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1º de dezembro

O poder do testemunho

Nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no


velador, e alumia a todos os que se encontram na casa. Mateus 5:15

A Suprema Corte dos Estados Unidos ordenou, em 1954, que as escolas


públicas passassem a incluir alunos negros. Em Nova Orleans, Ruby
Bridges, uma garotinha negra de seis anos, foi aceita na Escola William
Frantz. Todos os alunos brancos de sua classe deixaram de ir à escola.
Apenas Barbara Henry, uma nova professora, concordou em lecionar para
Ruby, e as duas se assentavam sozinhas na classe. Ao entrar na escola e
sair dela, Ruby enfrentava uma multidão de revoltados, atirando objetos e
brandindo punhos para a criança, com insultos e ameaças.
Uma mãe branca chegou a levar uma boneca negra em um caixão. Outra
ameaçou envenená-la. Porque a polícia local se negou a oferecer proteção à
criança, o governo federal enviou agentes especiais, que escoltavam a
menina todos os dias. A pressão do racismo era extrema. Os pais de Ruby
eram paupérrimos e iletrados. Em represália, o pai perdeu o emprego como
frentista, e as mercearias se negavam a vender mantimentos para eles. A
mãe limpava o chão de casas, quando arranjava algum trabalho, e
encorajava sua pequena filha a ser forte.
No mesmo ano, Robert Coles, psiquiatra, autor e professor na escola de
medicina da Universidade Harvard, que estudava o estresse, decidiu analisar
o caso Ruby. Ele foi para Nova Orleans e entrevistou Ruby e seus pais. Para
sua surpresa, não encontrou na garota ou em sua família qualquer sinal de
estresse. Coles soube que aquela garotinha parecia conversar com a
multidão todos os dias. Ele perguntou a Ruby o que ela dizia. Ela lhe disse
que orava por todos. Coles descobriu que Ruby e sua família oravam juntos
todas as noites em favor dos manifestantes brancos. Ruby aprendera que
Jesus havia orado por Seus inimigos. Ela O imitava.
O doutor Coles não conseguia esquecer aquela criança. Por causa de sua
influência, finalmente ele se entregou a Cristo. Ruby, mais tarde, tornou-se
uma líder de ação social contra o racismo. Recentemente, ela foi
homenageada pelo presidente Barack Obama. Ruby testemunhou para a
nação, em várias ocasiões, de sua fé e visão. Uma revista de liderança
afirma que “Ruby Bridges agiu como líder e demonstrou o tipo de atitude
exemplar”. Mais que isso, Ruby agiu como uma seguidora de Jesus Cristo.
2 de dezembro

O alcance do testemunho

Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a Terra. Mateus 5:5

Em agosto de 1985, a revista Christianity Today publicou o artigo “As


Inexplicáveis Orações de Ruby Bridges”, sobre a garotinha negra que
desafiou o racismo de Nova Orleans, no início dos anos 1960, como vimos
ontem. Frequentando sozinha uma escola de brancos, Ruby diariamente
parecia estar conversando com a multidão irada ao entrar na escola e sair
dela. Estava, na verdade, orando pelos inimigos. O artigo acrescenta o
seguinte subtítulo: “Psiquiatra de Harvard intrigado pela fé revelada por uma
menina de seis anos.” Trata-se de uma referência a Robert Coles, psiquiatra
que analisou a criança.
Ruby, em sua fé, não permitiu que a multidão que a insultava e a ameaçava,
duas vezes por dia, a perturbasse. A imagem daquela pequena garota negra,
escoltada por quatro enormes agentes federais brancos, inspirou o famoso
cartunista Norman Rockwell a criar um belo quadro que ilustrou a capa da
revista Look, em 1964. Charles Burks, um dos agentes, mais tarde comentou
que Ruby demonstrava grande coragem. “Nunca chorou ou reclamou”, disse
Burks. “Ela apenas marchava como um pequeno soldado.”
Em 1995, o doutor Coles publicou o livro The Story of Ruby Bridges. Barbara
Henry, a professora que se assentou por um ano ao lado de Ruby para
ensinar-lhe as lições na escola vazia, sob o boicote dos brancos, participou
com ela no programa televisivo Oprah Winfrey Show. Ruby começou a ver,
então, a necessidade de envolver os pais nas escolas e levá-los a assumir
um papel mais ativo na educação das crianças. Em 1999, ela criou a
Fundação Ruby Bridges, em Nova Orleans, com o lema: “O racismo é uma
doença de adultos, e devemos deixar de usar as crianças para disseminá-la.”
Em 2007, o Museu das Crianças de Indianápolis passou a exibir um
documentário sobre Ruby. A história dela terminou com a liberação das
escolas para alunos negros e inspirou toda a nação.
O grande paradoxo que Cristo nos relembra é que aqueles que sozinhos,
feridos e vulneráveis são tocados pela graça podem demonstrar um tipo de
dignidade incompreensível aos que podem ter intelecto, dinheiro e poder,
mas não têm acesso a esse mistério. Esse tipo de mistério é o grande
embaraço para a mente humana fora de Cristo. Quando perguntada pelo
doutor Coles, certa vez, se ela não tinha medo, Ruby respondeu: “Os
brancos são muito fortes.” Mas não eram fortes o suficiente para desanimá-
la!
3 de dezembro

A fraqueza da graça

Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração. Hebreus 3:7, 8

Falar de “fraqueza da graça” pode parecer um absurdo. De que fraqueza


poderia a graça ser acusada? Afinal, não é precisamente a graça o poderoso
instrumento escolhido por Deus para regenerar rebeldes e transformar
inimigos? Por estranho que pareça, assim como o amor, a graça sofre de
uma imponderável fraqueza: pode ser rejeitada.
As Escrituras estão pontilhadas por aqueles que rejeitaram a oferta da graça.
Em relação a isso, não há absolutamente nada que Deus possa fazer. Seu
enorme poder torna-se paralisado diante da rejeição. Considere a vida de
Judas. Seu nome é uma variação de “Judá”, que significa “o Senhor guia”.
Porém, ninguém foi mais guiado pelo diabo do que ele. Nas listas dos
apóstolos, seu nome é sempre qualificado com um epitáfio acusador: “Aquele
que traiu o Senhor.”
É comum ouvir pessoas expressarem simpatia por Judas, particularmente
depois da descoberta do evangelho apócrifo atribuído a ele, popularizado
pela revista National Geographic. Judas passou a ser visto como um tipo de
herói. É assim que Rubem Alves, erudito teólogo e psicanalista, o descreve
em seu livro intitulado Pimentas. Outros alegam que Judas apenas cumpriu
as profecias. Mas as profecias da traição de Cristo estão baseadas na
presciência divina, não em predestinação. Nenhum dos evangelhos isenta
Judas de sua culpa. Ele é mantido como responsável por aquilo que fez. Não
há sugestão de que ele não fosse livre ao escolher. Por sua permissão,
“entrou nele Satanás” (Jo 13:27). O livro de Atos refere-se à iniquidade de
Judas (ver At 1:18). Jesus o considera responsável por suas ações (Mt
26:24; Mc 14:21).
No Cenáculo, Jesus, num dramático apelo, serve-lhe um pedaço de pão
molhado com vinho, símbolo de Seu sangue. Apelo desconsiderado! O
supremo cinismo de Judas é demonstrado quando ele escolhe trair o Senhor
com um beijo. O beijo nos pés era reservado aos escravos. O beijo nas
mãos, a marca de respeito dos estudantes. O beijo na face, prática entre
amigos. Judas utiliza um símbolo da amizade como método de destruí-la.
Esse era o beijo da morte! Não a morte de Cristo, mas de sua própria. A
culpa de Judas é, sobretudo, vista no fato de que, afinal, é ele mesmo quem
se condena (Mt 27:3-5).
A história de Judas é o gélido e sinistro exemplo de que todo aquele que
rejeita a oferta da graça caminha para a própria destruição.
4 de dezembro

Caifás, o perdedor

Nem considerais que vos convém que morra um só homem pelo povo e que
não venha a perecer toda a nação. João 11:50

Caifás é também um exemplo de rejeição da graça de Deus. Ele chegara ao


topo da grandeza judaica. Procedia de uma família rica. Casou-se com a filha
de Anás, um dos homens mais poderosos da sociedade de Jerusalém
naquele tempo. Há evidências de que, no último ano do ministério de Cristo,
Caifás foi eleito sumo sacerdote. Como tal, ele presidia o Sinédrio, que servia
como a suprema corte e legislatura política, civil e religiosa na Judeia.
Sua importância para o judaísmo, contudo, era internacional, alcançando os
judeus da diáspora. Membro dos saduceus, um grupo aristocrata e influente,
Caifás era orgulhoso de sua posição. Não permitiria que nenhum obstáculo
atrapalhasse seus sonhos de grandeza pessoal e partidária. É então que seu
caminho se cruza com Jesus Cristo, o misterioso rabi que progressivamente
havia crescido no imaginário do povo.
Com o ato de Cristo em expulsar os cambistas e vendedores do templo,
Caifás reconheceu a ameaça. Ele percebeu que Jesus, com Seu enorme
carisma, Sua doutrina subversiva para o poder estabelecido, além de Seus
inegáveis milagres e das acusações contra a cegueira dos líderes,
representava um iminente perigo. Caifás não podia entender completamente
esse misterioso Jesus e Seus intrigantes ensinos. Ele era diferente de outros
pregadores que já haviam aparecido. Como combater um Homem que, com
Suas parábolas, torna Deus e Sua graça tão atrativos? Como sumo
sacerdote, ele tinha o poder ou pensava que tinha. Sua mente ambiciosa
começa a ser dominada por uma ideia fixa: livrar-se de Cristo.
Naquela conturbada Páscoa, Caifás, como expresso no texto de hoje,
manifesta sua filosofia pragmática: sucesso é mais importante que
integridade, a manutenção do poder é maior que a verdade, e a posição é
mais desejável do que a justiça. Para ele, o ministério de Cristo deveria ser
interrompido antes que os arranhões se tornassem fraturas, e as fraturas,
fendas. Caifás acaba silenciando a voz da consciência e torna-se o líder do
mais funesto julgamento da história. O combate contra Jesus era,
essencialmente, uma luta por poder.
É por inveja que ele e seus associados entregam Jesus aos romanos (Mt
27:18).
A inveja, porém, é sempre precedida pelo orgulho, e o orgulho é o vício dos
“santos”. Caifás não percebe que perde, sempre, todo aquele que se opõe a
Deus.
5 de dezembro

Pôncio Pilatos

Pilatos, querendo contentar a multidão, soltou-lhes Barrabás; e, após mandar


açoitar a Jesus, entregou-O para ser crucificado. Marcos 15:15

Pilatos é outra manifestação de rejeição da graça, quando esteve frente a


frente com ela. Procurador romano, ele era um tipo de governador na Judeia,
apontado por Tibério. Atuou por dez anos nessa posição, de 26 a 36 d.C. De
acordo com Filo, Agripa I, numa carta ao imperador Calígula, descreve
Pilatos como um homem inflexível, cruel e obstinado. Buscava, a qualquer
preço, manter a “lei e a ordem”. Os evangelhos, por outro lado, enfatizam sua
covardia.
Quando Cristo chegou a seu tribunal, Pilatos não se deixou enganar pelas
manobras dos judeus (Mt 27:18). Os evangelhos deixam claro que ele estava
convencido de que Jesus era inocente. Três vezes, ele declara publicamente
não encontrar nenhuma razão para O condenar. Sua convicção é confirmada
por uma carta da esposa (Mt 27:19). Contudo, por fraqueza, Pilatos queria
também satisfazer a multidão (Mc 15:15).
Assim, por meio de engenhosas tentativas, Pilatos tentou evitar uma decisão
clara, preto no branco. Desejava evitar a sentença de Jesus à morte (Lc
23:20, cf. At 3:13), uma vez que cria em Sua inocência, mas também não
ousava libertá-Lo, pois os líderes judeus criam em Sua culpa, como diz o
texto de hoje. Como poderia Pilatos reconciliar a ambiguidade? Os maiores
enganos espirituais surgem quando tentamos conciliar o irreconciliável:
cumprir o dever sem sacrificar a conveniência.
Pilatos tentou quatro rotas de escape: (1) enviou Jesus a Herodes; (2) tentou
uma condenação parcial, permitindo que Jesus fosse açoitado, embora
crendo em Sua inocência; (3) tentou, com Barrabás, transferir para a
multidão a decisão que era sua, esperando clemência em lugar de agir com
justiça e firmeza; e, finalmente, (4) lavou as mãos, protestando inocência
diante da monstruosa injustiça. Pilatos é símbolo daqueles que buscam evitar
o preço de aberto compromisso com Cristo. Eles podem se valer de
subterfúgios que anestesiam a consciência, mas nem por isso se tornam
menos culpados.
Judas O entregou aos sacerdotes. Caifás O entregou a Pilatos, e este O
entregou à multidão. Em todos os casos, o mesmo verbo grego (paradidomi)
é utilizado. Judas agiu por cobiça. Caifás, por inveja. Pilatos, por covardia. E
Ele foi crucificado! Não seriam essas, ainda hoje, as razões para a rejeição
da graça?
6 de dezembro

Os executores e o executado

Esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me
amou e a Si mesmo Se entregou por mim. Gálatas 2:20

Nos últimos dias, vimos que a avareza, a inveja e a covardia se combinaram


na crucificação de Cristo. Não seriam essas as nossas idolatrias, e o grande
obstáculo para a aceitação dEle? No passado, o antissemitismo e a
perseguição aos judeus foram motivados pela ideia de que eles foram os
responsáveis pela morte de Cristo. Isto já não está mais em moda. Como
John Stott indica, não ousamos dizer que os judeus são inocentes, mas eles
não são os únicos culpados. Lembre-se: os vultos da Bíblia são
representativos. Judas, Caifás e Pilatos não são apenas eles. De certa
forma, estão em nós. Eles ilustram muitos de nós em nosso encontro com
Cristo.
Por outro lado, todos nós estávamos lá, na pessoa de nosso Representante.
Não apenas como participantes da culpa, do complô, do esquema de traição,
da barganha. Nossas mãos também estão manchadas de sangue inocente.
Também nós O entregamos para ser crucificado. Podemos tentar lavar as
mãos, mas nossa tentativa é tão fútil como a de Pilatos. Antes de ver a cruz
como algo feito em nosso favor, levando-nos à fé e à adoração, devemos vê-
la como algo feito por nós, levando-nos ao arrependimento. Peter Green
observa: “Apenas aquele que está pronto para partilhar da culpa da cruz
pode reclamar participação em Sua graça.”
A cruz aponta para uma corrente de responsabilidade que envolve toda a
humanidade. Por um lado, todos estávamos entre a multidão que gritava:
“Crucifica-O!” Por outro lado, todos estávamos na cruz, por meio de nosso
Representante. Quando O vemos na cruz, pendurado entre o céu e a Terra,
com sangue escorrendo das feridas abertas, despido em vergonha, devemos
reconhecer que somos nós. Assim, de certa forma, num insondável mistério,
nós somos os executores e o Executado.
Judas, Caifás e Pilatos O “entregaram” (paradidomi) à cruz, mas eles são
apenas personagens menores no grande drama do Universo. Paulo usa o
mesmo verbo para dizer que foi Ele quem Se “entregou” por nós: “[o] Filho de
Deus, que me amou e a Si mesmo Se entregou (paradontos) por mim” (Gl
2:20; cf. Ef 5:2). Nas palavras de um amigo, “Ele morreu na cruz, mas não da
cruz”. Não foram os cravos que O prenderam lá, mas Seu amor por nós.
Como já disse antes, Ele morreu por você, para que você viva por Ele.
7 de dezembro

A tempo e fora do tempo

Então, Se dirigiu a Seus discípulos: A seara, na verdade, é grande, mas os


trabalhadores são poucos. Mateus 9:37

Martin Niemöller, um bispo luterano alemão, foi o responsável por negociar


com Hitler, durante a Segunda Guerra Mundial, na tentativa de salvar a igreja
na Alemanha de ser fechada pelo ditador nazista. Quase no fim de sua vida,
Niemöller contava a respeito de um sonho que tinha com frequência. Nele,
Niemöller via Hitler de pé diante de Jesus no dia do julgamento final. Jesus
Se levantava de Seu trono, colocava o braço no ombro de Hitler e
perguntava: “Adolf, por que você fez tantas coisas horríveis e cruéis?” Hitler,
com a cabeça pendida, simplesmente respondia: “Ninguém nunca me disse
quanto Você me amou.” O bispo dizia que, a essa altura do sonho, ele
acordava com um suor frio, relembrando que, durante as muitas reuniões
que tivera com Hitler, ele nunca dissera: “Führer, Jesus ama você. Ele o ama
muito mais do que você jamais conseguirá entender. Ele o ama tanto que
morreu por você. Você sabia disso?”
Frequentemente, falhamos em testemunhar de Cristo e perdemos preciosas
oportunidade de alterar o curso da história pessoal de alguém. Nossa
omissão, às vezes, é resultado de mero desinteresse. Outras vezes, é
resultado de vergonha ou manifesta simples descrença. Não cremos que as
pessoas possam se interessar e ser alcançadas pela graça de Deus.
Escrevendo aos Romanos, Paulo disse não ter vergonha do evangelho (Rm
1:16). Jesus, consistentemente, ofereceu a todos, incluindo Nicodemos, a
mulher adúltera, a samaritana, Zaqueu, o moço rico e pecadores comuns, a
oportunidade do encontro com a graça.
Especialistas em crescimento de igreja falam de uma Linha de Interesse
pontuada de 0 a 10. Os que estão no nível “zero”, ou próximos a ele, são os
que não têm qualquer interesse ou apenas um baixo grau dele. Os mais
próximos do “dez” são aqueles que estão no limiar do reino de Deus.
Contudo, devemos nos lembrar de que Deus pode utilizar as circunstâncias
na vida de uma pessoa de tal forma que alguém no nível “zero” pode ser
transportado para o nível “nove” num piscar de olhos. Um diagnóstico
desfavorável, um telefonema no meio da noite, as perdas da vida, o cerco de
uma enfermidade, os desencantos comuns a todos podem transformar a
atitude e fazer brotar o interesse. Faça uma lista de parentes, amigos e
conhecidos “desinteressados” e comece a orar por eles seriamente.
8 de dezembro

Seguidores do “Caminho”

Certo samaritano, que seguia o seu caminho, passou-lhe perto e, vendo-o,


compadeceu-se dele. Lucas 10:33

A viagem mais radical que cada ser humano pode fazer é a libertação do
“eu”. Começamos a jornada quando ainda bebês. A criança recém-nascida é
o centro de seu universo. Crescer é a lenta descoberta de que outros
existem, e que não vivem apenas para nos servir ou fazer nossa vontade.
Tornamo-nos plenamente humanos à medida que aprendemos a ceder o
centro do mundo. Embora essa seja uma verdade conhecida, ela é muito
difícil de ser praticada. Deixar de ser o centro dói. Gostamos de fechar os
olhos e o coração para os outros, como se eles não existissem. Preferimos
não enxergar aquilo que nos cerca se isso exige esquecimento de nós.
Parece que deixar de ser o centro é ainda mais difícil hoje, em nossa
sociedade individualista. Em um seminário teológico em Nova York, foi
solicitado que os alunos preparassem um sermão sobre a parábola do bom
samaritano. Depois, deveriam se dirigir para um estúdio que ficava a
algumas quadras de distância. Lá gravariam seu sermão. O professor pediu
a um dos alunos que se disfarçasse de mendigo, faminto e machucado, e
ficasse no caminho por onde os outros haveriam de passar. Curiosamente,
80% dos estudantes que haviam preparado o sermão sobre o bom
samaritano passaram “de largo”, sem qualquer atenção ao necessitado. Eles
tinham estudado a parábola como composição literária, mas sem qualquer
relação com a vida real.
Ser o “samaritano” é correr o risco. Na parábola de Jesus, o samaritano
havia se preparado para a viagem com provisão e dinheiro necessários para
seu uso. No caminho, entretanto, tudo isso foi usado para um fim que ele não
havia planejado. A compaixão do samaritano transformou seus planos. Com
raras exceções, nossos planos são mesquinhos e gravitam ao redor do
próprio umbigo. Tornar-se um discípulo de Jesus é ceder o centro para Ele e
segui-Lo em serviço.
Curiosamente, a palavra que Lucas usa para “viagem”, na parábola, é o
termo grego hodos, o mesmo que ele emprega no livro de Atos para a fé
cristã, com “Caminho” (At 19:9; 22:4; 24:14, 22). A jornada cristã identifica-se
realmente com o Caminho, em abnegação, o que revela nossa verdadeira
compreensão de Deus.
9 de dezembro

A alma do negócio

Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos?


Ou: Com que nos vestiremos? Mateus 6:31

Ao completar 20 anos, uma pessoa, na cultura atual, terá sido alvo de


aproximadamente um milhão de comerciais. Se “pela contemplação somos
transformados”, podemos imaginar por que o consumismo tornou-se uma
compulsão. As pessoas são praticamente hipnotizadas para comprar
produtos e serviços, sem nenhuma atenção para sua verdadeira
necessidade, segurança, efeitos sobre o meio ambiente ou descarte. O
consumismo é resultado de um processo de “doutrinamento”, determinado
por imensas fortunas gastas em propagandas para se criar o desejo.
Muitos já não têm em seus lares espaço para as quinquilharias que
compraram. Seria a palavra “psicose” muito forte para descrever a
irracionalidade que se espalhou como câncer e tomou conta da espécie
humana? Todos os eventos da vida tornaram-se reféns do consumismo, com
intermináveis “datas comemorativas” inventadas pela ganância. Tudo passou
a ser controlado por uma lavagem cerebral bem calculada. O tempo, o
precioso elemento da vida, é gasto em longas horas de trabalho, trocado por
dinheiro, para se contrair mais dívidas, comprando inutilidades. Crianças e
adolescentes se tornam cada vez mais exigentes, persuadidos de que o valor
próprio depende da grife daquilo que usam. Todos os produtos foram
“erotizados” por celebridades dos esportes, da música, do cinema ou da TV.
Na cultura moderna, as pessoas ultrapassaram os limites da sanidade para
viver o alvo ridículo de tentar imitar os estereótipos criados pelos “ricos e
famosos”, os “chiques e bonitos”, muitos deles desorientados, precisando
eles mesmos de séria ajuda. Na obsessão por lucro, faz-se propaganda de
produtos sem consideração ao fato de que podemos nos tornar dependentes,
obesos ou doentes como resultado de seu consumo.
Jesus nos desafiou a viver de forma simples, por escolha pessoal. Segundo
Ele, são os pagãos que vivem em ansiedade, presos à vaidade e modismo
do que anseiam como substitutos de Deus. Os filhos do reino devem
aprender a relativizar as vozes da cultura, suas opiniões, lógica, sabedoria e
promessas. Somos desafiados a termos tempo para o convívio com as
pessoas queridas e recursos para servir às reais necessidades de outros.
10 de dezembro

O amor nunca falha

O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, […] não procura
os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal. 1Coríntios
13:4, 5

Em matéria de amor conjugal, a realidade transcende a ficção. O problema


dos romances, filmes e novelas é que neles o casamento termina no altar,
enquanto, na realidade, o altar é apenas o começo da jornada. Passadas as
emoções do início, passada a lua de mel que se dilui como o esplendor de
um fogo de artifício, o príncipe encantado e a bela princesa encontram
surpresas, falhas e defeitos que só o verdadeiro amor poderá superar.
A juventude passa. O tempo e a gravidade redesenham as formas e vencem
a todos. As ilusões desaparecem sob o peso da mão ferruginosa do tempo.
O fogo dos impulsos e o calor das paixões se arrefecem na corrosão dos
meses e anos. Mas “o amor nunca falha”, diz o apóstolo. O casamento não é
um piquenique, mas uma sala de aulas, onde devemos aprender lições de
dedicação e serviço. Não existe no casamento o monopólio de opiniões;
portanto, os pares devem aprender a expor e não impor ideias.
É preciso aprender a dominar a arte de ouvir e dialogar. É necessário estar
consciente de que a falta de tempo, por excesso de compromissos, é a
responsável número um pela morte do relacionamento. Jamais utilize o
sarcasmo e a ironia como armas de conflitos. Conta-se da esposa que diz ao
marido: “Querido, você se importaria se eu fizesse uma lista de seus
defeitos?” Ele responde: “Absolutamente, querida; afinal, minha mãe já me
advertia de que tais defeitos me impediriam de arranjar candidata melhor!”
Não adianta ganhar a discussão e perder o coração amado.
Nunca desista de seu cônjuge nem pense que seu casamento foi um erro.
Não se apresse em julgar. Tenha uma visão realista de si. Isso vai tornar
você humilde e tolerante com o outro. Evite as comparações. Pense bem
antes de agir. Evite os “invasores espaciais”, não ETs, claro, mas as pessoas
e sentimentos que invadem o lar: sentimentos de ciúme, insegurança, baixa
autoestima. Cuidado com as falsas expectativas. Seu lar é formado de dois
seres humanos, um deles é você mesmo!
Ouvimos de casamentos destruídos pelas incompatibilidades. Mas o que
realmente destrói casamentos é a incapacidade de administrar as
incompatibilidades. Lembre-se, finalmente, de que o amor não é algo que se
adquire para toda a vida, que possa ser armazenado ou engarrafado. Ele
cresce com a prática.
11 de dezembro

Acima da multidão

Então, Se dirigiu a Seus discípulos: A seara, na verdade, é grande, mas os


trabalhadores são poucos. Mateus 9:37

John Henry Dunant era um brilhante banqueiro e economista. Em 1859, foi


enviado por uma companhia bancária suíça aos Alpes, onde Napoleão II
estava em guerra contra o exército da Áustria. Sua missão era conseguir de
Napoleão uma permissão para uma aventura financeira na Argélia.
Logo ao chegar, Dunant observa o confronto dos exércitos alinhados para a
batalha. Ele ouve o troar dos canhões e o estrondo dos mosquetes. Ouve as
ordens de ataque e contra-ataque das infantarias. O jovem Dunant foi
tomado pelo horror. Nunca imaginara que tal carnificina fosse possível.
Homens estavam caídos em todas as partes do campo de batalha.
Moribundos cobertos de sangue gemiam em desespero e agonia. Naquele
entardecer, 15 mil seres humanos mortos ou agonizando estavam
espalhados até onde os olhos podiam alcançar. Essa cena de partir o
coração impeliu Dunant à ação. Ele não mais poderia permanecer como
mero espectador. Durante toda a noite, ele trabalhou incansavelmente com
outros voluntários, servindo aos feridos, colocando-os em macas, prestando
tratamentos imediatos, fazendo bandagens em hospitais improvisados. Ele
fez o melhor que lhe era possível.
Depois dessa experiência, ele não poderia mais voltar para o banco. O
dinheiro não mais lhe parecia importante. Uma visão maior e mais ampla
enchia sua mente. John Henry Dunant começou a viajar por toda a Europa,
visitando chefes de estado e governantes, apelando eloquentemente pela
causa da paz. Dunant fundou o que conhecemos como a Cruz Vermelha
Internacional. Posteriormente, ganhou o Prêmio Nobel da Paz. Ele
encontrara seu chamado, seu lugar na vida. Não poderia mais se ajustar às
causas pequenas.
Martin Luther King, mártir da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos,
observou que, “se um homem não descobrir alguma coisa pela qual esteja
disposto a morrer, então ele não está preparado para viver”. Ore para que o
Senhor mostre seu lugar de serviço. Talvez seja aí mesmo onde você vive.
Levante os olhos, veja a seara, eleve-se acima da multidão consumida com
rotinas de interesses minúsculos. Use seus talentos, seu preparo, suas
mãos, sua voz a serviço de Jesus Cristo e dos necessitados. Então prepare-
se para incríveis aventuras!
12 de dezembro

Considerai a bondade

O amor é […] é benigno. 1Coríntios 13:4

Qual é o segredo do sucesso dos times de futebol? “Trabalho de grupo”,


diriam treinadores e especialistas. Mas não é nenhum segredo que o famoso
“trabalho de grupo” em várias ocasiões explode em desavenças. Estrelas do
esporte se desentendem e se agridem. Acusam os treinadores e maldizem
presidentes dos clubes. Celebridades do futebol, com honrosas exceções,
muitas vezes manifestam orgulho e arrogância. Jornais surpreendem os fãs
com notícias bizarras, envolvendo orgias, assédios, atentados à moral,
conexões com o submundo da ilegalidade e mesmo crimes. “Desempenho e
orgulho” vão de mãos dadas, muitos justificam. Treinadores, colegas e
multidões de fãs toleram quase que todos os tipos de comportamentos
abusivos, indisciplinados e explosivos de jogadores que são considerados
valiosos para seus times. Contanto que “garantam a vitória, o comportamento
não importa”. Essa é a filosofia geral.
Tal realidade se verifica entre muitos grupos profissionais, sejam eles
médicos, advogados, políticos e tantos outros, que parecem sentir que não
devem comportamento cordial a ninguém. Imagine se essa mentalidade
fosse admitida na igreja! Nesse caso, seria melhor “fechar as portas”, pois a
igreja não se orienta por “ganhar a qualquer custo”. Comportamento é
crucial. Sucesso, para um cristão, não é primariamente visto em números ou
cifrões, mas em vidas transformadas e fé aprofundada. Os cristãos estão em
outro tipo de “jogo”. Vivemos neste mundo, mas não seguimos as regras, a
sabedoria, a filosofia ou as práticas do mundo, pois esse não considera
valores eternos, que nos acompanharão quando tivermos deixado o presente
para trás.
Os cristãos também não aceitam a ética da “bondade seletiva”, que
geralmente se torna um instrumento para manipular outros. Nossa norma de
bondade é a bondade de Deus. Orgulho e autoexaltação são formas de
descrença. Se fé é “transferência de confiança”, os que continuam confiando
em si mesmos estão alienados de Deus e em rebelião contra Ele. Bondade,
segundo uma definição, é o cristianismo em roupas de trabalho. John
Albrecht, pastor episcopal em Lake Orion, Michigan, quis pregar o menor
sermão possível para celebrar as bodas de prata de sua congregação. No
dia, muitos compareceram para ouvi-lo. O sermão foi de uma única palavra:
“Amor.” E o que é amor? “O amor é bondoso.”
13 de dezembro

E se você fosse pobre?

Pois nunca deixará de haver pobres na terra; por isso, eu te ordeno:


livremente, abrirás a mão para o teu irmão, para o necessitado, para o pobre
na tua terra. Deuteronômio 15:11

Eu era pastor da igreja do Centro Universitário Adventista de São Paulo


(Unasp), em Engenheiro Coelho. Recebi em meu escritório uma carta. Talvez
a carta mais triste que já recebi. Fora escrita por uma estudante, contando
sua história. Os pais haviam morrido em circunstâncias trágicas. Ela era a
mais velha, responsável por outros irmãos menores. Por algum tempo, ela
estudara no Unasp, mas, com dívidas e sem dinheiro, não poderia continuar
os estudos. Nas entrelinhas, senti a enorme repreensão à religião de todos
nós da comunidade, preocupados com o que é periférico na fé cristã.
Encontrei o endereço dela na Cidade Universitária, em nossa vizinhança. Fui
à sua casa, um quarto pobre, que estava fechado. Vizinhos me disseram que
a garota chegaria mais tarde. Voltei e a encontrei. Se não chorei, tive muita
vontade de fazê-lo ao ouvir detalhes adicionais. Pagamos sua dívida com o
colégio. Apelei para que ela continuasse. Lembrei-lhe de que ela era
responsável pelos irmãos mais novos, e muito do futuro deles dependeria da
firmeza dela.
Algumas outras vezes, eu a visitei ou ela me procurou. Faz algumas
semanas, encontrei-a, num sábado, à saída da igreja, no Unasp. Agora
casada, contou-me que ela e o esposo haviam sido por dois ou três anos
missionários na África. E quanto aos irmãos? O garotinho da época da carta
estava com ela. Já era um rapaz e estava fazendo Engenharia. A irmã mais
nova estava cursando Psicologia, no campus São Paulo. Ela e o esposo
haviam ganhado uma bolsa de estudos de irmãos norte-americanos para um
mestrado na Universidade de Walla Walla, nos Estados Unidos, para onde
estavam indo.
Em meus estudos sobre a Teologia da Libertação, descobri que o lado
escuro e destrutivo da pobreza é impedir que as pessoas sejam aquilo que
Deus intencionou que elas fossem. Pensei muitas vezes sobre qual teria sido
o desfecho da história da jovem da carta se nada tivesse sido feito em seu
favor. Onde estariam seus irmãos? Querido leitor, se você tem algum
recurso, faça um investimento em pessoas. Suponha que a “mesa fosse
invertida” e você fosse o pobre, uma criança abandonada, alguém passando
fome ou enfermo. Como você gostaria de ser tratado? Pense nos
necessitados que você conhece como o campo missionário que o Senhor
colocou em seu caminho.
14 de dezembro

Começando em Jerusalém

Eis que envio sobre vós a promessa de Meu Pai; permanecei, pois, na
cidade, até que do alto sejais revestidos de poder. Lucas 24:49

Essas palavras do Evangelho de Lucas concluem o encontro de Jesus com


Seus discípulos, depois da ressurreição. Surpresos e atemorizados, eles
“acreditavam estarem vendo um espírito” (v. 37). Jesus, o Teólogo Mestre,
chama a atenção para a realidade de Sua ressurreição. Suas mãos, pés e
lado ainda inchados dão testemunho em Seu favor. Para provar que Ele é
real, e não um fantasma, come um pedaço de peixe “na presença deles” (v.
43). Como evidência final, Ele passa a expor aquilo que as Escrituras haviam
dito do Messias: como o Cristo havia de “padecer e ressuscitar dentre os
mortos” (v. 46).
No verso seguinte, o ressuscitado Senhor envia Seus discípulos como Suas
testemunhas perante todas as nações. Essa cena, levemente modificada, é
repetida na introdução do livro de Atos. O que chama nossa atenção nas
duas narrativas é que nelas os discípulos recebem a ordem de “ir”, mas, ao
mesmo tempo, devem “permanecer” em Jerusalém. Parece contraditório o
fato de que para “ir” devam antes “ficar”. “Vão por todo o mundo e partilhem
as boas-novas”, é a ordem. Mas, no mesmo fôlego, é dito: “Não se mexam
até que estejam revestidos pelo poder do alto.”
O mesmo é verdade ainda hoje. A primeira coisa que Deus quer que
façamos não é avançar de qualquer forma e “lutar Suas batalhas” em nosso
poder. Jesus está ensinando que, sem o poder do Espírito, todos os
esforços, os planos, as estratégias e os programas são espetáculos ridículos.
Há, contudo, outra lição a aprender aqui: o testemunho deve começar em
“Jerusalém”, isto é, “em casa”.
Primeiramente, na própria vida espiritual. Em seguida, com os que estão
próximos de nós. Jesus está ordenando: “Espere, não tente fazer Meu
trabalho ainda!” Devemos começar em “Jerusalém”, recebendo nós mesmos
o Espírito. E, então, pelo Espírito, estaremos habilitados a comunicar o que
aprendemos à esposa, ao esposo, filhos, vizinhos e à comunidade, em amor,
interesse e compaixão.
Começando em “Jerusalém”, podemos então avançar para a “Judeia”,
“Samaria” e expandir o círculo até os “confins da Terra”. Muitas vezes,
afobados, seguimos a direção inversa. Iniciamos sem poder e longe. Isso
pode parecer mais fácil porque lá não somos conhecidos. Mas, a menos que
sejamos autênticos, compassivos em “Jerusalém”, nenhum testemunho em
lugares distantes será efetivo.
15 de dezembro

Justiça foi feita

Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por
todos; logo, todos morreram. 2Coríntios 5:14

O julgamento, a condenação e a execução de Jesus Cristo representam um


enorme paradoxo. Se O vemos na cruz como o inocente Filho de Deus,
estamos diante da maior injustiça do Universo. Por outro lado, se O
contemplamos como o substituto dos pecadores, assumindo nosso lugar,
então não há nenhuma injustiça. Nesse caso, a sentença é adequada e a
justiça foi feita.
Quando compreendemos isso, podemos entender que a angústia mental que
Jesus sentiu diante da cruz foi infinitamente maior que a dor física da
crucifixão. Ele não morreu como mártir ou herói para nos dar um exemplo de
como enfrentar o sofrimento. Se esse fosse o caso, esperaríamos que Ele Se
aproximasse da morte mantendo a confiança e a compostura. Nós
esperaríamos encontrá-Lo sereno. Mas o que temos é outro quadro.
Particularmente na descrição do Evangelho de Marcos (14:33-42), Jesus não
é apresentado como uma figura dos deuses do Olimpo, intocado pelas
emoções.
Marcos descreve a extensão do conflito usando a metáfora do cálice para
definir Sua agonia. O realismo de Sua agitação é de proporção
extraordinária: “Começou a ter pavor e angustiar-Se. […] Minha alma está
profundamente triste até a morte” (Mc 14:33, 34, ARC). Os verbos originais
usados aqui, “ter pavor” e “angustiar-se”, são enfáticos. Ter pavor sugere
convulsivo terror, profunda agitação. O segundo verbo descreve um estado
de choque e agonia. O impacto dos dois termos combinados é incalculável e
conduz a um extraordinário poder para estarrecer o leitor. Marcos deixa claro
que Jesus entrou no desfecho de Sua via crucis consciente daquilo que O
aguardava em termos de sofrimento e aflição. O drama emocional no texto é
imponderável. “Meu coração está a ponto de partir-se de aflição e tristeza”,
Jesus revela. Suas palavras pintam o mais ilimitado grau de horror e
sofrimento. Essa dramática expectativa não se define pela dor física, mas
pelo fato de Ele tomar o fardo de todos os pecadores, enfrentando os
horrores da segunda morte. Esse sofrimento é algo infinitamente maior do
que qualquer perdido enfrentará, porque Ele esgota a taça do pecado de
toda a humanidade.
Em João 19:30, Jesus brada: “Está consumado!” A obra da salvação havia
alcançado seu objetivo, assim como a criação na primeira sexta-feira do
Éden. O preço fora pago, a cédula de nossa dívida fora rasgada!
16 de dezembro

A razão do evangelho

Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé
lhe é atribuída como justiça. Romanos 4:5

Durante os anos que trabalhei como pastor em Toronto, minha igreja apoiava
o programa de televisão Está Escrito, em português, dirigido e apresentado
pelo pastor Henry Feyerabend. Por estratégia evangelística, apresentei
alguns desses programas. Lembro-me de que num deles procurei responder
a perguntas comuns feitas por pessoas vindas do catolicismo. Uma delas era
a seguinte: “Quanta mudança tenho que fazer antes de ir a Cristo?” Minha
resposta começava com outra pergunta: “Quanta mudança uma pessoa
doente tem que fazer antes de ir ao médico?” A resposta é óbvia. Se alguém
precisa melhorar primeiro para só então ir ao médico, nesse caso, já não
precisará dele. Então, acrescentava: “Os leprosos foram a Cristo como
leprosos; os cegos, como cegos; e os aleijados, como aleijados. Era Ele que
iria operar a mudança.”
Parece muito simples, não é mesmo? Mas temos uma enorme dificuldade
em praticar isso em relação a nós e também aos outros. Durante a Idade
Média, a igreja ensinava que uma pessoa deveria primeiro santificar-se para
então ser justificada. Segundo essa mentalidade, primeiramente era
necessário alguém fazer tudo o que estava ao alcance, ou seja, andar
sozinho metade do caminho. Era preciso provar-se digno da assistência
divina. Só então Ele viria ao seu encontro. A confusão teológica entre
santificação e justificação não é heresia nova. Ela vem desde Agostinho,
prevaleceu em todo o período medieval e ainda persiste entre muitos hoje. O
grande problema dessa teoria é que, nesse caso, Deus não “justifica o
ímpio”, como dizem as Escrituras no texto de hoje, mas o “justo”.
Preste atenção na mensagem de um poderoso sermão de Charles Spurgeon
sobre Romanos 4:5: “Se você não está perdido, de que serve um Salvador?
Sairia um pastor em busca daqueles que nunca se extraviaram? Por que
varreria a mulher toda a casa a fim de procurar moedas que não caíram de
sua bolsa? Não é o remédio para os doentes, a vivificação para os mortos, o
perdão para os culpados, a liberdade para os que estão em cativeiro e a
abertura dos olhos para os que jazem na cegueira? De que serviriam o
próprio Salvador, a Sua morte sobre a cruz, o evangelho e o perdão se não
existissem homens culpados e dignos de condenação? O pecador é a razão
de ser do evangelho.”
A lógica dessas palavras não poderia ser melhorada.
17 de dezembro

A marca da conversão

Miserável homem que eu sou! Romanos 7:24, ARC

Para muitos, esse texto de Paulo é uma referência à sua experiência antes
da conversão. E “cristãos verdadeiros” argumentam que nunca poderiam
dizer isso a seu respeito. Para tais “santos”, a vida cristã é apenas marcada
por alegria, paz e vitória.
Será que isso é verdade? Quem nunca falhou em ações, omissões ou
intenções? Quem nunca desapontou a si mesmo, a Deus e a outras pessoas
por algum ato ou por palavras? Se isso nunca aconteceu com você, seu caso
pode ser daqueles que se julgam tão “bons” que já estão além da
possibilidade do pecado. Nesse caso, você estaria entre as mais “miseráveis”
de todas as pessoas, sem se dar conta disso (Ap 3:17). Há os que sofrem do
pecado da “bondade”. João afirma que aqueles que dizem não ter pecado
“enganam a si mesmos” e fazem Deus mentiroso (1Jo 1:8, 10). Quão
“miserável” uma pessoa pode ser? Alguns, dominados pela mentalidade do
“mais-santo-do-que-todos”, podem se tornar tão ruins como o diabo ao
defender suas doutrinas ou estilo de vida. A conduta acusadora deles
justifica o cinismo de uma frase de para-choque comum entre norte-
americanos: “Jesus, salva-me… dos Teus seguidores.”
Quem realmente são os seguidores de Cristo? Seriam os fariseus, que O
crucificaram porque Ele não observava o sábado como eles? Ou são os
conversos tais como Paulo, ex-fariseu, que se confrontou com o realismo de
sua própria condição miserável nas vezes em que fracassou? A marca da
genuína conversão não é a pretensão de “impecabilidade”, mas o
reconhecimento de falhas e arrependimento delas com o clamor a Deus,
dizendo: “Miserável homem que sou!” Essa foi a experiência de Paulo, como
indicado anteriormente em Romanos 7, ao falar das ocasiões em que ele
caiu. Essa, porém, não é a tendência geral de sua vida, a qual ele estabelece
em Romanos 8.
Vários dos santos das Escrituras nunca pensaram sobre si em termos de
impecabilidade. Jó, a quem Deus chama de íntegro (Jo 1:8), entende que, se
ele mesmo se considerasse reto, seria visto por Deus como perverso (Jo
9:20). E Davi, o homem segundo o coração de Deus? Leia o que ele diz de si
no Salmo 38:4, 18, 21 e 22. Parece que os perfeccionistas temem que a
admissão dos fracassos seja uma justificativa para o pecado. Isso seria falta
de integridade espiritual. A marca da conversão é a consciência de que
sempre estaremos muito longe do ideal de Deus e, por isso, avançando
sempre para ele.
18 de dezembro

O triunfo da justiça

Assentou-se o tribunal, e se abriram os livros. Daniel 7:10

Enquanto estou em Natal, RN, em um concílio de pastores, os jornais


anunciam, para a surpresa de milhões, a condenação de destacadas figuras
políticas envolvidas no escândalo do mensalão. Os ministros do Supremo
Tribunal Federal condenaram os “mensaleiros” por corrupção ativa,
denunciando ricos e influentes políticos que usaram dinheiro público para
subornar parlamentares e comprar o apoio de partidos políticos. Ao contrário
do que muitos imaginavam, os poderosos receberam uma sentença
condenatória oficial. O usual sorriso da impunidade ficou amarelo.
A figura central neste capítulo de nossa história é a do relator do caso,
ministro Joaquim Barbosa. Durante sete anos, ele estudou e analisou as
mais de 50 mil páginas do processo, seus laudos, depoimentos, memoriais e
perícias, dominando cada aspecto escuro desse descaminho político.
Durante mais de três horas, Barbosa demoliu a defesa e as esperanças dos
que se julgavam além do alcance da justiça, demonstrando que “houve a
compra de parlamentares que funcionaram como verdadeira mercadoria, em
troca dos pagamentos”.
O zelo pela justiça e o assombroso destemor de Barbosa influenciaram
outros ministros. Pelo menos por agora, prevaleceu a justiça.
Em uma das notícias publicadas, lia-se, sob a fotografia de Joaquim Barbosa
aos 14 anos, a frase a seguir: “O menino pobre que mudou o Brasil.” Filho de
um pedreiro, Barbosa cresceu em meio à pobreza e preconceito. Viveu em
uma casa sem sofá, geladeira e televisão. Joaquim partiu os paradigmas da
lógica da pobreza. Formou-se em Direito, fez doutorado na Sorbonne, em
Paris, e fala quatro idiomas. Também foi professor visitante em universidades
famosas nos Estados Unidos. Barbosa atribui muito de seu perfil à influência
da mãe, Benedita, uma evangélica que certamente viveu diante dele os
valores morais das Escrituras. Quanto o seu esforço terá realmente
alcançado, só o tempo dirá, mas Barbosa certamente iniciou uma jornada
inédita.
Em nossa ânsia por justiça e referências éticas, admiramos perfis assim,
dispostos a romper a cultura da impunidade. Em dimensão muito mais alta,
estamos aguardando o dia em que a justiça perfeita será estabelecida. “O
Juiz Se assentou, abriram-se os livros.” A justiça, afinal, será feita para
todos.
19 de dezembro

Na cruz, mas da cruz

Então, Pilatos O entregou para ser crucificado. João 19:16

Um artigo altamente incomum foi publicado pela prestigiada revista da


Associação Médica Americana, em que um grupo de médicos da famosa
Clínica Mayo, em Rochester, Minnesota, descreve a interpretação médica da
morte de Jesus Cristo. Os clínicos cuidadosamente analisaram os aspectos
físicos que cercaram a paixão do Senhor, incluindo Seu suor de sangue no
Getsêmani e os detalhes mais minuciosos dos efeitos médicos da prática do
açoite e da crucifixão.
Nas palavras desses profissionais: “Os severos açoites, com sua dor intensa
e considerável perda de sangue, provavelmente deixaram Jesus num pré-
estado de choque. O abuso físico e mental infligido pelos judeus e romanos e
a falta de alimento, água e sono também contribuíram para Sua debilitação
geral. Portanto, mesmo antes da crucifixão, a condição física de Jesus era no
mínimo séria e possivelmente crítica […]. O maior efeito físico-patológico da
crucifixão, além da dor excruciante, foi uma assinalada interferência na
respiração normal […]. Uma arritmia cardíaca fatal pode ter sido responsável
pelo catastrófico evento terminal.”
Sem dúvida, um relatório assim chega a nos comover. Contudo, é a
revelação, não a medicina, que provê a chave explanatória da cruz. “Aquele
que não conheceu pecado, Ele o fez pecado por nós” (2Co 5:21). Na cruz,
Jesus não morre como um mártir, vítima de meras causas físicas, das
intrigas do sistema religioso de Seus dias ou da crueldade da máquina
romana. Ele morre como nosso substituto. Jesus morre na cruz, mas não da
cruz.
O que realmente parte Seu coração é o imponderável fardo do pecado de
toda a humanidade. Sobre Ele, como nosso representante e substituto,
estalou o raio do julgamento e da condenação do pecado de todos nós.
A história da substituição, entretanto, não está completa até a manhã da
ressurreição. Aquele que poderia dar a Sua “vida e tornar a tomá-la” (Jo
10:17, 18) não permitiria que o drama da paixão terminasse com a tragédia
da cruz. Em vista de termos morrido e ressuscitado na pessoa de nosso
Substituto, somos confrontados com o desafio belamente expresso por
Paulo: “Ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si
mesmos, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2Co 5:15).
20 de dezembro

Deus conosco

Ele será chamado pelo nome de Emanuel (que quer dizer: Deus conosco).
Mateus 1:23

Na abertura do Evangelho de Mateus, encontramos um título famoso usado


pelo profeta Isaías (7:14): Emanuel. No contexto histórico do profeta do
Antigo Testamento, cercado por inimigos, o nascimento dessa criança
simbolizava a presença e a intervenção divina em favor de Seu povo. Mateus
utiliza o título de modo messiânico. A criança aqui não apenas indica a
presença de Deus em sentido simbólico, mas de maneira concreta e pessoal.
Em Jesus (“Yahweh salva”), Deus em pessoa está conosco.
Por outro lado, Mateus termina com uma grande reivindicação do
ressuscitado Senhor: “É-me dado todo o poder no Céu e na Terra” (Mt 28:18,
ARC, itálico acrescentado). Em seguida, é apresentada uma grande
comissão, baseada em Sua afirmação de poder: “Portanto, ide, ensinai todas
as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
ensinando-as a guardar todas as coisas que vos tenho mandado” (v. 19,
itálico acrescentado). Em terceiro lugar, temos uma grande promessa: “Eis
que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (v. 20,
itálico acrescentado). A autoridade, a comissão e a promessa de Cristo são
marcadas pelo pronome “todo”. Essas são as últimas palavras de Jesus em
Mateus. Observe que o evangelho tem início com o título Emanuel, “Deus
conosco”, e é encerrado com a essência dele: “Estou convosco.”
Aqueles que meditam nEle, oram em Seu nome e buscam ser leais à Sua
convocação, executando Sua vontade, descobrirão que Ele é o divino
companheiro da jornada. “Todos os dias” é a expressão crucial nesse texto.
Há nela um eco de segurança e autoridade. Todos nós vivemos um dia após
o outro e não sabemos o que o dia de hoje ou o amanhã nos trará. Contudo,
podemos estar seguros, pois Aquele que está conosco não é tomado de
surpresa. Nada pode roubar-Lhe o poder, que é absoluto. Sua infalível
promessa de estar conosco todos os dias, ser Emanuel, presente em cada
curva da estrada, garante segurança e paz “todos os dias”. Nos dias alegres
e ensolarados ou nos dias tristes e sombrios, Ele permanece inalterável. A
tragédia, os golpes e as perplexidades da vida, que podem apagar o sorriso
e destruir sonhos, tornam-se apenas as sombras para onde Ele estende a
mão para nos tocar, em suave conforto. Não importa quanto tenhamos que
esperar, Jesus permanece o eterno e contemporâneo Amigo, Guia e
soberano Senhor.
21 de dezembro

Poder revelado na fraqueza

Se o Meu reino fosse deste mundo, os Meus ministros se empenhariam por


Mim, para que não fosse Eu entregue aos judeus; mas agora o Meu reino
não é daqui. João 18:36

Para Jesus Cristo, o único tipo de poder que conta é aquele revelado em
submissão a Deus. Ele demonstrou que o domínio, a coação e a
manipulação não caracterizam o poder autêntico. Essas não são Suas
marcas identificadoras. Verdadeiro poder é visto naquele tipo de
vulnerabilidade que não se manifesta em “autoafirmação”; é visto
dependurado na cruz em demonstração de amor. Em Sua vida, o poder foi
manifestado em vulnerabilidade. A maneira como Ele Se introduziu no
mundo e a forma em que terminou os “dias de Sua carne” foram declarações
acerca da qualidade de Seu reino. É apenas quando permitimos que isso
capture nossa vontade e molde nossa vida que descobrimos o que realmente
é importante.
No romance de Michel Tournier Os Quatro Homens Sábios, um jovem
príncipe deposto encontra-se com o infante Jesus em Belém. O príncipe Taor
tinha sido reduzido a trapos. Diariamente ele sonhava em retomar o trono
que era verdadeiramente seu para exercer o poder que era seu por direito.
Ele se ressentia da pobreza na qual havia caído. Mas, depois de ver o
menino Jesus, sua perspectiva muda.
Outro príncipe, então, pergunta a Taor: “O que Belém lhe ensinou acerca do
poder?” O príncipe responde: “O exemplo da manjedoura ensinou-me sobre
a força da fraqueza, a irresistível gentileza da não violência, ensinou-me a lei
do perdão… Em vista de tudo isso, eu depositei a moeda de ouro com a
esfinge de meu pai, rei Theodenos, aos pés da criança. Esse era meu único
tesouro, minha única prova de que era o herdeiro legal do trono de Palmyra.
Ao abrir mão dela, eu renunciei a meu reino, para buscar o outro reino
prometido pelo Salvador.”
Essa é a lição que precisamos aprender. Um considerável número de
cristãos gostaria de ver a religião deles imposta por leis civis. Isso seria uma
religião forçada pelo mesmo poder mundano dos governos e autoridades.
Não testemunhamos do reino de Jesus Cristo buscando coagir ou impor Sua
vontade àqueles que não O reconhecem. Em lugar de querer alistar as
estruturas da sociedade a serviço da religião, necessitamos nos ver como
seguidores dAquele que “estava no mundo, […] mas o mundo não O
conheceu” (Jo 1:10).
22 de dezembro

Nada mais belo

Examinais as Escrituras, […] e são elas mesmas que testificam de Mim. João
5:39

O Senhor Jesus Cristo está infinitamente além de tudo aquilo que


poderíamos sonhar ou imaginar. Sua grandeza, Seu esplendor, Sua beleza e
Sua glória podem ser desconhecidos mesmo para um grande número de
cristãos, mas Ele é o mapa e o compasso para a jornada da vida. Jesus
Cristo é a Pedra de Roseta para a compreensão das Escrituras. Sem Ele,
nada faria qualquer sentido. Mesmo depois de dois mil anos de história, Sua
luz é mais brilhante do que nunca. João Calvino afirmava que devemos ler as
Escrituras com o expresso desejo de encontrar a Cristo nelas. Sem Ele,
nunca entenderemos a verdade nem a sabedoria de Deus, o Pai. Segundo
Charles Spurgeon, o grande pregador inglês, “em cada texto das Escrituras
há um caminho para o seu centro, que é Cristo”.
Há pouquíssimos textos nos evangelhos em que encontramos Deus, o Pai,
falando audivelmente. Quando isso acontece, Ele aponta para o Filho: “Este
é o Meu Filho amado em quem Me comprazo” (Mt 3:17). Na transfiguração, o
Pai mais uma vez refere-Se ao Filho: “Uma nuvem luminosa os envolveu; e
eis, vindo da nuvem, uma voz que dizia: Este é o Meu Filho amado, em quem
Me comprazo, a Ele ouvi” (Mt 17:5). É o Filho que enche o coração do Pai,
porque, segundo Jesus, aquilo de que o coração está cheio fala a boca. O
mesmo é verdade em relação ao Espírito Santo. Ele não tem outra revelação
senão dar testemunho de Cristo e glorificá-Lo (Jo 14:25, 16:14), e convencer
o mundo “do pecado, da justiça e do juízo” (Jo 16:8-11). Essas verdades são
conhecidas apenas em relação a Cristo. A missão do Espírito é exaltar a
Cristo e relembrar aquilo que Ele ensinou.
Se você explorar os dias da criação à luz do Novo Testamento, descobrirá
que tudo na criação visível é uma imagem de Jesus: Cristo é luz, Cristo é a
água, Ele é a videira verdadeira, o trigo e o pão da vida, Ele é o Sol e a
estrela da manhã, o verdadeiro Cordeiro e o Homem ideal, o segundo Adão.
Ele é o verdadeiro sábado (Mt 11:28). Em seu livro Diário de um Escritor,
Fiódor Dostoiévski, romancista russo, mesmo reconhecendo-se um “filho da
descrença e da dúvida” e falando da sua “sede de crer”, admitiu que “nada
há de mais belo, de mais profundo, de mais perfeito do que Cristo. Não só
não há nada, mas nem sequer pode haver”.
23 de dezembro

O que espera você?

Havia em Jerusalém um homem chamado Simeão; homem este justo e


piedoso que esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava
sobre ele. Lucas 2:25

A introdução do Evangelho de Lucas registra as narrativas da infância de


Jesus. Encontramos aqui três cânticos. O terceiro, o Nunc Dimittis, é o
cântico de Simeão, personagem semianônimo, figura quase esquecida
dessas narrativas. Embora obscuro e desconsiderado, Simeão não apenas é
parte integral da história bíblica do nascimento de Jesus, mas ele representa
um desafio aos cristãos de hoje. No texto de hoje, é dito que Simeão vivia
“esperando a consolação de Israel”.
O que espera a maioria das pessoas? Assegurar a reputação? Ter seu nome
honrado? Acúmulo de riqueza? Uma aposentadoria sem preocupações? Ver
a realização de um grande projeto? E você, querido leitor, o que espera?
Simeão nutria expectativa diferente da maioria das pessoas. Sua prioridade
na vida não estava ligada a nenhum sonho pessoal. Simeão tinha outra
ambição. Ele vivia para ver aquilo que Deus realizaria. Algo novo, verdadeiro
e infinitamente melhor e belo. Ele vivia para testemunhar a realização da
promessa divina no Messias.
A palavra “consolação” no texto é um termo raro no Novo Testamento.
Aparece em Lucas apenas duas vezes: uma é aqui (Lc 2:25), a outra é em
6:24, ao falar do galardão daqueles que são perseguidos por causa do reino
de Deus. Lucas acrescenta que todos os que se realizam nas coisas do
presente já têm a “consolação” deles aqui e não podem esperar nenhuma
consolação vinda de Deus. As pequenas e falsas “consolações” nos excluem
do real e verdadeiro consolo.
Simeão fora instruído por revelação “que ele não morreria sem antes ter visto
o Cristo do Senhor” (Lc 2:26, ARC). Na cena do templo, ao ter o infante
Jesus nos braços, ele pronuncia a famosa sentença: “Agora, Senhor, podes
despedir em paz o teu servo” (Lc 2:29).
Essas palavras entraram para a história do cristianismo como um hino. Elas
soam no texto como um grito de libertação da expectativa de uma vida
passada em função de uma esperança dominante. O Natal agora aponta
para Seu retorno, a grande consolação do segundo advento. A questão é:
Como tal esperança afeta, modifica e controla a vida, o comportamento, os
valores, a ética e os interesses? Se isso não tem nenhum impacto na
realidade concreta, então não passa de uma piedosa ilusão.
24 de dezembro

Não houve lugar para Ele

E deu à luz o seu filho primogênito, e envolveu-O em panos, e deitou-O


numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem. Lucas
2:7, ARC

Os quatro evangelhos apresentam detalhes e ênfases sobre o nascimento de


Jesus. As narrativas são coloridas por um cântico que explode em notas de
alegria. No pequeno infante da manjedoura, Deus cruzou o abismo que
separava o Céu da Terra, invadiu nossas trevas, quebrou o silêncio mortal
que envolvia a humanidade perdida e trouxe a todos “boa-nova de grande
alegria” (Lc 2:10). “Você deverá dar-lhe o nome de Jesus”, diz o anjo a José,
“porque Ele salvará o Seu povo dos seus pecados” (Mt 1:21, NVI).
O estranho, contudo, é a atitude humana diante do dom divino. O realismo
bíblico não passa por alto o fato de que “não houve lugar para Ele” nas
estalagens de Belém. João é ainda mais claro ao afirmar que Jesus
enfrentou definida rejeição no mundo que Ele criara e viera salvar: “Veio para
o que era Seu, e os Seus não O receberam” (Jo 1:11). O mais trágico e
inexplicável é que tal atitude de rejeição ocorre primariamente dentro dos
limites de Israel, entre aqueles que tinham as Escrituras nas mãos e se
julgavam “o povo de Deus”.
Hoje, como ao longo da história, a atitude de rejeição não é diferente. As
pessoas em geral continuam fazendo a escolha errada, optando pelas trevas,
enquanto poderiam conviver com a Luz. Pior ainda, é possível estar na igreja
e permanecer alienado de Cristo, apegando-se à idolatria das formas e
negando a essência. Podemos transformar o Natal em mera ocasião de
presentes e ceias, inconscientes do que realmente conta na celebração.
Quer isso dizer que deixaríamos os presentes e a ceia? Não, significa
apenas que deveríamos dar novo significado a essas práticas, usando a
ocasião para incluir necessitados em nosso círculo.
Com o mesmo realismo, entretanto, as narrativas dos evangelhos fazem
referência àqueles que foram atraídos por Jesus e a Ele se consagraram
sem reservas. “A todos quantos O receberam”, diz João, “deu-lhes o poder
de serem feitos filhos de Deus, a saber, os que creem no Seu nome” (Jo
1:12). Esse é nosso grande privilégio e oportunidade. Pela fé e decisão
pessoal, não devemos permitir que o milagre do nascimento de Jesus se
torne prisioneiro de um passado distante. Pela fé, podemos permitir que esse
milagre se repita em nosso coração. E pelo poder divino seremos feitos
novas criaturas.
25 de dezembro

A encarnação de Jesus

E o Verbo Se fez carne e habitou entre nós. João 1:14

A encarnação de Jesus Cristo é a doutrina central do cristianismo, o ensino


básico da fé cristã. Sem ela, todo o cânon bíblico seria um documento
incompreensível, sem sentido. Ela é a pedra de toque de todo o
conhecimento de Deus e da teologia. Ellen White observa que “a
humanidade do Filho de Deus é tudo para nós. É a corrente de ouro que liga
nossa alma a Cristo, e por meio de Cristo a Deus” (Mensagens Escolhidas, v.
1, p. 244). A autora também nos relembra de que a humildade do Salvador
em humanizar-Se para salvar-nos constitui a maravilha do Universo. Abrindo
mão de Suas vestes reais, da coroa de glória e de Sua posição de alto
comando, Ele revestiu de humanidade Sua divindade. Veio ao encontro do
ser humano onde ele estava.
A encarnação ainda é extraordinária de um ângulo concreto. Pense no
nascimento de Jesus em uma manjedoura, um lugar inadequado para o
nascimento de um rei. Ele não merecia algo melhor? Se Cristo tivesse me
consultado, eu poderia ter-Lhe sugerido que fizesse uso de Seu poder.
Estalando os dedos, Ele poderia ter criado um hospital equipado com uma
ultramoderna ala de obstetrícia. Mas Ele não me consultou. Nasceu em uma
estrebaria. Ele poderia ter nascido em um grande centro, aumentando assim
a habilidade das pessoas de se lembrarem dEle. Ao contrário disso, escolheu
a obscura Belém. Quem testemunhou Seu nascimento? Alguns pastores de
ovelhas, um grupo marginalizado dentro do judaísmo oficial.
Quem foram seus pais humanos? Ele desconsiderou a venerada pureza de
sangue da tradição judaica. Sua linhagem de ancestrais foi comprometida
por Rute, uma moabita, e por Raabe, uma cananeia de baixa reputação. As
pessoas se orgulham de ancestrais importantes, da força genética. Mas esse
surpreendente Jesus descartou tudo isso. Não é estranho? Ele foi uma
pessoa comum. Com uma séria agravante: escolheu nascer com o estigma
de uma concepção fora do casamento.
Se o nascimento de Jesus fosse cercado de realeza e sofisticação, esse fato
afastaria milhões de seres humanos de Sua presença. Isso era precisamente
o que Ele não poderia permitir. Não queria que as pessoas fossem
intimidadas por exterioridades. Sua encarnação revela que todos podem se
aproximar dEle livremente. Você e eu estamos incluídos. Por isso, desejo-lhe
um Feliz Natal!
26 de dezembro

“Dentro em breve, sim…”

Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do


grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo. Tito 2:13, ARC

Alguma vez você olhou para o mundo ao redor – as perplexidades, o cerco


opressivo de uma enfermidade, a violência, a injustiça, a corrupção, a traição
de alguém em quem você julgou poder confiar, as incertezas de um
diagnóstico desfavorável, a depressão, a impotência humana diante dos
absurdos da vida e a brutalidade das perdas – e se perguntou se a vida é
apenas isso? Alguma vez, olhando a variedade dos desencantos, você já se
perguntou se não existe um lugar em que a vida é sem fim, onde a felicidade
é duradoura e os relacionamentos perduram sem separações ou
despedidas?
De fato, algo dentro de nós grita por uma paz que nunca desfrutamos
plenamente. Sentimos saudades de um lugar em que nunca estivemos.
Mesmos os melhores momentos parecem, às vezes, envolvidos por uma
aura de nostalgia, talvez por sabermos que a juventude, a saúde, os
relacionamentos e o sucesso apenas brilham por pouco tempo e logo se
desfazem. Blaise Pascal, filósofo francês, estava correto ao ponderar que
nossos anseios são evidência de nossa origem. Afinal, quem se sentiria
infeliz por não ser um rei, exceto um rei deposto?
Os cristãos aguardam ansiosos o retorno de Cristo, a solução final para os
males do presente. Se nossas expectativas quanto ao futuro estiverem
centralizadas na “bendita esperança”, como Paulo chama o advento de
Jesus Cristo, podemos ser pessoas de esperança. Podemos olhar com
confiança para além da dor e dos males que testemunhamos. Essa
esperança provê a libertação da tirania das inseguranças humanas. A
certeza do retorno de Cristo ajuda-nos a confrontar o presente de modo mais
realista do que jamais foi imaginado pela ciência ou pela filosofia. Essa
convicção nos ajuda a não absolutizar o mal que nos cerca, redime o
significado da vida e nos transforma.
Ser orientado pelo segundo advento de Cristo não significa meramente
simpatizar-se com uma abstração ou recorrer a um tipo de escapismo da
história. Significa assumir um estilo de vida solidário, porque, afinal, aqueles
que estão comprometidos com “as coisas de cima” se tornam
verdadeiramente comprometidos com “as coisas legítimas daqui debaixo”. A
fé no retorno de Jesus equivale a possuir o futuro sem alienação do
presente.
27 de dezembro

Os heróis e o Herói

Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se


não veem. Hebreus 11:1

Se 1 Coríntios 13 é a sublime anatomia do amor, Hebreus 11 é a fé


exemplificada. Fé verdadeira, contudo, deixa o nível do abstrato para entrar
no reino da realidade. Todo o capítulo é uma “lista de chamada” dos grandes
vultos a quem a tradição passou a chamar de “heróis da fé”. A narrativa está
pontuada com o refrão “pela fé…”. Porém, mais do que definir a fé, o autor
sagrado passa a demonstrar como a fé se comporta na vida concreta. Com o
autor, marchamos pela coluna formada por inúmeros personagens do
passado. A narrativa demonstra como cada nome mencionado exibiu as
características da fé. Tornaram a esperança realidade. Puderam andar vendo
o que não podia ser visto, de tal forma que o invisível tornou-se real. Nos
vários exemplos, aprendemos que a crença torna-se fé no ponto da ação.
Encontramos nesse capítulo dois movimentos. Da criação, ele passa pelo
mundo antediluviano, relembra a experiência dos patriarcas e nos leva à
conquista de Canaã. Em muitos casos, esses heróis, como Sara, voltam-se
do reino sensorial para a fé, esperando o cumprimento de promessas ou a
intervenção divina na própria vida. No verso 32, temos uma ruptura. O autor
passa em revista vultos do Antigo Testamento sem fazer referência a nomes.
Aqui seus atos dividem-se em três categorias. Primeiramente, são citados
atos incomuns: foram poderosos na batalha, puseram em fuga exércitos
inimigos, etc. Em segundo lugar, são enfocados atos sobrenaturais:
fecharam a boca dos leões, apagaram a fúria das chamas, estéreis
conceberam, etc. Finalmente, são destacados atos de grande resistência
vividos sob condições desfavoráveis: resistiram a insultos, sofrimento
extremo, tortura, rejeição e enfrentaram a morte.
Esses heróis nos relembram que nosso tamanho será avaliado pelo tamanho
do obstáculo capaz de nos fazer desanimar. Observe que aqueles descritos,
mesmo sob um escrutínio superficial, revelaram graves falhas. Veja a
referência a Raabe, Baraque, Jefté. A esses acrescente os nomes de Noé,
Abraão, Moisés, Sansão, Davi. Nenhum deles tinha qualquer recomendação
realista.
O propósito da narrativa é claro: o único Herói aqui não é nenhum desses
figurantes disfuncionais, mas Jesus Cristo, que os aceitou, trabalhou com
eles e os transformou em luzes brilhantes. Eles eram pessoas comuns, como
eu e você, mas foram habilitados a viver de modo extraordinário.
28 de dezembro

Transação consumada

E disse a Jesus: Senhor, lembra-Te de mim, quando entrares no Teu Reino.


Lucas 23:42, ARC

Os leilões norte-americanos são, no mínimo, um espetáculo. Digo isso


porque nunca vi um no Brasil. Estive, contudo, em um deles em Michigan, a
convite de um amigo, vendedor de carros usados. A cantilena na voz do
leiloeiro é algo de impressionar. Além de estar atento às mudanças do preço,
você precisa ficar absolutamente imóvel, fui advertido. Um leve sinal com a
mão, coçar a cabeça, uma sutil contração da face, imperceptíveis a olhos
ignorantes, ao olhar aguçado do leiloeiro podem significar uma oferta ou a
aceitação da proposta, que o levará a proclamar a aquisição: “Vendido.”
Seria Deus assim?
As Escrituras apresentam quadros de pessoas alcançadas pela graça em
condições absolutamente estarrecedoras. Observe o homem na cruz da
direita. Quase nada sabemos sobre “Dimas”, o “bom ladrão”, assim chamado
pela tradição. Seu mundo está se desfazendo, e ele afundando na penumbra
de um horizonte sombrio. A última linha está sendo tragicamente escrita. Os
ponteiros do relógio avançam para o instante final. Então acontece! É apenas
um relance da visão periférica. Singularmente ele percebe Jesus,
companheiro da mesma cena. Suas palavras são quase um sopro, uma
respiração ofegante: “Jesus, lembra-Te de mim.” É só uma frase de
aceitação no universo de todas as outras escolhas errôneas. Mas nela se
concentra a atenção dAquele cujo maior negócio é encontrar sinais de
interesse, mesmo os mais tímidos. Nada Lhe passa despercebido. Nesse
instante, o Calvário se converte num tanque batismal. “Oferta aceita”, brada o
“divino Leiloeiro”. Apenas um olhar transversal. Apenas uma curta frase.
Curtíssima no aramaico. Quase inaudível. Mas suficiente para a proclamação
de que a “transação está consumada”.
Você se ofende com a graça ou exulta e bate palmas eufóricas para ela? A
graça de Deus é absurda para nós, acostumados com a noção de “justiça”
vinda da jurisprudência humana. A graça de Deus é surpreendente. Quase
podemos ver Jesus, ainda hoje, inclinado sobre enfermos, nos instantes
finais, atento ao mínimo sinal de aceitação. Apenas um dedo levantado na
direção do Céu, um olhar para Ele. Podemos quase ouvir Sua proclamação,
como diz meu amigo Dwight Nelson: “Vendido para Meu filho, nessa cama de
hospital.”
29 de dezembro

Surpreendidos pelo previsível

Virá o senhor daquele servo em dia em que não o espera e em hora que não
sabe. Mateus 24:50

Em Mateus 24 e 25, Jesus conta três parábolas relacionadas com o tempo


de Seu retorno. A terceira parábola (Mt 25:1-13) continua o tema da espera
vigilante, introduzido nas duas anteriores. A cena da parábola é a de um
casamento na Palestina. Nos tempos bíblicos, o casamento era uma questão
social. A comunidade inteira era envolvida. Embora os costumes variassem
em detalhes, um aspecto comum era o cortejo nupcial à luz de tochas. O
grupo do noivo, com seus acompanhantes, chegava à casa da noiva à noite
para recebê-la. Esse era o clímax da cerimônia, quando ela o acompanhava
para o novo lar.
Jesus é simbolizado pelo noivo, e a ênfase está na divisão entre os dois tipos
de acompanhantes da noiva. “O reino dos Céus será semelhante a dez
virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram a encontrar-se com o noivo.
Cinco dentre elas eram néscias, e cinco prudentes” (Mt 25:1, 2). As néscias
ou “loucas” tomaram as lâmpadas, mas se esqueceram do azeite. A atitude
nada tem que ver com inteligência e estupidez. O significado da palavra
“prudente” aqui é “manter os olhos abertos”. As virgens sábias estavam
alertas. Fizeram provisão. Para elas não havia confusão sobre o que era
importante. Esse é o grande problema com um incontável número de
cristãos. Vivendo a essa altura da história, eles ainda não perceberam o que
realmente conta, o que realmente é importante. A conversa, as escolhas, os
interesses, os planos e o comportamento claramente revelam que eles não
têm a mínima ideia do que é prioritário. Esses são representados pelas
“loucas” ou insensatas.
A palavra para “louco”, em Mateus, indica aquele que está fora da esfera do
reino de Deus. O louco, como no Salmo 14:1, é aquele que vive como se
Deus não existisse. Ele pode professar discipulado, mas não vai além disso.
As “virgens loucas” seguem a Cristo apenas no nível do discurso. Por isso,
recebem a mesma sentença pronunciada contra os falsos profetas (Mt 7:17-
23):
“Apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade!” O irônico é que as
“virgens loucas” são surpreendidas pelo previsível. É justificável sermos
surpreendidos pelo inesperado, por aquilo com o que não contávamos. Mas
qual a justificativa para sermos surpreendidos quando todas as evidências
foram fornecidas em antecipação e detalhes?
30 de dezembro

Sete razões que farão do Céu o lugar ideal

Vi novo Céu e Nova terra. Apocalipse 21:1

Pelo menos por sete razões o Céu será um lugar perfeito:


1. Teremos um novo corpo (1Co 15:50-54; 2Co 5:4). Nosso corpo atual se
cansa, sente dores e se torna enfermo. Com o tempo, envelhece e torna-se
lento. Nossos olhos se escurecem, e a audição diminui. Surgem as rugas, e
a gravidade nos vence. A maioria das pessoas não está feliz com o corpo.
Milhões são gastos em cirurgias e tratamentos para corrigir ou cobrir as
imperfeições. No Céu, não precisaremos mais desses recursos.
2. Viveremos na melhor casa que se pode imaginar (Jo 14:1-4). Aqui não há
nenhuma casa perfeita. Nossa família mudou-se muitas vezes. Nunca
estivemos plenamente realizados com as casas. Sempre havia algum
problema, como quartos apertados, falta de espaço, linhas telefônicas ou
abastecimento de água precários, neve para ser removida ou escadas que
me faziam sentir como se estivesse me preparando para escalar o Everest.
No Céu, viveremos na casa perfeita. Se em seis dias Deus fez este mundo
extraordinário, o que Ele não estará preparando em milênios?
3. Teremos alimento incomparável (Ap 19:9; Mt 8:11). Qual o melhor
restaurante em que você já comeu? Ou talvez você nunca se deu a esse
luxo. Em uma enorme mesa, participaremos do melhor cardápio possível,
sendo que o chef é o próprio Jesus.
4. Encontraremos pessoas interessantes (Hb 11:39, 40). Por anos, ouvimos
falar delas. Chegará, então, o momento de encontrá-las. Com quem você
mais gostaria de conversar? Adão? Eva? Moisés? Rute? Daniel? Pedro?
Paulo? Nicodemos? Zaqueu? Eles serão seus amigos na eternidade.
5. Reencontraremos nossos queridos (1Ts 4:13-17). Penso em meu pai,
minha mãe, irmãos e amigos. Desejo vê-los outra vez e ouvir sua voz. Quero
ver fisionomias que nunca esqueci e segurar-lhes as mãos.
6. O Céu será a terra do “não mais” (Ap 7:16, 17; 21:4). Não mais fome,
sede, desencantos, lágrimas, morte, separações. Não mais insegurança nem
portas fechadas. Nada de injustiça, violência, coisas impuras nem pessoas
más. Pense nas coisas que aqui desgostam você. Elas não estarão lá. Não
haverá mais pecados e quedas (Ap 21:27).
7. A mais radiante e doce razão: veremos Deus Pai, Filho e Espírito Santo
face a face (1Jo 3:2; Ap 22:4).
31 de dezembro

Você é convidado de honra

O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que
tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida. Apocalipse
22:17

Arte, música e literatura refletem a permanente insatisfação humana com o


estado de coisas que nos cercam. Sentimo-nos desajustados e infelizes no
convívio com a enfermidade, morte, falta de sentido, separações, injustiças,
insegurança, perplexidades e absurdos inexplicáveis que aparecem no
cardápio daquilo que nos é servido no planeta Terra. Encontraremos, afinal,
a paz e a felicidade que tanto buscamos?
Faz alguns anos, tive a oportunidade de servir como líder de jovens
adventistas para alguns estados do Brasil. Na época, utilizamos um folheto
missionário, no formato de um convite, impresso em papel de linho e em
letras de estilo gótico. O belíssimo e comovente texto, escrito pelo pastor
Assad Bechara, dizia o seguinte:
Você é convidado de honra para o casamento do Príncipe Herdeiro, Sua
Majestade, Rei do Universo, e Sua noiva, a Igreja, no castelo real, Nova
Jerusalém, no Céu.
O Noivo foi preparar lugar para os convidados (João 14:1-5).
A cerimônia terá início logo após Sua volta para a festa dos séculos
(Apocalipse 19:6-9).
Hospedagem em palácio. Traje, transporte e extras fornecidos gratuitamente.
Reserva e informações nas igrejas adventistas do sétimo dia. Confirme sua
presença com urgência.
O convite continua de pé e inclui você. De fato, ninguém é excluído, exceto
aqueles que resolvem se excluir. O plano divino prevalecerá afinal,
estabelecendo o reino perfeito para os santos do Altíssimo. Estou fazendo
sérios planos para estar presente na “festa dos séculos”. Encontro você lá!

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