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Mercado de Artes,

Agentes, Galerias e
Casas de Leilão
Autora
Elizabeth Casoy
Autor
Raul Fonseca Silva
Videoaula - Mercado de artes, agentes, galerias e casas de leilão

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Apresentação
O conteúdo desta aula abordará as questões relativas ao mercado de artes e os processos de
comercialização de obras de arte em suas variadas formas de realização. Serão abordados os
conceitos de arte como mercadoria a partir das funções sociais dos trabalhos dos artistas e das
primitivas formas de colecionismo e critérios para formação de coleções, até a conceituação da
arte como bem econômico, que inicialmente foi patrocinado pelos mecenas, até a
comercialização atual em leilões galerias e feiras de arte. Será apresentada toda a estrutura do
mercado de artes e a conceituação de mercado primário e secundário fundamentais para
compreensão de como a comercialização das obras é feita, finalizando com o detalhamento do
mercado atual de artes e a descrição dos agentes que atuam nesse processo.

Para complementar esta breve apresentação do nosso conteúdo, gostaria de fazer algumas
observações iniciais. Na pré-história, não havia conceito de arte como manifestação estética. As
pinturas rupestres foram confundidas com crenças mágicas ou religiosas. Não sabemos ao
certo o significado delas, mas tudo indica que estavam relacionadas ao mito. Seus autores não
eram artistas, mas místicos que atribuíam poder às imagens. Na Grécia e Roma antigas, a arte
cumpria uma função política e religiosa. A poesia teve um papel fundamental na história dos
povos. Os gregos adquiriam seu conhecimento nos poemas homéricos. A Ilíada e a Odisseia
refletiam os valores de sua cultura, onde prevalecia uma noção de virtude baseada na fama,
sucesso e linhagem. Platão (2017) atribuiu à arte uma função moral e didática, justificando com
isso a proibição de obras que perturbavam a ordem social. Aristóteles (2017) destacou suas
qualidades terapêuticas.
UNIDADE 1

A arte como mercadoria


Objetivos:
O intuito desta primeira unidade, como o próprio título indica, é apresentar o
conceito de arte como mercadoria ou como um ativo cultural comercializado em
galerias, leilões e feiras de artes. Será dada uma atenção especial às funções que
a arte desempenha nos âmbitos social, ideológico e cultural.
1 Mosaico da Idade Média
Figura 1 - Arte iconográfica religiosa na Idade Média.

Legenda: A arte iconográfica religiosa foi a maior expressão artística da Idade


Média.
Fonte: Free-photos/pixabay.com

Durante a Idade Média, a arte foi posta a serviço da religião. A exaltação das virtudes teológicas
como fé, esperança e caridade, a Natividade, os Santos, a Virgem ou a Paixão de Cristo
substituíram temas profanos. O Renascimento continuou com esses motivos, mas incorporou
novas temáticas, como o retrato da nobreza, a perspectiva, o estudo da natureza ou da anatomia
humana. Em seu Tratado de pintura (publicado na França em 1656, um século e meio após sua
morte), Leonardo (apud FARTHING, 2018) faz alusão pela primeira vez à expressão de emoções
subjetivas, que refletem o mundo interior do artista. O Renascimento dignifica a arte, mas não
extingue o preconceito em relação às atividades manuais. O barroco representa o apogeu do
retrato. A exaltação dos monarcas absolutos transforma a pintura em um exercício político. O
retrato equestre expressa autoridade, liderança.

Durante o Renascimento surgiram relações estreitas entre os pintores da corte e os reis que os
empregam. Velázquez foi muito apreciado por Felipe IV e algo semelhante já tinha acontecido
anos atrás entre Ticiano e Carlos I (CAMPOS, 2016). No entanto, o artista não era uma figura
independente: seu trabalho dependia do mecenato e era realizando sob encomenda, sem
escolher os assuntos. Esta situação não mudará até o romantismo. Nesta fase o artista
conquistou a liberdade, passou a valorizar as emoções e os sentimentos pessoais, mas perdeu o
mecenato e enfrentou a precariedade.
Os românticos promoveram a ruptura com a sociedade. A arte deixou de ser uma ocupação a
serviço do poder político ou religioso e passou a ser um exercício de protesto e dissidência.
Nesse período, a burguesia simpatizava com o conservadorismo estético e não aceitava
inovações. Ao substituir a nobreza, a burguesia se torna a classe social dominante, que contrata
ou rejeita pintores, arquitetos ou escultores como profissionais liberais. O impressionismo ou as
vanguardas do século XX (dadaísmo, cubismo, surrealismo) ofendeu a sua sensibilidade
burguesa, mas com o tempo as obras desprezadas ganharam reconhecimento e o prestígio dos
críticos de arte.

Desde 1945, depois da Segunda Guerra Mundial, a memória dos erros que provocaram a guerra
no passado promove uma revisão de valores e temáticas que se opõem ao modernismo das
décadas iniciais do século XX, e as novas temáticas da arte pop são incapazes de discriminar
entre inovação e espetáculo. Na década de 1960, Andy Warhol (apud FARTHING, 2018)
conquistou o mundo da arte com suas serigrafias de ícones americanos, variando de Marilyn
Monroe à lata de sopa de Campbell e, de certa forma, inaugurou o mercado de artes como ele é
nos dias atuais. Suas pinturas passaram a alcançar valores astronômicos nos leilões de artes.
Atualmente, as temáticas se misturam e a arte, na maior parte da sua produção, longe de ser um
ato de protesto, tornou-se uma atividade comercial. Isso não significa que criadores exigentes e
críticos da sociedade desapareceram.

Andy Warhol foi um dos maiores artistas plásticos da Pop Art. Seus trabalhos exploram a relação
entre expressão artística, publicidade e cultura de celebridades que floresceu na década de 1960.
Conheça a curiosa biografia de Warhol em: ebiografia.com
[https://www.ebiografia.com/andy_warhol/] . Acesso em: 03 jun. 2020.
2 A arte como mercadoria
De Manet e Degas a Andy Warhol e Lichtenstein; de Beethoven e Mozart a Michael Jackson e
Madonna; de Oliver Twist a Harry Potter; do teatro ao cinema; de óperas a musicais de dança
comercial; do ritual para o folclore e a arte popular, a arte está sempre evoluindo em relação à
sociedade e às formas de recebê-la, aprecia-la e consumi-la. A arte, sob todas as formas, vai
inevitavelmente se transformando com o tempo e com as mudanças sociais. Por outro lado, da
Renascença Europeia à Pop Art, arte e dinheiro estão intimamente ligados há séculos. Sua
interação está na agenda de artistas criadores e mecenas patrocinadores desde as diversas
formas de patronato, a partir do Renascimento, até a venda de obras de arte como mercadoria e
ativos de investimento que envolve praticamente toda a produção de arte contemporânea, a
partir de Andy Warhol. A comercialização de obras de arte inaugura, então, um novo mercado: o
mercado de artes.

Figura 2 - Uma sala de leilões.

Legenda: Sala de leilões da Christie's em Londres, 1808.


Fonte: pt.wikipedia.org
[https://pt.wikipedia.org/wiki/Christie%27s#/media/Ficheiro:Christie's_Auctio
n_Room_Microcosm_edited.jpg] .

Segundo Flynn (2016), um mercado é qualquer lugar em que os vendedores de bens ou serviços
específicos possam se encontrar com os compradores desses bens e serviços. Isso cria o
potencial de uma transação ocorrer. Os compradores devem ter algo que possam oferecer em
troca do produto para criar uma transação bem-sucedida. Na terminologia econômica, um
mercado é a área em que os vendedores e compradores de uma mercadoria mantêm relações
comerciais estreitas e realizam transações abundantes, de maneira que os diferentes preços e
quantidades transacionadas obedecem a lei da oferta e da procura. As quantidades de produtos
disponibilizadas não são ilimitadas e a quantidade influencia o preço das mercadorias. A
abundância influencia preços mais baixos e a escassez determina valores mais altos, de acordo
com a raridade dos produtos.

Como observa Jimenez (2019), dentro da lógica capitalista, o mercado como indústria ocupa um
lugar cada vez mais importante na sociedade moderna. O número e a extensão de suas
operações, sua ação para satisfazer às necessidades da vida humana, o aumento do trabalho, a
criação de novas fontes de produção e comercialização, as rápidas comunicações entre as várias
regiões do mundo ampliaram as relações comerciais. Os centros de produção aumentam os
preços que depois se estabilizam como resultado da concorrência, favorecendo o aumento do
consumo e o desenvolvimento cada vez mais permanente de uma sociedade moderna. O
mercado de artes segue essa mesma dinâmica, embora os críticos considerem que a arte como
mercadoria parece estar substituindo a arte como arte, que era um conceito do romantismo. De
fato, o mercado de artes se caracteriza pela escassez do produto, e o valor atribuído à obra está
relacionado com a sua característica de ser única. Assim, a arte como mercadoria não é um
mecanismo para satisfazer demandas, gostos ou necessidades, mas uma maneira de gerar
lucros e ser uma opção de investimento.

Investir em obras de arte pode ser uma opção bastante interessante como alternativa a papéis de
alto risco, como ações, debentures e outros títulos. A dica pode ser acessada em: g1.globo.com
[https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2020/03/17/coronavirus-como-visitar-museus-sem-
sair-de-casa-durante-o-periodo-de-isolamento.ghtml] . Acesso em: 26 maio 2020.
Videoaula - As diversas funções que a arte representa

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2.1 Considerações iniciais sobre as funções da arte

Para Eco (2016), as funções de cada trabalho artístico podem ser variáveis e múltiplas. Muitos
trabalhos foram criados com um propósito definido, embora, com o tempo, essa função possa
ser modificada. Da mesma forma, é necessário saber se esse trabalho foi feito para uma função
única ou para satisfazer várias necessidades. Não é possível conhecer com certeza todas e cada
uma das funções de uma obra de arte sem estudar o contexto em que ela foi criada, além de
investigar as necessidades que o trabalho buscou satisfazer nesse contexto. Se considerarmos a
satisfação dos sentidos através da beleza e do sentimento estético, como a única ou como a
mais importante função das obras de arte, podemos correr o risco de não entender nada sobre a
obra, já que muitas vezes encontramos na arte moderna propostas em que o conteúdo estético é
totalmente ignorado ou até mesmo é oposto à ideia de beleza (ECO, 2018).

É mais fácil entender a função de uma obra de arte quando conhecemos os estímulos que
incentivaram a criação artística e consideramos que o conceito de beleza não é universal para
diferentes culturas, nem o mesmo em diferentes épocas da humanidade. Devemos começar a
análise a partir dos estímulos, das necessidades, do tipo e das características da sociedade da
época em que a obra foi produzida, e do perfil próprio artista que produz o trabalho. Quando
todas essas considerações são satisfeitas e atribuímos ao trabalho uma função, o conteúdo
estético pode estar presente, embora não necessariamente, e ser um complemento para a função
para a qual o objeto artístico foi criado (ECO, 2018). E assim, a obra pode ser identificada por uma
ou mais das seguintes funções:
Função utilitária: Uma das funções mais óbvias da obra de arte é a utilitária. Arquitetura é a
manifestação mais clara e lógica desta função. De fato, para atender com as características e
propósitos de arquitetura, um edifício deve ser útil. Se uma construção arquitetônica não tivesse
essa função, poderíamos considerá-la uma escultura. Um exemplo claro dessa funcionalidade
encontramos na Catedral Gótica de Notre-Dame, na França, onde a função do templo de
adoração transcende a beleza escultural do complexo (BOTELHO, 2016).

Função mágica: Muitos objetos, considerados hoje como obras de arte, foram feitos com a
intenção de um povo ou uma cultura celebrar a fertilidade, decorar um funeral, atribuir poder aos
rituais de caça ou guerra. Nesta função mágica do trabalho artístico, os poderes são atribuídos a
esses objetos através dos quais o objetivo do ritual pode ser alcançado. Como exemplo desse
tipo de obras, podemos citar as pinturas rupestres da pré-história.

Função didática: Em algumas culturas não alfabetizadas, a imagem substitui a palavra ao


procurar instruir às pessoas. A obra de arte assume uma função didática porque, através das
imagens que ela usa, ensina às pessoas algum aspecto da realidade com o objetivo de instrui-
las, contrariamente ao uso das imagens que são feitas para convencer um grupo ou sociedade
através da função persuasiva. A distinção entre essas duas funções se manifesta na expressão e
nos recursos formais que são usados. Na função didática, as imagens são simples, claras e
limitadas diretamente ao assunto, como é o caso das pinturas das Catacumbas em Roma, onde
os primeiros cristãos se escondiam da perseguição romana e registraram as passagens da vida
de Cristo através de desenhos. Essa também é a característica principal de toda arte
iconográfica da Idade Média (GOMBRICH, 2012).

Função persuasiva: Na função persuasiva, as formas adquirem um design dinâmico e tentam


impressionar mais para envolver os expectadores com a ideia expressa e um apelo ao consumo.
Um exemplo disso pode ser identificado nas ilustrações e fotografias de anúncios publicitários.

Função ideológica: A função ideológica pode abranger muitos conceitos e desenvolver várias
conotações. É possível transmitir o pensamento social ou político de uma sociedade através das
formas gráficas ou imagens, ou manifestar um protesto contra uma determinada situação que
causa desacordo em um grupo. Além disso, um trabalho artístico, como uma pintura, pode ser
usado para transmitir uma imagem de poder. Através da função ideológica, muitos trabalhos
transmitem mensagens ocultas expressas através de imagens simbólicas.

Função estética: Na história da arte essa função tem sido um valor atribuído às obras e objetos
artísticos. A análise estética é uma investigação cuidadosa das qualidades que pertencem a
objetos e eventos, naturais ou construídos pelo homem, que provocam uma sensação emocional
de beleza. A resposta estética são os pensamentos e sentimentos provocados por causa do
caráter dessas qualidades e das maneiras particulares pelas quais eles são organizados e
experimentados pelo expectador.

Figura 3 – Comunicação estética.

Legenda: Na visão de Flynn (2016), a função da prática da arte é promover o


que ele chama de "comunicação estética”, isto é, a percepção de beleza.
Fonte: Free-photos/pixabay.com

Videoaula - A arte como função social

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2.2 A função social da arte

Ao longo do tempo e através dos povos e das sociedades, as respostas humanas às experiências
da vida e a reflexão sobre seus mistérios são continuamente expressas em formas artísticas.
Criar e resolver problemas, embelezar, ensinar e se comunicar através da arte são impulsos
centrais em todas as culturas. Compreender as funções da arte nos ajuda a identificar suas
qualidades universais e aplicações transculturais. Através das expressões artísticas, as pessoas
compartilham necessidades básicas e preocupações ambientais, bem como esperanças e
alegrias. Tanto os indivíduos quanto a sociedade se beneficiam do processo criativo e da
diversidade das formas resultantes da arte, que aprimoram, refletem e mudam nosso mundo
interno e externo.

Para Gombrich (2012), os seres humanos são artistas por natureza; portanto, a origem da arte
começa com a própria origem da humanidade. Desde a pintura nas paredes das cavernas até a
última peça performática contemporânea criada, a arte vem servindo como meio, forma e fonte
de expressão. No entanto, ela não se limita a uma mera manifestação estética, mas nasce como
uma necessidade de provocar emoções fortes que estão gravadas na memória de todos os
indivíduos e povos. Ao mesmo tempo, a arte é considerada uma ferramenta essencial para a
denúncia social: ao longo do tempo, os artistas com suas obras apelam para os sentimentos
mais profundos dos indivíduos, para que desenvolvam a capacidade de se colocar no lugar de
alguém, de se sensibilizar pelos outros, uma qualidade que nos torna humanos e nos diferencia
das outras espécies vivas.

Figura 4 - Arte rupestre.

Legenda: A arte rupestre primitiva foi a primeira manifestação artística do ser


humano e era registrada na parede de cavernas.
Fonte: MikeGoad/pixabay.com

Farthing (2018) observa que a arte é o espelho da sociedade, mas se reflete de uma maneira nem
sempre imediatamente compreensível e, portanto, requer trabalho emocional e certa capacidade
de interpretação. Entretanto, mesmo escolhendo uma forma difícil de entender, o artista tem
sempre a intenção de comunicar alguma coisa em relação ao mundo e à realidade que
experimenta. Podemos tomar como exemplo a obra Guernica de Picasso, que com suas figuras
simbólicas e cubistas se refere à violência da Guerra Civil Espanhola, ou a denúncia de
desigualdade social na pintura de caráter muralista de Cândido Portinari. O objetivo é que os
trabalhos sejam interpretados para refletir sobre certos eventos, promover o comprometimento
com problemas sociais, despertar as emoções mais profundas e apelar a elas para aumentar a
conscientização social sobre questões sensíveis.

Essas considerações, além do período de tempo, local da criação, influências culturais, entre
outras, são todos fatores que devem ser considerados antes de se tentar compreender a funções
sociais da arte. Deixar de considerá-los ou examinar qualquer coisa fora do contexto, pode levar
a uma interpretação equivocada da arte e a interpretar mal as intenções de um artista. As
funções da arte normalmente se enquadram em três categorias: física, social e pessoal. Essas
categorias geralmente se sobrepõem em qualquer obra de arte. As funções físicas da arte são
geralmente as mais fáceis de entender. Obras de arte criadas para executar algum serviço têm
funções físicas. Assim, a arquitetura, o artesanato, o design de interiores e o design de produtos
são todos tipos de arte que servem para funções físicas (FARTHING, 2018),

A arte tem uma função social quando aborda aspectos da vida coletiva em oposição ao ponto de
vista ou a experiência individual de uma pessoa. Os espectadores geralmente podem se
relacionar de alguma maneira com a arte social e, às vezes, são fortemente influenciados por ela.
A arte da Alemanha Nazista da década de 1930, que apelava para temáticas heroicas e
românticas, exercia uma forte influência simbólica sobre a população, assim como os pôsteres
políticos e patrióticos nos países aliados durante o mesmo período (CAMPOS, 2016). A arte
política, muitas vezes projetada para transmitir uma certa mensagem, sempre exerce uma função
social. A xícara de chá Dadaísta, coberta de peles, inútil para a realização do chá, exercia uma
função social na medida em que protestava contra a Primeira Guerra Mundial, e contra quase
tudo na vida social da época (CAMPOS, 2016).
Figura 5 - Pôster norte-americano da década de 1942.

Legenda: Cartaz de incentivo às trabalhadoras da Westinghouse Electric &


Manufacturing Company, criado pelo artista J. Howard Miller em 1942.
Fonte: pt.wikipedia.org
[https://pt.wikipedia.org/wiki/We_Can_Do_It!#/media/Ficheiro:We_Can_Do_It!.jpg
].

Farthing (2018) explica que as funções pessoais da arte costumam ser as mais difíceis de
explicar. Existem muitos tipos de considerações pessoais e estas são altamente subjetivas. Além
disso, é provável que as funções pessoais da arte não sejam as mesmas de pessoa para pessoa.
Um artista pode criar uma peça a partir da necessidade de autoexpressão ou gratificação
psicológica. Ele também pode comunicar um pensamento ou apontar para o espectador. Às
vezes, um artista está apenas tentando fornecer uma experiência estética, tanto para si quanto
para os espectadores. Uma peça desse nível pode ser usada para entreter, provocar
pensamentos ou até mesmo não ter nenhum efeito específico. A função pessoal é subjetiva,
porque de artista para artista e de espectador para espectador, a experiência de alguém com arte
é diferente, e muitas vezes conhecer os antecedentes e os comportamentos de um artista ajuda
na interpretação da função pessoal de suas obras. Essa é uma característica mais relacionada
com a arte moderna e contemporânea.

Figura 6 - Pintura moderna neoplasticista (abstrata).

Fonte: upload.wikimedia.org
[https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/a4/Piet_Mondriaan%2C_193
0_-_Mondrian_Composition_II_in_Red%2C_Blue%2C_and_Yellow.jpg]

No entanto, se uma expressão de arte moderna parece não revelar uma necessidade social, é
porque o social foi identificado estreitamente com o coletivo, como oposto ao individual, e como
uma forma de crítica às instituições e crenças repressivas, como uma igreja, um estado ou uma
moral, para os quais a maioria das elites geralmente convergia. Mas as mesmas atividades nas
quais o indivíduo parece estar irrestrito e totalmente egoísta dependem de relacionamentos
socialmente organizados. O aparente isolamento do artista moderno de atividades práticas cria
uma desarmonia entre seu artesanato arcaico e individual e o caráter coletivo e mecânico da
maioria das produções modernas, mas não significa que seu trabalho não é afetado por
mudanças sociais e econômicas (BOTELHO, 2016).
O Neoplasticismo é um termo adotado pelo pioneiro holandês da arte abstrata, Piet Mondrian,
para seu próprio tipo de pintura abstracionista que usava apenas linhas horizontais e verticais e
cores primárias. Em 2016, o Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, apresentou uma
exposição com todas as fases de Piet Mondrian. Disponível em: otempo.com.br
[https://www.otempo.com.br/diversao/magazine/todas-as-fases-de-mondrian-1.1219616] .
Acesso em: 26 abr. 2020.

Botelho (2016) observa que o aspecto social de sua arte pode ser ainda mais obscuro pelo
caráter insistentemente pessoal da sua obra e da sua preocupação apenas com os problemas
formais. O que o leva a pensar em si mesmo em oposição à sociedade que ele vê como um poder
repressivo organizado, hostil à liberdade individual; além de querer confirmar seu trabalho como
expressão fora de qualquer outro propósito que não seja puramente estético. Mas se
examinarmos atentamente as temáticas que um artista moderno representa e as atitudes
psicológicas evidentes na escolha dessas temáticas, veremos quão intimamente sua arte está
vinculada à vida da sociedade moderna e contemporânea e seu caráter individualista e
consumista.

Em geral, esse artista opta pela arte abstrata construída a partir de outros objetos, ou seja, de
outros interesses e experiências, e outras características formais. Na sua forma mais avançada,
esse tipo de arte é típico da classe de lazer rentável da sociedade capitalista moderna e é mais
intensamente desenvolvida nos grandes centros urbanos, como Paris, Nova York, São Paulo, Rio
de Janeiro, que têm um grande potencial de consumo e consideráveis indústrias de luxo. Esse
artista moderno e contemporâneo compete em um mercado aberto e, portanto, está consciente
da novidade ou singularidade de seu trabalho como valor. Ele cria da própria cabeça, e não
possui nenhum assunto imposto por uma comissão ou academia – ou por um mecenas –; muito
menos por qualquer ideologia coletivista, ele trabalha sozinho e, por conseguinte, se preocupa
com seus poderes de fantasia, seu toque, e suas formas improvisadas, e, principalmente, com a
possibilidade de vender suas obras a preço de mercado (CAMPOS, 2016).
Figura 7 - Museu de arte moderna.

Legenda: Detalhe da arquitetura do Museu de Arte de Milwaukee, um dos


maiores museus do mundo, na cidade de Milwaukee, Wisconsin, nos Estados
Unidos. Com um acervo de mais de 25 mil obras, esse museu expõe arte de
vários estilos, obras contemporâneas e objetos de design.
Fonte: Hans/pixabay.com

Os museus coletam e preservam objetos e materiais de valor religioso, cultural, artístico e


histórico e eles são uma boa maneira de se adquirir conhecimento, e também como fonte de
entretenimento. É possível conhecer e visitar museus sem sair se casa, através do site G1:
g1.globo.com [https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2020/03/17/coronavirus-como-visitar-
museus-sem-sair-de-casa-durante-o-periodo-de-isolamento.ghtml] . Acesso em: 26 mai. 2020.
Videoaula - A arte como função ideológica e política

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2.3 A função ideológica da arte

Segundo Botelho (2016), uma ideologia é um conjunto de opiniões ou crenças de um grupo ou


indivíduo. Muitas vezes, a ideologia se refere a um conjunto de crenças políticas ou a um
conjunto de ideias que caracteriza uma cultura específica. No campo da política e da economia,
capitalismo, comunismo, socialismo e marxismo são ideologias. A princípio, a partir do momento
em que surge uma ideia sobre como explicar um acontecimento no campo social, cultural,
econômico ou político, e ela passa a ser difundida, pode passar a ser aceita por um grupo cada
vez maior de pessoas, até se transformar em uma crença aceita por todos do grupo. Nesse
momento, ela se transforma em uma ideologia e supera o estágio inicial de ideia, passando a
orientar todas as ações das pessoas que nela acreditam. Nesse momento, também, ela deixa de
ser uma ideia na cabeça das pessoas e passa ser uma ideologia que domina a cabeça das
pessoas (ECO, 2018).
Uma ideologia é um conjunto de opiniões ou crenças de um grupo ou indivíduo. Muitas vezes, a
ideologia se refere a um conjunto de crenças políticas ou a um conjunto de ideias que
caracterizam uma cultura específica. Você pode saber muito mais sobre esse conceito em:
conhecimentocientifico.r7.com [https://conhecimentocientifico.r7.com/ideologia/] . Acesso em:
30 maio 2020.

Assim, uma ideologia é também uma coleção de ideias ou crenças compartilhadas por um grupo
de pessoas. Pode ser um conjunto de ideias conectadas entre si, ou um estilo de pensamento, ou
uma visão de mundo, de acordo com o conceito cunhado pelo filósofo francês Antoine Louis
Claude Destutt, em 1801, no início do século XIX (apud VERSIGNASSI, 2019). Existem dois tipos
principais de ideologias: ideologias políticas e ideologias epistemológicas. As ideologias
políticas são conjuntos de ideias éticas sobre como um país deve ser administrado. As
ideologias epistemológicas situam-se no campo do pensamento e são conjuntos de ideias sobre
a filosofia, o universo e como as pessoas devem tomar decisões (VERSIGNASSI, 2019).

Como observa Pierre Bourdieu (apud GRENFELL, 2018, p. 99), no campo da economia política,
comunismo e capitalismo são ideologias opostas. Muitos partidos políticos baseiam sua ação e
programa político em uma dessas duas ideologias. Nos estudos sociais, uma ideologia política é
um certo conjunto ético de valores, princípios, doutrinas, mitos ou símbolos de um movimento
social, instituição ou classe que explica como a sociedade deve funcionar, através de um plano
político e cultural para estabelecer uma certa ordem social. Uma ideologia política se preocupa
amplamente em como alocar poder e estabelecer para que fim ele deve ser usado. Alguns
partidos seguem uma certa ideologia muito restritamente, enquanto outros podem se inspirar
amplamente em um grupo de ideologias relacionadas (por exemplo, socialismo e comunismo)
sem abraçar especificamente nenhuma delas.

Para Eagleton (2019), as ideologias políticas têm duas dimensões:

1. Objetivos, que visam estabelecer como a sociedade deve funcionar ou ser organizada.
2. Métodos, que são as ações e estratégias consideradas mais apropriadas para alcançar esse arranjo ideal.

Tipicamente, cada ideologia contém um conjunto de ideias sobre o que considera ser a melhor
forma de governo (por exemplo, democracia, teocracia etc.) e o melhor sistema econômico (por
exemplo, capitalismo, socialismo etc.). Às vezes, a mesma palavra é usada para identificar uma
ideologia e uma de suas principais ideias, como o socialismo que pode se referir a um sistema
econômico ou a uma ideologia que apoia esse sistema econômico. As ideologias também se
identificam pela sua posição no espectro político, identificado como de esquerda, de centro ou a
direita, embora isso seja muitas vezes controverso. Finalmente, as ideologias podem ser
diferenciadas das estratégias políticas como o populismo (identificação com as camadas mais
simples e populares) e questões únicas que podem definir o programa de um partido, como, por
exemplo, a legalização da maconha.

Figura 8 - Realismo social: As Catadoras - Jean-François Millet, 1857.

Legenda: O realismo social foi um movimento artístico que visava chamar a


atenção para os problemas sociais, especialmente das classes trabalhadoras,
com forte influência da ideologia socialista.
Fonte: pt.wikipedia.org
[https://pt.wikipedia.org/wiki/Realismo#/media/Ficheiro:Jean-
Fran%C3%A7ois_Millet_-_Gleaners_-_Google_Art_Project.jpg] .

Nas artes, literárias ou visuais, a ideologia pressupõe o engajamento político do artista e um


caráter panfletário (propagandístico e proselitista) da sua obra, entretanto, muitos artistas e
literatos se colocam como neutros e apartidários. Nesse sentido, Bourdier (apud GRENFELL,
2018) afirma que é importante insistir que toda arte é ideológica. Não no sentido que cada obra
de arte seja ideológica e se construa como ideológica, mas na medida em que a arte representa a
cultura oficial ou dominante de qualquer sociedade, e passa a ser um instrumento ideológico
dessa sociedade. Desta forma, para Bourdier (apud GRENFELL, 2018), a arte é institucionalmente
ideológica; assim como a educação é institucionalmente ideológica, a escola é um instrumento
ideológico, o professor é um agente ideológico, o aluno é um sujeito ideológico. E a arte é
ideológica independentemente do seu conteúdo. Mesmo quando a arte não cumpre com as
crenças e sentimentos oficiais, ainda assim pode promover ideologicamente parte da sociedade
existente, representando seus ideais e seus valores.
Figura 9 - Madona renascentista.

Legenda: A pintura da Renascença representava os ideais da sociedade


burguesa da época, mesmo em temas religiosos é possível identificar essa
simbologia.
Fonte: pt.wikipedia.org
[https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_pinturas_de_Rafael#/media/Ficheiro:
Raffaello_Santi_-_Madonna_della_Rosa_(Prado).jpg]

Para Grenfell (2018), o argumento de que a arte e a estética são implicitamente resistentes à
ideologia deve ser tratado com extrema cautela, e em vez de se pensar que arte e estética são
tipicamente opostas à hegemonia de um grupo dominante, e às orientações oficiais de um
sistema, seria melhor supor que a arte apenas consegue fazer isso em suas exceções. Segundo
Jimenez (2019), essas exceções seriam as chamadas "grandes obras de arte”, pelo grau de
novidade, originalidade e criatividade que apresentam, e por se oporem aos valores das relações
sociais existentes. A crítica da ideologia sugere algo como o oposto: a arte se distingue da
ideologia não se retirando para um espaço autônomo de pureza, mas rejeitando a própria arte. Se
a arte é ideológica por natureza, a única arte que pode romper com a função ideológica da arte é
antiarte. Esse era o conceito que orientava o movimento dadaísta (BOTELHO, 2016).
O dadaísmo (Dada) foi um movimento na arte e na literatura baseado na irracionalidade
deliberada e na negação dos valores artísticos tradicionais. Saiba mais sobre ele em:
todamateria.com.br [https://www.todamateria.com.br/dadaismo/] . Acesso em: 30 maio 2020.

Videoaula - A arte como investimento

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2.4 A arte como ativo cultural

Em muitas ocasiões, encontramos expressões como patrimônio histórico e artístico, patrimônio


cultural ou ativo cultural. Qual é a diferença entre eles? Segundo Botelho (2016), nas últimas
décadas do século XX esses termos passaram a significar exatamente a mesma coisa e, a partir
desse período, são usados como sinônimos, sem fazer distinções. É muito difícil encontrar uma
palavra que cubra tudo aquilo que é considerado um produto cultural, uma vez que o patrimônio
histórico cultural é definido como “tudo aquilo que é produzido pelo homem, no âmbito material
ou imaterial” (BOTELHO, 2016, p. 29); portanto, desde o início da era contemporânea, procuramos
a expressão mais adequada, sabendo que nenhuma definição é amplamente satisfatória e que
aquele termo entre esses que mais está se aproximando de uma tradução categórica,
provavelmente no futuro será substituído por outro mais preciso.
No entanto, de uma perspectiva linguística, podemos apreciar diferenças notáveis de significado
que estão alinhadas com a evolução pela qual a percepção da cultura passou ao longo do tempo.
Desta forma, patrimônio histórico e artístico é o termo mais distante no tempo e, pouco a pouco,
esse termo foi sendo substituído pelas outras duas terminologias, uma vez que, conceitualmente,
é o mais restritivo dos três e implica antiguidade a priori e avaliação estética. Por outro lado, o
que significa, exatamente, histórico? Consultando o dicionário Aulete Digital (2020), ele nos diz
que “é algo que pertence ou é digno de pertencer à história”, o que não esclarece nada para nós,
pois todo resultado da atividade humana deve necessariamente estar incorporado na história,
como seres históricos que somos.

Os museus são os guardiões das coleções que representam nossos patrimônios históricos,
artísticos e culturais. Uma coleção refere-se a algo que é coletado ou a um grupo de objetos
acumulado em um local, especialmente para alguma finalidade ou como resultado de algum
processo, formando uma coleção de selos; uma coleção de chapéus nunca utilizados; uma
coleção de gravuras etc. Saiba mais sobre esse processo em: collectgram.com
[https://collectgram.com/blog/a-arte-de-colecionar/] . Acesso em: 30 maio 2020.

Mais interessante é a complementação do significado trazido pelo dicionário: "digno”, devido à


importância atribuída a ele de “pertencer à história". De acordo com essa definição, é necessária
uma transcendência que dê a essa herança um olhar especial e mais erudito. Desta forma,
percebemos uma limitação de incluir a definição à arte popular, que está longe de pertencer aos
“grandes marcos” artísticos da história. Assim, uma pequena escultura sacra japonesa ou
chinesa esculpida em marfim, um vaso de cerâmica grega ou um pedaço de madeira esculpido
pelos aborígenes provavelmente não sejam considerados transcendentes para a história. Mas,
no entanto, eles são incluídos como objetos patrimoniais relativos à cultura desses povos em
diversos museus. Um outro exemplo pode ser dos objetos de peregrinação religiosa, que fazem
parte das coleções museológicas e não revelam propósito artístico, mas devocional, ou as armas
de combate que são exibidas em muitos museus e que também estão longe dessa intenção
estética.

Portanto, o termo “patrimônio cultural” é muito mais amplo que o anterior, porque corrige essas
duas grandes limitações, substituindo-as por cultural, um conceito muito mais amplo e que
engloba toda a produção resultante da cultura humana. A cultura é, de acordo com a literatura da
antropologia, “o conjunto de modos de vida e costumes, conhecimento e grande
desenvolvimento artístico, científico, industrial, e, ao mesmo tempo, pertencente a um grupo
social de determinada comunidade” (BOTELHO, 2016, p. 93). Em suma, a maneira de viver do
homem e seus resultados, materiais ou não, incluindo o etnográfico e o imaterial, pertence à
cultura. Ela cobre praticamente tudo, sem a necessidade de fazer um julgamento prévio sobre
sua transcendência ou intenção artística.

Figura 10 - O museu e o patrimônio histórico, artístico e cultural.

Legenda: Museu do Vaticano. O objetivo dos museus modernos é coletar,


preservar, interpretar e exibir objetos de significado histórico, artístico e
cultural.
Fonte: Mochilazocultural/pixabay.com

Finalmente, para Versignassi (2019), a expressão mais usada nos últimos anos é “ativo
(propriedade) cultural”, pois é ainda mais abstrata que “herança cultural” e, portanto, faz uma
referência mais ampla e precisa a essa conceituação, não necessariamente tangível, dentro da
qual uma técnica, objeto, obra de arte ou manifestação de arte popular podem ser incluídos.
Segundo Versignassi (2019), este último termo foi usado pela primeira vez pela UNESCO na
Convenção de Haia de 1954, focada na proteção de bens culturais no contexto de conflitos
armados. Esse mesmo autor enfatiza que por se tratar de uma expressão nova, os anais da
Convenção dedicaram o capítulo 1 precisamente para sua definição. Desde então, em sucessivas
reuniões da UNESCO, o conceito de propriedade cultural foi ampliado, configurando uma extensa
definição que continua a ser sutil e provavelmente não terá fim. Entretanto, por qualquer uma das
três nomenclaturas podemos afirmar que toda obra de arte é um patrimônio ou ativo cultural,
embora o contrário não seja verdadeiro. E como ativo, ela também pode ser comercializada como
qualquer bem econômico.
2.5 Recapitulando

Nesta primeira unidade abordamos com bastante amplitude o conceito de funções da arte,
analisando a arte como uma manifestação social, ideológica e cultural, com ênfase nos seus
aspectos de ativo cultural passível de ser comercializado como uma mercadoria.
UNIDADE 2

Introdução ao mercado de
arte
Objetivos:
Na segunda unidade da aula abordaremos o conceito de mercado, os critérios
para constituição de coleções e atribuição de valor, o conceito de obra de arte
como bem econômico e o valor da arte como bem econômico destinado às
transações no mercado de artes.

Videoaula - Conceito de arte como mercador

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3 O mercado de arte
Para Kotler (2017), um mercado pode ser definido como o ponto de encontro entre oferta
(alguém, uma empresa, um detentor de direitos que oferece algo à venda) e a demanda por um
produto (alguém com dinheiro e disposição para comprar). Este é o local para determinar preços
e quantidades negociadas. Em um determinado mercado, fornecedores e solicitantes passam a
trocar bens e serviços, geralmente com as trocas de produtos/serviços por moeda. Sem dúvida,
em um mercado que é formado por itens colecionáveis e/ou obras de arte as regras seguem os
mesmos critérios.

Qualquer ato de compra nesse mercado requer um ato de venda. Nesse sentido, embora a venda
por profissionais seja uma atividade frequente em determinados locais (galerias, museus,
antiquários, feiras de arte, casas de leilão), também pode ser realizado por um indivíduo
particular, o que pode gerar dúvidas sobre como lidar com essa transação, onde buscar
informações ou como melhorar contratos privados com garantias. É importante conhecer as
garantias que o comprador e o vendedor têm na aquisição de objetos e obras de arte, bem como
ter o conhecimento das características básicas de um mercado de bens transacionais, e como
ele funciona (CAMPOS, 2016).

Figura 11 - Mercado de pulgas.

Legenda: Os chamados Mercados de Pulgas são locais mais populares de


compra e venda de objetos com certo valor artístico, histórico e cultural.
Fonte: jackmac34/pixabay.com

A aquisição da arte contemporânea geralmente não apresenta grandes problemas porque as


medidas restritivas sobre sua circulação ou disposições legais geralmente não são aplicáveis.
Dificuldades podem surgir quando as operações comerciais são projetadas para peças antigas
com maior valor histórico e cultural, para as quais os comerciantes devem ter em mente as
regras que se aplicam aos bens de acordo com sua categoria ou classificação e observar
quaisquer disposições legais que limitem sua circulação nacional ou internacional, por isso
também é necessário consultar o inventário do item. Um inventário de objetos de coleção ou de
obras de arte deve ser mais do que uma lista. Idealmente, cada peça tem seu próprio arquivo
com os nomes da obra e do artista, uma foto da obra, sua localização e demais documentações
pertinentes, que devem ser criteriosamente observados (FLYNN, 2016).

A moldura é um complemento de uma tela inserida em um quadro e pouca gente sabe que ela
também faz parte de um projeto adequado a cada tipo de pintura. Veja por que é curioso saber
mais sobre as molduras no link: emolduras.com.br
[http://emolduras.com.br/site/category/curiosidades/] . Acesso em: 03 jun. 2020.

Videoaula - Colecionismo e objetos colecionáveis

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3.1 Colecionismo e critérios de constituição das coleções

Apoiados em Gob (2019) podemos concluir que, de um modo geral, uma coleção é uma reunião
de objetos coletados por uma pessoa, um grupo de indivíduos ou uma instituição. O
colecionismo representa a coleta e agrupamento de objetos correspondentes a um tema e
também envolve a atividade de reunir as peças em determinadas condições de conservação,
manter e gerenciar esse agrupamento. O colecionismo também designa a ação realizada por um
colecionador, de coletar e constituir uma coleção. Um museu, por exemplo, é uma entidade
pública que coleta e coleciona bens (ou ativos) culturais; e uma coleção pode ser científica –
quando é coletada por uma organização dedicada ao estudo e pesquisa de determinados itens,
como uma universidade –, privada, quando é feita por um indivíduo ou por uma organização
jurídica particular como um banco; ou pública, no caso citado de um museu.

A coleta pessoal pode ser definida como uma paixão ou hobby por coletar objetos em uma ou
mais categorias, embora os colecionadores prefiram termos como adquirir, preservar e
compartilhar relíquias e histórias, independentemente do tipo de coleta em que se envolvem.
Muitas vezes, esse comportamento deixa de ser um hobby para ser um estilo de vida, ou uma
atividade comercial. Ser um colecionador não é uma tarefa fácil, requer dedicação, empenho e
pesquisa para identificar e obter cada peça considerada preciosa, além de tempo para cuidar
dela e conservá-la, e muitas coleções também exigem um espaço adequado e considerável de
armazenamento. Portanto, é importante destacar que cada coleção pessoal é única, irrepetível e
insubstituível, pelo valor sentimental que possui para cada colecionador e por todo o histórico
que ela representa, incluindo todo esforço dispendido para conquistá-la (GOB, 2019).

Figura 12 - Coleção de selos.

Legenda: Existem vários tipos de coleções e objetos colecionáveis, como selos,


moedas, brinquedos etc.
Fonte: scapin/pixabay.com

Cada colecionador escolhe entre os diferentes tipos de possibilidades de organizar uma coleção,
para se dedicar apaixonadamente a encontrar objetos e peças. O tema de sua preferência pode
basear-se em seus gostos: se o objeto lembra momentos da infância, se gera algum sentimento,
se sua história desperta interesse ou se está ligado a determinada categoria com bom potencial
de valorização. Existem diferentes tipos de coleta, tudo depende das preferências e gostos de
cada pessoa, e se ela escolher um tema específico em determinada categoria, isso amplia ainda
mais as opções. No entanto, alguns objetos são mais populares que outros, facilitando a troca e
o acesso a informações sobre eles. Apesar disso, nenhum colecionador costuma desanimar em
satisfazer sua paixão (GOB, 2019).

Figura 13 - Coleção de medalhas.

Legenda: As coleções são organizadas de acordo com o gosto e a paixão de cada


colecionador.
Fonte: Selenagallag/pixabay.com

Os objetos têm potencial múltiplo e apresentam possibilidades heterogêneas para o


enriquecimento das coleções. É por isso que diferentes critérios devem ser levados em
consideração ao desenvolver uma coleção. Geralmente um museu baseia suas escolhas no
potencial de exposição dos objetos e obras. Na missão do museu, exibir e colecionar são
práticas sempre ligadas a atividades “para o outro”, e o interesse do público é sempre um fator a
ser considerado (BOTELHO, 2016). Todo artefato tem uma potencialidade que gera a opção pelo
tipo de coleção e o acréscimo de novos objetos, principalmente únicos e diferenciados, atualiza
os potenciais das coleções. Em outras palavras: o desenvolvimento de uma coleção museológica
também leva em conta o potencial de exposição pública de um objeto. Isso não significa, no
entanto, que o tema e os objetos das exposições permanentes ou temporárias devem ser
determinados apenas de acordo com a estratégia e o conceito de exposição. O museu também
considera o valor histórico, cultural e econômico das peças colecionáveis.

Para Flynn (2016), de qualquer modo, a atratividade dos objetos para a exposição e o interesse
pelos temas, estão sujeitos a flutuações cíclicas. É por isso que o desenvolvimento de uma
coleção também pode ser especulativo e levar em consideração o potencial de exposição a
médio ou em longo prazo (antecipação de potencial). O potencial de pesquisa, isto é, se um
objeto tem o potencial de enriquecer uma pesquisa científica atual ou promete resultados
relevantes de pesquisa ao longo do tempo, é outro fator. A condição para isso é o registro e o
inventário apropriados do objeto, pois, caso contrário, a pesquisa não será possível se não pode
levar isso em consideração. A documentação de cada objeto ou coleção é fundamental para uma
pesquisa relevante. Isto é particularmente verdade para museus e coleções dedicadas às
ciências naturais, cuja ênfase costuma ser colocada no potencial de pesquisa e na possibilidade
de gerar conhecimento.

Muitos objetos enriquecem uma coleção apenas do ponto de vista quantitativo. Mas para
qualquer expansão direcionada de coleções considerando sua valorização, é importante
considerar se o objeto abriga um novo valor histórico. Esse é especialmente o caso quando um
colecionador visa adquirir um objeto principal, que testemunhe uma mudança ou novidade na
coleção, e principalmente quando o museu – ou uma instituição privada, ou ainda colecionador
individual – objetiva o crescimento de uma série existente. Para isso, também o potencial de
conservação deve ser levado em conta. O estado de conservação pode ser decisivo na medida
em que a aquisição de um objeto gera também necessidades de conservação e restauração, que
são de responsabilidade do novo proprietário. Considerações sobre o estado atual da peça, se o
objeto pode ser mantido, a possibilidade de contratar um seguro, despesas e taxas
complementares podem influenciar a decisão. Isso é particularmente válido para a coleção de
obras de arte, que envolve quantias vultosas (GOB, 2019).

Figura 14 - Coleções de museus.

Legenda: As coleções mais valiosas são de obras de arte conservadas pelos


museus.
Fonte: commons.wikimedia.org
[https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Uebergabe_von_Breda.jpg]
Para Gob (2019, p. 47), a extensão do alcance da atratividade dos objetos ou obras de arte é
outro fator importante na formação de uma coleção. No caso das instituições museológicas,
cada museu levanta a questão das categorias de objetos ou temas em torno dos quais sua
coleção deve girar, bem como seu posicionamento nos níveis local, regional, nacional ou
internacional. Duas abordagens podem ajudar a esclarecer a estratégia e a estruturar o conceito
de formação de coleções de acordo com as categorias de objetos e campos temáticos:

Análise do potencial territorial: Que envolve particularmente a atenção voltada para cada uma das
categorias e a cada um dos temas que a própria região gera quase por si só, ou seja, que têm sua
origem nessa região. Por isso, é necessário analisar com maior profundidade as categorias de objetos,
obras de arte e os campos temáticos que determinam o território como um potencial de coleta. No
Brasil, podemos citar o caso específico dos museus fazenda, museus ao ar livre e museus históricos
de cidades com forte atração pelo seu caráter histórico e cultural; tais como, Ouro Preto em Minas
Gerais, Petrópolis no Rio de Janeiro, São Luiz do Paraitinga em São Paulo, Porto Seguro na Bahia,
entre outros.
Análise do interesse do território: Nesse caso, o foco direciona-se particularmente às categorias e
temas que tiveram repercussões interessantes em uma região, mas que vêm de outros lugares, ou
seja, que foram ou podem ser importados. Isso é particularmente válido para as grandes Metrópoles,
como São Paulo e Rio de Janeiro com seus museus de coleções de obras de arte internacionais. Os
resultados não excluem que os museus em regiões vizinhas ou similares tenham as mesmas áreas
de interesse. Trata-se de considerar a coleção através de sua interpretação e adaptação, bem como
seu potencial de identificação na região.

Videoaula - Classificação e valor de objetos e coleções

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3.2 Classificação e valorização das coleções e obras de arte


Os museus em torno do mundo (bem como instituições e colecionadores privados) procuram
documentar suas coleções e patrimônios de acordo com critérios classificatórios específicos.
Um sistema de classificação de objetos é um esquema para organizar ou classificar objetos,
agrupando objetos semelhantes (taxonomia). Às vezes, os sistemas de classificação também
podem ser usados para nomear objetos de forma precisa e consistente. Existem muitas
maneiras diferentes de classificar objetos, mas duas se destacam: a primeira por material, por
contexto cultural e por forma, mas muitas instituições, como museus e colecionadores
particulares usam uma segunda opção que é o contexto funcional do objeto como base para a
classificação (GOB, 2019).

Figura 15 - O valor das obras de arte.

Legenda: Entre as obras de arte mais valiosas, encontramos a pintura Os


Jogadores de Cartas, de Paul Cézanne, avaliada em US$ 259 milhões (Jimenez,
2019).
Fonte: pt.wikipedia.org
[https://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_C%C3%A9zanne#/media/Ficheiro:Les_Joueur
s_de_cartes,_par_Paul_C%C3%A9zanne.jpg]

Os sistemas de classificação funcional incluem agrupamentos funcionais, por exemplo,


“lampiões e lamparinas são classificados como dispositivos de iluminação, isto é, objetos que
funcionam para fornecer iluminação, e calçados como objetos que funcionam para proteger ou
cobrir os pés” (JIMENEZ, 2019, p. 74). O contexto funcional do objeto é importante, porque se os
itens fossem organizados apenas por semelhança, todas as ferramentas de corte seriam
agrupadas, independentemente de serem usadas para derrubar árvores, preparar alimentos ou
fazer uma incisão cirúrgica. Em vez disso, esses diferentes tipos de ferramentas de corte “são
separados por contexto funcional, nas categorias Ferramentas e equipamentos florestais;
Equipamentos para preparação de alimentos; e Ferramentas e equipamentos médicos e
odontológicos" (JIMENEZ, 2019, p. 76).

Figura 16 - Classificação das coleções.

Legenda: As coleções são organizadas de acordo com a sua classificação


(taxonomia).
Fonte: Maky_Orel/pixabay.com

Gob (2019) explica que nesse caso, a classificação por semelhança também é usada como forma
complementar, porque ajuda a estabelecer o valor de cada coleção e de cada objeto. Esse valor
está relacionado com a origem do objeto, seu tempo de vida, sua raridade, seu significado
histórico e cultural, os cuidados exigidos para sua conservação, bem como por quem, quando e
como foi produzido. Embora o material usado na confecção de um objeto colecionável também
seja um dos motivos de avaliação, esses fatores classificatórios indicados geralmente
transcendem o material com o qual o objeto foi produzido, mesmo que para isso tenham sido
usados metais preciosos como ouro e prata e/ou pedras preciosas, porque eles configuram
valores inestimáveis relativos à história e a cultura de um povo, de uma região e de um país. Com
base em Flynn (2016, p. 76), de maneira geral, podemos resumir os fatores de valorização das
coleções da seguinte maneira:

Autenticidade: essa regra se aplica a todos os itens colecionáveis, objetos autênticos têm valor,
réplicas não. E isso também se aplica às obras de arte, tanto históricas e clássicas, como um quadro
do Renascimento quanto a uma obra contemporânea, como uma pintura de um autor atual e
reconhecido.
Escassez: no caso de objetos ou obras replicáveis (como uma serigrafia ou gravura), quantas cópias
foram obtidas? Quantas dessas cópias foram reformuladas ou desapareceram? É facilmente
dedutível que quanto mais rara a peça, mais ela tem valor. Se o colecionador, galeria ou museu tem
em sua posse um exemplar que conta entre algumas cópias raras ainda em circulação, há mais
chances de ela ser incluída em considerações de alto valor. Existem, inclusive, especialistas em
coleções e obras de arte, dos mais variáveis segmentos, competentes para examinar uma peça
colocada à venda e fazer uma estimativa. De qualquer forma, uma peça única tem valor inestimável.
Origem: em relação às peças antigas (acima de 100 até mais de 1000 anos), a origem desempenha um
papel importante para sua avaliação. Se uma documentação comprova o histórico do objeto ou da
obra e sua origem, ou se revela o histórico de sua trajetória e de quem foram seus proprietários ao
longo do tempo, essas são informações valiosas para determinar seu valor exato.
Pureza e peso do material: de que material é feita a peça? Ouro, platina, prata? E qual é o nível de
pureza desse material e seu peso? Esses dados geralmente são checados com tecnologias modernas
e uma balança de precisão, não apenas para estabelecer essas informações atualizadas, mas,
sobretudo, para detectar falsificações. Geralmente, há uma diferença significativa de peso entre uma
peça genuína e uma falsificação. É muito difícil reproduzir com precisão o peso de uma peça, e o uso
de diferentes ligas resultará em uma variação desse peso.
Certificação: se a peça é certificada por algum órgão autorizado certamente terá mais valor. Quando
um potencial comprador descobre que a peça que lhe interessa foi certificada por uma organização
profissional de renome, ele terá total confiança quanto ao objeto. E essa confiança é frequentemente
sinônimo de ofertas mais altas. Mesmo no caso de objetos e obras adquiridas por um museu.
Mercado: a economia básica considera que a demanda influencia os preços. O mercado ainda
desempenha um papel fundamental na determinação do valor dos itens colecionáveis. Se uma peça
é muito procurada pelos colecionadores, será logicamente mais cara devido à alta demanda.
Entretanto, mesmo que uma peça seja rara e esteja em excelentes condições, terá pouco valor se
ninguém a desejar.

Roupas e artefatos usados por celebridades também são itens colecionáveis e alcançam preços
exorbitantes em alguns leilões. Em 2009, roupas e objetos de Elvis Presley foram a leilão pela
internet. Veja como isso aconteceu no site G1: g1.globo.com
[http://g1.globo.com/Noticias/Musica/0,,MUL1047135-7085,00-
OBJETOS+PESSOAIS+DE+ELVIS+PRESLEY+VAO+A+LEILAO+NA+INTERNET.html] . Acesso em: 02
jun. 2020.
Videoaula - A obra de arte como bem econômico

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3.3 Conceito de bem econômico

Um bem econômico é qualquer objeto ou serviço que, além de satisfazer uma necessidade
humana, pode ser adquirido no mercado por meio de pagamento em dinheiro ou contraprestação
(troca de um produto por outro, ou por uma prestação de serviço). Um bem econômico é também
um bem escasso. Isso significa que ele não é ilimitado e, portanto, pode durar até terminar um
estoque, por isso tem um preço relacionado com a sua oferta e procura. Esse tipo de mercadoria
também pode ser material (produto físico) e imaterial (prestação de serviços). Todos os ativos
econômicos têm um valor que também pode variar ao longo do tempo e de acordo com a maior
ou menor oferta de quantidades no mercado. Quanto mais raro e escasso, maior o seu valor
monetário (VERSIGNASSI, 2019).
Figura 17 - Valor e raridade.

Legenda: O valor dos bens econômicos está relacionado com a sua raridade. A
primeira moeda dos EUA, de 1794, vale atualmente 10 milhões de dólares
(Jimenez, 2019).
Fonte: Pavlofox/pixabay.com

Versignassi (2019) explica que um bem econômico é um bem ou serviço que tem um benefício –
isto é, uma utilidade – para a sociedade. Além disso, os bens econômicos têm um grau de
escassez e, portanto, um custo de oportunidade (relativo à sua escolha); ao contrário de um bem
gratuito, como o ar, o mar, a água da chuva, onde não há custo de oportunidade, porque existe
abundância. Bens gratuitos não podem ser comercializados porque não têm valor comercial:
ninguém que vive à beira-mar compraria água do mar, nem é possível cobrar pelo ar que
respiramos, não faz sentido. Por outro lado, no caso de bens econômicos onde há escassez e
valor, as pessoas estão dispostas a pagar para obtê-los.

Outra característica de um bem econômico é que se ele pode ter um valor relativo à sua oferta e
procura, pode ser negociado no mercado e avaliado através de uma relativa quantia em dinheiro.
Um bem econômico terá algum grau de escassez em relação à demanda. É a escassez que cria
um valor pelo qual as pessoas se dispõem a pagar. É a escassez que cria custo de oportunidade.
O custo de oportunidade refere-se ao a uma opção de escolha entre dois ou mais bens quando o
dinheiro é limitado e optamos por um deles deixando de adquirir os demais. Por exemplo, uma
pessoa está com fome e tem R$ 30,00: se ela optar por um lanche e um refrigerante em vez de
um prato pronto no restaurante, seu custo de oportunidade é a comida do restaurante que deixou
de consumir (VERSIGNASSI 2019).

De acordo com Versignassi (2019) podemos concluir que os custos de oportunidade podem ser
implícitos, geralmente quando dizem respeito a outros recursos que não o dinheiro. Não é um
custo direto, mas corresponde a oportunidade perdida de gerar renda através desses recursos.
Por exemplo: se uma pessoa tem uma segunda casa no campo que usa como casa de férias, o
custo implícito da oportunidade é a renda que ela poderia ter gerado se a alugasse para
inquilinos e recebesse rendimentos mensais, em vez de usá-la para sua própria família. Não
custa nada para ela usar a casa de férias, mas ela está perdendo a oportunidade de gerar renda
com a propriedade. Segundo Versignassi (2019), embora o conceito de custo de oportunidade
esteja fortemente enraizado na economia e nas finanças, ele também deve incluir sentimentos e
valores pessoais. Se a pessoa gosta de cozinhar, não deve se tornar médico em vez de chef
simplesmente porque os médicos ganham mais dinheiro do que os chefs. O custo de
oportunidade de se tornar médico nesse cenário seria negar a si mesmo a oportunidade de fazer
o que a pessoa realmente ama. Por sua vez, a aquisição de uma obra de arte sempre envolve um
custo de oportunidade; quando um investidor opta por arte, troca esse ativo cultural pela opção
em relação a outros ativos financeiros, como ações ou títulos públicos.

Os bens também podem ser públicos. Os bens públicos têm as características de não rivalidade
e não competitividade, porque eles não concorrem com outras ofertas de mercado; por exemplo,
iluminação pública, sinalização de trânsito e policiamento. São bens econômicos, porque há
escassez e custo de oportunidade para provê-los, mas são gratuitos no ponto de uso. Entretanto,
isso não os torna "bens gratuitos", de acordo com a estrita definição econômica. Bens públicos,
como iluminação pública, não são gratuitos para a sociedade porque as pessoas pagam por eles
indiretamente, em forma de impostos. E tanto quanto os bens de mercado, também têm uma
utilidade de satisfazer, direta ou indiretamente, precisam atender uma necessidade humana ou
social. Uma obra de arte alocada em uma coleção de um museu mantido pelo Estado se torna
um bem público. De acordo com Versignassi (2019, p. 112 a 115), a classificação dos bens pode
ser resumida da seguinte maneira:

Bens móveis ou mobiliários: os bens móveis são aqueles com os quais as pessoas podem negociar ou
fazer trocas no ambiente nacional e internacional. Eles podem ser facilmente movidos de um lugar
para outro, mantendo sua integridade e a propriedade de quem adquiriu. Os bens móveis são de
natureza muito diversa: de bens tangíveis, como móveis, eletrodomésticos, equipamentos de
informática a bens intangíveis, como energia elétrica, serviços de água e esgoto ou direitos de
propriedade intelectual ou industrial. Obras de arte são bens mobiliários, sujeitos a regras especiais.
Bens imóveis ou imobiliários: são bens que só podem ser consumidos ou utilizados na economia em
que são produzidos principalmente pela impossibilidade física de transferência e também devido ao
custo de transporte, barreiras à entrada e saída, impostos nacionais etc. Exemplos de bens não
imobiliários são as residências e prédios comerciais, uma vez que são construídos em um
determinado país, região e local e, muito embora exista mais demanda por eles em outra parte do
mundo, uma casa não pode ser exportada ou enviada para o exterior.
Videoaula - As características da arte como bem econômico

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3.4 A obra de arte como bem econômico

Alguns ativos culturais considerados importantes atualmente nem sempre foram avaliados
como tais e com o passar dos anos eles tiveram uma variação de significado em diferentes
momentos. Esse fato é conhecido como variação diacrônica – termo emprestado da linguística e
que significa uma mudança ao longo do tempo –. Essa variação tem muito a ver com a própria
trajetória dos objetos e as mudanças em seu uso. Muitos bens que agora fazem parte das
coleções de um museu eram objetos utilitários comuns, como garfos, pratos, cadeiras ou móveis,
mas devido a certas contingências históricas e representativas de uma época ou cultura, eles se
tornam importantes e seu valor adquiriu uma nova configuração (GOB, 2019).

Outras vezes, mas em um mesmo momento, um objeto atual pode ter diferentes avaliações –
isto é, uma variação síncrona, que é o estudo das mudanças de um objeto ou assunto, em um
dado momento – dependendo do que ele significa para diferentes grupos ou pessoas; por
exemplo, os troféus de um time de futebol podem ser muito apreciados e valorizados por seus
torcedores, mas, ao mesmo tempo, não significam nada, ou até mesmo podem ser desprezados
pelos fãs de um time adversário. Em decorrência desses fenômenos, o reconhecimento de
valores deve ser um processo cada vez mais relativo, envolvendo diferentes visões e posições,
principalmente no que diz respeito às coleções de museus ou instituições com vocação pública.
O museu pergunta a seus visitantes quais são seus objetos favoritos e por que, ou o que, faz com
que eles os considerem assim. As consultas com profissionais de diferentes áreas ou disciplinas
também parecem ser um caminho claro a seguir para superar uma avaliação focada
exclusivamente em especialistas (JIMENEZ, 2019).

Outro fator determinante com grande impacto na relatividade do reconhecimento de valores,


além do ponto de vista de quem é consultado, é a relação dos objetos com a missão do
colecionador ou do museu em que eles são encontrados, embora essa consideração na maioria
das vezes nem sequer seja contemplada ao tentar avaliar uma coleção. A própria natureza dos
museus, nas mais variadas regiões, implica que muitas coleções foram formadas de maneira
seletiva, através de análises e políticas definidas para a aquisição de obras ou, ainda, com
objetividade e clareza para a seleção constituída. Essa avaliação pode servir de critério para
compra e aquisição entre museus ou até mesmo entre colecionadores, que podem se apoiar na
expertise de quem avaliou os artigos selecionados anteriormente. Mas esse apoio deve ser feito
com cuidado, porque é comum encontrar museus e instituições com diversas coleções que nada
têm a ver com a missão que elas pretendem realizar (GOB, 2019).

Figura 18 - Eight Elvises, de Andy Warhol.

Legenda: Andy Warhol é considerado o precursor do mercado de artes. Seu


quadro, Eight Elvises está avaliado em US$ 416,3 milhões.
Fonte: upload.wikimedia.org
[https://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/b/be/Eight_Elvises.jpg] .

Outro foco é na própria obra ou artefato. A fonte do carisma artístico de uma obra de arte tem
sido debatida há muito tempo entre artistas e criadores que realizam as obras, e os críticos e
usuários (espectadores) que as reconhecem e habilitam, mas o poder carismático das obras de
arte sobre aqueles que as possuem, ou possuíram, é historicamente o motor inicial do valor
(FLYNN, 2016). Essas considerações remetem a uma valoração atribuída pelo mercado. Na
década de 1960, o poder carismático começou a se aproximar e a se acomodar à cultura
comercializada (conceito de cultura de massa) e a emergente indústria da arte, momento em que
o valor estético perdeu a proeminência para a nova realidade da arte pop e a ideia de arte
comercial criada por Andy Warhol. Momento histórico, em que a arte se tornou um negócio e
uma forma de ganhar dinheiro com negócios e transações envolvendo as obras de arte. Um dos
muitos artistas a seguir Warhol foi Jeff Koons (apud, CAMPOS, 2016), um corretor da bolsa que
virou artista, que também emprestou imagens da cultura popular para criação de suas obras e
ganhou milhões com a venda da sua produção e de seu repertório pop.
Figura 19 - Uma obra de Jeff Koons.

Legenda: Escultura Democrart, de Jeff Koons, artista plástico estadunidense


que já alcançou o preço de 91 milhões de dólares por uma escultura.
Fonte: Skeenza/pixabay.com

Pelas regras de mercado, uma vez que a obra de arte passa das mãos do primeiro comprador
para um segundo ou terceiro, seu valor comercial passa a ser amplamente determinado pelo
princípio de oferta e demanda, mas pode ser gerenciado pelo principal revendedor do artista.
Mesmo no mercado primário (a venda pela primeira vez), a representatividade relativa, real ou
imaginária do trabalho de um artista em particular, é fundamental. Para os colecionadores, a
conexão emocional estabelecida em relação a um trabalho ou coleção cria um valor pessoal
subjetivo (SHNAYERSON, 2019).

Curiosidade é o desejo de saber mais sobre alguma coisa, e o mundo da arte apresenta diversas
curiosidades que valem a pena conhecer. No site Art Ref, você encontra cinco fatos muito
interessantes sobre artes visuais: arteref.com [https://arteref.com/arte/curiosidades/5-
curiosidades-no-mundo-da-arte-que-te-deixarao-de-boca-aberta/] . Acesso em: 03 jun. 2020.

O peso atribuído por um colecionador a essa medida subjetiva como uma parte do valor
financeiro geral de uma obra pode ser maior que o de um especulador de arte que não
compartilha do investimento emocional do colecionador, no entanto, medidas de valor não
econômico, tais como, "Eu gosto disso" ou "Isso fala comigo" ainda têm efeito econômico porque
essas medidas podem ser fatores decisivos em uma compra (CAMPOS, 2016). Segundo esse
autor, em contrapartida, a percepção dos negociantes de arte sugere que os principais valores
atribuídos para precificação e potencial de venda são autenticidade, qualidade, raridade,
condição, proveniência e valor de mercado. De qualquer forma, a partir dos anos 1960, a obra de
arte assumiu uma nova dimensão e passou a ser considerada como bem econômico; isso
provocou uma estruturação especial de mercado para as transações comerciais com obras de
arte.

3.5 Recapitulando

No desenvolvimento desta segunda unidade foram abordados os conceitos de mercado, de


coleção e colecionismo, bem como os critérios para estabelecer o valor dos objetos e obras de
arte das coleções, o conceito de bem econômico e da arte como bem econômico destinado a
transações comerciais de mercado.
Exercícios de fixação
As regras de autenticidade se aplicam a todos os itens colecionáveis, como objetos autênticos,
réplicas e obras de arte (tanto históricas e clássicas, podendo ser um quadro renascentista ou
uma obra contemporânea).

Verdadeiro Falso

Os bens econômicos são bens úteis que possuem preços e são relativamente escassos, têm a
função de satisfazer uma necessidade humana oferecendo utilidade para a sociedade. Os bens
também podem ser públicos competindo com outras ofertas do mercado.

Verdadeiro Falso

Preencha as lacunas corretamente.

A Selecione... de uma obra de arte não deve diminuir seu valor quando ela é
Selecione... , ao contrário, essa possibilidade agrega mais Selecione... a um bom
trabalho artístico e também dá mais independência ao artista, bem como a Selecione...
pode representar uma recompensa pelo trabalho único. Isso propicia mais diversidade e melhor
qualidade aos trabalhos Selecione... de uma sociedade.

Preencha as lacunas corretamente.

Mercado Selecione... é o local físico ou virtual em que a arte é comprada e vendida. Na sua
conceituação mais básica, esse mercado precisa ter uma obra, que pode pertencer a uma ampla
gama de objetos Selecione... , um Selecione... e um Selecione... , sendo que
este último pode participar diretamente de negociações ou ser representado por agentes.
UNIDADE 3

Economia das artes e


estrutura de mercado
Objetivos:
O intuito desta terceira unidade é apresentar o conceito de mecenato e da sua
importância para todo o desenvolvimento da arte, especialmente a
renascentista, através do patrocínio de pintores, escultores e demais criadores
de obras de arte; bem como definir a estrutura do mercado de artes, sua divisão
em mercado primário e secundário e o potencial nacional e internacional do
mercado de artes.

Videoaula - A estruturação do mercado de artes

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[https://player.vimeo.com/video/468835367] .
4 Economia das artes e estrutura de mercado
Segundo Shnayerson (2019), o mercado de arte tem características específicas e é dividido nos
mercados primário e secundário. Se uma obra de arte sai diretamente do estúdio de um artista,
por meio de uma galeria ou de uma feira de arte contemporânea, é mais provável que seja
oferecida à venda pela primeira vez. Este é o mercado de arte primário, quando o preço da peça
também é estabelecido pela primeira vez. Esse mercado principal é composto pelos proprietários
originais de obras de arte compradas de artistas e galerias. O mercado secundário é o mercado
de revenda, onde a valorização das obras dos artistas decorre do preço alcançado nos leilões.
Este mercado secundário é o mercado que impulsiona os preços de revenda gigantescos que
movimentam a mídia e a curiosidade dos espectadores.

Ambos os mercados são igualmente emocionantes e envolvem várias análises, considerações e


projeções sobre a carreira do artista e o potencial de suas obras. Uma compra direta do artista
ou de uma galeria que representa um artista no mercado primário também é uma possibilidade
de alcançar preços maiores do que foi pago, em transações futuras no mercado secundário. No
mercado secundário a obra será adquirida de um colecionador, de um investidor ou de uma
empresa que atua exclusivamente nesse segmento. Na maioria das vezes, a maior mudança de
preço ocorre no mercado secundário, onde uma peça que está na posse um colecionador, às
vezes durante uma década, se valorizou pela projeção do artista e agora vale muito mais
(SHNAYERSON, 2019).
Figura 20 - Leilão de obras de arte.

Legenda: A casa de leilões inglesa Christie's promove os leilões de obras de


arte mais famosos do mundo, desde 1766, alcançando valores próximos aos 5
bilhões de libras por ano.
Fonte: pt.wikipedia.org
[https://pt.wikipedia.org/wiki/Christie%27s#/media/Ficheiro:ChristiesNewYor
k.JPG] .

Videoaula - O mecenato e a arte patrocinada

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[https://player.vimeo.com/video/468835955] .

4.1 Mecenato e patrocínio da arte


De acordo com o dicionário digital AULETE (s.d.), “mecenas é o indivíduo que protege e apoia,
geralmente com dinheiro, as artes e as ciências, e o profissionais que trabalham nessas áreas”.
Também é sinônimo de Patrono, termo que tem origem na palavra Patronus, que em latim
significa protetor, ou aquele que oferece amparo, proteção ou financiamento dado a atistas,
escritores, cientistas e dramaturgos, entre outros. O mecenas ou patrono desempenhou uma
função fundamental no desenvolvimento da arte no início da Europa moderna, especialmente
entre os séculos XIV e XVI, período do Renascimento. Além de ser um consumidor ativo de arte, o
mecenas foi o seu iniciador, muitas vezes ditando forma e conteúdo para o artista realizar uma
obra. O patrocínio da arte funcionava como prova de riqueza, status e poder e também poderia
servir a propósitos de propaganda e entretenimento direcionado àqueles que visitam as luxuosas
casas da nobreza europeia.

A arte era uma parte importante da vida renascentista, porque havia pessoas, instituições e
famílias da alta nobreza que estavam dispostas a apoiá-la. Eram os chamados Mecenas. Saiba
mais sobre esse conceito em:       estadodaarte.estadao.com.br
[https://estadodaarte.estadao.com.br/breve-historia-do-mecenato/] . Acesso em: 30 maio 2020.

Por outro lado, de acordo com Gombrich (2012) contatos influentes para obtenção de patrocínio
eram essenciais para a sobrevivência e o bem-estar de um artista. O patrocínio foi formalizado
por contratos que definiam custo, materiais, dimensões, participação do artista, conteúdo e
cronograma; e um esboço do projeto era frequentemente exigido para ser aprovado pelo
mecenas. Como alternativa, príncipes seculares e religiosos poderiam reter artistas com uma
mesada mensal, oferecendo-lhes conselho e provisões, além de residência na corte. O patrocinio,
no entanto, é muito mais antigo e tem origem na Grécia Clássica. Em sua explicação de causa e
efeito, Aristóteles (2017) definiu a posição do consumidor quando distinguiu a causa eficiente (o
artista) e a causa formal (o objeto de arte) da causa final (o consumidor da obra). O patrono
ofereceu formas de apoio que o colocaram no nível do cliente que precisava preencher uma
necessidade, mas o equilíbrio entre patrono e artista nunca foi igual e muitas vezes era uma
fonte de tensão entre aquilo que o artista queria realizar e o que o patrono exigia.
Videoaula - Comercialização de obras no mercado primário

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[https://player.vimeo.com/video/468836377] .

Versignassi (2019) observa que como precursor dos atuais investidores em arte e patrocinadores
corporativos, as formas tradicionais de mecenato desempenham um papel vital na compreensão
da natureza da relação arte e patrocinador e do valor associado às artes desde a emergência da
idade moderna. Embora a ação do mecenato possa ser vista como coexistindo com as artes ao
longo dos tempos, desde o início do período moderno até o presente, é a razão por trás do
patrocínio que variou, juntamente com os efeitos que a relação entre o artista e o patrono tem na
criação da arte. O Renascimento, durante os séculos XIV a XVI, abrangendo aproximadamente
três séculos, foi um período de mudança cultural que afetou profundamente a vida intelectual na
Europa. Foi uma época de alto crescimento intelectual, significativo em todas as áreas,
particularmente na de religião, política, artes, literatura e filosofia. O Renascimento provocou a
reativação dos clássicos e da aprendizagem clássica, impulsionado pelo surgimento do
humanismo no início do século XV (VERSIGNASSI, 2019).
Figura 21 - Mecenas do Renascimento.

Legenda: Retrato de Lourenço de Médici, um dos maiores patronos (mecenas)


das artes e das ciências do Renascimento.
Fonte: pt.wikipedia.org
[https://pt.wikipedia.org/wiki/Louren%C3%A7o_de_M%C3%A9dici#/media/Fic
heiro:Lorenzo_de'_Medici-ritratto.jpg] .

Avanços artísticos podem ser vistos na ênfase crescente do uso da forma humana e do mundo
natural na pintura e na escultura, através da descoberta da perspectiva linear na pintura e da
perspectiva aérea na arquitetura. Foi um período de produção artística significativo, resultando
em muitas das obras consideradas as “grandes obras de arte”, ou “obras pimas”, até os dias
atuais, revelando uma produção dominada quase inteiramente por várias formas de mecenato
(GOMBRICH, 2012). Nas primeiras eras do Renascimento, aproximadamente nos séculos XIV e
XV (coincidindo com o fim da Idade Média), o patrocínio era geralmente dominado pela Igreja,
que controlava muitas áreas da Itália na época. Outras cidades eram governadas por uma
monarquia ou governadas por uma seleta elite de comerciantes e banqueiros ricos que também
eram clientes dos artistas, mas, no geral, a Igreja e, mais especificamente o catolicismo,
prevaleceram (GOMBRICH, 2012).
Mais como artesãos do que criadores, os artistas eram contratados para fornecer ao seu
empregador ou patrono um trabalho específico ou uma variedade de peças diferentes por um
longo período de tempo. Um provável contrato teria sido estabelecido estipulando os requisitos
estabelecidos pelo patrono; assim, o trabalho era executado conforme as instruções recebidas.
Como resultado direto dessa relação, o custo da obra de arte era determinado de acordo com o
material e o trabalho envolvidos, e os artistas eram pagos por sua habilidade como artesãos.
Não eram concedidos subsídios aos que se destacaram pela qualidade e originalidade de seu
trabalho e, portanto, "o gênio criativo do artista não tinha valor financeiro reconhecível"
(FARTHING e CORK, 2018, p. 212).

O patrocínio da arte e dos artistas é um assunto controverso e sujeito a determinadas críticas.


Geralmente, se critica o fato de o patrocínio interferir no assunto escolhido pelo artista e a
negação de patrocínio para obras polêmicas. O artigo A arte e o mecenato brasileiro discute
esses aspectos e está disponível em: culturaemercado.com.br
[https://www.culturaemercado.com.br/site/a-arte-e-o-mecenato-brasileiro/] . Acesso em: 30
maio 2020.

Nos estágios iniciais do Renascimento, a arte era geralmente limitada a um assunto específico,
conforme determinado pelo patrono, e pouca possibilidade de criatividade era dada ao artista em
termos de conteúdo ou do que ele produzia. Efetivamente, um dos únicos caminhos do artista
para a expressão do seu talento se deu através da construção física da peça, a composição e o
meio, que acabaram se tornando o ponto focal da obra de arte (GOMBRICH, 2012, p. 160). Alguns
casos são mais específicos que outros, em que o mecenas definia claramente como a peça devia
parecer, que pessoas ou iconografia incluir (e até a ordem em que essas pessoas deviam
aparecer), pigmentos, tamanhos e datas de entrega.
Figura 22 - Pintura renascentista.

Legenda: Pintura da Renascença, de autoria do pintor português Grão Vasco,


século XVI.
Fonte: pt.wikipedia.org/
[https://pt.wikipedia.org/wiki/Pentecostes_(Gr%C3%A3o_Vasco)#/media/Fiche
iro:Gr%C3%A3o_Vasco,_Pentecostes,_da_capela_da_portaria_do_mosteiro_de
_Santa_Cruz_de_Coimbra,_1534-35,_assinada_Velasco.jpg] .

Em outros casos, os requisitos eram mantidos simples, “dando aos artistas apenas um título
geral ou uma simples narrativa, como na ‘A Adoração dos Magos’, pintura de Pintura de Sandro
Botticelli”(GILBERT, 1992, p. 157). Nesses casos, o artista era autorizado a criar a peça de acordo
com seu próprio conceito, embora os mecenas podiam ser consultados. Segundo Gilbert (1992),
pode ser que essas atenções tenham sido a principal razão para a qualidade excepcional da
produção renascentista de pintores como Leonardo da Vinci (1452/1519), Sandro Botticelli
(1445-1510), Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni (1475-1564) e Peter Paul Rubens
(1577-1640).
Figura 23 - Escultura de Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni.

Legenda: A Pietà de Michelangelo, escultura considerada uma das maiores


obras-primas das artes visuais, realizada entre 1498 e 1499.
Fonte: Twstringer/pixabay.com

O patrocínio mudou à medida que as instituições modernas, como a cidade, o capitalismo e as


moedas cunhadas se desenvolviam, levando a um mundo ampliado de bens, à difusão social do
gosto, a uma variedade de novas formas de arte, a uma ampla expansão da cultura material com
uma demanda significativa por bens duráveis. Entretanto, podemos constatar a extravagância
dos patronos renascentistas – entre eles Lourenço de Médici (1449-1492), Cosme de Médici
(1389-1464) e Galeazzo Maria Sforza (1444-1476), como indica Gilbert (1992), através da
contabilidade de sua generosidade na construção de igrejas, prestígio investido na construção de
palácio e decorações temporárias para visitas de Estado, festivais, casamentos dinásticos e
trocas políticas. As pressões políticas e sociais foram fatores para limitar a exibição exagerada.
Em Veneza e Florença, os comerciantes foram restringidos em seu patrocínio pelas leis
sumptuárias (promulgadas para limitar o consumo exagerado), que chegou a limitar o custo e a
cor das roupas, bem com a quantidade de joias usadas (GILBERT, 1992).      

 Como explica Gombrich (2012), o mecenato histórico foi substituído por formatos modernos de
patrocínio. O investimento em arte e cultura pode ser uma excelente maneira de apoiar um setor
cuja sobrevivência e autonomia requerem grandes recursos. O patrocínio pode ser encarado
como um investimento privado ou institucional e geralmente resulta na criação de coleções de
arte. A legislação está ciente da necessidade de incentivar o patrocínio para dar continuidade
aos projetos de museus e instituições colecionadoras, bem como aos movimentos artísticos e
culturais. Por esse motivo, ele é promovido pelo estabelecimento de uma série de vantagens
fiscais para os investidores, geralmente na forma de deduções e incentivos fiscais.
O patrocínio artístico também tenta incentivar o setor cultural, obtendo benefícios indiretos que
se traduzem em algum tipo de retorno para o patrocinador, como o fortalecimento da sua marca
institucional e/ou de produtos e serviços. Esse tipo de suporte é frequentemente usado por
grandes empresas e instituições que planejam, dentro de suas linhas de marketing, um sistema
de consolidação de marca e a criação de uma identidade corporativa, investindo em áreas fora
do negócio principal. A rentabilidade que esses patrocinadores buscam geralmente é de natureza
intangível e visa criar associações emocionais entre consumidores ou clientes, vinculando a
marca a atividades que tenham impacto social ou cultural.

4.2 Mercado primário e valor de mercado das obras de arte

Para Flynn (2016), como para qualquer ativo o valor comercial da arte é baseado na
intencionalidade coletiva. Não há valor objetivo intrínseco (não mais do que o valor investido em
materiais e suporte para a confecção da obra). A estipulação e declaração dos investidores criam
e sustentam o valor comercial. A razão pela qual muitas pessoas continuam espantadas ou
revoltadas quando ouvem que uma determinada obra de arte foi vendida por uma grande quantia
em dinheiro é que acreditam que a arte não serve para nenhuma função necessária: não tem
função utilitária de uso, nem parece estar vinculada a nenhuma atividade essencial. Ninguém
pode viver, dirigir, comer, beber ou usar uma pintura, uma escultura, ou até mesmo uma
performance. Até Platão (2017) considerava o valor da arte duvidoso porque era a “mimese”, uma
imitação da realidade que só existia no mundo das ideias. Flynn (2016, p. 127) afirma:

Se você desse à maioria das pessoas US$ 25 milhões e a escolha de gastá-la em uma casa de seis

quartos com vistas espetaculares de uma praia ou uma pintura de Piet Mondrian, com dois

retângulos enevoados de vermelho escuro, a grande maioria escolheria a casa.

Entendemos a noção de pagar por tamanho e localização no setor imobiliário, mas a maioria de
nós não possui critérios (ou confiança nos critérios) para julgar o preço de uma obra de arte.
Pagamos por coisas que podem ser vividas, conduzidas, consumidas e desgastadas e
acreditamos na capacidade empírica de julgar sua qualidade relativa e valor comercial. Por mais
luxuosas que sejam, essas coisas também sustentam as funções humanas básicas de abrigo,
comida, roupas e transporte, enquanto mesmo uma pintura de Picasso não cumpre essas
funcionalidades. Mesmo assim, o conceito de "valor" está em questão em inúmeras disputas
artísticas, geralmente para calcular a indenização de danos por obras de arte perdidas, roubadas
ou danificadas. Compreender como o valor é determinado no mercado de arte também é
essencial para avaliar a importância relativa das considerações, representações e estipulação de
valores nas transações comerciais de arte.
Figura 24 - Interior de uma galeria de artes.

Legenda: As galerias de arte são locais especializados na promoção e venda de


obras de arte contemporâneas e configuram o mercado primário de artes.
Fonte: RyanMcGuire/pixabay.com

Acontece que a transações com obras de arte não disputam um mercado aberto, de varejo, mas
sim um mercado exclusivo de obras de arte. O mercado de arte é o local físico ou figurativo (e
agora também digital) em que a arte é comprada e vendida. No seu mercado mais básico, uma
transação desse nível exige uma obra de arte que pode ser extraída de uma ampla variedade de
objetos colecionáveis; um vendedor e um comprador que pode participar diretamente de
negociações ou ser representado por agentes. O mercado de arte é semelhante ao mercado de
títulos e ações. Nesse contexto, existe um mercado primário onde os títulos são criados e
inicialmente negociados, enquanto o mercado secundário é onde esses títulos são negociados
pelos investidores. No mercado primário, as empresas vendem novas ações e títulos ao público
pela primeira vez, com uma oferta pública inicial. O mercado primário de arte é também a
ocasião em que a obra é vendida pelo artista, ou por seu representante, diretamente a um
comprador inicial (JIMENEZ, 2019).
Figura 25 – Local de venda de objetos de arte.

Legenda: As galerias de arte trabalham com as mais variadas expressões


artísticas: de pinturas, esculturas e gravuras a objetos variados.
Fonte: user1454309164/pixabay.com

A apresentação de uma nova obra de qualquer artista ao mercado geralmente é consistente em


tema, mas não necessariamente em escala ou tamanho. O que torna uma pintura ou escultura
mais ou menos cara que outra neste mercado primário é geralmente o tamanho. Embora o
público do artista ainda não tenha opinado sobre que tipo de trabalho é melhor ou mais desejável
do que qualquer outro e o artista pode sentir que alguns trabalhos menores são melhores que
outros maiores, mas geralmente o tamanho vence e os trabalhos menores normalmente são os
menos caros (FLYNN, 2016). Quanto maior a obra, mais alto o preço, com exceção de pinturas e
esculturas que podem ser muito grandes para instalação doméstica e requerem o tipo de espaço
geralmente encontrado apenas em instituições, museus, prédios de escritórios, shopping centers
e cassinos. Tais obras podem ser proporcionalmente menos caras porque são mais difíceis de
vender

Dependendo do meio utilizado pelo artista, pode haver um custo adicional de fabricação a
considerar. Segundo Flynn (2016, p. 96), “em 1895, Auguste Rodin teve que pagar pelos serviços
da Fundição Le Blanc Barbedienne em Paris quando lançou seus Burghers of Calais (Burgueses
de Calais) fundidos em bronze”. Muitos artistas contemporâneos mandam confeccionar suas
obras (alguns desenvolvem apenas o conceito), principalmente quando se trata de esculturas de
grande volume, peças fundidas ou usinadas em metal e até mesmo obras impressas como
litografias, serigrafias e gravuras em madeira ou metal. Shnayerson (2019) observa que essas
referências em muitas imagens reproduzidas em livros são omitidas do trecho da descrição da
obra. Esses custos são repassados aos primeiros compradores da peça. Muitos artistas criam
escultura em edições. Se houver cinco ou dez cópias de uma escultura, o preço de mercado
principal será menor para cada réplica do que para uma obra única de tamanho, mídia e
aparência semelhantes desse artista.

Além dessas despesas de fundição e confecção, o custo dos materiais usados pelo artista em
pintura e desenho, embora talvez não sejam insignificantes, não são considerados quando se
trata de precificar as obras. O óleo sobre tela é geralmente conhecido por ser um meio altamente
durável. Sem risco (ou com pequeno risco) de trauma direto, pode suportar manuseios e
extremos de temperatura e umidade, além da luz do sol. Não é assim que funciona quando o
suporte é papel, que geralmente custa menos, devido à maior fragilidade. Isso levou à noção de
que as obras em papel valem menos do que as pinturas, apesar do fato de o mercado
secundário, em alguns casos, ter valorizado mais as obras em papel do que os óleos de certos
artistas, caso de pintores como Edgar Degas e Mary Cassatt (apud FLYNN, 2016, p. 96).

Outra regra prática no mercado primário de trabalhos em papel é que aqueles com cores – sejam
eles feitos em paleta de óleo, guache, aquarela ou giz de cera –, terão preços mais altos do que
os trabalhos monocromáticos em grafite, carvão vegetal ou sanguíneo. Quando se trata de fazer
litografias, gravuras, serigrafias e outros tipos de trabalhos editados em papel, os custos podem
ser consideráveis. A gravura é uma arte que envolve não apenas o talento criativo do artista que
concebe a imagem, mas a habilidade de impressoras mestras usando equipamentos
sofisticados e caros (FLYNN, 2016).

Videoaula - Funcionamento do mercado secundário

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[https://player.vimeo.com/video/468836966] .

4.3 O mercado secundário de obras de arte


Flynn (2016) explica que depois da compra direta de novas obras, diretamente do artista ou do
revendedor, todas as negociações de arte, sejam de antigos mestres holandeses, paisagens
marítimas inglesas do século XIX, pinturas impressionistas ou obras de arte cubistas, são
transacionadas no mercado secundário. Depois que um artista atinge um determinado grau de
reconhecimento, um mercado secundário para seu trabalho é inevitável durante toda vida do
artista. E o valor comercial real de um objeto de arte é decidido no mercado secundário, quando é
revendido pelo primeiro proprietário a preços muito mais elevados, ao contrário da maioria das
coisas que compramos que valem menos depois de usadas.

Um carro geralmente é assim, as roupas desvalorizam muito mais a ponto de darmos elas às
instituições de caridade. Além disso, os aparelhos eletrônicos têm menos valor quando são
sucedidos pelos modelos mais recentes. Quando o mercado imobiliário cresce, o segundo
proprietário de uma casa pode pagar mais para adquiri-la do que o primeiro, mas em um
mercado estável a casa de segunda mão provavelmente vale menos do que uma nova do mesmo
tamanho, design, materiais e localização.

Para Flynn (2016), uma vez que a obra de arte sai das mãos do primeiro comprador seu valor
comercial passa a ser amplamente determinado pelo princípio da oferta e da demanda, mas pode
ser gerenciado pelo principal revendedor do artista. Ao fazer uma venda no mercado primário, às
vezes os revendedores podem participar do preço dos trabalhos do mercado secundário dos
artistas que representam, garantindo um lucro extra para o criador. Alguns comerciantes de arte,
tanto os que têm galerias quanto os particulares ou autônomos (às vezes operando fora de um
lugar fixo), não representam artistas diretamente, mas compram e vendem obras de artistas
vivos. Eles podem não ter qualquer relação direta com o artista, mas podem ter muito
conhecimento sobre o seu tipo de trabalho e, promovendo-o, geralmente contribuem para a
solidez do mercado desse artista. Mesmo no mercado primário, a disponibilidade relativa real ou
imaginária do trabalho de um artista em particular é fundamental. Segundo Flynn (2016, p. 98):

Um negociante de arte raramente diz: “O estúdio de Andy está repleto de centenas de pinturas como

esta, então, dedique bastante tempo para escolher a que deseja”. Ao contrário, ele afirma: “Não tenho

certeza se haverá mais assim; ele está pintando muito devagar e vendemos os poucos que tivemos

para museus e colecionadores muito importantes rapidamente”.

O mercado de artes com a dimensão e a estrutura atual é relativamente novo. Ainda em meados
da década de 1960, segundo Campos (2016), havia apenas alguns artistas vivos cujas obras
apareciam regularmente no mercado secundário. Eles eram na maioria mestres europeus
modernos, como Picasso, Joan Miró, Marc Chagall e Salvador Dalí. Pouquíssimos artistas
internacionais, em especial norte-americanos, de carreira média, mesmo aqueles com grande
reputação, apareciam em um leilão, e praticamente nenhum artista contemporâneo mais jovem
tinha participação no mercado secundário. Além disso, nessa época, o valor imaterial das obras
pesava bastante na possibilidade de revenda e de valor a ser alcançado e, de certa forma, essas
considerações se consolidaram para o conceito de valorização de uma obra no mercado
secundário.

Figura 26 - Les Femmes d'Alger, de Pablo Picasso.

Legenda: A célebre pintura Les Femmes d'Alger, de Pablo Picasso, vendida


inicialmente por 179,33 milhões de dólares.
Fonte: pt.wikipedia.org
[https://pt.wikipedia.org/wiki/Les_Femmes_d%27Alger#/media/Ficheiro:Les_f
emmes_d%E2%80%99Alger,_Picasso,_version_O.jpeg]

Basicamente, os negociantes da década de 1960 partiam da proposição de que uma obra de arte,
como Les femmes d'Alger de Picasso, devia ser frequentemente considerada como tendo dois
valores diferentes: um valor estético ou cultural (seu valor ou significado cultural) e um preço ou
valor de troca – a quantidade de dinheiro que uma obra de arte pode alcançar no mercado
secundário (JIMENEZ, 2019) –. Esse se tornou um critério básico de mensuração de valor e,
dentro do livre mercado, as escolhas individuais garantem que o preço da arte geralmente
capture ou represente todas essas várias dimensões do valor atribuível à obra de arte, tornando
redundante a necessidade de um conceito separado de valor estético ou cultural. Portanto, na
visão dos negociantes e investidores, a referida pintura de Picasso vale e justifica o preço
recorde alcançado em um leilão de US$ 179,37 milhões, o preço mais alto conseguido por uma
obra de arte (FLINN, 2016).
Videoaula - Comportamento do mercado internacional

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[https://player.vimeo.com/video/468837526] .

4.4 Mercado Internacional de Artes

Os especialistas observam que, apesar do alto volume das transações com obras de arte
oficializadas através dos grandes pregões das casas de leilão oficiais, como a Christie’s em Nova
York e a Christie’s e a Sotheby’s na Inglaterra,que arrecadaram juntas cerca de 5 bilhões de
dólares em 2015, o mercado como um todo envolve um alto grau de informalidade (MAIA, 2015).

O que é uma economia informal? Informal é um dos numerosos termos usados para as
transações econômicas que não são registradas e estão literalmente fora dos livros (inclui
inclusive a chamada “economia criativa”). Já na década de 1980, sociólogos e economistas
começaram a estudar a lacuna entre a produção econômica oficial e os traços de uma economia
paralela, que complementava sua capacidade com uma margem significativa de recursos
monetários (FLYNN, 2016).
Figura 27 - Casa de leiões Sotheby’s.

Legenda: Fachada da casa de leilões Sotheby’s, que realiza leilões em Nova


York, Londres, Paris, Genebra e Hong Kong.
Fonte: pt.wikipedia.org
[https://pt.wikipedia.org/wiki/Sotheby%27s#/media/Ficheiro:Sotheby's_londo
n_new-bond-street.jpg]

De acordo com Flynn (2016), quando os especialistas do mundo da arte pensam no mercado de
obras de arte geralmente consideram casas de leilão e revendedores internacionais baseados em
Nova York, Paris ou Londres, embora eles possam estar ativos também na Cidade do México, São
Paulo, Rio de Janeiro, Moscou ou Dubai. Mas esse não é o mercado inteiro da arte. Há uma
lacuna considerável entre a escala estimada do mercado de arte oficial, medida pelas
publicações especializadas em economia e negócios, como, por exemplo, a Revista Forbes, dos
EUA, o jornal inglês The Economist e a revista brasileira Exame, todas elas com versões digitais.
Essa lacuna deveria incluir tudo, desde a venda de liquidação do “artista faminto” que vende para
sobreviver em mínimas condições nas feiras regionais de arte, onde os artistas comercializam e
vendem seu próprio trabalho diretamente aos interessados, como a famosa Feira de Arte e
Artesanato da Cidade paulista do Embú; englobando também as fábricas na China e Hong Kong,
que “fabricam” sob encomenda reproduções perfeitas de obras pintadas pelos “velhos mestres”
e pinturas Impressionistas.

O termo “economia informal” foi usado pela primeira vez por Keith Hart em 1973 (apud CAMPOS,
2016), para descrever como indivíduos de países em desenvolvimento inventaram novos
dispositivos econômicos para sobreviver em um mundo com poucas oportunidades de empregos
regulares. Desde então, tem sido um termo empregado para descrever os esforços de baixo para
cima para gerar um meio de subsistência entre aqueles que não têm uma base financeira segura
na economia global. Edgar Feige (apud VERSIGNASSI, 2019, p. 112) dividiu a economia
subterrânea em quatro segmentos: (1) a economia ilegal; (2) a economia não declarada; (3) a
economia não registrada; e (4) a economia informal. Mas, em geral, o termo "economia informal"
é usado para referir qualquer transação que não seja registrada, não tributada e não
regulamentada. E esse tipo de economia não é considerado explicitamente ilegal. Por isso,
também é descrita como um "mercado cinza" para distinguir essas atividades econômicas do
“mercado negro”, explicitamente ilegal (FARTHING; CORK, 2018).

É preciso considerar grande parte das atividades transacionais internacionais com arte como
marginais ao evento principal do mercado oficial de obras de arte das grandes galerias, casas de
leilão e feiras de arte e como uma atividade marginal à economia formal, para enquadrá-las
como uma parte da econômica informal descrita acima. No Brasil, esse enquadramento se
justifica até como forma de evitar as enormes taxações a que as transações com arte estão
sujeitas. A questão é que essas práticas comerciais como um todo dificultam avaliar toda a
dimensão e os volumes transacionados no mercado mundial total de artes. Campos (2016, p.
190) faz a seguinte observação:

(...) a questão permanece: qual é o tamanho dessa parte da economia da arte? São 5% ou 50%? A

mistura das economias em preto e branco é uma questão de crescente importância para o mercado

de arte, que poucos comentaristas abordaram. Os impostos sobre vendas foram pagos na venda

privada informada de US$ 250 milhões por uma pintura de Paul Cézanne – Os jogadores de Cartas,

de 1896 – vendido para a família real do Qatar. Em caso afirmativo, em que país foi feita a

negociação? Os direitos aduaneiros foram avaliados? A pintura foi enviada diretamente do vendedor

ao comprador ou passou pelo porto isento de impostos? Qual foi a comissão que o revendedor

recebeu? Havia intermediários que também lucravam com a conexão das partes e, em caso

afirmativo, eles pagaram os impostos sobre essa renda ou os valores arrecadados foram transferidos

para uma empresa offshore de confiança no exterior?


Ninguém envolvido em transações de valores astronômicos como esse responderia a essas
perguntas em público e, portanto, o público permanece sem conhecer o volume total do mercado
global de artes, uma vez que ele é tão pouco regulamentado que se torna impossível avaliar o
tamanho da parte informal dessas transações, e mesmo no caso de uma venda "legítima", dada a
presença de mecanismos financeiros offshore, existem meios suficientes para evitar as
regulamentações nacionais e parece bastante provável que sempre haja uma extensão informal
para muitas transações formais.

Segundo Flynn (2016), esse é um território escorregadio, porque jornalistas (e acadêmicos) estão
interessados em esclarecer práticas ocultas e a implicação é que a invisibilidade cobre essas
atividades econômicas e as evidências de irregularidades, se não de violações da lei. Mas a
economia informal não é a mesma que a economia ilegal da arte (“mercado negro”), na qual
antiguidades saqueadas mudam de mãos e atravessam fronteiras, por exemplo. Nenhum
negociante, empresa ou instituição quer estar envolvida no “mercado negro” e ninguém admitiria
fazê-lo no mercado cinza também. Existem normas que os vendedores de arte seguem e um
código de conduta acertado entre eles. No entanto, as transações do mercado de arte são
imbricadas em uma rede de desregulamentação e arbitragem; portanto, o mercado informal de
dinheiro e serviços financeiros também trabalha em conjunto com o mercado de serviços de arte.

De qualquer forma existe um mercado formal de artes que, nacional e internacionalmente,


movimenta bilhões em dinheiro (mais especificamente em dólares americanos). Esse mercado
envolve pontos de venda e negociadores como: galerias e casas de leilões espalhadas pelo
mundo, feiras de arte nacionais e internacionais, investidores ou marchands, colecionadores e
até museus, em determinadas situações. Geralmente, as galerias usam estratégias de
exposições para tornar os artistas e as obras mais conhecidas. Essas exibições podem
apresentar pinturas, esculturas, gravuras de todos os gêneros, instalações e performances, mas
os artigos mais procurados e valorizados são as pinturas, esculturas e objetos de arte,
especialmente pela sua relativa facilidade de armazenamento e portabilidade.

Até certo ponto, os negociantes de obras e galeristas de arte contemporânea usam as casas de
leilão para aumentar os preços das obras de seus artistas. Se alguém colocou uma obra à venda
por um artista representado por uma determinada galeria e parece que a obra não será vendida,
ou será vendida abaixo do preço estabelecido pelo revendedor, o próprio revendedor geralmente
fará lances e pode recomprar o trabalho pelo preço definido. Posteriormente, com a valorização
do artista, o reconhecimento de seu nome e a valorização de seus trabalhos, essas obras tornam
a ser oferecidas para obter preços bem mais elevados (JIMENEZ, 2019).
Essa prática existe há mais de um século e é aceita no mundo nacional e internacional da arte,
mas atualmente o mercado de leilões chinês apresenta colecionadores e investidores, muitas
vezes representados por um fundo de investimentos em arte com grandes participações em um
artista em particular, oferecendo uma obra dele no leilão (com ofertas manipuladas) para
aumentar o valor de todo o inventário do referido artista. Às vezes, dizem os especialistas, as
próprias casas de leilão oferecem lances falsos. Os chineses têm um nome para esse processo
de aumento de preços: eles chamam de “fritar a obra”, como relata Campos (2016).

À medida que o mercado de arte chinês se expande, mais obras desses artistas chegam às
coleções ocidentais e, nos últimos dez anos do século XXI, muitos artistas chineses se
destacaram entre os dez artistas com maior volume em leilões, como reforça Flynn (2016, p.
121): “assim é possível que possamos encontrar artistas plásticos contemporâneos como Qi
Baishi e Zhang Daqian ao lado de nomes como Picasso e Warhol, entre os mais vendidos
globalmente”. Desta forma, a economia da arte está vendo claramente os sinais das técnicas e
estratégias de “fritura” chinesas. Dado o aumento meteórico dos preços da arte contemporânea
a partir do início da segunda década do século atual, manipulações informais de preços como
essas parecem já fazer parte dessa história.

Para Flynn (2016), o mercado de arte tem um talento único para promover a arte através do
próprio mercado. Como a estratégia da exposição pública dos objetos e obras aumenta o seu
valor, os colecionadores dos artigos que poderíamos chamar de “arte de mercado” têm um
grande interesse em ver seus trabalhos ocuparem espaço nas coleções e exibições públicas
tradicionais, como em espaços de museus. E eles costumam fazer alguns tipos de
“alavancagem” financeira para que isso aconteça. Dessa forma, os grandes operadores de
fundos de “hedge”, que consistem em transações e operações cambiais (troca de investimentos
em moedas) para proteger uma operação financeira, costumam usar os museus tradicionais
para compensar e proteger os investimentos de seus clientes em arte. Flynn (2016, p. 125)
exemplifica dizendo que Steven A. Cohen, um dos maiores operadores de hedge mundiais,
“poderia colocar o tanque de tubarões de Damien Hirst em empréstimo temporário ao
Metropolitan Museum para valorizar a obra através de uma exposição permanente”.

Os curadores defendem obras contemporâneas caras e relevantes para o comercialismo da


época atual: o mercado dá sentido à arte através de suas aquisições, colecionadores
internacionais podem demonstrar sua participação no exclusivo clube social de acesso ao
mercado de arte. Muitos museus até vendem arte tradicional de baixo preço em suas coleções
permanentes para comprar uma única peça contemporânea muito cara. Enquanto o público
também se interessa muito mais por essa arte contemporânea, porque tem a tendência de
valorizar as coisas novas em detrimento daquilo que consideram “velho”, e, portanto,
desvalorizado (FLYNN, 2016).

4.5 Recapitulando

Nesta terceira unidade apresentamos e analisamos o mecenato e o patrocínio de artes do


Renascimento aos dias atuais e a sua importância no desenvolvimento das artes visuais através
do tempo, definimos toda a estrutura do mercado de artes, com ênfase especial à divisão em
mercado primário e secundário, e o nível de transações realizadas nesses dois segmentos.
Exercícios de fixação
Os membros da família Médici foram os mais famosos colecionadores e protetores das artes do
século XV em Florença, patrocinando o talento de pintores como Leonardo da Vinci e
Michelangelo. Como eram chamados esses patrocinadores?

Curadores.

Padrinhos dos pintores.

Mecenas.

Renascentistas.

Padroeiros.

O mercado de arte primário refere-se à primeira venda de uma obra de arte, seja através de uma
galeria ou diretamente no estúdio do artista. Posteriormente a obra é vendida no mercado
secundário. Podemos dizer que:

No mercado primário o preço da obra é muito maior.

O mercado secundário é de segunda mão, onde os preços são menores.

No mercado secundário, os preços se tornam bem maiores.

Não existe diferença, os preços nesses mercados são iguais.

Se quiser revender, o colecionador deverá aceitar um preço menor.

O mercado de artes tem particularidades interessantes e, muitas vezes, além do lucro, os


investidores buscam outro tipo de recompensa. Qual?

Satisfação pessoal.

Lucro bem acima do mercado secundário.


Satisfação dos objetos adquiridos.

Objetos raros e não colecionáveis.

A emoção da primeira venda.


UNIDADE 4

Agentes e organizações do
mercado de arte
Objetivos:
A quarta e última unidade do conteúdo da nossa aula será dedicada ao estudo da
organização do mercado de artes através dos seus principais agentes: Museus e
Galerias, Leilões de Artes, Feiras de Artes e demais intermediários que
participam das transações com artes visuais no mundo e no Brasil. Uma análise
especial será desenvolvida especificamente sobre o mercado de artes brasileiro.

Videoaula - Os agentes do mercado de artes

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[https://player.vimeo.com/video/468838141] .
5 Agentes e organizações do mercado de arte
Campos (2016) observa que o mercado de arte contemporânea é muitas vezes apresentado
como um monstro insaciável que consome artistas inocentes com suas ideias puras apenas
para, depois de um tempo, jogá-los de volta, sugados e vazios. Uma opinião frequentemente
ouvida é que o mercado de arte destrói a alta qualidade da arte, pois força o artista a não pensar
no desenvolvimento artístico de longo prazo, mas apenas no sucesso comercial de curto prazo.
Ao mesmo tempo, do outro lado, estão os defensores da comercialização de obras de arte e as
tropas de apoiadores do mercado que afirmam que a arte contemporânea está florescendo
precisamente por causa do recente crescimento do mercado de arte, já que os antigos e novos
compradores globais criam uma demanda saudável e, portanto, estimulam a produção artística
em todo o mundo. De acordo com essa visão, um bom artista é um artista que ganha dinheiro
suficiente para se concentrar exclusivamente em sua arte. A verdade é que esse mercado se
tornou complexo e, segundo Greffe (2014, p. 135), é composto por:

(...) especialistas, ou seja, os atores, individuais e institucionais, que participam do mercado de arte e

as instituições de arte: artistas, galeristas, marchands, críticos, curadores, diretores de museus,

colecionadores e consultores, bem como museus, escolas de arte, galerias, leilões, centros culturais,

feiras de arte, bienais e prêmios aos artistas. Todos esses atores e instituições são parte de uma rede

que permite a cooperação não só para a produção e apreciação de obras de arte, mas também para a

sua circulação, sua compra e venda.

No entanto, o que é exatamente o mercado de arte? Segundo Flynn (2016), a definição mais
satisfatória seria considerar o mercado de arte como a totalidade das infraestruturas
econômicas mundiais, relações sociais e transações financeiras, através das quais as obras de
arte estão sendo compradas e vendidas e nas quais vários atores do campo da arte se envolvem
na troca de bens materiais e imateriais relacionados com as artes. Essa definição sugere que o
mercado de arte não é um território econômico claramente delineado, mas mais um fenômeno
que penetra quase todos os aspectos do campo da arte, e dentro do qual não há espaço físico ou
ideológico que possa ser considerado fora do mercado. Para o sociólogo francês Pierre Bourdieu
(apud GRENFELL, 2018) em seu extenso estudo social sobre o julgamento do gosto no campo da
arte, inclui o mercado de arte afirmando que ele é composto de posições representadas por
várias pessoas que lutam por diferentes formas de capital, incluindo a simbólica (status, posição
social).
Há vários fatores importantes a serem considerados ao avaliar obras de arte. O valor emocional e
o significado cultural são certamente importantes; no entanto, no mercado de arte eles afetam
muito pouco o valor; se é que existem. Nos anos 2012/2013, os maiores valores foram
alcançados por algumas obras vendidas em leilão. Veja como isso aconteceu em:            
casavogue.globo.com [https://casavogue.globo.com/LazerCultura/Arte/noticia/2016/08/6-
obras-de-arte-mais-caras-do-mundo.html] . Acesso em: 30 maio 2020.

Portanto, os agentes do mercado de arte buscam diferentes satisfações, entre elas a pessoal, e
se organizam em torno de diversas instituições. No caso específico da nossa disciplina,
organizações comerciais, tradicionais ou modernas, dedicadas à comercialização das artes
plásticas visuais. Entre as instituições mais antigas, como as galerias e casas de leilão, as
modernas feiras de arte são um dos maiores eventos dentro do circuito das artes plásticas. Elas
surgiram a partir de 1967, com o Mercado de Arte de Colônia, hoje uma feira de arte conhecida
como Art Cologne (apud FLYNN, 2016), e ganharam grande importância ao longo dos anos, pois
são eventos onde diversos galeristas, colecionadores e curadores entram em contato, trocam
experiências e fazem dinheiro e obras circularem, aquecendo o mercado de arte. Além disso, elas
são um bom termômetro não só do próprio mercado, mas dos artistas mais procurados e mais
vendidos, das galerias mais influentes e dos maiores colecionadores.
Videoaula - Venda de obras nas galerias de arte

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5.1 Museus e galerias como centros de comercialização

Greffe (2014) explica que as galerias e museus de arte são lugares para ver e experimentar arte e
compartilham algumas características comuns: em ambos, as obras de arte são normalmente
mostradas em espaços especialmente organizados, com uma dispersão mínima e iluminação
controlada para enfatizar a arte exibida. Essa configuração controlada permite que o público se
envolva com a obra em um ambiente estético especialmente criado para exposições. Apesar
dessas semelhanças óbvias, existem algumas diferenças fundamentais entre uma galeria de arte
e um museu de arte. Os museus de arte, diferentemente das galerias de arte, são entidades
quase universalmente sem fins lucrativos que aderem a uma declaração de missão estabelecida
pelos fundadores.
Figura 28 - Museu de arte do Louvre.

Legenda: Visão frontal do Museu do Louvre, em Paris, um dos mais antigos e


tradicionais museus do mundo.
Fonte: Edinugraha/pixabay.com

Gob (2019) explica que a maioria dos museus de arte tem missões específicas; por exemplo, eles
podem se concentrar nas obras de uma escola artística específica (pintura renascentista,
escultura clássica, pintura ou arte moderna etc.), na mídia selecionada (pintura sobre tela,
madeira, marfim, papel), na arte regional ou mesmo nas obras de um único artista. Ao contrário
das galerias de arte, que não têm propriedades próprias, os museus geralmente têm coleções
permanentes (e também temporárias). Diferentemente das galerias, os museus não vendem
obras de arte; em vez disso, eles contam com doações, presentes, aquisições subsidiadas, e, na
maioria dos casos, subvenções governamentais ou de uma fundação para pagar pelos custos
operacionais. Os museus podem negociar obras entre si, em um tipo de mercado fechado,
através de atividades de desacessão, que é a venda de um item ou uma coleção para outro
museu. Mas, por essas características, os museus estão excluídos do mercado profissional de
artes.

Uma grande galeria contemporânea, por sua vez, tem destino comercial. É uma iniciativa de
capital privado, que geralmente tem um status menor quando é comparada ao status de primeiro
nível de um grande museu nacional, estatal ou corporativo, e um reconhecimento maior em
relação a galerias menores, que incluem galerias gerenciadas pelos próprios artistas, galerias de
varejo – que vendem obras mais populares e geralmente destinadas à decoração de lares e
escritórios – e cooperativas de artistas. As Galerias comerciais são empresas privadas com fins
lucrativos que lidam com obras de arte de artistas contemporâneos, buscando apresentá-las e
comercializá-las nos mercados primário e secundário (GREFFE, 2014).
Para Greffe (2014), como empresa voltada aos negócios, uma galeria de arte vende a arte que
exibe. Os lucros obtidos com as vendas cobrirão os custos operacionais para administrar esse
negócio e, em uma galeria bem-sucedida, também gerarão lucro. Uma galeria de arte também
pode estar relacionada com um grupo de artistas unificados por alguns critérios, como temáticas
ou percepções e atitudes; um fundo comum dos artistas; ou um estilo, técnica, maneira similar
ou compartilhada de desenvolver as obras. Os artistas geralmente recebem pagamento pelo
trabalho quando é ele comprado através da intermediação da galeria, descontando uma
porcentagem da galeria como comissão para representar o artista, mostrar e comercializar seu
trabalho.

A maioria das galerias tem um foco artístico específico. Por exemplo, algumas galerias podem se
especializar apenas em arte contemporânea, enquanto outras mostrarão apenas pinturas de
paisagem. Existem galerias especializadas em arte performática e instalações. Algumas são
dedicadas a um artista individual ou a um grupo de artistas reunidos. Uma galeria normalmente
tem uma exposição mensal, dentro de um calendário anual, promovendo-a com anúncios
impressos e digitais, impressão ou publicação de catálogos e contatos com colecionadores em
potencial e com a imprensa, principalmente organizando uma coletiva durante a inauguração de
uma exposição. Muitas galerias se tornam uma marca que representa um certo ponto de vista
estético e a relação com o tipo de arte que exibem (GOB, 2019).

Em última análise, porém, a galeria de arte está no negócio do mercado de artes como uma
empresa juridicamente constituída para promover seus artistas e vender as obras de arte que
eles produzem. A equipe da galeria também passará um tempo considerável com os clientes em
potencial, educando-os sobre o potencial do artista (ou artistas) que representa. Elas
desenvolvem redes de contatos entre curadores, críticos, diretores de museus e outros
profissionais que possuem capital simbólico para consagrar uma obra de arte ou produzir crença
em seu valor. Somente quando essa crença é produzida e consolidada, um artista estabelece sua
reputação como criador e produtor dentro de um determinado estilo. Com essas estratégias os
negociantes de arte são capazes de vender seus trabalhos e aumentar o preço de um trabalho
(GREFFE, 2014).

As galerias têm vários papéis, visíveis e invisíveis, além de incubar e apoiar seus artistas, muitas
vezes indo além do trabalho normal de apresentar, promover seus artistas e vender as obras;
oferecendo a prestação de serviços como gestão financeira, impressão de catálogos ou
publicação de livros, a fim de ajudar seus afiliados. Elas contribuem para construção de valor de
mercado funcionando como intermediárias do mercado de arte, selecionando um número
limitado de artistas cuja obra elas procuram comercializar. Além disso, elas agem ativamente
para criar mercados para novos artistas e novas criações, abrindo espaços de exibição onde elas
organizam exposições individuais e em grupo, que além de tornar conhecidas as obras exibidas
são um forte atrativo de venda (GREFFE, 2014).

Em resumo, as galerias de arte desempenham uma função essencial tanto para a avaliação
quanto para a intermediação da arte. A maioria delas opera no mercado primário, responsável
pela introdução e promoção inicial de artistas jovens ou em meio de carreira. No entanto, as
principais cidades do mundo, entre elas, Madri, Barcelona, Nova York, Londres, Paris, São Paulo e
Rio de Janeiro, possuem algumas galerias com alto volume de negócios, atuando principalmente
no mercado secundário. Segundo Flynn (2016, p. 201), cerca de noventa por cento das galerias
dos grandes centros lida com arte contemporânea, seguida pela arte moderna com apenas dez
por cento, uma vez que os artistas e o tipo de trabalho mais procurado no mercado de artes são
contemporâneos. O espaço digital vem sendo seguidamente ocupado por atividades de comércio
de artes online e a presença de galerias digitais, ou braços digitais de galerias de tijolo e
argamassa (de rua), é cada vez mais constante na Web.

De acordo com Shnayerson (2019), as galerias físicas ainda são o canal de vendas mais popular,
com mais da metade de participação de mercado, seguidas por vendas on-line (através dos sites
oficiais e intermediários das galerias) e mostras ou feiras de arte. No mercado secundário, a
galeria funciona como muitas outras empresas comerciais: compra o produto e depois o revende
por um preço mais alto, obtendo assim uma margem maior de lucro. Esse autor explica que os
proprietários das galerias são responsáveis pela compra de trabalhos que eles acham
interessantes pelo potencial de revenda e porque acreditam que poderão obter maiores lucros no
futuro, prevendo alterações no valor do artista. Nesse cenário, o trabalho adquirido permanece
em estoque até que seja tomada a decisão de que é hora de colocá-lo no mercado. As galerias
lucram com a diferença entre o preço inicial que pagaram e o preço final recebido.
Videoaula - Os leilões e o mercado de artes

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5.2 Leilões de arte: emoção em adquirir uma obra

De acordo com os especialistas, o mundo da arte nunca foi tão global ou mais acessível quanto
nos dias atuais, com a presença de museus virtuais, galerias e negócios com arte online.
Segundo Shnayerson (2019), as melhores estimativas colocam as vendas anuais de arte entre 60
e 70 bilhões de dólares por ano (o mercado opera sempre em dólares, às vezes em libras), e as
transações acontecem em galerias, feiras de arte, através de serviços de consultoria e on-line.
No entanto, mesmo os amantes de arte altamente experientes acham os leilões – que geram
cerca de 20% das vendas anuais, de acordo com Jimenez (2019) – intimidadores. Os leilões são
também, inquestionavelmente, uma das maneiras mais emocionantes de obter o que um
comprador deseja a um preço de mercado. Além disso, um fato básico é facilmente comprovado:
os leilões são eventos públicos. Qualquer um pode ver o que está à venda e optar por participar.
Quando o martelo desce, o preço de um objeto foi determinado pelas pessoas que o desejam, à
vista de todos os participantes.
Uma obra de arte é sem dúvida um excelente investimento, entretanto, precisa de cuidados muito
especiais para ser conservada e transportada. Veja quatro curiosidades interessantes sobre o
transporte de obras de arte: aeroflap.com.br [https://www.aeroflap.com.br/4-curiosidades-sobre-
o-transporte-de-umas-das-colecoes-de-obras-de-arte-mais-famosas-do-mundo/] . Acesso em:
03 jun. 2020.

Segundo Flynn (2016), é fundamental fazer um pouco de lição de casa antes de se registrar para
fazer lances. Cada casa de leilões em torno do mundo publica um catálogo on-line de obras
várias semanas antes da venda, para que o potencial investidor possa percorrer as imagens e
aproveitar a enorme quantidade de informações disponíveis, não apenas sobre preços, mas
também sobre a história de uma obra e de outras obras disponíveis do mesmo artista (homens e
mulheres que produzem arte), detalhes das exposições que as obras participaram e muito mais.
A maior casa de leilões de arte do mundo – a Christie's International, com presença nas cidades
de Londres, Nova York, Paris, Genebra, Milão, Amsterdã e Hong Kong – tem um exército de
especialistas dedicados e incrivelmente talentosos, cujo trabalho consiste em precificar
adequadamente uma obra de arte, envolver e aconselhar compradores antes de entrarem na sala
de leilão (FLYNN 2016).

Dessa forma, como explica Flynn (2016, p. 203), o comprador não precisa ter medo de fazer
perguntas como: "Como você chegou a essa estimativa?" ou "Há muitos concorrentes
interessados neste trabalho?”. Ele também tem à sua disposição um consultor de arte
independente, que irá ajudá-lo através do catálogo on-line, fornecendo informações adicionais
através de um chat ou, melhor ainda, acompanhá-lo na exposição de pré-venda. O que motiva o
cliente na tela do computador ou visor do seu smartphone não é necessariamente o que o motiva
na sala presencial e essa sutileza pode mudar sua decisão, por isso o serviço complementar do
consultor é muito importante.
Figura 29 - Leilão de artes com ofertas públicas.

Fonte: RichLegg/istock.com

A arte não é simplesmente um investimento em mercadorias de qualquer natureza, é uma


narrativa carregada e emocionalmente envolvente, desde a sua criação até sua aquisição, e,
finalmente, ao poder impactante da sua visualização presencial. Exatamente por isso, as casas
de leilão ainda são alguns dos melhores lugares para comprar arte, mas o cliente precisa de
orientações sobre preços, porque a competição de lances na sala pode ser emocionante e
sedutora e levá-lo a pagar mais do que a obra vale. Isso sempre foi verdade e é mais uma
justificativa para o serviço do consultor. Segundo Shnayerson (2019, p. 98):

Em 1852, uma pintura de Murillo, A Imaculada Conceição, foi leiloada em Londres. O Louvre a

cobiçava, assim como a Galeria Nacional, e quando o emissário do czar da Rússia também levantou

seu lance, uma guerra de licitações se seguiu. O Louvre foi triunfante, ganhando o trabalho pelo

valor então impressionante de 24.600 libras. Esse foi o preço mais alto pago por uma obra de arte

por mais de meio século. Hoje estamos vivendo na era em que os registros se elevam com mais

frequência. Novamente, em 2016, outra guerra de licitações levou uma pintura de Leonardo da Vinci

a uma nova venda recorde de US$ 450 milhões.

Apoiados por Greffe (2014) podemos concluir que cada obra de arte é única e, em qualquer
modelo econômico, raridade e escassez são os principais fatores de preço. Picasso foi prolífico,
mas quando uma determinada pintura de sua autoria é colocada à venda em um leilão, há
apenas a chance de um indivíduo conquistá-la com uma oferta, impulsionando o preço. Haverá
apenas uma pessoa que será dona dele, para acordar e tomar seu café à frente do quadro e
experimentar a ressonância emocional do gênio desse mestre. Viver com uma imagem desse
nível é o que deve motivá-la a comprar uma obra de arte. Portanto, a verificação dos catálogos
dos leilões on-line, a visita às exposições de pré-venda nas casas de leilões e a obtenção de
alguns conselhos é sempre o procedimento que todo grande colecionador faz quando decide
comprar algo que ele ama. Greffe (2014, p. 74) observa: “Depois de bem assessorado e decidido,
apenas certifique-se de medir sua parede antes de levantar a mão e fazer um lance”. E completa:

A motivação para adquirir uma obra de arte é gerada muito mais pelo coração do que pela mente ou

pelo bolso. A primeira edição de Ulisses, de James Joyce, é rara; porque existem apenas algumas

centenas de impressões. O valor é consequentemente muito alto para um objeto de tinta no papel

que também está disponível em novas reedições. Mas o verdadeiro valor desse objeto raro também é

inspirado pelo poder extraordinário do romance, uma obra de originalidade e genialidade

inovadoras, e por seu lugar no mundo da literatura. Assim, para a primeira edição Ulysses, a

motivação para adquiri-la é tanto pelo prêmio de possuir uma cópia original quanto pela associação

do sonho de lê-la em uma edição original. É o mesmo com uma pintura; existe apenas uma de cada

um dos quadros do autor no mundo. O proprietário é a única pessoa que poderá vê-lo em sua sala

todos os dias.

Videoaula - Feiras de arte e demais intermediários

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5.3 As feiras de arte e demais intermediários

Por definição, uma feira é uma exposição na qual as empresas de um determinado setor
promovem seus produtos ou serviços. Geralmente, elas não são abertas ao grande público e são
eventos que só podem ser assistidos pelos representantes da mesma indústria, convidados da
mesma área de negócios e membros da imprensa. As feiras de negócios são patrocinadas por
associações comerciais para setores específicos e existem milhares de associações realizando
essa forma de exposição todos os anos. As feiras são uma excelente maneira de atrair novos
clientes para ajudar uma empresa a crescer. A maioria dos participantes da exposição são
tomadores de decisão ou influenciadores de compra para suas organizações. Além disso, as
feiras são destinadas a pessoas exclusivamente interessadas no tipo de exposição realizado e
com grande potencial de fechar negócios.

Uma feira de arte é um gênero de exposição e comércio de artes específico, que na


contemporaneidade vem se tornando cada vez mais importante. O Brasil organiza dois eventos
desses por ano: a SP Arte e a ArtRio. Acesse a retrospectiva 2017 e veja o que aconteceu na SP
Arte, em 2019: sp-arte.com [https://www.sp-arte.com/editorial/retrospectiva-2019-as-principais-
noticias-do-site-da-sp-arte/] . Acesso em: 30 maio 2020.

Em seu nível mais básico, uma feira de arte é uma feira comercial – ou seja, um local para
pessoas do ramo da arte, tais como galeristas, revendedores, consultores de arte, investidores,
colecionadores e curadores – participarem e fazer negócios. Mas as feiras também são
empórios visuais suntuosos, abertos ao público, e os expositores tendem a incrementar os
eventos com peças deslumbrantes e espetaculares para encantar as multidões e capturar a
imaginação dos fotógrafos, especialmente da imprensa. Há uma razão pela qual as feiras de arte
como a SP Arte e a ArtRio sejam aguardas com ansiedade e atraiam grandes públicos na ocasião
em que são realizadas.
Figura 30 - Feira de artes ArtRio.

Fonte: dupladesign.com.br [http://dupladesign.com.br/todos/artrio-feira-


internacional-de-arte-do-rio-de-janeiro/] .

As feiras de arte também são essenciais para quem deseja acompanhar os trabalhos
contemporâneos mais recentes, feitos pelos artistas mais importantes da época, e as tendências
artísticas de ponta do mundo. De certa forma, não há um evento substituto que permita percorrer
as dezenas de corredores que concentram todo tipo de artefatos artísticos e comerciáveis do
mundo das artes. A possibilidade de adquirir algum tipo de obra, cujo preço esteja ao alcance de
um comprador iniciante, também é grande. Mas, se o visitante está mais interessado em se
envolver apenas com a arte contemporânea já consagrada e da mais alta qualidade, talvez a feira
não seja interessante, entretanto, ele terá que esperar a arte mais recente passar pelo processo
de edição curatorial e a crítica que peneira as melhores obras e, eventualmente, as remete para
um museu ou galeria, o que pode levar anos para acontecer. Mas, quando chegar esse momento,
se o interessado quiser comprar algo, provavelmente terá que pagar um valor muito mais alto.
Portanto, a oportunidade de investir em um artista e em uma obra com bom potencial de
valorização no futuro também é um dos benefícios da feira (GREFFE, 2014).
Figura 31 - Feira de artes SP Arte.

Fonte: touchofclass.com.br
[http://www.touchofclass.com.br/index.php/2019/03/14/muito-alem-do-eixo-rio-
sp-conheca-as-galerias-que-participam-da-sp-arte-2019/] .

As grandes feiras de arte atraem as galerias e os revendedores mais importantes, que exibem
obras de artistas que o público muitas vezes passará a conhecer a partir dessa exposição. As
feiras maiores também exigirão um período maior para percorrer os estandes, o que significa que
o visitante poderá ver mais arte para selecionar para seus investimentos. No entanto, se ele
preferir encontrar trabalhos menos caros, de artistas experimentais ou pouco conhecidos, talvez
prefira a comodidade de visitar as feiras menores. Da mesma maneira que é possível administrar
melhor o que é mais interessante em um leilão, a visitação a uma feira também pode ser
planejada (GREFFE, 2014).

Para Jimenez (2019), a melhor maneira de garantir que o visitante não perca nada é consultar a
lista de expositores on-line ou o catálogo da feira e ir direto para suas galerias favoritas em
primeiro lugar, ou, se ele quiser se aprofundar ainda mais, pode solicitar e receber informações
mais detalhadas se inscrevendo no mailing list da feira, para que os organizadores lhe enviem
informações via e-mail sobre o que estão trazendo para a exposição. Então, quando chegar o
momento do evento, basta consultar a planta ou um mapa da feira, disponível no site ou no
catálogo impresso (eles estão prontamente disponíveis online), e usar uma caneta para marcar
seu itinerário, deixando uma margem de manobra para observar também as novidades. Além
disso, segundo Jimenez (2019), a partir dos anos 2010 mais pessoas passaram a comprar mais
arte em feiras ou online.

Segundo Farthing (2018), com a globalização do mercado de arte, o número de feiras de arte
explodiu e agora todas as cidades querem realizar esse tipo de evento. Nos últimos tempos, o
mercado de arte testemunhou uma revolução na maneira como as obras são compradas: em
apenas uma década (a partir de 2010), o número de organizações internacionais de feiras
aumentou expressivamente, o que significa que o modelo clássico do mercado de arte – baseado
em transações em galerias – é cada vez mais governado pelo modelo econômico de feiras de
arte, por isso, as galerias trataram de garantir participação nas mais expressivas. As feiras
internacionais atuam como uma plataforma crucial para as galerias e os artistas tornarem sua
presença conhecida, venderem suas obras e estabelecerem vínculos com os principais players
da indústria da arte, com os quais eles talvez não pudessem se envolver de outra forma.

As feiras também oferecem um meio prático para que críticos de arte, colecionadores, curadores,
diretores de museus, investidores e entusiastas entrem em contato direto com os artistas e
tenham acesso a uma grande variedade de obras de todo o mundo, reunidas sob o mesmo teto,
tudo de uma só vez, o que é particularmente útil em um mercado agora globalizado e onde as
pessoas estão cada vez mais apressadas e desejam ver um número máximo de obras em um
período mínimo de tempo. Entretanto, para participar das feiras de arte como artista, o caminho
mais simples de garantir presença nesse tipo de evento é através de uma galeria de arte. Mas, o
processo é seletivo e a maioria das galerias não inclui todos os artistas que elas representam
nos estandes que compram ou alugam nas feiras de arte (FARTHING, 2018).

Além de galerias, leilões e feiras, existem outros tipos de intermediários no mercado de artes.
Fazer arte – de qualidade e temáticas relevantes –, é apenas uma pequena parte de ser artista. O
trabalho complementar para encontrar clientes, promover sua arte e buscar pagamentos faz
parte da realidade cotidiana de ser um profissional criativo. Rapidamente, o artista chega à
conclusão de que não pode fazer tudo sozinho, ou sente que o seu desenvolvimento na carreira
artística atingiu um status importante, e precisa usar um pouco de força profissional para seguir
adiante. Nesse momento, ele deve considerar a possibilidade de contratar um agente de arte.

Greffe (2014) enfatiza que é importante notar que não há apenas um tipo de agente de arte. Os
artistas podem recrutar um consultor de arte, um revendedor de arte particular, uma agência de
gerenciamento de artistas, uma galeria de arte que faz gerencia comercial para a carreira do
artista (que tende a ser mais prática com a trajetória profissional dos artistas e mais cara do que
outros tipos de galerias convencionais), um publicitário ou um especialista em marketing para
promover seus interesses comerciais. De qualquer forma se o criador está pensando seriamente
em melhorar sua carreira como artista plástico ou visual, a representação através de agentes
pode ajudá-lo a elevar o nível. Encontrar alguém com experiência e conhecimento para promover
seu trabalho, ajudá-lo a encontrar feiras ou locais de exposição pagos e colocar seu portfólio de
arte online através das mãos certas pode acelerar significativamente o crescimento de sua
carreira e liberar um tempo valioso para ele realmente se dedicar a fazer o que ama, que é
produzir arte.
Videoaula - Mercado de artes brasileiro

Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou clique aqui
[https://player.vimeo.com/video/468840512] .

5.4 O Mercado de artes No Brasil

Com um grande arsenal de talentos e uma crescente rede de galerias, o Brasil tem um cenário
artístico relevante, produtivo, vibrante e único, como por exemplo na cidade de São Paulo. E, no
entanto, apesar da crescente base de colecionadores, faltam algumas ações cruciais,
especialmente em nível dos governos municipais, estaduais e federal que impedem o país de se
tornar uma força internacional nas artes visuais. É preciso reconhecer que o país costuma
enfrentar instabilidade econômica e política, mas, como observa Fernanda Feitosa, fundadora e
diretora da SP Arte (apud, CAMPOS, 2016. p. 122), não é isso que está impedindo o país:
"ninguém é imune aos ciclos econômicos, mas os colecionadores compram durante toda
variação desses ciclos, o tempo todo. O otimismo é um pouco menor, mas é o mesmo em
Londres ou Nova York”. Por outro lado, um colecionador no Brasil está sujeito às mesmas
situações que outros em qualquer lugar do mundo.
Figura 32 - Cidade de São Paulo.

Legenda: Centro da Cidade de São Paulo, um dos maiores centros de


comercialização de arte do mundo.
Fonte: Alexramos10/pixabay.com

A questão principal que é repetidamente enfatizada pelos atores desse mercado em nosso país –
artistas produtores, intermediários, galeristas – são os impostos exorbitantes cobrados pelo
governo estadual e federal sobre bens culturais. Isso inclui impostos de importação e um
inacreditável imposto de vendas entre 50% e 60% (CAMPOS, 2016, p. 127). Para colocar essas
taxas em comparação, o imposto sobre vendas do estado de Nova York é de cerca de 8,9% e a
taxa de imposto ajustada do Reino Unido sobre bens culturais é de 7%. Até na Alemanha uma
taxa de impostos mais alta, de 19%, parece uma pechincha em comparação com aquilo que se
cobra no Basil (FLYNN, 2016). Segundo o Manual de Importação e Exportação de Obras de Arte
da ABACT (2013/2014, p. 58), a legislação tributária, em seu artigo: 2.5.3 - Tributação
Simplificada, estabelece:

Regime de Tributação Simplificada [RTS] consiste em uma forma de importação de produtos do

exterior, independentemente da classificação tarifária, ou seja, de seu código NCM, que sejam

sujeitos ao pagamento de imposto de importação com aplicação da alíquota de 60%. Por outro lado, o

importador terá direito à isenção do IPI, do PIS e da COFINS, todavia, não se aplica tal regime para

bebidas alcoólicas e fumos do capítulo 24 da NCM. O RTS pode ser adotado em operações de

importação até o valor FOB de US$ 3.000,00 e o despacho aduaneiro mediante aplicação desse

regime será com base na Declaração Simplificada de Importação ou na Declaração de Remessas

Expressas.

Segundo Ricardo Kugelmas (apud CAMPOS, 2016), que administra a Galeria Auroras, um espaço
de arte independente, o sistema impede o saudável intercâmbio cultural que outros países
consideram um dado fundamental para a economia das nações e observa que os museus
brasileiros quase não têm obras de artistas contemporâneos internacionais porque os impostos
de importação são muito altos. “Ninguém tem um Jasper Johns - disse ele, visivelmente
exasperado -, e há estudantes de pintura que nunca viram uma obra de Takashi Murakami em
pessoa” (CAMPOS, 2016, p. 177).

Embora os colecionadores brasileiros de primeira linha sejam muito ativos no mercado de arte,
as obras produzidas pelos artistas brasileiros de ponta e de alto reconhecimento não retornam
ao Brasil. Em vez disso, elas ficam nas residências estrangeiras dos compradores ricos nos EUA
ou da Europa, ou em armazenamento aguardando negociações no mercado internacionnal. "Não
há incentivo para ser filantrópico, e as pessoas passam as obras para seus filhos ou netos, em
vez de doá-las aos museus nacionais"(CAMPOS, 2016, p. 178). Resumindo a questão, parece que
existem muitos problemas para os legisladores brasileiros resolverem e a arte simplesmente não
é uma prioridade. Entretanto, algumas iniciativas pontuais e importantes por parte dos governos
estaduais, já foram tomadas. Campos (2013, p. 180) cita uma solicitação atendida pelos
governadores de São Paulo e do Rio de Janeiro, em 2013:

(...) os organizadores da SP Arte e da ArtRio fizeram lobby com sucesso junto aos seus governos

estaduais para permitir que uma isenção de impostos reduzisse a taxa aplicável entre 15 e 16%

exclusivamente para os participantes dessas feiras durante os respectivos eventos. A mudança foi

um sucesso, atraindo pesos pesados internacionais como Gagosian, David Zwirner, White Cube e

Kurimanzutto para o Brasil. E os revendedores locais puderam vender para colecionadores

estrangeiros sem assustá-los com enormes custos adicionais.

Segundo Campos (2016), essas medidas foram bem-vindas universalmente como um pequeno
passo na direção certa, mas ainda há muito trabalho a fazer. Muitos galeristas brasileiros
montaram filiais em grandes centros fora do país, como Nova York ou Paris, e negociam arte
brasileira internacionalmente. Isso representa que nossos governos deixam de arrecadar entre
50% a 60% de impostos, conforme mencionado, para não arrecadar absolutamente nada; e
outros centros internacionais ficam com as taxas de impostos (bem menores) sobre as obras
realizadas por brasileiros. É fácil deduzir que para evoluir e avançar em direção ao imenso
potencial que o mercado brasileiro possui no campo das artes visuais, é preciso corrigir e
regulamentar melhor a legislação tributária, de acordo com um planejamento estratégico de
nação. Campos (2016, p. 181) cita as observações do galerista Daniel Roesler, de São Paulo,
dono da Galeria Nara Roesler, com filial em Nova York:
O mercado de arte brasileiro precisa superar esse quadro legislativo problemático, e isso envolve o

Brasil como um país. A economia geral afeta a infraestrutura da arte. Você precisa dar um passo

atrás e olhar para o cenário maior, quando o país melhorar como um todo, o mercado de arte seguirá

essas mudanças.

Podemos notar que essas questões precisam ser superadas para que a arte brasileira e o
mercado de arte no Brasil alcancem o status dos mercados de outros países, especialmente da
Europa.

5.5 Recapitulando

Na última unidade de distribuição do nosso conteúdo analisamos os agentes que participam do


mercado internacional de artes, enfocando: museus e galerias, leilões de artes, feiras de artes e
demais intermediários que participam das transações com artes visuais no mundo e no Brasil, e
analisando especificamente a estrutura e os processos de funcionamento do mercado brasileiro.
Exercícios de fixação
Preencha as lacunas corretamente.

O desenvolvimento Selecione... de arte dependia crucialmente de três fatores: o surgimento


de colecionadores, a Selecione... de obras de arte que pudessem se transportadas e o
desenvolvimento de mecanismos de Selecione... dessas obras de arte, diretamente pelos
artistas – por meio de Selecione... , feiras e exposições, ou em suas oficinas e estúdios – ou
por intermediários, como Selecione... e leiloeiros.
Considerações finais
1
Como fica evidente no conteúdo desenvolvido, o mercado de artes, nacional ou internacional, é
essencialmente um campo de investimento que considera a arte como um ativo cultural
comercializável, com a percepção de que, em médio ou longo prazo, esse investimento trará
retornos compensatórios para o capital investido. Esse mercado envolve diversos intermediários,
que fazem a mediação entre a produção artística, os artistas criadores e os agentes econômicos
e financeiros dispostos a investir em arte. A principal motivação para os colecionadores e
investidores é a suposição de que investir em arte pode ser um empreendimento bastante
lucrativo. Além disso, a arte é uma daquelas coisas que as pessoas podem simplesmente
apreciar pelo que ela é e pelo seu significado cultural e simbólico.

Um colecionador pode comprar uma obra-prima, seja uma pintura, uma escultura, uma gravura,
um objeto de cerâmica, apenas porque gostou, porque foi tocado pela beleza da peça ou porque
ela enriqueceria a sua coleção. Se ele já conhece algo sobre o mundo da arte e investe em outros
ativos é sempre bom pesquisar, estudar e entender as razões pelas quais investir em arte é
também uma boa opção, com potencial de crescimento significativo. Mas ele precisa conhecer
as regras do jogo. Como em outros campos de investimento, também é importante conhecer e
aprender quais são os momentos certos para comprar ou vender nesse tipo de mercado. Embora
seja empolgante ver o valor de uma pintura subir dezenas de milhões em dinheiro (geralmente
esse mercado opera em dólares) ao longo de apenas alguns anos, não se pode ignorar o fato de
que o mercado de arte não é exatamente transparente, ele pode conter armadilhas que vão de
uma simples opção errada até a compra de obras falsificadas.

E diferentemente de muitos outros mercados, o mercado de artes é representado por um item


que requer cuidados especiais de manutenção e conservação, porque uma obra como uma
pintura, por exemplo, está sujeita a deterioração e agressão por um ambiente não controlado e
precisa de cuidados especiais para isso não acontecer. Entretanto, as razões a favor do
investimento em arte certamente vencem uma lista de prós e contras, porque, diferentemente
das ações e outros papéis comercializáveis, uma obra de arte é um investimento em longo prazo
que definitivamente se pagará de uma maneira ou de outra; se não através do dinheiro real de
uma margem de lucro significativa, pelo menos através do puro prazer de admirá-la.

Hoje em dia, existem muitos tipos de colecionadores sofisticados, operando em meios físicos e
plataformas digitais; alguns colecionam moedas raras, enquanto outros estão interessados em
selos. Certos grupos adoram antiguidades, móveis ou até imóveis. Quando se trata de
investimentos, a maioria das pessoas parece atraída pela ideia de retornos diretos e maiores por
meio desses processos e quase sempre existe uma paixão por algo que alimenta as intenções
deles. Investir em arte, por exemplo, parece ser uma forma excelente de combinar sucesso
emocional e comercial, entre as partes interessadas.
Exercícios de fixação - respostas
As regras de autenticidade se aplicam a todos os itens colecionáveis, como objetos autênticos,
réplicas e obras de arte (tanto históricas e clássicas, podendo ser um quadro renascentista ou
uma obra contemporânea).

Verdadeiro Falso

Os bens econômicos são bens úteis que possuem preços e são relativamente escassos, têm a
função de satisfazer uma necessidade humana oferecendo utilidade para a sociedade. Os bens
também podem ser públicos competindo com outras ofertas do mercado.

Verdadeiro Falso

Preencha as lacunas corretamente.

A autenticidade de uma obra de arte não deve diminuir seu valor quando ela é
comercializada , ao contrário, essa possibilidade agrega mais valor a um bom trabalho
artístico e também dá mais independência ao artista, bem como a comercialização pode
representar uma recompensa pelo trabalho único. Isso propicia mais diversidade e melhor
qualidade aos trabalhos artísticos de uma sociedade.

Preencha as lacunas corretamente.

Mercado de arte é o local físico ou virtual em que a arte é comprada e vendida. Na sua
conceituação mais básica, esse mercado precisa ter uma obra, que pode pertencer a uma ampla
gama de objetos colecionáveis , um vendedor e um comprador , sendo que este
último pode participar diretamente de negociações ou ser representado por agentes.
Os membros da família Médici foram os mais famosos colecionadores e protetores das artes do
século XV em Florença, patrocinando o talento de pintores como Leonardo da Vinci e
Michelangelo. Como eram chamados esses patrocinadores?

Curadores.

Padrinhos dos pintores.

Mecenas.

Renascentistas.

Padroeiros.

O mercado de arte primário refere-se à primeira venda de uma obra de arte, seja através de uma
galeria ou diretamente no estúdio do artista. Posteriormente a obra é vendida no mercado
secundário. Podemos dizer que:

No mercado primário o preço da obra é muito maior.

O mercado secundário é de segunda mão, onde os preços são menores.

No mercado secundário, os preços se tornam bem maiores.

Não existe diferença, os preços nesses mercados são iguais.

Se quiser revender, o colecionador deverá aceitar um preço menor.

O mercado de artes tem particularidades interessantes e, muitas vezes, além do lucro, os


investidores buscam outro tipo de recompensa. Qual?

Satisfação pessoal.

Lucro bem acima do mercado secundário.


Satisfação dos objetos adquiridos.

Objetos raros e não colecionáveis.

A emoção da primeira venda.

Preencha as lacunas corretamente.

O desenvolvimento do mercado de arte dependia crucialmente de três fatores: o surgimento


de colecionadores, a produção de obras de arte que pudessem se transportadas e o
desenvolvimento de mecanismos de venda dessas obras de arte, diretamente pelos
artistas – por meio de galerias , feiras e exposições, ou em suas oficinas e estúdios – ou por
intermediários, como revendedores e leiloeiros.
Autoria
Elizabeth Casoy
Autora
Bacharel em Design Gráfico (Comunicação Visual) pela Fundação Armando Álvares Penteado e
pós-graduada em História da Arte pela Universidade São Judas. Foi professora titular nível III do
Centro Universitário FMU FIAM FAAM, (de 1983 a 2014 – Curso de Publicidade e Propaganda;
disciplinas: Comunicação Dirigida, Portfólio I e II e Orientação de TCC); professora de graduação
da Universidade São Judas Tadeu (desde 1992), disciplinas: Direção de Arte, Produção e
Computação Gráfica, História da Arte. Diretora Associada de Criação da Prodin Programação
Visual, Desenho industrial Ltda., Artista Plástica e Designer de Joias.

Raul Fonseca Silva


Autor
Bacharel em Design gráfico e do produto pela FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado),
Mestre em Comunicação, ênfase em Marketing e Comunicação de Marketing pela Universidade
Metodista, cursos de extensão em Filosofia, História da Arte, Marketing, Marketing Digital e
Branding. Artista plástico, tendo sido aluno de Alexandre Wollner; Antônio Carelli; Mario Zanini,
Nicolas Vlavianos; Donato Ferrari; Júlio Plaza; Vilém Flusser, entre outros. Foi professor adjunto,
orientador de trabalhos de extensão e pesquisador da Universidade São Judas Tadeu,
Coordenador e professor titular nível 4 do Centro Universitário FMU. É coordenador, professor,
pesquisador e produtor de conteúdo para EAD. Tem mais de 35 anos de magistério e experiência
profissional em Design do Produto e Design e Estética de Interiores Comerciais; Marketing e
Comunicação de Marketing de Varejo. Atualmente é consultor, pesquisador autônomo, autor de
e-books pedagógicos e tutor de cursos à distância.
Glossário

Acervo
Grande quantidade de algo, abundância. É uma palavra proveniente do termo latino acervus
(coleção). Geralmente, a palavra é utilizada para fazer referência a uma coleção de obras ou bens
que fazem parte de um patrimônio, seja de propriedade privada ou pública. Esse patrimônio pode
ser de âmbito artístico, bibliográfico, científico, documental, genético, iconográfico, histórico etc.
Fonte: adaptado de Greffe (2014).

Ativo Cultural
Ativos culturais são bens com características únicas cujos procedimentos de contabilização
geram diferentes procedimentos contábeis. Um ativo patrimonial é um item que tem valor devido
à sua contribuição para a sociedade, o conhecimento e/ou a cultura de uma nação. Eles
geralmente são ativos físicos, mas alguns países também usam o termo em relação à herança
social e espiritual intangível. O termo é encontrado em vários contextos. Fonte: adaptado de
Greffe (2014).

Colecionismo
É a prática de guardar, organizar, selecionar, trocar e expor diversos itens por categoria em
função de seus interesses pessoais. Fonte: adaptado de Greffe (2014).

Cultura
Um conjunto de elementos espirituais e materiais, intelectuais e afetivos que representam uma
sociedade ou um grupo. Fonte: adaptado de Greffe (2014).

Curador
Pessoa responsável pela conservação das obras de arte, montagem e supervisão de uma
exposição, comissário e conservador de arte. Fonte: adaptado de Greffe (2014).

Hedge
É uma operação que reduz ou elimina o risco com a variação de preços indesejados. Fonte:
adaptado de Greffe (2014).

Identidade Corporativa
É o conjunto de atributos essenciais que torna uma empresa ou organização especial e
diferenciada. Fonte: adaptado de Greffe (2014).
Inventário
É a descrição de um bem com as informações básicas relativas à história, à identificação e ao
seu estado de conservação. Com base no inventário são decididas as formas de utilização e de
preservação. Fonte: adaptado de Greffe (2014).

Marca
É a representação simbólica de uma organização, qualquer que ela seja com o propósito de
identificá-la de um modo imediato. Fonte: adaptado de Greffe (2014).

Marketing
É um processo de ações que envolvem e orientam as relações de troca de produtos, serviços ou
ideias com o objetivo de satisfazer as necessidades do mercado. Fonte: adaptado de Greffe
(2014).

Mecenas
É uma pessoa rica que patrocina, financia ou investe na produção das artes, na ciência ou no
ensino, muitas vezes com benefícios fiscais. Fonte: adaptado de Greffe (2014).

Mercado Cinza
Também conhecido como mercado paralelo é o comércio de uma mercadoria ou de um bem por
meio de canais de distribuição que, embora legais, não são oficiais. Fonte: adaptado de Greffe
(2014).

Mercado negro
É o conjunto de relações comerciais de forma ilegal. Fonte: adaptado de Greffe (2014).

Mimese
É a ação de imitar, de copiar, representar ou reproduzir algo. Fonte: adaptado de Greffe (2014).

Obra-Prima
A melhor obra de um autor. A origem do termo se relaciona a uma peça de arte, produzida por um
artesão que desejava se igualar à posição do mestre. Fonte: adaptado de Greffe (2014).

Patrocinador
Indivíduo ou empresa que utiliza recursos financeiros para promover ou incentivar artistas,
algumas vezes com intuito de renúncia fiscal.
Restauração
Reparo ou conserto do que está danificado com a intenção de respeitar a integridade tanto física
como estética da obra de arte. Fonte: adaptado de Greffe (2014).
Bibliografia
Bibliografia Clássica
BOTELHO, Isaura. Dimensões da cultura: políticas culturais e seus desafios. São Paulo: SESC,
2016.

CAMPOS, Cesar Cunha. Arte e Mercado no Brasil (Art and Market in Brazil). São Paulo: FGV, 2016.

FLYNN, Tom. The A-Z of the International Art Market: The Essential Guide to Customs,
Conventions and Practice. London (Inglaterra): Bloomsbury Publishing, 2016.

GILBERT, Creighton E. Italian Art 1400-1500: Sources and Documents. Illinois, EUA: Northwestern
University Press, 1992.

GREFFE, Xavier. Arte e Mercado. São Paulo: Itaú Cultural, 2014.

Bibliografia Geral
ABACT (Associação Brasileira de Arte Contemporânea). Manual de Importação e Exportação de
Obras de Arte. São Paulo: ABACT, 2013/2014.

ARISTÓTELES. Política. São Paulo: Martins Fontes, 2017.

AULETE DIGITAL. Disponível em: aulete.com.br [http://www.aulete.com.br/site.php?


mdl=aulete_digital] . Acesso em: 28 maio 2020.

EAGLE, Terry. Ideologia: uma introdução. 2. ed. São Paulo: Boitempo, 2019.

ECO, Umberto. Nos ombros dos gigantes. Rio de Janeiro: Record, 2018.

MAIA, Lucas de ABREU. Mundo vive boom dos leilões de arte. Exame, São Paulo: 2015. Disponível
em: exame.com [https://exame.com/revista-exame/mundo-vive-boom-dos-leiloes-de-arte/] .
Acesso em: 29 maio 2020.

FARTHING, Stephen; CORK, Richard. Tudo sobre Arte. São Paulo: Sextante, 2018.

GOB, André. A Museologia. São Paulo: FGV, 2019.

GRENFELL, Michael. Pierre Bourdieu: conceitos fundamentais. São Paulo: Vozes, 2018.

JIMENEZ. Rita. Economia da Cultura e Economia Criativa. São Paulo: Senac, 2019.
KOTLER, Philip. Minhas Aventuras em Marketing. São Paulo: Best Business, 2017.

SHNAYERSON, Michael. Boom: Mad Money, Mega Dealers, and the Rise of Contemporary Art.
Nova York, EUA: PublicAffairs, 2019.

VERSIGNASSI, Alexandre. Crash: Uma breve história da economia. Rio de Janeiro: Harper Collins,
2019.

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