O autor inicia o texto afirmando que tanto a arte moderna quanto a arte
contemporânea são pluralistas, ou seja, não podem ser tratadas como
fenômeno específico e trabalho coletivo, pois essas duas artes possuem diversos movimento e ramificações, fazendo com que o historiador de arte necessite focalizar apenas uma delas por vez. Toda tentativa de formular uma definição teórica para a arte provocou uma tentativa por parte dos artistas de produzir obras que escapassem à definição, e assim por diante. Toda obra de arte foi concebida com o objetivo de contradizer as demais obram de arte já existentes. A arte moderna atuava não somente como máquina de inclusão de tudo o que não era considerado arte antes de seu aparecimento, mas também como máquina de exclusão de tudo o que imitava padrões de arte existentes de maneira ingênua, irrefletida, não sofisticada, assim como de tudo o que não era, de alguma forma, controverso, provocativo, desafiador. Vale, assim, afirmar que a arte moderna não é pluralista, mas movida por meio das contradições. A arte contemporânea é excesso de gosto, inclusive de gosto pluralista. Nesse sentido, é excesso de democracia pluralista, excesso de igualdade democrática. Esse excesso tanto estabiliza quanto desestabiliza o equilíbrio democrático do gosto e do poder ao mesmo tempo. Na realidade, esse paradoxo é o que caracteriza a arte contemporânea na sua totalidade. O ser e o não ser das obras, ao mesmo tempo, como A fonte, de Duchamp, é arte e não arte ao mesmo tempo. Da mesma forma, quadrado negro sobre fundo branco, de Malevich, é mera figura geométrica e pintura. Assim, a arte que assume um papel paradoxal de equilíbrio entre poderes, também assume um papel de propaganda política e democrática. Uma obra de arte pode ser apresentada tanto como uma mercadoria quanto como uma ferramenta de propaganda política. Porém, a mercadoria ganhou acesso ilimitado na arte, enquanto a propaganda política não, fazendo com que o equilíbrio de poder entre as duas ficasse distorcido. Assim, a obra de arte apresenta-se, assim, como mercadoria infeliz, sofredora e totalmente submissa ao poder do mercado, diferenciando-se de outras mercadorias apenas por sua habilidade de se tornar mercadoria crítica e autocrítica. É possível afirmar que a arte só se torna politicamente efetiva quando é retirada do contexto de mercadoria, e inserida na propaganda política de forma direta, como já foi feito nos antigos países socialistas e em estados islâmicos. A arte política não era mercadoria, não era feita para ser comprada individualmente e colocada em casa, mas sim para ser absorvida pelo público em geral que deveria aceitar sua mensagem ideológica. O mercado funciona por uma “mão invisível”, é meramente uma suspeita obscura; ele faz circular imagens, mas não possui sua própria imagem. Em contraste, o poder de uma ideologia é sempre, em última análise, o poder da visão. E isso significa que, ao servir qualquer ideologia política ou religiosa, um artista serve, essencialmente, à arte. A arte moderna se posicionou como objeto-paradoxo também nesse sentido mais profundo - como imagem e, ao mesmo tempo, como crítica à imagem. Assim, o desejo de se livrar das imagens é combatido com uma imagem que critica a própria imagem. “Somente na pressuposição da igualdade de todas as formas e mídias visuais em nível estético é possível resistir à desigualdade factual entre as imagens- como imposto pelo ambiente exterior e refletindo desigualdades culturais, sociais, políticas e econômicas.” O autor fala sobre como a eterna luta sobre o reconhecimento e igualdade na arte chegou à um fim: nos dias atuais, tudo se tornou arte e é reconhecido como arte. Atualmente, reverenciamos as obras de arte nostálgicas e individuais como obras primas e preciosas, porém, muitos artistas hoje em dia acreditam que o único modo de medir a grandeza de uma obra de arte é através do seu valor de mercado. Outra forma de medir a arte é através de seu valor político e democrático, porém esse é visto pelo autor como um meio de propagar suas ideologias através da arte.
O autor ressalta que em valores estéticos, a igualdade da arte ou seu
equilíbrio não iguala a arte boa da arte ruim. A arte boa é a arte que permite essa igualdade, sempre desafiando e se contrapondo ao que foi produzido anteriormente. Ao criticar as hierarquias de valores - social, cultural, política ou economicamente impostos - a arte afirma a igualdade estética como garantia de sua verdadeira autonomia. Antigamente, os artistas buscavam mais e mais a exclusividade da imagem artística, a individualidade da obra de arte. Tal individualidade foi trocada por uma reprodução de imagens sequenciais, como os ready-mades de Duchamp, onde o que realmente importava não era mais a exclusividade da obra, e sim o seu infinito potencial de variação das imagens. De algum modo, é esse infinito potencial das imagens atuais que torna as obras individuais antigas únicas e preciosas até os dias atuais. Alguns artistas, que produzem suas obras de arte num contexto internacional, sinalizam nas mesmas suas origens étnicas e culturais, enquanto outros artistas buscam exatamente o oposto: produzem seus trabalhos artísticos em modelos internacionais e os inserem em suas culturais regionais. Apesar de serem opostos, os dois meios são conectados por uma ideia: a exclusão de algo, em um caso a exclusão dos modelos regionais, e no outro a exclusão de modelos internacionais. Dessa forma, os dois meios de produção de arte geram, no fim, um equilíbrio artístico e estético. Tal equilíbrio se faz extremamente necessário num mundo em que a imagem se tornou meio de propagação política, de violência e de preconceito. Apesar de que, a primeira impressão, as imagens geradas todos os dias pela mídia são diversas, estas na verdade são limitadas, pois é necessário que, para o entendimento do público geral, elas sejam padronizadas. É por isso que as imagens individualizadas encontradas em museus e galerias se tornam cada vez mais únicas e preciosas no contexto atual. o atual protesto contra o museu não é mais parte de uma luta travada contra o gosto normativo em nome da igualdade estética, mas, ao contrário, tem como objetivo estabilizar e arraigar gostos atualmente predominantes. É comum ouvir perguntas do porquê é necessário que exista alguém ou alguma instituição para decidir o que é arte e o que não é, ou melhor, o que é arte boa ou ruim. Assim, os artistas passam a buscar o abandono do museu e das instituições, para ingressar na “vida real”, nas mídias sociais e nas propagandas, pois, de certo modo, a mídia se torna um excelente local para o alcance de novos admiradores e, também, para o lucro sobre suas produções artísticas. Isso causa uma sensação de poder e liberdade, onde os artistas já não precisam implorar para o Estado ou para seus patrocinadores. O mercado da mídia global não possui informações suficientes para permitir que os observadores da arte diferenciem o que é a arte contemporânea e como ela pode ser comparada com a arte produzida antigamente. “Enquanto a mídia for único ponto de referência, simplesmente faltará ao observador qualquer contexto comparativo que proporcione a ele, ou a ela, os meios de efetivamente distinguir o velho do novo, o mesmo do diferente. Desse modo, somente o museu pode servir de local para uma comparação histórica sistemática que nos possibilita ver com nossos próprios olhos o que realmente é diferente, novo e contemporâneo.” “A questão aqui não é que curadores e iniciados na arte têm gostos exclusivos e elitistas muito distintos daqueles do público geral, mas sim que o museu oferece meios de comparar o presente e o passado que repetidamente chegam a conclusões que não as sugeridas pela mídia.” Dessa forma, os museus de hoje são elaborados para não somente colecionar o passado, mas também para criar o presente a partir da comparação entre velho e novo. Ressaltando que essas criações visam sempre manter o equilíbrio estético na arte.