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SINTAXE DO PORTUGUÊS II

autora
IVI FURLONI

1ª edição
SESES
rio de janeiro  2016
Conselho editorial  luis claudio dallier, roberto paes e paola gil de almeida

Autora do original  ivi furloni

Projeto editorial  roberto paes

Coordenação de produção  paola gil de almeida, paula r. de a. machado e aline


karina rabello

Projeto gráfico  paulo vitor bastos

Diagramação  bfs media

Revisão linguística  bfs media

Revisão de conteúdo  márcia dias

Imagem de capa  seregam | shutterstock.com

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2016.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

F985s Furloni, Ivi


Sintaxe do português II / Ivi Furloni.
Rio de Janeiro: SESES, 2016.
128 p: il.

isbn: 978-85-5548-309-7

1. Lingua portuguesa - sintaxe. 2. Lingua portuguesa - gramática.


I. SESES. II. Estácio.
cdd 469.5

Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento


Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
Sumário

Prefácio 7

1. Período composto por coordenação – Orações


coordenadas 9

1.1  Orações coordenadas 13


1.1.1  Orações coordenadas assindéticas 13
1.1.2  Orações coordenadas sindéticas 14
1.2  As orações coordenadas e a pontuação 20

2. Período composto por subordinação –


Oração subordinada substantiva e oração
subordinada adjetiva 25

2.1  Oração e período 26


2.2  Orações subordinadas 28
2.3  Oração subordinada substantiva 29
2.3.1  Oração subordinada substantiva subjetiva 30
2.3.2  Oração subordinada substantiva objetiva direta 31
2.3.3  Oração subordinada substantiva objetiva indireta 32
2.3.4  Oração subordinada substantiva completiva nominal 33
2.3.5  Oração subordinada substantiva predicativa 34
2.3.6  Oração subordinada substantiva apositiva 35
2.3.7  Oração subordinada substantiva agente da passiva 36
2.4  Oração subordinada adjetiva 37
2.4.1  Outros pronomes relativos 40
2.4.2  Oração subordinada adjetiva restritiva 41
2.4.3  Oração subordinada adjetiva explicativa 42
2.4.4  Aspectos semânticos das orações adjetivas restritivas e
explicativas 43
2.5  A Função dos pronomes relativos 45
2.5.1  Pronome relativo que 45
2.5.2  Pronome relativo quem 47
2.5.3  Pronome relativo cujo(s), cuja(s) 47
2.5.4  Pronome relativo o qual, os quais, a qual, as quais 48
2.5.5  Pronome relativo onde 49
2.5.6  Pronome relativo quanto, como, quando 49

3. Período composto por subordinação –


Oração subordinada adverbial e orações
reduzidas e justapostas 53

3.1  Oração subordinada adverbial 55


3.1.1  Oração subordinada adverbial causal 56
3.1.2  Oração subordinada adverbial consecutiva 57
3.1.3  Oração subordinada adverbial comparativa 57
3.1.4  Oração subordinada adverbial conformativa 58
3.1.5  Oração subordinada adverbial concessiva 59
3.1.6  Oração subordinada adverbial condicional 60
3.1.7  Oração subordinada adverbial final 61
3.1.8  Oração subordinada adverbial proporcional 62
3.1.9  Oração subordinada adverbial temporal 62
3.1.10  Oração subordinada adverbial locativa 64
3.1.11  Oração subordinada adverbial modal 65
3.2  Orações reduzidas 66
3.2.1  Orações reduzidas de infinitivo 67
3.2.2  Orações reduzidas de gerúndio 68
3.2.3  Orações reduzidas de particípio 68
3.3  Orações justapostas 69
3.3.1  Orações justapostas coordenadas 69
3.3.2  Orações justapostas subordinadas 69
3.4  As orações subordinadas e a pontuação 70
3.5  Falsa coordenação: coordenação gramatical e subordinação
psicológica 71
4. Colocação pronominal 77

4.1  Pronomes Pessoais 78


4.1.1  Os pronomes pessoais do caso reto 79
4.1.2  Os pronomes pessoais do caso oblíquo 79
4.2  Ênclise (pronome após o verbo) 83
4.3  Fatores de próclise 87
4.4  Fatores de mesóclise 88
4.5  Alterações sofridas pelos pronomes enclíticos 89
4.6  Fusão de pronomes oblíquos 90
4.7  Locução verbal e tempo verbal composto 90
4.7.1  Locuções verbais com verbo no infinitivo (-R) 90
4.7.2  Locuções verbais com verbo no gerúndio (-NDO) 91
4.7.3  Tempos verbais compostos 91
4.8  Locuções verbais com verbo no infinitivo (-R) 92
4.9  Locuções verbais com verbo no gerúndio (-NDO) 92
4.10  Tempos verbais compostos 92
4.11  Prescrição e uso: o caso da mesóclise 92

5. Padrões oracionais do português brasileiro 95

5.1  Características do português popular e do português culto 96


5.2  A estrutura da língua portuguesa 99
5.2.1  Termos oracionais 99
5.2.2  Essenciais do tipo nome ou pronome transferido a verbo 99
5.2.3  Essenciais do tipo nome ou pronome não transferido a verbo
(substantivos): 100
5.3  Padrões frasais básicos 101
5.3.1  Padrões frasais compostos por superposição 101
5.3.2  Variações nos padrões frasais 101
5.4  Português brasileiro: língua de tópico 102
5.5  O uso do pronome ele como acusativo 104
5.6  O uso do pronome ele na oração relativa copiadora
(Preferência pela relativa cortada) 105
5.7  A mudança pronominal no português brasileiro: tu/você;
vós/vocês; nós/a gente 108
Prefácio
Prezados(as) alunos(as),

Os falantes comuns, no geral, não se interessam em refletir sobre como se


produz linguagem, ficando essa tarefa para nós linguistas, pois, se escolhemos
o curso de Letras, o fizemos porque os fatos de linguagem nos intrigam, nos
incomodam, nos fascinam. E a linguagem é, segundo Saussure, o fator mais
importante na vida dos indivíduos e da sociedade, pois é por meio dela que as
interações sociais acontecem. Uma das áreas da Linguística é a Sintaxe, e é so-
bre alguns tópicos dentro da Sintaxe que trataremos neste livro.
Quando pensamos no processo de utilização da língua, logo nos vem à
mente o processo de seleção e de combinação. Para produzir um enunciado, o
enunciador lança mão do léxico da língua, em primeira instância, sendo neces-
sário, na sequência, pensar em como serão combinadas essas palavras. Toda
língua natural apresenta um conjunto de regras de combinação que são permi-
tidas para que se possa produzir um enunciado coerente. Do contrário, sem as
regras, dificilmente produziríamos sentido.
Sintaxe (do grego syntaxis - ordem, disposição), então, é a parte da
Gramática que estuda a relação que se estabelece entre as palavras dentro
das frases, e das frases, dentro do parágrafo. Para que os enunciados produzi-
dos apresentem sentido, é preciso que a combinação seja feita dentro das re-
gras preestabelecidas.
Qualquer pessoa que se disponha a aprender uma língua deve, em primei-
ro lugar, adquirir o vocabulário dessa língua; e, em segundo lugar, conhecer a
Sintaxe, pois é por meio desse conhecimento que poderemos produzir enun-
ciados (orais e escritos) que apresentem sentidos. É pelo domínio da Sintaxe
que podemos nos comunicar.
No entanto, no nosso dia a dia, por sermos falantes nativos, produzimos
enunciados seguindo as regras da Sintaxe sem nos dar conta disso. E é exata-
mente esse recurso, das regras gramaticais, que nos possibilita a produção de
um número infinito de frases, tanto na quantidade, quanto na extensão delas.
Estudar Sintaxe pode parecer perda de tempo na atualidade, visto que nas
universidades, mais especificamente em cursos de Letras, critica-se muito o
formalismo da Gramática Normativa. No entanto, enquanto letrados, devemos
conhecer todas as áreas da Linguística, inclusive para termos uma visão do

7
todo. Além disso, mesmo em estudos sociolinguísticos, em que o uso da língua
se sobrepõe à forma, denota-se a necessidade de mostrar para o aluno as diver-
sas variantes, inclusive a norma culta.
Precisamos conhecer todos os aspectos que envolvem o estudo da lingua-
gem para, enquanto professores: a) termos mais domínio e conhecimento do
que estamos ensinando; e b) estarmos seguros do lugar que ocupamos, visto
que isso vai influenciar a forma que ensinamos.
Conhecer a norma culta da língua é fundamental para produzirmos textos
com excelência e também para ler e compreender com competência.

Bons estudos!
1
Período composto
por coordenação
– Orações
coordenadas
1.  Período composto por coordenação –
Orações coordenadas

Mais do que definir oração coordenada, você precisa compreender as relações


de sentido que existem entre as orações em um período composto por coorde-
nação. Exemplificaremos a coordenação com orações que se ordenam uma ao
lado da outra, em paralelo. São como plantas crescendo uma ao lado da outra.
Algumas são separadas apenas por sinais de pontuação; outras trazem conjun-
ções coordenadas separando as orações.
As orações coordenadas não se penetram, uma não se encaixa na outra, mas
se bifurcam como dois polos distintos entre si. Uma não funciona como parte
da outra, uma não desempenha função sintática em relação à outra. Por isso,
diz-se que elas são independentes do ponto de vista sintático. Há entre elas
uma relação de sentido (semântica), e não sintática.

OBJETIVOS
Nesta unidade, você será capaz de:
•  Reconhecer o período composto por coordenação;
•  Identificar as orações coordenadas;
•  Analisar as orações coordenadas e aplicá-las corretamente em textos.

Quantas orações e quantos períodos você analisou sem mesmo saber o


porquê dessa análise? Acontece que muitos professores ficam preocupados
em “passar” o conteúdo programático aos alunos, sem lhes dar a devida ex-
plicação, ou a real importância das relações expressas pelas orações no perío-
do composto.
Exemplificando – No período “Estudei muito para a prova, mas não conse-
gui bom resultado.”, ao analisarmos a segunda oração, classificamo-na como
oração coordenada sindética adversativa; esquecemo-nos, no entanto, de que
há uma relação de oposição expressa pela adversativa ”mas”. Atualmente, o en-
sino desta relação é mais valorizado do que aquela classificação.

10 • capítulo 1
1.  Período Composto por Coordenação
Renato Petry foi o vencedor do Concurso Mente Aberta de Contos de 2007. Você
lerá um excerto do conto Restos.
A bruma já se dissipara, e o cerrado mostrava-se todo iluminado por um sol
mordente. Promessa de mais seca. Com o tempo, aprendeu a apreciar o am-
biente sinuoso; e agora até filosofava, mesmo sem saber. Quem não se entorta,
acaba quebrado. Tem de se dobrar pra continuar existindo, teve vontade de di-
zer. Preferiu calar. O momento não era de falação, mas de quietude. O menino
ia aprender como ele aprendera. Ninguém lhe disse nem lhe ensinou nada. Pai
não teve, e a mãe, coitada, só rudeza e trabalho a vida inteira. Agora, descansa-
va. O fardo ficara para ele só. [...]

ÉPOCA, 9/92007.

Na leitura desse trecho, percebe-se que o autor não teve preocupação com
períodos longos e bem estruturados; ele optou por:
a) frases nominais: “Promessa de mais seca.
b) períodos simples: “O fardo ficara para ele só.”
c) compostos por duas orações: “Quem não se entorta, acaba quebrado.”
Esses exemplos são muito comuns na linguagem típica do português
contemporâneo.
Observe o enunciado a seguir.
A bruma já se dissipara,
oração coordenada
e o cerrado mostrava-se todo iluminado por um sol mordente.
oração coordenada

Nesse período, a oração destacada não é parte constituinte da oração se-


guinte, isto é, ela não exerce nenhuma função sintática na outra oração. Como
não há entre elas nenhuma relação de dependência, não podemos dizer que
esse período seja composto por subordinação.

capítulo 1 • 11
Além disso, as duas orações são da mesma natureza. Como elas estão com-
binadas para formar uma unidade maior, trata-se de um caso de período com-
posto. Esse tipo de combinação é chamado de coordenação. Na coordenação,
uma oração se ordena do lado da outra, sem que uma seja constituinte da outra.
E por que estudar as orações coordenadas? Veja o que o professor Ulisses
Infante diz a esse respeito.
"O estudo das orações coordenadas facilita o trabalho de quem necessita
interpretar ou produzir textos narrativos e dissertativos. As orações coordena-
das aditivas são bastante empregadas em sequências narrativas, criando diver-
sos efeitos, aumentando ou diminuindo a velocidade narrativa de acordo com
as intenções do produtor do texto. As coordenadas adversativas, conclusivas,
alternativas e explicativas são praticamente indispensáveis nos textos disser-
tativos, pois possibilitam a quem elabora o texto a adoção das mais diversas
estratégias de argumentação. As adversativas, por exemplo, permitem a quem
está redigindo ou falando a contraposição imediata de argumentos opostos.
É inegável que o país vem atravessando um período difícil, mas é igualmen-
te inegável que isso não justifica o abandono das áreas de saúde e educação.
Emprego semelhante pode ser dado às orações ligadas pelas chamadas sé-
ries aditivas enfáticas. Nesse caso, coordenam-se dois argumentos favoráveis à
mesma tese, conferindo-se ênfase ao segundo deles:
Não só se deve considerar a validade destas medidas, mas principalmente
deve-se a partir de agora passar à sua aplicação efetiva.”

(INFANTE, 1999, p. 445).

12 • capítulo 1
1.1  Orações coordenadas

Nos períodos compostos por coordenação, não existe relação hierárquica entre
as orações, o que equivale dizer que não há uma oração subordinante e outra
subordinada. Portanto, a terminologia oração principal desaparece nos perío-
dos compostos por coordenação, já que, nestes, é como se as orações estives-
sem no mesmo “nível de importância” sintática.
Por isso fica mais simples a classificação das orações coordenadas.
No período analisado anteriormente, vimos que a primeira oração não é in-
troduzida por nenhuma conjunção, enquanto a outra se inicia com a conjun-
ção “e”. A primeira oração é chamada de coordenada assindética, pois não é
introduzida por nenhuma conjunção; a outra possui conjunção e, por isso, é
chamada de coordenada sindética (do grego sindethos = conjunção). Vamos
estudá-las para maior compreensão.

1.1.1  Orações coordenadas assindéticas

São aquelas cujo conectivo não vem expresso; em seu lugar aparece vírgula,
ponto e vírgula ou dois-pontos. Ex.:

Desabotou o colarinho arrumou as almofadas.


e instalou-se con-
oração coordenada assindética oração coordenada assindética

fortavelmente no sofá. (Somersett Maugham)

O amor é sempre criança: nunca tem preocupações.


oração coordenada assindética oração coordenada assindética

Uma alegria compartilhada se transforma em dupla alegria:


oração coordenada assindética
uma dor compartilhada, em meia dor
(Provérbio sueco)
oração coordenada assindética

Observe que todas as orações destacadas anteriormente são coordenadas,


porque são independentes, não possuem função sintática em relação às ou-
tras orações.

capítulo 1 • 13
1.1.2  Orações coordenadas sindéticas

As orações coordenadas sindéticas são introduzidas no período pelas con-


junções coordenativas, que estabelecem diferentes relações de sentido entre
as orações.
Vamos observar melhor esse assunto, examinando as conjunções coorde-
nativas no período composto. Existem cinco tipos:

1.1.2.1  Aditivas

São iniciadas principalmente por e e nem, exprimem adição, soma de pen-


samentos. Ex.:
Os cães ladram e a caravana passa.
oração coordenada assindética oração coordenada sindética aditiva

A primeira oração apresenta uma informação. A segunda acrescenta a essa


informação inicial outro dado. É claro que o enunciador desse período poderia
estabelecer um outro tipo de relação entre essas duas orações, mas ele preferiu
associá-las por adição, mostrando que os dois fatos são sucessivos um ao outro.
A conjunção aditiva por excelência é o “e”. Da mesma forma, usam-se o
mas, o também e o nem para introduzir orações aditivas.
“Ninguém lhe disse, nem lhe ensinou nada.” (Renato Petry)
“Os espíritos tranquilos não se confundem nem se atemorizam; continuam
em seu ritmo próprio, na aventura ou na desgraça, como os relógios durante
as tempestades.”
O árbitro não só marcou pênalti, mas também expulsou o jogador infrator.

1.1.2.2  Alternativas

São iniciadas principalmente por ou, ou...ou, ora...ora, quer...quer. A oração


alternativa estabelece uma relação de alternância, escolha entre duas orações,
de maneira que cada uma delas oferece uma “opção”, e a escolha de uma impli-
ca a recusa de outra. Ex.:

Naquele momento, eu tomava o ônibusse ou voltava para casa.


oração coordenada assindética oração coordenada sindética alternativa

14 • capítulo 1
Nesse período, a conjunção “ou” indica que o sujeito tinha de escolher en-
tre duas possibilidades: tomar o ônibus significava, evidentemente, não voltar
a casa. É muito comum, nesses casos, que a primeira oração também seja in-
troduzida pela conjunção “ou”: “Naquele momento, ou eu tomava o ônibus ou
voltava a minha casa”. Com a conjunção “ou” repetida nas duas orações, am-
bas são classificadas como coordenadas sindéticas alternativas, uma vez que
expressam relação de alternância.

“Uma poesia deve ser excelente ou não existir por nada.”

Na floresta, ao anoitecer, se ouvem pipilos estranhos, ora se veem


aves misteriosas.
Leia a tirinha a seguir e atente para o uso da conjunção alternativa ou.

Figura 1.1  –  Fonte: <http://clubedamafalda.blogspot.com>.

Podemos ver na frase do terceiro quadrinho “Somos ou não somos?” a pre-


sença da conjunção alternativa ou marcando a ideia de alternativa. Percebe-se
que há a ideia de que as duas coisas não podem acontecer ao mesmo tempo, ou
seja, de alternância.

1.1.2.3  Sobre as conjunções aditivas e adversativas

Embora as conjunções aditivas e as adversativas sejam distintas quanto à re-


lação de sentido que estabelecem – visto que o e marca a união de dois ou mais
fatos; e o ou, a exclusão –, elas apresentam características sintáticas comuns,
pois:

capítulo 1 • 15
a) Ligam sintagmas que exercem a mesma função sintática.
João e José Foram à feira.
Sujeito

João ou José irá à feira.


Sujeito

A casa não funciona sem a mãe e o pai.


adjunto

A casa não funciona sem a mãe ou o pai.


adjunto

b) Ligam orações que estejam subordinadas a uma mesma ora-


ção principal.

É possível que ele venha e faça todo o trabalho.

Eu sei que ele virá ou mandará alguém para representá-lo.

Podemos destacar uma diferença entre as conjunções aditivas e as adver-


sativas: apenas as segundas podem introduzir ambas as orações coordenadas.

Ou você estuda vai ficar de recuperação


ou
ração coordenada sindética alternativa oração coordenada sindética alternativa

1.1.2.4  Adversativas

São iniciadas principalmente por mas, porém, contudo todavia, entretanto, ex-
primem contraste, oposição, ressalva de pensamentos. Ex.:
Sempre há um pouco de loucura no amor
oração coordenada assindética

porém sempre há um pouco de razão na loucura (Friedrich Nietzsche)


oração coordenada sindética adversativa

16 • capítulo 1
Nesse período, existe uma relação de oposição entre o amor e a loucura, por
isso dizemos que a segunda estabelece com a anterior uma relação de adver-
sidade. Lembre-se de que a informação mais importante é sempre aquela que
vem introduzida pela conjunção adversativa; nesse caso, o autor da frase quer
destacar que há também um pouco de razão na loucura.
Não ter feito nada é uma estupenda vantagem;
oração coordenada assindética

mas não se deve abusar


oração coordenada sindética adversativa

“O momento não era de falação, mas de quietude.” (Renato Petry)


“Chegará o dia em que talvez as máquinas pensem, porém elas nunca terão
sonhos.” (Theodor Heuss)
Veja o uso da conjunção adversativa entretanto na tirinha a seguir.

capítulo 1 • 17
1.1.2.5  Conclusivas
São iniciadas principalmente por logo, portanto, e exprimem conclusão. A
conjunção “pois” também pode ser conclusiva, desde que posposta ao verbo.
A oração conclusiva é aquela que funciona como uma conclusão do que se afir-
mou na anterior. Podemos entender a conclusão como sendo uma decorrência
daquilo que já está implícito no enunciado. Ex.:

Todo barbeiro é tagarela


Oração Coordenada
Assindética

começou, portanto, a puxar conversa com o freguês


oração coordenada sindética conclusiva

(Manuel Antonio de Almeida)

A ideia de que o barbeiro fala muito já está implícita na primeira oração, daí
o fato de ele puxar conversa com o freguês. A oração conclusiva tem, portanto, a
função de explicitar um dado que é, na verdade, uma decorrência lógica do que
foi relatado na oração anterior.
“O zero, como desenho, é a perfeição; como número nada vale; portanto é o
vazio absoluto na perfeição.”
“Cada qual, livremente, faz o seu próprio preço, alto ou baixo, e ninguém
vale senão o que se faz valer: taxa-te, pois, livre ou escravo: isto depende de ti.”

EXERCÍCIO
Carlos Drummond de Andrade escreveu um texto bem-humorado e simples, empregando
algumas orações coordenadas. Identifique-as.

A incapacidade de ser verdadeiro


(Carlos Drummond de Andrade)
Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois
dragões da independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas.
A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio
da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos, feito queijo, e ele provou e tinha

18 • capítulo 1
gosto de queijo. Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar
futebol durante quinze dias.
Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela cháca-
ra de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe
decidiu levá-lo ao médico. Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça:
— Não há nada a fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um caso de poesia.

1.1.2.6  Explicativas

São iniciadas principalmente por que, porque, pois (anteposto ao verbo), ex-
primem explicação, motivo, razão. A oração coordenada explicativa justifica ou
confirma o que se disse na oração anterior, por isso ela tem grande peso argu-
mentativo. Ex.:
Não faças mal a teu vizinho. que o teu vem a caminho
oração coordenada assindética oração coordenada
sindética explicativa

A primeira oração apresenta um pedido, um desejo feito ao interlocutor. Se


essa informação aparecesse sozinha, ela existiria independentemente da se-
gunda oração. Esta oração procura justificar o pedido, apresentando um dado
novo que funciona como explicação do que foi relatado na primeira oração.
Vem já, já, à nossa casa, que preciso falar-te sem demora.
“Deixe-a ir para o Porto, que não tem perigo no convento.” (Camilo
Castelo Branco)
“Amemos, porque amar é um santo escudo.”

ATENÇÃO
Diferença entre oração explicativa e oração causal
A grande diferença entre as orações causais e as orações explicativas está no fato de
que aquelas indicam causa de um efeito exposto na oração principal e estas não exprimem
tal relação, qual seja, a de causa e efeito. Ex.: Todo homem morre porque Deus quer.Todo
homem morre, porque ninguém é imortal. Na primeira frase, temos oração causal; primeiro

capítulo 1 • 19
Deus quer (causa), depois vem o efeito: o homem morre. Na segunda frase, temos oração
explicativa: o fato de ninguém ser imortal jamais será causa de o homem morrer, porque não
ocorre primeiro que o outro fato, necessariamente. As orações iniciadas por que ou porque
sempre serão explicativas se o verbo da oração anterior estiver no modo imperativo.

1.2  As orações coordenadas e a pontuação

As orações coordenadas mantêm entre si uma relação de dependência semân-


tica, e não sintática, diferente das orações subordinadas. Isso quer dizer que
há autonomia entre elas, são independentes. Ter isso em mente ajuda muito
quanto pensamos nas regras de colocação da vírgula nas orações coordenadas.
Vamos às regras.
a) As orações coordenadas assindéticas são separadas por vírgulas.
Ex.: Vim, vi, venci.
b) Separam-se por vírgulas as orações coordenadas sindéticas, menos as
introduzidas por e.
Todos devemos ajudar, pois fazemos parte do grupo.
O time jogou bem, mas perdeu.
c) No caso das orações coordenadas introduzidas pela conjunção e, deve-
se levar em conta a oração toda.
1. Não se emprega vírgula quando a conjunção aparece apenas entre a
penúltima e a última oração.
Ex.: Compareci à reunião, levei minhas anotações, expus meus pontos
de vista e fiz minhas reivindicações.
2. Há vírgula se a conjunção introduz as várias orações de uma sequência.
O homenzinho ia, e voltava, e vinha, e tornava, e mais uma vez insistia em
se afastar, e logo fazia meia-volta.

CURIOSIDADE
Polissíndeto é uma figura caracterizada pela repetição enfática dos conectivos. Observe
o exemplo a seguir.
"Falta-lhe o solo aos pés: recua e corre, vacila e grita, luta e ensanguenta, e rola, e tomba,
e se espedaça, e morre." (Olavo Bilac)

20 • capítulo 1
"Deus criou o sol e a lua e as estrelas. E fez o homem e deu-lhe inteligência e fê-lo chefe
da natureza.

3. Se os sujeitos das orações unidas pelo e forem diferentes, deve ha-


ver vírgulas.
Ex.: Os estudantes tomaram as ruas com seus protestos, e os aposentados se
dirigiram ao Ministério da Previdência Social.

d) Usa-se o ponto e vírgula para separar as orações adversativas e


as conclusivas.
Ex.: Faça o bolo; mas deixe a cozinha em ordem.
A situação tem piorado consideravelmente; portanto devem ser tomadas
medidas eficientes com rapidez.
e) O ponto e vírgula é usado também entre as orações assindéticas que
apresentem um valor adversativo ou conclusivo.
Ex.: Tentei impedi-los; ninguém me deu atenção.
A vida é frágil; deve-se manuseá-la com sensibilidade.
f) O uso do ponto e vírgula é obrigatório quando a conjunção das coorde-
nadas sindéticas adversativas e conclusivas não estiver no início dessas orações.
Nesses casos a conjunção, que aparece deslocada, deve ser isolada por vírgulas.
Ex.: Todos os alunos estão presentes; começaremos, portanto, a aula.
g) O ponto e vírgula permite organizar blocos de orações coordenadas que
estabelecem contraste.
Ex.: Uns avançam os sinais vermelhos, oprimem os pedestres nas faixas de
segurança, estacionam em fila dupla e ostentam suas poses de bons cidadãos;
outros nascem na miséria, crescem nas ruas, vendem gomas de mascar nos se-
máforos e acabam recebendo destaque nas reportagens policiais.

ATIVIDADES
01. Reúna cada par de períodos simples em um período composto por coordenação, esta-
belecendo uma relação de sentido.
a) A comida era boa. O pequeno restaurante vivia vazio.
b) Não a critique em público. Ela é muito sensível.

capítulo 1 • 21
c) Os alunos não concordaram com a proposta da escola. Eles também não propuseram
outra solução para o problema.
d) Está fazendo frio. Levarei uma blusa.

02. “Então a velha apeou do tapir e montou num cavalo gázeo-sarará que nunca prestou
nem prestará e seguiu.” (Mário de Andrade, Macunaíma)
a) Quantas orações formam esse período?
b) Quais delas são coordenadas sindéticas aditivas?
c) A última oração coordena-se aditivamente com qual oração?

03. Relacione as orações coordenadas por meio de conjunções.


a) Ouviu-se o som da bateria. Os primeiros foliões surgiram.
b) Não durma sem cobertor. A noite está fria.
c) Quero desculpar-me. Não consigo encontrá-los.

REFLEXÃO
Você percebeu, nesta aula, que as orações coordenadas são independentes e não possuem
função sintática em relação à outra, o que não acontece com as subordinadas (próximo
capítulo). É importante verificar que uma mesma conjunção pode apresentar várias rela-
ções de sentido; o conectivo “e”, por exemplo, normalmente classificado como conjunção
aditiva, pode funcionar na oração como adversativa (mas) ou mesmo conclusiva (logo). Para
maior compreensão do enunciado, fundamental é perceber a relação semântica que há entre
as orações.

LEITURA
Aprenda um pouco mais sobre o período composto lendo o artigo Período composto por
coordenação. Disponível em: <http://brasilescola.uol.com.br/gramatica/periodo-com-
posto-coordenacao.htm>.

22 • capítulo 1
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEREDO, José Carlos de. Fundamentos da Gramática do Português. Rio de Janeiro: Zahar,
2010.
______. Iniciação à Sintaxe do Português. Rio de Janeiro: Zahar, 1990.
AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo:
Publifolha, 2008.
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro:Lucerna,
2009.
CASTILHO, Ataliba T. de. Nova gramática do português brasileiro. São Paulo: Contexto,2010.
CEGALLA, D. P. Novíssima gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Nacional, 2005.
CUNHA, Celso e CINTRA, Lindley. Nova Gramática do PortuguêsContemporâneo. Lexikon: Aveiro,
2009.
ROCHA LIMA, Carlos Henrique da.Gramática Normativa da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1998.
SACCONI, L. A. Nossa gramática: teoria e prática. São Paulo: Atual, 1999.
_____. Gramática essencial ilustrada. São Paulo: Atual, 1999.

capítulo 1 • 23
24 • capítulo 1
2
Período composto
por subordinação –
Oração subordinada
substantiva e
oração subordinada
adjetiva
2.  Período composto por subordinação –
Oração subordinada substantiva e oração
subordinada adjetiva
Nas aulas sobre subordinação e coordenação, nossa maior preocupação será
mostrar como a classificação sintática tradicional pode ser útil para estudar-
mos o sentido dos períodos compostos. Procuraremos, na medida do possível,
“semantizar” essas aulas e, sem desprezar a terminologia consagrada, apresen-
tar como as combinações sintáticas interferem na produção do sentido.
Na análise do período composto, o objetivo geral é indicar que as orações,
unidades de sentido maiores que as palavras, não se amontoam para formar
períodos, mas se combinam sob o comando de certas regras.
Vale lembrar que os pronomes relativos (conectivos das orações adjetivas)
possuem função sintática, enquanto as conjunções subordinativas integrantes
(conectivos das orações substantivas) não têm função sintática.

OBJETIVOS
Neste capítulo, você será capaz de:
•  Reconhecer o período composto por subordinação;
•  Identificar as orações subordinadas;
•  Distinguir as orações subordinadas substantivas e as adjetivas.

2.1  Oração e período

Parece-nos conveniente retomar os conceitos de oração e de período. O con-


ceito de oração é formal: um enunciado em que se encontram presentes um
sujeito e um predicado ou – excepcionalmente – ao menos um predicado. Já o
período é definido sobretudo com base num critério semântico: todo enuncia-
do que tem sentido acabado, ou seja, um significado autônomo, compreensível
dentro de seus próprios limites, constitui um período.

26 • capítulo 2
O termo período é usado para designar enunciados articulados, isto é, for-
mados pela combinação de formas linguísticas passíveis de divisão em unida-
des menores. Os períodos compostos por coordenação, sobretudo os assindéti-
cos, são divisíveis em períodos menores, dependendo da intenção de quem fala.
Graciliano Ramos, em Vidas Secas, iniciou um parágrafo assim.
“[Fabiano] Agachou-se, atiçou o fogo, apanhou uma brasa com a colher,
acendeu o cachimbo, pôs-se a chupar o canudo de taquari cheio de sarro.”
Se o escritor modernista quisesse destacar cada um dos gestos da perso-
nagem para reforçar o clima de suspense, o narrador poderia usar ponto-final
após cada uma dessas coordenadas.
Você não deve esquecer-se de que o período pode ser constituído por ape-
nas uma oração, ocorrência em que a oração se classifica como absoluta. Nesse
caso, há certa redundância de conceitos: o período simples e a oração absoluta
são, na prática, a mesma coisa. Observe este exemplo de Graciliano Ramos.
“Infelizmente, a excomungada da raposa tinha comido a pedrês, a mais gorda.”
Sob o ponto de vista da classificação do período, classifica-se como simples
aquele que é constituído de apenas uma oração; sob o ponto de vista da classi-
ficação das orações, considera-se como absoluta aquela que existe sozinha no
interior de um período.
Na aula anterior, você estudou as orações que não desempenham função
sintática (as coordenadas); agora estudaremos as orações que desempenham
função sintática (as subordinadas).
Toda oração subordinada apresenta uma dependência sintática, é uma ex-
pansão do nome ou do verbo da oração principal. Dizemos que há subordina-
ção quando uma oração depende da outra.
Observe o exemplo a seguir.
Fabiano imaginara isso.
sujeito Verbo transitivo objetivo

Trata-se de um período simples, formado por apenas uma oração. Note-se


que o pronome isso está exercendo a função de objeto direto. Se o substituir-
mos pelas palavras de Graciliano Ramos, teremos:
Fabiano imaginara
sujeito Verbo transitivo

que ela estivesse com um princípio de hidrofobia.


objeto direto

capítulo 2 • 27
Por dedução, você pode concluir que a oração “que ela estivesse com um
princípio de hidrofobia...” está ocupando o espaço típico de um objeto direto.
Como essa oração depende de uma outra e, mais do que isso, exerce função sin-
tática em outra oração, dizemos que se trata de uma oração subordinada. A su-
bordinação sempre se encaixa em outra, chamada oração principal. Portanto:
Fabiano imaginara
sujeito Verbo transitivo

que ela estivesse com um princípio de hidrofobia.


objeto direto

Lembre-se de que, na maioria das vezes, a oração subordinada é aquela que


possui a conjunção (ou o termo que relaciona duas orações). Em contrapartida,
a oração principal é aquela que não a possui.

2.2  Orações subordinadas

As orações subordinadas são aquelas que se comportam como termos de ou-


tra oração. Seu comportamento pode ser de substantivo, de adjetivo (e adjunto
adnominal) ou de advérbio (e adjunto adverbial). No primeiro caso, temos as
orações subordinadas substantivas; no segundo, as orações subordinadas ad-
jetivas; no terceiro, as orações subordinadas adverbiais.
Observe um exemplo de oração substantiva.
Os jornais publicaram a desistência do piloto francês da competi-
ção automobilística.
Os jornais publicaram que o piloto francês desistiu da competi-
ção automobilística.
Note que a oração subordinada substantiva ocupa o lugar de um grupo no-
minal cujo núcleo é um substantivo (no caso, desistência).
Agora, um período que contém uma oração adjetiva.

O pecador arrependido merece perdão.


O pecador que se arrepende merece perdão.
Note que a oração adjetiva ocupa exatamente o lugar de um adjetivo
(arrependido).

28 • capítulo 2
Finalmente, um caso de oração adverbial.
No momento do sono, ouviam a conversa dos pais.
“Quando iam pegando no sono, [...] ouviam a conversa dos pais.”
Note que a oração adverbial exerce a mesma função sintática de um adjunto
adverbial (no momento do sono).

2.3  Oração subordinada substantiva

Você verá que as orações subordinadas substantivas são aquelas que ocupam,
em relação à oração principal, uma posição típica de substantivos. De fato, a
oração substantiva é aquela que exerce uma função sintática que no período
simples cabe a um substantivo.
Imaginemos o seguinte período.
O povo exige que se punam os corruptos.
A oração que se punam os corruptos pode ser substituída pela expressão
nominal a punição dos corruptos, o que permite concluir que se trata de uma
oração substantiva, pois ela ocupa uma posição que normalmente é de um
substantivo (nesse caso, punição).
Para identificar uma oração substantiva, observe dois aspectos: em primei-
ro lugar, ela é sempre introduzida pelas conjunções integrantes que e se e, em
alguns casos, por advérbios ou pronomes interrogativos (como, quando, onde,
qual, quem) e se chama oração justaposta.

O povo exige que se punam os corruptos.


conjunção
integrante

Em segundo lugar, a oração substantiva sempre pode ser substituída pelo


pronome substantivo isso.
O povo exige que se punam os corruptos.
O povo exige isso.

Veja que o pronome isso ocupa o mesmo lugar da oração substantiva.


O substantivo pode exercer, no período simples, seis funções sintáticas: su-
jeito, objeto direto, objeto indireto, complemento nominal, predicativo e apos-
to. Analogamente, as orações substantivas podem exercer exatamente essas
seis funções, a saber:

capítulo 2 • 29
2.3.1  Oração subordinada substantiva subjetiva

Como o próprio nome sugere, a oração subjetiva é aquela que exerce, em


relação à oração principal, a função sintática de sujeito. Ex.:
É evidente que haverá novas rebeliões nos presídios.
O que é evidente? Que haverá novas rebeliões nos presídios. (sujeito)
Nesse período, a oração que haverá novas rebeliões nos presídios depende
da oração É evidente, portanto é subordinada. Além disso, ela pode ser subs-
tituída pelo pronome isso, o que permite concluir que se trata de uma ora-
ção substantiva. Por fim, essa oração exerce a função de sujeito do predicado
É evidente, caracterizando uma oração subjetiva.

É evidente que haverá nova chamada no concurso.


oração oração subordinada substantiva subjetiva
principal

Observe, ainda, outros exemplos.


É necessário que todos colaborem para o combate da fome. (= a colabora-
ção de todos)
Sabe-se que elas não regressarão imediatamente. (= o regresso delas).

ATENÇÃO
Observe que a oração subordinada substantiva pode ser substituída pelo pronome "isso".
Assim, temos um período simples.
É fundamental isso ou Isso é fundamental.
Dessa forma, a oração correspondente a "isso" exercerá a função de sujeito.

Veja algumas estruturas típicas que ocorrem na oração principal.

1. Verbos de ligação + predicativo, em construções do tipo:

É bom - É útil - É conveniente - É certo - Parece certo - É claro - Está evidente - Está
comprovado

30 • capítulo 2
Por exemplo:
É bom que você compareça à minha festa.

2. Expressões na voz passiva, como:

Sabe-se - Soube-se - Conta-se - Diz-se - Comenta-se - É sabido - Foi anunciado -


Ficou provado

Por exemplo:
Sabe-se que Aline não gosta de Pedro.

3. Verbos como:

convir - cumprir - constar - admirar - importar - ocorrer - acontecer

Por exemplo:
Convém que não se atrase na entrevista.
Atenção quando a oração subordinada substantiva é subjetiva, o verbo da
oração principal está sempre na 3ª pessoa do singular.

2.3.2  Oração subordinada substantiva objetiva direta

A mais comum das orações substantivas é aquela que exerce a função de objeto
direto da oração principal. Ex.:
Espero que vocês aprendam Português.
Quem espera, espera alguma coisa. Que vocês aprendam Português (obje-
to direto).
A oração que vocês aprendam Português está associada ao verbo esperar,
que, nesse contexto, é transitivo direto, pois exige um complemento não pre-
posicionado. Se substituirmos a oração substantiva pelo pronome substantivo
isso, ficará mais fácil perceber que ela está no lugar de um termo que funciona-
ria como objeto direto. Portanto:

capítulo 2 • 31

Espero que vocês aprendam Português.
oração oração subordinada substantiva objetiva direta
principal

Veja outros exemplos.


Queremos que se afastem os incompetentes. (= o afastamento)
“Não sei se a alma existe, mas se ela existe, só pode ser eterna.” (= existência
da alma)
Há muitos casos em que as orações objetivas diretas são introduzidas por
advérbios ou pronomes interrogativos, que se comportam como se fossem con-
junções integrantes.

Muitos políticos não entendem como há eleitores insatisfeitos


oração principal oração subordinada substantiva objetiva direta)

(= a insatisfação)

Leia esta anedota.

Aquilo é que era um bom cobrador; ia direto ao assunto:


— Gostaria que o senhor pagasse hoje, pois me pouparia o incômodo de
voltar para cobrar da senhora sua viúva.

Na fala do cobrador, há um período composto. Observe em “— Gostaria //


que o senhor pagasse hoje” que a primeira oração é a principal, e a segunda,
subordinada substantiva objetiva direta. (Levando-se em consideração a lin-
guagem coloquial, uma vez que o verbo gostar é transitivo indireto.)

2.3.3  Oração subordinada substantiva objetiva indireta

Já vimos que o objeto direto é um complemento verbal que não é necessaria-


mente precedido de preposição, enquanto a relação entre o verbo e o objeto
indireto é sempre mediada por uma. Dessa forma, a oração objetiva direta não
é preposicionada, enquanto a objetiva indireta é. Analise o exemplo a seguir.
Já os avisei de que o eclipse ocorreu à noite.
Quem avisa, avisa alguém de alguma coisa. De que o eclipse ocorreu à noite.
(objeto indireto)

32 • capítulo 2
O fato de a conjunção que vir precedida de preposição é indicador de que a
oração subordinada é objetiva indireta, o que se confirma por ela estar associa-
da ao verbo avisar, que exige complemento preposicionado. Sendo assim:


Já os avisei de que a reunião acabou
oração principal oração subordinada substantiva objetiva indireta

Observe outros exemplos. Lembra-te de que és pó. (= do pó)


“Desgraça a todo o livro que não convida para que o tornem a ler.” (= para
a leitura)
Note que as três orações subordinadas substantivas (subjetiva, objetiva dire-
ta e objetiva indireta) que acabamos de analisar possuem um traço em comum:
são associadas ao verbo da oração principal e, sob esse aspecto, distinguem-se
dos três tipos de oração a seguir, que estão sempre associados a um nome da
oração principal.

2.3.4  Oração subordinada substantiva completiva nominal

A oração completiva nominal vem sempre preposicionada, associa-se a um


nome e exerce, em relação à oração principal, a função sintática de comple-
mento nominal. É o que acontece no período a seguir.
Tenho certeza de que você vencerá o campeonato de xadrez.
Quem tem certeza, tem certeza de alguma coisa. De que você vencerá o
campeonato de xadrez (complemento nominal).
Diferentemente da oração subordinada substantiva objetiva indireta, a ora-
ção subordinada completiva nominal – embora também esteja preposicionada
– está ligada a um nome, e não a um verbo; por isso ela é completiva nominal.

Tenho certeza de que vencerá o campeonato de xadrez


oração principal oração subordinada substantiva completiva nominal

A oração de que você vencerá o campeonato de xadrez completa o sentido do


substantivo certeza. Como essa relação de complementaridade exige a prepo-
sição, temos um caso de oração subordinada substantiva completiva nominal.

capítulo 2 • 33
ATENÇÃO
Das orações substantivas as mais confusas são as duas últimas, pois ambas vêm precedidas
por preposição. Lembre-se de que a objetiva indireta completa o sentido de um verbo; e a
completiva nominal completa o sentido de um nome.

2.3.5  Oração subordinada substantiva predicativa

Para compreender a natureza das orações predicativas, é importante retomar


a ideia de que, muitas vezes, o predicativo do sujeito vem introduzido por um
verbo de ligação. São comuns frases como “ela ficou admirada”, “eu estou con-
tente” ou “estamos satisfeitos”, em que admirada, contente e satisfeitos são
predicativos do sujeito em orações que possuem verbo de ligação. Com as ora-
ções predicativas ocorre fenômeno semelhante.
O problema é que ele não entregou a documentação necessária.
É, verbo de ligação, tem como complemento que ele não entregou a docu-
mentação necessária.
A oração que ele não entregou a documentação necessária exerce a função
de predicativo do sujeito, pois está associada ao substantivo problema (que é o
núcleo do sujeito) por intermédio de um verbo de ligação.

O problema é que ele não entregou a documentação necessária.


oração principal oração subordinada substantiva predicativa

Para comprovar que a oração destacada está no lugar de um predicativo do


sujeito, basta substituí-la por uma expressão como a não entrega da documen-
tação necessária. Essa expressão seria classificada como um predicativo do su-
jeito; como a oração subordinada ocupa exatamente a posição dessa expressão,
a oração só pode ser classificada como substantiva predicativa.
Atente para outros exemplos.
O grande desejo do Mestre é que os homens vivam em fraternidade. (= a
vivência fraterna)

34 • capítulo 2
“A verdade é que o analfabeto, por mais inteligente que seja, não faz nada
perfeito.” (Viriato Correia) (= a não perfeição do analfabeto)

ATENÇÃO
É muito frequente a confusão que se faz entre as orações substantivas subjetivas e as
predicativas. Atente para essa diferença:
É preciso que se promovam concursos.
O que é preciso? A segunda oração funciona como sujeito da oração principal; classifica-
se, portanto, como subjetiva.
Meu desejo é que se promovam concursos.
O sujeito está na oração principal (Meu desejo). O verbo de ligação é tem como com-
plemento um predicativo do sujeito; por conseguinte, a segunda oração é classificada
como predicativa.

2.3.6  Oração subordinada substantiva apositiva

A última das orações subordinadas substantivas é aquela que exerce a função


sintática de aposto. Ex.:
“Só uma coisa sabemos: que não sabemos nada.”
Que não sabemos nada (aposto de coisa).
Nesse período, a oração que não sabemos nada está associada ao substanti-
vo coisa, estabelecendo com ele uma relação de equivalência. Por isso dizemos
que essa oração subordinada ocupa uma posição típica de aposto.

Só uma coisa sabemos que não sabemos nada


oração principal oração subordinada substantiva apositiva

Por ter a função de explicitar o sentido de coisa, dizemos que a oração que
não sabemos nada é, de fato, apositiva. Além disso, ela não poderia ser predica-
tiva, pois na relação com o nome a que está associada não vem medida por um
verbo de ligação, e também não poderia ser completiva nominal, pois não vem
precedida de preposição.
É muito comum a oração apositiva ser introduzida por dois-pontos.

capítulo 2 • 35
Outros exemplos.
Este é o meu mandamento –, que vos ameis uns aos outros. (= o vosso amor)
Desejo-lhe só isto: que seja feliz. (= a sua felicidade)

2.3.7  Oração subordinada substantiva agente da passiva

Apesar de muitas gramáticas não reconhecerem esta classificação, podemos


nos deparar com construções nas quais a oração subordinada exerce o valor
sintático de agente da passiva. Essas orações iniciam-se por pronomes inde-
finidos (quem, quantos, qualquer etc.) precedidos das preposições por ou de.
Exemplos:

O trabalho foi escrito por quem entende do assunto.


agente da passiva

(agente da passiva = por quem entende do assunto).

As ordens são dadas por quem tem autoridade


agente da passiva

(agente da passiva = por quem tem autoridade).

Orações subordinadas substantivas agentes da passiva funcionam como


agente da passiva da oração principal. Aqui também se torna inviável a substi-
tuição da oração pela palavra isso. É bastante fácil identificar esta oração, pois
apresentará sempre a mesma estrutura. Para que haja um agente da passiva
oracional, é necessário haver uma voz passiva analítica (verbo SER + VTD no
particípio) e depois por quem.

ATENÇÃO
As orações que desempenham a função de agente da passiva iniciam-se por pronomes
indefinidos (quem, quantos, qualquer etc.) precedidos de uma das preposições por ou de.
(CUNHA & CINTRA, 2001, p. 600-1)

36 • capítulo 2
2.4  Oração subordinada adjetiva

As orações adjetivas existem porque cumprem um papel importante dentro dos


mecanismos de que a língua faz uso, tanto para produzir sentidos quanto para
criar efeitos de sentido.
No nosso léxico, muitas vezes não dispomos de adjetivos para exprimir cer-
tos significados que pretendemos; outras vezes, dispomos de adjetivo, mas ele
é muito raro, muito erudito ou muito desgastado. Para esses casos, o uso da
oração adjetiva como recurso suplementar se impõe com evidência.
Quando a oração subordinada ocupa a posição típica de um adjetivo (ou
de uma locução adjetiva), indicando uma propriedade de um objeto ou de um
acontecimento, dizemos que se trata de uma oração adjetiva.
Para compreender o que são as orações adjetivas, é importante retomar
os três tipos de adjetivação. Há três maneiras de adjetivar, isto é, de indicar
a característica de determinado objeto. A primeira é por intermédio do pró-
prio adjetivo.
“Ouviram do Ipiranga as margens plácidas / de um povo heroico o brado
retumbante.”

Joaquim Osório Duque Estrada

Margens plácidas
Nessa expressão, o adjetivo plácidas está qualificando o substantivo mar-
gens. Como há situações em que não há adjetivo capaz de transmitir a ideia que
queremos, às vezes somos obrigados a recorrer a locuções adjetivas, formadas
por uma preposição e um substantivo.

Margens do Ipiranga

A locução do Ipiranga está qualificando o substantivo margens.

Margens que ouviram o brado retumbante de um povo heroico.

capítulo 2 • 37
A oração que ouviram o brado retumbante de um povo heroico está qua-
lificando o substantivo margens, atribuindo-lhe uma característica que difi-
cilmente poderia ser traduzida por um adjetivo ou uma locução adjetiva. Essa
adjetivação por meio de uma oração será assunto desta aula.
O adjetivo e a locução adjetiva normalmente exercem na frase a função sin-
tática de adjunto adnominal. Do mesmo modo, a oração adjetiva é aquela que
exerce a função sintática de adjunto adnominal. Para compreender isso, pode-
mos recorrer a dois exemplos bastante simples.


Havia brinquedos quebrados
adjunto adnominal


Havia brinquedos que se quebraram.
oração com função de
adjunto adnominal

Em ambas as frases, a característica da quebra está sendo atribuída aos


“brinquedos”. No entanto, enquanto no primeiro período essa atribuição é fei-
ta por um adjetivo, no segundo ela é feita por uma oração. Seguindo o nosso
raciocínio para distinguir as orações principais das subordinadas, podemos
dizer, em relação ao segundo período, que:
•  Há duas formas verbais (havia e quebraram) que não formam locução ver-
bal e que introduzem dois predicados diferentes; portanto, temos duas orações.
•  Há uma palavra (que) cuja função é ligar as duas orações; esse que não
pode ser visto como conjunção integrante, pois a oração subordinada não é
substantiva, não podendo ser substituída pelo pronome isso.
•  A oração “que se quebraram” depende sintaticamente da oração “havia
brinquedos”, o que permite classificá-la como subordinada; como, além disso,
ela está caracterizando o substantivo “brinquedos”, podemos concluir que ela
é adjetiva.
Por tudo isso, podemos afirmar que, no segundo período, “Havia brinque-
dos” é a oração principal e “que se quebraram” é a oração subordinada adjetiva.

38 • capítulo 2

Havia brinquedos que se quebraram
oração principal oração subordinada adjetiva

Para compreender a natureza das orações adjetivas, devemos perceber que


elas são introduzidas por um pronome relativo.
“A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho origi-
nal.” Albert Einstein
Assim como todas as demais conjunções, o pronome relativo também serve
para unir duas orações, o que significa dizer que ele funciona como um conec-
tivo. No entanto, além da função de “conectar”, o pronome relativo também é
anafórico, isto é, ele retoma um termo da oração anterior. No exemplo dado,
o “que” está retomando o substantivo “mente”. De fato, é como se esse perío-
do estivesse transmitindo duas informações: “a mente jamais voltará ao seu
tamanho original” e “a mente se abre a uma nova ideia”. Assim, o pronome
relativo retoma uma palavra da oração principal e a projeta na oração adjetiva,
o que não deixa de ser uma estratégia para evitar a repetição. Esquematizando,
temos o seguinte.

A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.
antecedente
O pronome relativo que projeta o termo “mente” na oração adjetiva.
O termo que é retomado pelo pronome relativo é chamado de antecedente,
mesmo que ele não apareça imediatamente antes do pronome relativo. Como
o antecedente nunca pode vir após o pronome relativo, conclui-se que a oração
adjetiva normalmente venha posposta à principal.

A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original
oração oração coordenada oração principal
principal

Nesse caso, a oração adjetiva aparece intercalada com a principal. O antece-


dente fica sempre à esquerda do pronome relativo.

capítulo 2 • 39
ATENÇÃO
Se houver dúvida em relação ao fato de o que ser conjunção integrante ou pronome relativo,
basta lembrar que o pronome relativo é sempre anafórico, enquanto a conjunção integrante
não o é. Além disso, o pronome relativo que pode ser permutado por o qual, os quais, a
qual e as quais.

2.4.1  Outros pronomes relativos

Além do que, há outros pronomes relativos que introduzem as orações adjeti-


vas: quem, onde e cujo. Há grande diferença no emprego desses pronomes na
variante popular e na variante culta da língua.
a) O pronome relativo quem só deve ser usado quando o antecedente
for humano.


Sofia é uma aluna de quem esperamos muito sucesso.
antecedente

b) O pronome relativo onde só deve ser usado quando seu antecedente de-
signar espaços.


Choupana onde se ri vale mais que palácio onde se chora
antecedente antecedente

c) O pronome relativo cujo só deve ser usado quando seu antecedente de-
terminar a palavra que vem depois do pronome relativo. O pronome cujo refere-
se a um antecedente, mas concorda com o consequente.

O universo é uma esfera infinita, cujo centro está em toda parte.


antecedente

40 • capítulo 2
Após conhecer as características dos pronomes relativos, só resta estudar a
classificação das orações adjetivas. Há apenas dois tipos: restritiva e explicativa.

2.4.2  Oração subordinada adjetiva restritiva

Para compreender o que é a oração adjetiva restritiva, observe a anedota a seguir.


— Li a redação sobre a sua casa – disse a professora ao aluno. — É a mesma
que seu irmão entregou no ano passado.
— Mas é claro — respondeu o aluno. — A casa é a mesma.
Tomando a segunda fala da professora como referência, percebe-se que
nela há uma oração principal: “É a mesma”; e uma oração subordinada adjeti-
va: “que seu irmão entregou no ano passado.”.
O antecedente do pronome relativo, que está introduzindo a oração adjeti-
va, é o pronome demonstrativo substantivo “mesma”. Como se pode perceber
pelo contexto, essa oração adjetiva está particularizando certo estilo de redação
(aquela que o irmão entregou no ano passado).
Particularizar é o mesmo que restringir e, por isso, a oração adjetiva que
ocorre no período sob consideração classifica-se como oração subordinada ad-
jetiva restritiva.
A oração adjetiva restritiva refere-se a um termo da oração principal, parti-
cularizando uma parcela dentro de um conjunto. No caso dado como exemplo,
a oração adjetiva restringe o alcance do termo “mesma”, aludindo apenas ao
subconjunto das redações escritas pelos dois alunos. Observe outro exemplo.

Os países do Oriente Médio que vivem em conflito


oração principal oração subordinada adjetiva

conhecem poucos momentos de trégua


oração principal

Nesse exemplo, interpreta-se que nem todos os países do Oriente Médio


conhecem poucos momentos de trégua. Portanto, esse período pressupõe que
haja dois tipos de países: os que conhecem momentos de trégua e os que não
os conhecem. A oração adjetiva destacada só está referindo-se aos países que
conhecem poucos momentos de trégua, por isso ela é restritiva.

capítulo 2 • 41
ATENÇÃO
Para ter certeza de que uma oração adjetiva é restritiva, é suficiente lembrar que a oração
restritiva e a principal não devem vir nunca separadas por nenhum sinal de pontuação, como
vírgula ou travessão.

2.4.3  Oração subordinada adjetiva explicativa

A oração adjetiva explicativa, como o próprio nome sugere, é aquela que,


em vez de restringir, explica o sentido do antecedente do pronome relativo.
Para que não haja confusão com a oração restritiva, basta dizer que a oração
explicativa deve vir sempre separada da oração principal por um sinal de pon-
tuação (vírgula ou travessão). Vejamos um exemplo a seguir.

Macunaíma que é um herói sem caráter simboliza o brasileiro em formação


oração principal oração subordinada Adjetiva Explicativa oração principal

A presença das vírgulas nesse período permite concluir que a oração “que
é um herói sem caráter” refere-se a toda a obra Macunaíma. Portanto, nesse
caso, a oração adjetiva não se refere a uma parte de um conjunto, mas à obra
toda. Quando isso ocorre, temos uma oração subordinada adjetiva explicativa.
Como a diferença entre a oração restritiva e a explicativa depende dos si-
nais de pontuação, é preciso ter muito cuidado na hora de produzir um texto.
Colocar vírgulas separando uma oração restritiva da oração principal pode pro-
duzir o significado exatamente contrário ao que se pretendia, o que geraria um
deslize grave de coerência. Analogamente, esquecer as vírgulas de uma oração
adjetiva explicativa poderia produzir efeito desastroso também.
Observe como o uso de vírgulas altera o sentido da frase.
“O jovem destemido enfrenta desafios.”
“O jovem // que é destemido // enfrenta desafios.”
Com essas frases, estamos afirmando que:
alguns jovens são destemidos.
se o jovem é destemido, ele enfrenta desafios.
Assim, a oração “que é destemido” restringe o seu antecedente, “o jovem”.
Se a oração fosse eliminada do período, o sentido do que está sendo afirmado

42 • capítulo 2
na oração principal se alteraria: como está, ela afirma que só o jovem destemido
enfrenta desafios.
“O jovem, destemido, enfrenta desafios.”
“O jovem, // que é destemido, // enfrenta desafios.”
Com essas frases, estamos afirmando que todo jovem é destemido e enfren-
ta desafios. A oração “que é destemido”, entre vírgulas, introduz uma simples
explicação em relação ao antecedente “o jovem”. Essa oração poderia ser elimi-
nada do período sem que o sentido da oração principal se alterasse. Portanto, o
que aqui se afirma é que todo jovem é destemido e enfrenta desafios.

Leia atentamente o texto que trata das orações subordinadas substan-


tivas, disponível no site: <http://pt.wikibooks.org/wiki/Portugu%C3%AAs/
Per%C3%ADodo_composto/Ora%C3%A7%C3%B5es_subordinadas/
Substantivas>.

Leia a tirinha a seguir. Veja a presença da oração subordinada adjetiva res-


tritiva no primeiro quadrinho, e da subordinada adjetiva explicativa, no segun-
do quadrinho.

Figura 2.1  –  < h t t p : / / 2 . b p . b l o g s p o t . c o m / _ M 4 V R R a W W Q 5 M / S _ _ G S w 2 N f L I /


AAAAAAAAAFA/7GaSJurZeMk/s1600/adjetivas.png>.

2.4.4  Aspectos semânticos das orações adjetivas restritivas e explicativas

Com relação ao sentido, as orações adjetivas podem atuar de duas maneiras:


podem, na relação com o termo a que se referem, restringir o sentido; ou ainda,
realçar um detalhe ou aumentam informações sobre o antecedente. No primei-

capítulo 2 • 43
ro caso, temos as adjetivas restritivas; no segundo, as explicativas. Vamos exem-
plificar para tornar o entendimento mais simples.

Pedi ajuda a um homem que passava naquele momento


oração subordinada adjetiva restritiva

A miséria parece não sensibilizar o homem,


que se considera um ser emocionalmente privilegiado.
oração subordinada adjetiva explicativa

Perceba que no primeiro caso o que se pretende é particularizar o termo


antecedente, no caso homem. Restringe-se a que homem se está referindo,
um homem único, que está passando pelo lugar. Por isso a classificamos como
adjetiva restritiva. Já no segundo, caso temos uma ideia a mais sobre o termo
homem, uma explicação sobre ele, algo que o caracteriza. A intenção não é par-
ticularizar nem restringir, apenas acrescentar uma explicação. Por isso ela é
classificada como adjetiva explicativa.
Podemos encontrar períodos que apresentam as mesmas palavras, mas que
apresentam sentidos diferentes, dependendo da utilização de uma oração res-
tritiva ou de uma adjetiva. Vejamos:

Recebi uma carta de minha irmã que mora no Rio de Janeiro.


oração subordinada adjetiva restritiva

Recebi uma carta de minha irmã que mora no Rio de Janeiro.


oração subordinada adjetiva explicativa

No primeiro caso, sem a vírgula, temos uma oração adjetiva restritiva, e


exatamente por esse motivo podemos entender que o enunciador tem mais de
uma irmã, pois, ao utilizar a oração restritiva, ele particulariza a irmã que envia
a carta, ou seja, não é qualquer irmã que enviou a carta, mas sim a que mora no
Rio de Janeiro. Já pelo segundo enunciado, podemos afirmar que o enunciador
tem apenas uma irmã, e o fato de ela morar no Rio de Janeiro é apenas algo que
se quer ressaltar, talvez porque o receptor da mensagem não saiba que a irmã
do enunciador mora no Rio de Janeiro.

44 • capítulo 2
Temos um novo exemplo.

O país que não investe em seu próprio povo. tem poucas possibilidades
oração subordinada adjetiva restritiva
de crescer.

O país que não investe em seu próprio povo. tem poucas possibilidades
oração subordinada adjetiva explicativa
de crescer

No primeiro enunciado, percebemos que não são todos os países que não
investem em educação, ou seja, existem países que não investem em educação
e que esses, e apenas esses, apresentam poucas possibilidades de crescer.
Já no segundo enunciado, percebe-se que a referência é feita a um país espe-
cífico, cuja situação já é conhecida por todos.
No caso das orações adjetivas, a pontuação é extremamente importante,
porque é ela que indica a classificação das adjetivas, e é o que delimita o sentido
expresso pela oração. Sem as vírgulas, temos a oração subordinada adjetiva res-
tritiva, que traz como sentido a restrição de um termo; com as vírgulas, temos a
oração subordinada adjetiva explicativa, que generaliza o termo a que se refere,
trazendo uma informação a mais.

2.5  A Função dos pronomes relativos

O estudo das orações subordinadas adjetivas está profundamente ligado ao


emprego dos pronomes relativos. Por isso, vamos aprofundar nosso conheci-
mento acerca desses pronomes.

2.5.1  Pronome relativo que

O pronome relativo "que" é chamado relativo universal, pois seu emprego é


muito amplo. Esse pronome pode ser usado para substituir pessoa ou coisa,
que estejam no singular ou no plural. Sintaticamente, o relativo "que" pode de-
sempenhar várias funções.
a) Sujeito
Eis os artistas que representarão o nosso país.
Substituindo o pronome pelo antecedente, temos:

capítulo 2 • 45
Eis os artistas.

Os artistas (= que) representarão o nosso país


sujeito

b) Objeto direto
Trouxe o documento que você pediu.
Substituindo o pronome pelo antecedente, temos:
Trouxe o documento.

Você pediu o documento (= que)


objeto direto

c) Objeto indireto
Eis o caderno de que preciso.
Substituindo o pronome pelo antecedente, temos:
Eis o caderno.
Preciso do caderno (= de que)
cb

d) Complemento nominal:
Estas são as informações de que ele tem necessidade.
Substituindo o pronome pelo antecedente, temos:
Estas são as informações.
Ele tem necessidade das informações (= de que)
complemento nominal

e) Predicativo do sujeito
Você é o professor que muitos querem ser.
Substituindo o pronome pelo antecedente, temos:
Você é o professor.
Muitos querem ser o professor (= que)
predicativo do sujeito

f) Agente da passiva
Este é o animal por que fui atacado.
Substituindo o pronome pelo antecedente, temos:
Este é o animal.

46 • capítulo 2
Fui atacado pelo animal (= por que)
agente da passiva

g) Adjunto adverbial
O acidente ocorreu no dia em que eles chegaram. (adjunto adverbial
de tempo)
Substituindo o pronome pelo antecedente, temos:
O acidente ocorreu no dia.
Eles chegaram no dia (= por que)
adjunto adverbial de tempo

ATENÇÃO
Pelos exemplos citados, percebe-se que o pronome relativo deve ser precedido de prepo-
sição apropriada de acordo com a função que exerce. Na língua escrita formal, é sempre
recomendável esse cuidado.

2.5.2  Pronome relativo quem

O pronome relativo "quem" refere-se a pessoas ou coisas personificadas, no


singular ou no plural. É sempre precedido de preposição, podendo exercer di-
versas funções sintáticas. Observe os exemplos.
a) Objeto direto preposicionado:
Clarice, a quem admiro muito, influenciou-me profundamente.
b) Objeto indireto: Este é o jogador a quem me refiro sempre.
c) Complemento nominal: Este é o jogador a quem sempre faço referência.
d) Agente da passiva: O médico por quem fomos assistidos é um dos mais
renomados especialistas.
e) Adjunto adverbial: A mulher com quem ele mora é grega.

2.5.3  Pronome relativo cujo(s), cuja(s)

"Cujo" e sua flexões equivalem a "de que", "do qual" (ou suas flexões "da qual",
"dos quais", "das quais"), "de quem". Estabelecem normalmente relação de

capítulo 2 • 47
posse entre o antecedente e o termo que especificam, atuando na maior parte
das vezes como adjunto adnominal e em algumas construções como comple-
mento nominal. Veja.
a) Adjunto adnominal
Não consigo conviver com pessoas cujas aspirações sejam essencialmente
materiais. (Não consigo conviver com pessoas / As aspirações dessas pessoas
são essencialmente materiais).
b) Complemento nominal
O livro, cuja leitura agradou muito aos alunos, trata dos tristes anos da dita-
dura. (cuja leitura = a leitura do livro)

ATENÇÃO
Não utilize artigo definido depois do pronome cujo. São erradas construções como:
"A mulher cuja a casa foi invadida..." ou "O garoto, cujo o tio é professor..."
Forma correta: "cuja casa" ou "cujo tio".

2.5.4  Pronome relativo o qual, os quais, a qual, as quais

"O qual"," a qual"," os quais" e "as quais" são usados com referência a pessoa
ou coisa. Desempenham as mesmas funções que o pronome "que"; seu uso,
entretanto, é bem menos frequente e tem se limitado aos casos em que é neces-
sário para evitar ambiguidade.
Por exemplo:
Existem dias e noites, às quais se dedica o repouso e a intimidade.
O uso de às quais permite deixar claro que nos estamos referindo apenas
às noites. Se usássemos a que, não poderíamos impor essa restrição. Observe
esses dois exemplos:
a) Sujeito
Conhecemos uma das irmãs de Pedro, a qual trabalha na Alemanha.
Nesse caso, o relativo a qual também evita ambiguidade. Se fosse usado o
relativo que, não seria possível determinar quem trabalha na Alemanha.
b) Adjunto adverbial
Não deixo de cuidar da grama, sobre a qual às vezes gosto de um bom cochilo.
A preposição sobre, dissilábica, tende a exigir o relativo sob as formas "o / a
qual", "os / as quais", rejeitando a forma "que".

48 • capítulo 2
2.5.5  Pronome relativo onde

O pronome relativo "onde" aparece apenas no período composto, para substi-


tuir um termo da oração principal numa oração subordinada. Por essa razão,
em um período como "Onde você nasceu?", por exemplo, não é possível pen-
sar em pronome relativo: o período é simples, e nesse caso, "onde" é advér-
bio interrogativo.
Na língua culta, escrita ou falada, "onde" deve ser limitado aos casos em
que há indicação de lugar físico, espacial. Quando não houver essa indicação,
deve-se preferir o uso de em que, no qual (e suas flexões na qual, nos quais, nas
quais) e nos casos da ideia de causa/efeito ou de conclusão.
Por exemplo:
Quero uma cidade tranquila, onde possa passar alguns dias em paz.
Vivemos uma época muito difícil, em que (na qual) a violência gratui-
ta impera.

2.5.6  Pronome relativo quanto, como, quando

a) Quanto, quantos e quantas: são pronomes relativos que seguem os


pronomes indefinidos "tudo", "todos" ou "todas". Atuam principalmente como
sujeito e objeto direto. Veja os exemplos.
Tente examinar todos quantos comparecerem ao consultório. (sujeito)
Comeu tudo quanto queria. (objeto direto)
b) Como e quando: exprimem noções de modo e tempo, respectivamente.
Atuam, portanto, como adjuntos adverbiais de modo e de tempo. Exemplos:
É estranho o modo como ele me trata.
É a hora quando o sol começa a deitar-se.

ATIVIDADES
01. Classifique as orações subordinadas substantivas a seguir.
a) É provável que esse rio seja fundo.
b) Desconfio que essas histórias sejam inventadas.
c) O professor gosta de que todos os alunos participem da aula.
d) O importante é que todos estudem.
e) A moça tinha medo de que as baratas invadissem a cozinha.

capítulo 2 • 49
02. Classifique as orações subordinadas substantivas a seguir.
a) Convém que você estude.
b) Sinto que muitas coisas mudarão.
c) Deixe que eu descanse.
d) Tenho certeza de que ainda há esperanças.
e) Meu desejo é que consigam superar as dificuldades.
f) A resposta é dada por quem pesquisa.
g) O campeonato será vencido por quem acumular mais pontos.

03. Apesar da facilidade de acesso às mais diversas fontes de informação, ninguém foi ca-
paz de prever que o Brasil controlaria a inflação mesmo após a liberação do câmbio,
que a seleção de Zagallo seria derrotada tão vergonhosamente na Copa de 1998 e
que o Muro de Berlim acabaria em pó.
a) Reescreva as duas primeiras orações substantivas destacadas, substituindo por subs-
tantivos cognatos as formas verbais “controlaria” e “seria derrotada” e fazendo as adap-
tações necessárias.
b) A terceira oração substantiva (“que o Muro de Berlim acabaria em pó”) admite o mesmo
tipo de transformação feita no item a? Justifique sua resposta.

04. Leia o poema a seguir.


Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
(Carlos Drummond de Andrade)

Uma das características do modernismo, escola literária à qual pertencia Drummond,


foi a abolição da pontuação convencional. Muitas vezes, os modernistas usaram as vírgulas
como sinais melódicos, independentemente das prescrições da norma culta. Aceitando como
verdadeira a ideia de que os modernistas revolucionaram o emprego dos sinais de pontuação
no texto literário, responda ao que se pede.

50 • capítulo 2
a) Como classificar as cinco orações adjetivas que aparecem nos três primeiros versos do
poema? Explique.
b) Se as cinco orações adjetivas referidas no item a viessem separadas umas das outras
por vírgulas, o poema perderia parte de sua musicalidade? Justifique sua resposta.

05. Analise as orações a seguir.


I. Os jogadores da seleção de quem se esperava maior empenho foram vaiados.
II. Os jogadores da seleção, de quem se esperava maior empenho, foram vaiados.
a) Qual a diferença de sentido entre elas?
b) Classifique cada uma delas.

REFLEXÃO
É preciso deixar claro que toda oração subordinada é, na verdade, uma expansão de um
nome ou do verbo da oração principal. Se há, portanto, algum tipo de relação de importância
entre as orações, ela não é sintática, e sim semântica.
Ao tratar das orações substantivas, convém destacar que, embora possuam significado
aproximado, tais orações não têm sentido idêntico ao do substantivo, uma vez que a oração
dispõe de recursos de que o substantivo não dispõe.
É relevante a classificação das adjetivas em restritivas ou explicativas. O mais impor-
tante a dizer é que cada uma delas tem um pressuposto diferente. Como esse pressuposto,
na grande maioria dos casos, é instaurado pela decisão do enunciador, é ele que precisa
assinalar essa intenção com os recursos que a língua lhe oferece. Se a intenção é assinalar
o pressuposto de que o conteúdo expresso pela adjetiva atinge todos os elementos do con-
junto, usa-se na fala o recurso da pausa e, na escrita, o da vírgula. Se a intenção é instaurar o
pressuposto de que o conteúdo da adjetiva atinge apenas parte do conjunto referido, não se
faz pausa na fala, não se usa vírgula na escrita.

LEITURA
Leia o artigo publicado na Revista Língua Portuguesa: “Quê da questão”, abril/2009, n. 42,
p. 42-3, escrito pelo prof. Dr. Luiz Roberto Wagner.

capítulo 2 • 51
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEREDO, José Carlos de. Fundamentos da Gramática do Português. Rio de Janeiro: Zahar,
2010.
_______. Iniciação à Sintaxe do Português. Rio de Janeiro: Zahar, 1990.
AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo:
Publifolha, 2008.
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Lucerna,
2009.
CASTILHO, Ataliba T. de. Nova gramática do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2010.
CEGALLA, D. P. Novíssima gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Nacional, 2005.
CUNHA, Celso e CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Lexikon:
Aveiro, 2009.
ROCHA LIMA, Carlos Henrique da.Gramática Normativa da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1998.
SACCONI, L. A. Nossa gramática: teoria e prática. São Paulo: Atual, 1999.
_______. Gramática essencial ilustrada. São Paulo: Atual, 1999.

52 • capítulo 2
3
Período composto
por subordinação –
Oração subordinada
adverbial e orações
reduzidas e
justapostas
3.  Período composto por subordinação –
Oração subordinada adverbial e orações
reduzidas e justapostas
Como visamos à “semantização” da gramática, uma vez que os tópicos teóri-
cos do ensino de Língua Portuguesa devem ser tanto mais importantes quanto
mais eles interferem na produção de sentido, temos, nas orações subordinadas
adverbiais, um terreno muito fértil para essa perspectiva didática, pois todas as
relações estabelecidas por esse tipo de oração (causa, consequência, condição,
concessão...) têm função argumentativa crucial no interior dos textos.
Basta, então, verificar a relação expressa pela conjunção ou locução conjuntiva,
para poder analisar corretamente a oração subordinada adverbial.
Além disso, quando começamos a estudar os períodos compostos por subordi-
nação, mostramos que uma das principais características das orações subordi-
nadas era a presença de um conector que as introduzia e as relacionava com a
oração principal. No entanto, não podemos encerrar esse assunto sem lembrar
que, na realidade, as orações subordinadas podem associar-se à oração princi-
pal sem nenhum tipo de conector (nem pronomes relativos nem conjunções
subordinativas) entre as orações. São as chamadas orações subordinadas redu-
zidas. Veremos, também, que as orações justapostas trazem sinais de pontua-
ção (nas coordenadas) e certos pronomes ou advérbios (nas subordinadas).

OBJETIVOS
Neste capítulo, você será capaz de:
1. Reconhecer o período composto por subordinação;
2. Identificar as orações subordinadas adverbiais;
3. Classificar as relações das orações subordinadas adverbiais;
4. Analisar orações subordinadas reduzidas;
5. Distinguir e classificar as orações justapostas.

54 • capítulo 3
3.1  Oração subordinada adverbial

Já estudamos que as orações subordinadas podem ocupar o lugar de um


substantivo ou de um adjetivo. Estudaremos, agora, as orações que exercem a
função sintática típica de advérbios ou de locuções adverbiais.
Nas aulas sobre o período simples, mostramos que os adjuntos adverbiais
indicam uma circunstância em que ocorre a ação verbal. Do mesmo modo,
as orações que chamamos de adverbiais são as que exprimem essas mes-
mas circunstâncias.
Para entender o que é uma oração adverbial, podemos recorrer a um exem-
plo bastante simples.
Hoje em dia, recebemos as notícias imediatamente.
O advérbio imediatamente está funcionando como um adjunto adverbial,
já que indica uma circunstância – nesse caso, de tempo – da ação verbal. Essa
mesma circunstância pode ser expressa de outro modo:
Hoje em dia, recebemos as notícias logo que os fatos acontecem.
Nesse segundo período, a circunstância de tempo vem expressa sob a forma
de uma oração, que, por ocupar na frase o lugar que seria de um advérbio, é
chamada de oração adverbial.

Hoje em dia,recebemos as notícias logo que os fatos acontecem.


oração principal oração subordinada adverbial

Diferentemente da oração subordinada adjetiva, que é introduzida por um


pronome relativo, a oração adverbial é introduzida por uma conjunção subor-
dinativa (diferente das conjunções integrantes, que introduzem as subordina-
das substantivas).

quando
Os pais ficaram desesperados o menino desapareceu.
conjunção subordinativa

Além das conjunções subordinativas (como, porque, quando, embora, con-


forme, caso etc.), há muitas locuções que têm a mesma função dessas conjun-
ções: para que, desde que, mesmo que, logo que, à medida que etc.
Existem inúmeros tipos de adjunto adverbial: de tempo, de modo, de lu-
gar, de causa, de comparação, de finalidade. Nem todos eles possuem oração

capítulo 3 • 55
adverbial correspondente. Do mesmo modo, nem todas as orações adverbiais
podem se transformar num advérbio ou numa locução adverbial.
A Nomenclatura Gramatical Brasileira classifica em nove as ora-
ções adverbiais.

3.1.1  Oração subordinada adverbial causal

A oração causal é aquela que indica a causa do que vem expresso na oração
principal. Em outras palavras, a oração causal explicita aquilo que dá origem ao
fenômeno relatado na principal. Principais conjunções: porque, já que, visto
que, como, que, pois...

"Choramos ao nascer porque chegamos a este imenso cenário de dementes. "


oração subordinada adverbial causal

William Shakespeare

A oração causal aponta um dado (a chegada a este imenso cenário de demen-


tes), que origina o que vem relatado na oração principal (Choramos / ao nascer).
Para que, de fato, uma oração adverbial seja considerada causal, são neces-
sárias duas condições:
•  A causa deve ser, temporalmente, anterior ao acontecimento referido
pela oração principal.
•  Ela deve ser realmente responsável por originar o fenômeno relatado na
oração principal (caso contrário, a relação de causalidade estará equivocada).
Observe outros exemplos.
“A história não é mecânica, porque os homens são livres para transformá
-la.” (Ernesto Sábato)
“Visto que a vida é uma curta viagem que temos de fazer no mundo, por
decisão dos nossos antepassados, procuremos fazê-la na primeira classe, em
vez de irmos no carro de animais.”

ATENÇÃO
Como e SE, em início do período, significando já que, são causais. Se você pensa desse
jeito, nada pode mudar.

56 • capítulo 3
A oração causal introduzida por desde que tem o verbo no modo indicativo. Desde que as-
sim quis, aguente as consequências.
A língua culta mais exigente não aceita as expressões de vez que, vez que, eis que.

3.1.2  Oração subordinada adverbial consecutiva

Num período composto em que há uma oração causal, temos, na realidade,


uma relação de causa e consequência, em que a oração subordinada representa
a causa, e a principal, a consequência. Podemos inverter essa relação, fazendo a
oração subordinada representar a consequência, e a oração principal, a causa.
Principal conjunção: que (precedido de tal, tão, tanto etc.)

Os homens são tão livres para transformar a história que ela não é mecânica
oração subordinada
adverbial consecutiva

A oração consecutiva é aquela que apresenta uma decorrência do que veio


expresso na oração principal. Identificá-la é relativamente simples, pois, mui-
tas vezes – quando a oração subordinada é consecutiva – a oração principal já
contém uma palavra intensificadora, como cada, tanto, tal ou tamanho, que
praticamente exige que a oração subordinada indique consequência.
Outros exemplos.
“A liberdade é um bem tão apreciado que cada um quer ser dono até
da alheia.”
“Nunca encontrei uma pessoa tão ignorante que não pudesse ter aprendi-
do algo com sua ignorância.” (Galileu Galilei)

3.1.3  Oração subordinada adverbial comparativa

A oração comparativa, como o próprio nome já sugere, indica uma com-


paração. Comparar é confrontar dois objetos ou dois acontecimentos, para
encontrar entre eles semelhanças ou diferenças. Para que seja possível a com-
paração, é necessário que os termos comparados possuam algo em comum.
Principais conjunções: como, assim como, do que, qual, quanto. Eis um perío-
do com uma oração comparativa.

capítulo 3 • 57
A humildade como a escuridão revela as luzes celestiais
oração principal oração subordinada oração principal
adverbial comparativa

Henry D. Thoreau

Esse período estabelece uma semelhança entre a humildade e a escuridão:


as duas revelam as luzes celestiais. A locução do que, precedida de mais, maior
ou melhor também pode ser usada para esse fim. Veja outros exemplos.

“Há uma coisa mais forte que todos os exércitos do mundo: é uma ideia
cujo tempo chegou.” (Victor Hugo)
“Nunca se mente tanto como antes das eleições, durante uma guerra e de-
pois de uma caçada.” (Otto Von Bismarck)
“Para enfatizar nosso compromisso com a diversidade, quero lembrar a to-
dos que o Sr. Denton é sete centímetros mais alto do que os outros.”

ATENÇÃO
Nas orações comparativas, o verbo se encontra geralmente subentendido. Para efei-
to de análise, não é preciso considerar as ligadas pela expressão como se, primeiramen-
te como comparativa, depois como condicional. Modernamente, toma-se a expressão toda
como comparativa.
Trata o amigo cautelosamente como se um dia tivesse de ser teu inimigo.

3.1.4  Oração subordinada adverbial conformativa

A oração conformativa é aquela que aponta um acontecimento que está em


concordância – ou em conformidade – com o que vem expresso na oração prin-
cipal. Principais conjunções: conforme, consoante, segundo, como...
Como você pensa assim você é
oração subordinada oração principal
adverbial conformativa
(Provérbio Bíblico)

58 • capítulo 3
Existe, nesse período, uma relação de conformidade entre o seu pensamen-
to (oração subordinada) e o resultado desse pensamento (oração principal). As
orações conformativas são usadas muitas vezes para dar a fonte de uma infor-
mação, de um dado estatístico ou de uma opinião. Analise outros exemplos.
“Cada um colhe conforme semeia.”
Devemos escrever consoante prescreve a ortografia oficial.

3.1.5  Oração subordinada adverbial concessiva

Há situações em que o enunciador, embora queira sustentar sua visão de mun-


do, reconhece que existem argumentos contrários a ela. Nessas situações, ele
pode produzir um período composto em que a oração principal contenha sua
opinião, e a oração subordinada – nesse caso, concessiva –, o contra-argumento
a essa opinião.
Por isso, dizemos que a oração concessiva funciona como uma ressalva,
já que concessão é o ato de conceder um argumento contrário a nossa tese,
mas insuficiente para desmentir a opinião veiculada pela oração principal.
Principais conjunções: embora, ainda que, mesmo que, conquanto, se bem
que, por mais que, por menos que... Vejamos um exemplo.

Ainda que chegues a viver cem anos, nunca deixes de aprender!


oração subordinada adverbial concessiva oração principal

A oração subordinada está funcionando como uma ressalva em relação à


oração principal. O produtor da frase quer transmitir a informação de que uma
pessoa nunca deve deixar de aprender; reconhece, no entanto, concessão, pois
o produtor da frase concede um argumento contrário, porém insuficiente para
anular o que vem expresso na oração principal. Outros exemplos.
“O povo não gosta de assassinos, embora inveje os valentes.” (Carlos
Drummond de Andrade)
“Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos.” (Vinícius
de Morais)

capítulo 3 • 59
“As paixões são como os ventos que são necessários para dar movimento a
tudo, conquanto muitas vezes causem temporais.”

3.1.6  Oração subordinada adverbial condicional

A oração condicional é aquela que apresenta uma condição ou uma hipótese


necessária para que ocorra o que se veicula na oração principal. Principais con-
junções: se, caso, desde que, contanto que, sem que...

Se estudares diariamente serás aprovado no concurso


oração subordinada adverbial condicional oração principal

A oração subordinada mostra que o estudo diário é uma condição para a


aprovação no concurso. De fato, a oração condicional indica uma possibilidade
da qual depende a ocorrência relatada na oração principal. Fica, portanto, pres-
suposta a ideia de que se o sujeito não for aprovado é porque ele não estudou
diariamente. Verifique outros exemplos.
“Todas as virtudes estão encerradas na justiça; se és justo, és homem
de bem.”
“Três pessoas podem manter um segredo, se duas delas estiverem mortas.”
(Benjamin Franklin)
Analise a tirinha a seguir. Perceba a presença da oração subordinada adver-
bial condicional no segundo quadrinho.

60 • capítulo 3
Se você sentar o meu também ficará
oração subordinada adverbial condicional oração principal

3.1.7  Oração subordinada adverbial final

Todo ato pressupõe uma finalidade, um objetivo. A oração final indica esse ob-
jetivo ou, em outros termos, a intenção ao tomar determinada atitude. Princi-
pais conjunções: para que, afim de que, porque, que...

Os índios tomaram das armas para que não invadissem suas reservas
oração principal oração subordinada adverbial final

A oração final, como se verifica pelo exemplo, indica a intenção dos que to-
maram das armas. Isso não significa que a tomada das armas impeça, neces-
sariamente, a invasão das reservas; na verdade, esse era o objetivo dos índios,
embora não haja nenhuma garantia de que essa invasão ocorrerá. Verifique
outros exemplos.
“Se alguém disser mal de ti, não o digas tu dele, para que a ele não
te assemelhes.”
“Trazia as calças curtas para que lhe ficassem bem esticadas.” (Machado
de Assis)

ATENÇÃO
devemos atentar para o fato de que a locução conjuntiva final é para que; muitos períodos
trazem a preposição para seguida de uma forma verbal no infinitivo, formando, assim, uma
oração reduzida de infinitivo.
“Nunca vista suas melhores calças quando sair para lutar pela liberdade e pela
verdade.” (Henry Ibsen)

capítulo 3 • 61
3.1.8  Oração subordinada adverbial proporcional

A oração proporcional estabelece uma correlação entre dois acontecimen-


tos, de maneira que a alteração de um deles implica, necessariamente, a altera-
ção do outro. Principais conjunções: à medida que, à proporção que, ao passo
que, enquanto, quanto mais...

A s pessoas vão ficando mais pacientes à medida que vão envelhecendo


oração principal oração subordinada adverbial proporcional)

Existe uma evidente relação de proporcionalidade entre os acontecimentos


referidos nas duas orações: a paciência é proporcional a uma grande experiên-
cia de vida. Analogamente, podemos concluir que a impaciência é proporcional
a uma pequena experiência de vida. Outros exemplos.
“Quanto mais conheço os homens, mais estimo os animais.”
(Alexandre Herculano)
“[...] a terra / se faz mais branca / quanto mais do litoral a viagem se aproxi-
ma.” (João Cabral de Melo Neto)

3.1.9  Oração subordinada adverbial temporal

A oração temporal é aquela que indica um tempo em relação à principal.


Esse marco temporal pode estabelecer uma relação de anterioridade, de simul-
taneidade ou de posteridade com a oração principal. Principais conjunções:
quando, antes que, até que, logo que, depois que, mal...

Quando o amor nos visita a amizade se despede


oração subordinada adverbial temporal oração principal

Nesse exemplo, há uma relação de simultaneidade entre a oração subordi-


nada (Quando o amor nos visita) e a oração principal (a amizade se despede).
Note-se que a oração temporal indica o momento em que ocorre o fenômeno
relatado na oração principal. Observe outros exemplos.
“A sabedoria nos chega quando já não nos serve para nada.”

(Gabriel Garcia Márquez)

62 • capítulo 3
“De vez em quando sinto pena de mim mesmo e durante todo o tempo a
minha alma está sendo carregada por fortes ventos pelo céu.” (Deepak Chopra)

ATENÇÃO
um período pode conter dois conectivos separando duas orações; precisamos anali-sar a
relação que há entre as orações e o seu valor semântico. Observe:
“Quando leio um livro, / tenho a impressão / de que o faço apenas com os olhos, / mas
às vezes encontro uma passagem, talvez uma única frase / que tem sentido para mim, / e
que se torna parte de mim mesmo.” (Somerset Maugham)
Separamos as orações para facilitar a análise: a 1ª oração é adverbial temporal; a 2ª é
a principal; a 3ª é subordinada substantiva completiva nominal; a 4ª oração é coorde-
nada sindética adversativa (em relação à 1ª, e principal da 5ª oração); a 5ª é subordinada
adjetiva restritiva; a 6ª oração é coordenada sindética aditiva (em relação à 5ª) e subor-
dinada adjetiva restritiva (em relação à 4ª).

CONEXÃO
Conexão: leia o texto sobre oração subordinada adverbial, em que você verificará as ora-
ções já estudadas com exemplos diferentes, disponível em: <http://www.mundoeducacao.
com.br/gramatica/oracao-subordinada-adverbial.htm>

EXEMPLO
É muito comum tentarmos decorar a classificação das orações pelas conjunções, ou seja, de-
corando a classificação da conjunção. No entanto, como podemos ver no quadrinho a seguir,
é comum encontrarmos a mesma conjunção apresentando relações semânticas distintas.
Vejamos como a conjunção como funciona.

capítulo 3 • 63
No primeiro quadrinho, o como introduz uma oração subordinada adver-
bial causal, porque tem o sentido de causa ou motivo, e poderíamos substituir
por “uma vez que”, “já que”. No segundo quadrinho, a mesma conjunção apre-
senta o sentido de conformidade, introduzindo uma oração subordinada adver-
bial conformativa. Já no terceiro quadrinho a ideia é de comparação. Cuidado
com as conjunções! Atenha-se ao sentido estabelecido entre as orações, isso vai
ajudá-lo mais do que decorar a lista de conjunções.

3.1.10  Oração subordinada adverbial locativa

Apesar de algumas Gramáticas tradicionais não trazerem à discussão, exis-


tem ainda dois tipos de orações adverbiais que precisam ser apresentadas: a cb.
Vamos à primeira.
Oração subordinada adverbial locativa é aquela iniciada pela palavra onde,
desde que este não possa ser substituído por “no qual, na qual”. Nesse caso, a
oração subordinada indica um lugar, fazendo a função do advérbio de lugar.
Vamos ao exemplo.

Trabalha-se melhor, onde reina a paz


oração principal oração subordinada adverbial locativa

Ao perguntar para a oração principal onde trabalho melhor, temos como


resposta um lugar - onde reina a paz - a oração subordinada funciona como um
advérbio de lugar, por isso a classificamos como locativa.
No entanto, nem sempre o onde indica lugar; ele pode funcionar como
pronome relativo, e, nesse caso, introduzirá uma oração subordinada adjetiva,
como podemos perceber no seguinte caso.

64 • capítulo 3
Venho de um lugar onde todos trabalham duro.
Oração 1: Venho de um lugar.
Oração 2: Todos trabalham duro no lugar.
Veja que onde retoma o termo lugar, funcionando como um pronome rela-
tivo e introduzindo uma oração subordinada adjetiva.

Venho de um luga onde todos trabalham duro


oração principal oração subordinada adjetiva restritiva

3.1.11  Oração subordinada adverbial modal

As orações subordinadas adverbiais modais são aquelas que apresentam a


mesma função de um advérbio de modo, ou seja, indicam um modo expresso
na oração principal. Vejamos o exemplo a seguir.

Chegou em casa sem fazer nenhum barulho


oração principal oração subordinada adverbial modal

Ao perguntar “De que modo chegamos em casa?”, temos como resposta a


oração subordinada.
Rocha Lima (1998) diz que não existem conjunções modais, o que leva a cir-
cunstância de modo a aparecer somente em forma de oração reduzida. A se-
guir,temos um caso que exemplifica o que propõe o teórico.

Aprendemos Sintaxe estudando


oração principal oração subordinada adverbial modal

Ao perguntar “De que modo aprendemos Sintaxe?”, obtemos como respos-


ta: “estudando”, então a subordinada indica o modo trazido pelo verbo da ora-
ção principal.
No entanto, temos a conjunção e “sem que” que podem introduzir a ideia
de modo. Vejamos os exemplos.

capítulo 3 • 65
Ele deixou o local sem que o vissem
oração principal oração subordinada adverbial modal

3.2  Orações reduzidas

Recentemente, o Partido Verde encetou uma campanha publicitária, por


meio da mídia televisiva, explorando a importância do meio ambiente.
Destruir a Amazônia,
faz mal à saúde.
Poluir rios e mares,
faz mal à saúde.
Envenenar o ar de nossas cidades,
faz mal à saúde.
Percebe-se claramente que os três períodos iniciam-se por um verbo no in-
finitivo (destruir, poluir e envenenar). Na realidade, as três orações funcionam
como sujeito da oração faz mal à saúde: O que faz mal à saúde? “Destruir a
Amazônia”, “poluir rios e mares” e “envenenar o ar de nossas cidades”. Essas
três orações classificam-se como orações reduzidas. Se as desenvolvermos, te-
remos: Faz mal à saúde que se destrua a Amazônia, que se poluam rios e ma-
res, que se envenene o ar de nossas cidades.
As orações reduzidas têm duas características básicas:
•  Elas não se iniciam nem por conjunções nem por pronomes relativos.
•  Sempre apresentam o verbo em uma das três formas nominais: infinitivo
(-r), gerúndio (-ndo) ou particípio (-do, -to, -so, -gue etc.).

“Para ver o mundo em um grão de areia e o céu em uma flor do campo, se-
gure o infinito na palma da mão e a eternidade em uma hora.” (Willian Blake)
Nesse pensamento, para ressaltar a importância da visão do mundo, o autor
usou a oração Para ver o mundo em um grão de areia. Não é difícil perceber que
se trata de uma oração subordinada reduzida: ela não é introduzida por con-
junção ou por pronome relativo, e o verbo ver está no infinitivo (-r). Para poder
classificá-la, a melhor forma é desdobrá-la, o que significa convertê-la numa
oração subordinada com conjunção e que possua o mesmo valor semântico.

66 • capítulo 3
Para ver o mundo em um grão de areia...

desdobramento

Para que se veja o mundo em um grão de areia...

A oração “Para que se veja o mundo em um grão de areia...” é uma adverbial


final. Portanto, a oração original “Para ver o mundo em um grão de areia...”
deve ser classificada como subordinada adverbial final reduzida de infiniti-
vo. A mesma classificação que se atribui à oração desdobrada aplica-se à ora-
ção reduzida.
Leia este poema de Ricardo Reis.

Para ser grande, sê inteiro: nada


Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

3.2.1  Orações reduzidas de infinitivo

Serão substantivas e adverbiais, raramente adjetivas.


“É conveniente beber quando se dança, porque a dança não deixa a gente se
embriagar e o álcool sustenta.” (Jean-Paul Sartre) – (... que se beba... – substan-
tiva subjetiva)
“Milady, é perigoso contemplá-la,
Quando passa aromática e normal.” (Cesário Verde) – (... que a contemple-
mos... – substantiva subjetiva)
Nada me deram de comer. – (... para que eu comesse – adverbial final)
“Ao olhar para o espelho à sua frente, pense no que está por trás dele.” (Wu
Wang) (Quando você olhar para o espelho... – adverbial temporal), ou (Se você
olhar para o espelho... – adverbial condicional)

capítulo 3 • 67
EXEMPLO
Na televisão, sempre após a propaganda de um medicamento, lemos dois tipos de frases.
A persistiremos sintomas, consulte um médico.
(Se persistirem os sintomas,... – adverbial condicional)
Ao persistirem os sintomas, consulte um médico.
(Quando persistirem os sintomas,... – adverbial temporal)

3.2.2  Orações reduzidas de gerúndio

Serão quase sempre adverbiais, raramente adjetivas ou substantivas.


“Todas as noites eu adormecia,
Sentindo-a desleixada e langorosa.” (Cesário Verde) – (... quando a sentia
desleixada e langorosa... – adverbial temporal)
Temendo a reação do pai, não contou a verdade. – (Como temia a reação do
pai,... – adverbial causal)
Encontrei um homem remexendo o lixo. – (... que remexia o lixo. – adjeti-
va restritiva)

ATENÇÃO
Em muitos casos, as orações reduzidas de gerúndio propiciam liberdade de análise, sendo
muito importante o contexto, para que se analise com segurança. Na frase de Platão, –
“Buscando o bem de nossos semelhantes, encontramos o nosso.” –, a oração destacada
pode ser vista ora como temporal (Quando buscamos o bem de nossos semelhantes,...), ora
como condicional (Se buscarmos o bem de nossos semelhantes,...), conforme a situação e o
contexto em que se insere.

3.2.3  Orações reduzidas de particípio

Serão sempre adverbiais ou adjetivas, nunca substantivas.


Preocupado com o temporal, o homem se esqueceu da família. – (Como
estava preocupado com o temporal ,... – adverbial temporal)

68 • capítulo 3
A primeira impressão que se tem de uma pessoa é, sem dúvida nenhuma,
a causada pelo impacto visual. (... que é causada pelo impacto visual. – adjeti-
va restritiva)

3.3  Orações justapostas

São orações coordenadas ou subordinadas que aparecem sem conectivo. Não


se confundem com as reduzidas, porque estas sempre trazem o verbo numa das
formas nominais.

3.3.1  Orações justapostas coordenadas

Normalmente, elas aparecem com sinais de pontuação: vírgula, dois-pontos...


“O tempo não para no porto, não apita na curva, não espera ninguém.”
(aditivas)
“Todas as horas ferem, a derradeira mata.” (adversativa)
“Comamos, bebamos, gozemos: depois da morte não há gozo algum.”
(explicativa)
“A morte é para qualquer momento, não se pode estar de pijama.”
(conclusiva)

3.3.2  Orações justapostas subordinadas

“Quem perde a vergonha não tem mais o que perder.” (substantiva subjetiva)
Não converso com quem não conheço. (substantiva objetiva indireta)
“A saudade é como o sol de inverno: ilumina sem aquecer.” (substanti-
va apositiva)
Há dias não vejo meus colegas. (adverbial temporal)

ATENÇÃO
As orações justapostas substantivas objetivas diretas são iniciadas por pronomes ou ad-
vérbios interrogativos, que sempre exercem uma função sintática na oração; não podem,
portanto, ser considerados conjunções integrantes. Ex.:
“O discernimento consiste em saber até onde se pode ir.” (Jean Cocteau) – (onde =
adjunto adverbial de lugar)

capítulo 3 • 69
3.4  As orações subordinadas e a pontuação

Para pontuar as orações subordinadas adverbiais, devemos seguir os mesmos


princípios da pontuação dos adjuntos adverbiais. Podemos, então separar a
oração subordinada adverbial da oração principal por meio da vírgula, mas não
obrigatoriamente, quando a subordinada aparece posposta à principal. Anali-
semos o exemplo:

Decisões importantes devem ser tomadas.


oração principal

a fim de que se evitem maiores danos ao ambiente


oração subordinada adverbial final

Decisões importantes devem ser tomadas


oração principal

a fim de que se evitem maiores danos ao ambiente


oração subordinada adverbial final

No entanto, quando a subordinada adverbial aparece anteposta à principal


ou intercalada, deve-se, obrigatoriamente, separá-la por meio da vírgula.

Quando sairmos dessa situação tomarei um longo e restaurador banho


oração subordinada adverbial temporal oração principal

Fizemos conforme fora combinado


oração principal oração subordinada adverbial conformativa

todo o possível para não sermos notados


oração principal

CONEXÃO
Leia a dissertação Articulação hipotática adverbial e argumentação: uma análise
do uso de orações concessivas em artigos de opinião e editoriais, de Cleide Alves
Ribeiro Bezerra, que aborda o uso da oração subordinada adverbial concessiva na cons-

70 • capítulo 3
trução da argumentação, disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/
DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=166969>

3.5  Falsa coordenação: coordenação gramatical e subordinação


psicológica

Como já dito no início deste capítulo, para analisar os processos de ligação


entre as orações nos períodos compostos, devemos levar em consideração as
relações lógico-semânticas que se estabelecem entre elas. Há casos em que as
orações são independentes do ponto de vista da forma, mas dependentes do
ponto de vista do sentido, o que nos leva a classificá-las como falsa coordena-
ção ou subordinação psicológica. Vejamos um exemplo.
Irei, quer queiras, quer não queiras.
Apesar de haver a conjunção alternativa (quer... quer), o que poderia nos le-
var a classificar as orações como coordenada sindética alternativa, há um valor
de subordinação, pois o sentido que se estabelece é o seguinte.
Irei, se quiseres e mesmo que não queiras.
Sendo assim, o que num primeiro momento, classificaríamos como coor-
denativa alternativa, possui nítido valor condicional (se quiseres) e concessivo
(mesmo que não queiras), coordenados pela conjunção aditiva e.

CONEXÃO
Para entender mais sobre a Falsa Coordenação, leia o artigo “Eu peguei e saí”: uma constru-
ção nos limites da coordenação, de Angélica T. C. Rodrigues , disponível em:<http://www.
ufjf.br/revistaveredas/files/2009/12/cap02.pdf.>. Nesse artigo, a autora traz um estudo
sobre enunciados que parecem se apresentar de modo coordenado, mas que, na verdade,
representam um tipo de estrutura intermediária.

capítulo 3 • 71
ATIVIDADES
01. Analise as orações destacadas no período a seguir.
O senador Eduardo Suplicy: “Se os parlamentares, os juízes, os professores, os
jornalistas, os advogados, os engenheiros, as pessoas com nível superior, fossem
submetidos, / como os demais cidadãos brasileiros, / às atuais condições carce-
rárias, / não estaríamos nós, / e a sociedade brasileira, lutando / para que o sistema
carcerário tivesse condições de maior dignidade?” (Veja, 10/4/1996)

02. Leia este poema de Manuel Bandeira para responder às questões de 1 a 5.


Céu
A criança olha
Para o céu azul.
Levanta a mãozinha,
Quer tocar o céu.
Não sente a criança
Que o céu é ilusão:
Crê que o não alcança,
Quando o tem na mão.
Estrela da vida inteira. 2. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1970, p. 195.

1. O poema apresenta duas estrofes.


a) Na 1ª estrofe, é feita uma descrição. O que se descreve?
b) Na 2ª estrofe, o eu lírico faz uma consideração sobre o gesto da criança. Quem é o eu
lírico: um adulto ou uma criança? Por quê?

2. Observe os períodos e orações que estruturam a 1ª estrofe.


c) Qual é o número de períodos?
d) Os períodos são simples ou compostos?
e) Quantas orações há no 2º período dessa estrofe?
f) As orações do 2º período são coordenadas ou subordinadas entre si?

3. Na 2ª oração, existem dois períodos, separados por dois-pontos.


a) Qual é o número de orações em cada período?
b) Em cada período, as orações se ligam entre si por coordenação ou subordinação?

72 • capítulo 3
4. Como fica a análise das orações da 2ª estrofe?

5. Como conclusão, relacione as ideias de cada uma das estrofes às suas respectivas es-
truturas de orações e períodos. Verifique se as afirmativas são verdadeiras ou falsas.
a) Na 1ª estrofe, predominam o período simples e a coordenação. Essa estrutura, sintatica-
mente mais simples, corresponde à simplicidade e à pureza dos gestos infantis.
b) Na 2ª estrofe, predomina o período composto por subordinação. Essa estrutura corres-
ponde, normalmente, a formas mais complexas do pensamento, o que coincide, no plano
das ideias, com as abstrações e reflexões feitas pelo eu lírico.

03. Leia o texto a seguir para responder às questões.


Pátria amada, mãe gentil?
Como lembrava o arcebispo Desmond Tutu, incansável na luta pelos direitos civis: “Se
ficarmos neutros numa situação de injustiça, teremos escolhido o lado do opressor”. Pre-
sidente, principalmente você, que tem história para ser o exemplo, pode atender ao grito
ensurdecedor de tantos filhos da nação. Assumindo o combate sem limites ao grupo de
predadores assentados no poder. Exigindo que a Justiça faça das leis instrumentos verda-
deiros de defesa dos direitos, e não objetos de proteção aos ímprobos e poderosos.
E, tomado por compaixão, adotando ações genuínas para reduzir os efeitos da desi-
gualdade e para resgatar a condição humana desses brasileiros. Só assim, perfilado no dia
da pátria, você conseguirá, marejado, declamar com a multidão: “Dos filhos deste solo és
mãe gentil, pátria amada, Brasil”.
SROUGI, Miguel. In: Folha de S.Paulo, Opinião, 6/9/2009.

1. No texto, o autor dirige-se ao presidente para pedir que ele atenda “ao grito ensurdece-
dor de tantos filhos da nação”. O gerúndio (em negrito) é empregado em três passagens para
expressar ideia de:
a) concessão.
b) comparação.
c) oposição.
d) condição.
e) causa.

2. Para a construção do título Pátria amada, mãe gentil?, o autor se vale de uma pergunta,
entendida como recurso estratégico:

capítulo 3 • 73
a) para desencadear uma reflexão sobre algo que não se questiona, além de estimular uma
resposta imediata do presidente, ou seja, fazer com que ele responda ao jornal.
b) que exige uma resposta dos leitores, isto é, que eles se dirijam ao presidente com um
discurso ornamentado com figuras de linguagem.
c) sem a intenção de obter resposta, mas que tem como efeito de sentido despertar o inte-
resse do leitor e levá-lo a refletir sobre algo que é inquestionável; no caso, mostrar que
o presidente pode atender ao que necessitam muitos brasileiros.
d) sem intenção de obter resposta, mas com vistas a introduzir um apelo à leitura e impor uma
resposta imediata do presidente, que deverá atender ao que necessitam muitos brasileiros.
e) que apresenta um questionamento ao leitor, com a intenção de tornar o discurso mais
dinâmico e estimular esse leitor a pensar na melhor resposta a ser dada ao presidente.

04. Leia com atenção o poema de Eugênio de Andrade e analise as orações em destaque.

Urgentemente
É urgente destruir certas palavras, ódio, solidão e crueldade, alguns lamentos, mui-
tas espadas.
É urgente inverter a alegria, multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios e manhãs claras.

05. Desenvolva as orações reduzidas destacadas e analise-as.


a) “Tiritava ao vestir a camisola, mas tinha certeza de que as orações agradavam mais
a Deus quando eram ditas com absoluta ausência de conforto.” (Somerset Maugham)
b) “O lugar cheirava a mofo e Philip deu graças a Deus por não ter de dormir naquela
peça.” (Somerset Maugham)
c) “Conta o jornal que Nicole Renaud, pequena de três anos, foi carregada por um urso,
quando, brincando no jardim da casa de veraneio de seus pais, fugiu para pas-
sear no bosque próximo.”

06. O Banco Central do Brasil lançou recentemente esteslogan “Quer ver se é real? Tome
essa atitude”. No texto da publicidade, analise as orações destacadas a seguir, após o
seu desenvolvimento.
Conferir se uma nota é verdadeira é uma atitude que todo mundo deve tomar. E você
pode ser o primeiro. Ao receber uma nota, observe os itens de segurança. Marca d’água, re-
gistro coincidente, imagem latente e alto-relevo são alguns deles. Para saber mais, acesse
www.bcb.gov.br, ou verifique material informativo nas agências dos Correios.

74 • capítulo 3
07. Assinale a alternativa em que a função da(s) palavra(s) destacada(s) no trecho transcrito
não está corretamente explicitada entre colchetes.
a) Aquele gol que gostaríamos tanto de fazer, que nos sentimos maduros para fazer, mas
que, diabolicamente, não se deixa fazer. [indica uma consequência]
b) Então o gol independe de nossa vontade, formação e mestria? Receio que sim. [introduz
uma conclusão]
c) O muito papel que sujamos continua alvo, alheio às letras que nele se imprimem, pois
aquela não era a combinação de letras que ele exigia de nós. [apresenta uma justificativa]
d) Por que não há 11 Pelés em cada time? Ou 10, para dar uma chance ao time adversário.
[expressa uma finalidade]

08. Leia atentamente esta quadra do poeta e pintor inglês William Blake, na qual ele explora
elementos paradoxais.
Ver todo um mundo num grão
E um céu em ramo que aflora
É ter o infinito na palma da mão
E a eternidade numa hora.

a) Separe as orações por barras duplas.


b) Analise as orações separadas.

REFLEXÃO
Na análise de todos esses períodos, você pôde perceber que a oração subordinada sempre
expressa uma relação com a principal. Analisamos vários conectores, que não só criam rela-
ção entre as orações, mas também acrescentam significados a elas. Quando você for produ-
zir um texto, deverá escolher o conectivo adequado que lhe dê a orientação argumentativa
de que você necessita. Os grandes prosadores e poetas sempre tiveram essa preocupação:
escolher a conjunção ou o pronome adequado a fim de expressar suas ideias de forma clara,
precisa e coerente.
Além disso, você aprendeu que as orações desenvolvidas sempre trazem conectivos,
isto é, pronomes ou conjunções. Já as orações reduzidas não apresentam conectivos, mas
trazem o verbo numa forma nominal: infinitivo, gerúndio ou particípio. As orações justapos-
tas podem ser coordenadas ou subordinadas, aparecem sem conectivos e com as formas
verbais conjugadas.

capítulo 3 • 75
LEITURA
Para maiores detalhes e novos exemplos, leia o texto Orações subordinadas. disponível em:
<http://www.algosobre.com.br/gramatica/oracoes-subordinadas.html>.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEREDO, José Carlos de. Fundamentos da Gramática do Português. Rio de Janeiro: Zahar,
2010.
_______. Iniciação à Sintaxe do Português. Rio de Janeiro: Zahar, 1990.
AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo:
Publifolha, 2008.
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Lucerna,
2009.
CASTILHO, Ataliba T. de. Nova gramática do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2010.
CEGALLA, D. P. Novíssima gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Nacional, 2005.
CUNHA, Celso e CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Lexikon:
Aveiro, 2009.
ROCHA LIMA, Carlos Henrique da. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1998.
SACCONI, L. A. Nossa gramática: teoria e prática. São Paulo: Atual, 1999.
________. Gramática essencial ilustrada. São Paulo: Atual, 1999.

76 • capítulo 3
4
Colocação
pronominal
4.  Colocação pronominal
Quando falamos, empregamos os pronomes pessoais oblíquos como qualquer
outra palavra: de forma natural e espontânea. Contudo, quando escrevemos
um texto no padrão culto da língua, a colocação dos pronomes oblíquos torna-
se um claro índice de adequação da linguagem empregada à situação.
Um rapaz, por exemplo, quando está namorando, não vai dizer à garota: “Trar-
lhe-ei um presente no próximo encontro”. Entretanto, o que se espera de um
advogado de defesa diante de um júri e do juiz é que ele diga, por exemplo:
“Mostrar-lhes-ei provas convincentes”.

OBJETIVOS
Neste capítulo, você será capaz de:
•  Reconhecer a importância da colocação pronominal em língua portuguesa;
•  Compreender e utilizar os principais casos de ênclise;
•  Empregar corretamente os pronomes oblíquos em locuções verbais e nos tempos ver-
bais compostos.

4.1  Pronomes Pessoais

Chamamos de pronomes pessoais aqueles que servem para substituir as pes-


soas do discurso. Ao falar, o enunciador assume para si os pronomes eu ou nós;
dirige-se ao receptor pelos pronomes tu, vós, você ou vocês; e utiliza ele, ela,
eles ou elas para fazer referência à pessoa ou às pessoas de quem fala.
Os pronomes se dividem em dois tipos, dependendo da função que exercem
na oração. Se a função exercida pelo pronome for sujeito, então o pronome é
reto; caso ele esteja substituindo o objeto da oração, então ele será um prono-
me pessoal do caso oblíquo.

78 • capítulo 4
4.1.1  Os pronomes pessoais do caso reto

Os pronomes pessoais do caso reto, ou subjetivos, são aqueles que exercem a


função de sujeito.

Nós lhe ofertamos flores.


Os pronomes retos apresentam flexão de número, gênero (apenas na 3ª pes-
soa) e pessoa, sendo essa última a principal flexão, uma vez que marca a pessoa
do discurso. Dessa forma, o quadro dos pronomes retos é assim configurado.
– 1ª pessoa do singular: eu
– 2ª pessoa do singular: tu
– 3ª pessoa do singular: ele, ela
– 1ª pessoa do plural: nós
– 2ª pessoa do plural: vós
– 3ª pessoa do plural: eles, elas

OBSERVAÇÃO
Frequentemente observamos a omissão do pronome reto em língua portuguesa. Isso se dá
porque as próprias formas verbais marcam, através de suas desinências, as pessoas do verbo
indicadas pelo pronome reto. Por exemplo: Fizemos boa viagem. (Nós)

4.1.2  Os pronomes pessoais do caso oblíquo

Pronome pessoal do caso oblíquo é aquele que, na frase, exerce a função de


complemento verbal (objeto direto ou indireto) ou de complemento nominal.
sembold
Mandaram-nos flores pelo nosso aniversário. (objeto indireto)

ATENÇÃO
Podemos afirmar que, o pronome oblíquo é uma forma variante do pronome pessoal do caso
reto. Essa variação indica a função diversa que eles desempenham na oração: pronome reto
marca o sujeito da oração e o pronome oblíquo marca o complemento da oração.

capítulo 4 • 79
De acordo com a acentuação tônica que possuem, os pronomes oblíquos
sofrem variação, podendo ser átonos ou tônicos.

São chamados átonos os pronomes oblíquos que não são precedidos


de preposição.
Possuem acentuação tônica fraca.
Por exemplo:
Ele me deu um presente.

O quadro dos pronomes oblíquos átonos é assim configurado.


– 1ª pessoa do singular (eu): me
– 2ª pessoa do singular (tu): te
– 3ª pessoa do singular (ele, ela): o, a, lhe
– 1ª pessoa do plural (nós): nos
– 2ª pessoa do plural (vós): vos
– 3ª pessoa do plural (eles, elas): os, as, lhes
É preciso ressaltar que o lhe é o único pronome oblíquo átono que já se
apresenta na forma contraída, ou seja, houve a união entre o pronome o ou a e
preposição a ou para. Por acompanhar diretamente uma preposição, o prono-
me lhe exerce sempre a função de objeto indireto na oração. Ainda, os prono-
mes me, te, nos e vos podem tanto ser objetos diretos como objetos indiretos. E
os pronomes o, a, os e as atuam exclusivamente como objetos diretos.

CURIOSIDADE
Os pronomes me, te, lhe, nos, vos e lhes podem combinar-se com os pronomes o, os, a,
as, dando origem a formas como mo, mos, ma, mas; to, tos, ta, tas; lho, lhos, lha, lhas; no-lo,
no-los, no-la, no-las, vo-lo, vo-los, vo-la, vo-las. Observe o uso dessas formas nos exemplos
que seguem.
– Trouxeste o pacote? - Não contaram a novidade a vocês?
– Sim, entreguei-to ainda há pouco. - Não, não no-la contaram.
No português do Brasil, essas combinações não são usadas; até mesmo na língua lite-
rária atual, seu emprego é muito raro. Disponível em:< http://www.soportugues.com.br/>

80 • capítulo 4
CONEXÃO
Assista ao vídeo Português Elementar: Uso dos pronomes pessoais e colocação dos
pronomes átonos, do professor Sérgio Nogueira, disponível no link;<https://youtu.be/
pcLiqiUGJno.> No vídeo, o professor apresenta os pronomes e explica pormenorizadamente
o seu uso.

4.1.2.1  Pronome oblíquo tônico

Os pronomes oblíquos tônicos são sempre precedidos por preposições, em ge-


ral as preposições a, para, de e com. Por esse motivo, os pronomes tônicos exer-
cem a função de objeto indireto da oração. Possuem acentuação tônica forte.
O quadro dos pronomes oblíquos tônicos é assim configurado.
– 1ª pessoa do singular (eu): mim, comigo
– 2ª pessoa do singular (tu): ti, contigo
– 3ª pessoa do singular (ele, ela): ele, ela
– 1ª pessoa do plural (nós): nós, conosco
– 2ª pessoa do plural (vós): vós, convosco
– 3ª pessoa do plural (eles, elas): eles, elas

Observe que as únicas formas próprias do pronome tônico são a primeira


pessoa (mim) e segunda pessoa (ti). As demais repetem a forma do pronome
pessoal do caso reto.
As preposições essenciais introduzem sempre pronomes pessoais do caso
oblíquo e nunca pronome do caso reto. Nos contextos interlocutivos que exi-
gem o uso da língua formal, os pronomes costumam ser usados desta forma:
Não há mais nada entre mim e ti.
Não se comprovou qualquer ligação entre ti e ela.
Não há nenhuma acusação contra mim.
Não vá sem mim.
É importante ressaltar que a combinação da preposição "com" e alguns pro-
nomes originou as formas especiais comigo, contigo, consigo, conosco e con-
vosco. Tais pronomes oblíquos tônicos frequentemente exercem a função de
adjunto adverbial de companhia.

capítulo 4 • 81
Por exemplo:
Ele carregava o documento consigo.

Além, claro, das formas "conosco" e "convosco" que são substituídas por
"com nós" e "com vós" quando os pronomes pessoais são reforçados por pala-
vras como outros, mesmos, próprios, todos, ambos ou algum numeral.

Por exemplo:
Você terá de viajar com nós todos.
Estávamos com vós outros quando chegaram as más notícias.
Ele disse que iria com nós três.

Podemos resumir os pronomes pessoais na tabela a seguir.

PRONOMES PESSOAIS
números pessoas pronomes retos pronomes oblíquos

tônicos átonos
1ª eu mim, contigo me
singular 2ª tu ti, contigo te
3ª ele, ela si consigo se, o, a, lhe
nós, conosco
1ª nós nos
vós, convosco
plural 2ª vós vos
eles, elas, si,
3ª eles, elas se, os, as, lhes
consigo

Com relação ao uso dos pronomes pessoais do caso reto, não temos gran-
des problemas ao utilizar, porque a função que eles exercem, a de sujeito, é de
fácil localização na frase. O que causa problemas é o pronome pessoal do caso
obliquo, visto que existem regras claras de colocação, ou seja, eles não podem
aparecer em qualquer lugar da frase e de forma aleatória.
São três as posições em que o pronome oblíquo pode aparecer.
1. Depois do verbo, o que chamamos de ênclise. Exemplo:
Dê-me a borracha.
2. Antes do verbo, o que se classifica em próclise. Exemplo:
Eu te amo.
3. E a mesóclise, que ocorre quando o pronome aparece no meio do verbo.
Exemplo:
Dar-te-ei um abraço quando nos encontrarmos.

82 • capítulo 4
Vamos agora estudar as regras que gerem a utilização dos pronomes pes-
soais do caso oblíquo.

4.2  Ênclise (pronome após o verbo)

Sabemos que a norma culta da língua portuguesa não aceita que se comece uma fra-
se com pronome pessoal oblíquo, principalmente na linguagem escrita. Ao entrar
num bar, a pessoa pede: “— Me dá um guaraná.” (linguagem coloquial), mas, ao
escrever, devemos usar a ênclise: Dê-me (ou Dá-me) um guaraná, uma vez que nun-
ca se começa frase com pronome oblíquo de acordo com a Gramática Normativa.

Usa-se a ênclise nos seguintes casos.


1. No início de frases ou depois de pausa
Exs.:
Vão-se os anéis, fiquem os dedos.
Se você a vir, dê-lhe meus parabéns!
Vai-se a primeira pomba despertada!
(Raimundo Correia)

2. Com o verbo no imperativo afirmativo


Exs.:
Prezado amigo, informe-se de seus compromissos.
Devolva-me o que lhe emprestei.
Romano, escuta-me!
(Olavo Bilac)

ATENÇÃO
Frase com pronome oblíquo átono só é lícito na conversação familiar, despreocupada, ou na
língua escrita, quando se deseja reproduzir a fala das personagens:
Me ponho a correr na praia.
Me larga! Eu quero ir embora.
(Fernando Sabino)

Nos atirarmos à água pode nos ser fatal.


(Millôr Fernandes)

capítulo 4 • 83
3. Com verbo no gerúndio não precedido da preposição em ou de negação.
Exs.:
Falando-se de comércio exterior, progredimos muito.
Ela entrou na sala, arrastando-se pelo chão.
O anão chegara-se a Inocência, tomando-lhe uma das mãos. (Visconde
de Taunay)
4. Com verbo no infinitivo impessoal.
Exs.:
Não era minha intenção magoar-te.
Sabe ele se tornará a vê-los algum dia? (José de Alencar)
Agora, leia este conhecidíssimo texto de Machado de Assis, em que ele em-
prega, principalmente, o pronome enclítico.

AUTOR
Machado de Assis (Joaquim Maria M. de A.),
©© WIKIMEDIA.ORG

jornalista, contista, cronista, romancista, poeta


e teatrólogo, nasceu no Rio de Janeiro, RJ,
em 21 de junho de 1839, e faleceu tam-
bém no Rio de Janeiro, em 29 de setembro
de 1908. É o fundador da Cadeira nº. 23 da
Academia Brasileira de Letras. Velho amigo
e admirador de José de Alencar, que morre-
ra cerca de vinte anos antes da fundação da
ABL, era natural que Machado escolhesse o
nome do autor de O Guarani para seu patro-
no. Ocupou por mais de dez anos a presidên-
cia da Academia, que passou a ser chamada
também de Casa de Machado de Assis.
Filho do operário Francisco José de Assis e de Maria Leopoldina Machado de Assis, per-
deu a mãe muito cedo, pouco mais se conhecendo de sua infância e início da adolescência.
Foi criado no morro do Livramento. Sem meios para cursos regulares, estudou como pôde
e, em 1854, com 15 anos incompletos, publicou o primeiro trabalho literário, o soneto "À
Ilma. Sra. D.P.J.A.", no Periódico dos Pobres, número datado de 3 de outubro de 1854. Em
1856, entrou para a Imprensa Nacional, como aprendiz de tipógrafo, e lá conheceu Manuel
Antônio de Almeida, que se tornou seu protetor. Em 1858, era revisor e colaborador no Cor-

84 • capítulo 4
reio Mercantil e, em 1860, a convite de Quintino Bocaiúva, passou a pertencer à redação do
Diário do Rio de Janeiro. Escrevia regularmente também para a revista O Espelho, em que
estreou como crítico teatral, a Semana Ilustrada e o Jornal das Famílias, no qual publicou de
preferência contos.
O primeiro livro publicado por Machado de Assis foi a tradução de Queda que as mulhe-
res têm para os tolos (1861), impresso na tipografia de Paula Brito. Em 1862, era censor
teatral, cargo não remunerado, mas que lhe dava ingresso livre nos teatros. Começou tam-
bém a colaborar em O Futuro, órgão dirigido por Faustino Xavier de Novais, irmão de sua
futura esposa. Seu primeiro livro de poesias, Crisálidas, saiu em 1864. Em 1867, foi nomeado
ajudante do diretor de publicação do Diário Oficial. Em agosto de 69, morreu Faustino Xavier
de Novais e, menos de três meses depois (12 de novembro de 1869), Machado de Assis se
casou com a irmã do amigo, Carolina Augusta Xavier de Novais. Foi companheira perfeita
durante 35 anos. O primeiro romance de Machado, Ressurreição, saiu em 1872. A obra
de Machado de Assis abrange, praticamente, todos os gêneros literários. Na poesia, inicia
com o romantismo de Crisálidas (1864) e Falenas (1870), passando pelo indianismo em
Americanas (1875), e o parnasianismo em Ocidentais (1901). Paralelamente, apareciam as
coletâneas de Contos fluminenses (1870) e Histórias da meia-noite (1873); os romances
Ressurreição (1872), A mão e a luva (1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878), conside-
rados como pertencentes ao seu período romântico. A partir daí, Machado de Assis entrou na
grande fase das obras-primas, que fogem a qualquer denominação de escola literária e que
o tornaram o escritor maior das letras brasileiras e um dos maiores autores da literatura de
língua portuguesa. Disponível em: <http://www.machadodeassis.org.br/>

A borboleta preta
No dia seguinte, como eu estivesse a preparar-me para descer, entrou no
meu quarto uma borboleta, tão negra como a outra, e muito maior do que ela.
[…] A borboleta, depois de esvoaçar muito em torno de mim, pousou-me na tes-
ta. Sacudi-a e ela foi pousar na vidraça; e, porque eu a sacudisse de novo, saiu
dali e veio parar em cima de um velho retrato de meu pai. Era negra como a
noite. O gesto brando com que, uma vez posta, começou a mover as asas, tinha
um certo ar escarninho, que me aborreceu muito. Dei de ombros, saí do quarto;
mas tornando lá, minutos depois, e achando-a ainda no mesmo lugar, senti um
repelão dos nervos, lancei mão de uma toalha, bati-lhe e ela caiu.
Não caiu morta; ainda torcia o corpo e movia as farpinhas da cabeça.
Apiedei-me; tomei-a na palma da mão e fui depô-la no peitoril da janela. Era

capítulo 4 • 85
tarde; a infeliz expirou dentro de alguns segundos. Fiquei um pouco aborreci-
do, incomodado.
— Também por que diabo não era ela azul? disse comigo.

Machado de Assis

ATENÇÃO
Se o infinitivo vier precedido de palavra atrativa, ocorre tanto a próclise quanto a ênclise. Exs.:
Espero com isto não te magoar.
Espero com isto não magoar-te.
Exemplo: explique a colocação dos pronomes destacados neste excerto de Machado
de Assis.
“Lá o deixei, meti-me às pressas na sege, que me esperava no largo de São Francisco de
Paula, e ordenei ao boleeiro que rodasse pelas ruas fora.”
Observe que no excerto o pronome pessoal oblíquo átono nos é empregado duas vezes.
No primeiro verso, ele está colocado antes do verbo. Nesse caso, dizemos que há próclise. No
segundo verso, o mesmo pronome está colocado depois do verbo, um caso de ênclise. Em
“Lá o deixei,...”, o advérbio lá atrai a próclise; em “meti-me às pressas na sege,...”, emprega-se
a ênclise no início da oração; em “que me esperava...”, o pronome relativo que atrai a próclise.
Além dessas duas colocações, há a mesóclise, quando o pronome oblíquo átono está no
meio do verbo. Veja:
Dir-nos-emos sempre as mesmas palavras.

Neste soneto, o poeta parnasiano Olavo Bilac, que tinha preocupação com a
arte pela arte, emprega pronomes enclíticos.

Língua Portuguesa
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela

86 • capítulo 4
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

4.3  Fatores de próclise

Na próclise, o pronome surge antes do verbo. Costuma ser empregada nos se-
guintes casos.
a) Nas orações que contenham uma palavra ou expressão de valor negativo.
Exemplos:
Ninguém o apoia.
Nunca se esqueça de mim.
Não me fale sobre este assunto.

b) Nas orações em que haja advérbios e pronomes indefinidos, sem que


exista pausa.
Exemplos:
Aqui se vive. (advérbio)
Tudo me incomoda nesse lugar. (pronome indefinido)

ATENÇÃO
Caso haja pausa depois do advérbio, emprega-se ênclise. Por exemplo: Aqui, vive-se.

c) Nas orações iniciadas por pronomes e advérbios interrogativos.


Exemplos:
Quem te convidou para sair? (pronome interrogativo)
Por que a maltrataram? (advérbio interrogativo)

capítulo 4 • 87
d) Nas orações iniciadas por palavras exclamativas e nas optativas (que ex-
primem desejo).
Exemplos:
Como te admiro! (oração exclamativa)
Deus o ilumine! (oração optativa)

e) Nas conjunções subordinativas.


Exemplos:
Ela não quis a blusa, embora lhe servisse.
É necessário que o traga de volta.
Comprarei o relógio se me for útil.

f) Com gerúndio precedido de preposição "em".


Exemplos:
Em se tratando de negócios, você precisa falar com o gerente.
Em se pensando em descanso, pensa-se em férias.

g) Com a palavra "só" (no sentido de "apenas", "somente") e com as con-


junções coordenativas alternativas.
Exemplos:
Só se lembram de estudar na véspera das provas.
Ou se diverte, ou fica em casa.

h) Nas orações introduzidas por pronomes relativos.


Exemplos:
Foi aquele colega quem me ensinou a matéria.
Há pessoas que nos tratam com carinho.
Aqui é o lugar onde te conheci.

4.4  Fatores de mesóclise

Emprega-se a mesóclise apenas quando o verbo estiver no futuro do presente


ou no futuro do pretérito do indicativo, desde que não haja justificativa para o
uso da próclise. O pronome fica intercalado ao verbo.
Exemplos:
Falar-lhe-ei a teu respeito. (Falarei + lhe)

88 • capítulo 4
Procurar-me-iam caso precisassem de ajuda. (Procurariam + me)
Observações
a) Havendo um dos casos que justifique a próclise, desfaz-se a mesóclise.
Por exemplo:
Tudo lhe emprestarei, pois confio em seus cuidados. (O pronome "tudo"
exige o uso de próclise.)
b) Com os tempos verbais futuro do presente e futuro do pretérito jamais
ocorre a ênclise.
c) A mesóclise é colocação exclusiva da língua culta e da modalida-
de literária.

4.5  Alterações sofridas pelos pronomes enclíticos

Os pronomes pessoais oblíquos átonos o, a, os, as podem sofrer algumas alte-


rações quando empregados após os verbos (ênclise).
a) Se o verbo terminar por vogal, os pronomes não se alteram.
Exs.:
Encontrei o relógio na praça.
Encontrei-o na praça.
b) Se o verbo terminar por -r, -s ou -z, ocorre a queda desses fonemas e o
pronome pessoal recebe a consoante -l, por questão de eufonia.
Exs.:
Pretendo resolver a questão.
Pretendo resolvê-la.
Encontramos o nosso material.
Encontramo-lo.
Fiz os exercícios.
Fi-los.
c) Quando o verbo terminar por -m ou ditongo nasal, o pronome pessoal
recebe o fonema nasal -n.
Exs.:
Encontraram o médico.
Encontraram-no.
Por favor, põe as revistas na estante.
Por favor, põe-nas na estante.

capítulo 4 • 89
d) Com os pronomes lhe e lhes, os verbos não sofrem alteração.
Exs.:
Devolvemos as provas aos alunos.
Devolvemos-lhes as provas.

Leia atentamente este pensamento do escritor francês Anatole France e ob-


serve as alterações ocorridas com as formas verbais e os pronomes oblíquos.
O povo faz bem a língua. Fá-las imaginosas e claras, vivas e expressivas. Se
fossem os sábios a fazê-las, elas seriam baças e pesadas.

4.6  Fusão de pronomes oblíquos

É muito comum entre os escritores, num discurso direto, a fusão de pronomes


oblíquos, facilitando, assim, a compreensão e visando à coesão e à clareza do
texto.
Ex.:
— Você entregará o prêmio ao vencedor?
— Sim, entregar-lho-ei.
Machado de Assis, em seu renomado romance Memórias póstumas de Brás
Cubas, empregou correta e precisamente, no texto, a fusão dos pronomes pes-
soais oblíquos lhe + o.
Pedi em voz baixa o doce; enfim, bradei, berrei, bati com os pés. Meu pai,
que seria capaz de me dar o sol, se eu lhoexigisse, chamou um escravo para me
servir o doce; mas era tarde.

4.7  Locução verbal e tempo verbal composto

Na língua portuguesa temos locução verbal formada por verbo auxiliar (ter, ha-
ver, ser, estar) + verbo no infinitivo (-R), ou verbo auxiliar + verbo no gerúndio
(-NDO) e tempo verbal composto formado por verbo auxiliar + verbo no particí-
pio (-DO, -TO, -GUE etc.).
Estudaremos primeiro essas formas verbais sem fator de próclise.

4.7.1  Locuções verbais com verbo no infinitivo (-R)

O pronome oblíquo pode aparecer em qualquer posição quando há uma locu-


ção verbal formada por verbo auxiliar + verbo no infinitivo. Exs.:

90 • capítulo 4
O jovem deve casar-se hoje.
O jovem deve se casar hoje.
O jovem se deve casar hoje.
Não posso me confessar autor dessas barbaridades.

(Carlos Drummond de Andrade)

4.7.2  Locuções verbais com verbo no gerúndio (-NDO)

Quando temos a construção verbo auxiliar + verbo no gerúndio, o pronome


oblíquo pode aparecer em qualquer posição. Ex.:
A mulher está acalmando-se.
A mulher está se acalmando.
A mulher se está acalmando.
Atualmente a justiça está se tornando inviável até para os ricos.

(Evandro Lins e Silva)

ATENÇÃO
Na fala brasileira, emprega-se preferencialmente o pronome entre os verbos, qual seja, a
segunda colocação.

4.7.3  Tempos verbais compostos

O pronome só não poderá aparecer após o particípio.


Exs.:
Eu me tenho deliciado com Mário Prata.
Eu tenho me deliciado com Mário Prata. (preferida no Brasil)
A terra devia ter se contorcido, fervendo em lama.

(Adonias Filho)

Alguns gramáticos afirmam que não convém usar o hífen nos tempos ver-
bais compostos e nas locuções verbais, pois, na fala brasileira, o pronome

capítulo 4 • 91
oblíquo se liga foneticamente ao verbo principal, e não ao verbo auxiliar. Ex.:
Precisamos nos unir!
Estudaremos, agora, a colocação dos pronomes nas formas verbais com fa-
tor de próclise.

4.8  Locuções verbais com verbo no infinitivo (-R)

Pode-se usar a próclise ao auxiliar ou a ênclise ao infinitivo. Exs.:


Todos a queriam ver. (todos = pronome indefinido)
Todos queriam vê-la.
Não me quis dizer o que era.
(Machado de Assis)

4.9  Locuções verbais com verbo no gerúndio (-NDO)

Pode-se usar a próclise ao auxiliar, ou a ênclise ao infinitivo.


Exs.:
Eles não a estavam empurrando. (não = advérbio de negação)
Eles não estavam empurrando-a.
Que relógio parado me estava governando?
(Cecília Meireles)

4.10  Tempos verbais compostos

O pronome só poderá aparecer antes do verbo auxiliar.


Exs.:
Espero que nos tenham visto. (que = conjunção subordinativa)
Era como se tivesse ido muito longe, ou se escondido atrás de uma parede
muito grossa.

(Raquel de Queirós)

4.11  Prescrição e uso: o caso da mesóclise

Apesar de haver uma regra, na Gramática Normativa, muito clara para o uso da
mesóclise, o que se vê no uso cotidiano uma extinção dessa forma de colocação

92 • capítulo 4
pronominal. Mesmo em textos formais, esse tipo de colocação caiu em desuso,
talvez por dar ao discurso um tom solene ou rebuscado.
Ou talvez se deva ao fato de que, apesar de parecer a regra mais simples de
colocação, visto que só acontece quando o verbo se encontra no futuro do pre-
sente ou no futuro do pretérito, colocar o pronome no meio do verbo pode ser
complicado para maioria dos usuários da língua. Então, para evitar o erro ou
não parecer pedante, o comum é encontramos a utilização de um fator de pró-
clise, como um pronome pessoal, assim evita-se o uso da mesóclise.

ATIVIDADES
01. Leia o texto a seguir, publicado no Diário Catarinense, em 29/10/2007.
Ao ler, absorvemos muito mais e melhor o conteúdo dos fatos porque a construção
de cenários e personagens depende exclusivamente de nossa imaginação, nos permitindo
refletir e nos transportar para determinadas situações.
Você concorda com a colocação pronominal empregada pelo autor do texto? Justifique
sua resposta.

02. Empregue corretamente o pronome oblíquo átono.


a) Quero contar uma notícia. (lhe)
b) A jovem estava beijando? (o)
c) Os pais tinham permitido? (o)
d) Não podemos ensinar a lição? (lhe)
e) Ela sempre estava olhando. (me)
f) Ninguém havia visto no baile.

03. Incorpore corretamente os pronomes aos tempos compostos e às locuções verbais.


a) Teriam falado a meu respeito? (lhe)
b) E se eu houvesse enganado? (me)
c) Era um vidrinho de perfume cuja essência já tinha evaporado. (se)
d) Haviam procurado em toda parte. (o)
e) Ela aplaudia a transformação que ia operando em mim. (se)
f) O marido está aconselhando a desistir da viagem. (a)
g) Eu deveria reunir a eles para a escalada do morro. (me)

capítulo 4 • 93
REFLEXÃO
Agora temos a convicção de como é importante o domínio da Sintaxe em língua portuguesa.
Aprendemos a estabelecer relações entre os nomes, entre os verbos e seus complementos;
aprendemos a empregar corretamente os pronomes pessoais oblíquos não somente em frases
simples, mas também em frases que contemplam locuções verbais e tempos verbais compostos.
Na produção de um texto, então, devemos conhecer todos esses casos, a fim de que
tenhamos um texto claro, coesivo e, sobretudo, correto.
As normas que acabamos de traçar acerca da topologia pronominal não devem ser vistas
como preceitos intocáveis, ficando, em muitos casos, subordinadas às exigências da ênfase,
da harmonia e espontaneidade da expressão.

LEITURA
Para saber mais sobre a colocação dos pronomes oblíquos, leio o artigo de Luci Maria Melo
Leon, intitulado A teoria gramatical na colocação dos pronomes oblíquos átonos, disponível
em: <http://www.filologia.org.br/revista/artigo/10(28)04.htm>.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEREDO, José Carlos de. Fundamentos da Gramática do Português. Rio de Janeiro: Zahar,
2010.
________. Iniciação à Sintaxe do Português. Rio de Janeiro: Zahar, 1990.
AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo:
Publifolha, 2008.
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Lucerna,
2009.
CASTILHO, Ataliba T. de. Nova gramática do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2010.
CEGALLA, D. P. Novíssima gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Nacional, 2005.
CUNHA, Celso e CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Lexikon:
Aveiro, 2009.
ROCHA LIMA, Carlos Henrique da. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1998.
SACCONI, L. A. Nossa gramática: teoria e prática. São Paulo: Atual, 1999.
________. Gramática essencial ilustrada. São Paulo: Atual, 1999.

94 • capítulo 4
5
Padrões oracionais
do português
brasileiro
5.  Padrões oracionais do português brasileiro
O estudo da Sintaxe sempre foi considerado pelos alunos algo extremante difí-
cil. Isso porque a forma como se ensina, levando o aluno a decorar classifica-
ções, não ajuda a facilitar o processo nem deixá-lo prazeroso. Mas é um estudo
importante, pois o conhecimento da Sintaxe nos auxilia no processo de inter-
pretação dos textos, e, mais ainda, no processo de elaboração dos textos.
Nesse capítulo, vamos abordar o estudo da Sintaxe pelo viés das produções
frasais incomuns, ou seja, vamos estudar as frases que encontramos no nosso
dia a dia, não nas frases já elaboradas e prontas presentes nos compêndios gra-
maticais. Vamos tentar uma abordagem sociolinguística da Sintaxe.

OBJETIVOS
Por meio dos conteúdos expostos nesse capítulo você será capaz de:
•  Conhecer melhor os diversos padrões oracionais da língua portuguesa;
•  Entender como o português é uma língua de tópico;
•  Entender porque o estudo da Sintaxe é importante.

5.1  Características do português popular e do português culto

A língua é, sem dúvida, o meio de comunicação mais comum e mais eficiente.


É por meio dela que interagimos socialmente; inclusive é possível dizer que o
homem só se organizou em sociedade porque desenvolveu uma linguagem ar-
ticulada. Por meio da língua, construímos cultura e nos aculturamos, e é dessa
forma que nos tornamos membros de grupos sociais. Sendo assim, é lícito di-
zer que a língua reflete a sociedade que a utiliza.
Cada nova forma de interação social molda as mudanças pelas quais a lín-
gua passa, pois a língua se adequa à necessidade dos falantes.

96 • capítulo 5
EXEMPLO
O surgimento da Internet nos trouxe uma nova forma de utilizar a língua, ou seja, o interne-
tês. Isso trouxe para o nosso cotidiano expressões como: tuitar, vc, kd, blz etc., no âmbito da
língua escrita.

Não é preciso ser linguista para perceber as diferenças entre o português


culto e o português popular. Ao analisar principalmente a fala, percebemos que
o uso que fazemos da língua, em nosso dia a dia, não segue de forma rígida
aquilo que é pregado pelas Gramáticas Normativas.
O português brasileiro se divide no que se convencionou chamar de portu-
guês popular ou vernáculo brasileiro e o português culto brasileiro, ou seja, as
normas vernaculares e as normas cultas.
A escolarização formal só passou a ser difundida no Brasil a partir de 1808,
quando da vinda da Corte portuguesa para o Brasil, mas, mesmo assim, não
era de acesso igualitário. A língua, então, era passada de pai para filho, e cada
pessoa usava a língua oficial de acordo com as próprias regras, de acordo com
as próprias necessidades, o que foi levando a variações na língua portuguesa,
acarretando um português diferente daquele falado pelas elites escolarizadas:
a língua falada pelo povo.
Mas as mudanças ocorridas no português não ficam por aí. Durante esses
500 anos de uso do português brasileiro, outros fatores levaram às variações,
como a região, a classe social e até a idade e o sexo do falante.
Podemos perceber uma distinção muito clara, em algumas situações, das
diferenças entre o português culto e o português falado. É o que acontece com
o uso dos pronomes pessoais. Há casos de uso desses pronomes que mesmo no
português culto quase não se vê. Vejamos o exemplo.
Dar-te-ia meu apoio se tu merecesses.
No caso anterior, vemos o pronome oblíquo em posição de mesóclise, ou
seja, no meio do verbo. Diz a gramática normativa que se deve usar a mesóclise
apenas com verbos no futuro do presente ou futuro do pretérito, e caso não haja
fator de próclise.
No cotidiano, mesmo em situações de uso da norma culta, a não ser que o
contexto seja muito formal, percebe-se que o usuário da língua dá preferência

capítulo 5 • 97
pela próclise, utilizando um fator que a justifique, como pode-se perceber no
exemplo a seguir.
Eu te daria meu apoio se tu merecesses.
Além do uso dos pronomes, em que se percebe muito claramente a varia-
ção, há também tempos verbais que deixaram de ser usados, sendo substituí-
dos por outros de igual valor semântico, mas que apresentam uma forma mais
simples de uso, como o uso do pretérito mais-que-perfeito. Diz a regra que esse
tempo verbal deve ser usado para assinalar um fato passado em relação a outro,
também no passado, como no exemplo:
A mãe já o avisara quando a notícia oficial chegou.
No dia a dia, o que se percebe é a predileção pelo uso da forma composta,
com verbo auxiliar.
A mãe já o havia avisado quando a notícia oficial chegou.
Além das escolhas apontadas anteriormente, há que se ressaltar os usos
informais da língua, usos esses que encontramos no nosso cotidiano, em in-
terações informais, como com a família e amigos. Percebemos nessa variação
o uso de gírias, e de expressões populares. Isso não quer dizer que é uma for-
ma errada de se usar a língua, mas sim a utilização de uma variante da língua,
que segue regras próprias, mas não é inferior à norma culta, sendo também útil
à comunicação.

CONEXÃO
Assista ao vídeo Norma culta e variedade linguística, disponível em: <https://youtu.be/
pWvuF0U9zv4> para conhecer um pouco mais sobre as variedades da língua portuguesa.

Se a língua é parte da cultura, e as culturas são diversas, então a língua tam-


bém o é. Se são muitos os contextos de interação verbal, e a língua se adequa
aos contextos, então serão muitas as línguas dentro da mesma língua. Nós, ao
utilizarmos a língua, fazemos as adequações necessárias aos contextos de uso.
Fica muito claro isso quando analisamos a forma como falamos com o profes-
sor, em sala de aula, e em casa, com os familiares: na escola, por ser um am-
biente mais monitorado, nossa preocupação em usar a variante culta é maior;
já em um ambiente familiar, menos monitorado, nossa preocupação com o uso
do idioma é menor.

98 • capítulo 5
Podemos, então, dizer que são muitas as variantes que determinam a diver-
sidade na qual a língua, que é heterogênea por natureza, é transformada em
discurso pelo falante.

5.2  A estrutura da língua portuguesa

Vamos relembrar agora algo que já estudamos em Sintaxe do Português I. Ape-


sar de termos mais comumente a estrutura S+ V+ O, há, na língua portuguesa,
outros padrões oracionais que devem ser levados em consideração. Ao fazer
esse levantamento, vamos nos apoiar no período simples, visto que o período
composto por coordenação nada mais são que dois períodos simples unidos
por questões da ordem do sentido; e os períodos compostos por subordinação
fazem o papel dos sintagmas nominais (substantivo, adjetivo e advérbio).
Vamos aos padrões oracionais.

5.2.1  Termos oracionais

São os chamados termos essenciais do tipo verbo ou verboide:


a) Transitivo: João comeu o bolo.
b) Intransitivo: O gato morreu.
c) De ligação: Lu é bonita.

É importante ressaltar que os verbos, além de simples, podem assumir a


forma composta, a exemplo de “Eles têm ameaçado” (ter/haver + particípio in-
variável); locucional, a exemplo de “Eles andam ameaçando” (ter/haver e ou-
tros aspectuais + infinitivo ou gerúndio); passiva, a exemplo de “Eles são amea-
çados” (ser/estar/ficar + particípio variável); ou conglomerada, a exemplo de
“Eles jogam bola”.

5.2.2  Essenciais do tipo nome ou pronome transferido a verbo

Há, ainda, os termos essenciais que classificamos como nome e que mantêm
uma relação com o sujeito da oração, sendo que o verbo quase não apresenta
necessidade de aparecer na frase:
a) Predicativo do sujeito: Ela é bonita.
b) Predicativo do objeto: Ela julgou o Luiz incompetente.

capítulo 5 • 99
5.2.3  Essenciais do tipo nome ou pronome não transferido a verbo (substantivos):

a) Sujeito determinado: Ana comentou sobre a eleição.


b) Sujeito indeterminado: Falam sobre o escândalo.

5.2.3.1  Integrantes do nome (substantivos):

Complemento nominal: Adiei minha ida à Londres.

5.2.3.2  Integrantes do verbo (substantivos):

a) Objeto direto: Saramago escreveu Memorial do Convento. b) objeto in-


direto: A Terra deve a sua vida ao Sol.

ATENÇÃO
Uma variante do objeto indireto é o complemento adverbial de lugar (CA) ou locativo,
exigido pela semântica de alguns verbos transitivos, a exemplo de “Eu vou a Goiás”.

5.2.3.3  Adjuntos do nome (adjetivos):

a) Adjunto adnominal: Adoro meu lindo filho querido.


b) Aposto restritivo: Meu amigo artista viajou.
c) Aposto explicativo: Pelé, o rei do futebol, viajou.

5.2.3.4  Adjuntos do verbo (advérbios):

a) Adjunto adverbial: Ontem viajei de avião pela TAM.


b) Agente da passiva: Ele foi demitido pelo chefe.

O vocativo, que frequentemente tem por núcleo um substantivo, a exemplo


de “Senhor, tende piedade de nós!” , não faz parte da estrutura oracional, por
se tratar de uma expressão de chamamento não inserida no dictum. Algo se-
melhante ocorre também com alguns nomes denominados advérbios pela gra-
mática tradicional, com a diferença de que eles funcionam como moduladores

100 • capítulo 5
de frase, a exemplo de “Felizmente, ele dispensou a secretária” e “Não sairei
com você”.

5.3  Padrões frasais básicos

A seguir, são apresentados, os padrões frasais encontrados em lín-


gua portuguesa.
a) PADRÃO I: S+VI ± (AADV) → Eles morreram.
b) PADRÃO II: S+VT+OD± (AADV) → Ele ouviu isto na reunião.
c) PADRÃO III: S+VT+OI± (AADV) → Nós obedecemos ao diretor, hoje.
d) PADRÃO IV: S+VT+OD+OI± (AADV) → Ele ofereceu um livro ao rei, hoje.
e) PADRÃO V: S+VL+PS± (AADV) → Elas estão tranquilas hoje. Ela estava
assustada na reunião.

5.3.1  Padrões frasais compostos por superposição

f) PADRÃO I + PADRÃO V = S+VI+PS± (AADV) → Elas morreram tranqui-


las hoje.
g) PADRÃO II (ou III ou IV) + PADRÃO V = S+VT+OD/OI+PS ± (AADV) →
Ela ouviu isto assustada, na reunião.

5.3.2  Variações nos padrões frasais

Apesar de a língua portuguesa, como as demais, dar preferência para uma or-
dem estrutural comum, há variação nessa estrutura. Veremos, a seguir, outros
padrões frasais que também ocorrem em língua portuguesa.
h) PADRÃO I: S+VI± (AP) ± (AADV) → Eles foram assassinados pelo la-
drão hoje.
i) PADRÃO III: S+VT+CA± (AADV) → Nós moramos na rua.
j) PADRÃO IV: S+VT+OD+CA± (AADV) → Ele pôs o carro na garagem.
k) PADRÃO II + PADRÃO V = S+VT+OD+PO± (AADV) → O juiz declarou o
réu inocente.
A rigor, o predicativo do objeto da gramática tradicional inexiste, porque
corresponde ao predicativo do sujeito, como se pode constatar no exemplo re-
ferido, em que “inocente” é predicativo do sujeito de uma oração em que verbo
e conjunção encontram-se elípticos (que o réu é inocente).

capítulo 5 • 101
5.4  Português brasileiro: língua de tópico

Para entender como as línguas funcionam, Li e Thompson (apud PONTES,


1987) propuseram uma tipologia das línguas com base na forma como as sen-
tenças são elaboradas, apresentando tópicos-comentários ou sujeito-predica-
do. São elas.
a) Línguas com proeminência de sujeito – a sentença é construída na rela-
ção sujeito-predicado.
b) Línguas com proeminência de tópico – o que determina a estrutura da
sentença é a relação tópico-comentário.
c) Línguas com proeminência de tópico e de sujeito – línguas que apre-
sentam duas construções de sentença em quantidade bastante semelhante:
tópico-comentário e sujeito-predicado.
d) Línguas sem proeminência de tópico e de sujeito – quando sujeito e tó-
pico se fundem, deixando de ser categorias distintas.

Estamos chamando de tópico o sintagma nominal ou preposicional, exter-


no à sentença, normalmente já ativado no contexto discursivo, sobre o qual se
faz uma proposição por meio de um comentário. As construções de tópico são,
portanto, estruturas sintaticamente diversas das construções sujeito+ verbo+
objeto (SVO), uma vez que apresentam um tópico marcado seguido de um co-
mentário, constituído de uma sentença com sujeito e predicado.
A língua portuguesa é uma língua que dá preferência para o sujeito, com
apagamento do objeto. Inclusive, na língua falada, é muito comum trazer o ob-
jeto para o início da frase.
Segundo Orsini e Vasco (2007), são quatro os tipos de estratégias de cons-
trução de tópico.
1. Anacoluto: não há relação argumental entre o tópico e o verbo, ou seja,
não há relação sintática entre o tópico e o verbo; há apenas uma relação semân-
tica: o tópico serve como introdução ao assunto que se vai abordar.
Ex.:
Doce eu gosto de gelatina, gosto de pudim.
A seleção brasileira, quando começou a Copa do Mundo, um campeonato
que é pra valer mesmo a coisa muda de figura.

102 • capítulo 5
2. Topicalização: o tópico apresenta uma função sintática na oração, ten-
do sido apenas deslocado para a posição do sujeito.
Ex.:
Carro, eu também acho ______ bonito.
A carne, eu já deixo _______ de um dia pro outro.
3. Deslocamento à esquerda: é a presença de um pronome-cópia ou de ou-
tro termo vinculado ao tópico na sentença-comentário.
Ex.:
As praias do nordeste elas são todas muito lindas.
Olha, eu acho que a violência ela nasce com cada um.
4. Tópico-sujeito: o tópico ocupa a posição do sujeito de forma que há até
o estabelecimento da concordância verbal.
Ex.:
Essas janelas estão ventando.
As pessoas têm o hábito de evitar o Jardim Botânico achando que vai ser
pior, a Lagoa sobrecarrega muito.

Segundo os estudos de Orsini (2007), após analisar uma quantidade consi-


derável de sentenças da língua portuguesa, tanto da fala culta, quanto da oral,
apesar de haver uma predileção por estruturas de deslocamento à esquerda de
sujeito e de topicalização de objeto direto, pode-se concluir que a língua portu-
guesa é uma língua de tópico-comentário e sujeito-predicado, ou seja, é uma
língua mista do ponto de vista da estruturação das sentenças.
É muito comum na língua portuguesa a presença de construções de frases
de tópico-sujeito, em que o sujeito expresso não é o agente da ação verbal, é
apenas o tópico. Vamos ver os exemplos.

a) A caminhonete cabe muita gente.


b) Essa janela bate um vento bom.
c) A televisão estragou.

Podemos observar que os termos em destaque exercem a função de sujeito,


mas não exercem a ação expressa pelo verbo. Em (a), o termo a caminhonete é
o lugar onde cabe muita gente; em (b), semanticamente, entendemos a janela
também como lugar por onde passa o vento; e finalmente em (c) a televisão não
se estragou sozinha, na verdade ela é afetada pela ação de outrem.

capítulo 5 • 103
Esse tipo de construção é muito comum em língua portuguesa.
Além desses tipos, é muito comum construções de tópico-sujeito,
com retomada
pronominal no interior da oração. Nesses casos, percebemos a retomada do
sujeito pelo pronome. O ponto importante aqui é que existe uma distribuição
complementar entre a presença do pronome e a concordância entre o termo
anteposto e o verbo.
Estas casas batem muito sol nelas.
Essa estante, o João põe muita coisa nela.
O João, pifou o carro dele.
Essa competência, ela é de natureza mental.
Esse uso serve, principalmente para justificar a concordância verbal.

5.5  O uso do pronome ele como acusativo

Vimos, no capítulo 4, as regras de utilização dos pronomes oblíquos. Segundo


a Gramática Normativa, o pronome oblíquo funciona como objeto da oração, e
o pronome reto (eu, tu, ele, nós, vós, eles) deve funcionar apenas como sujeito
das orações. No entanto, é muito frequente, no português falado do Brasil, o
pronome reto aparecer na função de objeto, como nos exemplos a seguir.
Eu vi ele ontem no shopping.
Eu vou encontrar ela amanhã.

Segundo a gramática normativa, os usos anteriores não estão corretos. O


correto, segundo a norma, seria o seguinte.
Eu o vi ontem no shopping.
Eu vou encontrá-la amanhã.

104 • capítulo 5
No padrão formal, as orações anteriores não são aceitas, mas são tão usadas
em diversas situações de comunicação, que podemos encontrar seu uso em tex-
tos poéticos, como é o caso da canção a seguir.

... Sempre estar lá e ver ele voltar


não era mais o mesmo, mas estava em seu lugar
sempre estar lá e ver ele voltar
o tolo teme a noite como a noite vai temer o fogo
vou chorar sem medo
vou lembrar do tempo
de onde eu via o mundo azul...

A letra da canção traz o uso do pronome ele como objeto direto no verso:
“Sempre estar lá e ver ele voltar.” Pelas regras da gramática normativa, o correto
seria “e vê-lo voltar”. No caso da canção, temos a chamada “liberdade poética”,
ou seja, em textos literários, o autor pode usar a língua como bem lhe aprouver,
porque o mais importante nesse tipo de texto não é a mensagem em si, mas a
forma como ela é elaborada. No caso da canção em análise, percebemos que o
uso do pronome ele como objeto se justifica por dois motivos.
1. Criar os efeitos de sonoridade e ritmo.
2. Aproximar a linguagem da música ao português usado no cotidiano.
O uso do pronome pessoal reto na função de objeto da oração, como em “eu
vi ele” em vez de “eu o vi”, é um exemplo claro de mudança linguística que já
aconteceu e está consolidado em diversas variedades do português brasileiro.
Falta apenas a gramática normativa aceitar o uso como correto e, por serem
usadas por quase a totalidade dos falantes, já deveriam estar gramaticalizadas,
sendo, portanto, aceitas na língua escrita também.

5.6  O uso do pronome ele na oração relativa copiadora (Preferência


pela relativa cortada)

Às orações em que há a retomada de um termo na outra por meio do pronome


relativo, damos o nome de orações relativas. Vejamos o exemplo a seguir.
O menino sobre quem falei é aquele.
No caso anterior, temos duas orações.
O menino é aquele. / Falei sobre o menino.

capítulo 5 • 105
Ao juntar os dois períodos, temos que usar um pronome relativo no lugar do
termo que se repete nas duas orações, no caso, o menino. O pronome relativo
exerce, na oração subordinada relativa, uma função sintática. É por meio do
pronome relativo que as orações entram em conexão. Caso contrário, teríamos
dois períodos simples. Os relativos são recursos importantíssimos no processo
de coesão textual.
Para Tarallo (1983), existem duas estratégias de relativização: a estratégia
do pronome relativo, e a do pronome resumitivo, também chamada de relati-
va copiadora.
Vejamos os exemplos.
1. Este é o menino com quem falei ontem.
2. Este é o menino que falei com ele ontem.
A oração 1 apresenta uma oração relativa formada pela utilização do prono-
me relativo; já a segunda é um exemplo de relativa copiadora. Percebemos que
na segunda há a retomada da expressão menino duas vezes: uma pelo que, e a
segunda pelo pronome ele.
Segundo Tarallo (1983), a partir da segunda metade do século XIX, come-
çam a surgir as relativas cortadas, em que se percebe a falta das preposições
diante dos objetos indiretos.
Vejamos o exemplo.
Este é o homem que eu falei ontem.
Podemos dividir o período em dois: Este é o homem. Falei com o homem
ontem. Percebemos que na relativa copiadora não há a presença da preposição
diante do objeto indireto, homem, que é retomado pelo relativo que. Diante do
relativo deveria haver a preposição com, ou seja, de acordo com a Gramática
Normativa, a oração deveria ser construída da seguinte forma.
Este é o homem com quem eu falei ontem.
A relativa cortadora decorre do apagamento da preposição antes do prono-
me relativo. Para Tarallo (1983) as relativas cortadas surgem do hábito que o
falante tem de utilizar elipse em diversos contextos.
No portugues brasileiro, há uma preferência pela relativa cortadora em de-
trimento da relativa padrão, ou seja, prefere-se usar:
O livro que a capa está rasgada é meu. (relativa cortadora)
O livro cuja capa está rasgada é meu. (relativa padrão)
Além disso, outra marca do PB é a tendência a se preencher o sujeito e esva-
ziar o pronome, como vimos no item 5.5, o que leva Tarallo (1983) a afirmar que

106 • capítulo 5
o processo de relativização está relacionado à pronominalização do objeto, ou
seja, se enquandram na mesma mudança gramatical.
No caso das relativas copiadoras, em que há a retomada por um pronome, o
relativo perde sua função sintática, e passar a ser apenas uma conjunção.
Assim, podemos dizer em PB, temos três estratégias quando precisamos re-
lativizar um termo, sendo elas.
1. Esse é o menino a quem eu devo desculpas. (relativa padrão)
2. Esse é o menino que eu devo desculpas. (relativa cortada)
3. Esse é o menino que eu devo desculpas para ele. (relativa copiadora)

A estratégia apresentada no enunciado 1 é a única aceita pela Gramática


Normativa. Já a estratégia apresentada em 2 é rejeitada pela tradição grama-
tical por não trazer antes do pronome relativo a preposição regida pelo dever
(que pede um objeto direto - desculpas; e um indireto - a quem). A copiadora,
por sua vez, é tida como errada por propiciar a substituição do termo antece-
dente duas vezes na segunda oração, ou seja, o termo menino é (aparentemen-
te) substituído pelo relativo que e pela preposição + ele (para ele). Nesse caso,
dizemos aparentemente substituído, porque, como vimos anteriormente, no
caso da copiadora, o pronome perde suas características de pronome e se torna
apenas a conjunção.
O que podemos concluir disso é que as relativas padrões remontam ao pe-
ríodo de formação do português. A relativa copiadora é a estratégia mais antiga,
pois seu uso remonta ao latim. Já a cortada é bem mais recente, e a mais usado
na atualidade pelos falantes da língua portuguesa.
Para Bagno (2001), não existe erro em língua, mas sim variação e mudan-
ça, que não são acidentais, antes são manifestações efetivas de línguas huma-
nas vivas.

CONEXÃO
Assista ao vídeo A Língua falada e a Língua escrita sobre polêmica em torno do li-
vro didático Por uma vida melhor, da professora Heloísa Ramos. Disponível em:<https://
youtu.be/cH9fTlHgne0>.

capítulo 5 • 107
5.7  A mudança pronominal no português brasileiro: tu/você; vós/
vocês; nós/a gente

A entrada dos pronomes “você” e “a gente” na língua portuguesa acabou acar-


retando alguns problemas de ordem morfossintática, como o surgimento de
novas formas pronominais, simplificação da forma verbal e preenchimento
obrigatório do sujeito.
O pronome a gente surge do substantivo gente passando à função de pro-
nome. Gente, antes usado para se referir a um grupo de pessoas, passa a ser
usado para se referir a um grupo de pessoas com a presença do enunciador. Ou
também pode ser usado para indicar o descomprometimento do enunciador,
tornando seu discurso mais vago, mais genérico, pois a gente pode englobar
as demais pessoas, como eu + você(s) + ele(s) + todo mundo ou qualquer um.

CONEXÃO
Para saber mais sobre o surgimento e o uso do pronome “a gente”, leia o artigo Um Estudo
Preliminar Sobre O “A Gente”: Origem E Uso, de Adilma Vieira e Cristiane Namiuti-Temponi dis-
ponível em: <http://www.celsul.org.br/Encontros/10/completos/xcelsul_artigo%20(1).pdf>.
Nesse artigo, as autoras propõem um estudo sobre o pronome em questão, sua origem e usos,
e o como ele se comporta sintaticamente.

O pronome você surge como uma modificação sofrida pelo pronome Vossa
Mercê, e suas variações, como vosmecê, vosmicê, vassuncê. Segundo Castilho
e Elias (2012):

Vossa Mercê era um tratamento dispensado aos reis. Com o desenvolvimento da bur-
guesia, os novos-ricos quiseram esse tratamento para eles também. Indignado, o rei
passou a reclamar Vossa Majestade para ele, lembrando decerto aos burgueses que
uma forca tinha sido convenientemente erigida defronte ao paço, caos eles resolves-
sem repetir a gracinha.

108 • capítulo 5
De todo modo, Vossa Mercê e derivados era um pronome de tratamento cerimonio-
so, dado “pelos de baixo” “aos de cima”. Veja o que é a roda da fortuna: pois não é
que o derivado você passou a ser no português brasileiro um tratamento de igual
para igual? Para o tratamento cerimonioso, inventou-se o senhor/ senhora, com suas
variantes sior, sor, seu/ nhô, nhora, sua. (CASTILHO e ELIAS, 2012, p. 91)

Vossa Mercê era um tratamento dispensado aos reis. Com o desenvolvimen-


to da burguesia, os novos-ricos quiseram esse tratamento para eles também.
Indignado, o rei passou a reclamar Vossa Majestade para ele, lembrando decer-
to aos burgueses que uma forca tinha sido convenientemente erigida defronte
ao paço, caos eles resolvessem repetir a gracinha.
De todo modo, Vossa Mercê e derivados era um pronome de tratamento
cerimonioso, dado “pelos de baixo” “aos de cima”. Veja o que é a roda da for-
tuna: pois não é que o derivado você passou a ser no português brasileiro um
tratamento de igual para igual? Para o tratamento cerimonioso, inventou-se o
senhor/ senhora, com suas variantes sior, sor, seu/ nhô, nhora, sua. (CASTILHO
e ELIAS, 2012, p. 91)
Como sabemos, os pronomes de tratamento concordam com os verbos de
terceira pessoa. No entanto, usamos o você para nos referirmos a segunda pes-
soa do discurso, ou seja, você retoma a pessoa com que se fala. O uso do pro-
nome você acabou acarretando problemas de ordem verbal, mas também de
concordância com os pronomes. Vejamos alguns exemplos.
1. Você disse para eu te dar o dinheiro do teu pagamento.
Há, no exemplo 1, uma mistura de tratamentos, como apregoam as gra-
máticas normativas, pois usamos você e teu. Segundo a norma, o correto seria
construir o enunciado da seguinte maneira.
2. Você disse para eu dar o dinheiro do seu pagamento.
Ou seja, se o pronome você faz flexão com a terceira pessoa, devemos ade-
quar o uso dos pronomes a essa concordância.
Mas o problema não para por aí. Ao fazer a concordância do você com pro-
nomes de terceira pessoa, podemos acabar criando ambiguidades, como no
exemplo a seguir.
3. João, vi Pedro com sua namorada.
A ambiguidade reside no fato de que sua pode estar se referindo à namora-
da de João (a segunda pessoa, pessoa com que se fala); quanto à namorada de
Pedro (a terceira pessoa, pessoa de quem se fala).

capítulo 5 • 109
Para evitar a ambiguidade causada pelo uso do pronome seu/sua, que po-
dem se referir tanto à pessoa com quem se fala, quanto à pessoa de quem se
fala, há as estratégias de uso do possessivo dele/ dela, como no exemplo a seguir.
4. João, vi Pedro com a namorada dele.
Além disso, percebe-se também, por conta de divergência entre pessoa e
concordância, uma mudança, na oralidade, do uso dos verbos no modo impe-
rativo, ou seja, mistura-se também o pronome você com os verbos flexionados
de acordo com a segunda pessoa.

No anúncio anterior, percebemos que o verbo vem está flexionado de acor-


do com tu, e não com você; caso contrário, deveríamos ter: Venha pra Caixa
você também. Nota-se, novamente, uma mistura de tratamentos.
Além das mudanças de ordem pronominal, a entrada de você e a gente no
PB, segundo alguns teóricos, acarretou também uma mudança de paradigma
na flexão dos pronomes. Houve, de certa forma, um empobrecimento dos pro-
nomes, pois antes o PB era composto de seis flexões pronominais; hoje, são
apenas três: (eu falo, tu/você/ele/a gente fala, vocês/eles falam.
Isso leva alguns teóricos a afirmar que o PB está passando de língua de su-
jeito não preenchido (Falamos muito.) para uma língua de sujeito preenchido
(Nós falamos muito).
Com relação ao uso de nós/a gente, não há um estudo detalhado que mostre
a frequência de uso de cada um. No entanto, o que apregoam as Gramáticas

110 • capítulo 5
Normativas (GB) é que a gente só pode ser usado na fala, em contextos infor-
mais de comunicação.
Já o uso do par tu/você já tem sido estudado. Lopes (2007) diz que:

A variação entre você e tu apresenta um comportamento diferenciado nas diversas


regiões do país. Em termos evolutivos, o uso majoritário de tu – forma recorrente no
século XIX – só será suplantado por você por volta dos anos 20-30 do século passa-
do. No último quartel do século XX, no entanto, há um retorno do pronome tu à fala
carioca sem a marca flexional de segunda pessoa. Nas três capitais do Sul também
há uma distribuição irregular: a ausência de tu em Curitiba, sua concorrência com
você em Florianópolis e Porto Alegre, com uma interessante particularidade: em Flo-
rianópolis, tu é menos frequente que você, mas tende a aparecer mais com a flexão
verbal marcada, enquanto em Porto Alegre, tu é mais frequente, mas a flexão verbal é
mais rara. Falta-nos uma descrição mais detalhada dessa variação nas Regiões Norte
e Nordeste. (LOPES, 2007, p. 2)

O que se percebe é que mesmo a GB não apresenta uma visão coerente


quanto ao uso e à classificação dos pronomes você/a gente. As gramáticas apre-
sentam ainda três pessoas do discurso e suas formas plurais, ou seja:

1ª. Pessoa do Singular: Eu 1ª. Pessoa do Plural: Nós


2ª. Pessoa do Singular: Tu 2ª. Pessoa do Plural: Vós
3ª. Pessoa da Singular: Ele/Ela 3ª. Pessoa da Plural: Eles/Elas

As Gramáticas, além de não trazerem as formas usadas na linguagem colo-


quial, ainda delimitam o vós apenas como um plural do tu. No entanto, como
ainda hoje na língua francesa, por exemplo, o vós seria uma forma usada para
indicar a falta de intimidade entre os falantes.
A própria forma a gente aparece categorizada de formas diferentes: pode ser
uma forma de a primeira pessoa se representar, pode ser um pronome indefini-
do, ou também uma forma de indeterminar o sujeito.
Castilho e Elias (2012) já trazem, em sua gramática, um novo quadro dos
pronomes. Segundo eles, o quadro dos pronomes no PB, na atualidade, deve
ser retratado da seguinte forma.

capítulo 5 • 111
PESSOA PB FORMAL PB INFORMAL
1ª. Pessoa do singular Eu Eu, a gente
Tu/Você, o senhor, a
2ª. Pessoa do singular Você/ocê/cê, tu
senhora
3ª. Pessoa do singular Ele, ela Ele/ei, ela
1ª. Pessoa do plural Nós A gente
Vós (de uso muito restrito),
2ª. Pessoa do plural os senhores, as senhoras, Vocês/ocês/cês
vocês
3ª. Pessoa do plural Eles, elas Eles/eis, elas

Para Castilho e Elias (2012), percebe-se a recorrência de nós e a gente na po-


sição de sujeito. De acordo com a língua padrão, a gente se conjuga com verbo
de terceira pessoa do singular.
No entanto, alguns outros usos são encontrados, como:
a) A gente não vai fazer o que você está pedindo. (Português padrão)
b) Nós conversamos muito ontem, e agora a gente começou a nos enten-
der. (Português padrão)
c) Nós conversou muito ontem, e agora a gente começamos a se entender.
(Português não padrão)
Quanto à escolha entre nós e a gente, percebe-se que a gente entrou no PB
como uma forma de substituir o pronome nós, mas também como eu. A troca
da primeira pessoa do singular para a primeira pessoa do plural é um jogo retó-
rico de tentativa de apagamento do enunciador: enquanto a forma de primeira
pessoa põe o enunciador em destaque, a primeira pessoa do plural o coloca em
segundo plano.
Já no caso do tu/você, percebe-se que há a mistura de tratamentos, como
abordamos anteriormente, mas há casos em que o enunciador faz o uso da se-
gunda pessoa para demarcar distanciamento, como em:
d) Olhe o que teu filho aprontou! Eu te falei para ficar de olho nele!
Segundo Lopes (2007), o quadro de pronomes que se encontra na maioria
das gramáticas normativas não reflete a realidade da língua portuguesa. É pre-
ciso identificar claramente o que se entende por pronome, diferenciando-o das
demais classes gramaticais. A autora defende que os dois quadros devem ser
apresentados aos alunos, não mais apenas o primeiro nem apenas o segundo.

112 • capítulo 5
O aluno precisa conhecer também as formas arcaicas, pois, apesar do desuso,
em algumas situações específicas, elas ainda ocorrem.

ATIVIDADES
01. Após analisar sintaticamente as frases a seguir, identifique o padrão frasal de cada
uma delas.
a) João fez a tarefa.
b) Notícia suspeita quebrou a suave harmonia.
c) Gostamos de nossos pais.
d) Todos responderam ao meu apelo.
e) Desejo-lhe muita prosperidade.
f) Flávio há de emprestar o carro a Maurício.
g) Devemos-lhe uma retribuição.
h) Havia muitas crianças na igreja.
i) Faz cinquenta anos.
j) Neva.

02. Adeque os enunciados à norma-padrão.


a) João viu ela no cinema ontem.
b) Me empresta um dinheiro?
c) O menino que eu gosto é aquele.
d) Aquele velho senhor que acabamos de encontrar sentiu-se mal.
e) A garota que vivo querendo sair começou a namorar um amigo meu.
f) Procuro conviver com pessoas que a vida delas tenha sido rica em experiências.

03. 3. Os pronomes pessoais do caso oblíquo, de acordo com a norma culta, não po-
dem exercer a função de sujeito nas orações. Sendo assim, reescreva as frases a seguir,
corrigindo-as.
a) Convidei ela para a festa de aniversário.
b) Vi ele no cinema.
c) Deram o livro para eu.
d) Emprestaram o caderno para tu.

capítulo 5 • 113
04. Leia a chamada da reportagem a seguir.

Disponível em: <http://noticias.r7.com/blogs/portugues-de-brasileiro/files/2014/07/


FOTO_PORTUGAL3.jpg>.

a) Há, no enunciado, um desvio quanto à norma culta no que diz respeito à concordância
verbal, identifique-a e corrija-a.
b) Há outra explicação para o desvio gramatical, além da falta de conhecimento das regras
de concordância verbal por parte do enunciador? Qual?

REFLEXÃO
Nesse capítulo abordamos questões que da língua que são deixadas de fora pela Gramática
Normativa. Apesar de a Gramática servir como um conjunto de regras para unificar princi-
palmente a forma de escrita, ao deixar de fora usos já sacramentados da língua, ela coopera
para o que temos chamado de preconceito linguístico.
Ora, se a mudança e a variação fazem parte do processo de transformação da língua, que
está em constante uso e se adequando aos mais diversos contextos, então a Gramática não
pode simplesmente fechar os olhos para aspectos inovadores do sistema.

114 • capítulo 5
Faz-se imprescindível que nós, professores, ao menos, não deixemos de lado a mudança
e a variação, que devem ser abordadas em sala de aula, para mostrar para o aluno que as
várias línguas portuguesas que falamos ou com as quais temos contato no nosso dia a dia
não são menos que a norma-padrão.

LEITURA
Para ampliar seus conhecimentos sobre Sintaxe, leia o livro do professor José Carlos de Aze-
redo, Iniciação à Sintaxe do Português (Rio de Janeiro: Zahar, 1990). A obra traz um estudo
detalhado a natureza, a estrutura e o funcionamento da linguagem verbal, não só no seu uso
cotidiano, mas nas obras literárias e no contexto profissional.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEREDO, José Carlos de. Fundamentos da Gramática do Português. Rio de Janeiro: Zahar,
2010.
____________. Iniciação à Sintaxe do Português. Rio de Janeiro: Zahar, 1990.
BAGNO, M. Português ou brasileiro? Um convite à pesquisa. São Paulo: Parábola, 2001.
CASTILHO, A. T. de e ELIAS, V. M. Pequena Gramática do Português Brasileiro. Paulo: Contexto,
2012.
CEGALLA, D. P. Novíssima gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Nacional, 2005.
LOPES, CELIA REGINA DOS S. Pronomes pessoais. In: Silvia Figueiredo Brandão e Silvia Rodrigues
Vieira. (Org.). Ensino de gramática: descrição e uso. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2007, v. 1, p. 103-114.
PONTES, Eunice. O tópico no português do Brasil. Campinas: Pontes, 1987.
SACCONI, L. A. Nossa gramática: teoria e prática. São Paulo: Atual, 1999.
____________. Gramática essencial ilustrada. São Paulo: Atual, 1999.
ORSINI, M. T. e VASCO, S. L. Português do Brasil: língua de tópico e de sujeito. Revista Diadorim,
2007. Disponível em: <http://www.revistadiadorim.letras.ufrj.br/index.php/revistadiadorim/article/
view/86>
TARALLO, F. Relativization strategies in Brasilian Portuguese. University of Pensylvania. PhD
Dissertation, 1983.

capítulo 5 • 115
GABARITO
Capítulo 1

01.
a) A comida era boa, mas o pequeno restaurante vivia vazio.
b) Não a critique em público, pois ela é muito sensível.
c) Os alunos não concordaram com a proposta da escola nem propuseram outra so-
lução para o problema.
d) Está fazendo frio. Levarei, pois, uma blusa.
02. “Então a velha apeou do tapir e montou num cavalo gázeo sarará que nunca prestou nem
prestará e seguiu.” (Mário de Andrade, Macunaíma)
a) O período é formado por cinco orações.
b) São coordenadas sindéticas aditivas a 2ª, 4ª e 5ª oração.
c) A última oração coordena-se aditivamente com a 2ª oração.
03.
a) Ouviu-se o som da bateria e os primeiros foliões surgiram.
b) Não durma sem cobertor, pois a noite está fria.
c) Quero desculpar-me, mas não consigo encontrá-los.

Capítulo 2

01.
a) É provável que esse rio seja fundo. O. S. S.Subjetiva
b) Desconfio que essas histórias sejam inventadas. O. S. S. Objetiva Indireta
c) O professor gosta de que todos os alunos participem da aula.O. S. S. Objetiva Indireta
d) O importante é que todos estudem. O.S. S. Predicativa
e) A moça tinha medo de que as baratas invadissem a cozinha. O.S.S. Completi-
va Nominal
02.
a) Convém que você estude. O.S.S. Subjetiva
b) Sinto que muitas coisas mudarão. O.S.S. Objetiva Direta
c) Deixe que eu descanse.O.S.S. Objetiva Direta
d) Tenho certeza de que ainda há esperanças. O.S.S. Completiva Nominal
e) Meu desejo é que consigam superar as dificuldades. O. S. S.Predicativa

116 • capítulo 5
f) A resposta é dada por quem pesquisa. O.S.S. Agente da Passiva
g) O campeonato será vencido por quem acumular mais pontos. O.S.S. Agente da Passiva
03.
a) Apesar da facilidade de acesso às mais diversas fontes de informação, ninguém
foi capaz de prever o controle da inflação pelo Brasil mesmo após a liberação do
câmbio, e a derrota da seleção de Zagallo tão vergonhosamente na Copa de 1998
e que o Muro de Berlim acabaria em pó.
b) Não admite o mesmo tipo de transformação, pois o substantivo “acabamento” daria
outro significado ao texto.
04.
a) Embora sem vírgulas, trata-se de orações adjetivas explicativas. Isso ocorre porque,
para interpretá-las como restritivas, seria necessário pressupor que houvesse duas
Teresas (a que ama Raimundo e a que não ama), dois Raimundos (o que ama Maria
e o que não ama) e assim por diante. Como não há nenhuma marca textual de que
existam outras Teresas ou outros Raimundos, só é possível tomar as orações adje-
tivas como explicativas.
b) Sim. O fato de os três primeiros versos não apresentarem uma única vírgula faz o
poema ser lido sem pausas, o que funciona como estratégia para reforçar a união
das personagens. Nos quatro últimos versos, a presença da vírgula promove pau-
sas entre as orações que narram o destino infeliz dos amantes, sugerindo sua se-
paração. Já o emprego de vírgulas separando as orações dos três primeiros ver-
sos faria com que o efeito de sentido de união entre as personagens – produzido
pela ausência de pausas rítmicas – desaparecesse, e o poema perderia parte de
sua musicalidade.
05.
a) Em I, há jogadores na seleção de quem se esperava maior empenho, mas não de
todos. Em II, não houve empenho de nenhum jogador da seleção. Um I, temos a
restrição dos jogadores a que se refere. Em II, temos a generalização, fala-se de
todos os jogadores.
b)
Os jogadores da seleção de quem se esperava maior empenho foram vaiados.
oração subordinada adjetiva restritiva

Os jogadores da seleção, de quem se esperava maior empenho foram vaiados.


oração subordinada adjetiva explicativa

capítulo 5 • 117
Capítulo 3

01.
1ª oração subordinada adverbial condicional;
2ª oração subordinada adverbial comparativa;
3ª oração principal; 4ª oração subordinada adverbial final.
02.
1.
a) As ações de uma criança. Ela olha para o céu, levanta a mão.
b) Um adulto, porque reflete sobre as atitudes de uma criança.
2.
a) Dois.
b) O 1º é simples, e o 2º, composto.
c) Duas.
d) São orações coordenadas.
3.
Na 2ª oração, existem dois períodos, separados por dois-pontos.
a) O 1º período tem duas orações; e o 2º, três.
b) Por subordinação.
4.
Oração principal; oração subordinada substantiva objetiva direta.
Oração principal; oração subordinada substantiva objetiva direta; oração subordinada
adverbial temporal.
5.
a) e b) Ambas são verdadeiras.
03. 1. D;
2. C
04. As três orações são subordinadas substantivas subjetivas reduzidas de
infinitivo.
05.
a) quando vestia a camisola – oração subordinada adverbial temporal.
b) porque não tinha de dormir naquela peça – oração subordinada adverbial
causal.
c) quando brincava no jardim da casa de veraneio de seus pais – oração
subordinada adverbial temporal; para que passeasse no bosque próximo –
oração subordinada adverbial final.

118 • capítulo 5
06. A conferência de uma nota verdadeira é uma atitude – oração principal;
Quando se recebe uma nota,... – oração subordinada adverbial temporal;
Para que se saiba mais,... – oração subordinada adverbial final.
07. a. (A oração é subordinada adjetiva restritiva)
08.
a) “Ver todo um mundo num grão
E um céu em ramo // que aflora //
É // ter o infinito na palma da mão
E a eternidade numa hora.”
b) 1ª oração principal; 2ª oração subordinada adjetiva restritiva; 3ª oração subordinada
substantiva predicativa reduzida de infinitivo.

Capítulo 4

01. A posição do pronome nos está incorreta, pois não se inicia frase com pronome oblíquo.
Correto: ...permitindo-nos refletir...
02.
a) Quero-lhe contar uma notícia. ou Quero contar-lhe uma notícia.
b) A jovem o estava beijando. ou A jovem estava-o beijando. OU A jovem estava
beijando-o.
c) Os pais o tinham permitido. ou Os pais tinham-no permitido.
d) Não lhe podemos ensinar a lição? ou Não podemos ensinar-lhe a lição?
e) Ela sempre me estava olhando. ou Ela sempre estava olhando-me.
f) Ninguém a havia visto no baile.
03.
a) Ter-lhe-iam falado a meu respeito?
b) E se eu me houvesse enganado?
c) Era um vidrinho de perfume cuja essência já se tinha evaporado.
d) Haviam-no procurado em toda parte.
e) Ela aplaudia a transformação que se ia operando em mim. ou Ela aplaudia a trans-
formação que ia operando-se em mim.
f) O marido a está aconselhando a desistir da viagem. ou O marido está aconselhan-
do-a a desistir da viagem.
g) Eu me deveria reunir a eles para a escalada do morro. ou Eu deveria reunir-me a
eles para a escalada do morro.

capítulo 5 • 119
Capítulo 5

01.
a) O+V+OD
b) S+Adj+V+OD+Adj
c) S+V+OI
d) S+V+OI
e) S+V+OI+ADVV+OD
f) S+loc. V+OD+OI
g) S+V+OI+OD
h) V+OD+ADVV
i) V+OD
j) V.
02.
a) João a viu no cinema ontem.
b) Empresta-me um dinheiro.
c) O menino de quem eu gosto é aquele.
d) Aquele velho senhor a quem acabamos de encontrar sentiu-se mal.
e) A garota com quem vivo querendo sair começou a namorar um amigo meu.
f) Procuro conviver com pessoas cujas vidas tenham sido ricas em experiência.
03.
a) Convidei-a para a festa de aniversário.
b) Vi-o no cinema.
c) Deram o livro para mim.
d) Emprestaram o caderno para ti.
04.
a) O que a gente é.
b) Sim. O pronome a gente serve como substituto para o pronome nós, ou seja, é
usado quando ser quer marcar a presença do enunciador entre os sujeitos. Nesse
caso, é provável que o enunciador quis dar ênfase ao fato de que também compõe
o grupo.

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ANOTAÇÕES

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