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CADERNO DE

RESUMOS

Brasil em Perspectiva:
Passado e Presente

Encontro de Pesquisa em História


06 a 10 de Junho de 2016 | Belo Horizonte - MG
FAFICH | UFMG
Encontro de Pesquisa em História
06 a 10 de Junho de 2016

___________________________________________________________________________

Caderno de Resumos V EPHIS – Encontro de Pesquisa em História (5. : 2017 : Belo


Horizonte, MG). Brasil em Perspectiva: Passado e Presente.

Belo Horizonte, MG, 06 a 10 de Junho de 2016 / organizado por Allysson Fillipe Oliveira
Lima, Ana Tereza Landolfi Toledo, Cássio Bruno de Araujo Rocha, Igor Tadeu Camilo
Rocha, Júlia Melo Azevedo Cruz, Ludmila Machado Pereira de Oliveira Torres, Marcos
Vinícius Gontijo Alves, Nathália Tomagnini Carvalho, Rafael Vinicius da Fonseca Pereira.

Belo Horizonte: Departamento de História, FAFICH/UFMG, 2017.

Modo de acesso: www.ephisufmg.com.br

407 p.
Texto em Português
ISBN: 978-85-62707-91-9

CDD 900. Geografia e História.

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V EPHIS – V Encontro de Pesquisa em História da UFMG.


06 a 10 de Junho – Belo Horizonte: Departamento de História, FAFICH/UFMG, 2016.
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Encontro de Pesquisa em História
06 a 10 de Junho de 2016

Allysson Fillipe Oliveira Lima


Ana Tereza Landolfi Toledo
Cássio Bruno de Araujo Rocha
Igor Tadeu Camilo Rocha
Júlia Melo Azevedo Cruz
Ludmila Machado Pereira de Oliveira Torres
Marcos Vinícius Gontijo Alves
Nathália Tomagnini Carvalho
Rafael Vinicius da Fonseca Pereira (Org.)

Caderno de Resumos do V EPHIS

Encontro de Pesquisa em História:

Brasil em perspectiva: passado e presente

1º Edição

ISBN: 978-85-62707-91-9

Belo Horizonte
Faculdade de Filosofia e Ciência Humanas – UFMG
Ano de publicação: 2017
V EPHIS – V Encontro de Pesquisa em História da UFMG.
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Reitor da UFMG
Jaime Arturo Ramírez

Vice-Reitora da UFMG
Sandra Regina Goulart Almeida

Diretor em exercício da FAFICH


Carlos Gabriel Kszan Pancera

Vice-Diretor da FAFICH
Carlo Gabriel Kszan Pancera

Chefe do Departamento de História


Ana Carolina Vimieiro

Coordenador do Colegiado de Pós-Graduação em História


Luiz Carlos Villalta

Coordenadora do Colegiado de Graduação em História


André Miatello

Realização
Comissão Organizadora do V EPHIS / Departamento de História – UFMG

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Comissão Organizadora:
Allysson Fillipe Oliveira Lima Revisão
Ana Tereza Landolfi Toledo Igor Tadeu Camilo Rocha
André Luis Martins Amaral Júlia Melo Azevedo Cruz
Cássio Bruno de Araujo Rocha Ludmila Machado Pereira de Oliveira Torres
Igor Tadeu Camilo Rocha Rafael Vinícius da Fonseca Pereira
Júlia Melo Azevedo Cruz
Leandro Alysson Faluba Diagramação
Ludmila Machado Pereira de Oliveira Torres Rafael Vinícius da Fonseca Pereira
Marcos Vinícius Gontijo Alves
Mariana Cardoso Carvalho Capa
Nathália Tomagnini Carvalho Rafael Vinícius da Fonseca Pereira
Rafael Vinicius da Fonseca Pereira
Robson Freitas de Miranda Junior Arte Gráfica
Rafael Vinícius da Fonseca Pereira

Monitores:
Alan Guimarães de Paula Hugo Martins Oliveira
Átila Augusto Guerra de Freitas Isabela Lemos Coelho Ribeiro
Bruno Cézar Gordiano Isadora Nébias Carvalho
Bruno de Oliveira Carneiro João Victor da Fonseca Oliveira
Cairo de Souza Barbosa José Roberto Silvestre Saiol
Camila Neves Figueiredo Josiane Gonçalves de Freitas
Carolina Parente Mazoni Mitt Julia Neves Toledo
Caroline Teixeira do Nascimento Lucas Macedo Gomes
Débora Aladim Salles Milene Magalhães Pinto
Erika Caroline Damasceno Costa Narrimam Lorena Oliveira Carvalho
Fabrício Emanuel Vailante Neuma Campos Santos
Felipe Augusto Souza Costa Otávio Guimarães Vieira
Franciele Fernandes Alves Paulo Henrique Gontijo Alves
Gabriel Schunk Pereira Quelle Marina da Silva Rios
Gabriela Freitas Rocha Roberth dos Santos Freitas
Gustavo André de Azevedo Vanessa Martins Gonçalves
Henrique Carvalho Figueredo Victória de Tolledo Andrade Rocha
Heric Maciel de Carvalho

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Apoio:
Universidade Federal de Minas Gerais
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - FAFICH-UFMG
Programa de Pós-Graduação em História - UFMG
Programa de Graduação em História - UFMG
Centro de Estudos Mineiros - CEM
Centro de Estudos sobre a Presença Africana no Mundo Moderno – CEPAMM
Centro Acadêmico de História – CAHIS/UFMG
Revista Varia História
Revista Temporalidades
Oficina de Paleografia - UFMG
Grupo de Teoria e História da Ciência – Scientia UFMG

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Sumário

Apresentação..................................................................................................09
Comissão Organizadora do V EPHIS

Simpósio Temático:

Simpósio Temático 1:
História dos impressos e da tradução nos séculos XIX e XX: trajetórias e
circularidades......................................................................................................................11
Coordenadores:
Patrícia Trindade Trizotti
Marcella de Sá Brandão
Luciano Conrado Oliveira
Fernanda Generoso
Dennys da Silva Reis
Danilo Wenseslau Ferrari

Simpósio Temático 2:

História e culturas urbanas narrativas e práticas sociais nas cidades.................................24


Coordenadores:
Valdeci da Silva Cunha
Phillipe Urvoy
Juliano Mota Campos
José Maria Almeida Neto
Ana Carolina Oliveira Alves

Simpósio Temático 3:

Cultura Intelectual Brasileira (1870-1970)...........................................................................47


Coordenadores:
Thiago Lenine Tito Tolentino
Raul Amaro Lanari
Cleber Araújo Cabral
Alexandre Luis de Oliveira

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Simpósio Temático 4:
História da Educação: passado e presente nas diferentes práticas e processos
educativos...........................................................................................................................59
Coordenadores:
Sidmar dos Santos Meurer
Luísa Marques de Paula
Leonardo Ribeiro Gomes
Fabrício Vinhas Manini Angelo
Cleidimar Rodrigues de Sousa Lima
Bruno Duarte Guimarães Silva

Simpósio Temático 5:

História, Gênero e Sexualidade: balanços e abordagens....................................................78


Coordenadores:
Polyana Aparecida Valente Vareto
Isabela de Oliveira Dornelas
Eliza Teixeira Toledo
Deivid Aparecido Costruba
Débora Raiza Carolina Rocha Silva
Átila Augusto Guerra de Freitas

Simpósio Temático 6:

Culturas políticas, artes e sensibilidades nos séculos XIX e XX.........................................96


Coordenadores:
Virgílio Coelho de Oliveira Júnior
Henrique Brener Vertchenko
Davi Aroeira Kacowicz

Simpósio Temático 7:

Arte, Devoção e Sociedade...............................................................................................109


Coordenadores:
Vinícius de Freitas Morais
Patrícia Marques de Souza
Maria Clara Caldas Soares Ferreira
Leandro Gonçalves de Rezende
Kellen Cristina Silva
Diomedes de Oliveira Neto

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Simpósio Temático 8:

Redes Sociais, poderes e administração nos séculos XVIII e XIX...................................125


Coordenadores:
Regina Mendes de Araújo
Pedro Brandão de Sousa Culmant Ramos
Natália Ribeiro Martins
Maria Beatriz Gomes Bellens Porto
Fabiana Léo Pereira Nascimento
Débora Cazelato de Souza

Simpósio Temático 9:

Dinâmicas de um Império: as interfaces culturais, administrativas e sociais entre as


diferentes partes dos domínios portugueses (Séculos XVI ao XVIII)..............................135
Coordenadores:
Rogéria Cristina Alves
Renata Romualdo Diório
Josimar Faria Duarte
Débora Cristina Alves
Ana Paula Sena Gomide

Simpósio Temático 10:

Produção do conhecimento histórico no ensino e pesquisa: historiografia e prática em


diálogo interdisciplinar....................................................................................................142
Coordenadores:
Bruna Reis Afonso
Claudia Patrícia de Oliveira Costa
Fernando Rosa do Amaral
Luana Carla Martins Campos
Simpósio Temático 12:

História e linguagens: ficção, poética e biografia.............................................................155


Coordenadores:
Ana Carolina de Azevedo Guedes
Edson Silva de Lima
Evander Ruthieri da Silva
Maycon da Silva Tannis

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Simpósio Temático 13:

Cultura, economia e política na América Independente..................................................173


Coordenadores:
Caroline Maria Ferreira Drummond
Mahira Caixeta Pereira da Luz
Natália Iglésias da Silva Scheid
Raphael Coelho Neto
Thiago Henrique Oliveira Prates
Warley Alves Gomes
Simpósio Temático 14:

Poder e fé na Antiguidade Tardia e na Idade Média.........................................................188


Coordenadores:
Aléssio Alonso Alves
Felipe Augusto Ribeiro
Letícia Dias Schirm
Caroline Coelho Fernandes
Stephanie Martins de Sousa

Simpósio Temático 15:

Justiça, Fé e Relações de poder na Época Moderna (séculos XVI-XVIII).......................204


Coordenadores:
Alex Rogério Silva
Marcus Vinicius Reis
Juliana Torres Rodrigues Pereira

Simpósio Temático 16:

Patrimônios Culturais: o historiador como agente de preservação cultural.....................216


Coordenadores:
Adson Rodrigo Silva Pinheiro
Ana Luiza Rios Martins
Marcelo Renan Souza
Simpósio Temático 17:

Ditaduras, historiografia e memórias na América Latina................................................222


Coordenadores:
Janaina Martins Cordeiro
Isabel Cristina Leite da Silva
Lívia Gonçalves Magalhães
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Simpósio Temático 18:

História do Pensamento Político......................................................................................231


Coordenador:
Pedro Henrique Barbosa Montandon de Araújo

Simpósio Temático 19:

Contestações contemporâneas: movimentos sociais, lutas recentes por direitos no Brasil e


história do tempo presente...............................................................................................238
Coordenadores:
Carlos Eduardo Frankiw de Andrade
Igor Thiago Moreira Oliveira

Simpósio Temático 20:

A natureza na História: possíveis diálogos entre os campos historiográficos..................245


Coordenadores:
Rute Guimarães Torres
Darcio Rundvalt
Jamerson de Sousa Costa
Jonathan Coulis
Simpósio Temático 21:

História do Esporte e das Práticas Corporais...................................................................257


Coordenadores:
Gustavo Cerqueira Guimarães
Thiago Carlos Costa
Raphael Rajão Ribeiro

Simpósio Temático 22:

Liberdade e pós-abolição: histórias sobre a população negra no Brasil...........................264


Coordenadores:
Jonatas Roque Ribeiro
Ana Flávia Magalhães Pinto
Josemeire Alves Pereira

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Simpósio Temático 23:

A ditadura militar brasileira entre a memória e a História...............................................275


Coordenadores:
Gabriel Amato Bruno de Lima
Juliana Ventura de Souza Fernandes
Carolina Dellamore Batista Scarpelli
Gustavo Bianch Silva

Simpósio Temático 24:

História da morte: possibilidades de abordagens e diversidade de fontes.......................290


Coordenadores:
Régis Clemente Quintão
Denise Aparecida Sousa Duarte
Weslley Fernandes Rodrigues

Simpósio Temático 25:

Diálogos entre História e Comunicação Social................................................................298


Coordenadores:
Gabriela Silva Galvão
Marina Helena Meira Carvalho
Márcio dos Santos Rodrigues

Simpósio Temático 26:

O oitocentos de crise a crise: dinâmicas culturais, sociais, econômicas e políticas no Brasil


(1808-1889)........................................................................................................................313
Coordenadores:
Rodrigo Paulinelli de Almeida Costa
Adriano Soares Rodrigues
Wélington Rodrigues e Silva

Simpósio Temático 27:

Teoria da História, História da Historiografia e Historiografia da Ciência.....................323


Coordenadores:
Augusto Bruno de Carvalho Dias Leite
Danilo Araujo Marques
Deise Simões Rodrigues
Walderez Simões Costa Ramalho
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Simpósio Temático 28:

História da África e seu ensino no Brasil – IV..................................................................340


Coordenadores:
Thiago Henrique Mota
Felipe Silveira de Oliveira Malacco
Jeocasta Juliet Oliveira Martins de Freitas

Simpósio Temático 29:

História da polícia, do crime e da justiça criminal no Brasil: perspectivas historiográficas


e teórico-metodológicas...................................................................................................352
Coordenadores:
Lucas Carvalho Soares de Aguiar Pereira
Mateus Freitas Ribeiro Frizzone

Simpósio Temático 30:

Dimensões do Mundo Rural: Territórios, gentes e suas lutas (Séculos XIX e XX)..........360
Coordenadores:
Henrique Dias Sobral Silva
Max Fellipe Cezario Porphiro

Simpósio Temático 31:

História da Ciência e a construção de um campo de pesquisa: diálogos em torno da saúde,


doença e a produção do conhecimento científico............................................................367
Coordenadores:
Ana Carolina Rezende Fonseca
Valquiria Ferreira da Silva

Simpósio Temático 33:

Políticas Públicas no Brasil republicano..........................................................................378


Coordenadores:
Fernando Marcus Nascimento Vianini
Nittina Anna Araújo Bianchi Botaro

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Comunicação Livre:

Comunicação Livre 1:

Mesa 1 e 2.........................................................................................................................386
Coordenadores:
Igor Tadeu Camilo Rocha
Robson Freitas de Miranda Junior

Comunicação Livre 2:

Mesa 3 e 4..........................................................................................................................391
Coordenadores:
Allysson Fillipe Oliveira Lima
Ludmila Machado Pereira de Oliveira Torres

Comunicação Livre 3:

Mesa 5 e 6.........................................................................................................................397
Coordenadores:
Júlia Melo Azevedo Cruz
Nathália Tomagnini Carvalho

Comunicação Livre 4:

Mesa 7 e 8.........................................................................................................................402
Coordenadores:
Rafael Vinicius da Fonseca Pereira
Marcos Vinícius Gontijo Alves

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Apresentação:

O Encontro de pesquisa em História (EPHIS) é uma iniciativa discente do departamento


de História da UFMG. Desde a sua primeira edição, em 2012, o evento procura promover o
intercâmbio e diálogo entre os pesquisadores de História do país, a fim de se estabelecer enquanto
espaço de debate, interlocução, reflexão e problematização dos que se dedicam a pesquisa histórica.
Desta forma, o evento mantém em 2016 a proposta de ser um encontro organizado por e para
estudantes, a fim de que jovens pesquisadores possam realizar trocas de experiências e compartilhar
inquietações, no intuito de contribuir para suas respectivas pesquisas, dentro de um campo de
trabalho que por vezes se mostra tão solitário.

Com a expectativa de gerar discussões que coloquem em diálogo a produção historiográfica


com temáticas que, por elas mesmas, geram debates e anseios diversos no meio intelectual, a quinta
edição do EPHIS tem como tema Brasil em perspectiva: passado e presente. Pensar o Brasil em
suas várias temporalidades e como a pesquisa histórica se coloca frente as mesmas se mostra como
uma tentativa de perceber os impasses, os dilemas, as permanências e descontinuidades que
permearam o processo histórico brasileiro.

O propósito dessa escolha não é outro além de abrir um leque amplo de debates que, ao
mesmo tempo, sejam rigorosos em matéria de análise histórica e propositivos para se pensar a
realidade contemporânea sem, no entanto, direcionar de maneira demasiada os debates com uma
definição prévia específica. Privilegia-se, então, o lugar de onde partem os problemas analisados
por nós, professores e/ou historiadores, de onde produzimos análises a respeito de temáticas
diversas. Entendemos ainda que essa escolha não servirá para pensar somente realidades brasileiras
isoladas do mundo, visto que cada vez mais, em quaisquer recortes temáticos e temporais
abordados pela historiografia, pensar “Brasil” e “Mundo” não são mais operações distintas. Essa
operação analítica nos auxilia na construção de um conhecimento histórico que nos oferece
possíveis respostas para problemáticas brasileiras atuais, colocando em diálogo com outras
perspectivas, linguagens e lugares de enunciação.

Desta maneira, temáticas relacionadas a questões de gênero, matrizes educacionais


brasileiras, transições políticas, a relação do Brasil com os países vizinhos e demais territórios, bem

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como as diversidades racial e religiosa e o uso e produção da ciência, dialogarão transversalmente


com o eixo temático aqui proposto e servirão para nortear os debates do V EPHIS.

Assim, o V EPHIS se propõe a contribuir para colocar em diálogo várias produções de


conhecimento histórico, pensadas enquanto mecanismos para conectar o hoje e o ontem, o passado
e o presente, produzindo olhares críticos para o Brasil, levando-se em conta múltiplos espaços,
temporalidades e narrativas, seguindo sua missão de se apresentar como um ambiente democrático
e horizontal.

Comissão Organizadora

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História dos impressos e da tradução nos séculos


XIX e XX: trajetórias e circularidades
Patrícia Trindade Trizotti
Doutoranda
Simpósio Temático

Universidade Estadual Paulista (UNESP/Assis)


patytrizotti@yahoo.com.br

Marcella de Sá Brandão
Mestre em História
Universidade Federal de Minas Gerais
marcellasabrandao@hotmail.com

Luciano Conrado Oliveira


Mestre em História
Universidade Severino Sombra - USS
conrado150279@yahoo.com.br

Fernanda Generoso
Mestranda em História
Universidade Federal Fluminense – UFF
fernanda.generoso@yahoo.com.br

Dennys da Silva Reis


Doutorando em Literatura
Universidade de Brasília (UnB)
reisdennys@gmail.com

Danilo Wenseslau Ferrari


Doutorando em História
Universidade Estadual Paulista (UNESP/Assis)
danilowferrari@yahoo.com.br

Proposta do Simpósio:

Sabe-se que a pesquisa em imprensa se tornou foco de interesse de vários estudiosos nas
últimas décadas, já que cada vez mais, bases de dados têm sido criadas, bem como acervos têm
sido digitalizados. Nessa medida, os impressos se caracterizam como importantes fontes de
pesquisa histórica ao apontar a pluralidade de debates e posicionamentos políticos, culturais e
sociais. A gama de possibilidades abertas passou a ser imensurável, mas apesar de sua importância,
as fontes impressas somente conquistaram espaço na historiografia após a alteração na concepção
de documento em meados do século XX. Ainda na década de 1970 eram poucos os trabalhos no
Brasil que empregavam a imprensa como fonte histórica, embora houvesse o reconhecimento da
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importância dos periódicos e preocupação com uma escrita da História da Imprensa. Com as
alterações nas práticas historiográficas, todas as possibilidades de pesquisa geradas pelos periódicos
foram consideradas. Em meio a grande diversidade de impressos no Brasil, no século XIX e XX,
a influência estrangeira foi decisiva, seja por meio dos modelos que serviram de inspiração, seja
pela ação dos indivíduos que para cá vieram e também tiveram sua produção modificada. No caso
das traduções, muito frequentes nessa época, tal paradigma não é novo. Se percorrermos sua
história no século XIX em que desde simples folhetos e cordéis, bem como romances e livros
técnico-científicos eram produzidos por intermédio do processo de tradução, percebe-se que há
questões a serem investigadas, como por exemplo, quem os traduziu?; quais seus destinos?; que
ideias circulavam por meio desses impressos/traduções?; que história pode ainda ser (re)escrita
com o estudo de tais fontes?. Se por um lado, os impressos (traduzidos ou não) são fontes, por
outro lado, seus produtores são igualmente peças fundamentais para se compreender a existências
de tais bens culturais. A biografia de tradutores, editores, professores, jornalistas, escritores,
historiadores, políticos, cientistas bem como outras fontes impressas tais como inventários,
memorandos, cartas, livros de visitas, catálogos, fichas de bibliotecas podem auxiliar na descoberta
dos caminhos, trajetórias e circularidades dos livros. Desse modo, valorizando a pluralidade de
pesquisas possíveis através da imprensa e dos impressos, o Seminário Temático proposto tem
como objetivo reunir pesquisas que têm como foco o interesse pela imprensa escrita entre o século
XIX e XX, objetivando reunir trabalhos que debatam diversos temas com enfoques teóricos,
políticos, culturais, econômicos, sociais e religiosos, bem como, trabalhos que investigam quem são
os indivíduos que possibilitaram o funcionamento da imprensa, as ideias em circulação nesses
impressos, além de estudos que priorizem a história da tradução no Brasil.

Comunicações:

Lugares da leitura: As bibliotecas no vale do Paraíba fluminense (1871-1900)


Marcelo Monteiro dos Santos
madri_ms@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: leitura, Bibliotecas, Impressos.

O trabalho apresenta um balanço acerca das bibliotecas existentes no vale do Paraíba


fluminense nas três últimas décadas do século XIX. Analisa em especial aquelas criadas a partir da
lei provincial nº 1.650 de 1871, que criava e regulamentava a instalação de bibliotecas públicas em

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todos os municípios da província do Rio de Janeiro mediante sinalização das Câmaras Municipais
sobre espaço físico adequado. O objetivo é lançar luz sobre os lugares (físicos) da leitura e sua
presença no Vale Oitocentista a partir da circularidade e difusão de impressos (livros e jornais).

O anticomunismo na imprensa baiana: dois jornais, duas táticas, um projeto


político (1945-1950)
Roberta Lisana Rocha Santos
roberta.lisana@hotmail.com

O texto aqui apresentado tem a pretensão de analisar o anticomunismo na imprensa baiana,


entre os anos de 1945 a 1950. Busca-se evidenciar, através de notícias e discursos, dos dois mais
importantes jornais da Bahia, o Diário de Notícias e o A tarde, a postura anticomunista dos
vespertinos frente à legalização do Partido Comunista do Brasil (PCB) em 1945, a cassação da
legenda em 1947, bem como sua atuação na clandestinidade.

Fundado em 1875, pelo jornalista Manoel Lopes Cardoso, o Diário de Notícias defendeu
uma linha política de caráter fascistizante, atuou contra o comunismo considerando-o uma
ideologia demonizada em permanente associação com o “judaísmo internacional” e o “liberalismo
burguês”. Em 1942 com a mudança do cenário político mundial, as mobilizações contra os países
do eixo durante a guerra, e a própria postura do governo Getúlio Vargas, em relação aos Estados
Unidos, levou o jornal, a não mais publicar propagandas de cunho nazi-fascista, embora mantivesse
a sua postura anticomunista. Neste mesmo ano, o empreendimento foi vendido aos Diários
Associados Assis Chateaubriand Bandeira de Melo. O jornal A Tarde, por sua vez, foi fundando
em 15 de outubro de 1912 por Ernesto Simões Filho. Em 1949 o jornalista Jorge Calmon assumiu
a função de redator chefe do vespertino. Desde sua fundação, o periódico atuou como porta voz
da classe dominante, no poder baiano, sendo considerado o maior e mais importante jornal da
Bahia. Neste sentido, esses dois importantes jornais da imprensa baiana aparecem aqui, não apenas
como uma fonte de pesquisa, mas, também como parte do objeto de investigação.

Para os fins propostos nesse trabalho, a imprensa será tomada na condição de partido que
atua, enquanto, sujeito político construtor do consenso e de hegemonia, formulador, organizador
e fiscalizador de programas e projetos dos quais as próprias empresas jornalísticas fazem parte.
Neste sentido, a proposta em tela é demonstrar como a imprensa na Bahia, através dos jornais,
Diário de Notícias e A Tarde, foi capaz de moldar o pensamento político baiano, na luta contra o

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comunismo, no final da década de 1940, de modo a projetar seus próprios pressupostos ideológicos
na sociedade.

Escritores rentáveis no século XIX


José Roberto Silvestre Saiol
joseroberto_hist@hotmail.com

O advento da segunda modernidade no século XIX conformou um novo perfil de literato:


o dos escritores rentáveis. Acompanhando o processo de consolidação da sociedade burguesa, estes
letrados passaram a diferenciar-se cada vez mais do perfil de escritor que predominou na Europa
até o momento da Revolução Francesa, cuja produção se dava em regime de mecenato e o gosto
era definido, basicamente, pelos cânones clássicos e pela aristocracia de corte. Esta nova categoria,
por sua vez, pode ser caracterizada pela percepção das transformações ocorridas nas condições
concretas de produção artístico-literária a partir do início do século XIX, bem como pela recém-
descoberta necessidade de recursos para subsistência. Essa nova configuração forçou, portanto, 1º)
um deslocamento significativo na posição social do artista; 2º) novos empreendimentos literários,
elaborados e reelaborados a partir das demandas de um novo tipo de público e de gosto – o
burguês. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é investigar estes novos empreendimentos
literários, especificamente em sua expressão dos folhetins num contexto marcado pela
intensificação das relações entre imprensa diária e literatura. Debruça-se ainda sobre a questão do
gosto, pensado enquanto categoria sociológica altamente complexa, histórica e socialmente variável
que não apenas implica diretamente na forma assumida pela produção literária; mas que antes se
apresenta como fator de distinção social.

O jornal Varadouro como espaço de memória


Ana Cláudia Ribeiro
anacribeiro29@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Jornal Varadouro, Memória da repressão, justiça de transição.

O jornal Varadouro foi um é resultado de um período de transição social no Acre, quando


o movimento social na Amazônia encontrou condições favoráveis de aglutinação de interesses
específicos de grupos sociais diferenciados.

De acordo com Portela (2009, p.16), no período pós-64, a imprensa passou a ser alvo de
intensa censura e repressão, obrigando muitos dos jornalistas a desenvolver estratégias de
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comunicação que superassem essas limitações. Aliados a eles, intelectuais de todo o País
mobilizaram-se, ambos, motivados pela vontade de protagonizar suas críticas.

O presente trabalho trata do jornal Varadouro que se tornou um espaço de resistência no


período da Ditadura Militar no Acre. O resultado deste jornal nos dias de hoje está ligada a memória
no contexto da justiça transicional, pois o site do jornal tornou-se uma importante ferramenta de
pesquisa. Entende-se que os espaços da repressão seja ele presencial ou virtual e público ou privado,
atuam como ambientes de colaboração que são capazes de promover a justiça transicional e o
resgate da memória da repressão

Entende-se que a memória, em sentido amplo, constitui elementos importantes à


sociedade, tendo em vista que somente a partir do compartilhamento de experiências passadas, é
possível projetar os planos de ação coletiva, com vistas à organização da sociedade.

O jornal Varadouro torna-se hoje uma memória da repressão e que que representa a luta
pela verdade e, pelo direito à memória, não apenas com a finalidade de conhecer, mas, de maneira
a intervir nas ações do presente. Espera-se que, com os espaços de memória, a sociedade como
um todo, possa ter informações fidedignas de um passado que todos querem esquecer, mas, é
necessário rememorar, para que não seja reproduzido. Esses caminhos são imprescindíveis para
que sejam trilhados a construção de uma sociedade mais justa.

Imprensa católica no século XIX: doutrina e catecismo nas páginas do


jornal Selecta Catholica
Marcella de Sá Brandão
marcellasabrandao@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: ultramontanismo, Selecta Catholica, D. Viçoso, Imprensa, Igreja Católica.

Nos idos do século XIX, a imprensa desempenhou um papel importante como agente de
transformação, divulgação dos acontecimentos e das opiniões de uma dada sociedade. Os
eclesiásticos, na mesma medida, empenharam-se na imprensa periódica em defesa da Igreja e de
seus ideais. Os impressos, portanto, se caracterizam como uma das principais fontes de pesquisa
histórica, pois apontam a pluralidade de debates e posicionamentos políticos, culturais e sociais do
passado. Dessa forma, é importante entender como os periódicos católicos também assumiram o
papel de agentes de transformação social e de formação de opinião pública.

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Visto isso, essa comunicação pretende abordar o pensamento de D. Antônio Ferreira


Viçoso, bispo de Mariana, através do jornal Selecta Catholica e compreender de que maneira esse
periódico representou as ideias do referido prelado e qual a visão de mundo que esse impresso
buscou transmitir para os fiéis, seu público leitor. Isto é, voltamo-nos para as formulações
intelectuais do bispo e, ao mesmo tempo, para a mensagem contida no jornal supracitado. O
período estudado corresponde aos anos de 1836 a 1837 e 1846 a 1847, indo da publicação da
primeira fase desse jornal até a segunda fase de sua publicação.

O narrador e a viagem: a produção de sentido nos relatos de Sir Richard


Francis Burton no Brasil do Século XIX
Simone Aparecida Dupla
cathain_celta@hotmail.com

Leonildo José Figueira


leo.hist@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Historiografia, Relato de Viagem, Trajetória.

Atentar para a percepção do viajante, sensível aos mecanismos por ele utilizados implica
em apreender suas experiências como sendo representações produzidas coletivamente, de modo
que trata-se da atribuição de sentido a uma dada realidade. Por não serem discursos neutros, as
representações nos revelam autoridades, escolhas, concepções, estratégias, conflitos, etc. Partindo
desse pressuposto, a narrativa produzida por Richard Francis Burton (1831-1890) exprime a
maneira como ele sentia e classificava a realidade a qual experimentava; assim como, em seus relatos
ressoavam suas excentricidades, sua postura enquanto viajante inglês, curioso, erudito, aventureiro,
e viajante-escritor. Abordaremos de maneira analítica a sua trajetória em especial o período entre
1865 e 1869, no qual exerceu a função de Cônsul inglês na cidade de Santos. Nesse período Burton
produziu importantes relatos sobre o Brasil da época e sobre o Paraguai no contexto da Guerra
deflagrada entre este país e Brasil, Argentina e Uruguai. Logo depois que partiu para a Inglaterra
seus diários de viagem foram publicados, cuja obra foi intitulada Explorations of the Highlands of
Brazil. Publicada em Londres, no ano de 1969 a obra trata das viagens de Burton pelo interior do
Brasil, bem como suas impressões acerca da flora, fauna, a geografia e as populações. A análise da
obra de Burton sobre o Brasil mostra-se pertinente e interessante por se tratar de um viajante que
percorreu as serras de Minas Gerais, navegou pelo Rio São Francisco até o mar, durante um período
de mudanças sociais, políticas e econômicas do Brasil, com o refluxo econômico da exploração
mineradora, numa narrativa detalhista de notável erudição.
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Uma rede antropófaga: intelectuais modenistas e a Revista de Antropofagia


Helaine Nolasco Queiroz
helaineq@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Revista de Antropofagia, Modernismo, Intelectuais.

Um projeto editorial periódico é, quase sempre, coletivo. O agrupamento de indivíduos se


apresenta desde o corpo editorial, formado por editor, redator e revisor, se estende às colaborações
dos autores, passa pela intervenção do tipógrafo até a chegada ao formato final e aos múltiplos
leitores. Beatriz Sarlo nota que o caráter plural de uma revista se traduz no convite de seu conselho
editorial, que propõe: “Publiquemos una revista”. Além de se manifestar nos textos colaborativos
propriamente ditos, produto final da publicação, o caráter coletivo se revela nas entrelinhas e nos
bastidores, podendo ser estudado através da troca de correspondência, das crônicas que narram
encontros, das notícias que tratam de banquetes e exposições, das entrevistas, das dedicatórias em
livros e do contato com outros periódicos.

O objetivo desta apresentação é examinar a dinâmica da rede intelectual que se reúne em


torno da Revista de Antropofagia, periódico modernista paulista que circula entre 1928 e 1929 e é
idealizado pelo escritor Oswald de Andrade. A revista, em sua primeira “dentição”, agrupa mais de
cinquenta escritores e artistas, podendo esse período ser chamado de “festa modernista”, por
acolher colaborações tão díspares como as de Plínio Salgado, Yan de Almeida Prado, Mário de
Andrade, Antônio Alcântara Machado, Tristão de Athayde e Carlos Drummond de Andrade. Na
segunda “dentição”, o radicalismo afasta grande parte dos colaboradores iniciais e altera o corpo
editorial, acompanhando as mudanças no formato e periodicidade. As brigas se explicitam tanto
nas próprias páginas da revista como fora delas, gerando até um processo por calúnia e difamação
na justiça de São Paulo. A revista devora de forma violenta os modernistas que nela inicialmente
ajudam e colaboram.

Pretende-se avaliar as desavenças e as afeições em torno na Revista de Antropofagia,


traduzidas em contatos propriamente intelectuais, mas que também se estendem a relações
familiares, políticas e amorosas. Também é objetivo perceber se a rede antropófaga ultrapassa as
fronteiras nacionais e consegue manter contato com intelectuais da América e da Europa. A
dinâmica do modernismo envolve uma multiplicidade de discursos, que procuram tanto renovar
os processos literários e artísticos quanto contribuir para a criação de uma cultura nacional. Seus

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agentes procuram agenciar colaboradores para seus empreendimentos, cujo sucesso depende,
especialmente, da adesão de outros.

A fotonovela no Brasil: do estrangeiro ao nacional, capítulo de uma história


da tradução
Dennys da Silva Reis
reisdennys@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Interculturalidade, História da Tradução no Brasil, Subliteratura,


Fotonovela no Brasil.

Originária na Itália pós-guerra e fruto do casamento entre cinema e histórias em


quadrinhos, a fotonovela foi um grande sucesso do mercado editorial e da indústria cultural
mundial. No Brasil, esse gênero, considerado subliteratura, alcançou um grande número de vendas
e competia diretamente com o início da chegada da televisão e do cinema, visto que estes eram
extremante caros e de difícil acesso. De 1950 a 1970, a vendagem de fotonovelas representou a
ideia de uma impressa popular feminina já que, em sua maioria, as fotonovelas eram histórias
sentimentais voltadas para o amor “verdadeiro”, o casamento e a família. Entretanto, sabe-se que
o apelo visual do gênero somado à representação da classe média, à violência e à pornografia, bem
como seu uso didático para campanhas de saúde, por exemplo, fez com que estas atingissem outros
públicos. O presente trabalho tem por meta atualizar a história da fotonovela no Brasil descrevendo
seus processos de criação, produção e circulação desde sua chegada ao Brasil na década de 1950
até seus dados contemporâneos. Enfoque especial será dado à história da tradução de fotonovelas
no Brasil, uma vez que mais de dois terços desse produto cultural era proveniente de países
estrangeiros, o que indica que sua circulação no âmbito brasileiro levantava as questões de
interculturalidade envolvendo contatos ou transferências de costumes, línguas e ideologias; bem
como a adesão a uma nova linguagem, a conteúdos e mensagens representativos da cultura de
massa da fotonovela.

A trajetória do espaço folhetim em jornais paulistanos


Patrícia Trindade Trizotti
patytrizotti@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: folhetim, jornais paulistanos, Imprensa

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Na França oitocentista, o espaço folhetim, geralmente circunscrito ao rodapé da página dos


periódicos, ganhou notoriedade e tornou-se um espaço que abrigava criticas teatrais e literárias,
ensaios sobre questões políticas e sociais, resenhas de obras literárias, poesias, textos humorísticos
inspirados em fatos do cotidiano (e que, posteriormente, deram origem à crônica) e, sobretudo,
romances, publicados capítulo a capítulo, de modo a cativar o interesse do leitor pela aquisição do
jornal. Tal rubrica foi incorporada à imprensa brasileira ainda no século XIX e logo compôs os
jornais paulistanos, como O Estado de S. Paulo, Diário Popular, Correio Paulistano, entre outros.
No entanto, ao contrário do que aconteceu na Europa com o início da Primeira Guerra Mundial,
o espaço folhetim continuou a integrar os jornais e foi publicado até quase os anos de 1950. Assim,
o objetivo da presente comunicação é discutir a trajetória do espaço folhetim nos principais
impressos paulistanos dos séculos XIX e XX, além de apresentar suas principais características
acerca do conteúdo publicado e os eventos que levaram ao seu abandono pela imprensa escrita.

Portugal Democrático: um jornal a serviço da luta contra o colonialismo


Viviane de Souza Lima
viviane.lima.vivi@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Brasil, Colonialismo, Portugal, África, Salazarismo.

No dia 7 de julho de 1956, um grupo de portugueses antissalazaristas exilados no Brasil,


residente em São Paulo, e ligado ao Centro Republicano Português, colocou nas ruas o primeiro
número do Jornal Portugal Democrático. O impresso, que circulou em 205 números impressos ao
longo de quase 19 anos, transformou-se em um importante canal de expressão política de
oposicionistas ao regime fascista português, que vigorou de maio de 1926 a 25 de abril de 1974.

O principal motivador da criação do jornal foi o total desconhecimento, por parte dos
brasileiros e até mesmo da comunidade portuguesa já residentes no Brasil, das arbitrariedades
cometidas pelo regime português. Os antissalazaristas ainda tentavam se contrapor à atuação no
Brasil de instituições associativistas portuguesas que faziam uma propaganda positiva do Estado
Novo, como as Casas de Portugal e a Federação das Associações Portuguesas.

Mas o jornal também foi um importante aliado à causa defendida pelo Movimento Afro-
Brasileiro Pró-Libertação de Angola (MABLA), criado em 1961, em São Paulo. O Movimento
criou uma rede de apoiadores ao fim do colonialismo português em África. A principal bandeira
do MABLA era divulgar entre a sociedade brasileira, principalmente por meio da imprensa, da

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repressão violenta de Portugal contra os movimentos de libertação nacional nas colônias


portuguesas e pressionar o governo brasileiro a apoiar internacionalmente a liberdade e a
autodeterminação dos povos africanos. Embora a bandeira da descolonização não fosse um ponto
pacífico entre a oposição salazarista, o Portugal Democrático, na década de 1960, deu espaço e
apoiou o discurso anticolonialista do MABLA. Alguns nomes que escreviam para o jornal,
inclusive, reforçaram as fileiras do MABLA como, por exemplo, o jornalista português Miguel
Urbano Rodrigues e o engenheiro brasileiro Sylvio Band, um dos fundadores do MABLA e que
chegou a figurar como um dos proprietários da publicação durante a ditadura militar brasileira.

O Portugal Democrático atuava, principalmente, divulgando a guerra colonial, oferecendo


a seus leitores detalhes sobre a ação violenta de Portugal contra os movimentos de libertação
nacional. Segundo o jornalista Miguel Urbano Rodrigues, a denúncia da guerra colonial contribuiu
para a aceitação que o jornal rapidamente passou a ter dos Movimentos de Libertação em África.
O jornal estabeleceu contatos diretos com alguns dos mais destacados dirigentes desses
movimentos.

Psit!!!: uma experiência de Bordalo Pinheiro no Brasil


Danilo Wenseslau Ferrari
danilowferrari@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Bordalo Pinheiro, Caricatura, Imprensa.

Neste trabalho, apresenta-se análise do jornal Psit!!!, concebido pelo desenhista português
Rafael Bordalo Pinheiro, no Brasil, em 1877. A publicação circulou por apenas 09 números, mas é
frequentemente lembrada na bibliografia sobre a imprensa satírica, por conta de seus personagens,
Psit! e Arola, e da polêmica, que teve início em suas páginas, entre seu proprietário e o aclamado
ilustrador Ângelo Agostini, da Revista Ilustrada. Agostini provocara o colega português, alegando
que ele teria abandonado a discussão dos problemas do país, em prol do trabalho como
representante comercial numa firma de chouriços e embutidos. Bordalo Pinheiro desempenhou
papel de destaque na história da caricatura. Sua atuação no Brasil, entre 1875 e 1879, deixou marcas
no uso de imagens nos impressos periódicos. Apesar da recorrência com que a publicação e seu
autor figuram na história da imprensa, não há estudos sobre o Psit!!! Portanto, pretende-se discutir
o papel desempenhado pelo periódico em seu contexto, para além da famosa querela entre os dois
desenhistas, tendo em vista a análise de seu conteúdo visual e textual; o formato e os aspectos

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materiais; anúncios e demais fontes de receita, além de outros aspectos que permitem identificar a
importância que esta experiência teve na trajetória de Bordalo Pinheiro.

D. Silvério Gomes Pimenta e os interesses da Igreja: um estudo do


pensamento do sacerdote a partir da imprensa católica em Mariana (1870-
1900)
Luciano Conrado Oliveira
conrado150279@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Periódicos, D. Silvério, Catolicismo.

Os periódicos são fontes que fornecem subsídios para as pesquisas relacionadas aos
aspectos políticos, econômicos, culturais, entre outros de um determinado momento histórico. Ao
trabalharmos com estudos relacionados ao catolicismo é possível perceber o conjunto de dados
que podemos adquirir a partir da análise de periódicos, que em muitos casos foram utilizados como
meios de divulgação dos discursos em defesa dos interesses católicos, destacando-se nesse caso a
passagem do século XIX para o século XX. Nesse sentido, nosso trabalho tem como foco principal
um estudo do pensamento de D. Silvério Gomes Pimenta, na defesa dos interesses da Igreja
Católica, a partir das informações constantes nos periódicos que estiveram sob sua orientação de
forma direta ou indireta. Para a realização desse estudo elegemos como fontes os periódicos O
Bom Ladrão e O Viçoso/D. Viçoso. Também para a realização desse trabalho teremos como
aporte teórico os textos de autores como Karla D. Martins, Natiele Rosa Oliveira, Diego Omar da
Silveira, Rodrigo Coppe Caldeira, Giana Lange do Amaral etc. Esses autores são essenciais para
que possamos analisar os periódicos de forma a compreender a maneira como D. Silvério fez uso
desse instrumento de comunicação no intuito de divulgar seu pensamento. Portanto, nosso
trabalho tenta demonstrar como é possível perceber o uso que membros da Igreja Católica fizeram
dos periódicos para a divulgação de suas ideias, de forma contundente, tentando em muitos casos
recusar outros modos de pensar e viver.

Redes de comunicação e divulgação de notícias durante a querela sucessória


portuguesa (1826-1834)
Raphael Rocha de Almeida
raphaerocha@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Redes de comunicação, Sucessão Portuguesa, Imprensa portuguesa.


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A partir da leitura de jornais publicados em Portugal, em finais da década de 1820,


analisaremos as redes de comunicação e divulgação de notícias, nas quais estes impressos faziam
parte, com destaque para os usos de jornais brasileiros como fonte de informação, pelos redatores
portugueses. Apresentaremos, assim, apontamentos iniciais de pesquisa em curso sobre os usos da
imprensa em Portugal e no Brasil durante a querela sucessória que envolveu D. Pedro e D. Miguel,
após a morte de D. João VI em 1826.

Páginas esquecidas ou um espaço diferenciado: Os annaes e a imprensa


carioca no Século XX (1904-1906)
Vinicius Carlos da Silva
viniciuscdasilva@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Imprensa século XX., Os Annaes de Rio de Janeiro, Domingos Olímpio


Braga Cavalcanti.

O limiar do século XIX para o XX foi, ao mesmo, conturbado e importante para o Brasil.
Marcado por acaloradas discussões intelectuais e políticas, esse período pode ser considerado um
momento decisivo para a imprensa nacional, momento em que esta se torna um espaço respeitado
e disputado pela intelligentsia nacional. Neste ínterim, surgiram diversos periódicos, dentre eles Os
Annaes – Semanário de litteratura, arte, sciencia e indústria, que circulou semanalmente na cidade
do Rio de Janeiro de 08/10/1904 a 11/10/1906. Dirigido e criado por Domingos Olímpio Braga
Cavalcanti, este periódico se colocava como um espaço à disposição de autores nacionais e
internacionais que por ventura se sentissem excluídos pela imprensa da época. Foram ao todo 102
exemplares, dirigidos por seu criador, que continham escritos tanto de autores renomados da época
como de nomes pouco conhecidos do grande público, em artigos que abarcaram, em especial,
assuntos como política, ciência, literatura, notícias, intelectuais, dentre outros. Ainda inédito, Os
Annaes caracteriza-se como um espaço ímpar na imprensa da época, ao abrir suas páginas a escritos
fora do eixo Rio de Janeiro/ São Paulo, valorizando autores regionais, por vezes até mulheres, ao
mesmo tempo em que contava com a colaboração de nomes renomados, como Machado de Assis,
Silvio Romero, Olavo Bilac, para citarmos apenas alguns. Assim, almejava-se perscrutar se Os
Annaes cumpriu a sua proposta inicial, suas características enquanto periódico e qual foi o seu
papel frente a imprensa da época.

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A virada na imprensa e a elite intelectual áulica (1820-1831)


Nelson Ferreira Marques Júnior
nelsonfmarquesjr@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Imprensa, ideias, áulicos.

O foco da apresentação será a imprensa, que nesse período, possuía características


particulares, sobretudo no que toca à percepção participativa que os periódicos tiveram sobre a
vida política no Rio de Janeiro, encaminhando rumos políticos, opinando desde posições favoráveis
ao governo ou contra ele. Um pouco antes da Independência e no desenrolar do Primeiro Reinado,
percebe-se na imprensa uma clara mudança de paradigma, apesar de certas continuidades. Estes se
tornaram veículos politizados, responsáveis por aquecer os embates políticos ocorridos nos
diferentes espaços públicos que ainda estavam em formação. Os áulicos no Primeiro Reinado
foram responsáveis por apoiar politicamente d. Pedro I e a Monarquia Constitucional centralizada,
na qual o soberano usufruía de poderes para intervir diretamente nas decisões políticas gerais, por
meio do Poder Moderador. Esses homens ocupavam diferentes espaços, inclusive à imprensa.
Esses homens foram de suma importância para manutenção do imperador no poder, da imagem
viva de uma monarquia integrada, mesmo com os inúmeros conflitos provinciais no período. A
imprensa áulica atuou de forma decisiva como formadora da opinião pública e adotou uma posição
política definida. O objetivo comum era circular o maior número de notícias que coadunassem
com os preceitos da política imperial, a fim de mostrar que a Monarquia Constitucional, dirigida
por Pedro I, era o modelo mais legítimo e eficaz de governo.

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História e culturas urbanas narrativas e práticas


sociais nas cidades

Valdeci da Silva Cunha


Simpósio Temático

Doutorando em História Social da Cultura


UFMG
valdeci.cunha@gmail.com

Phillipe Urvoy
Doutorando em História Social da Cultura
UFMG
ph.urvoy@gmail.com

Juliano Mota Campos


Mestrando em História
Universidade Estadual de Feira de Santana
julianouefs@hotmail.com

José Maria Almeida Neto


Mestre
UFC- Universidade Federal do Ceará
neto.almeida88@yahoo.com.br

Ana Carolina Oliveira Alves


Mestranda
Universidade Estadual de Campinas
anacarolinaoa@hotmail.com

Proposta do Simpósio:

O presente simpósio temático tem como objetivo discutir as relações entre a história e as
manifestações culturais que tem nas cidades seu lugar de atuação pensadas a partir de suas
dimensões não apenas materiais, mas também simbólicas. Composta por diferentes sujeitos,
experiências, trajetórias e lugares sociais, e também por inúmeras e heterogêneas produções
intelectuais, as formas das cidades pós-industriais tem sido modeladas e remodeladas pelos
processos de urbanização e pelas diversas reformas urbanas que ocorreram a partir do meio do
século XIX. As cidades, portanto, são pensadas aqui não apenas como palco dessas ações, mas
entendidas em seus processos de construção histórica. Entendemos, portanto, que elas não são
simplesmente algo dado, ou simples cenário do social, mas objetos de questionamentos, reflexão e
análise desafiadoras e, ao mesmo tempo, instigantes. Serão contemplados, dentre outras

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possibilidades, estudos que versem sobre a transformação de seus papéis; memórias de


planejamento urbano e regional; formação das redes urbanas; a análise da transformação do
pensamento e da prática urbanística e seus desdobramentos no cotidiano daqueles que nelas
habitam. Como nos é ensinado por Michel de Certeau, a cidade também é o local onde uma
infinidade de narrativas e práticas emergem para distorcer as linhas do desenho planejado. Trata-
se de um espaço em disputa – constituído tanto por essas intervenções técnicas quanto pelas
práticas vivenciadas pela população que se desdobram em novos usos e apropriações destes
espaços. Neste sentido, caberia aos pesquisadores dialogar com os diferentes tipos de agentes
produtores de narrativas sobre o espaço urbano que, assim, expressam, narram ou falam pelas/nas
cidades e que, em nosso entendimento, formam, informa e enformam as várias relações e tensões
estabelecidas na teia social. Nessas articulações, a cultura deixa de ser pensada como esfera superior,
ou apenas como lugar de expressão das manifestações artísticas, “tradicionais ou populares”, para
ser entendida no interior do próprio processo social onde os homens constroem e reconstroem
suas experiências, espaços e territórios. Por fim, este simpósio pretende contribuir para uma
interpretação do espaço urbano a partir de um diálogo entre diversos campos de investigação e
áreas de conhecimento que têm as cidades como horizonte em comum.

Comunicações:

Fontes Orais para o estudo das cidades: estudo de caso


Bruno de Carvalho Corrêa
cappai.bruno@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Fontes Orais, História e Memória das Cidades.

De acordo com Ecléa Bosi, em seu livro Memória e Sociedade: lembranças de velhos, “Há
um momento em que o homem maduro deixa de ser um membro ativo da sociedade, deixa de ser
um propulsor da vida presente do seu grupo: neste momento de velhice social resta-lhe, no entanto,
uma função própria: a de lembrar.

Entretanto, não apenas os mais velhos, como também os jovens, possuem memórias e
relações afetivas que podem ser importantes instrumentos para o historiador que pretende estudar
as cidades. Afinal, são elas repletas de significados criados diariamente por cada um de seus
habitantes, e ao ter acesso a uma pequena parte dessa enorme teia de sociabilidades, podemos

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compreender melhor a forma como as pessoas veem as cidades e como as tomam para si, criando
naquele espaço de concreto um ambiente familiar e carregado de sentidos.

A ideia desta comunicação é explorar algumas entrevistas coletadas durante pesquisa para
dissertação de mestrado, tentando demonstrar a forma como a cidade aparece nas memórias de
seus moradores e como o historiador pode se aproveitar disso para exercer seu ofício.

Teatro Santa Isabel: a escola dos costumes modernos da Atenas do Norte


(Diamantina, Século XIX-XX)
Renata Cristina Simões de Oliveira
renatinhacrso@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Séculos XIX e XX, Diamantina, Diversão, Modernidade, Teatro Santa


Isabel.
Em meados do século XIX a cidade de Diamantina participativa do processo de
europeização do estilo de vida das classes abastadas brasileira. O discurso praticado nos periódicos
locais atentava para a formação de uma sociedade “moderna e civilizada”, onde a instrução escolar,
a modernização dos espaços públicos, a participação em divertimentos úteis, o gosto pelas artes,
deveriam integrar o dia a dia do diamantinense. As artes cênicas eram associadas às praticas
civilizadoras, mentoras dos bons costumes. Inaugurado em 1841, o Teatro Santa Isabel torna-se o
local de divertimento mais mencionado e aclamado pela imprensa local na última década do século
XIX e primeiros anos do século XX. A comunidade era chamada a participar do mais moderno e
útil divertimento. Os jornais, nessa ocasião, passam a fazer parte do espetáculo, anunciando a
chegada e a procedência de uma nova companhia, descrevendo o desempenho dos artistas e a
assistência da plateia, criticavam e até mesmo censuravam acontecimentos que não estavam de
acordo com os ideais de civilidade. Teatro e imprensa tornaram-se disseminadores dos costumes
modernos da Diamantina. Questionasse, no entanto, como se dava a participação da comunidade
nesse processo. Por meio dos relatos dos periódicos locais, este trabalho buscou discutir quais eram
os ideais difundidos à comunidade, e como ela reagia a estes. Constatando que a receptividade do
diamantinense para com as artes cênicas superou os limites do Teatro Santa Isabel, tornando
presente no cotidiano da cidade. E que, apesar do discurso para uma sociedade moderna e
civilizada, o abandono aos velhos costumes era temido, embora ainda pouco manifestado. Este
estudo é parte da pesquisa de mestrado que discute as diversões em Diamantina, dentre os anos de
1890 e 1920, por meio das representações dos jornais e apoio dos memorialistas.

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Reformas Urbanas e escritas do espaço na cidade de Paris entre o Segundo


Império e a Comuna de 1871
Philippe Urvoy
ph.urvoy@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: urbanismo, História Urbana, Comuna de Paris, Reformas urbanas.

A partir dos anos 1830, a cidade de Paris é o palco de amplos projetos de reformas urbanas
que redefinem o espaço segundo ideais higienistas e interesses políticos e econômicos específicos.
Começadas pelo Claude-Philibert Rambuteau, então prefeito da cidade, e perseguido pelo Barão
Hausmann a partir dos anos 1850, essas reformas participam do nascimento do urbanismo
enquanto ciência, sistema de produção e gestão do espaço urbano na cidade moderna. Segundo o
Henri Lefebvre, este momento corresponde também ao surgimento da sociedade urbana enquanto
modo de organização espacial e sistema de valores que remodelam progressivamente o território
dentro e fora das cidades. Neste sentido, podemos dizer que o urbanismo se constitui como um
discurso de verdade sobre o espaço – segundo a expressão do Michel Foucault – que se assemelha
a uma escrita racional e funcional do território. Paralelamente a este processo de Reformas, os dois
principais conflitos sociais que eclodem em Paris neste período – as jornadas de 1848 e a Comuna
de 1871 – são intimamente ligados a problemáticas especificamente urbanas. Por trás das revoltas
e barricadas, os gestos e práticas do povo parisiense escrevem uma outra história espacial, tal como
afirmado pela pesquisadora americana Kristin Ross, que reivindica outros modos de habitar e
pensar o espaço urbano.

O espaço público em questão: uma discussão teórica a partir da Plaza de


Mayo
Ana Carolina Oliveira Alves
anacarolinaoa@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Espaço público, Buenos Aires, Plaza de Mayo.

A proposta deste trabalho é problematizar as discussões sobre espaço público a partir da


Plaza de Mayo, localizada em Buenos Aires, espaço que se configurou como um lugar de disputas
entre diversas memórias, manifestações cívicas e ações coletivas se estabelecendo de forma central
no espaço urbano da capital argentina. Abordaremos essa discussão a partir das práticas sócio
espaciais. A categoria de espaço público é utilizada em diversos campos com diversas intenções, o

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que alarga suas complexidades e ambiguidades A perspectiva trazida por Henri Lefebvre sobre a
produção do espaço urbano elucida ser ele inexistente fora das práticas que o alteram e redefinem,
ideia muito presente no pensamento sobre o espaço público. Os diferentes atores sociais são
responsáveis pelas mudanças do espaço público através de experiências cotidianas que redefinem
a esfera pública e compreender como algumas destas se conformam nos permite pensar em certa
multiplicidade de interações públicas que acontecem de formas simultâneas e (re)definem o espaço
urbano. A Plaza de Mayo é aqui percebida como um espaço urbano plural e o que a torna central
neste estudo é o fato de ter sua história marcada pela resistência e pelos variados conflitos que
caracterizam a sociedade argentina e que implicam, neste caso, em modos específicos de
apropriação de lugares materiais da cidade. Assumindo a complexidade e os conflitos envolvidos
no espaço público, devemos problematizar e alargar as discussões a esse respeito. O espaço público
pode ser encarado, portanto, como lugar onde vários atores podem alcançar a visibilidade. É um
espaço público em transformação, que traz à tona o caráter conflitivo da composição do espaço
urbano e das diversas apropriações – ininterruptas – da cidade por parte dos cidadãos. outras
problemáticas. O campo da política, que é visto como virtude que ultrapassa a fronteira do privado,
sempre esteve associado ao espaço público e pode ajudar a compreender esta praça. O espaço
político foi encarado como uma das esferas do espaço público e a ação política como uma das
possibilidades da apropriação coletiva deste espaço. Estas abordagens nos trazem importantes
considerações para pensar sob diferentes abordagens a Plaza de Mayo que, de maneira simbólica,
é simultaneamente portenha e argentina.

Transformação e conservação: a tradição pictórica da paisagem carioca


através da narrativa do Pão de Açúcar
Aline Viana Tomé
alinehis@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: História da Arte, Pintura de paisagem, Rio de Janeiro, Lugares de


memória, Eliseu Visconti.

A cidade do Rio de Janeiro passou por inúmeras transformações entre fins do século XIX
e início do século XX. Dentre estas, destaca-se o plano reformista do então prefeito Pereira Passos,
no governo de Rodrigues Alves. Com a modernização da capital republicana, inúmeros locais
vivenciados pela sociedade do entre séculos 19/20, foram convertidos a lugares de memória,
muitos deles acessados através da representação pictórica, especialmente por intermédio da pintura
de paisagem.
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Eliseu Visconti (1866-1944), pintor de fama internacional, enfocou diversas localidades da


urbe em questão. A despeito da metamorfose vivenciada pelo Rio de Janeiro em todos os seus
planos reformistas, dando fim, em algumas ocasiões, a históricos relevos da cidade, caso dos
morros do Castelo e de Santo Antônio, há de se lembrar da conservação do emblemático relevo
rochoso do Pão de Açúcar, tendo este chegado até nossos dias. Dessa forma, propomos no
presente trabalho a análise de uma continuidade: o Pão de Açúcar. Assim, concebemos necessária
a discussão acerca da tradição pictórica presente na representação da famosa pedra. Podemos
entender a produção de Eliseu Visconti como um dos inúmeros casos em que pintores se utilizam
da tradição artística para representar a realidade ao seu redor. Convertendo a obra de arte em si,
em lugar de memória de uma tradição, fazendo enxergar assim a sua ambivalência. Para isso, nos
utilizaremos de diversas obras realizadas por pintores desde a chegada da família real em terras
brasileiras, em 1808, buscando nesses quadros uma possível cultura visual pertencente ao pintor.
Podendo, estas mesmas representações, nos proporcionar um olhar ímpar sobre a capital federal
em diversos momentos do século XIX e XX.

Com isso, concebemos que as paisagens urbanas fixadas pelos pincéis de artistas, em
madeira, tela e papel ostentam grande importância, por assegurarem aos indivíduos da posteridade
o acesso ao que nem se suspeitava ter existido. Além de tudo o que uma obra de arte pode
proporcionar a um observador, encontramos ainda no trabalho dos paisagistas que representaram
a capital federal, durante século XIX e início do século XX, o poder de reencontrar a cidade perdida
pelas diversas remodelações por ela vivenciada.

Literatura e Resistência: Capão Pecado engajamento político-literário


Alysson Faria Costa
alyssonfcosta@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Literatura Marginal, Engajamento, Intelectual, Ferréz, Cidadania.

Reginaldo Ferreira da Silva nasceu em 29 de dezembro de 1975, no bairro Cantinho do


Céu, próximo ao Jardim Capelinha, zona sudoeste de São Paulo. Em seguida, mudou-se para o
Valo Velho, local onde passou a maior parte da infância, morando de aluguel com os pais. Na
adolescência, mudou-se definitivamente para o bairro de Capão Redondo onde reside atualmente,
é mais conhecido pelo pseudônimo de Ferréz que é uma junção de dois outros nomes: Virgulino
Ferreira da Silva, o Lampião (Ferre) e Zumbi dos Palmares (z), Antes de se dedicar exclusivamente
à escrita, trabalhou como balconista, auxiliar-geral e arquivista. Possui uma atuação diversificada,
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Ligado ao movimento Hip Hop é fundador da 1DASUL (marca de roupa totalmente feita no
bairro). No cinema e TV, Os inimigos não levam flores foi adaptado para a TV e para os
quadrinhos. Além disso, escreveu roteiros para o filme Brother e os seriados Cidade dos Homens
(02) e 9MM (Fox). Ferréz foi colunista da revista Caros Amigos durante 10 anos. É também
conselheiro editorial do Le Monde Diplomatique Brasil. Compositor e cantor, já teve suas músicas
gravadas por vários artistas e lançou dois cd´s.Em 2009, produziu o documentário Literatura e
resistência, de 58 minutos, que trata dos 11 anos da sua carreira - o documentário saiu em dvd pelo
Selo Povo.

Nesse sentido, acredito ser importante a postura do autor e do engajamento que manifesta
com a literatura que produz e que se pretende estudar como um projeto de escrita. O projeto
literário de Ferréz configura-se como um importante catalisador no que se refere à reivindicação
da cidadania, produzindo uma matriz ficcional de questionamento e resistência ao projeto
republicano elitista e excludente. Reivindicando também o espaço das falas “autorizadas” da ficção
brasileira. Nesse sentido, é importante refletir sobre o imaginário político presente na matriz
ficcional de Férrez. Pensar o elemento da periferia, da marginalidade na sua obra e de como sua
figuração representa uma experiência limiar, de fronteira para pensar a temporalidade e a
espacialidade da cidadania no Brasil.

A invenção e a reinvenção cotidiana dos espaços: práticas culturais na Praça


Sete no hipercentro de Belo Horizonte
Isabella Maíra dos Santos Braga
isabellamsb@gmail.com

Alexandra Nascimento
alexandranascimento@uol.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Belo Horizonte, Praça Sete, Patrimônio Cultural, Culturas Urbanas.

O presente estudo tem por objetivo analisar as distintas manifestações culturais que podem
ser observadas na Praça Sete, localizada no hipercentro de Belo Horizonte. O trabalho pretende
analisar a produção cultural dos distintos grupos que se apropriam dos seus quarteirões. A Praça
Sete de Setembro que, apesar das mudanças ocorridas em seus espaços e em seu entorno imediato
ao longo da história, resultados de ações executadas pelo poder público ou inerentes à dinâmica
urbana, permanece como espaço referencial na paisagem da cidade, acentuada pela sua centralidade
no tecido urbano. A cidade, permanente produção cultural, traduz a capacidade humana de
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apropriar-se do território e da (re)construção de seus espaços: ao guardar e transmitir valores nela


impressos, revela-se como patrimônio cultural, documentos da história. Nesse sentido, é possível
pensar as manifestações artísticas que surgem na apropriação dos espaços urbanos por grupos que
ocupam esses lugares para exercer seu ofício. Para percebê-las é necessário exercitar o poder de
observação: na maioria das vezes a rotina, o andar ligeiro do cotidiano torna as pessoas menos
atentas ao mundo que as rodeia. Ao circular pela cidade, o costume e a familiaridade com os lugares
leva os passantes a observar com menos atenção o que consideram, na maioria das vezes familiar,
e por isso, não perceptíveis em suas particularidades. Em 2013 a Praça Sete passou a abrigar o Cine
Theatro Brasil Vallourec, um centro cultural implantado no antigo Cine Brasil, que permaneceu
fechado desde a década de 1990. A inserção desse novo espaço cultural estabelece um diálogo com
práticas culturais de caráter transitório, mas que, nem por isso deixam de compor uma paisagem
urbana que expressa a diversidade em uma historicidade específica. Os espaços da Praça Sete
abrigam no seu cotidiano hippies, grupos de músicos, estátuas vivas, floristas entre outros que
buscam obter algum ganho por meio da venda de seu trabalho. Nesse sentido, busca-se investigar
o ofício do artesão na aproximação e diferença com a arte e as exigências do mundo do trabalho.
Por meio da observação e de entrevistas realizadas em momentos distintos é possível perceber as
diferentes formas de apropriação e ressignificação que permeiam aquele espaço urbano.

Uma reflexão sobre a circulação em Londres: The Suicide Club e Strange


Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde sob a ótica da flânerie
Ana Carolina Silva
aninha_carol@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Londres, Circulação espacial., Literatura Vitoriana.

A temática da cidade como espaço de circulação, além de ter sido abordada a partir de
perspectivas e leituras técnicas e institucionais, aparece representada de diferentes maneiras nos
registros ficcionais, sendo estes um dos mecanismos mais significativos pelos quais se buscou
apreender, sistematizar e tornar inteligível determinados aspectos da vida moderna, sobretudo as
novas formas do ser humano moldar, interagir e se relacionar tanto com o espaço geográfico
quanto com os seus semelhantes. O contraste e o diálogo de alguns escritos literários de Robert
Louis Stevenson com os discursos denominados ao longo do século XIX como fisiologias urbanas
e algumas abordagens sobre a flânerie, permitem traçar e investigar como a questão da mobilidade
em Londres nos anos oitocentos foi delineada, abordada e interpretada. Principalmente, em dois

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de seus romances (The Suicide Club-1882- e Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde - 1886), uma
vez que ambas as obras possuem a capital do império britânico como palco para o transcorrer da
trajetória das personagens e nos proporcionam meios para refletirmos não somente acerca das
transformações dos aspectos físicos da cidade, mas também (maiormente) a respeito das práticas e
tensões sociais provenientes e configuradoras dessa nova forma das pessoas conceberem, se
apropriarem e fazerem uso do espaço ao longo do processo de urbanização de uma das primeiras
metrópole do mundo.

São Paulo sob o olhar de Álvares de Azevedo


Patrícia Aparecida Guimarães de Souza
patricia_0388@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Literatura, Correspondência, Álvares de Azevedo, São Paulo.

Nesta comunicação pretendemos delinear o olhar de Álvares de Azevedo sobra à cidade de


São Paulo destacando suas ambiguidades. Por um lado, vemos a crítica a uma cidade cheia de
“caipiras”, por outro, percebemos um espaço de efervescência cultural e relativa liberdade para os
jovens vindos das diversas regiões do país realizar o Curso Jurídico, visto que estavam longe da
autoridade paterna.

O poeta estudou na Faculdade de Direito do Largo São Francisco entre 1848 e 1851. Tendo
deixado a corte para realizar o curso jurídico na cidade que nasceu e onde vivia a família materna,
trocou cartas constantemente com os pais descrevendo criticamente os hábitos da cidade,
reclamando de seu arcaísmo e, por oposição, criando uma imagem idealizada do Rio de Janeiro,
que não teria os mesmos defeitos. São Paulo também aparece como cenário de algumas de suas
obras, destacando-se O Macário. Além de assunto e cenário, podemos observar que a vivência na
cidade está diretamente ligada a sua produção, dada sua participação nas sociedades literárias
estudantis e, principalmente, pelo sua ligação estética com o romantismo sombrio que lá
preponderou, divergindo do romantismo nacionalista do IHGB. Assim consideramos que olhar de
Álvares de Azevedo é marcado pelo duplo pertencimento que podemos observar desde sua
biografia. Ainda que veja o Rio como “em casa” e para lá se remeta, nasceu em São Paulo, parte
considerável de sua família é de lá e sua obra é indissociável da cidade.

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Experiência, memória e representação no duplo registro d’O Forte: romance


de Adonias Filho (1965) e no filme de Olney São Paulo (1973)
Valdeci da Silva Cunha
valdeci.cunha@gmail.com

Matheus Machado Vaz


matheus.machado@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Cultura Urbana, Cinema, Literatura, Memória.

A presente proposta objetiva analisar, comparativamente, as formas de narrar as


experiências vividas no tempo e espaço encenadas no romance O Forte, de Adonias Filho (1965),
e a sua adaptação para o cinema, com título homônimo, feito pelo cineasta Olney São Paulo, em
1973. Ambientado na cidade de Salvador, para onde retorna o engenheiro Jairo para a demolição
do quatrocentenário forte de São Marcelo, que em seu lugar seja erguido um parque infantil, a
trama em torno da qual se organiza a história de ambas as produções nos sugere algumas
possibilidades investigativas para as pensarmos os usos e produções de memórias e as
representações sociais as quais estão relacionadas. Ao dialogarmos com a história e as culturas
urbanas, partimos da constatação de que as narrativas que lidam com as experiências nas cidades
têm que levar em consideração que estes espaços são resultados e motivos de disputas e, a elas
conectadas, encontram-se representações, imaginários e memórias que lhes dão sustentação. Como
nos ensina Walter Benjamin, “a história é objeto de uma construção cujo lugar não é o tempo
homogêneo e vazio, mas um tempo saturado de agoras”, o que nos faz ressaltar a importância, para
uma pesquisa histórica, de elencarmos vestígios ou indícios das ações dos sujeitos no tempo.

Apontamentos para os usos da imprensa como fonte e objeto para a


pesquisa histórica
Valdeci da Silva Cunha
valdeci.cunha@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Intelectuais, História, Imprensa, Cidade, Pesquisa, histórica.

A presente comunicação propõe apresentar um mapeamento de autores e problemáticas


para a pesquisa histórica que tenha como objetivo a análise da imprensa, em suas mais diversas
manifestações – em jornais, revistas, suplementos e cadernos de cultura – como fontes e/ou
objetos de pesquisa. Como demarcação temporal, selecionaremos o período republicano para a

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investigação e usaremos, como exemplos, a imprensa belorizontina. Partimos do pressuposto de


que foram demarcados, a partir do advento da República, novos espaços onde, somados às
mudanças conjunturais proporcionadas pelo campo da política, tiveram lugar a remodelação das
cidades, a implementação de programas de alfabetização, a introdução de novos meios de
comunicação e a profissionalização desse segmento polivalente marcado fortemente pela
modernização econômica. Nesse cenário de profissionalização do setor, em que estiveram
envolvidos uma parte considerável da intelectualidade, de modernidade técnica, de aumento (e
criação) do número do de leitores, de inserção de inovadoras formas de se pensar e fazer
propaganda e publicidade e do surgimento de novos modelos de impressos, que inseriremos nossa
reflexão.

O cotidiano dos sujeitos pobres na cidade de Fortaleza-CE (1893-1932)


José Maria Almeida Neto
neto.almeida88@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Cidade, Cotidiano, Sujeitos Pobres.

Viver no espaço urbano no final do século XIX e início do século XX foi um desafio diário.
Homens, mulheres, negros, imigrantes, pobres passaram a lidar com alterações significativas. Essa
trama diária passou a ser objeto de táticas e estratégias dos sujeitos de diferentes classes e grupos
sociais, racionalizando os usos do espaço urbano e coibindo ações ditas perigosas à moral, aos
costumes e a ordem da cidade. Toma-se aqui um recorte temporal referenciado justamente nos
anos de publicações de dois códigos de postura para a cidade de Fortaleza, Ceará. O primeiro
(1893), logo após a proclamação da República, quando a ideia de progresso no meio urbano ganhou
força justamente no corpo da cidade e nos corpos que a habitavam e nos anos 30 do século XX,
tempo de racionalização e expansão do espaço urbano de Fortaleza. Procura-se entender por meio
desses dois códigos em cruzamento de dados com outras fontes como os jornais (O Povo, O
Nordeste), os cronistas (Raimundo Girão, Gustavo Barroso e outros) e as décimas urbanas como
o cotidiano dos sujeitos pobres na cidade de Fortaleza travava uma relação de resistência na
contramão da modernização que não os incluía. São numerosos os exemplos dos jornais à respeito
do envolvimento destes sujeitos em atritos de violência nas ruas, as páginas policiais apresentam
os delitos, e os códigos de postura sistematizam as leis urbanas, proibindo ou permitindo de acordo
com os interesses de uma minoria que o elaborava. Diante desses conflitos surge nosso interesse
de fazer uma leitura a contrapelo buscando desvelar os silêncios das páginas dos jornais, remontar

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o quebra-cabeça das permissividades da rua e enxergar nesses sujeitos aquilo seu modo operante
de resistir. A história do cotidiano é aqui apresentada como meio para uma leitura dos sujeitos na
cidade e por meio desses sujeitos entender o espaço urbano como ambiente de negociação, tensão
e conflito.

A pesquisa histórica e as interfaces para imaginação de narrativas


museológicas no processo de construção de um museu de cidade. O caso do
Museu Casa Grande Simplício Dias na Parnaíba, Piauí
Leonardo Souza de Araújo Miranda
miranda.raposo@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Parnaíba, Urbanização, Memória, Modernidade, Cidade.

Trata-se de analisar como o processo da pesquisa histórica mapeia elementos que podem
servir de base para o desenvolvimento de um projeto de um Museu de Cidade, tendo como objeto
o trabalho, em processo de implantação do Museu Casa Grande Simplício Dias, cidade de Parnaíba,
Estado do Piauí. Cabe, então, pensar como o ofício do historiador pode fornecer recursos para a
construção de narrativas museológicas, tendo como ideia-mãe a cidade entendida como forma
(universo material socialmente construído) e como imagem (produção, circulação de significados e
bens simbólicos).

A ideia é expor como o levantamento de determinados eixos temáticos relativos a história


da cidade de Parnaíba subsidia a identificação de referências patrimoniais tangíveis e intangíveis,
que serão materializadas expograficamente, construindo uma narrativa sobre a história urbana da
cidade. O recurso evocado passa pela investigação, descrição e análise dos bens tangíveis e
intangíveis que funcionam como testemunhos da trajetória de Parnaíba. Captar como a história da
cidade pode fornecer pistas de suas formações, suas peculiaridades, as identidades, as relações,
imaginários e espaços forjados ao longo do tempo.

A proposta é formar agrupamentos de elementos históricos, imagens e signos a partir dos


quais serão criados mapas imaginários, narrativas em aberto e paisagens de ideias. Foram definidas
4 constelações ou macro temas direcionadores da pesquisa e que irão determinar a escolhas das
referenciais patrimoniais: Urbanismo e Urbanidade; Práticas Comerciais; Culturas Políticas;
Formas de Expressão. Nosso recorte aqui são as transformações pelo que passou a cidade de
Parnaíba, sua realidade concreta tendo em vista tanto as questões do planejamento e da organização
do espaço urbano, no que tange ao seu traçado, infraestrutura, saneamento, circulação; como

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também levando em conta a vida social do homem e as relações da sociedade com a cidade,
recuperando uma modernidade parnaibana. Para tanto, apresentar a memória urbana de Parnaíba
dialogando com alguns rastros topográficos, fazendo uso da categoria do panorama. Levando em
conta, as margens e “zonas obscuras das histórias centrais”. Considerando as periferias e fronteiras
da cidade. Tanto as reais, quantos as simbólicas. Essas zonas físicas ou conceituais de trânsito,
confronto, indefinição encontro e tensão. Locais onde as fronteiras são porosas e a contaminação
é regra. Locais de passagens entre temporalidades e experiências.

O BNH e os Conjuntos Habitacionais em Belo Horizonte, a política


Habitacional da Ditadura Civil-Militar
Francisco Gonçalves de Almeida
chicogdealmeida@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Ditadura Militar, Habitação, Belo Horizonte, Cidade.

O Objetivo do trabalho é estudar a política habitacional promovida pela Ditadura Civil-


Militar em Belo Horizonte com um foco nos Conjuntos Habitacionais. Busco que ver como foi o
impacto dos Conjuntos Habitacionais na cidade, qual era a visão de cidade para a construção dos
conjuntos e como foi a participação do BNH (Banco Nacional da Habitação) na centralidade das
políticas habitacionais. Durante o período da ditadura militar as capitais brasileiras passaram um
grande processo de expansão, aonde o Brasil constituiu como uma nação urbanizada. Também o
período militar foi marcado pela acentuação das desigualdades em que marcou a segregação espacial
nas cidades. Belo Horizonte teve um crescimento expressivo durante este período em que a cidade
expande de tal forma se constituiu como região metropolitana em 1973 e que os problemas
habitacionais se agravam, nisto busco ver como foi a atuação do poder público e qual era a visão
sobre habitação social.

O problema da habitação em Belo Horizonte surgi junto com a cidade. Logo após sua
fundação os operários se assentaram fora dos limites da Avenida Contorno e constituindo uma
cidade que distinguia as pessoas. Também deste o início o crescimento da cidade funcionou pelas
periferias, pois as áreas centrais foram (ainda são) muito valorizadas que forçou o operariado a
ocupar regiões fora do centro. Essa lógica formou uma cidade na qual o operário vive longe do
centro sem acesso a infraestrutura e serviços públicos. Nas cidades capitalistas a especulação
imobiliária valoriza e segrega o ambiente urbano, que leva os trabalhadores buscarem modos
baratos para promover sua habitação. Deste modo é inerente a estas cidades o déficit habitacional

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vinculado à especulação imobiliária. Portanto deste a era Vargas buscou soluções para problema
da habitação, através da lei do inquilinato e a construção dos Conjuntos Habitacionais pelos IAP’s.
Depois de 64, o governo Militar construiu o BNH para unificar os investimentos na Habitação e
cuidar desta questão. A partir disto busco ver qual foi a lógica para promover a habitação depois
de 64 e como o Conjunto Habitacional é retomado para diminuir do déficit habitacional.

Por fim, o trabalho busca relacionar construção de cidadania e subcidadania (usando James
Holton e Jessé Souza) e o impacto que os conjuntos habitacionais tiveram em Belo Horizonte.
Busco por este tema traçar uma História do Cotidiano e dos conflitos sociais que se estabelecem
na cidade.

Traços da Cidade-Releitura dos Registros de Debret no Rio de Janeiro


Bruno Willian Brandão Domingues
brunoo_willian@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Representação, Cultura, Cidade.

A pesquisa intitulada "Traços da cidade- releitura dos registros de Debret no Rio de Janeiro"
tem como objetivo fazer um estudo das imagens e dos escritos de Debret no Brasil, a partir da
quebra do pensamento eurocêntrico que marcou os relatos de viajantes e pintores que passaram
pelos trópicos nos tempos imperiais, completando deste ano 200 anos da vinda da Missa Artística
Francesa para o Brasil. Com isso é possível analisar as mudanças ocorridas na cidade do Rio de
Janeiro, que com a vinda da corte portuguesa ocorreu grandes mudanças e reformas citadinas.
Mesmo com as mudanças ocorridas, muitos costumes e práticas sociais permaneceram, pois, com
a vinda da corte aumentou-se muito o consumo de produtos, fortalecendo assim a economia local.
Por esse fato, as ruas do Rio de Janeiro são tomadas por escravos e negros libertos vendendo os
mais variados produtos, desde quitutes, animais, carnes e entre outras coisas. As ruas assim
passaram a ser um local de disputa e de convívio social, onde se circulavam pessoas das mais
variadas classes sociais. As ruas também eram palcos de grandes manifestações sagradas e profanas,
onde no século XIX a religiosidade andava lado a lado com a população brasileira, influenciando
desde o nascimento até a morte. Os livros de relato de viajem de Debret nos proporcionou
compreender melhor o Brasil do seculo XIX, de pequenas coisas até grandes acontecimentos que
marcaram esse século. Além dos seus livros de relato de viajem, as imagens produzidas por Ele
ajudaram analisar de uma forma crítica, trazendo para a discussão os sujeitos sociais que ficaram
nas entrelinhas no seu relato, proporcionando um estudo mais aprofundado da História do Brasil.
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Após as análises realizadas percebemos como o Rio de Janeiro era o palco das mais variadas
manifestações políticas, religiosas e sociais.

Arte urbana e a cidade de São Paulo nas décadas de 70 e 80: apoderação


delinquente na ressignificação do espaço público
Camila Goulart Narduchi
cnarduchi@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Arte Urbana, Espaço Público, Intervencionismo, Grafite.

Com a modernização e o crescimento de São Paulo a partir do século XIX, que


descentralizou comunidades, serviços e impulsionou o fluxo da globalização de informações,
acontece o 'boom' de sua arte urbana nas décadas de 70 e 80 através de uma importante
comunicação e identificação com a cultura da street art intervencionista (que declaradamente
influenciou os primeiros trabalhos de escrita urbana no Brasil). Adicionados ao caldeirão de um
regime opressor, esses fatores culminam na explosão de duas formas distintas de expressão social:
o grafite e o picho. Esses meios pouco tradicionais de expressão, que transitam entre conceitos de
transgressão, arte e vandalismo, colocam-se como uma ressignificação da cidade e também como
uma tentativa de subversão de regras, com interferências na cidade que colocam em questão a
hegemonia dos espaços públicos. Numa metrópole como São Paulo, em que na década de 70
ocorre uma grande onda de reivindicações sociais e nota-se o surgimento de grupos e aglutinações
que discutem diversas condições de trabalho, moradia e vida, fica claro o insucesso das políticas
públicas em meio a um crescimento tão acelerado da cidade e, de muitas maneiras, sem controle.
Há um desentendimento um tanto óbvio entre as vontades e necessidades dos habitantes e as
ferramentas e atitudes dos projetos urbanísticos aplicados pelos governos. Essas soluções pouco
eficientes abrem, então, portas para a ressignificação da cidade pelos próprios indivíduos que nela
habitam. O citadino traz para si a função de demarcação do espaço em que vive. Se até então várias
maneiras de utilização e apropriação do espaço público estariam cerceadas e desencorajadas após
a implantação do AI-5, em 1968, nesse ponto essas expressões artísticas urbanas que redescobrem
a política através da transgressão, numa sociedade que era tão intensamente vigiada, passam a
eclodir com grande intensidade. As intervenções urbanas em São Paulo no período, como o grafite
e o picho, são, assim, um dos meios mais importantes e intensos de transformação e reapropriação
dos espaços das ruas, tanto para a expressão cultural quanto para a política. A temporalidade em
questão se apresenta como um período em que valores e conceitos de vários campos são

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redefinidos, com uma grande reinvenção do cotidiano através de uma apoderação delinquente de
códigos culturais, criando movimentos que se firmam como provocadores da ordem vigente e que
vão surgindo como uma expressão de certos grupos e comunidades.

O lazer em Cachoeira e a nova sensibilidade urbana: remodelar as ruas para


transformar os costumes
Rosana de Jesus Andrade
ro_sfba@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Cachoeira, Urbanização, Civilidade.

Desde o século XVIII, Cachoeira foi um dos principais centros regionais do Recôncavo
Sul, dado ao seu desenvolvimento econômico e social. Opulenta e populosa, Cachoeira também
despontava como centro de manifestações artístico-culturais. A principal diversão da sociedade
cachoeirana nesse período era os saraus das festas das elites que consistiam em bailes noturnos que
ocorriam nos sobrados das famílias senhoriais. Dentre as diversões populares, destacavam-se as
manifestações afro-brasileiras, com os batuques, candomblés, sambas de roda. Outra diversão que
fazia parte do universo cachoeirano nesse período era o jogo de entrudo. Nos primórdios do século
XX, a cidade de Cachoeira assistiu a emergência de novos espaços de entretenimento e a inserção
de novos hábitos e práticas de lazer no cotidiano da cidade. Entre tais espaços, temos a criação de
clubes sociais, esportivos, cíveis-militares, beneficentes e religiosos, e cinema. Pretendemos com
esta comunicação analisar o surgimento de novos espaços de lazer na cidade de Cachoeira na
década de 1920, a partir da inauguração de uma nova sociabilidade urbana, estabelecido através de
um discurso de civilidade e modernidade.

Villa Nova Athletic Club nos jornais: O Futebol, o Sindicato e a Mina de


Morro velho (1930-1940)
Roberto Camargos Malcher Kanitz
roberto.kanitz@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Mineração, Villa Nova Athletic Club, Nova Lima, Sindicato, Futebol.

Este trabalho trata do desenvolvimento do Villa Nova Athletic Club, nos anos de iniciais
da profissionalização do futebol nas terra mineiras, com destaque para o cenário futebolístico de
Minas Gerais de um clube formado por operários da Mina de Morro Velho, em Nova Lima, e as
características afrodescendentes de seus jogadores. Podemos entender que as práticas corporais,
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como o futebol, compõem aspectos dinâmicos da vida social e que também estão submetidas às
influências da modernidade. Seus sujeitos obrigatoriamente estabelecem diálogos com as pessoas
com as quais compartilham seu cotidiano e fatalmente estão submetidos a esta dinâmica cultural
apontada. Nessa direção, as relações com o Lazer e o estar na cidade, se constituem efetivamente
de maneira histórica. Este trabalho aponta que havia também uma tensão permanente na antiga
Villa Nova entre os gestores da "Saint John Del Rey Mining Company Limited" - multinacional
Inglesa responsável pela exploração do ouro e outros metais na região, e os sindicatos de operários
mineradores. Nesse conjunto de disputas hegemônicas, objetivamos estabelecer uma análise dos
conflitos, a aproximações destes sujeitos e procurar perceber como o fenômeno do paternalismo
se desenvolveu entre a empresa e seus funcionários, tendo como mediador deste processo o clube
de futebol. Pari passu, os jogos no atualmente conhecido "Estádio Municipal Castor Cifuentes",
no bairro do Bonfim contavam com uma significativa presença dos moradores de Nova Lima
como forma de divertimento. Como fontes para esta pesquisa foram consultados jornais do
período estudado na Hemeroteca Estadual Luiz de Bessa, com destaque para a jornal "Diário da
Tarde", na Coleção Linhares disponível digitalmente, e na Hemeroteca Digital da Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro. Entretanto, um documento pode (e deve) ser entendido como um
produto da sociedade que o fabricou, de acordo com as relações de força quem aí detinha o poder.
Somente a análise da fonte de forma crítica permite ao historiador usá-lo cientificamente, ou seja,
com pleno conhecimento de causa. Desta forma, buscamos elementos que possibilitaram contar
uma história sobre este tradicional Clube Mineiro, e significou também se contrapor a uma
historiografia que afirma a prática do futebol no Brasil e em Minas Gerais estavam associada, na
sua origem, apenas a aristocracia.

Carnaval e cidade: as diversas formas de apropriação do espaço urbano


Elena Lucía Rivero
elenaluciarivero@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Cidade, Espaço, Urbano, Carnaval.

O seguinte trabalho tem como objetivo analisar, desde a perspectiva da história social da
cultura, as diversas formas de apropriação do espaço urbano, as tensões, disputas e diálogos que
surgem em torno do carnaval na cidade de Belo Horizonte. Enquanto objeto de pesquisa, o
carnaval tem sido, durante muito tempo, uma temática pouco habitual no campo da história. Esse
panorama tem mudado a partir das contribuições da história cultural e, mesmo assim, ele continuou

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sendo considerado um tema menor, periférico. No Brasil continuaram os historiadores distantes


do tema, que permaneceu, por muito tempo, foco exclusivo da atenção do folclore, da antropologia
e da sociologia, mais preocupadas com aspetos atuais do fenômeno, em suas dimensões de
massificação e organização interna. O objetivo de este artigo é pensar o Carnaval nos termos de
uma história social da cultura que o faça retornar ao leito dos conflitos, das mudanças e do
movimento próprios à história; chegar perto das tensões e diálogos entre sujeitos que nem sempre
estão reconciliados sob o reinado de Momo. Entendemos que o carnaval se realiza num tempo e
espaço determinado, nesse sentido, sua relação com a história da cidade “material” é intrincada: o
desenho urbano, as características demográficas e a distribuição espacial da população (o dialogo
com os espaços da cidade, a centralidade destes) são fundamentais para entender como se
espacializa a festa na cidade e as tensões e conflitos que surgem em torno desta, como um elemento
formador da sociabilidade urbana. Pensar a cidade exige articular o conceito de espaço. Aqui
entendemos que o espaço apresenta-se como núcleo das tensões sociais que atravessam a cidade,
ele é um dos lugares estratégicos e condensador da polissemia, lugar de cultura, de memória, de
inventos, de modos de vida e de trabalho. Esta perspectiva nos leva também a trabalhar as
territorialidades culturais e a história da cultura urbana. Recentemente, com surgimento
(principalmente desde o ano de 2009) de novos blocos de rua no carnaval de Belo Horizonte (MG)
dois discursos tem ganhado destaque: o primeiro, que a cidade de Belo Horizonte não tinha
tradição de carnaval e que se trata de algo novo; e o segundo, que, na verdade, trata-se de um
“ressurgir”, expressão que coloca a possibilidade de uma retomada de uma tradição. O carnaval e
suas memórias têm se tornado objeto de disputa entre os que acham que é uma novidade e os que
afirmam que sempre existiu.

Alunos vão ao Museu da Cidade: práticas educativas a partir da implantação


da proposta curricular da Rede Municipal de Governador Valadares/MG
Lucinei Pereira da Silva
lucineips18@bol.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Ações Educativas no Museu, Currículo, Narrativas.

Esta pesquisa busca investigar as aproximações entre a prática dos professores de História
e as ações educativas no Museu da Cidade a partir da implantação do currículo da escola de tempo
integral da Rede Municipal de Governador Valadares/MG. A metodologia se fundamentará em
duas entrevistas realizadas com os docentes que promoveram a visitação junto aos seus alunos ao

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museu. A partir dos resultados obtidos, detectamos que a sugestão para a visitação ao museu
observado na tabela curricular, não promoveu um efeito catalisador para essa prática de imediato,
já que os professores anteriormente realizavam a atividade de levarem seus alunos para uma visita
ao Museu da Cidade. Nesse sentido, enfatizamos a importância da visita educativa em museus para
construção de uma postura reflexiva e crítica pelos alunos, de modo que compreendam a realidade
que os cercam e sejam atores de sua própria história.

Políticas de Preservação e educação patrimonial: o caso da Vila Maria Zélia


Carolina Pedro Soares
carollsoares@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Educação Patrimonial, Vila Maria Zélia, Gestão da Memória, Órgãos


de Patrimônio.

A Vila Maria Zélia, construída, em 1912, por Jorge Street e com projeto original de Paul
Pedraurrieux, é um exemplar da primeira fase da industrialização paulista e da construção do
binômio indústria-vila operária. Há diversos fatores que fazem desta Vila um referencial de análise
das Vilas operarias no Brasil. Primeiramente por ter sido uma das primeiras a ser instituída. Num
segundo momento nota-se o controle interno como forma de disciplinar e incentivar a mão de
obra. Tombada desde 1992 em âmbito Estadual e Municipal, o atual momento histórico da Vila
trouxe uma pioneira reflexão sobre a necessidade de preservação e reflexão do patrimônio edificado
e as práticas institucionalizadas nos órgãos.

O lugar de reflexão em questão passa por uma ação judicial, movida pelo Ministério
Público, em que os proprietários – pessoas físicas e o INSS – e os órgãos de preservação municipal
(DPH/CONPRESP) e estadual (UPPH/CONDEPHAAT) são réus, devido a descaracterização
do bem por parte dos moradores e a inaptidão de gestão dos órgãos em relação ao tombamento, e
que tem como proposta de unidade dos envolvidos para responder a este, surge o Projeto de
Educação Patrimonial.

A questão do patrimônio perpassa toda uma gestão urbana. Não apenas o patrimônio
lavrado como de importância para a memória da sociedade, mas o patrimônio diretamente ligado
e intrínseco ao movimento diário e as pessoas que o compõe e constroem diariamente. É assim
que se propõe a memória institucional como eixo metodológico e que a partir disso possa se
incentivar a reflexão e influenciar uma reflexão partilhada, fazendo do exercício da memória um
modo de auto-avaliação das práticas institucionais. A relação da gestão da memória é que se
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construa a reflexão através do enfoque narrativo, que se compõe, fundamentalmente, de quatro


características: ser construtivo, contextual, interativo e dinâmico. Percebe-se que a escolha do
método está intrinsecamente ligada ao local de aplicação do mesmo, e toda a expectativa liga ao
ambiente institucional e suas práticas. A ideia central é que no presente, se analise o passado, para
que se possa de forma critica construir o futuro.

Não se restringindo à legislação do tombamento, mas sim a uma chancela coletiva, a Vila
Operária também busca, após tantas e profundas mudanças de seus aspectos e objetivo original,
reconhecer-se institucionalmente para a construção coletiva da memória que eles mesmos
compõem, muitas vezes sem se dar conta.

Produção e prática do espaço urbano colonial: questões teóricas e notas de


pesquisa
Tércio Voltani Veloso
terciovelosotp@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Minas Gerais, Século XVIII, Espaço Urbano.

A presente comunicação discute a possibilidade de aplicação de conceitos de ordem


sociológica para o estudo dos modos de vida nas vilas coloniais do século XVIII em Minas Gerais.
As noções de “produção” (H. Lefebvre) e “prática” (M. Certeau) do espaço, em sua aplicação
sociológica à vivência contemporânea, representa uma forma de tentar enxergar as relações que os
homens constroem com e no espaço que os cercam; operações essas que, se por um lado, são
essenciais para a vida em sociedade, por outro lado, nem sempre são registradas.

Em resumo, as formas de “produzir” e “praticar” o espaço são as atitudes dos homens


tomadas frente ao ambiente que os cercam para torna-lo útil para a sua existência. Essas atitudes,
que a primeira vista parecem triviais, são elementos essenciais do cotidiano da vida. Imaginar esse
cenário para o século XVIII mineiro coloca questões pertinentes que vão desde a ocupação da terra
pelos homens, passando pela definição dos patrimônios das câmaras e indo até a convivência entre
a necessidade de morar e subsistir cotidianamente e os de mineração. A retórica presente nas visões,
discursos e instruções políticas do século XVIII apresenta a sociedade mineira do século XVIII
como um mundo desordeiro, em constante movimento, não assentado sobre bases sólidas. A ideia
de que muito dessa desordem estava ligada à instabilidade do espaço também era recorrente, ainda
que esse tópico também fosse constante no que diz respeito aos espaços de mineração, e não uma
exclusividade das Minas Gerais. De toda forma, no lugar onde “a terra parece que evapora
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tumultos”, entre “a tumba da paz e o berço da rebelião”, agir sobre o espaço no sentido de
estabilizá-lo para a existência humana se coloca como questão urgente.

Por isso, a questão central do texto propõe apresentar um problema fundamentalmente de


pesquisa. De que forma se é possível pesquisar essas operações de domínio do espaço, não
registradas, porém essenciais no cotidiano, através de documentos burocráticos, já que não se pode
observar in loco a realização dessas práticas? Que tipos de práticas se pode rastrear na
documentação rotineira das câmaras que davam conta das formas de apropriação do ambiente
pelos homens? Por fim, há que se tentar responder em que o estudo dessas práticas acrescenta à
visão historiográfica da sociedade e das formas de vida do século XVIII mineiro.

A construção do espaço sagrado: A realização de eventos religiosos nos


locais públicos em Belo Horizonte/MG
Leonardo Augusto dos Santos
leoaugusto16@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Cidade, Espaço, Religião, Igreja, Eventos.

O artigo se dispõe a analisar e compreender as ações das Igrejas Católica e Protestante


concernente à realização de eventos religiosos nos locais públicos em Belo Horizonte/MG, onde
a partir da apropriação momentânea desses locais, torna-os sagrados e o insere no contexto da
evangelização. Dentro da descrição dos processos metodológicos, dá-se ênfase à revisão
bibliográfica e a consulta de jornais, que se mostrou adequado na proposta de compreender as
ações e experiências das pessoas e Igrejas com a religião e as questões relacionadas à religiosidade
e a apropriação dos locais públicos. Ao longo do tempo, os locais públicos vêm ganhando formas
e contornos de caráter político, religioso e social. Criando assim uma ligação entre o ser humano e
suas afinidades particulares ou comuns com um determinado local.

As cidades são, portanto, fruto das ações humanas, é através dessas ações que os locais
ganham caráter de público. A utilização dos locais públicos para a realização de um evento religioso
faz com que a interação das pessoas com o local seja mais intimista possível, tornando-os naquele
instante como um local sagrado, onde as experiências espirituais acontecem e o elo com o sagrado
se torna possível. Os locais públicos são antes de tudo, um lugar de coletividade e sociabilização,
onde também acontece a segregação e a exclusão, essa dicotomia é um desafio para a
democratização do espaço. Exercer a religiosidade nos locais públicos cessa mesmo que por um
instante o abismo social e excludente. A realização de eventos religiosos nos locais públicos,
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imprimi a esses locais um caráter de igualdade e confraternização. Por esse motivo, as celebrações
e cultos, estão transpassando as paredes dos locais santos e se firmando nos espaços públicos. As
transformações pela qual vem passando a sociedade faz com que os líderes religiosos mudem a
maneira de encarar a prática da religião. No mesmo local onde acontecem os atos profanos, é o
mesmo que se santifica.

E assim acontece em Belo Horizonte, quando as Igrejas saem do seu local santo, e se dispõe
a evangelizar nas praças, ruas e estádios, garantido assim, a expansão da fé Cristã. Portanto, os
grandes eventos realizados em Belo Horizonte, trazem consigo diversas intencionalidades seja
social, política ou espiritual. Se disponibilizar a ir a um local público e ali realizar um evento de
cunho religioso, é uma forma de mostrar a sociedade a que a cidade é um espaço democrático.

“Uma volta em redor da sala da exposição do Sr. Dr. F. Lagos”: modos e


espaços de exibição no Brasil Imperial
Verona Campos Segantini
veronasegantini@yahoo.com.br

Lúcio Flávio da Silva


lucioflaviosilva.23@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Exposição, Campo de Sant’Ana, Exibição, Espaços, Museu Nacional.

Sob o registro da efemeridade inaugura-se a Exposição da Indústria Cearense no Museu


Nacional, em 1861. Esse trabalho pretende problematizar esse episódio sob múltiplos aspectos.
Criado pelo decreto de 06 de junho de 1818, o Museu Nacional consolidou-se pouco a pouco,
como principal instituição cientifica brasileira. Foi instalado primeiramente em um edifício
localizado no Campo de Sant’Ana, lugar simbólico da cidade, expressão do poder e sociabilidade
na vida da corte. Na Década de 1850 o Museu Nacional envolveu-se com a organização da
Comissão Cientifica do Império que reuniu naturalistas cujo objetivo consistiu em inventariar a
fauna e a flora do nordeste e norte do país. A Comissão já foi escrutinada por uma vasta bibliografia
que privilegiou, sobretudo, as formas de registro, tensões entre integrantes/governo/opinião
pública. Gostaríamos, contudo de propor uma reflexão desse episódio que decorre da Comissão.
A Exposição apesar de citada e discutida sob alguns aspectos ainda guarda potencialidades de
investigação, incorporando, sobretudo, as discussões que tangenciam os modos de exibição.
Também ressaltaremos a potencialidade de problematizar a trajetória de alguns integrantes do
Museu, dentre esses, Manuel Ferreira Lagos, membro Comissão Cientifica e da Seção de Zoologia
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do Museu. Lagos reuniu uma vasta coleção ao longo da sua expedição e no retorno ao Rio de
Janeiro dedica-se à organização da Exposição. É importante ressaltar como este, atuando como o
curador da coleção, inaugura um formato expositivo e uma narrativa de exibição que reúne e
explora diferentes aspectos da cultura material do nordeste brasileiro. Sublinhamos ainda que a
exposição irá incentivar a organização da Primeira Exposição Nacional, em 1862. As principais
fontes utilizadas para essa pesquisa serão as notícias publicadas em periódicos sobre a Exposição,
dentre elas uma série de crônicas intituladas “Uma volta em redor da sala da exposição do Sr. Dr.
F. Lagos” publicadas na Semana Ilustrada. Assim, propomos demonstrar como o Museu Nacional
participa das mudanças ligadas às formas de expor engendradas nos meados do século XIX com a
realização das primeiras exposições Nacionais e Universais. A Exposição da indústria Cearense
pode ser considerada como um primeiro exercício de acomodação na dinâmica institucional do
Museu à linguagem expositiva marcada pelo episódio, pela efemeridade, pela larga visitação.

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Cultura Intelectual Brasileira (1870-1970)

Thiago Lenine Tito Tolentino


Simpósio Temático

Doutorando
UFMG
thiago_lenine@yahoo.com.br

Raul Amaro Lanari


Doutorando
UFMG
ralanari@gmail.com

Cleber Araújo Cabral


Doutorando em Estudos Literário - FALE
UFMG
clabrac1980@gmail.com

Alexandre Luis de Oliveira


Doutorando em História
PUC-RS
alexandreoliveiraluis@gmail.com

Proposta do Simpósio:

Propomos com este simpósio temático uma reflexão acerca da compreensão e a


investigação da cultura brasileira a partir de um diálogo entre distintas manifestações intelectuais -
conservadoras, libertárias, progressistas, nacionalistas, católicas, liberais e outras tendências do
pensamento. Acreditamos que o conceito de “cultura intelectual brasileira”, ao fazer frente às
limitações da clássica perspectiva do pensamento social brasileiro (por demais marcado por uma
matriz sociológica), surge como fértil norteador que possibilita abordar as aporias citadas por
considerar outros personagens e produções antes não contemplados como legítimos intérpretes da
realidade brasileira. Com isso, temos em vista a necessidade atual de se conhecer e reconhecer a
sociedade a partir de registros intelectuais variados, sem necessariamente hierarquizá-los,
especialmente segundo uma perspectiva cientificista e sociologizante. Assumindo uma abordagem
histórica, ou seja, marcada por suas temporalidades específicas, consideramos ser possível construir
uma espécie de espectro em que essas manifestações intelectuais da elaboração da vivência, seja no
registro cotidiano (crônicas, charges, canções, história em quadrinhos, cinema etc) ou no registro
de um pensamento integrado às tradições (como a literatura, filosofia, sociologia, política, direito,

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partidos políticos etc), se apresentem em constante dinâmica de trocas, conflitos e distinções.


Voltado especialmente para as experiências das modernidades e modernismos vividos e produzidos
por diferentes segmentos intelectuais, nosso Simpósio Temático procura contemplar as décadas
finais do século XIX até a contemporaneidade. Dentro desse escopo temporal, vale destacar os
lugares ocupados pelas clássicas interpretações sobre a realidade brasileira, que hoje podem ser
vistas como formas de experimentar a modernidade, como, por exemplo, as tradicionais análises
que destacaram o iberismo brasileiro (G. Freyre, Sérgio B. de Holanda e R. Faoro), ou sua
dependência/marginalidade no sistema capitalista mundial (F H Cardoso e O. Ianni). Entretanto,
consideramos necessário lançar um desafio historiográfico que nos possibilite um diálogo com essa
tradição, mas que consiga colocar novas questões sob o ponto de vista do presente das pesquisas:
seja a partir de pensadores que experimentaram a realidade moderna brasileira atualizando-se
segundo a literatura estrangeira, especialmente europeia, mas também Sul e Norte Americana, do
século XIX e XX, seja com processos culturais, políticos e sociais que caracterizam modernização
dos espaços urbanos brasileiros.

Comunicações:

Salvar a nação: Intelectuais, cultura e política na Revista de História e Arte


(1963-1966)
Camila Kezia Ribeiro Ferreira
camilakeziarf@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: História Intelectual, Identidade Nacional, Revistas.

A presente comunicação visa apresentar os diferentes temas abordados pela Revista de


História e Arte, publicada em Belo Horizonte durante a década de 1960, no intuito de discutir este
periódico como um projeto de uma rede de intelectuais que buscava imprimir, através de seus
artigos, propostas para a construção de uma nacionalidade. Para isso apresentaremos o corpo
editorial, a organização das 7 revistas publicadas e um levantamento das temáticas abordadas por
esse periódico. Em um segundo momento analisaremos os projetos e as representações que
propõem a salvação da democracia e da identidade nacional. Dentre tais temáticas observaremos
com maior atenção os artigos acerca da Guerra do Paraguai, do patrimônio artístico nacional e do
Golpe civil-militar de 1964.

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As narrativas sobre a independência do Brasil: a produção historiográfica da


década de 1960 e 1970
Ana Tereza Landolfi Toledo
landolfiat@gmail.com

Gabrielle Melo da Silva


gabrielle_ms7@hotmail.com

Fernanda de Laet Souza


nanda_laetsouza@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Historiografia Brasileira, Independência do Brasil, Crise do Antigo


Regime.

A temática relacionada a independência do Brasil e a formação do Estado Nacional vem


sendo revisitada na historiografia brasileira nos últimos anos. Buscou-se entender as singularidades
que permearam o período, de maneira a focalizar a ação dos indivíduos em um processo de
constante debate dos projetos políticos e da intensa negociação dos sujeitos partícipes do processo.
Aliás, este tema vem sendo abordado, pela historiografia, ao longo de todo século XX e suas
análises confluem com o contexto de formação dos autores. Neste sentido, nosso objetivo recai
justamente na compreensão de como a historiografia brasileira das décadas de 1960/1970
analisaram as mudanças nos quadros políticos da época que possibilitaram a Independência do
Brasil. Desta maneira, buscamos problematizar autores como Fernando Novais, Emília Viotti da
Costa, Maria Odila Leite da Silva, examinaram o contexto de crise do Antigo Regime e o
relacionaram com o processo de rompimento do Brasil com Portugal. Percebendo, conjuntamente,
como a construção argumentativa dos autores relaciona-se com o contexto da época. Contexto
este marcado pelo pensamento cepalino, pelo estruturalismo e pela publicação do livro “1822:
Dimensões”, no qual Fernando Novais e Carlos Guilherme Motta, enquanto organizadores,
reúnem uma gama de historiadores que se debruçam sobre o tema na década de 1970.

A literatura como instrumento para a construção da nação republicana na


obra de José Veríssimo
Isabela Lemos Coelho Ribeiro
isalemos.coelho@gmail.com

Essa apresentação se propõe a pensar as concepções que envolveram a literatura como um


importante instrumento para a concretização de um projeto de nação republicana, a partir de
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algumas obras de José Veríssimo (1857-1916). Para tanto, partimos da seguinte questão: por que a
literatura é importante para a construção da nacionalidade? As preocupações de José Veríssimo
não apenas com a literatura, mas também com a educação, inserem esse intelectual em um amplo
debate acerca da construção no Brasil de uma nação que estivesse pautada em ideais republicanos,
em um contexto no qual a República já estava instaurada, mas carecia ainda de um discurso político
que incorporasse os símbolos e os valores de um patriotismo cívico. Nesse sentido, o engajamento
tornou-se uma exigência para muitos intelectuais que mobilizavam essas questões em seus
trabalhos. Nos trabalhos de José Veríssimo, tal debate ocupa papel central, principalmente ao
pensar a literatura brasileira. Assim, o crítico busca compreender o papel da literatura em uma
sociedade, quais os pressupostos que diferenciam a literatura brasileira, quais os autores a iniciaram.
Com esse objetivo, a principal obra de análise para essa apresentação será “Cultura, literatura e
política na América Latina”, uma compilação de artigos escritos por José Veríssimo entre 1912 e
1914. Nessa obra, ao elaborar estudos sobre a literatura e a cultura na América Latina, pode-se
perceber importantes elementos sobre a concepção de literatura por ele elaborada, e ainda como
esse autor considerava a literatura como um instrumento para se pensar uma nação. A importância
da literatura na construção de uma nacionalidade é expressa pela ideia de que, segundo Veríssimo,
“não há na verdade nação sem literatura”. Nesse sentido, o trabalho de José Veríssimo tanto como
crítico como autor de uma história da literatura brasileira, mobiliza conceitos capitais para o debate
que se constituía, como nação, identidade, republicanismo, raça, pátria. Essa perspectiva propicia
perceber elementos desse projeto republicano no qual José Veríssimo atuou ao pensar a literatura
e a educação como elementos de uma cultura patriótica.

Aproximações intelectuais entre brasileiros e hispano-americanos via


RIHGB (1889-1894)
Andrezza Kelly Lisboa Fernandes Pinto
aklfp@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Intelectuais, América Latina, República, Impressos, IHGB.

A proclamação da república no Brasil trouxe consigo algumas transformações nas relações


entre Brasil e seus vizinhos hispano-americanos. Neste sentido, diversos autores afirmam que
apesar da saída da monarquia do poder os brasileiros continuaram de costas para a América
Hispânica e voltados para a Europa e/ou para os Estados Unidos. O objetivo deste trabalho é
demonstrar as aproximações desses intelectuais promovida ou divulgada pelo IHGB e sua revista
trimestral. As fontes apresentam indícios que relativizam o dito afastamento. Como o IHGB era o
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centro da produção histórica oficial nacional, compreende-se que a presença de membros hispano
americanos, as menções a esses países e indivíduos nas reuniões do instituto e a existência de
publicações de artigos sobre os mesmos, denota a relevância atribuída aos intelectuais e assuntos
da América Ibérica. Compreende-se ainda, que o contato entre os países da América Latina
favoreceu a produção e circulação de ideias e impressos, bem como os contatos e as trocas culturais
e intelectuais entre esses indivíduos. Desta forma, valoriza-se a história dos livros, da edição e da
leitura, principalmente no que diz respeito aos impressos e revistas, e a história dos intelectuais e
das ideias. Acredita-se que por meio deste estudo será possível matizar a ideia dominante sobre o
distanciamento entre Brasil e a "outra América" utilizando o exemplo do IHGB e seus intelectuais.
Além disso, pretende-se chegar a uma aproximação sobre a identidade dos intelectuais em questão
no que diz respeito ao seu relacionamento com os demais países do continente e para tanto
conceituar-se-a americanismo, pan-americanismo, latino-americanismo e outros "ismos". Assim,
será possível compreender em que medida os intelectuais do IHGB se sentem próximos, ou parte,
daquilo que convencionou-se chamar, apesar de todos os problemas conceituais, de América
Latina.

Rúina e desespero: falência da cultura liberal e democrática no interior da


cultura intelectual brasileira nos anos 1920
Thiago Lenine Tito Tolentino
thiago_lenine@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Primeira República, Irracionalismo, Racionalismo, Cultura intelectual


brasileira, Culturas Políticas.

Esta comunicação insere-se no plano geral das pesquisas em torno do conceito de "cultura
intelectual brasileira" que venho desenvolvendo há algum tempo. Nesta oportunidade, tratarei das
produções simbólicas, de maneira significativa, passam a delinear os traços da decadência da
República brasileira, apontando suas fragilidades num escopo maior de ruína dos próprios valores
democráticos e liberais segundo a tradição oitocentista. De maneira geral, a experiência da Grande
Guerra propiciara a emergência de variadas tendências culturais e políticas que, cada vez mais,
afastaram-se das orientações racionalistas e universalistas legadas pela tradição iluminista, abrindo
espaço à valorização das representações "realistas" e irracionalistas do político e da cultura.

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“Abrasileirar o Brasil”: um problema modernista?


João Victor Rossetti Brancato
jvbrancato@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Vanguarda, Crítica de arte, Nacionalismo, Modernidade.

Ao longo das últimas décadas, o fortalecimento de uma historiografia comprometida com


os estudos acerca da arte brasileira no século XIX vem desconstruindo aquilo que Teixeira Coelho
chamaria de teoria monolítica da cultura brasileira firmada pelo Modernismo paulista. A
relativização de seus discursos e práticas abriu possibilidades para uma compreensão mais ampla e
menos dogmática da História da Arte Brasileira (CHIARELLI, 1995).

A partir de uma observação detida sobre a produção crítica carioca acerca das artes visuais
durante a Primeira República, fica evidente a complexidade existente entre os binômios tradição e
modernidade. (CAVALCANTI, 2005) Por consequência, na historiografia, classificar a produção
artística e crítica desvinculada ao Modernismo como mero passadismo é incorrer em um profundo
erro analítico, assim como julgar o movimento paulista estritamente moderno, em sua acepção
original (FABRIS, 1994).

Pelo contrário, sob alguns aspectos é possível encontrar semelhanças discursivas


expressivas entre as mais variadas personalidades que se detiveram sobre o campo artístico nesse
momento, sobretudo em torno da questão nacional. De fato, conforme nos atesta Chiarelli, a
orientação nacionalista nas artes nunca foi “retomada”, pois nunca deixou de existir desde o século
XIX (CHIARELLI, 2007).

O objetivo desta comunicação é traçar um panorama da questão nacional nas artes


brasileiras utilizando como base alguns dos discursos da crítica de arte produzidos entre os fins do
século XIX e início do XX - marcadamente até o fim de sua segunda década -, publicados nos mais
variados periódicos. Contemplaremos personagens como Angelo Agostini, Felix Ferreira, Gonzaga
Duque, Monteiro Lobato, Oswald e Mário de Andrade. De importante contribuição para essa
análise também serão os testemunhos de artistas em inquéritos realizados por Adalberto Mattos e
Angyone Costa. Pretendemos demonstrar, conforme alguma historiografia já tem feito, como
alguns dos anseios daqueles que apoiavam a Semana de Arte Moderna de 22 já haviam sido objeto
de consideração em artigos de crítica de arte anteriormente por aqueles que passariam a ser
considerados "passadistas".

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As Inspirações Francesas do Movimento Republicano no Brasil (1869-1889)


Dievani Lopes Vital
dievanilopesvital@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: República Francesas; Republicano, Revolução, Movimento Brasileiro.

O presente projeto de pesquisa tem por finalidade propor a investigação das inspirações
francesas que orientaram a propaganda da parcela republicana do movimento político-intelectual
de contestação às estruturas do Império, em seu contexto de emergência no Brasil das décadas de
1870-1880. Em outros termos, busca-se investigar empiricamente o significado da França
republicana de 1792, 1848 e, principalmente, a de 1870 para o incremento da propaganda do
movimento republicano no país, através das práticas discursivas dos seus agentes mais destacados,
empregando para isso as tipologias disponíveis de registros escritos (jornais, discursos, obras
bibliográficas). Em vista disso, partimos da hipótese de que à medida em que no Império se
aproximou as comemorações do Centenário da Tomada da Bastilha houve sim o crescimento da
opção por uma saída alternativa, que não foi a reformista, por parte de membros da parcela
republicana dos letrados de 1870, a fim de dirimir a “questão do regime” discutida no Brasil. Nesse
quadro, acreditamos que da tradição republicana francesa veio boa parte do ideal que inspirou os
agentes brasileiros na concepção dessa segunda via. Como base teórico-metodológica trabalhamos
com a ideia de apropriação, conforme é discutida por Roger Chartier, e levamos em conta os
pressupostos da história dos conceitos em sua vertente inglesa e alemã.

Representações sobre o passado e projeções para o futuro nas interpretações


históricas de Euclides da Cunha e Manoel Bomfim no limiar do século XX
no Brasil
Fernanda Miranda de Carvalho Torres
fernanda_mdecarvalho@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Movimento Intelectual, Euclides da Cunha, Manoel Bomfim,


Modernidade Literária.

Partindo da compreensão de que os desdobramentos políticos e sociais da virada do século


XIX para o XX no Brasil se inscrevem numa conjuntura de modernidade literária, propiciada pela
intensa circulação de ideias estrangeiras, propomos uma reflexão sobre Os sertões (1902) de
Euclides da Cunha e A América Latina: males de origem (1905) de Manoel Bomfim a partir do
movimento intelectual forjado pela recepção dessas ideias e de suas possibilidades interpretativas
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para a história nacional. Buscamos problematizar de que forma esses autores lidaram com a
sensação de deslocamento da cultura brasileira e do afastamento da história nacional, como coletivo
singular, de um contexto moderno e universal da civilização ocidental. Observamos de que forma
a constatação desse distanciamento e as tentativas de colocar o país ao “nível do tempo”, deram
subsídios à intelectualidade no início do século XX para a construção de imagens sobre o país que
ressaltavam o “atraso nacional”, reforçado pela incongruência entre passado e presente e a crença
na coexistência entre civilização e barbárie, a partir da recepção e apropriação do evolucionismo e
de suas variações no âmbito do pensamento social brasileiro. Projetaram-se no horizonte intelectual
discursos pessimistas sobre a realidade social, servindo a construção da temática temporal do
“atraso nacional”, destacando-se interpretações que ressaltavam o descompasso entre Estado
(sistema político) e sociedade (cultura nacional). Nesse contexto, as obras de Euclides da Cunha e
Manoel Bomfim se constituem como esforços de interpretações sócio-históricas do Brasil,
conferindo ao seu desenvolvimento critérios de integibilidade próprios e configurando
representações sobre o passado que se localizam a partir de uma dimensão prospectiva de futuro.
Seus ensaios de interpretação histórica constituem-se ao mesmo tempo como espaço de debate
para os “problemas nacionais brasileiros” e lugar de realização de “projetos para a organização
nacional”, onde o processo de formação nacional é contemplado como questão norteadora para a
resolução de entreves ao futuro, seja por uma perspectiva localizada nos limites territoriais
nacionais, conforme vemos em Os sertões, ou por uma dimensão de história pátria cuja amplitude
é compreendida pelas suas relações intercontinentais, de acordo com A América Latina.

Yes, nós temos Villa-Lobos: leituras de uma nação musical em Nova York
Loque Arcanjo Junior
arcanjo.loque@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Cultura Intelectual, Villa-Lobos, Estados Unidos, Música.

A partir sua primeira viagem aos Estados Unidos, em 1944, as relações do compositor e
maestro brasileiro Heitor Villa-Lobos (1887-1959) com artistas e com o público norte-americano
se intensificaram e se mantiveram até sua morte em 1959. O mesmo pode-se dizer sobre a execução
de suas obras que passaram a ser interpretadas pelas mais renomadas orquestras daquele país. As
primeiras viagens do compositor para a America do Norte renderam-lhe criticas em jornais e em
artigos especializados, além da publicação de biografias escritas por biógrafos norte-americanos.
Uma importante rede de sociabilidades tecida por Villa-Lobos pode ser observada em periódicos,

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em especial no The New York Times, mas também na sua linguagem musical. Fontes importantes
para pensar a difusão da cultura brasileira em relação ao Pan-americanismo, desta documentação
emerge uma ampla rede de escuta tecida em meio a diálogos com articulistas de jornais, músicos e
políticos. Da mesma forma, as produções musicais do compositor nos Estados Unidos, tal como
seu musical para a Broadway, intitulado Magdalena, são fontes importantes para se pensar a
construção de uma cultura intelectual dinâmica que explicita uma leitura histórica particular da
cultura brasileira marcada pelas questões políticas e culturais daquele contexto.

A regressão nacional: a República no pensamento monarquista-católico


Flávio Raimundo Giarola
flaviogiarola@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: República, Monarquistas, Nacionalidade.

A proclamação da República causou a reação política imediata de diversos monarquistas e


católicos que não concordavam com o fim do Império e com a implantação de um regime político
considerado estranho às tradições nacionais. Esta reação, contudo, não se fez apenas no nível da
atuação direta contra o governo, por meio de tentativas de golpe, ela também se deu no âmbito do
discurso nacional, no qual os monarquistas desenvolveram uma série de representações que
idealizavam o passado e, ao mesmo tempo, condenavam o presente. Neste sentido, o presente era
uma mancha na história pátria. Militarismo, fim das liberdades civis, aproximação com nações
incompatíveis com a índole do brasileiro e o fim do vínculo arduamente construído com a Igreja
de Roma eram aspectos que diagnosticavam o estado doente do país. A civilização havia chegado
a seu fim com a República e a rota em direção ao progresso, lentamente projetada pela monarquia,
tinha sido destruída. Sendo assim, o objetivo de nosso trabalho é analisar os argumentos deste tipo
utilizados por um grupo de intelectuais monarquistas liderados por Eduardo Prado, que se
empenharam em mostrar o estado caótico do governo republicano. Ao mesmo tempo em que estas
reflexões serviam como plataforma política, elas também mostravam uma visão monarquista da
história, na qual o trabalho de formação da nacionalidade conduzido pelos grupos vinculados à
Monarquia estava ameaçado de ser destruído por uma ditadura militar imposta pelos "golpistas de
15 de novembro". Defendemos, portanto, que a crítica feita à República, mas do que meramente
uma escolha partidária, refletia os vínculos afetivos dos intelectuais monarquistas com um passado
perdido, com um Brasil sustentado nas raízes ibéricas, considerado por eles a verdadeira civilização.

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A construção historiográfica e o pensamento político-social brasileiro


Rodrigo Badaró de Carvalho
rodrigobadaro@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Fernando Henrique Cardoso; Desenvolvimento Associado, Pensamento


Político-Social.

Durante boa parte da história brasileira, pensadores de diversas áreas se aventuraram na


tentativa de construir grandes narrativas sobre o Brasil, não por outra razão foram tantas vezes
tratados como os “intérpretes do Brasil”. Tais narrativas, que traziam aspectos políticos,
econômicos, sociais e culturais, foram construídas a partir de determinadas concepções da história
nacional. É assim, pois, que autores como Sérgio Buarque de Holanda, Raymundo Faoro e mesmo
outros, como Caio Prado Júnior e Florestan Fernandes, construíram suas narrativas acerca do
Brasil. São autores que traziam contribuições para o próprio estudo da História e, ao mesmo tempo,
se valiam dela para promover grandes interpretações e também para inaugurar novas chaves de
leitura para a compreensão do país.

Essas construções apareceram sintetizadas, sobretudo a partir dos anos 1960, na obra de
um renomado intelectual brasileiro, qual seja, Fernando Henrique Cardoso. Seu trabalho dialogou
fortemente com aquelas construções já tradicionais do Brasil, o que de resto o próprio autor deixou
claro em sua obra Pensadores que inventaram o Brasil, lançada em 2013. Se valendo dessas
construções acerca do Brasil, e também indo para além delas, desenvolveu seu livro de maior
impacto, Dependência e Desenvolvimento na América Latina, no qual apresentava detalhadamente
seu projeto de “Desenvolvimento Associado”. Esse projeto viria a constituir a base de seu projeto
de governo nos anos 1990, quando se elegeu duas vezes consecutivas para a Presidência da
República.

Tal projeto propunha romper com a concepção político-econômica do Nacional


Desenvolvimentismo, que teve seu auge nos anos 1950, no Instituto Superior de Estudos
Brasileiros (ISEB). O discurso, feito quando de sua despedida do Senado Federal, ainda em 1994,
evidenciava a vitória desse projeto que colocaria fim ao “que resta da Era Vargas no Brasil”.

Percebendo, pois, as conexões não só entre as construções tradicionais da historiografia


com a obra de Fernando Henrique, mas também as continuidades existentes entre o Sociólogo e o
Presidente da República, se torna necessário voltar com o olhar crítico para essa tradição de
pensamento. E, em última, análise, é preciso revisitar e reconstruir a história política e social

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brasileira para desconstruir o projeto de desenvolvimento associado forjado ainda nos anos do
regime militar e que segue em curso no Brasil dos anos 2000.

A vida dos homens insignes


Cleber Araújo Cabral
clabrac1980@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: História intelectual, arquivos literários, Murilo Rubião.

Nesta comunicação, apresentarei um dos desdobramentos de minha pesquisa de


doutorado: a leitura de um conjunto de documentos localizados no arquivo do escritor Murilo
Rubião (1916-1991). Tratam-se de 266 fichas de arquivo, em papel cartão pautado de 10 cm x 8
cm, elaboradas pelo escritor entre 1965 e 1966. Cada um destes documentos contém nome
completo, relação estabelecida por Rubião com a pessoa, especificação das atividades exercidas
pelo indivíduo em questão (às vezes, seguida de adjetivos de valor), endereço, especificação de
gaveta e pasta do arquivo pessoal rubiano em que se encontra(va)m situados cartas, fotografias ou
outros documentos relacionados à pessoa em questão. Nesse “arquivo do arquivo”, pequena
antologia de existências de homens insignes, há como que uma cartografia das relações de
sociabilidade de Murilo Rubião com nomes da vida cultural e política brasileira do século XX.

Alceu Amoroso Lima e o Integralismo: uma relação próxima?


Alexandre Luis de Oliveira
alexandreoliveiraluis@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Alceu Amoroso Lima, Catolicismo/Integralismo, Cardeal Alceu Amoroso


Leme.

A presente proposta de comunicação tem como foco a atuação do intelectual Alceu


Amoroso Lima, à frente do laicato brasileiro e sua aproximação com a Ação Integralista Brasileira.
Homem próximo do Cardeal Sebastião Leme, Alceu, também conhecido como Tristão de Athayde,
ganhou prestigio junto ao laicato brasileiro e assumiu cargos importantes no catolicismo após a
morte de Jackson de Figueiredo. Figueiredo foi o principal articulador do Centro Dom Vital,
formado na década de 1920, tinha como objetivo formar e fortalecer o laicato para enfrentar o
processo de laicismo que vinha ocorrendo no Brasil desde a implantação da República. Com a
morte de Figueiredo em 1928, o Centro passa a ser presidido por Alceu, quem também coordenou
vários outros grupos católicos, sendo o principal, a Ação Católica Brasileira. Em 1936, Alceu lançou
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o livro Indicações Políticas, no qual, dedicou um capítulo para a relação dos católicos com o
Integralismo. Após 1938, com o Estado Novo e a ilegalidade imposta ao Integralismo, Alceu será
muito criticado pela publicação de seu livro, sendo associado aos integralistas. A presente proposta
de comunicação pretende analisar os desdobramentos da publicação do livro de Alceu, sua relação
com o Integralismo e quais as consequências podem ter sido geradas para o catolicismo e a figura
do Cardeal Leme.

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História da Educação: passado e presente nas


diferentes práticas e processos educativos

Sidmar dos Santos Meurer


Simpósio Temático

Doutorando
UFMG
sid_meurer@yahoo.com.br

Luísa Marques de Paula


Mestranda
FAE/UFMG
luisadepaulam@gmail.com

Leonardo Ribeiro Gomes


Doutorando
UFMG
leorigomes@hotmail.com

Fabrício Vinhas Manini Angelo


Doutorando em Educação
FAE/UFMG
fabriciovinhas@gmail.com

Cleidimar Rodrigues de Sousa Lima


Doutora em História
UFMG
cleidimary@hotmail.com

Bruno Duarte Guimarães Silva


Mestrando
UFMG
brunodgs@gmail.com

Proposta do Simpósio:

Na convergência entre os campos de pesquisa histórica e educacional, se observou nos


últimos anos o crescimento de pesquisas que ajudam a consolidar e a (re)definir a área de História
da Educação. Impactado pelos movimentos de renovação historiográfica, juntamente ao avanço
da pesquisa educacional subsidiada pelas diferentes áreas de conhecimento das quais a Educação
retira seus saberes fundamentais, a História da Educação tem investido nos questionamentos sobre
os rumos trilhados pela educação no Brasil, especialmente problematizando temas caros ao debate
em torno desse universo, como o direito de acesso a educação e a qualidade da escola pública, as

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relações de poder (étnicas, de classe, de gênero) e suas implicações em práticas e processos


formativos, entre outros. O alargamento da concepção de educação, compreendida como um
conjunto de práticas e processos sociais e culturais, provocou a ampliação das investigações que se
voltam para objetos tão diversos como as diferentes práticas de ensino e aprendizagem, as
disciplinas e os currículos escolares, a formação de professores e/ou outros agentes culturais, as
práticas de leitura e escrita, as dinâmicas de circulação de impressos e artefatos culturais, além da
ressignificação de temáticas tradicionais da história educacional como as políticas educacionais, o
investimento público em educação, e a circulação de ideias pedagógicas. Além disso, crescem o
número de investigações que se voltam às diferentes formas de se educar para além da escola, como
através da imprensa, da música, do teatro, cinema; e a construção de laços de sociabilidade e redes
de sentimentos ligados a relações de identidade e pertencimento mediados por organizações de
classe, costumes populares, manifestações religiosas, etc. Nesse sentido, o propósito desse
Simpósio Temático é o destabelecer um diálogo sobre os sentidos destas diferentes formas de
educar pensadas na relação passado-presente. Para tanto, pretende congregar pesquisas em torno
da temática educacional a partir de múltiplos agentes, recortes, conceitos e metodologias.
Acreditamos que a articulação entre pesquisadores que se dedicam aos diversos fenômenos
indicados anteriormente, assim como aos modos como a educação e as práticas educativas foram
apropriadas e representadas pelos agentes históricos e pela historiografia, pode sustentar um debate
que nos permite compreender os significados históricos das diferentes formas de se educar no
Brasil.

Comunicações:

Dos Debates sobre Ensino Religioso às Aulas da Doutrina Cristã na


Instrução Pública Primária da Província do Ceará entre 1870-1890
Cleidiane da Silva Morais
cleidimorais2010@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

Este trabalho trata-se de uma pesquisa em andamento que tem como recorte a Província
do Ceará nas décadas de 1870 e 1890 que compreende desde a “Questão Religiosa”, momento
culminante de disputa de poder, envolvendo a Igreja Católica de tendência marcadamente
ultramontana e a Maçonaria brasileira até o fim do Padroado em 1890. Busca discutir os embates

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entre as aspirações de caráter liberal, que defendiam o fim do ensino religioso nos currículos da
Instrução Pública Primária nos anos finais do Império, como importante meio para a construção
de uma nação “moderna”, e as posições das elites eclesiásticas e leigas que consideravam o ensino
da moral evangélica católica fundamental para o crescimento e prosperidade social e moral do país.
Para isto, analisaremos o ensino religioso no cotidiano das aulas públicas primárias, assim também,
como os discursos destas elites se articularam na imprensa em defesa do ensino religioso, em um
contexto cada vez mais crescente de circulação de ideias consideradas “liberais”, como a laicidade
do ensino público e a secularização dos programas escolares. Estas ideias defendiam um ensino
leigo e obrigatório, a diversificação dos programas escolares e a valorização do ensino científico,
combatendo o ensino baseado unicamente na leitura, na escrita, no cálculo e na doutrina cristã.
Esta questão estava intimamente ligada às discussões nos meios políticos e intelectuais sobre a
importância da “formação completa” das crianças, ou seja, ao tripé corpo, mente e espírito e sua
vinculação com a emergência do capitalismo com as tentativas de construção do homem são e
laborioso.

Ensino de história, cidadania e nação em Manoel Bonfim


Carolina de Oliveira Silva Othero
carol_othero@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE:

A proposta dessa apresentação é analisar as concepções de ensino de história presentes na


obra de Manoel Bonfim (1868-1932), bem como compreender o lugar que esse pensador conferiu
à história ensinável na construção da cidadania republicana e da nação brasileira. Os diversos
projetos políticos republicanos que emergiram a partir da segunda metade do século XIX, bem
como a proclamação da República em 1889, impuseram questões importantes à intelectualidade
brasileira: como construir uma cidadania republicana? Como equacionar a tríade Estado, povo e
nação de forma a dar sentido e legitimidade ao novo governo? Nesse contexto, a escrita e o ensino
da história foram concebidos como fundamentais para a consolidação do regime republicano. A
história deveria ser elemento central da construção de uma cultura cívico-patriótica capaz de
produzir cidadãos. Por outro lado, ela deveria ser também elemento de unificação do povo
brasileiro, despertando, nas palavras de Bonfim, entusiasmo e devoção pela comunidade nacional.
Diversos intelectuais participaram dessa agenda de debates, buscando solucionar o dilema de qual
o melhor modo de escrever a história nacional, bem como quais os procedimentos deveriam ser

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seguidos na construção e no ensino do conhecimento histórico. Dentre esses intelectuais, Monoel


Bonfim ocupou um lugar importante, participando das discussões sobre as finalidades que a
disciplina escolar história deveria assumir num contexto republicano. Para se compreender essas
finalidades, serão analisados os livros didáticos escritos por Manoel Bonfim, especialmente Através
do Brasil (1910), bem como os seus diversos pronunciamentos na imprensa a respeito do ensino
de história. Essas fontes primárias serão analisadas a partir das seguintes questões: qual a concepção
de nação e de história de Manoel Bonfim? Quais personagens, eventos e processos são destacados
como fundamentais no ensino da história pátria? Quais os melhores métodos para ensinar essa
história? Por fim, qual tipo de experiência do tempo emerge dessa história ensinada? Desse modo,
conclui-se que pensar as concepções de ensino de história na obra de Manoel Bonfim pode trazer
contribuições importantes para a história do ensino de história no Brasil.

História, educação e imprensa: um estudo de caso sobre os escritos do Prof.


Coelho Sampaio nos jornais cearenses dos anos 1940
Manuelle Araújo da Silva
manuelle.araujosilva@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Educação, Instrução, Imprensa.

Em janeiro de 1944, o popular matutino diário fortalezense, Gazeta de Notícias publicou


o primeiro número da coluna intitulada Ensino e Educação, assinada por Coelho Sampaio. Com
periodicidade irregular, mas sendo, via de regra, semanal, a referida seção perdurou até janeiro de
1950. Essa coluna, que se concretizava através de cartas enviadas pelo autor à Redação do jornal,
destaca-se por ser um espaço fixo destinado a refletir sobre motes educacionais. Esses escritos se
inserem nos moldes de ensinamentos ou sistematizações de passos a serem seguidos, a fim de se
alcançar o melhoramento da Educação, avaliando como correlato a isso, o engrandecimento da
Nação. Esta pesquisa tem como objetivo buscar compreender, a partir da coluna Ensino e
Educação, assinada pelo Prof. Coelho Sampaio no jornal cearense Gazeta de Notícias, de 1944 a
1950; como se articulam discursos sobre uma instrução escolar e uma educação social pautada na
moral, na disciplina e no civismo, sob a égide do progresso pátrio. As fontes deste estudo se
caracterizam principalmente como hemerográficas, mas traça diálogos com outros documentos
como a Reforma Educacional Gustavo Capanema; a Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos
(RBEP); o Almanaque de Fortaleza; o Censo Demográfico do Ceará; bem como literatura didática.
No que concerne aos aspectos metodológicos, utiliza-se o conceito de jogos de escala, delineado
por Jacques Revel, de modo a investigar as relações dos meandros sociais e educacionais, variando
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os ângulos de análise entre abordagens "micro" e "macro". Conclui-se, como resultados parciais,
que o conceito de educação e de educação social mostram-se como mais centrais do que o de
ensino e o de instrução escolar, por serem geradores de outros conceitos atrelados às noções de
moral, civismo e ordem, embora na investigação eles sejam pensados em relação.

Considerações de Cecília Meireles Sobre o Educador-professor: crônicas e


confrontos por uma nova educação (Rio de Janeiro, 1930-1931)
Denilson de Cássio Silva
denicult@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Educação, Educador-professor; Cecília Meireles.

A presente comunicação tem como objeto de estudo o pensamento político-pedagógico da


educadora, professora, jornalista, tradutora, cronista e poeta Cecília Meireles, durante os anos de
1930 e 1931, período de profundas mudanças na sociedade e na política brasileiras. O objetivo
precípuo é compreender a concepção ceciliana sobre a formação, a atuação e as qualidades do
educador-professor, em concatenação com o movimento escolanovista e em confronto com a
crítica a tal projeto. Para tanto, o escopo documental utilizado constitui-se de uma amostra de 14
crônicas, publicadas no Diário de Notícias, do Rio de Janeiro. Em termos metodológicos, as
referidas crônicas foram selecionadas de um grupo de 46 escritos, com base no critério de
reconhecimento, no título, de referências diretamente relacionadas com o problema posto. Passou-
se, então, à transcrição dos trechos mais significativos para o estudo almejado e, a seguir, à
identificação de termos e expressões que se destacassem no processo de caracterização do
educador-professor. A partir desse procedimento, desenvolveu-se a análise, em contato com a
bibliografia pertinente. Os resultados obtidos revelam que, no entender de Cecília Meireles, as
qualidades positivas do educador-professor estariam relacionadas com a capacidade de observar a
“alma do aluno”, respeitando-lhe “a personalidade”; com uma formação marcada pela “paixão pela
psicologia infantil”; com a vivência de uma “flama interior” idealista, disposta a arcar com
“sacrifícios” e a conquistar “o bem, elevado mas árduo, de se aproximar de seus alunos”; com a
disposição “para se emocionar diante de cada temperamento”, para “ter imaginação para sugerir”,
para “ter conhecimentos para enriquecer os caminhos transitados”; com a “formação cultural,
formação técnica, mas, acima de tudo, formação da personalidade, constituição do caráter”; com a
coerência que confirma na prática, o que é ensinado com palavras; com a “coragem de se corrigir”
e de continuamente “aprender”; com a atitude de se colocar como “criatura humana” no mundo e
em convivência com os outros; com a capacidade de “se desiludir” e de “renascer em ilusões”. As
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conclusões da pesquisa indicam que tais virtudes estavam em consonância com os princípios da
Escola Nova, mostrando, ao mesmo tempo, ênfase no aspecto crítico-idealista, característica da
intervenção e da contribuição de Cecília Meireles no debate sobre o perfil docente desejável para
os rumos da educação brasileira.

Subsídio Escolar para Crianças Carentes: um estudo de caso sobre a caixa


escolar Raul Soares
Denilson Santos de Azevedo
dazevedo@ufv.br

Roberta Geraldo Pereira


betagpereira@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Subsídio escolar, Caixa Escolar, Descentralização.

Este artigo analisa uma das medidas de descentralização do financiamento da educação


pública brasileira, adotada desde o Império e que existe ainda hoje, mas com características
diferenciadas da sua concepção original: a Caixa Escolar. O trabalho discute, em linhas gerais, sobre
a criação e implementação da Caixa Escolar em Minas Gerais e o papel social esperado desta para
garantir a inserção e manutenção escolar dos alunos mais carentes. Além disso, ele apresenta um
estudo de caso sobre o funcionamento da Caixa Escolar Raul Soares (CERS), pertencente ao
Grupo Escolar Cel. Camillo Soares (GECCS) do município de Ubá, Minas Gerais, no período de
1932 a 1941. As metodologias utilizadas no artigo foram: revisão de literatura a respeito do
funcionamento das Caixas Escolares em Minas Gerais; leitura e análise das atas de reuniões do
GECCS dos anos de 1937 a 1941 e do Estatuto Interno de reorganização da CERS do ano de 1937;
e pesquisa no jornal da cidade de Ubá, “O Lábaro”, entre os anos de 1930 e 1940. A partir dos
documentos analisados, foi possível identificar aspectos que envolveram o funcionamento da
CERS e o papel que diferentes sujeitos sociais exerciam nesta entidade beneficente.

El Trabajo Docente durante la Dictadura Militar en Chile (1973-1990):


legislación autoritaria y violencia política como política pública educacional
Felipe Andres Zurita Garrido
felipe_zuritag@yahoo.es

PALAVRAS-CHAVE: Trabajo Docente, Políticas Públicas Educacionales, Dictadura Militar en


Chile.

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En este trabajo se busca analizar las Políticas Públicas Educacionales referidas al Trabajo
Docente construidas por la Dictadura Militar en Chile (1973 – 1990). Se defiende la hipótesis de
que para la Dictadura Militar el Trabajo Docente se constituyó en una dimensión de primera
importancia con miras a viabilizar su proyecto político/ideológico a través de la institución escolar.
Esta importancia, derivó en la realización de una serie de iniciativas de cambios en la estructura del
Trabajo Docente, como así también en la transformación de la escuela en tanto espacio
representativo de “lo público”. Esta doble transformación necesitó de una intervención sin
precedentes del Estado sobre el colectivo del Profesorado, que se realizó en diferentes planos, los
que al ser analizados panorámicamente, entregarán resultados interesantes sobre la especificidad de
dicha intervención. En este contexto, de forma específica y central, las Políticas Públicas
Educacionales referidas al Trabajo Docente se constituyen en una expresión concreta de esta
intervención por parte del Estado sobre el Profesorado y, a la vez, en una expresión particular de
las transformaciones de una escala mayor emprendidas por la Dictadura Militar con respecto a la
reconfiguración del Estado y la relación público-privado en Chile.

Percurso do Ensino Profissional no Brasil (do Império à República)


Ana Carolina de Oliveira Teixeira
acoteixeira@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Ensino Profissional, Pobreza, Trabalho.

Muitos foram os argumentos em defesa do ensino profissional no Brasil mas para que seja
possível compreende-los, se faz necessário conhecer o histórico de quando se começou a pensar
sobre o ensino de ofícios.

Importante ressaltar que a pobreza e o trabalho nem sempre foram vistos como hoje, em
Geremeck (1986) é possível inferir que ao longo dos séculos, a pobreza e o trabalho ganharam
novos sentidos sociais, proporcionando mudanças nas estratégias de se manter a ordem pública e,
em alguns momentos, as estruturas econômicas, políticas e sociais de países distintos. Para
descrever essa trajetória, no entanto, é preciso retroceder à Idade Média, momento em que a
pobreza era tida enquanto instrumento de salvação, conforme ideia difundida pela Igreja Católica,
e o trabalho era visto na sociedade como uma forma de castigo. Isso só vai mudar com o
surgimento do pauperismo na Europa, momento em que começa ocorrer a valorização do trabalho,
no intuito de possibilitar a subsistência por meio deste, difundindo o princípio de uma vida
laboriosa.
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O primeiro registro que se tem de educação profissional no Brasil se dá na década de 1840,


através de uma legislação em que o Imperador mandou criar dez Casas de Educandos Artífices
pelo país. Já no século XX, através do Decreto nº 7.566, de 23 de setembro de 1909, foram criadas
nas capitais dos estados, pelo então presidente, Nilo Peçanha, as Escolas de Aprendizes Artífices.
Se por um lado observava-se ainda, através desse Decreto, o interesse de se manter a ordem publica
por meio do ensino, por outro expandiam-se os interesses para com a criação e o aperfeiçoamento
da mão de obra, reflexo dos interesses das indústrias.

Durante muitos anos essa modalidade de ensino foi considerada como sendo destinada
exclusivamente aos desvalidos. Apenas a partir do Decreto nº 4.073, de 30 de janeiro de 1942, o
ensino técnico passa a ser destinado a todas as camadas da população proporcionando a seus
estudantes o preparo intelectual necessário para que pudessem seguir, inclusive, a posteriori, as
carreiras liberais, conforme defendia Celso Suckow da Fonseca. Surge então o ensino profissional
que hoje conhecemos, como exemplo de ensino público de excelência.

Da Sociedade Pestalozzi ao Guia de Orientação da Educação Especial na


rede estadual de ensino de Minas Gerais: uma análise da escolarização do
mineiro com deficiência
Esther Augusta Nunes Barbosa
augustaesther@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Sociedade Pestalozzi, educação especial, escolarização da pessoa com


deficiência.

A comunicação que se segue visa apresentar a criação da Sociedade Pestalozzi e sua


importância para o acolhimento da infância “anormal” a partir da década de 1930 em Minas Gerais,
mostrando as modificações ocorridas até a criação do Guia de Orientação da Educação Especial
na rede estadual de ensino de Minas Gerais, documento que norteia a implementação de uma
educação inclusiva no estado. Não há a intenção de estabelecer comparações entre os modelos de
acolhimento do aluno com deficiência, tampouco de apontar resultados promovidos por uma
perspectiva homogeinizadora ou de modelos inclusivos. O objetivo é expor o desenvolvimento da
educação formal deste público procurando mensurar as mudanças e permanências da primeira
metade do século XX ao início do século XXI, apontando a importância das ações no contexto a
qual estavam inseridas. A base bibliográfica utilizada foram documentos legais que normatizaram
a educação especial e literatura específica que aborda este tema, principalmente Borges (2015) e
Jannuzzi (1985). A partir da pesquisa realizada é possível concluir que o trabalho de Helena
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Antipoff propiciou práticas inovadoras no acolhimento e escolarização da pessoa com deficiência


no estado de Minas Gerais.

Da ideologia do Branqueamento a miscigenação: analise de um discurso na


educação
Silvia Regina de Jesus Costa
silviarjc2003@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Educação e ideologia do branqueamento, Democracia racial, Relações


étnico-raciais.

Esse trabalho localiza-se numa abordagem no contexto das relações raciais presente na
historia do Brasil. Apresenta reflexões, ainda em andamento na pesquisa de mestrado, acerca das
relações étnico-raciais no desenvolvimento do contexto brasileiro, e o discurso presente no
contexto escolar. Busca evidenciar a relação, ou as relações entre a construção da identidade
nacional, movimentos presente no século e XIX e início do século XX no Brasil e sua influência
na construção do discurso dos sujeitos que trabalham diretamente com a formação da educação
básica, principalmente os professores. Os períodos mencionados foram períodos em que no Brasil
buscava-se uma identidade nacional, período esse marcado pela ideologia do branqueamento. O
período posterior, no contexto das relações étnico-raciais na história do Brasil, foi marcado pela
democracia racial. Tanto um movimento quanto outro obtiveram impactos na sociedade brasileira,
seja na construção ideológica de uma sociedade miscigenada, quanto na produção de padrões
mantido pela mesma ideologia inerente a construção da identidade nacional. Paradoxo presente em
vários setores da sociedade, inclusive o educacional, o que vem produzindo diversos discursos na
sociedade brasileira. Esse trabalho busca articular reflexões acerca das ideologias produzidas nos
períodos mencionadas e o e o discurso de sujeitos na educação. Para tanto são utilizados os autores
que abordam os conceitos acerca da ideologia do branqueamento, miscigenação e democracia
racial: Kabengele Munanga, Antônio Sergio Guimarães, Nilma Lino Gomes, Tomas Kidmore. Para
tratarmos do discurso articulado com racismo apresentaremos as contribuições de Teun Van Dikj.
No que tange a educação será utilizado Mìria Gomes de Oliveira. O trabalho ainda em fase de
construção, não apresenta conclusões, mas apresentará as reflexões na busca de compreender quais
processos, dinâmicas, e estratégias sociais refletem no discurso dos professores, as ideologias do
período da construção da identidade nacional no Brasil.

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A Escola Normal de Ouro Preto e a Formação de um Sistema de Instrução


Pública na Província de Minas Gerais
Vanessa Lana
vanessalana@ufv.br

PALAVRAS-CHAVE: Instrução pública, Escola Normal, Estado Nacional, Brasil Império.

Esta proposta se refere à apresentação dos primeiros passos do projeto de iniciação


científica desenvolvido pelos autores no âmbito do curso de História da Universidade Federal de
Viçosa- MG. O projeto se concentra na investigação acerca da formação de um sistema de
Instrução Pública na Província de Minas Gerais, ao longo do século XIX. O foco central do
trabalho é a organização e funcionamento da Escola Normal de Ouro Preto. Fundada em 1840 a
Escola Normal da capital foi a primeira instituição formadora de professores da Província e esteve
relacionada com uma política mais ampla de formação de uma estrutura de ensino público, tanto
em nível provincial, quanto nacional. O contexto no qual se enquadra a criação da instituição
representa, em nosso trabalho, uma das principais frentes de investigação para se compreender as
finalidades e a atuação da Escola Normal, uma vez que trata-se do período da formação de um
“novo" Estado Nacional independente, com preocupações relativas à institucionalização da esfera
pública e de solidificação do novo estatuto político. Neste sentido, a pesquisa se orienta pela
perspectiva que relaciona a criação de um sistema de Instrução Pública no século XIX com a
política cultural dirigida pelo Estado Imperial naquele momento. Entendemos que o ensino como
um todo foi uma das estratégias das elites imperiais para o atendimento de algumas das demandas
prementes naquele contexto histórico como, por exemplo, os anseios de modernização do país e
de criação de uma identidade nacional coesa para o Estado nascente. Tendo em vista estes
pressupostos, buscaremos indicar alguns dos indícios que as fontes apresentam e que nos permitem
analisar a experiência da Escola Normal de Ouro Preto como parte integrante do projeto político-
cultural do Estado imperial em formação no século XIX. Apresentaremos ainda os aspectos que
inicialmente nos sugerem os caminhos para compreender as relações existentes entre a formação
do sistema de Instrução Pública na província de Minas e o contexto cultural e sócio-politico vigente
na segunda metade do século XIX. Além disso, buscaremos também refletir acerca das questões e
dos caminhos que as fontes utilizadas nos suscitam ao longo do trabalho de pesquisa.

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Escravizados e libertos nas escolas noturnas baianas no final do século XIX


Jucimar Cerqueira dos Santos
jucimar18@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Educação, Libertos, Escravizados, Escolas noturnas.

Esse texto tem a finalidade de discutir a presença de escravizados e libertos nas escolas
noturnas baianas no final do século XIX, a partir do artigo da Constituição brasileira de 1824. Nela
estava previsto que somente cidadãos frequentassem as escolas públicas, porem há evidências
desses sujeitos em escolas públicas noturnas. Como os escravizados eram considerados apenas
indivíduos e a grande maioria dos libertos era vista com o estigma da escravidão, eis uma
contradição legal que pode ser uma evidência da ação desses sujeitos e dos que se mobilizavam
pelo fim da escravidão ao enfrentar o modelo de sociedade paternalista, racista e escravocrata da
época. A elaboração do texto parte da apresentação do que foram as escolas noturnas no período
até que no seu segundo ano de criação, na Bahia, houve casos de escravizados e libertos
frequentando as aulas. Será feito o cruzamento entre correspondências de professores aos diretores
da Instrução Pública e aos presidentes da Província, os relatórios de presidentes da Província e a
bibliografia escolhida sobre a época. Discutiremos a ideia de que as mobilizações das “camadas
populares” podem gerar o impacto nas determinações legais até alcançarem conquistas
significativas para essas populações, como sugere Thompson.

Reconversão de capitais em busca da distinção na Vila Rica setecentista: um


estudo de caso sobre o papel da família na longevidade educacional de seus
herdeiros
Fabrício Vinhas Manini Angelo
fabriciovinhas@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Minas Gerais, Século XVIII, História da Educação, História da Família,


Pierre Bourdieu.

O presente trabalho busca, por meio de um estudo de caso, analisar o papel da família na
longevidade educacional de seus herdeiros. Para isto será posto em exame um testamento
registrado na Comarca de Vila Rica em 1761. O vocábulo herdeiro ganha um sentido único na obra
de Pierre Bourdieu. Em verdade, este vocábulo vira um conceito plenamente operacional para o
objeto investigado por Bourdieu: o sentido da educação francesa na segunda metade do século XX.
Então este trabalho, utilizando–se do referencial teórico-metodológico bourdiesiano, busca
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compreender a estratégia educativa escolhida por uma família em Vila Rica do século XVIII. O
desafio proposto é duplo, pois busca de um lado compreender a reconversão de capitais empregada
por esta família a partir do registrado pelo testador em seu testamento e de outro a
operacionalização de conceitos, elaborado para pensar o século XX, em outro contexto histórico.
Por isso, esta pesquisa pode contribuir para o aperfeiçoamento do aparato conceitual elaborado
por Pierre Bourdieu e também contribuir para uma compreensão mais complexa e também integral
daquela sociedade. Sendo assim, utilizando conceitos fundamentais da teoria bourdiesiana como
capital cultural, social e econômico, este trabalho vai analisar ação da família para garantir a
educação de seu herdeiro. Daí a importância de pensar o herdeiro em um outro contexto histórico,
social e cultural. Neste sentido, este trabalho busca indicar como o aparato conceitual cunhado por
Pierre Bourdieu pode ser utilizado para pensar fenômenos ligados à História da Educação mesmo
que para tempos pretéritos. Ainda que pese a inexistência de um sistema educacional massificador
e reprodutor como o dos dias atuais o aporte teórico-conceitual cunhado por Pierre Bourdieu tem
muito a contribuir para a compreensão do século XVIII mineiro. Assim, para este trabalho busca-
se, a partir deste testamento do século XVIII, compreender como esta família lida com a educação,
no sentido mais amplo do termo, que pretendia legar a seu herdeiro. A pesquisa em História da
Educação para América portuguesa é bastante rarefeita e por isso, urge um trabalho que busque
compreender o papel da família do século XVIII na conquista do letramento. Portanto, este
trabalho, a partir da leitura Pierre Bourdieu e do estudo deste caso buscará fazer um exercício de
abordagem desta fonte neste período a partir do aparato conceitual de Pierre Bourdieu.

A noção de Educação Social como possibilidade para a pesquisa em


História da Educação
Sidmar dos Santos Meurer
sid_meurer@terra.com.br

Leonardo Ribeiro Gomes


leorigomes@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Formação, Educação, História Social da Educação.

O presente trabalho pretende discutir possíveis contribuições da noção de Educação Social


para o âmbito da pesquisa em História da Educação. Problematizando a noção de Educação Social,
especialmente sob a acepção que lhe emprestou o pesquisador espanhol Julio Luiz Berrio,
sinalizamos a sua pertinência para dar tratamento aos fenômenos educacionais, uma vez que esta

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noção é capaz de extrapolar a centralidade da escola – mesmo que não a negue – como espaço
social do educativo por excelência. Nesse sentido, chamamos atenção para o aspecto polissêmico
do termo, o que, no nosso entendimento, menos do que uma fragilidade torna-se um virtude, a
medida que é capaz de captar o aspecto plural, complexo e multifacetado que o educacional pode
assumir na sociedade em diferentes tempos e espaços. Outrossim, chamamos atenção para o modo
como a noção de Educação Social estimula a estabelecer relações com categorias bastante fecundas
no campo da teoria social como, por exemplo, Trabalho e Formação, deste modo abrindo margem
para pensar e captar diferentes trajetórias educativas, individuais ou em grupo, nos diferentes
tempos e espaços, e mediados ou em relação com diferentes produtos ou manifestações culturais.
Avançando no debate para além da sua ideia primeira de absorção ou incorporação dos excluídos
ou marginalizados por meio do preparo para o trabalho, procuramos firmar o entendimento de
que a Educação Social comporta ainda outras possibilidades. Longe de pretendermos definir ou
esgotar os significados da noção de Educação Social, pretendemos, nos limites desta comunicação,
sinalizar alguns pontos que acreditamos possam enriquecer as pesquisas em torno da historicidade
das formas escolares e não-escolares de educação. Sobretudo, destacamos contribuições em torno
da delimitação de novos objetos de investigação, bem como de outras possibilidades analíticas, ao
mesmo tempo em que procuramos dimensionar suas implicações sobre os elementos do fazer
historiográfico em educação, tais como a produção e uso de fontes, a produção de recortes
temporais e espaciais e a proposição de marcos teóricos. Finalmente, procuramos indicar alguns
limites para o emprego desta noção, chamando atenção para a necessidade de refinamento da
própria expressão bem como dos marcos teóricos e metodológicos que mobiliza, para que evitemos
o esvaziamento da sua pertinência pela ausência de rigor conceitual.

A Cultura Escolar e a Formação em Colégios Católicos de São João del-Rei


(1940-1960)
Tatiane Fátima de Rezende
tatianefatimarezende@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Cultura Escolar, Práticas Escolares, Memória.

A presente pesquisa toma como objeto a formação do cidadão que se buscou desenvolver
em duas instituições escolares religiosas são-joanenses, o Colégio Nossa Senhora das Dores e o
Colégio Santo Antônio, por meio da análise das práticas escolares vivenciadas pelos estudantes que
tomam forma na materialidade das fontes (documentos administrativos, fotografias e jornais

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escolares) e nas memórias de sujeitos participantes do processo (por meio de entrevistas com ex-
alunos). No que se refere ao recorte cronológico estabelecido, destaca-se que as análises estão
centradas entre os anos de 1940 a 1960, englobando os anos finais da ditadura estadonovista de
Getúlio Vargas e um pouco mais de uma década da experiência democrática vivenciada no Brasil,
representando, deste modo, um período de marcantes transformações políticas. A escolha por esse
recorte justifica-se pela necessidade de pensar a educação nesse período de transição política, sendo
este um processo ainda pouco explorado pela historiografia educacional, principalmente no que se
refere à busca pela compreensão das práticas e vivências escolares. Desse modo, pretende-se buscar
compreender aspectos de permanências e transformações na perspectiva de formação dos
cidadãos, norteados durante o Estado Novo pela cultura cívica, discurso eugenista e valorização
do trabalho, e as nuances que isso toma nas práticas escolares. Tais análises, como mencionado
acima, estarão centradas em duas instituições escolares religiosas de São João del-Rei: O Colégio
Nossa Senhora das Dores, oferecendo os Cursos Normal e Ginasial para moças de famílias médias
e abastadas da cidade e região, tendo sido fundado em 1898 pelas vicentinas; e o Colégio Santo
Antônio, que formava rapazes de grupos abastados de diferentes regiões do Brasil, oferecendo os
Cursos Ginasial e Secundário, cuja fundação ocorreu em 1909 pelos franciscanos. Ambas as
instituições empenharam importante papel na História da Educação são-joanense, marcando a
memória educacional da cidade. Para tal análise, utilizam-se como fontes da pesquisa os
documentos administrativos; os impressos, com maior atenção aos jornais estudantis "O Porvir"
do Colégio Santo Antônio e "Stella Maris" do Colégio Nossa Senhora das Dores; as fotografias
escolares, localizadas nos citados jornais, em meio ao acervo documental e em acervos pessoais de
ex-alunos(as); e as memórias de ex-alunos(as), regatadas por meio da metodologia da História Oral.

Revoluções Brasileiras: uma proposta de leitura para a história do Brasil


Bruna de Oliveira Fonseca
bna.oliveira@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Identidade Nacional, Gonzaga Duque, Revoluções Brasileiras, Livro


Didático.

O presente trabalho visa compreender a proposta por Gonzaga Duque para a História do
Brasil contida em seu livro didático Revoluções Brasileiras. Luis Gonzaga Duque-Estrada (1863-
1911) viveu e observou as diversas transformações ocorridas na cidade do Rio de Janeiro e em sua
sociedade, incluindo mudanças políticas, nas relações sociais e urbanísticas. Reconhecido crítico de
arte, atuou intensamente na imprensa periódica colaborando e fundando várias revistas e, não
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muito diferente da intelectualidade de seu tempo, Gonzaga Duque também trabalhou no


funcionalismo público. Sua produção intelectual não se restringe a imprensa, publicando também
livros sobre arte e literatura, além de Revoluções Brasileiras, objeto desta pesquisa.

Sendo, portanto, o livro didático fonte e objeto desta investigação cabe destacar que sua
escolha decorre da compreensão que o livro didático como produto de seu tempo e que por meio
dele percebem-se as relações entre a cultura, o ensino e a política. Um dos responsáveis pela
permanência dos discursos fundadores da nacionalidade, o livro didático também apresenta uma
realidade social a ser lida, bem como uma projeção para o futuro.

Publicada pela primeira vez em 1898, Revoluções Brasileiras carrega marcas de seu tempo,
como, por exemplo, a defesa do regime republicano. Defesa esta realizada através da construção
de uma nova versão autorizada da História do Brasil para a República Brasileira. Notadamente,
Revoluções Brasileiras é um livro didático de história distinto dos seus contemporâneos, nele
Duque propõe uma leitura do passado por meio de movimentos contestatórios da ordem vigente,
buscando evidenciar aos leitores as raízes da República no passado da nação.

Buscando compreender a proposta, bem como as escolhas de Gonzaga Duque para a sua
narrativa histórica optou-se pela análise dos prefácios autorais “Advertência” e “Por que
Revoluções?” presentes em Revoluções Brasileiras. A escolha destes textos foi motivada pela
característica deste tipo paratextual uma vez que este é percebido como o começo do livro e o fim
da escrita, aquilo que estabelece relação entre título e o assunto da obra, entre o autor e o texto,
bem como entre o leitor e o texto. Assim sendo, aproximou-se das intenções e anseios do autor
que vislumbrou no ensino de História um elemento fundamental para a educação cívica do povo,
assim como para a edificação de uma identidade nacional mais sensível aos valores republicanos.

Do Deutsher Hilfsverein ao Colégio Farroupilha: A construção de uma


Identidade institucional a partir da representação de imigrante germânico
no Rio Grande do Sul
Milene Moraes de Figueiredo
milene.figueiredo@acad.pucrs.br

Eduardo Cristiano Hass da Silva


eduardo.cristiano@acad.pucrs.br

PALAVRAS-CHAVE: Representação, História da Educação, Identidade.

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Inserindo-se dentro da Nova História Cultural, mais especificamente na História da


Educação, o artigo mostra como uma obra, “Do Deutscher Hilfsverein ao Colégio Farroupilha
(1858-1974)”, escrita por um ex-aluno do Colégio Farroupilha de Porto Alegre/RS foi responsável
pela construção de uma identidade para a escola, a partir da representação dos imigrantes alemães
no Rio Grande do Sul, por ele criada. O objetivo é mostrar como a instituição escolar e sua
mantenedora criaram e perpetuaram suas identidades a partir de um livro memorialístico, editado
em um momento de comemoração do centenário da imigração alemã no Rio Grande do Sul. A
metodologia empregada consiste na análise da obra, tomada como um dispositivo de representação
e discutida a partir dos conceitos de identidade, representação e cultura escolar. O trabalho resulta
das pesquisas de mestrado dos autores, nas quais, a partir de diferentes abordagens e metodologias,
são investigados alguns aspectos da instituição destacada. Os resultados são parciais, apresentando
as relações entre história e memória, bem como a importância da História da Educação e das
Instituições Escolares a partir da articulação entre o plano micro e o macro.

A instrução pública em MG na segunda metade do seculo XIX: entre


regulamentos, sujeitos e práticas
Vanessa Souza Batista
vsouzabatista@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Legislação educacional, Instrução pública, Escolarização em Minas


Gerais.

Com a garantia Constitucional de instrução pública em 1824 se desenvolveu no Brasil um


processo de escolarização, na busca de ofertar instrução a um número cada vez maior de crianças.
Tendo como premissa que na província de Minas Gerais esse processo teve algumas
particularidades no que se refere à legislação e ao público frequente das escolas. Se buscou
compreender a organização da instrução mineira, analisando os métodos de ensino utilizados, as
dificuldades enfrentadas e a identificação dos sujeitos envolvidos nesse processo escolar,
principalmente professores e alunos. Para tanto foi realizada a análise das seguintes fontes, matérias
do periódico Universal de 1825, publicado em Ouro Preto – MG; a legislação referente à instrução,
os relatórios dos presidentes da província mineira e o livro de memória Minhas recordações de
Francisco Rezende (1944) que apresenta o percurso escolar do autor em uma escola pública de
Campanha de 1840 a 1842. Como procedimento metodológico realizou-se a análise das fontes
citadas sempre em diálogo com a bibliografia que tratou da escolarização no século XIX e em
Minas Gerais. A pesquisa permitiu compreender que as primeiras normatizações sobre o
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funcionamento da instrução pública e a disseminação da instrução estava relacionada com a ideia


de civilizar a população brasileira. Em Minas Gerais a preocupação em civilizar essas classes era
ainda maior, considerando o perfil social e racial da população. A organização da instrução pública
em Minas Gerais foi um processo lento e trabalhoso. Entre as dificuldades enfrentadas para
possibilitar o maior acesso de crianças à instrução se teve a vastidão do território mineiro, a
dispersão da população, soma-se as péssimas condições de trabalho dos professores. Governantes
não conseguiram investir financeiramente o bastante para melhorar as condições das escolas e nem
garantir materiais para a execução dos métodos de ensino solicitados. O cruzamento das fontes
permitiu averiguar o alto número de alunos matriculados, a tensão devido a variação de idade entre
os alunos, alta rotatividade de professores, os métodos que não eram praticados conforme
prescrito, havendo uma mescla e adaptação. Foi possível também identificar a presença de alunos
e alunas pobres e negros na instrução pública e como alguns desses conseguiram continuar seus
estudos, se tornando posteriormente professores e professoras.

Narrativas Cinquentenárias: o percurso histórico-educacional da Escola


Estadual “Professor Fábregas” ante a singularidade de uma comunidade
urbano/rural
Vanusa Garcia de Almeida Silva
vanusagarcia_lms@yahoo.com.br

Roseli da Costa Silva


rosysilva0@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Narrativas, Cinquentenário, Escola Estadual Professor Fábregas.

Reconstruir a memória de um povo, tendo como instrumento a Educação, perpassa o ato


de comemorar, solenizar ou recordar. Emerge-se nesta reconstrução a subjetividade de cada
personagem às margens da coletividade cultural e genealógica de uma comunidade, onde os agentes
reconstrutores fazem a própria história. Tem-se como objetivo deste artigo, narrar a construção de
cinquenta anos de uma educação escolar, fundamentada na paráfrase dos seres urbanos/rurais que
permeiam ou permearam as insígnias da Escola Estadual “Professor Fábregas” onde, subitamente,
transcenderam o espaço geográfico escolar, revolvendo-se em cognições apreendidas em tempos
passados, singularizadas no presente e projetadas no futuro. A metodologia da pesquisa foi
fundamentada em registros orais, imagéticos e textuais de mestres, alunos e comunidade, através
de narrativas abertas, tendo como foco a história da educação em Luminárias, onde a escola,
durante os cinquenta anos vigentes, conferiu sentido à sua trajetória institucional. A questão
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norteadora desta pesquisa foi: Como a Escola Estadual “Professor Fábregas” influenciou e
continua influenciando a vida da comunidade luminarense durante estes cinquenta anos de
existência e que instrumentos foram utilizados na construção da identidade educacional
luminarense? Desta forma, as articulações entre as narrativas da comunidade e a trajetória
educacional da escola, permitem o entendimento da forma peculiar como cada docente constrói
sua trajetória e determina o desenrolar do percurso institucional e profissional. Em comemoração
aos cinquenta anos da escola, faz-se necessário o registro das comparações de metodologias de
ensino utilizadas durante as décadas, em consonância às assertividades culturais do meio
luminarense e regional. Como resultado, pretende-se trabalhar as bases educacionais atuais com
projeção de argumentos consistentes à formação de cidadãos.

Defeito de Cor: Identidades emergentes e a construção social no Arquivo da


Academia Imperia de Belas Artes
Aline Barbosa Santiago
alinearterj@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Identidade, Negros, Artistas, Mestiços, Construção Social.

O presente trabalho propõe analisar a presença de artistas negros e mestiços, na Academia


Imperial de Belas Artes, através do acervo documental do Museu Dom João VI, da Universidade
Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. A partir de questionamentos dos registros impressos e de todo
discurso dito e não-dito da documentação, pretende-se estabelecer uma cartografia etnográfica, no
decorrer da construção de uma tabela geocultural, ilustrando a presença de candidatos negros e
mestiços, admitidos ou não pela instituição, com o objetivo de apresentar o lugar de fala desses
sujeitos.

Inaugurada pelo Governo Imperial brasileiro em novembro de 1826, no Rio de Janeiro, a


Academia Imperial nasce com o objetivo de promover o ensino das Belas Artes em bases
acadêmicas no país. Ao longo dos anos, fixa-se como principal fonte de produção e legitimação
artística brasileira no século XIX, fortemente fundamentada pelos ideais neoclássicos do
academismo europeu. O ambiente hostil, de estrita negação social e cultural em que negros,
indígenas e mestiços viviam no século XIX é um importante dado interpretativo para análise de
um mundo social e histórico que possibilita uma construção estritamente particular nas relações
acadêmicas e profissionais desses indivíduos.

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Quem era esse candidato/artista? De qual lugar ele falava? O que significa ser artista no
século XIX? Tais questionamentos sugerem uma oportuna análise sócioantropológica dos
processos pedagógicos, pelos quais esses indivíduos eram submetidos. A metodologia utilizada será
a etnografia de arquivos pautada na análise de fontes primárias do Museu Dom João VI, sendo:
documentos de admissão acadêmica, atas e regimentos institucionais, trabalhos acadêmicos, obras
finalizadas, entre outros, além da revisão bibliográfica.

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História, Gênero e Sexualidade: balanços e


abordagens
Polyana Aparecida Valente Vareto
Doutoranda
UFMG
Simpósio Temático

polyvalente2007@yahoo.com.br

Isabela de Oliveira Dornelas


Mestranda
UFMG
isadornelas@gmail.com

Eliza Teixeira Toledo


Doutoranda
Fundação Casa de Oswaldo Cruz COC - Fiocruz
elizattoledo@gmail.com

Deivid Aparecido Costruba


Doutorando em História
UNESP - Universidade Estadual Paulista - Campus de Assis
costrubahistunesp@hotmail.com

Débora Raiza Carolina Rocha Silva


Mestranda
UFMG
deboraraizarocha@gmail.com

Átila Augusto Guerra de Freitas


Mestrando
UFMG
atilaaugustofreitas@gmail.com

Proposta do Simpósio:

Este Simpósio Temático tem por objetivo a mobilização da categoria gênero para a
compreensão da construção de relações de gênero em diversas dimensões históricas, simbólicas e
imaginárias. Entre os eixos a serem debatidos, elencamos a problematização da categoria sexo
como construto histórico e a edificação da noção de incomensurabilidade de gênero elaborada a
partir da diferença percebida entre os sexos. Há quase 30 anos, Joan Scott (1989) colocou na pauta
historiográfica a categoria de “gênero”, apresentada pela autora como “útil para análise histórica”.
Desse período em diante, inúmeras pesquisas foram elaboradas, tendo como principal objeto de
estudo: as mulheres, antes invisibilizadas e excluídas da história. Reflexões importantes e
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significativas foram construídas ao longo desses anos e se estenderam para além da história das
mulheres, questionando identidades, sexualidades e relações de gênero em diversas dimensões
históricas, simbólicas e imaginárias. Nas palavras de Scott (1995), esses estudos possibilitaram uma
visão mais ampla de gênero que incluía não somente o cenário doméstico, mas o campo do
trabalho, educação, cultura, política, sociedades e instituições. Nessa perspectiva, abrimos espaço
para possibilidade de pensar as mais diversas temáticas afins às nossas pesquisas. Como o trabalho
filantrópico feminino nos séculos XIX e XX como uma maneira de questionamento a organizações
de gênero vigentes naquele contexto, uma vez através desse trabalho as mulheres participaram da
vida política e criaram redes de sociabilidades, saindo dos limites da esfera privada e transitando
pela esfera pública. Ao “sair” dos lares as mulheres criaram agendas próprias, tais como: proteção
à maternidade, saúde pública, segurança social, educação e bem estar social. Os temas relacionados
à sexualidade e à reprodução ganham especial enfoque, sob a concepção de que esses campos
desempenham relevante atuação no que tange à normatização e à normalização da sociedade,
sobretudo a partir do século XIX, quando se intensifica a produção de discursos biomédicos em
torno desses temas.

Comunicações:

“O mundo Claudia”: fotografia de moda e a construção de feminino(s) na


Revista Claudia (1960)
Lizianny Leal Nunes
liziannyleal@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Moda, fotografia, Mulheres.

Na contemporaneidade as mulheres conquistaram relativa autonomia no plano social e


político, contudo essas conquistas não implicaram em grandes mudanças no que espera-se das
mulheres em relação à estética. Ser mulher ainda está intimamente relacionado a imperativos de
beleza e juventude. A partir disso, esse trabalho tem por objetivo problematizar, através da análise
das fotografias de moda veiculadas na revista Claudia, como as representações femininas foram
"criadas" dentro desse periódico considerando a produção de padrões estéticos associados à beleza
feminina e levando em conta aspectos etários, de classe e etnia.

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Entre paródias e performances: Representação do corpo em Má Educação


(2004)
Cláudia de Jesus Maia
cjmaia@gmail.com

Ana Paula Jardim Martins Afonso


paula_jardim@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Performatividade, Corpo, Gênero.

Os estudos historiográficos contemporâneos problematizam, sob diversos ângulos,


comportamentos, práticas, formas de interação e de constituição do sujeito. Diante disto, o corpo
e suas representações, seus significados e sua materialidade protagonizam o papel de objeto da
pesquisa histórica a partir do início do século XX. Neste sentido, através da análise fílmica de Má
Educação, de Pedro Almodóvar, ocuparemo-nos de problematizar a (des) construção, já que
entendemos o sexo tão construído quanto o gênero, bem como os corpos, no sentido de
compreender, através dos conceitos de performatividade e paródia, como foram construídas as
representações de gênero que se inscrevem no corpo da personagem Zahara. Para precisar os
procedimentos de análise do filme recortamos planos-sequência, a fim de dissecar o corpo e
entender como a narrativa cinematográfica, enquanto uma tecnologia da corporalidade, constroi
suas representações no contemporâneo. Desta feita, o aparato teórico que ancora esta análise se
localiza, sobretudo, nas teorias feministas dos estudos contemporâneos de gênero a partir do pós-
estruturalismo e da teoria querr, com Judith Butler (2003) e De Lauretis (1994). Construimos, a
partir da narrativa fílmica, enunciados como um dos procedimentos metodológicos. Ainda como
procedimento de análise, recortamos do filme cenas, selecionando as superfícies discursivas, para
buscar significações e suas formas de produzir sentidos, entendidas como discursos constitutivos
de uma determinada época, neste caso, a contemporaneidade e que produzem efeitos de verdade
acerca dos corpos.

Pedras em Geni: Gênero e representações em Toda Nudez será castigada


(1972)
Fabiana Oliveira Leite
fabiana.oliveira.leite@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: História, Cinema, Gênero.

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O presente trabalho observou as representações femininas forjadas nos limites discursivos


de uma sexualidade imaginada e trazida a cena do real, no momento em que se institui
representação. Neste sentido, em acordo com os debates da História Cultural, entende-se que as
percepções do social não possuem neutralidades, são produtoras de práticas e estratégias, cuja
tendência é impor regimes de autoridade, legitimando poderes, justificando escolhas e condutas. O
estudo das representações está alocado no terreno das disputas de poder, e permite compreender
os mecanismos pelos quais determinados grupos se impõe ou tentam impor suas leituras do mundo
social, dos valores que lhes são próprios, determinando ideias e padrões de normatividade. Desta
feita, foi nesta perspectiva de compreensão da História, bem como seus objetos e abordagens, que
o trabalho se inseriu. E fundamentou-se nos estudos que encontram no cinema um vasto campo
de percepções, olhares e ideias, que permitem apreender aspectos de importância salutar à pesquisa
histórica. A análise seguiu em dois segmentos: em primeiro momento problematizou as relações
entre o cinema e o estado brasileiro, na década de 1970; posteriormente, orientou-se a análise da
personagem Geni, enfocando os efeitos de sentido e significação que a investiram em códigos
sexuais e leituras sociais, historicamente datados. No que se referiu a abordagem metodológica
utilizaram-se as análises de Gênero junto a teoria de Representações Sociais, orientadas pelo
pensamento das autoras Joan Scott (1989); Teresa de Lauretis (1994) e Denise Jodelet (2001), cujo
aparato conceitual encaminhou as análises pelos olhares produzidos sobre a conduta sexual e moral
das mulheres no universo do cinema nacional.

Gênero, história das mulheres e patrimônio cultural: diálogos possíveis entre


a tradição e contemporaneidade
Débora Raiza Carolina Rocha Silva
deboraraizarocha@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Patrimônio Cultural, Gênero, História das mulheres.

Ao longo dos anos, muitos silêncios, ausências e exclusões femininas entraram na pauta
das produções acadêmicas auxiliando no preenchimento de lacunas históricas em vários períodos
e espaços. Contudo, ainda existe um longo caminho a ser percorrido para que a narrativa sobre a
presença e participação ativa das mulheres ao longo da história seja conhecida. Nessa perspectiva,
esta embrionária pesquisa tem o intuito de realizar um balanço da produção historiográfica sobre
a história das mulheres e do gênero no Brasil, e apresentar um tema ainda pouco discutido na
academia, principalmente no campo da história. Este tema refere-se à ao papel exercido pelas
mulheres no âmbito do patrimônio cultural, seja ele de natureza imaterial e/ou material.
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A ideia, portanto, é apontar algumas reflexões sobre os conflitos existentes entre a tradição
e a contemporaneidade, como por exemplo, no processo inserção da mulher em práticas culturais
e religiosas que antes lhes eram negadas. Além disso, serão apresentados casos de práticas culturais
femininas que foram reconhecidas como patrimônio imaterial brasileiro, bem como discutir o papel
das mulheres na construção e salvaguarda desse patrimônio.

Mulheres revolucionárias: um resgate historiográfico da presença e atuação


feminina nos processos revolucionários em Cuba e na Nicarágua
Stella Ferreira Gontijo
sfgontijo@gmail.com

Daniela Chain Vieira

PALAVRAS-CHAVE: Revolução Sandinista, História e gênero, Revolução Cubana, História


Latino-Americana.

O presente trabalho tem como objetivo, a partir de um resgate historiográfico, promover


um estudo comparativo do papel exercido pelas mulheres em dois diferentes processos
revolucionários na América Latina. Para isso, propomos discutir de que forma as mulheres
estiveram presentes tanto na Revolução Cubana quanto na Revolução Sandinista. A proximidade
desses dois momentos históricos é relevante a partir do entendimento de que a Revolução
Sandinista pode ser compreendida como continuidade de um percurso que se inicia com a
Revolução Cubana, como é defendido por alguns historiadores e intelectuais.

No estudo de ambos os processos históricos, a presença e participação das mulheres na


maioria das vezes foram invisibilizadas ou relegadas à segundo plano pela historiografia tradicional.
Desse modo, é importante entender as mulheres como atrizes sociais fundamentais nas ações
revolucionárias cubana e sandinista – inclusive na organização das lutas clandestinas e,
posteriormente na estruturação de ambos Estados revolucionários.

Para isso, propomos o entendimento da participação das mulheres nesses dois momentos
históricos a partir da perspectiva de gênero proposta pela britânica Joan Scott, que busca
compreender a mulher enquanto sujeito histórico, inscrevendo as mulheres na história e quebrando
paradigmas.

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Consciência de gênero e culturas políticas: construindo apontamentos


Mariane Ambrósio Costa
mariane.ambrosioc@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Sociabilidades, Feminismo, Culturas Políticas, Consciência de Gênero.

O presente artigo abarca reflexões acerca da relação entre movimentos organizados de


mulheres no Cone Sul na década de 1980 e a formação de culturas políticas e sociabilidades
feministas. O período de redemocratização política e reorganização social, aliado ao retorno de
exiladas políticas da Europa beneficiadas pela Lei de Anistia em 1979, tornou-se propício para a
ampliação de demandas de mulheres que buscavam difundir o feminismo para outras esferas além
da teórica, como a implantação de políticas públicas que se voltassem para direitos das mulheres,
centros de ajuda a mulheres vítimas de violência, produção de revistas e jornais feministas, aumento
da participação feminina em grupos de pesquisa social, entre outras áreas. A luta organizada por
direitos sociais, juntamente com as reivindicações para que assuntos antes considerados de âmbito
privado, como por exemplo, a violência doméstica, a sexualidade, os desafios da maternidade, se
tornassem assuntos discutíveis publicamente, criou um movimento definido por Michelle Perrot
como de tomada de consciência de gênero. Utilizando-se deste aporte teórico, este artigo defende
que a união das mulheres em grupos organizados, na década de 1980, configurou uma forma de
prática política e de sociabilidades que garantiu a circulação de ideias e práticas feministas no Brasil,
criando uma cultura política nos moldes da definida por Ruth Lane, como um método de análise
de certo grupo, articulando um modelo de interpretação de sua rede de crenças e sociabilidades.
Pretendo assim demonstrar que uma cultura política feminista se criou, juntamente com a ideia de
“mulher-coletiva”, construindo uma rede de significantes e significados para velhas demandas, que
começaram a ser vistas com novos olhos.

O que pode um corpo queer? A trajetória de Indianara Siqueira, uma pessoa


de peito e pau
Gustavo Henrique Ramos Silva
gustavoramoscontato@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: História, Corpo, Feminismo, Gênero, Teoria Queer.

Se Espinoza, no século XVII, questionava o que pode o corpo, aqui não se empreende
responder, mas também questionar: o que pode o corpo, agora, enquanto materialidade discursiva?

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O que pode o corpo queer, o corpo que não pretende se fixar, que supõe uma não-acomodação,
que admite uma ambiguidade, um não-lugar, um trânsito, um estar-entre?

À luz dos estudos queer emergidos na década de 1990, enquanto teoria e movimento, e da
aproximação a autores como Deleuze, Derrida e Foucault, a presente comunicação analisa a
trajetória de Indianara Siqueira, mulher trans, prostituta e coordenadora do coletivo
TransRevolução – ou, como se descreve, “uma pessoa de peito e pau”; e o seu protesto pessoal
“Meu Peito, Minha Bandeira, Meu Direito”. Indianara Siqueira expôs seus seios enquanto
protestava na Marcha das Vadias no Rio de Janeiro em 2013 e, identificada por policiais como do
fenótipo feminino, foi detida e levada a julgamento pela prática de ato obsceno em lugar público,
crime previsto pelo art. 233, do Código Penal. Todavia, se a justiça a condena, reconhece legalmente
que socialmente é uma mulher e cria a jurisprudência de que travestis e transsexuais devem ser
julgadas pela autodeclaração da identidade de gênero e não pelos documentos. Se a justiça não a
condena, reconhece que é um homem e concede o direito de se expor em público e não ser
enquadrando como crime pela legislação.

É na reflexão sobre um corpo que não busca se inserir no fundamento, mas provocar uma
torção num modelo idealizado, instituído e naturalizado de fundamento que reside o objetivo desta
pesquisa.

Mulheres e honra aos olhos da lei: A presença da mulher nos processos-


crime da Comarca de Viçosa (1920-1950)
Monalisa Aparecida do Carmo
monalisacarmo3@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Mulher, Estado, Honra, Nacionalismo.

Este trabalho procura analisar, a partir de processos-crime e investigações policiais, como


a honra feminina foi entendida no município de Viçosa-MG. A documentação refere-se a um
período nacionalmente voltado para intervenção do Estado em prol da manutenção de uma ordem
social. No século XX, a ideia de honra nacional, relacionada a moral pública e a família geravam o
sentimento de pátria/mãe, levando o Estado a se preocupar com o controle do âmbito privado. A
mulher, responsável pela criação dos filhos, tornava-se culpada pelas mazelas sociais caso a
educação não fosse de forma correta. Isso voltava os olhos da sociedade para o policiamento da
honra feminina. Partindo dessa política tida como nacional, a pesquisa procura analisar se esse
policiamento se aplica ao contexto de Viçosa, questionando se o Estado estava interessado em
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intervir em todos espaços privados e como era a exposição da mulher nos processos de uma cidade
do interior de Minas Gerais. Além disso, torna-se importante compreender a aplicação das leis
definidas para o âmbito nacional e analisar as mudanças legislativas do código penal no século XX.

Corpos anunciados: o masculino e o feminino na publicidade do Mappin


Raissa Monteiro dos Santos
raissa.monteiro.santos@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Publicidade, Cultura Material, Gênero.

Esta comunicação é parte de uma pesquisa de mestrado, ainda em andamento, cujo objetivo
é compreender como homens e mulheres eram representadas em imagens e descrições nos
anúncios publicitários da loja Mappin entre os anos 1931 e 1945, para com isso discutir os modos
de interação dos corpos masculinos e femininos com objetos e com os espaços doméstico e urbano
ali representados. Tomando como referencial teórico os estudos da área de cultura material,
partimos do pressuposto de que a representação das figuras femininas e masculinas – bem como
seus acessórios pessoais, indumentária, objetos cenográficos e espaciais – possuem papel ativo na
configuração de identidades sociais.

Deste modo, as posturas em que os corpos são desenhados, os cenários que os ambientam
e as descrições presentes nos textos, criam noções distintas de masculino e de feminino. Para
investigar essas diferenças, propomos a análise comparativa de dois anúncios publicitários do
Mappin, um que convida as mulheres a visitarem as “mais belas exposições de modas”, e outro que
divulga os serviços de alfaiataria prestados pela loja. Por meio desta análise, pretendemos mostrar
que a masculinidade era vinculada a atributos que diziam respeito à individualidade, ao passo que
a feminilidade constituía-se por atributos alocêntricos, isto é, voltados para o outro, para o externo.

“Palavras de homens”: as mulheres no discurso revolucionário francês


Átila Augusto Guerra de Freitas
atilaaugustofreitas@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Revolução Francesa, Gênero, Mulheres.

A Ilustração foi um movimento que comportou um amplo leque de ideias e debates, mesmo
não correspondendo a um movimento de ideias de caráter sistemático. A base racional e os valores
universais de liberdade e igualdade foram características fundamentais do pensamento ilustrado. O

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discurso revolucionário francês se apropriou desse aporte de ideias para desenvolver um discurso
aparentemente monolítico e de pretensões universais. A construção desse discurso deu-se, em
grande parte, na esfera intitulada República das Letras, que era predominantemente masculina, feito
por homens e para homens. Acreditamos que a história das mulheres expõe a hierarquia implícita
em muitos relatos históricos, por isso ela desafia e desestabiliza as premissas disciplinares
estabelecidas na História e seu objeto: os homens no tempo. Pretendemos demonstrar, por meio
das teorias gênero, o caráter culturalmente construído do discurso revolucionário francês que se
baseou nas diferenças percebidas entre os sexos para explicar desigualdades “naturais” e ainda
demonstrar como foi forjado discursivamente um consenso em que seu tempo era uma intensa
disputa simbólica por representação política. Para isso, usaremos de diversos escritos republicanos
sobre a questão feminina na Revolução, demonstrando como foi a preocupação de autores como
Condorcet, Prudhomme, Guyomar, entre outros que se interessaram sobre os papéis dos sexos em
meio à derrubada do Antigo Regime. Entendendo o gênero como categoria intrinsecamente
relacional, contrastaremos as ideias vindas desses pensadores com as demandas das mulheres que
tomaram forma nas palavras da filósofa francesa Olympe de Gouges. Suas ideias são férteis para
problematizarmos como a autora elaborou uma proposta diferenciada para a construção da
feminilidade e da masculinidade em meio à Revolução que desmontava uma sociedade de Antigo
Regime, em que as diferenças, inclusive as de gênero, eram consideradas naturais e dadas em
estamentos sociais.

Gênero e Sexualidade: a (re)produção do desejo e de subjetividades nas


práticas discursivas da Revista G Magazine (1997-2013)
Gerferson Damasceno Costa
gerfersonafim@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Subjetividades, Sexualidade, Gays, Gênero, Desejos.

O objetivo da presente proposta é analisar as práticas discursivas (re)produzidas pela revista


G Magazine acerca de gênero, sexualidade, desejo e corpo, procurando detectar os sentidos e
significados referentes aos afetos, desejos e comportamentos, bem como à pornografia e ao prazer
sexual direcionados aos Gays brasileiros. Neste sentido, busca-se compreender as dinâmicas de
poder que sustentam esses discursos e suas interferências no processo de subjetivação desses
atores. As fontes para a pesquisa constituem-se os conteúdos editoriais da G Magazine (1997-2013)
– artigos, depoimentos de leitores e ativistas, notícias, ensaios pornográficos, anúncios publicitário,
dentre outros. Um corpus documental diversificado e selecionado a partir dos procedimentos de
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análise utilizados, respeitando as especificidades de cada discurso no âmbito dos recursos


metodológicos empregados. A delimitação do período foi pensada de acordo com a data de
lançamento da revista no final dos anos de 1990 e o fim de sua publicação, como um recorte que
possibilita perceber as transformações na atuação da G Magazine como produtora de
subjetividades e das suas formulações relacionadas às categorias analisadas. O referencial utilizado
é fundamentado na epistemologia feminista pós-estruturalista e de suportes teórico-metodológicos
da Nova História Cultural do Imaginário como instrumento que permite verificar a construção de
ideais referentes a comportamentos, afetos, prazer, beleza e consumo; das Representações Sociais
que contribuem na percepção do processo de apropriação desses ideais; e da Análise do Discurso
como procedimento de análise dos sentidos e significações produzidos. Dessa forma, neste
trabalho pretende-se buscar nas fontes analisadas os jogos de poder que perpassam a construção
do Gay enquanto sujeito, os padrões de normatização que procuram criar categorias coerentes e
estáveis dentro de uma lógica normalizadora, como também verificar as subversões aos modelos
estabelecidos, as práticas e os corpos que escapam aos “regimes de verdade” que são produzidos.
Entende-se que a partir dessa perspectiva é possível desestabilizar o sistema que produz hierarquias
identitárias e “marginaliza” aqueles que não se enquadram nas normas, o que pode significar
desnaturalizá-lo e desconstruí-lo.

Imprensa e género: o decorrer da subjetividade na escrita de Soledad Acosta


de Samper
Juan Pablo Calle Orozco
callejuanp@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Literatura colombiana, Mulheres Escritoras, Subjetividade, Século XIX,


Imprensa.

Um estúdio histórico e social da literatura exige dar conta não só dos processos de escritura
e de leitura das obras, senão da ligação que existe entre sociedade e cultura. Essa relação é percebida
pelos jornais, pois as publicações periódicas são um termômetro que mede o desenvolvimento
cultural da sociedade. Portanto, nas páginas da imprensa situam-se as oposições entre o cânone
literário e aquelas formas alternativas ou periféricas de escritura que são inerentes às manifestações
socioculturais. Um exemplo destas formas de escritura subalterna é a literatura escrita por mulheres,
cuja análise supõe um rompimento com a historiografia androcêntrica tradicional. Baseada no
anterior, esta pesquisa busca analisar os indícios e os sinais de subjetividade na escrita de Soledad
Acosta de Samper (1833-1913), literata colombiana do século XIX que fundou e escreveu em
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diferentes jornais ao longo da sua vida. Assim, partindo do individual, se abordam os processos de
atuação que as escritoras empregaram a fim de abrir-se passagem no movimento cultural; ou seja
que, a partir de um caso específico, se examina a relação que existe entre a esfera pública, a
produção literária e a subjetividade da mulher escritora nos jornais do século XIX na Colombia.

Práticas Proibidas e Experiências de Mulheres Pobres nos Processos-crime


de Infanticídio (Alto Sertão da Bahia, 1900-1930)
Miléia Santos Almeida
mileia.sa@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Infanticídio, Aborto, Experiências, Mulheres.

O presente trabalho destina-se ao estudo das experiências de mulheres pertencentes às


camadas empobrecidas que viveram nas primeiras décadas do século XX, no alto sertão da Bahia,
e mais especificamente na região de Caetité, por meio da análise de sua presença em processos
criminais de infanticídio e através do diálogo com outras fontes documentais. Consideradas
“práticas costumeiras”, ou seja, que perduraram no tempo, sancionadas pelo costume apesar das
inúmeras tentativas de criminalização, as práticas de aborto e infanticídio foram comuns em
distintos períodos da História e diferentes culturas. Enquanto a sociedade burguesa cristã instituiu
a punibilidade para essas ações, em outras épocas e civilizações elas encontravam amparo cultural
e até mesmo explicações místicas ou religiosas. A reprovação e o horror que estas práticas
imprimem aos nossos olhos nos dias de hoje evidenciam como os discursos de moralização
difundidos pelos setores médico-jurídico, pela Igreja e pela imprensa foram bem-sucedidos. Em
um período caracterizado pela emergência de uma nova ordem política e recente abolição da
escravidão, os processos revelam mulheres sertanejas pobres, que não correspondiam aos padrões
impostos pelo processo moralizador dos discursos da elite brasileira. Neste estudo nos deparamos
com jovens solteiras, senhoras viúvas, e até mesmo mulheres casadas, criadas ou nascidas em áreas
rurais rompem com a representação da maternidade como missão natural feminina. Em atos
convictos ou desesperados, chocaram o poder público, evidenciaram a preservação de práticas
costumeiras de aborto e infanticídio como conhecimentos legados às mulheres e enfrentaram
solitariamente a criminalização diante dos instrumentos de vigilância e punição do sistema policial,
jurídico, médico e da imprensa. A relevância deste estudo é significativa não apenas por sua
contribuição ao campo das pesquisas de gênero e história social das mulheres, mas por reconstituir
estas narrativas que representam não apenas o último recurso para eliminação do produto de uma

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gravidez indesejada, mas alternativas de sobrevivência e insubmissão diante do controle e repressão


cada vez maior sobre o corpo feminino.

Teoria Queer entre a Pós-modernidade e o Presentismo: um caminho crítico


possível?
Cássio Bruno de Araujo Rocha
caraujorocha@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Teoria, Pós-modernidade, Presentismo, Queer;.

O objetivo deste texto é pensar a temporalidade que informa, ainda que implicitamente, o
campo de pesquisas acadêmicas denominado Teoria Queer. Para tanto, serão mobilizados os
conceitos de regime de historicidade e de presentismo articulados pelo historiador François Hartog.
O primeiro como ferramenta analítica das temporalidades em geral e o segundo como contexto
temporal (visto que o presentismo é descrito pelo autor como o regime de historicidade próprio
das sociedades ocidentais a partir do fim do século XX) do aparecimento da Teoria Queer. Assim,
parto do entendimento de que a Pós-modernidade, cujo regime de historicidade é o presentismo,
tem informado a elaboração dos estudos Queer. Dessa forma, algumas das questões que o texto
investiga são como e em que medida a pós-modernidade informa a Teoria Queer; como esta
concilia, ou tenta conciliar, as ambiguidades opressivas da temporalidade pós-moderna. Neste
quadro, o queer é realmente subversivo? Como o é? E o que ele quer realmente subverter?
Finalmente, em sua forma mais geral, a questão é se a Teoria Queer pode ser uma trilha crítica a
ser percorrida no labirinto pós-moderno.

O fundo da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF):


potencialidades de pesquisa
Deivid Aparecido Costruba
costrubahistunesp@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Arquivo, Lutz. FBPF, Bertha, Nacional.

Este texto tem como objetivo averiguar as possibilidades e perspectivas de pesquisa do


fundo da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Tal entidade, criada no Rio de Janeiro, no
ano de 1922, por iniciativa de um grupo de mulheres de classe média, de elevada escolaridade e
conhecedores dos rumos do movimento feminista na Europa e nos EUA, teve como objetivo
principal a luta pela emancipação feminina e, sobretudo, pelo direito ao sufrágio universal. Sua
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principal líder, a bióloga Bertha Lutz, cuidou do acervo da instituição até sua morte, no ano de
1976. Na década de 80, todo o acervo foi doado ao Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, o qual faz
a curadoria desde então.

Desconstrução do conceito sexo frágil a exemplo da governança na


Península Ibérica
Janaina dos Reis Alves
moira_alves@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Escola, Feminino, Urraca I, Sexo frágil, Representação social.

Pesquisa bibliográfica sobre o reinado de Urraca I, rainha de Leão, Castela e Galicia


desenvolvida paralelamente a criação de um curso sobre o tema na plataforma moodle. O estudo
sobre seu reinado, e sua atuação para além das considerações da fragilidade do sexo feminino. A
pesquisa caminha rumo aos usos que podem ser feitos de tal exemplo na desconstrução de pré-
conceitos e representações sociais no ambiente escolar através do trabalho com objetos de
aprendizagem que abordam o referido tema e sejam atrativos aos alunos e professores.

A negra e o tabuleiro: o personagem feminino e sua atuação nas Minas


Gerais dos séculos XVIII e XIX
Clara Abrahão Leonardo Pereira
claraalpereira@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Espaços de atuação feminina, Negra de tabuleiro, Brasil colonial.

O trabalho dedica-se a analisar a atuação da negra de tabuleiro das Minas Gerais do


setecentos e oitocentos, principalmente como seu ofício permitia-lhe abrir espaços de negociação
e sociabilidade comumente velados às mulheres desse período e região. Para isso, é necessário
investigar como o personagem feminino lidava com o exercício da venda, a prática de deslocar-se
cotidianamente ao e no ambiente urbano e a convivência e relacionamento com compradores e
outros indivíduos, como senhores (no caso de negras escravas), transeuntes e habitantes do local.
Cada um desses aspectos eram encarados de forma específica por essas mulheres, que - conscientes
das normas sociais de onde atuavam - buscavam lidar com sua realidade de forma a alcançar
propósitos pessoais a principio impraticáveis.

Também é importante considerar como a cor, a qualidade e a origem dessas mulheres


permitia-lhes uma moralidade mais pusilânime, e como escravas e forras poderiam beneficiar-se
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disso para sua atividade. Deve-se assim, resgatar conexões com as práticas do microcomércio
interpessoal e do papel e espaço social reservado ao personagem feminino em Portugal e África,
para compreender com essas mulheres conjugavam sua herança, ressignificando e flexionando seus
conhecimentos com as normas civis teoricamente limitantes forjadas num Brasil mestiço.

Compreender como ela transitava entre seus interesses e suas limitações também implica
na análise da especificidade do local em que atuou: uma colônia do Império Português, assim como
da moral religiosa e os modos de viver no Brasil, e mais especificamente, nas Minas Gerais.

Destaca-se, além disso, seu papel nas regiões mineradoras, e como essas mulheres
frequentemente agiam em solidariedade aos mineradores, auxiliando a contrabandear minério e
dando informações relevantes. Também se pode analisar a extensão de seus conhecimentos sobre
a arte do comércio: sabiam que essas regiões em específico possuíam não apenas possíveis clientes,
mas indivíduos com poder aquisitivo passível de gerar lucro. Sua presença nessas regiões foi
notável, causando inclusive certa tensão com as autoridades coloniais, que ao longo do século
XVIII buscaram restringir a presença dessas negras e mestiças nas lavras.

Concluindo, defende-se aqui que as negras de tabuleiro não eram vítimas à mercê de sua
condição e da figura masculina, mas que possuíam mobilidade social e eram capazes de organizar-
se de forma a conquistar espaços e objetivos pessoais independentemente.

As Representações sobre a Violência Contra a Mulher por meio da


Literatura de Cordel nas primeiras décadas do século XX
Marcely Da Costa Lobato
marcelylobato@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Mulher; Violência, Literatura de Cordel.

O presente artigo tem como finalidade historicizar sobre o recorte da violência contra a
mulher no início do século XX na cidade de Belém, por intermédio da literatura de cordel.
Observando a violência no seu aspecto de demonstração de poder patriarcal na sociedade brasileira,
visto que a emergência sobre essa temática no Brasil está em constante discussão. O objetivo do
texto é compreender as representações que os cordelistas repassavam sobre a violência para a
população. Apresentando uma reflexão inicial sobre a historiografia da mulher e da literatura de
cordel. Diante dos estudos, percebeu-se que os poetas subdividem a violência em violência física,
psicológica e homicídio.

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O conceito de gênero em Scott, Butler e Preciado: Aproximações e


distanciamentos
Natanael de Freitas Silva
natanaelfreitass@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Discurso, Gênero, Historicidade.

Atualmente, os estudos de gênero desfrutam de considerável reconhecimento acadêmico,


social e político. Inegavelmente, a “categoria” gênero surgiu no bojo do debate sobre a História
das Mulheres ao longo das décadas de 1960/70 e passou a ser usada como uma possibilidade de
teorização sobre a diferença sexual oferecendo uma alternativa às explicações que pautavam no
biológico as diferenças sociais e sexuais existentes. Como destacou Scott, “[Gênero] é uma maneira
de se referir às origens exclusivamente sociais das identidades subjetivas dos homens e das
mulheres. O gênero é segundo esta definição, uma categoria social imposta sobre um corpo
sexuado” (SCOTT, 1994:7). Numa abordagem pós-estruturalista, Scott defende que “o discurso é
um instrumento de orientação do mundo”. Assim, para autora “a linguagem não designa somente
as palavras, mas os sistemas de significação - as ordens simbólicas - que antecedem o domínio da
palavra propriamente dita, da leitura e da escrita” (Scott, 1990, p.11). Por isso, Scott enfatiza que
as categorias homem e mulher são “ao mesmo tempo categorias vazias e transbordantes, pois que,
quando parecem fixadas, elas recebem, apesar de tudo, definições alternativas, negadas ou
reprimidas” (1990, p.19). Todavia, autoras como Judith Butler e Beatriz P. Preciado, lançando
críticas à perspectiva de Joan Scott - de que a base biológica continua sendo estruturante das
construções de gênero possíveis-, e levando a cabo reflexões que ficaram conhecidas como Estudos
Queer, apontam a associação limitada feita entre gênero e biologia, cujo efeito principal é a negação
da feminilidade às mulheres transexuais, travestis e também aos homens. Com efeito, Butler
entende que “se o sexo é, ele próprio, uma categoria tomada em seu gênero, não faz sentido definir
o gênero como uma interpretação cultural do sexo” (BUTLER, 2013:25). Deste modo, o gênero é
percebido como “uma atividade ou devir” e não “como coisa substantiva ou marcador cultural
estático” (BUTLER, 2013:163). Em Preciado, “o gênero é, antes de tudo, prostético, ou seja, não
se dá senão na materialidade dos corpos. É puramente construído e ao mesmo tempo inteiramente
orgânico”(2014:29). Sendo assim, este texto objetiva apresentar algumas aproximações e
distanciamentos das concepções de gênero propostas por Joan Scott, Judith Butler e Beatriz/Paul
Preciado, focalizando principalmente a desconstrução do binarismo gênero/sexo, natureza/cultura
proposto por Butler e Preciado.
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Como são apresentadas as mulheres negras nos livros didáticos de história


pós lei 10.639/2003
Aline Dias dos Santos
diasdealine1@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

O presente trabalho é parte de uma pesquisa de mestrado em andamento e visa discutir se


e como ainda são reproduzidos nos livros didáticos de história, os modelos discriminatórios de
uma sociedade com caráter androcêntrico, ou seja, que enaltece o homem como o centro das
discussões e eurocêntrico, marcada por uma visão de mundo que tem a Europa como elemento
central na constituição do modelo civilizacional hegemônico do ocidente. Por isso a história das
mulheres africanas e negras foi frequentemente escamoteada pela história oficial. Desta maneira,
objetiva-se discutir a presença destas mulheres em livros didáticos de história a partir da
promulgação da lei 10.639/2003, no se refere à atenuação, à perpetuação ou ao rompimento dos
estigmas negativos relacionados às mulheres negras.

O gênero em foco: ausência/presença das mulheres na narrativa dos livros


didáticos de história
Laura Jamal Caixeta
laurajamalc@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

O objetivo dessa apresentação é fazer uma análise, ainda incipiente e em desenvolvimento,


do conteúdo de alguns livros didáticos de História na perspectiva da invisibilidade das mulheres
como sujeitos históricos atuantes nesses materiais. É preciso pensar nas funções do livro didático
no ambiente escolar para compreender a relevância da análise a ser realizada. Como afirma Circe
Bittencourt: “juntamente com as dimensões técnicas e pedagógicas, o livro didático precisa ainda
ser entendido como veículo de um sistema de valores, de ideologias de uma cultura de determinada
época e de determinada sociedade” (Bittencourt, 2009: 302). Isso nos permite compreender a
ausência ou a presença muito reduzida das mulheres nesses materiais como reflexo de um sistema
social, cultural e econômico que marginaliza as mulheres e as discussões de gênero - pensando o
gênero na perspectiva defendida por Scott, uma categoria de análise histórica de grande utilidade
para conceber e analisar diferentes sociedades em diferentes épocas. A historiografia tradicional

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deslegitima, em certa medida, a história das mulheres, considerando-a uma mera ideologia,
garantindo lugar apenas no campo do sexo e da família e excluindo-a de áreas comumente
consideradas mais sérias, como a política e a economia. Entretanto, para as historiadoras feministas
a compreensão que se tem do passado, a partir dessa perspectiva, é parcial, já que a história das
mulheres não está circunscrita na História. Pretende-se, portanto, uma revolução na concepção
tradicional: “inscrever as mulheres na história pressupõe necessariamente a redefinição e o
alargamento das noções tradicionais do que é historicamente importante. Tal metodologia implica
não só em uma nova história das mulheres, mas em uma nova história”. (Scott, 1990: 04). Nessa
perspectiva, pensando a sala de aula como um reflexo, em certa medida, da realidade social, decidi
por analisar como as questões de gênero se reproduzem ou se modificam no ambiente escolar, a
partir do material didático utilizado. Para tanto, escolhi, por hora, trabalhar dois conteúdos básicos
do ensino fundamental: Revolução Francesa e o voto feminino no Brasil. Acredito que a
invisibilidade das mulheres nos instrumentos de educação aliena as meninas na compreensão de si
mesmas como agentes de sua própria história e impossibilita a construção de novas relações de
gênero que sejam mais igualitárias e democráticas em um local privilegiado para que esse projeto
se concretize, a escola.

A coluna de Alceu Novais e a educação do corpo feminino em Uberaba no


início do século XX
Ana Claudia Avelar
avelar_anaclaudia@yahoo.com.br

Igor Maciel da SIlva


deigorparalaboratorios@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Imprensa, Educação do corpo feminino, Uberaba.

A experiência da urbanização no Brasil fez com que o corpo no início do século XX


estivesse na centralidade dos discursos de ciência e modernização. Transitar sobre a cidade neste
recorte exigia comportamentos diferentes dos hábitos considerados “sujos” vindos do século XIX.
Os exercícios físicos foram uma das ferramentas usadas para a propagação dos novos hábitos
requeridos. Segundo o professor Alceu de Souza Novais, colunista no periódico uberabense,
Lavoura e Commercio, a prática dos exercícios físicos pelas mulheres era destinada a um proposito
principal: perpetuação das espécies. E as meninas, futuras mães deveriam ter hábitos condizentes
com sua função maternal. Para isto indica que as moças praticassem a ginastica rítmica, as dansas
helênicas, e também o cestobol e a natação. Exercícios que farão, mais tarde, a mulher de
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maternidades fáceis e de belos filhos. Mas que não se esgotassem prematuramente nos bailes
dansantes, reconhecidos pelo cronista como cheios de contatos suspeitos e culpados por acordar
os apetites. Assim, o objetivo deste artigo é apresentar como a cidade mineira Uberaba se
preocupou com a educação do corpo feminino na primeira metade do século XX através da coluna
de Alceu Novais. Usamos como metodologia principal o trabalho com fontes primárias, o
periódico Lavoura e Commercio, os números referentes ao ano 1933.

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Culturas políticas, artes e sensibilidades nos séculos


XIX e XX
Virgílio Coelho de Oliveira Júnior
Doutorando em História e Culturas Políticas
UFMG
Simpósio Temático

virgiliocoelhobh@gmail.com

Henrique Brener Vertchenko


Doutorando em História e Culturas Póliticas
UFMG
henriquevertchenko@yahoo.com.br

Davi Aroeira Kacowicz


Mestrando
UFMG
daviaroeira@gmail.com

Proposta do Simpósio:

A história política é uma das vertentes historiográficas que mais tem se renovado nas
últimas décadas, o que pode ser verificado pelo menos desde os anos 1970. Como argumentou
Bronislaw Baczko (1985), principalmente a partir do emblemático ano de 1968, os símbolos, os
mitos, os ritos e as utopias, deixaram, paulatinamente, de serem considerados ilusões ou produtos
de uma realidade dita séria, objetiva e coercitiva. Nesse sentido, os historiadores e os demais
estudiosos das humanidades têm se voltado para os processos de percepção e imaginação que
marcam a vida em sociedade, incluindo a sua dimensão política. Considerando essa perspectiva,
propõe-se reunir neste simpósio temático, propostas que se dediquem às relações entre os
domínios das artes e da política nos séculos XIX e XX. Pretende-se dialogar com pesquisas em que
as artes plásticas, o cinema – bem como outras representações ligadas à cultura visual - a literatura
e o teatro, por exemplo, são tomados não apenas como desdobramentos do contexto social e
político em que se desenvolvem. Com efeito, o mundo social é construtor de e é construído por
processos de sensibilidade. Essa premissa é fundamental para a compreensão dos projetos, das
expectativas, dos comportamentos e dos movimentos políticos nos séculos XIX e XX; período em
que se formaram ou consolidaram diferentes culturas políticas, como: a liberal, a socialista, a
anarquista, a integralista e a nazista. Entretanto, consideramos importante também os trabalhos
que discutam as (re) significações de outras temporalidades no período em questão, uma vez que
essas apropriações podem ser reveladoras de escolhas, importantes em seus significados. Vale
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destacar, por último, que se as artes transformam as formas como a realidade política é edificada e
pensada, a própria historiografia sobre o político pode ser - e por vezes é – modificada a partir dos
debates desenvolvidos nesse campo. Por essa razão, trabalhos que se proponham a tecer análises
teóricas ou historiográficas sobre a relação exposta, também são bem vindos.

Comunicações:

Sertão tropical: imagens e representações do Brasil


Davi Aroeira Kacowicz
daviaroeira@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Linguagens da imaginação, Imagem, Representação, Brasil.

As fantasiosas narrativas sobre as quais as primeiras representações da terra brasilis foram


construídas reverberam no imaginário cultural mesmo séculos após. Não é nenhum absurdo
afirmar que ainda hoje, é a geografia que salta aos olhos do estrangeiro como uma das principais
(se não principal) imagens do Brasil: praias, coqueiros, verdes matas, doces águas. Uma amazônia
que se mescla, sem fronteiras, com uma praia carioca. Povos morenos e belos: negros sambistas
emoldurados como em um quadro modernista. Por detrás das imagens passadas para os olhos
externos, o interior do Brasil, o sertão vira espaço para nossos próprios mitos: lugar onde a
literatura, a canção, o cinema e as artes plásticas grafaram com suas lentes, cores e letras. Entre a
fome e a beleza, o Brasil-de-dentro se faz em simultâneo ao litoral de matas atlânticas, que se
externam ainda hoje nos cartões-postais ao redor do mundo. O presente trabalho busca
compreender as díspares (mas simultâneas) representações com as quais o Brasil se fez e foi feito:
do infernal sertão ao o paraíso tropical; do folclore à folclorização do subdesenvolvimento; de
vários povos e de um único povo. Tendo em mira este horizonte, as expressões artísticas, i.e., as
linguagens da imaginação enquanto narrativas do real fantasiado, serão lidas como o fio condutor
desse processo de construção social e cultural. A pergunta sobre a qual este trabalho tem início (e
espera terminar): Qual é o Brasil nesse jogo de espelhos?

Nina Simone, “a voz que cantou os direitos civis”


Jacqueline Maia dos Santos
jacqueline.historia@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE:
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O movimento de direitos civis dos negros americanos, ocorrido ao longo das décadas de
50 e 60, foi fundamental para a transformação da sociedade nos EUA, já que tinha como principal
objetivo o banimento da prática segregacionista no país, que até então era legalizada por lei.
Nascido no sul, esse movimento se difundiu por todo aquele país de forma gradual, mas sistemática
e disciplinada, e conquistou várias vitórias. Diversas estratégias foram utilizadas pelos ativistas em
seus protestos, desde boicotes e caminhadas, passando por comícios e shows. Neste contexto a
música se transformou em uma importante ferramenta de engajamento, e várias composições
foram feitas com objetivo de difundir a causa do movimento negro. A cantora Nina Simone aderiu
a luta pelos direitos civis de forma intensa, chegando a ser alçada por parte de seus pares como a
voz que cantava os direitos civis. Nina preenchia vários dos pré-requisitos para se tornar uma diva
do jazz, bela voz, a técnica e o talento no piano, todavia optou por não se manter omissa em relação
a luta dos negros por respeito e igualdade com composições expressavam o sentimento de revolta
e por justiça. O objetivo desta comunicação livre é demonstrar os meandros da militância de Nina
Simone pelos direitos civis nos EUA e fazer uma breve reflexão dos impactos e entrelaçamentos
deste engajamento em sua carreira, vida pessoal e em parte da história do movimento negro
americano.

O espetáculo "Maria, Maria" na canção de Milton Nascimento: Identidade


negra e lutas sociais no contexto da Ditadura Militar brasileira
Hudson Leonardo Lima Públio
hudsonlpublio@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

Organizado e celebrado pelo coletivo de dança Grupo Corpo, com roteiro de Fernando
Brant e música de Milton Nascimento, o espetáculo Maria, Maria se insere no contexto cultural
brasileiro em um ambiente artístico consumido preferencialmente pela elite. A ideia da
apresentação é perceber como a minoria negra no contexto da Ditadura Militar no Brasil (1964-
1985) articulou sua cultura através de seu roteiro e encenação com a dança e a música ligadas à
elite, no caso o Ballet e a Música Popular Brasileira (MPB) respectivamente, valorizando suas
particularidades e dialogando com o sincretismo, incluindo análises sobre a recepção do público
brasileiro e estrangeiro ao espetáculo. A proposta central do trabalho é pesquisar o nascimento do
espetáculo Maria, Maria com roteiro de Fernando Brant e música de Milton Nascimento e as
repercussões que teve na cultura brasileira da época de sua encenação (1976-1982). Com o Grupo
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Corpo, coletivo de artistas que começou suas apresentações de Ballet com Maria, Maria, o
espetáculo percorreria várias regiões do Brasil e de outros países da Europa e da América do Sul.
Pretendo trabalhar com a letra e melodia das canções (posteriormente o espetáculo seria gravado
em disco); notícias e notas em periódicos sobre Maria, Maria; influência cultural da comunidade
negra na elaboração do roteiro do Ballet; entre outros. Apesar de o espetáculo ser creditado
musicalmente a Milton Nascimento e Fernando Brant, outros membros da Formação Cultural
Clube da Esquina participam das gravações das músicas. Explicarei, portanto, como o Clube
permanece unido nos trabalhos solo dos seus músicos. Concluirei discutindo como a questão de
gênero aparece no espetáculo do ponto de vista de sua personagem principal.

Liberdade, música e revolução: dos spirituals às canções de protesto no


movimento pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos
Raísa Faria Rodarte Ribeiro
raisafrr@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

Esta comunicação busca analisar a conexão entre as antigas canções dos escravos, os
“spirituals”, com as canções de protesto na luta pelos direitos civis dos negros norte americanos
da década de 1960. Como material de análise utilizamos o documentário: “Soundtrack of
revolution” e alguns textos que tratam sobre a temática da luta dos negros ao longo da história,
fazendo um paralelo entre o período da escravidão até a década de 1960. Para que possamos
entender o que foi o movimento pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, inicialmente,
voltamos ao período da escravidão para compreendermos desde o início, como surgiram a
segregação, o racismo e também, como se manifestaram as lutas por liberdade e resistência. Na
sequência, faremos uma conexão entre a resistência escrava e suas canções, os spirituals, com as
canções de protesto entoadas nas igrejas, nas marchas e manifestações na década de 1960, na luta
pelo reconhecimento dos direitos civis, por liberdade e igualdade.

Por fim, buscamos compreender nesse contexto, o papel fundamental da religiosidade


negra nessa luta, e ainda, como os escravos se apropriaram do discurso cristão; da mensagem
protestante e, com isso, puderam criar uma religiosidade própria que tem sua expressão máxima
nas músicas, conhecidas com os spirituals.

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O teatro de Gonçalves Dias e a mulher na modernidade


Ana Paula Silva Santana
anapaulasantana.ufop@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

A apresentação propõe uma reflexão acerca do papel feminino na sociedade moderna a


partir dos textos teatrais de Gonçalves Dias. Dando ênfase nas obras Leonor de Mendonça e
Beatriz Cenci por retratarem mais objetivamente a estrutura do poder patriarcal. Nelas a mulher é
representada em dinâmicas que a estabelecem como elemento familiar inferiorizado, condenado à
frustração amorosa. As mesmas não tem poder sobre suas vidas e suas trajetórias sempre são
arquitetadas e executadas pelo pai ou marido. A intenção é perceber o feminino da obra a partir
das características da literatura romântica e teatral do autor na modernidade, pensando a pesquisa
inserida na relação: gênero, teatro, modernidade e ensino de história.

Tragédia e Modernidade: o imaginário trágico na modernização do teatro


brasileiro
Henrique Brener Vertchenko
henriquevertchenko@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Nelson Rodrigues, teatro brasileiro moderno, tragédia, Vestido de Noiva.

Este trabalho propõe uma abordagem das relações entre o imaginário trágico e a formação
da ideia de um teatro moderno no Brasil, considerando-se, para isso, o marco canonizado que foi
o espetáculo "Vestido de Noiva", escrito por Nelson Rodrigues e encenado em 1943. Apresentada
como uma “tragédia em três atos”, a peça se propôs um gênero francamente pouco explorado
pelos autores teatrais brasileiros de então. Isso significa que, no período, o espaço da tragédia era
muito mais literário do que uma realidade nos palcos do Rio de Janeiro, o que se mostrava exceção
quando das temporadas de companhias estrangeiras, algo cada vez mais raro em face da Segunda
Grande Guerra. Assim, essa condição de "Vestido de Noiva" já trazia, a priori, destaque e
legitimação proporcionados por uma grande valorização desse gênero no imaginário intelectual. A
sua força pode ser verificada na composição dos clássicos que pertenciam ao panteão da literatura
universal e que se apresentavam fundamentais como símbolos de cultura e erudição e como
modelos a serem amplamente estudados. Pretende-se, portanto, explanar os elementos e objetivos
trágicos contidos nessa obra de Nelson Rodrigues, assim como discutir as suas relações com a

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pretensa modernização do teatro nacional, o que implica compreender as representações que a


ideia de tragédia adquire a partir das recepções críticas do espetáculo e como elas se articulam às
concepções de uma modernidade teatral brasileira.

(Re)pensar a(s) Modernidade(s): experiências estéticas simbolistas no Brasil


finissecular
Mariana Albuquerque Gomes
mariana.albuquerque.gomes@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Revistas Literárias, Estéticas simbolistas, Brasil finessecular, Modernidade.

Esse trabalho propõe discussões que permitem pensar as especificidades da Modernidade


marginal brasileira, a partir das experiências estéticas simbolistas do fim do século XIX. As
reflexões desenvolvidas partem, primeiramente, da teoria da recepção de Hans Robert Jauss para
compreender, a partir das ondulações e modulações que a leitura de Charles Baudelaire provocou
no campo literário, como as estéticas simbolistas foram recebidas e atuaram no contexto
finissecular brasileiro. À chave de leitura fornecida pelo teórico da literatura, soma-se a ideia de
Modernidade periférica, de Beatriz Sarlo, com vistas a mapear que o que temos aqui é uma outra
Modernidade, um outro Baudelaire, mas que possibilitaram – também como foi possibilitado no
cenário europeu, ainda que de modo distinto – a aparição de novas formas de pensar, sentir e agir
que repercutem na cultura literária.

Apresentamos, então, as revistas simbolistas e a questão histórico-temporal de que


mundo(s) moderno(s) era(m) esse(s) em que as experiências estéticas simbolistas se tornaram
manifestas, com o objetivo de evidenciar a relação intrínseca entre estética e política. Com as
proposições teóricas de Jacques Rancière, dimensionamos as práticas estéticas em suas
configurações como experiências capazes de engendrar novas formas do sentir e proporcionar
novas formas de subjetividades políticas. Ademais, a ideia do regime estético das artes, trazida pelo
filósofo, ao proporcionar um alargamento da percepção de Modernidade, integra-se à leitura
realizada, neste trabalho, da Modernidade brasileira percebida ao revés, isto é, a partir das
experiências estéticas finisseculares. Nesse sentido, para além das experiências e transformações
legadas pelos processos de modernização da virada do século, discute-se a ideia da cultura brasileira
como apagamento de rastros, na chave de leitura proposta por Francisco Foot Hardman,
retomando o questionamento da Modernidade vista a partir de 1922, na cidade de São Paulo, com

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os movimentos da Semana de Arte Moderna, e a posição marginal das experiências estéticas


simbolistas na história brasileira.

O Teatro brasileiro entre a formação da identidade nacional e a sátira


"Antônio José e o Poeta e a Inquisição" e " O Juiz de Paz na Roça"
Andréa Sannazzaro Ribeiro
deasannazzaro@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: História do Brasil Império, História do teatro brasileiro, Estética..

Em 1838, pouco mais de uma década da Independência brasileira junto ao Império


Português, sobem ao palco do então Teatro Constitucional Fluminense localizado na corte do
Império o Rio de Janeiro, peças consideradas na Historiografia do Teatro brasileira como sendo
percursoras de um teatro tipicamente nacional: a tragédia de Gonçalves de Magalhães: "Antônio
José e O Poeta e A Inquisição" e a comédia de Martins Pena " O Juiz de Paz na Roça". Ambas pela
primeira vez levam ao palco personagens brasileiros.

O que elas revelam, contudo, é um envolvimento com projetos políticos e reformadores


da sociedade, questões estas que surgem diante das perspectivas de um futuro a ser construído após
a independência. Magalhães se volta com sua peça para uma forma de educação estética do homem
fundamentado nos princípios de Schiller já o teatro de Martins Pena revela as especificidades
daquele presente, bem como uma identidade coletiva permeada de anseios políticos, devido às
circunstâncias do período. Martins Pena refuta de toda tradição da comédia para lançar critica a um
dos principais órgãos consolidados pela monarquia após 1822, o judiciário juntamente com a
criação dos juizados. Nossa hipótese é que as estratégias estéticas destas peças possibilitariam parte
da elaboração das expectativas abertas para o futuro. Embora dentro de gêneros historicamente
distintos: a tragédia e a comédia, ambas, se voltam na busca da constituição de um sentimento
nacional. Empenho este executado por aqueles que desejavam principalmente uma ruptura com o
passado português e autonomia do estado-nação que se constituía.

Apontamentos sobre a relação entre virtude cívica, estética e educação


moral
Marcella Regina Silva Alves
marcellareginas@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Educação, ética, estética, moral.


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O ensaio parte da premissa de que as discussões sobre estética fundamentarão, de certa


forma, um padrão de gosto (ou, um padrão desejável) no âmbito sócio-político. Para tanto, utilizarei
as ideias de autores chaves para a presente discussão: Adam Smith, Edmund Burke e Friedrich
Schiller. Tentarei demonstrar como esses autores, em seus respectivos contextos, valem-se da
linguagem estética para denunciar a corrupção estruturante dos valores e a degeneração dos
costumes em suas sociedades, ao mesmo tempo em que buscam a solução de tais problemas via
uma pedagogização moral através do par estética-ética.

“Passados Presentes”: memórias da ditadura


Alice Costa Souza
alicearte@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Presentificação, Arte, Memória, Representação, Ditadura.

O artigo fala dos recentes trabalhos de memória e reparação simbólica no Brasil,


especialmente aqueles feitos pela Arte, em relação aos efeitos traumáticos da ditadura civil-militar
no Brasil (1964-1985). A atenção ao passado para compreender o presente e modificar o futuro,
exprime o que Andreas Huyssen denominou como “passados presentes”, característico desde a
década de 1980, com o boom de memória. No Brasil, entretanto, essa “cultura da memória” é um
fenômeno que ainda não se firmou, e seu despertar para os passados traumáticos é ainda muito
recente e tímido em comparação com países como a Argentina. Quando História Oficial e
memórias subterrâneas se cruzam, principalmente em um país acostumado a homenagear os seus
algozes, muitas questões surgem. Dentre elas, a construção de suportes da memória devem levar
em consideração os usos (ou abusos) que dela fazem, e promover debates éticos e estéticos. Nas
celebrações pelo cinquentenário do golpe de 1964 os agentes em torno da Comissão Nacional da
Verdade (CNV) até organizaram eventos culturais, inauguração de monumentos, escrachos contra
torturadores, dentre outras ações, mas, ficaram restritos aos familiares das vítimas e ativistas dos
direitos humanos, não chegando a abranger variados setores da sociedade. Mas as estratégias a
partir das quais se representam os passados de repressão e violência estatal e as ressignificações do
passado se situam no intervalo entre o afetivo e o político, por isso demandam participação da
sociedade. O desafio da representação dessa memória recente encontra obstáculos na busca por
implementar políticas da memória inclusivas, o resgate da cidadania e a presentificação da
catástrofe. Desde que a Arte misturou-se com a vida, muitos artistas se interessaram por atender
ao “dever de memória” em obras de resistência à ditadura e de resgate dessa memória no período
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democrático. Muitos destes trabalhos insinuam a repetição da barbárie, nos quais estão em jogo
não apenas a representação da catástrofe, mas a presentificação, ou seja, tornar útil o passado
atualizado em memória. Em um dos trabalhos analisados – “Inserções em Circuitos Ideológicos:
Projeto Cédula” – de Cildo Meireles, notas de Real são carimbadas com a pergunta: “O que
aconteceu com Amarildo?”, prolongando um gesto antigo, de 1975, quando cédulas de Cruzeiro
foram carimbadas em provocação à ditadura: “Quem matou Herzog?”. A presentificação evidencia
a denúncia, talvez possibilidade única da Arte diante das catástrofes.

Legitimação do Estado: As encomendas realizadas pelo Visconde de Abaeté


Bárbara Ferreira Fernandes
barbaraffernandes@outlook.com

PALAVRAS-CHAVE: Representação, Império, Encomendas, Victor Meirelles, Visconde de


Abaeté.

Durante o reinado de Dom Pedro II, desenvolve-se um projeto político de criação de


símbolos nacionais e de formulação de um verdadeiro imaginário em relação à história do Brasil.
As Artes em geral vão fazer parte do esforço político de construção do imaginário da nova nação,
buscando temas brasileiros. A pintura de história é, portanto, colaboradora das tentativas de criação
da identidade nacional no século XIX, bem como, do projeto de legitimação gestado pelo Estado
imperial. Importantes episódios da história do país e retratos de seus líderes são propostos como
tema em encomendas feitas geralmente pelo Estado, comumente entregues aos dois grandes
pintores do período: Victor Meirelles e Pedro Américo. É importante ressaltar que, na segunda
metade do século XIX, as encomendas eram fundamentais para a manutenção dos artistas. Elas
são importantes para compreendermos quais momentos eram escolhidos para serem “eternizados”
e quem os escolhia. Como Roger Chartier aponta: “As representações do mundo social assim
construídas, embora aspirem a universalidade de um diagnóstico fundado na razão, são sempre
determinadas pelos interesses de grupo que as forjam.”1

Pretendo, portanto, nesse trabalho, discutir as encomendas realizadas pelo Senado Imperial
durante a presidência do Visconde de Abaeté (1861 a 1873), sabe-se que o senador encomendou,
ao menos, quatro obras de caráter histórico. Darei especial atenção àquela realizada ao pintor Victor
Meirelles e que retrata o Juramento da Princesa Isabel na ocasião de sua primeira regência no ano

1
¹CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Difel, 1990 p. 17.
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de 1871. Abaeté realiza a encomenda no mesmo ano e Meirelles expõe o quadro, ainda inacabado,
na Exposição Geral de Belas Artes de 1875.

La Caricature: a influência do imaginário romântico na cultura política


revolucionária
Lívia Assumpção Vairo dos Santos
livia.santos88@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Romantismo, França, Revolução de 1830, La Caricature.

O Romantismo francês esteve intrinsecamente ligado à conjuntura política do país. Ao


longo das primeiras décadas do século XIX, gerações de artistas e literatos dividiam-se entre o
posicionamento conservador ou liberal-revolucionário, moldando e sendo moldados por um novo
imaginário multifacetado, que acompanhava o terror e a esperança dos inúmeros contratempos
políticos. A Revolução de 1830 se configurou como uma dessas guinadas políticas, reacendendo a
euforia dos revolucionários, que não só conquistaram a queda de Carlos X, como colocaram em
seu lugar o Duque de Orleans, que outrora lutara em prol da Revolução de 1789. Contudo, após
assumir o trono, o rei Louis Philipe associou-se ao Partido da Resistência, de viés conservador,
ocasionando uma onda de descontentamento. Tal qual um último suspiro revolucionário, surge em
Paris o periódico La Caricature (1830-1835), tornando-se o primeiro jornal satírico francês do
século XIX e a principal oposição à Monarquia de Julho. A partir deste caso específico, busco
contemplar algumas questões acerca das facetas do imaginário romântico, destacando o
desencantamento político, através do grupo formado por Charles Philippon (criador e diretor do
periódico) para compor o corpo editorial, contando com nomes como Honoré Daumier e Honoré
de Balzac, configurando uma cultura política que se estenderia até mesmo depois do fim do jornal.

"Triste civilização": as sociabilidades, as representações e os debates


intelectuais de Eça de Queiroz sobre o contexto político-social oitocentista
Virgílio Coelho de Oliveira Júnior
virgiliocoelhobh@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Eça de Queiroz, Progresso, Oitocentista, Sociedade e civilização.

As narrativas queirozianas sobre a segunda metade do século XIX são marcadas por uma
aguda crítica a alguns dos projetos civilizatórios da modernidade ocidental; nomeadamente, os que
se referem ao liberalismo ou ao cientificismo de matriz positivista. As sociedades “modernas”,
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hegelianamente organizadas, seriam capazes de realizar as promessas de “libertação da


humanidade”, contribuindo, assim, para a construção de uma sociedade positivamente superior?
Qual o papel da produção intelectual – em especial da literatura – para representar, criticar e
compreender o possível desenvolvimento de tais pretensões salvacionistas? Essas perguntas
perpassam as obras literárias de Eça de Queiroz, não apenas nos enredos romanescos, mas na
própria configuração dos romances. Com efeito, pretende-se discutir as sociabilidades e as
referências intelectuais do autor, destacando-as como componentes das representações
desenvolvidas sobre o século XIX europeu, principalmente no que tange à sociedade portuguesa.
Os debates travados pelo escritor, bem como as suas citações, são entendidos como elementos
constituintes dos significados e dos significantes das análises tecidas sobre o sucesso ou o insucesso
das instituições, processos e valores dos modelos de civilização e progresso da época. A atividade
intelectual é questionada em seu potencial e função, compondo a perplexidade do autor frente aos
ditames do mundo dito moderno. Pretende-se demonstrar, por meio do trabalho com as
correspondências e obras literárias do autor, que sua problematização sobre os limites
civilizacionais da época, está intrinsecamente ligado às reflexões sobre o papel dos intelectuais, seus
debates e obras.

Entre sertões: comunismo e campesinato na obra de Bernardo Élis


Pauliane de Carvalho Braga
paulianecb@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Bernardo Élis, Campesinato, Literatura, Reforma agrária.

Bernardo Élis Fleury de Campos Curado, escritor goiano considerado por muitos o
introdutor do modernismo no centro-oeste, guia intelectual da região por décadas, primeiro goiano
a ingressar na Academia Brasileira de Letras, comunista “notório”, produziu uma obra de espessura
crítica, cujo tema central foi o sertão goiano. Nesta apresentação vamos explorar como a obra desse
autor se conectou com um momento histórico específico: o da ascensão política do campesinato
brasileiro.

Considerando sua produção durante as décadas de 1940, 1950 e 1960, buscaremos


evidenciar a importância de sua obra para a formação de um novo olhar sobre o campo brasileiro.
Ao explorar as incertezas e contradições daquele período, construindo narrativas ora otimistas com
o poder revolucionário do camponês, ora pessimistas diante da força do sistema capitalista, às vezes
reiterando, às vezes divergindo das teses do Partido Comunista Brasileiro (PCB), Bernardo Élis
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participou ativamente do debate intelectual que então se travava. Ao contar de uma República que
era construída longe do que era comum, recriando literariamente os pontos de tensão e ancoragem
das relações sociais e de poder estabelecidas nos sertões, apontando o não concretizado do projeto
político brasileiro, Bernardo Élis estabeleceu o limite de um mundo que não poderia mais existir.
Sua contribuição literária para o debate sobre o campo brasileiro é relevante não só por colocar a
questão na ordem do dia, mas por qualificá-la, humanizando seus personagens. Élis construiu
imagens e sentidos particulares para seus camponeses, posseiros, vaqueiros, jagunços, assim como
para patrões, coronéis, juízes, delegados e soldados. Costurando história, política e ficção, o autor
modelou um sistema de ideias que iluminou possibilidades, oferecendo sua visão da vida, e
evidenciando a possibilidade de integração política das margens.

As mulheres no meio musical na Belém dos anos 1930: Personagens,


espaços e práticas
Milena Moraes de Araújo e Souza
millenamoraesm@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Mulheres, Concerto, Programas da Música, Anos 30.

Este trabalho pretende abordar, as mulheres que se destacaram no meio musical em Belém
do Pará, no início do século XX. Busca-se relacionar a mulher nos anos 30, com os espaços em
que ela poderia se inserir através do ramo musical, dentre eles a Rádio Clube do Pará, o Instituto
Carlos Gomes, e destacando-se em apresentações no Theatro da Paz, desse período. O recorte
histórico trata do período entre guerras mundiais, onde o Brasil, após a Revolução de 30, estava se
iniciando a era Vargas com novas propostas para a educação voltada para a valorização da pátria,
a instituição das leis trabalhistas, o início do projeto do Estatuto da Família, e a modernização do
país, que trouxe o rádio. No Pará, foi a época dos governos de Magalhães Barata e José Malcher,
sendo em 1932 a Revolução Constitucionalista e em 1935 o governo provisório de Roberto
Carneiro de Mendonça. As fontes utilizadas, foram jornais, atas, e principalmente os programas de
concertos, localizados no acervo Vicente Salles, acervo do Professor Jonas Arraes, e acervo da
Fundação Carlos Gomes. E por meio dessas fontes, podemos perceber a influência da música tanto
na educação em geral, quanto na educação especificamente das mulheres; a participação ativa das
mulheres na música; e a questão política que influenciava as apresentações musicais. Portanto, o
artigo será discutido em 3 tópicos. O primeiro, traz a história das mulheres, a conceituação de
gênero, e a educação das mulheres na República, no início da Era Vargas. O segundo, que vai

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mapear a história da música, que mostra um pouco das contribuições do período da belle époque,
e o canto orfeônico. E o terceiro, que vem discutir as fontes dentro dos espaços musicais, sendo
eles o Theatro da Paz, o Conservatório Carlos Gomes, e a Rádio Clube do Pará.

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Arte, Devoção e Sociedade


Vinícius de Freitas Morais
Mestrando
UFRJ-Universidade Federal do Rio de Janeiro
Simpósio Temático

vinicius.freitas94@hotmail.com

Patrícia Marques de Souza


Mestranda em História Social (Bolsista Capes)
UFRJ-Universidade Federal do Rio de Janeiro
marquesdesouzap@gmail.com

Maria Clara Caldas Soares Ferreira


Doutoranda em História Social da Cultura
UFMG
mccsferreira@yahoo.com.br

Leandro Gonçalves de Rezende


Mestrando em História Social da Cultura
UFMG
leandro9rezende@yahoo.com.br

Kellen Cristina Silva


Doutoranda em História Social da Cultura
UFMG
ma.kellcs@gmail.com

Diomedes de Oliveira Neto


Mestrando em História Social (Bolsista Capes)
UFRJ-Universidade Federal do Rio de Janeiro
diomedesneto85@gmail.com

Proposta do Simpósio:

O Simpósio Temático tem como fio condutor o enlace entre a arte e a religiosidade na
sociedade cristã ocidental, reunindo pesquisas que envolvam o campo da cultura visual, em sua
vertente devocional, ou seja, a produção artística de cunho religioso nas mais diferentes formas,
técnicas e suportes. Da mesma forma, partimos do pressuposto que a obra artística devocional não
é uma ideia desencarnada ou simples ideologia, sem raízes no seu tempo; nem um mero reflexo do
contexto sociocultural em que se situa. Assim atentaremos para o meio social em que ela está
inserida, as experiências e expectativas de religiosos e leigos promotores da fé e da arte. O meio
religioso sempre se destacou como espaço de fortalecimento identitário e hierárquico, forjando

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mecanismos de representação e de sociabilidade. Nesta oportunidade destinaremos nossa atenção


para os diálogos entre a Arte e as práticas religiosas, percebendo a produções de signos e
significados junto à sociedade, uma vez que a mentalidade devocional deixa marcas indeléveis no
pensar, agir e portar-se das populações. Dessa forma, temos um amplo recorte temporal-espacial
que abrange desde a Antiguidade à multiplicidade do contemporâneo. Seja em sua especificidade
material ou técnica ou na sua função primeira de culto, os espaços arquitetônicos, as esculturas e
as imagens sagradas agregam, ao mesmo tempo, funções sociais e religiosas. Para além do espaço
e do calendário cristão, a relação entre arte e devoção permite a extensão dos recortes cronológicos,
abraçando tempos e sociedades que conferiram importância na produção e no uso das imagens e
dos lugares de culto. Deste modo, atentamos para o fato dos objetos visuais se circunscreverem
dentro de uma perspectiva social e destacamos tanto os seus diversos usos e funções quanto os
seus meios de produção e recepção. Logo, abordar-se-á, de forma ampla, a interiorização e
exteriorização do fenômeno religioso nas sociedades cristãs do ocidente sobre os múltiplos campos
do saber, amparados pela teoria e metodologia da História e da História da Arte. As análises
construídas serão tecidas a partir de elementos documentais, bibliográficos e iconográficos
diversos, sejam esses dados escritos ou produtos de manifestações artísticas remanescentes ao
dispor do pesquisador. Portanto, a cultura artística religiosa e os seus processos devocionais, as
festas, o mecenato, a iconografia, o lugar social dos artistas, a fé e a religiosidade serão analisados
num diálogo interdisciplinar.

Comunicações:

“Al vero punto dell’occhio che è la gloria Divina” – O fundamento religioso


do tratado Perspectiva Pictorum et Architectorum, de Andrea Pozzo SJ
Mateus Alves Silva
mateus.silva@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Jesuítas, Andrea Pozzo, Tratados de arte, Persuasão.

Já é amplamente conhecida e difundida a importância do tratado Perspectiva Pictorum et


Architectorum, do jesuíta Andrea Pozzo (1642-1709), para os estudos em História da Arte. Editado
em dois volumes, em 1693 e 1700, o tratado contém os fundamentos dos estudos de perspectiva,
com vistas a sua utilização por arquitetos e pintores que se dedicam a essa produção. Elaborada de
forma simples e didática, essa obra pretende abarcar as mais diferentes possibilidades do uso da

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perspectiva, de estruturas básicas às mais complexas representações arquitetônicas, evidenciando


assim, possíveis fatores para a sua ampla difusão através das diversas edições e traduções para
variadas línguas durante os séculos XVIII e XIX. Nesse trabalho, contudo, pretendemos nos ater
aos elementos persuasivos que conectam essa obra ao aspecto devocional, inserindo-a em um
conjunto de práticas já utilizadas pelos jesuítas na veiculação de determinados preceitos religiosos.
Para tanto, serão apresentados três aspectos fundamentais da obra no que diz respeito a sua relação
com a prática religiosa: a disposição didática, o repertório de imagens e a elaboração do discurso.
No que diz respeito ao método, discute-se a relação direta com a prática jesuíta de disposição
didática dos textos e do uso das imagens, bem como as possíveis inovações trazidas por Andrea
Pozzo para a construção de sua obra. Em relação às obras selecionadas para a composição do
tratado, analisa-se a escolha orientada para a inserção tanto na tradição da arquitetura clássica
quanto na reutilização desta pelo mundo cristão católico e as diversas possibilidades persuasivas da
prática devocional através das imagens. E, por fim, apresenta-se como o peso do discurso religioso
amplia o caráter persuasivo da obra, permitindo novos significados para o uso da perspectiva
dentro do mundo cristão católico, a partir das experiências e propostas apresentadas pelo próprio
Andrea Pozzo.

Santuário do Caraça: Uma analise do ethos católico através da iconografia


religiosa
Matheus de Almeida Paiva
matt.almeida@outlook.com

PALAVRAS-CHAVE: Cultura Material, Iconografia Religiosa, Clero.

Nosso trabalho está relacionado os personagens do clero das Minas Gerais especialmente
aquilo que concerne à cultura material, ou seja, parte do meio ou produto físico apropriado cultural
e socialmente por um grupo, um indivíduo ou uma sociedade. Objetos de devoção e de ordem
cotidiana que pertenciam aos Padres da Congregação da Missão, são apropriações simbólicas que
dizem muito a respeito do grupo, em nosso trabalho analisamos castiçais, canetas-tinteiros,
pratarias, autorretratos, crucifixos, louças de uso cotidiano, objetos de marcenaria, música,
agricultura, relíquias, livros, imagens religiosas entre outras. O estudo dessas peças nos ajuda a
compreender o ethos católico mineiro, sua influência na sociedade laica e uma história do cotidiano
dos padres e suas personalidades mediante a análise de gostos e preferências. Institutos como
IPHAN e IEPHA, que já inventariam alguns desses materiais, ajudará a compor as circunstâncias
do objeto, em linguagem arqueológica, entretanto, é de suma importância agregar o máximo de
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informações possíveis sobre esses materiais, para continuarmos a elaborar verbetes descritivos
desses objetos. No Brasil grande parte das análises sobre os grupos históricos está relacionada às
fontes chamadas imateriais, principalmente, os ditos documentos escritos, o que restringe as
reflexões não só as teorias subjacentes a tais documentos, bem como as circunstâncias da escrita,
podendo ser na forma de carta, livro, relatórios etc. Nos pautaremos por um estudo arqueológico
circunstanciado, ou seja, o isolamento para análise dos objetos per si, cruzando com informações
escritas numa análise comparativa. O cruzamento do artefato e fontes escritas como inventários,
associado a um estudo dos usos e significados que os objetos possuem para os grupos em questão,
redundará no verbete menos informativo e, portanto, consubstanciado desses objetos ajudando na
sua divulgação e possíveis tombamentos, na qual por fim disponibilizaremos o material de forma
on-line na página do LAMPEH (Laboratório Multimídia de Pesquisa Histórica), sediado na
Biblioteca Central da UFV.

A música sacra em Minas setecentista: a divergência em comum


Felipe Novaes Ricardo
f.novaesr@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Barroco Mineiro, Edição de Partituras, História da Música Brasileira,


Musicologia.

O presente trabalho é subproduto de projeto Acervo Maestro Chico Aniceto: Continuação


da Edição de Obras Raras, desenvolvido no Núcleo de Acervos da Escola de Música da
Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) através de financiamento da Fundação de
Amparo a Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG) no ano de 2015. Fundamentando-se no
procedimento metodológico de análise documental, as obras dispostas no catálogo Chico Aniceto
foram submetidas aos processos de digitalização, revisão e compilação das partes instrumentais,
sendo em seguida, editadas e analisadas estruturalmente. Os documentos trabalhados são
respectivos as práticas musicais setecentistas inseridas na liturgia católica. Durante os processos de
edição, revisão e análise dos documentos de música do colonial mineiro demonstrou-se necessário
o levantamento bibliográfico, em dicionários de termos musicais dos séculos XVIII a XX e tratados
contemporâneos de estruturas musicas, respectivo a classificação formal do gênero Moteto, tendo
em vista a diversidade estrutural das obras quando em paralelo às tradições musicais do velho
mundo, sobretudo portuguesas. Outro procedimento relevante diz respeito à análise dos percursos
harmônicos adotados na construção do discurso musical observados nas peças ‘Solo do Pregador’,

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‘Missa de Suassuy’ e ‘Missa em Fá’; estes também divergindo das regras preconizadas no velho
mundo à época.

Observamos tais procedimentos divergentes ao cânone europeu como indicativos de


sensibilidades musicais que possibilitaram uma maneira de se conceber e de se criar música próprias
às Minas Colonial. Tendo em vista que em uma mesma geração de uma mesma sociedade reina
uma similitude de hábitos e técnicas, e tais características, sendo compartilhadas em rede,
constituem teias de significados autóctones tecidos em Minas setecentista. Não obstante encaramos
a música como linguagem e sendo parte do aspecto coletivo da cultura; neste sentido as mediações
à construção de um corpo de concordâncias dão-se no caráter orgânico da vida em sociedade,
assumindo um contorno de significados comuns a Minas do século XVIII.

As pinturas do Sepultamento de Cristo de Eugène Delacroix


Luciana Lourenço Paes
paes.lu@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Eugène Delacroix, Sepultamento de Cristo, Pintura francesa séc. XIX.

A comunicação pretende analisar, de um ponto de vista iconográfico, cinco pinturas de


Eugène Delacroix executadas entre 1847-59 em torno do tema do Sepultamento de Cristo (Mateus,
27, 55-60; Marcos, 15, 42-47; Lucas 23, 50-54 e João, 20, 38-41). Trata-se da Lamentação, uma tela
pequena que retoma a composição de 1843-44 para a capela da Igreja Saint-Denis-du-Saint-
Sacrement, Paris; duas outras Lamentações que alteram o foco da figura de Maria para a de Cristo,
feitas entre 1848-49; um Sepultamento propriamente dito, exposto no Salão de 1859 e, ainda, uma
Subida ao Calvário que foi concebida antes, em 1847, e que veio a constituir um pendant para a
tela anterior. As principais referências visuais de Delacroix na abordagem desses temas sacros
durante sua fase madura são os italianos Rosso Fiorentino, Ticiano, Veronèse e os Bassano, além
de Nicolas Poussin, Rembrandt e Rubens. Tematicamente e no que tange a alguns elementos
compositivos e de iluminação, ele se aproxima dos antigos mestres, mas, tecnicamente, pelo uso
da cor e da pincelada, ele se afasta. A combinação do tema sacro consagrado pela tradição, inabitual
num artista romântico, e do estilo de Delacroix, cuja liberdade técnica ainda chocava o público,
não deixa, contudo, de tocar espiritualmente o espectador. Não foi à toa que o crítico Lescure, no
Salon de 1859, exclamou diante do Sepultamento: “Je suis chrétian!”.

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Os irmãos terceiros e a Capela da Ordem Terceira de São Francisco de Assis


de Mariana
Natalia Casagrande Salvador
naticsalvador@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Sociedade colonial, Irmãos terceiros, Devoção.

A construção da Capela da Venerável Ordem Terceira de São Francisco de Assis de


Mariana, Minas Gerais ocorreu ao longo da segunda metade do século XVIII e começo do século
XIX. Sua administração esteve nas mãos de homens leigos, alguns dos quais tiveram uma
excepcional participação na mesa administrativa da Ordem Terceira e na construção da capela. A
análise da documentação referente à esse sodalício durante o período referido torna evidente a
importância dos ditos irmãos terceiros. Para além da busca de status nessa sociedade altamente
hierarquizada, algo que certamente já haviam alcançado ao se tornarem membros da mesa
administrativa, percebemos as atitudes desses irmãos como uma demonstração de sua intensa
devoção para com a Ordem Terceira de São Francisco de Assis. De doações de esmolas ao
acompanhamento direto das obras da capela, excediam as funções de seu cargo para garantir a
prosperidade do sodalício. Exploraremos a relação destes irmãos terceiros dentro da mesa
administrativa, com os outros irmãos e com o desenvolver da construção da sua sede.

Os Calvários do Museu Mineiro: primeiras percepções


Adalberto Andrade Mateus
beto.mateus@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Imaginária sacra mineira, Museu Mineiro, Iconografia Cristã.

O presente trabalho aborda os chamados Calvários, também conhecidos como


Calvarinhos, do acervo do Museu Mineiro, em Belo Horizonte/MG, no contexto das
determinações do Concílio de Trento (1545-1563) e sua repercussão no universo luso-brasileiro
durante os séculos XVIII e XIX. As peças selecionadas para esse estudo constituem peculiar
representação da cena da crucificação de Cristo, se destacando dentre as dezenas de peças ligadas
ao Crucificado presentes nesse acervo, e reafirmam a necessidade da complementação dos estudos
sobre os aspectos iconográficos e, principalmente da identificação, proteção e preservação desse
conjunto escultórico diante da produção da imaginária sacra mineira em meados dos séculos XVIII
e XIX.
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Tapetes Sagrados, Perecíveis serragens em cor: Os saberes e fazeres


presentes na festa, rito e memória popular sabarense
Frederico Luiz Moreira
fredmoreir@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Cultura Popular; Tapetes de serragens, Memória; Educação não-


escolar.

Num recorte da interiorana Sabará mineira, sujeitos à noturna, entre sociabilidades festivas
e um saber-fazer artístico, encontram-se nas ruas da cidade para compor ressignificações do festejo
católico de Corpus Christi. Nessa festa e rito, recriam anualmente este caminho epifânico por meio
da feitoria dos tapetes de serragens, expressando práticas de uma educação pela cidade, entre
memórias e culturas. Apropriada da cultura popular e tradição religiosa, os participantes da feitura
dos tapetes delineiam renovados entendimentos acerca de enlaces entre culturas e memórias que
acontecem nos repasses e trocas geracionais. No processo, recriam-se tradições religiosas e
expressões culturais materiais e simbólicas que conferem singularidades à cidade e às relações entre
seus moradores. Nesse cenário, prenhe de significações e ressignificações a pesquisa espera
apreender, nas relações entre as gerações, as ressignificações das expressões culturais de sujeitos,
suas socialidades, nas relações intergeracionais. A pesquisa pretende oferecer algumas contribuições
pertinentes ao educar pelas ruas da cidade, numa captura sensível que debruça o olhar sobre as
relações sociais e neste ‘fazer gestual’, onde aprendizagens, vivências e saberes populares fazem do
tapete o lócus de processos educativos na e pela cidade. Neste sentido, vislumbra-se como
abordagem metodológica a pesquisa etnográfica com utilização da triangulação de dados, buscando
no trabalho de campo coletar (e comparar) dados por meio da observação registrada em diários de
campo, por meio de entrevistas semiestruturadas (por gravação direta) e por meio de materiais
visuais (vídeos e fotografias).

Arquitetura neogótica e o culto do Sagrado Coração de Jesus: estética e


devoção nos sertões da neocristandade brasileira
Diomedes de Oliveira Neto
diomedesneto85@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Sagrado Coração de Jesus, Neogótico, Arquitetura, Neocristandade.

As primeiras décadas do século XX no Brasil foram marcadas por transformações


institucionais da Igreja católica junto à sociedade. Houve uma predisposição de reaproximação da
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instituição com os governos e com a elite no país a fim de reafirmar seu poder de influência política,
moral e social. Tratou-se de posturas reconhecidas pela historiografia como "neocristandade".
Dentre as estratégias adotadas, estaria o rearranjo de poder de influência das dioceses, incluindo-
se a criação de novos bispados no território nacional. Prezando por ideais como de "ordem" e
"tradição", a Igreja também recorreu a cultos e vocabulários artísticos reconhecidos então como
tradicionais na história da Igreja católica para auxiliar nessas estratégias das dioceses. Tratou-se,
como exemplo, da escolha das formas arquitetônicas do gótico medieval para compor novas
construções eclesiásticas. Além disso, o culto do Sagrado Coração de Jesus, oficializado no século
XIX, seria uma manifestação devocional também adotada pelos partidários da neocristandade,
consagrando-se muitas igrejas neogóticas brasileiras sob esta invocação. O objeto tomado para esta
comunicação é a construção da Catedral neogótica de Petrolina atrelada à criação dessa diocese na
década de 1920 em Pernambuco. O objetivo desse trabalho é evidenciar, portanto, as relações
tecidas entre o culto do Sagrado Coração de Jesus, a arquitetura neogótica eclesiástica no Brasil e
as atitudes de neocristandade das dioceses nos chamados "sertões" brasileiros. Tomou-se como
base teórica os pressupostos de uma História Cultural repousada sobre a produção arquitetônica,
a fim de evidenciar não apenas as questões formalistas da Catedral, mas as práticas e representações
evidenciadas na construção e apropriação dessa arquitetura na Petrolina da década de 1920.
Recorreu-se a fontes locais da região como periódicos e documentos da diocese a fim de perceber
as relações estabelecidas entre o bispado e as diferentes instâncias dos governos no processo de
construção da Catedral neogótica e sua repercussão. Concluiu-se que apesar de não ter sido uma
escolha oficializada pela Igreja, o uso do neogótico para compor novas construções de catedrais e
paróquias foi recorrente durante o período da neocristandade no Brasil, associando-se também a
um fortalecimento de cultos tradicionais como do Sagrado Coração ou da Imaculada Conceição
no sentido de fortalecer o poder espiritual e político da Igreja Católica junto à população.

Vitis florigera: fé e devoção nos ex-votos mineiros em louvor à Nossa


Senhora do Carmo – Séculos XVIII e XIX
Leandro Gonçalves de Rezende
leandro9rezende@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Nossa Senhora do Carmo, Religiosidade, Devoção, Ex-votos.

O culto à Nossa Senhora do Carmo é antigo na região das Minas Gerais e ela tornou-se
uma devoção cara à sociedade, compartilhada por vários grupos sociais. As Ordens Terceiras do

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Carmo mineiras surgiram em meados do século XVIII, num momento de consolidação social,
política e religiosa, agrupando parcela poderosa da população. No entanto, mesmo sendo uma
associação da elite mineira, tais sodalícios não monopolizavam a devoção à Nossa Senhora do
Carmo, pois tal sentimento religioso foi compartilhado pelos membros daquela sociedade, desde
sua conformação inicial, nos últimos anos do século XVII e início do século XVIII. O fruto
eminente dessa religiosidade é um importante e rico acervo cultural que representa, de forma
significativa, a história da Ordem, repleta de fatos lendários e fabulosos. Figurativamente, isso se
traduz em símbolos e representações que remetem à origem emblemática ainda no Antigo
Testamento, com Elias e Eliseu; à sua fundação histórica no século XIII, com São Simão Stock; à
reforma do Carmelo Descalço, conduzida por Santa Teresa d’Ávila e São João da Cruz; e não
menos importante, à hierofania, ou seja, a manifestação do sagrado nas várias aparições de Nossa
Senhora do Carmo.

Nessa oportunidade, analisaremos o conjunto de ex-votos do Santuário do Senhor do Bom


Jesus de Matozinhos de Congonhas e do Museu Regional de São João Del Rei, que, em seus
acervos, conservam tábuas votivas em louvor à Nossa Senhora do Carmo. Os ex-votos do século
XVIII e XIX são pequenas tabuletas de madeira, pintadas à têmpera. Geralmente eles narram uma
história, cujo esquema compositivo é o seguinte: o enfermo e a situação na qual ele se encontra; a
aparição miraculosa do santo, no caso Nossa Senhora do Carmo, em ambiente diferenciado,
demarcado por nuvens e fundo dourado; e uma legenda escrita, geralmente na base. Tais peças são
a materialidade de um sentimento religioso, que, com efeito, foi compartilhado por diversificados
segmentos sociais. A crença no milagre marca sobremaneira a vivência religiosa no universo luso-
brasileiro, mesclando elementos e práticas da doutrina católica com a religiosidade popular,
aproximando, com nítida intimidade, o sagrado, representado pelo santo e o mundano,
representado pelo suplicante. Nesse sentido, tais ex-votos revelam um universo cultural, no qual
era costume recorrer à Nossa Senhora do Carmo em aflições cotidianas.

Imaginárias em marfim: arte e devoção nas Minas Gerais setecentistas


Mariana Rabêlo de Farias
mariana.rabelofarias@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Imaginária em Marfim, Minas Gerais Setecentistas, Arte Sacra.

Apresentar a relação entre arte, devoção e sociedade, a partir das imaginárias em marfim
catalogadas em Minas Gerais, são os objetivos desta comunicação, cuja pesquisa faz parte do
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projeto internacional entre a UFMG e a Universidade de Lisboa, The Luso-African Ivories:


Inventory, Written Sources, Material Culture and the History of Production.

Foram realizadas pesquisas em acervos do IEPHA/ MG, IPHAN/ MG, Museu Regional
de São João Del Rei e SUMAV. Nestes acervos foram identificadas ao todo 68 peças em marfim,
com predominância das imaginárias religiosas, totalizando 61 peças, destinadas ao uso litúrgico e
ao devocional. A partir desse levantamento, pode-se observar que a produção das imagens
devocionais em Minas Gerais seguiram dois vieses: um de cunho externo, que seguia a tradição
portuguesa e cristã de representar os santos de devoção, o outro, condicionado por fatores
específicos concernentes à formação da capitania de Minas Gerais, que influenciaram
profundamente as características sociais e culturais das Minas Setecentistas.

Dado ao isolamento da região mineradora e a proibição da instalação de Ordens Primeiras


e Segundas nos seus territórios, pela Ordem Régia de 1709, a população se organizou em torno das
Ordens Terceiras, que serviu como espaço agregador e difusor da arte e da devoção na capitania.
Os trabalhos artísticos executados estavam diretamente ligados às encomendas realizadas pelas
irmandades religiosas para atender a funções distintas. A mais frequente era a utilização de imagens
para exposição em retábulos de igrejas e capelas; uso em procissões e outros rituais a céu aberto, e
por fim, as imagens devocionais, que eram parte integrante de conjuntos escultóricos, para festas
religiosas ou em oratórios particulares, voltados para o culto doméstico. Observa-se, portanto, que
as imaginárias de cunho sacro-devocional eram comuns na cultura colonial brasileira e eram
confeccionadas com diversos materiais, entre eles o marfim. Portanto, pretende-se analisar a arte
devocional nas Minas Gerais setecentistas a partir das imaginárias em marfim identificadas na fase
de catalogação de acervos institucionais.

O bestiário do Diabo na tradição artística medieval


Patrícia Marques de Souza
marquesdesouzap@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Imaginário Medieval, Bestiário, Imagens cristãs, Demônios, Diabo.

No século XV, sobretudo, a catequese pastoral propagava que os demônios estavam


presentes em todas as partes e eram dotados de grandes poderes quase comparáveis com os do
próprio Deus. Com efeito, acreditava-se que o confronto entre o Bem e o Mal acontecia todos os
dias no espaço terrestre e os homens eram tentados de várias maneiras e em diferentes espaços
como, por exemplo: no mosteiro, na floresta, no deserto ou então em seu leito de morte.
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A possibilidade da simulação e da metamorfose do Diabo era destaque tanto nos sermões


quanto nas exegeses bíblicas. Portanto, chamava-se atenção para os animais que preferencialmente
eram encarnados pelo maligno ou então que faziam parte de sua corte infernal. Muitas vezes, sua
pelagem escura e seus hábitos noturnos eram entendidos como significantes da atuação maléfica.
Nas imagens medievais, os diabos eram, de maneira geral, polimorfos e policromáticos. Por serem
seres híbridos, os demônios emprestavam as formas de seu corpo tanto de animais verdadeiros, a
saber: as aves pretas, o bode, o gato, o cão e o javali como também dos animais fantásticos e
híbridos como: o morcego, a serpente fabulosa, o dragão, entre outros. Assim, as cores pretas e
vermelhas, as formas e os tamanhos das figuras eram formas de indicar a inferioridade dos
seguidores de Lúcifer nas imagens e destacar seu aspecto negativo. Neste sentido, o objetivo desta
comunicação é identificar as associações feitas entre os animais e os seres diabólicos nas imagens
medievais, com destaque para as xilogravuras presentes na Ars Moriendi que foi produzida na
segunda metade do século XV. Assim, pretende-se elucidar a anatomia, a atuação e as funções do
Diabo e de seus seguidores nos manuais de bem morrer.

O livro de horas 50,1,1 da Real Biblioteca Portuguesa


Maria Izabel Escano Duarte de Souza
mariaizabeleds@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Manuscritos iluminados, livros de horas, Real Biblioteca Portuguesa.

Livros de horas podem ser definidos como livros de orações que continham, além do
Pequeno Ofício da Virgem Maria, outros ofícios, salmos e textos – a maioria deles em latim - para
a edificação e recitação diárias dos leigos, de acordo com as horas canônicas.

Eles são instrumentos de novas práticas religiosas que se conformam na virada do século
XII para o século XIII, com a expansão da experiência da devoção pessoal e da meditação aos
leigos, que praticam a devoção a fim de se sentirem agraciados pela santidade, participando, desse
modo, da vida dedicada a Deus. Tais livros continham, ainda, iluminuras: um tipo de imagem
contida principalmente em livros manuscritos, que têm a função de auxiliar na compreensão de um
texto, e que para a sua confecção era utilizada preferencialmente a folha de ouro. Por conta de sua
rica iluminação, os livros de horas são considerados verdadeiras obras de arte.

O livro de horas chegou ao Brasil com a Real Biblioteca Portuguesa em 1808, e permaneceu
aqui até hoje na seção de manuscritos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Dentre os quatro
remanescentes desta coleção, destaca-se o livro de horas 50,1,1, anteriormente dito de D. Fernando.
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Com um colofão aparentemente falso que por anos levou à uma identificação errônea, este
manuscrito é com certeza a joia da coleção, com 77 iluminuras de tamanhos variados. Apresentar
este manuscrito, levando em consideração seu conteúdo, sua iluminação, e todas as questões que
envolvem sua datação, origem e proveniência é, assim, o objetivo desta comunicação. Para tal serão
levados em consideração estudos preliminares feitos por outros pesquisadores sobre este
manuscrito, bem como análises iconográficas inéditas. Espera-se com esta comunicação ampliar o
interesse por este patrimônio histórico e artístico contido na Biblioteca Nacional, que se configura
também importante fonte historiográfica para elucidação de práticas religiosas e sociais da Idade
Média e da Época Moderna.

Uma pérola mais que imperfeita


Matheus Filipe Alves Madeira Drumond
matheusfamd@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Arte colonial, Teoria da arte, Barroco, Historiografia da arte.

Como afirma inspiradamente Hans Belting, “toda apresentação histórica da arte sempre
esteve ligada a um conceito de arte que tinha que ser comprovado exatamente por meio dela”.
Segundo essa perspectiva, calcada em evoluções históricas e em teorias estilísticas, o objeto de arte
individual constitui um fragmento ou parte de uma etapa pela qual a “norma da arte era cumprida”.
Paradoxalmente, a norma cunhada a posteriore é utilizada como determinante, que submete toda
produção de uma determinada “situação histórica”. O estilo, ou essa maneira narrativa de situar
personas, objetos, grupos e tendências em conformidade a uma lei, tornou-se a grande ferramenta
de construção narrativa da História da Arte. A “lei” da arte de um tempo, forjada no discurso
histórico da arte, mas que de algum modo perdeu sua acepção artificial – como ferramenta e
artifício, se é que algum dia teve -, sendo transplantada aos diversos contextos num pretensioso
universalismo ocidental; como uma realidade orgânica do sistema das artes.

No contexto brasileiro, a historiografia relativa à arte, ou aos objetos estéticos e imagens


produzidas no período colonial nos séculos XVII e XVIII, restringiu-se a aplicação ou verificação
no contexto ultramarino de grades correntes e tendências estilísticas europeias. Em especial,
empenhou-se em procurar aqui respectivo do que se houvera detectado lá, em solo central do
ocidente: no velho continente europeu. Se tratando de obras produzidas em sua grande maioria no
século XVIII, momento de apogeu econômico, especialmente nas Minas, e em conformidade à
tradição constituída em fins do século XIX que cunhou o termo “barroco” para denominar a arte
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pós tridentina, não obstante, trataram de procurá-lo aqui. O século XVIII na colônia é então visto
como um período dominado pelo “espírito barroco”, tridentino e recrudescido. A proposta que
aqui se desenrola visa uma breve análise dos discursos e narrativas produzidos sobre a “arte
brasileira” do setecentos, de forma a entender suas filiações. Entendendo o lugar de construção de
uma história da arte autóctone, assombrada por conceitos e periodizações incorporados,
formulando limites e parcelas temporais que talvez não sejam de fato verificáveis no contexto em
questão - quando não inúteis. Principalmente, balizando a indiscriminada e genérica aplicação do
termo Barroco, evidenciando que sua utilização universal é imprecisa.

A Iconografia de Guilherme de Norwich e a lenda de crime ritual no


Ocidente medieval
Vinícius de Freitas Morais
vinicius.freitas94@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Iconografia Cristã, Antijudaísmo, Crime Ritual.

As acusações de crime ritual feitas a partir do século XII, com a morte do menino anos
conhecido como Guilherme de Norwich (1144), trazem algumas questões importantes para
historiografia ainda não amplamente discutidas aqui no Brasil. Por vezes a tese proposta por
Phillipe Ariès, a qual afirma que não havia um conceito de infância até o século XVIII, pode ser
debatida com esta lenda que surgiu em torno do assassinato deste menino de doze anos. A morte
de Guilherme de Norwich inicialmente não obteve uma grande repercussão local. Apenas seis anos
após o ocorrido, com a chegada do monge beneditino chamado Thomas de Monmouth, este
episódio passou a chamar alguma atenção aos arredores de Norwich. Thomas começou a escrever
um conjunto de livros intitulado A vida e a paixão de Guilherme de Norwich. Ao decorrer da obra
cita-se não só como teria ocorrido o assassinato do menino em questão, mas também se formula a
lenda de crime ritual, considerada como verídica por parte dos leigos e dos clérigos, que cucularia
pelo continente europeu até meados do século XX. As imagens atribuídas a Guilherme de Norwich,
principais fontes deste trabalho, se restringem à região do extremo leste da Inglaterra e foram
produzidas majoritariamente no século XV. Busca-se demonstrar como uma criança supostamente
assassinada pelos judeus e intitulada mártir por um monge beneditino pode demonstrar um
reconhecimento do conceito de infância no século XII. A associação da morte de um menino de
doze anos no período de Páscoa a um martírio é um indício de concepções extraoficiais acerca
deste grupo específico de santos existentes dentro da Igreja na Idade Média Central.

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Os Mistérios do Rosário: Visão, Contemplação e Invocação


Luciana Braga Giovannini
aolibama.arte@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Devoção, Arte, Iconografia.

A presente comunicação tem como objetivo apresentar a pesquisa em andamento no curso


de pós-graduação em História da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) na área de
História da Arte, intitulada “Os Mistérios do Rosário: Visão, Contemplação e Invocação”. O objeto
de pesquisa refere-se ao estudo iconológico das pinturas de forro da Capela de Nossa Senhora do
Rosário dos Pretos localizada na Vila de São José del-Rei, Comarca do Rio das Mortes, no período
que corresponde os anos de 1750 a 1828.

A pintura do forro da capela-mor (c. 1775), de autoria desconhecida, representa a Virgem


que entrega o rosário a São Domingos e São Francisco, tendo ao seu lado o Menino Jesus.
Corresponde a um dos raros exemplares da pintura ilusionista do barroco mineiro, uma perspectiva
de céu aberto. A pintura da nave (1818-1828) representa os quinze mistérios referentes à Virgem
Maria: gozosos, dolorosos e gloriosos e é atribuída a Manoel Victor de Jesus, membro da irmandade
de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Essa obra foi realizada em quinze caixotões que
narram determinadas passagens da vida de Cristo a partir da perspectiva de Maria. Os três
caixotões, localizados acima do coro da Igreja, representam trechos da ladainha de Nossa Senhora:
Casa Dourada (Domus Aurea), Arca da Aliança (Arca Foederis), Porta do Céu (Janua Coeli). O
principal objetivo dessa pesquisa consiste em promover o estudo da obra de arte e, através dela,
compreender a complexidade histórico-cultural em que ela foi produzida e a mensagem que ela
transmitiu. Com o intuito de compreender os aspectos estilístico-formais do pintor Manoel Victor
de Jesus estamos produzindo um arquivo de imagens de sua obra localizada em Tiradentes e região.

Para a realização da pesquisa utilizamos a abordagem metodológica da iconologia conforme


a elaboração de Rafael García Mahíques. O historiador apresenta uma proposta que se baseia na
aproximação da História da Arte com a História Cultural, ou seja, na compreensão da obra de arte
em seu diálogo com o contexto histórico-cultural. Paralelo ao estudo dos aspectos estilístico-
formais e iconológicos, pretendemos compreender como ocorreu o processo de catequese dos
negros, os receptores da obra de arte, no período colonial mineiro e investigar como que eles
reconstruíram a sua identidade cultural e religiosa diante da imposição da doutrina católica.

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GBOITÁ e ZOMAI: Ritos de memória e esquecimento como atos de


Resistência e continuidade na Bahia e no Benin
Aline Santiago
alinearterj@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Ritos, Esquecimento, Cinema, Memória.

O presente trabalho pretende avaliar a relação entre cinema, memória e esquecimento na


constituição de rituais religiosos, aqui abordado como importantes atos de resistência firmados nas
relações sociais e culturais no terreiro Zoogodô Bogum Malê Hundó - Terreiro do Bogum,
localizado na cidade do São Salvador- Bahia, e em Porto Novo, capital do Benin. Tal faceta será
realizada através da análise dos rituais GBOITÁ e ZOMAI, (explicar o que são) e do filme Bem
amada, produção estadunidense de 1998 dirigida por Jonathan Demme.

Objetiva-se com essa pesquisa articular a tríade cinema, memória e esquecimento, como
instrumento para revelação de uma narrativa histórica e social negro-brasileira, que se manifesta
através da presença do passado no presente e que coloca o observador no centro da discussão pela
poética das reminiscências do filme. Entende-se que a narrativa fílmica é uma forma de preservar
a memória, de escrevê-la, experimentá-la e de vivê-la. Além de ser um importante suporte
contemporâneo para a escrita de uma história não hegemônica, que prioriza a narrativa das minorias
e dos marginalizados pela historiografia oficial e dominante. Dentro do campo metodológico a
etnografia é a grande aliada para o desenvolvimento do olhar na medida dos dois rituais citados.
Conta-se ainda com a revisão de literatura perante as temáticas abordadas, além do trabalho em
cima do conceito de memória expandida apresentada por Le Goff.

As pinturas em perspectiva das Capelas de São Francisco em Sabará e Santo


Antônio em Itapecerica, Minas Gerais
Gustavo Oliveira Fonseca
gofhistoria@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Arquiconfrarias de São Francisco, Pintura em perspectiva, Rococó.

A apresentação discorrerá sobre a análise de duas pinturas em perspectiva existentes nas


Capelas de São Francisco em Sabará e de Santo Antônio em Itapecerica, Minas Gerais. Ambas
produções artísticas foram resultado do mecenato exercido por irmandades da mesma devoção e
tipologia: as arquiconfrarias do cordão de São Francisco, atuantes no território mineiro desde
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meados do século XVIII. As pinturas mencionadas, produzidas na segunda metade do século XIX,
apresentam um programa iconográfico semelhante, o que permite traçar relações entre a fatura das
duas obras, técnicas de produção, mecenato artístico e também compreender a circulação de
modelos e gravuras pelo amplo território mineiro. Além do mais, este trabalho possibilita a
discussão sobre a permanência prolongada em Minas Gerais, de uma tradição artística vinculada às
pinturas perspectivadas de linguagem rococó, utilizando-se para isto, de duas obras artísticas ainda
pouco estudadas e que podem contribuir com as pesquisas acadêmicas em andamento no meio
historiográfico que se relacionem a mesma temática.

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Redes Sociais, poderes e administração nos séculos


XVIII e XIX
Regina Mendes de Araújo
Doutoranda em História/ FAPEMIG
Universidade Federal de Minas Gerais
Simpósio Temático

rearaujo33@yahoo.com.br

Pedro Brandão de Sousa Culmant Ramos


Mestrando
Universidade Federal do Rio de Janeiro
pedroculmant@gmail.com

Natália Ribeiro Martins


Doutoranda em História/ CAPES-Proex
UFMG
nribeiro.his@gmail.com

Maria Beatriz Gomes Bellens Porto


Doutoranda
Universidade Federal do Rio de Janeiro
mbporto@gmail.com

Fabiana Léo Pereira Nascimento


Mestra em História
UFMG
fabianaleohistoria@gmail.com

Débora Cazelato de Souza


Doutoranda em História/ CAPES-Proex
UFMG
deboracazelato@yahoo.com.br

Proposta do Simpósio:

A historiografia nas últimas décadas tem lançado luz sobre temáticas ligadas as novas
interpretações e enfoques que buscam compreender as relações de poder, as atuações individuais
e as práticas cotidianas desenvolvidas no século XVIII e XIX. Ressalta-se que o simpósio terá para
o século XIX a delimitação cronológica até 1850 que tem como marco a proibição do tráfico de
escravos que leva a transformações das relações econômicas e políticas e por consequência uma
mudança em que o Brasil paulatinamente se distancia da lógica colonial, e surgem novas questões
fundamentais para o período, o que fugiria da intenção do Simpósio Temático. Seguindo por este
campo de debate, nossa proposta é promover um Simpósio que se apresente como espaço de
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discussão entre os pesquisadores que se dedicam aos estudos desta temática, seja pela perspectiva
da problematização das instituições e as estruturas administrativas e seus agentes, como também à
análise das trajetórias individuais e dos grupos, as vivências e redes de sociabilidades dos
personagens que conformaram o espaço colonial e Imperial. Serão privilegiadas pesquisas que
versem sobre política e administração, o exercício da justiça no âmbito civil e eclesiástico, assim
como as análises dedicadas ao estudo das redes sociais e mercantis, sua constituição e seus agentes
além das investigações que examinem os conflitos e motins ligados aos mecanismos de repressão
e controle social, relações entre Brasil e outros impérios, bem como os debates que levantem
questões sobre a religiosidade, a cultura popular e a escravidão. Pretende-se contemplar trabalhos
que lancem mão das diversas fontes disponíveis, sejam testamentos e inventários, além dos
processos administrativos, jurídicos e inquisitoriais, e que contem com as múltiplas metodologias
de pesquisa, como a micro-história, prosopografia, análises de redes sociais, histórias conectadas,
entre outras. Portanto, o presente simpósio temático tem por objetivo acolher os trabalhos que
debrucem sobre a questão da colônia e do Império no século XVIII e XIX a partir de propostas
que possibilitem a discussão e o intercâmbio de conhecimento.

Comunicações:

Nas teias do Atlântico: cristãos-novos, redes comerciais e sociabilidades no


Império Português (1698-1730)
Natália Ribeiro Martins
nribeiro.his@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: cooperação, cristãos-novos, Comércio.

Nas últimas décadas, a historiografia sobre o Império Português passou por uma
importante reavaliação em seu campo de pesquisa. O modelo, antes interessado pela narrativa das
conquistas lusitanas conjugada pelas perspectivas da metrópole, é, aos poucos, contraposto – e
complementado – pela chamada História Atlântica, um espaço de discussão em amplo
desenvolvimento que busca integrar as múltiplas dimensões e movimentos que conformaram o
mundo atlântico – e não apenas lusitano. A partir deste procedimento, diversas pesquisas ganharam
um fôlego significativo, sobretudo em confluência com método micro-analítico. Estas análises,
interessadas também pelas dinâmicas coletivas de personagens considerados distantes das esferas
centrais de poder, são capazes de demonstrar como tais agentes tiveram um papel fundamental na

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construção dessa multiplicidade atlântica, atuando na construção das interconexões que vincularam
os espaços da Era Moderna.

É por tal viés analítico que esta comunicação deseja apresentar um estudo de caso acerca
dos mecanismos de cooperação e constituição de redes comerciais encabeçadas por sefarditas
portugueses, comumente conhecidos como cristãos-novos ou conversos. O grupo aqui estudado
atuou em diversas praças comerciais portuguesas e nos territórios atlânticos, entre o final do século
XVII e as três primeiras décadas do século XVIII. Em um primeiro momento, tais indivíduos
operaram no comércio inter-regional português, passando então para um contexto mercantil muito
mais amplo: entre a metrópole, a América portuguesa e África. Desta forma, por fim, esta
comunicação pretende relatar a trajetória de alguns destes agentes, seus vínculos afetivos e os
mecanismos de cooperação utilizados para o desenvolvimento e a organização desta rede comercial
nos espaços em que atuaram.

Conflitos Internos e Externos: Irmandade Religiosa e Relação de Poder nas


Minas Setecentistas
Allyson Camilo Nascimento Coelho
allysoncamilo@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

A presente pesquisa tem como objetivo central a análise da Irmandade de Nossa Senhora
da Conceição, localizada no arraial de Nossa Senhora da Conceição do Campo Alegre dos Carijós,
na comarca do Rio das Mortes, como uma instituição cujas relações político-econômicas
condicionavam a ascensão de poder dos indivíduos que a associavam, na primeira metade do século
XVIII. Os primeiros dois quarteis do Setecentos foram marcados pelo boom da exploração aurífera
e da ereção da Irmandade, bem como pela tentativa de anexação da administração portuguesa em
território mineiro por parte de D. João V. Assim, a Irmandade induzia indivíduos que procuravam
poder, elevação e prestígio social. As Irmandades de N. S. da Conceição eram conhecidas por
agremiar apenas pessoas da elite e de “qualidade” branca. Procuraremos por meio de utilizações de
fontes como testamentos e inventários, delinear o perfil dos indivíduos e os grupos que formavam
no interior da Irmandade, e analisar se realmente eram apenas indivíduos de ""qualidade"" branca,
se eram do Reino ou Colônia, ou se realmente eram da elite.

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Juros Justos: A análise do conceito de Justiça na "carta sobre a usura" de


Tomás Antonio Gonzaga
João Paulo Marciano Silva
joaoiridium@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Usura, Administração colonial, Colônia, Justiça.

Uma longa linha de tratadistas e jurisconsultos apresenta a justiça como o elo entre o
soberano e o plano divino, bem como entre o regente e seus súditos. É papel da justiça garantir a
ordem social. A presente investigação analisa a “Carta sobre a Usura”, obra pouco conhecida e
escrita pelo poeta e inconfidente Tomás Antônio Gonzaga. A “Carta da Usura” consiste em um,
entre muitos outros documentos que reiteradamente ratifica a justiça como mecanismo necessário
ao ordenamento social. O objeto de análise é o conceito de justiça operacionalizado por Tomás
Antônio Gonzaga para defender a usura praticada de forma justa. O documento analisado é a
“Carta Sobre a Usura” de Tomas Antônio Gonzaga, escrita por volta de 1783. Na edição analisada,
a carta compõem o Tratado de Direito Natural, escrito por Gonzaga com intuito de concorrer a
cátedra de direito da universidade de Coimbra, aproximadamente entre 1772 a 1773. A carta,
compilada nesse tratado, é fruto de uma consulta jurídica feita pelo então Intendente do Ouro da
Real Casa da Fazenda, Gregório Monteiro Pires Bandeira. A “Carta sobre a Usura” apresenta uma
clara defesa da usura e mobiliza de forma criativa argumentos contra a proibição da prática por
parte da religião cristã. Ou seja, o texto de Gonzaga consiste em uma desconstrução da proibição
da prática usurária recorrendo para isso de argumentos do jusnaturalismo e da própria bíblia. Ao
defender a Usura moderada como justa, Gonzaga traz elementos para se pensar a própria noção
de justiça, a qual, sem abrir mão do seu papel no ordenamento social, estaria presente na costumeira
prática usurária. Nos argumentos que apresenta, Gonzaga flutua entre o interesse pessoal e o
coletivo, entre o justo e os excessos da usura que não condizeria com a concepção corrente de
justiça da época, qual seja “dar a cada um aquilo que se tem direito”.

"Não vê a Luz (ainda que de olhos abertos) quem não a quer ver": notas
sobre a produção cartográfica durante o Tratado de Madrid (1752-1760)
Millena Souza Farias
millena.msf@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Micro-história, Cartografia, Ciência, Tratado de Madrid.

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A cartografia sobre o território brasileiro ao longo do século XVIII pode ser comparada a
um quebra-cabeças, no qual faltavam ainda muitas partes. A dificuldade de adentrar os sertões e as
poucas expedições realizadas haviam deixado poucos registros. Muitos mapas eram feitos com base
em relatos, crônicas e os jesuítas tiveram papel importante nesse processo. Todavia, a partir da
segunda metade do Setecentos, Portugal, por meio de tratados de limites, deu início a uma tentativa
de sistematizar a produção cartográfica do território em paralelo com as demarcações dos limites
estabelecidos nos acordos com a coroa espanhola. Uma primeira tentativa ocorreu durante a
demarcação do Tratado de Madrid, expedição que durou de finais de 1752 a início de 1760. Durante
essa longa expedição subdividida em equipes e etapas, muito material escrito foi produzido;
inclusive materiais cartográficos. São sobre esses mapas e os agentes que os produziram que
debrucei-me durante minha pesquisa nos últimos dois anos. Os principais agentes, cartógrafos,
engenheiros, rabiscadores (desenhistas), homens que dominavam a arte de representar o terreno
no papel, utilizando escalas e instrumentos matemáticos. Dentre estes, destacaram-se não somente
portugueses, mas também estrangeiros, como foi o caso do italiano Miguel Ângelo Blasco,
engenheiro e cartógrafo. Dessa forma, este trabalho busca ser um breve estudo de caso, com os
devidos debates sobre disputas de poder; representação e olhar sobre o Novo Mundo e sobre o
papel fulcral desses homens de ciência, tendo como pano de fundo a expedição enviada para a
demarcação da América meridional em 1752.

“De cofre não tem mais que o nome”: desvios de conduta e práticas ilícitas
na Provedoria de Defuntos e Ausentes, Capelas e Resíduos na América
Portuguesa
Wellington Júnio Guimarães da Costa
wjunioc@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Capelas e Resíduos; América portuguesa; práticas ilícitas., Provedoria das


Fazendas dos Defuntos e Ausentes.

Com a comunicação ora proposta pretendemos levantar algumas questões atinentes à


Provedoria das Fazendas dos Defuntos e Ausentes, Capelas e Resíduos. Tal instituição fazia parte
do arcabouço judicial implantado na América Portuguesa e exercia um papel fundamental, dado
que dizia respeito à administração e transmissão de bens e heranças, bem como o cumprimento
das disposições testamentárias daqueles que haviam falecido sem deixar herdeiros, (ou quando estes
se encontravam fora da comarca). Ao se estudar o papel de uma instituição judicial, é importante
não apenas apontar as informações triviais, alicerçadas em questões normativas, mas também

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procurar compreendê-la em sua dinâmica e complexidade. Nesse sentido, destacaremos nesta


comunicação algumas práticas cotidianas perpassadas por arranjos locais, muitas vezes em
desconformidade com a norma, os quais envolviam apropriações e irregularidades por parte dos
magistrados e dos demais agentes que atuavam na Provedoria. Partindo de documentos
normativos, memórias, correspondências diversas e fontes judiciais, pretendemos abordar alguns
problemas de desvios de conduta envolvendo membros da Provedoria e como essas práticas
podem ser caracterizadas como ilegais dentro da lógica da sociedade de Antigo Regime. Assim,
buscamos compreender as apropriações sofridas pela instituição, bem como as implicações que
poderiam limitar e/ou flexibilizar a sua atuação.

A justiça em primeira instância e os juízes ordinários de Vila do Carmo


(1711-1731)
Mariane Alves Simões
marianehist@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Juiz Ordinário, Vila Do Carmo, Justiça.

O presente trabalho tem como objetivo apresentar alguns resultados encontrados durante
a pesquisa de Mestrado, que debruçou-se sobre a execução da justiça ordinária e o perfil
socioeconômico dos indivíduos que atuaram como juízes ordinários do período delimitado. A
justiça em primeira instância ocorria nos quadros da Câmara Municipal através do desempenho do
juiz ordinário ou de fora. Na região de Vila do Carmo esse cargo foi criado em 1711, passando a
ocorrer a eleição de dois juízes ordinários como previsto nas Ordenações Filipinas. Os juízes
ordinários atuaram nessa região até 1731, quando foi criado o cargo de juiz de fora.

Os juízes ordinários se diferenciavam dos juízes de fora principalmente pelo fato de serem
designados para o cargo através do processo de eleição. Os primeiros eram eleitos pelos homens
bons, através dos processos de pelouros em mandatos de um ano, enquanto os últimos eram
nomeados pelo rei dentre bacharéis letrados, com o intuito de ser o suporte ao poder real nas
colônias. Os juízes de fora eram eleitos para mandatos trienais e submetidos a Leituras de Bacharel,
exigência irrevogável para se ingressar na carreira da magistratura oficial.

Podemos afirmar que na maioria das Câmaras mineiras prevaleceu a atuação dos juízes
ordinários durante todo o século XVIII, assim esses juízes tiveram um papel importante na
execução judicial local. Na região de Vila do Carmo encontramos 33 (trinta e três) indivíduos
atuando como juízes nas primeiras décadas dos setecentos e o nosso objetivo foi definir algo
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próximo a um perfil socioeconômico para os mesmos, onde levamos em consideração padrão de


atuação no cargo, estado civil, número de escravos, entre outras variáveis. Desse modo, o trabalho
pretende abordar aspectos relevantes da atuação judicial em primeira instancia na primeira metade
do século XVIII na região de Vila do Carmo, quem eram os indivíduos que atuaram como juízes
ordinários e como eles desempenhavam algumas funções judiciais e administrativas.

A venalidade de ofícios: alguns aspectos preliminares


Rafael Jose de Paula Braga
rafaelpbjf@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Mercês, Economia do dom, Venalidade, Ofícios.

Este trabalho objetiva apresentar alguns aspectos da venalidade de ofícios na sociedade


colonial mineira da primeira metade do século XVIII, buscando entender como essa prática se
encaixava na lógica de funcionamento do Antigo Regime português. Para a monarquia lusitana os
estudos sobre a venda de cargos e postos políticos, da administração e militares são escassos,
necessitando de uma definição maior de sua presença e frequência de modo a determinar sua
importância nessa sociedade. Assim, partindo de alguns dados que já foram possíveis de se recolher
nesse ponto da pesquisa, principalmente referentes à documentação do Arquivo Histórico
Ultramarino para Minas Gerais (requerimentos de ofícios, pedidos de confirmação, nomeações e
consultas, entre outros), a intenção aqui é fazer um exercício inicial de reflexão sobre pontos chave
da maneira pela qual a venalidade acontecia. Sempre tendo em mente as características mais
destacadas da cultura política de Antigo Regime que permeava esse contexto, tais como as mercês
régias, a economia do dom e a possibilidade de enobrecimento por serviços (nobreza civil ou
política).

Do além-mar para as Minas: as relações parentais entre os Caldeira Brant e


os Hortas
Rafael Cupello Peixoto
rafael.cupello.peixoto@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Redes Familiares, Marquês de Barbacena, Campo Político, Horta, Caldeira


Brant.

O presente trabalho visa analisar as redes parentais desenvolvidas entre as famílias Caldeira
Brant e Horta durante o período colonial brasileiro que acabaram por resultar na ascensão social

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e política do futuro marquês de Barbacena, Felisberto Caldeira Brant Pontes de Oliveira e Horta,
senador do Império e conselheiro de Estado de D. Pedro I. Barbacena foi figura política destacada
não apenas do reinado do primeiro Imperador, como também da primeira metade do século XIX
tendo tomado parte em importantes episódios políticos do Primeiro Reinado e das Regências. A
família Horta foi uma das principais famílias da nobreza da terra paulistana que desenvolveu uma
das redes familiares mais importantes e influentes das Minas setecentista. As estratégias geradas por
Maximiliano de Oliveira Leite, um dos membros do tronco da família Horta, resultaram em nada
menos do que três futuros conselheiros de Estado de D. Pedro I: José Egídio Álvares de Almeida
(marquês de Santo Amaro), João Severiano Maciel da Costa (marquês de Queluz) e Felisberto
Caldeira Brant Pontes (marquês de Barbacena). Já os Brants são originários de um ramo ilegítimo
da família de Brabant, a partir do nascimento de João de Brant, filho bastardo de João III, duque
de Brabant, com a Mademoiselle de Huldenberg. Deste tronco familiar, quando chegado ao Brasil,
destacaram-se as figuras de Ambrósio Caldeira Brant e Felisberto Caldeira Brant. O primeiro foi
um dos primeiros povoadores do arraial do Rio das Mortes, atual São João del Rei, e responsável
pela união entre os troncos familiares dos Brant e Horta ao contrair matrimônio com Josefa de
Souza, da família Horta, em 1704. O segundo arrematou o terceiro contrato de Diamantes do Serro
Frio, atual Diamantina, e alcançou grande prestígio e fortuna para sua família na região até a sua
desgraça em 1752, fruto de suas desavenças com Sancho de Andrade Castro e Lanções, Intendente
das Minas.

Mapear as redes familiares de Felisberto Caldeira Brant Pontes de Oliveira e Horta é, antes
de tudo, compreender as estratégias e alianças desenvolvidas pelo futuro marquês de Barbacena
para alcançar o topo da hierarquia social e política no Império do Brasil. Desta forma, defendemos
que as práticas e os costumes desenvolvidos no Império do Brasil, estavam mais próximos de uma
cultura de Antigo Regime do que propriamente de uma sociedade pautada em princípios liberais,
resultado de nossa herança colonial.

Do Antigo Regime da Europa ao Novo Mundo: Hierarquias, Devoções e


Sociabilidade a partir das Associações Leigas em Minas Gerais
Vanessa Cerqueira Teixeira
vanessa_vct@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Relações de Poder, Redes Sociais, Religiosidade, Sociedade Corporativa,


Irmandades.

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Com o objetivo de apresentar algumas considerações quanto às temáticas do Antigo


Regime e das Associações Leigas, com destaque para Minas Gerais no século XVIII, propomos a
discussão de algumas questões fundamentais, como as hierarquias, as devoções e a sociabilidade.
Através das hierarquias abordaremos questões referentes à distinção, ascensão e mobilidade sociais;
através das devoções, discutiremos a religiosidade indissociável das questões políticas e
socioeconômicas e, por fim, através da sociabilidade mostraremos a importância da análise das
relações sociais com a formação de grupos no interior das irmandades. Discutiremos uma
importante modificação historiográfica na forma de analisar o paradigma vigente antes de meados
do XVIII na Europa, em que categorias como “Estado”, “centralização” e “poder absoluto”
perderam seu destaque nas análises políticas para as abordagens centradas nas autonomias locais,
redes sociais e relações de poder. Mostraremos também como tal discussão chegou aos territórios
recém-povoados, se adaptando às condições encontradas na América Portuguesa. As comunidades,
as câmaras, as famílias e as irmandades são alguns exemplos das temáticas que então começaram a
ganhar maior espaço. Divididas por critérios como origem social, cor, condição e profissão, as
irmandades são organizações de pessoas que se unem por interesses e devoções em comum,
originadas na Idade Média europeia com objetivos assistencialistas e religiosos. Para isso, edificam
seu templo e administram a vida religiosa local. Tais irmandades eram, portanto, instituições que
possibilitavam manifestações sociais, principalmente para os negros, crioulos, mulatos e mestiços
que, de certa forma, ganhavam voz e representatividade em um espaço específico. Reforçavam
demarcações hierárquicas, mas também possibilitavam a constituição de identidades e a ascensão
social. Não se limitavam à vida religiosa, pois tinham papel administrativo e social marcante na vida
urbana local, além de desempenhar forte função no mercado de trabalho artístico-cultural. Sendo
assim, para além de uma revisão, almejamos também ressaltar as possibilidades de pesquisa,
abordagens e documentações na temática das irmandades mineiras.

Poder e honra na Câmara de Mariana (1750-1800)


Débora Cazelato de Souza
deboracazelato@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Minas Gerais, câmara, doutores e oficiais camarários.

Com o declínio da produção aurífera no território de Minas Gerais a metrópole portuguesa


vai procurar fortalecer seu domínio. A historiografia atual aponta que Portugal teve de endurecer
sua estrutura burocrática nos quadros de governo na segunda metade do XVIII, na tentativa de

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manter sua governabilidade na América. Se debruçarmos o olhar para os membros da Câmara da


cidade de Mariana na segunda metade do XVIII será possível perceber que há um aumento
significativo de doutores atuando naquele Senado. Só para se ter uma ideia, tal instituição teve vinte
e três doutores em atuação entre os anos de 1750 a 1800, em comparação com os doze doutores
da primeira metade, sem contar os juízes de fora – oficiais de nomeação régia e por consequência
doutores. O objetivo dessa comunicação é compreender a composição camarária da segunda
metade do XVIII, contemplando os doutores e os chamados “homens bons”. É possível notar que
alguns homens estão presentes em diferentes vereações ao longo do século, parecendo ser a Câmara
um local privilegiado que denotaria status e honra aos seus pertencentes. Ademais, a presença
constante de ao menos um doutor por ano depois de 1750, sugere que estar na Câmara pode ser
mais importante e/ou rentável do que adquirir cargos na magistratura portuguesa. Essas questões
serão abordadas nessa comunicação.

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Dinâmicas de um Império: as interfaces culturais,


administrativas e sociais entre as diferentes partes
dos domínios portugueses (Séculos XVI ao XVIII)

Rogéria Cristina Alves


Doutoranda
UFMG
Simpósio Temático

rogeriaufmg@gmail.com

Renata Romualdo Diório


Pós-Doutoranda
UFMG
rendiorio@gmail.com

Josimar Faria Duarte


Doutorando
Universidade Federal do Rio de Janeiro (História Social)
josimar.duarte@ufv.br

Débora Cristina Alves


Doutoranda
Universidade Federal de Juiz de Fora
dediliber@yahoo.com.br

Ana Paula Sena Gomide


Doutoranda
UFMG
ape.gomide@gmail.com

Proposta do Simpósio:

Este Simpósio Temático é um espaço de reunião e integração entre pesquisadores


interessados nas análises históricas e antropológicas da administração política e dos modos de viver
característicos do Império Português. Esse espaço é definido como um conjunto de relações
ultramarinas e coloniais que se conectaram ao longo dos séculos XVI e XVIII, e que tiveram
demarcados os interesses de indivíduos e instituições nos três pontos dispersos conquistados pelos
lusitanos - África, Ásia e América. Os conceitos de império, colônia e colonizadores, por sua vez,
têm movido uma profunda revisão historiográfica no que tange às formas de se examinar as
diretrizes estabelecidas na extensão do poder da metrópole aos seus domínios ultramarinos, bem
como no acolhimento deste por seus súditos. Se faz, assim, cogente analisar os diferentes sujeitos
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históricos, seus trânsitos culturais e materiais, desde as Américas, perpassando pela África, até o
Oriente, enfocando as importantes dimensões da expansão ibérica no mundo moderno, tais como:
ideias e práticas no contexto colonial; as conexões estabelecidas entre diferentes personagens,
comunidades e instituições nos espaços coloniais; os diversos modos de atuação de indivíduos,
grupos e instituições civis e religiosas; e as mestiçagens biológicas e/ou culturais estabelecidas pelas
experiências do contato entre diversos grupos no mundo moderno. Nesta perspectiva, o intuito do
Simpósio é reunir pesquisadores e estudiosos das relações intercontinentais entre África Lusa, Ásia,
Portugal e Brasil, dentro do contexto do Império Português, durante os séculos XVI ao XVIII.
Acredita-se que tal perspectiva possibilita evidenciar as “simbioses” e as diferenças nas relações
construídas cotidianamente, no encontro de populações tão diversas, integrantes de um império
vasto e que tinha como sua tônica principal, a diversidade.

Comunicações:

Entre joias e santos: a presença do marfim em objetos no Brasil colônia


Rogéria Cristina Alves
rogeriaufmg@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Luso-Africanos, Brasil, Marfins.

A descoberta de vastas quantidades de marfim na África Ocidental, entre os séculos XV e


XVI, transformou as negociações entre africanos e portugueses e gerou um controle cuidadoso
sobre o comércio desse material. Conhecido na Europa como “ouro branco”, o marfim atingiu um
alto valor comercial e foi apreciado enquanto um bem de luxo e material exótico. Cobiçado por
suas propriedades físicas – textura, tamanho, cor e brilho – o marfim africano, segundo Ross, era
valorizado em muitas partes da África devido aos significados atribuídos à figura do elefante –
símbolo de chefia ou liderança. O estudo historiográfico sobre a circulação do marfim no Brasil é
ainda um campo incipiente. No entanto, há importantes trabalhos de autoria de técnicos, curadores
e pesquisadores ligados a Museus. A contribuição desta pesquisa para os estudos sobre os marfins
africanos no mundo português se faz inédita e justifica-se por aventar problemáticas e hipóteses
relativas à origem, circulação e posse dos objetos em marfim no Brasil. A tese central desta pesquisa
contraria a afirmação unânime da bibliografia existente, de que a Índia seria o local exclusivo de
procedência das peças em marfim existentes no Brasil. Defende-se a teoria de que o marfim de
origem africana chegou ao Brasil, por meio do comércio transatlântico e, em muitos casos,

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permaneceu na colônia, tendo sido comercializado e apreciado pela população de diferentes regiões
brasileiras.

O papel da “Inconstância da alma selvagem” na construção do projeto


político da Companhia de Jesus
Gabriel Isaac Soares Lopes
gabriel.isaac@ufv.br

PALAVRAS-CHAVE: Catequização indígena, Império Português, Jesuítas.

Nossa pesquisa está mapeando o vocabulário político utilizado pelos padres da Companhia
de Jesus no contexto da ocupação da América Portuguesa. O foco principal incide na produção
intelectual do padre Manuel da Nóbrega, primeiro provincial dos Jesuítas no Brasil, sejam Cartas,
seja O Diálogo sobre a Conversão do Gentio. O intuito é discutir a produção intelectual de
Nóbrega, focando principalmente na construção de um provável projeto político de tutela da
sociedade colonial, identificando suas particularidades e suas generalidades no ambiente em que foi
gestado, bem como identificar a influência da convivência com os povos indígenas na construção
de tais projetos. A nossa abordagem metodológica se baseia nos trabalhos de Quentin Skinner e
J.G.A. Pocock. Algo que pode ser classificado como história das ideias políticas que, no entanto,
vai além disso, pois busca o contexto em que está inserido a produção e a recepção dos tratados
políticos. Dessa forma, estamos analisando contextualmente os escritos de Padre Manuel da
Nóbrega, tomando-os como dotados de uma intenção política e de um léxico político próprio.

O degredo atlântico de escravizados no Império português: movimento e


cativeiro
Thaís Tanure de Oliveira Costa
ttanure@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Degredo, História Moderna, Inquisição Portuguesa, Escravidão.

O presente trabalho pretende abordar o degredo de escravizados praticado pela Inquisição


no Império português. A pena de degredo, que visava tradicionalmente enviar o condenado para
regiões longínquas como forma de expurgo de criminosos, foi aplicada aos réus por nós estudados
de maneira oposta: provenientes dos espaços coloniais, foram condenados a cumprir seus degredos
no próprio Reino. Nos interessa de perto a aproximação de culturas propiciada pelo degredo, ainda
que tal aproximação se dê de formas assimétricas e desiguais, como era de se esperar em se tratando
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de uma sociedade de Antigo Regime. Estudaremos mais de perto o caso de Amet, mouro natural
de Argel que foi escravizado em Espanha e fugindo para Portugal passando-se por cristão é
processado pela Inquisição portuguesa. Através do estudo do percurso deste escravizado,
problematizaremos as dimensões de movimento e trânsito do degredo e a operacionalização de
hibridismos culturais - tal como Homi Bhabha elabora o conceito - pelos próprios processados de
modo a agenciar seus destinos em condições específicas de opressão.

“A explosão da palavra pública”: História e Tempo na linguagem do debate


político no Senado Imperial de 1832 a 1834
Larissa Breder Teixeira
larissabrederteixeira@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Senado Imperial, Mundo do Político, Teoria Da Historia, Linguagem


Política.

Em 1832 começaram, no Senado Imperial, as discussões sobre as reformas constitucionais


que foram inicialmente propostas pela Câmara dos Deputados em 1831, logo após a abdicação do
primeiro Imperador, as quais culminariam no Ato Adicional de 1834. Os principais debates tiveram
como tema as mudanças na forma da representação política, especificamente no que dizia respeito
ao problema do poder político e administrativo provincial. Entendemos esta ocasião como um nó
histórico, como nos fala Rosanvallon, isto é, como um momento central onde ocorreram intensas
reformulações na linguagem política e na forma como os grupos políticos dominantes no Império
percebiam a realidade presente do país. Central nestas mudanças foi a reconfiguração da forma
como o tempo e história foram vividos e conceituados, isto é, como o passado, o presente e o
futuro foram construídos pelos grupos políticos em questão durante os debates. Nossa pesquisa,
portanto, pretende lançar luz sobre tais fenômenos, tomando como fontes os debates ocorridos
no Senado Imperial, instituição do poder representativo onde se encontravam os membros da mais
alta elite política e social do país.

Viajantes e o registro da América Portuguesa: notas sobre Gândavo e


Silveira na colonização
Jéssica Ma Vie Rodrigues
jessicamavie@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Colonização, América Portuguesa, Relatos de Viagem.

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Esta pesquisa é parte de um projeto de mestrado em andamento, cujo objetivo geral é


compreender a dinâmica entre os relatos de viagem de Pero de Magalhães Gândavo e Simão
Estácio da Silveira e as práticas colonizadoras da América Portuguesa, por meio da análise dos
livros desses autores nos contextos correspondentes do Império ultramarino ibérico, bem como a
construção das paisagens do Brasil e do Maranhão e a relação disso com a colonização do território.
Num primeiro momento, contudo, objetivamos perceber por que esses dois relatos, História da
Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil (1576) e Relação sumária das coisas
do Maranhão dirigida aos pobres deste Reino de Portugal (1624), do princípio da colonização dos
estados do Brasil e do Maranhão são tão convenientes no momento chave de conquista territorial
portuguesa. Percebemos o relato de viagem como um registro que extrapola a descrição
descompromissada de paisagens e pessoas. Luiz Barros Montez (2014) nos auxilia a desenvolver
tal percepção, uma vez que conclui que tais documentos “podem ser vistos como práticas
simultaneamente de representação, de ação social e de constituição de identidades”, e não apenas
como “meio exclusivo de transmissão de uma determinada realidade ou experiência vivida a partir
de um deslocamento no espaço e no tempo”. Para facilitar a metodologia de nossos escritos,
selecionamos uma chave de leitura da documentação neste primeiro momento. Um dos principais
filtros, para que se possa compreender a relevância dessas da documentação em questão no
contexto colonizador, é a percepção utilitarista da paisagem, dos objetos e pessoas, voltada para
experiência prática, como propõem Maria Adelaide Chaves (1970), Joaquim Barradas Carvalho
(1980) e Sérgio Buarque de Holanda (2004).

Desse modo, observar as informações dos relatos sob esse filtro nos fez compreender que
foi observado e descrito por Gândavo e Silveira sob a ótica utilitarista, terminou por expressar
anseios da administração portuguesa à época. A descrição, por vezes minuciosa, das riquezas e
benesses dos estados do Brasil e do Maranhão estavam inseridas numa dinâmica mais ampla, qual
foi a migração de lusitanos para essas terras, etapa importantíssima para assegurar a posse das terras
em questão em uma época de ameaças estrangeiras constantes na disputa ultramarina entre nações
por riquezas de povos não-europeus.

Os jesuítas e a consolidação da Índia Portuguesa: uma análise dos primeiros


contatos políticos e culturais
Ana Paula Sena Gomide
ape.gomide@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Índia Portuguesa, Jesuítas, Império.


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A presente comunicação tem por objetivo central analisar o contexto inicial da chegada dos
religiosos da Companhia de Jesus na então denominada Índia Portuguesa, a partir do ano de 1542
com a ida de Francisco Xavier à cidade de Goa. Compreendendo como importante aspecto da
consolidação da presença portuguesa no Oriente, os jesuítas foram responsáveis não somente pela
propagação do Evangelho entre as comunidades locais, mas também por expandir os espaços de
atuação politica e econômica da coroa portuguesa na Ásia. Além disso, este trabalho tem como
intuito discutir o uso do termo Império para definir as relações politicas, econômicas e culturais
que foram empreendidas pela expansão portuguesa no Oriente durante o decorrer dos séculos XVI
e XVII, levando em consideração as mais distintas formas de contatos que foram estabelecidas
pelos reinóis nos espaços asiáticos.

“De lo tocante al oficio de sastre”: a regulamentação do ofício da alfaiataria


no Câmara de Mariana (1735 – 1750)
Letícia Silva Batista
leticia.batista.historia@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Alfaiates, Século XVIII, Termo de Mariana, Câmaras Municipais.

O presente artigo tem por objetivo apresentar a dinâmica da regularização do ofício da


alfaiataria nas instâncias da Câmara de Mariana, dentre os anos de 1735 e 1750. Para tanto, são
caras ao atual estudo noções sobre: a condenação do trabalho manual nas conjunturas sociais de
Antigo Regime, a problematização dos limites dessa condenação no cotidiano do Império
português e, por fim, o papel determinante das câmaras municipais na organização, na regularização
e na fiscalização dos misteres em todo o Império. Acerca disso, apresentará que nas Minas
setecentistas houve uma singular dinâmica na organização do trabalho mecânico especializado,
apesar de ter aspirado ao modelo lisboeta. Com base nos vieses acima expostos, o trabalho
privilegia a compreensão da dinâmica da regulação do ofício da alfaiataria nas instâncias do
conselho municipal de Mariana, no segundo quartel do século XVIII. No Termo de Mariana, os
alfaiates estavam entre os mecânicos que mais buscaram a regularidade das suas atividades
especializadas. A partir de licenças afiançadas e cartas de exame retiradas nas instâncias do dito
concelho, um grupo de alfaiates pode exercer o seu ofício e atender as demandas locais por saberes
e produtos da alfaiataria. Isto posto, menciona-se que eles conectavam os mundos da produção e
da comercialização de mercadorias de significativo valor financeiro e simbólico. Além disso, eram

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os senhores das artes da modelagem, da confecção e da comercialização de vestimentas para vasto


rol de distintos indivíduos e grupos sociais na região.

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Produção do conhecimento histórico no ensino e


pesquisa: historiografia e prática em diálogo
interdisciplinar

Bruna Reis Afonso


Mestranda
Simpósio Temático

UFMG
reisafonsob@yahoo.com

Claudia Patrícia de Oliveira Costa


Doutoranda
Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
cliouerj@yahoo.it

Fernando Rosa do Amaral


Mestrando
UFMG
fernandohistor@gmail.com

Luana Carla Martins Campos Akinruli


Doutoranda Antropologia
UFMG / INSOD
luanacampos@insod.org

Proposta do Simpósio:

A formação do professor-pesquisador ou pesquisador-professor, pensada em conjunto


com os métodos de pesquisa, ensino e aprendizagem, aparecem como um grande desafio nos
cursos de licenciatura e bacharelado em história. Nesse sentido, é importante estabelecer um debate
que contemple as lacunas entre a escrita e o ensino da história. Segundo Jörn Rüsen, a manutenção
dessa lacuna “limita ideologicamente a perspectiva dos historiadores em sua prática e nos princípios
de sua disciplina” (RÜSEN, 2011, p. 23-24). Entretanto, tal temática vem ocupando cada vez mais
espaço nos recentes debates dentro e fora do ambiente acadêmico. Pesquisadores animados pela
possibilidade do estreitamento de laços entre a pesquisa histórica e suas mobilizações em sala de
aula, mediada por saberes de professores e alunos, têm se debruçado com vigor sobre o campo do
ensino de história. Partindo desses pressupostos o presente simpósio temático se articulará em dois
eixos, tendo em vista a amplitude do debate que envolve as várias esferas em que o saber histórico
está presente. O primeiro eixo abarca a produção do conhecimento histórico no âmbito escolar e,
portanto, a educação formal. O segundo procura ampliar o debate dando ênfase a
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interdisciplinaridade do conhecimento e do relacionamento entre as ciências. Assim, buscamos


estimular o encontro de trabalhos que discutam o uso da historiografia e da teoria da história com
enfoque em um ensino e pesquisa mais reflexivos e críticos, compreendendo tanto a produção do
conhecimento histórico no âmbito escolar e nas diversas dinâmicas que emergem na sala de aula;
como também outros espaços formativos, com novas concepções de relacionamentos entre as
ciências, o conhecimento e a educação; que abarquem sequências didáticas e relatos de experiências
que contemplem os espaços formais também não formais de educação.

Comunicações:

Educação Tecnológica Como Alternativa De Emancipação


Ana Carolina de Oliveira Teixeira
acoteixeira@hotmail.com

Silvani dos Santos Valentim


silvanisvalentim@des.cefetmg.br

PALAVRAS-CHAVE:

A educação assume papel de grande relevância na formação humana a partir do momento


que permite que a sociedade passe a orientar-se por ela. Esse tipo de pensamento possibilitou que
fossem discutidas varias maneiras de se educar e ao longo do tempo a concepção de educação foi
sendo reelaborada a partir das novas descobertas oriundas de pensadores de sua época.

O ideal grego de educação conhecido como paidéia surgiu na Grécia e, em seu conceito, só
seria possível que o homem se educasse a partir do momento que ele alcançasse um determinado
grau de desenvolvimento, pois a educação faria parte da evolução da formação humana, pelo fato
de que o homem já possuiria características inatas em seu ser que deveriam ser desenvolvidas ao
longo do tempo possibilitando assim o auge de sua descoberta: a educação. As características inatas
do homem vêm a ser questionadas a partir do século XVII quando passa a ser discutida a teoria da
“tabula rasa”. Essa, por sua vez, consistia em dizer que o homem não possuiria características
inatas, mas que, ao nascer, o homem seria como uma folha em branco a ser preenchida sendo,
portanto, fruto de sua formação na qual viria a desenvolver seus talentos por meio de uma didática
pré-estabelecida que transmitiria o conhecimento por teorias devidamente reconhecidas.

As principais finalidades da educação viriam a ser discutidas por meio de sua teologia,
apontando como principal atribuição a emancipação humana, na qual seria requisito indispensável
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para que o homem exercesse plenamente sua cidadania. A educação profissional e tecnológica seria
de grande importância para essa concepção, pois trataria de questões diretamente relacionadas na
busca pela emancipação humana à medida que constitui uma educação contra hegemônica, pública,
unitária, universal, gratuita, laica e voltada para uma formação politécnica.

História da escravidão no Ensino Básico: desafios e possibilidades


Luíza Rabelo Parreira
luizarabeloparreira@hotmail.com

Clara Abraão Leonardo Pereira


claraalpereira@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

A comunicação propõe-se a discutir novas abordagens sobre o ensino da história da


escravidão em turmas de ensino fundamental e médio. Compreende-se que, de forma geral, essa é
ensinada de maneira muito superficial aos alunos, destacando principalmente a relação autoritária
de senhor X escravo e o tipo de trabalho exercido pelos cativos. Percebemos que esse tipo de
análise é muito simplista e, de certa forma, retira o caráter dos escravos como seres culturais,
dotados de habilidades das mais diversas, religiosidades, sonoridades, enfim, um complexo e vasto
universo cultural e social que lhes permitiam vislumbrar um horizonte de expectativas, traçar planos
e objetivos de vida. Sendo assim, a crítica ao modo atual de análise e ensino da história da escravidão
não diz respeito às informações sobre as barbáries da mesma e ao tipo de labor executado pelos
negros cativos, mas sim à perspectiva limitante que esse tipo de análise sucinta. Para isso, é
necessário trabalhar com o imaginário inconsciente e praticamente onisciente dos alunos acerca do
tema “escravidão”, revelando as facetas de um universo diverso e multicultural, circundando o
sujeito negro através da reflexão sobre o Brasil colonial e que se estende ao Brasil e o continente
africano atualmente. Por isso, utilizaremos alguns exemplos, praticados em sala de aula com turmas
de ensino médio e fundamental, com as novas abordagens propostas. Além disso, pretendemos
discutir e analisar o próprio método utilizado na aula: o uso de documentos históricos, o uso do
elemento lúdico em sala de aula e a análise de imagem, artifícios que acreditamos auxiliar o
professor na transmissão e troca de conhecimento, e os alunos em sua concentração e participação,
permitindo que o trabalho vá além do mero conteúdo, alcançando as habilidades e competências,
importantes para a formação do indivíduo e cada vez mais cobradas socialmente. Pode-se perceber
quão importante e necessária é a aproximação entre o ensino de história nos níveis Fundamental e

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Médio e a academia, não para tornar a sala de aula um laboratório de pesquisa ou uma extensão da
academia, mas para que exista um contato entre ambas esferas e haja produção eficaz de
conhecimento. Dessa forma os professores poderão formar-se continuamente e dar aula de
maneira mais completa e eficaz, conscientes de seus posicionamentos historiográficos. Por fim,
ainda há um longo caminho a trilhar-se, e a docência, mesmo um mundo de possibilidades que é,
ainda se mostra desafiador.

O tema “trabalho” na Educação de Jovens e Adultos


Meiriele Cruz
meiriele.cruz@hotmail.com

Thayná Miclos
thay_miclos@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

Este trabalho tem por objetivo relatar a experiência de abordagem do tema “trabalho” e as
temáticas relacionadas ao mundo do trabalho, por meio da utilização da história temática, na
Educação de Jovens e Adultos. O trabalho foi desenvolvido a partir da contextualização e da
problematização de questões relativas ao mundo do trabalho e as vivências dos alunos do Projeto
de Ensino Fundamental – 2º Segmento do Centro Pedagógico da UFMG (PROEF2 –
CP/UFMG). A escolha do tema se deve ao fato de ser o trabalho um tema significativo para os
sujeitos dessa modalidade de ensino e também por permitir questionamentos mais amplos
relacionados à sociedade brasileira em diferentes tempos e contextos.

Identidade Racial e Cultura: Percepções em Sala de Aula


Wesley dos Santos Lima
wslmendes@hotmail.com

Alessandra Dias da Cruz


aledias21@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

A problematização do discurso contemporâneo sobre identidade racial, miscigenação e


cultura, tem sido foco de vários embates nos ambientes educacionais brasileiros, na mídia, e,
sobretudo nas universidades. Visto como um tema complexo, e polêmico por tratar de questões
de autoafirmação enquanto sujeito político, histórico e cultural. Discutir as relações raciais no
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ensino médio é uma tentativa de fragmentar as concepções já estabelecidas por uma sociedade que
vive o mito da democracia racial. Esse trabalho é fruto da experiência adquirida enquanto bolsista
do Programa Institucional de Iniciação à Docência-PIBID, e tem como objetivo dissecar alguns
apontamentos teórico-metodológicos, sobre a compreensão e o conceito de identidade étnico-
racial no âmbito escolar.

Ao analisar o território brasileiro percebemos as suas multifaces que constitui sua cultura e
seu povo, que é a representação da diversidade plural e histórica. A identidade que nos afirma
enquanto indivíduos multiétnicos, se mostra em constante evidência em nossa matriz ancestral,
temporal e simbólica; segundo Hall (2011), a identidade é algo formado através de processos
inconscientes, ao longo do tempo, em que o sujeito social está em interação entre o meio e o todo.
A construção de uma identidade cultural está vinculada ao processo de territorialização do ser,
onde esse constitui sua formação através da estrutura. Esse trabalho teve como base de discussão
a implementação da Lei 10.639 de 09/01/2003, que dimensiona o ensino de História da África e
Cultura Afro-brasileira no currículo escolar, tornando-o obrigatório na educação básica. Nesse
sentido, Munanga (2005), coloca que só construiremos uma sociedade democrática, quando o
respeito à diversidade for evidente, respeitando, portanto, as matrizes étnico-raciais que deram ao
Brasil atual sua feição multicolor composta de índios, negros, orientais, brancos e mestiços. Essa
comunicação busca apresentar de que forma os alunos se auto identificam enquanto sujeitos,
dotados de cultura e história social; interpretando dessa forma, a diversidade que escola pública
está inserida. Trata-se, de algumas reflexões e apontamentos sobre a identidade racial e sobre a
cultura presente; buscando, sobretudo, criar debates sobre o tema e levantando a problematização
do preconceito racial existente, da miscigenação cultural, e da pluralidade social.

História e literatura: a ludicidade como ferramenta para introduzir conceitos


históricos nos anos iniciais do ensino fundamental
Carolina de Oliveira Silva Othero
carol_othero@yahoo.com.br

Bruna Reis Afonso


brunareisafonso@gmail.com

Laura Jamal Caixeta


laurajamalc@gmail.com

Renan Cerqueira Dias


renancd19@gmail.com
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PALAVRAS-CHAVE: Ensino Fundamental, Travessia, Literatura, relato de experiência, Ensino


de História.

O objetivo dessa apresentação é relatar a experiência docente desenvolvida no Grupo de


Trabalho Diferenciado (GTD) História e Literatura no Centro Pedagógico da UFMG, ofertado a
alunos do 4º ano do Ensino Fundamental. O GTD iniciou-se em março de 2016 e ainda está em
processo. A proposta foi estruturada pelo grupo de estudo em ensino de história Travessia, para
pensar os desafios da formação histórica nos anos inicias do Ensino Básico. O objetivo do GTD
é introduzir, por meio da análise de obras literárias, conceitos históricos fundamentais para o
desenvolvimento do raciocínio histórico, como historicidade, temporalidade, alteridade e cultura.
Buscou-se através da literatura infantil trabalhar com os alunos a historicidade das produções
culturais e, num processo de desnaturalização do mundo infantil, evidenciar as diversas
possibilidades de infâncias em tempos e espaços distintos. O trabalho foi desenvolvido a partir de
três eixos. No primeiro eixo, trabalhamos com versões produzidas em diferentes épocas do conto
infantil Chapeuzinho Vermelho. Por meio da comparação das versões, o objetivo foi evidenciar
como as personagens retratadas, o cenário, o enredo e as representações de infância presentes nos
contos mudaram de acordo com o contexto histórico no qual eles foram produzidos. O segundo
eixo buscou aprofundar e construir noções de temporalidade, trabalhando especificamente com os
conceitos de mudança e permanência. Para se alcançar esses objetivos, enfocaremos nos diferentes
meios e suportes pelos quais os contos infantis foram contados em diferentes temporalidades.
Buscamos sensibilizar os estudantes para as diferentes formas assumidas pelas produções culturais,
a partir da vivência das particularidades de cada uma dessas linguagens (oralidade, livros, rádio,
teatro e cinema). No terceiro eixo abordamos o conceito de alteridade a partir da diversidade dos
contos infantis ao redor do mundo. Trabalhamos com contos africanos, indígenas, japoneses,
árabes, evidenciando as diferentes concepções de infância, padrões de beleza e valores éticos.
Espera-se que, a partir desse eixo, os educandos percebam como o contato com o outro pode
enriquecer e complexificar o seu próprio mundo e que desnaturalizem sua realidade, percebendo
como o presente é apenas uma configuração entre muitas outras possíveis. Acreditamos que o
contato com a alteridade radical é uma forma de sensibilizar os alunos para o reconhecimento e
aceitação das diferenças também no seu cotidiano.

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Representações e Empoderamento: possibilidades de contribuição do


ensino de história no processo de formação de jovens negros e negras
Camila Neves Figueiredo
c_figueiredo0048@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Ensino, Identidades Negras, Empoderamento.

A partir da análise da experiência de participar da produção do documentário


(In)Consciência Negra, produzido pela área de História do Programa de Iniciação à Docência da
UFMG (PIBID-UFMG), no ano de 2015, pretendemos discutir qual é o papel dos/as
acadêmicos/as e dos/as professores/as no processo de representação de jovens negros e negras,
bem como quais as possíveis contribuições de um trabalho nesse formato para o empoderamento
desse setor da sociedade. O documentário teve como objetivo tratar da experiência de ser negro/a
no Brasil, a partir de perguntas-base como: "você se considera negro/a?", "o que é ser negro/a?" e
"como é ser negro/a na sociedade brasileira?". Essas perguntas foram feitas em entrevistas,
individuais ou em grupos, com alunos e alunas de duas escolas estaduais de Belo Horizonte, Escola
Estadual Alaíde Lisboa e Escola Estadual Pedro II. Na produção do documentário procuramos,
primeiramente, escutar o que esses alunos/as tinham a dizer em resposta às perguntas-base e, a
partir desse exercício de escuta, organizar o material e prepará-lo para a exibição. É de importância
máxima para esse trabalho os acontecimentos pós-lançamento do documentário. Percebemos uma
significativa mudança de pensamento e postura, associada à identificação racial de boa parte dos
alunos e das alunas negras que participaram do trabalho. Essa mudança foi percebida por nós,
principalmente, no sentido estético e na transformação do discurso dos alunos e alunas, notamos
que eles/as agregaram elementos da cultura negra e afro-brasileira de maneira mais forte e explícita
em suas vidas. Pretendemos através desse estudo, pensar em como e para quem as representações
acadêmicas da juventude negra vêm sendo feitas. Nesse sentido, buscamos analisar se chegam e
como chegam essas representações até as pessoas que são tema dessas produções, visto que muito
vem sendo produzido nessa temática e pouco chega até os realmente afetados e objetos das
discussões. Finalmente, nos propomos a pensar em formas alternativas de trabalho, feitos de forma
tal que não se use o sentido de representação como “falar pelo outro”, mas, sim, que se pense na
abertura de um espaço de fala para que o “outro” fale por si mesmo. Tais alternativas nos parecem
uma forma de construir uma história mais popular e que tenha uma participação mais ativa na
construção pessoal do indivíduo e em seu processo de empoderamento.

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Travessia: uma experiência discente em busca de uma formação continuada


e complementar
Renan Cerqueira Dias
renancd19@gmail.com

Rafael Vinícius da Fonseca Pereira


rafaelfobseca85@hotmail.com

Pollyanna Rodrigues Alves Chaves


pollyannahistoria@gmail.com

Ivangilda Bispo dos Santos


ivangildabs@yahoo.com.br

Bruna Afonso Reis


brunareisafonso@gmail.com

Pedro Henrique Resende


pedrohenriquer_1@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Ensino, Pesquisa, Didática.

O Grupo de estudos e pesquisa em ensino de história Travessia surgiu no início do ano de


2015, a partir da iniciativa autônoma de um grupo de estudantes da graduação e da pós-graduação
do curso de história da UFMG. O principal motivo que mobilizou os estudantes na criação do
grupo, foi a sensação de que havia uma lacuna em suas formações naquilo que se refere à formação
docente. As primeiras reuniões aconteciam quinzenalmente e tiveram como função realizar o
mapeamento das necessidades de cada membro do grupo, seja no campo da prática de ensino, seja
no campo teórico do ensino de história. A partir desse levantamento coletivo o grupo passou a
traçar estratégias de estudo e pesquisa, além de definir tarefas, conteúdos e textos para serem
debatidos em forma de seminário nos encontros quinzenais. Na medida em que o grupo foi
tomando forma e agregando mais membros, sentiu-se a necessidade de torná-lo oficial e
institucionalizado. Para isso, o grupo convidou a professora de Prática de Ensino de História no
curso de licenciatura da UFMG, Miriam Hermeto de Sá Motta, que após ouvir o grupo, conhecer
seus objetivos e intenções, aceitou ser a orientadora do grupo.

No segundo semestre de 2015, após uma série de encontros, debates e seminários, o grupo
iniciou o planejamento de um evento maior e aberto ao público para debater temas relacionados
ao ensino de história. Ficou decidido que o evento abrangeria quatro temas: “A crise da história”,
“Propostas do governo para as licenciaturas”, “A história na BNCC” e “Dilemas contemporâneos
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sobre memória”. Para cada tema foi montada uma mesa de debate, as mesas eram formadas por
especialistas da própria UFMG e de outras instituições. O evento aconteceu no dia 04 de dezembro
de 2015 e contou com 68 ouvintes, entre alunos de licenciatura, professores da educação básica e
professores do ensino superior.

Desconstruindo lacunas: as especifidades epistemológicas da escrita e do


ensino de História
Fábio Dias Nascimento
fabiodiashistoria@gmail.com

Mariana de Oliveira Amorim


basica_vr@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Epistemologia, Ensino, História, Escrita.

O objetivo deste trabalho é desconstruir a ideia de que exista lacuna entre a escrita e o
ensino de História a partir da defesa da especificidade epistemológica de cada uma dessas práticas.
A primeira parte do trabalho apresenta as bases epistemológicas da escrita da História a partir dos
autores Certeau e Ricoeur; a segunda parte apresenta a epistemologia própria do ensino da História,
a partir de Monteiro e Gabriel; e a terceira parte elabora uma reflexão que visa desconstruir a ideia
de lacuna entre uma e outra Histórias.

Saberes Docentes e Práticas Educativas: Produção de Conhecimento


Histórico em um Debate Sobre Políticas Públicas Afirmativas,
Desigualdades e Diversidade
Kátia Luzia Soares Oliveira
katialuziasoares@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Ensino da História e Culturas Africana, Afro-Brasileira e Indígena; saberes


e práticas docentes; educação histórica.

Esta comunicação apresenta alguns resultados parciais da pesquisa de mestrado realizada


no programa de pós-graduação em Historia Regional e Local, da Universidade do Estado da Bahia
– UNEB. Pretende-se analisar os saberes e práticas educativas mobilizados pelos professores de
História, que atuam na Rede Pública Estadual de Barreiras, a partir da obrigatoriedade do Ensino
da História e Culturas Africana, Afro-Brasileira e Indígena e as relações estabelecidas a partir desses
saberes e práticas com uma memória-histórica comprometida com a diversidade étnico-racial e
cultural. A leitura e análise dos dados, obtidos por meio de narrativas gravadas em áudio e de relatos
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de experiência, aqui apresentados, dialogam e refletem a temática a partir da matriz teórico-


metodológica desenvolvido pelo historiador alemão Jorn Rusen; nesse sentido, nesta comunicação
buscamos refletir sobre como os saberes docentes mobilizados pelos professores se articulam ao
processo de construção do pensamento histórico; isso significa, em outras palavras, perceber como
são constituídas as relações entre a ciência História e os procedimentos próprios do conhecimento
histórico nos saberes e práticas cotidianas em sala de aula.

A Baixada Fluminense e as recentes emancipações políticas: historiografia,


identidade e ensino de história
Claudia Patrícia de Oliveira Costa
cliouerj@yahoo.it

PALAVRAS-CHAVE: Ensino de História, Memória, Baixada Fluminense, Historiografia.

O presente trabalho pretende tratar das questões que dizem respeito às imbricações entre
escrita e ensino da história local. Ao considerarmos o local como um campo de reflexões
instigantes, objetivamos problematizar as lacunas verificadas na produção historiográfica sobre as
cidades emancipadas recentemente na Baixada Fluminense e da não existência de lugares públicos
dedicados à guarda, pesquisa e difusão do conhecimento sobre a cidade. Esse dado nos leva a
refletir sobre as disputas, ainda candentes, sobre a construção e seleção das memórias que devem
“contar a história da cidade”, se tornando responsáveis pela formação dos laços identitários que
devem unir o grupo. Segundo Rüsen, a memória histórica diz respeito ao “trato com a história e
seu papel na vida humana, é a realização ou atualização de um determinado tipo de memória”
(RÜSEN, s/d: 5). A memória histórica é apontada como um dos pilares para a construção de uma
cultura histórica que, nos termos estabelecidos pelo autor, "contempla as diferentes estratégias da
investigação científico-acadêmica, da criação artística, da luta política pelo poder, da educação
escolar e extraescolar, do ócio e de outros procedimentos da memória histórica pública, como
concretudes e expressões de uma única potência mental" (RÜSEN, s/d: 3). Assim, também
pretendemos abordar as tensões estabelecidas entre as memórias que vem sendo construídas acerca
dessas emancipações, no que tange o ensino de história, em face da escassez de orientações
curriculares para as escolas municipais que apresentem conteúdos relacionados à história de tais
municípios.

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Por tum Passado do Presente: A Recente Trajetória Do Pibid De Historia da


UFPI 2010-2014
Sthênio De Sousa Everton
cfontinelles@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: PIBID, Oralidade, Historia, Educação.

Este artigo tem por objetivo, analisar a trajetória recente do PIBID – Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência, do curso de história da Universidade Federal do
Piauí, entre os anos de 2010 a 2014. Criado em 2007, o programa de incentivo a uma formação
docente mais qualificada, se tornou no contexto atual numa das mais importantes ferramentas da
política federal de formação de professores. Entendemos assim como Eneida Oto Shiroma, que
essa preocupação presente com o “formar” professores é parte de uma engrenagem política que
vem ganhando corpo nas políticas educacionais desde a década de 1970, pelo mundo, e mais
precisamente a partir da década de 1980 no Brasil, e que dialoga com uma agenda global que elegeu
a educação como área estratégica da economia. Nesse sentido, buscamos perceber o papel singular
do programa vem construindo ao adentrar as universidades bem como seus desdobramentos e
características que nos permite mapear seu impacto mais precisamente no curso e no ensino de
história. Entendemos que a educação é um fenômeno político, passível de debates da sociedade
civil, e fonte de expressão de projetos de nação e de sociedade. A escolha metodológica optada foi
pela das fontes orais, buscando nesse primeiro momento da pesquisa os relatos dos membros do
PIBID de História da UFPI que participaram como bolsistas e dos coordenadores de área do curso
de história no período abordado. Enfoque escolhido pelo reconhecimento das fontes orais como
importante caminho na construção de uma história do presente, ou uma história do imediato, bem
como analisa a historiadora Verena Alberti.

A utilização de manuscritos em sala de aula: um paralelo entre escolas


públicas e privadas
Luíza Rabelo Parreira
luizarabeloparreira@hotmail.com

Leandro Gonçalves de Rezende


leandro9rezende@yahoo.com.br

Gabriel Afonso Vieira Chagas


gabriel.afonso.v.chagas@gmail.com
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PALAVRAS-CHAVE: Experiência Didática, Documentos Manuscritos, Ensino de História.

Esta apresentação busca inserir-se no debate sobre as diversas estratégias que podem ser
utilizadas pelos docentes com o objetivo de tornar mais atrativa a disciplina de História no Ensino
Básico, pautando-se em duas experiências, uma realizada em escola pública e outra em escola
privada, com a utilização de documentos manuscritos nas salas de aula. Objetivou-se proporcionar
o contato dos alunos com a documentação manuscrita, fazendo-os perceber que a história é
construída através da interpretação dos historiadores, e que essa leitura deve-se muito a própria
experiência do pesquisador e de seus objetivos. Essa aplicação levou os alunos a percepção de que
o documento não é isento de parcialidade em sua produção e que sua interpretação também não
escapa desse fardo. Assim, buscou-se auxiliar os discentes a desenvolverem um olhar crítico, não
apenas em relação aos temas discutidos pela disciplina, mas também perante às várias informações
da atualidade que chegam até eles através das mais variadas fontes, não raras vezes com diversas
versões de um mesmo fato. Em suma, pretende-se discutir uma técnica que possibilita ao docente
uma maior dinamização de suas aulas, tornando-as atrativas e construindo com os discentes um
olhar crítico sobre a história (curriculum escolar) e a própria atualidade.

Aprendizagem Histórica Presente Nos Jogos Virtuais


Josimar de Mendonça
josimend1@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Jogos virtuais, história, Educação, Tecnologia.

O presente trabalho pretende trazer a luz uma investigação sobre os processos de


aprendizagem histórica presentes nos jogos virtuais gratuitos, on-line e acessíveis por dispositivos
móveis que optaram por adotar temas da história como pano de fundo de seu enredo. Partindo do
pressuposto que, nas últimas décadas, o advento das Tecnologias Digitais de Informação e
Comunicação - TDIC vem potencializando a sensação de velocidade com que as mudanças
ocorrem na sociedade e, consequentemente, afetam seus atores. Acreditamos que a elaboração de
novas propostas de ensino que visem facilitar o processo de aprendizagem dos conteúdos de
história, pelos os estudantes que se constituem sujeitos presentes na sociedade contemporânea, se
faz cada vez mais necessária. Sendo assim, o intuito do nosso trabalho é investigar os conteúdos
históricos que permeiam os jogos virtuais gratuitos, on-line e acessíveis por dispositivos móveis
que se dispuseram a utilizar temáticas históricas. Para, a partir dos resultados obtidos, elaborar uma
proposta de ensino que contemple a utilização dos jogos virtuais gratuitos, on-line e acessíveis por
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dispositivos móveis como um artefato capaz de favorecer e facilitar a aprendizagem de conceitos


históricos – como tempo e espaço, por exemplo – que seriam cruciais para um melhor
entendimento do conteúdo regular do ensino de história.

Livro Didático de História: As Escolhas dos Professores


Paula Ricelle de Oliveira
pesquisaldcefet@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Livro Didático, Professor de História, Processo de escolha.

A comunicação que se pretende socializar consiste em um recorte oriundo da pesquisa “O


processo de escolha do livro didático de História numa perspectiva discursiva” (2015),
desenvolvido no âmbito do mestrado em Estudos de Linguagens do CEFET/MG, a qual teve
como objetivo analisar as atitudes dos professores nos processos de escolha do livro didático de
História no âmbito do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Nessa perspectiva, o foco
privilegiado para o presente trabalho é identificar e discutir os critérios e elementos que influenciam
nas escolhas dos livros didáticos por professores de História em seus contextos. Os resultados
apontam que os docentes, ao realizarem essa atividade, observam a adequação da obra à realidade
dos alunos e das suas práticas pedagógicas cotidianas. Receberam destaque por esses profissionais,
a consulta ao livro didático e a conversa com os colegas. Os professores consideram os tipos de
atividades e de linguagens presentes na obra como os principais critérios para determinar a escolha
desse material.

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História e linguagens: ficção, poética e biografia

Ana Carolina de Azevedo Guedes


Doutoranda
Pontifícia Universidade Católica - Rio de Janeiro
Simpósio Temático

anaazevedoguedes@gmail.com

Edson Silva de Lima


Mestrando
UNIRIO
edson_hist@yahoo.com.br

Evander Ruthieri da Silva


Mestrando em História
UFPR- Universidade Federal do Paraná
evander.ruthieri@gmail.com

Maycon da Silva Tannis


Mestrando
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
ms.tannis@yahoo.com

Proposta do Simpósio:

A proposta de Simpósio Temático visa abordar, através da tríade conceitual Ficção-Poética-


Biografia, uma chave interpretativa, qual seja, o questionamento das fronteiras do fazer histórico
com relação à linguagem e à literatura, a partir da problemática: o que do fazer histórico com relação
à linguagem e à literatura, a partir da problemática: o que fazem os historiadores quando se veem
num mundo de linguagens? Tal questão nos leva a um debate sobre alguns de nossos objetos - a
literatura, as ficções, as biografias e a poesia. Destarte, esse simpósio visa agregar trabalhos que
lidem com esses temas e problemas, não de modos isolados, mas de forma a atravessar por um
questionamento metodológico, pela via da linguagem, capaz de orientar uma escrita da História
que tenha a sensibilidade de tocar temas que foram explorados com maiores minúcias a partir da
expansão dos métodos e dos campos de análise, enfim, das transformações na relação
epistemológica entre historiador e objeto de estudo. Neste Simpósio Temático, pretende-se uma
emolduração historiográfica com atenção especial aos seguintes temas: a literatura e sua relação
com a História, compreendendo as ficções literárias enquanto objetos culturais, capazes de
construir e representar articulações com o mundo social ou ainda uma perspectiva analítica que

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parte de fontes literárias ou portadoras de certa literariedade, das trajetórias de autores, editores,
livreiros e leitores, para a investigação histórica; a biografia como um elemento híbrido, que
apresenta a trajetória e a possibilidade de abordagem sociológica e em outra medida a
ficcionalização da vida; a ficção, abordada aqui não como uma prisão fotográfica do mundo real,
mas como uma irrealização do próprio real e mesmo assim, apregoada nesse, portanto, deixa de
ser um construto observado e passa a ser desmanche e parte constitutiva desta realidade. Trata-se
de estabelecer a ficção como um dos cortes epistemológicos a fim de atravessar os três temas acima
citados, para compormos um diálogo metodológico entre os objetos de pesquisa histórica
(Literatura, Biografia e Poesia) e também como dimensão integrante da escrita histórica, além de
sua funcionalidade da divulgação histórica.

Comunicações:

Ambivalências e mal-estar no imaginário social do Tempo Presente: A série


de histórias em quadrinhos “Injustiça: Deuses entre nós”
Emily de Avelar Alves
emilydeavelar@gmail.com

André Moreira da Silva


andremoreirads@yahoo.com

Marcos Roberto Dias Pereira


falecommarcosdias@hotmail.com

Gleiciellen Brito Pinto Santos


gleicy_myusat@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Mal-estar pós-modernidade, Imaginário social, DC Comics.

Este escrito pretende observar a configuração dos super-heróis da editora americana DC


Comics na série de histórias em quadrinhos (HQs) "Injustiça: Deuses entre nós", em seu primeiro
volume, publicada em português no Brasil em 2014 pela editora Panini Comics. Analisará o perfil
dos principais personagens envolvidos e suas relações com o universo criado para o título
tencionando evidenciar naqueles caracteres aspectos que denunciem a liquidez e volatilidade da
sociedade contemporânea. Na construção da aventura em questão é possível verificar uma série de
tons de cinza, de forma que os heróis envolvidos não são mais apresentados como seres luminosos
e de perfil inquestionável, mas como males necessários para a manutenção de um bem maior, ou

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como indivíduos de moral dúbia e que se perdem em suas escolhas de vida. O estudo aprofundado
acerca de fenômenos culturais, neste caso a HQ inspirada num jogo eletrônico homônimo, exige
uma atenção especial por sua própria configuração, uma vez que possui variados matizes
simbólicos e discursivos. No entanto, tais fenômenos são artefatos que podem facilmente apontar
ideais, práticas, conceitos, angústias, conflitos sociais, constituindo-se uma eficiente ferramenta
para o historiador. Dito isto, o modelo de análise oferecido por Douglas Kellner (2001) mostrou-
se bastante eficaz para a realização deste estudo, pois a cultura da mídia fornece uma ampla gama
de símbolos que ajudam a configurar uma cultura comum para vários grupos sociais modelando,
cultivando e reproduzindo comportamentos. Tais elementos influenciam na composição das
representações do imaginário social acerca de variados temas e mecanismos sociais, contribuindo
também para a propagação de sentidos próprios. Neste sentido, passaremos a pontuar aspectos
encontrados na HQ, tanto no corpus da mesma, quanto nas informações sobre o processo criativo
do produto, que possibilitem perceber valores e signos culturais característicos de seu período de
produção. Pretende-se uma análise indiciária que identifique traços secundários e detalhes como
algo capaz de atingir os “sentidos partilhados”. Compreendemos que, para além de seu caráter
midiático e comercial, em sua configuração artística, tanto narrativa quanto visual, esse tipo de
documento possibilita um importante mecanismo de apreensão do real, do imaginário social
através de suas representações.

Uma Leitura da Memória e do Esquecimento em “Resíduo” De Carlos


Drummond De Andrade
Jouberth Maia Oliveira

Ana Clara Pinho Ferraz


ferraz_aninha@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

A relação entre a história e a literatura é tão longínqua que nos remete diretamente a
Homero, o grande poeta da Grécia Antiga. Tradicionalmente atribuído como autor dos épicos
Ilíada e Odisseia, sua importância não reside apenas no campo estético, mas também na bagagem
histórica de sua época. A força de seus versos sobreviveu ao teste do tempo de tamanha forma
que, ainda hoje, ecoam no substrato ocidental. Nos tempos de Homero, tempos pré-escrita, onde
não havia sequer a palavra “literatura”, restava ao poeta e sua poiesis o papel de narrar os feitos do
passado, de geração a geração. Passados os anos, ainda hoje a literatura cumpre o papel de ser, por

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vezes, um objeto de memória, seja nos livros, poemas, cantos, romances, cartas, crônicas,
(auto)biografias, etc. Mas qual seria a importância de compreendermos e simpatizarmos com a
relação entre o poeta e a história? Em quê isso nos acrescentaria como indivíduos ou como agentes
de um corpo coletivo? Segundo o filósofo alemão Walter Benjamin, a história oficial é sempre
reducionista e parcial, pois é narrada através de um determinado viés, o daqueles que estão no
poder. Assim, essa história se torna um instrumento de perpetuação dos discursos dos vencedores,
da mesma forma que o esquecimento constitui-se em uma importante ferramenta de dominação.
Utilizando dessas noções como norteadoras para nossa pesquisa, pretendemos analisar brevemente
alguns versos de um poema do escritor mineiro Carlos Drummond de Andrade, intitulado
“Resíduo”. Este poema integra o volume de poesias lançado em 1945, nomeado como A Rosa do
Povo. O volume em questão é amplamente reconhecido pela crítica brasileira como uma das mais
importantes obras da literatura brasileira, pois conseguiu conciliar o sublime poético de Drummond
com um desnudar dos tempos sombrios em que o Brasil e o mundo viviam na época. Para lembrar,
o Brasil passava pela ditadura de Getúlio Vargas e seu Estado Novo, enquanto o resto do mundo
presenciava os horrores da 2° Guerra Mundial. Os poemas que compõe A Rosa do Povo são,
portanto, cheios de imagens e metáforas que trazem a tona e refletem sobre os fenômenos sociais
que ocorreram na época de produção.

Sonho de Dirceu - uma tela, múltiplas imagens: o poeta inconfidente Tomás


Antônio Gonzaga na obra de Henrique Bernardelli
Vitória dos Santos Acerbi
vitoriaacerbi@hotmail.com

Leonardo Campos Gomes


camposgomesleonardo@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

O quadro Sonho de Dirceu, de Henrique Bernardelli, pertencente ao acervo do Museu


Mariano Procópio, retrata Tomás Antônio Gonzaga preso na Ilha das Cobras após a delação do
que convencionou-se chamar Inconfidência Mineira. No cárcere, ele sonha com a jovem mineira
de família abastada Maria Dorothea, que se torna a musa de seus poemas, “Marília de Dirceu” -
esta que é uma das obras mais proeminentes do Arcadismo brasileiro. O trabalho é divido em três
seções. A primeira delas explora as narrativas presentes na imagem: a faceta de Tomás Antônio
Gonzaga como magistrado representante da administração colonial que se envolve em uma
conspiração contra ela entrelaçada à faceta do poeta apaixonado que dedica liras e liras à sua amada.
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Um episódio marcante da história do Brasil e um momento importante da literatura brasileira são


evocados pela pintura, que possui ricas dimensões tanto históricas quanto artísticas. A seguir, a
segunda seção dedica-se a analisar o processo de construção do quadro e seu percurso após sua
produção. Por que Henrique Bernardelli decidiu pintá-lo, sendo que a Inconfidência mineira e seus
participantes não são temas recorrentes de suas pinturas? De onde veio o interesse por este
personagem em particular, Tomás Antônio Gonzaga? Quais referências podem ter influenciado o
autor a compor a representação desta cena tal qual a vemos, ressaltando a face do poeta apaixonado
em detrimento do revoltado conspirador? É possível rastrear a trajetória do quadro até sua final
estadia no Museu Mariano Procópio? Estas foram algumas das perguntas às quais buscou-se aqui
responder.

Por fim, na última seção, apresenta-se um exercício de comparação entre imagens a fim de
identificar possíveis inspirações para o quadro de Bernardelli. São estabelecidos diálogos entre a
obra estudada e outras obras do mesmo artista, bem como entre trabalhos de artistas internacionais,
examinando-se tanto a semelhança na composição visual, plástica e pictórica, quanto proximidades
entre as narrativas construídas e os personagens retratados. Em suma, esta pesquisa busca elucidar
a história do real personagem Tomás Antônio Gonzaga, que se mistura à sua produção literária de
cunho romântico e satírico, além da história do pouco conhecido quadro e sua composição.

O Corpoema Feminino Contemporâneo de Ana Martins Marques


Bruna Kalil Othero Fernandes
brunakalilof@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

O estudo de textos contemporâneos é importante não só pela sua carga temporal imediata,
mas também pela possibilidade de diálogo entre autores e leitores. A leitura de escritoras, no século
XXI, se faz mais necessária do que no passado: as mulheres nunca escreveram tanto, porém,
permanecem ainda pouco lidas. O foco desta pesquisa é entender como o corpo se constrói no
texto contemporâneo de autoria feminina – mais especificamente, na poesia de Ana Martins
Marques. Para tal, foram analisados os seus livros mais recentes, publicados nos últimos cinco anos:
“Da Arte Das Armadilhas” (2011) e ""O Livro das Semelhanças"" (2015). Tal autora foi escolhida
por tangenciar a temática do corpo – seja o próprio corpo humano ou o corpo do texto, e por
desenvolver uma poética do feminino.

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A Representação das Musas nos Poemas Homéricos


Ívina Silva Guimarães
ivinaguimaraes@ymail.com

PALAVRAS-CHAVE:

O mito das Musas está presente em diversas obras da literatura grega arcaica, tendo os
poemas homéricos como umas das obras mais aclamadas do seu período, e onde encontram-se
diversas passagens que mencionam as deusas. Filhas de Mnemosine e Zeus, as Musas não foram
criadas apenas como memória, mas também para o “esquecimento dos males e pausa das
preocupações” (Teogonia, v.55). Sempre invocadas pelos aedos antes de começarem seus cantos,
as Musas são influências de diferentes inspirações para os humanos, e seus domínios vão além da
pura rememoração ou esquecimento. As Musas conhecem a verdade e a mentira e tem domínio
sobre o que falam. Ao contrário dos mortais comuns que não sabem e mentem por ignorância, elas
sabem e mentem conscientemente. Como afirma Jacyntho Brandão em seu livro “Antiga Musa”,
“no que concerne às Musas, estamos diante de um tipo de deusas que tão bem falam verdades
quanto mentiras, num discurso bem articulado e, mais ainda, agradável” (BRANDÃO, p.134). O
estudo das Musas é importante para compreender melhor o universo mitológico da Grécia Antiga.
Divindades que sabem de tudo que foi, do que é e do que será, e inspiração para as criações dos
homens, as Musas desempenham uma parte valorosa na cultura da sociedade grega antiga. Através
das representações das Musas nos textos antigos, procura-se entender os aspectos que cingem sua
criação, seu papel no panteão grego e sua influência sobre os homens mortais. Para entender toda
a complexidade que envolve o mito das Musas, é necessário estudar as menções às deusas em obras
da literatura grega arcaica e clássica, com base em teorias formuladas por autores da antiguidade e
contemporâneos.

A pesquisa utiliza como referência para o estudo fontes literárias antigas, como os poemas
de “Ilíada” e “Odisseia” de Homero, e a “Teogonia” de Hesíodo, em conjunto com a análise e
trabalhos de obras e autores contemporâneos. O trabalho se concentra nas passagens de Homero,
nos poemas “Ilíada” e “Odisseia”, que se referem às Musas. O estudo se dedicará principalmente
aos versos 484 – 493 do canto II da “Ilíada”, que precedem o Catálogo das Naus, nos quais,
segundo Luís Krausz, em “As Musas”, “as palavras ‘humanas’ do aedo são introduzidas à narrativa,
num fragmento de expressão humana dentro de um poema atribuído à divindade como um todo”
(KRAUSZ, p.53).

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In Trânsito: Identidades Possíveis na Prosa Contemporânea Brasileira


Davidson Maurity Lima Araújo
davidsonmaurity@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Literatura, Identidades, ditadura.

A literatura brasileira é rica em personagens taxados de transgressores, desajustados ou


errantes, devido ao fato de deterem em si uma sexualidade considerada “complexa”, por fugir dos
padrões heterossexuais vigentes e uma liberdade que os tornam substrato para os mais diversos
estudos. Porém, entendemos que essas personagens só ganham algum destaque na crítica literária,
no período pós 1964.

A literatura brasileira anterior à ditadura militar instaurada a partir do ano de 1964, segundo
Silviano Santiago, caracteriza-se pelo processo de conscientização político-partidário, com
personagens campesinos e do operariado, acompanhada de crítica ao empresariado e as oligarquias
rurais. Uma literatura engajada no ideal desenvolvimentista, na libertação do homem e otimista
politicamente. Após o golpe militar, a literatura opta por refletir sobre as estruturas do poder, dando
início a uma crítica radical sobre qualquer forma de autoritarismo, abrindo prerrogativas para a
discussão do conceito de democracia, que passa a fazer parte dos discursos tanto da direita quanto
da esquerda política. A literatura não queria apenas mostrar os desmandos de uma classe abastada,
pois se percebeu que o poder ganhava outras faces. Negando as diferenças, surgiram forças
opressoras que buscavam uma uniformidade sexual, racial e comportamental. “A descoberta
assustada e indignada da violência do poder é a principal característica temática da literatura
brasileira pós 64.”

Na contramão da opressão e do silêncio, surgem vozes que reivindicam a existência. Pois


só existe aquilo que se é discutido, falado, escrito. É preciso ser texto, tornar-se linguagem. Várias
são as vozes que surgem, várias são as identidades por trás desses novos discursos que emergem
nesse contexto pós 1964. Este projeto pretende uma análise de obras brasileiras contemporâneas,
consideradas homoeróticas, a partir das protagonistas de “Limite Branco”, de Caio F. Abreu e de
“Acenos e Afagos”, de João Gilberto Noll, que consideramos Queers, pois revelam um estado de
trânsito e de um não-lugar, responsáveis por uma dissolução e consequente busca por uma
identidade.

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"Gosto mais de ser interpretado do que de me explicar": Getúlio Vargas do


fim ao começo
Marcela Andrade da Silva
le.marcela@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Estado Novo, Getulio Vargas, Trajetória, Biografia.

“Pode-se escrever a vida de um indivíduo?” Se pergunta Giovanni Levi. Muitos foram os


debates sobre a possibilidade da escrita da vida de um indivíduo e sobre os limites da biografia. O
problema, segundo Levi, é querer engessar os atores históricos dentro de uma racionalidade
anacrônica e de um modelo linear; torná-los personalidades coerentes e estáveis dotados de “ações
sem inércias” e de “decisões sem incertezas”. É preciso considerar os elementos contraditórios que
forjam a identidade de um indivíduo. O objetivo do presente estudo é analisar a trajetória política
de Getúlio Vargas ainda que tantos anos da existência de um homem, tratados assim de forma tão
ligeira, com certeza não são suficientes para explicar sua projeção no cenário político brasileiro.
Levaremos em conta para atingir tal proposta a trajetória de Getúlio Vargas em seus muitos anos
de governo, fazendo uma análise das suas relações interpessoais que criavam solidariedades,
alianças, ou ainda, inimizades, rivalidades que propiciaram a formação de grupos sociais dentro dos
quais esteve envolvido. Nosso espaço de tempo para abordar a trajetória de Vargas compreenderá
por sua peculiaridade o período referente ao Estado Novo.

Madame du Châtelet, uma mulher na corte dos homens de letras (1706 -


1749)
Renata Lopes Marinho
marinho.lrenata@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Iluminismo, Salão de Letras, Mulher.

O Iluminismo francês foi um marco histórico construído sobre o pilar da busca por
esclarecimento, pensando o indivíduo enquanto ser social e também no âmbito privado.
Entretanto, por mais inovador que fosse tal discurso no setecentos, a temática feminina e sua
representação na sociedade ainda era custosa e abstrata aos intelectuais da época. Para tal, o
presente trabalho tem como finalidade refletir sobre a figura feminina na sociedade letrada,
utilizando como base autores Elisabeth Badinter, Michelle Perrot, Georges Duby, dentre outros.
E, através do estudo de caso de Madame du Châtelet em sua obra ""Discurso sobre a felicidade""

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analisar as possibilidades de uma escrita preocupada em valorizar o conhecimento feminino, assim


como a participação e relevância das mulheres no cenário iluminista.

A constituição da biografia inglesa moderna: Lytton Strachey e Virginia


Woolf (1910 - 1940)
Ana Carolina de Azevedo Guedes
anaazevedoguedes@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Biografia Moderna, Lytton Strachey, Literatura Inglesa, Escrita Biográfica,


Virginia Woolf.

Este trabalho objetiva discutir o papel de Virginia Woolf e Lytton Strachey no campo da
escrita biográfica moderna no inicio do século XX, estabelecendo uma correlação entre os campos
da literatura, história e biografia. Virginia Woolf (1882 – 1941), romancista e crítica literária inglesa
de grande vulto, produziu obras importantes na literatura inglesa e foi uma das fundadoras do
Bloomsbury; sendo, portanto, uma das maiores responsáveis pela renovação da biografia na
Inglaterra. Lytton Strachey (1880 – 1932) foi um dos maiores biógrafos ingleses, defensor de uma
biografia adequada com o momento em que é produzida em contraposição a uma escrita permeada
com os limites do período vitoriano, buscou reduzir o tamanho das obras (antes com dois ou mais
volumes) numa proposta de dinamizar a leitura e torná-la mais legível quanto à sua linguagem e a
um momento em que a leitura não se dá apenas no espaço restrito das casas, invadindo as ruas e
os espaços públicos. Neste trabalho nos deteremos na análise de duas críticas de Virginia Woolf:
Como se deve ler um livro (1932) e Resenhando (1939); e de Lytton Strachey analisaremos sua
obra mais conhecida Rainha Vitória. Nesta análise buscaremos como se deu a constituição de
biografia como arte na concepção desses autores. Para eles, a biografia não seria estática como os
quadros dos grandes heróis, mas os humanizaria, apresentando-os como indivíduos passíveis de
erros e acertos em sua vida. Ela seria uma arte por encontrar-se em um espaço híbrido, exigindo
do biógrafo uma preocupação na dosagem da sua escrita, tanto no que se relaciona com o factual
como com o que relaciona com o ficcional. Logo, o nosso trabalho como leitores se iniciaria com
o principio de abrir mão de nossos ideais durante a leitura, seja das biografias seja de romances.
Devemos nos tornar cúmplices e companheiros de trabalho do autor. Por fim, proponho aqui
como exercício teórico, trazer Paul Ricoeur para o estabelecimento de uma identidade e uma
alteridade com o nosso texto. No outro encontramos algo que nos atrai e nos dá uma outra visão,
transformando a leitura uma viagem através da linguagem, seja como receptores de mensagens,
seja como responsáveis pela forma escolhida por esses autores de transmitir o que pretendem.
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Nesse caso, o ponto do trabalho se conforma em estabelecer uma correlação entre as modificações
sofridas pela biografia durante a concepção do romance moderno, que tem como seus maiores
porta-vozes Virginia Woolf e James Joyce.

Análise dos poemas "Negra Fulô" de Jorge de Lima e "A Outra Nêga Fulô"
de Oliveira Silveira: uma abordagem histórica e literária
Kátia Luzia Soares Oliveira Souza
katialuziasoaresoliveira@yahoo.com.br

Emanuela de Souza Cordeiro


professoraofle@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Literatura, Educação Étnico-Racial, História.

O trabalho que ora se apresenta traz uma proposta pedagógica para o ensino da História
e Cultura Africana e Afro-brasileira .Tal proposta parte da apresentação e análise de dois poemas
que revelam o negro sob diferentes óticas, sendo possível verificar a existência de dois tipos de
discurso: um que o representa de forma submissa ou com valores estereotipados e outro que se
apresenta como reação ao modelo de conhecimento eurocêntrico, buscando, inclusive, contrapor-
se às estereotipias fundamentadas no preconceito. A elaboração desse trabalho parte das
discussões de Evaristo (2005) Pesavento (2008) e Fonseca (2003). Para a análise dos poemas levou-
se em consideração, principalmente, os fatores de textualização abordados pelos linguistas
Marcuschi (2008), Koch (1991); e no campo da literatura comparada, as teorias de Carvalhal (1991).
Compreende-se, portanto, que a articulação entre História e Literatura por favorecer a
problematização dos diferentes discursos sobre o outro, pode auxiliar a construção de um olhar
menos etnocêntrico, abrindo caminho para a promoção de uma aprendizagem significativa voltada
à positivação das relações étnico-raciais.

O Riso Medieval como Metáfora Histórica


Maycon da Silva Tannis
ms.tannis@yahoo.com

PALAVRAS-CHAVE: Alegoria, Idade Média, Metáforologia, Carmina Burana, Hans


Blumenberg.

O Presente trabalho visa debater, a luz da metaforologia de Hans Blumenberg, a


compreensão de que o Riso em si garante uma experiência histórica tão ampla e impossível de se

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contextualizar em sua totalidade que apenas uma proposta de escrita da História que parta da
Metáfora, como poder explicativo e formulador do real. Acolho aqui o Riso Medieval de forma a
abrir uma nova frente de trabalho, marcada pela ideia de que os fundamentos da cultura ocidental
surgem justamente no momento em que a consolidação do saber com evento das Universidades
no século XIII, se torna unívoco em sentido e em produção de um conhecimento. Diferentemente
da modernidade não tem apenas uma forma de apresentar uma formulação e refiguração do Real.
De modo muito peculiar o período que compreende os séculos XII e XIII tem uma existência das
duas formas de elaboração do conhecimento: Primeiramente a forma que se erige dentro da
concepção medieval e aristotélica de saber, onde a lógica, a filosofia e a argumentação dos saberes
se colocam de modo analítico de forma a produzir conhecimento, sistêmico, sobre o real. Este
modo determinante jogava a metáfora para o domínio do enfeite e adereço da retórica destituindo
ela de sua força criativa e explicativa. Paralelo a isso a tradição alegórica, como C.S. Lewis, já
enunciava uma tradição explicativa, de produção de conhecimento que ao mesmo tempo
mobilizava a retórica, mas que tinha em sua existência uma síntese do real que produzia um sentido
tão poderoso quanto a formulação aristotélica vitoriosa, a Alegoria que era capaz de mobilizar a
metáfora, através da matéria da tradição da história e acaba escrever em si mesmo um discurso
Histórico. Pretendo, dessa forma ler textos satíricos de forma a identificar o discurso Histórico
presente neles e iniciar uma nova frente de análise que cubra a necessidade, apontada por Otto
Brunner e mais tarde Georges Duby, de ler os textos conforme eles foram produzidos, em relação
ao seu léxico, mas também, considerar a forma como foi concebido para gerar uma porta de entrada
na concepção da formação discursiva, como aponta Luiz Costa Lima e não somente no discurso
final.

Representações da guerra ao terror através da história em quadrinhos


"Captain America: The New Deal
André Moreira da Silva
andremoreirads@yahoo.com

PALAVRAS-CHAVE: Árabes, Guerra ao terror, Capitão América, História dos Estados Unidos.

Este trabalho tem como objetivo observar a construção do indivíduo árabe presente na
história em quadrinhos (HQ) Captain America: The New Deal, publicada pela editora
estadunidense Marvel Comics, em 2002. Esta análise parte da percepção de discursos variados e,
em alguns casos, até contraditórios presentes na mesma obra. Pretende lançar um olhar que
possibilite notar tais personagens relacionando-os ao seu respectivo contexto histórico, tentando
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apreender na aventura em questão aspectos que denotem elementos pertinentes ao imaginário


americano compreendendo que as histórias em quadrinhos, como produtos de mídia e fenômenos
culturais, refletem discursos e tendências que se inserem e caracterizam contextos históricos e
geográficos. A HQ, escrita por John Ney Rieber e desenhada por John Cassaday, narra uma
aventura do Capitão América cerca de seis meses após os ataques terroristas de 11 de setembro de
2001, na qual um grupo extremista realiza uma ação no interior do território americano. Contendo
flashbacks que remetem tanto ao 11/09, quanto à Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a história
ora tenta estabelecer uma causa justa, ora questiona as ações e interferências estadunidenses ao
redor do mundo durante a segunda metade do século XX. Aqui, objetiva-se analisar a dualidade
da chamada guerra ao terror, ponderando sobre o discurso da busca por justiça, por um lado e, por
outro, a crítica à postura dos Estados Unidos nesse início de século. Trata-se de observar o rosto
dado ao inimigo do protagonista da HQ, assim como suas atitudes e justificativas, a fim de
sublinhar significações presentes no imaginário social americano representadas na obra em questão.
Além disso, pretende-se enfatizar a dualidade dos discursos e representações de Captain America:
The New Deal como reflexo de questionamentos oriundos dos debates públicos de então.

Yawar Mallku: a aculturação e alteridade do indígena boliviano


Cleonice Elias da Silva
cleoelias28@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Jorge Sanjinés, Povo indígena, 'aculturação', Yamar Malku, Cinema


boliviano.

Esta comunicação aborda alguns dos aspectos da produção cinematográfica boliviana, mais
especificamente, a produção do cineasta Jorge Sanjinés. Realizo uma análise do seu filme Yamar
Malku (1969) e apresento os principais pressupostos da teoria a respeito do cinema boliviano
desenvolvida por Sanjinés. O referido filme do cineasta também é chamado de La Sangre del
Cóndor. Em síntese, para Sanjinés, o cinema só pode ser realizado por meio de uma coletividade;
por essa razão, funda em 1966 o Grupo Ukamau, que contou, entre outras, com as participações
do roteirista Oscar Soria e do diretor de fotografia. Antonio Eguino. A produção do cineasta é
marcada pelo seu esforço de compreensão e representação do povo indígena da Bolívia.

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Narrativas de Reconstituição Histórica: A Invenção de um Rosto


Joslan Santos Sampaio
johistoria@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Cinema, Literatura, Invenção, Biografia.

Este artigo visa discutir como as narrativas de reconstituição de personagens históricos –


sejam elas a História, a Literatura, ou o Cinema, dentre outras – estrategicamente, fazem uso de
um percurso biográfico para construir uma sensação de homogeneidade, veracidade e identidade
no leitor. Entretanto, este percurso, é aqui entendido, enquanto uma narrativa discursiva sobre o
passado que, embora se refira a personagens e eventos “reais”, não pode retratar o passado tal
como aconteceu, justamente, devido ao seu caráter de narrativa. Dessa maneira, argumentamos que
a vida do personagem biografado vai ser construído a depender das relações e articulações do
narrador.

O sentido no Fim: a importância da morte na construção de sentido da


existência ficcional
Mariana Machado Rodrigues e Silva Martins
marianamrsmartins@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Existência, Ser-para-morte, Finitude, Balizamento literário.

Neste trabalho, pretendo analisar como o crítico literário inglês Frank Kermode buscou
atribuir literária e teleologicamente um sentido à existência, concebida, sob inspiração da filosofia
de Heidegger, como um intervalo entre o nascer e o morrer. Nessa perspectiva, o homem seria um
ser lançado no mundo, um ser-para-a-morte jogado no tempo e na história, fadado a conviver
constantemente com a consciência de sua finitude. Dessa forma, estaria desde sempre posta a ele
a questão de como dar um sentido a sua existência, em confronto com a dificuldade de que seu
balizamento ideal dependeria da delimitação de começos e fins definidos. Na literatura, contudo,
tal delimitação poderia ser construída. Estabelecidas concordâncias ficcionais de início e término
na vida dos personagens, os leitores ou até mesmo os próprios personagens seriam capazes de dar
um sentido àquelas existências. Pretendo refletir acerca da composição desses balizamentos
temporais na literatura, em obras como “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881), de Machado
de Assis, e “O Falecido Matias Pascal” (1904), de Pirandello, na perspectiva de uma construção de
sentido para a existência do homem como ser-lançado-para-a-morte. Em sua renomada obra “The

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Sense of an Ending” (1967), Kermode defende que, dada a tendência moderna de individualização
e um voltar-se para si por parte do homem, a concepção da morte também teria sido alterada.
Portanto, a resposta da literatura à realidade moderna teria sido concentrar-se no que havia ficado
implícito até então nos relatos ficcionais apocalípticos, ou seja, a morte individual como análoga ao
fim apocalíptico e universal. Esta visão moderna da escatologia teria suas origens, segundo ele,
ainda nos primórdios do pensamento cristão, como nas visões agostinianas dos terrores do Fim
último como figuras para a morte pessoal, do indivíduo. Para Kermode e, assim como ele, autores
clássicos como Santo Agostinho e Aristóteles, o homem não seria capaz de perceber-se fora de um
todo, fora do tempo, fora de sua narrativa, fora de sua vida. Por estar no “middest”, no meio, como
define Kermode, não haveria como se ter uma concepção mais ampla do significado da vida. Nesse
sentido, pretendo analisar como, na literatura, poderia buscar-se uma atribuição de sentido à
existência por meio de um balizamento temporal de início e fim da vida.

Vida e obra de Reinaldo Arenas: a saga de um escritor gay durante a


Revolução Cubana (1960-1990)
Jorge Luiz Teixeira Ribas
jorge_luiz_moa@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: História, Literatura, Memória.

A partir da autobiografia e obra literária do escritor cubano Reinaldo Arenas (1943-1990),


este trabalho analisa sua narrativa fazendo uma relação que envolve História, Literatura e Memória.
Investiga-se a narrativa do escritor, que se baseia numa vivência, e que, por isso mesmo, se
diferencia de outras, buscando reconstituir a experiência de sujeitos perseguidos durante a
Revolução Cubana por não se enquadrarem nos padrões de comportamento vigentes e que foram
esquecidos pela historiografia e pela memória coletiva. Por meio de obras literárias e da
autobiografia do autor, resgata-se fragmentos da experiência de indivíduos que tiveram sua forma
de viver e amar negadas, bem como os mecanismos utilizados por estes na construção de si, suas
práticas cotidianas e formas de expressar seus desejos, questões que, aliás, foram silenciadas pela
censura e esquecidas pela história oficial do regime. Por meio das obras do escritor investiga-se,
ainda, como a sociedade participou da perseguição aos homossexuais, compactuando com o
valores pregados pelo regime, configurando uma conjuntura de estigmatização e perseguição.

Aqui se utiliza dos benefícios da História Cultural, como o uso da Literatura pela História,
para valer-se da literatura como importante campo de investigação do passado, uma vez que a

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Literatura é uma importante ferramenta para acessar o passado que o escritor viveu, pois o texto
literário dá pistas sobre o horizonte e expectativas de uma época, representações e significados.
Soma-se a isso a análise de relatos autobiográficos, numa complexa relação entre História e
Memória, com o objetivo de identificar nas lembranças do escritor aspectos cotidianos da vida, a
vivência, sentimentos, medos e sonhos que envolvem a constituição da identidade do sujeito, como
se situa dentro do contexto estabelecido, sua relação com o regime e sociedade que o circunda,
configurando, assim, uma certa forma de contar a História, outras dimensões dos acontecimentos
emergem por meio de sua escrita.

“Da França ao Japão”, de Francisco Antonio de Almeida: narrativa de


viagem de um cientista brasileiro na segunda metade do século XIX
Jacques Ferreira Pinto
jacquesfp@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Narrativa de viagem, Século XIX, Oriente.

Nesta comunicação temos por objetivo realizar uma discussão a respeito do discurso sobre
o Oriente presente na narrativa de viagem “Da França ao Japão: Narração de viagem e descripção
histórica, usos e costumes dos habitantes da China, do Japão e de outros países da Ásia” de autoria
do engenheiro e astrônomo brasileiro Francisco Antônio de Almeida que, a bordo de uma missão
científica francesa, visitou localidades nos continentes europeu, africano e asiático na segunda
metade do século XIX. Nessa abordagem, em primeiro lugar, realizaremos uma breve exposição
sobre alguns aspectos descritivos que circundam o relato de viagem “Da França ao Japão”
sinalizando para detalhes a respeito de seu autor, da experiência vivenciada e da narrativa em si.
Em seguida, trataremos acerca da relação entre contexto histórico e relatos de viagem considerando
o recorte temporal entre os séculos XVIII e XIX e os correspondentes processos de
estabelecimento de relações entre Europa e o resto do mundo e a produção de literatura de viagem
de época. Por fim, analisaremos o que é narrado por Almeida em seu relato sobre o Oriente e os
nativos das regiões visitadas a partir da seleção de alguns trechos da fonte estudada. A viagem de
Francisco Antônio de Almeida, realizada em 1874, colocou o viajante em interação com diferentes
sociedades sendo considerada pela historiografia o primeiro contato direto de um brasileiro com o
Japão – local que marcava o destino final do percurso realizado. Tal experiência gerou um relato
de viagem, publicado na cidade do Rio de Janeiro em 1879, tecido por descrições etnográficas,
análises históricas, litografias e narração de episódios da viagem. Para a análise da narrativa,
consideramos o quadro teórico sustentado, fundamentalmente, nos estudos de Mary Louise Pratt
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sobre literatura de viagem a respeito de África e Américas produzida no recorte temporal


mencionado e o debate acerca da ideia de Oriente apresentado por Edward Said, além de
compreendermos também o relato de viagem enquanto um gênero híbrido que trafega entre
História e Literatura. Pretendemos, assim, analisarmos o discurso a respeito do Oriente, enquanto
uma categoria ampla que contempla África e Ásia, presente no relato de viagem em questão,
contribuindo para uma melhor compreensão a respeito das narrativas de viagem enquanto
importantes fontes para a História.

A história de um intelectual provinciano: a análise de Lindolfo Gomes no


viés da biografia intelectual
Fabiana Aparecida de Almeida
fabiana.almeidajf@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: História intelectual, Lindolfo Gomes, Biografia.

O presente trabalho pretende abordar, através da biografia intelectual, a vida de Lindolfo


Gomes (1875-1953) e sua importância para a cidade em que viveu grande parte de sua vida: Juiz de
Fora (MG). Professor, "homem de letras", folclorista, filólogo, historiador e jornalista, Lindolfo foi
acima de tudo um grande intelectual de seu tempo, muito conhecido e admirado em seu meio por
trabalhos em todas as áreas que atuou. Por isso, nosso objetivo é fazer aqui uma abordagem sobre
ele mas não de uma forma biográfica tradicional, e sim analisar seus feitos pessoais e profissionais
conectando-os com o contexto social e o pensamento de sua época para assim entendermos como
um professor que vivia em uma cidade provinciana mineira se destacou nacionalmente no cenário
cultural e intelectual de seu tempo e qual foi a sua importância para o pensamento literário, cultural
e preservacionista em Juiz de Fora durante a primeira metade do século XX.

Usos e Abusos da biografia na História: a trajetória de Magalhães Pinto


Esther Itaborahy Costa
esther.icosta@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Redes, Trajetória, Magalhães Pinto.

Recorrer aos estudos sobre biografia – ao analisar uma história de vida – nos permite
identificar o indivíduo em seu lugar social, suas redes, seus grupos e as diversas instituições que
este se insere a partir de suas relações com os demais. Para tanto, objetivamos compreender, a
partir da análise da trajetória política de José de Magalhães Pinto e levando em conta as redes na
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qual estabeleceu relações, como, um banqueiro de Minas Gerais ligado às elites do Estado foi um
dos fundadores da UDN – o partido de oposição a Vargas – e um dos principais líderes do Golpe
Civil-Militar de 31 de março de 1964.

Vida e Música do compositor Assis Valente


Tadeu Dulci Reis
tadeudreis@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Samba, Música Popular Brasileira, Carnaval.

O compositor baiano, José de Assis Valente, foi um personagem único na história da


música brasileira. Viveu a maior parte da vida no Rio de Janeiro, de 1928 até o ano de sua morte,
em 1958. Sua obra contém 155 composições gravadas e, dentro dessa produção, temos um aspecto
que chama bastante atenção. Sua visão positiva do negro. Porém, essa visão positiva, ao que tudo
indica, é um reflexo da vida do compositor. Em dois momentos Assis se diz vitima de racismo.
Em um deles, acaba compondo uma canção intitulada "Elogio da Raça". O outro, quase o impediu
de se casar. Segundo o compositor, o pai de sua futura mulher, não gostava de sua pessoa por dois
motivos: ser sambista (o que era sinônimo de malandro, pessoa sem "meio social") e ser negro. O
trabalho se propõe a analisar essa relação entre obra e vida e, se de fato, o que chamo de "visão
positiva do negro" aparece em sua obra musical como reflexo direto de sua trajetória de vida. Assim
como, entender de qual forma esse elemento aparece em sua obra musical.

Na terra dos lírios azuis: política colonial, relações interétnicas e a "questão


sul-africana" em Jess (1887), de H. Rider Haggard
Evander Ruthieri da Silva
evander.ruthieri@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: África do Sul, História e Literatura, Rider Haggard.

A mobilização da literatura como fonte de subsídios para as pesquisas históricas associa-se


a um momento de expansão das abordagens que os historiadores dispõem em seu afã de investigar
a experiência humana no tempo pretérito. Esta perspectiva encontra-se relacionada à capacidade
das narrativas literárias em expressar múltiplas vias de significação e interpretação do mundo social,
portanto, decorre a necessária mobilização da “operação historiográfica” para conectar textos
ficcionais a processos históricos. Este posicionamento teórico-metodológico, tributário à história
cultural e da cultura escrita, orienta o objetivo e problemática central do estudo em questão, o qual
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consiste na análise articulada entre relações interétnicas e política colonial no romance Jess (1887),
do literato britânico H. Rider Haggard (1856-1925). Gestado a partir das experiências do jovem
letrado junto à administração da Colônia de Natal e na condição de secretário de uma comissão
especial enviada à república bôer do Transvaal, o romance narra o triângulo amoroso entre um
soldado inglês, o Capitão John Niel, e duas jovens irmãs no Transvaal, a delicada Bessie e a
intelectual Jess Croft, por quem se apaixona durante um cerco militar na guerra sul-africana de
1880-1881. Por intermédio deste microcosmo de figuras sociais, Rider Haggard almejou abordar o
período de expansão econômico-territorial, o impacto de políticas imperialistas conflitantes nas
relações afetivas e, simultaneamente, as fragilidades e limitações dos projetos coloniais em vigência
na administração liberal. A análise integra a pesquisa de doutorado do proponente, a qual almeja o
escrutínio de visões contraditórias e complementares a respeito do território sul-africano,
interpretado pelo romancista enquanto espaço de revitalização política, unidade e constituição de
heróis viris ou aventureiros, mas simultaneamente de feminilização, ressentimento, declínio
imperial e miscigenação racial.

As recordações impertinentes de Isaías Caminha: relações entre história,


autobiografia e literatura na produção do escritor Lima Barreto
Carlos Alberto Machado Noronha
calhis2@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Lima Barreto, História, Romance, Autobiografia.

A presente proposta de comunicação visa analisar as relações entre história, autobiografia


e escrita de romance do literato Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922). Para tal,
selecionamos suas anotações pessoais que sinalizam seus projetos de escrita de uma história da
escravidão no Brasil bem como seus anseios de reconhecimento enquanto escritor, o romance
Recordações do escrivão Isaías Caminha e correspondências que evidenciam suas discussões acerca
da mensagem daquele romance. Desse modo, pretendemos discutir as experiências sociais do autor
Lima Barreto que o levaram a lançar o romance acima citado e sua proposta de contrapor-se às
premissas das teorias raciais predominantes em princípios do século XX e inserir protagonistas
negros na narrativa literária.

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Cultura, economia e política na América


Independente
Caroline Maria Ferreira Drummond
Mestrado
UFMG
Simpósio Temático

caroldrummond@gmail.com

Mahira Caixeta Pereira da Luz


Mestrado
UFMG
mahira.caixeta@gmail.com

Natália Iglésias da Silva Scheid


Mestrado
UFMG
iglesias.nat@gmail.com

Raphael Coelho Neto


Mestrando
UFMG
raphaelcneto@yahoo.com.br

Thiago Henrique Oliveira Prates


Mestre
UFMG
thoprates@gmail.com

Warley Alves Gomes


Doutorando
UFMG
warleyalvesgomes@yahoo.com.br

Proposta do Simpósio:

Busca-se, com este simpósio, reunir pesquisadores e interessados nas temáticas


pertencentes ao campo da historiografia da América e áreas afins, em seus aspectos políticos,
culturais e econômicos entre os séculos XIX e XXI. Várias são as possibilidades de discussões que
perpassam a História das Américas, entre elas os estudos com foco na cultura, como expressão
dinâmica das relações sociais e políticas. Com efeito, pretende-se atrair trabalhos que demonstrem
a grande pluralidade de manifestações artísticas que podem ser encontradas no continente, seja no
teatro, na literatura, no cinema, nas histórias em quadrinhos, na música, na novela televisiva e nas

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artes plásticas e conceituais. Nos interessam pesquisas que analisam as produções provenientes
tanto das elites econômicas e culturais, assim como aquelas produzidas por artistas e intelectuais
originários dos mais diversos estratos sociais, sendo suas obras de vanguarda ou não. Pretende-se
atrair também trabalhos que analisem o papel e envolvimento dos intelectuais – nas diversas
concepções do termo - na construção de identidades nacionais e projetos políticos e educacionais,
assim como que abordem as questões do engajamento e da resistência. Buscamos ainda congregar
pesquisas que partilhem uma compreensão multifacetada do político, levando em consideração as
complexas relações entre as dinâmicas culturais, valores, crenças, normas e representações com os
fenômenos políticos, assim como as conexões entre processos econômicos, projetos políticos e
transformações sociais. Dentro desta perspectiva múltipla, abre-se um leque de oportunidades para
se discutir as construções de identidade nacionais e continentais, assim como o multiculturalismo,
incluindo as aproximações e as peculiaridades políticas embutidas nas noções do que é constituir-
se latino-americano, indoamericano, hispanoamericano, dialogando também com o ideal pan-
americanista; os ideais de progresso, de civilização e os projetos técnico-científicos que
influenciaram e impactaram os modos de vida; as problemáticas da modernidade e modernização;
a História dos Estados Unidos e os diversos matizes de sua relação com a América Latina e Caribe;
os processos revolucionários latino-americanos; as guerras e as disputas fronteiriças; a consolidação
dos Estados Nacionais; os governos ditatoriais, as experiências autoritárias e os processos de
transição e construções da democracia; o exílio, a migração e as práticas transnacionais, assim como
a globalização e os processos econômicos neoliberais e, por fim, as lutas dos movimentos sociais e
identitários em distintos momentos e regiões das Américas.

Comunicações:

A Mobilização Intelectual Argentina Durante a Guerra Civil Espanhola


Douglas de Freitas Pereira
douglasfreitas77@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: História Intelectual, Guerra Civil Espanhola, Antifascismo.

A Guerra Civil Espanhola ocasionou calorosos debates ideológicos. A disputa entre


nacionalistas e republicanos mobilizou diversos grupos dentro e fora do país. No que tange à
intelectualidade, a mobilização se deu principalmente sob a bandeira do antifascismo. Intelectuais
de várias vertentes ideológicas, como anarquistas, socialistas, comunistas e liberais, uniram-se

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contra o mesmo inimigo, o fascismo, que representava para eles a ignorância e uma ameaça para a
preservação da cultura. Esse movimento extrapolou os limites geográficos da Espanha e levou a
mobilizações em vários países europeus, americanos e até mesmo na China. Tais esforços
ganharam concretude com a presença de delegações de vários países no II Congreso internacional
de escritores para la defensa de la cultura, realizado em Valência em 1937. Este trabalho tem como
proposta apresentar apontamentos iniciais dessas mobilizações intelectuais antifascistas durante a
Guerra Civil Espanhola na Argentina. Para isso, amparamo-nos tanto na análise da participação da
delegação argentina no já citado II Congreso internacional de escritores para la defensa de la
cultura, quanto nas publicações classificadas como revistas culturais argentinas, a exemplo das
revistas Claridad e Sur. Dessa maneira, acreditamos ser possível circunscrever as questões
suscitadas pela Guerra Civil Espanhola no universo intelectual argentino. Ao tomarmos as revistas
também como objeto, e encarando-as como local privilegiado de debate e disputa intelectual, torna-
se possível também mapear os trânsitos de ideias entre os intelectuais europeus e argentinos.

A crítica dialética de Antonio Candido e Leopold Zea: uma interseção


possível no horizonte latino-americano
Cairo de Souza Barbosa
kairu172@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Antonio Candido, Crítica Dialética, Leopold Zea, Identidade, Pensamento


Social Latino-Americano.

A segunda metade do século XX marca o alvorecer de um novo pensamento social nos


países de capitalismo dependente. Com a barbárie do holocausto e da bomba-atômica e a crise do
modelo civilizacional europeu, tal qual apontam Theodor Adorno e Max Horkheimer em Dialética
do Esclarecimento (1947), o esforço de se auto-definir a partir de parâmetros próprios ganha força
no horizonte latino-americano. Nesse sentido, o presente trabalho tem por objetivo central
mostrar, a partir de dois textos chaves de Antônio Candido – Literatura de dois gumes (1966) e
Literatura e Subdesenvolvimento (1970), o lugar da dialética local-universal na construção de uma
identidade do “subcontinente”, em uma interseção possível com o pensamento de Leopold Zea,
especialmente em seu livro intitulado El pensamento latino-americano (1965 [1976]).

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Sandinismo, de Augusto C. Sandino a Carlos Fonseca


Igor Santos Garcia
igorsangarcia@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Revolução Nicaraguense, FSLN, Sandinismo.

O trabalho pretende estabelecer uma relação entre o pensamento de Augusto César


Sandino, líder revolucionário nicaraguense que lutou contra as tropas invasoras dos Estados
Unidos nas décadas de 1920 e 1930, e o pensamento de Carlos Fonseca Amador, fundador da
Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) em 1961 e principal referência política dos
quadros revolucionários sandinistas. A partir da ação de Sandino e de suas convicções políticas é
possível identificar as influências do pensamento de Carlos Fonseca, conjuntamente com a grande
influência do marxismo na América Latina, principalmente após a Revolução Cubana em 1959. O
estudo da política defendida pelos sandinistas, tão pouco estudada no Brasil, deve voltar-se, a
princípio, para os dois líderes que serão aqui estudados, o primeiro - Sandino - como referência
histórica e moral da luta revolucionária, e o segundo - Carlos Fonseca - como o intelectual
responsável pela sistematização da política revolucionária da FSLN até sua morte em 1976.

Exílio e condição exílica nas autobiografias Fora do Lugar, de Edward Said


e O homem desenraizado, de Tzvetan Todorov
Fabrício Seixas Barbosa
fabriciosb14@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Edward Said, Tzvetan Todorov, Condição exílica, Conflito identitário,


exílio, intelectuais.

O presente trabalho analisa as similitudes e as diferenças presentes nas percepções do exílio


de Edward Said e Tzvetan Todorov a partir, respectivamente, de suas autobiografias Fora do Lugar
e O homem desenraizado, comparando o exílio enquanto fenômeno e experiência. Considerando
as distintas trajetórias de vida que culminaram no desterro, faz-se necessário sublinhar o contexto
sociopolítico vivenciado pelos intelectuais de modo a compreender as particularidades inscritas em
suas autobiografias. Dessa forma, torna-se possível entender as diferentes perspectivas que
perpassam a noção de exílio e condição exílica de cada intelectual. Por fim, este trabalho analisa,
por meio das obras citadas, o conflito identitário gerado pelo exílio.

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Imprensa político-partidária e a tradição trotskista na Argentina:


propaganda, leituras do político e identidade no jornal Solidaridad Socialista
Taillan Rivail Ismael de Miranda
taillanrivail@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Cultura Política, Imprensa Político-Partidária, Argentina, Trotskismo.

Este trabalho tem como objetivo analisar o jornal Solidaridad Socialista, identificando-o
como um vetor de cultura política socialista na Argentina dos anos 1980. Publicado entre 1982 e
1998 pelo Movimiento Al Socialismo (MAS), esse jornal elaborou discursos, leituras do mundo
político e projetos de sociedade que refletiram os valores e a identidade do mais expressivo rebento
da tradição trotskista na Argentina - o morenismo.

Trata-se de uma pesquisa em andamento que analisa, de um ponto de vista mais geral, a
imprensa político-partidária de esquerda em seu conjunto de elementos que informa a cultura
política de uma tradição socialista. Especificamente, o jornal Solidaridad Socialista é tomado aqui
como fonte/objeto para a compreensão da identidade do maior grupo trotskista da história - o
Movimiento Al Socialismo - que, em seu auge nos anos 1980, hegemonizou o espectro de esquerda
na Argentina e cuja experiência histórica tornou-se um referencial para várias organizações de
extrema-esquerda na América Latina atual, na medida em que as leituras e os métodos elaborados
por essa agremiação são encarados hoje no interior desses grupos como um acúmulo de experiência
militante, relevante para reflexões a propósito da revolução socialista. Este trabalho oferece
contribuições no campo da historiografia sobre história e imprensa, ao propor um estudo histórico
do político através de uma fonte outrora despercebida, ou utilizada de forma marginal, pelos
historiadores, qual seja: a imprensa político-partidária. Assim, lança mão do arcabouço teórico e
metodológico construído na esteira das discussões sobre a pesquisa histórica com a imprensa. Ao
mesmo tempo, busca analisar a propaganda política, as leituras do mundo político e a identidade
coletiva emanados pelo jornal Solidaridad Socialista, pois é no encontro dessas três categorias que
se torna possível vislumbrar a cultura política dos trotskistas do MAS.

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Allende e os generais. Golpe e Forças Armadas nas representações da


imprensa chilena nos meses finais da Unidade Popular
Emmanuel dos Santos
scoopbh@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Unidade Popular, Allende, Imprensa, Pinochet.

Esta apresentação tem como propósito analisar como as Forças Armadas foram
representadas pela imprensa chilena durante o período de crise final da chamada “via chilena ao
socialismo”. Além disso, discutiremos como eram veiculadas pela imprensa as posições de Salvador
Allende sobre o papel que os militares deveriam cumprir no governo socialista. Serão analisados e
discutidos vários aspectos dessa questão, sobretudo a reprodução constante da ideia de uma
pretensa neutralidade profissional, apolítica e constitucionalista da armada chilena. Para tais
análises, utilizaremos como fonte os editoriais e colunas políticas de vários jornais da grande
imprensa de Santiago do Chile, elegendo órgãos da imprensa tanto críticos quanto aliados ao
governo.

O Êxodo de Mariel nas páginas de Mariel – Revista de Literatura y Arte


Caroline Maria Ferreira Drummond
cris.maria.marcelo@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Exílio, Revistas, Cuba.

A proposta deste trabalho é analisar como o Êxodo de Mariel, de 1980, é interpretado em


Mariel – Revista de Literatura y Arte. Essa publicação foi fundada por escritores cubanos exilados
nos Estados Unidos, como Reinaldo Arenas e Reinaldo García Ramos, e circulou principalmente
em Miami e Nova York entre 1983 e 1985. Como revista literária, um dos seus principais objetivos
foi divulgar a literatura e a arte cubana – principalmente a produzida por marielitos, se colocando
como elo identitário entre os intelectuais exilados dessa geração, e conformando um ambiente
de sociabilidade intelectual. Além disso, pretendia-se alterar a opinião pública acerca do Êxodo
de Mariel e apresentar a perspectiva dos próprios marielitos sobre suas causas, significados e
impactos. A revista também era claramente contrária ao regime revolucionário cubano, e declarava-
se anticomunista, antitotalitária, defensora da democracia e das liberdades individuais.
Analisaremos como a ponte marítima Mariel – Cayo Hueso é interpretada na publicação, em seus
aspectos políticos e econômicos, assim como os debates sobre o tema veiculados na revista em
contraposição a outras publicações da época.
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A conexão revolucionária: a revista Areíto e o exílio cubano nos Estados


Unidos da América (1974-1992)
Thiago Henrique Oliveira Prates
thoprates@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Areíto, Estados Unidos, Exílio, Revolução Cubana, Cuba.

O objetivo deste trabalho é analisar as conexões transnacionais entre exilados cubanos nos
Estados Unidos e a ilha de Cuba por meio da revista Areíto, publicada em New Jersey entre 1974
e 1992. Em suas páginas, os colaboradores defenderam a Revolução, criticaram as agressões e a
hostilidade advindas do exílio cubano conservador, discutiram temas relacionados ao processo que
ocorria na ilha e buscaram forjar uma identidade cubana dentro dos Estados Unidos.

A tentativa de criar laços de pertencimento com a ilha a partir do exílio e o apoio à


Revolução levaram estes intelectuais a se aproximarem do ideal político de integração continental
proposto pelos revolucionários cubanos. Por este, Areíto dedicou grandes esforços para refletir
sobre as lutas revolucionárias na América Latina e sobre o sentido de uma latino-americanidade
nos Estados Unidos, pautada por um discurso de unidade política continental em oposição ao
imperialismo estadunidense e afinado com os ideais do internacionalismo revolucionário da
Revolução Cubana. Desta maneira, pretendemos observar como uma jovem geração de intelectuais
no exílio construiu uma rede de sociabilidade intelectual de apoio ao processo revolucionário
cubano e buscou superar as barreiras impostas pelo exílio através da formulação de uma identidade
cubana revolucionária que ultrapassasse as fronteiras.

Revista Araucaria de Chile: porta-voz do Partido Comunista chileno?


Raphael Coelho Neto
cris.maria.marcelo@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Ditadura Chilena, Partido Comunista, Exílio, Chile, Araucaria de Chile.

A indagação do título desta comunicação parte de duas possibilidades de análise das revistas
culturais propostas pela historiadora Regina Crespo, quais sejam, a de se estudar as revistas como
baluartes culturais, que se dedicariam à veiculação das produções culturais de determinado país ou
região; ou, por outro lado, de se atentar a esse tipo de periódico como porta-voz de algum partido
ou associação política, constituindo-se, nesse sentido, como impressos oficiais. Partindo dessas
informações e observando que uma condição não exclui a outra, ou seja, que uma revista pode ser
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igualmente cultural e política, propomos analisar a revista de exílio Araucaria de Chile sob a égide
do político, não obstante seja constatada sua importância enquanto revista cultural. Buscaremos
perceber sua vinculação estreita com as diretrizes estabelecidas pelo Partido Comunista de Chile
(PCCh) na resistência à ditadura de Augusto Pinochet, mesmo que a revista não tenha se assumido,
explicitamente, através de seu principal editor, Carlos Orellana, como porta-voz do partido.
Metodologicamente, analisaremos alguns artigos e editoriais de Araucaria de Chile que veicularam
valores da cultura política comunista chilena e, por conseguinte, possibilitaram interpretar que sua
ligação com PCCh estava além do suporte material e da direção da revista por membros do partido.

O dever dos intelectuais para com um mundo em revolução: o debate sobre


o papel do intelectual nas páginas da revista Tricontinental (1967-1975)
Lídia Maria de Abreu Generoso
lidigeneroso@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Compromisso Intelectual, Revista Tricontinental, Revolução,


Compromisso Político.

Tricontinental foi uma revista de caráter político criada durante a Conferência


Tricontinental de Havana, em 1966, por líderes de movimentos guerrilheiros e de libertação
nacional e intelectuais da África, da Ásia e da América Latina. A publicação teve como objetivo
principal discutir questões relevantes para os três continentes e lançou-se em defesa da revolução,
do socialismo, do anti-imperialismo e da solidariedade entre os povos dos três continentes como
principal via de ação política. Publicada em Havana a partir de 1967, a revista constituiu-se como
importante espaço para o debate e a reflexão, mobilizando a participação de importantes
intelectuais dos três continentes, bem como contribuindo para a circulação de ideias e para a
formação de redes de sociabilidade. Acreditamos que a pluralidade de autores e temas publicados
em Tricontinental e os contatos fomentados pela revista e pela Organização de Solidariedade entre
os povos de África, Ásia e América Latina (OSPAAAL), responsável por sua publicação, figuram
entre os principais aspectos que tornam essa revista tão interessante para o estudo histórico.

Neste trabalho, buscamos investigar a forma como o debate sobre o papel do intelectual se
deu em suas páginas. Acreditamos que a revista Tricontinental trabalhou para reforçar a
necessidade do comprometimento do intelectual para com os processos políticos de libertação
nacional e revolução socialista nos três continentes. Nesse sentido, atuou em consonante com os
princípios defendidos pela Revolução Cubana e o Primeiro Congresso Cultural de la Habana de
1968, ao publicar artigos sobre cinema, arquitetura, artes plásticas, teatro e produção acadêmica
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engajada e/ou comprometida. Buscaremos analisar não apenas a participação de intelectuais latino-
americanos na revista Tricontinental, mas também a de seus pares africanos e asiáticos; os contatos,
diálogos promovidos pela revista, bem como as aproximações e distanciamentos entre as posições
dos intelectuais que publicou.

Olhares sobre Havana: a cidade como arena cultural na literatura de


Guillermo Cabrera Infante e José Lezama Lima
Pedro Henrique Leite
pedrohenriqueleite@mail.com

PALAVRAS-CHAVE: Cabrera Infante, Havana, Cidades, Literatura, Lezama Lima.

Em: “As cidades ‘Periféricas’ como Arenas Culturais: Rússia, Áustria, América Latina”
(1995), o historiador Norte Americano Richard Morse propunha uma análise sobre cidades,
compreendendo-as como espaços de mudança na era moderna. Enxergando o ambiente urbano
como um lugar propício para experiências e vivências, ele se debruçava sobre regiões consideradas
então periféricas no globo, selecionando suas principais cidades, e pensando-as como importantes
arenas culturais. Essas cidades estariam repletas de atores que, munidos dos recursos intelectuais e
psíquicos disponíveis, seriam capazes de fornecer leituras complexas, e ao mesmo tempo originais,
desses mesmos espaços. Inspirando-se e amparando-se na perspectiva de Morse, este trabalho tem
por objetivo analisar as representações sobre Havana expressas na literatura de Guillermo Cabrera
Infante (1929-2005) e José Lezama Lima (1910-1976), levando em conta o duplo movimento entre
a vivência da cidade por esses autores e sua representação na literatura, tentando acessar não só as
reproduções literárias do espaço urbano, como também a condição humana existente nesse
ambiente. Tomo por base a metodologia da história comparada para dar conta de duas obras
consideradas marcos literários na carreira desses autores, são elas: Três Tristes Tigres (1965), de
Cabrera Infante, e Paradiso (1966) de Lezama Lima. Parto do pressuposto de que a capital cubana
tem um papel de destaque como arena cultural e política ao longo do século XX, e acredito que
acessar esse espaço através da literatura resulta num importante movimento que busca, sobretudo,
uma melhor compreensão de seus atores, de suas representações sobre a sociedade, e de sua
história.

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O filme Los pájaros tirándole a la escopeta (1984) e o feminino


Natália Iglésias da Silva Scheid
iglesias.nat@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Cinema, feminino, Cuba.

Nas décadas de 70 e 80 o cinema cubano criou e divulgou novas representações políticas e


culturais a respeito das mulheres cubanas. Representações essas que se enquadraram em um novo
discurso empreendido pelo governo revolucionário em relação a condição feminina e o papel que
a mulher desempenharia na nova sociedade. Acreditamos que tais mudanças se deveram, em grande
medida, à promulgação do Código da Família em 1975. Tal legislação, além de regular juridicamente
a instituição família em Cuba, preconizou a total igualdade legal entre homens e mulheres, seja no
âmbito familiar, social ou político. Percebemos que esta legislação gerou mudanças – tanto de
ordem social quanto política – para a sociedade cubana, já que, pela primeira vez, as mulheres
possuíram igualdade jurídica em relação aos homens. Dessa forma, na presente proposta de
trabalho, buscamos compreender quais foram as representações da mulher criadas pelo filmes
cubanos e a influência do Código da Família nessa criação, bem como entender os interesses por
trás disso. Para a investigação das questões acima levantadas, partimos da análise do filme Los
pájaros tirándole a la escopeta (1984), que foi dirigido por Rolando Díaz e produzido pelo Instituto
Cubano del Arte e Industria Cinematográficos, o ICAIC. Escolhemos esse filme não apenas por
ter sido lançado após a promulgação do Código da Família mas, também, por tratar de maneira
intensa a condição feminina e o papel que a mulher ocupava na sociedade cubana, assim como
todas as especificidades a isso atreladas.

O romance da Revolução Mexicana: ficção e autobiografia entre a ideologia


e o mito
Warley Alves Gomes
warleyhistoria@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Memórias, Revolução Mexicana, Literatura.

O presente trabalho analisa as características do chamado "Romance da revolução


Mexicana" - nome dado ao conjunto de romances publicados no México que abordam o tema da
Revolução iniciada em 1910 -, dando ênfase para as obras de cunho memorialístico, e as relações
entre estas e a ideologia oficial proposta pelo Estado e por intelectuais mexicanos a partir da década

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de 1920. Busca-se também explorar as diferenças entre ideologia e mito, de modo a refletir sobre
o lugar do Romance da Revolução Mexicana, tanto em relação às distintas ideologias circulantes
no México durante a primeira metade do século XX, quanto em relação ao “mito da Revolução
Mexicana”.

Cidade e literatura: Uma breve viagem por Buenos Aires


Daiana Pereira Neto
daianapneto@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Domingo Faustino Sarmiento, Literatura Argentina., Buenos Aires,


Ezequiel Martínez Estrada, História Argentina.

O objetivo deste trabalho é analisar como Domingo Faustino Sarmiento e Ezequiel


Martínez Estrada vivenciaram e compreenderam a cidade de Buenos Aires em alguns de seus
escritos. Busco assim, a partir da comparação entre as obras de ambos, observar mudanças e
continuidades no que se refere à metrópole argentina. Para isso, parto principalmente das
observações feitas por Sarmiento em Facundo ou Civilização e Barbárie (1845) e em artigos do
mesmo período, e por Martínez Estrada em Radiografia de la Pampa (1933) e em La Cabeza de
Goliat (1940).

"Cristianismo Revolucionário": um estudo de caso da Revolução Sandinista


através de trechos da obra de Gioconda Belli
Maíra Máximo Nascimento
mairmnascimento@gmail.com

Stella Ferreira Gontijo


sfgontijo@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Teologia da Libertação, Revolução Sandinista, História e Literatura,


História Latino-Americana, Gioconda Belli.

Este trabalho tem como objetivo discutir a presença do cristianismo - através,


principalmente, da influência da Teologia da Libertação - na Revolução Sandinista. Propomos, para
essa discussão, a análise de trechos da obra de Gioconda Belli, proeminente intelectual
nicaraguense, reconhecida pelo seu engajamento na luta revolucionária, por seu papel dirigente na
Força Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) e como líder da Comissão Político-Diplomática
do governo sandinista. Como escritora e poetisa ganhou diversos prêmios, dentre eles o

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reconhecido Premio Casa de las Américas, em 1978, pelo seu livro Línea de Fuego. Em várias de
suas obras, Belli trata sobre as diversas transformações vividas pela Nicarágua à medida em que se
dava o processo revolucionário, bem como as transformações pelas quais ela mesma passou
durante esse processo. A Revolução Sandinista foi o processo de luta liderada pela FSLN contra a
ditadura de Somoza e contra o imperialismo norte-americano sobre a Nicarágua. Só é possível
compreender a luta revolucionária nicaraguense, bem como seus desdobramentos, destacando o
contexto político, econômico e social vivido por aquele país na década de 1960. Muitos estudiosos
compreendem o processo revolucionário nicaraguense como uma continuação da Revolução
Cubana, levando em consideração a proximidade geográfica dos dois países, bem como a sua
relação com os EUA e o contexto internacional de Guerra Fria.

A teoria marxista tem no continente latino-americano uma variedade de interpretações e


apropriações que, buscando adequar o marxismo às realidades da América Latina, fizeram surgir
diversas teorias e movimentos sociais dotados de singularidades. Por volta dos anos de 1960, surge
a Teologia da Libertação, uma corrente de pensamento/movimento social que une marxismo e
cristianismo. No final da década de 1960 surgem na Nicarágua as primeiras comunidades de base
ligadas à Teologia da Libertação, destacando-se a comunidade Solentiname, fundada pelo padre
Ernesto Cardenal. Ao longo da década de 1970, a FSLN vai se aproximando das Comunidades
Eclesiásticas de Base (CEBs) e os seus quadros passam a ser compostos por um número
significativo de clérigos, além de jovens estudantes da Universidade Católica da Nicarágua. Com
este trabalho, nos propomos a elucidar a influência da Teologia da Libertação na Revolução
Sandinista e debater a presença do cristianismo como elemento catalisador e carregado de
significados políticos durante esse processo.

Duarte da Ponte Ribeiro e as impressões sobre o tratado de aliança de


24/03/1843 entre o Império do Brasil e a Confederação Argentina
Cristiane Maria Marcelo
cris.maria.marcelo@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Confederação da Argentina, Império do Brasil, Duarte da Ponte Ribeiro.

Por uma série de razões e interesses, a década de 1840 foi marcada pelo acirramento das
relações entre o Império do Brasil e os Estados platinos. As fronteiras abertas da província de São
Pedro e o envolvimento dos chefes farrapos nas disputas políticas da República Oriental e da
Confederação Argentina acabavam funcionando como uma correia de transmissão dos conflitos

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da região para dentro do território brasileiro. Atuando como ministro residente junto à
Confederação Argentina, entre 1842 e 1843, Duarte da Ponte Ribeiro testemunhou um capítulo
dessas desavenças e teve participação direta nas discussões de um tratado ofensivo e defensivo
entre o Império do Brasil e o governo de Juan Manuel de Rosas para desarticular os seus respectivos
inimigos. Levando em consideração o complexo quadro de interesses e alianças que marcou o
processo de construção dos Estados do antigo vice-reino do Rio da Prata e o lugar ocupado por
Ponte Ribeiro, o objetivo desta comunicação é explorar a visão do diplomata sobre a não-
ratificação daquele acordo de aliança pelo chefe portenho e as consequencias daí advindas.

A revista Chiapas e o debate intelectual em torno do Exército Zapatista de


Libertação Nacional (1995-2004)
Mahira Caixeta Pereira da Luz
mahira.caixeta@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Intelectuais, Movimento Social, Revista, EZLN.

Este trabalho se propõe a investigar a revista "Chiapas", que foi uma coedição produzida
pelo Instituto de Investigaciones Económicas (IIEC), da Universidad Nacional Autónoma de
México, em parceria com as Ediciones Era. A publicação, que contou com a direção da economista
Ana Esther Ceceña, circulou no formato digital e impresso, tendo sua duração compreendida entre
os anos de 1995 e 2004. Os intelectuais que a produziam tinham como objetivo inicial analisar a
formação do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) e como sua atuação afetava o
estado de Chiapas e a nação mexicana. Contudo, paulatinamente, a revista ampliou o seu debate e
passou a problematizar diferentes assuntos, os quais podem ser agrupados em três grandes temas:
as realidades indígenas, os diferentes movimentos sociais e a adoção do neoliberalismo. Nos
interessa analisar as interpretações que os colaboradores da revista construíram acerca do EZLN e
de que modo tais interpretações suscitaram um debate intelectual nos seus volumes em torno dos
temas acima elencados. Fazem parte do nosso enfoque a problematização do EZLN enquanto
movimento social de base indígena; bem como a discussão acerca do neoliberalismo e, por fim, a
problematização sobre as relações que a intelectualidade de esquerda estabelece com os
movimentos sociais na América Latina.

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A Cisplatina na Diplomacia Entre as Províncias Unidas do Rio da Prata e o


Império do Brasil (1825-1828)
Luan Mendes de Medeiros Siqueira
luan.mendes94@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Cisplatina, Províncias Unidas do Rio da Prata, Estado Nacional, Império


do Brasil.

Este trabalho é fruto da pesquisa de mestrado da qual eu realizo cujo tema é: Estados em
formações embrionárias: As relações internacionais entre o Império do Brasil e as Províncias
Unidas do Rio da Prata durante a Guerra da Cisplatina (1825-1828). Tal pesquisa destina-se pensar
a diplomacia nos dois recém estados no primeiro conflito a nível local e regional entre os dois
governos na condição de independentes. Os trabalhos que existem sobre política externa entre os
referidos países nesse conflito platino são muito poucos tanto na historiografia brasileira como na
argentina e uruguaia. Debruçar-se sobre o plano exterior destes recém Estados Independentes na
Questão Cisplatina é compreendermos também os seus reais interesses de expansão de territórios
sobre a Banda Oriental, intrinsecamente ligado à configuração da formação de seus respectivos
Estados nacionais. Tanto o império do Brasil como as províncias do Prata estavam em processo
de centralização política e uma dos aspectos centrais que marca essa circunstância é a construção
do Estado Nacional, principalmente no que diz respeito ao fator da Territorialidade. Este último,
por sua vez, foi um dos temas que geraram maiores discrepâncias por parte dos dois governos.
Mais do que isso, falar de qualquer conflito no decorrer de todo o século XIX que se remeta a
região do Rio da Prata ou em todo o Estuário Platino, não tem como de deixar de abordar a sua
importância comercial, econômica e geopolítica. Por isso, falar da Guerra da Cisplatina é entender
as raízes das rivalidades entre Brasil e Argentina, países que a todo momento e até hoje buscam
uma hegemonia sobre a área do Prata. Neste trabalho, temos como referencial teórico o conceito
de Relações Internacionais dos cientistas políticos Jean Baptiste Duroselle e Pierre Renouvin.
Segundo eles, esse termo engloba uma série de elementos, dentre eles: sendo alguns deles:
territorialidade, condições demográficas, relevo, soberania e fronteiras políticas. Uma das grandes
contribuições desses autores foi tornar esse termo mais abrangente, não ficando restrito apenas no
conceito história diplomática, dando a ideia de que a diplomacia se dava somente em situações de
guerra ou negociações afins. Por outro lado, o termo relações internacionais, problematizado e
historizado por Renouvin e Duroselle, é muito mais amplo do que essas questões, alargando suas
dimensões no plano geopolítico e se consolidando cada vez mais nos assuntos de política externa.

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Adhemar de Barros: o sujeito e as contradições do político


Henrique Afonso Esteves
henrique_afonsoesteves@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Getúlio Vargas, Adhemar de Barros, Oligarquia cafeeira, Partidos


Políticos, Estado de São Paulo.

Adhemar de Barros é filho digno da elite paulista. Nascido no interior do estado, embora
envolto às atividades cafeicultoras de seus pais, graduou-se médico, aperfeiçoando-se na Europa
de onde retornou renomado doutor. Ao desembarcar, encontrou seu estado bipartido; de um lado
a oligarquia tradicional cafeeira apoiando-se no Partido Republicano Paulista (PRP), do outro, a
burguesia urbana paulista em ascensão, fundadora do Partido Democrático (PD). Adhemar alistou-
se na Revolução Constitucionalista de 1932 e devido ao seu desempenho e capacidade de liderança,
chegou ao fim do conflito armado como Capitão Médico, mas sem a vitória. Com forte apoio da
família, aderiu à causa perrepista protagonizando uma oposição ferrenha a Armando de Sales
Oliveira (PD), interventor paulista. Em suma, o ponto que motivava suas críticas, propagadas entre
as assembleias de 1933 e 1934, era o alinhamento do então interventor aos anseios do ‘ditador’
Vargas como forma de retribuição pela nomeação, justamente o que Adhemar fez mais tarde,
quando aceitou, do próprio ‘ditador’, a interventoria federal no Estado Novo. Convém enxertá-lo
de valores imorais e descrevê-lo como traidor, ou compreendê-lo enquanto político e articulador?
Das disputas nas assembleias até 1937, este recorte perpassa quase cinco anos em que Adhemar de
Barros movimenta-se de maneira não previsível. Sendo assim, nosso estudo opera sob a luz das
discussões teóricas de René Rémond e Serge Bernstein. Tais discussões oferecem uma renovação
metodológica no campo da História Política e nos permitem compreendermos o protagonismo e
a complexidade das ações dos sujeitos, evitando transformá-los em personagens míticos, pela
descrição exacerbada de suas biografias, ou normatizá-los, através da origem de seus partidos.
Seguindo as propostas teóricas, visamos partir de uma análise singular das ações políticas do sujeito,
para contribuirmos à construção da História de caráter geral. Adhemar de Barros apresenta-se à
pesquisa enquanto político que, por sua rede de relações, extrapola os limites impostos pelas siglas
partidárias e se adapta às variadas condições que lhe convém, assim como, enxergamos em seu
partido, o distanciamento entre sua origem e seu discurso, denominado campo de mediação pelos
autores referenciados. Portanto, as normas que prendem o sujeito ao seu partido e seus discursos,
não se fazem viáveis à construção da História, tampouco corresponderão às expectativas dos que,
equivocadamente, assim o analisam.
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Poder e fé na Antiguidade Tardia e na Idade Média

Aléssio Alonso Alves


Doutorando
UFMG
Simpósio Temático

alessioaalves@gmail.com

Felipe Augusto Ribeiro


Doutorando
UFMG
felipeaur@gmail.com

Letícia Dias Schirm


Doutoranda
UFMG
letschirm@gmail.com

Caroline Coelho Fernandes


Mestranda em História.
UFOP- Universidade Federal de Ouro Preto
carolfernandes1989@yahoo.com.br

Stephanie Martins de Sousa


Mestranda em História.
UFOP- Universidade Federal de Ouro Preto
stephannemartins@hotmail.com

Proposta do Simpósio:

A proposta desse Simpósio Temático é consolidar os Encontros de Pesquisa em História


da UFMG como espaço para debate, meio de intercâmbio, consolidação e expansão das pesquisas
sobre a Idade Média realizadas no Brasil. Entende-se que eventos desse tipo são importantes para
aprofundar as reflexões e os diálogos historiográficos, bem como apresentar novas fontes ou
abordagens ainda pouco conhecidas. O objetivo principal é contribuirmos para a compreensão das
relações entre poder e fé nos períodos convencionados como Antiguidade Tardia e Idade Média.
As comunidades políticas desses períodos teriam possuído especificidades no que diz respeito ao
exercício do poder e ao lugar que a crença cristã ocupava nas relações cotidianas. Reflexões
relacionadas à estruturação desses dois tópicos, em suas múltiplas dimensões, permitiriam a
compreensão dos discursos construídos em torno de diversas questões, como o “Outro”, a magia,
a criação artística, o gênero, a justiça, o governo urbano, o Império, entre outros. A temática
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proposta, portanto, é bastante ampla e possibilita a inclusão de problemáticas, regiões e tempos


diversos. Propomos que seja realizado um debate interdisciplinar, ancorado na percepção do tema
pela História, o que permita a troca experiências entre pesquisadores que se dedicam ao estudo
dessas épocas em áreas do conhecimento como teologia, direito, artes, literatura, linguística,
filosofia e afins. A metodologia adotada pelo Simpósio Temático será a apresentação de
comunicações, agrupadas pelos coordenadores e tendo como base a proximidade temática, seguida
por debates, de forma que possibilite a participação dos ouvintes.

Comunicações:

Antissemitismo em debate: a atuação do bispo visigodo Isidoro de Sevilha


(562-636) e o reverberar de sua literatura Adversus Iudaeos
Cristiane Vargas Guimarães
cristianevargas.g@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

Para muitos, escrever sobre antissemitismo ainda parece um terreno arenoso devido à
amplitude dos debates que são trazidos à baila. Contudo, não podemos deixar de identificar e
analisar esse fenômeno de longa duração apenas pelas inquietações que acarreta. Ao estudarmos
os textos produzidos pelo bispo Isidoro de Sevilha (562-636) e entrecruzarmos com a produção
legislativa gótica, temos a oportunidade de investigar como é edificada a estigmatização do judeu
como povo deicida e a extensão dessa marginalidade também aos conversos de origem judaica.
Tendo escrito em um momento de intensa instabilidade político-religiosa do Reino Visigodo, visto
que a conversão ao cristianismo niceno era um fato recente (589), a produção Adversus Iudaeos
do sevilhano apresenta uma carga extremamente virulenta ao abordar a questão judaica e evidencia
que regnum et ecclesia estavam juntos no projeto de erradicação do judaísmo de dentro das
fronteiras visigodas.O impacto de suas obras sobre a patrística e também sobre compêndios
legislativos (canônicos e civis) já fora reconhecido por historiadores como Bat-Sheva Albert e
Manuel Cecile Diaz y Diaz, quando examinaram as reapropriações que suas ideias sofreram
gerando um amadurecimento do ódio contra a comunidade judaica ao longo dos séculos.
Concordamos com Jean-Claude Schmitt quando assevera que o historiador, conscientemente ou
não, faz para o passado perguntas que a sua própria sociedade lhe dirige e, assim, verificamos a
ampliação do campo de estudo da intolerância religiosa medieval se apresentar de modo fulcral

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para o entendimento da sistematização dos discursos de ódio e da violência na atualidade. A


historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro, em seu livro Dez mitos sobre os judeus, ratifica que essa
construção imaginária do judeu deicida foi sendo reafirmada e renovada com o passar do tempo e
contribuiu para o fortalecimento da ideia de um iminente e generalizado “perigo judaico”. O nosso
estudo sobre a construção de uma discretione iudaeorum (diferença judaica) nas obras do
hispalense demonstra, já no século VII peninsular, que os ataques cristãos aos judeus e conversos
superavam a barreira teológica e gravitavam em torno de um antissemitismo prático. Portanto, a
investigação do antissemitismo medieval amplia o espectro de análise de nossa sociedade
contemporânea a partir do momento que identificamos como são estruturados os discursos
intolerantes que visam à marginalização de certos grupos sociais.

O “problema” da cavalaria: uma discussão sobre os conceitos de Cavalry e


Chilvalry e suas implicações para a pesquisa em português
Luiz Felipe Anchieta Guerra
anchietaguerra@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

A Cavalaria é fundamental para o entendimento dos períodos medievais, e, portanto, sua


menção está presente em quase qualquer produção sobre o medievo. No entanto, não há palavra
específica para descrevê-la e separá-la, objetivamente, de cavalaria. Essa ausência dificulta a
produção historiográfica em português, bem como pode comprometer a tradução de obras. Este
trabalho pretende ser uma análise do termo cavalaria e dos dois sentidos nele contidos: cavalaria
(cavalry) - referente a qualquer grupo de combate montado - e Cavalaria (chivalry) - específico dos
icônicos guerreiros da tradição cavalheiresca medieval - procurando conceitua-los e diferencia-los
com base nas obras de Jean Flori e Dominique Barthélemy. Bem como discutir os problemas e
implicações, para historiografia medieval de língua portuguesa, da falta de um termo que permita
fácil distinção entre esses conceitos.

Tendo como base a proposta de história dos conceitos de Koselleck e fazendo uso do
procedimento metodológico de “Seleção” Ausgrenzung, procura-se fazer um levantamento de
termos referentes à Cavalaria em fontes ibéricas, a partir da seguinte documentação: o Livro dos
Feitos do rei Jaime I e O livro da Ordem de Cavalaria de Ramón Llull (ambos do século XIII).
Assim, busca-se catalogar e estudar as diferentes formas utilizadas e procura-se traçar um histórico

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deste vocabulário, delimitando a existência – ou não – de um termo “de época” equivalente à


Chivalry.

A formação das primeiras ekklesiai cristãs no contexto de integração


mediterrânica
Ana Paula Scarpa Pinto de Carvalho
anacarvalhohist@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

A recente abertura a diferentes perspectivas analíticas acerca dos estudos sobre


Mediterrâneo e Império Romano têm suscitado a revisitação de temas tradicionais atrelados à
hegemonia romana e suas razões no mundo antigo. As categorias integração, identidade, ordem e
fronteira passam a figurar, por sua vez, como conceitos-chave para se pensar a consolidação do
Império Romano enquanto um processo ligado a um contexto mais amplo de integração
mediterrânica ao longo de séculos. Com a tentativa de compreensão dos elementos que davam
“coesão” à heterogeneidade imperial, assim como das causas e dos momentos em que esta
“coesão” foi posta em risco, ganham destaque análises voltadas ao entendimento das dinâmicas
políticas, sociais e culturais que permeavam as diversas sociedades do Império. Dessa forma, tendo
como pano de fundo o debate sobre Mediterranização, abordaremos mais especificamente o
processo de surgimento das primeiras manifestações do que, posteriormente, chamou-se de
Cristianismo, como um momento importante para se discutir as problemáticas acima. Para isso,
buscaremos contextualizar os primeiros discursos apostólicos surgidos em meados do século I da
Era Comum, assim como analisaremos fontes ligadas ao surgimento dos primeiros grupos cristãos
– como as epístolas paulinas e os evangelhos canônicos. Partiremos da análise desses textos com a
intenção de perceber a atuação apostólica, com destaque à paulina, na delimitação gradual das
fronteiras socioculturais internas e externas dessas ekklesiai. Com isso, discutiremos a possibilidade
de abordar a construção narrativa desses escritos não apenas à luz das questões conjunturais que
os formaram, mas também a partir dos diálogos e contendas mais profundas que estabeleceram em
relação à ordem simbólica de seu mundo conhecido.

Volsungos: Entre a literatura e a historia nas sagas islandesas


Thiago Lima Pereira
thiago_limapereira@hotmail.com

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PALAVRAS-CHAVE:

As sagas Islandesas são fontes inestimáveis para termos um vislumbre de como eram as
sociedades do medievo Escandinavo, unicamente para estabelecer uma facilidade didática vamos
referir a estes povos pelo termo “viking”. Essa analise será feita principalmente na Saga de
Volsungos porem a metodologia aplicada pode se estender as demais sagas, tendo em vista que a
metodologia aplicada deve ser capaz de identificar esses traços culturais narrados nesse tipo de
literatura. Outra característica que podemos estudar nas sagas que é diretamente relacionado com
essa forma de escrita é a figura do herói e sua representatividade. Além de permear a importância
da religião ligada diretamente com esses personagens, já que sempre é reforçada uma ligação
genealógica dessa família com os Deuses. O grande diferencial que é o foco principal da discussão
é inclusive como que se da essa dinâmica paga escrita em um contexto totalmente cristianizado,
tanto as colônias vikings e a Europa como um todo na época. A hipótese é que as Sagas Islandesas,
apesar de fonte inestimável para compreendermos o medievo escandinavo, está falando através do
olhar Cristão. Então essa história contada já é vista através de um outro prisma podendo assim, ser
tendencioso em certos aspectos. Objetivos: 1. O principal objetivo do projeto é entender a
dinâmica entre literatura e construção de identidade no contexto em que as sagas são criadas. 2. A
influência dos cristãos ao contarem a história dos vikings e os motivos que os levaram a aceitar a
subjugação dos seus Deuses.3. Os motivos Políticos que levaram a corte de Hákon (principal líder
islandês na época de criação das Sagas.) a criarem historias aproximando culturalmente do resto da
Europa.4. Comparativos entre o Herói apresentado na saga e sua contraparte apresentada na Edda
Maior.

O Batistério de Pádua: uma abordagem imagética da cultura citadina baixo-


medieval
Pamela Emilse Naumann Gorga
pnaumanngorga@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Religião Cívica, Cultura Visual, Culturas Políticas, Batismo.

O presente trabalho tem como objetivo aprofundar a discussão do conceito de religião


cívica no contexto das comunas italianas da Baixa Idade Média a partir do ritual do batismo. Para
tal fim, basear-nos-emos no específico caso da cidade de Pádua e no recinto que albergava dito
ritual, leia-se, o batistério da catedral. Adornado na sua totalidade pela obra do pintor Giusto
de´Menabuoi durante o poderio senhorial de Francesco I da Carrara, os seus afrescos brindam-nos

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importantes indícios da vida cívico-religiosa paduana dando vida, entre outras coisas, a personagens
ícones para a cidade. Contudo, não é o nosso intuito abordar a fonte imagética como expressão de
um determinado estilo artístico, senão como um documento histórico que pode trazer indícios
sociais, políticos e culturais à historiografia medievalística. Por conseguinte, com base em uma
metodologia que concilia três principais vertentes, a saber: a antropologia, a cultura visual e a cultura
política, procurar-se-á confrontar as obras imagéticas do batistério com fontes de outra natureza
(crônicas, sermões, descrição do ritual), na busca por uma manifestação que expresse a simbiose
entre a política citadina paduana e o cristianismo medieval durante o poderia da família Carraresi.

Reflexões Sobre a Relação Entre Poder a Moda nas Leis Suntuárias da


Península Ibérica no Século XIV
Thaiana Gomes Vieira
thaianavieira@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Leis suntuárias, Moda, Idade Média.

O presente trabalho é elaborado sob a orientação da Professora Maria Claudia Bonadio, da


Universidade Federal de Juiz de Fora. O mesmo refere-se às reflexões da minha pesquisa individual,
com a finalidade de redigir a dissertação do mestrado em Artes, Cultura e Linguagens na linha de
pesquisa “Arte e Moda: História e Cultura”. O objetivo não é realizar uma simples descrição linear
sobre a história da moda, mas pensar a moda como objeto representativo da história, pois se articula
a diversos fenômenos sociais. Nessa comunicação vamos tratar da moda na Baixa Idade Média na
Península Ibérica, a partir de leis suntuárias, no caso as atas cortes de Valladolid de 1351 e 1385,
especificamente sobre o que regulamentam com relação à aparência. Considerando a vestimenta
um fenômeno completo, como apontado anteriormente, o estudo de leis que tratam desse aspecto
é legítimo e permite analisar relações ainda pouco exploradas. Em muitos casos essas leis, que
normatizavam sobre o consumo, não tiveram êxito no objetivo de controlar o luxo desmedido.
Entretanto, são relevantes para compreender e constatar a utilização de certas peças do vestuário,
de diversos adornos e até de cuidados pessoais, afinal nas normatizações são definidas com riqueza
de detalhes o que poderia ser usado ou não, conferindo-nos dados sobre as tendências em
diferentes camadas sociais.

O período da Baixa Idade Média é bastante intenso e fecundo em normatividades, e ainda,


momento de surgimento do que consideramos moda. As vestimentas são, nesse momento,
representações sócio-políticas e as leis suntuárias reconhecem e registram as diferentes condições

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dos habitantes da comunidade. Desse modo, tratar do controle exercido pelas autoridades na
sociedade da Baixa Idade Média na Península Ibérica por meio das vestimentas é pertinente e tema
pouco explorado. Analisamos o que a lei outorga e porque a mesma fora criada. Para pesquisar as
leis utilizamos a análise retórica, em que destaca-se a figura retórica utilizada nos textos, é adequado
para textos jurídicos. Para investigar as circunstâncias de produção do texto, o emissor e que lugar
social e político ele ocupa, a região de produção, as motivações para elaboração das fontes, a ação
de editores nas mesmas, entre outros, utilizamos a análise da historiografia sobre o tema. As
conclusões estão abertas, mas as reflexões apontam para motivações econômicas e sociais, no
sentido de manutenção da hierarquia vigente, para elaboração das leis.

Reflexões iniciais acerca da santidade no Pasionario Hispánico e a


construção de um perfil de santo mártir nas paixões visigóticas escritas entre
o século VI e o princípio do século VIII
Flora Gusmão Martins
flora_gusmao@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Martírio, santidade, Pasionario Hispánico.

A presente comunicação faz parte de uma etapa inicial de nossa pesquisa de mestrado, na
qual pretendemos construir um perfil de santidade martirial a partir de uma análise comparativa
das paixões escritas no período de hegemonia do reino visigodo (VI - princípio do século VIII),
relacionando-o ao processo de fortalecimento da instituição eclesiástica visigoda. Neste trabalho
objetivamos, por um lado, valorizar a discussão bibliográfica sobre martírio e santidade,
apresentando os principais autores estudados, e, por outro, refletir sobre este fenômeno nas paixões
visigóticas do período mencionado, a partir de uma primeira análise da fonte por nós estudada, o
Pasionario Hispanico. Este documento é uma obra litúrgica que reúne paixões de diversos períodos
diferentes, do século III ao século XI, mas que começa a ser compilado no século VII, momento
em que a liturgia visigoda passava por um processo de unificação. Dentro deste documento
selecionamos nove paixões: Leocádia, Eulália de Mérida, Eulália de Barcelona, Justa e Rufina, Félix
de Gerona, Justo e Pastor, Vicente, Sabina e Cristeta, Inumeráveis de Zaragoza e Mancio.

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A Defesa das Imagens de São João Damasceno: Uma Defesa Também do


Poder Imperial
Caroline Coelho Fernandes
carolfernandes1989@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Damasceno, Poder Imperial, Iconoclastia.

A chamada controvérsia iconoclasta foi uma batalha em torno das imagens religiosas que
ocorreu em Bizâncio entre os séculos VIII e IX, que culminou na destruição das mesmas e na
proibição de seu culto. Teve início em 726 sob o comando do imperador Leão III e fim em 843,
com o chamado “Triunfo da Ortodoxia”, sob o comando da Imperatriz Teodora. Na primeira fase
que vai de 726 a 787, data esta que teve o primeiro restabelecimento do culto das imagens com a
imperatriz Irene, São João Damasceno surgiu como o maior defensor das imagens e seu culto.
Assim, nosso objetivo neste trabalho é expor e analisar os principais argumentos utilizados por
Damasceno nos seus tratados sobre as imagens divinas, para a legitimação das mesmas e do seu
culto na primeira fase da iconoclastia e, também, demonstrar que esses mesmos argumentos foram
utilizados para a defesa de uma determinada expressão do poder imperial em Bizâncio.

Procópio de Cesareia e a construção dos retratos imperiais na obra


"História das Guerras"
Stephanie Martins de Sousa
stephannemartins@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Líderes bárbaros, Procópio de Cesareia, Justiniano, Reconquista.

Procópio de Cesareia (490-562) foi um historiador bizantino que escreveu a coleção de


livros intitulada História das Guerras, publicada entre 551 e 554. Nessa obra são narradas as guerras
de reconquista promovidas pelo imperador Justiniano no século VI, com o objetivo de retomar
para o Império o domínio sobre seus antigos territórios nas fronteiras da Europa Ocidental, no
norte da África e na Pérsia, que estavam sob o domínio (de godos, francos, lombardos e vândalos)
e dos persas. Neste trabalho buscamos compreender as concepções de poder imperial presentes
nesse período, como expressas na literatura do historiador. Seguindo uma tradição que remonta à
historiografia greco-romana, Procópio serve-se das figuras dos lideres bárbaros para advogar
modelos aceitáveis ou recusáveis de conduta frente a seus governos. Logo, tendo em vista que o
Império Bizantino lutava contra reinos já estabelecidos e com sistemas políticos, econômicos,

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religiosos e sociais próprios, trata-se de entender, em suma, como esse projeto de reconquista
estava também pautado por concepções do poder político na Bizâncio do século VI.

Um balanço historiográfico sobre os estudos acerca das santas merovíngias


Barbara V. dos Santos
bazinha_vs@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Alta Idade Média, hagiografia, Mulheres.

Nossa dissertação de mestrado tem o interesse de analisar, tendo como referência a


historiografia e duas hagiografias sobre duas mulheres que viveram no século VII, a participação
feminina na conjuntura política e religiosa do período merovíngio. Para tal, temos analisado
trabalhos produzidos sobre esses documentos específicos, vita Sadalberage e vita sanctae Balthildis,
e sobre as concepções de santidade do período. Com isso, percebemos as temáticas mais
recorrentes e, ao mesmo, tempo a escassa quantidade de estudos voltados a elas. Assim, temos
como objetivo nesta comunicação apresentar uma síntese sobre o que tem sido produzido sobre
essa temática e a importância desses estudos para a historiografia.

“Eu sou sam Veríssimo”: o Livro de Milagres dos Santos Mártires de Lisboa
Bruno Soares Miranda
soaresemiranda@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Lisboa Medieval, Sociedade portuguesa, Livro de Milagres.

O objetivo desta comunicação é analisar o Livro de Milagres dos santos Mártires de Lisboa
escrito em Portugal no século XV. Esta análise proporciona conhecer o dia a dia e a espiritualidade
do português medieval. Além disso verificamos uma tentativa do Mosteiro das religiosas de Santos-
o- Velho de guardar seu espaço no contexto espiritual de Lisboa, visto que a cidade, neste período,
ganha um novo culto patrocinado pela Dinastia de Avis: Nuno Álvares Pereira.

Por Santo Agostinho: reformas eclesiásticas e poderes senhoriais na diocese


de Orvieto (Itália, séculos 1029-1157)
Felipe Augusto Ribeiro
felipeaur@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Senhorio, Reforma, Patrimônio, Cidade, Igreja.

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Este trabalho versa sobre a história das cidades italianas nos séculos XI e XII, tomando
como estudo de caso Orvieto, na Toscana. Seus objetos de investigação são os senhorios
eclesiásticos da diocese, especialmente os citadinos, com os seus patrimônios. A partir de uma série
de diplomas contidos no arquivo episcopal e que registram transações de bens (doações,
arrendamentos, entre outros) o problema que investiga é a relação entre uma reforma eclesiástica
iniciada em 1029 e a progressiva marginalização do bispo dentro do jogo político local, culminando
com a instituição de um regime comunal que passou a substituí-lo no governo da cidade, a partir
de 1157, e que, simultaneamente, consolidou a reforma. As perguntas que tenta responder são: qual
o papel do poder episcopal na distribuição e na administração dos bens na diocese? Como outros
senhores eclesiásticos, como os cônegos e os abades, participam desses processos? De que maneira
a reforma na vida do clero diocesano impactou a dinâmica patrimonial da região? Ela afetou o
poder do bispo e contribuiu, de alguma maneira, para a instituição da comuna na cidade? Para
responder a essas questões, a tese mobilizada é a seguinte: para obrigar os cônegos a renunciar a
seus patrimônios privados, familiares, o bispado reformador precisou fazer-lhes inúmeras
concessões de bens que acabaram por produzir um novo senhorio, de cunho público e coletivo,
que posteriormente passou a disputar com o bispo os bens diocesanos e, recorrendo ao patrocínio
do papado, conseguiu finalmente vencê-lo ao substituí-lo pela comuna, um regime que defendeu
os interesses e as posses dos cônegos. O objetivo da pesquisa é revisar e discutir essa tese. O
resultado esperado é a produção de uma nova perspectiva sobre as reformas eclesiásticas entre os
séculos XI e XII, vinculando-as às dinâmicas patrimoniais e entendendo-as como mecanismos de
atuação no interior desses processos.

O Affectus Pietatis Na Condução Dos Pobres Na Realeza Capetíngia (Séc.


XIII)
Wanderson Henrique Pereira
wandersonhenriquep@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Ações Caritativas, Pobres, Affectus, Pater Pauperum, Comunidade pobre.

Nosso objetivo é entender a utilização do termo affectus dentro das relações de poder entre
o rei e os súditos na política régia Capetíngia, sobretudo no reinado de Luís IX. Para atingir esse
objetivo, utilizaremos a Eruditio Regum et Principum, finalizada por volta de 1259 por Gilberto
de Tournai, minorita e professor de teólogia da universidade de Paris. O Eruditio é um tratado
pedagógico inserido dentro da literatura política dos Espelhos de príncipe, que eram direcionados
aos monarcas. Seu objetivo era ensinar como os reis, príncipes e seus futuros descendentes
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deveriam governar de forma correta seus reinos. Esses tratados políticos, geralmente
encomendados pelos próprios reis, tendiam a elaborar as diretrizes morais e éticas para o sucesso
do governante. Na obra em análise, atentaremos para as representações do rei, enquanto aquele
que deve sentir um profundo affectus pietatis pelos seus súditos, principalmente pelos mais pobres
(pauperum), os quais o rei deve amar e proteger. Nesse sentido o rei é representado no decorrer da
obra como o pater pauperum (pai dos pobres) os quais ele deve amar como se fossem seus filhos
esperando em troca a retribuição desse afeto paternal.

Entre o “amor sereno” e o “prazer tenebroso”. Reflexões sobre amizades e


sexualidades na Primeira Idade Média através da obra agostiniana
Confessiones
Wendell dos Reis Veloso
wendellvelo@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Sexualidades, Agostinho de Hipona, Confissões, Primeira Idade Média,


Amizades.

Diversos pensadores utilizam a hipótese de que as sexualidades são capitais nos processos
históricos de (re)ordenamento social. Desta maneira, entendo-as como elementos estruturantes do
projeto político de identidade cristã formulado pelas elites eclesiásticas da Primeira Idade Média.
Evidência disto é o fato de que o tópico foi bastante abordado pela Patrística Pós-Nicena, o que,
por sua vez, gerou diversos estudos historiográficos. Entre estes, destaco os trabalhos de Peter
Brown, Joyce Salisbury e Thomas Laqueur, os quais destacam os discursos de Aurélio Agostinho
(354-430) - bispo de Hipona e uma das "vozes" autorizadas de maior prestígio do cristianismo,
mesmo ainda em momentos próximos à sua conversão no último quartel do século IV (386) -
como discrepantes do conjunto produzido por outros intelectuais cristãos, tais como, Jerônimo e
Ambrosio, uma vez que se caracterizariam por certa positivação da sexualidade. Tais estudos
contribuem para o que tenho denominado de “noção historiográfica de revolução sexual
agostiniana” e apontam para uma compreensão inadequada do(s) discurso(s) agostiniano(s). Isto
posto, pretendo demonstrar com este trabalho que a visão agostiniana sobre as sexualidades, ao
menos em fins do século IV e em inícios do século V, coaduna-se com a dos demais autores
patrísticos, podendo ser caracterizada, portanto, como austera ao antagonizar a amizade – associada
à pureza – às sexualidades. Teoricamente partirei de reflexões da Teoria Queer associadas às
reflexões da chamada História das Emoções, objetivando a problematização da normatividade e
da monossexualidade que integram a chave de leitura com a qual os textos agostinianos foram lidos

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pela historiografia citada. Desta maneira, neste trabalho o vocábulo sexualidades faz referência não
apenas ao intercurso sexual, mas também aos desejos e às fantasias associadas ao sexo, o que pode
reverberar em sexualidades tidas como desviantes ou mesmo na renuncia à sexualidade.
Metodologicamente farei uso de análises da obra agostiniana Confessiones (c. 397), procurando
identificar como o eclesiástico forja argumentação que estabelece a amizade como o padrão para
interações sociais cristãs, as quais são entendidas como saudáveis e seriam supostamente
corrompidas pelas sexualidades. Também é importante lembrar que desde a catocilização do
Império (380) que ser cidadão romano confunde-se com ser cristão e, dessarte, estar de acordo
com a lógica normativa que caracteriza o cristianismo.

As referências à elite no discurso hagiográfico: uma análise comparada entre


a Vita Columbani e a Vita Sancti Aemiliani
Izabela Morgado da Silva
morgado.izabela@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Vita Columbani, Elite, Vita Sancti Aemiliani.

A presente comunicação está vinculada à pesquisa de dissertação produzida no Programa


de Pós-Graduação em História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em nossa
pesquisa confrontamos dois documentos hagiográficos do século VII: a Vita Columbani, produzida
no reino franco e a Vita Sancti Aemiliani, produzida no reino visigodo. Os documentos,
respectivamente, relatam a trajetória de Columbano e Emiliano – figuras consideradas santas no
período de sua escrita. Nessa comunicação examinaremos um dos eixos temáticos de comparação
documental da pesquisa: as referências à elite nas duas vitae mencionadas. Nesse sentido,
analisaremos à luz do debate historiográfico, alguns trechos das duas hagiografias que apresentam
a relação de Emiliano e Columbano com diferentes grupos da elite laico-eclesiástica, observando
suas alianças, conflitos e interesses; além de abordar as aproximações e distanciamentos entre os
documentos e o estudo de sua conjuntura.

O Cancioneiro Medieval Português: Aristocracia e Poder


Neila Matias de Souza
medievalneila@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Aristocracia, Cantigas de escárnio e mal dizer, Poder.

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Os Cancioneiros são compilações em prosa de toda a obra produzida, ou pelo menos o que
restou dela ou foi fixada materialmente, na Península Ibéria no decorrer da Baixa Idade Média. São
fontes riquíssimas em vários níveis, pois ao identificar a maior parte dos autores das cantigas nos
possibilita destrinchar sua origem social e sua inserção política e econômica. Em virtude disso, e
para muitos dos pesquisadores que trabalham com esta documentação, o cancioneiro português
carrega uma característica especificamente muito interessante que é o fato de trovadores de
diferentes estratos sociais comporem cantigas e enfrentarem-se por meio do que poderíamos
chamar de duelos com as palavras. Pretendemos abordar aqui as relações estabelecidas naquela
sociedade através da análise de algumas cantigas.

Podem as palavras preceder as coisas? A Legenda áurea e o conceito de


heresia
João Guilherme Lisbôa Rangel
jglhistoria@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Heresia, Desconstrucionismo, Legenda Áurea.

A partir da década de 1990 a corrente de especialistas em idade média, classificada como


“desconstrucionista” trouxe novas contribuições para temática das heresias, sobretudo a cátara,
propondo que as mesmas fossem entendidas como produto do discurso eclesiástico. Nesse sentido,
o presente trabalho pretende discutir tais contribuições tomando como exemplo o caso da Legenda
áurea. Até que ponto as heresias presentes na fonte revelam essa construção discursiva? Será que
as palavras precedem as coisas? Essas são as questões que pretendemos discutir.

Rodrigo Dias de Vivar El Cid (1048- 1099) muy buen cauallero e de grande
linaje: um exemplo de cavaleiro e vassalo na Estoria de España
Olga Pisnitchenko
pisnitchenko@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Península Ibérica, Cavalaria, El Cid.

Rodrigo Dias de Vivar tanto como personagem histórica quanto como personagem das
crônicas estudadas é uma figura muito complexa que foi trabalhada por vários historiadores. No
nosso trabalho a figura de El Cid nos interessa no plano da imagem que as crônicas elaboram deste
como cavaleiro e vassalo exemplar sem entrar em discussão se o poderoso aristocrata que se
nomeava de principe em alguns documentos que chegaram até nos realmente assumia este papel.
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A quantidade do texto que as crônicas atribuem ao Rodrigo de Vivar, a nosso ver só pode ser
comparada com a narração dedicada ao Fernão Gonzalez, o qual como conde de Castela
ativamente participa das atividades políticas leoneses durante os quatro reinados sucessivos em
Leão. Sabemos que a relação de Rodrigo com poder régio, principalmente quando estamos falando
do Alfonso VI, foi muito controversa, no entanto nos não temos como objetivo de analisar El Cid
como personagem histórica e revelar seu papel na política castelhano-leonesa do século XI, o que
nos interessa é o Rodrigo de Vivar como ele é revelado nas crônicas do século XIII-XIV que
idealizam a sua imagem como um vassalo e cavaleiro perfeito de acordo com a corte idealizada do
Alfonso X e Sancho IV.

Possibilidades de investigação e análise: o episcopado e as hagiografias nos


reinos merovíngio e visigodo (séculos VI-VII)
Juliana Prata da Costa
jujuprata@ig.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Hagiografia, Episcopado, Bispo.

Ao longo da Alta Idade Média, a consolidação do fenômeno do culto aos santos e a grande
quantidade de textos hagiográficos produzidos nos reinos romano-germânicos no Ocidente foram
bastante significativos. Além disso, o papel desempenhado pelos bispos como autoridade local,
ultrapassando as atribuições estritamente relacionadas ao âmbito religioso, e como agente social de
fundamental importância na organização da Igreja nessas conjunturas, foi outro aspecto que
contribuiu para a expansão do cristianismo no medievo. Em nossa pesquisa de mestrado nos
interessa compreender um pouco mais acerca da delimitação do perfil episcopal em três
hagiografias, duas do reino merovíngio e uma do visigodo. Para este trabalho, preocupamo-nos,
com o debate historiográfico associado aos dois eixos valorizados em nossa dissertação: o
episcopado e o texto hagiográfico.

Diakrisis e discretio: apontamentos sobre as referências orientais de João


Cassiano a respeito do tema do discernimento
Bruno Uchoa Borgongino
uchoa88@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: João Cassiano, Discernimento, Monarquismo.

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Os detalhes da trajetória biográfica de João Cassiano são objeto de controvérsias entre os


especialistas. Entretanto, sabe-se que iniciou sua formação num mosteiro em Belém e, em seguida,
circulou por comunidades egípcias. Redigiu as Instituições e as Conferências, documentos
destinados ao público monástico, após seu estabelecimento definitivo num mosteiro próximo à
cidade ocidental de Marselha. Ao escrever sobre a vida monacal para uma audiência latina, recorreu
a elementos oriundos da literatura ascética oriental, com a qual estava familiarizado. Dentre outros
aspectos, empregou o conceito grego de diakrisis, traduzido para o latim como discretio. O termo
aludia à faculdade de discernir entre bons e maus pensamentos para, então, decidir adequadamente
o que fazer. O objetivo da presente comunicação é expor, tendo com referência a historiografia,
algumas ponderações a respeito do uso de referências orientais por João Cassiano em suas reflexões
sobre o conceito de discretio.

A Construção do Ideal Clerical Crúzio na Segunda Metade do Século XII:


Uma Leitura da Vita Sancti Theotonii
Jonathas Ribeiro dos Santos Campos de Oliveira
jonathas_hist@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Cônego, Teotônio, Vita, Coimbra, Santidade.

Nossa proposta tem por objetivo analisar a primeira parte da Vita Sancti Theotonii,
produzida por um anônimo do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, na segunda metade do século
XII. Nosso objetivo é discutir como esta obra delineia o ideal clerical crúzio, refletindo sobre o
sentido de tal construção. Essa narrativa hagiográfica foi construída, segundo a nossa hipótese,
buscando reestabelecer e enquadrar os membros da comunidade agostiniana nos princípios aos
quais se fundavam. Em virtude das contradições resultantes de seu próprio crescimento, verificada
durante o priorado de Teotônio (1132-1152), e em meio ao processo de expansão do Condado
Portucalense, os regrantes e seus associados teriam se afastado dos princípios religiosos da casa
crúzia, demandando, assim, a necessidade de um resgate das observâncias e o consequente
enquadramento de seus membros. A Vita, produzida após a reunião do primeiro capítulo geral
(1162), cuja ênfase na reestruturação se fez presente, trazia justamente os princípios nele
apregoados, todos refletidos na imagem construída de Teotônio, seu primeiro prior, como um
modelo a ser seguido pelos demais. Nossa atenção irá voltar-se para o ideal proposto na primeira
parte da narrativa, isto é, aquela que narra as atividades de Teotônio como clérigo secular.

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As Disputas de Poder Entre Bispos na Hagiografia de Amando de


Maastricht
Juliana Salgado Raffaeli
julianaraffaeli@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Poder, Episcopado, hagiografia, Peregrinação, Amando de Maastricht.

O trabalho proposto tem por objetivo analisar como as relações entre o monge-bispo-
peregrino Amando de Maastricht e os bispos do reino merovíngio são retratadas pelo hagiógrafo
anônimo da Vita Sancti Amandi. Para cumprir tal intento, buscamos refletir sobre o poder
episcopal e os conflitos inerentes à concorrência entre as esferas eclesiástica e monárquica, no
século VII, à luz da historiografia e da mencionada hagiografia. Amando está identificado com uma
forma de monacato influente nas altas camadas da sociedade franca. Esta inserção possibilitou o
desenvolvimento de alianças e relações pessoais entre o monge e a família real. Apesar das disputas
políticas internas a tal linhagem monárquica, o grupo manteve seu apoio ao monge, endossando
sua posição e legitimando sua abordagem religiosa, marcada por sua dupla nomeação como bispo.
Acreditamos que a atividade de peregrinação de Amando trazia benefícios políticos e religiosos
para o reino, uma vez que sua ação de conversão e pregação se concentrava em áreas de conflito e
em regiões limítrofes do reino franco. Sua atuação na área de dioceses de outros bispos, entretanto,
promovia atritos associados à jurisdição episcopal pré-existente. A autorização de pregação em
regiões de competência de outros bispos conferida pela monarquia certamente deve ser
considerada como aspecto relevante nos referidos conflitos. Nesta conjuntura, interessa-nos, como
antes anunciado, especialmente refletir sobre a concorrência e a legitimidade episcopal no reino
merovíngio.

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Justiça, Fé e Relações de poder na Época Moderna


(séculos XVI-XVIII)

Alex Rogério Silva


Mestrando em História e Cultura Social
Simpósio Temático

UNESP/Franca- Universidade Estadual Paulista - Júlio de Mesquita Filho


alex465@gmail.com

Marcus Vinicius Reis


Doutorando
UFMG
mv.historia@gmail.com

Juliana Torres Rodrigues Pereira


Doutoranda
USP- Universidade de São Paulo
julianatrp@gmail.com

Proposta do Simpósio:

Nas últimas décadas é notável o crescimento de estudos que se debruçam nas inúmeras
facetas relacionadas às intuições de poder e suas relações tendo em vista a Religião como um dos
seus motes principais, abarcando diferentes temporalidades e espaços bem como suas interseções
com outros campos do conhecimento. É, nesse sentido, que o Simpósio Temático aqui proposto
tem por objetivos reunir em seus diversos contextos e recortes, pesquisas que busquem refletir os
diversos modos de manifestação da fé, tanto no âmbito das expressões institucionais como na
esfera das práticas cotidianas, das justiças e de suas interações, sejam elas cooperativas ou
conflituosas, destacando suas formas de controle, abusos de poder e ação prática, bem como seu
impacto sobre as sociedades. Desta forma, a temática em questão visa possibilitar discussões em
diversas frentes de trabalhos que busquem contemplar pesquisas nas áreas relacionadas aos estudos
inquisitoriais, eclesiásticos, às diversas tentativas de controle da Igreja Católica sobre as
consciências e comportamentos, às práticas desviantes das doutrinas religiosas. Este Simpósio
Temático buscará abranger, também, estudos que versem sobre as relações entre as múltiplas
instituições que de muitas formas se sobrepunham em seus direitos de controle e disciplinamento
das populações. Por fim, serão aceitas contribuições que se debrucem em perspectivas teóricas

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relacionadas ao objetivo deste Simpósio, tais como, “Connected Histories”, “História Atlântica”,
“História Global”, “Micro-História”, enfim, abordagens interessadas nos diálogos apontados.

Comunicações:

Sociabilidade ilustrada, "opinião pública" e libertinagens no XVIII


português: o caso do padre João Pedro de Lemos Montes
Igor Néfer
igortcr@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Tolerância Religiosa, heresia, Libertinos, Inquisição.

A presente comunicação objetiva apresentar um estudo de caso a respeito do processo do


padre João Pedro de Lemos Montes (ANTT, nº028/06661), tendo dois focos principais: o
primeiro, relacionado com a inserção do referido padre dentro da dinâmica de sociabilidade
ilustrada no final do século XVIII português, assim como sua articulação com a nascente "esfera
pública" que então se formava naquele contexto; o segundo, com foco no conteúdo de suas
proposições, relacionado com as sociabilidade em que se inseria, focaremos nas articulações entre
heterodoxia religiosa e política marcantes nas falas e comportamentos dos chamados "libertinos".

Cristão-novos contra a Inquisição: a crítica dos conversos contra a


Inquisição na década de 1670
Yllan de Mattos
yllanmattos@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Crítica, Cristãos-novos, Portugal, Inquisição.

Esta comunicação tem como objetivo estudar o processo que culminou nas suspensões do
Santo Ofício português, entre os anos de 1674 e 1681. Os cristãos-novos – judeus convertidos à
força ao catolicismo, entre os anos de 1496 e 1497, no reinado de dom Manuel– produziram
diversos documentos em Roma que invalidavam a ação do Santo Ofício lusitano, qualificando-o
como arbitrário, interesseiro nos bens materiais e injusto. Os inquisidores, por sua vez,
responderam cada queixa afirmando sua autonomia face ao papado e explicando os pormenores
de sua prática jurídica. O local dessa disputa fora a própria Congregação do Santo Ofício romano,
na qual mediaram seus cardeais e o próprio papa. Por isso, as fontes utilizadas na produção deste
trabalho científico foram coletadas em diversos arquivos de Roma, Vaticano, Lisboa, Madri e
Simancas, perfazendo o ineditismo desta pesquisa. Nesse sentido, procurar-se-á analisar a diversa
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correspondência, os opúsculos produzidos e os textos oficiais fomentados nessa lide que vicejou
como um pedido de misericórdia (perdão) e terminou com a exigência de justiça pelos réus do
Tribunal da Inquisição.

O irenismo combativo do Império Português: uma análise dos escritos de


Francisco Álvares e Damião de Góis
Thays Alves Rodrigues
thays.alves@ufv.br

PALAVRAS-CHAVE: Damião de Góis, Preste João, Francisco Álvares, Etiópia, Império


Português.

O corpus deste trabalho, o opúsculo Fides, Religio Moresque Aethiopum, do humanista


Damião de Góis, e Verdadeiras informações das terras do Preste João da Índia, do Padre Francisco
Álvares, oferece-nos um retrato nítido da profunda crise que transformou o período renascentista
numa época de contradições. Isto porque, o Renascimento cultural, que germinou na Itália e se
propagou para o restante da Europa, veio promover o resgate do saber e a valorização das
potencialidades humanas. Contudo, a Igreja romana temerosa das consequências deste saber para
a fé e a ortodoxia católica, passa a manter – juntamente com o Soberano D. João III, num esforço
de centralização do poder político e religioso – um rígido controle sobre o desenvolvimento dos
estudos humanísticos, mais especificamente o de cunho evangélico. Assim, nos anos que
compreendem a viragem da primeira metade do século XVI, observamos a reiteração ou mesmo a
substituição de uma série de elementos que irão compor o modus operandi do Império, incidindo
na cronística quinhentista. Diante disso, nos propomos a realizar uma análise dos conceitos
irenistas presentes nas obras de Góis e Álvares, a fim de recuperarmos a operacionalidade destes
no âmbito de seu contexto.

Do Reino do Congo para o Brasil colonial: as práticas religiosas de Pedro


Teixeira no final do século XVIII
Giselly Kristina Muniz de Souza
gisa.kristina@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Bolsa De Mandinga, Tradição Religiosa Banto, Feitiçaria, Inquisição,


Calundu.

A proposta de comunicação aqui apresentada surgiu da análise da denúncia apresentada,


contra Pedro Teixeira, ao Tribunal do Santo Ofício, no ano de 1790 e da possibilidade de associar
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suas crenças e práticas a uma estratégia que une catolicismo e a tradição religiosa banto. Pedro é
acusado pela mulher de exercer a muitos anos o “trato de adivinhador”, além de carregar consigo
numa bolsa de couro “uma partícula que se ignora ser consagrada”. A denúncia apresentada contém
em si a revelação da prática de dois costumes que foram amplamente perseguidos pela Inquisição
por serem tidos como feitiçaria, são eles: a prática do calundu e o uso das bolsas de mandinga. Tais
crenças e costumes (a prática de adivinhações, curas, produção de amuletos e rituais com danças e
possessões) destoavam das práticas e rituais do catolicismo oficial, que tinha como base as
orientações do Concílio de Trento. Assim, as práticas heterodoxas foram ao longo do século XVIII
associadas, muitas vezes, ao pacto demoníaco (implícito ou explícito). Essa visão estereotipada das
práticas que mesclavam a religiosidade de origem africana com elementos do catolicismo -
considerando quem os praticava como feiticeiros e também mandingueiros - começa a sofrer
modificações quando os inquisidores passaram a ver as práticas mágicas e as crenças místicas
como fruto da falta de instrução na fé, da ignorância e superstição que tomava conta dos colonos
e principalmente dos neófitos na fé. Porém, mesmo após o Regimento de 1774, que trazia reflexões
neste sentido, ainda chegavam à mesa do Tribunal da Inquisição denúncias como a crença e prática
de Pedro Teixeira. Nosso objetivo é demonstrar de que maneira tais questões ainda estavam muito
presentes no cotidiano colonial mesmo no final do século XVIII, além de buscarmos uma
compreensão para a incorporação de elementos católicos em tais práticas através das características
da tradição religiosa africana banto, uma cosmologia presente na África Central, região que
incorpora o que foi o Reino do Congo, de onde era natural o preto Pedro Teixeira, e que, portanto,
pode nos explicar algumas das escolhas feitas por este indivíduo na circunstância de suas práticas
na América portuguesa setecentista.

Genealogias e Embaixadas na Restauração Portuguesa


Luciano Cesar da Costa
lucianocesar_3@hotmail.cm

PALAVRAS-CHAVE: Embaixadas, Genealogias, Diplomacia.

O objetivo da presente comunicação é elucidar o papel que as genealogias desempenhavam


nas sociedades de Antigo Regime, em especial na monarquia portuguesa durante sua Restauração
(1640-1668). As genealogias marcavam as principais relações sociais e famílias do reino.
Genealogias que também auxiliaram a perceber a função que o letramento tinha naquela sociedade,
tratando-se de uma sociedade no limiar entre a plena difusão do letramento e sua completa

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ausência. Nessa senda mostrarei como as genealogistas ao reafirmarem as hierarquias sociais


marcavam as famílias mais preeminentes e delas quais possuíram embaixadores. Embaixadas
essenciais para a consolidação da nova dinastia reinante. A monarquia dependia do reconhecimento
das demais monarquias e repúblicas europeias de sua independência frente a monarquia castelhana,
a saber a Restauração Portuguesa. Ao mesmo tempo, era essencial que o Sumo Pontífice em Roma
reconhece-se o novo rei português. Dessa forma, muitos embaixadores foram destinados a Roma,
a fim de consolidar alianças matrimoniais com outras monarquias, em especial França e Inglaterra.
Dessarte, genealogias e embaixadas andavam de mãos dadas para o fortalecimento da Restauração.

Cristãs-novas e Tribunal do Santo Ofício português no universo "mágico-


religioso" quinhentista
Marcus Vinicius Reis
mv.historia@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Cristãs-Novas, Tribunal do Santo Ofício Português, Mágico-Religiosas,


Século XVI, Práticas.

É sabido entre a historiografia voltada às práticas do Santo Ofício português que o olhar
inquisitorial ao longo dos quase três séculos de atuação esteve em grande parte direcionado para
os cristãos-novos - judeus ou descendentes dos mesmo que foram convertidos forçosamente ao
catolicismo. Nesse sentido, uma série de estudos foram promovidos e se tornaram clássicos por
conta do interesse em investigar esse processo de perseguição religiosa bem como os personagens
que emergiram nesse contexto. No entanto, ainda que grande parte dos processos inquisitoriais
tenham se construído sob a motivação da presença judaizante no mundo português, outros delitos
também se fizeram presentes e foram alcançado pela malha da Inquisição. Citamos, assim, as
diversas práticas "mágico-religiosas" que por vezes recaíram no crime da "feitiçaria", da relação
com os diabos sob a ótica das autoridades inquisitoriais. Quando associadas ao universo dos
cristãos-novos percebemos, por sua vez, a necessidade de ampliar os estudos em torno desses
indivíduos na medida em que nem sempre as acusações de judaizarem foram o motivo para levá-
los aos cárceres do Santo Ofício. Este estudo pretende, assim, partir do século XVI como recorte
temporal a fim de analisar a relação entre cristãs-novas e práticas "mágico-religiosas", buscando
investigar suas interações com o sobrenatural, a circulação das crenças bem como a decodificação
das mesmas no cotidiano dessas mulheres.

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Representações da Nova Espanha e de seus habitantes nas crônicas das


Índias
Meiriele Cruz
meiriele.cruz@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: História colônia, Crônicas das Índias, cronistas do século XVI.

Este trabalho tem por objetivo compreender a atuação dos missionários franciscanos na
tarefa de conversão dos nativos da Nova Espanha; a representação e a descrição do Novo Mundo
e de seus habitantes, ampliando assim o entendimento tanto sobre a Conquista quanto acerca da
divulgação para o Velho Mundo dos feitos missionários e dos demais conquistadores no Novo
Mundo. Para tanto, analisa-se as crônicas elaboradas por missionários franciscanos que atuaram na
conversão dos nativos, quais sejam: Historia general de las cosas de Nueva España, de autoria do
Frei Bernardino de Sahagún; e Historia de los Índios de la Nueva España, do Frei Toríbio de
Benavante (Motolínia). Essas crônicas representam não apenas a tentativa de conhecer para
conquistar, evangelizar, mas também de construir uma defesa da ação missionária de propagação
da fé católica frente às acusações de genocídio e extermínio dos nativos. Nesse sentido, essas
produções acabaram influenciando a visão ocidental sobre a América, no caso a Nova Espanha,
como também sobre os indígenas americanos.

Um panorama sobre a atuação do Conselho Geral no mundo português


setecentista
Luís Antônio de Castro Morais
luisantonio_morais@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Instituição, Conselho-Geral, Inquisição.

O trabalho é um dos resultados de pesquisa em Iniciação Científica, apresentarei um


panorama sobre a documentação pertinente aos Cadernos das Ordens do Conselho Geral da
Inquisição de Lisboa durante o século XVIII. Este acervo é composto por documentos que
apresentam grande diversidade temática, um dos aspectos principais da documentação, os assuntos
vão desde breves expedidos para o melhor funcionamento do Tribunal até petições para realizar
obras, por exemplo. A origem da documentação também é diversa, há correspondências entre as
inquisições da Itália e da Espanha para à de Lisboa. Todos os documentos são pertinentes à
Inquisição de Lisboa, mas que se julgou conveniente submeter ao Conselho Geral e de cuja

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instância emanou os despachos para os mais diversos assuntos e situações. Por se tratar da parte
administrativa do Tribunal, é de suma importância conhecer sua documentação e atentar para as
minucias que o órgão nos traz. Nos últimos anos houve um aumento de pesquisas sobre a
Inquisição portuguesa, mas poucos são os autores que se debruçaram sobre a parte institucional e
política do Tribunal do Santo Ofício, um dos pontos fundamentais para entendermos sua atuação,
principalmente durante o século XVIII. Realizamos um levantamento de todos os cadernos do
século XVIII - cerca de 2100 documentos - para a montagem de um banco de dados, com o intuito
de alargar as fontes inquisitoriais e realizar o cruzamento de dados com as documentações já
conhecidas e também com o propósito de fomentar novas pesquisas no âmbito institucional da
Inquisição portuguesa.

Patrimônio e inquisição: lugares, memórias e esquecimentos


Daniela Cristina Nalon
danielanalon@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Inquisição, patrimônio, Memória.

Este trabalho busca unir duas temáticas importantes – a Inquisição e o Patrimônio. A


Inquisição portuguesa, que funcionou entre 1536 e 1821, e toda sua lógica de funcionamento
representa para nós historiadores ricas fontes de pesquisa e conhecimento sobre a Modernidade.
Através dos documentos produzidos pelo Santo Ofício - denúncias, confissões, processos... - tem-
se um riquíssimo quadro não apenas acerca das questões religiosas e de fé, mas do cotidiano na
Modernidade em Portugal e seus domínios. O Patrimônio, por sua vez, permeia nosso senso de
pertencimento à algo ou a um lugar. No caso de um bem tombado, a população e àqueles que a
governam, tem por intuito mostrar o quanto aquele objeto fez-se importante em uma época e ainda
permeia o presente com sua significação. Por outro lado, a tentativa de apagar uma memória
também diz muito a respeito da ligação que se quer ter com o passado, tentando apagá-lo. Por que
alguns itens são exaltados em detrimento de outros? Por que a memória da Inquisição em alguns
lugares é escondida? Esta pesquisa, ainda no começo, tem por objetivo compreender o processo
de escolha dos bens a serem tombados, bem como a relação da sociedade com algumas memórias
que pretende manter ou apagar e o papel que essas memórias exercem na vida e na dinâmica da
comunidade.

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Rei incógnito, rei vivo: a "batalha de versões" sobre a sobrevivência de D.


Sebastião após a Batalha de Alcácer Quibir
Filipe Duret Athaide
fduret@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Doutrina dos Dois Corpos do Rei, História Política, Sebastianismo, União
Ibérica.

O desaparecimento do rei português D. Sebastião, na Batalha de Alcácer Quibir em 1578


abriu caminho para uma crise sucessória e política, além de ter sido determinante para a cristalização
da crença messiânica régia, quem em Portugal recebeu o nome de Sebastianismo. Considerado por
muito tempo pela historiografia portuguesa como um tema menor, quando não folclórico, raras
vezes foi alvo de apreciações que levassem em conta, de forma positiva, a sua constituição cultural
e política. O trabalho apresentado compõe a parte inicial da pesquisa desenvolvida, e que tem por
objetivo analisar um grupo específicos de escritos, produzidos no início do século XVII, e que
defendiam ou rechaçavam de maneira contundente a hipótese da sobrevivência de D. Sebastião
após a batalha no norte da África. Uma primeira observação importante é que, no momento de
edição destes textos, a hipótese de sobrevivência do monarca ainda era cronologicamente viável.
Esta “guerra de versões” sobre o desfecho do confronto e possível sobrevivência de D. Sebastião
foi tecida por homens letrados e religiosos. Este conjunto de textos primordiais do Sebastianismo,
porém, poucas vezes é referido, e raramente analisado em conjunto. A fonte destacada como base
para esta comunicação, “Discurso da vida do sempre bem vindo e aparecido rei D. Sebastião”, tem
autoria atribuída a Frei José Teixeira, tendo sido editada em Paris no ano de 1602. Antes, portanto,
dos famosos textos de D. João de Castro, considerado por muitos como o “apóstolo” do
Sebastianismo, uma vez que seus escritos ocupam papel de destaque na conformação da crença
sebástica nos seus momentos iniciais.

A seleção do texto de Teixeira, para esta apresentação, entre as fontes reunidas na pesquisa
se deu não só pela questão cronológica – até o momento e a mais antiga – mas também pelo fato
de ser possível nele observar um esforço em defender a sobrevivência do monarca português.
Nesse sentido, a produção textual de Teixeira se aproxima daquela inglesa, explorada por Ernst
Kantorowickz, e que embasou a sua teoria sobre a “doutrina dos dois corpos do rei” – corpo
político/corpo natural – e principalmente, a suposta imortalidade do corpo político. Da mesma
forma, Teixeira pode ser considerado um exemplo da defesa, em Portugal, da existência do caráter

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de “rei sacrificial” de D. Sebastião, tese defendida por Yves Marie Bercé no seu livro “O Rei
Oculto”, e que consequentemente impediria a morte de seu corpo natural e político.

O ius divinum e a luta pela afirmação do poder episcopal na terceira fase do


Concílio de Trento (1562-1563)
Juliana Torres Rodrigues Pereira
julianatrp@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Episcopado, Concílio de Trento, Papado.

Um dos mais importantes eventos da História da Igreja, o Concílio de Trento é


tradicionalmente conhecido pela reafirmação dos dogmas católicos e pelos decretos de reforma
tidos geralmente como pouco inovadores. Menos ressaltada pela historiografia, no entanto, foi a
luta de alguns grupos que procuravam estabelecer a reforma da Igreja com base no poder dos
prelados, afirmando a origem divina do múnus episcopal contra a ala curialista. O objetivo desta
comunicação é, então, analisar a luta pela afirmação do ius divinum durante a terceira fase do
Concílio de Trento.

Deus e Humanismo na Filosofia de Marsilio Ficino: A Representação do


Divino no Primeiro Livro de Teologia Platônica
Everton de Souza Teixeira
evertonsouzateixeira1@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: História das Religiões, História Cultural, Humanismo, Renascimento,


Marsilio Ficino.

Este trabalho de Mestrado apresenta em sua temática o estudo da relação entre Deus e
Humanismo no Renascimento italiano, estabelecida pelo humanista florentino Marsilio Ficino
(1433-1499) em seu Primeiro Livro de Teologia Platônica, obra na qual o autor propõe uma teoria
metafísica e cosmológica a fim de reivindicar a imortalidade da Alma Humana, relacionando-a com
Deus por meio de um esquema hierárquico e epistêmico. Desta maneira, o respectivo estudo busca
compreender como Marsilio Ficino representou e se apropriou da imagem de Deus, para justificar
a supremacia e domínio do Homem sobre a Natureza, assim como sua centralidade cosmológica
em meio à civitas humanista do Renascimento italiano, que tinha por principal característica a
substituição de Deus pelo Homem de sua posição central no Universo. Tendo em vista o objetivo
geral, os objetivos específicos consistem em perscrutar as diferentes representações de Deus e os

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nomes para se referir a esta deidade; tal como Ficino se utiliza do divino enquanto instrumento de
dignificação e glorificação do Homem, a partir de uma ligação metafísica entre os dois segmentos
hierárquicos. A justificativa historiográfica desta pesquisa reside em interpretar a representação de
Deus por Ficino, a fim de melhor esclarecer a civitas humanista do Renascimento por novas
perspectivas ainda não exploradas até então. Para tanto, as considerações teórico-metodológicas
utilizadas para este trabalho são constituídas a partir de autores como Adone Agnolin, de onde
extraio o conceito de civitas; Paul Oskar Kristeller, pioneiro nos estudos sobre Teologia Platônica;
Ardins Collins, que aborda o significado de ratio e as apropriações que o Homem promove sobre
Deus, buscando compreendê-lo; e Silvia Mancini, especialista em História das Religiões pela
perspectiva da Escola Italiana, na qual se utiliza do conceito de ortopráctica, entendendo-o como
técnicas, práticas e atividades de cunho cultural-religioso, exercidas pelos membros de uma cultura,
cuja eficácia simbólica expressa uma transformação de consciência espiritual e social de dado
contexto. Entre os resultados parciais, identifico a partir das primeiras análises, que imortalidade
não necessariamente significa uma condição, mas, sobretudo, um estado de graça no qual o
Homem encontra a Verdade e Beleza divina, adentrando ao quinto e último estágio hierárquico,
Deus, divinizando a si mesmo. Portanto, o divino é para Ficino um instrumento de glorificação e
beatificação do ser humano.

Da Visitação Inquisitorial ao Grão-Pará (1763-1773)


Mayara Aparecida de Moraes
marryawn@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Práticas Mágico-Religiosas, Grão-Pará, Inquisição.

A inauguração dos Tempos Modernos na Europa experimentou um delicado momento de


fortes calamidades, com a presença da peste e das guerras que produziram uma sensação de que o
mau estava em toda parte. A Europa era o palco de uma guerra entre Deus e o Diabo, na qual a
Igreja comandava a luta em prol da divindade cristã. Medidas da Contrarreforma, tomadas no
Concílio de Trento (1545-1563), em paralelo com a instalação da Inquisição em Portugal (1536),
foram uma das principais medidas tomadas, refletindo-se para o Novo Mundo, onde as Visitações
Inquisitoriais também ocorreram. São conhecidas três Visitações à América portuguesa, que
compreendem os séculos XVI, XVII e XVIII, das quais envolvem a Bahia, Pernambuco, Paraíba,
Rio de Janeiro e o Grão-Pará. Dentre essas três, a que causou mais curiosidade para os estudiosos
é a última, por se tratar da Visitação mais longa (1763-1773), na qual a Inquisição resgatou ritos já

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há muito abandonados no espaço colonial, e também por mostrar muitas denúncias e processos
sobre magia e feitiçaria, fato que as incursões inquisitoriais anteriores não haviam enfatizado.
Assim, esta pesquisa tem como objetivo entender e comparar os processos de cura com as demais
práticas mágico-religiosas, dado as suas peculiaridades no universo colonial e seus resultados
divergentes perante o julgamento da Inquisição. A hipótese colocada é: se as condições de vida da
Colônia eram precárias em função do difícil acesso aos médicos e cirurgiões, então, alguns
processos de cura, não sofreram punição devido a falta de profissionais que pudessem socorrer a
população local e também por conta da sua boa reputação frente aos habitantes, por terem sucesso
nas suas curas, o que pode ter abrandado a punição dessas pessoas nos processos da Inquisição.
Dessa forma, pretende-se compreender a importância que os processos de cura e as práticas
mágico-religiosas tiveram no Estado do Grão-Pará e Maranhão na segunda metade do século
XVIII.

Justiça, fé e relações de poder: A Inquisição e suas abrangências na


Modernidade iberoamericana
Angelo Adriano Faria de Assis
angeloassis@uol.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Inquisição, Resistência Religiosa, Relações De Poder, Brasil Colonial.

O Tribunal do Santo Ofício da Inquisição, que esteve atuante entre os séculos XVI e XIX
em Portugal e seus domínios de além-mar, Brasil incluído, foi das mais importantes instituições de
controle social e de poder que funcionaram durante a Modernidade. Os milhares de processos
movidos pelo Santo Ofício contra indivíduos acusados de heresias e mal comportamento cristãos
dão-nos prova disto. Esta comunicação tem por objetivo analisar, através de estudos de caso,
perceber o impacto da presença inquisitorial na América lusa, seja através do Tribunal seja através
de sua rede capilar de colaboradores, sobre determinados grupos, como os criptojudeus e
criptoislâmicos, acusados de feitiçarias e de práticas sexuais desviantes. pretende, ainda, traçar um
breve balanço do que vem sendo produzido pela historiografia sobre o tema nas últimas décadas.

Cristãos-novos e Inquisição na União Ibérica


Thiago Groh de Mello Cesar
thgroh@terra.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Inquisição, União Ibérica, Cristãos-novos.

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A união das Coras Ibéricas em 1580 após a morte do Cardeal-Rei D. Henrique não
significou uma união das instituições ibéricas, na medida em que muitas mantiveram sua
autonomia. Uma dessas instituições é a Inquisição, que manteve a completa independencia entre
os tribunais da Península, de modo que os cristãos-novos puderam em determinados momentos
circular de modo livre pela fronteira dos dois reinos. Esse certo afrouxamento das fronteiras
permitiu que os negócios dos cristãos-novos se expandissem e que rotas comerciais fossem criadas.
A presente comunicação tem por objetivo observar as ações da Inquisição e dos cristãos-novos no
período da União Ibérica, expondo a historiografia pertinente.

O Controle das Consciências no Espaço Conventual: O Caso da Freira


Mariana da Coluna
Alex Rogério Silva
alex465@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Feitiçaria, Freiras, Ordem de Santa Clara, Possessão, Inquisição.

A presente comunicação tem por pano de fundo o desenvolvimento da pesquisa de


mestrado intitulada “As religiosas nas malhas do Santo Ofício: a atuação da Inquisição em Lisboa
(1620-1681) ” que tem por objetivo investigar a atuação do Tribunal do Santo Ofício de Lisboa no
tocante aos desvios por parte das religiosas. Dentro desta pesquisa há um caso que merece destaque
que é o da religiosa Mariana da Coluna, freira professa da Ordem de Santa Clara, no Convento de
Jesus da Ribeira Grande, nos Açores, processada pela Inquisição de Lisboa por práticas de feitiçaria
antes de professar votos junto ao convento. A partir da análise do referido processo é possível
perceber as relações de poder estabelecidas entre a Inquisição e os réus, o trato dos inquisidores
para com os casos de feitiçaria e o imaginário que permeava sobre esse ato e as possessões. O
estudo deste caso é de grande importância de modo a permitir a reflexão sobre os costumes,
comportamentos e mentalidades das pessoas que fizeram parte da sociedade seiscentista, bem
como analisar as práticas e procedimentos exercidos pela inquisição portuguesa contra as práticas
heterodoxas.

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Patrimônios Culturais: o historiador como agente de


preservação cultural

Adson Rodrigo Silva Pinheiro


Mestrando em História Social
Universidade Federal do Ceará - UFC
Simpósio Temático

adson.rodrigo@gmail.com

Ana Luiza Rios Martins


Doutoranda em História Cultural
Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
Luiza_sky@yahoo.com.br

Marcelo Renan Souza


Mestre em Preservação do Patrimônio Cultural (Iphan)
Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco - Fundarpe
marcelo.renan.souza@gmail.com

Proposta do Simpósio:

Os patrimônios culturais são, em sua essência, reconhecidos através de símbolos que


representam as identidades culturais de um povo. Esses são declarados por meio da identificação
das formas de pertencimento afetivo e político-social que os indivíduos mantêm com bens culturais
materiais e imateriais instalados em seu cotidiano. Nesse sentido, evidenciam-se os agentes que
atuam na identificação e reconhecimento dessa diversidade cultural em virtude do valor simbólico
desses bens. Assim, tomando a experiência dos órgãos de preservação cultural em diferentes países,
especialmente as experiências brasileiras, se vê a atuação efetiva do historiador nos processos de
reconhecimento dos patrimônios culturais, bem como na interferência para sua preservação.
Refletir sobre o papel do historiador como agente de preservação do patrimônio cultural se faz
necessário principalmente quando acompanhamos a evolução dos instrumentos de preservação da
diversidade cultural, evidentes quando observamos a evolução histórica dos conceitos que regem a
preservação cultural e ainda os instrumentos e métodos de pesquisa. Desse modo, o simpósio tem
o objetivo reunir discussões em torno das temáticas do patrimônio cultural, a fim de promover
entre os pesquisadores do patrimônio, sobretudo historiadores dos arquivos, das artes e dos
museus, a reflexão sobre as diversas áreas do conhecimento circunscritos a preservação e
valorização dos bens culturais. A finalidade, nesse sentido, é debater e divulgar pesquisas,
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experiências institucionais, práticas de preservação e políticas públicas, ações de salvaguarda e de


educação patrimonial produzidos pelos historiadores e dialogam com o seu ofício.

Comunicações:

Trajetórias e estratégias para a preservação do patrimônio cultural imaterial


em Fortaleza no âmbito das políticas públicas municipais entre 2008-2012
Marcelo Renan Oliveira de Souza
marcelo.renan.souza@gmail.com

Adson Rodrigo Silva Pinheiro


adson.rodrigo@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Patrimônio, Políticas, Fortaleza, Públicas, Imaterial.

O Brasil, após os anos 2000, vivenciou o estabelecimento de novos instrumentos jurídicos


voltados à preservação do patrimônio cultural de natureza imaterial, a exemplo do Decreto nº
3.551/2000, que criou no âmbito Federal o Registro do Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro e
o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial. Nesta conjuntura os estados e municípios
acompanharam a evolução dos conceitos e estratégias e preservação relacionadas ao patrimônio
imaterial, inserindo-os nos seus planos estaduais e municipais de cultura, e desenvolvendo leis
específicas para preservar os bens culturais assim classificados. Nesse artigo problematizam-se
políticas públicas de preservação do patrimônio cultura especificamente voltadas ao patrimônio
imaterial na cidade de Fortaleza. Como parâmetro tomamos a Lei Municipal 9.347/2008, que
“dispõe sobre a proteção do patrimônio Histórico-Cultural e Natural do Município de Fortaleza,
por meio do tombamento ou registro” (FORTALEZA, 2008), e cria o Conselho Municipal de
Proteção ao Patrimônio Histórico-Cultural (COMPHIC). Ainda, analisaremos o marco estratégico
da gestão cultural municipal: o Plano Municipal de Cultura de Fortaleza, de dezembro de 2012. No
ínterim dessas questões destacamos a articulação e mobilização social na construção e efetivação
dessas políticas públicas culminado no acionamento do instrumento do Registro no âmbito
municipal como recurso de valorização e salvaguarda para os bens culturais de natureza imaterial
na cidade, a exemplo da Farmácia Oswaldo Cruz, situada à Praça do Ferreira, no centro de
Fortaleza (registrada no Livro dos Lugares); a Igreja de São Pedro (registrada no Livro de Lugares);
e a Festa de São Pedro (que tem registro no Livro das Celebrações), todos titulados em 10 de
dezembro de 2012. O objetivo, portanto, é analisar as trajetórias dessas políticas e perceber como

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o patrimônio cultural imaterial é percebido e apropriado nas estratégias para a preservação dos bens
intangíveis da cidade de Fortaleza.

Museu Santos Dumont: memória, História e construção de um herói


nacional durante o Estado Novo
André Barbosa Fraga
andrebfraga@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE:

O regime centralizador e nacionalista implementado no Brasil a partir de 1930, e


intensificado pela ditadura iniciada em 1937, procurou desenvolver uma identidade nacional,
valorizando a cultura brasileira e suas tradições, o que acabou por estimular a valorização da história
pátria e o desenvolvimento de certas representações acerca do passado, do presente e do futuro.
Nesse contexto, criou-se, pelo Decreto-Lei n°. 25, de 30 de novembro de 1937, o Serviço de
patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), com o intuito de proteger e preservar o
patrimônio histórico e artístico do país. Entre as ações empregadas para alcançar tal objetivo, como
as de resguardo, catalogação, tombamento e restauração de objetos e imóveis considerados de
valor, uma especialmente alcançou bastante destaque: a criação de vários museus nacionais e a
reestruturação daqueles já existentes, que obtiveram, como guardiões da memória, uma importância
central nos planos do governo de valorização do passado histórico brasileiro. O objetivo deste
trabalho é o de analisar o projeto de criação de dois museu elaborados em homenagem a Santos
Dumont, vulto nacional que ganhou grande destaque durante a ditadura do Estado Novo.

Cultura, Patrimônio e Identidade: Práticas Festivas no Município de


Coração de Jesus/MG
Tânia Caroline Ruas Silva
rtaniacaroline@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE:

As festas são espaços mais que propícios para se estudar as manifestações de fé, lazer,
sociabilidade e até mesmo as tensões de seus agentes sociais. Pensando nisto, o presente trabalho
tem como principal objetivo analisar a Festa de Nossa Senhora da Conceição/Bom Jesus e a Festa
de São Sebastião, ambas no Distrito de Alvação, e a Festa de São Luís Gonzaga/Nossa Senhora
Aparecida, no povoado de São Luiz de Minas; localidades do município de Coração de Jesus. O
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estudo dessas festividades surgiu da necessidade de identificar, valorizar, preservar - o que não
significa torná-las estáticas - e divulgar essas práticas culturais que compõem o patrimônio cultural
dessas comunidades. Tomá-las como objeto de estudo é uma maneira de entender seus múltiplos
significados, preservar o patrimônio cultural dessas comunidades e discutir suas identidades.

A trajetória e o tratamento destinado ao negativos 35mm do acervo ASCOM


Thiago Henrique Costa Miranda
thiagohcm1993@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

Este trabalho pretende demonstrar a trajetória dos documentos da Assessoria de


Comunicação Social do Município (ASCOM), que foram recolhidos pelo Arquivo Público da
Cidade de Belo Horizonte (APCBH), e abordar quais são os procedimentos adequados para o
acondicionamento, a preservação e a conservação do negativos 35mm atualmente. Além disso,
serão avaliados os principais problemas enfrentados pelo APCBH em relação ao tratamento desses
materiais e mostrar os avanços em pesquisas, projetos e métodos para a ampliação do acesso a estas
imagens e também para a preservação da memória do município.

Guardiões da Memória: Negros Herdeiros das Terras da Santa Nossa


Senhora da Ajuda, Araçatiba, ES
Marcos Aurélio dos Santos Vertelo
marcosvertelo62@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

Este trabalho busca compreender as dimensões simbólicas estabelecidas entre uma


comunidade de descendentes de negros escravizados e a posse de suas terras. Este grupo recebeu
no pós-abolição das mãos dos seus antigos senhores o direito de permanecerem em 21 hectares de
suas terras. Esta propriedade passou a ser caracterizada como “terras de santo”, pois a doação foi
feita em nome da Santa Nossa Senhora da Ajuda, padroeira da comunidade de Araçatiba, bairro
do município de Viana, região da Grande Vitória, Espírito Santo. Como forma de retribuição os
herdeiros destas terras estabeleceram com a Igreja de Nossa Senhora da Ajuda uma relação de
devoção que passa pelo viés do cuidado pelo patrimônio material e imaterial. A preservação deste
patrimônio interessa a outros atores, além da comunidade, como o Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, pois a igreja é tombada pelo órgão desde 1950; e a Arquidiocese de
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Vitória, que é a detentora legal da propriedade de Araçatiba. Partindo deste quadro o trabalho
pretende mostrar como que a comunidade se apropria desta herança e como que outros atores
externos interferem nesta relação simbólica.

Conceitos nos Discursos Sobre o Patrimônio: O Caso da Praça da Estação


Vitória Beatriz de Araujo Oliveira Silva
vitoriasud@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Praça da Estação, Conceitos, Patrimônio, História da Cidade.

O foco do presente trabalho é analisar os usos de determinadas palavras-conceitos advindas


do meio acadêmico e sua apropriação pelo poder público no interior de discursos sobre o
patrimônio, discutindo, portanto, o modo pelo qual estas esferas – acadêmica e política – se
articulam, mobilizando conceitos e estratégias para uso e apropriação dos espaços públicos da
cidade. Pretendeu-se, deste modo, investigar, com auxílio de categorias e conceitos aplicados junto
às fontes documentais, de que maneira se desenham os processos de ressignificação do espaço-
patrimônio, demonstrando hipóteses para o mesmo. Nosso trabalho dividiu-se em observar
conceitos-chave selecionados na documentação e analisá-los à luz de seus referenciais acadêmicos,
explicitando, deste modo, como certos termos são reelaborados segundo interesses e disputas de
poder. Nesse sentido, o caso da Praça da Estação nos pareceu elucidativo como exemplo de um
processo no qual conceitos referentes à ressignificação do espaço – tais como requalificação e
revitalização – foram apropriados pelo discurso do poder público no intuito de promover
alterações no uso essencial e “espontâneo” da Praça. Os conceitos, academicamente trabalhados,
dispõem de abordagens que são retomadas pelo discurso político de modo a criar uma nova
imagem da Praça da Estação para a população da cidade: isto é observável especialmente pelo fato
de que a referida Praça é notório campo de disputas por espaço e expressão na cidade desde seus
primórdios, tendo sido vista como uma área marginalizada, em determinado período, por sua
característica de prestação de serviços e por receber fluxo da população mais empobrecida da
cidade. Nossa hipótese referiu-se em esmiuçar o complexo processo pelo qual determinado objeto
(edificação, conjunto arquitetônico, etc.) é evocado como objeto de desejo de preservação, ao
mesmo tempo em que é orientado, segundo regras e conceitos específicos, a servir para novos usos
da população, decisão esta que parte de grupos dominantes econômica e culturalmente.

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A Pesquisa histórica e museológica e o desenvolvimento do Projeto de


Extensão de Implantação do Museu IXakriabá
Leonardo Souza de Araújo Miranda
miranda.raposo@gmail.com

Maria Leticia Silva Ticle


leticiaticle@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Indígenas, Pesquisa Histórica, Xakriabá, Memória, Museu.

Projeto de Extensão de Implantação do Museu Xakriabá , no município de São João das


Missões/MG, é resultado de uma demanda da comunidade local, empenhada em resgatar suas
tradições culturais e história, como estratégia de afirmação da identidade do grupo indígena, o
maior de Minas Gerais. Os Xakriabá foram reconhecidos pela Funai nos anos 1970 e na década
seguinte, em 1987, tiveram suas terras demarcadas, após intenso conflito com fazendeiros da região,
que resultou no assassinato de lideranças indígenas, entre as quais Rosalino Gomes de Oliveira,
fato que é um divisor de águas na história da comunidade. A memória da luta pela terra, marcada
pelo massacre de 1987, constitui, uma espécie de fato gerador, a partir do qual as ações de
musealização deverão ser desenvolvidas, alargando-se no território Xakriabá, de modo a estender-
se a diferentes manifestações culturais locais. O núcleo inicial deverá constituir-se em um Memorial
a ser construído em Sapé, sítio onde estão enterradas as lideranças indígenas assassinadas.

A ideia de Memorial por remeter ao que é memorável; a monumento construído em alusão


a fato digno de ser lembrado, deverá figurar como elemento simbólico da luta dos Xakriabá pela
terra e sobrevivência étnico cultural. O papel do Memorial será o de reunir e transmitir informações
sobre o evento, numa perspectiva histórica, sem, contudo, desconhecer suas ligações com o
presente. Ou seja, o Memorial deverá funcionar como um espaço de presentificação de uma
memória responsável: vocacionado para reconstruir coletivamente a memória do massacre
colocando-a a serviço de um projeto emancipador do presente. Concretamente, a etapa de
desenvolvimento de pesquisa histórica e museológica do Projeto de Extensão de Implantação do
Museu Xakriabá foi desenvolvida por dois historiadores contratados na função de pesquisadores
em parceria de docentes e estagiários da Escola da Ciência da Informação/Curso de Museologia.
Compreende o escopo desta etapa o desenvolvimento e acompanhamento de pesquisa histórica,
cujo intuito foi levantar conceitos que dessem origem a eixos e módulos propostos para a futura
exposição do Memorial Xakriabá. No âmbito da pesquisa, foi levantado, ainda, material passível de
compor o acervo da futura instituição, conjunto formado por diferentes tipologias.
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Ditaduras, historiografia e memórias na América


Latina
Janaina Martins Cordeiro
Doutorado
Universidade Federal Fluminense
Simpósio Temático

janainamcordeiro@gmail.com

Isabel Cristina Leite da Silva


Doutorado
Universidade Federal do Rio de Janeiro
ic.leite@yahoo.com.br

Lívia Gonçalves Magalhães


Doutorado
Universidade Federal Fluminense
livinhagm@gmail.com

Proposta do Simpósio:

Este Simpósio Temático propõe refletir sobre as diversas experiências autoritárias – em


seus aspectos mais plurais – que se disseminaram pela América Latina na segunda metade do século
passado. A proposta é refletir sobre a produção historiográfica a respeito do tema, bem como sobre
as políticas de memória adotadas e seus reflexos sobre o tempo presente. Cabe, então, perguntar:
como as ditaduras civis-militares na América Latina vêm sendo pensadas no alvorecer do século
XXI? Como as recentes pesquisas sobre o período olham para e dialogam com o passado? Sob este
aspecto, o ST propõe adotar uma perspectiva comparada, situando o Brasil em um continuum latino-
americano – estabelecendo não apenas semelhanças, mas sobretudo as diferenças entre os diversos
processos históricos do continente.

Comunicações:

Operação limpeza: a repressão inicial nas universidades brasileiras e


chilenas
Luan Aiua Vasconcelos Fernandes
aiuavasconcelos@gmail.com

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PALAVRAS-CHAVE: Ditadura, Universidades, Brasil, Chile.

O presente trabalho é uma adaptação do primeiro capítulo de minha dissertação e consiste


em uma análise comparativa da repressão desencadeada contra as universidades no imediato pós-
golpe em dois países: Brasil e Chile. O foco da análise é os docentes, porém outros aspectos da
repressão não deixaram de ser analisados. Os docentes mais visados pelas duas ditaduras foram os
que se identificavam com alguma cultura política de esquerda, mas não foram os únicos a serem
atingidos pelo aparato repressivo. Prisões e torturas ocorreram em ambos os casos, no entanto, a
repressão nas universidades chilenas foi mais intensa nesse primeiro momento, enquanto nas
universidades brasileiras houve acordos e algumas tentativas de conciliação mais evidentes. Essa
diferença pode ser explicada pelos diferentes contextos internos dos dois países. No Chile, o
governo de Allende objetivava realizar uma revolução socialista, ainda que pela via pacífica, e os
partidos e organizações de esquerda possuíam bastante influência. A polarização alcançada atingiu
um nível máximo na sociedade, o que propiciou um clima de ódio e de quase guerra civil. No Brasil,
o governo de Jango possuía um viés mais reformista, apesar de ser apoiado por forças de esquerda
mais radicais, que não chegavam a ter o mesmo grau de organização dos grupos chilenos.

Arte comprometida: reflexões sobre o movimento “Escena de Avanzada” e o


grupo CADA no contexto ditatorial chileno (1979-1989)
Isadora Bolina Monteiro Vivacqua
isadora.vivacqua@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE:

“Escena de Avanzada” foi um termo cunhado pela crítica literária Nelly Richard para
descrever um conjunto de ações artísticas desenvolvidas no período ditatorial chileno. Os artistas
pertencentes a tal movimento destacavam a necessidade de uma produção engajada, capaz de
denunciar práticas de violência existentes no país, em especial o autoritarismo do governo de
Augusto Pinochet. Além disso, tais intelectuais tinham como proposta o desenvolvimento de uma
“arte-ação”, que fosse executada em conjunto com a população. Na interação com o outro
produziriam obras multifacetadas, plurais, que poderiam adquirir sentidos inclusive diferentes dos
planejados inicialmente. Os intelectuais da “Avanzada” também se destacaram pelo
questionamento aos suportes tradicionais para a arte, ampliando-os ao considerar todos os espaços
urbanos como propícios para suas intervenções e percebendo o próprio corpo como um
importante suporte artístico.

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Dentro deste cenário, um dos grupos que se destacou foi o “Colectivo Acciones de Arte”
(mais conhecido como CADA), criado por intelectuais como Diamela Eltit, Lotty Rosenfeld e Raul
Zurita. Tal grupo desenvolveu intervenções urbanas capazes de denunciar a violência do governo
pinochetista, ao mesmo tempo em que rompiam com padrões artísticos mais tradicionais. Nesta
comunicação analisaremos o contexto de surgimento deste coletivo, suas concepções de “arte” e
“artista”, além de discutir algumas de suas ações, em especial “Para no morir de hambre en el Arte”
e “Inversión de escena”, ambas executadas em 1979. Por fim, analisaremos a tentativa do grupo
CADA em criar uma revista denominada “Ruptura”, visando difundir obras comprometidas
politicamente com a luta pelo retorno a um regime democrático no Chile e intensificar o debate
crítico com outros intelectuais.

Campo, droga e um diálogo sobre liberdade: a katábasis de Dáfnis e Cloé no


Brasil
Igor B. Cardoso
igorbcardoso@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Roberto Freire, Representação, Literatura.

Tomado como referência na produção de várias obras literárias, sobretudo a partir da


tradução para o francês feita por Jacques Amyot em 1559, Dáfnis e Cloé, provavelmente escrito
no século II por Longo, se tornou de diferentes modos um padrão narrativo para temas que se
desenhavam em torno da ingenuidade erótica. No que diz respeito à recepção brasileira da obra de
Longo, a única referência que temos, pelo menos a única explícita, é com Roberto Freire, que
rabiscou os primeiros esboços de Cléo e Daniel em 1964, quando esteve preso na cela do DOPS
por suas atividades políticas. Sem tradução para o português na década de 1960, Freire conheceu
Longo por meio da tradução francesa feita em 1810 por Paul-Louis Courier. Inspirado na obra
idílica de Longo e em Paul et Virginie de Bernardin de Saint-Pierre, mas também em obras de
Bukowski, Miller e Kerouac, com uma carreira que transitava entre o exercício da psicanálise e do
teatro, Freire narrava suas personagens ensimesmadas de crises identitárias e que experimentavam
a loucura, a música lisérgica, o tratamento psiquiátrico, o desprezo à normalidade e às normas, a
incomunicabilidade em meio à vida urbana e o enfrentamento à moralidade familiar. Pretendo
nessa comunicação evidenciar o permanente diálogo existente entre Freire e parte da recepção da
cultura clássica, esforço de Freire em conciliar determinada representação do campo e do uso das
drogas como experiências de inocência e liberdade corporal frente ao regime militar.

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Pela “moral e os bons costumes”: a censura e o jornal Lampião da Esquina


Fabricio Trevisan
fabriciotrvsn@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Lampião da Esquina, Censura, Homossexual, Ditadura Militar, Imprensa.

Tutelada pelos militares, o processo de abertura política na ditadura militar brasileira (1964-
1985) permitiu, de maneira sensível, uma relativa flexibilização da repressão governamental,
especialmente após a revogação do Ato Institucional número 5 em 1979. Contudo, a complacência
dos governos brasileiros à época tinha grandes limitações, afinal tratava-se de um Estado autoritário
que, desde o golpe de 1964, promoveu uma asfixia das liberdades democráticas no país e
empregaram uma sistemática perseguição aos opositores do regime. Em relação a censura, após a
anulação do AI-5, a Constituição de 1967 voltou a cena e, juntamente com ela, a Lei de Imprensa.
Neste sentido, os governos militares prosseguiram com a manutenção de censurar (ao menos tese)
conteúdo considerado nocivo por eles. Assim, o intuito desta comunicação é analisar de que
maneira o jornal Lampião da Esquina (periódico de caráter homossexual, mas também abria espaço
substancial para o debate acerca do movimento negro e do movimento feminista) tratou da censura
que foi submetido por violar “a moral e o bons costumes” previstos na Lei de Imprensa de 1967.

Passando o passado a limpo: memória, esquecimento, justiça e impunidade


no Brasil pós-ditadura (1995-2014)
João Batista Teófilo Silva
joaoteofilo.hist@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Ditadura Militar; Legado, Autoritário, Verdade, Justiça.

O trabalho aqui apresentado faz parte de uma pesquisa mais ampla, que se propõe a
investigar, no Brasil, as demandas por memória, verdade e justiça, bem como as políticas de
memória e reparação adotadas pelo Estado brasileiro entre os anos de 1995 e 2014. Fazendo uso
de um corpo documental composto por leis, relatórios, testemunhos orais e imprensa, este
trabalho, que resultará em uma tese de doutorado, tem buscado compreender as formas pelas quais
o país lidou com seu legado ditatorial e as disputas existentes nesse processo. Diferentemente de
outros países que passaram por experiências históricas semelhantes, o Brasil experimentou um
processo de transição controlado e gestado pela ditadura e com o apoio das elites políticas aliadas,
no qual a Lei de Anistia representou a síntese desse processo e garantiu não apenas a impunidade

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e a imunidade para aqueles que cometeram graves violações contra os direitos humanos, mas,
também, a interdição desse passado, de modo que, para setores ligados de alguma forma à ditadura
ou zelosos dos “pactos” dessa Lei, qualquer iniciativa que se proponha a passar esse passado a
limpo é rechaçada e colocada na inconveniência do “revanchismo”, não sendo incomum a
justificativa de que essas iniciativas representam uma ameaça à estabilidade democrática e à
“reconciliação”, sendo, pois, desnecessárias. Essas questões implicam considerar que aquilo que se
elege para compor ou não um quadro de medidas que visam enfrentar um passado recente e seu
legado, é fruto de disputas políticas e se constrói historicamente. Não deve ser pensado apenas
como mera concessão governista, mas resultado de pressões feitas por aqueles a quem já chamaram
de "empreendedores de memória". Logo, não se pode perder de vista que a memória histórica
constitui umas das formas mais poderosas de legitimação, e que precisa ser trabalhada
considerando-se os sujeitos e os espaços que eles ocupam em dada correlação de forças. Pensar
esse processo criticamente implica, pois, não apenas reunir o conjunto de medidas adotadas pelo
Brasil entre 1995 e 2014 e as demandas da sociedade, mas articulá-los à correlação de forças sociais
que concorrem para tal, evidenciando sujeitos, projetos e as tensões políticas que os distanciam e
os colocam em campos opostos.

A Responsabilização Criminal dos Perpetradores das Graves Violações de


Direitos Humanos: para Além do Direito à Memória e à Verdade
Raquel Cristina Possolo Gonçalves
quelpossolo@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Responsabilização Criminal, Teoria Constitucional, Justiça de transição.

Através do Centro de Estudos sobre Justiça de Transição (CJT), projeto de extensão


desenvolvido na Faculdade de Direito da UFMG, tem sido realizada uma análise sistemática das
ações propostas pelo Ministério Público Federal, com as quais pretende obter a responsabilização
criminal dos perpetradores das graves e sistemáticas violações aos direitos humanos, durante a
ditadura civil-militar brasileira, entre os anos 1964, data do golpe, a 1988, quando ocorreu a
promulgação da nova Constituição brasileira. Um dos objetivos dessa análise sistemática refere-se
a ofertar à sociedade informações concisas e acessíveis sobre os processos em que foram e estão
sendo denunciados tais perpetradores, e seus desdobramentos sucessivos. Entretanto, a sociedade
brasileira tem vivenciado um momento de instabilidade política, a qual provocou uma série de
manifestações populares de clamor por mudanças. Uma parte significativa dos manifestantes tem
apresentado exigência de intervenção militar, em uma prova clara de ignorância deste período
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histórico brasileiro, em que os direitos políticos dos cidadãos foram sumariamente retirados,
através de Atos Institucionais, proibindo-lhes, inclusive, de manifestarem-se livremente, a favor ou
contra o governo. É nesse cenário que se buscou realizar a presente pesquisa, que tem por objetivo
expor as razões e justificativas da busca por uma responsabilização criminal daqueles que agiram
em nome do Estado, além de, através da metodologia adotada, revelar quais serão os benefícios
que tais responsabilizações trarão à sociedade brasileira.

Utilizou-se da vertente (teórico-metodológica) jurídico-sociológica, através do arcabouço


teórico da Justiça de Transição, conforme marco teórico do Relatório da ONU, de 2009, em que a
Organização das Nações Unidas considera que a Justiça de Transição seria “o conjunto de
processos e mecanismos associados às tentativas da sociedade em chegar a um acordo quanto ao
legado de abusos cometidos no passado, a fim de assegurar que os responsáveis prestem contas de
seus atos, que seja feita a justiça e se conquiste a reconciliação” (ONU, 2009: 325). Com os
resultados obtidos, pretende-se alcançar um novo olhar sobre a necessidade de se acabar com a
cultura da impunidade, que até hoje persiste na sociedade brasileira, além de indicar a ligação
histórica entre as graves violações de direitos humanos perpetradas pelo Estado, durante o regime
de exceção, com as violações perpetradas atualmente, pelo mesmo Estado.

Apropriações da memória radical brasileira a partir do processo de


redemocratização
Nashla Dahás
nashladahas@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Revolução, Esquerdas, Violência, Memória.

Este trabalho dá continuidade à minha pesquisa de doutorado sobre o pensamento


revolucionário no Brasil e no Chile entre os anos de 1960 e 1970. Nesta ocasião, chamei de memória
radical a construção de um corpus teórico, entre as esquerdas revolucionárias latino americanas,
voltado para a tomada do poder de Estado. Organizações auto-intituladas radicais encontraram em
certas formas de violência justificativas estratégicas. Busco agora compreender como essa memória
da revolução vem sendo apropriada por direitas e esquerdas no Brasil, incluindo a forma como a
violência aparece em seus discursos e práticas políticas a partir do processo de redemocratização.
Meus objetivos são, portanto, identificar e analisar comparativamente a estrutura discursiva
revolucionária e o seu processo de demonização em dois contextos: na década de 1960 e
atualmente.

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A anistia de 1979 e a reinserção dos "indesejáveis" na política nacional


Denise Felipe Ribeiro
df.ribeiro@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Anistia, Redemocratização, Esquerdas.

No contexto dos debates que resultaram na anistia política de 1979, o regime ditatorial
definiu uma lista de exilados "indesejáveis" que, ao retornarem ao Brasil, deveriam ser submetidos
a procedimentos mais rígidos. Os ""indesejáveis"" representavam as diferentes vertentes das
esquerdas do pré-1964 que o regime civil-militar procurou alijar da política nacional: Leonel Brizola,
Luis Carlos Prestes, Miguel Arraes, Francisco Julião, Gregório Bezerra, Paulo Freire, Paulo
Schilling e Márcio Moreira Alves. Procuraremos observar como esses personagens se reinseriram
na política nacional, as dificuldades por eles enfrentadas, assim como as resistências de vários
setores à participação política desses personagens. Veremos que alguns desses "indesejáveis"
suscitam a resistência não somente dos setores governistas, mas também dos oposicionistas.

É Permitido Saravar! Análise Sobre a Religiosidade Afro-Brasileira e a


Ditadura Civil-Militar no Vale do Paraíba Fluminense
Fabiola Amaral Tome de Souza
fabiola_tome@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Consenso e Consentimento, Ditadura Civil-Militar, Legitimação,


Umbanda.

O presente artigo analisa a religiosidade afro-brasileira, em especial a Umbanda, no período


ditatorial civil-militar brasileiro entre 1964 a 1979 no Vale do Paraíba Fluminense. Enfatizando,
também, as relações de poder entre este segmento religioso e a ditadura civil-militar no Brasil, assim
como as políticas de incentivo, legitimação e reconhecimento da Umbanda pelo poder político nas
esferas estadual e federal do período citado. Utilizando categorias como consenso e consentimento,
procurando transpor o entendimento, por vezes simplificador que coloca de um lado um Estado
opressor e de outro uma sociedade vitimizada.

Política de Memória na Sociedade da Informação: a Comissão Nacional da


Verdade e sua contribuição para consolidação democrática
Luis Rodrigo de Mesquita Tiago
luis.rodrigo.tiago@gmail.com
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PALAVRAS-CHAVE: Memória, Comissão Nacional da Verdade, Sociedade da Informação.

Este trabalho pretende analisar a contribuição da Comissão Nacional da Verdade como


ferramenta de memória para a consolidação democrática do Brasil, um país cada vez mais inserido
na Sociedade da Informação, mas que ainda se encontra diante do problema de como conviver
com um passado doloroso em um presente democrático, administrando conflitos que não se
encerraram com a mera passagem institucional de um governo autoritário para um democrático.
Partimos da hipótese de que as políticas de memória são fundamentais para o entendimento dos
períodos autoritários, especialmente no atual contexto da inserção brasileira na Sociedade da
Informação em que é necessário refletir e proteger a frágil democracia brasileira. Pensa-se neste
anteprojeto que o estudo do objeto Comissão Nacional da Verdade servirá para reflexão futura
sobre as armadilhas e perigos reais do enfraquecimento da democracia e da cultura dos direitos
humanos, já vivenciados na história do Brasil. A metodologia a ser utilizada se dividirá em duas
partes: revisão de literatura e histórico-descritiva.

Autoritarismo e democracia no México: um debate sobre a "transição"


Larissa Jacheta Riberti
larissa.riberti@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: México, Transição, Democracia, Femospp.

Durante mais de setenta anos o México foi governado por apenas um partido, o Partido
Revolucionário Institucional (PRI). Nas décadas em que os representantes do PRI estiveram no
poder, o programa e as estratégias políticas postos em prática tiveram como objetivo
institucionalizar a Revolução, controlar a dissidência e impedir a participação da oposição. Nas
últimas décadas, a sociedade mexicana deparou-se com a repressão aos movimentos sociais,
desaparecimento e assassinato de militantes e perseguição da esquerda política. Em 2000, um novo
presidente foi eleito. Vicente Fox, candidato do Partido Ação Nacional (PAN) conseguiu a faixa
presidencial a partir de uma campanha que uniu setores conservadores e progressistas a partir da
ideia de voto útil e da necessidade de mudança. Naquele momento, portanto, Fox usava seus
discursos para afirmar-se como o agente de uma "transição democrática", um processo que, de
acordo com algumas interpretações havia começado com o movimento estudantil de 1968 e que
se consolidava com sua eleição. Dentre os principais desafios que Fox tinha que encarar, estava a
necessidade de reparar os crimes e violações cometidos pelos agentes do Estado contra a

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dissidência no passado; e a expectativa de diversos grupos sociais com mudanças de cunho


democrático que pudessem alterar o quadro e o sistema político.

Vicente Fox mostrava-se aberto a discutir e reparar as vítimas de repressão e violações do


passado. Durante sua campanha, a ideia era conformar uma Comissão da Verdade que pudesse
revelar e trazer a tona casos que, naquele momento, ainda eram desconhecidos pela sociedade. Um
ano depois o Presidente assinou a criação da Fiscalía Especial para Movimientos Sociales y Políticos
del Pasado (Femospp), utilizando o argumento de que também era necessário punir as violações.
Por trás do teatro oficial, no entanto, estavam as negociações entre o novo (PAN) e o velho partido
(PRI), que ainda possuía a maioria dos membros do Congresso e grande influência política. Esta
apresentação busca, portanto, discutir a "transição mexicana", os mecanismos criados para justificá-
la e os limites desse processo a partir de um debate historiográfico sobre autoritarismo e democracia
no México. Um dos exemplos, será a análise da criação e das atividades desenvolvidas pela
Femospp, bem como seus avanços e retrocessos em relação à reparação das vítimas, a revelação da
verdade e a memória sobre os movimentos sociais, dentro desse contexto de "transição".

Escola das Américas e seus Manuais


Henrique Sena Guimarães Lopes
hsenatst@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Ações Encobertas, Contra-inteligência, Manuais.

A Escola da Américas foi um Instituto pertencente ao Departamento de Defesa dos


Estados Unidos fundado em 1946. Essa Escola Militar tinha como sua principal missão fomentar
a cooperação ou servir como instrumento para preparar os países latino-americanos a cooperar
com os EUA e manter um equilíbrio político, tentando conter a influência crescente de
organizações populares e movimentos sociais de esquerda. Na última década do século XX, os
manuais de treinamento, que contêm importantes informações sobre os cursos e nomes de alguns
alunos, foram liberados. Meu objetivo com a apresentação da pesquisa “Escola das Américas e seus
Manuais”, é tentar levantar questões que se entrelaçam em um período específico na Guerra Fria,
especialmente a troca de informações entre militares latino americanos, possibilitando ações
encobertas e golpes militares em todo continente.

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História do Pensamento Político

Pedro Henrique Barbosa Montandon de Araújo


Mestrando
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Simpósio Temático

Pedrobarbosa89@gmail.com

Proposta do Simpósio:

O simpósio "História do Pensamento Político" propõe agregar estudos que têm como mote
a análise de ideias políticas em sua produção e recepção historicamente contextualizadas.
Afastando-se de perspectivas que cindem o campo das práticas e ações dos das ideias, doutrinas e
pensamentos, esse simpósio alinha-se às preocupações de Quentin Skinner ao conceber o
pensamento proferido em discurso uma conotação ativa, destacando a sua efetivação como ação.
Não seria de interesse desse simpósio, portanto, estudos que hierarquizam o valor das práticas
sobre as ideias ou do pensamento sobre a ação. Aproximando-se de Cornelius Castoriadis em
respeito à instituição simbólica da realidade, defende-se que compreender a formulação ou a
recepção de ideias é parte fundamental da autonomização do ser em busca de constituir-se. Para
tanto, a história emerge como instrumento necessário para a compreensão de si e do outro. Dessa
forma, o simpósio requer de seus proponentes uma contextualização do pensamento a ser
analisado, evitando a crença em ideias atemporais ou historicamente perenes. Por esse caminho
chegamos à última ressalva metodológica, a do sentido do discurso. Acreditando que uma ideia,
expressa em discurso, tem uma direção ao ser proferida, em que o autor ataca, defende, contesta
ou reformula a ideia de outros autores e crenças, esse simpósio distancia-se da concepção de uma
ideologia ou pensamento em seu estado puro ou da descoberta de suas raízes mais profundas, onde
seu núcleo estaria alojado, para afirmar o caráter transitivo das próprias, em que conceitos são
reinterpretados, ideias são expulsas ou convidadas a participar de uma nova interpretação da arte
da convivência humana. Propende-se a aceitar estudos que tratem da pragmática discursiva das
ideias da Escola de Cambridge, da hermenêutica de fusões de horizonte gadameriana e que se
estende para as preocupações de Ricoeur e da análise de conceitos políticos na vertente alemã ou
francesa, em conluio com Koselleck e Rosanvallon. Obviamente, serão bem avaliados trabalhos
que discutam tais escolas em sua epistemologia, teoria ou metodologia ou que ainda proponham o
olhar do pensamento político sob outra perspectiva.
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Comunicações:

A aproximação entre o Brasil e os Estados Unidos da América na obra de


Salvador de Mendonça (1870-1913)
Elion de Souza Campos
elioncampos@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: República, Doutrina Monroe, Americanização, Pan-Americanismo.

Este trabalho pretende analisar as ideias de Salvador de Mendonça sobre a aproximação


entre o Brasil, nos primeiros anos após a Proclamação da República, com os Estados Unidos da
América, em um contexto marcado pelas lógicas político-ideológicas do monroísmo e do pan-
americanismo. Salvador de Mendonça foi um intelectual fluminense que ao final do Segundo
Reinado engajou-se na causa do republicanismo, estando presente em momentos fundamentais da
formação desse movimento no Brasil, como na fundação do Clube Republicano do Rio de Janeiro,
que mais tarde se tornaria o Partido Republicano Brasileiro, bem como na redação do Manifesto
Republicano de 1870. No entanto, em um momento de recrudescimento do republicanismo, foi
cooptado pela burocracia do Império para atuar na diplomacia brasileira como Cônsul Imperial em
Nova York, estando nesta função quando da Proclamação da República no Brasil, em 15 de
novembro de 1889. Permanecendo na diplomacia pela notoriedade de seu sentimento republicano,
Salvador de Mendonça teve atuação destacada em momentos fundamentais da consolidação do
regime republicano no Brasil e, sobre estes momentos, deixou suas representações publicadas em
artigos na imprensa brasileira e estadunidense. É sobre estes artigos, compreendidos como
discursos políticos dotados de intencionalidade, que tratamos neste trabalho. Para tanto, optamos
por adotar alguns pressupostos teórico-metodológicos do “enfoque colingwoodiano da Escola de
Cambridge, particularmente, de Quentin Skinner e John G. A. Pocock, que visam à inserção do
discurso político em seus contextos político, econômico, social e linguístico, para compreender sua
intencionalidade na época de sua produção. Compreendemos que Salvador de Mendonça fez parte
de um grupo de intelectuais brasileiros, do final do século XIX e início do XX, que desenvolviam
um projeto de nação republicana para o Brasil, e que entre os principais tópicos de seu pensamento
estava a aproximação com a República que se despontava como a maior potência das Américas e
uma das principais do mundo, os Estados Unidos da América. Partimos do pressuposto de que
Mendonça pensava nesta relação, tendo em vista tanto a fragilidade crítica da República brasileira,

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em seus primeiros anos, quanto as ressignificações que sofria a Doutrina Monroe, em direção à
uma expansão imperialista estadunidense.

Maquiavel e a recepção de suas ideias no Brasil


Vinicius Garzon Tonet
vgtonet@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

Esta apresentação tem como proposta refletir sobre a recepção do texto teatral A
Mandrágora (1518), de Nicolau Maquiavel, no Brasil, a partir das suas edições brasileiras. Como,
em cada uma das sete traduções realizadas, que datam de 1959 à 2007, o pensamento de Maquiavel
é apresentado ao público brasileiro? Como as ideias do pensador florentino foram apropriadas e
transformadas através de paratextos, como capas, prefácios, posfácios, notas de rodapé? Como
esses paratextos relacionam a obra ficcional em questão com os escritos políticos de Maquiavel?
Quais objetivos podem ser depreendidos dos discursos que acompanham o texto principal?
Buscaremos, também, compreender como os sentidos que eles conferem à obra e ao pensador se
relacionam com contexto de sua publicação, situando historicamente cada edição.

"That man of blood": Discursos de condenação de Carlos I


Pedro Henrique Barbosa Montandon de Araújo
pedrobarbosa89@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: História das Ideias, Soberania Popular, Estado, Revolução Inglesa, Carlos
I.

Durante o século XX, prevaleceram análises em que interesses de classe ou de grupos eram
os responsáveis pela decapitação de Carlos I. Os discursos políticos acerca do tema ou eram
adornos para uma questão econômica profunda ou justificativas de uma ações levadas pela
necessidade do grupo de se afirmar. Caminhando em direção oposta, e em concordância com uma
historiografia das ideias e dos discursos, esta comunicação parte do pressuposto que discursos não
são reflexo de um plano material ou justificativas de impulsos humanos, mas sim instituintes do
real, operações mentais que visam solucionar dilemas encontrados entre os homens e, nas palavras
de Hobbes, "seu mundo artificial". Por acreditar na artificialidade desse mundo instituído pela
política, um outro caminho historiográfico se apresenta: o da mudança criativa de ideias quando os
homens confrontam problemas de qualquer ordem, social, político, natural, material ou até mesmo
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pessoal. Dessa forma, o inédito julgamento público e a execução de um ser que até então era tido
como enviado por Deus emerge como uma adversidade a ser enfrentada, interpretada e solvida.

Para tanto, homens de seu próprio tempo operarão mudanças em ideias e conceitos, de
forma a realocarem o próprio mundo em novas mentalidades que deem conta de entendê-lo. Nesse
ínterim surgem novos conceitos de Estado que, seguindo Jean Bodin, o impessoalizam e fazem do
monarca não mais figura máxima, mas servidor desse Leviatã; A ideia de soberania popular é
defendida ao mesmo tempo em que um esforço de se conceber ""povo"" é feito por seus
defensores; A lei natural estoica é revisitada e utilizada num confronto entre justiça pela reta razão
e justiça consuetudinária. Discursos bíblicos de caça a um rei sanguinário ou da aprovação da
Providência do destino de Carlos I compuseram a cena política e também moldaram a nova forma
de se interpretar o mundo à sua volta. A apresentação pretende, portanto, analisar essas mudanças
de ideias e conceitos nos discursos de condenação, atentando para a fundação de um novo mundo
artificial que está por vir.

Contextualizando o Milênio: apontamentos sobre as relações entre


escatologia e política no fundamentalismo norte-americano (1970-1980)
Daniel Rocha
danielrochabh@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Milenarismo, Escatologia, fundamentalismo, História dos Estados


Unidos.

A presente comunicação busca fazer uma reflexão sobre as relações que se estabeleceram
entre expectativas escatológicas, identidade nacional e questões políticas no fundamentalismo
religioso nos Estados Unidos durante a década de 1970. Faremos uma breve discussão a respeito
das diferentes perspectivas sobre a crença em um reinado de Cristo na terra no “fim dos tempos”
- o pré-milenarismo e o pós-milenarismo – e, também, dos debates sobre os “efeitos políticos” de
tais posicionamentos. Buscaremos demonstrar como a utilização de categorias teológicas
“fechadas” e descontextualizadas como “definidoras” de um determinado posicionamento político
se torna problemática e tende a obscurecer mais do que desvelar as dinâmicas que se estabelecem
entre crenças escatológicas e discursos/práticas políticas. Na realidade, o pêndulo que vai do
pessimismo quanto a um mundo insuportável, que será consumido pela iminente intervenção
divina, ao otimismo quanto à possibilidade de se construir uma sociedade cristã que seja um farol
precursor de um período de reinado de Cristo na Terra através do seu povo – sem a necessidade
de sua Segunda Vinda – mantém uma relação direta com uma determinada “cultura política”
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compartilhada e com a proximidade ou não que o grupo tem com o poder político. Portanto,
abandonando análises de questões escatológicas que não levem em conta o contexto
político/nacional no qual se inserem e evitando o equívoco de se esperar que uma dada crença
teológica venha a determinar inexoravelmente certo comportamento político, cremos que no
período da pesquisa – período no qual há uma alteração na relação entre fundamentalismo e política
– as transformações do terreno político não foram acompanhadas, na mesma velocidade, por
reformulações teológicas, especialmente na questão da escatologia. As transformações das crenças
teológicas ocorrem na perspectiva da longa duração e não na dinâmica mais imediata das
contingências políticas. Nesse descompasso de ritmos, abre-se espaço para a compatibilização de
crenças e práticas consideradas incompatíveis.

Canção Popular no processo revolucionário francês: suporte e ativismo


político (1789-1794)
Allysson Fillipe Oliveira Lima
lima.historia@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Culturas Políticas, Canção Popular, Ativismo Político, Revolução


Francesa.

Os escritos de Jules Michelet sobre a Revolução Francesa adentram o processo


revolucionário. O autor comunga com os personagens da Revolução, parece estar entre eles,
celebra o discurso revolucionário sobre o “novo”, seja em relação ao Estado, ao tempo, ou mesmo
ao homem. Michelet acredita nas palavras dos revolucionários e na defesa das ideias republicanas
de Rousseau, que dizia ser possível reformar uma sociedade a partir do político, construindo-a de
forma mais livre, igualitária e justa. Em contraposição a esse método, Alexis de Tocqueville afirma
que para melhor compreender a Revolução Francesa, dever-se-ia realizar um balanço do evento
buscando origens e resultados, não o seu discurso. Assim, ele conclui a Revolução Francesa como
um processo de centralização administrativa do Estado, o que explicaria a transformação do antigo
Estado absolutista no moderno Estado autoritário de Bonaparte. Para ele, é preciso duvidar do
discurso revolucionário: uma grande ilusão que trouxe um governo autoritário aos que bradavam
por participação política.

François Furet afirmou que todas as histórias sobre a Revolução Francesa tiveram que optar
entre as abordagens de Michelet e Tocqueville, entre acreditar ou não no discurso revolucionário.
Proponho, neste trabalho, uma compreensão da Revolução sob a articulação entre os dois
pensadores. Desejo com a minha apresentação compreender melhor três importantes momentos
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da Revolução utilizando de canções populares como fontes históricas. Primeiro, como se forjou ao
longo dos primeiros anos do processo revolucionário um cantar intrinsecamente ligado ao ativismo
político. Segundo, como essa forma de ação política foi absorvida pelos ideais republicanos.
Terceiro, como o afastamento da participação política popular e a institucionalização do seu canto
por um governo revolucionário abriu caminho também para o autoritarismo. Comungando com o
pensamento de Lynn Hunt a respeito da linguagem revolucionária, acredito que a canção popular
ao longo da Revolução Francesa não serviu somente como suporte de ideias, como reflexo dos
acontecimentos históricos, ela própria sofreu modificações e se transformou em um instrumento
de mudança política e social. Assim, defendo que o estudo da canção popular pode contribuir para
melhor compreensão de ideologias e práticas, bem como resultados e legados da Revolução
Francesa.

Um Carvalho de Justiça na fala de um jurista: O Mundo Natural na


Inglaterra Moderna
Tiago Oliveira Tardin
t.o.tardin@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Manwood, Inglaterra, Floresta, Modernidade.

A Época Moderna legou a Europa transformações e reflexões em todas as áreas da


sociedade, inclusive, na ordem do pensamento político. No que diz respeito à Inglaterra, Estado
em formação, a cultura letrada buscava adaptar discursos e ideias de uma ordem e justiça civis em
um espaço ainda marcado por uma cultura e valores feudais e tendo a Natureza como espaço social.
Por meio desses espaços, sobretudo das Florestas, é possível identificar elementos desse
pensamento político moderno, na execução de uma instituição real e presente desde a Baixa Idade
Média – A Royal Forest. À luz do jurista John Manwood, e pelo suporte de uma bibliografia atenta
às florestas inglesas e seu efeito para o Homem inglês, o trabalho pretende apontar de que forma
essa reconfiguração da política nas florestas inglesas serve como elemento de reflexão frente a um
Estado que se pretendia, tal como outros territórios europeus, moderno, sem excluir, de todo,
traços do seu legado e costumes. Em outras palavras, uma Inglaterra personificada pela ordem e
justiça.

Ideias Globais: apropriações dos fascismos europeus no Brasil de Getúlio


Vargas

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Vinícius Bivar Marra Pereira


vinimarra@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: História Global, Nazismo, Fascismo.

A perspectiva denominada História Global (ou Transnacional), inaugurada por Arnold J.


Toynbee, convida os historiadores a uma análise do passado que transcende as fronteiras do
Estado-Nação. Nas últimas três décadas, migrações e trocas culturais entre diferentes regiões do
globo passaram a ser objeto de pesquisa de historiadores no Brasil, bem como na Europa e nos
Estados Unidos. Este trabalho tem como objetivo, utilizando-se da História Global como
referencial teórico, analisar a recepção e apropriação no Brasil de ideias políticas vinculadas ao
conceito de fascismo surgido na Europa no início do século XX. Dentre os temas pertinentes ao
debate proposto o artigo trata dos fluxos migratórios para o Brasil na década de 1920, a introdução
no ambiente político brasileiro de ideias associadas ao fascismo e da sua apropriação por atores
políticos e sociais durante o primeiro governo Vargas (1930-1945). Este trabalho é um
desdobramento da tese de mestrado confeccionada durante estudos na Universidade de Columbia
entre 2014 e 2016.

O conceito de resistência: Possibilidades de pesquisa e o estudo de casos de


resistência à política de nacionalização do ensino
Milene Moraes de Figueiredo
milene.figueiredo@acad.pucrs.br

PALAVRAS-CHAVE: Nacionalização do Ensino, História Cultural do Político, Estado Novo,


resistência.

O conceito de resistência se modifica de acordo com a realidade social, práticas políticas,


culturais e estruturais em que está inserido. Esse pode ser um dos motivos para encontrarmos
diversos casos de generalização desse conceito. Porém, nem todo ato de rebeldia, protesto ou luta
pode ser considerado resistência. O trabalho objetiva, discutir a relevância, os desafios e
possibilidades de pesquisa desse conceito, e analisar um caso de microrresistência ao Estado Novo,
mais especificamente o de escolas de origem alemã que resistiram à política de nacionalização do
ensino. Compreende-se a resistência como um caminho privilegiado para pensar a violência e
repressão que o regime estadonovista exerceu sobre as escolas étnicas. O trabalho segue os
pressupostos teóricos e metodológicos da História Cultural do Político e utiliza como fonte
correspondências trocadas entre o Ginásio Teuto-Brasileiro Farroupilha e as instâncias
governamentais nos âmbitos estaduais e federais.
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Contestações contemporâneas: movimentos sociais,


lutas recentes por direitos no Brasil e história do
tempo presente

Carlos Eduardo Frankiw de Andrade


Doutorando em Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades
Simpósio Temático

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP)


maledictu@gmail.com

Igor Thiago Moreira Oliveira


Doutorando em Educação
Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (FAE/UFMG)
igor1871@gmail.com

Proposta do Simpósio:

O presente Simpósio Temático detém como proposta atrair pesquisadores e trabalhos que
procuram focar suas perspectivas de estudo na abordagem analítica e crítica de sujeitos envolvidos
na atuação em movimentos sociais e políticos e suas concepções e práticas desenvolvidas em lutas
por direitos no Brasil e na América Latina no contexto compreendido entre a década de 1990 e os
dias atuais.

O contexto iniciado a partir dos anos 1990 pode ser caracterizado pelos reflexos e
transformações oriundas da acelerada inserção da região nos processos mundiais de globalização
em desenvolvimento. As profundas transformações nas estruturas econômicas, políticas e sociais
e a continuada reformulação do papel das instâncias estatais e suas atribuições em meio às
sociedades latino-americanas ocorridas deste então tiveram por consequência impactos dramáticos
sobre o desenvolvimento histórico destas sociedades: da precarização de condições de trabalho,
moradia, transporte, educação, saúde, cultura e lazer à reformulação/redução/flexibilização de
direitos, as mudanças iniciadas a partir deste período temporal vieram a se reverter em um
descontínuo processo de cristalização e ampliação de diversas desigualdades historicamente
construídas e ainda existentes na região. Paralelamente a este cenário, e em resposta a estes
impactos, este período veio igualmente a assistir à insurgência de um inovador conjunto de atores,

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demandas, práticas e formas de organização e de luta em favor da manutenção ou ampliação do


arcabouço de direitos em diversas temáticas e espaços. Sejam inspirados em movimentos de
resistência ocorridos em outros países num contexto pautado pela crise das alternativas forjadas ao
longo do século XX, sejam se organizando a partir de demandas locais e fazendo usos criativos de
diversas tecnologias de informação e comunicação contemporâneas, tais atores estariam trazendo
em sua atuação significativas transformações na esfera pública regional passíveis de recuperação e
análise a partir de instrumentos oriundos das áreas da História Oral e da História do Tempo
Presente, bem como de outros campos do saber em Humanidades.

Tendo em vista o recorte temporal proposto por este Simpósio Temático, é igualmente
intenção atrair pesquisadores e estudos situados em outras ramificações do saber no campo das
Humanidades imersos nesta temática, de modo a propiciar a construção de um espaço de discussão
interdisciplinar ao longo do andamento do encontro.

Comunicações:

O Levante no movimento de redes: uma pesquisa de mestrado que se inicia


no perfil do Facebook “Levante do Metal Nativo” (2015-2016)
Natasha Aleksandra Bramorski
nbramorski@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: História Tempo Presente, Indígena, Heavy Metal Nativo, Facebook.

Quem abriu o Facebook no dia 25 de setembro de 2015 e procurou algum tema relacionado
às bandas Aclla, Armahda e Voodoopriest de São Paulo (SP), Arandu Arakuaa de Taguatinga (DF),
Cangaço e Hate Embrace de Recife (PE), Morrigam do Macapá (AP) e Tamuya Thrash Tribe do
Rio de Janeiro (RJ) se deparou com o Levante do Metal Nativo, estas oficializaram um movimento
(a princípio) cultural através deste perfil “coletivo” de Facebook. Estas bandas se conheceram
através de indicações de seus fãs, e utilizando das ferramentas de internet (principalmente Facebook
e Youtube) foram afinando laços, unindo-se para ganhar força e visibilidade para o que defendem,
ao mesmo tempo em que se definem, enquanto um movimento de bandas que fundem o Heavy
Metal com elementos da música, folclore, cultura e história indígena e do Brasil.

Pesquiso sobre algo que está acontecendo, que está em transformação. Um tempo que é o
qual eu vivo, tenho minhas experiências e, meus sujeitos da pesquisa fazem o mesmo, tem suas
experiências e escolhas. É uma história quente, saída do forno, e a minha parece um pouco crua,
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se assim posso brincar, produzida através de moradas provisórias. Este fator traz uma demanda
própria, e muito interessante, que amplia o debate e as dúvidas perante esse campo historiográfico
chamado História do Tempo Presente.

Os sites oficiais de notícias sobre Heavy Metal encaixavam estas bandas no Folk Metal
Brasileiro devido a um estilo consolidado no exterior com este nome (Folk Metal), onde as bandas
buscam suas origens, o passado de sua sociedade e, colocam elementos das descobertas em suas
canções (celta, vikings...). A partir do momento que a internet possibilita a troca de dados entre os
próprios usuários, desencadeia um novo processo de sociabilidade. Hoje através dos perfis, estas
bandas podem se expressar por elas mesmas, criam seus filtros, e publicam sobre si mesmas. Não
podemos esquecer que Facebook não é um local público, é necessário acesso a internet, um
cadastro, compreender a linguagem, entre tantos outros elementos que limitam a um grupo restrito.
Até o momento, são mais de dois mil seguidores do Levante, e cada postagem tem em média 1500
visualizações, e pelo menos, um terço dos que visualizam curtem o que foi postado. Através das
ondas da internet, estas bandas pegam youtube e dão a facebook a tapa. Se organizam, criam suas
redes de parceria, apoio e fanáticos.

O Posicionamento dos Sindicatos de Belo Horizonte Quanto ao Projeto de


Lei 4330 (2004-2015)
Guilherme de Amorim Lino
guilherme32129@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

O presente trabalho tem como objetivo analisar o posicionamento de alguns dos sindicatos
de Belo Horizonte frente ao projeto de lei 4330, de autoria do deputado federal Sandro Mabel (PL-
GO), que dispõe sobre o regime de terceirização do trabalho e de prestação de serviços a terceiros.
Apresentado à Câmara dos Deputados em 1998 e apreciado no plenário em 2004, sua tramitação
foi marcada por calorosas discussões, dando margem a julgamentos favoráveis e contrários por
parte de sindicatos, centrais sindicais e movimentos políticos. Nossa pesquisa analisará os seguintes
sindicatos de Belo Horizonte: SINDELETRO-MG, SINDMETRO-MG, SINDADOS-MG,
SINDMETAL–BH/CONTAGEM e Movimento Mundo do Trabalho Contra a Precarização,
organização política que engloba diversos sindicatos de categorias diversas. O tema desta pesquisa,
ainda em andamento, é, na visão de historiadores do sindicalismo brasileiro, um dos mais discutidos
nos últimos anos, tendo se tornado a principal pauta de lutas e mobilizações nacionais. Temos

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como fundamentação para a escolha do tema a História do Tempo Presente, que defende que os
historiadores podem e devem se ocupar dos problemas do mundo contemporâneo, apontando sua
historicidade e as soluções encontradas ao longo do tempo. Assim, nos dedicaremos à recuperação
das múltiplas interpretações que os sindicatos de Belo Horizonte elaboraram, difundiram e
defendera, entre 1998 e 2004, atentos aos aspectos políticos e culturais dessas disputas.
Utilizaremos como fontes para nosso trabalho entrevistas com sindicalistas e jornais, boletins e
panfletos desses sindicatos, atentos à construção do posicionamento político destes e da construção
de autoimagens do trabalhador. Assim, utilizaremos como metodologia de pesquisa os
pressupostos da História Oral - que defendem os limites e as confluências entre a história e os
fenômenos da memória, tomando estes últimos como objeto de reflexão - e da História das
Culturas Políticas - especialmente naquilo que toca o papel dos jornais como vetores de difusão
das representações políticas. Por fim, este trabalho cumpre o papel de resgatar a memória de uma
das lutas mais significativas e ainda em curso, visto que o PL 4330 se encontra atualmente em
tramitação no Senado Federal com o título de PLC30.

História e memória da deficiência física no Brasil dos anos 80: notas sobre
Não se cria filho com as pernas..., de Maria Luiza Câmera
João Batista Peixoto da Silva
joaobatista.peixoto@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE:

O capítulo da história da deficiência física no Brasil ainda necessita de um esforço mais


abrangente no sentido de afirmar uma diversidade de recortes temáticos e de perspectivas
metodológicas que permitam iluminar ângulos inesperados sobre a experiência histórica do que é
ser deficiente físico, redimensionando a associação da experiência da deficiência física com o
universo da saúde, da política, da cultura e etc. Nesse sentido, a proposta do presente trabalho
consiste em apresentar questões próprias da pesquisa em torno dos recortes teóricos e
metodológicos que abrangem o tema da deficiência física, tendo por marco cronológico os
primeiros anos da década de 1980, no contexto do Brasil da redemocratização e da abertura política,
problematizando a experiência da deficiência física numa perspectiva da afirmação de uma política
de visibilidade positiva em torno desse tema, em que o horizonte da cultura escrita permite
compreendermos o potencial de pesquisa que reside na relação entre a história e a memória da
experiência da deficiência física no Brasil. A partir de uma perspectiva política pretendemos
compreender como a obra Não se cria filho com as pernas..., de Maria Luiza Câmera, publicada
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originalmente em 1981, revela um conjunto de representações sobre o tema da deficiência física no


horizonte de uma história da saúde e das doenças na época, expressando aproximações e
distanciamentos entre a história e a memória.

Violência Doméstica: O Discurso Mediado Antes e Depois da Criação da


Lei Maria da Penha e Suas Implicações Jurídicas e Sociais no Município de
Montes Claros entre a Década de 1970 aos Dias Atuais
Lara Lanusa Santos Nascimento
laralanusa@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE:

O presente trabalho tem como objetivo comparar a história das mulheres vítima de
violência doméstica sobre o discurso mediado antes e depois da Criação da Lei Maria da Penha e
suas implicações jurídicas e sociais no Município de Montes Claros/Minas Gerais. Destina-se
realizar um estudo dos processos-crime relacionados aos crimes de lesão corporal, homicídio e
estupro contra as mulheres em situação de violência doméstica que se encontram no CEPEDOR
– Centro de Pesquisa e Documentação Regional, da Universidade Estadual de Montes Claros –
UNIMONTES –, enfatizando o discurso do sistema judiciário e seu posicionamento diante de tais
crimes no Município de Montes Claros entre as décadas de 1970 a 1990; e no Núcleo de Defesa
dos Direitos da Mulher em Situação de Violência - NUDEM, identificando as políticas públicas e
ações voltadas para as mulheres vítimas de violência doméstica no Município de Montes
Claros/MG no período de 2006 a 2015.

Intolerância contra religiões de matriz africana


Marcelo Martins Lazzarin
marcelolazzarin@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

O Brasil é uma nação multicultural, e uma de suas diversidades mais marcantes são as
manifestações religiosas presentes em seu território. Visando a garantir o respeito e pluralidade
dessas expressões, o Art. 5º Inc. VI da Constituição Federal de 1988 garante a liberdade de crença
e de culto e a proteção dos locais e das liturgias religiosas. O interesse da pesquisa consiste em
entender como as religiões de matriz africana são percebidas pela comunidade, por praticantes de
outras religiões e pelo poder público. Investigarei a intolerância contra as religiões de matriz
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africana, como o candomblé e a umbanda. A pesquisa abrangerá a região metropolitana de Belo


Horizonte. Para isso, terei como referência as denúncias de intolerância religiosa encaminhadas, ou
não, ao poder público, além do banco de dados do Núcleo de Estudos sobre Populações
Quilombolas e Tradicionais Nuq/UFMG, do Catálogo das Expressões Culturais Afro-brasileiras
de Belo Horizonte, ainda não publicados. As representações sociais, muitas vezes, se fazem por
meio de relações assimétricas, deslegitimam o lugar do “outro”, o colocando em um patamar
inferior. A ignorância, o preconceito e a discriminação são noções cuja análise permitirá entender
as raízes do problema.

Identidade Americana e a Questão dos Direitos Civis Homossexuais


Ulli Christie Cabral
ulli.cristie@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE:

As religiões têm feito parte da cultura humana desde tempos remotos. São produzidas pelas
sociedades ao mesmo tempo em que possuem influência sobre as mesmas. O intento desse trabalho
é o de analisar a relação intrínseca que os ideais puritanos têm com a identidade estadunidense. A
ideia é de fazer um levantamento sobre a construção dessa identidade, passando pela teoria do
“destino manifesto” e a busca de raízes com os chamados “pais peregrinos”. Perceber o peso e o
impacto que a identidade puritana teve na política norte-americana e os entraves e disparidades que
causou, principalmente no campo das políticas sociais. A partir das reflexões do documentário “For
the Bible Tells me So”, feito por Daniel Karslake em 2007, pretendo ponderar sobre como essa
mesma identidade é usada em um caminho contrário: o mesmo ideal de liberdade aliada à conduta
cristã empregada na defesa dos direitos dos homossexuais nos Estados Unidos. O objetivo é
observar como um mesmo discurso pode ser utilizado por grupos opostos e o quanto ele é
importante nas questões políticas e sociais dos Estados Unidos.

Movimentos de Contracultura na America e sua Epistemologia Decolonial


Miriam Gomes Alves
war6miriam@gmial.com

PALAVRAS-CHAVE:

Os movimentos identitários ganham força no século XX quando as lutas por libertação


assumem um caráter global, principalmente na década de 60, quando os movimentos sociais
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contam com o impulso da revolução-tecnológica. Essas lutas se concentram em bandeiras


identitárias, ultrapassam fronteiras territórios e se distingue dos movimentos de luta de classes, pois
suas reivindicações estão para além, produzindo novas concepções de mundo, por meio do
reconhecimento e valorização pluri étnica dentro de um Estado repressor. A ideia de Nação supre
assim as identidades e memórias de cada povo, que não tem como conter os intensos avanços
econômicos, frente à mobilidade extraterritorial do capital financeiro, social, simbólico e humano.
Em meio à afirmação de multidão, que é parte de um processo de “democratização”, encontra-se
o caráter de crise diante às realidades de exclusão e marginalização dos que encontram mais
vulneráveis e debilitadas frente à ação do Estado, por meio de suas políticas públicas, de caráter
eugenistas ou sua total ausência. A perda da Soberania de cada grupo étnico torna seus povos
dependentes de uma política segregacionista. Esvaziados da noção de uma identidade coletiva,
individualizados pelo consumo, os grupos étnicos são facilmente dizimados, pela repressão que o
próprio Estado exerce sobre aqueles que não se adequam a sua soberania/tirania. Com os Novos
Movimentos Sociais esses grupos são estimulados pela ideia de Mudança, visam novas formas de
relação de gênero e raça, mudanças no estilo de vida, rompem as fronteiras geográficas e
encontrando força política em sua diáspora e com as juventudes. São movimentos transnacionais
que tem sua origem na Revolução Haitiana, com os ideais Pan-africanistas e subsequentemente nos
movimentos pelos direitos civis e na luta armada, por autodefesa, com os Panteras Negras nos
Estados Unidos e no México com o Exercito Zapatista de Libertação Nacional. Esses movimentos
se interconectam com as manifestações estudantis de 68, pela sua dura repressão e comunicação
por intermédio de sua produção artística, difusão de seus novos estilos musicais e culturais de
subsistência. Os movimentos de contracultura dão luz às teorias de uma epistemologia decolonial.

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A natureza na História: possíveis diálogos entre os


campos historiográficos

Rute Guimarães Torres


Mestranda em História
Universidade Federal de Minas Gerais
Simpósio Temático

rutetorres@gmail.com

Darcio Rundvalt
Mestrando em História
Universidade Estadual de Ponta Grossa
darcio_rundvalt@hotmail.com

Jamerson de Sousa Costa


Mestrando em História
Universidade Federal de Minas Gerais
jamersonscosta@gmail.com

Jonathan Coulis
Doutorando em História
Emory University - USA / Universidade Federal de Minas Gerais (Doutorado Sanduiche)
joncoulis@gmail.com

Proposta do Simpósio:

O objetivo deste Simpósio Temático é discutir como as representações, apropriações e


ideias sobre a natureza estão presentes nas atuais pesquisas historiográficas. Apesar do crescimento
do campo específico da História Ambiental, muitos trabalhos inseridos em outras linhas da
pesquisa histórica revelam as interações entre as sociedades humanas e o mundo natural ao longo
do tempo. Isso porque essas interações perpassam as esferas cultural, política, social e econômica,
nas quais a natureza foi documentada e analisada ou, outras tantas vezes, encoberta pela falta de
um olhar direcionado especificamente para a sua presença nos temas, objetos e fontes trabalhadas.

Desde a conferência da Organização das Nações Unidas, em 1975, até os Parâmetros


Curriculares Nacionais para a educação básica no Brasil, há duas décadas, é observada a necessidade
de pesquisadores e professores transpassarem fronteiras disciplinares para entender, debater e
trabalhar questões ambientais. A História, nesse sentido, tem se mostrado uma área privilegiada
para essa discussão, para refletir sobre os planos de dominação e manejo dos recursos naturais; a
conquista e conformação de territórios e territorialidades; a formação, circulação e intercâmbio de
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ideias sobre a natureza e de agentes científicos e intelectuais; a criação, divulgação e debate sobre
tecnologias de apropriação da natureza; o espaço e os elementos naturais como objetos de disputas
sociais e políticas; a apropriação da natureza na formação das identidades nacionais ou locais; a
constituição dos patrimônios naturais; as construções culturais e sociais das paisagens, bem como
as representações sobre fauna, flora e lugares tidos como naturais; as legislações e os marcos
regulatórios que envolvam o uso dos recursos naturais; as pesquisas sobre saúde, pragas, saberes
locais que envolvem o conhecimento das dinâmicas naturais; dentre vários temas possíveis.

Procuramos, portanto, promover um enriquecimento das abordagens acadêmicas, tanto


para aqueles que trabalham diretamente com as questões socioambientais como para os que falam
de culturas políticas, de intelectualidades, de ciência e técnica, de artes, de redes sociais e outros
vieses aplicáveis. Sendo assim, este Simpósio pode contribuir para um profícuo diálogo
historiográfico ao fomentar a importância dos estudos sobre as interações entre sistemas humanos
e naturais.

Comunicações:

O Instituto Histórico de Ouro Preto e os patrimônios naturais no Brasil


Rute Guimarães Torres
rutetorres@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Proteção à natureza, Serra do Itacolomi, Instituto Histórico de Ouro


Preto.

Esta apresentação propõe discutir as ações do Instituto Histórico de Ouro Preto - IHOP
em prol da proteção da Serra do Itacolomi, entre Ouro Preto e Mariana, como patrimônio natural
a ser tutelado pelo Estado. Na Primeira Conferência Brasileira de Proteção à Natureza, realizada
entre os dias 8 e 15 de abril de 1934, no Museu Nacional, Rio de Janeiro, esteve presente o
advogado e fundador do IHOP, Vicente Racioppi. Como representante do Instituto, Racioppi
propôs a criação da Reserva do Itacolomy como um “relicário ou santuário natural” para proteção
dos “primores da flora” daquela serra. Para além da importância florística, o proponente exaltou o
valor histórico de Ouro Preto, as características naturais da região e o valor do Pico do Itacolomi
como um dos monumentos naturais do Brasil.

Chamaremos atenção para a participação do único Instituto Histórico naquela conferência


reunida para discutir a proteção da natureza. Os Institutos naquele período dedicavam-se quase

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exclusivamente à escrita da História, aos projetos de construção de identidades e memórias


nacionais e, como era o caso do IHOP, também à preservação e restauração de objetos e do centro
histórico de Ouro Preto. Analisaremos, assim, o seu lugar de atuação num momento que o Estado
criava códigos, leis e instituições responsáveis pelos patrimônios artístico, histórico e cultural,
associando os monumentos, as paisagens e as reservas naturais para pesquisa científica, lazer,
turismo e conservação de espécies. Interessa-nos o contexto de criação IHOP e dos outros órgãos
e instituições que trabalharam em Minas Gerais na seleção dos bens patrimoniais naquele período.
Colocaremos em questão as disputas por espaços de atuação, apoios políticos e recursos financeiros
dentro das instituições patrimoniais e de aplicação da legislação em prol da proteção à natureza.

Tomando as propostas de Racioppi, também analisaremos as tipologias de patrimônios


naturais no Código Florestal de 1934 e na Constituição de 1937: os lugares à que foram atribuídos
valores paisagístico e histórico, os monumentos naturais excepcionais e as áreas especiais de
espécies endêmicas. A partir das discussões sobre a criação de uma reserva no Itacolomi,
abordaremos como os patrimônios naturais no Brasil eram pensados e escolhidos pelas
necessidades econômicas, pelos gostos estéticos e pelas memórias alocadas à paisagem, articulando
“proteger a natureza e construir uma identidade nacional”.

A Criação Dos Primeiros Parques Nacionais Brasileiros E A Preservação


Ambiental No Estado Novo
Márcio Mota Pereira
drmmota@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Parques Nacionais, Estado Novo, Itatiaia.

A década de 1930 e suas transformações políticas marcaram uma nova fase da história
brasileira incidindo profundamente nos setores social, econômico e ambiental, inclusive. Atendo-
nos às particularidades que nos interessam – aquelas que tratam das políticas ambientais a partir da
Segunda República, é nossa intenção fazer uma retrospectiva dos instrumentos legais criados
durante a gestão do Presidente Getúlio Vargas e de suas importâncias para a preservação do
patrimônio natural.Várias foram as ações realizadas em governos anteriores – incluindo aqui os
períodos colonial e Imperial – que ambicionassem a preservação ou a exploração racional do meio
ambiente. Poucas, no entanto, surgiram efeitos positivos, sendo a maioria suprimida pelo tempo e
por circunstâncias várias como a necessidade de exploração dos recursos naturais, sobretudo os
vegetais e os minerais.

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A partir do Estado Novo, contudo, o Estado brasileiro voltou novos olhares ao setor,
criando agências e legislações específicas para fiscalizar a exploração das matas assim como outros
instrumentos legais, como as polícias florestais, responsáveis por gerenciar a proteção vigente e
multar infrações. A política ambiental do Estado Novo atinge seu auge com a criação dos parques
nacionais, a partir de 1937, utilizando para tal o modelo norte-americano do Parque Nacional de
Yellowstone.

Representações depreciativas da paisagem: A vastidão do pampa nos relatos


de viajantes
João Davi Oliveira Minuzzi
jdminuzzi@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Relato de Viagem, Pampa, História Ambiental.

Este trabalho visa estudar o pensamento ambiental no início do século XIX, especialmente
sobre a região do pampa, que abrange a atual metade sul do Rio Grande do Sul, partes da Argentina
e todo o território do Uruguai. Estudar este período nos leva a compreender melhor um momento
de transição, onde velhos olhares sobre a natureza se mesclam e se chocam com novas formas de
pensamento, ambos ainda relativamente distantes da visão ecológica, que atualmente pode ser
considerada como a mais expressiva no mundo ocidental. Este estudo parte da História Ambiental
e propicia conhecer melhor os territórios que compunham as regiões do pampa, suas formas de
ocupação e interação com as sociedades que nestes campos se estabeleceram.

As fontes utilizadas para este trabalho são alguns relatos de viajantes que percorreram o
pampa no início do século XIX e nos deixaram registros sobre suas impressões desta região. Irei
aqui apresentar quais eram as visões negativas que estes possuíam sobre o pampa e porque elas
eram expressadas desta forma. Claramente o pensamento destes viajantes não era apenas composto
de depreciações, mas neste trabalho em específico irei deter minha análise sobre estas visões
negativas. Busco compreender como estes aspectos faziam parte de uma tradição de pensamento
maior e mais antiga, que acabou contribuindo para a constituição de diversas formas de perceber e
interagir com a natureza que nossa sociedade carrega até os dias de hoje.

Poluição Do Ar Em Debate – O Caso Da Fábrica De Cimentos Portland


Itaú (1975 -1988)
Renata Cristina Silva

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renatinha.silva@live.com

PALAVRAS-CHAVE: Poluição do ar, Companhia de Cimentos Portland Itaú, Conflitos


sociambientais no Brasil, Contagem.

O objetivo da proposta é apresentar o andamento da pesquisa sobre os impactos


socioambientais relacionados à poluição do ar provocada por atividades industriais em ambientes
urbanos, entre os anos de 1975 e 1988, a partir do estudo de caso da Companhia de Cimentos
Portland Itaú, instalada no complexo industrial da cidade de Contagem, município do estado de
Minas Gerais. Em agosto de 1975, o prefeito Newton Cardoso, aliado à comunidade local, decretou
o fechamento da Itaú até que a fábrica cumprisse a liminar que a obrigava instalar filtros
antipoluentes em suas chaminés. O Caso Itaú ganhou repercussão nacional e teve grande cobertura
das mídias impressas e de TV, até que o presidente Ernesto Geisel baixou o DECRETO-LEI N°
1.413, de 14/08/1975, conhecido como “decreto da poluição” – por ser o primeiro instrumento
de regulação de ações poluentes no País - e pôs fim àquele embate. A investigação que aqui se
propõe parte do pressuposto de que a poluição do ar é um problema complexo e o Caso Itaú ganha
notoriedade neste cenário por se tratar de um problema ambiental, com impactos na saúde pública
e que é consequência direta de uma atividade econômica e reflexo de diferentes interesses políticos
e sociais. A pesquisa tem concebido o enfrentamento da poluição como uma questão social e
política e a fábrica e o seu em torno como um espaço constituído pela história e construído na
correlação do homem com o seu meio. A partir da construção social do ambiente procura-se
avançar por categorias que permitem um estudo mais integrado das inter-relações entre estruturas
políticas, econômicas e culturais que induziram certos padrões de uso dos recursos naturais
disponíveis, tendo como um de seus objetivos apontar a relevância do Caso Itaú no quadro dos
conflitos socioambientais no Brasil.

A paisagem narrada: os Campos Gerais do Paraná em três relatos de viagem


do século XIX
Darcio Rundvalt
darcio_rundvalt@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Relatos De Viagem, Campos Gerais, Paisagem.

Etimologicamente a palavra paisagem vem do francês paysage, datando de meados do


século XVI. Em língua portuguesa seu uso é referido em 1656. Sanderville Jr. afirma que esse
conceito não se refere apenas ao espaço, mas a uma apropriação peculiar, à construção de um

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território e de um povo; seu sufixo (agem), do latim imago, remete à ideia de forma, semelhança,
aspecto, aparência, indicando tanto a ideia de imitação quanto de representação. Desde a
publicação, do O Sistema da Natureza de Lineu (1735), da expedição La Condamine (1735-1744)
e da expedição de Alexander von Humboldt à América Latina (1799), a viagem, como forma de
adquirir conhecimento, se difundiu entre as instituições europeias de saber. O período do fim do
século XVIII e XIX é marcado pela realização das chamadas “expedições científicas”, nas quais
instituições e/ou capitalistas mobilizavam grupos de cientistas e capital com o objetivo de conhecer
as potencialidades e produzir imagens sobre o que consideravam ser o “resto do mundo”. A partir
da vinda da corte portuguesa e da abertura dos portos brasileiros ao comércio internacional, em
1808, Sérgio Buarque de Holanda propõe a ideia de um “novo descobrimento do Brasil”:
excetuando os primeiros momentos da colonização portuguesa em terras brasílicas, o país nunca
parecera tão atraente aos geógrafos, aos naturalistas, aos economistas, aos simples viajantes, como
naqueles anos. Multiplicaram-se as viagens pelo interior do Brasil e a produção e circulação de
relatos de viagem sobre o território seguiram o mesmo ritmo. Desde esse período até o fim século
XIX, os Campos Gerais, no segundo planalto paranaense, foram visitados por viajantes europeus
e brasileiros. Os relatos deixados por eles constituem um importante conjunto documental para a
historiografia paranaense. Dessa série, selecionei três para compor a pesquisa que se segue. São
eles: Viagem pela comarca de Curitiba, de Auguste de Saint-Hilaire, sobre a viagem que o naturalista
fez em 1820; Novo caminho no Brasil Meridional, de Thomas Plantagenet Bigg-Wither, relata a
permanência do engenheiro em terras paranaenses de 1872-1874; e Viagem filosófica aos Campos
Gerais e sertão de Guarapuava, de Visconde de Taunay, que narra a viagem do então presidente da
província em 1885. Nesses três relatos cada um dos viajantes destacou os Campos Gerais,
dedicaram várias páginas a descrever a paisagem, buscando expor os elementos que a compunham
e insistindo em sua grande beleza e possível utilidade.

Ultrapassando fronteiras: A natureza e o Ensino de História numa proposta


de sequências didáticas para Ensino Médio
Isabela Cristina Rosa
isabela.rosa05@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Ensino de História, Sequências Didáticas, História Ambiental, Natureza.

A natureza, no sentido amplo do termo, se encontra cada vez mais presente nas reflexões
humanas da contemporaneidade. Em relação à História, enquanto área de conhecimento, não
poderia ser diferente. Nos últimos anos, principalmente após a chamada “crise ambiental” que
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surge na primeira metade do século XX, as discussões em torno da relação homem e meio natural,
bem como história e natureza, têm crescido consideravelmente.

O século XVIII teria deixado como legado a ideia de que a natureza seria algo a ser
dominado, algo distinto do homem. Em decorrência desta e de tantas outras noções acerca da
natureza, a História Ambiental, que vem se configurando desde a segunda metade do século XX,
tem buscado um estudo em que natureza e história/natureza e homem não sejam esferas separadas.
Apesar destas mudanças, a história ambiental ainda possui muitas fronteiras a serem ultrapassadas,
destacando-se aqui a sua dimensão educacional. No Brasil, tanto no meio acadêmico, quanto nas
escolas de ensino básico, há uma dificuldade em se trabalhar no eixo das discussões histórico-
ambientais. A partir de uma análise do Guia do Programa Nacional de Livro Didático (Ensino
Médio/História) do ano de 2015 foi possível observar que, apesar de apresentarem a questão
ambiental como tema central de avaliação dos livros didáticos, as relações do homem com o
ambiente natural não estão explicitadas nos livros aprovados. O tema em si necessitaria de uma
abordagem interdisciplinar e, simultaneamente, a provocaria. No entanto, não é isto que se
evidencia.

Como uma tentativa prática de lidar com esta insuficiência da temática ambiental no ensino
básico brasileiro, foram formuladas duas sequências de ensino, em formato de oficinas, com o
objetivo de abordar, em termos efetivamente histórico-ambientais, a chegada dos portugueses na
América e também as primeiras relações por eles estabelecidas com a Mata Atlântica. Para
elaboração deste material foram utilizadas, evidentemente com sua devida problematização,
diversas ferramentas, tais como trechos de obras de cronistas coloniais, imagens, mapas e filmes.
O resultado final foi um material capaz de ampliar os horizontes da natureza enquanto objeto do
ensino de História.

Empresas, Imprensa e Meio Ambiente


Jamerson De Sousa Costa
jamersoncosta@outlook.com

PALAVRAS-CHAVE: Representações, Apropriações, Desenvolvimento Sustentável, História


Ambiental, Crise Ambiental.

Partindo da investigação de mestrado em andamento no Programa de Pós-graduação em


História da Universidade Federal de Minas Gerais (PPGHis/UFMG) e da disciplina de mesmo
nome, trabalho visa comunicar as tentativas na história recente, e as tendências contemporâneas,

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para aliar empresas e meio ambiente - e as contundentes críticas a respeito. Um breve histórico
sobre o surgimento e consolidação do tema ambiental como preocupação mundial, seguido da
consequente elaboração de processos que conjuguem a busca pelo incessante e crescente lucro -
não raro com implicações predatórias para a natureza - e a sustentação dos elementos necessários
para a vida no planeta. Importante parte da discussão ganha espaço na mídia, ora usada como
espaço para debater boas ideias e práticas, ora como fonte de armazenamento e processamento de
memórias, ora como ferramenta de manipulação em desfavor da natureza - no limiar entre
representações e apropriações.

O Avanço das Fronteiras nos Sertões da Comarca do Rio das Mortes:


análises das interaçõs entre os espaços naturais em regiões de
transformações
Marcelo do Nascimento Gambi
marcelongambi@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Espaços Naturais, Comarca do Rio das Mortes, Sertão, Fronteiras.

Este trabalho propõe analisar o avanço das fronteiras para as regiões interioranas da
Comarca do Rio das Mortes, Capitania de Minas Gerais. Neste contexto, adotamos como viés de
estudo a relação existente entre a percepção dos espaços naturais e os indivíduos que se deslocaram
para estas áreas. Nosso recorte temporal de análise compreende a segunda metade do século XVIII
e início do XIX, período em que ocorreram os avanços das fronteiras, bem como o seu processo
de fechamento. Quanto à análise espacial de estudo, focaremos nas regiões compreendidas como
os sertões a oeste desta comarca, áreas que se destacaram pelo desenvolvimento das práticas
agropastoris e que atraíram um número significativo de indivíduos no período em questão.

Pecuária semi-selvagem: crítica ao modelo pastoril e valorização da


natureza no Ceará do século XIX
Alberto Rafael Ribeiro Mendes
albert.rafinha@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Ceará, Natureza, Pecuária.

Em 1863, ao publicar o seu Ensaio Estatístico da Província do Ceará, Thomaz Pompeo de


Sousa Brasil referia-se ao modelo pastoril cearense como semi-selvagem e entregue às forças da
natureza. O método de criação extensivo, a dependência exclusiva dos recursos naturais, a

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vulnerabilidade em relação aos fatores climáticos, especialmente nos períodos de estiagem, dentre
outros aspectos, representavam a rotina e o atraso do ramo mais importante da economia local.
Seguimos o rastro da pecuária “semi-selvagem” para tentar compreender a formação de uma série
de críticas ao criatório cearense no decorrer do século XIX, especialmente a partir da década de
1830, quando elas se intensificam nos relatórios de presidentes de província, nos escritos de
cientistas da Comissão Científica de Exploração, que em 1859 chegava ao Ceará para desvendar
suas riquezas. Com olhares treinados para ver o mundo natural como fonte de recursos e de geração
de rendas, os membros da comissão contribuíram, sobremaneira, para reforçar a ideia do atraso da
pecuária, ao mesmo tempo em que apontaram uma série de propostas de melhoria neste ramo
econômico.

Dentre estas propostas urgia empreender um melhor gerenciamento dos recursos


diretamente ligados ao sustentáculo da pecuária. Assim, cumpria realizar o plantio de espécies
forrageiras, armazenar o alimento para o gado, mormente nos períodos de seca. Cumpria também
evitar a derrubada e a queimada de árvores, prática largamente utilizada no Ceará e que causou
surpresa nos membros da Comissão e que já vinha sendo combatida por Thomaz Pompeo, nas
páginas do jornal O Cearense, e em sua Memória sobre a conservação das matas, e arboricultura
como meio de melhorar o clima da província do Ceará (1859). Elemento comum em todas as
críticas do modelo pastoril era o entendimento de que a natureza era pródiga, e oferecia todas as
condições ao desenvolvimento do gado, à geração de riquezas e ao progresso do país. Uma defesa
dos recursos naturais pode ser observada no seio das críticas que temos analisado, defesa que tinha
caráter muito mais utilitário do que a valorização natural pelos seus valores intrínsecos. Mas mesmo
assim, uma defesa que orientou as formas de ver a natureza, nomeando-a, atribuindo-lhe valores e
demarcando seus usos. A natureza não nomeia assim mesmo, disse-nos Simon Schama (1996), é
antes um ato de vontade e expressão dos interesses humanos. Assim, cabe analisar ainda, os valores
atribuídos ao mundo natural cearense.

Percebendo a Importância da Serra do Curral, Símbolo Oficial de Belo


Horizonte: A Jurisprudência na Preservação de um Relevante Patrimônio
Cultural e Natural do Quadrilátero Ferrífero
Vagner Luciano de Andrade
trezeagosto@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Investigação Científica, Gestão Pública, Mobilização Social, Proteção do


Patrimônio Natural, Unidades de Conservação.

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A lei, quando se trata de patrimônio cultural ou natural nem sempre é sinônimo de


preservação. A Serra do Curral, ícone dos belo-horizontinos e dos mineiros é um exemplo disso.
O presente trabalho se debruça sobre a pesquisa teórica acerca dos instrumentos legais de
preservação vigentes no entorno do paredão da Serra do Curral, símbolo oficial da capital mineira,
localizado entre os municípios de Belo Horizonte e Nova Lima. Os procedimentos metodológicos
adotados neste trabalho analisam vasto repertório legal existente antes e após a consolidação do
Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC e seus resultados no cenário local,
evidenciando as tentativas legais de preservação desta relevante paisagem mineira. Tal investigação
busca o entendimento da dinâmica legislativa que formata um mosaico de Unidades de
Conservação na área em questão. Vale ressaltar a importância não somente natural, como cultural
desta serra para o município no qual se insere, tornando-a cenário e patrimônio da população belo-
horizontina e legitimando todas as tentativas e conquistas de preservação da biodiversidade e do
marco cultural. Nesta discussão, dentre as unidades legalmente enunciadas, destacam-se os Parques
Estaduais da Baleia e Wenceslau Brás nos quais a discussão dos decretos de criação e/ou
autorização ainda permanece no papel, como proposta efetiva de proteção do relevante patrimônio
natural e cultural da serra. Neste sentido ao entender que a área é fruto de intenções legais
conservacionistas, o futuro objetiva além da efetivação das jurisprudências encontrada. É
necessário a criação de uma única unidade de conservação efetivando assim a preservação de todo
um conjunto de relevância inenarrável.

Entre a amizade e o serviço: discursos de proteção aos animais no Brasil


(1930-1945)
Natascha Stefania Carvalho De Ostos
nataschaostos@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Representações, Proteção aos Animais, Era Vargas.

A história da interação entre os seres humanos e os animais, bem como as representações


criadas sobre os bichos, integram o vasto campo de estudos da chamada História Ambiental. No
caso do Brasil são raras as pesquisas dedicadas ao assunto. Nosso trabalho visa contribuir para o
alargamento dessa área de investigação no país, propondo analisar como, entre os anos de 1930 e
1945, cresceu o interesse do poder público e da sociedade organizada em torno da temática da
proteção aos animais. As reflexões sobre a natureza compõem o campo intelectual brasileiro há
muito tempo, tendo mobilizado diversos sujeitos históricos segundo os aportes culturais, políticos
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e econômicos peculiares a cada conjuntura. Contudo, é possível afirmar que no decorrer do século
XX, notadamente nas décadas de 1920, 1930 e 1940, as discussões sobre a necessidade de se
estabelecer formas “racionais”, menos destrutivas, de lidar com a natureza adquiriram grande força
e impulso no Brasil, mobilizando cientistas, técnicos, educadores e setores governamentais.
Ancoramos nossa pesquisa no estudo da legislação da época – precursora no que se refere a tal
matéria – e em impressos, como a revista infantil O amigo dos animais, que buscaram divulgar a
importância do cuidado com os bichos, com ênfase na educação das crianças. A delimitação dessa
esfera de debate nas publicações consultadas permite entrever que a defesa dos animais se alinhava
com a promoção de valores morais e de projetos políticos específicos, com ênfase no desejo de
formar cidadãos brasileiros cooperativos e patriotas, comprometidos o “progresso” da nação.

• Pesquisa realizada com o apoio do CNPq (processo: 165936/2015-0).

Eliseu Visconti e a História do Design no Brasil


Vania Myrrha de Paula e Silva
vaniamyrrha@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Artes Decorativas, Interdisciplinaridade, Design, Artes Aplicadas, Eliseu


Visconti.

O trabalho faz parte de uma pesquisa de doutorado que tem como propósito identificar e
registrar os primórdios do design no Brasil, na passagem do século XIX para o XX, no período
histórico que corresponde à Primeira República (1889-1930), e, no qual o termo design ou desenho
industrial não se aplicava comumente aos planejadores de produtos e de peças gráficas, conhecidas
como artes decorativas e aplicadas. A pesquisa envolve o estudo das obras do artista Eliseu Visconti
(1866-1944), nascido na Itália e naturalizado brasileiro, mais conhecido por suas pinturas mas, que
apresenta uma obra significativa nas artes decorativas e aplicadas devido a seu envolvimento com
o trabalho de Eugène Grasset, o mestre francês do Art Nouveau, na École Guérin, em Paris, como
bolsista do governo brasileiro, de 1893 a 1901. Pretende-se analisar as características inerentes ao
design presentes em suas obras e reconhecer suas contribuições para o design brasileiro, a partir de
sua experiência na França e de seu retorno ao Brasil. Em 1901, o artista apresentou na Escola
Nacional de Belas Artes – ENBA, no Rio de Janeiro, sua primeira exposição individual, onde
figuravam sessenta quadros e vinte e oito trabalhos de arte decorativa aplicada à indústria. Em
1903, levou para São Paulo a maioria das obras expostas no Rio e, nesse mesmo ano a fábrica
Américo Ludolf confeccionou cerâmicas com elementos da flora brasileira, em uma apropriação

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da natureza que colaborava para a formação de uma identidade nacional, a partir dos seus projetos.
Seu interesse para com a arte decorativa se estendeu do período parisiense até o ano de 1936,
quando finalizou suas atividades na Escola Politécnica no Rio de Janeiro, onde criou uma cadeira
de arte decorativa nos cursos de extensão universitária. As investigações serão feitas por meio de
um método comparativo dentro de um campo teórico-metodológico abrangente, composto por
múltiplas estratégias de abordagens que relacionam História do Design, História Social da Cultura,
da Tecnologia, da Arquitetura e da Arte. Essa abordagem multifacetada permite estudar o assunto
a partir de vários ângulos em vez de uma perspectiva única que privilegiasse apenas os estilos ou
os protagonistas ou a cultura de um povo e amplia o debate sobre a pesquisa em história do design,
campo do conhecimento ainda em construção, dando ênfase à interdisciplinaridade do
conhecimento e do relacionamento entre as ciências.

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História do Esporte e das Práticas Corporais

Gustavo Cerqueira Guimarães


Doutor em Literatura Comparada e Teoria da Literatura
UFMG
Simpósio Temático

gustavocguimaraes@hotmail.com

Thiago Carlos Costa


Mestre em Literatura Comparada e Teoria da Literatura
UFMG
thiagoc_costa@yahoo.com.br

Raphael Rajão Ribeiro


Mestre em História
UFMG
raprajao@gmail.com

Proposta do Simpósio:

O objetivo desse simpósio temático é promover a troca de ideias e experiências de pesquisa,


que têm o esporte e as práticas corporais como objeto de investigação. Nas últimas duas décadas,
no Brasil, a História do esporte e das práticas corporais vem se consolidando no âmbito do campo
acadêmico da História. A complexidade do campo esportivo e a aderência da população global
despertaram o interesse de pesquisadores que vislumbram em tais fenômenos a possibilidade de
ampliar a compreensão de contextos sociais complexos. Hoje, o tema encontra-se disseminado em
programas de pós-graduação de diversas áreas, tais como sociologia, antropologia, psicologia,
letras, educação física e história. Destaca-se, sobretudo na última década, a criação de laboratórios
em universidades de São Paulo, Bahia, Paraná, Minas Gerais, Pernambuco e Rio de Janeiro, o que
potencializou a publicação de livros, capítulos e artigos em periódicos. Nesse percurso, é
fundamental a troca de experiências, debates e o compartilhamento de pontos de vista teóricos,
metodológicos e epistemológicos entre os pesquisadores. Nos encontros nacionais e regionais de
História, os simpósios dedicados ao tema estão estabelecidos desde o início dos anos 2000. Nessa
medida, este Simpósio Temático busca congregar os pesquisadores interessados no esporte e nas
diferentes práticas corporais institucionalizadas: dança, educação física, ginástica, atividades físicas
“alternativas” (antiginástica, eutonia, ioga, etc.), alguns fenômenos análogos de períodos anteriores
à Era Moderna (as práticas de gregos, os gladiadores romanos, os torneios medievais, um grande
número de manifestações lúdicas de longa existência), entre outras (como, por exemplo, a
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capoeira). Trabalha-se, assim, com a perspectiva de utilizar o esporte como uma chave para
compreender, interpretar e/ou explicar cenários culturais, políticos, econômicos e sociais,
sobretudo dos séculos XIX e XX.

Comunicações:

Eu sou da América do Sul: A Copa Libertadores da América sob o sol e a


sombra
Thiago Carlos Costa
thiagoc_costa@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: História, América do Sul, Futebol, Memória.

A Copa Libertadores da América, é atualmente a principal competição interclubes na


América do Sul, é objeto de desejo de torcedores, clubes e jogadores sul-americanos. Também se
tornou um relevante espetáculo midiático, com um crescente sucesso de público em campo e nos
meios de comunicação. Simultaneamente, o futebol se tornou um grande negócio, tanto no âmbito
econômico quanto no âmbito político, para dirigentes de clubes e de federações, além dos políticos
locais. Nesta comunicação lançaremos uma análise nesta competição que criada no início da década
de 1960, permeia o imaginário coletivo dos aficionados por futebol na América do Sul, construindo
identidades, criando intercâmbios de culturas e gerando narrativas memoráveis do futebol para
além da esfera esportiva. Para tal análise focaremos nosso olhar no livro, “Libertadores: paixão que
nos une”, do jornalista brasileiro Nicholas Vital, lançada em 2013 e atualizada em 2014. O livro
apresenta uma linguem jornalística sobre á Copa Libertadores, direcionado ao torcedor brasileiro,
nele Vital faz uma retrospectiva dos primeiros 54 anos de competição analisando ano a ano os
principais destaques do torneio. Portanto, a nossa proposta é projetar a leitura da Copa Libertadora
na perspectiva histórica, e no contexto sul-americano nos âmbitos futebolísticos, sociais, culturais
e políticos.

O impacto das construções das novas arenas na memória e identidade do


torcedor brasileiro
Octávio Henrique Bernardino Ribeiro
otho_henrique@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

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É inegável que o futebol possui papel notório na cultura do povo brasileiro, nos estádios
não estão somente pessoas observando atletas praticando o esporte bretão, está muito além disso,
como dizem: “o futebol é a coisa mais importante dentre as menos importantes”.

O legado da Copa do Mundo no Brasil foi muito mais do que uma grande festa no país,
obras inacabadas, insatisfação popular e grande mídia mundial. Com a realização do maior evento
esportivo do mundo várias arenas brasileiras se adequaram ao conhecido “padrão Fifa”, com isso
algumas mudanças afetaram mais do que o espaço físico dos estádios, a apresentação desse trabalho
propõe a problematização das consequências de tais exigências da Fifa para a realização da Copa
no Brasil. Os estádios de futebol são lugares de memória que abrigam práticas culturais coletivas,
a festa do torcedor é uma celebração, os estádios fazem parte da identidade e memória do torcedor.
Alguns estádios tradicionais foram derrubados para a construção de novas arenas modernas que
não possuem a história e identificação dos torcedores, todas as arenas foram modificadas e os
setores mais baratos conhecidos como “geral” foram extintos, os preços aumentaram, os
torcedores de baixa renda foram afastados daquilo que fazia parte da sua vida, do seu fim de
semana, do seu lazer com a família. O futebol influencia até nas relações sociais entre as pessoas
em seus municípios, o impacto do futebol é enorme, da sua elitização é maior ainda.

A partir dos conceitos de lugar de memória do autor francês Pierre Nora é possível
discorrer sobre o tema e apresentar com bases em estudos reconhecidos o tema do trabalho:
“Mesmo um lugar de aparência puramente material, como um depósito de arquivos, só é lugar de
memória se a imaginação o investe de aura simbólica. Mesmo um lugar puramente funcional, como
um manual de aula, um testamento, uma associação de antigos combatentes, só entra na categoria
se for objeto de um ritual. Mesmo um minuto de silêncio, que parece o extremo de uma significação
simbólica, é, ao mesmo tempo, um corte material de uma unidade temporal e serve,
periodicamente, a um lembrete concentrado de lembrar. Os três aspectos coexistem sempre (...). É
material por seu conteúdo demográfico; funcional por hipótese , pois garante ao mesmo tempo a
cristalização da lembrança e sua transmissão; mas simbólica por definição visto que caracteriza por
um acontecimento ou uma experiência vivida(...)”.

Primeiras Intervenções da Prefeitura de Belo Horizonte na Política de


Esporte e Lazer na Cidade
Marilita Aparecida Arantes Rodrigues
marilita.rodrigues@pbh.gov.br
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PALAVRAS-CHAVE: Lazer, Esporte, Política Pública, História.

O presente estudo está em andamento, é financiado pela FAPEMIG e parte integrante de


uma pesquisa mais ampla realizada junto ao grupo de estudos Polis-CELAR/UFMG, que tem por
objetivo pesquisar a história das políticas municipais de esporte e lazer em Belo Horizonte dos
anos de 1894 a 2012, com foco na história da Secretaria de Esporte e de outros órgãos que
desempenharam a função no decorrer desses anos. O nosso recorte, dentro dessa pesquisa maior,
busca responder a indagação de que se Belo horizonte foi construída pelo Estado para ser a capital
moderna dos mineiros, quais foram as primeiras ações públicas realizadas na área do esporte e lazer
na cidade? Desse modo, o nosso período está compreendido entre os anos de 1894 a 1948, cujo
marco inicial é o planejamento da nova capital para o Estado de Minas Gerais e o final, a criação
de um órgão específico para gerir políticas de esporte na cidade: o Conselho Municipal de Esportes.
Para responder a nossa indagação, eixo de investigação desse estudo, nosso olhar esteve voltado
para a análise do conteúdo e a natureza das ações administrativas que foram realizadas pelo
executivo e o legislativo municipal, na área do esporte e lazer. Nossas fontes foram os relatórios de
prefeitos e a legislação do período. Esse olhar foi igualmente direcionado paras os atores sociais
que estiveram envolvidos nos processos de difusão dessas práticas e suas articulações com o Estado
para a efetivação dessas ações, uma vez que ainda não existiam políticas estruturadas para essas
áreas na cidade. O que identificamos até o momento é que ocorriam ações que atendiam demandas
de grupos ou setores que as apresentavam, ou a construção de espaços que favoreciam práticas
esportivas, de divertimento ou culturais. Tanto o esporte, enquanto marca da modernidade, e
outras práticas de incentivo ao divertimento eram foco da ação e do incentivo de diferentes
prefeitos ao longo do período pesquisado.

Formação de professores na Escola de Educação Física da UFMG: vínculos


entre Brasil e República Federal da Alemanha (1963-1982)
Fernanda Cristina dos Santos
nandacsantos00@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Formação De Professores, Modelos Pedagógicos, Modelos Científicos,


História Da Educação Física.

Este estudo, uma pesquisa de mestrado ainda em andamento, busca investigar a presença
alemã na Escola de Educação Física (EEF) da UFMG entre os anos de 1963 e 1982, no que
concerne a circulação de modelos científicos e pedagógicos para a formação de professores de
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Educação Física. Tal presença se fez possível através do Convênio de Assistência Técnica
Brasil/Alemanha, como parte do “Intercâmbio Técnico Internacional relacionado à Educação
Física e Desportos”, estabelecido entre o Departamento de Educação Física e Desportos (DED)
do MEC e o DAAD, órgão do governo alemão. A realização desta pesquisa está baseada na análise
de fontes que pertencem ao Acervo do Centro de Memória da Educação Física, do Esporte e do
Lazer (Cemef/UFMG) bem como na realização de entrevistas com professores que, de alguma
forma, participaram de diferentes movimentos no diálogo entre os dois países, especificamente no
que se refere à EEF-UFMG. Dentre a documentação, encontramos materiais didáticos, como
filmes e programas de aula, indícios referentes a cursos de pós-graduação, cartilhas de campanhas,
informativos, ofícios, correspondência, assim como o relatório produzido pela professora alemã
Listelotte Diem, que aborda a promoção do esporte no Brasil entre os anos de 1963 e 1982. A
hipótese é a de que tal iniciativa de intercâmbio internacional colocou em circulação uma grande
variedade de pressupostos pedagógicos, políticos e científicos, provenientes de países considerados
como referências na formação profissional da área, neste caso a Alemanha.

Sobre o futebol amador em Belo Horizonte: apontamentos sociológicos


Livio Rodrigues Gomes
liviorogo@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Belo Horizonte, Futebol, Clubes de Futebol Amador.

Nas últimas décadas o estudo das atividades esportivas vem conquistando cada vez mais
espaço nas ciências humanas e sociais. Seja pelo apego de grande parte dos brasileiros pelo futebol,
seja pelo sentido sócio cultural que o encerra, ou mesmo pela riqueza e complexidade que este
esporte apresenta, atualmente não são poucos os trabalhos, artigos, livros, teses e dissertações que
conhecem no futebol seu objeto de estudo, valendo-se de diferentes perspectivas e motodologias.
Percebeu-se que o futebol é um meio privilegiado através do qual pode-se compreender
substancialmente a sociedade e cultura brasileiras. Todavia, o pesquisador deve ter em mente que
o futebol não pode ser concebido de modo generalizante, isto é, existem vários futebóis a serem
estudados. Dentre estes diferentes futebóis, ganha relevo o futebol amador ou de várzea. Este tipo
de futebol é organizado em torno do campo de futebol aberto às comunidades, os quais possuem
qualidades que extravasam seu sentido puramente esportivo – ou seja, como local adequado à
prática do futebol – sendo compreendidos a partir de outras finalidades enquanto equipamento de
uso coletivo. São espaços sociais vitais aos quais se atribui grande importância por parte das pessoas

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que se valem de tal espaço. É comum, neste sentido, que estas comunidades que se localizam nas
imediações destes campos de futebol organizem times de futebol amador. Este fenômeno ocorre
em maior ou menor medida, em maior ou menor grau nas diferentes localidades do Brasil – seja
no meio urbano ou rural -, mas de um modo geral, o que se observa é a existência de times de
futebol amador em todos os cantões do país. Fruto da pesquisa de mestrado desenvolvida junto ao
Programa de Pós Graduação em Sociologia da UFMG, este trabalho pretende contribuir para os
estudos acerca do futebol brasileiro, partindo da perspectiva particular para a geral. Desta forma,
buscou-se através do estudo de dois clubes de futebol amador da zona leste da cidade de Belo
Horizonte (Social Olímpico Ferroviário e Mineirinho Esporte Clube), entender, dentre outras
coisas, sob quais condições operam os clubes de futebol amador, produzindo um panorama da
situação vivenciada pelos mesmos, caracterizando, assim, este tipo especifico de futebol na cidade.

O crescimento urbano de Belo Horizonte e a distribuição dos campos de


futebol amador na capital mineira (1953-1981)
Raphael Rajão Ribeiro
rrajao@ig.com.br

PALAVRAS-CHAVE: História do Esporte, Culturas Urbanas, Futebol Amador.

A partir da década de 1950, impulsionada por um processo de industrialização que se


intensificou na década anterior, Belo Horizonte vivenciou um rápido crescimento urbano, tanto
com relação ao seu número de habitantes, quanto em função das áreas ocupadas, em alguns casos,
atingindo os limites do município e conurbando com cidades vizinhas. Ao longo desse processo
de metropolização, os campos de futebol amador vivenciaram duplo processo, com retração nas
áreas mais centrais, que sofriam com a pressão imobiliária, e de expansão nas áreas mais periféricas,
acompanhando o ritmo da ocupação de novos bairros. A presente comunicação objetiva traçar um
panorama desse processo entre a década de 1950 e o início dos anos 1980, relacionando o
desaparecimento/surgimento dos campos de futebol amador com a trajetória dos bairros da cidade,
buscando identificar casos exemplares em que esses equipamentos esportivos servem como
indícios de processos de transformação do tecido urbano da cidade e de formas de viver na capital
mineira. Por meio de um mapeamento histórico dos espaços de jogo, pode-se observar o impacto
que fenômenos como a especulação imobiliária, as obras de estruturação da metrópole emergente,
o crescimento acelerado e a mobilização popular tiveram sobre o desenvolvimento dessa vertente
popular do futebol.

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Os periódicos dedicados aos clubes de futebol de Belo Horizonte (1946-


1950)
Marcus Vinícius Costa Lage
mvclage@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Rede, Espetáculo, Clubes De Futebol, Imprensa.

O futebol em Belo Horizonte durante a primeira metade do século XX se configurou,


paulatinamente, em um espetáculo de grande penetração social, como evidencia a construção do
Estádio Independência entre 1949 e 1950, cuja capacidade de público se aproximava a 10% da
população da cidade. Enquanto os espaços de formação de futebolistas se expandiam, ampliavam-
se também a participação dos atores sociais extra campo, ensejando uma especialização de funções
e uma divisão social do trabalho nesse universo. O advento de uma imprensa especializada nos
assuntos futebolísticos da cidade se insere, pois, nesse cenário, com destaque para os anos de 1940,
quando a introdução de novos elementos discursivos decodificaram e ordenaram as variadas
formas de jogar e fruir o futebol para uma narrativa midiática voltada para o grande público,
explorando, em grande medida, o “pertencimento clubístico”, identidade cultural que possibilita o
engajamento afetivo do público futebolístico e um dos principais elementos culturais desse tipo de
espetáculo. Dentre as várias iniciativas da imprensa local nesse período, destaco os periódicos
colecionados por Joaquim Nabuco Linhares entre 1946 e 1950 que foram dedicados aos principais
clubes de futebol da cidade, quais sejam: A Raposa (1946) e Olímpica (1946-1949), sobre o
Cruzeiro; Vida Esportiva (1946-1950) e O Campeão (1949), sobre o Atlético; e América (1947-
1950), sobre o clube homônimo. Embora de existências invariavelmente efêmeras, a análise das
condições materiais e humanas de produção, e dos procedimentos retóricos e discursivos de tais
periódicos nos permitem observar questões fundamentais sobre a organização desse futebol de
espetáculo em Belo Horizonte, tais como: i) a existência de uma rede embrionária de jornalistas
esportivos profissionais na cidade e suas possíveis vinculações clubísticas; ii) a heterogeneidade
discursiva dos dirigentes esportivos de um mesmo clube de futebol e suas vinculações sociais,
evidenciadas nas disputas políticas; e, iii) algumas das características do noticiário esportivo de Belo
Horizonte dos anos de 1940 que contribuíram para a popularização e espetacularização do futebol
na cidade e, ao mesmo tempo, contemplavam a perspectiva do lucro e do mercado editorial,
características da “grande imprensa”.

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Liberdade e pós-abolição: histórias sobre a


população negra no Brasil

Jonatas Roque Ribeiro


Mestrando
UNICAMP-Universidade Estadual de Campinas
Simpósio Temático

jonatashistoria2010@hotmail.com

Ana Flávia Magalhães Pinto


Doutora
UNICAMP-Universidade Estadual de Campinas
anaflavia79@gmail.com

Josemeire Alves Pereira


Mestra
UNICAMP-Universidade Estadual de Campinas
josemeire@gmail.com

Proposta do Simpósio:

Este Simpósio Temático, em estreito diálogo com os objetivos do GT Emancipações e


Pós-Abolição da ANPUH, visa promover um espaço acadêmico favorável ao debate teórico-
metodológico entre pesquisadores(as) interessados(as) nas questões referentes às experiências de
liberdade e saída da escravidão no Brasil. Resultado de uma dinâmica de acesso à alforria mais
intensa que a observada em outras sociedades escravistas modernas, o país chegou às primeiras
décadas do século XIX contando com uma expressiva parcela de pretos e pardos vivendo na
condição de livres e libertos. Nos anos seguintes, esse contingente populacional seguiu crescendo
em número e importância, paralelamente à permanência do escravismo legal até 1888. O
reconhecimento das peculiaridades de tal cenário, ao passo em que fundamenta uma crítica à rígida
dicotomia entre escravidão e liberdade, convida à reflexão sobre possíveis fontes e acervos
documentais, procedimentos metodológicos e categorias analíticas que tendem a melhor subsidiar
as abordagens sobre as trajetórias e práticas sociais desses “outros” sujeitos que passam a ganhar a
atenção dos(as) historiadores(as), para além dos escravizados e senhores. De tal sorte, interessa-
nos dialogar sobre as ações políticas, sociais, econômicas e culturais empreendidas por e sobre
negros(as) livres e libertos(as) (ou em luta por liberdade) no Brasil e ainda no período de crise do
sistema colonial. A proposta, pois, pressupõe (mas não se restringe) trabalhos voltados à(s):

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formação da cidadania brasileira; construções identitárias e categorias raciais; participação de


negros/as na política; associativismo negro; trabalho livre e imigração; representações da África e
dos africanos; imprensa negra; comunidades quilombolas e outras comunidades tradicionais;
racismo e antirracismo; religiosidades; gênero e sexualidades; trajetórias individuais ou coletivas de
negros; e políticas de memória da e sobre a população negra.

Comunicações:

“Pretos” e “mestiços” em narrativas sobre Belo Horizonte


Josemeire Alves Pereira
josemeire@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Belo Horizonte, População Negra, Narrativas.

A presença de “pretos” e “mestiços” na composição da população de Belo Horizonte é


apontada em registros documentais policiais e hospitalares desde os primeiros anos após a
fundação da Nova Capital de Minas Gerais, em fins do século XIX. Entretanto, por meio da
historiografia muito pouco se conhece a respeito das mulheres, dos homens e das crianças que já
estavam no território do antigo Arraial do Curral Del Rei e que ali provavelmente permaneceram,
mesmo depois que o Arraial foi suplantado para dar lugar à nova cidade; ou da população de
migrantes que chegavam à capital, em ritmo constante e em número cada vez maior, atraídos pela
possibilidade de acessar novas oportunidades para suster a vida – pessoas negras/os, filhas/os e
netas/os de ex-escravizadas/os e da significativa população de libertas e libertos que compunham
o quadro demográfico de Minas Gerais no século XIX. Partindo desta sensível lacuna, proponho,
por meio desta comunicação, colocar em discussão a produção de conhecimentos sobre o passado
da cidade de Belo Horizonte, sob o prisma das referências (ou da escassez delas) à população negra
que a constituía, em diferentes eixos narrativos, dos quais será abordado de maneira mais detida o
memorialístico (aqui não restrito ao gênero memorialístico). Serão analisados, nesta perspectiva e
em caráter exploratório, o romance naturalista “A Capital”(1903), de Avelino Fóscolo e os registros
de memória do escritor e artista Raul Tassini, reunidas no livro “Verdades históricas e pré-históricas
de Belo Horizonte antes Curral Del Rei” (1947). Ambas as obras são subsidiadas pelas vivências
de seus próprios autores na cidade, durante as primeiras décadas do século XX – Fóscolo
testemunhou os primeiros anos de construção da cidade e Tassini, ali nascido na cidade em 1910,
atuou, depois, como um dos responsáveis pela criação do Museu Histórico de Belo Horizonte

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Cidade (atual Museu Histórico Abílio Barreto), inaugurado oficialmente em 1943 –, e em ambas
figuram personagens negras cuja expressão, ainda que construída/registrada por um outro
radicalmente distinto (e também por esta razão), propõem indagações relevantes às narrativas
lacunares aqui referidas.

Raça, Cidadania e Ordem Social no Brasil: uma análise dos processos-crime


de homicídios na cidade de São Paulo em fins do século XIX e inicio do XX
Angélica Calderari Brotto
angelicabrotto@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

A pesquisa apresentada trata-se de um trabalho, que teve inicio como projeto de Iniciação
Cientifica e segue em ampliação através de um estudo monográfico. Nele, demonstro
possibilidades de análises históricas de processos criminais que envolvem casos de homicídio, na
região de São Paulo, em fins do século XIX e inicio do século XX. A intenção desta pesquisa é
discutir por quais maneiras as ideias de: raça, controle social e cidadania permearam a prática das
instâncias jurídicas, nesse período marcado pelo final da escravidão e primeiros anos do regime
Republicano, no Brasil. Notamos que a bibliografia produzida sobre este tema ressalta,
especialmente, as disputas entre os adeptos das teorias concernentes ao direito positivo
(influenciado pelas teorias raciais e sociais – darwinistas) e aqueles do direito clássico (inspirados
pelas ideias liberais e de igualdade perante a lei), sendo que a principal tensão girou em torno da
admissão, ou não, de aplicar diferentes responsabilidades penais sobre os criminosos. No entanto,
observo que os autores lidos utilizam como fontes documentais, predominantemente, revistas
acadêmicas e obras publicadas por médicos e juristas renomados na época, ou seja, apreendem o
debate em seu caráter, propriamente, teórico. Nesse sentido, pouco foi feito em termos de análises
de casos concretos, assim, acredita-se que o material selecionado para essa pesquisa pode contribuir
para uma perspectiva inédita nos estudos sobre o assunto, uma vez que, nos permite observar a
maneira como delegados, promotores, juízes, testemunhas e réus deram significados às teorias e
discussões em voga. Portanto, além de evidenciar o campo jurídico (e as possibilidades
documentais nele intrínsecas) como um espaço de conflito, onde se reflete disputas de interesses e
concepções de mundo, optamos por fazer uma leitura histórica dos processos criminais, que busca
recuperar a agência dos sujeitos envolvidos e o valor de suas experiências em relação com o mundo
no qual viveram.

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Da liberdade refugiada: abolicionismo popular e territórios da pós-


emancipação (o caso da Penha, Rio de Janeiro, 1880-1960)
Flávia Patrocinio De Paula
patrocinio.flavia@live.com

PALAVRAS-CHAVE:

Nesta comunicação apresentamos os primeiros resultados de um estudo sobre a formação


de espaços de moradias e ocupação no Rio de Janeiro, do final do século XIX até meados do século
XX. Analisamos a formação da Vila Cruzeiro, comunidade situada no Parque Proletário da Penha,
na cidade do Rio de Janeiro. A Penha no século XIX abrigava terras devolutas, parte das quais
pertencentes a grandes proprietários de engenhos e escravos. Havia também pequenas
propriedades e terras pertencentes da Irmandade de Nossa Senhora da Penha. Nas últimas décadas
do séc. XIX, o padre Ricardo da Silva, capelão da Irmandade – empossado em 1882 – teria papel
fundamental em muitas transformações socioeconômicas na região. As formas de poder e controle
dos grandes proprietários de terras locais foram abaladas pelos processos de assentamentos e
territorialização feito por libertos e pequenos proprietários. Além disso, a atmosfera da propaganda
abolicionista gerava disputas e acusações, parte das quais travadas em denúncias pela imprensa do
Rio de Janeiro. O padre Ricardo seria acusado de “acoutar” pequenos grupos de escravos fugidos,
saídos da Corte e das freguesias vizinhas. Além de provedor da Irmandade ele próprio era um
pequeno proprietário de terras na região e entre denúncias e ações abolicionistas, o local ficaria
conhecido como “Quilombo do Padre”. A partir deste processo histórico pretendemos analisar as
formas de ocupação na região, associando as últimas décadas da abolição e as gerações do pós-
emancipação, atravessando o século XX. Como foi a ocupação na região? Qual era a composição
e como se comportavam as famílias pioneiras de libertos, ex-escravos e mesmo fugitivos? Com
base nas poucas referências sobre o “Quilombo do Padre” pretendemos avançar num estudo sobre
pós-abolição e ocupação urbana no Rio de Janeiro. Avaliamos que um estudo sobre a formação da
atual Vila Cruzeiro pode ser o caminho para conectar migrações, memórias e processos de
territorializações étnicas na ocupação do Rio de Janeiro no pós-abolição. Nesta comunicação
apresentamos uma reflexão inicial baseada num repertório de notícias publicadas nos periódicos
Gazeta de Notícias e Jornal do Comércio. Acompanhando estes registros localizamos um rico
debate – entre denúncias e acusações – sobre conexões envolvendo abolicionistas, fugitivos e
jornalistas. Para além do debate abolicionista verifica-se um processo de ocupação urbana que pode
ajudar a pensar uma nova cartografia do pós-abolição no Rio de Janeiro.
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Uma Clio Negra para uma nação multicor: o poder da fala e a escrita da
história por ativistas negros nos anos 1920-1930
João Paulo Lopes
jopalop@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

A vida para a população descendente de africanos não deve ter sido nada fácil nos anos e
décadas após a Abolição da Escravidão de 1888. O ranço da pecha de ex-escravos e o racismo cada
vez mais disseminado na medicina, na política, na literatura, na imprensa, na justiça, fomentaram e
alimentaram uma realidade de mais exclusão e preconceito aos afrodescendentes. Realidade que a
liberdade do cativeiro não apagou e nem minou. A desigualdade econômica, a falta de políticas
públicas para essa população por parte do Estado, a falta de escolarização e de qualificação formal
para o trabalho, a negação de acesso à terra, e a violência generalizada – simbólica e real -
contribuíram para piorar esse quadro.

No entanto, mesmo antes da Abolição, surgiram grupos e associações negras no embate


público em prol do fim da escravidão no país, ou até mesmo como espaço de sociabilidade dos
negros e negras, como o caso das irmandades do período colonial. No pós-abolição esses grupos
cresceram e se articularam em meio às tentativas de modernização que se esperava do país, sob o
regime republicano e adentrando o século XX. Principalmente nos centros urbanos mais populosos
e nos estados de maior incidência da população afrodescendente, o ativismo negro se tornou uma
realidade. O protagonismo de ativistas negros, à frente dessas instituições, promoveu uma
visibilidade aos mesmos e uma singularidade nunca antes vista no país. Podemos dizer que os
jornais, voltados para o público negro, foram os espaços privilegiados para a construção de um
discurso paralelo ao oficial ou intelectualmente predominante. Nas publicações é relevante tomar
nota que por elas também se permite outra visão sobre o negro: de pensadores e ativistas. O
trabalho vai no encalço da escrita dos negros na imprensa no Brasil, durante os anos 1920 e 30, a
partir da leitura de dois jornais, O Progresso e A Voz da Raça. A partir da discussão de Kathryn
Woodward, Stuart Hall e Gayatri Spivaki procuramos ver como o uso da história serviu à discussão
da identidade e da nação brasileira pelos ativistas em questão. A intenção é promover uma análise
de como eles recuperaram e escreveram a história e se habilitaram a dizer sobre o passado do país,
elegendo a trajetória dos afro-brasileiros no processo de constituição da sociedade brasileira,
usando dessa estratégia na construção de uma identidade para si, enquanto grupo social distinto e
uma identidade coletiva que coubesse na ideia de nação, reconstituída no período.
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Hemetério José dos Santos e Alcindo Guanabara: memória, história e


questão racial em disputa no ano de 1913
Aderaldo Pereira dos Santos
aderaldosantos1961@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

Na cidade do Rio de janeiro de 1913, dois importantes intelectuais travaram debate público
através da imprensa sobre o tema da inferioridade do negro na sociedade brasileira. Foram eles,
Alcindo Guanabara e Hemetério José dos Santos. O primeiro, jornalista, deputado e senador,
chegou a ser redator chefe do jornal O Paiz. O segundo, professor de Português do Colégio Militar
e da Escola Normal do Distrito Federal. O debate entre estes dois personagens da época é fonte
reveladora de questões relacionadas à cultura política e cultura histórica que permeavam a sociedade
brasileira naqueles tempos. Percebe-se que entre os dois travou-se disputa discursiva a respeito da
questão racial, que envolveu visões sobre memória e história. A argumentação que cada um
mobilizou para afirmar suas posições políticas e ideológicas possibilita reflexões a respeito do modo
como o ser negro era visto na sociedade. Enquanto Alcindo Guanabara, num primeiro momento,
apresenta um discurso pautado na perspectiva de entender o negro como ser humano inferior,
Hemetério José dos Santos critica esta visão, colocando-se numa posição explicitamente
antirracista. Num segundo momento, o diálogo entre os dois apresenta certo recuo por parte de
Alcindo Guanabara no tocante a sua posição inicial de aceitar a visão de que o negro era inferior
ao branco, o que sugere que tenha aceitado os argumentos de Hemetério. A disputa entre os dois,
então, avança para o campo da memória e da história do negro a respeito de eventos históricos
ocorridos em épocas anteriores ao momento em que se encontravam. Houve entre os dois um
duelo de interpretações a respeito de episódios históricos em que o sujeito negro era protagonista.
É possível se inferir a partir dos posicionamentos dos dois intelectuais, a maneira como a história
da África e dos africanos era acessada para afirmar e refutar certos argumentos. Da mesma forma,
o debate entre eles sugere leituras sobre a historiografia que cada um se pautou para defender suas
posições. Sendo Alcindo Guanabara branco e Hemetério José dos Santos negro assumido, o debate
também é revelador de questões a respeito das relações raciais da época. O trabalho, portanto,
pretende analisar os aspectos aqui elencados, e, desta feita, contribuir para os debates sobre questão
racial na República Velha.

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Encontro de Pesquisa em História
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Folias carnavalescas de uma comunidade negra no pós-abolição: a


Associação José do Patrocínio em Santa Rita do Sapucaí - MG
Paola Nery de Carli
paolaccarli@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Associativismo, Carnaval, Pós-abolição.

A presente pesquisa aborda o associativismo de uma comunidade negra no período pós


abolicionista na cidade de Santa Rita do Sapucaí. O estudo parte da criação e atuação de dois
importantes elos da história e memória negra sul-mineira: a Associação José do Patrocínio e a
agremiação carnavalesca Mimosas Cravinas, ambos fundados e frequentados por homens e
mulheres negros no início do século XX. As barreiras sociais e raciais enfrentadas por esses sujeitos
foi um dos motivos que culminaram na criação do espaço e da agremiação que tinha como um dos
objetivos possibilitar a criação de laços sociais, respeitabilidade e visibilidade através de suas práticas
de sociabilidades e lazer. Portanto, tanto o clube, quanto a agremiação possibilitaram a ampliação
das relações sociais e memórias do grupo através de atividades como bailes carnavalescos,
comemorações do 13 de maio, casamentos e demais encontros que ocorriam aos fins de semana e
em demais dias festivos. Dessa maneira, o intuito dessa pesquisa é elucidar as formas de
organização e participação dos diferentes sujeitos sociais envolvidos na criação e atuação desse
espaço, a fim de traçar os usos e práticas que o permearam ao longo do tempo, não entendendo-o
apenas como espaço de sociabilidade e lazer, mas também como uma forma de luta política desses
homens e mulheres, que não tinham acesso fácil em clubes e blocos carnavalescos da cidade. Para
isso, partimos dos pressupostos da História Social e do uso de fontes como jornais, obras
memorialísticas, fotografias, atas/ estatutos e depoimentos de sujeitos que participaram ativamente
da construção e história da Associação José do Patrocínio e da agremiação Mimosas Cravinas, a
fim de apreender sua importância e papel para a comunidade negra local.

Modos de crer no bairro Dois de Julho no município de Alagoinhas - BA


Rosemary de Jesus Santos
rosedeala@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Memória, Rezas, Imagens, Legado africano.

Este artigo apresenta a pesquisa os modos de crer no bairro Dois de Julho, no município
de Alagoinhas - BA, realizada de maio a julho de 2009, com pessoas acima de cinquenta anos de

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idade. Os saberes que tem matriz não ocidental são historicamente depreciados, especialmente os
de matriz africana que são relacionados a superstições, a saberes do mal, próprios de indivíduos
mental e intelectualmente atrasados. Conceituando cultura como um sistema simbólico,
objetivamos identificar a presença do Legado Africano nas rezas a Santo Antônio realizadas em
residências do bairro Dois de Julho no município de Alagoinhas-BA, analisando a relação dialética
entre a pessoa, sua história, a sociedade e as experiências de vida que as levaram a cultuar de forma
tão singular a Santo Antônio e a Ogum. A oralidade, a memória e as experiências de vida dos
indivíduos mais velhos, que têm a dupla-pertença nos propicia um novo olhar, outras concepções
de mundo são contempladas.

Da cor e das irmandades negras cariocas: africanos, devotos e identidades


atlânticas
Stephane Ramos da Costa
stephane.rcosta@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Africanos no Rio de Janeiro, Irmandades pretas.

Nesta comunicação apresentamos a nossa proposta de estudo sobre os africanos e suas


gerações crioulas no Rio de Janeiro. O ponto de partida foi um tema clássico da historiografia de
Brasil Colonial e também dos estudos sobre a escravidão: as irmandades. Especialmente para
Recife, Salvador, Rio de Janeiro e cidades coloniais de Minas Gerais são vários e clássicos estudos
sobre as irmandades – entre as quais aquelas chamadas negras – analisando as suas constituições,
origens, regras e irmãos. No geral há uma nova formatação historiográfica que tem analisado estas
irmandades não apenas como uma estrutura religiosa – católica e formal – pairando com poderes
sobre populações coloniais. De símbolos de poder e êxito do catolicismo nas Américas, as
irmandades passaram a ser analisadas também como espaços coloniais, onde populações africanas
e seus descendentes se organizaram em termos sócio-econômicos.

Em fase inicial apresentamos algumas reflexões em torno da Irmandade de Nossa Senhora


do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos, uma das mais antigas da cidade do Rio de Janeiro,
datando do século XVII. A documentação da Irmandade encontra-se no Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Trata-se de livros de atas, processos diversos do século
XVIII ao XX. Pensamos numa reflexão que nos possibilitasse entender as formas de organização
comunitárias desta irmandade na segunda metade do século XIX. A idéia seria pensar as dimensões
de identidades e políticas desta irmandade num cenário de transformação urbana, envolvendo

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enterramentos, mão-de-obra, alforrias, pecúlios, etc. Partimos de uma crítica inicial sobre os
estudos a respeito de irmandades que se concentraram em demasia na era da escravidão e tráfico
atlântico, não analisando as transformações internas destas instituições no século XIX. Na
irmandade do Rosário avaliamos inicialmente as transformações étnicas e das “nações” verificando
a concentração de africanos ocidentais e os africanos centrais. A idéia seria pensar estas primeiras
gerações e o legado para as gerações crioulas posteriores. Africanos ocidentais e os africanos
centrais. seria pensar estas primeiras gerações e o legado para as gerações crioulas posteriores.
Pensamos nesta perspectiva inicial compreender as formas de organizações comunitárias – rituais
fúnebres, moradias, mercado de trabalho e alforrias alforrias – no interior desta irmandade, entre
espaços de identidades, nações inventadas e gerações de crioulização.

Fragmentos da vida do pardo Brás Antônio Lopes: a posse de escravos,


família e trabalho
Ana Paula Dutra Bôscaro
paulinha_gdac@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Homens e Mulheres Livres de Cor, Século XIX, Escravidão.

O presente trabalho tem como objetivo apresentar fragmentos da vida do pardo Brás
Antônio Lopes, um pequeno proprietário livre de cor que vivia na Serra da Mantiqueira, Minas
Gerais, na primeira metade do século XIX. Nesse sentido, a partir da análise de Registros Paroquiais
de Batismo, Lista Nominativa de Habitantes e Inventários post-mortem, dedicamo-nos a investigar
e melhor compreender as formas de atuação e os diferentes mecanismos de inclusão, que foram
vivenciados por este sujeito histórico no período em questão. Este estudo de caso pretende ser
uma contribuição ao crescente diálogo acerca das relações sociais e econômicas que fizeram parte
do cotidiano de pretos e pardos livres e libertos no Brasil do século XIX.

Notas sobre a Ordem Terceira de Nossa Senhora do Rosário no Pós-


Abolição (1889-1920)
Mariana de Mesquita Santos
marianademesquitas@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Salvador, Irmandades Negras, Pós-abolição, Cidadania.

No Brasil, dos séculos XVII ao XIX, as irmandades negras representaram importantes


espaços de devoção, convivência, poder e afirmação identitária para a população escravizada e
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liberta do país. A historiografia que trata do assunto destaca um insuspeito vigor destas agremiações
ao longo do regime escravista, sobretudo na América Portuguesa. Essas confrarias leigas garantiram
um ambiente de sociabilidade e reconhecimento social para homens e mulheres negras que se
estende pelo período após a abolição. Tal foi o caso de irmandades como a de N. Sra. do Rosário
dos Homens Pretos do Pelourinho, ativa há 330 anos. A força dessa permanência justifica o estudo
de seu percurso no contexto pós-abolição, em um cenário que, embora não mais marcado
legalmente pela escravidão, ainda se apresenta vincado por práticas sociais e políticas refratárias à
inclusão social de libertos e libertas.

No final do século XIX observa-se um quadro de profundas mudanças na sociedade


brasileira, dentre elas, a passagem do trabalho escravo para o livre e o declínio do Império. A
expansão do número de forros, as leis antiescravistas, o movimento abolicionista, a Lei Áurea e a
Proclamação da República foram inovações institucionais que prometiam modernizar o país por
meio de uma reestruturação sócio-política. No entanto, a aplicação de iniciativas modernizadoras
serviram menos à ruptura da velha ordem e mais à manutenção das estruturas excludentes herdadas
da sociedade escravista. A Constituição de 1891 previa a separação da Igreja e do Estado, de modo
que este passa a ser laico. Assim, as questões de ordem religiosa deveriam ser da alçada das
arquidioceses e dioceses, não havendo mais a competência e ingerência do Estado nestes assuntos.
Neste mesmo movimento, a Igreja buscou afirmar seus domínios, aprofundando suas reformas
pela romanização. Esse novo cenário foi sendo desenhado gradualmente, marcado por tensões
entre interesses religiosos e profanos, entre a União e as unidades da federação, entre trabalho
assalariado e as formas pré-capitalistas de exploração de mão-de-obra, entre poder central e poder
regional e local. As antigas irmandades também buscaram adaptar-se aos novos tempos, de modo
a acomodar sua vocação original com as novas demandas sociais e espirituais. No presente trabalho
enfocamos a relação entre este cenário e a situação das irmandades na capital baiana, procurando
investigar os efeitos dessas mudanças na confraria do Rosário das Portas do Carmo.

Associativismo negro em Minas Gerais no pós-abolição: rastros e marcas da


presença negra
Jonatas Roque Ribeiro
jonatashistoria2010@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Associativismo negro, Pós-abolição, Minas Gerais.

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O propósito desse artigo é romper com o silêncio historiográfico que envolve temáticas
sobre o associativismo negro em Minas Gerais no período do pós-abolição. Tratando de uma
reflexão inicial, o texto privilegia o diálogo com alguns estudos sobre o associativismo negro
mineiro, em particular as trajetórias de clubes sociais negros ao longo do século XX. Como
qualquer trabalho de revisão, as considerações estarão limitadas pelo recorte temporal e pela seleção
dos estudos aqui referenciados.

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A ditadura militar brasileira entre a memória e a


História

Gabriel Amato Bruno de Lima


Mestre
UFMG
Simpósio Temático

amatolgabriel@gmail.com

Juliana Ventura de Souza Fernandes


Doutoranda
UFMG
julianavsf@yahoo.com.br

Carolina Dellamore Batista Scarpelli


Doutoranda
UFMG
carolinadellamore@yahoo.com.br

Gustavo Bianch Silva


Doutorando
UFMG
gbianch@gmail.com

Proposta do Simpósio:

Nos últimos anos, grupos sociais se mobilizaram visando o aprofundamento de discussões


sobre a ditadura em debates acerca da Lei de Anistia e a Comissão Nacional da Verdade. Por outro
lado, parte das memórias sociais subterrâneas sobre o regime vieram a público em manifestações
de rua e nas redes sociais. Todo esse movimento, que engloba tanto as “batalhas de memória”
como os esforços historiográficos de significação da ditadura, sugere a relevância de questões
ligadas ao nosso recente passado ditatorial. Com o objetivo de intervir nesses debates, este simpósio
tem como eixo privilegiado de investigação as relações entre sociedade, política, cultura e economia
no transcurso da ditadura brasileira (1964-1985) partindo dos lugares sociais reservados aos
historiadores. Sendo assim, interessa a discussão acerca das condições que conferiram legitimidade
e proporcionaram a manutenção do regime autoritário por mais de duas décadas, como também
das experiências de enfrentamento, resistência e oposição em contexto regional ou nacional.
Privilegia-se temas aventados pela historiografia recente acerca dos comportamentos ambíguos
com relação ao autoritarismo; estudos que problematizem as batalhas e apropriações da memória;

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reflexões sobre o caráter da ditadura (militar, civil-militar, militar-civil) e sua delimitação


cronológica; análises das características das resistências e das repressões fora e dentro do país, em
suas diferentes linhas de ação, densidade e expressividade; e estudos sobre o funcionamento do
Estado brasileiro no decorrer do período que se convencionou chamar de Regime Militar.
Pretende-se, portanto, colocar em evidência uma historiografia que mostrou novos interesses
traduzidos em temas e objetos ainda pouco explorados, que se distanciam de eixos clássicos como
a repressão política, os sistemas de informação e de segurança, e a atuação dos grupos de esquerda
armada. Essas questões certamente são fundamentais para a compreensão do contexto autoritário,
mas não são suficientes para explicar a permanência dos militares no poder durante tanto tempo.
Assim, a proposta deste simpósio consiste em estimular discussões que ajudem a compreender as
diversas facetas da adesão social conquistada pelo regime militar, bem como trazer à tona novas
abordagens sobre as oposições à ditadura – sempre em diálogo com as memórias construídas pelos
sujeitos que vivenciaram o período e atentando para a especificidade da historiografia no esforço
de compreensão do regime.

Comunicações:

"Quem não pode fazer nada, avacalha e se esculhamba": o Cinema


Marginal Baiano e a contestação à Ditadura Militar (1968-1973)
Laís de Araújo Macêdo
estacaopiraja@gmaill.com

PALAVRAS-CHAVE: Cinema, Bahia, Ditadura.

O cinema marginal baiano, marcou a produção cinematográfica na Bahia entre 1968 e 1973
como uma nova forma de fazer cinema frente às condições políticas e econômicas do regime
militar. O nome dado a este conjunto de filmes surgiu a partir dos próprios realizadores e críticos
de cinema deste período e está associado também a literatura, a música e ao teatro das décadas de
60 e 70. Quase todos os filmes produzidos nesse momento na Bahia podem ser identificados como
cinema marginal, compartilham de temas e características estéticas comuns, tendo sempre como
personagem principal das tramas ficcionais a figura de um marginal, transgressor intencional. Sem
que tenham sido financiadas pelo governo ou empresa privada, as películas buscavam um
rompimento com as exigências mercadológicas da indústria cinematográfica. Essa característica
aparentemente funcionou como causa e efeito do teor subversivo presente nas cenas dos filmes,

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sendo uma necessidade o financiamento próprio ou coletivo, já que nem o governo e nem empresas
estariam dispostas a cooperar com um filme cujo conteúdo subvertia a lógica do cinema
convencional através de experimentalismos, improvisos com a câmera e texto do roteiro,
escatologias, ruídos, fragmentações na narrativa e ironias constantes com situações cotidianas tidas
como burguesas. Há uma crítica expressa através do humor que faz referência às classes média e
alta baianas e à ditadura militar, identificada nas representações de repressão policial e familiar e na
transgressão delas. Assim, este cinema é classificado na literatura cinematográfica como "marginal"
por estar à margem das produções típicas, mas também, como numa relação intrínseca de ação e
reação, por ter nos seus personagens marginalizados e na sua estética uma forma de afrontar o
público e, possivelmente, os membros da censura. O estudo deste cinema implica uma
aproximação com as tensões de um sistema político autoritário que intensificou os atos repressivos
em 1968, a partir da análise dos filmes como produtos do seu tempo.

“Pegar em armas para mudar o destino”: a esquerda armada e a luta contra


a Ditadura Militar no Brasil
Maria Cecília Vieira de Carvalho
mcvieiradecarvalho@gmail.com

José Antônio de Souza Queiroz


jasouzaqueiroz@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

Dos períodos recentes da história do Brasil, talvez seja a Ditadura Militar (1964-1984) um
dos mais revisitados pela historiografia e por outras áreas das ciências humanas. O tema da luta
armada ocupa um lugar de destaque nessa vasta literatura, marcada pelo encontro decisivo entre a
história e a memória. Com o golpe civil-militar de 1964 as vias institucionais de contestação política
tornaram-se cada vez mais estreitas. Com isso, formaram-se organizações revolucionárias por todo
o país, dispostas a pegar em armas para tomar o poder: a Aliança Libertadora Nacional (ALN),
Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), o
Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT) e muitos outros grupos, de legendas e projetos
políticos distintos. Essas organizações empreenderam ações políticas ousadas e surpreendentes,
forçando os militares a aperfeiçoar sua máquina repressiva, o que pode ser observado
principalmente pela criação da Operação Bandeirantes (Oban) em 1969 e, no ano seguinte, do
Departamento de Operações e Informações – Centro de Defesa Interna (DOI-CODI). O objetivo
desse trabalho é analisar os fatores que propiciaram o fortalecimento da tendência revolucionária
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antes mesmo do golpe de 1964, em pleno governo democrático de João Goulart. Pretendemos,
também, analisar o repertório de luta das esquerdas, suas ações mais proeminentes e os principais
projetos políticos que estavam em discussão. Com isso, queremos contar uma história das
esquerdas e da luta que elas ousaram lutar, deslocando-as do lugar de vítima – que constantemente
é atribuído pela literatura de memória – para o lugar da resistência.

Conflitos trabalhistas entre bancários durante a ditadura militar no Estado


da Bahia
Douglas Mota Oliveira
douglasmota96@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

Este trabalho toma por objeto as relações travadas entre os trabalhadores bancários baianos
no contexto histórico da ditadura civil-militar (1964-1985), período caracterizado por uma
conjuntura de superexploração que se coloca para o trabalhador em paralelo ao estreitamento, por
vias repressivas estruturadas pelo regime, de suas perspectivas e mecanismos de organização e
resistência. Converte-se em atividade eminentemente historiográfica da luta de classes brasileira e
baiana, à medida que investiga a postura cotidiana dos trabalhadores bancários frente aos ataques
à autonomia sindical e aos direitos trabalhistas promovidos pelo regime, exercida mesmo nas
minúcias de seu convívio profissional diário. O recorte para a categoria dos bancários opera
redução da escala na análise historiográfica, adotando a microhistória como método para localizar
os trabalhadores bancários enquanto vetores de compreensão da realidade política e social em que
estavam inseridos e da qual constituem-se em sujeitos históricos. Pretende-se, portanto, avançar na
investigação dos contornos de uma cultura cotidiana de resistência da categoria, bem como na
análise do discurso ideológico propagado pelo regime mesmo em seus aparelhos repressivos e em
inquirir da existência de uma cooperação entre o patronato e o regime, no Estado da Bahia. Ainda,
do ponto de vista do Direito do Trabalho e da Justiça de Transição, a atividade deve contribuir
para um melhor entendimento de uma postura do Estado brasileiro de flexibilização de direitos,
mitigação de alternativas políticas e repressão com vistas à viabilização de processos exploratórios
que se estendem da contradição central Capital x Trabalho, e para o reavivamento de uma memória
histórica de posturas autoritárias que possibilite uma ampla compreensão e crítica da presente
experiência democrática brasileira e aponte possibilidades numa perspectiva reparatória. Para tanto,
a pesquisa serve-se: 1 – da descrição e posterior análise de documentos do Serviço Nacional de
Informações (SNI) colhidos no acervo do Arquivo Nacional, com referências à categoria, das atas
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das assembleias e boletins informativos do Sindicato dos Trabalhadores Bancários da Bahia; 2 – de


entrevistas com sindicalistas e ex-lideranças sindicais, militantes e demais sujeitos que vivenciaram
o período objeto de pesquisa; 3 – de revisão bibliográfica que possibilite e potencialize a
contextualização e caracterização do panorama político-social e ideológico em análise.

Pretas e Pretos em movimento: O Movimento Negro Unificada e pautas


para segurança pública - Belo Horizonte por volta da década de 1970
Luciano Jorge de Jesus
proflucianojj@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Segurança Pública, Movimento Negro, Ditadura Militar.

Pensando na necessidade em novas construções sobre a ditadura militar brasileira, o


trabalho proposto pretende investigar a forma como membros do Movimento Negro Unificado
(MNU) construíram pautas para segurança pública durante as décadas de 1970 e 1980. Sua
reorganização apresenta a participação de diferentes setores dos movimentos negros - Coletivo de
mulheres, grupos de capoeira, membros de religiões de matriz africanas - e nessa oportunidade
denunciar a forma como o racismo afeta o cotidiano de pretos e pretas. Nesse sentido a luta contra
o racismo passa a ser encarada por alguns setores do Estado como uma ameaça a uma identidade
nacional, pois, uma de suas principais propagandas era justamente a de apresentar o país como uma
verdadeira democracia racial. O ponto central do trabalho proposto é justamente a possibilidade
de, a partir do relato de militantes, notar quais eram as principais pautas do Movimento Negro
Unificado sobre e para segurança pública. A justificativa pela escolha por esse “braço” da política
pública está em uma das hipóteses desse trabalho. Pois, uma das principais denuncias do
movimento negro era sobre a violência policial contra a população negra. Outro ponto importante
está justamente nos relatos da comissão da verdade.

O historiador no seu presente: justiça de transição e historiografia


Camilla Cristina Silva
ccs.historia@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Historiografia, Justiça de Transição, Memória, Ditadura Brasileira.

Pensar no passado recente é deparar-se com uma miríade de conceitos e discussões do


campo historiográfico para a definição de nosso ofício. Muito se tem falado sobre a “era
memorialística” que estamos vivenciando e a necessidade de superá-la para darmos lugar à história.
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Recorrer à impossibilidade de integração em uma temporalidade reacende o confronto entre


história e memória em níveis catastróficos. Permeando esta tensa relação, vemos a necessidade de
ultrapassarmos os limites de discussões que dedicam toda a atenção à objetividade e/ou
subjetividade do pensamento histórico. Novas questões nos são colocadas no decorrer dos eventos
traumáticos do século XX, e a historiografia mais uma vez demora a se reestruturar, sendo que são
recentes (e ainda conflituosos) os trabalhos que retratam e defendem o papel do historiador como
sujeito transformador da relação entre presente e passado traumático, em um âmbito que
transcende a academia. Esse artigo intenta, assim, inserir-se nesse processo em curso, permeado
pela crise da modernidade e pela necessidade de transformações profundas de como pensamos e
tornamos nosso ofício parte do mundo. De como agimos frente ao passado que não passa de um
ponto de vista ético, que transcende o esteriótipo de intelectual restrito às abstrações e/ou limitado
pela esfera textual do mundo acadêmico, que exprime efetivamente a responsabilidade social com
o seu tempo. Para construir esta análise, utilizaremos como fontes de pesquisa as manifestações e
o envolvimento (ou ausência) de historiadores brasileiros no âmbito da justiça de transição, no
decorrer dos anos. Segundo Benjamin, “o historiador deve encontrar a parcela de novidade, de
esperança e de utopia inerente ao presente da época que ele relata”. O tema escolhido não pode
ser mais atual, frente ao regime de inscrição aberto pela conjuntura de comissões da verdade.

“O PM: Agente Primeiro de Relações Públicas”. A construção da imagem


do policial militar em Minas Gerais para o final do Regime Militar
Marlon Wallace Alves Simões
mwallace104@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Relações Públicas, Imagem e Memória, Polícia Militar.

O fim da ditadura militar e a transição para o retorno à democracia no Brasil na década de


1980 foi um período bastante complexo da história recente do país e merece melhores análises. No
final dos anos de 1970, com o fim da ditadura praticamente anunciado e o retorno ao Estado
Democrático de Direito as Polícias Militares deveriam repensar sua relação com a comunidade.
Lançando mão de modelos gerenciais de empresas privadas, a Polícia Militar em Minas Gerais
passou a utilizar os preceitos de relações públicas e lançou campanhas para aproximação da
sociedade e mudar a forma como era vista. Já no âmbito interno realizou campanhas que
apresentavam discurso de mudanças nas condutas dos policiais, buscando implantar uma nova
imagem para um novo tempo.

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Para tanto, era importante construir uma memória favorável à Polícia Militar e que não
remetesse ao passado da repressão. Um dos passos era mudar a forma como o próprio policial
militar deveria ver sua imagem, ou seja, trabalhar a memória coletiva e assim proporcionar
mudanças na identidade do grupo. Conforme apresenta Le Goff (1990), a memória coletiva é
formada pelas lembranças vivenciadas pelo indivíduo ou aquelas que lhe são repassadas, que não
só lhe pertencem, mas são vistas como pertencentes a uma comunidade. Dentre as estratégias
utilizadas identificou-se a criação de cartilhas e manuais que lançaram mão de uma linguagem
simples e cômica. Destaque para O PM - Agente Primeiro de Relações Públicas edição de 1981 e
de 1988. Associando textos e charges as cartilhas apontam as ações que a PM desejava, e
identificando as que eram consideradas negativas. Retratam situações praticadas pelos militares. A
intenção maior é persuadir e convencer, pois ao ridicularizar o policial truculento, mal fardado, mal
educado, violento e arbitrário, pretende-se desacreditar, desmoralizar, esvaziar os argumentos e
propostas e causar uma reflexão para mudança. As cartilhas analisadas eram de uso exclusivo
interno, uma orientação do comando para os policiais militares, porém saber quem e quantos
realmente estavam interessados na mudança, sua aceitação ou efeito da campanha não foi o foco
desta pesquisa e merece melhor abordagem. As estratégias de relações publicas no trato com o
público externo permite identificar que havia vozes no interior da Polícia Militar que procuravam
transmitir desejos e interesses que conflitavam com uma cultura de violência e arbitrária ligadas ao
período da Ditadura Militar.

As Diretas Já em Minas Gerais: o movimento e seus discursos


Rochelle Gutierrez Bazaga
rochelle_gutierrez@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Diretas, Discursos, Minas Gerais.

O processo de transição política brasileira é fruto de vários fatores que impulsionaram o


fim do regime militar, sendo que as “Diretas Já” constituem esse momento. A campanha reuniu
diversos grupos sociais e políticos, que uniram e organizaram manifestações públicas para
forçar o Congresso Nacional à aprovação da Emenda Dante de Oliveira. Embora já houvesse um
movimento de abertura, o Brasil ainda vivia sob um regime militar, que também impôs obstáculos
a campanha das diretas. Logo, vários foram os discursos produzidos e disputados nesse momento.
Sendo assim, esse trabalho pretende apontar e discutir o movimento pelas diretas em Minas Gerais,
seus atores e os discursos construídos e refletir sobre quais eram os conflitos ideológicos que

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estavam em disputa, principalmente em torno dos conceitos de consenso e da conciliação,


comumente utilizados na imprensa, nos discursos políticos, nos comícios e pelos intelectuais.
Embora tenham se passado trinta anos da votação da emenda Dante de Oliveira, as “Diretas Já”
não se constituíram como um movimento que permaneceu na memória dos brasileiros, em 2009,
o Instituto de pesquisa Datafolha, realizou uma pesquisa com 3.486 brasileiros, em 180 municípios,
onde 35% não sabiam o que eram as “Diretas Já” e 39% não souberam responder o que foi o
movimento, o que reforça a importância de estudos sobre a temática.

A ditadura militar e o Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Belo


Horizonte, Contagem e Região – operários, movimento sindical e os
primeiros anos do regime autoritário (1964-1968)
Carolina Dellamore
carolinadellamore@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Operários, Sindicato, Ditadura Militar.

O objetivo desse trabalho é analisar as ações da ditadura militar sobre o Sindicato dos
Trabalhadores Metalúrgicos de Belo Horizonte, Contagem e Região, entre 1964 e 1968, primeiros
anos do regime autoritário. Procuro identificar como os operários se situaram em relação ao golpe
civil-militar, como se deu a intervenção no sindicato e a cassação de suas principais lideranças.
Examino também o impacto do golpe e da instauração da ditadura na organização dos operários e
na ação do sindicato e como trabalhadores, partidos e organizações de esquerda, alguns atuantes
na Cidade Industrial desde antes do golpe, se articularam para retomarem o sindicato nas eleições
de 1967, possibilitando a organização e o apoio na realização da greve operária de 1968.

Burocracia Diplomática Brasileira Em Tempos De Regime Autoritário


Vanuza Nunes Pereira
nuzanunes@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Ministério de Relações Exteriores, Razão de Estado Autoritário.

Vinculado a uma reflexão teórica sobre a Razão de Estado, este artigo procura discutir a
possível relação de cooperação entre o Ministério das Relações Exteriores (MRE) e o regime
autoritário brasileiro – pós golpe militar de 64. Partindo da análise e das pesquisas realizadas pela
Comissão Nacional da Verdade – CNV – sobretudo em torno de dois capítulos que discorrem

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detalhadamente sobre o tema. Propondo analisar a burocracia diplomática e sua preservada


estrutura permanente de Estado, em tempos de regime autoritário no Brasil.

A historiografia do movimento estudantil: militância política e radicalização


Gustavo Bianch Silva
gbianch@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Militância Política, Movimento Estudantil, Ditadura.

O objetivo deste texto é levantar uma síntese historiográfica dos principais trabalhos que
abordaram o Movimento Estudantil no Brasil, especificamente, do governo de João Goulart (1961)
até a ditadura militar. A escolha deste contexto refere-se à constatação do período de auge do
movimento até seu momento de desarticulação e reorganização (1979). O movimento estudantil
oscilou entre o ativismo em prol das mudanças educacionais e a luta por questões políticas de
cunho mais gerais e estruturais. Questões como a reforma universitária e políticas assistenciais
estudantis se imiscuíam com a luta contra o imperialismo e o capitalismo. Em certos momentos
assumiu-se uma retórica revolucionária que delimitava a separação entre as lideranças do
movimento e o restante dos estudantes não engajados em partidos políticos ou ideologias de
esquerda. Somado a isso, a militância dos estudantes nas universidades também contava com
diversas tendências e correntes de pensamento político no seu interior. Inúmeras organizações
clandestinas, partidos revolucionários e grupos de esquerda influenciavam o movimento em sua
dinâmica de ação e pressupostos teóricos que fundamentavam suas pautas reivindicatórias. O
ponto alto dessa aproximação foi após a sofisticação do aparato repressivo do Estado – sobretudo
a partir de 1969 –, quando muitos militantes do movimento estudantil trocaram o ativismo nas
instituições educacionais para formação de grupos guerrilheiros contra a ditadura militar. Com a
desestruturação da UNE e das UEEs juntamente com a prisão e morte da liderança envolvida com
o movimento, a militância estudantil diminuiu seu aporte geral para o engajamento em escala local,
em grande parte, nos diretórios acadêmicos ou em organizações não reconhecidas pelas instituições
(os chamados DCEs livres), porém, com atuação política relevante. A reorganização da UNE foi
sacramentada em 1979, no bojo das manifestações a favor da redemocratização. Diante disso, o
objetivo deste texto corresponde à problematização da associação entre movimento estudantil e a
militância política. Diversos autores se debruçaram para explicar o fenômeno associativo dos
estudantes na promoção da reforma universitária e na luta contra o autoritarismo. A associação

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direta que se faz entre o engajamento dos estudantes e a participação política nos induzem a
questionar: Como a historiografia explicou a radicalização do movimento estudantil?

A representação dos grupos de esquerda no Jornal do Brasil durante o


Regime Civil-Militar (1967)
Lívia Bruna da Silva
livia-bruna@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Esquerda, Imprensa, Regime Civil-Militar.

Esta comunicação pretende analisar as representações dos grupos de esquerda na chamada


grande imprensa durante o Regime Civil-Militar no Brasil. Com ênfase no ano de 1967 e nos
editoriais do Jornal do Brasil, busca-se compreender qual era a visibilidade que a imprensa dava a
essas organizações e identificar as abordagens e discursos neste periódico em relação às esquerdas
envolvidas na luta armada. O período escolhido para análise, o ano de 1967, se dá a grande
movimentação política que caracterizou esse ano, dentre os principais fatos está a promulgação de
uma nova Constituição, a Lei de Imprensa, a nova Lei de Segurança Nacional, além da intensa
movimentação dos grupos de oposição ao regime, através da guerrilha da Serra do Caparaó, 29º
Congresso da Une, condenação do PCB a luta armada, entre outros. O estudo da história das
esquerdas no Brasil é recorrente em muitos trabalhos acadêmicos, o que possibilita a compreensão
de vários problemas relacionados ao tema. Ainda assim é possível propor questões a serem
investigadas, como o caso das representações desses grupos na grande imprensa brasileira. Em
jornais como o Jornal do Brasil podemos inferir que a grande circulação dos periódicos por meio
da grande tiragem era capaz de atingir um maior número de leitores, contribuindo para a formação
de uma opinião pública em relação aos grupos denominados como esquerdas durante o regime de
exceção. Dessa maneira estudos relacionados a esse campo são de grande importância para a
caracterização política e social do período, além de propiciar a compreensão de questões
complexas, como as relacionadas à(s) esquerda(s) e como eram representadas na grande imprensa
brasileira. Entre as hipóteses, acreditamos que grande parte dos discursos e imagens veiculados no
Jornal do Brasil homogeneizavam os grupos de esquerdas envolvidos na luta armada e, que em
momentos de tensão, qualquer oposição ao regime civil-militar poderia ser abordada como
esquerda, o que aprofundaremos nas fontes.

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As Igrejas Evangélicas no Contexto da Ditadura Militar Brasileira: Doutrina,


Perseguição e Censura
Danielle de Souza da Silva Alves
danielle_gatti@live.com

PALAVRAS-CHAVE: Luta e Perseguição, Ditadura Militar Brasileira, Protestantismo,


Evangélicos, Memória.

Durante os anos do regime militar brasileiro, muitos setores da sociedade se posicionaram


contra ou a favor do sistema imposto. Muitas lutas, valores, conceitos e ideologias surgiram a partir
do confronto de pensamentos e ideias desse período da nossa história. Sendo assim, este
trabalho/apresentação propõe analisar a contradição inerente ao adesismo de uma parcela dos
evangélicos ao golpe militar de 1964 e, posteriormente, a sua volta contra o mesmo regime que
passou a reprimir seus direitos, na medida em que conhecemos melhor o comportamento desses
protestantes no contexto de censura, perseguição e doutrina. Como esses cristãos se posicionaram
anos antes e durante a instalação do regime, nos leva a tentativa de compreender as razões
ideológicas e políticas desse grupo perseguido não apenas por militares, mas também, pelos
próprios membros da fé, numa fase da história do Brasil em que por muitos anos se manteve
“esquecida” mas que, as vítimas, os familiares e a nossa sociedade brasileira mais engajada
politicamente, ainda buscam por respostas e pelo resgate histórico de uma memória ainda viva e
encorajadora.

"Com o Brasil de uma nova Arena Jovem": ditadura militar e participação


política nos departamentos juvenis da Aliança Renovadora Nacional (1970-
1979)
Gabriel Amato Bruno de Lima
amatolgabriel@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Ditadura, Jovem, juventude, Arena.

Apesar da historiografia acadêmica mais recente sobre a ditadura ter privilegiado em larga
medida os estudos acerca da base social do regime autoritário, a Aliança Renovadora Nacional
(Arena) ainda não foi tema de muitas pesquisas verticalizadas. Na História não acadêmica e mesmo
no conjunto geral dos trabalhos historiográficos, prevalecem as imagens do “partido do sim,
senhor” e do “partido da ditadura” que os trabalhos de perfil propriamente historiográfico sobre a
Arena têm intentado desconstruir. Com relação ao tema da juventude, por outro lado, predominam
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os estudos que privilegiam os estudantes universitários opositores ao regime como objeto de


estudo. Quando se busca analisar outros comportamentos com relação ao autoritarismo e quando
algum outro recorte social ou político é adicionado (movimento estudantil de direita ou juventude
rural, por exemplo), os estudos se limitam a afirmar a adesão de uma juventude conservadora ao
regime sem qualificar e nuançar devidamente esse apoio. Diante desse cenário, a presente pesquisa
objetiva analisar o tema dos departamentos juvenis da Arena que foram criados no decorrer da
década de 1970 levando em conta o debate sobre a participação política em um regime autoritário.
Ainda que o olhar recaia sob os jovens que aderiram ativamente ao autoritarismo, a intenção é não
perder de vista tanto a multiplicidade de posições dentro do partido como a dinâmica social bem
mais ampla na qual os jovens que se filiavam à Arena atuavam. Por isso, privilegia-se o debate
acerca do ponto central das discordâncias que os jovens arenistas expressavam com relação ao
regime militar: a legislação autoritária sobre participação política em geral e militância estudantil em
particular. Especialmente na segunda metade dos anos 1970, os departamentos juvenis da Arena
engrossaram as críticas do senador Petrônio Portela (Arena-Piauí) ao Ato Institucional nº 5 e ao
Decreto-Lei 477. No entanto, o perfil conservador desses jovens revelava-se em sua defesa de uma
atuação política restrita aos partidos políticos e de organizações estudantis que se limitassem a falar
sobre as demandas específicas das instituições universitárias. As fontes utilizadas para esta pesquisa
são o material jornalístico produzido pela revista Veja e pelo Jornal do Brasil e os manuais,
propagandas, cartas e diretrizes produzidos pelos departamentos juvenis e depositados no arquivo
do Diretório Nacional da Arena.

Perseguição Política a Indígenas na Ditadura Militar Brasileira:


Reformatório Krenak e Fazenda Guarani
Rochelle Foltram
rochelle_hist@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Ditadura Militar, Presídios, Índios.

Como é sabido no período de ditadura militar brasileira e anteriormente, houve a criação


de presídios indígenas ao longo do país. Sabe-se que no estado de Minas Gerais foram construídos
dois reformatórios indígenas, estes conhecidos como: Fazenda Guarani, em Carmésia e o
Reformatório Krenak, em Resplendor. Nestes presídios os indígenas de diversas etnias foram
presos com o argumento de melhorar suas condutas e aprender um oficio. No presente trabalho
busca-se compreender através da perspectiva indígena e de suas memórias o que realmente levou
estas etnias a serem privadas de liberdade e qual o interesse da repressão nestes índios, que em
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muitas vezes foram detidos sem registro e sem a etnia que pertenciam. A parir desta memória
também serão levantados dados dos indígenas que foram mortos e desparecidos nos presídios.
Com o surgimento da Comissão Nacional da Verdade (CNV), indígenas vão começar a questionar
o porquê de a discussão estar sendo feita somente a partir dos mortos e desaparecidos no meio
urbano, justificando como se esta violência só houvesse ocorrido neste meio. Logo, surgem
diversos questionamentos da falta de estudos relacionados aos povos indígenas no período de
ditadura militar, sendo necessário buscar novas vertentes de violência aplicadas pelo Estado no
período de repressão. A partir desta perspectiva, muitas reflexões ainda devem ser contempladas
ou iniciadas. Durante o estudo da Comissão Nacional da Verdade, foram relatos 8.500 mortes e
desaparecidos de indígenas no período de ditadura militar de 10 etnias estudadas, que também
contemplam alguns casos das casas de detenção: Reformatório Krenak e Fazenda Guarani.
Passaram no mínimo mais 15 etnias diferentes que necessitam serem ouvidas para também
trazerem suas memórias e assim completar o passado que o Brasil quer silenciar, além de mudar
significativamente o número de mortos e desaparecidos políticos no Brasil. Através desta pesquisa
também será compreendido o processo de tomada de terras de algumas etnias, o que poderá ajudar
em processos do Estado para reaver ou demarcar estas terras, já como parte de uma reparação do
Estado para com estas populações.

Construindo uma memória: as autobiografias dos ex-guerrilheiros atuantes


na ditadura civil-militar brasileira
Vivian Montezano Cruz
vivianmontezanocruz@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Ditadura Civil-militar, Esquerda Armada, Memória Social.

O presente trabalho tem o objetivo de analisar o processo de construção da memória social


da esquerda armada atuante no contexto da ditatura civil-militar brasileira. Assim, partindo da
análise de dois tempos específicos, isto é, da análise da guerrilha (1964-1973) e de suas narrativas
(1974 a 1988), buscaremos entender as possíveis incoerências no discurso dos ex-militantes que,
através de seus relatos memorialísticos, ajudaram a construir a memória social da esquerda armada.
Para isso, utilizaremos três fontes autobiográficas e alguns documentos operacionais dos
movimentos de guerrilha que consideramos de extrema importância para entendermos os
questionamentos propostos, são elas: O que é isso, companheiro?(1979), escrito por Fernando
Gabeira, Os Carbonários: memórias de uma guerrilha perdida (1980), de Alfredo Syrkis e A fuga
(1984), de Reinaldo Guarany e Imagens da Revolução: documentos políticos das organizações
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clandestinas de esquerda dos anos 1961-1971, de Daniel Aarão Reis Filho e Jair Ferreira de Sá.
Publicados em um contexto de redemocratização, posterior a promulgação da Lei de Anistia
(1979), os relatos memorialísticos ajudaram a construir a ideia de que a luta armada foi um
movimento de resistência democrática à ditadura civil-militar instaurada em 1964. Visto isso, nos
ateremos em pesquisar sobre os motivos que levaram os ex-guerrilheiros da luta armada a
vincularem suas obras ao ideal democrático e não à luta pela instauração da ditadura do
proletariado, conforme proposto inicialmente. Ademais, buscaremos compreender a possibilidade
de este movimento ter se colocado como uma forma de resistência ao novo governo instaurado
pelos militares, com o apoio da sociedade civil.

A ditadura civil-militar nas favelas cariocas: entre a memória e a história


Lucas Pedretti Lima
lpedrettilima@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Favelas, Justiça De Transição, Comissão da Verdade, Remoções Forçadas,


Ditadura Militar.

Em meu trabalho, busco compreender algumas dimensões da ditadura civil-militar iniciada


em 1964 a partir de um olhar para o que ocorreu nas favelas cariocas no período. Trata-se,
primeiramente, de analisar como a ditadura incidiu na dinâmica cotidiana das favelas e marcou
profundamente a experiência de seus moradores ao longo das décadas de 1960 e 1970. Por um
lado, em função da política de remoções forçadas - que atingiu mais cem mil moradores, que foram
deslocados para locais com pouca infraestrutura urbana e distantes de seu local de trabalho, o que
implicou a dissolução de seus laços familiares e de sociabilidade. Da mesma forma, as tentativas de
resistência eram duramente reprimidas, gerando prisões arbitrárias, intervenções nas associações
de moradores, sequestros, incêndios criminosos, etc. Por outro, em razão da própria lógica de
militarização do Estado e de aprofundamento das estruturas repressivas, que permitiu a ampliação
da violência contra as camadas populares de forma extremamente acentuada. Em seguida, busco
identificar os contornos da memória acerca dessa violência que se voltou contra as favelas,
apontando para a ausência dessa dimensão da ditadura civil-militar tanto no âmbito da
historiografia sobre o regime, quanto no contexto da chamada justiça de transição – entendida
como o conjunto de medidas adotadas pelo Estado para lidar com o legado do passado ditatorial.
A partir de uma leitura crítica acerca da justiça de transição, tento apontar que os instrumentos dos
quais o Estado brasileiro lançou mão para superar o legado da ditadura foram, até o presente,
extremamente limitados. Imbuída de uma concepção estreita de quem foram as vítimas da ditadura,
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a justiça de transição no Brasil não teve condições de lidar com a violência que se voltou contra as
favelas. Busco focar, por fim, nos mais recentes passos dados por essa justiça de transição: as
comissões da verdade. Assim, procuro refletir sobre como estes órgãos – em especial a Comissão
Nacional da Verdade e a Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro – lidaram com a
temática, e se foram capazes de apontar para algum avanço no sentido de superar o esquecimento
e promover a memória, a verdade, a reparação e a justiça para os moradores das favelas cariocas
atingidos pela violência do Estado ditatorial.

A subversão rural versus luta por direitos agrários: disputando a memória


Eline Ehrich Albuquerque
elinefonteles@homail.com

PALAVRAS-CHAVE: Ditadura Militar, Disputa de Memória, Memória Subterrânea, Lugar de


Memória.

O objetivo deste artigo é analisar a relação entre a memória da luta camponesa no Ceará,
tendo Lindolfo Cordeiro como um dos protagonistas, observando os lugares de memória da
Ditadura Militar, referindo-se aqui aos órgãos que compunha o aparato repressor do período, e o
papel da imprensa no processo de legitimação da memória de “subversivo” desses atores sociais, a
partir de lembranças e do esquecimento, de apagamentos e silenciamentos. Buscamos estabelecer
um debate teórico-metodológico com as ideias de “Lugar de memória” de Pierre Nora e memória
“subterrânea” e “enquadramento da memória” com Michael Pollak.

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História da morte: possibilidades de abordagens e


diversidade de fontes

Régis Clemente Quintão


Mestrando
UFMG
Simpósio Temático

regis.quintao@gmail.com

Denise Aparecida Sousa Duarte


Doutoranda
UFMG
ddenao@yahoo.com.br

Weslley Fernandes Rodrigues


Doutorando
UFMG
weslley_fernandes@yahoo.com.br

Proposta do Simpósio:

Em qualquer temporalidade, é possível dizer que a morte é uma temática da qual muito se
fala. No regime de historicidade presentista, autores como Zygmunt Bauman (1998) e Norbert
Elias (2001) nos deram impressionantes diagnósticos do que significaria a morte e o morrer para a
sociedade contemporânea ocidental. É bem verdade que o parecer é pessimista: o homem pós-
moderno não lida bem com a morte e dela tenta escapar. Uma novidade? Para tal constatação seria
preciso investigar os períodos anteriores. O historiador João José Reis (1991) se debruçou sobre o
modo de lidar com a morte no século XIX e percebeu sensíveis mudanças em comparação aos
séculos precedentes, talvez em função das medidas higienistas que proibiram as inumações dentro
das igrejas, além do surgimento dos novos cemitérios. Philippe Ariès (1977), por sua vez, ao
escrever sobre a morte na Idade Média, afirmou que a interrupção da vida era algo “domesticado”,
ou seja, esperada pelas pessoas como uma coisa boa, aceitável. Ainda nessa divisão de
temporalidades, pode-se lembrar que, na Antiguidade Clássica, os gregos costumavam cremar os
corpos com o objetivo de marcar a nova condição de quem morria. Os egípcios, como se sabe,
juntavam todos os pertences do morto, a fim de serem depositados nas pirâmides. Como pode-se
notar, sem sermos exaustivos nas referências, as visões a respeito da morte e do morrer variam
com o tempo. Nesse sentido, a proposta deste simpósio temático é discutir sobre essas mudanças

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e permanências ao longo da história. A partir daí, poderão ser debatidas as metodologias e fontes
que têm norteado os estudos referentes à história da morte.

Comunicações:

Os Agentes Vivos do Bem Morrer: O Testamenteiro e o Juízo Eclesiástico


nas Execuções Testamentárias do Rio de Janeiro Colonial pela Análise das
Contas Testamentárias
Iury Matias Soares
iuryodazero@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Rio de Janeiro Colonial, Juízo Eclesiástico, Contas testamentárias,


Testamenteiros, Testamentos, Igreja.

O presente resumo apresenta o conteúdo da minha monografia de graduação, que visou


examinar o perfil dos representantes dos testadores - os testamenteiros – no Rio de Janeiro
setecentista. Sobretudo, procura expor esse perfil a partir da análise relacional entre os agentes das
determinações testamentárias e a instituição eclesiástica. No período colonial, a Igreja católica era
a maior responsável não apenas por orientar a sociedade à ‘boa morte’, como também por autuar
muitos dos processos burocráticos relativos aos óbitos. Reconhecendo a ampla utilidade dos
testamentos aos estudos de História Social e à História das Mentalidades, identifiquei a existência
de uma lacuna na historiografia da morte no tocante ao executor testamentário. Embora não haja
trabalhos relativos ou detalhados sobre tal objeto, pela leitura de um tipo de documentação inédita
do século XVIII - as contas testamentárias - foi perceptível que a figura do testamenteiro era
consideravelmente importante para os testadores. Afinal, a indicação em testamento de
representante(s) apto(s) a executar as últimas vontades do falecido envolvia uma preocupação direta
com a ‘boa morte’, no sentido soteriológico.

A hipótese levantada foi a de buscar abrir um precedente ao estudo testamentário através


da investigação do movimento desses agentes. Uma vez que, dentre as disposições dos testadores,
costumeiramente havia pedidos de missas para a alma e pendências materiais como quitação de
dívidas, a realização dessas vontades era tida como determinante à condição post-mortem dos
testadores. Os testamenteiros instituídos eram, assim, responsáveis em assumir (ou não) o
cumprimento do testamento e fazer valer os desígnios dos moribundos. Porém, a abordagem dos
testamenteiros como objeto de análise era inédita na historiografia brasileira. Curiosamente, pela
ausência de pesquisas sobre o tema, o meu trabalho se aportou menos em referências teóricas do
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que nas fontes abordadas. Tais fontes se concentraram em dois tipos de registros testamentais: os
testamentos e as contas testamentárias do século XVIII. Coletados no Arquivo da Cúria
Metropolitana do Rio de Janeiro (ACMRJ), mais de cem documentos foram minuciosamente lidos
mediante a uma análise serial e quantitativa. Dessa forma, foi possível filtrar dados pertinentes não
apenas sobre a identidade e os atributos do testamenteiro, mas também sobre a dinâmica do
Tribunal Eclesiástico, responsável por processar e legitimar os trâmites testamentários.

Inventários post-mortem: a materialidade do luto na Comarca do Rio das


Velhas
Ludmila Machado Pereira de Oliveira Torres
ludmila.machadopereira@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: História Da Morte, Indumentária, Oficiais Mecânicos, Minas Colonial.

A morte nos setecentos mineiro era caracterizada pela ideia do “bem morrer”, de morrer
para a salvação da alma. Os ritos ligados à morte tinham finalidade religiosa (da salvação) e social
(status social). A morte do Rei D. João V repercutiu em todo Império português, sendo suas
exéquias realizadas também nas minas. O sentimento de luto era teatralizado mesmo muito depois
do falecimento. Não há muitos estudos sobre o luto para a capitania, principalmente pela
dificuldade das fontes. A história da morte trabalha principalmente com os testamentos que
apresentam uma finalidade religiosa de confissão de pecados e arrependimentos. Nele o moribundo
deixa as suas últimas vontades, como será amortalhado o corpo, a sepultura, os acompanhantes, a
quantidade de missas para sua alma. Ao contrário, trabalharemos aqui com os inventários post-
mortem, muito utilizados para estudos sobre a materialidade e riqueza. Os inventários não se
resume em lista de bens e dívidas, há também a partilha, auto sumário em caso de demência,
processos cíveis para recebimento de dívidas, autos de contas de tutoria e emancipação de órfãos.
Em alguns inventários da segunda metade do século XVIII para a Comarca do Rio das Velhas
foram encontrados descrição de gastos com enterros e velórios, principalmente gastos com o luto
de órfãos. Gastos na sua maioria com obras e feitios de sapateiros e alfaiates. A indumentária do
luto e/ou da morte caracterizava pela presença marcante da cor preta que exteriorizava um
sentimento de dor e tristeza. Na comunicação buscaremos descrever o luto de órfãos na comarca
lembrando-se da teatralização e da exteriorização dos sentimentos presentes no barroco.

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Possibilidades de uma História Intelectual da Morte: o martírio e as ordens


mendicantes no século XIII
Dionathas Moreno Boenavides
dionathas.boenavides@ufrgs.br

PALAVRAS-CHAVE: Século XIII, Martírio, Mendicantes, História Intelectual, História da


Morte.

Ao nos debruçarmos sobre a temática da morte, uma questão inevitavelmente surge: que
métodos e teorias podem nos auxiliar a trabalhar com esse tema, tendo em vista que o número
reduzido de trabalhos na área oferecem poucos exemplos para seguir? Nossa comunicação
pretende demonstrar como a História Intelectual, a partir de alguns avanços ocorridos em meados
do século XX, pode servir como importante ferramenta nessa empreitada. Para tanto, destacamos
a contribuição de Carl Schorske no que diz respeito à valorização paralela das análises sincrônica e
diacrônica, assim como autores que investem no estudo da relação Texto/Contexto como forma
de evitar uma História Intelectual nos moldes daquela criticada por Lucien Febvre, desconectada
dos âmbitos materiais da vida. Com o intuído de demonstrar essas possibilidades na prática,
expomos como elas nos auxiliaram no desenvolvimento da pesquisa que desenvolvemos, sobre a
morte martirológica em escritos produzidos por membros das ordens mendicantes no século XIII,
entre a França e o norte da Península Itálica. No concernente à relação Texto/Contexto,
destacamos as influências que tiveram os conflitos em que estes mendicantes estavam inseridos,
principalmente contra hereges e mestres universitários seculares em Paris, para a visão que
expunham sobre o martírio nos documentos que produziam.

Elegia para os reis: a concepção de boa morte nas orações fúnebres dos
monarcas portugueses
Weslley Fernandes Rodrigues
weslley_fernandes@yahoo.com.br

Denise Aparecida Sousa Duarte


ddenao@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Morte, Portugal, Oração Fúnebre.

A comunicação discutirá como a concepção de boa morte estava presente nos textos
fúnebres de alguns dos monarcas portugueses. A boa morte foi uma das ideias mais ressaltadas pela
Igreja pós-Trento, tida com meio fundamental para a salvação das almas. Esse ideário se relaciona
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a uma vida “(...) pautada pela interiorização e prática dos valores ético-cristãos”, isto é, a observação
atenta dos preceitos religiosos durante toda a vida do fiel. Pretendemos avaliar em que medida as
narrativas fúnebres dos reis apresentavam relações com as propostas religiosas e quais as
características são tomadas para esse relato. Desse modo, apreciaremos a noção de “Boa Morte”
para a Igreja Católica, a diferenciação entre a morte do homem comum e a morte do santo e o que
deveria sobressair na narrativa de ambos os casos. Tencionamos, assim, examinar em quais termos
a morte de um soberano se enquadraria ou se existem outras influências que também contribuem
para salientar a dignidade da morte de membros da realeza.

A contribuição da história da família para os estudos acerca das atitudes


diante da morte
Karina Aparecida de Lourdes Ferreira
karina.ferreira@ufv.br

PALAVRAS-CHAVE: História Da Morte, Mariana, Testamento, Relações Familiares.

A presente comunicação pretende analisar, dentro do quadro das pesquisas históricas sobre
as práticas e representações em torno da morte, os acréscimos dos métodos e entendimentos da
história demográfica e da família. A fonte que subsidia essa pesquisa são 205 testamentos anexados
aos inventários post-mortem do acervo do Cartório do 1º. Ofício da Casa Setecentista de Mariana,
dispostos ao longo de cem anos (1748-1848). Os registros de ultima vontade se constituíram como
a fonte por excelência da história da morte, impondo uma série de desafios ao historiador, mais
difíceis de serem contornados conforme se avança no século XIX, a partir do processo de
abandono das disposições religiosas e consequente silenciamento do documento. Em função disso,
os historiadores que se debruçaram sobre os fenômenos relativos ao morrer, ao investirem no
oitocentos, lançaram mão de outras documentações a fim de elaborarem possíveis interpretações
para as transformações operadas no modo como os indivíduos se expressavam diante do fim
último. A proposta dessa pesquisa é demonstrar como num quadro social específico os rearranjos
populacionais podem interferir no modo como os indivíduos se preparavam para sua própria
morte. Para tanto, o testamento não foi abandonado como fonte principal, mas analisado para além
da dimensão eminentemente religiosa. Buscou-se recordar a articulação interna do discurso
testamentário, o que tornava tênue a linha que demarcava cada parte específica do documento
(informações pessoais do testador; cláusulas espirituais; disposições materiais; indicação do
testamenteiros e autenticação), assim como o entendimento de que a boa morte não deveria ser
uma experiência vivida na solidão. Tendo em vista essas considerações, não nos detivemos
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exclusivamente aos espaços de expressão religiosa por enxergarmos ao longo dos relatos outras
considerações demonstrativas de uma sensibilidade para com a morte, mais visível nos espaços que
faziam referência às relações familiares.

O cemitério, a cidade e as narrativas: as memórias construídas através da


leitura dos túmulos
Marcelina das Graças de Almeida
marcelinaalmeida@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Cidade, História, Cemitério, Patrimônio, Belo Horizonte.

O Cemitério do Bonfim, situado na cidade de Belo Horizonte, foi planejado e construído


no final do século XIX e compõe o projeto delineado para a construção da nova capital do Estado
de Minas Gerais. Este espaço funerário constituiu-se durante mais de quarenta anos, o único da
localidade. Guarda, portanto, um acervo muito rico e complexo, não apenas limitado à decoração
e arquitetura, mas constitui-se como um lugar privilegiado para as construções de relatos, histórias
e lendas que perpassam pela memória e pelo intangível. Em outras palavras, pode-se afirmar que
os elementos tangíveis: os ornatos, as construções, a arquitetura tumular configura-se como
atrativos para a fruição e encantamento, entretanto, os elementos simbólicos e impalpáveis,
registrados através das lendas, histórias e construções narrativas calcadas ou não na realidade,
cumprem, igualmente, o poder de atração e desperta o interesse do espectador. A proposta desta
comunicação é identificar como estas questões foram se constituindo e estão sendo trabalhadas a
partir de um projeto de proposição de visitas orientadas ao espaço cemiterial há 04 (quatro) anos.
As atividades desenvolvidas a partir de uma parceria entre a Universidade do Estado de Minas
Gerais, a Fundação de Parques Municipais e o Instituto Estadual de Patrimônio Histórico Artístico,
para além do estímulo ao turismo, tem se configurado como uma proposta de educação
patrimonial, na qual os visitantes são convidados a conhecer e reconhecer o cemitério como um
local onde se guarda a história da cidade e seus habitantes e que estas histórias podem ser lidas de
modos diversos.

Ser para a vida: uma reflexão sobre a morte na pós-modernidade


Régis Clemente Quintão
regis.quintao@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Vida, Pós-modernidade, Morte.

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Ser para a vida não quer dizer que os homens não saibam que vão morrer. O pós-moderno
sabe que sua morte chegará, mas a encara como uma afronta. Talvez ele saiba mesmo que, apesar
de temida, ela é a justificativa para o carpe diem. Assim, pode aproveitar enquanto estiver vivo,
acumular, consumir, ter uma vida melhor, dar sentido à sua vida absurdamente breve. O medo da
morte é tão nefando que faz com que as pessoas evitem dela falar, mas não hesitam em prestar
longas homenagens às personalidades mortas. Nas redes sociais, essas pessoas escrevem longas
mensagens carregadas de sensibilidades, postam fotos e acreditam terem feito sua parte. Não
precisam mais ir ao cemitério, local sujo e triste. Alguns cemitérios, aliás, tornaram-se “museus a
céu aberto”. Essas são algumas das maneiras de lidar com a morte na pós-modernidade que serão
discutidas a partir de autores como Zygmunt Bauman, Norbert Elias, Fernando Catroga e Martin
Heidegger.

A (Pré-) História da Morte nos primórdios da História das Religiões


Thales Moreira Maia Silva
thalesmms@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: História Antiga, História das Religiões, História e Arqueologia, História


da Morte, Pré-história.

Na sociedade atual o fenômeno religioso é comum e incrivelmente diverso. Toda e qualquer


religião que exista ou já tenha existido possui suas próprias histórias e características. Os sistemas
religiosos de hoje e aqueles do passado são comumente estudados e amplamente discutidos nas
disciplinas e livros acadêmicos, mas raramente o princípio e as raízes da religião são explicados ou
expostos sob qualquer profundidade. Normalmente as análises históricas das ideias e crenças
religiosas se iniciam com religiões da tradição Judaico-cristã ou com aquelas encontradas na Grécia
antiga, em Roma, no Egito ou na Mesoamérica. Entretanto, os conceitos encontrados
consistentemente por todas as religiões não se ergueram instantaneamente, simplesmente do nada
após uma noite em particular nos primórdios das primeiras grandes civilizações. Eles surgiram em
algum momento no decorrer da história evolutiva dos humanos modernos e, então, continuaram
a crescer e se desenvolver até alcançar a forma que hoje possuem. Dentre as várias definições
possíveis, por religião entende-se um “conjunto de crenças baseadas em uma perspectiva única de
como o mundo possivelmente é, comumente reveladas através do surgimento da noção de um
poder sobrenatural e partilhadas por uma comunidade”. Nessa lógica, os primeiros incidentes na
história considerados como o possível princípio das ideias e crenças religiosas teriam ocorrido no
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decorrer do Paleolítico Médio e, a partir de então, continuado a se desenvolver até a chegada do


Paleolítico Superior e do Neolítico, com a grande Revolução Criativa e a agricultura, até a Idade do
Bronze, quando finalmente se tornarem reconhecíveis como hoje o são.

De fato, o maior problema encontrado por historiadores da religião ao tentar estudar e


entender os sistemas religiosos desses períodos é a inexistência de registros e sistemas de escrita.
Entretanto, é durante esse longo período de tempo que os primeiros de nossos ancestrais
começaram a enterrar seus mortos, prática que teoricamente indicaria a crença ou a fascinação com
o conceito de pós-vida. Os milênios seguintes presenciaram o desenvolvimento das primeiras
formas de ocultamentos deliberados de cadáveres, dos enterros rituais, da cremação e da tentativa
de preservação de restos mortais. A noção da morte marcou e provavelmente fundamentou a
percepção humana, determinando os primórdios e modelando a estrutura daquilo que hoje
chamamos de religião. A História das Religiões se inicia com a História da Morte

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Diálogos entre História e Comunicação Social

Gabriela Silva Galvão


Mestre em História (História e Culturas Políticas)
UFMG
Simpósio Temático

gabisgalvao@gmail.com

Marina Helena Meira Carvalho


Doutoranda em História (História e Culturas Políticas)
UFMG
marinahmc@yahoo.com.br

Márcio dos Santos Rodrigues


Mestre em História (História e Culturas Políticas)
UFMG
marcio.strodrigues@gmail.com

Proposta do Simpósio:

A relação entre as diversas mídias e o conhecimento da História tem conquistado crescente


espaço nos trabalhos acadêmicos, principalmente em razão da recente valorização das abordagens
interdisciplinares e transdisciplinares. Os meios de comunicação são excelentes lócus para o
conhecimento da História não só da mídia, como também, por meio da mídia. Se o primeiro
significado aponta para a historicização dos meios, os colocando como objeto de pesquisa e
informado sobre determinada cultura material, a segunda abordagem os utiliza como fontes
responsáveis por representações de experiências humanas, às quais se ligam com problemáticas
contemporâneas ao meio. As mídias também são instrumento de difusão do conhecimento. O
presente simpósio visa a reunir trabalhos que utilizem as diversas formas de meios de comunicação,
tais como jornais, revistas, fotografias, propagandas, histórias em quadrinhos (HQs), programas de
televisão, rádio, cinema, redes sociais, entre outras, como fonte ou objeto de pesquisa, não só no
campo histórico, como também das demais áreas. Existe amplo e pouco estudado leque de
possibilidades investigativas acerca das mídias.

Pensar em uma pesquisa de interface entre História e Comunicação é investigar o contexto


semântico de elocução e de produção, a cultura material e simbólica de determinada época, as
representações e os discursos construídos, as relações com o poder, dentre muitas outras questões.
Analisa-se, destarte, o que foi produzido, para quem, por quem, de que forma, como, com quais

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intencionalidades e como se deu a recepção pelo público. Esses elementos também podem ser
levados em conta para pensar nas mudanças pelas quais a propagação do saber vem sendo feita
nos últimos anos. É notório que os meios de comunicação são usados como forma de divulgação
de pesquisas desde pelo menos o final do século XIX, tendo esse fenômeno crescido
consideravelmente durante o século XX, sobretudo a partir da popularização de meios como o
rádio, as revistas e a televisão. Entretanto, essa ocorrência cresceu exponencialmente nos últimos
dez anos por meio da internet e, sobretudo, das redes sociais.

Como podemos ver, as relações entre o conhecimento histórico e a Comunicação Social


são amplas e não é intenção esgotá-las, pelo contrário. O Simpósio Temático será uma maneira
ímpar de discutir e problematizar essa interface, contribuindo para o incremento e divulgação da
pesquisa na área.

Comunicações:

A revolução das nossas capas? Projetos de Vicente di Grado na editora


Clube do Livro (1962-1968)
Rafael Amato Bruno de Lima
amatorafaelb@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

Enquanto a maioria das editoras brasileiras disputava a atenção por seus livros em estantes
de livrarias, a editora Clube do Livro, fundada na cidade de São Paulo em 1943, distribuía tiragens
de até 35.000 exemplares ao redor do Brasil entre as décadas de 1940 e 1960. Diferentemente de
outros selos editoriais, a Clube do Livro criou um sistema de inscrição prévia que permitia o envio
de publicações mensais a mais de 50.000 sócios. Sem ter que atrair leitores nos pontos-de-venda, a
proposta era aliar, no projeto gráfico de seus livros, produção de baixo custo a uma visualidade
atraente. Vicente di Grado foi o capista da editora entre 1950 e 1970 e criou capas de “percepção
instantânea”, apostando na síntese entre o título da obra, uma ilustração e o nome do autor.
Quando se trata da análise de tais livros no campo do Design Gráfico, no entanto, as observações
muitas vezes limitam-se à compreensão técnica e pragmática dos elementos visuais, enquadramento
que ignora o valor único de cada capa e as diferentes relações de di Grado com elas. Nesse sentido,
a presente pesquisa pretende analisar a produção de capas da editora buscando suas significações
históricas. Além disso, procura-se entender as imagens como objetos que participam das relações

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sociais, sem esquecer que um livro é fruto de um percurso de significações que passa por autores,
editores, impressores, livreiros, leitores. Objetiva-se, assim, desconstruir a ideia de que a capa é um
elemento isolado de persuasão, argumentando-se, ao contrário, que ela é uma das várias
características da estratégia de comunicação de um livro. Pretende-se analisar a produção de di
Grado entre os anos de 1962 e 1968, época em que o design editorial no Brasil se consolida como
forte área de expressão. Além disso, é perceptível uma unidade mais forte entre suas produções
desse período, aparentemente mais conectadas com sua formação artística como pintor. As
principais fontes de pesquisa analisadas são as capas projetadas por Vicente di Grado, além de
artigos sobre artes gráficas e mercado editorial publicados tanto pela grande imprensa (caso da
revista Realidade) como em periódicos especializados da época (como o Boletim Bibliográfico
Brasileiro).

Jout Jout: A possibilidade de um olhar crítico da história em sala de aula


através de Youtubers
Matheus Yago Gomes Ferreira
matheusygf@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

O presente trabalho tem como intuito relatar a experiência durante as aulas de História no
Centro Pedagógico da UFMG do uso de uma das principais youtubers do Brasil hoje.
Compreendendo que esse tipo de comunicação é um dos mais utilizados hoje pelos adolescentes,
foram então conduzidas discussões a partir de assuntos abordados pelos vídeos do canal "Jout Jout
Prazer", e fomentadas por dados e outros tipos de fonte. O canal, estrelado por uma jornalista
fluminense, ficou conhecido por abordar em algumas ocasiões temáticas de cunho social, como o
machismo e o Estatuto da Família, proposto pelo legislativo brasileiro. De maneira leve, linguagem
de fácil entendimento e toques de humor, Jout Jout se tornou fenômeno e referência sobre esse
tipo de discussão. Este trabalho propõe uma reflexão sobre o uso destes vídeos no ensino de
história, a possibilidade da utilização de demais canais como uma nova fonte em sala de aula e a
importância de conduzirem adolescentes (no caso da experiência realizada, com média de 14 anos
de idade) para um olhar mais crítico perante sua própria realidade e história. Entende-se, portanto,
o ensino de História como um dos principais responsáveis para a formação desse olhar crítico e
desse tipo de debate dentro da escola e é encontrada então nesses vídeos a possibilidade de
despertar o interesse e engajamento nos discentes.

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As Projeções De 'Popular' Nos Programas Televisivos: Um olhar sobre o


Documento Especial e o Aqui Agora
Carlos Alberto Garcia Biernath
beto.biernath@gmail.com

Kelly De Conti Rodrigues


decontik@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE:

No presente estudo, tencionamos analisar a representação do popular em programas de


cunho popularesco. Para isso, abordaremos a definição destes programas e algumas observações
sobre cultura popular, apontadas por estudiosos.

Assumindo uma identidade revestida por elementos dramáticos, os programas


popularescos parecem manter relações com os programas “dramáticos”. O termo popularesco
pode ter sido originado a partir da representação que estes programas fazem dos problemas que os
telespectadores encontram em seu cotidiano. Nessa linha, J. S. R. Goodlad, citado por Marcondes
Filho (1988, p. 52), assevera que “o jornalismo e o telejornalismo são parentes muito próximos dos
dramas”. Essa identificação com a audiência poderá se dar, conforme pontua Martín-Barbero
(2001, p. 305), por um autorreconhecimento de sua ‘imagem’ na tela. “Se a televisão na América
Latina ainda tem a família como unidade básica de audiência é porque ela representa para a maioria
das pessoas a situação primordial de reconhecimento”. Nos parece essencial avaliar como essa
cultura popular se constitui. Sobre tais manifestações, Martín-Barbero (2001, p. 322) observa que
“pensar o popular a partir do massivo não significa (...) alienação e manipulação, e sim novas
condições de existência e luta, um novo modo de funcionamento de hegemonia”. Pensando no
modo de produção destes programas, cabe questionar quem são seus produtores, ou seja, se estes
seriam representantes dessa cultura, ou seriam profissionais que fizessem parte de outro tipo de
cultura, mas que buscassem representar a cultura popular. Nessa investigação, Vera França (2009,
p. 226) explica que os setores populares e de baixa renda não têm acesso à produção midiática,
considerando que “o popular a que estamos apontando não se explica pela sua fonte, mas remete-
se antes a características ligadas ao destinatário e ao produto”. Assim, entendemos que a relação
entre sujeito-jornalista e sua audiência parte, então, de um discurso que talvez não reflita
essencialmente o que observa a audiência fora do mundo televisivo. Sobre o destinatário, a autora
revela que o sujeito-produtor da notícia não visa neutralizar diferenças ou atingir a um ensejo
homogêneo, mas sim caça elementos que busquem uma espécie de identificação coletiva – assim
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atingindo a audiência. Portanto, com base em programas desse gênero que marcaram época, como
o Documento Especial e o Aqui Agora, analisaremos essa constituição de cultura popular nas
produções.

Titio Avô e o processo de maturação da criança na sociedade pós moderna


capitalista
Vinícius Scoralick
scoralick.vs8@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

O trabalho visa compreender a forma como desenhos animados da estirpe de “Titio avô”
agem na formação da criança e do jovem contemporâneos. Tais desenhos trabalham como
ferramentas ideológicas para a formação de uma geração melhor adaptada aos requisitos de um
capital pós-moderno. Retroativamente, percebendo a linha cultural que foi se criando na sociedade
pós-guerra fria, percebeu-se a necessidade e a possibilidade de uma reforma da manutenção
estrutural através do retorno aos desenhos que atingissem faixas etárias em formação ideológica,
de maneira que fugisse da clássica propaganda infantil. Seguindo as tendências das HQ’s da Guerra
Fria, e de desenhos mais modernos, como Meninas Super Poderosas, Titio Avô se torna uma
releitura da ferramenta ideológica infantil, abordando temas como liberdade sexual, drogas e auto-
afirmação do “eu” contra uma sociedade engessada dos anos 80/90, caracterizada pelo Bullying
escolar. Assim, se cria uma abordagem leve para tornar os temas debatidos pelos movimentos de
esquerda liberal algo natural do sistema capitalista. O desenho se transforma assim em uma
ferramenta que vai além da dicotomia política da guerra fria, chegando aos níveis dos debates
culturalistas. Trabalhando com Zizek, Harvey, Baumann, Adorno, Lacan e Stuart Hall, buscar-se-
á uma forma de melhor abordar a inserção de “Titio Avô” na produção de mentalidades.

Jornalismo de dados na história: os números como validadores do discurso


Kelly De Conti Rodrigues
decontik@yahoo.com.br

Carlos Alberto Garcia Biernath


beto.biernath@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

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Esta pesquisa estuda a utilização de dados numéricos no jornalismo, considerando que este
se tornou um elemento de destaque na comunicação. Trazemos como hipótese a ideia de que, ao
longo da história, tais dados funcionaram como elementos legitimadores do discurso. Destacamos
que a utilização de bases de dados numéricos no jornalismo ganhou mais recorrência sobretudo na
década de 1960, com o chamado Jornalismo de Precisão; hoje, essas técnicas são conhecidas como
Jornalismo Guiado por Dados. As primeiras matérias focavam, principalmente, nas estatísticas
sociais. Com o passar dos anos, o uso das estatísticas ficou mais recorrente e ganhou ares de
legitimação do discurso. Para tratar deste aspecto, baseamo-nos na teoria de Michel Foucault (2009)
em “A ordem do discurso”. O autor localiza um conjunto de procedimentos externos de ordenação
do discurso, os quais se tratam de limitações impostas pela sociedade à produção discursiva. A
“interdição” é a noção de que “não se pode falar de tudo em qualquer circunstância, que qualquer
um, enfim, não pode falar de qualquer coisa” (FOUCALT, 2009, p. 9). Trata-se do contexto em
que o discurso é empregado. Para o autor, os dois principais casos são temas que envolvem a
sexualidade e a política. No Jornalismo de Dados, é comum a seleção dos números que corroborem
com a visão do público que o veículo deseja atingir, bem como o ocultamento (ou um menor
destaque) daqueles que mostrem ideologia oposta.

Já a “separação entre razão e loucura” diz respeito à credibilidade do enunciador. Para


Foucault (2009, p. 10-11), “louco é aquele cujo discurso não circula como o dos outros”.Os
cientistas que contrariavam as verdades absolutas estabelecidas de suas respectivas
épocas,especialmente na Idade Média, são exemplos. Os números costumam ser utilizados na mídia
com efeito oposto, como meio de mostrar a “verdade” e a cientificidade do que se diz, a fim de
evitar questionamentos e dúvidas. A “vontade de verdade” se baseia no desejo de que o discurso
seja aceito como tal. Para o produtor do discurso, o enunciado não precisa ser verdadeiro, mas
precisa ser aceito como tal.É essa vontade de verdade que cria a dicotomia entre certo e errado na
sociedade. Os dados estatísticos contemplam um dos meios mais eficazes de criar essa noção de
verdade, de discurso inquestionável. Recorrer aos números para isso é uma das maneiras do veículo
transmitir a mensagem que deseja e conquistar a confiança do público pela aparente precisão do
enunciado.

Telenovela Brasileira: criação do gênero e seu uso como fonte histórica


Gabriela Silva Galvão
gabisgalvao@gmail.com

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PALAVRAS-CHAVE: Telenovela, Televisão, Fonte Histórica.

O discurso ficcional na televisão é resultado de várias atividades culturais e sociais. O


chamado mundo real é uma matriz ou inspiração para as tramas apresentadas, sendo elas uma
mimese da realidade. O telespectador tem acesso às obras teledramatúrgicas a partir da sua casa, o
que faz com que ele entenda a ficção como parte do seu cotidiano, tornando-se também parte da
sua vivência. No Brasil, muitas vezes, o termo folhetim vem sendo colocado como sinônimo de
telenovela. Veremos, no entanto, que a telenovela brasileira incorpora outras características e
influências, o que torna equivocado entender os termos como análogos, sendo mais interessante
entendermos o gênero teledramatúrgico brasileiro como uma fusão do folhetim, do melodrama e
do realismo. Tratando especificamente sobre as telenovelas produzidas pela Rede Globo, podemos
notar que elas seguem um padrão conforme os horários em que são exibidas. O principal produto
teledramatúrgico da emissora é a “novela das oito”. Nesse horário são exibidas, desde 1969,
histórias com bastante proximidade à realidade brasileira, tendo como protagonistas pessoas jovens
ou de meia idade que têm como objetivo de vida não só a conquista de um grande amor, mas
também o sucesso na carreira profissional. Essas tramas privilegiam uma linguagem mais realista e
comumente são tratados temas que geram polêmicas na sociedade brasileira como a
homossexualidade, a infidelidade, a violência urbana, dentre inúmeros outros.

Cinema Western e a construção da identidade nacional norte-americana: um


estudo do filme “Rastros de ódio” (1956), de John Ford
Isadora Bolina Monteiro Vivacqua
isadora.vivacqua@yahoo.com.br

Hudson Leonardo Lima Públio


hudsonlpublio@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

Esta pesquisa objetiva analisar o modo como o Cinema Western (ou Cinema Faroeste)
ajudou na construção da identidade nacional estadunidense, constituindo-se como uma das
manifestações artísticas representativas da cultura deste país. Para isso, desenvolveremos
inicialmente uma discussão acerca do conceito de “nação”, e sobre alguns valores mais específicos
que fundamentaram a construção da nação dos Estados Unidos. Daremos destaque para a
elaboração do “Destino Manifesto”, teoria desenvolvida no século XIX que caracterizava os EUA
como uma civilização excepcional, destinada ao sucesso pela Providência, e que teria uma missão

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a cumprir: levar os seus valores civilizatórios para todos os povos. Acreditamos que tal teoria foi
utilizada para tentar justificar o expansionismo americano e pretendemos analisar o modo como o
cinema “Western” procurou legitimar a falta de alteridade empreendida no processo de conquista
pelos EUA. Em seguida, realizaremos um “estudo de caso”, discutindo o filme “Rastros de ódio”
(1956), de John Ford, debatendo sobre como esta e outras produções do gênero Faroeste
contribuíram para formar a ideia dos norte-americanos como “heróis exemplares”, e a civilização
WASP (branca, anglo-saxã, protestante) como “superior” às outras. Pretendemos também discutir
sobre o papel do Faroeste em outros contextos, além do expansionismo americano no século XIX.
O filme “Rastros de ódio” nos mostra, por exemplo, como esse gênero foi empregado no período
conhecido por Guerra Fria (1949-1989) para auxiliar na construção de uma imagem dos Estados
Unidos como a grande potência mundial, e na necessidade de combate a seus inimigos, internos e
externos. Concluiremos o nosso trabalho ressaltando como uma obra ou estilo artístico podem ser
apropriados e reinventados de maneiras diversas para atender aos novos interesses que surgem em
contextos históricos variados.

A Atuação Da Censura Nas Letras Das Canções De Chico Buarque Durante


O AI 5
Ariana Alves de Castro
arianacastro.historia@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

A ditadura civil militar instaurada em março de 1964 no Brasil foi marcada por grande
turbulência, período que, os militares, sob a justificativa do combate a uma guerra interna,
criaram um grande aparato repressivo que abrangeu todos os setores da sociedade. A prática
de censura nos produtos culturais, tais como, peças de teatro, músicas, cinemas e novelas
foram constantes, com a intenção de vetar conteúdos subversivos à moral e aos bons
costumes de uma sociedade conservadora, principalmente a partir do Ato Institucional nº 5, em
1968. Um dos artistas que ascendeu neste período e que foi duramente perseguido pelos
militares, Chico Buarque de Hollanda, teve diversas de suas composições vetadas pelos censores,
sob justificativas variadas, o que demonstra a não existência de uma metodologia unânime
entre os censores.

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Silvio Santos no rádio: uma história a ser contada


Rafael Barbosa Fialho Martins
rafaelbfialho@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Rádio, Silvio Santos, História Do Rádio, Programas De Auditório.

O artigo pretende dar o primeiro passo rumo a uma reconstrução histórica acerca da
atuação do apresentador Silvio Santos no meio radiofônico brasileiro. Apesar da (re)conhecida
relevância do animador na televisão, ainda são raras as iniciativas sobre sua profícua trajetória em
emissoras de rádio. Sabe-se que ele começou como locutor na Rádio Guanabara, passando pela
Rádio Mauá, Tupi, Continental, Record e Rádio Nacional de São Paulo antes de consolidar sua
carreira televisiva. Procedendo a uma pesquisa de cunho exploratório, o objetivo de nosso trabalho
é desenvolver as bases para futuras investigações sobre o tema. Para isso, realizamos uma busca
indiciária em três frentes: (i) revisão bibliográfica e biográfica de Silvio enquanto locutor de rádio;
(ii) pesquisa em jornais e revistas especializadas da época; (iii) trechos de seus programas disponíveis
na internet. Acredita-se que, com o início de uma pesquisa focada nas raízes orais dos tempos de
Silvio Santos no rádio, serão oferecidos mais subsídios para a compreensão de sua complexa figura,
fortemente marcada por processos de mitificação que garantem sua incomum expressividade
midiática ainda nos dias de hoje. Além disso, a busca pelas origens do animador antes da televisão
pode nos permitir traçar um paralelo sobre as atualizações e permanências em seu estilo já tão
consolidado, mas pouco estudado.

Arte e propaganda política nos Lianhuanhua


Márcio dos Santos Rodrigues
marcio.strodrigues@gmail.com

Camila Dornelas Vaz de Andrade


camilahdornelas@ymail.com

PALAVRAS-CHAVE: Quadrinhos chineses, China, arte, Propaganda Política, Lianhuanhua.

Em nossa pesquisa, buscamos compreender a dimensão histórica, cultural e política dos


lianhuanhua, isto é, histórias em quadrinhos produzidas na China. De 1930 a meados de 1970, a
temática dos lianhuanhua girava em torno de histórias que representavam aspectos mais variados
da cultura chinesa (lendas folclóricas, mitologias e artes marciais, por exemplo). Porém, com a
Revolução Cultural da China, a partir de 1966, esses quadrinhos passaram a ter outros enfoques:
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propagandas utilizadas para fins políticos do Governo Comunista Chinês e desdobramentos do


seu formato e finalidades ideológicas para a confecção de pôsteres (como aqueles que alertavam
sobre saúde pública). Para explorar os laços artísticos, estéticos e políticos dessas produções
utilizamos reflexões colocadas por Walter Benjamin, em seus textos reunidos aqui no Brasil em
“Magia e técnica, arte e política”. Para construir a relação dessas produções com momentos da
história da China no século XX, antes e durante a Revolução Cultural, dialogamos com as obras de
autores como Enrica Collotti Pischel, Daniel Aarão Reis Filho e Wladimir Pomar. No que se refere
à compreensão da especificidade dos lianhuanhua em termos artístico-culturais e no âmbito das
produções quadrinísticas consideramos as reflexões apresentadas pelo pesquisador norte-
americano John A. Lent em “Asian Comics” (2015) e em seu artigo publicado em 2012 na 9a Arte:
Revista Brasileira de Pesquisas em Histórias em Quadrinhos, além das proposições do texto
“Lianhuanhua: China’s Pulp Comics”, de R. Orion Martin (publicado na revista norte-americana
The Comics Journal) e da breve explanação de Fredrik Stromberg sobre esses quadrinhos em seu
“Comic Art Propaganda: A Graphic History”

Cinema de animação: interlocuções de uma aproximação entre História e


Comunicação
Simone de Novaes Costa Pereira
simonedenovaes@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Tecnocultura, Comunicação, Audiovisualidades, Teoria Da História,


Cinema De Animação.

O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre possibilidades de diálogo entre a
História e a Comunicação Social, no que concerne ao estudo do cinema de animação. Tal percurso
será desenvolvido tendo em vista a experiência pessoal de formação acadêmica da autora, cuja
graduação foi realizada no curso de História e a pós-graduação (mestrado) em Ciências da
Comunicação, a qual se encontra em andamento. Buscar-se-á ponderar relações que podem ser
tecidas entre a abordagem histórica escolhida para construir nosso trabalho de conclusão de curso,
cujo intuito era compreender concepções teóricas sobre o conceito de tempo e analisar percepções
do mesmo em longas-metragens de animação, e a pesquisa desenvolvida atualmente no mestrado,
cujo foco encontra-se em discussões a respeito do próprio cinema de animação, enfatizando
aspectos tecnoculturais, assim como as audiovisualidades referentes à animação do desenho, a
partir, principalmente, da teoria de Henri Bergson.

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O jovem em cena: representações da contracultura em "Meteorango Kid, o


herói intergalático" (1969)
Fábio Santiago Santos
fabiosantiagosantos@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Marginal, Contracultura, Juventude, Cinema, Militar, Ditadura.

Este trabalho toma como fonte o filme baiano Meteorango Kid, o herói intergalático,
produzido e lançado em 1969, com o objetivo de realizar uma análise fílmica que possibilite uma
compreensão do modo com que o ideário contracultural foi abordado e construído enquanto
representação cinematográfica pelo diretor André Luiz Oliveira. Buscar-se-á, por meio da análise,
entender a construção do protagonista e da narrativa a partir da crítica às instituições sociais e
políticas estabelecidas, bem como da emergência de novos comportamentos e sensibilidades ante
a vida social, sobretudo por parte dos jovens. Utilizar-se-á, também, entrevista concedida pelo
cineasta a uma revista especializada, como complemento extrafílmico que permita uma
contextualização da produção: as vivências e impressões do cineasta enquanto sujeito histórico
capaz de significar a realidade. A interpretação das representações em questão pode propiciar uma
delimitação mais nuançada da "revolução cultural" no Brasil nos anos 1960, uma vez que atenta às
particularidades do Brasil - a ditadura militar e os debates acerca da produção cultural - naquele
momento.

Jesus Cristo, um publicitário pioneiro? As narrativas dos publicitários de


uma origem mítica para a propaganda
Marina Helena Meira Carvalho
marinahmc@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: História Mítica, Narrativa da Autorrepresentação, Profissão Publicitários.

Nas décadas de 1930 e 1940 a área publicitária no Brasil passava por uma ascensão de status
social. É comum encontrarmos memórias de publicitários relatando que anteriormente a esse
momento eles eram mal vistos pela sociedade e que muitas empresas dependuravam em suas portas
plaquetas dizendo que eram proibidas esmolas e propagandas. Entretanto, percebemos que nas
referidas décadas existe um duplo movimento de valorização daquela atividade profissional. Por
um lado, isso pode ser atribuído à crescente importância dada pela política à propaganda, tanto em
âmbito nacional, com o governo Vargas, quanto em âmbito internacional, enumerando aqui, por

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exemplo, a ascensão dos regimes nazifascistas e os investimentos em propagada feitos pelo governo
F. D. Roosevelt, os quais passaram a demandar que os publicitários também transitassem entre as
esferas públicas e privadas. Por outro lado, essa ascensão de status passa também por uma lenta
construção da própria área publicitária, que começou a formular acerca da profissionalização, da
regulamentação, da padronização das práticas, da construção de papéis na sociedade para os
mesmos e da autorrepresentação identitária. Uma das formas que eles elencaram para construírem
uma identificação com seus colegas de profissão foi por meio da construção de uma origem comum
da área profissional. Em manuais escritos por brasileiros para orientar a prática publicitária, os
escritores achavam relevante destinar um espaço para o que designam como a “História da
propaganda”. Neste trabalho pretendemos analisar como os publicitários brasileiros construíram
uma narrativa mítica (apropriando-nos aqui principalmente da conceituação de Raoul Girardet)
para tratar da origem da propaganda. Destacamos, principalmente, a curiosa atribuição feitas pelos
mesmos da qualidade de publicitário pioneiro à Jesus Cristo. Analisaremos as construções dessas
narrativas, bem como as motivações para que as mesmas fossem feitas.

Questões de gênero nos Quadrinhos biográficos da Bluewater Comics


Márcio dos Santos Rodrigues
marcio.strodrigues@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Gênero, Representatividade, Figuras Políticas, Bluewater Comics,


Quadrinhos Biográficos.

Nesta comunicação enfatizo a relação entre gênero, biografias de figuras políticas e


Histórias em quadrinhos, tomando como objeto de análise séries produzidas e lançadas nos
Estados Unidos pela editora Bluewater Productions. A editora tem se enveredado pelo boom da
biografia nos quadrinhos desde 2009 e lançado títulos sobre a trajetória de vida de figuras famosas
e influentes no campo midiático, do entretenimento e da cultura política norte-americana. Nesse
sentido, atento para a especificidade dos quadrinhos que a editora norte-americana lançou nas séries
"Female Force" e "Political Power". Na série "Female Force", a trajetória de mulheres com
destaque na política aparece diluída em meio a de mulheres influentes no campo da mídia e
entretenimento. Embora haja a exceção da edição de 2011 dedicada à trajetória da senadora Hillary
Clinton, a segunda série, "Political Power", se concentra na visibilidade de homens na política
estadunidense. Hillary Clinton fora destaque em publicação anterior da editora, em 2009, no selo
"Female Force". Busco elementos de investigação para compreender se os editores consideram a
visibilidade e representatividade de mulheres na esfera do poder como reduzida, comparada a dos
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homens, ou se estão, por meio dessa segmentação editorial entre "Female Force" e "Political
Power", sem o pretender, reforçando a naturalização, construída socialmente, da política como
domínio exclusivo do masculino. Como aporte teórico-metodológico para compreensão da
especificidade de biografias dialogamos com autores como François Dosse, Pierre Bourdieu e
Giovanni Levi. Para a compreensão de como formas narrativas como as dos quadrinhos se
articulam às questões de gênero, utilizaremos reflexões presentes nos escritos de Trina Robbins,
pesquisadora e voz feminista do meio quadrinístico, e em obras como “Comics and Ideology”
(organizado por Matthew P. McAllister, Edward H. Sewell, Jr., e Ian Gordon). Para o
aprofundamento sobre a representatividade de mulheres na política dialogo com obras como
“Women and Political Participation: A Reference Handbook”, de Barbara C. Burrell (2004),
“Women, Culture & Politics” (2011), da filósofa e ativista feminista negra Angela Y. Davis, e com
o texto “Gender: a useful category of historical analyses”, de Joan Scott (originalmente publicado
em “Gender and the politics of history”).

Estudo sobre a repercussão do filme A Dama do Lotação


Gabriel Felipe Silva Bem
gabriel.f.bem@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Censura, Embrafilmes, A Dama do Lotação, Cinema.

Esse trabalho buscou entender o impacto que o filme A Dama Do Lotação, de Neville
D’Almeida, teve nos jornais e na sociedade brasileira no seu ano de lançamento, 1978. Para tanto,
foram mobilizados várias críticas de jornais de grande circulação, anúncios, cartas e documentos
da Divisão de Censura de Diversões Pública. O resultado foi uma melhor compreensão de tal
impacto sobre a Embrafilme que era a coprodutora, para qual o filme teve um efeito negativo,
apesar do enorme sucesso de público. Além de estabelecer uma relação do filme com a censura da
época, que foi considera falha e ineficiente por parte da população, e com a posição da mulher na
sociedade, abordando uma rica discussão que isso gerou na mídia por causa do filme.

Luz, câmera, ações: a incorporação das produtoras independentes na


televisão brasileira
Rafael Paiva Alves
rafael_paiva_alves@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Anos 80, Abertura política, Televisão.

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A primeira metade da década de 1980 marca um período em que o Brasil vivia sobre
promessas de democracia, as quais viriam a se confirmarem efetivamente, com as eleições diretas
estaduais no ano de 1982, e a votação indireta para presidente, em 1985. Com uma estratégia de
transição lenta, gradual e “segura” rumo à redemocratização, “assistia-se”, de certo modo, a uma
reorganização social por parte da sociedade e, ao mesmo tempo, a uma organização política do
meio televisivo brasileiro por parte dos militares. Introduzia-se assim, duas novas emissoras de
televisão: o SBT em 1981, e a Manchete em 1983. Neste contexto é que surgem, práticas que
questionaram a hegemonia e o acesso “democrático” às emissoras de TV, seja em termos de
produção, ou no âmbito da divulgação dos produtos culturais veiculados. Este trabalho buscará
pensar este processo histórico, a partir da incorporação na TV, de ideias e programas, da
denominada “segunda geração” do vídeo independente, mais precisamente da produtora
independente TVDO (lê-se TV Tudo ou Tvudo) e suas contribuições inovadoras na área da
linguagem televisiva, tanto em espaço em emissora pública, como nas tevês privadas. Dentre as
produtoras coletivas independentes que se destacaram no período, a TVDO e a Olhar Eletrônico
são as duas experiências mais significativas deste movimento, que no início dos anos 1980, ousaram
adentrar e modificar o meio televisivo. Esta “geração” do vídeo se insere assim, dentro de um
processo mais amplo, em uma movimentação cultural, no qual, além de produtoras independentes,
as tevês locais de pequeno alcance, bem como as tevês comunitárias, clandestinas e de livre acesso,
pressionavam, no sentido de ocuparem os espaços midiáticos, afim de, reivindicar a diversidade de
opiniões, as visões divergentes no meio e o acesso à divulgação de produtos culturais, buscando
por finalidade, a própria democratização da palavra. O uso do conceito de “indústria cultural”
elaborado por Theodor Adorno e Max Horkheimer, auxiliará para a análise aqui proposta.

"Viva la musica"! Um caminho pra reflexão entre História e Música


Kíssila Valadares Souza
kissila.souza@ufv.br

PALAVRAS-CHAVE: Historiografia, América Latina, História Cultural, Música.

Esta comunicação tem como objetivo apresentar a experiência do programa de música


latino-americana - “Viva la música!”- transmitido pela rádio da Universidade Federal de Viçosa
100,7 FM cujo intuito é contribuir para a formação musical e histórica dos ouvintes da rádio,
fortalecer os laços culturais da comunidade hispano-americana presente na região, diversificar o
cenário musical vigente na zona da mata e fomentar as reflexões acerca da música como
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conhecimento histórico. A música, além de ser uma forma de se comunicar, é impactada pelos
acontecimentos, pelos detalhes da existência humana, por sentimentos e aspirações, tornando-se
assim um modo de perpetuar momentos históricos. Somado a isso, ela está associada ao contexto
cultural propiciando diferentes estilos, abordagens e concepções sobre o papel que exerce na
sociedade. Apesar de alguns avanços historiográficos significativos observados nos últimos tempos,
a análise das relações entre história e música latino-americana ainda carece de mais atenção por
parte dos historiadores brasileiros. Esperamos assim compartilhar os desafios que envolvem
retratar a História musical latino-americana por meio de um programa de rádio de uma universidade
pública do interior do Brasil, bem como debater sobre os caminhos metodológicos do trabalho de
História quando a fonte é a música.

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O oitocentos de crise a crise: dinâmicas culturais,


sociais, econômicas e políticas no Brasil (1808-1889)

Rodrigo Paulinelli de Almeida Costa


Doutorando
UFMG
Simpósio Temático

rodrigopaulinelli16@gmail.com

Adriano Soares Rodrigues


Mestre
UFOP
adrianosrodriguess@yahoo.com.br

Wélington Rodrigues e Silva


Mestre
UFOP
wrsdivmg@hotmail.com

Proposta do Simpósio:

O presente simpósio temático objetiva promover debates sobre trabalhos que se debruçam
no entendimento do século XIX no Brasil, tendo como marco temporal o período que estende a
crise do sistema colonial à crise do Estado monárquico brasileiro, bem como a crise do sistema
escravista (1808 – 1889).

Compreendendo o século XIX como um período de grandes transformações para o Brasil,


observa-se o notável o crescimento da produção historiográfica sobre o período, tendo em
destaque, os temas da crise do absolutismo monárquico na América, a transição da Colônia para o
Império, o traslado da família real portuguesa à Colônia, a formação multifacetada da nação, assim
como a as formas de administração e autonomias locais, a independência do Brasil, as rebeliões
regenciais, o código comercial de 1850, processos políticos e sociais que culminaram na abolição
da escravidão e na proclamação da República.

Em suma, trata-se de um período permeado de mudanças sociais, políticas, econômicas e


culturais, que tem sido amplamente revisitado pela historiografia atual. Desta maneira, objetiva-se
aqui, reunir trabalhos que tratem das seguintes temáticas: a)organização social do trabalho e
reorientações econômicas: envolvendo escravidão, abolição, trabalho livre e imigração; b)disputas
políticas: fim do sistema colonial e império luso-brasileiro, republicanismo, democracia, atuações
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administrativas regionais e entre as nações; c)cultura letrada: pensamento ilustrado, ideologização


do progresso, academias de ciências e instrução escolar; d)cultura popular e sociabilidades:
festividades, religiosidades e vida privada. Tratando-se de um espaço de trocas de experiência
acadêmica com diferentes propostas e objetos de pesquisa, agregados pelo fio condutor do estudo
do século XIX no Brasil, acredita-se que o Simpósio Temático “O oitocentos de crise a crise:
dinâmicas culturais, sociais, econômicas e políticas no Brasil (1808-1889)” contribuirá de forma
positiva para dar novas perspectivas as pesquisas acerca do oitocentos no Brasil. Assim sendo, a
principal finalidade deste simpósio é promover o debate acerca do contexto, buscando intercambiar
conhecimentos e reexames da produção historiográfica sobre o século XIX nos últimos anos.

Comunicações:

Fugas de escravos: a reconstrução das relações familiares e restabelecimento


de direitos (1871-1888)
Adriano Soares Rodrigues
adrianosrodrigues88@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Escravidão, Fugas de escravos, História Comparada.

No presente trabalho, pretendemos apresentar alguns estudos de casos de escravos que


optaram pela fuga como uma maneira de reconstrução de laços familiares, afetivos ou pelo
restabelecimento de direitos que teriam sido perdidos com a mudança do cativeiro. Analisaremos
alguns anúncios de fugas publicados em periódico de três localidades distintas, no final do século
XIX (1871-1888): Ouro Preto, Juiz de Fora e São Paulo. Pretendemos ampliar a questão das fugas
para além dos limites impostos pela premissa de que se trataria de uma resposta à violência
sistêmica. Não queremos, contudo, diluir o caráter violento da instituição escrava. Os casos de
fugas motivadas pelos maus tratos, péssimos condições de sobrevivência, alimentação, castigos e
excesso de violência - que extrapolaria a questão física – não foram raros. No entanto, as
motivações das fugas extrapolam a questão do castigo. A transferência de cativeiro, ocasionada
pela venda, foi representada em diversos casos onde os prófugos direcionavam-se para a casa do
antigo proprietário, para o local onde já trabalharam em empreitadas ou onde eram “muito
conhecidos”, assim como, aqueles que intentavam a reconstrução de laços familiares. Alguns
anúncios relatavam que o mancípio fugiu enquanto estava sendo avaliado (“veio para ser
experimentado”), evadiu após a morte do senhor, pertencentes a espólio, ou quando saiu para

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“procurar senhor”. Assim, estes casos podem ser interpretados como ação à previsibilidade da
ruptura laços e direitos causados pela possibilidade de uma venda futura. Portanto, pretendemos
apresentar alguns casos que denotam a ideia de que a negociação entre senhor e escravo falhou e
só restaria ao cativo a fuga como meio de restabelecer seus laços ou direitos.

Escravos Velhos em São João Del Rei do Século XIX (1831 a 1850)
Teresa Raquel Coimbra Magalhães
tcteresaraquel@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

O tema que este projeto aborda se insere na temática da escravidão, especificamente se


reporta aos escravos num momento específico da vida: a velhice. Muito me impressionou o fato
de existirem poucos trabalhos historiográficos sobre os escravos velhos. Assim tornou-se o tema
de pesquisa e análise os escravos velhos em São João del-Rei, o seu lugar social e sua importância
a partir de culturas africanas reinventadas no Brasil na primeira metade do século XIX. Este assunto
nos remete a questões importantes sobre a escravidão no Brasil: é importante levar em conta os
laços formados por esses homens e mulheres tornados escravos, através de suas comunidades, da
formação de família, parentesco e compadrio assim como as heranças africanas. Para tal empreitada
proponho seguir os objetivos que se seguem como norteadores das pesquisas e análises: a)
Encontrar, partindo da Historia Demográfica, o lugar social ocupado pelos escravos velhos, dentro
do contexto da sociedade mineira e mais especificamente a são-joanense do século XIX. b)
Perceber o quanto os escravos velhos foram capazes de interagir e ser agentes sociais no processo
em que estavam inseridos, a partir da formação de famílias e do compadrio, e dentro desse processo
liderar suas comunidades. c) Entender o quanto as culturas africanas, recriadas no Brasil, podem
ter influenciado nas relações familiares e sociais e como os escravos velhos podem ser inseridos
enquanto protagonistas nesses processos.

Além da contribuição acadêmica, outra contribuição que este trabalho pode oferecer é o de
trazer à tona a reflexão sobre a cultura afro-brasileira, na medida em que pretende resgatar uma
figura importante para as culturas africanas: o ancião. É importante pesquisar temas que tragam
essa memória para o os dias atuais num momento em que observamos crescer preconceitos e
intolerâncias com as religiões de raiz africana e também o preconceito racial. Para tanto utilizarei
várias fontes: como ponto de partida as lista nominativa de 1831; inventários referentes ao período

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analisado, testamentos, alforrias, registros eclesiásticos, principalmente casamentos e batismos e


relatos de viajantes.

Escravidão e Compadrio na Freguesia de Santa Ana do Campo Largo,


Bahia, 1801 a 1839
Gesilda Pereira dos Santos
gpshh@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE:

A região de Campo Largo, inicialmente habitada por povos indígenas, foi ocupada
gradativamente por brancos e negros entre o século XVI e início do XIX. As incursões dos
primeiros colonizadores por estas terras resultaram da procura por novas áreas favoráveis ao
desenvolvimento da atividade agropecuária e o extrativismo. Campo Largo, por sua vez, com a
fertilidade de terras que possuía e espaços para fazendas de criar gados atraiu os primeiros
conquistadores que, em sua maioria, vieram acompanhados por seus escravos africanos e
descendentes. A inserção dos cativos na região de Campo Largo ainda é desconhecida entre os
estudos realizados sobre o espaço geográfico e período pesquisado. Embora já existam diversas
pesquisas sobre a escravidão africana no Brasil, demonstrando o protagonismo dos cativos, ainda
há regiões com fontes a serem exploradas a exemplo da região contemplada com o presente
trabalho. É uma região que traz indícios de vida escrava e formação de famílias cativas constatados
desde as primeiras averiguações nos arquivos e documentação selecionada para análise, revelando
informações importantes para entender o nível de presença e de participação dos escravos
integrados nesta região.

Sabe-se por meio da historiografia da escravidão que a análise dos registros de batismo
permite identificar arranjos de parentesco espiritual, compreender estratégias de escolhas e,
principalmente, verificar quais ganhos o uso do parentesco simbólico poderia acrescentar à vida
cotidiana dos cativos. Neste sentido, esta comunicação tem por objetivo apresentar uma análise
preliminar das relações de compadrio estabelecidas pelos cativos da freguesia de Santa Ana do
Campo Largo no período de 1801 a 1839, tendo como fonte primária a documentação eclesiástica,
especificamente os livros de batismos. Para tanto, os dados são analisados a partir do tratamento
teórico e metodológico da história social e econômica, usando também a perspectiva metodológica
da história demográfica e quantitativa. Os registros de batismos analisados nesta pesquisa revelam
um grande número de africanos e afrodescendentes sendo batizados por seus iguais e

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principalmente por pessoas de condição social acima das suas. Portanto, além do significado
religioso o parentesco espiritual revela o protagonismo dos escravos africanos e seus descendentes
na formação de alianças, uma vez que o compadrio favorecia a população escrava formar
estrategicamente laços de solidariedade, proteção e liberdade.

Terra e Política em Minas Novas no século XIX


Juliana Pereira Ramalho
estevesramalho@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Política, Minas Novas, Expansão territorial.

Este trabalho busca problematizar a relação entre a expansão da fronteira territorial da


Freguesia de São Pedro do Fanado de Minas Novas e a construção do projeto político de criação
da Província de Minas Novas, na segunda metade do século XIX. Para isto, foram analisados 825
Registros Paroquiais de Terra – RPT -, produzidos entre os anos de 1855 a 1857 para a Freguesia
em análise, além dos discursos parlamentares proferidos na Câmara dos Deputados. Baseados nos
pressupostos da teoria marxista buscamos problematizar as diversas estratégias que perpassaram
os comportamentos individuais e familiares dos proprietários de terra da Freguesia de São Pedro
do Fanado e sua mobilização no processo de expansão de seus domínios territoriais e econômicos.
Dentre as diferentes estratégias de acesso a terra, encontradas nos RPT, elegemos para esta análise
a posse, como forma de acesso à terra e expansão do domínio territorial e de mando dos
fazendeiros da Freguesia de São Pedro que diante da decadência da produção aurífera e da lavoura,
especialmente do algodão, procuraram mobilizar recursos para a expansão da riqueza acumulada,
ou pelo menos, para manutenção do patrimônio material e imaterial já adquirido. A posse,
especialmente, na área de fronteira da freguesia se configurou como uma estratégia de expansão
territorial que permitiu que várias famílias construíssem novas propriedades e alargassem seus
domínios. Esse empoderamento territorial resultou em uma demanda da elite local e regional por
maior autonomia tributária e legislativa, além de reivindicarem a possibilidade de terem
representantes locais no Parlamento, o que ficou configurado no projeto de criação da Província
de Minas Novas.

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A Companhia de Estrada de Ferro Leopoldina na Zona da Mata Mineira:


1870-1889
Walter Alves de Paula Neto
waltternetto@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: relações de poder, Zona da Mata, Estrada de Ferro.

As estradas de ferro surgiram em Minas Gerais em um contexto político e econômico


específico, com a criação do Código Comercial, que fundou as bases para as Sociedades Anônimas
(SA) e a lei Euzébio de Queiroz, que proibiu o tráfico de escravos no Brasil, ambas em 1850, tendo
tais fatos contribuindo para um cenário propício para o surgimento das ferrovias, que eram
empreendimentos de alto custo. Os primeiros trilhos construídos em Minas Gerais pertenciam ao
ramal da Estrada de Ferro Pedro II, que adentrou o território mineiro no final do séc. XIX através
da Zona da Mata, marcando o início da “febre ferroviária mineira”. Apesar da baixa
representatividade da Zona da Mata em cargos de alto escalão no governo imperial é nesta que
surge o maior número de concessões para ferrovias, devido, principalmente, ao fato de esta ter se
tornado a maior produtora de café de Minas Gerais no final do séc. XIX. É neste contexto que
surgem diversas ferrovias em Minas, entre elas, a Estrada de Ferro Leopoldina (EFL), objetivo de
análise deste estudo, e também, por exemplo, a Estrada de Ferro União Mineira (EFUM). Estas
duas empresas serviam como uma representação do cenário político da época, a primeira, de origem
carioca e com figuras da diretoria ligadas ao alto escalão da Corte e a segunda, bancada pelo dinheiro
do café dos barões de Juiz de Fora, Santa Helena e S. J. Nepomuceno, figuras com forte influência
na política mineira. Ambas possuíam suas áreas de interesse, mas em certo momento estas se
chocavam, como no caso da disputa pelo ramal que ligaria a Zona da Mata ao norte, passando por
Ponte Nova, que após um debate na Assembleia, foi dado ganho de causa à EFUM, sendo esta
decisão derrubada pelo governo imperial, dando ganho de causa à EFL. Dessa forma, o objetivo
desse trabalho compreender como tais disputas aconteciam e quais eram os motivos que
possibilitavam a vitória para uma ou outra empresa. Para tal, lançou-se mão de bibliografia sobre
as Minas Gerais do século XIX, além da análise dos Relatórios de Presidente de Província e também
de Anais e os Livros de Leis da Assembleia Provincial. Com essas leituras e análises buscou-se
compreender o cenário político e econômico da Mata e de Minas Gerais, além de fazer um
levantamento dos personagens que atuavam no âmbito das ferrovias: políticos, diretores e
acionistas, cruzando os dados e criando um cenário em que fosse possível perceber o papel desses
atores no crescimento do transporte ferroviário na Zona da Mata.
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Padroado Régio e Regalismo na Formação do Estado Nacional Brasileiro


(1820-1840)
Gabriel Abílio de Lima Oliveira
ga005@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Regalismo, Padroado, Estado nacional.

O trabalho parte de uma reflexão sobre dois aspectos fundamentais no que se refere à
relação entre a Igreja e o Estado no Brasil, no momento da consolidação das bases do Estado
nacional independente, o padroado régio e o regalismo. Busca-se um panorama sobre as raízes
ibéricas destes fenômenos religiosos e políticos, dando ênfase às especificidades do caso português
na sua conexão com o contexto da Independência e da consolidação das bases institucionais e
constitucionais do Império, onde os preceitos e práticas do liberalismo estariam em constante
tensão e diálogo com as estruturas próprias ao Antigo Regime. Tem-se em perspectiva os espaços
de sociabilidade, de governança e a ação de agentes políticos, em especial os sacerdotes, envolvidos
nos debates relativos às questões religiosas a partir da esfera pública, sobretudo na imprensa e no
parlamento.

Os primeiros anos da câmara da Villa de Sapucaia: Demandas, problemas e


funcionamento
Luiza Coutinho Ottero
luizaottero@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Vale do Paraíba, câmara, Século XIX.

O presente artigo tem como tema o funcionamento da câmara da Villa de Sapucaia situada
no interior da província do Rio de Janeiro, na região do Vale do Paraíba, durante o período de 1875
a 1888. Pretende-se observar quais as demandas e os problemas que a jovem instituição enfrentava
em seus primeiros anos. Para isso, foram observadas as fontes da câmara do período e também
outras fontes como o Almanaque Laemmert e jornais que falavam sobre o município. Sendo assim,
deparamos com uma câmara nova, mas cheia de projetos e demandas da população, além de alguns
problemas para enfrentar numa conjuntura de fim do período imperial, crise na escravidão e crise
do café no Vale do Paraíba Fluminense. Este trabalho tenta preencher algumas lacunas na história
do Vale do Paraíba Fluminense, principalmente no que diz respeito às regiões de expansão das

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fazendas cafeeiras, como é o caso da Villa de Sapucaia, que se encontram mais próximas à Zona
da Mata em Minas Gerais.

As festas cívicas do 21 de abril em Ouro Preto na segunda metade do século


XIX
Thaís Lanna Junqueira
thaislj@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Inconfidência Mineira, Festas Cívicas, Ouro Preto, Século XIX, Espaço
Urbano.

Este trabalho trata das festas cívicas em comemoração à Inconfidência Mineira realizadas
na cidade de Ouro Preto na segunda metade do século XIX. Mais especificamente, procuramos
entender de que maneira este “lugar de memória” interagia com o espaço urbano, ressignificando-
o de alguma forma. Mostraremos, por meio da análise de relatos jornalísticos e da bibliografia
referente ao tema, como os realizadores das festas cívicas construíam uma forte associação destes
rituais com a paisagem e a dinâmica urbanas, ajudando a consolidar uma memória coletiva sobre a
Inconfidência Mineira mais significativa para a identidade local do que para disputas políticas entre
Republicanos e Monarquistas da época.

Enredamentos: as Cortes de Lisboa e o desengano aos brasileiros (1822-


1823)
Alexandre Bellini Tasca
abtasca@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Enredo, Separação, Constituição.

A partir da Revolução do Porto eclodida em 24 de agosto de 1820, uma série de medidas


foram tomadas visando a implementação de um regime liberal nos domínios do Reino Unido de
Portugal, Brasil e Algarves. Ganha destaque nesse cenário a formação das Cortes Gerais,
Extraordinárias e Constituintes de Lisboa, que através de deputados eleitos, deveriam elaborar uma
Constituição escrita para a Nação, limitando o poder real e redistribuindo a soberania. Participaram
desse processo não somente eleitos pelas porções ibéricas do Reino, mas também pelos territórios
insulares, africanos e americanos. Interessará para o presente estudo a experiência política
experimentada por esses últimos. Abrigando a família real por mais de dez anos e desde 1815
elevado à categoria de Reino Unido, o Brasil cada vez mais adquiria proeminência política na

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sustentação do Império Português, dissociando-se do papel de colônia. Partindo dessa experiência,


os deputados oriundos do Brasil esperavam, nas Cortes, exercerem um maior poder decisório, no
que muitos deles se viram frustrados. Buscar-se-á uma análise do desfecho desse quadro político,
onde o Brasil declarava sua independência, muitos deputados em Lisboa demonstravam
insatisfação com a Constituição criada e, de modo cada vez mais consciente, percebia-se uma
dissociação entre a noção de "portugueses de ambos os hemisférios", predominante no vocabulário
vintista e o "brasileiro", que deixava de ser uma especificidade para se tornar uma identidade distinta
da portuguesa e, por vezes, antagônica. Para tanto, serão mobilizados o Diário das Cortes,
manifestos publicados por alguns deputados entre outubro e dezembro de 1822, além de panfletos
e periódicos que, a partir de meados de 1822, iniciam de maneira explícita a construção de novos
enredos para a história do Brasil, que aqui se limitara ao ano de 1823, quando o foco dos impressos
se torna a constituinte do Brasil e não mais aquela ocorrida em Lisboa.

“Mas o partidarismo infrene faz a muitos tornarem-se sem coração”:


Família Faria Fraga, alianças e disputas político-partidárias – Caetité - BA
(1880-1889)
Laiane Fraga da Silva
laiane.fg@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Alto Sertão da Bahia, Família Faria Fraga, Relações Políticas, Partidos
Politico.

O presente trabalho busca compreender as alianças e disputas político-partidárias da


Família Faria Fraga no alto sertão da Bahia, mas especificamente em Caetité, na ultima década do
Império. Para tanto, esse trabalho visa, por meio de autos criminais, compreender as articulações
das elites políticas alto sertanejas em prol de sua permanência no poder, refletindo sobre o quanto
os conflitos políticos não se tratavam apenas de querelas restritas ao espaço das Câmaras
Municipais, mas de disputas que invadiam o quintal das casas das pessoas, que andavam nas
estradas, nas ruas, nos botequins... envolvendo leigos e doutores.

“Mártires da véspera”: a memória em torno dos voluntários da pátria (1870-


1922)
Ana Beatriz Ramos De Souza
abyasouza@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Memória, Voluntários da pátria, Guerra do Paraguai, Segundo Reinado.


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A Guerra do Paraguai foi acontecimento marcante na história política do Império do Brasil.


Afetou o poder do Estado, e de forma um tanto surpreendente, afetou segmentos diversos da
sociedade brasileira da época no sentido de causar o envolvimento direto com o conflito militar
então deflagrado. Esse aspecto se associou, entre outros desdobramentos, a criação dos batalhões
de “Voluntários da Pátria”. O objetivo deste trabalho é analisar como ocorreu a formação da
memória referente a esses “soldados-cidadãos”, os batalhões dos “Voluntários da Pátria” e, em
especial, examinar suas demandas por pagamentos, assistência e até mesmo participação política, e
problemas no pós-Guerra do Paraguai, tendo como cenário a cidade do Rio de Janeiro, capital do
Império e centro difusor das ideias políticas.

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Teoria da História, História da Historiografia e


Historiografia da Ciência

Augusto Bruno de Carvalho Dias Leite


Doutorando
UFMG
Simpósio Temático

augustobrunoc@yahoo.com.br

Danilo Araujo Marques


Mestre
UFMG
danilomarques.his@gmail.com

Deise Simões Rodrigues


Doutoranda
UFMG
deiseouropreto@yahoo.com.br

Walderez Simões Costa Ramalho


Mestre
UFMG
walderezramalho@gmail.com

Proposta do Simpósio:

Com o objetivo de continuar as atividades de um fórum voltado para discussões acerca da


teoria da História, História da historiografia e historiografia da ciência no interior do EPHIS,
prosseguimos a tradição de propor um Simpósio Temático dedicado ao estímulo de tais debates.
Deste modo, pretendemos franquear uma oportunidade para o compartilhamento e interlocução
tanto de trabalhos considerados ainda incipientes, quanto reflexões derivadas de resultados mais
consolidados de pesquisa. Os terrenos, intersecções e fronteiras dos campos da teoria da História,
História da historiografia e historiografia da ciência são suficientemente amplos para suscitar temas
e abordagens das mais variadas. Certos disso, visamos propiciar um espaço suficientemente amplo
para o acolhimento de todas elas. Todavia, mesmo que não seja evidente a princípio, as propostas
devem versar, em comum, sobre questões essenciais que confiram certa especificidade teórica às
reflexões, tais como: “O que é a História?”, “É possível formular um conhecimento racional e
metódico sobre o passado?”, “Que necessidades são atendidas por esta forma de conhecimento?”,
“Em que medida essas questões foram postas, destacadas, obliteradas ou rejeitadas na própria
história da disciplina histórica?” “Quais os limites e/ou possibilidades de uma História da ciência
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realizada por historiadores?” “O que a História, enquanto forma de conhecimento do passado, tem
a dizer a respeito da produção científica?” Enfim, as propostas devem girar em torno da extensa
variedade de questões ontológicas, epistemológicas, éticas, estéticas, sociais e políticas provocadas
pelo saber histórico – quaisquer que sejam os seus objetos. Assim, uma vasta gama de propostas é
bem-vinda, cobrindo desde temáticas mais amplas e tradicionais à problemas considerados cada
vez mais específicos e atuais; as relações da escrita da História, seus desafios e demandas
contemporâneos; e as novas perspectivas sobre a História e historiografia da ciência. Com este
Simpósio, pretendemos debater a respeito daquilo que de mais caro há na reflexão sobre a disciplina
histórica: o potencial que o historiador tem de dar sentido ao passado, transformá-lo e permitir que
com ele se conviva. E, para fazê-lo, almeja-se trabalhos capazes de historicizar a própria tradição,
revirá-la, ressignificá-la e continuá-la criticamente, renovando os sentidos do fazer História.

Comunicações:

Sobre o que fala a História do tempo presente


Fernando Gomes Garcia
eroestrato@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Temporalidade, Tempo Presente, Historicidade.

Dentre as disciplinas de Humanidades, tende-se a distinguir a História como aquela que se


dedica a estudar o passado, diferentemente, por exemplo, da sociologia, que se em temas atuais, ou
do “tempo presente”, e sob essa distinção funda-se sua epistemologia. Todavia, já nem tão
recentemente assim, salta aos olhos dos pesquisadores problemas e são desenvolvidos trabalhos
cujas temáticas não recedem, sequer, aos “fronteiriços “50 anos” de distanciamento, já requeridos
por representantes da corporação, e várias pesquisas já não enxergam a coexistência geracional do
pesquisador e do assunto elegido para pesquisa como barreira intransponível para a realização do
trabalho – muito embora problemas e precauções apareçam. Mais do que inquerir sobre as
possibilidades da escrita da História do tempo presente e seus desafios teóricos, a proposta desta
comunicação é refletir sobre o que credencia determinado assunto ou problema seja a ser adjetivado
e predicado como “histórico”, senão pela distância cronológica entre diversas gerações e o
historiador que o trata cientificamente. Para Rüsen, determinado acontecimento pode ser chamado
de histórico à medida em que, no futuro, ele seja reconhecido como passível de orientação – ou
seja, a historiedade do tempo seria um adjetivo posterior – ou, se muito, numa ousadia dos

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contemporâneos que assim projetam suas ações como formadoras. O mesmo seria o caso das
“narrative sentences”, de Danto. Por outro lado, é um fenômeno crescente concepções alternativas
de tempo que não sejam o historicista, que dilatam o presente e vêem o passado como território a
ser conquistado, que desafiam a temporalidade tripartite, e obscurecem as fronteiras que
impediriam que o limite dos “50 anos” fosse trespassado. A possibilidade do tempo presente ser
tratado pelo historiador aparenta opor duas noções do que transforma determinado tempo em
histórico e do que define um objeto como matéria de trabalho para o historiador; uma que que se
fia, talvez excessivamente, numa teleologia, e outra que, mais do que a anterior, reivindica ações
políticas e limites éticos mais explícitos. Desta maneira, a reflexão que me proponho a fazer neste
trabalho é pensar, a partir da História do tempo presente, qual é a condição de temporalidade que
franqueia nossos ofício (já que não a mera cronologia) e o que operamos sobre nossos objetos
capaz de capacitar como histórica nossas análises, diferentemente do que as outras disciplinas
possam fazer.

Lágrimas de Clio: Mito e Anti-Historicismo em Mircea Eliade e Claude


Lévi-Strauss
Tomaz Pedrosa de Tassis
tomaztassis@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Mircea Eliade, Claude Lévi-Strauss, Anti-Historicismo, Mito.

A tradição historiográfica ocidental, principalmente após a consolidação da disciplina


''história'' como objeto de estudo acadêmico no séc. XIX, tem lidado com um certo número de
pressuposições sobre algumas ideias fundamentais que definiriam de antemão o que é ''histórico''
e eivado de ''historicidade''. No século XX, alguns autores, frequentemente acusados de anti-
históricos e anti-historicistas, atacaram alguns dos princípios que fundamentavam as noções
comumente aceitas pela tradição acadêmica ocidental como definidoras da ''historicidade'' e da
''temporalidade histórica''. É nosso intento analisar comparativamente como dois deles, oriundos
de diferentes tradições intelectuais, lidaram com a questão: a saber, Mircea Eliade e Claude Lévi-
Strauss. Estudiosos do mito e de suas ressonâncias em sociedades arcaicas e ''primitivas'', nossos
autores foram muitas vezes caracterizados como inimigos da história e do pensamento histórico.
Tentaremos demonstrar como os autores citados contribuíram não para uma desvalorização e
depreciação da história, como muitas vezes se afirmou, e sim para um alargamento do
entendimento sobre noções fundamentais como tempo, historicidade, mito e do próprio conceito
de História. Consideraremos em nossa discussão tanto a presença marcante da filosofia ocidental
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e seus diversos desenvolvimentos no pensamento dos autores quanto a influência da ''filosofia''


indiana e do Yoga, no caso de Eliade, e das culturas ameríndias e do Budismo, no caso de Lévi-
Strauss. A superação de antinomias como Oriente-Ocidente, primitivo-civilizado e mito-história é
o eixo da reflexão que propomos ao abordar as figuras de Mircea Eliade e Claude Lévi-Strauss.

Sobre a permanência do conceito historia magistra vitae no século XX


Mariana Vargens Silva
marianavargens@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Primeira República, Minas Gerais, Historia Magistra Vitae, História da


Historiografia, Instituto Histórico.

Nossa proposta de trabalho se insere na discussão a respeito da permanência do caráter


normativo da história no século XX, abordando a produção do Instituto Histórico de Minas Gerais
como objeto de estudo. Buscaremos demonstrar como neste período era importante para o
historiador brasileiro ter em mente as modernas referências metodológicas sem deixar de
considerar o momento de crise vivido no país. Se para aqueles homens estava colocado que não
havia história sem documentos e que cabia ao historiador cuidar dos fatos do passado com o devido
distanciamento, a demanda pela resolução de conflitos os levou a ressignificar concepções em
desuso, como a ligação da história com a política e a moral, próprias da historia magistra vitae,
conferindo à história um caráter de orientadora para a formação de cidadãos e de políticos. Para
Manoel Salgado Guimarães, podemos atribuir ao período a presença de distintos regimes de
historicidade implícitos numa concepção da história como mestra da vida e aquela que percebe a
história como a narrativa e a inteligibilidade de fatos que não se repetem. A história havia sido
transformada em instância para julgamento das ações humanas e lugar de pronunciamento de
discursos de natureza moral (GUIMARÃES, 2006). Seguindo esta linha de raciocínio, Valdei
Araújo afirma que o conceito atravessou a historiografia do século XIX brasileiro devido ao sucesso
da utilização da história nos discursos destinados à formação cívica (ARAÚJO, 2011). Com base
em estudos como estes nos aproximamos dos historiadores do período, como Pedro Lessa, para
quem ''os gregos e romanos disseram da história ser ela a mestra da vida […] essa conceituação
ingênua foi severamente desmentida pelo critério da exatidão e da fidelidade na averiguação dos
fatos humanos contrapostos a criação romântica dos seus primeiros cultores. Mas a história
continua mestra da vida, não se limita a reunir os fatos humanos, de cujo exame comparativo se
induzem as leis sociológicas; proporciona ensinamentos práticos, lições de imediata utilidade,
exemplos vivamente sugestivos, que os estadistas não podem deixar de aproveitar'' (LESSA, 1907).
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Usos Historiográficos de Narrativas Iconográficas e Textuais: Compondo a


Paisagem no Imaginário das Imagens e nos Relatos de Viajantes
Leonildo José Figueira
leo.hist@gmail.com

Simone Aparecida Dupla


cathain_celta@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Relatos de Viajantes; Teoria da História, Iconografia.

Imagens são formas de expressar o mundo concreto e mental, nos remetem a diversas
situações vividas, evocam passados míticos e provocam percepções distintas no observador. David
Freedberg (2011) nos fala do poder das imagens, das sensações de empatia ou medo a que elas
podem nos remeter, de sua eficácia e vitalidade, essa concepção aliada aos estudos sobre
representação e imaginário de Roger Chartier (1990) e Sandra Pesavento (1995) nos permitem
analisar imagens e discursos como instrumentos de poder e transformação da realidade, cujas
atribuições dão sentido ao mundo. As imagens podem tecer um relato, narrar ações, sentimentos,
situações sagradas e profanas. O relato escrito, por sua vez, pode construir uma paisagem, a imagem
mental produzida pelo texto pode evocar no leitor sentimentos diversos, o permite flanear por
contextos distintos do seu, são testemunhos de outras épocas que ao serem interrogadas pintam
um quadro mental passível de interpretação por parte da História. Uma narrativa de viajante é fruto
da percepção de uma realidade, que precisa ser relativizada pelo trabalho historiográfico.
Interpretar o olhar do viajante pode nos orientar em análises mais amplas, para além da própria
biografia do autor, sobre a percepção do tempo e do espaço bem como o entendimento do
contexto ao qual o autor está situado. Dessa maneira, atentar para a percepção do viajante, sensível
aos mecanismos por ele utilizados implica em apreender suas experiências como sendo
representações produzidas coletivamente, de modo que trata-se da atribuição de sentido a uma
dada realidade. Por não serem discursos neutros, as representações trazidas, pelas imagens ou por
relatos nos revelam autoridades, escolhas, concepções, estratégias, conflitos, paradigmas e nos
conduzem a refletir sobre seus usos e funções em momentos distintos.

O rural em estudo entre as décadas de 1930 e 1950: História e Sociologia em


"Parceiros do Rio Bonito"
Hugo Mateus Gonçalves Rocha
hugogrocha@hotmail.com
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PALAVRAS-CHAVE: Sociologia Rural, Parceiros do Rio Bonito, Antonio Cândido.

A institucionalização da pesquisa e ensino das Ciências Sociais no Brasil teve, entre as


décadas de 1930 e 1950, um momento decisivo em função do estabelecimento dos primeiros cursos
de Ciências Sociais no país por meio da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da USP e da Escola
Livre de Sociologia e Política. No presente trabalho, temos como objetivo refletir, do ponto de
vista historiográfico, sobre questões associadas ao desenvolvimento de estudos que almejavam
conhecer de forma mais apurada a realidade social, econômica e cultural das populações rurais
brasileiras no período. Este esforço intelectual pretendeu realizar análises mais aproximadas frente
aos estudos sobre o mundo rural brasileiro expressas em obras de intelectuais como Euclides da
Cunha, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Junior, que desenvolveram uma
abordagem acerca da matriz rural brasileira de forma mais ampla, em obras que se tornariam
clássicas no pensamento social brasileiro. Em um primeiro momento, seguindo a linha dos
“estudos de comunidade”, desenvolvidos a partir da recém-fundada ELSP, Emílio Willems e
Donald Pierson foram, certamente, sociólogos de suma importância no processo de
desenvolvimento dos estudos sobre o mundo rural brasileiro. No entanto, a formação de novos
cientistas sociais por meio das escolas citadas proporcionou o alargamento das perspectivas de
análise, que passaram a tratar as questões sobre o tema a partir de novas linhas teórico-
metodológicas do pensamento social.

Tendo como foco uma análise específica sobre a obra “Parceiros do Rio Bonito: estudo
sobre o caipira paulista e a transformação dos seus meios de vida”, de autoria do sociólogo e crítico
literário Antonio Cândido de Melo e Souza, temos como objetivo lançar questões atidas ao debate
intelectual empreendido sobre o tema da ruralidade, refletindo acerca da importância do
pensamento histórico para este autor em seu intuito de desenvolver uma pesquisa voltada ao
processo de formação e posterior desestruturação das comunidades rurais paulistas. Para isto,
pretendemos realizar uma análise sobre as disputas teóricas e metodológicas no referido meio
intelectual, pautando-nos no debate acerca das diretrizes tomadas nos estudos sobre o mundo rural,
voltando nossa atenção à importância centrada no pensamento histórico como uma das bases à
pesquisa que culminou na escrita de “Parceiros do Rio Bonito”.

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Recopilación Historial e os papéis da Audiência de Santa Fé: Algumas


reflexões sobre a Historiografia Indiana
Thiago Bastos de Souza
toca98@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Historiografia Indiana, Audiencia de Santa Fe., Recopilación Historial.

A confecção e mobilização de informações escritas sobre as Índias Ocidentais Espanholas


certamente foi uma prática constante, necessária e inerente ao controle, administração e
configuração dos territórios vice-reinais no Novo Mundo, pertencentes à Espanha ao longo do
século XVI. O volume e a profusão de escritos sobre as Índias, para além de atenderem a dinâmicas
internas, pertencentes aos próprios espaços políticos em construção –inicialmente cópias e
duplicatas de algo exterior –, estão vinculados a uma “centralidade-política” exterior, peninsular,
seja porque as informações são por ela solicitadas, institucionalizadas, ou porque, ao longo de
sua confecção, indicam a sua finalidade, direção e vinculação, isto é, o Monarca ou o Conselho de
Índias, centros gestores. É entendendo que a produção escrita das Índias Ocidentais espanholas
conectam diversos espaços, e os vinculam a uma “centralidade” política, que temos compreendido
o termo Historiografia Indiana, apresentado por Francisco Esteve-Barba nos anos 1960, como um
conceito dotado de uma pungente densidade teórica, visto que os agentes/escritores das sociedades
vice-reinais do século XVI, por mais que estejam sujeitos às adversidades de seus contextos
geográficos, foram plasmados pelo mesmo “continente História”, o que nos permite observar o
compartilhamento de pré-requisitos, chaves-conceituais, ou “experiência histórica”, no que se
refere à apreensão dos seres coisas e espaços. Para tal exercício buscaremos indicar, por meio de
pesquisa e cotejo já realizados, como a crônica – oficializada – de um provincial da ordem
franciscana que chega ao vice-reino da Nova Granada em 1561: Recopilación Historial, de frei
Pedro de Aguado, e a documentação produzida por diferentes ordens religiosas, a qual compõe o
fundo de Cartas y Expedientes de Personas Eclesiásticas para a Audiencia de Santa Fe do Archivo
General de Índias, são circundadas por referentes comuns, de ordem temática ou contextual, por
exemplo, as Índias. Buscaremos ainda, mencionar como essa documentação é capturada/utilizada
pela Coroa e seus mecanismos de controle, censura e oficialidade. A viabilidade de se pensar os
diversos escritos referentes às Índias, no âmbito do que chamamos Historiografia Indiana, passa
pela necessidade de se observar o deslocamento e vinculação de pessoas e instituições por
diferentes espaços e a maneira como produzem papéis e informações consonantes.

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Historicidade e memorialismo em Pedro Nava


Walderez Simões Costa Ramalho
walderezramalho@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Memória, Presença, Pedro Nava, Historicidade, História.

O objetivo desta apresentação é propor uma análise crítica da obra "Baú de Ossos", do
médico e escritor juiz-forano Pedro da Silva Nava (1903-1984). Lançado em 1972, este livro é o
primeiro de uma coletânea de mais 6 volumes que compõem a sua obra memorialística, considerada
a mais importante do gênero já feito no Brasil. Referência para muitos estudos de crítica literária,
"Baú de ossos" será analisado sob o ponto de vista da teoria da história. Assim, vamos discutir
como a obra de Nava elucida algumas questões centrais no debate historiográfico contemporâneo,
tais como as relações entre memória e história, e a expressão da historicidade do humano (nos
termos propostos por Martin Heidegger). Por fim, será apontado possíveis contribuições que o
paradigma da presença (conforme teorizado por Gumbrecht) oferece para uma leitura crítica da
narrativa memorialística.

Observações acerca das culturas do sentido e da presença


Larissa Accorsi
larissaaccorsi@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Produção De Presença, Didática Da História, Cultura Do Sentido.

A proposta deste trabalho é realizar uma análise de dois contemporâneos autores que
dedicam boa parte de seus trabalhos ao universo teórico da história. O primeiro deles será Jörn
Rüsen e seu penúltimo trabalho traduzido para o português Cultura faz sentido: orientações entre
o ontem e o amanhã, onde explicitaremos sua tese em torno do conceito de sentido, assim como
suas implicações para o fazer historiográfico e, principalmente, para o cotidiano. Produção de
presença: o que o sentido não consegue transmitir, escrito por Hans Ulrich Gumbrecht será o
segundo autor que traremos para debate e, como o título do livro já indica, se trata de uma proposta
reversa a de Rüsen.

Recentemente agraciado com o título de Doutor Honoris Causa, Jörn Rüsen nasceu em
Duisburgo, no ano de 1938, na Alemanha, e sua produção intelectual envolve, sobretudo, os
campos da teoria e metodologia da história e, didática e ensino de história. Vale a pena sublinhar
que a geração de intelectuais anterior a Rüsen foi composta por autores como Reinhart Koselleck,
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Odo Marquard e Hermann Lübbe, chamados por autores associados a Escola de Frankfurt, de
geração cética. Tais autores escreveram num momento de bastante agitação, tanto em ambiente
intelectual quanto cotidiano pelo qual passava a Alemanha daquele momento e, por isso, um
evidente sentimento de desorientação pairava sobre aquela geração. Professor de literatura
comparada na Universidade de Stanford desde o ano de 1989, Hans Ulrich Gumbrecht nasceu em
Wüzburg, na Alemanha, em 1948. Possui trabalhos tanto na área da literatura, como em filosofia,
história cultural e teoria da história, dos quais nos deteremos mais especificamente em torno da sua
tese da cultura da presença, que aparece mais de forma mais evidente em seu livro “Produção de
presença: o que o sentido não consegue transmitir”, publicado no Brasil no ano de 2010. A partir
do desenvolvimento da categoria de presença, Gumbrecht busca por alternativas não
hermenêuticas de interpretação do real, de modo que segundo ele, a metafísica se tornou a partir
da segunda metade do século XVII a única forma pela qual lidamos com o mundo a nossa volta, o
que acabou por gerar uma espécie de demasiada supremacia da cultura da interpretação em
detrimento da cultura da presença, da materialidade.

O Resumo da História do Brasil e as possibilidades de uma história do


Brasil pós-Independência (1825-1831)
Geisiane Anatólia Gomes
geisiane_gomes@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Regimes de Autonomia, Historiografia do Brasil Império, Disciplina da


História, Teoria da História.

Na primeira metade do século XIX, o Brasil passaria por uma de suas principais
transformações sócio-políticas: a emancipação da metrópole Portugal. Já na década de 1820,
poucos anos depois da Independência, projetos historiográficos acerca da história brasileira se
conformavam já com a constatação da separação ocorrida, entre as agora nações, com uma
narrativa pensando nesse processo. Entre esses projetos, figura o Résumé de l’Histoire du Brésil
de Ferdinand Denis, publicado em 1825 e a tradução, acrescida de três anos, desta obra, feita por
Henrique Luiz de Niemeyer Bellegarde, publicada em 1831. Outro processo importante nos
oitocentos seria a disciplinarização da história. Os questionamentos sobre sua forma e método e
sobre a como validar a veracidade das narrativas, estavam em pauta. Sobre essas discussões,
recorremos ao trabalho de Bruno Franco Medeiros, onde podemos ver reveladas as nuances desses
problemas historiográficos. O estilo narrativo, assim como a síntese características do Resumo, é
mais um quesito nas discussões, do método e aceitação das obras, durante o século XIX, não só
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no Brasil. A isso se acresce a discussão do mercado editorial e da hipótese de regimes de autonomia


levantados por Valdei Lopes Araújo, onde não só grandes instituições como o Instituto Histórico
e Geográfico Brasileiro concederiam valor a uma obra, mas também o gosto do público e dos
editores, colocando-as em evidência. As análises propostas, baseadas no Resumo de Bellegarde e
sua presença como forma de conceber possibilidades da história no século XIX, ainda se apoiam
em trabalhos de Carlo Ginzburg, Jörn Rüsen e Arlette Medeiros Gaparello.

Temporalidade, historicidade e ontologia: Ricoeur leitor de Heidegger


Breno Mendes
mendes.breno@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: histórico, História, Temporalidade, da, Filosofia, Ontologia., Sentido,


Historicidade.

Não há dúvida que a filosofia de Martin Heidegger é uma das principais referências na obra
de Paul Ricoeur. No entanto, Ricoeur faz uma leitura crítica das teses lançadas pelo filósofo alemão,
sobretudo, em Ser e tempo (1927). Nosso objetivo é analisar, especialmente, o entendimento que
cada um dos filósofos tem dos conceitos de temporalidade, historicidade e ontologia. Para tanto,
vamos nos valer tanto dos argumentos heideggerianos em sua obra magna, quanto dos textos nos
quais Ricoeur os comenta como O conflito das interpretações (1969), Tempo e narrativa (1983-
1985 3v.) e A memória, a história, o esquecimento (2000) e o prefácio a Martin Heidegger and the
Problem of Historical Meaning (2003) de Jeffrey Barash. Nosso fio condutor será a possibilidade
de aplicação destas discussões à história da historiografia. Nesse sentido, como ponto de partida,
iremos explicitar quais são as semelhanças entre os autores que procuram como fundamento a
fenomenologia hermenêutica e acreditam que “fazemos a história e fazemos história, porque somos
históricos” (RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento, p. 362). Uma das questões
que procuraremos responder é: existe em Ser e tempo uma hierarquização entre a historicidade
própria (autêntica) e imprópria (inautêntica) que dificulta a apropriação desta tese na história da
historiografia? ” Dizendo de outro modo, “o estudo da história da historiografia pode contribuir
de alguma forma para a compreensão da historicidade?” Outro tema sobre o qual iremos nos
debruçar diz respeito à relação entre a analítica ontológica do ser histórico e a epistemologia da
historiografia. Ou seja, “a analítica existencial ontológica deve preceder a historiografia ou ela deve
ser um horizonte a ser vislumbrado após as investigações epistêmicas”? O pano de fundo de nossas
questões é o debate em torno da relação entre filosofia e a ciência histórica.

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História das Ciências no Brasil: a memória como história e seu corolário


historiográfico
Eduardo Henrique Barbosa de Vasconcelos
historiaueg10@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Historiografia, Memória, Brasil, História.

Tidos como termos opostos, pois a mencionarmos o termo Ciência mobilizamos visões e
representações, usualmente, voltadas para o futuro, sinônimo de desenvolvimento fruto da marcha
indelével do progresso. Por sua vez, ao mencionarmos o termo História, usualmente,
compreendemos uma ação já passada, uma ação ou algo já concluído e completamente diferente
do futuro. Tais formas de compreensão, seguramente, são apenas dois exemplos distintos e
extremos de se compreender a tensa relação entre História e Ciência. A compreensão da História
e da Ciência pautada pela “grande descoberta” feita pelo “grande gênio” do saber delimita e
impossibilita uma compreensão mais ampla das Ciências no processo histórico social dos diferentes
grupos sociais ao redor do mundo. Assim, buscar compreender as diferentes formas e funções do
saber científico efetivado pelos diferentes grupos sociais passou a mobilizar pesquisadores das
ciências humanas. No Brasil, essa perspectiva mais ampla e plural do entendimento científico e da
história das ciências têm se mostrado extremamente frutífera por lançar luzes em práticas, ações e
sujeitos até então desconsiderados e o crescimento e a acumulação de conhecimento nesta área
suscitou o fortalecimento de linhas de pesquisas sobre a temática como a linha de História das
Ciências na USP e a criação de novas instituições de ensino e pesquisa voltadas especificamente
para a relação entre História das Ciências como é o caso do MAST e da COC-Fiocruz. Dentro
desse processo ressaltam-se os trabalhos, as pesquisas e a orientações efetivadas pela profa. Maria
Amélia Mascarenhas Dantes do departamento de História da USP, de suma importância para a
implantação, crescimento e afirmação do atual campo da história das ciências no Brasil. Todavia,
ao longo dos seus mais de quarenta anos de atuação a pesquisadora tem apontado o que considera
as linhas gerais ou sintetizado a História das Ciências no Brasil com artigos: As ciências na História
Brasileira (2005); Reflexões sobre os caminhos da historiografia das ciências no Brasil (2006);
Recordações sobre o processo de constituição da história das ciência no Brasil (2015). Nesse
sentido, o presente trabalho tem como objetivo apresentar os argumentos apresentados pela
professora Mascarenhas Dantes compreendendo essa produção embasada na e pela memória da
pesquisadora, apresenta-se e/ou ganha formas de História por meio de sua voz de autoridade e
suas consequências para a área de estudo.
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Breve exposição do conceito de "passado" segundo a tradição teológica,


física e psíquica
Augusto Bruno de Carvalho Dias Leite
augustobrunoc@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Tempo, Passado, Historiografia.

Proponho-me a desenvolver uma sumária apresentação do conceito de passado segundo


as tradições teológica, física e psíquica. Para os teólogos da literatura mítico-religiosa bíblica, retira-
se um conceito de passado particularmente distinto da tradição física que, por sua vez, desenha-se
a partir da lógica filosófica grega. Das duas reflexões, a origem psíquica ou anímica do passado é
aventada. Dessa maneira, articulam-se as três meditações por meio de diferentes prismas, dando
origem, assim, a três conceitos de passado determinantes para a compreensão contemporânea de
tempo em geral e do passado enquanto conceito específico. Por fim, interrogo: seria algum destes
passados o objeto do historiador?

A história como saber heterológico: uma análise da concepção de operação


historiográfica de Michel de Certeau
Robson Freitas de Miranda Junior
rfm.juninho@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Historiografia, Operação historiográfica, Heterologia, Michel de Certeau.

Michel de Certeau (1925-1986) é um dos historiadores mais importantes da segunda metade


do século XX, sobretudo por conta de suas contribuições à compreensão da prática historiográfica.
Um dos aspectos mais marcantes de sua produção se relaciona com sua ampla formação intelectual,
que o possibilitou transitar em diversas áreas do saber (historiografia, psicanálise, etnografia,
filosofia, estudos místicos e religiosos, literatura). A partir da década de 1970, Certeau começou a
indagar a natureza epistemológica da historiografia promovendo reflexões teóricas importantes
sobre a história e suas interseções e fronteiras, sobretudo, com a psicanálise freudiana. Seu interesse
por Freud e pela psicanálise em geral não incide sobre a terapêutica, pois o que o encanta são as
potencialidades da teoria psicanalítica para a compreensão de fenômenos culturais ligados à
alteridade. Neste sentido, a proposta deste trabalho é discutir como a articulação entre
historiografia e psicanálise, operada por Michel de Certeau, influi e se faz presente em sua
compreensão da operação historiográfica. Propomos analisar de que forma as aproximações e

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distanciamentos entre as diferentes estratégias para lidar com a temporalidade, empreendidas por
estas duas disciplinas, encontram no discurso narrativo um meio de compreensão da alteridade; de
um "outro" que se perdeu, de um ausente, que para Certeau é o objeto da história. A escrita, que
envolve a construção de uma narrativa, é para o historiador francês parte fundamental da operação
historiográfica, portanto as interfaces que ele identifica entre esses dois campos, constituem-se em
um aspecto essencial de sua compreensão tanto do fazer historiográfico, quanto dos elementos que
constituiriam uma identidade epistemológica para a história. Para tanto, concentraremos nossa
análise seus textos em que essa problemática se inscreve de maneira mais evidente e que nos
possibilita discutir esta dimensão ainda pouco explorada de sua obra.

A instituição do saber científico: uma leitura de Michel de Certeau pela


História e Sociologia das Ciências
Luiz Alves Araújo Neto
luizalvesan@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Michel de Certeau, História das Ciências, Construtivismo Social,


Sociologia Das Ciências, Instituição Do Saber.

Esta comunicação discute as possibilidades de apropriação do trabalho do historiador


francês Michel de Certeau pela história e sociologia das ciências, sobretudo na perspectiva do
construtivismo social. Autor de importante ressonância na historiografia francesa de sua época e
na brasileira contemporânea, Certeau dedicou parte de sua obra a analisar sistemas de pensamento
e a epistemologia da operação histórica, compreendendo os saberes acadêmicos como "instituições
do saber". Nessas instituições (não necessariamente materiais), os produtores de discursos teriam
sua atividade pautada pela relação entre seu lugar, sua prática e sua escrita, cada dimensão com um
papel fundamental na fabricação do conhecimento. Aproximando as observações de Michel de
Certeau das análises sobre a ciência feitas por diversos autores, principalmente aqueles marcados
pelo Programa Forte da Escola de Edimburgo (David Bloor, Barry Barnes, Steven Shapin, Bruno
Latour, Simon Schaffer e Knorr Cetina), é possível traçar uma linha analítica sobre a atividade
científica, especificamente sobre os processos de constituição de áreas do saber ou de
especialidades. Nesse diálogo, a correlação entre conceitos como lugar, credibilidade científica,
ciclo de credibilidade, arena transepistêmica, prática, redes, centrais de cálculo, escrita,
enquadramento, estilo de pensamento, coletivo de pensamento, entre outros, é fundamental para
que sejam propostos novos diálogos entre os historiadores "tout court" e os historiadores das
ciências, uma demanda cada vez maior no campo historiográfico. Esta análise é parte do que discuti
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em minha dissertação de mestrado, na qual analisei o processo de conformação de uma prática


médica específica, a cancerologia, no Ceará entre os anos de 1940 e 1960.

Reabilitando Varnhagen: a história da História da Independência do Brasil


Antonio Carlos Figueiredo Costa
antoniocarlosfigueiredohist@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Centenário da Independência, Instituto Histórico-Geográfico Brasileiro,


Varnhagen, Centenário, História da Historiografia.

A Comunicação se propõe a explorar um episódio pouco visitado da História da


Historiografia. Desde 1914 o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro vinha realizando
preparativos para a realização do I Congresso Internacional de História da América, programado
para o ano de 1922. O evento serviria como parte das comemorações oficiais do Centenário da
Independência. Porém, ao contrário das demais repúblicas americanas, agora tornadas co-irmãs da
jovem república brasileira, não havia uma publicação digna de ser ostentada referente às lutas pela
Independência. Porém, em 1916, verificando alguns manuscritos que haviam sido adquiridos pelo
Ministério das Relações Exteriores aos herdeiros do Barão do Rio Branco, o ministro Lauro Muller
encontrou entre os papéis do antigo chanceler os originais do que seria a História da Independência
do Brasil. A existência dessa obra, então inédita, fora apontada por Sílvio Romero em sua alentada
História da Literatura Brasileira, cuja primeira edição é de 1888. Nesse livro, Romero considerava
um crime a História da Independência não ter vindo a lume. O Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro tratou então de nomear uma comissão para verificar a autenticidade da obra, com vistas
à publicação. Assim, sob os ventos do nacionalismo que sopravam no Brasil, a História da
Independência brasileira poderia ser ostentada ao público do I Congresso Internacional de História
da América, eliminando assim o constrangimento frente aos historiadores de outras nações e
completando a reabilitação de Varnhagen junto ao Instituto, o que já vinha ocorrendo por obra de
Capistrano de Abreu desde 1906, quando o ‘Mestre’ preparara uma edição comentada do tomo I
da História Geral do Brasil.

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Ernst Bloch e a tradição da esperança: por uma história rastreadora de


futuros possíveis
Danilo Araújo Marques
danilomarques.his@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: História, Historicidade, Porvir, Esperança, Teoria.

Este trabalho tem como objetivo abrir perspectivas para a construção de uma teoria da
história baseada nas ideias do filósofo Ernst Bloch, tendo em vista, sobretudo, seus conceitos de
“ainda-não-consciente” e “princípio esperança”. De acordo com Bloch, “o ainda-não-consciente
no ser humano efetivamente faz parte do que-ainda-não-veio-a-ser, do ainda-não-produzido, do
ainda-não-manifestado no mundo. O ainda-não-consciente comunica-se e interage com o que-
ainda-não-veio-a-ser, mais especificamente com o que está surgindo na história do mundo.” Neste
sentido, buscamos pensar/propor um estudo da história que se volte para o resgate de um presente-
passado recheado de perspectivas alternativas do mundo, trazendo para a nossa reflexão o conceito
benjaminiano de tempo-de-agora (Jetztzeit), segundo o qual o tempo da história é compreendido
como o instante em que a iniciativa humana colhe a oportunidade favorável e decide a própria
liberdade. Ernst Bloch chegou a apontar caminhos para a elaboração de uma teoria da história
perseguidora da esperança em seu livro “Thomas Münzer: teólogo da revolução”. Em suas
palavras, “engajamo-nos no passado enquanto ele é presente. E, deste modo, outros se
transformam, os mortos retornam, seu gesto revive ainda em nós.” Por isso mesmo, “Münzer é,
antes de tudo, História no seu sentido fecundo; seu presente e seu passado merecem a lembrança,
lá permanece ele para comprometer-nos, entusiasmar-nos, para apoiar, sempre mais amplamente,
nosso desígnio.” Nossa busca pela elaboração de uma teoria da história de matriz blochiana parte
do anseio de resposta ao nosso momento histórico, marcado por uma historicidade que, desgarrada
do passado e do porvir, volta-se para o prosaísmo de um presente ensimesmado. Com todas as
implicações envolvidas em tal ato, consideramos, hoje, a necessidade intelectual de “repetir” o gesto
realizado por Bloch no início do século XX: “É, portanto, urgente estender sob nossas cabeças não
um céu indefinidamente em fuga, mas [...] um céu utopicamente real, fundamentalmente acessível”.
Cumpre-nos, pois, neste início do século XXI, dilatar o presente com expectativas de um “possível-
real”, valendo-nos do artifício historiográfico da atualização de possíveis futuros – a “aktualität” de
Walter Benjamin –, a fim de que, escovando a história a contrapelo, engajemo-nos no passado no
que lhe há de presente aberto ao porvir e revivamos, em nós, os “ainda-não-conscientes” que
povoam o “tempo-de-agora” dos mortos.
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Abreu e Lima e a historiografia popular no Império do Brasil


Thamara de Oliveira Rodrigues
thamara_rodrigues@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Abreu E Lima, História Popular, Distância Histórica.

Nesta comunicação, desejo apresentar parte de minha pesquisa de doutorado. Entre os


objetivos desta pesquisa, destaca-se a necessidade de compreender as dinâmicas de experiências
historiográficas distintas e autônomas entre si no Império do Brasil. A História da Historiografia
tem tradicionalmente priorizado à análise dos trabalhos historiográficos relacionados ao IHGB -
espaço associado à institucionalização e profissionalização do historiador. No entanto, cada vez
mais, entende-se que outros espaços constituíram-se como fundamentais para “formação” da
consciência histórica ou promoção de certa relação com o passado que se dá em âmbitos
autônomos aos espaços institucionais e estão mais próximos às demandas de um público não
especializado. A esse processo, tem-se chamado “história pública”, “história popular” ou
“historiografias populares”. Nesta comunicação, a análise irá se deter sobre o caso de José Ignácio
de Abreu. Suas obras e a repercussão delas na cultura periódica evidenciam características
fundamentais de um espaço historiográfico que se organizou com autonomia em relação aos
esforços próprios àquele constituído no IHGB, por exemplo. Defende-se que tal autonomia forma-
se a partir de opções específicas no que tange ao tratamento de conceitos, narrativas e linguagens
relacionadas especialmente à constituição de uma “distância histórica” em relação a Portugal, por
um lado, e, também, no que diz respeito à forma, por outro; processo ligado à formação da
nacionalidade e da escrita da História do Brasil. Se por um lado, uma das obras fundamentais do
General Abreu e Lima, “O Compêndio da História do Brasil” (1843) fora vetado pelo IHGB e,
por isso, eternizado na historiografia como plagiário; por outro lado, parte significativa da crítica
as suas obras na esfera pública descreveu seus trabalhos como “histórias populares”. Essa última
repercussão indica uma relação mais ampla com uma demanda social pela história que possibilitou
um modo alternativo para escrevê-la, mais aberto às influências da luta política e das flutuações e
permanências do “gosto” de um público não especializado.

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Homens em Tempos Sombrios: O Holocausto, a Modernidade e o


“Pensamento Narracional”
Maria Visconti Sales
mariavisconti92@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Narrativa, Holocausto, Modernidade.

Por muito tempo o Holocausto foi tratado como uma sucessiva análise dos “fatos”
históricos, um estudo do regime nazista, de sua organização. O discurso dos Aliados no pós-guerra
era o de culpabilizar todos os alemães e, posteriormente, fazer um trabalho de memória para que
todos se lembrassem do horror. Contudo, entendo que mais do que pensar na memória do
Holocausto, mais do que buscar um acerto de contas com os verdadeiros culpados, mais do que
dar um sentido de justiça a essas vítimas, mais do que tentar mostrar a história de uma forma mais
precisa; o que realmente precisa ser feito, é uma reconciliação com esse passado. Não entendemos
as lições do Holocausto, não conseguimos dar um sentido a ele. Compreender o Holocausto é mais
do que apenas entender o que aconteceu, é entender o mundo em que vivemos, um mundo onde,
como diz Arendt “tais coisas são possíveis” ou, como diria Zygmunt Bauman, onde “tais coisas
ainda são possíveis”. Essa compreensão permite que analisemos os elementos de nossa sociedade
e que estejamos mais sensíveis aos sinais de alerta, tornando possível uma reconciliação. Hannah
Arendt acredita que contar estórias (stories) é o único meio para compreender um fenômeno
quando todos os conceitos e teorias tradicionais não são mais suficientes para explicá-lo; o filósofo
então, se torna um storyteller, ele reconstitui com a ajuda da imaginação os acontecimentos
tentando compreender o que aconteceu. Para ela, o pensamento narracional é uma atividade sem
fim, pensar sempre é repensar. Assim, o pensamento narracional não leva a uma conclusão x ou y,
ele provoca o pensamento nas pessoas. Este tipo de pensamento reconstitui a experiência, tentando
dar sentido e significação a ela, culminando na reconciliação com o acontecimento. A forma
possível de dominar o passado, é narrar esse passado. Mas apenas narrar (no sentido de contar,
expor) não faz com que tenhamos alguma reconciliação com ele. Para isso, é necessário mais, é
necessário compreender. A tese central deste trabalho, portanto, é a da importância da utilização
do pensamento narracional em eventos traumáticos para que possamos nos reconciliar com o
passado e compreendê-lo. Essa análise será feita com base na relação das teorias de Hannah Arendt
e Zygmunt Bauman sobre o totalitarismo.

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História da África e seu ensino no Brasil - IV

Thiago Henrique Mota


Doutorando
Universidade Federal de Minas Gerais
Simpósio Temático

thiago.mota@ymail.com

Felipe Silveira de Oliveira Malacco


Mestrando
Universidade Federal de Minas Gerais
malacco@hotmail.com

Jeocasta Juliet Oliveira Martins de Freitas


Mestranda
Universidade Federal de Minas Gerais
jeocasta@hotmail.com

Proposta do Simpósio:

Este simpósio tem como proposta a continuidade do diálogo entre pesquisadores


dedicados ao estudo da História da África e/ou seu ensino no Brasil, iniciado neste evento em
2013. Após mais de uma década da criação da Lei 10.639/2003, que tornou obrigatório o ensino
da História da África e dos africanos na educação básica, pareceu-nos premente a manutenção de
uma mesa de debate acerca do tema no EPHIS. A importância desta discussão é reforçada pelo
momento atual de formulação da Base Nacional Comum Curricular. Faz-se necessário valorizar a
relevância da inclusão da história do continente africano na área de Ciências Humanas da BNCC,
construindo um discurso sólido para combater visões históricas eurocêntricas. A proposta é
garantir e perenizar a existência de espaços de troca e diálogo dedicados ao tema da presença dos
africanos na construção da história como atores e autores. Entendemos que o crescimento da
importância da área na graduação e pós-graduação em História deve ser parte central da discussão,
pois representa dimensão quase direta da relação entre produção científica e acadêmica e o mundo
social.

Por se tratar de um campo em formação, cuja expansão encontra-se vinculada à lenta


modificação das instituições de ensino superior e básico de todo o país, este simpósio possui
propositalmente ampla receptividade de comunicações. Para tanto, esperam-se trabalhos sobre
diferentes recortes cronológicos e geográficos e esforços de pesquisadores que queiram

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compreender as culturas africanas em sua historicidade. A dar unidade ao debate estaria apenas o
tom que se deseja imprimir às discussões: como destaca Elikia M’Bokolo, historiador congolês, e
vários outros historiadores brasileiros, o ST História da África e seu ensino no Brasil busca
vislumbrar histórias possíveis, cujo ponto de partida seja o protagonismo e agência africanos.

Propomos a reunião de variados marcos cronológicos e objetos de pesquisa desenvolvidos


em torno da História da África e seu ensino. Espera-se que diferentes perspectivas temáticas e
teórico-metodológicas possam ser incluídas nas discussões a se desenvolverem. Almejamos, por
fim, dar continuidade neste V EPHIS a um simpósio cujo foco central é a História africana,
estabelecendo um espaço importante de abertura dos campos e dos olhares a outras perspectivas
que não o tradicional ponto de vista eurocêntrico no interior das ciências humanas brasileiras,
promovendo e afirmando as temáticas nas pesquisas em história da África na UFMG.

Comunicações:

História da educação em Moçambique no período colonial (1890-1975)


Ivangilda Bispo dos Santos
ivangildabs@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE:

A história da educação em Moçambique no período colonial é fortemente pautada no corpo


legislativo colonial português. Temas ressaltando o caráter racista, subjugador, e “civilizador” são
muito citados ao longo dos trabalhos acadêmicos, porém outras perspectivas sobre a educação
neste momento se impõe como necessárias, como os processos que envolviam as dinâmicas
internas das escolas, o desenvolvimento das atividades cotidianas, as adaptações pedagógicas e atos
de resistência em relação ao ensino vigente. A fim de mapear e analisar os enfoques, as tendências
temáticas, os objetos de estudo e os períodos históricos mais analisados nas publicações
selecionadas, esta pesquisa tem como objetivo principal contribuir para o desenvolvimento de
trabalhos relacionados a história da educação em Moçambique. A partir do uso da metodologia
comparativa, esta breve análise será de grande ajuda na identificação de lacunas, tendências e
permanências nas produções bibliográficas sobre esta temática.

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O 11 de novembro de 1975 e a inscrição de um novo tempo nos manuais


escolares angolanos
Cláudia Maria Calmon Arruda
cmcalmon@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Angola, Manuais Escolares, Ensino de História.

Marco da independência de Angola, o dia 11 de novembro de 1975 foi fixado na literatura


didática angolana como uma espécie de marco fundador da história do país, alicerçado pelo
Movimento Popular pela Libertação de Angola (MPLA), que ascendeu ao poder nessa mesma
data. Este trabalho consiste numa reflexão sobre a construção desse marco na historiografia
didática angolana, por meio da análise do manual de história destinado à 5ª classe do Ensino
Primário, cujos conteúdos equivalem aqueles ministrados no 6º ano do ensino fundamental no
Brasil.

Ginga, história em movimento: a memória de uma rainha angolana no Brasil


Mariana Bracks Fonseca
marianabracks@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Ginga, Angola, Capoeira Angola, Diáspora.

Nzinga Mbandi, chamada Ginga pelos portugueses, governou os reinos do Ndongo e


Matamba, no século XVII, sendo a grande líder da oposição contra a "conquista" de Angola. Sua
longa vida (1581-1663) foi marcada por guerras, diplomacia e alianças múltiplas. Ainda em vida foi
considerada como rainha imortal, soberana capaz de unir povos e defendê-los da escravização.
Tornou-se símbolo da resistência africana frente à penetração europeia e seu nome foi e vem sendo
retomado de diferentes formas em variados contextos, no Brasil e em Angola. A presente
comunicação pretende discutir como a memória da rainha guerreira foi reelaborada pelos povos de
Angola na diáspora, resistindo a os processos de esquecimento e de desconstrução de identidades
a que foram submetidos. A rainha Ginga permanece viva em diversas manifestações culturais afro-
brasileiras e sua luta de resistência continua motivando negros, mulheres e movimentos sociais.
Nesta comunicação, pretendo apresentar como a capoeira guarda memórias de Angola, em que a
ginga- seu movimento básico essencial- traduz em movimentos corporais a trajetória política
ambígua da rainha angolana, que soube lutar, enganar, fugir, resistir, sem jamais ser vencida.

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Histórias e Memórias da Revolução: história oficial e as peculiaridades das


vivências individuais
Jorge Lucas Maia
jmjorgemaia@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Moçambique, Memória de Libertação.

Neste trabalho pretende-se apresentar alguns aspectos sobre a multiplicidade de percepções


sobre o processo de independência da ex-colônia portuguesa e atual República Democrática de
Moçambique. Utilizando a metodologia da história oral recolhemos oito entrevistas entre os
distritos de Inhambane, Maputo e Mbahanine (província de Gaza), tendo conversado com pessoas
que viveram o período não apenas como combatentes diretos da luta armada, mas também como
agentes secundários que vivenciaram o processo de diversas maneiras possíveis, como
trabalhadores do interior do país, familiares de artistas, pensadores importantes do período, etc.
Entre os entrevistados estão o escritor Mia Couto, a escritora Paulina Chiziane, o parlamentar
Lutero Simango e José Craveirinha Filho, mantenedor do legado do grande poeta José Craveirinha,
seu pai. Tais figuras trazem, portanto, o diferencial de uma perspectiva envolvida por anos de
reflexão e produção com temáticas que se relacionam direta ou indiretamente com o que aqui se
pretende discutir. O objetivo principal desta apresentação é gerar uma maior reflexão a respeito da
relação entre história/memória oficial corrente e as memórias individuais dos entrevistados,
buscando com isso promover o aprofundamento de nossas percepções sobre este processo tão
importante para a história recente em Moçambique. É importante levar em conta que a pesquisa
encontrasse ainda em fase inicial, existindo concretamente algumas hipóteses e indícios e muitas
questões a serem investigadas e trabalhadas para a completude do trabalho.

As Práticas Religiosas na Guiné


Jeocasta Juliet Oliveira Martins de Freitas
jeocasta@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Costa da Guiné, Práticas Religiosas, Relatos de Viagem.

Esta apresentação terá como foco de estudo a compreensão e análise de narrativas e


representações a respeito das práticas religiosas dos Barbacins, Casangas, Banhuns e Papéis, na
região da Guiné (do Rio Senegal até a região de Serra Leoa), a partir da literatura de viagem
produzida sobre a região, no século XVI e início do XVII. Para tanto, foram selecionados os relatos

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de três autores principais para a investigação: André Alvares Almada (1594), Padre Baltasar Barreira
(1604-1612) e André Donelha (1625).

As fontes utilizadas neste trabalho são riquíssimas em variados tipos de informação. Os


relatos de Almada e Donelha e as cartas do Padre Baltasar Barreira trazem informações sobre o
espaço geográfico, as relações comerciais, os principais produtos da região e também sobre os
produtos de interesse dos povos africanos. Estas obras abordam também aspectos culturais dos
moradores da região da Guiné, os costumes, a vestimenta, as armas, os juramentos e as práticas
religiosas. Estas fontes são, portanto, importante para vários historiadores interessados em
distintos temas de pesquisa sobre a Guiné. A intenção é demonstrar, através da análise destas
fontes, como o culto dos ancestrais era importante para estes povos e como isto se relaciona com
as obrigações referentes à realização de oferendas e cerimónias fúnebres. Analisando como estas
práticas estavam diretamente relacionadas aos aspectos políticos, jurídicos e sociais destes povos.

Os Movimentos Silenciados das Ruas: Mulheres Africanas no Comércio das


Cidades Afro Atlânticas (Século XVIII)
Beatrice Rossotti
rossottibeatrice@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE:, Cidades afro Atlânticas, Mulheres, África.

Nesta apresentação temos como objetivo analisar uma seleção de obras historiográficas,
em língua portuguesa, pensando nestas a presença de mulheres africanas no comércio urbano das
cidades afro atlânticas, no período entre os séculos XVIII e XIX. Por buscarmos relações entre as
práticas sociais, econômicas e políticas dessas mulheres africanas mercadejantes, nos diferentes
espaços, trazemos para debate, também, algumas produções que são atualmente consideradas
leituras introdutórias ao tratarmos da História do continente africano, e fazemos nessas obras uma
busca pela presença de práticas femininas nos espaços do mundo atlântico. Para refletirmos sobre
as presenças e ausências femininas nas produções historiográficas analisadas, buscamos textos com
o tema da participação feminina nos ambientes públicos das cidades afro atlânticas com o intuito
de contrapor a uma historiografia tradicional majoritariamente feita por homens brancos. Nessas
leituras, o que, não para a nossa surpresa, contamos com maiores ausências do que presenças
femininas. Sendo assim, no intuito de complementar a nossa análise, buscamos apontar, de forma
sucinta, caminhos percorridos por intelectuais que nos levam a ter um maior contato com a
necessidade de releituras dos fatos e períodos históricos, antes vistos e contados pela historiografia

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tradicional, mas repensados com base nos campos do Estudo de Gênero e História das Mulheres.
E, para complementar a reivindicação das presenças importantes dessas mulheres negras
comerciantes, trazemos trechos das bibliografias analisadas e imagens que nos provam como essas
mulheres negras faziam parte atuante desse cenário público, e político. Não contando somente com
as imagens, mas também com escritos, no ambiente em que ambos recursos tem a sua força para
refletirmos como essas mulheres tinham forte importância nas dinâmicas cotidianas, e, também,
no poderio político.

A Timbila e sua Prática: História, Auge e Declínio


Gabriela Montoni
gabimontoni@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Timbila, Cultura Chopi, Regulado, Chopi.

O presente trabalho, que se encontra em fase inicial, tem como objetivo investigar a história
da Timbila (prática cultural tradicional da cultura Chopi), seu auge durante os anos 1960 e o
processo de declínio desta prática cultural a partir da década de 1970, com a independência da ex-
colônia portuguesa e atual República de Moçambique. A partir de quatro entrevistas realizadas com
“Timbileiros” – músicos que tocam o instrumento que é objeto central do trabalho (Mbila) – e
também de estudiosos da Timbila e da cultura que a envolve, percebe-se que alguns fatores são
impactantes nesse declínio, a saber: a independência e o fim dos regulados, a guerra dos 16 anos –
também chamada de guerra de desestabilização – e as relações do novo regime, instaurado a partir
de 1975, com essa prática. Além das entrevistas, foram utilizadas as obras de Hugh Tracey,
Valdemiro Jopela e Marílio Wane, autores que estudam a Timbila em seus mais diversos aspectos,
dentre eles os regulados (atualmente chamados de localidades, eram governados por chefes locais,
os chamados régulos, durante o período colonial) e sua relação com a música Chopi. Através desse
estudo pretende-se compreender a importância dos regulados para a prática da Timbila e como o
fim destes contribuiu para o declínio de tal tradição.

A inserção regional da África do Sul: primeiros apontamentos através das


fontes brasileiras
Taciana Almeida Garrido de Resende
tacianagarrido@gmail.com

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PALAVRAS-CHAVE: África do Sul, Regionalismo, Relações Internacionais Brasil-África,


Inserção internacional.

A posição dos países africanos nas Relações Internacionais ainda impõe desafios aos
estudiosos da área. Disciplina gestada e inicialmente desenvolvida na academia europeia e norte-
americana, a inserção dos Estados africanos independentes não é ponto pacífico entre os
estudiosos, e os estudos pós-coloniais ainda encontram resistência entre os mais tradicionalistas.
Com o intuito de contribuir para a formulação e inclusão teórica e empírica desses novos atores
no campo das Relações Internacionais, essa comunicação tem por proposta analisar, em diálogo
com os preceitos teórico-metodológicos da História, a correspondência enviada pelas embaixadas
brasileiras na África do Sul e em Moçambique para o Ministério das Relações Exteriores do Brasil.
Através dessas fontes, busca-se problematizar a investida sul-africana nos primeiros anos da década
de 1990, quando o governo tentou modificar sua política externa, marcada por um longo
isolamento. Desde a década de 1940, sobretudo a partir de 1948, a política externa da então União
Sul-Africana esteve intimamente vinculada ao regime do Apartheid como forma de organização
social. A insistência nessa política interna acabaria por isolar a União também internacionalmente.
Pretória resistiu à convivência internacional, recusando o diálogo. Ao longo desse período, a
política sul-africana foi, em termos regionais, tradicionalmente reativa e defensiva, e mesmo
ofensiva em algumas ações. Em fins da década de 1980, com a legitimidade do regime
segregacionista ameaçada interna e externamente, o país remodelou sua política externa através do
discurso identitário, em especial aos países da África Austral. Esse posicionamento do país perante
seus vizinhos africanos tomou forma concreta após o fim do Apartheid e da eleição de Nelson
Mandela para a presidência, em 1994.

A documentação recolhida para essa comunicação revela uma preocupação crescente do


Brasil em relação a essa política, uma vez que a intenção sul-africana se confrontava com a proposta
brasileira de aproximação dos países de língua portuguesa na mesma delimitação geográfica. Os
embaixadores lotados em Pretória e em Maputo enviaram ao Brasil jornais circulantes na imprensa
local e entrevistas concedidas por políticos envolvidos na questão da reaproximação entre África
do Sul e Moçambique, o que revela, ao mesmo tempo, caminhos possíveis de investigação sobre a
recepção dos países-alvo de tais políticas.

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A Conferência de Berlim e a perspectiva africana no ensino de história da


África
Aline Barbosa Pereira Mariano
alinebpm@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Perspectiva africana, Ensino de História da África, Conferência de Berlim.

A proposta de trabalho pretendido busca analisar criticamente o processo de construção


da Conferência de Berlim (1884-1885) como momento da partilha do continente africano a partir
da discussão trazida pela historiografia africanista mais recente. O interesse pelo estudo do tema se
explica pelo fato da Conferência ser considerada um marco do imperialismo europeu, que teria
como resultado final a divisão de territórios ocupados na África entre os países signatários. No
entanto, tal visão pode ser questionada, por exemplo, a partir do exame da Ata Geral da
Conferência considerando suas disposições gerais e as decisões registradas no documento.
Também podemos perceber, a partir do uso de imagens de mapas anteriores ao ano de 1885, os
limites do conhecimento por parte dos europeus sobre o interior do continente africano. Dessa
maneira, o relativo desconhecimento sobre vastas regiões da África pode, até certo ponto, ter
inviabilizado uma repartição desses territórios. Além disso, os tratados sobre questões territoriais
firmados entre europeus e africanos, dos anos anteriores e posteriores a 1885, indicam que o
processo de partilha do continente não foi um movimento unilateral, tendo os africanos ativa
participação. Apenas por meio da análise desses tratados é que poderemos compreender com mais
clareza os rumos tomados pelo imperialismo europeu do século XIX por meio de uma perspectiva
que considere o protagonismo africano.

É importante ressaltar que já há algum tempo o papel da Conferência de Berlim na partilha


da África vem sendo questionada e a divisão do continente africano tem sido vista cada vez mais
como um processo que se deu entre as décadas finais do século XIX e início do século XX. No
entanto, ainda é comum encontramos materiais didáticos, questões de exames de seleção e até
mesmo material especializado na história da África que reproduzem a imagem da conferência como
o ápice da divisão do continente. Nesse sentido, pensando na lei 10.639 de 2003 e a obrigatoriedade
da introdução de temas relativos à História da África e dos Africanos nos estabelecimentos de
ensino fundamental e médio, públicos e particulares, devemos questionar a maneira como essa
história é abordada. Isso porque, para contrapor um etnocentrismo que exalta a agência europeia é
preciso apresentar uma história africana que evidencie a participação dos africanos nos processos
da construção histórica.
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Representações sobre a África em manuais didáticos de História


Alex de Oliveira Fernandes
alexofernandes@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Ensino de História, África, Livro Didático, Lei 10639/03.

O objetivo dessa comunicação é apresentar os resultados e as reflexões de uma pesquisa de


monografia intitulada Representações sobre a África em manuais didáticos de História, realizada
no curso de pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. A partir da análise
de conteúdo de oito livros didáticos de História, dos anos finais do Ensino Fundamental, de duas
coleções bem avaliadas pelo Programa Nacional do livro Didático – PNLD 2008, buscou-se
apresentar os avanços, os limites e as possibilidades de inserção da África e da cultura afro-brasileira
em manuais didáticos. Na análise de conteúdo dos textos, mapas, exercícios e imagens presentes
nas coleções, estabeleceu-se diálogos com produções e pesquisas mais recentes desenvolvidas por
intelectuais do campo da História Cultural e com publicações sobre a África e a cultura africana. A
pressão dos movimentos sociais e de outras instituições junto as iniciativas do Ministério da
Educação de implementar a lei 10639/03, que torna obrigatório o ensino da cultura africana e afro-
brasileira nas escolas, vem contribuindo para que a história da África seja inserida nos manuais
didáticos, obrigando as editoras a incluírem essa temática em seus manuais. Entretanto, se a lei
10.639/03, alterada pela 11645/08, e outros programas oficiais contribuem para que a África seja
incluída no ensino de História, ela não garante que as abordagens sobre os povos africanos se
afastem da tradição do pensamento Ocidental e dos problemas relacionados a essa tradição. O
eurocêntrismo que sempre caracterizou as abordagens sobre a África e a cultura afro-brasileira nos
manuais didáticos ainda está presente em livros aprovados pelo MEC, prejudicando a efetivação
de medidas que buscam desconstruir os mitos e estereótipos, combater preconceitos e por fim a
um longo período de desconhecimento e ocultação da complexidade e dinâmica cultural interna,
características dos povos africanos. As constatações da pesquisa suscitou a hipótese de que a
efetivação da lei e de outras medidas elaboradas no sentido de incluir a África no ensino de História
está sendo prejudicada. Um dos desafios é inserir representações sobre o continente africano nos
manuais didáticos que estejam em sintonia com produções de historiadores, escritores, africanistas,
comprometidas com o tema, assim como fontes históricas produzidas por africanos, no passado e
no presente, que possibilitem a leitura de seus modos de viver e de pensar.

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Diálogos entre Inquisição e História da África a partir de processos de


africanos acusados de prática islâmica em Portugal (século XVI)
Thiago Henrique Mota Silva
thiago.mota@ymail.com

PALAVRAS-CHAVE: África, Wolof, Islã, Inquisição.

Nesta comunicação, abordarei algumas possibilidades de pesquisa em História da África a


partir da documentação inquisitorial portuguesa, do século XVI. O objeto de pesquisa é o Islã
praticado na bacia dos rios Senegal e Gâmbia no momento de expansão do tráfico atlântico. Para
tanto, foram buscados processos contra africanos em Lisboa acusados de prática islâmica junto ao
Tribunal do Santo Ofício. Esta documentação, que não temos notícia de já tenha sido explorada
para estudos de História da África, revelou-se uma grata surpresa. Através dela, tivemos acesso aos
depoimentos de homens da etnia Wolof, procedentes do setor norte da Senegâmbia, na África
Ocidental, que narraram suas práticas religiosas a partir das experiências anteriores à escravidão,
bem como informaram-nos de seu processo de escravização. Destacam-se o exercício de alguns
dos Cinco Pilares do Islã - elementos essenciais ao processo de islamização que parte da conversão,
alcançada através da aceitação da unidade de Deus e do papel de mensageiro atribuído a Maomé.
Francisco foi um dos acusados neste tribunal. Wolof, filho de pai mouro e mãe Wolof, foi
capturado quando tinha 19 anos, em 1547, vendido aos portugueses através da feitoria de Arguim
e levado a Lisboa. Processado pela Inquisição, disse que foi criado segundo preceitos islâmicos,
que orava e dizia que "Deus é grande e Mafamede é seu mensageiro", jejuava, havia sido
circuncidado e praticava demais cerimônias islâmicas. Outro escravizado, Antonio Fernandes, dizia
que realizava as orações do Alcorão e que, assim como Francisco, havia sido vendido a Portugal
através de Arguim. Estas e outras informações presentes nos processos analisados indicam relações
econômicas entre a faixa saheliana e a borda sul do Saara; demonstram a anterioridade da
islamização na região, desde pelo menos meados do século XVI; a emergência de interseções entre
linhagens e a sequência de descendência matrilinear neste processo – atestado no fato de Francisco
ser Wolof, como sua mãe, e não mouro, como seu pai. Tais resultados sugerem que a pesquisa em
História da África deve abrir-se a evidências documentais de diferentes procedências e manter
estrito diálogo com instituições da expansão marítima ibérica, visto o tráfico escravagista ter
mobiliado intensa população africana que, nas terras do exílio, produziram memórias aptas ao
trabalho histórico, desde que metodologicamente buriladas.

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Gênero como uma categoria de análise para a História da África


Flávia Gomes Chagas
flaviagchagas@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Gênero, Correntes Historiográficas, História Da África, Mulher.

O historiador Carlos Lopes, em seu texto “A piramide Invertida” categoriza a História da


África em trés momentos distintos, embora não necessariamente encerrados em si mesmos.
Segundo sua análise o primeiro momento se dá pela máxima que o continente Africano não pode
ter história, pois essa depende da escrita que o continente incivilizado não possui. Em uma análise
posterior e sem maiores aprofundamentos sobre o assunto, já é possível perceber que a categoria
de gênero já tem carga analítica da historiografia africana. Os agentes históricos deste momento de
Inferioridade Africana são restritos por limitações de raça, classe e gênero, pois se limita ao homem
branco dominante, exclusivamente. Em contrataste com tal primeiro momento e em busca de um
reconhecimento de sua história e em face de novos debates epistemológicos na Acadêmia,
marcantes da década de 1970, a História da África sofre um momento de inversão de sua lógica. É
um momento de exaltação da história africana por parte dos africanos e africanistas que buscam
novas formas possíveis para o fazer histórico de forma a contemplar a realidade histórica africana.
É interessante notar que se mantem portanto as mesmas categorias de raça, gênero e classe, embora
exaltando, agora, o continente africano anterior a presença europeia como idílico, embora as
categorias para tal analise sejam notadamente ocidentais. Seguindo em sua análise historiográfica
Carlos Lopes trata de um momento de “Emoções Controladas". Seria o momento de dar voz a
novos personagens e não renegar passagens desconfortáveis do continente a fim de conhecer mais
profundamente o passado africano em seus termos. Essa nova historiografia permitiria o uso de
novos conceitos, novas fontes e novos personagens históricos, teoricamente. É estranho pensar
que se questione, pois, as categorias de classe e raça da história mais tradicional, mas não a de
gênero. Que se exista uma preocupação em dar voz e agência aos que foram historicamente
silenciados, mas só quando esses são identificados como figuras masculinas. É notável que na
presente analise utiliza-se o gênero como uma categoria binaria e que “Gênero”, como substituto
de “mulheres”, é igualmente utilizado para sugerir que a informação a respeito das mulheres é
necessariamente informação sobre os homens, que um implica no estudo do outro.

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As Mudanças no Gâmbia a Partir do Contato com o Atlântico


Felipe Silveira de Oliveira Malacco
fmalacco@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Comércio, Mandingas, Rio Gâmbia, Fula, Jalofos.

"O rio Gâmbia se estende por 1130 km, desde o planalto do Fouta Djallon até atingir o
oceano Atlântico. Ele foi uma importante via comercial que conectava as regiões do interior do
oeste africano às redes comerciais atlânticas. As nações que viviam às margens deste rio, fulas,
mandingas e jalofos, se engajaram fortemente nos contatos mercantis com navios europeus que
iam até os seus portos gerando mudanças nos mais diversos setores das nações. No campo político,
a região do rio Gâmbia foi diretamente afetada por mudanças nas estruturas de poder, com o
império do Mali e a Confederação Jalofa perdendo espaços para novos centros, fortalecidos
comercialmente e militarmente por sua inserção nas redes comerciais atlânticas. Os lançados,
agentes que inicialmente deveriam favorecer as trocas comerciais para a coroa portuguesa, passaram
a ser membros importantes do corpo administrativo e comercial dos soberanos mandingas e
jalofos, bem como foram fundamentais na criação de um novo dialeto, que se tornou língua franca
nos relacionamentos comerciais no rio Gâmbia e em toda a costa da Guiné. Trabalhar-se-á também
com a hipótese de que os fulas, cuja presença era minoritária na região, foram diretamente afetados
pelo comércio atlântico de seres humanos escravizados. Além disso, mas não menos importante,
mudanças nas estruturas comerciais ocorreram no Gâmbia. Novos produtos, até então inexistentes,
passaram a fazer parte da cultura material dos fulas, mandingas e jalofos. Por fim, se argumentará
que o fim do “monopólio” comercial português, foi diretamente benéfico às estruturas de mando
da região. A se destacar o fato de que nos contatos mercantis que geraram estas mudanças, o
protagonismo das relações comerciais ficava nas mãos dos fulas, mandingas e jalofos. Por fim,
eram os habitantes das margens do Gâmbia que ditavam as regras pela qual se pautariam as
transações mercantis, exercendo papel crucial na formação do sistema Atlântico nesta região.

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História da polícia, do crime e da justiça criminal no


Brasil: perspectivas historiográficas e teórico-
metodológicas

Lucas Carvalho Soares de Aguiar Pereira


Doutorando
Simpósio Temático

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)


lucaspereirahistoria@gmail.com

Mateus Freitas Ribeiro Frizzone


Mestrando
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) / CAPES
mfrizzone@gmail.com

Proposta do Simpósio:

Desde a década de 1980, historiadores mobilizaram sistematicamente fontes criminais,


judiciais e policiais, explorando, primeiramente, a vida social, cultural e política que estaria por trás
dessas fontes e, posteriormente, buscando compreender as condições de produção dessa
documentação, as instituições e os sujeitos que a produziu, bem como o papel da violência, do
crime e da polícia no cotidiano de determinadas localidades e na sociedade em geral.

O objetivo deste Simpósio Temático é promover o encontro de historiadores que


trabalham com fontes e temas da polícia, do crime, da punição, da justiça criminal e da violência
em diferentes períodos da história do Brasil, estimulando tanto debates metodológicos, como
apresentação de resultados de pesquisas. Influenciados por diferentes matrizes historiográficas
internacionais, historiadores passaram a trabalhar com diversas fontes e temáticas, que podem ser
expressas, resumidamente, nas seguintes linhas:

1) O crime e os criminosos. Variações ao longo do espaço e do tempo. Estudo tanto das


práticas sociais e culturais criminalizadas pelo estado como dos grupos e indivíduos que foram
historicamente identificados como autores de crimes e como criminosos.

2) As instituições públicas que tratam do crime. Surgimento e o funcionamento de aparatos


legais, judiciários, policiais e prisionais como forma de lidar com o crime. Abordagens das normas

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legais, com ênfase na história do direito ou dos projetos de racionalização estatal envolvendo essas
instituições. Abordagens de história social e/ou cultural dos agentes que participam dessas
instituições: juízes, carcereiros, policiais, defensores públicos, etc.

3) A formação das polícias como instituições públicas e como parte da história da formação
do estado. Análise dos projetos, objetivos e diferentes modelos policiais – que não se resumem no
objetivo de “combate ao crime” – bem como das condições cotidianas e da vida social e cultural
constituída entre os sujeitos que formaram os diferentes grupamentos policiais.

4) As representações sociais a respeito do crime, do criminoso, da polícia e do policial tendo


como fonte principal a imprensa, mas também a literatura, as memórias, a música e outras formas
públicas que produzem explicações e imagens partilhadas sobre a criminalidade.

5) Formas históricas de punição, o nascimento das prisões e das penas, o cotidiano e as


memórias de presos e responsáveis pela administração das prisões.

Comunicações:

Novo populismo punitivo ou mais do mesmo? As opiniões dos operadores


do direito da RMBH sobre as políticas de prevenção aos homicídios
intencionais
Sara Prado
saraprado22@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Recrudescimento Penal, Limpeza, Social, Punitivismo.

Historicamente, os crimes de homicídio doloso são julgados no Brasil por Tribunais do


Júri, que tem como objetivo viabilizar a participação da sociedade na punição de violências
intencionais (Carvalho, 1996). Porém, nas últimas décadas, tornou-se comum histórias de
justiçamento, realizado pela população, contra indivíduos que praticaram, ou eram suspeitos de ter
praticado, algum tipo de ilícito penal (Martins, 2002). Soma-se a isso a propagação do bordão:
“Bandido bom é bandido morto!”, apoiado por metade da população brasileira, segundo
levantamento do Datafolha para o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP, 2015). É comum
acompanharmos, pela mídia, o envolvimento de policiais em crimes contra a vida, sobretudo em
localidades de vulnerabilidade social, e quase sempre contam com o apoio de quem ali reside para
a execução dessa espécie de limpeza social (Zaccone, 2015). Todo esse clima parece favorecer a

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defesa do endurecimento das leis e consequentemente das penas impostas aos criminosos
identificados como responsáveis por algum crime.

O presente trabalho tem por objetivo apresentar a opinião dos responsáveis pela apuração,
acusação e julgamento de pessoas envolvidas com o crime de homicídio nas cidades de Belo
Horizonte, Betim, Contagem e Ribeirão das Neves. Para tanto, serão utilizadas as entrevistas
realizadas no âmbito da pesquisa da Secretaria Nacional da Segurança Pública / Ministério da
Justiça, cujo objetivo é mapear as percepções dos operadores do direito sobre o problema para o
desenvolvimento de uma política de redução de homicídios. A partir disso buscamos analisar no
discurso dos operadores do direito quais seriam, segundo a opinião deles, as causas dos crimes
contra a vida; quais as condições de trabalho para prevenção e combate a esses crimes e qual a
solução para a diminuição dos homicídios. Os nossos resultados indicam que o apoio ao
recrudescimento penal está presente nas falas de muitos entrevistado, pois o foco desses atores é a
satisfação da demanda da própria sociedade, que acredita que a proteção dos cidadãos e a redução
do risco de vitimização nos grandes centros urbanos pode ser efetivada a partir da
institucionalização do sujeito matável (Aganbem, 2007). Assim, nosso trabalho apresenta alguns
direcionamentos sobre como a história do tempo presente é, em verdade, uma espécie de
retrocesso, posto que legitima a pena de morte para certos indivíduos, como acontecia na época
das Ordenações Filipinas (Noronha, 2004)

Justiça, Polícia e sociedade: Os funcionários da lei entre o positivo e o


consuetudinário em Oliveira, MG, Século XIX
Leonam Maxney Carvalho
leonamcarvalho@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Policiamento, Cultura Jurídica, Subdelegados.

Este texto discute a prática policial com relação a crimes de homicídio em Oliveira, Minas
Gerais, entre 1840 e 1889. Com base em algumas obras da historiografia, e em pesquisa sobre
processos criminais, evidenciam-se algumas vicissitudes das condutas policiais neste período. Entre
1831 e 1850, o Brasil experimentou um processo de “transição de modelos de policiamento, na
direção de formas mais modernas — mais especializadas e profissionalizadas — de controle e
vigilância da população”. A partir do período regencial, as forças policiais existentes são
substituídas por “novas instituições encarregadas da segurança pública e do Estado – entre elas a
Guarda Nacional e a Força de Polícia” (VELLASCO, 2007: 239). Entretanto, estas novas instâncias

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policiais foram criadas com inspiração nos mecanismos normativos do antigo regime, sendo
modificados no decorrer deste período, e tomando formas modernas em finais da década de 1840.
Devido aos obstáculos estruturais e conjunturais no recrutamento e permanência das guardas,
assim como à “indiferenciação entre os policiais e os grupos que deveriam reprimir”, a
modernização efetiva do policiamento nacional somente ocorreu nos últimos anos daquele século
(VELLASCO, 2007: 249). A relação entre o “Estado” e o “cidadão” dentro da instância criminal
era complexa. Enquanto o primeiro era representado por juízes, promotores, tribunal de júri,
delegados, oficiais de justiça e outros, questiona-se se realmente estes indivíduos compartilhavam
da cultura jurídica oficial do parlamento que criou o Código Criminal e até que ponto suas posturas,
registradas nos processos, evidenciam estes níveis de compartilhamento ou divergência de idéias.
Outro ponto de análise é a diferenciação nos perfis sociais entre funcionários do sistema judiciário
(juízes, advogados e promotores) e aqueles do policiamento (delegados, oficiais de justiça,
pedestres, inspetores de quarteirão). Enquanto os primeiros são membros da elite político-
econômica (homens brancos, livres e abastados), os últimos — com exceção dos delegados —
eram livres pobres, mestiços e descendentes de escravos. A pesquisa em processos criminais
evidenciou desde delegados e policiais pedindo auxílio econômico para famílias abastadas que
acionavam a justiça, até pedestres e oficiais de justiça que se negavam a executar sentenças de açoite
em escravos condenados por homicídio. Exibe-se assim, as complexas formas de relacionamento
entre estes homens, as leis e suas funções policiais.

O exercício da Justiça criminal em Mariana: perfil dos processos e atuação


da Justiça em processos criminais envolvendo escravos (1830-1888)
Lídia Gonçalves Martins
lidia.martins30@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Justiça, Crime, Escravidão.

Durante todo o período imperial, as autoridades provinciais, por meio de seus relatórios
anuais, avaliaram o estado da Justiça na província, enumerando as principais deficiências que
debilitavam este ramo tão importante da administração pública. Essas deficiências incluíam desde
a falta de receita da província, passando pelos problemas gerados pela grande extensão de seu
território, até a dificuldade em prover todos os cargos da estrutura judicial com pessoas capazes e
dispostas a cumprir seus deveres. A preocupação com o avanço do raio de atuação do poder
público foi responsável pela implantação de medidas que visavam a modernização e a
racionalização dos procedimentos judiciais. As reformas empreendidas nas décadas de 1830 e 1840
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foram decisivas nesse sentido, promovendo a reorganização, expansão e profissionalização do


aparato de Justiça brasileiro. Contudo, esse processo não ocorreu de modo homogêneo em todas
as regiões do Império, tampouco sem dificuldades e resistências. As complexas interações
existentes entre poder estatal e poder privado refletiam, a um só tempo, os limites do Estado em
estender e impor a Justiça na vida cotidiana e a influência exercida pelo poder pessoal na sociedade
brasileira oitocentista. Este trabalho apresenta parte dos resultados da dissertação de mestrado
intitulada “Entre a lei e o crime: a atuação da Justiça nos processos criminais envolvendo escravos
– Termo de Mariana, 1830-1888”. A pesquisa teve por objetivo investigar os crimes envolvendo
escravos e a atuação da Justiça no termo de Mariana no período de vigência do Código Criminal
do Império (1830-1888). Processos criminais, relatórios dos presidentes da província, legislação
criminal do Império e legislação relativa à escravidão integram o corpus documental utilizado. Os
processos criminais, fonte principal da pesquisa, permitiram analisar o perfil dos crimes, dos
envolvidos e da Justiça criminal, buscando-se reconstituir aspectos do cotidiano dos escravos e do
exercício da Justiça, bem como avaliar os usos e significados que ela assumiu para senhores,
escravos e demais indivíduos à sua volta. Optou-se, neste trabalho, por apresentar a análise dos
aspectos processuais e da atuação das autoridades policiais e judiciais. A partir desta análise,
procura-se exibir alguns dos limites que se interpunham diariamente à ação de uma Justiça
impessoal, eficaz e acessível a todos, bem como os contornos assumidos quando de sua
administração aos escravos.

Os carcereiros no Brasil Colonial: legislação e cotidiano


Mateus Freitas Ribeiro Frizzone
mfrizzone@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Brasil colonial, Cadeia, Carcereiros, Justiça, Administração.

Este trabalho pretende apresentar alguns aspectos do trabalho dos carcereiros no Brasil
Colonial. Motivo de preocupações das autoridades portuguesas e locais, esses indivíduos, muitas
vezes estavam envolvidos nas fugas de presos e também outros crimes. Serão analisadas as
Ordenações Portuguesas, Afonsinas, Manuelinas e Filipinas, que especificam progressivamente as
funções e punições dos carcereiros, e os posteriores Regimentos dos Carcereiros. Ademais, a partir
de documentação político-administrativa de Vila Rica, que faz referência à uma antiga e precária
cadeia, que funcionou durante o auge e declínio da mineração aurífera (1725-1785) numa das mais
importantes vilas do Império Português, buscar-se-á notar tais preocupações nas governanças

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locais. Por fim, a partir dessa mesma documentação, sobretudo de requerimentos feitos pelos
carcereiros, busca-se entender um pouco das rotinas desses indivíduos e das cadeias coloniais,
salientando que, responsáveis pelo cuidado e manutenção dos presos comuns, eram, também,
autores de muitas reclamações e pedidos de obras e outras melhorias das ditas cadeias.

Pobreza em perspectiva: uma análise sobre as representações sociais e o


cotidiano dos menores detidos na Casa de Correção Dois Rios
Lívia Freitas Pinto Silva Soares
livia_fps@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Polícia, Assistência, Menores infratores.

A presente comunicação se pautará na pesquisa de doutorado que vem sendo desenvolvida


no Programa de Pós-Graduação em História da UFRJ, no qual avalio as ações de assistência aos
pobres e à infância, levadas a cabo pelos poderes públicos e pela filantropia, no Distrito Federal,
entre os anos de 1900 a 1923. Objetiva-se identificar as ações assistenciais hegemônicas durante o
período, além das medidas socioeducativas propostas por importantes nomes na medicina e no
setor jurídico, no que tange ao tratamento destinado à “questão social”, sobretudo aos menores
marginalizados, inseridos ou não no mundo do crime. Neste sentido, procuraremos conhecer as
práticas cotidianas implantadas pela Polícia, além das políticas e dos decretos aclamados pela
Justiça, no que tange à gestão da Casa de Correção Dois Rios, instituição destinada à detenção dos
menores infratores. A partir daí, será possível conhecer as políticas e medidas que incidiram sobre
suas vidas, bem como delinear seus perfis, sexo, cor, idade, filiação e histórico. Paralelamente,
pretendemos avaliar as representações sociais desses menores, através da análise das reportagens
publicadas no periódico Correio da Manhã, que circulava no Distrito Federal, assim como por meio
das charges veiculadas na revista O Malho. Esse jornal explorou, em diversos momentos, os delitos
e as formas diversas de violência das quais os menores foram vítimas e agentes, ao mesmo tempo,
durante o período em destaque. Assim, de um lado, será possível conhecer a visão que os
contemporâneos tinham sobre essas crianças e jovens socialmente marginalizados, além das
iniciativas propostas por aqueles que se preocupavam com as vítimas do pauperismo. De outro,
recuperaremos as reflexões e os projetos apresentados por Ataulfo de Paiva, jurista renomado que
escreveu e organizou uma importante obra que avalia as instituições públicas e privadas voltadas
para a assistência, existentes no Distrito Federal, a pedido do então prefeito da capital federal, o
general Bento Ribeiro, em 1913.

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O Juízo de Paz de Dores das Conquistas no século XIX: Polícia, arbitragem,


política e sociedade nos rincões oitocentistas mineiros
Marcus Vinícius Duque Neves
duqueneves@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Arbitragem, Polícia, Conciliação, Juízo de Paz.

O Juízo de Paz do subdistrito de Dores das Conquistas (atual Itaguara-MG) foi criado no
ano de 1814 e funcionou durante todo o Período Monárquico, chegando até o século XX. Dores
das Conquistas esteve sob a jurisdição de três comarcas diferentes e três municípios ao longo do
século XIX: As Comarcas do Rio das Velhas (Sabará), de Ouro Preto e do Indaiá; e os municípios
de Ouro Preto, Queluz e Bonfim. Nesse longo período, as autoridades que passaram por esse Juízo
registraram seus afazeres e práticas em diversos documentos de caráter policial, administrativo e
arbitral. Essa documentação serve ao historiador, hoje, como uma janela para o microcosmo da
aplicação das práticas policiais e arbitrais nos pequenos distritos de paz pelos interiores de Minas
Gerais e do Brasil. Para compreender mais profundamente esse microcosmo, esse trabalho
apresenta uma discussão de como, nas teorias sobre a natureza e a aplicação da justiça que
vigoravam no século XIX, o juízo arbitral de caráter conciliatório, costumeiro, prático e rabular era
proposto e instituído nos rincões distantes das vilas e cidades, seguindo as formulações das práticas
portuguesas do século anterior, onde as autoridades deviam se guiar em precário equilíbrio por
princípios gerais e velhas fórmulas de proceder da cultura jurídica portuguesa, abandonando ou
recriando formalidades e procedimentos.

Com o mesmo intuito de clarificar os recônditos da prática policial no âmbito dos distritos
de paz, analisamos o papel das autoridades em caráter precário nas pequenas jurisdições criminais,
no mundo rústico dos desclassificados, escravos africanos e crioulos, rábulas e potentados do
interior e suas relações recíprocas, assim como as constantes intromissões políticas ou regulatórias
dos poderes superiores Provinciais e das Secretarias da Corte, que determinavam os níveis de
controle e cuja correspondência e pedidos inquietavam o funcionamento do Juízo de Paz. Nos
aspectos institucionais, analisamos brevemente as dimensões políticas e a influência dos poderes
na prática policial e judicante do Juízo de Paz, através de comparações das experiências do período
em que vigoraram mandados eletivos para as autoridades dos distritos e subdistritos (entre 1824 e
1840), com os modelos impositivos que dominaram os outros períodos (1814-1823 e 1841-1889).

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Policiamento em São Paulo: a Guarda Municipal permanente e as Guardas


Policiais (1834-1850)
Bruna Prudencio Teixeira
bruna.prudenciot@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

A presente pesquisa se iniciou em sede de Iniciação Cientifica fomentada pela FAPESP


(Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) entre maio de 2014 e novembro de
2015. Em decorrência da vasta documentação encontrada no decorrer da I.C. e dos resultados
alcançados, a pesquisa tomou novas proporções e atualmente foi aceita no programa de Pós
Graduação da Universidade Federal de São Paulo. De maneira geral, a pesquisa tem como principal
objetivo analisar a ação e organização da Guarda Municipal permanente e das Guardas Policiais na
província de São Paulo entre os anos de 1834-1850. Para isso, analisamos as leis referentes ao
policiamento, levantadas no arquivo da ALESP, bem como, correspondências entre polícia e
governo disponíveis no APESP. A pesquisa tem como marco inicial o ano de 1834, uma vez que,
foi a partir do Ato Adicional que as províncias ganharam autonomia legislativa e liberdade de
atuação no âmbito do policiamento. Com isso, englobamos todo o período regencial e a primeira
década do segundo reinado. Assim, sabendo que havia outros corpos exercendo funções policiais
paralelamente às instituições estudadas, como, a Guarda Nacional; buscamos compreender a
organização e ação policial da Guarda Municipal permanente e das Guardas Policias, inseridas no
quadro de multiplicidades de forças que desempenhavam atividades policiais no interior da
província. No atual momento de pesquisa, comparando a Guarda Municipal permanente com as
demais, concluímos tratar-se da primeira tentativa de profissionalização de um corpo responsável
pela polícia, bem como a principal força policial administrada diretamente pela capital provincial.
Enquanto a Guarda Policial se configurava como vários corpos de polícia espalhados pelas
municipalidades provinciais e administrados em conjunto, entre Câmaras Municipais e governo
central da província. Nesse sentido, percebemos que estudar a Guarda Municipal permanente e a
Guarda Policial, na primeira metade do século XIX, permite entender a constituição e o
funcionamento de instituições policiais recém-criadas atuando no território da província de São
Paulo e, também, o processo de formação do Estado na sua dimensão mais efetiva. Isto porque,
analisamos um ramo “menor” da administração estatal, detendo-nos no controle da província em
relação a seus corpos policiais, assim, pode-se entrever o desenhar do processo de construção do
centro de poder provincial.
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Dimensões do Mundo Rural: Territórios, gentes e


suas lutas (Séculos XIX e XX)

Henrique Dias Sobral Silva


Mestrando
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
Simpósio Temático

henriq_sobral@hotmail.com

Max Fellipe Cezario Porphiro


Mestrando
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)/ Bolsista CAPES
max_fcp@hotmail.com

Proposta do Simpósio:

O simpósio pretende integrar pesquisas sobre questões teóricas e estudos de caso que
comportem questões voltadas à compreensão do mundo rural a partir da estrutura agrária brasileira.
O objetivo é debater pesquisas que se dediquem a processos sociais vistos sob a ótica da História
agrária renovada, redimensionando a influência de fatores ditos externos, legais, macroeconômicos
ou macro políticos, tradicionalmente vistos como os motores das transformações no mundo rural.

Destarte, serão privilegiadas comunicações que se dediquem ao mundo rural em diferentes


abordagens, com foco em reflexões sobre territórios, usos de terras coletivas, usos e costumes no
campo, a relação entre direitos de propriedade e proprietários, formas de dominação, ação e
resistência camponesa. Tendo prerrogativas os trabalhos com temporalidades referentes aos
séculos XIX e XX, independente da curta ou longa duração, na História do Brasil. Ademais,
estimulam-se apresentações de conceitos e técnicas de pesquisa, tecnologia de pesquisa para a área
e abordagens pedagógicas que integrem o ensino às problemáticas em tela.

Assim, confiamos na importância do debate sobre o mundo rural, visto que comporta
aspectos acadêmicos e sociais. Primeiro, pela renovação das pesquisas na área, somado a um
esforço de integração com o direito e as ciências sociais. Segundo, a questão agrária, na atualidade,
ainda gera sobreposições de direitos e carrega rastros de luta e violência, sendo um tema de relevo
na construção de uma história engajada. Distante da utopia da revolução que não ocorreu, mas no

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sentido atribuído pelo historiador Eric Hobsbawn (1998), de uma história comprometida com as
problemáticas de seu tempo.

Considera-se ainda que o Simpósio exposto se filia à renovação da agenda investigativa da


temática ocorrida nos últimos anos. Essa tarefa tem sido encampada especialmente pelos
pesquisadores da Rede Proprietas e do Núcleo de História Rural, que reúnem historiadores
orientados pela professora Márcia Motta (UFF). Ao reunirmos pesquisadores dedicados aos
estudos sobre o mundo rural, será possível revalorizar especificidades e contribuições a
problemáticas clássicas e atuais dessa área. Por fim, a proposta representa uma oportunidade para
compartilhar experiências dando lugar ao caráter experimental da pesquisa em história, debatendo,
aprendendo e sugerindo metodologias consolidadas ou em construção, contribuindo com o
crescimento da reflexão sobre a História Agrária e Rural no Brasil.

Comunicações:

Egressos do cativeiro proprietários de terra no Vale do Rio Piranga (Minas


Gerais, 1831 - 1856)
Mateus Rezende de Andrade
mateus.rezende@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Redes De Vizinhança, Mundo Rural, História Agrária, Posse Da Terra.

Durante o longo processo de transição da Colônia para o Império, além da manutenção da


ordem econômica, atrelada a esta, manteve-se também a estrutura fundiária. Herdeira das
sesmarias, a propriedade da terra permaneceu extremamente desigual, dando margem à existência
de grandes latifúndios movidos à mão-de-obra escrava, ao entorno dos quais vegetava uma
população civilmente livre, porém, política e economicamente dependente. Neste período de
formação do Estado no Brasil Imperial, entre a revogação da instituição das sesmarias e a aprovação
da Lei de Terras (1850), verificou-se um limbo na regulação de posses legais, o qual, amparado pela
antiga legislação, reconhecia a posse como fundamento efetivo da legalização sobre o uso daquela
terra. Deste modo, era prática difundida o contínuo movimento de fazer vingar posses, pois, ao
produzir dependentes, potencializavam as possibilidades de criação e reprodução de redes de
relações interpessoais que definiam o lugar social do indivíduo naquela sociedade. Assim,
postulamos que no momento de realização do registro paroquial de terras, um minucioso cálculo
social era feito pelos declarantes. Alegar a posse de suas terras, neste contexto de incertezas e

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indefinições jurídicas, não dizia respeito somente à institucionalização e legalização de uma


propriedade, mas, a localizar-se no espaço e, por conseguinte, socialmente. Portanto, assumimos o
registro paroquial de terras como um documento em que os proprietários de terras posicionaram-
se dentro da estrutura social da paróquia em que viviam, a qual é resultado do processo de produção
social do espaço em que se reproduzia simbolicamente, politicamente, culturalmente e
economicamente.

Deste modo, reconstruiu-se as redes de vizinhança a partir dos confrontantes declarados


nos Registros Paroquias de Terra de 47 pequenos proprietários que tinham alguma 'cor' declarada,
assim sendo, elencamos aqueles indivíduos que estes proprietários declararam como seus vizinhos
e aqueles que os declararam como vizinhos. A partir deste procedimento, detectou-se que 27,66%
destes pequenos e médios proprietários encontravam-se à margem da estrutura fundiária, indicativo
dos processos de exclusão social vigentes naquela sociedade e das variadas estratégias de
mobilidade e inserção social que puseram em prática os 72,34% dos proprietários de terra.
Entretanto, percebeu-se diferentes graus de inserção nas redes de vizinhança, o que nos levou a
análise de trajetórias individuais.

O homem e o campo: estudos sobre Juan Rulfo e Graciliano Ramos


Marcos Vinícius Gontijo Alves
mvhistoria@ufmg.br

PALAVRAS-CHAVE:

O trabalho consiste em uma análise histórica de como o sertão brasileiro e o llano mexicano
são representados, respectivamente, nas obras Vidas Secas (1938) e São Bernado (1934), de
Graciliano Ramos, e Llano en Llamas (1953) e Pedro Páramo, de Juan Rulfo (1955). Não só se
detém em seu conteúdo como, também, relaciona aquele com as experiências tanto pessoais dos
autores quanto das sociedades mexicana e brasileira que perpassam pelos livros. Embasado numa
concepção comparativa da história, o trabalho compreende uma cultura latino-americana
compartilhada que é definida historicamente a partir de elementos em comum entre suas diversas
sociedades. Dessa forma, a partir das obras refletimos como o campo ou essas extensas zonas
geográficas que são socialmente definidas como fronteiras entre o civilizado/moderno e
retrógrado/rural, num ""discurso-imagético"", segundo Durval Muniz, são expostas por ambos os
intelectuais. Entendendo, inclusive, que estes estavam inseridos num contexto social e político e

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que possuíam referências não só na grande propriedade, mas também no Estado que, não-
raramente, agia em conluio com interesses privados ditos progressistas.

Em seguida, atenta-se na intencionalidade das obras como mera representação ou esforço


de dar voz àqueles que não têm a quem recorrer ou que ninguém deseja ouvir. Ao mesmo tempo
que os autores, nas entrelinhas, deixam em suas letras resquícios das concepções de sua própria
sociedade e que passaram, talvez, imperceptíveis. Nesse esforço, remonta-se ainda ao caráter de
resistência de cada obra, como os retirantes de Ramos suportam a seca e a negligência e violência
do Estado; e, em Rulfo, como o pueblo vinga, apesar das barreiras naturais e institucionais.

Desafios à posse da Terra em um contexto de colonização oficial (Estado do


Rio de Janeiro, 1950-1960)
Henrique Dias Sobral Silva
henriq_sobral@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Colonos, Rio De Janeiro, Colonização Agrícola, Luta Pela Terra.

O objetivo dessa comunicação é analisar uma política de colonização agrícola na fronteira


da cidade do Rio de Janeiro com a Baixada Fluminense, com destaque para os desafios a
manutenção da propriedade por pequenos colonos, concessionários de lotes de terra na referida
colônia. Nosso estudo de caso privilegia as experiências ocorridas no núcleo colonial de Santa Cruz,
em que a política executada pelo Estado, pretendia responder as crises de abastecimento da capital
e a indefinição fundiária da região. Entretanto, tal política foi sempre denunciada pelos
trabalhadores rurais, não só pela ineficiência do auxílio prestado, mas também pela morosidade na
titulação dos lotes, pagos em parcelas, com os rendimentos da produção agrícola e/ou pecuária.
Dessa maneira, o objetivo deste trabalho é investigar como se processaram diferentes estratégias e
ações de homens e mulheres comuns em seus pleitos na luta pelo direito a terra, assim, suas formas
de luta são o principal tema de nossa discussão. Para tal intento, nos dedicaremos à análise de
cartas, matérias de jornal e relatórios de instituições públicas na tentativa de mapear o percurso de
tais lutas e as táticas dos atores sociais envolvidos. Por último, mobilizamos como arsenal teórico
as reflexões de Edward Palmer Thompson e James Scott que, em uma aproximação da História
com a Antropologia, nos ajudam a mapear os gradientes da luta, do significado da lei e da justiça e
das formas de resistência de trabalhadores rurais.

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O Serviço Social Rural e a extensão da Legislação Trabalhista ao campo


Renan Vinicius Magalhães
renan4321@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Legislação Trabalhista, Serviço Social Rural, Getúlio Vargas, Trabalhador


Rural.

Em 1950 Getúlio Vargas se candidatou à presidência da república e uma de suas propostas


para o meio rural foi a extensão da Legislação Trabalhista ao campo. Após ser eleito e ter tomado
posse em 1951, Vargas e sua equipe não tardaram para colocar em pauta sua proposta de campanha
eleitoral. Assim, no dia 27 de junho 1951 foi apresentado à Câmara dos Deputados o projeto de lei
(PL) número 738, autorizando a União a criar uma fundação denominada Serviço Social Rural
(SSR). Como aponta Aspásia Camargo, as propostas políticas de Vargas para o campo não haviam
sido apenas aceno de campanha eleitoral, antes o então presidente havia se empenhado para
cumpri-las. Contudo, percebemos que há uma superestimação da autora em relação à Vargas, e
nesse sentido, buscaremos mostrar nesse trabalho, como que o Serviço Social Rural se colocou
como assistência social, mas não como legislação trabalhista, e assim contrapor a autora em relação
ao empenho de Vargas para estender a CLT aos trabalhadores do campo.

O Serviço Social Rural foi em vários momentos do discurso de Vargas colocado como
extensão da CLT ao campo, porém ao analisar sua constituição verificamos que essa afirmativa não
se sustenta, pois, de maneira geral, o projeto de lei se deteve em fornecer assistência nas áreas da
saúde e educação, mas se omitiu em direitos trabalhistas fundamentais como salário, férias,
aposentadoria, sindicalização, estabilidade, dentre outros. Um dos caminhos para entender essa
questão se da pela aliança partidária entre o PTB, partido do presidente e o PSD. Como colocou
José Murilo de Carvalho “O PSD tinha sua base entre os proprietários rurais, nas velhas oligarquias
do interior (...) Enquanto a questão agrária não fosse tocada, o acordo era possível e funcionou
satisfatoriamente”. Assim, construímos um caminho para entender a marginalização dos
trabalhadores rurais em relação aos direitos trabalhistas. Para a construção desse trabalho
recorremos ao projeto de lei que criou o Serviço Social Rural, disponível nos Diários da Câmara
dos Deputados, assim contrapomos o PL com as falas de Vargas, também acompanhando as
discussões na Câmara dos deputados e mostrando a forma como os jornais Ultima Hora e Correio
da Manhã se manifestaram a esse respeito. Assim, nas variedades dessas fontes conseguimos
corroborar nosso ponto de vista e mostrar como o Serviço Social Rural não se colocou enquanto
extensão da CLT ao campo, sendo então uma assistência social ao trabalhador rural.
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Memória militante: A construção de identidade em relação ao Partido


Comunista do Brasil (PCB) nas lembranças de uma militância experimental
nos sertões cariocas (Baixada Fluminense, 1950-1964)
Felipe de Melo Alvarenga
f.m.alvarenga@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Baixada Fluminense, Partido Comunista do Brasil, (PCB), Militantes


Comunistas, Identidade.

A partir de 1950, a região da Baixada Fluminense foi considerada palco privilegiado de uma
mobilização camponesa, mais especificamente, de um grupo de lavradores, que começaram a
reivindicar a posse de terras que estavam sendo alvo de especulação imobiliária devido à valorização
das mesmas no período em questão. Por este motivo, um movimento de resistência foi se
estruturando e tais lutas reverberaram na imprensa. Foi por conta desta inserção política do
campesinato fluminense e do reconhecimento de suas lutas pela imprensa que o Partido Comunista
do Brasil (PCB), assim como outros grupos/partidos políticos de matrizes ideológicas diversas,
começaram a disputar a representação política deste grupo de lavradores. Diversos autores
procuraram analisar a constituição dos camponeses enquanto grupo social no processo de
mobilização e compreender a natureza das ações de mediação dos conflitos de terra realizadas por
diferentes grupos sociais. A preocupação deste trabalho foi analisar as relações entre os agentes da
mediação e as instituições das quais faziam parte e discutir como apareceram e como foram tratadas
estas questões na historiografia do tema. No nosso caso em específico, os militantes comunistas e
o seu Partido. A questão que instigou todo o trabalho de pesquisa foi a relação de identidade
construída entre os militantes comunistas e o PCB nas memórias de José Pureza da Silva,
Lyndolpho Silva e Bráulio Rodrigues da Silva quando atuaram enquanto mediadores dos conflitos
fundiários na região da Baixada Fluminense. Parte-se da hipótese de que estes militantes
construíram uma identidade de afastamento em relação ao PCB relatada em suas memórias. A
autonomia do trabalho político e as relações construídas junto com os lavradores fluminenses
foram indícios significativos para desenvolver o problema que suscitou a pesquisa. Esta militância
“experimental”, bastante receptiva em relação às ações e estratégias do grupo social que se
pretendia representar (os lavradores fluminenses), foi modelada a partir das contribuições teóricas
da história social inglesa, mais especificamente, com as postulações de Edward Palmer Thompson
e as suas noções de “experiência” e “agência” humanas no tempo. A relação entre a História e a
Memória também foram substanciais para esta pesquisa, principalmente as considerações de

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Michael Pollak no que concerne as memórias individuais e subterrâneas e as suas relações com as
memórias coletivas, institucionais e hegemônicas.

Resitência e Agronegócio: Os Impactos Socioambientais na Produção de


Eucaliptos no Município de Urbano Santos-MA
Ana Paula Batista Protacio
ana.paula.202.apb@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Urbano Santos, Meio Ambiente, Propriedade.

A partir da década de oitenta do século passado, os moradores do povoado Santo Amaro


no município de Urbano Santos foram obrigados a deixar suas terras, onde produziam sua
subsistência alimentar. O Executivo municipal concordou e a Companhia Suzano de Celulose
implantou uma “floresta de eucalipto”. Este trabalho objetiva refletir sobre o direito à terra
comunitária, individual e industrial a partir das experiências vividas por esta comunidade. O êxodo
rural e o quase desaparecimento do rio Mocambo, provocado pela Suzano promoveu o inchaço
urbano e a consequente mudança de hábitos sociais e econômicos na região.

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História da Ciência e a construção de um campo de


pesquisa: diálogos em torno da saúde, doença e a
produção do conhecimento científico

Ana Carolina Rezende Fonseca


Mestre
Simpósio Temático

UFMG
aninharezende@msn.com

Valquiria Ferreira da Silva


Mestre
UFMG
historiaval@hotmail.com

Proposta do Simpósio:

Este simpósio temático pretende promover um diálogo entre estudiosos, pesquisadores e


demais interessados que se preocupam em refletir sobre a História da ciência, com especial atenção
para os estudos dedicados a pensar a relação entre saúde, doenças e produção do conhecimento
científico. A ampliação dos objetos de investigação ocorrida no campo historiográfico, a partir da
década de 1970, possibilitou o uso desses e demais temas relacionados à ciência; um lugar de
destaque para se compreender aspectos diversos que compõem sociedades distintas em
determinadas épocas. Saberes relacionados às práticas de cura (científicos e populares), atuação de
boticários, feiticeiros e outros agentes, representações sociais de doenças, ações governamentais
acerca de doenças epidêmicas e endêmicas são algumas das abordagens encontradas em
dissertações, teses e livros que indicam tanto a relevância do tema, como o seu potencial.
Considerando as amplas complexidade e diversidade de discursos e práticas que envolveram os
trabalhos voltados para essa temática, seja nos espaços privados ou nos espaços públicos, esse
simpósio pretende acolher produções que contemplem uma abordagem histórica da ciência, em
especial dos temas relacionados a saúde e doenças, almejando reunir pesquisadores e estudiosos
desse campo, contribuindo para o debate e divulgação desses estudos.

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Comunicações:

O Feto que atenta contra a sua vida: Aborto como recurso terapêutico no
século XIX
Isabela de Oliveira Dornelas
isadornelas@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: História da Saúde, História da Ciência, Aborto, Gênero.

Esta comunicação propõe investigar sob o viés da história de gênero o discurso médico
que durante o século XIX se posiciona em defesa do uso do aborto como um recurso terapêutico
indicado para mulheres que estivessem extremamente doentes em função da gestação ou que
fossem consideradas sem condições físicas de dar a luz. Não pretendo reforçar uma leitura
maniqueísta da atuação da medicina sobre o corpo feminino, mas observar a forma com que o
discurso médico sobre o aborto terapêutico se formou, a fim de constituir bases de legitimidade
frente seus interlocutores. Desde finais do século XVIII, a ciência supõe um referencial neutro para
sua produção, mas por ser uma atividade que se dá engendrada por relações sociais e de poder, por
vezes produz e reproduz desigualdades de todos os tipos, entre elas as de gênero. Observa-se que
a preocupação em afirmar e construir o discurso em favor dessa prática por parte de muitos
médicos aponta para o fato de que, apesar da indubitável aproximação entre medicina e
racionalidade científica, que favoreceu o fortalecimento da medicina moderna, este processo se
articula nas tensões sociais com continuidades e rupturas pertinentes a analise histórica. Trata-se
de processos com descontinuidades e negociações, às quais este trabalho pretende estar atento.
Importa resgatar que o cuidado com o corpo e a saúde, desde fins do século XVIII, passa a ser
pensado pela medicina a partir de uma racionalidade científica que reivindica a experimentação
como um artifício para se afirmar enquanto o saber mais objetivo e válido dentre as outras maneiras
de tratar o corpo. A medicina moderna buscou se constituir ao longo de todo século XIX como
uma ferramenta de utilidade ao Estado, que, nesse momento, busca amplificar a intervenção sobre
a população com a finalidade de mantê-la apta ao trabalho para o fortalecimento da nação. Os
temas pertinentes à sexualidade e reprodução ganham especial enfoque, e o campo da sexualidade
é de primeira importância para a normatização da sociedade, pois daí depende a doença ou a saúde
do corpo social. No século XIX, passam a ser produzidos discursos médicos legitimados por seu
aspecto científico, reivindicado como neutro e objetivo, que pretendiam deter a verdade sobre o

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uso apropriado da sexualidade. Envio este resumo para ser analisado pelas coordenadoras do ST
de História da Ciência.

Tradições populares nos costumes e práticas de cura com plantas


medicinais em Viçosa e região
Paloma Gabriele Fernandes Lobato
paloma.lobato@ufv.br

PALAVRAS-CHAVE:

A pesquisa Tradições populares nos costumes e práticas de cura com plantas medicinais
em Viçosa e região apresenta como proposta o resgate e a valorização da cultura e das tradições
populares em Viçosa e região. Como ponto norteador do trabalho valorizamos o que entendemos
por cultura. Num arcabouço teórico é possível dizer que o conceito de “tradição” de E. Hobsbawm
e T. Ranger se aplica ao projeto, no que os autores escrevem como sendo práticas de natureza
simbólica que incorporam valores através da repetição. Bem como as concepções dos antropólogos
C. Geertz e R. Laraia, a cultura em um conceito semiótico, ou “público” e aquilo que está em
consonância com a natureza humana e que o homem foi capaz de modificar. Assim, a cultura tem
seu espaço onde surge a familiarização com uma ideia tornando-se parte do intelecto e do
imaginário de uma sociedade. É possível observar que as tradições e os costumes com as práticas
de cura em Viçosa e região, mais especificamente em Cachoeira de Santa Cruz, um distrito da
cidade de viçosa, são passados de geração em geração e que se perpetuam com modificações e
adaptações. O presente trabalho levanta, ainda, questões vinculadas às memórias coletivas e
individuais, questões religiosas, debates sobre as chamadas “medicina científica” e “medicina
popular”.

Relações entre Diversão e Loucura: Estudo da Internação no Hospital


Colônia de Barbacena, 1934 a 1946
Marcelle Rodrigues Silva
marcelleturismo@gmail.com

Maria Cristina Rosa


m.crosa@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

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O objetivo desta pesquisa é discutir como a diversão poderia ser compreendida como
loucura, levando pessoas à internação no Hospital Colônia de Barbacena, no período
compreendido entre 1934 a 1946. Procura-se estabelecer relações entre divertimento e loucura, ao
estudar a internação de pacientes no Hospital Colônia de Barbacena; permitindo comprender que
práticas de diversão eram rejeitadas e como essa rejeição era legitimada no contexto do Hospital
Colônia de Barbacena. O entendimento do contexto de internação destes pacientes auxilia o
entendimento sobre as relações entre o divertimento ilícito e as doenças mentais, ainda pouco
discutidas na literatura, além de ampliar as discussões sobre as motivações para a internação de
pessoas neste hospital. O Hospital Colônia de Barbacena foi escolhido para estudo de caso, por
ser o primeiro hospital psiquiátrico público de Minas Gerais, servindo de modelo para a gestão de
outros hospitais psiquiátricos no país e tendo mais de 150 anos de história, estando em
funcionamento até os dias atuais. Este Hospital destaca-se entre os demais, pois a internação de
pacientes que “não eram doentes mentais e estavam ali por outros problemas, que não a
necessidade de tratamento médico-psiquiátrico” (MAGRO FILHO, 1992, p. 138, 139) era muito
comum. O recorte temporal, de 1934 a 1946 foi escolhido para estudo devido ao contexto político
e médico vivenciado durante a Era Vargas (1930-1945) em que a gestão de Gustavo Capanema no
Ministério dos Negócios de Educação e Saúde; a criação do Serviço de Doenças Mentais (SDM) e
os ideais médicos, higienistas e eugenistas, da Liga Brasileira de Higiene Mental (1935 a 1946)
contribuíram muito para a internação de pacientes praticantes de divertimentos ilícitos em
hospitais-colônia, incluindo o Hospital Colônia de Barbacena. A metodologia envolve a pesquisa
historiográfica, sob a perspectiva da História Cultural, tendo como aporte teórico trabalhos de
Michel Foucault. A população pesquisada inclui novos pacientes internados no Hospital Colônia,
no período entre 1934 e 1946. Serão consultados documentos, periódicos, livros e legislações de
cinco arquivos distintos, a saber: Arquivo Público Mineiro (APM); Hemeroteca da Biblioteca
Pública Estadual Luiz de Bessa; Arquivo Histórico Municipal Professor Altair José Savassi
(AHMPAS); Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FEHMIG) e Hemeroteca Digital
da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (BN Digital).

Ciência, Ordem e Progresso: imaginários e representações acerca da saúde e


da modernidade na imprensa do sertão norte-mineiro (1915-1930)
Bárbara Rafaela e Sousa Pessanha Guedes Prates
barbara_rafaela.prates@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Saúde, Sertão, Civilidade, Modernidade.


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A transição do século XIX para o século XX configura-se como uma época assinalada por
grandes transformações sociais. Neste contexto, ideais modernizadores e higiênicos podem ser
percebidos em inúmeras localidades do mundo ocidental. O imaginário que permeia a concepção
do Sertão brasileiro possui desde o inicio o estigma da peste, da doença e da barbárie, mas no inicio
do século XX essa região passou por um processo de cura e de modernização acarretado tanto pelo
clamor social quanto pela intervenção estatal. O homem sertanejo que havia figurado no imaginário
nacional como a representação do ser hostil, bravio e doente passa a ser encarado como o ponto
fraco do processo de integração nacional iniciado com a proclamação da república. Ancorado em
teorias positivistas, higiênicas e eugênicas o Estado lança mão dos saberes médico-cientificos a fim
de ordenar a nação e domar o Sertão. Este trabalho toma como fontes os periódicos Jornal Montes
Claros e Gazeta do Norte (1915-1930) a fim de compreender, através da imprensa, o processo de
ordenamento social vivenciado pela população de Montes Claros e região com ênfase no
comportamento corporal e nas ideologias e representações difundidas pela elite local e
compartilhadas pela população sobre questões referentes a modernidade, civilização e saúde.

A Loucura como ferramenta da ordem na sociedade disciplinar republicana


(Rio de Janeiro 1910)
Pedro Henrique Rodrigues Torres
pedrohrtorres@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Normatividade Social, Loucura, Primeira República.

A história da loucura e dos sujeitos alvo desse saber é redimensionado na historiografia,


segundo o pesquisador Rafael Huertas, a partir das contribuições do filósofo francês Michel
Foucault. Este, por seu turno, tem o cerne de seu pensamento crítico nas relações de poder
engendradas e que também podem ser vistos nos desdobramentos desse tema. Assim, Huertas nos
ajuda a ver como a construção de um saber, uma forma de pensar e organizar a sociedade trata de
ordenar e disciplinar os indivíduos que a integram. É dessa forma que o asilo manicomial se torna
um lugar de execução de um tipo de poder, o poder psiquiátrico. A entrada da loucura no cerne
dos estudos sobre controle social conhece um juízo de valor que constrói e opõe a “normalidade”
à “anormalidade”, desse modo, onde a normalidade se constitui uma decisão/imposição social, o
sujeito anormal seria aquele que sai dos limites da norma estabelecida pelo pensamento hegemônico
delineador da moral. É nesse momento, podemos dizer, que o psiquiatra passa a operar como

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agente ativo na dinâmica de ordenamento da sociedade, ao mesmo tempo em que a loucura passa
a ser entendida como doença mental.

A loucura quando tornada doença mental transforma o sujeito de ação num indivíduo cuja
voz se perde nos meandros do espaço hospitalar, dos estudos de caso e de categorização
diagnóstica. Em outras palavras, se por um lado, a voz do doente mental (a narrativa do louco)
“não interessa” ao saber médico, por sofrer de uma alienação no sentido de explicação e
compreensão de seu espaço/tempo, este indivíduo desarrazoado e suas perturbações, por outro
lado, ganham imensa visibilidade por aqueles que tutelam suas vozes e ações. Neste trabalho,
então, empreendemos refletir acerca dos usos da loucura como instrumento de um saber-poder
disciplinar que buscou, além do desenvolvimento da psiquiatria no Brasil, uma via para “limpar das
vistas” os indivíduos contenciosos da esfera social, opostos ao modelo de sujeito polido e
economicamente ativo. Para tanto, intentamos desenvolver um histórico da prática psiquiátrica no
Brasil e da ideia de loucura, agora tomada como doença mental.

A Cultura Prática em Portugal: Uma análise da produção de conhecimento


renascentista e do diálogo entre o saber prático e o acadêmico no século
XVI
Diego Pimentel de Souza Dutra
diego_hist@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Normatividade Social, Loucura, Primeira República.

Para a História da Ciência, trabalhar com o Renascimento dos séculos XV e XVI é uma
tarefa bem controversa, por existir, entre os especialistas, uma grande discussão a respeito da
produção de conhecimento nesse período. Autores consagrados alegam que a Renascença viveu
um verdadeiro impasse científico, onde as bases epistemológicas foram desestruturadas e
destruídas, culminando num momento ímpar da civilização europeia, onde tudo era possível e
aceitável em termos explicativos e demonstrativos. Como consequência, presenciamos uma
completa desvalorização de elementos que, quando muito dialogaram e contribuíram para a
produção de conhecimento, como a experiência, por exemplo. Dessa forma, é vedada qualquer
importância que a cultura prática, isto é, aquela advinda de homens de pouca instrução, viria a
desempenhar, acreditando não ter tido relevância alguma, quando muito interferido de maneira
positiva no campo científico. Além disso, outra análise decorrente desse pessimismo é o retrocesso
atribuído a forte influência da magia na época renascentista. De fato, em meados do século XV já

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era possível perceber a enorme difusão do Platonismo mágico hermético pela Europa. Essa
corrente procurou estabelecer uma relação direta com a magia, promovendo um forte impulso à
astrologia e à alquimia, colaborando assim, para a emergência de uma filosofia esotérica repleta de
misticismo, forças invisíveis e animismo.

Sendo assim, propomos uma discussão que desconstrua a visão de que a Renascença teria
adquirido um caráter de empecilho em relação ao desenvolvimento do conhecimento científico
ocidental. Demonstraremos que longe de representar uma fase de retrocesso, o Renascimento foi
um período em que os embates filosóficos e científicos ganharam um espaço considerável e bem
acirrado. Para tal, destacaremos o papel epistêmico desempenhado pelos Descobrimentos do
século XVI, ao nos focalizar numa categoria de saber cujas bases teóricas e metodológicas
baseavam-se na temática das Navegações Ultramarinas. Graças a esse processo e aos novos dados
obtidos por meio dele, que novas problemáticas vieram à tona, levando inclusive, a uma tentativa
de reestruturação do saber cientifico vigente. E o palco desse debate seria Portugal, cujo
pioneirismo nas navegações faria do país um centro efervescente de produção de saberes
relacionados ao tema dos Descobrimentos, fossem eles de cunho artístico e literário, ou até mesmo
de cunho científico e filosófico.

A Interiorização da Ações em Saúde no Início do Século XX - Viçosa, 1889 -


1945
Vanessa Lana
vanessalana@ufv.br

Mayra Christian Sabino


mayra_sabino@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Saúde, Viçosa-MG, Saneamento, Interiorização.

Nas primeiras décadas do século XX, a saúde foi aos poucos ganhando as pautas políticas
do país, tornando-se foco de discussão de vários grupos sociais. O interesse pela temática deveu-
se, principalmente, à profusão de discursos higienistas que, através da divulgação em relatórios de
viagens e palestras da situação de calamidade e abandono vivenciada pelo interior do Brasil,
lançaram bases para os primeiros esforços na articulação de um movimento sanitário do país. O
multifacetado e desfragmentado território, o contexto federativo e oligárquico vigentes,
dificultavam a identificação da população enquanto povo, entravando a formação de uma
identidade nacional. Além de expor falhas do modelo administrativo, os diagnósticos de higienistas

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sobre a experiência compartilhada de insalubridade vivenciada no interior do território agiram


como elemento de união da população, forjando assim uma identidade nacional pautada sobre a
doença. Ao lançar olhares sobre espaços e personagens marginalizados, e reconhecidas as
dificuldades dos poderes locais em articular ações, o Estado modifica a característica de intervir
apenas nos momentos assolados por epidemias e passa a abarcar a responsabilidade pelas ações em
saúde, que desenvolveram-se em duas vias: a primeira seria resultado de arranjos das elites políticas
a fim de promover a nacionalização da saúde, viabilizada principalmente através da criação de
órgãos, como o Departamento Nacional de Saúde Pública e formulação de campanhas sobre a
importância de sanear o país; a segunda instituiu a interiorização dessas ações até então limitadas
aos centros urbanos, focadas na profilaxia rural, estabelecendo a cooperação entre União e estados
através da criação de convênios com vista à promoção de serviços sanitários. Vislumbrando esse
cenário de nacionalização e consequente interiorização da saúde, elencamos Viçosa/MG como
palco de investigação. A proposta consiste na análise de documentos do legislativo municipal e
estadual produzidos entre a República Velha e Era Vargas, verificando até que ponto as diretrizes
dos poderes central e estadual referentes às ações de interiorização da saúde encontraram
aplicabilidade Através das posturas municipais. Partimos das seguintes questões norteadoras: a
interiorização da saúde que teria abrangido todo o território brasileiro após 1920, conseguiu
aplicabilidade no município? Como se daria esse processo? Quais ações firmadas? A proposta
abarca ainda a análise das principais discussões sobre saúde e saneamento de Viçosa.

A Utilização da Fitoterapia e de plantas medicinais na cidade de Ipatinga:


A Farmácia Verde (1995- 2015)
Thiago Siqueira Viana
thiagoviana.27@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Saúde, Patrimônio Natural, Plantas Medicinais.

O período de 1970- 1990 foi marcado por mudanças significativas na concepção de


patrimônio cultural, resultando na incorporação de novas categorias de bens que referenciavam
diferentes etnias, exemplares da cultura popular e do mundo industrial e, também, os bens naturais.
Isso significava que começava a haver o reconhecimento por parte da população do patrimônio
como um campo possível para afirmação de outras identidades coletivas. Isso se deu inclusive na
esfera do patrimônio natural com ampliação da demanda social pelo tombamento de bens naturais.
O presente trabalho tem como objetivo primordial buscar compreender a Farmácia Verde com um

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bem natural da cidade e da região, isto é, discutir o conceito de Patrimônio Natural. O interesse
pela pesquisa deveu-se ao fato da Farmácia Verde ser uma referência no Estado de Minas Gerais
na produção e medicação de medicamentos fitoterápicos. Fundada em 1995, a Farmácia Verde é
um centro de medicina alternativa da prefeitura de Ipatinga que é mantido com recursos da
administração municipal, por meio da Secretaria de Saúde, com 128 espécies cadastradas, que busca
fazer o intercâmbio entre tradição e modernidade, mesclando o saber popular com a presença de
uma equipe formada por farmacêuticos e médicos.

Num primeiro momento, o nosso objetivo é identificar as plantas utilizadas com mais
frequência levando-se em conta a cultura popular e adaptação de cultivo a região. Mais adiante,
iremos entrevistar a população e os próprios funcionários da Farmácia, obtendo assim,
informações mais detalhadas sobre como esse aprendizado é transmitido aos demais habitantes da
cidade. Pretendemos fazer uma análise sobre a ação da farmácia e como que se dá a troca de
conhecimento da comunidade de Ipatinga (saberes populares) com a Farmácia Verde, explorando
as relações culturais e sociais. Ao longo de toda a pesquisa, também serão consultados áudios dos
fundadores da Farmácia, trechos de revistas e jornais, relatórios de grupos de estudos e palestras.
Através da análise dessas fontes será possível verificar a contribuição da Farmácia perante a
comunidade. As terapias alternativas têm muito a oferecer, podendo contribuir com as ciências da
saúde, além de possibilitar ao individuo relativa autonomia em relação ao cuidado com a sua saúde.
Nas relações interculturais há uma troca de valores entre os envolvidos, e isso vai significar uma
nova maneira de enxergar a doença sob seus vários aspectos.

Alteridade, viagens e ciência: relato de um viajante-naturalista sobre a


medicina dos índios brasileiros
Nathália Tomagnini Carvalho
nathaliatomagnini@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Viajantes Naturalistas, Alteridade, História da Ciência, História da


Medicina.

Entre os anos de 1817 e 1820 o viajante naturalista, médico e antropólogo alemão Karl
Friedrich Philipp von Martius realizou uma grande expedição científica em terras brasileiras
organizada pela Real Academia de Ciências de Munique a pedido do Rei Maximiliano José I da
Baviera. Juntamente a seu companheiro de viagem, o também naturalista e zoólogo Spix, Martius
percorreu grande parte do Brasil fazendo anotações sobre os povos que aqui viviam seus costumes

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e modo de vida. De volta à Europa, produziu diversas obras a partir das observações da viagem,
dentre elas, “Natureza, Doenças, Medicina e Remédios dos índios brasileiros”, publicada em
Munique no ano de 1844. No livro, o naturalista expõe ao leitor seu “olhar” sobre as doenças que
mais acometiam os indígenas do Brasil, bem como a relação das moléstias e dos caracteres físicos
típicos da “raça” americana com o clima, as condições do meio, o modo de vida e grau de cultura;
a “estranha” medicina desenvolvida pelos pajés; a forma como os índios entendiam as causas das
doenças, que envolvia uma compreensão “obscura” e “mágica” do mundo natural; e os remédios
utilizados na terapêutica, que curiosamente apresentavam-se como eficazes aos olhos de Martius.
O propósito deste trabalho é apresentar uma parte do projeto de mestrado que está em
desenvolvimento a respeito da temática acima mencionada, cujo objetivo é compreender a
concepção de ciência de Martius (especificamente a ciência médica) e a forma como ele acreditava
que a ciência se desenvolvia em diferentes culturas no tempo (a saber: a europeia e a dos indígenas
do Brasil), a partir do seu olhar para o modo como os índios entendiam as doenças, como curavam,
como lidavam com os remédios, a natureza, os praticantes da cura e o meio em que viviam.
Utilizando como base teórica a obra de Fleck, entendo que Martius e os índios, como membros de
“coletivos e estilos de pensamento” diferentes, ao pensarem sobre a doença e a cura, não pensavam
sobre os mesmos conceitos, pois se A e B “pertencem a coletivos de pensamento diversos, o
pensamento não é o mesmo porque, para um dos dois, o pensamento deve ser pouco claro ou
entendido por ele de maneira diferente” (FLECK, 2010, p. 151). “Natureza” consistiria, por tanto,
em conjunto de “mal entendidos” que abrem precedentes para refletir sobre a presença da
alteridade no relato do viajante, já que ao falar da medicina dos índios Martius diz muito mais sobre
a ciência médica europeia, “coletivo” ao qual pertencia.

Exploração cientifica no sertão maranhense: A expedição de Vicente Jorge


Dias Cabral
Samara de Almeida Ramos
samara.a.ramos@outlook.com

PALAVRAS-CHAVE: Maranhão, Reformismo Ilustrado, Sertão.

Esta pesquisa objetiva demostrar que no período denominado Pombalino, Portugal iniciou
um projeto que a historiografia intitulou de “Reformismo Ilustrado”. Em 1796 no governo de
D.Maria I, D. Rodrigo de Sousa Coutinho foi Ministro da Marinha e Ultramar, possibilitando que
uma substantiva quantidade de letrados lusos brasileiros a seu convite planejassem uma politica

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voltada para o desenvolvimento científico do reino. A Coroa portuguesa através do “Reformismo


Ilustrado” buscava conhecer melhor suas terras e as riquezas nelas contidas. Tiveram início as
“viagens filosóficas” de caráter exploratório. Uma dessas viagens coube ao naturalista Vicente Jorge
Dias Cabral explorar entre 1800 a 1803, o sertão do Maranhão em busca de riquezas para o Reino.

Condições de saúde da população escrava negra no Brasil


Alisson Eugenio
alissoneugenio@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Escravidão, Brasil, Saúde, Iluminismo.

A escravidão apresenta muitas faces. Embora a violência estivesse na base de todas elas,
como ato inaugural da conversão de seres humanos ao cativeiro e como um dos instrumentos de
manutenção da ordem escravista, suas variações engendraram diferentes práticas de tratamento
dos indivíduos a ela submetidos. Uma delas é narrada em diversos relatos médicos, os quais
apresentam uma visão trágica sobre a vida da população escrava, em particular sobre as suas
condições de saúde. As razões dessa visão ser assim caracterizada, como ela foi fundamentada e os
possíveis significados históricos da sua construção como instrumento intelectual de intervenção na
vida social, são abordadas nessa comunicação, cujo objetivo é analisar como a sociedade
escravista comportou-se em relação à saúde dos escravos antes e depois do Iluminismo.

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Políticas Públicas no Brasil republicano

Fernando Marcus Nascimento Vianini


Mestre
UFJF - CAPES
Simpósio Temático

fernandomvianini@gmail.com

Nittina Anna Araújo Bianchi Botaro


Mestre
UFJF - FAPEMIG
nittina.bianchi@hotmail.com

Proposta do Simpósio:

Neste Simpósio Temático, propomos reunir trabalhos que dialoguem com a temática das
políticas públicas durante o período do Brasil República. Através do V Encontro de Pesquisa da
UFMG – EPHIS, os coordenadores deste ST pretendem promover a divulgação e a discussão de
estudos de caso e/ou novos enquadramentos teóricos propostos por alunos de graduação e pós-
graduação, cujas pesquisas, concluídas ou que estejam em andamento, procurem examinar as
políticas públicas durante o Brasil República.

As discussões podem ter um amplo recorte temático e temporal, abrangendo temas de


políticas públicas e seus desdobramentos em saúde, educação, desenvolvimento industrial, a partir
da Primeira República, passando pelo Estado Novo e pelo Regime Militar, e abarcando, enfim, o
governo Dilma.

Devido a esta amplitude temática, serão aceitos trabalhos interdisciplinares, uma vez que
este é um recurso cada vez mais utilizado no meio acadêmico. O diálogo entre a sociologia, ciências
políticas e história, entre outras disciplinas, garante um arsenal mais amplo de recursos para a
pesquisa e para o entendimento nas conjunturas passadas e presentes. Assim, abre-se um espaço
para o diálogo entre as áreas das ciências sociais para o debate sobre políticas públicas no Brasil
republicano, priorizando temas como: Brasil República, Brasil República e Políticas Públicas, Brasil
República e Saúde, Brasil República e Educação, Brasil República e Desenvolvimento Industrial.

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Enfim, os coordenadores do ST se dispõem a aceitar propostas de trabalho em larga


dimensão cronológica e espacial, interessando-se em quaisquer tratamentos dos fenômenos do
Brasil República e Políticas Públicas.

Comunicações:

O alvorecer da indústria automotiva no Brasil (1951-1954)


Fernando Marcus Nascimento Vianini
fernandomvianini@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

Pretendemos analisar a importância do setor automotivo para os Estados e as medidas


realizadas ainda no governo de Getúlio Vargas, que se constituíram como a base para a implantação
de uma indústria automotiva no Brasil durante o governo de Juscelino Kubitschek. Deste modo,
destacamos a Instrução 113 da Sumoc, o Aviso 288 da Cexim, o Aviso 311 da Cacex, a criação do
BNDE e do Plano Nacional de Estímulo à produção de Automóveis e à Implantação Gradativa
da Indústria Automobilística da CDI.

Podemos identificar ao menos três grandes importâncias do setor automotivo.


Primeiramente, o setor automotivo foi um difusor de tecnologia e de inovações organizacionais,
tais como o fordismo e o toyotismo. Em segundo lugar, o desenvolvimento do setor passou a ser
uma questão do Estado, que se esforçou para desenvolver suas empresas nacionais, criou mercados
internos capazes de atender a oferta e construiu a infraestrutura para o uso dos veículos. Sua
importância refletiu nas políticas comerciais de todos os países, mesmo indo contra as
recomendações das organizações multilaterais. Por fim, trata-se também de um setor com uma
importância estratégica para o desenvolvimento do capitalismo. O automóvel é um produto cuja
fabricação não se limita ao total de seus componentes. Há toda uma cadeia de produção e
distribuição, que representa um peso considerável na economia, devido à geração de empregos,
impacto no PIB e no comércio doméstico e internacional. Procuramos, em um primeiro lugar,
destacar a importância do setor automotivo para os Estados a partir da Segunda Guerra Mundial.
Em segundo lugar, demonstrar como algumas medidas tomadas no governo Vargas para contornar
os efeitos da importação de peças, componentes, motores e veículos completos sobre a balança
comercial brasileira e sobre a indústria de autopeças nacional, resultaram na construção da indústria
automotiva doméstica. Cumpre ressaltar que muitos dos estudos realizados no governo Vargas,
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assim como o pessoal que compôs estas instituições, como o CDI, foram aproveitados no governo
JK para a formulação do Plano de Metas para o setor automotivo, que efetivamente instalou
montadoras no Brasil, aumentou o conteúdo nacional dos veículos produzidos e transformou todo
o setor industrial brasileiro.

Política de (re)inserção de jovens infratores no mercado de trabalho: um


estudo sobre experiências femininas no DEGASE
Carla Ribeiro Santos
carla.ribeiro.ufrj@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Socioeducação, Política Pública, Linguagem, Fotografia.

Esta comunicação é parte de um trabalho concluído no curso de Políticas Públicas em


Educação da UFRJ que teve como objetivo compreender a política de reinserção de adolescentes
infratores no mercado de trabalho a partir da experiência de duas jovens que cumpriram suas
medidas socioeducativas no DEGASE - Departamento Geral de Ações Socioeducativas. Buscou-
se entender em que medida uma oficina de fotografia, oferecida pelo DEGASE, contribuiu com a
produção de discursos próprios e com a profissionalização de jovens que passaram pelo sistema
socioeducativo no Estado do Rio de Janeiro.

Programa Mulher e Ciência – política pública necessária ao combate à


desigualdade de gênero na ciência
Maria Gabriela Evangelista Soares da Silva
gabriela@hcte.ufrj.br

PALAVRAS-CHAVE: Mulheres e Ciência, Políticas públicas.

As mulheres, no Brasil, obtiveram importantes conquistas na área educacional e


profissional a partir do século XX, devido, em partes, a atuação dos movimentos feministas que
contribuíram para questionar estereótipos sobre o papel feminino, abrindo novas possibilidades
para as mulheres atuarem na sociedade, além do espaço doméstico. Essa atuação passou,
primeiramente, pelo campo educacional, proporcionando maior nível de escolaridade e,
consequentemente, uma melhor colocação no mercado de trabalho. Contudo, apesar das inúmeras
iniciativas, a educação brasileira ainda não incorporou totalmente o princípio da igualdade. Já há
paridade nas matrículas em quase todos os níveis de ensino; e a desigualdade de gênero foi reduzida
no acesso e no processo educacional, mas permanecem diferenças nos conteúdos educacionais,
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nos cursos e nas carreiras acessados por mulheres e homens. Atualmente, as mulheres são maioria
em matrículas e conclusões em cursos de nível superior, mas ao analisar campos específicos como
o de ciências exatas, esse padrão se inverte completamente; e esse cenário se repete na atuação
profissional; fazendo com que as mulheres passem a depender de políticas públicas que sejam
capazes de diminuir e acabar com a restrição a atuação delas na área das ciências. Nesse contexto,
o presente artigo tem por objetivo elucidar de que maneira a Secretaria de Póliticas Públicas para
as Mulheres (SPM) criada em janeiro de 2003 e extinta em outubro de 2015, quando passou a fazer
parte do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direiro Humanos, vem atuando através
de políticas públicas na área da educação para as mulheres, focando no programa - Mulher e
Ciência. Esse programa, foi lançado em setembro de 2005, visando estimular a produção científica
e a reflexão acerca das relações de gênero, mulheres e feminismos no país, bem como promover a
participação das mulheres no campo das ciências e carreiras acadêmicas. Dentre suas linhas de ação
pode-se citar: Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero; Editais Relações de Gênero, Mulheres
e Feminismos; Pensando Gênero e Ciências; e Meninas e Jovens fazendo Ciência, Tecnologia e
Inovação. A análise das políticas desse programa evidenciou que um esforço tem sido feito em prol
da mudança no cenário da desigualdade de gênero, mas ainda é preciso que essas políticas sejam
fortalecidas e outras sejam implementadas para permitir o maior acesso das mulheres à área de
ciências exatas.

“Habitação para quem precisa”: os planos de ação habitacional do Governo


do Estado de São Paulo durante a década de 1970
Michele Aparecida Siqueira Dias
dias.micheleas@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE: História da Habitação Social, Arquitetura Moderna, Estado de São Paulo.

O campo da Habitação Social deve ser compreendido como uma arena, ou seja, espaço que
durante o século XX aglutinou debates sobre suas caracteristicas morais, técnicas e políticas, como
postulado pelos estudiosos deste campo interdisciplinar. Esta comunicação pretende analisar a ação
habitacional promovida pelo Governo do Estado de São Paulo, durante a década de 1970, período
que foi marcado, na esfera administrativa do Estado, por uma série de ações de interiorização do
desenvolvimento industrial e habitacional das cidades paulistas. Pretendemos demonstrar como
tais ações do Governo entrelaçavam as caracteristicas técnicas e políticas da moradia, promovendo
uma ação de "Habitação para quem precisa", que priorizava a instalação de conjuntos habitacionais
de grande porte para cidades com importantes parques industriais, importantes para o
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desenvolvimento do Estado como um todo. Pretendemos também abordar as relações técnicas na


elaboração de propostas habitacionais para estas cidades, por meio do estímulo à pesquisa e pela
participação de arquitetos e engenheiros no principal órgão habitacional do Estado (Caixa Estadual
de Casas para o Povo).

Um olhar crítico sobre a educação: as avaliações externas a serviço das


políticas públicas
Gabryel Augusto Teofilo Batista Real
gabryelreal@gmail.com

PALAVRAS-CHAVE:

A presente apresentação busca desenhar, ainda de maneira incipiente, as relações entre as


políticas públicas nacionais para o campo da educação e os projetos de Estado propostos pelos
governos brasileiros entre 1994 e 2009, sobretudo no quis diz respeito à adoção de avaliações
externas realizadas em larga escala. Para tanto, busca-se investigar a trajetória normativa
estabelecida para esse assunto inaugurada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDBEN), de 1996, passando pelas reconfigurações em torno das atribuições do Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), e também pelas determinações
relevantes do Conselho Nacional de Educação (CNE) e do Ministério da Educação (MEC). Esse
caminho leva à criação do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), em 1998, instrumento que
sofreu diversas modificações contundentes no decorrer dos anos, a exemplo de 2009, quando elas
se alinham ao discurso de ampliação de oportunidades por meio da educação. As facetas do ENEM
têm ganhado grande importância na agenda dos educadores e educadoras do país, e o campo das
avaliações externas à escola tem despertado o interesse de vários pesquisadores da educação. No
caso do ENEM, é evidente que o Estado se vale dos números e resultados para orientar políticas
públicas. A educação é um campo de disputa no Brasil e, portanto, faz-se necessário entender as
raízes das reconfigurações das finalidades do ENEM e as discussões que tensionaram esse universo.

Trajetória Histórica das Políticas Públicas Municipais de esporte e lazer da


Cidade de Belo Horizonte: Intervenções no período de 1983 à 2003 –
Primeiras percepções
Rita Márcia de Oliveira
rita.marcia@pbh.gov.br

Ludmila Miranda Sartori


ludsartori@hotmail.com
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PALAVRAS-CHAVE:

O estudo tem por finalidade mapear e analisar as principais intervenções do poder público
municipal de Belo Horizonte no setor do esporte e lazer entre os anos de 1983 à 2003. Este texto
vincula-se à pesquisa realizada em parceria com o Grupo de Estudos e Pesquisa em Políticas
Públicas de Esporte e Lazer - POLIS/UFMG e o Centro de Memória do Esporte e do Lazer -
CEMEL/Prefeitura de Belo Horizonte, que tem como objetivo resgatar e analisar o percurso
histórico das políticas públicas de esporte e lazer em Belo Horizonte desde sua criação, em 1897,
até o ano de 2012. As fontes mobilizadas para sua construção foram as legislações referentes ao
setor e os relatórios dos prefeitos do período correspondente. Também foram coletadas
informações provenientes de depoimentos de pessoas que testemunharam o desenvolvimento
dessas políticas. O texto encontra-se dividido em três partes. A primeira refere-se ao levantamento
das ações realizadas entre os anos de 1983 à 1992, período marcado pela criação da Secretaria
Municipal de Esportes-SMES e a inclusão do lazer na Constituição de 88 como direito social.
Considerando que o país vivia a transição da ditadura militar para a democracia, a análise partirá
desse contexto e das fontes já citadas, para tentar indicar como o direito ao esporte e ao lazer foi
incluído na agenda política nos níveis nacional e local. A segunda parte apresentará as principais
ações desenvolvidas, no período de 1993 à 2003, e as possíveis influências sobre elas advindas do
contexto histórico e do marco legal municipal do setor de esporte e lazer. As interferências causadas
por mudanças na estrutura administrativa do município sobre os órgãos responsáveis pelo
planejamento, implementação e avaliação das intervenções, também são consideradas. Por fim, na
terceira parte, as investigações iniciais sinalizam que no primeiro período abordado, 1983 à 1993,
as ações estavam ligadas em sua maioria a promoção de eventos e apoio a instituições esportivas,
indicando uma condução da política em que o lazer não era compreendido para além das
manifestações físico-esportivas e como um direito que deve ser garantido a todos. Por outro lado
no período de 1993 à 2003 há indícios que as iniciativas no setor procuraram fortalecer o esporte
e lazer como direitos sociais.

Autonomia e Consciência: o ISEB e o Pensamento Social Brasileiro


Gabriel Felipe Oliveira de Mello
gabrielfelipemello@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE:

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Com o findar da II Guerra Mundial, abre-se um período histórico favorável para uma visão
crítica da modernidade capitalista, nesse caso, não só mais na Europa, mas também em toda a
“periferia” do sistema, principalmente na América Latina. No Brasil, sobretudo a partir da década
de 1950, não será diferente: a crítica ao eurocentrismo, às epistemologias européias e a busca por
uma concepção de “autonomia de pensamento” vai figurar como um dos grandes debates nos
círculos intelectuais das mais variadas vertentes políticas e ideológicas. Nesse sentido, o presente
trabalho pretende discutir, especificamente, como esse ideal de autonomização, no Brasil,
atravessou a produção teórica e crítica do Instituto Superior de Estudos Brasileiros – ISEB (1955-
1964), em especial nas elaborações de Álvaro Vieira Pinto, Roland Corbisier e Hélio Jaguaribe,
pautando, sobretudo, a construção de uma consciência nacional.

Direitos coletivos do trabalho no Ceará e as suas repercussões na liberdade e


na autonomia sindicais nos tribunais trabalhistas
Cleidimar Rodrigues de Sousa Lima
cleidimary@hotmail.com

PALAVRAS-CHAVE: Trabalho, Dissídios Coletivos, Justiça do Trabalho no Ceará.

Este estudo objetiva historiar e analisar a trajetória que se desenvolveu no Estado do Ceará
com o SINTRO- Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Estado do Ceará,
no período de 1980 a 2003, numa perspectiva de História do tempo presente, com relação aos
processos judiciais que tramitaram no Poder Judiciário, mais especificamente no Tribunal Regional
do Trabalho – 7ª Região. Como parte significativa da pesquisa realizada em 2014 o referido estudo
nos permitiu perceber as múltiplas formas que conduziram a categoria operária deste Sindicato a
recorrer a esta Justiça Especializada com a finalidade de garantir a manutenção de seus direitos
laborais e de ampliar a luta sindical contra a classe patronal neste Estado nordestino. Entre os
empregados e os empregadores que atuam no ramo do transporte urbano coletivo em Fortaleza-
CE o papel da Justiça do Trabalho se insere na condição de uma Justiça Especializada no nosso
ordenamento pátrio para suportar tensões e desgastes na relação econômica entre os envolvidos e
na solução mais democrática e justa dos problemas diários do mundo do trabalho, que acontecem
inevitavelmente com esta e outras categorias profissionais e exigem posicionamentos individuais e
coletivos rigorosos e protetivos dos hipossuficientes uma vez que os elementos que condicionam
sua existência e sua evolução, ou seja, os sindicados, as leis trabalhistas, as culturas, as políticas
públicas e o próprio papel decisivo do Estado buscam ou deveriam promover a igualdade nas
relações laborais, quando são identificados claramente em polos divergentes o capital e o trabalho.
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Neste sentido, as contribuições de BOBBIO (2000); FRENCH (2001); KOSELLECK (2011);


LOPES (2009): NASCIMENTO (2001) e SILVA (2007), dentre outros renomados estudiosos
sobre esta temática foram utilizadas na análise e nas discussões dos dados coletados nos processos
judiciais observados no Tribunal Regional do Trabalho – 7ª Região. Constatamos, assim, que as
reivindicações mais presentes nos dissídios coletivos foram de aumento salarial e de melhores
condições de trabalho, discutindo-se exaustivamente a importância da jornada de trabalho e dos
seus respectivos intervalos. Percebemos também que a classe patronal nem sempre recebe com
“bons olhos” as reivindicações da classe obreira, criando-se um clima de desarmonia laboral
somente amenizado pela intervenção do Estado-juiz representado no país pela Justiça do Trabalho.

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Comunicação Livre 1
(CL-1)

Igor Tadeu Camilo Rocha


Comunicação Livre

Doutorando
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
igortcr@gmail.com

Robson Freitas de Miranda Junior


Mestrando
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
rfm.juninho@gmail.com

Comunicações:

Narrativas e Oralidade: As Conquistas do Magistério Piauiense a partir da


Fundação da APEP na Década De 1970
Claudia Cristina Da Silva Fontineles
cfontinelles@yaoo.com.br

Este trabalho constitui-se uma pesquisa sobre o processo educacional no Piauí durante a
década de 1970, com ênfase na relação estabelecida entre professores que constituíam o movimento
docente no Estado, representados pela Associação dos Professores do Estado do Piauí (APEP) e
o governo estadual durante os mandados do governador Alberto Tavares Silva e de seu sucessor
Dirceu Mendes Arcoverde. Esse trabalho buscou demonstrar as tensões e contradições desse
período histórico à formação do cenário educacional piauiense, no qual, a partir de um estudo
delimitado; a relação entre APEP e governo, investigamos alguns dos conflitos e também
articulações entre sociedade civil e governo. Para desenvolver este estudo, realizamos inicialmente
leitura e fichamento de obras relacionadas ao tema, tanto as de abrangência nacional, quanto
estadual. Em seguida confrontamos essas análises com as fontes hemerográficas. Por fim,
coletamos duas entrevistas orais, com os professores Olímpio Castro e Clementino Siqueira,
sujeitos que participaram em cargos de comando diretamente do processo de construção da APEP
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e das consequentes transformações ocasionadas pelo labor desta categoria no que cerne as
conquistas da carreira docente no Estado. Neste contexto surgiram em todo país reivindicações
por melhorias salariais por parte da categoria docente. O Piauí teve lugar de destaque nesse
movimento, sobretudo por causa do bom relacionamento entre os representantes do magistério,
que defendiam os interesses da Associação dos Professores do Piauí (APEP) com o governo do
Estado durante os mandatos de Alberto Tavares Silva (1971-1974) e Dirceu Mendes Arcoverde
(1974-1978. Percebemos assim, a influência do projeto de nação proposto pela Ditadura civil-
militar aplicada no Sistema educacional do país, a partir da Reforma do ensino ligando essas
transformações com a situação da organização dos profissionais docentes no Estado, relatando o
processo histórico em que originou a APEP e demonstrando com ineditismo, devido a pesquisa
oral realizada, que houve aliança entre Governo e a instituição, visto que os sujeitos entrevistados;
professor Olímpio Castro e Clementino Siqueira, nos relataram suas experiências confirmando o
bom relacionamento, até mesmo de caráter pessoal, que possuíam com as principais autoridades
dos governos relacionados.

Educação Profissional: Seu Trajeto da Colônia à Primeira República


Milene Magalhães Pinto
milenemagalhaes@yahoo.com.br

Esta comunicação é parte de uma pesquisa sobre o Conceito de Ensino Profissional no


discurso do Congresso Legislativo Mineiro (1892-1930). Como nosso intento é falar da educação
profissional e das múltiplas transformações ocorridas na instrução pública e na formação da força
de trabalho, não poderíamos deixar de remontar nossa trajetória desde os tempos do Brasil colônia
em que com a chegada dos portugueses, a Companhia de Jesus da ordem religiosa dos jesuítas
desenvolveu o trabalho mais significativo de qualificação técnica de índios e negros para o trabalho
manual passando pelas casas de educandos artífices, liceus de artes e ofícios nos tempos do Império
ao Ensino Profissional de caráter reformador da República com vistas a acompanhar a
industrialização e suas implicações sócio-econômicas. Quando falamos em História da Educação
no Brasil, ainda que nosso objeto seja o ensino profissional em Minas Gerais, é imprescindível
remontar o percurso da educação nos tempos do Brasil colônia. Da chegada dos portugueses aos
aldeamentos e capacitação de índios e negros pelos jesuítas através do modelo pedagógico da
Companhia de Jesus e que tinha como objetivo a qualificação técnica e a ação civilizatória que
visava de educação do corpo e da alma dos nativos. É nesse cenário que emergem as primeiras
práticas de ensino e formação para o trabalho manual. Essas ações civilizadoras dos jesuítas se
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deram de forma mais sistemática no século XVI, através dos aldeamentos composto por colégios
colônias, sedes administrativas. A educação, antes delegada à Igreja, passa a ser responsabilidade
do Estado e no Brasil Império outro olhar é destinado à educação profissional, que embora ainda
fosse destina aos desafortunados da sorte e tida como trabalho típico da população negra e pobre,
passa a ter um contorno mais formador da mão de obra qualificada para combate à pobreza e
formação do cidadão útil à Nação. As primeiras reformas para com vistas a uma instrução pública
se deram ainda no Brasil Império, mas foi na República que ensejada pela cultura política
republicana que o ensino profissional passou a ser entendido como elemento para elevar a nação,
por vias do trabalhador tecnicamente qualificado, ao progresso.

A Culinária "Labatu" de São José do Triunfo, MG


Paulo Cesar da Costa Pinheiro
pinheiro@demec.ufmg.br

São José do Triunfo é um dos distritos do município de Viçosa MG, situado a cerca de 8
km do centro. Sua origem está na doação de uma área de 2,5 alqueires que Bento Lopes fez ao
Santo São José em meados do Século XIX. Com o fim da escravidão, os escravos libertos
procuravam um lugar para se estabelecer e ali chegando obtiam gratuitamente da igreja um lote e
levantavam um barraco. Aos poucos o patrimônio foi aos se transformando no povoado de São
José do Triunfo. A pobreza da população do patrimônio levou ao consumo de alguns alimentos
disponíveis no local e o desenvolvimento de uma culinária local, conhecimento oriundo dos
antepassados, que se perdeu com o desenvolvimento econômico. Este trabalho visa resgatar
receitas da culinária local que desapareceram com a melhoria econômica da população, e com a
introdução de novos alimentos. As receitas foram resgatadas através de entrevistas orais com
moradores locais mais idosos, que foram instigados a relembrar alimentos que eram consumidos
na comunidade na década de 50 e início anos 60 e que atualmente não são mais consumidos, bem
como suas receitas.

A Ciência na fala dos cientistas: o estudo de caso dos astrônomos do


Laboratório Nacional de Astrofísica
Tamires Nogueira da Silva
tamires.nogueira@yahoo.com.br

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Inserida no projeto "LNA: uma história em construção - A constituição da astrofísica no


Brasil" realizado no Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), esta pesquisa tem
financiamento do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) e tem como
objetivo uma reflexão sobre a construção do discurso científico, utilizando como fontes as
entrevistas de histórias de vida, baseada na metodologia de História Oral, dos astrônomos do
Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA).

O Laboratório Nacional de Astrofísica foi inaugurado em 1981, ainda com o nome de


Observatório Astrofísico Brasileiro, em Itajubá (MG). Seu principal instrumento é o maior
telescópio em território brasileiro, mas o LNA também é responsável pelo gerenciamento da
participação de astrônomos brasileiros em telescópios localizados em território estrangeiro,
construídos por meio de parcerias e projetos de cooperação internacional. O Projeto de Pesquisa
""LNA: uma história em construção"" foi concebido no âmbito de um convênio firmado entre o
LNA e o MAST com o principal objetivo de construir e apresentar a história da primeira instituição
ao público, sob o formato de um livro. Como uma instituição recente, a história do LNA é uma
história do tempo presente e, como tal, considerou-se essencial como parte do trabalho de
levantamento de fontes, a utilização da metodologia de História Oral, através da realização de
entrevistas de histórias de vida com diversos atores considerados fundamentais nesta história. Além
disto, o projeto demonstrou um grande potencial para o próprio enriquecimento arquivístico do
MAST, que com sua realização iniciou a constituição de um Programa de História Oral. Dentro
deste projeto, a pesquisa ""A Ciência na fala dos cientistas: o estudo de caso dos astrônomos do
Laboratório Nacional de Astronomia"" se situa como um subprojeto, com o objetivo de analisar e
refletir de que forma estes atores da história do LNA compreendem e percebem a ciência que
praticam, no caso, a Astronomia. Considerando o debate historiográfico em história das ciências,
esta pesquisa defende que, diferente do considerado pelo senso comum, a Ciência é um discurso
social e histórico e, portanto, sujeita a distorções e mistificações. Assim, há incontáveis discursos
sobre o que é Ciência. Para tanto, a História Oral se mostra uma importante ferramenta para o
resgate da memória e a compreensão da constituição da identidade profissional destes cientistas
através de suas falas.

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Práticas Populares de Cura: Memória, Tradição e Identidade Social no Vale


do Jequitinhonha
Joênio Carvalho dos Anjos
joenio16@hotmail.com

Keila Auxiliadora de Carvalho


keilaacarvalho@gmail.com

Ramon Feliphe Souza


ramon.feliphe@live.com

O presente trabalho, é resultado de uma pesquisa de Iniciação Científica que durou 2 anos.
Sendo que de modo geral, como resultado contíguo das discussões que fomentou, trouxera
contribuições que, em alguma medida, podem auxiliar na compreensão do Vale do Jequitinhonha
para além de uma ótica que dê ênfase em aspectos como a pobreza e atraso, aspectos pelos quais a
região vem sendo representada há décadas. Além disso, o projeto representa mais uma iniciativa
de entender o alcance de políticas de saúde pública para esta região, bem como a forma como as
mesmas interagem – ou não - com a população e seus respectivos valores culturais. Sendo assim,
os resultados, podem vir a ser base para outros estudos a cerca da região do Vale do Jequitinhonha,
trazendo a tona outras visões, características sobre essa região tão rica culturalmente.

Política e Rebelião no Sertão do Maranhão


Alan Kardec Gomes Pachêco Filho
alankardecpacheco@uol.com.br

O século XIX E XX no Maranhão foi extremamente "rico" em conflitos sociais. A Balaiada


(1838-1841), a Setembrada (1831), são os mais conhecidos. Entretanto no interior do Estado, mais
precisamente no município de Grajaú e em seu entorno se desenvolveu uma sangrenta batalha pelo
controle político da região. Este trabalho objetiva trazer a lume a Guerra do Léda (1889-1909), que
durou dez anos e sobre o qual a historiografia maranhense e brasileira passam ao largo.

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Comunicação Livre 2
(CL-2)

Allysson Fillipe Oliveira Lima


Comunicação Livre

Mestrando
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
lima.historia@gmail.com

Ludmila Machado Pereira de Oliveira Torres


Mestranda
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
ludmila.machadopereira@gmail.com

Comunicações:

A reconstrução do tempo: Uma perspectiva da literatura na história. Como a


literatura pode auxiliar a reconstrução de uma identidade nacional
Thiara Rodrigues da Silva
thiara.rodrigues@yahoo.com.br

Este trabalho tem o intuito de mostrar como a literatura tem uma função importante para
a formação de contextos históricos em uma sociedade e como o historiador pode utilizar a literatura
como fonte de pesquisa de uma dada época para tentar compreender o contexto da mesma afim
de, reconstruir o contexto em que os mesmos estavam inseridos. Este trabalho também visa
mostrar aos leitores desavisados como a literatura está lhe dizendo algo sobre uma dada realidade
e que nada em um texto, a não ser as marcas de cafés deixados respingarem sobre o livro, está por
lá por acaso. O texto literário não é apenas uma forma ou tentativa de distrair o leitor, nesse
trabalho pretendemos mostrar como a literatura e os registros literários nos trazem informações
valiosas para a reconstrução de um pensamento e comportamento de uma dada época. Assim o
texto ficcional mistura muitas vezes o real com o fictício. Dessa forma será mostrado neste trabalho
que a literatura de forma ampla não é produzida apenas como um ato de tentar distrair os leitores,

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mas sim uma forma de expressão genuína dos autores de mostrar como uma sociedade se constrói,
se afirma, se comporta ou se degrada no decorrer do tempo.

Neste ponto entra a importância da crítica historiográfica, em que o historiador,


pesquisador deve trabalhar o texto como um documento e que o mesmo deve trabalhá-lo com
cautela e minúcia para que o texto auxilie o historiador a enxergar e trabalhar os dados que o mesmo
necessita segundo seu recorte, mas se a cautela for deixada de lado a pesquisa pode ficar
corrompida, uma vez que a as interpretações possíveis de um texto pode levar o pesquisador
desatento ou inexperiente a “achar” possíveis dados que favoreça a pesquisa e não fatos que
realmente estavam atrelados aquele documento. E neste caso historiadores devem estar atentos
para os dados explícitos e implícitos, principalmente, que estão presentes nestes textos
documentos. Pode se assim dizer que, a literatura serve para o historiador, como uma farta fonte
historiográfica, na qual deve ser trabalhada à semiótica da mesma. Desta forma, não trabalharemos
a literatura como um simples ato de exercitar a leitura, vista por muitos como fonte de distração, e
sim a literatura será trabalhada como fonte de pesquisa para olhares mais atentos que buscam uma
pesquisa seria e bem direcionada.

António Dinis da Cruz e Silva: a história e intelectualidade presentes nas


edições de O Hissope
Andrezza Alves Velloso
andrezza.velloso@gmail.com

O Hissope, poema herói-cômico de António Dinis da Cruz e Silva, relata o decreto do


Bispo D. Lourenço de Lencastre que obrigava a todos os deões do cabido da Igreja d’Elvas a lhe
prestarem uma homenagem, em submissão ao seu alto cargo na Igreja Católica. Em 1768, o deão
José Carlos de Lara não via fundamentação religiosa para a existência do decreto e, com a intenção
de rompê-lo, procura a Igreja e a metropolitana de Évora. Entretanto, não teve sucesso na sua
reinvindicação e morreu tendo de obedecer aos caprichos do bispo. Aconteceu que o seu sucessor
ao cabido foi seu sobrinho que, ciente da injustiça que acometera seu tio, buscou recurso junto à
Coroa Portuguesa para a suspensão do decreto. Antecedendo a repreensão da Coroa Portuguesa,
D. Lourenço de Lencastre queimou todos os livros de registro que continham provas sobre o seu
decreto infundado e negou tudo diante à Coroa. O caso foi acompanhado por todos os habitantes
de Évora e sucedeu que, estando António Dinis da Cruz e Silva na cidade para tratar de assuntos
do exército português, o poeta transformou o caso em um poema constituído em 8 cantos que

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criticavam não só o ego do bispo, como a não interferência do estado português no caso e acusavam
a vaidade presente no corpo clérigo e estatal.

O poema foi publicado em 1802 sob a falsa tipografia londrina, mas com impressão
parisiense, e logo sofreu grande censura por parte do estado português. Entretanto, isso não
impediu a circulação do poema que, em 1808, foi publicado oficialmente pela França em território
português a fim de desmoralizar o estado e revelar para todo o continente como, apesar de a
Europa estar em um momento da busca da racionalização, Portugal ainda era um país submisso à
Igreja Católica. Com a saída dos franceses do território português em 1809, o poema foi novamente
proibido e teve a sua circulação mapeada, levando àqueles que fossem descobertos com o mesmo
a um exílio de 10 anos na África. Sua terceira edição foi publicada em Paris, no ano de 1817 e a
partir daí circulou toda a Europa, alcançando o Rio de Janeiro em um contexto de revoluções e
revoltas ao domínio português sobre as terras brasileiras. O presente trabalho pretende entender o
interesse e intenção política da França para com o poema e traçar as conexões existentes entre
Portugal, França e Inglaterra no contexto da Era Napoleônica.

História, Ficção e Jogos Virtuais: Potencializando a Aprendizagem dos


Conteúdos Históricos
Josimar de Mendonça
josimend1@gmail.com

É preciso apenas um rápido olhar pela história da humanidade para se perceber que ficção
e realidade sempre estiveram presentes na construção dos relatos históricos. Fato que em nada
obscureceu o aprendizado sobre as múltiplas facetas da história mundial, pelo contrário, só fez com
que seus estudiosos investigassem mais detidamente os fatos relatados. Hoje, com todo o
conhecimento adquirido ao longo dos séculos, a humanidade aprendeu a não se deixar
impressionar por relatos fantasiosos como ocorreu no medievo, ou pelo menos, a questioná-los.
Entretanto, nada impede que o ensino de história continue, como outrora, a utilizar a parceria
ficção e realidade como ferramenta para aprendizagem da história enquanto construção do
conhecimento do espaço tempo. Partindo do pressuposto de que o ensino de história pode se
beneficiar ao mesclar ficção e realidade como sugere Silva (2011), não se pode desconsiderar,
segundo Koselleck (2014), que há um hiato entre os fatos históricos e os relatos feitos sobre eles,
quando a história é registrada. Em outras palavras, é preciso considerar que esse distanciamento
entre a “essência” do fato histórico e os relatos que dele se constituem através de levantamentos,
pesquisas e transcrições, vem sendo potencializado ao logo dos anos – pela rapidez com que as
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informações passaram a circular – a ponto de se tornar um obstáculo à aprendizagem para os


estudantes que vivem em um mundo pós-moderno, fluido e interconectado presente no século
XXI. Diante disso, optamos por pesquisar as potencialidades dos jogos virtuais gratuitos, on-line e
acessíveis por dispositivos móveis enquanto artefato, teoricamente, capaz de promover a mediação
entre ficção e realidade, uma vez que ambas se encontram presente em vários jogos que elegeram
a temática de história como fio condutor de suas aventuras virtuais.

Diversões na Ouro Preto de 1870-1900


Caroline Bertarelli Bibbó
carolinebbibbo@gmail.com

Maria Cristina Rosa


m.crosa@hotmail.com

Ouro Preto se estabeleceu Capital mineira em 1721 e com o advento da República foi
substituída por Belo Horizonte em 1897. Para evitar a substituição, principalmente a partir de 1880
a cidade tentou se modernizar através de: alterações no traçado urbano, implementação da
iluminação elétrica e da ferrovia, reformas em fachadas de casas etc. Nessa época os divertimentos
eram tidos como referencial de civilidade e modernidade, sendo ferramentas de construção,
controle e correção de modos de vida e sociedade. Se em Ouro Preto houve tentativa de mudar
hábitos e comportamentos em busca do progresso, os divertimentos se incluíram nesse processo?
Para investigar isso será feita pesquisa documental em periódicos da época, Atas da Província,
Relatórios da Província e do Governo e obras escritas por memorialistas, nos acervos: Arquivo
Público Municipal de Ouro Preto; Arquivo Histórico Museu da Inconfidência - Casa do Pilar;
Arquivo Público Mineiro; entre outros. Para pesquisa bibliográfica: artigos, teses, dissertações etc.,
sobre os divertimentos no Brasil, especialmente em Minas Gerais e Ouro Preto, e ainda pesquisas
sobre Belo Horizonte nas primeiras décadas do século XX a fim de compreender possíveis
permanências, mudanças e dinâmica das formas de divertimento em Ouro Preto. Sobre isso, no
final do século XIX havia na cidade: bailes; palestras literárias; operetas musicais e teatrais; festas
variadas como festejos de aniversário de um sacerdote, homenagem à família imperial e o Carnaval.
Há também pistas como a planificação do Morro da Forca para construção de um jardim de recreio,
pavilhões e quiosques para receber restaurantes, cafés, bilhares, música, companhias líricas,
dramáticas e equestres, jogos e diversões públicas. Além disso, é possível pensar em clubs e esportes
como opções de diversão na cidade por indícios de clubes e times de futebol em Ouro Preto no
início do século XX, que podem ter sido fundados no final do século XIX; e o fato de Carlos
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Prates, residente de Ouro Preto até meados de 1890, poder ter transferido vivências da antiga
Capital para Belo Horizonte, onde fundou o Club de Sports Hygienicos, que oferecia atividades de
tênis, croquet, futebol, entre outras. Portanto, esse estudo pretende estudar os divertimentos em
Ouro Preto de 1870 a 1900, verificar se houve relação entre divertimentos e processo de
modernização da cidade e descobrir qual a relação entre os divertimentos e as formas de
sociabilidade em Ouro Preto.

Uma história ritmada: Sociedade Musical de Beneficência e Cultura 22 de


Maio – Ubá / MG
Thamyres Alves Rodrigues
thamyresalvesr@hotmail.com

Nossa pesquisa parte da investigação da história das bandas civis localizadas em Minas
Gerais, mais especificamente na cidade de Ubá, no período compreendido entre o século XIX e
primeira metade do século XX, levando em consideração o fato de o Estado possuir o maior
número de bandas do pais. Ao destacarmos como objeto específico de estudo a Sociedade Musical
de Beneficência e Cultura 22 de Maio, fundada na cidade de Ubá, Zona da Mata Mineira em 1898,
por João Ernesto e um grupo de imigrantes italianos, intentamos entender os sistemas de
representação e apropriação cultural de que o grupo se fez portador. A partir dos estudos das
praticas dessa banda, damos ênfase a algumas questões sobre a imigração italiana que ocorreu no
pais. Partimos da constatação da relevância alcançada por estas, já que foram um dos principais
meios de entretenimento das cidades interioranas no período. Através da história de formação
dessas instituições musicais, percebemos o grande hibridismo cultural ocorrido nesse campo,
contando com a influência de várias culturas dentro de um mesmo espaço. Os estudos referentes
às bandas musicais civis do século XIX e primeira metade do século XX representam um
importante passo para a compreensão da história cultural e social atrelada às práticas musicais no
Brasil, e em particular de Minas Gerais. As bandas de música estão inseridas em um mundo de
pluralidade culturais e de configurações sociais repleto de diálogos.

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Deuses, devotos e historiadores: algumas considerações sobre religião e


religiosidade na Antiga Mesopotâmia
Simone Aparecida Dupla
cathain_celta@hotmail.com

Religião e religiosidades são temas sempre em debate em muitas disciplinas, entre elas a
História, que busca formas de compreender e interpretar a atuação dos sujeitos históricos em suas
múltiplas vivências. Este trabalho apresenta algumas considerações acerca dos aspectos religiosos
na Antiga Mesopotâmia, principalmente no que diz respeito ao culto aos deuses e as deusas, cuja
interpretação acadêmica vem ganhando novos contornos, haja vista a mudança de olhar
protagonizada pela Nova História Cultural. Entendemos que as interpretações em relação ao divino
nessa região somam obras de historiadores diversos, cujos lugares ocupados na academia
denunciam a corrente a que estão atrelados, portanto essas reconstruções históricas refletem o lugar
que os historiadores ocupam nos conflitos de seu tempo, dai a apresentarmos um panorama das
produções acadêmicas ao longo das descobertas arqueológicas nessa região. Acreditamos que nas
sociedades que se estabeleceram entre os rios Tigres e Eufrates divindades masculinas e femininas
tiveram papel central na construção do imaginário social, onde normas de conduta eram espelhadas
em suas aventuras e desventuras. As sagas das divindades foram perpetuadas nas narrativas
mitológicas e estas eram adaptadas aos contextos e momentos ímpares da história da comunidade.
Assim, a gesta das deusas e dos deuses também narravam à história de seus fiéis e dos segmentos
sociais envolvidos.

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Comunicação Livre 3
(CL-3)

Júlia Melo Azevedo Cruz


Mestranda
Comunicação Livre

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)


juliameloac@gmail.com

Nathália Tomagnini Carvalho


Mestranda
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
nathaliatomagnini@gmail.com

Comunicações:

História cultural do mundo flutuante: os discursos da arte de Edo


Diego Almeida de Sousa
diegoalmeidadesousa@hotmail.com

O presente trabalho tem como objeto de pesquisa a cultura do Japão no período Edo (1603-
1868) e seus diversos desdobramentos, com maior enfoque sobre os chamados chônin sujeitos da
cidade, e seus caminhos e descaminhos. Estes sujeitos são múltiplos, suas representações
abundantes e multi discursivas, sua cultura dinâmica, e em pleno florescer. Que eclode, se articula
e enraíza. Ampliando-se em movimentos de exibição e ocultação. O processo de análise
empreendido, busca estabelecer uma leitura histórico-cultural, que dialogue com distintos campos.
Levando em conta seus aspectos sociais, cultura política, desenvolvimento, relações sociais, cultura
comercial, educação, arte, dentre outros. Tendo por vista as multiplicidades, os discursos e redes
existentes em tal sociedade. Ou seja, trabalhando com perspectivas e olhares analíticos e críticos.
O objetivo desta pesquisa é produzir uma discussão sobre o Japão no período Edo e seus costumes
e cotidiano, por meio de suas práticas e representações. Buscando as mesmas como fontes
históricas para entender a sociedade e a cultura, bem como seu contexto histórico. Possibilitando
um dialogo entre campos do conhecimento e escolas teóricas, tornando importante tal pesquisa
para iniciar um processo de reinterpretação e revisão de alguns paradigmas, assim como uma
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renovação metodológica. Quanto à metodologia empregada podemos destacar o papel do uso da


nova história cultural, como mote principal de sustentação deste trabalho. Tendo pleno
conhecimento sobre o caráter plural e a multiplicidade de enfoques, que a mesma permite discorrer.
Que para além das críticas as vertentes ou diversas leituras que a mesma oferece, tomamos de cada
enfoque aquilo que permite articular um discurso entre suas similitudes e produzir uma narrativa
histórica apoiada em plausibilidades. Sendo assim fazemos no presente trabalho, uso de uma
metodologia que busca formular uma leitura do fenômeno cultural no contexto de Edo, por meio
do oficio com as fontes do mundo flutuante, percebendo seus símbolos e signos, gestos rituais,
vocabulários dentre outros aspectos e características. Que permitem estabelecer uma relação entre
os mecanismos e as articulações do imaginário deste contexto histórico.

A fotografia e suas faces: uma análise critica à fonte


Thiago Henrique Costa Miranda
thiagohcm1993@hotmail.com

A fotografia, ao longo do tempo, passou a ser reconhecida como um documento rico em


informações e que coloca o espectador de frente com um momento, um personagem e/ou uma
época. Este trabalho tem o objetivo de apresentar a fotografia como fonte histórica e analisar seus
desdobramentos e registros, as tecnologias aplicadas e a trajetória da imagem no tempo e no espaço.
Além disso, a análise será pautada na forma que estes documentos podem ser manipulados, nas
intenções do fotógrafo e do fotografado e no ofício do historiador em saber lidar com uma fonte
que necessita de metodologias específicas e senso crítico. O estudo será guiado, a partir do acervo
fotográfico do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte (APCBH) e pretende levantar no
pesquisador, que trabalha com fotografias, questões pertinentes ao tema.

Fotografia e preconceito: juventude institucionalizada


Raul Japiassu Câmara
rauljapiassu@superig.com.br

Tendo como fonte uma matéria jornalística em uma unidade de triagem do SAM (Serviço
de Assistência ao Menor), acompanhada de quatorze fotografias, publicada na Revista da Semana
de fevereiro de 1947, adjetivando os jovens institucionalizados como: “cretino, idiota e imbecil”,
animal (“homem-macaco”), descrevendo sentimentos que os depreciam (“garotada tristonha”) e a
dificuldade de se estabelecer uma “ordem” naquele espaço. Onde na mesma edição há outra

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reportagem relatando que uma médica, natural dos EUA, sofreu preconceito racial, impedida de
hospedar-se em um famoso hotel no Rio de Janeiro. Atitude bastante criticada pela revista. Verifica-
se que para os jovens institucionalizados é permitido o tratamento descrito acima, pois são
visualizados como “anormais”, num ambiente de “barbárie” e “desordem”. Para a médica
americana, portadora de “civilização”, o editorial do mesmo periódico denuncia o preconceito
sofrido pela mesma. Assistimos, numa mesma edição, duas realidades justapostas, em uma década
onde a cidadania é alcançada pelo trabalho logo indivíduos descritos como incapazes de serem
visualizados como humanos em uma sociedade “civilizada” pela lógica da "produtividade
trabalhista"

O Lusotropicalismo Freyreano – Entre o Estado Novo de Salazar e a


Intelectualidade Africana
Julia Neves Toledo
julianevestoledo@gmail.com

O presente artigo tem por objetivos analisar o lustropicalismo, teoria idealizada por
Gilberto Freyre e instrumentalizada pelo Estado Novo de Salazar, e compreender a resposta
fornecida por Baltazar Lopes, ensaista caboverdiano, à pretensa comunidade lusófona, formada
supostamente como resultado de um processo de hibridismo cultural, fator de integração das
colônias portuguesas. O lusotropicalismo possui suas bases em Casa Grande e Senzala (1933) mas
foi estruturada e difundida posteriormente, a partir da década de 1950, orientando os estudos de
Freyre na tentativa de aprimorá-la e executá-la, inclusive enquanto área de conhecimento e teoria
sociológica. No pós segunda Guerra Mundial a discussão do lusotropicalismo ganha destaque, pois
as colônias portuguesas corriam o risco de sucumbir frente a redefinição da geografia política
internacional e das pressões liberalizantes dos autonomismos nacionalistas. O grande desafio do
Estado Novo, tornou-se a busca por mecanismos que o auxiliassem na defesa de uma grande nação
portuguesa face a sua prática colonialista anacrônica e imperialista. A teoria freyriana, formulada
em prol da defesa de um espaço lusófono integrado, corrobora com a ideologia colonial de Salazar,
utilizando a tese lusotropical de Freyre como aparato científico e legitimador da manutenção dos
seus territórios no além-mar. A teoria lusotropical de Gilberto Freyre não obtém entre a
intelectualidade africana o mesmo respaldo que encontrou em Salazar. Baseado no modernismo
brasileiro e, sobretudo, em Casa Grande e Senzala do próprio Freyre, Baltazar Lopes, funda a
revista claridade, movimento literário responsável por fomentar a autonomia da ilha frente ao
colonialismo português. Após a publicação de Casa Grande e Senzala, Freyre adquire caráter
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messiânico entre os caboverdianos, pois a realidade do nordeste açucareiro brasileiro em muito se


assemelhava as condições precárias pelas quais a Ilha passava durante a colonização portuguesa,
conferindo ao Brasil o lugar de vanguarda e modelo do processo de independência. Porém, ao
visitar a Ilha, Gilberto Freyre se decepciona por encontrar um tipo particular de colonização onde
os portugueses não haviam penetrado como supostamente deveriam, e desilude a intelectualidade
africana, pois não corresponde as expectativas dos caboverdianos e seus sentimentos de
independência frente a particularidade de seu processo de colonização, marcado por abandono e
resistência.

O Negro e a Ordem Jurídica no Brasil


Samuel Sousa Silva
soumuel@yahoo.com.br

O presente trabalho tem como objetivo discutir como os textos constitucionais do Brasil
de 1934 e 1937, os demais dispositivos legais derivados e textos da imprensa oficial do período
chamado Era Vargas (1930-1945) trataram a questão do negro como sujeito destinatário, ou não,
de direito à cidadania plena do Brasil

O uso sociológico do pensamento darwiniano no Brasil: laboratório racial


Diogo Valmor Pereira
diogovalmorp@gmail.com

A questão das relações sociais racializadas, não é um debate atual no Brasil e tão pouco tem
se mostrado um debate datado. O tema das cotas raciais está aí para provar e potencializar a
manutenção desse debate em dias atuais e nos faz querer entender um Brasil onde o quesito “raça”,
ainda, seja um assunto caro para a nossa sociedade. Podemos refletir sobre um Brasil que adota
políticas públicas afirmativas e fazer conjecturas sobre o impacto dessas políticas futuramente. Mas
a resposta para o porquê de ainda debatemos a definição de “raça” nos dias atuais está no passado.
Afinal como bem lembrado por Schwarcz (1994): “o problema racial é a linguagem pela qual se
torna possível apreender as particularidades observadas”.

As particularidades observadas pela pesquisa apresentada são a recepção das teorias


darwinianas e os desdobramentos que esta teve no Brasil em finais do século XIX e começo do
XX. Para tal, pretendemos estudar e reconstruir o contexto histórico nas quais as teorias derivadas
do pensamento darwiniano encontraram no Brasil e quais os desdobramentos e usos sociológicos
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de teorias como: o darwinismo social, eugenia, evolucionismo e seus apêndices tiveram sobre os
intelectuais brasileiros. A questão racial tem se mostrado fundamentais para a elaboração e
entendimento do Pensamento Social Brasileiro. Estariam nas doutrinas raciais do século XIX
respostas para as definições, conceitos ou categorias de “raça”, que por sua vez podem nos
responder sobre outras questões relacionadas à cidadania, identidades e cultura? Quais teorias
explicativas em relação à recepção da teoria darwiniana podem ser encontradas? E por onde
começar? Nesse projeto de pesquisa optamos em começar por autores contemporâneos que já
formularam e indagaram sobre essas mesmas perguntas. Temos procurado nas obras desses autores
detalhes aparentemente marginais, mas que explicam o porquê de as teorias evolucionistas,
deterministas e eugenistas terem sido associadas ao Pensamento Social gerando uma interpretação
racial sobre formação da nação brasileira.

Um empreendimento missionário beneditino na República brasileira: a


missão Rio Branco (1909-1918)
Paulo Henrique Silva Pacheco
pacheco.p.h.s@gmail.com

Em 1909, o monge europeu Gerardo van Caloen saiu do Mosteiro de São Bento do Rio de
Janeiro, acompanhado de cinco monges, em direção ao vale do rio Branco – região pertencente ao
então Estado do Amazonas, atualmente, Roraima – para dar início a uma ação missionária. Nesse
período, o ideal republicano preocupava-se com a possibilidade de acesso à cidadania e à inclusão
dos habitantes do Norte no Estado brasileiro. A ideologia laicista do governo provisório
reconheceu que a solução para tal questão estaria no adiantamento cultura e social, sendo adquirido
apenas por meio da educação. Para tal, a personalidade social e jurídica das ordens religiosas se
apresentou como uma vantagem para os ideais de progresso e desenvolvimento do país, além de
garantir a integridade do território nacional. Assim, a função das missões religiosas não era apenas
o de salvar as almas pagãs. O propósito era de alfabetizar os indígenas, submetendo-os a uma
instrução religiosa cristã, oferecer sacramentos, ensinar um ofício à população local (geralmente
relacionado às atividades agrícolas) e, com a ajuda do poder público, realizar atividades assistenciais
e sanitárias. Sob esse prisma, a partir do domínio da História Política, este trabalho analisa o
processo pelo qual a missão foi instituída, bem como examinar a sua relação com a estrutura política
do país, durante a administração de D. Gerardo (1909-1918), a partir das produções discursivas
que instituíram as práticas do empreendimento missionário na sociedade civil e indígena, atentando
para os seus impactos na organização monástica.
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Comunicação Livre 4
(CL-4)

Rafael Vinicius da Fonseca Pereira


Comunicação Livre

Mestrando
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Rafaelfonseca85@hotmail.com

Marcos Vinícius Gontijo Alves


Graduado
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
agourovirtual@gmail.com

Comunicações:

A “Responsabilidade coletiva” sobre o regime civil-militar brasileiro


Gabrielle Melo da Silva
gabrielle_ms7@hotmail.com

O trabalho tem como intuito reafirmar o caráter civil- militar da ditadura brasileira no
período compreendido entre 1964 e 1985, assim como da necessidade de se construir uma memória
coletiva que não abandone o caráter opressor e violento do regime. Para isto, resgato as teses da
pensadora e filosofa Hannah Arendt a respeito da "Responsabilidade coletiva", na ânsia de
compreender a participação civil no regime e na construção de uma memória, mesmo que a atuação
seja nula ou de apatia perante o período ditatorial. O trabalho se vale de uma análise comparativa
entre a ideia de ""História incruenta"" do professor e autor Carlos Fico, e as teses de Arendt,
reafirmando a responsabilidade que toda a comunidade possuí perante o regime. Seria possível
compreender e aplicar a “responsabilidade coletiva” à ditadura brasileira? E de que forma este
entendimento nos auxilia na construção de uma memória coletiva? Nesta comunicação, assim
como no trabalho ao qual aqui resumo, as concepções de Arendt a respeito do totalitarismo nos
leva a refletir a participação civil no regime ditatorial brasileiro. As afirmações da autora nos permite
tratar da responsabilidade da oposição, dos apoiadores e até mesmo daqueles que se consideram a

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parte das ações do regime. Daqueles que reproduzem discursos e informações midiáticas, criando
uma memória favorável ou branda da ditadura.

A história incruenta proposta por Carlos Fico sugere a produção de uma memória sem
esforço, distante de debates políticos. O intuito é rediscutir a criação dessa história, destacando a
responsabilidade social e individual sobre a criação da mesma. Diferenciar culpa e responsabilidade
de forma a identificar como a ação ou a apatia corroboram com a instauração e manutenção do
regime ditatorial brasileiro. Como a violência, a tortura e a censura vivenciadas neste período se
tornam responsabilidade da comunidade ao qual o regime está inserido. Pensar em uma
responsabilidade coletiva sobre ações políticas, é destacar o protagonismo de cada indivíduo sobre
a comunidade pertencente, sobre regimes passados, mas sobre tudo sobre a política atual.

O que é isso companheiro? - A memória conflitante da ditadura militar, o


movimento revolucionário
Carolina Silva Horta Machado
lina.shm@hotmail.com

Os anos 1960 são marcados por diversas transformações, sendo o palco de Revoluções de
libertação nacional, da Revolução Cubana, da guerra anti-imperialista desenvolvida no Vietnã e do
auge do movimento de Contracultura, que propunha novas formas de ver o mundo, contestando
e questionando a cultura ocidental, entre outras. Nesse período o Brasil vivenciava uma Ditadura
Militar, que através de Atos Institucionais mantinha sua aparência de legalidade e permitiam plenos
poderes aos chefes políticos. Diante desse contexto, as esquerdas brasileiras se mobilizam na
resistência contra a Ditadura Militar, se organizando em diferentes grupos e ações.

Dentre as ações de resistência, o presente trabalho analisa o sequestro do embaixador


americano Charles Burke Elbrick em 1969, planejado e executado pelo Movimento Revolucionário
8 de Outubro - MR-8, através do filme ‘’O que é isso companheiro? – 1997’’, dirigido por Bruno
Barreto e baseado no livro homônimo de Fernando Gabeira. Assim, pretende-se identificar as
apropriações da memória do movimento revolucionário a partir do filme, que é compreendido
como um produto cujas significações não são somente cinematográficas e sim integradas com o
mundo que o rodeia e com o qual se comunica. Todo filme é, portanto, também história, sendo
um importante instrumento de legitimação da memória que registra. Segundo a autora Elizabeh
Jelin o sentido do passado é mutável e se faz a partir das intencionalidades e expectativas do
presente e futuro da sociedade. Essa transformação de sentidos do passado é resultado de lutas

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políticas de diferentes atores sociais, que buscam de diversas formas legitimar sua versão do
passado, sua memória. Dessa forma o filme ‘’O que é isso companheiro?’’, foi percebido, a partir
de suas escolhas cinematográficas, como uma rememoração conciliatória do passado com o
presente brasileiro, gerando críticas e enriquecendo as lutas pela memória coletiva.

Contendas Udenistas: A Conferência de Caracas e o Impeachment (1954)


Ramonn Rodrigues Magri
ramonnrm@gmail.com

As relações entre os quadros da UDN, ao contrário do que pareçam, eram marcadas, como
as de qualquer partido, por frequentes atritos e tensões. Este trabalho analisa dois desses episódios,
que envolveram o deputado Afonso Arinos quando líder da agremiação na Câmara. Primeiro, um
setor agressivo, ainda que marginal na esfera partidária, o insulta sem qualquer pudor por aceitar
um convite do governo. Na sequência, os lacerdistas condenam quem não adere a uma iniciativa
apresentada pelo próprio Arinos, mas claramente inviável, ao mesmo tempo em que setores
moderados o repreendiam. Assim, poucos dias antes de alguns dos momentos mais turbulentos da
História do país, a oposição estava desarticulada. Embora tivessem um adversário comum, a
efervescência da conjuntura política da época minava, entre os udenistas, as possibilidades de
coesão.

A Persona e Suas Identidades: memórias coletivas de JK em Diamantina e


Brasília
Carlos Santos de Melo
carlossantosdemello@outlook.com

O presente trabalho é resultado de uma pesquisa de iniciação científica realizada na


Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri- UFVJM, ela tem como objetivo
analisar e fazer reflexões sobre a construção da memória coletiva do ex-Presidente da República
Juscelino Kubitschek de Oliveira na cidade de Diamantina, Minas Gerais. O projeto foi realizado
em fases, sendo que a primeira foi a análise da entrevista do ex-presidente concedida a pesquisadora
Maria Victoria Benevides em 1974 e também de sua autobiografia disponibilizada no livro "" Meu
Caminho para Brasília"", publicada em três volumes, respectivamente nos anos 1974, 1976 e 1978,
que juntos somam mais de mil páginas. A segunda fase, que é atual no projeto, a qual será
apresentada no evento consiste na compreensão da influência que os locais de memória destinados

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a persona de JK têm para a construção de sua identidade no imaginário popular. Para a realização
desta busca foram realizadas tanto entrevistas com moradores da cidade de Diamantina,
trabalhando assim com a metodologia da história oral, como também foram analisadas fontes
impressas sobre o ex-presidente.

Expansão urbana e exclusão social: um estudo sobre o processo de


especulação imobiliária no Lago da Perucaba na cidade de Arapiraca-AL
Rodolfo Jose Oliveira Lima
rjoliveira.lima@yahoo.com.br

Marks Werneck da Silva


markswerneck@gmail.com

Este trabalho tem por objetivo analisar o histórico da dinâmica sócio-espacial da cidade de
Arapiraca, Agreste de Alagoas, a aproximadamente 130km da capital, Maceió. Arapiraca é uma das
cidades que mais cresce no Estado, onde nota-se que o avanço da "modernização" tem modificado
claramente suas feições, se tornando o segundo maior município e o principal centro comercial da
região. Contudo, tal caráter traz à tona uma realidade partilhada por diversos outros centros
urbanos, a exclusão social. É sob a justificativa do desenvolvimento que se legitimam os discursos
de poder das elites para seus projetos que excluem as camadas populares do acesso à cidade em
benefício dos grupos ligados ao comércio de grande e médio porte e a especulação imobiliária;
sendo os moradores de áreas que passaram por um processo de valorização vítimas dessa política.
Destarte, vamos encontrar diversos casos de expulsão e transferências de famílias de áreas centrais
para a periferia da cidade, dando lugar a empreendimentos imobiliários e, também o aumento do
perímetro urbano da cidade engolindo comunidades rurais para possibilitar nesses locais a
construção de loteamentos pelo programa do Governo Federal "Minha Casa Minha Vida". Diante
dessa amplitude de possibilidades de estudo, este artigo irá focar na área que recentemente vem
sendo o principal ponto de especulação imobiliária da cidade, as imediações do açude do DNOCS,
atual Lago da Perucaba. Nessa área, famílias de pescadores estão sendo ameaçadas de expulsão de
seu local de moradia e sustento para dar lugar a um condomínio de luxo que faz parte do
empreendimento "Perucaba Bairro Planejado". Pretende-se expor como se deu o processo de
aquisição das terras nas imediações do açude, enquanto ainda considerado periferia da cidade e a
posterior revitalização do espaço, valorizando os terrenos. Acredita-se que mostrar historicamente
como foi/está sendo construído esse processo de gentrificação é fundamental para entender a

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realidade da cidade, trazendo o debate tanto para os meios acadêmicos como políticos; uma tarefa
fundamental para fomentar alternativas a essas camadas da população. Para tanto, desenvolver-se-
á uma análise materialista sob a luz dos teóricos clássicos e contemporâneos do marxismo,
utilizando como fontes: jornais, narrativas orais e documentação oficial. Pela própria natureza do
tema, torna-se também indispensável uma aproximação com a Geografia Crítica, afinal, as relações
sociais acontecem no "espaço".

Uma análise sobre a atuação do Delgado de Polícia Federal dentro do


Departamento de Polícia Federal
Pollyanna Rodrigues Alves Chaves
pollyannahistoria@gmail.com

Pensando na importância do Departamento de Polícia Federal nos dias atuais, sobretudo


após inúmeras operações realizadas, este órgão criado durante a ditadura militar brasileira continua
até hoje sem mudanças estruturais efetivas, pelo contrário observamos, que algumas legislações
vigentes na instituição são daquele período autoritário. As poucas mudanças ocorreram durante o
período de transição democrática, com a reorganização da questão de segurança pública, onde os
militares tiveram grande influência sobre as decisões tomadas. As mudanças beneficiaram os
delegados em detrimento aos Escrivães, Papiloscopistas e Agentes (EPAs) e são pautadas, pela
hierarquia militar, ainda presente dentro dessa instituição. O objetivo da pesquisa é mostrar como
os Delegados adaptaram-se às mudanças ocorridas dentro do Departamento de Polícia Federal e
na esfera política brasileira. Para tanto, utilizaremos análises das publicações feitas pelos sindicatos
dos delegados, bem como jornais.

Reflexos de um “milagre”: Uma análise da crise econômica, social e política


na década de 80 no Brasil
Leonardo Augusto dos Santos
leoaugusto16@hotmail.com

A comunicação analisa os aspectos políticos, econômicos e sociais durante a década de 80


no Brasil. Considerada por alguns estudiosos coma a década perdida, os anos 80 fora marcante
para a história do Brasil. Vivendo sobre a égide militar e por decisões fracassadas por parte de
alguns políticos, o povo brasileiro se viu diante de uma crise inflacionária, do arrocho salarial, do
aumento das taxas de desemprego e desigualdades sociais. Na tentativa de recolocar o Brasil na
linha da democracia, começam a surgir diversos movimentos que de alguma forma ajudaram o país
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a caminhar para a abertura política. A década de 80 no Brasil fora marcada por intensas
transformações e tentativas de reestruturar o país que vinha passando por uma lenta, gradual e
segura distensão política. Porém, os setores econômico e social não estavam caminhando na mesma
direção em que se caminhava o processo da redemocratização. Para muitos pesquisadores e
economistas, a década de 80 foi considerada como a década perdida no âmbito de
desenvolvimento. O país rico, considerado a potência do futuro entra na década de 80 afundado
em uma profunda crise econômica, social e política, reflexo de uma má gestão. Se por um lado
temos um vertiginoso crescimento econômico nos anos 60 e 70, por outro na década de 80 temos
uma estagnação econômica. Na década marcada pela enorme concentração de renda, pelo aumento
da dívida externa, juros altos, desemprego e arrocho salarial, o governo ainda teria que enfrentar o
fantasma da inflação e a insatisfação da população que vinha sofrendo com a crise econômica,
social e política. Portanto, a década de 80, foi o reflexo de todas as decisões tomadas nas décadas
anteriores, principalmente na década de 70 onde através do “milagre do econômico” que trouxe
alguns benefícios ao Brasil, mesmo que instantâneos, porém, deixou um rastro de desigualdade que
até hoje não foi superado. A década de 80 foi marcada por intensas ações de cunho político. Por
mais que esses movimentos, tanto as greves dos trabalhadores como a campanha pelas “diretas já”
não tenham conseguido alcançar seus objetivos, é inegável a sua importância para a contribuição
no processo de reabertura política do Brasil.

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