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Anais Do Campo Lacaniano - Os Tempos Do Sujeito Do Inconsciente PDF
Anais Do Campo Lacaniano - Os Tempos Do Sujeito Do Inconsciente PDF
05 e 06 de julho de 2008
São Paulo ▪ Brasil
ANAIS DO ENCONTRO
ANAIS DO V ENCONTRO INTERNACIONAL DA IF-EPFCL
Internacional dos Fóruns-Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano
05 e 06 de julho de 2008 ▪ São Paulo (Brasil)
2
ÍNDICE
APRESENTAÇÃO
Atualidade
Colette Soler .................................................................. 06
▪ PRELIMINARES
1. Os tempos do sujeito do inconsciente 8. O evasivo do inconsciente e a certeza do
Dominique Fingermann ................................................. 09 parlêtre
2. Do tempo Marc Strauss ................................................................. 21
Daniela Scheinkman Chatelard ..................................... 10 9. A psicanálise em seu tempo
3. Agora nosso tempo Christian Dunker. .................................................... p. 23
Ramon Miralpeix .......................................................... 12 10. O inconsciente e o tempo
4. Em prelúdio Sidi Askofaré ............................................................ p. 25
Bernard Nomine ............................................................ 14 11. Tempo: Lógica e Sentimento
5. Perante o sintoma todo relógio é mole Sol Aparício .............................................................. p. 27
Antonio Quinet ............................................................. 15 12. O tempo do Analista
6. A transferência é a intrusão do tempo de Ana Martinez ........................................................... p. 29
saber do inconsciente 13. Après-coup
Lydia Gómez Musso ..................................................... 17 Guy Clastres ............................................................. p. 31
7. O manejo do tempo
Gabriel Lombardi .......................................................... 19
▪ PLENÁRIAS
1. O TEMPO NA ANÁLISE O tempo de Laiusar
O “tempo” de uma análise Antonio Quinet ............................................................. 65
Dominique Fingermann ................................................. 33 Le temps, pas logique
Le “tempo” d’une analyse Colette Soler ................................................................... 69
Dominique Fingermann ................................................. 36
La prisa y la salida 4. EFEITOS DO TEMPO
Luis Izcovich ................................................................. 40 Le temps: um objet logique
La cita y el encuentro Bernard Nominé ............................................................ 73
Gabriel Lombardi .......................................................... 46 Tempo e entropia
Sonia Alberti ................................................................. 77
2. O TEMPO DO ATO
Repetir, rememorar e decidir: a análise entre o 5. O TEMPO E O SUJEITO
instante da fantasia e o momento do ato L’etoffe du zero - La topologie et le temps
Ana Laura Prates ......................................................... 51 Françoise Josselin ........................................................... 84
Repetir, recordar y decidir: el análisis entre el Tu/er le temps
instante del fantasma y el momento del acto Martine Menès .............................................................. 87
Ana Laura Prates ......................................................... 56
Le temps du désir, lês temps de l’interprétation, le
temps de l’acte 6. TEMPO ATUALIZADO
Marc Strauss ................................................................. 61 El sin tiempo de la histeria hipermoderna
Carmen Gallano ............................................................ 91
La liberté ou le temps
3. O TEMPO QUE FALTA (Il faut le Mario Binasco ............................................................... 95
temps)
MESAS SIMULTÂNEAS
Tempo e estrutura
Tempo e ser segundo a Ontologia de Martin O Conceito de Tempo, do Misticismo aos dias
Heidegger Modernos
José Eduardo Costa e Silva .......................................... 344 Elcio Abdalla .............................................................. 350
Atualidade
Colette Soler
Tradução: Silmia Sobreira
PRELIMINARES
Do tempo
Daniela Scheinkman Chatelard
empo: é preciso. “É preciso lhes o sentido das necessidades por vir”[3]. É
tempo para fazer-se ser”[1]. preciso tempo! Lacan já nos dizia: é preciso
articula-se daquilo que do ser vem ao dizer" num traço do sujeito. A locução futuro
[5]. anterior significa que, num a-posteriori, um
Podemos assim nos remeter à clínica, sentido é dado ao anterior.
ao desejo do analista. O desejo do analista --------------------------------------------------------
implica escutar o que o tempo a-posteriori NOTAS
vivido no presente traz como efeito [1] Lacan. in Radiophonie (1970). In: Scilicet
2/3.Paris:Seuil, (1970, p.78).
retroativo da antecipação que traçou o [2] Santo Agostinho. As confissões. Livro 11, cap.
destino do sujeito a partir da escrita deixada XIV.Tradução de Frederico Ozanam Pessoa de
em seu ser de objeto do desejo do Outro. Barros. Rio de Janeiro: Ed. De Ouro, 1970.
Desejo do analista a partir do qual ele opera [3] Lacan. Função e campo da palavra e da
sua escuta, possibilitando que a escrita de seu linguagem…, in: Escritos, p. 257.
[4] Lacan, J. in Radiophonie, p. 78 in Scilicet 2/3,
analisante torne-se, enfim, sua própria escrita, Seuil, Paris, 1970.
tornando o tempo do futuro anterior que [5] LACAN J. Radiophonie en Scilicet 2, p. 79, Seuil,
antecipara seu destino num momento de Paris.
concluir e transformando, assim, essa escrita
om este título quero colocar uma pergunta pertinente é por quais saberes
em destaque algo de comum queremos ser “reconhecidos” para fazer com
que envenenou a dialética sobre os pares que preconceito vamos abordar agora o
hierarquia/gradus e associação/escola; e passo à outra etapa em nosso percurso?
outro que, na falta de outro nome melhor, Esperamos poder estar avisados um pouco
chamarei o preconceito “democrático” ou antes do momento de concluir.
“de igualação”, que pesou sobre as estruturas --------------------------------------------------------
institucionais e sobre a Escola[3]. NOTAS
Contudo, graças à ela e apesar dela, [1] Ver em Freud, S. Psicología de las masas y análisis
del yo. (1921) Outras apreciações da vida anímica
agora temos um campo, o Campo Lacaniano coletiva. Ammorrortu. Vol XVIII; em Lacan, J.
e temos uma Escola, com seus membros e Seminario VIII La transferencia. Clase 28. El analista y
seus colegiados com suas funções bem su duelo. 28 de Junio de 1961.
definidas. Também estamos em outro [2] “Pero la objetivación temporal es más difícil de
momento: creio que, no geral, corrigimos os concebir a medida que la colectividad crece, y parece
obstaculizar una lógica colectiva con la que pueda
preconceitos citados, de forma que não completarse la lógica clásica.” Lacan, J. Escritos (I)
vemos os elementos dos binômios “El tiempo lógico y el aserto de certidumbre
mencionados como opostos e em luta, ou anticipada. Un nuevo sofisma” (p 202).
seja, não nos arrepiamos por pensar que [3] PREJUICIO: “Opinión previa y tenaz, por lo
nossa Escola possa ser uma associação, ou general desfavorable, acerca de algo que se conoce
mal”. (Diccionario de la RAEL). En ambos casos esta
uma hierarquia associativa melhor opinión y mal conocimiento estuvieron determinados
estabelecida; do mesmo modo, podemos por la confusión entre “jerarquía” y “una jerarquía”
pensar num Um de orientação – ainda que concreta, y entre dirección asociativa y orientación.
seja um Conselho – não igual em sua função
ao demais uns. A pergunta, neste caso é: com
Em prelúdio...
Bernard Nominé
Tradução: Sílmia Sobreira
rápida do doente para que ele volte logo ao desastre e ao terror. A psicanálise não deve
mercado de trabalho e ao consumo não se adaptar ao discurso capitalista com o
seria estar ao serviço do discurso empuxo-à-fama de seu marketing nem se
capitalista? Não se pode pagar o alto preço curvar ao discurso da ciência que rejeita a
do assassinato do sujeito com vistas a não verdade do sujeito. Ao ceder a elas não há
se perder o trem-bala da mais lugar para o Inconsciente nem o real
contemporaneidade. Isto não é estar à do sinthoma. A Escola de Lacan é o lugar
altura da subjetividade de sua época e sim do refúgio e crítica ao mal-estar na
submeter a psicanálise aos discursos dos civilização.
mestres.
O capitalismo e a tecno-ciência são
as torres gêmeas que sustentam o mal-estar
na civilização contemporânea levando-a ao
não é automático e para o qual se necessita pontual onde a presença do analista fica
de tempo. como única a representar ou a apresentar, o
Em seu artigo “O objeto a de Lacan, irrepresentável.”[3]
seu usos”, quando faz referência à incidência --------------------------------------------------------
do objeto no tempo da análise e da sessão, NOTAS
Colette Soler sublinha que o objeto a é quem [1] Lacan, J. Variantes do tratamento-padrão. Escritos.
Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1998, p.330.
comanda o tempo. Cito: “ Este impredicável [2] Lacan, J. Posição do inconsciente. Escritos. Rio de
é uma causa que estimula..., que opera na Janeiro, Jorge Zahar, 1998, p.858.
economia do sujeito, hic et nunc. Passado [3] Soler, C. Revue de Psychanalyse Champ Lacanien.
tudo que se pode dizer, esse resto inomeável Nº 5/Juin, 2007.
do elaborável se faz valer no ato de corte
O manejo do tempo
Gabriel Lombardi
Tradução: Ana Laura Prates Pacheco
momento; sua certeza, seu caráter de pré- um convite e uma espera ativa do advento
ato assinalado por Freud (Erganzung zur desse ser, permite indicar “o recurso
Angst, em Hemmung, Symptom und verdadeiro e último da transferência em sua
Angst), fazem dela um indicador temporal relação com o desejo do psicanalista”,
fundamental, do que o neurótico, como uma relação essencialmente ligada ao
lamentavelmente, ignora o emprego. tempo e a seu manejo (Lacan, Écrits, p.
A experiência da descontinuidade 844).
temporal irreversível abarca vários “Manejar o tempo” soa
conceitos em psicanálise: o trauma, a pretensioso. E, no entanto, enquanto há
castração, a separação, o ato. De cada um tempo, seu manejo depende de nós. Por
deles podemos dizer diferentemente que mais reduzida que seja a margem de
nos afetam enquanto sujeito, o que neles escolha que nos resta, ali está nosso desejo,
nosso ser joga sua partida, sua realização, nesse lapso limitado pelo ato como
seu destino. Essa descontinuidade renovação do trauma original que marca o
irreversível, podemos padecê-la (sob a corpo, e a morte que apaga corpo, marca e
forma as repetição como sintoma), mas gozo. Por isso em psicanálise não tratamos
também podemos intervir na sua produção, tanto o neurótico somente como “ser
em ato, sem mais atraso. Entre o sujeito ao relativamente à morte”, mas como “ser
destempo da neurose, e o ser no tempo – o relativamente ao ato”.
ser no ato – a psicanálise se coloca como
“ instante
Preocupada quanto a
situar o evento no tempo,
perguntei quando essa morte
havia ocorrido, para no mesmo
ouvir responder:
“recentemente há muito tempo”.
Essa breve troca, tendo sido várias
insistência sempre presente daquilo que
permanece, não modificado, desabitado do
tempo, que o tempo não poderia prender.
Percebe-se então a pertinência desse
comentário de Lacan a propósito da
repetição: “a função-tempo é aqui de ordem
lógica, e ligada a uma colocação em forma
vezes repetida no curso das entrevistas que se significante do real”. Habitar o tempo é se
seguiram, adquiriu para mim o valor de uma prestar a essa colocação em forma. É o caso
verdadeira pequena comédia cujo efeito na análise. Qualquer que seja o real com o
cômico parecia-me responder à inadequação qual o sujeito tenha a ver, a regra analítica o
da pergunta colocada. submete à tarefa de sua colocação em forma
Sem dúvida não havia para mim nada significante, de sua submissão ao tempo do
a ouvir ali senão esse dizer fazendo evento da discurso.
morte da avó para essa mulher. Daí os bruscos surgimentos, no curso
A liberdade que ela parecia se da análise, não tanto de um sentimento do
conceder frente aos imperativos de ordem tempo, quanto de uma consciência súbita de
lógica, aos quais a “alfabestização”[1] sua existência.
submete os seres falantes desde sua tenra O sentimento do tempo do qual fala
idade, havia me deixado perplexa. Somente o poeta é aquele do tempo que passa.
mais tarde esse “recentemente há muito Sentimento frequentemente melancólico,
tempo” – figura de estilo singular, marcado de remorsos e recriminações.
simultaneamente elipse e antítese, como Algumas vezes, antes, tingido de angústia. Ele
também holófrase -, acabou enfim por sempre supõe a antecipação, a retroação, a
ressoar como uma frase no estilo de rememoração, ou, dito de outra maneira, a
Novarina[2]: “recentemente (diz a tristeza estrutura da memória freudiana.
que experimento) há muito tempo (diz você, É necessário portanto distinguir esse
você que mora no tempo)”. sentimento que torna, por certo, o tempo
Ora, o que era essa intervenção senão presente, das ocasiões de realização do tempo
um chamado ou lembrança[3] do tempo, nos quais o efeito de desejo é evidente.
quer dizer, do discurso? Pensemos nesses momentos nos quais surgiu
Morar no tempo, não é isso próprio a idéia de um termo, freqüentemente sob a
de todo sujeito falante desde que o tempo, figura da morte.
como queria Kant, antes de ser um dado da “Se devo morrer, melhor que me
experiência, é uma forma a priori de nossa desperte”, diz um analisante perdido em seus
compreensão? Anterioridade da lógica em temores hipocondríacos. Vem-lhe então
relação ao vivido. Universalidade da categoria como num relâmpago: “Que perda de tempo,
à qual ninguém escapa. a neurose!”
Não haveria, portanto, falando Para um outro, saído de uma doença
propriamente, o “fora do tempo” possível grave, depois de longos anos de análise, isso
O tempo do analista
Ana Martínez Westerhausen
Tradução: Luis Guilherme Mola
N reconhecimento
Après-Coup
Guy Clastres
Tradução de Sylvana Clastres
E de Deus.
Façamos nossas as
palavras do Evangelho e
saibamos dar a Lacan, o
que nós lhe devemos.
Saibamos reconhecer o seu
imenso mérito em ter sabido extrair dos
dos lobos que fica para sempre fascinado
pelo real sobre o qual ele se fixa: é o seu
mais de gozo.
Lacan soube ler Freud no après-
coup e soube dar ao « nachtraglich »
freudiano sua importância topológica, tal
como ela foi posta em ato na escrita do
textos de Freud o « nachtraglich », ter vetor retroativo da representação gráfica do
sabido tirar deles as conseqüências texto: « Subversão do sujeito e dialética do
doutrinais referentes ao sujeito e a sua desejo ».
topologia. É a partir desse momento que
Porém, não esqueceremos a Lacan vai materializar na banda de Mœbius
interpretação magistral de Freud sobre a o corte do sujeito em si. É preciso um
neurose infantil do « Homem dos Lobos », tempo para que se faça no après-coup, o
interpretação esta que diz respeito, corte/a separação subjetiva da banda. E
sobretudo, ao lugar e à função do famoso cada psicanalista pode reencontrar neste «
sonho. après-coup » o encadeamento significante
Todos se lembram do desenho feito no qual o avesso e o direito da banda
pelo « Homem dos lobos », já que sua inscrevem o saber e a verdade segundo
reprodução continua a ser vendida na casa uma estrutura onde em que o não-todo (le
em que Freud terminou seus dias em pas-tout) tem o controle.
Londres.
Lembremos o pós Freud, que é o
sonho que exerce uma função traumática
neste caso, já que ele oculta na cadeia de
sua formação significante o traço/a marca
do encontro originário com o gozo - o
gozo da famosa cena primitiva, que não é
senão uma reconstrução do real suposto
por Freud a partir de sua interpretação dos
sonhos.
Este sonho encerra, portanto, um
real, e é este real que Lacan, no après-coup
da leitura de Freud, vai situar dando-lhe sua
verdadeira interpretação, interpretação esta
que Freud, por uma questão de tempo, não
podia produzir, mas que estava ao alcance
de Lacan que, de certa forma, tinha sabido
fazer emergir e, em alguma medida, extrair
o olhar como objeto “pequeno a”.
PLENÁRIAS
Dominique Fingermann
1.
«andamento ». Les
mouvement
caractéristique
selon lequel une
oeuvre musicale
est executée, c´est
son rythme son
mouvements [
conduit para la mesure du désir de
l´analyste produit le temps d´une analyse,
donne la mesure de sa durée.
La cadence de l´entrée de l´analyste dans
les dits du sujet conditionne une
discontinuité qui produit ,en acte, au bout
du compte, la limite, la conclusion qui fait «
adagio,andante, moderato] sont définis par de la série infinie des dits une séquence
la durée d´une note battue un certain finie »( Colette Soler)
nombre de fois par minute. C´est cette C´est pour cela qu´ « il faut le temps, »,
distribution de la durée dans une séquence un temps est nécessaire pour extraire du
d´intervalles réguliers, rendue sensible par le temps qui passe le temps qui manque et y
retour périodique d´un certain trait qui produire le temps qui reste.
produit le rythme d´une séquence musicale. La temporalité particulière d´une analyse
Par extension, le « tempo » est le rythme permet de passer d´un temps perdu, au
du déroulement d´une action ( film, oeuvre temps trouvé. Pas le temps re-trouvé, le
littéraire) du début á la fin. Avec des temps que l´on rencontre dans une analyse
séquences mélodiques( succession),des n´est pas le temps de la recherche du temps
pauses, des harmonies (simultanéité), la perdu, c´est le temps trouvé en tant que
disposition régulières de temps forts, rencontre du Réel sur lequel on bute et avec
contretemps e contrepoints, la répartition lequel on tope : une trouvaille.
des accents, et des césures, le rythme fait 2- Dés le début ,dès le entretiens
l´oeuvre. Le « Tempo » fait l´oeuvre car il préliminaires une analyse révèle une étrange
permet d´explorer et de traverser ses temporalité. Bien que la parole qui se
multiples possibles modulations, par déroule et se découvre là, presque
l´intermédiaire de la répartition de la immédiatement, ait une structure temporelle
discontinuité dans un flux continu. La diachronique et se développe selon la forme
cadence, répartition de la discontinuité dans linéaire de la succession, dès les premiers
un flux continu ( de sons, images, tours dans les dits, s´inaugure une
signifiants) recoupe des instants, distribue temporalité étourdissante pour celui qui
les silences, met en évidence des séquences, arrive désavisé... C´est un temps sans dessus
et semble produire l´effectuation dessous qui s´inaugure, puisque dans cette
progressive et irrémédiable du point de fiction qui met en scène l´artifice de la
conclusion. Si l´on dépasse ce point de vérité du sujet, le présent s´annonce
chute n´importe quelle musique devient toujours bousculé par un futur supposé, et
lithanie fastidieuse ou ritournelle. formaté para un passé hypothétique que n´a
De la même manière, le parcours « jamais réellement été. Très souvent dans
andamento » d´une analyse du début à la fin cette étrange temporalité, des
résulte du « tempo » qui recoupe les réminiscences, le roman familial, les
ce qui a été dit ? 1,2,3 ? ou 21,34 ? ou bien de l´association libre,dans les tours dits, qui
5,8,13 ? fait apparaître le « tempo » de la névrose, et
Sur quel point me suis-je arrété ? suspend pour un instant sa raison
8,13,21 !! c´est ça !?J´ai rien compris ! Cela fantasmatique « Nous allons suspendre ! ».
ná fait aucun sens pour moi votre L´interuption produit la coupure médiane
interruption de séance la dernière fois ! d el abande de Moebius, elle réalise le «
0,0,1? C´est ça ? O reconnait dans ces dire » qui n´est pas dasn les dits. « Qu´on
séquences, des morceaux de suite de dise reste oublié derrière ce qui se dit dans
Fibonacci, une suite mathémathique infinie ce qui s´entend ». Mais encore une fois dans
ou chaque élément est construit à partir de la séquence de ce dire en suspend dans
la somme des deux précédents, c´est simple l´intervalle, dire par définition hors sens, il
comme principe, mais quand on entend ces sera attribué un sens, dont le secret se loge
morceaux choisit il faut un temps avant de dans l´autre et ses lois : « 8,13,21...34 !! » La
conclure le temps qui manque, le calcul de séance est suspendue !
l´intervalle entre l´un et l´autre. Combien de fois doit –on interrompre la
Il manque toujours un temps pour le supposition de savoir dasn l´autre pour que
sujet , et il tente toujours de récupeérer ce tombe sous le sens son inconsistance ?
temps perdu dans sa demande, son bla bla, Le désir de l´analyste qui supporte la
bref dans sa supposition d´un Autre. coupure de la séance valide
L´association libre apparemment linéaire, l´intervallecomme instance du dire :« C´est
déroule dans la diachronie ce que la parce que le désir de l´analyste suscite en moi la
synchronie de l´instant de voir a saisi : il dimension de l´attente que je suis pris dans l´efficace
faut le temps, il manque un temps. La de l´analyse. » 3
structure propre de la parole déroule dans L´analyste en acte – actualy-en suscitant
les dits les conséquences du dire, déplie, la dimension de l´attente fait valoir les
étire,gonfle, pince, dégonfle, coupe et intermittences- les interdits comme
recoupe l´espace topologique de la structure causatifs, causation du sujet. L´actualité de
du sujet exhibant ses discontinuités, ses l´analyste, son a-temps a une incidence
trous, ses voisinages : « La topologie de clinique sur l´intemporalité du sujet de
notre pratique du dire ». Peu à peu, les tours l´inconscient. L´acte analytique produit,
des dits qui contournent le creux de la extrait de la répétition cette autre dimension
demande façonnent et dé-couvrent l´espace du temps connue para la philosophie de la
topologique propre de la névrose : un tore Grèce jusqu´à la Chine comme le Kairos,
qui se saisit très vite comme noué avec un « le moment opportun ». A la fin, le
autre toredont il remplit et escamote le trou moment de conclure , c´est l´acte de
structurel. Ce tore du névrosé étroitement l´analysant. Le moment de conclure
enlassé avec le tore de l´Autre qu´il suppose interromp la diachronie de l´association
constitue l´intrigue principale du roman libre, cesse, de s´´ecrire, insuccés de l´une
familial, formaté para le fantasme bévue. Insuccés, l´interruption de la
fondamental. Le roman tourne autour de succession est de l´ordre de l´acte qui
ce tour non conté- faille dans ses comptes s´execute sans le savoir de l´Autre et
du dit que l ´etourdi va atribuer à l´Autre. Il produit sa suspension : « nous allons
lie son manque à être au manque –faille de suspendre ... »
l´autre- pêché de l´Autre , d´où sa A la fin il est emps de conclure que
supposiiton que son temps perdu est recelé l´indécidabilité de la partie devient une carte
dans le savoir de l´Autre. Comme Lacan dans la main de l´analysant – pas le mistigri
démontre dans son texte L´Etourdi, c´est
la coupure de l´analyste dans la série infinie 3 Lacan J. Seminário 10 – p. 180
dont le névrosé passe son temps à essayer détour que peut advenir pour le sujet le savoir de
de se défausser , carte de l´impuissance qui son rejet originel »
encombre le jeu et empêche la partie, et Il faut le temps, le « tempo » de l´analyste
embrouille la partition ( séparation), mais qui produit au fur et a mesure de ses à-
cette carte qui arrive à point en forme de coups l´atttente, la faille dans le temps de
lettre. l´autre dont le sujet est réponse « « Il faut le
Combien de temps est nécéssaire pour temps pour faire trace de ce qui a défailli á s´avérer
arriver à la fin ! « Ce n´est qu´après un long d´abord. »
La prisa y la salida
Luis Izcovich
S la orientacion de un analisis no
puede
desciframiento
limitarse
duracion variable. De lo que se trata es de Ahora bien, porque Lacan cuando se refiere a
considerar que logicamente, la finalidad de la « lo real que toca lo real » se refiere al
sesion corta, corresponde a la formulacion de discurso analitico ? Se puede percibir que el
Lacan de la creacion de un dispositivo donde discurso analitico tiene une estructura
« lo real toque a lo real ». Esta perspectiva es semejante a de la angustia. Es suficiente
relativizada si se concibe la sesion analitica referirse a la linea superior de dicho discurso
como una secuencia unitaria puntuada por la que va de (a) a S tachado, y que indica que el
emergencia del inconsciente y con el objetivo analista esta en el lugar de la causa del deseo
de hacer emeger el sentido o la palabra plena. para el sujeto que es igualmente el lugar de la
En realidad mas alla de lo que el inconsciente angustia.
dice, se apunta al decir del inconsciente, a lo Y es esta perspectiva que Lacan privilegia en
indicible que sin embargo determina el relacion al tiempo, ya en el seminario La
conjunto de las asociaciones. Esto no angustia, donde se pone en evidencia que la
corresponde a una tecnica activa, ni a una funcion de la angustia en introducir al sujeto
sacralisacion de la escucha. Lo que se me en la dimension del tiempo. Lacan evoca una
parece es que se puede convenir, es que la relacion temporal de antecedencia en relacion
idea que un analista se hace del tiempo de la al deseo y considera que la dimension
sesion corresponde a la idea que se hace del temporal de la angustia es la dimension
inconsciente. E Independientemente de su temporal del analisis. En efecto la angustia
uso, la sesion de duracion breve es solidaria prepara la cita con el deseo. Y, no es
de la opcion lacaniana en cuanto al sorprendente que Lacan haya utilizado la
inconsciente como real y apunta al hueso de misma formula, « manejo de la angustia »,
las elucubraciones que provienen del « como manejo del tiempo ». Uno es solidario
inconsciente. Esto se traduce en un efecto del otro.
analitico mayor : el analista sera mas Situar el tiempo del analisis en funcion de la
susceptible de ser el tiempo, encarnarlo, para angustia es una perspectiva que Freud ya
cada analisante en lugar de pensarlo. habia senialado, haciendo de la angustia un
Tomemos la cuestion desde la perspectiva de punto nodal en la representacion del tiempo.
la transferencia. En el transcurso del analisis, La angustia, cuya omision es central en la
ella no esta limitada al tiempo del encuentro constitucion del trauma, constituye una
con el analista, y el inconsciente trabajador mediacion frente a la urgencia pulsional o
infatigable, no se limita a trabajar en la sesion. frente al deseo del Otro. En ese sentido
Mas bien, el inconsciente, trabajador ideal, no Freud frente a la abstraccion del tiempo de la
descansa nunca y se manifiesta cuando uno consciencia, privilegia el tiempo de la angustia
menos lo espera. Por ello es necesario un que se opone al tiempo del sintoma. La
tiempo para que se despliegue la logica angustia introduce une discontinuidad ahi
simbolica, que corresponde a los difrentes donde el sintoma asegura una permanencia.
mitos secretados por el inconsciente que han El sintoma frena al tiempo ya que su
conducido al impasse sexual del sujeto. temporalidad esta determinada por su
Pero porque suponer entonces que la sesion constitucion que es la de un tiempo que se
debe ser ritmada por la emergencia del detuvo.
inconsciente ? Mas bien se puede considerar Es lo que la clinica analitica pone en
la sesion como el momento en el cual el evidencia. A la falta de certeza del
analisante concluye una secuencia de inconsciente, el sujeto suple con el fantasma
elaboracion. Cada sesion, mas que un empuje y es en su vacilacion que emerge otra
a la asociacion, se podria considerar como temporalidad propiciada por la angustia. De
una preparacion al encuentro con lo real del hecho en todo sujeto, a la entrada del analisis
fin de analisis. e independiemente de la estructura clinica, se
pone de manifiesto, de una manera o de otra mucho tiempo atras. Es suficente que se
la idea de un retraso que es lo propio del convierta en un signo para el sujeto para que
sintoma, y el pasaje a otra temporalidad dada este solicite una ayuda en lo inmediato.
por la angustia. En cuanto a la precipitacion,de lo que se trata
Esta temporalidad, incluye el tiempo marcado es de una aceleracion del tiempo que
por los latidos del inconsciente, es decir sus descuida las coordenadas simbolicas y es por
formaciones y la repeticion, pero permite ello que su mejor ilustracion es el pasaje al
situar un mas alla y es lo que Lacan articulo acto. El sujeto concluye saltanto el tiempo
con la funcion de la prisa. para comprender. Y Lacan hace del pasaje al
La prisa no es ni la rapidez resolutiva, ni la acto melancolico el paradigma de esta
urgencia, ni la precipitacion. Comencemos equivalencia en la cual el sujeto se hace
con el primero la rapidez resolutiva. Existe objeto. De ahi la necesidad de introducir un
desde Freud la idea de que un tiempo es semblante de tiempo cuando esto es posible
necesario afin a evitar la satisfaction para la psicosis. Y si la solucion spontanea de
inmediata y sus riesgos, ligados a escamotear Schreber se revela eficaz es en la medida en
la pregunta quien se satisface . Es por ello que resuelve un impasse subjetivo ligado a
que si preconizo no tomar grandes decisiones una solucion prematura. En este caso no se
antes del fin de analisis es porque la trato de hacer madurar un fantasma sino de
satisfaccion del super-yo, del yo, o del introducir una solucion asymptotica que es
inconsciente, no son equivalentes para el otra opcion del sujeto en relacion al tiempo
psicoanalisis. Ahora bien, quien se atreveria que lo extrae de la precipitacion puesto que
hoy a sugerir a un analizante que se abstenga implica la cita en un futuro indefinido que no
de tomar decisiones antes del fin de la cura ? debe hacerse realidad. Hay que senialar aqui
La duracion de los analisis en nuestra otra forma de saltar el tiempo para
actualidad hace objecion a este principio de comprender, es cuando se colapsa el instante
abstinencia. Por otra parte Freud mismo de ver y el tiempo para concluir . Es el caso
advirtio frente a los riesgos de la solucion de la experiencia traumatica que no se
terapeutica que interviene demasiado pronto. cristaliza en sintoma analitico.El Hombre de
La cuestion es que el tiempo de los lobos lo ejemplica en lo que Lacan llamo
comprehension, no se puede comprimir.. la anulacion del tiempo para comprender. El
Los efectos terapeuticos que intervienen resultado es verificable : toda una vida
prematuramente pueden ser un obstaculo a la dedicada a a un eterno recomenzar a explicar
prosecucion del analisis y a una resolucion a la comunidad analitica y mas alla, sobre lo
mas consistente. incurable en la cura. El sujeto esta fijado a un
La anticipacion resolutiva del sintoma no goce traumatico que excluye la inclusion del
implica consentir a la satisfaction. De ahi que tiempo y lo conduce por lo tanto a un duelo
Lacan evoque en relacion a la psicosis el imposible. Si el manejo del tiempo en la
termino de solucion prematura que se puede clinica de las psicosis implica un saber hacer
generalizar. La solucion prematura es aquella con el semblante del tiempo la respuesta
en la cual el sintoma, si bien es reducido, no analitica difiere en cuanto al manejo del
logra elevarse al rango de nombre de goce del tiempo en el caso de la neurosis. El tiempo
sujeto. Tomemos la cuestion de la urgencia. que pasa, digamos spontanéamente, no
Lacan se refiere a ella a menudo en relacion a favorece nada y frente a la division subjetiva
la entrada en analisis . Existe en efecto una la respuesta analitica difiere de la respuesta
urgencia a procurar el partenaire que psicoterapeutica. « Dese un tiempo de
responda al sintoma del sujeto. Y esto se reflexion » es el modo de dar un tiempo en la
confirma en el momento de la demanda psicoterapia. Y la formula corriente « el
analitica. Un sintoma puede estar desde tiempo hace bien las cosas » conviene a
muchas circunstancias de la vida, salvo a la « lo real toca a lo rea »l) tiene como
neurosis.. Y si hoy aparece como anacronica pretencion introuducir un nuevo real.
la formula de Freud que una mujer luego de El inconsciente, no es solo una operacion de
los 30 anios es inanalizable, lo que es vigente revelacion de lo que ya esta, de traer a la luz
es que la neurosis, sin analisis, se agrava con los enigmas ocultos del sujeto. Mas alla de
el tiempo. descifrar lo que el inconsciente cifro, se trata
El analisis introuduce el tiempo de otro de escribir lo que no cesa de no escribirse.
modo que el de darse el tiempo de Logicamente la cuestion del tiempo en la
reflexionar. Es lo que justifica la referencia a direccion de la cura se articula con el objeto
la prisa, que tiene su especificidad en su (a), causa de deseo y de angustia que apunta
conexion con lo simbolico al cual sin al encuentro con un nuevo real. Tomemos la
embargo lo trasciende es decir que si lo perspectiva del deseo. En su esencia es
simbolico es condicion de la prisa, no es lo metonimico, metonimia de la falta en ser. Y
que la causa. La causa de la prisa es el (a), lo hay que senialar que Lacan distingue el deseo
cual nos remite a la vez a la angustia y al inconsciente de un deseo centrado en el
discurso analitico. narcicismo que puede ser el efecto de un
Y, si yo utilizo la distincion entre prisa y analisis como respuesta a lo efimero de la
urgencia es para indicar que lo que posibilita vida.
la logica de la prisa es que el analista pueda En ese sentido, hay un tiempo necesario en el
dar el tiempo que hace falta. Ya que hay un analisis para producir un deseo, efecto de una
tiempo necesario en la cura y esto esta enunciacion singular y que debe distinguirse
indicado desde Freud en texto sobre la de un deseo fundado en el narcisismo. La
cuestion del analisis profano y la formidable temporalidad del après-coup es esencial ya
definicion alli avanzada del analisis como que como efecto de la elaboracion anuda la
« magia lenta ». experiencia pasada y la conecta con la
La magia por definicion se sirve del experiencia a venir. El deseo forja un vector
semblante de la sorpresa y la temporalidad es de direccion alli donde el sin sentido reduce
la del instante. Es por ello que el publico al sujeto a ser un perdido en el tiempo.
pide que le repitan el numero pero esta vez Cuanto mas accede el sujeto a una posicion
mas lentamente para poder comprender el desirante mas se aleja de una relacion al
punto de ruptura en la ilusion. tiempo concebido como la suma de instantes.
Y noten bien que Lacan se refiere a esta Y como el inconsciente es evasivo, de lo que
oposicion cuando evoca la distincion en los se trata es de captar la metonimia del deseo.
semblantes de la magia y los semblantes des Cernir el deseo, es captarlo a la letra,
discurso analitico. El analisis exige tiempo, A travez del deseo, el sujeto entra en el
para comprender la escena que se escapo, a la tiempo y concomitantemente deja de pensar.
cual el inconsciente respondio produciendo Es lo que se traduce en la formule corriente ,
con un embrollo. Un tiempo es necesario al cuando un sujeto esta en un modo sintonico
despliegue de la cadena inconsciente pero con su deseo, « no veo pasar el tiempo ».
fundamentalmente el tiempo que hace falta es Estar en el tiempo o pensar el tiempo se
aquel que introduzca al sujeto en la funcion oponen como ser y pensar.
de la prisa propia a la causa de su deseo. Ahora bien cabe preguntarse sobre cual es la
Es lo que justifica que hablemos del analisis interpretacion analitica que propicia este
como de una prisa lenta, donde el analisante movimiento.. En la progresion de la
se hace a su ser, que no es solamente ensenianza de Lacan se percibe la reduccion
habituarse a ser lo que se es sino a producir de la interpretacion hasta hacerla minimal, y
un cambio en el ser. Ya que el real que incide se apunta como horizonte a la produccion del
en el real del sujeto (retomo aqui la formula acto. La cuestion que se desprende
imaginaria. Esta ultima es la prisa disociada De las salidas por la prisa, cabe distinguir
del acto. Al punto que Lacan aisla la correcta aquella en la cual el sujeto se sostiene de la
funcion de la prisa que es la de producir el deduccion del inconsciente. Es una salida por
momento de concluir (1) Y, Lacan nos el saber de un desciframiento. Por otro lado,
advierte de no hacer un uso imaginario, y bien diferente es la salida que depende de la
haciendo referencia a una prisa que se relacion del sujeto con un decir singular. En
concluye en salida arbitraria, dando lugar en definitiva, yo sostengo, que la salida
este caso a una prisa cuyo resultado es la fulgurante por la caida del SSS, no es
errancia dando como ejemplo mayor la equivalente a la salida una vez terminado en
revolucion. Se impone por lo tanto distinguir la cura, el duelo del objeto y que puede ser
diferentes formas de prisa y por lo tanto es una salida fulgurante o no. La prisa no
legitimo afirmar que existen variedades de la imaginaria en la salida depende de la
prisa en la salida del analisis. Obviamente, efectuacion de esta vuelta de mas en un
dejo fuera de la serie todo lo que implican las analisis y que no se hace sin tiempo.
soluciones prematuras o las salidas que
dependen de una precipitacion. RÉFÉRENCES BIBLIOGRAPHIQUES
1- Radiophonie p. 433
La cita y el encuentro
Gabriel Lombardi
xiste para nosotros lo que capaz de elegir se llama túkhe; término que
no se elige; muchas veces usualmente se vierte al español como
del tiempo, un desfasaje entre el deseo y el deseo. El hiato por ellas acentuado entre cita
acto, se expresa cotidianamente en la brecha y encuentro las distingue de otros tipos
lógico-temporal entre cita y encuentro. clínicos, destacando el desfasaje temporal que
Una aclaración en este Rendez-vous separa al sujeto de su acto, y revelando ese
multilingüe: los términos “cita” y orden causal descripto por Freud, y antes
“encuentro” se recubren parcialmente, pero vislumbrado por Aristóteles, en que lo
pueden ser distinguidos en algunas lenguas, perdido y deseado ha sido olvidado, y sólo se
español, francés, inglés, y también se puede reencuentra por accidente.
oponer el término latino cito al griego túkhein. Cuando aun así alguna vez el encuentro se
produce, es por lo general completamente
CITA
RENDEZ-VOUS
ENCUENTRO
RENCONTRE
desconocido por el sujeto, o bien es
APPOINTEMENT MEETING – ENCOUTER considerado como un mal encuentro, un
CITOTE (imperativo: rendez-vous!)
(encontrar por azar)
TUNKHANO acontecimiento a destiempo; demasiado pronto
CITO: llamar, hacer venir. TUKHÊIN: responder al deseo y para el histérico, demasiado tarde para el
a la espera4. melancólico, el obsesivo por su parte emplea
una estrategia temporal mixta para faltar al
En su seminario Problemas cruciales del encuentro: anticipa tarde. En cualquier caso, se
psicoanálisis Lacan da un ejemplo de cita trata de un acontecimiento a destiempo que
tomado de la teoría del signo de Peirce, de todos modos lleva la marca del
“cinco floreros en la ventana con la cortina desconocimiento.
corrida hacia la izquierda”, cuyo significado Los sueños de desencuentro son sueños
según el lingüista sería: estaré sola a las cinco. típicos de la neurosis, y es fácil encontrar en
Lacan observa sin embargo que no se trata de ellos ejemplos que ilustran bastante bien esa
un signo que componga un mensaje unívoco. evitación que es esencial en ese tipo clínico.
¿Qué quiere decir “sola a las cinco”? Una paciente soltera, atractiva aunque ya no
Remitimos a la clase del 5 de mayo de 1965 tan joven, consulta justamente por no poder
para el precioso análisis que allí realiza, sola, encontrar un hombre que al mismo tiempo le
seule, es también única, para el solo, el único resulte interesante y que todavía no esté
que recibe el mensaje ante la mirada ciega del casado. Relata dos sueños reiterados en su
vecindario. Retengamos solamente este vida previa a la consulta. En el primer sueño
comentario nosográfico de Lacan: Quien está en su casa, atrincherada, rodeada de
reciba este signo reaccionará de un modo indios. “¡Qué susto!” – dice con tono
diferente según su tipo clínico; en el caso del aniñado -. En el segundo sueño sale de su
psicótico la atención recae sobre el mensaje y casa, pero como un espíritu, sin que los otros
su lekton, el perverso se interesa en el deseo puedan verla, un espíritu sin cuerpo. “¡Me
en juego y el secreto poseído, el neurótico encanta!”, comenta divertida.
pone el acento en el encontrar, o mejor Las estrategias de desencuentro son diversas
dicho, reencontrar el objeto. en la neurosis. Es típico de la histeria ceder
El neurótico enfatiza lo que los estoicos corporeidad a Otra mujer, así como forma
llamaban tunkhánon, pero con la particularidad parte de las estrategias del obsesivo realizar el
siguiente, que se interesa en el encuentro: deseo sin que se note, de contrabando. Pero
para fallarlo. En efecto, las distintas neurosis si se presta atención, se puede advertir que las
pueden entenderse como formas diversas de técnicas de desencuentro en las neurosis
evitar el encuentro, de faltar a la cita del juegan eminentemente sobre el eje del
tiempo. La espera, la programación, el
4 Un ejemplo de Tucídides en sus Crónicas de la guerra aburrimiento, la anticipación a destiempo, el
del Peloponeso: Tés hekástou bouléseos te kaì dóxen tukhêin
(responder al deseo y la expectativa de cada uno).
demasiado tarde y el demasiado pronto, el
faltar a la cita sin darse cuenta y por los más
revivir ese momento en que el niño, en el diciéndome que ahora tenían plena confianza
momento del corte disruptivo en que hubiera en mí, etc. Pero yo respondía: «¡Ah... claro!
debido experimentar furia, no encontró el Ahora que yo también soy profesor ustedes
Otro ante el cual poder hacerlo. El relato me tienen confianza. Pero el título no ha
actual al analista no podría realizarse hecho variar en nada mis aptitudes; si ustedes
verdaderamente sin que esa furia se no podían utilizar mis servicios siendo yo
manifieste; sólo si esta vez ella no sólo se encargado de cursos, también pueden
revela sino que también se realiza, el prescindir de mí como profesor». En este
analizante puede encontrar al Otro de una punto mi fantasía fue interrumpida por un
manera diferente que a través de la asunción saludo en voz alta: «¡Adiós, señor profesor!»,
de un falso self – máscara que repite y señala y cuando miré de quién provenía vi que
aquel desencuentro primero -. pasaba junto a mí la pareja de la que acababa
de vengarme rechazando su pedido. Una
La clínica freudiana del encuentro somera reflexión destruyó la apariencia de lo
La Psicopatología de la vida cotidiana de Freud milagroso. Yo marchaba en sentido contrario
ofrece al psicoanalista la posibilidad de a la pareja por una calle recta y ancha, casi
sensibilizarse a la clínica del encuentro. Es un vacía de gente, y a distancia quizá de unos
texto maravillosamente entramado en los veinte pasos había distinguido con una
golpes de la fortuna, en lo que ocurre como mirada fugitiva sus importantes
por azar, en los pequeños actos que se personalidades, reconociéndolos, pero
afirman tanto más fuertemente como actos eliminé esa percepción – siguiendo el modelo
cuanto que representan fallas en el hacer. de una alucinación negativa - por los mismos
Particularmente la divergencia y la tensión motivos de sentimiento que se hicieron valer
temporal entre cita y encuentro fue allí objeto luego en esa fantasía de aparente emergencia
de observaciones y comentarios. Tomemos espontánea.
un ejemplo de encuentro milagroso con una No se trata en este ejemplo de un encuentro
persona en quien justamente uno estaba con alguien en quien Freud estaba pensando
pensando, un ejemplo “simple y de fácil conscientemente, los pensamientos allí se
interpretación”, según el propio autor: producen más bien como consecuencia de
Pocos días después que me hubieron una percepción previa. Este ejemplo muestra
concedido el título de profesor que tanta otro rasgo que caracteriza los hechos
autoridad confiere en países de organización fundamentales del psicoanálisis: las
monárquica, iba yo dando un paseo por el coordenadas del encuentro y del
centro de la ciudad y de pronto mis desencuentro no necesariamente son
pensamientos se orientaron hacia una pueril percibidas por la conciencia, y como en otras
fantasía de venganza dirigida contra cierta manifestaciones del inconsciente, a menudo
pareja de cónyuges. Meses antes, ellos me pueden ser situadas entre percepción y
habían llamado para examinar a su hijita, a consciencia, después de la percepción, pero
quien le había sobrevenido un interesante precediendo la conciencia.
fenómeno obsesivo después de un sueño. La alteración anti-intuitiva del orden causal es
Presté gran interés al caso, cuya génesis creía típica de estos “hechos” que en verdad son
entender; sin embargo, los padres actos, como también pasa en las
desautorizaron mi tratamiento y me dieron a premoniciones oníricas que “se cumplen”; se
entender su intención de acudir a una cumplen, explica Freud, solamente por
autoridad extranjera, que curaba mediante inversión de la secuencia temporal de los
hipnotismo. Yo fantaseé pues, que tras el hechos. Un encuentro sin cita previa
total fracaso de este intento los padres me responde a las coordenadas de una elección
rogaban que interviniera con mi tratamiento
O evidentemente,
homenagem ao texto de
Freud de
“Rememorar, repetir e
elaborar”, mas inclui o
conceito de decisão,
introduzido por Lacan
uma
1914
procrastinadores, já que é sempre possível
adiar ainda um pouco a decisão, à espera de
mais tempo para pensar. Tempo é o que lhes
falta – presumem – para livrá-los da dúvida e
da dívida com seu amo implacável. Em
contrapartida, há aqueles – ou mais
freqüentemente aquelas – que antecipam uma
precocemente com a expressão “a insondável encenação qualquer, tentando furtar-se da
decisão do ser” 8, e que apresenta inúmeros passagem inexorável com uma espécie de “eu
desdobramentos clínicos e éticos ao longo de faço a hora”, num escape calculado do
seu ensino. Tentarei desenvolver, então, este encontro inevitável com a hora marcada. Há
tema, através de três breves recortes. também os que fogem de Cronos como o
1-Repetição: O instante da fantasia: Se eu diabo foge da cruz, prevendo que o relógio
fosse, quando eu fizer, se tivesse pensado, eu não não os livrará da mordida. Aceleração e/ou
queria... O sujeito neurótico vive suspenso atraso, encontram-se na torção que cria a face
num tempo que projeta sobre o futuro toda a única da banda de Moebius (ilustrada no cartaz
promessa de um presente que “teria sido”, se de nosso Encontro), onde o sujeito – como
não fosse a maldição que determina o álibi uma formiga operária – corre contra o
para a eterna suspensão do ato. Congelado tempo. A diacronia que move a cadeia
no instante da fantasia – cena na qual significante é, assim, um eterno “vir a ser”
esboçou sua versão de uma relação sexual que movimenta o sujeito, projetando-o num
possível – o neurótico almeja o impossível: futuro incerto, mas consistente – já que no
parar o tempo que, introduzindo final, estava escrito na profecia da fantasia o
contingência na série necessária, que ele iria encontrar: “essa cadeia infinita de
desmascara a precariedade e a instabilidade significações a que se chama destino.
de sua montagem. Podemos escapar dela indefinidamente, mas
O sujeito, tentando tapear o fracasso o que se trataria de encontrar é justamente o
real de tal empreitada, alia-se a Cronos, começo – como é que o sujeito entrou nessa
pagando o preço de por ele se deixar devorar, história de significante?” – para usar as
em troca da ilusão de uma contabilidade que, palavras de Lacan no Seminário “A
se não pára o tempo, ao menos o domestica. Augústia” (Lacan, 2005 [1962/63], p. 78).
Há mesmo aqueles que dedicam a vida à Como dizia uma analisante: Não sei o
tarefa de domesticá-lo. “Na medida em que que me espera. Não sabe, mas tem a certeza de
Júpiter é perfeitamente capaz de castrar que, seja lá o que for, “isso” estaria lá,
Cronos – diz Lacan –, nossos pequenos pronto, esperando, em algum lugar no futuro.
Júpiteres temem que o próprio Cronos Wo es war, soll ich werden – como nos ensinou
comece fazendo o trabalho” (Lacan, 1999 Freud – “lá onde isso estava, o eu deverá
advir”. Cabe ao sujeito continuar
caminhando na estrada da vida (a banda), até
8Esta expressão é introduzida por Lacan no texto de – como dizia outro analisante – chegar lá! Eis a
1946 “Formulações sobre a causalidade psíquica”.
não existe, inicia a sessão com o seguinte do casamento fictício entre saber e verdade.
chiste: O português entra num ônibus vazio, com a O analista não é o noivo da verdade, adverte
presença apenas do motorista e do cobrador e senta-se Lacan. Aqui, é preciso dar um passo além de
em um lugar qualquer. Está chovendo e justo no Freud, um passo que é um salto e que Lacan
lugar escolhido tem uma goteira que pinga sobre sua chamou de passe. O momento do passe,
cabeça. Após algum tempo circulando, o cobrador portanto, pressupõe justamente a
pergunta: - Português, não tem ninguém no ônibus e transposição da lógica dos objetos parciais da
você fica com essa goteira pingando em cima da sua fantasia (a parte pelo todo), para a lógica
cabeça. Porque não troca de lugar? E o português incompleta do não-todo. Trata-se, assim, de
responde: - Trocar com quem? Corte da sessão! um esvaziamento: “No fim da operação o
Desta vez, terá sido enfim suficiente para que analista aí representa o esvaziamento do
ultrapasse o horror ao ato? objeto a, ele cai para se tornar ele mesmo a
Tendo a transferência se reduzido ao ficção rejeitada” (Lacan, 1969). Rejeitar a
extremo da insignificância – este ponto real ficção, se despedir do castelo. Não por acaso,
não interpretável, quando a presença do Lacan articulou esse momento de pleno passe
analista é quase idêntica ao esquecimento da a certa posição depressiva que corresponde
coisa sabida – o que ainda a manteria, senão a logicamente à queda do SSS e à certeza
covardia do sujeito em desabonar-se do antecipada de que a falta é, realmente, pura
inconsciente – as migalhas de saber – perda. Essa posição deverá, entretanto, ser
enquanto lastro? Mais uma sessão, o saber atravessada. Só se termina uma análise,
Sn+1, a lembrança encobridora mais remota, portanto, por um ato que ultrapassa o sujeito,
uma volta a mais na demanda, a última pois implica em sua destituição.
palavra, o tijolo derradeiro da construção do Sim, é preciso tempo (Il faut le temps);
tal castelo de fantasia. Não. Não há última não há curto circuito para o atravessamento
palavra. Nenhuma esperança de se terminar da fantasia: Isso só se obtém – sublinha Lacan
uma análise por essa via, que Freud percebeu (1972/73) – “depois de um tempo muito
ser infinita. Como nos lembra Lacan a longo de extração para fora da linguagem, de
propósito do paradoxo de Zenão – que algo que lá está preso”; este “resto da coisa
aponta justamente para o incomensurável –: sabida” que se chama objeto a. Para uma
Aquiles, é bem claro, só pode ultrapassar a analisante; uma mulher, as ferramentas do pai
tartaruga, não pode juntar-se a ela. Ele só se junta a também apresentavam um valor muito
ela na infinitude. Se (como vimos no início), especial, na medida em que representavam o
não há o Outro que detém a senha que acesso ao dito paterno tomado como
decifra a charada sobre o futuro, tampouco imperativo: Você tem que aprender a se virar
há o Outro do passado pleno de significações sozinha. Na caixa de ferramentas encontrava
condensadas a serem desvendadas. Tal os instrumentos necessários para fazer tudo o
crença, aliás, só pode conduzir o sujeito a que um homem sabe; o que incluiu a fabricação,
perpetuar, sob transferência, a busca do tempo na infância, de um pênis artificial com o qual
perdido. podia urinar em pé. No momento em que
Uma vez tendo se deparado com o consente com sua clássica e surpreendente
horror da modalidade de gozo eleita, não é penisneid, tem um sonho: estava andando em
em absoluto de mais tempo que o sujeito Paris com o pai, apreciando os monumentos,
precisa para decidir abrir mão: da fixação do quando se deparam com um manto no chão,
objeto na fantasia, do acesso ao não sabido que todo bordado e brilhante. O pai deita-se
sabe da castração, ao insucesso da relação sexual10, sobre o manto e ela tenta em vão fotografá-lo
por todos os ângulos, já que sempre havia
10 Referência ao Seminário de Lacan L´insu que sait de
uma sombra que impedia a captura da
l´une-bévue s´aile à mourre. imagem. O pai levanta-se e o manto
largo de un análisis lleva en su núcleo el un gallego entra en un ómnibus vacío, con la sola
colmo del engaño, que Lacan denominó el presencia del chofer y del cobrador y se sienta en un
equívoco del SSS: supuesto no saber en que él lugar cualquiera. Está lloviendo y justo en el lugar
consiste como sujeto del inconciente (Televisión). elegido hay una gotera que cae sobre su cabeza.
Suposición, todavía demasiado neurótica, de Después de algún tiempo circulando el cobrador
que el saber producido en transferencia pregunta: - Gallego, no hay nadie en el ómnibus y
alcanzará por fin el objeto del fantasma usted se queda con esa gotera encima de la cabeza.
inconciente localizado, como verdad, en ¿Por qué no cambia de lugar? Y el gallego responde:
algún lugar del pasado. Un analizante ¿Cambiar con quién? ¡Corte de la sesión! ¿Habrá
testimonió con una anécdota el momento en sido suficiente esta vez para que por fin
que se dio cuenta de su posición en el supere el horror al acto? Habiéndose
fantasma: dos hombres asaltan un banco y cada uno reducido la transferencia al extremo de la
escapa con una valija. Después de algunos años, uno insignificancia – este punto real no
de los asaltantes, enriquecido con el dinero robado, ve interpretable, cuando la presencia del analista
por la ventana de su auto un mendigo que reconoce es casi idéntica al olvido de la cosa sabida –,
como su cómplice en el asalto. Curioso, para el auto ¿qué la mantendría todavía sino la cobardía
para preguntarle por qué estaba en esa situación. El del sujeto en desabonarse del inconciente –
otro responde: en mi valija sólo había papeles con las migajas de saber – como lastre? Una
deudas. Pasar la vida pagando la deuda sesión más, el saber Sn+1, el recuerdo
contraída por otro y, a partir de esa elección, encubridor más remoto, una vuelta más en la
pagar el precio de vivir en la miseria por la demanda, la última palabra, el ladrillo final de
culpa de reconocerse agente de otro crimen. la construcción del castillo del fantasma. No.
El chiste – que revelaba además la presencia No hay última palabra. No hay esperanzas de
del objeto anal articulado con la mirada – terminar un análisis por esa vía, Freud
aludía a una escena de su infancia percibió que es infinita. Como nos recuerda
reconstruida a partir de la intervención de la Lacan a propósito de la paradoja de Zenón –
analista: había sido reprendido severamente que indica justamente lo inconmensurable –:
por robar las herramientas del padre – que tenía Aquiles, está muy claro, sólo puede sobrepasar a la
terminantemente prohibido tocar – para tortuga, no puede alcanzarla. Sólo la alcanza en la
prestárselas a un amigo, obteniendo así el infinitud. Si no hay un Otro que tenga la clave
prestigio de ser visto como aquel que tiene las que descifra la charada sobre futuro, tampoco
herramientas. De este modo caía su imagen tan hay otro del pasado pleno de significaciones
cultivada de “nene bueno”. Sin embargo, la condensadas a ser descubiertas. En efecto, tal
presencia del doble especular, encarnado en creencia sólo puede conducir al sujeto a
aquel que goza de la vida, del dinero y de las perpetuar en transferencia la búsqueda del
mujeres al robar la valija correcta, se mantuvo tiempo perdido. Habiéndose enfrentado ya al
todavía durante mucho tiempo en ese análisis horror de la modalidad de goce elegida, no es
como un ideal a ser alcanzado por el revés. en absoluto de más tiempo de lo que el sujeto
3. Decisión: El momento del acto/hacer necesita para decidir abandonar la fijación del
otra ficción de lo real. Desde Freud objeto en el fantasma, el acceso a lo no sabido
sabemos que los tiempos de la construcción que sabe de la castración, el fracaso de la relación
del fantasma hasta su reducción a un residuo sexual, el casamiento ficticio entre saber y
desubjetivado dependen de las escansiones verdad. El analista no es el novio de la
operadas por el analista. Así, el juego del verdad, advierte Lacan. Aquí es necesario dar
tratamiento analítico gira en torno al corte. un paso más allá de Freud, un paso que es un
Aquel mismo analizante, cuando se da cuenta salto y que Lacan llamó pase. Por lo tanto, el
de la consistencia que le había dado al Otro momento del pase presupone precisamente la
que no existe, inicia la sesión con este chiste: transposición de la lógica de los objetos
parciales del fantasma (la parte por el todo) a falta en toda visión (Sem 16). Al mismo tiempo
la lógica incompleta del no-todo. Se trata, de se revela la respuesta fantasmática que le daba
ese modo, de un vaciamiento: al término de la consistencia imaginaria en la identificación
operación, el analista representa allí el vaciamiento con el las sobras del otro (“los restos de
del objeto a, cae para devenir él mismo ficción comida”) – marca de su relación con los
rechazada (Sem 16). Rechazar la ficción, hombres. La extracción del objeto a destaca,
despedirse del castillo. No es casual que de esa manera, la presencia en la estructura de
Lacan articule este momento de pleno pase esta otra banda no especularizable,
con cierta posición depresiva que imprimiendo la prisa lógica: la función de la
corresponde lógicamente a la caída del SSS y prisa – enfatiza Lacan – es planteada por el objeto
a la certeza anticipada de que la falta es a como causa da deseo. La “pura pérdida” puede
realmente pura pérdida. Sin embargo, esa entonces causar otra ficción de lo real. Lo cual
posición deberá ser atravesada. Sólo se exige, sin embargo, una decisión. Ahora bien,
termina un análisis, por lo tanto, a través de la decisión es un acto solitario. Solitario y sin
un acto que va más allá del sujeto, pues lastre, ya que sus consecuencias no pueden
implica su destitución. Sí, es necesario tiempo ser anticipadas por ningún cálculo. Entre el
(Il faut le temps); no hay cortocircuito para el antes y el después hay un indecidible lógico
atravesamiento del fantasma: no se obtiene sino imposible de calcular. Y esto por razones tan
– subraya Lacan (Sem 20) – después de un largo simples que llegan a ser desconcertantes: el
tiempo de extracción a partir del lenguaje, de algo que pasado se reduce apenas al trazo que soportó
está prendido a él; este “resto de cosa sabida” la inscripción primera y el futuro sólo existe
que se llama objeto a. Para una analizante, en tanto deseo y apuesta. El momento del
una mujer, las herramientas del padre acto provoca así una profunda
también presentaban un valor muy especial transformación en la propia relación del
en la medida en que representaban el acceso sujeto con el tiempo. Aceptando ceder a la
al dicho paterno tomado como imperativo: inexorable mordida de Cronos es posible
tienes que aprender a arreglártelas sola. En la caja entonces experimentar la buena hora que los
de herramientas encontraba los instrumentos griegos llamaban Kairos – tiempo que no
necesarios para hacer todo lo que un hombre sabe, puede ser medido, pero que puede ser vivido.
lo cual incluyó la fabricación, en la infancia, El espejismo de la verdad, del cual sólo se puede
de un pene artificial con el que podía orinar esperar la mentira, no tendrá entonces otro límite –
de pie. En el momento en que acepta su nos enseña Lacan – sino la satisfacción que marca
clásico y sorprendente penisneid tiene un el fin de análisis.
sueño: estaba caminando por París con el REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Zahar, 2007. estabelecido oficialmente.
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LACAN, J. (1946). Formulações sobre a causalidade Seminário não estabelecido oficialmente.
psíquica. In: Escritos. Op.Cit. ________. ((1974-75). R.S.I. Seminário não
_________. (1945). O tempo lógico e a asserção de estabelecido oficialmente.
certeza antecipada. In: Escritos. Op.Cit.
Mais y vont-ils vraiment ? Vérifions encore fuite, au sens de la détalade ; désir comme
qu'ils sont assurés de leur décision, que leur défense dit Lacan. Ajoutons comme défense
départ précédent était bien volontaire. contre le présent.
Arrêtons-nous encore une fois et voyons s'ils
repartent. Oui, repartir deux fois suffit à faire II/ Les temps de l'interprétation
preuve que la première suspension n'était pas Le deuxième temps que nous distinguons est
le fait du hasard. Ce n'est donc pas la mise en celui de l'interprétation. Nous avons dit les
mouvement du sujet qui lui donne sa temps de l'interprétation, non parce qu'ils
certitude, mais la suspension de ce sont grammaticalement variés, mais parce
mouvement. Et c'est la deuxième suspension qu'ils se répètent, à travers des formes
qui donne le sens de suspension vraie à la différentes. C'est le temps du traumatisme.
première. Un temps qui ne se dit pas, il n'est pas un
Voici donc l'objet qui s'offre à moi. temps grammatical, il n'accède pas à
La porte de la prison est sur le point de l'existence langagière. Au contraire, temps du
s'ouvrir et je vais enfin en passer le seuil. Me malentendu, lapsus ou équivoque, il coupe le
voilà libre, bientôt ! Mais libre de quoi ? Ce flux du langage, interrompt la douce
qui, passé la porte s'offre, n'est pas l'espace somnolence du pilotage automatique. Il fait
infini des possibles. Il y a bien un objet qui là surprise, suspend les semblants. Et par là
s'offre, mais, déception en même temps que répète à l'identique le trauma premier, celui
soulagement, cet objet obtenu n'est pas de la prise manquée de l'objet. Avec lui, il
l'objet attendu. Déception, car il ne me reste faut se réveiller, il y a urgence. Il faut éteindre
que la liberté de consommer éventuellement l'incendie provoqué par la chute du cierge
cet objet-récompense, jusqu'à ce que l'effet qui, au lieu de brûler bien à sa place,
de satisfaction en soit passé et qu'il me faille enflamme le corps entier.
repartir en quête du véritable objet.
Soulagement, car si c'était le bon, c'en serait Rendre impossible la chute du cierge, c'est à
cuit de ma quête, et le désir qui me représente quoi s'emploie le névrosé. Par des fixations,
s'abolirait en même temps qu'elle. Je puis auxquelles il arrime le cierge, même si par là il
donc hésiter à me satisfaire de l'objet qui se se fixe un peu trop lui aussi. Jusqu'à se faire le
présente ; hésitations qui correspondent aux servant du cierge, et lui supposer un vouloir
types cliniques des névrose : soit que trop être cierge et ainsi à l'adorer pour s'assurer
menaçant il faille au phobique l'éviter soit que qu'il reste bien cierge bienveillant, c'est-à-dire
trop décevant il faille le refuser, à l'hystérique immobile. Croire savoir tenir le cierge sous
en s'y soustrayant, anorexie de sa son contrôle, par ses rites, c'est rassurant.
consommation donc, et à l'obsessionnel en le Mais le démenti de la réalité ne manque
rendant inadéquat et donc impossible. jamais. L'accident sous toutes ses formes
Je peux aussi être fatigué de la course montre que ce n'était pas ça ! Autre chose
pour un temps, le temps de récupérer, de existe encore, que pour connaître, c'est-à-dire
somnoler. D'ailleurs, avec le pilotage maîtriser, il aurait fallu appareiller autrement !
automatique de l'appareil psychique, je peux Par la répétition des coupures
somnoler et continuer ma course. Que je interprétatives se dévoilent au sujet ses
dorme et rêve, ou que je sois éveillé, c'est la manœuvres pour faire exister à son désir un
même course. cierge doté d'un vouloir qui le protège de
l'incendie, qui assure les semblants qui
Mais quoi qu'il en soit de mon énergie à confèrent une image à l'objet de son désir.
désirer, le sens du désir, c'est la fuite du Ainsi progressivement le cierge apparaît dans
présent, au sens de l'évasion. Si le sens fuit, sa bêtise de cierge, S1.
au sens du tonneau, le sens du désir est la
En effet, il n'y a pas plus de vouloir qui lui manque, n'en sait pas plus que lui.
du cierge que de directeur de prison, et par là Alors que le sujet veut être aimé pour autre
de liberté, d'évasion possible. Il n'y a pas de chose qu'un semblant, pour ce qui le fait
directeur pour décider d'inscrire sur le corps unique.
de chaque prisonnier sa couleur spécifiée ; ce La parole pour cela est sans espoir, de
que nous écrivons S(A)barré. Aucun des devoir ne procéder que du semblant. Reste
prisonniers ne peut déduire de la couleur des que le sujet parle, pour se faire, au-delà des
autres la sienne, à savoir la vraie nature de semblants, se faire reconnaître comme
son sexe, qui est sa signification au-delà de parlant, comme parlêtre.
son anatomie. Le temps de S(A)barré, temps Et il est un autre mode de l'usage du
de l'interprétation, ne peut se quantifier, se langage que n'est pas que semblant, et pas
sérier. Il s'éprouve, dans son ex-sistence. que coupure traumatique non plus : l'écriture.
L'idée que j'aimerais proposer
III / L'acte aujourd'hui est que notre expérience nous
Le troisième temps est celui de l'acte. révèle qu'il n'est de temps présent que dans le
Un temps qui se distingue de celui du désir, temps de l'acte, et que ce temps de l'acte est
avec sa fuite, comme de celui de un temps d'écriture. Ce qui m'oblige à
l'interprétation, qui est suspens, coupure du préciser en quoi le dire, puisqu'il n'y a d'acte
temps où le sujet ne s'appréhende que par sa que du dire, en quoi le dire se fait écriture.
disparition hors de la chaîne de ses Le plus simple est de dire que le dire
représentations, dans l'angoisse. est ce qui des dits, qui fluent et qui fuient, fait
Aussi bien le temps du trauma est sans suite, trace. Une trace qui constitue le sujet ; ou, ce
sans suite nouvelle. Après son suspens, ça qui revient au même, le change.
reprend comme avant, répétition vaine dit Une trace qui se veut écriture ne peut
Lacan. être le fait d'un accident. C'est une trace
Dans l'acte, en revanche, le sujet destinée à faire sens, voulue pour faire sens
répète aussi, mais tout autre chose. A partir pour un autre, son lecteur, qui peut être
du constat de la répétition vaine, il peut l'auteur lui-même à l'occasion. Ecrire, ce n'est
courir le risque absolu qu'il y a à opter sans pas le fait de l'animal qui laisse ses traces sans
garantie. Ne pouvant dès lors que soutenir les y penser, par un accident de la nature, mais
conséquences de son affirmation à partir de c'est la marque de la volonté d'un sujet. Elle
la réponse que les autres voudront bien est donc signe non seulement d'un désir, mais
donner pour lui attribuer un sens. Le sujet du fait qu'un sujet a accepté de s'y déposer
doit s'en remettre à l'autre pour deux choses. sans reprise possible, sans effacement
Authentifier ce qu'il dit, mais surtout possible. Ce qui distingue bien l'écriture de la
authentifier qu'il parle et qu'il a été entendu parole, qui peut tourbillonner dans tous les
comme tel, comme parlant sens, s'annuler - sauf bien sûr la parole
. analysante, où ce qui est dit est dit, en quoi
En effet, que veut dire le sujet, en parlant ? Il elle s'égale bien à l'écrit, ineffaçable sans
veut certainement que l'autre lui confirme laisser de trace résiduelle.
qu'il a bien dit ce qu'il pensait avoir dit, ce Le présent de l'acte est alors le dire
qu'il voulait dire, à savoir par exemple qu'il qui s'écrit, ne cesse pas de s'écrire.
était homme, ou qu'il était femme, ou qu'il Inconsciemment d'abord, dans la parole de
était ou mort ou vivant. Que l'Autre donc désir et dans le symptôme qui l'accompagne
l'assure de ses semblants. Mais le sujet ne sait et supplémente. Méthodiquement ensuite
que trop que les réponses qu'il reçoit de ses dans le parcours d'une analyse, où l'analyste
partenaires ne font que le décevoir dans son est l'archiviste de droit de la chaîne
attente. L'autre ne fait aussi que demander ce associative ainsi que celui qui ponctue cette
dernière, l'ordonne par ses coupures constitués, mais l'un comme l'autre ne
interprétatives. Dans le dépôt final d'une peuvent de cet acte rien transmettre, ils ne
analyse enfin, quand, au-delà du fantasme et peuvent qu'enregistrer qu'il a eu lieu.
de ses mises en scène, s'isolent des bouts de L'historien ne peut qu'y supposer un sens,
lalangue qui, en faisant coïncider des sans accès possible au réel du sujet de
signifiants et la jouissance éprouvée du corps, l'histoire, à sa dimension créatrice. L'œuvre
font la seule certitude du sujet. d'art en revanche fait bien trace de ce que
Enfin peut-être ce dire qui s'écrit au quelque chose s'est réellement passé, comme
présent est-il présent aussi dans la dit Claude Lévi-Strauss, mais trace seulement,
transmission de l'expérience de l'analyse, car le sujet dans son œuvre n'y est déjà plus,
donc dans les dispositifs qui se proposent à cette dernière n'est que déchet de son acte.
nous à cette fin, passe, contrôle, élaboration Cela devrait nous amener à distinguer de
analytique enfin. l'œuvre d'art l'écrit, qui ne peut jamais se
Ainsi, le temps de l'acte réaliserait le réduire au déchet, même s'il lui faut en passer
présent, moment non de promesse toujours par la "poubellication". Il reste en effet
déjà passée comme celui du désir, moment toujours porteur de la singularité de la voix
non de suspens, d'absence du sujet comme de celui qui l'a commis et, contrairement à
dans les temps de l'interprétation, mais temps l'œuvre d'art, ses interprétations, ses lectures,
de présence au contraire, temps d'incarnation aussi ouvertes soient-elles, ne peuvent être
du verbe, de "réélisation" du sujet donc. ouvertes à tous les sens. De ce point de vue,
Ce serait ici le lieu de distinguer écrire et lire se rejoignent dans un présent
l'Histoire, et même l'œuvre d'art, de l'écrit tel toujours répétable, d'une répétition qui se
que nous en parlons avec Lacan. En effet, caractérise, comme celle du savoir, toujours
Histoire comme l'œuvre d'art sont par Lacan première, c'est-à-dire sans perte. Reste à nous
épinglés non de l'acte mais du tour de passe souhaiter à tous d'être de bons lecteurs.
passe. Pourquoi ? Certes, l'un comme l'autre
ne sont pas pensables sans l'acte qui les a
Tempo de Laiusar
Antonio Quinet
E representativa do Pai
simbólico, aquele que une
o desejo com a lei, que
barra o gozo devastador
da Mãe,
normativizador
o pai
que
protege e apazigua, esse
aparição não é o ato dos filhos impondo a
Lei e sim os atos desmedidos do Pai real que
faz a sua lei – lei do gozo – fora de qualquer
Lei do campo do Outro.
Retormemos o mito de Édipo à luz
do pai real e de Totem e Tabu. Quem é o pai
de Édipo? Na verdade ele teve dois pais: o
pai está desaparecendo na aletosfera espessa pai biológico Laio, rei de Tebas, que ele não
produzido pela fumaça do desmatamento da conheceu e sem saber o matou, e Pólibo, que
subjetividade no mundo contemporâneo. De o criou em Corinto. Mas é Laio, que aparece
nada adianta lamentar o declínio da como Pai real cuja desmedida constitui a Até,
autoridade paterna, acusar o pai de a desgraça, a maldição dos Labdácidos e que
humilhado, impotente e desdentado e receber será transmitida e paga por três gerações: o
o que todos já sabem que quem é o escravo próprio Laio, Édipo e seus filhos Etéocles,
da família é o papai. Polinice, Antígona e Ismênia. Laio é filho de
A figura paterna que tem emergido de Lábdaco, rei de Tebas e quando este é
seu obscuro anonimato é o Pai real, o grande assassinado, ele é levado aos 2 anos de idade
fodedor, como diz Lacan, o pai sacana fora para a Frígia sendo recebido pelo rei Pélops
da lei, gozador, que trata os filhos como que o adota. Laio tem também dois pais.
objeto. Temos como exemplos recentes o Pélops tem um filho Crísipo o qual, ao
austríaco Joseph Fritzl mantendo em chegar na adolescência, é entregue a Laios
carceragem sua filha por 18 anos nela para educá-lo. Este se apaixona pelo menino
engendrando seus próprios filhos, e o pai e o rapta e Pélops lança, então, a maldição:
violento, possuído por uma ignorância feroz "se tiveres um filho ele te matará e toda tua
como o pai de Izabela que auxiliado pela descendência desgraçada será". Daí vem a
madrasta num ato insano a atirou pela janela maldição e toda a história cujo
abaixo. desdobramento está na peça de Sófocles da
Nossa sociedade contemporânea qual vocês assistirão minha versão após esta
parece viver o mito de Totem e Tabu às mesa. A desmedida de Laios não foi ter tido
avessas: o desmoronamento da Lei simbólica relações com Crísipo, pois a relação
deixa aberto o caminho para o retorno do pedagógica erastes-erômenos era aceita como
cadáver vivificado do pai morto, o Urvater, uma relação pedófila normal de amante-
figuração do Pai real, como pai gozador da amado, professor-aluno na qual o saber não é
horda primitiva, tirânico abusador e transmitido sem Eros. A hybris de Laios foi
assassino, que é chamado por Lacan de pai tê-lo seqüestrado e com isso ter rompido as
Orangotango, O assassinato do pai e sua leis da hospitalidade e traído aquele que o
substituição simbólica por um totem, fez acolhera. A maldição de Pelops para Laio é o
Freud dizer que no inicio era o ato – no
que o faz furar os pés de seu filho Édipo e Passando do mito á estrutura: é
mandar matá-lo. preciso tempo para se haver com o
Na minha interpretação, Édipo não impossível do furo do simbólico lá onde jaz o
quis saber do crime do pai e nem de sua gozo do pai rela imaginarizado uma vez que
tentativa de assassinato. Ele, em sua pai real e pai imaginário tendem a ser imiscuir
investigação, foi até o ponto em que um no outro. É o pai que a parece como
descobre que ele matou o pai e que a mulher abusador e criminoso na histeria e na neurose
com quem está é sua mãe. Mas não vai, além obsessiva cujo gozo se sintomatiza no filho.
disso pois não quis saber da maldição É o pai de tal paciente do hospital que a
herdada e da desmedida paterna. espancava quando ainda bebê ela chorava e
Se compararmos o desenvolvimento trágico que hoje seu sintoma é um choro sem fim e
da investigação de Édipo sobre sua origem, sem razão; ou o pai militar que colaborou
como o fazem Freud e Lacan, com o com a ditadura militar de tal outra analisante
percurso de uma análise podemos dizer com que faz de seu corpo um palco de torturas,
Lacan que se Édipo tivesse tido tempo de ou o pai fiscal do imposto de renda de um
laiousar ele talvez não teria tido o desfecho obsessivo que se enriqueceu ilicitamente
que teve. deixando para o filho a dívida do eterno
Lacan introduz esse comentário sobre desemprego.
a peça de Sófocles Édipo Rei no seminário O neurótico prefere salvar o pai do
RSI quando aponta que o furo do simbólico, que se deparar com sua canalhice; ele prefere
correspondente ao recalque originário, é a sofrer com seu sintoma do que saber do
morte. A peste, diz Lacan, é isso: a morte é crime do pai e suas conseqüências. Prefere,
para todos. "É preciso que a peste se como Édipo, se sentir culpado de seus atos
propague em Tebas para que esse "todos" do que desvelar a desmedida do gozo
cesse de ser de puro simbólico e passe a ser paterno. Deparar-se com o real do pai é
imaginável. É preciso que cada um se sinta confrontar-se com a conseqüência da falta
concernido pela presença da peste". Esta é radical do Outro, ou seja, o gozo mortífero
portanto, o real do furo do simbólico para além desamparo. E para isso é preciso
imaginarizado – peste que é o Laio-usar – gastar o Laio de cada um.
desdobrametno da calamidade provocada A posição do pai real, segundo Lacan,
pela Esfinge, outra figura da morte e da Até, está articulada em Freud como um
desgraça, dos Labdácidas. Édipo, continua impossível e não é surpreendente, diz ele, que
Lacan, só matou o pai por não ter se dado o encontremos sem cessar o pai imaginário. É
tempo de Laiusar. Se o tivesse feito, o tempo uma dependência necessária, estrutural. (sem.
que fosse preciso, teria sido o tempo de uma XVII). É o que vemos na figura do fantasma
análise, pois era para isso que ele estava na do pai: o espectro do cadáver vivo, como o
estrada" (Lacan, RSI, lição de 17/12/1974) pai do Homem dos ratos que apesar de
Laiuser em francês é derivado de lalue morto lhe aparece vivo no meio da noite e o
que significa discurso, fala, peroração no pai de Hamlet que além de aparecer tem fala.
jargão das Escolas. User em francês significa O espectro é o habitante dessa zona entre-
utilizar e também gastar,usar até acabar como duas-mortes, campo de gozo, do Hades ao
uma sola de sapato que de tanto se usar vai inferno, onde penam as almas pecadoras e
gastando e acaba. Na análise é preciso tempo criminosas à espera da segunda morte. "Sou o
para usar e gastar o pai real. Tempo para se ir espírito de teu pai e vivo errante noite e dia
para além do desejo de salvar o pai, até que a podridão de meus crimes seja
defrontar-se com seu crime e vencer a ordem queimada e purificada" – diz o pai de Hamlet
de ignorância feroz. no início da peça. As mitologias criaram esse
habitat para o pai real. Mas quem queima é o
filho. Ele arde por causa dos pecados do pai, salvaram e a toda a descendência de Chan foi
como diz Lacan (Seminário XI). Pai, não vês amaldiçoada. O que Noé fazia nu na tenda,
que estou queimando por causa de teus jamais saberemos, mas sem dúvida era algo
pecados? E o espectro do pai de Hamlet lhe da ordem de um gozo que filho algum
diz que "a menor de minhas faltas angustiaria poderia em tempo algum ver ou saber. Toda
tua alma, gelaria teu jovem sangue e teus nudez do pai será castigada... no filho.
olhos saltariam das órbitas como os astros de O pai que mata o filho é abordado
suas esferas..." por Lacan a partir do sacrifício de Isaac por
Os crimes do pai são de um real que seu pai Abraão comentado por Kierkegard
não cessa de não se dizer para o filho e no descrito em temor e tremor em que descreve
entanto insiste e se tornam um sintoma do quatro variações do mito que se diversificam
filho – como a dívida do pai do homem dos a partir do ponto em que Deus diz a Abraão:
ratos e o gozo oral do pai de Dora. "sacrifica teu filho, mate-o". É na primeira
O espectro recobre, mascara, vela e que ele descreve a tentativa de filicídio..
também desvela o pai real ou o real do Pai. O Abraão agarrou Isaac pelo peito, jogou-o no
espectro é a encenação da articulação entre o chão e gritou: "Estúpido! Crês tu que sou um
pai real e o pai imaginário. É o que se pai? Não, não sou teu pai. Sou um idólatra!
encontra, como diz Marc Strauss, na fantasia Crês que estou obedecendo a um mandato
de Bate-se numa criança em que as cenas divino? Não. Faço isso somente porque me
vêem ao sujeito petrificar, cristalizar um dá vontade e porque me inunda de prazer!".
excesso como um ciframento primeiro, uma Abraão aparece como o pai real que diria:
representação do inominável do gozo (Tréfle, "Vou te matar por puro gozo!". "Então Isaac
maio 1999, nº 2, p. 48). Não importa se é exclamou angustiado: 'Deus de Abraão tende
efetivamente do gozo do Pai que se trata ou piedade de mim! Sê meu pai, já não tenho
do gozo imaginarizado do Pai e sim do outro neste mundo!'. Abraão se dirigiu a Ele,
dispositivo que o sujeito emprega para dizendo: Senhor onipotente receba minha
endossar um gozo que se apresenta a ela humilde ação de agradecimento, pois é mil
como exterior, vindo do Outro. vezes melhor que meu filho acredite que sou
O pai do crime não é o pai da lei, o um monstro do que perca a fé em ti"
Nome-do-Pai. O pai estuprador, ladrão, (Kierkegaard, 2004, p. 22). O pai monstro,
assassino, são figuras do pai imaginário que capaz de matar o filho nem que seja por
do fórum à hybris do pai: o gozo desmedido. amor a Deus, é o que é transmitido ao filho
A desmedida do pai com seu real é aquilo que como seu pecado.
o filho, com força, não quer saber. O homem É a propósito dessa passagem de
é como Édipo, filho de laio – ele não quis Kierkeggard que Lacan diz no Seminário XI
saber da desmedida paterna. No lugar do pai que o que se herda é o pecado do pai. Isaac
real existe, diz Lacan, a ordem de uma herda o crime do pai de ter desejado matá-lo.
ignorância feroz (Seminário XVII, p. 159). Eis a herança de Isaac e também a de Édipo.
Há uma interdição: "Está excluído Diferentemente de Abraão, que no mito
que se analise o pai real, diz Lacan em judaico-cristão recebe a ordem de Deus de
Televisão, o melhor que se pode é o manto matar o filho predileto como prova de seu
de Noé, quando o pai é imaginário" amor, Laios ele mesmo decide matar seu
(Télévision, Seuil, p.35). Um dia Noé se filho Édipo para evitar que este o mate
embriagou e ficou nu em sua tenda. Um de segundo a maldição oracular, fura-lhe então
seus filhos, Chan, o viu e foi chamar os os pés e o entrega a um pastor para ser
outros dois que, ao chegar, taparam os olhos jogado no lixão do monte Citéron.
e o cobriram com um manto para esconder a O Urvater de Totem e tabu, Noé
nudez paterna e saíram de costas. Estes se com sua nudez, o Deus de Abraão, Yavé com
sua ignorância feroz e Laios são figuras do crime do pai da origem da Até dos
imaginárizadas e míticas do pai real. Labdácidas - móvel do filicídio que faz de
Édipo carrega em seu nome e em seu Édipo o objeto rejeitado pelo Outro – é o
corpo a marca do crime do pai. A ferida selo de seu ser de dejeto. Rejeitado pelos pais
causada por seu pai ao furar-lhe os e, no final da peça de Sófocles, ao se apagar
tornozelos para pendurá-lo como um animal como sujeito, pelo Outro social, que
e expô-lo e o edema que ocasionou foi o que representa Tebas. Óidipous não acredita em
lhe deu o apelido de Oidipous, de oiden, seu ser de synthoma, não acredita que ele seja
edema nos pés. O apelido virou nome capaz de um dizer, pois ele não quer saber
próprio e a ferida deixou-lhe coxo. Seu pé que se trata aí de uma cifra do gozo. Eis
carrega um saber (oida) sobre o crime do pai porque erra em sua ignorância e fica
do qual Édipo não quis saber. A esfinge, escravizado pelo gozo do Pai, servo do
como aponta Jean-Pierre Vernant, enunciava destino. Édipo está preso à ignoerrância.
o enigma dos pés e equivocava com seu O crime do pai real como gozo
nome: "tetrapous, dipois, tripou" disse ela desmedido é transmitido como erro trágico
para Óidipous que ao dizer o homem como que o filho carrega como óidipous com seu
resposta suprimiu, como diz Lacan, o sintoma no pé.
suspense da verdade. A verdade sobre a Por um lado encontramos a herança
castração e o gozo de laios – o pai real se da castração que se transmite de pai para
manifesta em Édipo como aquele que filho: Lábdaco , o manco, Laio, o torto, e
determina a Até família dos Labdácidos do Édipo, pé inchado. Por outro lado, há a
qual ele e sua descendência são herdeiros e transmissão da maldição que Édipo herda
também se manifesta como ignorância feroz: como lote do gozo do pai inscrito em seu
mandamento superegóico de não-saber. Eis nome e seu corpo. Essa letra é o nome do
porque para além do desejo de saber que o gozo do pai real. O nome que condensa o
impulsiona a querer investigar sua origem, gozo inscrito no enigma da Esfinge que
Édipo é possuído pela paixão da ignorância. Óidipous não ouviu.
Aliás, não será a força dessa paixão que faz O tempo da análise é o tempo de
Lacan dizer que finalmente não existe desejo laiusar: tempo de laio-ousar – tempo de ter a
de saber algum? ousadia de se confrontar com o crime e o
O que Édipo ignora é que seu nome é gozo desmedido e ectópico do sujeito, que
uma letra que cifra um gozo, o gozo do ele localiza no lugar do vazio do Outro –
Outro paterno: o "x" da função do synthoma, lugar topológico da desmedida do Pai real. É
ou seja, uma escrita do gozo do Inconsciente. preciso tempo de peroração para o sujeito
Óidipous, Pé Inchado é o signo do gozo do gastá-lo o suficiente para que se revele o que
Pai que desejou matá-lo e do qual ele não é: um nada esvaziado de gozo. O tempo de
quis saber; Óidipous, Pé-que-sabe é a letra laiusar é o tempo de olhar para os pés, ouvir
que confere a marca do saber do real, saber os pés e pensar com os pés.
ne peut pas être sans conséquences sa fin, comme pour l'analyse d'ailleurs. Il y a
pratiques. les fins de séance qui concluent dégageant
C'est la variable non logique qui un point de capiton, qui généralement il
amène à cette dévalorisation. C'est elle qui satisfait ; les fins qui questionnent en
fait apercevoir que l'analysant travailleur est soulignant un terme qui relance la question
un analysant qui se plaît à la vérité transférentielle, et puis les que j'ai appelées
inconclusive, à son hystorisation avec un Y, fins suspensives qui coupent la chaîne pour
et c'est un euphémisme, il faudrait dire viser le suspens du sens. La séance courte
clairement que s'hystoriser et jouir de son F. lacanienne quasi ponctuelle y rajoute de faire
c'est la même chose, ce pourquoi Lacan dit passer en acte le rasoir de la coupure entre
que l'analysant consomme de la jouissance l'espace des dits, des semblants, et le présence
phallique et que l'analyste se fait consommer. réelle. Les deux premières, conclusives ou
Dès lors l'amour de la vérité apparaît pour ce questionnantes sont des pousse à
qu'il est, symptomatique, et on sait que l'hystorisation de la vérité.
foisonnement de bavardage, le dire des Les deux secondes plutôt des pousse
bêtises à profusion s'entretient de la au réel. Elles ont des affinités avec
satisfaction prélevée, qui ajourne le moment l'interprétation lacanienne apophantique, qui
de conclure. comme l'oracle, je cite, "ni ne révèle ni ne
D'ou la question des moyens que se cache, mais fait signe.". Signe de ce qui ex-
donne une analyse orientée vers le réel et de siste à l'hystorisation du sujet. Dans le DC de
la responsabilité de l'analyste dans cette la cure Lacan avait avancé l'idée d'un
destitution de la vérité. interprétation silencieuse, doigt pointé vers le
Je retrouve là le problème de la Sa du manque dans l'Autre. Au terme, c'est le
séance lacanienne et aussi de l'interprétation doigt pointé vers le réel qui vient à cette
proprement lacanienne. De la séance courte place.
j'en ai déjà parlé dans le texte "Une pratique L'hystorisation se fait par les temps dit
sans bavardage" j'en dirai aujourd'hui qu'elle d'ouverture de l'ics. dans lesquels la vérité se
cible le réel, que vise l'analyse lacanienne. déplie dans la structrure de lgge, le thème est
La question n'est pas d'objecter à connu et a fait déplorer les temps de
Lacan que l'inconscient demande du temps fermeture. Mais le réel quelle que soit sa
pour se dire, il est le premier à l'avoir décliné définition, se manifeste en temps de
sous toutes les formes, la question est de fermeture de l'ics, voire de rejet de l'ics
savoir si le battement ouverture-fermeture de bavard, Sicut palea. L'ics réel notamment est
l'inconscient qui se produit dans le transfert un ics fermé, fermé sur ses uns de jouissance.
est isomorphe à l'alternance séance-hors Maintenant, entre la vérité et le réel il
séance, autrement dit à la présence de n'y a pas à choisir dans l'analyse. Pas d'analyse
l'analyste. Toute l'expérience montre que sans hystorisation du sujet. Dans la
non. diachronie, le réel est au terme du processus,
En effet elle fait fonctionner aussi bien celui de la séance que de l'analyse,
l'interruption, la coupure du temps; comme où il fonctionne comme limite, donc point
une interprétation de ce qui habite la vérité d'arrêt de la vérité menteuse. Dans la
que le sujet articule, un doigt pointé donc synchronie réel et vérité sont disons noués,
vers le réel qui leste l'hystorisation du sujet ce qui exclut que de la vérité, malgré toute la
dans l'analyse. L'analysante disant que la dévalorisation que l'on y apporte, on en sorte
séance courte c'était comme un coït complètement. L'ics réel "tripote" avec la
interrompue ne pensait pas si bien dire. vérité. C'est si vrai qu'au moment même où
Mais en fait je crois ce qui compte Lacan affirme l'ics réel, Lacan réitère l'idée
dans une séance quelque soit sa durée, c'est que la passe consiste à témoigner de la vérité
ce genre de rêve est l’indice d’un effort du sujet s’efforce de revenir dans ses rêves, sont
sujet pour symboliser un événement des moments qui ont déterminé ce que le
important qui est un moment de passage : sujet a été, ce qu’il est devenu, ce qu’il aura
un examen, un déménagement, la disparition été quand…ce qu’il aurait pu être si…bref, il
d’un proche. Si l’épreuve se répète dans le s’agit d’essayer de symboliser, de serrer au
rêve, c’est que quelque chose échappe à plus près ce moment, ce laps de temps, cet
cette symbolisation, c’est que quelque chose instant où tout s’est précipité pour faire que
n’est pas pris dans la représentation de le sujet est devenu ce qu’il est.
l’événement. Il ne s’agit pas de l’événement Ce n’est pas pour rien que Lacan a
en soi, car, encore une fois, un examen utilisé l’apologue des trois prisonniers pour
réussi n’a aucune raison d’être difficile à cerner ce qu’il a appelé le temps logique, cet
symboliser. Alors, pourquoi faire comme si instant de hâte nécessaire pour que le sujet
cet événement heureux n’avait pas existé ? puisse se présenter tel qu’il est et sortir de la
En général, si l’on interroge le rêveur, il prison de ses identifications aliénantes. Ce
nous dit que dans son rêve, il doit repasser temps logique est propre à chacun, il fait
l’examen et fait comme s’il ne l’avait pas partie de ses attributs, il participe de son
passé tout en sachant confusément que c’est mode d’être, même s’il n’en a lui-même
faux. Ce n’est donc pas la nature de aucune espèce d’idée. C’est ce qui me fait
l’événement qui pose problème mais sa dire que ce temps logique fait partie de la
structure même d’événement, c’est à dire catégorie de l’objet tel que Lacan en a
une étape signifiante qui trace une frontière dessiné le contour et c’est d’ailleurs ce qu’il
entre un avant et un après. Le reproche que finira par dire dans les commentaires de son
le sujet se fait, c’est peut-être, avant tout, le apologue qu’il fera bien plus tard dans son
reproche de vouloir nier le franchissement, enseignement, que ce soit dans son
de vouloir revenir dans l’avant alors qu’il est séminaire Encore où il nous dit que l’objet a
déjà dans l’après. Mais au-delà du caractère joue sa fonction dans la hâte ou que ce soit
illicite de ce voyage dans le temps que dans Les non-dupes errent : quand il dit
permet le rêve, la répétition de ce genre de carrément que « l’objet a est lié à cette
rêve nous suggère que le sujet ne renonce dimension du temps. » Autrement dit, cet
pas à saisir dans cette symbolisation quelque objet que le rêveur essaye d’attraper dans
chose d’évanescent, quelque chose son rêve répétitif qui paraît se résumer en
d’insaisissable qui se découpe sur la première lecture à une recherche du bon
frontière entre l’avant et l’après. temps perdu, en réalité cet objet est
Si les heures de l’horloge défilent de inatteignable parce qu’il n’a pas d’être, d’où
façon rigoureusement constante, on ne peut la répétition inlassable pour essayer de
pas dire que, pour un sujet donné, le temps l’approcher.
passe de façon continue. La notion même Le temps, comme objet réel, n’a pas
d’événement en témoigne. Mais ce qui fait d’être, c’est ce qui lui confère sa fonction la
événement pour l’un ne fera pas forcément plus commune pour représenter notre
événement pour son voisin. Cette manque à être. C’est ce que disait déjà Plotin
temporalité dont il est question dans dans l’Antiquité grecque : le futur est le lieu
l’événement n’a donc rien à voir avec le où nous situons ce qui nous manque pour
temps qui passe, ni avec le temps de être. Si nous courons vers le futur c’est dans
l’Histoire, cette temporalité concerne le l ‘idée d’y trouver plus d’être. Autrement dit,
sujet. Elle est en rapport étroit avec le sujet, le temps qui nous manque pour être, ce
au point qu’on pourrait dire qu’elle participe après quoi nous courons, n’est rien d’autre
aux attributs du sujet, au sens grammatical que notre manque à être structural.
du terme, car ces évènements sur lequel le
Je pourrais rajouter que cet objet mettre en relation ces cinq présentations de
auquel nous confions de représenter notre l’objet a, c’est la fonction du temps articulée
manque à être et qui se situe en quelque au langage puisque ce schématisme est celui
sorte en marge du langage, n’en est pas du graphe. C’est un parcours fléché, et cette
moins un produit. Le temps est produit par flèche, on pourrait la nommer flèche du
le sujet qui parle. Ceci n’est pas sans rapport temps. Mais ce parcours fléché n’est pas
avec la langue qui conjugue. Depuis les rectiligne, la flèche monte, comme s’il
Grecs et les Latins nous distinguons le passé s’agissait d’une progression du stade oral, au
le présent et le futur. « le seul fait de stade anal pour arriver au stade phallique et
conjuguer suffirait à prouver que le temps là, la flèche s’inverse comme s’il s’agissait
existe. » Mais certaines langues ne d’une régression vers le niveau inférieur où
conjuguent pas, c’est le cas du chinois dont Lacan inscrit la fonction du regard, au même
les verbes ne prennent pas la désinence. Il niveau que le stade anal, puis vers le niveau
s’en suit – à en croire François Jullien – qu’il encore inférieur où il situe la fonction de la
n’y a pas de concept du temps dans la voix qui se retrouve au même niveau que le
pensée chinoise. La sagesse chinoise stade oral. Cette construction de Lacan m’a
s’intéresse plus au moment qu’au temps en toujours paru très importante. Elle articule
lui même. Bref, si la philosophie occidentale demande, désir et plus de jouir et il faut ces
s’efforce, jusqu’à l’obstination parfois, de trois registres pour saisir la fonction logique
conceptualiser ce produit du langage, ce de l’objet a. Sur la branche montante de ce
n’est pas pour rien. parcours, on peut situer le temps de
Pour résumer, au point où nous en l’aliénation qui se décline à deux niveaux, le
sommes, j’ai essayé de montrer en quoi le niveau oral et le niveau anal. Au niveau oral,
temps est un réel qui personnalise chacun, il le nourrisson totalement dépendant doit
est un attribut du sujet, particulièrement s’adapter à l’exigence de la demande de
convoqué dans son acte en tant qu’il fait l’Autre qui impose ses scansions dans la
événement voire avènement, il est satisfaction du besoin. C’est là que l’Autre se
insaisissable bien qu’imaginable sous les montre comme le maître du temps : « mon
espèces du temps qui passe , du temps qui heure sera la tienne ». Ceci se renforce au
manque, du temps perdu, bref, du manque à niveau anal où l’Autre impose encore plus
être et il est un produit du langage. Que clairement son heure pour la satisfaction des
faut-il rajouter de plus pour vous convaincre besoins. A ceci près qu’à ce niveau le sujet
qu’il fait partie de la catégorie de l’objet a ? Il est un peu plus en mesure de s’y opposer,
faudrait pouvoir dégager sa fonction dans puisqu’il peut se retenir, ce qui lui permet
l’aliénation à l’Autre puisque c’est là qu’on d’inverser le processus et de prétendre
peut saisir au mieux la fonction de l’objet a imposer à l’Autre son heure en se faisant
de Lacan comme reste de l’opération qui attendre. Nous sommes là dans le temps de
tente d’inscrire la jouissance du vivant dans l’aliénation et je crois qu’on peut l’assimiler à
l’Autre du signifiant. l’instant de voir du sophisme des trois
Dans son séminaire l’Angoisse prisonniers puisque c’est la même logique
Lacan ébauche cinq stades pour cette qui y prévaut : le sujet y mesure ce que son
inscription et il les met en relation sur une identité doit à l’Autre. Le troisième niveau
sorte de graphe à trois niveaux. Il me faut où Lacan inscrit le stade phallique, c’est le
donc voir comment inscrire le temps dans temps où le sujet peut saisir le sens de son
cette construction, étant bien entendu que je aliénation, l’objet oral et l’objet anal en
ne compte pas rajouter un sixième stade. Il répondant à la demande de l’Autre y sont
suffit de relire la leçon du 19 juin 1963, pour mesurés à l’étalon de l’objet du désir de
s’apercevoir que ce qui permet à Lacan de l’Autre, c’est à dire au phallus.
Tempo e Entropia
Sonia Alberti
“Não existe tempo no mundo não transformado, não medido, não analizado”.
Dr. João Luiz Kohl Moreira, físico.
mas regido, singularmente, pela pulsão de 22“Mais si vous plaquez là-dessus les signifiants, c’est-à-dire si vous entrez dans la
voie de l’énergétique, il est absolument certain qu’il n’y a eu aucun travail” (idem,
morte – aquela que Freud associa ibidem).
Tive a oportunidade de aprofundar estar entre nós nesses dias, mas nos
a questão do gozo como processo deixou, em 9 de janeiro passado.
cíclico24 quando tentava entender o que Levanto minha hipótese: o corte
Lacan (1968-9) articula em seu Seminário na transferência, o corte como
XVI sobre a morte como encontro do significante (conforme o Seminário 9 –
limite mais baixo do ponto supremo com Lacan, 1961-2), introduzindo o tempo
o mais alto do ponto ínfimo. O processo lógico, interrompe o processo cíclico
cíclico – que não deixa de implicar a entrópico, promovendo, em
repetição, mas a repetição na qual sempre conseqüência, a neguentropia.
se perde – é sem dúvida o processo que Estratégia do psicanalista,
permite a contagem do tempo. Contagem conforme a Direção do tratamento e os
do tempo, ciframento e gozo separam-se princípios de seu poder 27, a transferência é
do inconsciente pela letra que lhes faz repetição, mas da tiquê (répétition à la tyché),
litoral (Lacan, 1971-2a). O que finalmente e é dever do analista retificá-la na
nos leva à provocação: e o tempo lógico? interpretação28. Lacan lembra, em seu
Seminário 11, que a transferência é antes de
O tempo lógico e a castração. mais nada, conforme Freud,
Minha visada com esse trabalho é Übertragnungswiderstand – resistência da
contribuir para a discussão da função do transferência –, na medida “que o
tempo numa psicanálise, no que tange a inconsciente se fecha por meio da
sessão analítica, levando em conta a transferência”29. Rendendo homenagem,
disjunção entre a produção dos S1 no por sua vez a Freud, Lacan observa nesse
discurso analítico e a correlata perda de Seminário que ele “descobriu os
gozo, no mesmo discurso, ou seja, os mecanismos do inconsciente. Que a
próprios S1 no lugar do mais-de-gozar relação do desejo à linguagem como tal
(cf. “O saber do psicanalista”, Lacan, não ficou velada para ele é justamente o
1971-225). Como observa Lydia Gomes traço de sua genialidade, mas isso ainda
Musso, nas “Preliminares” de nosso não é dizer que ele tenha [...] plenamente
Encontro, a partir do texto “Variantes do elucidado [...] a questão da
tratamento padrão” (Lacan, 1955), desde transferência” . Em sua tentativa de fazê-
30
cedo Lacan imiscui tempo e transferência lo então, Lacan – que até o final de seu
e ela cita: “Eis porque a transferência é ensino articula a transferência ao amor –,
uma relação essencialmente ligada ao propõe que a parte de real do sujeito
tempo e ao seu manejo”26. Gostaria de “interessada na transferência, que é ela
articular a conclusão de meu trabalho a que fecha a porta, ou a janela, ou a
essa observação que é aqui também uma veneziana, como queiram, e que a bela
homenagem à nossa colega que queria
27Lacan, J. “La direction de la cure et les principes de son pouvoir” in Écrits.
24Alberti, S. “O bem que se extrai do gozo” In Stylus, abril 2007, no. 14, p. 71-2. 28Lacan, J. Seminaire 11, Les quatre concepts fondamentaux, p.74. “[...] la rectifier
25Cf. o artigo “O bem que se extrai do gozo”, no qual se verifica a mudança dos c’est le devoir de l’analyste, dans l’interprétation du transfert”.
lugares nos discursos a partir dos desenvolvimentos na conferência de 3 de fevereiro 29 “que l’inconscient se referme par le moyen du transfert”. (Lacan, Le Séminaire,
de 1972 sobre “O saber do psicanalista” (Alberti, S. In Stylus, abril 2007, no. 14, p. livre XI::146)
71-2). 30“a découvert les mécanismes de l’inconscient. Que ce rapport du désir au langage
26Lydia Gómez Musso, Barcelona, novembro de 2007. “A Transferência é a comme tel ne lui soit pas resté voilé est justement là un trait de son génie, mais ce
intromissão do tempo de saber no inconsciente”. http://www.vencontro- n’est pas encore dire qu’il ait [...] pleinement élucidé [...] la question massive de
ifepfcl.com.br/textos/pre6TransferPT.pdf. transfert” (Lacan, Seminaire XI, p.21).
com quem se pode falar está atrás, que ela LACAN, J. (1955) “Variantes de la cure type” in
Écrits. Paris, Seuil, 1966.
só demanda reabrir a veneziana. E é bem ________ (1956) ““D’une question
por isso que nesse momento a préliminaire à tout traitement possible de la psychose” in
interpretação se torna decisiva pois é a ela Écrits. Paris, Seuil, 1966.
que devemos nos dirigir”31. Esta “bela” ________ (1958) “La direction de la cure et
les principes de son pouvoir” in Écrits. aris,
que podemos associar à elaboração de Seuil, 1966.
Lacan do desejo do psicanalista ainda ________ (1961-2) “Le Séminaire, livre IX,
nesse mesmo Seminário, solicita a L`identification”. Inédito.
________ (1964-5) Le Séminaire, livre XI, Les
interpretação como ato analítico, a quatre concepts fondamentaux de la psychanalyse. Paris,
provocar a reabertura do inconsciente e, Seuil, 1973.
por conseguinte, a retomada da ________ (1968-9) “Le Séminaire, livre XVI,
D`un Autre à l`autre”. Inédito.
atemporalidade. ________ (1969-70) Le Séminaire, livre XVII,
Então, “que o inconsciente se L`envers de la psychanalyse. Paris, Seuil, 1991.
fecha por meio da transferência” é a ________ (1971-2) “O saber do psicanalista”.
constatação do efeito, ele mesmo, Inédito.
________ (1971-2a) Le Séminaire, livre XVIII,
entrópico da própria psicanálise, e D`un discours qui ne serait pas du semblant.
introduzir aí o tempo lógico – e já não Inédito.
repetir o cronológico – é transformar tal ________ (1973) “L’Etourdit” in Scilicet, no 4,
Paris, Seuil.
efeito entrópico em ato analítico a ________ (1973-4) “Le Séminaire, livre XXI,
reinserir a função da atemporalidade e Les non dupes errent”. Inédito.
assumindo, por sua vez, o lugar de objeto MUSSO, L. (2007) A Transferência é a intromissão do
tempo de saber no inconsciente
a que o faz cair da idealização, sem o que, http://www.vencontro-
a “transferência seria uma pura e simples ifepfcl.com.br/textos/pre6TransferPT.pdf
obscenidade”32. Por quê? Porque
reintroduziria, necessariamente, o ciclo
das repetições de sempre “o mesmo
fracasso”33.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ALBERTI, S. “O bem que se extrai do gozo” in
Stylus, abril 2007, no. 14.
BOUSSEYROUX, M. “Question 3 in 'Réponses
aux
questions'”www.champlacanienfrance.net/IMG/pdf/
mbousseyroux.pdf
FREUD, S. (1905) “Drei Abhandlungen zur
Sexualtheorie” in Studienausgabe. Frankfurt a.M.,
S.Fischer, 1972. v. V.
________ (1920) “Jenseits des Lustprinzips”
in Studienausgabe. Idem, v. III.
31 “intéressée dans le transfert, que c’est elle qui ferme la porte, ou la fenêtre, ou les
volets, comme vous voudrez, et que la belle avec qui on peut parler, est là derrière,
que c’est elle qui ne demande qu’à les rouvrir, les volets. Et c’est bien pour cela que
c’est à ce moment que l’interprétation devient décisive, car c’est à elle qu’on a à
s’adresser” (idem, p.147).
32 Le “tranfert serait une pure et simple obscénité” (Lacan, Le Séminaire, livre XV,
L`acte psychanalytique:94).
33toujours du “même ratage” (Seminaire XI:165).
épaisseur et le nombre réel, la vraie perte 1 – Lacan J., Le Séminaire, Livre XXV, Le moment
dans le miroir, le trou autour duquel de conclure, 1977-1978, séance du 09/05/1978
2 – Lacan J., Autres Ecrits, l’Etourdit, p.458
l’imagination peut broder. 3 – Lacan J., Le moment de conclure, op. cit.,
La corde qui fait la trame de toute séance du 11/04/1978
étoffe doit avoir une consistance réelle et 4 – Lacan J., Le moment de conclure, op. cit.,
non imaginaire pour qu’il y ait séance du 09/05/1978
construction. L’expérience de l’espace- 5 – Lacan J., Le Séminaire, Livre XXI, Les non-
dupes-errent, 1973/1974, séance du 11/12 /1973
temps que l’on construit dans une analyse 6 – Lacan J., L’Etourdit, op.cit., p.461
est d’un autre imaginaire que l’adoration 7 – Lacan J., L’Etourdit, op. cit. p.478
pour le corps que l’on a. Alors que dit 8 – Lacan J., L’Etourdit
Lacan dans sa Conférence à la Columbia 9 – Lacan J., Autres Ecrits, …Ou pire p.547
University en Novembre 75, que si 10 – Lacan J., idem
11 – Lacan J., Les non-dupes errent, op. cit., séance
l’homme insiste pour avoir un corps, il du 11/12/1973
serait plus censé de dire qu’il est un corps. 12 – Lacan J., Le Séminaire, Livre XXII, RSI,
C’est même sa seule consistance, sa Ornicar n°4, séance du 11/02/1975
véritable identité (18). 13 – idem, RSI, séance du 11/03/1975
Le temps dans une analyse est à 14 – idem, RSI, Ornicar n°5, 08/04/1976
15 - …Ou pire, op. cit., p.548
articuler dans sa dit-mension de Réel, 16 – Lacan J., Le Séminaire, Livre XXVI, La
l’écriture du nœud même, la père-version, topologie et le temps, 1978-1979, inédit.
la version du sinthome, le seul intérêt pour 17 – Lacan J., Les non-dupes errent, op. cit., séance
la psychanalyse. du 9 Avril 1974
18 – Lacan J., Scilicet n°5, Conférence à la
BIBLIOGRAPHIE Columbia University, p.49, Edition du Seuil, Paris,
1976.
Tu/er la mort
Martine Menès
« Si vis vitam, para mortem » est angoisse devant la vie) est l’analogon de
l’angoisse de castration , ce que Lacan
e rapport à la temporalité poursuit en les déclarant interprétables de
révèle la structure d’un sujet
L
façon équivalente, elle ne peut entièrement
mis au pied du mur du réel, s’y réduire.
entendons par là, pour Le temps fait symptôme
synthétiser, le rapport au Celui-ci, que j’appellerai Narcisse,
vivant, au sexe, à la mort. Le comme l’homme-fleur du même nom,
temps ne passe pas, c’est s’abîme dans la contemplation d’un reflet
l’être humain qui passe sous qu’il ignore être le sien. En arrêt sur image,
ses arcanes, qu’il méconnaît dans la aucune date, aucun rendez-vous, aucun
psychose et qu’il construit dans la névrose. souvenir, ne fait point de capiton. Narcisse
Comment traiter l’irruption de réel se meurt éternellement et se transforme
qui noue vie et sexe à la mort, évènement peu à peu en objet. Echo s’époumone en
qui n’existe ni pour celui auquel c’est arrivé vain à essayer de le prévenir et de l’arracher
puisque le sujet mort ne sait pas qu’il est à cette lente dévitalisation. Il est vrai que
mort, ni pour celui qui y pense puisqu’il ne pour elle aussi la pulsion fonctionne en
peut jamais n’en être que spectateur ? Sans boucle sur elle-même puisque sa voix lui
traces ni mots cernant la chose, vivre se revient indéfiniment sans être entendue.
sachant mortel est une décision qui Pour ce patient, il s’agit que le
suppose un consentement non seulement à psychanalyste ne soit pas à cette place.
la castration mais aussi à ce qu’elle échoue à Cet autre, que j’appellerai
traduire. Car la fin du voyage de chaque Ashasvérus , à l’inverse de Narcisse,
sujet dans le temps, c’est la mort dont marche sans repos et « erre seul dans les
aucun grand Autre ne peut protéger. Ainsi immenses déserts de l’éternité » comme «
le rapport à la mort de chacun rencontre la quelqu’un déguisé en personne ». Il
place du manque dans l’Autre, des limites s’ennuie à mourir, mais il ne meurt jamais.
signifiantes qui le barre, qui le fait pour Sans projet, confondant mémoire et avenir,
jamais, pour toujours, solitaire et perdant. il n’attend ni n’espère rien. « Mieux aurait
Le premier temps de la mort se loge valu ne pas naître », dit-il comme Œdipe
pour chacun dans l’originelle perte d’être, découvrant l’inceste dont il est coupable.
ancrée dans l’entame faite à une absolue Le voilà donc en deuil perpétuel de lui-
satisfaction organique, dont l’objet a est le même, mort dans le temps mort qui enserre
reste et la pulsion de mort la mémoire. Le son existence.
vide creusé dans le sujet est dans un A tuer le temps, le sujet du désir se
deuxième temps interprété via l’imaginaire tue aussi .
par la différence des sexes, et traité par la Laissons ces mélancoliques pour
castration qui peut transformer cette perte des personnages moins tragiques, ceux qui
en manque structurant. D’emblée donc la plus banalement rusent avec le temps de
pensée de la mort oscille entre deux mourir et sont toujours à contretemps.
instants, celui de la perte et celui du L’un est arrêté dans un passé anticipé perdu
manque. Et si comme Freud le relève, pour toujours, pour lui c’est désormais trop
l’angoisse de mort (dont il précise qu’elle
tard. L’autre attend dans un futur antérieur du trauma inévitable qu’est la rencontre du
infini, pour elle c’est constamment trop tôt. sexuel révélateur du manque. Le sort sera
Le premier, que j’appellerai Henri adouci par une fée concurrente et la mort
comme Faust, prévient toute surprise, hélas transformée en un sommeil de cent ans.
pour lui même les bonnes. Tout en Ce que Belle tient à ignorer, c’est
préparation, précaution, prévision, il réussit qu’il y a escroquerie sur le prince dit
pourtant à tromper sa ponctualité et il lui charmant. Rappelons brièvement les faits :
arrive, plus souvent qu’à son tour, de se le château entier avec tous ses habitants se
faire attendre. Alors l’angoisse surgit devant fige dans le temps et une muraille d’épines
le vague désir qu’il pourrait rencontrer en le cerne. Les jeunes hommes tentés par
face. Surtout, que l’autre ne lui demande l’objet féminin recelé, but de leur trajet
rien ! Ce serait dès lors trop risqué. Car du pulsionnel, y restent accrochés jusqu’à ce
risque il ne veut plus ; déjà il a été mis au que mort s’en suive. Celui qui réussit à
monde sans son consentement, produit franchir l’obstacle le fait totalement par
d’une scène primitive à laquelle il hasard. Tout simplement le temps de la
préfèrerait ne jamais penser mais qui se malédiction est révolu. Il se trouve juste au
rappelle parfois à lui dans les méandres de bon moment, celui du réveil de la princesse
ses rêves. Chacune de ses petites lâchetés, au désir endormi. Pas le moindre exploit
où il pêche de céder sur son désir, souvent dans cette rencontre, juste une question de
au détriment de son partenaire, s’inscrit bon/ne heur/e.
non sur un tableau remisé dans une Belle ne veut pas courir le risque de
chambre close comme pour Dorian Gray , savoir la suite de l’histoire, elle se fait
mais sur la cire molle d’une culpabilité absence éternelle pour soutenir un désir
toujours fraîche dont il ne veut rien savoir jamais là au bon moment, toujours attendu,
mais qui lui rend la vie insupportable. Il toujours insatisfait. Assassine narcissique
végète dans l’après-coup de demandes du désir, elle ne voit pas le temps passer.
obsolètes, toujours nostalgique d’une après- L’heure de la mort la laisse indifférente, à
midi éternelle où il avait été l’enfant plus- peine l’aperçoit-elle quand un proche en
que-parfait , comblant une mère invincible. reçoit la visite funeste.
Ainsi prisonnier d’une répétition Se mettre à l’heure
qui le maintient dans un état de léthargie où Il serait souhaitable que ces patients
la pulsion de mort parle en silence, il ignore , qui incarnent particulièrement l’équivoque
l’heure de la fatale visiteuse dont pourtant du signifiant, ils ne sont que trop patients,
la simple évocation le plonge dans une trouvent dans l’analyse une mise à l’heure
inquiétante angoisse. Il est quasi déjà mort qui ne soit pas tant celle de l’inconscient
mais ne le sait pas. qui ignore le temps, mais celle du réel,
La seconde, que j’appellerai Belle, c’est-à-dire celle de la mort. Côté
ne voit pas le temps passer, parfois court inconscient, le déroulement de la chaîne
après, mais le plus souvent attend qu’un signifiante privilégie le mode diachronique,
homme d’exception lui courre après. Sa vie organisé par les bornes signifiantes de la
ressemble à celle de l’héroïne condamnée castration tout en étant sous le contrôle
dès sa naissance, par une fée qui ne fut pas d’une représentation consciente, construite
invitée aux festivités, à se piquer avec un et symbolisée, du temps. Il faut une
fuseau et à en tomber raide morte, ce très intervention particulière pour rompre le fil
précisément à l’âge de 15 ans . Ce n’est pas de la répétition et toucher à la synchronie
banal que ce soit l’âge de ‘l’éveil du intemporelle du refoulement. C’est
printemps’ , soit le moment de la rencontre pourquoi Lacan a introduit dans la
avec la sexualité effective, deuxième temps conduite même de la cure un acte affectant
le temps concret, pour que l’analysant lasse pour lui « ne plus voir la maison, ni papa, ni
le hors-temps de la jouissance et entre dans maman ». Dans un premier rêve, une imago
le temps, compté, comptable, du désir. paternelle apparaît comme agent de la
Ainsi il s’agit de viser un bouclage de la castration : « ( ... ) le chef, il faisait peur.
série des signifiants non sur les tours de la Son nom c’est Croque-tout. C'est un
répétition mais sur une construction et une monstre qui mange tout, et tout le monde
traversée du fantasme qui brise sa fixité ». Reconnaissons au passage une figure
pulsionnelle et re/met à jour le rapport du d’ogre, ce mangeur d’enfants dont le
sujet à l’impossible. premier est Cronos, dévoreur de ses
Seule la mort est immortelle descendants jusqu’à ce que Rhéa réussisse à
La psychanalyse de l’enfant semble lui cacher Zeus, fils rescapé dont on
sur ce point particulièrement instructive car connaît la destinée. Mais dans cette famille
l’enfant-analysant est d’emblée dans la hâte bien plus modeste que celle de l'Olympe,
de conclure sur du réel. contentons-nous de relever ce que dit
La question de la mort se présente à l'enfant : son père parle « entre les dents ».
lui en même temps que celle de la vie, Dans un rêve suivant, toute la
instant de voir . Le petit sujet, lorsqu’il se famille se transforme en loups-garous ; il
découvre seul et limité en entrant dans la commente : « Mon père n'était plus mon
période de névrose infantile, temps pour père ». Déclaration de la différence radicale,
comprendre, explore avec ses théories que ce garçon a rencontré d’une façon
sexuelles infantiles toutes les hypothèses particulièrement exposée, qu'il y a entre le
sur le sens de l'existence. La conscience père partenaire de la mère, avec le réel
d'une origine s'impose, mais s'il y a un sexuel qu’il emporte, et le père nourricier.
début alors il y a une fin. Derrière toutes les C'est évidemment le premier qui supporte
questions sur la naissance des bébés, sur les fantasmes de rétorsion que le petit
l’énigme de la différence des sexes, se Zeus, protégé par l’amour de sa mère,
profilent, le plus souvent muettes, celles sur craint tout de même. Ce garçon très jeune,
le devenir de chacun. Ainsi d’emblée, sexe, vers 4 ans, était déjà venu me parler de son
vie et mort se trouvent noués par le désir effroi de n'avoir pas reconnu son père. Ce
de savoir et les limites de ses pouvoirs. dernier s'était rasé la barbe qu’il portait
L'enfant rencontre avec horreur cette face depuis toujours et il était apparu comme un
de réel qui reste pour partie hors d’atteinte, autre aux yeux de son fils. Ainsi puis-je
hormis par ce que l’assomption symbolique faire l’hypothèse que la coupure opérée par
de la castration pourra en métaboliser. la scie est le deuxième temps du trauma
Et seul le vivant est mortel inauguré par l’apparition d’un père qui n’est
Ce garçon de huit ans va scander en plus le même, révélant dans son apparition
quelques séances, après de nombreuses d’homme étranger son statut de partenaire
rencontres sans conséquence, le passage de la mère.
d’une angoisse de castration qui Après ce rêve, l’angoisse du jeune
s’exprimera en angoisse de mort à la garçon devient métaphysique et s'étend à la
possibilité de la castration assumée, vecteur terre entière : « Le soleil pourrait mourir et
de solitude mais aussi de désir. alors il n'y aurait plus de vie », même si
Un malheureux accident d'arbre lui cette perspective lui paraît bien lointaine et
vaut un bras cassé. La chose reste banale bien invraisemblable. Dans un nouveau
jusqu'au jour où le plâtre est enlevé. rêve, les loups n’apparaissent plus si
L'enfant est saisi d'effroi devant la scie, terribles, ce sont plutôt des louveteaux, et
devient blême et s'effondre. Depuis il est, son père semble pour la première fois
dit-il, obsédé par la mort, ce qui signifie protecteur ; il chasse avec un marteau des
bébés loups qui attaquent son fils, mais ce peu accessible pour le sexe dit faible. Il
uniquement pour manger ses chaussons. opère ainsi la séparation avec une mère
Le dernier rêve donne la clé. trop proche en se rangeant côté homme et
L'enfant arrive en me déclarant: « Je n'ai en mettant entre elle et lui un obstacle
plus peur de la mort, je sais pourquoi ». infranchissable. Cette sortie très oedipienne
Puis il raconte : « J'ai fait un rêve, j'étais via l’identification permettra-t-elle à l’enfant
dans un grand arbre (comme celui dont il de supporter l’impossible ? Il semble en
est tombé), on a fait une cabane ». Et il prendre le chemin lorsque, jouant
commente : « C'est juste derrière un distraitement avec quelques petits
ruisseau, comme ça maman ne pourra pas personnages sur le bureau, il déclare
passer ». Il m’explique alors qu’il a sereinement : « Il n'y a que les faux qui ne
réellement construit une cabane avec son meurent pas ». Voilà l'enfant devenu
frère aîné et son père, dans un lieu supposé philosophe .
una
la
tiempo que le queda como sujeto, y el más
de goce que asedia al cuerpo. Ese impasse
del plus-de –goce como pérdida y
recuperación que no alcanza al sujeto, hace
síntoma. Lacan en el seminario XVI, dice
que “de lo que se trata en el síntoma es de
lo más o menos desahogado de los andares
información y la comunicación en los del sujeto en torno del plus-de-goce que él
mercados y en nuestras vidas. La sociedad es incapaz de nombrar”. El síntoma
en red, comprime el tiempo en la histérico se prende, hoy como ayer, a las
aceleración de los procesos y hace la marcas imperdibles del S1, a las marcas del
secuencia temporal impredecible y surgimiento del goce que perturbó el
aleatoria. Así, más aprisa se va, menos cuerpo. Algunas mujeres histéricas, muy
tiempo se tiene, y eliminando los intervalos solidarias en su identificación fálica con el
como “tiempos muertos”, se “mata el Uno capitalista, desenmascaran en sus
tiempo”. Lacan, en 1972, en Milán, ya había síntomas su división subjetiva, bajo la
diagnosticado que lo astucioso del discurso forma de una disociación temporal entre
capitalista es lo que lo hace insostenible: sumisión y resistencia al “sin tiempo”
“va como sobre ruedas, no puede ir mejor, capitalista.
pero justamente va demasiado deprisa, se Citaré aquí dos casos, ambos de
consume, se consume tanto que se mujeres treintañeras que tienen en común
consuma”. Ya a partir del 68, Lacan había haberse volcado en la ambición de ser
tomado muy en cuenta la concepción conquistadoras de mercados y sufrir por
marxista de la plusvalía, que explica el Time sentirse excluídas de las cosas del amor. La
is Money. Marx descubrió como se primera se define en su posición, al inicio
generaba la plusvalía que se añade al capital, con orgullo y luego con desolación, como
entre el menos-de-tiempo conveniente a la “el bulldozer”; la segunda como “ la que
producción, y el más-de-tiempo extraído al entra a saco” , cosa que no cuestionará sino
trabajo del proletario. Esa es la por lo que le dicen sus amigos del alma es
contradicción temporal inherente al lo que la hace intolerable para los hombres
capitalismo, cada día más agudizada. La y estropea su ser de mujer. La primera,
angustia crece hoy, tomando la forma del llegó a mi consulta tras haber recorrido
apremio de la prisa capitalista. No es el muchos médicos que no encontraban causa
apremio de la vida que pasa al campo del clara a unas infecciones urinarias
inconsciente y mantiene el tiempo del mantenidas con permanente dolor a la
sujeto en el encadenamiento significante. micción. Le dijeron que sería “por stress”
La compresión espacio-temporal del y le recomendaron una psicoterapia. Al
tardocapitalismo no es propicia al tiempo tiempo que venía disciplinadamente a sus
del sujeto, pues el sujeto no puede dos sesiones por semana para hablar de los
transcurrir sino en un lapso temporal, en la sinsabores de su historia, aceptó someterse
pulsación temporal intersignificante. En el a una peculiar técnica de fisioterapia que
niña, le excitaba mucho girar cada vez más Este sujeto, a diferencia del primer caso,
deprisa alrededor de una mesa hasta ha entrado en el tiempo de su inconsciente
alcanzar el vértigo. Y en contraposición, en en el que la causa de su división sintomática
su aislamiento en casa escribe relatos, asoma como causa sexual. Eso no sin
escenas de historias que no logra terminar resistencia, a la hora de de sacar a la luz el
de un personaje de nombre masculino que ser de goce que encierra en su fantasma,
encarna “la persona que yo querría ser”. Su del que ha pretendido en vano valga como
análisis da un giro cuando asocia a la causa del deseo del Otro. En su reiterado
angustia que la invade en forma de terror, modo de decirme que prefiere callar al
otros juegos, estos en su adolescencia, los borde de decir algo de la pasión que la
secretos juegos sexuales con un primo, y las habita, ¿no hace del tiempo suspendido la
amenazas ulteriores de éste de delatarla. hora fija de la espera del Otro? .
La liberté ou le temps
Mario Binasco
e suis parti, pour cet exposé, de satisfaction digne de ce nom: parce que d’une
la conjecture que la question de certaine façon la satisfaction aussi est une
lacanien du Séminaire XVII 34 qui ne paye (dans laquelle l’objet fait objection ou abjection
pas: donc si cette liberté, incluse dans un prix de conscience, à sa façon, au lien entre le
qu’on ne paye pas, liberté d’avec le prix, fait sujet et l’Autre).
partie de la «qualité de riche» de laquelle on Comment situer dans notre temps
fait participer le consommateur. Cette face à ce type d’universalisation l’analyste et
question du prix payé ou pas, on y reviendra son offre singulière – dans les deux sens :
à propos de la rectification subjective dont offre de singularité et par la voie d’un acte,
l’analyste se sert pour le démarrage de singulier, qui produit un marché très
l’analyse : je crois que tout analyste ici présent singulier, où il y a offre et demande, mais non
aura rencontré au moins une fois un patient pas rencontre – au moins rencontre de
qui prétendait qu’il ne devait rien parce qu’il personnes37 (si je lis bien Lacan dans sa Préface
payait déjà avec le temps qu’il dépensait pour à l’édition anglaise du 1976). Un marché c’est
venir à l’entretien – préliminaire évidemment. l’espace de la rencontre (contingente donc)
À propos du marché du manque à de l’offre et de la demande et du temps de
jouir, je me permets une petite remarque. l’élaboration de cette rencontre, de ses
Pour parler du psychanalyste dans notre formes de réussite mais aussi bien de ratage.
temps nous sommes souvent revenus, avec C’est notre affaire, comment faire vivre ces
raison, sur l’ancienne référence de Lacan à marchés singuliers «dans» le contexte de
« la subjectivité de son époque » que l’abjectivité de notre époque : « Donner cette
l’analyste devrait « rejoindre à son horizon » satisfaction étant l’urgence à quoi préside
35
etc. Cela a un sens, seulement je me suis l’analyse, interrogeons comment quelqu’un
demandé si ce n’est justement pour nous peut se vouer à satisfaire ces cas d’urgence…
l’époque où – nous qui avons pluralisé L’offre est antérieure à la requête d’une
beaucoup de choses – nous essayons de urgence, qu’on n’est pas sur de satisfaire, sauf
pluraliser aussi « La » subjectivité de notre à l’avoir pesée »38. « Cas d’urgence », drôle de
époque, et d’en faire une référence moins définition de l’analysant – bien temporelle, il
absolue, depuis que nous avons commencé, faut noter, par la précipitation qu’elle
avec Lacan, à considérer la subjectivité implique : évoque-t-elle ce que par ailleurs
relativement aux discours, les quatre discours Lacan appelle « un désir décidé » ?
plus le discours capitaliste. C’est ce dernier, Pas de marché qui n’ait pas à faire
me semble-t-il, qui soutient, avec son avec la satisfaction, (avec sa connotation de
programme de circulation sans restes et sans liberté), et cela vaut pour la psychanalyse
impossibilités, ce singulier de « l’époque », qui aussi, où se lient l’analyste et l’analysant, et
est le singulier d’une universalisation et non qui fait exister une espace du lien du sujet à
pas d’une singularité: l’universalisation qui l’Autre (court-circuité dans la civilisation),
est en même temps « l’idéologie de la liberté, avec sa dissymétrie, en reproposant son
la seule à ce que l’homme de la civilisation aliénation constituante: à partir de ce que
s’en arme »36, avec son idéal du nous appelons avec Lacan «rectification des
consommateur parfait, de l’autre coté une rapports du sujet avec le réel»39: opération qui
universalisation d’objet, telle qu’il faudrait se place au commencement du temps de
peut être parler de l’objectivité de notre époque, l’analyse.
ou même de l’abjectivité de notre époque J’ai évoqué à ce propos le terme
d’acte, singulier : c’est une autre notion qui
34J.LACAN, Le Séminaire. Livre XVII. L’envers de la psy-
chanalyse, Seuil, p.94 37J.LACAN, Préface à l’édition anglaise des Ecrits du 1976,
35J.LACAN, Ecrits, Seuil, p.321 dans Autres écrits, Seuil, p. 573
36J.LACAN, Discours de cloture du Congrès sur la psychose et 38ibidem, p.573
l’enfant, dans Autres écrits, Seuil, p.362 39J.LACAN, Ecrits, Seuil, p..598
inclut une signification de liberté : c’est responsabilité – manière qui peut changer
évident que s’il n’est pas libre ce n’est pas un avec l’analyse, corrélativement au traitement
acte : et l’acte est un terme essentiel pour ce de notre implication de jouissance.
qui est du temps, parce que l’acte réalise Je crois avoir déjà signalé quelque
toujours un commencement d’une certaine point de contact entre la liberté et le temps,
façon absolu, outre à produire des après mais je vais en rappeler d’autres, suivant
coup : voir H.Arendt commentant saint Lacan.
Augustin, où la liberté est définie comme la Lacan n’a jamais voulu traiter
capacité de «donner commencement»40. directement de la liberté comme si elle avait
Alors, sur cette série, outre qu’à la pu être une notion psychanalytique, mais il en
satisfaction et à l’acte, j’ajouterai que la a parlé à plusieurs reprises dans son
signification de liberté est intrinsèque aussi à enseignement, en parlant d’autres choses, en
l’amour, dans sa définition lacanienne : si articulant ses propres notions, dont certaines
l’amour c’est donner ce qu’on n’a pas, et ce fortement liées à la question du temps.
qu’on n’a pas peut être donné seulement dans D’abord, on sait bien, le temps
des signes qui aient justement la signification logique, avec ses trois prisonniers, leur
de ce don, alors là aussi il faut que le don de directeur de prison et les supposés disques
l’amour inclue la liberté pour être signe de sur leurs dos. Là, en effet, on peut dire que
l’amour. Dans ce cas on voit bien aussi le tout se tient dans « la subjectivité de son
caractère de contingence qui est associé à la époque » – établie par le directeur avec le
liberté : parce que si le don répondait à une problème qu’il propose à résoudre et dans
quelconque nécessité perdrait son caractère lequel il lie tout le monde, où les suspensions
de signe de l’amour – comme la vie conjugale des autres contribuent à l’acte de libération
montre, et l’érotomanie aussi, bien qu’a de chacun. Ici la liberté entre en jeu comme
contrario. Et l’on voit aussi le caractère une offre, possibilité alternative à la mort, où
temporel de cette contingence du don (signe) pas tout est perdu ni joué, encore. Avec cette
de l’amour, que dans le dire — en acte — de offre, un peu tordue et abusive, s’ouvre un
l’amour fait témoignage et promesse d’une temps, commence et s’oriente un temps
nécessité que paradoxalement on ne peut d’action : ce que je voudrais souligner c’est
qu’attendre. que ça prend son départ d’un trou que le
Donc la liberté ça regarde l’ être du directeur ouvre dans la situation réelle, en
sujet, l’ être parlant aussi. Ceci est confirmé assignant à chacun un disque : dès lors
par le dernier terme qui inclut, à mon sens, la l’instant de voir devient le temps de regarder
signification de liberté, et qui dit le terrain un manque, de voir qu’on ne peut pas voir
éthique sur lequel se joue cette inclusion, qui quelque chose qui est le signe du sujet. Pas de
est celui de responsabilité. Là aussi c’est la temps, logique, sans ce trou. C’est déjà «la
responsabilité qui inclut la liberté, pas le liberté ou la mort», mais ici elles ne sont pas
contraire : on ne peut pas déduire que nous synchroniques, et ne représentent pas le sujet,
sommes responsables, à partir de l’axiome de le sujet en question ce n’est pas divisé lui-
« La » liberté (posé comme ça c’est même, la perte ou le manque ne l’entament
l’indécidable du libre arbitre). C’est au pas en tant que tel. L’apologue montre plutôt
contraire parce que nous sommes la fonction de l’Autre, par la figure du
responsables, que nous ne pouvons que nous directeur, avec ses promesses et son savoir
retrouver libres dans la mesure ou plutôt supposé. Je ne crois pas qu’il s’agisse de
dans la manière paradoxale de notre soutenir que le directeur n’existe pas : le
symbolique est là, avec sa dimension de
40Augustinus, De civitsate Dei : «initium ut esset creatus
promesse pour le vivant humain. Mais c’est
est homo» que d’un coté il n’a pas l’autorisation ou la
garantie pour la maintenir, puisque l’Autre de qui résulte de leur logique de réunion, facteur
l’Autre manque, donc il est troué (le qui est d’un autre ordre puisque c’est
symbolique est un trou, dira Lacan en l’événement et l’avènement de cette perte
197541), deuxièmement lui-même ne peut pas originelle de jouissance où le vivant se prend
savoir, c'est-à-dire décider, que signifie le dans le logos. C’est donc l’essentiel de la
disque qu’il a plaqué sur le prisonnier : parce synchronie, le trou et l’objet, qui engendre le
que à ce disque peut s’appliquer la phrase temps du sujet, mais aussi du vivant : parce
d’Encore que nous rappelait Colette Soler, où que comme Lacan dit dans la conférence de
Lacan dit que la valeur de S1 «reste indécis, Genève « il n’y a de logique que chez un
entre le phonème, le mot, la phrase, voire vivant humain »43 – parce que, me semble-t-il,
toute la pensée» ou «une vie entière » 42: si ça seul le vivant humain fait rentrer de la logique
reste non décidé, donc il y a quelque chose de parmi ses normes vitales, normes, il faut
troué dans tout savoir de l’identité d’un sujet. souligner, singulières. Rappelons nous que
Et donc c’est bien par ce trou que peut se l’aliénation se qualifie par le fait que l’être du
montrer dans ses actes, responsabilités, vivant/sujet y est pris, l’être qui figure soit au
amours, satisfactions quelques libertés du départ des travaux de Lacan – par exemple
sujet. dans la Causalité psychique – soit à la fin, avec
La liberté est aussi un signifiant que le terme de parletre et les nœuds.
Lacan convoque au moment de formuler sa Je n’ai pas le temps pour discuter le
causation inconsciente du sujet, dans la problème – qui, me semble, existe –, du
logique de l’aliénation et de la séparation, où statut des deux signifiant qui produisent
le temps est posé comme facteur décisif de l’aliénation, si ils sont quelconques ou pas, et
cette structure, identique, d’une certaine donc de quel est leur lien au réel – puisque
façon, au sujet meme : vous connaissez tous quand même l’aliénation me semble vouloir
ces textes, Séminaire XI et Position de rendre compte d’un moment de trouage, où
l’inconscient. Vous savez comme l’aliénation se symbolique et réel se prennent l’un dans un
constitue de la synchronie, et la séparation trou de l’autre ; sinon de souligner que
fait intervenir dans cela la diachronie. Ce que Lacan, dans Position de l’inconscient, les suspend
je voudrais souligner c’est que le temps, au fait que ces signifiants « s’incarnent plus
comme temps du sujet, c’est la synchronie. personnellement dans la demande ou dans
D’abord il n’y aurait pas de temps – l’offre »44. Seulement je pointe deux choses :
symbolisable, bien sur – s’il y avait seulement l’une, c’est que pour Lacan, dans l’aliénation,
du un et il n’y avait pas de deux. Or la la liberté entre en jeu comme signifiant :
synchronie est possible parce qu’il y a le signifiant veut dire tout ou rien, donc la
signifiant et le signifiant c’est le deux : sans liberté de l’aliénation c’est « La » liberté, qui
cela ne se poserait aucune question n’est pas la signification de liberté dont j’ai
synchronique et le temps ne pourrait être parlé avant : et donc ce n’est pas banal que
interrogé ni analysé au présent, donc dans sa aliénation et séparation l’entament, la rendent
cause réelle, présente et non pas passée. Or, si je puis dire, pas toute.
ce que le choix de l’aliénation montre («la Deuxièmement, quand même, Lacan
bourse ou la vie», «la liberté ou la vie», «la situe le temps de la liberté comme libération,
liberté ou la mort») c’est que il n’y a pas que comme mouvement diachronique, au niveau
les deux signifiants en présence de la séparation et de la torsion que celle ci
synchronique, mais il y a un troisième facteur suppose et qui donne commencement au
temps du désir, et il la situe comme tentative
41J.LACAN, Le Séminaire. Livre XXII. RSI, passim.
42J.LACAN, Le Séminaire. Livre XX. Encore, Seuil, p.131 43J.LACAN, Conférence de Genève sur le symptome,
et p.48. 44J.LACAN, Ecrits, p.841
de « se libérer de l’effet aphanisique du peut être la plus infernale : sortie par ce qui
signifiant binaire »45, en tant que celui ci c’est existe comme cessation, ou comme
le point du refoulement primordial, donc du possibilité ou comme contingence. Là aussi, à
trou. propos de la subjectivité de notre époque
J’ai insisté sur la synchronie et sur nous pouvons nous demander : quel peut
l’importance de la présence en elle de l’objet, être le rapport au temps de quelqu’un qui
parce que c’est ce qui nous permet de situer pour aller au-delà du nécessaire voudrait
par exemple la manie, avec son vécu connaître et pratiquer seulement le possible
temporel, comme « réalisation » de « La » (la technique, avec son coté déstructeur :
liberté par refus de l’inconscient et de l’objet- cesser de s’écrire), tandis que par ailleurs
manque; et nous permet d’évoquer le coté forclot l’impossibilité (inhérente aux choses
plutôt maniaque de l’usage de l’objet-liberté de l’amour et à l’exile du rapport sexuel) ? On
dans notre temps, que je mentionnais avant. peut observer sa tendance à s’assurer :
Par rapport à ça, j’évoque en passant s’assurer de la possibilité – avec ses
les résonances temporelles d’une notion conséquences d’angoisse – , et s’assurer contre
lacanienne comme celle du sérieux, lu en la contingence. On s’assure contre la
rapport avec la série : le sérieux fait série, contingence, c'est-à-dire contre la rencontre
parce qu’il prend au sérieux la série, il opère et contre ce qu’elle implique de toujours raté,
avec la série, comme fait l’analyse, il y a de perdu, mais qui est la seule voie de réussite et
l’opération, de l’acte et donc un certain dire : de satisfaction. Et par rapport à l’espoir
et c’est bien la condition, me semble-t-il, (notion et affect temporels, s’il y en a), en
pour pouvoir localiser paradoxalement, pour rappelant que Lacan nous en met en garde,
traiter sérieusement, même les éléments qui dans Télévision en disant que ça amène les
restent hors série. gens au suicide, il me semble pouvoir dire
Avant de conclure je dois mentionner que Lacan parle là de l’espoir qui se voudrait
deux autres types de « synchronie », ou fondé sur la possibilité, et non pas d’un
d’analyse du temps au présent, qui à mon espoir – qui existe quand même – fondé sur
sens sont très importants pour notre question une contingence.
du temps du sujet de l’inconscient Pour ce qui est de la nécessité, je
relativement à la liberté. reprends plus longuement ma citation
Le premier se rattache à l’usage que précédente de la Conférence de Genève :
Lacan a fait un moment aux catégories de la
logique modale, (un type de logique qui «Jusqu’à un certain point, on conclut tou-
n’implique pas l’universel de la même façon jours trop tôt. Mais ce trop tôt est simplement
que d’autres logiques) : nécessaire, possible, l’évitement d’un trop tard. Cela est tout à fait lié
contingent, impossible, traduits par Lacan en au fin fond de la logique. L’idée du tout, de
termes de « cesser » ou « ne cesser pas » de l’universel, est déjà en quelque sorte préfiguré
dans le langage. Le refus de l’universalité est es-
s’écrire. C’est évidente l’implication quissé par Aristote, et il le rejette, parce que
temporelle de termes qui disent le rapport l’universalité est l’essentiel de sa pensée. Je puis
avec l’existant en termes de « cesser » ou de avancer avec une certaine vraisemblance que le
«ne cesser pas : le « cesser de… » scande et fait qu’Aristote le rejette est l’indice du caractère
qualifie le rapport avec l’événement et l’acte en fin de compte non nécessité de la logique. Le
comme sortie de deux éternités, l’une fait est qu’il n’y a de logique que chez un vivant
d’inclusion – le nécessaire –, l’autre d’exile – humain.»
l’impossible – , dont on ne sait pas laquelle
En relation avec l’impossibilité (du
45J.LACAN, Le Séminaire. Livre XI. Les quatres concepts fon-
rapport sexuel) je cite brièvement :
damentaux de la psychanalyse, Seuil, p.200
«N’est vrai que ce qui a un sens. mais non pas appliqué au sujet, ni à l’Autre,
Quelle est la relation du Réel au vrai? ni à l’homme. Appliqué à l’être, si jamais,
Le vrai sur le Réel, si je puis mais à cette nouvelle manière de rendre
m’exprimer ainsi, c’est que le Réel, le compte de l’être parlant dans l’expérience
Réel du couple ici n’a aucun sens. analytique que c’était travailler sur les nœuds
Ceci joue sur l’équivoque du mot borroméens. Là alors la liberté devenait la
sens. Quel est le rapport du sens à ce condition des ronds dénoué, rendus libres,
qui, ici, s’écrit comme orientation ? l’un par rapport à l’autre, et retrouvait, chose
On peut poser la question, et on peut surprenante, la même relation avec la folie
suggérer une réponse, c’est à savoir qu’elle avait eu au début. On peut noter,
que c’est le temps. » seulement, que ce type de liberté regarde
moins le sujet que l’analyste, son opération de
Pour terminer : à lire Lacan, le fait coupure, sa responsabilité à lui.
s’impose que dans les dernières années il a C’est un travail à faire, difficile : mais
commencé à utiliser en continuation le c’est aussi pour cela qu’il vaut la peine.
vocabulaire de la liberté : libérer, libre, etc.,
O subjetividade.
Regularmente,
evocamos a dimensão
topográfica do aparelho
psíquico na obra de
Freud. Entretanto, não
foi por ele ignorada a
Freud concebeu o registro do tempo
presente como uma operação fundamental
da consciência, esta, definida como um
estado mental operando num determinado
tempo. Assim, circunscreveu a
subjetividade nas três dimensões
temporais que conhecemos.
dimensão temporal da subjetividade e suas De forma única e exaustiva, Lacan
incidências clínicas. Desde cedo, Freud exaltou a importância das dimensões
apresentou suas hipóteses psicanalíticas sobre temporais da subjetividade, formulando
o tempo, retomadas posteriormente por preciosas teorias de máximo valor, que
Lacan. Podemos, resumidamente, citar cinco imprimiram grandes modificações clínicas: o
referências importantes em sua obra: 1- o tempo da sessão é lógico, e não cronológico;
inconsciente não conhece o tempo, é defende a análise finita, formulando algumas
atemporal, intemporal, como está posto na concepções do seu final; a transferência, ou
‘Interpretação dos sonhos’, entre outros seja, a suposição e dessuposição de saber ao
textos; 2- a concepção de indestrutibilidade analista, é o tempo da análise; cria uma nova
do desejo, - extensivo aos processos divisão subjetiva para o tempo, entre outras
inconscientes - que não estão submetidos aos proposições. Constrói, enfim, uma máquina
desígnios do tempo; 3- o tempo da do tempo utilizando alguns recursos próprios
subjetividade, que só pode ser recuperado a da sua época.
posteriori, só depois - nachtraglich, foi o Lacan escreve, em 1945, o texto ‘O
significante utilizado por Freud, aprés-coup, tempo lógico e a asserção da certeza
foi a tradução adotada por Lacan; 4 - a antecipada: um novo sofisma’61, dividindo o
importância da experiência sexual infantil ou tempo em dois: lógico, e cronológico. Modula
da neurose infantil para a constituição da o tempo lógico em três escansões: a primeira é
neurose. o instante de ver, ou de olhar; a segunda, o
A quinta referência traz a relação do tempo para compreender, a terceira escansão,
tempo com a fantasia e merece destaque. Freud é o momento de concluir.
situa a fantasia flutuando entre três tempos: o Modular o primeiro momento do
trabalho mental vincula-se a uma impressão tempo como um instante de ver, ou a
atual, no presente, capaz de despertar um dos primeira escansão temporal, como sendo o
principais desejos do sujeito; dali retrocede a
uma lembrança de um acontecimento pretérito
60 FREUD, S. Escritores criativos e devaneios. In:
que pode criar uma situação referida ao futuro,
___Edição standard brasileira das obras psicológicas
por representar a realização, a satisfação do
completas. Rio de Janeiro: Imago, 1987, Volume IX,
desejo, a partir das marcas da lembrança. No p. 153.
texto ‘Escritores criativos e devaneios’ conclui 61 LACAN, J. O tempo lógico e a asserção da certeza
“que o pretérito, o presente e o futuro antecipada. In:______. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Ed, 1998.
Immortality
Leonardo S. Rodríguez
n his tale ‘The Immortal’, Jorge man. Like Cornelius Agrippa, I am god, I
Luis Borges tells the adventures am hero, I am a philosopher, I am a demon
promotes desire and creativity. In his short no longer understand the works of our
essay, ‘On Transience’, Freud writes: poets and thinkers, or a geological epoch
Not long ago I went on a summer may even arrive when all animate life upon
walk through a smiling countryside in the the earth ceases; but since the value of all
company of a taciturn friend and of a this beauty and perfection is determined
young but already famous poet. The poet only by its significance for our own
admired the beauty of the scene around us emotional lives, it has no need to survive us
but felt no joy in it. He was disturbed by and is therefore independent of absolute
the thought that all this beauty was fated to duration. (14:306)
extinction, that it would vanish when Our capacity to sustain our desire
winter came, like all human beauty and all and creativity is correlative of our capacity
the beauty and splendour that men have to mourn past, present and future losses.
created or may create. All that he would Lacan’s concept of the object a, the object
otherwise have loved and admired seemed cause of desire, owes its originality precisely
to him to be shorn of its worth by the to its definition as a circumscribed lack
transience which was its doom. […] I could whose positive, structuring effects depend
not see my way to dispute the transience of on its being assumed by the subject as a
all things […]. But I did dispute the loss, with the psychical work of mourning
pessimistic poet’s view that the transience that this assumption requires.
of what is beautiful involves any loss of its The discontents of our civilization
worth. On the contrary, an increase! have affected human creativity in a
Transience value is scarcity value in time. pervasive way. This is not to say that
(Freud 1916a, p. 305) creativity has declined – on the contrary.
Freud then goes on to say that what But creativity completes a full circle:
is at stake is our human revolt against propelled by human mortality, it populates
mourning, against the detachment of libido the human world with its creations and
from objects that have been lost, ‘even creatures; and because nothing guarantees
when a substitute lies ready to hand’ that it be put to the service of the living, it
(14:306-7). introduces what Lacan called the lethal
To me this suggests that the act of factor, the mortifying effect of the signifier.
creation does not provide a replacement In our times, two cases are salient.
for our losses (as some conceptions of In the first place, we are all
creativity affirm). Creation is rather the witnesses to what Giorgio Agamben has
gestation and birth of things that come to called the destruction of experience. The
inhabit the world and which, like their uncontrolled and uncontrollable progress
creators and the already existing things, are of the technological applications of modern
destined to perish. Freud says in the same science has resulted in the massive
essay: emergence of experiences that we undergo
A flower that blossoms only for a passively and which are destined to be
single night does not seem to us on that destroyed at the very moment of their
account less lovely. Nor can I understand inception; experiences that are not worth
any better why the beauty and perfection of registering, because they involve the
a work of art or of an intellectual senseless satisfactions provided by the
achievement should lose its worth because prevalent compulsive consumption of
of its temporal limitation. A time may goods and gadgets, or because they are
indeed come when the pictures and statues experiences that we actively foreclose, as
which we admire today will crumble to they are nothing but a complete waste of
dust, or a race of men may follow us who time that, subjects always running out of
an analyst – in the end confront the one finite subjects in this still human era,
who undergoes it with the reality of the precarious as our humanity may be.
human condition? It is precisely this, that in
connection with anguish, Freud designated REFERENCES:
AGAMBEN, G. (1993) Infancy and History: On
as the level at which its signal is produced, the Destruction of Experience, London: Verso.
namely, Hilflosigkeit or helplessness, the BORGES, J.L. (1980) Obras Completas. Buenos
state in which man is in that relationship to Aires: Emecé.
himself which is his own death […] and FREUD, S. (1916a) ‘On Transience’. Standard
can expect help from no one. (Lacan 1992, Edition 14: 303.
LACAN, J. (1992) The Seminar, Book VII, The
pp. 303-4) Ethics of Psychoanalysis, 1959-1960. New York:
As one of the few discourses still Norton.
viable to us (as Lacan put it thirty-five years LECOURT, D. (2003) ‘Tecnoprophètes et
ago), psychoanalysis is therefore engaged in biocatastrophists’. Magazine littéraire 422: 34-7.
the acknowledgement of the human mortal
condition in a way that is not anymore the
territory of ontology and theology, but that
of the defence of our time, our time as
64 O.c., p.24.
65 O.c., p.335.
analytique, c’est à ne pas mettre en doute du texte, théorème qui est vrai dans tous les
l’existence même de la voix qu’on obtient cas pour le sujet parlant puisqu’il s’agit
que puisse venir au débat ce que dit la voix, d’une propriété du langage. La perte dont il
que quelque chose donc se détache entre la s’agit, du dire, comment la récupérer, ou
voix et ce qu’elle dit, et témoigne qu’il y tout au moins comment permettre au sujet
avait quelque chose dans lequel le dit était de s’en approcher, ou de faire valoir cette
resté englué, c.à.d. que précisément le dire perte nécessaire ? On en mesurera la
n’avait pas pu être oublié et continuait de validité avec Lacan à l’aune du sujet
parasiter le dit. Comme on voit ce dire non psychotique qui y parvient certes mais c’est
oublié n’est pas véritablement un gain, à ses dépens.
plutôt un embarras, et qui est, malgré ou à C’est à cet endroit qu’intervient le
cause de cela, le modèle de l’objet a.66 temps logique, que Lacan ne cesse de
Il me semble que décrire la chose revisiter. La hâte manifeste la présence de
de cette façon, un dire qui dans certains cas l’objet et l’équivoque l’instrument du
ne s’efface pas, présente quelque avantage psychanalyste.
si l’on se souvient de l’importance de la Je prendrai pour illustrer le point ce
psychose dans l’ensemble des film de Woody Allen bien connu et qui à le
développements de Lacan67. D’autant plus revoir n’a pas pris une ride : Annie Hall. Il
dans cet Etourdit qui commence avec un y est question de rapport sexuel impossible,
rappel de l’adresse de cet Ecrit, le d’homme et de femme, et de psychanalyse
cinquantenaire de l’hôpital Henri Rousselle, pour tenter d’y faire face.
service dans lequel il faisait sa présentation. Mais d’abord ceci qui nous apprend
Et il insiste encore sur cette présentation en quelque chose sur le temps et son
sa toute fin : interprétation : celle des séances manquées
mais dues, motif, drôle parce que sérieux,
« …je salue Henri-Rousselle dont à prendre ici pour ne pas se suicider puisqu’il devrait
occasion, je n’oublie pas qu’il m’offre lieu à, ce jeu du dit au payer les séances manquées. On voit
dire, en faire démonstration clinique. Où mieux ai-je fait
sentir qu’à l’impossible à dire se mesure le réel – dans la l’articulation du désir et de la mort que
pratique ? »
68 Lacan avait souvent repris avec le « il était
mort et ne le savait pas ».
Mais expliquons-nous d’abord sur L’autre motif n’inclut pas
ce point : le dire oublié, c’est à proprement directement le temps mais il s’en déduit
parler ce qui constitue le refoulement et pas aisément. C’est le mot de Groucho Marx :
seulement le refoulement originaire « Comment supporterais-je d’être accepté
puisqu’il se produit chaque fois qu’on comme membre d’un club qui m’admettrait
prend la parole. Qu’il s’agisse dans l’analyse comme membre ? » Le club serait donc
de retrouver le refoulé est une sorte automatiquement dévalué. L’effet est
d’évidence, mais ce que Lacan évoque est sensible à des degrés divers mais rarement
au-delà de ça puisqu’il s’agit d’un théorème absent dès qu’on obtient quelque
dont il fournira la démonstration au cours nomination que ce soit. Il vaut bien sûr
dans notre Ecole. Poussée dans sa logique,
66 Que penser de ce propos de Wittgenstein, cité par Loraux, p.327 : on obtient le type d’exclusion qui est celui
« Souvenez-vous : la plupart des gens disent qu’on ne sent rien sous anesthésie. que Lacan fait valoir au titre du manque,
Cependant il y en a qui disent : il se pourrait bien que l’on sente quelque chose, dans le style de Russel : l’ensemble des
mais qu’on oublie complètement qu’on l’a senti… »
67 « …mon discours n’est pas stérile, il engendre l’antinomie, et même mieux : il
se démontre pouvoir se soutenir même de la psychose. »
68 A.E., p.495.
futuro, que atrasa a velhice: agora não é BAUMAN, Zygmunt. Vidas desperdiçadas. Rio de
mais um tempo para velhos. Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005
FREUD, Sigmund. Notas sobre um caso de
Ele continua na repetição, do neurose obsessiva (1909). In: ESB. RJ: Imago
lado de fora do hospital à espera de ser Editora, 1976.
chamado, à espera da morte do outro ou da GALLANO, Carmem. “Não sou paranóico”, in: O
dele, o que dá no mesmo. E esta espera da sintoma-charlatão. RJ: JZEditor,
morte é uma possibilidade certeira, GAZZOLA, Luiz Renato. Estratégias na neurose
obsessiva. RJ: JZEditor, 2002.
insuperável e indeterminada do sujeito, LACAN, Jacques. “Função e campo da fala e da
como afirma Lacan citando Heidegger em linguagem em psicanálise”. In: Escritos. Rio de
“Função e campo...”. Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998.
Retomando a música de Chico LACAN, Jaques. O seminário, livro 5: as formações
Buarque, ele ainda diz “Corro atrás do do inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
1998.
tempo. Vim de não sei onde. Devagar é LACAN, Jaques. O seminário, livro 11: os conceitos
que não se vai longe”. Assim, Chico inverte fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge
o ‘quem espera sempre alcança’ para ‘quem Zahar Editor, 1998.
espera nunca alcança’. Mas o analista QUINET, Antonio. Zwang und Trieb, in: Destinos
espera, porque se não espera é o pior, da pulsão. RJ: Contracapa, 1997.
SALINAS-ROSÉS, Joan. Psicanálise. Psicoterapia.
espera nas avenidas da fala para abrir o Desejo do analista? In: Stylus 16. Revista da
postigo. Associação dos Fóruns do Campo Lacaniano-Brasil.
No prelo.
SOLER, Colette. A Confusão dos discursos, in: O
tempo da psicanálise. Heteridade 3, 2004.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
para a cidade natal e a família consegue minha mãe era brilhante.” Na viagem da
interná-la. No hospício a mãe, “sozinha vida, ela permanece fixada no espaço e no
sem a filha” consegue efetivar o suicídio. tempo, ao lugar que encontrou junto à mãe.
Essas cenas deixam forte impressão e Maria viaja a trabalho e conhece um
trazem uma marca temporal. O tempo de homem por quem se encanta de forma
vida para Maria é sustentado pelo lugar que desmedida. Em suas palavras “experimenta
ela ocupa no desejo do Outro, lugar regido com ele uma sensação de intimidade e de
por sua posição fantasmática, esta de ser a estranheza concomitantes que a impede de
sentinela da vida, de cuidar do outro. Maria se afastar ao mesmo tempo em que lhe
passa a viver com a avó paterna, criatura causa medo, é a paixão o perder-se nele.”
extremamente religiosa que em suas Este homem é pobre como sua família era,
orações pede ao “pai nosso que estais no e Maria resolve dar-lhe uma chance na vida
céu” para perdoar a mãe de Maria “essa oferecendo uma representação de sua
alma em sofrimento que arde no inferno”. empresa na cidade dele. A oferta recusada
O pai abandona a casa quando Maria tem causa irritação, mas “ela sente-se abraçada
três anos e morre assassinado em uma briga por aquele homem forte que a escuta e lhe
“por causa de mulher” quando ela tinha diz palavras de amor”. Do sexo o melhor
quatro anos. Essa avó religiosa, única são os abraços, mas é estranho “pensei que
ligação de Maria com o pai, foi queria alguém para me cuidar, mas me senti
severamente contestada por sua mãe para insegura com isso.” É para evitar deparar-
quem a religião “era a expressão máxima da se com o real da castração, marcado pela
ignorância”, com o que Maria concorda privação no corpo, que a histérica eterniza
com exaltada veemência. o desejo como insatisfeito. Sua prática
Com o marido vive uma relação consiste essencialmente na dissociação
praticamente sem sexo, pois ela “não acha entre desejo e gozo, fazendo com que a
muita graça nestas coisas”, além do mais ele essência temporal seja obter a eternização
é bruto, gritalhão e só fala de si, só olha do desejo pela suspensão do gozo.Tanto
para seu umbigo é extremamente auto- com marido quanto com namorado
centrado. Não trabalha, passa os dias observa-se a estratégia histérica para lidar
estudando, contesta a priori toda e qualquer com o tempo. Duas possíveis
opinião. Identifica neste marido muitos conseqüências desta estratégia são: o
traços da própria mãe, “ele é assim como fenômeno da frigidez, no sentido da
ela: intempestivo, imprevisível, inadequado evitação radical do gozo sexual e a
socialmente, briga com todo mundo é um exacerbação do amor, eternizado com
homem fora de propósito, alguém que não insatisfeito.
pode ficar só porque faz bobagens, precisa Voltando ao Rio Maria mantém
ser cuidado”. Diante dele Maria coloca-se com o namorado uma correspondência por
no mesmo lugar que ocupava junto à mãe, email durante um mês e meio até lhe
“ela precisa salvá-lo” não pode abandoná- comunicar que decidiu ir vê-lo, a passagem
lo, ele não tem vida própria e pode morrer já estava comprada. É então surpreendida
assim como sua mãe que “sozinha, sem pela reação dele: “ela não deve ir, ele não
filha se mata”. A relação se mantém estará na cidade.” Desde então ele se
ancorada na infância feliz do filho e esquiva dos encontros e não responde mais
também no saber deste homem que é tudo aos emails de Maria. Ela tenta falar-lhe ao
isso, mas “não me deixa no ar, sempre sabe telefone, ele atende, mas ela não ouve sua
o que fazer, entende de todos os assuntos, voz, ele permanece mudo e desliga. O
é louco, mas muito inteligente. Eu não silêncio dele é encarnado por Maria que
tenho paciência para pessoas limitadas, emudece e muda, faz de seu corpo - assim
como a mulher de Mausolo que bebe as desenrolar uniforme do tempo. Ela sai do
cinzas do marido, para tomar seu lugar - o tempo na medida em que sua posição
mausoléu de um grande amor. O sintoma fantasmática “salvar a vida do outro” vacila
conversivo a leva à análise após quatro no encontro com um homem, onde ela se
meses de mutismo e uma vasta vê como objeto caído e dejetado do Outro.
peregrinação pelos consultórios dos Identificada com a falta tomada como
otorrinos. Com seu sintoma Maria mantém objeto, Maria perde-se na falta do Outro ,
a adoração ao homem, a exacerbação do tornando-se pura ausência, um ser para a
amor eternizado como insatisfeito, não eternidade, para o fora do tempo, de onde
realizado e por isso perfeito. só retorna com o apelo ao significante
O marido, com quem ela se furta ao vindo da família paterna.
gozo,, mas que a mantém em sua posição
fantasmática, enciumado sai de casa. Maria BIBLIOGRAFIA:
BORGES, Jorge Luis. (1978) “Le Temps” Em:
se vê só. Já não há com quem ocupar o Conférences. Paris: Gallimard Folio, 1985, p.203-16
lugar de “salvar o outro”, me diz que não FREUD, S. -(1915) “Lo inconciente; Las
entende bem como as coisas mudaram propiedades particulares del sistema ICCEm Obras
tanto. Sente-se perdida, como pode o Completas , Buenos Aires , Amorrortu editores
marido nem telefonar? Talvez tenha se vol.14 parte V 2000
__________(1907-1908) “El cresador liter´rio y el
metido em confusão, mas, e se ele estiver fntaseo” Em: Obras Completas, Buenos Aires,
bem? O namorado evaporou do nada. Amorrortu editores vol.9 2000
Durante a semana sou empresária e mãe, __________(1925) ”Algunas consecuencias
no fim de semana sem filho e marido para psíquicas de la diferencia anatómica entre los sexos
cuidar, não sou nada, caio no vazio, me Em: Obras Completas , Buenos Aires , Amorrortu
editores vol.XIX 2000
sinto desmanchando, sem fio terra, no LACAN J. - (1972-1973) O Seminário livro 20 Mais
espaço. Não consigo tirar a camisola, nem Ainda…. Rio de Janeiro Jorge Zahar Editor 1983
comer nem me mexer, passo todo o fim de p.45
semana na cama, com um vazio
aterrorizante. É horrível sentir que você
toda é um grande e assustador buraco.
“Será que vou ficar louca como minha
mãe?” “Nada tem sentido, e quando
amanhece na segunda--feira preciso
recuperar o corpo, começar a vesti-lo a
compô-lo, preciso vestir com palavras até
as coisas, saio falando o que estou
fazendo”. Nos momentos de maior
angústia em que tem medo de desintegrar,
ela começa a repetir automaticamente, “pai
nosso que estais no céu, pai nosso que
estais no céu” e só assim “volta à vida, ao
tempo dos outros”. Essas palavras pelas
quais é tomada são para Maria enigmáticas;
“como posso eu rezar? Eu não tenho
religião, não vivo de crendices e elas me
irritam, eu sei que não estou rezando”. É
repetindo o significante da avó paterna que
Maria volta ao registro do fálico. Ela se vê
como objeto e o objeto é o que desregula o
MESAS SIMULTÂNEAS
mais conhecido
proposição de uma nova
esforço
diagnóstico que encontramos
na obra de Lacan. O texto é
pela
“O fantasma na perversão é apelável, inúmeras maneiras por Lacan, uma que nos
ele está no espaço, ele suspende, não sei qual parece didática assinala que:
relação essencial; ele não é propriamente (a) No primeiro tempo há estranhamento
atemporal, ele está fora do tempo.”75 (estrangement, unhemilich) o que acusa uma
perturbação do sentimento do tempo.
3. Neurose: Uma separação entre o objeto a e o falo.
A situação seria inteiramente Ora, esta separação é estrutural, na
diferente, e portanto, dotada de valor neurose e na perversão, portanto o que
diagnóstico diferencial, no caso da neurose: ocorre no primeiro tempo da fantasia é a
“A relação do sujeito ao tempo, na percepção desta separação, é a
neurose, é justamente este algo do qual se apresentação desta singularidade sob
fala muito pouco e que é, entretanto, a forma de afânise.
própria base das relações do sujeito com seu
objeto ao nível do fantasma. Na neurose, o (b) No segundo tempo trata-se de uma
objeto se carrega desta significação, que está integração narcísica deste objeto
para ser buscada no que chamo de hora da paradoxal. O sujeito exterioriza o falo
verdade. O objeto aí está sempre na hora do como símbolo significante. Ele rejeita
antes, ou na hora do depois.” 76 seu próprio ser em nome do falo. Está
O obsessivo antecipa sempre tarde em curso uma identificação, a saber, em
demais, o histérico repete sempre o que há termos temporais, uma substituição
de inicial em seu trauma. Tudo se passa entre o que se poderia ter sido (objeto a)
como se o neurótico pudesse ler uma pelo que se poderia vir a ser (falo).
determinada temporalidade em seu objeto.
(c) No terceiro tempo encontramos a
A hora do um e a hora do outro, o cedo e o
função da presentificação, ou seja, a
tarde, o que poderia ter sido e o que se
hora da verdade, na qual o sujeito
acredita ter sido. Ora, estamos aqui na
encontra-se abolido, não como fading,
situação de reconhecimento do
nem como afânise, mas como ato.
reconhecimento, ou seja, na realização do
simbólico. Daí que a fantasia venha a ocupar 4. Psicose:
o lugar daquilo do que o sujeito encontra-se Esta exposição sumária dos três
em privado simbolicamente. tempos da fantasia, do qual se poderiam
Note-se como é uma conseqüência da desdobrar os tempos da transferência e os
teoria da temporalidade que a fantasia seja tempos do sintoma, nos induz a uma
pensada como uma seqüência em três imprecisão. Se a fantasia condiciona a
tempos onde um deles encontra-se abolido temporalidade do sujeito, tanto no sentido
o próprio sujeito (fading). Na mesma direção do sentimento do tempo, quanto no sentido
entende-se porque a diferença entre neurose da sua lógica de aparição e desaparição e
e perversão seja uma diferença no estatuto ainda quanto à temporalidade do ato, ela
da fantasia. Na neurose acentua-se o pólo mesma, a fantasia, não pode ser examinada
do sujeito e do tempo, na perversão segundo os próprios parâmetros temporais
acentua-se o pólo do objeto e do espaço. que deveria explicar. Ou seja, se a fantasia
Estes três tempos são designados de modela o tempo do sujeito o que modela o
tempo da fantasia?
Ora, a situação clínica que deve ser
75 Lacan, J. – O Seminário Livro VI – O Desejo e sua Interpretação (1958-1959).
Associação Psicanalítica de Porto Alegre, 2002:332.
chamada para explicar este problema é
76 Lacan, J. – O Seminário Livro VI – O Desejo e sua Interpretação (1958-1959). justamente aquela na qual a fantasia está
Associação Psicanalítica de Porto Alegre, 2002:332. ausente ou substituída por outra estrutura.
daquele passado pelo desejo indestrutível." composto do que tem sido naquilo que
. sou, mas o futuro anterior do que terei sido
A teoria psicanalítica, desde os naquilo que estou me transformando” .
primórdios da sua construção, ao trazer a Em Subversão do sujeito e dialética
questão do tempo, nos situa face a questões do desejo no inconsciente freudiano, ao
particularmente difíceis. Sabemos que construir o grafo do desejo, Lacan volta a
Freud qualifica os processos inconscientes destacar a questão do futuro anterior ao se
como intemporais e o desejo como referir ao “efeito de retroversão pelo qual o
indestrutível. No entanto, ainda que o sujeito, em cada etapa, se transforma
presente seja impossível de apreender, este naquilo que era, como antes, e só se
desejo indestrutível que, em sendo anuncia “ele terá sido”, no futuro anterior”
inconsciente, desconhece o tempo, pode .
aparecer no presente, na experiência da Nesse sentido, podemos dizer que
análise, graças à transferência. É o que o o futuro anterior, na experiência
próprio Freud nos ensina. psicanalítica, consiste em situar, na entrada
Migdalek, no texto acima citado, em análise, um significante do passado que
nos lembra que Freud em Recordar, pode anunciar a saída. O futuro anterior vai
Repetir e Elaborar faz uso, como já o havia exigir, da entrada á saída da experiência
feito em A interpretação dos Sonhos, do analítica, a articulação do S1, significante da
termo – Arbeit – trabalho. Ela chama entrada, a um outro significante, o S2 que,
atenção para o fato de que, nesse artigo de por sua vez, vai fazer cair o a que, sem
1914, Recordar, Repetir e Elaborar, ao falar dúvida, é o que está em jogo no final.
de trabalho – Arbeit – Freud recorre Enquanto significante do passado, este
também a um outro termo – significante da entrada anuncia o que será
Durcharbeitung – que conota um o sujeito na saída da experiência analítica na
movimento e que, literalmente, se poderia medida em que ele participa da
traduzir como “trabalhar através de”. Este transformação e é, ele mesmo, o operador
termo Durcharbeitung vem marcar a da transformação. Podemos observar, no
importância da transferência, um dos Discurso do Mestre, esta relação do
conceitos fundamentais na experiência significante mestre, S1, significante da
psicanalítica, que diferencia o tratamento entrada que se articula a um outro
analítico de toda a influência por sugestão. significante, o S2, para que o Sujeito, $ , se
Podemos constatar que, ao se falar encontre, no final, com o objeto a.
de transferência, entre outras coisas, se está Assim, quando se fala de regressão
a falar do tempo, tal como a psicanálise o temporal, como na frase – terei sido
concebe. naquilo que estou me transformando –,
Lacan, em vários momentos de seu temos aí um exemplo de futuro anterior
ensino, como Freud o fez, vai também porque nela o sujeito não volta ao passado,
conceder importância à questão do tempo é o significante do passado que se atualiza.
na experiência psicanalítica. No seu texto É o que podemos constatar em
Função e campo da fala e da linguagem em outro sonho no qual o significante mãe, do
psicanálise, ele inova e chama atenção para sonho anterior, reaparece deformado
o futuro anterior quando nos diz: através de um recurso translinguístico –
“Identifico-me com a linguagem, porém, MAR - MER; MÈRE - MÃE e se atualiza
somente, ao me perder nela como objeto. no trabalho da transferência, num tempo
O que se realiza em minha história não é o de compreender, situando uma pressa para
passado simples daquilo que foi, uma vez o momento de concluir.
que já não o é, nem, tampouco, o perfeito O outro sonho
A se quer fazer referência ao brevemente? [...] e que modo existem aqueles dois
tempos – o passado e o futuro – se o passado já não
tempo. Enquanto filósofo existe e o futuro ainda não veio? Quanto ao presente, se
medieval percorre uma fosse sempre presente, e não passasse para o pretérito,
variedade de assuntos e como poderíamos afirmar que ele existe, se a causa de
entre eles está uma reflexão sua existência é a mesma pela qual deixará de existir?
sobre o tempo que merece (AGOSTINHO, 1970)
respeito e tempo de
entendimento. Segundo ele por um lado A partir destes elementos vai se
podemos reconhecer, enquanto humanos, delineando para este autor que, pelo menos
nossa inserção no tempo como algo filosoficamente, não é possível a existência
corriqueiro e simples: de um tempo objetivo. Ele irá argumentar
logicamente a favor da não existência
Que assunto mais familiar e mais batido nas nossas objetiva do passado e do futuro. Um já foi,
conversas do que o tempo? Quando dele falamos já passou e assim ‘já não é’ e o outro ainda
compreendemos o que dizemos. Compreendemos não veio, ou seja, ‘ainda não é’; desta feita tão
também o que nos dizem quando dele nos falam.
falso quanto afirmar a existência do passado
(AGOSTINHO, 1970)
é afirmar a do futuro. O presente, por sua
vez, o único modo de lhe reconhecermos
Por outro lado não escapa ao bispo
enquanto presente é quando contrastado aos
de Hipona o quanto se ignora dessa mesma
outros dois tempos, passado e futuro, assim
inserção, ou seja, aquilo que parece obvio
sendo também não tem existência em si
traz uma série de problemas, quando nos
mesmo.
propomos a trabalhar a questão com mais
Depois desta conclusão, de
cuidado. É assim que sobre o mesmo assunto
estranhamento frente ao tempo, o bispo de
afirma:
Hipona não para por aí. Irá propor a partir
Se ninguém me perguntar eu sei, porém, se quiser do já trabalhado um segundo momento de
explicar a quem me perguntar, já não sei. conclusão:
(AGOSTINHO, 1970)
O que agora transparece é que, não há tempos futuros
nem pretéritos. É impróprio afirmar: os tempos são
Esta ignorância não será um três: pretérito, presente e futuro. Mas talvez fosse
elemento paralisante, mas ao velho estilo próprio dizer: os tempos são três: presentes das coisas
socrático levará o filósofo a empreender um passadas, presente dos presentes, presente dos futuros.
árduo trabalho para pensar o que é e quais Existem, pois estes três tempos na minha mente que
seriam as condições do tempo para o não vejo em outra parte: lembrança presente das
coisas passadas, visão presente das coisas presentes e
humano. Assim parece viável pegarmos esperança presente das coisas futuras. Se me é lícito
carona naquilo que destaca enquanto questão empregar tais expressões, vejo então três tempos e
para avançar: confesso que são três. (AGOSTINHO, 1970)
É assim que a questão desse autor, Quero antes afiançar que essa moça não se conhece
em ‘As 4+1 Condições da Análise’, ganha sua senão através de ir vivendo à toa. Se tivesse a tolice de
se perguntar “quem sou eu?” cairia estatelada e em
extrema coerência: quais condições são cheio no chão. É que “quem sou eu?” provoca
necessárias para que ocorra uma análise? O necessidade. E como satisfazer a necessidade? Quem
que é a entrada em análise? Talvez possamos se indaga é incompleto. (LISPECTOR, 1998)
esboçar uma resposta a partir da personagem
clássica de Clarice Lispector em ‘A Hora da Apesar de se manter enquanto aquele
Estrela’ – Macabéa – mulher de pouca valia que dá voz à esta história, nosso narrador,
que além de ser estrangeira na terra em que Rodrigo S. M., não interfere
habita é também estrangeira de si mesma – consistentemente na mesma, fica
parece desafetada do mundo. Apresentada e inconformado com o estado de sua
contada por um homem, Rodrigo S. M., personagem; estado de absurda resignação e
artifício criado pela autora para marcar que passividade. Frente a isso apenas pode usar
uma mulher não suportaria acompanhar-lhe daquilo que nomeia de ‘direito ao grito’. Mas
a trajetória: “(...) porque escritora mulher pode esse não é um apelo de Macabéa, é apenas o
lacrimejar piegas.” (LISPECTOR, 1998) protesto de um narrador frente à
Assim se impõe a esse homem desenvoltura e força daquilo que narra. Sem
escritor, a possibilidade de se fazer enquanto ele seria impossível percebermos os
tal – escritor – acompanhando/contando a contornos de Macabéa, assim é perceptível
história de Macabéa, que escreve por motivo que o que faz funcionar algo da ordem do
de ‘força maior’, ou seja, ‘por força de lei’. discurso que coloca em questão o lugar do
outro.
Algo se impõe a Rodrigo S. M. de forma absoluta e Por conta de ser e suportar aquilo
imperiosa, como uma lei. Mas trata-se de algo que se
impõe inteiramente, mobilizando as raízes de sua que se coloca na ordem da alteridade,
própria subjetividade. Este vivencia a sua própria Rodrigo S. M., faz girar sobre Macabéa a
exclusão interior, pelo contato com esse outro questão que lhe permitirá desembocar,
‘Macabéa’ que é ‘vida primária, que respira, respira, mesmo que palidamente, nos umbrais de
respira. ’ (PEREIRA, 1998) Madama Carlota, a cartomante: qual é a parte
que lhe cabe, dessa história? Desejas? Ao
É assim que aos poucos vamos emprestar a essa moça um encadeamento
tomando contato com essa nordestina, discursivo que tece a sua própria história,
cadela vadia que não se faz perguntas, que com metáforas e metonímias, alcançou-se
apesar da miséria concreta de sua condição; algo a mais do que um simples relato –
não tem angústia. Nosso narrador, artifício galgou se através de uma questão a
de Clarice Lispector, não consegue deixar de possibilidade de um novo tempo, que pode
demonstrar seu encantamento e interrogação ser conduzido imaginariamente ou sustentar
frente a tamanha simplicidade: “ (...) como ela a pergunta que se coloca suportando as suas
podia ser simplesmente ela mesma, sem se fazer conseqüências:
perguntas?” (LISPECTOR, 1998)
Mas isso não basta para dizer de Qual foi a verdade de minha Maca? Basta descobrir a
Macabéa, já que por outro lado é possível verdade que ela logo já não é mais: passou o
pensar que essa desafetação em relação ao momento. Pergunto: o que é? Resposta: não é.
mundo, as coisas e a si mesma – profundo (LISPECTOR, 1998)
desconhecimento de si – marca de sua
aparente inocência, é uma forma de desviar- Assim a posição de Madama Carlota
se de se ver pega enquanto desejante: pode ser desdobrada em dois pontos de
reflexão: um aonde o imaginário conduz o
sujeito ao pior e outro aonde a sustentação
do desejo do analista possibilita aparecer outra pessoa. Uma pessoa grávida de futuro. Sentia em
aquilo que é da ordem do desejo daquele que si uma esperança tão violenta como jamais sentira
tamanho desespero. Se ela não era mais ela mesma,
fala; ponto de entrada de uma psicanálise, isso significava uma perda que valia por um ganho.
propriamente dita: ‘Que queres?’ Instauração (LISPECTOR, 1998)
de um novo tempo onde aquilo que é da
ordem do sujeito pode ser escutado. A
possibilidade de escuta do inconsciente abre REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
um novo tempo onde analista e analisando AGOSTINHO, Santo. As Confissões. Rio de
são convidados a suportar a alteridade, Janeiro: Edição de Ouro, 1970.
permitida pela intrusão do significante, único LACAN, J. Escritos. Rio de Janeiro: J.Z.E.,
1998.
caminho para se alcançar uma verdade, LACAN, J. Outros Escritos. Rio de Janeiro:
mesmo que não toda: J.Z.E., 2003.
LACAN, J. O Seminário, Livro 1 – Os Escritos
Madama Carlota havia acertado tudo. Macabéa estava Técnicos de Freud. Rio de Janeiro: J.Z.E., 1981.
espantada. Só então vira que sua vida era uma miséria. O Seminário, Livro 7 – A Ética da
Teve vontade de chorar ao ver o seu lado oposto, ela Psicanálise. Rio de Janeiro: J.Z.E., 1991.
que, como eu disse, até então se julgava feliz. O Seminário, Livro 8 – A
Saiu da casa da cartomante aos tropeços e parou no Transferência. Rio de Janeiro: J.Z.E., 191992.
beco esquecido pelo crepúsculo – crepúsculo que é LISPECTOR, C. A Hora da
hora de ninguém. Mas ela de olhos ofuscados como se Estrela. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
o último final de tarde fosse mancha de sangue e ouro PEREIRA, M.E.C. Solidão e Alteridade em A
quase negro. Tanta riqueza de atmosfera a recebeu e o Hora da Estrela, de Clarice Lispector. In Pereira, M.E.C.
primeiro esgar da noite que, sim, sim, era funda e (Org.) Leituras da Psicanálise: Estéticas da Exclusão.
faustosa. Macabéa ficou um pouco aturdida sem saber Campinas, S.P: Mercado das Letras, 1998.
se atravessaria a rua, pois sua vida já estava mudada. E QUINET, A. As 4+1 Condições da Análise.
mudada por palavras – desde Moisés se sabe que a Rio de Janeiro: JZE, 1991.
palavra é divina. Até para atravessar a rua ela já era
Q responder devemos
recuperar que o ato na
praxis, que concerne tanto
ao campo da ética quanto
ao da política na Grécia
antiga, apresenta uma
configuração bem diferente do ato presente
phisis ou o reino da necessidade é rompido
pela abertura do espaço humano do ethos
no qual irão se inscrever as ações... A
segunda acepção de ethos (com épsilon
inicial) diz respeito ao comportamento que
resulta de um constante repetir dos
mesmos atos” (Lima Vaz, 1993, p. 12).
na natureza (phisis) e na arte (poiesis). Só Assim, como hábito, o ethos traz em si a
para se ater à dimensão do tempo, o ato na marca do que se repete e, como costume a
phisis se desdobra em um tempo de inscrição do novo, da criação que escapa à
desenvolvimento necessário de uma necessidade natural.
ordenação do logos, na passagem No que toca a psicanálise e em particular
determinada da potência ao ato; e na Lacan é importante lembrar que a
poiesis o tempo se coloca no intervalo nomeação da experiência analítica pelo
entre o agente e o produto, onde a techne termo praxis só acontece a partir do sétimo
acha seu lugar. Por seu lado, na praxis, ano de seu seminário, justamente em: “A
devido ao fato de que não há distinção Ética da Psicanálise”. Até então, Lacan
entre agente, produto e finalidade no ato normalmente utilizava a expressão “técnica
(ou seja, o ato, na praxis, é o agente, o psicanalítica”. Fica por saber, então, porquê
produto e finalidade), o tempo é indexado um seminário em que há um claro esforço
de forma diferente. Ele é marcado tanto para distanciar a experiência psicanalítica
pelo instante do ato, por exemplo, de um do orthoslogos aristotélico, deixa-nos
ato justo, como também traz em si a também, contraditoriamente, a herança de
extensão histórica de seu agente, por localizar a psicanálise no campo da praxis.
exemplo, um homem notadamente injusto. A resposta pode estar em certa disjunção
Por essa razão, o tempo do ato na praxis da “Ética a Nicômano” que se pode operar
pode ser tanto um tempo de repetição, entre o que seria relativo às propriedades
quanto pode ser um tempo de reordenação, do ethos, nas quais vemos elementos
de irrupção do novo. concernentes à psicanálise, e o que toca a
Essa marca do ato penetra toda a teleologia da ética aristotélica, diante da
praxis na medida em que a ética não é um qual Lacan posiciona a experiência analítica
campo do singular. Assim, da mesma como uma espécie de antítese.
forma, o ethos, como campo trans- Sobre o que afasta a psicanálise da
individual, apresenta a mesma pulsação ética aristotélica, isto está bem claro neste
entre repetição e criação. Devemos lembrar seminário na crítica à noção de “Soberano
a dupla nomeação do ethos: por um lado o Bem” e no tratamento dado à questão do
“ethos (com eta inicial) designa a morada desejo. Esse não será o foco de nossa
do homem...a metáfora da morada e do exposição. Mas pelo lado contrário,
abrigo indica justamente que, a partir do podemos trabalhar a aproximação da
experiência analítica a praxis por alguns são dados senão pela realidade do
vértices, como a questão da alteridade e do inconsciente posta em ato, uma das
endereçamento que se coloca no ato ou a definições de transferência dadas por
questão da suposição ao saber também Lacan. No dispositivo analítico, é na
presente nesse ato. Devemos recordar que transferência como atualização da realidade
a liberdade implicada no ethos, como inconsciente que a queixa, o sintoma, o
possibilidade de criação, está condicionada acting-out e o delírio se desdobram em
a alteridade posta no ethos como repetição. repetições que são, de fato, atualizações das
Isso decorre da dialética interna ao próprio relações que o sujeito criou com o Outro.
ethos e refere o conflito ao campo do Vemos assim, em um primeiro plano,
saber; conflito entre o saber constituído e o como é na transferência que os tempos de
saber como razão, potência criativa. Assim criação e repetição da relação entre sujeito
tal alteridade se manifesta tanto na relação e Outro se inscrevem. Porém, salientemos
direta dos cidadãos na Polis, como também por enquanto, que essa repetição, como
na relação do cidadão ao saber. A questão nos adverte Lacan, é da ordem de
do tempo se insere como um outro vértice autômaton e não de tiquê como veremos
pelo qual podemos relacionar a psicanálise depois.
e a praxis, mas que acaba por incluir esses Seguindo nosso caminho, devemos
outros campos, como veremos. agora abordar a questão do tempo a partir
O tempo, tal como indicamos, em da praxis no que toca não apenas o sujeito
se inscrevendo duplamente no ato da e a transferência, mas o tempo desses
praxis, sugere proximidades ao tempo do tempos na experiência analítica. Porque o
sujeito tal como a psicanálise o concebe. O sujeito na transferência estar entre criação e
ato na praxis, como vimos, é um ato que é repetição é condição de possibilidade, mas
o seu próprio agente. Não é a apresentação não condição suficiente para que sua
de uma faceta ou a representação de um análise se inicie. A entrada em análise tem a
papel, mas sim, no ato está o próprio marca de sua direção e se estabelece por
agente que é também o produto do mesmo um tempo e por um ato. A isso Lacan
ato. Assim, o que marca o ato como ethos nomeou retificação subjetiva, mas podemos
é a instauração de um sujeito, pelo menos, também situar este ponto no primeiro
até aqui, sujeito da ação. Mas também tempo dos tempos lógicos, o “instante de
vimos como esse ato não está dado ao ver”. Aqui se fortalece a aproximação com
infinito de possibilidades abstratas, sendo, a praxis no sentido da finalidade do campo
antes, suposto a uma alteridade que lhe da ética e da política entre os gregos. O
convoca a um tempo de repetição, mas que fato da psicanálise não compartilhar da
se apresenta, igualmente, como a única mesma direção não a posiciona
possibilidade de inscrição de um tempo necessariamente fora do campo da ética e
novo. Então, podemos ver como o ato é o da política.
instante mesmo em que o sujeito surge Em primeiro lugar, a direção é dada no
como submetido às coordenadas outras e sentido de que se transforme a
como lugar da criação. Porém o ato é o transferência imaginária posta na figura do
sujeito. Portanto ele, o sujeito, é o instante, analista em transferência ao saber. O
a suposição e é o lugar da criação. Daí sujeito suposto saber. Essa é uma operação
podemos depreender a estrutura do sujeito que será feita pelo sujeito, mas no
em seu tempo. dispositivo. Aqui é um outro ato se que
Nessa mesma direção, vemos esses coloca como paradigmático: o ato falho.
tempos se colocarem na transferência. Pois a posição subjetiva no ato falho está
Porque esses tempos do sujeito não nos colocada na determinação de sua relação
com o Outro. Porém, não basta surgir o da repetição” (Lacan, S11, p. 71). Esse
ato falho, mas que seja possível que o núcleo real da repetição como tiquê, curto-
sujeito se veja neste tipo de posição em que circuita os tempos de repetição e criação,
é o Outro quem nele fala. É essa posição pois o tempo da repetição é sempre o
retificada por esse “ver” que pode abrir à tempo da primeira vez, porque não há
Outra cena como nos apontava Freud. inscrição do que se repete na cadeia
Essa é a primeira escansão, um corte como significante. É, portanto, um tempo sempre
criação, mas que redunda na repetição do novo. “O tempo da pulsão é muito
automatismo significante do segundo diferente. É um tempo de encontro,
tempo da análise, o tempo de estruturado como um instante, que opera
compreender. como um corte na continuidade do tempo
Todavia, para seguirmos, e significativo” (Soller, 1997, p.66). No
finalizarmos, torna-se necessária a “tempo de compreender”, trata-se da
introdução de um elemento novo. Esse experiência dessa repetição, as voltas da
elemento, vemos Lacan introduzi-lo demanda como nos descreve Lacan. Trata-
também e curiosamente no seminário 7: se de descobrir que a repetição é a criação
“Pois bem, coisa curiosa para um que se fez a partir do objeto como objeto
pensamento sumário que pensaria que toda cedido ao Outro. Mas isso só encontra o
exploração da ética deve incidir sobre o fim por um outro ato com seu tempo; no
domínio do ideal, senão do irreal, iremos, ato da escansão do “momento de
pelo contrário, ao inverso, no sentido de concluir”, no ato analítico como passagem,
um aprofundamento da noção de real” travessia, a praxis grega é subvertida pela
(p.21). psicanálise. Pois aqui, no momento do ato,
Os passos dados até aqui: o tempo não há sujeito, e na posição de agente se
do sujeito, a transferência como ato e a coloca o objeto. Ato que marca um giro e
entrada em análise, poderiam se sustentar instaura o psicanalista. Analista que só se
somente em Freud. Mas a abordagem do autoriza de si mesmo (Lacan, 2003, p.248).
real como direção para a praxis analítica,
isto se deve a Lacan. Pois os tempos da REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LACAN, J. Outros Escritos. Jorge Zahar editora.
análise não se esgotam no tempo do sujeito Rio de Janeiro, 2003.
e no “instante de ver”. O “tempo de LACAN, J. O Seminário - vol VII. Jorge Zahar
compreender” e a escansão que se editora. Rio de Janeiro, 1985.
denomina “momento de concluir” são LACAN, J. O Seminário - vol XI. Jorge Zahar
implicações lógicas daqueles tempos editora. Rio de Janeiro, 1985.
LIMA VAZ, H.C. Escritos de Filosofia II – Ética e
(embora não necessárias) que devem Cultura. São Paulo, 1993.
introduzir a dimensão, não mais apenas do SOLLER. C. O Sujeito e o Outro. In: Para Ler o
sujeito, mas também do objeto. Objeto Seminário 11 de Lacan. Jorge Zahar Editora. Rio de
pequeno a como nos indica Lacan. Janeiro, 1997.
Isso se opera pela transferência,
mas agora em se tratando de “sacar como a
transferência pode nos conduzir ao núcleo
E memoria, es no acordarse
de lo que se sabe”. Es un
saber que si bien se impone
en las repeticiones y en los
síntomas no representa al
sujeto. Es memoria en la
que el sujeto no se reconoce. Una memoria
vistas.
Posteriormente Freud será más
radical al decir que el inconsciente no
conoce el tiempo; es decir, que es tal la
huella que ese encuentro precoz
(significado en un segundo momento) deja
en el yo, que el sujeto llevará de por vida
que no es mera leyenda sino algo vivo que una marca erradicada de su conciencia y de
abre el paso al saber de las huellas que la que solo quedará en el inconsciente su
quedaron inscritas como determinación de representación après-coup, un recuerdo.
un sujeto. Memoria que no es añoranza Lo ejemplifica con el caso Emma (Freud,
sino resorte de vida, memoria del trauma, 1895:252). Hay que recalcar que en el
experiencia misma de subjetividad. momento el suceso no había sido
El inconsciente es esa memoria del traumático para la niña, no lo comprendió
origen: el trauma y su fijación, que entonces, pero sintió una extraña y vaga
podemos entender como tabla de salvación sensación de algo prohibido.
a la que el niño se agarra con fuerza para María también sabe de lo prohibido
otear la orilla. Tabla que termina cuando a los tres años, escondida detrás de
convirtiéndose en referencia de unos arbustos escarba tierra en el jardín de
satisfacción. Torpeza de la que estamos su casa: “Es como si buscara algo, o abriera
hechos y de la que se guarda un saber, un huequito con mi dedo índice, encuentro
saber oculto del origen, de la vida en su una pequeña moneda, no estoy segura pero
inicio precario. me llevo algo a la boca, la moneda o tierra.
Desde las primeras elaboraciones Oigo la voz de mi mamá que me llama,
Freud articula el efecto del trauma al creo que estoy escondida de ella haciendo
tiempo y dice, que la vivencia traumática algo que me gusta pero que está prohibido:
que está en la base de la formación del ¿Hacer pupú de esta manera?”
síntoma corresponde a una experiencia Freud le dio importancia a las escenas
sexual precoz intolerable para el yo. infantiles. Trabajó la escena primaria del
También descubre, que el efecto traumático hombre de los lobos y cinco años después,
no está ligado a esta escena de seducción, otra escena no menos importante que tituló
sino que esa escena es a su vez un producto pegan a un niño, escena que aparece en los
fantasmático; es decir, una elaboración textos freudianos igual a como asoma en la
après-coup: “los traumas consisten en clínica: aislada, apartada del resto de las
experiencias somáticas o en percepciones elaboraciones del paciente.
sensoriales, por lo general visuales o En el caso del hombre de los lobos,
auditivas; son, pues vivencias o Freud habla de dos tiempos constitutivos
impresiones” (Freud, 1939:3285), en un de su posición sexuada en relación a la
posiciones distintas, del niño pegado y del como aquello que Freud llamó recuerdo
adulto que pega. encubridor, o incluso como un sueño de
A diferencia de la primera, esta infancia, una imagen surgida no se sabe de
escena representa una acción precisa y si donde, como sin razón, que está casi a flor
bien el sujeto puede no haberle dado una del fenómeno, que resiste al
importancia decisiva durante mucho desplazamiento, y que el significante hace
tiempo, siempre permaneció nítida en su volver siempre. Evidentemente, hay que
conciencia. La escena no tiene contenido pulsar esa imagen como apresada en el
sexual, aparece siempre implicado Otro; un significante y preñada de significación.
partenaire está siempre presente y el sujeto Significación absoluta, que no deriva, que
participa activamente, incluso cuando se escapa a la relatividad del significante, que
sitúa en posición pasiva, como masoquista. es inamovible, que es casi como un quiste
La escena tiene un valor paradigmático y en las significaciones, y que Lacan formuló
ejemplifica la posición del sujeto, que como axioma, en otras palabras, principio
resume los avatares de su historia, de inteligibilidad del conjunto de la relación
presentándose como matriz originaria e con el mundo de ese sujeto” (Soler,
identificándolo con una fórmula. 1986:72), y que funda además la seguridad
Tú serás así, y así te asegurarás del sujeto, de lo que no duda, su punto de
como lo que le falta al Otro. Es la frase certeza.
inaugural del orden de un axioma al que el Lacan dice que el fantasma es una
sujeto está sometido y le condena al ventana sobre lo real: “ahora tenemos que
sufrimiento. Ana nos comenta de pasada detectar el lugar de lo real, que va del
una escena en la que se encuentra en una trauma al fantasma –en tanto que el
actitud de sometimiento ante la mirada del fantasma nunca es sino la pantalla que
Otro. “Estaba arrodillada con las manos disimula algo absolutamente primero,
juntas implorando, suplicando perdón a mi determinante en la función de la
mamá, ella me miraba duramente, sentía repetición” (Lacan, 1964:68).
miedo. Había hecho algo que no debía”. Freud en “El Proyecto …” plantea
El cuadro de valor paradigmático permite por primera vez la posibilidad de articular
ver la posición inaugural que resume su las dos escenas. Deduce que alguna vez
existencia, presentándose como matriz hubo una vivencia que consistió en sumar
originaria de su vida, a la vez que permite A y B, y en donde A se convirtió en
ubicar el lugar frente a la demanda del símbolo de B, un símbolo inconsciente,
Otro. reprimido: la Cosa, das Ding fue sustituida
Esta bella y triste escena contiene por el símbolo. Añade además que hay
un plus-de-goce que esconde esa mirada de desplazamiento de cantidades de B a A, o
la madre. Esa mirada esconde el –phi, la que B es sustituto de A, lo que sería tratarlo
castración. “La mirada solo se nos presenta al modo de la represión histérica.
bajo la forma de una extraña contingencia, Si la primera escena enfrenta al
simbólica de aquello que encontramos en el sujeto con un enigma para el que no hay
horizonte y como tope de nuestra respuesta, la segunda ejemplifica la posición
experiencia, a saber, la falta constitutiva de del sujeto y las condiciones de satisfacción
la angustia de castración” (Lacan, 1964:81) pulsional, una satisfacción que
“En medio de aquello que se realiza permanecería ignorada para el sujeto.
la asociación libre, efectivamente, se ve Representa una acción característica que se
venir, aparecer una imagen por ejemplo, mantiene viva en la memoria, y a la que no
una escena, una imagen sin origen, una se le había dado la importancia que la
imagen que se presenta, llegado el caso, interpretación revela. Interpretación
T
muerte.
análisis.
Hablar del tiempo es
introducirnos en esa dualidad
a la que el psicoanálisis nos
invita: vida- muerte, vida que
para realizarse precisa de la
Cada análisis tiene un tiempo lógico,
para el cual no hay prescripción, será el aprés-
coup que sancionará si ese análisis transcurrió
en un tiempo que le permitió alcanzar el fin.
Es el fin del análisis que posibilita que el
tiempo se historice en acto. Desaloja al sujeto
de la comodidad, de la pasividad.
“La inclinación a no computar la
muerte en el cálculo de la vida trae como Los tiempos de la cura
consecuencias muchas otras renuncias y ¿Qué implica el tiempo en la lógica de
exclusiones” nos dice Freud. Podríamos la cura? El tiermpo en su constitución misma
parafrasear : “Si quieres soportar la vida, se localiza en el acto de la palabra, sin ella no
prepárate para la muerte” podríamos localizarnos en el tiempo.
Freud insistió que el inconciente no En la dialéctica de la articulación entre el
sabe nada de la muerte y que no conoce el tiempo de la repetición y el tiempo para
tiempo, es atemporal. Postula una tensión concluir el análisis se juega un análisis. En
entre el reconocimiento de la muerte como la estos dos tiempos se trata de evitar el vacío
terminación de la vida y la negación de la del uno como el infinito del otro. Así, al
muerte y su reducción a la nada, con la ilusión tiempo de la repetición y al de la
de la vida eterna. precipitación, tenemos que oponerle otro, lo
Las pérdidas son circunstancias que llamamos tiempo lógico.
inevitables a lo largo de la vida. Exigen Tiempo que es escansión, punto de
efectuar algo con ellas, requieren un tiempo almohadillado, cortes de sesión e
que permita atravesar una dimensión de interpretaciones que van en contra del
agujero en la existencia e instalar allí el lugar sentido.
donde reconocer y simbolizar la falta Podemos diferenciar en la cura dos
estructural. Falta estructural que remite a la grandes tiempos: Un primer tiempo de
falta en ser en el sujeto, y su recíproca, la apertura del inconciente, es un tiempo de
castración del Otro irrupción en un fondo de atemporalidad, y el
La dirección de la cura tiene desde el tiempo del proceso lógico, lo que Lacan llama
comienzo, en su horizonte, la dimensión del “certidumbre anticipada” que
acto y además el tiempo de la cura está paradójicamente es capaz de introducir de
signado por su fin, puesto que se trata de un manera efectiva una dimensión de
tiempo limitado, que reduplica en acto en el incertidumbre.
interior del discurso analítico, el irreversible Así entre el instante de mirar, el
tiempo para comprender y el momento de
concluir, una de las cuestiones fundamentales no suceda nada, entra en un tiempo que no
es cómo interviene cierto grado de existe.
incertidumbre. Sin él no habrá posibilidad de El tiempo del inconciente no
una verdadera conclusión. reconoce un proceso cronológico sino que
El uso del tiempo lógico, va a empuja a la vuelta hacia el mismo lugar, a la
contracorriente de la inercia depresiva de la irrupción de lo real, al arrasador goce del
repetición. No es un tiempo que sigue cierta Otro, a las fauces del cocodrilo, a menos que
burocratización, tiempo standarizado, sino es un saber comience a inscribirse.
el tiempo de la transferencia en la dimensión El análisis supone la liberación del
del acto. Acto, que como tal es tan tiempo como categoría vacía y finita en tanto
incalculable como incontrolable. Por lo cual la enfermedad, que sostiene la fantasía de
se encuentra excluido del ámbito del análisis inmortalidad, implica el sometimiento a un
todo tipo de previsión, de timing, de fijación tiempo lineal, cuantificado, sustraído de
previa de plazo. nuestro control y decisiones.
Lacan plantea en el Seminario XV, Puede advenir, luego del recorrido de un
que un psicoanálisis empieza a partir del acto análisis, el tiempo del acto placentero y
inaugural del analista que instaura la regla responsable, liberado ya el sujeto de la
fundamental, y a lo largo del análisis se van perpetua postergación desiderativa, así como
dando sucesivos actos, que formarían parte de de la fantasía de un eterno presente, signado
lo que es el acto analítico. Largo recorrido por la influencia de un pasado no resuelto y
que va transformando la falta en pérdida, la un futuro que no termina de acontecer.
impotencia en imposibilidad.
Tiempo ce concluir
El tiempo en la neurosis ¿Cuándo es el tiempo de concluir un
El neurótico se instala en un tiempo análisis? El dar por terminado un análisis tiene
cristalizado, goza en este tiempo que ver con una decisión. Pero ¿Quién
improductivo, hecho de incertidumbres, se decide? No es el analista, tampoco el
desvía hacia tareas contingentes, para evitar de analizante, es una decisión acéfala, sin autor,
ese modo la consumación del acto radical, que no depende de la voluntad. El analista tiene
es aquel en el que se juega en la apuesta de su sin embargo, la responsabilidad de escuchar
deseo decidido y se hace responsable de él. esa decisión.
El sujeto mantiene una paradójica y Concluir antes de que sea demasiado
sintomática relación con el tiempo. La manera tarde y antes de perder, quizás para siempre,
en la cual cada sujeto se las arregla con el el momento oportuno. Este tiempo
tiempo, se reencuentra en su síntoma, se demuestra que no hay tiempo. No es que al
articula a él, mostrando la relación del sujeto análisis le falte tiempo, por el contrario tiene
con lo real. todo el tiempo posible.
El neurótico realiza todo tipo de Se trata de un tiempo lógico, tiempo
maniobras dilatorias, ya sea postergando el en que cesan las dudas y adviene una especie
acto como lo hace el obsesivo, que en vez de de certeza, el acto analítico soportando lo
realizarlo, piensa bajo la forma de la duda, incalculable, tramos finales en que el saber ya
considera que nunca llegó el buen momento, no se espera del analista, testigo a veces
no permitiendo la sorpresa y lo imprevisible. silencioso de estos encuentros, se preanuncia
El obsesivo en “la espera de la muerte”, vive su caída.
esta espera de la muerte como su vida. Intenta Debe hacerse el duelo por el analista que
que su existencia transcurra en un mundo sostuvo la función a lo largo del análisis y el
atemporal, la tardanza, están al servicio que duelo por el objeto “a”, pérdida radical en la
O título deste trabalho foi tomado de uma deles – é aí que eu situo a questão – a idéia de se
passagem do texto de Jacques Lacan, a autorizarem a ser analistas79”.
“Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o Como é possível manter vivo o
analista da Escola” 77. Lacan dirá “que foi com o discurso analítico, sem colocar em questão a
objetivo de isolar o que é do discurso analítico que fez análise dos analistas? Como é possível alguém
a Proposição”.78 Ao longo do seu ensino é ocupar um lugar quando ainda está
possível destacar vários pontos precisos desse embaraçado em seu gozo fantasmático? Há
empenho de Lacan em manter vivo o uma articulação lógica e indissociável entre o
discurso analítico, sua “lâmina cortante”. início e o final de análise, entre a posição do
Na “Proposição” Lacan estabelece um analista e a direção do tratamento. O que
corte, uma ruptura em relação a tudo o que sustenta essa articulação lógica é a
havia sido estabelecido até então para a transferência e seu manejo suportada pelo
formação do analista e para a direção do desejo do analista (um lugar, uma função, um
tratamento. O inédito, o subversivo nesse x), possível resultado de uma análise levada
escrito é colocar em continuidade a até o fim, a partir da passagem de analisante a
Psicanálise em intensão e a Psicanálise em analista.
extensão e é em torno da formalização do No seminário “O avesso da
final de análise que essa articulação é psicanálise80”, às voltas com a transferência,
possível. Lacan pergunta novamente o que define um
Neste texto de 1967, que completou analista?, e mais a frente, o que se espera de
quarenta anos, Lacan coloca na berlinda, mais um psicanalista?E responde: “análise, eis o
uma vez, a análise dos analistas. No final de que se espera de um psicanalista”.
seu ensino, expressou, mais uma vez, que Na “Proposição”, Lacan indica “os
esperava que o dispositivo do passe dissesse pontos de junção onde devem funcionar nossos órgãos
alguma coisa sobre o que ocorre no final de de garantia81 ”, e articula o começo e o fim da
uma análise: “como é que pode passar pela cabeça psicanálise. E é a partir da teorização do final
de análise e do ato psicanalítico - ato em que
o analisante se torna analista - que ele propõe
Freudiana. Ano XIV, n.0 p. 54-59. 1967, p 252. In: Outros Escritos.
o dispositivo do passe “onde o ato poderia ser análise levada a seu termo.Minha intenção é
apreendido no momento em que se produz82”. falar disso que ocorre, no momento de
Dispositivo inédito, o passe, desde o início, concluir, o desfecho final quando o sujeito
teve conseqüências na comunidade analítica, conclui sobre aquilo que ele foi como objeto
provocando ondas ao subverter a formação para o Outro ao mesmo tempo em que surge
do analista fundada, até então, numa tentativa a suposição de saber no Outro e sua
de “tapeação do real”. destituição.
Lacan, crítico das concepções No seminário “De um Outro ao outro86”,
de final de análise que tinham como objetivo Lacan, retoma a questão do sujeito na sua
a identificação com o eu do analista e\ou relação com o Outro, e precisa a questão do
uma adaptação à realidade, separa do sujeito sujeito suposto saber e a função lógica do
suposto saber a pessoa do analista, a objeto a. A partir da teoria dos conjuntos,
transferência é com um significante qualquer Lacan, mais uma vez coloca em evidência que
do analista. O sujeito suposto saber é um o que “condiciona” a transferência, é a
equivoco, e a psicanálise visa reduzir sua estrutura do sujeito: transferência é a
função até sua destituição ao final de uma transferência da estrutura, ou seja, sua
análise: “No começo da psicanálise está a estrutura de linguagem. Mais uma vez, Lacan
transferência” 83. “E o sujeito suposto saber é o eixo recorre à fórmula: o significante é o que
a partir do qual se articula tudo o que acontece com a representa o sujeito para o Outro significante
transferência” 84. e demonstra a coalescência entre a estrutura
Mas o que condiciona a transferência? do sujeito e o sujeito suposto saber. É a
Embora Lacan diga nesse texto que não própria crença do sujeito no saber
temos que dar conta do que a condiciona, inconsciente que possibilita que ele se dirija a
não cessou de formalizá-lo (o que a um Outro que ocupe essa função. Lacan
condiciona) e sua possível resolução, até o enfatiza, que o sujeito é representado como
final do seu ensino. um (1) para um outro significante, este um
A psicanálise não inventou a Outro, é o que representa o um (1),
transferência, ela sempre existiu, é um unário(marca de um gozo) no Outro.Cada
fenômeno geral, efeito da linguagem. O inscrição do traço unário no Outro visa a
mérito de Freud, desde Anna O., foi não ter repetição de um gozo enigmático. Lacan nos
recuado frente a sua manifestação, isolando-a diz que é necessário acrescentar a esse um no
e incorporando-a ao tratamento analítico. Outro, o conjunto vazio (segundo a definição
Lacan demonstrou-a, precisou seu manejo e da teoria dos conjuntos) 1, (1,0).O que está
resolução partindo da lógica e da topologia. dentro do parêntese é o Outro (A), o
A partir do ensino de Lacan, escolhi conjunto vazio, “esse um-a-mais”,
um ponto do seminário “De um Outro ao representado por círculos que se engendram
outro85” para tentar articular, inicialmente, indefinidamente, transformando o que era
aquilo que se verifica na prática em uma interior em exterior. Essa repetição se
organiza ao redor de uma borda, um buraco,
o lugar do objeto a: “[...] um buraco sozinho
82 Lacan, Jacques. Discurso na Escola Freudiana de basta para fixar toda uma conduta subjetiva87. Esse
Paris (1967), p. 271. In: Outros Escritos. Rio, Zahar,
2003.
conjunto vazio representa a incompletude do
83 Lacan, Jacques. Proposição de 9 de outubro de Outro (ele evoca o paradoxo de Russel) que
1967, p 252. In: Outros Escritos. o objeto a, em-forma, ou seja, o objeto a
84 Idem, p.253.
enforma A. Este Outro inconsistente, esse
85 Lacan, Jacques. O seminário, livro 16: De um Outro
vazio, o objeto a (esse falso ser) irá enformar S(A barrado) que o analista com seu corte em
(envolver). ato faz aparecer, operando a separação,
Podemos afirmar que o sujeito busca fazendo surgir essa suposição de saber no
na transferência, na suposição de saber, o ser, Outro, evidenciando sua inconsistência. A
ser Um. O sujeito dividido, falta-a-ser, suposição de saber se sustenta por um saber
demanda ao Outro, ser, como explicita Lacan absoluto. Não existe o sujeito suposto.
em “Posição do Inconsciente”: “ A espera do No final da análise, como nos
advento desse ser em sua relação com o que prisioneiros do apólogo, há um salto, uma
designamos desejo do analista,[...] [...]por sua própria passagem que se faz no limite (momento de
posição, é essa a última e verdadeira mola do que concluir), um ato do sujeito,“apesar da falta
constitui a transferência. Eis porque a transferência é de saber”, uma conclusão que constitui uma
uma relação estritamente ligada ao tempo e ao seu asserção sobre si mesmo. Nesse momento
manejo88”. em que o sujeito conclui sobre aquilo que ele
O que “condiciona” a transferência é foi como objeto para o Outro, nesse
a “coalescência” entre o toro do sujeito e o momento, é que o sujeito se dá conta da
toro do Outro, estrutura da neurose, algo suposição de saber, da suposição do Outro
muito evidente nas análises onde “verdades ao mesmo tempo em que se revela o
escondidas, as neuroses as supõem sabidas. É preciso inessencial do sujeito suposto saber: “A hora
destacá-las dessa suposição para que eles, os do encontro é também despedida”.93
neuróticos, cessem de representar na carne essa
verdade89 ”. Lacan explica então, que cabe ao
analista efetuar “o corte graças ao que, essa OUTRAS BIBLIOGRAFIAS
Darmon, Marc. Ensaios sobre a topologia lacaniana.
suposição de saber é arrancada90”. Porto Alegre, Artes Médicas, 1994.
Esta estrutura, essa coalescência, que Nominé, Bernard. O Passe e a análise finita. Buenos
o corte, o ato do analista, visa separar. Lacan Aires, julho 2004.
define a interpretação como um corte, “[...] Porge, Erik. Jacques Lacan, um psicanalista. Editora
cortes que têm efeito de subversão topológica91”; corte UnB, 2006.
Franco,Silvia. O sentido do Sintoma. Texto
no toro do neurótico, evidenciando o furo apresentado nas Jornadas de Formações Clínicas do
central, o vazio deste objeto a, que a FCL-SP, 2004.
suposição de saber visava encobrir. Franco, Silvia. Discurso a EFP e o desejo do analista.
No seminário “Momento de concluir92”, Texto apresentado no Seminário de Formação
na famosa aula de 10 de janeiro de 1978, Continuada do FCL- SP
Franco, Silvia. S de A (barrado) e a produção dos
Lacan repete mais uma vez que o sujeito é discursos. Texto apresentado nas Jornadas de
sempre suposto, não há sujeito, e o suposto Formações Clínicas do FCL-SP, 2005
saber, é o suposto ler de outro modo, o que
se inscreve no inconsciente. O analista lê o Lacan Seminário Identificação página 199
que se inscreve no inconsciente, não como “Se há, vocês sabem, algo a que se pode dizer que,
desde o início, o neurótico foi pego, é nessa armadilha;
uma cifra, mas como índice do real, como ele tentará fazer passar na demanda o que é o objeto
de seu desejo, de obter do Outro não a satisfação de
sua necessidade, pela qual a demanda é feita, mas a
88 Lacan, Jacques. Posição do inconsciente, p.858. In: satisfação de seu desejo, isto é, de ter o objeto, isto é,
Escritos. Rio de Janeiro, Zahar, 1998. precisamente o que não pode demandar. E isso está na
89 Idem. O seminário, livro 16: De um Outro ao outro,
origem do que se chama dependência, nas relações do
p.375. sujeito com o Outro. Da mesma maneira, ele tentará,
90 Ibidem, p.375.
91 Lacan, Jacques. O aturdido, p. 474. In: Outros
mais paradoxalmente ainda, satisfazer pela deve ao fato de que seu espaço interior e o espaço
conformação de seu desejo à demanda do Outro.” exterior são os mesmos. O sujeito, a partir disso,
constrói seu espaço exterior sobre o modelo da
Página 201, irredutibilidade de seu espaço interior.
“[...] que a propriedade do anel, enquanto simboliza a
função do sujeito em suas relações com o Outro, se
O
espaço não são coisas distintas. Com a teoria
de produtos. Produtos da relatividade, definiu que o mesmo
cada vez mais excedentes intervalo de tempo pode ser diferente para
e inventados pela força do diferentes observadores: o tempo, portanto,
capitalismo para é relativo para quem o está medido e não
condicionar os existe um tempo universal.
consumidores a possuir sempre algo novo, Freud – tão revolucionário quanto
sendo esse o modo que legitimaria a Einstein nas fronteiras do impossível -
personalização. É chegada a hora da desgraça também inventa sua ‘teoria da relatividade’
simbólica a que Freud¹ se referia em mal quando afirma que a realidade psíquica não é
estar na civilização: “por mais que se a realidade factual, mas depende inteiramente
assemelhe a um deus, o homem hoje não se do trilhamento significante deixado pelas
sente feliz”. marcas do vivido, que esperam um
A psicanálise vislumbra o perigo das acontecimento que lhe forneça sentido,
soluções rápidas e das respostas insuficientes retroativamente (Nachträglich).
apenas para responder o fluxo da tendência Ele não abordou diretamente a noção de
tanatológica, e o que é pior, nos quadros das tempo a não ser num sucinto e admirável
chamadas instituições psicanalíticas. ensaio de 1915, Sobre a transitoriedade, onde
O tempo sempre foi analisado como relata a conversa que tivera num passeio
um conceito relacionado à cultura na pelos campos italianos na companhia de
sociedade a qual pertencemos. Na mitologia Rainer-Maria Rilke e da amiga Lou-Andreas
grega, Cronos, deus do tempo, era Salomé. Na ocasião, conversavam sobre o
personificado na figura de um velho alado, caráter transitório da beleza das coisas e a
simbolizando sua rapidez; com uma foice, caducidade dos objetos e finitude da vida.
para representar seu poder destruidor e, O poeta fala do desejo de eternidade e
alguns artistas, colocam-lhe ainda uma Freud responde que é preciso retirar a
ampulheta na mão porque os antigos se libido dos objetos para ligá-la aos
serviam deste instrumento como relógio, substitutos. Freud não compreendia porque
para a medida do tempo. alguma coisa perderia seu valor, única e
Galileu Galilei se preocupou em exclusivamente devido a sua limitação no
medir e utilizar o tempo como uma maneira tempo. Para Freud, diferentemente de
de compreender a natureza: determinando Rilke, a transitoriedade implicaria não em
equações de movimento da queda dos uma perda, mas em um aumento do valor
corpos demonstrou que era possível prever do objeto em questão, pois a limitação da
os movimentos conforme o tempo passava. possibilidade de uma fruição elevaria o
Posteriormente, Isaac Newton construiu as valor dessa fruição. O diálogo ocorreu no
bases da física clássica, apresentando o verão antes de deflagrada a primeira guerra,
conceito de tempo absoluto, como se fosse como se Freud houvesse previsto os
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modo como se ordena o tempo na alíngua imobilizado e uma mãe atarefada com os
do analisante; assim como, na regressão, outros filhos.
que refaz o caminho até o trauma, Lacan (9), em Variantes do tratamento
passando pelos significantes da alienação, padrão, adverte que o analista quando acredita
para que se possa produzir uma operação saber, convertido em quem detém a
de separação. O que significa dizer que, o experiência, induz a construção de padrões –
tempo de uma análise depende do manejo tendo como resultado um “tratamento tipo”,
da transferência e seus avatares, num excluindo aqueles sujeitos que não
percurso que nada tem de linear. respondem à proposta formalista. Nesse
Ana inicia suas entrevistas, reticente: escrito fundamental, ele recoloca o analista
não sabe se fica com o analista de muitos em sua posição ética: “O analista, com efeito,
anos por já conhecer toda sua história ou se só pode enveredar por ela (psicanálise do
quer começar “tudo de novo” comigo. Fui particular) ao reconhecer em seu saber o
indicada pelo colega de trabalho como a que sintoma de sua ignorância”. De um
não dá “significações pessoais no tratamento, inconsciente como lugar estático e de sentido
não exige que o paciente venha todos os dias, obscuro tomado pelos pós-freudianos, faz
pague adiantado, ou que a sessão seja uma brotar uma concepção dinâmica, de um
tortura de 50 minutos” (palavras dela) sujeito representado pelo significante em
diferente de seu analista. Um dia chega no movimento a outro significante.
horário, senta e espera porque supõe que a Formatar o tratamento, fazer uma
placa na minha porta indicava para aguardar. reeducação emocional, norteado apenas na
Depois de um tempo, saio e pergunto por sugestão, sem lugar para o desejo, que é
que não bateu, já que a placa indicava que deixado transparecer na demanda, como
podia bater. Ela cai em prantos, pergunta Lacan evoca na Direção da Cura(10), a ponto
como posso ficar sozinha. Ao perceber a de fechar a boca e deixar a paciente no leito,
incoerência da pergunta diante do meu como pudemos observar no caso Ana,
silêncio, única intervenção possível (!) diz parece ser a preocupação de Marc Strauss na
que é assim na vida: acha-se inconveniente mesma revista Heteridade, no texto: As sessões
com os filhos adolescentes, com o marido, breves (10). Demonstrando o avanço dado por
com as poucas amigas, no exercício de Lacan desde A direção da Cura – a passagem
comando exigido pela profissão. Afirma que do imaginário ao simbólico – ao O Aturdito -
fala as coisas erradas, nos momentos mais passagem dos ditos ao dizer, ou seja, a
impróprios e relata um problema muito grave palavra como resposta de gozo à castração
que está enfrentando no trabalho... Diz que que leva o discurso no qual o sujeito está
ultimamente tem pensado em desistir de tomado, ele também propõe dois tempos
viver: “se não fosse o remédio não levantaria para a análise:
da cama”. Diante de uma pergunta sobre 1) tempo da elaboração fálica com
levantar da cama, relaciona que teve sessões de tempo variável, onde o sujeito
vergonha de falar ao analista de muitos anos ativa seu cenário, elabora, constrói,
com medo de ser “mal interpretada”, um testemunha sua historia;
fato que não é falado por ninguém da família, 2) sessões breves como o modo de
pois é motivo de muita vergonha para a mãe: alcançar o mais além dos ditos, apontando o
ela nasce quando seu pai já não tinha “como dizer em sua radicalidade, correspondendo
levantar da cama”. ao atravessamento da fantasia.
A partir daí relaciona sua Na pressa nossa de cada dia, as
cena infantil e o lugar enigmático que desde sessões breves não podem nos servir de
sempre respondia ao desejo do Outro – a padrão, sob o risco de voltarmos a uma
nostalgia de ocupar um lugar para um pai prática tão inexata quanto aquela denunciada
por Lacan. Desta feita, invocando o tempo FREUD, S. Análise terminável e interminável. ESB,
lógico para justificar uma condução de v.XXIII, p. 241-287, v. XXIII. Rio de Janeiro: Imago,
1969
tratamento que nada teria de lógica... Melhor LACAN, J. (1945) "O tempo lógico e a asserção de
seria seguirmos Gil: uma certeza antecipada", in Escritos. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar: 1998
Tempo rei, ó, tempo rei, ó, tempo rei Lacan, J. (1953). Função e campo da fala e da
Transformai as velhas formas do viver linguagem em psicanálise. Em Escrito. (pp. 238-324).
Ensinai-me, ó, pai, o que eu ainda não sei Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998
Mãe Senhora do Perpétuo, socorrei... Heteridade 3
Lacan, J. (1955/1998) "Variantes do tratamento
NOTAS BIBLIOGRÁFICAS: padrão", in Escritos, Rio de Janeiro, Jorge Zahar.
FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização (1932). In: LACAN, J A direção do tratamento e os princípios de
Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1977. seu poder (1958) in Escritos, Rio de Janeiro, Jorge
FREUD, Sigmund. Sobre a transitoriedade (1915). In: Zahar.
Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1977. Heteridade 3
FREUD, Sigmund. Lembranças encobridoras (1899).
In:Obras psicológicas completas. Rio de Janeiro: Imago,
1977.
Freud S. - A Interpretação dos Sonhos (1900) – IN:Obras
Completas de S. Freud – vols. IV e V – Rio de
Janeiro: Imago –1977
indivíduo
cerrada
entre o tempo do
sociedade e o tempo
na
do sujeito. O 1º muda
com o tempo. Os agentes sociais estão
prática ou um tratamento que deveria
conduzir o analisando a passar de novo pelas
opacidades ou fixações a supostos estádios
em uma pretendida regressão real. E ainda,
os psicanalistas da IPA, começando por
Freud, que se valem de um tempo
essencialmente simbólico, o tempo standart
sempre a dar coordenadas sobre como se das sessões de 50 minutos, fazem também
submeter ao tempo. Existem diferenças uma diferença fundamental com o tempo de
fundamentais entre as sociedades primitivas sessão variável estabelecido pela nova
e as modernas. Nas sociedades primitivas e concepção de inconsciente que nos trás a
rurais, o tempo tem uma construção evolução da teoria lacaniana.
cosmológica, inscrevendo-se nos ritmos da
natureza, nos rituais que escandem as Nessas afirmativas feitas acima, a
práticas sociais. Já nas sociedades modernas sociedade, a psicologia, os pós-freudianos
o tempo entra no registro da quantificação. desconhecem o significante e seus efeitos, o
Para o sistema capitalista no qual estamos sujeito dividido, o lugar do Outro, da
inseridos time is money. É um operador particularidade do objeto na pulsão, no
fundamental dos processos sociais de desejo e no gozo. Excluem também o que
produção e a rentabilidade da experiência do Lacan pôde formular a respeito da disjunção
tempo se interpõe ao sujeito. entre saber e verdade de onde procede o
discurso analítico . A ciência esforçou-se,
Há uma diferença fundamental entre desde sempre, para inventar os aparelhos
o tempo de todas as logias filosóficas – onto, mais precisos que assegurassem a
teo, cosmo e também psicologia e o tempo mensuralidade do tempo, mas para
do sujeito. psicanálise a exatidão nada tem a ver com a
verdade. Essa aponta a divisão do sujeito,
Há uma diferença fundamental e que com a concepção do inconsciente que vai
gera mal estar entre o manejo do tempo além daquele estruturado como uma
entre os lacanianos e o dos pós freudianos. linguagem, vai tocar no inconsciente como
Esses últimos imaginaram a noção de hiância, fenda, furo.
regressão temporal nos tratamentos,
fundamentada sobre a idéia prévia de um Sabemos que só o discurso do
desenvolvimento do sujeito, estabelecido psicanalista feito de imprevisibilidade,
por estádios, sucedendo-se no tempo, onde escanções e ato, restaura o poder de tocar o
fica permitido juntar uma temporalidade de inconsciente. Um tal despertar requer um
outro manejo, inclusive do tempo, por ouviu? As escansões são, portanto próprias
trabalhar com uma concepção do para relançar a cadeia associativa na procura
inconsciente esvaziado de toda concepção da causa”
de conteúdo. Como Lacan nos indica no
seminário XI: ele é vazio, pura falha, ruptura Sabemos que Freud anunciou que o
e é o conceito de furo que subjaz a todos os inconsciente ignora o tempo, mas acentuou
efeitos e não o do UM. Ali onde buscava-se o efeito do nachtraglich, onde, o que não
os traços equívocos ou apagados em tudo pode ser lido, mas se inscreveu num 1º
que faz retorno do recalcado, onde reinava o tempo, deixando marcas e impressões, se
ciframento e deciframento que trabalham a decifram à posteriori, por intermédio de uma
favor do sentido, aqui acentua-se a nova inscrição.
estrutura de hiância. Em Radiofonia
(1968),Lacan diz que o ics se revela ser um Lacan, sem jamais abandonar essa
saber, mas um saber sem conhecimento- noção, vai introduzir o tempo no raciocínio
portanto se mostra como uma disjunção do psicanalítico às custas de um sofisma,
saber e da verdade. A letra está aqui em obtendo o que poderíamos chamar uma
detrimento do restabelecimento do sentido estrutura lógica do tempo, que passa a ser
latente. O mestre interessa ao neurótico, não cronológica. Em “O Tempo Lógico e a
mas não o surpreende, porque foraclui a Asserção da Certeza Antecipada” 1945, há
verdade. E é em direção da verdade que um embaraço que o sofisma dos três
uma sessão de análise se norteia , onde o prisioneiros produz, e esse, advém da
sujeito é surpreendido em sua divisão. O consideração de que o sujeito pode assentir
tempo de uma análise é o de uma algo como verdade, a despeito da falta de
transferência que se conta em tempo lógico. saber: - O diretor de um presídio chama 3
Talvez a implicação decisiva de se investigar prisioneiros e lhes diz :- Vocês são 3 aqui
o tempo em análise seja a determinação de presentes e tenho 5 discos que só diferem
momentos de passagem, onde o sujeito por sua cor:- 3 são brancos e 2 são pretos.
conclui com o Outro, pela posição onde Prenderei um disco nas costas de cada um
encontra-se só – uma verdade sobre o que o de vocês. Vocês não verão a cor do próprio
causa. disco, mas verão os dos dois companheiros.
O primeiro que puder deduzir sua própria
O compromisso ético do analista é cor se beneficiará com a medida libertadora.
com a existência desse inconsciente, seu Será preciso ainda que a conclusão seja
futuro depende de ser escutado e o manejo fundamentada em motivos de lógica e não
do tempo da sessão e a função do corte de probabilidade. Depois de se haverem
empreendido por ele, longe de serem um considerado entre si por um certo tempo, os
artifício técnico, ou uma coordenada de 3 sujeitos dão juntos alguns passos, que os
como se submeter ao tempo, situam-se levam simultaneamente à porta de saída. Em
como derivação lógica e necessária dessa separado, cada um fornece então uma
estrutura significante de hiância, furo, resposta semelhante, que se exprime assim:
buraco. É em nome dessa descoberta que
procuro, nesse breve estudo, a sustentação “Sou branco, e eis como sei disso. Dado que
teórica para a prática das sessões de tempo meus companheiros eram brancos , achei que , se eu
variável. Nosso colega Marc Straus diz em fosse preto,cada um deles poderia ter interferido o
Heteridade 3 que “uma vez que a sessão tem seguinte: ‘Se eu também fosse preto, o outro, devendo
uma duração variável, nenhum fim de sessão reconhecer imediatamente que era branco, teria saído
é “inocente”, eles são todos significantes: na mesma hora,logo não sou preto. E os dois teriam
“por que nesse momento? O que, pois, ele saído juntos,convencidos de ser brancos. Se não
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estavam fazendo nada, é que eu era branco como jogo o objeto. No sofisma dos prisioneiros,
eles. Ao que sai porta afora, para dar a conhecer a conclusão não depende da inter-
minha conclusão. Foi assim que todos três saíram subjetividade, mas da relação dos sujeitos
simultaneamente, seguros das mesmas razões de com o objeto “a”. Essa determina o tempo
concluir.” de concluir, momento onde uma
subjetivação pode-se realizar.
Ter êxito em concluir, a despeito da
falta de saber, foi este o problema colocado No seminário XX- 27 anos depois de
para cada um dos prisioneiros, onde cada ter escrito “O Tempo Lógico... Lacan diz:
um deve deduzir sua própria cor, que não “Se há alguma coisa que, nos meus Escritos, mostra
sabe qual, embora os outros dois saibam. que minha boa orientação, pois é aquela com que
tento convencê-los, não data de ontem, é mesmo que,
“ Cada prisioneiro hesita sobre sua própria logo depois de uma guerra, quando nada
conclusão, tendo medo de ser superado pelos outros, evidentemente parecia prometer amanhãs dourados,
caso não o faça rapidamente. Através dessa tensão escrevi O Tempo Lógico e a Asserção de Certeza
do tempo, vê-se que a certeza do sujeito equivale a Antecipada. Pode-se ler muito bem ali, se se escreve,
uma antecipação do julgamento assertivo, que se e não somente se se tem bom ouvido, que, a função
exprime aqui por um ato.” da pressa, já é esse “a” minúsculo que a tetiza. Ali,
valorizei o fato de que algo como uma
O tempo lógico, nos diz C Soler “é intersubjetividade pode dar com uma saída salutar.
o tempo necessário para produzir uma Mas o que mereceria ser olhado de mais perto é o
conclusão a partir do que não é sabido” que suporta cada um dos sujeitos, não em ser um
Toda a questão é saber como concluir onde entre os outros, mas em ser, em relação aos dois
há falta de saber . Então, essa lógica é que outros, aquele que está em jogo no pensamento deles.
sustenta a prática da sessão de tempo Cada qual só intervindo nesse termo a título desse
variável, e por isso não interessa à direção de objeto “a” que ele é sob o olhar dos outros. (...)Em
uma análise a exatidão do tempo, submetido outros termos, eles são três, mas na realidade, são
ao relógio, mas o tempo necessário para dois mais “a”. Esse dois mais “a”, no ponto do
produzir algo, um ato, onde há falta de “a”, se reduz, não aos dois outros, mas a Um mais
saber. “a”.( ...)é que funciona o que pode dar com uma
saída na pressa.”
O sofisma trazido por Lacan,
permite distinguir três partes, algo que Como podemos ver não se pode
conhecemos como o Instante de Ver, o pensar o texto “O Tempo Lógico e a
Tempo de Compreender e o Momento de Certeza Antecipada” sem se referenciar ao
Concluir. Primeiro um tempo instantâneo, ato, que só se dá pela intervenção do
seguido do tempo de compreender, que é de analista, quando descentra a demanda em
duração indeterminada, mas que tem que se direção ao que a causa, ficando do lado da
produzir, e a conclusão, que não é um novo relação do sujeito com o objeto “a”.
instante de ver, nem contemplação de uma “Tomados um a um , os sujeitos A,B,C , são
verdade, é o momento do ato, na medida em todos iguais e cada um diferente. A é o
que a certeza da conclusão se antecipa à sujeito real que vem concluir sozinho. Ele
realização. O corte da sessão, longe de está designa cada um dos sujeitos enquanto real,
acomodado ao tempo do capitalista, que só na medida em que é ele mesmo que está em
pensa em como rentabilizar o tempo, toca o questão e se decide ou não a concluir por si.
ponto em que o sentido escapa, como no B e C são os dois outros, na medida em que
momento de concluir, impedindo que o são objetos do raciocínio de A” (Erik Porge)
discurso se fixe aos significantes, pondo em Da mesma forma A é também objeto do
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espiritual”. Intemporal grosso modo é o que chamar Topologia, estudo dos espaços e de
deixa inscrição, vestígio, como assinala suas propriedades.
Freud no Bloco mágico; ou conforme Lacan na aula de 14 de janeiro de
formulou Lacan no Encore “não para de não 1975 de R.S.I. distingue que o nosso corpo
se escrever”. – presente no espaço – seja de três
O interessante nessa releitura do dimensões, é o que não deixa nenhuma
texto O inconsciente é a afirmação dúvida, já que, com esse corpo, a gente
contundente de Freud: “há ordem do pinta e borda; mas isso não quer
tempo” e esta é dada pela censura do sistema absolutamente dizer que o que chamamos
pré-consciente; quando escapa provoca o de espaço não seja sempre mais ou menos
riso! Ou seja, o acesso aos representantes plano. Há até matemáticos para o escrever
pulsionais, ou significantes como exprime com todas as letras: todo espaço é plano”99,
100
Lacan, passam por uma censura. É a esta . Lacan nos lembra também que
censura que se dirige a regra fundamental sabemos manejar muito mal qualquer coisa
da psicanálise da associação livre e as do Real que escapa esse espaço de três
formações do inconsciente. dimensões.
Somente em Achados, idéias e Jeanne Granon-Lafont em seu
problemas, de agosto de 1938, Freud se estudo da topologia de Lacan interroga
refere a Kant para abordar espaço e tempo sobre como podemos compreender tal
na relação com do sujeito do inconsciente. observação. Ela responde que o espaço em
Ele discorda de Kant. Ele escreve “O si não encerra a dimensão da profundidade,
espaço pode ser a projeção da extensão do a famosa terceira dimensão. É somente
aparelho psíquico. Nenhuma outra para aquilo que se encontra mergulhado no
derivação é provável. Em vez dos próprio espaço que, segundo seus
determinantes a priori, de Kant, de nosso movimentos que se desenrolam no tempo,
aparelho psíquico. A psique é estendida; vai existir um antes e um depois e, por
nada sabe a respeito”. Esse fragmento é extensão, um na frente e um atrás. Os
um verdadeiro achado e a banda de topólogos, tentando manipular esta
Moebius utilizada por Lacan nos percepção e suas ilusões, recorrem
demonstra esses determinantes a priori. classicamente a “metáfora da formiga”
presente na capa do seminário d’Angústia
O tempo, o dizer: a banda de Moebius de Lacan e desenhado pelo artista gráfico
Kant ainda trabalha no espaço da holandês Mauritus Cornelis Escher (1898-
Geometria plana, ainda que ele tenha sido 1970).
assim como Freud e Lacan um Imaginemos, comenta a autora, que
“instaurador de discursividade”. O espaço no lugar da formiga situa-se o sujeito em
da Geometria projetiva será descrito em análise. Este sujeito-formiga ou – os
meados do século XIX. Moebius em 1861 homenzinhos na fita da primeira divulgação
descobre a figura que passará para a deste Encontro – se desloca sobre a banda
posteridade, como nos informa Jeanne de Moebius, superfície plana com duas
Granon-Lafont98, a “banda de Moebius” e dimensões, que assim é definida na relação
suas superfícies uniláteras. O que era que mantém com sua vizinhança imediata.
“estudo do lugar” em 1679 com Leibniz
passa quase dois séculos depois a se
99 Lacan, J. O seminário: RSI, aula de 14 de janeiro de 1975, versão
pirata brasileira, s/d.
100 Cf. Kant em Sobre o primeiro fundamento da distinção de
98 A topologia de Jacques Lacan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar direções no espaço (1768), [tradução de Rogério Passo Severo], disponível em
Editor, 1990. http://www.ufrgs.br/kantcongress/sociedadekant/fundamento.pdf
Por outro lado, diz ela, o horizonte, o nesse esquema Nasio propõe estabelecer
ponto onde a banda revira, pinça sua relações entre quatro conceitos lacanianos
torção, sempre na relação às vizinhanças que definem a realidade e os objetos
imediatas, é percebido como profundidade. topológicos respectivos. Das quatro
Ora essa profundidade – cria o plano proposições recolho apenas uma já que
projetivo – tem como medida o tempo que nosso tempo é curto, mas remeto vocês ao
a formiga levará para alcançar este ponto texto de Jairo que é muito interessante.
de torção, ao qual ela jamais chegará, uma Na primeira a demanda e o desejo
vez que tão logo o atinja, um novo são representados pelo toro. Na terceira, o
horizonte irá sempre se apresentar como significante e a cadeia, representados pela
terceira dimensão, como profundidade. garrafa de Klein. Na quarta, a relação do
O plano é o que se define como a sujeito e o objeto (a fantasia),
superfície de um quadro limitado por seus representados pelo gorro cruzado (ou
contornos, e o espaço pela percepção da cross-cap). Na segunda relação do sujeito e
profundidade. Trata-se do horizonte, o o dizer, a que recolhi para comentar por
qual sabemos não ser o limite, mas que meio de um fragmento clínico, está
topologicamente, se entende como o representada pela banda de Moebius.
tempo necessário para alcançá-lo. Então, indaga Jairo Gerbase, como dizer
O que é interessante é que será por que somos sujeito se somos dizer? Como
meio da experiência provocada pelo ser outro ou como haver transformação
movimento de torções, de cortes, de meias- pelo fato de dizer? A banda de Moebius
torções, etc., que se faz surgir “como um (Fig. 2) mostra o sujeito, suas peripécias.
vazio” o espaço moebiano ou plano Sua propriedade de ter um único lado se
projetivo. Isto tem, sem dúvida, um valor transforma se nela operamos um corte
fundamental para a experiência mediano. Não basta representar o sujeito
psicanalítica. A experiência do vazio, do no espaço é preciso também o ato de
buraco, certamente, pode ser aproximada cortar. O ato de dizer é da mesma ordem, o
da experiência da angústia – que é mediana significante fende o sujeito em dois: o
entre gozo e desejo, como assinala Lacan – significante simultaneamente representa o
vivida, pelo sujeito na análise. É curioso, sujeito e o faz esvaecer102 (apagar-se).
dependendo da condição econômica de
nossos analisantes, podemos ouvir aqueles
que dizem parecer estar em uma montanha
russa ou aqueles que parecem estar em um
trem descarrilado! Eis aí a experiência
subjetiva da banda de Moebius que a
psicanálise revela. Como o psicanalista
pode se servir dela? Por meio, claro, da
promoção da associação livre do lado do
analisante e da interpretação e do ato
psicanalítico do lado do analista.
Jairo Gerbase na aula de 12 de maio
de 2000 de seu seminário Clínicas de nós de
toros - comentários101 faz um resumo do livro
J.-D. Nasio Monstration et Topologie, de 1983;
101 Gerbase, Jairo. Clínicas de nós de toros - comentários, aula de 12 102 Lacan, J. Seminário: A topologia e o tempo, aula de 15 de maio de
de maio de 2000, disponível em www.campopsicanalítico.com.br. 1979. Edição fora de comércio.
algo do resto significante com o qual todo função de um significante que um dia foi
sujeito tem de lidar em sua vida. O que estranho recalcado, e hoje é da ordem do
fazer com o resto no âmbito da solidão que familiar e do consciente; da transformação
toca na verdade do sujeito. Para onde do sintoma banal para o sintoma analítico;
destiná-lo ? A Escola o acolhe e o recebe das verdades à verdade do sujeito frente à
sob os nomes da verdade de cada sujeito e vida, ao sexo, e à morte e do deciframento
de sua castração, que, agora, se desdobram do sintoma. Abre-se para o ser falante uma
em produção e trabalho. A Talvez a Escola nova relação com o objeto faltoso. O novo
possa vir representar, mesmo, o quão difícil surge a partir das marcas simbólicas que ali
é para o sujeito lidar com o tempo para que sempre estiveram presentes, e que, sob a
se fique só e, ao mesmo tempo, ratificar força da transferência analítica, e do desejo
seu mais radical tempo de solidão e decidido do sujeito.
desamparo frente ao outro. Daí vermos a Novo que diz do fato de o sujeito
solidariedade como fator tão valioso na ter conseguido fazer a reescritura da sua
Escola de Lacan. S1 = solidão do sintoma vida. S1 = texto sintomático para S2 =
analítico ao S2 = solidão da sua verdade texto novinho em folha. Assim sendo, o
com seus pares. sujeito o escreve, reescreve, pontua, resume
O novo que surgiu toca no ponto para ao final intitulá-lo. Reintitula-o, agora,
que diz de um retornar daquilo que ali ao seu modo e estilo próprios.
sempre estivera, a saber, o sujeito com a A cada ida e vinda de um
sua verdade inconsciente, e que agora significante a outro significante há uma
ambos encontram solo para germinar no perda: perda de gozo, perda de parte do
campo fértil da Escola, da Comunidade sintoma que se fixa ao significante. Perda
Analítica de Escola. Espaço onde o bem- de parte de si mesmo que se desdobra, ao
dizer da experiência transmitida de um ao final, no mais puro ganho.
outro se dá com alguma sintonia àquilo que
se fala e se escuta.
O novo tempo virá em função do
circular da libido de um ponto ao outro, em
Tempo e sintoma
Andréa Hortélio Fernandes
Freud nos ensina que, com o passar Dora experimenta no lago. Tal
do tempo, o sujeito descobre que fez um reatualização evidência “a raiz da pulsão
mau negócio ao optar pela neurose. De escópica” que deve ser pega, nos diz Lacan
acordo com Lacan, a experiência no Seminário XI, retomando Freud, “no
psicanalítica deverá levar o sujeito a se fato de que o sujeito se vê a si mesmo”.
confrontar com o objeto que ele fora para Uma ressalva importante, o sujeito não se
o Outro. Alcançamos então uma a- vê no espelho, mas é “a sexualidade como
temporalidade do inconsciente, na qual o tal faz retorno, [...], por intermédio das
objeto a será de fundamental importância pulsões parciais”, no caso de Dora pela
para pensar os três tempos lógicos pulsão escópica.
envolvendo o instante de ver, o tempo para A circularidade da pulsão ao
compreender e o momento de concluir. É mostrar que “a heterogeneidade da ida e da
dentro desta lógica que a psicanálise volta mostra no seu intervalo uma hiância”
passará a tratar o sintoma. revela como a sexualidade faz retorno no
Utilizemos aqui do exemplo de Dora para sintoma. A hiância aponta para dimensão
tratar deste tema. da falta tanto para o sujeito como para o
Tudo funcionava bem na vida da Outro. Neste percurso, o sintoma surge ali
jovem de 18 anos até que ela se descobre onde “a representação do Outro falta,
fazendo parte de um agenciamento precisamente, entre esses dois mundos
amoroso no qual ela era oferecida ao opostos que a sexualidade nos designa
marido da suposta amante de seu pai. Dora como masculino e feminino”. Logo, para
acredita que o comércio sexual além de uma habilitação ao amor seria
empreendido está na origem do seu mal- preciso levar Dora a poder lidar com a sua
estar. Entretanto, seus sintomas divisão subjetiva, vislumbrada pela hiância,
denunciam como ela participa do mal-estar pela falta que se instaura no cerne do
do qual se queixa. Absorvida pelo enigma sujeito.
da feminilidade que lhe causa horror, Dora Como sabemos nos anos 50, Lacan
fica, durante duas horas, fixada frente a um vai enfocar, sobretudo, a sua tese do
quadro da Madona Sistina, de uma galeria inconsciente estruturado como uma
de Dresden. O quadro, tal qual a Sra K., a linguagem e vai partir da premissa do
captura pela brancura da pele ou pelo significante como causa do sujeito. Mas já
“adorável corpo alvo”, que segundo Freud neste período, Lacan vai construindo a
teria uma “tônica mais apropriada a uma elaboração de que o sujeito é causado por
amante do que a uma rival” . Freud vai um objeto. Tanto que em 1960, ele já fala
insistir em tratar o caso Dora habilitando-a que “a relação do objeto com o corpo”
à vida amorosa. Com Lacan, podemos revela “que esse objeto é protótipo da
dizer que Freud estaria aí tamponando a dotação de sentido do corpo como pivô do
falta-a-ser com objeto de amor. ser”. E em 1975, ele diz que “o sujeito é
Entretanto, o que nos interessa no causado por um objeto que só é notável
nosso esforço de aproximar o tempo e o por uma escritura e é assim que um passo é
sintoma, é em que medida a pulsão dado na teoria... objeto que designo, que
escópica revela estar Dora, enquanto escrevo com a escritura pequeno a, e da
sujeito, capturada neste instante de ver. No qual nada é pensável, com o senão apenas
episódio do lago com o Sr K. Dora de que tudo que é sujeito, sujeito do
experimenta algo similar, pois o Sr K. ao pensamento que se imagina Ser, é por isso
declarar que sua esposa não significa nada determinado.
para ele, deixa Dora frente a frente com a Apoiando-nos na “consistência
Sra K. A cena do quadro reatualiza o que entre o sintoma e o inconsciente” vamos
ace aproximadamente
2.500 años, Aristóteles
H
El tiempo precipitado de la sorpresa
había ya analizado el “Freud es el primero en articular con
problema del tiempo audacia y potencia que el único momento
advirtiendo que el de goce que conoce el hombre está en el
tiempo era la medida del lugar mismo donde se producen los
movimiento en la fantasmas.”
perspectiva del antes y La sorpresa es el efecto de tiempo
del después. Y es esto lo que todavía en la experiencia del sujeto “sobrepasado”
hacemos hoy: por los eventos que, abriendo un más allá,
medimos el tiempo con relojes que tienen ponen en juego su división. El chiste, el
un movimiento periódico. Esto responde a lapsus, el sueño, evitando el encuentro del
la lógica del péndulo e induce a pensar que inconsciente con lo real, testimonian una
si no hubiese rozamiento, continuaría destitución del sujeto en su dominio y
oscilando hasta el infinito. En cambio el comparten con el acto, sea su inscripción
movimiento se atenúa y llega al reposo, se en un lazo social que el hecho de responder
dice: es por efecto de un ‘punto atractor’ a una temporalidad de división del sujeto.
(en los últimos años se descubrieron los ¿Cómo distinguir esa temporalidad efímera
atractores fractales) . ¿Funcionaría como el de aquello que, en cambio, se impone por
punto en una frase? Pero, ¿qué es lo que su constancia y su insistencia: el síntoma?
señala el antes y el después? Aristóteles no Un sujeto que calcula con el
respondió a esta cuestión. predominio del inconsciente , compete con
Lacan dice que dejando el alma como la
identidad supuesta al cuerpo y el intelecto velocidad y converge con la hipótesis que la
como agente de la función simbólica, prisa está implicada tanto en la emergencia
Aristóteles “no había gozado” de la de la verdad como en la eficacia de la
revelación cristiana (la encarnación de interpretación. Eficacia que, respecto al
Dios en un cuerpo y la pasión sufrida en síntoma [“se interpreta correctamente solo
una persona constituyendo el goce de en función de la realidad
Otro), dejando desconectada la palabra del sexual” ], apunta a la coalescencia entre
goce. ¿Porqué una frase termina? ¿Porqué lalengua y el encuentro con el goce primero
algunos sujetos son convocados por los – dos heteridades distintas.
efectos de ‘frases interrumpidas’? Freud Coalescencia en la que precipita un
inscribe la deriva [Trieb] del goce en la objeto cuya presencia nos ilustra la obra de
hiancia de la dit-mension. Decir y medida, arte, en lo que el enigma del tiempo escribe
en el “cuerpo hablante”, conectan al goce en el reloj de arena con la fuerza del estilo –
che Lacan condensa en la fórmula: “Donde el duro Dürer9 y tantos otros… «¿Cómo
eso habla, goza” . se imprime el tiempo en la materia? En
definitiva esto es la vida, es el tiempo que Nuestra época: Los discursos epifánicos
se inscribe en la materia…»10 ¿Cuáles son Terminado el tiempo del poeta
los modos de presencia de ese objeto, con maldito, nuestra época no cesa de producir
función de agente en el acto analítico, en la figura del poeta nuevo, solitario,
las diferentes versiones del patir y del bastir anacrónico, contra corriente del amo. Hoy
del tiempo? en día los poetas ya no son malditos, la
a-tiempo singularidad poética es simplemente
El amor de transferencia demanda ignorada. Razón para volver a pensar la
el saber en cuanto objeto. Lacan nota que subversión, en la que «el sujeto se hiende
la escritura del mathema de la transferencia por ser a la vez efecto de la marca y soporte
inscribe el sujeto supuesto saber debajo de de su falta». Subversión que no se sostiene
la barra, “en el lugar del referente [objeto] cuando el significante amo regula los lazos
aún latente”. Esta frase anuncia una establecidos desde el lugar del agente. Con
sustitución y un efecto de tiempo: donde el declino o la fragmentación del
era el SsS advendrá el objeto y esto no significante amo en el capitalismo la
impide que el SsS funcione desde el inicio excepción divergente ha cambiado valor.
como un objeto, no el mismo, sin embargo Entre los fenómenos que aspiran a la
que el a-venir: lo que el objeto a coordina restauración, las sectas y las lobbies son el
di una experiencia de saber. Los modos de paradigma. El efecto de aburrimiento
presencia de ese objeto en la experiencia frente a la homogenización y a estas
pasan: aspiraciones de restauración, dan hoy una
1. en los hilos de la metonimia que mayor apertura al discurso singular y
‘hilvana’, embaste [bâtir] un hábito, singularizante.
compone un hábitat, una casa [Heim], una Cuestión social y clínica (política)
patria [Heimat], un secreto (familiar) estudiar y saber lo que valen en cada caso,
[heimlich], lo siniestro [Unheimlich]. los lazos fundados sobre suplencias otras
2. en la angustia de «este extraño ser que que el padre. Volcar todo en la gran caja de
atraviesa el tiempo y que en su lucha con la las psicosis, no hace avanzar la cuestión.
Nada es llamado a otras dos pruebas «¿Qué es por ejemplo lo que caracteriza el
inevitables: la duda y el dolor». lazo social singular que Joyce ha logrado
3. el acto que, con la angustia, es el segundo establecer con sus solas fuerzas discursivas?
modo de la certeza que se presenta en la Que la cuestión se ponga para él no nos
experiencia, mientras que lo siniestro exime de considerar come se plantea para
[Unheimlich] permanece del lado del cada discurso no establecido.» Un discurso
enigma. Desde el primer tiempo del enigma es un lazo social fundado sobre un decir y
[pâtir] de no saber, al segundo tiempo del les affaires d’amour están escindidos de los
bastir [bâtir] incluso del ‘bastar’ de la lazos sociales establecidos. Colette Soler
certeza – que en la angustia es certeza que propone un ternario entre los lazos: 1.
surge frente al deseo del Otro: «Il faut, Discursos establecidos, 2. Forcluidos o
falta… es necesario el acto que produzca ‘fuera discurso’ de la psicosis tipo y 3.
en lo real el significante [del acto]» . «Discursos epifánicos: lazos sociales no
Entonces, no podemos situar la muerte establecidos, o sea discursos que se
como el acto final. Desde la sentencia de autorizan de un decir contingente para
Nietzsche: “Dios ha muerto”, antes de establecer durante un tiempo, y para
llegar al discurso establecido, “Dieu se algunos, un lazo que no está en el programa
retire” y desde su reserva un [poeta] ser de los discursos establecidos.»
devorado por los versos escribe: “solo
santos efímeros me protegen”.
er Lacan nos remete ao texto dizer, só no fim, o que viria a ser o término
de Freud, e a cada retorno a de uma análise.
L
de Freud’.(1)
Freud, temos uma surpresa.
É pelos caminhos de Freud
que podemos ver o terreno
no qual Lacan se apoiou.
Façamos, então, como Lacan
insiste: ‘Retomemos o texto
Nos deteremos aqui na articulação que
Freud faz do tempo do trauma para
pensarmos por qual caminho podemos
seguir o tempo da constituição de um
sujeito. Para isso, vemos a importância do
conceito de nächtraglich que Freud já
utiliza no ‘Projeto’ quando relata o caso de
A questão do tempo foi tratada por Freud Emma. Nele, Freud demonstra como o
com muito apreço. Sua preocupação ia trauma se manifesta no ‘só depois’.
desde o tempo de duração das sessões ao No caso Emma, Freud propõe um
tempo do tratamento e mesmo o tempo do esquema que pode ser chamado de rede ou
inconsciente. Em Análise terminável e grafo, conforme define Eidelstein:
interminável, ele inicia uma discussão sobre ‘Chamamos grafo ou rede à tríade de
o encurtamento ou não do tempo de vértices, arestas e função, de modo que a
tratamento. Localiza a tentativa de Otto cada aresta corresponde a dois vértices,
Rank como ‘um produto de seu tempo’ a assim como à função específica que
uma resposta à urgência que o pós-guerra possuem’.(3) (figura 1 – exemplo de rede)
trouxe a partir da miséria na Europa e O que Freud desenha, no caso de Emma,
prosperity na América. Em seu pós-escrito pode assim ser chamado grafo ou rede. Ele
A questão da análise leiga, isso fica ainda escreve neste grafo apenas alguns
mais claro. Ele diz: ‘Certo, time is money, significantes depois de relatar o caso desta
mas não se compreende muito bem por moça. (figura 2 – rede de Emma)
que deve converter-se em dinheiro com Resumidamente, Freud relata que
tanta pressa [...] Os decursos psíquicos Emma acha-se dominada atualmente pela
entre consciente e inconsciente têm, pois, compulsão de não poder entrar nas lojas
suas condições temporais particulares, que sozinha. Como motivo para isso ela citou
afinam mal com a demanda americana.’(2) uma lembrança da época em que tinha
Vemos ai que o tempo de uma doze anos, quando ela entrou em uma loja
análise não pode seguir uma lógica para comprar algo, viu dois vendedores
cronológica e menos ainda mercadológica, rindo juntos e saiu correndo, tomada de
tanto que na continuação de Análise uma espécie de susto. Em relação a isso,
terminável e interminável ele faz uma terminou recordando que os dois estavam
revisão de seus conceitos, as suas primeiras rindo de seu vestido e que havia sentido
idéias sobre o fim de uma análise, as idéias atração sexual por um deles. Ressalta ainda
comuns sobre alguém analisado e as que tanto a relação desses fragmentos entre
relações entre as instâncias psíquicas para si quanto o efeito da experiência são
incompreensíveis. Prosseguindo nas
diacronia é o tempo para compreender, que que Freud sustenta como o inconsciente
no caso dessa paciente se dá pelas supõe sempre um saber, e um saber falado
escansões que Freud efetua e que a faz [...] Daí minha escrita do saber como tendo
voltar à cena de sua infância. O momento suporte no S com índice pequeno dois, S2.
de concluir é a pressa que, pensando neste A definição que dou do significante ao qual
caso específico, poderia ser sua liberação confiro o suporte S índice um é representar
para o movimento, sua saída do sintoma. um sujeito como tal e representá-lo
(6) verdadeiramente’. Através de Emma, um
Em seu seminário 23, Lacan diz caso que está tão no início da Psicanálise,
que: ‘A reminiscência é distinta da acompanhamos os passos dados por Lacan
rememoração. As duas funções são no rastro freudiano, a leitura do
distintas em Freud, porque ele tinha o inconsciente estruturado como uma
senso das distinções [...] A idéia linguagem, as articulações significantes do
testemunhada por Freud no projeto é de Grafo do desejo e ainda do Nó Borromeu.
figurar isso através de redes, e foi isso Por essas vias, cabe a nós, analistas
talvez o que me incitou a lhes dar uma pensarmos por onde colocamos nossos
nova forma, mais rigorosa, fazendo com pés.
isso alguma coisa que se encadeia, em vez BIBLIOGRAFIA
de simplesmente de trançar’. (7) 1 – Jacques LACAN, O seminário 2, Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 1985, p. 136.
Se inicialmente as redes freudianas 2- Sigmund, FREUD, ‘Fragmento inédito do pós-
poderiam ser relidas pelo grafo, vemos ai escrito ‘A questão da psicanálise leiga (1927)’, in A
um passo a mais por onde poderíamos ler análise é leiga (revista), Rio de Janeiro: Escola Letra
as redes pela via do nó. A inibição de Freudiana, 2003, p. 15.
Emma pode ser localizada pela articulação 3- Alfredo EIDELSTEIN, Modelos, Esquemas y
grafos en la enseñanza de Lacan, Manantial
do Simbólico com o Imaginário, e é pela Estúdios de Psicoanalisis, p. 131.
via do sentido (sens) que algo dessa 4- Sigmund, FREUD, ‘Projeto’, in Obras
inibição se dissolve e o inconsciente se Completas, Biblioteca Nueva, 4ª edição, 1981, p.
mostra como um saber, S2. Mas esse S2 252.
traz o sentido no a posteriori ao retroagir 5- Jacques LACAN, Televisão, Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor, 1993, p. 22.
sobre S1, fazendo algo do sujeito 6- Jacques LACAN, O seminário 12 (inédito), Lição
comparecer entre esses dois significantes. de 13 de janeiro de 1965.
Como lemos ainda neste seminário: ‘A 7- Jacques LACAN, O seminário 23, Rio de Janeiro:
rememoração consiste em fazer essas Jorge Zahar Editor, 2007, p. 127.
cadeias entrarem em alguma coisa que já 8- Op. Cit. p. 127-128.
está lá e que se nomeia como saber [...] O
la perd définitivement dans un accident peu mère et son père en lui évitant de choisir le
de temps après sa fuite de la maison. Sa partenaire incestueux.
réaction dans la hâte a été de se rendre au .
cimetière pour lui parler et lui faire ses III. De la logique du fantasme a la
adieux. Il a pleuré sur sa tombe et lui a pulsion
raconté son malheur en amour, dans le Pour Lacan, la place du fantasme
but d'accomplir un détachement , et en est marquée du "je ne pense pas".
finir avec. Soulignant sa nature essentiellement
La nuit suivante il fit le rêve qui langagière, il introduit "S barré poinçon
suit: " on est dans une voiture , Berthe ( de petit "a". Ce mathème désigne le
femme déjà prise vers laquelle il se sent rapport particulier d'un sujet de
attiré)...elle n'est pas seule avec moi, il y a l'inconscient , barré et irréductiblement
un homme avec elle, plus un autre qui divisé par son entrée dans l'univers des
conduit la voiture. Après, Berthe signifiants, avec l'objet "a" qui
disparaît, Patrice se met à crier son constitue la cause inconsciente de son
prénom pour la retrouver....Sans désir.
succès." Ayant du mal avec son désir,
Dans la séance ultérieure il se Patrice préfère faire ce qu’on lui demande.
plaint d’être dans la merde, il sanglote ...il Il désire qu’on lui demande quelque chose.
se déteste, il décrit sa diarrhée, sa perte De par son objet anal, l’expérience du
d’énergie ...il est désespéré : « j’ai deux fantasme fondamental de Patrice devient la
maisons et je n’ai pas où vivre ». Il dit qu'il pulsion. L’objet regard y est connecté
croyait que sa visite sur la tombe de sa permettant de rester en relation avec
mère et ses prières allaient le faire l’Autre à une certaine distance. On peut
surmonter sa souffrance. Pas du tout! " voir à cette place l’obsessionnel qui
Berthe reste pour moi aussi insaisissable s’efforce de faire en sorte que cet Autre
que ma mère. " devienne un même, un petit autre.
Malgré sa hâte de guérir, malgré Ramenant les choses au même, Patrice le
son geste relatif au deuil de sa mère ...il retrouve dans ses rêves et fantasmes
reste "tiers lésé", dirait Freud. C’est homosexuels, confronté à quelque chose de
seulement dans une autre séance qu’il va l’ordre de l’impossible. Mettant en place un
pouvoir faire le lien avec le fait que la scène autre semblable, il ne fait que se mettre en
du rêve se passe dans un véhicule, scène soi-même, d’être dans ce scénario et
signifiant du père, très présent dans ses de fantasmer avec cet autre qui n’est que
rêves, en tant que mouvance et instabilité. lui-même tout ce qui lui permet d’avoir son
Sur la scène de son fantasme, derrière assise.
l’assujettissement au désir de sa mère, Son fantasme le met à l’abri de ce
Patrice s’efforce à s’identifier à l’objet de ce qui pourra être le désir de l’Autre, tout en
désir de la femme qui a été sa mère. pouvant avoir une jouissance. A la
Rivalisant avec l’homme pour lequel sa demande de l’Autre, à la demande faite à
mère l’avait quitté, il cherche autant qu’il l’Autre, il met en place la pulsion. Ce qui
repousse l’amour du père – ainsi son choix fait que l’objet cause du désir n’aura pas à
amoureux répond à la condition que la se conjoindre avec le sujet barré. C’est
femme fasse déjà couple avec un autre, un seulement par le biais de la pulsion anale
homme. Cette condition est la seule qui lui associée au regard, par « se faire chier » et «
permet de retrouver l’état dans lequel son se faire voir » que Patrice peut jouir.
corps entier d’enfant s’érigeait entre sa L’obsessionnel ne pense pas la
différence sexuelle, mais se pose la
question de son sexe. On entend cela chez L’objet a du fantasme, cet objet de déchet,
mon analysant qui ne sait pas se ranger « ni ce reste de jouissance, il a du mal à
de côté homme, ni femme », la réponse à la l’accepter en tant qu’objet perdu et il fait
question peut-être formulée de la façon tout pour récupérer cet objet perdu. C’est
suivante : « c’est un enfant ». Le un objet qui cause un désir impossible
commandement, l’interdit lui servent de puisqu’il est du côté du Réel.
défense, c’est une façon d’avoir
l’autorisation de l’Autre et la pulsion est là
pour le mettre à l’abri du désir de l’Autre.
soube reconhecer da lógica de Peirce para se deu de fato ou não, isso é algo a ser
psicanálise. verificado no Passe e deve ser desvinculado
É importante destacar, com de um final de análise que implica sempre
bastante ênfase, que quando se fala da outras considerações. Estabeleçamos,
lógica peirceana estamos sempre nos portanto aqui uma equivalência entre a
referindo a uma concepção de lógica que “destituição subjetiva” e a “destituição
ultrapassa, vai muito além, do enquadre da verificada no Passe”. Sem entrarmos na
lógica formal ou da lógica clássica (4): com interessante questão de se fundamentar a
Peirce assumimos que a lógica é um outro diferença entre “destituição” e “des-ser”
nome da semiótica geral. Uma vez que que esta, sim nos fala de uma finitude da
todo pensamento somente se dá através de análise, marquemos que a “destituição
signos, sua lógica/semiótica é definida subjetiva” enquanto algo que tem a ver
como “a quase necessária ou formal com o processo analítico é sempre uma
doutrina dos signos” (C.P. 2.227) (5), ou “a destituição programada, diferentemente de
pura teoria dos signos em geral” (MS L outras destituições que acontecem fora da
107), ou seja, é a tentativa de considerar análise. Essa destituição programada só é
toda experiência como um sistema possível se estiver presente a transferência,
estruturado de signos em interação uns o analista colocado no lugar do suposto
com os outros. Essa teoria, por sua vez, se saber. Daí ser evidente a afirmação de
baseia nas categorias universais peirceanas: Lacan que uma análise está vinculada à
Primeiridade, Secundidade e Terceiridade transferência e ao seu manejo no tempo.(8)
que vêem a ser uma combinação, com É uma arte do analista saber colocar em
muitas nuances possíveis, do geral com o prática essa programação da destituição
particular. Sem me deter na descrição subjetiva para que o analisante possa ir
dessas categorias, gostaria de enfatizar com abandonando sua fixação ou ficção de gozo
Peirce que “O começo (de qualquer que o prende ao tempo do OUTRO,
processo) é Primeiro, o término é Segundo assim, assumir-se como sujeito desejante.
e a mediação é Terceiro” (C.P.1.337) A Em termos da lógica acima referida, essa
Primeiridade e a Terceiridade são as mudança é factível porque existe como
categorias que nos falam de coluna dorsal comum tanto ao processo
CONTINUIDADE. A Secundidade lógico como ao analítico: a idéia muito
representa o CORTE, a proeminente de que deve haver uma
(DES)continuidade.Assim, além do atual, CONTINUIDADE. O sujeito desejante,
essa lógica inclui o possível e o potencial. contrariamente aquele paralisado pelo
Lacan vai propor que a noção de gozo, é um sujeito que pode deslizar pela
“destituição subjetiva” pode ser cadeia metonímica. A lógica peirceana
considerada como a sua interpretação da ilumina o “como” se dá essa continuidade.
frase de Freud WO ES WAR, SOLL ICH O que a torna possível são as noções de
WERDEN. (6) Tomar esta afirmação vagueza e de generalidade que a
como um pressuposto será aqui também caracterizam. A vagueza, própria da
um artifício para se abreviar caminhos Primeiridade, se explicita pelo fato de que
naturalmente mais longos. A partir daí há um tempo em que o princípio da
podemos dizer que o processo analítico contradição pode ser aqui derrogado: um
que se dá no tempo vem a ser justamente momento caótico em que ser algo e não ser
este movimento para se chegar à esse algo podem coexistir- o que nas
“destituição subjetiva”, logicamente se lógicas clássicas e formais é inconcebível.
pressupondo que no início haveria, então, Somente por esse meio é que as
um sujeito instituído (7). Se essa passagem identificações podem ser trabalhadas numa
análise, bem como as insígnias recebidas do linguisteria, Lacan, conforme suas próprias
Outro. A continuidade também encontra palavras passa para uma outra lógica, não
nesta lógica um outro ponto de apoio. mais binária, mas agora ternária e é quando
Refiro-me agora à generalidade que Peirce ele cita mesmo a lógica/semiótica de Peirce
diz ser a característica da categoria da (11). Balat vai chamar a atenção para o fato
Terceiridade. Haveria aqui um princípio de que o “significante” lacaniano, não é
geral, uma força viva, capaz de gerar uma palavra qualquer (como poderia ser se
atualizações através do tempo. É somente estivéssemos na lingüística). Numa
desta forma que no transcorrer de uma linguisteria, pensando-se na lógica triádica
análise vão se presentificando porções de Peirce, aqui sempre um significante será
esgarçadas de uma formação fantasmática a necessáriamente um legissigno, ou seja um
que se chegará “por dedução” no final: signo que traz em si uma lei, é a
aquilo que poderíamos chamar sua matriz, presentificação dela. Essa lei tem a ver com
outro nome para o fantasma fundamental. algo da história particular desse sujeito, que
É da lógica peirceana essa terminologia de o levou, por uma “insondável decisão do
que na Terceiridade existiria esse princípio ser”, a ligar este significante a algo,
formal, organizacional, funcionando como estabelecendo-se aí uma cristalização, uma
uma lei. Aqui Peirce faz uma distinção lei determinante de como esse
chamando de TIPO (type) o principio significante/legissigno irá funcionar. É
formal que vai gerar várias Réplicas claro que aqui está implicada a idéia de
(tokens). No processo analítico, através das trauma e a forma como esse sujeito lidou
interpretações vamos tendo acesso a essas com ele. “A experiência analítica nos
presentificações ou réplicas e pelas obriga, sem mais, a supor que algumas
“construções” poderemos, num segundo vivências puramente contingentes da
momento, chegar aos princípios gerais. As infância são capazes de deixar como
interpretações funcionam sempre como sequela fixações da libido”, nos diz Freud
cortes, descontinuidades de um continuum. (..)” (12) Ou seja, o contingente se tornou,
Assim, é muito interessante a observação aí, necessário. Duramente o tratamento, no
de Colette Soler de que a angústia nos fala chamado “tempo para compreender”, o
sempre de destituição.(9) E, nesta tempo se espacializa dando lugar aos
destituição programada que é constitutiva significantes mestres (S1) cujo conjunto
de uma análise, o analista deve saber usar o marca a história desse sujeito como única.
corte – corte que é sempre Secundidade, Fica, então, a pergunta que nos interessa:
enquanto categoria, é interpretação e “Mas quando, então, essa série infinita
também supõe se levar em conta a angústia mostra seu ponto de basta?” Freud nos fala
para que o sujeito instituído do início possa de uma análise finita e infinita. Peirce nos
ir se desfazendo de suas insígnias e fala de um “interpretante final”.(C.P.
identificações, dando lugar ao vazio 8.315) Esse fim nos assinala o término de
essencial, vazio não do apenas oco, mas o um processo de deslisamento e se
vazio em volta do qual o oleiro faz nascer caracteriza, então por se presentificar
um vaso.. Ainda outro ponto, este bem através de uma mudança de habito. Tenho
elaborado pelo psicanalista Michel Balat me perguntado se isto não seria o mesmo
(10) é o fato de que ao dar autonomia ao que acontece numa análise quando o
Significante, invertendo a ordem do sujeito, depois de esgotar todas as suas
algoritmo de Saussure (de s/S, em Lacan cadeias de significantes/legisignos, depois
S/s) a teoria lacaniana se imbricou com a da construção do fantasma, ao atravessá-lo,
linguística, mas ao dizer que não era da ao se posicionar frente aquilo a que chegou,
lingüística que se tratava, e sim de uma não estaria num mesmo registro ao mudar
M en la angustia ya que
éste presenta
particularidad que es
una
digna de detenernos en
su diferencia.
angustia se presenta
como un compás de espera, cercana a la
La
engaña” al analista, porque en lo que
respecta a quien la padece se trata de un
caso de certidumbre que incluye una
paradoja, ya que siempre se liga a un matiz
de perplejidad, de desconocimiento. La
experiencia de la angustia dista mucho de la
idealización clínica que confunde “certeza
perplejidad y puede involucrar coordenadas de lo real” con la posibilidad de un efecto
subjetivas o no, como sea, nos presenta didáctico de la angustia.
grandes dificultades a la hora de su Una de las definiciones de lo real
dialectización. Se trata de un tiempo de que nos da Lacan en El Seminario 11 es
detención, de corte, que generalmente se que se trata de lo imposible.
muestra como discontinuidad, un Solidariamente con esta idea, en “La
momento de pérdida de coordenadas apertura de la Sección Clínica” define a la
subjetivas. Esta abrupta pérdida de clínica psicoanalítica como “lo imposible de
referentes, ya sean: subjetivos, imaginarios, soportar”.
o bien en el caso en que observamos una La angustia tiene una cercanía
reducción del sujeto a su cuerpo, le permite ostensible con lo real por eso muestra una
a Colette Soler definir la angustia como un particularidad respecto de su aparición; su
caso salvaje de destitución subjetiva. temporalidad está ligada al momento, nadie
Destitución que se produce por encuentro, puede habitar allí, algo en la experiencia
y que no tiene nada de didáctico, porque misma eyecta al sujeto, Lacan juega en El
retorna, pero sin que el sujeto pueda Seminario 10 con el término ejecter,
obtener un efecto didáctico de esta arrojar el je.
repetición. La angustia me evoca la
Querría trabajar especialmente la imposibilidad de habitar en un medio sin
angustia en tanto afecto que irrumpe, oxígeno. Experiencia que hemos realizado
momento crítico y puntual y no aquello que todos al sumergir la cabeza en el agua
conceptualiza Freud como “angustia señal” intentando permanecer abajo para luego de
que es el punto de anclaje, de amarre; la unos segundos salir boqueando a la
primera emergencia que permite al sujeto superficie.
orientarse. Lacan define a la angustia como un
Quiero desarrollar y destacar el “momento de inmovilidad”. Siempre
sesgo clínico con el cual Lacan distinguió resulta útil detenernos cuando nos
este afecto de entre los otros. Es un afecto tropezamos con un oxímoron, figura
excepcional porque está amarrado, y es retórica que intenta conjugar dos conceptos
exactamente el punto de amarre el que le opuestos en una sola expresión. En la
A realidade do tempo,
vivenciadas por cada sujeito,
dependendo das fases da
vida e da estrutura psíquica.
A proposta deste trabalho é
estabelecer uma relação
entre o efeito do tempo e a sua
impressões mais remotas da infância. Sua
tendência para a curiosidade sexual foi
sublimada numa ânsia geral de busca do
saber. A outra parte da sua libido, muito
menor, representa a vida sexual adulta, com
traços homossexuais.
A partir daí, verificou-se que o
conseqüência no estudo da inibição impulso de saber vai ter três destinos
neurótica, a partir de fragmentos de um diferentes: 1) inibição neurótica, em que a
caso clínico. pesquisa participa do destino da
O termo inibição, numa abordagem sexualidade – a curiosidade intelectual
médica, diz respeito à “suspensão, permanece inibida e a liberdade da
diminuição ou retardamento transitório da atividade intelectual poderá ficar limitada;
atividade de uma parte do organismo, por 2) desenvolvimento intelectual,
efeito de excitação nervosa”1. Nos suficientemente forte para resistir ao
primórdios da Psicanálise, no período das recalque sexual que o domina – a pesquisa
suas correspondências a Fliess, Freud torna-se uma atividade sexual e, por muitas
utiliza, pela primeira vez, no Manuscrito vezes, a substitui, visando,
A2, o termo inibição (Hemmung), cujas compulsivamente, a encontrar o gozo
referências posteriores vêm associadas à sexual das primeiras investigações; 3)
defesa do aparelho psíquico, devido ao impulso de saber, o qual escaparia à
excesso de sexualidade psíquica que gera inibição do pensamento neurótico
desprazer. compulsivo – a atividade sexual é recalcada
No estudo sobre Uma lembrança e substituída pela pesquisa compulsiva.
da infância de Leonardo da Vinci3, por Freud destaca que Leonardo estaria no
exemplo, Freud associa o tema da inibição terceiro caso, em que a libido se junta à
à questão da pesquisa sexual. Enfoca, em curiosidade sexual: desvia seu alvo através
particular, a pulsão escópica, ou o desejo de do mecanismo da sublimação, e a pesquisa
ver o corpo nu da mãe, gerando o impulso intelectual torna-se libidinal, sem tratar do
de saber - Wissensdrang. A hipótese saber sexual. Esse algo que escapa pela via
freudiana é que a acentuada curiosidade de da sublimação é o que faz Leonardo criar –
Leonardo está relacionada com os por excelência, a arte de driblar o recalque.
primeiros anos de vida em que ficou Anos mais tarde, em 1926, em
entregue à carinhosa sedução materna e à Inibição, sintoma e angústia4, Freud
privação total da autoridade do Outro articula o conceito de inibição com outros
paterno. Naquele período, despertou-se dois conceitos presentes na clínica: o
nele uma comprovada intensificação da sintoma e a angústia, formando uma tríade
atividade sexual infantil e, de relevante importância na teoria analítica.
conseqüentemente, de suas pesquisas Assinala que os conceitos de inibição e de
N temporalidade do sujeito
inconsciente em sua
relação com a estrutura
da
termos
linguagem. Em
temporais,
sabemos o quanto é
precioso para a psicanálise a referência ao
Para desdobrar tal temática, Frege,
diversas vezes citado por Lacan, durante o
seu ensino, sobretudo em seu último
seminário de 1971/72 (O Saber do
Psicanalista) é exemplar. O que é essencial
para nós na lógica de Frege, são as duas
relações: conceito/objeto; e,
futuro anterior, no só-depois da elaboração denotação/sentido. Frege, foi uma das
simbólica. O tempo para compreender grandes referências que permitiu Lacan
implica o tempo para a passagem ao formular sua teoria do Um e da contagem
simbólico. Assim sendo, essa assunção na repetição vindo do campo do Outro.
falada de sua história lhe permite Para Frege, com efeito, «o número (...)
“reordenar as contingências passadas deduz-se do conceito, ele é (...) um traço do
dando-lhes o sentido das necessidades por conceito» . Existe uma transição do puro
vir” . Esse trabalho de a-parição do ser, de conceito ao número que é a extensão do
parir o ser, é todo um processo de conceito. Este primeiro conceito, então,
Durchabeitung — perlaboração de uma funcionaria como um ponto de referência
psicanálise. Nesta mesma veia, Lacan que daria em seguida sentidos diferentes.
sublinha a importância da relação Ora, este conceito fundamental seria um
simbólica, no seu poder de nomear os conceito vazio, daí seguiria uma série, uma
objetos, estruturando a percepção. É extensão do conceito, conforme a
através da nominação que o ser faz expressão de Frege, mas neste conceito
subsistir a consistência num objeto. Aqui se vazio permanece, no entanto, um elemento:
faz uma menção à dimensão temporal do o conjunto vazio, o elemento da
objeto: "O objeto num instante constituído inexistência, que ex-siste e funda a extensão
como uma aparência do sujeito humano, do conceito. Se nos reportarmos à
apresenta, entretanto, uma certa psicanálise, nela encontraremos a função
permanência de aspecto através do tempo. do traço unário, que é bem a função do um
Essa aparência, que perdura um certo como fundador, o um da inexistência como
tempo, só é estritamente reconhecível por inscrição do significante. O Um vai ao
intermédio do nome. O nome é o tempo mesmo tempo ex-sistir, inaugurar e dar à
do objeto". Sabemos, que tempo: é preciso. cadeia significante seu tom de repetição: o
Se é preciso tempo, é porque uma Um, a série dos SI — significantes mestres
psicanálise acontece por uma suposição. do sujeito — o enxame, vai dar as
Wo es war,soll Ich werden, o sujeito deve modulações da repetição. O número é um
advir. Por detrás do advir é a verdade do predicado, «ele é» e sua essência é ser um
sujeito que está em causa. Verdade do puro múltiplo, um múltiplo portando
predicados. O que nos interessa nessa relação, mas bem mais do objeto, de sua
teoria é a abertura que ela nos dá para existência que cai sob um conceito. Em
podermos falar do lugar ausente, vazio, da suma, «um objeto cai sob o conceito se for
inexistência que permite fundar o Um. Mas bem um caso de verdade», em outras
o Um em sua singularidade é o que ex-siste palavras se «o objeto validar o conceito.
e funda de um lado o lugar vazio e, do Tudo (...) se origina do valor de
outro, é o que se inscreve na série dos verdade dos enunciados, que é a denotação
significantes. deles, o verdadeiro ou o falso» . Se em
Para Lacan, a lógica do número Frege encontramos a dualidade
introduz o contável. No que concerne ao verdadeiro/falso referente ao valor do
limite do contável, articulado ao limite da objeto, na psicanálise, por outro lado,
linguagem, Frege trata o «número encontramos apenas um único objeto,
independentemente do ato de contar». O aquele que de imediato está perdido, que
número pode ser considerado como uma deixa um lugar vazio: um objeto que cai
seqüência serial e como o limite de uma sob o falso-ser do sujeito e que será
função. Ora, o próprio Frege era um lógico construído em sua diacronia. Com efeito,
da linguagem e, como tal, era sensível a não é do valor de verdade que se trata, mas
esse ponto de limite contido pelo universo bem mais da verdade criada de uma causa
simbólico, o universo da linguagem. Com doravante perdida, de uma verdade que cai
Lacan, esse limite da linguagem é o ponto sob o falso-ser. É pelo fato de causar um
de obstáculo que indica o real. Frege toma objeto que o desejo vai afigurar-se onde ele
o conceito de conjunto vazio cuja tinha no início uma foice* do tempo, uma
atribuição de número é o zero a partir do falha e ao mesmo tempo é preciso tempo:
qual a proliferação dos números se «Assim é que o inconsciente articula-se
multiplica sem limite, manifestando sob daquilo que do ser vem ao dizer» . É, com
forma serial uma infinitude. O que permite efeito, sobre essa perspectiva e estrutura
o vínculo entre o sujeito e o complemento fundamental que a fala do sujeito desliza e
de objeto é «a instauração do sentido». conta sua singular história, apesar dos
Assim, como demonstra Frege, «o número caminhos turbulentos, a despeito de todos
2 cai sob o conceito número primeiro»; é os desvios e contornos atravessados pelos
preciso o encadeamento das palavras cai acontecimentos do sujeito, esse sujeito do
sob para que uma frase possa denotar uma inconsciente, como leitor de nada menos
relação e ter um sentido, ao passo que as que sua própria história do inconsciente.
palavras à relação de subsunção de um Trata-se de ler os efeitos de um dizer: «Na
objeto sob um conceito, longe de psicanálise, a história é outra dimensão que
designarem uma relação, designam bem a do desenvolvimento, a história só
mais um objeto, contanto que esse objeto prossegue em contratempo do
tenha valor de verdade. Em outras palavras, desenvolvimento» . É preciso tempo para
de acordo com essa lógica, o objeto existe parir o ser.
se a denotação do signo (ou de um Como mostra Lacan em seu
conceito) que exprime um sentido tiver Seminário XIX — Ou pior — O saber do
valor de «verdade verdadeira», e o objeto psicanalista: o Um, o S1 e o zero fazem
não existe se a denotação do signo tiver apenas um Esse S1 que é o significante da
valor de «verdade falsa». Em outras inexistência é igualmente aquele que funda
palavras, existe em Frege a passagem do a cadeia significante; é a unicidade que
conceito como signo à existência do objeto; permite a seqüência das unidades, a
essa passagem sofre o processo da unicidade como traço único. Mas foi
subsunção. Assim, não se trata mais de preciso seu precedente, o zero; o um só
de concluir. Este último coincide con la trata de lo que sale a luz un instante,
noción de separación planteada en el tiempo en apertura y cierre. , En el
seminario XI, y que se puede articular al seminario de los conceptos fundamentales
tiempo del acto como el de reunión lógica. dice “el inconsciente es lo evasivo, pero
Por eso la certidumbre es anticipada, la conseguimos circunscribirlo en una
experiencia de concluir, desde el punto de estructura, una estructura temporal, de la
vista lógico, afirma la primera. Mientras que que podemos decir que, hasta aquí, nunca
el segundo tiempo lógico es de suspensión, ha sido articulada como tal”
en relación a la subjetivación. Ya que el En este párrafo, aparece la fórmula
segundo tiempo, el de la duda en el sentido estructura temporal, fórmula que
cartesiano, es el tiempo, la hora del Otro. aparentemente junta dos opuestos, ya que
El tercer tiempo es el de la determinación manejamos por un lado el término
subjetiva. estructura, cuya naturaleza es considerada
Los tiempos son lógicos y no hay atemporal y el término temporalidad, que
uno sin el otro, se sumerge uno en otro, es tomado en tanto tiempo sensible que se
son momentos de la evidencia, dice Lacan, aprehende como un devenir. Pienso que
pero en su modulación los tipos clínicos Lacan presenta su noción de estructura
muestran su particularidad temporal para metaforizar el lugar donde
Encuentro que la idea con la que estalla la oposición entre atemporalidad y
plantea Lacan la temporalidad del instante temporalidad, es decir que es una
en su obra, si bien es un momento de la oposición que conceptualmente no se
obra de Lacan profundamente hegeliano , mantiene, y que estalla cuando hace
puede ser articulada con lo que desarrolló irrupción lo real, articulado a la noción de
Kierkegaard. Ya que el tiempo de lo real, instante.
sin objetivación ni subjetivación, responde Ya que se trata de temporalizar, ahora en
curiosamente a la lógica del instante esta argumentación, lo que es captado en
kierkiergaariana. Kierkegaard dice que la un instante, lo que sale a la luz un instante
voz de Dios cuando ordena a Adán, ordena para volver a perderse, “dispuesto a
algo que Adán no puede entender porque escabullirse de nuevo” . El inconsciente
no dispone del lenguaje y por lo tanto no Eurídice que en su pulsación trata
sabe de la ley. Voz equivalente a una nada malogradamente de hallar una inscripción
inicial inasimilable. Como dice Lacan en en el tiempo.
Aun sobre el Génesis, será el verbo el que El tratamiento que fue concebido
opere sobre la nada. por Freud en términos de sesiones de
Argumentación que despliega duración determinada es un procedimiento
Kierkegaard para introducir su idea de que como nos dice, construye a su medida,
pecado y que a nosotros, psicoanalistas, a la medida de su teoría y de su práctica, y
nos permite pensar la temporalidad de lo que es solidario de su modo de
real en la clínica como lo que se subjetiva intervención , da lugar al nacimiento de
como angustia cuando el sujeto se ve una escanción temporal que es la sesión
afectado por el deseo del Otro, de una analítica, artificio original creado por el
manera inmediata, no dialectizable. psicoanálisis como recorte de un tiempo
Freud, cuando habló del tiempo que corresponde al encuentro entre
del inconsciente, situó lo que llamó la analizante y analista, que se constituye en
atemporalidad, Lacan toma lo de una serie, y que se inscribe y responde a la
atemporalidad/ temporalidad del lógica de la cura. Cura que se da en un
inconsciente para ubicarlo en su lectura proceso que abreva de la noción de deseo
como pulsación temporal , diciendo que se indestructible, ya que el deseo cuyo
mais favoráveis, poderia vir a ser. Isso, porém, investidas do sujeito podem recair nessa
já é muita coisa”. 105 afluência demandante, reduzindo a demanda
Podemos ler esse condicional freudiano mesma, a uma paixão de ser. Assim como
jogando aqui com a marca do “terá sido” outras, a demanda de filiação - ser filho de,
lacaniano - que tanto pode cumprir-se no mulher de, membro de - pode também
fecho de uma significação predestinada, como insistir patologicamente e manter-se em toda a
abrir-se à fenda que vaza e constitui o sujeito vida do sujeito, desenhando deslocamentos,
para a acontecência contingente. Pois o que substituições e conveniências em sua
terá sido, ainda não foi. 106 Isso nos faz trajetória, correndo sobre o leito onde subjaz
lembrar novamente Freud, ao formular o a aspiração infinita de Um ser109. Tal
devir ético radical: onde isso era, o sujeito premência de Ser a qualquer preço, pode
deve vir a luz “como lugar de ser”.107 chegar a consubstancializações patéticas,
Esta questão remete ao que Lacan chamou como alerta Lacan: “Mas a demanda de ser
paixões do ser: aquilo que se demanda ao uma merda, eis o que torna preferível que nos
Outro preencher, sendo o que também lhe coloquemos meio de esguelha quando o
falta, são demandas de ser, em seus efeitos de sujeito se descobre nela. Desgraça do ser”110
amor, ódio e ignorância que recrudescem Evidentemente, este comentário vem para
quanto mais a demanda é satisfeita.108 Se o aguilhoar os analistas que se querem cíbalo.
humano, desde o início de sua existência, é “Quem não sabe levar suas análises didáticas
votado ao ser, não faltarão demandas que até o ponto de viragem em que se revela,
respondam nesse sentido. E todas as tremulamente, que todas as demandas que se
articularam na análise – e, mais do que
105Freud, (1916-1917) conferência XXVII, A qualquer outra, a que esteve em seu princípio,
transferência, p.508. No original alemão “Der geheilte a de tornar-se analista, que então esgota seu
Nervöse ist wirklich ein andere Mensch geworden, prazo – não passaram de transferências
im Grunde ist er aber natürlich derselbe geblieben, destinadas a manter instaurado um desejo
d.h. er ist so geworden, wie er bestenfalls unter den
günstigsten Bedingungen hätte werden können.”
instável ou duvidoso em sua problemática,
Freud, Gesammelte Werke Ed. Fischer Verlag, este nada sabe do que é preciso obter do
Frankfurt am Main, Vol. XI, 1999, p. 452. Tradução sujeito para poder garantir a direção de uma
proposta por Raquel Pardini e Sérgio Becker. análise, ou para simplesmente fazer nela uma
106 Freud faz agir aqui um futuro do pretérito, que
interpretação com conhecimento de causa”111
se aproxima do sentido do “terá sido” de um futuro
anterior, (Lacan (1960), Subversão do sujeito, p. 823 e
Esta demanda infinitiva de ser visa
Função e campo da fala e da linguagem, p.301, desincumbir o sujeito de se parar, separar, de
Escritos. O termo surge ainda, neste sentido, no se parir, e de fazer-se ser. É nesse tempo que
Sem. I págs. 184-186.) mas que sutilmente interroga Lacan definirá a ética da psicanálise,
sua determinação, abrindo possibilidades. precisamente, como uma política da falta a
Curiosamente, o futuro anterior na língua
portuguesa é nomeado futuro do presente
composto, ou seja, futuro do presente que se 109 “O sujeito não identificado faz muita questão de
conjuga com o passado, com um verbo partícipe do sua unidade; seria preciso explicar-lhe, mesmo
passado, entrelaçando assim, em um só tempo, assim, que ele não é um, e é nisso que o analista
futuro, presente e passado. pode servir para alguma coisa.” Lacan, (1978)
107 “- s’être [ser-se] -, onde se exprime o modo de Jornadas sobre a experiência do passe, p. 64.
subjetividade absoluta, tal como Freud 110 Lacan,op.cit, A direção do tratamento, p.642.
propriamente a descobriu em sua excentricidade 111 Lacan, idem. A farpa tem ressonâncias em todo o
radical: ‘Ali onde isso era’, como se pode dizer, ou ensino de Lacan e mais claramente no discurso à
‘ali onde se era’, gostaríamos de fazer com que se EFP no qual Lacan comenta que o desejo do
ouvisse, ‘é meu dever que eu venha a ser’.” Lacan, A analista (como objeto a) não tem nada a ver com o
coisa freudiana, (1955), Escritos, págs. 418-419. desejo de ser analista, o que pode se adequar
108 Lacan (1958), A direção do tratamento e os princípios perfeitamente ao desejo de ser uma merda. Portanto
de seu poder, Escritos, p. 634. é preciso submeter à análise, este desejo de ser.
112 Ver Lacan, Seminário R.S.I., lição de 15 de abril de da função que lhe constitui seu lugar, ser arrancado
1975. da consideração em constelação que o sistema
113 “(...) já que parto da tese de que o sujeito é o que significante institui ao ser aplicado ao mundo e ao
é determinado pela figura em questão, determinado pontuá-lo. A partir daí, ele cai da desconsideração
não como sendo de algum o duplo mas que o é para o rebaixamento [désidération] , onde é marcado
pelos cruzamentos do nó, daquilo que, no nó, precisamente por isso, por deixar a desejar.” Lacan,
determina os pontos triplos pelo fato do (1957-1958) As formações do inconsciente, p.356.
estreitamento do nó que estabelece o sujeito.” 115 “( É o que simboliza a barra oblíqua, de nobre
Lacan, (1974-1975) RSI, lição de 18 de março de bastardia, com que assinalamos o S do sujeito, para
1975. grafá-lo como sendo esse sujeito: $.)” Lacan, A
114 “Há no significante, portanto, em sua cadeia e direção do tratamento, op.cit., p.640.
em sua manobra, sua manipulação, algo que está 116 O texto de fundo em que se baseia Lacan na
sempre: desejo do Outro - Outro como passaram por uma análise, ao dizerem que
agente do desejo. Saudade do futuro depois dessa experiência se sentem (e isso não
sempre presente na experiência da causa. sem a confirmação de alguns outros) outra
Filho do desejo, do significante Falo e do pessoa. Evidentemente, não se tornaram outra
enodamento, excêntrico e não reconhecido pessoa e não se trata também da emergência
pelo eu e sua consciência, o sujeito deseja de um novo sujeito. É o sujeito que é sempre
porque fal(h)a, ao que lhe resta, “ser novo.
falante”. 118 Disso é possível concluir que
os termos “sujeito” e “ser falante” são A Escola da Causa – abastardamento e
versões de uma mesma notação $. O adoção
desejo, um aquém que cava o além da No tempo da dissolução da EFP, é a uma
demanda de ser, entrecruzando sua tarja de indigência fundamental que Lacan lança a
estirpe enigmática, atravessa o sujeito Escola ao invocar a Causa Freudiana121. É
tornando-o, nesta fenda causal, desejante. preciso, nesse corte, que ele como pai se
E como é preciso tempo para se “faire à vá, ex-sista,“afim - de ser, enfim, Outro.”122,
l’être,”119 em seu desejo e gozo singular, Pois interessa-lhe “(...)ver o que acontece
como ser sexuado - onde incide ainda e quando minha pessoa não opacifica o que
literalmente a secção - é preciso ensino”.123 Diante de uma Escola carregada
desapaixonar-se em ser, para deixar-se ser de sentido hierárquico e religioso, Lacan
em seu fazer.120 Nessa reversão, a entrada passa a contar com a mola mestra do
para o final de análise e a singularidade de significante e do real: “ A hierarquia só se
cada um se presentificam desde o resgate e sustenta por gerir o sentido. É por isso que
relançamento de um tempo anterior, não dou um empurrãozinho a qualquer
enunciante da constituição original, radical responsável, na Causa Freudiana. É com o
do sujeito. turbilhão, com a hélice que conto. E, devo
Não é incomum ouvirmos os ecos da frase dizê-lo, com os recursos de doutrina
mencionada de Freud, em sujeitos que acumulados em meu ensino.”124 É uma
declarada “desidentificação” com sua
Escola que Lacan evoca como um trabalho
118 “O desejo, por sempre transparecer na demanda, de luto a ser feito, respondendo a F. Dolto
como se vê aqui, nem por isso deixa de estar para- que entendia a dissolução como auto-
além. E está também para - aquém de uma outra
demanda em que o sujeito, repercutindo no lugar do
destruição: “Mas, felizmente para mim, eu
outro, menos apagaria sua dependência por um não disse jamais que a Escola Freudiana
acordo de retorno do que fixaria o próprio ser que sou eu” e ainda, “”eu não me identifico em
ele vem propor ali. Isso quer dizer que é de uma fala absoluto com Françoise Dolto, e muito
que suspenda a marca que o sujeito recebe de seu menos com a Escola Freudiana. É isso o
dito, e apenas dela, que poderia ser recebida a
absolvição que o devolveria a seu desejo. Mas o
que me justifica precipitar-me ao trabalho
desejo nada é senão a impossibilidade dessa fala, para construir a Causa freudiana.”125 Não é
que, por responder `a primeira, não consegue fazer por acaso que nesse momento de
outra coisa senão reduplicar sua marca, dissolução, tempo d’écolage, contrariamente
consumando a fenda (Spaltung) que o sujeito sofre
por só ser sujeito na medida em que fala.”, Lacan, A
direção do tratamento, op.cit., p.640. 121 “A causa freudiana não tem outro móvel a não
119 Lacan, Radiofonia (1970), Outros Escritos, p.425. ser minha caixa de correio. Indigência (dénuement)
120 “Ao que sou eu? não há outra resposta no nível do que tem muitas vantagens (...)”. Lacan (1980), Senhor
Outro que o deixa-te ser. E toda precipitação dada e A ., p.54.
esta resposta, qualquer que seja ela na ordem da 122 Lacan, (1980) O Outro falta, p.48.
dignidade, criança ou adulto, não passa de eu fujo ao 123 Lacan (1980), O mal- entendido, p.60.
sentido deste deixa-te ser.” Lacan, (1961) A transferência, 124 Lacan,op.cit., Senhor A., p.54.
à religião que crê que tudo pode ser “Que eu saiba, no transcorrer do século XIX,
revelado, Lacan retoma o enigma duas ou três crianças nasceram, sem ser
traumático da condição herdada do ser esperadas: Marx, Nietzsche, Freud. Filhos
falante: O mal-entendido: “Tantos quantos ‘naturais’, no sentido em que a natureza
vocês são, que são vocês senão mal- ofende os costumes, o honrado direito, a
entendidos?”126 Desde antes, o legado do moral e a arte de viver: natureza é a regra
desejo e do balbucio dos ascendentes faz o violada, a mãe solteira, logo, a ausência de pai
homem nascer mal-entendido e o corpo só legal. A Razão Ocidental faz pagar caro a um
aparece no real como tal. “Sejamos aqui filho sem pai (...): preço contabilizado em
radicais: seu corpo é fruto de uma linhagem exclusões, condenações, injúrias, miséria,
da qual boa parte de suas desgraças provém fome e mortes ou loucura.”129
de que ela já nadava no mal-entendido o Althusser comenta que Freud sofreu
máximo que podia. Ela nadava pela simples principalmente uma solidão teórica. A
razão de que ser-falaria (parlêtrait) a quem descoberta que deparava em sua prática, não
fizesse melhor.”127 tinha ascendência teórica paterna. Teve que se
Porque a obscenidade e o desvio da arranjar,
verdade analítica puderam mais que a causa “(...)ser ele mesmo, o seu próprio pai;
analítica, Lacan incita ao debate se construir, com suas mãos de artesão, o espaço
retirando, abastardando a Escola da Causa, teórico em que pudesse situar sua descoberta;
ao adotá-la como sua. Tudo isso, não sem tecer, com fios emprestados aqui e ali, por
entusiasmo: “ A experiência tem seu preço, adivinhação, uma grande rede com a qual
pois não é algo que se imagine capturaria, nas profundezas da experiência
antecipadamente. (...) Vale a pena arriscar- cega, o peixe abundante do inconsciente (...)”
se. É a única saída possível – e decente.”128 130
P
135
repetição, inconsciente, ; instalando um percurso de uma série
transferência e pulsão, Lacan insistente de repetições pelos caminhos
teve como fio condutor a traçados pelos significantes. Destaco uma
estrutura do significante: referência que nos interessa, para o
“se funda na função de corte, e desenvolvimento desse trabalho, que se
na função de borda.132” , e será encontra no seminário 17136, quando Lacan
uma das bússolas para abordar o tema deste nos aponta a repetição enquanto identificação
trabalho. do gozo,e que é nessa articulação que
Por um lado, o conceito de encontramos a função do traço unário. “É no
inconsciente é correlacionado a repetição traço unário que tem origem, esse saber
significante. Nessa vertente, a função do qualificado como memória de gozo, que
retorno (wiederkehr) se mostra fundamental, trabalha no sujeito, ordenando seus sintomas,
pois a partir da discriminação, de como a rede a estrutura do fantasma... É esse saber que
significante se entrecruza, de como ela se interessa aos analistas”137
repete, depreende-se uma “linguagem Outra consideração importante a se
formal”133, que é constituída de uma maneira fazer para abordar este viés da repetição, é que
tal que escapa ao acaso, fazendo emergir um neste percurso, de tanto o sujeito percorrê-lo
real, fora do sentido, indicando que o acaba por engendrar uma perda de “força, de
simbólico é situado ao lado do autômaton, velocidade”.138 E é no fato da repetição se
como linguagem formal constituinte e fundar num retorno do gozo que se origina
determinante do sujeito. É a repetição no discurso freudiano, a função do objeto
enquanto um saber que o sujeito não sabe e perdido”139. Esta referência á função do objeto
que ao mesmo tempo constitui-se num perdido me remete ao texto-“A Carta
tratamento que o discurso inconsciente realiza Roubada”140no qual encontro uma colocação
do real traumático, à medida que o “inconsciente de Lacan que me abre a possibilidade de
assegura a passagem do real traumático do gozo para o abordar outra vertente sobre a repetição em
simbólico”.134 A repetição funda-se na seu entrelaçamento ao inconsciente: “este
comemoração desse resto de gozo formalismo ligado à cadeia simbólica, cuja lei
inesquecível, e ao mesmo tempo vai pode ser formulada... inscreve um tipo de
deparando-se com a impossibilidade de repetir contorno, onde o que chamamos de caput
aquela primeira vez. Trata-se da repetição mortuum do significante assume seu aspecto
enquanto memória de gozo. A temporalidade
da repetição é aquela qualificada como se
fosse sempre a primeira vez. Por isso Lacan 135 Lacan, Jacques- Seminário OU PIRE.
136Lacan- seminário17- O avesso da Psicanálise
137 Lacan, Jacques- seminário 17.
132 -Lacan-seminario11 138 Laca, Jacque- seminário 17p.
133 Lacan... seminário da Carta roubada..... 139 Lacan Jacques- Seminário Livro XVII- O avesso da psicanálise 1969-1970
134Soler, Colette- Discurso e trauma. In: Retorno do Exílio- Editora Rios (1, 992 R.J
Ambiciosos. R.J 140 Lacan, Jacques- A Carta Roubada- In: Escritos
causal”.141. O significante fazendo corte, deixa de sujeito que aparecem e desaparecem, e que
um resto “o caput mortuum do significante”, e eles produzam a acumulação de uma forma de
também faz borda com isso que lhe escapa. um saber. Essa hipótese de que a experiência
Há um intervalo, um buraco entre a causa e a analítica possibilita a construção de um saber,
lei significante. O que se passa no a partir do caráter pulsativo do inconsciente
inconsciente, é aquilo que é produzido nessa nos envia a uma segunda premissa: faz-se
hiância. É o inconsciente como fenda, como necessário que o analista saiba operar
tropeço, como ruptura que é estrutura de presentificando a dimensão de equívoco ali
descontinuidade temporal. Aqui, a repetição onde o sujeito sanciona um sentido, pois é por
aponta a função de real, qualificado como esse viés, tal como está escrito na fórmula do
acidental, inesperado, inassimilável, pelo sujeito suposto saber, presente no interior do
discurso enquanto encontro sempre faltoso, parêntese. “É no âmbito dessa série
denominada como tiquê. Esta temporalidade significante que se apreende aquilo que se
pulsativa do inconsciente é bastante distinta da apresenta como efeito de sujeito que se
temporalidade da insistência significante deposita e acumula como saber”144.
repetitiva. Esta distinção me faz o gancho para Desde essas premissas, podemos então
interrogar sobre as vicissitudes da repetição extrair que a instauração do sujeito suposto
em sua articulação ao inconsciente, no tempo saber é condição da entrada, e da travessia de
do final de análise. Quais são as premissas que uma análise, e que nesse laço transferência
fundamentam essa hipótese- de que a implica um saber-fazer do analista, para
experiência analítica intervém na repetição presentificar na transferência a atualidade do
enquanto insistência repetitiva, criando a inconsciente, e assim também podemos dizer
possibilidade do sujeito poder se separar desta que é pela via do sujeito suposto saber, que a
modalidade de repetição¿ função do tempo é introduzida no
A primeira premissa é de que para inconsciente, alterando a modalidade
chegar ao momento de uma conclusão de um insistente da repetição, apontando que o
percurso analítico, requer do analisante um analista maneja a transferência, tendo como
desejo de percorrer essa aventura, que não é referência a hiância, que constitui sua lei; e que
sem conseqüência, pois uma vez iniciado “seu aquilo que concerne ao inconsciente é matéria
vôo, jamais encontra lugar seguro para seu de linguagem145. É por esse viés, que a
pouso”142; bem como, requer do analista um psicanálise faz desprender, não seus efeitos de
fazer que implique que ele se inclua na sentido, mas os efeitos de furo, de corte,
experiência “na estrutura da equivocação do criando a possibilidade da queda do sujeito
sujeito suposto saber, pois é aí que ele suposto saber, enquanto manifestação
encontra a certeza de seu ato e a hiância que sintomática do inconsciente. È por esse
constitui sua lei”143. O próprio da experiência caminho cortado, que a análise pode modificar
analítica, é que a função analítica requer um algo das inércias das condições de gozo,
manejo clinico conseqüente com essas fazendo advir a repetição enquanto função de
modalidades temporais da repetição em sua real encontro sempre faltoso, denominada
articulação ao inconsciente, por isso é de como tiquê, encontro com o real, que é causa
pouca valia ficar apontando ao sujeito suas do sujeito como separado do Outro. Nesse
repetições, pois elas não acumulam as sentido a repetição, tem a “potência”146 de
unidades que se repetem. O fazer analítico tem
mais relação com o fazer prevalecer os efeitos
144 Santiago Jésus- IN: Ianni, Gilson e AL (org). O tempo, o objeto e o avesso-
ensaios de filosofia e psicanálise. Belo Horizonte. Editora Autêntica. 2004.
141Idem anterior. 145 LACAN, J. Seminário 18. De um discurso que não seria do semblante.
142 Lacan, seminário 20 Lição de 12/05/1971. (Inédito)
143LACAN, J. O engano..., op. cit. 146Termo de Kierkegaard, para se referir a repetição.
d'ailleurs généralement rien en dire. Les dire ;un pousse à sonoriser l’analyste, à le
schizophrènes sont exemplaires à cet égard faire consister au gré de son fantasme.
; ces patients qui eux ne pourront pas faire L'analyste avait fonctionné en creux,
le deuil de l'objet a. n'ayant renvoyé que l'écho de l'objet du
C'est ce temps me semble-t-il qui fantasme construit dans la cure. Où se
ouvrit la voie de la séparation, c'est à dire confirmait que le fantasme se construit bien
du deuil de l'objet (a). dans la cure.
Pourtant, chez notre analysant, Mais cette brisure subjective fit
l'émotion et sa durée dans le transfert ne apercevoir autre chose. Disons :
suffiraient toujours pas à affirmer qu'il Un dire était à l'oeuvre qui était un
s'agissait bien d'une entrée dans ce temps « pas-je ». Mais un dire qui n'était pas
de la fin Lacanienne. neutre pour autant, qui n'était pas sans
consistance, qui était porteur d'une trace
Le deuil de l'objet a, entamé : pulsionnelle.
Comme nous en avons l'habitude, Un dire qui n'était pas sans un
ce sont les suites, l'après coup, qui vouloir obtenir la complaisance de l'autre.
imprimèrent à ce temps sa dimension de Un dire qui faisait noeud, infiltrant
réel, de deuil de l'objet (a). tous ses dits, tous ses liens.
Le plus sûr de son être se révélait Un dire comme marqué d'une
pour cet analysant dans les traces de jouissance primordiale, fixée dans le
l'abject, du plus improbable pour son moi. rapport à l'Autre, aux autres ; quelque
La réduction de l'analyste à la chose d'achaïque, marqué de la répétition,
tournante des objets pulsionnels auxquels comme une lallation.
le sujet s'équivalait, était déjà bien entamée. Un dire resté oublié derrière ce qui
C'est ainsi que l'analyste se présenta s'était dit dans ce qui s'était entendu.
comme reste en tant que voix muette, quasi
surmoïque, qui ne disait rien et poussait à
______. (1964). O Seminário. Livro XI. Os quatro SOLER, C. Angústia, o afeto de exceção. Notas
conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de pessoais da Conferência ministrada em São Paulo,
Janeiro: Jorge Zahar, 1993. no dia 11 de novembro de 2004, no V Encontro
______. (1969 – 1970). El Seminário. Libro XVII. Nacional da Associação Fóruns do Campo
El reverso del psicoanálisis. Buenos Aires: Paidós, Lacaniano – II Encontro da EPFCL – Brasil, de 11
1992. a 14 de novembro de 2004.
______. (1973 – 1974). Televisão. In: ______.
Outros Escritos. (V. Ribeiro, trans.). Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 2003, p. 508 – 543.
es: “lo que se diga permanece olvidado “Lo que habré sido para lo que
detrás de lo que se dice en lo que se estoy llegando a hacer” se caracteriza por
escucha”. Lectura de Lacan del expresar acciones expresadas en futuro en
“Atolondradicho”. relación con hechos del pasado, ninguna de
Lo que se diga, cuando se habrá de las dos acciones han concluido, ni lo que
decir? ¿Cuándo sino, en una diferencia para habré sido ni lo que estoy llegando a hacer.
siempre diferida? En la gramática que se Sin embargo hay matices dentro de esta
diga menciona el presente del subjuntivo, fórmula del futuro anterior, justamente lo
tiempo virtual y desiderativo. Virtualidad que se percibe como pregunta es porque es
que excluye la actualidad del acto. (El ahora de tipo conjetural, el “habré” es una
es sino sido siendo). Lo que se dice es conjetura; hay una acción dudosa o
siendo sido lo que habrá sido gracias al supuesta, “habré” de un pasado, “sido”, y
espaciamiento de lo que se dice con aquello relativa a otra acción venidera también
que se escucha (entiende). conjetural, porque no es “lo que seré” sino,
Este intervalo sin duración que “lo que estoy llegando a hacer”.
separa el decir del escuchar es operado y Hay una doble conjetura en el
retenido por la sustracción de una “habré sido y en el “llegando a hacer”,
presencia virtual, sin consumación. entonces esto propicia una sensación de
(Siempre falta algo para la plena descarga y interrogación de que hay algo que no está
satisfacción) Freud y sus conmovedoras acabado ni en un lado ni en el otro. Y con
notas póstumas. todo esta, ¿qué ocurre con los analistas y el
Entre el decir y el dicho, entre la fin del análisis?
enunciación y el enunciado, la separación Recuerdo una práctica de control, la
proyecta hacia el futuro lo que se haya de analista temerosa de la violencia esperable
decir sin que sea posible decirlo. Lo que en acto que creía escuchar en el decir del
resta por decir habrá de ser dicho cuando analizante, quería su finalización. Creía
sea dicho lo que ha sido, curioso futuro encontrar la solución subiendo los
anterior, que es anterior al retorno de lago honorarios más allá de las posibilidades de
sido ¿Cuándo fue lo sido mismo? ¿Alguna pago. Quería echarlo. El expulsado se las
vez fue pasado sin presente? ¿O bien, ingenió luego de un tiempo, reorganiza su
presente sin pasado? No hay otra respuesta economía y apretó victorioso el timbre de
que la adelantada: lo que está siendo es la asustadiza. No sería tan rápido ni tan
sido, porque no hay ningún sujeto que sea fácil el final de lo que se tramitaba, porque
contemporáneo de si mismo, el corte y la el sujeto puede hacer ahí donde le pedían
repetición que define al acto se articula que se vaya. Escena básica de su fantasma
eludiendo la dimensión del presente, de provocación al otro.
porque todas las dimensiones temporales Ahora un suceso en apariencia que
pasan de continuo por ese lugar vacio que relata todo lo contrario. Aquí en el analista
es el tiempo virtual, tiempo de elixis. su fantasma se jugó en tratar de retener a
Lo que ocurre en mi relato no es esa paciente en momentos en que le
una historia acabada, lo que se realiza en mi preocupa demasiado el tener el consultorio
historia no es el pretérito definido, en el despoblado. Se cuida de decir lo que
sentido de “lo que fue”, no es lo que ha escucha, el tema de la finalización del
sido en lo que yo soy, es futuro anterior es análisis, insiste en la palabra de esa mujer.
“lo que habré sido para lo que estoy Cuidado temeroso, no muy
llegando a hacer” esta acción venidera que efectivo, puesto que no impide que la
anticipa a otra acción venidera esta es la analizante insista en la transferencia lo
temporalidad del sujeto analítico. suficiente para no dejar ser enmudecida. En
una de esas veces en que la mujer declara con s posibilidad de existencia los destinos
que “todo se termina”, el analista sabiendo de una relación. No es lo mismo que algo
hacer ahora un poco más sobre sus miedos, tenga o no un fin. De eso depende que
subraya lo que escucha, lo que no se atrevía haya lugar para el deseo. Se le marca aquí
a pronunciar con la esperanza de controlar que le fin de su análisis fue incluida por ella
sus implicancias y es ahí que el analista al modo de una petición a ser concedida.
dice: “es cierto, todo se termina, cómo La vuelta que ahora encontraba era cómo
hasta el análisis”. Después de un silencio de seguía, si seguía aquello que podía tener un
ella, la analizante que parece no haber fin. Re encontrarse con su deseo de
prestado atención, se acuerda de dos analizarse iba por el sesgo de que el fin de
hombres, el empapelador y el mecánico, análisis era un tiempo que podía llegar.
con quienes se peló fuertemente, “los El tiempo del análisis no parece
trabajos se terminan bien o no se encontrarse en el mejor lugar si forma parte
terminan”, yo me enojo demasiado, si a del fantasma del analista, más bien este
veces pudiera hacer un chiste, fórmula debería saber pagar el precio que su
rotunda para que alguien diga de su anhelo función exige dejándolo entre paréntesis.
que en un tiempo porvenir su análisis le Entonces el trabajo arduo de los
permita realizar lo que quiere de lo que analistas: separar los dos sentidos de la
desea. palabra “fin” en cuanto a finalización y en
Así tiene trascendencia la cuanto a finalidad no parece banal y
tramitación de la inclusión del fin de terminado. No se muestra saldada la
análisis en el decir del analizante. Que cuestión y aunque los analistas estemos más
alguien se decida a hablar de la terminación avisados que es inherente a nuestro lugar
de quien fantasea despedirse. Si hasta ahí pagar con nuestras aspiraciones y
hubo análisis, es un paso, nada fácil de prejuicios, no terminamos con nuestro
sostener por el analizante, toda vez que fantasma de esperar “algo”.
cuestiona la existencia de la transferencia, El fin de un análisis se presenta
Aquí quiero diferenciar de la pregunta que como un lugar privilegiado para que la
aparece en las entrevistas previas, a veces, analista espere. ¿Pero que sería propicio
sobre ¿y esto cuánto dura?¿cuándo le que espere? Nada que esperar de un fin de
parece a usted que este análisis debe análisis. Arriesgo, más que la manera
terminar? Fórmula que una analizante particular con que ese análisis se las arregla
encontró para introducir el fin de análisis para dar a leer que ahí hubo un fin. Un fin
bajo el modo de la demanda. Que la de la cuestión que lo inicia y es que vamos
abstinencia ubique el fin de análisis en serio a un análisis para saber, sin relucir este a un
con otros objetos de su historia, no oculta conocimiento, ahí donde la angustia hace
que se realiza una operación para que sea pregunta, entonces ¿Qué otra cosa ofrece
leído ese fin como posible. como promesa inaugural un psicoanálisis,
En una sesión posterior, una frase sino, “ese” saber sobre el padecimiento?
sale al encuentro del analizante en medio Comienzos del seminario XXIV
de una de sus habituales quejas, por el dice Lacan “el psicoanálisis particularmente
desasosiego que le produce su pareja: no es un progreso. Es un sesgo práctico
“hasta que la muerte nos separe, es muy para sentirse mejor”
pesado, no permite que se elija” dice
descubriendo que una separación cambia
Essa operação de transformação que trabalho, especialmente por parte dos pais,
acontece num sujeito quando este escolhe um por outras tentativas como a medicalização
traço com o que o representa, para um outro do sintoma, ou breve passagem por alguma
significante, essa operação de identificação terapia, pela religião, mas a aposta sempre
como um tempo para compreender, é o que relançada que o desejo do psicanalista opera,
pode retirar o sujeito da deriva significante, possibilitou a continuidade da experiência
para um tempo de asserção subjetiva, de analítica em paralelo a descontinuidade na
cristalização de uma hipótese autêntica, é a vida do sujeito.
certeza antecipada pelo sujeito no tempo de Há um tempo necessário para se fazer
compreender; tempo da afirmação, bejahung, ser, para fazer-se homem, nos casos
tempo de um consentimento ao UM, que abordados. O tempo lógico, segundo Soler, é
marca e transforma o rastro em traço. o tempo necessário para produzir uma
Ainda seguindo a elaboração de conclusão a partir do que não é sabido.
Finguermann concordamos que “a Alguns sujeitos necessitam de mais tempo
identificação junta as partes, faz ancora, que outros, isso é um fato, alguns conseguem
amarração, faz sintoma: dá consistência apesar do medo e da angústia seguir sua
imaginária, à ex-sistência real, a partir de um rotina, suas tarefas, outros, e isso tem sido
furo simbólico”. habitual em nossos dias, precisam se abrigar
Uma psicanálise é desde Freud uma em seus territórios seguros para compreender
experiência subjetiva que requer tempo, e reordenar seu particular universo
tempo real para que as operações lógicas significante, sem a ajuda do mouse. Passar
possam se efetuar. Um psicanalista hoje, mais dos games para o jogo da vida para alguns
do que em qualquer outro tempo anterior se pede um esforço a mais. A virtualidade, a
depara com as exigências da pressa, da possibilidade de ser poderoso, forte, rico,
eficácia dos resultados. É com toda razão que enfim ter atributos fálicos no jogo eletrônico,
uma mãe se angustia e demande resultados ao parece produzir a ilusão de uma facilidade em
tratamento de um filho que está fora da conquistar, em ter e até mesmo ser, mas o
escola há um, dois anos ou até mais tempo. tempo passa e esse pequeno internauta se
O que dizer a esses pais, se não, paciência! torna grande e o mundo o convoca a outros
Lacan no Seminário 2 ( p.113) jogos.
pergunta, – “O que a psicanálise desvenda – Nos três casos trazidos, a inserção
se não a discordância fundamental, radical, dos rapazes durante longo período de suas
das condutas essências do homem, com vidas nos jogos eletrônicos foi a meu ver
relação a tudo o que ele vive? A dimensão excessiva, sem limites, assim como pede o
descoberta pela análise é o contrário de algo capitalismo. Sem até o momento uma
que progrida por adaptação, por pesquisa um pouco mais aprofundada a
aproximação, por aperfeiçoamento. É algo respeito, fica a questão para um próximo
que vai aos saltos, aos pulos”. desenvolvimento, de que se para esses jovens
Nos exemplos clínicos trazidos a maior dificuldade para lidar com seus
encontramos nos dois primeiros, resultados sintomas não recebe uma contribuição dos
satisfatórios e acredito que o mesmo ocorrerá efeitos dessa outra experiência, ainda um
com o terceiro, mas tais resultados não foram tanto desconhecida para muitos adultos de
alcançados sem a passagem por todos os hoje.
questionamentos, pela quase desistência do
E específicamente en aquella
dedicada a los problemas
emergentes de la clínica, se
verifica una
D resonancias significantes:
sujeto...
1) El tiempo del
inconsciente.
niño
simbólicamente, engendra
al sujeto, como a un niño-producto del
del
El
inconsciente, estructurado
evanescente, como el “ahora” aristotélico,
un instante ubicado entre el pasado que ya
fué y el futuro que todavía no. El tiempo es
a partir de ese momento lo efímero de una
pulsación, porque aparece un real en juego,
más allá de la vertiente simbólica del
inconsciente. En el encuentro entre lo Real
lenguaje. En tanto sujeto, no tiene edad. 2) y lo Simbólico queda una huella de goce
El tiempo del sujeto-niño ... del imposible de absorver por el
inconsciente: Se trata asi de la subjetividad significante.Hace falta entonces un segundo
de una “persona menor”,viviendo en el tiempo.Es un tiempo que dura, el tiempo
primer tiempo de su vida y por lo tanto de la repetición de sus vueltas significantes
dependiente del amor, expuesto como una que nunca alcanzan a ese Real, pero que
esponja permeable al discurso familiar y a pueden enmarcarlo en una construcción
sus significantes Amo y a la vez intérprete fantasmatica. El síntoma es la expresión del
de los actos y decires del Otro. fracaso de la represión ante la exigencia
Nos preguntamos por el tiempo del pulsional constante y la repetición es la
sujeto y por sus particularidades en el insistencia de lo que no termina de
análisis con niños. ¿Cuál es el tiempo del anudarse. Desde los Tres ensayos de
sujeto del inconsciente? Freud, el goce perdido, la sexualidad
En 1951, era el pasado, traumática, competen al perverso
presentificado. La Transferencia se definía polimorfo, tanto como a las personas
como la repetición de los modos grandes. Por eso sostenemos que el niño
permanentes de constituciön de los tiene sus síntomas. El niño puede también
objetos, habia que descifrar al inconciente ser un sintoma.
como una escritura de contenidos El niño es hablado por sus padres y
reprimidos, como verdades que podian ser tocado por una propuesta significante
todas-dichas, para liberar al neurótico de activa y actual desde el Otro que ellos
sus síntomas. encarnan. El sujeto niño será el efecto y la
En 1960, el tiempo del sujeto del respuesta a esa propuesta. Además de
inconsciente es un tiempo gramatical, el ofrecerle un saber articulado, los padres lo
futuro anterior : advendrá en el futuro pero exponen al enigma de sus deseos, que no se
se ubicará en la estructura como habiendo articulan en las palabras. Este enigma,
acontecido en un tiempo anterior.Es una llamado Significante del Otro barrado, es
subjetivación en apres coup. interpretado como la evidencia de una falta
En 1964 Lacan se separa de la IPA que el niño se siente atraído a suturar,
y la Transferencia, como puesta en acto, se ocupando él mismo el lugar del objeto
separa de la Repetición. Lacan habla del tapón, como metonimia del deseo materno
status ético del inconsciente. Si el de un falo. Para que opere una función
E afirma que
desenvolvimento de uma
respeito de seu pai, põe em questão a com um fantasma, um morto que foi
demanda da mãe, que se apresenta, então, assassinado.
como uma demanda falsa, não confiável e Assim Teresa reintroduz o tema
mortífera. que percorre toda a sua análise: seu medo
A revelação de que seu pai de fantasmas, vampiros, dos zumbis, dos
biológico não estava morto, se constitui mortos vivos, do Chuck, da Múmia. Relata
num momento traumático, de invasão de filmes que assistiu, histórias que ouviu ou
real, que marca um certo fracasso da inventou com esses personagens.
função paterna de defender a criança das “Você conhece a história do Chuck? Foi
demandas do Outro. A função paterna é uma mulher que matou um homem, depois
falha por estrutura, uma vez que o tirou a alma dele e colocou num boneco.
significante não consegue recobrir todo o Depois, no segundo filme, ele queria uma
gozo, sendo necessário que quem encarna companheira, para não ficar sozinho. Então
essa função venha a falhar a fim de ele vai matar uma menina e vai colocar a
significar para o sujeito esse desejo alma dela numa boneca, aí eles vão ter um
procedente do Outro. É nessa falha da bebe.”
função paterna que Teresa entra com seu Nessa época fala sempre de seu pai,
sintoma de incontinência urinária e fecal. a mudança do seu nome, e começa a
Para a Psicanálise o sintoma é uma estabelecer uma relação mais efetiva com
metáfora da estrutura edipiana, pois efetiva ele. Algum tempo depois monta uma peça
a articulação da lei com o desejo. O de teatro na escola e passa quase todo o
sintoma é a forma como o sujeito responde ano letivo às voltas com essa montagem,
à falha da função paterna, ele tem a função em que ela escreve o texto, dirige a peça e
estruturante de desalojar o sujeito da interpreta um dos personagens. A peça é
posição de angústia diante da demanda do sobre o folclore brasileiro e na historia que
Outro. Teresa institui, com o real de seu Teresa criou, ela interpreta o Anhangá,
sintoma, algo que vem em socorro da personagem que se envolve numa disputa
metáfora paterna. de vida e morte com a Cuca e sai vitorioso,
Numa sessão Teresa conta que viu na batalha final. Teresa descreve o seu
na televisão um animal do futuro. Ele é personagem da seguinte forma: “O
uma mistura de foca com pingüim e para se Anhangá é um veado com olhar de fogo.
defender, ele vomita uma “gosma nojenta, Ele engana os caçadores, causando febre e
uma porcaria”. A analista pergunta: loucura em quem olha para ele. É um
“Defender de que?” protetor da floresta. Ele é todo azul,
“De quem quer comer ele” – aparece e desaparece. Ele e um zumbi, um
responde. morto vivo”.
Nessa época, faz sempre comentários do Podemos verificar como Teresa,
tipo: “Se eu não passar na prova minha partindo do significante “Baleia Assassina”,
mãe vai comer meu fígado”. apelido dado por um colega da escola, vai
Também faz muitos comentários construindo sua cadeia: Loura Assassina,
sobre as bijuterias da analista, quer saber se Chuck, Morto Vivo, Zumbi, Múmia,
são jóias verdadeiras ou falsas, assim como Anhangá. E dessa forma, constrói uma teia
os outros objetos da sala. Ela diz que tem simbólica com a qual tenta dar sentido ao
duas certidões de nascimento, uma real do trauma, operando um ciframento
verdadeira e uma falsa, e diz que não queria do gozo presente no seu sintoma de
trocar seu sobrenome. Em seguida se deita incontinência, com a sua satisfação
no divã e brinca de dormir e de sonhar paradoxal. Com isso consegue interromper
o tempo da demanda, aprisionado na
repetição infinita do seu sintoma. Para que fosse possível uma virada
Poderíamos concluir que isso se dá num do tempo da demanda para o tempo do
processo temporal em que a transferência desejo, foi necessário, no caso de Teresa
viabiliza uma substituição dos objetos da que uma elaboração de saber sobre a
demanda – a comida e o coco – pelo objeto castração pudesse se efetivar num trabalho
causa do desejo – o olhar - como ele de associação livre sob transferência.
comparece em sua construção do Sobre o caso de Teresa, podemos concluir,
personagem do Anhangá. como afirma Colette Soler, no texto “Um
Paralelamente a esse trabalho de tempo a mais” publicado em Heteridade 3:
ciframento, Teresa passa a gostar de usar o “Para que o processo de análise se
sobrenome do pai, consegue emagrecer constitua em uma seqüência finita,
bastante e começa a se interessar pelos requerem-se muitos modos de
meninos da escola. Ela também começa a temporalidade. Há o tempo próprio da
manifestar um grande interesse pela associação livre, dos pensamentos
história do Egito, seus faraós, sua cultura. colocados em série; depois há o tempo
Sempre procura livros e filmes com esse lógico, que é diferente daquele, pois é o
tema. Seu personagem favorito é um tempo necessário para produzir uma
sacerdote que é assassinado como castigo conclusão a partir do que não se sabe.”
por amar uma mulher proibida. Ele é
mumificado e ressurge centenas de anos
depois, quando uma expedição de pesquisa
profana o seu túmulo. Algum tempo
depois Teresa decide estudar museologia.
avós e substitutos – que ela tenta expressar sozinho. Quando foi nomear tal local, num
sua angústia, ciúme e a ambivalência afetiva ato falho, disse o nome do shopping onde
diante da aproximação do nascimento do o filho costumava levar a namorada
irmão “Flávio”. Como ainda não dispõe de “clara”, indicando aqui sua identificação
um vocabulário adequado e da com o filho morto. Esta manifestação do
possibilidade da escrita, ela se utiliza de inconsciente, nos leva a pensar na
outros recursos para expressar a sua dor transferência. Quem sabe João não deseja a
diante da ameaça de perder seu valor fálico analista como parceira, a namorada “clara”,
no desejo do Outro, assim como perder para se sentir-se amparado e voltar a
seus objetos agalmáticos, fontes de prazer caminhar com firmeza em direção à vida?
oral. Mostrando-se enciumada e Com muita dificuldade diante da perda real
entristecida, Jane exclama indignada: e traumática do filho, para qual João não
“Mamãe vai dar minha mamadeira e tem palavras para expressar, (o simbólico
chupeta para o neném!”. não dá conta integralmente), ele vai
Por outro lado, João, convoca a contando outras histórias, inclusive sobre
analista em casa. Em virtude de uma queda as mulheres. Diz ele: “As mulheres de hoje
que deixou-o hospitalizado durante cerca andam com partes dos seios de fora se
de 40 dias, sente-se inseguro para sair de oferecendo como objetos de desejo
casa sozinho. Angustiado, questiona “se descartáveis, que não servem para serem
este sintoma é orgânico, mental ou mães e esposas”. Paradoxalmente, escreve
depressão”. Relata que por ocasião de sua artigos enaltecendo a mulher, colocando-a
internação, seu filho, que já estava doente, como presença imprescidível na vida do
faleceu em outro hospital. Assim não teve a homem.
chance de acompanhá-lo nos seus últimos Dois sujeitos tentam construir com os
momentos de vida. Refere sentir muita falta significantes “triste, filho, nascimento,
dele, com quem contava nos momentos de morte, mãe, pai e irmãos”, cada um a seu
doença. Em análise, este sujeito desfila os modo, seus romances familiares. Tanto um
significantes de sua história pessoal de quanto o outro se defrontam com
maneira fluente, falando também dos sentimentos de perda e angústia de
déficits auditivo, visual e olfativo, castração. Jane se angustia frente à
decorrentes de sua idade avançada. Mesmo possibilidade de perder o amor do Outro
apresentando essas limitações, acha que sua paterno e materno e com a separação de
produção intelectual não foi afetada, seus objetos de prazer. Sentindo-se
mantendo um hábito antigo: escrever desamparada, busca o simbólico para dar
artigos para um jornal. Significantes não lhe conta do real que a acomete. Segundo
faltam para contar suas histórias, as quais Colette Soler:
procura ilustrar por meio de fotos, flashes
familiares, onde aponta vários parentes “... cada criança se faz intérprete, se
agarra em estabelecer sua própria leitura
mortos, destacando a mãe, o pai e irmã do dizer do Outro, e da mãe,
prefererida, assim como cenas da natureza principalmente [...] das hiâncias do seu
destruída pelo tempo e/ou transformada discurso. Ela está evidentemente
pela mão do homem. interessada em seu próprio ser, já que o
Em uma sessão, João acha a que busca perfurar aí, é tanto o mistério
de sua concepção quanto o de seu sexo.
analista parecida com a namorada do filho O interpretado se torna, pois,
morto, dizendo: “Ela é clara, loura, assim intérprete, e é neste nó das
como você.” Associando livremente, conta
que sempre ia à uma lanchonete, próxima à
sua casa, mas que agora teme voltar lá
interpretações que jaz o segredo de como uma linguagem” segundo Lacan, tem
todas as suas interpretações.”155 uma lógica e uma articulação própria, que
desconhece a contradição; e é atemporal,
A questão do ser: quem sou eu para como diz Freud.
que o Outro me fale? O que eu sou como
objeto? Na resposta da linguagem está a O que se analisa numa análise?
questão daquilo que eu sou, pois eu só Como indica Soler: “Em termos freudianos
tenho acesso ao meu ser como efeito do analisa-se o sintoma e, de acordo com os
dito. É no campo da linguagem que se ensinamentos de Lacan pode-se generalizar,
constitui o dito sem existência teórica, o dizendo-se que se analisam as relações do
que chamamos lalangue, “alíngua”156, sujeito com o real: o real que se apresenta
termo que Lacan encontrou mais próximo sob a espécie do sexo e do gozo” 157. A
da lalação, que se relaciona com o tatibitate respeito deste ponto, adulto e criança
da criança antes dela articular a linguagem, diferem. A questão coloca-se em saber se o
que, no caso apresentado, corresponde analista pode se defrontar com não importa
àqueles “mé, me’, peperepepe, mesticuia, que relação ao real e, mais precisamente, se
plucaiate,man man”, expressos por Jane. o desejo do analista pode operar sob não
Ao lado do objeto a como causa de gozo importa em que estado do ser. O desejo do
temos os significantes da alíngua que analista enquanto definido como elemento
permitem fazer a junção da linguagem com da estrutura do discurso, isto é, como
o gozo. O que fica para o sujeito é que vai parceiro do sujeito analisante, não poderia
determinar a forma dele gozar. operar senão quando certas condições se
Retornando ao João, este sofre encontram realizadas: sobretudo que o
com a perda do filho e com a possibilidade “lugar nítido do desejo” esteja posto, como
de perder sua autonomia, exclamando Lacan designou.
revoltado: “preciso da minha mulher, como
uma bengala para me acompanhar a rua,
coisa que nunca me aconteceu!” A velhice é
muito triste... “Simultaneamente,
apontando uma rosa para analista, exclama:
“Eu namoro o jardim da minha casa, vibro
com o nascimento e a ternura de uma flor!”
Nos dois casos observamos sujeitos
em transferência com a analista, que para
um representa a “mãe, avó, fada ou
tubarão” e que para o outro está no lugar
da “namorada clara” do filho, da “mulher
bengala” ou da irmã Ana. Além disso,
temos duas formas distintas de dizer do
real, ameaçador, avassalador, que o
simbólico não dá conta de esvaziar
totalmente. Expressões do sujeito do
inconsciente, sujeito do desejo, dividido
pelo sintoma. O inconsciente, “estruturado
Georgina Cerquise
A
com o conceito de tempo. parcialmente o Outro do delírio”5.
Em geral, ao submeter-se a Freud formula que, “no método
uma psicanálise, o sujeito1 descontínuo do sistema Pcpt-Cs, temos a
retoma o fluxo de sua origem do tempo”6. A falta de continuidade
história, explicitando a da percepção consciente do eu dá a noção do
descontinuidade temporal do tempo, ou seja, o carrilhão da temporalidade
inconsciente, que ex-siste, insiste e se estabelece no intervalo, na hiância. No
comparece nas reminiscências e elaborações: período de sua segunda internação, Schreber7
“Não existe nada que corresponda à idéia do comprova a tese freudiana. Em estado de
tempo no inconsciente, não há vigília constante – uma insônia sequer
reconhecimento da passagem do tempo”2. A atenuada com a medicação – e sem nenhum
Psicanálise trabalha com um tempo re- intervalo perceptivo para seu aparelho
construído, a partir da escuta da realidade psíquico, ele perde a referência ao tempo que
psíquica, possibilitando ao sujeito uma o mantinha em sua subjetividade:
apropriação elaborada da sua história.
“Uma virada fatal para a história da
Lacan observa sobre a construção Terra e da humanidade pareceu-me, então,
artificial do tempo, para interrogar sobre o indicada pelos acontecimentos de um único
que insere o sujeito numa escala temporal dia, do qual me recordo claramente, em que
razoável: “Onde pode estar a mola da se falou de extinção dos relógios do mundo,
exatidão, a não ser justamente no fato de se e simultaneamente ocorreu um afluxo
porem os relógios em concordância?”3 Na contínuo, de uma rara abundância de raios
clínica da psicose, pela via do real, observa-se para o meu corpo”8.
a impossibilidade da ordenação da
temporalidade na cadeia significante. Existe Observa-se aí o exemplo da relação
um tempo que não pára de chegar; o entre os fenômenos elementares e a
foracluído pelo sujeito não cessa de desordem cronológica. A clínica psicanalítica
reproduzir-se, marcando a ausência do ponto comprova que, na psicose, é impossível
de basta, de amarração da função fálica. dissociarem-se as perdas da realidade psíquica
das de referência temporal – fator que revela
Para Lacan, tal qual para Freud, a a desorientação e obnubilação do paciente,
perda da realidade e a formação delirante4 explicitada pela tentativa de remodelar a
apontam para um futuro, um tempo realidade através das alucinações e dos
assintótico, infinitamente prolongado. No delírios.
caso Schreber, a sua transformação em
mulher de Deus se dará num futuro distante: Lacan (9) explicita que, para regular o
“Enquanto o futuro não acontece, cada qual relógio como instrumento de exatidão, é
preciso uma unidade de tempo, tomada “Meu pai brigava, minha mãe
emprestada, que se refere ao real, pois volta chorava, ele passou a mão no meu rosto e
sempre ao mesmo lugar. Schreber revela, saiu pela janela da sala, o gênio da Lâmpada
através da alucinação, que a desarticulação do de Aladim, voava e passava nas paredes dos
tempo e o gozo na psicose estão prédios vizinhos. Muito lindo, era um bom
relacionados. Verifica-se, assim, a posição de motivo, isso foi quando era criança”.
um sujeito perdido no abismo do tempo, no Aqui o ponteiro do relógio aponta
vazio que produz uma desorganização do para o tempo no passado a cruzar,
mundo que o rodeia. efetivamente, o momento crítico da
O tempo dos sintomas: alucinação do sujeito e sua fala. O Outro sem
barra passeia pelas paredes, preenchendo,
As descobertas freudianas, realizadas
ocupando o lugar de ausência da metáfora
na escuta dos sintomas e das reminiscências
paterna.
dos pacientes, permitiram a teorização sobre
a importância do tempo na estruturação do Tempo de construção da metáfora
sujeito. Pode-se também pensar no tempo delirante:
como um modo verbal, pela via do A metáfora delirante é uma
significante. Em outras palavras, passado, construção que vem substituir a ausência da
presente e futuro estão revelados no discurso metáfora paterna, como uma das possíveis
do sujeito, embora não seja regra geral. Na tentativas de simbolização, de estabilização
psicose, escutamos sujeitos que apresentam do sujeito. Conforme recorte clínico
perdas da percepção da temporalidade; a apresentado, a lembrança não é a geradora de
foraclusão10 do Nome-do-Pai impede a construções, pois o tempo do passado não
organização da cadeia significante e as está significado enquanto tal. Lacan diz que:
mensagens ficam destruídas, ininteligíveis. “O Outro está excluído na fala delirante; daí,
Lacan11 traz o caso do Homem dos Lobos um fenômeno bruto: a perplexidade. E é
para interrogar “Qual é o valor do passado preciso muito tempo para que o sujeito
do sujeito?”, chamando atenção para a pouca psicótico tente restituir uma ordem delirante
importância de o sujeito rememorar, no em torno disso”13. O significante “fecundo”,
sentido intuitivo da palavra, os eventos apregoado por Flechsig quanto à prescrição
formadores da sua existência. Na verdade, o dos novos soníferos, é utilizado por Schreber
centro de gravidade do sujeito é a síntese para dar origem, depois de longo período de
presente do passado, a que se chama história: internação, à possibilidade de fazer uma
“O que conta é o que ele disso reconstrói”12. amarração na cadeia significante, que se
É preciso ir mais além da lembrança, servirá da causalidade psíquica na construção
e a clínica da psicose atesta isso: as da metáfora delirante: “Sou uma Mulher que
lembranças não são associadas, uma vez que, vai copular com Deus para gerar uma nova
na psicose, o tempo se desestrutura e se raça”.
confunde por falta da significação fálica. Trazemos um caso de paciente
Escutamos alguns pacientes esquizofrênico, atendido no intervalo de
psicóticos relembrarem “algo de seu ausência da analista que o acompanhava por
passado”; todavia, não conseguem associar o dez anos. Curiosamente, apesar da gravidade
que “irrompe” no discurso, e a causa de sua dos sintomas, com várias tentativas de
doença. Com diagnóstico de paranóia, a suicídios e internações, acompanhamos, na
paciente traz uma lembrança do primeiro ausência da referida analista, uma contenção
tempo da alucinação na infância: dos fenômenos elementares. Ele retoma “seu
trabalho”14 e comparece às sessões com a
analista substituta, relatando progressos de completas. Edição Standard Brasileira (ESB), Rio de
escrita e diminuição das consultas com o Janeiro: Imago, Vol. XXII (1974: 95).
psiquiatra, sempre se referindo ao tempo e ao 3 LACAN, Jacques. [1954-55]. O seminário, Livro 2:
compromisso de retorno da analista. A O eu na teoria de Freud e na técnica psicanalítica. Rio
temporalidade para ele é marcada pela de Janeiro: Zahar. (1985: 372).
correspondência escrita/analista ausente. 4 FREUD, Sigmund. [1911]. Notas psicanalíticas
“Hoje é o último dia que venho aqui. Minha sobre um relato autobiográfico de um caso de
paranóia. In: Obras psicológicas completas. Edição
analista voltou e eu a escolho, pois temos um Standard Brasileira 1974. Vol. XII. (1974: 68).
caso de amor platônico”. O retorno marcado
pela analista fez um ponto de amarração, deu 5 QUINET, Antonio. Autismo e esquizofrenia na
clínica da esquize. (1999:104) Marca D’água. Rio de
um contorno no tempo, e a espera fixou o Janeiro.
gozo.
6 FREUD, Sigmund. Uma nota sobre o bloco mágico.
Levando-se em conta os casos [1925-1924]. In: Obras psicológicas completas. Edição
clínicos apresentados, se o tempo na psicose Standard Brasileira (ESB), Rio de Janeiro: Imago, vol.
é da ordem do real, entendemos que a XIX (1974: 290).
construção da metáfora delirante é tentativa 7 Período de março a junho de 1894.
de cavar um momento de apaziguamento do 8 SCHREBER, Paul Daniel. Memórias de um doente
que não cessa de retornar, instalando um de nervos. São Paulo: Paz e Terra (1995: 880).
intervalo no tempo-futuro do “para sempre” 9 LACAN, Jacques. [1954-1955]. O seminário, Livro
do retorno do foracluído. 2: O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise.
Rio de Janeiro: Zahar (1985: 372).
Finalizando, para Lacan15, a falta do
Nome-do-Pai abre um furo no significado, 10 Conceito de foraclusão como modo de expulsão do
que dá inicio à cascata de remanejamentos do significante da Lei do pai, de alguém para fora das leis
da linguagem.
significante, de onde provém o desastre
crescente do imaginário, até que seja 11 LACAN, Jacques: O seminário, Livro 1: Os
alcançado o nível em que significante e escritos técnicos de Freud [1953-54]. Rio de Janeiro:
Zahar. (1979: 22).
significado se estabilizam na metáfora
delirante. E é preciso muito tempo para que 12 Idem, ibidem.
o sujeito psicótico tente restituir uma ordem 13 LACAN, Jacques. O seminário, Livro 3: As
delirante em torno disso. psicoses [1955-56]. Rio de Janeiro: Zahar. (1985: 65).
14 Tradução das letras das músicas de Bob Dylan.
Gladys Mattalia
Reiteración esquizofrénica
claramente
esquicia de las identidades, de los objetos, de psicótico está condenado al eterno retorno de
los tiempos… en un “más acá” de la su existencia en lo real, que al decir de Lacan:
alienación a los significantes del Otro. Un “hace tan difícil la anamnesia de sus perturbaciones, de
sujeto “fuera-del-inconsciente” está “(…) fenómenos elementales que son solamente
preso de lo múltiple no vectorializado, de presignificantes y que no logran sino después de una
cronologías ahistóricas que yuxtaponen organización discursiva larga y penosa establecer,
hechos y datos sin ordenarlos” . Viene a mi constituir, ese universo siempre parcial que llaman un
delirio.”
memoria el caso de un joven sujeto que en
una de las presentaciones de enfermos, en El paranoico encuentra una solución
nuestro Colegio Clínico en el norte de que implica el tiempo, se mantiene en la
Argentina, decía: “A mi hermano lo mataron alienación a la cadena significante y conserva
de un tiro en la cabeza, de allí yo me la relación al Otro en la gravidez de su delirio.
enloquecí, fue cuando me internaron, yo no Otro que goza de él, un Otro “sin barradura”
existía todavía, no había nacido…”. La como lo es el Dios de Schreber. Al “estasis”
“muerte del sujeto” estaba fechada antes de de la abulia esquizofrénica se opone el
su nacimiento. Una muerte resultante de la “éxtasis” de la voluntad de goce de la
no afirmación de la simbolización primordial, paranoia, en esta relación particular de
preso de un “no” forclusivo, para nada Schreber con su Dios.
discordancial, que impidió la inscripción del En De una cuestión
sujeto en el “sentimiento de la vida”. Muerte preliminar…Lacan nos da una fórmula:
que se fenomenaliza en una pluralidad de
manifestaciones: abulia, estereotipias, “Sin duda la adivinación del inconsciente ha advertido
muy pronto al sujeto de que, a falta de poder ser el
“veleidades inoperantes”… falo que falta a la madre, le queda la solución de ser la
Luego de un trabajo sostenido, una mujer que falta a los hombres”.
mujer había construido penosamente que Una solución prematura, una
“dos salchichas y un huevo”, ofrecidas por su conclusión apresurada para poder cerrar el
madre, eran la certificación de que la “quiso agujero dejado por la ausencia de la
hombre”. La “representación de cosas” significación fálica. En la paranoia lo que está
freudiana, el tratar las palabras como cosas forcluído es el significante del Nombre-del-
(Sachvorstellungen) se efectiviza en los Padre que no permite la metaforización del
fenómenos en que las cosas copulan entre sí. Deseo de la Madre. En la paranoia está
Las palabras han perdido su calidad de conservada la x del sujeto de la Bejahung
significantes, reducidas a simple materia primordial, más próximo al sujeto dividido,
sonora o visual. El esquizofrénico dispone de que al sujeto de la esquicia. Pero, falta el
la lengua, por ello habla, pero no dispone de abrochamiento del segundo tiempo de la
lo simbólico. Como dijimos un sujeto “fuera- metáfora paterna que incluiría al sujeto en el
del-inconsciente”, sin Otro, por el fracaso de orden del discurso. El sujeto paranoico es un
la bejahung primordial. “fuera-de-discurso”, pero conserva en la
Retroacción en un tiempo cíclico metonimia de los significantes una relación
particular al Otro. El fuera-de-discurso del
La “reiteración” esquizofrénica es sujeto Schreber se presenta como un
bien diferente a la “retroacción en un tiempo significante que no representa al sujeto y que
cíclico” de la paranoia. Tiempo cíclico que no pone barrera a su goce. Entre Dios y
evoca, a mi entender, el tiempo cíclico en la Schreber hay una relación sexual. La relación
antigüedad oriental y retomado por Mircea sexual es posible.
Eliade bajo el signo del “eterno retorno”. El
En la paranoia encontramos la
estructura de la retroacción temporal (a
Patricia Muñoz
E arrepentimiento en
mismo, implica un tiempo
ente ella. Hay en la pintura un término se trata más bien de una melancolía y no
repentie, que hace referencia a los trazos de una paranoia. Dice Freud, la melancolía
que ha hecho el pintor y luego se ha se trata de un duelo por la pérdida de la
arrepentido de ellos y ha pintado encima, libido, de una hemorragia interna, aunque
solo se ha visto más claramente con la hay autorreproches y autodenigraciones, no
tecnología de los rallos x, pero en la vida hay culpa ni expectativa de castigo y el
real, ¿quién podría, al arrepentirse de lo ya arrepentimiento va en el sentido de la
vivido, corregirlo añadiendo nuevas capas culpa.
de pintura hasta que lo nuevo ocultara Sol Aparicio, en su texto “En su
cualquier traza de lo antiguo?, no en la hora” dice: “En la psicosis se deshace la
neurosis, pero en la psicosis, se podría secuencia temporal por el hecho mismo del
pensar que el arrepentimiento es la manera significante en lo real fuera de la cadena y
de poner encima capas de pintura que no en la melancolía es el presente eternizado”.
dejan ver lo que hay debajo, como una No creo tampoco que se pueda decir que
solución, un síntoma que permitiría anudar es el presente eternizado, aunque el trabajo
lo real, lo simbólico y lo imaginario, como con ella es vivir el día a día, ir a trabajar,
cuarto nudo que supliría la función tener un horario, estar mirando el reloj.
anudante del Nombre del Padre. Lo que le
daría un nombre, “la arrepentida” que Lo que nos enseña este caso: …
además tiene que ver con su nombre
propio.
.
Aunque el desencadenamiento fue
persecutorio, he pensado si en este caso no
A peversão e o tempo
Vera Pollo
que caracterizam o objeto tempo alternada um bom tempo, insisti em que tinha
ou simultaneamente como falta e como lembrança de cenas do meu próprio
excesso. Impotência e impossibilidade nascimento”. Em seguida desfia uma série
enunciam-se como: “Não tenho tempo, de lembranças de sua primeira infância,
estou sem tempo” e, inversamente: “Estou cenas que “o atormentaram e assombraram
perdendo tempo, jogo tempo fora”. Não se a vida inteira” e que teriam imprimido nele
indica, assim, a existência de uma fantasia um desejo de transformar-se em um outro,
em que o tempo é um fluxo contínuo, tal que tanto podia ser um “rapaz todo sujo”
qual o jorrar dos significantes? carregando baldes de excrementos e
vestindo uma calça muito justa, quanto
Em seu texto “A tempo, o que não
uma bailarina opulenta “ envolta em trajes
espera” , Bousseyroux (2002) ressalta que
semelhantes aos da meretriz do livro do
o tempo da história só nos faz andar em
Apocalipse”.
círculo, uma vez que o mundo humano é
tórico. O que equivale a dizer que, em suas Em nota enviada ao editor, o jovem
relações simbólicas, o sujeito é um Mishima, então com vinte e quatro anos,
aglomerado de significantes em torno de observa que Confissões de uma máscara
dois espaços vazios e que o vazio central será seu primeiro romance autobiográfico,
comunica-se com o exterior. O motivo da mas não um “Ich-roman convencional”. E
impossibilidade dessa representação central acrescenta: “Apontarei para mim o bisturi
não reside simplesmente no fato dela ser da análise psicológica que agucei em
demasiado traumática, mas de que nós, personagens imaginários. Tentarei dissecar-
sujeitos que a consideramos, continuamos me bem vivo. Espero atingir a exatidão
sempre implicados nela e fazemos parte científica...” (apud Ritter,2005:28). Diz-se
integrante do processo que a engendrou que sua escrita é também uma tentativa
(Zizec, 2004). Assim como o real da terapêutica que faz apelo ao que ele designa
história resiste à historização, o real do como “poderes de auto-análise” ou “um
tempo resiste à cronologização. Em desses círculos obtidos dando um simples
“Função e campo”, Lacan já observava que movimento de torção a um pedaço de
“o que se realiza em minha história não é o papel, cujas extremidades são em seguida
pretérito perfeito do que foi, uma vez que coladas juntas. O que parecia ser o interior
já não é [...] mas o futuro anterior do que era o exterior e o que parecia ser o exterior
terei sido para aquilo em que me estou era o interior” (idem:29). Não há dúvida de
transformando” (1953/1998:301). Há uma que Mishima percebeu o interesse da
excessiva proximidade do sujeito com o topologia da banda de Moebius na análise
irrepresentável. Pois o sujeito só se dos fatos subjetivos, ao mesmo tempo em
comunica com o Outro real – o que nos que dizia possuir um “talento perverso”
ensina Lacan no seminário, livro 10 – no capaz de “transmudar o sofrimento em
ápice da angústia. Este momento de queda gozo e a falta em plenitude”. Para Millot
do objeto a configura-se como “um nó do (1996/2004), seu talento inscreve-se na
tempo como superfície” , um retorno do linha direta do masoquismo originário, dito
instante do olhar no momento de concluir, erógeno, sob a forma de um “erotismo da
que decide, retroativamente, o tempo para desolação”. Já Assoun, após concluir que
compreender. “raramente se verá, como em Mishima, a
identificação de um escritor com uma
Yukio Mishima , um dos autores
estrutura transformada em princípio de
mais traduzidos da moderna literatura
escrita” (1998:15), propõe que “não é
japonesa, inicia seu livro Confissões de
talvez uma casualidade se, depois de uma
uma máscara com a seguinte frase: “Por
“as regiões mais altas, onde não há ar, estão A forma de negação da castração do
repletas de morte pura”, sua consciência Outro: a Verleugnung
contemplou a união de corpo e espírito, o
Em “Esboço de Psicanálise” (1940
gigantesco anel-serpente que supera as
[1938]), especificamente na parte VIII,
polaridades. O círculo da serpente revelava
intitulada “O aparelho psíquico e o mundo
o mistério: “a carne e o espírito, o sensual e
exterior”, Freud dá uma enorme atenção à
o intelectual, o dentro e o fora, vão
“divisão do eu” e ao “desmentido”. Esse
desprender-se do chão e, mais alto, mais,
importante trabalho Freud nos dá subsídios
mais alto até do ponto onde o círculo-
para supor o modo que Mishima encontrou
serpente de nuvens brancas que cerca a
para negar a castração do Outro: a
terra, todas as coisas vão se encontrar”
Verleugnug. Mishima tentou constituir dois
(1968, p. 89). “O mundo interior e o
pólos de pureza e perfeição, dois absolutos,
mundo exterior tinham se invadido
por uma separação que exclui a mistura
mutuamente e se tornado completamente
deles. Os desejos divergentes representam
intercambiáveis” (1968, p.100).
duas soluções das quais cada uma traz um
O Seppuku: a derradeira erotização da desmentido à castração materna e que,
morte embora contraditórias, se reforçam
No processo criativo de seus mutuamente. Mishima perseguiu a solução
romances e dramas, Mishima só começava da divisão do eu que se apresentava nas
a escrever quando determinava claramente polaridades. No entanto, a fenda entre os
o final. Depois pensava em como levar à pólos opostos não se preencheu, ao
conclusão, tendo em vista a última cena. E contrário só ressaltou a irremediável
isso ele também praticou na sua existência. incompletude de cada um dos termos. “As
O escritor esculpiu o seu corpo como uma flores artificiais da arte” e as “flores
obra de arte, que segundo a sua estética perecíveis da ação” são uma o ideal da
estava irremediavelmente fadado à outra. O gozo do instante e o da eternidade
destruição, a tragédia derradeira. Dois anos respondem a votos contrários. Só a morte
antes de cometer o seppuku Mishima revela pode resolver a discordância deles. Só a
em Sol e aço a sua insatisfação com a morte do belo herói conjuga a arte e a ação.
literatura, pois nela embora a morte seja a A morte se afigura a única resolução
força condutora na construção de ficções, a possível da dualidade que o habita e a única
arte não morre, ela é eterna, cria uma flor maneira de parar o incessante movimento
imortal, artificial, ficção. Ao passo que na que o projeta de um pólo ao outro de sua
ação se morre com a flor que não é imortal. subjetividade dilacerada.
“Na literatura, a morte é mantida em xeque REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
mas, ao mesmo tempo, usada como uma FREUD, Sigmund. (1905) Obras completas. “Tres
força condutora [...] Ação é morrer com a ensaios de teoria sexual” Buenos Aires: Amorrortu,
flor; literatura é criar uma flor imortal. E 2005.
uma flor imortal, evidentemente, só pode _________. (1927) Obras completas: “Fetichismo”.
ser uma flor artificial” (1968, p. 49). Com a Buenos Aires: Amorrortu, 2005.
sua morte Mishima combina ação e arte, a _________. (1940 [1938]) Obras completas. “La
flor que fenece e a flor que dura para escisión del yo em el processo defensivo”. Buenos
sempre, mistura a um só tempo os dois Aires: Amorrortu, 2005.
desejos mais contraditórios da humanidade _________. (1940 [1938]) Obras completas. “El
e os respectivos sonhos da realização aparato psíquico y el mundo exterior”. In:
desses desejos. “Esquema Del psicoanálisis”. Buenos Aires:
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KUSANO, Darci. Yukio Mishima: O homem de MISHIMA, Yukio. (1949) Confissões de uma
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MILLOR, Catherine. Gide, Genet, Mishima: VALAS, Patrick. Freud e a perversão Rio de
inteligência da perversão. Rio de Janeiro: Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990.
Companhia de Freud, 2004.
A
idéia axial desse trabalho é perverso procura análise, estabelece
partir de algumas transferência e há manejos a partir das quais
considerações das noções de o analista opera. Além disso, entendemos que
desejo e gozo para interrogar é um dever pautado na ética atender tais
como nós, analistas, temos nos sujeitos, pois o analista sabe que em tal
atualizado em relação à análise dispositivo trabalha-se a partir da relação do
da estrutura perversa. sujeito ao significante e da posição do sujeito
Sabe-se que não há consenso entre os na fantasia, e não a partir da realidade. Assim,
analistas a respeito da possível análise de um é a partir desses dois operadores que o
sujeito de estrutura perversa. Um aspecto analista poderá identificar as estratégias de
preocupante, e que chama a atenção, é o fato desejo do sujeito e sua modalidade de gozo.
de existir uma tendência, dentro do campo O próprio Lacan nunca esteve de acordo
psicanalítico, de dizer que o perverso não com não analisabilidade do sujeito perverso e
demanda análise. Enfatiza-se: o sujeito a prova disso é que muitas são as referências
perverso não tem questão...Os sujeitos, à perversão durante todo o percurso de sua
realmente perversos, ficam pouco tempo e obra, onde ele se empenhou em demonstrar a
interrompem o tratamento..., etc.Nesse possível análise de tais sujeitos, sempre
sentido, ocorreu-nos pensar em que ponto considerando que existem diferenças na
estamos na pesquisa e tratamento desses direção do tratamento.
sujeitos, a partir da descoberta freudiana e Nogueira nos lembra que: “... a
após os avanços lacanianos, pois sabemos linguagem é condição do inconsciente...” e
desde Freud que perversidade não é que “A relação simbólica que a linguagem
perversão e que há traços perversos em todas constitui possibilita a investigação, e
as estruturas. simultaneamente, a modificação do que está
Freud, quando apresenta o fetiche como além da linguagem, mas que ela indica: a
paradigma da perversão, já faz uma distinção sexualidade humana enquanto uma economia
entre neurose, psicose e perversão. Jacques de gozo, e não apenas o exercício das
Lacan vai, então, a partir da dupla função do relações de reprodução ou a prática do prazer
véu, que é a um só tempo o que esconde e o do sexo”. O autor diz, ainda, que “Lacan se
que designa, nos apresentar a estrutura de preocupou em estabelecer a Lógica dessa
toda a perversão. economia propondo o que ele chamou de
“lógica do significante”, estudando a
Nesse sentido, chega a causar realidade das fantasias inconscientes.
estranheza ouvir alguns analistas afirmarem Significante porque na investigação
que o dispositivo analítico não é adequado psicanalítica o que vai ser privilegiado, pela
para os perversos. Todavia, consideramos a escuta do analista, decorrente da fala do
partir de nossa pesquisa teórico-clínica, que o analisante será a manifestação mesma da
“... onde o perverso pára, começa o desejo do FREUD, S, (1976) O Fetichismo. In. S. Freud, Edição
analista". E acrescenta, “ninguém solicita Standart Brasileira das Obras Psicológicas
Completas de Sigmund Freud (VOL.XXI) Rio de
melhor do que o sujeito perverso a expressão Janeiro:Imago (trabalho original publicado em 1927).
desse desejo no analista, pois ninguém
reivindica mais do que o perverso a LACAN, J, (1995) O Seminário Livro 4: A relação de
Objeto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. (trabalho original
possibilidade de fazer de seu sintoma uma publicado em 1957-1958).
escolha”.
LACAN, J. (2000) O Seminário Livro 10: A Angustia.
Para concluir, ressaltamos que ao Seminário Inédito, Publicação Interna da Associação
analista cabe operar em termos de desejo, isto Freudiana Internacional. Recife: Centro de Estudos
é, ser causa de desejo, pois como nos adverte Freudianos do Recife, (1962).
Rabinovich “Operar em termos de gozo é LACAN, J. (1998). De uma questão preliminar a todo
operar em termos de recuperação. Por essa tratamento possível da Psicose. In. Escritos Rio de
Janeiro: Jorge Zahar (trabalho publicado em 1957-
razão, não há gozo para o analista no 1958).
exercício de sua função, não há gozo do “ser
psicanalista”. Lacan é categórico a esse LACAN, J. (1972-1973) Livro 20, mais, ainda. Versão
brasileira de M. D. Magno, Rio de Janeiro, Jorge Zahar
respeito em seu texto Televisão, quando Editor. (1985).
afirma, com severidade sardônica, que o lugar
do analista, enquanto ele desempenha a NOGUEIRA, L. C. , A psicanálise: Uma experiência
original; o tempo de Lacan e a nova ciência. Tese de
função que lhe é própria, é um lugar drenado, Livre-docência, Instituto de Psicologia , Universidade
esvaziado de gozo...” de São Paulo.(1997,p.151).
QUINET, A, Psicose e laço social, esquizofrenia,
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Janeiro, (2006).
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Editor, Rio de Janeiro (1995, p.27). RABINOVICH, D., O desejo do psicanalista-
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BICALHO, H, “O fantasma na direção da análise”, de Freud editora, Rio de Janeiro (2000, p.128).
tese de doutorado no IPUSP, 1990.
BICALHO, H, Aula ministrada no Instituto de
Piscologia da Universidade de São Paulo, no dia Como se analisa”hoje” a perversão, título deste
13/09/2004 (trabalho não publicado). trabalho, foi inspirado no título do Terceiro Encontro
CHERMANN, E, Perversão em Cena ,Editora Internacional do Campo Freudiano: Como se analisa
Escuta, São Paulo, (2004). hoje?. Publicado em livro. Editora: Manancial.
Buenos Aires. Argentina.(1987).
E importância da formação
em uma sociedade
psicanalítica. Além do
trabalho de análise pessoal,
Freud considera
fundamental a troca com
analistas experientes em sessões científicas,
contra a formação dispensada na IPA. Essa
dimensão da transferência pela qual o
analisante, ao final, identifica-se ao eu do
analista será o elemento constituinte do
funcionamento das sociedades analíticas,
tal como acontecia na igreja ou exército: os
indivíduos colocavam as “suficiências” -
bem como o trabalho de supervisão e nome dado aos analistas reconhecidos
análise didática com analistas reconhecidos. como tal- no lugar de Ideal aos quais todos
Assim, sua proposta institucional se se identificavam. A consequência disto
sustenta como um lugar onde a formação seria o silêncio dos analisandos mais
pasicanalítica deveria acontecer. jovens. Diz Lacan:
Desde sua formação na Sociedade A função da identificação na teoria – sua
Psicanalítica de Paris, instituição ligada à prevalência- assim como a distorção de reduzir a
ela o término da análise, estão ligadas à
Internacional – IPA – Lacan sustenta uma constituição dada por Freud às sociedades – e
crítica assídua aos abusos transferenciais e levantam a questão do limite que com isso ele
desvios em relação à direção dos pretendeu dar a sua mensagem.” 161
tratamentos dispensados, a ponto de A questão que pretendo discutir
romper com a SPP em 53. Em 56159, Lacan neste trabalho refere-se à proposta de
esclarece que estrutura de formação da formação analítica introduzida por Lacan.
IPA era conseqüência da própria direção Em que esta se diferenciaria da de Freud e
do tratamento ali estabelecida. Ou seja, quais seriam os elementos que permitiriam
para se formar analista, era necessária uma uma saída institucional que não
graduação obtida no instituto de formação, reproduzisse os efeitos de identificação e
bem como a autorização obtida do próprio hierarquia tal como verificado na IPA?
analista. Ora, esta autorização estava A Proposição de 67 é um texto
relacionada com a direção do tratamento ali fundamental pois é a primeira vez que
dispensada: o fim de uma análise pela Lacan faz uma proposta efetiva de
indentificação ao analista, pela “introjeção Formação dos psicanalistas em sua Escola,
do bom objeto”160 articulando-a necessariamente com o
A transferência é um ponto nodal próprio funcionamento de uma sociedade
para a crítica realizada por Lacan à IPA. psicanalítica: “trata-se de fundamentar as
garantias mediante as quais nossa Escola poderá
158Freud, S. -(1919) Deve ensinar-se a psicanálise na universidade? In Obras autorizar um psicanalista por sua formação e...
Completas. Amorrortu Ed., vol. XVII
159Lacan, J. - Situação da psicanálise e formação do psicanalista em 1956 In
Escritos. Jorge Zahar, E. 1998. 161LACAN, J. – Primeira versão da “Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre
160 Op. Cit, p. 466 o Psicanalista da Escola” In Outros Escritos. Jorge Zahar Ed. 2003
responder por ela (...). Pode também constituir o dispositivo do Passe: “ o que faz com que ,
meio de experiência e de crítica que estabeleça ou após ter sido analisante, nos tornamos
sustente as condições de melhores garantias”. 162 psicanalistas?”165. Com isto, podemos dizer
Crítico da concepção de final de que Lacan faz um giro em relação à saída
análise pela via da identificação, Lacan pela identificação ao situar a transmissão da
sustentará que o analista autoriza-se de si psicanálise no cerne de sua proposta
mesmo. Ou seja, a questão do lugar e institucional. Dessa forma ele desloca o
função do psicanalista, no início e fim da lugar do objeto como ideal, tal como nas
psicanálise, está orientada pelo conceito de instituições freudianas, para o lugar de
transferência como Lacan formalizará na causa, o que implica em manter aberta a
proposição. “ O sujeito suposto saber é, para pergunta a respeito do que faz a passagem
nós, o eixo a partir do qual se articula tudo o que de analisando a analista.
acontece com a transferência”163. A transferência Se por um lado esta pareceu ser
se verifica na articulação de um significante uma proposta subversiva e audaciosa, por
qualquer do analista com a cadeia outro, e por sua estrutura mesma, nos faz
significante do analisando. Neste sentido, questionar a respeito de suas
Lacan será claro ao afirmar que a consequências.
transferência faz resistência à Na Carta de Dissolução da EFP ,
intersubjetividade, desconstruindo a idéia Lacan afirma que
de relação dual entre analisando e analista e “A Internacional reduz-se ao sintoma que é
sustentando o final da análise não pela via daquilo que Freud dela esperava. Sabemos o que
custou o fato de Freud haver permitido que o grupo
da identificação, mas pela via da destituição psicanalítico prevalecesse sobre o discurso,
subjetiva. tornando-se Igreja.”
Lacan articulará dois pontos de Assim critica os rumos pelos quais
junção, onde tem que funcionar seus órgãos a psicanálise se orientou, qual seja, a via do
de garantia : a intensão e a extensão da sentido e conclui: “a estabilidade da religião
psicanálise e o início e o fim da psicanálise provém de o sentido ser sempre religioso”.166
– tal como a partida de xadrez, sendo que o Aqui situamos o ponto
ponto de encontro é justamente a problemático das sociedades psicanalíticas.
passagem de psicanalisante a psicanalista. Lacan, em 1980, critica e dissolve a EFP
Neste ponto a transferência é o pivô em por questões semelhantes às que verificava
torno do qual a passagem se articula. Ou na Internacional, por seus efeitos de grupo.
seja, como transmitir o que se foi para o A questão que se coloca é se sua proposta
Outro e o modo particular de como se saiu de Escola permitiria um outro tipo de laço
disso? Como fazer passar do particular ao que fizesse “resistência à
universal um desejo que se extrai nesta intersubjetividade”, que barrasse os efeitos
passagem? de grupo inerentes ao Ideal, que permitisse
Lacan se refere ao desejo do um avanço em relação à proposta freudiana
psicanalista, uma enunciação que ocupa o de formação analítica. Lacan dirá
lugar do x em uma função, “resto que, como claramente que sua Escola pretende
determinante de sua divisão, o faz decair de sua dissipar a sombra que encobre este ponto
fantasia e o destitui como sujeito”164. Em 79, de junção, de passagem de psicanalisante a
Lacan dirá que foi por isso que instaurou o psicanalista, muito embora diagnostique:
162Lacan, J. Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola. 165 9º Congrès de l’École Freudienne de Paris sur “La transmission”. Parue
In Outros Escritos. Jorge Zahar Ed., 2003 dans les Lettres de l’École, 1979, nº 25, vol. II, pp 219-220.
163 Op. Cit. p. 253 166 Lacan J. Carta de Dissolução In Outros escritos Jorge Zahar ed., 2003., p.
164 Idem, p. 257 320.
“há um real em jogo na formação do psicanalista e desejo que não seja anônimo, uma
que as sociedades existentes fundam-se nesse Real. nominação169 conseqüência das três
Esse Real provoca seu próprio desconhecimento, até
mesmo sua negação sistemática” 167
instâncias freudianas, que permita, na
Ora, como tratar esta negação presentificação da psicanálise no mundo,
sistemática, própria da estrutura do sentido, manter aberta a fenda, o furo, o estilo
do significante, da neurose, que promove o cortante da psicanálise. Parece-me que a
efeito de cola nas instituições, constituindo Escola se presentifica pelo efeito de corte
igrejas? Poderia o dispositivo do passe que seu estilo pode transmitir.
barrar isso? A questão que me parece
Se apostamos no passe como um fundamental colocarmos hoje é: estamos
dispositivo de transmissão do que fez um fazendo Escola?
analista autorizar-se, podemos encontrar aí
um princípio de dissolução que barre a
constituição de igrejas? Se acompanhamos
a advertência em relação à via do sentido –
sempre religioso- poderíamos esperar do
Passe, a cada testemunho, uma reinvenção
do intransmissível da psicanálise, tal como
Lacan articula em 79? Dessa forma, cada
saída encontrada colocaria em questão um
sentido unívoco, ao mesmo tempo que
permitiria dar um testemunho do que seria preciso
para colocar o analista no passo de sua função168.
Foi por isso que Lacan perseverou em seu
caminho de matemas, como diz em 1980.
Assim, a proposta de Escola inclui a
Transmissão como mais um elemento na
formação dos analistas hoje. Transmissão
esta que se verifica a posteriori, tal como a
função do mais-um em um cartel; tal como
o discurso analítico que propicia os giros.
O que se obtêm são efeitos de Escola.
Ora, neste sentido, me parece que
este efeito articula o que Lacan procurou
deenvolver com sua proposta de ponto de
junção na proposição. A Escola seria a
causa de se fazer esta junção: do particular
ao universal. Neste sentido que, para fazer
a psicanálise durar, preocupação desde
Freud, me parece que não só análise, a
teoria e a supervisão seriam necessárias,
mas algo mais. Não apenas um lugar onde
isto possa ocorrer – como Freud propôs-
mas um laço a mais, uma quarta enodação
que tenha uma função de sustentar um
169No Houaiss, o verbete nominação refere-se à “figura de retórica que consiste
167 Lacan, J. Proposição de 9 de outubro, p. 249 em denominar algo que não tenha nome
168Lacan, J. Carta de Dissolução, p. 320.
Dos testimonios
olvidar que
E denomina um sofisma
para discutir
insuficiência da lógica
clássica na resolução de
problemas
envolvam a dimensão
temporal. A dificuldade residiria segundo
a
que
relações com o mundo são representadas.
No entanto, é talvez na pintura que essas
modificações se mostram
contundentes. As figuras “chapadas” e
mais
170LACAN, J. O Tempo Lógico e a asserção da certeza antecipada. In: Escritos. 171 ARGAN, G.C. Clássico e anticlássico: o Renascimento de Brunelleschi a
Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1998, p.202. Bruegel. São Paulo, Companhia das Letras, 1999.
rancis Bacon foi capaz de ano, em “Uma nota sobre o bloco mágico”
formalizar a sensação de que apresenta a sua teoria sobre o tempo:
para a consecução desta tarefa, Bacon se que possibilita que a figura passeie.pelos
refere a “ordens de sensações”, “níveis vários planos. Bacon aceita o desafio de
sensitivos”, “domínios sensíveis”, desfigurar a figura, principalmente cabeças
“seqüências moventes”. Um quadro seria e corpos, para, desfigurando-a, figurá-la de
uma “seqüência movente” d sensações que forma a romper com o que seria
são ou estão em diversos níveis. considerado como identidade do objeto
A formalização da sua pintura dá-se pintado.TELA CABEÇA. A figura é
sempre através de uma. Mesma distorcida, contorcida num movimento de
organização topológica de seus elementos vai e vem em que passa de uma ordem para
ou planos, constitutivos da figura, em que outra, ou provoca a sua contração. Os
entram em conexão (ou “contração”): a corpos se alongam querendo fugir, ou se
própria “figura”, a “grande superfície diluir, ou estão saindo de uma convulsão
plana” e a “área redonda”. Trata-se sempre interna? TELA CORPOS A Grande área
de uma figuração desfigurada pela variação também se movimenta, numa fuga ou
e deformação destes planos topológico, aproximação da figura. Seus múltiplos
sobretudo das cabeças e corpos, que tem planos desterritorializam as figuras,
como efeito a emergência de ressonâncias desmaterializam os corpos, já que as
internas como ritmo e movimento e tempo. sensações que promovem vêm de
Nos quadros de Bacon, não se trata de percepções que, porque nunca estão
passar do espacial ao temporal, mas de acabadas, sempre nos ultrapassam. Estes
realizá-los a um só tempo. TELA 2 mesmos processos de imantação e
A destituição dos processos ressonâncias mútuas ocorre nos trípticos.
intelectuais visada por Bacon, porque TRÌPTICO As imagens de Bacon são
necessária à criação, se dá pela valorização lugar de movimento, tempo, espaço de
da sensação e também do acaso na criação: múltiplos devires que impedem
“Pode-se, - diz ele - de um jeito muito estabilidades e identidades perceptivas.
parecido com a pintura abstrata, fazer Em 64, Lacan.ensaia representar
marcas involuntárias sobre a tela, que topologicamente a relação tempo-espaço
sugerem outros caminhos muito mais com a garrafa de Klein. Desde então se
penetrantes para apreender o fato que você pergunta: “como definir aquilo que em um
persegue”: conjunto de dimensões faz de uma só vez
Um dos quadros que pintei em 1946, aquele que superfície e tempo?” Em 1973, no. Sem.
parece um açougue, surgiu diante de mim por 21, afirma: “O espaço implica o tempo e o
acaso. Eu estava tentando fazer um pássaro
pousando num campo [...] de repente as linhas que tempo não é nada mais que uma sucessão
eu tinha desenhado sugeriram uma coisa muito de instantes de contração. O tempo é talvez
diferente, e desta sugestão brotou o quadro. [...] a eternidade do espaço”. (Lição de
TELA PÀSSARO 11.12.1973).
Na pintura de Bacon, o que conta é
a proximidade absoluta dos elementos, que
faz com que possam se imantar,
organizando um regime de forças sensíveis
Laura Salinas
crimen que va a perpetrarse. Una frase la escucha. Necesita para ello un segundo
representa como sujeto incapaz de momento donde el decir se transforme en
responsabilizarse subjetivamente en tanto dicho, en texto.
deslocalizado en el tiempo de la repetición: El cine de Hitchcock por ejemplo,
despeinada, desencajada; visiblemente constituye en sí mismo un género por el
golpeada y lastimada y con un modo de comprometer la identificación del
destornillador en la mano, reflexiona ante espectador en el desarrollo de la trama, con
un interlocutor que la escucha en silencio: un uso del montaje que pone nítida la
“Un día supuse que al despertar descubriría disyunción entre la visión y la mirada. Si
qué diablos sucedió ayer” Lynch propone bien este uso del montaje está presente
que es necesaria una presencia, un todo el tiempo en Imperio, el dato no puede
semblante, para que esta pregunta del ser completado por el espectador como en
sujeto pueda desplegarse? el film hitchcockiano donde el espectador
“No sé qué hago acá”. “No fue fácil es un Yo que sabe y ocupa un lugar similar
encontrar el lugar, eh?” “Vine porque me al del detective. Aquí Lynch se dirige a un
dijeron que podría ayudarme” Frases Yo que debe ser puesto en suspenso para
conocidas para un analista y que son poder escuchar, para que el saber puesto en
aquellas con las que esta Nikki se anuncia al juego, advenga.
llegar hasta este interlocutor: ¿Alude Lynch Ver Imperio resulta una vivencia de
a la figura de un analista? Si lo fuera, parece una belleza insoportable, ya que es un
difuminarse en la imagen de un gordo que tránsito regido por la fragmentación de los
soporta semblantes de idiota, de detective episodios, las situaciones desconectadas y la
privado y de alcahuete del amo. reiteración de estribillos. Ver el film por
Podría arriesgarse una hipótesis más segunda o tercera vez deja ver que la
sobre el film de Lynch. En ‘Imperio’ se aparente desconexión cobra otra lógica y
despliega una invitación a la experiencia del surge un guión imposible de situar en un
tiempo simultáneamente en dos planos: en primer intento.
el del enunciado y en el de la enunciación. Como en el axioma del fantasma
Lo descripto hasta aquí podría inconciente, hay una trama que permanece
demarcar la experiencia del tiempo en el por la que se deslizan personajes
plano del enunciado, es decir aquello que superpuestos y tiempos fragmentarios.
ocurriéndole a los personajes es un mensaje Llamativamente un mismo personaje –
a transmitir. como el del esposo- puede ocupar lugares
Pero hay una apuesta de Lynch que distintos en el relato. Habitualmente en un
supone un acto: el hacer que la experiencia relato el personaje funciona como un
del tiempo se realice ya no en el personaje operador estable que realiza ciertas
sino en el espectador mismo. funciones en la narrativa de la historia. A lo
El film parece constituir un nuevo sumo, la función puede ser cambiar de
género de cine en el que el montaje179 personalidad, de edad, metamorfosear en
obliga a salir del cine para estar en el cine. otro simultáneamente, pero manteniendo
No en el sentido de los muchos que deben una relación con los acontecimientos que
abandonar la sala por la sensación de experimentan los otros personajes de la
molestia o fraude que les produce el film, trama. Aquí no. Lynch hace que en las dos
sino en el sentido de que es un cine que se historias, la de la mafia polaca de los años
30 y la de la mafia del nuevo milenio, los
179 Montaje: en cine el montaje se define como la manipulación que
personajes roten como en el
el director realiza con lo real para crear un espacio cinematográfico realizarde lo desplazamiento del sueño. Mezclando sus
con características, pasando la función de un
inconsciente: “a transferência é uma relação corte não garante que este tenha efeito de
essencialmente ligada ao tempo e a seu ato. E esse ato pode ser considerado
manejo”, afirma Lacan em Posição do também um ato político? Deixo essas
Inconsciente (1960/1998). A variabilidade questões para nosso debate.
do tempo da sessão está assim associada ao
manejo transferencial. OBRAS CITADAS
BOBBIO, N. (2000). Teoria Geral da Política - a
Mas fica ainda a questão sobre o filosofia política e a lição dos clássicos. Rio de
estatuto do poder na clínica psicanalítica. É Janeiro: Elsevier.
evidente que ele não deve ser exercido de DIDIER-WEIL, Alain; Weiss, Emil; Gravas,
forma arbitrária, despótica ou sugestiva, Florence;. (2007). Entrevista com Christian Simatos.
mas fundamentado na ética do desejo. In: A. Didier-Weil, E. Weiss, & F. Gravas, Quartier
Lacan. Rio de Janeiro: Cia de Freud.
Contudo, mesmo aí não há também um LACAN, J. (1958/1998). A direção do tratamento e
uso de poder? Embora não saiba no início os princípios de seu poder. In: J. Lacan, Escritos.
da sessão quanto tempo esta durará, é o Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.
psicanalista que em ato realiza o corte, seja LACAN, J. (1959-1960/1997). O Seminário, livro 7:
isso do agrado do analisando ou não. Mas a ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Ed.
ele só o faz com base naquilo que foi dito LACAN, J. (1960/1998). Posição do Inconsciente.
ou enunciado pelo sujeito. Que tipo de In: J. Lacan, Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
poder é esse, então, ligado à temporalidade Ed.
do inconsciente? Qual a potência desse
poder? Pois o fato do psicanalista operar o
analista colocarem o final como um ideal, a Mas, com isso, lamentavelmente perde-se o
resposta será a mesma. Se não houver novo.
abandono da obra ou da análise - que serão Esse mecanismo também acontece
considerados inacabados -, chegará o na leitura: adquirimos o vício de não ler ou
momento de concluir. não ler direito. Buscamos, no que lemos e
Nas artes, o momento de uma no que escutamos, aquilo que tem relação
exposição ou publicação precipita a com as nossas verdades. Inventamos, para
produção, mesmo que haja procrastinação nós mesmos, boa parte do fato. Somos
durante todo o processo. Assim foi com todos inventores. Mas vemos e ouvimos o
Leonardo da Vinci, assim é com muitos geral segundo as nossas verdades e
escritores, pintores e escultores que perdemos o detalhe. Isso também pode
trabalham com datas marcadas para a ocorrer em algumas análises, quando não
entrega da obra. Na psicanálise, a pressa entende-se a linguagem como causa do
também é necessária para a conclusão. inconsciente.
Entretanto, não se pode fixar uma data para Na psicanálise, temos familiaridade
a “finalização do produto”, pois não há com os chistes, que são importantes por
produto final, e uma antecipação desse terem a característica de uma escuta que
tempo pode deixar o sujeito prisioneiro na capta o detalhe. Eles despertam prazer nos
sua própria repetição. ouvintes pelo seu jogo com as palavras e por
A duração de um processo estarem ligados a fontes reprimidas ou a
psicanalítico precisa ser indefinida, pois não hostilidades. Através da técnica de
podemos prever o tempo necessário para condensação acompanhada de um
compreender e o tempo que levará o substituto, do nonsense ou o duplo sentido
alargamento das tramas discursivas, a das palavras, nós nos vingamos do nosso
(de)formação ou a destituição subjetiva. Mas inimigo ao trazemos o outro, um terceiro,
é preciso verificar o que encontramos no para rir do nosso lado. Naturalmente,
percurso ou ao final de uma análise, após alteramos a estrutura discursiva – é como
decorrido um tempo: a transformação do abrir lugar para a emergência de algo
mesmo ou a emergência do novo? diferente, algo novo.
Analisaremos o que as artes, particularmente Dar tempo para a coisa aparecer,
na literatura e na música, podem nos ensinar deixar a coisa ser, sem pensar em nada, sem
a esse respeito. emitir parecer ou julgamento, deixar a coisa
se mostrar, é a orientação nesses campos: o deixar os sons serem eles mesmos, como
da linguagem, o da arte e o da psicanálise - nos aponta Cage na conjugação da sua
talvez particularmente no passe. Entretanto, “gramática da desafecção”. Gramática que
nem sempre se consegue isso – um podemos aproximar do analista como
momento difícil de capturar, difícil de se alguém “não afetado” pelas paixões ou
apresentar e de passar. ignorância.
Deixar as imagens irem e virem, sem O movimento de dialética que uma
julgar a priori – sentir o mundo sem tentar psicanálise instaura “não determina somente
explicá-lo, mesmo que num segundo o sujeito, à sua revelia (...), mas o constitui
momento possamos rotulá-lo - o que é numa ordem que só pode ser excêntrica em
inevitável. Criar o silêncio, um espaço, um relação a qualquer realização da consciência
momento, entre esses dois tempos, para ter de si”. Os analistas, que fazem parte desse
o aparecimento das coisas como movimento - e para quem se dirige a fala -,
recompensa – estrutura de linguagem que devem aprender a “agir com a linguagem
possibilita a aparição do sujeito do como se faz com o som: seguir a velocidade
inconsciente entre dois significantes. dela para romper o seu muro” , muro que
A música de John Cage nos ensina a lhe é próprio, e passar esse modo de
fazer isso na sua forma dadaísta de compor. funcionamento ao analisando, transmitindo-
Cage impõe, na sua obra, o uso deliberado lhe, com isso, a psicanálise .
do acaso, ‘da indeterminação e da A rapidez é exigida para antecipar-se
indistinção entre som estruturado e ruídos às defesas do sujeito, às crenças a que esse
vindos da vida ordinária. Ele “[...] leva às sujeito se apega na civilização e constituem
últimas conseqüências seu projeto de crítica uma variedade de delírio. É preciso seguir a
à racionalidade da música ocidental” . velocidade própria da linguagem para que
Racionalidade que, ao contrário, tem uma possa emergir o desejo, captado pela
ansiedade enorme de dizer, comentar, brincadeira do Fort-Da, mas que o sujeito
murmurar, remedar, expressar-se, buscar faz abolir, desaparecer cem vezes para poder
sentido – expressa nas estruturas dos vê-lo aparecer novamente, nas repetições
romances, nas grandes sinfonias, nas falas que voltam para ser elaboradas.
dos analisandos. Para adquirir essa prática, convém não nos
“Todos querem através da palavra, e enganarmos com regras, modas e proibições
não do silêncio, provar que estão vivos”, e presentes em todos os lados, principalmente
perdem a oportunidade de permitir que se nas instituições. Esse é um risco que sempre
instale um espaço para outras vozes corremos.
irromperem. Um horror a vacui, expressão Lacan sugere que os analistas abram
utilizada na era do Renascimento, quando os os ouvidos para as canções populares e para
pintores não deixavam um pedaço de sua os maravilhosos diálogos de rua. Essa
tela sem cor, por menor que fosse o espaço, sugestão aponta para um aspecto que nunca
e os compositores criavam priorizando o engana: que toda sabedoria é um gaio saber,
sentido e os afetos – pensando em termos desde que o homem começou a enfrentar o
de progressão, expectativa e resolução. seu destino, como ele diz.
Mas é no vazio que as coisas Uma linguagem que subverte, canta,
acontecem. ( ). O que pretendemos com instrui e ri, um gaio saber. Alimentam-se
esse trabalho é investigar a capacidade de dessa tradição, para citar alguns: Joyce,
criação de um significante novo no percurso Machado de Assis, Rabelais, esse último,
ou no final de análise, ou seja, de um novo representante da sátira menipéia , gênero
saber que colocamos nesse vazio, da nossa literário que destaco neste trabalho porque
capacidade de depor nosso julgamento e consiste em produzir um tipo
droga es tan vieja como el hombre y lo ha un efecto, a un cambio de estado que tiene
acompañado tanto en la producción de que ver con la capacidad que tiene el yo
mitos colectivos, como en ceremonias para lograrlo. Lo problemático no es el
sagradas de diversas creencias y religiones. efecto, sino el camino para lograrlo - en el
La adicción, en cambio, ha ido apareciendo caso de las drogas- que saltea ni mas ni
ligada a pruebas médicas para la analgesia y menos que el circuito del tiempo del deseo
luego a la industria del medicamento más que supone una espera. Entonces en la
tributaria de un discurso de la ciencia compulsión al consumo, es adicción a un
incipiente: Las drogas pasan al campo efecto, a un cambio de estado inmediato en
medico, al descubrirse los problemas el yo, mas que la clásica fijación a un
colaterales al uso de sustancias (“el síndrome objeto. Esta inmediatez supone saltear el
de abstinencia”). Es el momento donde se tiempo de comprender, que es el tiempo de
empieza a utilizar la morfina para calmar inscripción. No en vano en los tres tiempos
los dolores de los heridos de la guerra civil lógicos, Lacan sitúa un instante de ver y un
americana de fines del siglo XIX en EEUU momento de concluir pero donde ubica el
y se los llamaba “habituados”, término aun tiempo, es en el de comprender. Como
desprovisto de una connotación teológica o decia Borges paradojalmente: “Lo único que
moral. Es la época de Freud cuando el uso puede ser modificado en la vida de alguien es el
de narcóticos está asociado a una estrategia pasado” Si hay algo no inscripto, si hay una
más frente al “malestar en la cultura” o sea pulsación temporal que no termina de
un medio para un fin. En estas instancias permitir la inscripción, eso circula en un
cada adicto era una entidad singular en si presente continuo, es decir se torna menester
misma y, como dice Lacan, era un asunto historizarlo, entramarlo en un tiempo. En
de la polis, una contravención ligada a lo el análisis se establece una vía de escritura
policial. En consonancia con esta posición que hace necesario dejar que “la lengua vaya
se han ido con el tiempo construyendo delante de uno”, delante incluso del analista
representaciones que consolidarían a los como sujeto para devenir” semblante”
adictos como delincuentes desde de…
paradigmas ético-jurídicos, o como La familia de X (23 años), joven
enfermos desde paradigmas medico- toxicómano de larga data, tras largas e
sanitarios. Luego, aparece un tercer infructuosas internaciones en distintas
momento, hacia fines del siglo pasado instituciones por diferentes practicas de
vigente en los últimos años, en que el riesgo, consulta por un dispositivo
consumo se transforma en un fin en si ambulatorio mas personalizado en una
mismo, algo generalizado y producto de la institución especializada con un marco
globalización. En otras culturas las drogas psicoanalítico de abordaje. Una de las
eran sagradas, el grupo participaba de los practicas adictivas se recorta con fijeza a lo
consumos, el lazo social ordenaba los largo de los últimos 5 años: el consumo de
intercambios y no se transformaban estas cocaína, fumada tras cocinarla (crack), solo,
practicas en una satisfacción en si misma, encerrado en su habitación. Negado a
es decir no se cerraba el circuito pulsional cualquier experiencia terapéutica individual,
y esto no generaba toxicomanía. acepta solo entrevistas con su familia con
Voy a hacer un rodeo y diferenciar quien vive. Se logra situar el origen de ese
dependencia de nudo adictivo. Todo consumo, tras la muerte de su abuela
fenómeno de dependencia es un proceso materna “cocinera”, cuando pasa
objetal, que puede tener diferentes formas casualmente “a acampar” en la habitación
(televisión, sexo, psicoanálisis, velocidad, donde ella muere, a causa de un cáncer
juego, etc.) El nudo adictivo es la adicción a terminal que la postra. Los psicofármacos
que “ella deja por azar” escondidos antes de este psicoanálisis el ofrecimiento consistió
fallecer le sirven de puntapié al inicio de un en posibilitar que pueda ni más ni menos
consumo que rápidamente se desliza a la que volver a decidir acerca de su goce, con
“fetichización del ritual”182, lectura retroactiva otro tipo de libertad, después de estar
mediante. Hicieron falta diferentes advertido sobre las condiciones en que
prácticas (acompañamientos terapéuticos, “eso” gozaba. En ese sentido, este
encuentros grupales, etc) para que algo de dispositivo personalizado de tratamiento,
la historización y de la subjetivación funcionó como preliminar a la entrada en
adviniese. Le costó separarse de este análisis, entendido como tiempo de
consumo fatídico, recurso identificatorio de implicación subjetiva de un goce que
goce propicio también para sus allegados, devino deseo, no sin su perdida pertinente.
negados por supuesto a emprender Nadie puede gestionar el goce
cualquier trabajo de duelo, taponando con intrínseco al cambio de estado sin un
este sujeto ” elegido” , identificación al espacio para la angustia como indicador
muerto mediante, la existencia de aquella temporal fundamental. De gobernarla y
para quien “supo ser su falta”183. Una educarla se ocupan las psicoterapias y los
pesadilla que se repite: “compro cocaína de dispositivos que, creyendo en la voluntad,
mala calidad, al cocinarla se estropea y no puedo obedecen a formas de control social que
fumarla” y su trabajo de elaboración inicio propician la dilución de las singularidades
un derrotero analítico que permitió que la en pro de la masa. El tiempo del
compulsión ingresara en el desfiladero de psicoanálisis, con su intervalo entre el
las formaciones del inconciente. Se impulso y la acción, por un lado y el
despierta cada vez angustiado ante esta manejo de la transferencia (entre azar y
repetición onírica, pero no recurre al cálculo) como “intromisión -inmixion- del
consumo - no sin un acto de por medio- tiempo de saber” por el otro, hacen
mudarse con su pareja y la apuesta objeción al presente continuo del “no
sublimatoria de comenzar estudios de Chef. pienso”. Su principal misión: vectorizar el
Esto determina la caída perdurable y goce de una eternidad con prescindencia
absoluta de una adicción, que ya instalado del tiempo del Otro hacia la
en su análisis, el definirá como “de otro intemporalidad de la repetición del goce
tiempo, de otra vida” ¿La vida de quien?...” De fálico del síntoma con un analista,
allí las más o menos bruscas apariciones, en advertido de la finitud en su acto. Dando
el curso del análisis, no tanto del el rodeo exigido por su sumisión al
sentimiento del tiempo, como de la tiempo del sujeto, tiempo propio que
repentina conciencia de su existencia determina la incompresible duración de
(sucesión de instantes de tiron?) a veces, con un su recorrido. Que esta no pueda ser
tinte de angustia. Es preciso, entonces, anticipada no quiere decir que el analista
distinguir este sentimiento, que sin duda la ignore. A condición de que consiga
vuelve presente al tiempo, de los aprehender la estructura lógica en la cual
momentos de realización del tiempo, cuyo él mismo se encuentra. Es decir, a
efecto de deseo es evidente. Quizás para condición de situar los instantes de ver,
de respetar los tiempos para comprender
182“Cualquier ritual tiene ese doble matiz: ayuda a elaborar una perdida, pero al y de reconocer los momentos de concluir
mismo tiempo el recusarla… suerte de fetichización… permite seguir con la que no advienen sin él
vida… perdida a medias” Hechizos del tiempo de O. Lamorgia
.
183 “No estamos de duelo, sino de ´alguien´ de quien podemos decirnos: yo era
su falta…No sabemos que llevamos (por nuestro camino) esa ´ funcion´, a saber
: la de estar en el lugar de su falta” J. Lacan , Seminario X, la angustia. Clase del
30/1/ 63 (fragmentos)
D Psicanálise, o corpo,
sobretudo na diversidade
de formas dos sintomas
histéricos, se apresentou
como um desafio clínico
fundador (Cukiert,M.,
2000). A histeria permanece como doença
forma seus ícones, os transtornos do corpo
também se manifestam nos distúrbios
alimentares e na recorrência compulsiva a
dietas, cirurgias, ginásticas e tratamentos
estéticos. Evidente que alguns desses
sintomas são histéricos e outros não,
fazendo-se necessário uma escuta que
princeps que possibilitou a própria considere a especificidade da estrutura
construção da clínica psicanalítica. presente em cada caso.
Freud, buscando formular respostas para O corpo hoje é hiperinvestido, estandarte
manifestações histéricas que não conseguiam de um ideal de perfeição que a retórica da
ser explicados pela lógica médica, criou um beleza e da estética não cansa de preconizar.
novo método de tratamento e implicou o Mas para além das promessas de felicidade e
sujeito em suas queixas e sintomas. completude da mídia, na clínica ele é referido
Com uma etiologia que envolveu como fonte de frustração, insatisfação e
inicialmente elementos traumáticos e em sofrimento.
seguida colocou em cena um jogo defensivo Em contextos familiares, sociais e culturais
entre o conflito psíquico, o recalque dos distintos, na contemporaneidade, expressões
afetos e uma solução de compromisso, ainda sintomáticas diversas convivem lado a lado.
hoje o termo conversão permanece como Na mesma época em que é possível “ver-se
referência no campo psicanalítico para uma jovem definhar, seu corpo inteiramente
explicar o que está em jogo na histeria. reduzido na anorexia, (...), sob o império da
Lembremos ainda que na histeria freudiana cultura light que toma o estar em forma
há um recalcamento paradigmático das idéias como imperativo máximo do ideal de saúde e
de caráter sexual e por extensão, da beleza” (Alonso, 2000, p.82); outras moças
genitalidade. perdem os sentidos em vez de revelar sua
Do ponto de vista da Psicanálise, a gravidez indesejada, em famílias nas quais a
conversão continua em plena cena. Em suas virgindade permanece como valor
apresentações mais familiares ou nas mais fundamental do feminino. Em suas novas e
pós-modernas, os fenômenos conversivos velhas formas, plástica, mutável e histórica, a
aparecem nas novas síndromes (pânico), nas histeria não pode ser pensada fora de seu
dores generalizadas (fibromialgias), tremores, contexto histórico e cultural.
na ansiedade maciça, desmaios, em Ainda hoje a histeria suscita no meio
pseudocrises e nas diversas formas de médico e nos pacientes alguma recusa. Ao
somatização que tomam conta do corpo. mesmo tempo, sub-diagnósticos implicam
Acompanhando as transformações em cirurgias e medicações desnecessárias
econômicas e sociais contemporâneas, e sob (Cukiert-Csillag, M. 2006). Nos consultórios
A linguagem e na cultura,
‘cobra o preço’
cisão/alienação originárias,
que se redobram a cada vez
que ele fala. A entrada do
sujeito em todo e qualquer
laço social sempre implica essa alienação
da
impotência.
O objetivo deste trabalho é ressaltar
a existência de um adicional de alienação
específico do laço social implicado pelo
capitalismo, que está para além da alienação
estrutural anteriormente mencionada; e que
responde por uma aceleração exponencial
originária e constitutiva, que é da ordem da da referida ‘inércia totalitária’, nessa forma
estrutura e não da contingência: histórica de sociedade. Consiste, portanto,
poderíamos dizê-la ‘trans-histórica’. Na em uma tentativa de contribuir para a
esperança de assim estar servindo a uma crítica do capitalismo, a partir da
instância absoluta e sem falhas, potente consideração da questão do sujeito: ou seja,
para lhe assegurar escapar aos sofrimentos oferecer uma contribuição da Psicanálise
ordinários da vida humana, os sujeitos para a interlocução com o pensamento e as
inventam um Outro/Pai Absoluto que lhes teorias sobre a sociedade.
permita sustentar o ideal impossível de um Em um de seus textos, Lacan diz
gozo absoluto e ilimitado; mas que, ao que a “integração vertical extremamente
mesmo tempo, os proteja contra essa complexa e elevada da colaboração social”
mesma possibilidade de gozo. Iludidos de exigida pelo sistema de produção capitalista
que estão juntos na mesma fantasia, e de conduz a um “plano de assimilação cada
que se remetem a um único e mesmo vez mais horizontal” dos ideais, no qual (...)
Outro absoluto e sem falhas, os sujeitos os indivíduos descobrem-se tendendo para
com estrutura neurótica entregam-se como um estado em que pensam, sentem, fazem
instrumentos desse saber. E isto está na e amam exatamente as mesmas coisas nas
origem de inúmeras tragédias sociais: os mesmas horas, em porções do espaço
totalitarismos de direita ou esquerda, os estritamente equivalentes. Meu propósito é
fundamentalismos religiosos, os genocídios explorar este aspecto do laço social
e massacres racistas ou xenófobos e assim capitalista, esmiuçando as bases sobre as
por diante. quais ele se assenta.
Disparado esse processo, ele Entendo que uma crítica do
prossegue na direção de uma alienação total capitalismo, que não se pretenda
do sujeito, em um movimento de fundamentada em um ponto de vista
progressiva redução da participação de sua meramente ’moral’, não pode alegar uma
singularidade, nas ações em sociedade. pretensa ‘desumanização’ do sujeito pelo
Aqui vou me referir a isto como a ‘inércia atrelamento do seu desejo à posse de
totalitária’ do laço social. O Outro não mercadorias. Kojève nos lembra que o
existe, mas, mesmo assim, o sujeito deve desejo propriamente humano,
‘antropogênico’, não busca um objeto real membros do corpo social. Acredito que se
‘positivo’, mas sim o desejo de um outro possa relacionar isto à observação de
ser humano. O desejo por um objeto só é Lacan, de que o capitalismo talvez tenha
‘humano’, se for mediatizado pelo desejo produzido um ponto crítico de ruptura, ao
de um outro ser humano pelo mesmo articular o sujeito ao ‘objeto causa do
objeto. E, no que diz respeito a isto, desejo’. Aliás, Marx propôs que a passagem
ninguém poderia acusar o capitalismo de à forma-valor-geral constituiu um salto
‘desumanizar’ o sujeito. A criação da qualitativo, pois se dissolveu na totalidade
‘forma-valor’, analisada por Marx em “O social a antiga relação em que o valor-de-
Capital”, possibilita a padronização e uso ainda predominava sobre o valor-de-
universalização dos procedimentos de troca.
medida do valor das mercadorias, por meio Proponho que a saída de um
do ‘valor-de-troca’. E isto viabiliza uma mundo de valores-de-uso, para um mundo
amplificação inusitada da referida de valores-de-troca, apresenta uma
mediação, pela articulação do desejo dos homologia com o processo de
distintos sujeitos aos objetos-mercadorias. compartilhamento significante, que é
Aqui é possível estabelecer-se uma seguinte possibilitado pela instituição de uma língua.
articulação relevante (poder-se-ia dizer Uma língua cria as ‘amarrações’ de
homologia?) entre ‘função paterna’ e o significações operadas pelos signos,
processo de instituição social do ‘valor-de- viabilizando a comunicação e a cultura
troca’: a) Ainda que o significado do humana (respeitada, é óbvio, a prevalência
Desejo da Mãe seja um enigma para o do significante no que diz respeito à
sujeito, o Nome-do-Pai permite emergência do sujeito do inconsciente). E
‘significantizá-lo’, criando a significação algo como um ‘valor-desejo’ pelos objetos
fálica e possibilitando a circulação do falo; pode ser significantizado pelo equivalente-
b) Ainda que o significado último do valor geral, em processo que guarda relação de
do objeto seja um enigma para o sujeito, o homologia com aquele pelo qual o ‘Desejo
‘equivalente-geral’ (e sua forma mais bem da Mãe’ pode ser significantizado pelo
acabada, o dinheiro) permite ‘significantizá- ‘Nome-do-Pai’. Portanto, não me parece
lo, criando o valor-de-troca e possibilitando absurdo chamar a atenção para uma
a circulação de mercadorias. conexão entre: a) A função do Nome-do-
Os desejos por objetos também são Pai, que, ao ser incluída no lugar do Outro,
mediatizados pelos desejos de outrem, em funciona como ponto-de-basta e possibilita
culturas não capitalistas, como é o caso do que o sujeito confira significação aos seus
valor de um bom arco, entre os índios de significantes; b) E o que seria uma ‘função
uma tribo. Até mesmo o que relaciona os equivalente-geral’, que, ao ser estabelecida
seres humanos ao seu alimento é desejo no seio da sociedade, introduz algum tipo
humano, na medida em que, já se disse, de homogeneização/ padronização da
comemos signos. Lévi-Strauss não mostrou relação dos sujeitos com os objetos do
algo desta ordem, em “O cru e o cozido”? mundo, por meio da criação de algo da
Porém, por meio do valor-de-troca, a natureza de um ‘valor-desejo’.
cultura capitalista criou um poderoso e A linguagem possibilita um certo
inédito instrumento de articulação, fixação compartilhamento parcial dos objetos do
e padronização da ‘desejabilidade’ pelos mundo e uma certa unificação das ações a
objetos do mundo: talvez pudéssemos nos eles dirigidas, mas com uma ‘perda’ –
referir a isto como a registrada pela extração do ‘objeto a’, em
fixação/padronização/homogeneização do função daquilo a que o simbólico não pode
‘valor-desejo’ de um objeto, para todos os dar conta –, produzida pela equivocidade
positiva de relações sociais, ao passo que, será espaço, mas tempo. Manter-se na
em Freud, o fetiche oculta a falta existência significará, pois, para esse Eu:
(‘castração’) em torno da qual se articula a “não ser o que ele é (Ser estático e dado,
rede simbólica. Esquivar-se de se submeter Ser natural, caráter inato) e ser (isto é,
a qualquer totalização positiva, sustentando devir) o que ele não é.” Esse Eu será assim
o próprio desejo como norte, e assumindo sua própria obra: ele será (no futuro) o que
as contradições e conflitos inerentes ao ele se tornou pela negação (no presente) do
laço social, talvez seja este o único modo que ele foi (no passado), sendo essa
pelo qual o ser humano possa retomar o negação efetuada em vista do que ele se
progresso na História, na condição que é tornará.
própria do seu ‘ser’. Termino citando
Kojéve (...) o próprio Ser desse Eu será
devir, e a forma universal desse Ser não
de la masa. Esta difícil tarea implicaría la ley penal positiva en el nivel de la ley
posicionar el discurso analítico en todos simbólica del sujeto. De esta manera y
aquellos niveles políticos en que se trate de entre otras fórmulas, las estrategias de
contrarrestar el imperativo al goce control social y los programas de
inherente al superyó de la cultura rehabilitación de delincuentes ganarían en
contemporánea. Para ello se necesitan eficacia. En fin, a propósito de la guerra en
estrategias adecuadas y psicoanalistas un mundo donde ni el padre ni la ONU
decididos a dejar la comodidad de la cumplen eficazmente su rol agregativo y
consulta privada y crear activamente la resurgen viejos discursos que el secularismo
demanda con la oferta en el seno del moderno ya había borrado, lo menos que
espacio público, tal cual lo hiciera Freud a un psicoanalista puede exhibir es una
propósito de la difusión de la peste. actitud crítica frente a fórmulas
Entendiendo que el discurso analítico apologéticas como aquella de David Frum,
opera como regulador de goce, creo tan bien denunciada por Norman Mailer, y
deseable y pertinente, por ejemplo, su que identifica a la Ex Mesopotamia con “el
inclusión en programas públicos de eje del mal”. En efecto, muy lejos de los
prevención orientados a estimular la discursos moralistas de legitimación de la
responsabilidad del sujeto y de las guerra inspirados en la lucha medieval del
instituciones del Imperio. Crear un espacio bien contra el mal, al fundar las relaciones
para la palabra allí donde actualmente entre la cultura y la guerra sobre una
domina el goce, es decir en los ámbitos del metapsicología, Freud sitúa de entrada el
comportamiento sexual, del consumo, y de jus ad bellum más allá del bien y del mal.
la delincuencia, contribuiría a reposicionar
el deseo, a emancipar al sujeto de las leyes
del mercado y a favorecer la resonancia de
O tempo e a depressão
Maria Rita Kehl
que a teoria freudiana freudianas depois de percorrer a cultura
sobre a melancolia pode ocidental, desde Aristóteles, carregada de
O ensinar ao psicanalista
sobre a clínica das
depressões? Muito pouco,
quase nada. No entanto,
nos debates de que tenho
participado recentemente
em torno desse tema, assim como em
signos de sensibilidade, originalidade,
nobreza de espírito e outras qualidades que
caracterizam o gênio criador. Tais
qualidades da alma humana não se
encontram entre as observações de Freud a
respeito dos sintomas melancólicos.
A teoria freudiana da melancolia promoveu
textos de diversos autores sobre o mesmo duas rupturas simultâneas: no plano clínico,
assunto, não é incomum encontrar certa seu texto de 1915 trouxe a melancolia do
confusão entre as características dos campo da medicina psiquiátrica – em que
quadros depressivos e melancólicos, que era chamada de “psicose maníaco-
chegam a ser abordados, depressiva” – para o da clínica psicanalítica.
indiscriminadamente, como se fossem a No outro plano, o da história das idéias, o
mesma coisa. Não são. As características texto de Freud acabou de afastar
“depressivas” do melancólico – definitivamente a melancolia da longa
negativismo, falta de ânimo, falta de auto- tradição pré-moderna das representações,
estima, fantasias auto-destrutivas, predominantemente sublimes, atribuídas
distúrbios somáticos e outras tantas aos homens de caráter melancólico, desde a
manifestações de dor psíquica – podem se antiguidade grega.
parecer, empiricamente, com as dos A teoria freudiana sobre a melancolia
depressivos. Mas assim como algumas ocupou um lugar tão importante no
crises histéricas e algumas construções de pensamento clínico do início do século XX
pensamento delirantes entre os obsessivos que o conceito de depressão foi
podem ser confundidas com sintomas praticamente englobado pelo de
psicóticos, a semelhança fenomenológica melancolia, quando não confundido com
entre a tristeza e o abatimento dos ela. Nos últimos trinta anos, no entanto, o
melancólicos e dos depressivos não são crescimento a níveis epidêmicos dos
manifestações da mesma estrutura psíquica. diagnósticos de depressão impõe aos
Tal confusão talvez se deva ao fato psicanalistas uma separação teórica mais
de Freud, cujo texto “Luto e Melancolia” rigorosa entre esses dois campos clínicos. É
(1915) trouxe uma contribuição decisiva e preciso empreender novos esforços
inovadora para a compreensão da clínica da conceituais para pensar a especificidade da
melancolia, não ter dedicado nenhum texto depressão de modo a impedir que esta
ao tema das depressões. Se as noções de forma de mal estar, agravada pelas
depressão, estados depressivos, psicose condições da vida contemporânea, seja
maníaco-depressiva, ainda não terminaram inteiramente apropriada pela medicina e
de ser resgatadas do campo exclusivo da pela psicofarmacologia. A teoria da
psiquiatria para o da clínica psicanalítica, o melancolia é insuficiente para subsidiar a
termo “melancolia” aportou em terras clínica das depressões, esta forma de mal
estar que a indústria farmacêutica vem psiquismo nada mais é do que uma rede de
tentando circunscrever exclusivamente sob representações tecida sobre um fundo
seus domínios, como se o deprimido vazio. A pressa do Outro materno, o
sofresse apenas desarranjos e déficits excesso de solicitude e/ou de ansiedade de
químicos em um corpo sem sujeito. certas mães em atender rapidamente às
Do ponto de vista da psicanálise, a menores manifestações de insatisfação do
depressão resulta do empobrecimento da infans, intercepta a temporalidade psíquica,
vida psíquica, sobretudo no que se refere favorecendo a posição depressiva do
ao enfrentamento de conflitos. O abuso de sujeito no fantasma.
soluções medicamentosas acaba por ser A sociedade contemporânea vem
cúmplice deste encolhimento subjetivo. Daí produzindo – e sofrendo com isso – uma
que o avanço mercadológico dos invasão de formas imaginárias deste Outro
antidepressivos não corresponda a uma apressado, que não admite nenhum tempo
diminuição dos casos de depressão. Bem ao ocioso que não seja rapidamente
contrário: a supressão química do sujeito preenchido por ações que visam satisfação
do inconsciente só faz aumentar o mal imediata. Em função disso, o recuo do
estar. A introspecção, a tristeza, o depressivo ocupa o lugar do sintoma social.
recolhimento, a contemplação – a vida do Ao deprimir-se, ele tenta fugir do excesso
espírito, enfim – são desvios que de ofertas – que do ponto de vista do
atrapalham o rendimento de uma vida cuja sujeito em formação, são entendidas como
qualidade se mede por critérios de demandas – do Outro, para se refugiar
eficiência, competência e disponibilidade debaixo das cobertas. Este é lugar que
para o consumo e a diversão. caracteriza o recuo do depressivo em
relação à vida. Segundo alguns autores191, o
O tempo do sujeito e o tempo do Outro ninho que o depressivo faz para si mesmo
Desde 2005 venho investigando a debaixo das cobertas, onde o tempo não
questão das depressões do ponto de vista passa, funciona de maneira paradoxal.
da relação dos sujeitos com a dimensão do “Debaixo das cobertas” o depressivo
tempo, ao qual ele é introduzido através encontra tanto um esconderijo quanto um
das práticas do Outro materno. Meu lugar de gozo, de onde tenta, mas não
interesse é investigar a relação dos consegue, se proteger contra a ameaça de
depressivos com a delicada temporalidade ser engolido pelo Outro materno. Quanto
psíquica, em contraste com a velocidade da mais o depressivo recua, mais se coloca à
vida social. Se a psiquiatria explica a mercê da demanda da “bocarra de jacaré”,
lentidão depressiva como resultante de um na dramática expressão utilizada por Lacan
déficit nos neurotransmissores, do ponto de vista para se referir à mãe do infans.
da psicanálise ela resulta da posição do O tempo, como bem escreve
sujeito diante do Outro. François Julien, é “a última figura da
Na origem da posição depressiva, transcendência no seio do pensamento
encontramos um sujeito atropelado pela ocidental192”. Esta última possibilidade de
urgência do Outro. O psiquismo, em Freud, é pensar e também de experimentar a
uma instância temporal que se inaugura a transcendência, através da multiplicidade
partir da espera de satisfação. O tempo dos fenômenos temporais, vem se
que se inaugura com a espera de satisfação
da pulsão é a primeira dimensão da falta
191Ver Dominique Fingermann e Mauro Mendes Dias, Por causa do pior, São
que se apresenta ao infans, a partir da qual Paulo: Iluminuras, 2005, e Pierre Fedida, Depressão. São Paulo: Escuta, 1999.
ele haverá de dar início ao trabalho de 192 François Julien, Do “tempo”: elementos para uma filosofia do viver.(2001),
representação do objeto faltante. O p. 100. São Paulo: Discurso, 2004. Tradução de Maria das Graças de Souza.
193 Referência ao título do livro de Laplanche sobre a depressão, Ce temps qui 194 Trecho do jingle natalino da Rede Globo de televisão, desde a década de
ne passe pas. 1970.
Instalados em um tempo que lhes dimensão deste saber sobre o tempo que se
parece vazio, sob sua aparente imobilidade, encontra encoberto pela sua imobilidade
os depressivos estão mais próximos de angustiada. A indústria farmacêutica se
encontrar a temporalidade distendida da empenha em oferecer ao depressivo
contemplação e do devaneio do que os substâncias capazes de levantar seu ânimo,
neuróticos mais bem adaptados às colocá-lo em movimento, adaptá-lo ao
condições que a vida social lhes impõe. O tempo do Outro. A psicanálise, em
tempo vazio do depressivo recusa a contrapartida, lhe oferece a perspectiva de
urgência da vida contemporânea e remete a um percurso sem pressa, a partir do qual ele
um outro modo de viver o tempo, que a possa criar, ou redescobrir, suas próprias
modernidade recalcou ou pelo menos, modalidades rítmicas de jogar com a falta,
reprimiu. suas próprias brincadeiras de fort-da
O psicanalista que escuta um
depressivo deve ficar atento para a
N psíquico constituindo-se
por traços. De um lado e
do outro, separados por
intervalos
tempos,
sistema
consciência. Os primeiros traços da
de
situa-se
três
percepção-
o
marcado, o sujeito já foi falado, nomeado,
contado por um tempo anterior, que não se
recupera jamais. O 2º e 3º tempo permite
certo tratamento do real do tempo pelas
ligações,
contingentes,
traduções e
suportados
rearranjos
por
impossível a traduzir e recuperar. Esse
um
percepção constituem-se os primeiros “bom tempo” de cada dia, não opera sem
traços da memória e o 1º tempo da essa alienação fundamental e inaugural. A
constituição do sujeito, delimitando uma memória é o que se recorda e como se
relação estreita entre sujeito, tempo e recorda no tempo que passa, marcado por
memória. Podemos afirmar com Freud que essa barra à recordação; proteção do
o sujeito é também um efeito do tempo e aparelho psíquico contra o excesso de
da memória, já que esta é a primeira sofrimento, limite à sincronia e ao
apreensão do tempo. Esse tempo deslizamento significante. Com Lacan: ”O
primordial escrito por traços que não se aparecimento evanescente se faz entre dois
apagam, só pode ser traduzido pontos, o inicial e o terminal, desse tempo
parcialmente pelo 2º tempo, de ligação, e o lógico – entre um instante de ver em que
3º das representações verbais. Relendo algo é sempre elidido, se não perdido, da
essas indicações com as indicações de intuição mesma, e esse momento elusivo
Lacan em Mais Ainda, diremos que esse 1º em que, precisamente, a apreensão do
tempo, marcado pela simultaneidade, inconsciente não conclui, em que se trata
constitui-se de significantes esvaziados de sempre de uma recuperação lograda”
sentido, denominados por Lacan de letra. (Lacan,1998, pp.35,36)."Recuperação
Eles são aquilo que são, não fazem cadeia e lograda” que abre à neurose sentidos
não sofrem a erosão do tempo. É um possíveis, transitórios, contingentes diante
tempo real; tem incidência sobre o sujeito, de um tempo perdido. Se a memória é uma
não se apaga, mas não pode ser percebido função do tempo, ela o atualiza, carregando
ou apreendido. Entre o 1º e o 2º tempo, há suas falhas, buracos, interstícios
uma barra ao sentido, impondo uma falha inassimiláveis presentes na realidade
originária no tempo que percorrerá todo o psíquica; conceito que, segundo Lacan,
funcionamento da memória, traduzindo a enodaria em Freud os três tempos.
nosso ver o que Lacan nomeia de Lacan indica uma associação entre
“debilidade” do sujeito para tratar a topologia e tempo e em O Sinthoma
precoce incidência do Outro em sua propõe um enodamento entre R.S.I por um
constituição. Essa falha inaugural, marca a quarto termo, o sinthoma. Trata-se de um
primeira e fundamental vicissitude da enodamento que permite reparar a cadeia,
pois são facilmente descobertos. Na nova muitos fios sua história de amor, tempo
ordem da memorização instantânea e que não se apaga, à vida que continua.
artificial impera o corte com a história. Na Como falar na falta dos referentes?
contramão do novo, os idosos são Como pensar sem as palavras? Insiste em
convidados a esquecerem suas lembranças falar pelas lembranças, mas não todas; não
e a história, sempre fora dos tempos atuais quer se lembrar da perda, mas apenas do
e, sem espaços para os lutos- cada vez mais que vive do objeto amado. Talvez como
evasivos-, de perdas que se agudizam, Garcia Márquez e Yourcenar, pudéssemos
encontram inúmeras dificuldades para pensar que “(...) a memória dos homens
enodarem os tempos, atualizando sua assemelha os viajantes fatigados que se
memória. Esquecer e deixar cair são desfazem das bagagens inúteis a cada pausa
palavras dos novos tempos que não levam do caminho” (Yourcenar, 1983,p.17), mas
em conta o tempo particular. Esquecidos, não é possível desfazermos de tudo. “Se ao
muitos idosos adoecem, não falam, perdem menos pudesse sonhar com ele!”. Tempo
a palavra ou se agarram “ao seu tempo”. real do sonho, onde o objeto perdido pode
Por essa via, qual o tempo do Alzheimer? retornar tal como foi, sem os limites dos
De imediato poderíamos responder; é um tempos que corroem até as lembranças.
fora do tempo de uma memória que se Mesmo com afasias esse sujeito agarra-se às
apaga, mas qual memória se apaga? lembranças que lhe interessam e isto não a
Da clínica com sujeitos deixa sair do tempo. Para outros, ao
diagnosticados com Alzheimer ou com contrário, na falta do espaço para o luto, o
suspeita dessa patologia, depreendi a buraco aberto com as perdas (marcadas
existência de um ponto singular, já que inicialmente, sobretudo, no corpo, com
todo desencadeamento passa pelo sujeito, buracos substanciais sobre a consistência
que toca um rombo na relação com o imaginária) e o domínio de um real sem o
Outro e que, sem um trabalho de luto- amparo do simbólico e imaginário, impera
movimento que permite enlaçar os tempos, a demissão dos tempos com recuo ao
abrindo as vias ao desejo-, provoca o tempo primordial, real.
desenlaçamento do tempo e da vida. Sem Observa-se que no final dessa via
as emendas às suturas-, possibilitando que crucis dos tempos, vários sujeitos retornam
R.S.I mantenham-se juntos sem se ao tempo do balbucio, pequenos sons
confundirem-, no Alzheimer prevalece a conhecidos, pequenas letras tocadas como
perda gradativa da cadeia e, música, frases escutadas, traços que
consequentemente, a mistura dos tempos e marcados não morrem jamais e encontram-
uma indistinção avassaladora entre RSI. se ainda disponíveis, mas sem os recursos
Sem essas amarras o sujeito tende a se da tradução e da amarração. Se Joyce pode
agarrar a um passado conhecido, como corrigir os erros do enodamento entre RSI
medida protetora contra um real pelo sinthoma de sua escrita, dirigindo-se
devastador. Sem os meios simbólicos e diretamente ao real da linguagem,
imaginários e, portanto, sem retenção do estilhaçando-a, quebrando as palavras e
simbólico e imaginário, persiste um real do fazendo das letras uma invenção original de
tempo que desliza. Restam apenas escrita, do lado do Alzheimer permanece
fragmentos de cada registro, sem relação também um encontro com um tempo real
entre si. Um sujeito com 93 anos acentua (especialmente no final), mas sem
que depois da perda do marido começou a possibilidade de invenção, amarração ou
esquecer os nomes das coisas. Afásica para costura. Essas letras, restos metonímicos,
alguns nomes cotidianos, tenta enlaçar com resquícios da cadeia que se esgarça,
memória de um tempo primordial, talvez
1953; la
desde
aunque se publicó desde
práctica
1949,
del
psicoanálisis en su gabinete
en el 5, rue de Lille; y una actividad en el
transmisión, por un lado, trabajo analítico
en intención y en extensión, por otro lado.
Vamos a avanzar aquí algunos
temas relativos al Psicoanálisis Aplicado.
En la propuesta originaria de Lacan
no se trataba con relación a las tareas de la
Sección de Psicoanálisis Aplicado de
Hospital Saint-Anne, donde llevó adelante cuestiones de duración del tratamiento,
de modo ininterrumpido sus célebres y terapia más o menos corta, ni de
demasiado desconocidas presentaciones de valoraciones clasistas del estilo de
enfermos. psicoanálisis para algunos, psicoanálisis
Cuando fundó su primer Escuela, la para muchos según las posibilidades
Escuela Francesa de Psicoanálisis (EFP), materiales o lugares donde se desarrolla.
planteó la actividad en tres secciones, una Se trata de distintos ejes o lugares
sección de estudio de la doctrina y los de inserción de la práctica de los
textos del campo freudiano, una sección de psicoanalistas.
psicoanálisis puro y una sección que llamo Rescatar la perspectiva lacaniana
de psicoanálisis aplicado . cuando fundamentó la sección de
El paralelo y cierto equilibrio es Psicoanálisis Aplicado en su Escuela en
notorio entre los lugares en la Escuela y los 1964 nos resulta de interés clínico y ético
ejes de su experiencia como psicoanalista. en la actualidad pues con el paso de los
Un equilibro en el que sostenía las dos años la articulación original que Lacan
cuestiones que le importaban, practicar el había planteado para estos distintos ejes o
psicoanálisis y mantener abierta la pregunta prácticas de los psicoanalistas se ha ido
qué es un psicoanalista ? Consideraba que desdibujando. A falta de esa articulación
de otro modo la cuestión sería cerrada, y original se ha generado mucho ruido y los
además, desde otros discursos, con otros practicantes, incluso las instituciones
fines. pierden la posibilidad de sostener con
En esta Escuela de Psicoanálisis claridad sus fundamentos. La confusión se
que creo Lacan en 1964 había entonces generaliza. La práctica se degrada y
tres secciones. A su vez, para cada una de finalmente vienen a poner orden en el
estas secciones hay un proyecto de trabajo psicoanálisis desde otros discursos, desde la
específico y orientado desde el Universidad o desde el Estado.
psicoanálisis. Pero allí ya no importará sostener
En modo alguno se trata en estas abierta la pregunta qué es un psicoanalista ?
secciones de grados o degradaciones de la Mucho menos encontrar la respuesta en los
opción lacaniana. En todo caso, podrían análisis mismos y en aquello que de ello
Pois bem, quando num tratamento a nota 3) insiste que “é impossível definir saúde,
pressa é retirada de sua função lógica para exceto em termos metapsicológicos, isto é,
responder por sua função social imperativa por referência às relações dinâmicas entre as
(como brevidade), as justificativas da instâncias do aparelho psíquico”.
manutenção dessas opções clínicas não Assim, podemos supor que para
conseguem se distanciar dessa mesma Freud, definir saúde por meios não
fórmula. Invariavelmente, critérios objetivos metapsicológicos, isto é, por benefícios
ou objetiváveis acabam sendo chamados a objetivos ou objetiváveis, leva a psicanálise
responder em nome da eficiência. Neste caso, mais facilmente às práticas ortopédicas
maior é o grau de eficiência de um tratamento adaptativas (torna-se ajustamento segundo
quanto maior o número de benefícios critérios cotidianos). Freud escreve, no
alcançados num mesmo espaço de tempo. mesmo texto, que a psicanálise vai orientar-se
Parecem-nos inevitáveis, então, quatro pelo amansamento das pulsões, ou seja, pela
conseqüências para essas clínicas196: 1) o intervenção no campo das fantasias que
tempo como denominador comum e com sustentam a força das pulsões, e sabemos o
função imperativa nesta proporção quanto as psicoterapias breves, ao contrário,
benefícios/duração; 2) o princípio pragmático vão dar preferência ao fortalecimento do eu,
e relativista da eficiência como a “verdade trabalhando no campo das defesas.
possível” sustentada por essa proporção; 3) é A perspectiva clínica de que os
entre a brevidade (como significante-mestre) e sintomas respondem como crises provocadas
o pragmatismo (como “saber-fazer”) que tais por acidentes externos e que o tratamento
clínicas acabam, em geral, por representar sua deve levar à recuperação dos ajustamentos
eficiência; e 4) é na produção de benefícios cotidianos do eu, remete-nos ao seguinte
mensuráveis que encontram sua justificativa. trecho de Colette Soler (2004, p.48): “A
Estas são as condições nas quais situamos ênfase dada à causalidade traumática da
todos os esforços de formalização presentes neurose nos interessa muito particularmente
no campo das psicoterapias. porque faz do sintoma o resultado de um
Quanto à discussão dos benefícios, na acidente da história, de uma das contingências
condição que adquirem de critérios objetivos da vida, na qual, no fundo, o sujeito, mesmo
ou objetiváveis, precisamos voltar à Freud. com alguma nuança, é essencialmente vítima:
Na parte III do Análise terminável e interminável vítima do mau encontro mais que parte
(finita e infinta), Freud (1937/1988) discute a interessada.”
relação econômica entre força das pulsões e Via de regra, quanto mais os
força do eu, apontando o fator quantitativo psicodiagnósticos pautados pelo modelo
na etiologia da neurose. Este é um ponto médico seguem critérios anamnésicos, mais
muito citado em textos de psicoterapia breve, buscam responsabilizar a causalidade
posto que, se a força do eu diminui, a força traumática e mais “inocentam” o sujeito. Vale
das pulsões têm suas exigências aumentadas, dizer, com Soler (2004), que a medicina e as
decorrendo daí a importância dos fatores ciências naturais conhecem bem o trauma,
cotidianos e objetivos na etiologia das mas desconhecem a fantasia. A psicanálise,
neuroses ou crises e a orientação clínica em por sua vez, por conhecer bem a fantasia,
direção ao eu. Mas o próprio Freud (p.241, coloca em questão o modelo médico calcado
no trauma e toma como uma dimensão ética a
implicação do sujeito na sua neurose. Esta é
196 Aplicando os termos ao discurso do mestre, temos:
uma diferença fundamental porque nos leva a
Brevidade Pragmatismo
___________ _________________ = lógica utilitarista
leituras conflitantes da clínica: se do lado da
do consumo psicanálise, Lacan caminhou para a
Eficiência // Benefícios mensuráveis formalização do ato e da constituição do
sujeito por retroação, para as psicoterapias reduz o sujeito à sua imagem, perenizando-o
pautadas no modelo médico, os operadores nas relações dos sujeitos recíprocos ou
clínicos conduziram à via psicológica e refletidos do sofisma do tempo lógico, imerso
desenvolvimentista da regressão e à no campo da linguagem em sua acepção
compreensão do sujeito como um dado cibernética aplicada às relações imaginárias
natural. Aqui chegamos novamente às (PORGE, 1994). Estamos no muro da
diferenças clínicas entre tempo lógico e tempo linguagem, a-a’, e na codificação de zeros e
cronológico e às suas respectivas funções da uns, pela qual as máquinas se conversam e os
pressa e da brevidade. psicoterapeutas se tornam surdos ao sujeito
No final de seu escrito sobre o tempo do inconsciente.
lógico, Lacan (1945) nos diz que a pressa em Diante disso, cumpre questionarmos
autorizar-se e reconhecer-se por si mesmo, se a psicanálise que coloca o tempo como
vem em resposta ao medo de não ser imperativo clínico não ruma ao pior. É
reconhecido pelo Outro. Essa posição é preciso opor a ética do desejo ao princípio da
diferente daquela presente na dialética do eficiência, o que nos leva a sustentar o
senhor e do escravo, pela qual, por medo de momento simbólico da linguagem, isto é, a
ser morto, na urgência, o escravo cede e fala, que é estranha às máquinas e à fórmula
reconhece o senhor, oferecendo-se a ele reducionista da cibernética, e que se introduz
como objeto. Ao invés de buscar o “a partir do momento em que o sujeito [do
reconhecimento do outro (desejo de sofisma do tempo lógico] executa essa ação
reconhecimento, tendo a brevidade como pela qual afirma ‘eu sou branco’” (PORGE,
imperativo), trata-se de, também na urgência, 1994, p.77). Mas opor a ética do desejo ao
reconhecer-se por meio do ato de fala princípio da eficiência implica também, e
(reconhecimento do desejo ou a pressa como fundamentalmente, operar pela via da
função lógica). A diferença em relação às duas extração do objeto ª
urgências acima pode ser esclarecida quando
recordamos que “nada há de criado que não REFERÊNCIAS
FREUD, S. (1937). Análise terminável e interminável.
apareça na urgência, e nada na urgência que In: Obras completas de Sigmund Freud: edição
não gere sua superação na fala” (LACAN, standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1988, vol.
1953, p.242). XXIII, pg. 225-270.
As psicoterapias breves, ao pautarem- LACAN, J. (1945). O tempo lógico e a asserção da
se pelo imperativo do tempo e não pela ética certeza antecipada. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1998, p.197-213.
do desejo, conduzem a clínica à lógica do LACAN, J. (1953). Função e campo da fala e da
senhor e do escravo, pedindo que o sujeito se linguagem em psicanálise. In: Escritos. Rio de Janeiro:
ajuste ao seu lugar o mais rápido possível, Jorge Zahar, 1998, p.238-324.
tendo por preço o seu desejo. Por esta via, POCIELLO, C. Os desafios da leveza: as práticas
para o sujeito trata-se de ceder em seu desejo, corporais em mutação. In: SANT'ANNA, D.B. de
(org), Políticas do corpo. São Paulo: Estação
guiado pelo mestre e pelo alívio imediato do Liberdade, 1995, p. 115-20.
sintoma na produção de uma nova posição de PORGE, E. Psicanálise e tempo: o tempo lógico de
objeto ou na correção da posição rompida, Lacan. Rio de Janeiro: Campo Matêmico, 1994.
num campo que é o da direção do paciente e SOLER, C. Trauma e fantasia. Stylus: revista de
não do tratamento. O tempo para psicanálise. Rio de Janeiro: Associação Fóruns do
Campo Lacaniano, n.9, outubro de 2004, p.45-59.
compreender, aqui, se conclui por seu
engessamento quando um máximo de
informações num mínimo de tempo e energia
Jean-Pierre Drapier
∃x . Φx ∃x . Φx
∀x . Φx ∀x . Φx
$ S (A)
a La
Φ
la psychanalyse en place de compléter son
manque, de suppléer à l’insatisfaction
La psychiatrie du côté de la
fondamentale qui est la sienne. Dans
position phallique, de celui qui n’est pas
« Encore » (p.75) Lacan n’écrivait-il pas
sans l’avoir et la psychanalyse du côté du
que côté masculin « le sujet n’a jamais
pas-tout. La psychiatrie du côté masculin :
affaire, en tant que partenaire, qu’à l’objet
de ce côté le partenaire est un symptôme
(a) inscrit de l’autre côté de la barre », d’où
et en effet la psychiatrie met bien souvent
H que
planeta.
atravesaban
mundo hicieron signo a
una primera generación
de posguerra
distintos lugares del
en
humanidad e intentar comprender su
naturaleza.
una buena dosis de “choque y pavor” hará destrucción campeará a lo largo y ancho del
a las gentes más sugestionables. planeta.
El significante amo “guerra contra La evolución ha dotado a los
el terrorismo”, particularmente islamista ha humanos de amplios recursos para la
mostrado su poder y lo seguirá ejerciendo. supervivencia, pero limitados a los grupos
La población europea rechaza, hoy en día, reducidos y ejercidos sobre otros grupos y
un ataque a Irán. Sin embargo, un criminal especies.
atentado en suelo europeo que Durante este proceso los cambios
“demuestre” el peligro nuclear iraní y su de discurso, el cuestionamiento de los
connivencia con Al-Quds, la haría cambiar significantes amos actuales, la aparición de
de opinión. otros nuevos y la reaparición de antiguos
será una constante.
Escenarios probables y goce mortífero Sabemos que solamente la
Cualquier escenario futuro, incluido aceptación del derecho a gozar del
el mejor, resulta siniestro. usufructo de la tierra y la renuncia a su
Si la recesión económica aplaza el inicio del posesión permitirá devolver esta a las
declive del petróleo la gobernabilidad en el futuras generaciones, pero sabemos
mundo tendrá alguna oportunidad de también lo lejos que los humanos estamos
mejorar y el inevitable decrecimiento de ello.
podría resultar más regulable. Más probable
será que eso no ocurra e incluso que la El campo lacaniano y la teoría de los
situación se agrave como consecuencia de discursos
las luchas y guerras por el control de las El concepto de campo lacaniano,
reservas especialmente de petróleo y como campo del goce, y la teoría de los
alimentos. discursos constituyen una valiosísima
El escenario más probable resulta contribución del Psicoanálisis a la
ser el de un mundo donde la crisis posibilidad de pensar y anticiparse, sin
sistémica, la de recursos especialmente precipitarse, en alguna medida, a lo que está
energéticos y la medio ambiental se por venir.
entrelacen y potencien entre si. Es En todo caso, sea probable o
previsible un proceso de colapso improbable la hipótesis de escenario que he
progresivo de los distintos niveles de la descrito, la prudencia y sensatez aconsejan
compleja organización social mundial, de que sea tomado en consideración y puesto
reordenamiento de nacionalismos a prueba.
enfrentados, de migraciones y Les propongo, en palabras de
desplazamientos masivos, de Lacan, una primera herramienta:
empobrecimiento, carestía, escasez, “… quizás si la gente trabajara un poco, si
epidemias, hambre y guerras. Algunas verdaderamente interrogaran el significante,
zonas del mundo, (entre ellas el funcionamiento del lenguaje, de la misma
Latinoamérica) si alcanzan un alto grado de manera que lo interroga un analizante
integración, podrían librarse de lo peor entonces quizás saliera algo.” (Lacan,
La pulsión de muerte desanudada y Conferencia en Milan, mayo de 1972).
manifestada bajo su forma de odio y
A fundamentais no eixo de
compreensão que o homem
possui de si mesmo. Até o
fim da Idade Média era o
poder da religião que
dominava as mentes
humanas. A ciência moderna, por sua vez,
uma origem histórica comum”.198 Para
Kurz, a prevalência das ciências naturais
como o modelo de ciência tem sua razão de
ser no desenvolvimento do sistema
capitalista na medida em que elas
“forneceram um paradigma de
‘objetividade’ sem sujeito”. Isso permitiu ao
trouxe à baila uma nova concepção de capitalismo atingir seu estágio atual de
autoridade. A querela envolvendo Galileu é transformação em que tudo é
um momento exemplar dessa questão e intercambiável e tem um preço bem
marcou o conflito radical entre um definível.
principio de autoridade calcado no Do ponto de vista da ciência, esse
enunciador – o poder temporal da Igreja – processo culminou na “medicalização da
e um princípio de autoridade fundado na vida”, isto é, na difusão social, mediante o
lógica interna dos enunciados, discurso da ciência, de que os problemas
independente do enunciador, que passou a habituais da existência humana, que causam
caracterizar o novo saber emergente, a angústia, sofrimento, desamparo, etc, são,
ciência. A ciência, e o discurso que lhe é na verdade, oriundos de disfunções
subjacente, criaram uma nova situação bioquímicas perfeitamente corrigíveis
social caracterizada pela substituição da mediante o devido diagnóstico e a devida
relação mestre-sujeito por uma relação prescrição médica. Essa “coisificação” da
saber-sujeito.197 Esse novo saber não possui existência humana, tal qual promovida
um enunciador mas estrutura-se nas leis e pelas ciências biológicas, é concomitante à
relações lógicas que lhe são próprias e que “coisificação” da existência humana
independem de qualquer autoridade promovida pelo sistema capitalista. Lebrun
enunciadora. Esse aspecto é bastante salienta que a contemporaneidade é
relevante pois aponta para o fato de que o determinada pela substituição das
sujeito, no discurso da ciência, é excluído. ideologias antigas pela ideologia da
Outro aspecto importante a ser tecnociência: “(...) Doravante, não há mais
salientado é que o surgimento da ciência necessidade de projeto para sustentar a
moderna coincide com o surgimento do existência, nem de recurso ao mito para
modo de produção capitalista. Quem inventar o sentido, não há mais necessidade
aponta com clareza essa questão é o de reconhecer ao Terceiro seu lugar (...)”.199
sociólogo Robert Kurz. Diz ele: “O triunfo De fato, não se trata de que não existam
da ciência natural sobre o pensamento mais ideais, mas que o ideal adquiriu
crítico da sociedade e sua entronização conotações negativas, isto é, o ideal é não
como "a ciência não é obra do acaso. Isso
198 Kurz, R – O Homem reduzido. Folha de São Paulo – 3.10.1999.
197 Ver Lebrun, J-P. – op. cit., pág. 53 199Lebrun, J-P. – op. cit.; pág. 132
200 Lebrun, J-P. – op. cit.; pág. 132 201Lebrun, J-P. – op. cit.; pág. 168
L que es de la velocidad de
aquello que no es posible
moderar. El impulso veloz,
a contra los duelos y contra
las relaciones de amor,
justamente cuandio amor y
duelo son imposibles sin tiempo.
Pensar primero si aquello que se
llama amor en la época ¿qué supone? dados
estos rasgos del tiempo capitalista, no si es
necesario para dar cuenta de ese lazo,
llamarlo apego romántico, como hace el
cognitivismo.
El APEGO es una propiedad de las
Es un lugar común sostener la diferencia en relaciones psicosociales donde un sujeto
la escena de amor de la época respecto a más débil y menos capaz confía en la
otros tiempos asi como dar cuenta de los protección que le brinda otro sujeto más
sin tiempos de todo lazo al otro. competente y poderoso. Ambos sujetos
Pero así como en esa famosa desarrollan vínculos emocionales
melodía de la película Casablanca, '''As recíprocos y construyen una representación
Time Goes By''', el así pasan los años, interna de la relación vincular. La
película del año 1942, el tema ya había sido representación mental interna que
estrenado en 1931 en una obra musical de construyen los infantes es denominada por
Broadway. La primera estrofa del tema un científico cognitivo ,Bowlby, ¨ working
original, es el siguiente: El día y epoca que model ¨.
estamos viviendo Bowlby (1982) considera que los
Nos da causa de aprehensión sistemas de apego infantiles son similares,
Con velocidad y nuevas invenciones en su naturaleza, a los que más tarde se
Y cosas que gustan de la cuarta ponen en juego en las relaciones amorosas
dimensión y, en realidad, señala pocas diferencias
Terminando de hacer referencia a entre las relaciones cercanas, sean éstas
Einstein y su teoría y la necesidad de bajar entre padres e hijos o entre pares.
nuestra ansiedad al tiempo que pasa. Ainsworth (1991) remarcó la función del
Después vendría You must remember this sistema de apego en las relaciones adultas,
A kiss is just a kiss, a sigh is just a sigh. The enfatizando el fenómeno de base segura
fundamental things apply como un elemento crítico a ellas. Una
As time goes by. relación de apego seguro facilita el
YA FREUD lo precisaba en los funcionamiento y la competencia exterior a
años diez. ella misma.
Pero es que los mismos albores del El concepto de apego permite des-
siglo veinte nos trajo el empuje al vértigo o subjetivar lo que en el amor supone el ser
es que ello no es solo consecuencia de la implicado.
tecnociencia y si, una consecuencia de la Sostienen los cognitivistas que : Un adulto
misma lógica capitalista, donde el tiempo muestra un deseo hacia la proximidad de
regido no es el propio del sujeto sino lo que figuras de apego en situaciones de malestar.
conlleva la necesariedad del mercado? Siente bienestar ante la presencia de esa
TRANSVERSAL DO CAMPO
LACANIANO
T em conjunto. A percepção
do tempo ocorre mediada
por uma determinação do
ser. Em contrapartida, a
determinação do ser ocorre
segundo uma concepção do
tempo. Este postulado se converteu na tese
não é determinável, posto que é a condição
de determinação da ação de determinar. Ela
não se dá às operações do tipo
significante/ significado e muito menos se
refere a algo substancial ou que tenha a
estrutura de coisa. A partícula é é em si
mesma tautológica. Dela podemos dizer
central da obra Ser e Tempo209 de Martin apenas: o é é! Lembramos de alguns versos
Heidegger: “O tempo é a chave de do Tom Jobim. Em um primeiro momento
compreensão do sentido do ser.” Tecemos da letra de Águas de Março ele canta: É pau, é
alguns comentários sobre essa tese. pedra. Em um momento posterior ele canta:
Detemo-nos, inicialmente, na Pau, pedra. Note-se que, no contexto da
expressão: sentido do ser. No conjunto das canção, cantar é pau, é pedra é o mesmo que
articulações que compõem a ontologia cantar pau, pedra: a partícula é está implícita
heideggeriana, essa expressão demarca um na palavra. Em síntese, pau e pedra
modo de indagar o ser, distinto dos modos correspondem ao ser determinado como
exercidos pela tradição metafísica. O ente. E a partícula é corresponde ao ser na
sentido do ser expressa a articulação de forma de sua própria indeterminação.
uma diferença em sua própria estrutura. O
ser é, por um lado, o que abrange a Segundo Heidegger, a determinação do ser
totalidade de todas as coisas que são é histórica. No ensaio A Origem da Obra de
apreendidas pela linguagem, ou seja: o ser é Arte, Heidegger enumera os modos
o ente. Por outro, o ser é um modo pelo históricos da determinação do ser no ente,
qual o próprio ente vem à luz, fornecendo- que são: na Antiguidade, Idéia (eidos) e
nos sua própria determinação. O ser é o substância (ousia), na Idade Média, ente
que dá suporte à linguagem, tornando-a o criador e criatura; na Idade Moderna, o
elemento primordial do pensamento e, por cogito. Essa história tem o seu momento
conseguinte, de todas as operações mais recente no pensamento de Nietzsche,
significadoras. que determina o ser como vontade de
Tomamos, por exemplo, a poder. Percorremos brevemente cada uma
expressão S (sujeito) é P (predicado). S e P são dessas determinações, buscando reter suas
da ordem do ente, posto que são respectivas articulações com o tempo.
determinados pela linguagem. O que é da No Timeu, Platão determina o ser
ordem do ente é o ser em seu sentido como Idéia (Eidos). A idéia é da ordem do
ôntico. A partícula é, por sua vez, é da inteligível, que escapa à transitoriedade do
vivente captado pelos sentidos. Ela não
perece com o tempo, posto que transcende
209 HEIDEGGER. Sein und Zeit, Ser e Tempo, trad. de M. de Sá Cavalcanti (2
vol). RJ: Vozes, 1988. Introdução, parágrafos 3 e 4.
à existência temporal. Sendo imperecível, a
Idéia está livre de qualquer imperfeição. Ela quatro causas”.210 Em linhas gerais,
é o em si mesmo e como tal é parâmetro de Aristóteles identifica duas causas que são
valoração de si mesma. A Idéia é, portanto, intrínsecas ao ente, as causas material e
real, universal, única e imutável. Por formal, e duas causas extrínsecas: a
exemplo, uma idéia de cadeira sempre será eficiente e a final. A causa material é o
uma idéia de cadeira. Dialeticamente sujeito permanente, do qual parte o
contraposta à ordem do Inteligível, há a movimento. A causa formal é o termo de
ordem do Sensível. Uma cadeira é, nessa chegada, que estabelece um novo estado de
concepção, a realização sensível de sua perfeição. A causa eficiente (energéia) é
respectiva idéia; cópia de um paradigma aquela que leva a causa material à causa
ideal. E como é imperfeita, está submetida formal. E a causa final é a que orienta o
aos fenômenos de geração e corrupção. A objetivo final do movimento ontológico,
realização do sensível ocorre em função da ou seja, é o princípio imanente da matéria
finalidade do inteligível. Embora o sensível (physis). A dinâmica concernente às quatro
seja uma realização imperfeita do causas se expressa na divisão do ente am
inteligível, há entre eles uma relação de ato e potência: o ente existe efetivamente
verossimilhança. E é esta relação que dá em ato (forma) e potência (essência
sustentação ontológica aos juízos e material que foi determinada pelo ato). A
discursos. potência é a capacidade real para o que se
Assim, Platão situa ser e vir-a-ser determina na forma do ente, é o puro
em dois planos distintos. O ser é o possível que convive com o ato e não cessa
paradigma imutável do vir-a-ser, do no ato. O movimento ontológico, por sua
existente sensível dinâmico e transitório, vez, é a prova da existência do ente em ato
cujo movimento é guiado pela sua e potência, existência que é concreta e
realização verossimilhante em relação ao singular.
modelo inteligível. É daí que Platão Portanto, a causa é o princípio do
formula o seu conceito de tempo: tempo, ser; de onde ele procede como unidade
em sua expressão negativa, é algo que não é entre o sensível e o inteligível. Enquanto os
propriamente da ordem do real posto que sentidos, com a mediação da alma,
não pode existir na eternidade da idéia. observam as causas, a inteligência entende
Platão dissocia a noção de tempo da noção as causas, estatuindo esse entendimento da
de eternidade. Tempo é, em sua forma observação do ente. O ser é a parte
positiva, a medida da transformação do imutável, a essência que, no plano
transitório, ou seja, do que se gera e inteligível, deve converter-se em conceito
corrompe no âmbito do vir-a-ser. O tempo universal e necessário. Por outro lado, a
é circular porque o vir-a-ser é circular. O forma é a parte mutável do ser, isto é: o vir-
vir-a-ser, por sua vez, é circular porque ele a-ser. Assim, Aristóteles concilia ser e vir-a-
cumpre imperfeitamente a finalidade ser na estrutura do ente, de onde provém a
teleológica da idéia. Platão fundamenta esse máxima: “o ser se diz de muitas maneiras.”
raciocínio no princípio de que uma coisa As especulações de Aristóteles
não pode advir do nada. Por isso, a sobre o tempo, elaboradas sobretudo no
circularidade temporal: se o nada não existe Livro IV da Física, têm como ponto de
na ordem do sensível, os entes estão aí
eternamente circulando; cumprindo os 210 O que correntemente denomina-se por “doutrina das quatro causas”, que
ciclos de geração e corrupção. propriamente constitui o ponto central do sistema filosófico de Aristóteles, foi
elaborado aos poucos, obedecendo os estágios de seu pensamento. Assim,
referimo-nos aqui, como fonte, aos textos Metafísica. Liv. II.e III.; Physique
A relação que Aristóteles estabelece entre Vol. II e IV.
ser e tempo deriva de sua “doutrina das
vontade não atua, ou seja, na dimensão ser só pode ser determinado na dimensão
temporal do passado, é o não ser. Por temporal da presença, onde a linguagem o
outro lado, a vontade atua no futuro como captura no movimento do ente.
antecipação. Nesse sentido, não há Em Ser e Tempo, Heidegger sustenta
qualquer realidade para além do aparente a tese de que o ser foi historicamente
que decorre da vontade. As coisas estão determinado segundo a dimensão temporal
simplesmente aí, sendo em seu vir-a-ser da presença, através da análise da
constante. constituição estrutural do Dasein. O Dasein
A articulação entre vontade de é o sujeito heideggeriano, que se estrutura
poder e tempo é encontrada no famoso segundo uma relação de co-pertencimento
episódio do Zaratustra em que o anão se vê entre ser, ente e linguagem. Nessa relação,
diante do portal do tempo. Com a visão o Dasein, concebido como aquele que se
condicionada por sua baixa estatura, o anão constitui na atividade significadora da
só pode perceber uma curta porção do linguagem, só pode se constituir na
tempo, que o leva a acreditar que o tempo presença efetiva do objeto, que é o ente
descreve um percurso retilíneo, determinado segundo o modo de
constituindo-se na ordem: passado, determinação do ser. E o objeto, concebido
presente e futuro. Entretanto, ao erguer-se como o ente que encontrou sua
nos ombros de Zaratustra, o anão percebe determinação singular, só pode se
que a linha do tempo descreve um sentido constituir como tal na presença do sujeito.
curvilíneo e deduz: “se tudo sempre esteve Logo, na ontologia heideggeriana não há
aí, então o tempo descreve uma trajetória separação entre sujeito e objeto. Eles estão
circular.” Interpretamos a expressão “tudo mutuamente incluídos um no outro.
sempre esteve aí” como uma alusão direta Portanto, o Dasein é o sujeito em sua
ao postulado que Nietzsche enuncia em A relação de mútuo pertencimento com o
Vontade de Poder, qual seja: “a totalidade da objeto.211
força é imóvel”. Entenda-se por “totalidade O Dasein existe inserido na cultura,
da força” a “totalidade dos entes” que, genericamente, é entendida como a
determinados pela vontade. Eis o que está apropriação simbólica do mundo
na origem da concepção nietzscheana do circundante. A cultura se constitui do
eterno retorno. Que tudo sempre retorna conjunto de crenças, ideologias e
pois tudo sempre está aí. Esse retorno não concepções políticas que mediam as
é necessariamente idêntico, posto que ele relações entre o Dasein com os entes que
requer uma coincidência das condições são por ele significados. Segundo
físicas, como em um jogo de dados sem Heidegger, essa mediação simbólica que se
fim. interpõe entre o Dasein e o mundo
Heidegger interpreta o pensamento circundante está enraizada no modo
de Nietzsche como o limite da metafísica, histórico de determinação do ser no ente.
uma vez que Nietzsche inverte No âmbito da cultura, o Dasein
radicalmente o projeto filosófico platônico, tende a interpretar os entes circundantes
ao determinar o ser como algo que é como úteis. À essa situação existencial
exclusivamente da ordem do sensível. Heidegger denomina facticidade. Trata-se do
Nietzsche une duas extremidades da
ontologia tradicional: de um lado pensa-se
o ser segundo o inteligível, de outro, pensa- 211 A exposição da questão da circularidade do pensamento em sua relação com
a linguagem e o mútuo pertencimento entre sujeito e objeto encontra-se
se se o ser segundo o sensível. Entretanto, sobretudo na Preleção (1929): Que é Metafísica. HEDIEGGER. Conferências e
no pensamento que vai de Platão a Escritos Filosóficos, trad. Ernildo Stein, Col. Pensadores. SP: Nova Cultural,
Nietzsche, subsiste a concepção de que o 1984. p.35-44.
modo primordial de inserção do Dasein na do não ser como presença em um duplo modo.
existência. Por exemplo: o seio materno é O primeiro modo refere-se à experiência
um útil, tanto quanto a mais sofisticada que o Dasein tem com a morte. Heidegger
ferramenta ou a natureza em geral. Assim, observa que o Dasein não vive a própria
se interpretamos os entes segundo uma morte, mas a morte do outro, que para ele
concepção prévia que corresponde à adquire o significado de não-presença.
facticidade, é evidente que nessa Assim, a angústia é um sentimento que o
circunscrição interpretativa Dasein experimenta diante da possibilidade
desconsideramos parte do que emana do da não-presença do outro. Por isso, a
ente que se constitui como objeto. angústia inclui o não-ser como presença no
Portanto, a cultura fática permite apenas horizonte existencial do Dasein. O segundo
uma visão parcial do ente, justamente modo é decorrente. Se o não-ser como presença
aquela visão que o determina como uma é possível, apresenta-se para o Dasein a
coisa útil. É por isso que de Platão a possibilidade de seu aniquilamento como
Nietzsche o ser é determinado no ente ente interpretante: ao sentir angústia, o
segundo uma finalidade: a idéia platônica Dasein teme que o objeto que assegura a
cumpre a sua finalidade no sensível, a sua própria constituição como sujeito não
matéria aristotélica cumpre sua finalidade esteja à disposição de sua atividade
na forma, o cogito kantiano no imperativo interpretante. Em outros termos, a angústia
moral, e a vontade de poder nietzschiana coloca o Dasein diante da intuição de um
na manutenção da estatura do ente. objeto que efetivamente ainda não
A facticidade é uma disposição compareceu à sua linguagem. A angústia
afetiva do Dasein: imerso no mundo dos coloca o Dasein diante de um não-
úteis, o Dasein tende a querer permanecer significante.
no conforto da dimensão da presença, em Ao relacionar-se com esse objeto,
que o objeto a partir do qual ele mesmo se que ainda não compareceu à presença, o
constitui como sujeito, oferece-se à Dasein apreende esse objeto em seu futuro,
atividade significadora. O Dasein é um ente antes que ele se efetive em uma presença.
essencialmente interpretante e na ausência Logo, o Dasein, entendido como um ente
do objeto ele vislumbra o seu horizonte de essencialmente interpretante, possui um
aniquilamento. Por isso, o Dasein caráter projetivo: ele se projeta para além
reconhece o existente na presença, que, da presença do objeto para reter na
efetivamente, é o que ele consegue reter presença o significado do objeto. Por
com a linguagem. A esse modo de conseguinte, o ser é apreendido pelo
percepção do tempo, que está vinculado à Dasein na ekstasis do tempo. Por ekstasis
situação fática do Dasein, Heidegger entenda-se a união simultânea das três
denomina: Tempo Inautêntico. É o tempo dimensões temporais em um único
que se constitui na sucessão de agoras, que instante, segundo a ordem: futuro, presente
comumente é identificado pela ordem: e passado. O que se presentifica no instante
passado, presente, futuro. Todavia, nesse é a determinação que está projetada no
tempo só há efetivamente o presente, que futuro e aquilo que imediatamente
se estrutura a partir de dois não existentes: cristaliza-se como passado. Isto é, o
o passado e o futuro. Daí o uso do termo presente reúne em si mesmo o futuro
inautêntico. implícito em toda possibilidade ôntica e o
O que retira o Dasein do conforto que em si mesmo já está aniquilado. A esse
de sua situação fática é a angústia. Segundo movimento temporal ekstatico Heidegger
Heidegger, a angústia é uma disposição denomina Tempo Autêntico, justamente o
afetiva pela qual o Dasein intui a existência tempo que permite que o Dasein ultrapasse
científico, utilizado por Galileo e por Newton do ponto de vista observacional pelas suas
para descrever a Mecânica. Dentro da previsões sobre a órbita do planeta Mercúrio
Mecânica temos o conceito clássico de e principalmente pelo desvio de luz das
Tempo. estrelas pelo Sol, observado em um eclipse
O Tempo clássico é o tempo solar na cidade de Sobral, no Ceará, em 1919.
absoluto, um fluir perpétuo de algo que não O resultado positivo da Relatividade
sabemos definir, mas que bem podemos Geral para o movimento planetário permitiu
intuir. O Tempo Newtoniano clássico é o que se pudesse aplicar a teoria para se
tempo de Zeus, um perpétuo movimento descrever o Cosmo. Procurou-se então uma
observado pelos deuses de seu assento chamada solução cosmológica da Teoria. O
olímpico. É a passagem inexorável associada que se procurava, na Relatividade Geral, seria
ao movimento eterno das coisas. Foi também uma chamada métrica, ou seja, uma régua e um
a definição do determinismo clássico, com a relógio específicos214 para a descrição do
previsão de todos os fenômenos, desde que Cosmos. Tal problema foi resolvido supondo-
saibamos a configuração atual do mundo. se um chamado princípio cosmológico, que
Conforme Laplace, se um ser for capaz de diz que não há lugares privilegiados no
saber todos os detalhes do Universo assim Universo. A solução para a métrica é aquela
como suas leis, todo o futuro estará de Friedmann-Lemaître-Robertson-Walker, e
determinado. descreve um espaço em evolução, com uma
No entanto, a visão determinista da régua que se alonga com o tempo. Ou seja, o
física sofre um impacto brutal vindo de uma Universo expande-se continuamente!
outra teoria física bem conhecida, o Einstein não se satisfez com a
eletromagnetismo. Conhecidos desde a solução, pois esperava um Universo estático.
Antigüidade, os fenômenos elétricos e Tentou modificar suas equações introduzindo
magnéticos foram, no século XIX, reunidos a chamada constante cosmológica, que
em uma só teoria por James Clerk Maxwell, posteriormente qualificou como o maior erro
corroborada pela experiência e que trazia em de sua vida215. A solução cosmológica acima
seu bojo algo preocupante, do ponto de vista foi confirmada pelas observações do
clássico: a velocidade da luz é a mesma para astrônomo Edwin Hubble cerca de 80 anos
todos os observadores, ou seja, se eu correr atrás.
atrás da luz jamais a alcançarei, e se for em Como o Universo encontrava-se em
direção a ela, não a encontrarei mais rápido. expansão, olhando-se para trás podemos
Albert Einstein teve a grande idéia de antever um instante em que todo o Universo
interpretar o resultado dizendo que o tempo e estaria concentrado em um só ponto216: seria
o espaço estão reunidos de forma inseparável, o instante inicial do Universo, a criação do
ou seja, o mundo físico é um contínuo quadri- próprio espaço-tempo, o instante da criação
dimensional espaço-tempo. Era a teoria da do Universo! É a própria criação do tempo, o
Relatividade Especial, formulada no anus tempo de Cronos, o tempo de Agostinho, o
mirabili de 1905, quando Einstein escreveu instante anterior ao qual não havia tempo!
nada menos que três trabalhos que
revolucionaram a física. 214Devemos neste ponto nos lembrar que agora não descrevemos a física pela velha
Mas, no que diz respeito ao tempo, Geometria de Euclides, mas por uma nova geometria que inclui o tempo.
uma revolução maior ainda estava por Denominamos o procedimento de se achar a geometria apropriada, ou seja, a régua e
acontecer. Durante alguns anos, Einstein o relógio apropriado para cada problema físico, de achar a métrica do problema.
estudou como estender os resultados obtidos 215 É de se notar aqui que hoje a constante cosmológica é freqüentemente utilizada
hoje para uma possível explicação da chamada Energia Escura que parece permear
para o caso de haver forças gravitacionais, o todo o Universo fazendo-o acelerar-se sem parar.
que conseguiu ao formular a Teoria da 216De fato, o ponto inicial, ou o Big Bang não necessariamente se configura em um
Relatividade Geral que foi bem estabelecida único ponto. Deixaremos de lado este detalhe técnico.
Assim, após o tempo de Zeus, o uma, e a trajetória real será uma média
tempo clássico, Olímpico, compreendemos o ponderada, sendo a ponderação definida
tempo criado, o tempo de Cronos. O tempo através de uma constante fundamental
da Relatividade Geral aproxima-se da noção introduzida por Max Planck quando do
de criação, da idéia de ciclo, tal como primeiro trabalho histórico que trouxe a
espelhada na Arte católica da Capela Sistina. Teoria Quântica para a Física.
Contrapõe-se ao tempo de Zeus, que, sem A Mecânica Quântica entra na história
início ou fim, concorda melhor com as idéias do Universo em dois pontos importantes. O
clássicas de determinismo. primeiro diz respeito à evolução cósmica
No entanto, outra revolução científica dentro do âmbito da Relatividade Geral
se dá no início do século XX que fará mudar através da Teoria das Partículas Elementares.
nossas concepções de espaço-tempo. Trata-se A causa é o fato de que quanto mais próximas
da Mecânica Quântica. A Mecânica Quântica as partículas (o que ocorre no Universo
nasceu com a tentativa de explicar os primordial devido à contração do espaço)
fenômenos associados ao muito pequeno, às mais quente o Universo, mais próximas umas
partículas elementares, âmbito no qual a das outras as partículas e a descrição delas
Teoria Clássica, abarcando a Mecânica será eminentemente quântica.
Clássica e o Eletromagnetismo, tem Mostra-se que a história cósmica tem
dificuldades intrínsecas insuperáveis. A fases e pode, de modo simplificado, ser
Teoria Quântica evoluiu, para explicar todos descrita em termos de três épocas
os tipos de fenômenos associados ao muito fundamentais. A primeira, chamada de fase de
pequeno, para uma concepção totalmente radiação, contém uma sopa quentíssima de
nova na explicação dos fenômenos físicos, partículas a uma temperatura tão alta que as
com a inclusão do observador que passa a ser diferentes interações elementares se
parte do fenômeno a ser estudado. Tal confundem. No final desta fase, certas marcas
concepção é totalmente estranha na Física foram deixadas nos céus e somos capazes de
Clássica, onde o observador é completamente corroborar certas facetas das teorias das
externo e estranho ao fenômeno estudado, partículas elementares. Posteriormente, temos
devendo assim permanecer de modo a não a fase da matéria, mais fria, onde as estruturas
borrar os resultados experimentais. Na cosmológicas (aglomerados de galáxias,
Mecânica Quântica isto é impossível! Os galáxias, estrelas) foram formadas.
fenômenos, na ausência de observador são Finalmente, temos a fase moderna, de
probabilísticos, e uma das possibilidades só expansão acelerada através da energia escura.
ocorre na presença do observador, ou, melhor A Mecânica Quântica foi essencial
ainda, no caso de uma observação. para esta descrição e para as previsões que
A Mecânica Quântica tem um levaram os físicos a afiançar a teoria padrão
formalismo muito rico e pode ser descrita de do início do Universo. A esta descrição
diversas maneiras diferentes. Em particular, chamaremos de descrição de Cronos, sendo a
há uma maneira elegante e instrutiva de se mesma da Relatividade Geral vista
definir a Mecânica Quântica. Como tudo são anteriormente, mas muito mais sofisticada.
probabilidades em Mecânica Quântica217, a No entanto, há outra faceta da
trajetória de um ponto pode ser qualquer descrição do Universo que será ainda mais
elaborada e chega a ser quase mitológica, na
medida em que não há, dentro da tecnologia
217Na verdade, a situação é um pouco mais complicada, pois as probabilidades
atual, possibilidade de corroborar os detalhes
quânticas não se somam como as probabilidades clássicas. Por esta razão elas se
chamam amplitudes de probabilidade. Podem inclusive ser negativas ou mesmo
desta teoria. O fato é que a Teoria da
números complexos. No entanto este é um ponto técnico que não nos interessam Relatividade e a Mecânica Quântica pareciam,
neste momento. até um quarto de século atrás,
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Mathias Fingermann Webmaster
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Cícero Alberto de Andrade Oliveira Secretariado