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ADORNO, Theodor W, (2003). “Educação após Auschwitz”.

In: Educação e
Emancipação. 3ª Ed. São Paulo: Paz e Terra. Tradução de Wolfgang Leo Maar p. 119-
138.

Theodor Adorno nasceu em 11 de Setembro de 1903, em Frankfurt,


doutorou-se na Universidade de Frankfurt ao apresentar a tese: A
transcendência da coisa e do nomeático na fenomenologia de Husserl. Ficou
conhecido por sua obra Dialética do Esclarecimento, escrita juntamente com
Horkheimer na qual cunharam o famoso conceito de Indústria Cultural.
Educação após Auschwitz foi uma palestra transmitida na rádio de Hessen,
em 18 de abril de 1965, publicada em Zum Bildungsbegriff der Gegenwart,
em Frankfurt, no ano de 1967. Filósofo da Escola de Frankfurt, adepto da
Teoria Crítica, traz-nos em Educação após Auschwitz a questão da barbárie
humana. O próprio nome do texto faz referencia direta ao principal campo de
concentração da Alemanha Nazista, a saber, Auschwitz.
Em Educação após Auschwitz, o filósofo nos diz de maneira bastante clara e
neste momento faz alusão aos estudos de Freud, que na própria gênese da
civilização está contida a barbárie. Durante todo o seu texto, Adorno nos
tenta mostrar de que forma esta barbárie humana poderia ser amenizada. O
que seria o nazismo se não a expressão mais profunda da barbárie a que nós,
seres humanos, podemos chegar? Para o autor, reside aí a importância
fundamental da educação: impedir o retorno à barbárie, impedir que
Auschwitz se repita.
MORAES, Michele. Resenha: “Educação após Auschwitz” In: Cadernos da
Pedagogia Ano 03 Volume 01 Número 05 Janeiro / Julho 2009.

- Adorno inicia sua conferência indicando a necessidade que Auschwitz não se repita,
principalmente na educação.
- Indicando Freud, Adorno aponta que a própria civilização conforme se desenvolve traz aquilo
que é anti-civilizatório. O próprio conceito de barbárie está inserido no de civilização.
- Segundo Adorno, a estrutura básica social no período de 25 anos após a 2ª Guerra não teria
mudado radicalmente.
- A fonte principal de investigação que deve ser averiguada é a dos ofensores, não das vítimas.
- A educação só tem sentido como uma educação auto-reflexiva e crítica. E ela deve se
concentrar na primeira infância. A pressão civilizatória, tese de Freud sobre o mal-estar na
civilização, multiplicou-se em uma escala insuportável. A própria civilização tende-se a se
tornar alvo de rebelião violenta e irracional.
- Adorno trabalha com uma tese de que a história das perseguições violentas contra os fracos
são dirigidas principalmente contra aqueles que são considerados fracos e felizes, mas, mais
do que isso.
- O processo civilizatório, ao mesmo tempo que carrega uma crescente integralização, traz
tendências de desagregação.
- “Essas tendências encontram-se bastante desenvolvidas logo abaixo da superfície da vida
civilizada e ordenada. A pressão do geral dominante sobre tudo que é particular, os homens
individualmente e as instituições singulares, tem uma tendência a destroçar o particular e
individual juntamente com seu potencial de resistência”. Perde-se nesse processo, portanto, a
sua identidade e potencial de resistência ao que seduz ao crime.
- É importante, nesse sentido, atentar-se especialmente para a educação infantil. Atiçar na
criança essa percepção de que os motivos que conduziram a esse estado de bárbarie não se
repita.
- Principais pontos de atenção: O espirito de confiança na autoridade. Autonomia x
Heteronomia. “Facilmente os chamados compromissos convertem-se em passaporte moral –
são assumidos com o objetivo de identificar-se como cidadão confiável – ou então produzem
rancores raivosos psicologicamente contrários à sua destinação original. Eles significam uma
heteronomia, um tornar-se dependente de mandamentos, de normas que não são assumidas
pela razão própria do individuo. O que a psicologia denomina superego, a consciência moral, é
substituído no contexto dos compromissos por autoridades exteriores, sem compromisso,
intercambiáveis, como foi possível observar com muita nitidez também na Alemanha depois da
queda do Terceiro Reich. [...] O único poder efetivo contra o principio de Auschwitz seria
autonomia, para usar a expressão kantiana; o poder para a reflexão, a autodeterminação, a
não-participação”.
- Adorno é contra a tese de que a vida rural teria qualidades “nostálgicas”. É necessário, até,
ao contrário disso, a desbarbarização do campo, constituindo como um importante objetivo
educacional. Para alterar esse cenário seria necessário inúmeros esforços, haja vista que o
sistema de escolarização do campo é frequentemente problemático.
- Auschwitz revela o novo e o velho ao mesmo tempo. A identificação cega com um coletivo, e
por outro, a identificação por manipular massas. Para evitar que isso se repita, é necessário
contrapor-se ao poder cego dos coletivos.
- “Pessoas que se enquadram cegamente em coletivos convertem a si próprios em algo como
um material dissolvendo-se como seres autodeterminados. Isto combina com a disposição de
tratar outros como sendo uma massa amorfa.”
- Caráter manipulador – Consciência coisificada. “Enfim, resumirei citando Paul Valéry, que
antes da última Guerra Mundial disse que a desumanidade teria um grande futuro. É
particularmente difícil confrontar esta questão porque aquelas pessoas manipuladoras, no
fundo incapazes de fazer experiências, por isto mesmo revelam traços de incomunicabilidade,
no que se identificam com certos doentes mentais ou personalidades psicóticas”.
- Consciência coisificada e o avanço da técnica – pessoas tecnológicas, se por um lado elas
serão menos influenciáveis, em outra medida, a técnica traz algo de exagerado e irracional,
que se vincula ao véu tecnológico. “Os homens inclinam-se a considerar a técnica como sendo
algo em si mesma, um fim em si mesmo, uma força própria, esquecendo que ela é a extensão
do braço dos homens.” A própria técnica, nesse sentido, é fetichizada “porque os fins – uma
vida humana digna – encontram-se encobertos e desconectados da consciência das pessoas.”
- “Não se sabe com certeza como se verifica a fetichização da técnica na psicologia individual
dos indivíduos, onde está o ponto de transição entre uma relação racional com ela e aquela
supervalorização, que leva, em última análise, quem projeta um sistema ferroviário para
conduzir as vítimas a Auschwitz com maior rapidez e fluência, a esquecer o que acontece com
estas vitimas em Auschwitz.”
- Pessoas frias, falta de amor e valorização da técnica - “Hoje em dia qualquer pessoas, sem
exceção, se sente mal-amada, porque cada um é deficiente na capacidade de amor”.
- “Em sua configuração atual – e provavelmente há milênios – a sociedade não repousa em
atração, em simpatia, como se supôs ideologicamente desde Aristóteles, mas na persecução
dos próprios interesses frente aos interesses dos demais.”
- O possível ressurgimento de um estado de barbárie novamente poderia ser por meio do
nacionalismo.
- Assassinos de Gabinete – “Benjamin percebeu que, ao contrário dos assassinos de gabinete e
dos ideólogos, as pessoas que executam as tarefas agem em contradição com seus próprios
interesses imediatos, são assassinas de si mesmas na medida em que assassinam os outros”.

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