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FAMÍLIA
Genograma familiar.
O bisturi do Médico
de Família
LUÍS REBELO*
O frontado frequentemente
com motivos de consulta e
diagnósticos em que estão
presentes factores familiares. A este
propósito, Thomas Campbell, um influ-
minutos, pode avaliar a funcionalidade
familiar mediante a aplicação de testes
como o Apgar Familiar ou o Círculo Fa-
miliar. O primeiro mais quantitativo, o
segundo mais qualitativo, baseiam-se
ente médico de família e autor america- ambos na percepção individual do pa-
no, faz recomendações práticas que po- ciente sobre as qualidades funcionais
dem orientar a tomada de decisão em da sua família. O profissional, conhe-
Medicina Geral e Familiar tornando a cendo as potencialidades dos dois ins-
sua acção mais eficiente (Quadro I).1 trumentos, deve utilizá-los caso a caso,
Como é que o médico de família ou em conjunto ou em separado.
outro profissional pode conhecer o con- Para observar a família como um to-
texto familiar de um seu paciente? do, com o objectivo de obter apoio para
Antes de mais, é útil que conheça determinado paciente, ou pela relevân-
qual é a constituição da família e o grau cia do problema de tipo familiar diag-
de parentesco e o tipo de relacionamen- nosticado ou ainda pelo seu impacto no
to entre eles – no fundo tem de conhe- seio da família, então o médico pode
cer a estrutura familiar. Depois, é ne- propor a realização de uma Entrevista
cessário que o médico, em face do pro- Familiar.
blema de saúde que o paciente apresen- Se o médico quiser avaliar e registar,
ta, se aperceba do tipo de resposta dos ainda num contexto mais amplo, todos
membros da família, ou seja, se aper- os elementos do seu meio e da nature-
ceba se a família do paciente actua e se za e qualidade das interacções entre
comporta enquanto tal, se «funciona». eles, pode realizar um Eco-Mapa.
Por fim, é importante que saiba Embora o médico registe informação
quando deve passar do registo indivi- de tipo familiar sistematicamente é re-
dual para uma observação do sistema conhecido que em certas situações clí-
familiar. nicas a avaliação da funcionalidade fa-
Na prática clínica diária o método miliar é mandatória (Quadro II).2
mais usado de avaliação do contexto fa-
miliar consiste na realização de um ge-
nograma familiar. A construção e inter-
GENOGRAMA FAMILIAR
pretação de um genograma familiar é
*Médico de Família do Centro uma competência básica de um médi- Em Medicina Geral e Familiar, o geno-
de Saúde de Alvalade (ARSLVT).
Professor da Faculdade de
co de família. É um instrumento de grama familiar é o mais importante mé-
Medicina de Lisboa trabalho tão importante para o médico todo de estudo de uma família. Ao longo
QUADRO I
• Contexto Familiar – sempre que um paciente apresente uma queixa numa consulta considere inquirir sobre o seu
contexto familiar
• Stress Familiar – esteja de sobreaviso quanto à existência de factores de stress ou/e conflitos relacionáveis com os
problemas de saúde apresentados
• Triângulo Terapêutico – estabeleça boas relações com todos os elementos de uma família e evite coligações no seu interior
• Conferência Familiar – convoque uma conferência familiar sempre que for útil para o paciente, a família ou o médico
• Nível de Envolvimento com as Famílias - é útil decidir o nível de envolvimento que quer manter com as famílias na sua
prática clínica
• Referência e Colaboração – é necessário ter presente como e quando referenciar famílias para a terapia familiar e estar
capacitado a trabalhar em equipa com os profissionais de saúde mental
*Campbell TL. Family Systems Medicine. In: Saultz JW (editor). Textbook of Family Medicine. Mc Graw-Hill. 2000:739-50.
QUADRO II
QUADRO III
QUADRO IV
SÍIMBOLOS GENOGRAMA
1. Mulher Homem
1969
2. Morte e ano
1960
3. Casamento e ano ou
1961
1962
6. Divórcio e ano
9.
1º 2º 3º 4º 5º 6º
filho AP filho AE filho filho filho filho
Aborto Aborto Gémeos Gémeos
Provocado Espontâneo Dizigóticos Monozigóticos
(AP) (AE)
Relação Escassa
11. Relação conjugal conflituosa
Relação Boa
12. Conflito conjugal
e amante
Relação Excelente
Adaptado de Rakel RE: Principles of Family Medicine. Philadelphia. W. B. Saunders C.O. 1979
QUADRO V