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Prefácio

Apresentação
Jorge E. Gardiner é um irmão que muito admiro por sua apresentação lógica e clara da Palavra de Deus.
Quando o seu livro sobre Primeira Coríntios 12-14 saiu, eu fiquei muito animado. Era uma outra
oportunidade de se aprender com um professor talentoso. Quando preparava o meu próprio livro, O Moderno
Movimento de Línguas, eu li bastante. Desde a sua publicação, continuei lendo os novos livros editados sobre o
falar em línguas. Tem havido muitos, mas em minha opinião, Jorge Gardiner deu ao mundo cristão a exposição
mais clara e mais concisa desses três muito importantes capítulos.
Ele demonstrou habilmente que o moderno falar em línguas baseia-se em experiências emocionais, ego-
centralizadas, e não no ensino claro das Escrituras. Desde que o Pastor Gardiner já esteve envolvido com as
denominações pentecostais, não podemos acusá-lo de ignorância ou preconceitos contra este moderno
movimento carismático que tem confundido muitos cristãos através de todo o mundo.
“Se qualquer cristão professo está envolvido ou interessado no moderno movimento de línguas, deve ler
este livro. Sinto-me muito grato pelo privilégio de escrever o prefácio deste tão necessário volume.”
Roberto Gromacki
Autor do livro O Moderno Movimento de Línguas

ÍNDICE
Introdução ......................................................................................................................................................6
1 A Cidade e a Sua Igreja...............................................................................................................................9
2 A Correção do Espírito .............................................................................................................................18
3 Quando o Amor Controla ..........................................................................................................................24
4 “O Que Foi Que Você Disse?” .................................................................................................................34
5 “Dá-nos Um Sinal?" ..................................................................................................................................37
6 “O Que Está Acontecendo?” .....................................................................................................................41

“...e eu vos mostrarei um caminho ainda mais excelente”.

Introdução
Por que outro livro sobre o movimento carismático? Já não os temos em quantidade suficiente?
A resposta à última pergunta é provavelmente “sim”, mas responder à primeira é o motivo desta
introdução.
Dê um passeio pelas livrarias evangélicas de sua comunidade e observe os livros disponíveis que tratam
do Espírito Santo. Se a sua experiência for igual à minha, você verá que há muito mais livros que propagam o
movimento carismático, ou que simpatizam com ele, do que obras que se lhe oponham ou façam um exame
crítico da matéria.
Examine os periódicos evangélicos e você encontrará alguns que são órgãos de propaganda do
movimento carismático e outros que trilham a estrada onde “já que há algo de bom, não vamos falar do mal”.
Além disso, muitos dos livros que fazem crítica apresentam argumentos que os teólogos pentecostais
adoram porque são tão fáceis de se refutar. Eu sei — eu me formei em sua Escola Bíblica! Fui bem ensinado
como responder aos argumentos daqueles que se opõem ao “Pentecoste”.
Naquele tempo o movimento não ameaçava as igrejas biblicamente fundamentadas e foi despedido com
falta de respeito e ridículo. Resultou daí que os argumentos apresentados pelos pastores e mestres não foram
postos em dúvida pelas congregações. Mas os tempos atuais são diferentes. Hoje toda proposição é passível de
dúvidas e os cristãos estão exigindo mais do que proposições acondicionadas, não sujeitas ao exame e sem
retorno ao remetente. Eles querem saber: “o que a Bíblia diz?”
Foi essa pergunta, que se segue à desilusão comum aos movimentos carismáticos, que me impulsionou a
sair do seu meio para o alívio e a liberdade que desfruto hoje.
Tudo começou com perguntas importunas sobre o abismo existente entre as práticas carismáticas e as
declarações bíblicas — um abismo muito grande! Quando tais perguntas eram feitas, a pessoa era olhada com
severa desaprovação e até mesmo advertida contra o “pecado contra o Espírito Santo”. A pressão dos
companheiros, mais a hesitação em desafiar os líderes mais velhos, costuma ser o suficiente para silenciar a
crítica.
Foi preciso uma guerra e quatro anos de isolamento do convívio com outros cristãos e o afastamento do
meio ambiente anterior para produzir um clima onde tive a coragem de honestamente enfrentar as perguntas e
as dúvidas que eu tinha reprimido. Sozinho, sem nenhum outro livro além da minha Bíblia, repassei as
Escrituras novamente.
Reli o livro de Atos, devagar e com cuidado, orando ao fazê-lo: “Senhor, permite que eu veja o que ela
diz e só o que a Palavra diz. Dá-me a graça de aceitá-lo se estive enganado e a graça de me desculpar se fui
indevidamente crítico”.
A viagem através dos Atos me abriu os olhos! As atitudes e as experiências das igrejas primitivas estavam
muito longe das atitudes e “experiências” do movimento moderno. Sob certos aspectos eram completamente
opostas! Não havia nenhuma “reunião de vigília” que precedesse e precipitasse o Pentecoste. Os discípulos
receberam ordem de “aguardar” — a palavra mais desprovida da ideia de esforço que o Senhor poderia ter
usado. Quando o Espírito Santo veio, eles estavam “assentados”, não de joelhos orando, ou cantando, ou
agonizando, etc. Na realidade, o Pentecoste tinha de vir cinquenta dias após a ressurreição de Cristo não
obstante o que as pessoas no cenáculo estivessem fazendo! Fora ordenado por Deus, conforme tipificado nas
festas do Velho Testamento. Primeiro, a Páscoa: “Cristo, nossa Páscoa...” — depois, a Festa das Primícias:
“Cristo, nossas Primícias...” — seguida, cinquenta dias após, pela Festa do Pentecoste! Pela primeira vez eu
entendi o que queria dizer a frase: “ao cumprir-se o dia de Pentecoste”. Não implicava em “vigília”,
submissão, jejum ou qualquer outro esforço humano para que acontecesse — era a hora designada por Deus!
Eu não consegui encontrar uma ordem, em qualquer passagem do Novo Testamento, para que os cristãos
buscassem o batismo do Espírito Santo. Na verdade, eu descobri (conforme descrito em linhas gerais na seção
sobre I Coríntios 12) que o “batismo” ocorreu quando eu fui colocado no corpo de Cristo quando da minha
conversão.
Quando cheguei aos capítulos dez e onze de Atos, mais surpresas estavam a minha espera. Cornélio não
era um homem salvo que tivesse recebido a sua “segunda bênção” através do ministério de Pedro. Pedro toma
isto claro no versículo quatorze do capítulo onze. Sua salvação e “batismo” foram sinônimos. Além disso, o
derramamento na casa de Cornélio deu-se oito anos após o Pentecoste, mas Pedro não pôde indicar nenhum
fluxo contínuo de tal experiência entre as igrejas quando explicou aos líderes em Jerusalém o que tinha
acontecido aos gentios. Depois de passados oito anos ele tinha de dizer: “como sobre nós no princípio” e não
“como sobre todas as igrejas”. Eis aí um caso no qual o silêncio é realmente eloquente!
Atos, sendo um livro histórico, conta o início de uma nova dispensação, e o nascimento de um organismo
novo, a Igreja. No Pentecoste, os judeus; em Cesaréia, os gentios; em Éfeso, os crentes do Velho Testamento, e
agora o corpo está completo com todas as suas partes. Não é um padrão a ser repetido, mas uma história a ser
interpretada através da doutrina das epístolas do Novo Testamento.
A doutrina se encontra na primeira carta de Paulo aos Coríntios e me esforcei em apresentá-la clara e
simplesmente nestas páginas.
Por que outro livro? Porque se alguém tivesse me mostrado as advertências claras, os pronunciamentos
lógicos e os padrões espirituais na epístola de Paulo quando eu era um novo cristão, que procurava conhecer e
agradar o meu Senhor, eu teria sido poupado de anos de escravidão, desilusão e desespero. Eu só posso pedir a
Deus que use esta obra para evitar que outros passem pelas mesmas agonias.

1
A Cidade e a Sua Igreja
Quando Paulo chegou à cidade de Corinto, ele entrou numa das cidades mais famosas do seu tempo.
Corinto era uma cidade de comércio, cultura, religião e vício — uma cidade que retrata em miniatura a
civilização da qual participamos hoje em dia.
Já se disse que as Epístolas aos Coríntios, são os mais relevantes livros do Novo Testamento para a última
metade do século vinte. Palavras mais verdadeiras jamais foram pronunciadas.
Mas além da cidade se parecer tragicamente com a nossa civilização, a igreja em Corinto parecia
tragicamente com uma grande porção da cristandade dos dias de hoje. Jesus disse que a Igreja devia ser o “sal”
e a “luz” deste mundo, sal que impede a deterioração e luz que desfaz as trevas.
Mateus 5:13-16
13 Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais
presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens.
14 Vós sois a luz do mundo. Não se podo esconder a cidade edificada sobre um monte;
15 nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos que
se encontram na casa.
16 Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e
glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.

Nosso Senhor prosseguiu dizendo que quando o sal perde o seu “sabor” torna-se inútil, e a luz escondida
sob um cesto não impede as trevas. A igreja em Corinto, em vez de controlar o mal, foi por ele vencida. Longe
de dar luz, os crentes pereciam nas trevas. Corinto deixou a sua marca sobre a igreja. Deus pretendia que a
igreja deixasse a sua marca sobre a cidade!
Paulo chegou a Corinto cerca de cem anos depois que Júlio César restaurou a cidade das cinzas da
destruição. A nova cidade experimentara crescimento e prosperidade fenomenais. Era a capital da província de
Acaia.
Situada numa estreita faixa de terra entre dois portos, Cencréia a leste e Lecaiom a oeste, Corinto recebia
viajantes e o comércio de todas as partes do mundo.
Em aditamento à sua posição marítima, Corinto ficava em cima da estrada que ia da Grécia continental
para o Peloponeso. Todo o tráfego militar e comercial do norte para o sul e vice-versa passava por esta
importante cidade.
O resultado foi uma cidade para a qual afluíam riquezas. Quando Paulo falou de “ouro, prata e pedras
preciosas” no capítulo três, usou uma ilustração familiar aos coríntios.
A dez milhas da cidade havia um local onde, a cada quatro anos, se realizavam os Jogos ístmicos. Era o
mais esplêndido e mais concorrido festival grego. Os preparativos para os jogos levavam meses e delegados e
atletas vinham de toda parte. Os grandes acontecimentos eram as corridas e as lutas. Paulo lhes faz referência
no capítulo nove.
No alto da Acrópole, descortinando a cidade de Corinto e controlando sua vida, ficava o magnífico
templo de Afrodite, a deusa do amor e da fertilidade. Mil sacerdotisas exerciam o comércio da prostituição
como parte dos ritos religiosos. Corinto era uma cidade dominada pelo vício. Prostitutos de cabelos compridos
era coisa comum nas ruas e foi o fundo de cena do comentário de Paulo em I Cor. 11:14: “Ou não vos ensina a
própria natureza ser desonroso para o homem usar cabelo comprido?”.
De Atenas, Paulo foi a Corinto, a cidade da prosperidade, dos esportes, da política e da imoralidade. Seu
estado de espírito não era dos melhores. Tivera uma experiência desanimadora em Atenas e agora novos
problemas estavam a sua espera. O Senhor tinha de assegurar a Paulo a Sua presença e a Sua proteção em uma
visão.

Atos 18:9,10
9 Teve Paulo durante a noite uma visão em que o Senhor lhe disse: Não temas; pelo contrário, fala e não
te cales;
10 porquanto eu estou contigo e ninguém ousará fazer-te mal, pois tenho muito povo nesta cidade.

Os primeiros contatos que o apóstolo fez foi com um casal, Áquila e Priscila, vítimas de uma expulsão de
judeus em Roma sob o governo de Cláudio César. Sendo eles, tal como Paulo, fabricantes de tendas, passou a
morar com eles.
Logo Silas e Timóteo, que estiveram na Macedônia, juntaram-se ao grupo e ajudaram Paulo a apresentar
o Evangelho de Jesus Cristo todos os sábados na sinagoga local. Dois homens influentes se converteram —
Justus, que morava na casa ao lado, e Crispo, o principal da sinagoga. Organizou-se uma igreja
neotestamentária, incluindo homens e mulheres, judeus e gentios, escravos e senhores, uma amostra dos
cidadãos de Corinto. Paulo falou disso no capítulo um, versículo vinte e seis a trinta e um, e no capítulo seis,
versículos nove a onze.
O apóstolo ficou quase dois anos em Corinto: ensinando, pregando e organizando a igreja. Depois foi
para Éfeso, onde ficou três anos. Em Éfeso, chegaram cartas dos coríntios pedindo conselho referente à questão
do casamento e o problema da carne oferecida aos ídolos do templo. Além disso, ele recebeu notícias
perturbadoras sobre as condições de deterioração da igreja. Para impedir o rumo que as coisas tomavam e
também para responder as perguntas, Paulo escreveu a Primeira Carta aos Coríntios.
A Primeira Carta aos Coríntios é uma carta de ira, sátira, reprovação, correção e instrução. Foi dirigida a
uma congregação que fora estabelecida sobre o melhor dos fundamentos e tivera a melhor das doutrinas e o
melhor exemplo. Imagine que oportunidade a cidade de Corinto deve ter apresentado para um grupo de
testemunhas cheias do Espírito, firmadas no Cristo ressurreto. Mas a igreja de Corinto fracassou! Em vez de
vitória, houve tragédia! Em vez de testemunho, houve desonra.

I Cor. 5:1
Geralmente se ouve que há entre vós imoralidade, e imoralidade tal, como nem mesmo entre os gentios,
isto é, haver quem se atreva a possuir a mulher de seu próprio pai.

Em lugar de evangelismo, houve ridículo merecido.

I Cor. 14:23
Se, pois, toda a igreja se reunir no mesmo lugar, e todos se puserem a falar em outras línguas, no caso
de entrarem indoutos ou incrédulos, não dirão porventura, que estais loucos?

Observe os sintomas do corintianismo conforme apresentados pelo Espírito Santo por meio do Apóstolo
Paulo e você terá uma razão importante por que essas cartas foram incluídas no Novo Testamento — são uma
advertência para os crentes de qualquer época, “cuidado com o corintianismo”.
A igreja em Corinto era uma igreja carismática. “Não vos falte nenhum dom” (I Cor. 1:7). Paulo escreve
três capítulos tentando corrigi-los neste assunto — capítulos 12, 13, 14.
Aquela era uma igreja imatura. “Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais; e, sim, como a
carnais, como a crianças em Cristo” (I Cor. 3:1). O apóstolo refere-se a isto novamente no capítulo treze e
versículo onze, no capítulo quatorze e versículo vinte e nas palavras finais do capítulo dezesseis e versículo
treze.
A igreja de Corinto tolerava a imoralidade no seu meio. Paulo ficou perturbado quando ficou sabendo que
um membro da igreja vivia imoralmente com sua madrasta, uma atitude que até os pagãos imorais condenavam
— “como nem mesmo entre os gentios” (I Cor. 5:1). Alguns deles estavam envolvidos com prostitutas,

I Cor. 6:15-18
15 Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? E eu, porventura, tomaria os membros de
Cristo e os faria membros de meretriz? Absolutamente, não.
16 Ou não sabeis que o homem que se une à prostituta, forma um só corpo com ela? porque, como se diz,
serão os dois uma só carne.
17 Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele.
18 Fugi da impureza! Qualquer outro pecado que uma pessoa cometer, é fora do corpo; mas aquele que
pratica a imoralidade peca contra o próprio corpo.

e precisavam ser lembrados que seus corpos eram membros de Cristo e templos do Espírito Santo. Além
disso, a festa do amor que precedia à Ceia do Senhor estava sendo conspurcada com bebedices e,
principalmente, com uma atitude de orgulho e falta de consideração. “E, contudo, andais vós ensoberbecidos, e
não chegastes a lamentar” (I Cor. 5:2).
A heresia estava se infiltrando na igreja. A doutrina da ressurreição estava sendo posta em dúvida por
alguns da congregação, “...como, pois, afirmam alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos?” (I Cor.
15:12). Em II Coríntios, Paulo lamenta que eles já não sejam mais a “virgem pura” que fora desposada por
Cristo,

II Cor. 11:3
Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também sejam
corrompidas as vossas mentes e se apartem da simplicidade e pureza devidas a Cristo.
e lhes ordena que se examinem “se realmente estais na fé” (II Cor. 13:5).
Assim, Paulo escreve com o coração partido a uma igreja na qual gastou muito tempo, esforço e
ensinamento — uma igreja cujo desenvolvimento estacionara, uma igreja carismática na prática, imoral na vida
e herética na doutrina: A Catástrofe Corintiana!
Veja como Paulo tratou o problema da imaturidade. Ele usou três analogias para descrever o
desenvolvimento e crescimento cristãos. Um edifício, uma luta e um corpo. A analogia do edifício está no
capítulo três, e o apóstolo diz que “um edifício inacabado é uma coisa desagradável à vista — terminem o que
eu comecei e „prestem atenção‟ como o edificam”. O quadro da luta está no capítulo nove e foi extraído das
lutas brutais dos Jogos ístmicos. Paulo diz: “uma luta inacabada é um desperdício e um prejuízo — prossigam
até obter o prêmio”. A analogia do corpo é o tema do capítulo doze. Aqui Paulo diz: “um corpo que não
funciona é uma tragédia e um corpo não cooperativo é um suicídio. Parem de despedaçar o corpo em seu desejo
egoísta e infantil pelos dons espalhafatosos”. Todas as três analogias apontam para o fracasso desta igreja em
terminar o que Deus tinha começado. Desenvolvimento impedido!
A esta altura torna-se importante que compreendamos o que a imaturidade espiritual não é. Não é a falta
de dons espirituais. Os coríntios tinham todos os dons.

I Cor. 1:7
De maneira que não vos falte nenhum dom, aguardando vós a revelação de nosso Senhor Jesus Cristo.

A coisa interessante é que imediatamente após reconhecer a presença da Carismata entre eles, o apóstolo
trata da divisão no meio deles.

I Cor. 1:10
Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma coisa, e que não
haja entre vós divisões; antes sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer.

Dons espirituais e espiritualidade não são sinônimos!


A imaturidade não é causada pela falta de cultura. Os coríntios eram grandes admiradores da educação e
da erudição e Paulo os adverte nesse sentido nos capítulos 1 e 2. Em I Cor. 3.18,19 ele aconselha: “Obtenham a
sabedoria da fonte certa, pois a sabedoria deste mundo é tolice diante de Deus”. Novamente, em II Cor. 10:5,
ele diz: “...levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo”. Não, uma educação melhor, por mais
admirável e desejável que seja, não é a resposta para a imaturidade espiritual.
A imaturidade não resulta necessariamente de uma falta de bom doutrinamento. Os coríntios tiveram o
melhor dos doutrinamentos. Paulo disse que lhes dera a “sabedoria de Deus” (I Cor. 2:7), palavras que lhe
foram dadas pelo Espírito Santo.

I Cor. 2:12,13
12 Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e, sim, o Espírito que vem de Deus, para que
conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente.
13 Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo
Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais.

Alguém poderia fazer algo melhor?


Assim, os coríntios tinham todos os dons, foram bem doutrinados na Palavra e tinham o melhor de todos
os mestres! No entanto, eram carnais e infantis!
Quais são, então, os sintomas da imaturidade na igreja?
Um sintoma comum é o egoísmo. Criancinhas são egoístas. Algumas de suas primeiras palavras são “eu e
meu”. Do mesmo modo, as criancinhas em Cristo, seja qual for a sua idade. Esses coríntios estavam
processando uns aos outros nos tribunais porque se julgavam defraudados (6:7). Egoísmo! Abusavam de sua
liberdade cristã sem considerar o que tal abuso poderia fazer aos outros.

I Cor. 8:9, 11-13:


9 Vede, porém, que esta vossa liberdade não venha de algum modo a ser tropeço para os fracos.
11 E assim, por causa do teu saber, perece o irmão fraco, pelo qual Cristo morreu.
12 E deste modo, pecando contra os irmãos, golpeando-lhes a consciência fraca, é contra Cristo que
pecais.
13 E por isso, se a comida serve de escândalo a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que não
venha a escandalizá-lo.

Egoísmo! Eles estavam se empanzinando na festa do amor, enquanto os crentes pobres passavam fome.
Egoísmo! Eles se embriagavam sem pensar nos efeitos. Egoísmo! Eles ignoravam os motivos e o uso adequado
dos dons espirituais. Eles não ignoravam os dons, pois os tinham todos, mas ignoravam intencionalmente o
lugar e os motivos dos dons. Os coríntios estavam usando os dons para a autoedificação, uma prática à qual
Paulo objetou nos capítulos doze até quatorze. Voltaremos a este assunto mais tarde.
O segundo sintoma da imaturidade espiritual é a divisão. Os coríntios estavam terrivelmente divididos
entre si por causa de certas personalidades. Havia o partido de “Paulo”, o partido de “Apoio”, o partido de
“Pedro” e o partido de “Cristo” (1:12). Quando Clemente de Roma escreveu uma carta a esta igreja em 97
A.D., trinta e oito anos mais tarde, tratou do mesmo problema — divisão. Imaturidade! Paulo se empenha a que
entendam o elo entre a infantilidade e a divisão, colocando as duas lado a lado em I Cor. 3:1-9.
Há tempo e lugar para a divisão. Em I Cor. 10:20,21 ordena-se à igreja a que não tenha comunhão com
aqueles que adoram demônios. Em II Cor. 6:14-17 os crentes são ordenados a fugir da injustiça, das trevas, da
impureza, dos ídolos e dos imundos. Mas não há nenhuma palavra sobre a separação de outros crentes por
causa de personalidades. Tal divisão é imaturidade corintiana!
Um terceiro sintoma de imaturidade em Corinto era o criticismo. Essa gente desprezava a Paulo, achando
que já o tinham ultrapassado e que, espiritualmente falando, se encontravam à sua frente. Paulo escreve: “...a
mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós...” (I Cor. 4.3). No versículo oito da mesma passagem, ele usa
a sátira mordaz: “Já estais fartos, já estais ricos; chegastes a reinar sem nós; sim, oxalá reinásseis. A atitude
dessa gente vê-se numa citação do que disseram e que o apóstolo usa cm defesa do seu apostolado: “...a
presença pessoal dele é fraca, e a palavra desprezível” (II Cor. 10:10). Crítica cáustica e desprezível — sinal de
imaturidade espiritual.
O quarto sintoma do desenvolvimento espiritual impedido foi a tolerância do mal dentro da igreja de
Corinto. Sua sensibilidade para com o pecado fora embotada. Aquilo que antes lhes causava repulsa, já não lhes
causava mais. Nada viam de errado com as discussões nos tribunais. Espalhafatosa imoralidade dentro da igreja
já não perturbava mais. Indulgência para com os pecados da carne, dos quais foram libertados no começo, era
muito difundida e aceita. A glutonaria e a bebedice eram comuns na mesa da comunhão. Que situação
deplorável! Contudo, os coríntios criam que tinham alcançado uma estatura espiritual evidenciada pela presença
dos dons espirituais (principalmente línguas), que os colocava, na sua própria opinião, acima das outras igrejas
e de Paulo.
Foi para corrigir esta ideia falsa e para tentar impedir esta derrocada da igreja que Paulo escreveu a
Primeira Carta aos Coríntios. O coração da epístola está constituído pelos capítulos doze e quatorze, nos quais o
apóstolo corrige os erros fundamentais relativos aos dons. Por que foram concedidos? Como são conferidos?
Como devem ser usados? Se Paulo pudesse levar os coríntios a aceitar a correção quanto às questões envolvidas
nessas perguntas, todas as dificuldades estariam a caminho da correção.
Infelizmente, Paulo não teve sucesso. O pouco que sabemos sobre a igreja de Corinto revela uma
assembleia que continuou prosseguindo no caminho descrito nas Epístolas e que finalmente morreu com sua
cidade — um fracasso e uma tragédia. Mas as cartas (inspiradas pelo Espírito Santo) continuam vivas —
advertindo, ensinando, corrigindo a nós que vivemos em outra sociedade “coríntia” com o corintianismo se
espalhando pelas igrejas. Será que repetiremos os erros dessa igreja primitiva ou aprenderemos deles,
atendendo aos conselhos do Espírito dado através de Paulo?

2
A Correção do Espírito
O Apóstolo Paulo escreveu a sua Primeira Carta aos Coríntios respondendo a duas perguntas: “Devemos
nos casar, ou seria mais espiritual permanecermos celibatários?” E, “está certo comermos carne que vem do
templo de Afrodite?”.
A resposta à primeira pergunta foi dada no capítulo sete. A segunda pergunta foi respondida no capítulo
oito. Desse modo são dois os capítulos que abrangem as questões levantadas pelos coríntios, mas o Apóstolo
não parou ali.
Paulo usou a ocasião para desmascarar e corrigir outros problemas ainda mais importantes entre os
coríntios: sua imaturidade, sua deplorável atitude para com o seu apostolado, seus padrões morais em declínio e
seus abusos na Ceia do Senhor. Então ele começa o capítulo doze com as palavras: “A respeito das coisas
espirituais”. A palavra que ele usa é “pneumatika”, não “charismata”. A palavra “dons” foi acrescentada pelos
tradutores e confunde o assunto. O Apóstolo pretende corrigir agora esta igreja no setor das coisas espirituais —
todas elas, tal como estivera corrigindo as carnalidades nos onze primeiros capítulos. Estamos agora à raiz dos
problemas na igreja de Corinto — sua falta de verdadeira espiritualidade evidenciada por sua preocupação com
a questão carismática.
Os versículos de um a três são fundamentais: “Não quero que sejais ignorantes”. Sua ignorância foi a
respeito do propósito dos dons e não a sua posse. Eles já possuíam todos os dons (1:7).
“Quando éreis gentios, deixáveis conduzir-vos... éreis guiados (12:2). Que declaração interessante.
Descreve crentes descontrolados, em estado extático. Os historiadores das religiões misteriosas da Grécia
descrevem devotos arrebatados pela histeria emocional, tremendo e caindo prostrados ao solo, balbuciando
línguas extáticas! Platão registra tais cenas. Também Virgílio, que viveu e escreveu antes de Cristo. Agora
Paulo diz: “Isto acontecia quando vocês eram idólatras, mas não deve mais acontecer!” “Os espíritos dos
profetas estão sujeitos aos próprios profetas” (14:32). “Tudo, porém, seja feito com decência e ordem” (14:40).
“O Espírito Santo não produz o que produzia sua adoração idólatra”.
O versículo três é muito vital: “...ninguém que fala pelo Espírito de Deus afirma: Anátema Jesus! por
outro lado, ninguém pode dizer: Senhor Jesus! senão pelo Espírito Santo” (12:3). O que isto significa?
Obviamente Paulo não está dizendo que um indivíduo não regenerado não possa dizer as palavras: “Jesus é
Senhor”. O próprio Jesus contrariou este conceito em Mateus 7:21-23, onde Ele disse que no dia do juízo
haverá aquelas pessoas não salvas que Ele jamais conheceu e que O chamarão de “Senhor”.
Eu poderia, andando pela rua, oferecer dinheiro a qualquer vagabundo para dizer “Jesus é Senhor” e ele
repetiria as palavras sem hesitação ou dificuldade. Não, Paulo não está falando sobre a repetição da frase. Ele
está insistindo sobre a soberania de Cristo! Jesus disse que o Espírito Santo não falaria de Si mesmo, nem Se
anunciaria, mas sempre falaria do Senhor Jesus Cristo e O anunciaria.

João 16:7, 13, 14


7 Mas eu vos digo a verdade: Convém que eu vá, porque se eu não for, o Consolador não virá para vós
outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei.
13 Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si
mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir.
14 Ele me glorificará porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar.

Em outras palavras, qualquer movimento, mestre ou doutrina que exalta o Espírito Santo não é do
Espírito Santo! O Espírito Santo sempre exalta Cristo.
No mesmo versículo, Paulo faz a igreja em Corinto se lembrar que o Espírito Santo jamais depreciaria
Cristo ou a Sua obra. O Espírito Santo jamais faria a declaração: “Agora que você aceitou a Cristo você tem a
salvação, mas você precisa receber o Espírito para ser um cristão completo”. Por trás de tal declaração está a
ideia de que Cristo começa a obra da salvação, mas que o Espírito é que a completa. Na mesma passagem das
Escrituras que ora estudamos vemos que esta heresia remonta às igrejas primitivas,

Colossenses 1:18,19
18 Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas
as coisas ter a primazia.
19 porque aprouve a Deus que nele residisse toda a plenitude.

Portanto, nos primeiros versículos do capítulo doze, Paulo estabelece quatro princípios vitais.
1. Deus quer que o Seu povo se preocupe com a plenitude da vida espiritual, não apenas com os dons
espirituais.
2. Deus não quer que sejamos ignorantes sobre o propósito dos Seus dons. (Voltaremos a este assunto.)
3. Quando o Espírito Santo controla um cristão ele não fica fora de si, nem perde o controle dos seus
sentidos como fazem os idólatras.
4. O Espírito Santo não se exalta, mas exalta a Cristo como Senhor. Ele não deprecia Cristo ou a Sua
obra.

Tendo lançado os alicerces Paulo trata agora da fonte dos dons. É no versículo quatro que ele usa pela
primeira vez a palavra “charismata”. O assunto da fonte dos dons espirituais ocupa os versículos quatro até
onze.
Em primeiro lugar ele descreve a diversidade na unidade. “Os dons são diversos” (versículo 4),
“diversidade nas realizações” (versículo 6), “diversidade nos serviços” (versículo 5). Então ele descreve a
unidade na diversidade: “o Espírito é o mesmo... o Senhor é o mesmo... o mesmo Deus”. Esta unidade é em
relação à Trindade. O Espírito Santo concede os dons, Cristo indica o lugar do ministério do dom e Deus, o Pai,
fornece a energia. A Trindade toda está envolvida em meus dons e no lugar do serviço desses dons. Quando eu
uso o meu dom como Deus pretende, ele promove a unidade entre os crentes, não a divisão. Eis aí a resposta a
um dos problemas de Corinto — divisão. Verdadeiros dons espirituais usados de acordo com os desígnios
divinos reúnem os cristãos, não os separam! Paulo terá mais o que dizer sobre isto mais adiante.
Quando chegamos ao versículo sete, defrontamo-nos com uma verdade tão oposta a muito do que se
ensina hoje em dia, que chega a ser elétrica! “A manifestação do Espírito é concedida a cada um”. Compare
isto com os versículos 11, 18 e 28 e surge uma verdade excitante — cada crente já possui o seu dom ou dons!
Eles são soberanamente concedidos e foram recebidos quando fomos batizados no corpo de Cristo em nosso
novo nascimento.

I Cor. 12:12,13
12 Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos,
constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo.
13 Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer
escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito.

Em seu egoísmo os coríntios estavam à procura de dons espalhafatosos, chamativos e autoedificantes,


quando Deus já lhes concedera os dons que Ele queria que tivessem. Nenhum cristão precisa orar e implorar,
jejuar e chorar, ou fazer qualquer outra coisa para receber os seus dons. Eles já foram dados! Ele tem a
responsabilidade de descobrir, desenvolver e usar esses dons.
Começando com o versículo doze e continuando através do versículo vinte e sete, o Apóstolo Paulo usa o
corpo humano como uma ilustração do Corpo de Cristo. Começa com um nascimento (vs. 13), e está unido em
sua diversidade (vs. 12). Cada membro tem a sua própria função (vs. 11) mas todos os membros são
beneficiados (vs. 25,26). Deus é o planejador e criador e só Ele determina que lugar e função cada membro
deve ter (versículos 18,24,28).
O Apóstolo traça um quadro lúdrico dos membros menos admirados buscando ser os mais admirados.

I Cor. 12:21
21 Não podem os olhos dizer à mão: Não precisamos de ti; nem ainda a cabeça, aos pés: Não preciso de
vós.

Imagine, se for capaz, o lamento dum ouvido, dizendo: “Nunca ninguém olha para mim ansiosamente,
nem comenta a minha beleza, como fazem com os olhos. Vou tentar ser um olho”. Então o pobre ouvido jejua e
ora, fica prostrado, desgasta-se, buscando ser um olho. Que coisa ridícula! Um ouvido é um ouvido. Deus o fez
ouvido e o colocou no lado da cabeça. Se ele conseguisse mudar e ser um olho, o corpo ficaria defeituoso com
falta de audição e atrapalhado com três olhos.
O que é que Paulo estava querendo destacar? Ele aplica sua ilustração nos versículos 28-30: Deus
distribuiu os dons soberanamente e colocou as pessoas com os dons onde achou por bem — não como elas
gostariam ou buscam. A pergunta do Apóstolo, “são todos?... são todos?” exige um “não” reiterado. Todos não
são apóstolos, mestres, profetas ou operadores de milagres. Todos não têm os dons de curar, línguas ou
interpretações. Quando temos em mente a declaração de Paulo de que os dons já foram concedidos, e a
emparelhamos com o lembrete de que nem todo cristão tem o mesmo dom, então vemos como contrária as
Escrituras a doutrina de que todos os crentes deveriam buscar o confirmador dom de línguas.
Este era o problema coríntio. Eles buscavam dons chamativos que os destacaria entre os outros, e as
línguas em particular. O escritor fala disto no último versículo do capítulo doze — um versículo que pertence
ao capítulo seguinte. Durante anos este versículo me perturbou. Paulo acabara de dizer: “Deus concede os dons
como Lhe apraz — todos não têm os mesmos dons — todos os dons devem ser usados para o bem do corpo,
não para a edificação de um membro” e agora este versículo, conforme costuma ser traduzido, ordena que se
busque os “melhores dons”! Bem, quem deseja os piores? Todos querem os dons que chamam a atenção!
Tenho observado que ninguém começa um “movimento auxiliador” ou um “movimento de contribuição”
ou um “movimento de misericórdia”. No entanto esses dons são dons do Espírito exatamente como os de
“línguas” e “cura”, cujos nomes estão geralmente ligados aos movimentos!
Por que isto acontece? Seria porque esses dons não servem para a autoedificação? Ninguém se sente
abençoado “ajudando”, “exercendo misericórdia” ou “contribuindo”? Não são dramáticos ou sensacionais?
Certamente Paulo não tinha problemas com os coríntios superenfatizando os dons “menos importantes”
(?), e o contexto prova que eles estavam enamorados dos dons mais vistosos, mais chamativos, mais
sensacionais, e das línguas em particular.
Assim, o versículo, conforme traduzido, contradiz o seu contexto. Mas nenhum versículo das Escrituras
contradiz o restante da Palavra e quando esse parece ser o caso, o problema está na tradução ou interpretação
humana, e não na Palavra de Deus.
Certo dia eu estava lendo uma obra de Bittlinger, o teólogo alemão. Ele acha que este versículo não é uma
ordem, mas uma declaração de fato. Naquele momento eu percebi pela primeira vez que Paulo estava dizendo:
“Vocês estão procurando os dons ostentosos, mas eu vou lhes mostrar uma coisa melhor”.
Um estudo da palavra “procurar” (zelar — “anelar”, “almejar”) mostra que ela geralmente tem uma
conotação desfavorável — um sentido egoísta, o que exatamente Paulo estava corrigindo. Além disso, o
indicativo é mais comum do que o imperativo. E, mais importante que tudo, o versículo assim traduzido,
encaixa-se perfeitamente no contexto.
Assim, o que Paulo estava fazendo era uma declaração de fato (no indicativo), não uma ordem (no
imperativo), o que localiza com precisão o problema dos crentes egoístas de Corinto e de hoje.
Agora ele ia lhes mostrar o caminho melhor (“mais excelente”).
3
Quando o Amor Controla
Paulo terminou o capítulo doze de Primeira Coríntios fazendo seus leitores se lembrarem de que nem
todos possuíam os mesmos dons.

I Cor. 12:29,30
29 Porventura são todos apóstolos? Ou todos profetas? são todos mestres? ou operadores de milagres?
30 Têm todos dons de curar? falam todos em outras línguas? interpretam-nas todos?

Antes ele disse que Deus deu os dons àquelas pessoas que Ele escolheu para tê-los. A recepção de um
dom espiritual não é o resultado da oração, do jejum, de lágrimas ou sacrifício da parte do recipiente, mas um
dom de graça, para o bem do corpo de Cristo, e é recebido na conversão quando somos batizados nesse corpo
pelo Espírito Santo.

I Cor. 12:12,13,18,28-30
12 Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos,
constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo.
13 Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um só corpo, quer judeus, quer gregos, quer
escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito.
18 Mas Deus dispôs os membros, colocando cada um deles no corpo, como lhes aprouve.
28 A uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro
lugar mestres, depois operadores de milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de
línguas.
29 Porventura são todos apóstolos? ou todos profetas? são todos mestres? ou operadores de milagres?
30 Têm todos dons de curar? falam todos em outras línguas? interpretam-nas todos?

Cada crente tem pelo menos um dom — alguns têm mais de um.

I Cor. 12:7-11
7 A manifestação do Espírito é concedida a cada um, visando um fim proveitoso.
8 Porque a um é dada, mediante o Espírito, a palavra da sabedoria; e a outro, segundo o mesmo
Espírito, a palavra do conhecimento;
9 a outro, no mesmo Espírito, fé; e a outro no mesmo Espírito, dons de curar;
10 a outro, operações de milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de
espíritos; a um variedade de línguas; e a outro, capacidade para interpretá-las.
11 Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um,
individualmente.

O problema de Corinto era que os membros não se contentavam em descobrir e desenvolver seus dons;
eles buscavam os dons que chamassem a atenção e admiração e esta atitude Paulo a descreveu no versículo
trinta e um do capítulo doze: “Vocês buscam ansiosamente os dons, mas eu vou lhes mostrar uma coisa
melhor”.
Que choque deve ter sido aquilo para aqueles coríntios. O que seria melhor do que exercitar os dons de
línguas, profecias e cura? Posso imaginar a agitação na assembleia quando essa linha foi lida. “O que Paulo
estaria pensando? Naturalmente não estava falando sério. Talvez esteja com ciúmes porque nós descobrimos
coisas que ele ainda não conhecia”. Perguntas e declarações como essas não são difíceis de se imaginar quando
retrocedemos no tempo até o dia quando a Primeira Carta aos Coríntios foi lida pela primeira vez.
É importante lembrar que o capítulo treze de Primeira Coríntios não está separado dos outros. Não é
apenas uma linda descrição do amor. É o âmago da doutrina de Paulo sobre a vida espiritual e é absolutamente
vital à verdade dos capítulos doze e quatorze. Os três capítulos são uma unidade.
Aqui está a vida verdadeiramente espiritual — uma vida controlada pelo fruto do Espírito, não os dons do
Espírito. O Apóstolo usa como padrão o fruto do amor que tudo inclui e que inicia a lista do fruto do Espírito
que aparece em Gálatas 5:22,23.
Gál. 5:22,23
22 Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade,
23 mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei.

O amor está em primeiro lugar e logo se vê que quando o amor de Deus está no controle há alegria, paz,
paciência, gentileza, mansidão e as demais manifestações. Portanto, Paulo usa o fruto do Espírito, o amor, para
descrever a vida controlada pelo Espírito Santo.
Em I Cor. 13:1-3, o exercício da charismata sem o fruto do Espírito foi declarado sem valor! Línguas,
profecias, ciência, fé, misericórdia e até mesmo o autossacrifício não somam mais que zero quando a vida não
produz fruto espiritual. É muito importante observar que Paulo está aqui dizendo que é possível ter dons e não
ter espiritualidade. Dons espirituais e espiritualidade não são sinônimos! Além disso, ele está claramente
informando seus leitores de que os dons espirituais não produzem espiritualidade. Isto já foi graficamente
ilustrado pelo baixo nível de vida espiritual entre os coríntios que tinham TODOS os dons.
No versículo quatro, o Apóstolo passa do negativo para o positivo e prossegue descrevendo a qualidade
de vida que será produzida quando o cristão for controlado pelo fruto do Espírito:

I Cor. 13:4
O amor é paciente, é benigno, o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece.

O amor é “Makro thumos”, longânimo, fogo que se alastra. Ele não se apaga. Não é espasmódico. Ele não
se liga e desliga. É caridoso.
O amor não inveja os dons de outrem. Eis aí uma sentença que resume a ilustração do capítulo 12:15,18,
uma ilustração que destaca a atitude ridícula dos coríntios: “Eu quero o seu dom. Ele fala em línguas, ele
profetiza. Tudo o que eu posso fazer é administrar ou exibir misericórdia. Eu quero o que ele tem”. O amor não
inveja!
O amor não busca os próprios interesses, ele “não se ufana, não se ensoberbece”. Paulo procura impedir
essa atitude — o desejo da autoedificação. Nos parágrafos anteriores ele faz seus leitores se lembrarem de que o
“corpo” deve ser a preocupação principal, não os desejos pessoais dos membros individuais. “...cooperem os
membros, com igual cuidado, em favor uns dos outros” (12:25). No próximo capítulo ele desencoraja as línguas
como instrumento de autoedificação e encoraja a profecia porque ela produz a edificação e o conforto dos
outros (12:3,4). Os coríntios estavam orgulhosos dos seus dons. Eles, sim, eram os “espirituais” e encaravam
com pena e desdém àqueles que não tinham recebido o “batismo” com o sinal inicial do falar em línguas. Paulo
fá-los lembrar que o fruto da vida controlada pelo Espírito não cede lugar para o orgulho ou a autoedificação.
No versículo cinco ele diz claramente que “não procura os seus interesses”.
O amor não se comporta “inconvenientemente”. Nunca se torna indecente nem fica sem controle. Não
produz coisas impróprias. Durante mais de vinte anos este escritor esteve associado com igrejas carismáticas.
Eu vi mulheres “morrendo debaixo do poder”, estateladas no chão enquanto os obreiros arrumavam suas roupas
ou as cobriam com toalhas e casacos para ocultar uma situação indecente! Não se pode aceitar que o Espírito
SANTO coopere com tais situações. O amor não se comporta inconvenientemente. Esta sentença, junto com a
outra que diz que viviam descontrolados quando eram pagãos (12:2), é uma advertência poderosa. Deus não é o
autor de confusão (14:33) ou de comportamento indecente e quando estas coisas estão presentes, elas não são
resultado do ESPÍRITO SANTO!
Agora vem o âmago do capítulo (13:8-12). Quando se segue a lógica de Paulo, a confusão relacionada
com línguas, profecia e dons de discernimento desaparecem . Línguas era o nome do passatempo de Corinto —
a única igreja à qual Paulo escreveu que tinha este problema. Os coríntios estavam longe de atender às
intenções divinas para este dom e o usavam como um atraente brinquedo autoedificante. Agora Paulo pretende
colocar as coisas na devida perspectiva de uma vez para sempre.
“O amor nunca acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão”. O verbo aqui é transitivo, exigindo uma
influência externa para completar o sentido, “...havendo línguas, cessarão”. Aqui o verbo é intransitivo, não
exigindo nenhuma influência externa para completar o sentido. As línguas cessarão por si mesmas, “...havendo
ciência, passará”. Este é transitivo novamente, exigindo aquela influência externa como no caso das profecias.
Paulo não junta, como creem alguns, a profecia, as línguas e a ciência, ao dizer que cessarão. Geralmente
se ouve dizer: “Se as línguas cessaram, então a ciência também deve ter cessado. Sabemos que a ciência
continua aqui, portanto as línguas também devem permanecer aqui”. Tais declarações comprovam ignorância
daquilo que o Apóstolo disse. Longe de juntar as línguas, a profecia e a ciência, ele separa as línguas usando
verbos transitivo e intransitivo. Além disso, até a voz é outra. A declaração sobre a profecia e a ciência estão
ambas na voz passiva enquanto que a declaração relativa às línguas está na voz média.
A questão é, portanto, quando é que a profecia desaparecerá e a ciência passará? A resposta se encontra
no uso lógico que Paulo faz da frase “em parte”. Veja o versículo nove: “porque EM PARTE conhecemos
(ciência), e EM PARTE profetizamos”. O Apóstolo torna a ligar profecia com ciência, usando a frase “em
parte”. Veja agora o versículo dez: “Quando, porém, vier o que é perfeito, então o que é EM PARTE será
aniquilado”. O que era “em parte”? Ciência e profecia. Assim Paulo declara que quando vier a perfeição, a
ciência e a profecia cessarão (“será aniquilado”). Quando isto vai acontecer? A resposta está no versículo doze.
Novamente observe-se a frase conectiva “em parte”. “Porque agora vemos como em espelho, obscuramente
(nossa profecia é “em parte”) então veremos face a face; agora conheço EM PARTE, então conhecerei como
também sou conhecido”. A perfeição que provoca a cessação da ciência e da profecia parciais é o dia quando o
cristão se colocará “face a face” com o seu Senhor e O conhecerá perfeitamente. Até então, o dom da palavra da
ciência e o dom da profecia serão usados por aqueles a quem Deus conceder.
Você notou que, tendo Paulo declarado que as línguas cessariam por si (13:8), nada mais disse sobre o
dom? Quando as línguas cessaram? A resposta apenas se sugere nesta passagem. O Apóstolo guarda sua
resposta final para o versículo vinte e dois do capítulo quatorze:

I Cor. 14:22
De sorte que as línguas constituem um sinal, não para os crentes, mas para os incrédulos; mas a
profecia não é para os incrédulos, e, sim, para os que creem.

“...as línguas constituem um sinal...” Um sinal para quem? São um sinal para confirmação do “batismo”
dos cristãos? NÃO! “...NÃO para os crentes...” As línguas NÃO SÃO um sinal para os cristãos! Que
consternação este versículo provocou em mim quando pela primeira vez eu o li e realmente o compreendi. Eu
Fora instruído que as línguas eram um sinal para os crentes de que o Espírito Santo os controlava de tal maneira
que até a língua se Lhe estava sujeita. Então eu vi este versículo: “as línguas constituem um sinal, NÃO para os
crentes, mas para os incrédulos”. Quem são aqueles que são incrédulos? A resposta está no versículo vinte e
um.

I Cor. 14:21
Na lei está escrito: Falarei a este povo por homens de outras línguas e por lábios de outros povos, e nem
assim me ouvirão, diz o Senhor.

O “de sorte que” no começo do versículo vinte e dois liga-o ao versículo vinte e um e nesse versículo
Paulo cita Isaías 28:11,12 — a mensagem do juízo divino para a nação de Israel. Jeová insistira com Israel,
enviara a seca, a fome e a pestilência. Mas mesmo assim a nação afastou-se cada vez mais de Deus, recusando
o Seu “descanso” e o Seu refrigério — “nem assim me ouvirão”. Através de Isaías veio esta advertência,
prevendo a invasão assíria e resultando no cativeiro de Israel. “Vocês ouvirão homens falando em línguas que
vocês não entenderão. Eles serão seus conquistadores e captores e vocês perceberão quando os ouvirem que o
Meu juízo já começou”. A profecia se realizou setecentos e oitenta e quatro anos antes de Paulo escrever aos
coríntios. Novamente Deus estava se preparando para julgar Israel. Jesus advertiu: “Quando, porém, virdes
Jerusalém sitiada de exércitos, sabeis que está próxima a sua devastação... Cairão ao fio da espada e serão
levados cativos para todas as nações; e... Jerusalém será pisada por eles (os gentios)” (Lucas 21:20 e 24).
Novamente o sinal do juízo estava sendo ouvido: “Falarei a este povo (Israel) por homens de outras línguas...”
Quando Tito, o romano, saqueou a cidade de Jerusalém e dispersou os judeus pelo mundo em 70 A.D., o
motivo para as línguas desapareceu e o dom acabou por si mesmo. Desde então não se tem falado mais línguas
bíblicas! O motivo do sinal já não existe mais e Deus não concede Seus dons como brinquedos quando o
propósito deixou de existir.
Eu disse antes que Paulo sugeriu a resposta à pergunta: “Quando as línguas cessaram por si mesmas?” no
seu capítulo sobre a vida controlada pelo Espírito (capítulo 13). Volte e examine o versículo 11 do capítulo 13 e
compare-o com o versículo 20 do capítulo 14.

I Cor. 13:11
Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando
cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino.
I Cor. 14:20
Irmãos, não sejais meninos no juízo; na malícia, sim, sede crianças; quanto ao juízo, sede homens
amadurecidos.

Observe que ambos falam de infantilidade e maturidade. As línguas eram um dom concedido para sinal
(14:22) durante a infância da Igreja quando Israel ainda se encontrava em sua terra, um sinal do juízo divino
iminente sobre a nação. No capítulo treze Paulo diz: “A profecia e a ciência ficarão com a Igreja até que haja
perfeição, quando teremos o conhecimento perfeito e veremos face a face, mas o dom-sinal de línguas que
pertence à infância da Igreja cessará quando for removida a razão para ele”; portanto deve ser deixada de lado
(13:11) advindo a maturidade. No capítulo quatorze ele diz: “Não sejam crianças na compreensão, cresçam,
amadureçam, entendam por que o dom foi concedido, não se apeguem às coisas da infância quando deveriam
estar se encaminhando para as coisas da maturidade. Vocês, cristãos judeus, lembrem-se da profecia de Isaías,
lá se encontra o por quê da concessão de línguas”.
Um rápido exame dos três exemplos em Atos onde se falaram línguas (e só temos três) revelará que em
todos os exemplos havia a presença de judeus! (Atos 2, Atos 10, veja versículo 45, e Atos 19, veja 18:28),
Isto explica os dois grupos de incrédulos em Corinto: o incrédulo instruído, do versículo vinte e dois, que
conhecia os profetas e reconhecia o sinal do juízo iminente quando ouvia a Igreja Primitiva falando em línguas
que não conhecia nem entendia, e o incrédulo não instruído, um pagão de Corinto sem nenhum conhecimento
prévio da Palavra de Deus, que, ouvindo este fenômeno (nada entendendo do seu significado), pensava que os
cristãos fossem loucos (14:23).
Portanto as línguas cessaram quando cessou a razão de sua existência. Elas cessaram como Paulo disse
que cessariam, por si mesmas. Mas a vida controlada pelo Espírito, descrita em I Cor. 13, continua, a vida cheia
de amor, frutífera e produtiva, à disposição de cada cristão (Ef. 5:18-20) que está à disposição de Deus.
Antes de abandonarmos o assunto da vida controlada pelo fruto do Espírito em oposição à vida
centralizada nos dons, dê mais uma olhada à qualidade de tal vida conforme descrita em declarações sucintas no
capítulo treze, e então veja Paulo aplicando-as aos coríntios no capítulo quatorze.
“O amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece... .não procura os seus interesses...”
Compare estas declarações do padrão espiritual com “quem fala em outra língua (desconhecida ao que
fala), não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende...” (14:2). Jamais foi a intenção divina que
se Lhe dirigisse numa língua incompreensível ao que fala! Passe os olhos pelas Epístolas e examine cada
referência feita à oração. Leia o que Jesus disse sobre o mesmo assunto e você não encontrará nenhuma
declaração, intimação ou ordem que sugira a oração em línguas! Só os coríntios carnais foram mencionados
como fazendo-o. Paulo disse: “Quando eu falo com Deus eu falo com o meu entendimento pelo Espírito Santo”
(versículo 15). Ninguém precisa de línguas para orar!
Por que então os coríntios o faziam? Deus dera línguas para se dirigir aos HOMENS — (Israel) — não a
Deus! Os cristãos carnais de Corinto, invejando uns aos dons dos outros e com o seu desejo de receber o dom
espalhafatoso, chamativo e autoedificante de línguas, usavam o dom como um emblema de espiritualidade
diante dos seus companheiros. Estavam falando a Deus em vez de falar a Israel, dizendo por meio de suas
atitudes: “Veja, chegamos a um planalto espiritual de onde podemos falar em mistérios ao Eterno” —
praticavam um costume que haviam trazido do paganismo! Veja com que penetração Paulo age contra isto no
versículo seguinte (v. 3) como também nos versículos 4, 5 e 9. A autoedificação, e o desejo de ser admirado e
respeitado pelos outros não é obra do Espírito Santo — “não se ufana, não se ensoberbece... não busca os seus
próprios interesses”.
O Espírito Santo inspira profecias (a pregação da Palavra) que edificam, exortam e confortam todo o
corpo de Cristo, e que podem ser imediatamente entendidas por todos. Paulo traça alguns quadros satíricos para
os coríntios; instrumentos musicais tão desafinados que não podem ser reconhecidos, um corneteiro tão
incompetente que o exército não tem ideia do que o comandante deseja (vs. 7, 8) e então aplica as ilustrações ao
mau uso e abuso das línguas fala¬das egoisticamente e não da maneira pretendida por Deus. “Ouçam”, diz
Paulo, “falem para que possam ser entendidos — procurem a edificação da igreja, não a própria!”
Mas o que dizer dos exemplos quando judeus estavam presentes aos cultos? As línguas eram permitidas,
mas não mais de três pessoas deviam exercer o dom (v. 27). Além disso, considerando que incrédulos não
instruídos também poderiam estar presente, pessoas cujos antecedentes não lhes garantiam uma compreensão
como a que os judeus possuíam, as línguas deviam ser interpretadas para que todos os presentes, judeus e
pagãos, as entendessem. A confusão jamais vem de Deus (v. 33).
Histeria, confusão, falas misteriosas e comportamento inconveniente e egoísta, tudo isto estava presente
nessa carismática igreja de Corinto. Nada disso está presente quando o fruto do Espírito está no controle. A
autoedificação cede lugar ao bem de todos no corpo de Cristo e a atenção é chamada para o Senhorio de Cristo,
não para os dotes do crente. “Vocês estão buscando os dons ostentosos, mas aqui está um caminho ainda mais
excelente”.

4
“O Que foi que Você Disse?”
Depois de se ler os capítulos doze e treze de Primeira Coríntios, pode-se fazer a pergunta: “Por que Paulo
se preocupou em acrescentar o capítulo seguinte?” Ele tinha corrigido seus leitores sobre a questão do buscar os
dons carismáticos, quando Deus já tinha concedido a cada um o dom ou os dons que Ele quer que tenhamos.
Ele tinha insistido com os coríntios a que se preocupassem com as “coisas espirituais” — todas elas, e a que
fossem controlados pelo fruto do Espírito e não pelos dons. No processo do apelo ele lembra os coríntios de que
as línguas cessariam por si mesmas, tão logo a razão de sua existência fosse removida (14:21,22). O dom era
um sinal de autenticação da igreja nascente (13:11, 14:20) e dos seus Apóstolos, e um sinal de juízo por vir
sobre o Israel rebelde e desobediente. A igreja estava enamorada de um sinal passageiro e estava
negligenciando suas responsabilidades no lugar e no tempo em que Deus a tinha colocado.
Mas Paulo não se arriscava. Ele devia ter certeza de que os seus leitores entendiam o que pretendia dizer
— portanto, ele passa para o capítulo quatorze.
O capítulo começa com a mesma palavra usada no começo do capítulo doze — “Segui o amor e procurai
os (dons) espirituais...” A palavra “dons” foi novamente acrescentada pelos tradutores e por isso está em itálico.
Não pertence à passagem. O assunto é a vida espiritual com o fruto do Espírito, o amor. Aspirem essas coisas,
diz Paulo, e então vocês tornarão a profecia predominante.
Que a profecia, como o Apóstolo usa o termo, não é alguma coisa restrita a certas pessoas especiais
dentro da igreja, vê-se claramente no versículo trinta e um: “Porque TODOS podereis profetizar, um após
outros, para todos aprenderem e serem consolados”.
Os resultados da profecia estão relacionados no versículo três: “edificação, exortação e consolação”. São
colocados em oposição à falta de utilidade das línguas: “ninguém entende”. Na verdade, Paulo apresenta uma
comparação numérica entre línguas e profecia, o que é extraordinário: “...na igreja prefiro falar cinco palavras
com o meu entendimento (profecia) ... a falar dez mil palavras em outra língua”. Quando a gente se lembra de
que dez mil era o número mais alto que os gregos tinham, a comparação poderia ser parafraseada na linguagem
de hoje para “um milhão contra cinco!”
Em outras palavras, Paulo coloca a pregação sob o controle do Espírito Santo no alto da lista das coisas
desejáveis, e as línguas, mesmo quando elas ainda estavam em operação, embaixo. A razão é óbvia: a pregação
pode ser compreendida, as línguas não. A pregação edifica, consola e estimula, as línguas simplesmente
chamam a atenção para quem fala (14:4). A pregação traz convicção ao pecador, as línguas trazem o ridículo
(14:23-25).
A esta altura são diversas as perguntas que costumam ser feitas. 1. Paulo não disse que falava mais em
línguas do que todos eles? Sim, (no versículo dezoito), mas Paulo era um Apóstolo, usado por Deus para
proclamar a mensagem aos judeus. Em todos os exemplos onde línguas foram faladas no Livro dos Atos, havia
judeus presentes e pelo menos um Apóstolo. Os coríntios usavam os dons de Deus como brinquedos
particulares — não como advertência a Israel. Considerando que Paulo morreu antes de 70 A.C., ele
provavelmente exercitou o dom sempre e onde fosse próprio fazê-lo. As línguas, devidamente usadas no tempo
de Paulo, não tinham nenhuma relação com o que se proclama ser o mesmo dom hoje em dia. 2. Paulo não
disse que desejava que todos eles falassem em línguas? Sim, (no versículo cinco), mas lembremo-nos
novamente da época e do propósito. Israel ainda se encontrava ali. Mas mesmo o Apóstolo preferiu a pregação.
Leia o restante do versículo. 3. Paulo não estimulou a oração particular em línguas? Não, ele não o fez! No
versículo geralmente citado para apoiar a teoria (versículo quinze), Paulo diz que ele orou com ambos, o
entendimento e a bênção do Espírito, ao mesmo tempo. O “entendimento e o espírito” não estão separados,
estão juntos! Quando Paulo orava ele entendia o que dizia. Isto ele declarou ser superior à oração em línguas,
(versículo quatorze) . Alguns têm tentado descobrir a oração em línguas em Romanos oito, vinte e seis. Mas
não está lá. Os “gemidos” mencionados não são pronunciáveis. 4. Não há uma diferença entre as línguas
faladas em Atos e aquelas de Corinto? Não, de acordo com as Escrituras. Uma única palavra foi usada,
glossolalia, significando uma linguagem usada por habitantes da terra. Todos os principais léxicos gregos não
bíblicos usam a palavra em relação a línguas conhecidas. Só alguns teólogos, pressupondo que os coríntios
falavam extaticamente, fizeram tal diferença. Nem a linguagem nem o uso bíblico sustentam tal ideia.
A Igreja Primitiva falava línguas que eram reconhecidas pelos outros, caso contrário a advertência a Israel
não teria nenhum efeito. Nenhum judeu teria considerado um balbuciar extático como cumprimento da profecia
de Isaías. 5. Esta passagem não fala de línguas angélicas? A referência é ao versículo primeiro do capítulo
treze: “Ainda que eu fale a língua dos homens e dos anjos..Essas línguas são gramaticalmente de uma só classe,
são apenas hipotéticas (ean — “se”), e sempre quando os anjos falaram eles falaram na língua usada pela
pessoa a quem se dirigiam. Longe de promover uma “linguagem celestial”, este versículo sustenta o padrão
bíblico de fala compreensível .
Quatro verdades foram destacadas neste capítulo: 1. As línguas bíblicas eram a capacidade sobrenatural
de falar em línguas conhecidas que não eram compreendidas pelo orador. Não era um balbúcio ou uma língua
extática. 2. As línguas eram um sinal especial para a confirmação da Palavra diante de um Israel rebelde e
incrédulo até a destruição de Jerusalém e a dispersão da nação que deu início à Dispensação dos Gentios. 3. As
línguas bíblicas já não são mais faladas. O propósito se cumpriu e o fenômeno cessou. 4. Os coríntios ficaram
fascinados pelas línguas porque o seu uso chamava a atenção para quem delas usava. Esta preocupação resultou
no abuso do dom, pois eles edificavam-se a si mesmos, ignorando a vida espiritual como um todo e fracassando
no testemunho à cidade. A catástrofe de Corinto!

5
“Dá-nos Um Sinal”
Vimos que as línguas foram um dom-sinal (I Cor. 14:22), “as línguas constituem um sinal”. Vimos
também que esse sinal não era para o crente, mas para o judeu incrédulo e que Deus estava atendendo a algo
peculiarmente judeu, o desejo de sinais. Em Mateus 12:38, ouvimos os escribas e fariseus dizendo a Jesus:
“Queremos ver de tua parte algum sinal”. A reação de nosso Senhor diante disso foi que não receberiam
nenhum outro sinal além do sinal do profeta Jonas que foi um tipo da Sua morte, sepultamento e ressurreição.
Este desejo de sinais foi repetido em Mateus 16, e novamente em Marcos 8. Em João 6:30,31, o povo do tempo
de nosso Senhor fê-lo lembrar-se de que Deus tinha lhes concedido um sinal através de Moisés, o sinal do maná
no deserto.
Embora Jesus dissesse que não receberiam nenhum outro sinal além do sinal do profeta Jonas, após a
morte e ressurreição de nosso Senhor (pelo qual o sinal do profeta Jonas foi cumprido), certos sinais foram
dados a Israel para a autenticação da igreja nascente e dos seus Apóstolos. Lemos em Atos 2:43, “em cada alma
havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos”. Novamente em II Cor.
12:12, o Apóstolo Paulo autentica seu apostolado dizendo: “Pois as credenciais (sinais) do apostolado foram
apresentadas no meio de vós, com toda a persistência, por sinais, prodígios e poderes miraculosos”. Este
pensamento torna a ser repetido em Hebreus 2:3,4, onde se faz a pergunta: “Como escaparemos nós, se
negligenciarmos tão grande salvação? a qual tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois
confirmada pelos que a ouviram”. Aqueles que “a ouviram” foram os Apóstolos. Observe o versículo seguinte:
“Dando Deus testemunho juntamente com eles (os apóstolos), por sinais, prodígios e vários milagres, e por
distribuições do Espírito Santo segundo a sua vontade”.
Quando estes versículos são colocados juntos torna-se claro como cristal que Deus colocou o Seu selo de
aprovação na igreja nascente e seus Apóstolos por meio de sinais e milagres. Quando examinamos I Cor. 14 e
ouvimos o Espírito Santo dizer: “As línguas constituem um sinal”, temos um desses dons-sinais. Os outros são
milagres e o dom de curar. Na referência anteriormente citada, os milagres estão especificamente relacionados
como sinais dos apóstolos. A cura, como dom-sinal, encontra-se em Atos 5:12,15. No versículo 12, lemos:
“Muitos sinais e prodígios eram feitos entre o povo, pelas mãos dos apóstolos”. Que sinais eram esses? Vá até
o versículo 15: “A ponto de levarem os enfermos até pelas ruas e os colocarem sobre leitos e macas, para que,
ao passar Pedro, ao menos a sua sombra se projetasse nalguns deles”. O versículo 16 termina com as palavras:
“os quais eram todos curados”.
Assim as línguas, o dom de operar milagres e o dom de curar eram todos dons-sinais, autenticando a
Igreja Primitiva e os seus Apóstolos. Tal como as línguas já não estão conosco porque sua razão de ser
desapareceu, assim os dons-sinais para a autenticação da Igreja e dos seus Apóstolos também já não se
encontram mais conosco. Não existem Apóstolos hoje em dia e a Igreja não precisa do mesmo tipo de
autenticação como nos dias primitivos.
Uma reação diante desta declaração será: “Bem, então, você não crê que Deus cura hoje em dia e realiza
milagres”. Longe de ser verdade. O que dissemos, e o que as provas bíblicas apoiam esmagadoramente, é que o
dom de curar e a operação de milagres como um dom já não se encontram mais conosco. Mesmo aqueles que
hoje em dia reivindicam o dom de curar não o administram como a Igreja Primitiva fazia. Quando alguém lê o
livro de Atos descobre que não havia classes preparatórias para curas, não havia correntes de cura, ninguém era
encorajado a “soltar a fé” ou “esperar um milagre”. Na verdade, algumas das pessoas curadas ficavam mais
surpresas do que todos. Tomemos por exemplo o coxo à porta do templo que foi curado pelo dom de curar
ministrado através de Pedro e João. A história se acha registrada em Atos, no terceiro capítulo. Observe em
primeiro lugar onde o milagre aconteceu — no templo. Foi um dom de autenticação para os judeus
presenciarem, autenticando a Igreja Primitiva e os Apóstolos. Em segundo lugar, observe que o homem nada
esperava desses homens a não ser esmolas. Ele não esperava ser curado, ele não pedira para ser curado, ele não
buscava a Deus para ser curado. Na verdade, não há nenhuma evidência na história de que ele fosse crente.
Quando Pedro e João se aproximaram dele ele lhes pediu esmolas, não cura. Sua fé não foi envolvida. Quando
Pedro lhe falou, disse: “Não temos prata nem ouro”, e acrescentou: “em nome de Jesus Cristo de Nazaré,
levanta-te e anda”. A essa altura Pedro abaixou-se, tomou o homem pela mão direita e literalmente o puxou de
pé. A cooperação do homem não foi envolvida. Eis aí uma ilustração clássica do dom de curar em operação.
Não exigia preparação, não exigia fé da parte do recipiente. Acontecia tão somente pela soberana Vontade de
Deus como um dos sinais de Deus para a nação de Israel, autenticando a Igreja Primitiva. E quando esse dom
era exercido jamais falhava. Ninguém ia embora sem ter recebido a cura. Como isto está longe do que passa
pelo dom de cura da atualidade pode logo ser visto quando fazemos as comparações.
O mesmo acontece com a operação de milagres. Os milagres não eram realizados a pedido do povo. Não
eram realizados por meio de peças de roupa enviadas pelo correio ou mãos colocadas sobre o aparelho de
televisão, ou pela manipulação psicológica da multidão. Eram realizados na soberana Vontade de Deus como
sinais autenticadores dos Apóstolos e da Igreja Primitiva.
A razão para o dom-sinal de línguas já foi explicada, mas vamos destacar um fato significativo que
muitas vezes fica esquecido. As línguas não eram um instrumento de evangelização para alcançar os
perdidos que de outra maneira não compreenderiam a mensagem. Volte e leia o segundo capítulo de Atos Os
cento e vinte estavam falando em línguas não aprendidas anteriormente muito tempo antes da multidão se
ajuntar. Se isto era evangelismo, quem estariam evangelizando naqueles momentos? Mais ainda, a multidão que
se ajuntou no Dia de Pentecoste não precisava ouvir o evangelho em suas línguas. Eles entendiam a língua que
Pedro falava (provavelmente aramaico). Foi por intermédio do discurso de Pedro, em uma língua que eles todos
entenderam, que foram convencidos os três mil e aceitaram o Senhor. Foi o ouvir as maravilhosas obras de
Deus em suas próprias línguas (Atos 2:11) que convenceu essa gente de que era um sinal de Deus. Não foi
evangelismo, foi o ministério dos sinais.
Observe novamente que os sinais foram sempre realizados quando na presença de judeus e ao menos de
um Apóstolo. Os sinais, tendo uma vez cumprido sua função de autenticação da Igreja Primitiva e dos seus
Apóstolos, desapareceram depois. O dom da cura não está em operação atualmente e até mesmo os que o
proclamam possuir, de modo nenhum fazem uso dele de acordo com a Igreja Primitiva. Do mesmo modo o dom
da operação de milagres e o dom de línguas.
Hoje em dia oramos pelos doentes. Mas oramos pelos doentes dentro do contexto da Vontade de Deus
para aquela pessoa. Obviamente a fé está envolvida como também a obediência e a confissão de pecados. Leia
Tiago, capítulo cinco, e observe como todas essas coisas fazem parte do processo. Deus pode e cura o Seu
povo, mas não há nenhum acordo rígido ou garantia no que se lhe refere como havia com o dom de curar.
Algumas pessoas têm tentado contornar este fato acusando aquele que busca a cura, dizendo: “Ele não tinha fé
suficiente”. Isto simplesmente não se ajusta à Palavra de Deus.
Do mesmo modo Deus continua realizando milagres hoje em dia. Qualquer missionário pode contar
alguma intervenção miraculosa da parte de Deus, suprindo necessidades, protegendo pessoas, etc. Qualquer
cristão que tenha andado com o Senhor durante algum tempo pode fazer o mesmo. Mas, isto não é o dom de
operar milagres. O dom de operar milagres jamais falhou. Ele, com a cura e as línguas, foi sempre realizado na
presença de judeus e pelos Apóstolos. Por isso, quando dizemos que esses dons já não existem mais, não
estamos limitando Deus em dizer que Ele não pode fazer certas coisas — estamos simplesmente reconhecendo
o que Deus tem declarado em Sua própria Palavra. E quando o fazemos, estamos nos conformando à Palavra.
Israel buscou sinais. Antes da morte, sepultamento e ressurreição de nosso Senhor, nenhum outro sinal
seria dado à nação a não ser a Sua vinda para redenção. Depois de Sua ressurreição foram dados sinais para
silenciar os judeus e autenticar a igreja nascente e os seus líderes.

6
“O que Está Acontecendo?”
Quando estudantes sinceros se achegam às Escrituras com a mente aberta e descobrem as verdades acima
declaradas, eles olham para os movimentos nas igrejas de hoje e perguntam: “O que está acontecendo? Se,
como a Bíblia claramente afirma, as línguas cessaram, então ao que as pessoas estão se entregando hoje em
dia?” É curioso que não existam movimentos formados com base em qualquer outro dom relacionado por Paulo
em Romanos, capítulo doze, e capítulo doze de Primeira Coríntios. Sem as línguas, o movimento carismático
entraria em colapso! Mas, considerando que as línguas bíblicas cessaram, o que é isto que ouvimos hoje em
dia?
Alguns são rápidos em colocar a etiqueta “satânico” às línguas e seriamos tolos se ignorássemos tal
possibilidade. Até onde a história pode nos levar encontramos o registro de línguas como parte das cerimônias
das religiões pagãs. Algumas dessas cerimônias eram vís e forças demoníacas estavam envolvidas. No tempo
de Paulo, tais práticas eram comuns e os missionários de hoje contam fenômenos semelhantes. É um fato muito
conhecido que os espíritas, os mórmons e outros cultos anticristãos falam em línguas. Um fato interessante
sobre o movimento carismático moderno é que ele geralmente inclui aqueles que não preenchem os requisitos
do padrão bíblico para os crentes “regenerados”. Os líderes do movimento admitem que há aqueles que não
creem nas doutrinas essenciais tais como a Trindade, o Nascimento Virginal e a Divindade de Cristo. Contudo
essas pessoas falam em “línguas”. Estaria o Espírito Santo abençoando incrédulos e blasfemos, ou será que o
“espírito” é outro? A possibilidade de influência satânica não deve ser levianamente afastada. Contudo, a
presença de cristãos genuínos que sinceramente amam o Senhor deve agir como freio para aqueles que muito
rapidamente proclamam: “satânico”.
Falando de um modo geral, o movimento carismático compõe-se de pessoas vindas de cinco grupos. O
primeiro é o tradicional, ou clássico, grupo dos pentecostais. Grande parte deles nasceu dentro do movimento
uma vez que o movimento pentecostal tem-se alastrado desde o começo do século. Essas pessoas geralmente
pouco sabem do que acontece fora de suas próprias igrejas, e frequentemente desaprovam a liberdade que há
dentro do movimento moderno para com a bebida, o fumo e outras coisas que eles aprenderam ser
“divertimentos mundanos”.
O segundo grupo vem das igrejas liberais, onde eles e seus pais têm recebido “pedras” em vez do “pão”
que precisam e anseiam. A natureza aborrece o vácuo e mais cedo ou mais tarde uma revolta tem de surgir
contra a incredulidade estéril do liberalismo. Nesses círculos, quando a ideia de que a experiência espiritual é
possível e respeitável toma conta das pessoas, não se pode impedir o fluxo de pessoas sedentas e famintas que
desejam (e continuam desejando) alguma coisa mais do que a ação social e a filosofia humana.
O terceiro grupo, e que está crescendo rapidamente, é o dos carismáticos católicos romanos. Quando o
Papa João abriu as janelas de Roma para “deixar entrar ar fresco”, ele também deixou sair pessoas cujas almas
estavam cansadas de sacramentalismo e que não mais se prestavam a serem espectadores do drama religioso
apresentado pela missa nos domingos de manhã. Embora permanecessem fiéis à igreja e seus dogmas, este
grupo entrou para os “movimentos de línguas”, abraçando os carismáticos de outros grupos como seus
“irmãos”.
Um quarto grupo vem das igrejas protestantes ortodoxas onde se crê na Bíblia e se prega a Bíblia mas
sem o hálito de Deus sobre ela. Por um tempo demasiado longo muitas igrejas têm sido o centro de pregação e
ensino seco, vazio e pedante. A filosofia delas tem sido que a pregação e o ensino da Palavra de Deus é o
suficiente e o autor do Livro, o Espírito Santo, tem sido ignorado. O Espírito Santo poderia abandonar as igrejas
ortodoxas qualquer domingo e ninguém notaria a diferença. Temos ali corações ansiando por alguma coisa que
os afete além dos seus ouvidos e mentes.
O quinto grupo é composto de jovens que têm excluído a igreja de suas vidas por ela estar
desesperadamente atolada no ritual e no formalismo e que estão buscando alguma comunicação direta com o
Céu. Tendo experimentado drogas, o ocultismo e o sexo livre, e não tendo encontrado neles nenhuma satisfação
duradoura, estão se voltando para o movimento carismático em busca de um “paraíso” novo e diferente.
Todos eles têm um denominador comum: a busca da experiência. “Eu quero conhecer-sentir-possuir”.
Frases tais como “não o critique até experimentá-lo” e “um homem com uma experiência não fica jamais à
mercê de um homem que só tem um argumento” se ouvem comumente. Um conhecido líder do movimento
carismático, dirigindo-se a um grupo composto de elementos vindos dos diversos grupos acima mencionados,
depois de ler uma passagem da Bíblia, fechou-a e disse: “Não vamos concordar sobre a interpretação dessa
passagem, por isso deixem-me falar sobre a minha experiência, então teremos alguma coisa sólida”. Pat Boone,
falando aprobativamente sobre o segmento jovem, disse que o movimento não tem quartel-general, não tem
líder e não tem doutrinas. Estão simplesmente “alimentando-se de Jesus”.
O que está errado? A experiência? É claro que não. A vida cristã é um caso de amor, “amarás o Senhor
teu Deus de todo o teu coração...” O amor é experimental, não teórico. Mas o Senhor Jesus Cristo deu o padrão
divino no Evangelho de João, capítulo oito, versículo trinta e dois: “Conhecereis a verdade e a verdade vos
libertará”. O que é esta verdade, vemos no versículo anterior, a “minha Palavra”. O plano divino vai da verdade
para a experiência, não da experiência para a verdade! A fórmula: “Eu tive uma experiência. Eu encontrei
experiências iguais à minha na Bíblia. Portanto a minha experiência é bíblica” é perigosamente enganadora. Por
quê?
1. As experiências costumam ser contraditórias. Diversas pessoas, todas professando terem tido uma
experiência com Deus, podem diferir radicalmente quando chegam à “verdade” que aprenderam em suas
experiências. Em qual delas crer?
2. As experiências podem ser emocionalmente poderosas e compelentes, mas também perigosamente
enganadoras. Muitas pessoas sinceras que tiveram experiências notáveis mais tarde descobriram que foram
enganadas. Logo que a possibilidade do engano é admitida, o argumento da “experiência para a verdade” entra
em colapso.
Somos, portanto forçados a nos voltarmos para Cristo e o padrão escrito do Novo Testamento: Da
verdade da Palavra para a experiência. Se a minha experiência se harmoniza com a Palavra de Deus, muito
bem. Mas se a minha experiência não está em harmonia com a Palavra de Deus revelada, então deve ser
abandonada!
O Apóstolo Pedro escreveu as mais fortes declarações com referência a esta verdade na sua segunda
Epístola, capítulo um. Pedro diz: “Estive no monte da transfiguração com Cristo. Eu vi o meu Senhor em Sua
glória eterna! Eu ouvi realmente a voz de Deus! Mas há algo mais seguro do que a minha visão e a voz que
ouvi — a Palavra de Deus escrita na Bíblia!” Sua experiência vinha depois da Palavra de Deus.
O movimento carismático é orientado pelas experiências. A Bíblia é usada para apoiar a experiência das
pessoas. No processo, textos são extraídos do contexto e aquelas passagens que reprovam as práticas seguidas
são “reinterpretadas” ou ignoradas. Aqueles que insistem em seguir as Escrituras são acusados de
“intelectualização” e de “seguir a letra mais do que o Espírito”. Mas o Espírito Santo escreveu a “letra” e não
patrocina experiências que contradizem a Sua própria Palavra.
Tudo isto nos leva de volta à pergunta: “O que está acontecendo?” Sabemos pela Palavra de Deus que as
línguas do Novo Testamento já não estão mais em atuação. Sabemos também que não existem “línguas
celestiais” faladas na terra. Além disso, a possibilidade da mentira satânica é real e sempre presente. Mas para
acusar o cristão sincero e honesto de mentira satânica em todos os casos é injusto e irreal.
Quando nos lembramos que muito tempo antes de Deus advertir Israel do juízo iminente através de
cristãos falando em línguas que não tinham aprendido, já havia línguas extáticas relacionadas com experiências
religiosas, entendemos o fenômeno moderno. O desejo da experiência aliada à instrução, à motivação e à
aprovação do seu grupo, produzem as línguas extáticas. Eu tenho declarado publicamente muitas vezes:
“Deem-me um grupo de pessoas que façam o que eu lhes mandar: cantar, relaxar, antecipar e fazer os gestos
certos e será apenas uma questão de tempo até que algum comece a falar extaticamente!” É um fenômeno
psicológico e não tem semelhança com as línguas da Bíblia! Tenho ouvido centenas de “mensagens em
línguas” e “interpretações”. Nenhuma delas jamais acrescentou algo de valor à reunião. Todas elas não
passavam de uma reapresentação das Escrituras (muitas vezes citadas erradamente), algumas promoviam
doutrina falsa, algumas eram predições terrivelmente fantásticas, algumas com a intenção de repreender
indivíduos com os quais o orador tinha algum desentendimento! Todas as interpretações foram feitas em inglês
da era elizabetana, o que me fazia muitas vezes pensar por que o Senhor nunca falava em outro estilo a não ser
o da Versão “King James”.
As línguas bíblicas não eram extáticas e as línguas extáticas modernas não são línguas bíblicas. O desejo
da experiência tem subvertido pessoas sinceras, envolvendo-as em fenômenos psicológicos que elas
erradamente aceitam como o “falar em línguas”. No processo, com a diminuição das inibições, muitas
experiências emocionais se realizam — euforia, excitamento, alívio, etc. Mas a capitulação das inibições pode
ser perigosa. Paulo advertia: “Os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas” (I Cor. 14:32). Deus jamais
conduz Seus filhos à perda de controle. Isso é coisa típica do paganismo do qual os coríntios tinham saído! (I
Cor. 12:2). O inimigo da alma está sempre pronto a tirar vantagens de uma situação “fora do controle” e
milhares de cristãos podem testificar com arrependimento dos resultados finais.
Tais experiências além de darem a Satanás uma porta da qual ele rapidamente se aproveita, também
podem ser psicologicamente perniciosos ao indivíduo. Os escritores carismáticos estão constantemente
advertindo os que falam em línguas de que experimentarão uma diminuição. Isto eles atribuem ao diabo e o
leitor é aconselhado a buscar o reenchimento tão logo seja possível. Que tal “vazio” não se encontra no livro de
Atos e que os cristãos primitivos não estavam constantemente falando em línguas, não parece perturbar esses
mestres. Quando Pedro defendeu sua visita à casa de Cornélio antes do concilio de Jerusalém, ele teve de
retroceder oito anos — de volta ao Pentecoste — para encontrar uma situação com a qual pudesse fazer
comparação — “Quando, porém, comecei a falar, caiu o Espírito Santo sobre eles, como também sobre nós no
princípio” (Atos 11:15). Ele não podia dizer: “como sobre todas as igrejas desde o Pentecoste”, porque esse
não era o caso!
Assim o que busca a experiência passa pelo ritual muitas e muitas vezes, mas começa a descobrir uma
coisa: a experiência extática, tal como as drogas, exige doses cada vez maiores para haver satisfação. Às vezes
introduz-se o grotesco. Tenho visto pessoas correndo à volta de uma sala até se cansarem, subir em postes de
tendas, rir histericamente, entrar em transes que duram dias e toda sorte de coisas esquisitas conforme o
“paraíso” vai se tornando mais esquivo. Finalmente há uma crise e toma-se uma decisão: ficar assentado nos
bancos de trás como mero espectador, “fazer de conta”, ou prosseguir na esperança de que finalmente se
recupere o perdido. A mais trágica das decisões é desistir e com isso abandonar todas as coisas espirituais como
se fossem fraudulentas. Os espectadores ficam frustrados, os simuladores sofrem complexo de culpa, os que
esperam são dignos de dó e os que desistem são uma tragédia. Não, tais movimentos não são inocentes!
Ocasionalmente, pela graça de Deus, o carismático é alcançado e salvo por cristãos sábios e compassivos
que conhecem a sua Bíblia e têm paciência. É muito difícil para aquele que teve experiências emocionais, que
declarou falar em uma língua dada por Deus e que foi alvo da aprovação, até mesmo admiração de seus
companheiros, admitir que foi enganado. O ego está envolvido, os amigos e a família estão envolvidos e a falta
de respeito que receberá de seus antigos “amados irmãos” também está muito envolvido. A Palavra de Deus
apresentada clara e bondosamente é o único antídoto eficiente, mas aqueles a quem Deus usa para corrigir o que
está preso pelo movimento carismático têm de ser pacientes. Leva tempo!
A maior de todas as tragédias resultante do moderno movimento de línguas é a falta da verdadeira vida
cheia do Espírito. Lembra-se do cão, na antiga fábula, que ao cruzar uma ponte com um osso na boca, viu o seu
reflexo na água lá em baixo? O osso que viu refletido parecia muito melhor do que aquele que tinha na boca, a
ponto de largar a matéria pela sombra e permanecer faminto. Multidões de pessoas famintas são como aquele
cachorro. Deixaram cair, ignoraram ou mesmo nunca experimentaram a realidade de Efésios 5:18, que satisfaz,
em troca de uma sombra de excitante experiência edificada sobre a língua extática. A catástrofe corintiana está
se repetindo.

FIM

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