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Roberto Carlos*
Na era da globalização, caracterizada por um intercâmbio da sua formação e reprodução funde-se com a história da
sem paralelo de mercadorias, valores e representações e própria formação da nação. Esta última não se deve confundir
por diásporas que dispersam populações outrora ancoradas com o estado - o que só sucede no caso dos estados-
de modo durável a um dado território, a nação continua ainda nações de que Portugal é exemplo - , o “aparelho político
a ser uma forma preeminente de identificação (Castells (instituições governamentais e funcionalismo público) que
1997) E, como ocorre em todas as formas de identificação, governa um dado território, cuja autoridade assenta na lei e
pertencer-se a uma nação ou a um determinado território na capacidade para usar a força (Giddens 2004). A nação é
implica partilhar referências a um passado comum - uma “um grupo formado a partir de um ou vários grupos étnicos,
memória - e acreditar que esse coletivo possui características e normalmente identificado por uma literatura própria [que]
próprias: uma identidade. Como assinala Anthony Smith ”(...) possui ou reivindica o direito à identidade e à autonomia
poderíamos quase dizer: sem memória não há identidade; políticas enquanto povo, bem como o controlo de um dado
sem identidade, não há nação” (Smith 2004). Por isso vamos território…” (Hastings 1997).
referir-nos brevemente a cada uma destas entidades que
O estado, produtor ideológico de memória e identidade
se encontram de tal modo interligadas que já se definiu a
nacionais, de legislação condicionadora de habitus
nação como “uma comunidade imaginária formada pelos
fundamentais, persistiu. Os símbolos identificadores -
mortos, pelos vivos e pelos que ainda não nasceram, que se
bandeira, hino, língua … - também. Apesar de os portugueses
mantém unida graças a uma cola chamada memória“ (Ash
estarem cada vez mais em contacto com outros e de serem
2005). Concebemos a memória nacional como o produto de
por eles influenciados - no interior do território nacional,
uma comunidade mnemónica específica, a nação, que ela,
como no seu exterior - não houve qualquer hiato na sua
por sua vez, contribui para reproduzir. Por isso, o processo
percepção genérica de serem parte de uma cadeia contínua
que os une às gerações anteriores, como não se alterou o
*Técnico Superior de História da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira;
Membro Integrado do CEGOT - Centro de Estudos em Geografia e Ordenamento seu entendimento de serem um coletivo com características
do Território - Unidade de Investigação e Desenvolvimento das Universidades de próprias. Estes elementos constituem o cerne da memória e
Coimbra, Porto e Minho; DEA em Turismo, Lazer e Cultura Faculdade de Letras
da Universidade de Coimbra; Doutorando Turismo, Lazer e Cultura Faculdade de da identidade nacional.
Letras da Universidade de Coimbra e Professor Convidado Universidad Rey Juan
Carlos – Madrid.
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Para a sua preservação destes elementos, dão o seu Paiva, se associaram. Deste conjunto resultou o encontro
contributo as instituições culturais, sociais e económicas, realizado no sábado passado, dia 14 de Novembro de
através da sua atividade. 1970, para prestar homenagem ao Desembargador Augusto
Sequeira, primeiro no seu antigo gabinete do Tribunal Judicial
Neste ponto gostaria de vos falar da LAF - Liga dos Amigos
da nossa vila e depois num jantar na Estalagem, que para
da Feira, que foi constituída por escritura pública de 09 de
isso mesmo reuniu cerca de cento e cinquenta pessoas,
Março de 1983, devido à obrigatoriedade de estar constituída
entre as quais se viam um Conselheiro do Supremo Tribunal
para poder beneficiar de um subsídio do Governo Civil,
diversos Juízes, Delegados, Conservadores, advogados,
liderado pelo feirense Aurélio Pinheiro.
funcionários do Tribunal e outras Repartições, além de muitos
Todavia a sua atividade remonta ao ano de 1970, quando outros cavalheiros com suas esposas, que graciosamente
mandou cunhar uma Medalha ao Corregedor do Círculo coloriam o ambiente.
Judicial de Vila da Feira 1962-1970 (Augusto Raul Sequeira),
O jantar constituiu simpática confraternização. Na cabeceira
que integrava: Vila da Feira, Oliveira de Azeméis, Arouca
da mesa via-se o homenageado; à direita do Governador
e Castelo de Paiva. A Medalha de 1970 teve a autoria do
Civil de Aveiro, ladeados pelos Juízes da Comarca, Tribunal
escultor Baltazar Bastos1.
do Trabalho, Presidente da Câmara Municipal da Feira, e
logo a seguir outros Juízes, Conselheiro Mário Leal, mais o
Delegado, muitos Advogados.
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Cabe aqui, também, a notícia de que foram igualmente destruídos os cunhos da
medalha consagrada a Augusto Raul Sequeira, por ocasião da homenagem que se
lhe prestou ao deixar as funções de corregedor do Círculo Judicial de Vila da Feira.
Tendo desempenhado aquele cargo de 1962 a 1970 e recentemente promovido a
desembargador da Relação do Porto, o Sr. Dr. Raul Sequeira foi preiteado por uma
comissão constituída pelos Srs. Dr. Celestino Portela e Manuel Cunha Rodrigues
e pela delegação da Ordem dos Advogados da Vila da Feira. Limitada a tiragem a
210 exemplares de bronze e oito de prata, todos eles foram numerados, levando a
indexação dos respectivos totais, como se usa em França e deveria usar-se também
no nosso país. Creio que foi esta, até, a primeira medalha portuguesa numerada
à boa maneira dos franceses; a segunda terá sido a da recente Exposição de
Homenagem ao Dr. Augusto Raul Sequeira Medalhística do Norte de Portugal.
em 14 de Novembro de 19702. - Esc. Baltazar Bastos. A homenagem a Raul Sequeira foi em 14/11/70 e quatro dias antes deram-se por
concluídas todas as operações da emissão e acabamento. Apresentando-se a 10
de Novembro, na oficina de Bernardino Bastos Júnior, onde esta espécie foi criada
Ao ser conhecida a nomeação de Augusto Raul Sequeira para
e executada por Baltasar Bastos, o Sr. Dr. Celestino Portela, advogado e conhecido
o Tribunal da Relação do Porto, não quiseram os advogados colecionador, levantou as medalhas encomendadas, liquidou as respectivas
despesas e imediatamente a seguir mandou proceder à inutilização dos cunhos,
da Comarca deixar partir da nossa terra o Juiz, que foi o na presença do Srs. Dr. Diogo Oliveira, que o acompanhava, Fernando Paula, J.
primeiro Corregedor do Círculo Judicial da Feira, sem uma Henriques de Oliveira, Bernardino Bastos Júnior e do próprio autor, Baltasar Manuel
Bastos. Os cunhos destruídos foram entregues, depois, ao presidente da Câmara
palavra de despedida respeitosa e amiga pela recordação, Municipal da Vila da Feira, com destino ao Museu-Biblioteca Municipal.
plena de simpatia que deixa entre nós, não só resultante Foram diferentes, na forma, os processos usados na destruição dos cunhos destas
da competência demonstrada no exercício do cargo, mas duas medalhas, mas idênticos o propósito e o fim. Na medalha da Exposição de
Miniaturas Náuticas, os cunhos foram aquecidos até ao rubro e colocados no
também pela amabilidade do seu fino trato. Esta atitude balancé onde receberam, por sobreposxão, a marca de um punção criado para o
efeito. Os cunhos da medalha dedicada ao Sr. Dr. Raul Sequeira foram inutilizados
dos feirenses é de resto apanágio sempre gostosamente por esmagamento de parte das letras e dos motivos, a martelo. O mais importante
cumprido, quando merecido. de tudo é que, em qualquer dos casos, se construiu. Porque, na Medalhística,
à destruição de cunhos corresponde a construção de um princípio que eleva o
Anunciado tal projecto logo as outras comarcas, componentes prestígio e a dignidade das espécies.
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do mesmo Círculo, ou seja Azeméis, Arouca e Castelo de Correio da Feira, 21 de Novembro de 1970.
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Iniciou os brindes, em nome da Ordem dos Advogados da Neste artigo / comunicação abordaremos também o papel da
Feira, Ferreira Soares que enalteceu, além da competência e LAF na promoção da cultura santamariana, especialmente
são critério de justiça do Desembargador Augusto Sequeira através da extraordinária publicação que é a revista VILLA DA
o que era natural e de esperar num Juiz da sua categoria, a FEIRA - Terra de Santa Maria, que em 1 de Junho de 2002
sua humanidade e até bondade e correção que sempre usou editou o seu n.º 1, e cuja Apresentação Pública decorreu, no
para com todos, que tão funda recordação deixa em todos «Restaurante do Villa», Espaço da Viagem Medieval, em 13
quantos com ele trataram. de Junho de 2002. Tem uma periodicidade quadrimestral, e
já vai no n°. 28.
Seguidamente falaram os seguintes senhores: Martinho de
Almeida, pela Ordem dos Advogados de Azeméis; Juiz do
1.° Juízo Gonçalves Ambrósio; Brito Lhamas, pela Ordem
dos Advogados de Arouca; Conselheiro Mário Leal, Cunha
Rodrigues e Alcides Monteiro, não só em seu nome mas
também no do Desembargador Xavier Fernandes, Ordem
Distrital dos Advogados do Porto, e Antunes Varela, antigo
Ministro da Justiça e criador do Círculo Judicial da Feira. A
encerrar os discursos de saudação, falou o Governador Civil de
Aveiro que se associou à homenagem já que, segundo disse,
apesar de desligado do foro, teve oportunidade de conhecer
e tratar com o Desembargador Augusto Sequeira pelo que
assim tinha perfeito conhecimento da cultura, competência e
sentido humano da sua maneira de a todos tratar.
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José Aurélio nasceu em Alcobaça, é diplomado em Escultura, pela Escola Superior
de Belas-Artes de Lisboa (hoje FBAUL), participa em exposições colectivas desde
1958, realizou quarenta exposições individuais e é autor de várias obras públicas.
Trabalha materiais como pedra, madeira e bronze, obedecendo a uma estética
minimalista e tendencialmente geometrizante. Vem desenvolvendo novas formas de
expressão na medalhística, desde 1966. Entre 1969 e 1974 concebeu e orientou a
Galeria Ogiva, em Óbidos. Vive em Alcobaça desde 1980, onde dirige o Armazém
das Artes. Foi agraciado pelo Presidente da República Portuguesa, com a Comenda
Exemplar da Colecção Santamariana. da Ordem do Infante D. Henrique (2006).
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da Lavandeira e dinamizou ainda a execução de serviços Em 30 de Novembro de 1982, a LAF assinalou as
de jantar, chá e café, com motivos do Castelo da Feira, em “Comemorações do 47º. Aniversário da morte de Fernando
Porcelana, da fábrica de Porcelana de Coimbra, em 1980. Pessoa aos 47 anos de idade” com o seguinte programa: Jantar
íntimo com os seus convidados; Conferência pelo Professor
Doutor Salvato Trigo, no Salão Nobre da Câmara Municipal,
sobre “Actualidade de Fernando Pessoa”; Lançamento de
uma medalha comemorativa da autoria de José Aurélio;
Lançamento de um poster da autoria de Joaquim Carneiro;
Edição de uma “Silva Poética“, com poemas dedicados a, ou
inspirados em Fernando Pessoa; Ceia - Convívio em casa do
companheiro Carlos Maia.
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Aureliano Lima nasceu no Carregal do Sal, 23 de Setembro de 1916 e faleceu em
1984) foi o escultor do Monumento dedicado ao poeta Fernando Pessoa
Aureliano Lima em 1958, veio para o Porto e pouco tempo depois para Vila Nova de
Gaia, onde chegou a trabalhar no atelier do escultor. Manuel Pereira da Silva. Foi a
entrada em definitivo para os meios artísticos e culturais, uma porta aberta a novas
experiências, a novas criações e actividades.
A obra de Aureliano Lima é marcada pelo construtivismo abstracto. O seu espírito
criador expressou-se na escultura nos mais diversos materiais (gesso, bronze,
madeira, mármore, pedra, ferro policromado, ferro recuperado), bem como na
1ª Mostra de Colecionismo do Concelho da Feira. sua pintura marcadamente abstracta e com traços claros de um minimalismo de
Temática Camoneana contemporaneidade.
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do Governo Civil, à época chefiado por Aurélio Pinheiro, neste
mesmo ano tivemos a edição da Conferência do Professor
Doutor Salvato Trigo, Actualidade de Fernando Pessoa.
Edição de Ele e os Outros, de Aureliano Lima, um Ciclo de
Conferências integradas na Inauguração do Monumento a
Fernando Pessoa: 26-11-83, em Fiães, Fernando Pessoa e
o Movimento Saudosista, pelo Dr. Fernando Guimarães; 27-
11-83, em Arrifana, Fernando Pessoa, a Poesia e o Mito,
pelo Professor Dr. J. Augusto Seabra; 28-11-83, em Paços de
Brandão, Fernando Pessoa e a Poética da Nostalgia, pelo
Prof. Dr. Salvato Trigo; 29-11-83, em Vila da Feira, O Mito
Pessoa, pelo Prof. Dr. Eduardo Lourenço; 30-11-83, em Vila
da Feira, “Apresentação do Monumento”, pelo Dr. Aurélio
Pinheiro; 30-11-83, em Vila da Feira, Fernando Pessoa,
Poeta do Desassossego, pela Profª. Drª. Clara Rocha.
Em 1986, a LAF promoveu as Comemorações do 98º Cartaz Comemorativo do Centenário do Nascimento de Fernando
Aniversário do Nascimento de Fernando Pessoa com o Pessoa - 13Junho1888|1988.
seguinte programa: Deposição de uma coroa de flores no
Monumento a Fernando Pessoa; Cartaz comemorativo,
No mesmo âmbito tivemos o Convívio Pessoano no Salão
por Joaquim Carneiro; 2ª. Mostra de Colecionismo de
Nobre do Castelo da Feira; a Representação do Marinheiro
Homenagem a Fernando Pessoa, de 13 a 15 de Junho de
pelo grupo “Caixa de Pandora”, do Porto; a Romagem ao
1986, com carimbo comemorativo dos CTT, na sede da Junta
Monumento, com poesia gravada e homenagem florida;
de Freguesia de Santa Maria da Feira; Conferência pelo
Organização da “IV Exposição Filatélica de Inteiros Postais”
Dr. David Mourão Ferreira, sob o tema Fernando Pessoa,
(inteiros postais são objectos postais que comportam um selo
a mulher e o Amor, no salão Nobre da Câmara Municipal;
impresso oficialmente autorizado ou uma marca ou inscrição
em 1988, registaram-se as Comemorações do I Centenário
indicando que um determinado valor facial, referente a
do Nascimento de Fernando Pessoa, com o seguinte
um serviço postal ou relacionado, foi previamente pago”.),
programa: Medalha comemorativa do 1.º Centenário; Cartaz
realizada no Centro de Cultura e Recreio do Orfeão da Feira,
Comemorativo por Joaquim Carneiro e Lançamento do Livro
em Outubro de 1988, com o Carimbo Comemorativo editado
Antinous - Trabalho sobre Obra por M. Lucília Lencart.
pelos C.T.T.
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Prof. Doutor Salvato Trigo, proferiu uma palestra sob o tema
Fernando Pessoa na Actualidade.
Fados de Coimbra no “Jantar Convívio” do Dr. Serafim Guimarães Em 29 de Setembro de 2007 realizou o “Convívio
Comemorativo” do 75.º Aniversário do Dr. António Simão
A 2 de Junho de 2007, assinou um Protocolo de Colaboração Toscano, conjuntamente com o Clube Feirense Associação
Geral com o Agrupamento de Escolas Prof. Doutor Ferreira Cultural, na sua Sede Social, com intervenção de Serafim
de Almeida. Guimarães e do aniversariante.
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“Jantar Convívio”. Homenagem ao Pe. Manuel Soares dos Reis “Jantar Convívio” com o Prof. Doutor Francisco Ribeiro da Silva.
“Jantar Convívio” com o Dr. António Simão Toscano. “Jantar Convívio” com o Eng. Artur Brandão.
A 10 de Outubro de 2007, regista-se a organização em Colégio S. João de Deus, no Porto. Concluiu com brilhantismo
parceria com a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, o Curso de Direito na Universidade de Coimbra. Está Inscrito
Junta de Freguesia de Argoncilhe, ISVOUGA, ISPAB, na Ordem dos advogados desde 4 de Julho de 1960.
Universidade Sénior de Santa Maria da Feira e Confraria da
Recentemente na cerimónia do Dia do Advogado, foram
Fogaça da Feira, de um “Jantar Convívio” com o Prof. Doutor
entregues medalhas aos causídicos que completaram em
Francisco Ribeiro da Silva, que contou com a intervenção
2010 meio século de inscrição na Ordem. Este ano, além
de António Barros Cardoso.
do ex. Bastonário António Pires de Lima, foram distinguidos
Em 25 de Janeiro de 2008, promoveu com o Clube Feirense Alberto Sousa Lamy, António Sampaio Soares, Luz Lopes,
Associação Cultural, um “Jantar Convívio” com o Engenheiro Gomes dos Santos, Jorge de Avillez, Jorge Humberto
Artur Fernando Sá Brandão, com intervenção de Rodrigo Fagundes, Luís Villa, Manuel Quintas, Macedo Varela, Sousa
Nunes Abelha, Vítor Fontes, Fernando Leão, António de Macedo, e também Celestino Portela.
Cavaco, Elísio Amorim Carneiro, Alfredo Oliveira Henriques
É autor de diversas publicações, destacando-se o último
e do Homenageado.
livro cuja designação é Baul, mostrando-nos a imagem de
Por último gostaria de deixar uma paalvra à grande alma um Homem conhecedor da Literatura, da História Local e de
mater da Liga dos Amigos da Feira, Celestino Portela, que Portugal, mas também a de um eterno apaixonado pela terra
nasceu em 20 de Outubro de 1934, no Lugar da Lavandeira, onde nasceu e onde fez o seu percurso profissional, político,
na então Vila da Feira. Frequentou a escola primária da intelectual e familiar.
Vila, prosseguindo os estudos em Oliveira de Azeméis e no
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13 de Agosto de 1960, comemorando por conseguinte as
Bodas de Ouro este ano. É pai de 4 filhos e avô de 7 netos.
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