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Luiz, Lucas, Seiji

 INTRODUÇÃO GERAL
o O termo compliance tem origem do verbo em inglês to
comply, que significa agir de acordo com uma regra, estando
em conformidade com as leis e regulamentos externos e
internos. Essa prática começou a ganhar força no Brasil com
as medidas contra a corrupção, como o caso da Lava-Jato.
Isso porque a adesão à esta política assegura o sucesso
contínuo da empreiteira ou construtora. Os ganhos também
englobam a manutenção da confiança dos clientes e um
bom relacionamento com a fiscalização.
o A falta de ética e compliance na construção civil pode
acarretar sérias consequências para a construtora, como a
cassação da licença de operação, multas, processos
criminais e até mesmo a prisões.
o Contudo, além do quesito corrupção, também há outros
problemas graves relacionados à falta de ética e compliance
na construção civil:
 Falta de saúde e segurança do trabalho;
 Descumprimento da legislação trabalhista;
 Furtos em obras;
 Falta de cumprimento dos prazos para entrega das obras;
 Irresponsabilidade na entrega do produto final para os
clientes.
o Uma das formas de prevenir atitudes que vão contra a ética
e compliance na construção civil é educar os profissionais a
prestar serviços para os quais são competentes e
qualificados. Dessa forma, na contratação do serviço, é
preciso assegurar que qualquer empregado ou associado
ajudando com a prestação dos serviços tem a competência
necessária para realizá-los, agindo assim com honestidade
e ganhando respeito dos clientes.
o O altíssimo risco ligado à imagem a partir de uma conduta
antiética causa uma avalanche de prejuízos financeiros é
enorme. Perda de contratos, perda de valor de marca,
queda do valor das ações para empresas de capital aberto,
perda de poder de negociação com fornecedores ou de
obtenção de financiamentos e multas pesadas são um dos
fatores. Isso sem falar nos custos de todo o processo
jurídico, que pode se estender por anos, levando até mesmo
a instituição à falência. A aplicação e valorização da ética e
compliance na Construção Civil melhora diversos processos,
entre eles certificações, licitações e financiamento.
o O engenheiro civil está apto a desempenhar diversas
funções, conforme disposto no artigo 1º da Resolução nº
218, de 29 de junho de 1973, do CONFEA (Conselho
Federal de Engenharia e Agronomia), dentre elas as de
supervisão, coordenação e orientação técnica; o estudo,
planejamento, projeto e especificação; a padronização,
mensuração e controle de qualidade; a execução e a
fiscalização de obra e serviço técnico.
o Para tanto, percebe-se que o engenheiro civil tem várias
responsabilidades e obrigações descritas em Resolução do
CREA. A partir disso pode-se notar que a maior parte dos
desastres ocorridos no âmbito da engenharia civil se dá pelo
não cumprimento dos quesitos impostos ao profissional,
bem como em razão da falta de fiscalização pelos órgãos
competentes.

ODEBRECHT
 Introdução
o A Odebrecht foi fundada na Bahia pelo engenheiro Norberto
Odebrecht no ano de 1944. E atualmente é formada ainda por outra
empresa como Construtora Odebrecht, a Holding Obebrecht S.A,
que se trata de saneamento básico e tratamento de resíduos
industriais, pela Braskem S.A Petroquímica, contratada pelo Bairro
Novo Empreendimentos Ltda., pela Odebrecht Investimentos em
Infraestrutura Ltda e por fim a Odebrecht agroindustrial, que age
na produção do açúcar, etanol e energia elétrica, o que forma no
âmbito comercialista um grupo econômico. O cargo da Presidência
da Odebrecht S/A era ocupado até pouco tempo por Marcelo
Odebrecht, tendo ele sido iniciado no ano de 2009, que
recentemente foi acusado de liderar um cartel de empreiteiras que
participou por anos de um esquema de corrupção e desvio de
dinheiro da Petrobras, fatos corroborados pela Operação ―Lava
Jato. Foi condenado a 19 (dezenove) anos e 4 (quatro) meses por
corrupção lavagem de dinheiro, e associação criminosa na
Operação Lava Jato. Foi considerado o mandante de pagamentos
de US$ 35 milhões e quase R$ 110 milhões de propina a
funcionários da Petrobras. Ao mesmo tempo, 77 executivos e ex-
executivos da empresa assinaram os acordos de delação,
confessando os atos de corrupção. Foi a maior colaboração
premiada do mundo.
o Para compreender a relação da Odebrecht e sua relação com as
questões antiéticas na engenharia Civil é preciso salientar
inicialmente que além de muitas de suas obras estarem
diretamente relacionadas à essa área, muitos são os diretores e
gestores que tem formação de Engenharia Civil, e como bem
determina o Artigo 2º do Código de ética do Confea (2014) ― Os
preceitos deste Código de Ética Profissional têm alcance sobre os
profissionais em geral, quaisquer que sejam seus níveis de
formação, modalidades ou especializações.
 HISTÓRICO ALÉM DA LAVA-JATO
o A Linha 4 do Metrô de São Paulo estava em construção quando
ouve um desabamento nas obras da Estação Pinheiros, culminou
em um enorme buraco que ―engoliu‖ dois caminhões, resultando
na morte de 7 pessoas. A Odebrecht era responsável o Consórcio
Linha Amarela.
o No ano de 2008, a Odebrecht foi expulsa do Equador pelo
presidente Rafael Correa. Um ano antes a construtora entregou a
Hidrelétrica de San Francisco, na província amazônica de Pastaza.
De acordo com dados ―À época, o governo equatoriano
classificou a obra como um ―desleixo da construtora brasileira.
o Execução das obras do metrô de Salvador. Irregularidades no
processo licitatório e na execução das obras resultaram em um
prejuízo de R$ 100 milhões a uma das mais importantes obras do
sistema viário da capital baiana.
o Em novembro de 2013, uma estrutura metálica desabou nas obras
do Itaquerão, zona leste de São Paulo, matando dois funcionários.
o Empresa pagou propina a ex-presidente da Infraero após vencer
licitação para obras no aeroporto de Goiânia. Além disso, outro dos
delatores, João Antônio Pacífico Ferreira, informou que, por
iniciativa do então presidente da Infraero, Carlos Wilson, foi
organizado um cartel de empreiteiras para fraudar várias licitações
de reformas de aeroportos pelo país, entre eles o de Goiânia.
 LAVA JATO
o Líder do ramo da construção no país, a Odebrecht era conhecida
pela estreita relação de seus donos com o meio político. A
empreiteira foi alvo da 14ª fase, em junho de 2015. Com base em
documentos e depoimentos de executivos, viu-se que o esquema
foi adotado em dezenas de contratos públicos, indo além da
Petrobras.
o Os policias prenderam, na Bahia, Maria Lucia Tavares, na época,
secretaria de Marcelo Odebrecht, que desempenhava uma função
estratégica na construtora. Com a prisão dela, a polícia descobriu
que a empresa tinha criado um setor exclusivamente para fazer
pagamentos ilegais para políticos e funcionários da Petrobras. O
setor existia oficialmente no organograma da empresa. Era
chamado de “departamento de operações estruturadas". Maria
Lucia deu os detalhes de como ele funcionava e entregou planilhas
com o registro de repasses. Para os investigadores, uma prova
incontestável. "Ficou claro que a empresa Odebrecht realmente
tinha um setor que organizava, contabilizava, possuía hierarquia e
alçadas para o pagamento de propinas", disse Carlos Fernando
dos Santos, procurador da República. No dia em que o
departamento de propina foi descoberto, a Odebrecht divulgou um
comunicado, o "compromisso com o Brasil", em que afirmava estar
disposta a fazer uma colaboração definitiva.
o 77 funcionários e ex-funcionários firmaram acordo de delação
premiada, no fim de 2016.
o O Supremo autorizou a abertura de inquéritos contra 98 pessoas,
incluindo oito ministros de Temer, 12 governadores e ampliando
para 24 senadores (de um total de 81) e 39 deputados (entre 513)
o número de parlamentares investigados.
 A ÉTICA NA EMPRESA
o Um ano antes de tornar público esse problema a Odebrecht S/A
publicou o Código de Conduta que, dentre outras providências,
determina as condutas de RELAÇÕES COM AGENTES
PÚBLICOS E PRIVADOS: É vedado a todos os Integrantes da
Organização: • financiar, custear ou de qualquer forma patrocinar
a prática de atos ilícitos; • utilizar-se de interposta pessoa para
dissimular ou ocultar sua identidade e reais interesses visando a
prática de atos ilícitos; • oferecer, prometer, conceder, autorizar,
aceitar ou receber, direta ou indiretamente, qualquer tipo de
vantagem, pagamento, presente ou entretenimento que: - conflite
com as orientações da Organização; ou - possa ser interpretado
como vantagem indevida, propina, suborno ou pagamento em
virtude da infração de qualquer lei, incluindo pagamentos
impróprios e/ou ilícitos a um agente público, privado ou do terceiro
setor; ou - infrinja qualquer legislação ou regulamentação a que
uma Empresa da Organização esteja sujeita. É igualmente vedado
o oferecimento de presentes, ou benefícios, inclusive o pagamento
de viagens aos agentes públicos e privados ou a seus familiares,
quando visem influenciar decisões. Todos devem saber avaliar o
tipo de entretenimento ou lazer que é legítimo oferecer ao agente
público ou privado, atentando para as orientações aqui constantes,
e para a lei e os regulamentos do País ou região onde estiverem
atuando. Havendo dúvida quanto à lisura de qualquer ato, o
Integrante deve buscar o apoio do seu Líder direto, e assim
sucessivamente, até que a dúvida seja sanada. Ignorar a ação
questionável, seja omitindo-se, seja alegando desconhecimento de
sua natureza, não é conduta aceitável.
o Preocupados com a repercussão que se tem tomado os processos
envolvendo a Odebracht, foi implementado na empresa em maio
de 2017 o canal de comunicação denominado Linha de Ética, que
se trata de um canal de denúncias anônimas de conduta não
conforme com uma atuação Ética, íntegra e transparente,
regulamento interno ou a legislação vigente. Sendo que as
informações são recebidas, segundo o canal, por uma empresa
independente e especializada, assegurando sigilo absoluto e não
retaliação ao denunciante.
 CONSIDERAÇÕES E ANÁLISE
o O código de ética veda, no artigo 10º, a conduta de “usar de
artifícios ou expedientes enganosos para a obtenção de vantagens
indevidas, ganhos marginais ou conquista de contratos”, como
aconteceu em relação aos contratos da Petrobras, investigados
pela Lava Jato, também em casos anteriores, como no aeroporto
de Goiânia.
o O mesmo artigo ainda veda “descuidar com as medidas de
segurança e saúde do trabalho sob sua coordenação”, como nos
casos dos acidentes citados anteriormente.
o Fato é que todos estes fatos têm demonstrado que a empresa
Odebrecht tem faltado com ética não só pelos diretores, mas
também por seus colaboradores em que estão inseridos também
engenheiros civis, posto que, eles são responsáveis técnicos, ele
é quem tem domínio da ART, a eles é quem cabe fiscalizar as obras
desde a elaboração do seu projeto, conforme estabelece do
Código de ética da CONFEA/CREA.
o Um problema é a pressão dos seus clientes para agirem de forma
antiética. Esta situação pode eventualmente verificar-se, por
exemplo, quando os empreiteiros prestam os seus serviços por um
preço inferior ao praticado na concorrência sem fatura ou
documento equivalente. E falando de âmbito brasileiro, pode-se
dizer que os políticos vêm sendo visto como os maiores
estimuladores dos atos antiéticos no país
o Considera-se que em meio aos problemas vivenciados atualmente
a ética do engenheiro vem sendo colocada à prova perante a mídia.
O caso da Odebrecht é um exemplo muito atual desse problema
de conceituação da ética da profissão propriamente dita. Vê-se de
um lado engenheiros pequenos lutando para sobressair perante o
mercado, e de outro os grandes usando de sua profissão para
beneficiar-se e beneficiar principalmente os políticos que deveriam
compreender a importância de defender a ética como um todo.
o A implementação de um programa de ética e compliance criterioso
e rigoroso estabelece diretrizes legais para as práticas da
construtora e contribui para controlar as irregularidades, mantendo
o valor da empresa e garantindo crescimento contínuo.
o Apesar das políticas implantadas previamente aos escândalos e
aprimoradas a seguir, a atuação de membros da empresa
demonstra séria falta de respeito ao código de ética do profissional
de engenharia, o que afeta, também, áreas empresariais não
relacionadas diretamente à construção propriamente dita, podendo
arruinar permanentemente a reputação da maior empreiteira do
país e da América Latina.

BOATE KISS
 CASO
o A boate em questão realizava eventos e no dia da tragédia estavam
presentes cerca de 1.300 pessoas. Durante a festa, mais
especificamente às 2:30 horas da madrugada, quando a banda
“Gurizada Fandangueira” tocava, foi utilizado um sinalizador para
efeitos pirotécnicos. Em poucos minutos a boate estava em
chamas e 242 pessoas morreram.
o Em síntese, foram quatro os fatores que levaram à tragédia:
material do revestimento (altamente tóxico), sinalizador em local
fechado, superlotação do local (a lotação legal era de 691 pessoas)
e saída única. Todos esses aspectos estavam contidos no alvará
do corpo de bombeiros.
o A boate estava com alvará do corpo de bombeiros vencido desde
10 de agosto de 2012 (O evento ocorreu no dia 27 de janeiro de
2013). Esse alvará é liberado pela corporação após análise das
condições de segurança do local, tais como lotação máxima,
critérios de escadas e revestimentos.
o Além dos pontos citados anteriormente, a estrutura da casa noturna
era fechada, não contava com saídas de emergência e a única
porta não contava com artifícios que escoassem o público em
tempo razoável, os extintores não funcionavam e não haviam
janelas. Todos esses aspectos desencadearam consequências
gravíssimas, como concentração da fumaça tóxica, que causa
morte por asfixia em até 5 minutos.
 NEGLIGÊNCIA
o Quando um projeto para construção de um imóvel é aprovado pela
Prefeitura, significa que o mesmo atendeu à legislação local e a
construção pode ser iniciada após a liberação do alvará. Quando a
construção atinge um nível em que a certidão do habite-se pode
ser emitida, o proprietário do imóvel faz a requisição junto ao órgão
competente da Prefeitura, que providenciará uma vistoria no imóvel
para constatar se o que foi construído retrata o projeto aprovado
inicialmente.
o Se tudo estiver conforme o projeto aprovado, a certidão do habite-
se é emitida em poucos dias. No entanto, caso haja algum
problema, a certidão será liberada somente após a resolução do
mesmo.
o No caso da boate Kiss, o alvará de construção foi emitido, o que
prova a negligência por parte do corpo de engenharia e arquitetura
responsável pela liberação do mesmo. Essa liberação indica ainda
que sabiam do risco a que estavam expondo o público da boate. A
boate, todavia, não tinha o alvará sanitário e nem aprovação do
projeto de incêndio.
 Projeto arquitetônico
o Em 2009 o local sofreu nova mudança de uso, passando a ser
operado pela empresa “Santo Entretenimento Ltda.”, criada em 20
de abril de 2009 com o objetivo de atuar primariamente no ramo de
“discotecas, danceterias, salões de dança e similares” (cod. 93.29-
8-01). A empresa contrata um escritório de arquitetura, responsável
pelo projeto, e uma arquiteta do mesmo requer aprovação de
projeto de reforma sem ampliação do imóvel em 27/07/2009 (foi
localizada no CREA a ART nº 4897540, relativa ao projeto de
reforma, registrada em nome de uma das arquitetas, descrevendo
como período do serviço o compreendido entre os dias 22 e
31/07/2009) (CREA-RS, 2013). O memorial descritivo do projeto
arquitetônico, confeccionado por duas arquitetas, datado de julho
de 2009, foi apresentado à Prefeitura, a qual, em documento sem
assinatura, aparentemente fez uma análise em 04/08/2009 e
demandou uma série de medidas e adequações, inclusive relativas
à norma 9077/2001 – “Saídas de Emergência em Edifícios” (CREA-
RS, 2013). A licença de operação deveria ser renovada anualmente.
Foram obtidos boletins de vistoria para esse fim, datados de
11/02/2011 e 19/04/2012 (no campo observações do último consta
uma checagem do Alvará de Prevenção e Proteção contra Incêndio,
baseado no PPCI 3106/1, vigente até 10/agosto/2012). Nos
registros do CREA-RS não consta Anotação de Responsabilidade
Técnica para o referido processo, embora se trate de
obrigatoriedade prevista na legislação vigente (CREA-RS, 2013). A
licença de operação que estava vigente no dia do sinistro foi
emitida em 27/04/2012. Em 12 de janeiro de 2012, a Prefeitura
Municipal de Santa Maria solicitou um laudo acústico atualizado
para obtenção dessa nova licença de operação (CREA-RS, 2013).
Encontra-se nos registros do CREA-RS uma ART (nº 6266037) de
projeto e execução de uma reforma na edificação, realizada, de
acordo com o registro, entre 20/02/2012 e 12/03/2012, sob
responsabilidade técnica de um engenheiro civil (CREA-RS, 2013).
 Projeto contra incêndio e pânico
o Ao contrário do que se imagina, desde agosto de 1997, a Lei
Estadual nº 10.987, do Rio Grande do Sul, institui as normas
técnicas de prevenção e proteção contra incêndio, constantes
também no Decreto nº 37.380, de abril de 1997, alterado pelo
Decreto nº 38.273, de março de 1998. Todas essas regras regem
as normas técnicas de prevenção contra incêndio e pânico. A lei é
falha, pois abrange problemas de uniformidade nas exigências,
dando margem à possibilidade de que PPCIs (Projeto de Proteção
Contra Incêndio e Pânico) sejam elaborados por leigos, sem
exigência de projetos e responsável técnico, com a devida ART, e
sem ser discutido com quem tem o conhecimento técnico-científico,
que seriam profissionais responsáveis, bem como engenheiros
civis devidamente registrados no CREA (CREA-RS, 2013).
Constata-se nesse processo uma deficiência importante que deve
ser explicitada e sanada. Normalmente, para edificações com área
inferior a 750 m², a legislação estadual vigente dispensa a
apresentação de PPCI completo, com ART emitida por profissional
habilitado, para subsidiar a emissão do alvará. Pode nesses casos
ser usado o chamado “Processo Simplificado de Prevenção e
Proteção contra Incêndio”. Porém, no caso de boate ou clube
noturno, a edificação é automaticamente enquadrada na classe F-
6 da norma NBR 9.077 (cujo atendimento é explicitamente
demandado nas legislações estaduais e municipais do RS). Nesses
casos, conforme regulamentação do corpo de bombeiros, é
obrigatória a apresentação de PPCI completo, independentemente
da área (CREA-RS, 2013). Esse projeto engloba cálculo para
determinação de quantidade/dimensão de saídas de emergência,
iluminação e sinalização para tal, aberturas como janelas, correta
utilização de materiais de revestimento e extintores de incêndio
funcionando e dentro do prazo de validade. Portanto, não se pode
apontar um responsável técnico culpado pela não existência do
Projeto de Proteção contra Incêndio e Pânico.
o Especificamente em relação a casas noturnas, uma breve análise
mostra que os embates recentes e o foco da fiscalização nos
últimos anos estavam claramente voltados para as questões
acústicas e de licença de operação. As questões sobre Segurança
contra Incêndio e Pânico eram apenas tangenciadas.
o No caso específico da Boate Kiss, apesar de ser previsto na
Portaria 64/99 da Brigada Militar do Estado, que deve ser
apresentada ART de Responsável Técnico, não há registro de que
os proprietários tenham contratado ou utilizado um profissional
para elaborar o PPCI. Provavelmente os mesmos se aproveitaram
da facilidade do Sistema SIG-PI, criado para agilizar a emissão dos
Alvarás de Prevenção e Proteção contra Incêndios, e usado pela
maioria das municipalidades do Rio Grande do Sul, para gerar um
PPCI sem que fossem cumpridas todas as demandas legais.
o Pelo menos 5 condutas de risco, que agravaram o risco de incêndio
e colaboraram para o trágico resultado registrado, devem ser
destacadas, como exemplos negativos de comportamento que
devem ser combatidos e reprimidos:
a) Em torno de março de 2012, quando houve uma reforma
com ART registrada no CREA-RS, foi efetuada a
incorporação de material inflamável, sem que fossem
notificadas as autoridades, em especial o Corpo de
Bombeiros. Isso seria uma demanda urgente, pois envolvia
aumento da carga de incêndio. Isto é uma negligência séria,
pois qualquer reforma demanda imediatamente a solicitação
de novo Alvará, pedido que só aconteceu após a perda de
validade deste. Em outras palavras, um novo PPCI deveria
ser iniciado imediatamente após a reforma efetuada. Não
existe ainda registro de que isso tenha ocorrido até a perda
de validade do alvará emitido em agosto de 2011, que era
válido até agosto de 2012. Observa-se, então, que os
profissionais responsáveis infringiram o item do artigo 9º do
código de ética que aponta como dever do profissional
“alertar sobre os riscos e responsabilidades relativos às
prescrições técnicas e às conseqüências presumíveis de
sua inobservância” e ainda o artigo 10º que aponta como
conduta vedada “prestar de má-fé orientação, proposta,
prescrição técnica ou qualquer ato profissional que possa
resultar em dano às pessoas ou a seus bens patrimoniais”
b) A boate aparentemente operava com lotação acima da
prevista no PPCI, usada como referência para verificar a
dimensão necessária das saídas de emergência;
c) As rotas de fuga foram obstaculizadas com elementos
metálicos, tanto internamente quanto externamente, o que
reduziu sua capacidade de escoamento de pessoas, causou
atrasos na evacuação e provocou quedas e ferimentos aos
usuários que tentavam escapar do incêndio;
d) Houve apresentação da banda com Show Pirotécnico
sem que houvesse licença específica das autoridades para
tanto;
e) Não havia saídas alternativas de emergência na
edificação;

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