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Caderno de Resumo - V EPHIS
Caderno de Resumo - V EPHIS
RESUMOS
Brasil em Perspectiva:
Passado e Presente
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Belo Horizonte, MG, 06 a 10 de Junho de 2016 / organizado por Allysson Fillipe Oliveira
Lima, Ana Tereza Landolfi Toledo, Cássio Bruno de Araujo Rocha, Igor Tadeu Camilo
Rocha, Júlia Melo Azevedo Cruz, Ludmila Machado Pereira de Oliveira Torres, Marcos
Vinícius Gontijo Alves, Nathália Tomagnini Carvalho, Rafael Vinicius da Fonseca Pereira.
407 p.
Texto em Português
ISBN: 978-85-62707-91-9
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Encontro de Pesquisa em História
06 a 10 de Junho de 2016
1º Edição
ISBN: 978-85-62707-91-9
Belo Horizonte
Faculdade de Filosofia e Ciência Humanas – UFMG
Ano de publicação: 2017
V EPHIS – V Encontro de Pesquisa em História da UFMG.
06 a 10 de Junho – Belo Horizonte: Departamento de História, FAFICH/UFMG, 2016.
www.ephisufmg.com.br
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Encontro de Pesquisa em História
06 a 10 de Junho de 2016
Reitor da UFMG
Jaime Arturo Ramírez
Vice-Reitora da UFMG
Sandra Regina Goulart Almeida
Vice-Diretor da FAFICH
Carlo Gabriel Kszan Pancera
Realização
Comissão Organizadora do V EPHIS / Departamento de História – UFMG
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Comissão Organizadora:
Allysson Fillipe Oliveira Lima Revisão
Ana Tereza Landolfi Toledo Igor Tadeu Camilo Rocha
André Luis Martins Amaral Júlia Melo Azevedo Cruz
Cássio Bruno de Araujo Rocha Ludmila Machado Pereira de Oliveira Torres
Igor Tadeu Camilo Rocha Rafael Vinícius da Fonseca Pereira
Júlia Melo Azevedo Cruz
Leandro Alysson Faluba Diagramação
Ludmila Machado Pereira de Oliveira Torres Rafael Vinícius da Fonseca Pereira
Marcos Vinícius Gontijo Alves
Mariana Cardoso Carvalho Capa
Nathália Tomagnini Carvalho Rafael Vinícius da Fonseca Pereira
Rafael Vinicius da Fonseca Pereira
Robson Freitas de Miranda Junior Arte Gráfica
Rafael Vinícius da Fonseca Pereira
Monitores:
Alan Guimarães de Paula Hugo Martins Oliveira
Átila Augusto Guerra de Freitas Isabela Lemos Coelho Ribeiro
Bruno Cézar Gordiano Isadora Nébias Carvalho
Bruno de Oliveira Carneiro João Victor da Fonseca Oliveira
Cairo de Souza Barbosa José Roberto Silvestre Saiol
Camila Neves Figueiredo Josiane Gonçalves de Freitas
Carolina Parente Mazoni Mitt Julia Neves Toledo
Caroline Teixeira do Nascimento Lucas Macedo Gomes
Débora Aladim Salles Milene Magalhães Pinto
Erika Caroline Damasceno Costa Narrimam Lorena Oliveira Carvalho
Fabrício Emanuel Vailante Neuma Campos Santos
Felipe Augusto Souza Costa Otávio Guimarães Vieira
Franciele Fernandes Alves Paulo Henrique Gontijo Alves
Gabriel Schunk Pereira Quelle Marina da Silva Rios
Gabriela Freitas Rocha Roberth dos Santos Freitas
Gustavo André de Azevedo Vanessa Martins Gonçalves
Henrique Carvalho Figueredo Victória de Tolledo Andrade Rocha
Heric Maciel de Carvalho
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Encontro de Pesquisa em História
06 a 10 de Junho de 2016
Apoio:
Universidade Federal de Minas Gerais
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - FAFICH-UFMG
Programa de Pós-Graduação em História - UFMG
Programa de Graduação em História - UFMG
Centro de Estudos Mineiros - CEM
Centro de Estudos sobre a Presença Africana no Mundo Moderno – CEPAMM
Centro Acadêmico de História – CAHIS/UFMG
Revista Varia História
Revista Temporalidades
Oficina de Paleografia - UFMG
Grupo de Teoria e História da Ciência – Scientia UFMG
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Sumário
Apresentação..................................................................................................09
Comissão Organizadora do V EPHIS
Simpósio Temático:
Simpósio Temático 1:
História dos impressos e da tradução nos séculos XIX e XX: trajetórias e
circularidades......................................................................................................................11
Coordenadores:
Patrícia Trindade Trizotti
Marcella de Sá Brandão
Luciano Conrado Oliveira
Fernanda Generoso
Dennys da Silva Reis
Danilo Wenseslau Ferrari
Simpósio Temático 2:
Simpósio Temático 3:
1
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Simpósio Temático 4:
História da Educação: passado e presente nas diferentes práticas e processos
educativos...........................................................................................................................59
Coordenadores:
Sidmar dos Santos Meurer
Luísa Marques de Paula
Leonardo Ribeiro Gomes
Fabrício Vinhas Manini Angelo
Cleidimar Rodrigues de Sousa Lima
Bruno Duarte Guimarães Silva
Simpósio Temático 5:
Simpósio Temático 6:
Simpósio Temático 7:
2
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Simpósio Temático 8:
Simpósio Temático 9:
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Dimensões do Mundo Rural: Territórios, gentes e suas lutas (Séculos XIX e XX)..........360
Coordenadores:
Henrique Dias Sobral Silva
Max Fellipe Cezario Porphiro
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Comunicação Livre:
Comunicação Livre 1:
Mesa 1 e 2.........................................................................................................................386
Coordenadores:
Igor Tadeu Camilo Rocha
Robson Freitas de Miranda Junior
Comunicação Livre 2:
Mesa 3 e 4..........................................................................................................................391
Coordenadores:
Allysson Fillipe Oliveira Lima
Ludmila Machado Pereira de Oliveira Torres
Comunicação Livre 3:
Mesa 5 e 6.........................................................................................................................397
Coordenadores:
Júlia Melo Azevedo Cruz
Nathália Tomagnini Carvalho
Comunicação Livre 4:
Mesa 7 e 8.........................................................................................................................402
Coordenadores:
Rafael Vinicius da Fonseca Pereira
Marcos Vinícius Gontijo Alves
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Apresentação:
O propósito dessa escolha não é outro além de abrir um leque amplo de debates que, ao
mesmo tempo, sejam rigorosos em matéria de análise histórica e propositivos para se pensar a
realidade contemporânea sem, no entanto, direcionar de maneira demasiada os debates com uma
definição prévia específica. Privilegia-se, então, o lugar de onde partem os problemas analisados
por nós, professores e/ou historiadores, de onde produzimos análises a respeito de temáticas
diversas. Entendemos ainda que essa escolha não servirá para pensar somente realidades brasileiras
isoladas do mundo, visto que cada vez mais, em quaisquer recortes temáticos e temporais
abordados pela historiografia, pensar “Brasil” e “Mundo” não são mais operações distintas. Essa
operação analítica nos auxilia na construção de um conhecimento histórico que nos oferece
possíveis respostas para problemáticas brasileiras atuais, colocando em diálogo com outras
perspectivas, linguagens e lugares de enunciação.
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Comissão Organizadora
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Marcella de Sá Brandão
Mestre em História
Universidade Federal de Minas Gerais
marcellasabrandao@hotmail.com
Fernanda Generoso
Mestranda em História
Universidade Federal Fluminense – UFF
fernanda.generoso@yahoo.com.br
Proposta do Simpósio:
Sabe-se que a pesquisa em imprensa se tornou foco de interesse de vários estudiosos nas
últimas décadas, já que cada vez mais, bases de dados têm sido criadas, bem como acervos têm
sido digitalizados. Nessa medida, os impressos se caracterizam como importantes fontes de
pesquisa histórica ao apontar a pluralidade de debates e posicionamentos políticos, culturais e
sociais. A gama de possibilidades abertas passou a ser imensurável, mas apesar de sua importância,
as fontes impressas somente conquistaram espaço na historiografia após a alteração na concepção
de documento em meados do século XX. Ainda na década de 1970 eram poucos os trabalhos no
Brasil que empregavam a imprensa como fonte histórica, embora houvesse o reconhecimento da
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importância dos periódicos e preocupação com uma escrita da História da Imprensa. Com as
alterações nas práticas historiográficas, todas as possibilidades de pesquisa geradas pelos periódicos
foram consideradas. Em meio a grande diversidade de impressos no Brasil, no século XIX e XX,
a influência estrangeira foi decisiva, seja por meio dos modelos que serviram de inspiração, seja
pela ação dos indivíduos que para cá vieram e também tiveram sua produção modificada. No caso
das traduções, muito frequentes nessa época, tal paradigma não é novo. Se percorrermos sua
história no século XIX em que desde simples folhetos e cordéis, bem como romances e livros
técnico-científicos eram produzidos por intermédio do processo de tradução, percebe-se que há
questões a serem investigadas, como por exemplo, quem os traduziu?; quais seus destinos?; que
ideias circulavam por meio desses impressos/traduções?; que história pode ainda ser (re)escrita
com o estudo de tais fontes?. Se por um lado, os impressos (traduzidos ou não) são fontes, por
outro lado, seus produtores são igualmente peças fundamentais para se compreender a existências
de tais bens culturais. A biografia de tradutores, editores, professores, jornalistas, escritores,
historiadores, políticos, cientistas bem como outras fontes impressas tais como inventários,
memorandos, cartas, livros de visitas, catálogos, fichas de bibliotecas podem auxiliar na descoberta
dos caminhos, trajetórias e circularidades dos livros. Desse modo, valorizando a pluralidade de
pesquisas possíveis através da imprensa e dos impressos, o Seminário Temático proposto tem
como objetivo reunir pesquisas que têm como foco o interesse pela imprensa escrita entre o século
XIX e XX, objetivando reunir trabalhos que debatam diversos temas com enfoques teóricos,
políticos, culturais, econômicos, sociais e religiosos, bem como, trabalhos que investigam quem são
os indivíduos que possibilitaram o funcionamento da imprensa, as ideias em circulação nesses
impressos, além de estudos que priorizem a história da tradução no Brasil.
Comunicações:
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todos os municípios da província do Rio de Janeiro mediante sinalização das Câmaras Municipais
sobre espaço físico adequado. O objetivo é lançar luz sobre os lugares (físicos) da leitura e sua
presença no Vale Oitocentista a partir da circularidade e difusão de impressos (livros e jornais).
Fundado em 1875, pelo jornalista Manoel Lopes Cardoso, o Diário de Notícias defendeu
uma linha política de caráter fascistizante, atuou contra o comunismo considerando-o uma
ideologia demonizada em permanente associação com o “judaísmo internacional” e o “liberalismo
burguês”. Em 1942 com a mudança do cenário político mundial, as mobilizações contra os países
do eixo durante a guerra, e a própria postura do governo Getúlio Vargas, em relação aos Estados
Unidos, levou o jornal, a não mais publicar propagandas de cunho nazi-fascista, embora mantivesse
a sua postura anticomunista. Neste mesmo ano, o empreendimento foi vendido aos Diários
Associados Assis Chateaubriand Bandeira de Melo. O jornal A Tarde, por sua vez, foi fundando
em 15 de outubro de 1912 por Ernesto Simões Filho. Em 1949 o jornalista Jorge Calmon assumiu
a função de redator chefe do vespertino. Desde sua fundação, o periódico atuou como porta voz
da classe dominante, no poder baiano, sendo considerado o maior e mais importante jornal da
Bahia. Neste sentido, esses dois importantes jornais da imprensa baiana aparecem aqui, não apenas
como uma fonte de pesquisa, mas, também como parte do objeto de investigação.
Para os fins propostos nesse trabalho, a imprensa será tomada na condição de partido que
atua, enquanto, sujeito político construtor do consenso e de hegemonia, formulador, organizador
e fiscalizador de programas e projetos dos quais as próprias empresas jornalísticas fazem parte.
Neste sentido, a proposta em tela é demonstrar como a imprensa na Bahia, através dos jornais,
Diário de Notícias e A Tarde, foi capaz de moldar o pensamento político baiano, na luta contra o
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comunismo, no final da década de 1940, de modo a projetar seus próprios pressupostos ideológicos
na sociedade.
De acordo com Portela (2009, p.16), no período pós-64, a imprensa passou a ser alvo de
intensa censura e repressão, obrigando muitos dos jornalistas a desenvolver estratégias de
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comunicação que superassem essas limitações. Aliados a eles, intelectuais de todo o País
mobilizaram-se, ambos, motivados pela vontade de protagonizar suas críticas.
O jornal Varadouro torna-se hoje uma memória da repressão e que que representa a luta
pela verdade e, pelo direito à memória, não apenas com a finalidade de conhecer, mas, de maneira
a intervir nas ações do presente. Espera-se que, com os espaços de memória, a sociedade como
um todo, possa ter informações fidedignas de um passado que todos querem esquecer, mas, é
necessário rememorar, para que não seja reproduzido. Esses caminhos são imprescindíveis para
que sejam trilhados a construção de uma sociedade mais justa.
Nos idos do século XIX, a imprensa desempenhou um papel importante como agente de
transformação, divulgação dos acontecimentos e das opiniões de uma dada sociedade. Os
eclesiásticos, na mesma medida, empenharam-se na imprensa periódica em defesa da Igreja e de
seus ideais. Os impressos, portanto, se caracterizam como uma das principais fontes de pesquisa
histórica, pois apontam a pluralidade de debates e posicionamentos políticos, culturais e sociais do
passado. Dessa forma, é importante entender como os periódicos católicos também assumiram o
papel de agentes de transformação social e de formação de opinião pública.
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Atentar para a percepção do viajante, sensível aos mecanismos por ele utilizados implica
em apreender suas experiências como sendo representações produzidas coletivamente, de modo
que trata-se da atribuição de sentido a uma dada realidade. Por não serem discursos neutros, as
representações nos revelam autoridades, escolhas, concepções, estratégias, conflitos, etc. Partindo
desse pressuposto, a narrativa produzida por Richard Francis Burton (1831-1890) exprime a
maneira como ele sentia e classificava a realidade a qual experimentava; assim como, em seus relatos
ressoavam suas excentricidades, sua postura enquanto viajante inglês, curioso, erudito, aventureiro,
e viajante-escritor. Abordaremos de maneira analítica a sua trajetória em especial o período entre
1865 e 1869, no qual exerceu a função de Cônsul inglês na cidade de Santos. Nesse período Burton
produziu importantes relatos sobre o Brasil da época e sobre o Paraguai no contexto da Guerra
deflagrada entre este país e Brasil, Argentina e Uruguai. Logo depois que partiu para a Inglaterra
seus diários de viagem foram publicados, cuja obra foi intitulada Explorations of the Highlands of
Brazil. Publicada em Londres, no ano de 1969 a obra trata das viagens de Burton pelo interior do
Brasil, bem como suas impressões acerca da flora, fauna, a geografia e as populações. A análise da
obra de Burton sobre o Brasil mostra-se pertinente e interessante por se tratar de um viajante que
percorreu as serras de Minas Gerais, navegou pelo Rio São Francisco até o mar, durante um período
de mudanças sociais, políticas e econômicas do Brasil, com o refluxo econômico da exploração
mineradora, numa narrativa detalhista de notável erudição.
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agentes procuram agenciar colaboradores para seus empreendimentos, cujo sucesso depende,
especialmente, da adesão de outros.
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O principal motivador da criação do jornal foi o total desconhecimento, por parte dos
brasileiros e até mesmo da comunidade portuguesa já residentes no Brasil, das arbitrariedades
cometidas pelo regime português. Os antissalazaristas ainda tentavam se contrapor à atuação no
Brasil de instituições associativistas portuguesas que faziam uma propaganda positiva do Estado
Novo, como as Casas de Portugal e a Federação das Associações Portuguesas.
Mas o jornal também foi um importante aliado à causa defendida pelo Movimento Afro-
Brasileiro Pró-Libertação de Angola (MABLA), criado em 1961, em São Paulo. O Movimento
criou uma rede de apoiadores ao fim do colonialismo português em África. A principal bandeira
do MABLA era divulgar entre a sociedade brasileira, principalmente por meio da imprensa, da
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Neste trabalho, apresenta-se análise do jornal Psit!!!, concebido pelo desenhista português
Rafael Bordalo Pinheiro, no Brasil, em 1877. A publicação circulou por apenas 09 números, mas é
frequentemente lembrada na bibliografia sobre a imprensa satírica, por conta de seus personagens,
Psit! e Arola, e da polêmica, que teve início em suas páginas, entre seu proprietário e o aclamado
ilustrador Ângelo Agostini, da Revista Ilustrada. Agostini provocara o colega português, alegando
que ele teria abandonado a discussão dos problemas do país, em prol do trabalho como
representante comercial numa firma de chouriços e embutidos. Bordalo Pinheiro desempenhou
papel de destaque na história da caricatura. Sua atuação no Brasil, entre 1875 e 1879, deixou marcas
no uso de imagens nos impressos periódicos. Apesar da recorrência com que a publicação e seu
autor figuram na história da imprensa, não há estudos sobre o Psit!!! Portanto, pretende-se discutir
o papel desempenhado pelo periódico em seu contexto, para além da famosa querela entre os dois
desenhistas, tendo em vista a análise de seu conteúdo visual e textual; o formato e os aspectos
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materiais; anúncios e demais fontes de receita, além de outros aspectos que permitem identificar a
importância que esta experiência teve na trajetória de Bordalo Pinheiro.
Os periódicos são fontes que fornecem subsídios para as pesquisas relacionadas aos
aspectos políticos, econômicos, culturais, entre outros de um determinado momento histórico. Ao
trabalharmos com estudos relacionados ao catolicismo é possível perceber o conjunto de dados
que podemos adquirir a partir da análise de periódicos, que em muitos casos foram utilizados como
meios de divulgação dos discursos em defesa dos interesses católicos, destacando-se nesse caso a
passagem do século XIX para o século XX. Nesse sentido, nosso trabalho tem como foco principal
um estudo do pensamento de D. Silvério Gomes Pimenta, na defesa dos interesses da Igreja
Católica, a partir das informações constantes nos periódicos que estiveram sob sua orientação de
forma direta ou indireta. Para a realização desse estudo elegemos como fontes os periódicos O
Bom Ladrão e O Viçoso/D. Viçoso. Também para a realização desse trabalho teremos como
aporte teórico os textos de autores como Karla D. Martins, Natiele Rosa Oliveira, Diego Omar da
Silveira, Rodrigo Coppe Caldeira, Giana Lange do Amaral etc. Esses autores são essenciais para
que possamos analisar os periódicos de forma a compreender a maneira como D. Silvério fez uso
desse instrumento de comunicação no intuito de divulgar seu pensamento. Portanto, nosso
trabalho tenta demonstrar como é possível perceber o uso que membros da Igreja Católica fizeram
dos periódicos para a divulgação de suas ideias, de forma contundente, tentando em muitos casos
recusar outros modos de pensar e viver.
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O limiar do século XIX para o XX foi, ao mesmo, conturbado e importante para o Brasil.
Marcado por acaloradas discussões intelectuais e políticas, esse período pode ser considerado um
momento decisivo para a imprensa nacional, momento em que esta se torna um espaço respeitado
e disputado pela intelligentsia nacional. Neste ínterim, surgiram diversos periódicos, dentre eles Os
Annaes – Semanário de litteratura, arte, sciencia e indústria, que circulou semanalmente na cidade
do Rio de Janeiro de 08/10/1904 a 11/10/1906. Dirigido e criado por Domingos Olímpio Braga
Cavalcanti, este periódico se colocava como um espaço à disposição de autores nacionais e
internacionais que por ventura se sentissem excluídos pela imprensa da época. Foram ao todo 102
exemplares, dirigidos por seu criador, que continham escritos tanto de autores renomados da época
como de nomes pouco conhecidos do grande público, em artigos que abarcaram, em especial,
assuntos como política, ciência, literatura, notícias, intelectuais, dentre outros. Ainda inédito, Os
Annaes caracteriza-se como um espaço ímpar na imprensa da época, ao abrir suas páginas a escritos
fora do eixo Rio de Janeiro/ São Paulo, valorizando autores regionais, por vezes até mulheres, ao
mesmo tempo em que contava com a colaboração de nomes renomados, como Machado de Assis,
Silvio Romero, Olavo Bilac, para citarmos apenas alguns. Assim, almejava-se perscrutar se Os
Annaes cumpriu a sua proposta inicial, suas características enquanto periódico e qual foi o seu
papel frente a imprensa da época.
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Phillipe Urvoy
Doutorando em História Social da Cultura
UFMG
ph.urvoy@gmail.com
Proposta do Simpósio:
O presente simpósio temático tem como objetivo discutir as relações entre a história e as
manifestações culturais que tem nas cidades seu lugar de atuação pensadas a partir de suas
dimensões não apenas materiais, mas também simbólicas. Composta por diferentes sujeitos,
experiências, trajetórias e lugares sociais, e também por inúmeras e heterogêneas produções
intelectuais, as formas das cidades pós-industriais tem sido modeladas e remodeladas pelos
processos de urbanização e pelas diversas reformas urbanas que ocorreram a partir do meio do
século XIX. As cidades, portanto, são pensadas aqui não apenas como palco dessas ações, mas
entendidas em seus processos de construção histórica. Entendemos, portanto, que elas não são
simplesmente algo dado, ou simples cenário do social, mas objetos de questionamentos, reflexão e
análise desafiadoras e, ao mesmo tempo, instigantes. Serão contemplados, dentre outras
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Comunicações:
De acordo com Ecléa Bosi, em seu livro Memória e Sociedade: lembranças de velhos, “Há
um momento em que o homem maduro deixa de ser um membro ativo da sociedade, deixa de ser
um propulsor da vida presente do seu grupo: neste momento de velhice social resta-lhe, no entanto,
uma função própria: a de lembrar.
Entretanto, não apenas os mais velhos, como também os jovens, possuem memórias e
relações afetivas que podem ser importantes instrumentos para o historiador que pretende estudar
as cidades. Afinal, são elas repletas de significados criados diariamente por cada um de seus
habitantes, e ao ter acesso a uma pequena parte dessa enorme teia de sociabilidades, podemos
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compreender melhor a forma como as pessoas veem as cidades e como as tomam para si, criando
naquele espaço de concreto um ambiente familiar e carregado de sentidos.
A ideia desta comunicação é explorar algumas entrevistas coletadas durante pesquisa para
dissertação de mestrado, tentando demonstrar a forma como a cidade aparece nas memórias de
seus moradores e como o historiador pode se aproveitar disso para exercer seu ofício.
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A partir dos anos 1830, a cidade de Paris é o palco de amplos projetos de reformas urbanas
que redefinem o espaço segundo ideais higienistas e interesses políticos e econômicos específicos.
Começadas pelo Claude-Philibert Rambuteau, então prefeito da cidade, e perseguido pelo Barão
Hausmann a partir dos anos 1850, essas reformas participam do nascimento do urbanismo
enquanto ciência, sistema de produção e gestão do espaço urbano na cidade moderna. Segundo o
Henri Lefebvre, este momento corresponde também ao surgimento da sociedade urbana enquanto
modo de organização espacial e sistema de valores que remodelam progressivamente o território
dentro e fora das cidades. Neste sentido, podemos dizer que o urbanismo se constitui como um
discurso de verdade sobre o espaço – segundo a expressão do Michel Foucault – que se assemelha
a uma escrita racional e funcional do território. Paralelamente a este processo de Reformas, os dois
principais conflitos sociais que eclodem em Paris neste período – as jornadas de 1848 e a Comuna
de 1871 – são intimamente ligados a problemáticas especificamente urbanas. Por trás das revoltas
e barricadas, os gestos e práticas do povo parisiense escrevem uma outra história espacial, tal como
afirmado pela pesquisadora americana Kristin Ross, que reivindica outros modos de habitar e
pensar o espaço urbano.
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que alarga suas complexidades e ambiguidades A perspectiva trazida por Henri Lefebvre sobre a
produção do espaço urbano elucida ser ele inexistente fora das práticas que o alteram e redefinem,
ideia muito presente no pensamento sobre o espaço público. Os diferentes atores sociais são
responsáveis pelas mudanças do espaço público através de experiências cotidianas que redefinem
a esfera pública e compreender como algumas destas se conformam nos permite pensar em certa
multiplicidade de interações públicas que acontecem de formas simultâneas e (re)definem o espaço
urbano. A Plaza de Mayo é aqui percebida como um espaço urbano plural e o que a torna central
neste estudo é o fato de ter sua história marcada pela resistência e pelos variados conflitos que
caracterizam a sociedade argentina e que implicam, neste caso, em modos específicos de
apropriação de lugares materiais da cidade. Assumindo a complexidade e os conflitos envolvidos
no espaço público, devemos problematizar e alargar as discussões a esse respeito. O espaço público
pode ser encarado, portanto, como lugar onde vários atores podem alcançar a visibilidade. É um
espaço público em transformação, que traz à tona o caráter conflitivo da composição do espaço
urbano e das diversas apropriações – ininterruptas – da cidade por parte dos cidadãos. outras
problemáticas. O campo da política, que é visto como virtude que ultrapassa a fronteira do privado,
sempre esteve associado ao espaço público e pode ajudar a compreender esta praça. O espaço
político foi encarado como uma das esferas do espaço público e a ação política como uma das
possibilidades da apropriação coletiva deste espaço. Estas abordagens nos trazem importantes
considerações para pensar sob diferentes abordagens a Plaza de Mayo que, de maneira simbólica,
é simultaneamente portenha e argentina.
A cidade do Rio de Janeiro passou por inúmeras transformações entre fins do século XIX
e início do século XX. Dentre estas, destaca-se o plano reformista do então prefeito Pereira Passos,
no governo de Rodrigues Alves. Com a modernização da capital republicana, inúmeros locais
vivenciados pela sociedade do entre séculos 19/20, foram convertidos a lugares de memória,
muitos deles acessados através da representação pictórica, especialmente por intermédio da pintura
de paisagem.
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Com isso, concebemos que as paisagens urbanas fixadas pelos pincéis de artistas, em
madeira, tela e papel ostentam grande importância, por assegurarem aos indivíduos da posteridade
o acesso ao que nem se suspeitava ter existido. Além de tudo o que uma obra de arte pode
proporcionar a um observador, encontramos ainda no trabalho dos paisagistas que representaram
a capital federal, durante século XIX e início do século XX, o poder de reencontrar a cidade perdida
pelas diversas remodelações por ela vivenciada.
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Ligado ao movimento Hip Hop é fundador da 1DASUL (marca de roupa totalmente feita no
bairro). No cinema e TV, Os inimigos não levam flores foi adaptado para a TV e para os
quadrinhos. Além disso, escreveu roteiros para o filme Brother e os seriados Cidade dos Homens
(02) e 9MM (Fox). Ferréz foi colunista da revista Caros Amigos durante 10 anos. É também
conselheiro editorial do Le Monde Diplomatique Brasil. Compositor e cantor, já teve suas músicas
gravadas por vários artistas e lançou dois cd´s.Em 2009, produziu o documentário Literatura e
resistência, de 58 minutos, que trata dos 11 anos da sua carreira - o documentário saiu em dvd pelo
Selo Povo.
Nesse sentido, acredito ser importante a postura do autor e do engajamento que manifesta
com a literatura que produz e que se pretende estudar como um projeto de escrita. O projeto
literário de Ferréz configura-se como um importante catalisador no que se refere à reivindicação
da cidadania, produzindo uma matriz ficcional de questionamento e resistência ao projeto
republicano elitista e excludente. Reivindicando também o espaço das falas “autorizadas” da ficção
brasileira. Nesse sentido, é importante refletir sobre o imaginário político presente na matriz
ficcional de Férrez. Pensar o elemento da periferia, da marginalidade na sua obra e de como sua
figuração representa uma experiência limiar, de fronteira para pensar a temporalidade e a
espacialidade da cidadania no Brasil.
Alexandra Nascimento
alexandranascimento@uol.com.br
O presente estudo tem por objetivo analisar as distintas manifestações culturais que podem
ser observadas na Praça Sete, localizada no hipercentro de Belo Horizonte. O trabalho pretende
analisar a produção cultural dos distintos grupos que se apropriam dos seus quarteirões. A Praça
Sete de Setembro que, apesar das mudanças ocorridas em seus espaços e em seu entorno imediato
ao longo da história, resultados de ações executadas pelo poder público ou inerentes à dinâmica
urbana, permanece como espaço referencial na paisagem da cidade, acentuada pela sua centralidade
no tecido urbano. A cidade, permanente produção cultural, traduz a capacidade humana de
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A temática da cidade como espaço de circulação, além de ter sido abordada a partir de
perspectivas e leituras técnicas e institucionais, aparece representada de diferentes maneiras nos
registros ficcionais, sendo estes um dos mecanismos mais significativos pelos quais se buscou
apreender, sistematizar e tornar inteligível determinados aspectos da vida moderna, sobretudo as
novas formas do ser humano moldar, interagir e se relacionar tanto com o espaço geográfico
quanto com os seus semelhantes. O contraste e o diálogo de alguns escritos literários de Robert
Louis Stevenson com os discursos denominados ao longo do século XIX como fisiologias urbanas
e algumas abordagens sobre a flânerie, permitem traçar e investigar como a questão da mobilidade
em Londres nos anos oitocentos foi delineada, abordada e interpretada. Principalmente, em dois
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de seus romances (The Suicide Club-1882- e Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde - 1886), uma
vez que ambas as obras possuem a capital do império britânico como palco para o transcorrer da
trajetória das personagens e nos proporcionam meios para refletirmos não somente acerca das
transformações dos aspectos físicos da cidade, mas também (maiormente) a respeito das práticas e
tensões sociais provenientes e configuradoras dessa nova forma das pessoas conceberem, se
apropriarem e fazerem uso do espaço ao longo do processo de urbanização de uma das primeiras
metrópole do mundo.
O poeta estudou na Faculdade de Direito do Largo São Francisco entre 1848 e 1851. Tendo
deixado a corte para realizar o curso jurídico na cidade que nasceu e onde vivia a família materna,
trocou cartas constantemente com os pais descrevendo criticamente os hábitos da cidade,
reclamando de seu arcaísmo e, por oposição, criando uma imagem idealizada do Rio de Janeiro,
que não teria os mesmos defeitos. São Paulo também aparece como cenário de algumas de suas
obras, destacando-se O Macário. Além de assunto e cenário, podemos observar que a vivência na
cidade está diretamente ligada a sua produção, dada sua participação nas sociedades literárias
estudantis e, principalmente, pelo sua ligação estética com o romantismo sombrio que lá
preponderou, divergindo do romantismo nacionalista do IHGB. Assim consideramos que olhar de
Álvares de Azevedo é marcado pelo duplo pertencimento que podemos observar desde sua
biografia. Ainda que veja o Rio como “em casa” e para lá se remeta, nasceu em São Paulo, parte
considerável de sua família é de lá e sua obra é indissociável da cidade.
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Viver no espaço urbano no final do século XIX e início do século XX foi um desafio diário.
Homens, mulheres, negros, imigrantes, pobres passaram a lidar com alterações significativas. Essa
trama diária passou a ser objeto de táticas e estratégias dos sujeitos de diferentes classes e grupos
sociais, racionalizando os usos do espaço urbano e coibindo ações ditas perigosas à moral, aos
costumes e a ordem da cidade. Toma-se aqui um recorte temporal referenciado justamente nos
anos de publicações de dois códigos de postura para a cidade de Fortaleza, Ceará. O primeiro
(1893), logo após a proclamação da República, quando a ideia de progresso no meio urbano ganhou
força justamente no corpo da cidade e nos corpos que a habitavam e nos anos 30 do século XX,
tempo de racionalização e expansão do espaço urbano de Fortaleza. Procura-se entender por meio
desses dois códigos em cruzamento de dados com outras fontes como os jornais (O Povo, O
Nordeste), os cronistas (Raimundo Girão, Gustavo Barroso e outros) e as décimas urbanas como
o cotidiano dos sujeitos pobres na cidade de Fortaleza travava uma relação de resistência na
contramão da modernização que não os incluía. São numerosos os exemplos dos jornais à respeito
do envolvimento destes sujeitos em atritos de violência nas ruas, as páginas policiais apresentam
os delitos, e os códigos de postura sistematizam as leis urbanas, proibindo ou permitindo de acordo
com os interesses de uma minoria que o elaborava. Diante desses conflitos surge nosso interesse
de fazer uma leitura a contrapelo buscando desvelar os silêncios das páginas dos jornais, remontar
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o quebra-cabeça das permissividades da rua e enxergar nesses sujeitos aquilo seu modo operante
de resistir. A história do cotidiano é aqui apresentada como meio para uma leitura dos sujeitos na
cidade e por meio desses sujeitos entender o espaço urbano como ambiente de negociação, tensão
e conflito.
Trata-se de analisar como o processo da pesquisa histórica mapeia elementos que podem
servir de base para o desenvolvimento de um projeto de um Museu de Cidade, tendo como objeto
o trabalho, em processo de implantação do Museu Casa Grande Simplício Dias, cidade de Parnaíba,
Estado do Piauí. Cabe, então, pensar como o ofício do historiador pode fornecer recursos para a
construção de narrativas museológicas, tendo como ideia-mãe a cidade entendida como forma
(universo material socialmente construído) e como imagem (produção, circulação de significados e
bens simbólicos).
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também levando em conta a vida social do homem e as relações da sociedade com a cidade,
recuperando uma modernidade parnaibana. Para tanto, apresentar a memória urbana de Parnaíba
dialogando com alguns rastros topográficos, fazendo uso da categoria do panorama. Levando em
conta, as margens e “zonas obscuras das histórias centrais”. Considerando as periferias e fronteiras
da cidade. Tanto as reais, quantos as simbólicas. Essas zonas físicas ou conceituais de trânsito,
confronto, indefinição encontro e tensão. Locais onde as fronteiras são porosas e a contaminação
é regra. Locais de passagens entre temporalidades e experiências.
O problema da habitação em Belo Horizonte surgi junto com a cidade. Logo após sua
fundação os operários se assentaram fora dos limites da Avenida Contorno e constituindo uma
cidade que distinguia as pessoas. Também deste o início o crescimento da cidade funcionou pelas
periferias, pois as áreas centrais foram (ainda são) muito valorizadas que forçou o operariado a
ocupar regiões fora do centro. Essa lógica formou uma cidade na qual o operário vive longe do
centro sem acesso a infraestrutura e serviços públicos. Nas cidades capitalistas a especulação
imobiliária valoriza e segrega o ambiente urbano, que leva os trabalhadores buscarem modos
baratos para promover sua habitação. Deste modo é inerente a estas cidades o déficit habitacional
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vinculado à especulação imobiliária. Portanto deste a era Vargas buscou soluções para problema
da habitação, através da lei do inquilinato e a construção dos Conjuntos Habitacionais pelos IAP’s.
Depois de 64, o governo Militar construiu o BNH para unificar os investimentos na Habitação e
cuidar desta questão. A partir disto busco ver qual foi a lógica para promover a habitação depois
de 64 e como o Conjunto Habitacional é retomado para diminuir do déficit habitacional.
Por fim, o trabalho busca relacionar construção de cidadania e subcidadania (usando James
Holton e Jessé Souza) e o impacto que os conjuntos habitacionais tiveram em Belo Horizonte.
Busco por este tema traçar uma História do Cotidiano e dos conflitos sociais que se estabelecem
na cidade.
A pesquisa intitulada "Traços da cidade- releitura dos registros de Debret no Rio de Janeiro"
tem como objetivo fazer um estudo das imagens e dos escritos de Debret no Brasil, a partir da
quebra do pensamento eurocêntrico que marcou os relatos de viajantes e pintores que passaram
pelos trópicos nos tempos imperiais, completando deste ano 200 anos da vinda da Missa Artística
Francesa para o Brasil. Com isso é possível analisar as mudanças ocorridas na cidade do Rio de
Janeiro, que com a vinda da corte portuguesa ocorreu grandes mudanças e reformas citadinas.
Mesmo com as mudanças ocorridas, muitos costumes e práticas sociais permaneceram, pois, com
a vinda da corte aumentou-se muito o consumo de produtos, fortalecendo assim a economia local.
Por esse fato, as ruas do Rio de Janeiro são tomadas por escravos e negros libertos vendendo os
mais variados produtos, desde quitutes, animais, carnes e entre outras coisas. As ruas assim
passaram a ser um local de disputa e de convívio social, onde se circulavam pessoas das mais
variadas classes sociais. As ruas também eram palcos de grandes manifestações sagradas e profanas,
onde no século XIX a religiosidade andava lado a lado com a população brasileira, influenciando
desde o nascimento até a morte. Os livros de relato de viajem de Debret nos proporcionou
compreender melhor o Brasil do seculo XIX, de pequenas coisas até grandes acontecimentos que
marcaram esse século. Além dos seus livros de relato de viajem, as imagens produzidas por Ele
ajudaram analisar de uma forma crítica, trazendo para a discussão os sujeitos sociais que ficaram
nas entrelinhas no seu relato, proporcionando um estudo mais aprofundado da História do Brasil.
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Após as análises realizadas percebemos como o Rio de Janeiro era o palco das mais variadas
manifestações políticas, religiosas e sociais.
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redefinidos, com uma grande reinvenção do cotidiano através de uma apoderação delinquente de
códigos culturais, criando movimentos que se firmam como provocadores da ordem vigente e que
vão surgindo como uma expressão de certos grupos e comunidades.
Desde o século XVIII, Cachoeira foi um dos principais centros regionais do Recôncavo
Sul, dado ao seu desenvolvimento econômico e social. Opulenta e populosa, Cachoeira também
despontava como centro de manifestações artístico-culturais. A principal diversão da sociedade
cachoeirana nesse período era os saraus das festas das elites que consistiam em bailes noturnos que
ocorriam nos sobrados das famílias senhoriais. Dentre as diversões populares, destacavam-se as
manifestações afro-brasileiras, com os batuques, candomblés, sambas de roda. Outra diversão que
fazia parte do universo cachoeirano nesse período era o jogo de entrudo. Nos primórdios do século
XX, a cidade de Cachoeira assistiu a emergência de novos espaços de entretenimento e a inserção
de novos hábitos e práticas de lazer no cotidiano da cidade. Entre tais espaços, temos a criação de
clubes sociais, esportivos, cíveis-militares, beneficentes e religiosos, e cinema. Pretendemos com
esta comunicação analisar o surgimento de novos espaços de lazer na cidade de Cachoeira na
década de 1920, a partir da inauguração de uma nova sociabilidade urbana, estabelecido através de
um discurso de civilidade e modernidade.
PALAVRAS-CHAVE: Mineração, Villa Nova Athletic Club, Nova Lima, Sindicato, Futebol.
Este trabalho trata do desenvolvimento do Villa Nova Athletic Club, nos anos de iniciais
da profissionalização do futebol nas terra mineiras, com destaque para o cenário futebolístico de
Minas Gerais de um clube formado por operários da Mina de Morro Velho, em Nova Lima, e as
características afrodescendentes de seus jogadores. Podemos entender que as práticas corporais,
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como o futebol, compõem aspectos dinâmicos da vida social e que também estão submetidas às
influências da modernidade. Seus sujeitos obrigatoriamente estabelecem diálogos com as pessoas
com as quais compartilham seu cotidiano e fatalmente estão submetidos a esta dinâmica cultural
apontada. Nessa direção, as relações com o Lazer e o estar na cidade, se constituem efetivamente
de maneira histórica. Este trabalho aponta que havia também uma tensão permanente na antiga
Villa Nova entre os gestores da "Saint John Del Rey Mining Company Limited" - multinacional
Inglesa responsável pela exploração do ouro e outros metais na região, e os sindicatos de operários
mineradores. Nesse conjunto de disputas hegemônicas, objetivamos estabelecer uma análise dos
conflitos, a aproximações destes sujeitos e procurar perceber como o fenômeno do paternalismo
se desenvolveu entre a empresa e seus funcionários, tendo como mediador deste processo o clube
de futebol. Pari passu, os jogos no atualmente conhecido "Estádio Municipal Castor Cifuentes",
no bairro do Bonfim contavam com uma significativa presença dos moradores de Nova Lima
como forma de divertimento. Como fontes para esta pesquisa foram consultados jornais do
período estudado na Hemeroteca Estadual Luiz de Bessa, com destaque para a jornal "Diário da
Tarde", na Coleção Linhares disponível digitalmente, e na Hemeroteca Digital da Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro. Entretanto, um documento pode (e deve) ser entendido como um
produto da sociedade que o fabricou, de acordo com as relações de força quem aí detinha o poder.
Somente a análise da fonte de forma crítica permite ao historiador usá-lo cientificamente, ou seja,
com pleno conhecimento de causa. Desta forma, buscamos elementos que possibilitaram contar
uma história sobre este tradicional Clube Mineiro, e significou também se contrapor a uma
historiografia que afirma a prática do futebol no Brasil e em Minas Gerais estavam associada, na
sua origem, apenas a aristocracia.
O seguinte trabalho tem como objetivo analisar, desde a perspectiva da história social da
cultura, as diversas formas de apropriação do espaço urbano, as tensões, disputas e diálogos que
surgem em torno do carnaval na cidade de Belo Horizonte. Enquanto objeto de pesquisa, o
carnaval tem sido, durante muito tempo, uma temática pouco habitual no campo da história. Esse
panorama tem mudado a partir das contribuições da história cultural e, mesmo assim, ele continuou
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Esta pesquisa busca investigar as aproximações entre a prática dos professores de História
e as ações educativas no Museu da Cidade a partir da implantação do currículo da escola de tempo
integral da Rede Municipal de Governador Valadares/MG. A metodologia se fundamentará em
duas entrevistas realizadas com os docentes que promoveram a visitação junto aos seus alunos ao
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museu. A partir dos resultados obtidos, detectamos que a sugestão para a visitação ao museu
observado na tabela curricular, não promoveu um efeito catalisador para essa prática de imediato,
já que os professores anteriormente realizavam a atividade de levarem seus alunos para uma visita
ao Museu da Cidade. Nesse sentido, enfatizamos a importância da visita educativa em museus para
construção de uma postura reflexiva e crítica pelos alunos, de modo que compreendam a realidade
que os cercam e sejam atores de sua própria história.
A Vila Maria Zélia, construída, em 1912, por Jorge Street e com projeto original de Paul
Pedraurrieux, é um exemplar da primeira fase da industrialização paulista e da construção do
binômio indústria-vila operária. Há diversos fatores que fazem desta Vila um referencial de análise
das Vilas operarias no Brasil. Primeiramente por ter sido uma das primeiras a ser instituída. Num
segundo momento nota-se o controle interno como forma de disciplinar e incentivar a mão de
obra. Tombada desde 1992 em âmbito Estadual e Municipal, o atual momento histórico da Vila
trouxe uma pioneira reflexão sobre a necessidade de preservação e reflexão do patrimônio edificado
e as práticas institucionalizadas nos órgãos.
O lugar de reflexão em questão passa por uma ação judicial, movida pelo Ministério
Público, em que os proprietários – pessoas físicas e o INSS – e os órgãos de preservação municipal
(DPH/CONPRESP) e estadual (UPPH/CONDEPHAAT) são réus, devido a descaracterização
do bem por parte dos moradores e a inaptidão de gestão dos órgãos em relação ao tombamento, e
que tem como proposta de unidade dos envolvidos para responder a este, surge o Projeto de
Educação Patrimonial.
A questão do patrimônio perpassa toda uma gestão urbana. Não apenas o patrimônio
lavrado como de importância para a memória da sociedade, mas o patrimônio diretamente ligado
e intrínseco ao movimento diário e as pessoas que o compõe e constroem diariamente. É assim
que se propõe a memória institucional como eixo metodológico e que a partir disso possa se
incentivar a reflexão e influenciar uma reflexão partilhada, fazendo do exercício da memória um
modo de auto-avaliação das práticas institucionais. A relação da gestão da memória é que se
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Não se restringindo à legislação do tombamento, mas sim a uma chancela coletiva, a Vila
Operária também busca, após tantas e profundas mudanças de seus aspectos e objetivo original,
reconhecer-se institucionalmente para a construção coletiva da memória que eles mesmos
compõem, muitas vezes sem se dar conta.
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tumultos”, entre “a tumba da paz e o berço da rebelião”, agir sobre o espaço no sentido de
estabilizá-lo para a existência humana se coloca como questão urgente.
As cidades são, portanto, fruto das ações humanas, é através dessas ações que os locais
ganham caráter de público. A utilização dos locais públicos para a realização de um evento religioso
faz com que a interação das pessoas com o local seja mais intimista possível, tornando-os naquele
instante como um local sagrado, onde as experiências espirituais acontecem e o elo com o sagrado
se torna possível. Os locais públicos são antes de tudo, um lugar de coletividade e sociabilização,
onde também acontece a segregação e a exclusão, essa dicotomia é um desafio para a
democratização do espaço. Exercer a religiosidade nos locais públicos cessa mesmo que por um
instante o abismo social e excludente. A realização de eventos religiosos nos locais públicos,
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imprimi a esses locais um caráter de igualdade e confraternização. Por esse motivo, as celebrações
e cultos, estão transpassando as paredes dos locais santos e se firmando nos espaços públicos. As
transformações pela qual vem passando a sociedade faz com que os líderes religiosos mudem a
maneira de encarar a prática da religião. No mesmo local onde acontecem os atos profanos, é o
mesmo que se santifica.
E assim acontece em Belo Horizonte, quando as Igrejas saem do seu local santo, e se dispõe
a evangelizar nas praças, ruas e estádios, garantido assim, a expansão da fé Cristã. Portanto, os
grandes eventos realizados em Belo Horizonte, trazem consigo diversas intencionalidades seja
social, política ou espiritual. Se disponibilizar a ir a um local público e ali realizar um evento de
cunho religioso, é uma forma de mostrar a sociedade a que a cidade é um espaço democrático.
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do Museu. Lagos reuniu uma vasta coleção ao longo da sua expedição e no retorno ao Rio de
Janeiro dedica-se à organização da Exposição. É importante ressaltar como este, atuando como o
curador da coleção, inaugura um formato expositivo e uma narrativa de exibição que reúne e
explora diferentes aspectos da cultura material do nordeste brasileiro. Sublinhamos ainda que a
exposição irá incentivar a organização da Primeira Exposição Nacional, em 1862. As principais
fontes utilizadas para essa pesquisa serão as notícias publicadas em periódicos sobre a Exposição,
dentre elas uma série de crônicas intituladas “Uma volta em redor da sala da exposição do Sr. Dr.
F. Lagos” publicadas na Semana Ilustrada. Assim, propomos demonstrar como o Museu Nacional
participa das mudanças ligadas às formas de expor engendradas nos meados do século XIX com a
realização das primeiras exposições Nacionais e Universais. A Exposição da indústria Cearense
pode ser considerada como um primeiro exercício de acomodação na dinâmica institucional do
Museu à linguagem expositiva marcada pelo episódio, pela efemeridade, pela larga visitação.
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Doutorando
UFMG
thiago_lenine@yahoo.com.br
Proposta do Simpósio:
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Comunicações:
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algumas obras de José Veríssimo (1857-1916). Para tanto, partimos da seguinte questão: por que a
literatura é importante para a construção da nacionalidade? As preocupações de José Veríssimo
não apenas com a literatura, mas também com a educação, inserem esse intelectual em um amplo
debate acerca da construção no Brasil de uma nação que estivesse pautada em ideais republicanos,
em um contexto no qual a República já estava instaurada, mas carecia ainda de um discurso político
que incorporasse os símbolos e os valores de um patriotismo cívico. Nesse sentido, o engajamento
tornou-se uma exigência para muitos intelectuais que mobilizavam essas questões em seus
trabalhos. Nos trabalhos de José Veríssimo, tal debate ocupa papel central, principalmente ao
pensar a literatura brasileira. Assim, o crítico busca compreender o papel da literatura em uma
sociedade, quais os pressupostos que diferenciam a literatura brasileira, quais os autores a iniciaram.
Com esse objetivo, a principal obra de análise para essa apresentação será “Cultura, literatura e
política na América Latina”, uma compilação de artigos escritos por José Veríssimo entre 1912 e
1914. Nessa obra, ao elaborar estudos sobre a literatura e a cultura na América Latina, pode-se
perceber importantes elementos sobre a concepção de literatura por ele elaborada, e ainda como
esse autor considerava a literatura como um instrumento para se pensar uma nação. A importância
da literatura na construção de uma nacionalidade é expressa pela ideia de que, segundo Veríssimo,
“não há na verdade nação sem literatura”. Nesse sentido, o trabalho de José Veríssimo tanto como
crítico como autor de uma história da literatura brasileira, mobiliza conceitos capitais para o debate
que se constituía, como nação, identidade, republicanismo, raça, pátria. Essa perspectiva propicia
perceber elementos desse projeto republicano no qual José Veríssimo atuou ao pensar a literatura
e a educação como elementos de uma cultura patriótica.
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centro da produção histórica oficial nacional, compreende-se que a presença de membros hispano
americanos, as menções a esses países e indivíduos nas reuniões do instituto e a existência de
publicações de artigos sobre os mesmos, denota a relevância atribuída aos intelectuais e assuntos
da América Ibérica. Compreende-se ainda, que o contato entre os países da América Latina
favoreceu a produção e circulação de ideias e impressos, bem como os contatos e as trocas culturais
e intelectuais entre esses indivíduos. Desta forma, valoriza-se a história dos livros, da edição e da
leitura, principalmente no que diz respeito aos impressos e revistas, e a história dos intelectuais e
das ideias. Acredita-se que por meio deste estudo será possível matizar a ideia dominante sobre o
distanciamento entre Brasil e a "outra América" utilizando o exemplo do IHGB e seus intelectuais.
Além disso, pretende-se chegar a uma aproximação sobre a identidade dos intelectuais em questão
no que diz respeito ao seu relacionamento com os demais países do continente e para tanto
conceituar-se-a americanismo, pan-americanismo, latino-americanismo e outros "ismos". Assim,
será possível compreender em que medida os intelectuais do IHGB se sentem próximos, ou parte,
daquilo que convencionou-se chamar, apesar de todos os problemas conceituais, de América
Latina.
Esta comunicação insere-se no plano geral das pesquisas em torno do conceito de "cultura
intelectual brasileira" que venho desenvolvendo há algum tempo. Nesta oportunidade, tratarei das
produções simbólicas, de maneira significativa, passam a delinear os traços da decadência da
República brasileira, apontando suas fragilidades num escopo maior de ruína dos próprios valores
democráticos e liberais segundo a tradição oitocentista. De maneira geral, a experiência da Grande
Guerra propiciara a emergência de variadas tendências culturais e políticas que, cada vez mais,
afastaram-se das orientações racionalistas e universalistas legadas pela tradição iluminista, abrindo
espaço à valorização das representações "realistas" e irracionalistas do político e da cultura.
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A partir de uma observação detida sobre a produção crítica carioca acerca das artes visuais
durante a Primeira República, fica evidente a complexidade existente entre os binômios tradição e
modernidade. (CAVALCANTI, 2005) Por consequência, na historiografia, classificar a produção
artística e crítica desvinculada ao Modernismo como mero passadismo é incorrer em um profundo
erro analítico, assim como julgar o movimento paulista estritamente moderno, em sua acepção
original (FABRIS, 1994).
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O presente projeto de pesquisa tem por finalidade propor a investigação das inspirações
francesas que orientaram a propaganda da parcela republicana do movimento político-intelectual
de contestação às estruturas do Império, em seu contexto de emergência no Brasil das décadas de
1870-1880. Em outros termos, busca-se investigar empiricamente o significado da França
republicana de 1792, 1848 e, principalmente, a de 1870 para o incremento da propaganda do
movimento republicano no país, através das práticas discursivas dos seus agentes mais destacados,
empregando para isso as tipologias disponíveis de registros escritos (jornais, discursos, obras
bibliográficas). Em vista disso, partimos da hipótese de que à medida em que no Império se
aproximou as comemorações do Centenário da Tomada da Bastilha houve sim o crescimento da
opção por uma saída alternativa, que não foi a reformista, por parte de membros da parcela
republicana dos letrados de 1870, a fim de dirimir a “questão do regime” discutida no Brasil. Nesse
quadro, acreditamos que da tradição republicana francesa veio boa parte do ideal que inspirou os
agentes brasileiros na concepção dessa segunda via. Como base teórico-metodológica trabalhamos
com a ideia de apropriação, conforme é discutida por Roger Chartier, e levamos em conta os
pressupostos da história dos conceitos em sua vertente inglesa e alemã.
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para a história nacional. Buscamos problematizar de que forma esses autores lidaram com a
sensação de deslocamento da cultura brasileira e do afastamento da história nacional, como coletivo
singular, de um contexto moderno e universal da civilização ocidental. Observamos de que forma
a constatação desse distanciamento e as tentativas de colocar o país ao “nível do tempo”, deram
subsídios à intelectualidade no início do século XX para a construção de imagens sobre o país que
ressaltavam o “atraso nacional”, reforçado pela incongruência entre passado e presente e a crença
na coexistência entre civilização e barbárie, a partir da recepção e apropriação do evolucionismo e
de suas variações no âmbito do pensamento social brasileiro. Projetaram-se no horizonte intelectual
discursos pessimistas sobre a realidade social, servindo a construção da temática temporal do
“atraso nacional”, destacando-se interpretações que ressaltavam o descompasso entre Estado
(sistema político) e sociedade (cultura nacional). Nesse contexto, as obras de Euclides da Cunha e
Manoel Bomfim se constituem como esforços de interpretações sócio-históricas do Brasil,
conferindo ao seu desenvolvimento critérios de integibilidade próprios e configurando
representações sobre o passado que se localizam a partir de uma dimensão prospectiva de futuro.
Seus ensaios de interpretação histórica constituem-se ao mesmo tempo como espaço de debate
para os “problemas nacionais brasileiros” e lugar de realização de “projetos para a organização
nacional”, onde o processo de formação nacional é contemplado como questão norteadora para a
resolução de entreves ao futuro, seja por uma perspectiva localizada nos limites territoriais
nacionais, conforme vemos em Os sertões, ou por uma dimensão de história pátria cuja amplitude
é compreendida pelas suas relações intercontinentais, de acordo com A América Latina.
Yes, nós temos Villa-Lobos: leituras de uma nação musical em Nova York
Loque Arcanjo Junior
arcanjo.loque@gmail.com
A partir sua primeira viagem aos Estados Unidos, em 1944, as relações do compositor e
maestro brasileiro Heitor Villa-Lobos (1887-1959) com artistas e com o público norte-americano
se intensificaram e se mantiveram até sua morte em 1959. O mesmo pode-se dizer sobre a execução
de suas obras que passaram a ser interpretadas pelas mais renomadas orquestras daquele país. As
primeiras viagens do compositor para a America do Norte renderam-lhe criticas em jornais e em
artigos especializados, além da publicação de biografias escritas por biógrafos norte-americanos.
Uma importante rede de sociabilidades tecida por Villa-Lobos pode ser observada em periódicos,
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em especial no The New York Times, mas também na sua linguagem musical. Fontes importantes
para pensar a difusão da cultura brasileira em relação ao Pan-americanismo, desta documentação
emerge uma ampla rede de escuta tecida em meio a diálogos com articulistas de jornais, músicos e
políticos. Da mesma forma, as produções musicais do compositor nos Estados Unidos, tal como
seu musical para a Broadway, intitulado Magdalena, são fontes importantes para se pensar a
construção de uma cultura intelectual dinâmica que explicita uma leitura histórica particular da
cultura brasileira marcada pelas questões políticas e culturais daquele contexto.
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Essas construções apareceram sintetizadas, sobretudo a partir dos anos 1960, na obra de
um renomado intelectual brasileiro, qual seja, Fernando Henrique Cardoso. Seu trabalho dialogou
fortemente com aquelas construções já tradicionais do Brasil, o que de resto o próprio autor deixou
claro em sua obra Pensadores que inventaram o Brasil, lançada em 2013. Se valendo dessas
construções acerca do Brasil, e também indo para além delas, desenvolveu seu livro de maior
impacto, Dependência e Desenvolvimento na América Latina, no qual apresentava detalhadamente
seu projeto de “Desenvolvimento Associado”. Esse projeto viria a constituir a base de seu projeto
de governo nos anos 1990, quando se elegeu duas vezes consecutivas para a Presidência da
República.
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brasileira para desconstruir o projeto de desenvolvimento associado forjado ainda nos anos do
regime militar e que segue em curso no Brasil dos anos 2000.
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o livro Indicações Políticas, no qual, dedicou um capítulo para a relação dos católicos com o
Integralismo. Após 1938, com o Estado Novo e a ilegalidade imposta ao Integralismo, Alceu será
muito criticado pela publicação de seu livro, sendo associado aos integralistas. A presente proposta
de comunicação pretende analisar os desdobramentos da publicação do livro de Alceu, sua relação
com o Integralismo e quais as consequências podem ter sido geradas para o catolicismo e a figura
do Cardeal Leme.
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Doutorando
UFMG
sid_meurer@yahoo.com.br
Proposta do Simpósio:
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Comunicações:
PALAVRAS-CHAVE:
Este trabalho trata-se de uma pesquisa em andamento que tem como recorte a Província
do Ceará nas décadas de 1870 e 1890 que compreende desde a “Questão Religiosa”, momento
culminante de disputa de poder, envolvendo a Igreja Católica de tendência marcadamente
ultramontana e a Maçonaria brasileira até o fim do Padroado em 1890. Busca discutir os embates
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Encontro de Pesquisa em História
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entre as aspirações de caráter liberal, que defendiam o fim do ensino religioso nos currículos da
Instrução Pública Primária nos anos finais do Império, como importante meio para a construção
de uma nação “moderna”, e as posições das elites eclesiásticas e leigas que consideravam o ensino
da moral evangélica católica fundamental para o crescimento e prosperidade social e moral do país.
Para isto, analisaremos o ensino religioso no cotidiano das aulas públicas primárias, assim também,
como os discursos destas elites se articularam na imprensa em defesa do ensino religioso, em um
contexto cada vez mais crescente de circulação de ideias consideradas “liberais”, como a laicidade
do ensino público e a secularização dos programas escolares. Estas ideias defendiam um ensino
leigo e obrigatório, a diversificação dos programas escolares e a valorização do ensino científico,
combatendo o ensino baseado unicamente na leitura, na escrita, no cálculo e na doutrina cristã.
Esta questão estava intimamente ligada às discussões nos meios políticos e intelectuais sobre a
importância da “formação completa” das crianças, ou seja, ao tripé corpo, mente e espírito e sua
vinculação com a emergência do capitalismo com as tentativas de construção do homem são e
laborioso.
PALAVRAS-CHAVE:
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os ângulos de análise entre abordagens "micro" e "macro". Conclui-se, como resultados parciais,
que o conceito de educação e de educação social mostram-se como mais centrais do que o de
ensino e o de instrução escolar, por serem geradores de outros conceitos atrelados às noções de
moral, civismo e ordem, embora na investigação eles sejam pensados em relação.
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conclusões da pesquisa indicam que tais virtudes estavam em consonância com os princípios da
Escola Nova, mostrando, ao mesmo tempo, ênfase no aspecto crítico-idealista, característica da
intervenção e da contribuição de Cecília Meireles no debate sobre o perfil docente desejável para
os rumos da educação brasileira.
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En este trabajo se busca analizar las Políticas Públicas Educacionales referidas al Trabajo
Docente construidas por la Dictadura Militar en Chile (1973 – 1990). Se defiende la hipótesis de
que para la Dictadura Militar el Trabajo Docente se constituyó en una dimensión de primera
importancia con miras a viabilizar su proyecto político/ideológico a través de la institución escolar.
Esta importancia, derivó en la realización de una serie de iniciativas de cambios en la estructura del
Trabajo Docente, como así también en la transformación de la escuela en tanto espacio
representativo de “lo público”. Esta doble transformación necesitó de una intervención sin
precedentes del Estado sobre el colectivo del Profesorado, que se realizó en diferentes planos, los
que al ser analizados panorámicamente, entregarán resultados interesantes sobre la especificidad de
dicha intervención. En este contexto, de forma específica y central, las Políticas Públicas
Educacionales referidas al Trabajo Docente se constituyen en una expresión concreta de esta
intervención por parte del Estado sobre el Profesorado y, a la vez, en una expresión particular de
las transformaciones de una escala mayor emprendidas por la Dictadura Militar con respecto a la
reconfiguración del Estado y la relación público-privado en Chile.
Muitos foram os argumentos em defesa do ensino profissional no Brasil mas para que seja
possível compreende-los, se faz necessário conhecer o histórico de quando se começou a pensar
sobre o ensino de ofícios.
Importante ressaltar que a pobreza e o trabalho nem sempre foram vistos como hoje, em
Geremeck (1986) é possível inferir que ao longo dos séculos, a pobreza e o trabalho ganharam
novos sentidos sociais, proporcionando mudanças nas estratégias de se manter a ordem pública e,
em alguns momentos, as estruturas econômicas, políticas e sociais de países distintos. Para
descrever essa trajetória, no entanto, é preciso retroceder à Idade Média, momento em que a
pobreza era tida enquanto instrumento de salvação, conforme ideia difundida pela Igreja Católica,
e o trabalho era visto na sociedade como uma forma de castigo. Isso só vai mudar com o
surgimento do pauperismo na Europa, momento em que começa ocorrer a valorização do trabalho,
no intuito de possibilitar a subsistência por meio deste, difundindo o princípio de uma vida
laboriosa.
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Durante muitos anos essa modalidade de ensino foi considerada como sendo destinada
exclusivamente aos desvalidos. Apenas a partir do Decreto nº 4.073, de 30 de janeiro de 1942, o
ensino técnico passa a ser destinado a todas as camadas da população proporcionando a seus
estudantes o preparo intelectual necessário para que pudessem seguir, inclusive, a posteriori, as
carreiras liberais, conforme defendia Celso Suckow da Fonseca. Surge então o ensino profissional
que hoje conhecemos, como exemplo de ensino público de excelência.
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Esse trabalho localiza-se numa abordagem no contexto das relações raciais presente na
historia do Brasil. Apresenta reflexões, ainda em andamento na pesquisa de mestrado, acerca das
relações étnico-raciais no desenvolvimento do contexto brasileiro, e o discurso presente no
contexto escolar. Busca evidenciar a relação, ou as relações entre a construção da identidade
nacional, movimentos presente no século e XIX e início do século XX no Brasil e sua influência
na construção do discurso dos sujeitos que trabalham diretamente com a formação da educação
básica, principalmente os professores. Os períodos mencionados foram períodos em que no Brasil
buscava-se uma identidade nacional, período esse marcado pela ideologia do branqueamento. O
período posterior, no contexto das relações étnico-raciais na história do Brasil, foi marcado pela
democracia racial. Tanto um movimento quanto outro obtiveram impactos na sociedade brasileira,
seja na construção ideológica de uma sociedade miscigenada, quanto na produção de padrões
mantido pela mesma ideologia inerente a construção da identidade nacional. Paradoxo presente em
vários setores da sociedade, inclusive o educacional, o que vem produzindo diversos discursos na
sociedade brasileira. Esse trabalho busca articular reflexões acerca das ideologias produzidas nos
períodos mencionadas e o e o discurso de sujeitos na educação. Para tanto são utilizados os autores
que abordam os conceitos acerca da ideologia do branqueamento, miscigenação e democracia
racial: Kabengele Munanga, Antônio Sergio Guimarães, Nilma Lino Gomes, Tomas Kidmore. Para
tratarmos do discurso articulado com racismo apresentaremos as contribuições de Teun Van Dikj.
No que tange a educação será utilizado Mìria Gomes de Oliveira. O trabalho ainda em fase de
construção, não apresenta conclusões, mas apresentará as reflexões na busca de compreender quais
processos, dinâmicas, e estratégias sociais refletem no discurso dos professores, as ideologias do
período da construção da identidade nacional no Brasil.
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Esse texto tem a finalidade de discutir a presença de escravizados e libertos nas escolas
noturnas baianas no final do século XIX, a partir do artigo da Constituição brasileira de 1824. Nela
estava previsto que somente cidadãos frequentassem as escolas públicas, porem há evidências
desses sujeitos em escolas públicas noturnas. Como os escravizados eram considerados apenas
indivíduos e a grande maioria dos libertos era vista com o estigma da escravidão, eis uma
contradição legal que pode ser uma evidência da ação desses sujeitos e dos que se mobilizavam
pelo fim da escravidão ao enfrentar o modelo de sociedade paternalista, racista e escravocrata da
época. A elaboração do texto parte da apresentação do que foram as escolas noturnas no período
até que no seu segundo ano de criação, na Bahia, houve casos de escravizados e libertos
frequentando as aulas. Será feito o cruzamento entre correspondências de professores aos diretores
da Instrução Pública e aos presidentes da Província, os relatórios de presidentes da Província e a
bibliografia escolhida sobre a época. Discutiremos a ideia de que as mobilizações das “camadas
populares” podem gerar o impacto nas determinações legais até alcançarem conquistas
significativas para essas populações, como sugere Thompson.
O presente trabalho busca, por meio de um estudo de caso, analisar o papel da família na
longevidade educacional de seus herdeiros. Para isto será posto em exame um testamento
registrado na Comarca de Vila Rica em 1761. O vocábulo herdeiro ganha um sentido único na obra
de Pierre Bourdieu. Em verdade, este vocábulo vira um conceito plenamente operacional para o
objeto investigado por Bourdieu: o sentido da educação francesa na segunda metade do século XX.
Então este trabalho, utilizando–se do referencial teórico-metodológico bourdiesiano, busca
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compreender a estratégia educativa escolhida por uma família em Vila Rica do século XVIII. O
desafio proposto é duplo, pois busca de um lado compreender a reconversão de capitais empregada
por esta família a partir do registrado pelo testador em seu testamento e de outro a
operacionalização de conceitos, elaborado para pensar o século XX, em outro contexto histórico.
Por isso, esta pesquisa pode contribuir para o aperfeiçoamento do aparato conceitual elaborado
por Pierre Bourdieu e também contribuir para uma compreensão mais complexa e também integral
daquela sociedade. Sendo assim, utilizando conceitos fundamentais da teoria bourdiesiana como
capital cultural, social e econômico, este trabalho vai analisar ação da família para garantir a
educação de seu herdeiro. Daí a importância de pensar o herdeiro em um outro contexto histórico,
social e cultural. Neste sentido, este trabalho busca indicar como o aparato conceitual cunhado por
Pierre Bourdieu pode ser utilizado para pensar fenômenos ligados à História da Educação mesmo
que para tempos pretéritos. Ainda que pese a inexistência de um sistema educacional massificador
e reprodutor como o dos dias atuais o aporte teórico-conceitual cunhado por Pierre Bourdieu tem
muito a contribuir para a compreensão do século XVIII mineiro. Assim, para este trabalho busca-
se, a partir deste testamento do século XVIII, compreender como esta família lida com a educação,
no sentido mais amplo do termo, que pretendia legar a seu herdeiro. A pesquisa em História da
Educação para América portuguesa é bastante rarefeita e por isso, urge um trabalho que busque
compreender o papel da família do século XVIII na conquista do letramento. Portanto, este
trabalho, a partir da leitura Pierre Bourdieu e do estudo deste caso buscará fazer um exercício de
abordagem desta fonte neste período a partir do aparato conceitual de Pierre Bourdieu.
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noção é capaz de extrapolar a centralidade da escola – mesmo que não a negue – como espaço
social do educativo por excelência. Nesse sentido, chamamos atenção para o aspecto polissêmico
do termo, o que, no nosso entendimento, menos do que uma fragilidade torna-se um virtude, a
medida que é capaz de captar o aspecto plural, complexo e multifacetado que o educacional pode
assumir na sociedade em diferentes tempos e espaços. Outrossim, chamamos atenção para o modo
como a noção de Educação Social estimula a estabelecer relações com categorias bastante fecundas
no campo da teoria social como, por exemplo, Trabalho e Formação, deste modo abrindo margem
para pensar e captar diferentes trajetórias educativas, individuais ou em grupo, nos diferentes
tempos e espaços, e mediados ou em relação com diferentes produtos ou manifestações culturais.
Avançando no debate para além da sua ideia primeira de absorção ou incorporação dos excluídos
ou marginalizados por meio do preparo para o trabalho, procuramos firmar o entendimento de
que a Educação Social comporta ainda outras possibilidades. Longe de pretendermos definir ou
esgotar os significados da noção de Educação Social, pretendemos, nos limites desta comunicação,
sinalizar alguns pontos que acreditamos possam enriquecer as pesquisas em torno da historicidade
das formas escolares e não-escolares de educação. Sobretudo, destacamos contribuições em torno
da delimitação de novos objetos de investigação, bem como de outras possibilidades analíticas, ao
mesmo tempo em que procuramos dimensionar suas implicações sobre os elementos do fazer
historiográfico em educação, tais como a produção e uso de fontes, a produção de recortes
temporais e espaciais e a proposição de marcos teóricos. Finalmente, procuramos indicar alguns
limites para o emprego desta noção, chamando atenção para a necessidade de refinamento da
própria expressão bem como dos marcos teóricos e metodológicos que mobiliza, para que evitemos
o esvaziamento da sua pertinência pela ausência de rigor conceitual.
A presente pesquisa toma como objeto a formação do cidadão que se buscou desenvolver
em duas instituições escolares religiosas são-joanenses, o Colégio Nossa Senhora das Dores e o
Colégio Santo Antônio, por meio da análise das práticas escolares vivenciadas pelos estudantes que
tomam forma na materialidade das fontes (documentos administrativos, fotografias e jornais
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escolares) e nas memórias de sujeitos participantes do processo (por meio de entrevistas com ex-
alunos). No que se refere ao recorte cronológico estabelecido, destaca-se que as análises estão
centradas entre os anos de 1940 a 1960, englobando os anos finais da ditadura estadonovista de
Getúlio Vargas e um pouco mais de uma década da experiência democrática vivenciada no Brasil,
representando, deste modo, um período de marcantes transformações políticas. A escolha por esse
recorte justifica-se pela necessidade de pensar a educação nesse período de transição política, sendo
este um processo ainda pouco explorado pela historiografia educacional, principalmente no que se
refere à busca pela compreensão das práticas e vivências escolares. Desse modo, pretende-se buscar
compreender aspectos de permanências e transformações na perspectiva de formação dos
cidadãos, norteados durante o Estado Novo pela cultura cívica, discurso eugenista e valorização
do trabalho, e as nuances que isso toma nas práticas escolares. Tais análises, como mencionado
acima, estarão centradas em duas instituições escolares religiosas de São João del-Rei: O Colégio
Nossa Senhora das Dores, oferecendo os Cursos Normal e Ginasial para moças de famílias médias
e abastadas da cidade e região, tendo sido fundado em 1898 pelas vicentinas; e o Colégio Santo
Antônio, que formava rapazes de grupos abastados de diferentes regiões do Brasil, oferecendo os
Cursos Ginasial e Secundário, cuja fundação ocorreu em 1909 pelos franciscanos. Ambas as
instituições empenharam importante papel na História da Educação são-joanense, marcando a
memória educacional da cidade. Para tal análise, utilizam-se como fontes da pesquisa os
documentos administrativos; os impressos, com maior atenção aos jornais estudantis "O Porvir"
do Colégio Santo Antônio e "Stella Maris" do Colégio Nossa Senhora das Dores; as fotografias
escolares, localizadas nos citados jornais, em meio ao acervo documental e em acervos pessoais de
ex-alunos(as); e as memórias de ex-alunos(as), regatadas por meio da metodologia da História Oral.
O presente trabalho visa compreender a proposta por Gonzaga Duque para a História do
Brasil contida em seu livro didático Revoluções Brasileiras. Luis Gonzaga Duque-Estrada (1863-
1911) viveu e observou as diversas transformações ocorridas na cidade do Rio de Janeiro e em sua
sociedade, incluindo mudanças políticas, nas relações sociais e urbanísticas. Reconhecido crítico de
arte, atuou intensamente na imprensa periódica colaborando e fundando várias revistas e, não
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Sendo, portanto, o livro didático fonte e objeto desta investigação cabe destacar que sua
escolha decorre da compreensão que o livro didático como produto de seu tempo e que por meio
dele percebem-se as relações entre a cultura, o ensino e a política. Um dos responsáveis pela
permanência dos discursos fundadores da nacionalidade, o livro didático também apresenta uma
realidade social a ser lida, bem como uma projeção para o futuro.
Publicada pela primeira vez em 1898, Revoluções Brasileiras carrega marcas de seu tempo,
como, por exemplo, a defesa do regime republicano. Defesa esta realizada através da construção
de uma nova versão autorizada da História do Brasil para a República Brasileira. Notadamente,
Revoluções Brasileiras é um livro didático de história distinto dos seus contemporâneos, nele
Duque propõe uma leitura do passado por meio de movimentos contestatórios da ordem vigente,
buscando evidenciar aos leitores as raízes da República no passado da nação.
Buscando compreender a proposta, bem como as escolhas de Gonzaga Duque para a sua
narrativa histórica optou-se pela análise dos prefácios autorais “Advertência” e “Por que
Revoluções?” presentes em Revoluções Brasileiras. A escolha destes textos foi motivada pela
característica deste tipo paratextual uma vez que este é percebido como o começo do livro e o fim
da escrita, aquilo que estabelece relação entre título e o assunto da obra, entre o autor e o texto,
bem como entre o leitor e o texto. Assim sendo, aproximou-se das intenções e anseios do autor
que vislumbrou no ensino de História um elemento fundamental para a educação cívica do povo,
assim como para a edificação de uma identidade nacional mais sensível aos valores republicanos.
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norteadora desta pesquisa foi: Como a Escola Estadual “Professor Fábregas” influenciou e
continua influenciando a vida da comunidade luminarense durante estes cinquenta anos de
existência e que instrumentos foram utilizados na construção da identidade educacional
luminarense? Desta forma, as articulações entre as narrativas da comunidade e a trajetória
educacional da escola, permitem o entendimento da forma peculiar como cada docente constrói
sua trajetória e determina o desenrolar do percurso institucional e profissional. Em comemoração
aos cinquenta anos da escola, faz-se necessário o registro das comparações de metodologias de
ensino utilizadas durante as décadas, em consonância às assertividades culturais do meio
luminarense e regional. Como resultado, pretende-se trabalhar as bases educacionais atuais com
projeção de argumentos consistentes à formação de cidadãos.
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Quem era esse candidato/artista? De qual lugar ele falava? O que significa ser artista no
século XIX? Tais questionamentos sugerem uma oportuna análise sócioantropológica dos
processos pedagógicos, pelos quais esses indivíduos eram submetidos. A metodologia utilizada será
a etnografia de arquivos pautada na análise de fontes primárias do Museu Dom João VI, sendo:
documentos de admissão acadêmica, atas e regimentos institucionais, trabalhos acadêmicos, obras
finalizadas, entre outros, além da revisão bibliográfica.
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Proposta do Simpósio:
Este Simpósio Temático tem por objetivo a mobilização da categoria gênero para a
compreensão da construção de relações de gênero em diversas dimensões históricas, simbólicas e
imaginárias. Entre os eixos a serem debatidos, elencamos a problematização da categoria sexo
como construto histórico e a edificação da noção de incomensurabilidade de gênero elaborada a
partir da diferença percebida entre os sexos. Há quase 30 anos, Joan Scott (1989) colocou na pauta
historiográfica a categoria de “gênero”, apresentada pela autora como “útil para análise histórica”.
Desse período em diante, inúmeras pesquisas foram elaboradas, tendo como principal objeto de
estudo: as mulheres, antes invisibilizadas e excluídas da história. Reflexões importantes e
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significativas foram construídas ao longo desses anos e se estenderam para além da história das
mulheres, questionando identidades, sexualidades e relações de gênero em diversas dimensões
históricas, simbólicas e imaginárias. Nas palavras de Scott (1995), esses estudos possibilitaram uma
visão mais ampla de gênero que incluía não somente o cenário doméstico, mas o campo do
trabalho, educação, cultura, política, sociedades e instituições. Nessa perspectiva, abrimos espaço
para possibilidade de pensar as mais diversas temáticas afins às nossas pesquisas. Como o trabalho
filantrópico feminino nos séculos XIX e XX como uma maneira de questionamento a organizações
de gênero vigentes naquele contexto, uma vez através desse trabalho as mulheres participaram da
vida política e criaram redes de sociabilidades, saindo dos limites da esfera privada e transitando
pela esfera pública. Ao “sair” dos lares as mulheres criaram agendas próprias, tais como: proteção
à maternidade, saúde pública, segurança social, educação e bem estar social. Os temas relacionados
à sexualidade e à reprodução ganham especial enfoque, sob a concepção de que esses campos
desempenham relevante atuação no que tange à normatização e à normalização da sociedade,
sobretudo a partir do século XIX, quando se intensifica a produção de discursos biomédicos em
torno desses temas.
Comunicações:
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Ao longo dos anos, muitos silêncios, ausências e exclusões femininas entraram na pauta
das produções acadêmicas auxiliando no preenchimento de lacunas históricas em vários períodos
e espaços. Contudo, ainda existe um longo caminho a ser percorrido para que a narrativa sobre a
presença e participação ativa das mulheres ao longo da história seja conhecida. Nessa perspectiva,
esta embrionária pesquisa tem o intuito de realizar um balanço da produção historiográfica sobre
a história das mulheres e do gênero no Brasil, e apresentar um tema ainda pouco discutido na
academia, principalmente no campo da história. Este tema refere-se à ao papel exercido pelas
mulheres no âmbito do patrimônio cultural, seja ele de natureza imaterial e/ou material.
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A ideia, portanto, é apontar algumas reflexões sobre os conflitos existentes entre a tradição
e a contemporaneidade, como por exemplo, no processo inserção da mulher em práticas culturais
e religiosas que antes lhes eram negadas. Além disso, serão apresentados casos de práticas culturais
femininas que foram reconhecidas como patrimônio imaterial brasileiro, bem como discutir o papel
das mulheres na construção e salvaguarda desse patrimônio.
Para isso, propomos o entendimento da participação das mulheres nesses dois momentos
históricos a partir da perspectiva de gênero proposta pela britânica Joan Scott, que busca
compreender a mulher enquanto sujeito histórico, inscrevendo as mulheres na história e quebrando
paradigmas.
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Se Espinoza, no século XVII, questionava o que pode o corpo, aqui não se empreende
responder, mas também questionar: o que pode o corpo, agora, enquanto materialidade discursiva?
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O que pode o corpo queer, o corpo que não pretende se fixar, que supõe uma não-acomodação,
que admite uma ambiguidade, um não-lugar, um trânsito, um estar-entre?
À luz dos estudos queer emergidos na década de 1990, enquanto teoria e movimento, e da
aproximação a autores como Deleuze, Derrida e Foucault, a presente comunicação analisa a
trajetória de Indianara Siqueira, mulher trans, prostituta e coordenadora do coletivo
TransRevolução – ou, como se descreve, “uma pessoa de peito e pau”; e o seu protesto pessoal
“Meu Peito, Minha Bandeira, Meu Direito”. Indianara Siqueira expôs seus seios enquanto
protestava na Marcha das Vadias no Rio de Janeiro em 2013 e, identificada por policiais como do
fenótipo feminino, foi detida e levada a julgamento pela prática de ato obsceno em lugar público,
crime previsto pelo art. 233, do Código Penal. Todavia, se a justiça a condena, reconhece legalmente
que socialmente é uma mulher e cria a jurisprudência de que travestis e transsexuais devem ser
julgadas pela autodeclaração da identidade de gênero e não pelos documentos. Se a justiça não a
condena, reconhece que é um homem e concede o direito de se expor em público e não ser
enquadrando como crime pela legislação.
É na reflexão sobre um corpo que não busca se inserir no fundamento, mas provocar uma
torção num modelo idealizado, instituído e naturalizado de fundamento que reside o objetivo desta
pesquisa.
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intervir em todos espaços privados e como era a exposição da mulher nos processos de uma cidade
do interior de Minas Gerais. Além disso, torna-se importante compreender a aplicação das leis
definidas para o âmbito nacional e analisar as mudanças legislativas do código penal no século XX.
Esta comunicação é parte de uma pesquisa de mestrado, ainda em andamento, cujo objetivo
é compreender como homens e mulheres eram representadas em imagens e descrições nos
anúncios publicitários da loja Mappin entre os anos 1931 e 1945, para com isso discutir os modos
de interação dos corpos masculinos e femininos com objetos e com os espaços doméstico e urbano
ali representados. Tomando como referencial teórico os estudos da área de cultura material,
partimos do pressuposto de que a representação das figuras femininas e masculinas – bem como
seus acessórios pessoais, indumentária, objetos cenográficos e espaciais – possuem papel ativo na
configuração de identidades sociais.
Deste modo, as posturas em que os corpos são desenhados, os cenários que os ambientam
e as descrições presentes nos textos, criam noções distintas de masculino e de feminino. Para
investigar essas diferenças, propomos a análise comparativa de dois anúncios publicitários do
Mappin, um que convida as mulheres a visitarem as “mais belas exposições de modas”, e outro que
divulga os serviços de alfaiataria prestados pela loja. Por meio desta análise, pretendemos mostrar
que a masculinidade era vinculada a atributos que diziam respeito à individualidade, ao passo que
a feminilidade constituía-se por atributos alocêntricos, isto é, voltados para o outro, para o externo.
A Ilustração foi um movimento que comportou um amplo leque de ideias e debates, mesmo
não correspondendo a um movimento de ideias de caráter sistemático. A base racional e os valores
universais de liberdade e igualdade foram características fundamentais do pensamento ilustrado. O
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discurso revolucionário francês se apropriou desse aporte de ideias para desenvolver um discurso
aparentemente monolítico e de pretensões universais. A construção desse discurso deu-se, em
grande parte, na esfera intitulada República das Letras, que era predominantemente masculina, feito
por homens e para homens. Acreditamos que a história das mulheres expõe a hierarquia implícita
em muitos relatos históricos, por isso ela desafia e desestabiliza as premissas disciplinares
estabelecidas na História e seu objeto: os homens no tempo. Pretendemos demonstrar, por meio
das teorias gênero, o caráter culturalmente construído do discurso revolucionário francês que se
baseou nas diferenças percebidas entre os sexos para explicar desigualdades “naturais” e ainda
demonstrar como foi forjado discursivamente um consenso em que seu tempo era uma intensa
disputa simbólica por representação política. Para isso, usaremos de diversos escritos republicanos
sobre a questão feminina na Revolução, demonstrando como foi a preocupação de autores como
Condorcet, Prudhomme, Guyomar, entre outros que se interessaram sobre os papéis dos sexos em
meio à derrubada do Antigo Regime. Entendendo o gênero como categoria intrinsecamente
relacional, contrastaremos as ideias vindas desses pensadores com as demandas das mulheres que
tomaram forma nas palavras da filósofa francesa Olympe de Gouges. Suas ideias são férteis para
problematizarmos como a autora elaborou uma proposta diferenciada para a construção da
feminilidade e da masculinidade em meio à Revolução que desmontava uma sociedade de Antigo
Regime, em que as diferenças, inclusive as de gênero, eram consideradas naturais e dadas em
estamentos sociais.
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Um estúdio histórico e social da literatura exige dar conta não só dos processos de escritura
e de leitura das obras, senão da ligação que existe entre sociedade e cultura. Essa relação é percebida
pelos jornais, pois as publicações periódicas são um termômetro que mede o desenvolvimento
cultural da sociedade. Portanto, nas páginas da imprensa situam-se as oposições entre o cânone
literário e aquelas formas alternativas ou periféricas de escritura que são inerentes às manifestações
socioculturais. Um exemplo destas formas de escritura subalterna é a literatura escrita por mulheres,
cuja análise supõe um rompimento com a historiografia androcêntrica tradicional. Baseada no
anterior, esta pesquisa busca analisar os indícios e os sinais de subjetividade na escrita de Soledad
Acosta de Samper (1833-1913), literata colombiana do século XIX que fundou e escreveu em
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diferentes jornais ao longo da sua vida. Assim, partindo do individual, se abordam os processos de
atuação que as escritoras empregaram a fim de abrir-se passagem no movimento cultural; ou seja
que, a partir de um caso específico, se examina a relação que existe entre a esfera pública, a
produção literária e a subjetividade da mulher escritora nos jornais do século XIX na Colombia.
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O objetivo deste texto é pensar a temporalidade que informa, ainda que implicitamente, o
campo de pesquisas acadêmicas denominado Teoria Queer. Para tanto, serão mobilizados os
conceitos de regime de historicidade e de presentismo articulados pelo historiador François Hartog.
O primeiro como ferramenta analítica das temporalidades em geral e o segundo como contexto
temporal (visto que o presentismo é descrito pelo autor como o regime de historicidade próprio
das sociedades ocidentais a partir do fim do século XX) do aparecimento da Teoria Queer. Assim,
parto do entendimento de que a Pós-modernidade, cujo regime de historicidade é o presentismo,
tem informado a elaboração dos estudos Queer. Dessa forma, algumas das questões que o texto
investiga são como e em que medida a pós-modernidade informa a Teoria Queer; como esta
concilia, ou tenta conciliar, as ambiguidades opressivas da temporalidade pós-moderna. Neste
quadro, o queer é realmente subversivo? Como o é? E o que ele quer realmente subverter?
Finalmente, em sua forma mais geral, a questão é se a Teoria Queer pode ser uma trilha crítica a
ser percorrida no labirinto pós-moderno.
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principal líder, a bióloga Bertha Lutz, cuidou do acervo da instituição até sua morte, no ano de
1976. Na década de 80, todo o acervo foi doado ao Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, o qual faz
a curadoria desde então.
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disso para sua atividade. Deve-se assim, resgatar conexões com as práticas do microcomércio
interpessoal e do papel e espaço social reservado ao personagem feminino em Portugal e África,
para compreender com essas mulheres conjugavam sua herança, ressignificando e flexionando seus
conhecimentos com as normas civis teoricamente limitantes forjadas num Brasil mestiço.
Compreender como ela transitava entre seus interesses e suas limitações também implica
na análise da especificidade do local em que atuou: uma colônia do Império Português, assim como
da moral religiosa e os modos de viver no Brasil, e mais especificamente, nas Minas Gerais.
Destaca-se, além disso, seu papel nas regiões mineradoras, e como essas mulheres
frequentemente agiam em solidariedade aos mineradores, auxiliando a contrabandear minério e
dando informações relevantes. Também se pode analisar a extensão de seus conhecimentos sobre
a arte do comércio: sabiam que essas regiões em específico possuíam não apenas possíveis clientes,
mas indivíduos com poder aquisitivo passível de gerar lucro. Sua presença nessas regiões foi
notável, causando inclusive certa tensão com as autoridades coloniais, que ao longo do século
XVIII buscaram restringir a presença dessas negras e mestiças nas lavras.
Concluindo, defende-se aqui que as negras de tabuleiro não eram vítimas à mercê de sua
condição e da figura masculina, mas que possuíam mobilidade social e eram capazes de organizar-
se de forma a conquistar espaços e objetivos pessoais independentemente.
O presente artigo tem como finalidade historicizar sobre o recorte da violência contra a
mulher no início do século XX na cidade de Belém, por intermédio da literatura de cordel.
Observando a violência no seu aspecto de demonstração de poder patriarcal na sociedade brasileira,
visto que a emergência sobre essa temática no Brasil está em constante discussão. O objetivo do
texto é compreender as representações que os cordelistas repassavam sobre a violência para a
população. Apresentando uma reflexão inicial sobre a historiografia da mulher e da literatura de
cordel. Diante dos estudos, percebeu-se que os poetas subdividem a violência em violência física,
psicológica e homicídio.
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PALAVRAS-CHAVE:
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deslegitima, em certa medida, a história das mulheres, considerando-a uma mera ideologia,
garantindo lugar apenas no campo do sexo e da família e excluindo-a de áreas comumente
consideradas mais sérias, como a política e a economia. Entretanto, para as historiadoras feministas
a compreensão que se tem do passado, a partir dessa perspectiva, é parcial, já que a história das
mulheres não está circunscrita na História. Pretende-se, portanto, uma revolução na concepção
tradicional: “inscrever as mulheres na história pressupõe necessariamente a redefinição e o
alargamento das noções tradicionais do que é historicamente importante. Tal metodologia implica
não só em uma nova história das mulheres, mas em uma nova história”. (Scott, 1990: 04). Nessa
perspectiva, pensando a sala de aula como um reflexo, em certa medida, da realidade social, decidi
por analisar como as questões de gênero se reproduzem ou se modificam no ambiente escolar, a
partir do material didático utilizado. Para tanto, escolhi, por hora, trabalhar dois conteúdos básicos
do ensino fundamental: Revolução Francesa e o voto feminino no Brasil. Acredito que a
invisibilidade das mulheres nos instrumentos de educação aliena as meninas na compreensão de si
mesmas como agentes de sua própria história e impossibilita a construção de novas relações de
gênero que sejam mais igualitárias e democráticas em um local privilegiado para que esse projeto
se concretize, a escola.
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maternidades fáceis e de belos filhos. Mas que não se esgotassem prematuramente nos bailes
dansantes, reconhecidos pelo cronista como cheios de contatos suspeitos e culpados por acordar
os apetites. Assim, o objetivo deste artigo é apresentar como a cidade mineira Uberaba se
preocupou com a educação do corpo feminino na primeira metade do século XX através da coluna
de Alceu Novais. Usamos como metodologia principal o trabalho com fontes primárias, o
periódico Lavoura e Commercio, os números referentes ao ano 1933.
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Proposta do Simpósio:
A história política é uma das vertentes historiográficas que mais tem se renovado nas
últimas décadas, o que pode ser verificado pelo menos desde os anos 1970. Como argumentou
Bronislaw Baczko (1985), principalmente a partir do emblemático ano de 1968, os símbolos, os
mitos, os ritos e as utopias, deixaram, paulatinamente, de serem considerados ilusões ou produtos
de uma realidade dita séria, objetiva e coercitiva. Nesse sentido, os historiadores e os demais
estudiosos das humanidades têm se voltado para os processos de percepção e imaginação que
marcam a vida em sociedade, incluindo a sua dimensão política. Considerando essa perspectiva,
propõe-se reunir neste simpósio temático, propostas que se dediquem às relações entre os
domínios das artes e da política nos séculos XIX e XX. Pretende-se dialogar com pesquisas em que
as artes plásticas, o cinema – bem como outras representações ligadas à cultura visual - a literatura
e o teatro, por exemplo, são tomados não apenas como desdobramentos do contexto social e
político em que se desenvolvem. Com efeito, o mundo social é construtor de e é construído por
processos de sensibilidade. Essa premissa é fundamental para a compreensão dos projetos, das
expectativas, dos comportamentos e dos movimentos políticos nos séculos XIX e XX; período em
que se formaram ou consolidaram diferentes culturas políticas, como: a liberal, a socialista, a
anarquista, a integralista e a nazista. Entretanto, consideramos importante também os trabalhos
que discutam as (re) significações de outras temporalidades no período em questão, uma vez que
essas apropriações podem ser reveladoras de escolhas, importantes em seus significados. Vale
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destacar, por último, que se as artes transformam as formas como a realidade política é edificada e
pensada, a própria historiografia sobre o político pode ser - e por vezes é – modificada a partir dos
debates desenvolvidos nesse campo. Por essa razão, trabalhos que se proponham a tecer análises
teóricas ou historiográficas sobre a relação exposta, também são bem vindos.
Comunicações:
PALAVRAS-CHAVE:
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O movimento de direitos civis dos negros americanos, ocorrido ao longo das décadas de
50 e 60, foi fundamental para a transformação da sociedade nos EUA, já que tinha como principal
objetivo o banimento da prática segregacionista no país, que até então era legalizada por lei.
Nascido no sul, esse movimento se difundiu por todo aquele país de forma gradual, mas sistemática
e disciplinada, e conquistou várias vitórias. Diversas estratégias foram utilizadas pelos ativistas em
seus protestos, desde boicotes e caminhadas, passando por comícios e shows. Neste contexto a
música se transformou em uma importante ferramenta de engajamento, e várias composições
foram feitas com objetivo de difundir a causa do movimento negro. A cantora Nina Simone aderiu
a luta pelos direitos civis de forma intensa, chegando a ser alçada por parte de seus pares como a
voz que cantava os direitos civis. Nina preenchia vários dos pré-requisitos para se tornar uma diva
do jazz, bela voz, a técnica e o talento no piano, todavia optou por não se manter omissa em relação
a luta dos negros por respeito e igualdade com composições expressavam o sentimento de revolta
e por justiça. O objetivo desta comunicação livre é demonstrar os meandros da militância de Nina
Simone pelos direitos civis nos EUA e fazer uma breve reflexão dos impactos e entrelaçamentos
deste engajamento em sua carreira, vida pessoal e em parte da história do movimento negro
americano.
PALAVRAS-CHAVE:
Organizado e celebrado pelo coletivo de dança Grupo Corpo, com roteiro de Fernando
Brant e música de Milton Nascimento, o espetáculo Maria, Maria se insere no contexto cultural
brasileiro em um ambiente artístico consumido preferencialmente pela elite. A ideia da
apresentação é perceber como a minoria negra no contexto da Ditadura Militar no Brasil (1964-
1985) articulou sua cultura através de seu roteiro e encenação com a dança e a música ligadas à
elite, no caso o Ballet e a Música Popular Brasileira (MPB) respectivamente, valorizando suas
particularidades e dialogando com o sincretismo, incluindo análises sobre a recepção do público
brasileiro e estrangeiro ao espetáculo. A proposta central do trabalho é pesquisar o nascimento do
espetáculo Maria, Maria com roteiro de Fernando Brant e música de Milton Nascimento e as
repercussões que teve na cultura brasileira da época de sua encenação (1976-1982). Com o Grupo
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Corpo, coletivo de artistas que começou suas apresentações de Ballet com Maria, Maria, o
espetáculo percorreria várias regiões do Brasil e de outros países da Europa e da América do Sul.
Pretendo trabalhar com a letra e melodia das canções (posteriormente o espetáculo seria gravado
em disco); notícias e notas em periódicos sobre Maria, Maria; influência cultural da comunidade
negra na elaboração do roteiro do Ballet; entre outros. Apesar de o espetáculo ser creditado
musicalmente a Milton Nascimento e Fernando Brant, outros membros da Formação Cultural
Clube da Esquina participam das gravações das músicas. Explicarei, portanto, como o Clube
permanece unido nos trabalhos solo dos seus músicos. Concluirei discutindo como a questão de
gênero aparece no espetáculo do ponto de vista de sua personagem principal.
PALAVRAS-CHAVE:
Esta comunicação busca analisar a conexão entre as antigas canções dos escravos, os
“spirituals”, com as canções de protesto na luta pelos direitos civis dos negros norte americanos
da década de 1960. Como material de análise utilizamos o documentário: “Soundtrack of
revolution” e alguns textos que tratam sobre a temática da luta dos negros ao longo da história,
fazendo um paralelo entre o período da escravidão até a década de 1960. Para que possamos
entender o que foi o movimento pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, inicialmente,
voltamos ao período da escravidão para compreendermos desde o início, como surgiram a
segregação, o racismo e também, como se manifestaram as lutas por liberdade e resistência. Na
sequência, faremos uma conexão entre a resistência escrava e suas canções, os spirituals, com as
canções de protesto entoadas nas igrejas, nas marchas e manifestações na década de 1960, na luta
pelo reconhecimento dos direitos civis, por liberdade e igualdade.
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PALAVRAS-CHAVE:
Este trabalho propõe uma abordagem das relações entre o imaginário trágico e a formação
da ideia de um teatro moderno no Brasil, considerando-se, para isso, o marco canonizado que foi
o espetáculo "Vestido de Noiva", escrito por Nelson Rodrigues e encenado em 1943. Apresentada
como uma “tragédia em três atos”, a peça se propôs um gênero francamente pouco explorado
pelos autores teatrais brasileiros de então. Isso significa que, no período, o espaço da tragédia era
muito mais literário do que uma realidade nos palcos do Rio de Janeiro, o que se mostrava exceção
quando das temporadas de companhias estrangeiras, algo cada vez mais raro em face da Segunda
Grande Guerra. Assim, essa condição de "Vestido de Noiva" já trazia, a priori, destaque e
legitimação proporcionados por uma grande valorização desse gênero no imaginário intelectual. A
sua força pode ser verificada na composição dos clássicos que pertenciam ao panteão da literatura
universal e que se apresentavam fundamentais como símbolos de cultura e erudição e como
modelos a serem amplamente estudados. Pretende-se, portanto, explanar os elementos e objetivos
trágicos contidos nessa obra de Nelson Rodrigues, assim como discutir as suas relações com a
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democrático. Muitos destes trabalhos insinuam a repetição da barbárie, nos quais estão em jogo
não apenas a representação da catástrofe, mas a presentificação, ou seja, tornar útil o passado
atualizado em memória. Em um dos trabalhos analisados – “Inserções em Circuitos Ideológicos:
Projeto Cédula” – de Cildo Meireles, notas de Real são carimbadas com a pergunta: “O que
aconteceu com Amarildo?”, prolongando um gesto antigo, de 1975, quando cédulas de Cruzeiro
foram carimbadas em provocação à ditadura: “Quem matou Herzog?”. A presentificação evidencia
a denúncia, talvez possibilidade única da Arte diante das catástrofes.
Pretendo, portanto, nesse trabalho, discutir as encomendas realizadas pelo Senado Imperial
durante a presidência do Visconde de Abaeté (1861 a 1873), sabe-se que o senador encomendou,
ao menos, quatro obras de caráter histórico. Darei especial atenção àquela realizada ao pintor Victor
Meirelles e que retrata o Juramento da Princesa Isabel na ocasião de sua primeira regência no ano
1
¹CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Difel, 1990 p. 17.
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de 1871. Abaeté realiza a encomenda no mesmo ano e Meirelles expõe o quadro, ainda inacabado,
na Exposição Geral de Belas Artes de 1875.
As narrativas queirozianas sobre a segunda metade do século XIX são marcadas por uma
aguda crítica a alguns dos projetos civilizatórios da modernidade ocidental; nomeadamente, os que
se referem ao liberalismo ou ao cientificismo de matriz positivista. As sociedades “modernas”,
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Bernardo Élis Fleury de Campos Curado, escritor goiano considerado por muitos o
introdutor do modernismo no centro-oeste, guia intelectual da região por décadas, primeiro goiano
a ingressar na Academia Brasileira de Letras, comunista “notório”, produziu uma obra de espessura
crítica, cujo tema central foi o sertão goiano. Nesta apresentação vamos explorar como a obra desse
autor se conectou com um momento histórico específico: o da ascensão política do campesinato
brasileiro.
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participou ativamente do debate intelectual que então se travava. Ao contar de uma República que
era construída longe do que era comum, recriando literariamente os pontos de tensão e ancoragem
das relações sociais e de poder estabelecidas nos sertões, apontando o não concretizado do projeto
político brasileiro, Bernardo Élis estabeleceu o limite de um mundo que não poderia mais existir.
Sua contribuição literária para o debate sobre o campo brasileiro é relevante não só por colocar a
questão na ordem do dia, mas por qualificá-la, humanizando seus personagens. Élis construiu
imagens e sentidos particulares para seus camponeses, posseiros, vaqueiros, jagunços, assim como
para patrões, coronéis, juízes, delegados e soldados. Costurando história, política e ficção, o autor
modelou um sistema de ideias que iluminou possibilidades, oferecendo sua visão da vida, e
evidenciando a possibilidade de integração política das margens.
Este trabalho pretende abordar, as mulheres que se destacaram no meio musical em Belém
do Pará, no início do século XX. Busca-se relacionar a mulher nos anos 30, com os espaços em
que ela poderia se inserir através do ramo musical, dentre eles a Rádio Clube do Pará, o Instituto
Carlos Gomes, e destacando-se em apresentações no Theatro da Paz, desse período. O recorte
histórico trata do período entre guerras mundiais, onde o Brasil, após a Revolução de 30, estava se
iniciando a era Vargas com novas propostas para a educação voltada para a valorização da pátria,
a instituição das leis trabalhistas, o início do projeto do Estatuto da Família, e a modernização do
país, que trouxe o rádio. No Pará, foi a época dos governos de Magalhães Barata e José Malcher,
sendo em 1932 a Revolução Constitucionalista e em 1935 o governo provisório de Roberto
Carneiro de Mendonça. As fontes utilizadas, foram jornais, atas, e principalmente os programas de
concertos, localizados no acervo Vicente Salles, acervo do Professor Jonas Arraes, e acervo da
Fundação Carlos Gomes. E por meio dessas fontes, podemos perceber a influência da música tanto
na educação em geral, quanto na educação especificamente das mulheres; a participação ativa das
mulheres na música; e a questão política que influenciava as apresentações musicais. Portanto, o
artigo será discutido em 3 tópicos. O primeiro, traz a história das mulheres, a conceituação de
gênero, e a educação das mulheres na República, no início da Era Vargas. O segundo, que vai
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mapear a história da música, que mostra um pouco das contribuições do período da belle époque,
e o canto orfeônico. E o terceiro, que vem discutir as fontes dentro dos espaços musicais, sendo
eles o Theatro da Paz, o Conservatório Carlos Gomes, e a Rádio Clube do Pará.
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vinicius.freitas94@hotmail.com
Proposta do Simpósio:
O Simpósio Temático tem como fio condutor o enlace entre a arte e a religiosidade na
sociedade cristã ocidental, reunindo pesquisas que envolvam o campo da cultura visual, em sua
vertente devocional, ou seja, a produção artística de cunho religioso nas mais diferentes formas,
técnicas e suportes. Da mesma forma, partimos do pressuposto que a obra artística devocional não
é uma ideia desencarnada ou simples ideologia, sem raízes no seu tempo; nem um mero reflexo do
contexto sociocultural em que se situa. Assim atentaremos para o meio social em que ela está
inserida, as experiências e expectativas de religiosos e leigos promotores da fé e da arte. O meio
religioso sempre se destacou como espaço de fortalecimento identitário e hierárquico, forjando
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Comunicações:
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Nosso trabalho está relacionado os personagens do clero das Minas Gerais especialmente
aquilo que concerne à cultura material, ou seja, parte do meio ou produto físico apropriado cultural
e socialmente por um grupo, um indivíduo ou uma sociedade. Objetos de devoção e de ordem
cotidiana que pertenciam aos Padres da Congregação da Missão, são apropriações simbólicas que
dizem muito a respeito do grupo, em nosso trabalho analisamos castiçais, canetas-tinteiros,
pratarias, autorretratos, crucifixos, louças de uso cotidiano, objetos de marcenaria, música,
agricultura, relíquias, livros, imagens religiosas entre outras. O estudo dessas peças nos ajuda a
compreender o ethos católico mineiro, sua influência na sociedade laica e uma história do cotidiano
dos padres e suas personalidades mediante a análise de gostos e preferências. Institutos como
IPHAN e IEPHA, que já inventariam alguns desses materiais, ajudará a compor as circunstâncias
do objeto, em linguagem arqueológica, entretanto, é de suma importância agregar o máximo de
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informações possíveis sobre esses materiais, para continuarmos a elaborar verbetes descritivos
desses objetos. No Brasil grande parte das análises sobre os grupos históricos está relacionada às
fontes chamadas imateriais, principalmente, os ditos documentos escritos, o que restringe as
reflexões não só as teorias subjacentes a tais documentos, bem como as circunstâncias da escrita,
podendo ser na forma de carta, livro, relatórios etc. Nos pautaremos por um estudo arqueológico
circunstanciado, ou seja, o isolamento para análise dos objetos per si, cruzando com informações
escritas numa análise comparativa. O cruzamento do artefato e fontes escritas como inventários,
associado a um estudo dos usos e significados que os objetos possuem para os grupos em questão,
redundará no verbete menos informativo e, portanto, consubstanciado desses objetos ajudando na
sua divulgação e possíveis tombamentos, na qual por fim disponibilizaremos o material de forma
on-line na página do LAMPEH (Laboratório Multimídia de Pesquisa Histórica), sediado na
Biblioteca Central da UFV.
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‘Missa de Suassuy’ e ‘Missa em Fá’; estes também divergindo das regras preconizadas no velho
mundo à época.
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Num recorte da interiorana Sabará mineira, sujeitos à noturna, entre sociabilidades festivas
e um saber-fazer artístico, encontram-se nas ruas da cidade para compor ressignificações do festejo
católico de Corpus Christi. Nessa festa e rito, recriam anualmente este caminho epifânico por meio
da feitoria dos tapetes de serragens, expressando práticas de uma educação pela cidade, entre
memórias e culturas. Apropriada da cultura popular e tradição religiosa, os participantes da feitura
dos tapetes delineiam renovados entendimentos acerca de enlaces entre culturas e memórias que
acontecem nos repasses e trocas geracionais. No processo, recriam-se tradições religiosas e
expressões culturais materiais e simbólicas que conferem singularidades à cidade e às relações entre
seus moradores. Nesse cenário, prenhe de significações e ressignificações a pesquisa espera
apreender, nas relações entre as gerações, as ressignificações das expressões culturais de sujeitos,
suas socialidades, nas relações intergeracionais. A pesquisa pretende oferecer algumas contribuições
pertinentes ao educar pelas ruas da cidade, numa captura sensível que debruça o olhar sobre as
relações sociais e neste ‘fazer gestual’, onde aprendizagens, vivências e saberes populares fazem do
tapete o lócus de processos educativos na e pela cidade. Neste sentido, vislumbra-se como
abordagem metodológica a pesquisa etnográfica com utilização da triangulação de dados, buscando
no trabalho de campo coletar (e comparar) dados por meio da observação registrada em diários de
campo, por meio de entrevistas semiestruturadas (por gravação direta) e por meio de materiais
visuais (vídeos e fotografias).
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instituição com os governos e com a elite no país a fim de reafirmar seu poder de influência política,
moral e social. Tratou-se de posturas reconhecidas pela historiografia como "neocristandade".
Dentre as estratégias adotadas, estaria o rearranjo de poder de influência das dioceses, incluindo-
se a criação de novos bispados no território nacional. Prezando por ideais como de "ordem" e
"tradição", a Igreja também recorreu a cultos e vocabulários artísticos reconhecidos então como
tradicionais na história da Igreja católica para auxiliar nessas estratégias das dioceses. Tratou-se,
como exemplo, da escolha das formas arquitetônicas do gótico medieval para compor novas
construções eclesiásticas. Além disso, o culto do Sagrado Coração de Jesus, oficializado no século
XIX, seria uma manifestação devocional também adotada pelos partidários da neocristandade,
consagrando-se muitas igrejas neogóticas brasileiras sob esta invocação. O objeto tomado para esta
comunicação é a construção da Catedral neogótica de Petrolina atrelada à criação dessa diocese na
década de 1920 em Pernambuco. O objetivo desse trabalho é evidenciar, portanto, as relações
tecidas entre o culto do Sagrado Coração de Jesus, a arquitetura neogótica eclesiástica no Brasil e
as atitudes de neocristandade das dioceses nos chamados "sertões" brasileiros. Tomou-se como
base teórica os pressupostos de uma História Cultural repousada sobre a produção arquitetônica,
a fim de evidenciar não apenas as questões formalistas da Catedral, mas as práticas e representações
evidenciadas na construção e apropriação dessa arquitetura na Petrolina da década de 1920.
Recorreu-se a fontes locais da região como periódicos e documentos da diocese a fim de perceber
as relações estabelecidas entre o bispado e as diferentes instâncias dos governos no processo de
construção da Catedral neogótica e sua repercussão. Concluiu-se que apesar de não ter sido uma
escolha oficializada pela Igreja, o uso do neogótico para compor novas construções de catedrais e
paróquias foi recorrente durante o período da neocristandade no Brasil, associando-se também a
um fortalecimento de cultos tradicionais como do Sagrado Coração ou da Imaculada Conceição
no sentido de fortalecer o poder espiritual e político da Igreja Católica junto à população.
O culto à Nossa Senhora do Carmo é antigo na região das Minas Gerais e ela tornou-se
uma devoção cara à sociedade, compartilhada por vários grupos sociais. As Ordens Terceiras do
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Carmo mineiras surgiram em meados do século XVIII, num momento de consolidação social,
política e religiosa, agrupando parcela poderosa da população. No entanto, mesmo sendo uma
associação da elite mineira, tais sodalícios não monopolizavam a devoção à Nossa Senhora do
Carmo, pois tal sentimento religioso foi compartilhado pelos membros daquela sociedade, desde
sua conformação inicial, nos últimos anos do século XVII e início do século XVIII. O fruto
eminente dessa religiosidade é um importante e rico acervo cultural que representa, de forma
significativa, a história da Ordem, repleta de fatos lendários e fabulosos. Figurativamente, isso se
traduz em símbolos e representações que remetem à origem emblemática ainda no Antigo
Testamento, com Elias e Eliseu; à sua fundação histórica no século XIII, com São Simão Stock; à
reforma do Carmelo Descalço, conduzida por Santa Teresa d’Ávila e São João da Cruz; e não
menos importante, à hierofania, ou seja, a manifestação do sagrado nas várias aparições de Nossa
Senhora do Carmo.
Apresentar a relação entre arte, devoção e sociedade, a partir das imaginárias em marfim
catalogadas em Minas Gerais, são os objetivos desta comunicação, cuja pesquisa faz parte do
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06 a 10 de Junho – Belo Horizonte: Departamento de História, FAFICH/UFMG, 2016.
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Encontro de Pesquisa em História
06 a 10 de Junho de 2016
Foram realizadas pesquisas em acervos do IEPHA/ MG, IPHAN/ MG, Museu Regional
de São João Del Rei e SUMAV. Nestes acervos foram identificadas ao todo 68 peças em marfim,
com predominância das imaginárias religiosas, totalizando 61 peças, destinadas ao uso litúrgico e
ao devocional. A partir desse levantamento, pode-se observar que a produção das imagens
devocionais em Minas Gerais seguiram dois vieses: um de cunho externo, que seguia a tradição
portuguesa e cristã de representar os santos de devoção, o outro, condicionado por fatores
específicos concernentes à formação da capitania de Minas Gerais, que influenciaram
profundamente as características sociais e culturais das Minas Setecentistas.
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Encontro de Pesquisa em História
06 a 10 de Junho de 2016
Livros de horas podem ser definidos como livros de orações que continham, além do
Pequeno Ofício da Virgem Maria, outros ofícios, salmos e textos – a maioria deles em latim - para
a edificação e recitação diárias dos leigos, de acordo com as horas canônicas.
Eles são instrumentos de novas práticas religiosas que se conformam na virada do século
XII para o século XIII, com a expansão da experiência da devoção pessoal e da meditação aos
leigos, que praticam a devoção a fim de se sentirem agraciados pela santidade, participando, desse
modo, da vida dedicada a Deus. Tais livros continham, ainda, iluminuras: um tipo de imagem
contida principalmente em livros manuscritos, que têm a função de auxiliar na compreensão de um
texto, e que para a sua confecção era utilizada preferencialmente a folha de ouro. Por conta de sua
rica iluminação, os livros de horas são considerados verdadeiras obras de arte.
O livro de horas chegou ao Brasil com a Real Biblioteca Portuguesa em 1808, e permaneceu
aqui até hoje na seção de manuscritos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Dentre os quatro
remanescentes desta coleção, destaca-se o livro de horas 50,1,1, anteriormente dito de D. Fernando.
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Encontro de Pesquisa em História
06 a 10 de Junho de 2016
Com um colofão aparentemente falso que por anos levou à uma identificação errônea, este
manuscrito é com certeza a joia da coleção, com 77 iluminuras de tamanhos variados. Apresentar
este manuscrito, levando em consideração seu conteúdo, sua iluminação, e todas as questões que
envolvem sua datação, origem e proveniência é, assim, o objetivo desta comunicação. Para tal serão
levados em consideração estudos preliminares feitos por outros pesquisadores sobre este
manuscrito, bem como análises iconográficas inéditas. Espera-se com esta comunicação ampliar o
interesse por este patrimônio histórico e artístico contido na Biblioteca Nacional, que se configura
também importante fonte historiográfica para elucidação de práticas religiosas e sociais da Idade
Média e da Época Moderna.
Como afirma inspiradamente Hans Belting, “toda apresentação histórica da arte sempre
esteve ligada a um conceito de arte que tinha que ser comprovado exatamente por meio dela”.
Segundo essa perspectiva, calcada em evoluções históricas e em teorias estilísticas, o objeto de arte
individual constitui um fragmento ou parte de uma etapa pela qual a “norma da arte era cumprida”.
Paradoxalmente, a norma cunhada a posteriore é utilizada como determinante, que submete toda
produção de uma determinada “situação histórica”. O estilo, ou essa maneira narrativa de situar
personas, objetos, grupos e tendências em conformidade a uma lei, tornou-se a grande ferramenta
de construção narrativa da História da Arte. A “lei” da arte de um tempo, forjada no discurso
histórico da arte, mas que de algum modo perdeu sua acepção artificial – como ferramenta e
artifício, se é que algum dia teve -, sendo transplantada aos diversos contextos num pretensioso
universalismo ocidental; como uma realidade orgânica do sistema das artes.
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Encontro de Pesquisa em História
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pós tridentina, não obstante, trataram de procurá-lo aqui. O século XVIII na colônia é então visto
como um período dominado pelo “espírito barroco”, tridentino e recrudescido. A proposta que
aqui se desenrola visa uma breve análise dos discursos e narrativas produzidos sobre a “arte
brasileira” do setecentos, de forma a entender suas filiações. Entendendo o lugar de construção de
uma história da arte autóctone, assombrada por conceitos e periodizações incorporados,
formulando limites e parcelas temporais que talvez não sejam de fato verificáveis no contexto em
questão - quando não inúteis. Principalmente, balizando a indiscriminada e genérica aplicação do
termo Barroco, evidenciando que sua utilização universal é imprecisa.
As acusações de crime ritual feitas a partir do século XII, com a morte do menino anos
conhecido como Guilherme de Norwich (1144), trazem algumas questões importantes para
historiografia ainda não amplamente discutidas aqui no Brasil. Por vezes a tese proposta por
Phillipe Ariès, a qual afirma que não havia um conceito de infância até o século XVIII, pode ser
debatida com esta lenda que surgiu em torno do assassinato deste menino de doze anos. A morte
de Guilherme de Norwich inicialmente não obteve uma grande repercussão local. Apenas seis anos
após o ocorrido, com a chegada do monge beneditino chamado Thomas de Monmouth, este
episódio passou a chamar alguma atenção aos arredores de Norwich. Thomas começou a escrever
um conjunto de livros intitulado A vida e a paixão de Guilherme de Norwich. Ao decorrer da obra
cita-se não só como teria ocorrido o assassinato do menino em questão, mas também se formula a
lenda de crime ritual, considerada como verídica por parte dos leigos e dos clérigos, que cucularia
pelo continente europeu até meados do século XX. As imagens atribuídas a Guilherme de Norwich,
principais fontes deste trabalho, se restringem à região do extremo leste da Inglaterra e foram
produzidas majoritariamente no século XV. Busca-se demonstrar como uma criança supostamente
assassinada pelos judeus e intitulada mártir por um monge beneditino pode demonstrar um
reconhecimento do conceito de infância no século XII. A associação da morte de um menino de
doze anos no período de Páscoa a um martírio é um indício de concepções extraoficiais acerca
deste grupo específico de santos existentes dentro da Igreja na Idade Média Central.
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Encontro de Pesquisa em História
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Encontro de Pesquisa em História
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Objetiva-se com essa pesquisa articular a tríade cinema, memória e esquecimento, como
instrumento para revelação de uma narrativa histórica e social negro-brasileira, que se manifesta
através da presença do passado no presente e que coloca o observador no centro da discussão pela
poética das reminiscências do filme. Entende-se que a narrativa fílmica é uma forma de preservar
a memória, de escrevê-la, experimentá-la e de vivê-la. Além de ser um importante suporte
contemporâneo para a escrita de uma história não hegemônica, que prioriza a narrativa das minorias
e dos marginalizados pela historiografia oficial e dominante. Dentro do campo metodológico a
etnografia é a grande aliada para o desenvolvimento do olhar na medida dos dois rituais citados.
Conta-se ainda com a revisão de literatura perante as temáticas abordadas, além do trabalho em
cima do conceito de memória expandida apresentada por Le Goff.
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Encontro de Pesquisa em História
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meados do século XVIII. As pinturas mencionadas, produzidas na segunda metade do século XIX,
apresentam um programa iconográfico semelhante, o que permite traçar relações entre a fatura das
duas obras, técnicas de produção, mecenato artístico e também compreender a circulação de
modelos e gravuras pelo amplo território mineiro. Além do mais, este trabalho possibilita a
discussão sobre a permanência prolongada em Minas Gerais, de uma tradição artística vinculada às
pinturas perspectivadas de linguagem rococó, utilizando-se para isto, de duas obras artísticas ainda
pouco estudadas e que podem contribuir com as pesquisas acadêmicas em andamento no meio
historiográfico que se relacionem a mesma temática.
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Encontro de Pesquisa em História
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Proposta do Simpósio:
A historiografia nas últimas décadas tem lançado luz sobre temáticas ligadas as novas
interpretações e enfoques que buscam compreender as relações de poder, as atuações individuais
e as práticas cotidianas desenvolvidas no século XVIII e XIX. Ressalta-se que o simpósio terá para
o século XIX a delimitação cronológica até 1850 que tem como marco a proibição do tráfico de
escravos que leva a transformações das relações econômicas e políticas e por consequência uma
mudança em que o Brasil paulatinamente se distancia da lógica colonial, e surgem novas questões
fundamentais para o período, o que fugiria da intenção do Simpósio Temático. Seguindo por este
campo de debate, nossa proposta é promover um Simpósio que se apresente como espaço de
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Encontro de Pesquisa em História
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discussão entre os pesquisadores que se dedicam aos estudos desta temática, seja pela perspectiva
da problematização das instituições e as estruturas administrativas e seus agentes, como também à
análise das trajetórias individuais e dos grupos, as vivências e redes de sociabilidades dos
personagens que conformaram o espaço colonial e Imperial. Serão privilegiadas pesquisas que
versem sobre política e administração, o exercício da justiça no âmbito civil e eclesiástico, assim
como as análises dedicadas ao estudo das redes sociais e mercantis, sua constituição e seus agentes
além das investigações que examinem os conflitos e motins ligados aos mecanismos de repressão
e controle social, relações entre Brasil e outros impérios, bem como os debates que levantem
questões sobre a religiosidade, a cultura popular e a escravidão. Pretende-se contemplar trabalhos
que lancem mão das diversas fontes disponíveis, sejam testamentos e inventários, além dos
processos administrativos, jurídicos e inquisitoriais, e que contem com as múltiplas metodologias
de pesquisa, como a micro-história, prosopografia, análises de redes sociais, histórias conectadas,
entre outras. Portanto, o presente simpósio temático tem por objetivo acolher os trabalhos que
debrucem sobre a questão da colônia e do Império no século XVIII e XIX a partir de propostas
que possibilitem a discussão e o intercâmbio de conhecimento.
Comunicações:
Nas últimas décadas, a historiografia sobre o Império Português passou por uma
importante reavaliação em seu campo de pesquisa. O modelo, antes interessado pela narrativa das
conquistas lusitanas conjugada pelas perspectivas da metrópole, é, aos poucos, contraposto – e
complementado – pela chamada História Atlântica, um espaço de discussão em amplo
desenvolvimento que busca integrar as múltiplas dimensões e movimentos que conformaram o
mundo atlântico – e não apenas lusitano. A partir deste procedimento, diversas pesquisas ganharam
um fôlego significativo, sobretudo em confluência com método micro-analítico. Estas análises,
interessadas também pelas dinâmicas coletivas de personagens considerados distantes das esferas
centrais de poder, são capazes de demonstrar como tais agentes tiveram um papel fundamental na
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construção dessa multiplicidade atlântica, atuando na construção das interconexões que vincularam
os espaços da Era Moderna.
É por tal viés analítico que esta comunicação deseja apresentar um estudo de caso acerca
dos mecanismos de cooperação e constituição de redes comerciais encabeçadas por sefarditas
portugueses, comumente conhecidos como cristãos-novos ou conversos. O grupo aqui estudado
atuou em diversas praças comerciais portuguesas e nos territórios atlânticos, entre o final do século
XVII e as três primeiras décadas do século XVIII. Em um primeiro momento, tais indivíduos
operaram no comércio inter-regional português, passando então para um contexto mercantil muito
mais amplo: entre a metrópole, a América portuguesa e África. Desta forma, por fim, esta
comunicação pretende relatar a trajetória de alguns destes agentes, seus vínculos afetivos e os
mecanismos de cooperação utilizados para o desenvolvimento e a organização desta rede comercial
nos espaços em que atuaram.
PALAVRAS-CHAVE:
A presente pesquisa tem como objetivo central a análise da Irmandade de Nossa Senhora
da Conceição, localizada no arraial de Nossa Senhora da Conceição do Campo Alegre dos Carijós,
na comarca do Rio das Mortes, como uma instituição cujas relações político-econômicas
condicionavam a ascensão de poder dos indivíduos que a associavam, na primeira metade do século
XVIII. Os primeiros dois quarteis do Setecentos foram marcados pelo boom da exploração aurífera
e da ereção da Irmandade, bem como pela tentativa de anexação da administração portuguesa em
território mineiro por parte de D. João V. Assim, a Irmandade induzia indivíduos que procuravam
poder, elevação e prestígio social. As Irmandades de N. S. da Conceição eram conhecidas por
agremiar apenas pessoas da elite e de “qualidade” branca. Procuraremos por meio de utilizações de
fontes como testamentos e inventários, delinear o perfil dos indivíduos e os grupos que formavam
no interior da Irmandade, e analisar se realmente eram apenas indivíduos de ""qualidade"" branca,
se eram do Reino ou Colônia, ou se realmente eram da elite.
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Encontro de Pesquisa em História
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Uma longa linha de tratadistas e jurisconsultos apresenta a justiça como o elo entre o
soberano e o plano divino, bem como entre o regente e seus súditos. É papel da justiça garantir a
ordem social. A presente investigação analisa a “Carta sobre a Usura”, obra pouco conhecida e
escrita pelo poeta e inconfidente Tomás Antônio Gonzaga. A “Carta da Usura” consiste em um,
entre muitos outros documentos que reiteradamente ratifica a justiça como mecanismo necessário
ao ordenamento social. O objeto de análise é o conceito de justiça operacionalizado por Tomás
Antônio Gonzaga para defender a usura praticada de forma justa. O documento analisado é a
“Carta Sobre a Usura” de Tomas Antônio Gonzaga, escrita por volta de 1783. Na edição analisada,
a carta compõem o Tratado de Direito Natural, escrito por Gonzaga com intuito de concorrer a
cátedra de direito da universidade de Coimbra, aproximadamente entre 1772 a 1773. A carta,
compilada nesse tratado, é fruto de uma consulta jurídica feita pelo então Intendente do Ouro da
Real Casa da Fazenda, Gregório Monteiro Pires Bandeira. A “Carta sobre a Usura” apresenta uma
clara defesa da usura e mobiliza de forma criativa argumentos contra a proibição da prática por
parte da religião cristã. Ou seja, o texto de Gonzaga consiste em uma desconstrução da proibição
da prática usurária recorrendo para isso de argumentos do jusnaturalismo e da própria bíblia. Ao
defender a Usura moderada como justa, Gonzaga traz elementos para se pensar a própria noção
de justiça, a qual, sem abrir mão do seu papel no ordenamento social, estaria presente na costumeira
prática usurária. Nos argumentos que apresenta, Gonzaga flutua entre o interesse pessoal e o
coletivo, entre o justo e os excessos da usura que não condizeria com a concepção corrente de
justiça da época, qual seja “dar a cada um aquilo que se tem direito”.
"Não vê a Luz (ainda que de olhos abertos) quem não a quer ver": notas
sobre a produção cartográfica durante o Tratado de Madrid (1752-1760)
Millena Souza Farias
millena.msf@gmail.com
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Encontro de Pesquisa em História
06 a 10 de Junho de 2016
A cartografia sobre o território brasileiro ao longo do século XVIII pode ser comparada a
um quebra-cabeças, no qual faltavam ainda muitas partes. A dificuldade de adentrar os sertões e as
poucas expedições realizadas haviam deixado poucos registros. Muitos mapas eram feitos com base
em relatos, crônicas e os jesuítas tiveram papel importante nesse processo. Todavia, a partir da
segunda metade do Setecentos, Portugal, por meio de tratados de limites, deu início a uma tentativa
de sistematizar a produção cartográfica do território em paralelo com as demarcações dos limites
estabelecidos nos acordos com a coroa espanhola. Uma primeira tentativa ocorreu durante a
demarcação do Tratado de Madrid, expedição que durou de finais de 1752 a início de 1760. Durante
essa longa expedição subdividida em equipes e etapas, muito material escrito foi produzido;
inclusive materiais cartográficos. São sobre esses mapas e os agentes que os produziram que
debrucei-me durante minha pesquisa nos últimos dois anos. Os principais agentes, cartógrafos,
engenheiros, rabiscadores (desenhistas), homens que dominavam a arte de representar o terreno
no papel, utilizando escalas e instrumentos matemáticos. Dentre estes, destacaram-se não somente
portugueses, mas também estrangeiros, como foi o caso do italiano Miguel Ângelo Blasco,
engenheiro e cartógrafo. Dessa forma, este trabalho busca ser um breve estudo de caso, com os
devidos debates sobre disputas de poder; representação e olhar sobre o Novo Mundo e sobre o
papel fulcral desses homens de ciência, tendo como pano de fundo a expedição enviada para a
demarcação da América meridional em 1752.
“De cofre não tem mais que o nome”: desvios de conduta e práticas ilícitas
na Provedoria de Defuntos e Ausentes, Capelas e Resíduos na América
Portuguesa
Wellington Júnio Guimarães da Costa
wjunioc@yahoo.com.br
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Encontro de Pesquisa em História
06 a 10 de Junho de 2016
O presente trabalho tem como objetivo apresentar alguns resultados encontrados durante
a pesquisa de Mestrado, que debruçou-se sobre a execução da justiça ordinária e o perfil
socioeconômico dos indivíduos que atuaram como juízes ordinários do período delimitado. A
justiça em primeira instância ocorria nos quadros da Câmara Municipal através do desempenho do
juiz ordinário ou de fora. Na região de Vila do Carmo esse cargo foi criado em 1711, passando a
ocorrer a eleição de dois juízes ordinários como previsto nas Ordenações Filipinas. Os juízes
ordinários atuaram nessa região até 1731, quando foi criado o cargo de juiz de fora.
Os juízes ordinários se diferenciavam dos juízes de fora principalmente pelo fato de serem
designados para o cargo através do processo de eleição. Os primeiros eram eleitos pelos homens
bons, através dos processos de pelouros em mandatos de um ano, enquanto os últimos eram
nomeados pelo rei dentre bacharéis letrados, com o intuito de ser o suporte ao poder real nas
colônias. Os juízes de fora eram eleitos para mandatos trienais e submetidos a Leituras de Bacharel,
exigência irrevogável para se ingressar na carreira da magistratura oficial.
Podemos afirmar que na maioria das Câmaras mineiras prevaleceu a atuação dos juízes
ordinários durante todo o século XVIII, assim esses juízes tiveram um papel importante na
execução judicial local. Na região de Vila do Carmo encontramos 33 (trinta e três) indivíduos
atuando como juízes nas primeiras décadas dos setecentos e o nosso objetivo foi definir algo
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O presente trabalho visa analisar as redes parentais desenvolvidas entre as famílias Caldeira
Brant e Horta durante o período colonial brasileiro que acabaram por resultar na ascensão social
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Encontro de Pesquisa em História
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e política do futuro marquês de Barbacena, Felisberto Caldeira Brant Pontes de Oliveira e Horta,
senador do Império e conselheiro de Estado de D. Pedro I. Barbacena foi figura política destacada
não apenas do reinado do primeiro Imperador, como também da primeira metade do século XIX
tendo tomado parte em importantes episódios políticos do Primeiro Reinado e das Regências. A
família Horta foi uma das principais famílias da nobreza da terra paulistana que desenvolveu uma
das redes familiares mais importantes e influentes das Minas setecentista. As estratégias geradas por
Maximiliano de Oliveira Leite, um dos membros do tronco da família Horta, resultaram em nada
menos do que três futuros conselheiros de Estado de D. Pedro I: José Egídio Álvares de Almeida
(marquês de Santo Amaro), João Severiano Maciel da Costa (marquês de Queluz) e Felisberto
Caldeira Brant Pontes (marquês de Barbacena). Já os Brants são originários de um ramo ilegítimo
da família de Brabant, a partir do nascimento de João de Brant, filho bastardo de João III, duque
de Brabant, com a Mademoiselle de Huldenberg. Deste tronco familiar, quando chegado ao Brasil,
destacaram-se as figuras de Ambrósio Caldeira Brant e Felisberto Caldeira Brant. O primeiro foi
um dos primeiros povoadores do arraial do Rio das Mortes, atual São João del Rei, e responsável
pela união entre os troncos familiares dos Brant e Horta ao contrair matrimônio com Josefa de
Souza, da família Horta, em 1704. O segundo arrematou o terceiro contrato de Diamantes do Serro
Frio, atual Diamantina, e alcançou grande prestígio e fortuna para sua família na região até a sua
desgraça em 1752, fruto de suas desavenças com Sancho de Andrade Castro e Lanções, Intendente
das Minas.
Mapear as redes familiares de Felisberto Caldeira Brant Pontes de Oliveira e Horta é, antes
de tudo, compreender as estratégias e alianças desenvolvidas pelo futuro marquês de Barbacena
para alcançar o topo da hierarquia social e política no Império do Brasil. Desta forma, defendemos
que as práticas e os costumes desenvolvidos no Império do Brasil, estavam mais próximos de uma
cultura de Antigo Regime do que propriamente de uma sociedade pautada em princípios liberais,
resultado de nossa herança colonial.
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Proposta do Simpósio:
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históricos, seus trânsitos culturais e materiais, desde as Américas, perpassando pela África, até o
Oriente, enfocando as importantes dimensões da expansão ibérica no mundo moderno, tais como:
ideias e práticas no contexto colonial; as conexões estabelecidas entre diferentes personagens,
comunidades e instituições nos espaços coloniais; os diversos modos de atuação de indivíduos,
grupos e instituições civis e religiosas; e as mestiçagens biológicas e/ou culturais estabelecidas pelas
experiências do contato entre diversos grupos no mundo moderno. Nesta perspectiva, o intuito do
Simpósio é reunir pesquisadores e estudiosos das relações intercontinentais entre África Lusa, Ásia,
Portugal e Brasil, dentro do contexto do Império Português, durante os séculos XVI ao XVIII.
Acredita-se que tal perspectiva possibilita evidenciar as “simbioses” e as diferenças nas relações
construídas cotidianamente, no encontro de populações tão diversas, integrantes de um império
vasto e que tinha como sua tônica principal, a diversidade.
Comunicações:
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Encontro de Pesquisa em História
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permaneceu na colônia, tendo sido comercializado e apreciado pela população de diferentes regiões
brasileiras.
Nossa pesquisa está mapeando o vocabulário político utilizado pelos padres da Companhia
de Jesus no contexto da ocupação da América Portuguesa. O foco principal incide na produção
intelectual do padre Manuel da Nóbrega, primeiro provincial dos Jesuítas no Brasil, sejam Cartas,
seja O Diálogo sobre a Conversão do Gentio. O intuito é discutir a produção intelectual de
Nóbrega, focando principalmente na construção de um provável projeto político de tutela da
sociedade colonial, identificando suas particularidades e suas generalidades no ambiente em que foi
gestado, bem como identificar a influência da convivência com os povos indígenas na construção
de tais projetos. A nossa abordagem metodológica se baseia nos trabalhos de Quentin Skinner e
J.G.A. Pocock. Algo que pode ser classificado como história das ideias políticas que, no entanto,
vai além disso, pois busca o contexto em que está inserido a produção e a recepção dos tratados
políticos. Dessa forma, estamos analisando contextualmente os escritos de Padre Manuel da
Nóbrega, tomando-os como dotados de uma intenção política e de um léxico político próprio.
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Encontro de Pesquisa em História
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de uma sociedade de Antigo Regime. Estudaremos mais de perto o caso de Amet, mouro natural
de Argel que foi escravizado em Espanha e fugindo para Portugal passando-se por cristão é
processado pela Inquisição portuguesa. Através do estudo do percurso deste escravizado,
problematizaremos as dimensões de movimento e trânsito do degredo e a operacionalização de
hibridismos culturais - tal como Homi Bhabha elabora o conceito - pelos próprios processados de
modo a agenciar seus destinos em condições específicas de opressão.
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Desse modo, observar as informações dos relatos sob esse filtro nos fez compreender que
foi observado e descrito por Gândavo e Silveira sob a ótica utilitarista, terminou por expressar
anseios da administração portuguesa à época. A descrição, por vezes minuciosa, das riquezas e
benesses dos estados do Brasil e do Maranhão estavam inseridas numa dinâmica mais ampla, qual
foi a migração de lusitanos para essas terras, etapa importantíssima para assegurar a posse das terras
em questão em uma época de ameaças estrangeiras constantes na disputa ultramarina entre nações
por riquezas de povos não-europeus.
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A presente comunicação tem por objetivo central analisar o contexto inicial da chegada dos
religiosos da Companhia de Jesus na então denominada Índia Portuguesa, a partir do ano de 1542
com a ida de Francisco Xavier à cidade de Goa. Compreendendo como importante aspecto da
consolidação da presença portuguesa no Oriente, os jesuítas foram responsáveis não somente pela
propagação do Evangelho entre as comunidades locais, mas também por expandir os espaços de
atuação politica e econômica da coroa portuguesa na Ásia. Além disso, este trabalho tem como
intuito discutir o uso do termo Império para definir as relações politicas, econômicas e culturais
que foram empreendidas pela expansão portuguesa no Oriente durante o decorrer dos séculos XVI
e XVII, levando em consideração as mais distintas formas de contatos que foram estabelecidas
pelos reinóis nos espaços asiáticos.
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Proposta do Simpósio:
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Comunicações:
PALAVRAS-CHAVE:
O ideal grego de educação conhecido como paidéia surgiu na Grécia e, em seu conceito, só
seria possível que o homem se educasse a partir do momento que ele alcançasse um determinado
grau de desenvolvimento, pois a educação faria parte da evolução da formação humana, pelo fato
de que o homem já possuiria características inatas em seu ser que deveriam ser desenvolvidas ao
longo do tempo possibilitando assim o auge de sua descoberta: a educação. As características inatas
do homem vêm a ser questionadas a partir do século XVII quando passa a ser discutida a teoria da
“tabula rasa”. Essa, por sua vez, consistia em dizer que o homem não possuiria características
inatas, mas que, ao nascer, o homem seria como uma folha em branco a ser preenchida sendo,
portanto, fruto de sua formação na qual viria a desenvolver seus talentos por meio de uma didática
pré-estabelecida que transmitiria o conhecimento por teorias devidamente reconhecidas.
As principais finalidades da educação viriam a ser discutidas por meio de sua teologia,
apontando como principal atribuição a emancipação humana, na qual seria requisito indispensável
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para que o homem exercesse plenamente sua cidadania. A educação profissional e tecnológica seria
de grande importância para essa concepção, pois trataria de questões diretamente relacionadas na
busca pela emancipação humana à medida que constitui uma educação contra hegemônica, pública,
unitária, universal, gratuita, laica e voltada para uma formação politécnica.
PALAVRAS-CHAVE:
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Médio e a academia, não para tornar a sala de aula um laboratório de pesquisa ou uma extensão da
academia, mas para que exista um contato entre ambas esferas e haja produção eficaz de
conhecimento. Dessa forma os professores poderão formar-se continuamente e dar aula de
maneira mais completa e eficaz, conscientes de seus posicionamentos historiográficos. Por fim,
ainda há um longo caminho a trilhar-se, e a docência, mesmo um mundo de possibilidades que é,
ainda se mostra desafiador.
Thayná Miclos
thay_miclos@hotmail.com
PALAVRAS-CHAVE:
Este trabalho tem por objetivo relatar a experiência de abordagem do tema “trabalho” e as
temáticas relacionadas ao mundo do trabalho, por meio da utilização da história temática, na
Educação de Jovens e Adultos. O trabalho foi desenvolvido a partir da contextualização e da
problematização de questões relativas ao mundo do trabalho e as vivências dos alunos do Projeto
de Ensino Fundamental – 2º Segmento do Centro Pedagógico da UFMG (PROEF2 –
CP/UFMG). A escolha do tema se deve ao fato de ser o trabalho um tema significativo para os
sujeitos dessa modalidade de ensino e também por permitir questionamentos mais amplos
relacionados à sociedade brasileira em diferentes tempos e contextos.
PALAVRAS-CHAVE:
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ensino médio é uma tentativa de fragmentar as concepções já estabelecidas por uma sociedade que
vive o mito da democracia racial. Esse trabalho é fruto da experiência adquirida enquanto bolsista
do Programa Institucional de Iniciação à Docência-PIBID, e tem como objetivo dissecar alguns
apontamentos teórico-metodológicos, sobre a compreensão e o conceito de identidade étnico-
racial no âmbito escolar.
Ao analisar o território brasileiro percebemos as suas multifaces que constitui sua cultura e
seu povo, que é a representação da diversidade plural e histórica. A identidade que nos afirma
enquanto indivíduos multiétnicos, se mostra em constante evidência em nossa matriz ancestral,
temporal e simbólica; segundo Hall (2011), a identidade é algo formado através de processos
inconscientes, ao longo do tempo, em que o sujeito social está em interação entre o meio e o todo.
A construção de uma identidade cultural está vinculada ao processo de territorialização do ser,
onde esse constitui sua formação através da estrutura. Esse trabalho teve como base de discussão
a implementação da Lei 10.639 de 09/01/2003, que dimensiona o ensino de História da África e
Cultura Afro-brasileira no currículo escolar, tornando-o obrigatório na educação básica. Nesse
sentido, Munanga (2005), coloca que só construiremos uma sociedade democrática, quando o
respeito à diversidade for evidente, respeitando, portanto, as matrizes étnico-raciais que deram ao
Brasil atual sua feição multicolor composta de índios, negros, orientais, brancos e mestiços. Essa
comunicação busca apresentar de que forma os alunos se auto identificam enquanto sujeitos,
dotados de cultura e história social; interpretando dessa forma, a diversidade que escola pública
está inserida. Trata-se, de algumas reflexões e apontamentos sobre a identidade racial e sobre a
cultura presente; buscando, sobretudo, criar debates sobre o tema e levantando a problematização
do preconceito racial existente, da miscigenação cultural, e da pluralidade social.
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No segundo semestre de 2015, após uma série de encontros, debates e seminários, o grupo
iniciou o planejamento de um evento maior e aberto ao público para debater temas relacionados
ao ensino de história. Ficou decidido que o evento abrangeria quatro temas: “A crise da história”,
“Propostas do governo para as licenciaturas”, “A história na BNCC” e “Dilemas contemporâneos
V EPHIS – V Encontro de Pesquisa em História da UFMG.
06 a 10 de Junho – Belo Horizonte: Departamento de História, FAFICH/UFMG, 2016.
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sobre memória”. Para cada tema foi montada uma mesa de debate, as mesas eram formadas por
especialistas da própria UFMG e de outras instituições. O evento aconteceu no dia 04 de dezembro
de 2015 e contou com 68 ouvintes, entre alunos de licenciatura, professores da educação básica e
professores do ensino superior.
O objetivo deste trabalho é desconstruir a ideia de que exista lacuna entre a escrita e o
ensino de História a partir da defesa da especificidade epistemológica de cada uma dessas práticas.
A primeira parte do trabalho apresenta as bases epistemológicas da escrita da História a partir dos
autores Certeau e Ricoeur; a segunda parte apresenta a epistemologia própria do ensino da História,
a partir de Monteiro e Gabriel; e a terceira parte elabora uma reflexão que visa desconstruir a ideia
de lacuna entre uma e outra Histórias.
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O presente trabalho pretende tratar das questões que dizem respeito às imbricações entre
escrita e ensino da história local. Ao considerarmos o local como um campo de reflexões
instigantes, objetivamos problematizar as lacunas verificadas na produção historiográfica sobre as
cidades emancipadas recentemente na Baixada Fluminense e da não existência de lugares públicos
dedicados à guarda, pesquisa e difusão do conhecimento sobre a cidade. Esse dado nos leva a
refletir sobre as disputas, ainda candentes, sobre a construção e seleção das memórias que devem
“contar a história da cidade”, se tornando responsáveis pela formação dos laços identitários que
devem unir o grupo. Segundo Rüsen, a memória histórica diz respeito ao “trato com a história e
seu papel na vida humana, é a realização ou atualização de um determinado tipo de memória”
(RÜSEN, s/d: 5). A memória histórica é apontada como um dos pilares para a construção de uma
cultura histórica que, nos termos estabelecidos pelo autor, "contempla as diferentes estratégias da
investigação científico-acadêmica, da criação artística, da luta política pelo poder, da educação
escolar e extraescolar, do ócio e de outros procedimentos da memória histórica pública, como
concretudes e expressões de uma única potência mental" (RÜSEN, s/d: 3). Assim, também
pretendemos abordar as tensões estabelecidas entre as memórias que vem sendo construídas acerca
dessas emancipações, no que tange o ensino de história, em face da escassez de orientações
curriculares para as escolas municipais que apresentem conteúdos relacionados à história de tais
municípios.
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Este artigo tem por objetivo, analisar a trajetória recente do PIBID – Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência, do curso de história da Universidade Federal do
Piauí, entre os anos de 2010 a 2014. Criado em 2007, o programa de incentivo a uma formação
docente mais qualificada, se tornou no contexto atual numa das mais importantes ferramentas da
política federal de formação de professores. Entendemos assim como Eneida Oto Shiroma, que
essa preocupação presente com o “formar” professores é parte de uma engrenagem política que
vem ganhando corpo nas políticas educacionais desde a década de 1970, pelo mundo, e mais
precisamente a partir da década de 1980 no Brasil, e que dialoga com uma agenda global que elegeu
a educação como área estratégica da economia. Nesse sentido, buscamos perceber o papel singular
do programa vem construindo ao adentrar as universidades bem como seus desdobramentos e
características que nos permite mapear seu impacto mais precisamente no curso e no ensino de
história. Entendemos que a educação é um fenômeno político, passível de debates da sociedade
civil, e fonte de expressão de projetos de nação e de sociedade. A escolha metodológica optada foi
pela das fontes orais, buscando nesse primeiro momento da pesquisa os relatos dos membros do
PIBID de História da UFPI que participaram como bolsistas e dos coordenadores de área do curso
de história no período abordado. Enfoque escolhido pelo reconhecimento das fontes orais como
importante caminho na construção de uma história do presente, ou uma história do imediato, bem
como analisa a historiadora Verena Alberti.
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Encontro de Pesquisa em História
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Esta apresentação busca inserir-se no debate sobre as diversas estratégias que podem ser
utilizadas pelos docentes com o objetivo de tornar mais atrativa a disciplina de História no Ensino
Básico, pautando-se em duas experiências, uma realizada em escola pública e outra em escola
privada, com a utilização de documentos manuscritos nas salas de aula. Objetivou-se proporcionar
o contato dos alunos com a documentação manuscrita, fazendo-os perceber que a história é
construída através da interpretação dos historiadores, e que essa leitura deve-se muito a própria
experiência do pesquisador e de seus objetivos. Essa aplicação levou os alunos a percepção de que
o documento não é isento de parcialidade em sua produção e que sua interpretação também não
escapa desse fardo. Assim, buscou-se auxiliar os discentes a desenvolverem um olhar crítico, não
apenas em relação aos temas discutidos pela disciplina, mas também perante às várias informações
da atualidade que chegam até eles através das mais variadas fontes, não raras vezes com diversas
versões de um mesmo fato. Em suma, pretende-se discutir uma técnica que possibilita ao docente
uma maior dinamização de suas aulas, tornando-as atrativas e construindo com os discentes um
olhar crítico sobre a história (curriculum escolar) e a própria atualidade.
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anaazevedoguedes@gmail.com
Proposta do Simpósio:
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parte de fontes literárias ou portadoras de certa literariedade, das trajetórias de autores, editores,
livreiros e leitores, para a investigação histórica; a biografia como um elemento híbrido, que
apresenta a trajetória e a possibilidade de abordagem sociológica e em outra medida a
ficcionalização da vida; a ficção, abordada aqui não como uma prisão fotográfica do mundo real,
mas como uma irrealização do próprio real e mesmo assim, apregoada nesse, portanto, deixa de
ser um construto observado e passa a ser desmanche e parte constitutiva desta realidade. Trata-se
de estabelecer a ficção como um dos cortes epistemológicos a fim de atravessar os três temas acima
citados, para compormos um diálogo metodológico entre os objetos de pesquisa histórica
(Literatura, Biografia e Poesia) e também como dimensão integrante da escrita histórica, além de
sua funcionalidade da divulgação histórica.
Comunicações:
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como indivíduos de moral dúbia e que se perdem em suas escolhas de vida. O estudo aprofundado
acerca de fenômenos culturais, neste caso a HQ inspirada num jogo eletrônico homônimo, exige
uma atenção especial por sua própria configuração, uma vez que possui variados matizes
simbólicos e discursivos. No entanto, tais fenômenos são artefatos que podem facilmente apontar
ideais, práticas, conceitos, angústias, conflitos sociais, constituindo-se uma eficiente ferramenta
para o historiador. Dito isto, o modelo de análise oferecido por Douglas Kellner (2001) mostrou-
se bastante eficaz para a realização deste estudo, pois a cultura da mídia fornece uma ampla gama
de símbolos que ajudam a configurar uma cultura comum para vários grupos sociais modelando,
cultivando e reproduzindo comportamentos. Tais elementos influenciam na composição das
representações do imaginário social acerca de variados temas e mecanismos sociais, contribuindo
também para a propagação de sentidos próprios. Neste sentido, passaremos a pontuar aspectos
encontrados na HQ, tanto no corpus da mesma, quanto nas informações sobre o processo criativo
do produto, que possibilitem perceber valores e signos culturais característicos de seu período de
produção. Pretende-se uma análise indiciária que identifique traços secundários e detalhes como
algo capaz de atingir os “sentidos partilhados”. Compreendemos que, para além de seu caráter
midiático e comercial, em sua configuração artística, tanto narrativa quanto visual, esse tipo de
documento possibilita um importante mecanismo de apreensão do real, do imaginário social
através de suas representações.
PALAVRAS-CHAVE:
A relação entre a história e a literatura é tão longínqua que nos remete diretamente a
Homero, o grande poeta da Grécia Antiga. Tradicionalmente atribuído como autor dos épicos
Ilíada e Odisseia, sua importância não reside apenas no campo estético, mas também na bagagem
histórica de sua época. A força de seus versos sobreviveu ao teste do tempo de tamanha forma
que, ainda hoje, ecoam no substrato ocidental. Nos tempos de Homero, tempos pré-escrita, onde
não havia sequer a palavra “literatura”, restava ao poeta e sua poiesis o papel de narrar os feitos do
passado, de geração a geração. Passados os anos, ainda hoje a literatura cumpre o papel de ser, por
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vezes, um objeto de memória, seja nos livros, poemas, cantos, romances, cartas, crônicas,
(auto)biografias, etc. Mas qual seria a importância de compreendermos e simpatizarmos com a
relação entre o poeta e a história? Em quê isso nos acrescentaria como indivíduos ou como agentes
de um corpo coletivo? Segundo o filósofo alemão Walter Benjamin, a história oficial é sempre
reducionista e parcial, pois é narrada através de um determinado viés, o daqueles que estão no
poder. Assim, essa história se torna um instrumento de perpetuação dos discursos dos vencedores,
da mesma forma que o esquecimento constitui-se em uma importante ferramenta de dominação.
Utilizando dessas noções como norteadoras para nossa pesquisa, pretendemos analisar brevemente
alguns versos de um poema do escritor mineiro Carlos Drummond de Andrade, intitulado
“Resíduo”. Este poema integra o volume de poesias lançado em 1945, nomeado como A Rosa do
Povo. O volume em questão é amplamente reconhecido pela crítica brasileira como uma das mais
importantes obras da literatura brasileira, pois conseguiu conciliar o sublime poético de Drummond
com um desnudar dos tempos sombrios em que o Brasil e o mundo viviam na época. Para lembrar,
o Brasil passava pela ditadura de Getúlio Vargas e seu Estado Novo, enquanto o resto do mundo
presenciava os horrores da 2° Guerra Mundial. Os poemas que compõe A Rosa do Povo são,
portanto, cheios de imagens e metáforas que trazem a tona e refletem sobre os fenômenos sociais
que ocorreram na época de produção.
PALAVRAS-CHAVE:
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Por fim, na última seção, apresenta-se um exercício de comparação entre imagens a fim de
identificar possíveis inspirações para o quadro de Bernardelli. São estabelecidos diálogos entre a
obra estudada e outras obras do mesmo artista, bem como entre trabalhos de artistas internacionais,
examinando-se tanto a semelhança na composição visual, plástica e pictórica, quanto proximidades
entre as narrativas construídas e os personagens retratados. Em suma, esta pesquisa busca elucidar
a história do real personagem Tomás Antônio Gonzaga, que se mistura à sua produção literária de
cunho romântico e satírico, além da história do pouco conhecido quadro e sua composição.
PALAVRAS-CHAVE:
O estudo de textos contemporâneos é importante não só pela sua carga temporal imediata,
mas também pela possibilidade de diálogo entre autores e leitores. A leitura de escritoras, no século
XXI, se faz mais necessária do que no passado: as mulheres nunca escreveram tanto, porém,
permanecem ainda pouco lidas. O foco desta pesquisa é entender como o corpo se constrói no
texto contemporâneo de autoria feminina – mais especificamente, na poesia de Ana Martins
Marques. Para tal, foram analisados os seus livros mais recentes, publicados nos últimos cinco anos:
“Da Arte Das Armadilhas” (2011) e ""O Livro das Semelhanças"" (2015). Tal autora foi escolhida
por tangenciar a temática do corpo – seja o próprio corpo humano ou o corpo do texto, e por
desenvolver uma poética do feminino.
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PALAVRAS-CHAVE:
O mito das Musas está presente em diversas obras da literatura grega arcaica, tendo os
poemas homéricos como umas das obras mais aclamadas do seu período, e onde encontram-se
diversas passagens que mencionam as deusas. Filhas de Mnemosine e Zeus, as Musas não foram
criadas apenas como memória, mas também para o “esquecimento dos males e pausa das
preocupações” (Teogonia, v.55). Sempre invocadas pelos aedos antes de começarem seus cantos,
as Musas são influências de diferentes inspirações para os humanos, e seus domínios vão além da
pura rememoração ou esquecimento. As Musas conhecem a verdade e a mentira e tem domínio
sobre o que falam. Ao contrário dos mortais comuns que não sabem e mentem por ignorância, elas
sabem e mentem conscientemente. Como afirma Jacyntho Brandão em seu livro “Antiga Musa”,
“no que concerne às Musas, estamos diante de um tipo de deusas que tão bem falam verdades
quanto mentiras, num discurso bem articulado e, mais ainda, agradável” (BRANDÃO, p.134). O
estudo das Musas é importante para compreender melhor o universo mitológico da Grécia Antiga.
Divindades que sabem de tudo que foi, do que é e do que será, e inspiração para as criações dos
homens, as Musas desempenham uma parte valorosa na cultura da sociedade grega antiga. Através
das representações das Musas nos textos antigos, procura-se entender os aspectos que cingem sua
criação, seu papel no panteão grego e sua influência sobre os homens mortais. Para entender toda
a complexidade que envolve o mito das Musas, é necessário estudar as menções às deusas em obras
da literatura grega arcaica e clássica, com base em teorias formuladas por autores da antiguidade e
contemporâneos.
A pesquisa utiliza como referência para o estudo fontes literárias antigas, como os poemas
de “Ilíada” e “Odisseia” de Homero, e a “Teogonia” de Hesíodo, em conjunto com a análise e
trabalhos de obras e autores contemporâneos. O trabalho se concentra nas passagens de Homero,
nos poemas “Ilíada” e “Odisseia”, que se referem às Musas. O estudo se dedicará principalmente
aos versos 484 – 493 do canto II da “Ilíada”, que precedem o Catálogo das Naus, nos quais,
segundo Luís Krausz, em “As Musas”, “as palavras ‘humanas’ do aedo são introduzidas à narrativa,
num fragmento de expressão humana dentro de um poema atribuído à divindade como um todo”
(KRAUSZ, p.53).
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A literatura brasileira anterior à ditadura militar instaurada a partir do ano de 1964, segundo
Silviano Santiago, caracteriza-se pelo processo de conscientização político-partidário, com
personagens campesinos e do operariado, acompanhada de crítica ao empresariado e as oligarquias
rurais. Uma literatura engajada no ideal desenvolvimentista, na libertação do homem e otimista
politicamente. Após o golpe militar, a literatura opta por refletir sobre as estruturas do poder, dando
início a uma crítica radical sobre qualquer forma de autoritarismo, abrindo prerrogativas para a
discussão do conceito de democracia, que passa a fazer parte dos discursos tanto da direita quanto
da esquerda política. A literatura não queria apenas mostrar os desmandos de uma classe abastada,
pois se percebeu que o poder ganhava outras faces. Negando as diferenças, surgiram forças
opressoras que buscavam uma uniformidade sexual, racial e comportamental. “A descoberta
assustada e indignada da violência do poder é a principal característica temática da literatura
brasileira pós 64.”
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Encontro de Pesquisa em História
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O Iluminismo francês foi um marco histórico construído sobre o pilar da busca por
esclarecimento, pensando o indivíduo enquanto ser social e também no âmbito privado.
Entretanto, por mais inovador que fosse tal discurso no setecentos, a temática feminina e sua
representação na sociedade ainda era custosa e abstrata aos intelectuais da época. Para tal, o
presente trabalho tem como finalidade refletir sobre a figura feminina na sociedade letrada,
utilizando como base autores Elisabeth Badinter, Michelle Perrot, Georges Duby, dentre outros.
E, através do estudo de caso de Madame du Châtelet em sua obra ""Discurso sobre a felicidade""
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Este trabalho objetiva discutir o papel de Virginia Woolf e Lytton Strachey no campo da
escrita biográfica moderna no inicio do século XX, estabelecendo uma correlação entre os campos
da literatura, história e biografia. Virginia Woolf (1882 – 1941), romancista e crítica literária inglesa
de grande vulto, produziu obras importantes na literatura inglesa e foi uma das fundadoras do
Bloomsbury; sendo, portanto, uma das maiores responsáveis pela renovação da biografia na
Inglaterra. Lytton Strachey (1880 – 1932) foi um dos maiores biógrafos ingleses, defensor de uma
biografia adequada com o momento em que é produzida em contraposição a uma escrita permeada
com os limites do período vitoriano, buscou reduzir o tamanho das obras (antes com dois ou mais
volumes) numa proposta de dinamizar a leitura e torná-la mais legível quanto à sua linguagem e a
um momento em que a leitura não se dá apenas no espaço restrito das casas, invadindo as ruas e
os espaços públicos. Neste trabalho nos deteremos na análise de duas críticas de Virginia Woolf:
Como se deve ler um livro (1932) e Resenhando (1939); e de Lytton Strachey analisaremos sua
obra mais conhecida Rainha Vitória. Nesta análise buscaremos como se deu a constituição de
biografia como arte na concepção desses autores. Para eles, a biografia não seria estática como os
quadros dos grandes heróis, mas os humanizaria, apresentando-os como indivíduos passíveis de
erros e acertos em sua vida. Ela seria uma arte por encontrar-se em um espaço híbrido, exigindo
do biógrafo uma preocupação na dosagem da sua escrita, tanto no que se relaciona com o factual
como com o que relaciona com o ficcional. Logo, o nosso trabalho como leitores se iniciaria com
o principio de abrir mão de nossos ideais durante a leitura, seja das biografias seja de romances.
Devemos nos tornar cúmplices e companheiros de trabalho do autor. Por fim, proponho aqui
como exercício teórico, trazer Paul Ricoeur para o estabelecimento de uma identidade e uma
alteridade com o nosso texto. No outro encontramos algo que nos atrai e nos dá uma outra visão,
transformando a leitura uma viagem através da linguagem, seja como receptores de mensagens,
seja como responsáveis pela forma escolhida por esses autores de transmitir o que pretendem.
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Nesse caso, o ponto do trabalho se conforma em estabelecer uma correlação entre as modificações
sofridas pela biografia durante a concepção do romance moderno, que tem como seus maiores
porta-vozes Virginia Woolf e James Joyce.
Análise dos poemas "Negra Fulô" de Jorge de Lima e "A Outra Nêga Fulô"
de Oliveira Silveira: uma abordagem histórica e literária
Kátia Luzia Soares Oliveira Souza
katialuziasoaresoliveira@yahoo.com.br
O trabalho que ora se apresenta traz uma proposta pedagógica para o ensino da História
e Cultura Africana e Afro-brasileira .Tal proposta parte da apresentação e análise de dois poemas
que revelam o negro sob diferentes óticas, sendo possível verificar a existência de dois tipos de
discurso: um que o representa de forma submissa ou com valores estereotipados e outro que se
apresenta como reação ao modelo de conhecimento eurocêntrico, buscando, inclusive, contrapor-
se às estereotipias fundamentadas no preconceito. A elaboração desse trabalho parte das
discussões de Evaristo (2005) Pesavento (2008) e Fonseca (2003). Para a análise dos poemas levou-
se em consideração, principalmente, os fatores de textualização abordados pelos linguistas
Marcuschi (2008), Koch (1991); e no campo da literatura comparada, as teorias de Carvalhal (1991).
Compreende-se, portanto, que a articulação entre História e Literatura por favorecer a
problematização dos diferentes discursos sobre o outro, pode auxiliar a construção de um olhar
menos etnocêntrico, abrindo caminho para a promoção de uma aprendizagem significativa voltada
à positivação das relações étnico-raciais.
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Encontro de Pesquisa em História
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contextualizar em sua totalidade que apenas uma proposta de escrita da História que parta da
Metáfora, como poder explicativo e formulador do real. Acolho aqui o Riso Medieval de forma a
abrir uma nova frente de trabalho, marcada pela ideia de que os fundamentos da cultura ocidental
surgem justamente no momento em que a consolidação do saber com evento das Universidades
no século XIII, se torna unívoco em sentido e em produção de um conhecimento. Diferentemente
da modernidade não tem apenas uma forma de apresentar uma formulação e refiguração do Real.
De modo muito peculiar o período que compreende os séculos XII e XIII tem uma existência das
duas formas de elaboração do conhecimento: Primeiramente a forma que se erige dentro da
concepção medieval e aristotélica de saber, onde a lógica, a filosofia e a argumentação dos saberes
se colocam de modo analítico de forma a produzir conhecimento, sistêmico, sobre o real. Este
modo determinante jogava a metáfora para o domínio do enfeite e adereço da retórica destituindo
ela de sua força criativa e explicativa. Paralelo a isso a tradição alegórica, como C.S. Lewis, já
enunciava uma tradição explicativa, de produção de conhecimento que ao mesmo tempo
mobilizava a retórica, mas que tinha em sua existência uma síntese do real que produzia um sentido
tão poderoso quanto a formulação aristotélica vitoriosa, a Alegoria que era capaz de mobilizar a
metáfora, através da matéria da tradição da história e acaba escrever em si mesmo um discurso
Histórico. Pretendo, dessa forma ler textos satíricos de forma a identificar o discurso Histórico
presente neles e iniciar uma nova frente de análise que cubra a necessidade, apontada por Otto
Brunner e mais tarde Georges Duby, de ler os textos conforme eles foram produzidos, em relação
ao seu léxico, mas também, considerar a forma como foi concebido para gerar uma porta de entrada
na concepção da formação discursiva, como aponta Luiz Costa Lima e não somente no discurso
final.
PALAVRAS-CHAVE: Árabes, Guerra ao terror, Capitão América, História dos Estados Unidos.
Este trabalho tem como objetivo observar a construção do indivíduo árabe presente na
história em quadrinhos (HQ) Captain America: The New Deal, publicada pela editora
estadunidense Marvel Comics, em 2002. Esta análise parte da percepção de discursos variados e,
em alguns casos, até contraditórios presentes na mesma obra. Pretende lançar um olhar que
possibilite notar tais personagens relacionando-os ao seu respectivo contexto histórico, tentando
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Esta comunicação aborda alguns dos aspectos da produção cinematográfica boliviana, mais
especificamente, a produção do cineasta Jorge Sanjinés. Realizo uma análise do seu filme Yamar
Malku (1969) e apresento os principais pressupostos da teoria a respeito do cinema boliviano
desenvolvida por Sanjinés. O referido filme do cineasta também é chamado de La Sangre del
Cóndor. Em síntese, para Sanjinés, o cinema só pode ser realizado por meio de uma coletividade;
por essa razão, funda em 1966 o Grupo Ukamau, que contou, entre outras, com as participações
do roteirista Oscar Soria e do diretor de fotografia. Antonio Eguino. A produção do cineasta é
marcada pelo seu esforço de compreensão e representação do povo indígena da Bolívia.
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Neste trabalho, pretendo analisar como o crítico literário inglês Frank Kermode buscou
atribuir literária e teleologicamente um sentido à existência, concebida, sob inspiração da filosofia
de Heidegger, como um intervalo entre o nascer e o morrer. Nessa perspectiva, o homem seria um
ser lançado no mundo, um ser-para-a-morte jogado no tempo e na história, fadado a conviver
constantemente com a consciência de sua finitude. Dessa forma, estaria desde sempre posta a ele
a questão de como dar um sentido a sua existência, em confronto com a dificuldade de que seu
balizamento ideal dependeria da delimitação de começos e fins definidos. Na literatura, contudo,
tal delimitação poderia ser construída. Estabelecidas concordâncias ficcionais de início e término
na vida dos personagens, os leitores ou até mesmo os próprios personagens seriam capazes de dar
um sentido àquelas existências. Pretendo refletir acerca da composição desses balizamentos
temporais na literatura, em obras como “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881), de Machado
de Assis, e “O Falecido Matias Pascal” (1904), de Pirandello, na perspectiva de uma construção de
sentido para a existência do homem como ser-lançado-para-a-morte. Em sua renomada obra “The
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Sense of an Ending” (1967), Kermode defende que, dada a tendência moderna de individualização
e um voltar-se para si por parte do homem, a concepção da morte também teria sido alterada.
Portanto, a resposta da literatura à realidade moderna teria sido concentrar-se no que havia ficado
implícito até então nos relatos ficcionais apocalípticos, ou seja, a morte individual como análoga ao
fim apocalíptico e universal. Esta visão moderna da escatologia teria suas origens, segundo ele,
ainda nos primórdios do pensamento cristão, como nas visões agostinianas dos terrores do Fim
último como figuras para a morte pessoal, do indivíduo. Para Kermode e, assim como ele, autores
clássicos como Santo Agostinho e Aristóteles, o homem não seria capaz de perceber-se fora de um
todo, fora do tempo, fora de sua narrativa, fora de sua vida. Por estar no “middest”, no meio, como
define Kermode, não haveria como se ter uma concepção mais ampla do significado da vida. Nesse
sentido, pretendo analisar como, na literatura, poderia buscar-se uma atribuição de sentido à
existência por meio de um balizamento temporal de início e fim da vida.
Aqui se utiliza dos benefícios da História Cultural, como o uso da Literatura pela História,
para valer-se da literatura como importante campo de investigação do passado, uma vez que a
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Literatura é uma importante ferramenta para acessar o passado que o escritor viveu, pois o texto
literário dá pistas sobre o horizonte e expectativas de uma época, representações e significados.
Soma-se a isso a análise de relatos autobiográficos, numa complexa relação entre História e
Memória, com o objetivo de identificar nas lembranças do escritor aspectos cotidianos da vida, a
vivência, sentimentos, medos e sonhos que envolvem a constituição da identidade do sujeito, como
se situa dentro do contexto estabelecido, sua relação com o regime e sociedade que o circunda,
configurando, assim, uma certa forma de contar a História, outras dimensões dos acontecimentos
emergem por meio de sua escrita.
Nesta comunicação temos por objetivo realizar uma discussão a respeito do discurso sobre
o Oriente presente na narrativa de viagem “Da França ao Japão: Narração de viagem e descripção
histórica, usos e costumes dos habitantes da China, do Japão e de outros países da Ásia” de autoria
do engenheiro e astrônomo brasileiro Francisco Antônio de Almeida que, a bordo de uma missão
científica francesa, visitou localidades nos continentes europeu, africano e asiático na segunda
metade do século XIX. Nessa abordagem, em primeiro lugar, realizaremos uma breve exposição
sobre alguns aspectos descritivos que circundam o relato de viagem “Da França ao Japão”
sinalizando para detalhes a respeito de seu autor, da experiência vivenciada e da narrativa em si.
Em seguida, trataremos acerca da relação entre contexto histórico e relatos de viagem considerando
o recorte temporal entre os séculos XVIII e XIX e os correspondentes processos de
estabelecimento de relações entre Europa e o resto do mundo e a produção de literatura de viagem
de época. Por fim, analisaremos o que é narrado por Almeida em seu relato sobre o Oriente e os
nativos das regiões visitadas a partir da seleção de alguns trechos da fonte estudada. A viagem de
Francisco Antônio de Almeida, realizada em 1874, colocou o viajante em interação com diferentes
sociedades sendo considerada pela historiografia o primeiro contato direto de um brasileiro com o
Japão – local que marcava o destino final do percurso realizado. Tal experiência gerou um relato
de viagem, publicado na cidade do Rio de Janeiro em 1879, tecido por descrições etnográficas,
análises históricas, litografias e narração de episódios da viagem. Para a análise da narrativa,
consideramos o quadro teórico sustentado, fundamentalmente, nos estudos de Mary Louise Pratt
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Recorrer aos estudos sobre biografia – ao analisar uma história de vida – nos permite
identificar o indivíduo em seu lugar social, suas redes, seus grupos e as diversas instituições que
este se insere a partir de suas relações com os demais. Para tanto, objetivamos compreender, a
partir da análise da trajetória política de José de Magalhães Pinto e levando em conta as redes na
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qual estabeleceu relações, como, um banqueiro de Minas Gerais ligado às elites do Estado foi um
dos fundadores da UDN – o partido de oposição a Vargas – e um dos principais líderes do Golpe
Civil-Militar de 31 de março de 1964.
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Encontro de Pesquisa em História
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consiste na análise articulada entre relações interétnicas e política colonial no romance Jess (1887),
do literato britânico H. Rider Haggard (1856-1925). Gestado a partir das experiências do jovem
letrado junto à administração da Colônia de Natal e na condição de secretário de uma comissão
especial enviada à república bôer do Transvaal, o romance narra o triângulo amoroso entre um
soldado inglês, o Capitão John Niel, e duas jovens irmãs no Transvaal, a delicada Bessie e a
intelectual Jess Croft, por quem se apaixona durante um cerco militar na guerra sul-africana de
1880-1881. Por intermédio deste microcosmo de figuras sociais, Rider Haggard almejou abordar o
período de expansão econômico-territorial, o impacto de políticas imperialistas conflitantes nas
relações afetivas e, simultaneamente, as fragilidades e limitações dos projetos coloniais em vigência
na administração liberal. A análise integra a pesquisa de doutorado do proponente, a qual almeja o
escrutínio de visões contraditórias e complementares a respeito do território sul-africano,
interpretado pelo romancista enquanto espaço de revitalização política, unidade e constituição de
heróis viris ou aventureiros, mas simultaneamente de feminilização, ressentimento, declínio
imperial e miscigenação racial.
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caroldrummond@gmail.com
Proposta do Simpósio:
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artes plásticas e conceituais. Nos interessam pesquisas que analisam as produções provenientes
tanto das elites econômicas e culturais, assim como aquelas produzidas por artistas e intelectuais
originários dos mais diversos estratos sociais, sendo suas obras de vanguarda ou não. Pretende-se
atrair também trabalhos que analisem o papel e envolvimento dos intelectuais – nas diversas
concepções do termo - na construção de identidades nacionais e projetos políticos e educacionais,
assim como que abordem as questões do engajamento e da resistência. Buscamos ainda congregar
pesquisas que partilhem uma compreensão multifacetada do político, levando em consideração as
complexas relações entre as dinâmicas culturais, valores, crenças, normas e representações com os
fenômenos políticos, assim como as conexões entre processos econômicos, projetos políticos e
transformações sociais. Dentro desta perspectiva múltipla, abre-se um leque de oportunidades para
se discutir as construções de identidade nacionais e continentais, assim como o multiculturalismo,
incluindo as aproximações e as peculiaridades políticas embutidas nas noções do que é constituir-
se latino-americano, indoamericano, hispanoamericano, dialogando também com o ideal pan-
americanista; os ideais de progresso, de civilização e os projetos técnico-científicos que
influenciaram e impactaram os modos de vida; as problemáticas da modernidade e modernização;
a História dos Estados Unidos e os diversos matizes de sua relação com a América Latina e Caribe;
os processos revolucionários latino-americanos; as guerras e as disputas fronteiriças; a consolidação
dos Estados Nacionais; os governos ditatoriais, as experiências autoritárias e os processos de
transição e construções da democracia; o exílio, a migração e as práticas transnacionais, assim como
a globalização e os processos econômicos neoliberais e, por fim, as lutas dos movimentos sociais e
identitários em distintos momentos e regiões das Américas.
Comunicações:
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Encontro de Pesquisa em História
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contra o mesmo inimigo, o fascismo, que representava para eles a ignorância e uma ameaça para a
preservação da cultura. Esse movimento extrapolou os limites geográficos da Espanha e levou a
mobilizações em vários países europeus, americanos e até mesmo na China. Tais esforços
ganharam concretude com a presença de delegações de vários países no II Congreso internacional
de escritores para la defensa de la cultura, realizado em Valência em 1937. Este trabalho tem como
proposta apresentar apontamentos iniciais dessas mobilizações intelectuais antifascistas durante a
Guerra Civil Espanhola na Argentina. Para isso, amparamo-nos tanto na análise da participação da
delegação argentina no já citado II Congreso internacional de escritores para la defensa de la
cultura, quanto nas publicações classificadas como revistas culturais argentinas, a exemplo das
revistas Claridad e Sur. Dessa maneira, acreditamos ser possível circunscrever as questões
suscitadas pela Guerra Civil Espanhola no universo intelectual argentino. Ao tomarmos as revistas
também como objeto, e encarando-as como local privilegiado de debate e disputa intelectual, torna-
se possível também mapear os trânsitos de ideias entre os intelectuais europeus e argentinos.
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Este trabalho tem como objetivo analisar o jornal Solidaridad Socialista, identificando-o
como um vetor de cultura política socialista na Argentina dos anos 1980. Publicado entre 1982 e
1998 pelo Movimiento Al Socialismo (MAS), esse jornal elaborou discursos, leituras do mundo
político e projetos de sociedade que refletiram os valores e a identidade do mais expressivo rebento
da tradição trotskista na Argentina - o morenismo.
Trata-se de uma pesquisa em andamento que analisa, de um ponto de vista mais geral, a
imprensa político-partidária de esquerda em seu conjunto de elementos que informa a cultura
política de uma tradição socialista. Especificamente, o jornal Solidaridad Socialista é tomado aqui
como fonte/objeto para a compreensão da identidade do maior grupo trotskista da história - o
Movimiento Al Socialismo - que, em seu auge nos anos 1980, hegemonizou o espectro de esquerda
na Argentina e cuja experiência histórica tornou-se um referencial para várias organizações de
extrema-esquerda na América Latina atual, na medida em que as leituras e os métodos elaborados
por essa agremiação são encarados hoje no interior desses grupos como um acúmulo de experiência
militante, relevante para reflexões a propósito da revolução socialista. Este trabalho oferece
contribuições no campo da historiografia sobre história e imprensa, ao propor um estudo histórico
do político através de uma fonte outrora despercebida, ou utilizada de forma marginal, pelos
historiadores, qual seja: a imprensa político-partidária. Assim, lança mão do arcabouço teórico e
metodológico construído na esteira das discussões sobre a pesquisa histórica com a imprensa. Ao
mesmo tempo, busca analisar a propaganda política, as leituras do mundo político e a identidade
coletiva emanados pelo jornal Solidaridad Socialista, pois é no encontro dessas três categorias que
se torna possível vislumbrar a cultura política dos trotskistas do MAS.
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Encontro de Pesquisa em História
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Esta apresentação tem como propósito analisar como as Forças Armadas foram
representadas pela imprensa chilena durante o período de crise final da chamada “via chilena ao
socialismo”. Além disso, discutiremos como eram veiculadas pela imprensa as posições de Salvador
Allende sobre o papel que os militares deveriam cumprir no governo socialista. Serão analisados e
discutidos vários aspectos dessa questão, sobretudo a reprodução constante da ideia de uma
pretensa neutralidade profissional, apolítica e constitucionalista da armada chilena. Para tais
análises, utilizaremos como fonte os editoriais e colunas políticas de vários jornais da grande
imprensa de Santiago do Chile, elegendo órgãos da imprensa tanto críticos quanto aliados ao
governo.
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Encontro de Pesquisa em História
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O objetivo deste trabalho é analisar as conexões transnacionais entre exilados cubanos nos
Estados Unidos e a ilha de Cuba por meio da revista Areíto, publicada em New Jersey entre 1974
e 1992. Em suas páginas, os colaboradores defenderam a Revolução, criticaram as agressões e a
hostilidade advindas do exílio cubano conservador, discutiram temas relacionados ao processo que
ocorria na ilha e buscaram forjar uma identidade cubana dentro dos Estados Unidos.
A indagação do título desta comunicação parte de duas possibilidades de análise das revistas
culturais propostas pela historiadora Regina Crespo, quais sejam, a de se estudar as revistas como
baluartes culturais, que se dedicariam à veiculação das produções culturais de determinado país ou
região; ou, por outro lado, de se atentar a esse tipo de periódico como porta-voz de algum partido
ou associação política, constituindo-se, nesse sentido, como impressos oficiais. Partindo dessas
informações e observando que uma condição não exclui a outra, ou seja, que uma revista pode ser
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igualmente cultural e política, propomos analisar a revista de exílio Araucaria de Chile sob a égide
do político, não obstante seja constatada sua importância enquanto revista cultural. Buscaremos
perceber sua vinculação estreita com as diretrizes estabelecidas pelo Partido Comunista de Chile
(PCCh) na resistência à ditadura de Augusto Pinochet, mesmo que a revista não tenha se assumido,
explicitamente, através de seu principal editor, Carlos Orellana, como porta-voz do partido.
Metodologicamente, analisaremos alguns artigos e editoriais de Araucaria de Chile que veicularam
valores da cultura política comunista chilena e, por conseguinte, possibilitaram interpretar que sua
ligação com PCCh estava além do suporte material e da direção da revista por membros do partido.
Neste trabalho, buscamos investigar a forma como o debate sobre o papel do intelectual se
deu em suas páginas. Acreditamos que a revista Tricontinental trabalhou para reforçar a
necessidade do comprometimento do intelectual para com os processos políticos de libertação
nacional e revolução socialista nos três continentes. Nesse sentido, atuou em consonante com os
princípios defendidos pela Revolução Cubana e o Primeiro Congresso Cultural de la Habana de
1968, ao publicar artigos sobre cinema, arquitetura, artes plásticas, teatro e produção acadêmica
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engajada e/ou comprometida. Buscaremos analisar não apenas a participação de intelectuais latino-
americanos na revista Tricontinental, mas também a de seus pares africanos e asiáticos; os contatos,
diálogos promovidos pela revista, bem como as aproximações e distanciamentos entre as posições
dos intelectuais que publicou.
Em: “As cidades ‘Periféricas’ como Arenas Culturais: Rússia, Áustria, América Latina”
(1995), o historiador Norte Americano Richard Morse propunha uma análise sobre cidades,
compreendendo-as como espaços de mudança na era moderna. Enxergando o ambiente urbano
como um lugar propício para experiências e vivências, ele se debruçava sobre regiões consideradas
então periféricas no globo, selecionando suas principais cidades, e pensando-as como importantes
arenas culturais. Essas cidades estariam repletas de atores que, munidos dos recursos intelectuais e
psíquicos disponíveis, seriam capazes de fornecer leituras complexas, e ao mesmo tempo originais,
desses mesmos espaços. Inspirando-se e amparando-se na perspectiva de Morse, este trabalho tem
por objetivo analisar as representações sobre Havana expressas na literatura de Guillermo Cabrera
Infante (1929-2005) e José Lezama Lima (1910-1976), levando em conta o duplo movimento entre
a vivência da cidade por esses autores e sua representação na literatura, tentando acessar não só as
reproduções literárias do espaço urbano, como também a condição humana existente nesse
ambiente. Tomo por base a metodologia da história comparada para dar conta de duas obras
consideradas marcos literários na carreira desses autores, são elas: Três Tristes Tigres (1965), de
Cabrera Infante, e Paradiso (1966) de Lezama Lima. Parto do pressuposto de que a capital cubana
tem um papel de destaque como arena cultural e política ao longo do século XX, e acredito que
acessar esse espaço através da literatura resulta num importante movimento que busca, sobretudo,
uma melhor compreensão de seus atores, de suas representações sobre a sociedade, e de sua
história.
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de 1920. Busca-se também explorar as diferenças entre ideologia e mito, de modo a refletir sobre
o lugar do Romance da Revolução Mexicana, tanto em relação às distintas ideologias circulantes
no México durante a primeira metade do século XX, quanto em relação ao “mito da Revolução
Mexicana”.
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reconhecido Premio Casa de las Américas, em 1978, pelo seu livro Línea de Fuego. Em várias de
suas obras, Belli trata sobre as diversas transformações vividas pela Nicarágua à medida em que se
dava o processo revolucionário, bem como as transformações pelas quais ela mesma passou
durante esse processo. A Revolução Sandinista foi o processo de luta liderada pela FSLN contra a
ditadura de Somoza e contra o imperialismo norte-americano sobre a Nicarágua. Só é possível
compreender a luta revolucionária nicaraguense, bem como seus desdobramentos, destacando o
contexto político, econômico e social vivido por aquele país na década de 1960. Muitos estudiosos
compreendem o processo revolucionário nicaraguense como uma continuação da Revolução
Cubana, levando em consideração a proximidade geográfica dos dois países, bem como a sua
relação com os EUA e o contexto internacional de Guerra Fria.
Por uma série de razões e interesses, a década de 1840 foi marcada pelo acirramento das
relações entre o Império do Brasil e os Estados platinos. As fronteiras abertas da província de São
Pedro e o envolvimento dos chefes farrapos nas disputas políticas da República Oriental e da
Confederação Argentina acabavam funcionando como uma correia de transmissão dos conflitos
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da região para dentro do território brasileiro. Atuando como ministro residente junto à
Confederação Argentina, entre 1842 e 1843, Duarte da Ponte Ribeiro testemunhou um capítulo
dessas desavenças e teve participação direta nas discussões de um tratado ofensivo e defensivo
entre o Império do Brasil e o governo de Juan Manuel de Rosas para desarticular os seus respectivos
inimigos. Levando em consideração o complexo quadro de interesses e alianças que marcou o
processo de construção dos Estados do antigo vice-reino do Rio da Prata e o lugar ocupado por
Ponte Ribeiro, o objetivo desta comunicação é explorar a visão do diplomata sobre a não-
ratificação daquele acordo de aliança pelo chefe portenho e as consequencias daí advindas.
Este trabalho se propõe a investigar a revista "Chiapas", que foi uma coedição produzida
pelo Instituto de Investigaciones Económicas (IIEC), da Universidad Nacional Autónoma de
México, em parceria com as Ediciones Era. A publicação, que contou com a direção da economista
Ana Esther Ceceña, circulou no formato digital e impresso, tendo sua duração compreendida entre
os anos de 1995 e 2004. Os intelectuais que a produziam tinham como objetivo inicial analisar a
formação do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) e como sua atuação afetava o
estado de Chiapas e a nação mexicana. Contudo, paulatinamente, a revista ampliou o seu debate e
passou a problematizar diferentes assuntos, os quais podem ser agrupados em três grandes temas:
as realidades indígenas, os diferentes movimentos sociais e a adoção do neoliberalismo. Nos
interessa analisar as interpretações que os colaboradores da revista construíram acerca do EZLN e
de que modo tais interpretações suscitaram um debate intelectual nos seus volumes em torno dos
temas acima elencados. Fazem parte do nosso enfoque a problematização do EZLN enquanto
movimento social de base indígena; bem como a discussão acerca do neoliberalismo e, por fim, a
problematização sobre as relações que a intelectualidade de esquerda estabelece com os
movimentos sociais na América Latina.
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Este trabalho é fruto da pesquisa de mestrado da qual eu realizo cujo tema é: Estados em
formações embrionárias: As relações internacionais entre o Império do Brasil e as Províncias
Unidas do Rio da Prata durante a Guerra da Cisplatina (1825-1828). Tal pesquisa destina-se pensar
a diplomacia nos dois recém estados no primeiro conflito a nível local e regional entre os dois
governos na condição de independentes. Os trabalhos que existem sobre política externa entre os
referidos países nesse conflito platino são muito poucos tanto na historiografia brasileira como na
argentina e uruguaia. Debruçar-se sobre o plano exterior destes recém Estados Independentes na
Questão Cisplatina é compreendermos também os seus reais interesses de expansão de territórios
sobre a Banda Oriental, intrinsecamente ligado à configuração da formação de seus respectivos
Estados nacionais. Tanto o império do Brasil como as províncias do Prata estavam em processo
de centralização política e uma dos aspectos centrais que marca essa circunstância é a construção
do Estado Nacional, principalmente no que diz respeito ao fator da Territorialidade. Este último,
por sua vez, foi um dos temas que geraram maiores discrepâncias por parte dos dois governos.
Mais do que isso, falar de qualquer conflito no decorrer de todo o século XIX que se remeta a
região do Rio da Prata ou em todo o Estuário Platino, não tem como de deixar de abordar a sua
importância comercial, econômica e geopolítica. Por isso, falar da Guerra da Cisplatina é entender
as raízes das rivalidades entre Brasil e Argentina, países que a todo momento e até hoje buscam
uma hegemonia sobre a área do Prata. Neste trabalho, temos como referencial teórico o conceito
de Relações Internacionais dos cientistas políticos Jean Baptiste Duroselle e Pierre Renouvin.
Segundo eles, esse termo engloba uma série de elementos, dentre eles: sendo alguns deles:
territorialidade, condições demográficas, relevo, soberania e fronteiras políticas. Uma das grandes
contribuições desses autores foi tornar esse termo mais abrangente, não ficando restrito apenas no
conceito história diplomática, dando a ideia de que a diplomacia se dava somente em situações de
guerra ou negociações afins. Por outro lado, o termo relações internacionais, problematizado e
historizado por Renouvin e Duroselle, é muito mais amplo do que essas questões, alargando suas
dimensões no plano geopolítico e se consolidando cada vez mais nos assuntos de política externa.
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Adhemar de Barros é filho digno da elite paulista. Nascido no interior do estado, embora
envolto às atividades cafeicultoras de seus pais, graduou-se médico, aperfeiçoando-se na Europa
de onde retornou renomado doutor. Ao desembarcar, encontrou seu estado bipartido; de um lado
a oligarquia tradicional cafeeira apoiando-se no Partido Republicano Paulista (PRP), do outro, a
burguesia urbana paulista em ascensão, fundadora do Partido Democrático (PD). Adhemar alistou-
se na Revolução Constitucionalista de 1932 e devido ao seu desempenho e capacidade de liderança,
chegou ao fim do conflito armado como Capitão Médico, mas sem a vitória. Com forte apoio da
família, aderiu à causa perrepista protagonizando uma oposição ferrenha a Armando de Sales
Oliveira (PD), interventor paulista. Em suma, o ponto que motivava suas críticas, propagadas entre
as assembleias de 1933 e 1934, era o alinhamento do então interventor aos anseios do ‘ditador’
Vargas como forma de retribuição pela nomeação, justamente o que Adhemar fez mais tarde,
quando aceitou, do próprio ‘ditador’, a interventoria federal no Estado Novo. Convém enxertá-lo
de valores imorais e descrevê-lo como traidor, ou compreendê-lo enquanto político e articulador?
Das disputas nas assembleias até 1937, este recorte perpassa quase cinco anos em que Adhemar de
Barros movimenta-se de maneira não previsível. Sendo assim, nosso estudo opera sob a luz das
discussões teóricas de René Rémond e Serge Bernstein. Tais discussões oferecem uma renovação
metodológica no campo da História Política e nos permitem compreendermos o protagonismo e
a complexidade das ações dos sujeitos, evitando transformá-los em personagens míticos, pela
descrição exacerbada de suas biografias, ou normatizá-los, através da origem de seus partidos.
Seguindo as propostas teóricas, visamos partir de uma análise singular das ações políticas do sujeito,
para contribuirmos à construção da História de caráter geral. Adhemar de Barros apresenta-se à
pesquisa enquanto político que, por sua rede de relações, extrapola os limites impostos pelas siglas
partidárias e se adapta às variadas condições que lhe convém, assim como, enxergamos em seu
partido, o distanciamento entre sua origem e seu discurso, denominado campo de mediação pelos
autores referenciados. Portanto, as normas que prendem o sujeito ao seu partido e seus discursos,
não se fazem viáveis à construção da História, tampouco corresponderão às expectativas dos que,
equivocadamente, assim o analisam.
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Proposta do Simpósio:
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Comunicações:
PALAVRAS-CHAVE:
Para muitos, escrever sobre antissemitismo ainda parece um terreno arenoso devido à
amplitude dos debates que são trazidos à baila. Contudo, não podemos deixar de identificar e
analisar esse fenômeno de longa duração apenas pelas inquietações que acarreta. Ao estudarmos
os textos produzidos pelo bispo Isidoro de Sevilha (562-636) e entrecruzarmos com a produção
legislativa gótica, temos a oportunidade de investigar como é edificada a estigmatização do judeu
como povo deicida e a extensão dessa marginalidade também aos conversos de origem judaica.
Tendo escrito em um momento de intensa instabilidade político-religiosa do Reino Visigodo, visto
que a conversão ao cristianismo niceno era um fato recente (589), a produção Adversus Iudaeos
do sevilhano apresenta uma carga extremamente virulenta ao abordar a questão judaica e evidencia
que regnum et ecclesia estavam juntos no projeto de erradicação do judaísmo de dentro das
fronteiras visigodas.O impacto de suas obras sobre a patrística e também sobre compêndios
legislativos (canônicos e civis) já fora reconhecido por historiadores como Bat-Sheva Albert e
Manuel Cecile Diaz y Diaz, quando examinaram as reapropriações que suas ideias sofreram
gerando um amadurecimento do ódio contra a comunidade judaica ao longo dos séculos.
Concordamos com Jean-Claude Schmitt quando assevera que o historiador, conscientemente ou
não, faz para o passado perguntas que a sua própria sociedade lhe dirige e, assim, verificamos a
ampliação do campo de estudo da intolerância religiosa medieval se apresentar de modo fulcral
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PALAVRAS-CHAVE:
Tendo como base a proposta de história dos conceitos de Koselleck e fazendo uso do
procedimento metodológico de “Seleção” Ausgrenzung, procura-se fazer um levantamento de
termos referentes à Cavalaria em fontes ibéricas, a partir da seguinte documentação: o Livro dos
Feitos do rei Jaime I e O livro da Ordem de Cavalaria de Ramón Llull (ambos do século XIII).
Assim, busca-se catalogar e estudar as diferentes formas utilizadas e procura-se traçar um histórico
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PALAVRAS-CHAVE:
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PALAVRAS-CHAVE:
As sagas Islandesas são fontes inestimáveis para termos um vislumbre de como eram as
sociedades do medievo Escandinavo, unicamente para estabelecer uma facilidade didática vamos
referir a estes povos pelo termo “viking”. Essa analise será feita principalmente na Saga de
Volsungos porem a metodologia aplicada pode se estender as demais sagas, tendo em vista que a
metodologia aplicada deve ser capaz de identificar esses traços culturais narrados nesse tipo de
literatura. Outra característica que podemos estudar nas sagas que é diretamente relacionado com
essa forma de escrita é a figura do herói e sua representatividade. Além de permear a importância
da religião ligada diretamente com esses personagens, já que sempre é reforçada uma ligação
genealógica dessa família com os Deuses. O grande diferencial que é o foco principal da discussão
é inclusive como que se da essa dinâmica paga escrita em um contexto totalmente cristianizado,
tanto as colônias vikings e a Europa como um todo na época. A hipótese é que as Sagas Islandesas,
apesar de fonte inestimável para compreendermos o medievo escandinavo, está falando através do
olhar Cristão. Então essa história contada já é vista através de um outro prisma podendo assim, ser
tendencioso em certos aspectos. Objetivos: 1. O principal objetivo do projeto é entender a
dinâmica entre literatura e construção de identidade no contexto em que as sagas são criadas. 2. A
influência dos cristãos ao contarem a história dos vikings e os motivos que os levaram a aceitar a
subjugação dos seus Deuses.3. Os motivos Políticos que levaram a corte de Hákon (principal líder
islandês na época de criação das Sagas.) a criarem historias aproximando culturalmente do resto da
Europa.4. Comparativos entre o Herói apresentado na saga e sua contraparte apresentada na Edda
Maior.
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importantes indícios da vida cívico-religiosa paduana dando vida, entre outras coisas, a personagens
ícones para a cidade. Contudo, não é o nosso intuito abordar a fonte imagética como expressão de
um determinado estilo artístico, senão como um documento histórico que pode trazer indícios
sociais, políticos e culturais à historiografia medievalística. Por conseguinte, com base em uma
metodologia que concilia três principais vertentes, a saber: a antropologia, a cultura visual e a cultura
política, procurar-se-á confrontar as obras imagéticas do batistério com fontes de outra natureza
(crônicas, sermões, descrição do ritual), na busca por uma manifestação que expresse a simbiose
entre a política citadina paduana e o cristianismo medieval durante o poderia da família Carraresi.
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dos habitantes da comunidade. Desse modo, tratar do controle exercido pelas autoridades na
sociedade da Baixa Idade Média na Península Ibérica por meio das vestimentas é pertinente e tema
pouco explorado. Analisamos o que a lei outorga e porque a mesma fora criada. Para pesquisar as
leis utilizamos a análise retórica, em que destaca-se a figura retórica utilizada nos textos, é adequado
para textos jurídicos. Para investigar as circunstâncias de produção do texto, o emissor e que lugar
social e político ele ocupa, a região de produção, as motivações para elaboração das fontes, a ação
de editores nas mesmas, entre outros, utilizamos a análise da historiografia sobre o tema. As
conclusões estão abertas, mas as reflexões apontam para motivações econômicas e sociais, no
sentido de manutenção da hierarquia vigente, para elaboração das leis.
A presente comunicação faz parte de uma etapa inicial de nossa pesquisa de mestrado, na
qual pretendemos construir um perfil de santidade martirial a partir de uma análise comparativa
das paixões escritas no período de hegemonia do reino visigodo (VI - princípio do século VIII),
relacionando-o ao processo de fortalecimento da instituição eclesiástica visigoda. Neste trabalho
objetivamos, por um lado, valorizar a discussão bibliográfica sobre martírio e santidade,
apresentando os principais autores estudados, e, por outro, refletir sobre este fenômeno nas paixões
visigóticas do período mencionado, a partir de uma primeira análise da fonte por nós estudada, o
Pasionario Hispanico. Este documento é uma obra litúrgica que reúne paixões de diversos períodos
diferentes, do século III ao século XI, mas que começa a ser compilado no século VII, momento
em que a liturgia visigoda passava por um processo de unificação. Dentro deste documento
selecionamos nove paixões: Leocádia, Eulália de Mérida, Eulália de Barcelona, Justa e Rufina, Félix
de Gerona, Justo e Pastor, Vicente, Sabina e Cristeta, Inumeráveis de Zaragoza e Mancio.
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A chamada controvérsia iconoclasta foi uma batalha em torno das imagens religiosas que
ocorreu em Bizâncio entre os séculos VIII e IX, que culminou na destruição das mesmas e na
proibição de seu culto. Teve início em 726 sob o comando do imperador Leão III e fim em 843,
com o chamado “Triunfo da Ortodoxia”, sob o comando da Imperatriz Teodora. Na primeira fase
que vai de 726 a 787, data esta que teve o primeiro restabelecimento do culto das imagens com a
imperatriz Irene, São João Damasceno surgiu como o maior defensor das imagens e seu culto.
Assim, nosso objetivo neste trabalho é expor e analisar os principais argumentos utilizados por
Damasceno nos seus tratados sobre as imagens divinas, para a legitimação das mesmas e do seu
culto na primeira fase da iconoclastia e, também, demonstrar que esses mesmos argumentos foram
utilizados para a defesa de uma determinada expressão do poder imperial em Bizâncio.
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religiosos e sociais próprios, trata-se de entender, em suma, como esse projeto de reconquista
estava também pautado por concepções do poder político na Bizâncio do século VI.
“Eu sou sam Veríssimo”: o Livro de Milagres dos Santos Mártires de Lisboa
Bruno Soares Miranda
soaresemiranda@yahoo.com.br
O objetivo desta comunicação é analisar o Livro de Milagres dos santos Mártires de Lisboa
escrito em Portugal no século XV. Esta análise proporciona conhecer o dia a dia e a espiritualidade
do português medieval. Além disso verificamos uma tentativa do Mosteiro das religiosas de Santos-
o- Velho de guardar seu espaço no contexto espiritual de Lisboa, visto que a cidade, neste período,
ganha um novo culto patrocinado pela Dinastia de Avis: Nuno Álvares Pereira.
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Este trabalho versa sobre a história das cidades italianas nos séculos XI e XII, tomando
como estudo de caso Orvieto, na Toscana. Seus objetos de investigação são os senhorios
eclesiásticos da diocese, especialmente os citadinos, com os seus patrimônios. A partir de uma série
de diplomas contidos no arquivo episcopal e que registram transações de bens (doações,
arrendamentos, entre outros) o problema que investiga é a relação entre uma reforma eclesiástica
iniciada em 1029 e a progressiva marginalização do bispo dentro do jogo político local, culminando
com a instituição de um regime comunal que passou a substituí-lo no governo da cidade, a partir
de 1157, e que, simultaneamente, consolidou a reforma. As perguntas que tenta responder são: qual
o papel do poder episcopal na distribuição e na administração dos bens na diocese? Como outros
senhores eclesiásticos, como os cônegos e os abades, participam desses processos? De que maneira
a reforma na vida do clero diocesano impactou a dinâmica patrimonial da região? Ela afetou o
poder do bispo e contribuiu, de alguma maneira, para a instituição da comuna na cidade? Para
responder a essas questões, a tese mobilizada é a seguinte: para obrigar os cônegos a renunciar a
seus patrimônios privados, familiares, o bispado reformador precisou fazer-lhes inúmeras
concessões de bens que acabaram por produzir um novo senhorio, de cunho público e coletivo,
que posteriormente passou a disputar com o bispo os bens diocesanos e, recorrendo ao patrocínio
do papado, conseguiu finalmente vencê-lo ao substituí-lo pela comuna, um regime que defendeu
os interesses e as posses dos cônegos. O objetivo da pesquisa é revisar e discutir essa tese. O
resultado esperado é a produção de uma nova perspectiva sobre as reformas eclesiásticas entre os
séculos XI e XII, vinculando-as às dinâmicas patrimoniais e entendendo-as como mecanismos de
atuação no interior desses processos.
Nosso objetivo é entender a utilização do termo affectus dentro das relações de poder entre
o rei e os súditos na política régia Capetíngia, sobretudo no reinado de Luís IX. Para atingir esse
objetivo, utilizaremos a Eruditio Regum et Principum, finalizada por volta de 1259 por Gilberto
de Tournai, minorita e professor de teólogia da universidade de Paris. O Eruditio é um tratado
pedagógico inserido dentro da literatura política dos Espelhos de príncipe, que eram direcionados
aos monarcas. Seu objetivo era ensinar como os reis, príncipes e seus futuros descendentes
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deveriam governar de forma correta seus reinos. Esses tratados políticos, geralmente
encomendados pelos próprios reis, tendiam a elaborar as diretrizes morais e éticas para o sucesso
do governante. Na obra em análise, atentaremos para as representações do rei, enquanto aquele
que deve sentir um profundo affectus pietatis pelos seus súditos, principalmente pelos mais pobres
(pauperum), os quais o rei deve amar e proteger. Nesse sentido o rei é representado no decorrer da
obra como o pater pauperum (pai dos pobres) os quais ele deve amar como se fossem seus filhos
esperando em troca a retribuição desse afeto paternal.
Diversos pensadores utilizam a hipótese de que as sexualidades são capitais nos processos
históricos de (re)ordenamento social. Desta maneira, entendo-as como elementos estruturantes do
projeto político de identidade cristã formulado pelas elites eclesiásticas da Primeira Idade Média.
Evidência disto é o fato de que o tópico foi bastante abordado pela Patrística Pós-Nicena, o que,
por sua vez, gerou diversos estudos historiográficos. Entre estes, destaco os trabalhos de Peter
Brown, Joyce Salisbury e Thomas Laqueur, os quais destacam os discursos de Aurélio Agostinho
(354-430) - bispo de Hipona e uma das "vozes" autorizadas de maior prestígio do cristianismo,
mesmo ainda em momentos próximos à sua conversão no último quartel do século IV (386) -
como discrepantes do conjunto produzido por outros intelectuais cristãos, tais como, Jerônimo e
Ambrosio, uma vez que se caracterizariam por certa positivação da sexualidade. Tais estudos
contribuem para o que tenho denominado de “noção historiográfica de revolução sexual
agostiniana” e apontam para uma compreensão inadequada do(s) discurso(s) agostiniano(s). Isto
posto, pretendo demonstrar com este trabalho que a visão agostiniana sobre as sexualidades, ao
menos em fins do século IV e em inícios do século V, coaduna-se com a dos demais autores
patrísticos, podendo ser caracterizada, portanto, como austera ao antagonizar a amizade – associada
à pureza – às sexualidades. Teoricamente partirei de reflexões da Teoria Queer associadas às
reflexões da chamada História das Emoções, objetivando a problematização da normatividade e
da monossexualidade que integram a chave de leitura com a qual os textos agostinianos foram lidos
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pela historiografia citada. Desta maneira, neste trabalho o vocábulo sexualidades faz referência não
apenas ao intercurso sexual, mas também aos desejos e às fantasias associadas ao sexo, o que pode
reverberar em sexualidades tidas como desviantes ou mesmo na renuncia à sexualidade.
Metodologicamente farei uso de análises da obra agostiniana Confessiones (c. 397), procurando
identificar como o eclesiástico forja argumentação que estabelece a amizade como o padrão para
interações sociais cristãs, as quais são entendidas como saudáveis e seriam supostamente
corrompidas pelas sexualidades. Também é importante lembrar que desde a catocilização do
Império (380) que ser cidadão romano confunde-se com ser cristão e, dessarte, estar de acordo
com a lógica normativa que caracteriza o cristianismo.
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Os Cancioneiros são compilações em prosa de toda a obra produzida, ou pelo menos o que
restou dela ou foi fixada materialmente, na Península Ibéria no decorrer da Baixa Idade Média. São
fontes riquíssimas em vários níveis, pois ao identificar a maior parte dos autores das cantigas nos
possibilita destrinchar sua origem social e sua inserção política e econômica. Em virtude disso, e
para muitos dos pesquisadores que trabalham com esta documentação, o cancioneiro português
carrega uma característica especificamente muito interessante que é o fato de trovadores de
diferentes estratos sociais comporem cantigas e enfrentarem-se por meio do que poderíamos
chamar de duelos com as palavras. Pretendemos abordar aqui as relações estabelecidas naquela
sociedade através da análise de algumas cantigas.
Rodrigo Dias de Vivar El Cid (1048- 1099) muy buen cauallero e de grande
linaje: um exemplo de cavaleiro e vassalo na Estoria de España
Olga Pisnitchenko
pisnitchenko@gmail.com
Rodrigo Dias de Vivar tanto como personagem histórica quanto como personagem das
crônicas estudadas é uma figura muito complexa que foi trabalhada por vários historiadores. No
nosso trabalho a figura de El Cid nos interessa no plano da imagem que as crônicas elaboram deste
como cavaleiro e vassalo exemplar sem entrar em discussão se o poderoso aristocrata que se
nomeava de principe em alguns documentos que chegaram até nos realmente assumia este papel.
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A quantidade do texto que as crônicas atribuem ao Rodrigo de Vivar, a nosso ver só pode ser
comparada com a narração dedicada ao Fernão Gonzalez, o qual como conde de Castela
ativamente participa das atividades políticas leoneses durante os quatro reinados sucessivos em
Leão. Sabemos que a relação de Rodrigo com poder régio, principalmente quando estamos falando
do Alfonso VI, foi muito controversa, no entanto nos não temos como objetivo de analisar El Cid
como personagem histórica e revelar seu papel na política castelhano-leonesa do século XI, o que
nos interessa é o Rodrigo de Vivar como ele é revelado nas crônicas do século XIII-XIV que
idealizam a sua imagem como um vassalo e cavaleiro perfeito de acordo com a corte idealizada do
Alfonso X e Sancho IV.
Ao longo da Alta Idade Média, a consolidação do fenômeno do culto aos santos e a grande
quantidade de textos hagiográficos produzidos nos reinos romano-germânicos no Ocidente foram
bastante significativos. Além disso, o papel desempenhado pelos bispos como autoridade local,
ultrapassando as atribuições estritamente relacionadas ao âmbito religioso, e como agente social de
fundamental importância na organização da Igreja nessas conjunturas, foi outro aspecto que
contribuiu para a expansão do cristianismo no medievo. Em nossa pesquisa de mestrado nos
interessa compreender um pouco mais acerca da delimitação do perfil episcopal em três
hagiografias, duas do reino merovíngio e uma do visigodo. Para este trabalho, preocupamo-nos,
com o debate historiográfico associado aos dois eixos valorizados em nossa dissertação: o
episcopado e o texto hagiográfico.
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Nossa proposta tem por objetivo analisar a primeira parte da Vita Sancti Theotonii,
produzida por um anônimo do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, na segunda metade do século
XII. Nosso objetivo é discutir como esta obra delineia o ideal clerical crúzio, refletindo sobre o
sentido de tal construção. Essa narrativa hagiográfica foi construída, segundo a nossa hipótese,
buscando reestabelecer e enquadrar os membros da comunidade agostiniana nos princípios aos
quais se fundavam. Em virtude das contradições resultantes de seu próprio crescimento, verificada
durante o priorado de Teotônio (1132-1152), e em meio ao processo de expansão do Condado
Portucalense, os regrantes e seus associados teriam se afastado dos princípios religiosos da casa
crúzia, demandando, assim, a necessidade de um resgate das observâncias e o consequente
enquadramento de seus membros. A Vita, produzida após a reunião do primeiro capítulo geral
(1162), cuja ênfase na reestruturação se fez presente, trazia justamente os princípios nele
apregoados, todos refletidos na imagem construída de Teotônio, seu primeiro prior, como um
modelo a ser seguido pelos demais. Nossa atenção irá voltar-se para o ideal proposto na primeira
parte da narrativa, isto é, aquela que narra as atividades de Teotônio como clérigo secular.
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O trabalho proposto tem por objetivo analisar como as relações entre o monge-bispo-
peregrino Amando de Maastricht e os bispos do reino merovíngio são retratadas pelo hagiógrafo
anônimo da Vita Sancti Amandi. Para cumprir tal intento, buscamos refletir sobre o poder
episcopal e os conflitos inerentes à concorrência entre as esferas eclesiástica e monárquica, no
século VII, à luz da historiografia e da mencionada hagiografia. Amando está identificado com uma
forma de monacato influente nas altas camadas da sociedade franca. Esta inserção possibilitou o
desenvolvimento de alianças e relações pessoais entre o monge e a família real. Apesar das disputas
políticas internas a tal linhagem monárquica, o grupo manteve seu apoio ao monge, endossando
sua posição e legitimando sua abordagem religiosa, marcada por sua dupla nomeação como bispo.
Acreditamos que a atividade de peregrinação de Amando trazia benefícios políticos e religiosos
para o reino, uma vez que sua ação de conversão e pregação se concentrava em áreas de conflito e
em regiões limítrofes do reino franco. Sua atuação na área de dioceses de outros bispos, entretanto,
promovia atritos associados à jurisdição episcopal pré-existente. A autorização de pregação em
regiões de competência de outros bispos conferida pela monarquia certamente deve ser
considerada como aspecto relevante nos referidos conflitos. Nesta conjuntura, interessa-nos, como
antes anunciado, especialmente refletir sobre a concorrência e a legitimidade episcopal no reino
merovíngio.
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Proposta do Simpósio:
Nas últimas décadas é notável o crescimento de estudos que se debruçam nas inúmeras
facetas relacionadas às intuições de poder e suas relações tendo em vista a Religião como um dos
seus motes principais, abarcando diferentes temporalidades e espaços bem como suas interseções
com outros campos do conhecimento. É, nesse sentido, que o Simpósio Temático aqui proposto
tem por objetivos reunir em seus diversos contextos e recortes, pesquisas que busquem refletir os
diversos modos de manifestação da fé, tanto no âmbito das expressões institucionais como na
esfera das práticas cotidianas, das justiças e de suas interações, sejam elas cooperativas ou
conflituosas, destacando suas formas de controle, abusos de poder e ação prática, bem como seu
impacto sobre as sociedades. Desta forma, a temática em questão visa possibilitar discussões em
diversas frentes de trabalhos que busquem contemplar pesquisas nas áreas relacionadas aos estudos
inquisitoriais, eclesiásticos, às diversas tentativas de controle da Igreja Católica sobre as
consciências e comportamentos, às práticas desviantes das doutrinas religiosas. Este Simpósio
Temático buscará abranger, também, estudos que versem sobre as relações entre as múltiplas
instituições que de muitas formas se sobrepunham em seus direitos de controle e disciplinamento
das populações. Por fim, serão aceitas contribuições que se debrucem em perspectivas teóricas
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relacionadas ao objetivo deste Simpósio, tais como, “Connected Histories”, “História Atlântica”,
“História Global”, “Micro-História”, enfim, abordagens interessadas nos diálogos apontados.
Comunicações:
Esta comunicação tem como objetivo estudar o processo que culminou nas suspensões do
Santo Ofício português, entre os anos de 1674 e 1681. Os cristãos-novos – judeus convertidos à
força ao catolicismo, entre os anos de 1496 e 1497, no reinado de dom Manuel– produziram
diversos documentos em Roma que invalidavam a ação do Santo Ofício lusitano, qualificando-o
como arbitrário, interesseiro nos bens materiais e injusto. Os inquisidores, por sua vez,
responderam cada queixa afirmando sua autonomia face ao papado e explicando os pormenores
de sua prática jurídica. O local dessa disputa fora a própria Congregação do Santo Ofício romano,
na qual mediaram seus cardeais e o próprio papa. Por isso, as fontes utilizadas na produção deste
trabalho científico foram coletadas em diversos arquivos de Roma, Vaticano, Lisboa, Madri e
Simancas, perfazendo o ineditismo desta pesquisa. Nesse sentido, procurar-se-á analisar a diversa
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correspondência, os opúsculos produzidos e os textos oficiais fomentados nessa lide que vicejou
como um pedido de misericórdia (perdão) e terminou com a exigência de justiça pelos réus do
Tribunal da Inquisição.
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suas crenças e práticas a uma estratégia que une catolicismo e a tradição religiosa banto. Pedro é
acusado pela mulher de exercer a muitos anos o “trato de adivinhador”, além de carregar consigo
numa bolsa de couro “uma partícula que se ignora ser consagrada”. A denúncia apresentada contém
em si a revelação da prática de dois costumes que foram amplamente perseguidos pela Inquisição
por serem tidos como feitiçaria, são eles: a prática do calundu e o uso das bolsas de mandinga. Tais
crenças e costumes (a prática de adivinhações, curas, produção de amuletos e rituais com danças e
possessões) destoavam das práticas e rituais do catolicismo oficial, que tinha como base as
orientações do Concílio de Trento. Assim, as práticas heterodoxas foram ao longo do século XVIII
associadas, muitas vezes, ao pacto demoníaco (implícito ou explícito). Essa visão estereotipada das
práticas que mesclavam a religiosidade de origem africana com elementos do catolicismo -
considerando quem os praticava como feiticeiros e também mandingueiros - começa a sofrer
modificações quando os inquisidores passaram a ver as práticas mágicas e as crenças místicas
como fruto da falta de instrução na fé, da ignorância e superstição que tomava conta dos colonos
e principalmente dos neófitos na fé. Porém, mesmo após o Regimento de 1774, que trazia reflexões
neste sentido, ainda chegavam à mesa do Tribunal da Inquisição denúncias como a crença e prática
de Pedro Teixeira. Nosso objetivo é demonstrar de que maneira tais questões ainda estavam muito
presentes no cotidiano colonial mesmo no final do século XVIII, além de buscarmos uma
compreensão para a incorporação de elementos católicos em tais práticas através das características
da tradição religiosa africana banto, uma cosmologia presente na África Central, região que
incorpora o que foi o Reino do Congo, de onde era natural o preto Pedro Teixeira, e que, portanto,
pode nos explicar algumas das escolhas feitas por este indivíduo na circunstância de suas práticas
na América portuguesa setecentista.
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É sabido entre a historiografia voltada às práticas do Santo Ofício português que o olhar
inquisitorial ao longo dos quase três séculos de atuação esteve em grande parte direcionado para
os cristãos-novos - judeus ou descendentes dos mesmo que foram convertidos forçosamente ao
catolicismo. Nesse sentido, uma série de estudos foram promovidos e se tornaram clássicos por
conta do interesse em investigar esse processo de perseguição religiosa bem como os personagens
que emergiram nesse contexto. No entanto, ainda que grande parte dos processos inquisitoriais
tenham se construído sob a motivação da presença judaizante no mundo português, outros delitos
também se fizeram presentes e foram alcançado pela malha da Inquisição. Citamos, assim, as
diversas práticas "mágico-religiosas" que por vezes recaíram no crime da "feitiçaria", da relação
com os diabos sob a ótica das autoridades inquisitoriais. Quando associadas ao universo dos
cristãos-novos percebemos, por sua vez, a necessidade de ampliar os estudos em torno desses
indivíduos na medida em que nem sempre as acusações de judaizarem foram o motivo para levá-
los aos cárceres do Santo Ofício. Este estudo pretende, assim, partir do século XVI como recorte
temporal a fim de analisar a relação entre cristãs-novas e práticas "mágico-religiosas", buscando
investigar suas interações com o sobrenatural, a circulação das crenças bem como a decodificação
das mesmas no cotidiano dessas mulheres.
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Este trabalho tem por objetivo compreender a atuação dos missionários franciscanos na
tarefa de conversão dos nativos da Nova Espanha; a representação e a descrição do Novo Mundo
e de seus habitantes, ampliando assim o entendimento tanto sobre a Conquista quanto acerca da
divulgação para o Velho Mundo dos feitos missionários e dos demais conquistadores no Novo
Mundo. Para tanto, analisa-se as crônicas elaboradas por missionários franciscanos que atuaram na
conversão dos nativos, quais sejam: Historia general de las cosas de Nueva España, de autoria do
Frei Bernardino de Sahagún; e Historia de los Índios de la Nueva España, do Frei Toríbio de
Benavante (Motolínia). Essas crônicas representam não apenas a tentativa de conhecer para
conquistar, evangelizar, mas também de construir uma defesa da ação missionária de propagação
da fé católica frente às acusações de genocídio e extermínio dos nativos. Nesse sentido, essas
produções acabaram influenciando a visão ocidental sobre a América, no caso a Nova Espanha,
como também sobre os indígenas americanos.
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instância emanou os despachos para os mais diversos assuntos e situações. Por se tratar da parte
administrativa do Tribunal, é de suma importância conhecer sua documentação e atentar para as
minucias que o órgão nos traz. Nos últimos anos houve um aumento de pesquisas sobre a
Inquisição portuguesa, mas poucos são os autores que se debruçaram sobre a parte institucional e
política do Tribunal do Santo Ofício, um dos pontos fundamentais para entendermos sua atuação,
principalmente durante o século XVIII. Realizamos um levantamento de todos os cadernos do
século XVIII - cerca de 2100 documentos - para a montagem de um banco de dados, com o intuito
de alargar as fontes inquisitoriais e realizar o cruzamento de dados com as documentações já
conhecidas e também com o propósito de fomentar novas pesquisas no âmbito institucional da
Inquisição portuguesa.
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PALAVRAS-CHAVE: Doutrina dos Dois Corpos do Rei, História Política, Sebastianismo, União
Ibérica.
A seleção do texto de Teixeira, para esta apresentação, entre as fontes reunidas na pesquisa
se deu não só pela questão cronológica – até o momento e a mais antiga – mas também pelo fato
de ser possível nele observar um esforço em defender a sobrevivência do monarca português.
Nesse sentido, a produção textual de Teixeira se aproxima daquela inglesa, explorada por Ernst
Kantorowickz, e que embasou a sua teoria sobre a “doutrina dos dois corpos do rei” – corpo
político/corpo natural – e principalmente, a suposta imortalidade do corpo político. Da mesma
forma, Teixeira pode ser considerado um exemplo da defesa, em Portugal, da existência do caráter
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de “rei sacrificial” de D. Sebastião, tese defendida por Yves Marie Bercé no seu livro “O Rei
Oculto”, e que consequentemente impediria a morte de seu corpo natural e político.
Este trabalho de Mestrado apresenta em sua temática o estudo da relação entre Deus e
Humanismo no Renascimento italiano, estabelecida pelo humanista florentino Marsilio Ficino
(1433-1499) em seu Primeiro Livro de Teologia Platônica, obra na qual o autor propõe uma teoria
metafísica e cosmológica a fim de reivindicar a imortalidade da Alma Humana, relacionando-a com
Deus por meio de um esquema hierárquico e epistêmico. Desta maneira, o respectivo estudo busca
compreender como Marsilio Ficino representou e se apropriou da imagem de Deus, para justificar
a supremacia e domínio do Homem sobre a Natureza, assim como sua centralidade cosmológica
em meio à civitas humanista do Renascimento italiano, que tinha por principal característica a
substituição de Deus pelo Homem de sua posição central no Universo. Tendo em vista o objetivo
geral, os objetivos específicos consistem em perscrutar as diferentes representações de Deus e os
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nomes para se referir a esta deidade; tal como Ficino se utiliza do divino enquanto instrumento de
dignificação e glorificação do Homem, a partir de uma ligação metafísica entre os dois segmentos
hierárquicos. A justificativa historiográfica desta pesquisa reside em interpretar a representação de
Deus por Ficino, a fim de melhor esclarecer a civitas humanista do Renascimento por novas
perspectivas ainda não exploradas até então. Para tanto, as considerações teórico-metodológicas
utilizadas para este trabalho são constituídas a partir de autores como Adone Agnolin, de onde
extraio o conceito de civitas; Paul Oskar Kristeller, pioneiro nos estudos sobre Teologia Platônica;
Ardins Collins, que aborda o significado de ratio e as apropriações que o Homem promove sobre
Deus, buscando compreendê-lo; e Silvia Mancini, especialista em História das Religiões pela
perspectiva da Escola Italiana, na qual se utiliza do conceito de ortopráctica, entendendo-o como
técnicas, práticas e atividades de cunho cultural-religioso, exercidas pelos membros de uma cultura,
cuja eficácia simbólica expressa uma transformação de consciência espiritual e social de dado
contexto. Entre os resultados parciais, identifico a partir das primeiras análises, que imortalidade
não necessariamente significa uma condição, mas, sobretudo, um estado de graça no qual o
Homem encontra a Verdade e Beleza divina, adentrando ao quinto e último estágio hierárquico,
Deus, divinizando a si mesmo. Portanto, o divino é para Ficino um instrumento de glorificação e
beatificação do ser humano.
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há muito abandonados no espaço colonial, e também por mostrar muitas denúncias e processos
sobre magia e feitiçaria, fato que as incursões inquisitoriais anteriores não haviam enfatizado.
Assim, esta pesquisa tem como objetivo entender e comparar os processos de cura com as demais
práticas mágico-religiosas, dado as suas peculiaridades no universo colonial e seus resultados
divergentes perante o julgamento da Inquisição. A hipótese colocada é: se as condições de vida da
Colônia eram precárias em função do difícil acesso aos médicos e cirurgiões, então, alguns
processos de cura, não sofreram punição devido a falta de profissionais que pudessem socorrer a
população local e também por conta da sua boa reputação frente aos habitantes, por terem sucesso
nas suas curas, o que pode ter abrandado a punição dessas pessoas nos processos da Inquisição.
Dessa forma, pretende-se compreender a importância que os processos de cura e as práticas
mágico-religiosas tiveram no Estado do Grão-Pará e Maranhão na segunda metade do século
XVIII.
O Tribunal do Santo Ofício da Inquisição, que esteve atuante entre os séculos XVI e XIX
em Portugal e seus domínios de além-mar, Brasil incluído, foi das mais importantes instituições de
controle social e de poder que funcionaram durante a Modernidade. Os milhares de processos
movidos pelo Santo Ofício contra indivíduos acusados de heresias e mal comportamento cristãos
dão-nos prova disto. Esta comunicação tem por objetivo analisar, através de estudos de caso,
perceber o impacto da presença inquisitorial na América lusa, seja através do Tribunal seja através
de sua rede capilar de colaboradores, sobre determinados grupos, como os criptojudeus e
criptoislâmicos, acusados de feitiçarias e de práticas sexuais desviantes. pretende, ainda, traçar um
breve balanço do que vem sendo produzido pela historiografia sobre o tema nas últimas décadas.
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A união das Coras Ibéricas em 1580 após a morte do Cardeal-Rei D. Henrique não
significou uma união das instituições ibéricas, na medida em que muitas mantiveram sua
autonomia. Uma dessas instituições é a Inquisição, que manteve a completa independencia entre
os tribunais da Península, de modo que os cristãos-novos puderam em determinados momentos
circular de modo livre pela fronteira dos dois reinos. Esse certo afrouxamento das fronteiras
permitiu que os negócios dos cristãos-novos se expandissem e que rotas comerciais fossem criadas.
A presente comunicação tem por objetivo observar as ações da Inquisição e dos cristãos-novos no
período da União Ibérica, expondo a historiografia pertinente.
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adson.rodrigo@gmail.com
Proposta do Simpósio:
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Comunicações:
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o patrimônio cultural imaterial é percebido e apropriado nas estratégias para a preservação dos bens
intangíveis da cidade de Fortaleza.
PALAVRAS-CHAVE:
PALAVRAS-CHAVE:
As festas são espaços mais que propícios para se estudar as manifestações de fé, lazer,
sociabilidade e até mesmo as tensões de seus agentes sociais. Pensando nisto, o presente trabalho
tem como principal objetivo analisar a Festa de Nossa Senhora da Conceição/Bom Jesus e a Festa
de São Sebastião, ambas no Distrito de Alvação, e a Festa de São Luís Gonzaga/Nossa Senhora
Aparecida, no povoado de São Luiz de Minas; localidades do município de Coração de Jesus. O
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estudo dessas festividades surgiu da necessidade de identificar, valorizar, preservar - o que não
significa torná-las estáticas - e divulgar essas práticas culturais que compõem o patrimônio cultural
dessas comunidades. Tomá-las como objeto de estudo é uma maneira de entender seus múltiplos
significados, preservar o patrimônio cultural dessas comunidades e discutir suas identidades.
PALAVRAS-CHAVE:
PALAVRAS-CHAVE:
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Vitória, que é a detentora legal da propriedade de Araçatiba. Partindo deste quadro o trabalho
pretende mostrar como que a comunidade se apropria desta herança e como que outros atores
externos interferem nesta relação simbólica.
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janainamcordeiro@gmail.com
Proposta do Simpósio:
Comunicações:
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PALAVRAS-CHAVE:
“Escena de Avanzada” foi um termo cunhado pela crítica literária Nelly Richard para
descrever um conjunto de ações artísticas desenvolvidas no período ditatorial chileno. Os artistas
pertencentes a tal movimento destacavam a necessidade de uma produção engajada, capaz de
denunciar práticas de violência existentes no país, em especial o autoritarismo do governo de
Augusto Pinochet. Além disso, tais intelectuais tinham como proposta o desenvolvimento de uma
“arte-ação”, que fosse executada em conjunto com a população. Na interação com o outro
produziriam obras multifacetadas, plurais, que poderiam adquirir sentidos inclusive diferentes dos
planejados inicialmente. Os intelectuais da “Avanzada” também se destacaram pelo
questionamento aos suportes tradicionais para a arte, ampliando-os ao considerar todos os espaços
urbanos como propícios para suas intervenções e percebendo o próprio corpo como um
importante suporte artístico.
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Encontro de Pesquisa em História
06 a 10 de Junho de 2016
Dentro deste cenário, um dos grupos que se destacou foi o “Colectivo Acciones de Arte”
(mais conhecido como CADA), criado por intelectuais como Diamela Eltit, Lotty Rosenfeld e Raul
Zurita. Tal grupo desenvolveu intervenções urbanas capazes de denunciar a violência do governo
pinochetista, ao mesmo tempo em que rompiam com padrões artísticos mais tradicionais. Nesta
comunicação analisaremos o contexto de surgimento deste coletivo, suas concepções de “arte” e
“artista”, além de discutir algumas de suas ações, em especial “Para no morir de hambre en el Arte”
e “Inversión de escena”, ambas executadas em 1979. Por fim, analisaremos a tentativa do grupo
CADA em criar uma revista denominada “Ruptura”, visando difundir obras comprometidas
politicamente com a luta pelo retorno a um regime democrático no Chile e intensificar o debate
crítico com outros intelectuais.
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Encontro de Pesquisa em História
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Tutelada pelos militares, o processo de abertura política na ditadura militar brasileira (1964-
1985) permitiu, de maneira sensível, uma relativa flexibilização da repressão governamental,
especialmente após a revogação do Ato Institucional número 5 em 1979. Contudo, a complacência
dos governos brasileiros à época tinha grandes limitações, afinal tratava-se de um Estado autoritário
que, desde o golpe de 1964, promoveu uma asfixia das liberdades democráticas no país e
empregaram uma sistemática perseguição aos opositores do regime. Em relação a censura, após a
anulação do AI-5, a Constituição de 1967 voltou a cena e, juntamente com ela, a Lei de Imprensa.
Neste sentido, os governos militares prosseguiram com a manutenção de censurar (ao menos tese)
conteúdo considerado nocivo por eles. Assim, o intuito desta comunicação é analisar de que
maneira o jornal Lampião da Esquina (periódico de caráter homossexual, mas também abria espaço
substancial para o debate acerca do movimento negro e do movimento feminista) tratou da censura
que foi submetido por violar “a moral e o bons costumes” previstos na Lei de Imprensa de 1967.
O trabalho aqui apresentado faz parte de uma pesquisa mais ampla, que se propõe a
investigar, no Brasil, as demandas por memória, verdade e justiça, bem como as políticas de
memória e reparação adotadas pelo Estado brasileiro entre os anos de 1995 e 2014. Fazendo uso
de um corpo documental composto por leis, relatórios, testemunhos orais e imprensa, este
trabalho, que resultará em uma tese de doutorado, tem buscado compreender as formas pelas quais
o país lidou com seu legado ditatorial e as disputas existentes nesse processo. Diferentemente de
outros países que passaram por experiências históricas semelhantes, o Brasil experimentou um
processo de transição controlado e gestado pela ditadura e com o apoio das elites políticas aliadas,
no qual a Lei de Anistia representou a síntese desse processo e garantiu não apenas a impunidade
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Encontro de Pesquisa em História
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e a imunidade para aqueles que cometeram graves violações contra os direitos humanos, mas,
também, a interdição desse passado, de modo que, para setores ligados de alguma forma à ditadura
ou zelosos dos “pactos” dessa Lei, qualquer iniciativa que se proponha a passar esse passado a
limpo é rechaçada e colocada na inconveniência do “revanchismo”, não sendo incomum a
justificativa de que essas iniciativas representam uma ameaça à estabilidade democrática e à
“reconciliação”, sendo, pois, desnecessárias. Essas questões implicam considerar que aquilo que se
elege para compor ou não um quadro de medidas que visam enfrentar um passado recente e seu
legado, é fruto de disputas políticas e se constrói historicamente. Não deve ser pensado apenas
como mera concessão governista, mas resultado de pressões feitas por aqueles a quem já chamaram
de "empreendedores de memória". Logo, não se pode perder de vista que a memória histórica
constitui umas das formas mais poderosas de legitimação, e que precisa ser trabalhada
considerando-se os sujeitos e os espaços que eles ocupam em dada correlação de forças. Pensar
esse processo criticamente implica, pois, não apenas reunir o conjunto de medidas adotadas pelo
Brasil entre 1995 e 2014 e as demandas da sociedade, mas articulá-los à correlação de forças sociais
que concorrem para tal, evidenciando sujeitos, projetos e as tensões políticas que os distanciam e
os colocam em campos opostos.
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Encontro de Pesquisa em História
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histórico brasileiro, em que os direitos políticos dos cidadãos foram sumariamente retirados,
através de Atos Institucionais, proibindo-lhes, inclusive, de manifestarem-se livremente, a favor ou
contra o governo. É nesse cenário que se buscou realizar a presente pesquisa, que tem por objetivo
expor as razões e justificativas da busca por uma responsabilização criminal daqueles que agiram
em nome do Estado, além de, através da metodologia adotada, revelar quais serão os benefícios
que tais responsabilizações trarão à sociedade brasileira.
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No contexto dos debates que resultaram na anistia política de 1979, o regime ditatorial
definiu uma lista de exilados "indesejáveis" que, ao retornarem ao Brasil, deveriam ser submetidos
a procedimentos mais rígidos. Os ""indesejáveis"" representavam as diferentes vertentes das
esquerdas do pré-1964 que o regime civil-militar procurou alijar da política nacional: Leonel Brizola,
Luis Carlos Prestes, Miguel Arraes, Francisco Julião, Gregório Bezerra, Paulo Freire, Paulo
Schilling e Márcio Moreira Alves. Procuraremos observar como esses personagens se reinseriram
na política nacional, as dificuldades por eles enfrentadas, assim como as resistências de vários
setores à participação política desses personagens. Veremos que alguns desses "indesejáveis"
suscitam a resistência não somente dos setores governistas, mas também dos oposicionistas.
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Durante mais de setenta anos o México foi governado por apenas um partido, o Partido
Revolucionário Institucional (PRI). Nas décadas em que os representantes do PRI estiveram no
poder, o programa e as estratégias políticas postos em prática tiveram como objetivo
institucionalizar a Revolução, controlar a dissidência e impedir a participação da oposição. Nas
últimas décadas, a sociedade mexicana deparou-se com a repressão aos movimentos sociais,
desaparecimento e assassinato de militantes e perseguição da esquerda política. Em 2000, um novo
presidente foi eleito. Vicente Fox, candidato do Partido Ação Nacional (PAN) conseguiu a faixa
presidencial a partir de uma campanha que uniu setores conservadores e progressistas a partir da
ideia de voto útil e da necessidade de mudança. Naquele momento, portanto, Fox usava seus
discursos para afirmar-se como o agente de uma "transição democrática", um processo que, de
acordo com algumas interpretações havia começado com o movimento estudantil de 1968 e que
se consolidava com sua eleição. Dentre os principais desafios que Fox tinha que encarar, estava a
necessidade de reparar os crimes e violações cometidos pelos agentes do Estado contra a
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Proposta do Simpósio:
O simpósio "História do Pensamento Político" propõe agregar estudos que têm como mote
a análise de ideias políticas em sua produção e recepção historicamente contextualizadas.
Afastando-se de perspectivas que cindem o campo das práticas e ações dos das ideias, doutrinas e
pensamentos, esse simpósio alinha-se às preocupações de Quentin Skinner ao conceber o
pensamento proferido em discurso uma conotação ativa, destacando a sua efetivação como ação.
Não seria de interesse desse simpósio, portanto, estudos que hierarquizam o valor das práticas
sobre as ideias ou do pensamento sobre a ação. Aproximando-se de Cornelius Castoriadis em
respeito à instituição simbólica da realidade, defende-se que compreender a formulação ou a
recepção de ideias é parte fundamental da autonomização do ser em busca de constituir-se. Para
tanto, a história emerge como instrumento necessário para a compreensão de si e do outro. Dessa
forma, o simpósio requer de seus proponentes uma contextualização do pensamento a ser
analisado, evitando a crença em ideias atemporais ou historicamente perenes. Por esse caminho
chegamos à última ressalva metodológica, a do sentido do discurso. Acreditando que uma ideia,
expressa em discurso, tem uma direção ao ser proferida, em que o autor ataca, defende, contesta
ou reformula a ideia de outros autores e crenças, esse simpósio distancia-se da concepção de uma
ideologia ou pensamento em seu estado puro ou da descoberta de suas raízes mais profundas, onde
seu núcleo estaria alojado, para afirmar o caráter transitivo das próprias, em que conceitos são
reinterpretados, ideias são expulsas ou convidadas a participar de uma nova interpretação da arte
da convivência humana. Propende-se a aceitar estudos que tratem da pragmática discursiva das
ideias da Escola de Cambridge, da hermenêutica de fusões de horizonte gadameriana e que se
estende para as preocupações de Ricoeur e da análise de conceitos políticos na vertente alemã ou
francesa, em conluio com Koselleck e Rosanvallon. Obviamente, serão bem avaliados trabalhos
que discutam tais escolas em sua epistemologia, teoria ou metodologia ou que ainda proponham o
olhar do pensamento político sob outra perspectiva.
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Comunicações:
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em seus primeiros anos, quanto as ressignificações que sofria a Doutrina Monroe, em direção à
uma expansão imperialista estadunidense.
PALAVRAS-CHAVE:
Esta apresentação tem como proposta refletir sobre a recepção do texto teatral A
Mandrágora (1518), de Nicolau Maquiavel, no Brasil, a partir das suas edições brasileiras. Como,
em cada uma das sete traduções realizadas, que datam de 1959 à 2007, o pensamento de Maquiavel
é apresentado ao público brasileiro? Como as ideias do pensador florentino foram apropriadas e
transformadas através de paratextos, como capas, prefácios, posfácios, notas de rodapé? Como
esses paratextos relacionam a obra ficcional em questão com os escritos políticos de Maquiavel?
Quais objetivos podem ser depreendidos dos discursos que acompanham o texto principal?
Buscaremos, também, compreender como os sentidos que eles conferem à obra e ao pensador se
relacionam com contexto de sua publicação, situando historicamente cada edição.
PALAVRAS-CHAVE: História das Ideias, Soberania Popular, Estado, Revolução Inglesa, Carlos
I.
Durante o século XX, prevaleceram análises em que interesses de classe ou de grupos eram
os responsáveis pela decapitação de Carlos I. Os discursos políticos acerca do tema ou eram
adornos para uma questão econômica profunda ou justificativas de uma ações levadas pela
necessidade do grupo de se afirmar. Caminhando em direção oposta, e em concordância com uma
historiografia das ideias e dos discursos, esta comunicação parte do pressuposto que discursos não
são reflexo de um plano material ou justificativas de impulsos humanos, mas sim instituintes do
real, operações mentais que visam solucionar dilemas encontrados entre os homens e, nas palavras
de Hobbes, "seu mundo artificial". Por acreditar na artificialidade desse mundo instituído pela
política, um outro caminho historiográfico se apresenta: o da mudança criativa de ideias quando os
homens confrontam problemas de qualquer ordem, social, político, natural, material ou até mesmo
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pessoal. Dessa forma, o inédito julgamento público e a execução de um ser que até então era tido
como enviado por Deus emerge como uma adversidade a ser enfrentada, interpretada e solvida.
Para tanto, homens de seu próprio tempo operarão mudanças em ideias e conceitos, de
forma a realocarem o próprio mundo em novas mentalidades que deem conta de entendê-lo. Nesse
ínterim surgem novos conceitos de Estado que, seguindo Jean Bodin, o impessoalizam e fazem do
monarca não mais figura máxima, mas servidor desse Leviatã; A ideia de soberania popular é
defendida ao mesmo tempo em que um esforço de se conceber ""povo"" é feito por seus
defensores; A lei natural estoica é revisitada e utilizada num confronto entre justiça pela reta razão
e justiça consuetudinária. Discursos bíblicos de caça a um rei sanguinário ou da aprovação da
Providência do destino de Carlos I compuseram a cena política e também moldaram a nova forma
de se interpretar o mundo à sua volta. A apresentação pretende, portanto, analisar essas mudanças
de ideias e conceitos nos discursos de condenação, atentando para a fundação de um novo mundo
artificial que está por vir.
A presente comunicação busca fazer uma reflexão sobre as relações que se estabeleceram
entre expectativas escatológicas, identidade nacional e questões políticas no fundamentalismo
religioso nos Estados Unidos durante a década de 1970. Faremos uma breve discussão a respeito
das diferentes perspectivas sobre a crença em um reinado de Cristo na terra no “fim dos tempos”
- o pré-milenarismo e o pós-milenarismo – e, também, dos debates sobre os “efeitos políticos” de
tais posicionamentos. Buscaremos demonstrar como a utilização de categorias teológicas
“fechadas” e descontextualizadas como “definidoras” de um determinado posicionamento político
se torna problemática e tende a obscurecer mais do que desvelar as dinâmicas que se estabelecem
entre crenças escatológicas e discursos/práticas políticas. Na realidade, o pêndulo que vai do
pessimismo quanto a um mundo insuportável, que será consumido pela iminente intervenção
divina, ao otimismo quanto à possibilidade de se construir uma sociedade cristã que seja um farol
precursor de um período de reinado de Cristo na Terra através do seu povo – sem a necessidade
de sua Segunda Vinda – mantém uma relação direta com uma determinada “cultura política”
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compartilhada e com a proximidade ou não que o grupo tem com o poder político. Portanto,
abandonando análises de questões escatológicas que não levem em conta o contexto
político/nacional no qual se inserem e evitando o equívoco de se esperar que uma dada crença
teológica venha a determinar inexoravelmente certo comportamento político, cremos que no
período da pesquisa – período no qual há uma alteração na relação entre fundamentalismo e política
– as transformações do terreno político não foram acompanhadas, na mesma velocidade, por
reformulações teológicas, especialmente na questão da escatologia. As transformações das crenças
teológicas ocorrem na perspectiva da longa duração e não na dinâmica mais imediata das
contingências políticas. Nesse descompasso de ritmos, abre-se espaço para a compatibilização de
crenças e práticas consideradas incompatíveis.
François Furet afirmou que todas as histórias sobre a Revolução Francesa tiveram que optar
entre as abordagens de Michelet e Tocqueville, entre acreditar ou não no discurso revolucionário.
Proponho, neste trabalho, uma compreensão da Revolução sob a articulação entre os dois
pensadores. Desejo com a minha apresentação compreender melhor três importantes momentos
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da Revolução utilizando de canções populares como fontes históricas. Primeiro, como se forjou ao
longo dos primeiros anos do processo revolucionário um cantar intrinsecamente ligado ao ativismo
político. Segundo, como essa forma de ação política foi absorvida pelos ideais republicanos.
Terceiro, como o afastamento da participação política popular e a institucionalização do seu canto
por um governo revolucionário abriu caminho também para o autoritarismo. Comungando com o
pensamento de Lynn Hunt a respeito da linguagem revolucionária, acredito que a canção popular
ao longo da Revolução Francesa não serviu somente como suporte de ideias, como reflexo dos
acontecimentos históricos, ela própria sofreu modificações e se transformou em um instrumento
de mudança política e social. Assim, defendo que o estudo da canção popular pode contribuir para
melhor compreensão de ideologias e práticas, bem como resultados e legados da Revolução
Francesa.
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Proposta do Simpósio:
O presente Simpósio Temático detém como proposta atrair pesquisadores e trabalhos que
procuram focar suas perspectivas de estudo na abordagem analítica e crítica de sujeitos envolvidos
na atuação em movimentos sociais e políticos e suas concepções e práticas desenvolvidas em lutas
por direitos no Brasil e na América Latina no contexto compreendido entre a década de 1990 e os
dias atuais.
O contexto iniciado a partir dos anos 1990 pode ser caracterizado pelos reflexos e
transformações oriundas da acelerada inserção da região nos processos mundiais de globalização
em desenvolvimento. As profundas transformações nas estruturas econômicas, políticas e sociais
e a continuada reformulação do papel das instâncias estatais e suas atribuições em meio às
sociedades latino-americanas ocorridas deste então tiveram por consequência impactos dramáticos
sobre o desenvolvimento histórico destas sociedades: da precarização de condições de trabalho,
moradia, transporte, educação, saúde, cultura e lazer à reformulação/redução/flexibilização de
direitos, as mudanças iniciadas a partir deste período temporal vieram a se reverter em um
descontínuo processo de cristalização e ampliação de diversas desigualdades historicamente
construídas e ainda existentes na região. Paralelamente a este cenário, e em resposta a estes
impactos, este período veio igualmente a assistir à insurgência de um inovador conjunto de atores,
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Encontro de Pesquisa em História
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Tendo em vista o recorte temporal proposto por este Simpósio Temático, é igualmente
intenção atrair pesquisadores e estudos situados em outras ramificações do saber no campo das
Humanidades imersos nesta temática, de modo a propiciar a construção de um espaço de discussão
interdisciplinar ao longo do andamento do encontro.
Comunicações:
Quem abriu o Facebook no dia 25 de setembro de 2015 e procurou algum tema relacionado
às bandas Aclla, Armahda e Voodoopriest de São Paulo (SP), Arandu Arakuaa de Taguatinga (DF),
Cangaço e Hate Embrace de Recife (PE), Morrigam do Macapá (AP) e Tamuya Thrash Tribe do
Rio de Janeiro (RJ) se deparou com o Levante do Metal Nativo, estas oficializaram um movimento
(a princípio) cultural através deste perfil “coletivo” de Facebook. Estas bandas se conheceram
através de indicações de seus fãs, e utilizando das ferramentas de internet (principalmente Facebook
e Youtube) foram afinando laços, unindo-se para ganhar força e visibilidade para o que defendem,
ao mesmo tempo em que se definem, enquanto um movimento de bandas que fundem o Heavy
Metal com elementos da música, folclore, cultura e história indígena e do Brasil.
Pesquiso sobre algo que está acontecendo, que está em transformação. Um tempo que é o
qual eu vivo, tenho minhas experiências e, meus sujeitos da pesquisa fazem o mesmo, tem suas
experiências e escolhas. É uma história quente, saída do forno, e a minha parece um pouco crua,
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se assim posso brincar, produzida através de moradas provisórias. Este fator traz uma demanda
própria, e muito interessante, que amplia o debate e as dúvidas perante esse campo historiográfico
chamado História do Tempo Presente.
Os sites oficiais de notícias sobre Heavy Metal encaixavam estas bandas no Folk Metal
Brasileiro devido a um estilo consolidado no exterior com este nome (Folk Metal), onde as bandas
buscam suas origens, o passado de sua sociedade e, colocam elementos das descobertas em suas
canções (celta, vikings...). A partir do momento que a internet possibilita a troca de dados entre os
próprios usuários, desencadeia um novo processo de sociabilidade. Hoje através dos perfis, estas
bandas podem se expressar por elas mesmas, criam seus filtros, e publicam sobre si mesmas. Não
podemos esquecer que Facebook não é um local público, é necessário acesso a internet, um
cadastro, compreender a linguagem, entre tantos outros elementos que limitam a um grupo restrito.
Até o momento, são mais de dois mil seguidores do Levante, e cada postagem tem em média 1500
visualizações, e pelo menos, um terço dos que visualizam curtem o que foi postado. Através das
ondas da internet, estas bandas pegam youtube e dão a facebook a tapa. Se organizam, criam suas
redes de parceria, apoio e fanáticos.
PALAVRAS-CHAVE:
O presente trabalho tem como objetivo analisar o posicionamento de alguns dos sindicatos
de Belo Horizonte frente ao projeto de lei 4330, de autoria do deputado federal Sandro Mabel (PL-
GO), que dispõe sobre o regime de terceirização do trabalho e de prestação de serviços a terceiros.
Apresentado à Câmara dos Deputados em 1998 e apreciado no plenário em 2004, sua tramitação
foi marcada por calorosas discussões, dando margem a julgamentos favoráveis e contrários por
parte de sindicatos, centrais sindicais e movimentos políticos. Nossa pesquisa analisará os seguintes
sindicatos de Belo Horizonte: SINDELETRO-MG, SINDMETRO-MG, SINDADOS-MG,
SINDMETAL–BH/CONTAGEM e Movimento Mundo do Trabalho Contra a Precarização,
organização política que engloba diversos sindicatos de categorias diversas. O tema desta pesquisa,
ainda em andamento, é, na visão de historiadores do sindicalismo brasileiro, um dos mais discutidos
nos últimos anos, tendo se tornado a principal pauta de lutas e mobilizações nacionais. Temos
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como fundamentação para a escolha do tema a História do Tempo Presente, que defende que os
historiadores podem e devem se ocupar dos problemas do mundo contemporâneo, apontando sua
historicidade e as soluções encontradas ao longo do tempo. Assim, nos dedicaremos à recuperação
das múltiplas interpretações que os sindicatos de Belo Horizonte elaboraram, difundiram e
defendera, entre 1998 e 2004, atentos aos aspectos políticos e culturais dessas disputas.
Utilizaremos como fontes para nosso trabalho entrevistas com sindicalistas e jornais, boletins e
panfletos desses sindicatos, atentos à construção do posicionamento político destes e da construção
de autoimagens do trabalhador. Assim, utilizaremos como metodologia de pesquisa os
pressupostos da História Oral - que defendem os limites e as confluências entre a história e os
fenômenos da memória, tomando estes últimos como objeto de reflexão - e da História das
Culturas Políticas - especialmente naquilo que toca o papel dos jornais como vetores de difusão
das representações políticas. Por fim, este trabalho cumpre o papel de resgatar a memória de uma
das lutas mais significativas e ainda em curso, visto que o PL 4330 se encontra atualmente em
tramitação no Senado Federal com o título de PLC30.
História e memória da deficiência física no Brasil dos anos 80: notas sobre
Não se cria filho com as pernas..., de Maria Luiza Câmera
João Batista Peixoto da Silva
joaobatista.peixoto@yahoo.com.br
PALAVRAS-CHAVE:
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PALAVRAS-CHAVE:
O presente trabalho tem como objetivo comparar a história das mulheres vítima de
violência doméstica sobre o discurso mediado antes e depois da Criação da Lei Maria da Penha e
suas implicações jurídicas e sociais no Município de Montes Claros/Minas Gerais. Destina-se
realizar um estudo dos processos-crime relacionados aos crimes de lesão corporal, homicídio e
estupro contra as mulheres em situação de violência doméstica que se encontram no CEPEDOR
– Centro de Pesquisa e Documentação Regional, da Universidade Estadual de Montes Claros –
UNIMONTES –, enfatizando o discurso do sistema judiciário e seu posicionamento diante de tais
crimes no Município de Montes Claros entre as décadas de 1970 a 1990; e no Núcleo de Defesa
dos Direitos da Mulher em Situação de Violência - NUDEM, identificando as políticas públicas e
ações voltadas para as mulheres vítimas de violência doméstica no Município de Montes
Claros/MG no período de 2006 a 2015.
PALAVRAS-CHAVE:
O Brasil é uma nação multicultural, e uma de suas diversidades mais marcantes são as
manifestações religiosas presentes em seu território. Visando a garantir o respeito e pluralidade
dessas expressões, o Art. 5º Inc. VI da Constituição Federal de 1988 garante a liberdade de crença
e de culto e a proteção dos locais e das liturgias religiosas. O interesse da pesquisa consiste em
entender como as religiões de matriz africana são percebidas pela comunidade, por praticantes de
outras religiões e pelo poder público. Investigarei a intolerância contra as religiões de matriz
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Encontro de Pesquisa em História
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PALAVRAS-CHAVE:
As religiões têm feito parte da cultura humana desde tempos remotos. São produzidas pelas
sociedades ao mesmo tempo em que possuem influência sobre as mesmas. O intento desse trabalho
é o de analisar a relação intrínseca que os ideais puritanos têm com a identidade estadunidense. A
ideia é de fazer um levantamento sobre a construção dessa identidade, passando pela teoria do
“destino manifesto” e a busca de raízes com os chamados “pais peregrinos”. Perceber o peso e o
impacto que a identidade puritana teve na política norte-americana e os entraves e disparidades que
causou, principalmente no campo das políticas sociais. A partir das reflexões do documentário “For
the Bible Tells me So”, feito por Daniel Karslake em 2007, pretendo ponderar sobre como essa
mesma identidade é usada em um caminho contrário: o mesmo ideal de liberdade aliada à conduta
cristã empregada na defesa dos direitos dos homossexuais nos Estados Unidos. O objetivo é
observar como um mesmo discurso pode ser utilizado por grupos opostos e o quanto ele é
importante nas questões políticas e sociais dos Estados Unidos.
PALAVRAS-CHAVE:
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Encontro de Pesquisa em História
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rutetorres@gmail.com
Darcio Rundvalt
Mestrando em História
Universidade Estadual de Ponta Grossa
darcio_rundvalt@hotmail.com
Jonathan Coulis
Doutorando em História
Emory University - USA / Universidade Federal de Minas Gerais (Doutorado Sanduiche)
joncoulis@gmail.com
Proposta do Simpósio:
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Encontro de Pesquisa em História
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ideias sobre a natureza e de agentes científicos e intelectuais; a criação, divulgação e debate sobre
tecnologias de apropriação da natureza; o espaço e os elementos naturais como objetos de disputas
sociais e políticas; a apropriação da natureza na formação das identidades nacionais ou locais; a
constituição dos patrimônios naturais; as construções culturais e sociais das paisagens, bem como
as representações sobre fauna, flora e lugares tidos como naturais; as legislações e os marcos
regulatórios que envolvam o uso dos recursos naturais; as pesquisas sobre saúde, pragas, saberes
locais que envolvem o conhecimento das dinâmicas naturais; dentre vários temas possíveis.
Comunicações:
Esta apresentação propõe discutir as ações do Instituto Histórico de Ouro Preto - IHOP
em prol da proteção da Serra do Itacolomi, entre Ouro Preto e Mariana, como patrimônio natural
a ser tutelado pelo Estado. Na Primeira Conferência Brasileira de Proteção à Natureza, realizada
entre os dias 8 e 15 de abril de 1934, no Museu Nacional, Rio de Janeiro, esteve presente o
advogado e fundador do IHOP, Vicente Racioppi. Como representante do Instituto, Racioppi
propôs a criação da Reserva do Itacolomy como um “relicário ou santuário natural” para proteção
dos “primores da flora” daquela serra. Para além da importância florística, o proponente exaltou o
valor histórico de Ouro Preto, as características naturais da região e o valor do Pico do Itacolomi
como um dos monumentos naturais do Brasil.
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A década de 1930 e suas transformações políticas marcaram uma nova fase da história
brasileira incidindo profundamente nos setores social, econômico e ambiental, inclusive. Atendo-
nos às particularidades que nos interessam – aquelas que tratam das políticas ambientais a partir da
Segunda República, é nossa intenção fazer uma retrospectiva dos instrumentos legais criados
durante a gestão do Presidente Getúlio Vargas e de suas importâncias para a preservação do
patrimônio natural.Várias foram as ações realizadas em governos anteriores – incluindo aqui os
períodos colonial e Imperial – que ambicionassem a preservação ou a exploração racional do meio
ambiente. Poucas, no entanto, surgiram efeitos positivos, sendo a maioria suprimida pelo tempo e
por circunstâncias várias como a necessidade de exploração dos recursos naturais, sobretudo os
vegetais e os minerais.
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A partir do Estado Novo, contudo, o Estado brasileiro voltou novos olhares ao setor,
criando agências e legislações específicas para fiscalizar a exploração das matas assim como outros
instrumentos legais, como as polícias florestais, responsáveis por gerenciar a proteção vigente e
multar infrações. A política ambiental do Estado Novo atinge seu auge com a criação dos parques
nacionais, a partir de 1937, utilizando para tal o modelo norte-americano do Parque Nacional de
Yellowstone.
Este trabalho visa estudar o pensamento ambiental no início do século XIX, especialmente
sobre a região do pampa, que abrange a atual metade sul do Rio Grande do Sul, partes da Argentina
e todo o território do Uruguai. Estudar este período nos leva a compreender melhor um momento
de transição, onde velhos olhares sobre a natureza se mesclam e se chocam com novas formas de
pensamento, ambos ainda relativamente distantes da visão ecológica, que atualmente pode ser
considerada como a mais expressiva no mundo ocidental. Este estudo parte da História Ambiental
e propicia conhecer melhor os territórios que compunham as regiões do pampa, suas formas de
ocupação e interação com as sociedades que nestes campos se estabeleceram.
As fontes utilizadas para este trabalho são alguns relatos de viajantes que percorreram o
pampa no início do século XIX e nos deixaram registros sobre suas impressões desta região. Irei
aqui apresentar quais eram as visões negativas que estes possuíam sobre o pampa e porque elas
eram expressadas desta forma. Claramente o pensamento destes viajantes não era apenas composto
de depreciações, mas neste trabalho em específico irei deter minha análise sobre estas visões
negativas. Busco compreender como estes aspectos faziam parte de uma tradição de pensamento
maior e mais antiga, que acabou contribuindo para a constituição de diversas formas de perceber e
interagir com a natureza que nossa sociedade carrega até os dias de hoje.
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renatinha.silva@live.com
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território e de um povo; seu sufixo (agem), do latim imago, remete à ideia de forma, semelhança,
aspecto, aparência, indicando tanto a ideia de imitação quanto de representação. Desde a
publicação, do O Sistema da Natureza de Lineu (1735), da expedição La Condamine (1735-1744)
e da expedição de Alexander von Humboldt à América Latina (1799), a viagem, como forma de
adquirir conhecimento, se difundiu entre as instituições europeias de saber. O período do fim do
século XVIII e XIX é marcado pela realização das chamadas “expedições científicas”, nas quais
instituições e/ou capitalistas mobilizavam grupos de cientistas e capital com o objetivo de conhecer
as potencialidades e produzir imagens sobre o que consideravam ser o “resto do mundo”. A partir
da vinda da corte portuguesa e da abertura dos portos brasileiros ao comércio internacional, em
1808, Sérgio Buarque de Holanda propõe a ideia de um “novo descobrimento do Brasil”:
excetuando os primeiros momentos da colonização portuguesa em terras brasílicas, o país nunca
parecera tão atraente aos geógrafos, aos naturalistas, aos economistas, aos simples viajantes, como
naqueles anos. Multiplicaram-se as viagens pelo interior do Brasil e a produção e circulação de
relatos de viagem sobre o território seguiram o mesmo ritmo. Desde esse período até o fim século
XIX, os Campos Gerais, no segundo planalto paranaense, foram visitados por viajantes europeus
e brasileiros. Os relatos deixados por eles constituem um importante conjunto documental para a
historiografia paranaense. Dessa série, selecionei três para compor a pesquisa que se segue. São
eles: Viagem pela comarca de Curitiba, de Auguste de Saint-Hilaire, sobre a viagem que o naturalista
fez em 1820; Novo caminho no Brasil Meridional, de Thomas Plantagenet Bigg-Wither, relata a
permanência do engenheiro em terras paranaenses de 1872-1874; e Viagem filosófica aos Campos
Gerais e sertão de Guarapuava, de Visconde de Taunay, que narra a viagem do então presidente da
província em 1885. Nesses três relatos cada um dos viajantes destacou os Campos Gerais,
dedicaram várias páginas a descrever a paisagem, buscando expor os elementos que a compunham
e insistindo em sua grande beleza e possível utilidade.
A natureza, no sentido amplo do termo, se encontra cada vez mais presente nas reflexões
humanas da contemporaneidade. Em relação à História, enquanto área de conhecimento, não
poderia ser diferente. Nos últimos anos, principalmente após a chamada “crise ambiental” que
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surge na primeira metade do século XX, as discussões em torno da relação homem e meio natural,
bem como história e natureza, têm crescido consideravelmente.
O século XVIII teria deixado como legado a ideia de que a natureza seria algo a ser
dominado, algo distinto do homem. Em decorrência desta e de tantas outras noções acerca da
natureza, a História Ambiental, que vem se configurando desde a segunda metade do século XX,
tem buscado um estudo em que natureza e história/natureza e homem não sejam esferas separadas.
Apesar destas mudanças, a história ambiental ainda possui muitas fronteiras a serem ultrapassadas,
destacando-se aqui a sua dimensão educacional. No Brasil, tanto no meio acadêmico, quanto nas
escolas de ensino básico, há uma dificuldade em se trabalhar no eixo das discussões histórico-
ambientais. A partir de uma análise do Guia do Programa Nacional de Livro Didático (Ensino
Médio/História) do ano de 2015 foi possível observar que, apesar de apresentarem a questão
ambiental como tema central de avaliação dos livros didáticos, as relações do homem com o
ambiente natural não estão explicitadas nos livros aprovados. O tema em si necessitaria de uma
abordagem interdisciplinar e, simultaneamente, a provocaria. No entanto, não é isto que se
evidencia.
Como uma tentativa prática de lidar com esta insuficiência da temática ambiental no ensino
básico brasileiro, foram formuladas duas sequências de ensino, em formato de oficinas, com o
objetivo de abordar, em termos efetivamente histórico-ambientais, a chegada dos portugueses na
América e também as primeiras relações por eles estabelecidas com a Mata Atlântica. Para
elaboração deste material foram utilizadas, evidentemente com sua devida problematização,
diversas ferramentas, tais como trechos de obras de cronistas coloniais, imagens, mapas e filmes.
O resultado final foi um material capaz de ampliar os horizontes da natureza enquanto objeto do
ensino de História.
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para aliar empresas e meio ambiente - e as contundentes críticas a respeito. Um breve histórico
sobre o surgimento e consolidação do tema ambiental como preocupação mundial, seguido da
consequente elaboração de processos que conjuguem a busca pelo incessante e crescente lucro -
não raro com implicações predatórias para a natureza - e a sustentação dos elementos necessários
para a vida no planeta. Importante parte da discussão ganha espaço na mídia, ora usada como
espaço para debater boas ideias e práticas, ora como fonte de armazenamento e processamento de
memórias, ora como ferramenta de manipulação em desfavor da natureza - no limiar entre
representações e apropriações.
Este trabalho propõe analisar o avanço das fronteiras para as regiões interioranas da
Comarca do Rio das Mortes, Capitania de Minas Gerais. Neste contexto, adotamos como viés de
estudo a relação existente entre a percepção dos espaços naturais e os indivíduos que se deslocaram
para estas áreas. Nosso recorte temporal de análise compreende a segunda metade do século XVIII
e início do XIX, período em que ocorreram os avanços das fronteiras, bem como o seu processo
de fechamento. Quanto à análise espacial de estudo, focaremos nas regiões compreendidas como
os sertões a oeste desta comarca, áreas que se destacaram pelo desenvolvimento das práticas
agropastoris e que atraíram um número significativo de indivíduos no período em questão.
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vulnerabilidade em relação aos fatores climáticos, especialmente nos períodos de estiagem, dentre
outros aspectos, representavam a rotina e o atraso do ramo mais importante da economia local.
Seguimos o rastro da pecuária “semi-selvagem” para tentar compreender a formação de uma série
de críticas ao criatório cearense no decorrer do século XIX, especialmente a partir da década de
1830, quando elas se intensificam nos relatórios de presidentes de província, nos escritos de
cientistas da Comissão Científica de Exploração, que em 1859 chegava ao Ceará para desvendar
suas riquezas. Com olhares treinados para ver o mundo natural como fonte de recursos e de geração
de rendas, os membros da comissão contribuíram, sobremaneira, para reforçar a ideia do atraso da
pecuária, ao mesmo tempo em que apontaram uma série de propostas de melhoria neste ramo
econômico.
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e econômicos peculiares a cada conjuntura. Contudo, é possível afirmar que no decorrer do século
XX, notadamente nas décadas de 1920, 1930 e 1940, as discussões sobre a necessidade de se
estabelecer formas “racionais”, menos destrutivas, de lidar com a natureza adquiriram grande força
e impulso no Brasil, mobilizando cientistas, técnicos, educadores e setores governamentais.
Ancoramos nossa pesquisa no estudo da legislação da época – precursora no que se refere a tal
matéria – e em impressos, como a revista infantil O amigo dos animais, que buscaram divulgar a
importância do cuidado com os bichos, com ênfase na educação das crianças. A delimitação dessa
esfera de debate nas publicações consultadas permite entrever que a defesa dos animais se alinhava
com a promoção de valores morais e de projetos políticos específicos, com ênfase no desejo de
formar cidadãos brasileiros cooperativos e patriotas, comprometidos o “progresso” da nação.
O trabalho faz parte de uma pesquisa de doutorado que tem como propósito identificar e
registrar os primórdios do design no Brasil, na passagem do século XIX para o XX, no período
histórico que corresponde à Primeira República (1889-1930), e, no qual o termo design ou desenho
industrial não se aplicava comumente aos planejadores de produtos e de peças gráficas, conhecidas
como artes decorativas e aplicadas. A pesquisa envolve o estudo das obras do artista Eliseu Visconti
(1866-1944), nascido na Itália e naturalizado brasileiro, mais conhecido por suas pinturas mas, que
apresenta uma obra significativa nas artes decorativas e aplicadas devido a seu envolvimento com
o trabalho de Eugène Grasset, o mestre francês do Art Nouveau, na École Guérin, em Paris, como
bolsista do governo brasileiro, de 1893 a 1901. Pretende-se analisar as características inerentes ao
design presentes em suas obras e reconhecer suas contribuições para o design brasileiro, a partir de
sua experiência na França e de seu retorno ao Brasil. Em 1901, o artista apresentou na Escola
Nacional de Belas Artes – ENBA, no Rio de Janeiro, sua primeira exposição individual, onde
figuravam sessenta quadros e vinte e oito trabalhos de arte decorativa aplicada à indústria. Em
1903, levou para São Paulo a maioria das obras expostas no Rio e, nesse mesmo ano a fábrica
Américo Ludolf confeccionou cerâmicas com elementos da flora brasileira, em uma apropriação
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da natureza que colaborava para a formação de uma identidade nacional, a partir dos seus projetos.
Seu interesse para com a arte decorativa se estendeu do período parisiense até o ano de 1936,
quando finalizou suas atividades na Escola Politécnica no Rio de Janeiro, onde criou uma cadeira
de arte decorativa nos cursos de extensão universitária. As investigações serão feitas por meio de
um método comparativo dentro de um campo teórico-metodológico abrangente, composto por
múltiplas estratégias de abordagens que relacionam História do Design, História Social da Cultura,
da Tecnologia, da Arquitetura e da Arte. Essa abordagem multifacetada permite estudar o assunto
a partir de vários ângulos em vez de uma perspectiva única que privilegiasse apenas os estilos ou
os protagonistas ou a cultura de um povo e amplia o debate sobre a pesquisa em história do design,
campo do conhecimento ainda em construção, dando ênfase à interdisciplinaridade do
conhecimento e do relacionamento entre as ciências.
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gustavocguimaraes@hotmail.com
Proposta do Simpósio:
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capoeira). Trabalha-se, assim, com a perspectiva de utilizar o esporte como uma chave para
compreender, interpretar e/ou explicar cenários culturais, políticos, econômicos e sociais,
sobretudo dos séculos XIX e XX.
Comunicações:
PALAVRAS-CHAVE:
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É inegável que o futebol possui papel notório na cultura do povo brasileiro, nos estádios
não estão somente pessoas observando atletas praticando o esporte bretão, está muito além disso,
como dizem: “o futebol é a coisa mais importante dentre as menos importantes”.
O legado da Copa do Mundo no Brasil foi muito mais do que uma grande festa no país,
obras inacabadas, insatisfação popular e grande mídia mundial. Com a realização do maior evento
esportivo do mundo várias arenas brasileiras se adequaram ao conhecido “padrão Fifa”, com isso
algumas mudanças afetaram mais do que o espaço físico dos estádios, a apresentação desse trabalho
propõe a problematização das consequências de tais exigências da Fifa para a realização da Copa
no Brasil. Os estádios de futebol são lugares de memória que abrigam práticas culturais coletivas,
a festa do torcedor é uma celebração, os estádios fazem parte da identidade e memória do torcedor.
Alguns estádios tradicionais foram derrubados para a construção de novas arenas modernas que
não possuem a história e identificação dos torcedores, todas as arenas foram modificadas e os
setores mais baratos conhecidos como “geral” foram extintos, os preços aumentaram, os
torcedores de baixa renda foram afastados daquilo que fazia parte da sua vida, do seu fim de
semana, do seu lazer com a família. O futebol influencia até nas relações sociais entre as pessoas
em seus municípios, o impacto do futebol é enorme, da sua elitização é maior ainda.
A partir dos conceitos de lugar de memória do autor francês Pierre Nora é possível
discorrer sobre o tema e apresentar com bases em estudos reconhecidos o tema do trabalho:
“Mesmo um lugar de aparência puramente material, como um depósito de arquivos, só é lugar de
memória se a imaginação o investe de aura simbólica. Mesmo um lugar puramente funcional, como
um manual de aula, um testamento, uma associação de antigos combatentes, só entra na categoria
se for objeto de um ritual. Mesmo um minuto de silêncio, que parece o extremo de uma significação
simbólica, é, ao mesmo tempo, um corte material de uma unidade temporal e serve,
periodicamente, a um lembrete concentrado de lembrar. Os três aspectos coexistem sempre (...). É
material por seu conteúdo demográfico; funcional por hipótese , pois garante ao mesmo tempo a
cristalização da lembrança e sua transmissão; mas simbólica por definição visto que caracteriza por
um acontecimento ou uma experiência vivida(...)”.
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Este estudo, uma pesquisa de mestrado ainda em andamento, busca investigar a presença
alemã na Escola de Educação Física (EEF) da UFMG entre os anos de 1963 e 1982, no que
concerne a circulação de modelos científicos e pedagógicos para a formação de professores de
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Encontro de Pesquisa em História
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Educação Física. Tal presença se fez possível através do Convênio de Assistência Técnica
Brasil/Alemanha, como parte do “Intercâmbio Técnico Internacional relacionado à Educação
Física e Desportos”, estabelecido entre o Departamento de Educação Física e Desportos (DED)
do MEC e o DAAD, órgão do governo alemão. A realização desta pesquisa está baseada na análise
de fontes que pertencem ao Acervo do Centro de Memória da Educação Física, do Esporte e do
Lazer (Cemef/UFMG) bem como na realização de entrevistas com professores que, de alguma
forma, participaram de diferentes movimentos no diálogo entre os dois países, especificamente no
que se refere à EEF-UFMG. Dentre a documentação, encontramos materiais didáticos, como
filmes e programas de aula, indícios referentes a cursos de pós-graduação, cartilhas de campanhas,
informativos, ofícios, correspondência, assim como o relatório produzido pela professora alemã
Listelotte Diem, que aborda a promoção do esporte no Brasil entre os anos de 1963 e 1982. A
hipótese é a de que tal iniciativa de intercâmbio internacional colocou em circulação uma grande
variedade de pressupostos pedagógicos, políticos e científicos, provenientes de países considerados
como referências na formação profissional da área, neste caso a Alemanha.
Nas últimas décadas o estudo das atividades esportivas vem conquistando cada vez mais
espaço nas ciências humanas e sociais. Seja pelo apego de grande parte dos brasileiros pelo futebol,
seja pelo sentido sócio cultural que o encerra, ou mesmo pela riqueza e complexidade que este
esporte apresenta, atualmente não são poucos os trabalhos, artigos, livros, teses e dissertações que
conhecem no futebol seu objeto de estudo, valendo-se de diferentes perspectivas e motodologias.
Percebeu-se que o futebol é um meio privilegiado através do qual pode-se compreender
substancialmente a sociedade e cultura brasileiras. Todavia, o pesquisador deve ter em mente que
o futebol não pode ser concebido de modo generalizante, isto é, existem vários futebóis a serem
estudados. Dentre estes diferentes futebóis, ganha relevo o futebol amador ou de várzea. Este tipo
de futebol é organizado em torno do campo de futebol aberto às comunidades, os quais possuem
qualidades que extravasam seu sentido puramente esportivo – ou seja, como local adequado à
prática do futebol – sendo compreendidos a partir de outras finalidades enquanto equipamento de
uso coletivo. São espaços sociais vitais aos quais se atribui grande importância por parte das pessoas
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que se valem de tal espaço. É comum, neste sentido, que estas comunidades que se localizam nas
imediações destes campos de futebol organizem times de futebol amador. Este fenômeno ocorre
em maior ou menor medida, em maior ou menor grau nas diferentes localidades do Brasil – seja
no meio urbano ou rural -, mas de um modo geral, o que se observa é a existência de times de
futebol amador em todos os cantões do país. Fruto da pesquisa de mestrado desenvolvida junto ao
Programa de Pós Graduação em Sociologia da UFMG, este trabalho pretende contribuir para os
estudos acerca do futebol brasileiro, partindo da perspectiva particular para a geral. Desta forma,
buscou-se através do estudo de dois clubes de futebol amador da zona leste da cidade de Belo
Horizonte (Social Olímpico Ferroviário e Mineirinho Esporte Clube), entender, dentre outras
coisas, sob quais condições operam os clubes de futebol amador, produzindo um panorama da
situação vivenciada pelos mesmos, caracterizando, assim, este tipo especifico de futebol na cidade.
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jonatashistoria2010@hotmail.com
Proposta do Simpósio:
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Comunicações:
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Cidade (atual Museu Histórico Abílio Barreto), inaugurado oficialmente em 1943 –, e em ambas
figuram personagens negras cuja expressão, ainda que construída/registrada por um outro
radicalmente distinto (e também por esta razão), propõem indagações relevantes às narrativas
lacunares aqui referidas.
PALAVRAS-CHAVE:
A pesquisa apresentada trata-se de um trabalho, que teve inicio como projeto de Iniciação
Cientifica e segue em ampliação através de um estudo monográfico. Nele, demonstro
possibilidades de análises históricas de processos criminais que envolvem casos de homicídio, na
região de São Paulo, em fins do século XIX e inicio do século XX. A intenção desta pesquisa é
discutir por quais maneiras as ideias de: raça, controle social e cidadania permearam a prática das
instâncias jurídicas, nesse período marcado pelo final da escravidão e primeiros anos do regime
Republicano, no Brasil. Notamos que a bibliografia produzida sobre este tema ressalta,
especialmente, as disputas entre os adeptos das teorias concernentes ao direito positivo
(influenciado pelas teorias raciais e sociais – darwinistas) e aqueles do direito clássico (inspirados
pelas ideias liberais e de igualdade perante a lei), sendo que a principal tensão girou em torno da
admissão, ou não, de aplicar diferentes responsabilidades penais sobre os criminosos. No entanto,
observo que os autores lidos utilizam como fontes documentais, predominantemente, revistas
acadêmicas e obras publicadas por médicos e juristas renomados na época, ou seja, apreendem o
debate em seu caráter, propriamente, teórico. Nesse sentido, pouco foi feito em termos de análises
de casos concretos, assim, acredita-se que o material selecionado para essa pesquisa pode contribuir
para uma perspectiva inédita nos estudos sobre o assunto, uma vez que, nos permite observar a
maneira como delegados, promotores, juízes, testemunhas e réus deram significados às teorias e
discussões em voga. Portanto, além de evidenciar o campo jurídico (e as possibilidades
documentais nele intrínsecas) como um espaço de conflito, onde se reflete disputas de interesses e
concepções de mundo, optamos por fazer uma leitura histórica dos processos criminais, que busca
recuperar a agência dos sujeitos envolvidos e o valor de suas experiências em relação com o mundo
no qual viveram.
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PALAVRAS-CHAVE:
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Uma Clio Negra para uma nação multicor: o poder da fala e a escrita da
história por ativistas negros nos anos 1920-1930
João Paulo Lopes
jopalop@gmail.com
PALAVRAS-CHAVE:
A vida para a população descendente de africanos não deve ter sido nada fácil nos anos e
décadas após a Abolição da Escravidão de 1888. O ranço da pecha de ex-escravos e o racismo cada
vez mais disseminado na medicina, na política, na literatura, na imprensa, na justiça, fomentaram e
alimentaram uma realidade de mais exclusão e preconceito aos afrodescendentes. Realidade que a
liberdade do cativeiro não apagou e nem minou. A desigualdade econômica, a falta de políticas
públicas para essa população por parte do Estado, a falta de escolarização e de qualificação formal
para o trabalho, a negação de acesso à terra, e a violência generalizada – simbólica e real -
contribuíram para piorar esse quadro.
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Encontro de Pesquisa em História
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PALAVRAS-CHAVE:
Na cidade do Rio de janeiro de 1913, dois importantes intelectuais travaram debate público
através da imprensa sobre o tema da inferioridade do negro na sociedade brasileira. Foram eles,
Alcindo Guanabara e Hemetério José dos Santos. O primeiro, jornalista, deputado e senador,
chegou a ser redator chefe do jornal O Paiz. O segundo, professor de Português do Colégio Militar
e da Escola Normal do Distrito Federal. O debate entre estes dois personagens da época é fonte
reveladora de questões relacionadas à cultura política e cultura histórica que permeavam a sociedade
brasileira naqueles tempos. Percebe-se que entre os dois travou-se disputa discursiva a respeito da
questão racial, que envolveu visões sobre memória e história. A argumentação que cada um
mobilizou para afirmar suas posições políticas e ideológicas possibilita reflexões a respeito do modo
como o ser negro era visto na sociedade. Enquanto Alcindo Guanabara, num primeiro momento,
apresenta um discurso pautado na perspectiva de entender o negro como ser humano inferior,
Hemetério José dos Santos critica esta visão, colocando-se numa posição explicitamente
antirracista. Num segundo momento, o diálogo entre os dois apresenta certo recuo por parte de
Alcindo Guanabara no tocante a sua posição inicial de aceitar a visão de que o negro era inferior
ao branco, o que sugere que tenha aceitado os argumentos de Hemetério. A disputa entre os dois,
então, avança para o campo da memória e da história do negro a respeito de eventos históricos
ocorridos em épocas anteriores ao momento em que se encontravam. Houve entre os dois um
duelo de interpretações a respeito de episódios históricos em que o sujeito negro era protagonista.
É possível se inferir a partir dos posicionamentos dos dois intelectuais, a maneira como a história
da África e dos africanos era acessada para afirmar e refutar certos argumentos. Da mesma forma,
o debate entre eles sugere leituras sobre a historiografia que cada um se pautou para defender suas
posições. Sendo Alcindo Guanabara branco e Hemetério José dos Santos negro assumido, o debate
também é revelador de questões a respeito das relações raciais da época. O trabalho, portanto,
pretende analisar os aspectos aqui elencados, e, desta feita, contribuir para os debates sobre questão
racial na República Velha.
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Este artigo apresenta a pesquisa os modos de crer no bairro Dois de Julho, no município
de Alagoinhas - BA, realizada de maio a julho de 2009, com pessoas acima de cinquenta anos de
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idade. Os saberes que tem matriz não ocidental são historicamente depreciados, especialmente os
de matriz africana que são relacionados a superstições, a saberes do mal, próprios de indivíduos
mental e intelectualmente atrasados. Conceituando cultura como um sistema simbólico,
objetivamos identificar a presença do Legado Africano nas rezas a Santo Antônio realizadas em
residências do bairro Dois de Julho no município de Alagoinhas-BA, analisando a relação dialética
entre a pessoa, sua história, a sociedade e as experiências de vida que as levaram a cultuar de forma
tão singular a Santo Antônio e a Ogum. A oralidade, a memória e as experiências de vida dos
indivíduos mais velhos, que têm a dupla-pertença nos propicia um novo olhar, outras concepções
de mundo são contempladas.
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enterramentos, mão-de-obra, alforrias, pecúlios, etc. Partimos de uma crítica inicial sobre os
estudos a respeito de irmandades que se concentraram em demasia na era da escravidão e tráfico
atlântico, não analisando as transformações internas destas instituições no século XIX. Na
irmandade do Rosário avaliamos inicialmente as transformações étnicas e das “nações” verificando
a concentração de africanos ocidentais e os africanos centrais. A idéia seria pensar estas primeiras
gerações e o legado para as gerações crioulas posteriores. Africanos ocidentais e os africanos
centrais. seria pensar estas primeiras gerações e o legado para as gerações crioulas posteriores.
Pensamos nesta perspectiva inicial compreender as formas de organizações comunitárias – rituais
fúnebres, moradias, mercado de trabalho e alforrias alforrias – no interior desta irmandade, entre
espaços de identidades, nações inventadas e gerações de crioulização.
O presente trabalho tem como objetivo apresentar fragmentos da vida do pardo Brás
Antônio Lopes, um pequeno proprietário livre de cor que vivia na Serra da Mantiqueira, Minas
Gerais, na primeira metade do século XIX. Nesse sentido, a partir da análise de Registros Paroquiais
de Batismo, Lista Nominativa de Habitantes e Inventários post-mortem, dedicamo-nos a investigar
e melhor compreender as formas de atuação e os diferentes mecanismos de inclusão, que foram
vivenciados por este sujeito histórico no período em questão. Este estudo de caso pretende ser
uma contribuição ao crescente diálogo acerca das relações sociais e econômicas que fizeram parte
do cotidiano de pretos e pardos livres e libertos no Brasil do século XIX.
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Encontro de Pesquisa em História
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liberta do país. A historiografia que trata do assunto destaca um insuspeito vigor destas agremiações
ao longo do regime escravista, sobretudo na América Portuguesa. Essas confrarias leigas garantiram
um ambiente de sociabilidade e reconhecimento social para homens e mulheres negras que se
estende pelo período após a abolição. Tal foi o caso de irmandades como a de N. Sra. do Rosário
dos Homens Pretos do Pelourinho, ativa há 330 anos. A força dessa permanência justifica o estudo
de seu percurso no contexto pós-abolição, em um cenário que, embora não mais marcado
legalmente pela escravidão, ainda se apresenta vincado por práticas sociais e políticas refratárias à
inclusão social de libertos e libertas.
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Encontro de Pesquisa em História
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O propósito desse artigo é romper com o silêncio historiográfico que envolve temáticas
sobre o associativismo negro em Minas Gerais no período do pós-abolição. Tratando de uma
reflexão inicial, o texto privilegia o diálogo com alguns estudos sobre o associativismo negro
mineiro, em particular as trajetórias de clubes sociais negros ao longo do século XX. Como
qualquer trabalho de revisão, as considerações estarão limitadas pelo recorte temporal e pela seleção
dos estudos aqui referenciados.
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Proposta do Simpósio:
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Comunicações:
O cinema marginal baiano, marcou a produção cinematográfica na Bahia entre 1968 e 1973
como uma nova forma de fazer cinema frente às condições políticas e econômicas do regime
militar. O nome dado a este conjunto de filmes surgiu a partir dos próprios realizadores e críticos
de cinema deste período e está associado também a literatura, a música e ao teatro das décadas de
60 e 70. Quase todos os filmes produzidos nesse momento na Bahia podem ser identificados como
cinema marginal, compartilham de temas e características estéticas comuns, tendo sempre como
personagem principal das tramas ficcionais a figura de um marginal, transgressor intencional. Sem
que tenham sido financiadas pelo governo ou empresa privada, as películas buscavam um
rompimento com as exigências mercadológicas da indústria cinematográfica. Essa característica
aparentemente funcionou como causa e efeito do teor subversivo presente nas cenas dos filmes,
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Encontro de Pesquisa em História
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sendo uma necessidade o financiamento próprio ou coletivo, já que nem o governo e nem empresas
estariam dispostas a cooperar com um filme cujo conteúdo subvertia a lógica do cinema
convencional através de experimentalismos, improvisos com a câmera e texto do roteiro,
escatologias, ruídos, fragmentações na narrativa e ironias constantes com situações cotidianas tidas
como burguesas. Há uma crítica expressa através do humor que faz referência às classes média e
alta baianas e à ditadura militar, identificada nas representações de repressão policial e familiar e na
transgressão delas. Assim, este cinema é classificado na literatura cinematográfica como "marginal"
por estar à margem das produções típicas, mas também, como numa relação intrínseca de ação e
reação, por ter nos seus personagens marginalizados e na sua estética uma forma de afrontar o
público e, possivelmente, os membros da censura. O estudo deste cinema implica uma
aproximação com as tensões de um sistema político autoritário que intensificou os atos repressivos
em 1968, a partir da análise dos filmes como produtos do seu tempo.
PALAVRAS-CHAVE:
Dos períodos recentes da história do Brasil, talvez seja a Ditadura Militar (1964-1984) um
dos mais revisitados pela historiografia e por outras áreas das ciências humanas. O tema da luta
armada ocupa um lugar de destaque nessa vasta literatura, marcada pelo encontro decisivo entre a
história e a memória. Com o golpe civil-militar de 1964 as vias institucionais de contestação política
tornaram-se cada vez mais estreitas. Com isso, formaram-se organizações revolucionárias por todo
o país, dispostas a pegar em armas para tomar o poder: a Aliança Libertadora Nacional (ALN),
Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), o
Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT) e muitos outros grupos, de legendas e projetos
políticos distintos. Essas organizações empreenderam ações políticas ousadas e surpreendentes,
forçando os militares a aperfeiçoar sua máquina repressiva, o que pode ser observado
principalmente pela criação da Operação Bandeirantes (Oban) em 1969 e, no ano seguinte, do
Departamento de Operações e Informações – Centro de Defesa Interna (DOI-CODI). O objetivo
desse trabalho é analisar os fatores que propiciaram o fortalecimento da tendência revolucionária
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antes mesmo do golpe de 1964, em pleno governo democrático de João Goulart. Pretendemos,
também, analisar o repertório de luta das esquerdas, suas ações mais proeminentes e os principais
projetos políticos que estavam em discussão. Com isso, queremos contar uma história das
esquerdas e da luta que elas ousaram lutar, deslocando-as do lugar de vítima – que constantemente
é atribuído pela literatura de memória – para o lugar da resistência.
PALAVRAS-CHAVE:
Este trabalho toma por objeto as relações travadas entre os trabalhadores bancários baianos
no contexto histórico da ditadura civil-militar (1964-1985), período caracterizado por uma
conjuntura de superexploração que se coloca para o trabalhador em paralelo ao estreitamento, por
vias repressivas estruturadas pelo regime, de suas perspectivas e mecanismos de organização e
resistência. Converte-se em atividade eminentemente historiográfica da luta de classes brasileira e
baiana, à medida que investiga a postura cotidiana dos trabalhadores bancários frente aos ataques
à autonomia sindical e aos direitos trabalhistas promovidos pelo regime, exercida mesmo nas
minúcias de seu convívio profissional diário. O recorte para a categoria dos bancários opera
redução da escala na análise historiográfica, adotando a microhistória como método para localizar
os trabalhadores bancários enquanto vetores de compreensão da realidade política e social em que
estavam inseridos e da qual constituem-se em sujeitos históricos. Pretende-se, portanto, avançar na
investigação dos contornos de uma cultura cotidiana de resistência da categoria, bem como na
análise do discurso ideológico propagado pelo regime mesmo em seus aparelhos repressivos e em
inquirir da existência de uma cooperação entre o patronato e o regime, no Estado da Bahia. Ainda,
do ponto de vista do Direito do Trabalho e da Justiça de Transição, a atividade deve contribuir
para um melhor entendimento de uma postura do Estado brasileiro de flexibilização de direitos,
mitigação de alternativas políticas e repressão com vistas à viabilização de processos exploratórios
que se estendem da contradição central Capital x Trabalho, e para o reavivamento de uma memória
histórica de posturas autoritárias que possibilite uma ampla compreensão e crítica da presente
experiência democrática brasileira e aponte possibilidades numa perspectiva reparatória. Para tanto,
a pesquisa serve-se: 1 – da descrição e posterior análise de documentos do Serviço Nacional de
Informações (SNI) colhidos no acervo do Arquivo Nacional, com referências à categoria, das atas
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Para tanto, era importante construir uma memória favorável à Polícia Militar e que não
remetesse ao passado da repressão. Um dos passos era mudar a forma como o próprio policial
militar deveria ver sua imagem, ou seja, trabalhar a memória coletiva e assim proporcionar
mudanças na identidade do grupo. Conforme apresenta Le Goff (1990), a memória coletiva é
formada pelas lembranças vivenciadas pelo indivíduo ou aquelas que lhe são repassadas, que não
só lhe pertencem, mas são vistas como pertencentes a uma comunidade. Dentre as estratégias
utilizadas identificou-se a criação de cartilhas e manuais que lançaram mão de uma linguagem
simples e cômica. Destaque para O PM - Agente Primeiro de Relações Públicas edição de 1981 e
de 1988. Associando textos e charges as cartilhas apontam as ações que a PM desejava, e
identificando as que eram consideradas negativas. Retratam situações praticadas pelos militares. A
intenção maior é persuadir e convencer, pois ao ridicularizar o policial truculento, mal fardado, mal
educado, violento e arbitrário, pretende-se desacreditar, desmoralizar, esvaziar os argumentos e
propostas e causar uma reflexão para mudança. As cartilhas analisadas eram de uso exclusivo
interno, uma orientação do comando para os policiais militares, porém saber quem e quantos
realmente estavam interessados na mudança, sua aceitação ou efeito da campanha não foi o foco
desta pesquisa e merece melhor abordagem. As estratégias de relações publicas no trato com o
público externo permite identificar que havia vozes no interior da Polícia Militar que procuravam
transmitir desejos e interesses que conflitavam com uma cultura de violência e arbitrária ligadas ao
período da Ditadura Militar.
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O objetivo desse trabalho é analisar as ações da ditadura militar sobre o Sindicato dos
Trabalhadores Metalúrgicos de Belo Horizonte, Contagem e Região, entre 1964 e 1968, primeiros
anos do regime autoritário. Procuro identificar como os operários se situaram em relação ao golpe
civil-militar, como se deu a intervenção no sindicato e a cassação de suas principais lideranças.
Examino também o impacto do golpe e da instauração da ditadura na organização dos operários e
na ação do sindicato e como trabalhadores, partidos e organizações de esquerda, alguns atuantes
na Cidade Industrial desde antes do golpe, se articularam para retomarem o sindicato nas eleições
de 1967, possibilitando a organização e o apoio na realização da greve operária de 1968.
Vinculado a uma reflexão teórica sobre a Razão de Estado, este artigo procura discutir a
possível relação de cooperação entre o Ministério das Relações Exteriores (MRE) e o regime
autoritário brasileiro – pós golpe militar de 64. Partindo da análise e das pesquisas realizadas pela
Comissão Nacional da Verdade – CNV – sobretudo em torno de dois capítulos que discorrem
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O objetivo deste texto é levantar uma síntese historiográfica dos principais trabalhos que
abordaram o Movimento Estudantil no Brasil, especificamente, do governo de João Goulart (1961)
até a ditadura militar. A escolha deste contexto refere-se à constatação do período de auge do
movimento até seu momento de desarticulação e reorganização (1979). O movimento estudantil
oscilou entre o ativismo em prol das mudanças educacionais e a luta por questões políticas de
cunho mais gerais e estruturais. Questões como a reforma universitária e políticas assistenciais
estudantis se imiscuíam com a luta contra o imperialismo e o capitalismo. Em certos momentos
assumiu-se uma retórica revolucionária que delimitava a separação entre as lideranças do
movimento e o restante dos estudantes não engajados em partidos políticos ou ideologias de
esquerda. Somado a isso, a militância dos estudantes nas universidades também contava com
diversas tendências e correntes de pensamento político no seu interior. Inúmeras organizações
clandestinas, partidos revolucionários e grupos de esquerda influenciavam o movimento em sua
dinâmica de ação e pressupostos teóricos que fundamentavam suas pautas reivindicatórias. O
ponto alto dessa aproximação foi após a sofisticação do aparato repressivo do Estado – sobretudo
a partir de 1969 –, quando muitos militantes do movimento estudantil trocaram o ativismo nas
instituições educacionais para formação de grupos guerrilheiros contra a ditadura militar. Com a
desestruturação da UNE e das UEEs juntamente com a prisão e morte da liderança envolvida com
o movimento, a militância estudantil diminuiu seu aporte geral para o engajamento em escala local,
em grande parte, nos diretórios acadêmicos ou em organizações não reconhecidas pelas instituições
(os chamados DCEs livres), porém, com atuação política relevante. A reorganização da UNE foi
sacramentada em 1979, no bojo das manifestações a favor da redemocratização. Diante disso, o
objetivo deste texto corresponde à problematização da associação entre movimento estudantil e a
militância política. Diversos autores se debruçaram para explicar o fenômeno associativo dos
estudantes na promoção da reforma universitária e na luta contra o autoritarismo. A associação
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direta que se faz entre o engajamento dos estudantes e a participação política nos induzem a
questionar: Como a historiografia explicou a radicalização do movimento estudantil?
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Apesar da historiografia acadêmica mais recente sobre a ditadura ter privilegiado em larga
medida os estudos acerca da base social do regime autoritário, a Aliança Renovadora Nacional
(Arena) ainda não foi tema de muitas pesquisas verticalizadas. Na História não acadêmica e mesmo
no conjunto geral dos trabalhos historiográficos, prevalecem as imagens do “partido do sim,
senhor” e do “partido da ditadura” que os trabalhos de perfil propriamente historiográfico sobre a
Arena têm intentado desconstruir. Com relação ao tema da juventude, por outro lado, predominam
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muitas vezes foram detidos sem registro e sem a etnia que pertenciam. A parir desta memória
também serão levantados dados dos indígenas que foram mortos e desparecidos nos presídios.
Com o surgimento da Comissão Nacional da Verdade (CNV), indígenas vão começar a questionar
o porquê de a discussão estar sendo feita somente a partir dos mortos e desaparecidos no meio
urbano, justificando como se esta violência só houvesse ocorrido neste meio. Logo, surgem
diversos questionamentos da falta de estudos relacionados aos povos indígenas no período de
ditadura militar, sendo necessário buscar novas vertentes de violência aplicadas pelo Estado no
período de repressão. A partir desta perspectiva, muitas reflexões ainda devem ser contempladas
ou iniciadas. Durante o estudo da Comissão Nacional da Verdade, foram relatos 8.500 mortes e
desaparecidos de indígenas no período de ditadura militar de 10 etnias estudadas, que também
contemplam alguns casos das casas de detenção: Reformatório Krenak e Fazenda Guarani.
Passaram no mínimo mais 15 etnias diferentes que necessitam serem ouvidas para também
trazerem suas memórias e assim completar o passado que o Brasil quer silenciar, além de mudar
significativamente o número de mortos e desaparecidos políticos no Brasil. Através desta pesquisa
também será compreendido o processo de tomada de terras de algumas etnias, o que poderá ajudar
em processos do Estado para reaver ou demarcar estas terras, já como parte de uma reparação do
Estado para com estas populações.
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clandestinas de esquerda dos anos 1961-1971, de Daniel Aarão Reis Filho e Jair Ferreira de Sá.
Publicados em um contexto de redemocratização, posterior a promulgação da Lei de Anistia
(1979), os relatos memorialísticos ajudaram a construir a ideia de que a luta armada foi um
movimento de resistência democrática à ditadura civil-militar instaurada em 1964. Visto isso, nos
ateremos em pesquisar sobre os motivos que levaram os ex-guerrilheiros da luta armada a
vincularem suas obras ao ideal democrático e não à luta pela instauração da ditadura do
proletariado, conforme proposto inicialmente. Ademais, buscaremos compreender a possibilidade
de este movimento ter se colocado como uma forma de resistência ao novo governo instaurado
pelos militares, com o apoio da sociedade civil.
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a justiça de transição no Brasil não teve condições de lidar com a violência que se voltou contra as
favelas. Busco focar, por fim, nos mais recentes passos dados por essa justiça de transição: as
comissões da verdade. Assim, procuro refletir sobre como estes órgãos – em especial a Comissão
Nacional da Verdade e a Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro – lidaram com a
temática, e se foram capazes de apontar para algum avanço no sentido de superar o esquecimento
e promover a memória, a verdade, a reparação e a justiça para os moradores das favelas cariocas
atingidos pela violência do Estado ditatorial.
O objetivo deste artigo é analisar a relação entre a memória da luta camponesa no Ceará,
tendo Lindolfo Cordeiro como um dos protagonistas, observando os lugares de memória da
Ditadura Militar, referindo-se aqui aos órgãos que compunha o aparato repressor do período, e o
papel da imprensa no processo de legitimação da memória de “subversivo” desses atores sociais, a
partir de lembranças e do esquecimento, de apagamentos e silenciamentos. Buscamos estabelecer
um debate teórico-metodológico com as ideias de “Lugar de memória” de Pierre Nora e memória
“subterrânea” e “enquadramento da memória” com Michael Pollak.
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Proposta do Simpósio:
Em qualquer temporalidade, é possível dizer que a morte é uma temática da qual muito se
fala. No regime de historicidade presentista, autores como Zygmunt Bauman (1998) e Norbert
Elias (2001) nos deram impressionantes diagnósticos do que significaria a morte e o morrer para a
sociedade contemporânea ocidental. É bem verdade que o parecer é pessimista: o homem pós-
moderno não lida bem com a morte e dela tenta escapar. Uma novidade? Para tal constatação seria
preciso investigar os períodos anteriores. O historiador João José Reis (1991) se debruçou sobre o
modo de lidar com a morte no século XIX e percebeu sensíveis mudanças em comparação aos
séculos precedentes, talvez em função das medidas higienistas que proibiram as inumações dentro
das igrejas, além do surgimento dos novos cemitérios. Philippe Ariès (1977), por sua vez, ao
escrever sobre a morte na Idade Média, afirmou que a interrupção da vida era algo “domesticado”,
ou seja, esperada pelas pessoas como uma coisa boa, aceitável. Ainda nessa divisão de
temporalidades, pode-se lembrar que, na Antiguidade Clássica, os gregos costumavam cremar os
corpos com o objetivo de marcar a nova condição de quem morria. Os egípcios, como se sabe,
juntavam todos os pertences do morto, a fim de serem depositados nas pirâmides. Como pode-se
notar, sem sermos exaustivos nas referências, as visões a respeito da morte e do morrer variam
com o tempo. Nesse sentido, a proposta deste simpósio temático é discutir sobre essas mudanças
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e permanências ao longo da história. A partir daí, poderão ser debatidas as metodologias e fontes
que têm norteado os estudos referentes à história da morte.
Comunicações:
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que nas fontes abordadas. Tais fontes se concentraram em dois tipos de registros testamentais: os
testamentos e as contas testamentárias do século XVIII. Coletados no Arquivo da Cúria
Metropolitana do Rio de Janeiro (ACMRJ), mais de cem documentos foram minuciosamente lidos
mediante a uma análise serial e quantitativa. Dessa forma, foi possível filtrar dados pertinentes não
apenas sobre a identidade e os atributos do testamenteiro, mas também sobre a dinâmica do
Tribunal Eclesiástico, responsável por processar e legitimar os trâmites testamentários.
A morte nos setecentos mineiro era caracterizada pela ideia do “bem morrer”, de morrer
para a salvação da alma. Os ritos ligados à morte tinham finalidade religiosa (da salvação) e social
(status social). A morte do Rei D. João V repercutiu em todo Império português, sendo suas
exéquias realizadas também nas minas. O sentimento de luto era teatralizado mesmo muito depois
do falecimento. Não há muitos estudos sobre o luto para a capitania, principalmente pela
dificuldade das fontes. A história da morte trabalha principalmente com os testamentos que
apresentam uma finalidade religiosa de confissão de pecados e arrependimentos. Nele o moribundo
deixa as suas últimas vontades, como será amortalhado o corpo, a sepultura, os acompanhantes, a
quantidade de missas para sua alma. Ao contrário, trabalharemos aqui com os inventários post-
mortem, muito utilizados para estudos sobre a materialidade e riqueza. Os inventários não se
resume em lista de bens e dívidas, há também a partilha, auto sumário em caso de demência,
processos cíveis para recebimento de dívidas, autos de contas de tutoria e emancipação de órfãos.
Em alguns inventários da segunda metade do século XVIII para a Comarca do Rio das Velhas
foram encontrados descrição de gastos com enterros e velórios, principalmente gastos com o luto
de órfãos. Gastos na sua maioria com obras e feitios de sapateiros e alfaiates. A indumentária do
luto e/ou da morte caracterizava pela presença marcante da cor preta que exteriorizava um
sentimento de dor e tristeza. Na comunicação buscaremos descrever o luto de órfãos na comarca
lembrando-se da teatralização e da exteriorização dos sentimentos presentes no barroco.
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Ao nos debruçarmos sobre a temática da morte, uma questão inevitavelmente surge: que
métodos e teorias podem nos auxiliar a trabalhar com esse tema, tendo em vista que o número
reduzido de trabalhos na área oferecem poucos exemplos para seguir? Nossa comunicação
pretende demonstrar como a História Intelectual, a partir de alguns avanços ocorridos em meados
do século XX, pode servir como importante ferramenta nessa empreitada. Para tanto, destacamos
a contribuição de Carl Schorske no que diz respeito à valorização paralela das análises sincrônica e
diacrônica, assim como autores que investem no estudo da relação Texto/Contexto como forma
de evitar uma História Intelectual nos moldes daquela criticada por Lucien Febvre, desconectada
dos âmbitos materiais da vida. Com o intuído de demonstrar essas possibilidades na prática,
expomos como elas nos auxiliaram no desenvolvimento da pesquisa que desenvolvemos, sobre a
morte martirológica em escritos produzidos por membros das ordens mendicantes no século XIII,
entre a França e o norte da Península Itálica. No concernente à relação Texto/Contexto,
destacamos as influências que tiveram os conflitos em que estes mendicantes estavam inseridos,
principalmente contra hereges e mestres universitários seculares em Paris, para a visão que
expunham sobre o martírio nos documentos que produziam.
Elegia para os reis: a concepção de boa morte nas orações fúnebres dos
monarcas portugueses
Weslley Fernandes Rodrigues
weslley_fernandes@yahoo.com.br
A comunicação discutirá como a concepção de boa morte estava presente nos textos
fúnebres de alguns dos monarcas portugueses. A boa morte foi uma das ideias mais ressaltadas pela
Igreja pós-Trento, tida com meio fundamental para a salvação das almas. Esse ideário se relaciona
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a uma vida “(...) pautada pela interiorização e prática dos valores ético-cristãos”, isto é, a observação
atenta dos preceitos religiosos durante toda a vida do fiel. Pretendemos avaliar em que medida as
narrativas fúnebres dos reis apresentavam relações com as propostas religiosas e quais as
características são tomadas para esse relato. Desse modo, apreciaremos a noção de “Boa Morte”
para a Igreja Católica, a diferenciação entre a morte do homem comum e a morte do santo e o que
deveria sobressair na narrativa de ambos os casos. Tencionamos, assim, examinar em quais termos
a morte de um soberano se enquadraria ou se existem outras influências que também contribuem
para salientar a dignidade da morte de membros da realeza.
A presente comunicação pretende analisar, dentro do quadro das pesquisas históricas sobre
as práticas e representações em torno da morte, os acréscimos dos métodos e entendimentos da
história demográfica e da família. A fonte que subsidia essa pesquisa são 205 testamentos anexados
aos inventários post-mortem do acervo do Cartório do 1º. Ofício da Casa Setecentista de Mariana,
dispostos ao longo de cem anos (1748-1848). Os registros de ultima vontade se constituíram como
a fonte por excelência da história da morte, impondo uma série de desafios ao historiador, mais
difíceis de serem contornados conforme se avança no século XIX, a partir do processo de
abandono das disposições religiosas e consequente silenciamento do documento. Em função disso,
os historiadores que se debruçaram sobre os fenômenos relativos ao morrer, ao investirem no
oitocentos, lançaram mão de outras documentações a fim de elaborarem possíveis interpretações
para as transformações operadas no modo como os indivíduos se expressavam diante do fim
último. A proposta dessa pesquisa é demonstrar como num quadro social específico os rearranjos
populacionais podem interferir no modo como os indivíduos se preparavam para sua própria
morte. Para tanto, o testamento não foi abandonado como fonte principal, mas analisado para além
da dimensão eminentemente religiosa. Buscou-se recordar a articulação interna do discurso
testamentário, o que tornava tênue a linha que demarcava cada parte específica do documento
(informações pessoais do testador; cláusulas espirituais; disposições materiais; indicação do
testamenteiros e autenticação), assim como o entendimento de que a boa morte não deveria ser
uma experiência vivida na solidão. Tendo em vista essas considerações, não nos detivemos
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exclusivamente aos espaços de expressão religiosa por enxergarmos ao longo dos relatos outras
considerações demonstrativas de uma sensibilidade para com a morte, mais visível nos espaços que
faziam referência às relações familiares.
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Ser para a vida não quer dizer que os homens não saibam que vão morrer. O pós-moderno
sabe que sua morte chegará, mas a encara como uma afronta. Talvez ele saiba mesmo que, apesar
de temida, ela é a justificativa para o carpe diem. Assim, pode aproveitar enquanto estiver vivo,
acumular, consumir, ter uma vida melhor, dar sentido à sua vida absurdamente breve. O medo da
morte é tão nefando que faz com que as pessoas evitem dela falar, mas não hesitam em prestar
longas homenagens às personalidades mortas. Nas redes sociais, essas pessoas escrevem longas
mensagens carregadas de sensibilidades, postam fotos e acreditam terem feito sua parte. Não
precisam mais ir ao cemitério, local sujo e triste. Alguns cemitérios, aliás, tornaram-se “museus a
céu aberto”. Essas são algumas das maneiras de lidar com a morte na pós-modernidade que serão
discutidas a partir de autores como Zygmunt Bauman, Norbert Elias, Fernando Catroga e Martin
Heidegger.
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Proposta do Simpósio:
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intencionalidades e como se deu a recepção pelo público. Esses elementos também podem ser
levados em conta para pensar nas mudanças pelas quais a propagação do saber vem sendo feita
nos últimos anos. É notório que os meios de comunicação são usados como forma de divulgação
de pesquisas desde pelo menos o final do século XIX, tendo esse fenômeno crescido
consideravelmente durante o século XX, sobretudo a partir da popularização de meios como o
rádio, as revistas e a televisão. Entretanto, essa ocorrência cresceu exponencialmente nos últimos
dez anos por meio da internet e, sobretudo, das redes sociais.
Comunicações:
PALAVRAS-CHAVE:
Enquanto a maioria das editoras brasileiras disputava a atenção por seus livros em estantes
de livrarias, a editora Clube do Livro, fundada na cidade de São Paulo em 1943, distribuía tiragens
de até 35.000 exemplares ao redor do Brasil entre as décadas de 1940 e 1960. Diferentemente de
outros selos editoriais, a Clube do Livro criou um sistema de inscrição prévia que permitia o envio
de publicações mensais a mais de 50.000 sócios. Sem ter que atrair leitores nos pontos-de-venda, a
proposta era aliar, no projeto gráfico de seus livros, produção de baixo custo a uma visualidade
atraente. Vicente di Grado foi o capista da editora entre 1950 e 1970 e criou capas de “percepção
instantânea”, apostando na síntese entre o título da obra, uma ilustração e o nome do autor.
Quando se trata da análise de tais livros no campo do Design Gráfico, no entanto, as observações
muitas vezes limitam-se à compreensão técnica e pragmática dos elementos visuais, enquadramento
que ignora o valor único de cada capa e as diferentes relações de di Grado com elas. Nesse sentido,
a presente pesquisa pretende analisar a produção de capas da editora buscando suas significações
históricas. Além disso, procura-se entender as imagens como objetos que participam das relações
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sociais, sem esquecer que um livro é fruto de um percurso de significações que passa por autores,
editores, impressores, livreiros, leitores. Objetiva-se, assim, desconstruir a ideia de que a capa é um
elemento isolado de persuasão, argumentando-se, ao contrário, que ela é uma das várias
características da estratégia de comunicação de um livro. Pretende-se analisar a produção de di
Grado entre os anos de 1962 e 1968, época em que o design editorial no Brasil se consolida como
forte área de expressão. Além disso, é perceptível uma unidade mais forte entre suas produções
desse período, aparentemente mais conectadas com sua formação artística como pintor. As
principais fontes de pesquisa analisadas são as capas projetadas por Vicente di Grado, além de
artigos sobre artes gráficas e mercado editorial publicados tanto pela grande imprensa (caso da
revista Realidade) como em periódicos especializados da época (como o Boletim Bibliográfico
Brasileiro).
PALAVRAS-CHAVE:
O presente trabalho tem como intuito relatar a experiência durante as aulas de História no
Centro Pedagógico da UFMG do uso de uma das principais youtubers do Brasil hoje.
Compreendendo que esse tipo de comunicação é um dos mais utilizados hoje pelos adolescentes,
foram então conduzidas discussões a partir de assuntos abordados pelos vídeos do canal "Jout Jout
Prazer", e fomentadas por dados e outros tipos de fonte. O canal, estrelado por uma jornalista
fluminense, ficou conhecido por abordar em algumas ocasiões temáticas de cunho social, como o
machismo e o Estatuto da Família, proposto pelo legislativo brasileiro. De maneira leve, linguagem
de fácil entendimento e toques de humor, Jout Jout se tornou fenômeno e referência sobre esse
tipo de discussão. Este trabalho propõe uma reflexão sobre o uso destes vídeos no ensino de
história, a possibilidade da utilização de demais canais como uma nova fonte em sala de aula e a
importância de conduzirem adolescentes (no caso da experiência realizada, com média de 14 anos
de idade) para um olhar mais crítico perante sua própria realidade e história. Entende-se, portanto,
o ensino de História como um dos principais responsáveis para a formação desse olhar crítico e
desse tipo de debate dentro da escola e é encontrada então nesses vídeos a possibilidade de
despertar o interesse e engajamento nos discentes.
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PALAVRAS-CHAVE:
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atingindo a audiência. Portanto, com base em programas desse gênero que marcaram época, como
o Documento Especial e o Aqui Agora, analisaremos essa constituição de cultura popular nas
produções.
PALAVRAS-CHAVE:
O trabalho visa compreender a forma como desenhos animados da estirpe de “Titio avô”
agem na formação da criança e do jovem contemporâneos. Tais desenhos trabalham como
ferramentas ideológicas para a formação de uma geração melhor adaptada aos requisitos de um
capital pós-moderno. Retroativamente, percebendo a linha cultural que foi se criando na sociedade
pós-guerra fria, percebeu-se a necessidade e a possibilidade de uma reforma da manutenção
estrutural através do retorno aos desenhos que atingissem faixas etárias em formação ideológica,
de maneira que fugisse da clássica propaganda infantil. Seguindo as tendências das HQ’s da Guerra
Fria, e de desenhos mais modernos, como Meninas Super Poderosas, Titio Avô se torna uma
releitura da ferramenta ideológica infantil, abordando temas como liberdade sexual, drogas e auto-
afirmação do “eu” contra uma sociedade engessada dos anos 80/90, caracterizada pelo Bullying
escolar. Assim, se cria uma abordagem leve para tornar os temas debatidos pelos movimentos de
esquerda liberal algo natural do sistema capitalista. O desenho se transforma assim em uma
ferramenta que vai além da dicotomia política da guerra fria, chegando aos níveis dos debates
culturalistas. Trabalhando com Zizek, Harvey, Baumann, Adorno, Lacan e Stuart Hall, buscar-se-
á uma forma de melhor abordar a inserção de “Titio Avô” na produção de mentalidades.
PALAVRAS-CHAVE:
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Esta pesquisa estuda a utilização de dados numéricos no jornalismo, considerando que este
se tornou um elemento de destaque na comunicação. Trazemos como hipótese a ideia de que, ao
longo da história, tais dados funcionaram como elementos legitimadores do discurso. Destacamos
que a utilização de bases de dados numéricos no jornalismo ganhou mais recorrência sobretudo na
década de 1960, com o chamado Jornalismo de Precisão; hoje, essas técnicas são conhecidas como
Jornalismo Guiado por Dados. As primeiras matérias focavam, principalmente, nas estatísticas
sociais. Com o passar dos anos, o uso das estatísticas ficou mais recorrente e ganhou ares de
legitimação do discurso. Para tratar deste aspecto, baseamo-nos na teoria de Michel Foucault (2009)
em “A ordem do discurso”. O autor localiza um conjunto de procedimentos externos de ordenação
do discurso, os quais se tratam de limitações impostas pela sociedade à produção discursiva. A
“interdição” é a noção de que “não se pode falar de tudo em qualquer circunstância, que qualquer
um, enfim, não pode falar de qualquer coisa” (FOUCALT, 2009, p. 9). Trata-se do contexto em
que o discurso é empregado. Para o autor, os dois principais casos são temas que envolvem a
sexualidade e a política. No Jornalismo de Dados, é comum a seleção dos números que corroborem
com a visão do público que o veículo deseja atingir, bem como o ocultamento (ou um menor
destaque) daqueles que mostrem ideologia oposta.
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PALAVRAS-CHAVE:
Esta pesquisa objetiva analisar o modo como o Cinema Western (ou Cinema Faroeste)
ajudou na construção da identidade nacional estadunidense, constituindo-se como uma das
manifestações artísticas representativas da cultura deste país. Para isso, desenvolveremos
inicialmente uma discussão acerca do conceito de “nação”, e sobre alguns valores mais específicos
que fundamentaram a construção da nação dos Estados Unidos. Daremos destaque para a
elaboração do “Destino Manifesto”, teoria desenvolvida no século XIX que caracterizava os EUA
como uma civilização excepcional, destinada ao sucesso pela Providência, e que teria uma missão
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a cumprir: levar os seus valores civilizatórios para todos os povos. Acreditamos que tal teoria foi
utilizada para tentar justificar o expansionismo americano e pretendemos analisar o modo como o
cinema “Western” procurou legitimar a falta de alteridade empreendida no processo de conquista
pelos EUA. Em seguida, realizaremos um “estudo de caso”, discutindo o filme “Rastros de ódio”
(1956), de John Ford, debatendo sobre como esta e outras produções do gênero Faroeste
contribuíram para formar a ideia dos norte-americanos como “heróis exemplares”, e a civilização
WASP (branca, anglo-saxã, protestante) como “superior” às outras. Pretendemos também discutir
sobre o papel do Faroeste em outros contextos, além do expansionismo americano no século XIX.
O filme “Rastros de ódio” nos mostra, por exemplo, como esse gênero foi empregado no período
conhecido por Guerra Fria (1949-1989) para auxiliar na construção de uma imagem dos Estados
Unidos como a grande potência mundial, e na necessidade de combate a seus inimigos, internos e
externos. Concluiremos o nosso trabalho ressaltando como uma obra ou estilo artístico podem ser
apropriados e reinventados de maneiras diversas para atender aos novos interesses que surgem em
contextos históricos variados.
PALAVRAS-CHAVE:
A ditadura civil militar instaurada em março de 1964 no Brasil foi marcada por grande
turbulência, período que, os militares, sob a justificativa do combate a uma guerra interna,
criaram um grande aparato repressivo que abrangeu todos os setores da sociedade. A prática
de censura nos produtos culturais, tais como, peças de teatro, músicas, cinemas e novelas
foram constantes, com a intenção de vetar conteúdos subversivos à moral e aos bons
costumes de uma sociedade conservadora, principalmente a partir do Ato Institucional nº 5, em
1968. Um dos artistas que ascendeu neste período e que foi duramente perseguido pelos
militares, Chico Buarque de Hollanda, teve diversas de suas composições vetadas pelos censores,
sob justificativas variadas, o que demonstra a não existência de uma metodologia unânime
entre os censores.
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O artigo pretende dar o primeiro passo rumo a uma reconstrução histórica acerca da
atuação do apresentador Silvio Santos no meio radiofônico brasileiro. Apesar da (re)conhecida
relevância do animador na televisão, ainda são raras as iniciativas sobre sua profícua trajetória em
emissoras de rádio. Sabe-se que ele começou como locutor na Rádio Guanabara, passando pela
Rádio Mauá, Tupi, Continental, Record e Rádio Nacional de São Paulo antes de consolidar sua
carreira televisiva. Procedendo a uma pesquisa de cunho exploratório, o objetivo de nosso trabalho
é desenvolver as bases para futuras investigações sobre o tema. Para isso, realizamos uma busca
indiciária em três frentes: (i) revisão bibliográfica e biográfica de Silvio enquanto locutor de rádio;
(ii) pesquisa em jornais e revistas especializadas da época; (iii) trechos de seus programas disponíveis
na internet. Acredita-se que, com o início de uma pesquisa focada nas raízes orais dos tempos de
Silvio Santos no rádio, serão oferecidos mais subsídios para a compreensão de sua complexa figura,
fortemente marcada por processos de mitificação que garantem sua incomum expressividade
midiática ainda nos dias de hoje. Além disso, a busca pelas origens do animador antes da televisão
pode nos permitir traçar um paralelo sobre as atualizações e permanências em seu estilo já tão
consolidado, mas pouco estudado.
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O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre possibilidades de diálogo entre a
História e a Comunicação Social, no que concerne ao estudo do cinema de animação. Tal percurso
será desenvolvido tendo em vista a experiência pessoal de formação acadêmica da autora, cuja
graduação foi realizada no curso de História e a pós-graduação (mestrado) em Ciências da
Comunicação, a qual se encontra em andamento. Buscar-se-á ponderar relações que podem ser
tecidas entre a abordagem histórica escolhida para construir nosso trabalho de conclusão de curso,
cujo intuito era compreender concepções teóricas sobre o conceito de tempo e analisar percepções
do mesmo em longas-metragens de animação, e a pesquisa desenvolvida atualmente no mestrado,
cujo foco encontra-se em discussões a respeito do próprio cinema de animação, enfatizando
aspectos tecnoculturais, assim como as audiovisualidades referentes à animação do desenho, a
partir, principalmente, da teoria de Henri Bergson.
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Este trabalho toma como fonte o filme baiano Meteorango Kid, o herói intergalático,
produzido e lançado em 1969, com o objetivo de realizar uma análise fílmica que possibilite uma
compreensão do modo com que o ideário contracultural foi abordado e construído enquanto
representação cinematográfica pelo diretor André Luiz Oliveira. Buscar-se-á, por meio da análise,
entender a construção do protagonista e da narrativa a partir da crítica às instituições sociais e
políticas estabelecidas, bem como da emergência de novos comportamentos e sensibilidades ante
a vida social, sobretudo por parte dos jovens. Utilizar-se-á, também, entrevista concedida pelo
cineasta a uma revista especializada, como complemento extrafílmico que permita uma
contextualização da produção: as vivências e impressões do cineasta enquanto sujeito histórico
capaz de significar a realidade. A interpretação das representações em questão pode propiciar uma
delimitação mais nuançada da "revolução cultural" no Brasil nos anos 1960, uma vez que atenta às
particularidades do Brasil - a ditadura militar e os debates acerca da produção cultural - naquele
momento.
Nas décadas de 1930 e 1940 a área publicitária no Brasil passava por uma ascensão de status
social. É comum encontrarmos memórias de publicitários relatando que anteriormente a esse
momento eles eram mal vistos pela sociedade e que muitas empresas dependuravam em suas portas
plaquetas dizendo que eram proibidas esmolas e propagandas. Entretanto, percebemos que nas
referidas décadas existe um duplo movimento de valorização daquela atividade profissional. Por
um lado, isso pode ser atribuído à crescente importância dada pela política à propaganda, tanto em
âmbito nacional, com o governo Vargas, quanto em âmbito internacional, enumerando aqui, por
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exemplo, a ascensão dos regimes nazifascistas e os investimentos em propagada feitos pelo governo
F. D. Roosevelt, os quais passaram a demandar que os publicitários também transitassem entre as
esferas públicas e privadas. Por outro lado, essa ascensão de status passa também por uma lenta
construção da própria área publicitária, que começou a formular acerca da profissionalização, da
regulamentação, da padronização das práticas, da construção de papéis na sociedade para os
mesmos e da autorrepresentação identitária. Uma das formas que eles elencaram para construírem
uma identificação com seus colegas de profissão foi por meio da construção de uma origem comum
da área profissional. Em manuais escritos por brasileiros para orientar a prática publicitária, os
escritores achavam relevante destinar um espaço para o que designam como a “História da
propaganda”. Neste trabalho pretendemos analisar como os publicitários brasileiros construíram
uma narrativa mítica (apropriando-nos aqui principalmente da conceituação de Raoul Girardet)
para tratar da origem da propaganda. Destacamos, principalmente, a curiosa atribuição feitas pelos
mesmos da qualidade de publicitário pioneiro à Jesus Cristo. Analisaremos as construções dessas
narrativas, bem como as motivações para que as mesmas fossem feitas.
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homens, ou se estão, por meio dessa segmentação editorial entre "Female Force" e "Political
Power", sem o pretender, reforçando a naturalização, construída socialmente, da política como
domínio exclusivo do masculino. Como aporte teórico-metodológico para compreensão da
especificidade de biografias dialogamos com autores como François Dosse, Pierre Bourdieu e
Giovanni Levi. Para a compreensão de como formas narrativas como as dos quadrinhos se
articulam às questões de gênero, utilizaremos reflexões presentes nos escritos de Trina Robbins,
pesquisadora e voz feminista do meio quadrinístico, e em obras como “Comics and Ideology”
(organizado por Matthew P. McAllister, Edward H. Sewell, Jr., e Ian Gordon). Para o
aprofundamento sobre a representatividade de mulheres na política dialogo com obras como
“Women and Political Participation: A Reference Handbook”, de Barbara C. Burrell (2004),
“Women, Culture & Politics” (2011), da filósofa e ativista feminista negra Angela Y. Davis, e com
o texto “Gender: a useful category of historical analyses”, de Joan Scott (originalmente publicado
em “Gender and the politics of history”).
Esse trabalho buscou entender o impacto que o filme A Dama Do Lotação, de Neville
D’Almeida, teve nos jornais e na sociedade brasileira no seu ano de lançamento, 1978. Para tanto,
foram mobilizados várias críticas de jornais de grande circulação, anúncios, cartas e documentos
da Divisão de Censura de Diversões Pública. O resultado foi uma melhor compreensão de tal
impacto sobre a Embrafilme que era a coprodutora, para qual o filme teve um efeito negativo,
apesar do enorme sucesso de público. Além de estabelecer uma relação do filme com a censura da
época, que foi considera falha e ineficiente por parte da população, e com a posição da mulher na
sociedade, abordando uma rica discussão que isso gerou na mídia por causa do filme.
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A primeira metade da década de 1980 marca um período em que o Brasil vivia sobre
promessas de democracia, as quais viriam a se confirmarem efetivamente, com as eleições diretas
estaduais no ano de 1982, e a votação indireta para presidente, em 1985. Com uma estratégia de
transição lenta, gradual e “segura” rumo à redemocratização, “assistia-se”, de certo modo, a uma
reorganização social por parte da sociedade e, ao mesmo tempo, a uma organização política do
meio televisivo brasileiro por parte dos militares. Introduzia-se assim, duas novas emissoras de
televisão: o SBT em 1981, e a Manchete em 1983. Neste contexto é que surgem, práticas que
questionaram a hegemonia e o acesso “democrático” às emissoras de TV, seja em termos de
produção, ou no âmbito da divulgação dos produtos culturais veiculados. Este trabalho buscará
pensar este processo histórico, a partir da incorporação na TV, de ideias e programas, da
denominada “segunda geração” do vídeo independente, mais precisamente da produtora
independente TVDO (lê-se TV Tudo ou Tvudo) e suas contribuições inovadoras na área da
linguagem televisiva, tanto em espaço em emissora pública, como nas tevês privadas. Dentre as
produtoras coletivas independentes que se destacaram no período, a TVDO e a Olhar Eletrônico
são as duas experiências mais significativas deste movimento, que no início dos anos 1980, ousaram
adentrar e modificar o meio televisivo. Esta “geração” do vídeo se insere assim, dentro de um
processo mais amplo, em uma movimentação cultural, no qual, além de produtoras independentes,
as tevês locais de pequeno alcance, bem como as tevês comunitárias, clandestinas e de livre acesso,
pressionavam, no sentido de ocuparem os espaços midiáticos, afim de, reivindicar a diversidade de
opiniões, as visões divergentes no meio e o acesso à divulgação de produtos culturais, buscando
por finalidade, a própria democratização da palavra. O uso do conceito de “indústria cultural”
elaborado por Theodor Adorno e Max Horkheimer, auxiliará para a análise aqui proposta.
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conhecimento histórico. A música, além de ser uma forma de se comunicar, é impactada pelos
acontecimentos, pelos detalhes da existência humana, por sentimentos e aspirações, tornando-se
assim um modo de perpetuar momentos históricos. Somado a isso, ela está associada ao contexto
cultural propiciando diferentes estilos, abordagens e concepções sobre o papel que exerce na
sociedade. Apesar de alguns avanços historiográficos significativos observados nos últimos tempos,
a análise das relações entre história e música latino-americana ainda carece de mais atenção por
parte dos historiadores brasileiros. Esperamos assim compartilhar os desafios que envolvem
retratar a História musical latino-americana por meio de um programa de rádio de uma universidade
pública do interior do Brasil, bem como debater sobre os caminhos metodológicos do trabalho de
História quando a fonte é a música.
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rodrigopaulinelli16@gmail.com
Proposta do Simpósio:
O presente simpósio temático objetiva promover debates sobre trabalhos que se debruçam
no entendimento do século XIX no Brasil, tendo como marco temporal o período que estende a
crise do sistema colonial à crise do Estado monárquico brasileiro, bem como a crise do sistema
escravista (1808 – 1889).
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Comunicações:
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“procurar senhor”. Assim, estes casos podem ser interpretados como ação à previsibilidade da
ruptura laços e direitos causados pela possibilidade de uma venda futura. Portanto, pretendemos
apresentar alguns casos que denotam a ideia de que a negociação entre senhor e escravo falhou e
só restaria ao cativo a fuga como meio de restabelecer seus laços ou direitos.
Escravos Velhos em São João Del Rei do Século XIX (1831 a 1850)
Teresa Raquel Coimbra Magalhães
tcteresaraquel@gmail.com
PALAVRAS-CHAVE:
Além da contribuição acadêmica, outra contribuição que este trabalho pode oferecer é o de
trazer à tona a reflexão sobre a cultura afro-brasileira, na medida em que pretende resgatar uma
figura importante para as culturas africanas: o ancião. É importante pesquisar temas que tragam
essa memória para o os dias atuais num momento em que observamos crescer preconceitos e
intolerâncias com as religiões de raiz africana e também o preconceito racial. Para tanto utilizarei
várias fontes: como ponto de partida as lista nominativa de 1831; inventários referentes ao período
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PALAVRAS-CHAVE:
A região de Campo Largo, inicialmente habitada por povos indígenas, foi ocupada
gradativamente por brancos e negros entre o século XVI e início do XIX. As incursões dos
primeiros colonizadores por estas terras resultaram da procura por novas áreas favoráveis ao
desenvolvimento da atividade agropecuária e o extrativismo. Campo Largo, por sua vez, com a
fertilidade de terras que possuía e espaços para fazendas de criar gados atraiu os primeiros
conquistadores que, em sua maioria, vieram acompanhados por seus escravos africanos e
descendentes. A inserção dos cativos na região de Campo Largo ainda é desconhecida entre os
estudos realizados sobre o espaço geográfico e período pesquisado. Embora já existam diversas
pesquisas sobre a escravidão africana no Brasil, demonstrando o protagonismo dos cativos, ainda
há regiões com fontes a serem exploradas a exemplo da região contemplada com o presente
trabalho. É uma região que traz indícios de vida escrava e formação de famílias cativas constatados
desde as primeiras averiguações nos arquivos e documentação selecionada para análise, revelando
informações importantes para entender o nível de presença e de participação dos escravos
integrados nesta região.
Sabe-se por meio da historiografia da escravidão que a análise dos registros de batismo
permite identificar arranjos de parentesco espiritual, compreender estratégias de escolhas e,
principalmente, verificar quais ganhos o uso do parentesco simbólico poderia acrescentar à vida
cotidiana dos cativos. Neste sentido, esta comunicação tem por objetivo apresentar uma análise
preliminar das relações de compadrio estabelecidas pelos cativos da freguesia de Santa Ana do
Campo Largo no período de 1801 a 1839, tendo como fonte primária a documentação eclesiástica,
especificamente os livros de batismos. Para tanto, os dados são analisados a partir do tratamento
teórico e metodológico da história social e econômica, usando também a perspectiva metodológica
da história demográfica e quantitativa. Os registros de batismos analisados nesta pesquisa revelam
um grande número de africanos e afrodescendentes sendo batizados por seus iguais e
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principalmente por pessoas de condição social acima das suas. Portanto, além do significado
religioso o parentesco espiritual revela o protagonismo dos escravos africanos e seus descendentes
na formação de alianças, uma vez que o compadrio favorecia a população escrava formar
estrategicamente laços de solidariedade, proteção e liberdade.
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O trabalho parte de uma reflexão sobre dois aspectos fundamentais no que se refere à
relação entre a Igreja e o Estado no Brasil, no momento da consolidação das bases do Estado
nacional independente, o padroado régio e o regalismo. Busca-se um panorama sobre as raízes
ibéricas destes fenômenos religiosos e políticos, dando ênfase às especificidades do caso português
na sua conexão com o contexto da Independência e da consolidação das bases institucionais e
constitucionais do Império, onde os preceitos e práticas do liberalismo estariam em constante
tensão e diálogo com as estruturas próprias ao Antigo Regime. Tem-se em perspectiva os espaços
de sociabilidade, de governança e a ação de agentes políticos, em especial os sacerdotes, envolvidos
nos debates relativos às questões religiosas a partir da esfera pública, sobretudo na imprensa e no
parlamento.
O presente artigo tem como tema o funcionamento da câmara da Villa de Sapucaia situada
no interior da província do Rio de Janeiro, na região do Vale do Paraíba, durante o período de 1875
a 1888. Pretende-se observar quais as demandas e os problemas que a jovem instituição enfrentava
em seus primeiros anos. Para isso, foram observadas as fontes da câmara do período e também
outras fontes como o Almanaque Laemmert e jornais que falavam sobre o município. Sendo assim,
deparamos com uma câmara nova, mas cheia de projetos e demandas da população, além de alguns
problemas para enfrentar numa conjuntura de fim do período imperial, crise na escravidão e crise
do café no Vale do Paraíba Fluminense. Este trabalho tenta preencher algumas lacunas na história
do Vale do Paraíba Fluminense, principalmente no que diz respeito às regiões de expansão das
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fazendas cafeeiras, como é o caso da Villa de Sapucaia, que se encontram mais próximas à Zona
da Mata em Minas Gerais.
PALAVRAS-CHAVE: Inconfidência Mineira, Festas Cívicas, Ouro Preto, Século XIX, Espaço
Urbano.
Este trabalho trata das festas cívicas em comemoração à Inconfidência Mineira realizadas
na cidade de Ouro Preto na segunda metade do século XIX. Mais especificamente, procuramos
entender de que maneira este “lugar de memória” interagia com o espaço urbano, ressignificando-
o de alguma forma. Mostraremos, por meio da análise de relatos jornalísticos e da bibliografia
referente ao tema, como os realizadores das festas cívicas construíam uma forte associação destes
rituais com a paisagem e a dinâmica urbanas, ajudando a consolidar uma memória coletiva sobre a
Inconfidência Mineira mais significativa para a identidade local do que para disputas políticas entre
Republicanos e Monarquistas da época.
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PALAVRAS-CHAVE: Alto Sertão da Bahia, Família Faria Fraga, Relações Políticas, Partidos
Politico.
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augustobrunoc@yahoo.com.br
Proposta do Simpósio:
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realizada por historiadores?” “O que a História, enquanto forma de conhecimento do passado, tem
a dizer a respeito da produção científica?” Enfim, as propostas devem girar em torno da extensa
variedade de questões ontológicas, epistemológicas, éticas, estéticas, sociais e políticas provocadas
pelo saber histórico – quaisquer que sejam os seus objetos. Assim, uma vasta gama de propostas é
bem-vinda, cobrindo desde temáticas mais amplas e tradicionais à problemas considerados cada
vez mais específicos e atuais; as relações da escrita da História, seus desafios e demandas
contemporâneos; e as novas perspectivas sobre a História e historiografia da ciência. Com este
Simpósio, pretendemos debater a respeito daquilo que de mais caro há na reflexão sobre a disciplina
histórica: o potencial que o historiador tem de dar sentido ao passado, transformá-lo e permitir que
com ele se conviva. E, para fazê-lo, almeja-se trabalhos capazes de historicizar a própria tradição,
revirá-la, ressignificá-la e continuá-la criticamente, renovando os sentidos do fazer História.
Comunicações:
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contemporâneos que assim projetam suas ações como formadoras. O mesmo seria o caso das
“narrative sentences”, de Danto. Por outro lado, é um fenômeno crescente concepções alternativas
de tempo que não sejam o historicista, que dilatam o presente e vêem o passado como território a
ser conquistado, que desafiam a temporalidade tripartite, e obscurecem as fronteiras que
impediriam que o limite dos “50 anos” fosse trespassado. A possibilidade do tempo presente ser
tratado pelo historiador aparenta opor duas noções do que transforma determinado tempo em
histórico e do que define um objeto como matéria de trabalho para o historiador; uma que que se
fia, talvez excessivamente, numa teleologia, e outra que, mais do que a anterior, reivindica ações
políticas e limites éticos mais explícitos. Desta maneira, a reflexão que me proponho a fazer neste
trabalho é pensar, a partir da História do tempo presente, qual é a condição de temporalidade que
franqueia nossos ofício (já que não a mera cronologia) e o que operamos sobre nossos objetos
capaz de capacitar como histórica nossas análises, diferentemente do que as outras disciplinas
possam fazer.
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Imagens são formas de expressar o mundo concreto e mental, nos remetem a diversas
situações vividas, evocam passados míticos e provocam percepções distintas no observador. David
Freedberg (2011) nos fala do poder das imagens, das sensações de empatia ou medo a que elas
podem nos remeter, de sua eficácia e vitalidade, essa concepção aliada aos estudos sobre
representação e imaginário de Roger Chartier (1990) e Sandra Pesavento (1995) nos permitem
analisar imagens e discursos como instrumentos de poder e transformação da realidade, cujas
atribuições dão sentido ao mundo. As imagens podem tecer um relato, narrar ações, sentimentos,
situações sagradas e profanas. O relato escrito, por sua vez, pode construir uma paisagem, a imagem
mental produzida pelo texto pode evocar no leitor sentimentos diversos, o permite flanear por
contextos distintos do seu, são testemunhos de outras épocas que ao serem interrogadas pintam
um quadro mental passível de interpretação por parte da História. Uma narrativa de viajante é fruto
da percepção de uma realidade, que precisa ser relativizada pelo trabalho historiográfico.
Interpretar o olhar do viajante pode nos orientar em análises mais amplas, para além da própria
biografia do autor, sobre a percepção do tempo e do espaço bem como o entendimento do
contexto ao qual o autor está situado. Dessa maneira, atentar para a percepção do viajante, sensível
aos mecanismos por ele utilizados implica em apreender suas experiências como sendo
representações produzidas coletivamente, de modo que trata-se da atribuição de sentido a uma
dada realidade. Por não serem discursos neutros, as representações trazidas, pelas imagens ou por
relatos nos revelam autoridades, escolhas, concepções, estratégias, conflitos, paradigmas e nos
conduzem a refletir sobre seus usos e funções em momentos distintos.
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Tendo como foco uma análise específica sobre a obra “Parceiros do Rio Bonito: estudo
sobre o caipira paulista e a transformação dos seus meios de vida”, de autoria do sociólogo e crítico
literário Antonio Cândido de Melo e Souza, temos como objetivo lançar questões atidas ao debate
intelectual empreendido sobre o tema da ruralidade, refletindo acerca da importância do
pensamento histórico para este autor em seu intuito de desenvolver uma pesquisa voltada ao
processo de formação e posterior desestruturação das comunidades rurais paulistas. Para isto,
pretendemos realizar uma análise sobre as disputas teóricas e metodológicas no referido meio
intelectual, pautando-nos no debate acerca das diretrizes tomadas nos estudos sobre o mundo rural,
voltando nossa atenção à importância centrada no pensamento histórico como uma das bases à
pesquisa que culminou na escrita de “Parceiros do Rio Bonito”.
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O objetivo desta apresentação é propor uma análise crítica da obra "Baú de Ossos", do
médico e escritor juiz-forano Pedro da Silva Nava (1903-1984). Lançado em 1972, este livro é o
primeiro de uma coletânea de mais 6 volumes que compõem a sua obra memorialística, considerada
a mais importante do gênero já feito no Brasil. Referência para muitos estudos de crítica literária,
"Baú de ossos" será analisado sob o ponto de vista da teoria da história. Assim, vamos discutir
como a obra de Nava elucida algumas questões centrais no debate historiográfico contemporâneo,
tais como as relações entre memória e história, e a expressão da historicidade do humano (nos
termos propostos por Martin Heidegger). Por fim, será apontado possíveis contribuições que o
paradigma da presença (conforme teorizado por Gumbrecht) oferece para uma leitura crítica da
narrativa memorialística.
A proposta deste trabalho é realizar uma análise de dois contemporâneos autores que
dedicam boa parte de seus trabalhos ao universo teórico da história. O primeiro deles será Jörn
Rüsen e seu penúltimo trabalho traduzido para o português Cultura faz sentido: orientações entre
o ontem e o amanhã, onde explicitaremos sua tese em torno do conceito de sentido, assim como
suas implicações para o fazer historiográfico e, principalmente, para o cotidiano. Produção de
presença: o que o sentido não consegue transmitir, escrito por Hans Ulrich Gumbrecht será o
segundo autor que traremos para debate e, como o título do livro já indica, se trata de uma proposta
reversa a de Rüsen.
Recentemente agraciado com o título de Doutor Honoris Causa, Jörn Rüsen nasceu em
Duisburgo, no ano de 1938, na Alemanha, e sua produção intelectual envolve, sobretudo, os
campos da teoria e metodologia da história e, didática e ensino de história. Vale a pena sublinhar
que a geração de intelectuais anterior a Rüsen foi composta por autores como Reinhart Koselleck,
V EPHIS – V Encontro de Pesquisa em História da UFMG.
06 a 10 de Junho – Belo Horizonte: Departamento de História, FAFICH/UFMG, 2016.
www.ephisufmg.com.br
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Odo Marquard e Hermann Lübbe, chamados por autores associados a Escola de Frankfurt, de
geração cética. Tais autores escreveram num momento de bastante agitação, tanto em ambiente
intelectual quanto cotidiano pelo qual passava a Alemanha daquele momento e, por isso, um
evidente sentimento de desorientação pairava sobre aquela geração. Professor de literatura
comparada na Universidade de Stanford desde o ano de 1989, Hans Ulrich Gumbrecht nasceu em
Wüzburg, na Alemanha, em 1948. Possui trabalhos tanto na área da literatura, como em filosofia,
história cultural e teoria da história, dos quais nos deteremos mais especificamente em torno da sua
tese da cultura da presença, que aparece mais de forma mais evidente em seu livro “Produção de
presença: o que o sentido não consegue transmitir”, publicado no Brasil no ano de 2010. A partir
do desenvolvimento da categoria de presença, Gumbrecht busca por alternativas não
hermenêuticas de interpretação do real, de modo que segundo ele, a metafísica se tornou a partir
da segunda metade do século XVII a única forma pela qual lidamos com o mundo a nossa volta, o
que acabou por gerar uma espécie de demasiada supremacia da cultura da interpretação em
detrimento da cultura da presença, da materialidade.
Na primeira metade do século XIX, o Brasil passaria por uma de suas principais
transformações sócio-políticas: a emancipação da metrópole Portugal. Já na década de 1820,
poucos anos depois da Independência, projetos historiográficos acerca da história brasileira se
conformavam já com a constatação da separação ocorrida, entre as agora nações, com uma
narrativa pensando nesse processo. Entre esses projetos, figura o Résumé de l’Histoire du Brésil
de Ferdinand Denis, publicado em 1825 e a tradução, acrescida de três anos, desta obra, feita por
Henrique Luiz de Niemeyer Bellegarde, publicada em 1831. Outro processo importante nos
oitocentos seria a disciplinarização da história. Os questionamentos sobre sua forma e método e
sobre a como validar a veracidade das narrativas, estavam em pauta. Sobre essas discussões,
recorremos ao trabalho de Bruno Franco Medeiros, onde podemos ver reveladas as nuances desses
problemas historiográficos. O estilo narrativo, assim como a síntese características do Resumo, é
mais um quesito nas discussões, do método e aceitação das obras, durante o século XIX, não só
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Não há dúvida que a filosofia de Martin Heidegger é uma das principais referências na obra
de Paul Ricoeur. No entanto, Ricoeur faz uma leitura crítica das teses lançadas pelo filósofo alemão,
sobretudo, em Ser e tempo (1927). Nosso objetivo é analisar, especialmente, o entendimento que
cada um dos filósofos tem dos conceitos de temporalidade, historicidade e ontologia. Para tanto,
vamos nos valer tanto dos argumentos heideggerianos em sua obra magna, quanto dos textos nos
quais Ricoeur os comenta como O conflito das interpretações (1969), Tempo e narrativa (1983-
1985 3v.) e A memória, a história, o esquecimento (2000) e o prefácio a Martin Heidegger and the
Problem of Historical Meaning (2003) de Jeffrey Barash. Nosso fio condutor será a possibilidade
de aplicação destas discussões à história da historiografia. Nesse sentido, como ponto de partida,
iremos explicitar quais são as semelhanças entre os autores que procuram como fundamento a
fenomenologia hermenêutica e acreditam que “fazemos a história e fazemos história, porque somos
históricos” (RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento, p. 362). Uma das questões
que procuraremos responder é: existe em Ser e tempo uma hierarquização entre a historicidade
própria (autêntica) e imprópria (inautêntica) que dificulta a apropriação desta tese na história da
historiografia? ” Dizendo de outro modo, “o estudo da história da historiografia pode contribuir
de alguma forma para a compreensão da historicidade?” Outro tema sobre o qual iremos nos
debruçar diz respeito à relação entre a analítica ontológica do ser histórico e a epistemologia da
historiografia. Ou seja, “a analítica existencial ontológica deve preceder a historiografia ou ela deve
ser um horizonte a ser vislumbrado após as investigações epistêmicas”? O pano de fundo de nossas
questões é o debate em torno da relação entre filosofia e a ciência histórica.
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Tidos como termos opostos, pois a mencionarmos o termo Ciência mobilizamos visões e
representações, usualmente, voltadas para o futuro, sinônimo de desenvolvimento fruto da marcha
indelével do progresso. Por sua vez, ao mencionarmos o termo História, usualmente,
compreendemos uma ação já passada, uma ação ou algo já concluído e completamente diferente
do futuro. Tais formas de compreensão, seguramente, são apenas dois exemplos distintos e
extremos de se compreender a tensa relação entre História e Ciência. A compreensão da História
e da Ciência pautada pela “grande descoberta” feita pelo “grande gênio” do saber delimita e
impossibilita uma compreensão mais ampla das Ciências no processo histórico social dos diferentes
grupos sociais ao redor do mundo. Assim, buscar compreender as diferentes formas e funções do
saber científico efetivado pelos diferentes grupos sociais passou a mobilizar pesquisadores das
ciências humanas. No Brasil, essa perspectiva mais ampla e plural do entendimento científico e da
história das ciências têm se mostrado extremamente frutífera por lançar luzes em práticas, ações e
sujeitos até então desconsiderados e o crescimento e a acumulação de conhecimento nesta área
suscitou o fortalecimento de linhas de pesquisas sobre a temática como a linha de História das
Ciências na USP e a criação de novas instituições de ensino e pesquisa voltadas especificamente
para a relação entre História das Ciências como é o caso do MAST e da COC-Fiocruz. Dentro
desse processo ressaltam-se os trabalhos, as pesquisas e a orientações efetivadas pela profa. Maria
Amélia Mascarenhas Dantes do departamento de História da USP, de suma importância para a
implantação, crescimento e afirmação do atual campo da história das ciências no Brasil. Todavia,
ao longo dos seus mais de quarenta anos de atuação a pesquisadora tem apontado o que considera
as linhas gerais ou sintetizado a História das Ciências no Brasil com artigos: As ciências na História
Brasileira (2005); Reflexões sobre os caminhos da historiografia das ciências no Brasil (2006);
Recordações sobre o processo de constituição da história das ciência no Brasil (2015). Nesse
sentido, o presente trabalho tem como objetivo apresentar os argumentos apresentados pela
professora Mascarenhas Dantes compreendendo essa produção embasada na e pela memória da
pesquisadora, apresenta-se e/ou ganha formas de História por meio de sua voz de autoridade e
suas consequências para a área de estudo.
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distanciamentos entre as diferentes estratégias para lidar com a temporalidade, empreendidas por
estas duas disciplinas, encontram no discurso narrativo um meio de compreensão da alteridade; de
um "outro" que se perdeu, de um ausente, que para Certeau é o objeto da história. A escrita, que
envolve a construção de uma narrativa, é para o historiador francês parte fundamental da operação
historiográfica, portanto as interfaces que ele identifica entre esses dois campos, constituem-se em
um aspecto essencial de sua compreensão tanto do fazer historiográfico, quanto dos elementos que
constituiriam uma identidade epistemológica para a história. Para tanto, concentraremos nossa
análise seus textos em que essa problemática se inscreve de maneira mais evidente e que nos
possibilita discutir esta dimensão ainda pouco explorada de sua obra.
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Este trabalho tem como objetivo abrir perspectivas para a construção de uma teoria da
história baseada nas ideias do filósofo Ernst Bloch, tendo em vista, sobretudo, seus conceitos de
“ainda-não-consciente” e “princípio esperança”. De acordo com Bloch, “o ainda-não-consciente
no ser humano efetivamente faz parte do que-ainda-não-veio-a-ser, do ainda-não-produzido, do
ainda-não-manifestado no mundo. O ainda-não-consciente comunica-se e interage com o que-
ainda-não-veio-a-ser, mais especificamente com o que está surgindo na história do mundo.” Neste
sentido, buscamos pensar/propor um estudo da história que se volte para o resgate de um presente-
passado recheado de perspectivas alternativas do mundo, trazendo para a nossa reflexão o conceito
benjaminiano de tempo-de-agora (Jetztzeit), segundo o qual o tempo da história é compreendido
como o instante em que a iniciativa humana colhe a oportunidade favorável e decide a própria
liberdade. Ernst Bloch chegou a apontar caminhos para a elaboração de uma teoria da história
perseguidora da esperança em seu livro “Thomas Münzer: teólogo da revolução”. Em suas
palavras, “engajamo-nos no passado enquanto ele é presente. E, deste modo, outros se
transformam, os mortos retornam, seu gesto revive ainda em nós.” Por isso mesmo, “Münzer é,
antes de tudo, História no seu sentido fecundo; seu presente e seu passado merecem a lembrança,
lá permanece ele para comprometer-nos, entusiasmar-nos, para apoiar, sempre mais amplamente,
nosso desígnio.” Nossa busca pela elaboração de uma teoria da história de matriz blochiana parte
do anseio de resposta ao nosso momento histórico, marcado por uma historicidade que, desgarrada
do passado e do porvir, volta-se para o prosaísmo de um presente ensimesmado. Com todas as
implicações envolvidas em tal ato, consideramos, hoje, a necessidade intelectual de “repetir” o gesto
realizado por Bloch no início do século XX: “É, portanto, urgente estender sob nossas cabeças não
um céu indefinidamente em fuga, mas [...] um céu utopicamente real, fundamentalmente acessível”.
Cumpre-nos, pois, neste início do século XXI, dilatar o presente com expectativas de um “possível-
real”, valendo-nos do artifício historiográfico da atualização de possíveis futuros – a “aktualität” de
Walter Benjamin –, a fim de que, escovando a história a contrapelo, engajemo-nos no passado no
que lhe há de presente aberto ao porvir e revivamos, em nós, os “ainda-não-conscientes” que
povoam o “tempo-de-agora” dos mortos.
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Por muito tempo o Holocausto foi tratado como uma sucessiva análise dos “fatos”
históricos, um estudo do regime nazista, de sua organização. O discurso dos Aliados no pós-guerra
era o de culpabilizar todos os alemães e, posteriormente, fazer um trabalho de memória para que
todos se lembrassem do horror. Contudo, entendo que mais do que pensar na memória do
Holocausto, mais do que buscar um acerto de contas com os verdadeiros culpados, mais do que
dar um sentido de justiça a essas vítimas, mais do que tentar mostrar a história de uma forma mais
precisa; o que realmente precisa ser feito, é uma reconciliação com esse passado. Não entendemos
as lições do Holocausto, não conseguimos dar um sentido a ele. Compreender o Holocausto é mais
do que apenas entender o que aconteceu, é entender o mundo em que vivemos, um mundo onde,
como diz Arendt “tais coisas são possíveis” ou, como diria Zygmunt Bauman, onde “tais coisas
ainda são possíveis”. Essa compreensão permite que analisemos os elementos de nossa sociedade
e que estejamos mais sensíveis aos sinais de alerta, tornando possível uma reconciliação. Hannah
Arendt acredita que contar estórias (stories) é o único meio para compreender um fenômeno
quando todos os conceitos e teorias tradicionais não são mais suficientes para explicá-lo; o filósofo
então, se torna um storyteller, ele reconstitui com a ajuda da imaginação os acontecimentos
tentando compreender o que aconteceu. Para ela, o pensamento narracional é uma atividade sem
fim, pensar sempre é repensar. Assim, o pensamento narracional não leva a uma conclusão x ou y,
ele provoca o pensamento nas pessoas. Este tipo de pensamento reconstitui a experiência, tentando
dar sentido e significação a ela, culminando na reconciliação com o acontecimento. A forma
possível de dominar o passado, é narrar esse passado. Mas apenas narrar (no sentido de contar,
expor) não faz com que tenhamos alguma reconciliação com ele. Para isso, é necessário mais, é
necessário compreender. A tese central deste trabalho, portanto, é a da importância da utilização
do pensamento narracional em eventos traumáticos para que possamos nos reconciliar com o
passado e compreendê-lo. Essa análise será feita com base na relação das teorias de Hannah Arendt
e Zygmunt Bauman sobre o totalitarismo.
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thiago.mota@ymail.com
Proposta do Simpósio:
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compreender as culturas africanas em sua historicidade. A dar unidade ao debate estaria apenas o
tom que se deseja imprimir às discussões: como destaca Elikia M’Bokolo, historiador congolês, e
vários outros historiadores brasileiros, o ST História da África e seu ensino no Brasil busca
vislumbrar histórias possíveis, cujo ponto de partida seja o protagonismo e agência africanos.
Comunicações:
PALAVRAS-CHAVE:
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de três autores principais para a investigação: André Alvares Almada (1594), Padre Baltasar Barreira
(1604-1612) e André Donelha (1625).
Nesta apresentação temos como objetivo analisar uma seleção de obras historiográficas,
em língua portuguesa, pensando nestas a presença de mulheres africanas no comércio urbano das
cidades afro atlânticas, no período entre os séculos XVIII e XIX. Por buscarmos relações entre as
práticas sociais, econômicas e políticas dessas mulheres africanas mercadejantes, nos diferentes
espaços, trazemos para debate, também, algumas produções que são atualmente consideradas
leituras introdutórias ao tratarmos da História do continente africano, e fazemos nessas obras uma
busca pela presença de práticas femininas nos espaços do mundo atlântico. Para refletirmos sobre
as presenças e ausências femininas nas produções historiográficas analisadas, buscamos textos com
o tema da participação feminina nos ambientes públicos das cidades afro atlânticas com o intuito
de contrapor a uma historiografia tradicional majoritariamente feita por homens brancos. Nessas
leituras, o que, não para a nossa surpresa, contamos com maiores ausências do que presenças
femininas. Sendo assim, no intuito de complementar a nossa análise, buscamos apontar, de forma
sucinta, caminhos percorridos por intelectuais que nos levam a ter um maior contato com a
necessidade de releituras dos fatos e períodos históricos, antes vistos e contados pela historiografia
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tradicional, mas repensados com base nos campos do Estudo de Gênero e História das Mulheres.
E, para complementar a reivindicação das presenças importantes dessas mulheres negras
comerciantes, trazemos trechos das bibliografias analisadas e imagens que nos provam como essas
mulheres negras faziam parte atuante desse cenário público, e político. Não contando somente com
as imagens, mas também com escritos, no ambiente em que ambos recursos tem a sua força para
refletirmos como essas mulheres tinham forte importância nas dinâmicas cotidianas, e, também,
no poderio político.
O presente trabalho, que se encontra em fase inicial, tem como objetivo investigar a história
da Timbila (prática cultural tradicional da cultura Chopi), seu auge durante os anos 1960 e o
processo de declínio desta prática cultural a partir da década de 1970, com a independência da ex-
colônia portuguesa e atual República de Moçambique. A partir de quatro entrevistas realizadas com
“Timbileiros” – músicos que tocam o instrumento que é objeto central do trabalho (Mbila) – e
também de estudiosos da Timbila e da cultura que a envolve, percebe-se que alguns fatores são
impactantes nesse declínio, a saber: a independência e o fim dos regulados, a guerra dos 16 anos –
também chamada de guerra de desestabilização – e as relações do novo regime, instaurado a partir
de 1975, com essa prática. Além das entrevistas, foram utilizadas as obras de Hugh Tracey,
Valdemiro Jopela e Marílio Wane, autores que estudam a Timbila em seus mais diversos aspectos,
dentre eles os regulados (atualmente chamados de localidades, eram governados por chefes locais,
os chamados régulos, durante o período colonial) e sua relação com a música Chopi. Através desse
estudo pretende-se compreender a importância dos regulados para a prática da Timbila e como o
fim destes contribuiu para o declínio de tal tradição.
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A posição dos países africanos nas Relações Internacionais ainda impõe desafios aos
estudiosos da área. Disciplina gestada e inicialmente desenvolvida na academia europeia e norte-
americana, a inserção dos Estados africanos independentes não é ponto pacífico entre os
estudiosos, e os estudos pós-coloniais ainda encontram resistência entre os mais tradicionalistas.
Com o intuito de contribuir para a formulação e inclusão teórica e empírica desses novos atores
no campo das Relações Internacionais, essa comunicação tem por proposta analisar, em diálogo
com os preceitos teórico-metodológicos da História, a correspondência enviada pelas embaixadas
brasileiras na África do Sul e em Moçambique para o Ministério das Relações Exteriores do Brasil.
Através dessas fontes, busca-se problematizar a investida sul-africana nos primeiros anos da década
de 1990, quando o governo tentou modificar sua política externa, marcada por um longo
isolamento. Desde a década de 1940, sobretudo a partir de 1948, a política externa da então União
Sul-Africana esteve intimamente vinculada ao regime do Apartheid como forma de organização
social. A insistência nessa política interna acabaria por isolar a União também internacionalmente.
Pretória resistiu à convivência internacional, recusando o diálogo. Ao longo desse período, a
política sul-africana foi, em termos regionais, tradicionalmente reativa e defensiva, e mesmo
ofensiva em algumas ações. Em fins da década de 1980, com a legitimidade do regime
segregacionista ameaçada interna e externamente, o país remodelou sua política externa através do
discurso identitário, em especial aos países da África Austral. Esse posicionamento do país perante
seus vizinhos africanos tomou forma concreta após o fim do Apartheid e da eleição de Nelson
Mandela para a presidência, em 1994.
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"O rio Gâmbia se estende por 1130 km, desde o planalto do Fouta Djallon até atingir o
oceano Atlântico. Ele foi uma importante via comercial que conectava as regiões do interior do
oeste africano às redes comerciais atlânticas. As nações que viviam às margens deste rio, fulas,
mandingas e jalofos, se engajaram fortemente nos contatos mercantis com navios europeus que
iam até os seus portos gerando mudanças nos mais diversos setores das nações. No campo político,
a região do rio Gâmbia foi diretamente afetada por mudanças nas estruturas de poder, com o
império do Mali e a Confederação Jalofa perdendo espaços para novos centros, fortalecidos
comercialmente e militarmente por sua inserção nas redes comerciais atlânticas. Os lançados,
agentes que inicialmente deveriam favorecer as trocas comerciais para a coroa portuguesa, passaram
a ser membros importantes do corpo administrativo e comercial dos soberanos mandingas e
jalofos, bem como foram fundamentais na criação de um novo dialeto, que se tornou língua franca
nos relacionamentos comerciais no rio Gâmbia e em toda a costa da Guiné. Trabalhar-se-á também
com a hipótese de que os fulas, cuja presença era minoritária na região, foram diretamente afetados
pelo comércio atlântico de seres humanos escravizados. Além disso, mas não menos importante,
mudanças nas estruturas comerciais ocorreram no Gâmbia. Novos produtos, até então inexistentes,
passaram a fazer parte da cultura material dos fulas, mandingas e jalofos. Por fim, se argumentará
que o fim do “monopólio” comercial português, foi diretamente benéfico às estruturas de mando
da região. A se destacar o fato de que nos contatos mercantis que geraram estas mudanças, o
protagonismo das relações comerciais ficava nas mãos dos fulas, mandingas e jalofos. Por fim,
eram os habitantes das margens do Gâmbia que ditavam as regras pela qual se pautariam as
transações mercantis, exercendo papel crucial na formação do sistema Atlântico nesta região.
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Proposta do Simpósio:
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legais, com ênfase na história do direito ou dos projetos de racionalização estatal envolvendo essas
instituições. Abordagens de história social e/ou cultural dos agentes que participam dessas
instituições: juízes, carcereiros, policiais, defensores públicos, etc.
3) A formação das polícias como instituições públicas e como parte da história da formação
do estado. Análise dos projetos, objetivos e diferentes modelos policiais – que não se resumem no
objetivo de “combate ao crime” – bem como das condições cotidianas e da vida social e cultural
constituída entre os sujeitos que formaram os diferentes grupamentos policiais.
Comunicações:
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defesa do endurecimento das leis e consequentemente das penas impostas aos criminosos
identificados como responsáveis por algum crime.
O presente trabalho tem por objetivo apresentar a opinião dos responsáveis pela apuração,
acusação e julgamento de pessoas envolvidas com o crime de homicídio nas cidades de Belo
Horizonte, Betim, Contagem e Ribeirão das Neves. Para tanto, serão utilizadas as entrevistas
realizadas no âmbito da pesquisa da Secretaria Nacional da Segurança Pública / Ministério da
Justiça, cujo objetivo é mapear as percepções dos operadores do direito sobre o problema para o
desenvolvimento de uma política de redução de homicídios. A partir disso buscamos analisar no
discurso dos operadores do direito quais seriam, segundo a opinião deles, as causas dos crimes
contra a vida; quais as condições de trabalho para prevenção e combate a esses crimes e qual a
solução para a diminuição dos homicídios. Os nossos resultados indicam que o apoio ao
recrudescimento penal está presente nas falas de muitos entrevistado, pois o foco desses atores é a
satisfação da demanda da própria sociedade, que acredita que a proteção dos cidadãos e a redução
do risco de vitimização nos grandes centros urbanos pode ser efetivada a partir da
institucionalização do sujeito matável (Aganbem, 2007). Assim, nosso trabalho apresenta alguns
direcionamentos sobre como a história do tempo presente é, em verdade, uma espécie de
retrocesso, posto que legitima a pena de morte para certos indivíduos, como acontecia na época
das Ordenações Filipinas (Noronha, 2004)
Este texto discute a prática policial com relação a crimes de homicídio em Oliveira, Minas
Gerais, entre 1840 e 1889. Com base em algumas obras da historiografia, e em pesquisa sobre
processos criminais, evidenciam-se algumas vicissitudes das condutas policiais neste período. Entre
1831 e 1850, o Brasil experimentou um processo de “transição de modelos de policiamento, na
direção de formas mais modernas — mais especializadas e profissionalizadas — de controle e
vigilância da população”. A partir do período regencial, as forças policiais existentes são
substituídas por “novas instituições encarregadas da segurança pública e do Estado – entre elas a
Guarda Nacional e a Força de Polícia” (VELLASCO, 2007: 239). Entretanto, estas novas instâncias
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policiais foram criadas com inspiração nos mecanismos normativos do antigo regime, sendo
modificados no decorrer deste período, e tomando formas modernas em finais da década de 1840.
Devido aos obstáculos estruturais e conjunturais no recrutamento e permanência das guardas,
assim como à “indiferenciação entre os policiais e os grupos que deveriam reprimir”, a
modernização efetiva do policiamento nacional somente ocorreu nos últimos anos daquele século
(VELLASCO, 2007: 249). A relação entre o “Estado” e o “cidadão” dentro da instância criminal
era complexa. Enquanto o primeiro era representado por juízes, promotores, tribunal de júri,
delegados, oficiais de justiça e outros, questiona-se se realmente estes indivíduos compartilhavam
da cultura jurídica oficial do parlamento que criou o Código Criminal e até que ponto suas posturas,
registradas nos processos, evidenciam estes níveis de compartilhamento ou divergência de idéias.
Outro ponto de análise é a diferenciação nos perfis sociais entre funcionários do sistema judiciário
(juízes, advogados e promotores) e aqueles do policiamento (delegados, oficiais de justiça,
pedestres, inspetores de quarteirão). Enquanto os primeiros são membros da elite político-
econômica (homens brancos, livres e abastados), os últimos — com exceção dos delegados —
eram livres pobres, mestiços e descendentes de escravos. A pesquisa em processos criminais
evidenciou desde delegados e policiais pedindo auxílio econômico para famílias abastadas que
acionavam a justiça, até pedestres e oficiais de justiça que se negavam a executar sentenças de açoite
em escravos condenados por homicídio. Exibe-se assim, as complexas formas de relacionamento
entre estes homens, as leis e suas funções policiais.
Durante todo o período imperial, as autoridades provinciais, por meio de seus relatórios
anuais, avaliaram o estado da Justiça na província, enumerando as principais deficiências que
debilitavam este ramo tão importante da administração pública. Essas deficiências incluíam desde
a falta de receita da província, passando pelos problemas gerados pela grande extensão de seu
território, até a dificuldade em prover todos os cargos da estrutura judicial com pessoas capazes e
dispostas a cumprir seus deveres. A preocupação com o avanço do raio de atuação do poder
público foi responsável pela implantação de medidas que visavam a modernização e a
racionalização dos procedimentos judiciais. As reformas empreendidas nas décadas de 1830 e 1840
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Este trabalho pretende apresentar alguns aspectos do trabalho dos carcereiros no Brasil
Colonial. Motivo de preocupações das autoridades portuguesas e locais, esses indivíduos, muitas
vezes estavam envolvidos nas fugas de presos e também outros crimes. Serão analisadas as
Ordenações Portuguesas, Afonsinas, Manuelinas e Filipinas, que especificam progressivamente as
funções e punições dos carcereiros, e os posteriores Regimentos dos Carcereiros. Ademais, a partir
de documentação político-administrativa de Vila Rica, que faz referência à uma antiga e precária
cadeia, que funcionou durante o auge e declínio da mineração aurífera (1725-1785) numa das mais
importantes vilas do Império Português, buscar-se-á notar tais preocupações nas governanças
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locais. Por fim, a partir dessa mesma documentação, sobretudo de requerimentos feitos pelos
carcereiros, busca-se entender um pouco das rotinas desses indivíduos e das cadeias coloniais,
salientando que, responsáveis pelo cuidado e manutenção dos presos comuns, eram, também,
autores de muitas reclamações e pedidos de obras e outras melhorias das ditas cadeias.
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O Juízo de Paz do subdistrito de Dores das Conquistas (atual Itaguara-MG) foi criado no
ano de 1814 e funcionou durante todo o Período Monárquico, chegando até o século XX. Dores
das Conquistas esteve sob a jurisdição de três comarcas diferentes e três municípios ao longo do
século XIX: As Comarcas do Rio das Velhas (Sabará), de Ouro Preto e do Indaiá; e os municípios
de Ouro Preto, Queluz e Bonfim. Nesse longo período, as autoridades que passaram por esse Juízo
registraram seus afazeres e práticas em diversos documentos de caráter policial, administrativo e
arbitral. Essa documentação serve ao historiador, hoje, como uma janela para o microcosmo da
aplicação das práticas policiais e arbitrais nos pequenos distritos de paz pelos interiores de Minas
Gerais e do Brasil. Para compreender mais profundamente esse microcosmo, esse trabalho
apresenta uma discussão de como, nas teorias sobre a natureza e a aplicação da justiça que
vigoravam no século XIX, o juízo arbitral de caráter conciliatório, costumeiro, prático e rabular era
proposto e instituído nos rincões distantes das vilas e cidades, seguindo as formulações das práticas
portuguesas do século anterior, onde as autoridades deviam se guiar em precário equilíbrio por
princípios gerais e velhas fórmulas de proceder da cultura jurídica portuguesa, abandonando ou
recriando formalidades e procedimentos.
Com o mesmo intuito de clarificar os recônditos da prática policial no âmbito dos distritos
de paz, analisamos o papel das autoridades em caráter precário nas pequenas jurisdições criminais,
no mundo rústico dos desclassificados, escravos africanos e crioulos, rábulas e potentados do
interior e suas relações recíprocas, assim como as constantes intromissões políticas ou regulatórias
dos poderes superiores Provinciais e das Secretarias da Corte, que determinavam os níveis de
controle e cuja correspondência e pedidos inquietavam o funcionamento do Juízo de Paz. Nos
aspectos institucionais, analisamos brevemente as dimensões políticas e a influência dos poderes
na prática policial e judicante do Juízo de Paz, através de comparações das experiências do período
em que vigoraram mandados eletivos para as autoridades dos distritos e subdistritos (entre 1824 e
1840), com os modelos impositivos que dominaram os outros períodos (1814-1823 e 1841-1889).
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PALAVRAS-CHAVE:
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Proposta do Simpósio:
O simpósio pretende integrar pesquisas sobre questões teóricas e estudos de caso que
comportem questões voltadas à compreensão do mundo rural a partir da estrutura agrária brasileira.
O objetivo é debater pesquisas que se dediquem a processos sociais vistos sob a ótica da História
agrária renovada, redimensionando a influência de fatores ditos externos, legais, macroeconômicos
ou macro políticos, tradicionalmente vistos como os motores das transformações no mundo rural.
Assim, confiamos na importância do debate sobre o mundo rural, visto que comporta
aspectos acadêmicos e sociais. Primeiro, pela renovação das pesquisas na área, somado a um
esforço de integração com o direito e as ciências sociais. Segundo, a questão agrária, na atualidade,
ainda gera sobreposições de direitos e carrega rastros de luta e violência, sendo um tema de relevo
na construção de uma história engajada. Distante da utopia da revolução que não ocorreu, mas no
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sentido atribuído pelo historiador Eric Hobsbawn (1998), de uma história comprometida com as
problemáticas de seu tempo.
Comunicações:
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Encontro de Pesquisa em História
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PALAVRAS-CHAVE:
O trabalho consiste em uma análise histórica de como o sertão brasileiro e o llano mexicano
são representados, respectivamente, nas obras Vidas Secas (1938) e São Bernado (1934), de
Graciliano Ramos, e Llano en Llamas (1953) e Pedro Páramo, de Juan Rulfo (1955). Não só se
detém em seu conteúdo como, também, relaciona aquele com as experiências tanto pessoais dos
autores quanto das sociedades mexicana e brasileira que perpassam pelos livros. Embasado numa
concepção comparativa da história, o trabalho compreende uma cultura latino-americana
compartilhada que é definida historicamente a partir de elementos em comum entre suas diversas
sociedades. Dessa forma, a partir das obras refletimos como o campo ou essas extensas zonas
geográficas que são socialmente definidas como fronteiras entre o civilizado/moderno e
retrógrado/rural, num ""discurso-imagético"", segundo Durval Muniz, são expostas por ambos os
intelectuais. Entendendo, inclusive, que estes estavam inseridos num contexto social e político e
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Encontro de Pesquisa em História
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que possuíam referências não só na grande propriedade, mas também no Estado que, não-
raramente, agia em conluio com interesses privados ditos progressistas.
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Encontro de Pesquisa em História
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O Serviço Social Rural foi em vários momentos do discurso de Vargas colocado como
extensão da CLT ao campo, porém ao analisar sua constituição verificamos que essa afirmativa não
se sustenta, pois, de maneira geral, o projeto de lei se deteve em fornecer assistência nas áreas da
saúde e educação, mas se omitiu em direitos trabalhistas fundamentais como salário, férias,
aposentadoria, sindicalização, estabilidade, dentre outros. Um dos caminhos para entender essa
questão se da pela aliança partidária entre o PTB, partido do presidente e o PSD. Como colocou
José Murilo de Carvalho “O PSD tinha sua base entre os proprietários rurais, nas velhas oligarquias
do interior (...) Enquanto a questão agrária não fosse tocada, o acordo era possível e funcionou
satisfatoriamente”. Assim, construímos um caminho para entender a marginalização dos
trabalhadores rurais em relação aos direitos trabalhistas. Para a construção desse trabalho
recorremos ao projeto de lei que criou o Serviço Social Rural, disponível nos Diários da Câmara
dos Deputados, assim contrapomos o PL com as falas de Vargas, também acompanhando as
discussões na Câmara dos deputados e mostrando a forma como os jornais Ultima Hora e Correio
da Manhã se manifestaram a esse respeito. Assim, nas variedades dessas fontes conseguimos
corroborar nosso ponto de vista e mostrar como o Serviço Social Rural não se colocou enquanto
extensão da CLT ao campo, sendo então uma assistência social ao trabalhador rural.
V EPHIS – V Encontro de Pesquisa em História da UFMG.
06 a 10 de Junho – Belo Horizonte: Departamento de História, FAFICH/UFMG, 2016.
www.ephisufmg.com.br
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Encontro de Pesquisa em História
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A partir de 1950, a região da Baixada Fluminense foi considerada palco privilegiado de uma
mobilização camponesa, mais especificamente, de um grupo de lavradores, que começaram a
reivindicar a posse de terras que estavam sendo alvo de especulação imobiliária devido à valorização
das mesmas no período em questão. Por este motivo, um movimento de resistência foi se
estruturando e tais lutas reverberaram na imprensa. Foi por conta desta inserção política do
campesinato fluminense e do reconhecimento de suas lutas pela imprensa que o Partido Comunista
do Brasil (PCB), assim como outros grupos/partidos políticos de matrizes ideológicas diversas,
começaram a disputar a representação política deste grupo de lavradores. Diversos autores
procuraram analisar a constituição dos camponeses enquanto grupo social no processo de
mobilização e compreender a natureza das ações de mediação dos conflitos de terra realizadas por
diferentes grupos sociais. A preocupação deste trabalho foi analisar as relações entre os agentes da
mediação e as instituições das quais faziam parte e discutir como apareceram e como foram tratadas
estas questões na historiografia do tema. No nosso caso em específico, os militantes comunistas e
o seu Partido. A questão que instigou todo o trabalho de pesquisa foi a relação de identidade
construída entre os militantes comunistas e o PCB nas memórias de José Pureza da Silva,
Lyndolpho Silva e Bráulio Rodrigues da Silva quando atuaram enquanto mediadores dos conflitos
fundiários na região da Baixada Fluminense. Parte-se da hipótese de que estes militantes
construíram uma identidade de afastamento em relação ao PCB relatada em suas memórias. A
autonomia do trabalho político e as relações construídas junto com os lavradores fluminenses
foram indícios significativos para desenvolver o problema que suscitou a pesquisa. Esta militância
“experimental”, bastante receptiva em relação às ações e estratégias do grupo social que se
pretendia representar (os lavradores fluminenses), foi modelada a partir das contribuições teóricas
da história social inglesa, mais especificamente, com as postulações de Edward Palmer Thompson
e as suas noções de “experiência” e “agência” humanas no tempo. A relação entre a História e a
Memória também foram substanciais para esta pesquisa, principalmente as considerações de
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Encontro de Pesquisa em História
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Michael Pollak no que concerne as memórias individuais e subterrâneas e as suas relações com as
memórias coletivas, institucionais e hegemônicas.
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Encontro de Pesquisa em História
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UFMG
aninharezende@msn.com
Proposta do Simpósio:
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Encontro de Pesquisa em História
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Comunicações:
O Feto que atenta contra a sua vida: Aborto como recurso terapêutico no
século XIX
Isabela de Oliveira Dornelas
isadornelas@gmail.com
Esta comunicação propõe investigar sob o viés da história de gênero o discurso médico
que durante o século XIX se posiciona em defesa do uso do aborto como um recurso terapêutico
indicado para mulheres que estivessem extremamente doentes em função da gestação ou que
fossem consideradas sem condições físicas de dar a luz. Não pretendo reforçar uma leitura
maniqueísta da atuação da medicina sobre o corpo feminino, mas observar a forma com que o
discurso médico sobre o aborto terapêutico se formou, a fim de constituir bases de legitimidade
frente seus interlocutores. Desde finais do século XVIII, a ciência supõe um referencial neutro para
sua produção, mas por ser uma atividade que se dá engendrada por relações sociais e de poder, por
vezes produz e reproduz desigualdades de todos os tipos, entre elas as de gênero. Observa-se que
a preocupação em afirmar e construir o discurso em favor dessa prática por parte de muitos
médicos aponta para o fato de que, apesar da indubitável aproximação entre medicina e
racionalidade científica, que favoreceu o fortalecimento da medicina moderna, este processo se
articula nas tensões sociais com continuidades e rupturas pertinentes a analise histórica. Trata-se
de processos com descontinuidades e negociações, às quais este trabalho pretende estar atento.
Importa resgatar que o cuidado com o corpo e a saúde, desde fins do século XVIII, passa a ser
pensado pela medicina a partir de uma racionalidade científica que reivindica a experimentação
como um artifício para se afirmar enquanto o saber mais objetivo e válido dentre as outras maneiras
de tratar o corpo. A medicina moderna buscou se constituir ao longo de todo século XIX como
uma ferramenta de utilidade ao Estado, que, nesse momento, busca amplificar a intervenção sobre
a população com a finalidade de mantê-la apta ao trabalho para o fortalecimento da nação. Os
temas pertinentes à sexualidade e reprodução ganham especial enfoque, e o campo da sexualidade
é de primeira importância para a normatização da sociedade, pois daí depende a doença ou a saúde
do corpo social. No século XIX, passam a ser produzidos discursos médicos legitimados por seu
aspecto científico, reivindicado como neutro e objetivo, que pretendiam deter a verdade sobre o
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Encontro de Pesquisa em História
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uso apropriado da sexualidade. Envio este resumo para ser analisado pelas coordenadoras do ST
de História da Ciência.
PALAVRAS-CHAVE:
A pesquisa Tradições populares nos costumes e práticas de cura com plantas medicinais
em Viçosa e região apresenta como proposta o resgate e a valorização da cultura e das tradições
populares em Viçosa e região. Como ponto norteador do trabalho valorizamos o que entendemos
por cultura. Num arcabouço teórico é possível dizer que o conceito de “tradição” de E. Hobsbawm
e T. Ranger se aplica ao projeto, no que os autores escrevem como sendo práticas de natureza
simbólica que incorporam valores através da repetição. Bem como as concepções dos antropólogos
C. Geertz e R. Laraia, a cultura em um conceito semiótico, ou “público” e aquilo que está em
consonância com a natureza humana e que o homem foi capaz de modificar. Assim, a cultura tem
seu espaço onde surge a familiarização com uma ideia tornando-se parte do intelecto e do
imaginário de uma sociedade. É possível observar que as tradições e os costumes com as práticas
de cura em Viçosa e região, mais especificamente em Cachoeira de Santa Cruz, um distrito da
cidade de viçosa, são passados de geração em geração e que se perpetuam com modificações e
adaptações. O presente trabalho levanta, ainda, questões vinculadas às memórias coletivas e
individuais, questões religiosas, debates sobre as chamadas “medicina científica” e “medicina
popular”.
PALAVRAS-CHAVE:
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Encontro de Pesquisa em História
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O objetivo desta pesquisa é discutir como a diversão poderia ser compreendida como
loucura, levando pessoas à internação no Hospital Colônia de Barbacena, no período
compreendido entre 1934 a 1946. Procura-se estabelecer relações entre divertimento e loucura, ao
estudar a internação de pacientes no Hospital Colônia de Barbacena; permitindo comprender que
práticas de diversão eram rejeitadas e como essa rejeição era legitimada no contexto do Hospital
Colônia de Barbacena. O entendimento do contexto de internação destes pacientes auxilia o
entendimento sobre as relações entre o divertimento ilícito e as doenças mentais, ainda pouco
discutidas na literatura, além de ampliar as discussões sobre as motivações para a internação de
pessoas neste hospital. O Hospital Colônia de Barbacena foi escolhido para estudo de caso, por
ser o primeiro hospital psiquiátrico público de Minas Gerais, servindo de modelo para a gestão de
outros hospitais psiquiátricos no país e tendo mais de 150 anos de história, estando em
funcionamento até os dias atuais. Este Hospital destaca-se entre os demais, pois a internação de
pacientes que “não eram doentes mentais e estavam ali por outros problemas, que não a
necessidade de tratamento médico-psiquiátrico” (MAGRO FILHO, 1992, p. 138, 139) era muito
comum. O recorte temporal, de 1934 a 1946 foi escolhido para estudo devido ao contexto político
e médico vivenciado durante a Era Vargas (1930-1945) em que a gestão de Gustavo Capanema no
Ministério dos Negócios de Educação e Saúde; a criação do Serviço de Doenças Mentais (SDM) e
os ideais médicos, higienistas e eugenistas, da Liga Brasileira de Higiene Mental (1935 a 1946)
contribuíram muito para a internação de pacientes praticantes de divertimentos ilícitos em
hospitais-colônia, incluindo o Hospital Colônia de Barbacena. A metodologia envolve a pesquisa
historiográfica, sob a perspectiva da História Cultural, tendo como aporte teórico trabalhos de
Michel Foucault. A população pesquisada inclui novos pacientes internados no Hospital Colônia,
no período entre 1934 e 1946. Serão consultados documentos, periódicos, livros e legislações de
cinco arquivos distintos, a saber: Arquivo Público Mineiro (APM); Hemeroteca da Biblioteca
Pública Estadual Luiz de Bessa; Arquivo Histórico Municipal Professor Altair José Savassi
(AHMPAS); Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FEHMIG) e Hemeroteca Digital
da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (BN Digital).
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Encontro de Pesquisa em História
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A transição do século XIX para o século XX configura-se como uma época assinalada por
grandes transformações sociais. Neste contexto, ideais modernizadores e higiênicos podem ser
percebidos em inúmeras localidades do mundo ocidental. O imaginário que permeia a concepção
do Sertão brasileiro possui desde o inicio o estigma da peste, da doença e da barbárie, mas no inicio
do século XX essa região passou por um processo de cura e de modernização acarretado tanto pelo
clamor social quanto pela intervenção estatal. O homem sertanejo que havia figurado no imaginário
nacional como a representação do ser hostil, bravio e doente passa a ser encarado como o ponto
fraco do processo de integração nacional iniciado com a proclamação da república. Ancorado em
teorias positivistas, higiênicas e eugênicas o Estado lança mão dos saberes médico-cientificos a fim
de ordenar a nação e domar o Sertão. Este trabalho toma como fontes os periódicos Jornal Montes
Claros e Gazeta do Norte (1915-1930) a fim de compreender, através da imprensa, o processo de
ordenamento social vivenciado pela população de Montes Claros e região com ênfase no
comportamento corporal e nas ideologias e representações difundidas pela elite local e
compartilhadas pela população sobre questões referentes a modernidade, civilização e saúde.
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Encontro de Pesquisa em História
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agente ativo na dinâmica de ordenamento da sociedade, ao mesmo tempo em que a loucura passa
a ser entendida como doença mental.
A loucura quando tornada doença mental transforma o sujeito de ação num indivíduo cuja
voz se perde nos meandros do espaço hospitalar, dos estudos de caso e de categorização
diagnóstica. Em outras palavras, se por um lado, a voz do doente mental (a narrativa do louco)
“não interessa” ao saber médico, por sofrer de uma alienação no sentido de explicação e
compreensão de seu espaço/tempo, este indivíduo desarrazoado e suas perturbações, por outro
lado, ganham imensa visibilidade por aqueles que tutelam suas vozes e ações. Neste trabalho,
então, empreendemos refletir acerca dos usos da loucura como instrumento de um saber-poder
disciplinar que buscou, além do desenvolvimento da psiquiatria no Brasil, uma via para “limpar das
vistas” os indivíduos contenciosos da esfera social, opostos ao modelo de sujeito polido e
economicamente ativo. Para tanto, intentamos desenvolver um histórico da prática psiquiátrica no
Brasil e da ideia de loucura, agora tomada como doença mental.
Para a História da Ciência, trabalhar com o Renascimento dos séculos XV e XVI é uma
tarefa bem controversa, por existir, entre os especialistas, uma grande discussão a respeito da
produção de conhecimento nesse período. Autores consagrados alegam que a Renascença viveu
um verdadeiro impasse científico, onde as bases epistemológicas foram desestruturadas e
destruídas, culminando num momento ímpar da civilização europeia, onde tudo era possível e
aceitável em termos explicativos e demonstrativos. Como consequência, presenciamos uma
completa desvalorização de elementos que, quando muito dialogaram e contribuíram para a
produção de conhecimento, como a experiência, por exemplo. Dessa forma, é vedada qualquer
importância que a cultura prática, isto é, aquela advinda de homens de pouca instrução, viria a
desempenhar, acreditando não ter tido relevância alguma, quando muito interferido de maneira
positiva no campo científico. Além disso, outra análise decorrente desse pessimismo é o retrocesso
atribuído a forte influência da magia na época renascentista. De fato, em meados do século XV já
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Encontro de Pesquisa em História
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era possível perceber a enorme difusão do Platonismo mágico hermético pela Europa. Essa
corrente procurou estabelecer uma relação direta com a magia, promovendo um forte impulso à
astrologia e à alquimia, colaborando assim, para a emergência de uma filosofia esotérica repleta de
misticismo, forças invisíveis e animismo.
Sendo assim, propomos uma discussão que desconstrua a visão de que a Renascença teria
adquirido um caráter de empecilho em relação ao desenvolvimento do conhecimento científico
ocidental. Demonstraremos que longe de representar uma fase de retrocesso, o Renascimento foi
um período em que os embates filosóficos e científicos ganharam um espaço considerável e bem
acirrado. Para tal, destacaremos o papel epistêmico desempenhado pelos Descobrimentos do
século XVI, ao nos focalizar numa categoria de saber cujas bases teóricas e metodológicas
baseavam-se na temática das Navegações Ultramarinas. Graças a esse processo e aos novos dados
obtidos por meio dele, que novas problemáticas vieram à tona, levando inclusive, a uma tentativa
de reestruturação do saber cientifico vigente. E o palco desse debate seria Portugal, cujo
pioneirismo nas navegações faria do país um centro efervescente de produção de saberes
relacionados ao tema dos Descobrimentos, fossem eles de cunho artístico e literário, ou até mesmo
de cunho científico e filosófico.
Nas primeiras décadas do século XX, a saúde foi aos poucos ganhando as pautas políticas
do país, tornando-se foco de discussão de vários grupos sociais. O interesse pela temática deveu-
se, principalmente, à profusão de discursos higienistas que, através da divulgação em relatórios de
viagens e palestras da situação de calamidade e abandono vivenciada pelo interior do Brasil,
lançaram bases para os primeiros esforços na articulação de um movimento sanitário do país. O
multifacetado e desfragmentado território, o contexto federativo e oligárquico vigentes,
dificultavam a identificação da população enquanto povo, entravando a formação de uma
identidade nacional. Além de expor falhas do modelo administrativo, os diagnósticos de higienistas
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bem natural da cidade e da região, isto é, discutir o conceito de Patrimônio Natural. O interesse
pela pesquisa deveu-se ao fato da Farmácia Verde ser uma referência no Estado de Minas Gerais
na produção e medicação de medicamentos fitoterápicos. Fundada em 1995, a Farmácia Verde é
um centro de medicina alternativa da prefeitura de Ipatinga que é mantido com recursos da
administração municipal, por meio da Secretaria de Saúde, com 128 espécies cadastradas, que busca
fazer o intercâmbio entre tradição e modernidade, mesclando o saber popular com a presença de
uma equipe formada por farmacêuticos e médicos.
Num primeiro momento, o nosso objetivo é identificar as plantas utilizadas com mais
frequência levando-se em conta a cultura popular e adaptação de cultivo a região. Mais adiante,
iremos entrevistar a população e os próprios funcionários da Farmácia, obtendo assim,
informações mais detalhadas sobre como esse aprendizado é transmitido aos demais habitantes da
cidade. Pretendemos fazer uma análise sobre a ação da farmácia e como que se dá a troca de
conhecimento da comunidade de Ipatinga (saberes populares) com a Farmácia Verde, explorando
as relações culturais e sociais. Ao longo de toda a pesquisa, também serão consultados áudios dos
fundadores da Farmácia, trechos de revistas e jornais, relatórios de grupos de estudos e palestras.
Através da análise dessas fontes será possível verificar a contribuição da Farmácia perante a
comunidade. As terapias alternativas têm muito a oferecer, podendo contribuir com as ciências da
saúde, além de possibilitar ao individuo relativa autonomia em relação ao cuidado com a sua saúde.
Nas relações interculturais há uma troca de valores entre os envolvidos, e isso vai significar uma
nova maneira de enxergar a doença sob seus vários aspectos.
Entre os anos de 1817 e 1820 o viajante naturalista, médico e antropólogo alemão Karl
Friedrich Philipp von Martius realizou uma grande expedição científica em terras brasileiras
organizada pela Real Academia de Ciências de Munique a pedido do Rei Maximiliano José I da
Baviera. Juntamente a seu companheiro de viagem, o também naturalista e zoólogo Spix, Martius
percorreu grande parte do Brasil fazendo anotações sobre os povos que aqui viviam seus costumes
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Encontro de Pesquisa em História
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e modo de vida. De volta à Europa, produziu diversas obras a partir das observações da viagem,
dentre elas, “Natureza, Doenças, Medicina e Remédios dos índios brasileiros”, publicada em
Munique no ano de 1844. No livro, o naturalista expõe ao leitor seu “olhar” sobre as doenças que
mais acometiam os indígenas do Brasil, bem como a relação das moléstias e dos caracteres físicos
típicos da “raça” americana com o clima, as condições do meio, o modo de vida e grau de cultura;
a “estranha” medicina desenvolvida pelos pajés; a forma como os índios entendiam as causas das
doenças, que envolvia uma compreensão “obscura” e “mágica” do mundo natural; e os remédios
utilizados na terapêutica, que curiosamente apresentavam-se como eficazes aos olhos de Martius.
O propósito deste trabalho é apresentar uma parte do projeto de mestrado que está em
desenvolvimento a respeito da temática acima mencionada, cujo objetivo é compreender a
concepção de ciência de Martius (especificamente a ciência médica) e a forma como ele acreditava
que a ciência se desenvolvia em diferentes culturas no tempo (a saber: a europeia e a dos indígenas
do Brasil), a partir do seu olhar para o modo como os índios entendiam as doenças, como curavam,
como lidavam com os remédios, a natureza, os praticantes da cura e o meio em que viviam.
Utilizando como base teórica a obra de Fleck, entendo que Martius e os índios, como membros de
“coletivos e estilos de pensamento” diferentes, ao pensarem sobre a doença e a cura, não pensavam
sobre os mesmos conceitos, pois se A e B “pertencem a coletivos de pensamento diversos, o
pensamento não é o mesmo porque, para um dos dois, o pensamento deve ser pouco claro ou
entendido por ele de maneira diferente” (FLECK, 2010, p. 151). “Natureza” consistiria, por tanto,
em conjunto de “mal entendidos” que abrem precedentes para refletir sobre a presença da
alteridade no relato do viajante, já que ao falar da medicina dos índios Martius diz muito mais sobre
a ciência médica europeia, “coletivo” ao qual pertencia.
Esta pesquisa objetiva demostrar que no período denominado Pombalino, Portugal iniciou
um projeto que a historiografia intitulou de “Reformismo Ilustrado”. Em 1796 no governo de
D.Maria I, D. Rodrigo de Sousa Coutinho foi Ministro da Marinha e Ultramar, possibilitando que
uma substantiva quantidade de letrados lusos brasileiros a seu convite planejassem uma politica
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Encontro de Pesquisa em História
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A escravidão apresenta muitas faces. Embora a violência estivesse na base de todas elas,
como ato inaugural da conversão de seres humanos ao cativeiro e como um dos instrumentos de
manutenção da ordem escravista, suas variações engendraram diferentes práticas de tratamento
dos indivíduos a ela submetidos. Uma delas é narrada em diversos relatos médicos, os quais
apresentam uma visão trágica sobre a vida da população escrava, em particular sobre as suas
condições de saúde. As razões dessa visão ser assim caracterizada, como ela foi fundamentada e os
possíveis significados históricos da sua construção como instrumento intelectual de intervenção na
vida social, são abordadas nessa comunicação, cujo objetivo é analisar como a sociedade
escravista comportou-se em relação à saúde dos escravos antes e depois do Iluminismo.
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fernandomvianini@gmail.com
Proposta do Simpósio:
Neste Simpósio Temático, propomos reunir trabalhos que dialoguem com a temática das
políticas públicas durante o período do Brasil República. Através do V Encontro de Pesquisa da
UFMG – EPHIS, os coordenadores deste ST pretendem promover a divulgação e a discussão de
estudos de caso e/ou novos enquadramentos teóricos propostos por alunos de graduação e pós-
graduação, cujas pesquisas, concluídas ou que estejam em andamento, procurem examinar as
políticas públicas durante o Brasil República.
Devido a esta amplitude temática, serão aceitos trabalhos interdisciplinares, uma vez que
este é um recurso cada vez mais utilizado no meio acadêmico. O diálogo entre a sociologia, ciências
políticas e história, entre outras disciplinas, garante um arsenal mais amplo de recursos para a
pesquisa e para o entendimento nas conjunturas passadas e presentes. Assim, abre-se um espaço
para o diálogo entre as áreas das ciências sociais para o debate sobre políticas públicas no Brasil
republicano, priorizando temas como: Brasil República, Brasil República e Políticas Públicas, Brasil
República e Saúde, Brasil República e Educação, Brasil República e Desenvolvimento Industrial.
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Comunicações:
PALAVRAS-CHAVE:
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assim como o pessoal que compôs estas instituições, como o CDI, foram aproveitados no governo
JK para a formulação do Plano de Metas para o setor automotivo, que efetivamente instalou
montadoras no Brasil, aumentou o conteúdo nacional dos veículos produzidos e transformou todo
o setor industrial brasileiro.
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Encontro de Pesquisa em História
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nos cursos e nas carreiras acessados por mulheres e homens. Atualmente, as mulheres são maioria
em matrículas e conclusões em cursos de nível superior, mas ao analisar campos específicos como
o de ciências exatas, esse padrão se inverte completamente; e esse cenário se repete na atuação
profissional; fazendo com que as mulheres passem a depender de políticas públicas que sejam
capazes de diminuir e acabar com a restrição a atuação delas na área das ciências. Nesse contexto,
o presente artigo tem por objetivo elucidar de que maneira a Secretaria de Póliticas Públicas para
as Mulheres (SPM) criada em janeiro de 2003 e extinta em outubro de 2015, quando passou a fazer
parte do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direiro Humanos, vem atuando através
de políticas públicas na área da educação para as mulheres, focando no programa - Mulher e
Ciência. Esse programa, foi lançado em setembro de 2005, visando estimular a produção científica
e a reflexão acerca das relações de gênero, mulheres e feminismos no país, bem como promover a
participação das mulheres no campo das ciências e carreiras acadêmicas. Dentre suas linhas de ação
pode-se citar: Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero; Editais Relações de Gênero, Mulheres
e Feminismos; Pensando Gênero e Ciências; e Meninas e Jovens fazendo Ciência, Tecnologia e
Inovação. A análise das políticas desse programa evidenciou que um esforço tem sido feito em prol
da mudança no cenário da desigualdade de gênero, mas ainda é preciso que essas políticas sejam
fortalecidas e outras sejam implementadas para permitir o maior acesso das mulheres à área de
ciências exatas.
O campo da Habitação Social deve ser compreendido como uma arena, ou seja, espaço que
durante o século XX aglutinou debates sobre suas caracteristicas morais, técnicas e políticas, como
postulado pelos estudiosos deste campo interdisciplinar. Esta comunicação pretende analisar a ação
habitacional promovida pelo Governo do Estado de São Paulo, durante a década de 1970, período
que foi marcado, na esfera administrativa do Estado, por uma série de ações de interiorização do
desenvolvimento industrial e habitacional das cidades paulistas. Pretendemos demonstrar como
tais ações do Governo entrelaçavam as caracteristicas técnicas e políticas da moradia, promovendo
uma ação de "Habitação para quem precisa", que priorizava a instalação de conjuntos habitacionais
de grande porte para cidades com importantes parques industriais, importantes para o
V EPHIS – V Encontro de Pesquisa em História da UFMG.
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PALAVRAS-CHAVE:
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PALAVRAS-CHAVE:
O estudo tem por finalidade mapear e analisar as principais intervenções do poder público
municipal de Belo Horizonte no setor do esporte e lazer entre os anos de 1983 à 2003. Este texto
vincula-se à pesquisa realizada em parceria com o Grupo de Estudos e Pesquisa em Políticas
Públicas de Esporte e Lazer - POLIS/UFMG e o Centro de Memória do Esporte e do Lazer -
CEMEL/Prefeitura de Belo Horizonte, que tem como objetivo resgatar e analisar o percurso
histórico das políticas públicas de esporte e lazer em Belo Horizonte desde sua criação, em 1897,
até o ano de 2012. As fontes mobilizadas para sua construção foram as legislações referentes ao
setor e os relatórios dos prefeitos do período correspondente. Também foram coletadas
informações provenientes de depoimentos de pessoas que testemunharam o desenvolvimento
dessas políticas. O texto encontra-se dividido em três partes. A primeira refere-se ao levantamento
das ações realizadas entre os anos de 1983 à 1992, período marcado pela criação da Secretaria
Municipal de Esportes-SMES e a inclusão do lazer na Constituição de 88 como direito social.
Considerando que o país vivia a transição da ditadura militar para a democracia, a análise partirá
desse contexto e das fontes já citadas, para tentar indicar como o direito ao esporte e ao lazer foi
incluído na agenda política nos níveis nacional e local. A segunda parte apresentará as principais
ações desenvolvidas, no período de 1993 à 2003, e as possíveis influências sobre elas advindas do
contexto histórico e do marco legal municipal do setor de esporte e lazer. As interferências causadas
por mudanças na estrutura administrativa do município sobre os órgãos responsáveis pelo
planejamento, implementação e avaliação das intervenções, também são consideradas. Por fim, na
terceira parte, as investigações iniciais sinalizam que no primeiro período abordado, 1983 à 1993,
as ações estavam ligadas em sua maioria a promoção de eventos e apoio a instituições esportivas,
indicando uma condução da política em que o lazer não era compreendido para além das
manifestações físico-esportivas e como um direito que deve ser garantido a todos. Por outro lado
no período de 1993 à 2003 há indícios que as iniciativas no setor procuraram fortalecer o esporte
e lazer como direitos sociais.
PALAVRAS-CHAVE:
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Encontro de Pesquisa em História
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Com o findar da II Guerra Mundial, abre-se um período histórico favorável para uma visão
crítica da modernidade capitalista, nesse caso, não só mais na Europa, mas também em toda a
“periferia” do sistema, principalmente na América Latina. No Brasil, sobretudo a partir da década
de 1950, não será diferente: a crítica ao eurocentrismo, às epistemologias européias e a busca por
uma concepção de “autonomia de pensamento” vai figurar como um dos grandes debates nos
círculos intelectuais das mais variadas vertentes políticas e ideológicas. Nesse sentido, o presente
trabalho pretende discutir, especificamente, como esse ideal de autonomização, no Brasil,
atravessou a produção teórica e crítica do Instituto Superior de Estudos Brasileiros – ISEB (1955-
1964), em especial nas elaborações de Álvaro Vieira Pinto, Roland Corbisier e Hélio Jaguaribe,
pautando, sobretudo, a construção de uma consciência nacional.
Este estudo objetiva historiar e analisar a trajetória que se desenvolveu no Estado do Ceará
com o SINTRO- Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Estado do Ceará,
no período de 1980 a 2003, numa perspectiva de História do tempo presente, com relação aos
processos judiciais que tramitaram no Poder Judiciário, mais especificamente no Tribunal Regional
do Trabalho – 7ª Região. Como parte significativa da pesquisa realizada em 2014 o referido estudo
nos permitiu perceber as múltiplas formas que conduziram a categoria operária deste Sindicato a
recorrer a esta Justiça Especializada com a finalidade de garantir a manutenção de seus direitos
laborais e de ampliar a luta sindical contra a classe patronal neste Estado nordestino. Entre os
empregados e os empregadores que atuam no ramo do transporte urbano coletivo em Fortaleza-
CE o papel da Justiça do Trabalho se insere na condição de uma Justiça Especializada no nosso
ordenamento pátrio para suportar tensões e desgastes na relação econômica entre os envolvidos e
na solução mais democrática e justa dos problemas diários do mundo do trabalho, que acontecem
inevitavelmente com esta e outras categorias profissionais e exigem posicionamentos individuais e
coletivos rigorosos e protetivos dos hipossuficientes uma vez que os elementos que condicionam
sua existência e sua evolução, ou seja, os sindicados, as leis trabalhistas, as culturas, as políticas
públicas e o próprio papel decisivo do Estado buscam ou deveriam promover a igualdade nas
relações laborais, quando são identificados claramente em polos divergentes o capital e o trabalho.
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Encontro de Pesquisa em História
06 a 10 de Junho de 2016
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Encontro de Pesquisa em História
06 a 10 de Junho de 2016
Comunicação Livre 1
(CL-1)
Doutorando
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
igortcr@gmail.com
Comunicações:
Este trabalho constitui-se uma pesquisa sobre o processo educacional no Piauí durante a
década de 1970, com ênfase na relação estabelecida entre professores que constituíam o movimento
docente no Estado, representados pela Associação dos Professores do Estado do Piauí (APEP) e
o governo estadual durante os mandados do governador Alberto Tavares Silva e de seu sucessor
Dirceu Mendes Arcoverde. Esse trabalho buscou demonstrar as tensões e contradições desse
período histórico à formação do cenário educacional piauiense, no qual, a partir de um estudo
delimitado; a relação entre APEP e governo, investigamos alguns dos conflitos e também
articulações entre sociedade civil e governo. Para desenvolver este estudo, realizamos inicialmente
leitura e fichamento de obras relacionadas ao tema, tanto as de abrangência nacional, quanto
estadual. Em seguida confrontamos essas análises com as fontes hemerográficas. Por fim,
coletamos duas entrevistas orais, com os professores Olímpio Castro e Clementino Siqueira,
sujeitos que participaram em cargos de comando diretamente do processo de construção da APEP
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Encontro de Pesquisa em História
06 a 10 de Junho de 2016
e das consequentes transformações ocasionadas pelo labor desta categoria no que cerne as
conquistas da carreira docente no Estado. Neste contexto surgiram em todo país reivindicações
por melhorias salariais por parte da categoria docente. O Piauí teve lugar de destaque nesse
movimento, sobretudo por causa do bom relacionamento entre os representantes do magistério,
que defendiam os interesses da Associação dos Professores do Piauí (APEP) com o governo do
Estado durante os mandatos de Alberto Tavares Silva (1971-1974) e Dirceu Mendes Arcoverde
(1974-1978. Percebemos assim, a influência do projeto de nação proposto pela Ditadura civil-
militar aplicada no Sistema educacional do país, a partir da Reforma do ensino ligando essas
transformações com a situação da organização dos profissionais docentes no Estado, relatando o
processo histórico em que originou a APEP e demonstrando com ineditismo, devido a pesquisa
oral realizada, que houve aliança entre Governo e a instituição, visto que os sujeitos entrevistados;
professor Olímpio Castro e Clementino Siqueira, nos relataram suas experiências confirmando o
bom relacionamento, até mesmo de caráter pessoal, que possuíam com as principais autoridades
dos governos relacionados.
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Encontro de Pesquisa em História
06 a 10 de Junho de 2016
deram de forma mais sistemática no século XVI, através dos aldeamentos composto por colégios
colônias, sedes administrativas. A educação, antes delegada à Igreja, passa a ser responsabilidade
do Estado e no Brasil Império outro olhar é destinado à educação profissional, que embora ainda
fosse destina aos desafortunados da sorte e tida como trabalho típico da população negra e pobre,
passa a ter um contorno mais formador da mão de obra qualificada para combate à pobreza e
formação do cidadão útil à Nação. As primeiras reformas para com vistas a uma instrução pública
se deram ainda no Brasil Império, mas foi na República que ensejada pela cultura política
republicana que o ensino profissional passou a ser entendido como elemento para elevar a nação,
por vias do trabalhador tecnicamente qualificado, ao progresso.
São José do Triunfo é um dos distritos do município de Viçosa MG, situado a cerca de 8
km do centro. Sua origem está na doação de uma área de 2,5 alqueires que Bento Lopes fez ao
Santo São José em meados do Século XIX. Com o fim da escravidão, os escravos libertos
procuravam um lugar para se estabelecer e ali chegando obtiam gratuitamente da igreja um lote e
levantavam um barraco. Aos poucos o patrimônio foi aos se transformando no povoado de São
José do Triunfo. A pobreza da população do patrimônio levou ao consumo de alguns alimentos
disponíveis no local e o desenvolvimento de uma culinária local, conhecimento oriundo dos
antepassados, que se perdeu com o desenvolvimento econômico. Este trabalho visa resgatar
receitas da culinária local que desapareceram com a melhoria econômica da população, e com a
introdução de novos alimentos. As receitas foram resgatadas através de entrevistas orais com
moradores locais mais idosos, que foram instigados a relembrar alimentos que eram consumidos
na comunidade na década de 50 e início anos 60 e que atualmente não são mais consumidos, bem
como suas receitas.
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Encontro de Pesquisa em História
06 a 10 de Junho de 2016
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Encontro de Pesquisa em História
06 a 10 de Junho de 2016
O presente trabalho, é resultado de uma pesquisa de Iniciação Científica que durou 2 anos.
Sendo que de modo geral, como resultado contíguo das discussões que fomentou, trouxera
contribuições que, em alguma medida, podem auxiliar na compreensão do Vale do Jequitinhonha
para além de uma ótica que dê ênfase em aspectos como a pobreza e atraso, aspectos pelos quais a
região vem sendo representada há décadas. Além disso, o projeto representa mais uma iniciativa
de entender o alcance de políticas de saúde pública para esta região, bem como a forma como as
mesmas interagem – ou não - com a população e seus respectivos valores culturais. Sendo assim,
os resultados, podem vir a ser base para outros estudos a cerca da região do Vale do Jequitinhonha,
trazendo a tona outras visões, características sobre essa região tão rica culturalmente.
390
Encontro de Pesquisa em História
06 a 10 de Junho de 2016
Comunicação Livre 2
(CL-2)
Mestrando
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
lima.historia@gmail.com
Comunicações:
Este trabalho tem o intuito de mostrar como a literatura tem uma função importante para
a formação de contextos históricos em uma sociedade e como o historiador pode utilizar a literatura
como fonte de pesquisa de uma dada época para tentar compreender o contexto da mesma afim
de, reconstruir o contexto em que os mesmos estavam inseridos. Este trabalho também visa
mostrar aos leitores desavisados como a literatura está lhe dizendo algo sobre uma dada realidade
e que nada em um texto, a não ser as marcas de cafés deixados respingarem sobre o livro, está por
lá por acaso. O texto literário não é apenas uma forma ou tentativa de distrair o leitor, nesse
trabalho pretendemos mostrar como a literatura e os registros literários nos trazem informações
valiosas para a reconstrução de um pensamento e comportamento de uma dada época. Assim o
texto ficcional mistura muitas vezes o real com o fictício. Dessa forma será mostrado neste trabalho
que a literatura de forma ampla não é produzida apenas como um ato de tentar distrair os leitores,
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Encontro de Pesquisa em História
06 a 10 de Junho de 2016
mas sim uma forma de expressão genuína dos autores de mostrar como uma sociedade se constrói,
se afirma, se comporta ou se degrada no decorrer do tempo.
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Encontro de Pesquisa em História
06 a 10 de Junho de 2016
criticavam não só o ego do bispo, como a não interferência do estado português no caso e acusavam
a vaidade presente no corpo clérigo e estatal.
O poema foi publicado em 1802 sob a falsa tipografia londrina, mas com impressão
parisiense, e logo sofreu grande censura por parte do estado português. Entretanto, isso não
impediu a circulação do poema que, em 1808, foi publicado oficialmente pela França em território
português a fim de desmoralizar o estado e revelar para todo o continente como, apesar de a
Europa estar em um momento da busca da racionalização, Portugal ainda era um país submisso à
Igreja Católica. Com a saída dos franceses do território português em 1809, o poema foi novamente
proibido e teve a sua circulação mapeada, levando àqueles que fossem descobertos com o mesmo
a um exílio de 10 anos na África. Sua terceira edição foi publicada em Paris, no ano de 1817 e a
partir daí circulou toda a Europa, alcançando o Rio de Janeiro em um contexto de revoluções e
revoltas ao domínio português sobre as terras brasileiras. O presente trabalho pretende entender o
interesse e intenção política da França para com o poema e traçar as conexões existentes entre
Portugal, França e Inglaterra no contexto da Era Napoleônica.
É preciso apenas um rápido olhar pela história da humanidade para se perceber que ficção
e realidade sempre estiveram presentes na construção dos relatos históricos. Fato que em nada
obscureceu o aprendizado sobre as múltiplas facetas da história mundial, pelo contrário, só fez com
que seus estudiosos investigassem mais detidamente os fatos relatados. Hoje, com todo o
conhecimento adquirido ao longo dos séculos, a humanidade aprendeu a não se deixar
impressionar por relatos fantasiosos como ocorreu no medievo, ou pelo menos, a questioná-los.
Entretanto, nada impede que o ensino de história continue, como outrora, a utilizar a parceria
ficção e realidade como ferramenta para aprendizagem da história enquanto construção do
conhecimento do espaço tempo. Partindo do pressuposto de que o ensino de história pode se
beneficiar ao mesclar ficção e realidade como sugere Silva (2011), não se pode desconsiderar,
segundo Koselleck (2014), que há um hiato entre os fatos históricos e os relatos feitos sobre eles,
quando a história é registrada. Em outras palavras, é preciso considerar que esse distanciamento
entre a “essência” do fato histórico e os relatos que dele se constituem através de levantamentos,
pesquisas e transcrições, vem sendo potencializado ao logo dos anos – pela rapidez com que as
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Encontro de Pesquisa em História
06 a 10 de Junho de 2016
Ouro Preto se estabeleceu Capital mineira em 1721 e com o advento da República foi
substituída por Belo Horizonte em 1897. Para evitar a substituição, principalmente a partir de 1880
a cidade tentou se modernizar através de: alterações no traçado urbano, implementação da
iluminação elétrica e da ferrovia, reformas em fachadas de casas etc. Nessa época os divertimentos
eram tidos como referencial de civilidade e modernidade, sendo ferramentas de construção,
controle e correção de modos de vida e sociedade. Se em Ouro Preto houve tentativa de mudar
hábitos e comportamentos em busca do progresso, os divertimentos se incluíram nesse processo?
Para investigar isso será feita pesquisa documental em periódicos da época, Atas da Província,
Relatórios da Província e do Governo e obras escritas por memorialistas, nos acervos: Arquivo
Público Municipal de Ouro Preto; Arquivo Histórico Museu da Inconfidência - Casa do Pilar;
Arquivo Público Mineiro; entre outros. Para pesquisa bibliográfica: artigos, teses, dissertações etc.,
sobre os divertimentos no Brasil, especialmente em Minas Gerais e Ouro Preto, e ainda pesquisas
sobre Belo Horizonte nas primeiras décadas do século XX a fim de compreender possíveis
permanências, mudanças e dinâmica das formas de divertimento em Ouro Preto. Sobre isso, no
final do século XIX havia na cidade: bailes; palestras literárias; operetas musicais e teatrais; festas
variadas como festejos de aniversário de um sacerdote, homenagem à família imperial e o Carnaval.
Há também pistas como a planificação do Morro da Forca para construção de um jardim de recreio,
pavilhões e quiosques para receber restaurantes, cafés, bilhares, música, companhias líricas,
dramáticas e equestres, jogos e diversões públicas. Além disso, é possível pensar em clubs e esportes
como opções de diversão na cidade por indícios de clubes e times de futebol em Ouro Preto no
início do século XX, que podem ter sido fundados no final do século XIX; e o fato de Carlos
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Encontro de Pesquisa em História
06 a 10 de Junho de 2016
Prates, residente de Ouro Preto até meados de 1890, poder ter transferido vivências da antiga
Capital para Belo Horizonte, onde fundou o Club de Sports Hygienicos, que oferecia atividades de
tênis, croquet, futebol, entre outras. Portanto, esse estudo pretende estudar os divertimentos em
Ouro Preto de 1870 a 1900, verificar se houve relação entre divertimentos e processo de
modernização da cidade e descobrir qual a relação entre os divertimentos e as formas de
sociabilidade em Ouro Preto.
Nossa pesquisa parte da investigação da história das bandas civis localizadas em Minas
Gerais, mais especificamente na cidade de Ubá, no período compreendido entre o século XIX e
primeira metade do século XX, levando em consideração o fato de o Estado possuir o maior
número de bandas do pais. Ao destacarmos como objeto específico de estudo a Sociedade Musical
de Beneficência e Cultura 22 de Maio, fundada na cidade de Ubá, Zona da Mata Mineira em 1898,
por João Ernesto e um grupo de imigrantes italianos, intentamos entender os sistemas de
representação e apropriação cultural de que o grupo se fez portador. A partir dos estudos das
praticas dessa banda, damos ênfase a algumas questões sobre a imigração italiana que ocorreu no
pais. Partimos da constatação da relevância alcançada por estas, já que foram um dos principais
meios de entretenimento das cidades interioranas no período. Através da história de formação
dessas instituições musicais, percebemos o grande hibridismo cultural ocorrido nesse campo,
contando com a influência de várias culturas dentro de um mesmo espaço. Os estudos referentes
às bandas musicais civis do século XIX e primeira metade do século XX representam um
importante passo para a compreensão da história cultural e social atrelada às práticas musicais no
Brasil, e em particular de Minas Gerais. As bandas de música estão inseridas em um mundo de
pluralidade culturais e de configurações sociais repleto de diálogos.
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Encontro de Pesquisa em História
06 a 10 de Junho de 2016
Religião e religiosidades são temas sempre em debate em muitas disciplinas, entre elas a
História, que busca formas de compreender e interpretar a atuação dos sujeitos históricos em suas
múltiplas vivências. Este trabalho apresenta algumas considerações acerca dos aspectos religiosos
na Antiga Mesopotâmia, principalmente no que diz respeito ao culto aos deuses e as deusas, cuja
interpretação acadêmica vem ganhando novos contornos, haja vista a mudança de olhar
protagonizada pela Nova História Cultural. Entendemos que as interpretações em relação ao divino
nessa região somam obras de historiadores diversos, cujos lugares ocupados na academia
denunciam a corrente a que estão atrelados, portanto essas reconstruções históricas refletem o lugar
que os historiadores ocupam nos conflitos de seu tempo, dai a apresentarmos um panorama das
produções acadêmicas ao longo das descobertas arqueológicas nessa região. Acreditamos que nas
sociedades que se estabeleceram entre os rios Tigres e Eufrates divindades masculinas e femininas
tiveram papel central na construção do imaginário social, onde normas de conduta eram espelhadas
em suas aventuras e desventuras. As sagas das divindades foram perpetuadas nas narrativas
mitológicas e estas eram adaptadas aos contextos e momentos ímpares da história da comunidade.
Assim, a gesta das deusas e dos deuses também narravam à história de seus fiéis e dos segmentos
sociais envolvidos.
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Encontro de Pesquisa em História
06 a 10 de Junho de 2016
Comunicação Livre 3
(CL-3)
Comunicações:
O presente trabalho tem como objeto de pesquisa a cultura do Japão no período Edo (1603-
1868) e seus diversos desdobramentos, com maior enfoque sobre os chamados chônin sujeitos da
cidade, e seus caminhos e descaminhos. Estes sujeitos são múltiplos, suas representações
abundantes e multi discursivas, sua cultura dinâmica, e em pleno florescer. Que eclode, se articula
e enraíza. Ampliando-se em movimentos de exibição e ocultação. O processo de análise
empreendido, busca estabelecer uma leitura histórico-cultural, que dialogue com distintos campos.
Levando em conta seus aspectos sociais, cultura política, desenvolvimento, relações sociais, cultura
comercial, educação, arte, dentre outros. Tendo por vista as multiplicidades, os discursos e redes
existentes em tal sociedade. Ou seja, trabalhando com perspectivas e olhares analíticos e críticos.
O objetivo desta pesquisa é produzir uma discussão sobre o Japão no período Edo e seus costumes
e cotidiano, por meio de suas práticas e representações. Buscando as mesmas como fontes
históricas para entender a sociedade e a cultura, bem como seu contexto histórico. Possibilitando
um dialogo entre campos do conhecimento e escolas teóricas, tornando importante tal pesquisa
para iniciar um processo de reinterpretação e revisão de alguns paradigmas, assim como uma
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Encontro de Pesquisa em História
06 a 10 de Junho de 2016
Tendo como fonte uma matéria jornalística em uma unidade de triagem do SAM (Serviço
de Assistência ao Menor), acompanhada de quatorze fotografias, publicada na Revista da Semana
de fevereiro de 1947, adjetivando os jovens institucionalizados como: “cretino, idiota e imbecil”,
animal (“homem-macaco”), descrevendo sentimentos que os depreciam (“garotada tristonha”) e a
dificuldade de se estabelecer uma “ordem” naquele espaço. Onde na mesma edição há outra
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Encontro de Pesquisa em História
06 a 10 de Junho de 2016
reportagem relatando que uma médica, natural dos EUA, sofreu preconceito racial, impedida de
hospedar-se em um famoso hotel no Rio de Janeiro. Atitude bastante criticada pela revista. Verifica-
se que para os jovens institucionalizados é permitido o tratamento descrito acima, pois são
visualizados como “anormais”, num ambiente de “barbárie” e “desordem”. Para a médica
americana, portadora de “civilização”, o editorial do mesmo periódico denuncia o preconceito
sofrido pela mesma. Assistimos, numa mesma edição, duas realidades justapostas, em uma década
onde a cidadania é alcançada pelo trabalho logo indivíduos descritos como incapazes de serem
visualizados como humanos em uma sociedade “civilizada” pela lógica da "produtividade
trabalhista"
O presente artigo tem por objetivos analisar o lustropicalismo, teoria idealizada por
Gilberto Freyre e instrumentalizada pelo Estado Novo de Salazar, e compreender a resposta
fornecida por Baltazar Lopes, ensaista caboverdiano, à pretensa comunidade lusófona, formada
supostamente como resultado de um processo de hibridismo cultural, fator de integração das
colônias portuguesas. O lusotropicalismo possui suas bases em Casa Grande e Senzala (1933) mas
foi estruturada e difundida posteriormente, a partir da década de 1950, orientando os estudos de
Freyre na tentativa de aprimorá-la e executá-la, inclusive enquanto área de conhecimento e teoria
sociológica. No pós segunda Guerra Mundial a discussão do lusotropicalismo ganha destaque, pois
as colônias portuguesas corriam o risco de sucumbir frente a redefinição da geografia política
internacional e das pressões liberalizantes dos autonomismos nacionalistas. O grande desafio do
Estado Novo, tornou-se a busca por mecanismos que o auxiliassem na defesa de uma grande nação
portuguesa face a sua prática colonialista anacrônica e imperialista. A teoria freyriana, formulada
em prol da defesa de um espaço lusófono integrado, corrobora com a ideologia colonial de Salazar,
utilizando a tese lusotropical de Freyre como aparato científico e legitimador da manutenção dos
seus territórios no além-mar. A teoria lusotropical de Gilberto Freyre não obtém entre a
intelectualidade africana o mesmo respaldo que encontrou em Salazar. Baseado no modernismo
brasileiro e, sobretudo, em Casa Grande e Senzala do próprio Freyre, Baltazar Lopes, funda a
revista claridade, movimento literário responsável por fomentar a autonomia da ilha frente ao
colonialismo português. Após a publicação de Casa Grande e Senzala, Freyre adquire caráter
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Encontro de Pesquisa em História
06 a 10 de Junho de 2016
O presente trabalho tem como objetivo discutir como os textos constitucionais do Brasil
de 1934 e 1937, os demais dispositivos legais derivados e textos da imprensa oficial do período
chamado Era Vargas (1930-1945) trataram a questão do negro como sujeito destinatário, ou não,
de direito à cidadania plena do Brasil
A questão das relações sociais racializadas, não é um debate atual no Brasil e tão pouco tem
se mostrado um debate datado. O tema das cotas raciais está aí para provar e potencializar a
manutenção desse debate em dias atuais e nos faz querer entender um Brasil onde o quesito “raça”,
ainda, seja um assunto caro para a nossa sociedade. Podemos refletir sobre um Brasil que adota
políticas públicas afirmativas e fazer conjecturas sobre o impacto dessas políticas futuramente. Mas
a resposta para o porquê de ainda debatemos a definição de “raça” nos dias atuais está no passado.
Afinal como bem lembrado por Schwarcz (1994): “o problema racial é a linguagem pela qual se
torna possível apreender as particularidades observadas”.
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Encontro de Pesquisa em História
06 a 10 de Junho de 2016
de teorias como: o darwinismo social, eugenia, evolucionismo e seus apêndices tiveram sobre os
intelectuais brasileiros. A questão racial tem se mostrado fundamentais para a elaboração e
entendimento do Pensamento Social Brasileiro. Estariam nas doutrinas raciais do século XIX
respostas para as definições, conceitos ou categorias de “raça”, que por sua vez podem nos
responder sobre outras questões relacionadas à cidadania, identidades e cultura? Quais teorias
explicativas em relação à recepção da teoria darwiniana podem ser encontradas? E por onde
começar? Nesse projeto de pesquisa optamos em começar por autores contemporâneos que já
formularam e indagaram sobre essas mesmas perguntas. Temos procurado nas obras desses autores
detalhes aparentemente marginais, mas que explicam o porquê de as teorias evolucionistas,
deterministas e eugenistas terem sido associadas ao Pensamento Social gerando uma interpretação
racial sobre formação da nação brasileira.
Em 1909, o monge europeu Gerardo van Caloen saiu do Mosteiro de São Bento do Rio de
Janeiro, acompanhado de cinco monges, em direção ao vale do rio Branco – região pertencente ao
então Estado do Amazonas, atualmente, Roraima – para dar início a uma ação missionária. Nesse
período, o ideal republicano preocupava-se com a possibilidade de acesso à cidadania e à inclusão
dos habitantes do Norte no Estado brasileiro. A ideologia laicista do governo provisório
reconheceu que a solução para tal questão estaria no adiantamento cultura e social, sendo adquirido
apenas por meio da educação. Para tal, a personalidade social e jurídica das ordens religiosas se
apresentou como uma vantagem para os ideais de progresso e desenvolvimento do país, além de
garantir a integridade do território nacional. Assim, a função das missões religiosas não era apenas
o de salvar as almas pagãs. O propósito era de alfabetizar os indígenas, submetendo-os a uma
instrução religiosa cristã, oferecer sacramentos, ensinar um ofício à população local (geralmente
relacionado às atividades agrícolas) e, com a ajuda do poder público, realizar atividades assistenciais
e sanitárias. Sob esse prisma, a partir do domínio da História Política, este trabalho analisa o
processo pelo qual a missão foi instituída, bem como examinar a sua relação com a estrutura política
do país, durante a administração de D. Gerardo (1909-1918), a partir das produções discursivas
que instituíram as práticas do empreendimento missionário na sociedade civil e indígena, atentando
para os seus impactos na organização monástica.
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Comunicações:
O trabalho tem como intuito reafirmar o caráter civil- militar da ditadura brasileira no
período compreendido entre 1964 e 1985, assim como da necessidade de se construir uma memória
coletiva que não abandone o caráter opressor e violento do regime. Para isto, resgato as teses da
pensadora e filosofa Hannah Arendt a respeito da "Responsabilidade coletiva", na ânsia de
compreender a participação civil no regime e na construção de uma memória, mesmo que a atuação
seja nula ou de apatia perante o período ditatorial. O trabalho se vale de uma análise comparativa
entre a ideia de ""História incruenta"" do professor e autor Carlos Fico, e as teses de Arendt,
reafirmando a responsabilidade que toda a comunidade possuí perante o regime. Seria possível
compreender e aplicar a “responsabilidade coletiva” à ditadura brasileira? E de que forma este
entendimento nos auxilia na construção de uma memória coletiva? Nesta comunicação, assim
como no trabalho ao qual aqui resumo, as concepções de Arendt a respeito do totalitarismo nos
leva a refletir a participação civil no regime ditatorial brasileiro. As afirmações da autora nos permite
tratar da responsabilidade da oposição, dos apoiadores e até mesmo daqueles que se consideram a
402
Encontro de Pesquisa em História
06 a 10 de Junho de 2016
parte das ações do regime. Daqueles que reproduzem discursos e informações midiáticas, criando
uma memória favorável ou branda da ditadura.
A história incruenta proposta por Carlos Fico sugere a produção de uma memória sem
esforço, distante de debates políticos. O intuito é rediscutir a criação dessa história, destacando a
responsabilidade social e individual sobre a criação da mesma. Diferenciar culpa e responsabilidade
de forma a identificar como a ação ou a apatia corroboram com a instauração e manutenção do
regime ditatorial brasileiro. Como a violência, a tortura e a censura vivenciadas neste período se
tornam responsabilidade da comunidade ao qual o regime está inserido. Pensar em uma
responsabilidade coletiva sobre ações políticas, é destacar o protagonismo de cada indivíduo sobre
a comunidade pertencente, sobre regimes passados, mas sobre tudo sobre a política atual.
Os anos 1960 são marcados por diversas transformações, sendo o palco de Revoluções de
libertação nacional, da Revolução Cubana, da guerra anti-imperialista desenvolvida no Vietnã e do
auge do movimento de Contracultura, que propunha novas formas de ver o mundo, contestando
e questionando a cultura ocidental, entre outras. Nesse período o Brasil vivenciava uma Ditadura
Militar, que através de Atos Institucionais mantinha sua aparência de legalidade e permitiam plenos
poderes aos chefes políticos. Diante desse contexto, as esquerdas brasileiras se mobilizam na
resistência contra a Ditadura Militar, se organizando em diferentes grupos e ações.
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Encontro de Pesquisa em História
06 a 10 de Junho de 2016
políticas de diferentes atores sociais, que buscam de diversas formas legitimar sua versão do
passado, sua memória. Dessa forma o filme ‘’O que é isso companheiro?’’, foi percebido, a partir
de suas escolhas cinematográficas, como uma rememoração conciliatória do passado com o
presente brasileiro, gerando críticas e enriquecendo as lutas pela memória coletiva.
As relações entre os quadros da UDN, ao contrário do que pareçam, eram marcadas, como
as de qualquer partido, por frequentes atritos e tensões. Este trabalho analisa dois desses episódios,
que envolveram o deputado Afonso Arinos quando líder da agremiação na Câmara. Primeiro, um
setor agressivo, ainda que marginal na esfera partidária, o insulta sem qualquer pudor por aceitar
um convite do governo. Na sequência, os lacerdistas condenam quem não adere a uma iniciativa
apresentada pelo próprio Arinos, mas claramente inviável, ao mesmo tempo em que setores
moderados o repreendiam. Assim, poucos dias antes de alguns dos momentos mais turbulentos da
História do país, a oposição estava desarticulada. Embora tivessem um adversário comum, a
efervescência da conjuntura política da época minava, entre os udenistas, as possibilidades de
coesão.
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Encontro de Pesquisa em História
06 a 10 de Junho de 2016
a persona de JK têm para a construção de sua identidade no imaginário popular. Para a realização
desta busca foram realizadas tanto entrevistas com moradores da cidade de Diamantina,
trabalhando assim com a metodologia da história oral, como também foram analisadas fontes
impressas sobre o ex-presidente.
Este trabalho tem por objetivo analisar o histórico da dinâmica sócio-espacial da cidade de
Arapiraca, Agreste de Alagoas, a aproximadamente 130km da capital, Maceió. Arapiraca é uma das
cidades que mais cresce no Estado, onde nota-se que o avanço da "modernização" tem modificado
claramente suas feições, se tornando o segundo maior município e o principal centro comercial da
região. Contudo, tal caráter traz à tona uma realidade partilhada por diversos outros centros
urbanos, a exclusão social. É sob a justificativa do desenvolvimento que se legitimam os discursos
de poder das elites para seus projetos que excluem as camadas populares do acesso à cidade em
benefício dos grupos ligados ao comércio de grande e médio porte e a especulação imobiliária;
sendo os moradores de áreas que passaram por um processo de valorização vítimas dessa política.
Destarte, vamos encontrar diversos casos de expulsão e transferências de famílias de áreas centrais
para a periferia da cidade, dando lugar a empreendimentos imobiliários e, também o aumento do
perímetro urbano da cidade engolindo comunidades rurais para possibilitar nesses locais a
construção de loteamentos pelo programa do Governo Federal "Minha Casa Minha Vida". Diante
dessa amplitude de possibilidades de estudo, este artigo irá focar na área que recentemente vem
sendo o principal ponto de especulação imobiliária da cidade, as imediações do açude do DNOCS,
atual Lago da Perucaba. Nessa área, famílias de pescadores estão sendo ameaçadas de expulsão de
seu local de moradia e sustento para dar lugar a um condomínio de luxo que faz parte do
empreendimento "Perucaba Bairro Planejado". Pretende-se expor como se deu o processo de
aquisição das terras nas imediações do açude, enquanto ainda considerado periferia da cidade e a
posterior revitalização do espaço, valorizando os terrenos. Acredita-se que mostrar historicamente
como foi/está sendo construído esse processo de gentrificação é fundamental para entender a
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realidade da cidade, trazendo o debate tanto para os meios acadêmicos como políticos; uma tarefa
fundamental para fomentar alternativas a essas camadas da população. Para tanto, desenvolver-se-
á uma análise materialista sob a luz dos teóricos clássicos e contemporâneos do marxismo,
utilizando como fontes: jornais, narrativas orais e documentação oficial. Pela própria natureza do
tema, torna-se também indispensável uma aproximação com a Geografia Crítica, afinal, as relações
sociais acontecem no "espaço".
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a caminhar para a abertura política. A década de 80 no Brasil fora marcada por intensas
transformações e tentativas de reestruturar o país que vinha passando por uma lenta, gradual e
segura distensão política. Porém, os setores econômico e social não estavam caminhando na mesma
direção em que se caminhava o processo da redemocratização. Para muitos pesquisadores e
economistas, a década de 80 foi considerada como a década perdida no âmbito de
desenvolvimento. O país rico, considerado a potência do futuro entra na década de 80 afundado
em uma profunda crise econômica, social e política, reflexo de uma má gestão. Se por um lado
temos um vertiginoso crescimento econômico nos anos 60 e 70, por outro na década de 80 temos
uma estagnação econômica. Na década marcada pela enorme concentração de renda, pelo aumento
da dívida externa, juros altos, desemprego e arrocho salarial, o governo ainda teria que enfrentar o
fantasma da inflação e a insatisfação da população que vinha sofrendo com a crise econômica,
social e política. Portanto, a década de 80, foi o reflexo de todas as decisões tomadas nas décadas
anteriores, principalmente na década de 70 onde através do “milagre do econômico” que trouxe
alguns benefícios ao Brasil, mesmo que instantâneos, porém, deixou um rastro de desigualdade que
até hoje não foi superado. A década de 80 foi marcada por intensas ações de cunho político. Por
mais que esses movimentos, tanto as greves dos trabalhadores como a campanha pelas “diretas já”
não tenham conseguido alcançar seus objetivos, é inegável a sua importância para a contribuição
no processo de reabertura política do Brasil.
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