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A criação

artística e a
obra de arte
Tema: A dimensão estética - análise e
compreensão da experiência estética

11ºC
Ana Margarida nº1
Beatriz Moura nº2
"Hollywood Africans"
de Basquiat

Nome: "Hollywood Africans"


Autor: Jean-Michel Basquiat
Data: 1983
Estilo/Corrente artística: A obra é geralmente integrada no
movimento neoexpressionista da arte contemporânea desenvolvida
na década de 80 do século XX.
Materiais utilizados na composição da obra: Tinta acrílica, tinta a
óleo, tinta de spray, giz de cera, lápis de cor, cola e páginas de
jornais e revistas.
Introdução
O problema da definição da arte centra-se na preocupação
em descobrir critérios que nos permitam distinguir o que é
arte daquilo que não é arte. Uma definição explícita da arte
tem de incluir o conjunto de condições necessárias e
suficientes para que possamos considerar algo como arte. A
condição necessária de arte remete a uma característica
partilhada por todas as obras de arte, já a condição suficiente
alude a uma característica que apenas as obras de arte
possuem.
As teorias essencialistas defendem que existe uma essência do
objeto artístico, isto é, acreditam que os objetos artísticos
possuem uma (ou mais) características intrínsecas que os
definem como obras de arte. As teorias não essencialistas,
pelo contrário, consideram que são características extrínsecas
aos objetos que os tornam obras de arte. Ambas as teorias
reconhecem que a arte deve ser definida com base em
características histórias e sociais, visto que o estatuto de “obra
de arte” parte da relação que os seres humanos estabelecem
com certos objetos.
Na nossa opinião, a composição “Hollywood Africans” de Jean-Michel Basquiat é uma
obra de arte, visto que se enquadra na teoria institucional, uma das tentativas mais bem
conseguidas de definir a arte não em características intrínsecas do objeto, mas sim na
relação que este estabelece com o seu contexto, isto é, em características extrínsecas a ele.
Deste modo, a teoria institucional está incorporada nas teorias não essencialistas.
De acordo com a teoria institucional, a composição “Hollywood Africans” é
considerada uma obra de arte, na medida em que foi amplamente reconhecida e
valorizada por membros da comunidade artística (curadores, críticos, colecionadores
e outros artistas), que a definiram como “arte”. A estética urbana e culturalmente
supramencionada da obra de Basquiat, representa uma critica criativa aos contextos
históricos na qual viveu e trabalhou, aludindo à enfatização da arte, como uma
definição não imutável, mas moldada por fatores históricos, culturais e sociais. A
comunidade artística não constitui uma entidade monopolítica, sendo composta por
especialistas com diferentes visões, o que significa que esta definição está sujeita a
contestações e mudanças ao longo do tempo, derivadas de reinterpretações e
recontextualizações.
“Hollywood Africans” compreende a estética e a ira de um artista afro-americano,
incomodado com o racismo e a opressão que as “comunidades negras” enfrentam nos
Estados Unidos, nomeadamente pela forma como os artistas “negros” de Hollywood eram
frequentemente retratados em papéis estereotipados ou marginalizados, incorporando
elementos da cultura pop, da história afro-americana e da arte rural numa linguagem
visual única, que visa sensibilizar à inclusão de pessoas “negras” na indústria do
entretenimento. Ao incluir elementos únicos e inovadores, Basquiat subverte as normas
da arte contemporânea, questionando a forma como esta é valorizada e criticada pela
comunidade artística e desafiando a ideia de que arte deve ser etilista e inacessível. Deste
modo, a autoria de Basquiat é essencial à posterior valorização da obra pela instituição
artística, uma vez que a intenção do autor era expressar a sua identidade cultural, através
da incorporação na composição de símbolos e elementos visuais importantes para a
cultura afro-americana, desafiando, assim, as normas estabelecidas pela arte
contemporânea.
Posto isto, podemos atribuir a designação “arte” à composição “Hollywood Africans”, na
medida em que Basquiat tinha consciência de que aquilo que estava a fazer, era, no seu
todo uma obra de arte, constituindo um objeto intencionalmente preparado para ser alvo
de apreciação pelo público e encorajar mudanças comportamentais na sociedade da
época.
No entanto, de acordo com muitos críticos, esta obra não pode ser considerada uma
obra de arte, segundo a teoria institucional de Dickie, uma vez que esta permite que
qualquer coisa possa ser considerada arte, desde que, assim, seja designada pela
comunidade artística. Estes apontam à teoria uma insuficiência grave, uma vez que não
inclui alguma forma de explicação acerca dos motivos que nos levam a valorizar mais
umas obras de arte e não outras. Porém, estes críticos ignoram a ideia de que a arte
descende das habilidades do artista em exprimir o seu ponto. A atividade artística requer
conhecimento acerca das técnicas e processos de produção de uma obra de arte. Deste
modo, a sua apreciação exige a compreensão da perspetiva do artista e da mensagem que
este pretende transmitir. “Hollywood Africans” não constitui apenas uma demonstração
da habilidade técnica do artista, mas um comentário estético poderoso sobre a
marginalização das pessoas “negras” na indústria do entretenimento. Além disso, a teoria
institucional não implica que todas as obras de arte devam ser avaliadas da mesma forma
ou igualmente válidas, reconhecendo a existência de padrões e critérios de avaliação
únicos, consentindo a abertura de um espaço destinado a críticas e debates.
Muitos críticos afirmam que a teoria institucional promove a atribuição do estatuto de
“arte” a objetos sem qualquer fundamento ou justificação, considerando este estatuto
arbitrário e a arte estéril. Assim, a teoria institucional não defende que qualquer objeto
possa ser considerado uma obra de arte, independentemente, da sua qualidade estética,
técnica ou expressiva. Pelo contrário, a teoria institucional sugere que a arte é uma
instituição social, desenvolvida e governada por práticas, convenções e normas
estabelecidas pela sociedade, na qual está inserida. Deste modo, o estatuto de “arte” não é
arbitrário, mas o resultado de um processo social. A visão ampla da arte não é sustentada
pela teoria institucional, dado que esta reconhece a importância de critérios estéticos e
culturais na construção do estatuto de uma obra de arte, oferecendo uma abordagem mais
precisa e completa na compreensão da dinâmica da produção artística em diferentes
contextos sociais e culturais. Este é evidenciado na composição através de referências ao
espaço limitado permitido aos atores “negros” em Hollywood, bem como através de frases
historicamente associadas ao racismo. As noções de exclusão e segregação são ainda
evidenciadas pelo facto de muitas palavras estarem riscadas, uma técnica explicada por
Basquiat “I cross out words so you will see them more; the fact that they are obscured
makes you want to read them.” (Eu risco as palavras para que as vejam mais; o facto de elas
estarem riscadas faz com que as queiram ler”).
Em suma, a obra "Hollywood Africans" desafia e subverte as normas das entidades
artísticas, fortalecendo a sua autoridade e abrindo caminho para novas formas de expressão
artística.

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