das obrigações decorrentes dessa situação.
Alguns moradores remanescentes na propriedade são
forçados a executar tarefas rejeitadas pelos trabalhadores do
empreiteiro, pois são vistos pelo usineiro como subordinados e,
portanto, mais sujeitos às determinações do administrador da
fazenda. As casas mostradas abaixo representam as condições
da habitação a eles destinada.

FIGURA 1.5- Habitação típica do trabalhador e sua


família na atividade canavieira de Porto Calvo.

Quanto à r e m u n e r a ç ã o percebida, os t r a b a l h a d o r e s
temporários u s a m - n a para pagar dívidas no barracão. Se
sobrar algum dinheiro, fazem compras nas feiras próximas
às u s i n a s . Q u a n d o t r a b a l h a m o m ê s i n t e i r o , c h e g a m a
ganhar pouco mais do que o salário m í n i m o , alcançando
somente dois terços dele, se não tiverem ocupação
permanente. A renda média dos trabalhadores moradores é

48 Fernando José de Lira


inferior à dos temporários, atingindo em torno de 50% do
salário mínimo por mês trabalhado.
É muito comum pequenos produtores do Agreste e do
Sertão prestarem trabalho nos canaviais, para complementar sua
renda. Como sua área de terra é muito pequena, principalmente
nas crises de produção ou em períodos de pouca chuva, os
pequenos produtores migram para as usinas mais próximas para
cortar cana. Logo que se inicia o período de chuva, voltam para
cultivar seu pequeno pedaço de terra.

FIGURA 1.6 - Trabalhador rural temporário,


trabalhando por produção, percebendo
rendimento em torno de US$ 3,20 por dia de
trabalho.

Conforme afirma Beatriz (1986, p.60), "o trabalhador


residente na fazenda das usinas, no momento em que diminui
a demanda por trabalho no interior da propriedade, para poder
concorrer com os trabalhadores que vêm de fora, vê-se obrigado
a
* é a dormir no local de trabalho, para garantir o próprio dia
de serviço".

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 49


Freqüentemente, a falta de trabalho para os moradores
da usina é utilizada pelo usineiro como mecanismo para forçar
o abandono da propriedade pelo morador, o que vem ocorrendo
muito, desde o início da década de noventa.
Portanto, o trabalho assalariado temporário passou a ser a
única fonte de renda para a grande massa de pessoas residentes
no campo. Ao submeter-se a isso, o chefe de família, para garantir
a sobrevivência, teve que colocar toda a família na atividade
canavieira. É sob essas condições que, desde cedo, aparecem as
crianças trabalhando nos canaviais, em condições que vêm
deteriorando-se ao longo dos anos.
Em suma, todos os fatores referidos geraram um grande
excedente de mão-de-obra, que vive no meio rural, na periferia
das pequenas, médias e grandes cidades. Em caso de maior
necessidade, muitos são chamados a prestar serviços à usina, sem
qualquer vínculo.

50 Fernando José de Lira


Capítulo II

O poder de base agrária


A divisão geográfica, social e econômica do território
brasileiro em espaços estaduais deve ser entendida c o m o
resultado de uma ação política. E, assim, os espaços nacionais
foram organizados e construídos histórica e politicamente. Por
conseguinte, as condições peculiares a cada Estado decorrem de
um sistema político com relações externas e internas específicas.
Nesse sentido, o processo de manutenção do poder político
estadual pode desenvolver suas próprias alternativas de
desenvolvimento econômico, que podem estar ou não em
consonância com o poder econômico regional ou nacional, mas
sempre o estarão com os interesses específicos das elites estaduais
e com suas relações com o poder político regional e nacional, no
sentido de garantir a preservação desses interesses.
Alagoas é, portanto, um espaço político-social que possui
especificidades nos processos político e social e, por conseguinte,
deve ser um espaço geográfico da sociedade local em interação
parcial ou total com a sociedade global, porém comportancio-se
de forma diferenciada. Assim, Alagoas é justamente a expressão
autêntica de suas diferenças culturais, sociais e do processo de
produção e de diferenciação do espaço geográfico . Um Estado, 1

mesmo possuindo relações com outros das regiões do País ao


qual pertence, possui vinculações internas autônomas que lhe
conferem um caráter próprio e diferenciado.

' A respeito do conceito de região veja-se Lipietz (1980) e Castro (1992:30).

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 51


Um Estado e sua identidade são construídos através das
imposições de uma classe dominante, objetivando expandir sua
p r ó p r i a b a s e m a t e r i a l , bem como o u s o do c o n t r o l e da
administração local para alcançar seus efeitos. Por isso, as elites
dominantes desenvolvem formas de controle político apropriado
a seus interesses econômicos e de poder, fazendo com que o
Estado assuma aspecto político peculiar, quando comparado com
outros Estados . Desse modo, a própria identidade estadual é
2

influenciada pelo comportamento das suas elites em relação à


sua região, ao poder nacional e a outros Estados.

2.1 - As raízes do poder em Alagoas


Do período colonial até o início da República, ser senhor de
engenho significava ter vastas propriedades, o que deixava muita
gente sem terra, dependente desses grandes proprietários.
Esses possuíam muito poder. Quanto maior fosse a área de
terra e o número de escravos possuídos, tanto maior era o poder que
o senhor detinha, irradiando-se para além dos limites do engenho,
alcançando o meio urbano, onde elegia prefeito, vereador, deputado,
senador e governador, influendando, ainda, a nomeação de juízes e
pessoas do alto escalão do governo estadual e, até, federal.
Esses senhores formavam uma elite quase homogênea, com
poderes especiais. Núcleo político-social, o engenho era também
um núcleo demográfico, servindo de base à formação da família
e da sociedade alagoana. Por conseguinte, qualquer núcleo que
se constituiu em Alagoas encontrou a sua base de formação no
Engenho Bangüê.
Como diz Diégues Júnior (1976, p.40), "o senhor de engenho
é a grande figura da paisagem social de Alagoas. É nele que se
centraliza a organização da família. As cidades de Alagoas são, na

2
Conforme Roberts (1981, p.50).

52 Fernando José de Lira


verdade, um prolongamento do engenho, e o senhor de engenho
é o chefe político da família e de toda a gente que vive no engenho".
Na hierarquia social da atividade canavieira, estavam os
senhores de engenho e os lavradores, que não podiam ter
engenho, embora dispusessem de terras, ou que não tinham terra
e, nesse caso, cultivavam a cana nas terras do senhor. Conforme
a posse da terra de que dispunham para cultivar cana, o número
de escravos que possuíam e as safras que produziam, os
lavradores, também chamados de fornecedores, tinham maior
ou menor importância social.
A relação entre os lavradores e o senhor de engenho era de
muita desconfiança. Freqüentemente, o senhor de engenho
proibia aos lavradores a entrada na casa de purgar, durante a
moagem de sua cana. Alegava que a sua presença implicava
fiscalização e, conseqüentemente, uma desconfiança.
A estrutura econômica dominante no Estado, bem como
sua organização político-social dela emanada, permitiam que
muitos abusos de autoridade fossem cometidos impunemente
pelos senhores de engenho. Nesse sentido, a posse da terra e
sua ocupação com a monocultura da cana davam o poder
absoluto sobre os lavradores, agregados, trabalhadores e a
imensa maioria de pobres livres, que necessitavam de terra
para sobrevivência.
Para Diégues júnior (1976, p.80), "a transformação dos
engenhos em usinas levou o antigo senhor de engenho a
morar na cidade, para onde levou seus hábitos, seus cos-
tumes e seu modo de vida, os quais iria transmitir para toda
a sociedade".
A mudança tecnológica, que ocorre a partir do início do
século XX, com a transformação do engenho numa indústria
moderna e com a utilização do arado na agricultura, não altera
a estrutura de produção e de poder da atividade canavieira.
Ao contrário, os antigos senhores de engenho, transformados

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 53


em usineiros, discriminam seus antigos companheiros que,
p o r n ã o t e r e m terra e r e c u r s o s f i n a n c e i r o s s u f i c i e n t e s ,
permaneceram como senhores de engenho e, com o tempo,
tornaram-se fornecedores de cana para as maiores usinas.
Poucos se transformaram em usineiros, já que, nessa nova
condição, necessitavam de muita terra para plantarem cana e
obterem crédito junto ao governo. Houve usinas que chegaram
a incorporar dez engenhos. Todavia, é curioso que as 24
famílias de senhores de engenho tradicionais de Alagoas
transformaram-se em usineiros, aumentando muitas vezes as
áreas de suas propriedades e o número de fornecedores.
Esse processo de concentração de terra e indústria no
meio rural, nas mãos de poucas famílias, teve amplo apoio
financeiro dos governos federal, estadual e municipal.
P o r t a n t o , a h i s t ó r i a da c a n a - d e - a ç ú c a r , em A l a g o a s , é a
história da relação entre propriedade latifundiária e poder.
Essa herança histórica é determinante da estrutura agrícola,
econômica e social do Estado.
Os senhores de engenho e, depois, os usineiros, que
t i n h a m o c o n t r o l e da p r o p r i e d a d e f u n d i á r i a , p o s s u í a m
também a base do poder político que usavam, muito bem, na
obtenção de privilégios, transformando a sociedade alagoana
num Estado praticamente dependente de uma única atividade
econômica.
Em Alagoas, em 1931, havia 27 usinas, convivendo com
618 engenhos bangüês, que produziam cerca de 3 1 % do açúcar
alagoano. Com o novo surto de desenvolvimento das usinas,
p r o v o c a d o p e l a S e g u n d a G u e r r a M u n d i a l , elas n ã o s ó
aumentaram a sua produção, como também, devido ao uso do
caminhão e ao melhoramento das rodovias, passaram a ampliar
sua área de influência, estendendo o plantio.
O governo federal, através do IAA (Instituto do Açúcar
e do Á l c o o l ) , f u n d a d o na era V a r g a s , cria u m a série de

54 Fernando José de Lira


medidas q u e a c a b a m por financiar a compra de terra e,
conseqüentemente, o aumento da área cultivada com cana,
chegando a atingir a Zona da Mata, o Litoral e o Planalto,
também c h a m a d o de Tabuleiro.
Como afirma Pedro Ramos (1999, p.80), "entre 1885 a 1890
o governo de Pernambuco e o de Alagoas subsidiaram fortemente
a montagem de diversas usinas. As facilidades oferecidas pelo
governo republicano, para a montagem dessa unidade fabril
isolada, foram tantas que mesmo os médios fornecedores de cana
uniram-se e criaram sua própria usina".
Seguindo essa linha de apoio do período republicano,
os o u t r o s s u b s e q ü e n t e s t a m b é m o f e r e c e r a m os m e s m o s
privilégios e mantiveram intacta a estrutura de dominação
vigente na atividade agropecuária, só que mais ampliada,
atingindo todos os setores da sociedade alagoana. Essa ação
paternalista do Estado, ao criar forte sistema de defesa da
atividade açucareira, acabou por reforçar o atraso relativo das
atividades praticadas pelos usineiros, que tinham
mentalidade de grandes latifundiários.
Para Pedro Ramos (1999, p.70), os diversos mecanismos que
o Estado utilizou em benefício de um único segmento social
serviram tão somente para consolidar uma estrutura de produção,
que não se justifica do ponto de vista social. Como se sabe, a
estrutura fundiária concentrada, herdada do passado colonial,
foi fortalecida pelos sucessivos governos que têm marcado a
sociedade alagoana.
Com os subsídios estatais e a concentração da propriedade
da terra, os senhores de engenho, desde o século XVIII, e os
usineiros, a partir do final do século XIX, usam sua força política
(transferida de pais para filhos), fazendo valer seus interesses e
mantendo o comportamento típico da classe senhorial, com
reflexos profundos na sociedade alagoana, inibindo, inclusive,
quaisquer reformas e mudanças.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 55


Para Pedro Ramos (1999, p.80), o poder político dos senhores
de engenho e, em tempos mais modernos, o dos usineiros decorre
do fato de serem grandes proprietários de terra, numa espécie de
monopolio da posse dos meios de produção.
Mesmo as reformas modernizantes das atividades agrícolas
e não-agrícolas foram bloqueadas. A idéia de criação dos engenhos
centrais, que separava a propriedade da indústria da propriedade
da terra, logo foi inviabilizada pelos senhores de engenho, que
temiam perder o poder de latifundiário, passando a serem simples
fornecedores de cana.
Com a crise decorrente da grande concorrência do açúcar
brasileiro no mercado externo, o governo resolveu modernizar a
atividade, procurando aumentar sua produtividade, oferecendo
crédito abundante, fácil e de baixo custo no ámbito federal e apoio
da infra-estrutura física das esferas estaduais e municipais. Esse
incentivo, porém, funcionou contrariamente ao esperado, como
estímulo para o usineiro resistir ao processo de modernização da
produção açucareira.
Sensível às pressões desse segmento, o governo acabou
por c o n c o r d a r em f o r n e c e r a l g u m a s g a r a n t i a s , c o m o o
tabelamento do preço da cana, que favoreceu o usineiro na
compra das cotas obrigatórias da produção dos fornecedores,
com prejuízo para estes.
Outro fator que demonstrou o poder dos usineiros foi o decoreente
do crescimento da produção paulista que ameaçava a do Nordeste, de
custo mais elevado. Preocupados em manter seus privilégios, os
usineiros dessa região declaram-se ineficientes e exigiram do governo
federal não só o estabelecimento de cotas por região, por estado e por
usina, como também a equalização de custos. Com o argumento de
que seus custos eram mais elevados do que os de São Paulo, reivindicam
um preço maior para o açúcar do Nordeste.
Nessa nova fase de concorrência, sobreviveram aquelas usinas
que tinham mais condições de possuir mais terra. Os pequenos

56 Fernando José de Lira


fornecedores, mesmo organizados em cooperativas, foram os
primeiros a serem expulsos de suas terras que as usinas passaram a
incorporar à sua área de influência, procedendo igualmente com os
médios fornecedores que tinham pequenas usinas.
Reconhecendo a crise da baixa produtividade, na segunda
metade do século XIX, o governo republicano tratou de modernizar
a produção açucareira. Para isso, foi idealizada a implantação dos
engenhos centrais, com máquinas modernas capazes de esmagar
a cana de vários engenhos bangüês e de fabricar o açúcar de melhor
qualidade, mais aceito no mercado externo.
Na sua concepção, os engenhos centrais separariam a
atividade industrial da atividade agrícola. Montados e garantidos
pelo governo, deveriam pertencer a companhias estrangeiras, que
não poderiam cultivar cana, não usariam braços escravos e
deveriam construir estradas de ferro para o transporte de cana
até a fábrica, substituindo os carros de boi, que se limitariam a
levar as canas de áreas distantes das estradas de ferro.
Com essa visão, o Estado também tratou de determinar a
localização dos engenhos centrais, a fim de que cada um tivesse
a sua zona de influência e de que não houvesse concorrência
predatória entre eles.
Em Alagoas, na última década do século XLX, foram implantados
os engenhos centrais Brasileiro, Utinga Leão e Sinimbu. Apesar da
importância da idéia, essa implantação não recebeu apoio dos senhores
de engenho bangüê, que temiam perder o poder de serem donos do
açúcar, ficando submetidos a grandes industriais, que iriam utilizar
suas canas no fabrico do açúcar. Ou seja, haveria a separação das
atividades de produção de cana e de produção do açúcar.
A resistência dos senhores de engenho a essa idéia deu
origem à transformação do engenho bangüê em usina, onde o
senhor, agora usineiro, passaria a ser dono da cana e do açúcar,
continuando, portanto, como industrial e, ao mesmo tempo, como
grande latifundiário.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 57


Para Andrade (1997, p.60), as usinas começaram a ser
montadas em Alagoas, a partir de 1892 e, já em 1907, havia
seis usinas em funcionamento. Das últimas décadas do século
XIX às duas primeiras do século XX, foram construídas 4
usinas em São Luiz do Quitunde, três em Murici, duas em
Atalaia, duas em São José da Lage, uma em São Miguel dos
Campos, uma em Santa Luzia do Norte e outra em União dos
Palmares. Foram montadas com o apoio dos governos fede-
ral e e s t a d u a l que, além de s u b s i d i a r e m sua c o n s t r u ç ã o ,
criaram uma infra-estrutura de estradas, principalmente de
ferrovias, que iria estimular a expansão das usinas por todo
o Estado.
Os proprietários das usinas de Alagoas eram, na sua
maioria, de famílias tradicionais de senhores de engenho locais.
Nas três décadas que vão de 1890 a 1920, o crescimento das
usinas, apesar de significativo, foi mais lento do que o ocorrido
nas de Pernambuco. Já na safra 1922/23, a produção de açúcar
das usinas suplantou a dos engenhos bangüês, indicando que
a modernização do setor canavieiro, subsidiada pelos governos
federal e estadual, era feita com grande vantagem para aqueles
senhores de engenho que queriam e podiam transformar-se
e m u s i n e i r o s . O s d e m a i s , s e m essa p o s s i b i l i d a d e ,
permaneceram como plantadores de cana, na condição de
fornecedores, ficando subordinados aos usineiros.
Nesse processo, a economia do Estado de Alagoas continuou
inalterada e totalmente subordinada à atividade da agroindústria
do açúcar, durante todo o período colonial e imperial.
Apesar da esperança de mudanças, o período republicano,
contrariamente, manteve intactas as estruturas agrícola e agrária
de dominação vigente, no interior da atividade açucareira, só que
mais ampliada, atingindo agora todos os setores da sociedade
alagoana, dificultando o acesso à terra e estimulando a extinção
das outras atividades agrícolas.

58 Fernando José de Lira


Dessa forma, as transições do trabalho escravo para o livre
e do engenho para a usina ocorreram sem outras alterações em
Alagoas e Pernambuco, garantindo os privilégios dos usinciros,
que incluíam a posse dos latifúndios, dos meios de produção,
dos recursos financeiros e do poder político.
Isso foi muito importante, porque, nos períodos colonial e
imperial até 1850, a terra não tinha valor comercial, vindo a tê-lo
com a Lei de Terra, que lhe garantiu a função de reserva de valor,
passando o acesso à sua posse a ser feito através da compra ou
herança. Isso permitiu também que o senhor de e n g e n h o
financiasse a modernização da atividade canavieira, hipotecando
a terra como garantia do financiamento, operação que era feita
antes hipotecando-se os escravos.
Apoiando decisivamente as usinas, os governos federal e
estadual construíram estradas de rodagem e de ferro que, partindo
de Maceió, dirigiam-se para o interior, para as áreas produtoras
de cana e de açúcar. As primeiras, que foram construídas a partir
de 1858, iriam facilitar a atividade canavieira em áreas, antes,
consideradas de difícil acesso.
Ancorada por uma infra-estrutura de estradas, portos,
energia elétrica e melhoria da comunicação, a cana apossava-
se das terras, conquistando as várzeas de massapé, as grotas
de barro vermelho e os tabuleiros. Destruíram-se as matas,
afugentando os animais e permitindo que outras culturas se
desenvolvessem somente nas áreas em que ela não podia
chegar. Dessa maneira, em pouco tempo, os usineiros
passaram a ser donos de quase todo o litoral, Zona da Mata e
dos tabuleiros de Alagoas, como mostra o mapa 1.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 59


MAPA 2 - Alagoas
Área em cinza escuro: propriedades com
mais de 100 hectares de terra, plantadas
com cana-de-açúcar, em 1995/96

FONTE: IBGE, Censo agropecuário, 1995/96.

Para Andrade (1998, p.90), o período que vai de 1890 a 1900


registrou esse grande crescimento das usinas e produção de açúcar,
em face também da grande elevação de preços no mercado
internacional. Todavia, de 1901 a 1914, a queda de preços no mercado
europeu não diminuiu o número de usinas, tampouco a produção
de açúcar. Entre 1910 a 1920, Alagoas passou de 6 para 15 usinas.
Com a superação dos engenhos centrais, o governo passou
a apoiar a construção das usinas com crédito do Banco do Brasil,
que lhes financiava as instalações e fornecia recursos para
viabilizá-las economicamente. Isso significava financiar a compra
de engenho para que a usina tivesse uma produção mínima, que
compensasse o investimento em máquinas modernas.
Com tantas facilidades, a criação das usinas veio aumentar
a concentração da propriedade da terra, pois a demanda por cana
era tão superior à do engenho que uma usina média, de
maquinaria moderna, esmagava cana correspondente à produção
de dez engenhos bangüês.

60 Fernando José de Ura


Como afirma Andrade (1997, p.80), "no período de 1930
a 1950, Alagoas possuía quatro grupos de usinas. As grandes
usinas, em número de três, se mantiveram em ascensão até os
anos 50. Um segundo grupo de médias usinas, que estavam em
crescimento. Um terceiro, de pequenas e m i n i u s i n a s com
produção inferior a 10.000 sacas de açúcar".
A forte intervenção do governo no setor açucareiro,
estabelecendo cotas, comercialização da produção e estipulando
preço, comprando açúcar excedente e proporcionando subsídios,
fez com que os usineiros mais beneficiados pelos recursos
governamentais crescessem. Algumas usinas médias
transformaram-se em grandes, mas a maioria das médias e todas
as pequenas e miniusinas foram absorvidas pelas grandes, que
necessitavam de terra para permanecer competindo com a
produção internacional ou com a produção paulista.
Os usineiros eram industriais, cujo sucesso provinha
mais. Q u a n t o m a i o r e s f o s s e m s u a s f a z e n d a s , m a i s
p o s s i b i l i d a d e s teriam de s e r e m b e m - s u c e d i d o s . Por isso
m e s m o , m u i t o s p r o c u r a v a m ter m a i s t e r r a s d o q u e a s
realmente necessárias. Isso poderia ser a garantia de sua
sobrevivência futura, já que o açúcar nordestino, além de
sofrer a concorrência internacional, agora se defrontava com
outro poderoso concorrente, o Estado de São Paulo.
Como já foi salientado, a partir do século XVIII, o Brasil
deixou de ser o único produtor de açúcar, o que não lhe garantia
mais poder exclusivo no mercado europeu. A concorrência com
outras c o l ô n i a s e países foi se f o r t a l e c e n d o , e os p r e ç o s
começaram a cair em todo o mundo.
Nessas condições, a atividade açucareira do Brasil, muito
particularmente no Nordeste, fica em situação e c o n ô m i c a
desfavorável com a perda do mercado externo, voltando-se mais
Para o mercado interno, que se localiza no Sudeste do País,
basicamente em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 61


Junto com a perda do mercado externo, que originou uma
disputa pelo interno, na primeira metade do século XX, ocorreu
igualmente o início da produção de forma comercial em outras regiões
do País, como no nordeste de São Paulo, por exemplo, que começa a
destacar-se como grande concorrente do Nordeste brasileiro.
Essa disputa acirrada de Alagoas e de Pernambuco com
São Paulo, pelo mercado interno, fez com que os usineiros
nordestinos temessem pelo futuro. Passaram a exigir dos
governos de Alagoas e de Pernambuco solução para o problema
da baixa de preços do mercado interno, já que não era possível
influenciar nos preços externos.
A alternativa mais atraente para os usineiros do Nordeste
era a de que o governo federal, em comum acordo com os
governos estaduais, procurasse limitar a produção nacional. Com
a revolução que levou Getúlio Vargas ao poder, essa idéia ganhou
apoio e força. Sob as pressões dos governos de Pernambuco e
Alagoas, surgiram as primeiras providências legais, destinadas
a incentivar a produção de álcool e a compra, pelo governo
federal, do excesso de açúcar produzido no mercado.
Para viabilizar esses interesses dos usineiros nordestinos
foi criada, em 1931, a Comissão de Defesa do Açúcar. Em 1933,
os u s i n e i r o s , i n s a t i s f e i t o s com o p o d e r da C o m i s s ã o ,
pressionaram, mais uma vez, o governo para criar um órgão
federal específico para tratar dos problemas da atividade da
agroindústria açucareira. Assim, nesse mesmo ano, foi criado o
Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), que passou a preocupar-
se com a baixa dos preços do açúcar no mercado brasileiro.
Segundo Ramos (1999, p.50), o governo federal, para atender
basicamente às reivindicações do Nordeste, passou a proteger a
produção nordestina. Estabeleceu cotas de produção regional,
incentivando o aumento da produção de álcool-carburante, que
era visto pelos usineiros como uma possível alternativa capaz de
superar os problemas de superprodução de açúcar.

62 Fernando José de Lira


Na defesa da atividade açucareira, a opção pela limitação
da produção foi posta em prática em meados da década de 1930,
estimulando ainda mais as práticas agrícolas tradicionais,
largamente utilizadas para expandir a produção de cana, o que
exigia cada vez mais terras.
Para Ramos (1999, p.80), como o preço estipulado pelo
governo era bem favorável, os usineiros utilizaram esse incentivo
para comprar mais terras para plantar cana, sem qualquer
planejamento, várias vezes para evitar a concorrência. Estavam
muito pouco interessados no aumento da produção por área
cultivada e, por conseguinte, nos custos de produção da cana e
do açúcar.
A política regional privilegiou o Nordeste com recursos da
Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e
com programas agrícolas especiais voltados para atender aos grandes
produtores, cuja expressiva maioria era constituída de deputados,
senadores, governadores e prefeitos. Apoiando irrestritamente o
governo militar, esses homens representavam a principal base de
sustentação da política econômica do regime centralizado. Em
compensação a esse apoio, foram garantidas a reserva de mercado,
a compra da própria produção e a fixação de preços para cana,
álcool e açúcar, assegurando margem de lucro acima do normal.
A concessão de subsídios, especialmente na forma de
crédito, estimulou a produção por meio do m e c a n i s m o de
equalização de custos, cuja diferença entre os produtores do
Nordeste e os do Centio-Sul era coberta pela contribuição sobre
a produção nacional de açúcar, criada com o objetivo de proteger
as regiões potencialmente menos competitivas, como Alagoas e
Pernambuco, para onde era transferida.
O Nordeste e, particularmente, Alagoas beneficiaram-se
bastante dos subsídios dos diversos programas agrícolas, utilizados
basicamente para a compra de terras. Até se desviaram recursos
para outras atividades econômicas, notadamente na área imobiliária.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 63


Visando tornar a atividade mais competitiva, o governo
fortaleceu o I A A e priorizou a a p l i c a ç ã o de recursos na
agroindústria canavieira do Nordeste, notadamente na
pesquisa agrícola, bem como no melhoramento dos portos de
Recife e M a c e i ó . O f i n a n c i a m e n t o da m o d e r n i z a ç ã o da
atividade a ç u c a r e i r a tanto se m a t e r i a l i z a v a nos r e c u r s o s
destinados à compra de terra, como na isenção dos impostos
de i m p o r t a ç ã o de m á q u i n a s n e c e s s á r i a s ao p r o c e s s o de
racionalização, cobrindo, ainda, a concessão de empréstimos
para aquisição desses implementos, concedidos a juros baixos
e a prazos longos, com isenção da correção monetária, o que
constituiu forte incentivo.
Essas m e d i d a s p r o v o c a r a m u m enorme i m p a c t o n a
estrutura produtiva, desativando 36 usinas localizadas no
Nordeste brasileiro, sobretudo as pequenas, estimulando,
ainda mais, a concentração da terra e de capital na atividade
c a n a v i e i r a , r e d u z i n d o o n ú m e r o de f o r n e c e d o r e s e
expropriando pequenos e médios produtores rurais,
localizados em áreas ainda sem cana.
Os programas agravavam a situação social no campo, ao
tempo em que beneficiavam amplamente os grandes usineiros,
pois contavam com 11 linhas de créditos a juros bastante
subsidiados. Essas medidas contribuíram para o avanço rápido
das usinas nas terras dos Tabuleiros, que eram planas e facilmente
mecanizáveis, garantindo, assim, aumento da produtividade,
redução de custos e, por conseguinte, maior competitividade da
produção do açúcar alagoano.
Graças aos estímulos fornecidos pelos governos federal,
estadual e municipal no período de 1970 a 1980, a agroindústria
do açúcar cresceu 146%. Alagoas, apesar de ser um Estado
pequeno, igualando-se nisso a Pernambuco, foi o maior produtor
de açúcar e álcool do Nordeste em 1981, possuindo 31 usinas e
produzindo 24 milhões de sacas de açúcar.

64 Fernando José de Lira


Para se ter idéia da expansão da atividade açucareira no
período militar, a tabela 2.1 mostra que, em 1971, Alagoas
produzia q u a s e 10 m i l h õ e s de sacas. Cinco a n o s d e p o i s ,
aproximava-se de 12 milhões e, em 1981, com 31 u s i n a s ,
alcançava mais de 24 milhões de sacas de açúcar.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 65


TABELA 2.1 - Alagoas: evolução da produção de açúcar
no período de 1970 a 1980.
continuação

PRODUÇÃO EM SACAS DE 60 kg

USINA 1971 1976 1981

224.577 222.833 685.333

B1TIT1NGA 305.353 546.504 742.469

BOA SORTE 145.261 -

CACHOEIRA

DO MEIR1M 169.070 175.800 482.703

CAMARAGIBE 312023 226.180 847.871

CAMPO VERDE 218.103 -

CAETÉ 312.460 682.756 1.326.574

CANSANÇÃO

DE SINIMBU 504.238 507.020 1.121.568

CAPRICHO 528.454 535.526 847.871

CENTRAL LEÃO 708.841 644.950 1.502.224

CONCEIÇÃO DO PELXE 305.360 333.775 359.206

CORURIPE 675.810 838.096 2.OOI.505

GUAXUMA 305.952 1.021.207

JOÃO DE DEUS 286.830 314.190 503.106

LAGINHA 620.540 662.845 1.101.207

0URICLR1 502.496 394.590 1.014,261

PORTO RICO IO9.225 127.940 795.881

ROÇADINIIO - - -

SANTA AMÁLIA 228.313 - -

SANTA CLOTILDE 360.188 314.720 811.230

66 Fernando José de Lira


conclusõo

USINA 1971 19-6 1981

SANTAN\ 471.852 447.230 332.443

SANTO ANTONIO 313 253 850.157 1.385.467

SÃ0S1MEÃ0 ¡72.110 391.945 SOS.-IH)

SERESTA 256.827 1.014.322

SERR\ GRANDE 553 900 558.900 782.536

SUMAÚMA 84.352 293 735 414.420

TAQUARA 186.680 265.600 89.900

TERRANOVA 213.150 241.046 761.469

TRIUNFO 726.105 560.967 1.474.902

URDBA 30" 186 358.812 843.477

TOTAL 9.856.120 11.820.917 24.317.811

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 67


FIGURA 2.1 - Vista das instalações da usina Porto Rico,
localizada no município de Campo Alegre.

FIGURA 2 . 2 - Cana-de-açúcar plantada pela usina


Porto Rico em área plana do Agreste de Alagoas.
A facilidade de financiamento permitiu essa
expansão.

68 Fernando José de Lira


Outro programa de subsídio à cana-de-açúcar, criado pelo
governo federal em 1971, para modernizar a atividade açucareira,
foi o chamado Programa de Melhoramento da Cana-de-Açúcar
(PLANALSUCAR). Ele estaria mais voltado para atender às
necessidades da modernização da atividade açucareira do
Nordeste, que não era competitiva em face da produtividade
paulista e internacional.
Para essa tarefa, foram criadas estações experimentais em
todos os Estados produtores, destinadas a pesquisas industriais
e agrícolas para o aumento da produtividade. O programa, porém,
estava voltado para atender aos grandes latifundiários que,
gozando de altos subsídios, não tinham qualquer interesse em
modernizar suas atividades, pois não estavam preocupados com
produtividade, mas, sim, com compra de terra que, além de
aumentar a produção, servia de reserva de valor.
Esse programa (financeiramente caro para o País) partia
do principio dc que o Brasil era um dos poucos países em condições
de atender à nova demanda mundial de açúcar, que começava a
aumentar significativamente. Estimava-se que, em 1980, o mundo
precisaria de pelo menos 24 milhões de toneladas a mais do produto
do que em 1970. Contrariamente ao pressuposto, essa demanda
começou a cair no mercado internacional. Não tendo o que fazer
com o grande excedente de produção, a partir do início da
segunda metade da década de 70, os usineiros pressionaram o
governo para a criação do Proálcool.
Criado em 1975, o Proálcool serviu apenas para absorver
esse excedente que, na visão do IAA, deveria ser colocado no
mercado internacional. Como essa produção era obtida em
condições de baixa eficiência, só poderia ser absorvida se o álcool
fosse vendido a preços elevados.
Isso foi perfeitamente possível porque o preço da gasolina
dobrou no mercado internacional e, nessas condições, o Proálcool
viabilizou-se como um programa de salvação da agroindústria

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 69


canavieira nacional, muito particularmente dos Estados e das
regiões de baixa produtividade agrícola e industrial.
Assim, a agroindústria canavieira foi, no Brasil, a grande
beneficiária dos elevados aumentos dos preços do petróleo,
ocorridos em 1974 e em 1979. Tanto isso é verdade, que quase
toda a produção de álcool passou a ser derivada da cana. Para
Carvalho (2000, p.80), o Proálcool teve três períodos claros. O
primeiro, de 1975 a 1979, com expansão moderada da produção,
quando, através do financiamento da montagem e ampliação das
d e s t i l a r i a s a n e x a s às u s i n a s e x i s t e n t e s , a u m e n t o u - s e
significativamente a área tradicional de açúcar e destilação de
álcool anidro, para ser misturado à gasolina.
No segundo período, que vai de 1980 a 1985, elevou-se
substancialmente a produção de álcool hidratado para uso em
motores a álcool, porque houve a montagem de destilarias
autônomas, localizadas nas novas plantações de cana, em regiões
anteriormente ocupadas por outra cultura.
O terceiro momento diz respeito ao período de 1986 a 1990,
quando ocorreu uma forte e crescente desaceleração do programa,
pois o governo federal já havia gasto 7 bilhões de dólares com o
P r o á l c o o l , o b t e n d o resultados e c o n ô m i c o s e s o c i a i s
excessivamente limitados.
Como afirma Carvalho (2000, p.24), durante o período de
1975 a 1990, o setor alcooleiro alagoano ampliou sua capacidade
produtiva com mais de 20 destilarias anexas e 9 autônomas e
triplicou sua área plantada com cana-de-açúcar.
O Proálcool veio, assim, estimular a criação de destilarias
anexas e autônomas. O financiamento altamente subsidiado fez
com que a produção de cana para álcool passasse de 666 mil
toneladas, em 1976, para 19 milhões de toneladas, em 1981.
Essa produção de cana para álcool ficou quase que restrita
aos grandes usineiros, porque a expansão fundiária que fizeram,
de 1930 a 1970, permitia-lhes uma grande capacidade de extensão

70 Fernando José de Lira


dos seus canaviais e a construção de destilarias autônomas em
suas propriedades, ou de destilarias anexas em usinas já existentes.
No caso de Alagoas e Pernambuco, a produção de cana
saiu dos limites da Zona da Mata e chegou a avançar em direção
ao Agreste, onde gerou os mesmos problemas sociais que já havia
causado na Zona da Mata e em parte do Litoral.
Portanto, durante aproximadamente dez anos, o Proálcool
foi o programa que, através de recursos subsidiados e da abertura
do m e r c a d o i n t e r n o , p e r m i t i u uma n o v a e x p a n s ã o dos
latifundiários. Muito particularmente no Estado de Alagoas, onde
não havendo muita terra ociosa, esse processo decorreu com a
expropriação de pequenos e médios produtores do Agreste, que
se ocupavam na cultura de produtos agrícolas de subsistência, a
exemplo do feijão e milho.
O Proálcool, que nasceu decorrente daqueles dois grandes
aumentos do petróleo no mercado internacional, tinha como
objetivos reduzir a compra de gasolina pelo governo brasileiro e
criar mais empregos no Brasil, no Nordeste e em Alagoas.
A realidade foi bem diferente: não foi aprovada nenhuma
proposta para que Alagoas produzisse álcool a partir da
mandioca. Até mesmo as minidestilarias tornaram-se inviáveis,
mas foram numerosos os projetos de produção de álcool em
grandes destilarias anexas às usinas ou autônomas. Com todos
esses incentivos, Alagoas passou, em pouco tempo, a ser o
primeiro produtor de cana do Nordeste, superando Pernambuco.
De acordo com Andrade (1999, p.150), o crescimento das
usinas de Alagoas foi tão grande, nas décadas de 70 e 80, que as
safras de 1987/1988, no Estado, produziram mais de 26 milhões
de sacas de açúcar de 50kg, sem um competente planejamento.
Esse avanço sobre as terras agricultáveis do Estado foi tal, que as
usinas passaram, também, a possuir terras no Agreste, onde os
índices pluviométricos são inferiores a 1500mm de chuvas por
ano, acarretando sérios problemas nos anos de seca.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 71


Ainda de acordo com Andrade (1997, p.82), toda a produção
de açúcar, bem como as terras que produziam a maior parte desse
açúcar, eram de propriedade de apenas 24 famílias. Em 1988, a
família Bezerra de Melo era dona da Usina Santana e da destilaria
Santana; a farnília Canuto, dona da Usina Terra Nova; a família
Coutinho Dias Lins tinha a Usina e destilaria Sinimbu; os Jatobás
tinham a Usina Serra Grande; a Leão era dona da destilaria Roteiro,
bem como da Central Leão e destilaria Leão; a Lyra, dona das Usinas
Taquara e Ouricuri e destilaria Ouricuri, a quem pertenciam a Usina
e destilaria Mirim, Usina e destilaria Cachoeira, Usina e destilaria
Caeté, Usina e destilaria Guaxuma, Usina e destilaria Laginha; a
família Maranhão possuía a Usina Uruba, a Usina e destilaria Santo
Antônio e a Usina Camaragibe; a família Moreira tinha a Usina
João de Deus; a família Oiticica, dona da Usina e destilaria Santa
Clotilde; a família Omena, dona das Usinas e destilaria Alegria,
São Simeão e Bititinga; os Sarmentos tinham a Usina e destilaria
Conceição e Usina Peixe; os Sampaios eram donos da Usina e
destilaria Roçadinho; os Tenórios tinham as Usinas e destilarias
Triunfo e Porto Rico; os Toledos eram donos das Usinas Capricho
e Sumaúma, que também eram destilarias e eram ainda donos das
destilarias Paisa e Massiape; as famílias Uchoa e Wanderlei, donas
da Usina e destilaria Coruripe e das destilarias Camaçari e São
Geraldo; os Vasconcelos, os Vilelas e Gomes de Barros, donos da
Usina e destilaria Seresta.

Assim, em 1988, em Alagoas, 24 famílias eram donas de mais


de 70% de todas as terras agricultáveis do Estado, de 27 usinas e
de 30 destilarias. Em todo o Estado existia apenas uma destilaria
que não era propriedade de famílias tradicionais de senhor de
engenho de Alagoas e Pernambuco, a destilaria de Pindorama,
que pertencia a uma cooperativa de pequenos produtores.
Como vimos, a produção açucareira do Nordeste defrontou-
se basicamente com três grandes dificuldades: a primeira diz
respeito à perda do mercado internacional, que foi substituído

72 Fernando José de Lira


pelo m e r c a d o interno; a segunda deriva da e x p a n s ã o da
produção de açúcar em São Paulo, que passa a concorrer com o
açúcar nordestino. Finalmente, a terceira d e c o r r e da
incapacidade secular de se m o d e r n i z a r nos p a d r õ e s da
competitividade internacional. Para manter-se como atividade
agroindustrial, tem necessitado de ajuda permanente dos
governos federal, estadual e até municipal.
Como sabemos, a partir de 1985, na conjuntura de divida
externa elevada, gastos excessivos com subsídios, inflação alta e dívida
interna crescentemente assustadora, associada à crise internacional
de escassez de recursos, o governo federal não tinha como financiar,
sequer, as suas despesas correntes e iniciou um processo de corte de
gastos, alcançando a agricultura de modo particular.
Como a agroindústria do açúcar do Nordeste não soube
aplicar o volumoso montante de recursos que foi colocado à sua
disposição, nos diversos programas adotados pelo governo fed-
eral, a atividade permaneceu com baixa p r o d u t i v i d a d e .
Aumentou a área plantada, mas passou a sofrer a concorrência
do açúcar do Sudeste, que entrou no mercado nordestino.
Nesse sentido, o fim do IAA e do Proálcool, a extinção do
Planalsucar, a liberação das cotas e a possibilidade de liberação
de preços levaram a agroindústria açucareira a uma crise longa e
sem precedente, nos últimos 50 anos, somente mais grave no
Estado de Alagoas, que depende basicamente da cana-de-açúcar
para manter o comércio, a indústria, a infra-estrutura, o emprego
e os serviços essenciais demandados pela população.
Como a crise está na estrutura da produção açucareira do
Nordeste, à medida que o governo vai liberando o mercado de
açúcar, reduzindo os subsídios e permitindo uma maior
concorrência, aumentam as dificuldades para encontrar-lhe
alternativas, a não ser usar o velho argumento dos benefícios
sociais que a atividade gera, pressionando o governo a voltar a
subsidiar especificamente a produção de açúcar ou de álcool.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 73


Suas reivindicações de cunho excessivamente protecio-
nista não cabem mais num ambiente nacional de elevada
competitividade e modernização da atuação do setor público.
Principalmente, frente a um processo de globalização, que exige
uma crescente abertura comercial e um novo padrão de atuação
do Estado.
É s a b i d o que, a partir de 1 9 9 0 , o g o v e r n o v e m
intensificando a abertura comercial, acabando com os subsídios,
r e d u z i n d o d r a s t i c a m e n t e a p a r t i c i p a ç ã o do E s t a d o ,
descentralizando suas ações e adotando os critérios universais
de desenvolvimento. Isso significa a criação de um ambiente lib-
eral para as empresas e consumidores, onde o mercado e a
competição são os grandes responsáveis pela orientação do
comportamento das atividades agrícolas e não-agrícolas, bem
como do desenvolvimento nacional.
Assim, a partir do governo Collor e, principalmente, do de
Fernando Henrique Cardoso, o setor agrícola vem sendo liberado
à competição e o Estado vem deixando de atuar de forma
paternalista. Como a agroindústria do açúcar vinha adotando um
sistema de produção em que os lucros e sobrevivência de suas
atividades dependiam da ampla e irrestrita proteção do Estado
sua crise vem se aprofundando e, aproximadamente há 15 anos,
o setor vem debatendo-se com dificuldades, sem condições de se
moldar ao novo ambiente econômico liberal e globalizado. Nos
períodos de recuperação dos preços internacionais favoráveis ao
açúcar, essa crise é temporariamente aliviada.
Carvalho (2000, p.27) afirma que "a falta de recursos do
governo federal põe em cheque o modelo de sobrevivência da
agroindústria açucareira, que tinha como principal pilar as
subvenções, inviabilizando as políticas de transferência de
recursos públicos para outras atividades agrícolas e n ã o -
agrícolas".

74 Fernando José de Lira


FIGURA 2.2- Cana-de-açúcar plantada pela Usina
Porto Rico em área plana do Agreste de Alagoas.
A facilidade de financiamento permitiu essa
expansão, 88.

FIGURA 2 . 3 - Fazenda São Luiz, pertencente à Usina


Ouricuri, no município de Atalaia, considerada pelo
INCRA como terra improdutiva, pois, com o fim do
Proálcool, entrou em crise financeira, deixou de
produzir cana-de-açúcar e, em 1999, foi ocupada
pelos trabalhadores rurais sem-terra.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 75


A importância desses subsídios para a sobrevivência da
atividade açucareira pode ser medida pelo valor total transferido para
a região Nordeste, entre os anos 1974 a 1985, da ordem de U$$ 2,2
bilhões de dólares, a título de recursos para equalização de custos.
O novo ambiente institucional, criado a partir da inserção
do Brasil na economia globalizada, obriga a agroindústria
açucareira a adotar novas medidas estratégicas, diferentes das
que eram praticadas nos períodos colonial, republicano e militar.
O modo usineiro de produzir tem raízes que começaram a
formar-se no século XVI e se aprofundaram nos períodos colonial,
republicano e militar, baseado na mão-de-obra escrava, livre,
abundante e barata, com estoque de terras que geravam os latifúndios,
com uma única mercadoria, o açúcar, e com comércio e preços
garantidos pelo governo, sem correr qualquer risco de prejuízo.
A passagem do engenho bangüê para a usina de açúcar
preservou o modo de produção, as relações com a terra, relações
de trabalho e relações de produção. Estimulou-se uma atitude
conservadora, impedindo que se adotasse, no campo, estratégia
empresarial baseada na inovação tecnológica e, p o r t a n t o ,
dificultou que fossem incorporados novos métodos de produção
e relações de trabalho. Por conseguinte, coibiu que se criassem
as condições de melhoria da qualidade de vida da população e
de emancipação do Estado dessa dependência da monocultura.
C o m o E s t a d o de uma só cultura l a t i f u n d i á r i a , n ã o
diversificou suas atividades agrícolas, inibindo a diversificação
das atividades não-agrícolas nos meios rural e u r b a n o e
bloqueando a possibilidade de formação de um mercado interno,
inclusive para absorver o próprio açúcar produzido na região.
O processo que Pedro Ramos (1999) chama de usineiro
eliminou a alternativa promissora de gerar, no meio rural, uma
classe média importante, além de expulsar um grande número
de pessoas do campo, que passaram a viver no ambiente urbano
e a contribuir para a degradação desse ambiente.

76 Fernando José de Lira


Com essa visão, como demonstra Carvalho (2000, p.50), o
usineiro tem dificuldades de conviver com a desregulamentação
do setor, ocorrida a partir de 1990, ainda que mantidas antigas
práticas, como a fixação de cotas, o planejamento de safra e a
equalização de custos.
Nesse novo cenário econômico de liberação de preços do
açúcar cristal, do álcool e da cana e de eliminação das reservas de
mercado para o açúcar nordestino, colocando os principais centros
produtores em competição aberta, os usineiros de Alagoas
começaram a reduzir sua produção. Algumas usinas faliram,
agravando a situação econômica, social e financeira do Estado.
Nesse período de 1990 a 1999, enquanto o Brasil aumentou
sua produção e suas exportações de açúcar, Alagoas começou a
perder espaço, principalmente para São Paulo, que não chega a
ter produtividade competitiva na esfera internacional.
Para C a r v a l h o (2000, p . 4 0 ) , na safra de 1 9 9 0 / 1 9 9 1 ,
Alagoas produziu 648 mil toneladas de açúcar, caindo na safra
de 1997/1998 para uma produção de apenas 1 mil toneladas.
Isso demonstra claramente que, sem a âncora protetora do
Estado e c o m preços i n t e r n a c i o n a i s b a i x o s , a a t i v i d a d e
canavieira de Alagoas não está preparada para enfrentar a
produção paulista e muito m e n o s a de outros países que
começaram a produzir açúcar de cana muito depois de a cultura
ser instalada em Alagoas.
Portanto, com uma produtividade medíocre que, em alguns
anos, como nos de 1997/1998, chega a 40 toneladas por hectare, a
agroindústria do açúcar não consegue ter vida e musculatura
própria para enfrentar seus concorrentes e contribuir efetivamente
para o desenvolvimento estadual.
C o m o argumenta Carvalho (2000, p.45), c o m graves
problemas de endividamentos e competitividade, com média de
rendimento industrial muito menor do que a de São Paulo e com
produtividade agrícola média significativamente mais baixa do

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 77


que a registrada no Centro-Sul, a atividade açucareira alagoana
passou a viver dias difíceis, com reflexos em todo o Estado.
A desativação de algumas usinas é o primeiro sinal das
dificuldades dos novos tempos, mas o usineiro, mesmo sabendo
que o processo de globalização e desregulamentação é irreversível,
ainda insiste em permanecer atrelado ao modelo de produção
tradicional, derivado do velho engenho bangüê.
Essa c o n c e p ç ã o resiste a q u a l q u e r p r o c e s s o de
reestruturação, como a diversificação das atividades, na qual a
indústria, separada do processo de produção agrícola, força a
m o d e r n i z a ç ã o das atividades a g r í c o l a s e a d i v i s ã o das
propriedades rurais, visando aumentar a eficiência da gerência,
da produtividade, do emprego, da renda, bem como favorecendo
a criação de uma classe média no campo e na cidade.
O modo como estão enfrentando a crise não pode ser
chamado de reestruturação. Fazem-no, ainda, numa visão da
década de trinta, quando o aumento da área cultivada seria a
solução para transformar o engenho bangüê em usina, salvando
os senhores de engenho da nova crise dos antigos paradigmas
de produção.
A f u s ã o de usinas, a c o n c e n t r a ç ã o da p r o d u ç ã o via
associação cooperativa ou o aumento da área cultivada, através
da compra de usinas menores, não resolvem a questão de fundo
da crise da a g r o i n d ú s t r i a a ç u c a r e i r a que é a de b a i x a
produtividade agrícola e industrial, decorrente de práticas
agrícolas e gerenciais atrasadas, bem como da ausência de
variedades de cana mais adaptadas e produtivas.
A g l o b a l i z a ç ã o , que se a s s e n t a n u m a n o v a m a t r i z
tecnológica, na desregulamentação dos mercados e na produção
flexível, m u d o u completamente os paradigmas de gestão,
p r o d u ç ã o e, s o b r e t u d o , de c o m e r c i a l i z a ç ã o . A i n o v a ç ã o
tecnológica e a diversificação das atividades competitivas são as
novas bases dessas mudanças. Muitos autores chegam a afirmar

78 Fernando José de Lira


que estamos vivendo uma terceira revolução industrial e de cos-
tumes. Significa dizer que saímos da fase de extração de riqueza
para a de utilização de inovações capazes de produzir riqueza.
O método extrativista, baseado no grande latifúndio,
utilizado em larga escala pelos usineiros de Alagoas, está
ultrapassado desde a década de 50. Portanto, o desafio que se
coloca para os usineiros e, por extensão, para a sociedade alagoana
é o de encontrarem meios que lhes permitam a redução drástica
de custos, através da geração, adaptação e adoção de novas
tecnologias, capazes de modernizarem a produção, diversificarem
os produtos e melhorarem a gestão. Esse é um esforço de
reestruturação produtiva e gerencial que, para obter resultados
satisfatórios, exige muitos investimentos em ciência e tecnologia,
além de requerer um tempo mínimo à sua maturação.
Considerando que o governo criou, nos anos 60, 70 e 80, os
vários programas de modernização da atividade canavieira,
visando um aumento da produtividade para atender à demanda
do mercado internacional, mas que os usineiros de Alagoas
usaram os recursos para comprarem terras e, assim, aumentarem
a produção com métodos ultrapassados, fica difícil acreditar que
o setor privado da área açucareira use os próprios recursos para
bancar pesquisa agrícola e industrial, viabilizando o aumento da
produtividade e a diversificação das atividades, com todos os
riscos que esse processo de criação, adaptação e adoção de
tecnologia assume.
As práticas dos usineiros, longe de serem um verdadeiro
processo de reestruturação, têm sido a via tradicional de usarem seu
poder político local, regional e nacional para exigirem do governo
proteção dos seus interesses. Para isso, têm colocado o problema
estrutural da sobrevivência da atividade canavieira como uma questão
eminentemente social e como principal contribuinte do Estado.
Essa justificativa, por mais absurda que possa parecer à
visão técnico-científica baseada nos novos paradigmas é, em

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 79


parte, verdadeira. A crise crescente da produção de açúcar
tem reflexos absolutamente indesejáveis para o Estado e para
o conjunto da sociedade.
Todavia, não podemos cair nesse ciclo vicioso de que o
Estado tem dificuldade de se desenvolver porque vive da
monocultura da cana-de-açúcar que, com suas práticas agrícolas
atrasadas e forma de produção à base do latifúndio, bloqueia
outras alternativas mais viáveis de uso dos recursos naturais e
financeiros de modo mais desejável. Por seu turno, a crise
estrutural desse modelo tradicional de produção pode ser mais
danosa à sociedade alagoana do que a sobrevivência artificial dele.

2.2 - Os proprietários do poder


Em Alagoas, as elites têm desempenhado um papel bastante
claro, quando da definição do caráter estadual como sendo uma
projeção de sua imagem, conforme Silveira (1984, p.30).
Quanto ao conceito de elite, ele pressupõe poder, influência,
responsabilidade pelos resultados de suas decisões e ações, sendo
que é a classe que dispõe dos meios de acelerar ou retardar os
processos de mudanças sociais (CASTRO, 1992, p.52).
C o n s i d e r a n d o que a prática das elites insere-se na
determinação da consciência de sua classe social, temos que, em
sendo dotada dessa consciência, ela desenvolve uma ação histórica
importante, em termos de seus interesses (MOTTA, 1979, p.10).
Quanto maior for sua autonomia em relação ao conjunto da
sociedade, mais facilmente determinará sua ação, conduzindo os
fatos políticos e econômicos no sentido de atender a seus interesses.
Desde que foi emancipada, Alagoas sempre representou
o grande guarda-chuva protetor de suas elites. Assim, logo após
sua emancipação, a elite agrária capturou o Estado num processo
com a qual ele quase se confunde, manipulando-o largamente e
sendo acobertada pelo manto da proteção estatal. Desse modo,

80 Fernando José de Lira


os recursos federais e estaduais são apropriados e controlados
por essa elite local, com o intuito de manter suas atividades
econômicas e consolidar o seu poder político, pois objetiva a
manutenção de um sistema arcaico de produção e dominação,
assentado no coronelismo.
Logo, com a emancipação política do Estado de Alagoas,
o poder agrário assume também o poder político, pois o
latifundiário, com o poder econômico, social e religioso que
ostentava, determinou sua área de interesse e dominação, o
que lhe permitia o privilégio de impor o modo de produção e
de vida à sociedade de todo o Estado, inclusive indicando os
candidatos a serem votados. Desse modo, nasce em Alagoas
uma f o r t e e l i t e p o l í t i c a , l i g a d a b a s i c a m e n t e a o p o d e r
agropecuário dos coronéis, objetivando d e f e n d e r seus
interesses imediatos.
O sistema imposto por essa minoria sobre uma maioria
d o m i n a d a elabora u m c o n j u n t o d e p a d r õ e s s o c i a i s q u e
corresponde aos seus ideais, interesses e aspirações, utilizando o
aparelho do Estado para fazer a legitimação deles.
Como o modelo político presente em todo o Estado apoia-
se na oligarquia ligada, basicamente, ao poder agrário, essa forte
aliança tácita elimina toda e qualquer ação voltada para o aumento
da produtividade, para a distribuição da renda, bem como da
educação no campo e na cidade. Trata-se, na verdade, de uma
elite cuja visão dominante é aquela presente no período colonial,
que se encontra totalmente alheia às m u d a n ç a s que estão
ocorrendo no Brasil e no mundo, na produção e comercialização
de bens e serviços, nas relações de trabalho, na distribuição de
renda e no desenvolvimento humano.
Como se vê, da Colônia à República de hoje, a elite agrária
constitui-se numa importante força dominadora, presa à sua
reprodução econômica por mecanismos de controle exclusivo da
terra, do a n a l f a b e t i s m o e de i n c e n t i v o s e s t a t a i s , não

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 81


d e s e m p e n h a n d o , propriamente, uma força social com um
projeto de desenvolvimento para o Estado.
Esse poder agrário, que tem uma participação importante
na definição das prioridades econômicas e sociais, na realidade
nunca se preocupou em possuir sequer um projeto agroindustrial
moderno e, portanto, não faz parte das suas preocupações
produzir mais e melhor, por ser detentor dos instrumentos
tradicionais de poder.
Assim, o processo de produção do espaço de Alagoas é
feito em benefício de uma pequena fração da população, de uma
oligarquia que estruturou o seu sistema de poder a partir do
período colonial, revelando-se bastante hábil para permitir a
p o s s i b i l i d a d e de ascensão de p e s s o a s ou grupos s o c i a i s
enriquecidos para conviver com eles, desde que não ameacem a
sua estrutura de poder.
Nas relações da classe proprietária com a não-proprietária
dos meios de produção agrícola, está a base do poder político
agrário que orienta a reprodução do espaço sob sua dominação,
de acordo com a lógica dos interesses dessa elite dominante
(CAVALCANTE, 1981, p.21).
Nesse sentido, o modelo agrícola adotado em quase todo o
interior de Alagoas, herdado do período colonial, é, também, um
modelo fechado, com pequena ou quase nenhuma capacidade
de absorver tecnologia, o que, mesmo nas condições de existência
de crédito abundante e subsidiado, não permitiu que a grande
maioria dos agricultores deixasse a condição de subsistência e
avançasse para uma agricultura moderna, agroindustiializada,
capitalizada e competitiva.
C o m e s s e c o n s e n s o , o p o d e r político o l i g á r q u i c o ,
espraiando-se por todo o Estado de Alagoas, constitui-se numa
forte camisa-de-força que, historicamente, tem condenado a região
a uma situação de relativo atraso econômico e social. Como se
trata de um poder com raízes profundas no coronelismo, o modo

82 Fernando José de Lira


de produção, as relações de trabalho e sociais não mudam e,
por isso mesmo, têm hoje os mesmos grandes e graves problemas
que existiam no século passado.
Essa oligarquia p o l í t i c a que, h á s é c u l o s , v e m
determinando os destinos de Alagoas, ainda hoje possui um poder
político m u i t o forte, m a s , na verdade, esgotado nas suas
possibilidades de propor soluções minimamente viáveis, frente
aos novos paradigmas que norteiam a economia mundial e as
sociedades modernas. Fechado em si mesmo e firmado em um
consenso restrito a um pequeno segmento da população, pouco
pode fazer para dotar Alagoas de um processo de modernização
a m p l o e i r r e s t r i t o , q u e e l i m i n e os p r i n c i p a i s p o n t o s de
estrangulamento, tais como: alta taxa de analfabetismo; elevada
concentração da terra; baixa produtividade; mau gerenciamento
das propriedades agrícolas e das empresas; aumento progressivo
da concentração de renda; falta de oportunidade de emprego para
os jovens e para os trabalhadores em geral; miséria e pobreza
que afetam o grosso da população, alcançando principalmente
as crianças e as mulheres.

Ao longo da história econômica e política de Alagoas, a


preservação da estrutura agrária e de poder político mostra que
sua elite soube tirar proveito das mudanças históricas, abrindo
novos espaços políticos na dependência interna, de forma que as
mudanças económicas centralizadas e promovidas no Nordeste
pelos capitalistas do Sudeste, no período de 1960 a 1990, não lhe
afetassem tal estrutura.
Esse poder político, que privilegia uns poucos e marginaliza
mais da metade do grosso da população, no que diz respeito aos
resultados da riqueza gerada no Estado, é essencialmente um
poder arbitrário, porque gera todo tipo de v i o l ê n c i a e de
discriminação no seio da sociedade. Desse modo, a estrutura so-
cial, marcada historicamente pela elevada concentração de riqueza
e
de poder político, quase não se tem alterado, garantindo a

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 83


predominância de suas elites de tal modo que todos os poderes
constituídos estão subordinados aos antigos interesses, não
cumprindo a função social que lhes cabe, diferentemente do que
ocorre em outros Estados do País.
A s s i m sendo, podemos dizer que a persistência das
condições estruturais, apesar da modernização de alguns setores
e da recente elevação da taxa de crescimento do seu produto,
r e g i s t r a d a n o s ú l t i m o s trinta e c i n c o a n o s , d e c o r r e da
conservação da estrutura de poder da classe dominante. Este
quadro de poder sustenta-se graças a uma clara aliança entre
as elites estaduais e regionais, que acaba por definir a estrutura
política e social que mantém o equilíbrio da região.
O Estado de Alagoas é, historicamente, visto como carente
de recursos, o que implica na solução freqüentemente proposta
da necessidade de apoio e recursos do governo federal. Essas
reivindicações são dirigidas à União e têm como destino o
fortalecimento dos órgãos de desenvolvimento regional que
atuam no Estado, bem como das elites.
Essa elite política, que é formada predominantemente por
empresários agrícolas e profissionais liberais (CASTRO, 1992,
p.60), tem o controle, na esfera local, da burocracia municipal,
estadual e federal e, desse modo, tem desempenhado um papel
importante no processo histórico e na formação social de Alagoas,
também se fazendo presente nos órgãos de ação regional,
visando defender seus interesses.
Considerando que a visão do homem comum, na sua maioria
analfabeto, é extremamente limitada e facilmente manipulada, as
elites, ao definirem seus interesses, passam à sociedade a idéia de
que os maiores beneficiários de suas reivindicações são as pessoas
necessitadas e a sociedade como um todo.
Nesse sentido, as elites agrárias e quase todo o empresariado
fazem valer o poder que possuem para serem os primeiros
beneficiários das políticas dos governos federal, estaduais e

84 Fernando José de Lira


municipais, porque fazem a população acreditar que sem eles
estariam todos perdidos, sem emprego, sem renda, sem habitação
e sem saúde, etc.
Por outro lado, os políticos de Alagoas a t r i b u e m as
diferenças entre as regiões mais desenvolvidas economicamente
e o Nordeste às relações desvantajosas que este mantém com
aquelas e à maior atenção que o governo federal dispensa ao
Sudeste, em detrimento do Nordeste. Para eles, as disparidades
regionais são causadas pelas perdas impostas a esta região, em
benefício daquelas outras.
Como o governo federal é, na verdade, a fonte de onde
p r o v ê m as v e r b a s , o c a n a l u t i l i z a d o para c o n d u z i r as
reivindicações de recursos, de investimento ou de créditos
especiais para as necessidades de Alagoas, colocado de uma
perspectiva regional, teria muito mais impacto. Desse modo, a
força da abrangência regional, nas solicitações diversas ao governo
federal, é coerente com a forma de participação do segmento
dominante no poder.
Assim, a burguesia agrária do Estado de Alagoas percebeu
claramente, a partir dos anos cinqüenta, que a abordagem dos
seus problemas, nesse molde, impunha-se como condição de
contrapartida política, pois, como o apoio ao governo federal só
tinha sentido em bloco, as reivindicações feitas pela região
ganhavam mais visibilidade e responsabilidade por parte do
governo federal do que as encaminhadas solitariamente.
É assim que os problemas do setor agrícola são colocados
com freqüência, como questão das mais importantes no âmbito
da União. À medida em que o tempo vai passando, a discussão
deles vai perdendo a importância municipal e estadual, para ser
tratada regionalmente. Nesse sentido, a problemática agrícola foge
da esfera particular dos interesses localizados e dirige-se para a
dos interesses de classe, pois diante do contexto das disparidades
regionais, passou a ter cada vez mais importância no cenário

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 85


político do País. A municipalização ou estadualização dos
interesses econômicos significava um enfraquecimento das elites
de cada Estado.
C o n s i d e r a n d o ainda q u e , a partir dos a n o s 6 0 , a
modernização da agricultura brasileira não teve a mesma
intensidade em todo o território nacional, o Nordeste que,
tecnicamente, ficava cada vez mais defasado em relação ao
Sudeste, estabeleceu progressivamente as suas reivindicações
regionais, como veículo político mais adequado para conduzir as
reclamações de uma classe produtora, emaranhada nos problemas
de uma economia agrícola de produtividade muito baixa, pouco
rentável e socialmente perversa.
Assim, a explicação para a pobreza, analfabetismo, baixa
produtividade, seca e enchentes afasta-se das relações sociais
da produção ou das condições climáticas e de educação, sendo
o q u a d r o c o m p o s t o por um forte a r g u m e n t o de q u e são
problemas da região e, portanto, os apelos, solicitações e
exigências de recursos devem ser ancorados por uma atuação
política junto ao governo federal.
No Nordeste, as secas têm-se revelado como o melhor pano
de fundo para o jogo de cena das articulações políticas das elites.
Na verdade, desde o século passado, os representantes nordestinos
aproveitam e usam as secas como meio de conseguir recursos e
investimentos governamentais para a região Ferreira (1982, p.30).
Essa é, porém, apenas uma face da indústria da seca. A outra, de
dimensão local, é o desvio direto das verbas de socorro às vítimas
da seca, que passam a ter as mais diferentes aplicações, segundo
Ferreira (1982, p.30). O fenômeno da seca respaldou, historicamente,
as relações políticas regionais, que definiram, internamente, na
região, a direção dos favores e privilégios e, externamente, a
inclinação dos acordos e adesões políticas no plano nacional.
Os períodos de seca são aqueles em que se fazem mais
solicitações de recursos. Isto seria perfeitamente justificável se já

86 F e r n a n d o J o s é d e Lira
não houvesse soluções técnicas para as questões climáticas da
região; se os recursos fossem solicitados para resolvê-las de fato;
se fossem efetivamente aplicados para solucionar os problemas
dos grupos sociais mais atingidos pela falta d'água e de educação;
e se a problemática estadual fosse realmente provocada pelas
estiagens periódicas.
Segundo Iná de Castro (1992, p.80), em estudo que realizou
sobre o Nordeste em 1992, desde 1946, o tema mais freqüente
nos d i s c u r s o s dos p o l í t i c o s foi a seca q u e , j u n t o com o
analfabetismo, faz parte das estratégias de reivindicação de
recursos junto ao governo federal.
Para a União, no entanto, a variedade de órgãos, planos e
programas e a propaganda de destinação de recursos aos
flagelados da seca e ao combate ao analfabetismo servem para
prestar contas à Nação e para demonstrar a preocupação com
essa parte do território nacional, ao mesmo tempo em que
assegura a essa esfera governamental o apoio político necessário.
Assim sendo, a elite de Alagoas e suas coalizões formam
um quadro regional cuja composição pode variar do clientelismo
à concentração de renda, passando pelo paternalismo e o
analfabetismo, sem que qualquer tipo de dirigismo transformador
tenha real possibilidade de se impor.

2.3 - Um padrão de crescimento excludente


Sabemos que o desenvolvimento de uma economia nacional,
regional ou estadual deve ser compreendido como sendo um
processo em que sua estrutura esteja sofrendo transformações
importantes e, associado a isso, também se registre um incremento
quantitativo do produto ou da renda per capita. Assim sendo, essa
estrutura em transformação diferencia o desenvolvimento do
crescimento econômico, que nada mais é do que o incremento
Quantitativo do produto ou da renda, sem registro de mudanças

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 87


estruturais na economia. Foi isso justamente o que ocorreu com a
economia de Alagoas no período 1600 a 2000.
Portanto, pode-se afirmar que, apesar de o processo de
destruição, criação e recriação ser próprio do desenvolvimento
capitalista, a forma como ele se efetiva apresenta especificidades
decorrentes de diferentes formações históricas, econômicas e
políticas, e de graus de modernização. Desse modo, mesmo
considerando que as formas de atividades pouco desenvolvidas
resultam do movimento do capital e são explicadas por esse
movimento, o desenvolvimento desses sistemas de produção dá-
se diferenciadamente, de acordo com determinantes políticas e
e s t r u t u r a i s da e c o n o m i a l o c a l , pois um p a d r ã o de
d e s e n v o l v i m e n t o c o n s t i t u i - s e n u m a opção e s t r u t u r a l
socioeconómica concreta. E, ao mesmo tempo em que possui
determinantes gerais próprias do modo de produção capitalista,
apresenta determinantes específicas, ditadas pela conformação
política, histórica, estrutural, ou seja, do ponto de vista da
organização e distribuição da produção, pode-se dizer que suas
c o n f o r m a ç õ e s atuais são r e s u l t a d o dos p a d r õ e s de
desenvolvimento do passado, definidos pelas elites (DEDECCA,
1990, p.40).

Possuindo um quadro econômico, político, social, religioso


e cultural bastante limitado, Alagoas tem muita dificuldade de
definir um padrão de desenvolvimento que resulte num processo
de homogeneização da produção, do emprego e da renda. O padrão
adotado em todo o Estado é o modelo agrícola herdado do
coronelismo, assentado basicamente na monocultura de exportação.
Nesse modelo, a produção é extensiva, a produtividade muito
baixa, as relações de trabalho são praticamente feudais, e a
participação do Estado é indispensável, sob as formas de apoio
político e de todo tipo de estímulo agrícola e financeiro.
O Estado de Alagoas ainda é um espaço essencialmente
agrícola, e a monocultura para exportação é a a t i v i d a d e

88 Fernando José de Lira


p r e d o m i n a n t e no m e i o rural. As o u t r a s a t i v i d a d e s
agropecuárias, quando não são praticadas para subsistência,
têm presença muito limitada. A monocultura da cana-de-açúcar,
pela sua p r ó p r i a n a t u r e z a , exige terras f é r t e i s e só é
economicamente viável, quando cultivada em grandes
extensões. Ela é responsável pela consolidação do padrão
elevado de concentração da posse da terra, que por sua vez
gerou, na sociedade alagoana, uma grande desigualdade social,
um b a i x o nível de e m p r e g o e um e x c e s s i v o grau de
analfabetismo.
Concentrada na Zona da Mata, na forma de grandes
propriedades, emprega os trabalhadores de modo muito precário,
pagando-lhes salário que não permite sequer adquirirem os
gêneros básicos de subsistência, pois 61,5 % das pessoas ocupadas
nessa atividade recebem renda de até um salário-mínimo. Por
conseguinte, é uma atividade agrícola que, apesar de proporcionar
uma contribuição significativa na composição do produto
estadual, gera empregos de baixa qualidade e tem um efeito na
renda muito baixo.
Essa s u b - r e g i ã o , t r a d i c i o n a l m e n t e v o l t a d a para a
monocultura da cana-de-açúcar, atualmente enfrenta grave crise
econômica e social, decorrente de fatores estruturais. Sua
participação na produção brasileira caiu nas safras 1986/1987 e
1992/1993, enquanto que o Centro-Sul ampliou a sua participação
de 68,72% para 78,69%, nesse mesmo período. A economia
canavieira da Zona da Mata vem perdendo competitividade com
relação ao Sudeste do País, principalmente nas safras 1993/96, o
que vem provocando o desmantelamento parcial da economia
dessa Zona, aumentando o desemprego estrutural e agravando
os problemas sociais do Estado como um todo.
A agricultura, de modo geral, teve um fraco desempenho
na manutenção e criação de emprego, no período 1960/1995.
Enquanto a população total cresceu 1,1% ao ano, entre 1960/

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 89


1970, o nível de emprego teve um incremento de apenas 0,6%.
Em 1970/1980, esses números foram de 0,53 e 0,4% ao ano,
respectivamente. Isso mostra claramente o fraco desempenho
da agricultura de Alagoas, quanto à geração de emprego e renda.
Logo, esse modelo coronelista fechado, bastante concentrador
de renda e poder, quando associado à monocultura, transforma-
se, na verdade, no principal obstáculo ao processo de
desenvolvimento endógeno, sustentado e justo. Por ser um modelo
de consenso muito restrito e de um nível de poupança muito baixo,
acaba por inibir o próprio desenvolvimento capitalista e concorre
para aumentar a defasagem estadual em relação a outros Estados
do Nordeste e do País, pois as oportunidades de emprego, de renda,
de novos investimentos produtivos e de novos mercados são
extremamente limitadas, visto que, de certa maneira, o
empresariado estritamente local é constituído pelos usineiros que,
quando diversificam seus investimentos, voltam-se mais para a
especulação imobiliária e para o mercado financeiro de títulos
públicos do governo federal.
Esses fatores característicos, que fazem de Alagoas um dos
Estados mais atrasados do País, são elementos fortes na sua própria
formação econômica e política e, por isso mesmo, muito dificilmente
poderão ser removidos. Os próprios políticos e empresários gestados
nessa estrutura não têm interesse em alterá-la. Por outro lado, a
população analfabeta, resignada, subserviente e pobre não possui
consciência crítica e condições de estimular a criação de movimentos
sociais capazes de romper com essa estrutura arcaica e perversa.
Portanto, essa situação cria uma miopia generalizada que não
permite à sociedade em geral enxergar saídas factíveis. Assim, a
possibilidade de Alagoas vir a possuir um projeto de
desenvolvimento que seja novo é, praticamente, rrunima.
Nessas condições, a sociedade alagoana, em plena era da
nova revolução tecnológica, que está colocando ao alcance da
s o c i e d a d e a i n f o r m á t i c a , a t e l e m á t i c a e os a v a n ç o s da

90 Fernando José de Lira


biotecnologia, dos novos materiais e de novos paradigmas de
desenvolvimento, parece estar condenada a viver sob o comando
de uma estrutura política, administrativa, produtiva e social que
remonta à época colonial. Não há saídas à vista, a não ser que
choques externos venham provocar transformações estruturais,
capazes de salvar Alagoas dessa armadilha que, há séculos, vem
reproduzindo o analfabetismo, a pobreza, a ignorância, as
desigualdades produtivas e sociais persistentemente.
É possível que os novos paradigmas de desenvolvimento,
ao exigirem a reforma do Estado, a abertura democrática, a
formação de grandes blocos econômicos, a globalização dos
mercados, a revolução tecnológica, a abertura dos mercados à
concorrência; ao promoverem a competitividade em todo o
sistema; ao reduzirem a importância das elites e do poder político
local; ao imporem novos processos de produção e a reestruturação
da administração dos setores público e p r i v a d o , possam
representar um choque externo que venha contribuir eficazmente,
tanto para modificar a base produtiva de Alagoas e eliminar o
modo coronelista de educar, de produzir, de administrar, de
distribuir e de empregar os fatores produtivos, como para afastar,
do novo cenário, os políticos ligados às velhas oligarquias.

Nessa perspectiva, as transformações estruturais de


natureza econômica, política e social, que estão ocorrendo no
m u n d o m o d e r n o , q u a n d o associadas ao p r o c e s s o de
modernização e reestruturação produtiva e social que toma força
na economia brasileira, poderão configurar-se num grande choque
externo, de natureza e intensidade capazes de exigirem da
sociedade alagoana uma nova visão dos problemas locais e, por
conseguinte, uma nova base produtiva e distributiva.
A história recente tem demonstrado que as taxas elevadas
de crescimento do produto estadual devem-se a choques de
natureza externa, pois o perdão fiscal, os subsídios e as facilidades,
que o g o v e r n o federal ofereceu no período 1 9 6 0 / 1 9 9 0 ,

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 91


contribuíram de modo decisivo para efetuar uma relativa
transformação na economia urbana. Todavia, parte significativa
dos recursos e os elementos necessários para gerarem esse elevado
crescimento vieram de fora e, nesse sentido, as poucas indústrias
modernas, ao chegarem ao Estado, não conseguem integrar-se
aos outros setores da economia, gerando poucos empregos e, ao
mesmo t e m p o , aprofundando os problemas de natureza
estrutural responsáveis pelo atraso social crônico.
Nesse sentido, os recursos altamente subsidiados, que
assumem a liderança do mais vigoroso processo de crescimento
já registrado na história econômica recente de Alagoas, não
tinham como objetivo alterar a sua estrutura produtiva, social e
política. Ao contrário, vieram fortalecer as oligarquias políticas,
o coronelismo e o setor agrícola baseado na monocultura. Nessa
perspectiva, recebem incentivos aquelas atividades quase
e x c l u s i v a m e n t e voltadas para p r o m o v e r o c r e s c i m e n t o
econômico, mas com ação muito limitada no campo social, em
relação à transformação da estrutura produtiva e, sobretudo,
no cenário político.
A partir da década de oitenta, com a crise da dívida externa,
o aumento da dívida interna e o início daquilo que viria a ser um
longo processo de inflação com estagnação econômica, o Brasil
entra em déficit fiscal agudo, o Estado brasileiro começa a dar
sinais de esgotamento e, já em 1990, encontra-se completamente
falido. Alagoas (que durante o período de 1960/1986 registrou
taxas de c r e s c i m e n t o do P r o d u t o Interno Bruto que se
assemelhavam às alcançadas pelo País), quando o Brasil e o re-
gime militar entram em dificuldades, tem o seu padrão de
crescimento profundamente afetado por um franco processo de
recessão e, em 1995, com a abertura comercial e a reestruturação
produtiva do setor privado e do aparelho do Estado, esse padrão
entra em colapso e reaparece a velha Alagoas praticamente com
os mesmos problemas que possuía na década de cinqüenta.

92 Fernando José de Lira


P o r t a n t o , fica c l a r o que qualquer m o d e l o de
desenvolvimento, que não altere de modo significativo a estrutura
produtiva e, conseqüentemente, o seu quadro político e social,
está fadado ao fracasso, visto que, em Alagoas, há uma ou duas
famílias tradicionais que se revezam no poder e, há séculos, inibem
o desenvolvimento das forças produtivas, preservando um modo
de produção e dominação coronelista que favorece as elites e
penaliza severamente a sociedade como um todo.

2.4- O aumento da riqueza


Alagoas é um dos poucos Estados do Nordeste que
apresentam um grande potencial de recursos naturais e humanos
capaz de fazer de sua população uma das mais desenvolvidas do
País: possui um litoral extenso e dos mais admiráveis do mundo;
o subsolo é um dos mais ricos em petróleo, gás natural e outros;
a Zona da Mata é uma das mais férteis do Nordeste; o Agreste é
todo ele agricultável, com terras planas e férteis. Comparado com
outros Estados, a área semi-árida é relativamente pequena.
Em Alagoas, a natureza é pródiga, não se registram
terremotos, maremotos, tornados, vulcões ou qualquer anomalia
natural que afete o seu potencial de d e s e n v o l v i m e n t o .
Praticamente só se conta com fatores naturais favoráveis.
Em relação aos recursos humanos, existe um potencial
importante. Desse Estado saem, todos os anos, milhares de
pessoas que, tangidas pela alta concentração da propriedade da
terra, pela elevada concentração de renda e pela ausência de
ocupação, vão gerar riquezas em outros Estados brasileiros. O
número de alagoanos residentes em São Paulo e Rio de Janeiro é
quase igual ao dos que permanecem em Maceió.
Os gráficos 2.1 e 2.2 mostram que, nos últimos 50 anos, a
economia alagoana tem experimentado um c r e s c i m e n t o
econômico vigoroso. Segundo estudos realizados pelo professor

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 93


da FEA/USP Alvaro Zini, de 1939 a 1994, a renda per capita
cresceu 6,2 vezes, um aumento maior do que o registrado em
São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, que elevaram
suas rendas em 4,5, 3,3 e 5,1 vezes, respectivamente. No
Nordeste, superou Pernambuco com 4,1, Piauí, 3,4 e Maranhão,
4.5 vezes.

GRÁFICO 2.1 - Taxa anual de crescimento do PIB


de Alagoas, 1970/2000.

1996/2000 I _J 1.6

TAXA DE CRESCIMENTO ANUAL

IBTAXA DE CRESCIMENTO I

94 Fernando José de Lira


GRÁFICO 2.2 - Crescimento da renda PER CAPITA
no Brasil, 1939 a 1994.

B R E N D A PER CAPITA Q F O N T E : ÁLVARO A. ZINI JR.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas


Em termos de aumento da renda per capita, Alagoas é um
dos Estados mais bem-posicionados no Brasil. Por conseguinte,
quando comparado com o Brasil e, muito particularmente, com o
Nordeste, o Estado experimentou um crescimento econômico
bastante significativo.
Analisando o período mais recente e de maior crescimento
da economia brasileira, que vai de 1970 a 1990, a renda per capita
de Alagoas também elevou-se de modo importante: cresceu 2,7
vezes, chegando a quase triplicar em vinte anos. É um dos maiores
crescimentos registrados na esfera regional, pois a Paraíba
aumentou 2,4, Pernambuco, 2,5, o Nordeste, 2,1 e o próprio Brasil
teve, nesse período, um crescimento de sua renda per capita de
2,1 vezes.
Em relação ao Nordeste, a renda per capita está entre as
melhores: 1.300 dólares; Sergipe, a melhor, representa 2.200
dólares, e o Piauí, a pior, é de apenas 700 dólares, quase a metade
da renda de Alagoas.
Portanto, nos últimos 50 anos e, muito particularmente, no
período que vai de 1970 a 1990, Alagoas registrou um crescimento
econômico (medido pelo aumento de sua renda per capita) bastante
acelerado. Foi um dos poucos Estados do Brasil que mais
enriqueceram no período, chegando a multiplicar sua renda por
habitante em 6,2 vezes.
Isso não só vem confirmar as potencialidades que apresenta,
mas, sobretudo, mostra que, se esse crescimento tivesse sido
resultado de um projeto de desenvolvimento que promovesse a
distribuição de renda, emprego, distribuição da terra e educação,
o Estado, com certeza, teria alterado substancialmente o seu
quadro social, e, por conseguinte, adotado uma estratégia de
desenvolvimento autônomo, ou seja, menos dependente dos
recursos federais. Na verdade, todo esse crescimento foi gerado,
principalmente, pela cana-de-açúcar, fumo e pecuária, algumas
indústrias instaladas e pelo vigor da atividade comercial que, num

96 Fernando José de Lira


m o m e n t o econômico e x t r e m a m e n t e f a v o r á v e l , operavam
altamente subsidiados por uma massa de recursos federais,
estaduais e municipais.
Como observamos, do ponto de vista puramente econômico,
Alagoas apresenta uma situação bastante favorável. Todavia, os
indicadores sociais demonstram que as condições econômicas
favoráveis não produziram qualquer melhoria da qualidade de
vida ou dos serviços prestados à maioria da população. Ao
contrário, mesmo no período de maior crescimento da economia
brasileira e, portanto, da renda per capita, a situação social e os
serviços oferecidos são considerados muito precários.

2.5 - O modo latifundiário de produção


O modelo agrícola adotado em quase todo o interior de
Alagoas é herdado do período colonial e, na verdade, vem
sofrendo apenas pequenas transformações. Não é muito raro
encontrarmos agricultores que fazem suas práticas agrícolas
orientados pelas fases da lua, e outros que procuram combater
as doenças dos animais utilizando práticas de curandeirismo.
Essas práticas agrícolas feudais, que perduram até os dias
atuais, são utilizadas, principalmente, pelos agricultores de
subsistência que, quase sempre, são analfabetos e têm dificuldades
em assimilar outros métodos, que não sejam aqueles passados
de pais para filhos.
Por outro lado, a agricultura de exportação, que recebeu
grande montante de recursos para suas transformações nas
décadas de 40, 50 e 60, praticamente ficou estagnada em termos
de aumento de produtividade. Atualmente, Alagoas perdeu
importância no conjunto das exportações de açúcar e na
competitividade.
Esse baixo nível tecnológico presente na agricultura alagoana
compromete até a subsistência da maioria da população rural.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 97


Mesmo para manter essa subsistência mínima necessária, sua
produção ainda é insuficiente, uma vez que se importa grande parte
dos produtos de origem agrícola e animal consumidos no Estado.
Infere-se, portanto, que as precárias condições de vida
detectadas no campo resultam da estagnação da agricultura de
e x p o r t a ç ã o , do. baixo nível tecnológico na a g r i c u l t u r a de
subsistência, da elevada concentração da propriedade da terra,
do g r a n d e n ú m e r o de t r a b a l h a d o r e s i n f o r m a i s , da
descapitalização dos agricultores e da perda de competitividade
das pequenas, médias e grandes propriedades.
Na verdade, mesmo nas décadas de 60 e 70, quando o crédito
agrícola para custeio e investimento era abundante e barato, a
produção e a produtividade agrícolas eram muito baixas. Além
disso, nessa época, não houve, como foi a tendência mais geral da
agricultura brasileira, um avanço da tecnologia e do capital no meio
rural, o que não permitiu uma dinamização de suas atividades
agropecuárias e a capitalização dos pequenos e médios produtores.
Na realidade, esse modelo agrícola é fechado e com pequena,
ou quase nenhuma, capacidade de absorver tecnologia, motivos
pelos quais, mesmo vivenciado num período de existência de
crédito abundante, não permitiu que a grande maioria dos
agricultores deixasse a condição de subsistência e avançasse para
uma agricultura moderna, capitalizada e competitiva.
Assim sendo, para os pequenos e médios produtores, a
sobrevivência era garantida não pelo aumento da produtividade,
mas tão somente pela abundância de crédito fácil e subsidiado.
Q u a n t o aos g r a n d e s p r o p r i e t á r i o s , a g a r a n t i a de sua
rentabilidade teve a mesma origem.
Portanto, nas décadas de 70 e 80, a sobrevivência e a
lucratividade da agricultura de Alagoas eram asseguradas,
basicamente, pelo grande montante de recursos subsidiados, pois,
nas expectativas dos agricultores, esse subsídio seria uma ajuda
permanente à agricultura, e não haveria razão para preocupação

98 Fernando José de Lira


com a modernização de suas atividades, já que os subsídios eram
mais do que suficientes para garantirem a alta lucratividade da
grande propriedade e elevarem as condições de subsistência dos
pequenos produtores.
Todavia, a partir de 1980 e até os dias atuais, com a crise
fiscal do Estado brasileiro, inicia-se um forte e prolongado período
de cortes de créditos subsidiados a agricultura. Já em 1990, o setor
agrícola de Alagoas, não suportando a crise, entra em estado de
falência, e as atividades de subsistência (mandioca, milho, feijão,
etc) apresentam uma produção que não chega a atender às
necessidades de sobrevivência do próprio agricultor, portanto a
miséria se propaga por todas as microrregiões do Estado,
alcançando microrregiões ricas, como a de Arapiraca.
Mesmo as culturas consideradas rentáveis, como a cana-
de-açúcar, o coco, o algodão e o fumo, diminuíram sua produção
e produtividade, transformando-se quase em culturas de
subsistência, pois o valor da produção, em muitos casos, não
chega a cobrir os custos.
Essa crise, que já dura aproximadamente 23 anos, tem
provocado uma grande descapitalização dos p r o d u t o r e s ,
aumentado muito o número de desempregados, baixado o nível
de renda e levado as microrregiões a sofrerem um rápido processo
de estagnação e pauperização. Microrregião próspera como a de
São Miguel dos Campos, por exemplo, transformou-se em um
grande bolsão de miséria.
Nessas condições, o problema social, no meio rural, só será
equacionado quando for realizada uma transformação estrutural
da base produtiva, que reoriente a agricultura na direção de uma
reestruturação fundiária, voltada prioritariamente para as formas
associativas e comunitárias de organização; uma redução da
vulnerabilidade climática, através de programas de irrigação; uma
consolidação de pólos agroindustriais; uma diversificação e
ruodernização da produção agropecuária de pequenos, médios

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 99


grandes produtores; um revigoramento da pequena produção e
da pecuária de pequeno porte em áreas típicas do semi-árido; e
u m a p r o m o ç ã o d e novos e m p r e e n d i m e n t o s n o setor
agroindustrial, como alternativa à crise estrutural em que se
encontra a Zona da Mata canavieira. Mas tudo isso só será possível
através de uma política arrojada de educação inclusiva.
A Universidade Federal de Alagoas, fundada pela elite, que
apoiou, sem restrição, o regime militar, não tinha qualquer
compromisso social e não participava das soluções para erradicar
o analfabetismo e promover a inclusão social, apenas servindo,
por muito tempo, como cabide de emprego para os filhos e
parentes das elites. Isto marcava profundamente a ausência de
um ambiente científico que produzisse ciência e tecnologia para
o desenvolvimento do Estado.
Assim, qualquer política que vise efetivamente melhorar o
quadro produtivo no meio rural não pode ignorar a influência
d e c i s i v a q u e têm a c i ê n c i a e a t e c n o l o g i a , b e m c o m o a
produtividade do setor agrícola e o crescimento relativo dos preços
dos alimentos que formam a dieta básica da nossa população.
Nessa perspectiva, a produção e aumento da produtividade dos
alimentos é um elemento importante na elevação da renda real
do homem do campo e da cidade.
As políticas de ciência e tecnologia agrícola, agrária,
educacional e agroindustrial que visam à criação de bases estáveis
para a diversificação e modernização produtiva, geração de
emprego, melhoria na distribuição de renda, além de estimularem
a produção de alimentos, ampliarem os mercados e promoverem
a desconcentração da propriedade da terra, transformarão a
agricultura num setor competitivo, de grande ocupação de mão-
de-obra, interrompendo o ciclo de atraso e de elevado grau de
marginalização social que se observa em todo interior de Alagoas.
A política agrária deve, assim, fomentar a propriedade famili-
ar, adotando medidas que contenham o avanço das grandes

100 Fernando José de Lira


propriedades agrícolas, sob pena de limitar os objetivos dessa proposta
de maior geração de emprego e distribuição de renda no campo.
A política agrícola deve definir ações como crédito,
modernização tecnológica, comercialização, irrigação,
desenvolvimento de comunidades, assistência técnica e preços
mínimos.
A política de apoio à capacitação e à agroindústria deve
considerar que, atualmente, os pequenos e médios agricultores
quase não participam das atividades de beneficiamento e
industrialização de seus produtos. Normalmente, essas atividades
estão localizadas nos centros urbanos, controladas por outros
setores da economia, que já desfrutam de renda bastante elevada.
É preciso, pois, reverter essa tendência, de modo que parte do
valor agregado dessas atividades fique retida no campo, e que o
lucro auferido beneficie os produtores.
Nessa perspectiva, a decisão de apoiar os pequenos produtores
e torná-los competitivos reside na convicção de que o problema do
desemprego urbano e rural será reduzido, se essa política conseguir
criar um ambiente favorável para o aumento da produção e
produtividade e, por conseguinte, gerar condições de mantê-los no
campo. Atendidas essas necessidades, eles terão um padrão de vida
seguramente melhor do que o que enfrentam quando se sentem
obrigados a emigrar, tangidos pela baixa produtividade e pela
desocupação. Portanto, é no campo que se encontra grande parte
das soluções dos problemas de ocupação e renda em Alagoas.
Uma das contradições que se observam na Zona da Mata é
a existência de um grande potencial de seus recursos naturais e a
situação subhumana em que vive a grande maioria de sua
população. É evidente que esse quadro, que persiste há séculos e
que vem agravando-se nos últimos 20 anos, está a exigir uma
ação eficaz e urgente por parte do governo.
Como a atividade da agroindústria canavieira ainda é um eixo
niais importante da economia alagoana, deve-se procurar viabilizar

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 101


projetos de pesquisa científica e tecnológica, de gestão empresarial
e de modernização das relações de trabalho. Paralelamente a isso,
na Zona da Mata, deve-se estimular uma diversificação produtiva,
incentivar o associativismo, fornecer linhas de crédito a pequenos
produtores rurais, fortalecer a agricultura de base familiar, promover
a sua integração à economia de mercado, bem como aprimorar a
capacitação gerencial e tecnológica dos pequenos e médios
produtores, qualificar a mão-de-obra, além de incentivar os
agricultores a fornecerem aos mercados produtos de qualidade, de
alto valor agregado e competitivo.
Em suma, numa economia aberta e altamente concorrencial
como a atual, aqueles agricultores e/ou empresas agrícolas que não
se reestruturarem terão muita dificuldade de se inserir nesse novo e
exigente processo de modernização da agricultura brasileira, onde os
valores agregados dos produtos são, sobretudo, valores intangíveis.
Alagoas terá que erguerá sua agricultura dentro não só de
uma nova realidade de dotação de recursos, mercados abertos,
nível tecnológico avançado, como de um novo padrão de atuação
do Estado. Isso exigirá o abandono do assistencialismo, de
paternalismo e da ineficiência, direcionando-se para um Estado
mediador e estimulador da criação de associações de pequenos,
médios e grandes produtores, capazes de promoverem a inovação
tecnológica, a educação voltada para as atividades praticadas na
propriedade agrícola, a assistência técnica e a oferta de crédito, no
sentido de aumentar a produtividade agrícola e capitalizar os
agricultores, tornando-os independentes do Estado e competitivos.
Adicionalmente, deve ser feita uma reforma institucional em
todos os órgãos de apoio ao desenvolvimento agrícola. Assim, entre
outras coisas, deve-se procurar reformar e fortalecer as instituições,
protegendo-as não somente das pressões políticas fisiológicas,
clientelistas, que quase sempre conseguem desvirtuar o papel desses
órgãos junto aos agricultores, como também do corporativismo que
acaba por prejudicar a agricultura de base familiar.

102 Fernando José de Lira


Capítulo III 3

A ilusão da inclusão
O Estado de Alagoas está localizado na Região
Nordeste do Brasil, ocupando uma superfície de 27.933 km, que
representa 0,32% do território brasileiro. Segundo dados do Censo
2001 do IBGE, possui uma população de 2.819.172 pessoas, das
quais 1.917.922 residem no meio urbano, e 901.250, no rural.
Historicamente, a economia alagoana está centrada na
agropecuária. A partir da década de 60, com os vários programas
de incentivos, a cana-de-açúcar e a lavoura canavieira vêm
destacando-se no cenário nacional, e a pecuária leiteira, com
incentivos mais predominantemente estaduais, sobressai-se no
Nordeste como a maior produtora de leite.
De acordo com o Censo Agropecuário de 1995/96, a
estrutura da distribuição da posse da terra mostra-se fortemente
concentrada. Em 1995, mais de 9 6 % dos estabelecimentos
agropecuários tinham menos de 100 ha e controlavam pouco mais
de 35% da área total. No outro extremo, os estabelecimentos com
mais de 1.000 ha, que representavam apenas 0,2% do total,
controlavam mais de 19% da área total.
O setor industrial é pouco representativo e basicamente
constituído por usinas de açúcar. A indústria açucareira existe desde
o início do século XX. Em 1907, já estavam instaladas no território
alagoano 6 plantas industriais, 15, em 1920, e 27, em 1932.

1
Parte desse capítulo foi elaborado com dados a ... com SEADE/DIESE.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 103


As fábricas de beneficiamento de algodão, sisal e tecidos
apresentaram desenvolvimento relativamente pequeno. A indústria
têxtil também se destacou, mas sua importância econômica esgotou-
se com a perda da competitividade nos anos cinqüenta.
Tendo sua base produtiva assentada nos recursos naturais
e humanos locais, o setor produtivo, muito particularmente os
pequenos produtores, até os anos 80, viviam na fase extiativista,
quando a educação não era, como é atualmente, um grande
instrumento de agregação de valor aos produtos, de diferenciação
da produção e de criação de novas atividades produtivas.
Os pequenos produtores - com até dois empregados -
somavam 13 mil famílias, e os trabalhadores por conta própria
correspondiam a 375 mil, perfazendo um total de 388 mil famílias
que necessitavam de apoio de políticas públicas e de parcerias
voltadas para despertar a visão empreendedora.
O padrão de desenvolvimento adotado tem privilegiado as
atividades agrícolas e não-agrícolas de caráter patronal, as grandes
unidades produtivas e de prestadores de serviços, em detrimento
dos pequenos empreendedores familiares.
Assim, enquanto temos 514 mil pessoas ocupadas em
grandes unidades locais, como trabalhadores assalariados, os
empreendedores familiares alcançam apenas 388 mil. Todavia,
a renda média da maioria dos empregados e dos empreendedores
com até dois empregados não ultrapassava dois salários mínimos,
enquanto a dos empreendedores com mais de 2 empregados,
chegava a 13,1 salários.
Nessa perspectiva, as políticas públicas adotadas até 1909
estavam voltadas, quase exclusivamente, às atividades de
natureza patronal, inibindo a diversificação da base produtiva e
as variadas formas de empreendimentos familiares que, alocados
em diversas camadas do processo produtivo, distributivo e de
comercialização, gerariam mais ocupações e renda, resultando
numa sociedade socialmente mais homogênea.

104 Fernando José de Lira


As atividades sucroalcooleiras são h e g e m ô n i c a s em
Alagoas, sendo que juntas contribuem com 40% do PIB estadual.
É perfeitamente possível que os pequenos produtores, que
possuem capital social, financeiro e h u m a n o acumulados,
possam integrar-se a essas atividades de forma produtiva e
sustentável, proporcionando maior diversificação das atividades
agrícolas e não-agrícolas no campo e nas cidades.

3 . 1 - Características locais
De acordo com o IBGE 2000, o Estado de Alagoas possuía
2.819.172 pessoas distribuídas em 102 municípios. Em 1999, os
homens somavam 1.131.585, e as mulheres, 1.407.488. No meio
rural, ainda residia mais de um terço da população.
A população economicamente ativa (PEA) era de pouco
mais de 1.079 mil pessoas, e a ocupada, de 920 mil, alocando-se
585 mil na cidade e 335 mil no campo. A participação das
mulheres, na população economicamente ativa (PEA), vem
aumentando. Em 1999, representava 40,4% e os homens, 59,6%.
Alagoas linha a taxa de atividade por situação de domicílio
mais baixa do Nordeste, 54,9%, significando que pouco mais da
metade da população em idade ativa (PIA) consegue ocupação
ou inserção no mercado de trabalho. O gráfico 3.1 e a tabela 3.1
vêm comprovar essa posição desfavorável.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 105


Tabela 3.1 - Taxa de Atividade, por Grupos de Idade,
segundo as Grandes Regiões.Unidades da Federação e
Regiões Metropolitanas - 2 0 0 1 .

Grandes Regiões, Taxa de atividade (%)


Unidades da Federação e
Regiões Metropolitanas. Total

Brasil (1) 60,5


Nordeste 59,0
Maranhão 62,8
Piauí 59,8
Ceará 60,3
Rio Grande do Norte 54,5
Paraíba 52,8
Pernambuco 58,0
Alagoas 57,8
Sergipe 58,5
Bahia 59,9
NOTA: Compreendem as pessoas de 10 anos e mais de idade.

106 Fernando José de Lira


GRÁFICO 3.1 - Taxa de Atividade da População de
10 anos ou mais Idade por Domicílio e por Estados
em 2001.

MA 62,8

BR • 60,5
a.
CE §60,3

BA ]59,9

NE

SE ¡58,5
>
PE
J58
AL
157,8
RN

Taxa de Atividade em Percentagem

E3 FONTE: PNAD 2 0 0 1

FONTE: Pesquisa nacional por amostra de domicîlios 2001:


microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 2002. I CD-ROM.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 107


A regionalização de Alagoas baseia-se na metodologia
sistematicamente adotada pelo IBGE, que consiste na divisão do
Estado nas mesorregiões: Leste (Litoral e Zona da Mata), Agreste
e Sertão.
A mesorregião menos populosa é o Sertão, com 14,5% do
total de residentes; em seguida, está o Agreste com 20,8%, e a
Leste (Litoral e Mata), mais populosa, representa 64,7% da
população total. Nesta mesorregião está a cidade de Maceió co
796.842 habitantes, em 2001.
O segundo município mais populoso é Arapiraca, com
186.350 residentes, o único na faixa entre 100 a 500 mil habitantes,
situado na mesorregião do Agreste. Arapiraca é um importante
pólo regional, localizado numa mancha territorial ocupada pela
cultura do fumo. Atualmente, tenta diversificar suas atividade 0

agrícolas e não-agrícolas.
Palmeira dos índios, com 68.002; Rio Largo, com 62.408,
União dos Palmares, com 58.608 e Penedo, com 56.970, estavam
na faixa entre 50 a 100 mil. O primeiro está localizado na
mesorregião do Agreste, e os outros três, no Leste alagoano.
A população de Alagoas cresceu à taxa de 2,18% ao ano, no
período de 1980 e de 1 %, de 1992 a 1999, enquanto o Brasil cresceu
1,93 e 1,3% ao ano nos dois períodos. A mesorregião que obteve
as maiores taxas de crescimento foi a Leste, com taxas acima das
médias estaduais. No ano de 1999, Alagoas possuía um grau de
urbanização superior a 60%, e a taxa de urbanização era maior na
mesorregião Leste e menor no Sertão.
Por falta de oportunidade de ocupação, o Estado tem se
caracterizado como área de evasão populacional para outras
localidades da região ou nacionais. Mesmo na década de 70,
quando mais cresceu o seu produto interno produto (PIB),
elevando-se a taxas superiores às do Nordeste e às do Brasil, a
evasão populacional foi superior à do Nordeste. C o m sua
população rural e urbana dependentes do desempenho do setor

108 Fernando José de Lira


sucroalcooleiro, a modernização agrícola, industrial e do setor
serviço, observada nos anos 70, 80 e 90, forçou a emigração.

3.1.1 - Leste
A mesorregião Leste abriga a produção canavieira do
Estado. Sua área é constituída por grandes propriedades - acima
de 100 ha, e a cana-de-açúcar ocupa mais de 90% das terras
cultiváveis e mais férteis. Existem, todavia, pequenas diferenças
na própria Zona da Mata, quanto ao potencial para a produção
de cana.
Na área norte, a topografia é ruim, porém a precipitação e
a fertilidade dos solos são muito boas; já na área central, a
topografia, a fertilidade e a precipitação pluviométrica são boas,
enquanto ao sul a topografia é adequada, a fertilidade, baixa, e a
precipitação, a mais irregular.
Com o processo de concentração e reestruturação das
atividades sucroalcooleiras, houve uma redução no número de
usinas e destilarias, gerando, nessa mesorregião, um excesso de
mão-de-obra que permite melhor seleção dos trabalhadores com
idade entre 25 a 30 anos, os quais cortam em torno de 8 a 10
toneladas de cana/dia.
Em decorrência dessa diferenciação e da reestruturação
produtiva da atividade canavieira, p r i n c i p a l m e n t e com a
introdução da colheita mecanizada, a área norte da Zona da Mata
vem abandonando a produção de cana e tornando-se um
importante pólo estadual produtor de leite, criação de caprinos e
ovinos. Além disso, dentro das áreas produtoras de cana, tem
aumentado a profissionalização da produção, o que gera novas
oportunidades para diversificação das atividades, nas terras mais
inapropriadas ao cultivo dessa cultura.
Por outro lado, nessa área, a água, que está tornando-se
uma questão crucial à sobrevivência da atividade canavieira e é

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 109


usada para irrigação complementar de outubro a fevereiro, pode
perrrütir a liberação de terra para outras atividades agrícolas.
Considerando que Alagoas é um grande importador de
alimentos, a agricultura de base familiar pode estar presente nessa
mesorregião, produzindo alimentos, matéria-prima e ocupando
mão-de-obra.

3.1.2 - Agreste
No Agreste, estão concentradas as pequenas propriedades
de tipo familiar e com qualidade de vida da população ocupada
superior à da população do Sertão, em face da melhor precipitação
e da qualidade dos solos, que permitem uma produção mais
diversificada na área central.
Na m i c r o r r e g i ã o de Arapiraca e x i s t e u m a grande
q u a n t i d a d e de pequenos produtores de f u m o , voltados à
produção de fumo em corda e ao fabrico do charuto. Em sua
maioria, esses produtores, em torno de 75% do total, possuíam,
em 1995/96, uma área inferior a 5 hectares, enquanto o módulo
rural mede entre 15 e 35 hectares. Pesquisa realizada em 1999,
pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE),
indica que os produtores com propriedades abaixo de 5 ha passam
por grandes dificuldades de sobrevivência.
A região produtora de fumo compreende 13 municípios, com
destaque para nove deles. A atividade fumageira detém o segundo
lugar na ocupação de mão-de-obra. Todavia, essa atividade está em
crise, devido à cotação dos preços de exportação e à redução da
demanda interna. Para parte dos pequenos produtores, principalmente
para aqueles que produzem folha para capa de charuto, o valor
recebido não cobre os custos de produção, que aumentaram muito
com a desvalorização da moeda brasileira, no final de 1998.
No ano de 1998, a fumicultura empregava por volta de 35
mil trabalhadores assalariados. Em 2000, o emprego cai para 21

110 Fernando José de Lira


mil. Essa c r i s e , a s s o c i a d a à r e e s t r u t u r a ç ã o da atividade
fumageira, tem e l e v a d o o n ú m e r o de t r a b a l h a d o r e s e
microprodutores que, não encontrando ocupação, emigram no
período de colheita da cana, para os Estados de São Paulo, Minas,
Goiás e Espírito Santo.

3.1.3 - Sertão
A mesorregião sertaneja tem pouca importância econômica,
mas abriga a principal bacia leiteira do Estado, envolvendo um
contingente de 2.500 proprietários. Irradiando-se a partir do
município de Batalha, essa atividade também está em crise e vem
sendo substituída pela criação de pequenos animais que, segundo
a Fundação SEADE, é economicamente mais vantajosa do que a
atividade de gado leiteiro. Na mesorregião, existem várias pequenas
indústrias e quatro de grande porte, comprando a produção leiteira:
a Parmalat, a Vale Dourado, a Batalha e a São Domingos.
As áreas úmidas da microrregião de Maceió, São Miguel dos
Campos, Mata Alagoana e Litoral Norte geravam 80% do PIB do
Estado, mas é justamente nessas áreas, exclusive Maceió, que se
concentra a atividade sucroalcooleira do Estado. Nessa mesorregião
Leste, existe, também, o maior percentual de pessoas formalmente
empregadas por setor, atingindo mais de 80% dos empregados
com carteira de trabalho assinada e contribuição para previdência
social. As outras mesorregiões apresentam baixa proporção de
empregos formais, exceto na atividade de serviços industriais e de
utilidade pública, no Sertão, com 44,4%. Ver tabela 3.2.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 111


TABELA 3.2 - ALAGOAS: Distribuição do Emprego Formal e de Unidades Locais por Setor de
Atividade, Segundo Mesorregiões do Estado de Alagoas 1997.

EM PERCENTAGEM

FAlração Indústria de Serviços Ind. de Construção Comércio Serviço Administração Agropecuária Outros
Mesorregião Mineral Transformação Utilidade Pública CM Pública Ignorados

PO PO PO PO PO PO PO PO PO

Total 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00%

Siii.ii) Alagoano 11,6 1,2 44,4 2,1 3,7 1,2 9,5 0,2 1>3

Agreste Alagoano 7,4 3,2 0.0 2,6 17,8 22,9 13,8 5,7 42,8

Leste Alagoano 81,0 95,6 95,6 95,3 78,5 75,9 76,7 94,1 55,9

FONTE: RAIS 1997,

P O - S i g n i f i c a : População Ocupada.
A grande participação dos empregos formais nessa área
deve-se ao fato de aquela mesorregião ter concentradas quase
todas as atividades de administração do setor sucroalcooleiro,
das indústrias de bens intermediários e de capital, bem como
grande fração dos serviços sociais e administrativos do setor
público e de estatais. Nas demais, até mesmo o poder público
tem presença exígua.

3.3 - Formas de ocupação


Possuindo esse quadro econômico, educacional, social,
político, religioso e cultural bastante limitado, com o mais baixo
capital humano do País e com uma acumulação de capital social
historicamente pouco expressiva, Alagoas tem muita dificuldade
em adotar um padrão de inclusão que resulte num processo de
maior homogeneização da produção, das ocupações e da renda.
O padrão adotado é o agrário tradicional que, pela sua
i m p o r t â n c i a e c o n ô m i c a e política, a c a b a por d e f i n i r o
comportamento da agropecuária, da indústria, do setor serviço e
a atuação do setor público. Nesse modelo, a prioridade é a grande
empresa, com mais de 100 empregados, pouca diferenciação da
produção, baixa competitividade sistêmica e relações de trabalho
predominantemente informais, gerando forte exclusão social e
um ambiente desfavorável aos pequenos e microempreendedores.
Dados do IBGE de 2001 mostram que, no setor agrícola,
predominam a cultura da cana-de-açúcar e a pecuária de leite
praticadas em grandes propriedades - acima de 1.000 hectares
de terras - ocupando uma área de 538 mil e 295 mil hectares
respectivamente e, por conseguinte, a cana-de-açúcar ocupa 6 9 3 %
da área cultivada, sendo que sua predominância está na Zona da
Mata e nos Tabuleiros Costeiros. A pecuária de leite no Sertão,
principalmente em torno do município de Batalha, representa
97,7% da área com pecuária. Ver tabelas 3.3 e 3.4.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 113


Quanto à ocupação de mão-de-obra em 2000, as tabelas
3.3 e 3.4 deixam claro que as culturas da cana-de-açúcar,
mandioca e milho foram as que mais empregaram. Na pecuária,
a bovinocultura de leite demandou 80% dos ocupados nessa
atividade. As culturas de mandioca, milho, arroz e feijão,
cultivadas por pequenos produtores - com até 100 ha de terras -
foram responsáveis por, respectivamente, 12,3%, 10,2%, 4,6% e
3,4% do total de ocupação de mão-de-obra.

TABELA 3.3 - Demanda da Força de Trabalho Agrícola Anual


e Área Cultivada das Principais Culturas Estado de Alagoas,
1999-2000.

Prindpais Culturas EHA 2000 Área (1.000 ha) 2000


1999 2000 (%) 1999 2000 (%)
Total 115.019 110.051 100,0 764,4 775,5 100,0
Abacaxi 566 804 0,7 0,9 1,2 0,2
Algodão Herbáceo 2.469 2.212 2,0 5,2 4,7 0,6
Arroz 4.799 5.114 4,6 7,8 8,3 1,1
Banana 1.73 1.912 1,7 3,6 4.0 0,5
Cana-de-açúcar 54.718 54.702 49,7 541,7 537,6 69,3
Coco 1.621 1.607 1,5 13,6 13,5 1,7
Feijão 3.610 3.697 3,4 86,9 89,0 11,5
Fumo 22.501 13.947 12,7 28,6 17,7 2,3
Laranja 1.263 1.317 1,2 3,5 3,6 0,5
Mandioca 14.527 13.536 12,3 27,2 25,4 3,3
Milho 7.207 11.202 10,2 45,5 70,7 9,1

114 Fernando José de Lira


TABELA 3.4 - Demanda da Força de Trabalho Anual na
Pecuária.
pecuária EHA 2000 Área/ Produção / Rebanho
1999 2000 (%) 1999 2000
Total 13.830 14.467 100,0 - -
Reforma 1.881 1.881 13,0 37,3 37,3
de Pastagem
(1)
Bovinocultura 866 833 5,8 421 405
de Corte
(2)
Bovinocultura 10.907 11.572 80,0 278. 276 295.252
de Leite
(3)
Suinocultura 113 117 0,8 81 84
(2)
Avicultura 18 19 0,1 5.431 5.596
de Corte
(2)
Avicultura 45 45 0,3 174 174
de Postura
(2)
FONTE: Fundação Seade.
EHA = Equivalentes-Homens-Ano.
(1) Área em mil hectares.
(2) Rebanho em mil cabeças.
(3) Produção em mil litros.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 115


Juntas, essas culturas demandaram quase um terço dos
ocupados agrícolas. Localizadas principalmente no Agreste e na
Região do Baixo São Francisco, são cultivadas em sistemas
agrícolas de baixo nível tecnológico e destinadas ao abastecimento
do mercado interno.
A cultura do fumo é uma atividade de alta produtividade
e, no passado recente, também de alta rentabilidade, além de
grande empregadora de mão-de-obra. A região fumageira fica
situada no Agreste, tendo por base o município de Arapiraca,
centro produtor, industrializador e distribuidor do produto. Entre
1973 e 1983, a taxa de crescimento da produção de fumo foi de
5 % ao ano, praticamente como resultado da expansão da área
plantada. Já no período de 1984 a 1994, a produção caiu 3,4%
ao ano, com queda tanto na área cultivada como no rendimento
da terra. Atualmente, o fumo apresenta baixo dinamismo, devido
à insuficiência em pesquisa, controle de qualidade e assistência
técnica e baixo preço.
Como ilustra a tabela 3.5, no setor industrial se destacam
a s g r a n d e s u n i d a d e s a g r o i n d u s t r i a i s das a t i v i d a d e s
sucroalcooleiras, representadas por alimentos e bebidas que, em
1999, possuíam 49 unidades industriais, ocupavam 39,5% do
total e 81,3% da mão-de-obra do setor. A indústria intermediária
de bens de capital e de consumo duráveis é pouco representativa
e é basicamente indústria química e de combustíveis, que ocupam
68,5% dos empregados do total das indústrias deste ramo.
Em suma, a característica mais marcante da indústria
alagoana é a enorme importância da divisão de alimentos e
bebidas, decorrente da produção de açúcar. Essas indústrias
empregam 81 % de todas as pessoas ocupadas na indústria, o que,
junto com os 9% dos trabalhadores empregados no segmento de
química e combustíveis, que também contém a produção de álcool
combustível, demonstra a verdadeira importância econômica e
política do complexo sucroalcooleiro.

116 Fernando José de Lira


TABELA 3.5- Unidades Locais e Respectivo Pessoal Ocupado, segundo Categorias de Uso e
Atividades Selecionadas, Indústria, Estado de Alagoas, Microrregião de Maceió e Demais
Regiões do Estado, 1999.
Em percentagem

Atividades Selecionadas Microrregião Demais Regiões Total do listado


de Maceió do Estado

UL PO UL PO UL PO
Total Bens de Consumo 59,7 28,9 40,3 71,1 100,0 100,0
não Duráveis 55,2 28,2 44,8 71,8 100,0 100,0
Alimentação e bebidas 51,0 27,0 49,0 73,0 100,0 100,0
Demais 66,7 45,7 33,3 54,3 100,0 100,0
Bens Intermediários, de Ca-
pital e de Consumo Duráveis 64,9 33,4 35,1 66,6 100,0 100,0
Borracha e plástico 75,0 64,6 25,0 35.4 100,0 100,0
Minerais não metálicos 30,0 23,2 70,0 76.8 100,0 100,0
Produtos de metal
(exceto máq. e equip.) 75,0 73,9 25,0 26,1 100,0 100,0
Química e combustíveis 69,2 22,7 30.8 77,3 100,0 100,0
Demais 71,4 68.7 28,6 31,4 100,0 100.0

F O N T E : Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer.


A distribuição espacial desse tipo de i n d ú s t r i a não
privilegia a microrregião de Maceió, uma vez que a usina de
açúcar e a destilaria de álcool localizam-se junto à fonte de
matéria-prima e mão-de-obra, contribuindo para o emprego de
m ã o - d e - o b r a agrícola n ã o - q u a l i f i c a d a e g e r a n d o m u i t a s
ocupações não-agrícolas no meio rural.
Em relação às condições de trabalho, em 1999 eram bastante
p r e c á r i a s , pois 8 6 , 8 % dos ocupados na a g r i c u l t u r a eram
trabalhadores informais. Na indústria, a informalidade chegava
a 60,5% dos empregados e, no setor serviço, mais de 72% não
tinham carteira de trabalho assinada e não contribuíam para a
previdência social. Ver gráfico 4.5.
O g r á f i c o 4 . 5 r e v e l a o n í v e l de i n f o r m a l i d a d e das
ocupações, de forma desagregada. A construção civil é o ramo
que possui a maior proporção de ocupados informais, 97,4%;
seguido da agricultura com 86,8%; outras atividades com 81,2%;
comércio de mercadoria, registrando 76,6% e, nos serviços
auxiliares da atividade econômica, existiam 55,2% dos ocupados
sem carteira de trabalho assinada. Por seu turno, as atividades
com maior nível de formalidade eram o setor público, com 81,8%
dos ocupados; serviços, 76,5%; transportes e comunicação,
74,8%; e outras atividades industriais, nas quais 69,4% das
pessoas tinham carteira de trabalho assinada.
Quanto aos salários, percebemos, na tabela 3.6, que, na
agricultura, 72,5% dos ocupados percebiam até um salário
mínimo; na indústria, 26,0% e, no setor serviço, alcançavam
3 8 , 1 % dos ocupados. Ganhando até 2 salários mínimos, na
agricultura, havia 95,6% dos trabalhadores; na indústria, 72,5%
e, no setor serviço, 64,5% dos ocupados estavam nessa faixa de
renda. Essa proporção elevada de pessoas que ganham até 2
salários mínimos demonstra que a renda do trabalho assalariado
era muito baixa, ficando aquém da cobertura das necessidades
básicas do trabalhador.

118 Fernando José de Ura


Portanto, a agricultura, a indústria e o setor serviço, apesar
da importância econômica, têm gerado empregos de baixa
qualificação e, por conseguinte, o efeito renda na dinâmica geral
da economia é pouco expressivo.

TABELA 3.6 - Alagoas: participação das pessoas ocupadas


por classe de rendimento e por setores das atividades em
1999.

Em percentagem

Rendimento em Salário Mínimo (S.M)


Se lores de Total Até 1 +1 a 2 +2 a 5 + de 5
Atividade % S.M.% S.M.% S.M % S.M %
A /avicultura 100% 72,5 23,1 3,9 0,5
Indústria 100% 26,7 45,8 20,8 6,7
Serviço 100% 38,1 26,4 24,8 10,7

FONTE: PNAD-IBGE, 2000.

C o m o na i n d ú s t r i a , a agricultura t e v e um fraco
desempenho na manutenção e geração de empregos, no período
de 1960/1999, pois, enquanto a população agrícola cresceu 1,1%
ao ano, entre 1960/1970, o nível de emprego teve um incremento
de apenas 0,6%. No anos 1970/1980, a população cresceu menos
que na década anterior, aumentando apenas 0,53% ao ano, e as
ocupações caíram para 0,4% de aumento anual; no sub-período
de 1981/1999, a população agrícola aumenta 0,2% ao ano, e o
emprego teve uma redução de 1%.
Isso contrasta com a base de recursos naturais e a área
a
gricultável, pois é justamente no setor agrícola que o Estado
tem mais condições de expandir o nível de ocupação em

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 119


atividades agrícolas e não-agrícolas, evitando o êxodo rural
historicamente elevado.
Mesmo com esse quadro de ocupação e renda desfavorável,
Alagoas, de 1970 a 1999, teve um crescimento do seu Produto
Interno Bruto (PIB) maior do que o do Nordeste e o do Brasil.
Entretanto, os dados indicam que esse desempenho ocorreu de
forma assimétrica, no espaço geoeconómico alagoano.
A tabela 3.7 indica que a microrregião de Maceió, por
exemplo, passou de uma participação de 42,0% do PIB estadual,
em 1970, para 52,0%, em 1985, aumentando em 1996 para 53,8%.
O b s e r v a - s e , ainda, que a economia do Estado, em 1970,
concentrava-se nas áreas úmidas de Maceió, São Miguel dos
Campos, Mata Alagoana e Litoral Norte, onde eram gestados
6 5 , 9 % do Produto Interno Bruto. Em 1995, essas m e s m a s
m i c r o r r e g i õ e s produziam 7 7 , 3 % do PIB e no a n o 2000,
participaram com 80,2% de toda a riqueza anualmente gerada.
As explicações para esse desempenho estão nas presenças
do setor público e das atividades não-agrícolas em Maceió, e
dos ramos agrícolas e não-agrícolas ligados à produção e
administração do setor sucroalcooleiro.
Vale destacar que todas as microrregiões localizadas no
semi-árido da Zona da Mata de Alagoas vêm, a partir de 1975,
persistentemente reduzindo sua participação no PIB estadual,
mas, mesmo assim, a economia é muito dependente dessas
microrregiões, pois parte importante do Interior do Estado é um
vazio económico.
Assim, esse padrão de desenvolvimento autocrático, fechado,
bastante concentrador de renda e poder, quando associado às
atividades agrícolas e não-agrícolas praticadas, basicamente, por
grandes unidades empresariais, não tem sustentabilidade
econômica, mesmo com o forte sacrifício social que vem impondo
aos ocupados e à maioria da população do Estado.

120 Fernando José de Lira


TABELA 3.7. Alagoas: Participação do PIB das microrregiões
homogêneas em percentual, 1970-1996.

Microrregiões 1970 1975 1980 1985 1990 1996


Sertão Alagoano 3,1 5,0 2,5 2,8 1,6 1,6
Batalha 8,6 8,6 4,3 4,7 3,2 3,4
Palmeira dos índios 5,6 8,9 3,1 4,2 2,0 2,0
Mata Alagoana 18,6 15,8 11,6 10,5 9,9 9,3
Litoral N. Alagoano 5,1 4,6 3,7 4,0 3,8 3,6
Arapiraca 7,6 9,5 9,9 8,6 13,3 13,0
S. M. dos Campos 7,2 7,5 9,1 11,6 11,7 10,4
Maceió 42,0 36,9 53,4 52,0 51,2 53,8
Penedo 2,3 3,1 2,4 1,7 3,3 2,8

FONTE: VERGOLINO & MONTEIRO NETO (1997, p.21).

Dados da Sudene, de 1999, constatam que a economia


alagoana cresceu à taxa de 9,10% ao ano, na década de 70; 5,2%,
nos anos 80. Na década de 90, com o fim dos subsídios e a abertura
do mercado interno, essa economia é afetada por uma crise pro-
funda, e seu produto interno cai para menos de um quarto do
registrado durante o milagre dos anos 70. Em 1999, é o único
Estado do Nordeste e do Brasil a registrar crescimento negativo
de 1%, sendo que o setor agropecuário teve um incremento de
apenas 0,3%, a indústria reduziu seu crescimento em -2,8%, e o
setor serviço teve uma participação nula no PIB.
Por conseguinte, a crise econômica da década de 90 agravou
consideravelmente o quadro social, de modo que, em 2000, 44,43%
da população percebia até RS 80,00 e Alagoas estava classificada como
o quarto Estado a apresentar o maior nível de pobreza no Brasil.
O padrão de desenvolvimento adotado partiu da premissa
de que o crescimento econômico das atividades sucroalcooleiras

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 121


seria capaz de promover o desenvolvimento humano. Sabemos
hoje, pela experiência de três décadas de aumento vigoroso d
riqueza, que esse desenvolvimento prometido não foi alcançado,
entre outros motivos, porque, oferecendo nível mínimo de
ocupação, tem grandes dificuldades para se expandir de forma
sustentável. De acordo com Franco (2001), para uma sociedade
atingir o estágio de desenvolvimento, a acumulação do capital
humano e do capital social são dois fatores decisivos.
Nesse sentido, o crescimento do Produto Interno Bruto
consegue acumular-se por um período limitado, mas não alcança
um nível de ocupação e renda que provoque o desenvolvimento
sustentável. Este é justamente o caso de Alagoas, onde o capital
social e humano fica muito abaixo da média do Nordeste, estando
entre os mais desfavoráveis do Brasil.
Alagoas é um espaço político, econômico e social que
garante certas especificidades no desenvolvimento social e
humano. Sua identidade foi construída através das imposições
de um setor agroindustrial dominante, cuja elite desenvolveu
formas de controles apropriados a seus interesses econômicos e
de poder.
Por isso, o modelo de produção não-agrícola e agrícola
dominante na microrregião de Maceió e no restante do Estado é
um p a d r ã o fechado, de consenso muito restrito, mas que
subordina toda a economia de Alagoas no que diz respeito à
produção, ao emprego e às relações de trabalho.
O Estado, fora da microrregião de Maceió e daquelas
dominadas pela cana-de-açúcar, é um vazio econômico que ainda
está por ser explorado de forma produtiva e empreendedora.

122 Fernando José de Lira


3.4 - A indústria do Estado de Alagoas
Segundo dados do IBGE , a indústria de Alagoas contribui
4

com 16,5% do total do Produto Interno Bruto do Estado, no entanto


representa uma pequena parcela da indústria de transformação
nacional, que varia de 0,4%, em 1995, a 0,5%, em 1998.

TABELA 3 . 8 - Unidades Locais e Respectivo Pessoal


Ocupado, segundo Categorias de Uso e Atividades
Selecionadas, Indústria, Estado de Alagoas, 1999.

Atividades Selecionadas Unidades Pessoal


Locais Ocupado
N°. Abs. % N°. Abs. %
Total 124 100,0 50.557 100,0
Bens de Consumo
não Duráveis 67 54,0 44.061 87,2
Alimentação e bebidas 49 39,5 41.096 81,3
Demais 18 14,5 2.965 5,9
Bens Intermediários,
dc Capital e de Consume
Duráveis 57 46,0 6.496 12,9
Borracha e plástico 12 9,7 618 1,2
Minerais não metálicos 10 8,1 522 1,0
Produtos de metal
(exceto máq. e equip.) 8 6,52 64 0,5
Química e combustíveis 13 10,5 4.449 8,9
Demais 14 11,3 643 1,3
FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional -
Paer.

IBGE. Contas Regionais do Brasil, 1998, série "Contas


4

Nacionais", n. 5, Rio de Janeiro, 2000.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 123


Reitera-se que a distribuição espacial desse tipo de industria
não privilegia a região de Maceió, localizando-se junto à fonte de
seu insumo básico - a plantação de cana. De fato, 71 % dos empregos
industriais encontram-se nas demais regiões do Estado (73% dos
de alimentos e bebidas e 77% dos de química e combustíveis).
Existem pequenos complexos industriais no interior do
Estado - como o têxtil, em Delmiro Gouveia, São Miguel dos
Campos e Rio Largo, e o de fumo, em Arapiraca - mas têm
d i m i n u t a r e l e v â n c i a no total da indústria a l a g o a n a . Na
microrregião de Maceió, predomina o pessoal ocupado nas
divisões de borracha, plástico e produtos de metal, mais afeitas
às estruturas urbanas adensadas.

3.4.1 - Caracterização tecnológica


A indústria de A l a g o a s ocupa posição de destaque
relativamente à dos Estados da Região Nordeste, no que diz
respeito à difusão de Tecnologias de Informação (TI). No total do
Estado, há uma porcentagem expressiva de unidades usuárias
de computadores (93%), e alta difusão de micros modernos (91%),
pertencentes à família de processadores Pentium (I e II).
Dentre as unidades usuárias de computadores, todas as que
estão integradas em rede (64%) possuem acesso à Internet. O
mesmo desempenho não se confirma, contudo, na difusão de
r e d e s d e longa d i s t â n c i a : s o m e n t e 2 1 % d e s s a s u n i d a d e s
estabelecem troca e consulta eletrônica de dados externamente.
Ainda com relação ao total do Estado, as indústrias
produtoras de bens intermediários, de capital e de consumo
duráveis respondem por uma densidade no uso de computador,
quase quatro vezes maior que a das unidades industriais da
categoria de bens de consumo não-duráveis (0,03). Esse diferencial
pode ser explicado, em grande medida, pela maior propensão a
utilizar equipamentos no processo de produção das primeiras
indústrias, em contrapartida a um menor uso de recursos humanos.

124 Fernando José de Ura


Uma particularidade de Alagoas é a distribuição regional mais
equitativa da difusão de TI, ou seja, à exceção da alta densidade de
computadores na categoria de bens intermediários, de capital e de
consumo duráveis da microrregião de Maceió, verificam-se proporções
semelhantes de microcomputadores Pentium e, principalmente, de
unidades usuárias de TI em ambas as regiões do Estado. Ver tabela
3.9.

TABELA 3.9 - Difusão de Tecnologias de Informação, por


Região de Análise, segundo Tipo de Indicador, Indústria,
Estado de Alagoas, 1999.

Tipo de Indicador Total Região de Análise


do Estado Microrregião Demais Regiões
de Maceió do Estado
Unidades Usuárias
de Computadores (%) 92,7 93,2 92,0

Microcomputadores
Pentium (I e II) (%) 90,9 90,5 91,5
Densidade de Computadores
(Micro por Empregado)
Bens de Consumo
Níão-Duráveis 0,03 0,05 0,03

Bens Intermediários,
de Capital e Cons. Duráveis 0,11 0,26 0,03
Unidades Integradas
em Rede (%) 64,2 61,6 68,0
Unidades com Acesso
à Internet (%) 64,2 67,1 60,0
Unidades com Rede
de Longa Distância (%) 28,5 27,4 30,0

PONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional -


Paer.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 125


3.4.2 - Estratégias de gestão da produção
O processo de globalização vem impondo novos padrões
de concorrência às empresas. Para se manterem competitivas no
mercado, elas precisam redefinir suas estratégias e elevar a
produtividade. Isso ocorre a partir, principalmente, da adoção
de novos métodos de organização do trabalho, do aumento da
escala de produção, da ampliação do número de produtos
comercializados e do crescimento da automação industrial.
Segundo os dados do IBGE, essas têm sido as práticas mais
utilizadas pelas empresas para ganharem maiores vantagens e
ampliarem sua atuação no mercado.
A tendência confirma-se também no Estado de Alagoas.
Entre as estratégias de gestão citadas na pesquisa que realizamos,
a mais difundida é a adoção de novos métodos de organização
do trabalho e da produção. Cerca de 3/4 das unidades industriais
(responsáveis por 91 % do pessoal ocupado) implementaram, no
quadriénio 1996-1999, esse tipo de estratégia. As demais técnicas
de gestão, também empregadas em larga escala pela indústria de
Alagoas, são, em ordem decrescente de importância: aumento
da escala de produção, crescimento da automação industrial e
ampliação do número de produtos.
O p e r c e n t u a l p o u c o e x p r e s s i v o de u n i d a d e s que
s u b s t i t u í r a m parte de s u a produção local por produtos
importados (7%), em contraste com aquelas que ampliaram o grau
de nacionalização dos seus produtos e componentes (35%), sugere
que o processo de reestruturação da indústria da região vem
d e s e n v o l v e n d o - s e mais, a partir do a p r o v e i t a m e n t o e da
otimização dos recursos locais, que dos produtos, matérias-primas
ou componentes importados. Além disso, a pequena parcela de
unidades que reduziu o número de produtos e/ou desativou
linhas de produção (10%) indica que estratégias de racionalização
permanecem sendo uma prática pouco difundida no setor. Ver
tabela 3.10.

126 Fernando José de Lira


TABELA 3.10 - Unidades Locais que Adotam Estratégias de
Gestão e Respectivo Pessoal Ocupado, segundo Tipo de
Estratégia, Indústria, Estado de Alagoas, 1999.

Em porcentagem
Tipo de Estratégia Adoção de Estratégias de Gestão
Unidade Local Pessoal Ocupado
Novos Métodos Org. de Trahalho/Produçãc 75,8 90,6
Aumento da Escala de Produção 60,5 64,7
Crescimento da Automação Industrial 59,7 86,7
Ampliação do Número de Produtos 49,6 21,9
Cresc. Import de Insumos/Componentes 35,5 34,3
Nacionalização Produtos e Componentes 34,7 14,7
Redução do Número de Fornecedores 15,3 5,8
Diminuição da Escala de Produção 12,9 11,2
Redução do Número de Produtos 10,6 8,8
Desativação de Linhas de Produção 9,7 2,0
Substit. Parte Prod. Local p/ Importados 7,3 10,9
Outro 4,0 1,3

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional -


Paer.

A estrutura industrial da região, concentrada na produção


de bens de consumo não-duráveis (especialmente alimentos) e
intermediários (química e combustíveis, borracha, plástico e
minerais não-metálicos), tem importância significativa na
definição dos principais programas de qualidade e produtividade
utilizados pelas unidades. Nesse sentido, as técnicas mais
difundidas são aquelas voltadas à melhoria da qualidade do
produto e dos serviços (inspeção final e indicadores de qualidade)
e à manutenção preventiva total (MPT), método de controle de
qualidade da produção, cuja função é reduzir ou eliminar as

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 127


paradas de máquinas para manutenção. Esses programas
requerem, em geral, menores esforços de reorganização da
produção e do trabalho, bem como custos mais reduzidos de
implementação, em relação aos novos métodos de gestão da
produção e aumento da produtividade, como just in time, kaizen
e o uso de minifábricas.
A indústria de Alagoas ocupa posição de destaque no
ranking de plantas automatizadas entre os Estados da Federação.
Ao todo, 47% das suas unidades produtivas, responsáveis por
mais de 8 0 % do pessoal ocupado do setor, afirmaram ter
utilizado, no ano de 1999, algum equipamento de automação
industrial.
Além disso, acompanhando a tendência observada nos
outros Estados, o equipamento automatizado com maior difusão
é a máquina-ferramenta com controle n u m é r i c o (MFCN),
convencional ou computadorizado, que se encontra em cerca de
1/3 das fábricas automatizadas da região. Ambos os tipos de
MFCN indicam um determinado nível de automação industrial
na planta, mas a máquina-ferramenta com controle numérico
computadorizado - por adicionar ao equipamento um ou mais
processadores e permitir que a programação seja feita diretamente
em seu painel de comando - confere maior flexibilidade e
sofisticação tecnológica à programação que a máquina-ferramenta
convencional. No último caso, a programação é feita externamente
(em geral em microcomputadores), sem a intervenção do
o p e r a d o r , gerando uma fita ou disquete q u e é l i d o pelo
equipamento de controle numérico.

O percentual elevado de pessoas ocupadas, em contraste


com a p r o p o r ç ã o de u n i d a d e s u s u á r i a s de q u a i s q u e r
equipamentos de automação industrial, sugere que a maior parte
dessas plantas é de grande porte. Ver tabela 3.11.

128 Fernando José de Lira


Tabela 3.11 - Unidades Locais q u e Utilizam Equipamentos de
A u t o m a ç ã o Industrial e R e s p e c t i v o P e s s o a l O c u p a d o ,
segundo Tipo de Equipamento, Indústria, Estado de Alagoas,
1999.

Em porcentagem
Adoção de Equipamento de Automação Uso
Industrial por Tipo de Equipamento de Equipamentos
Automatizados
Unidade Pessoal
Local Ocupado

Adoção de Equipamento(s) de Automação


Industrial 46,8 81,0
Máq-Ferramenta Contr. Num.
Convencional 32,3 55,4
Máq.-Ferramenta Contr. Num.
Computador. 31,5 53,4
Computador de Processo - Manufatura 28,2 57,7
Computador de Processo 25,8 58,2
CLP - Controlador Lógico Programável 24,4 59,5
Analisador Digital 24,4 73,2
Sistema Digital de Controle Distribuído 17,9 57,0
Armazém (Estoque) Automatizado 15,3 29,4
Sistema CAD/CAE 15,3 38,9
Sist.Transp. Autom. de Contr. Eletrônico 14,5 38,0
Centro de Usinagem Contr. Numérico 12,9 45,1
Máq.-Ferramenta Retrofitada Contr. Num. 10,5 23,6
Robô Industrial 5,7 25,8

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional -


Paer.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 129


TABELA 3.12 - Unidades Locais e suas Relações com o Meio Ambiente, segundo Tipo de
Relação e Categorias de Uso, Indústria, Estado de Alagoas, 1999.

Em porcentagem
Tipo de Relação da Unidade com o Meio Ambiente Categorias de Atividades Industriais
Bens Não-Duráveis Bens Duráveis e de
e Intermediários Capital
Desenvolvimento de Produtos e Processos
Não-Agressivos ao Meio Ambiente que Constituem
Oportunidade de Negócio para a Empresa 40,3 50,9
Impacto Negativo nos Negócios devido aos Prejuízos
Causados por sua Atividade sobre o Meio Ambiente:
Elevação dos Custos 37,3 22,8
Perda de Mercados Internos e/ou Externos 9,0 3,5
Degradação da Imagem Institucional 20,9 8,8
Invest. p/ Reduzir Problemas Ambientais Causados
pela Atividade:
Certificação ISO 14000 6,1 14,0
Substituição de Insumos Contaminantes 31,3 14,0
Reutilização/Tratamento de Resíduos 47,8 42,1
FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer.
3.4.3 - Estratégias voltadas ao meio ambiente
Em linhas gerais, os dados sugerem que as indústrias de
bens intermediários que, nesta análise, encontram-se agregadas
à categoria de bens de consumo não-duráveis, são as que
acarretam os maiores impactos negativos ao meio ambiente e,
por esse motivo, as que apresentam maior difusão de estratégias
de investimentos voltadas à redução desses prejuízos.
Esses resultados se confirmam, na verdade, na maior parte
dos Estados e mostram-se perfeitamente consistentes com o tipo
de atividade desenvolvida pelas unidades industriais da categoria.
Em geral, trata-se de atividades cujo insumo principal é extraído
diretamente da natureza, como minerais e petróleo, ou depende
de outros recursos naturais para ser produzido, como madeira e
álcool. Por esse motivo, essas indústrias são mais suscetíveis de
gerar impactos negativos ao meio ambiente e, ao mesmo tempo,
realizar esforços para reduzir os problemas ambientais causados
por sua atividade.
Ao contrário, os benefícios obtidos pela empresa, graças à
adoção de inovações voltadas à redução dos impactos negativos
de s u a p r o d u ç ã o s o b r e o m e i o a m b i e n t e , f o r a m m a i s
pronunciados nas indústrias de bens de capital e de consumo
duráveis, ou seja, metade das suas unidades desenvolveu
produtos e/ou processos não-agressivos ao meio ambiente que,
por sua vez, acarretaram oportunidades de negócio para a
empresa. No grupo de bens intermediários e de consumo não-
duráveis, o percentual se reduz para 40%. ver tabela 3.12.

130 Fernando José de Lira


3.4.4 - Emprego e recursos humanos
A indústria de Alagoas é extremamente concentrada no
segmento de alimentos e bebidas. As características desse setor
determinam, portanto, o perfil da indústria geral, tanto nos
aspectos produtivos quanto nas políticas de recursos humanos
das empresas. O pessoal ocupado divide-se em assalariados
(ligados ou não à produção) e não-assalariados (proprietários,
sócios, e t c ) . Neste Estado, a maior parcela é constituída de
assalariados ligados à produção (91%), participação um pouco
superior à verificada em outras regiões do País. A divisão de
alimentos e bebidas possui proporcionalmente mais desses
profissionais do que o existente no restante da indústria.
Os assalariados não-ligados à produção representam 9%
do total, mas esse percentual apresenta variações expressivas
entre os segmentos da indústria. A divisão de alimentos e bebidas
possui proporcionalmente menos desses profissionais que o
contingente do restante da indústria, embora seja líder em
números absolutos. Os não-assalariados (proprietários, sócios,
etc.) representam apenas 0,2% do pessoal ocupado na indústria,
participação que varia de 0,1% a 2,3% entre os segmentos de
atividade selecionados. Ver tabela 3.13.

132 Fernando José de Lira


TABELA 3 . 1 3 - Distribuição do Pessoal Ocupado Assalariado ou Não, por Tipo de Inserção na
Unidade, segundo Categorias de Uso e Atividades Selecionadas, Indústria, Estado de Alagoas,
1999.
Categorias de Uso e Atividades
Selecionadas Assalariados Não-
Ligados Não-Ligados Total Assalariados Total
à Produção à Produção
Total da Indústria 90.9 8.9 99,8 0.2 100.0
Bens de Consumo não Duráveis 92,2 7,7 99,9 0,1 100,0
Alimentação e bebida 93,3 6,7 99,9 0,1 100,0
Demais 76,9 22,5 99,4 0,6 100,0
Bens Intermediários, de Capital
e de Consumo Duráveis 82,6 16,8 99,4 0,6 100,0
Borracha e plástico 83,0 15,7 98,7 1,3 100,0
Minerais não-metálicos 70,5 28,2 ),X,7
(
1,3 100,0
Produtos de metal
(exceto máq. e equip.) 76,5 21,2 97,7 2,3 100,0
Química e combustíveis 84,6 15,2 99,8 0,2 100,0
Demais 80,4 18,2 98,6 1,4 100,0
FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer.
Nota: A soma das parcelas pode não coincidir com o total, devido a arredondamentos ocasionados na imputação.
O conjunto de trabalhadores ligados à produção e o
daqueles ligados às atividades adrninistrativas e gerenciais foi
dividido segundo categorias ocupacionais de qualificação. Os
ligados diretamente à atividade principal da indústria, a produção,
f o r a m distribuídos, s e g u n d o o grau de q u a l i f i c a ç ã o , em
trabalhadores braçais semiqualificados, qualificados, técnicos de
nível médio e técnicos de nível superior (a definição de cada uma
das categorias de classificação encontra-se em Lira (1998, p.40).
Os trabalhadores braçais e os de menor qualificação estão,
na maior parte dos empregos, em ocupações ligadas à produção
(66%), seguidos pelos trabalhadores semiqualificados (21%),
qualificados (10%), técnicos de nível médio (3,6%) e técnicos de
nível superior (0,6%).
A distribuição contraria a tendência mais geral da indústria
brasileira cuja categoria mais numerosa é a de semiqualificados.
Também aponta para uma baixa participação de técnicos de nível
médio e de nível superior. Essa característica capta o baixo grau de
qualificação nos postos de trabalho da indústria alagoana e reflete
o perfil da indústria local de alimentos e bebidas. Nos demais
segmentos, verifica-se menor participação de trabalhadores braçais
e maior participação de profissionais mais qualificados.
Em números absolutos, devido à concentração produtiva,
o segmento de alimentos e bebidas possui mais da metade dos
trabalhadores qualificados, dos técnicos de nível médio e dos
técnicos de nível superior. Ver tabela 3.14.

134 Fernando José de Lira


TABELA 3.14 - Distribuição do Pessoal Ocupado Assalariado. Ligado à Produção, por Categoria
de Qualificação Ocupacional, segundo Categoria de Uso e Atividades Selecionadas, Indústria,
Estado de Alagoas, 1999.
Em porcentagem
Categorias de Uso Pessoal Ocu pado Ligado à Produção
e Atividades Selecionadas Braçais semiquali- qualificado Técnico Nível Total
de menor ficado de nível superior
qualificarão médio
Total da Indústria A5.fi 20.7 9.5 .3.6 0.6 100.0
Bens de Consumo
não Duráveis 69,5 18,4 8,5 3,0 0,6 100,0
Alimentação e bebida 73.fl 15.9 8.0 2.7 0.4 100.0
Demais 10,7 60,9 17,5 7,8 3,2 100,0
Bens Intermediários,
de Capital e de Consumo
Duráveis 36 1 38 ? 16.5 78 14 ionn
Borracha e plástico 1.0 80.7 15.2 2.5 0.6 100,0
Minerais não metálicos 7,3 70,7 19,0 1,4 1,6 100,0
Produtos de metal
(exceto máq. e equip.) 2,5 51,0 42,6 2.5 1,5 100,0
Química e Combustíveis 50,1 25,9 12,8 9,8 1,5 100,0
Demais 3,1 57,3 33,1 5,2 1.4 100,0
FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer.
Nota: A soma das parcelas pode não coincidir com o total, devido a arredondamentos ocasionados na imputação.
O pessoal não-ligado à produção foi distribuído entre
administrativo e outros (manutenção, limpeza, segurança, etc.).
Para o pessoal administrativo, agruparam-se as categorias
conforme o grau de qualificação - básico, técnico de nível médio
e profissional de nível superior.
A característica comum a todo o Brasil é que o pessoal não-
ligado à produção apresenta grau de qualificação superior ao
encontrado no pessoal Hg?do a esse setor, com participação
expressiva de técnicos de nível médio e técnicos de nível supe-
rior. Em Alagoas, a categoria referente às ocupações relativas a
manutenção, limpeza, segurança, entre outras, é a mais numerosa,
com 3 8 % do total, seguida pela do administrativo básico, com
3 3 % dos postos de trabalho, pela dos técnicos de nível médio,
com 19%, e pela dos profissionais de nível superior, com 10%
dos postos de trabalho.
Não existem diferenças expressivas entre a distribuição das
ocupações por categoria de uso ou atividades selecionadas, e a
maior parte dos trabalhadores encontra-se no segmento de
alimentos e bebidas. Ver tabela 3.15.

136 Fernando José de Lira


TABELA 3.15- Distribuição do Pessoal Ocupado Assalariado, Não Ligado à Produção,
por Categoria de Qualificação, Segundo Categorias de Uso e Atividades
Selecionadas, Indústria, Estado de Alagoas, 1999.

Em porcentagem
Categorias de Uso Pessoal Ocupado Assalariado Não-Ligado à ^roduçao
e Atividades Selecionadas Administrativo Outros Total
Básico Técnico Nível (Manut,
de Nível Superior Limpeza,
Médio Segurança)
Total da Indústria 32,7 18,5 10,3 38,5 100,0
Bens de Consumo não Duráveis 32,9 19,4 10,0 37,7 100,0
Alimentação e bebida 33,1 19,3 9,9 37,8 100,0
Demais 31,9 20,2 10,8 37,1 100,0
Bens Intermediários,
de Capital
e de Consumo Duráveis 32,2 15,6 11,2 41,1 100,0
Borracha e plástico 35,1 26,8 10,3 27,8 100,0
Minerais não-metálicos 44,2 6,8 9,5 39,5 100,0
Produtos de metal
(exceto máq. e equip.) 35,7 14,3 16,1 33,9 100,0
Química e combustíveis 26,3 16,3 10,4 47,0 100,0
Demais 47,0 13,7 16,2 23,1 100,0
FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer.
Nota: A soma das parcelas pode não coincidir com o total, devido a arredondamentos ocasionados.
Nas unidades industriais de Alagoas, os dados revelaram
que os requisitos de escolaridade exigidos para a contratação do
pessoal semiqualifiçado ligado à produção são baixos: 3 1 % das
unidades, responsáveis por 3 6 % do pessoal ocupado nessa
categoria, não requerem nenhum nível de escolaridade para a
contratação, e 40% das unidades exigem a quarta série do primeiro
grau. Por outro lado, 24% das unidades exigem o Ensino Funda-
mental completo.
Os requisitos de escolaridade aumentam de acordo com a
qualificação da categoria ocupacional. Para o pessoal qualificado,
ligado à produção, a exigência varia bastante entre as empresas:
12% das unidades não exigem escolaridade para a contratação,
30% delas exigem a quarta série do primeiro grau, 29% requerem
o Ensino Fundamental completo e 30% exigem o Ensino Médio.
Para o pessoal administrativo básico, o principal nível de
escolaridade exigido para contratação é o Ensino Médio completo,
requerido por 70% das unidades industriais, que empregam 72%
desses profissionais, indicando requisitos de escolaridade bem
superiores para o pessoal administrativo. Ver tabela 3.16.

138 Fernando José de Lira


TABELA 3.16 - Distribuição das Unidades Locais e do Respectivo Pessoal Ocupado
(1), por Categoria de Qualificação Ocupacional, segundo Nível de Escolaridade
Exigido para a Contratação da Maior Parte dos Empregados, Indústria, Estado de
Alagoas, 1999.

Em porcentagem
Nível de Escolaridade Categorias de Qualificação Ocup acionai
Pessoal Pessoal Administrativo
Ligado à Produção Ligado à Produção Básico
Semiqualificado Qualificado
LTL PO UL PO UL PO
Nenhum 31,1 36,2 11,7 2,6 1,7 2,2
4' Série do Ensino Fundamental
1
40.3 38.8 29.7 37.3 6.1 4.9
Ensino Fundamental Completo 24,4 23,8 28,8 37,9 18,3 20,0
Ensino Médio Completo 4,2 1,1 29,7 22,1 70,4 71,7
Ensino Superior Incompleto 0,0 0,0 0,0 0,0 3,5 1,2
Ensino Superior Completo 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer.


(1) Refere-se ao pessoal ocupado, em cada categoria de qualificação ocupacional, das unidades
que exigem determinada escolaridade para contratação da maior parte dos empregados, e não
ao número de empregados com tal escolaridade.Nota: Percentual de respostas afirmativas em relação
ao total de unidades locais em que existe a categoria de qualificação ocupacional.
A exigência de cursos profissionalizantes para a contratação
também caracteriza a indústria local. O curso de habilitação técnica
de nível médio é exigido por 57% das unidades que empregam
7 1 % dos trabalhadores na categoria de técnicos de nível médio. Os
cursos livres (curta duração) são requeridos por 39% das unidades,
e os cursos técnicos de nível básico, por 27% das unidades.
Para os profissionais semiqualificados, a exigência de cursos
é prática pouco difundida, sendo mais exigidos os de nível básico
( 1 3 % das u n i d a d e s ) . P a r a a categoria d o s p r o f i s s i o n a i s
qualificados, a exigência de cursos é maior, como esperado, uma
vez que suas ocupações exigem maior destreza e conhecimento.
Os cursos mais importantes são os de nível básico (24%), nível
médio (21%) e de curta duração (19%). Para os profissionais de
nível superior, o perfil altera-se, sendo mais exigidos os cursos
de curta duração, em 40% das unidades. Ver tabela 3.17.

140 Fernando José de Lira


TABELA 3.17- Unidades Locais em que a Rotina de Trabalho é Executada pela Maioria dos
Empregados e Respectivo Pessoal Ocupado ( 1 ) , por Categoria de Qualificação
Ocupacional do Pessoal Administrativo, segundo Tipos de Rotina, 1999. Indústria, Estado
de Alagoas. Pm porcentagem
Tipos de Rotina Categorias de Qualificação Ocupacional
Básico Técnico de Nível Médio Nível Superior
UL PO UL PO UL PO
Uso de Microcomputador 83,5 89,7 94,6 98,2 91,8 97,0
Uso de Língua Estrangeira 1,7 4,7 5,4 7,9 12,2 14,9
Uso de Conhecimento Tecnológico
Atualizado 45,2 49,4 58,1 67,2 66,3 75,9
Uso de Técnicas de Qualidade 55,7 64,0 63,4 76,0 67,4 77,4
Uso de Redação Básica 67,8 68,6 76,3 85,5 73,5 80,6
Expressão e Comunicação Verbais 80,0 80,7 82,8 92,9 86,7 89,4
Uso de Matemática Básica 85,2 87,1 88,2 94,1 85,7 91,4
Contato com Clientes 74,8 65,6 77,4 77,3 85,7 81,9
Trabalho em Equipe 91,3 93,2 92,5 97,4 93,9 95,5
Outros 3,5 2,5 4,3 3,6 4,1 2,8
FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer.
(1) Refere-se ao pessoal ocupado, em cada categoria de qualificação ocupacional, das unidades em que a rotina
de trabalho é executada pela maioria dos empregados, e não ao número de empregados que realizam tais rotinas.
Nota: Percentual de respostas afirmativas em relação ao total de unidades locais em que existe a categoria de
qualificação ocupacional.
As altas taxas de desemprego, associadas ao processo de
modernização produtiva e aos investimentos em novas plantas,
na década de 90, trazem em seu bojo a necessidade constante da
qualificação da mão-de-obra. Isso, porque uma parte das rotinas
de trabalho torna-se obsoleta, e outra, cada vez mais complexa,
levando o empregado à defasagem e à incapacidade de inserção
nas novas formas de produção. Implementar programas de
educação básica e de qualificação específica contribui para o
aumento da empregabilidade dos trabalhadores e amplia a
possibilidade de inserção e reinserção da força de trabalho. Assim,
a identificação das carências de qualificação que prejudicam o
desempenho dos empregados torna-se um instrumento poderoso
no processo de reforma da educação profissional.
Entre os trabalhadores ligados à produção, essas carências
apresentam comportamento oposto ao apresentado pelo pessoal
das demais rotinas, ou seja, na maioria dos casos, as carências
prejudicam mais as categorias de semiqualificados e qualificados
e menos as dos técnicos de nível médio e de nível superior.
A falta de conhecimentos específicos da ocupação, a
dificuldade de comunicação e expressão verbais e a falta de
capacidade de aprender novas habilidades e funções são as
carências que mais prejudicam o desempenho dos empregados
ligados à produção. Relacionadas a falhas tanto na formação básica
quanto na formação específica, essas carências são maiores para
o pessoal semiqualificado e diminuem c o n f o r m e cresce a
hierarquia. Por outro lado, a falta de conhecimento de informática,
de habilidade para lidar com clientes e de noções básicas de língua
estrangeira prejudica mais o desempenho dos técnicos de nível
médio e dos profissionais de nível superior.
As tabelas seguintes possibilitam múltiplas análises, como,
por exemplo, comprovar que a falta de c o n h e c i m e n t o de
informática prejudica mais o desempenho dos empregados de
grandes que de pequenas empresas.

142 Fernando José de Lira


TABELA 3.18 - Unidades Locais em que Existem Fatores Prejudiciais ao Desempenho
Profissional da Maioria dos Empregados, por Categoria de Qualificação Ocupacional,
segundo Tipos de Fatores Prejudiciais ao Desempenho Profissional do Pessoal Ligado à
Produção, Indústria, Estado de Alagoas, 2001.
Em porcentagem
Tipos de Fatores Prejudiciais Categorias de Qualificação Ocupacional
ao Desempenho Profissional Semi-Qualificado Qualificado Técnico Nível
de Nível Superior
Médio
Falta de Conhecimentos Específicos da Ocupação 46,2 41,4 34,9 25,0
Falta de Conhecimento de Informática 7,6 18,9 23,3 23,5
Dificuldade de Expressão e Comunicação Verbais 34,5 34,2 31.4 26,5
Falta de Conhecimento de Matemática Básica 21,0 25,2 19,8 17,7
Falta de Habilidade para Lidar com Clientes 12,6 5,3 14,0 16,2
Falta de Capacidade de Comunic. por Escrito 24,4 !7,0 30,2 27,9
Dificuldade de Trabalho em Equipe 27,7 !7,9 25,6 27,9
Dificuldade de Aprender Novas I labil. e Funções 37,8 14,2 27,9 26,5
Falta de Noções Básicas de Língua Estrangeira 5,9 6,3 8,1 13,2
Outros 0,8 ),0 o.'.
1
0,0

FONTE: F u n d a ç ã o S e a d e . Pesquisa da Atividade E c o n ô m i c a Regional - P a e r .


Nota: P e r c e n t u a l d e r e s p o s t a s afirmativas e m r e l a ç ã o a o total d e u n i d a d e s l o c a i s e m q u e existe a
categoria de qualificação ocupacional.
TABELA 3.19-Pessod Ocupado em Unidades Locais em que Existem Fatores frejudciás ao Desempenho
Profissional da Maioria dos Empregados, por Categoria de QuaSficação Ocupacional, segundo Tipos de Fatores
Prejudciais ao Desempenho Profissional do Pessoal Ligado à Produção, Indústria. Estado de Alagoas,! 999.
Em porcentagem
Tipos de Fatores Prejudiciais Categorias de Qualificação Ocupacional
ao Desempenho Profissional
Semi- Qualificado Técnico Nível
Qualificado de Nível Superior
Médio
Falta de Conhecimentos Específicos da Ocupaçãt i 47.4 31.4 22.9 25.0
Falta de Conhecimento de Informática 14,7 33,3 38,0 33,5
Dificuldade de Expressão e Comunicação Verbai > 43,8 32,5 47,2 41,2
Falta de Conhecimento de Matemática Básica 19.2 21.8 30.8 16.2
Falta de Habilidade para Lidar com Clientes 10,2 11,5 30,8 17,2
Falta de Capacidade de Comunic. por Escrito 21,9 13,5 39,8 23,3
Dificuldade de Trabalho em Equipe 33.6 22.8 40.8 34.8
Dificuldade de Aprender Novas Hábil, e Funções 37.9 27.1 40.0 22.3
Falta dp N o r õ p ç Ráçirai de T ínpna Fsrranapira A1 71 1* 1??
Outros 0,2 0,0 0,0 0,0
FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer.
Nota: Refere-se ao pessoal ocupado, em cada categoria de qualificação ocupacional, das unidades em que existem fatores prejudiciais
ao desempenho profissional da maioria dos empregados, e não ao número de empregados que apresentam lais fatores.
A análise das carências do pessoal administrativo também
indica, na maioria dos casos, que elas prejudicam mais o
desempenho das c a t e g o r i a s h i e r a r q u i c a m e n t e inferiores
(administrativo básico), depois o dos técnicos de nível médio e,
menos, o da categoria de profissionais de nível superior. Quanto
a estes, a exceção é a falta de noções básicas de língua estrangeira,
carência que lhes traz maior prejuízo que as dos profissionais
de outras categorias acarretam àqueles.
Em todas as categorias administrativas, a carência que mais
prejudica o desempenho profissional é a falta de conhecimentos
de informática, uma habilidade necessária em qualquer posto
administrativo, considerando-se a alta utilização de computadores
na rotina de trabalho.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 145


TABELA 3.20 - Unidades Locais em que Existem Fatores Prejudiciais ao Desempenho Profissional da Maioria dos
Empregados e Respectivo Pessoal Ocupado (1), por Categoria de Qualificação Ocupacional, segundo Tipos de
Fatores Prejudiciais ao Desempenho Profissional do Pessoal Administrativo, Indústria. Estado de Alagoas, 1999.
Em porcentagem
Tipos de Fatores Prejudiciais Pessoal Administrativo
ao Desempenho Profissional
Básico Técnico Nível
de Nív. Médio Superior
UL PO UL PO UL PO
Falta de Conhecimentos Específicos da Ocupação 33,0 31,7 30,1 11,4 25,5 14,4
Falta de Conhecimento de Informática 41,7 51,1 40,9 41,0 36,7 45,3
Dificuldade de Expressão e Comunicação Verbais 37,4 41,6 34,4 36,3 27,6 19,8
Falta de Conhecimento de Matemática Básica 26,1 31,1 28,0 24,0 25,5 21,8
Falta de Habilidade para Lidar com Clientes 31,3 31,6 32,3 31,3 29,6 29,5
Falta de Capacidade de Comunic. por Escrito 36,5 42,4 36,6 36,7 31,6 28,0
Dificuldade de Trabalho em Equipe 25,2 30,1 25,8 30,5 26,5 24,6
Dificuldade de Aprender Novas Hábil, e Funções 27,0 27,9 23,7 14,9 25,5 17,9
Falta de Noções Básicas de Língua Estrangeira 9,6 14,8 12,9 18,0 15,3 21,3
Outros 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional-Paer.
(I) Refere-se ao pessoal ocupado, em cada categoria de qualificação ocupacional, das unidades em que existem fatores prejudiciais
ao desempenho profissional da maioria dos empregados, e não ao número de empregados que apresentam tais fatores. Nota:
Percentual de respostas afirmativas em relação ao total de unidades locais em que existe a categoria de qualificação ocupacional.
Quanto aos instrumentos de seleção mais utilizados na
contratação de empregados, observando-se a tendência verificada no
Brasil, ficou claro, para todas as categorias de qualificação
ocupacional, que a entrevista com o contratante é o procedimento
mais aplicado.
A recomendação e a indicação dos trabalhadores é o
segundo instrumento mais utilizado para os postos de trabalho
menos qualificados, perdendo um pouco a importância para as
ocupações hierarquicamente mais elevadas. Em contrapartida, o
uso da análise de currículo cresce, conforme a qualificação do
posto de trabalho, sendo o segundo instrumento mais utilizado
para os técnicos de nível médio e de nível superior. O teste de
conhecimento prático é importante para todas as categorias, e o
uso do teste de conhecimento teórico cresce conforme a hierarquia.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 147


TABELA 3.21 - Unidades Locais que Utilizam Instrumentos de Seleção da Maior Parte dos
Empregados, por Categoria de Qualificação Ocupacional, segundo Tipos de Instrumento
de Seleção Utilizados, Indústria. Estado de Alagoas, 1999.
Em porcentagem
Tipos de Instrumentos Categorias de Qualificação Ocupacional
de Seleção Utilizados
Pessoal Ligado à Produção Pessoal Administrativo
Semi Qualificado Técnico Nível Básico Técnico Nível
qualificado de Nível Superior de Nível Superior
Médio Médio
Analiso do Currículo 47.1 67.6 8.3.78 5/3 79.8 8.3.9 86.6
Teste de Conhecimento Práticc 59,7 76,6 72,1 72,1 64,0 63,4 65,0
' 1 'este de Conhecimento Teórico 24,4 35/1 40,74 7,1 47,4 50,5 49,5
Entrevista com Contratante 86,6 90,1 93,0 92,7 91,2 91,4 94,9
Avaliação com Psicólogos 17,7 21,6 27,9 20,6 21,9 25,8 25,8
Recomendação / Indicação 68,9 68,5 67,4 69,1 65,8 62,4 62,9
Outros 7,6 9,9 10,5 10,3 8,8 9,7 9,3

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer.


Nota: Percentual de respostas afirmativas em relação ao total de unidades locais em que existe a categoria
de qualificação ocupacional.
TABELA 3.22 - Pessoal Ocupado em Unidades Locais que Utilizam Instrumentos de Seleção
da Maioria dos Empregados, por Categoria de Qualificação Ocupacional, segundo Tipos
de Instrumento de Seleção Utilizados, Indústria. Estado de Alagoas, 1999.
Em porcentagem
Tipos de Instrumentos Categorias de Qualificação Ocupacional
de Seleção Utilizados
Pessoal Li jado à Produção Pessoal Administrativo
Semi Qualificado Nível Nível Básico Nível Nível
qualificado Técnico Superior Técnico Superior
Análise de Currículo 43.5 64,8 93.2 90.9 82.0 83,2 78.4
Teste de Conhecimento Práticc 59,5 80,9 90,9 79,1 67,6 70,7 66,1
Teste de Conhecimento Teoria 22,5 40,5 61,0 51,7 58,0 66,6 55,9
Entrevista com Contratante 84.0 87.5 96.2 87.5 91.1 95.7 93.7
Avaliarão rom Psicólogos 16.0 19.7 37.1 36.5 73.7 33.4 25.5
Recomendação / Indicação 59,3 65,7 52,4 55,7 56,9 63,0 68,5
Outros 3,0 1,8 17,5 8,8 5,9 5,5 9,3

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer.


Nota: Refere-se ao pessoal ocupado, em cada categoria de qualificação ocupacional, das unidades que
utilizam instrumentos de seleção da maioria dos empregados, e não ao número de empregados selecionados
através desses instrumentos.
No Estado de Alagoas, apesar de a maioria das unidades
ser do segmento de alimentos e bebidas, as ocupações com
carência de profissionais são típicas de outros segmentos. Sob o
aspecto da dificuldade de contratação, as ocupações assinaladas
mais vezes pelas unidades são as seguintes: torneiro mecânico,
torneiros, fresadores, retificadores e trabalhadores assemelhados,
programador de computador, mecânicos de manutenção de
máquinas e outras ocupações.

3.4.5 - Treinamento e educação formal


O treinamento no posto de trabalho, para o pessoal
administrativo, também é oferecido pela m a i o r parte das
unidades, em todas as categorias (61% das unidades para o
administrativo básico, 62% para os técnicos de nível médio e 63%
para os profissionais de nível superior), embora em proporção
um pouco menor do que para o pessoal ligado à produção. As
unidades produtoras de alimentos e bebidas destacam-se como
as que mais oferecem treinamento no posto de trabalho para o
pessoal administrativo.
O treinamento fora do posto de trabalho é, em geral, mais
c o m p l e x o e longo, porque desenvolve e aperfeiçoa novas
h a b i l i d a d e s , não se r e s t r i n g i n d o à rotina de t r a b a l h o .
Normalmente, os conhecimentos são transmitidos por um
profissional de fora da unidade. Esse tipo de treinamento é
realizado em 56% das unidades locais, responsáveis por 87% do
pessoal ocupado. As unidades de médio e grande portes são mais
ativas na oferta de treinamento que as de pequeno. A oferta de
treinamento fora do posto de trabalho das unidades produtoras
de alimentos e bebidas (69% das unidades) é superior à das
demais.

150 Fernando José de Lira


TABELA 3.23 - Unidades Locais com Ocorrência de Treinamento Fora do
Posto de Trabalho (1) e Respectivo Pessoal Ocupado (2), segundo Categorias
de Uso e Atividades Selecionadas, Indústria, Estado de Alagoas, 1997-99.

Em porcentagem
Categorias de Uso e Atividades Ofereceram Treinamento
Selecionadas UI. PO
Total da Indústria 55,7 87,1
Bens de Consumo não Duráveis 59,7 88,5
Alimentação e bebida 69,4 90,7
Demais 33,3 58,4
Bens Irfeiixxliários, de Capital e de Qnsumo Duráveis 50,9 77,6
Borracha e plástico 33,1 24,3
Minerais não-metálicos 40,0 46,6
Produtos de metal (exceto máq. e equip.) 25,0 20,1
Química e Combustíveis 76,9 92,3
Demais 64,3 75,7

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer.


(1) O treinamento fora do posto de trabalho pode ser dentro ou fora da unidade.
(2) Refere-se ao pessoal ocupado em unidades com ocorrência de treinamento
fora do posto de trabalho, e não ao número de empregados treinados.
Os cursos mais oferecidos pelas empresas - para o pessoal
semi-qualificado, qualificado e técnico ligado à produção - são
os de segurança e higiene no trabalho e operação de máquinas e
equipamentos. A oferta de cursos de controle de qualidade e
específicos de curta duração cresce conforme a hierarquia e
favorece mais os profissionais de nível superior. Os cursos de
métodos e técnicas gerenciais e de coordenação, de relações
humanas e de informática também apresentam oferta crescente,
conforme a hierarquia.

152 Fernando José de Lira


TABELA 3.24- Unidades Locais com Ocorrência de Treinamento Fora do Posto de TrabaVno \\)
e Respectivo Pessoal Ocupado (2), por Categoria de Qualificação Ocupacional do Pessoai
Ligado à Produção, segundo Tipos de Treinamento, Indústria, Estado de Alagoas, 1997-1999.

Tipos de Treinamento Categorias de Qualificação Ocupacional


Semi Qualificado Técnico Nível
qualificado de Nível Superior
Médio
TIT. PO ITT. PO TIL PO TIT. PO
Métodos c Téc. Gerenciais e de Coord 1,7 0,4 3,3 1,5 11,9 23,1 23,5 49,3
Cursos de Controle de Qualidade 14,2 14,4 20,0 31,3 24,8 56,4 28.4 42,2
Cursos de Línguas Estrangeiras 1,7 1,1 1,7 0,7 2,8 4,0 2,9 15,9
Cursos de Relações Humanas 9,2 20,0 12,5 27,0 13,8 43,3 20,6 49,3
Cursos de Informática 5,0 5,9 13,3 29,2 21,1 55,5 19,6 35,1
Cursos Específicos de Curta Duração 11,7 18,9 19,2 28,0 28,4 66,5 28,4 54,1
Segurança e Higiene no Trabalho 23,3 30.6 27,5 46.5 31,2 66.3 97.5 49.3
Operação de Máquinas/ Equipamentos 16,7 32,0 26,7 51,0 30,3 78,0 25,5 63,9
Operação de Processo 10,0 16,9 19,2 38,7 23,9 66,5 25.5 58.5
Outro 4,2 4,0 5,0 4,1 3,7 21,5 2,9 6,4
FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer.
(ÍIO treinamento fora do posto de trabalho pode ser dentro ou fora da unidade.
(2) Refere-se ao pessoal ocupado em unidades com ocorrência de treinamento fora do posto de trabalho, e não ao número de
empregados treinados.
NOTA: Percentual de respostas afirmativas em relação ao total de unidades locais em que existe a categoria de qualificação ocupacional.
1

Para o pessoal administrativo, os tipos de treinamento mais


oferecidos em todas as categorias de qualificação são os cursos
de informática e os específicos de curta duração. Seguem-se os
de controle de qualidade, de relações humanas e de segurança e
higiene no trabalho. A oferta do curso de métodos e técnicas
gerenciais e coordenação cresce conforme a hierarquia, sendo
intensa para os profissionais de nível superior.
Reproduzindo um comportamento brasileiro, ao comparar-
se a oferta de cursos para o pessoal administrativo e para o pessoal
ligado à produção, os cursos de métodos e técnicas gerenciais, de
relações humanas e de informática são mais oferecidos para o
primeiro grupo, enquanto os de operação e m a n u s e i o de
máquinas e equipamentos e de operação de processos favorecem
mais o segundo. Importantes tanto para o pessoal ligado quanto
para o não-ligado à produção, são os cursos de controle de
qualidade, os específicos de curta duração e os de segurança e
higiene no trabalho.

154 Fernando José de Lira


TABELA 3.25 - Unidades Locais com Ocorrência de Treinamento Fora do Posto de Trabalho
(1) e Respectivo Pessoal Ocupado (2), por Categoria de Qualificação Ocupacional do
Pessoal Administrativo, segundo Tipos de Treinamento, Indústria, Estado de Alagoas, 1997-
Em porcentagem
Categorias de Qualificação Ocupacional
Tipos de Treinamento Básico Técnico de Nível Médio Nível Superior
UL PO UL PO UL PO
Métodos e Téc. Gerenciais e de Coord. 11,6 18,8 21,9 33,7 30,7 58,8
Cursos de Controle de Qualidade 20,7 31,9 20,2 21,8 22.8 34.5
Cursos de Línguas Estrangeiras 7,4 19.7 7,9 17,1 9.7 23,9
Cursos de Relações Humanas 20,7 35.9 24,6 45.3 25.4 44,2
Cursos de Informática 33,9 61,9 32.5 50.4 33,3 54,7
Cursos Específicos de Curta Duração 24,0 33,5 29.8 57,9 30.7 51.3
Segurança e Higiene no Trabalho 21.5 29,7 21.9 21,5 22,8 30,0
Operação de Máquinas/Equipamentos 11.6 16,7 11,4 14,4 11,4 20,3
Operação de Processo 9,1 14,6 9.7 16.6 11,4 1 9.6
Outro 3,3 1,4 4.4 2,6 6.1 5,8
FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer.
(1) O treinamento fora do posto de trabalho pode ser dentro ou fora da unidade.
(2) Refere-se ao pessoal ocupado em unidades com ocorrência de treinamento fora do posto de trabalho, e
não ao número de empregados treinados.
Nota: Percentual de respostas afirmativas em relação ao total de unidades locais em que existe a categoria de
qualificação ocupacional.
3.4.6 - Caracterização geral das empresas
inovadoras
O Estado de Alagoas apresenta uma indústria pouco
diversificada, e sua especialização produtiva está centrada em
segmentos de média e baixa intensidade tecnológica. A atividade
industrial concentra-se em poucos segmentos, na maior parte
produtores de bens intermediários e bens de consumo não-
duráveis, enquanto os segmentos de bens de capital e de consumo
duráveis estão modestamente representados. As principais
divisões da indústria do Estado são as indústrias de alimentação
e bebidas, químicas e combustíveis (que contêm a produção de
álcool combustível).
Os indicadores de difusão tecnológica são coerentes com
esse quadro produtivo, demonstrando, também, o padrão de
especialização e de desenvolvimento industrial e tecnológico da
região. Por sua vez, as informações sobre o desempenho inovador
da indústria alagoana refletem o baixo dinamismo tecnológico
da economia industrial regional, expresso no grupo bastante
restrito de empresas inovadoras. Comparada ao percentual médio
de empresas brasileiras, a indústria de Alagoas ocupa um patamar
bastante inferior. Em relação aos Estados do Nordeste, o
desempenho inovador da indústria alagoana aproxima-se da Ba-
hia e Sergipe, entre outros, e fica bem abaixo do constatado no
Ceará e Pernambuco.
A tabela seguinte dimensiona a amostra analisada, situando
as empresas que responderam ao questionário de inovação
tecnológica e aquelas classificadas como inovadoras no universo
das empresas alagoanas. Responderam ao s u p l e m e n t o de
inovação tecnológica 40 empresas (38% das empresas alagoanas),
sendo que 14 ou, em termos relativos, 1 3 % das empresas
afirmaram ter introduzido, no período de 1995-1999, alguma
inovação de produto ou processo.

156 Fernando José de Lira


TABELA 3.26 - Participação das Empresas Inovativas no
Universo das Empresas Alagoanas, Estado do Alagoas, 1999.

Tipos de Empresa ISP Abs. %


Empresas Unilocais 84
Empresas Multilocais com Sede Alagoas 20
Total de Empresas Alagoanas 104 100,0
Universo de Aplicação do Suplemento 40 38,5
Empresas que Fizeram Alguma Inovação 14 13,5

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional -


Paer.

Do total de empresas analisadas, 35% realizaram algum tipo


de inovação (em produto e/ou processo) no período de 1995-
1999. O comportamento da taxa de inovação demonstra que 4 3 %
cias empresas inovaram em produto e processo. Em grandes
linhas, esse comportamento sugere que as empresas que já
desenvolvem atividades inovativas a c u m u l a m capacitação
tecnológica e, conseqüentemente, recursos e conhecimentos que
serão utilizados para empreender novos tipos de inovação em
produto ou em processo.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 157


TABELA 3.27 - Distribuição das Empresas Inovadoras por
Tipo de Inovação, segundo Categorias de Uso e Divisão
Selecionada, Estado do Alagoas, 1999.

Em porcentagem

Indústria Realizaram Inovaram Inovaram Inovaram


Algum tipo só em só em em Produto
de Inovação Produto
w
Processo
|2) (2)
e Processo <*>

Total 35,0 28,6 28,6 42,9

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional -


Paer.
(1) Percentual sobre o total de empresas pesquisadas.
(2) Percentual sobre o total de empresas inovadoras.
(3) O grupo II, referente à categoria de bens de capital e de consumo
duráveis, foi excluído da amostra deste suplemento devido ao fato de
nenhuma unidade ter respondido afirmativamente, quanto a ter realizado
uma inovação de produto, de processo ou um projeto tecnológico mal
sucedido.
O agente mais acionado para o desenvolvimento de
i n o v a ç õ e s de p r o d u t o s (80%) ou de p r o c e s s o (70%) foi
exclusivamente a própria empresa. Muito embora deva ser
considerada fraca, houve a interação com as empresas e com
outras instituições (empresas ou institutos de pesquisa) no
desenvolvimento das atividades relacionadas a P&D e a inovação.

3.5 - A economia dos serviços em Alagoas


No setor serviços é o turismo que mobiliza as expectativas de
crescimento econômico. A aglomeração de Maceió vem destacando-
se como pólo estadual de atividade turística. Os dados de 1998, da
Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), registram, na capital,
250 mil hóspedes, constatando a importância dessa atividade.

158 Fernando José de Lira


Mesmo possuindo um grande potencial agrícola, turístico,
recursos naturais e humanos e apresentando crescimento
elevado do seu Produto Interno Bruto (PIB) por um período muito
longo, sempre esteve entre os Estados do Brasil que exibiam as piores
taxas de ocupação produtiva de sua população. Isso ocorria mesmo
nas décadas de 60 e 70, quando os investimentos federais eram
altos, a população ocupada formalmente era pequena, os
rendimentos eram baixos e a emigração em direção ao Sudeste,
muito particularmente para São Paulo, muito elevada. Lira (1998,
p.10).
Localizado numa região de baixo nível de acumulação,
dependente, heterogêneo, com crescimento econômico muito
c o n c e n t r a d o , o E s t a d o não tem um p r o j e t o de i n c l u s ã o
econômica próprio e, muito menos, uma política voltada para
o emprego produtivo das pessoas em idade ativa. Por isso
mesmo, sua força de trabalho é relativamente pequena, a menor
do Nordeste, com uma taxa de atividade de apenas 54,9% das
pessoas em idade ativa, gerando um quadro de miséria que,
de acordo com dados de Marcelo Nere, da Fundação Getúlio
Vargas (FGV), em 2000, chega a 44,43% do total da população
com renda de até R$ 80,00.
Na verdade, essa pobreza é historicamente conhecida, mas
ela se agrava a partir da segunda metade da década de 80, quando
a economia brasileira entra em crise financeira, reduzindo
drasticamente as transferências de recursos para o Estado e o
setor privado. A partir daí, inicia-se o que viria a ser o mais
longo processo de estagnação do setor privado e de crise fiscal
do Estado, desaquecendo todas as outras atividades econômicas
e inibindo a ação dos setores público e privado na geração de
ocupações produtivas.
São cinco os segmentos do setor de serviços avaliados no
Estado de Alagoas: alojamento e alimentação; transporte; saúde;
distribuição e instalações de energia elétrica, gás, água e

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 159


telecomunicações; e demais serviços. A tabela 3.7 apresenta
informações de 280 unidades locais, com mais de 20 pessoas
ocupadas, responsáveis por 17.872 empregados em 31/12/2001,
sendo grande parte dessas unidades locais pertencentes ao
segmentos de alojamento e alimentação e saúde.

Tabela 3 . 2 8 -Unidades Locais e Respectivo Pessoal


Ocupado, segundo Segmento Serviços, Estado de Alagoas
1999.
Segmento Unidades cocais Pessoal Ocupado
Número % Número %
Total 180 100,0 17.872 100,0
Akjprrertoe Alimentação 62 34,4 3.188 17,8
Transporte 30 16,7 4.879 27,3
Saúde 48 26,7 6.173 34,5
Eletriddade, Gás e Agua
e Telecomunicações 21 11,7 2.175 12,2
Demais Serviços 19 10,6 1.457 8,2

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional -


Paer.

Além de demonstrar relevância em relação ao número de


unidades locais, o segmento de saúde é o que mais emprega,
34,5% do pessoal ocupado no setor, seguido pelo transporte,
responsável por 27,3% desse pessoal. O menor segmento é o de
demais serviços, com 19 unidades locais e 1.457 pessoas ocupadas,
que representam 8,2% do total do setor. (Ver tabela 3.28).
A distribuição das unidades e dos empregados do setor de
serviços do Estado demonstrou uma grande concentração
espacial, com cerca de 8 2 % das unidades e 87% do pessoal
ocupado localizados na microrregião de Maceió. A concentração
é ainda maior quando se observam os segmentos de alojamento
e alimentação, transporte e demais serviços.

160 Femando José de Lira


TABELA 3.29 - Distribuição Regional das Unidades Locais e
do Respectivo Pessoal Ocupado, segundo Segmento
Serviços, Estado de Alagoas, 2001.
Em porcentagem
Segmento Microrregião Demais Regiões
de Maceió
UL PO UL PO
Total 81,7 87,5 18,3 12,5
Alojamento e Alimentação 91,9 89,9 8,1 10,1
Transporte 86,7 95,0 13,3 5,0
Saúde 70,8 79,9 29,2 20,1
Eletricidade, Gás, Agua
e Telecomunicações 66,7 84,2 33,3 15,8
Demais Serviços 84,2 93,9 15,8 6,1

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer.

Apesar d e uma distribuição das u n i d a d e s l o c a i s


relativamente igual entre as faixas de porte selecionadas, nota-se
que, no segmento de alojamento e alimentação, predominam as
unidades de menor porte, com 20 a 29 pessoas ocupadas, ao passo
que, no de transporte, 43,3% das unidades possuem 100 ou mais
pessoas ocupadas.
Segundo o ano de início de operação da unidade local, nota-
se que 42,2% iniciou sua operação a partir de 1990. Já a década de
70 foi a que apresentou menor participação no total das unidades
do setor. Os últimos dez anos foram de grande relevância para
as empresas do segmento alojamento e alimentação. Nesse
período, mais de 6 1 % das unidades deram início às suas
operações. Os segmentos saúde e demais serviços são aqueles
com maior presença de unidades locais que iniciaram antes de
1970. (Ver tabela 3.29).

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 161


TABELA 3.30 - Distribuição das Unidades Locais e do Respectivo Pessoal Ocupado,
por Período de Início de Operação, segundo Segmento Serviços, Estado de Alagoas,
1999.
Em porcentagem
Segmento Período de Início de Operação
Até 1969 1970 c 1979
UL PO UL PO UL PO
Total 23,3 37,9 13,9 13,1 20,6 17,2
Alojamento e Alimentação 3,2 1,9 8,1 13,4 27,4 24,5
Transporte 20.0 19.8 6.7 10.7 40.0 39.7
Saúde 41,7 68,7 18,8 7,3 10,4 3,4
Eletricidade, Gás e Agua
e Telecomunicações 28,6 53,1 28,6 14,0 4,8 1,6
Demais Serviços 42,1 24,2 15,8 43,7 10,5 7,6

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer.


TABELA 3.31 - Unidades Locais e Respectivo Pessoal O c u p a d o , por Tipo de Empresa, o-
o i
AO
segundo S e g m e n t o Serviços, Estado de Alagoas, 1999. T3
B3
§• o* p- Q
Segmento Tipo de Empresa
Uni ocal Multilocal
UE % PO % III. % PO %
Total 122 67,8 13.083 73,2 58 32,2 4.789 26,8
Alojamento e Alimentaçãi ) 48 77,4 2.262 71,0 14 22,6 926 29,1
Transporte 16 .53,3 3.630 74.4 14 46.7 1.249 25,6
Saúde 40 83,3 5.727 92,8 8 16,7 446 7,2
Eletricidade, Gás, Água e
TpWnmnniracõPS 1(1 47.6 5R0 ?f>7 11 52.4 1 595 7.3.3
Demais Serviços 8 42,1 884 60,7 11 57,9 573 39,3

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer.


8- F? ""S
1
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Nota: Percentual de respostas afirmativas sobre o total de unidades locais pertencentes a FI> CN RÓ J2

empresas que pretendem investir na mesma atividade da unidade, nos próximos três anos.
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Como decorrência do investimento, 79,5% das unidades
locais pertencentes a empresas que pretendem investir declararam
aumento do número de pessoal ocupado. Somente 4,3% afirmam
que ocorrerá diminuição do pessoal em certas funções.

3.6 - Emprego e recursos humanos


Nos segmentos de serviços no estado de Alagoas, foram
analisadas informações quantitativas e qualitativas de emprego
segundo a inserção dos ocupados na unidade e níveis de qualificação
profissional. Por sua vez, o pessoal ocupado, ligado à atividade prin-
cipal, foi dividido, segundo as exigências de suas ocupações, em
quatro categorias: seirúqualificados, qualificados, técnicos de nível
médio e técnicos de nível superior (LIRA, 1998, p.40). O pessoal
não-ligado à atividade principal está dividido em dois grupos: o dos
que trabalham nos departamentos administrativos, gerenciais, de
pessoal, contabilidade, vendas, informática e t c , chamado de
administrativo, por sua vez subdividido em três categorias:
aolministrativo básico, técnico e nível superior; e o dos demais, que
engloba várias atividades (manutenção, limpeza etc).
Relativamente a rotinas de trabalho, carências de qualificação
dos empregados, requisitos para contratação, instrumentos de seleção
e treinamento de empregados, foi feito um levantamento cujos
resultados serão apresentados a seguir. Referem-se às sete categorias
de qualificação: quatro ligadas à atividade principal e três referentes
ao pessoal adrninistrativo, a saber, os trabalhadores qualificados, o
pessoal administrativo básico e os técnicos de nível médio.
Cerca de 99% das 17.872 pessoas ocupadas no setor alagoano
de serviços são assalariadas, sendo que 12.080 trabalham na atividade
principal da empresa e 3.462 têm função administrativa. O segmento
de alojamento e alimentação é o que demonstrou maior participação
do pessoal não-assalariado no seu quadro, enquanto o segmento de
eletricidade, gás, água e telecomunicações é o que possui maior
participação de pessoal administrativo.

164 Fernondo José de Lira


TABELA 3.32 - Pessoal Ocupado Assalariado ou Não, por Tipo de Inserção na Unidade,
segundo Segmento Serviços, Estado de Alagoas, 1999.

Segmento Assalariado Não Total


Ligado à Atividade Não Ligado à Atividade Total Assalariado
Principal Principal
A d m i n i s t r a t i v o Ontrn (V\
Tntal I2.N«N 1 46? ? 130 17.67? 700 17.18?
% 67.6 19.4 11.9 98.9 1-1 100.0
Alojamento e
Alimentarão 7 774 451 478 3 10.3 85 3.188
0/
Ai 69.8 14.2 13.4 97.3 2.7 100.00
Transporte 4.138 476 244 4.858 21 4.879
0/
84,8 9.8 5,0 99.6 0.4 100.00
/o
ÇaiiHp s .191 1 40? 1 ??? 6 11."- «•« h \~-\
<-f» 6 ?? 7 19 8 99 1 0 9 100 00
Eletriddade, Gás
e Agua e
Tefexmunicacces 1.295 808 66 2.169 6 2.175
0/
In 5 9 .5 37.7 .3.0 99.7 0.3 100.0
Demais Serviços 932 325 170 1.427 30 1.475
o/
/o 64,0 22,3 11,7 97,9 2,1 100,0

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer.


(1) Inclui manutenção, vigilância, limpeza e outras, como cozinha, exclusive as do segmento de alimentação.
Nota: A soma das parcelas pode não coincidir com o total devido a arredondamentos ocasionados na imputação.
Considerando as categorias de qualificação ocupacional
do pessoal ligado à atividade principal, nota-se que 60,6% são
qualificados, com os semiqualificados ocupando a segunda maior
categoria do setor. Analisando os segmentos separadamente,
percebe-se a relevância do pessoal qualificado, principalmente
no segmento de transporte, que tem cerca de 89% do seu pessoal
assalariado ligado à atividade, classificado nessa categoria. O
pessoal de nível superior, por sua vez, ganha destaque na
composição do segmento de demais serviços, na qual 20,5% do
pessoal está classificado. O segmento de saúde tem maior
participação relativa do pessoal braçal e de menor qualificação.
(Ver Tabela 3.33).

166 Fernando José de Lira


TABELA 3 . 3 3 - Pessoal Ocupado Assalariado, Ligado à Atividade Principal, por Categoria
de Qualificação Ocupacional, segundo Segmento Serviços, Estado de Alagoas, 1999.

Segmento Categoria de Qualificação Ocupacional


Braçal e Semi Qualificado Técnico Nível Superior Total
de Menor qualificado de Nível
Qualificação Médio
Total 501 2.433 7.322 1.002 821 12.080
Alojamento
c Alimentação 45 879 1.189 81 29 2.224
Transporte 54 345 3.679 49 11 4.138
Saúde 327 589 1.553 541 481 3.491
Eletriddade, Gás,
Agua e
Telecomunicações 41 483 448 214 109 1.295
Demais Serviços 34 137 453 117 191 932

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer.


Nota: A soma das parcelas pode não coincidir com o total devido a arredondamentos ocasionados na
imputação.
TABELA 3.34 - Distribuição do Pessoal Ocupado Assalariado, Ligado à Atividade
Principal, por Categoria de Qualificação Ocupacional, segundo Segmento Serviços,
Estado de Alagoas, 2001.
Em porcentagem
Segmento Categoria de Qualificação Ocupacional
Braçal e Semi- Qualificado Técnico Nível Total
de Menor qualificado de Nível Superior
Qualificação Médio
Total 4,2 20,1 60,6 8,3 6,8 100,0
Alojamento e
Alimentação 2,0 39,5 53,5 3,6 1,3 100,0
Transporte 1,3 8,3 88,9 1,2 0,3 100,0
Saúde 9,4 16,9 44,5 15,5 13,8 100,0
Eletricidade, Gás
e Água e
Telecomunkações 3,2 37,3 34,6 16,5 8,4 100,0
Demais Serviços 3,7 14,7 48,6 12,6 20,5 100,0
FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer.
Nota: A soma das parcelas pode não coincidir com o total devido a arredondamentos ocasionados
na imputação.
Observando o papel de cada segmento na absorção de
mão-de-obra ligada à atividade principal, segundo a categoria
de qualificação ocupacional, nota-se que tendem a destacar-se
os segmentos com maior número de empregados. Mesmo assim,
percebe-se que, apesar de o segmento de saúde ser o que mais
emprega pessoal de nível superior (58,6% dos empregados dessa
categoria), os demais serviços (o segmento com menor número
de pessoal ocupado) demonstram papel relevante na absorção
dessa mão-de-obra, já que ocupam 23,3% das pessoas dessa
categoria. Nota-se, também, segundo essa análise, que o segmento
de saúde emprega 65,3% do pessoal braçal e de menor qualificação
do setor de serviços de Alagoas. (Ver tabela 3.34, 3.35, 3.6 e
3.37).

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 169


TABELA 3 . 3 5 - Distribuição do Pessoal Ocupado Assalariado, Ligado à Atividade
Principal, por Categoria de Qualificação Ocupacional, segundo Segmento Serviços,
Estado de Alagoas, 2 0 0 1 .
Em porcentagem
Segmento Categoria de Qualificação Ocupacional
Braçal e Semi Qualificado Técnico de Nível Total
de Menor qualificado Nível Superior
Qualificação Médio
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
AbjamaitD e AKmertíação 9,0 36,1 16,2 8,1 3,5 18,4
Transporte 10,8 14,2 50,3 4,9 1,3 34,3
Saúde 65,3 24,2 21,2 54,0 58,6 28,9
Eletriddade, Gás, Água
e Telecomunicações 8,2 19,9 6,1 21,4 13,3 10,7
Demais Serviços 6,8 5,6 6,2 11,7 23,3 7,7

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer.


Nota: A soma das parcelas pode não coincidir com o total devido a arredondamentos ocasionados
na imputação.
' Sobre a qualificação do pessoal administrativo, nota-se que
67,5% pertencem à categoria ocupacional de nível básico, 19%, à
de técnico de nível médio, e 13,5%, à faixa de nível superior.

TABELA 3.36 - Distribuição do Pessoal Ocupado


Assalariado, em Atividades Administrativas, por
Categoria de Qualificação Ocupacional, segundo
Segmento Serviços, Estado de Alagoas, 2001.
Em porcentagem
Segmento Categoria de Qualificação Ocupacional
Básico Técnico Nível Total
de Nível Superior
Médio
Total 67,5 19,0 13,5 100,0
Alojamento
e Alimentação 52,8 25,9 21,5 100,0
Transporte 63,2 16,0 20,6 100,0
Saúde 77,8 16,0 6,3 100,0
Eletricidade,
Gás, Água e
Tdecomunicações 63,2 21,4 15,4 100,0
Demais Serviços 60,9 20,6 18,5 100,0

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica


Regional - Paer.
NOTA: A soma das parcelas pode não coincidir com o total,
devido a arredondamentos ocasionados na imputação.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 171


O segmento de saúde, por ser o que mais emprega pessoal
administrativo, destacou-se na contratação de pessoal de nível
básico e na de técnicos de nível médio. O segmento de distribuição
de eletricidade, gás, água e telecomunicações é o que mais
emprega pessoal de nível superior na atividade administrativa.

TABELA 3.37 -Distribuição do Pessoal Ocupado Assalariado,


em Atividades Administrativas, por Categoria de
Qualificação Ocupacional, segundo Segmento Serviços,
Estado de Alagoas, 2001.

Em porcentagem
Segmento Categoria de Qualificação Ocupacional
Básico Técnico Nível Total
de Nível Superior
Médio
Total 100,0 100,0 100,0 100,0
Alojamento e
Alimentação 10,2 17,8 20,8 13,0
Transporte 12,9 11,0 21,0 13,8
Saúde 46,6 34,1 18,8 40,5
Eletricidade,
Gás, Água e
Telexmunica^es 21,9 26,3 26,6 23,3
Demais Serviços 8,5 10,2 12,9 9,4

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica Regional - Paer.


NOTA: A soma das parcelas pode não coincidir com o total, devido a
arredondamentos ocasionados na imputação.

172 Fernando José de Lira


3.7 -Requisitos de Escolaridade Formal

Em relação a escolaridade formal dos empregados, as


exigências, feitas pelas unidades do setor de serviços para
contratação do pessoal semiqualificado e qualificado, ligado à
atividade principal, e para a do pessoal administrativo básico estão
apontadas na tabela 3.38.

TABELA 3.38 - Distribuição das Unidades Locais e do


Respectivo Pessoal Ocupado (1), por Categoria de
Qualificação Ocupacional, segundo Segmento e Nível de
Escolaridade Exigido para a Contratação da Maior Parte
dos Empregados, Serviços, Estado de Alagoas, 2001.
continuação
Lm porcentagem
Categoria de Qualificação Ocupacional
Pessoal Ligado 4 Pessoal Ligado a Pessoal Nao-Ligado à
Aliv idade Atividade Principal Atividade Principal -
Segmento e Nivel de Escolaridade
Prii*-ipal - - Qualificado Administrativo Básico
Semun alificado
U L I PO U L ! PO U L 1 PO
Tot.il
Nenhum 9,6 6,3 3,0 0,9 0,6 0,1,
Quarta Serie do Ensino Fundamental 41,1 37,0 16,2 9,? 5.1 1,?
Ensino Fundamental Completo 28,1 43,1 38,3 42,4 20,4 19,31
Ensino Médio Completo 21,2 13.S 41,9 47,2 71,3 76,7
Educação Superior Incompleta 0,0 0,0 0,6 0,2 1,9 IS
Educação Superior Completa 0,0 0,0 0,0 0.0 0,6 0,2
Mojjiiiento o Alinu-nt.lt.io
Nenhum 12,1 7,! 4,í 3,9 2,1
Quarta Serie do Ensino Fundamental 46.6 55,3 27,4 US,» i2,a 5,c
Ensino Fundamental Completo 29,3 23,3 32,3 31,4 31,9 25,2
Ensino Médio Completo 12.1 13,7 35,5 45,9 51,1 62,9
Edueaçflo Superior Incompleta 0,0 0,0 0,0 0,0 2,1 0,8
Educação Superior Completa 0,ü iu- 0,0 0,0 0,0 0,C
Transporte
Nenhum 15,4 i-1.? 3,3 0.5 0,0 O.Ol
Quarta Série do Ensino Fundamental 50.Ü 46.1 23.3 10,6 3,6 4,7
Ensimi lundanu-nlal Completo 23.1 22,6 33,3 48.3 14,3 21,3
Ensino Médio Completo 11.5 16,8 20,0 40.6 78.6 72.S
Educação Superior Incompleta 0.Ü 0.0 0,0 0,0 0.0 o.d
Educação Superior Completa O.C 0,0 0,0 0.0 3,6 1,3,
Saúde
Nenhum 2,7 3,1 0,0 0,1» 0,0 o.c
Quarta Série do Ensino Fundamental 32.4 18,5 4,9 1,9 0,0 o,c
Ensino Fiiiidamenl.il Completo 2').',64.7 29.3 35,< 13.3 3,6

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 173


conclusão
Em porcentaueni
Categoria de Qualificação Ocupacional
Pessoal Ligado a Pessoal Ligado a Pessoal Náo-Ligado à
Atividade Atividade Principal Atividade Principal -
Segmento e Nível de Escolaridade Principal - -Qualificado Administrativo Básico
•iiq.i >Ji/icacio

UL PO UL PO UL PO
Ensino Médio Completo 35,1 13,8 65,9 62,1 86,7 96,4
Educação Superior Incompleta 0,0 0,0 0,0 0,C 0,0 0.C
Educação Superior Completa 0,0 0,0 0,0 0,C 0,0 o,c
Eletricidade, Gás, Água e Telecomunicações
Nenhum 7,7 3,1 5,6 0,2 0,0 o,c
Quarta Série do Ensino Fundamental 38,5 14,1 0,0 0,C 0,0 o,c
Ensino Fundamental Completo 30,8 77,2 55,6 69,C 20,0 53,4
Ensino Médio Completo 23,1 5,6 38,9 30,e 75,0 41,7
Educação Superior Incompleta 0,0 0,0 0,0 0,C 5,0 4,Ç
Educação Superior Completa 0,0 0,0 0,0 0,C 0,0 o,c
Demais serviços
Nenhum 8,3 3,7 0,( 0,1 0,0 o,c
Quarta Série do Ensino Fundamental 25,0 56,2 6,: 7, 5,9 2,C
Ensino Fundamental Completo 25,0 8,8 37,: 19, 17,7 7,1
Ensino Médio Completo 41,7 31,4 50,C 69, 70,6 81,8
Educação Superior Incompleta 0,0 0,0 6,: 3/ 5,9 9,1
Educação Superior Completa 0,0 0,0 0,C 0,1 0 4 o,c

FONTE: Fundação Seade. Pesquisa da Atividade Econômica


Regional - Paer.
(1) Refere-se ao pessoa! ocupado, em cada categoria de
qualificação ocupacional, das unidades que exigem
determinada escolaridade para contratação da maior parte dos
empregados, e não, ao número de empregados que apresentam
tal escolaridade.
NOTA: Percentual de respostas afirmativas em relação ao total
de unidades locais onde existe a categoria de qualificação
ocupacional.

No setor serviços, o requisito mais exigido para contratação


do pessoal semiqualifiçado, ligado à atividade principal, é a quarta
série do ensino fundamental, seguido pelo ensino fundamental
completo. Já o ensino médio completo é o requisito mais exigido
na contratação do pessoal qualificado e do pessoal não-ligado à
atividade principal. (Ver tabela 3.39).

174 Fernando José de Lira


Nos segmentos de saúde e demais serviços, a exigencia
para a contratação do pessoal semiqualificado, ligado à atividade
principal, é o ensino médio completo.
No segmento de transporte e de distribuição de eletricidade, gás,
água e telecomunicações, a exigência para a contratação de pessoal
qualificado, ligado à atividade, mostrou-se menor, uma vez que o requisito
mais exigido é o ensino fundamental completo. (Ver tabela 3.39).
Nota-se que o trabalho em equipe e o contato com clientes
são os tipos de rotinas mais presentes nas unidades pesquisadas,
em todas as categorias ocupacionais. A expressão e a comunicação
verbais, bem como o conhecimento técnico atualizado incluem-
se entre as rotinas muito apontadas pelas unidades locais, com
uma menor intensidade na faixa do pessoal semiqualificado,
ligado à atividade principal.
Na rotina do pessoal não-ligado à atividade principal, ou
seja, o pessoal de área administrativa, o uso de microcom-
putadores e o de matemática básica estão bastante presentes. A
utilização de língua estrangeira ainda é pequena na rotina dos
profissionais do setor serviços, de forma geral.
As carências de noções básicas de língua estrangeira e de
conhecimentos de matemática básica são os fatores menos
apontados como prejudiciais ao desempenho profissional de todas
as categorias de qualificação ocupacional. A falta de capacidade
de comunicação por escrito, de conhecimento de informática e a
dificuldade de aprender novas habilidades e funções também
não foram itens apontados como de grande relevância no
desempenho das atividades do pessoal ocupado no setor.
Já a falta de conhecimento específico da ocupação, a
dificuldade de expressão e comunicação verbais e a falta de
habilidade para lidar com clientes foram os fatores mais apontados
como prejudiciais ao desempenho profissional. (Ver tabela 3.20).

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 175


TABELA 3.39 - Unidades Locais em que Existem Fatores Prejudiciais ao Desempenho
Profissional da Maioria dos Empregados e Respectivo Pessoal Ocupado (1). por Categoria
de Qualificação Ocupacional, segundo Tipo de Fator Prejudicial ao Desempenho
Profissional, Serviços, Estado de Alagoas, 1999.
Em porcentagem]
Categoria de Qualificação Ocupacional
Pessoal Não-Ligado à Atividade
P e s s o a l L i g a d o à A t i v i d a d e Principal
Principal - Administrativo
T i p o d e F a t o r Prejudicial a o D e s e m p e n h i
[Técnico de| Técnico de
Profissional Semiqua- Nível Nível
Qualificado Nível Básico Nível
lificado Superior Superior
Medio Médio
UL I PO Hl. I l'0 UL PO UL I PO UL PO i ' i . ' l ro
Falta d e C o n h e c i m e n t o E s p e c í f i c o d a 46,6 60,8 40,7 35,7 29,0 35,8 31,5 35,0 37,3 37,7 36,8 383 31,7 26,1
Ocupação
Falta d e C o n h e c i m e n t o d e I n f o r m á t i c a 13.1 8,4 25,3 15,0 23,7 26,2 22,0 15,7 4 Z 4 36,1 4 3 , 1 37,4 39,1 30.Ü
Dificuldade d e E x p r e s s ã o e C o m u n i c a ç ã o 47.3 55,8 41,3 35,5 34,2 37,2 34,8 28,0 40,5 35,2 39,3 35,4 35,3 40,9,
Verbais
Falta d e C o n h e c i m e n t o d e M a t e m á t i c a Básica 24,0 23,0 23,4 19,0 20,2 11,9 19,6 14,9 2 6 , 6 21,9 2 9 , 1 23,2 28,1 18,2j
Falta d e H a b i l i d a d e p a r a L i d a r c o m C l i e n t e s 40.4 48,0 43.1 36,8 32,5 32,1 30,4 25,2 39,2 34,4 35,0 26,2 35,3 24,8
Falta d e C a p a c i d a d e d e C o m u n i c a ç ã o p o r 32.2 29,3 33,5 32,1 2 4 , 6 16,4 21,7 20,7 31,0 27,7 26,5 21,8 27,3 18,4
Escrito
Dificuldade d e Trabalho e m Equipe 35.6 40,6 33,5 36,7 30,7 40,1 29,4 28,1 31,0 36,9 28,2 34,5 31,7 20,l|
D i f i c u l d a d e d e A p r e n d e r N o v a s HabiL e 37.7 44,8 35,3 3 2 , 6 26,3 29,7 25,0 25,0 30,4 36,4 29,9 36,3 29,5 20,1
Funções
Falta de N o ç õ e s Básii as de L í n g u a 19,2 15.3 19,8 9,3 21,1 10,9 18,5 143 133 6,7 16,2 11,4 20,1 13,1
Estrangeira

FONIE: F u n d a ç ã o Seade. Pesquiso da Atividade E c o n ô m i c a Regional - Paer.


(1) Relere-se ao pessoal o c u p a d o , em c a d a categoria de qualificação o c u p a c i o n a l , d a s unidades em que existem fatores
prejudiciais ao desempenho profissional da maioria dos empregados, e não ao número de empregados que apresentam tais fatores.
N o t a : Percentual de respostas afirmativas em relação ao total de unidades locais o n d e existe a categoria de qualificação
ocupacional.
As escolas classificadas como "outras" foram as principais
fornecedoras de mão-de-obra para as unidades locais que
privilegiam escolas profissionalizantes no processo de contratação
(28,5% das unidades). No entanto, as escolas técnicas federais,
apesar de serem apontadas como fornecedoras de mão-de-obra
por um número menor de unidades (15,6%), são responsáveis
por um maior número de pessoas ocupadas.
O s e g m e n t o de alojamento e alimentação privilegia,
principalmente, o Senac como fornecedor de mão-de-obra,
enquanto as e s c o l a s técnicas federais são as p r i n c i p a i s
fornecedoras do segmento de distribuição de eletricidade, gás,
água e telecomunicações.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 177


Capítulo IV

4.1 - Ocupação, renda e exclusão


Como já observamos, o padrão de desenvolvimento
adotado no Estado não priorizou a educação como instrumento
importante de ocupação, de distribuição e crescimento sustentável
da renda. Sabemos que, entre os trabalhadores e pequenos
empreendedores rurais e urbanos, a educação é um grande e
importante atributo na produção, na organização e na gestão dos
negócios. Por isso, quanto mais bem-distribuído esse atributo no
interior da população, principalmente na população economicamente
ativa, menor será a desocupação e melhor será a renda.
Alagoas registrou, em 1999,32/3% do total das pessoas de 15 anos
ou mais de idade como sendo analfabetas. E o Estado que possui a maior
taxa de analfabetismo nessa faixa de idade. Na faixa de 10 anos ou mais,
58,4% eram analfabetas funcionais. No meio urbano, a proporção de
analfabetos funcionais era de 53,04% e, no meio rural, de 79,88%.
Em relação à taxa líquida de escolaridade da população -
relação entre o número de alunos na faixa etária adequada,
matricula em deterrninado nível de ensino e a população nessa
mesma faixa etária - a tabela 4.1 apresenta, em 1998, 86,3% e
11,5% no ensino fundamental e no ensino médio, respectivamente.
Quando comparadas as taxas de escolaridade estaduais às
regionais e às nacionais, percebe-se que tanto as do ensino médio
como as do fundamental ficaram abaixo das verificadas no
Nordeste e no Brasil, constatando-se taxas de 90,0% e 14,5% para
o Nordeste e 95,3% e 30,8% para o Brasil.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 179


TABELA 4.1 - Alagoas: Taxas líquidas de escolaridade por
nível de ensino no Brasil, Região Nordeste e Estado de
Alagoas, em 1998.

Regiões Educação Ensino Ensino


Pré-Escolar Fundamental Médio

1991 1998 1991 1998 1991 1998


Alagoas 29,0 - - 73,4 86,3 9,2 11,5
Nordeste 37,6 - - 72,5 90,0 9,4 14,5
Brasil 34,7 - - 86,1 95,3 17,7 30,8

FONTE: MEC/lnep.

Como demonstram os dados, o padrão de desenvolvimento


pouco valorizou a educação, o que concorreu, entre outras coisas,
para a elevada desocupação desigualdade da renda e baixa
mobilidade social; para a alta incidência de pobreza e pouca
acumulação de capital humano na população em idade ativa (PIA).
A educação formal da população é importante porque, além
de possibilitar novas perspectivas de ocupação e renda, permite
que os ocupados empregados ou pequenos empreendedores
agreguem mais valor ao produto, melhorem a organização, a
gestão, o processo de produção e, sobretudo, percebam mais
facilmente os canais de comercialização dos seus produtos.
A educação também serve de base para uma maior
acumulação de capital social, na medida em que os empregados
e pequenos empreendedores percebem mais claramente a
importância da cooperação, da integração horizontal, da inovação
tecnológica, bem como da democratização do saber e das
informações, que são elementos-chaves para o aumento e a
sustentabilidade dos ocupados e de suas rendas.

180 Fernando José de Lira


A tabela 4.2 mostra que, em 1999, o Estado tinha 243 mil
aposentados e pensionistas que representavam quase 9% da
população. Nas cidades, eram 184 mil e, no campo, 59 mil pessoas
vivendo nessa condição. Em alguns municípios, a principal fonte
de renda familiar vem da aposentadoria de 1 a 2 membros que
são clientes preferenciais do comércio local e que sustentam toda
a família, a qual se encontra desocupada e sem qualquer
perspectiva de inclusão no mercado de trabalho.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 181


Os dados vêm comprovar, portanto, que parte importante
dessa exclusão decorre da falta de oportunidade de ocupação,
pois temos uma PIA não ocupada que cresceu à taxa de 3,2% ao
ano, aumentando de 939 mil pessoas, em 1992, para 1.167 mil,
em 1999. A taxa de desemprego urbano, nos últimos dez anos,
teve um incremento de 4,9% ao ano; a do meio rural aumentou
em 4 , 1 % ao ano. A t u a l m e n t e , grande n ú m e r o de pessoas
ocupadas como catadores de lixo, alta proporção de trabalhadores
de baixa ou nenhuma qualificação e uma perversa política de
educação e social assistencialista.
A tabela 4.2 esclarece, ainda, que, em 1999, a população em
idade ativa (PIA) de Alagoas era de pouco mais de 2.088 mil pessoas,
mas a economicamente ativa (PEA) era quase metade da PIA. Já a
população ocupada representava tão somente 44% da PIA, ou seja,
quase 60% da população em idade ativa encontrava-se na inatividade,
significando dizer que a taxa de atividade era de 54,9%, a mais baixa
do Nordeste e, no meio rural, em torno 60%, a quarta mais baixa do
Nordeste; e a urbana, de 52,2%, a menor do Nordeste e do Brasil.
No rural, os h o m e n s tinham uma p a r t i c i p a ç ã o nas
ocupações de 74,4%, e as mulheres, de 46,5%. Nas cidades, a
proporção cai para 63,9% dos homens, e as mulheres participam
com41,9%. Assim, tanto para os homens quanto para as mulheres,
a inserção no total dos ocupados é maior no campo do que no
meio urbano, comprovando que o número de pessoas em idade
ativa que estavam na inatividade era maior no meio urbano. De
fato, em 1999, as cidades tinham 624 mil pessoas ativas na
inatividade e o rural, apenas 254 mil.
Portanto, as possibilidades de ocupação no meio urbano
eram muito menores do que as existentes no meio rural. A tabela
4.2 indica que, além de o ambiente urbano ter um maior número
de inativos, a taxa de desemprego era de 18,6%, e a do rural, de
6,9%, indicando a saturação da capacidade de geração de ocupação
na área urbana, principalmente na periferia das cidades.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 183


TABELA 4.2: População não-ocupada segundo a área censitária dos domicílios,
situação dos domicílios e Ramos de atividades. Alagoas, 1992-99. População de
10 anos ou mais.
ARKA C E N S I T Á R I A 1992 |W, 1995 1996 1 997 1.998 1999 taxa laxa
S I T U A Ç Ã O DOS DOMICILIOS 1992/99 pi».,, " i
RAMOS DE ATIVIDADES ( 1 0 0 0 ) (1.000) (1.000) (1 000) (1 000) (1.000) d ooo) "a *. *a
r< ' I A i 2.538 2.565 2.617 2.642 2.669 2.694 2.719 1,0 1.0
População de 10 .«nos ou mais ] 1.904 1 978 2.024 lo..: 2.086 1,6 1,0
População ocupada 950 892 990 893 959 92h 920 -0,1 (1.5
População nto-ocupada »W 1.012 988 1.129 1.108 1 157 I 167 3,1 1.4
Procurando emprego 94 111 90 78 83 130 159 4,8 29.5
Aposentados e/ou i l u s i o n i s t a s 154 216 20.. 207 22í> 25.1 243 5,3 5.9
O u t r o s inabvos 691 685 693 .-.44 799 778 765 2,2 •3.2

TOTAL URBANO 1.541 1 5<>5 1 ,.<«) 1 ool 1.747 1748 1 775 2,0 2,0
População de 10 anos ou mais 1 IS" 1 24.. 1325 1.315 1 177 1-372 1 40S 2,3 2.0
PopiUaçao ocupada 5o8 551 620 563 605 583 585 0,7 0.8
População não-ocupada 617 1,95 704 752 772
r.s.s 822 3,7 19
Procurando emprego 77 90 71 53 07 106 134 4,9 18, l
Aposentados e/ou pensionistas 106 171 lt.4 14') 17(1 189 1S1 5,8 7,6
O u t r o s inativos 433 434 4...S 550 535 494 504 2.X 35
TOTAL RURAL 99R 970 927 |979 ¡922 947 944 -0,7 -0 s
População de 10 anos ou mais 703 65S (.54 709 089 -12 679 0,3 -1.0
Populaç.io upada '.81 341 370 332 353 343 335 -1,2 -0,1
População não-ocupada (22 317 284 377 v.„ V.9 .344 1.9 -1,8
Procurando emprego 16 21 18 25 16 24 25 4.1 1d
Aposentados e/ou pensionistas 48 45 41 58 56 ,i 59 4,5 1.3
Outros inativos 258 2S1 225 294 ¡264 284 261 I..". -2,9

FONTE: Projeto Urbano.


A microrregião de Maceió empregava formalmente 53,49%
dos ocupados, sendo que 48,63% só na cidade de Maceió, que é
o centro do governo estadual, ocupando parte importante da
mão-de-obra em serviços públicos e em estatais. Os demais
municípios do Estado tinham uma taxa de formalidade nas
ocupações dos empregados de apenas 46,51 %, por conseguinte,
a formalidade dos empregados em Maceió e, principalmente,
nos outros municípios era inferior à taxa de informalidade.
A tabela 4.3 deixou claro que a economia de Alagoas é
significativamente patronal, pois o número de ocupados na
categoria de empregados em empreendimentos agrícolas e não-
agrícolas supera em muito o das outras categorias de ocupados.
Percebemos, ainda, que depois dos empregados, a categoria de
ocupação por conta própria é a mais representativa, tanto no setor
agrícola como no não-agrícola. No período de 1992/99 é a
categoria remunerada que mais cresceu, mas é no período de
1996/99 que os por conta própria mais aumentam: no meio ru-
ral, cresceu 8,8% ao ano e, nas cidades, 10,6%. Entre os ocupados,
remunerados é a única categoria que aumenta nesse período.
Essa crise da agropecuária patronal fica mais clara quando
analisamos, na tabela 4.3, o número de pessoas ocupadas, pois,
enquanto a ocupação por conta própria aumentou 20%, os
trabalhadores rurais caíram 43,8%, e os empregos agrícolas
reduziram em 3,2%, indicando um aumento da pequena produção
em detrimento das grandes explorações de base patronal.

184 Fernando José de Lira


TABELA 4.3: População ocupada segundo a área censitária dos domicílios, situação dos
domicílios e ramos de atividades.

ÁREA CENSITÁRIA 1992 1993 1995 1996 1.997 1.998 j 1.999 taxa taxa

1
SITUAÇÃO DOS DOMICÍLIOS 1992/99 1996/99
RAMOS DE ATIVIDADES (1.000) (1.000) (1.000) (1.000) (1.000) (1.000) (1.000) % a
a "<« "a
TOTAL 950 892 990 895 959 926| 920 -0,1 0,5
Agrícola 335 312 380 323 335 318 299 -1,0 -2,8
Empregados 207 140 186 164 154 139 137 -3,9 -6,3
empregados 207 140 186 164 154 139 137 -3,9 -6,3
trab.doméstico - - - - - - -
Conta-própria 63 78 83 68 68 82 85 2,5 8,8
Empregadores 6 10 6 - 4 7 3
Não-remunerados 59 86 106 88 109 90 74 3,0 -6,9
Sem declaração - - - - - - -
Não-Agrícola 615 580 610 572 624 609 621 0,4 2,3
Empregados 448 412 445 429 461 440 430 0,2 -0,3
empregados 393 364 377 376 406 382 376 0,1 -0,6
írab.doméstico 55 48 68 53 55 59 54 0,8 1,6
Conta-própria 128 139 122 113 127 133 155 1,2 10,6
Empregadores 9 9 16 17 17 15 17 10,0 -0,7

Não-remunerados 29 20 27 14 18 20 19 -5,0 10,4


Sem declaração - - - - - - -
FONTE: Projeto Urbano.
Como o próprio nome sugere, a categoria de trabalhadores
por conta própria é tipicamente informal, ou seja, são ocupados
autônomos em sua imensa maioria. São, também, pequenos e
microempreendedores, com rendimento que alcança até 3 salários
mínimos. Na tabela 4.4, nota-se que 86,4% dos ocupados por
conta própria ganham até 3 salários rrrínimos; os empregados
são mais bem-remunerados, mas existe uma fração de pequenos
empreendedores rurais e urbanos, com até 2 empregados, que
recebem até 1 salário mínimo. Os trabalhadores domésticos são
os mais afetados, pois 79,6% deles percebiam até 1 salário mínimo
e nenhum trabalhador pertencente a essa categoria ultrapassava
a faixa de 3 salários mínimos.

186 Fernando José de Lira


TABELA 4.4 - ALAGOAS: Pessoas de 10 anos ou mais de idade ocupadas, segundo a
posição na ocupação e a classe de rendimento mensal em salário mínimo, em 1999.

CATEGORIA ATE 1 SM +la3SM +3 a 5 SM +5 a 10 SM + de 10 SM


% % % % %
EMPREGADO SCTA 27,1 60,0 6,3 5,6 1,0
CONTA PRÓPRIA 38,4 48,0 8,0 4,0 1,6
EMPREGADORES 26,3 21,0 15,0 15,8 22,7
TRAB.DOMÉSTICO 79,6 20,4 — —
FONTE: PNAD-IBGE, 1999.
Noto: SM - Significa Salário Mínimo.
SCTA - Sem Carteira de Trabalho Assinada.
O ocupado por conta própria está presente nas cidades
mas, sobrenado, no meio rural. No meio urbano, em 1992, eram
12 mil ocupados, crescendo para 15 mil em 1999, com um aumento
anual de 0,4%. No município de Maceió, os ocupados em
atividades agrícolas por conta própria dispõem de grande espaço
para crescerem, pois a abundancia de água e de espaço físico e
principalmente, a proximidade do mercado consumidor são
f a t o r e s de estímulos para q u e a categoria dos p e q u e n o s
empreendedores em atividades agrícolas prolifere.
No meio rural, o pequeno e o microprodutor têm presença
considerável, e essa presença vem crescendo a taxas importantes.
Em 1992, havia 38 mil agricultores por conta própria; em 1999,
salta para 58 mil, com aumento anual de 4,9%, nesse período.
Quando analisamos o período de 1996/99, percebemos que o
aumento foi de 15%, por conseguinte, de três vezes o registrado
no período de 1992/99.
Também no setor agrícola, com a crise da cana-de-açúcar,
animais de criação, culturas diversas e agropecuária, que caíram
47,9%, 16,6%, 13,4% e 4,4%, respectivamente (Ver tabela 4.5),
diminui a hegemonia da agricultura patronal e abrem-se
oportunidades para práticas de outras culturas, como é o caso da
produção de verduras, milho, rizicultura, pesca e criação de aves,
que cresceram a taxas significativas. Merecem destaque a redução
das atividades não-agrícolas, (principalmente a indústria de alimentos
que reduziu em 19,1%, e os insumos agrícolas que caíram 2%).
Essa crise da agropecuária patronal fica mais clara, quando
analisamos o número de pessoas ocupadas no meio rural, pois,
enquanto a ocupação por conta própria aumentou 20%, os
trabalhadores rurais caíram 43,8%, e os empregos agrícolas
reduziram em 3,2%, indicando um aumento da pequena produção,
em detrimento das grandes explorações de base patronal.
Quanto às atividades não-agrícolas, elas ocupam pessoas
por conta própria, tanto no meio rural como nas cidades, onde a

188 Fernando José de Lira


presença dessa categoria de ocupados é muito grande. No
urbano, os ocupados por conta própria, apenas em atividades
de prestação de serviço, aumentaram de 31 mil pessoas para 37
mil e, no meio rural, esses trabalhadores nessa mesma atividade,
caíram de 8 mil pessoas para 3 mil.
Em geral, as atividades não-agrícolas do meio rural
passaram de 122 mil pessoas ocupadas, em 1992, para 104 mil
em 1999, uma queda de 1,4% ao ano. Isso se explica pela crise na
agroindústria presente no meio rural, sobretudo pelo fechamento
de usinas e destilaria de álcool. Da leitura direta da tabela 4.5,
percebe-se, obviamente, que as atividades agrícolas e não-
agrícolas mais importantes, que formam o núcleo da economia
do Estado, foram as que mais decresceram.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 189


TABELA 4.5: Relação dos setores que mais crescem e
decrescem, segundo a situação do domicílio e ramo
de atividade. PEA restrita a Alagoas, 1992-1999.

SITUAÇÃO DO DOMICÍLIO SETORES

TOTAL
RURAL
A fricóla
S e t o r e s qui'' m a i s c r e s c e m
p r o d , ve rd u r a s
m i l h o - c u l t u r a de
rizicultura
pesca
a v e s - c r i a ç ã o de
Não- agrícola
estab. Público
ensino p r i v a d o
Agrícola
Setores que mais decrescem
cana-de-acúcar
Animais - criação
Culturas diversas
A jaropeen á r i a
Náo-agrícola
Ind. de a l i m e n t o s
Comercio de alimentos
Insu m os a g r í c o l a s
Ind.de madeira

FONTE: Projeto Urbano.

190 Fernando José de Lira


No meio rural de Alagoas, há um enorme espaço para
aumentar o número de pessoas ocupadas em atividades agrícolas,
mas, sobretudo, em atividades não-agrícolas, à base de pequenos
empreendedores.
No meio urbano, as atividades que mais cresceram foram
ensino privado, comércio ambulante, comércio de vestuário, fábrica
de móveis, pequenos transportes e alimentos caseiros (Ver tabela
4 . 6 ) . Todavia, há uma queda significativa em atividades
importantes, como na indústria de transformação e em outras
ocupações tipicamente urbanas, como ajudante administrativo,
copeiro etc., indicando que novas atividades estão surgindo nesse

meio.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 191


TABELA 4.6: Relação dos setores que mais crescem
e decrescem, segundo a situação do domicílio e
ramo de atividade. PEA restrita. Alagoas, 1992-1999.

SITUAÇÃO DO DOMICÍLIO SETORES 1999-1992


(1.000)
URBANO
N.io-agricola
Setores que mais crescem
ensino privado 15,5
comércio ambulante 12,5
comércio vestuário 8,1
fabr. móveis 4,(1
pequeno transporte 2,<i
alimentos caseiros 2,'.
Agrícola
animais de criação 4, f,
Nào-agrícola
Setores que mais decrescem
Ind. dc transformação -8,1
Polícia Civil -4,8
Comércio de varejo -4,2
Serviços assistenciais -3,8
Ind.de bebidas -2,7
Transp. terrestre -Z7
Insuino químico -2,7
Serviço contábil -2,7
lixo -2,7
Agrícola
Setores que mais decrescem
caiu de-jçúcai -11,7

FONTE: Projeto Urbano.

192 Fernando José de Lira


Assim, as m a i o r e s o p o r t u n i d a d e s de o c u p a ç ã o na
economia alagoana é na categoria de por conta própria, em
atividades agrícolas e não-agrícolas, seja no meio rural ou
urbano. As transformações, que começam a acontecer no campo
e nas cidades, serão aprofundadas e aumentarão de forma
geométrica, formando um grande exército de excluídos.

4.2 - Retrato dos sem futuro


Em Alagoas, mesmo existindo esse potencial econômico e
humano, a cada dez anos as condições de vida da maior fração
da população vêm deteriorando-se. A partir de 1990, com a
completa falência do Estado, atingem níveis bastante adversos,
e, já em 1995, na Capital e em todos os municípios do interior, as
condições gerais de vida são quase insuportáveis.
Os dados do IBGE, de 1995, mostram claramente essa situação.
Na análise, percebemos que o mercado de trabalho de Alagoas é
pouco expressivo. Em 1995, a quantidade de pessoas empregadas
representava 636 mil trabalhadores, para uma oferta de mão-de-
obra de 1.132 mil pessoas. Portanto, quase metade das pessoas em
idade de trabalho, 496 mil, não encontra emprego e fica a depender
de sua família ou se ocupa precariamente, em atividades pouco
produtivas, como vigia, agregado, ambulante, etc.
Como vimos, o modelo econômico vigente em Alagoas é o
mesmo desde a época do engenho bangüê e mantém a lógica de
privilegiar, com educação e emprego, os mais ricos em detrimento
dos mais pobres, condenando a maioria da população a viver em
permanente estado de miséria. Nem mesmo o aumento da
transferência de renda das regiões mais ricas do País tem sido capaz
de reverter esse quadro de pobreza endêmica e de indigência so-
cial a que está submetida a quase totalidade dos alagoanos.
O padrão econômico tradicional é essencialmente de
natureza patronal e concentrador de riqueza e educação, o que

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 193


leva o Estado a liderar o ranking dos piores indicadores sociais e
a ostentar o menor índice de desenvolvimento humano do País,
sobretudo no que diz respeito à educação e à renda. Isto acontece
p o r q u e os sucessivos g o v e r n o s seguem a mesma política
coronelista e corporativista dos coronéis que se têm perpetuado
no poder pelo clientelismo e outras práticas responsáveis pelo
atraso do Estado.
Ao analisar as causas do subdesenvolvimento de Alagoas e
as conseqüências dessa política que levou o Estado a ingressar no
terceiro milênio com grande parte de sua população na humilhante
condição de miseráveis, lembramos que a administração autocrática
adotada impõe aos programas resultados pífios, que propiciam a
manutenção das indústrias da seca, da fome, do analfabetismo, da
violência, da miséria, da corrupção e do corporativismo, necessária
para garantir os privilégios dos mais ricos. Vale destacar que, por
conta da política paternalista, 56% da população alagoana vivem
em condições de risco social. Por maior que seja o volume de
recursos federais injetados no Estado, o povo pobre continua
padecendo de necessidades elementares para manter o nível
fisiológico de subsistência.

Portanto, a concentração da renda e da educação, mais a


alocação inócua dos recursos públicos federais, estaduais e
municipais não permitem acabar com a miséria alagoana. Do
montante de recursos federais repassados ao Estado, nos últimos
dez anos, 54% foram apropriados pelos 10% da população mais rica,
e apenas 5,6% foram distribuídos de forma concentrada, nos períodos
eleitorais, com os 40% mais pobres. Sabe-se, ainda, que as regiões
mais ricas do País, particularmente o Sudeste, estão transferindo
renda, via pesada carga tributária, para as elites e a classe média alta
de Alagoas, na crença de que estão ajudando a quem necessita.
A conseqüência desse modelo concentrador é a vergonhosa
situação em que se encontra o Estado em relação aos índices que
medem o desenvolvimento humano e a exclusão social. Comparando-

194 Fernando José de Lira


se o índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 1991 ao de 2000,
Alagoas é o Estado que apresentou o IDH mais baixo do Pais. Em
1991, era o penúltimo e, em 2000, passou a ser o último. Maceió -
depois de ser adniinistrada pelo mesmo partido político durante 13
anos - tinha, em 1991, um IDH de 0,744 e, em 2000, passou para 0,739,
apresentando uma variação negativa de -0,005.
Dos 102 municípios alagoanos, 49 apresentaram redução
significativa no ranking de 2000, em relação a 1991, principalmente
na maioria na região semi-árida. Essa deterioração das condições de
vida nada tem a ver com a falta de recursos financeiros. Está
relacionada a quatro fatores fundamentais de difícil reversão. O
primeiro deles diz respeito à u tilização das verbas federais no Estado,
obedecendo a critérios essencialmente políticos que, em Alagoas,
representam a pior forma de alocação de recursos. Como segundo
fator, a ação pública não é tratada com o mínimo de seriedade,
mesmo pelos técnicos, pois as instituições são viciadas e vulneráveis,
e o Poder Judiciário não tem apoio nem controle da sociedade. Em
terceiro lugar, não há limite entre o público e o privado. Nesse
sentido, existem duas modalidades de pedintes (pessoas que vivem
à custa do Estado): a elite endinheirada c os 56% de miseráveis
que ganham esmolas em anos eleitorais. Finalmente, o quarto
fator é que o Estado é totalmente dependente de recursos federais.

A concentração de emprego, renda e educação geram


exclusão e pobreza. Nessa perspectiva, o modelo autocrático de
gestão pública é responsável pelo permanente estado de miséria
a que foi submetida a população alagoana. Isto explica o fato de
que, embora possua um grande potencial agrícola, turístico e
de recursos naturais e humanos, Alagoas sempre registrou as
piores taxas de ocupação produtiva e de educação de sua
p o p u l a ç ã o . M e s m o n a s d é c a d a s de 60 e 7 0 , q u a n d o os
i n v e s t i m e n t o s federais eram altos, a p o p u l a ç ã o ocupada
formalmente era pequena, os rendimentos, baixos, e a emigração
em direção ao Sudeste, muito elevada.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 195


V a l e lembrar q u e a força de t r a b a l h o do E s t a d o é
relativamente pequena, com uma taxa de atividade de apenas
54,9% das pessoas em idade ativa, gerando um quadro de miséria
que, em 2000, chegou a 44,43% do total da população, com renda
de até R$ 80,00. Na verdade, essa pobreza é historicamente
conhecida, mas se agravou a partir da segunda metade da década
de 80, quando a economia brasileira entrou em crise financeira,
reduzindo drasticamente as transferências de recursos para os
setores público e privado e, como conseqüência dessa conjuntura,
iniciou-se o que viria a ser o mais longo processo de estagnação das
atividades sucroalcooleiras e de crise fiscal do Estado, desaquecendo
todas as outras atividades econômicas e inibindo a ação dos setores
público e privado na geração de ocupações produtivas.
Mas é a partir de 1990 que a crise de emprego e renda se
instala em todos os setores da economia alagoana: a agropecuária
estagnada, o parque industrial de produtos intermediários e de
consumo duráveis pouco expressivo e o setor de serviço, que
representava a grande esperança de ocupação e renda da
população ativa, não responde às expectativas.
Dados oficiais de 1999 mostram que 79% da população
ocupada na prestação de serviços estava em atividade de baixa
produtividade e de renda insuficiente. Para completar, de 1992 a
1999, o Estado foi o maior desempregador, dispensando mais de
50 mil trabalhadores formais contra pouco mais de 15 mil do setor
privado. Os estudos revelam que, no campo, a informalidade é
ainda maior: 8 6 % dos ocupados são trabalhadores de baixa
produtividade e 69% dos empregados não têm carteira de trabalho
assinada. Do total de ocupados no setor agrícola, 79,5% são
trabalhadores temporários e percebem até um salário mínimo.
No total, em 1999, a agropecuária tinha a maior proporção de
mão-de-obra ocupada em atividades informais.
Além de empregar pouco, Alagoas é também o Estado com
maior percentual de analfabetos do país. No meio rural, 4 5 % da

196 Fernando José de Ura


população economicamente ativa é analfabeta, e 79,88% são
analfabetos funcionais. No espaço urbano, existiam 53,04% de
a n a l f a b e t o s f u n c i o n a i s em 1999, a l c a n ç a n d o 5 8 , 4 % , se
considerarmos toda a população. O Padrão agrário tradicional
adotado, que privilegia a grande empresa, representa um forte
obstáculo para se adotar um novo padrão de desenvolvimento
que resulte num processo de maior homogeneização da educação,
da produção, da ocupação, da renda e das relações humanas.
Isto porque, pela sua importância econômica e política, acaba por
definir o comportamento da agropecuária, da indústria, do setor
de serviço, bem como a atuação do setor público. Por conseguinte,
nesse modelo, a prioridade é a grande empresa - com mais de
100 empregados - pouca diferenciação da produção, baixa
competitividade e relações de trabalho predominantemente
i n f o r m a i s , g e r a n d o forte exclusão social e um a m b i e n t e
desfavorável aos pequenos e microempreendedores.

Vale dizer, ainda, que a crise econômica da década de 90


agravou tanto o quadro social, que, em 2000, mais de 44% da
população percebia até R$ 80,00, e Alagoas era o quarto Estado com
o maior percentual de pobreza do Brasil. Logo, esse modelo fechado,
de consenso muito restrito, concentrador da terra, da educação, da
renda e do poder, causador dos baixos índices de diversificação das
atividades agrícolas e não-agrícolas e da baixa acumulação de capi-
tal social, humano e financeiro, acabou por inibir o dinamismo da
economia estadual, subordinado-a a si no que diz respeito à
produção, relação de trabalho, ocupação, cooperação, inovação
tecnológica, criação de redes e capacitação empreendedora.
E, por isso mesmo, fora da microrregião de Maceió e das
áreas dominadas pela cana-de-açúcar, o Estado é um vazio
econômico que ainda está por ser explorado de forma produtiva
e e m p r e e n d e d o r a . As políticas públicas v e r t i c a l i z a d a s , o
analfabetismo e o assistencialismo inibiram, além dos fatores já
mencionados, a capacidade de organização dos agricultores, a

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 197


formação de capital humano e um desenvolvimento com base
nas condições do ambiente local.
Em Alagoas, tudo depende das políticas macroeconômicas
dos governos federal e estadual, que determinam as mesmas
soluções de curto, médio e longo prazos, para realidades
diferentes. Por isso, um dos aspectos mais relevantes na economia
de Alagoas é o elevado grau de desigualdade na distribuição da
renda e da educação.
Os números oficiais revelam que, enquanto os 4 0 % mais
pobres têm renda média familiar per capita de R$ 38,00, os 10%
mais ricos percebem RS 796,00, quantia quase 21 vezes superior
à renda dos mais pobres. Numa sociedade mais igualitária, o
aceitável é que a renda dos 10% mais ricos não supere 8 vezes a
renda dos 40% mais pobres. Esse elevado nível de concentração
da riqueza é, em grande parte, responsável pelo também baixo
nível de renda, pelas altas taxas de analfabetismo na população
e, conseqüentemente, pelo elevado grau de pobreza absoluta.
Em outras palavras, a concentração da renda resulta da
diferenciação dos salários pagos pelos setores público e privado,
da elevada concentração da propriedade da terra, da ausência de
escolas públicas de qualidade, da segmentação do mercado de
trabalho e, portanto, do próprio modelo de desenvolvimento.
O padrão de desenvolvimento adotado no Estado, desde o
século XVI, não priorizou a educação como instrumento necessário
de distribuição e crescimento sustentável da renda. Sabemos que,
entre os trabalhadores e pequenos empreendedores rurais e urbanos,
a educação é um grande e importante atributo na produção, na
organização e na gestão dos negócios. Por isso, quanto mais acessível
for esse atributo à população, menor será a desigualdade dos
rendimentos do trabalho e maior a capacidade empreendedora.
Outra grande fonte de desigualdade é a posse da terra que
assume um caráter, não só de fator de produção, mas de uma
extraordinária fonte de o b t e n ç ã o de recursos financeiros

198 Fernando José de Lira


subsidiados. Tanto isso é verdade que, no período de 1960 a
1985, de cada dólar aplicado na agropecuária, a fração de U$$
0,95 foi destinada às propriedades com mais de 100 hectares, e
apenas a de U$$ 0,05, àqueles produtores que possuíam menos
de 100 hectares de área cultivável. Como se pode deduzir, a
posse da terra viabilizou e ainda viabiliza a posse de outros meios
de produção, contribuindo vigorosamente para a elevada
concentração de renda.
Considerando que o carro-chefe da economia de Alagoas é
o setor agropecuário e, nele, as atividades sucroalcooleiras, a
concentração de renda alcança não apenas o meio rural, mas
também as cidades, gerando uma forte heterogeneidade social
em todo o Estado. Daí que as duas grandes fontes de desigualdade
na distribuição da riqueza são: a primeira e mais relevante é o
baixo nível de instrução da população em idade ativa e da
população ocupada; e a segunda é a posse da terra.
Apesar de esses fatores limitarem a ação dos pequenos
empreendedores agrícolas e não-agrícolas, seus efeitos podem
ser minimizados através de uma política de educação agrícola e
agrária que contemple atividades voltadas à realidade dos
familiares dos pequenos agricultores. É, por conseguinte, possível,
no espaço de grande vazio econômico e nas zonas mais dinâmicas,
criar redes de pequenos empreendedores, voltados para os
mercados local, regional, nacional e internacional.
Evidentemente, haveria a necessidade de capacitá-los para
gerarem uma nova (dinâmica econômica que proporcione ocupações
e renda em número e condições muito superiores aos atuais. Para
tanto, é necessário que a política agrária seja mais decisiva; o
financiamento, desburocratizado; a assistência técnica, de
qualidade; o treinamento, voltado para cada situação local. Por
falta disso, o povo alagoano continua exposto às piores condições
de vida e trabalho, com quase metade da população vivendo na
condição de indigente e, aproximadamente, 80% das pessoas

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 199


ocupadas vivendo do trabalho informal, com taxa de desemprego
urbano beirando os 20%.
As questões do emprego e da renda serão equacionadas
quando forem realizadas transformações estruturais da base
produtiva, que reorientem a agricultura na direção de uma
reestruturação, com prioridade para o pequeno empreendedor -
produtor familiar com até dois empregados - que trabalha de
forma organizada, associativa ou comunitária.
As políticas agrícolas, agrárias e agroindustriais devem visar
à criação de bases produtivas estáveis, por meio da distribuição
da terra e da educação, além do estímulo à produção de alimentos,
transformando os produtores que atuam por conta própria em
empreendedores competitivos.
Nessa perspectiva, a decisão de apoiar os pequenos
empreendedores por conta própria reside na convicção de que o
problema do desemprego rural e urbano será reduzido, se essas
políticas conseguirem gerar um ambiente favorável a que eles
deixem de ser altamente subordinados à dinâmica mais geral do
núcleo sucroalcooleiro, para se tornarem produtores autônomos.
Para a Zona da Mata, é indispensável a diversificação
produtiva, incentivando-se o associativismo, fornecendo-se linhas
de crédito, assistência técnica, capacitação gerencial e tecnológica
e promovendo-se sua integração à economia de mercado. Há a
necessidade de os trabalhadores por conta própria serem inseridos
dentro de uma nova realidade econômica de dotação de recursos,
mercados abertos, nível tecnológico avançado e de um novo
p a d r ã o de a t u a ç ã o do E s t a d o , d e v e n d o - s e a b a n d o n a r o
assistencialismo, o paternalismo e a ineficiência na alocação dos
recursos públicos.
Quanto às ocupações informais, por conta própria, de baixa
produtividade, carecem de políticas voltadas à realidade de cada
segmento, de forma a inseri-los no setor organizado da economia.
Um programa dc emprego, educação e renda, entre outras coisas,

200 Fernando José de Lira


deve promover a capacitação por segmento, que torne possível
a formação de cooperativas e associativismo em pólos de
desenvolvimento, cuja visão empreendedora será irradiada para
os diversos municípios.
A política educacional, que contemple o suprimento das
necessidades locais, com objetivos de curto, médio e longo prazos,
deverá estar no núcleo duro das prioridades do setor público,
pois os baixos r e n d i m e n t o s e a baixa p r o d u t i v i d a d e dos
t r a b a l h a d o r e s o c u p a d o s d e c o r r e m do e l e v a d o g r a u de
analfabetismo e da ausência de capacitação orientada para o
mercado. O combate à pobreza deve estar explicitamente
considerado nas f o r m u l a ç õ e s e execuções de estratégias
econômicas e sociais, e não ser visto de forma subsidiária ou
apenas como objeto de medidas compensatórias, pois só com
investimentos pesados, destinados à erradicação da pobreza,
pode-se promover, efetivamente, o crescimento econômico, so-
cial e humano sustentável.

Assim, a grande maioria dos trabalhadores de Alagoas, além


de perceber uma renda muito baixa, trabalha em condições
precárias. Como, entre as famílias de baixa renda, o rendimento
do trabalho representa, em média, 95% da renda da família, conclui-
se daí que a miséria e a pobreza generalizadas, que se registram
no Estado, decorrem da falta de emprego, dos baixos salários pagos
às pessoas empregadas, do elevado número de trabalhadores que
vivem do trabalho informal, da grande quantidade e da baixa
qualidade da mão-de-obra e da falta de educação. Tudo isso,
porém, tem como causa primeira o elevado grau de concentração
da propriedade da terra, da educação e da renda.
As tabelas 4.7,4.8,4.9 e 4.10 mostram, que, em 2000, havia
^•449 mil pessoas que percebiam até um salário mínimo, ou seja,
71,1% das pessoas viviam nessas condições humilhantes. Por
outro lado, as pessoas que percebem até 3 salários mínimos
formam uma legião de 1.834 mil ou 90,1%, percentual muito

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 201


superior ao registrado no Brasil, onde 79,3% dos brasileiros de
10 anos ou mais percebem essa renda. De uma população de
2.795 mil pessoas, apenas 26 mil (ou 1%) têm uma renda igual
ou superior a 20 salários mínimos. No Nordeste corresponde a
0,7% e, no Brasil, representa 2,3%. Portanto, Alagoas é o lugar
onde predominam os extremos.
Desse modo, se de um lado existe um número muito expressivo
de pessoas que são pobres e/ou miseráveis, por outro, uma fração
muito pequena da população tem padrão de vida de classe média
ou rica. Este fato merece consideração porque, se apenas poucas
pessoas têm renda suficiente para consumir produtos e serviços
populares, ou de luxo, aquelas atividades agrícolas, industriais,
comerciais e de serviços que estão voltadas para o mercado interno
defrontam-se com uma demanda muito pequena e, por isso mesmo,
não encontram um ambiente econômico que estimule a sua expansão,
portanto a geração de emprego e renda fica bem limitada.
Esse cenário de m i s é r i a , p o b r e z a e d e s e m p r e g o
generalizados obriga os idosos, as mulheres e as crianças a
participarem ativamente no sustento de suas famílias. Segundo
dados de 1991, do IBGE, 19,5% dos chefes de família eram pessoas
acima de 60 anos de idade. Por outro lado, as mulheres chefes de
família têm uma participação bastante elevada, de 23,1 %, e, do
total das crianças de 5 a 14 anos de idade, 12% trabalham em
atividades insalubres e arriscadas. No Brasil, essa participação é
de 21,6% e de 11% respectivamente.
Em Alagoas, existem 441 mil crianças entre 0 e 6 anos de
idade. Desse total, 188 mil são tidas como indigentes, o que
representa um percentual de 42,6%. No meio rural, são 51,8%-
Quanto aos adolescentes indigentes, entre 15 a 17 anos, somam
26,4% das pessoas dessa faixa etária. Portanto, quase metade das
crianças e parte significativa dos adolescentes vivem na mais
absoluta pobreza. Assim, no Nordeste, Alagoas é o Estado que
oferece às suas crianças as condições de vida mais desfavoráveis.

202 Fernando José de Lira


De acordo com dados do IPEA, os gráficos 4.1, 4.2 e 4.3
revelam que a esperança de vida, ao nascer, está entre as três
menores do Brasil e do Nordeste. Ao nascerem, os alagoanos
esperam viver 56 anos; os maranhenses e os piauienses, 65 anos;
enquanto os gaúchos, em média, 75 anos.
Alagoas também está entre os Estados do Brasil que
oferecem as piores condições de vida para a sua população. Ainda
segundo o IPEA, em termos de índices de Desenvolvimento
Humano, dentre os 26 Estados pesquisados, ocupa o vigésimo
quinto lugar, ou seja, é o segundo Estado onde as condições de
vida são mais desfavoráveis para a sua população.
Em relação a seus vizinhos, apresenta uma situação social
relativamente mais precária do que a de Sergipe, Pernambuco e
Bahia, só sendo superado pela Paraíba que, de acordo com o
IPEA, é o Estado do Brasil que possui o pior índice de
Desenvolvimento Humano.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 203


Tabela 4.7 - NORDESTE - indicadores sociais, nos anos de 1960, 1980, 2000.
índice de Pobreza índice de Emprego índice de Exclusão
RG UF Ano 1960 Ano 1980 Ano 2000 Ano 1960 Ano 1980 Ano 2000 Ano 1960 Ano 1980 Ano 2000
NE Alagoas 0,056 0,164 0,082 0,217 0,226 0,211 0,250 0,205 0,220
Ni-: Bahia 0,144 0,379 0,119 0,232 0,229 0,218 0,316 0,355 0,328
NI- Ceará o.oso 0,153 0,117 0,201 0,218 0,181 0,267 0,274 0,289
NE Maranhão 0,010 D,135 D.001 0,070 0,024 0,001 0,219 0,226 0,197
NE Paraíba 0,067 0,086 0,129 0,172 0,180 0,216 0,276 0.231 0312
NE Pernambuco 0,130 0,315 0,23-1 0,336 0,317 0,258 0,323 0,299 0,257
NE Piauí 1,002 0,002 0,045 0,129 0,106
k 0,067 0,191 0,213 0,247
NE Rio Grande do Norte 0,144 0,193 0,229 0,216 0,294 0,309 0,289 0,316 0386
NE Sergipe 1,046 0,283 0,187 0,250 1,300 0,2')6 0,280 0,314 0309
Média Brasil**»* 1.1V1 0,659 0,606 0,443 0,548 0.525 0,507 0,571 0,527

• Em 1960 e 1980, os dados do DF e TO estavam incluídos nos dados de GO.


** Em 1960 e 1980, os dados do MS estavam incluídos nos dados do MT.
*** Em 1960, os dados do RJ incluíam os dados da GB.
•••• Média Aritmética Ponderada pela População.
TABELA 4.8 - Nordeste - Indicadores Sociais, nos anos de 1960, 1980, 2000.
índice de Desigualdade índice de Alfabetização índice de Escolaridade

RG UF Ano 1960 Ano 1980 Ano 2000 Ano1960 Ano 1980 Ano 2000 Ano 1960 Ano 1980 Ano 2000
NE Alagoas 0,085 0,093 0,047 0,085 0,015 0,016 0,032 0,029 0,166
NE Bahia 0,132 0,207 0,037 0,268 0,222 0,384 (1,124 0,098 0,222
NE Ceará 0,121 0,128 0,064 0,199 0,192 0,265 0,080 0,111 0,201
NE Maranhão 0,037 0,039 0,003 0,142 0,090 0,172 0,037 0,010 0,142
NE Paraíba 0,092 0,086 0,049 0,195 0,112 0,209 0,095 0,114 0,186
NE Pernambuco 0,152 0,191 0,094 1,276 0,240 0,343 0,183 0,274 0301
NE Piauí 0,053 1,045 0,019 0,025 0,0% 0,135 0,010 0,016 0,124
NE Rio Grande do Norte 0,132 0,138 W>7 0,298 0,244 0,316 0,169 0,205 0,277
NE Sergipe 0,084 0,161 0,074 0,234 0,180 0312 0,0% 0,127 0,244
Media B r a s i l " " 0352 0,503 0,242 0,592 0,637 0,6% 0,430 0,5.10 0,455
TABELA 4.9 - NORDESTE: Indicadores sociais, nos anos de 1960, 1980, 2000.

índice de Juventude índice de Violência


RG UF Ano 1960 Ano 1980 Ano 2000 Ano 1960 Ano 1980 Ano 2000
NE Alagoas (),0S3
L 0,015 0,016 0,032 0,029 0,166
NE Bahia 0,268 0,222 0,384 0,124 0,098 0,222
NE Ceará o,iw 0,192 0,21.3 0,080 0,111 0,201
NE Maranhão 0,142 0,090 0,172 0,037 0,010 (1,1 12
NE Paraíba 0,195 0,112 0,209 0,095 0,114 0,186
NE Pernambuco 0,276 0,240 0,343 0,183 0,274 0,301
NE Piauí 0,025 0,096 0,135 0,010 0,016 0,124
NE Rio Grande do Norte 0,298 0,244 0,316 0,169 0,205 0,277
NE Sergipe 0,234 0,180 0,312 0,096 0,127 0,244
Média Brasil**** 0,592 0,637 0,696 0,430 0,530 0,455

* Em 1960 e 1980, os dados do DF e TO estavam incluídos nos dados de GO,


** Em 1960 e 1980, os dados do AAS estavam incluídos nos dados do MT.
*** Em 1960, os dados do RJ incluíam os dados da GB.
**** Média Aritmética Ponderada pela População
GRAFICO 4.1 - NORDESTE: Taxa de mortalidade
infantil em 2001.

BR 28,7

RN 131,2

PI Z]34,6

CE i 38,1
39,8

41,9

44

PE 146,3

PB 346,8

MA 147,6

AL
PROPORÇÃO POR MIL PESSOAS

1TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL


FONTE:Censo Demográfico, 2001.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 207


GRÁFICO 4.2 - Proporção de pobres
em percentagem da população
ocupada.
SE r':-'-r-. -V ¡40

MA i /-- — ~^57,4

TAXA D E P O B R E Z A

I B PROPORÇÃO DE POBRES

FONTE: Censo Demogrário, 2001.


FONTE: IBGE-Síntese de Indicadores Sociais,
2001.

208 Fernando José de Lira


Tabela 4.10 - Alagoas: Síntese de Indicadores Sociais
por Número de Pessoas e em Percentagem, em 2001.

Em Milhares de Pessoas e em Percentagem.


Indicadores ALAGOAS SERGIPE NORDESTE
Sociais Número % %

População 2.865 - - -
70,5
Urbana 1.740 60,7 79,93
Rural 1.125 39,3 20,07 29,5
PEA 1.287 56,1 45,9 44,0
CCTA 200 54,9 57,3 51,0
SCTA 222 45,1 42,6 48,9
Pop. Ocupada 1.145 40,5 42,4
Desempregro 142 11,0 3,5 9,2

R E N D I M E N T O EM S A L Á R I O S M Í N I M O S DAS F A M Í L I A S
A T É 1 S.M. 480 41,9 37,1 37,6
A T E 3 S.M. 785 68,5 71,7 66,8

FAMÍLIA
Analfabetas 669 30,0 23,0 25,9
Sem Agua 301 43,4 16,3 33,0
Sem Banheiro 131 43,0 9,0 33,0
Sem C/Lixo 250 36,1 29,4 21,1
Sem Sanitário 131 18,9 9,0 21,8
índice de Gini 0,631 0,575 0,585
Renda Média 1,05 S.M. 1,4 S.M. 1,2 S.M.

Fonte: IBGE - PNAD, 1995.


CCTA - Carteira de Trabalho Assinada.
SCTA - Sem Carteira de Trabalho Assinada.
PEA - População Economicamente Ativa.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 209


GRÁFICO 4.3 - Nordeste e Rio Grande do Sul:
esperança de vida ao nascer (em anos) em
2000.

• E S P E R A N Ç A DE VIDA C, FONTE:IPEAONU

FONTE: ONU/IPEA, 2000.

210 Fernando José de Lira


4.3 - Os trabalhadores fora da lei

O forte dinamismo econômico verificado na história recente


do Estado deveria ter criado um grande número de postos de
trabalho e de oportunidades de investimento na agricultura,
indústria, comércio de mercadorias e na prestação de serviços,
apaz de gerar ocupações que garantissem aos chefes de família
uma renda suficiente para atender às suas necessidade básicas,
tais como: alimentação, saúde, educação de seus filhos e habitação.
No setor agrícola, o analfabetismo, a ausência de uma
política agrícola e agrária clara, a elevada concentração da
propriedade da terra e a baixa produtividade têm expulsado do
campo muitos trabalhadores e pequenos produtores, que acabam
r>or migrar para as cidades grandes e de porte médio. Além disso,
piorado as condições de trabalho e renda daqueles que
insistem em permanecer trabalhando na agricultura, forçando os
pequenos produtores e trabalhadores rurais a colocarem suas
"rianças precocemente em atividades insalubres e arriscadas.
No setor industrial, a situação não é muito diferente. A
elevada concentração de capital e a tecnologia poupadora de mão-
' e - o b r a e l i m i n a m p o s t o s de t r a b a l h o , p e q u e n o s e
icroempresários, não permitindo, assim, que se gerem os
empregos prometidos. Ao invés disso o que se observou nesse
período foi um forte desemprego estrutural.
Quanto ao setor serviço, as condições oferecidas são
praticamente mais difíceis do que as da agricultura, pois, em não
existindo empregos formais (com carteira de trabalho assinada)
no comércio de mercadorias, nos bancos e na prestação de serviço
em geral, as pessoas expulsas do campo, da indústria e aquelas
que estão procurando seu primeiro emprego são recebidas no
mercado de trabalho urbano com a informação explícita: "não há
vagas".

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 211


Nessa perspectiva, uma grande fração da população que
vive nas cidades, não encontrando ocupação formal na indústria
nem no setor serviço, vai ocupar-se informalmente em atividades
marginais, sem expressão econômica e de baixa produtividade,
pois, na sua luta desesperada para sobreviver, aceita qualquer
tipo de ocupação ou procura criar as suas próprias oportunidades
de trabalho, ocupando-se como biscateiros, vendedores
ambulantes, vigias, agregados, serviçais e, até, em atividades
ilegais, etc.
Assim, mesmo possuindo um alto potencial de crescimento
de sua economia, Alagoas apresenta uma baixa capacidade para
criar oportunidades de ocupação decente e de postos de trabalho
formal. Nessas condições, o grande excedente de mão-de-obra
tem como única alternativa buscar ocupações no setor informal
da e c o n o m i a (constituído basicamente por trabalhadores
a u t ô n o m o s , sem c a r t e i r a de trabalho a s s i n a d a e n ã o -
remunerados), principalmente nas atividades comerciais, de
serviços, sempre de pouca ou nenhuma importância econômica;
particularmente naquelas atividades de mais fácil entrada, que,
pelas suas próprias características, são de ocupação e renda muito
precárias. (Ver tabela 4.4).
Essa precariedade das relações de trabalho só se explica
pela falta generalizada de oportunidades de emprego e, também,
pela debilidade do sistema legal que rege as ditas relações de
trabalho e dos sindicatos que se tornam impotentes para impor
aos empregadores a formalização do emprego da mão-de-obra.
A precarização das relações de trabalho nada mais é do que
a substituição de relações formais de emprego, que, no Brasil,
expressam-se em registro na Carteira de Trabalho, por relações
informais de ocupação que, geralmente, tomam as formas de
t e r c e i r i z a ç ã o , de c o n t r a t a ç ã o por t e m p o l i m i t a d o , de
assalariamento sem registro, de trabalho por conta própria, de
trabalho em domicílio e outras.

212 Fernando José de Lira


Com a precarização dessas relações de trabalho, tende a
umentar a jornada de trabalho, cujo limite, em muitos casos, é
fadiga física ou mental. À medida que a proporção crescente
de trabalhadores se ocupa informalmente, reduz-se a renda do
trabalhador informal e o setor privado reduz a demanda por
trabalhadores formais. Trata-se, pois, de um processo cumulativo,
cujos efeitos reforçam suas causas. Em outras palavras, a
informalidade gera mais informalidade, que acaba por exigir que
todos os membros da família, inclusive as crianças, participem,
com seu trabalho, na manutenção das famílias.
No setor rural, a informalidade nas relações de produção e
de trabalho é quase generalizada: de um total de 388 mil pessoas
ocupadas, 363 mil, ou 93,6%, vivem trabalhando em atividades
informais: as de subsistência, sem carteira de trabalho assinada e
de baixa ou nenhuma remuneração. (Ver tabela 4.4).
No meio urbano, apesar de exibir-se um setor informal
menor, a situação é muito mais grave do que a do setor rural,
pois, nas cidades, todo e qualquer produto ou serviço que se deseja
adquirir tem que ser comprado, muitas das vezes por preços
exorbitantes. Por conseguinte, de um total de 595 mil pessoas
ocupadas, 341 mil trabalham em atividades ou empregos
informais. Assim, o setor informal tem uma participação de 5 7 3 %
na economia urbana de Alagoas, portanto, elevada, se comparada
com a de outros Estados do Nordeste e do Brasil.
Essa elevada participação do setor informal na economia
vem prenunciar dois fatos da maior relevância: o primeiro, a
falência do Estado, que perdeu completamente a capacidade de
promover políticas explícitas de geração de emprego, educação
no meio urbano e rural e de mobilidade no mercado de trabalho;
o segundo, a demonstração de que as relações informais de
trabalho e de produção vêm expandindo-se a uma taxa elevada,
sem qualquer proteção ou controle do Estado, mas totalmente
subordinadas ao capital privado e por ele exploradas. Nesse

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 213


sentido, o avanço do setor informal tem resultado em piores
condições de vida e de trabalho para a maioria dos ocupados,
maior exclusão social, afetando, mais severamente, aqueles
trabalhadores mais desqualificados.
Na tabela 4.4, observa-se, ainda, que, das 2 categorias de
trabalhadores informais (trabalhador sem carteira de trabalho
assinada, conta própria), as que mais se destacam são os
trabalhadores por conta própria ou autônomos e sem carteira de
trabalho assinada.
Nas cidades, os trabalhadores que vivem por conta própria
ou a u t ô n o m o s representam 4 1 , 3 % de todos os ocupados
informais. Essa é, sem dúvida, a maior e mais representativa
categoria de trabalhadores informais, presente nos setores agrícola
e industrial, mas com uma participação mais vigorosa no setor
serviço, pois 80% dos ocupados nesse setor são trabalhadores
sem qualquer vínculo empregatício.
Portanto, como mostra o gráfico 4.4 e 4.5, as ocupações
informais estão presentes e com representação significativa em
todos os setores e atividades da economia alagoana. A agricultura
destaca-se com 94,6% de informais; o setor serviço, incluído aí o
comércio de mercadorias, representa 74,7%; e o setor industrial,
um setor historicamente formalmente construído, chega a ter
50,7% de suas atividades e empregos informais.
Logo, essa alta participação do setor informal na economia
alagoana, 69,3%, é importante no sentido de que são pessoas e
atividades que vêm ocupando maior espaço com o crescimento
econômico, assumindo proporções mais significativas com a
recessão econômica e com a falência do Estado. Entretanto, à
m e d i d a em q u e mais e mais d e s e m p r e g a d o s t o r n a m - s e
trabalhadores informais, mais se debilitam o aparelho de Estado
e os sindicatos, e, conseqüentemente, mais se amedrontam os
trabalhadores que continuam em empregos formais e também
aqueles que procuram emprego.

214 Fernando José de Lira


A tabela 4.4 indica, de forma óbvia, que as atividades e
ocupações informais têm uma renda muito baixa e que os
trabalhadores, na sua grande maioria, percebem até um salário-
mínimo. Nesse sentido, 51,4% das pessoas ocupadas no seu
próprio negócio, 91,8% dos trabalhadores domésticos e todos os
produtores de subsistência têm uma renda que não chega a
ultrapassar 1 salário mínimo. Com esses números, fica claramente
demonstrado que não passa de folclore dizer que o trabalhador
autônomo vive nos melhores dos mundos.
Do exposto, fica também evidente que a grande maioria
das pessoas ocupadas na produção e no mercado de trabalho de
Alagoas vive de ocupações instáveis, temporárias e de fluxo de
renda incerto e baixo, além de se submeter a relações de trabalho
ra da Lei, e, portanto, muito precárias.
Nessas condições, as pessoas expulsas do campo, vítimas
da reestruturação produtiva, que estão defrontando-se com o
mercado de trabalho pela primeira vez, ou se submetem às
condições adversas das ocupações informais, ou ficam ociosas
nas ruas, e/ou sob a proteção de sua família, pois, como se
demonstrou aqui, o setor formal privado, além de ser bastante
restrito, está enfrentando um forte processo de reestruturação
econômica q u e tem provocado a d e m i s s ã o de muitos
trabalhadores.
Vale ressaltar, ainda, que grande parte dos trabalhadores
formais de Alagoas é constituída por funcionários públicos ou
por empregados das empresas estatais estaduais, municipais ou
federais. Assim, das 207 mil pessoas ocupadas no setor público,
144 mil ou 69,6% são trabalhadores formais. Por conseguinte, o
Estado apresenta-se como o maior e mais importante empregador
dos trabalhadores que possuem carteira de trabalho assinada.
Enfim, mesmo crescendo a uma taxa de 6,2% ao ano no
eríodo 70/90, e tendo sua renda per capita aumentada em 6,2
ezes entre 1939 e 1994, a economia de Alagoas não foi capaz de

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 215


gerar a quantidade de empregos formais que a sociedade
esperava, e, sendo assim, o grosso da população não tem outra
alternativa que não seja a de ocupar toda a sua família, inclusive
as crianças, na produção informal, muitas vezes ilegal. Por
conseguinte, o setor informal, que cresce a taxas elevadas e de
forma desorganizada, atualmente representa quase 70% de toda
a economia de Alagoas.
GRÁFICO 4.4 - Alagoas - pessoas de 10 anos
ou mais ocupadas segundo setores de
atividade e as categorias informal e formal em
1999.
i
K
O
IL
111

TAXA DE INFORMALIDADE E FORMALIDADE POR SETOR DA ECONOMIA

• AGRICULTURA • INDÚSTRIA • SERVIÇO

216 Fernando José de Lira


GRÁFICO 4.5 - Alagoas - pessoas de 10 anos
ou mais ocupadas segundo setores de
atividade e por posição formal ou informal em
percentagem e em 1999.

ai
O u t r â t atividades

Administração
Pública 61,8%

S e r v i ç o s Sociais
76.5%

Out. At Industriais

Ind.da Construção
97,4%

Agrícola 86,8"/.
113.2%

T a x a de formalidade e informalidade

I FORMAL El INFORMAL

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 217


TABELA 4.11 - Alagoas: Pessoas de 10 anos ou mais, ocupadas por posição na ocupação e
por rendimentos - 1993.

EM MILHARES DE PESSOAS OCUPADAS

POSIÇÃO RENDIMENTOS EM SALÁRIOS MÍNIMOS


NA O C U P A Ç Ã O ATE 1. D E I A3 DE 3 A 5 DE 5 A10 DE 10 A 20 MAIS DE 20
EMPREGADO 200 151 29 18 10 4
C O N T A PRÓPRIA 213 80 12 10 3 2
EMPREGADORES 2 8 3 2 2 2
TRAB. DOMÉSTICO 45 4
PRODUT. 66
SUBSISTÊNCIA

FONTE: IBGE - PNAD, 1992.


O alto índice de analfabetos e o nível geral de instrução
muito b a i x o f u n c i o n a m c o m o v e r d a d e i r a s a m a r r a s que
imobilizam o indivíduo e a sociedade frente à realidade, tornando
o Estado dependente, submisso e incapaz de construir o seu
futuro, com base num modelo endógeno.
Em Relação aos outros indicadores sociais tais como: não
possuir água, banheiro, sanitário e coleta de lixo na residência, a
tabela 4.10 revela que acima de 1 milhão de pessoas vivem nesse
estado de desconforto. Sabemos que há uma relação direta entre
a renda do chefe de família e o conforto de sua residência. Em
residências tão desconfortáveis, certamente habitam pessoas
excluídas.
A experiência internacional demonstra que todos os povos
do m u n d o , d e s e n v o l v i d o s e em a c e l e r a d o p r o c e s s o de
desenvolvimento, estão passando por uma fase de criatividade
bastante vigorosa, e esse salto para o futuro está ancorado num
projeto arrojado de educação, saúde e conhecimento, saindo da
era da extração de riqueza paja o século da produção de riqueza.
A velocidade com que o mundo vem transformando-se e
produzindo novas tecnologias, novos processos de trabalho e
novos métodos administrativos e comerciais deixa claro que
Alagoas está num atraso dificilmente reversível e tem pouco
tempo para educar sua p o p u l a ç ã o e p o d e r i n s e r i - l a ,
produtivamente, nessa nova ordem econômica global. Resta-lhe
remir o tempo, aplicando medidas adequadas, como já se sugeriu,
ou resignar-se à exclusão socioeconómica em que se debate.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 219


Capítulo V

Fernando José de Lira 1

Francisco Rosário 2

Alagoas aos pedaços


Diante dos grandes desafios e possibilidades de
desenvolvimento do Estado de Alagoas, o governo estadual, com
os órgãos de apoio aos agentes produtivos, vem procurando abrir
espaços à diversificação produtiva, na tentativa de reduzir as
desigualdades econômicas e sociais, tão acentuadas.
Considerando a necessidade de promover uma maior
inserção produtiva das pessoas em idade ativa, o Estado está
atuando, através dos arranjos produtivos locais, no sentido de
identificar novas oportunidades de negócios nos municípios, de
modo a fortalecer e estimular a criação de cadeias produtivas,
que ancorem a expansão e o desenvolvimento das micro e
pequenas empresas. Nessa perspectiva, há tentativa de mapear
os obstáculos e peculiaridades socioeconómicas dessas sub-
regiões, consideradas mais ricas do Estado.
Essas sub-regiões possuem terras férteis, solos profundos
e água em abundância, prestando-se, por isso, à pratica de quase
t o d a s a s a t i v i d a d e s a g r o p e c u á r i a s , t o d a v i a , seu relevo
montanhoso torna mais fácil o exercício das atividades de
olericultura, de fruticultura e de piscicultura, podendo contribuir
para o melhor uso da terra e da água e, por conseguinte, para o
aumento das ocupações e da renda local, bem como para a
preservação do meio ambiente.

1
Prof. Dr. da UFAL
!
Doutorando em Administração da UFRJ.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 221


Com exceção da sub-região das Lagoas, as outras são
consideradas essencialmente agrícolas e esse alto nível de
concentração da propriedade da terra, em favor dos grandes
proprietários, representa um grande obstáculo para uma nova
dinâmica econômica mais intensiva em mão-de-obra, que seja
mais equitativa, pois a concentração do principal meio de
produção nas mãos de aproximadamente 24 famílias leva a uma
enorme centralização de renda.
Quanto ao setor industrial, é representado pela agroindústria
do açúcar. As usinas de açúcar e álcool representam o núcleo duro
do desenvolvimento da economia das sub-regiões. Assim sendo, a
forma concentrada da posse da terra e a conseqüente acumulação
concentrada e centralizada da renda dificultam a formação de um
mercado interno forte, o suficiente para germinar novas atividades
que potencializem novas alternativas de desenvolvimento. As
pequenas agroindústrias de leite, doces, mel, pesca, e t c , têm
representação muito pequena, ficando no nível de subsistência.
O setor serviço é basicamente de responsabilidade do poder
público, mas, particularmente nas sub-regiões do Litoral Sul,
Litoral Norte e Lagoas, é o turismo que mobiliza as expectativas
de ocupação e renda. As iniciativas turísticas vêm ganhando
expressão, beneficiando as atividades de transportes, bares e
restaurantes. Na sub-região da Lagoa, o turismo e a pesca
destacam-se pelo número de mão-de-obra ocupada.
Possuindo um grande potencial agropecuário, turístico,
pesqueiro e de recursos naturais, e apresentando um crescimento
da receita do ICMS, do FPM e do FUNDEF nos últimos 25 anos
(1970/1996), o aumento anual do Produto Interno Bruto (PIB)
foi considerado relativamente elevado, se comparado com o das
outras sub-regiões do Estado, mas sua distribuição muito
concentrada leva ao aumento e reprodução da pobreza. Isso fica
bem claro na sub-região da Mata Sul, pois, no período de 1970 a
1996, o PIB de São Miguel dos Campos e o do Município de Roteiro

222 Fernando José de Lira


aumentaram respectivamente na ordem de 14% e 10%, todavia
o nível de pobreza, em São Miguel dos Campos, duplicou e, em
Roteiro, mais que triplicou nesse período.
Esse cenário de crescimento econômico e aumento da pobreza
está associado à crescente concentração da posse de terra, de renda e
poder, mais sobretudo à falta de educação e iniciativa empreendedora.
Na região das Lagoas, por exemplo, existem problemas de toda ordem
que dificultam a sobrevivência, mas o poder público prefere dar o
peixe pronto, na forma de cesta básica, a capacitar para uma nova
modalidade de pesca. Nessas condições sociais bastante desfavoráveis
e na ausência do assistencialismo, é estimulada a emigração. Assim,
na ilusão ou por falta de opção, na década de 90, houve uma forte
migração para outras cidades de Alagoas, preferencialmente para
Maceió, localizadas numa região de pouca diversificação produtiva,
bastante dependentes da cana-de-açúcar, ou da pesca, heterogêneas,
com crescimento econômico relativamente elevado para um período
tão problemático como a década de 90.

Essas sub-regiões não possuem um projeto que envolva


todos os seus municípios e muito menos, uma política voltada
para a ocupação produtiva das pessoas em idade ativa, com uma
taxa de atividade menor do que a registrada em Alagoas e no
Nordeste. Em municípios como São Miguel dos Milagres,
Paripueira e Barra de Santo Antônio essa taxa é irrisória, não
ultrapassando os 14% da população em idade ativa.
Essas condições adversas à pequena produção, associadas
à ausência de empreendedorismo, geram um nível de ocupação
m u i t o b a i x o , c o m renda m é d i a familiar c o r r e s p o n d e n t e
aproximadamente a 40% de um salário mínimo, o que resulta
numa situação de quase pobreza absoluta.
Para se ter idéia das condições de vida nas sub-regiões
estudadas, exceto na sub-região das Lagoas e em São Miguel dos
Campos, que têm aproximadamente 65% das famílias com renda
familiar insuficiente, nas outras, essa taxa chega a ser superior

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 223


a 80%, com destaque para Igreja Nova, onde a percentagem de
famílias com renda insuficiente ultrapassa 90% da população.
Em Alagoas, esse percentual chega a 44,43%.
Historicamente, a economia desses municípios está
centrada na agropecuária, predominantemente no cultivo da
cana-de-açúcar, na pecuária e na pesca, três atividades que
geram poucas ocupações e, no caso da cana, a demanda maior
por mão-de-obra concentra-se em apenas 4 meses do ano, a saber:
outubro, novembro, dezembro, janeiro e fevereiro.
Portanto o padrão de desenvolvimento vigente tem
privilegiado as atividades tradicionais de caráter patronal, em
detrimento aos pequenos empreendimentos familiares. Esse
modelo está esgotado econômica e socialmente. A maior parte
dos entrevistados apontaram a pequena produção e a pequena
empresa como solução, a exemplo do que ocorre com alguns
poucos assentamentos de Alagoas que, mesmo com uma área
média exígua em torno de 7 hectares, está provocando um impacto
social e econômico bastante visível.

5.1 - Caracterização socioeconómica das sub-


regiões
Possuindo um cenário econômico relativamente favorável
e um quadro político e social bastante restritivo, com o mais baixo
capital humano e com uma acumulação de capital social,
historicamente, pouco expressiva, as sub-regiões dos Corais,
Litoral Norte, Litoral Sul, Lagoas e Zona da Mata Sul têm muita
dificuldade em adotar um novo padrão de desenvolvimento que
resulte num processo de maior mobilidade social e que gere mais
ocupações e renda.
O padrão adotado é o agrário tradicional, que pela sua
importância econômica e política acaba por definir o
comportamento da agropecuária, da indústria, do setor serviço

224 Fernando José de Lira


e a atuação do setor público em favor dos 10% mais ricos. Nesse
modelo, a prioridade é a grande propriedade - com mais de
1000 h e c t a r e s pouca diferenciação da p r o d u ç ã o , baixa
competitividade sistêmica e relações de trabalho
predominantemente informais, gerando forte exclusão social e
um ambiente desfavorável aos pequenos produtores familiares e
a preservação dos recursos naturais.

5.2 - Dinâmica econômica


A Região dos Corais teve, na década de 90, um crescimento
do seu Produto Interno Bruto (PIB) relativamente medíocre para
esse período. Mesmo no período de 1970/1980, quando Alagoas
cresceu a uma taxa anual de 9,1%, os Corais cresceram apenas
6,1%, ou seja, muito menor do que o incremento anual ocorrido
no Estado. Apenas três municípios, Barra de Santo Antônio, Passo
de Camaragibe e São Luiz do Quitunde, tiveram um aumento
expressivo e próximo do de Alagoas, crescendo seu PIB 6,1%,
12,0% e 11,8 % ao ano, respectivamente.
Vale ainda observar que, nesse período, ao contrário do
que ocorreu em quase todos os municípios de Alagoas, São Miguel
dos Milagres teve incremento negativo (-3,3%) do PIB, pois,
estando entre os maiores produtores de coco-da-baía do Estado,
com mais de 70% de suas terras agricultáveis produzindo coco, a
baixa produtividade da cultura e a falta de modernização das
práticas agrícolas, bem como o preço baixo inibiram o avanço da
produção e produtividade, deprimindo o PIB municipal.

5.3 - Aspectos sociais


Desde 1910 todas as sub-regiões aqui analisada já possuíam
a configuração social e política que têm atualmente. Todavia, em
momentos prolongados de crise da agroindústria sucroalcooleira,
como o registrado no período de 1985 a 1998, os problemas sociais

Formação da riaueza e da pobreza de Alagoas 225


a f l o r a m c o m mais g r a v i d a d e , e m todas a s s u b - r e g i õ e s .
A u m e n t a n d o a população em idade ativa e diminuindo o
número de pessoas ocupadas, reduzindo a taxa de atividade da
população em idade produtiva que, nos Corais, é de apenas 31 %,
enquanto, em Alagoas, alcança 54,9% e no Nordeste, essa taxa
é de 66,1%, ou seja, duas vezes mais que a registrada nos Corais.
Na zona do Litoral Norte, houve o aumento da população
em i d a d e a t i v a e a r e d u ç ã o do n ú m e r o de p e s s o a s
economicamente ativas, reduzindo a taxa de atividade da
população em idade produtiva que, no Portal Sul e nas Lagoas,
são de apenas 22% e 24,3%, respectivamente.
Na Mata Sul, repetiu-se o fenômeno ocorrido no Litoral
Norte, reduzindo-se a taxa de atividade da população em idade
produtiva para 28,5%.
Dentre os dez municípios do Litoral Norte, a p e n a s
Japaratinga possui taxa de participação da população em idade
ativa no mercado de trabalho igual à de Alagoas e pouco menor
que a do Nordeste. Isso ocorre também com Coruripe e São Miguel
dos Campos.
No período de 1985 a 2000, os problemas sociais do Vale
do Mundaú afloram com mais gravidade e se reproduz o cenário
do Litoral Norte e da Mata Sul, reduzindo a taxa de atividade
da população em idade ativa para 38%, enquanto a de Alagoas
alcança 54,9% e a do no Nordeste, 66,1%, ou seja, quase duas
vezes a registrada no Vale. Dentre seus seis municípios, apenas
Santana do M u n d a ú tem uma taxa de p a r t i c i p a ç ã o da
população em idade ativa no mercado de trabalho superior à
de Alagoas e pouco menor que a do Nordeste.
Percebe-se então que o nível de ocupação registrado em
todas as sub-regiões é muito baixo. Mesmo nos municípios onde
estão localizadas as usinas de açúcar e álcool, a taxa de atividade
é pouco expressiva, obrigando grande parte da população em
idade ativa a viver na inatividade, significando dizer que

226 Fernando José de Lira


aproximadamente 80% da população em idade de trabalho não
tem qualquer ocupação ou renda.
Outra característica forte das sub-regiões é a sua estrutura
da p r o p r i e d a d e da terra m u i t o concentrada n a s g r a n d e s
propriedades. Considerando que são áreas essencialmente
agropecuária, a forma como a terra foi distribuída definiu, também,
a posse dos outros meios de produção, em especial o financeiro.
Nesses municípios estudados, 80% ou mais da população
tem renda considerada insuficiente. Em Porto de Pedras e
P a r i p u e i r a , esse p e r c e n t u a l eleva-se para 9 0 % e 9 2 % ,
respectivamente, disso se infere um índice de qualidade de vida,
cujos valores são determinados pelas variáveis de Renda, Produto
Interno Bruto, Saúde, Educação e Habitação, claramente muito
baixo em todos os municípios, o que significa dizer que não são
oferecidas as condições mínimas básicas, ficando a população
submetida a um nível de vida inferior ao do suprimento das
necessidades mínimas para se manter o nível fisiológico de vida.
A falta de telefones é grave em todos os municípios, com
exceção de Barra de São Miguel, onde existem muitas casas de
veraneio. Outro grande problema que marca todas as sub-regiões
é o baixo nível de renda do chefe da família, em torno de 1,5 salário
mínimo, daí a mortalidade infantil ser também bastante elevada.
Com exceção de Boca da Mata e São Miguel dos Campos, os outros
municípios têm índice de qualidade de vida muito reduzido.
A região do Vale do Mundaú ocupa uma área de 2.174
quilómetros quadrados, correspondendo a aproximadamente 8%
do território alagoano, com uma densidade demográfica de 93
habitantes por quilômetro quadrado, mais baixa do que a média
registrada no Estado, com 110 habitantes por quilômetro quadrado.
O vale do Mundaú possui um quadro econômico de
estagnação no crescimento do seu Produto Interno Bruto (PIB).
Mesmo no período de 1970/1980, quando Alagoas cresceu a uma
taxa anual de 9,1%, o Vale cresceu apenas 5,5%, ou seja, quase

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 227


TABELA 5.1 - Litoral Norte - Evolução do PIB Municipal em US$ de 1998, na Região dos Corais.
Em mil Dólar + Em
percentagem
Taxa
Taxa Taxa Taxa 96/70
96/85 96/90
Município l')7l) 1980 80/70 1985 1990 1996 ao ao ao Ano
Ano Ano
Barra de Santo Antonio 8730 1
15728 6,1 15" Hl 11356! 8516 -5,1 -4,h -0.1
Japaratinga 2338 ^285 3,4 22547 17844 18680 -1,7 0,7 8,3
Maragogi 7341 10577 3,7 18470 18887 22827 1,9 3,2 4,4
Matriz do Camaragibe 14200 2,11 22982 42289 441)'.4 6,1 0,7 4,4
Porto Calvo 22153 3827« 5,6 51642 62947 37975 1,8 -8,1 2,1
Porto de Pedras 5968 8991 4,1 12802 10158 hc>h9 -5,7 -6,7 0,4
Paripueira 2740 7658 4,0
Passo do Camaragibe Wh ^ 12042 12,1) 11037 20938 22841 6,8 1,4 7,1
Sao Luiz do Quitunde 21957 67140 11,8 44335 7588(1 43713 -0,1 -8,8 2,7
Sao Miguel dos Milagres 2809 2000 -3,3 146« 5662 5434 1,8 -0,7 2,5
lotai 92099 175490 6,7 203983 265961 218347 0,6
-\2 VI

FONTE: IBGE. Dados Básicos.


metade do incremento anual ocorrido no Estado. Apenas dois
municípios, São José da Lage e Messias tiveram um aumento
expressivo e maior que o de Alagoas, crescendo seu PIB 14,6% e

9,1% ao ano, respectivamente.


No período de 1970 a 1996, o Vale cresceu apenas 1,4% ao
ano, contra um aumento de 6,2% do Estado, pois, no sub-período
de 1985 a 1996, metade dos seus municípios tiveram taxa negativa
de crescimento e a outra metade, um crescimento inexpressivo, o
que caracteriza uma região em plena estagnação econômica.
(Ver tabela 5.4).
As três principais cidades do Vale - São José da Lage, União
dos P a l m a r e s e Rio Largo - o n d e ficam l o c a l i z a d a s ,
respectivamente, as usinas Serra Grande, Laginha e Santa
Clotilde, tiveram crescimento econômico negativo ou nulo, com
a redução dos incentivos federais após 1985 com o fim do
Proálcool, demonstrando mais uma vez a estagnação do padrão
de desenvolvimento.
A tabela 5.1 apresenta a evolução do PIB no período de
1970 a 1996 e mostra que a sub-região do Litoral Norte cresceu
3,4% ao ano, pois, no sub-período de 1985 a 1996, metade dos
seus m u n i c í p i o s registraram v a l o r e s n e g a t i v o s , e outros
municípios como Passo de Camaragibe e Matriz de Camaragibe
cresceram à taxa anual superior a 6,0%, o que caracteriza uma
região de crescimento econômico heterogêneo.

228 Fernando José de Lira


É importante ressaltar que, no período de 1970 a 1990, o
Estado de Alagoas foi a unidade federativa nordestina que mais cresceu
economicamente. Suas altas taxas de incremento do PIB estiveram
fortemente relacionadas com os investimentos federais no setor
sucroalcooleiro, de 1975 a 1990, na vigência do PROÁLCOOL.
Isso possibilitou um aumento de 25 vezes na produção de álcool
e quase duplicou a produção de açúcar, triplicando a área plantada
com cana-de-açúcar.
Já na década de 80, a situação econômica não foi pior, por
causa, principalmente, dos grandes investimentos federais
relacionados à produção de açúcar e de álcool. Todavia, seu padrão
de desenvolvimento, sustentado pela monocultura da cana e pela
pecuária, praticadas, basicamente, em propriedades acima de 1000
hectares, não permitiu que seu desempenho econômico alcançasse
a metade do registrado em Alagoas. (Ver tabela 5.2).
Esse padrão de crescimento teve uma baixa resposta aos
elevados investimentos federais, pois, já em 1930, quase toda'área
agricultável estava ocupada com cana e pecuária, demonstrando
o seu esgotamento econômico, que fica mais evidente durante a
década de 90. Nesse período, o setor sucroalcooleiro demonstra
claramente não ser sustentável fora de uma política agrícola
fortemente subsidiada.
As quatro principais cidades da região dos Corais -
Maragogi, Porto Calvo, Passo de Camaragibe e São Luiz do
Quitunde - tiveram crescimento econômico negativo ou nulo. Com
a redução dos incentivos federais, após 1985, e com o fim do
Proálcool, fica demonstrada mais uma vez, a estagnação do
padrão de desenvolvimento.
Quanto às sub-regiões Portal Sul e das Lagoas, têm certa
i m p o r t â n c i a na d i n â m i c a e c o n ô m i c a . A partir de 1 9 7 0 ,
apresentaram uma evolução significativa do PIB, alcançando a
década de 90, num período considerado muito difícil. No período
de 1970/1980, essas áreas cresceram 10,92%, ou seja, maior in-

230 Fernando José de Lira


cremento do que o anual ocorrido no Estado. No Portal Sul,
Penedo, Feliz Deserto, Coruripe e Igreja Nova tiveram um
aumento expressivo e maior do que o de Alagoas, 8,14%, 11,17%,
14,81 % e 12,2% ao ano, respectivamente. Vale ainda observar
que, nesse período, mesmo Piaçabuçu teve incremento moderado
de 4,77% do PIB, pois está entre os maiores produtores de coco-
da-baía do Estado (mais de 70% de suas terras agricultáveis
produzem coco). Na sub-região das Lagoas, muito influenciada
pela economia de Maceió, apenas Satuba teve um PIB pouco
expressivo, 4,95%, mas mesmo assim elevado.
A tabela 5.2 apresenta a evolução do PIB no período de
1970 a 1996 e mostra que as sub-regiões do Portal Sul e das
Lagoas, juntas cresceram 12,68% ao ano, contra um aumento
de 6,2% do Estado, pois, no sub-período de 1985 a 1996, o
crescimento foi moderado com PIA anual de 4,93%. Houve
municípios que, nesse mesmo período, cresceram à taxa anual
superior a 8,0%, o que caracteriza uma região de crescimento
econômico dinâmico.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 231


Portanto, mesmo na crise, de modo geral as sub-regiões
apresentaram elevadas respostas aos grandes investimentos
federais, pois nem toda a área agricultável já estava ocupada com
cana e pecuária. Esse crescimento fica mais evidente durante a
década de 90. Nesse período, o setor sucroalcooleiro demonstra
claramente só ser sustentável, sem essa política fortemente
subsidiada, em áreas de alta produtividade e de grande oferta de
mão-de-obra barata.
A maioria dos municípios do Portal Sul teve crescimento
econômico importante nesse período. Mesmo com a redução dos
incentivos federais, após 1985 e sobretudo com o fim do Proálcool,
essa área demonstrou que, em ambiente de condições climáticas,
e edafológicas favoráveis, o padrão de crescimento é, do ponto
de vista puramente econômico, bastante dinâmico.
A sub-região da Mata Sul apresenta uma importante
dinâmica econômica. A partir de 1970, registrou-se uma evolução
significativa do PIB. Na década de 90 apresentou crescimento
bastante favorável para esse período desfavorável. No período
de 1970/1980, São Miguel dos Campos, Campo Alegre, Roteiro e
Junqueiro tiveram um aumento expressivo e maior do que o de
Alagoas, c r e s c e n d o seu PIB 1 1 , 4 % , 13,3%, 38,7% e 2 4 , 3 %
respectivamente, apenas Boca da Mata aumentou seu PIB em
8%, portanto esse período revela-se como sendo época de ouro
para a Mata Sul. Ver tabela 5.3.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 233


TABELA 5.2: Litoral Sul - PIB Municipais em 1000 US$ de 1998, no período de 1970 a 1996.

Município PIB 1970 PIB 1980 80/70 P I B 1985 PIB 1996 ! 96/85 96/70
Piaçabuçu 5308,037 8149353 4,47 9230,101 16653,271 5,59 7,46
Penedo 22932,669 49765,678 [8,14 42952,217 96418,719 7,60 9,33
Feliz D e s e r t o 910,268 ¡2623,446 1 1,17 3980,017 9590,943 8,28 15,81
Coruripe 31676,718 126535,07«-) 14,81 164713,560 173616,494 0,42 1 1,24
Igreja N o v a 5001,142 15985,578 12,2 22250,072 56542,979 8,73 16,31
B a r r a de S. M i g u e l 1545,185 3648,854 8,89 6624,867 7328,394 0,84 10,12
L a g o a s / Municípios P I B 11970 P I B 1980 SO/70 PIB1985 PIB 1 9 % 96/85 96/70
Marechal Deodoro 11866,302 21349,476 6,17 63256,015 152765,103 8,28 17,32
Coqueiro Seco 1632,157 3822,965 8,89 3637,097 5186,920 3,19 7,46
Santa Luzia do Norte 1007,737 6657307 20,78 16256,1 (»5 49122,01)1. 10,57 27,53
Saruba 4767,566 7724,391 4,95 15023,296 16319,780 0,84 7,92
Total 86647,781 246262,127 10,42 347923,407 583544,609 4,93 12,68

FONTE: Dados Básicos do IBGE + IPEA.


TABELA 5.3- PIB Municipais em 1000 US$ de 1998, no Período 1970 a 1996.

Tx. Tx.
Município Tx. Cresc.
PIB 1970 PIB 1980 PIB 1985 PIB 1996 Cresc. Cresc.96/
80/70
96/85 70
Boca da Mata 23.322.184 50.646.815 8,00 53.604.571 43.640.371 -1,80 2,40
Campo Alegre 5.690.198 19.864.890 13,30 46.970.969 47.196.027 0,10 8,50
Junqueiro 7.367.329 65.096.153 24,30 24.789.953,00 25.443.673 0,20 4,90
Roteiro 465.999 12.297.557 38,70 9.571.830 16.674.841 5,20 14,70
São M. dos 51.334.214 151.091.314 11,40 215.221.297 544.841.182 8,80 9,50
Campo
Total 88.179.924 298.996.729 13,00 350.158.620 677.796.094 6,20 8,20

FONTE: Dados Básicos do IBGE + IPEA.


TABELA 5.4 - PIB Municipais em 1000 US$ de 1998, No Período 1970 a 1996.

Município
PIB 1970 PIB 1980 80/70 PIB 1985 PIB 1996 96/85 96/70
Branquinha 9.000 9.107 0,11 6.445 9.041 3,11 0,02
vlessias 8.126 19,494 9,14 14.479 14.128 -0,22 2,15
São José da Lage 12.780 49.707 14,55 25.803 24.338 -0,53 2,51
Santana do Mundaú 7.499 10.313 3,24 12.992 14.704 1,13 2,60
União dos Palmares 49.560 62.642 2,37 74.071 64.931 -1,19 1,04
Murici 26.736 38.003 3,58 24.842 21.106 -1,47 -0,90
\io 1 .argo 65.544 103.010 4,62 94.475 97.125 0,25 1,50

FONTE: Dados Básicos do IBGE + IPEA.


A sub-região da Mata Sul, seguindo a tendência das outras
sub-regiões, deu elevadas respostas aos grandes investimentos
federais, pois nem toda área agricultável já estava ocupada com
cana e pecuária, demonstrando o seu crescimento, que fica mais
evidente durante a década de 90. Portanto, todos os municípios
da Mata Sul tiveram crescimento econômico significativo.A taxa
de atividade registrada no Vale é muito baixa. Mesmo nos
municípios onde estão localizadas as usinas de açúcar e álcool é
pouco expressiva, obrigando grande parte da população em idade
ativa a viver na inatividade, significando dizer que 62% não têm
qualquer ocupação ou renda.
Outra característica forte da região do Vale, já constatada
em outras sub-regiões, é a sua estrutura da propriedade da terra
muito concentrada nas grandes propriedades. Para se ter idéia
disso, 9,8% de todos os produtores detêm 64,4% das terras da
região e, por outro lado, os 90,2% dos outros produtores possuem
apenas 35,6% da área total.
A pobreza extrema a que está submetida a região pode ser
vista na tabela 5.4 e gráfico 3, onde se observa que a renda
familiar per capita está abaixo de meio salário mínimo em 6 dos
7 municípios e, somente em Rio Largo, que se localiza na
microrregião de Maceió, essa renda é pouco maior que meio
salário mínimo, exatamente 0,51 salário mínimo.
No Litoral Norte, os índices repetem-se. Quanto ao grau
de concentração da posse da terra, 17% de todos os produtores
detêm 90% das terras da região e, por outro lado, 83% dos
proprietários possuem a exígua área de apenas 10% da área total.
O Portal Sul ostenta situação similar, onde 2,5% de todos
os produtores detêm 65% das terras da região e, por outro lado,
65% dos proprietários possuem a exígua área de apenas 6% da
área total. Na sub-região das Lagoas, não é muito diferente,
todavia é menos concentrada, pois 15% dos grandes proprietários
detêm 60% da área total, e 35% dos pequenos possuem 1,7%.

236 Fernando José de Lira


Na Mata Sul, 7,97% de todos os produtores com mais de
100 hectares detêm 85,62% das terras da região e, por outro
lado, 75,59% dos proprietários possuem a exígua área de apenas
3,38% da área total.
Conclui-se que essa concentrada estrutura de posse da terra,
nas regiões agropecuárias, tem sido extremamente desfavorável aos
pequenos produtores, confinando-os aos interstícios das grandes
ropriedades de plantação de cana, ou de pecuária de corte e de
ite. Além disso, a forma como a terra foi distribuída definiu a
ropriedade dos outros meios de produção, tornando-se o princi-
fator de concentração da renda e poder, com fortes reflexos no
nível de pobreza do meio urbano e, sobretudo, do rural.
O cenário social precário de todas essas sub-regiões é
onstatado nos baixos salários pagos aos chefes de família,
o í n d i c e de m o r t a l i d a d e i n f a n t i l , na a u s ê n c i a de
bastecimento de água, que são graves em todos os
unicípios. As condições de habitação e educação deixam
uito a desejar, bem c o m o o nível geral de i n s t r u ç ã o
bastante baixo. Em Paripueira, esse nível está entre os mais
baixos do Estado. Mesmo se tratando de uma cidade muito
róxima a Maceió, o efeito dinâmico da educação da capi-
al n ã o a l c a n ç a , c o m o era de se e s p e r a r , o m u n i c í p i o .
Todavia, a fração da população de 7 a 14 anos de idade tem
uma freqüência significativa no ensino básico e fundamen-
tal, o que, a médio prazo, gera expectativas positivas em
relação à melhoria do nível de vida da sub-região.
No Portal Sul, como nas Lagoas, a percentagem de pessoas
com renda insuficiente é muito elevada para os padrões nacional,
regional e estadual, ou seja, 79,55% e 71,2%, respectivamente.
O Litoral Norte registra apenas três municípios com
hospitais e leitos. São eles: Porto Calvo, Passo de Camaragibe e
São Luiz do Quitunde, que, com 150 leitos, atendem a sub-região.
O atendimento na região não é especializado. Apesar disso há,

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 237


por outro lado, situação de saúde pública ainda mais crítica nos 7
municípios que não possuem hospitais.
No Litoral Sul existem apenas três municípios com
hospitais e leitos. São eles: Coruripe, Penedo e Marechal Deodoro,
com 502 leitos no Portal Sul e apenas 14 leitos nas Lagoas. Mas
a pequena classe média desses municípios procura atendimento
médico em Maceió, pois o atendimento na região também não é
especializado. Novamente, a situação de saúde pública é mais
crítica nos 7 municípios que não possuem hospitais. Nesses locais,
os agentes de saúde fazem o trabalho de paramédicos.
Na Mata Sul, apenas um município sem hospital e leitos.
Os outros são relativamente bem servidos com um total de 197
leitos, mas, mesmo assim, a baixa qualidade dos serviços faz a
pequena classe média desses municípios procurar atendimento
médico em Maceió. A situação de saúde pública é mais crítica em
Roteiro que não possui hospitais. Nesse município, os agentes
de saúde fazem o trabalho assistencial.
Assim, de modo geral, o baixo nível de renda per capita do
chefe do domicílio, o elevado percentual de pessoas com renda
insuficiente, as precárias condições de saúde e de habitação, além
do elevado nível de analfabetismo, contribuem, de forma
sistêmica, para o elevado grau de exclusão social na região: de
sete em c a d a dez pessoas têm renda insuficiente.
Paradoxalmente, o PIB desses municípios cresceu bastante.
Maragogi, Porto Calvo e São Luiz do Quitunde, por serem
cidades pólos, possuem maior dinâmica econômica entre os
municípios dos Corais. Suas condições de vida são relativamente
melhores, porém insuficientes para estimularem o desenvol-
vimento regional.
O município cuja dinâmica tem mais reflexos sobre os
demais é Maragogi, pois, nos últimos 25 anos, 1970/1996, essa
localidade apresentou um crescimento econômico de 4,4% ao ano.
Essa dinâmica econômica não produziu uma esperada dinâmica

238 Fernando José de Lira


social, pois sua taxa de atividade de 31% fica muito abaixo da
taxa de Alagoas (54,9%).
A renda familiar per capita de Maragogi é muito baixa, 1,6
salário mínimo; igualmente é baixo o índice de qualidade de
vida municipal. Mais de 80% das pessoas residentes no município
têm renda insuficiente. Com esses indicadores sua dinâmica social
é p o u c o e x p r e s s i v a , c o n t r i b u i n d o m u i t o p o u c o para o
desenvolvimento econômico e social da região. Em outras
palavras, os problemas que enfrenta a região dos Corais estão
presentes em Maragogi, também, de modo significativo.
As cidades das Lagoas, por serem muito próximas de
M a c e i ó , p o s s u e m maior d i n â m i c a e c o n ô m i c a e e n t r e os
municípios. Suas condições de vida são relativamente melhores,
porém insuficientes para estimularem o desenvolvimento local
sustentável.
No Litoral Sul, os municípios cuja dinâmica tem mais
reflexos sobre os demais são Penedo, Coruripe e Marechal
Deodoro. Nos últimos 25 anos, 1970/1996, essas localidades
apresentaram um crescimento econômico de 9 3 3 % , 11,24% e 17,32
ao ano. Essa dinâmica econômica não produziu uma esperada
mobilidade social, pois suas taxas de atividade e salário médio
do chefe das famílias ficaram muito abaixo das taxas de Alagoas.
Penedo apresenta renda familiar muito baixa, 1,9 salário
mínimo e um baixo índice de qualidade de vida municipal, pois
mais de 72% das pessoas residentes no município têm renda
insuficiente. Marechal Deodoro registra renda familiar de 1,7
salário mínimo, e 76% das pessoas têm renda insuficiente.
Na Mata Sul, Boca da Mata e São Miguel dos Campos, pela
proximidade com Maceió, possuem maior dinâmica econômica
entre os municípios. Suas condições de vida equiparam-se às
encontradas na sub-região das Lagoas.
O município cuja dinâmica tem mais reflexos sobre os demais
é São Miguel dos Campos, pois, nos últimos 25 anos, 1970/1996,

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 239


essa localidade apresentou um crescimento econômico de 9,5%
ao ano. Todavia, isso não produziu resultados importantes nos
outros municípios. No próprio município de São Miguel dos
Campos, não houve a esperada mobilidade social, pois suas taxas
de atividade e o salário médio dos chefes de família ficaram muito
abaixo das taxas de Alagoas, do Nordeste e do Brasil.
Em São Miguel, a situação é semelhante à de Penedo, com
renda de 1,3 salário mínimo e um baixo índice de qualidade de
vida municipal. Mais de 72% das pessoas residentes no município
têm renda insuficiente. Boca da Mata registra renda familiar de
1,5 salário mínimo e 85% das pessoas têm renda insuficiente.
Em Rio largo, o chefe de família tem, em média, quase 4
anos de estudos. Nos outros municípios, a escolaridade fica em
torno de 2 anos. Em Branquinha, é de 1,1 ano. Em União dos
Palmares, considerado o município pólo da região, a cobertura
do ensino fundamental é a terceira mais baixa da região, só
superando Murici e Branquinha, e os chefes de família têm, em
média, pouco mais de 2 anos de estudo.
Os demais indicadores de União dos Palmares, como
educação, abastecimento de água, fornecimento de energia,
mortalidade infantil, estão também em sintonia com os dos
outros municípios. Registra três municípios sem hospitais e
leitos. São eles: Branquinha, Santana do Mundaú e Messias.
Rio Largo e União dos Palmares possuem dois hospitais, sendo
que este município, por ser mais distante de Maceió do que
Rio Largo, possui 132 leitos hospitalares que atendem a toda
a r e g i ã o do V a l e , n o t a d a m e n t e à q u e l e s m u n i c í p i o s sem
hospitais.
Rio Largo, que está entre as cidades de maior dinâmica
econômica do Estado, sobressai-se entre os municípios do Vale.
Suas condições de vida são relativamente melhores. Localizado
na microrregião de Maceió, possui um acesso à escola, bem como
uma mão-de-obra mais qualificada, e oferece melhores condições

240 Fernando José de Lira


de vida à população, gerando uma classe média maior que a
dos outros municípios da região.
O município cuja dinâmica tem mais reflexos sobre os
demais do Vale é União dos Palmares, porém, nos últimos 25
anos, 1970/1996, essa cidade apresentou um c r e s c i m e n t o
econômico de apenas 1,0%. Possui uma taxa de atividade de
53,7%, aproximando-se da de Alagoas (54,9%), mas bastante in-
ferior à do Nordeste, que é de 66,1 % da população em idade ativa.
Por outro lado, a renda familiar per capita de União dos
Palmares é muito baixa, 0,42% do salário mínimo, menos que
metade. Possui baixo índice de qualidade de vida, e mais de 80%
das pessoas residentes no município têm renda insuficiente. No
período de 1997 a 2000, teve uma taxa anual negativa de -3,2%
na arrecadação de ICMS, e sua estrutura fundiária é a mais
c o n c e n t r a d a do Vale. A tabela 5.10 vem c o n f i r m a r essa
afirmativa, quanto ao Vale do Mundaú, pois, no período de 1997
a 2000, a arrecadação de ICMS caiu ou teve elevação anual
pequena. A única exceção foi o município de São José da Lage,
que registrou um aumento anual de 17,8%.
Com esses indicadores, a dinâmica econômica dos municípios
abordados é de pequena expressividade, contribuindo muito pouco
para o desenvolvimento econômico e social das regiões. Em outras
palavras, os problemas econômicos e sociais apresentados estão
presentes em todos os municípios do Estado, com maior ou menor
gravidade, mas sempre de modo significativo.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 241


TABELA 5.5 - Litoral Norte - População, população em idade ativa, taxa de atividade +
população ocupada 2 0 0 0 .

Em milhares de pessoas

População Taxa de
Município População PIA PEA Desempregados
Ocupada Atividade %
Barra de Santo Antonio 11351 4973 725 614 14 72
Japaratinga 6868 4443 2471 2224 55 247
Maragogi 21832 9261 2926 2634 31 292
Matriz do Camaragibe 24016 12920 3462 3116 27 346
Porto C alvo 23951 13173 5629 5012 43 683
Porto de Pedras 10235 5528 1799 1600 32 197
Paripueira 8049 4668 498 474 11 24
Passo do Camaragibe 13755 7152 1548 1440 22 108
São Luiz do Quitunde 29543 16839 6453 5679 38 274
São Miguel dos Milagres 3860 3281 287 273 8 14

FONTE: IBGE - Contagem da população.


TABELA 3.6 - LITORAL NORTE - Renda familiar per capita, IQVM, Pessoas com renda
insuficiente, 1996.
Renda Média
IQVM Nível Percentagem de pessoas
Município Familiar
Municipal IQVM com renda insuficiente
Per capta (SM)
Barra Santo Antônio 0,27 0,425 Baixo 89
Japaratinga 0,3b 0,368 Baixo 86
Maragogi 0,32 0,423 Baixo 84
Matriz do Camaragibe 0,30 0,370 Baixo 86
Porto Calvo 0,44 0,400 Baixo 79
Porto de Pedras 0,26 0,380 Baixo 90
Paripueira 0,21 0,391 Baixo 92
Passo de Camaragibe 0,20 0,368 Baixo 80
São Luiz do Quitunde 0,30 0,387 Baixo 84
Sào Miguel dos Milagres 0,31 0,387 Baixo 79

Fonte: IBGE
TABELA 5.7 LITORAL SUL - População, População em Idade
Ativa, Ocupada, Taxa de Atividade, em 1999.

Município População Taxa de


PIA PEA
Ocupada Atividade %
Piaçabuçu 10874 847 — 7,90
Penedo 38142 5169 777
5069 13,50
Feliz Deserto 2491 226 202 9,10
Coruripe 33081 15634 14213 47,30
Igreja Nova 13139 2222 2020 16,90
Barra de São Miguel 4202 519 472 12,30
Taxa de
Lagoas/Municípios PIA PEA População ocupada
Atividade %
Marechal Deodoro 20095 6447 5861 32,10
Coqueiro Seco 3530 276 251 7,80
Santa Luzia do Norte 4466 361 329 8.1
Sa tuba 4942 938 853 18,90

Fonte: IBGE - Cadastro Geral de Empresas.

TABELA 5.8 - Vale do Mundaú - População, População


em Idade Ativa, Ocupada, taxa de atividade, 1999.

Em Milhares de Pessoas

Taxa de
População PEA P.O.
Atividade %
Município
Branquinha 11 5 1,5 30
Messias 12 6 0,9 15
São José da Lage 21 12 6,9 57,5
Santana do Mundaú 12 6 3,9 65
Jnião dos Palmares 58 30 16,1 53,7
\ hi ria 25 13 1,7 13,1
Rio Largo 62 35 9,6 27,4
ALAGOAS 2.818 54,9
NORDESTE 66,1

Fonte: IBGE

244 Fernando José de Lira


TABELA 5.9 LITORAL SUL - Alagoas, IQMV, Pessoas com
Renda Insuficiente, 1996.

IQMV Nível Percentagem de Pessoas


Município
Municipal IQMC com Renda Insuficiente
Piaçabuju 0,3% baixo 76,30
Penedo 0,455 médio 71,91
Feliz Deserto 0,439 baixo 86,89
Coruripe 0,451 médio 70,87
Igreja Nova 0,36-1 baixo 91,47
Sarra de Sâo Miguel 0,33" médio 79,90
Percentagem de Pessoas
Lagoas/Municípios IQMV Municipal Nível IQMV
com Renda Insuficiente
Marechal 1 )eodoro 0,497 médio 75,99
Couueiro Seco 0.395 baixo 73,65
Santa Luzia do Norte 0,450 médio 67,39
Samba 0.493 médio 67.83

FONTE: Secretaria de Planejamento do Estado de Alagoas - SEPLAN / AL.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 245


TABELA 5.10 - Vale do Mundaú -Alagoas Renda Familiar Per capita, IQVM, Pessoas com
Renda Insuficiente, 1996.

Renda Familiar IQVM Nível Percentagem de Pessoas


Município
Per capita média (SM)
Municipal IQVM com Renda Insuficiente

Branquinha a 23 0,315 Baixo 90,42


Messias 0,45 0,453 Médio 79,58
São José da Lage 0,38 0,385 Baixo 79,57
Santana do Mundaú 0,32 0,342 Baixo 84,34
União dos Palmares 0,42 0,394 Baixo 80,39
Murici 0,34 0,386 Baixo 83,38
Rio Largo 0,51 0,495 Médio 67,38

Fonte: IBGE
TABELA 5.11 MATA SUL - População, População em Idade
Ativa, Ocupada, Taxa de atividade, 1999.

Em milhares de Pessoas
Município Taxa de
População PIA PEA P.O
Atividade %

Boca da Mata 16.963 12.780 4601 4.183 36,0%


Campo Alegre 28.969 24.707 4883 4.257 19,8%
Junqueiro 16.355 15.588 3043 767 19,5%
Roteiro 4.750 4.553 697 197 16,2%
São Miguel dos
36.236 25.741 12069 10.495 48,9%
Campos

onte: IBGE

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 247


TABELA 5.12 MATA SUL - Domicílios Particulares Permanentes, com Ligação de Água,
Energia, Telefone, Taxa de mortalidade Infantil e Renda Média do Chefe, 1996.

População em Domicílio Particular

Telefone Mortalidade IQVM Renda Média


Município Domicílios Água Energia
Ativo Infantil Municipal do Chefe S.M.

Boca da Mata 100 11,52 13,22 0,98 92 0,422 1,564


Campo Alegre 100 2,83 10,46 0,34 91 0,332 1,699
lunqueiro 100 5,45 17,6 0,99 90,0 0,391 1,278
Koleiro 100 7,31 12,2 0,14 92,1 0,367 1,577
São Miguel dos Campos 100 15,74 13,87 1,8 80,2 0,435 1,335

Fonte: IBGE
TABELA 5.13- Mata Sul - Domicílios Particulares Permanentes, Com Ligação de Agu
Energia, Telefone, Taxa de Mortalidade Infantil e Renda Média do Chefe, 1996.

População em Domicílio Particular em %


Mortalidade Renda Média
Município Domicílios Água Energia Telefone Ativo
Infantil do Chefe S.M.
Branquinha 1.848 5,65 8,54 0,0 83 1,1
Q
•O
Messias 2.122 12,6 13,3 0,9 83 1,9
Qi São José tia Lage 5.013 10,4 13,7 1,0 109 1,3
O
a
D Santana do Mundaú 2.676 6,4 12,3 0,4 109 1
União dos Palmares 9.123 14,2 15,5 1,3 109 1,5
c
CD Murici 4.747 10,2 11,6 0,8 83 1,3
M
O
CD
Rio Largo 13.320 13,3 16,3 L5 54 1,9
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^ Capítulo VI

Fernando José de Lira 1

Francisco Rosário 2

Estrutura da produção monopolista


O padrão de desenvolvimento da economia das duas sub-
regiões, Litoral Norte e Sul, segundo o Censo Agropecuário de
1995/96, e a Produção Agrícola Municipal (PAM/IBGE), estão
concentrados na agricultura, apresentando um desenvolvimento
industrial relativamente pouco diversificado. A exceção é
Marechal D e o d o r o que além de u s i n a de a ç ú c a r , p o s s u i
indústrias de bens intermediários.
Mesmo com esse perfil industrial as sub-regiões têm
predominância da agricultura, que sempre foi e continua sendo
a atividade mais importante. É através dela que as famílias mais
pobres têm buscado novas alternativas para sua economia, mas
0 processo simultâneo de cultivo da cana-de-açúcar e coco, na
forma de monocultura, é inibidor da introdução de n o v a s
atividades agropecuárias, por causa da estrutura concentrada e
consolidada da propriedade da terra, a partir de 1850, associada
à recente expansão da pecuária no Portal Sul.
A e s t r u t u r a da d i s t r i b u i ç ã o dos e s t a b e l e c i m e n t o s
agropecuários do Litoral Norte mostra-se fortemente concentrada.
Em 1995, 8 3 % dos estabelecimentos tinham menos de 100 hect-
y
ares e controlavam 10% da área total. No outro extremo, dos
estabelecimentos com mais de 100 hectares, apenas 17%, do to-
tal, controlavam mais de 90% da área total. A área média dos
1
Prof. Dr. da Ufal.
2
Doutorando em Administração UFRJ.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 251


estabelecimentos pequenos - de menos de 10 hectares - foi de
3,5 hectares, e a dos grandes - mais de 100 hectares - foi de
473,6 hectares. O Portal Sul e Lagoas mostram-se fortemente
concentrados. Em 1995,96% dos estabelecimentos tinham menos
de 100 hectares e controlavam 31% da área total. No outro
extremo, dos estabelecimentos com mais de 100 hectares, apenas
4% controlavam 69% do total.
Na Mata Sul a distribuição se mostra fortemente concentrada.
Em 1995, 76% dos estabelecimentos tinham menos de 100 hectares
e controlavam 3% da área total. No outro extremo, dos
estabelecimentos com mais de 100 hectares, apenas 8% do total
dos proprietários controlavam 86% da área total. A área média
dos estabelecimentos pequenos - de menos de 10 hectares - é de
2,4 hectares, e a dos grandes, mais de 100 hectares, de 612 hectares.
Essa centralização da posse da terra é muito superior à
registrada em Alagoas - considerado um dos Estados de maior
concentração da propriedade da terra - pois, no Estado, 96% dos
pequenos estabelecimentos possuem 35% da área total, e 3,2%
dos grandes controlam 64,2% dessa área. Há, portanto, uma
estrutura fundiária mais favorável ao pequeno produtor do que
a existente na região do Litoral Norte, visto que a área média dos
grandes estabelecimentos de Alagoas era, em 1995, 122 vezes
maior do que a dos pequenos, enquanto no Litoral Norte essa
diferença é de 135 vezes; no Portal Sul, é de 166 vezes; nas Lagoas,
de 100 e, na Mata Sul, chega a 255 vezes.
Essa forte concentração da posse da terra foi decisiva na
definição do padrão do desenvolvimento da região, assentado no
coco e nas grandes plantações de cana-de-açúcar. Esta última, entrou
em crise profunda a partir de 1985, com o fim do Proálcool e, mais
especificamente a partir de 1990, com os processos de abertura
comercial, a globalização dos mercados e a reestruturação produtiva,
na busca da competitividade de outras regiões mais adiantadas.
Essa crise abriu espaços e possibilidades não aproveitadas de

252 Fernando José de Lira


diversificação das atividades agrícolas e não-agrícolas no meio rural
e das atividades não-agrícolas no meio urbano.
No âmbito dos municípios das sub-regiões estudadas a
estrutura agrária mostrou-se ainda mais concentrada, ver nas tabelas
6.1, 6.2, 6.3, 6.4 e 6.5. A proporção do número e área dos
estabelecimentos por município, bem como sua área média por
extrato de área. Na tabela 6.1, Matriz de Camaragibe, Porto de Pedra,
Paripueira e Passo de Camaragibe são os municípios que apresentam
o maior nível de concentração da propriedade, com os pequenos
produtores controlando menos de 1% da área total e os grandes
proprietários detendo mais de 90% de toda a área cultivável.
Já no âmbito dos municípios do Portal Sul, a estrutura
agrária mostrou-se ainda mais concentrada. A tabela 6.2 mostra
que Penedo, Coruripe e Igreja Nova possuem área média dos
grandes produtores muito elevada.
Nos municípios, da Mata Sul, a estrutura agrária mostrou-
se mais concentrada nos Municípios de Boca da Mata, São Miguel
dos Campos e Campo Alegre, com área média dos grandes
produtores bastante alta.
Nessa mesma tabela 6.2 nota-se que Satuba e Marechal
Deodoro são dois municípios das áreas de Lagoas com maior
área média dos grandes proprietários.
A área média dos pequenos produtores é pouco mais de
2,5 hectares, enquanto os grandes agricultores possuem uma área
média superior a 400 hectares, significando dizer que essa área é
160 vezes maior do que a que cabe a cada pequeno produtor. Por
conseguinte, nessa sub-região, praticamente não existe pequeno
produtor, portanto sua agropecuária está fundamentalmente
baseada nas grandes propriedades.
A e s t r u t u r a da d i s t r i b u i ç ã o dos e s t a b e l e c i m e n t o s
a g r o p e c u á r i o s do Vale do M u n d a ú mostra-se f o r t e m e n t e
c o n c e n t r a d a . Na tabela 6.3, em 1 9 9 5 , mais de 9 0 % dos
estabelecimentos tinham menos de 100 hectares e controlavam

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 253


TABELA 6.1 LITORAL NORTE - Área média dos estabelecimentos agropecuários,
por grupo de área total.
Grupo de Area total
Município Menos de 10 há De 10 a 100 há Mais de 100 há
Área media Área média Área média
Barra Santo Antonio 4 47,7 515,8
Japa ra tinga 2,5 10,1 483,2
Maragogi 3,4 30/1 440,3
Matriz do Camaragibe 5,1 92,7 561,5
Porto Calvo 4,3 34,3 407,6
Porto (lo Pedras 3,6 .38,0 350
Paripueira 4,3 21,8 658
Passo de Camaragibe 2.9 35,0 392
São Luiz do Quitunde 2,4 51,0 453
Sào Miguel dos Milagros 2,1 31,0 487
FONTE: Censo demográfico. 2 0 0 0 .
14,8% da área total. No outro extremo, o dos estabelecimentos
com mais de 100 hectares, apenas 9,8% do total controlavam
mais de 85% da área total. A área média dos estabelecimentos
pequenos - de menos de 10 hectares - foi de 3,3 hectares, e a dos
grandes, mais de 100 hectares, foi de 529 hectares.
Ao âmbito dos municípios do Vale, a estrutura agrária é
muito concentrada. A tabela 6.3 mostra a proporção do número
e área dos estabelecimentos por município, bem como sua área
média por extrato de área. Nessa tabela, Rio Largo é o município
que apresenta o maior nível de concentração da propriedade, com
os pequenos produtores controlando apenas 1,3% da área total e
os grandes proprietários, 98,7% de toda a área cultivável.
A área média dos pequenos produtores é pouco mais de
meio hectare, enquanto os grandes agricultores possuem uma
área média superior a 1.602 hectares, significando dizer que essa
área é 2.136 vezes maior do que a que cabe a cada pequeno
produtor. Por conseguinte, Rio Largo, praticamente não possui
p e q u e n o p r o d u t o r e, p o r t a n t o , sua a g r o p e c u á r i a está
fundamentalmente baseada nas grandes propriedades.
Outro município importante, onde a posse da terra tem
distribuição muito concentrada, é União dos Palmares. Na tabela
6.3, observa-se que, nesse município, 79,4% dos produtores possuem
menos de 10 hectares de terra, utilizando apenas 16,6% de toda a
área; já os grandes proprietários representam somente 4% do total
de produtores, porém controlam quase dois terços da área total. A
tabela 6.3 vem confirmar essa concentração, pois, enquanto os
pequenos produtores têm uma área média de apenas 3,26 hectares,
a área média dos grandes chega a quase 400 hectares.
Assim, a estrutura agrária dos municípios próximos ou
sob a influência de União dos Palmares é, praticamente, a mesma,
m e r e c e n d o d e s t a q u e Santana do M u n d a ú e Murici, por
apresentarem, no Vale, uma configuração da posse da terra com
a mais baixa concentração da posse da terra.

254 Fernando José de Lira


TABELA 6.2 - Litoral Sul - Área Média dos Estabelecimentos Agropecuários
por Grupo de Área Total e por Município, 1995/96.

Grupo Área Total


De 10 a 100 Mais de 100
Município Menos de 10
Área Área
Área Média/Hectare
Média/Hectare Média/Hectare
Piaçabuçu 3,4 27,0 269,9
Penedo 2,6 23,9 916,5
Feliz Deserto 2,9 33,6 423,9
Coruripe 3,0 25,7 601,0
Igreja Nova 3,0 21,8 1068,1
Barra de S. Miguel 6,8 25,7 283,3
De 10 a 100 Mais de 100
Menos de 10
Lagoas / Municípios Área Área
Área Média/Hectare
Média/Hectare Média/Hectare
Marechal Deodoro 3,3 36,7 433,5
Coqueiro Seco 2,1 33,6 158,3
Santa Luzia do Norte 5,7 43,3 135,0
Satuba 1,1 65,5 476,5
Média Total 34 33,7 476,6

FONTE: IBGE - Censo demográfico, 2000.


TABELA 6.3 - Vale do Mundaú - Área Média dos Estabelecimentos Agropecuários
por Grupo de Área Total e por Município, 1995/96.

Grupo de Área Total


De 10 a 100 Mais de 100
Município Menos de 10
Área Média/ Área Média
Área Média /Hectare
Hectare /Hectare
Rio Largo 0,75 65,00 1.602,42
Branquinha 3,74 41,66 524,48
Messias 0,50 32,56 491,56
Murici 7,43 50,55 460,01
Satana do Mundaú 3,12 24,54 235,66
-ião José da Lage 4,45 29,82 375,63
União dos Palmares 3,26 24,96 387,41

FONTE: IBGE - Censo demográfico, 2000.


Os dados observados vêm comprovar que, em todos os
municípios das sub-regiões do Litoral Norte, Litoral Sul,
Lagoas e Mata Sul, as áreas exíguas dos pequenos produtores
foram transformadas em um minifúndio de subsistência, com
pouca participação no PIB gerado na região e, nesse sentido,
quase toda a riqueza produzida decorre da monocultura da
cana-de-açúcar. Em menor proporção da cultura do coco e,
m u i t o p o u c o , das atividades p e s q u e i r a e p e c u á r i a mais
presentes na Mata Sul.
Essa estrutura agrária muito assimétrica vem sendo motivo
de debate desde os anos 30 do século passado, quando a reforma
agrária era a principal reivindicação dos pequenos produtores
sem terra e dos trabalhadores rurais. Esse debate foi interrompido
no período de 1964 a 1985, quando a modernização agrícola,
baseada nos princípios da revolução verde, prometia aumentar a
produtividade para alimentar as pessoas nas cidades; liberar mão-
de-obra para o setor serviços e indústria, bem como fornecer
matéria-prima barata para indústria.
A partir de 1985, esse modelo de desenvolvimento entrou
em crise e, com a Nova República, em 1986, a questão agrária
voltou a ser motivo de preocupação no Brasil, agora é apontada
como parte da solução dos graves problemas de desocupação no
meio urbano e de fixação do homem no meio rural.
Nessa perspectiva, a partir de 1986 e, principalmente, de
2000, a política de reforma agrária do INCRA, aliada à pressão
dos movimentos sociais dos sem-terra, resultou num grande
número de ocupações e assentamentos em todo o país e em
Alagoas, com predominância na Zona da Mata deste Estado,
transformando-se na unidade federativa com o maior número
relativo de conflitos de terra do Brasil.
No Litoral Norte, os conflitos estiveram presentes em quase
todos os municípios, mas foi em Porto Calvo, Maragogi e São
Luiz do Quitunde que os assentamentos surgiram como esperança

258 Fernando José de Lira


de reforma agrária, com impacto econômico e social bastante
favorável, no meio rural e urbano dos municípios.
Esse é um fenômeno novo na região. Segundo a maioria
dos entrevistados, os municípios onde estão localizados foram
beneficiados, gerando expectativas de melhoria nas condições de
vida no campo e nas cidades, podendo, inclusive, resultar numa
nova dinâmica econômica baseada na diversificação produtiva.
Esse pode ser o caso, por exemplo, de Maragogi que abriga o
maior número de famílias.
Apesar da participação de outras atividades na estrutura
produtiva na região dos Corais, existe a forte predominância da
cana-de-açúcar, de bovinos, coco e avicultura, sendo que a primeira
é praticada basicamente em grandes propriedades - propriedades
acima de 1000 hectares. O cenário é o mesmo na região do Portal
Sul, principalmente na sub-região das Lagoas. A participação de
outras atividades na estrutura produtiva na região da Mata sul é
inexpressiva, com predominância da cana-de-açúcar, de bovinos e
da avicultura, sendo que a primeira é praticada basicamente em
grandes propriedades, acima de 1000 hectares.
São Miguel dos Milagres é exceção, pois combina coco,
bovinos, aves e suínos. A avicultura é forte em 4 municípios: Barra
de Santo Antônio, Japaratinga, Maragogi e Porto de Pedras. A
bovinocultura, em Matriz de Camaragibe, Porto Calvo e Passo
de Camaragibe, e cana-de-açúcar destaca-se na forma de
monocultura, em 9 dos dez municípios. Matriz de Camaragibe e
São Luiz do Quitunde têm quase que 1 0 0 % de sua área
agricultável ocupada com cana-de-açúcar. Maragogi, Porto
Calvo e São Luiz do Quitunde, os três municípios mais
importantes da região, possuem mais de dois terços de sua área
agricultável coberta com cana-de-açúcar. (Ver tabelas 6.4 e 6.5).
O coco, que já foi uma cultura importante na região,
atualmente está em fase extrativista. A degeneração da planta e
a inexistência de pesquisa científica, associadas à ausência de

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 259


TABELA 6.4 - Litoral Norte - Proporção das principais atividades agrícolas, em área, de
2000.

Em percentagem

Município Coco da Cana-de-


Banana Feijão Milho Mandioca Laranja
Bahia Açúcar

Barra Santo Antônio 5,8 93 0,01 0,5 0,2 0,5 0,03


lapardtingti 35,5 57 2 2,6 1,6 1,2 0,3
Maragogi 18,5 76,2 1,6 1,6 0.8 1,2 0,1
Matriz do Camaragibe 0,5 96,8 0,4 0,8 0,5 0,9 0,1
Porto Calvo 3,4 90,8 1,5 1,2 1 1,8 0,3
Porto ilo Peclr.is 18,6 73,9 1 1,9 1,6 2,9 0,1
Paripueira 29,1 bS,3 0,1 0,8 0,3 1,3 0,1
Passe de Cciiii.iragilx' 7,7 89,2 0,2 0,5 0,4 1,8 0.2
São Luiz do Quitunde 0 98,7 0,2 0,3 0,3 0,5 0,1
São Miguel dos Milagres 70,7 19,3 2,3 2,3 1,1 4,2 0,1

FONTE: IBGE - SIDRA.


técnicas modernas, tornaram a cultura pouco competitiva, e
transformando-se quase que numa atividade de subsistência. A
tabela 6.5 e 6.6 mostram a baixa importância relativa do coco,
quando comparado com a cana-de-açúcar, pois mesmo na
década de 90, quando a cana-de-açúcar sofre uma retração
importante, o coco também cai, portanto não é c a p a z de
preencher os espaços deixados pela cana-de-açúcar.
Em todos os municípios mais 90% de sua área agricultável
é ocupada c o m cana-de-açúcar. A p e c u á r i a é quase uma
atividade extensiva, com maior importância apenas em São
Miguel dos Campos.

260 Fernando José de Lira


TABELA 6.5 - LITORAL SUL - Proporção das Principais Atividades Agrícolas de Área Colhida,
em 1999.

Município Banana % Cana-de-açúcar % Feijão % Laranja % Mandioca % Milho % Coco % Total


Piaçabuçu 0,55 0,00 0,00 0,04 0,13 0,00 99,28 100
Penedo 0,21 91,85 0,90 0,12 3,65 0,68 2,60 100
Feliz Deserto 0,00 74,02 0,29 0,00 0,04 0,00 25,65 100
Coruripe 0,04 89,24 3,52 0,03 0,11 2,73 4,32 100
Igreja Nova 0,11 64,37 12,67 0,65 12,61 9,47 0,1 1 100
liarra de Saci Miguel 0,08 92,81 0,25 0,00 0,34 0,25 6,26 100
Lagoas/Municípios Banana% Cana-de-açúcar% Feijão LaranjaVo Mandioca"/) Milho% Coco% Total
Coqueiro Seco 7,76 67,47 11,11 0,00 3,08 1,07 9,50 100
Santa Luzia do Norte 1,26 87,87 3,79 0,00 0,00 0,59 6,49 100
Sa tuba 0,10 84,91 3,95 0,00 1,56 0,62 8,84 100
Total 0,17 85,21 3,07 0,07 1,48 2,22 7,76 100
Marechal Deodoro 0,06 90,16 0,14 0,01 0,28 0,04 9,31 100

FONTE: Produção Agrícola Municipal, 2 0 0 0 - IBGE.


Tabela 6.6 Mata Sul - Proporção das Principais Atividades Agrícolas da Área Colhida, em
2000 (hec).
Total Banana Cara-de-Acúcar Feijão Laranja Mandioca MUho Coco
Município
% % % % % % % %
Boca da Mata 100 0,03 99,04 03 0 0,07 0,33 0
Campo Alegre 100 0,07 98,77 0,59 0,02 0,1 0,46 0
Junqueiro 100 0,02 90,94 6,5 0,04 0,4 2,1 0
Roteiro 100 0 9835 0 0 0 0,3 134
Sâd Miguel dos
100 0 96 2 0 0 1 1
Campos
FONTE: Produção Agrícola Municipal, 2000 - IBGE.
A p e n a s em P i a ç a b u ç u , o c o c o a p r e s e n t a - s e c o m o
monocultura. Igreja Nova tem suas atividades agropecuárias mais
diversificadas e associa cana, feijão, mandioca, milho, bovinos e
aves. A avicultura tem uma participação importante em quase
todos os municípios, mas é forte em Penedo, Igreja Nova e Barra
de São Miguel. Na área das Lagoas, a pecuária é diversificada,
com participação moderada da bovinocultura.
Exclusive Piaçabuçu, nos outros municípios, mais de dois
terços de sua área agricultável é ocupada com cana-de-açúcar. O
coco quase não está presente em Igreja Nova e, nos outros
municípios, tem participação próxima de 8%. Essa cultura que já
foi importante nas duas sub-regiões, atualmente está em fase
extrativista, praticamente como atividade de subsistência, por
causa da exploração imobiliária, além da incidência dos demais
fatores já registrados em outras áreas.
Apesar da participação de outras culturas na estrutura
produtiva do Vale do Mundaú, existe a forte predominância de
cana-de-açúcar, de bovinos e de avicultura, sendo que as primeiras
culturas são praticadas basicamente em grandes propriedades -
com acima de 1000 hectares.
A exceção fica com Santana do Mundaú, que combina
fruticultura, bovinos e aves. A avicultura é forte em 3 municípios,
a bovinocultura e a cana-de-açúcar são destaques em mais 3. Os
municípios de União dos Palmares, São José da Lage e Rio Largo,
os três maiores da região, concentram suas atividades agropecuárias
em cana-de-açúcar e avicultura. (Ver tabelas 6.7 e 6.8).
Os dados mostram o quão decisivo foi o apoio federal e
estadual para cana-de-açúcar no Vale, gerando grande aumento
da área cultivada. A pecuária, centrada no gado bovino, ampliou
suas pastagens nos últimos 25 anos, quando passou de 34 mil
hectares em 1970, para p r ó x i m o de 50 mil h e c t a r e s , com
crescimento anual de 1,5. Ver tabelas 6.8 e 6.9 e gráficos 6.1, 6.2
e 6.3.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 265


TABELA 6.7 - Vale do Mundaú - Proporção das Principais Atividades Agrícolas da Área
Colhida, em 1995/96.

Total Banana Cana-de-Açúcar Feijão Laranja Mandioca Milho


Município
% % % % % % %
Branquinha 100 0,0 99,98 0,01 0,01 0,0 0,0
Messias 100 0,0 100,00 0,00 0,00 0,0 0,0
São José da Lage 100 0,3 99,28 0,07 0,18 0,1 0,1
Santana do
Mundaú 100 17,6 12,50 5,70 52,30 2,5 9,3
Murici 100 0,5 99,40 0,00 0,10 0,0 0,0
Rio Largo 100 0,0 100,00 0,00 0,00 0,0 0,0
União dos Palmares 100 6,6 82,60 2,20 2,10 4.7 1,8

FONTE: Prod. Agrícola Municipal, 2000 - IBGE.


TABELA 6.8 - Mata Sul - Proporção em Cabeças, das Principais Atividades Pecuárias, em
2000, (%).

Asinino e
Município Total Caprinos Bovinos Aves Eqüinos Ovinos Suínos
Muares
Boca da Mata 100 2,42 49,61 39,83 3,88 2,28 0,68 1,36
Campo Alegre 100 4 42 39 3 3 2 7
Junqueiro 100 1,12 35,37 60,02 1,2 1,68 1,16 1,84
Roteiro 100 47,52 6,93 0 13,86 17,82 13,86 0
São Miguel dos Campos 100 2,07 48,49 36,57 2,94 2,78 1,43 5,72

FONTE: Produção Agrícola Municipal, 2 0 0 0 - IBGE.


TABELA 6.9 - Vale do Mundaú - Proporção em Cabeças, das Principais
Atividades Pecuárias, em 1999 (%).

Asininos e
Município Total % Caprinos Bovinos Aves Eqüinos Ovinos Suínos
Muares
Branquinha 100 3,9 41,2 35,5 7,3 0,3 7,7 4
MESSIAS 1(1(1 3,4 44,8 37,5 3,2 1,4 5,1 4,5
Murici 100 1,4 77,1 10,4 2,2 3,9 2,4 2,6
Saul.ma DO Muiulau 100 0,9 33,9 37, Í 2,2 2,3 1,1 2,2
SÃO JOSÉ da LAGE 100 0,5 14,4 65,7 0,7 ), 1
R
7,2 6,2
RIO LARGO 100 0,2 0,3 97,6 0,2 0,8 0,2 0,7
UNIÃO DOS PALMARES 100 0,2 1,2 9 1,6 0,2 0,1 0,2 0,6

FONTE: IBGE - PAM, 2000.


GRÁFICO 6.1 - Crescimento das Atividades
Pecuárias.

Produção de

FONTE: Censo demográfico, 2000.

GRÁFICO 6.2 - Atividades Pecuárias - proporção em


cabeças.

Caprinos% Bovinos % Aves % Muares % Eqüinos % Ovinos % Suínos %

FONTE: Censo demográfico, 2000.

268 Fernando José de Lira


GRÁFICO 6.3 - Atividades Pecuárias
que mais cresceram e descresceram
(n° de cabeças) de 1990/99.

I JDTKCremrr0To% |

FONTE: Censo demográfico, 2000 e 1990.

Q u a n t o às culturas por municípios, notamos quase


ausência de fruticultura. A área da Mata Sul e das Lagoas tem
relevo, solo e clima muito propícios à cana-de-açúcar e coco-da-
baía, mas se pode estimular as agroindústrias voltadas para
atender aos turistas, necessitando, por conseguinte, de ações
prioritárias para seu estímulo.
Há, t a m b é m , vantagens c o m p a r a t i v a s em r e l a ç ã o à
olericultura, principalmente à horticultura. As grandes várzeas
com água abundante o ano todo e a proximidade de seus
municípios da cidade de Maceió e Recife garantem um grande
mercado à região, que lhe permitiria substituir as elevadas
importações que Alagoas faz desses produtos, de outros Estados
do Nordeste e até de São Paulo.
Em relação ao milho e feijão, principalmente, as grandes
várzeas, com água abundante o ano todo, e a proximidade dos
municípios de Boca da Mata e São Miguel dos Campos da cidade

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 269


de Maceió garantem um grande mercado à sub-região, que lhe
permitiria substituir as elevadas importações que Alagoas faz
desses produtos.
Alagoas importa mais de 80% dos produtos desse gênero e,
portanto, a região tem mercado quase cativo. Para tanto, necessita
de estímulos nas formas de assistência técnica, capacitação e crédito,
dirigidos preferencialmente aos agricultores familiares.
Os assentamentos, principalmente aqueles localizados em
Maragogi, poderiam ser áreas que, dadas as condições necessárias
à produção e produtividade, ficariam habilitadas a suprirem essa
demanda de importação, todavia sua baixa capacidade produtiva
não tem permitido a ocupação desse espaço de demanda reprimida.
Isso pode também ser válido relativamente à pecuária de
corte de pequenos animais, como avicultura e ovinos. Observando
a tabela 6.3, essa atividade aparece com percentuais importantes
em todos os municípios, especialmente em Barra de Santo
Antônio. Entretanto essa alternativa de produção agropecuária
só é exeqüível para a região, se for praticada na visão de
agronegócio.
Como se sabe, nos Corais já existem pequenas iniciativas
de diversificação da produção agropecuária, necessitando de
estudos económicos, agronômicos, zootécnicos, mercadológicos
e tecnológicos para definir as estruturas de governança e
estratégias de atuação, no sentido de incentivar sua expansão.
Essa diversificação de produção, no meio rural, gera mais
empregos, renda e maior arrecadação de impostos, permitindo
uma melhor distribuição de renda e, por conseguinte, tornando
as feiras mais dinâmicas e o mercado interno de consumo de
produtos agrícolas e não-agrícolas mais expressivo.
Adicionalmente, a diversificação produtiva contribuiria para a
melhoria das condições ambientais.
Na tabela 6.10 e no gráfico 6.4, temos a relação das
atividades agrícolas que mais cresceram e decresceram no

270 Fernando José de Lira


período de 1 9 9 0 / 9 9 . Nota-se q u e o c o c o - d a - b a í a e,
principalmente, a cana sofreram queda de 0,05% e 2,2% ao ano,
respectivamente. Quanto às outras culturas, todas tiveram
crescimento na área colhida, com destaque para a laranja, que
teve um incremento de 13,50%. Na tabela 6.11 e no gráfico 6.5,
temos a relação das atividades agrícolas que tiveram o maior
incremento e aquelas que mais decresceram no período de 1990/
99. O coco-da-baía e, principalmente, a cana, que reduziram
sua produção. Em relação às demais culturas, todas tiveram
redução na área colhida, com ressalva para a mandioca que
decresceu em 7,15%, e o milho com redução de 3,02%.
É importante observar, nessa tabela, o crescimento registrado
pelo milho e feijão, pois Alagoas tem sido grande importador desse
produto e o próprio Estado, por ter uma avicultura vigorosa,
importa grande quantidade de milho, significando dizer que há
um mercado local e estadual pouco explorado.
Na tabela 6.10 e no gráfico 6.4, temos a relação das
atividades agrícolas que mais cresceram e decresceram no
período de 1990/99. Nota-se que no Vale do Mundaú, com
exceção da cana, que sofreu um aumento significativo de 38,5%,
do feijão, que teve um incremento de 2,8%, e do milho, que se
elevou em 3 , 4 % ao ano, todas as outras culturas tiveram
crescimento negativo. Banana, batata-doce e mandioca caíram
às taxas elevadas de -5,9%, -9,9% e -9,0%, respectivamente.
A cana-de-açúcar experimentou um decréscimo mais baixo
que o dessas culturas. Pelo fato da produção de cana-de-açúcar
ter mercado assegurado, mesmo em época de crise, a queda é
muito pequena. É importante observar, nessa tabela, o aumento
da produção do milho. Alagoas é grande importador desse
produto e o próprio Vale, por ter uma avicultura vigorosa, importa
grande quantidade dele, significando dizer que há um mercado
local e estadual para o milho, podendo haver incremento bem
maior na sua produção.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 271


TABELA 6.10 LITORAL NORTE - Atividades agrícolas que
mais cresceram e decresceram no período de 1990 a
1999.

Setor Agrícola:
Taxa de
Atividade
Crescimento %
Cana-de-açúcar -2,20
Coco-da-baía -0,05
Banana 1,70
Mandioca 2,40
Milho 8,30
Laranja 13,50
Feijão 16,10

FONTE: IBGE - SIDMA - Censo demográfico, 2000 e 1990.

GRÁFICO 6.4 -Taxa de Crescimento das Atividades


Agrícolas % 1990/1999.

9 Cana - de - AçiJcar |
O3oco-da-baia
• Banem
• Mar :
• Y - :
• Lara", a
• Feijão

FONTE: Dado da tabela 6.10.

272 Fernando José de Lira


TABELA 6.11 - Litoral Sul 14 - Relação das
Atividades Agrícolas que mais cresceram
e decresceram (Área Colhida) de 1990 a
1999.

Setor Agrícola:
Taxa de Crescimento
Atividade
1990-99%
Mandioca -7,15
Cana-de-açúcar -2,02
Milho -3,02
Feijão 0
Laranja -1,02
Banana -1,02
Coco-da-baía -3,03

FONTE: IBGE - PAM 2000.

GRÁFICO 6.5 - Decréscimo das Atividades Agrícolas - 1999/90.

FONTE: Dado da Tabela 6.11.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 273


TABELA 6.12 - Mata Sul - Relação das
Atividades Agrícolas que mais cresceram e
decresceram (Área Colhida) de 1990 a 1999.

Setor Agrícola:
Taxa de Crescimento
Atividade
1990-99 %
Mandioca -9,0
Cana-de-açúcar -0,9
Milho 3,4
Batata Doce -9,9
Feijão 2,8
Laranja 38,5
Banana -5,9

FONTE: IBGE- PAM, 2000.

TABELA 6.13 - Mata Sul - Relação das Atividades


Agrícolas que Mais Cresceram e Decresceram
(Área Colhida) de 1990 a 1999.

Setor Agrícola:
Taxa de Crescimento
Atividade
1990-99 %
Mandioca -73,49
Cana-de-açúcar -19,03
Milho 3,37
Batata doce -
Feijão 56,57
Laranja -20
Banana -50
Coco-da-baía 1,98

FONTE: IBGE - PAM. 2000.

Fernando José de Lira


TABELA 6.14 VALE DO MUNDAÚ - Relação das
Atividades Agrícolas que mais cresceram e
decresceram (Área Colhida) de 1990 a 2000.

Setor Agrícola:
Taxa de Crescimento
Atividade
1990-99 %
Mandioca -9,0
Cana-de-açúcar -0,9
Milho 3,4
Batata doce -9,9
Feijão 2,8
Laranja 38,5
Banana -5,9

FONTE: IBGE- PAM, 2000.

GRÁFICO 6.6 - Vale do Mundaú - Relação das Atividades


Agrícolas que Mais Cresceram e Decresceram ( em Área
Colhida) no Período de 1990 a 1999.

CANA•Dl i
ACUCAR
BANAKA

BATATAO-XÍ

Fonte: IBGE - PAM, 2000

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 275


G R Á F I C O 6.7- Atividades que mais cresceram e
decresceram (área colhida) 1990/99.

FONTE: IBGE- PAM, 2000.

Na tabela 6.15, temos o comportamento das atividades


pecuárias em que os bovinos, ovinos e caprinos têm destaque e
aumentaram bastante sua participação. Todavia essas três
atividades não estão organizadas na forma de arranjos produtivos
ou cadeia produtiva que pudessem gerar cleuters.
No Portal Sul, o destaque foi para caprinos e ovinos que
caíram respectivamente -43,9% e -10,64%. As outras atividades
p e c u á r i a s q u a n d o não r e d u z i r a m seu r e b a n h o tiveram
crescimento medíocre. Ver tabela 6.16.
Na tabela 6.17 e no gráfico 6.8 e 6.9, no Vale o
comportamento das atividades pecuárias em que os bovinos,
suínos e aves aumentaram bastante sua participação. A presença,
na região, de uma fábrica de processamento de leite - a São
Domingos - estimulou a criação de gado de leite. Já a localização
da granja Carnaúba em União dos Palmares também contribuiu
para a elevação na produção de aves. Das atividades pecuárias,
a que mais caiu foi a de ovinos, - 7,0% ao ano, pois o estimulo à
produção de gado de corte e leite resultou na substituição da
produção de ovinos.

276 Fernando José de Lira


TABELA 6.15 - Litoral Norte - Relação das
atividades pecuárias que mais cresceram e
decresceram de 1990 a 1999.

Setor Pecuário:
Taxa de
Atividade
Crescimento
Suínos 1,10%
Eqüinos 2,00%
Caprinos 3,50%
Bovinos 7,60%
Ovinos 12,80%
Aves 1,20%
Asininos e Muares 1,30%

FONTE: IBGE-SIDRA.

TABELA 6.16 Litoral Sul - Relação das Atividades


Pecuárias que mais cresceram (N° de Cabeças)
de 1990 a 1999.

Setor Pecuária:
Taxa de Crescimento
Atividade
1990-99%
Ovinos -10,64
Eqüinos -1,77
Muares -1,27
Bovinos -2,77
Caprinos -43,9
Suínos 1,03
Aves 0,77
Produção de Leite (litros) -4,47

FONTE: IBGE-PAM. 2000.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 277


TABELA 6.17 VALE DO MUNDAÚ - Relação das Atividades
Pecuárias que mais cresceram e decresceram ( N° de
Cabeças) de 1990a 1999.

Setor Taxa de Crescimento


Pecuária: Atividade 1990-99 %
Ovinos -7,0
Eqüinos -2,6
Asininos e Muares -2,4
Bovinos 5,9
Caprinos -4,0
Suínos 2,7
Galinha, Frango,
Pinto 2,8
Produção de leite
(litro) 11,5

FONTE: IBGE - PAM, 2000

278 Fernando José de Lira


GRÁFICO 6.8 - Vale do Mundaú - Relação das Atividades Pecuárias que Mais
Cresceram e Decresceram (N° de Cabeças) no Período de 1990 a 1999.

• Tx. de Crescimento

11,5

1
- 1
2.7 2,8

• , •
1 •
• •
-2.6 "2.4
SUÍNO GALINHA.
FRANGO,
PINTO
1
BOVINOS PRODUÇÃO
DF. LEITE
(litro)
EQÜINOS ASSININOS
-4,0 E
CAPRINOS MUARES
-7,0
OVINOS

FONTE: IBGE - PAM, 2000.


GRÁFICO 6.9 - Vale do Mundaú - Relação das Atividades
Pecuárias que Mais Cresceram e Decresceram (N° de
Cabeças) no Periodo de 1990 a 1999.

27 2.8

SUÍNO GALINHA B
O VN
IOS HKBUÇKMB
FRANGO PINTO LBTE,> ,: :
•IA 2«
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CAPRI
N OS

•7.
0
C
M NOS

FONTE: IBGE - PAM, 2000.

280 Fernando José de Lira


Considerando a grave crise que a agropecuária sofreu na
década de 90, houve uma forte expansão dos bovinos e a cana
teve uma pequena diminuição da produção. A explicação para
esse comportamento está no fato de que tanto a cana quanto os
bovinos são atividades praticadas por grandes produtores com
mercado assegurado para seus produtos. No caso da cana-de-
açúcar, o estímulo da isenção de pagamento de ICMS que vigora
desde 1989, com o famoso acordo dos usineiros, evitou uma crise
mais expressiva nessa atividade.
Sabemos a dificuldade de cultivar cana-de-açúcar na região:
o seu custo de produção é muito maior nela do que nos tabuleiros
costeiros; sua produtividade também é muito baixa e, num cenário
de abertura comercial e de forte liberalização de preços, na década
de 90, a produção de cana-de-açúcar não encontra, nos Corais,
vantagens comparativas que lhe permitam competir com a
produção do Sudeste do país ou, até mesmo, com a das áreas de
tabuleiros. Portanto, se não fosse a isenção de impostos que
beneficiou o setor sucroalcooleiro de Alagoas, a produção de cana,
nessa área, teria entrado em crise sistêmica, com queda expressiva.
De acordo com os comerciantes entrevistados, o comércio
das cidades da região é muito dependente da época de moagem
da cana, que se concentra no período de outubro a janeiro. Fora
dessa época, o comércio entra numa fase de letargia, à espera da
moagem da nova safra.

6.1 - Emprego e renda


Um dos aspectos mais relevantes em todas as sub-regiões
é o elevado grau de desigualdade na distribuição da renda. Dados
de 1999, do IBGE, mostram que os 40% mais pobres tinham uma
renda média familiar per capita 26 vezes menor que a dos 40%
mais ricos. Vê-se, ainda, que os 40% mais pobres tinham uma
renda média familiar per capita 31 vezes menor que a dos 10%

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 281


mais ricos. Em ambos os casos, numa sociedade mais igualitária,
o aceitável é que a renda dos mais ricos não seja superior a 8
vezes a renda dos mais pobres.
Esses elevados níveis de concentração da riqueza são, em
grande parte, responsáveis, também, pelo baixo nível de renda,
altas taxas de analfabetismo da população, analfabetismo
funcional da população economicamente ativa e, por conseguinte,
elevado grau de pobreza absoluta, de desigualdade de renda, de
baixa mobilidade social e de pouca acumulação de capital humano
na População em Idade Ativa (PIA).
A elevada concentração da renda resulta: a) da grande
discrepância de valores dos salários pagos pelos setores público e
privado; b) da elevada concentração da propriedade da terra; c) da
ausência de escolas públicas de qualidade; d) da estrutura produtiva;
e) da segmentação do mercado de trabalho (via idade, gênero e
instrução); f) da concentração e centralização do capital; e, portanto;
g) do próprio padrão de desenvolvimento adotado na região.
Quanto a esse padrão de desenvolvimento sabe-se que não
p r i o r i z o u a e d u c a ç ã o como i n s t r u m e n t o i m p o r t a n t e de
distribuição, geração e crescimento sustentável da renda, embora,
entre os trabalhadores e pequenos produtores rurais e urbanos, a
educação seja um grande e importante recurso utilizado na
produção, na organização e na gestão dos negócios. Por isso,
quanto mais b e m distribuído esse recurso no interior da
população, principalmente na população economicamente ativa,
menor será a desigualdade dos rendimentos do trabalho, e maior
a capacidade empreendedora.
Nas sub-regiões do Portal Sul e Lagoas, em 1999, 65,2% do
total das pessoas de 15 anos ou mais de idade eram analfabetas.
Entre as de 10 anos ou mais, 80% eram analfabetas funcionais,
ou seja, não possuem o primeiro grau completo. Especificamente
no meio urbano, a proporção de analfabetos funcionais era de
51,01% e, no meio rural, de 82,1%.

282 Fernando José de Lira


Na sub-região dos Corais, esse percentual era de 62,8%,
sendo que na faixa de 10 anos ou mais, 79% eram analfabetas
funcionais. Especificamente no meio urbano, a proporção de
analfabetos funcionais era de 50,04% e, no meio rural, de 80,88%.
Na sub-região da Mata Sul, o analfabetismo daquela faixa etária
alcançava, em 1999, 68,2%, sendo que na faixa de 10 anos ou mais,
88% eram analfabetas funcionais. No meio urbano, a proporção de
analfabetos funcionais era de 50,01% e, no meio rural, de 88,1%.
No Vale, os analfabetos de 15 anos ou mais somavam, na mesma
época 60,8%, sendo que na faixa de 10 anos ou mais, 80,4% eram
analfabetos funcionais. Especificamente no meio urbano, a proporção
de analfabetos funcionais era de 60,04% e, no meio rural, de 88,88%.
Quanto à taxa líquida de escolaridade da população - relação
entre o número de alunos na faixa etária adequada, matrícula em
determinado nível de ensino e a população nessa mesma faixa
etária, em 1998, era a seguinte; no ensino fundamental e no
ensino médio, respectivamente: no Portal Sul e Lagoas, 56,3% e
5,5%; na sub-região dos Corais, 58,3% e 6,5%; na sub-região da
Mata Sul, 5 9 , 2 % e 5,4%; no Vale, 6 2 , 1 % e 6,2%. Q u a n d o
comparadas as taxas do Vale com as do Nordeste e às nacionais,
percebe-se que tanto no ensino médio quanto no fundamental
essas sub-regiões apresentam taxas abaixo das do Nordeste e do
Brasil. No caso nordestino, são de 90,0% e 14,5%; e em âmbito
nacional, de 95,3% e 30,8%, respectivamente.
A educação formal da população é importante, pois gera
um estoque de conhecimento que proporciona uma nova visão
de mundo, possibilitando, assim, novas perspectivas de ocupação.
Também permite que o emprego seja pautado em atividades mais
agregadoras de valor para os produtos da região, fazendo com
que estes deixem de ser cotnmodities para serem resultado do uso
do conhecimento acumulado.
A e d u c a ç ã o também serve de base para uma m a i o r
acumulação de capital social, na medida em que os empregados

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 283


e pequenos empreendedores percebem, mais claramente, a
importância da c o o p e r a ç ã o , da i n t e g r a ç ã o horizontal, da
inovação tecnológica e da democratização do saber e das
i n f o r m a ç õ e s , q u e são e l e m e n t o s - c h a v e para a u m e n t o e
sustentabilidade da renda dos ocupados.
Também, como vimos, a posse da terra viabilizou e ainda
viabiliza a posse de outros meios de produção, contribuindo
v i g o r o s a m e n t e para a elevada c o n c e n t r a ç ã o da renda.
Considerando que o carro-chefe da economia sub-regional é o
setor agropecuário e, nele, as atividades sucroalcooleiras, a alta
concentração de renda alcançada no meio rural e, também, nas
cidades, gera uma forte heterogeneidade social em toda área.
P o r t a n t o , as duas grandes e i m p o r t a n t e s fontes de
desigualdades na distribuição da riqueza gerada são as seguintes:
a primeira, e mais importante, é o baixo nível de instrução da
população em idade ativa e da população ocupada; a segunda é
a posse da terra. Todavia, apesar de esses fatores limitarem a
ação dos pequenos empreendedores agrícolas e não-agrícolas,
seus efeitos podem ser minimizados através de políticas agrícolas
e agrárias que contemplem atividades agrícolas e não-agrícolas,
voltadas à realidade dos familiares dos pequenos produtores.
E, por conseguinte, possível, no espaço economicamente
pouco dinâmico, a criação de redes de pequenos empreendedores,
voltados para os mercados local, regional, nacional e internacional,
capazes de gerar uma nova dinâmica econômica que proporcione
ocupações e renda em número e níveis muito superiores aos atuais.
Para tanto, necessita-se de política agrária mais decisiva,
financiamento desburocratizado, assistência técnica de qualidade
e treinamentos voltados para cada situação local, baseados na
concepção da economia solidária.
A sub-região dos Corais, mesmo demonstrando possuir
um grande potencial humano e de recursos naturais, a partir
da segunda metade da década de 80 e, principalmente, em toda

284 Fernando José de Lira


a década de 90, entra em crise profunda. Nos anos 90, o Estado
sofre uma crise fiscal grave e reduz sensivelmente a política
assistencialista de repasses de recursos, de construção da infra-
estrutura básica e de oferta de bens e serviços à população pobre.
Por isso, já em 1995, as condições gerais de vida da maioria da
população pobre eram bastante adversas. Em 1999, apresentava-
se um perfil social dos mais desfavoráveis do Nordeste e do Brasil.

6.2.- Natureza e Realidade das Empresas Nas Sub-


Regiões
A s e m p r e s a s formalmente c o n s t i t u í d a s têm g r a n d e
importância para a economia dessas sub-regiões, cuja dinâmica
empresarial depende enorme importância da agroindústria
açucareira, pelo fato de empregar 90,2% de todo o pessoal ocupado
no setor industrial das sub-regiões do Portal, Lagoas e dos Corais;
98,2% na sub-região da Mata Sul; 99,2% na sub-região do Vale
do Mundaú. Merecem destaque, também, os produtos
intermediários nessas economias, como é o caso dos municípios
de Marechal Deodoro e de Campo Alegre.
As tabelas 6.18 e 6.19 mostram o número de empresas locais
e pequenas empresas por município estudado. Nota-se que um
maior número de empresas está presente nos municípios onde
existem usinas de açúcar, indicando uma relação de dependência.
No Vale do Mundaú, Murici tem mais destaque por possuir um
número importante de empresas; já os municípios de Maragogi,
Porto Calvo, Matriz de Camaragibe e São Luiz do Quitunde têm
mais destaque por possuir um número importante de empresas.
A tabela 6.19 demonstra que no Litoral Sul, os números
confirmam os dados observados, também, nas tabelas 6.18. Os
municípios de Penedo, Coruripe e Marechal Deodoro têm mais
destaque por possuírem um número importante de empresas e
pessoas ocupadas.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 285


As tabelas 6.18, 6.19, 6.20, 6.21 e 6.22 mostram o número
de empresas e pessoas por município estudado. Nota-se a mesma
relação de dependência entre o número de empresas existentes
e a presença de usinas de açúcar nos municípios. São Miguel
dos Campos é um município pólo de desenvolvimento regional
e, portanto, possui o maior número de empresas e empregados.
Contrariamente, Boca da Mata, Junqueiro e Campo Alegre têm
menos empresas, pois, por não serem municípios pólos, quase
toda sua economia está diretamente ancorada na produção
açucareira. Roteiro é que possui o menor número de empresas,
uma atividade agrícola um pouco mais diversificada, mas sua
economia é também muito dependente da cana-de-açúcar.

TABELA 6.18 LITORAL NORTE - Número de empresas e


pessoas ocupadas, 1999.

Número de Pessoas
Município Empresas Ocupadas
Barra de Santo Antônio 33 309
lapararinga 20 1507
Maragogi 100 1055
Matriz do Camaragibe 88 1535
Porto Calvo ;„u 2088
Porto de Pedras 26 346
Paripueira 36 288
Passo de Camaragibe 28 469
São Luiz do Quitunde -» 4052
São Miguel dos Milagres 13 16
TOTAL 592 11665

FONTE: IBGE.

286 Fernando José de Lira


TABELA 6.19 LITORAL SUL-Total de Empresas (com CGC) e
Pessoas Ocupadas, em 1996.

Município Empresas Pessoas Ocupadas


Fiaçabuçu 73 777
Penedo •>-.- 5069
Feliz Deserto u 202
Coruripe 192 14213
Igreja Nova 35 2020
B a r r a de S. M i g u e l 72 472
Lagoas/Municípios Empresas Pessoas Ocupadas
Marechal Deodoro 259 5861
Coqueiro Seco 19 251
Santa Luzia do Norte 34 329
Satuba 88 853

FONTE: IBGE - Cadastro Geral de Empresas.

TABELA 6.20 VALE DO MUNDAÚ - Total de Empresas e


Pessoas Ocupadas, em 1999.

Município Empresas Pessoas Ocupadas


Branquinha 19 272
Messias 68 442
VIurici 99 594
Santana d o M u n d a ú 31 429
5ão José da L a g e 104 4.-1 •
Rio L a r g o "5 6.551
União das Palmares 348 2.753

FONTE: IBGE: Cadastro Geral de Empresas.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 287


TABELA 6.21 MATA SUL - Total de Empresas e Pessoas
Ocupadas, em 1999.

Município Empresas Pessoas Ocupadas


Boca da Mata 185 4.183
~a:v.l . 98 4.257
Junqueiro 92 767
Roteiro 15 197
S ã o Miguel dos C a m p o s 315 10.495

FONTE: IBGE - Cadastro Geral de Empresas.

288 Fernando José de Lira


Entre os municípios com maior número de empresas de
todas categorias está o de Porto Calvo, ocupando o maior número
de pessoas.
Quanto ao número de pessoas ocupadas, observa-se na tabela
6.22, que as pequenas e médias empresas empregam mais em Porto
Calvo, Maragogi e Matriz de Camaragibe, respectivamente 565,357
e 200 pessoas. Entre os municípios com grandes empresas, os
destaques são: Porto Calvo, Japaratinga e Matriz de Camaragibe.
Pela tabela 6.19, vê-se que as pequenas e médias empresas
empregam mais em Penedo, Coruripe e Marechal Deodoro,
respectivamente 1228, 390 e 196 pessoas. Esses municípios
destacaram-se, também, pelo número de grandes empresas.
Quanto ao número de pessoas ocupadas, observa-se na
tabela 6.23 que as pequenas e médias empresas empregam mais
em Boca da Mata e São Miguel dos Campos. Grandes empresas
ocupam mais em Boca da Mata, São Miguel dos Campos e Campo
Alegre. Entre os Municípios com grandes empresas, os destaque
são para São Miguel e em menor proporção para Boca da Mata.
Entre os municípios com maior número de empresas está o
de União dos Palmares, todavia empregando menos que as empresas
de São José da Lage e Rio Largo. Verificando-se os mesmos aspectos
na tabela 6.24, vê-se que as pequenas e médias empresas empregam
mais em Boca da Mata e São Miguel dos Campos, e as grandes,
nessas localidades e em Campo Alegre, com destaque para São
Miguel e, em menor proporção, para Boca da Mata.
Nota-se, pela tabela 6.24, que as pequenas e médias
empresas empregam mais em União dos Palmares e Rio Largo
do que nos outros municípios. Dos que possuem grandes
empresas, Rio Largo destaca-se com 18, seguido de União dos
Palmares com 15. No Litoral Norte, as duas grandes empresas
de Porto Calvo ocupam 73,0% do total dos empregados, e as
pequenas e médias absorvem apenas 27%. Mas, contrariamente,
é nesse município que as pequenas empresas empregam mais.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 289


TABELA 6.22 LITORAL NORTE - Número de micro, pequenas, médias e
grandes empresas e pessoas ocupadas, em 1999.
Micro Pessoas Pequenas Pessoas Médias Pessoas Grandes Pessoas
Município 1-4 Ocupadas 5-19 Ocupadas 20-99 O c u p a d a s 100 e m a i s O c u p a d a s

Barra de Santo Antônio 24 34 7 55 1 85 1 1 ',•


(apara tinga 16 22 1 7 1 30 1 1548
Maragogi 86 129 1 81 3 177 2 668
Matriz d o C a m a r a g i b e 75 102 4 21 3 77 2 1335
Porto C a l v o 138 188 19 138 8 239 2 1523
Porto de Pedras 22 26 0 0 2 130 1 l'ii>

Paripueira 26 47 6 61 1 28 1 152
Passo de Camaragibe 22 30 2 1-, 2 113 1 312
São Luiz do Quitunde 54 79 12 105 2 57 2 IS 11
São Miguel dos Milagres 13 16 ü 0 0 0 0 (1
TOTAI. 476 673 60 •181
- 23 936 13 '1674

FONTE-IBGE.
TABELA 6.23 MATA SUL - Empresas Locais, Segundo a
Categoria de Pequenas, Médias e Grandes, em 1996.

Município \'° de Pequenas N" de Médias N° de Grandes


Empresas Empresas Empresas
(1 a 4 P. O) (5 a 19 P. O) (2li ou Mai- 1'. <>|
Boca da Mata 157 11 5
Campo Altftn 75 8 2
luntjueiro 82 7 1
Uulnio : : 1
SAo Miguel dos Campos :?. 60 18

FONTE: IBGE.

TABELA 6.24 VALE DO MUNDAÚ - Empresas Locais, Segundo


a Categoria de Pequenas, Médias e Grandes, em 1996.
N.°. de Pequenas N.°. de M é d i a s N.°. de Grandes
Município Empresas Empresas Empresas
(1 a 4 P.O.) ( 5 a 19 P.O.) (20 a mais P. O.)
União dos
366 41 15
Palmares

Rio Largo 2o4 55 1>


Munci 60 4 1
Branquinha 17 1 1
ião José da Lage 103 4 2
Mejias 62 8 2
•Miu.in.i do 1
26 1 1
MuiuLui

FONTE: IBGE. 1996.

Formação da' riqueza e da pobreza de Alagoas 291


Na Mata Sul, as 18 grandes empresas de São Miguel ocupam
70,0% do total dos empregados, e as pequenas e médias absorvem
apenas 30%. Mas é nesse município que as pequenas empresas
empregam mais. No Litoral Sul as dezesseis grandes empresas de
Penedo ocupam 75,0% do total dos empregados, e as pequenas e
médias absorvem apenas 24,2%. Mas, paradoxalmente, é nesse
município que as pequenas empresas empregam mais.
No Litoral Norte, merece destaque Maragogi, que é outro
município importante, onde as duas grandes empresas ocupam
65% da força de trabalho municipal, mas as pequenas empresas
e médias demandam 3 4 % da mão-de-obra, o que é bastante
significativo. Em Japaratinga, 99,8% são ocupados na Prefeitura.
Quanto a Matriz de Camaragibe, as duas grandes empresas
demandam 86,9% da força de trabalho, enquanto as pequenas e
médias têm participação relativa pouco expressiva, de 13,01%,
no mercado de trabalho.
Em Marechal Deodoro, que é o mais importante município
da sub-região das Lagoas, as dezoito grandes empresas ocupam
90% da força de trabalho municipal, e as pequenas empresas e
médias demandam apenas 9,45% da mão-de-obra, número pouco
expressivo. Em Coruripe, as quinze grandes empresas ocupam
97,3% de toda a força de trabalho municipal. Sa tuba, nessa sub-
região, tem quase toda sua mão-de-obra ocupada trabalhando
em grandes empresas.
Na Mata Sul, merece ressalva o município de Junqueiro. Já
Roteiro possui o menor número de pequenas e médias empresas
e apenas duas grandes, que ocupam quase 100% da sua força de
trabalho empregada.
Como quase todas as grandes empresas são usinas de
açúcar, fica a indicação de que o ciclo vicioso de subemprego nas
plantações de cana, principalmente nos municípios comandados
por essas e m p r e s a s , n ã o permite que a p o p u l a ç ã o tenha
oportunidades de explorar outras alternativas de ocupação

292 Fernando José de Ura


humana, exigindo que o trabalhador oferte sua força de trabalho
para a usina, ou para as Prefeituras.
À exceção de Marechal Deodoro, na sub-região das Lagoas,
ocorre o mesmo fenômeno detectado na Mata Sul, relativo ao
setor empresarial e às oportunidades alternativas.
Os dados revelam a idade média das empresas da região.
Nela fica claro o fato de que, apesar de a maior parte das
unidades terem sido implantadas após 1990 (61,6%), 47,6% dos
trabalhadores estão ocupados nas unidades empresariais
implantadas até 1969.
A idade média das empresas das duas áreas em estudo,
evidenciando que, apesar de a maior parte das unidades terem
sido implantadas após 1990 (65%), 70% dos trabalhadores estão
ocupados nas unidades empresariais implantadas até 1969.
A idade média das empresas das duas áreas em estudo,
observando-se nela fica claro o fato de que, apesar da maior
parte das unidades terem sido implantadas após 1990 (65%),
6 0 % dos t r a b a l h a d o r e s e s t ã o o c u p a d o s n a s u n i d a d e s
empresariais implantadas até 1969. Constata-se, portanto, que
as empresas implantadas até 1969, em sua maioria, são usinas
de açúcar e á l c o o l , de onde se infere o importante papel
desempenhado por elas, no tocante à absorção de mão-de-
obra. Todavia, o fato de ter aumentado muito a criação de
empresas e empregos, na década de 90, pode estar indicando
um ambiente econômico mais favorável ao p e q u e n o
empreendedor.
Quando se analisa o destino das vendas das empresas,
chega-se à conclusão de que quase todas as pequenas e médias
vendem ou prestam serviços no município ou na região. Já as
grandes empresas vendem nos mercados do próprio Estado de
Alagoas, dos demais Estados vizinhos e no mercado externo. O
movimento dessas empresas é forte indicativo de dinâmica
interna p r ó p r i a . Isso mostra que a r e g i ã o é p a s s í v e l de

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 293


desenvolvimento, bastando, apenas, operar os mecanismos
corretos para que ele se processe.
A sub-região do Portal Sul possui um mercado interno
interessante que, apesar da restrição da baixa renda per capita fa-
m i l i a r , tem p o t e n c i a l para criação d e v á r i a s p e q u e n a s
agroindústrias; pequenas empresas de até 2 empregados, nas
áreas de serviços domésticos; além de haver espaço para mão-
de-obra autônoma qualificada, pois a força de trabalho disponível
na região é de baixa qualificação.
Quando analisamos a ocupação de mão-de-obra por setores
de atividades, a tabela 6.25 deixa evidente que o setor agrícola é
aquele que mais emprega, ocupando 54,4% da mão-de-obra re-
gional, seguido dos setores industrial, com 27,5%, e de serviços
com aproximadamente 18%.
Procedendo-se à mesma análise na tabela 6.26, fica
evidente que o setor agrícola é aquele que mais emprega no Portal
Sul. Já nas Lagoas é o público que domina os empregos. O
industrial é dominante nos municípios que possuem usinas; o
de serviços tem predominância em Marechal Deodoro, Barra
de São Miguel e Penedo.
Semelhantemente às demais sub-regiões, na Mata Sul,
mostrada na tabela 6.29 fica evidente que o setor agrícola é aquele
que mais emprega; o setor industrial é dominante nos municípios
que possuem usinas e o setor de serviços, pouco significativo,
tem predominância em Boca da Mata e São Miguel dos Campos.
E importante salientar que, nessas localidades analisadas do
ponto de vista da ocupação da mão-de-obra por setores de
atividades, a grande maioria dos empregados nas indústrias são
pessoas que trabalham nas usinas de açúcar. A agroindústria
do açúcar e álcool e a pecuária absorvem juntas, por sub-região,
82%, 77,8% e 8 5 % da população ocupada, respectivamente.

294 Fernando José de Lira


TABELA 6.25 LITORAL NORTE - Pessoas ocupadas por setores
econômicos e por município, em 2001.

Município Agropecuário % Indústria Serviços


Barra de Santo Antônio 416 8 1,1 •: 41,6
Japaratinga 864 33,3 1550 60,0 178 6,7
Maragogi 1871 63,6 111 3,8 962 32,6
Matriz do Camaragibe 1927 56,2 830 24,2 669 19,6
Porto Calvo 3607 63,7 1207 21,3 852 15,0
Porto de Pedras 1453 85,8 1 0,1 240 14,1
Paripueiro 210 43,7 27 5,6 243 50,7
Passo de Camaragibe 1079 69,7 111 7,2 357 23,1
São Luiz do Quitunde 2401 37,2 3285 50,9 767 88,1
São Miguel dos Milagres 271 73.4 4 1,1 94 2? >
i : \i 14099 54,4 71-4 27,5 4664 18,1

FONTE: IBGE - PAM.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 295


TABELA 6.26 - Proporção de Pessoas Ocupadas na Agropecuária, Indústria,
Serviços e Administração Pública, em 2001.
Municípios Administração Indústrias Serviços Total
Agropecuária %
Pública % % % %
Piaçabuçu 60,90 32,39 1,06 5,65 100
Penedo W.45 15,40 25,07 20,08 100
Feliz Deserto 80,35 18,68 0,00 0,97 100
Coruripe 32,65 6,18 58,53 2,64 100
Igreja Nova 76,58 4,50 18,34 0,58 100
Barra de São Miguel 60,13 (),()() 7,28 32,59 100
Lagoas/Municípios Agropecuária ADM.Pública % Indústrias % Serviços %
Marechal Deodoro 13,65 5,10 33,30 47,94 100
Coqueiro Seco 31,79 60,33 1,63 6,25 100
Santa Luzia do Norte M ,81 60,08 2,2" 5,82 100
Sa tuba 44,47 36,00 11,33 8,20 100
Total 41,39 10,30 36,41 11,90 100

FONTE: IBGE - Cadastro Central de Empresas.


TABELA 6.27 MATA SUL - Pessoas Ocupadas na Agricultura,
Indústria, Serviços e Administração PúPlica, em 2001.

Agrie. A d m . Pública Indústria Serviços Total


Municípios
% % % % %
Boca da Mata V <> 23,5 4.37 100
Campo Alegre 53,2 31% 2,71 100
lunqueiro '.-•12 4: :•- 16,91 2,3 100
Roteiro 47,43 27,1 21 nS 100
São Miguel dos
54,9 7,34 33,1 4,46 100
Campos

FONTE: IBGE - Cadastro Central de Empresas.

TABELA 6.28 LITORAL SUL - Pessoas Ocupadas segundo o


Tamanho das Empresas, em 2001.

Pessoas Ocupadas
Município Pequenas Empresas M é d i a s Empresas Grandes Empresas
1'iaçabuçu 90 45 642
Penedo 672 556 3841
1 .-li/ 1 Vserto 10 0 192
Coruripe 206 184 13823
Igreja Nova 39 44 1937
barra de São Miguel 82 ; ;•; 276
I .ig. MS Municípios Pequenas Empresas Médias Empresas Grandes Empresas
Marechal Deodoro 297 257 5307
Coqueiro Seco 16 13 222
Santa l.u/.ia do Norte 35 19 275
5a tuba 94 23 736

FONTE: Ministério do Trabalho / RAIS.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 297


TABELA 6.29 - Mata Sul Pessoas Ocupadas segundo o
tamanho das Pequenas, Médias ou Grandes empresas, 2001.

Pessoas Ocupadas

Município Pequenas Pessoas Ocupadas Pessoas Ocupadas

Empresas Medias Empresas Grandes Empresas


Boca da Mata 192 155 3.836
C a m p o Alegre 91 47 4.0S9
Junqueiro 99 46 622
Roteiro 17 5 175
S ã o M i g u e l dos C a m p o s 391 506 9.598

FONTE: Ministério do Trabalho / RAIS.

TABELA 6.30 -Vale do Mundaú - Pessoas Ocupadas


segundo o Tamanho das Pequenas, Médias ou
Grandes, 2001.
Pessoas Ocupadas Pessoas Ocupadas Pessoas Ocupadas
Município
Pequenas Empresas Média Empresas Grandes Empresas
Branquinha 17 9 246
Messias 70 79 293
ião losé cia Lage 140 31 4.413
Santana do Mundaú 30 30 369
União tios Palmares 400 329 2.024
Víuricí 104 40 450
Rio Largo 399 495 5.657

FONTE: Minitério do Trabalho/ RAIS.

298 Fernando José de Lira


Os dados demonstram que a indústria de transformação
dos municípios onde estão localizadas as usinas ocupa 99,6%
dos empregados do setor industrial, 99,6% na tabela 6.31 e 9 5 %
na 6.32. Os exemplos mais claros dessa afirmativa são Matriz
de Camaragibe, que tem 100% dos empregados ocupados na
usina; Coruripe, que tem 91,2% dos empregados ocupados na
atividade sucroalcoleira; e Campo Alegre, que tem 8 3 % dos
empregados ocupados nessa atividade.
No Vale do Mundaú grandes de União dos Palmares
ocupam 73,5% do total dos empregados, e as pequenas e médias
absorvem apenas 26,5%. Mas, contraditoriamente, é nesse
município que as pequenas empresas empregam mais.
Em Rio Largo, que é outro município importante da região,
as dezoito grandes empresas ocupam 86,3% da força de trabalho
municipal, e as pequenas demandam apenas 6,1% da mão-de-
obra. Merece ressalva São José da Lage, mesmo possuindo apenas
duas grandes empresas, elas chegam a demandar 96,3% da força
de trabalho do município, enquanto as pequenas e médias têm
participação relativa pouco expressiva, de 3,7%, no mercado de
trabalho.
Como quase todas as grandes empresas do Vale são usinas
de açúcar, fica a indicação de que o ciclo vicioso de subemprego
n a s p l a n t a ç õ e s de cana, p r i n c i p a l m e n t e n o s m u n i c í p i o s
comandados por essas empresas, não permite que a população
tenha oportunidades de explorar outras alternativas de ocupação
humana, exigindo que o trabalhador devote sua força para a usina,
ainda em tenra idade, condenando, assim, gerações à falta de
estudo e de alternativas de mobilidade social.
À idade média das empresas da região, nela fica claro o
fato de que, apesar de a maior parte das unidades terem sido
implantadas após 1990 (63,2%), 80,1% dos trabalhadores estão
ocupados nas unidades empresariais implantadas até 1969,
sendo que estas, em sua maioria são usinas de açúcar e álcool.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 299


Disso se infere o importante papel desempenhado por elas na
região, no tocante à absorção de mão-de-obra. Todavia, o fato
de ter aumentado muito a criação de empresas na década de 90
pode estar indicando um ambiente econômico mais favorável
ao pequeno empreendedor, conforme se viu nas sub-regiões
anteriormente abordadas.
Q u a n t o à o c u p a ç ã o de m ã o - d e - o b r a por setores de
atividades, a tabela 6.31 deixa evidente que o setor agrícola é
aquele que mais emprega, ocupando 60,4% da mão-de-obra
regional. Os setores industrial e de serviços estão igualados, com
aproximadamente 19,8%. Considerando que a grande maioria
dos empregados nas indústrias são pessoas que trabalham nas
usinas de açúcar, a agroindústria do açúcar e álcool e a pecuária
absorvem juntas 80% da população ocupada.
No Vale, a tabela 6.32 demonstra que, na indústria de
transformação dos municípios onde estão localizadas as usinas,
99,6% dos empregados do setor industrial ocupam-se nelas. O
exemplo mais claro dessa afirmativa é São José da Lage que,
contando com apenas uma indústria de transformação, que é a
usina Serra Grande, tem 100% dos empregados ocupados nela.

300 Fernando José de Lira


TABELA 6.31 - Litoral Norte Pessoas ocupadas por atividade
econômica, em 2001.

1 xtl.K.ui Indústria Construção ADM.


Município Agropecuária Comercio Serviço
Mineral Transformação Civil Pública
Barra tic Sanio
416 0 5 3 29 137 136
Amonio
MprtMtin.'..' S64 1550 0 18 : '
: 121
••Ir..;.: •:: is"; 0 91 20 121 498
Matriz do 1927 0 0 38 515
830 116
Camaragibe
Torio Calvo 0 1184 23 323 156 373
Porto de Pedras 1453 0 : 0 lh ¡4 190
Parípueira 210 0 4 23 26 64 153
Passo de
1079 0 111 n 35 10 312
Camaragibe
Sao Liiiz do
2401 0 3285 0 107 63 591
Ouitunde
Sao Miguel dos
271 0 4 0 9 3 82
: ' : 14099 "Ú65 69 S '0 887 2971

FONTE : IBGE - Cadastro Geral de Empresas.

TABELA 6.32 - Vale do Mundaú: Pessoas Ocupadas, na


Agricultura, Indústria, Serviços e Administração Pública, em
2001.
Municípios AGR ADM Pública Indústrias Serviços Total
Branquinha 1529 132 2 14 1677
Messias 535 71 27 314 949
Mui u i 1583 450 25 119 2177
Milana . 1 " M u n d a ú 3939 Í59 2 38 4338
3ào J o s é da L a g e 2918 577 3877 146 7518
Rio Largo 5310 1947 3362 977 11596

U n i ã o d o s Pahriares 6022 1 122 959 9380


Total 4915 741" 25"7 37635

Fonte: IBGE - Cadastro Central de Empresas.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 301


No setor serviço, a administração pública é a atividade
que mais ocupa mão-de-obra em todos os municípios das sub-
regiões. São Luiz do Quitunde, por exemplo, chega a ter 591
trabalhadores nessa atividade. Este setor e a agroindústria
sucroalcooleira são os dois ramos que empregam o grosso da
população economicamente ativa.
No Portal Sul, Piaçabuçu tem grande fração de sua força de
trabalho ocupada na prefeitura. Na sub-região das Lagoas, exceto
Marechal Deodoro e Barra de São Miguel, os outros municípios
têm o setor público como principal empregador.
Institucionalmente bastante cristalizada, a prática de dar
empregos públicos em época de eleição engessou os municípios
quanto a sua capacidade de investir na região. Por isso, caso a
nova lei de responsabilidade fiscal seja aplicada na íntegra, a
região poderá ser acometida de um grave problema social. Outro
problema limitante do desenvolvimento econômico da região é a
dependência do emprego nas usinas, a ponto de o comércio dos
seus municípios terem o movimento sazonal de acordo com a
época da moagem.
No Litoral N o r t e , o c o m é r c i o de m e r c a d o r i a s e os
estabelecimentos de prestação de serviços têm uma presença
muito importante em Matriz de Camaragibe, Porto Calvo,
Maragogi e São Luiz do Quitunde. Nos outros municípios, inclu-
sive em Passo de Camaragibe, têm pouca expressão.
Esse comércio marca importante presença na Zona da Mata
Sul, principalmente em Boca da Mata, Campo Alegre e São Miguel
dos Campos.
No Litoral Sul e Lagoas, esse comércio de mercadorias e os
estabelecimentos de prestação de serviços têm uma presença
muito forte em Penedo, Coruripe e Marechal Deodoro.
No Vale do Mundaú, esses setores têm uma presença muito
importante em Rio Largo e União dos Palmares. Nos outros
municípios, inclusive em São José da Lage, têm pouca expressão.

302 Fernando José de Lira


No setor serviço, a administração pública é a atividade
que mais ocupa mão-de-obra em todos os municípios do Vale.
União dos P a l m a r e s , por e x e m p l o , c h e g a a ter 1.244
trabalhadores no setor público, representando quase 30% de toda
sua mão-de-obra ocupada. Em Branquinha, esse percentual
alcança 7 5 , 5 % e, em Murici, representa 6 8 % . P o r t a n t o a
agroindústria sucroalcooleira junto com o setor público são os
dois r a m o s q u e e m p r e g a m o g r o s s o da p o p u l a ç ã o
economicamente ativa.
No Litoral Norte, no setor serviço, as atividades que mais
empregam são a educação e a saúde, pois a demanda por esses
serviços é muito elevada, com espaço para expansão da oferta,
portanto para a geração de novas ocupações qualificadas e semi-
qualificadas, p o u c o presentes na região. Os segmentos de
alimentação e transporte, apesar da baixa qualidade, também têm
presença significativa, principalmente no município de Maragogi.
Q u a n t o aos s e g m e n t o s de e l e t r i c i d a d e , gás, á g u a e
telecomunicação, têm uma participação exígua no mercado de
trabalho em todas as sub-regiões. As demais atividades do setor
serviços são de presença insignificante.
Em relação ao turismo, há uma grande expectativa quanto
ao seu p o t e n c i a l para geração de e m p r e g o , a l i m e n t a d a
principalmente por União dos Palmares. Todavia a criação de
ocupações, nessa área, exige um grande investimento em infra-
estrutura e eventos, não compensando, talvez, o custo do emprego
gerado, já que a proximidade dos municípios do Vale com a cidade
de Maceió - possuidora de uma infra-estrutura construída - não
favorece a permanência da maioria dos turistas por mais de um
dia, na região ou, até mesmo, em União dos Palmares.
De todas as sub-regiões, a dos Corais e Litoral Sul são
aquelas que mais alimentam expectativas quanto ao potencial
turístico para a geração de emprego. Todavia, vêm esbarrando
em exigência de grande mvestimento em infra-estrutura e eventos.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 303


Isso não significa dizer que a atividade turística não deva ser
estimulada nessas sub-regiões, mas que o seja dentro de uma
estratégia de desenvolvimento regional que incentive um
c o n j u n t o de outras a t i v i d a d e s , d e n t r e e l a s a p e q u e n a
agroindústria.

304 Fernando José de Lira


Considerações finais
Desde o período colônia, aos dias atuais, Alagoas era e
permanece sendo totalmente dependente da atividade açucareira.
Assim, quando o preço e a produção de açúcar caem, os meios
rural e urbano entram em dificuldades. Dependendo do tempo
que essa depressão durar, maior ou menor serão seus efeitos
sobre a economia estadual e para o conjunto da sociedade.
Em longos períodos de queda de preços e redução da produção,
os reflexos econômicos, financeiros e sociais são graves, pois a receita
do Estado, a renda familiar e o número de pessoas empregadas no
setor agrícola, no comércio e no setor serviço diminuem
significativamente, provocando uma forte letargia na economia local.
Historicamente, o prolongamento da queda de preço e/
ou da estiagem ocasionou elevação na taxa de desemprego e
provocou emigração rural. O Estado, sem recursos financeiros,
deixa de atender às necessidades básicas das pessoas mais
carentes que sentindo-se desamparadas, emigraram para outros
Estados, em busca de melhores condições de vida.
Por outro lado, ao longo dos últimos três séculos de cultivo
da cana-de-açúcar, nos períodos de preços e clima favoráveis, o
avanço da atividade canavieira da zona litorânea em direção ao
interior do Estado provocou uma forte mobilidade geográfica
da população. Expulsa do seu local de origem, dirigia-se para
terras menos férteis, até que a presença da cana pressionasse,
novamente, a sua saída para o meio urbano ou em direção a
outros Estados.
Portanto, o progresso da atividade canavieira, que se fez
na forma de monocultura, de trabalho escravo, ou trabalho livre
praticados em grandes latifúndios, quase não deixou espaço físico
suficiente para se desenvolver outras atividades agrícolas, que
garantissem a fixação do homem no campo, gerando-se um
grande excedente de pessoas desocupadas, que aumentava com o
processo de modernização da atividade agrícola e expansão do

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 305


latifúndio. O homem foi forçado a emigrar ou a viver nos engenhos
e ou usinas, em condições de vida sub-humanas.
Assim, parte significativa da população rural permaneceu
no campo, ou se deslocou para o meio urbano, passando a viver
nos interstícios dos espaços físicos deixados pela cana, ou de
atividades não-agrícolas marginais, cuja renda era, e ainda é,
insuficiente para o sustento de sua família.
O caráter de monocultura, o modo de produção e as relações
de trabalho e humanas engendradas no latifúndio canavieiro
levaram à inevitável concentração de terra, de renda e à emigração,
independente dos níveis de preços do açúcar nos mercados
nacional e internacional.
Esse modo de produção, com forte concentração de terra,
de renda e de relações arcaicas de trabalho, contribuiu para o
aumento progressivo da dependência do Estado, relativamente
aos resultados alcançados pela atividade canavieira.
À medida que a agroindústria do açúcar ia tendo o domínio
das terras férteis do Estado, também ia subordinando as outras
atividades agrícolas e não-agrícolas à sua dinâmica econômica,
impondo sérias condicionantes ao desenvolvimento estadual.
Nessas condições, o desenvolvimento econômico, social,
cultural e político de Alagoas ficou preso à armadilha da
monocultura da cana-de-açúcar que, quando estava em crise, tinha
reflexos deletérios para toda a sociedade. Ao contrário, quando
e s t a v a em s i t u a ç ã o f a v o r á v e l , sua e x p a n s ã o e p r o d u ç ã o
beneficiavam basicamente poucas famílias, com resultados muito
limitados para o restante da sociedade, incapazes, portanto, de
promover o bem-estar social.
Numa sociedade marcada pelo alto nível de pobreza e pelo
elevado excedente populacional, a concentração da posse da terra
e de outros meios de produção resultou em grande concentração
de poder político sob o domínio de poucos grandes produtores
agrícolas.

306 Fernando José de Lira


Com esse poder político garantido, sobretudo, com a posse
da terra, a elite agrária foi capaz de eleger prefeitos, deputados,
senadores e até governadores, exercendo, ainda, poderes para
nomear parentes, amigos e pessoas de sua confiança, para funções
no Poder Judiciário e cargos nos órgãos federais, com atuação local.
N e s s e s e n t i d o , a elite agrária d o m i n a n t e p a s s o u a
desempenhar papel histórico de agente privado na produção
agrícola de cana-de-açúcar e na gestão das ações públicas e
políticas do Estado. Assumindo esse duplo papel, não conseguiu
separar o público do privado. Os seus interesses se confundiram
com as prioridades na atuação do Estado.
Dessa forma, desde o período provincial e, principalmente,
após a i n d e p e n d ê n c i a do Estado de Alagoas, a atividade
canavieira passou a ser o centro das preocupações das ações dos
governadores e de quase todos os políticos regionais. Esses, em
aliança com a elite nacional, definiram as políticas públicas em
função dos interesses dos senhores de engenhos ou dos usineiros,
em detrimento das ações públicas mais amplas, capazes de
minorarem o sofrimento da maioria da população.
Nessa perspectiva, a emancipação política da província de
Alagoas, separando-se do Estado de Pernambuco, foi parte
importante das estratégias de poder da elite agrária local. Com
essa separação, Alagoas passou a ser efetivamente administrado
por um grupo restrito de pessoas, de origem rural e defensoras
dos interesses da atividade canavieira.
Detentoras do poder econômico, a partir da emancipação
de 1817, a elite rural passou a ter mais poder político, que utilizou
para garantir e ampliar seus privilégios, chegando a moldar as
instituições e toda a estrutura estatal de poder, para servir os
grandes produtores agrícolas, especialmente os latifundiários,
produtores de cana e de açúcar.
Com esse favorecimento, Alagoas passa a ser o paraíso
dos senhores de engenho ou dos usineiros. Os privilégios são

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 307


tão amplamente conhecidos que atraem produtores de açúcar
de outros estados, principalmente de Pernambuco, os quais,
encontrando terra, mão-de-obra e incentivos, estabelecem-se com
grande sucesso no novo Estado.
Graças a esses incentivos, subsídios e estímulos, em pouco
tempo, a maior fração das terras agricultáveis do Estado foi quase
toda ocupada pela c a n a - d e - a ç ú c a r , pois, c o m o atividade
e c o n ô m i c a p r i o r i t á r i a , p a s s o u a ser o c a r r o - c h e f e do
desenvolvimento econômico.
Assim, a cana-de-açúcar é introduzida em todo o Nordeste,
no século XVI, principalmente em Alagoas, onde, encontrando
condições naturais e artificiais favoráveis à sua rápida expansão,
ocupou quase todas as terras mais férteis e planas do Estado.
Essa expansão, limitada apenas por fatores naturais, inibiu a
diversificação das atividades agrícolas e, portanto, restringiu as
possibilidades de emprego e renda, capazes de criar um mercado
interno rural e urbano, que estimulasse o crescimento do comércio,
a implantação de indústrias e agricultura familiar moderna,
necessárias ao desenvolvimento endógeno e sustentável.
Portanto, o rápido avanço da monocultura da cana-de-
açúcar, feito à base do latifúndio e do trabalho precário, moldou
um padrão de desenvolvimento assentado em privilégios, na
concentração de renda, da terra e, sobretudo, do poder; fatores
s o c i a l m e n t e injustos e c a u s a d o r e s de crises p r o f u n d a s e
freqüentes. Utilizaram-se os recursos naturais, humanos e o
próprio Estado de forma ineficiente. Imobilizaram-se fatores que,
em outras condições de uso, representavam instrumentos
p o d e r o s o s de a l a v a n c a g e m de um o u t r o p a d r ã o de
desenvolvimento, mais eficiente, socialmente mais justo na
distribuição das riquezas produzidas e mais democrático na
partilha do poder.
O padrão de desenvolvimento socioeconómico de Alagoas
é essencialmente de natureza patronal, com destaque para o

308 Fernando José de Lira


número de pessoas ocupadas como assalariados temporários,
mas as famílias que trabalham por conta própria assumem o
segundo lugar, no total dos ocupados.
O núcleo econômico que tradicionalmente sustenta esse
padrão é a agricultura, sendo seu principal produto a cana-
de-açúcar. O setor industrial é constituído basicamente por
usinas açucareiras. As fábricas de beneficiamento de algodão,
s i s a l e f á b r i c a s de t e c i d o s têm p e q u e n a r e l e v â n c i a na
economia. O setor serviços, a participação do setor público,
da p r e s t a ç ã o de s e r v i ç o s e o c o m é r c i o de m e r c a d o r i a s
merecem ser realçados.
A agropecuária, a indústria e o setor serviço são constituídos
de um pequeno número de unidades de médio e grande portes, que
são exploradas em propriedades com mais de 100 hectares e no setor
industrial e de serviço com plantas com mais de 100 empregados.
No período de 1966 a 1985, esse padrão de desenvolvimento foi
financiado pelo setor privado mas, principalmente, pelo setor público,
pois o seu poder econômico e político definia suas prioridades, como
sendo de interesse de todos os produtores de bens e serviços. O
crescimento econômico verificado nesse período foi bastante
expressivo, com o PIB crescendo à taxa de 9,1 % ao ano, no sub-período
de 1970/80; 5,2%, no sub-período de 1980/90, superando as taxas de
incremento do Produto do Nordeste e do Brasil.
Mesmo na década de 70 e em metade da década de 80,
quando houve aumento bastante significativo da riqueza, o
crescimento econômico não gerou condições de vida favoráveis
à população, relativamente à renda e, principalmente, à terra,
que ficaram concentradas em poder dos 10% mais ricos.
A partir da segunda metade da década de 80, com a crise
fiscal do Estado brasileiro e, por conseguinte, com a redução dos
s u b s í d i o s e r e p a s s e s de recursos f e d e r a i s , o p a d r ã o de
desenvolvimento começa a demonstrar sua vulnerabilidade e,
já no início dos anos 90, mostra-se insustentável, pois a abertura

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 309


comercial e o aprofundamento da crise fiscal do Estado expõem
toda a d e f i c i ê n c i a e s t r u t u r a l do setor p r o d u t i v o , muito
particularmente do fumo, do coco, do algodão, do milho, da
pecuária de leite e das atividades sucroalcooleiras, sendo que,
estas últimas ainda são as principais atividades na orientação
do processo de desenvolvimento.
Assim, a evolução da estrutura do PIB alagoano, no período
de 1985 a 1999, espelha a crise de seu principal produto agrícola.
A agropecuária, que contribuía com 26,6% do PIB, em 1985, foi
perdendo participação, até atingir 6,5%, em 1993; apresentou nova
queda em 1997, chegando, em 1998, a uma participação de 8,4%
do produto bruto. A indústria passou de uma participação de
32,3%, em 1985, para 39%, em 1998, e a participação dos serviços
subiu de 53,2%, para 56%.
Considerando que, mesmo nesse período de crise, os 10%
mais ricos procuram preservar e até aumentar sua participação
na renda levando, ainda, em conta a crise financeira crescente
do Estado, a população ficou exposta às piores condições de vida
e trabalho do Nordeste e do Brasil, chegando, em 2000, a regis-
trar uma proporção de 44,43% da população vivendo na condição
de indigente, e quase 80% dos ocupados vivendo do trabalho
informal, com taxa de desemprego urbano superior a 18%; e,
na década de 90, o setor público foi quem mais desempregou
trabalhadores com carteira de trabalho assinada.
O elevado número de postos de trabalho informais e de
renda baixa foi importante na redução do nível de vida da classe
média baixa e, sobretudo, dos ocupados não-qualificados e
semiqualificados.
Os dados da Pesquisa Nacional por Amostragem a Domicílio
- PNAD, realizada pelo IBGE, mostram uma queda na população
ocupada de Alagoas de 0,1% ao ano, no período de 1992 a 1999.
Essa queda se deu por causa da redução do número de postos em
empresas com mais de 100 empregados, mas as ocupações por

310 Fernando José de Lira


conta própria cresceram muito, nos meios rural e urbano, pois, a
partir da crise, a agropecuária vem tentando diversificar suas
atividades produtivas, com a produção de milho e verduras, a
avicultura de corte, a criação de pequenos animais e a expansão de
uma nova área de produção leiteira na Zona da Mata.

Formação da riqueza e da pobreza de Alagoas 311


Blíbiografia consultada

ALMEIDA, L. Maria. Rupturas e permanências em Alagoas: o


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