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Arte contemporânea – Uma

introdução

PARTE 1 : Entendendo o sistema da


arte moderna.

Anne Cauquelin
Para entender a arte contemporânea é
necessário:
• estabelecer critérios, distinções que isolarão o conjunto dito
contemporâneo do sistema da arte moderna.
• precisamos atravessar a cortina de fumaça e tentar perceber a
realidade da arte atual que está encoberta. Não somente montar o
panorama de um estado de coisas- qual é a questão da arte no
momento atual – mas também explicar o que funciona como
obstáculo a seu reconhecimento. Em outras palavras, ver de que
forma a arte do passado nos impede de captar a arte de nosso
tempo.
• Essa arte que temos como referencia do passado é a arte moderna
e é essa arte que nos impede de ver a arte contemporânea tal
como é.
• Para este entendimento é necessário confrontar esses dois
mundos: o moderno e o contemporâneo : seus mecanismos de
produção e distribuição – seu sistema de funcionamento.
A arte moderna ou o regime de
consumo

• Quais os paradigmas da modernidade?


• Paradigma:

1 – segundo Platão, as formas ou idéias são paradigmas, ou seja,


arquétipos, modelos perfeitos, eternos, imutáveis dos objetos
existentes no mundo natural que são cópias desses modelos, e que
de algum modo participam dele.

2- O filosofo da ciência Thomas Kuhn utiliza o termo em sua analise do


processo de formação e transformação das teorias cientificas – da
revolução na ciência – considerando que “alguns exemplos aceitos
na prática cientifica real – exemplos que incluem, ao mesmo
tempo, lei, teoria, aplicação e instrumentalização – proporcionam
modelos dos quais surgem tradições coerentes e especificas da
pesquisa cientifica. Esses modelos são os paradigmas, p.ex. a
astronomia Copérnica, a mecânica de Galileu, a mecânica quântica
etc. Assim, um paradigma é aquilo que os membros de uma
comunidade partilham e , inversamente, uma comunidade
cientifica consiste em indivíduos que partilham um paradigma.
( Japiassu, Hilton. Dicionário Básico de filosofia)
• “ A modernidade é o transitório, o fugidio, o
contingente; é uma metade da arte, sendo a outra o
eterno e o imutável” ( Baudelaire – The painter of the
modern life, 1863)

• "... a modernidade caracteriza-se, de fato, por ser


dominada pela idéia da história do pensamento como
uma 'iluminação' progressiva, que se desenvolve com
base na apropriação e na reapropriação cada vez mais
plena dos 'fundamentos', que freqüentemente são
pensados também como as 'origens', de modo que as
revoluções teóricas e práticas da história ocidental se
apresentam e se legitimam na maioria das vezes como
'recuperações', renascimentos, retornos." ( Vattimo,
Giani. O fim da modernidade)
Algumas características:
• A secularização e autonomização do pensamento
nos domínios da ciência e da técnica. O
‘desencantamento ‘do mundo.
• Forte noção de progresso, superação,
desenvolvimentos constantes;
• Transformação do regime industrial clássico em
regime de consumo - emergência do capitalismo
enquanto modo de produção dominante nos
países da Europa e o conseqüente surgimento de
uma sociedade do consumo.
Na arte:
• O novo é a palavra de ordem da estética, assim o
conceito de modernidade e a pratica estética fundem-se
no que vai se tornar a arte moderna.
• Para o nosso estudo utilizaremos moderno para
qualificar certa forma de arte que conquista o seu lugar
por volta de 1860 e se prolonga até a intervenção do
que chamaremos de arte contemporânea.

• Algumas noções:

O gosto pela novidade, a recusa do passado qualificado de


acadêmico, a posição ambivalente de uma arte ao
mesmo tempo ‘da moda’ ( efêmera) e substancial ( a
eternidade).
O que rege a sociedade do consumo?

• Intensa produção com vistas a um intenso


consumo- tudo que é produzido deve ser
consumido;
• É necessária a circulação da mercadoria, a
escoação, para que se mantenha as bases
econômicas de produção: a manutenção do
esquema produção-distribuição e consumo.
• Esse esquema diz respeito não somente aos bens
matériais mas também aos bens simbólicos.
Neste esquema produção-distribuição-
consumo os papéis são bem definidos:

No âmbito da arte:

• Produtores: artistas
• Distribuidores: os marchands
• Consumidores: todo o mundo.

• Neste esquema os distribuidores tem o papel de


intermediários, ele incita ao consumo, ‘produz’ a
demanda.
O surgimento do sistema marchand-
crítico:
• O fim do século XIX registra o recuo da
hegemonia da Academia, que se deu devido ao
desenvolvimento industrial, o conseqüente
enriquecimento da classe burguesa o que
provocou uma afluência de compradores
potenciais, aos mesmo tempo que os pintores
reivindicaram um estatuto menos rigidamente
centralizador, menos autoritário – liberando-os
da imposição da academia.
• Reivindicação de um sistema mais livre, mais
maleável, do direito á exposição.
• O critico passa a ser um elo indispensável no
sistema da arte moderna, que vai promover a
circulação das obras, ele se torna um
profissional de mediação diante de um
publico agora muito maior.
• Ele ‘fabrica’ uma imagem da arte, dos artistas,
das obras em geral e de determinado artista
ou grupo a qual se ligará especialmente.

• Assim são formados trios :


marchands – críticos - artistas
• Assim não se tratará mais de apoiar um grupo
em oposição com os oficiais, mas atuar em um
mercado aberto de encontrar o ‘seu’ artista
ou o seu ‘grupo’ no qual apostar a sua
reputação de crítico. São os críticos que irão
nomear o movimentos e assim constituí-los
como tal.

• Quando o critico coloca em evidencia algum


artista ou grupo se faz conhecer também.
• 1882- O desligamento do Estado da organização do
Salão anual e a constituição da Sociedade dos Artistas
Franceses , dão ainda mais importância ao papel do
critico que se torna o único habilitado naquele
momento a distribuir louvores e censuras.

• Porém essa mudança não vai proporcionar uma


ruptura brusca na maneira de julgar e selecionar as
obras. Na qualidade de juiz das obras os críticos
substituem o júri dos salões mas se mantém bem
próximo aos valores reconhecidos anteriormente.
Durante algum tempo promover os mesmo temas e a
mesma hierarquia que a academia promovia.
• Porém em meio à cada vez maior produção e o acumulo de obras e
diante da influencia do público que chega em massa as exposições
é necessário cada vez mais separar, distinguir, hierarquizar, assim
opera-se uma modificação em duas frentes:

• A existência de artistas independentes obriga o critico a escolher


seu campo, a afirma suas posições. Seus julgamentos de valor
estarão relacionados à sua escolha ideológica. Ele é a favor ou
contra os movimentos de ‘oposição’? Ele vai ou não vai se inscrever
como ator do mercado livre?

• Se ele decide entrar no jogo ‘livre’, a simples descrição literária, á


qual as obras com temas se prestavam até então, deve ceder diante
da apreciação da forma plástica. Assim, o critico transforma-se em
mestre de ateliê, emite julgamento, sobre um esboço, um molde,
um efeito de iluminação, vai mais adiante no detalhe da obra.Aos
olhos do publico não-iniciado ele se trona um verdadeira
profissional que sabe do que esta falando. Ele adquire credibilidade
diante do publico.
• Essas modificações tornam o critico numa
necessária situação de inovação e aos poucos ele
se vê obrigado a romper com a tradição clássica .

• Assim, a critica de arte se torna uma tentativa de


decifrar e teorizar novas formas plásticas, desse
modo conquistas certa autonomia, acompanhada
da independência recente adquirida pelos
artistas, concorrendo para estabelecer a
autonomia da forma pictórica como tal.
• A critica afirma sua autonomia, torna-se um
gênero especifico, caminha em direção da
exploração de critérios próprios da
picturalidade e deixa o domínio das avaliações
normativas que concernem a formatos,
temas, adequação das figuras ao tema, ou
seja deixa de lado a análise iconográfica.
O crítico vanguardista
• O critico vanguardista alimenta uma vanguarda
orientado na direção do moderno. Neste sentido
a modernidade é reivindicada como um ‘avanço’
( a idéia do progresso). Assim a arte de
vanguarda adquire tintas políticas. A arte é
tomada como guia de um progresso social. Ela se
define como a ponta do movimento da arte
moderna. São os críticos os responsáveis por
nomear essas vanguardas e ao mesmo tempo de
conformar uma imagem do ethos artístico.
o que seria esse ethos do artista
moderno?
• Ele se torna uma figura marginal, mas não
necessariamente solitário, pois ele faz parte de
um grupo que é a sua salvaguarda.
• O sistema de consumo promove um grupo, não
um artista isolado, pela simples razão de que um
produto único atrai menos consumidores do que
uma constelação de produtos da mesma marca-
a lei do mercado se impõem também à arte
moderna.
o que seria esse ethos do artista
moderno?
• Assim a singularidade do artista não será visível a menos
que ela seja construída por meio da excentricidade e da
extravagância. Os artistas tem perfeita consciência desta
fato e oferece material para isso, ou seja ele fabrica uma
imagem e para si mesmo, assim são cada vez mais comuns
atitudes contestatórias, cenas preparadas. A construção
de uma imagem do artista tem como objetivo manter a
sua imagem inabalada como criador independente do
mercado, ou seja livre de qualquer suspeita de
comercialização. Assim ele mantém a sua imagem com o
público que recusa a idéia de qualquer enriquecimento do
artista, apegando-se a uma idéia de arte desinteressada, a
criação livre, oriunda do sofrimento.
• Para que os mediadores-intermediários da
cadeia de consumo de obras de arte sejam
eficazes, é necessários isolar o produtor, o
artista como se ele não tivesse consciência do
destino de sua produção. O intermediário é
quem tem consciência deste público
consumidor.
Os consumidores da arte moderna:
quem são?
1 – o colecionador
Essa figura é qualificada como o grande consumidor. São os grandes burgueses ou
membros da aristocracia ‘esclarecida’, amante de coisas belas e possuidores de
recursos para se satisfazer. Por sua posição social privilegiada ele está em
evidencia e suas compras tornam-se um dos melhores meios de propaganda
sobre o valor das obras por ele adquiridas. Ele é um agente ativo do mercado,
assegura também a troca com outros colecionadores, fazendo transitar as
obras de um país para o outro. Ele tece o vinculo entre os macrhandas e os
críticos, é um ponto central do mecanismo.

2 – os diletantes
São figuras informadas que compram para seu prazer porém com o objetivo de
fazer um bom negocio. Essa figura aposta nas obras, tem gosto pelo risco e tem
o prazer de participar de um mundo à parte ( o dos colecionadores).
Dentro dessa grupo existe uma outra possibilidade :
Os diletantes são com freqüência parte do círculo de amigos que cercam os
pintores ou são os próprios pintores que trocam entre si ou compram
mutuamente suas obras. Se autoconsomem de alguma maneira, como
organismo que se nutre de si mesmo.
Os consumidores da arte moderna:
quem são?
3 – O “público’
Estes consomem pelo olhar, ele é o espectador.
A ele compete o reconhecimento, a opinião
firmada, é aquele que transporta o boato, a
ele que compete transformar a imagem do
artista e da arte, sem ele não há vanguarda
dado que a ela faltaria o objetivo de uma
provocação renovada.
Arte moderna: ( em resumo)

• 1 – Arte moderna origina-se de uma ruptura


com o antigo sistema de academismo,
extremante protegido, centralizado, orientado
segundo o julgamento suscitado pelo Salão
anual de Paris. Mas nem por isso essa ruptura
provoca o abandono dos valores do
reconhecimento e do desejo de segurança
que o academismo oferecia a um pequeno
numero de pintores.
Arte moderna
• 2 – Francionando-se em vários grupos independentes
descentralizados, mas ainda assim geograficamente
situados na região parisiense, os pintores oferecem á
opinião pública a possibilidade de formar uma imagem
do artista como um ‘exilado’, pertencente a uma
esfera á parte, ao mesmo tempo valorizada e estranha.
Concebe-se o artista como antagônico aos sistema
comercial que o explora, incapaz de estratégia e
vivendo em um mundo ‘artístico’, inconseqüente e
desconectado dos imperativos materiais. Assim, o
artista é isolado como produtor e confirmado nessa
função pelos críticos, pela literatura, pelas historias de
vida.
Arte moderna
• 3 – O espaço intermediário entre produtor e
consumidor povoa-se de uma grande
quantidade de figuras – do marchand ao
galerista, passando pelos críticos,
especuladores e colecionadores. Se esse
espaço tende a misturá -las – colecionador e
marchand, critico e especulador, galerista e
colecionador – não passa de um universo
fechado, de papeis bem definidos.
Arte moderna
• 4 – A visibilidade social do pintor depende de seu
engajamento em uma vanguarda, em um
movimento – é o grupo que atrai a atenção -, o
que vem contradizer o valor de isolamento de
que é feita a essência do artista. Disso decorrem
uma lenta dissociação e um recuo do público. Ele
não aceita que as leis de mercado econômico
sejam aplicadas ao domínio artístico. Da mesma
maneira, a concentração de exposições na
capital, paralela à fragmentação delas, provoca
uma dispersão do público.
O que estas formas de funcionamento
da arte moderna produzem nas
análises da arte contemporânea:

• 1 – opor o sistema em que estamos imersos


( o da comunicação como veremos a seguir, é
um momento em que os papeis de
intermediários tendem a invadir os papéis de
artistas e macrhands ) ao sistema moderno,
considerando válido o modelo ‘moderno’ esse
novo estado das coisas é visto como uma
catástrofe
• 2 – continuar sonhando com uma vanguarda
como se ela devesse fazer parte do domínio
artístico sine qua non, ao mesmo tempo em que
se constata seu desparecimento
• 3 – continuar acreditando na imagem do artista
isolado, lutando contra os especuladores,
quando na verdade há exemplos de
enriquecimento de pintores famosos e sabe-se
que eles são também grandes colecionadores e
ate mesmo agentes
• 4 - Continuar supondo presente um público
de massa e tentar ações educativas, quando
se sabe, que na verdade, ele está cada vez
mais ausente da cena artística
PARTE 2 : Entendendo o
sistema da arte
contemporânea .
A ruptura: O regime da comunicação
ou a arte contemporânea
• A passagem do regime de consumo à um regime da
comunicação.
• Mas o que é o regime da comunicação ou a sociedade
da comunicação?
• A sociedade passa a ser estruturada fortemente pela
comunicação ( mas não somente por ela)
• A comunicação deve ser pensando não apenas como
campo mediador, mas também como campo
estruturante da sociedade contemporânea. Esta
sociedade ambientada e estruturada pelos meios de
comunicação de massa, ou, se preferir, uma “Idade
Mídia”.
• Este novo regime deve ser entendido como
resultante do processo de globalização, que não
se caracteriza por uma homogeneidade.
• Este processo facilita o intercambio não somente
de bens matérias como também de uma intensa
circulação de bens simbólicos, agora cada vez
mais desterritorializados com a protagonizarão
das industrias culturais e da emergência das
chamadas novas mídias ( internet)
• Para compreender a reflexão de Anne Cauquelin,
devemos partir das noções que a autora
considera como chaves para o entendimento
deste novo regime.
É importante lembrar que a conceituação de cada uma dessas
noções refere-se á uma espécie de tipificação ideal:

• Noção de rede
Um sistema de ligações multipolar no qual pode ser
conectado um numero não definido de entradas, cada
ponto da rede geral podendo servir de partida para outras
micro redes. O conjunto é extensível, nele, pouco importa a
maneira pela qual se efetua a entrada. Os diversos canais
tecnológicos encontram-se ligados entre si.
Ex: convergência entre as mídias.

Conseqüência da rede: uma estruturação permanente mais


próxima da topologia, a importância não é concedida a um
centro, a uma origem da informação em circulação, mas ao
movimento que permite a conexão. Possibilita a
interatividade,mas apaga a sujeito de sujeito comunicante,
as informações não podem ser detectadas pelo seu ator, as
redes não tem inicio nem fim.
• Noção de bloqueio
Uma das características da rede é o fato de sua extrema extensibilidade
de produzir um efeito de bloqueio em vista das conexões sempre
reativadas; em outras palavras não somente não se pode sair da rede
uma vez que se está conectado ( há uma memória da rede), como
também, dado que não há orientação principal, mas uma infinidade
de pontos e de nós, cada entrada é por si mesmo o seu começo e seu
fim. Cada parte da rede é virtualmente a rede total. Cada parte da
rede é virtualmente a rede total. A circularidade cujo principio é a
reversibilidade sempre possível, conduz então ao que se poderia
chamar de tautologia.

(A tautologia é , na retórica, um termo ou texto redundante, que repete a


mesma idéia mais de uma vez. Como um vício de linguagem pode ser
considerada um sinônimo de pleonasmo ou redundância. A origem do
termo vem de do grego tautó, que significa "o mesmo", mais logos,
que significa "assunto". Portanto, tautologia é dizer sempre a mesma
coisa em termos diferentes” )

O bloqueio é uma circularidade total do dispositivo.


• Redundância e saturação

O bloqueio pela repetição de uma mesma coisa


assinala limites de um exercício, a
redundância assegura a manutenção da rede,
mas também a condena ao desgaste por
saturação. Uma proposição precisa de uma
certa taxa de repetição e redundância para ser
compreendida e assimilada, mas ela se torna
inaudível se essa taxa for ultrapassada.
• Nominação Para dissimular a dificuldade da
saturação e da redundância recorre-se às
nominações. O nome cria uma diferença, marca
um objeto dentro da rede indiferenciada das
comunicações. Uma sociedade nominativa se
instaura, onde o nome funciona como
identidade, classifica e designa uma
particularidade. Ela opera uma classificação
dentro das diferentes entradas conectada entre
si – como uma hierarquia por níveis de
complexidade. A nominação permite um certa
grau de identificação dentro da rede.
• Construção da realidade: Se reconhecemos que a
comunicação fornece á sociedade o elo indispensável ao
seu funcionamento, o papel da linguagem e seu exercício
se tornam dominantes. É por intermédio da linguagem que
se estruturam não somente os grupos humanos, mas ainda
a apreensão das realidades exteriores, a visão do mundo,
sua percepção e sua ordenação. Assim, apaga-se pouco a
pouco a presença positivada de uma realidade dada pelos
sentidos, os sense dada, em favor de uma construção da
realidade de segundo grau, até mesmo de realidades no
plural, da qual a verdade ou a falsidade não são mais
marcas distintivas. Se o mundo circundante tem para nós
alguma realidade objetiva , é a construída pela linguagem
que utilizamos. O que significa que o desenvolvimento de
linguagens artificiais e o uso cada vez mais generalizado
delas alteram nossa visão da realidade.
Rede, bloqueio, redundância,
nominação e construção da realidade.
• Esse são os conceitos chaves que , segundo a
autora, irão servir para perceber as
transformações profundas da arte de hoje em
dia.

• Essas transformações no domínio artístico se dão


em dois pontos: no registro da maneira como a
arte circula, ou seja do mercado da arte ( no
sistema de circulação da arte) ,e no registro intra-
artístico ( no conteúdo das obras)
•  
Os efeitos da rede:

Nesta rede estão em situação privilegiada aqueles


que dispõem de mais números de ligações para
entrar na rede, ou seja, aqueles que dispõem de
mais informação, e o mais rápido possível. Eles
passam as informações sobre a cotação e o valor
estético da obra. Mas passar estas informações é
também fabricá-las, esses agentes ativos são os
produtores, eles produzem o valor da obra.
Quando mais visibilidade tem esse ator dentro da
rede, mais credibilidade ele adquire e portanto as
suas avaliações de preços e estéticas sobre a
obra serão melhor aceitas.
• Neste sentido é importante demarcar a existência de
uma hierarquia dentro da rede, assim existem redes de
primeira grandeza e rede satélites.

• pode-se ser ator em uma rede, deixando-se levar ao


sabor dos encontros, confiando de alguma maneira no
poder da ligação que ela por si desenvolve, mas pode-
se também trabalhar ativamente para construir uma
super-rede, mais confiável, ou seja mais rápida e
unindo pontos afastados entre si. Uma instituição só
tem poder na medida em que é capaz de estar
presente dentro de toda a rede ao mesmo tempo.
Não será verdadeiramente ativa a não ser pelo numero
e pela diversidade de suas conexões.

• Os profissionais da rede atribuem o valor à obra desde


o momento em que começam a circular como signo.
• Os papéis de produtores, marchands e artistas se
misturam na rede e por essa razão o papel do
critico já não é mais o mesmo, a critica não é
mais a única a assegurar a articulação entre obra
e público, mas se vê seguida e dispera por uma
profusão de profissionais de publicidade e tem
dificuldade em manter seu status particular , ele
se torna uma peça entre outras do mecanismo de
apresentação da obra e tem seu papel reduzido.

• Os papéis não são mais individuais: um


conservador de museu que exibe arte
contemporânea pode escrever, pode atuar como
curador e ainda pode ser gestor.
• Na rede a obra e o artista serão tratados como
elemento constitutivos, mas também como um
produto da rede, são as noções-princípios da
comunicação que darão conta de seu estatuto
contemporâneo.

Ou SEJA:
• Sem os artistas as redes não tem razão de ser, mas
também sem a rede nem a obra nem o artista tem
existência visível.

• Um artista só estará visível se integrado á rede e aos


princípios de comunicação que se operam dentro dela:
o bloqueio, saturação e a nominação.
2 – O efeito bloqueio:
• A velocidade de transmissão da rede tem como corolário a
procura da ubiqüidade, ou seja pretende estar em todos os
lugares ao mesmo tempo. Assim o artista tem que estar em todos
os lugares a todo o tempo, ele tem que ser internacional ou não
ser nada. Ele esta preso na rede ou está fora.
 
• Esta super exposição do artista provoca a saturação o que torna
necessária a multiplicação de novas entradas ou seja renovar essa
massa que circula de maneira idêntica, por isso a necessidade de
renovação permanente de artistas e movimentos

• O artista que entra ou é posto na rede é obrigado a aceitar suas


regras se quiser permanecer nela, ou seja renovar-se e
individualizar-se permanentemente sob pena de desaparece
dentro do movimento perpetuo de nominação que mantém a rede
em ondas .
Algumas Conclusões:
• O mundo artístico contemporâneo reflete a construção de uma realidade um
tanto diferente da que existia há algumas décadas.

A realidade da arte contemporânea se constrói fora das qualidades próprias da


obra, na imagem que ela suscita dentro dos circuitos de comunicação .
Daí o desconforto dos profissionais que querem permanecer fieis à imagem que
fazem de seu trabalho, ao mesmo tempo constrangidos pela existência de uma
rede que adota outros valores.
 
• Pra reunir em uma formula essa passagem da realidade da arte moderna para
arte contemporânea poderíamos propor duas definições:

Estética: é o termo que convém ao domínio de atividade onde são julgadas as


obras, os artistas e os comentários que suscitam. Insiste em valores ditos
‘reais’, essenciais da arte.
 
Artística : delimita o campo das atividades da arte contemporânea. O termo
insiste na denominação: será considerada artística qualquer obra que seja
exibida no campo definido como domínio da arte.
Algumas mudanças em resumo:
A distinção entre a esfera da arte e a da estética:
Estética designando o conteúdo das obras, o valor da obra em si; a arte
sendo simplesmente a esfera de atividades entre outras, sem que seu
conteúdo particular seja precisado
 
Na esfera da arte os papeis dos agentes não são mais estabelecidos como
anteriormente. Todos os papéis podem ser desempenhados aos mesmo
tempo. O percurso da obra ate o consumidor não é mais linear, ele é
circular
 
Essa esfera não esta mais em conflito com as outras esferas de atividades,
mas, ao contrário, integra-se a elas. Abandono dos movimentos de
vanguarda e do romantismo da figura do artista.
 
Importância dos jogos de linguagens ( e das misturas) e da construção da
realidade; a arte não é mais emoção, ela é pensada; o observador e o
observado estão unidos por essa construção e dentro dela.

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