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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ


CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTA E A DISTÂNCIA
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM LETRAS INGLÊS

GIRLANE FRANCISCA DOS SANTOS

O PAPEL DA MULHER NA SOCIEDADE INGLESA NA EMBLEMÁTICA


OBRA LITERÁRIA JANE EYRE DE CHARLOTE BRÖNTE.

REGENERAÇÃO – PIAUÍ
2018
2

GIRLANE FRANCISCA DOS SANTOS

O PAPEL DA MULHER NA SOCIEDADE INGLESA NA EMBLEMÁTICA


OBRA LITERÁRIA JANE EYRE DE CHARLOTE BRÖNTE.

Trabalho de conclusão de curso


apresentado ao Curso de Licenciatura em
letras Inglês da Universidade Federal do
Piauí como requisito à obtenção do título
de obtenção do grau.

Orientadora: Profa. Rejane Maria de


Moura Fé

REGENERAÇÃO – PIAUÍ
2018
3

GIRLANE FRANCISCA DOS SANTOS

O PAPEL DA MULHER NA SOCIEDADE INGLESA NA EMBLEMÁTICA


OBRA LITERÁRIA JANE EYRE DE CHARLOTE BRÖNTE.

Trabalho de conclusão de curso


apresentado ao Curso de Licenciatura em
letras Inglês da Universidade Federal do
Piauí como requisito à obtenção do título
de obtenção do grau, pela seguinte banca
examinadora:

_________________________________________________________________
Profa. Esp. Rejane Maria de Moura Fé

________________________________________________________________
Prof. MSc. Sérgio de Sousa Ribeiro

_________________________________________________________________
Profa. Esp. Wilma Carvalho Lopes

REGENERAÇÃO – PIAUÍ
2018
4

Dedico a minha mãe a quem sigo os mesmos passos!


5

AGRADECIMENTOS

A ti meu Deus que é o centro e a razão de todas as coisas.


A minha orientadora, pela disponibilidade e paciência durante a jornada. Obrigada
pelo incentivo, acompanhamento e amizade.
A minha querida tutora e professora Helayne pela honrosa e brilhante profissional,
que se fez presente durante todo o curso, exercendo com louvor seu trabalho e sempre
pronta a cooperar.
Ao meu esposo Ricardo Átila que me ajudou prontamente nos diálogos sobre os
capítulos desenvolvidos; agradeço a parceria.
A vocês citados meu imenso e eterno carinho!
6

“Não é razoável condenar as mulheres ou rir delas, se elas querem mais do que
os costumes definiram como sendo o necessário para seu sexo”.
CHARLOTE BRÖNTE
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RESUMO

O papel da mulher na sociedade inglesa vem sendo destacado historicamente através de


contos, filmes e gêneros literários. A transformação da mulher é palco de grandes
destaques e trajetórias diante de discursos retrógrados sobre o comportamento que a
mulher deveria obter pelo simples fato da condição que lhe foi imposta patriarcalmente.
A supremacia feminina é uma das características da evolução dentro e do universo
literário como mostra a obra ficcional em análise Jane Eyre de Charllote Brontë,
relacionando biografia e contexto histórico que servirá como objetivo do trabalho para
analisar a representação da mulher no século XIX na sociedade inglesa e como isso reflete
na atualidade. A pesquisa foi realizada com base em um aporte metodológico de cunho
bibliográfico, nas concepções de teóricos como: Cevasco & Siqueira (1985) e Funck
(2011), dentre outros. Após a pesquisa realizada foi possível inferir que a personagem da
obra é uma mulher que segue as regras da sociedade, mas que expõe suas opiniões a fim
de defender aquilo que acredita, almejando sua liberdade, respeitando as diferenças e
lutando contra os preceitos da época em busca da felicidade. Os romances de Charlotte
Brontë, portanto, apresentam grande potencial para a análise histórica, em especial aos
estudos de gênero e da escrita de autoria feminina do século XIX.

Palavras – Chave: Mulher. Sociedade Inglesa. Literatura.


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ABSTRACT

The role of women in English society has been highlighted historically through short
stories, films and literary genres. The transformation of the woman is the scene of great
highlights and trajectories before retrograde discourses on the behavior that the same
should obtain by the simple fact of the condition that was imposed to him patriarchal.
Female supremacy is one of the characteristics of evolution within and of the literary
universe as shown in the fictional work Jane Eyre de Charllote Brontë, relating biography
and historical context that will serve as an objective of the work to analyze the
representation of women in the nineteenth century in English society and as this reflects
today. The research was carried out based on a methodological contribution of a
bibliographical nature, in the conceptions of theorists such as Cevasco & Siqueira (1985)
e Funck (2011) among others. After the research it was possible to infer that the personage
of the work is a woman who follows the rules of society, but who exposes her opinions
in order to defend what she believes, aiming for her freedom, respecting the differences
and fighting against the precepts of the time in pursuit of happiness. Charlotte Brontë's
novels, therefore, present great potential for historical analysis, especially to the studies
of gender and writing of female authorship of the nineteenth century.

Keywords: Woman. English Society. Literature.


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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO ..................................................................................10

CAPÍTULO 2: CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS .................................... 13

CAPÍTULO 3: A LITERATURA E O PAPEL DA MULHER NA SOCIEDADE

INGLESA ......................................................................................................................15

3.1 A Literatura Inglesa ...............................................................................................15

3.2 Aspectos da Era Vitoriana para o protagonismo da Mulher Inglesa ................16

3.3 Os destaques das Mulheres Inglesas na Literatura .............................................19

CAPÍTULO 4: A OBRA “JANE EYRE” E A AUTORA CHARLOTTE BRONTË

.........................................................................................................................................24

4.1 As personagens e as escritoras Brontë ..................................................................28

CAPÍTULO 5: RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................... 32

CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................40

REFERÊNCIAS ........................................................................................,...................41

ANEXOS .......................................................................................................................43
10

CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO

A sociedade inglesa e o mundo moderno passaram por várias mudanças


comportamentais, econômicas, culturais e sociais e em todas essas transformações a
figura da mulher sempre esteve presente nesse cenário.
O papel da mulher ao longo dos anos é um histórico de lutas e conquistas por
espaços nas sociedades ao longo dos tempos, pois, sempre teve papel de coadjuvante em
relação ao sexo masculino. Para chegar a ocupar o destaque que a mulher se encontra nos
dias atuais foram necessárias grandes quebras de paradigmas nas esferas sociais.
Com a industrialização inglesa advinda no século XIX o sexo feminino foi
profundamente afetado devido as circunstâncias patriarcais em que sempre se
encontraram, pois, as mulheres eram vistas como uma figura singela, frágil, angelical e
submissa afinal isso fazia parte da sua própria natureza. É, portanto, notório
identificarmos que a mulher inglesa mesmo com essas características foram percursoras
na luta pela igualdade de direitos em diversas instâncias.
A literatura inglesa que é um dos destaques nessa pesquisa mostrará quanto
participação da mulher foi importante para seu empoderamento. As obras escritas por
pseudônimos masculinos mostravam um eu lírico intelectual e impróprio para época. A
autora do livro Jane Eyre esconde-se atrás de Curry Bell para falar da luta de uma
personagem que ansiava por liberdade e não aceitava ser oprimida pelos valores sociais,
conservadores e morais.
O tema o papel da mulher na sociedade inglesa na emblemática obra de Jane Eyre
de Charlote Brönte justifica-se pelo proposito de abordar os estudos sobre a sociedade
inglesa e a importância da mulher nesse contexto especificamente o papel feminino do
século XIX, a contribuição da Era Vitoriana para esse destaque e a visão literária no
encadeamento de um romance.
O trabalho também mostra como a mulher vivia sob submissão sendo um dos
assuntos mais debatidos em diversas áreas e que vem ganhando destaque no cenário
mundial. Assim, caberá procurar entender como esses fatores aconteceram e explicitar a
importância dessas conquistas levando em consideração não somente espaços sociais,
políticos e culturais como também intelectual, pois mostravam seus talentos na escrita
através de pseudônimos em épocas que a mulher não ousaria se manifestar.
11

Estudar e discutir a obra Jane Eyre de Charlotte Brontë sob a perspectiva feminista
não é algo novo. Muito se tem escrito sobre esta obra como uma representante ímpar de
ficção que sugere debates importantes sobre a mulher e seu papel na sociedade.
A obra Jane Eyre (1847) de Charlotte Brontë faz um relato da opressão feminina
na primeira metade do século XIX na Inglaterra. A protagonista, que dá nome ao livro,
narra seus sonhos, ilusões, dúvidas e sua luta para consolidar-se como pessoa atuante em
uma sociedade que impunha à mulher o destino de se submeter ao papel de esposa e de
mãe. A autora destaca as únicas profissões que eram possíveis de serem seguidas naquela
época e sociedade: a de ser professora e governanta.
Nessa perspectiva, o questionamento que se fez presente durante o estudo é como
a literatura inglesa influenciou na representação da mulher na assimetria em relação ao
homem em uma época moralista e disciplinada e que posição social a mulher passou a
assumir com a literatura na sociedade através das obras de escritoras especificamente na
obra Jane Eyre?
A resposta a essa pergunta pode estar ligada a diferentes temas, mas espera-se
encontrar que mediante os conceitos do masculino e do feminino construídos
historicamente, fruto das relações sociais que está ligado aos valores que foram sendo
transmitidos ao longo das gerações.
A maioria das sociedades apregoa a existência de papéis diferentes para homens
e mulheres, onde cada um representa um papel social, desempenhado em interação com
o outro. Pode-se ter a ideia de que homens e mulheres vivem em universos distintos,
entretanto, as relações entre ambos são interligadas, tanta na esfera pública quanto
privada. Segundo Pacheco e Sousa (2011, p. 13) “a escritora inglesa constrói heroínas
independentes que são conscientes do poder de fazer rir. (...), as heroínas riem quando
querem em reação à percepção da sociedade sobre o lugar que a mulher da época ocupa.”.
O objetivo geral da pesquisa é analisar os efeitos da situação da mulher na
sociedade inglesa e tendo como específicos abordar a importância da literatura inglesa
para o protagonismo da mulher, refletir que contribuições as mulheres trouxeram para a
literatura como também para a história da sociedade contemporânea e examinar o
romance Jane Eyre sobre os aspectos urbanos e emocionais que envolvem a natureza da
mulher.
A pesquisa também foca a era Vitoriana que na literatura é marcada por aproximar
o leitor do cotidiano no período em se passava a história, traz uma moralidade, o
idealismo, e o enredo é baseado na resolução de um conflito. A literatura em si é vista
12

como uma mera representação da tradição por serem estabelecidas no final do século XIX
pela instituição literária que era predominantemente masculina onde as mulheres eram
tratadas com desigualdade ocupando uma posição inferior no corpo social em que viviam.
A relevância do trabalho pode ser considerada de irrefutável indispensabilidade,
pois; entender como a mulher adquiriu seu espaço ao longo dos tempos e que tipos de
situações e guerras emocionais que as mesmas enfrentaram para se estabelecerem em uma
sociedade machista e preconceituosa baseada em valores retóricos e arcaicos. O
empoderamento da mulher atual descreve como sendo um fato primordial para se
entender o contexto social ao qual estamos inseridos.
Iniciando o percurso até a análise da obra Jane Eyre, o primeiro capítulo abordara
sobre os aspectos metodológicos sendo considerada como um estudo teórico, ou seja,
bibliográfico e descritivo.
Para uma maior reflexão em torno do papel da mulher na sociedade inglesa e o
seu crescimento na literatura, o segundo capítulo apresenta questões que envolvem
historicamente aspectos da Era Vitoriana marcada pelo reinado da rainha Vitória, o
âmbito social envolvendo o puritanismo impondo o comportamento e o pensamento
patriarcal de um povo enraizados desde os primórdios.
No terceiro capítulo será abordado sobre a escritora Charlotte Brontë trazendo
características do período histórico em que viveu, a representação da sua figura feminina
ressaltando a sua contribuição para os estudos literários.
E por fim foi realizada uma análise e discussões dos resultados sobre a obra
emblemática Jane Eyre que terá como fundamentação a opinião de autores que
explicitarão o diálogo com o objeto pesquisado.
O feminismo enquanto movimento possibilitou às mulheres de todo o mundo
muitas reflexões sobre liberdade, a independência e a igualdade diante dos homens e
promoveu mudanças nas ficções das mulheres e sobre mulheres. Se não possibilitou a
liberdade na vida de mulheres no mundo inteiro, por exemplo, ao menos abriu espaço no
meio literário e talvez educacional para iniciar uma rejeição a formas do patriarcalismo.
Assim, a marginalidade da escrita feminina, pode fazer com que a mulher ousasse sair da
sombra dos pseudônimos masculinos para assumir a sua verdadeira identidade.
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CAPÍTULO 2: CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

Segundo Lakatos e Marconi (2007, p. 80), ciência é “um conjunto de proposições


logicamente correlacionadas sobre o comportamento de certos fenômenos que se deseja
estudar”. Nesse contexto, segundo Gil (2007, p. 7), a pesquisa científica se coloca como:

[...] procedimento racional e sistemático que tem como objetivo


proporcionar respostas aos problemas que são propostos. A pesquisa
desenvolve-se por um processo constituído de várias fases, desde a
formulação do problema até a apresentação e discussão dos resultados.

E ainda conforme Minayo (2011, p. 17) a pesquisa é tida como:

[...] atividade básica da Ciência na sua indagação e construção da


realidade. É a pesquisa que alimenta a atividade de ensino e a
atualiza frente à realidade do mundo. Portanto, embora seja uma
prática teórica, a pesquisa vincula pensamento e ação.

Na investigação científica se faz necessária a utilização de um “conjunto de


procedimentos intelectuais e técnicos” (GIL, 2008, p. 8), que são os métodos científicos.

O objeto pesquisado será a obra Jane Eyre de Charlotte Brontë que foi publicada
em 1847.

Na investigação científica se faz necessária a utilização de um “conjunto de


procedimentos intelectuais e técnicos” (GIL, 2008, p. 8), que são os métodos científicos.

Na pesquisa o método de abordagem utilizado será o dedutivo, que “parte de


princípios reconhecidos como verdadeiros e indiscutíveis e possibilita chegar a
conclusões de maneira puramente formal, isto é, em virtude unicamente de sua lógica”
(GIL, 2008, p. 9). Um raciocínio que para se chegar a uma conclusão se ampara em teorias
mais gerais sobre o tema proposto para fenômenos particulares.

A pesquisa tratará sobre o papel da mulher inglesa na sociedade e também na


Era vitoriana e em seguida a obra de Charlotte Brontë. A partir desse conhecimento amplo
será analisada a realidade existente no período em que se passou a trama enaltecendo os
tempos atuais.
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Do ponto de vista da natureza a pesquisa será básica, pois irá gerar conhecimentos
científicos sem aplicabilidade imediata. Conforme a abordagem do problema a pesquisa
será qualitativa, que implica “uma ênfase nas qualidades das entidades e nos processos e
significados que não são examinados ou medidos experimentalmente quanto à
quantidade, volume, intensidade ou frequência” (DENZIM; LINCOL, 2006, p. 23).

Em relação aos objetivos será exploratória, desenvolvida no sentido de


proporcionar uma visão geral acerca de determinado fato, procurando buscar “padrões,
ideias ou hipóteses, em vez de testar ou confirmar uma hipótese” (COLLIS; HUSSEY,
2005, p.24). Assume a forma de pesquisa bibliográfica, que segundo Boccato (2006, p.
266):

[...] busca a resolução de um problema (hipótese) por meio de


referenciais teóricos publicados, analisando e discutindo as várias
contribuições científicas. Esse tipo de pesquisa trará subsídios
para o conhecimento sobre o que foi pesquisado, como e sob que
enfoque e/ou perspectivas foi tratado o assunto apresentado na
literatura científica. Para tanto, é de suma importância que o
pesquisador realize um planejamento sistemático do processo de
pesquisa, compreendendo desde a definição temática, passando
pela construção lógica do trabalho até a decisão da sua forma de
comunicação e divulgação.

Com bases teóricas, a pesquisa buscará através de conhecimentos já construídos,


embasamento que fundamente uma análise científica a partir de contextos gerais que
levem a ideias que contribuam para o alcance dos objetivos traçados.

Segundo Andrade (2004), a pesquisa descritiva preocupa-se em observar os


fatos, registrá-los, analisá-los, classificá-los e interpretá-los e o pesquisador não infere
neles. Nesse sentido a pesquisa também terá caráter descritivo. A coleta de dados é o ato
de pesquisar, juntar documentos e provas, procurar informações sobre um determinado
tema ou conjunto de temas correlacionados e agrupá-las de forma a facilitar uma posterior
análise.
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CAPÍTULO 3: A LITERATURA E O PAPEL DA MULHER NA SOCIEDADE


INGLESA NO PERIODO VITORIANO.

A literatura permite que haja uma interação com o tempo vivenciado pois “esta
epopeia do coração e da família, é, felizmente infinitamente mais rica. Ela fala do
cotidiano e dos estados da mulher, inclusive pelas que nela se intrometeram” (PERROT,
2005, p.13).
Segundo Perrot (2005) as produções literárias poderiam apenas se tratar de
romances baseados em uma história de amor mais a literatura aborda interações nas
relações sociais, as estruturas do gênero, tipos de discurso e compartilha do tempo e
espaço em que os fatos ocorreram em diferentes épocas.

3.1 A LITERATURA INGLESA VITORIANA

O termo vitoriano presente no dicionário conforme Cevasco (1988, p. 53) o


Aurélio conceitua como sendo um adjetivo que “1. Pertencente ou relativo a Rainha
Vitória, da Inglaterra, ou ao período de seu reinado (1837-1901). 2. Que demonstra
respeitabilidade, o puritanismo, a intolerância, etc., atribuídos geralmente à classe média
da Inglaterra vitoriana". Isso acontece devido a ascensão da rainha ao trono e uma
preparação para a Revolução Industrial que trará para a Inglaterra um imperialismo
perante a todo o mundo. Para Cevasco e Siqueira (1985, p. 54) “afinal, viviam eles num
país que dominava um quarto da população do mundo. Sua rainha presidia ao "império
onde o sol nunca se punha".
No século XIX o romance aparecerá como marcador da literatura inglesa.
Percebe-se a importância nas palavras das autoras:

É difícil dizer com segurança como foi que o romance suplantou a


poesia e passou a ocupar o papel preponderante na cena literária.
Certamente, as condições históricas desempenharam seu papel: como
quer Lukács, o romance é o épico da burguesia, e a era vitoriana é
burguesa por excelência. (CEVASCO & SIQUEIRA, 1985, p.54).

A burguesia modificou o seu estilo literário pela necessidade de saberem histórias


que abordassem o cotidiano, ou seja, almejavam obras descentes e nesse cenário
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apareceram romancistas que misturavam o drama elisabetano e uma arte popular como
fica exposto na citação a seguir:
Charles Dickens !1812-1870), o maior entre os vitorianos, ilustra esse
duplo aspecto do escritor da época. Elogiado pela crítica
contemporânea, principalmente pela diversidade de sua obra, pelo
humor e pela vida que soube incutir em seus personagens, foi também
um escritor extremamente popular, que sempre soube manter uma
estreita relação com seu público. Publicados em fascículos em revistas
mensais, seus romances conquistaram corações e mentes, nos dois lados
do Atlântico. (CEVASCO & SIQUEIRA, 1985, p. 55).

Sabe-se que um dos aspectos que marcam a importância e o crescimento da


literatura na era vitoriana foi a criação de trilogias tornando-se uma estratégia comercial
pois a sociedade que comprava nas bancas os exemplares eram divididos em três partes e
isso faziam com que elas ficassem ansiosas para concluírem a leitura e assim
consumissem mais a literatura.
Segundo Cevasco e Siqueira (1985, p. 55):

Conta-se, por exemplo, que o navio que levava para os Estados Unidos
um dos capítulos de The Old Curiosity Shop era esperado por uma
multidão, que perguntava ansiosa ao capitão se a pequena Nell,
personagem do romance, morrera. A publicação em fascículos mensais
deu as obras de Dickens uma estrutura episódica, onde cada capítulo
tinha, via de regra, um final cheio de suspense, de forma que o leitor se
sentisse motivado a comprar o próximo número.

3.2 ASPECTOS DA ERA VITORIANA PARA O PROTAGONISMO DA


MULHER INGLESA

A Era Vitoriana recebeu seu nome da monarca do período a Rainha Vitória.


Alexandrina Victória nasceu em 24 de maio de 1819 tinha apenas dezoitos anos quando
se tornou rainha do maior império daquele tempo.
Após a morte do seu tio William IV seu predecessor rainha Vitória herdou um
reino desenvolvido em relação aos demais especialmente por causa da revolução
industrial que ocorreu margitatoriamente na Inglaterra. Nesse tempo o país vivia no que
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se chamava de Pax Britânnica1, um período de progresso principalmente pacífico que


promoveu dentre outros o desenvolvimento.
O problema que junto com esse desenvolvimento industrial veio o péssimo
desenvolvimento social. Enquanto o número de fábricas cresciam, as pessoas do interior
começaram a mover-se para as grandes cidades procurando por trabalhos de melhor
remuneração e as cidades começaram a superlotar. Londres estava particularmente em
estado mais grave. Com isso a putrefação recorrente na cidade surgiu uma epidemia de
cólera que matou mais de duas mil pessoas por semana, entretanto com uma series de atos
do parlamento britânico e outras ações governamentais houve uma grande melhoria,
criou-se um conselho de limpeza em cada parte da cidade, construiu-se boeiros e esgotos
apropriados, as ruas foram pavimentadas e iluminadas, as condições de vida dos
trabalhadores e os salários foram aumentando mas mesmo assim estava longe do ideal.
Uma das tentativas de melhoria das condições de vida do proletariado foi a
disposição das casas, surgiram casas conjugadas, ocupavam apenas um prédio mais
ocupavam várias famílias.
Em 10 de fevereiro de 1840 a rainha Vitória casa-se com o príncipe Albert, seu
primo que além de ser seu companheiro era também seu conselheiro intimo nos assuntos
políticos. Vitória conheceu seu esposo através do seu tio Leopoldo da Bélgica e no
primeiro dia que o viu segundo suas palavras em seu diário apaixonou-se e tudo que o
mesmo dizia Vitória levava em consideração e a grande prova desse amor foi a
inauguração do riquíssimo museu Vitoria e Albert em Kensington em Londres.
A partir dessa época houve um grande desenvolvimento cientifico enquanto a
Europa Ocidental e os Estados Unidos passavam por sua segunda Revolução Industrial.
Surgiram barcos a vapor mais rápido e locomotivas, a indústria química obtinha bastante
progresso, surgiu o clorofórmico e o etéreo como anestésicos, eram inventados o
telegrafo, a lâmpada incandescente mais posteriormente o telefone e o rádio.
De acordo com os autores supracitados,

No palácio real, a rainha e o príncipe conserte, Albert, dão o. exemplo


da domesticidade e do decoro que eram os ideais da maioria de seus
súditos. Reina no país um clima de otimismo e ufanismo; os problemas
existem, mas o progresso -pensavam os vitorianos -saberá como
solucioná-los. (CEVASCO & SIQUEIRA, 1985, p. 53-54).

1
Período de paz sentido desde o fim das Guerras Napoleónicas que teve como consequência uma maior
expansão do Império Britânico.
18

Com relação as convenções sociais a Era Vitoriana era baseada no puritanismo2,


grande moralismo, além de grandes contradições, pois enquanto algumas pessoas ficavam
completamente horrorizadas ao se falar sobre um crime em especial Jack o estripador que
ocorreu na época, as ruas de Londres eram completas de mendigos, prostitutas e ladrões.
As relações eram praticamentes freados por estabelecimentos de regras rígidas. As
expressões emocionais, amorosas ou sexuais eram julgadas.
A mulher cada vez mais enfeitada mostrava todo o dinheiro que seu marido
poderia lhe dar, já na roupa masculina depositava a imagem séria do homem mostrando
sua grande produtividade financeira.
Na Era Vitoriana houve um desenvolvimento artístico, na literatura estavam
presentes Jane Austen, Oscar Wilde. Todos classificados como sátiras ou retratos dos
sentimentos dos britânicos da época. A contribuição feminina assegurou destaques na
literatura mundial entre elas as irmãs Brontë: Anne (1820 – 1849), Charlotte (1816 –
1855) e Emily (1818 – 1848). Sobre isso Cevasco e Siqueira (1985, p. 57) revelam:

Não se sabe onde Emily foi buscar a inspiração e a mestria para escrever
uma obra desse calibre. Filhas de um pároco de Yorkshire, órfãs de mãe,
ela e suas irmãs foram criadas quase como reclusas. Entre suas
brincadeiras prediletas estavam escrever e dramatizar histórias. Até aí,
uma infância quase normal, que não explica a energia criadora que fez,
pelo menos de Charlotte e Emily, grandes romancistas.

O reinado de Vitoria ficou conhecido como o gradual estabelecimento de uma


monarquia inconstitucional moderna onde a casa dos comuns e o parlamento votado do
Reino Unido ganhou mais poder aos custos da Monarquia e da casa dos Lordes
transformada pela nobreza e dirigida pela rainha. Rainha Vitória inaugurou uma nova Era
de figuras simbólicas e reforçavam os bons costumes ao contrário de outros governantes
da casa de Ranôver onde os reinados foram repletos de escândalos e descasos. Em Vitória
a nova classe média que surgia podia achar uma identificação do monarca da família onde
as imoralidades familiares eram exaltadas.
O Reinado de Vitória foi o mais longo já visto na história durando 64 anos de
(1837 – 1901).

2
Designa uma concepção da fé cristã desenvolvida na Inglaterra por uma comunidade de protestantes
radicais depois da Reforma.
19

3.3 OS DESTAQUES DAS MULHERES INGLESAS NA LITERATURA

A mulher na história da literatura inglesa teve um papel de subordinação ao


homem em diferentes épocas e sociedades. A condição feminina estava ligada a função
de reprodutora, ou seja, servia apenas para satisfazer os desejos e as vontades do sexo
masculino e a gerar prole. De acordo com Sousa e Dias (2013) essa condição aconteceu
devido a mulher ser frágil e não possuir pulso forte em relação a ser a chefe da família o
que cabia ao homem esse papel por ser uma figura autoritária perante a sociedade.
Nas sociedades matrilineares o poder era exercido pelas mulheres da comunidade
devido à organização familiar ser baseada na linhagem materna. Na família matrilinear o
homem é que deixa a sua casa e vai morar com a família da esposa e assim passa a
adequar-se a seu estilo de vida, mas isso foi logo proibido devido a casos de incestos que
estão presentes em todas as sociedades marcadas pelo processo de humanização. Prado
(2000, p.54) conclui que “Denomina-se família matrilinear aquela que identifica o
indivíduo através de sua origem materna, somente”.
Surge logo depois a família patriarcal que tem em seu contexto a mulher sendo de
domínio paterno e restrito a trabalhos domésticos. Para Engels (1987) a mulher só se
tornaria emancipada quando retornasse ao trabalho produtivo social, condição essa que
só se concluiria com o progresso da indústria moderna que permitiria a mulher trabalhar.
Para Lévi-Strauss a mulher era objeto de troca, pois com a proibição dos incestos
o homem não podia casar-se com seus laços familiares passou a estabelecer relações de
amizades com outros homens para que assim pudessem construir laços afetivos e
matrimoniais por meio de troca das suas.
A concepção da mulher no imaginário patriarcal abordado por Joseph Campbell
(1904 – 1987) traz a mitologia para explicar que o mundo era criado por uma deusa sem
ajuda de ninguém, o segundo mito está ligada a deusa criadora do universo que é
associada a um cônjuge que a destrona, o terceiro o mundo está na criação de um casal
de deuses que fazem o trabalho juntos e o quarto a criação do mundo por um Deus como
se faz presente na Bíblia. A partir dessa última há registros somente de relatos baseados
nessa concepção, a mulher deixa de participar desse universo misterioso da criação de
tudo.
Outro mito que gera destaque na Idade Média no imaginário nas narrativas sobre
as mulheres é o das bruxas. A sexualidade feminina é entendida como ameaça para a
20

razão masculina, pois, a mulher aparece obtendo acesso à arte, à ciência e a literatura. O
período conhecido como o de caça às bruxas no fim do século XIV até meados do século
XVIII generalizou-se em toda a Europa e os Estados Unidos durando mais de quatro
séculos que tinha como principal objetivo uma campanha comandada pela igreja e pela
classe dominante contra as mulheres da população rural ((EHRENREICH & ENGLISH,
1984). Sabe-se que como resultado dessa campanha várias pessoas foram julgadas e
mortas sendo que 80% eram mulheres, sendo crianças e moças que haviam herdados este
mal.
Vale ainda ressaltar que as bruxas eram as parteiras, as enfermeiras e as assistentes
que conheciam como curar os males da época através das plantas medicinais e que
passavam seus conhecimentos para suas futuras gerações. Os estereótipos das bruxas
eram caracterizados por mulheres de aparência desagradável, velhas e com mentes
perturbadas, mas também havia aquelas de beleza estonteante que haviam se recusado a
manter algum tipo de envolvimento com os homens poderosos, padres e homens casados.
As bruxas representavam para o movimento feminista não somente a resistência, força,
coragem mas a rebeldia por novas conquistas.
No século XVIII surge uma nova faceta feminina, a dona de casa, mulher santa e
mãe dedicada. Eram educadas de forma frigidas e não podiam demonstrar prazer algum,
pois era vergonhoso e coisa do Diabo. Nesse período também as instruções educacionais
aconteciam de maneira clandestina ou apenas em casa onde as mães ensinavam suas filhas
afazeres do lar. Dentre as principais características de uma moça estavam a inocência,
responsabilidade, a virtude e a fidelidade ao seu cônjuge.
A revolução industrial também contribuiu para alguns direitos das mulheres em
várias profissões, pois a mesma passa a ter direito a educação como aparece em vários
contextos históricos em particular nos romances das irmãs Brontë.
Antes do início do século IX a mulher já surgia na literatura inglesa exercendo
grande poder intelectual e cultural. Entre os anos de 1775 – 1817 surge na literatura as
obras de Jane Austen, em seus escritos traz uma profundidade marcante em seus
personagens e um heroísmo destacável no sexo feminino. Para Cevasco e Siqueira (1985,
p. 52) a obra de Austen revela que “seu mundo é o doméstico, é o das casas dos nobres e
abastados da província, cuja vida rotineira segue indiferente as convulsões sociais que
agitam a Inglaterra. No entanto, com sua narrativa sutil e seus diálogos espontâneos, Jane
Austen foi capaz de criar personagens reais, com vícios e virtudes”.
21

Segundo as autoras ao ler os romances escritos por Jane Austen provavelmente


parecerá que todo o enredo é parecido aonde a mocinha está à procura de um marido mas
o que a narrativa transparece são consequências de atos envolventes e irônicos com
sentimentalismo contidos.
A partir de seus escritos, a literatura inglesa passará por grandes transformações
marcando o ano de 1832 como o fim de um movimento que apresentará outros rumos.
Entram em cena as irmãs Brontë com o sucesso de suas obras principais Emily
Brontë com Wuthering Heights, Charlotte Brontë em Jane Eyre e Anne Brontë em Agnes
Grey.
Outra escritora em destaque foi George Eliot, pseudônimo de Mary Ann Evans
(1819- -1880). Intelectualizada, culta, George Eliot é talvez a primeira romancista
moderna, no sentido em que ela via o romance como forma de arte, e não, primeiramente,
como meio de instrução e divertimento. Com isso não queremos dizer nem que o romance
se torna arte apenas com George Eliot, nem que todas as novas tendências do gênero
podem ser encontradas em suas obras. O que temos em mente é o que pretendiam do
romance, conscientemente, os artistas que a ele se dedicaram. (CEVASCA & SIQUEIRA,
1985).

A própria Eliot, numa das influentes críticas que publicou no


Westminster Review, ataca o didatismo que persistia no romance do
século XIX. Em sua prática, Eliot trouxe para o romance uma análise
mais profunda dos personagens e a subordinação dos incidentes ao
efeito total da narrativa. É dos seus romances mais bem-sucedidos,
como Adam Bede, The Mil1 on the Floss, Silas Marner e Middlemarch,
que virão muitas das características dos romances do século XX.
(CEVASCA & SIQUEIRA, 1985, p. 61).

O livro da Elaine Showalter (1977) trouxe novas literaturas e tem como objetivo
resgatar a história de mulheres escritoras que haviam sido negligenciadas e esquecidas
pois o cunho literário predominante era do sexo masculino.
Na citação a seguir que estão presentes no seu livro lhe dá mais seguridade sobre
a sua opinião segundo Di Eddy Louis (1852) que a fraqueza da literatura feminina no
século XIX era imitar ou buscar imitar uma literatura masculina. A literatura feminina
deveria ser escrita por mulheres como mulheres, sobre as experiências pelas quais elas
passavam e sobre uma perspectiva feminina. (SHAWALTER, 1977)
22

John Stuart Mill (1869) ele disse que a dificuldade que as mulheres tinham ao
escrever era superar a influência da tradição literária masculina e também uma dificuldade
de criar uma arte que fosse independente e original “somente se as mulheres vivessem em
um pais ou em um universo só delas, elas conseguiriam escrever uma literatura toda
delas”. (SHAWALTER, 1977)
A literatura feminina do século XIX era vista em contrapartida, comparada e
sempre vista como inferior a literatura masculina, sendo considerada dominada e
opositora. Diante de tais afirmações a obra literária era vista como um grupo a parte de
segundo plano e por causa disso muitos críticos deixaram de analisar inteiramente o
conteúdo e negligenciaram as peculiaridades de cada escritora, levando em conta apenas
o que essas mulheres tinham em comum que era o fato de serem mulheres.
Ainda de acordo com a autora (1977) falar de literatura feminina de língua inglesa
automaticamente alguns nomes são remetidos como as escritoras citadas anteriormente,
mas além dessas existiam grandes outras que ficaram esquecidas e que no livro são
relembradas.
Segundo Elaine Showalter (1977) a escrita feminina passou por diversas fases e
subordinação, protesto e autonomia. E essas fases trazem motivos em comum, temas em
comum, metáforas, imagens, dramas recorrentes enfim toda a busca através do estudo da
escrita, da produção literária feminina a partir de 1832. A partir de 1840 de acordo com
autora se faz uma análise sobre a profissionalização da mulher como escritora, a mulher
escrevia apenas como um passatempo e não como profissão.
Por causa desses tipos de comentários a autora faz a seguinte indagação Por que
que a literatura escrita por mulheres foi por tanto tempo vista e analisada de uma maneira
fragmentada e parcial? Sobre isso apresenta duas hipóteses a primeira está relacionada a
crítica feminina se baseou na grande tradição que eram trabalhos sobre grandes nomes da
literatura feminina como Jane Austen e Virginia Woolf esquecendo em outros trabalhos
que eram cânones literários universais. A segunda suposição é baseada nos estereótipos
do papel da mulher, sobre o que é uma mulher, o que significa ser uma mulher, como uma
mulher deve se comportar e quais são os temas ideais para serem expostos por uma mulher
escritora. Para isso Showalter (1977) analisou diferentes subculturas femininas, entre elas
judias, negras, indo-americanas, canadenses entre outras, e o resultado da sua pesquisa
foi que a maioria passa por subculturas em três fases distintas.
Para a autora as esferas culturais é:
23

Um modelo da situação cultural das mulheres é crucial para que se


compreenda tanto como são percebidas pelo grupo dominante quanto
como percebem-se a si mesmas e aos outros. [...] No passado, a
experiência feminina que não pudesse ser acomodada pelos modelos
androcêntricos era tratada como desvio ou simplesmente ignorada
(SHOWALTER, 1994, p. 47).

A fase de imitação e internalização a escrita passa por padrões de arte e as


perspectivas sociais na tradição dominante são absorvidos e limitados. A fase de protesto
é a revolta contra os padrões dominantes e uma reivindicação por direitos dessa minoria
e por uma independência, autonomia cultural e literária. A fase seguinte é
autodescobrimento é o período em que as subculturas liberam as tradições dominantes.
Essas fase foram conhecidas como Feminine (1840 – 1880) as mulheres usavam
pseudônimos masculinos para poderem publicarem seus livros, Feminist (1880 – 1920)
fase que toda a produção era voltada para as mulheres, excluindo tudo que pertencia ao
universo masculino, Female (1920 – até os dias atuais) onde aparece a revolução do
feminino.
24

CAPÍTULO 4: A OBRA “JANE EYRE” E A AUTORA CHARLOTTE BRONTË

Para apresentar a obra Jane Eyre as autoras Cevasco e Siqueira (1985, p. 58)
descrevem da seguinte maneira:

Como apresentar a você Jane Eyre? Se dissermos apenas que se


trata de outra história de amor, estaremos fazendo o romance
parecer menor do que é. Na verdade, é uma história que, embora
previsível, tem seus encantos. Consegue também delinear com
precisão a personalidade pragmática de Jane, a jovem governanta
apaixonada pelo patrão e que pensa não ter ilusões.

A obra traz ações pensamentos e sentimentos marcados, vivenciados pela


´personagem Jane Eyre mas que reflete seus próprios anseios e a voz feminina.

Sutilmente, a autora põe em xeque alguns mitos da sociedade da época.


Alude à injustiça da posição da mulher instruída que parece só pode ser
governanta, e, mais claramente, à injustiça das limitações morais. Jane
tem que escolher entre a paixão por Rochester, seu patrão, preso a uma
esposa louca, e o casamento por conveniência com St. John Rivers, a
antítese da paixão. No final, triunfa o amor, apesar de a autora ter
providenciado a morte da esposa de Rochester, possibilitando, assim,
também o triunfo do moralismo no casamento legal entre Jane e
Rochester. (CEVASCO & SIQUEIRA, 1985, p. 58).

O livro possui aspectos romancistas pois trata de assuntos relacionados ao amor e


suas desilusões mas também tem seu lado dramático pois,

(...) não podemos deixar de afirmar que Jane Eyre é um romance


dramático e trágico. Isto é ainda mais evidente se pensarmos nos
elementos definidores de um romance dramático, de acordo com a
proposta de Muir. O cenário, constituído por algumas poucas
localidades, porém bem definidas (Gateshead Hall, Lowood School,
Thornfield Hall, Moor House, Ferndean), é estratégico para a atuação
de paixões humanas universais – amor, raiva, amizade, honra,
vergonha, culpa, orgulho, ambição, entre outras. (LIMA, 2008, p. 201 -
202).

Essa afirmação remete que Charlotte Brontë faz uma mesclagem entre os
diferentes sentimentos explorando o sentimentalismo das paixões e questões polêmicas
pois durante o enredo deixa transparecer nitidamente a força da mulher, a ousadia em se
25

jogar em questões que a autora acredita e inversamente troca os papeis pois demonstra o
lado masculino como frágil, sentimental e totalmente dependente do sexo feminino, pois
ao se apaixonar torna-se submisso dos desejos da mulher. Nas palavras de ROCHA (2008,
p. 15):

Ao enfocar tão direta e explicitamente o embate de forças entre os ideais


do masculino e, principalmente, do feminino, Charlotte Brontë
possibilita que o paralelismo vigente no século XIX entre sexo e gênero
e a crença em uma suposta essência do feminino capaz de justificar uma
postura submissa da mulher sejam não apenas examinados, como
também questionados em alguns de seus pressupostos básicos.
(ROCHA, 2008, p. 15).

No que se refere a questões sociais Santarrita (1983) define Jane Eyre como uma
narrativa sem muito rebuscamento e comum aonde a personagem luta para ser conhecida
pelo aquilo que acredita onde na Inglaterra a posição social é imposta descensionalmente
ou em movimento ascendente.
A história é contada pela protagonista Jane Eyre e se passa em espaços
diferenciados de acordo com o desenrolar da trama. No início ela vive em Gateshead Hall
onde vive com seus parentes e os quais lhe criaram desde que seu tio que possuía sua
guarda falecera. Nessa passagem a personagem sofre assédios físicos e morais por não se
comportar como as demais crianças.
Outro espaço é na escola Lowood que prepara as meninas para viverem em
sociedade patriarcal, respeitando as regras e normas da época. Nesse mesmo cenário ela
tem apoio e ajuda da sua única amiga Helen Burns e a sua preceptora Miss Temple quem
a protegia dos castigos. Miss Temple, apesar de ser uma mulher de princípios feministas,
mostra a Jane que as regras da sociedade sempre vencem:

Eu tinha aprendido alguma coisa do seu gênio e muito dos seus hábitos.
Pensava mais harmoniosamente. Parecia-me que ideias mais sensatas
povoavam o meu cérebro. Imolava-me ao dever à ordem. Vivia
tranquila e acho que contente: aos olhos dos outros, mais do que aos
meus próprios, era um caráter domado e contido. (BRONTË, 2008, p.
55)

Thornfield Hall é o espaço aonde ocorre o ápice da trama que conforme Gordon
(1997) a tradução de Thornfield é “campo de espinhos”. Da mesma forma que o nome da
casa transmite o sentimento de sofrimento, Jane também sofrerá muito ao vivenciar
26

diversas situações de provações. É possível notar que nesse espaço Jane sofre muito pela
dúvida do amor correspondido e depois por descobrir o impedimento de matrimônio com
Rochester.
Rochester é o seu par romântico na trama por quem Jane se apaixona loucamente
mas não aceita se tornar sua amante por acreditar que o mesmo lhe esconde algo, como
mostra a fala,

Eu velo por mim. Quanto mais abandonada, quanto mais sem amigos,
quanto mais desamparada estiver, mais devo me respeitar. Sustentarei
a lei deixada por Deus e sancionada pelo Homem. Sustentarei os
princípios que aprendi quando era sã, e não doida como agora. Leis e
princípios não foram feitos para as horas isentas de tentação: foram
criados para momentos como este, em que o corpo e a alma se insurgem
contra o seu rigor. São severos, devem ser invioláveis. Se pela minha
conveniência pessoal eu os pudesse derrogar, que seria da sua
dignidade? Sim, porque leis e princípios têm uma dignidade — como
sempre acreditei. E se agora hesito em cumpri-los é porque estou
alucinada — quase louca, as veias em fogo e o coração batendo tanto
que não lhe posso contar as pulsações. Os preconceitos, os ditames
antigos, são tudo o que eu tenho para me amparar neste instante. Neles
me apoiarei. (BRONTË, 2008, p. 197)

Jane Eyre é o segundo romance escrito por Charlotte Brontë, que foi publicado
em1846. O enredo conta a história de Jane Eyre, uma criança órfã que vive com a família
de seu tio que ao morrer deixou-a sob os cuidados de sua mulher. Jane é odiada por sua
tia e pelos primos. Quando Jane ainda era pequena, sua tia a manda para uma escola (uma
espécie de orfanato), onde a criança sofre muito, mas que durante os oitos anos que esteve
lá aprende o suficiente para se tornar uma professora e governanta. Com os
conhecimentos adquiridos, Jane consegue um emprego em Thornfield Hall – residência
de Mr. Rochester, por quem ela se apaixona.
Há algo de estranho na casa de Mr. Rochester que deixa Jane intrigada com alguns
acontecimentos. Porém, Jane se deixa levar pela novidade do sentimento do amor que
nunca experimentou na vida, acabando assim conquistando de vez Mr. Rochester, que até
então estava desiludido com um amor do passado. Quando Jane aceita se casar com
Rochester, no dia do casamento, ela descobre que ele já era casado e que sua mulher vivia
trancada na casa, por apresentar perturbações mentais. A história segue outro rumo
quando Jane foge de Rochester. Um tio a acolhe e logo em seguida deixa uma herança,
tornando Jane uma mulher rica. Em seguida, após um ano sem saber de Rochester, ela
27

decide ir atrás dele e descobre que ele está cego, pois a casa onde ele morava pegou fogo,
sendo assim atingido. Jane aceita-o e, por fim, se casa com ele.
Charlotte Brontë aparece juntamente com suas irmãs numa época em que a
literatura, era um campo minado para as mulheres. Com efeito, esse período era dominado
pelos homens, o que deixava à escrita e o conhecimento das mulheres à margem da
literatura, sendo obrigadas a usarem pseudônimos masculinos para poder publicar suas
obras.
Na obra Jane Eyre, Charlotte cria um personagem feminino que foge à regra do
estereótipo submisso, sem valor e mudo. O que ela vai impor nessa personagem são
características que o movimento feminista propõe, ou seja, a Jane é uma mulher forte,
com necessidades de ser independente, não querendo para si a vida de uma mulher que
se submete a tudo e a todos. Charlotte Brontë diz:

É de esperar que as mulheres sejam muito calmas; contudo, elas têm os


sentimentos iguais aos homens. Elas necessitam exercitar suas
faculdades mentais exatamente como seus irmãos requerem; elas
sofrem de um constrangimento excessivo, de uma estagnação completa,
semelhante àqueles que os homens sofreriam; é muito oprimente ouvir
seus colegas masculinos dizer que as mulheres devem se restringir a
fazer pudins, cerzir meias, tocar piano e bordar sacolas. Não é justo
condená-las ou pô-las ao ridículo se elas tentarem fazer mais ou
aprender mais do que tradicionalmente se concede à sua condição
feminina (BRONTË, [s.d.], p. 111)

A primeira onda é considerada a fase “feminina”, porque é o início do movimento


e este está ainda em formação, o que leva muitas mulheres ainda não se definirem por
completo na luta pela igualdade. Embora o foco do romance aponte para o fator
“feminista”, é visível grandes oscilações no comportamento de Jane quanto ao casamento
e a luta pela independência, representando assim, um querer libertar-se e ao mesmo tempo
um desejo de se entregar a um homem.

(...) Não me correspondera com o mundo exterior. Regulamentos


escolares, disciplina escolar, hábitos escolares e estudos, e vozes e
caras, e frases de preferências e antipatias: eis o que conhecia da vida.
E agora sentia que bastava. Nesta tarde, cansei-me da rotina de oito
anos. Quis liberdade, ansiei por liberdade. Por liberdade, murmurei uma
prece- e tive a sensação de que ela se desfazia ao vento que soprava
lânguido. Abandonei-a e construí uma súplica humilde: pedindo
mudança, pedindo estímulo. E também está súplica me pareceu fundir-
se no espaço vago. - Então – bradei, meio desesperada- dai-me pelo
menos uma servidão diferente! (BRONTË, [s.d.], p.62)
28

4.1 AS PERSONAGENS E AS ESCRITORAS BRONTË

As irmãs Brontë conhecidas como Charlote Brontë (1816-1855), Emily Jane


Brontë (1818-1848) e Anne Brontë (1820-1849) foram três romancistas que tiveram
grande influência na literatura inglesa por escreverem o que jamais outras mulheres
pensariam em imaginar na sociedade em que viviam naquela época. Eram filhas de
Patrick Brontë e Maria Branwell, ele um sacerdote anglicano irlandês também poeta,
escritor e polemista e ela era filha de uma família de classe média alta sendo considerada
uma mulher educada e devota. Os dois tiveram seis filhos, cinco mulheres e um homem.
Entre eles Maria que faleceu aos 11 anos, Elisabeth que falecera aos 10 anos e Patrick
que faleceu aos 31 anos e as demais filhas Charlotte, Emily e Anne foram criadas por
Elisabeth Branwell, Irma mais velha de Maria que morreu vítima de câncer do útero.
Com a educação advinda de Elisabeth as meninas foram à aritmética, o alfabeto e
a costura, mas sempre as instruiu a ter o gosto pela leitura, mas como não podia fugir à
regra também eram educadas para servir aos homens “a única forma de essa mulher
submissa ter uma vida confortável era se casando, assim seu dote e sua vida saiam dos
cuidados do pai para os cuidados do marido. (...) casava com quem seu pai lhe ordenasse”
(DUTRA, p.201.)
Segundo Santos (1999) após a morte de Maria Branwell, uma sua irmã solteira
mudou-se para a residência dos Brontë, para cuidar das crianças, mas naturalmente não
conseguiu substituir a mãe. As quatro crianças sobreviventes, as três futuras escritoras e
um rapaz, tiveram uma infância infeliz. Charlotte e Emily frequentaram a escola durante
algum tempo, mas, após a morte das duas filhas mais velhas, o pai trouxe-as para casa,
com a intenção de educá-las ele próprio. No entanto, parece não se ter empenhado muito
nessa tarefa, que, no essencial, ficou a cargo das duas crianças mais velhas.
Com o papel de se auto educarem e a sociedade preconceituosa as irmãs Brontë
se apegaram a escrever histórias e poemas além de compor revistas. Nesse tempo
Charlotte criou o mundo imaginário de Angria e Emily e Anne criaram o mundo
imaginário de Gondal, eles escreviam poemas e histórias relacionadas aos mundos
criados. Emily nunca abandonou o seu mundo imaginário e escreveu sobre ele até a sua
morte.
Charlotte ainda publica mais dois livros. Shirley em 1849 e Villette em 1853. Foi
com a publicação de Shirley que o público conheceu a verdadeira identidade da autora e
Charlotte ganhou notoriedade nos círculos literários, com a publicação de Villette sua
29

fama apenas aumentou. Ela passou a administrar o espólio3 cultural de suas irmãs já
falecidas, cuidando pessoalmente da segunda edição dos livros das irmãs.
Em 1852 recebeu um pedido de casamentos, inesperado por parte de o pároco
auxiliar de seu pai, Sr. Arthur Bell Nicholls. No início relutou em aceitar, mas devido à
insistência dele acabou por concordar. Contraíram núpcias em 29 de Janeiro de 1854. O
casamento foi muito feliz, m as curto porque Charlotte faleceu no ano seguinte também
de tuberculose quando estava nos primeiros meses de gravidez.
Seu romance The Professor foi publicado postumamente em 1857 depois da
aprovação de seu marido que editou e reviu a obra.
Entrando em contato com a s obras das irmãs Brontë foi impossível não notar o
quanto a vida delas influenciou na criação de suas obras. Os fatos mais marcantes ficaram
imortalizados na sua literatura.
Charlotte não poupou suas experiências como preceptora quando escreveu Jane
Eyre, assim como sua irmã Anne quando escreveu Agnes Grey. O romance de Anne é
praticamente autobiográfico e linear, descreve a vida solitária e as humilhações sofridas
por uma preceptora, deixando em segundo plano a trama amorosa.
Já a trama de Charlotte é mais rica, além de abordar os aspectos da vida de uma
preceptora, a autora se preocupou muito com a trama amorosa envolvendo a personagem
principal e as reviravoltas que a vida dela teve no decorrer da história. Algo que chama
muita atenção é a descrição que ela faz da escola de Lowood onde a protagonista foi
mandada na infância, a inspiração de Charlotte foi a escola onde ela e suas irmãs foram
estudar, Clergy Daughters School em Cowan Bridge. O rigor do tratamento dado às
alunas, com castigos físicos inclusive, aconteciam na escola.
O outro romance de Anne, The Tenant of Wildfell Hall, chocou a sociedade
puritana inglesa porque contava a história de uma mulher que fugia do marido por não
mais suportar os maus tratos e se u vício em álcool. A personagem do marido foi inspirada
em seu irmão e sua vida desregrada que causava muito sofrimento e dor para ela e suas
irmãs, Branwell era viciado em álcool e ópio e acabou morrendo em decorrência disso.
Quando Charlotte se dedicava ao manuscrito de Shirley perdeu seus três irmãos e
por isso a história sofreu modificações em decorrência dessas tragédias. O romance reflete
bem esse período tem o foco mal direcionado, é mais angustiante, cheio de dúvidas.
Acredita-se que as personagens principais foram inspiradas em suas irmãs, Caroline

3
Conjunto de coisas que são tomadas ao inimigo numa guerra; despojo.
30

Helstone f oi baseada em Anne e Shirley Keeldar em Emily. Recebeu as mais variadas


críticas e menos elogio principalmente em comparação a Jane Eyre, mas os críticos
reconheceram sua originalidade.
Quando escreveu The Professor e Villette, Charlotte representou o período da sua
vida em que permaneceu no Pensionato Héger por dois anos. Apesar de o romance The
Professor ter sido publicado postumamente, ele f oi escrito antes de Jane Eyre, mas foi
rejeitado pelas editoras. Charlotte então trabalhou novamente e em cima do material fez
a base do romance Villette, Esse é considerado o romance mais maduro e complexo da
autora. Com medo de ser julgada, Charlotte pede para publicar o romance de forma
anônima, nessa época ela já era reconhecida por suas obras literárias. Acredita-se que a
personagem do professor M. Paul Emanuel de Villette foi baseado em Constantin Héger,
dono do pensionato em que estudou.
Emily, ao contrário de suas irmãs, escolheu transcender a sua realidade. Os traços
metafísicos de seus poemas e de seu romance é o que faz a diferença nos escritos de Emily
e faz com que ela oscile entre o mundo espiritual e o mundo real. Um dos motivos que
fez a poesia dela atingir o grau metafísico foi a saudade que sentia de casa e das cenas
domésticas enquanto estava trabalhando longe. Mas Bentley discordava do que os demais
estudiosos diziam sobre os escritos de Emily, para ele:

Tem estado na moda chama-la metafísica, mas eu prefiro chama-


la de panteísta; ela viu o universo como um todo..., a natureza do
ser e o próprio Deus todos como parte de uma grande harmonia...
ela escreve com uma certeza majestosa e quase casual.” (Bentley,
1979 apud Dias)

Não havia muitas mulheres que chegavam a publicar livros, a pesar de que nessa
época Jane Austen já havia publicado todos seus romances. As autoras não compunham
o cânone literário ocidental.
Os escritos de mulheres sofriam preconceito, os assuntos eram considerados
domésticos demais. Os críticos d a época baseavam seu julgamento no acesso limitado
que as mulheres tinham. Os assuntos abordados pelas autoras tinham ligação ao seu
universo, sobre as limitações de seu espaço. Tratava-se de um protesto contra as
imposições culturais que sofriam.
As irmãs abordam a figura feminina livre de qualquer estereótipo pré-estabelecido
pela tradição literária. São mulheres muito distintas e com forte personalidade que lutaram
para manter suas convicções. Cada irmã aborda a figura feminina de uma forma e
31

diferentes graduações do ideal feminista, um reflexo da personalidade de cada uma delas.


Analisando suas obras é possível perceber essa s nuances feministas que compõem os
romances das irmãs inglesas.
Das irmãs, Anne foi a que escreveu o romance mais ligado à o feminismo, ele
expunha uma verdade crua e rasgada sobre as uniões que aconteciam na Inglaterra
vitoriana. Sua obra chocou toda a sociedade da época e chocou inclusive sua irmã
Charlotte que não permitiu que fosse novamente publicada após sua morte.

.
32

CAPÍTULO 5: RESULTADOS E DISCUSSÃO

A obra Jane Eyre retrata o pensamento feminino sobre a condição da mulher na


sociedade inglesa do século XIX e sua posição frente a questões culturais e sociais desse
período. O romance mostra a contribuição da mulher para o seu crescimento relevante na
sociedade e também para o quadro literário pois, influencia na visão histórica que se tinha
da figura da mulher, como sendo apenas submissa e dependente do sexo masculino.
A pesquisa foi baseada na reflexão do protagonismo da mulher na sociedade
inglesa no papel da mulher vivente da Era Vitoriana em que se passava o contexto
histórico abordando o romance na perspectiva literária e analisando os aspectos urbanos
e emocionais que envolveram a natureza feminina.
Os capítulos abordados durante o trabalho mostram que a condição da mulher era
imposta pelo patriarcalismo, ou seja, ocupava um papel secundário sendo considerada
apenas um objeto. Mulher, escrita e literatura também se fazem presente nas seções
reforçando a ideia da contribuição da sua identidade alicerçada a conquista de espaço e
persistência pelos seus ideais, lutando pelos seus direitos de igualdade para uma
sociedade mais justa.
Os dados analisados no capítulo sobre a literatura e o papel da mulher na sociedade
inglesa mostraram que o sexo feminino teve pouco espaço porque a mesma durante muito
tempo esteve confinada a um ambiente sem muito contato com o exterior e que isso de
certa forma provocou um estado de indagações sobre a sua condição. Mas afinal de contas
como essa identidade da mulher passou a ser definida?
Para Funck, (2011, p. 67) a mulher é um ser subjetivo e sua formação depende do
meio em que a mesma esta inserida. Quanto a isso ele esclarece:

Afinal, o que é mulher? Muito provisoriamente, eu diria que uma


mulher é um indivíduo cuja subjetivação ocorre dentro de normas e
comportamentos socialmente definidos como femininos pelo contexto
cultural em que se insere, seja aceitando-os ou rebelando-se contra eles
[...] precisa ser biologicamente uma fêmea? Acredito que não, embora
reconheça que a polaridade que a ciência historicamente construiu para
os corpos humanos dificilmente permita uma subjetivação fora das
normas do sexo biológico (FUNCK, 2011, p. 67).

Outra definição sobre o conceito de mulher é encontrada nas palavras escritas


Beauvoir (1986, p. 13):
33

Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico,


psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no
seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto
intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de feminino.
Somente a mediação de outrem pode constituir um indivíduo como um
Outro.

A distinção biológica que se faz entre homem e mulher no pensamento de


Beauvoir está associada a necessidade de se entender e compreender a diferença vista
como sendo da mulher em relação ao homem predominante na sociedade. Para ele
ninguém nasce com qualquer tipo de rotulação (mulher, escravo, negro, etc) mas sim a
mulher é o resultado do contexto social em que nascemos ou até mesmo a classe social
ao qual pertencemos.

Telles (1997, p. 403) pontua que:

O discurso sobre a “natureza feminina”, que se formulou a partir do


século XVIII e se impôs à sociedade burguesa em ascensão, definiu a
mulher, quando material e delicada, como força do bem, mas, quando
“usurpadora” de atividades que não lhe eram culturalmente atribuídas,
como potência do mal. Esse discurso que naturalizou o feminino,
colocou-o além ou aquém da cultura. Por esse mesmo caminho, a
criação foi definida como prerrogativa dos homens, cabendo às
mulheres apenas a reprodução da espécie e sua nutrição.

Percebe-se diante das palavras da autora que a representação da mulher para a


sociedade capitalista do século XVIII foi rotulada como uma pessoa que possui duas
personalidades ocupando um mesmo corpo. Em um momento é definida como um ser do
bem pois apresenta-se com docilidade e fragilidade e em outro momento como um ser
maligno que se apodera daquilo que não lhe pertence ou cometendo atitudes ilícitas.
Diante de tal citação a definição que primeiro estabeleceu-se foi de que as mulheres
nasceram para serem propagadoras da espécie.
No contexto literário tem-se a questão da participação da mulher através dos
escritos. É necessário ainda afirmar que a escrita feminina não é diferente da escrita
masculina, onde os escritores usam seu feminino para compor romances onde a mulher
escreve de uma maneira mais objetiva, tornando-se variável em ambos os casos.
34

A literatura para a mulher do século XIX permitia o acesso sobre várias questões,
ambientes e assuntos da sociedade permitindo expor aquilo que lhes afligiam ou
inquietavam, era uma maneira de se libertar das amarras e proibições da época. A voz
feminina começa a aparecer mesmo que seja através de pseudônimos masculinos, pois
uma mulher só poderia escrever com a permissão do marido.
A literatura predominante na Inglaterra no século XIX foi o romance, que teve
como principais escritoras Jane Austen e Hardy e as Irmãs Brontë que trazias. As ações
executadas das personagens numa narrativa de sentido e emoção mas não apresentava um
mundo ilusório de mocinha mas sim um romance plenamente realista. Sobre isso Kamita
(2006, p. 283) afirma “alterar o tom dos velhos discursos é um dos objetivos da crítica
literária feminista, no sentido de garantir a incursão das mulheres na literatura, incursão
de fato e de direito”. Esse pensamento marcante está também expressa no livro
Vindication of the Rights of Woman escrito por Mary Wollstonecraft (1972) que faz
entendermos como é importante resistir, para ela se não há avanço pelo menos que haja a
resistência.
Ainda sobre as dificuldades encontradas em relação ao espaço feminino no mundo
das letras Kamita (2006, p. 286) diz:

A literatura foi, portanto, especialmente para as escritoras nascidas no


século XIX, um ato de rebeldia, pelo fato de que ela era educada para
não questionar, mas obedecer, e agir não de acordo com suas próprias
vontades, mas segundo que os outros esperavam dela. Esse tradicional
silêncio seria quebrado nas palavras.

Neste trecho Rosana Kamita demonstra a não conformidade da mulher sobre a


condição em que vivia reagindo a sociedade da época através dos escritos, onde esse
comportamento não fazia parte do seu processo de educação recebido pela família ou seus
preceptores.
A Era Vitoriana foi considerada um período de intensa atividade literária
especificamente no que se mostra a figura da mulher
Na obra Jane Eyre (1847), publicado no século XIX, a história acontece em dois
momentos. No primeiro gira em torno de uma personagem que sofre na infância por não
aceitar as opiniões e decisões impostas pelos mais velhos e não aceitava a forma de
tratamento como era criada pela família do seu falecido tio que a adotou sofrendo maus
tratos como fica explicito na passagem do texto abaixo:
35

Ele atirou-se contra mim, senti que agarrava meu cabelo e meu ombro:
estava desesperado. Via nele um tirano, um assassino, de verdade. Senti
que algumas gotas de sangue da minha cabeça desciam pelo pescoço e
me dei conta do agudo sofrimento que enfrentava. Tais sensações foram
mais fortes do que o medo e eu o enfrentei de modo desvairado. Não
sei exatamente o que fiz com as mãos, mas ele gritava “rata! rata!” em
altos brados. (JANE EYRE, 2010, P. 14)

Neste trecho Jane com apenas com 10 anos sofre abusos do primo por ter pego
um livro na estante da família, sendo chamada por John seu primo de 14 anos como uma
“dependente” por apreciar a prática da leitura. Mesmo sem cometer nenhuma
arbitrariedade Jane Eyre era acusada por qualquer coisa que pudesse vir acontecer como
descreve nessa narrativa.

Ele me intimidava e me batia, não duas ou três vezes na semana, não


uma ou duas vezes por dia, mas continuamente. Todos os meus nervos
o temiam, e cada músculo do meu corpo se contraía quando ele se
aproximava. Havia momentos em que eu ficava atordoada com o terror
que ele me inspirava, pois não tinha a quem apelar contra suas ameaças
ou castigos. (JANE EYRE, 2010, p. 13)

Depois Jane Eyre é transferida a escola de meninas Lowood onde descreve as


habitações como sendo frias, água gelada, as crianças dormiam em um recinto em grupos
e utilizavam as vestimentas iguais. Segundo a personagem o dono da escola e as
professoras eram muito rigorosos, as alunas sofriam castigos e humilhações.

O único evento marcante da tarde foi que vi a menina com quem


conversara na varanda ser dispensada da aula de história por Miss
Scatcherd, e como castigo foi mandado que sentasse no meio da enorme
sala de aula. A punição me pareceu degradante em excesso,
especialmente para uma menina tão crescida... ela me parecia ter treze
anos ou mais. Achei que daria sinais de grande sofrimento e vergonha,
mas, para minha surpresa, ela não chorou nem ficou ruborizada.
Manteve-se ali no centro da sala, composta e grave, suportando os
olhares de todas. (JANE EYRE, 2010, p. 51).

Nesse pensamento nota-se a insatisfação de Jane com o castigo aplicado em uma


das meninas mostrando o amadurecimento de uma criança com apenas 10 anos que sabia
distinguir o certo do errado. Ao comentar sobre essas situações com a sua amiga Hellen
a mesma responde: “Ainda assim, seria sua obrigação suportar, se não tem como evitar.
É tolice e fraqueza a gente dizer que não suporta algo que o destino quer que suportemos.”
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(JANE EYRE, 2010, p. 55). A autora Charlotte Brontë ao abordar a fala da personagem
Hellen remete a opinião da sociedade na época. A de que a mulher deveria suportar
qualquer condição que fosse submetida sem direito a alegar qualquer que fosse a situação.
Como comenta Perrot (2005, p. 171) que o destino da mulher estava moldado ao século
XIX “o destino da mulher é a família e a costura [...]. Ao homem, a madeira e os metais,
à mulher a família e os tecidos”.
Outra passagem que expressa a doutrina e mostra que eram ensinadas a tornar-se
inferior ao homem é o que mostra esse trecho:

Observem que ela ainda é uma criança. Vejam que possui a forma de
uma criança normal. Deus graciosamente lhe deu a mesma forma que
deu a todos nós. Nenhum sinal denuncia que é um caráter marcado.
Quem poderia dizer que o próprio demônio achou nela uma seguidora
e agente? Todavia, lamento dizer, essa é a verdade. (JANE EYRE,
2010, p. 64).

Acima Brontë descreve o castigo que era acometido as meninas em circunstâncias


fúteis como é o caso onde Jane ao derrubar um objeto sem querer no momento de uma
das aulas na presença do Mr. Brocklehurst ao qual faz Jane Eyre passar por humilhação
em frente a todos. Ela é obrigada a ficar em cima de um banco por horas para castigar o
corpo e salvar sua alma.
A história passa para um segundo plano onde mostra Jane Eyre na fase adulta em
que formou-se em professora e estava desesperada por mudanças. Segundo a personagem
queria ver mais do mundo e ansiava pela liberdade. Por isso anuncia no jornal:

“Jovem dama acostumada a lecionar (eu não havia sido professora por
dois anos?) deseja encontrar colocação em casa de família com crianças
abaixo de quatorze anos (pensei que, como mal tinha feito dezoito anos,
não seria possível educar crianças quase da minha idade). Está
qualificada a ensinar as matérias usuais da boa educação inglesa, além
de francês, pintura e música (naquela época, leitor, essa relação de
habilidades que agora parece pouca, era considerada bastante
abrangente). Respostas para J.E., Posta Restante – Lowton, Condado
de... (JANE EYRE, 2010, p. 82).

Nessa citação Charlotte Brontë descreve quais eram os atributos concedidos a


mulher através de uma educação rígida pautada nos valores éticos e morais. É possível
notar em sua narrativa que as mulheres dependiam do seu comportamento para serem
aceitas, ou sejam, recatadas e do lar.
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Logo após Jane é aceita em Thoerfield para ser preceptora de uma menina francesa
que deveria ter aulas de inglês para se comunicar com as pessoas da Inglaterra. Mesmo
sentindo-se bem e acolhida em sua nova morada Jane apresentava uma inquietação e
achava que a vida ainda poderia ser melhor que aquilo.
Isso fica evidente na fala da personagem:

(...) olhando em direção às montanhas e campos e mais além da vaga


linha do horizonte... que eu aspirava um poder de visão que pudesse
transpor aquele limite. Que atingisse o mundo movimentado, as cidades
e regiões trepidantes de vida de que ouvira falar, mas nunca vira. (JANE
EYRE, 2010, p. 101).

Em outro pronunciamento relata (JANE EYRE, 2010, p. 102):

Supõe-se que as mulheres devem ser bem calmas, geralmente, mas elas
sentem o mesmo que os homens. Precisam de exercício para suas
faculdades mentais, e campo para os seus esforços, tanto quanto seus
irmãos. Sofrem com restrições muito rígidas, com a estagnação
absoluta, exatamente como os homens devem sofrer na mesma situação.
E é uma estreiteza de mente de seus companheiros mais privilegiados
dizer que elas devem ficar limitadas a fazer pudins, tricotar meias, tocar
piano e bordar bolsas. É insensatez condená-las, ou rir delas, se
procurarem fazer mais ou aprender mais do que o costume determinou
que é necessário ao seu sexo.

As passagens retiradas nas falas da protagonista revelam seu desejo de conhecer


o que seus olhos não conseguem alcançar. A liberdade sonhada pela protagonista transpõe
o medo do desconhecido pois apesar de não conhecer o mundo mas somente aquilo que
ouviu falar é capaz de ansiar pelo novo como forma de demonstrar total encorajamento
para isso.
Essa coragem mantida pela Jane desde do início do enredo cresce ao longo dos
capítulos e ao conhecer Mr. Rochester que se tornará o amor da sua vida essa bravura
torna-se ainda mais presente como retrata o trecho a seguir em uma conversa sobre uma
viagem em que a personagem teria que fazer para visitar a mulher do seu tio que desejava
vê-la:

– Quando pretende ir? – Amanhã bem cedo, senhor. – Bem, precisa de


algum dinheiro. Não pode viajar sem dinheiro, e acho que não possui
muito. Ainda não lhe paguei o salário. Qual é a sua fortuna neste
mundo, Jane? – perguntou Mr. Rochester, sorrindo. Abri a minha bolsa,
que era bem magra. – Cinco xelins, senhor. Ele pegou a bolsa, pesou o
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tesouro na palma da mão e começou a rir, como se a sua escassez o


divertisse. Pegou então sua própria bolsa. – Tome – disse ele,
oferecendo-me uma nota. Era uma cédula de cinquenta libras, e ele me
devia apenas quinze. Disse-lhe que não tinha troco.
– Não quero troco, você sabe disso. São os seus ordenados. Recusei
receber mais do que me era devido. Ele ficou zangado no início. Depois,
como se lembrasse de alguma coisa, disse: – Certo, certo! É melhor não
lhe dar tudo agora. Você poderia ficar três meses fora, se tivesse
cinquenta libras. Tome dez, então. Não é o bastante? – Basta sim, mas
agora o senhor me deve cinco. (JANE EYRE, 2010, p. 200 – 201).

Percebe-se na fala da Jane a sua posição quanto a não deixar que a última palavra
seja do seu patrão ao qual tem pretensão de achar que a sua funcionária é propriedade
dele por oferece-la emprego, moradia e pagar seu salário. Esse fator também aparece logo
após eles se conhecerem, na ocasião Rochester é obrigada a tocar piano para mostrar as
usas habilidades para o senhor ficando ofendida com a sua dureza mas permanecendo
obediente apesar de responde-lo sempre educadamente.
Rochester ao falar com Jane diz que ela deveria aceitar as suas ordens pois o
mesmo pagava-lhe o salário e Jane respondeu-lhe “com respeito”. Esse fragmento mostra
a posição da personagem em retribuir os seus pedidos desde que o mesmo não faltasse
com a devida deferência ao qual ela não estava acostumada a receber mas que sempre
lutou para conquistar.
A partir daí Rochester começa a se afeiçoar pela sua futura amada. Em seus
pensamentos Jane é uma espécie estranha e isso fico exposto ao declarar esse sentimento
a ela que recebe essas palavras como um elogio.
Durante a história Rochester esconde um segredo. Além de estar noivo de outra
mulher. Quando ao passar uma temporada na mesma casa que Jane trabalhava a noiva de
Rochester passou a sorrir e criticar Jane por ser uma preceptora e solteira desprezando
totalmente a posição que a empregada se encontrava e não estava nos padrões
acostumados pelas mulheres do seu tempo. Por isso Jane se julga por ter entregue seu
coração a uma pessoa alheia a sua posição. “Você pensa porque sou pobre, não tenho
coração?”
Quando Jane ganha o coração de Rochester ele a leva para comprar tecidos e quer
enfrenta-la para demonstrar sua beleza. Nesse momento ela recusa “não sou uma beleza,
sou Jane Eyre” (JANE EYRE, 2010, P.231). É notório o leitor perceber a intenção da
autora ao abordar esse assunto na trama reafirmando a sua posição de mulher e que queria
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ser reconhecida pelas suas qualidades e não apenas como um objeto de decoração ou
suscita admiração para ele ou para a sociedade.
Durante todo o desenrolar da trama acontece o romance amoroso entre Jane e
Rochester e acontecimentos que despertam o interesse do leitor pois rompe com os
valores clássicos e confronta a corrente literária inglesa reforçando uma impressionante
mudança no comportamento e pensamento abrindo espaço para o surgimento de um estilo
diferentes de escritoras.
O livro Jane Eyre traz uma personagem forte que chama particularmente a atenção
pois a verdade sobre seus sentimentos é respondida veementemente de acordo com os
seus anseios e criticidade. O enredo apesar de ser um história longa esta correlacionado
mesmo ao título pois mostra o cotidiano da vida de Jane Eyre revelando seus sentimentos
e emoções trazendo uma realidade para a história. Percebe-se como a autora dialoga com
o leitor “Um novo capítulo num romance é como um novo ato numa peça teatral. E desta
vez, quando eu levantar a cortina, leitor, deve imaginar que está num quarto da
Hospedaria George, em Millcote” (Jane Eyre, 2010, p. 88).
Para a autora “o potencial literário ocorrido na narrativa foi que Brontë havia
desperdiçado ao deixar visível a sua indignação e raiva, por sua condição do feminismo
o que acabou abandonando a história que merecia toda sua concentração”. (WOOLF,
2004, p.82). Na perspectiva de Woolf, Charlotte Brontë demonstrou tanto a luta pelo
direito da mulher ao mostrar um lado feminino forte, inteligente e moderna, ou seja, uma
mulher à frente do seu tempo que acabou perdendo o foco que seria a contação da própria
história deixando a desejar na sua obra literária.
Em Jane Eyre, Charlotte Brontë fala através da sua personagem sobre as mudanças
ocorridas na sociedade expressando os valores, anseios e dificuldades encontradas na
Inglaterra e que gera possibilidades de leitura e escrita através desse gênero para alavancar
a voz de um determinado grupo que ganhou espaço e exercendo fascínio para seus
ledores.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Jane Eyre se destacou como uma obra que revelava a mulher, enquanto ser
oprimido, que vivenciou a luta por dias melhores para o seu gênero. A mulher que travou
e que ainda hoje trava batalha por seu espaço no âmbito social, político e cultural.
As discussões de feministas sobre a obra de Brontë mostram como as mulheres
tiveram que percorrer uma longa trajetória para poder realizar atitudes como: votar,
trabalhar e principalmente mostrar-se nos mesmos direitos em relação ao homem.
Procuramos indicar fatores que coibiram a mulher de se manifestar como indivíduo
participante e atuante nas sociedades, buscando sempre obter a igualdade junto ao seu
sexo oposto. O que muitos identificam como feminismo, outros se arriscam chamar de
auto afirmação da mulher e, dentro dos estudos apresentados tanto nas teorias literárias
quanto na obra Jane Eyre, a questão da emancipação da mulher está vinculada a uma
busca pela igualdade de direitos e escolhas.
A pesquisa possibilitou um estudo avançado nesse tema e proporcionou entender
como funcionava o universo feminino no século XIX no contexto da Era Vitoriana na
Inglaterra. Entretanto a Inglaterra se desenvolveu social, cientifica e economicamente
nesse período mais do que em qualquer outro.
Na história a personagem feminina mostrou uma personalidade forte que falava o
que pensava e que por isso passou por várias situações que faz com que a narrativa não
seja classificada apenas como um romance mas que traz elementos de drama, critica a
sociedade e mistério, com aspectos góticos e sobrenaturais. O livro também abordou
assuntos que não estavam presentes nos diálogos da sociedade vigente entre elas a loucura
e a bigamia.
Charlotte Brontë trouxe nos seus escritos um pouco da sua própria realidade
ocasionando uma intertextualidade entre a personagem Jane Eyre e a si mesmo. Durante
o seu discurso fica notório a questão feminista, o fato de que ela não tem o casamento
como prioridade e que seu oposto a respeite como ela é sem ter que mudar para satisfazer
o sexo masculino.
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REFERÊNCIAS

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práticas. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2004.
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ANEXOS
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CAPA DO LIVRO JANE EYRE

AUTORA DO LIVRO: CHARLOTTE BRONTË

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