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Projecto Educativo dos

Pioneiros/Marinheiros

Manual para dirigentes

Setembro de 2008
«E, quando acabou de falar, disse a Simão:
Faze-te ao mar alto, e lançai as vossas redes
para pescar.
E, fazendo assim, colheram uma grande
quantidade de peixes, e rompia-se-lhes a
rede.
E disse Jesus a Simão: Não temas; de agora
em diante serás pescador de homens.
E, levando os barcos para terra, deixaram
tudo, e o seguiram»
Lucas 5 - 4,6,10-11

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NOTA PRÉVIA

Ao longo do presente Manual, sempre que se ler Pioneiro, deve ler-se


também Marinheiro. O mesmo pressuposto deve servir para as
restantes nomenclaturas específicas do Escutismo Marítimo, como
Equipagem, para Equipa, Mestre, para Guia, Frota, para Grupo, ou
Cruzeiro, para Empreendimento, entre outras.

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Parte 1 — A Acção Pedagógica
A – Os destinatários da acção pedagógica

Exploradores e Pioneiros
Os adolescentes dos 10 aos 17 anos

Em termos gerais, a adolescência inicia-se entre os 11 e os 13 anos e termina pelos 19 anos. Trata-se, no
entanto, de um período incerto, dado que se poderem operar estados de desenvolvimento bastante
diferentes. Tudo depende, basicamente, da natureza de cada indivíduo, da sua história pessoal e das
características sociais e culturais da comunidade onde vive. Assim sendo, é possível, por exemplo, que
alguns adolescentes de 13 ou 14 anos se situem ainda numa fase muito infantil, enquanto que outros,
com a mesma idade, já tinham adquirido autonomia e maturidade próprias de uma idade mais avançada.
Esta é a razão por que importa reflectir e observar a fase da adolescência como um todo, sem fazer uma
distinção concreta entre Exploradores e Pioneiros: alguns Exploradores podem revelar já uma
maturidade acima da média, enquanto que alguns Pioneiros podem situar-se ainda num estádio de
desenvolvimento menos avançado.
No entanto, convém que os Dirigentes tenham a noção de que, por norma, no Grupo dos Exploradores e
no dos Pioneiros encontramos dois grupos distintos de rapazes e raparigas, que diferem muito entre si
no que diz respeito à sua maturação, às suas maneiras de ser, aos comportamentos e às expectativas.
Assim sendo, e porque as necessidades de aperfeiçoamento pessoal são distintas, devem ser diferentes
as formas de actuação de um adulto em cada um dos Grupos.
Pegue-se em experiências únicas, personalidades irrepetíveis, interesses múltiplos, ideias em constante
mudança, vivências pessoais, contextos diferenciados e aí encontraremos qualquer um dos nossos
Grupos. É perante esta junção de sujeitos com a qual qualquer dirigente se depara, que cada unidade
trabalha. Se todos partilhamos etapas distintas, culturas e necessidades tão específicas, será muito
pouco eficaz adoptar métodos e técnicas únicos e pré-determinados, já que corremos o risco de muitos
ficarem pelo caminho: desistindo ou, pior ainda, sentindo a exclusão num movimento que se pretende
aberto e solidário.
Quando falamos de desenvolvimentos diferenciados falamos de uma possibilidade educativa abrangente
e positiva que não inclui, certamente, o atenuar e “camuflar” de diferenças e dificuldades, mas que
pretende o integrar de aprendizagens em que todos beneficiam, onde existe um espaço onde cada
pessoa pode construir o seu projecto de trabalho.
Assim, a diversidade implica sempre instabilidade, dúvidas, reorganizações, ritmos que não se repetem,
sendo prejudicial manter uma rigidez nas estratégias e nas pedagogias.

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As seis Áreas de Desenvolvimento

Para implementar o Projecto Educativo do Corpo Nacional de Escutas, de maneira progressiva e


adequada a cada secção, é importante o Dirigente conhecer as características específicas de cada grupo
etário. Neste processo, e ainda que o desenvolvimento se processe de forma global e gradual, com ritmo
diferente de indivíduo para indivíduo, a caracterização das várias dimensões da personalidade,
constituem uma forma de o compreender. São, então, dimensões da personalidade: o Desenvolvimento
Físico, o Desenvolvimento Intelectual, o Desenvolvimento do Carácter, o Desenvolvimento Afectivo, o
Desenvolvimento Espiritual e o Desenvolvimento Social.
É importante que as actividades dos escuteiros contemplem todas estas dimensões. No desenvolvimento
integral da pessoa, é, também, fundamental o papel da Equipa de Animação, que deve procurar
conhecer como se caracterizam globalmente os adolescentes desta faixa etária. No entanto, isto não é
suficiente: é também necessário conhecer cada um deles, individualmente.
Por fim, é também importante que cada Grupo ofereça aos seus elementos um ambiente seguro que
lhes permitirá adquirir confiança neles próprios, nos outros e no mundo.

Desenvolvimento Físico
O desenvolvimento do corpo, sobretudo nestas idades, determina fortemente algumas características da
personalidade de cada jovem, pelo que é importante compreender cada transformação física: assim
entenderemos muitas atitudes e reacções.
Entre o que mais prende a atenção de um adolescente entre os 11 e os 13 anos estão as transformações
que acompanham o início da puberdade, na qual, geralmente, se regista uma rápida aceleração no
crescimento, primeiro na altura (sobretudo a nível de pernas e tronco) e depois no peso, e que
transformam rapidamente a imagem que tem de si próprio. Esta mudança brusca provoca um
desequilíbrio físico: o crescimento acelerado promove uma ânsia por actividades expansivas (há um
maior vigor físico, sobretudo nos rapazes, pelo que as actividades confinadas a espaços reduzidos
tornam-se muito limitadas), mas o desenvolvimento muscular e da coordenação não acompanham o
crescimento da estrutura óssea, pelo que surgem gestos desajeitados e desconexos.
Esta é ainda a fase em que começam a surgir características sexuais secundárias, ou aquilo a que
chamamos as formas físicas mais próprias de cada sexo (primeiras ejaculações, menstruação,
crescimento de pêlos e de seios, mudanças na voz e na textura da pele, etc.). Estas mudanças provocam,
muitas vezes, momentos de grande fadiga, ansiedade e angústias em relação a um desenvolvimento
físico que o adolescente considera ‘anormal’, por comparação com os outros. Surge, assim, no
adolescente, uma hipersensibilidade perante julgamentos físicos e um desconforto em relação a si
mesmo: é como se não se sentisse bem na sua própria pele.
Entre os 14 e 17 anos dá-se um aumento do tamanho corporal, das formas e das capacidades físicas,
desaparecendo a tendência para a descoordenação física, tão típica dos anos anteriores. Estabelece-se
também a maturidade sexual e reprodutiva e desenvolve-se de forma mais estável a identidade sexual,
com a afirmação de papéis mais definidos para rapazes e raparigas. Toda esta estabilidade potencia o
desenvolvimento de novas capacidades, impulsos e potencialidades que é preciso identificar,
experimentar e controlar.

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A este nível, no Grupo Explorador deve-se:
- Desenvolver a habilidade corporal e manual, através da realização de jogos de coordenação e
de actividades manuais variadas;
- Promover um ambiente sereno e respeitador, em que todas as transformações são
consideradas próprias e normais, para que a instabilidade emocional, daí decorrente, não
adquira proporções prejudiciais ao equilíbrio.
No Grupo Pioneiro, deve:
- Fomentar um ambiente tranquilo e respeitador, que permita ajudar cada um conhecer e
respeitar o seu corpo, aceitando com serenidade as mudanças;
- Estimular o respeito pelo outro sexo, valorizando as diferenças físicas existentes;
- Desenvolver a aptidão corporal através de actividades estimulantes que desafiem a
descoberta de novas capacidades físicas.

Desenvolvimento Intelectual
Pelos 11/13 anos surge a necessidade de produzir, de deixar a sua marca no mundo real. Esta capacidade
para agir de forma concreta permite-lhe desenvolver sentimentos de competência e valores próprios (‘eu
sou capaz’, ‘eu consigo’) e é acompanhada pelo desenvolvimento da capacidade de pensar de forma
lógica sobre ideias e dados abstractos. Assim, e embora o adolescente continue a precisar de estruturas e
actividades delineadas passo-a-passo (senão dispersa-se facilmente), consegue já descobrir soluções para
problemas apresentados apenas na teoria. Isto fá-lo desenvolver uma apetência para a investigação e
aprendizagem de coisas novas, a que se associa ainda uma boa capacidade de memorização.
Dos 14 aos 17 anos, a capacidade de raciocínio melhora: surgem as hipóteses e deduções de relações
entre as coisas que permitem criticar o estabelecido, produzir interrogações sobre o futuro e sobre a
sociedade, forjar argumentos lógicos e detectar rapidamente falhas nos argumentos dos outros. Isto
implica que, antes de agir, o adolescente apresenta já uma predisposição (ainda que tenha de ser
solicitada) para reflectir sobre os assuntos, ponderando hipóteses e alargando o seu pensamento à
perspectiva dos outros. Revela, assim, capacidade para estar alerta, mas ainda está sujeito a devaneios e
ao “sonhar acordado”. Começam-se também a definir interesses e vocações, na medida em que o
adolescente começa a pensar no futuro e a elaborar programas de vida.

A este nível, no Grupo Explorador deve-se:


- Desenvolver actividades que desenvolvam a actividade lógica e a capacidade de abstracção
(apresentação de problemas - “Nesta situação, o que farias?” – ou de desafios, como montar
uma tenda com um pano e corda;
- Criar actividades de descoberta (da Natureza, de novas realidades e culturas) que estimulem a
curiosidade;
- Estimular a preparação cuidada das actividades, de forma a evitar a tendência para a
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dispersão.
No Grupo Pioneiro, deve-se:
- Encorajar a discussão de ideias, estimulando a exploração de diversas perspectivas, hipóteses
e soluções;
- Estimular a reflexão pessoal sobre interesses, sonhos e capacidades.

Desenvolvimento do Carácter
Até aos 13 anos, a capacidade de reflectir sobre a sua própria opinião e a opinião dos outros leva os
adolescentes a questionar as orientações estabelecidas, sobretudo as do núcleo familiar. Podemos falar,
assim, do início de um período de oposição e rejeição de ideias provenientes de figuras com quem antes
havia uma identificação. Para além disto, o adolescente desta idade consegue já descrever-se em termos
de pensamentos internos, sentimentos, capacidades e atributos, demonstrando capacidade de auto-
análise.
Pelos 14/17 anos estamos perante verdadeiras crises de identidade, em que o adolescente se vira para si
mesmo para operar uma descoberta consciente do “eu” e procurar algo que lhe seja próprio, só seu. Este
processo, em que se dá um alargamento das actividades realizadas por iniciativa própria, nem sempre é
pacífico, na medida em que podem surgir conflitos (não é criança, mas também não é adulto, embora se
considere igual a ele) e problemas de auto-estima.
Para além disto, os esforços dirigem-se sobretudo para a procura de novos modelos de comportamento
(os modelos de identificação deixam, muitas vezes, de ser os pais para serem outros adultos de
referência ou os pares), o que produz uma consequente alteração do sistema de valores.
Por fim, o adolescente tem tendência a construir grandes sonhos e aspirações e a desenvolver
sentimentos de invulnerabilidade. É frequente, a este nível, que o adolescente se proponha a reformar a
sociedade na qual é chamado a viver e a negar frequentemente a hipótese de poder ser vítimas de
atitudes e situações de risco.

A este nível, no Grupo Explorador deve-se:


- Explorar a Lei e os Princípios sobretudo a nível da necessidade de desenvolver o auto-domínio
e de respeitar e obedecer aos mais velhos;
- Criar actividades que permitam a descoberta de si mesmo (as suas capacidades, qualidades,
sentimentos, etc.).
No Grupo Pioneiro, o Dirigente deve:
- Encorajar a discussão de ideias sobre o papel que cada um ocupa no espaço familiar e social e
os valores que devem ser defendidos;
- Actuar de forma cuidadosa, dado que facilmente se pode converter num modelo de vida;
- Auxiliar os seus elementos a reconhecer as diversas situações de risco, ajudando-os a
encontrar estratégias de resolução de problemas.

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Desenvolvimento Afectivo
Nos adolescentes dos 11 aos 13 anos, dá-se um despertar dos impulsos sexuais devido ao início da
puberdade biológica. Este despertar tem impacto no campo afectivo, marcado agora por emoções fortes
e confusas que, pela sua dominância, gerem todo o comportamento, também ele confuso e muitas vezes
marcado por reacções emocionais desproporcionadas que o adolescente se esforça por entender. A este
nível, desenvolvem-se, especialmente, a necessidade de afirmação como indivíduo (marcada em especial
pela identificação com heróis, com quem o adolescente aspira a parecer-se) e a necessidade de
desenvolver as suas amizades.
A atenção que um adulto presta a um adolescente nestas idades deve estar muito virada para a
compreensão destas emoções, dado que elas podem originar desequilíbrios a nível de comportamentos.
A partir dos 14 anos, a necessidade de criar e renovar amizades profundas e de se afirmar como
indivíduo é agora preponderante. Esta é a altura das amizades profundas e para toda a vida, em que a
escolha dos amigos vai sempre ao encontro daquilo que se considera os padrões certos de agir, pensar e
falar. Procura-se não a diferença mas gostos e modos semelhantes (a adesão a novos valores marca a
escolha dos amigos), o melhor amigo surge como confidente e companheiro preferido e há uma maior
consideração pelos sentimentos dos outros.
Para além disto, surge a necessidade de estabelecer uma ligação afectiva a outra pessoa. Este é, assim, o
período da atracção em relação ao sexo oposto e dos primeiros amores (surge mais cedo nas raparigas).
Claro que toda esta procura vem acompanhada de grandes períodos de instabilidade emocional, com
mudanças de humor súbitas, em que num momento é possível estar muito bem, noutro em profunda
depressão e desânimo, dado que há uma alternância entre o que é o ideal e aquilo que é possível. Isto
conduz a tendência para períodos de isolamento.

A este nível, na segunda Secção deve-se auxiliar o Explorador a:


- Entender que pessoas diferentes experimentam emoções diferentes nas mesmas situações,
dependendo do resultado;
- Avaliar a situação antes de escolher uma resposta emocional apropriada;
- Escolher amigos adequados, sabendo distinguir aqueles que poderão ajudá-lo.
No Grupo Pioneiro, o Dirigente deve:
- Ajudar a reconhecer emoções e diferentes formas de lidar com as diferentes situações;
- Auxiliar a escolher as amizades em função de valores positivos.

Desenvolvimento Espiritual
A adolescência marca o momento de passagem entre a chamada Fé de criança, herdada dos pais e da
vivência em comunidade, e a Fé pessoal, interior e que se interliga com os próprios actos, numa busca do
sentido das coisas, sem que haja uma aceitação tácita de princípios.
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Dos 11 aos 13 anos, surge uma maior preocupação com as questões morais e um melhor entendimento
destas. Assim, os princípios, deveres e responsabilidades éticas começam a ser defendidos com esforço,
sobretudo em momentos de grupo: os adolescentes tomam consciência de que todos devem seguir as
mesmas leis e regras para manutenção da harmonia e entendimento do grupo. Aceitam, assim, os
princípios morais como meio de partilha de direitos e responsabilidades com os outros. Contudo, esta
situação muitas vezes só é visível quando existe uma quebra no entendimento comum, em que se
levantam as típicas questões do “não é justo”, “uns podem e outros não”.
A partir dos 14 anos, a simbologia, o interesse por outras vivências de Fé e por problemas éticos e de
defesa de valores tornam-se marcos das vivências espirituais dos adolescentes. Nesta fase, surge um
interesse mais marcado por ideologias e religiões diferentes da sua, que é acompanhado por alguma
reserva na expressão de questões espirituais e convicções da sua própria religião. Para além disto,
começa-se a pôr em causa as práticas religiosas da infância.
Isto não invalida, contudo, o interesse por problemas éticos e ideológicos. Na verdade, o Pioneiro aprecia
o símbolos para expressar significados espirituais, é frequentemente radical na defesa de valores e chega
a demonstrar, por vezes, capacidade de um grande altruísmo. Tem também a noção de que é necessário
estabelecer contratos e seguir as mesmas “leis” para haver entendimento no grupo.

A este nível, na segunda Secção deve-se auxiliar o Explorador a:


- Entender que para pessoas diferentes pode haver necessidade de encontrar soluções
diferentes (por exemplo, pode haver necessidade de o dirigente ter mais paciência para com
um elemento mal comportado, por este apresentar problemas familiares que outros não têm);
- Assumir Jesus como um exemplo a seguir na defesa de valores como a justiça, a solidariedade,
o amor ao próximo, etc.
Na Terceira Secção, o Dirigente deve ajudar o Pioneiro a:
- Identificar-se com o Jesus Cristo e a vê-lo como exemplo de defesa radical dos valores cristãos;
- Compreender a validade e riqueza das celebrações comunitárias, espaço privilegiado de
comunhão com Deus e os irmãos;
- Assumir-se como cristão comprometido com o mundo.

Desenvolvimento Social
Um adolescente dos 11 aos 13 anos é, em geral, capaz de reflectir sobre os seus próprios pensamentos e
percebe que os outros fazem o mesmo. Nesta altura, começa a procurar a sua própria conduta
(questionando as regras da infância, que lhe impõem uma conduta estabelecida por outros), mas,
sempre que não consegue seguir o padrão de conduta que escolheu, tem tendência a produzir
sentimentos de culpa e recriminação que o levam a tentar justificar o seu comportamento ou a tentar
compensar alguém pelo que fez de errado.
Nesta busca por um comportamento autónomo, desenvolve uma compreensão genuína do que significa
fazer parte de um grupo e adere voluntariamente às suas normas, que assumem um carácter
absolutamente sagrado (a equidade e justiça, por exemplo, são levadas muito a sério – “se eu não posso
quebrar as regras o outro também não pode” ou “é justo que ele venha à actividade porque ajudou a
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planeá-la”). Dá-se, assim, um período de expansão social em que se formam relações de lealdade que
começam a ser mais importantes para o adolescente do que quaisquer outras (é o Grupo que manda).
Nesta fase, desenvolve-se do conceito de género (homem e mulher) e respectivos papéis, embora os
estereótipos ligados a cada género (um homem faz isto, uma mulher aquilo) tenham uma influência
poderosa nas percepções dos adolescentes. Assim, geralmente, desvios aos papéis tradicionais são alvo
de críticas. Podemos ainda afirmar que, num âmbito geral, os rapazes são vistos como mais aventureiros
e dispostos a actividades que envolvam riscos, sendo também mais assertivos na adesão a grupos,
enquanto que as raparigas tendem a ser mais conscientes socialmente, mais atenciosas a novos
membros e mais flexíveis nos seus estereótipos.
Perante isto, por norma, na interacção entre adolescentes de ambos os sexos, surgem fronteiras físicas
demarcadas: em geral, ainda se definem por grupos separados por género e por afinidade de interesses,
existindo sempre uma certa rivalidade natural entre sexos. Contudo, têm um gosto especial pelo
trabalho em equipa (embora conservem um espírito independente), pelo que conseguem muito bem
desenvolver actividades em conjunto, sobretudo se à rivalidade se sobrepuser a necessidade de
trabalhar em conjunto para atingir um determinado fim. Quando assim acontece, desenvolvem relações
de pares baseadas no respeito e apoio mútuos.
Na passagem para os anos seguintes, o adolescente vê as relações como um processo de partilha mútua
onde todos podem vir a beneficiar de satisfação e compreensão social. Assim, entre os 14 e os 17 anos,
possuem uma grande capacidade de se adaptarem a novos grupos sociais e de estabelecerem relações
fáceis com outros (da mesma idade ou de outras), desde que o seu modo de ser se enquadre nos seus
padrões de acção. Isto gera duas situações distintas: por um lado, existe alguma incerteza em relação ao
que são as expectativas do Grupo e àquilo que é esperado ou aceite, o que gera uma preocupação
injustificada (sentem que são o alvo constante das atenções dos outros); por outro lado, começam a
viver em grupos mais unidos, baseados na confiança mútua, onde há a procura de uma identidade
comum.
Por fim, este é também um período de reestruturação social, onde predomina a rebeldia contra a
autoridade estabelecida e se escuta melhor a opinião de alguém diferente. Assim, surgem
comportamentos negativos de inconformismo e de agressividade para com os outros. Para além disso, os
adolescentes podem ainda mostrar-se extremamente críticos e francos na expressão da sua opinião,
sentindo, muitas vezes, que as suas experiências são únicas e ninguém as pode compreender
(egocentrismo).

A este nível, na Segunda Secção deve-se auxiliar o Explorador a:


- Compreender que as regras do Grupo não se podem sobrepor à sua consciência e àquilo que
está certo (a referência constante à Lei, aqui, é determinante);
- Compreender que as relações entre os pares se devem basear sempre no respeito e
solidariedade mútuos, independentemente do sexo.
Na Terceira Secção, o Dirigente deve ajudar o Pioneiro a:
- Compreender que, apesar do grupo, ele é uma pessoa com características a respeitar e a
desenvolver, independentemente das ideias dos outros;
- Construir grupos coesos e que defendam valores positivos;

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- Tomar consciência de que a autoridade não é sempre negativa e que a negociação é um
caminho mais positivo do que a agressividade e a rebeldia.

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B – O projecto educativo que oferecemos

1. Proposta Educativa do CNE

O Escutismo é um movimento de educação não-formal, que contribui para a educação dos jovens através
de um sistema de valores, tal como se expressa no documento “A Missão do Escutismo”, Durban 1999:

“A missão do Escutismo consiste em contribuir para a educação dos jovens, partindo de um


sistema de valores enunciados na Lei e na Promessa escutistas, ajudando a construir um
mundo melhor, em que as pessoas se sintam plenamente realizadas como indivíduos e
desempenhem um papel construtivo na sociedade.

Isto é alcançado:
 Envolvendo os jovens, ao longo dos seus anos de formação, num processo de educação
não-formal;
 Utilizando um método original, segundo o qual cada indivíduo é o principal agente do
seu próprio desenvolvimento, para se tornar uma pessoa autónoma, solidária,
responsável e comprometida;
 Ajudando os jovens na definição de um sistema de valores baseado em princípios
espirituais, sociais e pessoais expressos na Lei e na Promessa.”

A partir desta declaração de Missão, as associações escutistas devem elaborar a sua Proposta Educativa,
na qual expressam a sua intenção educativa, ou seja, aquilo que podem oferecer aos jovens de uma
determinada comunidade e por um determinado tempo.
Com a proposta educativa, o Corpo Nacional de Escutas (CNE) procura responder às necessidades
educativas das crianças e dos jovens, através dos Princípios e do Método Escutistas. Ao mesmo tempo, a
proposta pretende ser referência para a acção continuada dos animadores adultos e também, um
compromisso educativo perante a sociedade.
Sendo um documento aberto e dinâmico, a Proposta Educativa concretiza-se nas actividades
características do Movimento, que proporcionam a criação e/ou o desenvolvimento de determinadas
competências e características nas crianças, nos adolescentes e nos jovens.

A intenção educativa do CNE, adequada ao tempo e à sociedade, está expressa na Proposta Educativa
“Educamos. Para quê?”.

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EDUCAMOS. PARA QUÊ?
Uma Proposta Educativa do Corpo Nacional de Escutas

O CNE ajuda jovens a crescer…


…a procurar a sua própria Felicidade e a contribuir decisivamente para a dos outros.
…a descobrir e viver segundo os Valores de um verdadeiro Homem Novo.
O CNE procura, através do Método Escutista, ajudar cada jovem a educar-se…
•...para se tornar consciente do Ser;

- uma pessoa responsável, autónoma e perseverante; justa, leal e honesta


- uma pessoa criativa e ousada face aos desafios e que cultiva o espírito crítico de modo a distinguir o
essencial

- uma pessoa alegre, sensível e compreensiva, consciente de si própria, das suas limitações e
potencialidades

- uma pessoa solidária e fraterna, que promove o respeito e a tolerância na sua relação com os outros
- uma pessoa que assume integralmente o seu compromisso cristão como opção de vida
- uma pessoa que respeita o seu corpo como manifestação de vida e com ele se relaciona de forma
equilibrada
•...para se tornar detentor de Saber;

- uma pessoa que reconhece as suas imperfeições e as procura superar de uma forma constante
- uma pessoa que busca sempre mais e usa esses conhecimentos para fundamentar as suas decisões,
expressando adequadamente as suas ideias

- uma pessoa que valoriza as sua emoções e afectos, vivendo-os em equilíbrio


- uma pessoa atenta ao Mundo, no qual identifica o seu papel, valorizando o trabalho em equipa
- uma pessoa que procura aprofundar sempre o seu esclarecimento na Fé
- uma pessoa que conhece as capacidades e limites do seu corpo, reconhecendo as ameaças ao mesmo
•...para se tornar preparado para Agir;

- uma pessoa que, comprometendo-se, age de acordo com as suas opções, respeitando os outros e o
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mundo

- uma pessoa empreendedora, activa no desenvolvimento de iniciativas e que cuida da sua própria
formação

- uma pessoa que cultiva amizades e que vive o amor de uma forma plena, dando disso testemunho em
família

- uma pessoa que assume o seu papel na comunidade, exercendo a cidadania de uma forma
participativa e generosa

- uma pessoa que evangeliza pelo testemunho e pela partilha, no respeito pelas convicções dos outros,
contribuindo assim para a construção da paz

- uma pessoa que, reconhecendo o seu corpo como meio para transformar o Mundo, cuida dele em
harmonia com o ambiente
O CNE ajuda jovens a crescer...
...para que com o Ser, Saber e Agir se tornem homens e mulheres responsáveis e membros activos
de comunidades, na construção de um mundo melhor.

A Proposta Educativa do CNE “Educamos. Para quê?” foi aprovada no Conselho Nacional Plenário de
Maio de 2003.
Este documento é um género de Bilhete de Identidade ou Cartão de Visita que pode ser usado:
 Quando se recebe um novo elemento e os Pais querem perceber um pouco melhor o que é o
Escutismo e o que o distingue, por exemplo, de um qualquer clube desportivo;
 Nas reuniões de Pais;
 Quando se fazem exposições ou folhetos sobre o Escutismo;
 Numa reunião com a Autarquia;
 Num pedido de apoio financeiro;
Ou ainda em:
 Num momento de formação da Equipa de Animação;
 Num jogo sobre valores;
 Num jogo sobre as qualidades individuais;
 ...

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2- Áreas de Desenvolvimento e Trilhos Educativos

O Escutismo considera o desenvolvimento de todos os aspectos da personalidade das crianças e dos


jovens.
As Áreas de Desenvolvimento são instrumento para a aplicação prática da Proposta Educativa. Na
sequência do processo internacional de Renovação de Acção Pedagógica (RAP), observadas as intenções
do fundador para o Movimento Escutista e englobando todas as dimensões da personalidade humana,
foram estabelecidas seis Áreas de Desenvolvimento pessoal.
São elas:

 Desenvolvimento Afectivo a orientação dos afectos e a valorização pessoal

 Desenvolvimento Social o encontro e a partilha com os outros

 Desenvolvimento Intelectual o estímulo à exploração e criatividade

 Desenvolvimento Físico o conhecer e desenvolver o corpo

 Desenvolvimento do Carácter as atitudes e o ser mais

 Desenvolvimento Espiritual o sentido de Deus

Em cada uma das Áreas de Desenvolvimento pessoal estão identificadas prioridades educacionais – três
Trilhos Educativos – que tomam em conta as necessidades e aspirações das crianças, dos adolescentes e
dos jovens em particular – os objectivos educativos. Entende-se por Trilho Educativo os caminhos de
crescimento a trabalhar em cada área, dos quais se definem os objectivos de crescimento a atingir no final
do tempo vivido na secção.

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Áreas Trilhos Os objectivos de cada trilho relacionam-se com:

Relacionamento e auto-expressão; intereducação; valorização da família; opção de vida;


Área de sensibilidade sentido do belo e do estético
Desenvolvimento Equilíbrio saber lidar com as emoções (controlar/ exprimir); manter um estado
Afectivo emocional interior de liberdade; maturidade
Auto-estima conhecer-se; aceitar-se; valorizar-se

Exercer activamen- direitos e deveres; tolerância social; intervenção social


te a cidadania
Área de
Desenvolvimento Cooperação e serviço; espírito de equipa; interajuda
Social Solidariedade
Interacção assertividade; assumir o seu papel nos grupos de pertença

Procura do desejo de saber; procura e selecção de informação; iniciativa; auto-


conhecimento formação
Área de
Desenvolvimento Resolução de capacidade de análise e síntese; utilização de novas técnicas e métodos; selecção de estratégias de
problemas resolução; análise crítica da solução encontrada; capacidade de adaptação a novas situações
Intelectual
Expressão/Comuni- apresentação lógica de ideias; criatividade; discurso adequado
cação

Desempenho rentabilizar e desenvolver as suas capacidades; destreza física;


Área de conhecer os seus limites; habilidade manual
Desenvolvimento Bem-estar físico manutenção e promoção: exercício; higiene; nutrição; evitar
Físico comportamentos de risco
Auto-conhecimento conhecimento e aceitação do seu corpo e do seu processo de
maturação

Autonomia tornar-se independente; capacidade de optar; construir o seu quadro


de referências
Área de
Desenvolvimento Responsabilidade ser consequente; perseverança e empenho; levar a bom termo um
do Carácter projecto assumido
Coerência viver de acordo com o seu sistema de valores; defender as suas
ideias

Descoberta disponibilidade interior; interiorização progressiva; busca do


Área de transcendente no específico cristão
Desenvolvimento Vivência dar testemunho pelos actos do dia-a-dia; viver em comunidade; estar
Espiritual aberto ao diálogo inter-religioso
Serviço integração e participação activa na Igreja; participar na construção de
um mundo novo; evangelização

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C – Como implementar?

As sete Maravilhas do Método

O Movimento Escutista tem uma missão definida que passa por educar, promovendo o desenvolvimento
das crianças, dos adolescentes e dos jovens através de actividades recreativas e de serviço, de modo
harmonioso com a sua própria personalidade e com a comunidade em que vive.

A sua finalidade é “contribuir para o desenvolvimento dos jovens ajudando-os a realizarem-


se plenamente no que respeita às suas possibilidades físicas, intelectuais, sociais e
espirituais, quer como pessoas, quer como cidadãos responsáveis e quer, ainda, como
membros das comunidades locais, nacionais e internacionais.”
In Constituição da Organização Mundial do Movimento Escutista, Artigo I

De que forma consegue o Movimento Escutista atingir a sua finalidade?


Consegue fazê-lo através do sistema criado por B.-P., entretanto apurado e aprofundado durante
quase um século, a que vulgarmente se dá o nome de Método Escutista. Este método, a nossa forma de
educar, é único e genial e tem dado provas disso mesmo ao longo dos seus cem anos de existência. Sem
ele, não se pode verdadeiramente fazer Escutismo

O Método Escutista é um sistema de auto-educação progressiva, baseado em:


• Uma Promessa e uma Lei.
• Uma educação pela acção.
• Uma vida em pequenos grupos (por exemplo a patrulha), envolvendo, com o auxílio e o
conselho de adultos, a descoberta e a aceitação progressiva de responsabilidades pelos
jovens e uma preparação para a autonomia com vista ao desenvolvimento do carácter, à
aquisição de competências, à confiança em si, ao serviço dos outros e à capacidade quer de
cooperar, quer de dirigir.
• Programas de actividades variados, progressivos e estimulantes, baseados nos interesses
dos participantes, incluindo jogos, técnicas úteis, e a realização de serviços à comunidade;
estas actividades desenrolar-se-ão, principalmente, ao ar livre, em contacto com a natureza.
In Constituição da Organização Mundial do Movimento Escutista, Artigo III

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Vemos assim que o Método Escutista, a partir da forma natural como as crianças, os adolescentes e os
jovens se relacionam, permite explorar diferentes opções educativas, realçando o que eles aprendem uns
com os outros e potenciando verdadeiras experiências educativas, tais como:
- Alargar horizontes: o campo de acção e de experimentação da criança/adolescente/jovem vai
aumentado à medida que cresce;
- Transportar a criança/adolescente/jovem da imaginação à realidade: os heróis e heroínas não
existem só em lendas, mas são indivíduos de carne e osso, o mundo fictício das histórias desafia a
exploração do mundo real;
- Proporcionar o crescimento em pequenos grupos: a relação com os pares e o assumir de
responsabilidades são componentes essenciais de um ensaio para a vida futura em sociedade;
- Contribuir para a interiorização de regras sociais (através do jogo e dos valores universais), ajudando
a desenvolver um código de conduta próprio ao qual voluntariamente se adere;
- Incentivar a ser cada vez mais e melhor, desafiando limites e estabelecendo novas metas a alcançar;
- Arriscar num ambiente privilegiado onde as conquistas e os erros possuem igual valor pedagógico: a
correcta aplicação do método proporciona a criação de um espaço seguro onde as
crianças/adolescentes/jovens aprendem, erram e voltam a aprender numa dinâmica de crescimento;
- Construir uma relação de confiança com alguém que ajuda, prepara, apoia, encoraja, aconselha e
educa.

Identificadas as bases do Método Escutista e traçado o caminho para lá chegar, faltará apenas caminhar…
E o caminho possui sete características essenciais de que não podemos abdicar e que consideramos
maravilhosas, por constituírem a base do Método Escutista. São as “Sete Maravilhas do Método
Escutista”:

Sistema
de
Patrulhas
Sistema de Relação
progressão jovem/adulto
pessoal
Lei
e
Promessa
Vida
Aprender na
fazendo Natureza
Mística
e
Simbologia

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Em cada secção, cada uma destas “Sete Maravilhas do Método Escutista” deverá ser aplicada de modo
distinto, de acordo com as características próprias de cada faixa etária e tendo em conta o grau de
autonomia, de maturidade e de responsabilidade de cada criança, adolescente ou jovem..

Bibliografia para aprofundar:


- Constituição da Organização Mundial do Movimento Escutista
- Estatutos e Regulamentos do CNE
- “As características essenciais do Escutismo” – Documento de referência para apoio à elaboração do PEP –
Plano Estratégico Participativo do CNE e da RAP – Renovação da Acção Pedagógica.

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1 – Sistema de patrulhas

O Sistema de Patrulhas é o principal motor do Escutismo, permitindo a cada Escuteiro encontrar o


seu lugar entre os outros
Baden-Powell Hoje – pistas para um educador no Escutismo

O sistema de patrulhas, tal como B.-P. o idealizou, assenta na divisão de rapazes e raparigas em pequenos
grupos – Bando/Patrulha/Equipa –, dentro dos quais estabelecem relações e são chamados a assumir
diversas tarefas para a promoção do bem-comum. Um dos elementos assume a direcção e cada um dos
restantes é chamado a desempenhar funções específicas, que permitem a cada um contribuir para o bem
geral. Esta divisão de tarefas incentiva, assim, a co-responsabilidade e permite a aprendizagem da
democracia e da solidariedade. Ao mesmo tempo, possibilita também a compreensão do papel do líder e
da importância de uma boa e equilibrada liderança para o desenvolvimento do grupo.
O sistema de patrulhas, na I.ª Secção, materializa-se nos Bandos, na II.ª secção materializa-se nas
Patrulhas e nas III.ª e IV.ª secções traduz-se nas Equipas.

A – Vivência e valor pedagógico

É o Sistema de Patrulhas que faz das Unidades e, por conseguinte, de todo o Escutismo, um verdadeiro
esforço de cooperação. Faz dele um método de educação natural e não formal, onde cada jovem, com as
suas particularidades e curiosidades muito pessoais, cresce com os outros e entre eles. Os seus pares
passam a ser por si reconhecidos pela vivência conjunta e pela prática da Lei do Escuta.
É fomentada a ideia de que o valor individual de cada Escuteiro deverá estar sempre ao serviço do
Bando/Patrulha/Equipa e, consequentemente, da Unidade, sendo que cada um trabalha segundo as suas
forças e recebe segundo as suas necessidades.
Assim sendo, o Bando/Patrulha /Equipa, não é mais do que uma sociedade, um grupo de rapazes e
raparigas, unidos por ideais e objectivos comuns e regidos pela mesma lei – a Lei do Escuta. No
Bando/Patrulha/Equipa, os jovens poderão e deverão viver juntos experiências inesquecíveis e realizar
actividades de serviço. O Bando/Patrulha/Equipa é uma “micro-sociedade”, onde cada escuteiro
desempenha um papel. Ao assumir a responsabilidade de determinadas tarefas no seio do
Bando/Patrulha/Equipa, o Escuteiro torna-se responsável por si mesmo e... cresce!
Na vida de cada um destes pequenos grupos, no seu funcionamento regular, são promovidos valores
como o da liderança responsável, da democracia, da co-responsabilidade, da solidariedade, do trabalho
em equipa, através da divisão de tarefas.
O Sistema de Patrulhas proporciona ainda a perda da perspectiva egocêntrica, e permite às crianças,
adolescentes e jovens a criação de hábitos de divisão de tarefas e bens. Este sistema une os jovens num
ideal comum, repleto de camaradagem, cumplicidade e amizade.

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Bibliografia para aprofundar:
- O Sistema de Patrulhas, de Roland Philipps
- Escutismo para Rapazes, de Baden-Powell
- Baden-Powell Hoje – Pistas para um educador no Escutismo, dos Scouts de France

B – Organização

Quadro-síntese:
I.ª Secção II.ª Secção III.ª Secção IV.ª Secção

Lobito (a) Explorador (a) Pioneiro (a) Caminheiro (a)


Designação
do elemento
e sua idade - Crianças dos 6 aos 10 - Crianças e adolescentes - Adolescentes e jovens - Jovens dos 18 aos 22
anos dos 10 aos 14 anos dos 14 aos 18 anos anos

Bando Patrulha Equipa Equipa


- 4 a 8 lobitos - 4 a 8 exploradores - 4 a 8 pioneiros - 4 a 8 caminheiros

Designação - Aconselha-se mistos - Aconselha-se mistos - Aconselha-se mistos - Aconselha-se mistos


do pequeno
grupo e suas - Identificado por uma de - Identificada por nome de - Identificada por nome de - Identificada por nome de
característic cinco cores: Branco, animais animal, ou de Santo da animal, ou de Santo da
as cinzento, preto, castanho e igreja, ou um benemérito igreja, ou um benemérito
ruivo da Humanidade ou herói da Humanidade ou herói
nacional. nacional.
- Liderados por um Guia de - Liderados por um Guia de
Bando Patrulha - Liderados por um Guia de - Liderados por um Chefe
Equipa de Equipa

Designação Alcateia Grupo explorador Grupo pioneiro Clã


da Unidade (2 a 5 bandos) (2 a 5 patrulhas) (2 a 5 equipas) (Entre 10 e 32
caminheiros)
Designação
do local de Covil Cabana Abrigo Base
reunião

Designação
do Projecto Caçada Aventura Empreendimento Caminhada

Continua…

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Quadro-síntese:
… Continuação
Especificidades do Escutismo Marítimo
I.ª Secção II.ª Secção III.ª Secção IV.ª Secção

Lobito (a) Moço (a) Marinheiro (a) Companheiro (a)


Designação
do elemento e - Crianças dos 6 aos 10 - Crianças e - Adolescentes e jovens - Jovens dos 18 aos 22
sua idade anos adolescentes dos 10 dos 14 aos 18 anos anos
aos 14 anos

Bando Tripulações Equipagens Companhas


- 4 a 8 lobitos - 4 a 8 moços - 4 a 8 marinheiros - 4 a 8 companheiros

Designação - Aconselha-se mistos - Aconselha-se mistos - Aconselha-se mistos - Aconselha-se mistos


do pequeno
grupo e suas - Identificado por uma - Identificada por nome - Identificada por nome de - Identificada por nome de
características de cinco cores: Branco, de animais animal, ou de Santo da animal, ou de Santo da
cinzento, preto, igreja, ou um benemérito igreja, ou um benemérito da
castanho e ruivo da Humanidade ou herói Humanidade ou herói
nacional. nacional.
- Liderados por um - Liderados por um
Guia de Bando Timoneiro - Liderados por um Mestre - Liderados por um Arrais

Designação Alcateia Flotilha Frota Comunidade


da Unidade (2 a 5 bandos) (2 a 5 tripulações) (2 a 5 equipagens) (Entre 10 e 32 caminheiros)

Designação Covil Cabana Abrigo Base


do local de
reunião

Designação
do Projecto Caçada Expedição Cruzeiro Campanha

I. Constituição
a) Nome

O Sistema de Patrulhas, criado por B.-P., tem como centro a patrulha – um pequeno grupo de elementos
que partilha ideais, tradições e responsabilidades. Como já vimos, na Terceira Secção esse sistema
materializa-se na Equipa.

22/119
“Cada Equipa designa-se por um nome de um animal, o Totem, ou um Santo da Igreja, ou um Benemérito
da Humanidade ou um Herói Nacional, cuja silhueta na bandeirola e no distintivo da Equipa”, como se lê
no artigo 62.º (Grupo Pioneiro) do Regulamento Geral do CNE
Todas as Equipas têm, então, ou um Totem ou um Patrono – nome de um animal/individualidade,
escolhido pela Equipa – que as distingue dentro do Grupo. No capítulo referente ao espírito de Patrulha,
é abordada a questão do lema, grito, bandeirola, etc., decorrentes do totem da patrulha.

Sobre o Totem
Na lista, que anexamos no final deste Manual, com a designação Anexo I, sugerimos quarenta e quatro
animais totem. Trata-se de animais, na sua maioria da fauna portuguesa e cujos distintivos estão à venda
no Depósito de Material e Fardamento do CNE. Na lista, para além da silhueta do animal, está
identificado, também as cores e a reprodução aproximada do som produzido pelo animal.

VER ANEXO I – ANIMAIS TÓTEM LISTAGEM

Deixamos a indicação de que cada Equipa deverá fazer uma pesquisa sobre o verdadeiro grito do
respectivo animal, podendo mesmo essa pesquisa ser uma verdadeira aventura à caça desse som. Assim,
não devem ser usados os gritos sugeridos no Escutismo para Rapazes, mas os sons reais dos animais. A
Equipa pode deslocar-se até um local onde possa registar o som desse animal, ou pesquisar o som na
Internet, ficando o método ao critério e ao desejo de aventura de cada patrulha. Todos os elementos da
patrulha deverão conseguir reproduzir o som real do animal.

Sobre o Patrono
Pode ainda servir de designação de uma Equipa o nome de uma Patrono. Essa figura pode ser um Santo
da Igreja, pode ser um Benemérito da Humanidade ou, ainda um Herói Nacional. Se por um lado devem
ser os Pioneiros a escolher o nome do seu Patrono, por outro lado devem ser rigorosos e intransigentes
alguns critérios para essa escolha. Uma escolha desapropriada do nome do Patrono pode reverter uma
Oportunidade Educativa numa situação de conflito.
Qualquer escolha deve assentar, acima de tudo, numa justificação plausível e apresentada ao Grupo e à
Equipa de Animação. A escolha do nome deve servir para o elogio das qualidades do Patrono e das
características que os Pioneiros poderão, deverão, imitar.

Sugestão:
- Para a escolha de nomes de santos da Igreja, beneméritos da Humanidade ou heróis nacionais,
há listas de sugestões no sítio oficial do CNE.

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b) Número de elementos

Muito embora não se possa definir o número ideal de elementos de um Equipa, e o Regulamento Geral
alargue as possibilidades, a boa prática pedagógica recomenda que esse número esteja compreendido
entre 5 a 8 elementos.
Por uma questão de funcionamento – haverá tarefas para o sucesso do trabalho da Equipa que terão de
ser feitas –, mas, também, por uma questão de convenção – para melhor funcionamento e harmonização
colectiva.
Acontece, no entanto, que, se no Grupo Pioneiro, por determinada razão, só existem 9 elementos, terá
de arranjar-se uma solução enquanto não cresce o conjunto. Assim, aceita-se que em casos excepcionais
haja uma divisão e um BPE possa ser constituída por 4 elementos. Note-se, no entanto, que essa deve ser
encarada como uma solução de contingência, a prazo, e não a melhor solução do ponto de vista
pedagógico.

c) – A construção das Equipas

O género

Consideram-se mistas as Equipas constituídas por elementos de géneros diferentes. Nos Pioneiros,
recomenda-se que a construção das Equipas seja de forma mista, embora dependendo das
especificidades de cada Grupo se possa optar pela forma exclusivas por género.
Há vantagens na constituição de Equipas mistas. Senão vejamos:
• Se o Grupo é misto, e se dessa heterogeneidade resulta uma aprendizagem, será natural que os
elementos também se queiram juntar da mesma forma;
• Se o “Mundo Real” é misto, é natural que os Pioneiros aceitem essa realidade também no Grupo;
• Por outro lado, é natural que entre os 14-17 anos a tendência natural face ao estágio de
desenvolvimento que vivem, será a de procurarem a amizade dos elementos do sexo oposto, o que, de
algum modo, viabiliza a preferência pelas Equipas mistas.
Todavia, caberá à Equipa de Animação analisar costumes, culturas, temores, e assim, ao avaliar a sua
realidade, decidir sobre qual o melhor método a adoptar.
Ainda que o caminho passe pela implementação dos Equipas mistas, há que salvaguardar e acautelar que,
em acampamento, a tenda seja vista como um espaço de intimidade em que a privacidade dos géneros
deverá ser conservada. E que numa Equipa nunca deve estar, de um determinado género, um elemento
sozinho.

24/119
A idade

Consideram-se verticais as Equipas constituídas por elementos de diferentes idades. Denominam-se por
Equipas horizontais as que incluem todos os elementos com a mesma idade.
O aconselhamento pedagógico vai para a preferência pelo modelo vertical. De facto, uma Equipa integrar
adolescentes de diversas idades é encarado como o mais positivo. É certo que esta heterogeneidade
poderá criar obstáculos no seio da Equipa, pela diferença de interesses ou estágios de maturidade em que
cada um deles se pode encontrar, mas, por outro lado, poderá trazer também enormes benefícios, dos
quais destacamos o acompanhamento dos mais novos por parte dos mais velhos e a partilha do
conhecimento. De facto, compete aos mais velhos, olhados como exemplo a seguir, ensinar e orientar os
mais novos e dar testemunho dos costumes que vão sendo construídos no seio da Equipa. Assim se
estimula a solidariedade e se mantêm as tradições, que vão permitir a conservação da memória colectiva
e a formação de espírito de corpo ao longo da vida.
Menos vulgar, e a ser utilizada apenas em casos de necessidade, é a implementação do modelo horizontal
que, por sua vez, integra adolescentes da mesma idade e que estão todos na mesma fase de
desenvolvimento. Isto vai facilitar a integração dos elementos na Equipa (uma vez que partilham
interesses), mas tem algumas desvantagens. Por um lado, quando se dá a passagem simultânea de todos
os elementos para a secção seguinte extingue-se a Equipa e não houve lugar à aprendizagem colectiva e à
transmissão de tradições. Por outro lado, nos jogos e competições sadias, e porque não há equilíbrio de
idades, as Equipas com elementos mais velhos têm mais probabilidades de vencer as mais novas,
perdendo-se os valores da solidariedade e da fraternidade. Por fim, a estratégia do ‘irmão mais velho’,
que orienta e ensina, é impossível de implementar, dado que não há diferenças etárias.
Os adolescentes criam empatias e laços de amizade com relativa facilidade, o que pode promover, em
muito, a integração de novos elementos, sejam eles Noviços ou Aspirantes. Em ambos os casos, deverá
dar-se “espaço” ao Grupo e aos novos elementos a integrar para que possam, de forma espontânea e
informal, criar essas relações de amizade e, assim, se integrarem naturalmente. Pese embora esta
“aproximação” natural, a distribuição de novos elementos pelas Equipas deverá ser, sempre, da
responsabilidade da Equipa de Animação, ouvido o Conselho de Guias.

Sugestão:
Para fazer as Equipas…

- Porque não transformar a formação das Equipas num jogo? Observa-se a constituição da Grupo
e, numa folha, escreve-se, como se fossem regras, obrigatoriedades que é preciso cumprir para
fazer a Equipa. Podem ser critérios de idade e de género… mas também de interesses, estéticos,
de características físicas, etc. Até pode ter sido a Equipa de Animação a fazer as Equipas, mas os
Pioneiros podem sempre pensar que foram eles que, naquele jogo, o fizeram.

25/119
d) – O espírito de Equipa

O espírito de patrulha quer dizer que cada um dos membros da patrulha sente que é parte essencial de um
todo completo e uno – um corpo que a cada membro cumpre executar o seu papel individual com o fim de se
atingir a perfeição e plenitude do conjunto Roland Philipps, in O Sistema de Patrulhas, página 25

São várias as imagens que podem utilizar-se para ilustrar a valia pedagógica, e o que se entende por
espírito de Equipa, ou aquilo que vulgarmente se chama de espírito de corpo – a rede de identidades, de
cumplicidades, de hábitos e tradições que dão coerência e são factor de unificação dos elementos de um
determinado grupo.
Pode dizer-se que uma Equipa se assemelha a um corpo humano: cada órgão e cada membro tem a sua
função e todos funcionam para o mesmo objectivo, mas, se um deles adoece, todo o corpo sofre com
isso e deixa de funcionar perfeitamente. São Paulo, na Carta aos Romanos (Rm 12, 3-8) utiliza
exactamente essa mesma imagem.
O mesmo se passa com uma Equipa que não tenha espírito de corpo: se os seus elementos não fazem ou
sentem que não fazem parte de coisa nenhuma vão desmotivar-se e a Equipa vai deixar de funcionar.
Para que esse espírito de corpo exista, se forme ou cresça, pode recorrer-se a dois tipos de acções:
• Utilizar e incentivar todas as características do trabalho em equipa que a Equipa promove: a divisão
de tarefas, a democracia interna para decisão de interesses comuns, a co-responsabilização, o debate,
etc. Toda a responsabilidade individual, se for devidamente assumida, une e fortalece.
• Recorrer, mostrar ou dar a descobrir aos Escuteiros as ferramentas pedagógicas (objectos, símbolos
e tradições) em que o Escutismo é riquíssimo e que foram idealizadas com vista à distinção e promoção
da identidade das patrulhas. Algumas são sugeridas por B.-P. nas várias publicações e intervenções que
fez (o grito, a bandeirola, por exemplo) e outras (como o Livro de Ouro) foram nascendo com o tempo

Apontamento adicional:
Ferramentas pedagógicas para a promoção do Espírito de Equipa
- Totem ou Patrono
Totem é o animal e Patrono é o nome da individualidade que cada Equipa escolhe para servir de seu nome, a
identificação primária e mais básica. Dessa escolha resulta o uso do nome mas devem ser assumidas,
também, as suas vivências, as qualidades e virtudes que lhe estão comummente atribuídas. No caso de um
animal pelo estudo desse animal, morfologicamente mas também dos seus hábitos, lendas que lhes estão
associadas, etc. No caso de individualidades devem os Pioneiros ser capazes de reconhecer os méritos e os
factores de notabilidade da vida da personalidade escolhida.

Sugestão:
- Ver sugestão descrita acima em relação aos meios auxiliares para escolha do nome da Equipa
- Há santos que têm ligação hagiográfica a certo animal, o que faz com que esse santo possa
ser usado como patrono da Equipa cujo totem seja esse animal. Exemplos? São Francisco de
Assis e o Lobo e a Pomba, São João e a Águia, São Marcos e o Leão, São Lucas e o Touro…
26/119
Apontamento adicional:
Continuação…

Ferramentas pedagógicas para a promoção do Espírito de Equipa

- Divisa ou Lema
Frase escolhida de acordo com o nome da Equipa e que deverá fazer referência às características mais
evidentes do Totem/Patrono. Esta frase deve exprimir e ser encarada como o objectivo que a Equipa pretende
alcançar.

- Grito
Sinal sonoro, utilizado exclusivamente pelos membros da Equipa, que imita o som produzido pelo totem. O grito
permite que a Equipa comunique entre si, distinguindo-se das outras, mas serve também para chamar todos os
seus elementos para reunião ou formatura e para, na formatura (onde é lançado pelo Guia), informar que a
Equipa está pronta para ouvir e se apresentar. Salientava B.-P., no Escutismo para Rapazes na página 35, que
“nenhum Escuteiro poderá servir-se do grito de patrulha que não seja a sua”.

- Bandeirola
Pequeno estandarte da Equipa, é um sinal da presença dela e deve acompanhá-la em todas as ocasiões. Deve
ocupar um lugar especial no canto da Equipa, porque é honrada e querida pelos elementos (nunca deve ser
maltratada ou deixada ao acaso). Pode ser adquirida no Depósito de Material e Fardamento, mas é
aconselhável que seja feita pelos Pioneiros, nascendo da sua imaginação. Pode ser fabricada em diversos
materiais (penas, pêlo, tecido, etc.) e ter diferentes formas (triangular, rectangular, etc.). Deve sempre
respeitar as dimensões máximas de 25cm X 40cm e reproduzir obrigatoriamente o totem. Pode ainda conter o
lema, as cores do animal, etc. A vara do Guia, que a suporta, pode ser decorada com elementos a gosto da
Equipa, como entalhes, desenhos, troféus, nomes, etc..

Bibliografia para aprofundar


Artigo 18.º do Regulamento dos uniformes, distintivos e bandeiras

- Livro de Ouro
Caderno confidencial a que poderão aceder apenas os elementos actuais e os do passado da Equipa.
Serve para transmitir aos futuros elementos as experiências vividas, na medida em que regista todos os feitos
e acontecimentos marcantes da vida da Equipa. Regista, assim, a sua história, os motivos de orgulho do seu
passado e os acontecimentos relevantes do presente. Guarda, também, a descrição do totem, o grito e lema,
códigos secretos, nomes dos elementos que passaram pela Equipa, actividades realizadas, competências
obtidas, etc., através de textos, fotografias, desenhos. É no Livro de Ouro que se registam ainda as tradições,
instrumentos fundamentais para fazer com que a Equipa seja única e igual a si mesma. O carácter secreto
empreendido em algumas dessas tradições aguça e fortalece o espírito de corpo (elas são exclusivas da
Equipa e mais ninguém pode partilhá-las, a não ser que tenha a honra de ingressar na Equipa). Estas tradições
podem ser instituídas e conseguidas nas mais diversas formas: através de simbologias próprias, de rituais e
cerimoniais, de códigos secretos, de nomes de totem, etc. Dada a riqueza deste Livro e a sua importância,
deve ser decorado com cuidado e muito bem tratado (deve ser quase uma obra de arte). A sua natureza
secreta leva a que só deva ser aberto de forma cerimoniosa e pelos elementos da Equipa.

27/119
Apontamento adicional:
Continuação…
Ferramentas pedagógicas para a promoção do Espírito de Equipa

- Totens pessoais
Seguindo a tradição dos Peles-Vermelhas, tornou-se hábito cada escuteiro adoptar um totem pessoal. Trata-se
de um nome usado pelo próprio e pelos seus irmãos escuteiros, quase como uma segunda identidade,
exclusivamente escutista. O totem pessoal é um animal que personifica as características do escuteiro e com o
qual ele se identifica ou cujas capacidades gostaria de ter. É seguido de um adjectivo que deve ser uma
característica do escuteiro ou algo que pretenda conquistar. É possível que o animal totem de uma Equipa seja
aquele com o qual todos os elementos se identifiquem, sendo adoptado para totem pessoal de todos. Contudo,
isto não é obrigatório.

- Canto da Equipa
Sempre que possível, deve existir no Abrigo um local exclusivamente reservado à Equipa e a que só ela e
a chefia podem aceder. Este canto é da responsabilidade da Equipa e pode estar organizado e decorado
como ela entender. Deve, no entanto, exigir-se asseio e ordem. O canto pode incluir, entre outras coisas,
espaço para os materiais da Equipa (cordas, ferramentas, material escolar, etc.), quadros variados (de
informações, de nós, de sinais de pista, de presenças, com colecções), local para arrumar as varas,
decoração relacionada com o totem, etc. Pode ainda ter um nome associado ao totem – ‘Ninho do Corvo’,
‘Ramo da Serpente’, ‘Covil do Lobo’, ‘Toca da Raposa’, etc.

- Competição Inter-Equipas
Através da atribuição de pontos a todos os aspectos da vida das Equipas, na sede e das actividades –
assiduidade, limpeza dos cantos e campos, vitórias em jogos, comportamento, respeito pela Lei, alegria, etc – é
possível criar um sistema de competição entre as Equipas a que se pode chamar de Inter-equipas. A pontuação
obtida por cada Equipa é registada num painel no Abrigo, à vista de todos e funciona como incentivo e
vontade de ser (o) melhor.
A definição de pontuações, à partida, pode ser importante instrumento pedagógico. De facto, a competição é
uma ferramenta riquíssima na animação dos grupos de escuteiros e torna as tarefas mais simples ‘missões’ de
grande importância. A competição entre as Equipas, ao longo de um ano escutista, ou mesmo durante um
Empreendimento, organizada com sentido de justiça, atenção e dedicação possui várias vantagens: faz
crescer substancialmente o espírito de corpo (todos são obrigados a ‘lutar pela sua Equipa’), promove o
respeito pelas regras, ensina a lidar com a derrota e a vitória, desenvolve a eficiência e o gosto por ser
melhor, etc.

Bibliografia para aprofundar:


- O Sistema de Patrulhas, de Roland Philipps
- Escutismo para Rapazes, de Baden-Powell
- Baden-Powell Hoje – Pistas para um educador no Escutismo, dos Scouts de France
- Regulamento Geral do CNE
- Mística e Simbologia no CNE

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II. Cargos e Funções dos seus membros

O fim principal do sistema de patrulhas é atribuir verdadeira responsabilidade a tantos rapazes


quantos for possível. O sistema mostra a cada rapaz a sua responsabilidade pessoal no bem da
patrulha e leva cada patrulha a reconhecer que tem responsabilidade bem definida no progresso de
todo o Grupo.”
Rasto do Fundador página 139

O Sistema de Patrulhas, tal com B.-P. o pensou, aposta amplamente na atribuição de cargos individuais.
Assim se entrega a cada Escuteiro a execução de uma tarefa pessoal dentro da Equipa. Responsabilizado,
desta forma, perante os outros no que concerne à sua actuação, ele sente-se indispensável à Equpa e
conquista um lugar de importância junto dos outros: pode assumir a qualquer momento a liderança da
situação (ao acudir a um ferido, é ao socorrista que cabe a tarefa de chefiar a patrulha, etc.) e deve
revelar espírito de iniciativa e criatividade na resolução dos problemas.
Esta divisão de tarefas permite que os jovens aprendam progressivamente a desempenhar diversos
papéis de forma responsável e se preparem para a vida.
Será esse um dos grandes objectivos da metodologia do Sistema de Patrulhas: que cada Escuteiro
cresça consciente do seu valor e do seu lugar na sociedade, tendo sempre por base a alegria, o respeito
pelos outros, a partilha e a fraternidade. Assim, é-lhe proporcionado um crescimento e uma valorização
pessoal que servirão de pilares para a vida.
O desempenho de um cargo no seio da Equipa ou de uma função no Empreendimento constitui uma
oportunidade de ouro para progredir. Isto porque o exercício de cargos e funções privilegia o
crescimento em várias áreas.

1) O Cargo

Dentro da Equipa, é conveniente que todos possuam um cargo, na medida em que este constitui uma
forma de motivar a participação do Escuteiro e de desenvolver o seu sentido de responsabilidade
individual e de utilidade para o bem-estar dos outros.

Conceito: CARGO
Por cargo, entende-se a responsabilidade que é atribuída a cada elemento de forma fixa e estável
ao longo de, pelo menos, seis meses (socorrista, tesoureiro, animador, etc.).

29/119
Recomenda-se que existam pelo menos os seguintes cargos básicos:
Guia,
Sub-guia,
Secretário/Cronista,
Tesoureiro,
Guarda do material.

Poderão ainda ser desempenhados os cargos complementares de


Animador,
Socorrista/Botica,
Intendente
Informático.

O exercício de cada um destes cargos implica o uso do distintivo correspondente


De notar que o exercício de um cargo privilegia sempre o crescimento numa determinada Área de
Desenvolvimento, podendo ainda potenciar o aperfeiçoamento de outra áreas. Nesta medida, o cargo é
uma ferramenta específica que a Equipa de Animação poderá utilizar para desenvolver cada elemento
em determinada direcção.

Estudo de caso

Dar aos miúdos cargos que o possam incentivar a desenvolver determinadas carcaterísticas numa
área em que pode ter algumas dificuldades.

A descrição das tarefas e responsabilidades em cada um destes cargos está apresentada nos Cadernos de Função e no Manual
do Guia de Patrulha.

Na atribuição de cargos aos elementos de cada patrulha, dever-se-á ter em conta:


a) Os cargos devem ser exercidos de forma rotativa, para que os Escuteiros ampliem os seus
conhecimentos e competências nas diversas Áreas de Desenvolvimento;
b) Não é desejável que o Escuteiro desempenhe mais do que um cargo na sua Equipa, na medida em
que isto implica uma acumulação excessiva de responsabilidades. É sobretudo importante evitar que o
Guia acumule outro cargo dentro da Equipa, já que deve estar concentrado na coordenação dos seus
elementos. A única excepção a esta regra é o cargo de Sub-guia, que permite a acumulação com outro
cargo.
c) Cada escuteiro deve desenvolver ao máximo as suas capacidades no desempenho de um cargo

30/119
único, devendo, para isso, procurar saber mais sobre as responsabilidades que lhe são inerentes ao longo
do período de tempo em que o detém.

Sugestão:
A Equipa de Animação deverá considerar a oportunidade de organizar ateliês para cada um destes
cargos, recorrendo, por exemplo, aos jovens que desempenharam esses mesmos cargos no ano
anterior, a outros dirigentes, pais, etc.

a. Cargos Básicos
1) O Guia

“O grupo ou bando é a unidade natural entre os rapazes, quer para a brincadeira, quer
para o mal, e o rapaz de carácter mais decidido entre eles é geralmente escolhido para
chefe.” Baden-Powell, in O sistema de patrulhas, p. 7 (introdução)

Um dia perguntaram a Baden-Powell que cargo escolheria, no Escutismo, se não fosse Chefe
Mundial. Ele respondeu: “Se me permitissem escolher, escolheria o de Guia de Patrulha”.
Pistas para o Guia de Patrulha (J. Marques da Silva, Edições Flor de Lis, 1970)

O cargo de Guia é muito importante, pela capacidade de liderança que implica. De facto, numa unidade
onde é correctamente implementado o Sistema de Patrulhas, o Chefe tem no Guia um grande aliado na
condução do Grupo: ele actua como intermediário entre a Equipa de Animação e os restantes escuteiros
e é a ele que compete (e nunca ao Dirigente) a liderança da patrulha.

Sugestão:
Quando necessita de dar uma ordem ou informação, o dirigente deve sempre comunicá-la aos
guias para que estes a façam chegar às suas patrulhas. Nunca deve falar para o grande grupo
como se todos fossem iguais: se o fizer, que valor dá aos guias?

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Ao Guia compete:
- Dirigir e animar a sua Equipa;
- Distribuir tarefas e cargos;
- Transportar a bandeirola da Equipa;
- Representar a Equipa nos Conselhos de Guias;
- Nomear o Sub-Guia, ouvida a Equipa.

Este ‘poder’ que o cargo de Guia tem atrai, por norma, a todos os elementos da Equipa, que assim
aspiram a vir a exercer tarefas contínuas de liderança. No entanto, e pelas consequências negativas que
uma má escolha acarreta, há que ter especial atenção à sua eleição. De facto, um mau Guia, incapaz de
liderar, de assumir a Lei ou de assumir responsabilidades, dá origem a Equipas fracas, desorganizadas ou
que não conhecem o espírito de corpo.

Estudo de caso:
Uma patrulha escolheu como guia o seu líder natural que, por acaso, não tem um
comportamento exemplar. Compete à equipa de animação, nestes casos, encontrar estratégias
para que esse guia sinta a importância do cargo e melhore a sua conduta até se tornar um
exemplo a seguir. Muitos escuteiros com condutas pouco adequadas têm apenas falta de auto-
estima e, como não querem perder o cargo (através do qual adquirem uma importância que
nunca tiveram), respondem muito bem ao reforço positivo e à exigência dos dirigentes.

Apesar deste cuidado, não deve ser o Dirigente a impor a sua escolha à Equipa, embora deva ter em
atenção, por exemplo, a necessidade de ter elementos de ambos os sexos na liderança das Equipas. Na
medida do possível, devem ser os elementos a escolher o seu Guia, embora, para isso, possam contar
com indicações do Chefe sobre o perfil que ele deve possuir. Este perfil não deve impedir o líder natural
da Equipa de ascender ao cargo.
Lembremos, também, que a eleição do Guia deve ser secreta.

As qualidades de chefia são em parte naturais e em parte adquiridas. As qualidades naturais


são importantes, pois que, por muito excelente que um rapaz seja, não pode ter a esperança
de vir a ser Guia deveras eficiente, se não possuir uma parcela daquela qualidade especial –
daquele magnetismo pessoal… Roland Philips, O sistema de patrulhas, p. 13

Para evitar más lideranças, o chefe deve promover momentos de formação para os seus Guias. Estes
momentos podem passar por encontros de formação específica para Guias ou podem surgir nos Conselhos
de Guias.

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§ - O Guia de Grupo

Para além do Guia de Equipa, a Unidade ainda pode ter um Guia de Grupo, que deve ser eleito, também,
por voto secreto individual, em Conselho de Grupo. O seu mandato termina no final do ano escutista no
decorrer do qual foi eleito, mas pode ser interrompido por decisão do próprio ou por determinação do
Conselho de Guias.
Apesar de a sua existência não ser obrigatória, para o Chefe de Unidade, o Guia de Grupo é uma grande
mais valia, uma vez que ele é o elo de ligação entre as Equipas e a Chefia, exercendo funções de liderança
e aconselhamento. Para além disto, representa todo o Grupo e coopera com todos os Guias de Equipa na
interpretação das dificuldades e valências de cada um dos elementos.
Por esta razão, deve ser um exemplo a seguir para os outros, tanto na sua postura, como no seu
Progresso Pessoal. Para além disto, deve revelar capacidades de liderança e organização.

Ao Guia de Grupo compete:


- Presidir ao Conselho de Guias.
- Auxiliar a Equipa de Animação em todas as actividades do Grupo.
- Incentivar, apoiar e monitorizar a evolução dos elementos no Sistema
de Progresso.
- Transmitir à Equipa de Animação a sua perspectiva do que se passa
nas Equipas.
- Identificar problemas de liderança nas Equipas, partilhando-os com o
Chefe de Unidade.
- Aconselhar os Guias de Equipa, nomeadamente em questões que
digam respeito à liderança das Equipas.

É essencial que o Guia de Grupo:


- Respeite os Guias de Equipa, não os ultrapassando no exercício dos seus cargos.
- Procure um equilíbrio constante entre a disponibilidade necessária para o exercício
do seu cargo e todas as obrigações para com a Família, Escola e Igreja.
- Procure constantemente melhorar o desempenho do seu cargo e superar-se a si
próprio.

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2) O Sub-Guia

O Guia é acompanhado, na sua função de liderança, pelo Sub-guia, um elemento da Equipa que o co-
adjuva e, também, o substitui em caso de ausência. Esta função reveste-se, assim, de especial
importância.
Para que entre Guia e Sub-guia haja um espírito forte de união e cooperação, é essencial que ambos se
conheçam bem. Por essa razão, o Sub-guia não deve resultar de uma imposição do Chefe ou de uma
eleição da Equipa: deve ser uma escolha pessoal do Guia, que tende naturalmente para seleccionar um
amigo ou um elemento com quem tem afinidades. Assim se promove a complementaridade e interajuda.

“A tarefa de dirigir uma Patrulha é tão importante que não se poderá esperar que um rapaz a
desempenhe só por si. (…) O Sub-Guia é um rapaz escolhido pelo Guia para seu ajudante. É essencial
que o Guia e o Sub-Guia trabalhem em íntima colaboração. O Chefe que escolhe os Sub-Guias comete
um erro.” Roland Philips, O sistema de patrulhas, p. 14

Compete ao Sub-guia auxiliar o Guia em todas as suas tarefas, acompanhando-o de forma próxima. Não
apenas para o apoiar, mas também para ir desenvolvendo as suas capacidades de chefia. Como este
cargo é subsidiário, o elemento que o desempenha pode acumulá-lo com outro cargo dentro da
patrulha.

3) O Secretário/Cronista

É o especialista da Equipa na área da comunicação, escrita, oral e audiovisual.


Terá como principais atribuições:
- Cuidar e ilustrar o Livro de Ouro da Equipa;
- Redigir e expedir as convocatórias da Equipa;
- Arquivar os documentos da Equipa;
- Tratar de toda a correspondência da Equipa.

4) O Tesoureiro

É o especialista da Equipa na área da intervenção económica.


Terá como principais atribuições:
- Escriturar o livro de quotas (ou folha de cálculo, se assim preferir) e

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demais receitas da Equipa e recolha das mesmas;
- Orçamentar as actividades da Equipa, bem como o respectivo controlo
orçamental;
- Planificar as campanhas de angariação de fundos da Equipa.

5) O Guarda do Material

É o perito da Equipa na conservação do seu material e equipamento.


Terá como principais atribuições:
- Inventariar e catalogar o equipamento e material da Equipa;
- Cuidar do equipamento e material da Equipa;
- Controlar as saídas de equipamento e material da Equipa bem
como o seu estado de conservação;
- Prever o equipamento e material necessário à Equipa;
- Requisitar o equipamento e material para as actividades de Equipa.

b. Cargos Complementares

6) O Animador

É o guardião das tradições da Equipa.


Tem como principais atribuições:
- Coordenar as cerimónias e rituais da Equipa;
- Preparar os novos elementos da Equipa para estas cerimónias e rituais;
- Transmitir o historial da Equipa;
- Coordenar a encenação das actividades da Equipa;
- Planificar e coordenar o protocolo da Equipa.

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7) O Socorrista/Botica

É o técnico de saúde da Equipa.


Terá como principais atribuições:
- Equipar e cuidar da farmácia da Equipa;
- Tratar as pequenas feridas dos elementos da Equipa, quando em
actividade;
- Zelar pela higiene e segurança física da Equipa nas actividades.

8) O Intendente

É o especialista da Equipa na área gastronómica.


Terá como principais atribuições:
- Elaborar a lista dos produtos alimentares necessários para a alimen-
tação da Equipa, bem como a sua aquisição e/ou requisição à Unidade;
- Cuidar e enriquecer o ficheiro gastronómico da Equipa (ementas,
receitas e riqueza nutritiva destas).

9) O Informático

É o especialista da Equipa no relacionamento com pessoas e entidades exteriores.


Terá como principais atribuições:
- Estabelecer contactos, nos mais diversos níveis com entidades
exteriores;
- Reunir informação relativa a locais de realização de actividades
(informação histórica, cultural);
- Manter informações sobre a Equipa na Internet; (ex: Sítio da
Patrulha, Blogue, Hi5, Mailing List, etc.)
- Gerir todos os Ficheiros Informáticos usados na Equipa (ex:
Documentos, Imagens, Cartazes, Fotografias)

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Em resumo, os cargos caracterizam-se por:
Desempenho de um cargo Ao longo do ano
Duração do cargo 6 meses a 1 ano
Distribuição dos cargos Pelo guia eleito
Recomenda-se 1 cargo por jovem
Cargos básicos Guia, Sub-guia, Secretário/Cronista, Tesoureiro, Guarda do Material

Cargos complementares Animador, Socorrista/Botica, Intendente, Informático

2) A Função

Durante um Empreendimento específico, poderão surgir, caso a caso, necessidades de organização ou de


realização de tarefas que impliquem o exercício de funções.

Conceito: FUNÇÃO

Por função entende-se uma responsabilidade temporária que é atribuída a cada elemento. Assim,
por exemplo, num Empreendimento que contemple um acampamento, poderá haver necessidade
de existirem um ou mais cozinheiros, encarregados pelas compras e abastecimentos, financeiro,
socorristas, etc. É possível que cada elemento desempenhe mais do que uma função (o guarda-
material pode ser também o encarregado das construções, o animador pode ser também
treinador, etc.).

Ao contrário dos cargos, as funções podem ser inúmeras:


secretário/cronista, repórter, financeiro, guarda do material, animador, saltimbanco, cozinheiro, ambientalista,
socorrista/botica, intendente, informático, encarregado das construções, treinador, explorador, navegador, etc.

Também elas, à semelhança dos cargos, estão intimamente ligadas a determinadas áreas de desenvolvimento, podendo ser
usadas como ferramentas de auxílio à progressão de cada elemento.

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Quadro ilustrativo de funções

Função Área Outras Breve descrição


principal áreas

Secretário/Cronista Intelectual Carácter Ter gosto pela escrita e ser, normalmente, um elemento
organizado. Coordenar painel de actividade, registar os
Social acontecimentos e preparar o relatório

Repórter Intelectual Carácter Documentar actividade (fotos e texto)

Social Coordenar jornal de parede ou de papel. Pode ainda fazer a


ligação às novas tecnologias e preparar uma apresentação com
vídeo ou fotografias

Relações públicas Intelectual Carácter Coordenar contactos com exterior da Equipa (outras Equipas,
secções, grupos, agrupamentos, entidades, etc)
Social

Tesoureiro Intelectual Carácter Orçamentar actividade

Social Planear Campanhas de Financiamento

Controlo de contas e de pagamentos

Prestar contas ao Tesoureiro da Equipa

Guarda do material Intelectual Carácter Deve ser um elemento com especial interesse pelo equipamento.
Prepara lista de material da Equipa, faz constante o controlo do
Físico inventário, tentando com isso identificar falhas, e resolver
pequenos problemas no equipamento que tenta resolver com o
Guarda Material da Equipa. Em Campo será o responsável pelo
estaleiro de material e por alertar todos os elementos para os
cuidados a ter com a utilização do equipamento e para a
segurança dos elementos.

Animador Espiritual Carácter Sente-se à vontade para animar a Equipa ou o Grupo, e memoriza
facilmente letra, musicas ou danças, assim como gritos de
Social animação. Será responsável por animar tanto os momentos
dinâmicos como os de reflexão e oração.
Afectivo

Saltimbanco Afectivo Carácter Coordenar apresentações no fogo de conselho

Social Responsável por vestes e outros elementos cénicos. Tem especial


interesse por representações e procura pesquisar formas de
apresentação, tentando encontrar sempre novas formas de
adaptar à aventura do momento.

Socorrista/Botica Físico Carácter Responsável pela Mala de Primeiros Socorros da Equipa, tenta
saber tudo o que tem de estar nessa mala, onde está, se está
Social guardado em condições de higiene, e dentro do prazo de validade.
Tem de saber para que serve cada uma das coisinhas do
Intelectual inventário, e o modo de aplicação. Sempre que não souber,
mostra interesse em se informar e formar.
Análise das condições ambientais do local de actividade
Ambientalista Social Carácter
Tratamento de lixos
Racionalização de recursos
Condições sanitárias e de higiene
Programação de compras
Intendente Intelectual Carácter
Locais de compra e preços
Físico Distribuição dos ingredientes pelos elementos da Patrulha

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Função Área Outras Breve descrição
principal áreas

Encarregado das Intelectual Carácter É uma pessoa com um interesse especial por projectos de
construções construções de campo. Faz pesquisas sobre construções e tenta
Físico arranjar um projecto bem desenhado e calculado ao pormenor.
Analisa as condições físicas do local, coordena as construções,
faz listas de materiais necessários para o Tesoureiro orçamentar
e para o Intendente programar compra

Informático Intelectual Carácter Coordenação do sitio/blogue

Armazenagem de recursos electrónicos (relatórios, cartas, fotos)

Cozinheiro Físico Carácter Será um elemento que gosta de cozinhar, e nessa actividade vai
estar na cozinha a fazer aquilo que mais gosta junto com o
Intelectual cozinheiro da Equipa. Antes de ir para campo, colabora com a
construção da ementa para a Actividade.

Treinador Físico Carácter Conhecer jogos da actividade

Intelectual Coordenar preparação física, intelectual e emocional da Equipa.


Pode orientar a ginástica matinal.

Explorador Intelectual Carácter Coordenar meios de transporte para o local

Físico Analisar condições do local da actividade em coordenação com


ambientalista e encarregado de construções. Preparar equipa
para meios de orientação necessários em coordenação com
navegador.

Descodificador Intelectual Carácter Será a pessoa que tem especial interesse por códigos e aprende
Físico a descodificar mensagens com rapidez e eficácia. Também pode
tratar de inventar novos códigos, onde apenas os elementos da
sua equipa os possam perceber.

Navegador Intelectual Carácter Preparar patrulha para meios de orientação necessários em


coordenação com explorador
Físico Definição de trajectos a seguir
Orientação da patrulha
Definição de etapas de raide, incluindo paragens para descanso
e alimentação

O desempenho destas funções pode ser feito pelo detentor do cargo (tesoureiro – financeiro; secretário
– repórter; etc), mas isto não é obrigatório (o tesoureiro da Equipa pode, numa actividade, ter a função
de cozinheiro, por exemplo). No entanto, o facto de o desempenho de uma determinada função
(financeiro, por exemplo) ser exercido por um escuteiro diferente do tesoureiro (cargo), não diminui as
responsabilidades deste último nem o substitui. O tesoureiro continua a ser responsável pela cobrança
de quotas ou pelo controlo da actividade financeira da patrulha, por exemplo. É ele que tem que reunir
com os financeiros, a fim de analisar com eles os orçamentos por estes feitos, avaliar as necessidades de
fundos e, no final do Empreendimento, receber e conferir as contas dos financeiros.

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Sugestão:
Para que cada um saiba exactamente o que fazer e quando fazer, o dirigente pode sugerir aos seus
Guias a elaboração, nas actividades que o justificarem, a elaboração de escalas de serviço. Esta
ferramenta permite aumentar a eficácia da Equipa (cada um tem noção exacta da sua
responsabilidade) e ajuda a reforçar o espírito de corpo, já que todos se sentem a contribuir para o
bem do Grupo.

A periodicidade do exercício da função deverá ser avaliada actividade a actividade, promovendo-se assim a rotação de funções
e valorizando as experiências que cada um pode ter ao longo do ano ou da sua vivência na secção.

Os critérios a ter em conta relativamente à rotatividade deverão englobar:


- As necessidades particulares de cada actividade face às funções (se não houver necessidade de
cozinheiros, quem tinha esta função terá de ter outra, por exemplo);
- A disponibilidade/vontade dos jovens em aprender ou aplicar aptidões específicas associadas a uma
determinada função. Assim sendo, ao distribuir as funções, o Conselho de Guias deverá ter em conta as
apetências e gostos de cada elemento.
Nesta dinâmica, não se prevê que o exercício de uma função seja acompanhado pelo uso da insígnia
correspondente.

Em resumo, as funções caracterizam-se por:


Exercício de uma função Ao longo de uma actividade
Duração da função Variável de acordo com a duração da actividade
Distribuição das funções Pelo Conselho de Guias / actividade
1 jovem pode desempenhar 1 ou mais funções
Funções Secretário/cronista, repórter, financeiro, guarda do material,
animador, saltimbanco, cozinheiro, ambientalista,
(lista apenas ilustrativa)
socorrista/botica, intendente, informático, encarregado das
construções, treinador, explorador, navegador, etc.

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III. Equipas de Animação e Tarefas

“Os princípios do Escutismo estão todos certos. O êxito da sua aplicação, depende do Chefe
e do modo como ele os aplica.” In Auxiliar do Chefe Escuta

A dimensão das Equipas de Animação dependerá do efectivo da Unidade. Idealmente, e muito embora
por vezes seja difícil de satisfazer, deverá existir um animador adulto para cada dez Pioneiros.
Assim, as Equipas de Animação deverão ser constituídas por um Chefe de Unidade, um Chefe de Unidade
Adjunto, Instrutores e eventualmente CIL’s e Candidatos a Dirigente.
Atendendo a que a realidade evidencia a existência de Unidades mistas, será fundamental e altamente
recomendável que a Equipa de Animação também o seja, sob pena de se criar algum desconforto dos
elementos perante determinado tipo de situação que possa ocorrer. Certamente haverá situações e
necessidades específicas dos elementos que os farão buscar apoio no animador do mesmo sexo, pelo que
é importante que esta premissa seja salvaguardada.

Assim, as competências da Equipa de Animação passarão por:


- Ajudar o Conselho de Guias na selecção dos objectivos do plano;
- Contribuir para o enriquecimento do plano anual da Unidade;
- Ajudar na elaboração dos ante-projectos do Empreendimento;
- Enriquecer a programação das actividades do Empreendimento;
- Dar o mote organizativo da vida da Unidade;
- Analisar cada Escuteiro de forma a poder ajudá-los a superar as suas dificuldades;
- Responsabilizar-se, em última instância, pela vivência da Unidade bem como pelo
progresso individual dos Escuteiros que por ela são analisados;
- Inventariar e aplicar soluções de optimização do pequeno e grande Grupo;
- Executar as tarefas de gestão de Unidade, da sua responsabilidade.
- Velar pela execução das tarefas distribuídas;

É importante que na execução das suas tarefas, o Animador adulto não substitua os seus elementos,
especialmente os Guias. Muito embora por vezes a “tentação” seja grande, há que dar espaço para
que os elementos desenvolvam em pleno as suas funções. O Animador deve orientar e esclarecer os
elementos relativamente às tarefas que têm para desempenhar. Substituir toldará a capacidade de
desenvolvimento do Escuteiro, podendo-lhe erroneamente dar a entender de que “não é capaz, por
isso o chefe faz”.
A qualidade do Escutismo praticado, a inovação nas actividades, a cativação e motivação que é

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necessária empreender na Unidade (as “injecções de entusiasmo”), dependem da boa
afinidade/interacção e da capacidade de trabalho patente na Equipa de Animação. Por isso, para que
os objectivos traçados sejam alcançados e para que se tenha uma Unidade motivada, é importante
que a Equipa de Animação reúna com frequência. É importante que não vigore o improviso, e que
este seja apenas um recurso a uma situação inesperada e não seja, de forma alguma a regra.
Ainda que sendo transversal ao Agrupamento, o Assistente deverá integrar a Equipa de Animação, sendo
um precioso auxílio uma vez que lhe é atribuída toda a assistência religiosa.

IV. Reuniões e Conselhos


A vivência escutista é feita entre os irmãos escuteiros. Em actividades ao ar livre, o espaço preferencial,
mas, também, na sede, na intimidade da Equipa ou entre o Grupo. O espaço de reunião é, então, um
momento importante do crescimento escutista e deve ser valorizado e vivido com entusiasmo.

a) Reunião de Equipa
Uma reunião de Equipa deve ser muito própria e muito íntima, devendo estar directamente relacionada
com a Equipa e só a ela dizer respeito. Por outras palavras, deverão existir tantos tipos de reuniões de
Equipa quantas Equipa existirem, desde que cada uma delas contenha alguns elementos que são
fundamentais, e que distinguem uma reunião de Equipa de outra reunião qualquer.

A reunião de Equipa tem diversos objectivos:


- Pensar no imaginário da Equipa a propor no Conselho de Guias;
- Elaborar o ante-projecto do Empreendimento;
- Resolver os problemas financeiros e administrativos da Equipa;
- Tratar de assuntos de interesse geral da Equipa;
- Avaliar a evolução técnico-espiritual da Equipa;
- Elaborar o Livro de Ouro;
- Indicar os cargos a criar na Equipa, bem como os respectivos titulares.

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O esquema seguinte, não é uma “receita” para todas as reuniões mas pode servir de orientação e
de “guia”:

MOMENTO ACTIVIDADE TEMPO


1º Oração e/ou cântico 2 a 5 minutos
2º Período de informações (do C.Guias e não só...) 2 a 5 minutos
3º Período de Administração (contas, leitura de actas...) 2 a 5 minutos
4º Formação/Instrução (técnicas, ateliers, progresso, etc...) 15 a 20 minutos
5º Jogo (de Patrulha e/ou inter-Equipas - Animador, etc…) 30 a 45 minutos
Avaliação (da reunião, de actividades do progresso, e outro
6º assuntos para serem levados ao Conselho de Guias. Resumo 2 a 5 minutos
da reunião - Acta)
7º Encerramento (oração e/ou cântico) 2 a 5 minutos
TEMPO TOTAL 55 a 90 minutos

Valores pedagógicos da Reunião de Equipa


- Sentido de participação em comum;
- Sentido de organização;
- Sentido de auto-gestão;
- Responsabilidade;
- Visão crítica e avaliação;
- Diálogo e cooperação.

A reunião de Equipa, enquanto momento íntimo de partilha, organização e criação, deve ser exclusivo da
mesma. Por isso, o animador adulto, os dirigentes apenas deverão participar se e só se tal for solicitado.

b) Conselho de Guias

Ver também:
Regulamento Geral do CNE

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“ O Conselho de Guias é tão velho como o Escutismo e é fundamento essencial para um
Escutismo eficiente no Grupo. Sem o Conselho de Guias a procurar desempenhar as suas
funções eficazmente, o sistema de Patrulhas está condenado (...) ao fracasso...”
John Truman

Este conselho é o órgão permanente que, sob a coordenação do Chefe de Unidade, orienta a vida do
Grupo. Aqui, mais que nunca, o Guia marca a sua posição de responsável da Equipa, ou não fosse o
Conselho de Guias o elemento mais importante do Sistema de Patrulhas.
Nas Reuniões e Conselhos o Guia deve procurar apresentar-se como o delegado do Equipa: por um lado,
para fazer valer os interesses, projectos e realizações do Equipa; por outro para receber indicações e
advertências a respeito da mesma.
Como responsável pelo Equipa, o Guia deve pôr a Equipa de Animação ao corrente dos progressos e
dificuldades de cada um dos seus elementos. Como conselheiro, o Guia deve também participar com as
suas sugestões, ideias e aprovações na orientação definida para a Unidade.
É importante que o Guia se aperceba da amplitude de acções e de responsabilidades que têm enquanto
membro dos Conselhos.

1. Constituição

O Conselho de Guias é composto pelos Guias de Equipa e pelo Chefe de Unidade. Poderão participar,
também, os Sub-guias e todos os elementos da Equipa de Animação.
No entanto, a constituição do Conselho de Guias deverá ter em atenção a própria constituição do Grupo
e o número de Equipas existente. Se o Grupo for extenso, com cinco Equipas, por exemplo, poderá
tornar-se demasiada a participação conjunta de Guias e Sub-Guias e de toda a Equipa de Animação.
Paralelamente, esta situação acarreta uma outra: se Guias e Sub-Guias estão presentes no Conselho e se
este se realiza no horário normal de actividades do Grupo, quem orienta a Equipa? E quem orienta o
restante Grupo se a totalidade da Equipa de Animação estiver no Conselho?
Deverá por isso haver algum bom senso na dinamização deste Conselho, sob pena de conduzir o Grupo
ao “abandono”. Esta situação pode ser facilmente resolvida se o Conselho se efectuar fora do horário de
actividades da Unidade. Antes permite preparação, depois permite avaliação.
Gere os trabalhos da reunião o Guia de Grupo. Não havendo este cargo a tarefa caberá a quem o
conselho definir.

Sugestão:
E porque não “converter” o Conselho de Guias num jantar em casa do Chefe de Unidade?
Este momento de maior “intimidade” trará inúmeros benefícios: a informalidade, a
aproximação entre Animador adulto e Guias, a partilha de vivências, se “segredos”, de
preocupações, a cumplicidade e a confiança.

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2. Tarefas

- Tratar dos assuntos gerais do Grupo;


- Elaborar Plano Anual;
- Estimular o lançamento e período de preparação dos ante-projectos;
- Acompanhar as ideias para as actividades com as Equipas;
- Distribuir as missões da Equipa;
- Estabelecer a ligação entre o plano anual da Unidade e os planos
das Equipas;
- Escolher os ateliês necessários para realizar o projecto e nomear os
responsáveis;
- Analisar o progresso de cada elemento e o progresso das Equipas;
- Decidir sobre a gestão da Unidade sob o ponto de vista
administrativo e financeiro;
- Apreciar assuntos disciplinares, distinções e prémios.

Após a aprovação de cada Empreendimento, e havendo responsáveis das oficinas (ateliês) com quem é
necessário reunir para que o Empreendimento se possa concretizar, estes podem ser chamados ao
Conselho de Guias para ajudar a:
- Seleccionar os meios que são necessários para a execução da parte
técnica do projecto;
- Fixar a "clientela" de cada ateliê;
- Inventariar as potencialidades de cada atelier, deixando margem à
criatividade;
- Integrar as competências potenciais a tirar durante o projecto;
- Inventariar e prever os meios materiais e financeiros para a
realização do Projecto.
- Seleccionar os meios;
- Comprovar a possibilidade de resolução dos problemas;

3. Periodicidade
A periodicidade deverá ser estipulada pelo próprio conselho. Todavia, sugere-se uma regularidade
semanal. Deve ser diária em campo. Ou seja, analisado caso a caso

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4. Valores Pedagógicos do Conselho de Guias

- Sentido de organização;
- Sentido de chefia e responsabilidade;
- Diálogo e cooperação;
- Liberdade e autonomia.

À semelhança da Reunião de Patrulha, junto se


apresenta uma sugestão de alinhamento:

5 minutos Oração inicial e/ou cântico


Os 10 minutos de tolerância
10 minutos
ao Conselho de Guias
Leitura da Acta do último
5 minutos
Conselho
Reflexão das Patrulhas sobre
20 minutos
a vivência de cada uma.
Espaço destinado à
15 minutos
formação.
5 minutos Espaço para os avisos
Espaço para discussão de
15 minutos
projectos das Patrulhas.
Espaço para reflexão sobre
12 minutos
áreas temáticas.
3 minutos Oração final/ cântico.

O Chefe de Unidade pode propor ao Conselho de Guias a realização de um


Regulamento de Funcionamento (Regimento) do Conselho. Este deverá ser simples
mas deve espelhar as competências e funções de cada membro (por exemplo, quem
redige as actas). Além da vantagem organizativa e de implementar normas de
funcionamento, contribuirá também para aumentar o “grau de importância” do
Conselho e de quem nele tem assento.
Nele deve constar a periodicidade, o horário, em q suporte são registadas as actas,
o q acontece em caso de votações com empates e/ou falta de membros, etc.

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5. O Papel do Animador Adulto

Mais uma vez, o Animador deverá estar ciente das suas atribuições e competências no seio do Conselho
de Guias. Muito embora lhe compita a coordenação, não deverá substituir-se ao Guia de Grupo e aos
Guias.

c) Conselho de Lei

Ver também:
Regulamento Geral do CNE

O Conselho reúne em si dois poderes: o executivo e o judicial. O Conselho só reúne


com capacidade judicial quando se tenha cometido qualquer violação da Lei do
Escuteiro.
Roland Philips, O sistema de patrulhas, p. 21-23

Nos casos disciplinares com reconhecida gravidade o Conselho de Guias irá assumir o papel de Conselho
da Lei.

1. Constituição
- Equipa de Animação;
- Guias;
- Elementos implicados no caso.
Pode chamar outras pessoas para ajudar – assistente, chefe de
agrupamento, testemunhas

2. Tarefas

- Analisar os problemas disciplinares graves;


- Ouvir os implicados;
- Ouvir as vítimas e ver quais os prejuízos;
- Decidir-se como reparar os erros;

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- Tomar medidas para que o caso não se volte a repetir;
- Decidir se o caso deve ser apresentado na Reunião de Direcção do
Agrupamento.

3. Periodicidade

Este conselho reunirá apenas quando existam fortes razões para tal.

4. Valor Pedagógico do Conselho da Lei

- Sentido de chefia;
- Capacidade de decisão e responsabilidade;
- Sentido de integração na vida comunitária;
- Respeito pelas ideias e opiniões alheias.
- Visão crítica e avaliação.

5. Papel do Animador Adulto

À semelhança do Conselho de Guias, o Animador não se deverá sobrepor ao Guia de Grupo e aos
restantes Guias. Todavia, neste Conselho deverá ter especial atenção às emoções geradas, tentando por
isso acalmar os ânimos e apelar ao verdadeiro sentido de justiça.
Assistirá à Equipa de Animação o direito de veto da decisão tomada pelo Conselho.

Simular os processos de tribunal pode ser um bom modo de


preparação para eventuais Conselhos de Lei.

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d) Conselho de Grupo

Este Conselho é fundamentalmente deliberativo. Aqui será onde toda a Unidade se vai reunir com o
propósito de tratar de assuntos comuns e de escolher um Empreendimento. Cada Equipa, através do seu
representante, tem oportunidade de publicitar as vantagens e qualidades da sua proposta, colocar-se à
disposição de quaisquer dúvidas e interpelações de modo a obter a aprovação do Grupo.

1. Constituição
- Toda a Unidade.

2. Tarefas
- Escolher o Empreendimento (um voto por cada Pioneiro);
- Enriquecer o Empreendimento escolhido, havendo acordo do Grupo, com partes
de outros ante-projectos não escolhidos;
- Dar sugestões sobre os ateliês necessários;
- Analisar o êxito dos Projectos;
- Preparar a Festa do Empreendimento;
- Analisar o bom funcionamento das Equipas e o seu progresso;
- Analisar o funcionamento dos ateliês e se o trabalho de cada Pioneiro nos mesmos,
atingiu o nível técnico pretendido;
- Analisar o comportamento da equipa coordenadora;
- Analisar a evolução técnico-espiritual de cada Pioneiro;
- Descobrir os sinais da presença de Cristo no seio da Unidade e
durante o Empreendimento.

Paralelamente é também neste Conselho que o Grupo reconhece o progresso de cada Pioneiro realizado
ao longo do projecto, as distinções e os prémios. São discutidos aqui, perante a Equipa de Animação, as
opiniões de todos os Pioneiros.

3. Periodicidade

- Quando se escolhe o Empreendimento;


- Avaliação final do Empreendimento.
- Sempre que seja necessário (análise do trabalho das Equipas, por exemplo)
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4. Valores Pedagógicos do Conselho de Grupo

- Sentido de integração na vida comunitária;


- Sentido de auto-gestão;
- Sentido de participação;
- Respeito pelas ideias e opiniões alheias (saber perder).
- Visão crítica e avaliação;

5. O Papel do Animador Adulto

Quando o Conselho reúne com o propósito de escolher o Empreendimento, o Animador deverá ter um
papel de coordenação, sem ingerência demasiada, no sentido de deixar fluir as propostas e ambições dos
membros do conselho relativamente ao que pretendem com o Empreendimento que estão a preparar.
Para além disto, desempenha ainda um papel organizativo, na medida em que fará a gestão das
diferentes propostas elaboradas pelas Equipa; aquando da votação, deverá contabilizar os resultados.
Se o Conselho reúne para avaliação do progresso dos Pioneiros, o Animador deverá coordenar as
intervenções, ouvir as opiniões dos Guias e restantes elementos, ajudar a delinear projectos que visem
cumprir os objectivos traçados pelos elementos relativamente ao seu progresso individual.

V. Sede

O "território" da Equipa é, por excelência, o campo, a Natureza. Todavia, como nem sempre é possível
estar em comunhão com ela, cada Grupo tem o seu Abrigo, que é então o local onde se reúnem as
equipas. O Abrigo deverá ser intímo, exclusivo, é o seu “território”, é um espaço onde se “respiram” as
tradições e o espírito das Equipas.
No Abrigo, deve haver lugar para os cantos das Equipas, espaço (estante, armário, baú) exclusivo para a
chefia, oratório, espaço comum para reuniões de conselhos de grupo, de Guias e de Equipa de Animação.
Para além disto, convém que tenha espaço para o painel do Empreendimento e diversos quadros, um
painel do progresso (onde é registado o progresso de cada elemento), ordens de serviço, pontuação
inter-Equipas, escalas de serviço para tarefas comuns. Pode haver também lugar para quadros
decorativos (sistema de progresso, fardamento, Baden-Powell, lei e princípios, sinais de pista, etc.).

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2 – Mística e Simbologia

Introdução
A criação do Escutismo resulta de uma aturada reflexão de Baden-Powell, a partir da sua experiência
como condutor de homens e da meditação sobre a educação dos jovens. Tudo começou no momento em
que assumiu como missão dar um sentido à vida de tantos rapazes que mergulhavam numa existência
desequilibrada de vícios e delitos. O Movimento Escutista possui assim, na sua génese, uma intenção
educativa e a sua finalidade é clara:
«O fim é o carácter – carácter com um propósito. E esse propósito é que a próxima geração seja
dotada de bom senso num mundo insensato, e que desenvolva a mais elevada concretização do
Serviço, que é o serviço activo do Amor e do Dever para com Deus e o próximo».
BP-RF 80

Assim se sintetiza o Espírito Escutista, que surge como ideal de vida a transmitir às gerações mais novas.
Para o conseguir, Baden-Powell criou um movimento baseado no Jogo, onde abundam histórias,
ambientes, pessoas/heróis, símbolos. Numa palavra: cria um Imaginário.

Entende-se por Imaginário:


Ambiente que envolve um determinado grupo e que se traduz por um espírito e
uma linguagem próprios. Envolve frequentemente uma história com heróis e
símbolos. Induz a um sentimento de pertença em relação ao grupo e permite a
transmissão de determinados valores.

Este Imaginário não tem apenas uma intenção lúdica. Busca também educar. E, esta intenção educativa
faz despontar a Mística, que constitui a expressão do ideal espiritual a transmitir, sendo como que a alma
do jogo, aquilo que lhe dá sentido. Para Baden-Powell, a transmissão de valores religiosos é essencial e
constitui o âmago do Movimento: este existe para ajudar cada rapaz a aproximar-se de Deus e a esforçar-
se por cumprir a Sua vontade.

«NO MOVIMENTO não há qualquer “lado religioso”, nem a religião “entra”


em lado algum. Ela já lá está. É o factor FUNDAMENTAL E SUBJACENTE AO
ESCUTISMO.»
BP-RF 153

Neste sentido, e porque o CNE, enquanto membro activo da Igreja, procura educar catolicamente, os
valores da Igreja constituem a substância da Mística que se procura desenvolver em cada secção.

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Em sentido estrito, entende-se por Mística:
Proposta de enquadramento temático e vivência espiritual para cada uma
das secções, que visa aprofundar a descoberta de Deus e a comunhão em
Igreja.

Para que toda esta vivência seja completa, recorre-se a símbolos que ajudam a transmitir e reforçar o
ideal presente no Imaginário e na Mística.

Por símbolos, entendemos:


Elementos / objectos representativos de realidades, características ou
atitudes que materializam o ideal proposto na mística de cada secção.
No Projecto Educativo do CNE, todas as secções têm o seu símbolo, podendo
este ser único ou integrado num conjunto de símbolos complementares.

O Projecto Educativo do CNE integra ainda a escolha de patronos.

Entende-se por Patrono:


Santo ou Beato da Igreja que no decurso da sua vida encarnou na plenitude os
valores que se pretendem transmitir através da Mística e do Imaginário de
uma determinada secção, sendo por isso escolhido como protector e exemplo
de vivência para os jovens dessa mesma secção.

São patronos: Nossa Senhora, Mãe dos Escutas, S. Jorge (patrono mundial do Movimento Escutista),
Beato Nuno de Santa Maria (patrono do CNE) e também S. Francisco de Assis (patrono dos Lobitos), São
Tiago Maior (patrono dos Exploradores), São Pedro (patrono dos Pioneiros) e S. Paulo (patrono dos
Caminheiros).
Para além dos patronos, cada secção pode ainda recorrer a modelos de vida e grandes figuras históricas
cuja vida, ou alguns aspectos desta, pode servir de exemplo. São, por isso, referências a ter igualmente
em conta.

Entende-se por Modelo de Vida:


Figura da Igreja Católica que, à semelhança do Patrono, também encarna os
valores e ideais da Mística e do Imaginário da secção e que exprime a
diversidade de caminhos e carismas possíveis para os viver.
Entende-se por Grande Figura:
Personalidades que na sua vida realizaram grandes feitos, associados ao
Imaginário da secção, que marcaram a História da Humanidade.

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Mística do Programa Educativo do CNE

A Mística do Programa Educativo do CNE assenta num esquema de quatro etapas, com vista a uma
formação humana e cristã integral, sólida e madura. Estas etapas são sequenciais – cada uma é
trabalhada para uma secção, ainda que de forma não estanque – e complementam-se (nenhuma vale por
si mesma), na medida em que estão interligadas e adquirem o seu pleno sentido na sobreposição das
partes. Desenrolam-se na lógica de um caminho a percorrer, constituindo um itinerário de crescimento
individual e comunitário proposto a cada escuteiro:
- O louvor ao Criador: o Lobito louva Deus-Criador, descobrindo-O no que o rodeia;
- A descoberta da Terra Prometida: o Explorador aceita a Aliança que o conduz à descoberta da Terra
Prometida;
- A Igreja em construção: o Pioneiro assume o seu papel na construção da Igreja de Cristo;
- A vida no Homem Novo: o Caminheiro vive cristãmente em todas as dimensões do seu ser.
No percurso sugerido, procura-se que o Escuteiro compreenda que a sua vida tem duas dimensões
essenciais, uma sobrenatural e uma natural, e que ambas se relacionam intimamente: Cristo, Senhor da
Vida, não se reduz à vivência espiritual e mística do Homem; Ele está presente na vida do dia-a-dia e ao
longo de toda a existência humana. É, por isso, presença constante na vida de um Escuteiro.
Nesta perspectiva, o itinerário proposto está sempre centrado em Cristo, pois tem no Senhor o seu centro
e fonte de irradiação de sentido.

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Mística dos Pioneiros: «A Igreja em construção».
Sinal da chegada à Terra Prometida, o estabelecimento da Nova e Eterna Aliança marca o início de um
tempo novo. Cristo, com palavras e obras, inaugura na terra o Reino de Deus e institui a Sua Igreja para
ser portadora desta novidade.
Pedra viva do Templo do Senhor, o Pioneiro é chamado a assumir o seu lugar na construção da Igreja,
colocando os seus talentos ao serviço da Comunidade e assumindo a tarefa de ser construtor de
comunhão.
Tal tarefa não é fácil: numa idade em que a dúvida se instala, o desafio é ajudar a que o
Pioneiro/Marinheiro seja capaz de ultrapassar as suas perplexidades, compreenda a grandeza do amor de
Deus e se assuma como cristão convicto e actuante.

Para facilitar a plena vivência da fé, o patrono da Terceira secção é S. Pedro.


Apóstolo escolhido por Cristo para presidir à Igreja nascente, S. Pedro é tão importante quanto humilde.
Foi Deus quem quis tornar forte o que antes era fraco e, apesar das limitações e debilidades humanas
deste Apóstolo, quis com ele empreender a obra grandiosa de construção da Igreja de Cristo. Nesse
sentido, S. Pedro é pioneiro de um tempo novo, o tempo da vida «com Cristo», o tempo das primeiras
comunidades que partilharam os ensinamentos do Filho de Deus.
S. Pedro é a rocha sobre a qual a Igreja se começou a erguer e, nesse sentido, foi sobretudo construtor de
comunidade. Em seu redor surgiram outros que, atraídos pelo seu testemunho de vida descobriram a
presença do Senhor Ressuscitado na Igreja, Seu Corpo.
Com S. Pedro, os Pioneiros descobrem o sentido comunitário da vida e sentem-se motivados a pôr a
render os seus talentos, em vista do bem comum, com o sentido último de ajudar a construir na terra o
Reino dos Céus.
Os Pioneiros podem ainda ser chamados a seguir o exemplo de algumas figuras bíblicas e santos que
serão também para eles modelos de vida: S.João de Brito, Santa Teresinha do Menino Jesus, Santa
Catarina de Sena.

O desenvolvimento da Mística pode fazer-se com recurso a:


- exploração de histórias do Novo Testamento ligadas a S. Pedro;
- exploração de temas ligados à vida de Jesus Cristo que permitam a reflexão/interiorização de
atitudes e valores relacionados com a construção do Reino de Deus;

- utilização, em diversas actividades, de temas relacionados com a Mística geral da secção,


possibilitando o enriquecimento das actividades com valores e exemplos a seguir;
- decoração de espaços da secção com referências à simbologia, mística e imaginário do Grupo
Pioneiro;
- orações e cânticos criados pelos Pioneiros/marinheiros. Estas orações podem apelar à reflexão
sobre a fé, a coragem para renovar o mundo, a vontade de conhecer melhor Deus.

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Imaginário e simbologia dos Pioneiros

O imaginário da Terceira Secção gira todo à volta do Pioneiro, aquele que, depois da descoberta do
mundo que o rodeia, é assolado por um sentimento de insatisfação, de um ímpeto de fazer diferente, de
mudar, de inovar, que o leva a soltar-se do que considera supérfluo para pôr mãos à obra na construção e
concretização do seu sonho, das suas ambições. Nesta tarefa preocupa-se em conhecer o que há, em
saber o que já foi feito por outros, em conhecer e melhorar as suas próprias capacidades, em adquirir as
ferramentas de que precisa.
Reúne, a seguir, as vontades para o seu empreendimento. O Pioneiro prefere trabalhar em equipa, em
conjunto, e o seu querer e o dos outros é capaz de, realmente, transformar, inovar, construir. O Pioneiro é
o insatisfeito, o que primeiro inova e primeiro constrói a comunidade.
Reconhecemos este perfil em Pedro, o pescador de homens e construtor da Igreja nascente,
reconhecemo-lo nos primeiros navegadores e nos primeiros colonos das novas terras do Novo Mundo,
mas, também, nos primeiros astronautas, nos cientistas e nos investigadores da modernidade e no rosto
de cada adolescente.

Este é o desafio que deve ser lançado ao adolescente que deseja integrar a secção: em primeiro
lugar, deve buscar uma atitude de desprendimento perante tudo o que é acessório, centrando-se
no que é essencial e lhe permite aprofundar o conhecimento de si mesmo e do mundo. Esta
atitude de desprendimento, aliás, é típica dos adolescentes desta idade, que, na busca da
afirmação da sua maturidade, procuram largar as marcas da sua meninice.
Em segundo lugar, sente necessidade de procurar a razão de ser de tudo – o conhecimento do
mundo que o rodeia, da experiência dos outros, dos limites do que é possível – e de se munir das
ferramentas que lhe permitem adquirir autonomia.
Este conhecimento aprofunda a vontade de transformar o seu sonho em realidade. Neste
processo, não está sozinho: a vontade é colectiva, na medida em que é no grupo e com o grupo
que vai conseguindo concretizar as suas aspirações.
É, assim, em comunidade, no Empreendimento, que atinge o culminar do crescimento na secção:
a capacidade de construção dos seus sonhos e a experiência adquirida ao longo de todo o
processo são o legado que transportam consigo ao partir para uma nova fase.

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O Pioneiro que vive sobre a máxima Saber, Querer e Agir, sendo fiel a si próprio e aos seus sonhos,
facilmente se revê nos símbolos Gota de Água, a Rosa-dos-Ventos, a Machada, e o Icthus (Peixe, símbolo
dos primeiros cristãos).

Para alguém que sente necessidade de mudar, de construir o seu espaço e o seu mundo onde nada existe,
estes símbolos apresentam-se como ferramentas de transformação:
A Gota de Água é símbolo da pureza. É para nós, também, o símbolo do próprio pioneiro, do jovem
enquanto pessoa, indivíduo. Procuramos que seja transparente — consigo próprio e com os outros. Que
seja alento e alimento para os que o rodeiam, Que consiga fazer parte de um grupo, juntar-se a outras
gotas e tornar-se torrente. Nesta individualidade procuramos salientar o SABER. O saber-Ser, o saber-
Estar, o saber-Fazer e todos os outros saberes que vêm ao cimo, resultado do combate que o pioneiro
trava consigo próprio pela marca da individualidade. A Gota de Água torna-se, portanto, um símbolo
apropriado para utilizar perante as áreas de desenvolvimento Intelectual, Espiritual e Afectivo.
A Rosa dos Ventos é símbolo do rumo certo, da boa escolha, da decisão ponderada. É para nós, também,
o símbolo daquilo que é a vida do pioneiro, nas suas escolhas, na sua atitude, no que quer dos outros.
Procuramos que tome sempre o rumo certo, que esteja preparado para optar, para escolher… que possa
falhar, errar, mas em segurança, e que aprenda, que tire das experiências lições de vida. Que seja, de igual
modo, portador de vontades, agregador de desejos e de disponibilidade. Procuramos, com a Rosa dos
Ventos, salientar o QUERER. A importância da escolha, das suas consequências, mas, também, a
importância da vontade, da disponibilidade. A Rosa dos Ventos torna-se, portanto, um símbolo
apropriado para utilizar perante as áreas de desenvolvimento Social, Afectivo e Espiritual.
A Machada é símbolo da construção, da acção. É para nós, também, o símbolo daquilo que é o potencial
do pioneiro, das suas capacidades, da sua energia transformadora, do resultado final da combinação do
que quer com o que sabe... Procuramos que esteja apto a fazer, que domine a técnica, que consiga
converter o sonhado, o desejado, em matéria, em realização e realidade. Procuramos, com a Machada,
salientar o AGIR. A Machada torna-se, portanto, um símbolo apropriado para utilizar perante as áreas de
desenvolvimento Físico e do Carácter e também Espiritual, pois esta dimensão está sempre presente em
toda a acção, ainda que nem sempre de forma explícita.

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O Icthus é símbolo da presença de Jesus Cristo, entre os homens, que estabelece para sempre a nova e
eterna Aliança. O peixe simboliza Jesus Cristo – a palavra peixe, em grego, escreve-se Icthus, que foi, pelos
primeiros cristãos perseguidos, adoptado como acróstico de "Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador” (Iesus
Christos Theou Uios Soter), e símbolo secreto de identificação mútua. É para nós, também, o símbolo da
evidência e da materialização de Deus à nossa frente, como alimento do corpo e da alma. É, também,
símbolo do patrono, São Pedro, um pescador que, convertido, se tornou pescador de homens e
testemunho da construção do novo reino inaugurado por Cristo. Procuramos que para o pioneiro o Icthus
seja símbolo de fé, mas também de lógica e racionalidade assente na incarnação do Verbo de Deus, na
«materialização» de Deus em Cristo, pois fé e razão não se contrapõem. Procuramos, com o Icthus,
salientar o ACREDITAR consciente. O Icthus torna-se, portanto, um símbolo apropriado para utilizar
perante as áreas de desenvolvimento Espiritual e, também, do Carácter e Intelectual.

Os Pioneiros podem ainda ser chamados a seguir o exemplo de grandes Pioneiros da


História, como Leonardo daVinci. Pe. António Vieira, Einstein, Marie Curie, Florence
Nightingale, Isadora Duncan, etc.

Cerimoniais
A mística e o imaginário de cada secção, embora presentes em todas as actividades, encontram expressão
concreta nos diversos cerimoniais escutistas.

Exemplos de cerimoniais escutistas:


Abertura e bênção do Fogo de Conselho, Vigília de Oração, Promessa, Investidura de
Guias, Investidura de cargos, Totemização, entrega de insígnias, Passagens de secção
etc. Todos possuem em comum o facto de utilizarem os símbolos das secções e
linguagem tipicamente escutista.

Estes cerimoniais, tal como todas as actividades que utilizam o método escutista, possuem um cunho
pedagógico que deve ser reforçado em todas as ocasiões. Para que isto aconteça, os cerimoniais devem:
- estar envolvidos por um ambiente escutista, tanto a nível dos conteúdos (Leis, exemplo de B.-P.,
patronos, etc.), como a nível da elaboração (cânticos, imagens escutistas, etc.), o que implica desenvolver
um ambiente “místico” (com recurso a sons, imagens, etc.) que contribua para uma maior receptividade
da mensagem. Será indicado, sempre que possível, utilizar o espaço da Natureza para as realizar (é
preciso não esquecer que a Natureza é o espaço privilegiado para todas as actividades escutistas);
- revestir-se de dignidade e de respeito pelos valores escutistas;
- possuir uma carga formativa, utilizando símbolos, linguagem e duração adequada à secção a que se
dirigem;
- implicar uma participação activa dos escuteiros (não ficam apenas a ouvir), de forma a que se sintam
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integrados na Unidade. Envolver directamente o grupo a que se destina, recorrendo ao auxílio dos
elementos e a alusões sobre as suas características, induz a que todos se sintam envolvidos e motivados.
Este envolvimento deve implicar alguma flexibilidade, para que todos se sintam à vontade para participar.
- ser preparados correctamente e com antecedência (a nível de materiais, duração, ensaios), integrando-
se de forma adequada na vivência das secções e na idade dos participantes.
- ir variando de tempos a tempos: se os cerimoniais nunca mudam, o que, de início, pode parecer que
reforça a coesão do grupo (por se tratar e uma tradição) pode acabar por se tornar antiquado e
desmotivante. Convém, por isso, efectuar, de vez em quando, uma revisão das dinâmicas, dos símbolos
usados e dos valores explorados, para que se possa modificar o que está desactualizado, desadequado ou
incoerente.

Nem sempre os cerimoniais tradicionais das patrulhas (como a permissão para aceder ao Livro
de Ouro) possuem um fundo educativo ou ligado a valores. A este nível, é importante que o
dirigente auxilie os seus elementos a construir cerimoniais que veiculem valores. Para isso, deve
procurar-se que haja referências ao totem e ao lema da Patrulha e aos valores místicos da
Secção, promovendo uma reflexão sobre os gestos, as fórmulas e as acções desenvolvidas, no
sentido de os levar a compreender o seu significado, riqueza e validade.

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3 – Lei e Promessa

I. A LEI
A) um quadro referência de valores
A Igreja e a sociedade possuem um quadro de referência de valores que nos ajudam a viver em
comunidade. Na Igreja, esses valores têm por base os Mandamentos da Lei de Deus. Cada sociedade, por
seu lado, incute valores relacionados com a moral e o respeito por si mesmo, pelo outro e pela
propriedade.
Também o Escutismo possui um quadro de valores que procura incutir a todos os seus elementos, de
forma a ajudá-los a progredir no sentido do Bem. Neste sentido, é portador de uma forte dimensão
espiritual.
Esses valores estão resumidos nos Princípios, na Lei do Escuta e na Promessa e através deles o Escuteiro é
chamado a comprometer-se livremente com ideais que lhe permitem ajudar a construir um mundo mais
justo e mais solidário.

B) Os três Princípios
Os Princípios do Escuta definem as três dimensões de vida com que o Escuteiro se compromete: Deus, a
Pátria e a Família. Cada um deles estabelece um ideal a alcançar, criando metas específicas que visam
desenvolver a responsabilidade de cada um a nível espiritual, social e pessoal.

1.º Princípio: O Escuta orgulha-se da sua fé e por ela orienta toda a sua vida.
O primeiro Princípio do Escuta elege como ideal o compromisso com Deus, fonte de felicidade. Esta
dimensão espiritual está presente no Movimento escutista desde o primeiro momento. De facto, o
Escutismo, tal como BP o idealizou, integra a Fé em todas as suas dimensões: o seu quadro de valores
remete-nos, no seu todo, para propósitos morais que espelham os valores cristãos, razão pela qual é
impossível separar as dimensões escutista e cristã.

«O MOVIMENTO é TODO baseado na religião, isto é, na


compreensão e no SERVIÇO de DEUS. No estudo da Natureza,
respeito dos deveres de Cristão e na prática de boas acções.»
BP-RF 153/6

O verdadeiro Escuteiro assume sem reservas a sua Fé: comprometido com Cristo, em quem confia como
Salvador do mundo, assume e honra esse compromisso sem hesitação. Toda a sua vida, assim, ilustra a
certeza no amor de Deus: é a Ele que se entrega, é Ele que testemunha em todos os momentos, é Ele que
o guia toda a vida. E poe Ele se entrega aos outros, ajudando-os, numa atitude permannte de serviço.

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2.º Princípio: O Escuta é filho de Portugal e bom cidadão.
Neste mundo em constante mutação, os conflitos entre os povos são frequentes e as dificuldades
económicas e os desafios sociais são cada vez maiores. Ao mesmo tempo, o egoísmo individual e a
indiferença perante o sofrimento têm tendência a aumentar.

« ”A Pátria acima de mim”, deve ser a tua divisa». BP - ER 36

«Lealdade com a Pátria, orientada para as opiniões dos cidadãos. O altruísmo e Serviço
cívico hão-de necessariamente incluir a disponibilidade para servir a Pátria: É esse o
dever de todo o cidadão.» BP-RF 135/6

Perante isto, a consciência cívica é um valor a defender e torna-se cada vez mais urgente educar na
cidadania, de modo a que cada indivíduo tome consciência das suas responsabilidades para consigo, com
o outro e com a Natureza.
Neste sentido, sentir-se filho de Portugal não é assumir nenhum tipo de nacionalismo. Pensar na pátria é
pensar no nosso próximo, é assumir a responsabilidade para a construção de um país justo,
economicamente equilibrado e onde a igualdade não é uma utopia.
O bom cidadão, assim, é aquele que contribui para o bem do país, servindo-o de todas as formas
possíveis. Isto implica usar com moderação os seus recursos naturais, cumprir os deveres cívicos,
contribuir para o desenvolvimento da sociedade e fomentar a solidariedade.

3.º Princípio: O dever do Escuta começa em casa.


A família continua a ser, como ontem, a célula fundamental da sociedade: é nela que o indivíduo forma a
sua personalidade e apreende valores, descobrindo a importância da dignidade, da confiança, do diálogo,
da cooperação, do bom uso da liberdade, da obediência. No entanto, para que esta aprendizagem seja
profícua é necessário que exista disponibilidade para estar com os outros e partilhar sentimentos e
acções.

Na tua casa está o teu «Semelhante», o teu mais «Próximo». «Por isto, o Céu
não é qualquer coisa vaga, algures lá em cima nos ares. Fica aqui mesmo na
Terra, no teu próprio Lar.»
BP-CT 143

Ao escuteiro é pedido que pratique boas-acções, que auxilie os outros. E o bom Escuteiro compreende
que essa responsabilidade começa na sua família. De facto, o Escuteiro tem que estar, em primeiro lugar,
disponível para a sua família: pais, filhos, irmãos,…

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É nesta disponibilidade, que muitas vezes implica espírito de sacrifício, perdão, paciência, generosidade,
que aprendemos o verdadeiro valor do amor.

O Escuta orgulha-se da sua fé - HONRA


e por ela orienta toda a sua vida - CONFIANÇA
- SERVIÇO

O Escuta é filho de Portugal - CIDADANIA


e bom cidadão. - CUMPRIMENTO DO DEVER
- SOLIDARIEDADE
- DISPONIBILIDADE

O dever do Escuta começa em casa - AMOR


- DEVER

C) Os dez artigos da Lei


Tendo como pano de fundo, para o crescimento de cada Escuteiro, Deus, a Pátria e a Família, o
Movimento escutista propõe a cada elemento um conjunto alargado de valores que, interligados,
permitem desenvolver o sentido da responsabilidade, aprender a fazer opções e criar hábitos de
convivência e respeito para consigo mesmo e com o outro.
Esses valores estão explicitamente definidos nos artigos da Lei do Escuta:

1.º A honra do Escuta inspira confiança.


Para um escuteiro, ter honra é actuar com honestidade em tudo o que diz e faz. Isto não implica apenas
não mentir: é também não omitir nem actuar com subterfúgios ou às escondidas.

«A verdade, só a verdade para o Caminheiro».


«A palavra dum Caminheiro vale pela sua assinatura.»
«Podem confiar em ti o Escutismo, os teus amigos e camaradas de trabalho,
os teus patrões ou empregados, que sabem que farás quanto puderes em seu
benefício mesmo que não sejam o que tu querias que fossem.» B.-P.

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Na prática, significa que o Escuteiro assume que a sua liberdade o leva a agir de forma a nunca ser
contrário à verdade, demonstrando a sua coerência de vida:
- aquilo em que acredito é aquilo que ponho em prática (tanto em público como em privado);
- o que eu penso e digo é o que eu faço;
- o que eu digo é a verdade;
- o que eu me comprometo a fazer faço-o com seriedade.
Se actuar desta forma – demonstrando que possui uma só palavra, cumpre as suas promessas, fala com
franqueza, é coerente –, o Escuteiro é alguém digno de confiança, ou seja, é alguém em quem podemos
acreditar e com quem é possível contar.

2.º O Escuta é leal.

Ser leal é ser honesto. É ser fiel às suas convicções, à sua família, a Deus, aos seus amigos, à sociedade,
sabendo agir de acordo com a sua consciência. Um Escuteiro leal respeita as regras do jogo da vida,
actuando com coerência e respeito por si mesmo e pelos outros. Não faz batota, não engana, não
atraiçoa, não desampara ninguém.

Joga com lealdade e exige jogo leal aos outros.


BP – ER 249

A lealdade para consigo e para com os outros é, no Movimento escutista, um valor forte, na medida em
que o que se pretende é desenvolver em cada rapaz e rapariga a coerência de atitudes e o respeito para
com o outro.

3.º O Escuta é útil e pratica diariamente uma boa acção.


Ser útil é ter a capacidade para ajudar os outros em todas as circunstâncias em que o auxílio pode
contribuir para suprir algumas necessidades. Quem assim procura agir, habitua-se a não orientar a vida
exclusivamente para os seus próprios interesses, aprendendo a viver em verdadeira comunidade.

«Como Caminheiro, o teu objectivo supremo é SERVIR. (…) Estarás pronto a


sacrificar tempo, comodidades ou, sendo preciso, a própria vida, pelos
outros». BP – CT 194

«…que as nossas acções e pensamentos sejam orientados pelo amor. (…)


Refiro-me à manifestação dum espírito amável. (...) É a boa vontade. E a boa
vontade é a vontade de Deus.» BP – CT 18

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Assim se nega o egocentrismo e se descobre o valor do altruísmo, cujo grau máximo implica dar a vida por
alguém.
Para um Escuteiro, o altruísmo aprende-se através da Boa Acção diária, cuja prática é tão importante
incutir em cada Escuteiro. É ela que exercita na arte de fazer o bem; é ela que, pela repetição, acaba por
criar em cada um o hábito de estar atento para o bem-estar dos outros e a disponibilidade para os
auxiliar. E há-de ser realizada de forma discreta e sem esperar recompensa. A humildade de fazer o bem
sem esperar elogios é essencial: só ela permite que seja o Amor a guiar as nossas acções. E Amor é o que
Deus espera de nós.

4.º O Escuta é amigo de todos e irmão de todos os outros Escutas.

Num mundo como o de hoje, onde o egoísmo e a exclusão são quase banais, a amizade é um valor
precioso, pelo que este artigo da Lei do Escuta, que se divide em duas partes, manifesta cada vez mais
relevância.
Ser amigo dos amigos implica ser capaz de se colocar no lugar deles, actuando com respeito e
solidariedade perante as suas necessidades e diferenças e aprendendo a perdoar. No entanto, este artigo
vai mais longe, ao declarar que devemos ser amigos de todos. Com isto, pretende-se não que
demonstremos uma amizade profunda por quem não conhecemos, mas que consigamos ter a
disponibilidade interior para aceitar como possível amigo aquele que ainda nos é desconhecido, pondo de
lado reservas sem sentido rela-cionadas com raça, credo, sexo, cultura, classe social, nacionalidade, etc.

«Como Caminheiro reconheces que os outros são como tu, filhos do mesmo Pai
e menosprezas quaisquer diferenças de opinião, casta, crença ou nacionalidade
que possa haver entre vós. Recalcas os preconceitos e descobres-lhes os
méritos.» BP - CT 194

É este mesmo sentimento de disponibilidade interior que torna os escuteiros capazes de se sentirem
irmãos de outros escuteiros. De facto, há que incutir em cada elemento a certeza de que, esteja onde
estiver, terá sempre um irmão escuta com que pode contar; e de que ele próprio deverá ser sempre um
irmão para quem dele precisar. A começar pela sua própria Patrulha, por vezes o sítio onde é mais difícil
viver a fraternidade, por ela ter de ser permanente.

5.º O Escuta é delicado e respeitador.


O respeito é o sentimento que nos leva a sentir consideração pelos outros, a ter em conta os seus direitos
e a tolerar diferentes ideias e que nos inibe de qualquer vontade em lhes causar dano.

«És delicado até para com os adversários.» B.-P.

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Esta consideração pela dignidade do outro traduz-se, na prática por atitudes de delicadeza, que mais não
é do que a forma amável, sensível e afectuosa como tratamos os demais, evitando chocá-los, magoá-los
ou melindrá-los. Neste contexto, mesmo a frontalidade é usada de forma equilibrada, sem recurso à
grosseria.
Assim sendo, o Escuta deve procurar não apenas ter atitudes exteriores de delicadeza para com os outros,
mas também sentir consideração profunda pela sua dignidade, independentemente das diferenças sociais
que possam existir. Este sentimento, nem sempre fácil de inculcar, é de máxima importância: o respeito é
a base a partir da qual conseguimos viver em paz com os outros.

6.º O Escuta protege as plantas e os animais.

No tempo de B.-P., não existiam preocupações de maior com a protecção da Natureza. Contudo, como
visionário que era, Baden-Powell apercebeu-se da necessidade de respeitar e proteger a obra da Criação.
Segue os passos de S. Francisco de Assis e de S. Paulo e concebe este artigo da lei, através do qual todo o
Escuta é impelido pela consciência a assumir como seu dever a defesa dos outros seres que, criaturas de
Deus como o Homem, habitam o planeta.

«Hás-de reconhecer a solidariedade com os outros seres que Deus criou e, como
tu, foram colocados no mundo para gozarem por algum tempo o prazer da
existência. Maltratar um animal é, pois, contrariar o Criador.»

Isto não se faz apenas com grandes gestos: não pisar uma formiga, não arrancar uma flor são pequenas
acções que não mudam o mundo, mas que nos permitem preservar a beleza que Deus criou para que
outros usufruam dela. Abusar do que Deus pôs ao nosso dispor sem motivo válido, mas por malvadez ou
capricho, não é digno do bom escuteiro. Um dia, terá de prestar contas a Deus também pela forma como
tratou a Natureza, sua irmã. O que Lhe dirá, então?
Um bom escuteiro é aquele aprecia e preserva a Natureza, servindo-se dela apenas quando tal é
necessário para a sua subsistência. Assim se cultiva o sentido da responsabilidade perante as maravilhas
de Deus, hoje tão exploradas e votadas ao desprezo.

7.º O Escuta é obediente.


Todos os grupos possuem regras que assumimos como necessárias para o bem-comum e que evitam a
anarquia e o caos. É assim que surgem as leis, os regulamentos, as normas, os valores. A obediência
enquadra-se no respeito por estas regras: de facto, surge quando um indivíduo se sente completamente
livre, no seu íntimo, para acatar as ordens de outro que possui uma autoridade legítima e globalmente
aceite pelo grupo em que se insere.

«Como Caminheiro adaptas-te à disciplina e colocas-te pronta e gostosamente ao serviço da


autoridade constituída para o bem comum. A sociedade mais disciplinada é a mais feliz, mas é
preciso que a disciplina venha de dentro e não seja simplesmente imposta de fora.» BP – CT 195

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É nisto que a obediência se distingue da submissão: somos obedientes quando, em plena consciência,
reconhecemos como legítima e necessária uma determinada autoridade, aceite por todos; somos
submissos quando, numa relação de poder em que a lei é a do mais forte, acatamos ordens por medo ou
vergonha.
Este é, por vezes, o problema dentro da Patrulha: se o Guia não for um verdadeiro líder, aceite por todos
e com capacidade para fazer valer a sua autoridade, pode cair facilmente na ditadura. Para que tal seja
evitado, há que o ensinar a comportar-se como um líder: só é obedecido quem é um exemplo de
obediência, em casa, na escola, na catequese, nos escuteiros.
Ao fazer a sua Promessa, assumida livremente, prometeu obedecer à Lei do Escuta e cumpre-a com
fidelidade.
Por outro lado, há também que ensinar a cada escuteiro que obedecer não é sinal de humilhação. É, sim,
revelar capacidade para compreender que uma sociedade que funcione bem possui disciplina; é aprender
o valor da humildade, que nos ensina a submeter a nossa própria vontade; é aprender que
responsabilidade é assumir os compromissos e cumprir todas as tarefas que nos forem destinadas.
Por fim, há ainda duas ideias que devem ser inculcadas no Escuteiro:
- a autoridade ilegítima, que degenera muitas vezes em tirania, não atrai a obediência, mas a submissão, e
é lícito que os cidadãos revelem espírito crítico e queiram defender a sua liberdade;
- a obediência não implica a supressão da consciência: nunca um indivíduo deve obedecer se a actuação
que lhe é exigida for contrária ao que sente e defende. Na nossa consciência vive a voz de Deus e é ela,
em última análise, que devemos seguir. Em último grau, isto pode implicar a própria vida: foi o que
aconteceu com todos os mártires que morreram por se recusar a obedecer a ordens que os impeliam a
renunciar à sua Fé.

8.º O Escuta tem sempre boa disposição de espírito.


A alegria é, sem dúvida, uma das características que se deve apontar a todo o escuteiro. Aquela alegria
pura de quem tem a consciência tranquila, de quem se sente bem consigo mesmo e com o mundo que o
rodeia. Quem assim procede consegue dominar os seus sentimentos como a raiva ou a tristeza, revelando
capacidade e força interior para enfrentar os maiores desaires. Mais: vivendo assim, o escuteiro opta por
viver a vida com optimismo, preferindo a esperança à preocupação e ao medo.

«Como Caminheiro todos esperam de ti que não percas a cabeça e que em caso
de emergência te servirás dela com alegria coragem e optimismo. Se conseguires
…Meu filho, serás um homem.» BP – CT 195

É isto que importa transmitir: por mais difícil que seja o caminho, por mais desespero que se possa sentir,
um Escuteiro espera sempre, em Deus, por dias melhores e sorri.

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9.º O Escuta é sóbrio, económico e respeitador do bem alheio.
Este artigo da Lei envolve três ideias distintas que se revelam bastante importantes num mundo
consumista como o nosso, onde os bens materiais são cada vez mais valorizados.
Em primeiro lugar, defende que todo o escuteiro deve ser sóbrio. Com isto, pretende-se chamar a atenção
para o equilíbrio que cada um deve ter na sua vida. Um escuteiro sóbrio vive sem exageros, tanto a nível
de pensamento como de acções. Assim, por um lado contenta-se com o que tem, não tendo inveja do que
os outros conseguiram; por outro lado, procura ter uma vida equilibrada, sem os exageros que todos os
vícios implicam e sem desperdiçar o seu tempo.

«Como Caminheiro olharás ao futuro e não desperdiçarás tempo nem dinheiro em


prazeres de momento, mas aproveitarás antes as OCASIÕES para teu futuro
êxito.» BP – CT 195

Este comedimento envolve também o controlo do dinheiro. Por isso de defende também que o escuteiro
deve ser económico: não gasta o seu dinheiro em inutilidades, não esbanja tudo o que tem, não arranja
dívidas atrás de dívidas, é capaz de amealhar para se sustentar quando for necessário. É preciso ajudar a
perceber que o que traz felicidade não é a fortuna, mas sim o bom uso do que se tem e a satisfação que
advém do trabalho.
Por fim, o equilíbrio envolve também o respeito pelos bens dos outros: quem é sóbrio e económico
valoriza o que faz e o que tem e, consequentemente, procede de igual forma para com os outros. Assim,
protege o que lhe emprestam como se fosse seu e restitui-o quando já não precisa; devolve o que
encontra ao seu legítimo dono; não rouba; não vandaliza propriedade alheia

10.º O Escuta é puro nos pensamentos, nas palavras e nas acções.


Muitos pensam que o último artigo da Lei se relaciona directamente com a castidade, resumindo os seus
ensinamentos à pureza física e mental que o cristão deve procurar ter.
Na verdade, porém, este artigo é muito mais profundo: se tivéssemos de condensar a Lei do escuta em
poucas palavras, o resumo adequado seria esta frase. De facto, se o Escuteiro for puro em pensamentos,
palavras e acções cumpre todos os outros preceitos da Lei que escolheu.

«Espera-se que, na qualidade de Caminheiro, não só tenhas ideias puras, mas também
desejos puros e saibas dominar as tendências e abusos sexuais; que dês aos outros
exemplo de pureza e sinceridade em tudo quanto pensas, dizes e fazes.» BP – CT 195

Quando procura a pureza de pensamentos, o Escuta evita o egoísmo e a inveja e procura que todas as
suas intenções e ideias sejam pautadas pela verdade, tolerância e honestidade.
Já a pureza nas palavras não se resume a evitar uma linguagem obscena e que choca os demais; implica
também a capacidade de não nada que possa pôr em causa a imagem de alguém: mexericos, rumores,

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acusações sem fundamento, chacota, etc.
Por fim, a pureza das acções impele o escuteiro a evitar todos os comportamentos potencialmente
prejudiciais. Isto implica a renúncia a tudo o que atenta contra a sua própria dignidade. O corpo, criado
por Deus à sua imagem e semelhança, é templo a respeitar e todos os comportamentos prejudiciais para
a saúde devem ser evitados. Mas há mais. O escuteiro não se defende apenas a si: ser puro em acções é
também evitar tudo o que pode atentar contra a saúde e dignidade do outro. Por isso, nunca o escuteiro
compele os outros a comportamentos prejudiciais, humilhantes ou ilícitos. E protege todos os que não se
podem defender.

A honra do Escuta inspira confiança - VERDADE, CONFIANÇA e COERÊNCIA


O Escuta é leal. - LEALDADE e FIDELIDADE
O Escuta é útil e pratica
diariamente uma boa acção. - ALTRUÍSMO, HUMILDADE e AMOR
O Escuta é amigo de todos e
irmão de todos os outros Escutas. - AMIZADE, DISPONIBILIDADE e PERDÃO
O Escuta é delicado e respeitador. - RESPEITO e DELICADEZA
O Escuta protege as plantas - RESPONSABILIDADE, CONTEMPLAÇÃO
e os animais e PROTECÇÃO
O Escuta é obediente. - OBEDIÊNCIA, DISCIPLINA e HUMILDADE
O Escuta tem sempre - ALEGRIA e ESPERANÇA
boa disposição de espírito.
O Escuta é sóbrio, económico - SOBRIEDADE, ECONOMIA e HONESTIDADE
e respeitador do bem alheio.
O Escuta é puro nos pensamentos, - PUREZA, INTEGRIDADE e RENÚNCIA
nas palavras e nas acções.

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D) Como viver a Lei na secção
Na Terceira Secção, a aprendizagem assume um cariz mais reflexivo, na medida em que o adolescente é
capaz de reflectir sobre o seu comportamento e o dos outros, compreendendo o que está certo e o que
está errado. No entanto, e porque esta é uma idade crítica em relação ao mundo, na medida em que tudo
é posto em causa, os valores escutistas não são facilmente aceites ou adoptados.
Perante isto, o dirigente deve recorrer a vivências para explorar com os Pioneiros os valores subjacentes à
Lei e Princípios. Tudo serve, assim, para relembrar a importância de ter princípios seguros e firmes: jogos,
actividades que obriguem à utilização de valores, reflexões, histórias reais de defesa de valores, etc.
Neste processo, o dirigente deve ter a consciência clara de que está a trabalhar para que os valores
defendidos pelo escutismo se fortaleçam no espírito de cada escuteiro. Para que isto aconteça, não nos
podemos esquecer que o exemplo ocupa um lugar central na educação. Assim sendo, é essencial que o
chefe assuma como seus os valores que quer transmitir e se esforce por os cumprir, procurando ser,
realmente, um modelo a seguir. E isto não se pode fazer apenas quando os elementos estão presentes,
dado que não sabemos quando poderão estar a ouvir-nos ou ver-nos.
De facto, não é coerente pedir-lhes respeito uns para com os outros, sinceridade, solidariedade para com
um elemento mais difícil ou paciência para com os desobedientes quando os dirigentes não se falam,
mentem, rejeitam algum elemento de forma ostensiva ou se descontrolam quando lidam com o grupo.
Educa mais quem apresenta um comportamento baseado no apoio mútuo, no reforço positivo, na
coerência de atitudes, no encorajamento perante o erro e o desânimo, na defesa de comportamentos
saudáveis.

II. A PROMESSA
A) um quadro referência de valores
Iniciada há já algum tempo a etapa de adesão, a data da Investidura e da Promessa estará a aproximar-se.
É importante, para não dizer fundamental, que os nossos Escutas entendam o verdadeiro significado da
Promessa, que está para lá do que é visível – a simples imposição do lenço.

A promessa como um quadro-referência de valores

Prometo,
Pela minha honra e com a graça de Deus,
Fazer todos os possíveis por:
O Movimento Escutista contribui para a educação dos jovens propondo-lhes um projecto de vida assente
em valores espirituais, sociais e pessoais a que devem aderir de forma livre. A Promessa deve ser então
um momento de decisão pessoal, em que o Escuteiro, sentindo-se preparado para viver os valores
descobertos e propostos na Lei, assume o compromisso de “fazer todos os possíveis por” os viver e
aprofundar ao longo do seu crescimento. E assume-o com a consciência de que se está a responsabilizar
(“pela minha honra”) e de que Deus o acompanha no seu esforço (“e com a graça de Deus”).
Isto não significa que os Exploradores não possam faltar ao prometido (“fazer todos os possíveis por”
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implica esforço pessoal, mas não garante sucesso). Só quem não conhece a natureza humana poderá
exigir ou esperar que não haja falhas. É aqui que o Dirigente assume um papel basilar: sempre que
necessário, competir-lhe-á relembrar aos seus elementos com o máximo de clareza a Promessa e o que
ela significa, para os ajudar a compreender a seriedade do compromisso que vão assumir. E caso verifique
que os Escuteiros não assumem com responsabilidade a preparação para esse compromisso (ou seja, logo
à partida não fazem “todos os possíveis por”), não deve permitir facilitismos: o lenço não se dá a qualquer
um e de qualquer maneira, é ganho por aquele que de facto compreende que está a assumir um
compromisso e que trabalha para o poder fazer de forma consciente.

Cumprir os meus deveres para com Deus, a Igreja e a Pátria.


Deus é presença constante na nossa vida aparecendo de forma natural e espontânea. Ele partilha os
nossos projectos, sonhos, inquietações e alegrias. Seria possível assumirmos um compromisso tão
importante se não exprimíssemos a nossa Fé e não convidássemos Deus a estar presente, a fazer parte
dele e a connosco caminhar? O nosso compromisso é com Ele, por Ele e diante Dele. E ao assumirmos este
compromisso, incluímos também nele o nosso próximo, a família, os amigos e todos os que connosco
fazem parte da Igreja de Deus: é nosso dever, como membros da comunidade eclesial, ser testemunha de
Deus e mostrá-Lo aos outros no nosso dia-a-dia.
Para além disto, a Promessa é também um compromisso de amor ao País. Por isso, devemos cumprir os
nossos deveres de cidadania com a nossa Pátria, com o País que nos viu nascer. Devemos assim servir a
terra em que vivemos, assumindo o compromisso de salvaguardar a Natureza, de fomentar a justiça, a
paz, a solidariedade e de proteger e perpetuar as tradições históricas e culturais (idioma, tradições,
músicas tradicionais, etc.) que fazem parte da identidade do País a que pertencemos.

Auxiliar os meus semelhantes em todas as circunstâncias


O Escuta deve estar disponível para auxiliar o próximo, não importando as condições e as circunstâncias
em que o faz. Devemos assim combater a indiferença e prestar atenção aos sinais de quem precisa de
apoio e muitas vezes sofre em silêncio, por vergonha, medo ou para não gerar preocupações. E o nosso
auxílio ao próximo não tem que passar por actos de elevado heroísmo: pequenos gestos podem causar
imensa felicidade. Neste sentido, a Boa Acção (BA) é um convite a agir e a converter o nosso compromisso
em acções concretas. E a insistência na sua prática diária permite que cada escuteiro, de forma
espontânea e gratuita, adquira capacidade de estar sempre preparado, de forma voluntária e sincera,
para servir o próximo.

«Pela promessa Escutista estamos pela nossa honra obrigados a fazer todos os dias, alguma coisa
pelos outros: “A Boa Acção”; pouco importa que seja insignificante: um sorriso, uma palavra uma
ajuda! O importante é fazer qualquer coisa.» BP-RF 32

Obedecer à Lei do Escuta


Prometer obedecer à Lei do Escuta não significa saber os artigos da Lei de cor, pela ordem correcta, ou
cumpri-la como cumprimos de forma obrigatória qualquer outra Lei do Estado.
O compromisso vai mais além: ao aceitarmos a Lei do Escuta, estamos a assumir a responsabilidade de
viver de acordo com os seus valores. Pretende-se assim que vivamos a Lei: ela faz parte das nossas
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convicções, por ela pautamos a nossa integridade. Por isso, ao aceitarmos viver a Lei do Escuta, fazêmo-lo
de forma natural, sem fingimentos, com responsabilidade e durante a toda a nossa vida. Decerto todos já
ouvimos dizer: Escuteiro uma vez, Escuteiro para sempre.

O Dirigente tem como tarefa manter acesa esta “chama”, ou seja, manter nos seus elementos
o desejo de ser fiel ao seu compromisso, não permitindo que se esqueçam dele. Para isto,
sempre que possível deve relembrar aos seus escuteiros a sua Promessa, levando-os a reflectir
sobre aquilo a que se comprometeram e a analisar o seu desempenho, crescimento e conduta
individual. Uma das alturas propícias a esta reflexão é o momento em que noviços ou
aspirantes fazem a sua Promessa: ao incentivar os Exploradores mais velhos a acompanhar um
noviço/aspirante na sua preparação para este compromisso e ao convidá-los a renovar a sua
Promessa, o Dirigente está também a ajudá-los a crescer.

Prometo… Compromisso pessoal


pela minha honra… Responsabilização pessoal
com a graça de Deus… Afirmação da Fé
Cumprir os meus deveres Fé, Missão
para com Deus, a Igreja e a Pátria. Cidadania
Auxiliar os meus semelhantes… Solidariedade, Amor
Obedecer à Lei do Escuta Responsabilidade

III. A ORAÇÃO DO ESCUTA

Ser leal para com Deus significa nunca te esqueceres Dele e recordá-Lo em tudo o que fazes. Se
nunca O esqueceres, nunca farás nada de mal. E se te lembrares Dele quando estiveres a fazer
qualquer coisa errada, deixarás logo de a fazer. Deus tem sido bom para contigo, por isso cabe-te
fazer alguma coisa em troca que Lhe agrade; é esse o teu dever para com Deus. Baden-Powell

A Oração do Escuta foi criada a partir de um texto de Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de
Jesus, e foi adaptada ao escutismo católico pelo Padre Jacques Sevin, jesuíta francês, fundador da
associação Scouts de France. É utilizada como a Oração do Escuteiro em várias associações escutistas de
todo o mundo.

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A Oração do Escuta sintetiza dois aspectos essenciais da vida cristã, o Amor a Deus e o Amor ao próximo.

Senhor Jesus, O escuteiro dirige-se directamente a Cristo,


num diálogo fraterno e respeitoso, abrindo o
coração para O escutar.

ensinai-me A prece que faz é um pedido de sabedoria. O


escuteiro não pede uma acção directa de
transformação fácil e automática, pede que
lhe seja ensinado como proceder, ele
próprio, a essa transformação.

a ser generoso E segue-se a identificação das características


dessa transformação:
GENEROSIDADE - A generosidade é o dom daquele
que dá, para satisfação da necessidade do próximo
em detrimento da sua, e não porque lhe sobra.

a servir-Vos como Vós o mereceis SERVIÇO A DEUS

a dar-me sem medida SERVIÇO AOS OUTROS – A missão

a combater sem cuidar das feridas PERSEVERANÇA – A perseverança é o dom


daquele que não desanima na contrariedade
e na dificuldade, conservando-se firme e
continuando o seu projecto.

A gastar-me sem esperar outra CAPACIDADE DE ENTREGA – A capacidade


recompensa, de entrega é o dom daquele que serve o
outro, humilde, dedicada e confiadamente,
sem medo do que possa vir.

senão saber que faço a Vossa vontade E FÉ – Que nos impele a termos uma relação
santa. pessoal com Deus e assim crescer na
confiança de que o nosso maior bem está no
cumprimento da Sua vontade.

Ámen

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4 – Aprender fazendo

“A criança quer fazer coisas; então vamos encorajá-la a fazê-las, apontando-lhe o caminho certo e
permitindo-lhe fazê-las como ela quer. Deixá-la errar; é através dos erros que ela constrói a sua
experiência”. Baden Powell

Valor pedagógico do Aprender fazendo


O Escutismo tem como objectivo ajudar os jovens a desenvolver as suas capacidades integralmente, para
que se tornem membros activos e responsáveis na sua comunidade. Contribui, assim, para um mundo
melhor.
Para tal, o jovem não pode apenas ouvir dizer ‘como é que se deve fazer’ ou ver os outros a actuar. Para
aprender é necessário experimentar, sentir, estar nas situações. Isto porque a aprendizagem é um
processo dinâmico e activo.
Nos escuteiros, quando o jovem vai acampar e tem de construir as infraestruturas do seu campo, está a
passar para o campo do real o que o Dirigente lhe ensinou uma tarde na sede. Quando escolhe quais os
projectos que gostaria de realizar e, motivado pelas suas escolhas, pela Patrulha, pela saudável
competição, se envolve na sua realização, ele está a aprender pela acção. Isto permite-lhe perceber a
utilidade do que aprendeu (o que o motiva para aprender mais), desenvolver as suas capacidades e
descobrir habilidades e gostos que, de outro modo, provavelmente não descobriria.
Papel do Dirigente:
“Ask the boy” dizia-nos B.-P. É dever do Dirigente ter noção das expectativas, sonhos, dificuldades,
medos dos seus escuteiros. Compete-lhe ser o orientador, o irmão mais velho, permitindo que o
escuteiro seja o principal motor da sua educação.
Por vezes é a opinião de que eles são muito novos, ou imaturos, que não deixa o Dirigente pôr algumas
decisões ou tarefas na mão dos escuteiros. Mas, certamente, que se desafiados, os escuteiros não vão
deixar de surpreender os adultos que os acompanham nesta difícil tarefa que é crescer.
Educamos para a autonomia, por isso é necessário que eduquemos com autonomia. E isso é o aprender
fazendo!

Experimentar Desafio Fazer Curiosidade

Motivação Autonomia Aprender

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O Jogo
Crianças, jovens e adultos gostam de jogar. O Ser Humano é um ser lúdico, que espontaneamente se
organiza para jogar a qualquer coisa, desde o mais simples ao mais elaborado e complexo jogo.
Para concretizar a sua intenção educativa, o escutismo apoia-se no jogo social espontâneo, ou seja, no
dinamismo natural das crianças e jovens, neste gosto pelo jogo e na facilidade que eles têm de criar
regras sociais e se organizarem para que o jogo funcione.
No escutismo, as dinâmicas de grupo são optimizadas na Patrulha, uma pequena sociedade, em que
todos têm um papel importante, com direitos e deveres, onde só a vontade e trabalho de todos os pode
fazer atingir os objectivos por eles delineados
O jogo estimula o desenvolvimento do jovem, quer pelas tarefas que executa, quer pelos ensinamentos
que retira do ganhar e do perder, pela aprendizagem das relações sociais, pelas regras que tem que
cumprir. Isto porque quando as crianças brincam ou os jovens cooperam, espontaneamente descobrem
a necessidade de se organizar, de respeitar regras, de colaborar entre si, de interiorizar os valores do
grupo.
Por meio do jogo, o escuteiro exercita as capacidades necessárias ao seu desenvolvimento integral;
dentre elas: autodisciplina, vida em sociedade, afectividade, criatividade, valores morais, espírito de
equipa.
O jogo é dos instrumentos mais importantes e poderosos que o educador tem ao seu dispor.
Caracterizado pela espontaneidade, agrada a qualquer escuteiro, toca em várias áreas do
desenvolvimento e permite conhecer cada indivíduo, assim como a sua interacção com o grupo.
Mais uma vez o papel do Dirigente e da Equipa de animação é fundamental. Cabe-lhes orientar para que
o jogo seja mesmo motivador e motor de aprendizagem. Devem ajudar e orientar o jovens escuteiros,
mas nunca resolver o problema por eles ou fazê-los sentir que o seu desempenho não é importante.

Jogo de Pista Raid Jogo de Cidade Jogo da Vara

Jogo Nocturno Peça para o Fogo de Conselho

Nos jovens existe uma tendência natural e espontânea para que, rapazes e raparigas, se formem em
pequenos grupos, sejam esses grupos formados para as mais diversas ocasiões, sendo uma delas o jogo.
É nesta base natural de convivência e crescimento que o Escutismo se baseia, pois o jogo responsabiliza a
liberta os jovens, fazendo-os crescer. É por este facto que do jogo espontâneo advém um crescimento,
uma aprendizagem, uma realização de algo em conjunto, onde o contributo de cada elemento é
fundamental para a realização de um todo

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“O projecto” — O Empreendimento

Os Pioneiros, pela idade que têm, são capazes de tudo! São capazes das melhores acções e desempenhos
e, são igualmente capazes das maiores travessuras! São essencialmente ávidos de aventura, de vivências
diferentes, gostam de correr riscos!
Como dizia o nosso sábio Fundador: “Os rapazes são capazes de encontrar aventura num velho charco
imundo”, ou, “A imaginação leva o rapaz através da pradaria e dos mares. No Escutismo ele sente-se
parente do pele-vermelha, do pioneiro e do sertanejo.”
A imaginação é o catalisador de um Empreendimento, é um dos grandes responsáveis pelo sucesso de um
ano escutista. É responsabilidade das Equipas de Animação não deixar esmorecer o entusiasmo e não
deixar que a falta de imaginação ou de empenho comprometam as expectativas dos rapazes e raparigas.
Por isso, é fundamental que a Equipa de Animação viva o Empreendimento, o seu imaginário e as suas
actividades, que encarne os personagens, que seja um verdadeiro escuteiro, pois, se o entusiasmo chegar
a estar em queda, saberá reerguê-lo!

1. Pedagogia do Projecto

O Método Escutista é um enquadramento educativo completo, composto por elementos


que se interrelacionam e trabalham em conjunto como um sistema, para fornecer aos
jovens um ambiente de aprendizagem rico e activo
“Escutismo: um sistema educativo”, WOSM

O que é um Projecto?
É um conjunto determinado de acções interrelacionadas que se planeiam e implementam com vista a
atingir um objectivo último num determinado prazo.
No Escutismo, é a principal “ferramenta” utilizada para organizar diferentes actividades visando um
objectivo comum.

Um projecto escutista:
• …é um desafio colectivo;
• …tem uma meta clara e um horizonte temporal;
• …envolve 4 Fases principais;
• …está baseado no uso do Método Escutista;
• …incorpora uma variedade de oportunidades de aprendizagem;

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• …tem em conta interesses, talentos, capacidades e necessidades distintas;
• …procura que todos e cada jovem da patrulha ou unidade esteja comprometido no
atingir do objectivo através de esforço pessoal.

Valor educativo do Método do Projecto


• Desenvolve a capacidade de dialogar e trabalhar em cooperação com outros;
• Contribui para garantir genuína participação dos jovens nas decisões que lhes dizem respeito e dá-
lhes esse “treino”;
• Desenvolve a responsabilidade;
• Desenvolve o sentido de “propósito” (efeito motivador);
• Permite a descoberta de talentos ou a sua busca;
• Permite treinar competências de diversa ordem;
• Cria hábitos de funcionamento “em projecto” (úteis para a vida contemporânea);

2. As Fases do projecto

1.ª Fase: Idealização e Escolha


• Motivação e orientação prévia (Conselho de Guias) – Importância, o que apresentar…
• Concepção (Equipas) – Espaço de participação e criatividade
• Apresentação (Equipas /Conselho de Grupo) – Oportunidade de expressão
• Escolha (Conselho de Grupo) – Treino da democracia

Ainda dentro da 1ª fase, a Equipa de Animação deverá proceder ao Enriquecimento do


Empreendimento:

• A valorização da actividade na sua globalidade:


 Que aspectos devem ser reforçados no projecto?
 Que outros objectivos se podem incluir?
 Que aspectos operacionais merecem especial atenção?
• A valorização dos objectivos propostos:
 Que objectivos concretos se querem atingir?
 Que actividades se podem sugerir p ser adicionadas?
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• A impregnação na actividade dos valores escutistas:
 Que dimensões educativas se querem trabalhar com as acções?
 Onde estão presentes os elementos do Método Escutista?
• A exploração na actividade até ao limite possível do progresso individual:
 Que “provas” podem ser trabalhadas?

2.ª Fase: Preparação


• Em Conselho de Guias:
 Actividades
 Ateliês
 Tarefas e Missões
 Responsabilidades
 Calendário
 Recursos (Humanos, Financeiros, Materiais)
 Contactos
• Elaboração do Painel do Empreendimento;

3.ª Fase: Realização


Viver o projecto! Agir, acampar, jogar, visitar, construir, cantar, representar! Vamos fazer tudo aquilo
que preparámos!

4.ª Fase: Avaliação


• É a fase de “extrair o sumo” ao que se viveu;
• Feita pelo Grupo e Equipas;
• Usar meios criativos e adequados (não é um exame);
• Duas componentes essenciais:
Aspectos operacionais (como correu?)
Aspectos educativos (o que se adquiriu?)
• Reconhecer o progresso feito (ligação com a celebração): etapas de progresso, insígnias de
competência…
• Que pistas ficam para o futuro? (próximo Projecto?)

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Em suma:

1ª Fase: ESCOLHA 2ª Fase: PREPARAÇÃO 3ª Fase: REALIZAÇÃO 4ª Fase: AVALIAÇÃO


viver o projecto !
Agir, acampar, jogar,
Organizar, planificar visitar, construir, Celebrar e festejar o final da
Reunir as ideias Aventura
e enriquecer o cantar, representar!
individuais
Empreendimento Vamos fazer tudo Festa do Empreendimento
aquilo que
preparámos!
Avaliar o Empreendimento:
Preparar um projecto - Avaliação global, com
de Equipa: proposta de alteração/
Reunir o Conselho correcção do que correu
- tema sugestivo e
de Guias - definir e menos bem
cativante;
distribuir tarefas
Painel de - Objectivos alcançados
- o que queremos fazer, pelos elementos e
Empreendimento
como e porquê o Equipas - Níveis de participação
queremos fazer e onde
Deverão então reunir os
o queremos fazer;
Conselhos de Guias e de
Grupo.

Apresentação do
projecto de A Equipa de A Equipa de Animação:
Empreendimento: A Equipa de Animação:
- Regista todas as apreciações;
Animação ajuda,
 original e - Vive o
orienta, enriquece o - Lança pontos para debate
criativa - cartazes, Empreendimento!
projecto e
canções, peças de - Balanço do Empreendimento
responsabiliza os - Estimula o Grupo
teatro, fotografias, e objectivos alcançados
Escutas pelas suas
mapas, postais - Soluciona
tarefas - Progresso
“imprevistos”
Eleição do projecto em individual/competências
Grupo

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Actividades da secção
“As actividades são a parte mais visível do Programa; representam o que os jovens fazem no Escutismo” , diz-nos B.-P.

Uma actividade é um conjunto de experiências que proporciona a cada jovem a


oportunidade de adquirir conhecimentos, competências e atitudes que o/a levam a atingir
um ou maisobjectivos educativos estabelecidos
RAP, WOSM

No Movimento escutista, os jovens aprendem fazendo. A aprendizagem pela acção permite uma
aprendizagem por descobertas, fazendo com que os conhecimentos, atitudes e habilidades se
interiorizem se forma natural. Assim, de alguma maneira, os jovens autoeducam-se. As actividades, são o
meio privilegiado para alcançar essa aprendizagem.

ACTIVIDADE EXPERIÊNCIA

• É a acção que se desenvolve • É o que se passa e é apreendido por cada


entre todos; pessoa;
• É um instrumento que gera • É o que se obtém da acção desenvolvida;
diferentes situações; • É o resultado que se produz no jovem ao
enfrentar diferentes situações;

Atendendo ao efeito que se pretende que as actividades tenham nos jovens é importante, senão mesmo
fundamental, que as actividades sejam programadas, seleccionadas e desenvolvidas de forma adequada.
O improviso pode ser nefasto para as experiências que os jovens possam vir a adquirir de uma actividade
preparada “em cima do joelho”.
Por outro lado, é importante introduzir inovações, especialmente nas actividades que tendem a seguir
um padrão na sua forma de realização. Introduzamos variações, questionemo-nos se não poderemos
melhorar essas actividades ou introduzir novas componentes que as tornem mais atractivas, sob pena
dessas mesmas actividades perderem o seu valor educativo e o seu interesse por parte dos nossos jovens
escuteiros. Não podemos deixar assim que a rotina se instale e constitua uma “pedra na engrenagem”.

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Exemplos de actividades de campo:
• Descida de rio em jangada;
• Pequeno acampamento volante;
• Raid;
• Acampamentos;
• Safari fotográfico;
• Herbário;
• Limpeza de matas/florestas/praias.
Exemplos de actividades desportivas:
• Realizar jogos de diversas modalidades
• Realizar torneios
• Realizar jogos tradicionais;
Exemplos de actividades de expressão:
• Espectáculo de dança (tipo anos 60/80);
• Teatro;
• Mimar/encenar parábolas;
• Exposições;
• Ateliers de expressão dramática;
• Ateliers de pinturas faciais e caracterização;
• Ateliers de construção de instrumentos musicais;
• Jornal do Grupo.
Exemplos de actividades sociais:

• Realizar uma festa de Natal;


• Animar uma festa para doentes e/ou idosos;
• Colaborar em angariações de isntituições (tipo banco Alimentar);
• Realizar urna campanha de angariação de brinquedos;
• Organizar um pedipaper.

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5 – Contacto com a Natureza

“A floresta é, simultaneamente, um laboratório, um clube e um templo” — B.-P.

A utilização do contacto com a Natureza como forma de educar as crianças, os adolescentes e os jovens é,
de facto, uma característica do escutismo e um dos elementos fundamentais do método escutista. Pelo
valor pedagógico que contém, como espaço, tabuleiro, do jogo escutista, como espaço de
desenvolvimento de instintos e capacidades intrínsecas, como oportunidade de crescimento e de
desenvolvimento da consciência crítica, como materialização, visível, da obra do Criador, interessa, por
isso, dele retirar todo o aproveitamento.
Para um escuteiro o contacto com a natureza é, por isso, condição imprescindível para um crescimento
pessoal e colectivo

I. Valor pedagógico
a) Um laboratório
O contacto com a Natureza incentiva a consciência crítica dos jovens em relação à gestão dos recursos
naturais que toda a comunidade tem ao seu dispor e ajuda-os a integrarem-se e a considerarem-se parte
dessa mesma comunidade.
Assim, ao observarem a forma cuidada ou descuidada como os outros cuidam da Natureza, a criança, o
adolescente e o jovem adquirem hábitos e comportamentos — de aplauso e de censura — em relação aos
seus pares, mas também aos mais velhos, que lhes dão uma espécie de autoridade moral essencial.
Porquê um laboratório?
— Porque evidencia que as coisas mais simples são, verdadeiramente, as importantes;
— Porque o jovem pode adquirir a consciência de que é passageiro, e não dono, o único proprietário do
planeta;
— Porque promove a consciência individual, a cidadania, a noção de responsabilidade individual;
— Porque permite a aquisição de conceitos como o da Ecologia e o do desenvolvimento sustentável;

O Papel do dirigente
Neste processo, compete ao dirigente incentivar os seus elementos a assumir comportamentos saudáveis
e de defesa da Natureza, nunca se esquecendo de que o exemplo é o melhor meio de educação.

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Boas práticas:
- Incentivo à separação de lixos
- Reaproveitamento e reutilização de alguns objectos (reciclagem)
- Compostagem
- Iluminação com baterias recarregáveis por painel solar
- Drenagem e filtragem das águas de lavagem
- Monitorização das águas de algum curso de água
- Contacto com centros de investigação e conservação da Natureza (ICN)
- Investigar que forma de cozinhar causa mais impacto e consciencializar o Grupo

Anotações de leitura e textos que podem ajudar:


- Carta do índio Seattle
- Papalagui
- Princípios Escutistas vs. Educação Ambiental, in Escuteiro Global
- Carta do Desenvolvimento Sustentável
- A descontrução da palavra Ecologia = Eco (casa) + lógia (conhecimento)

Bibliografia:
Escuteiro Global, de Frankie Opie
Ajuda a salvar o Mundo
50 Actividades para Miúdos, Cecilia Fitzsimons
Sendas Ecológicas, Edições Salesianas

b) Um clube
O espaço natural é o palco preferencial para a realização de actividades escutistas. Lembrar-nos-íamos,
imediatamente, do acampamento, mas convém salientar que todo o jogo escutista tem como território
ideal o ar livre e a Natureza. É a partir da sua observação e da vivência, individual e colectiva que a
criança, o adolescente e o jovem recolhem o conjunto das regras primárias e instintivas que presidem à
natureza humana e às regras sociais elementares, por exemplo.

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Porquê um clube?
— Porque permite o confronto com um espaço menos confortável que leva os escuteiros a superar as
suas dificuldades e incentiva o respeito pela natureza;
— Porque possibilita o contacto real e físico com o mundo natural e as suas características, entraves e
obstáculos;
— Porque fornece ferramentas e sugestões de auto-suficiência, de conhecimento do seu próprio corpo e
do ambiente que o rodeia;

Papel do dirigente:
Compete ao dirigente, a este nível, desenvolve, sempre que possível, actividades de relação com a
Natureza que permitam o crescimento saudável e harmonioso dos escuteiros.

Boas práticas:
- Identificação de diferentes espécies de Avifauna (procurar panfletos de avifauna local e tentar a partir
deles identificar as especiais que vão aparecendo durante uma pista ou raid)
- Criação de Herbários
- Recolha de Pegadas de Gesso e elaboração dos seus positivos
- Identificação de espécies protegidas e não danificação da vegetação durante a montagem do campo
- Limpeza de matos com o cuidado de não danificar
- Jogos com o contacto com os elementos naturais, explicando a importância de cada um deles
- Visionamento de documentários em vídeo sobre o animal Totem da Patrulha

Anotações de leitura e textos que podem ajudar:


À contrário sensu — O Deus das Moscas, William Golding

Bibliografia:
Mil e uma actividades para escuteiros, B.-P.

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c) Um templo

A natureza é, para o jovem, também, um espaço de contemplação e de deslumbramento. É a arena mais


limpa e clara de toda a obra da Criação. O jovem é convidado a descobrir nela as mais elementares
intenções de sã convivência, mas também de livre arbítrio dado por Deus ao Homem. A criança, o
adolescente e o jovem têm na Natureza o espaço de contemplação, de deslumbramento, a montra
privilegiada para vivenciar Deus.

Porquê um templo?
— Porque, nas palavras de B.-P., “o estudo da Natureza mostrar-nos-á as coisas maravilhosas e belas de
que Deus encheu o Mundo para nosso deleite”;
— Porque o ar livre é, efectivamente, um ambiente que permite a activação de todos os sentidos e da
própria natureza da pessoa;
— Porque permite, através dos sentidos, da observação, pela razão e pela lógica, a intervenção quase
directa do Espírito Santo na pessoa.

Papel do dirigente:
Incentivar, sempre que possível, atitudes de contemplação e de reflexão sobre as maravilhas da Criação,
auxiliando os seus elementos a compreender o tesouro que nos foi dado por Deus.

Boas práticas:
- Oração de contemplação daquilo que o rodeia o Homem (vegetação, estrelas, rios, etc.), incentivando
cada um a agradecer a beleza das flores, dos verdes, do perfume no ar, do sol (no fundo aquilo que torna
especial o lugar de acolhimento, por mais singelo que seja).
- Jogos e contemplação: ao amanhecer tentar perceber o que estarão a dizer os pássaros uns para os
outros ao acordar; ao anoitecer tentar perceber o que desejariam os animais ali à volta.

Anotações de leitura e textos que podem ajudar:


- A Figura de São Francisco de Assis, o primeiro ecologista
- Oração indo-americana “Ó Grande Espírito”

Bibliografia:
Pedagogia da Fé no Escutismo

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6 – Progresso Pessoal

I. Introdução
a) Valor pedagógico do Sistema de Progresso
A progressão pessoal tem por objectivo essencial ajudar cada adolescente a envolver-se activamente e
de forma consciente, no seu próprio desenvolvimento.
O Sistema de Progresso é a principal ferramenta de suporte à progressão pessoal e tem três
características principais:
- é centrado no indivíduo;
- considera as capacidades de cada um;
- é baseado num conjunto de objectivos educativos.

Permite assim atingir os objectivos educativos da Secção (adquirir conhecimentos, competências e


atitudes), sendo um factor de motivação para o adolescente (ser e fazer melhor). Para além disso, guia-o
no seu percurso de desenvolvimento, sendo uma oportunidade de aprofundamento de habilidades
próprias, valorização pessoal ou até mesmo de descoberta vocacional. O sistema de progresso impulsiona
o jovem a adquirir “rotinas” de análise e planeamento da sua vida.

O sistema de progresso é orientado por objectivos educativos de Secção e apresenta as


seguintes componentes, que representam as suas principais vantagens:
- o diagnóstico inicial é valorizado;
- há um reforço da consciência pessoal do elemento no que diz respeito ao seu progresso e à sua
preparação para a Promessa (é ele que reconhece que está preparado para assumir um
compromisso com a unidade)
- são definidas oportunidades educativas como programa-guia que permite atingir determinados
objectivos a nível de crescimento;
- na relação educativa entre elemento e dirigente surge a possibilidade de negociação sobre o
caminho a percorrer e as metas a atingir;
- o diagnóstico, a avaliação e o reconhecimento envolvem diversos intervenientes (os pares, os
dirigentes e outros organismos), o que enriquece o processo.

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b) A estrutura do Sistema de Progresso
A passagem do adolescente pela secção é distribuída em 2 grandes fases: a integração e a vivência.
Durante a integração, o Pioneiro faz a sua adesão. Durante a vivência, ele evolui nas etapas de progresso.

I. Diagnóstico Inicial

Diagnóstico inicial quando o jovem chega ao Grupo Pioneiro

Todos os adolescentes que entram para o Grupo Pioneiro são diferentes em diversos
aspectos: idade, contextos familiares e escolares, níveis de desenvolvimento, aptidões e
dificuldades. Desta forma, poderão estar em estádios de desenvolvimento diferentes e a
Equipa de Animação deverá ter por missão promover – a partir de pontos de partida
diferenciados – um desenvolvimento pessoal harmonioso — que idealmente os levará a
atingir em pleno os objectivos educativos da secção.
No âmbito de um sistema de progresso orientado por objectivos torna-se, pois,
imprescindível conhecer o jovem que chega ao Grupo Pioneiro – a isto chamamos o
diagnóstico inicial.

O diagnóstico inicial e formal deve ser feito pelo Chefe do Grupo Pioneiro, em conjunto com o
Aspirante/Noviço e o Guia da sua equipa e através da observação do jovem durante as primeiras
actividades. Poderá ainda recorrer a dinâmicas e jogos específicos para o efeito.
Esta fase será crucial para a posterior escolha dos trilhos, uma vez que esta escolha deve ter em
consideração as necessidades de desenvolvimento do adolescente. O Aspirante/Noviço deverá ser
incentivado a escolher trilhos onde o seu desenvolvimento seja mais necessário e a concretizá-los em
acções concretas.
Este diagnóstico mais formal irá servir para reconhecer – depois da sua fase de adesão - em que etapa de
progresso o aspirante se encontra, ou seja, que objectivos educativos ele já detém e que equivalência
será atribuída em termos de etapa de progresso:

Assim, no reconhecimento do progresso pessoal:


- até 1 trilho de cada área de desenvolvimento alcançado – etapa 1

Na óptica de identificar necessidades em vez de validar competências, caso o Aspirante/Noviço já


tenha alcançado algum trilho, este será reavaliado mais tarde e o pioneiro escolhe outros 6
trilhos para a sua 1.ª etapa.

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- entre 1 e 2 trilhos de cada área de desenvolvimento alcançados – etapa 2
- entre 2 e 3 trilhos de cada área de desenvolvimento alcançados – etapa 3

Ex: o aspirante só completa uma etapa se tiver 1 trilho de cada área de desenvolvimento
pessoal, ou seja, caso tenha 3 trilhos do percurso físico, 3 do percurso intelectual e 1 do percurso
social ainda tem de alcançar 1 trilho de cada um dos outros 3 percursos antes de fechar a etapa.
Ex: caso tenha 7 trilhos alcançados (em percursos diferentes) está na 2ª etapa e escolhe mais 5
trilhos para a completar.

Estudo de caso:
No caso de o Grupo Pioneiro receber um aspirante com 17 anos a equipa de animação deverá
também realizar um diagnóstico formal em conjunto com o Aspirante e o Guia e caso seja necessário
recorrer a dinâmicas e jogos específicos para o efeito (preferencialmente na presença dos 2 Chefes
de Unidade). Após o diagnóstico surgem 2 hipóteses:
- Cumpre todos os objectivos educativos dos pioneiros e passa a ser aspirante nos caminheiros;
- Não cumpre todos os objectivos educativos dos pioneiros e fica como aspirante no Grupo Pioneiro,
inicia a sua adesão e após a promessa será colocado na etapa de progresso de acordo com os
objectivos já alcançados (tal como explicado acima no reconhecimento do progresso pessoal).
Se não alcançou todos os trilhos do Grupo Pioneiro, é provável que o aspirante já não tenha tempo
para o conseguir antes de passar de Secção. Nesse sentido, o Chefe de Grupo Pioneiro deverá
informar o Chefe de Clã das necessidades de desenvolvimento em alguma área específica. Na nova
Secção o Chefe deverá ter em consideração estas necessidades no percurso individual do jovem.
Atenção que os objectivos não alcançados nos pioneiros não transitam e acumulam com os
objectivos educativos dos caminheiros – apenas são tidas em consideração as necessidades na
escolha dos primeiros objectivos no Clã.

Exemplo de ferramentas de diagnóstico para a atribuição de trilhos

1- Folha de apoio ao registo de conhecimentos, comportamentos e atitudes de cada sessão – Pode


também ser usada como diagnóstico. Ver anexo 3
Poderá ser preenchida (na totalidade ou parcialmente) pelo próprio, com a ajuda do guia, do Chefe de
Secção…. Poderá inclusive valorar-se de 1 a 4 (de não adquirido a totalmente adquirido) e fazer o registo
de acontecimentos e atitudes que exemplifiquem. Se todos os intervenientes, ou a maioria,
especialmente o próprio, considerar aquele trilho adquirido, poderá ser validado. Sem receio de ter de
voltar a ele no próximo ano, se se reconhecer essa necessidade.
2- A entrevista com o Chefe de Unidade ou adjunto é um momento de reflexão, conhecimento e
crescimento muito importante, aumentando essa importância à medida que aumenta a idade do

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pioneiro. Para o dirigente é uma oportunidade privilegiada para conhecer melhor aquele pioneiro. Para o
jovem é uma experiencia única de se conhecer melhor e ver reconhecido o seu valor. É uma oportunidade
para validar trilhos, mas também para definir prioridades, dar corpo a projectos individuais (dentro e fora
do escutismo) e formas de os implementar.
3- E, claro, o Jogo. Os jogos escutistas e as dinâmicas de grupo como experiências de aprendizagem
activa, constituem oportunidade por excelência de nos testarmos, conhecer e dar a conhecer. Ver
recursos…. www…. .:)

Não; é aspirante ou noviço Transição


Sim
entre sistemas
de progresso
?

Não Idade é Sim


superior a 14
anos?
Diagnóstico com base no Diagnóstico com base no
Diagnóstico inicial mais formal com observação conhecimento adquirido e com
conhecimento adquirido e com
informal e dinâmicas com o noviço/aspirante. participação do pioneiro.
participação do pioneiro.
Noviços: pode haver uma conversa entre chefes Ele é incentivado a concretizar
Adesão para os aspirantes.
de unidade para “passar testemunho”. com acções práticas os
Ele é incentivado a concretizar objectivos que se incluem nos
Adesão. trilhos seleccionados .
com acções práticas os
objectivos que se incluem nos
Ele é incentivado a concretizar com acções
trilhos seleccionados .
práticas os objectivos que se incluem nos trilhos
seleccionados .

Algum trilho alcançado é avaliado mais tarde.

Primeiro grupo de trilhos não deve repetir os


últimos trilhos atingidos nos exploradores . Não Pelo menos Sim
1 trilho de cada
área?

Etapa 1
Não
Pelo menos Sim
2 trilhos de
cada área?

Etapa 2 Etapa 3

Não
Aspirante tem Sim
17 anos e tem
18 trilhos?

Passa para os
Fica nos Pioneiros
Caminheiros

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II. Adesão Informal aos Pioneiros

A adesão informal iniciar-se-á no início do último trimestre da vivência escutista no Grupo Explorador.
Neste último trimestre, o Explorador continua a pertencer e a viver em pleno as dinâmicas do grupo
explorador. Pretende-se que ele se vá familiarizando, de forma informal, com o grupo de pioneiros.
O objectivo é promover uma aproximação aos Pioneiros, que funcione como “quebra-gelo” e que ajude a
colocar os Exploradores que passam para os Pioneiros mais à-vontade, promovendo uma integração mais
fácil, a partir do momento da efectiva passagem e do início da adesão formal.
Pretende-se que os guias do grupo pioneiro convidem o Explorador a participar numa actividade do
empreendimento (curta ou longa), de forma informal, para se poder ir inteirando da dinâmica do grupo
pioneiro, conhecer as equipas, os seus guias, os chefes e o abrigo. Tudo informalmente, sem pressões. A
ideia é ir observando, sem participação activa, em termos de tarefas ou responsabilidades.
Deixa de existir insígnia de ligação.
A Adesão informal não é obrigatória, é aqui assinalada apenas como uma boa prática pedagógica a
considerar.

III. Adesão Formal aos Pioneiros

No caso dos Pioneiros, os Noviços e Aspirantes recebem uma insígnia de adesão no seu início. Essa etapa
de Adesão chama-se Desprendimento.
O objectivo da adesão é o de valorizar a tomada de consciência individual do Noviço/Aspirante
- sobre como funciona a Unidade,
- como se vive o dia-a-dia das actividades típicas,
- qual é a mística e a simbologia e quais são os compromissos que se espera de um Pioneiro.

É com base nessa tomada de consciência individual que cada noviço/aspirante toma, por si, a decisão de
aderir ao grupo pioneiro ou não.
O Noviço/Aspirante deve, durante a adesão,
- conhecer a organização do Grupo pioneiro e das Equipas,
- a sua mística e a sua simbologia.
- Deve conhecer o patrono, o seu percurso de vida e o exemplo que ele constitui para o Pioneiro.
No caso dos aspirantes, deve adicionar-se, no campo do conhecer,
- a organização do agrupamento,
- a vida e mensagem de Baden-Powell
- e o domínio prático de técnica escutista e pioneirismo.
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Durante a adesão, o Noviço/Aspirante deve participar no quotidiano da Equipa e do Grupo. Deve ainda
participar activamente num empreendimento, com duração entre os 2 e os 3 meses. O objectivo é que
conviva de perto com a aplicação do método a uma actividade típica da secção.
Em adição, é durante a adesão que o Noviço/Aspirante toma conhecimento das áreas de
desenvolvimento (“percursos”) e dos trilhos educativos (“trilhos”). Cada Pioneiro é incentivado, após ter
seleccionado os seus trilhos, a concretizar os objectivos educativos em acções ou intenções pessoais
concretas. Os objectivos educativos serão mais de perto trabalhados pelos próprios pioneiros.

Por exemplo, para o objectivo da área de desenvolvimento físico, trilho de bem-estar físico
“Adequo a minha alimentação às necessidades do dia-a-dia e pratico uma actividade física
equilibrada”, o pioneiro que tenha escolhido este trilho deverá ser incentivado a concretizá-lo
com o que para ele isto significa, podendo, inclusivamente especificar acções concretas (por
exemplo, começar a praticar andebol e tomar 5 refeições por dia incluindo alimentos de cada
um dos diversos grupos da nova roda dos alimentos em pelo menos 2 dessas refeições).

Pretende-se ainda que nesta fase de adesão, o Noviço/Aspirante contacte e reflicta sobre o compromisso
que deverá assumir formalmente na sua investidura. Com base em dinâmicas propostas, deverá
progressivamente aprofundar o sentido deste compromisso, valorizando e fortalecendo a sua decisão de
aderir ou não ao grupo pioneiro.
A duração da adesão deverá ser adaptada ao noviço/aspirante. Cada indivíduo necessitará de tempo
diferenciado para tomar a sua decisão de aderir. Sugere-se que não ultrapasse os 7 meses.
A validação do andamento da adesão e da decisão de aderir dos noviços/aspirantes deve ser feita nos
conselhos de guias e deve haver uma validação da reunião das condições particulares de adesão,
nomeadamente no que toca à vivência na equipa, no grupo pioneiro e na actividade típica.
O grupo pioneiro deve também validar a decisão de fazer a promessa do noviço/aspirante, com base em
proposta dos guias no conselho de grupo.
A promessa deve ser valorizada enquanto momento marcante do processo de adesão. Por isso, deve ser
individualizada e marcada durante os 2 meses seguinte ao da adesão. Os noviços/aspirantes podem
assumir o seu compromisso em conjunto, agrupados de acordo com o tempo da sua tomada de decisão e
validação do grupo pioneiro.

IV. O Compromisso

Durante a fase de integração, cada Pioneiro irá viver esta nova experiência de forma muito pessoal – a
adaptação a novas pessoas e a novas dinâmicas podem, por isso, resultar em ritmos muito diferentes,
que devem ser respeitados.
Por outro lado será nesta fase, também, que o Pioneiro irá conhecer o que se espera dele quando aderir
formalmente ao Grupo Pioneiro. Através do diálogo, a Equipa de Animação e o Guia, tendo em conta o
diagnóstico inicial, terão de ajudar o pioneiro a escolher o seu primeiro percurso de progresso.

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Neste sentido, e sempre com o objectivo de colocar o jovem no centro da acção pedagógica, deverá ser
em primeiro lugar o jovem a reconhecer que quer continuar no Grupo Pioneiro e fazer a sua promessa –
a assumir o seu compromisso perante o Grupo.
Também em termos de etapas de progresso e com a clara intenção de reforçar esta vertente de
compromisso pessoal, a insígnia de progresso deverá ser entregue no início de cada etapa. Corresponde
ao compromisso assumido pelo pioneiro em procurar progredir nos conhecimentos, competências e
atitudes que o levam a atingir os objectivos educativos da Secção

V. Etapas de Progresso
No caso dos Pioneiros, os nomes propostos para as etapas de progresso são:

1.ª Conhecimento (aprofundado do Mundo)


2.ª Vontade (de mudar o Mundo)
3.ª Construção (de uma “nova Cidade”)
A proposta de progresso assenta em conhecimentos, competências e atitudes, com base das 3 vertentes
do saber: o saber-saber, o saber fazer e o saber ser.
No caso do CNE, pretende-se que a dinâmica de progresso vá de encontro aos objectivos definidos para
os trilhos e estes para as áreas de desenvolvimento.
Progredir significará assim atingir objectivos, ao invés de aumentar o nível de proficiência em
conhecimentos, competências e atitudes que o jovem já dominava.
Exemplificando, nesta proposta, pretende-se que o jovem seja capaz de jogar um jogo em equipa. Se ele
já pratica regularmente um desporto de equipa, o objectivo está cumprido. O progresso será então
tentar desenvolver outras atitudes que levem a atingir outros objectivos.
Cada uma das 3 etapas será variável e compõem-se da seguinte forma:
- Existem 6 áreas de desenvolvimento: afectivo, carácter, espiritual, físico, intelectual e social.
- Cada área de desenvolvimento contém 3 trilhos educativos.
- Cada trilho educativo contém 1 ou mais objectivos educativos.

Cada Pioneiro constrói a sua etapa de progresso, seleccionando 1 trilho de cada uma das diferentes
áreas de desenvolvimento.

Por exemplo, eu posso, após a minha adesão, seleccionar os seguintes trilhos: sensibilidade e
relacionamento (afectivo), autonomia (carácter), vivência (espiritual), desempenho (físico), procura do
saber (intelectual) e exercício activo da cidadania (social). Para mim, a combinação desses 6 trilhos e os
objectivos educativos que neles se encerram constituem a minha primeira etapa.
Outro Pioneiro pode seleccionar alguns destes trilhos na sua selecção para efeito da sua segunda etapa.
A liberdade de escolha compete inteiramente ao Pioneiro. No entanto, o chefe de unidade e o guia
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desempenham aqui um papel importante, a 2 níveis:
- No apoio do diagnóstico dos conhecimentos, competências e atitudes que o Pioneiro já detém e que o
ajudam a seleccionar os trilhos educativos que irão constituir as suas etapas;
- Na observação da evolução dos conhecimentos, competências e atitudes que contribuem para validar
os objectivos educativos como atingidos.
Os conhecimentos, competências e atitudes são trabalhadas no seio do Grupo Pioneiro e da equipa no
desenrolar do dia-a-dia e das fases da vivência dos empreendimentos, como se exemplifica no Anexo II.
O progresso faz-se através de oportunidades educativas que o nosso método, com as suas 7 maravilhas,
oferece. Deixam assim de existir provas, obrigatórias ou facultativas, opcionais ou de qualquer outra
ordem.
Passa a fazer sentido dizer-se que “o Pioneiro deu provas de” (porque isso foi observado em
conhecimentos, competências e atitudes) em vez de “o Pioneiro prestou provas” (porque realizou uma
determinada acção prevista num sistema de progresso com provas especificadas).

As oportunidades educativas
Tudo o que os Pioneiros fazem dentro e fora dos escuteiros ajuda-os a alcançar os objectivos
educativos da Secção, ou seja, a crescer nas seis áreas de desenvolvimento pessoal.

E os objectivos educativos que apresentamos aos jovens nesta idade não são mais do que
propostas ou desafios que podem ser alcançados de forma atractiva e divertida, no seio de
um grupo de amigos.

Desta forma as oportunidades educativas permitem que cada jovem viva experiências
enriquecedoras, e são essas mesmas experiências que levam ao desenvolvimento pessoal.

Neste sentido a cada objectivo educativo foram associadas algumas oportunidades educativas
– meras sugestões – que podem ser adaptadas e “negociadas” com o Pioneiro. Pretende-se,
assim, criar condições para acolher novas propostas e sugestões de oportunidades educativas,
potenciando desta forma a participação dos jovens no processo.
As oportunidades educativas contribuem para o alcance dos objectivos educativos de uma
forma indirecta e progressiva. Isto significa que não existe uma relação directa entre a
realização de uma oportunidade e o alcançar de um objectivo educativo. Mediante a avaliação
do desenvolvimento do jovem – e não da realização ou não da oportunidade educativa –
poderá ser necessário escolher novas oportunidades educativas e insistir na aquisição de
novos conhecimentos, competências ou atitudes
No Anexo III podem encontrar os quadros com a lista das oportunidades educativas propostas
para cada objectivo educativo da III Secção.

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As oportunidades educativas (cont.)
Os Pioneiros podem ainda adquirir conhecimentos, competências e atitudes na sua vivência
escolar, catequética, nos clubes a que pertença, equipas de outros organismos, etc. A ideia é o
chefe de unidade verificar esses conhecimentos, competências e atitudes, sem que o Pioneiro
tenha que as repetir, necessariamente.

Cargos e funções

O desempenho de um cargo no seio da equipa ou de uma função no empreendimento


constitui uma oportunidade educativa para progredir. Isto porque esse exercício de cargos e
funções privilegiam o crescimento em determinadas áreas de desenvolvimento, como pode
ser ilustrado no seguinte quadro e no Anexo IV.

Quadro ilustrativo de cargos e de funções

Cargo Área principal Outras áreas

Guia Carácter Afectivo / Social

Sub-guia Carácter Afectivo / Social

Secretário/cronista Intelectual Carácter / Social

Financeiro Intelectual Carácter / Social

Guarda do material Intelectual Carácter / Físico

Animador Espiritual Carácter / Social / Afectivo

Socorrista/botica Físico Carácter / Social / Intelectual

Intendente Intelectual Carácter / Físico

Informático Intelectual Carácter

A descrição das tarefas e responsabilidades em cada um destes cargos está apresentada nos
Cadernos de Função e no Caderno do Guia.

Competências

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I. Avaliação
A avaliação dos conhecimentos, competências e atitudes adquiridas e validação de objectivos educativos
concluídos deve ser feita de forma contínua, ao longo da vivência escutista do jovem. Ver Anexo III.
O reconhecimento desses objectivos e a consequente atribuição de trilhos educativos ou de etapas de
progresso concluídas deve ser feito na fase da celebração das actividades típicas.
Nos Pioneiros, é na vida da Equipa que se vão debatendo os conhecimentos, comportamentos e atitudes
que cada pioneiro vai adquirindo e que poderão ser indícios de que um determinado objectivo poderá
estar concluído. Este processo deverá ser induzido pelo próprio. O pioneiro, tendo concretizado os
objectivos com acções concretas, na fase da escolha dos trilhos, tem ao seu dispor um excelente
indicador sobre a sua própria progressão.
Se a equipa concorda que um pioneiro concluiu um determinado objectivo, o guia apresenta esse caso
no conselho de guias seguinte, sendo o assunto debatido entre os guias.
Se os guias se colocam de acordo, interpelam o chefe de unidade para obter a sua validação que, em
caso afirmativo, significa que ao pioneiro lhe foi atribuído o objectivo como concluído.
Caso os guias não concordem com a conclusão do objectivo, ou estes concordando, o chefe de unidade
dá parecer desfavorável fundamentado, o guia da equipa do pioneiro em causa explica, na equipa, as
razões para a não aceitação da sua proposta, explicando ao pioneiro o que ele deverá ainda adquirir, em
termos de conhecimentos, competências e atitudes, para que possa concluir o objectivo.

Avaliação
Novos “agentes” foram considerados na fase de avaliação do progresso pessoal. Partindo do
pressuposto que tudo o que os Pioneiros fazem dentro e fora dos escuteiros contribui para
o seu desenvolvimento e que existem oportunidades educativas a ser concretizadas em
outros “ambientes educativos” tal como a escola, associações, instituições etc, em alguns
casos a avaliação do seu progresso pessoal poderá ser feita também por outros
intervenientes.
Num sistema orientado por objectivos educativos os mesmos não podem ser controlados
como se fossem “provas” ou “exames”. Os objectivos educativos avaliam-se mediante a
observação do progresso dos jovens durante um percurso prolongado de tempo.
Foram identificados no quadro em Anexo V os conhecimentos, competências e atitudes
que devem ser observados em cada um dos objectivos educativos dos pioneiros.
Quando forem observados no jovem as condutas subjacentes aos objectivos, e avaliados
pelo próprio, pelos “pares” e pela Equipa de Animação o Conselho de Guias poderá
reconhecer que o Pioneiro alcançou aquele objectivo educativo.

De forma a ajudar a equipa de animação a conservar um registo de observação dos


conhecimentos, competências e atitudes de cada um dos pioneiros foi criada uma
ferramenta de suporte, que podem encontrar no Anexo VI.

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Relação educativa
Nesta vertente reforça-se o papel e a importância dos “pares”, ou seja, o papel dos
Guias e do Conselho de Guias no acompanhamento e na avaliação do progresso pessoal
dos seus elementos, de uma forma muito simples e orientada.

O Conselho de Guias será o espaço privilegiado para a tomada de decisões relacionadas


com o progresso dos elementos – escolhas de percurso, avaliação e reconhecimento de
progresso.
Esta abordagem implicará naturalmente o acompanhamento por parte da Equipa de
Animação, não devendo, no entanto, substituir os Guias nas tomadas de decisão, mas
sim ajudá-los na formação de opiniões e a tomar decisões em conjunto.
O facto de o novo sistema de progresso se basear numa escolha individualizada de
percursos, irá implicar por outro lado uma relação mais personalizada de cada um dos
elementos da Equipa de Animação com um determinado número de Pioneiros, de
modo a poder acompanhar devidamente o seu desenvolvimento pessoal.

Reconhecimento
Deixarão de existir os cartões de progresso. Passará a existir um diário de bordo que
junta o conceito de caderno de suporte ao progresso com a ideia de um diário de
vivências pessoais nos Pioneiros.

O diário de bordo deverá conter os objectivos educativos agrupados pelos respectivos


trilhos educativos e áreas de desenvolvimento, com espaço suficiente para que o
Pioneiro possa escrever quais as acções concretas que se propõe desenvolver para
atingir o objectivo e que tenham sido acordadas na equipas e negociadas com o Guia, e
validados com o Conselho de Guias e Chefe de Unidade.

Para além disso, recomenda-se que, no Abrigo, seja decorado um painel pelos Pioneiros
onde uma ilustração criada por eles simbolize os diferentes percursos e trilhos, e em que
cada um dos Pioneiros tem uma marca feita por ele, que o identifica. Essas marcas serão
usadas pelos Pioneiros para marcar no painel as suas escolhas, em termos de trilhos.

Quando o Pioneiro terminar a sua última etapa, ou seja, completar todos os objectivos
educativos definidos para a III Secção, irá receber uma anilha com o símbolo da Secção,
de forma a ser reconhecido que completou a totalidade do percurso educativo proposto
aos pioneiros. A anilha poderá ser usada até receber a 1ª insígnia de progresso
enquanto caminheiro.

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VI. Adesão Informal ao Clã

Para os pioneiros mais velhos o último trimestre do seu último ano no Grupo Pioneiro será já um período
de adesão informal aos caminheiros, como será apresentado mais à frente.
Como em qualquer processo de transição pretende-se que este seja ao mesmo tempo suave mas
também desafiante.
A adesão informal iniciar-se-á no início do último trimestre da vivência escutista no Grupo pioneiro.
Neste último trimestre, o Pioneiro continua a pertencer e a viver em pleno as dinâmicas do grupo
pioneiro. Pretende-se que ele se vá familiarizando, de forma informal, com o clã.
O objectivo é promover uma aproximação aos Caminheiros, que funcione como “quebra-gelo” e que
ajude a colocar os Pioneiros que passam para os Caminheiros mais à-vontade, promovendo uma
integração mais fácil, a partir do momento da efectiva passagem e do início da adesão formal.
Pretende-se que os chefes de equipa convidem o Pioneiro a participar numa caminhada (ou em parte, se
for longa), de forma informal, para se poder ir inteirando da dinâmica do clã, conhecer as equipas, os
seus chefes de equipa, os chefes e a base. Tudo informalmente, sem pressões. A ideia é ir observando,
sem participação activa, em termos de tarefas ou responsabilidades.
Deixa de existir insígnia de ligação.
A Adesão informal não é obrigatória, é aqui assinalada apenas como uma boa prática pedagógica a
considerar.

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7 – A Relação Educativa

“Os princípios do escutismo estão todos certos. O êxito da sua aplicação depende do chefe e do modo
como ele os aplica.”
in Auxiliar do Chefe Escuta, p44

A presença do Adulto constitui elemento essencial de qualquer comunidade, pedagogia ou metodologia


educativa, pois não há educação sem a presença do Adulto. Já Fernando Savater dizia que, para se
“funcionar educativamente, (…) é imprescindível que alguém (…) se resigne a ser adulto” [in O Valor de
Educar].

No Escutismo, o Adulto é o garante da educação integral dos jovens da sua Unidade; a sua missão não é
mais do que educar, e educar através da aplicação do Método criado por Baden-Powell para os valores
por ele propostos. No caso particular do Corpo Nacional de Escutas, esta aplicação do Método e a
vivência dos valores decorre à luz do Evangelho de Jesus Cristo, sendo o testemunho cristão do Adulto
elemento fundamental.

Os Animadores responsáveis pela implementação do programa educativo asseguram que cada criança e
jovem tem oportunidades para se desenvolver nas diversas áreas da sua personalidade (física,
intelectual, social, espiritual, afectiva e carácter). Tal ocorre por via da organização de actividades
adaptadas às necessidades, aspirações e capacidades dos jovens de cada idade, determinando objectivos
educativos relevantes e estabelecendo relações de suporte entre os adultos e os jovens, assim como
entre estes.
in RAP – User’s Guide, p125

A intervenção do Adulto no Escutismo é, porém, por princípio subsidiária; ou seja, a acção pedagógica –
para além de voltada para o jovem – deve estar centrada no próprio jovem, chamado a ser, pela vivência
do ‘Jogo Escutista’, protagonista do seu auto-desenvolvimento. O Adulto, na medida da idade e
maturidade dos jovens, é chamado a recuar na intervenção, competindo-lhe, no entanto, sempre
assegurar a existência de um ambiente seguro e propício a uma aprendizagem do tipo aprender-fazendo,
bem como da conformidade da vida da Unidade com os ideais e valores com que o Escutismo se
identifica e se propõe promover. Cabe, assim, ao Adulto, a humilde postura de João Baptista: “Ele é que
deve crescer, e eu diminuir” (Jo, 3, 30).

Ausência Pedagógica
Se a presença do Adulto é fundamental no Escutismo, a ausência também o é. O Adulto tem de dar
espaço aos jovens para que estes possam crescer e desenvolver a sua autonomia.
Ausências – mesmo físicas, não apenas das reuniões mas também das próprias actividades – que devem
estar de acordo com a idade e maturidade dos jovens: se com os Lobitos pode ser o jogo de pista vigiado

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à distância, com os Exploradores já são as etapas do raid ou uma actividade de angariação de fundos; nos
Pioneiros alarga-se o âmbito da autonomia e nos Caminheiros pode até – se assim for considerado
adequado – ser a total ausência (mas não desconhecimento ou falta de informação) do Dirigente no hike
ou no acampamento da equipa.
Ausências que não são vazio, mas expressão de uma intencionalidade pedagógica.

A –O Adulto no Escutismo
Ser Adulto no Escutismo não pode resultar apenas de um – ainda que bem-intencionado – voluntarismo,
nem ser encarado como algo apenas acessível a um pretenso escol de super-homens, ou super-
mulheres, com critérios externos ao Movimento.
Ser Adulto no Escutismo deve resultar de um encontro entre uma intenção voluntária do próprio e o
cumprimento de requisitos – o Perfil – estabelecidos pela associação, encontro que terá de se
consubstanciar num compromisso subsequente a uma formação inicial, formação a que deverá ser dada
continuidade ao longo do ciclo de vida na associação.

Perfil do Animador Adulto


Nestes termos, o Adulto que adere à Proposta Educativa do CNE deverá:
Em termos gerais...

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Face aos Jovens...

“O êxito na educação do rapaz depende em grande parte do próprio ‘exemplo


pessoal’ do Chefe Escuta.”

in Auxiliar do Chefe Escuta, p17

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Face ao Método escutista…

Em termos de vida espiritual…

 Dar testemunho e bom exemplo de Fé e de vida espiritual;


 Ser um membro activo da comunidade, estando ao seu serviço;
 Dar testemunho de serviço desinteressado.

O Dirigente do CNE é um Adulto que assumiu um compromisso pessoal e voluntário de trabalhar na


implementação e desenvolvimento da Proposta Educativa do CNE enquanto Educador. Ao assumir este
compromisso, assume-se uma Missão de Serviço com as devidas implicações – em termos de
responsabilidades e de deveres – daí resultantes.

Atribuições e Formas de Actuação

A Missão do Dirigente tem contornos e conteúdos definidos, e procedimentos próprios, os quais importa
explicitar; assim, a Missão do Dirigente desdobra-se em atribuições [conteúdos] e concretiza-se segundo
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determinadas formas de actuação [métodos].
Constituem atribuições do Dirigente:

ARQUITECTAR
 Organizar a Unidade garantindo a integração e funcionamento de todos os elementos do método;
 Adaptar a aplicação do método à realidade sócio-cultural local;
 Ajustar a organização ao enquadramento comunitário, designadamente paroquial;
 Dotar os guias e chefes de equipa de competências e espaço para o exercício pleno da sua actividade,
remetendo-se para um papel supervisor e subsidiário;
 Garantir a gestão de equilíbrios na organização e composição das subunidades, designadamente nos
momentos de entrada e saída de elementos.

GUARDAR A MISSÃO
 Garantir o regular funcionamento dos elementos do método;
 Gerar e garantir condições de funcionamento da vida de grupo;
 Ser exemplo e modelo de vida.

ADMINISTRAR A VISÃO
 Lançar desafios de desenvolvimento da Unidade;
 Fazer convergir horizontes e perspectivas pessoais e das subunidades;
 Promover a adesão e a perseverança em torno do caminho.

MOTIVAR
 Estimular a iniciativa e o desenvolvimento das capacidades pessoais de cada jovem;
 Promover, de forma autêntica e não manipulativa, o entusiasmo;
 Sugerir vias de exploração e de busca de soluções.

GERAR COMPROMISSOS
 Incentivar a autonomia na tomada de decisões;
 Promover consciência e consistência na tomada de decisões;
 Apelar ao sentido das opções e à coerência para com as mesmas;
 Manifestar reciprocidade nos compromissos.

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EDUCAR
 Estimular a pró-actividade dos jovens;
 Ajudar a explorar criativa e realisticamente a tensão entre os sonhos e a realidade;
 Fomentar uma cultura de progressão e superação pessoal.
 Promover, simultaneamente, a integração na comunidade e a autonomia pessoal;

Educar é, assim, a atribuição nobre de um Dirigente; contudo não pode a mesma ser levada a bom porto
isoladamente, sem o concurso das demais.

São formas de actuação de um Dirigente:

CONHECER OS JOVENS
 Conhecer as características gerais dos jovens da faixa etária da Secção onde presta serviço;
 Conhecer cada jovem, a sua personalidade e a sua realidade.

ESTABELECER RELAÇÕES EMPÁTICAS


 Ser capaz de observar e escutar;
 Ser capaz de reagir serena e ponderadamente;
 Ser capaz de partilhar entusiasmos próprios da idade dos jovens;
 Ser capaz de jogar com os jovens;
 Ser capaz de dar espaço e tempo ao ritmo pessoal de cada jovem.

QUERER APRENDER E CRESCER COMO PESSOA


 Ter uma atitude humilde;
 Ter abertura à aprendizagem e formação contínuas, seja por vias formais [cursos, seminários, …] ou
informais [experiência, interacção, pesquisa pessoal, …];
 Ter abertura para aprender com os jovens.

SABER IMPLEMENTAR E AVALIAR ACTIVIDADES


 Saber analisar e organizar actividades;
 Saber incentivar e orientar os jovens na análise e organização de actividades;

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 Saber avaliar e promover a avaliação pelos jovens das actividades.

AJUDAR OS OUTROS A CRECER


 Levar os jovens no estabelecimento de objectivos pessoais;
 Levar os jovens a perseverar face aos desafios e aos objectivos pessoais;
 Levar os jovens a conhecer e gerir as respectivas limitações;
 Levar os jovens a potenciar os respectivos talentos e capacidades;
 Levar os jovens a aprender a ultrapassar os erros e falhanços;
 Levar os jovens a partilhar consigo o seu desenvolvimento pessoal.

ESTAR ENVOLVIDO NA COMUNIDADE


 Viver bem consigo próprio e com os outros;
 Viver integrado em termos sociais [familiares, profissionais, …];
 Viver de forma activa e comprometida na sua comunidade.

TRABALHAR EM EQUIPA
 Aceitar e promover a partilha de tarefas;
 Aceitar partilhar capacidades e resultados;
 Aceitar e valorizar as diferenças dos outros;
 Aceitar e valorizar a decisão colegial;
 Aceitar compromissos que conduzam à convergência de pontos de vista.

TER TEMPO
 Para estar com os jovens;
 Para corresponder às exigências da função;
 Para acompanhar semanalmente a Unidade;
 Para comprometer-se por períodos plurianuais.

PERCEPCIONAR E CONTROLAR O RISCO


 Visando antecipar situações de risco;
 Visando estabelecer limiares de risco;

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 Visando tomar cautelas prévias;
 Visando habilitar-se, ou providenciar quem se habilite, com os conhecimentos técnicos adequados;
 Visando minimizar as possibilidades de dano físico e/ou psíquico.

De uma forma resumida, estas atribuições e formas de actuação do Dirigente podem ser
esquematizadas, como um “8”, em que o “educar” – o seu papel, a sua vocação e missão – se perspectiva
quer do ponto de vista das suas atribuições – “o quê…” – como das suas formas de actuação – “como”.

ADMINISTRAR A

MOTIVAR
GUARDAR A

O QUÊ…

ARQUITECTA
GERAR
R

EDUCA

PERCEPCIONAR E
CONHECER OS JOVENS CONTROLAR O RISCO

ESTABELECER EMPATIAS TER TEMPO

COMO…

QUERER APRENDER E
CRESCER
103/119 COMO
PESSOA
TRABALHAR EM EQUIPA

SABER IMPLEMENTAR E ESTAR ENVOLVIDO


AVALIAR ACTIVIDADES NA COMUNIDADE

AJUDAR OUTROS A
CRESCER

B – Interacção Educativa

Relação Adulto / Jovem

“O Educador, porque é o herói dos seus rapazes, tem uma poderosa alavanca para o
seu desenvolvimento, mas ao mesmo tempo pesa sobre ele uma grande
responsabilidade. Os rapazes estão sempre prontos a apanhar as menores
manifestações da sua maneira de ser, sejam elas virtudes ou defeitos. O seu estilo
torna-se o deles; a afabilidade ou a irritação, a alegria sorridente ou o seu entusiasmo
impaciente, o domínio da vontade sobre si próprio ou as suas esporádicas falhas à
moral, não são simplesmente notadas, são copiadas pelos seus discípulos.”

O êxito na educação do rapaz depende em grande parte do próprio ‘exemplo pessoal’


do Chefe Escuta.”

Baden-Powell, «Le Guide», citado in Pela Educação à Liberdade, p.36

Aquilo que cada um é e como é, a maneira como age e lida com os assuntos, a postura perante a vida e a
sociedade, são tudo elementos comportamentais seguramente observados e registados, com minúcia e
perspicácia, pelos jovens Escuteiros.
A tendência normal é o comportamento do Dirigente influenciar, seja pela positiva seja pela negativa, o
comportamento dos jovens, pelo que este deve ter ser presente que lhes serve de exemplo.
É fundamental que o Dirigente se adapte à Secção ao serviço da qual se encontra, devendo o seu
comportamento ser modelado de acordo com a idade e maturidade dos elementos da Secção, dos
jovens com quem interage.

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ENVOLVIMENTO DO ADULTO

AUTONOMIA DO JOVEM

LOBITO EXPLORADORES PIONEIROS CAMINHEIROS

A finalidade do Escutismo é que o jovem se desenvolva em autonomia, logo o papel do Dirigente não
pode ser senão o da promoção dessa autonomia, sendo que esta relação entre a autonomia do jovem e
o envolvimento, ou a intervenção, do Dirigente deve perspectivar-se de uma forma dinâmica,
progressivamente decrescente e qualitativamente diferenciada, ao longo do percurso educativo do
jovem através das Secções.
Dependendo da Secção, há maior ou menor necessidade de “espaço”, mais ou menos graus de liberdade,
formas diferentes de companheirismo e de partilha de cumplicidades. Mas em todas as Secções é
fundamental a permanência e a sensação de presença do Dirigente, que transmite segurança, que “está
lá” sempre que for preciso e para o que for preciso, que está com eles e com eles caminha nos bons
(incentivando) e nos maus (orientando) momentos.

Para que o Dirigente consiga atingir estes objectivos, é necessário que conheça os seus elementos, que
crie com eles relações de proximidade e afinidade. Interessa ser amigo e não ser “o chefe”, o General,
aquele que apenas ordena. Mas ser amigo não representa nem implica qualquer demissão da sua
dimensão adulta e educativa. O Dirigente não é o amigalhaço do jovem, o amigo da sua idade, é o seu
amigo adulto.
No Escutismo, o Dirigente tem de saber misturar-se com os jovens, sem nunca se deixar confundir com
os mesmos, equilíbrio que é a chave de ouro da relação educativa escutista entre jovens e adultos.

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Estilo de Animação

O estilo de animação de um Dirigente, isto é a forma como interage com os jovens, não pode ser
abordado de uma forma meramente individual, mas tem de ser visto na perspectiva da missão que quis,
quer, abraçar. O estilo indvidual de animação é um ponto de partida, não uma mera constatação, pois o
Escutismo – e neste a relação educativa adulto / jovem – não se compadece com o exercício reiterado de
qualquer estilo de animação, isto é há um estilo de animação próprio intrínseco à relação educativa
adulto / jovem no Escutismo.
E esse estilo de animação é o democrático ou participativo, em que o Dirigente deixa aos jovens o
máximo de espaço para imaginar, decidir, planear, concretizar, avaliar e celebrar, isto é, faculta aos
jovens o espaço / ambiente necessário para que estes possam viver e jogar o jogo escutista.
Assim, deixar aos jovens o máximo de espaço significa, por um lado, que o Dirigente não pode ser
autoritário, directivo ou super-protector, não deixando aos jovens espaço e liberdade para jogar. Uma
estrutura rígida pré-determinada e uma atitude dirigista impossibilitam a existência de oportunidade
para que os jovens exerçam a sua liberdade e desenvolvam a sua autonomia – o jogo escutista não é,
assim, possível.

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Por outro lado, o máximo não significa todo o espaço, pois a imensidão de espaço e – consequente –
falta de enquadramento e de referências que constitui uma atitude libertária do estilo laissez-faire,
impede igualmente o jogo, pois não há jogo sem enquadramento, não há jogo sem regras. O
desenvolvimento da autonomia responsável ocorre no encontro – e confronto – dos dinamismos do
indivíduo com uma realidade; a inexistência desta sob uma forma estruturada impede tal
desenvolvimento.

Ou seja, o Dirigente tem de garantir aos jovens um espaço de liberdade e iniciativa, mas um espaço onde
existem um enquadramento e regras; só um espaço com todas estas características – que se
consubstanciam nos elementos do método escutista atrás apresentadas – permite jogar o jogo escutista.

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Em conclusão, o papel do Dirigente na relação educativa escutista é o de garante da presença e regular
funcionamento dos elementos constituintes do método escutista, o garante de enquadramento e
ambiente para o jogo escutista.

C – Animação da Vida da Unidade

O papel do Animador é animar as actividades, enriquecê-las pedagogicamente, nunca esquecendo que


da forma e da profundidade desse enriquecimento depende não só a satisfação dos jovens, mas também
o seu desenvolvimento. Para isso, deve o Animador procurar alargar o mais possível os horizontes da
actividade, pois quanto mais alargados forem os objectivos e maior for a adesão e motivação dos jovens,
maiores oportunidades educativas lhes são proporcionadas.

Envolvimento nas Actividades

Antes de mais importa relembrar que as actividades escutistas são um meio e não um fim em si mesmo.
O fim é o auto-desenvolvimento do jovem e a sua identificação com os valores próprios do Escutismo,
fim esse que é alcançado pela vivência de actividades pedagogicamente consistentes e ricas. É
precisamente no enriquecimento das actividades que se aplica a função motivadora do Animador.

 Despertar a imaginação;
Valorizar a actividade na sua globalidade,  “Soprar” ideias;
nunca alterando a sua ideia central;  Sugerir iniciativas;
“limar arestas” (organização e  Espicaçar o entusiasmo;
planificação) para aumentar as garantias  Procurar a dose certa de
de êxito. atracção, aventura e emoção.

Valorizar os objectivos propostos, de


modo a criar um leque alargado de
O desafio do sistema de progresso: criar opções e acções tendentes a minimizar
oportunidades para que os elementos “tempos mortos”. Esses objectivos
naturalmente progridam e efectuem as Enriquecer
deverão contemplar metas pedagógicas.
suas provas actividades

Impregnar a actividade com valores


escutistas, com a Mística da Secção e
com o imaginário do Projecto que se
quer.

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Uma forte autonomia deve caracterizar a vida de um Grupo Pioneiro, onde os Pioneiros interagem e as
equipas funcionam como pequenas comunidades.
Assim, a intervenção do Dirigente nas actividades deve, progressivamente, focalizar-se no
enriquecimento das mesmas e dos respectivos métodos de planeamento e avaliação
Aqui, ao Dirigente cumpre estimular o aparecimento e desenvolvimento de ideias, promover a
participação e iniciativa de todos, fomentar formas de planeamento e organização, despertar a atenção
para aperfeiçoamentos organizacionais e logísticos, colaborar no enriquecimento técnico das actividades,
orientar na avaliação e prevenção dos riscos, provocar a avaliação.

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“Para tudo há um momento e um tempo para cada coisa”

Ecl 3, 1a

Há que ter sempre presente que as actividades devem ser adequadas às idades, estando-lhes subjacente um percurso evolutivo
em matéria de esforço e exigência, e até de apreensão, avaliação e gestão do risco que lhes está subjacente.

Assim, deve o Dirigente deve saber adequar a ‘fasquia’ da tipologia e da ousadia que se atribui às actividades, sob pena até de se
distorcer e confundir – perante o jovem – a identidade pedagógica das secções.

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O Adulto Animador da Fé

No Corpo Nacional de Escutas, a Animação da Fé faz-se, em paralelo com o percurso catequético de cada
criança e jovem, pela promoção de um ambiente de convivência e partilha, de momentos de descoberta
e contemplação, de oportunidades de formação e de acção caritativa, de vivência eucarística e
sacramental, de oração. Tudo isto, de uma forma escutista, integrada no processo educativo, num prisma
de desenvolvimento pessoal e num ambiente de vivência comunitária.
A Animação da Fé assenta numa responsabilidade pessoal tripartida: por um lado, temos o Assistente,
com um papel preponderante na orientação pastoral e na promoção da eclesialidade, a quem cumpre
ser o guia, o garante, o ‘facilitador’; por outro, temos o jovem, aquele que, à justa medida da sua idade e
maturidade, participa, procura, explora, e se compromete.
Entre estes, está o Dirigente, a quem cumpre ser aquele que quotidianamente propõe, que convida a
caminhar conjuntamente, que testemunha.

Mas, para que tal aconteça com autenticidade e sentido, terá ele também de ser aquele que procura –
ele próprio – crescer no caminho, que procura – ele próprio – crescer na fé, e isso não acontece sem
formação, sem vivência eucarística e sacramental, sem acção caritativa, sem oração.

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Duas questões são aqui fundamentais:

Por um lado, a Relação Pessoal...

 Conhecer cada jovem;


 Falar a cada jovem;
 Chegar ao coração de cada jovem.

Por outro, o Testemunho Pessoal...

 Celebrar;
 Caminhar;
 Viver.

O testemunho autêntico de vida cristã é a mais pedagógica das ferramentas ao serviço do Dirigente do
CNE enquanto Animador da Fé.

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Garante de Segurança e Bem-Estar

Na Unidade, ao Dirigente cumpre garantir que em todas as iniciativas e actividades são cumpridas as
normas de segurança legais ou em vigor na Associação, bem como excluídos comportamentos e opções
que acarretam riscos irrazoáveis e/ou não devidamente acautelados.
Neste âmbito, cumpre realçar que, em termos de responsabilidade jurídica, os jovens se encontram
confiados aos adultos que os acompanham, competindo a estes a permanente avaliação e gestão do
risco inerente à prática de actividades. O grau de segurança de uma actividade, para além de eventuais
preceitos legais, deve acautelar de forma adequada – isto é, sem negligência facilitista nem asfixiante
excesso de zelo – os riscos a esta intrínsecos.

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Tal como em todos os aspectos da vivência escutista, o envolvimento dos jovens nestes aspectos é
crucial no sentido da respectiva formação pessoal em termos de autonomia e responsabilidade,
incluindo a avaliação e gestão do risco, devendo ocorrer – naturalmente – de acordo com a idade e
maturidade dos jovens, sendo que é do Dirigente – independentemente de idades e maturidades – a
palavra e responsabilidade últimas.
A segurança nas actividades não é um espartilho ou um impedimento, é – e assim deve ser encarada –
uma excelente oportunidade educativa.
Concomitantemente com a segurança, cumpre igualmente ao Dirigente estar atento ao bem-estar físico,
psicológico e anímico dos jovens que lhe estão confiados, tomando ou providenciando, sempre que se
justifique, as necessárias medidas preventivas ou restabelecedoras. Um olhar observador e uma
intervenção formativa devem sempre recair sobre aspectos como a higiene, a alimentação, o descanso
ou a saúde, devendo o Dirigente proporcionar formas de reflexão, análise e prevenção que sejam,
progressivamente, protagonizados pelos próprios jovens.

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No Conselho de Guias, bem como no Conselho de Grupo, a temática do risco e da segurança nas
actividades, deve estar presente e ser progressivamente reflectida, debatida e resolvida pelos Pioneiros,
com a colaboração e orientação do Dirigente, o qual deve ir chamando à atenção, fornecendo elementos
de análise, formando e auxiliando na procura de soluções.
O Pioneiro, em plena adolescência, fase de descoberta e afirmação pessoal, pode revelar, por vezes,
problemas ao nível do seu bem-estar psicológico e anímico em termos relacionais, de auto-estima, de
afirmação entre os pares e de integração social.
Um olhar atento, uma conversa oportuna, o testemunho pessoal, por parte do Dirigente têm um papel
importante, quer no despiste precoce deste tipo de perturbações, quer na sua retroversão quando
manifestas.
Também é a fase – tantas vezes como factor de afirmação pessoal – de iniciação ao consumo de álcool e
de tabaco, bem como de desenvolvimento e amadurecimento da expressão da sua afectividade e
sexualidade; aspectos a que o Dirigente não pode estar desatento e onde o seu testemunho de vida é
importante.

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Coeducação

Na integração dos elementos não devemos esquecer alguns aspectos:


· Grau de desenvolvimento dos rapazes e das raparigas;
· Idade física e idade psicológica;
· Estrato social - Sinais exteriores que possam criar mau estar, acanhamento, problemas de ordem
económica, etc.;
· Centros de interesse
· O seu Bando/Patrulha de origem e a Patrulha/Equipa para onde vai - os amigos, as ligações
afectivas, etc.;
· Casos particulares – Deficiências físicas ou outras, traumas, etnia, etc.
Em casos em que se verifiquem algumas destas situações, é imprescindível o diálogo entre os Dirigentes
das Secções intervenientes e, se necessário for, a análise em reunião de Direcção. Fundamental será a
preparação prévia da integração dos jovens nas Secções De igual modo revela-se de especial importância,
nestes casos, a coeducação que o CNE promove.

O CNE promove a Coeducação. Mas afinal o que é a Coeducação?

A coeducação é a educação que considera a heterogeneidade. Embora no início, quando se começou a


falar de coeducação apenas se considerasse as diferenças de género, hoje em dia, a coeducação
contempla outro tipo de heterogeneidade: idade, nível sócio-económico, condição física, cultura, etc.
Assim, podemos considerar a coeducação como a educação em conjunto de indivíduos distintos.
Para que haja desenvolvimento e para que este seja equilibrado, o processo educativo deve visar a
heterogeneidade e o contacto com a diferença, sendo que na diversidade se encontra não a desigualdade
mas sim a verdadeira riqueza do mundo.
A prática da coeducação promove a complementaridade, a integração, a inclusão e a não discriminação
servindo de alicerce a uma nova sociedade baseada na interacção, cooperação e respeito mútuo.
A coeducação tem em atenção o escuteiro em si e o modo deste se relacionar com os outros, porque
promover a igualdade de oportunidades não é dar o mesmo a todos indiferenciadamente, mas sim dar
a cada um o que lhe faz falta.
Numa sociedade habituada a acentuar diferenças sem as tentar compreender, o Escutismo tem o papel
importante de esclarecer essas diferenças e de, através delas, criar novas competências que enriquecem
o escuteiro individualmente e, em consequência, contribuem para uma nova sociedade com valores
globais e não globalizantes.
Todas as crianças e jovens têm necessidades individuais e é ao encontro delas que o Escutismo deve ir.
As unidades devem ser coeducativas desde os escuteiros que a compõem até às Equipas de Animação.
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Devem estar preparadas para trabalhar a diversidade seja ela ao nível do género, da cultura, da forma
física ou outra, proporcionando educação com vista à construção de uma sociedade mais multicultural e
tolerante.

Vantagens da Coeducação no Grupo Pioneiro


Ao utilizarmos a Coeducação no Grupo Pioneiro, estamos a permitir que cada Escuteiro desta faixa etária
continue a desenvolver, de forma equilibrada, as suas capacidades relacionais. Descobrirá, assim, que a
relação entre o ser humano, marcada pela igualdade de direitos e obrigações, deve reger-se, acima de
tudo, pela complementaridade, tolerância e respeito mútuo.
Assim, coeducar no Grupo Pioneiro, permite que cada Escuteiro:
• desenvolva uma relação equilibrada com os pares, marcada por atitudes de amizade, confiança,
compreensão e aceitação recíprocas;
• aprofunde, a partir da sua própria experiência, o conhecimento pessoal e dos outros, valorizando
a diferença como fonte de riqueza e complementaridade;
• desenvolva atitudes democráticas e de tolerância em relação aos outros, tratando cada um como
um ser único e insubstituível;
• desenvolva uma visão natural da sexualidade, compreendendo que as relações afectivas devem
ser norteadas por uma atitude de respeito perante o outro, centrando-se no conhecimento da pessoa e
não na atracção sexual;
• demonstre um comportamento familiar equilibrado, compreendendo que o respeito e a tolerância
devem presidir ao relacionamento entre todos;
• se questione sobre quem é e quais são as suas verdadeiras aspirações;
• escolha actividades e pense no seu futuro baseando-se nas suas preferências e aptidões e não na
pressão social.

Estratégias de Coeducação no Grupo Pioneiro


Passada a etapa da puberdade, os Pioneiros entram numa fase de maturação, em que as mudanças
corporais são bem visíveis e a pulsão sexual aumenta. Nesta altura, intensifica-se a insegurança em
relação ao seu corpo, identidade e convivência com os outros. A necessidade de afirmação conduz à
procura de elementos do mesmo sexo (que permitem alguma estabilidade) e o grupo torna-se mais
importante do que a própria família, pelo que surgem atitudes contestatárias. Este é também o
momento em que podem surgir grupos rivais, com códigos de conduta próprios.
É neste contexto que tem início uma nova forma de relação entre os sexos que é, por norma, mais
equilibrada do que na Segunda Secção. De facto, e ainda que haja diferenças de maturidade (as raparigas
amadurecem mais cedo, pelo que tendem a preferir rapazes mais velhos), as relações entre os sexos não
são tão tensas. Apesar de rapazes e raparigas continuarem a apreciar mais o seu sexo do que o outro, a
descoberta da existência de interesses comuns leva-os a conseguir trabalhar em conjunto, respeitando-
se mutuamente e convivendo com tranquilidade.
Algumas das estratégias que podem ajudar os Chefes da Terceira Secção a pôr em prática a Coeducação
são as seguintes:
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• Realizar com todos actividades que promovam o conhecimento pessoal e do outro e que
estimulem a cooperação e a partilha:
- actividades de carácter físico e manual que impliquem cooperação e demonstrem que todos
podem desenvolver todo o tipo de aptidões;
- actividades e tarefas evitando os papéis tradicionais dos sexos e estimulando a inversão de
papéis;
- actividades que estimulem o trabalho da Equipa, em detrimento do esforço individual;
• Valorizar positivamente, em todos os momentos, as relações de respeito, cooperação e entreajuda
entre os jovens;
• Partilhar todas as tarefas zelando para que os Pioneiros escolham as tarefas a assumir a partir das
suas preferências pessoais e não em função dos papéis que a sociedade determina para cada sexo;
• Utilizar imaginários com heróis masculinos e femininos, e de condições, culturas e credos
diferentes, para que os Pioneiros compreendam que a sociedade evolui a partir do contributo de todos
• Participar em actividades de serviço à comunidade (boa-acção, serviço)
• Elaborar um ‘Código de Grupo’ que evidencie o compromisso para com a tolerância, a cooperação
e o respeito mútuo;
• Promover o diálogo sobre o papel que homens e mulheres devem ter na construção de uma
sociedade justa e equitativa, chamando a atenção para os problemas que se criam quando não há
respeito mútuo e cooperação, mas sim discriminação;
• Promover o conhecimento de algumas incapacidades e deficiências;
• Jogos em que fiquem privados de um dos sentidos e sintam as dificuldades das pessoas com
deficiência física
• Promover o conhecimento de outras culturas e povos
• Promover o mais possível, através da Lei e dos Princípios, valores como a abertura ao outro, a
honra, a autonomia, a lealdade, a amizade, o respeito, a tolerância, o serviço, a solidariedade, a honra, o
compromisso;

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Quadro de Anexos

Anexo I. — Lista de Animais Totem para denominação das Equipas


Anexo II. — Descrição da Actividade Típica
Anexo III. — Lista de Oportunidades Educativas nas actividades
Anexo III. B) — Lista de Oportunidades Educativas nas competências e especialidades
Anexo IV. — Cargos e funções como oportunidades educativas
Anexo V. — Objectivos educativos da III secção - Como desenvolver/como avaliar
Anexo VI. — Folha de Apoio ao Registo de Conhecimentos
Anexo VII. — Lista dos Objectivos Educativos da III Secção
Anexo VIII. — Panorâmica da Secção

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