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14/11/2018 O critério da taxa média de mercado como forma de preencher lacuna contratual e abusividade nos juros

jusbrasil.com.br
14 de Novembro de 2018

O critério da taxa média de mercado como forma de preencher


lacuna contratual e abusividade nos juros

Não raro, por malícia ou desleixo, o contrato é redigido sem prever a taxa
percentual de juros. Surgem daí três hipóteses principais:

a) Não aplicar os juros na operação, ante o vácuo contratual, a fim de evitar


o arbítrio na sua fixação pelo credor;

b) Aplicar aos contratos que preveem a incidência juros, mas que a taxa
percentual não esteja estipulada, a previsão de 6% a.a. (seis por cento ao
ano), hipótese no Art. 1º, § 3º da Lei da Usura [1];
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14/11/2018
c) Aplicar a Otaxa
critério da taxa média de mercado como forma de preencher lacuna contratual e abusividade nos juros
média do mercado veiculada pelo Banco Central do Brasil
(BACEN).

O primeiro caso não é aceito pela jurisprudência. Já o segundo se aplica a


particulares ou empresas que não sejam instituições financeiras.

Na terceira hipótese, muito em consequência de os tribunais virem se


negando a aplicar as cláusulas limitadores do Lei da Usura às instituições
financeiras, é rechaçado dirigismo contratual estatal nos pactos bancários.
Assim, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) aplicou a taxa média do
mercado como um padrão a ser seguido, pois considerou que o fim
econômico dos contratos bancários é justamente a remuneração por juros.
Assim, entendeu mais adequado a solução que "seria a de estipular a taxa
de juros a ser cobrada, segundo a intenção das partes para ajustar a
disposição nula, nos termos do art. 170 do CC/02." (STJ. REsp
1112880/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO,
julgado em 12/05/2010, DJe 19/05/2010)

Este entendimento se consolidou e culminou na Súmula 530 do STJ, que


estatui:

"Nos contratos bancários, na impossibilidade de comprovar a taxa de


juros efetivamente contratada – por ausência de pactuação ou pela
falta de juntada do instrumento aos autos –, aplica-se a taxa média de
mercado, divulgada pelo Bacen, praticada nas operações da mesma
espécie, salvo se a taxa cobrada for mais vantajosa para o devedor".

A “metodologia” da análise dos juros praticados pelo mercado também


serve limitar os juros desarrazoados. O critério da abusividade dos juros
superiores a 12%a.a. (doze por cento ao ano), que já vinha cambaleante,
ruiu de vez com a edição da Emenda Constitucional nº 40 de 2003, a
Súmula Vinculante nº 7 do STF[2] e com a Súmula nº 382 do STJ [3].

Contudo, não bastasse as taxas médias de juros brasileiras serem


assustadoramente altas, foi defino pelo STJ que “a circunstância de a taxa
de juros remuneratórios praticada pela instituição financeira exceder a
taxa média do mercado não induz, por si só, à conclusão de cobrança
abusiva, consistindo a referida taxa em um referencial a ser considerado,
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e não em um limite que deva ser necessariamente observado pelas
instituições financeiras.” (STJ. AgInt no AREsp 1223409/SP, Rel. Ministro
LÁZARO GUIMARÃES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 5ª
REGIÃO), QUARTA TURMA, julgado em 17/05/2018, DJe 25/05/2018).

Contrário a tal jurisprudência, o professor Elpídio Donizetti[4] é enfático:

Uma vez que a taxa será média, e não máxima, poder-se-ia pensar que
o resultado dessa definitiva orientação jurisprudencial, que, de acordo
com o sistema normativo em vigor, está muito acima da própria lei,
não seria de todo desastroso para o pobre consumidor brasileiro, que,
para pagar o carro mais caro do mundo, a fatura da telefonia mais
cara do mundo e tantos outros produtos (incluindo os medicamentos) e
serviços mais caros do mundo, lança mão de créditos à taxa de juros
mais elevadas do mundo – isso é que é mania de grandeza.

Ocorre que essa taxa média é aferida não por parâmetros fixados por
autoridades equidistantes dos interesses em conflito. Pasmem os
senhores – aliás, no Brasil, escândalo algum é capaz de causar pasmos,
muito menos as escandalosas taxas de juros –, a taxa média é apurada
pelo Banco Central, mas a partir das taxas cobradas pelas próprias
instituições de crédito. Isso é o mesmo que colocar raposas para tomar
conta do galinheiro e depois mandar o leão verificar quantas galinhas
cada uma comeu.

O fato é que, pela aplicação desse eufemismo, denominado "taxa média


de mercado", é comum ao julgador constatar e ter que engolir contratos
cujos juros chegam à casa de 12 ao mês (o que, capitalizados
mensalmente, representam 289,60% ao ano), e não 12% ao ano, como
estabelecem a Constituição Federal e o nosso relegado CC. O
arquitetado embuste serve ao menos para aliviar a consciência do juiz.
Não julgamos mais se os juros são ou não extorsivos e se a operação
caracteriza agiotagem institucionalizada, mas sim se está de acordo
com a "taxa média".

Apesar de duramente criticado, o critério subsiste e as decisões


monocráticas e acórdãos dos ministros parecem considerar como abusiva
uma taxa de juros uma vez e meia ou duas vezes maior que a média do
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14/11/2018 O critério da taxa média de mercado como forma de preencher lacuna contratual e abusividade nos juros
mercado. Considerando mais de duas vezes como abusiva: (STJ. AREsp
1332223 - RS, MARIA ISABEL GALLOTTI, 06/09/2018) e (STJ. AgInt no
AREsp 657.807/RS, Rel. Ministro LÁZARO GUIMARÃES
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 5ª REGIÃO), QUARTA
TURMA, julgado em 21/06/2018, DJe 29/06/2018). Considerando abusiva
mais de uma vez e meia: (STJ. REsp 1477697/ SC. Ministro MARCO
AURÉLIO BELLIZZE, 11/06/2015).

Desse modo, como última forma de remediar este mal, cabe ao aplicador do
Direito saber pesquisar a taxa média de mercado do mês da
contratação utilizando se das tabelas de estatísticas monetárias e de
crédito do BACEN (extraídas do endereço virtual:
<http://www.bcb.gov.br/htms/infecon/notas.asp?idioma=p>). Veja-se o
exemplo de um financiamento para aquisição de veículos:

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14/11/2018
Pelos dadosOacima
critério da taxa média de mercado como forma de preencher lacuna contratual e abusividade nos juros
expostos, se uma pequena empresa celebra com um
banco, em janeiro de 2018, uma alienação fiduciária de seu carro a um juro
superior a 23,5% a.a. (vinte e três vírgula cinco por cento ao ano) ou 33,8%
a.a. (trinta e três vírgula oito por cento ao ano), terá, segundo a tendência
da jurisprudência do STJ, uma maior chance de lograr uma diminuição da
taxa cobrada para o padrão de mercado –, 16,9% a.a. (dezesseis vírgula
nove por cento ao ano).

Entretanto, nem sempre o negócio jurídico celebrado possui uma previsão


específica nos relatórios do Banco Central. Assim, deve-se utilizar, por
equidade, a referência de uma operação assemelhada, este é inclusive, a
jurisprudência do STJ:"É certo, ainda, que o cálculo da taxa média não é
completo, na medida em que não abrange todas as modalidades de
concessão de crédito, mas, sem dúvida, presta-se como parâmetro de
tendência das taxas de juros. Dessa forma, nas hipóteses em que não
houver a divulgação pelo Bacen da taxa média relativa a um contrato
específico, nada impede o juiz de acolher, com base em regras de
experiência, a média adotada pelo mercado em contratos similares". (STJ.
REsp 1112879/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO,
julgado em 12/05/2010, DJe 19/05/2010).

Conforme tabela acima, se não viesse descrita no relatório BACEN a


operação de arrendamento mercantil de veículos (12,9% a.a.), poder-se-ia
utilizar o percentual do arrendamento mercantil para aquisição de outros
bens (15,1% a.a.) e, no caso de invalidada esta segunda opção, a taxa de
financiamento de aquisição normal (16,9% a.a.). É necessário, desse modo,
fazer um exercício racional de similaridade, mas ao meu entender, sempre
buscando a taxa mais favorável ao consumidor – a parte mais frágil de
relação jurídica.

[1] Art. 1º. É vedado, e será punido nos termos desta lei, estipular em
quaisquer contratos taxas de juros superiores ao dobro da taxa legal.

(...)

§ 3º. A taxa de juros deve ser estipulada em escritura pública ou escrito


particular, e não o sendo, entender-se-á que as partes acordaram nos juros
de 6% ao ano, a contar da data da propositura da respectiva ação ou do
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protesto cambial.

[2] A norma do § 3º do artigo 192 da Constituição, revogada pela Emenda


Constitucional 40/2003, que limitava a taxa de juros reais a 12% ao ano,
tinha sua aplicação condicionada à edição de lei complementar.

[3] A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si


só, não indica abusividade.

[4] DONIZETTI, Elpídio. A jurisprudência do STJ e a taxa média de


mercado: agora os juros ficaram do jeito que o diabo gosta. Disponível
em: <https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI137350,11049-
A+jurisprudencia+do+STJ+e+a+taxa+media+de+merca.... Acessado em
09 de novembro de 2018

Disponível em: http://marcosaurelio5243.jusbrasil.com.br/artigos/646138557/o-criterio-da-taxa-


media-de-mercado-como-forma-de-preencher-lacuna-contratual-e-abusividade-nos-juros

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