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Dez maneiras de destruir a imaginação de seu filho

Obra Comentada:
Esolen, Anthony, Ten Ways to Destroy the Imagination of Your Child. 1ª ed. Wilmington: ISI
Books, 2010. (Sem tradução para o português.)

Tags: Crítica Cultural; Engenharia Social; Educação; Infância; Imaginação; Cultura de Massas;
Totalitarismo.

Na introdução, o autor explica por que é importante destruir a imaginação das crianças. Ele diz
que, se os bons livros são perigosos – porque podem mandar para os ares o mundo artificial
em que as pessoas estão metidas e abrir-lhes a imaginação para o mundo real, onde poderão
contemplar a Beleza, a Verdade, o Bem –, as crianças são ainda mais perigosas, porque tudo
para elas é novidade. A imaginação delas precisa ser contida desde o começo, para que não se
torne incontrolável no futuro; elas precisam crescer dóceis para se encaixarem no mundo que
as espera, suavemente se submetendo às necessidades do Estado e da sociedade de massas.

É preciso converter as crianças em recursos para o Estado: elas devem ser de boa qualidade,
sólidas, confiáveis e inertes. Este livro é um manual de como fazer isso.

Ele diz que, pela primeira vez na história da humanidade, a maioria das pessoas está
trabalhando em coisas que não poderiam jamais despertar o interesse de uma criança. É
somente reprimindo a imaginação que muitos de nós suportamos o nosso trabalho. Diz o
autor:

“Já que devemos ter filhos, devemos garantir que eles sejam submetidos às técnicas mais
eficientes para encaixá-los no mundo em que viverão – um mundo de shopping centers iguais
por toda parte, comida enlatada igual por toda parte, burocracia igual por toda parte,
entretenimento de massas igual por toda parte, política igual por toda parte.” (p. xiii)

Com uma aplicação judiciosa de três ou quatro dos métodos expostos neste livro, você poderá
garantir que isso aconteça, completando, em casa, a destruição já iniciada pela escola e pela
televisão.

No capítulo intitulado “Por que a verdade é sua inimiga”, o autor começa falando sobre Tempos
Difíceis, de Charles Dickens. O professor Gradgrind só valoriza, na educação de seus alunos e
de seus filhos, aqueles fatos que podem ser mensurados em laboratório ou submetidos de
algum modo a um experimento científico. Isso era uma necessidade, porque a produção
industrial estava a todo vapor e precisava de homens que soubessem operar o mundo material
com muita eficiência.

Esolen diz que este foi um bom começo, sem o qual a educação moderna não teria concluído o
seu primeiro estágio, rebaixando o senso da beleza a um sentimento particular e irracional.
Porém, há um problema com esse método: fatos são realidades e podem acabar despertando a
engenhosidade da criança. O autor fala do fascínio dos meninos pelas máquinas e pelo seu
funcionamento, algo que era bastante incentivado em outros tempos. Para o nosso tempo, a
transmissão de fatos tem seus perigos. A criança pode acabar aprendendo a fazer algo, ou se
interessar tremendamente pelos elementos do mundo, escapando do controle.

Hoje, nós não precisamos mais de pessoas que saibam fatos – ou pelo menos não é isso que
devemos encorajar. Está tudo registrado nos livros ou é da alçada de algum departamento do
governo. O Estado toma conta de tudo o que é indispensável ao bom funcionamento da
sociedade; então, para que se se preocupar? Se o que queremos é a incapacidade, o
narcisismo, a superficilidade e a ignorância, é isso que deve vir sob a forma de “educação”.
Queremos apenas uma educação esvaziada de qualquer estímulo à imaginação, mas também
incapacitante para qualquer fim prático.

Memória
Para nos livrarmos da influência dos fatos, é preciso enfraquecer a memória. Os educadores
devem menosprezar a memorização e priorizar o pensamento crítico e a “criatividade”.

Para destruir a memória, há duas maneiras. A primeira é encorajar a preguiça, jamais


insistindo que a criança domine, por exemplo, as regras da multiplicação, ou memorize a
localização de cidades e rios no globo terrestre. Depois é só preenchê-la com lixo. Diz o autor:

“Um de meus professores, o medievalista George Kane, uma vez contou-me sobre um
fazendeiro que recitava Paraíso Perdido enquanto arava o campo. Imagine o perigo que um
homem destes representa. (…) Possuir esse tesouro de poesia na memória – um tesouro de
conhecimentos sobre o homem, arranjado em música – é estar armado contra os anunciantes
e os controladores sociais. É ter a chance de pensamento independente, e a independência é,
por natureza, imprevisível.” (p. 14)

Mas, mesmo com todo o esforço do sistema educacional, é impossível evitar que a criança
entre em contato com alguns fatos que acabem indicando para ela algo que é real, bom e
enobrecedor. Por isso, os planejadores sociais devem ficar atentos, privando esses fatos do
poder de alimentar a imaginação, e isso se faz ensinando-os de maneira aleatória e
desorganizada. Ele diz:

“Não ensine história ou geografia, porque essas matérias requerem uma estrutura mais
abrangente na qual os fatos tenham sentido. Ensine 'unidades', gastando um mês no Egito,
outro no Japão, como quiser. (…) Transforme ciência em biologia, biologia em ecologia e
ecologia em coisinhas fofas. (…) Se a imaginação tem asas, podemos impedi-las de voar,
atrofiando-lhes todos os músculos e ossos.” (pp. 15-16)

Ele lembra que o senso de estrutura – o senso da gramática em sentido amplo, ou seja, das
normas de cada ciência ou arte, que ordenam cada parte em seu devido lugar – tem
importância não apenas para as ciências físicas, mas para qualquer tipo de empreendimento
intelectual. Ela nos permite ir além da fragmentação da nossa experiência, capacitando-nos a
construir todo um universo artístico. Por isso o ensino da gramática (e aqui ele está se
referindo à gramática de uma língua em particular) e da aritmética devem ser reduzidos a um
conjunto arbitrário de regrinhas necessárias para passar numa prova, mas que não servem
para mais nada. Na página 25, ele diz:

“Exija o trabalho enfadonho, mas daquele tipo que não tenha como fim o domínio dos fatos, o
domínio de uma estrutura intelectual dentro da qual os fatos podem ser retidos e
interpretados, ou o domínio de uma obra-prima para a qual a gramática ou a aritmética sejam
as portas de entrada. Mantenha os estudantes ocupados e ociosos ao mesmo tempo.” (p. 25)

Dito isso, o autor entra propriamente no método para destruir a imaginação, e o primeiro deles
é o seguinte:

Método 1
“Mantenha seus filhos em ambientes fechados o máximo possível”
(“Keep Your Children Indoors as Much as Possible”)
É preciso destruir o interesse da criança pelos elementos do mundo, começando pelo mundo
natural. A observação da natureza (das montanhas, dos lagos, dos rios, do céu) desperta a
curiosidade sobre o mundo (algo extremamente inconveniente), além de propiciar momentos
de solidão em que a pessoa pode refletir (algo mais inconveniente ainda).

A contemplação do mundo natural – por exemplo, da vastidão do céu – é apta a despertar as


noções de infinitude, expansão do espírito, júbilo, liberdade e do sagrado. Esse tipo de
experiência pode abrir a imaginação para aquilo que está além do imediatismo do mundo
material, e a pessoa pode passar a querer coisas que não são materiais. É preciso inspirar o
sentimento de trivialidade do mundo natural.

Também, a criança que se acostume a assumir riscos físicos desenvolverá uma perigosa
independência. Ele escreve:

“Finalmente, 'lá fora' é perigoso porque você pode se deparar com uma criatura mais
ameaçadora à sua complacência do que um lobo, um urso ou uma pantera. Você pode se
encontrar consigo mesmo. No mundo lá fora, serão apenas você e os seus recursos. (p. 38)
(…) É dependência aquilo de que mais precisamos – homens e mulheres dependentes, com
dinheiro para gastar, e vastas estruturas de negócios, entretenimento e governo para
satisfazê-los.” (pp. 39-40)

Se Shakespeare tivesse vivido entre quatro paredes, não teria sido Shakespeare. Mark Twain
não teria escrito Tom Sawyer e Huckleberry Finn. Isso para dar alguns exemplos. O homem de
este novo mundo precisa deve considerar o virtual mais real do que o real. Deve desinteressar-
se totalmente pelo real. Ele pode fazer o que quiser, desde que não saia da frente do monitor.

Método 2
“Jamais deixe as crianças sozinhas”
(“Never Leave Children to Themselves”)

“Tormentária” é o nome deste planeta que está sendo criado pelos engenheiros sociais:
Suas instituições de ensino são gigantescas, favorecendo o anonimato e impossibilitando a
formação de amizades;
Os jogos são privados do seu caráter competitivo, para evitar submeter quem quer que seja ao
constrangimento de uma derrota;
Ministram-se as matérias em blocos de 40 minutos, garantindo que o interesse genuíno por
algum assunto jamais se desenvolva e, com o tempo, a criança perca a vontade de conhecer;
As crianças jamais aprendem a se organizar e auto-gerir.

As crianças não desenvolvem o caráter se tudo é mantido perfeitamente seguro para elas e
conduzido totalmente pelos adultos, como já alertava o Padre Kilian, em 1930:

“Uma das formas mais altas de jogos são aqueles que se jogam em times. Não os faça sérios
demais, mas equilibre o máximo de divertimento possível com a ordem e o decoro. Encoraje os
tímidos a assumir riscos e encarregue-se de não permitir que os mais egoístas levem
vantagem em detrimento dos menos atrevidos. Não é preciso tratar os meninos como se
fossem feitos de vidro. Eles têm de se tornar capazes de resistir a algumas quedas, colisões e
ferimentos. É a forma que a natureza tem de ensiná-los a tomar conta de si mesmos.” (Padre
Kilian J. Hennrich, Boyleader's Primer).

O que importa, mais uma vez, é incapacitar as crianças e os jovens para se organizarem em
comunidades com sentimentos e objetivos comuns. Quanto mais incapazes de se auto-gerir,
mais necessidade elas terão do estado tecnocrático.

Método 3
“Mantenha as crianças longe de máquinas e de pessoas que saibam operá-las”
(“Keep children away from machines and machinists”)

“Lembre-se de que desejamos formar crianças para que sejam alienadas de qualquer afeição
profunda por sua nação, por sua cidade, sua ascendência, seus vizinhos e até por sua família,
mas isso não significa que queiramos pessoas que saibam se virar sozinhas. Assim como
queremos criá-las em hordas de iguais, mas essencialmente solitárias, queremos que elas se
considerem competentes para fazer qualquer coisa, ainda que incapazes de trocar uma
maçaneta.” (p. 75)

A engenhosidade era muito incentivada até meados do século XX. Havia muitas publicações
que encorajavam hobbies bastante úteis e que estimulavam a inventividade. É preciso
desencorajar as crianças de “pôr a mão na massa”; ressaltar os perigos de manusear
ferramentas, lidar com a eletricidade etc.

Deve-se transformar a ciência em cartilha política, ensinando, não como as coisas funcionam,
mas O Que é Correto Acreditar Sobre a Ciência: que o mundo está esfriando, está
esquentando, está esfriando de novo; acreditar na reciclagem, que o homem veio do macaco,
a pureza dos animais, a maldade do homem etc.

“Devemos, a todo custo, impedir que as crianças fiquem fascinadas pelo habitat das baleias,
ou pelo design que torna possível a vida debaixo d'água. Devemos encorajá-las a acreditar que
Baleias Devem ser Salvas. Não importa se isso esteja certo, não é este o ponto. Podemos
igualmente transformar os cursos de ciências e os museus em programas políticos afirmando
que Baleias Devem ser Destruídas, Baleias São uma Ameaça para a Humanidade etc. O ponto
é rebaixar a imaginação e jamais permitir que a criança se envolva com os elementos do
mundo.” (p. 76)

É preciso afastar as crianças de adultos que saibam fazer coisas, que tenham habilidades que
requeiram destreza, força bruta ou anos de observação atenta de algo. Desencorajar:
O trabalho com grandes máquinas: dando o exemplo da operação com um trator, Esolen
explica que esse tipo de tarefa tem um poder pedagógico muito perigoso, ensinando a criança
a ser dócil com a realidade, a observar como as coisas funcionam, a adequar-se ao objeto com
o qual trabalham;
A amizade com artesãos e inventores;
Os brinquedos que envolvam mapas e projetos: isso encoraja o raciocínio estratégico e
acostuma a criança a lidar com grandes estruturas abstratas. Ele dá o exemplo do Tolkien,
que, antes de escrever as histórias da Terra Média, havia feito os mapas desse mundo
imaginário e desenvolvido suas línguas.

“Para que servirão suas crianças se, além de incapazes para a leitura mais profunda e
incapazes de um encontro imaginativo com o mundo natural, forem estúpidas dos olhos e das
mãos? Ora, assim elas estarão prontas para o trabalho governamental. Alguém, afinal de
contas, tem de governar as massas estúpidas e dependentes, e por que não alguém tão
estúpido e dependente como elas? É disso que se trata, afinal, nossa Constituição.” (p. 93)

Método 4
“Substitua os contos de fadas por clichês políticos e modas”
(“Replace the Fairy Tale with Political Clichés and Fads”)

Em Marcovaldo, Italo Calvino escreve sobre uma família de operários que, à noite, observam o
céu do alto do prédio onde moram. Eles contemplam a lua e mergulham em pensamentos. A
contemplação é interrompida por um letreiro que acende a intervalos, anunciando um
conhaque. Como ele está parcialmente queimado, só se lê “nhaque”. A aparição do letreiro
dispersa os pensamentos, e cada membro da família começa a fantasiar banalidades. Este é
um símbolo do que se pode fazer para impedir que as pessoas tenham um envolvimento mais
profundo com a realidade. Ele chama a este conto de Ítalo Calvino de um conto de fadas
moderno.

Os contos de fadas, contos populares etc. trazem personagens fiéis à verdade da vida. Esses
contos são para crianças, não porque sejam de menor importância, mas porque são enormes
como a própria vida. Seus personagens habitam um mundo moral, onde as leis são claras. Isso
não é falta de imaginação: é a base, o fundamento da imaginação.

“Para que seu filho não aprenda a pintar, prive-o de uma paleta. Para que ele não use a
imaginação a fim de conceber histórias arquetípicas, prive-o da paleta narrativa. Elimine, ou
corrompa e subverta todos os tipos. Isto será mais facilmente obtido se você privá-lo dos
contos populares.” (p. 97)

Com isto você garantirá não apenas a constrição da imaginação, mas bloqueará o acesso a
regiões inteiras das artes e da vida humana, tornando-as incompreensíveis. Não é raro que um
mesmo conto popular inspire compositores de ópera, poetas, dramaturgos etc. Privada dos
contos de fadas e contos populares, a criança terá muito mais chance de considerar essas
grandes obras artísticas uma bobagem, desprezando-as.

A fim de achatar a imaginação moral, basta converter a literatura em programas políticos e


reduzir a complexidade psicológica dos personagens a clichês. Obras literárias de grande
densidade, como The Master of Hestviken (Sigrid Undest), Os irmãos Karamazov, Crime e
Castigo etc. nos permitem um mergulho no coração humano. Se essa experiência se repetir na
vida da pessoa, ela adquirirá uma resisência a engolir baboseiras políticas. Por isso é
importante rejeitar tudo o que seja arquetípico e real, substituindo-o por figuras
unidimensionais e motivos tolos, típicos do entretenimento de massas. Ele escreve:

“Ao contrário dos clichês, as verdades fundamentais exigem de nós uma resposta real: elas
nos fazem debruçar sobre os mistérios desta vida (…). Mas uma resposta real requer silêncio,
e paciência, e reflexão. Não é fácil. Clichês são fáceis. Portanto, eduque seu filho com clichês.”
(p. 101)

Sobre o tipo de leitura recomendada para destruir a imaginação moral, ele diz o seguinte:

“Ao dar a nossas crianças o que é 'relevante', é preciso garantir que o livro esteja calcado
neste tempo, neste lugar, nestas platitudes. De preferência, procure livros tão atulhados de
referências tópicas, que sejam incompreensíveis em trinta anos. Livros assim, provocando
respostas automáticas, raramente são mais do que obras de propaganda com um pouquinho
de enredo (…). Se não tiver um livro assim, utilize-se daqueles que não vão além do efêmero:
(…) você pode lê-los às dezenas, sem ser perturbado por um único pensamento que abra a
carapaça da sua mente.” (p. 106)

Chesterton dizia que o problema das pessoas que não acreditam em Deus não é que elas não
acreditam em nada, mas que acreditam em qualquer coisa. A melhor coisa atualmente para
que as pessoas acreditem é o Estado. Estimule o furor partidário. Devemos ensinar que todos
os empreendimentos humanos são, no fim das contas, por poder. Ler é um ato político; a arte
é uma manifestação política. Você deve ler para adotar a postura política correta.

“Alimente as crianças com o que é politicamente motivado, independentemente da direção, e


você insinuará em suas mentes que todas as matérias humanas que eles estudam, e algo das
científicas também, são jogos de poder e nada mais. (…) Mais uma vez, não importa a direção
política adotada, mas que só a política importe.” (p. 109)

Mais à frente, Esolen fala da “redução das pessoas a cartoons politicamente motivados” e da
História a uma revista em quadrinhos.

Alguém pode objetar que todas as histórias são escritas assim, com um viés político. Mas ele
diz:

“Não são, não. Algumas histórias chegam perigosamente perto de um exame justo, confiável e
abrangente do passado, unindo-se a um desejo artístico de dar vida às pessoas que viveram
então, com seus grandes sucessos e fracassos. (…) Há um universo de bem e mal que não
pode ser reduzido à política, assim como a abóbada do céu, coberta de estrelas, não pode ser
reduzida a um planetário.” (p. 112-113)

A redução da arte à política pretende produzir a resposta perfeita: “Não sei do que você está
falando”. A redução de tudo à política conduz à redução de tudo à insignificância. Homero? Por
que eu deveria me importar com Michelangelo? Não sei do que você está falando.

Método 5
“Difame o heróico e o patriótico”
(“Cast Aspersions upon the Heroic and Patriotic”)

Esolen conta que, quando era menino, as celebrações do Memorial Day lhe inspiravam um
sentimento que tinha algo a ver com o significado de ser um homem e, principalmente, de
pertencer a uma nação. Hoje em dia, nos EUA, já se perdeu muito do senso de honrar o país e
os pais (no sentido histórico).

Em 1984, de George Orwell, os funcionários do Ministério da Verdade encarregavam-se de


destruir fotografias e notícias do passado. Isso é importante para arraigar as pessoas no
imediatismo do presente, sem nenhuma memória do passado. Os planos de controle social
devem incluir essa constante destruição do passado (ou a destruição de qualquer admiração
por ele), para que as pessoas desejem sempre e somente o que é novidade, sem fazer
perguntas inconvenientes sobre de onde vem essa novidade e para onde ela nos levará.

É preciso “matar” os pais, os modelos, para que as pessoas sejam mais maleáveis ao controle
social.

“Não queremos patriotas. Não queremos pessoas que amem o lugar onde estão. O propósito
daquilo que é erroneamente chamado de 'multiculturalismo' é destruir a cultura, ensinando os
alunos a desprezar a sua própria e tornar-se cliente de todas as outras. Por isso, o antídoto
para o amor por este lugar não é o ódio a este lugar, mas um envolvimento postiço com
qualquer outro lugar.” (p. 134)

Esse “matar os pais” se refere também a eliminar a influência que os pais biológicos têm sobre
as crianças. Muito sucesso já se obteve com relação ao pai; com relação à mãe, graças à
emancipação da mulher, já conseguimos eliminá-la quase totalmente da vida imaginativa das
crianças.
Se queremos garantir que as crianças desenvolvam o cinismo desdenhoso pelo passado, é
preciso colocar no centro da educação os erros do passado. Devemos olhar para o passado
pelo lado oposto do telescópio, ou seja, reduzindo tudo a figuras minúsculas e distantes. Isso
nos faz sentir moralmente superiores a eles.

Método 6
“Diminua todos os heróis”
(“Cut All Heroes Down to Size”)

As histórias de heroísmo e as figuras dos heróis ampliam nossa imaginação para


considerarmos possibilidades em que nunca havíamos pensado e alargam o espectro daquilo
que consideramos humano. O risco para o narcisismo é evidente: perto de um herói, que
incopora uma virtude de forma excelente, ficamos menores, ganhamos o senso das
proporções.

Devemos educar as crianças para rirem-se dos heróis e dos atos de heroísmo, enfatizando a
inutilidade de seus feitos. Um herói, mesmo quando criação ficcional, incendeia a imaginação e
pode ter efeitos imprevisíveis. Como destruir o ideal do heroísmo? Esolen diz:

“Em primeiro lugar, como o lugar mais provável para um herói mostrar sua coragem é o campo
de batalha, difame o ideal militar. Você pode fazer isso denegrindo a inteligência dos soldados,
pregando um pacifismo fácil e conveniente, bem como ensinando que a carreira militar está
aberta a qualquer um, independentemente da capacidade física ou do sexo. (…) Ensine as
crianças a rirem-se das virtudes mais difíceis de obter. (…) Ensine-as a rir do que você mesmo
não compreende. Por fim, como o herói amplia nossa imaginação por ser tão diferente e
mesmo superior ao restante de nós, ensine seus filhos a odiar e suspeitar da excelência.” (p.
147)

Democratize a excelência. Todos são excelentes, todos são heróis – simplesmente porque
cumprem as tarefas ordinárias de viver como uma pessoa semi-decente.

Passo-a-passo para destruir a admiração pelo heroísmo:

Demonize as guerras, todas as guerras, evitando perguntas do tipo: Como seria a Europa, se a
Grã-Bretanha tivesse se rendido a Hitler e Mussolini?, ou, Como seria a Ásia, se os americanos
tivessem feito um acordo com os japoneses depois do ataque a Pearl Harbor? (O importante é
que as pessoas falem sobre a paz, mas não movam uma palha por ela).
Estimule o hábito de reduzir as figuras históricas importantes a caricaturas ridículas.
Encoraje o deboche diante das virtudes: castidade? Ninguém é casto, e para que sê-lo? Auto-
controle? Coisa de puritano. Honestidade? Todo mundo trapaceia.
Ensine que todos são iguais (igualdade putativa). Ressaltar a excelência de alguém é uma
ofensa à auto-estima dos outros. Devemos ensinar que ninguém é melhor do que ninguém,
apenas para que cada um se sinta superior aos outros, e, se vierem a admirar alguém, que
seja a si mesmo.

Privando o jovem do manancial que é sua imaginação, ele buscará satisfação em encontros
sexuais mecânicos ou em qualquer outra banalidade oferecida pela sociedade de massas.

Método 7
“Rebaixe toda a conversa sobre amor a narcicismo e sexo”
(“Reduce All Talk of Love to Narcissism and Sex”)
A alta literatura sempre foi inspirada pelo amor, mas é um amor que em breve será totalmente
incompreensível. É o amor que reverencia o mistério do outro e que sequer depende de uma
satisfação carnal. É aquilo que aparece na Odisséia, no episódio do encontro entre Odisseu e
Nausicaa; em A Tempestade, entre Miranda e Ferdinando; entre Dante e Beatriz, na Divina
Comédia.

É um tipo de amor que não busca antes de tudo a auto-satisfação, mas que implica uma
submissão a algo mais alto e nobre. É um sentimento tão enraizado na experiência humana,
que só se consegue aboli-lo abolindo-se o homem.

“Como fazer isso? Reduza o sexo à higiene ou à mecânica. Reduza eros à comichão da luxúria
ou da vaidade. Reduza o amor entre homem e mulher a algo privado, arbitrário e socialmente
indiferente. Enquanto isso, inunde a televisão e as revistas com imagens de pessoas
desprovidas de roupas, a fim de que os únicos mistérios remanescentes residam no cruel, no
bizarro e no repugnante.” (p. 168)

O problema com o homem embriagado pela luxúria não é que ele ignora as coisas do Céu, mas
reduz mesmo as coisas da terra a estrume.

A moderna educação sexual tem contribuído muito para a redução do amor ao narcisismo e ao
sexo. Em todos eles, os ideais de virilidade e feminilidade estão ausentes: homens e mulheres
são reduzidos às suas funções biológicas, sem nenhuma conexão com o sentido de ser uma
mulher ou ser um homem.

Nesta “admirável nova família”, não deve parecer estranho que os homens produzam leite, ou
mesmo filhos. As pessoas devem ser dóceis à biotecnocracia e achar muito natural que os
seres humanos sejam aqueles produtos ao fim de uma linha de produção.

Método 8
“Equipare as Distinções entre Homem e Mulher”
(“Level Distinctions between Man and Woman”)

Devemos esfriar qualquer desejo de união entre homem e mulher motivado por um fascínio:
manter relações sexuais com A ou B deve ser encarado como mais uma dentre tantas decisões
que uma pessoa de negócios deve tomar.

A distinção que entre havia entre meninos e meninas despertava em ambos uma tremenda
curiosidade, e isso incentivava que se contemplassem e admirassem. Esse fascínio gerava
muitas idéias perigosas, como o desejo de união para se começar uma família, um desejo de
devoção ao outro. Isso deve ser desencorajado em nome do grande tédio que se tornou o
contato com o outro. Misturar meninos e meninas como fazemos hoje, sem nenhuma
distinção, é uma ótima maneira de evitar que os meninos criem amizades verdadeiras uns com
os outros, e que vejam nas meninas aquele ser misterioso que os fascinava.

Fingindo que meninos e meninas são iguais, e compelindo-os a fazer as mesmas coisas,
chega-se num denominador comum que é igualmente desinteressante para ambos. Os
meninos já não podem ser plenamente meninos, nem as meninas, meninas.

É preciso eliminar qualquer resquício de rito iniciático: antigamente as meninas, depois que
abandonavam as bonecas, começavam a colecionar os objetos e desenvolver as habilidades
que lhes serviriam para a vida de mulher casada. Isso exercitava a imaginação: em vez de
sonhar acordadas com um príncipe encantado, elas praticavam certos atos que trariam, no
futuro, alegria para ela mesma e para aquele que ela viesse a amar.

Para destruir os ideais de virilidade e feminilidade, é essencial que se cultive o hábito de


escarnecer as pessoas de antigamente: eram tolas, acreditavam que o mundo era plano,
mantinham escravos, queimavam bruxas, fumavam, enfim. Apedrejá-los com qualquer pedra
que se encontre.

Método 9:
“Distraia a criança com o superficial e o irreal”
(“Distract the Child with the Shallow and Unreal”)

Milton descrevia o exercício de sua imaginação poética como uma audição, como se as Musas
ditassem a poesia para ele. Essa audição é um tipo de receptividade a algo que vem de fora.
Por isso, podemos destruir a imaginação ao mesmo tempo em que alegamos encorajar a
“criatividade”: a criança deve se acreditar um pequeno deus cujas idéias vêm todas de dentro.
A tradição antiga considera o poeta um homem que em primeiro lugar escuta, e que só depois
escreve os versos. São as Musas que falam.

É preciso privar a criança do silêncio e da quietude, porque eles restauram o poder da


imaginação. Diz o autor:

“A imaginação é uma faculdade natural do homem. Algumas pessoas cometem o erro de


cultivá-la, mas ela é geralmente tão poderosa que se afirmará se simplesmente permitirmos
que a pessoa viva aquilo que costumava-se conhecer por vida normal. (…) Tudo o que é
preciso para que a imaginação se restabeleça é algum tempo na solidão e no silêncio. Por isso
eles devem ser abolidos.” (p. 202)

Isso significa a criança deve conviver com barulho. Por barulho, queremos dizer não apenas
sons perturbadores, mas uma espécie de interferência espiritual. É preciso privar a criança de
sossego, com o uso intensivo de televisores, computadores, video-games, celulares, enfim.
Barulho e distração. Se ela não for capaz de parar para observar uma faixa de mar ou do céu,
muito menos conseguirá visualizar essas coisas na imaginação. Assim, um repouso sobre o
desenvolvimento moral de pessoas, como se vê em Orgulho e Preconceito, torna-se algo
impossível.

As pessoas devem também tornar-se barulho umas para as outras. Ignore quem é seu vizinho
e o anonimato será a regra da convivência.

“Queremos que nossas crianças sejam solitárias no sentido de que não terão ninguém perante
quem possam abertamente revelar suas almas, mas não queremos que elas saibam que são
solitárias. Isso poderia perturbar a tranquilidade da imaginação e levá-las a buscar um
relacionamento humano verdadeiro.” (p. 213)

Mas o maior perigo de deixar as crianças em paz não é que elas descubram um dia livros
maravilhosos que mostrem a elas dimensões da vida que jamais consideraram, ou que
comecem a desenvolver a imaginação moral, passando a conferir mais humanidade a cada ser
humano. O maior perigo é que, num destes momentos de silêncio, a estranheza e a maravilha
deste mundo provoquem uma conversão. Se isso acontecer, mesmo que a pessoa não
pertença a nenhuma religião, ela estará perdida para nós. Elas continuarão vivendo neste
mundo, mas como se houvesse uma dimensão extra, ou duas, invisíveis para a maioria de nós.

Método 10
“Negue o Transcendente”
(“Deny the Transcendent”)

É um grande erro imaginar que as escolas devam ser neutras com relação ao Ser divino. O
assunto é importante demais, e perigoso demais, para ser deixado de fora do currículo. Há três
maneiras de abordar o assunto:

Dar por presumida a nobreza da fé. Os perigos desta opção são óbvios. Pessoas que obedeçam
mais a Deus do que ao Estado tornarão o despotismo impossível.
Ser hostil à fé. Também não é uma boa opção, pois isso despertará reações que reavivarão a
fé em muitos.
Banalizar o mistério. Esta é a melhor opção. Transforme a fé numa coisa infantil, e as pessoas
a abandonarão quando crescerem.

O materialismo é a melhor opção. Não há nada para ser objeto de crença, porque tudo o que
existe é matéria, e a matéria não tem nenhum sentido. Mantenha a palavra “apenas” na
manga. Ele diz:

“Essa cor de fogo que vemos no pôr-do-sol é apenas a parte do spectrum que penetra na
atmosfera num determinado ângulo (…). A idéia de Deus é apenas uma projeção do pai, ou um
desejo, ou uma explicação antiga para tudo aquilo que hoje conhecemos muito bem (como a
matéria, a energia, a gravidade, a carga elétrica, a origem do universo, o significado do bem e
do mal, o acaso, a ordem, a inteligibilidade, o fim do homem), ou então que alguém sabe, em
algum Lugar Importante. A beleza é apenas um 'tic' neurológico, ou uma opinião pessoal. O
amor é apenas a tendência à reprodução (…)” (p. 236)

E o homem? O homem é apenas um ser na poeira cósmica. Como disse C.S.Lewis, a conquista
da natureza pelo homem foi uma conquista do homem pela natureza.

Os destruidores da imaginação trabalham a todo vapor para extinguir esta coisa abominável
chamada “homem” da face da Terra, a fim de substituí-lo por alguma outra coisa mais
conveniente aos engenheiros sociais. Vai, e faze tu o mesmo.

Leia mais: http://forum.noticiasnaturais.com/Topico-dez-maneiras-de-destruir-a-imagina%C3%A7%C3%A3o-de-


seu-filho#ixzz3XEyFRj7t

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