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A Instituicao Como Via de Acesso A Comunidade
A Instituicao Como Via de Acesso A Comunidade
Rochael
Nasciutti
Os pressupostos da psicossociologia
Nesse espaço de articulação teórica que a psicologia social se insere, não há uma
redução dos processos sociais as projeções imaginárias individuais nem se considera
que o psiquismo individual seja totalmente sujeito aos determinantes objetivos da
realidade social. Os processos individuais têm a mesma importância que os processos
sociais.
Nessa ótica, “social” é tudo aquilo que se refere à vida coletiva organizada e
“psicológica” é tudo o que se refere ao individuo, tanto no nível consciente quanto no
inconsciente, embora não sejam entidades estanques e independentes entre si. Pelo
contrario, são indissociáveis. Os fundamentos teóricos da psicossociologia são multi-
referenciais: conteúdos principalmente da sociologia e da psicanálise vêm se juntar aos
conteúdos da psicologia social, assim como os de disciplinas afins como a antropologia
e a história. Só podemos nos referir ao social e ao psicológico como forma didática de
falarmos de espaços que na realidade se confundem.
Em suma, o que se busca nestas três linhas é uma mudança de relações sociais,
pelo questionamento, pela reflexão. Busca-se o movimento onde se manifesta a
estagnação, a naturalização do instituído, e essa busca se dá através dos atores sociais.
O dogmatismo, não impede que diversos estudiosos defendam a idéia da teoria
sempre em construção, jamais concluída. Mesmo mantendo suas especificidades
teóricas, procuram, através da interdisciplinidade, chegar um pouco mais perto desse
“objeto-sujeito” de estudo que somos nós, seres que se inter-relacionam socialmente.
O fato de sermos objetos e sujeitos ao mesmo tempo não nos permite a pretensão
de apreendermos completamente a realidade na qual estamos inseridos.
A questão do método
Um grupo social pode ser analisado quanto a diferentes aspectos da vida de seus
componentes, como: estrutura familiar, escolaridade, vida profissional e inserção social,
representações coletivas, mecanismos de ação e movimento social. Elementos psicossociais como
herança econômica, social e cultural que contribuem na determinação das trajetórias de vida,
formando um patrimônio em comum. Contribuindo assim para a compreensão mais ampla do
comportamento humano em situações sociais em função de seus múltiplos determinantes, e
permite a identificação de elementos a serem trabalhados juntamente com o grupo.
Um número crescente de trabalhos tem sido desenvolvido nos últimos anos em nosso país,
ligados, por exemplo, à questão educacional, envolvendo ação sócio-educativa realizada por equipe
interdisciplinar, como o projeto desenvolvido na comunidade/favela da Rocinha, no Rio de
Janeiro, onde as relações universidade x comunidade são repensadas e as possibilidades de maior
integração entre ambas são apontadas, visando benefícios mútuos.
A história da assistência aos portadores de doença mental no Brasil é conhecida mais pelos
seus desacertos do que por modelos assistenciais efetivos. Esses desacertos incluíam uma política
de exclusão referenciada no modelo de macro-hospital, do asilo, do “campo de concentração”, do
“depósito de loucos”. A filosofia subjacente a esse modelo tradicional implicava numa
representação do doente mental como um “não-ser social”, ao qual todos os direitos reservados ao
cidadão eram negados e como um “não-ser humano”, do qual eram retirados toda a
individualidade e respeito humanos e negada a identidade.
Consequentemente, as práticas institucionais e sociais voltadas para a assistência a esses
indivíduos resumiam-se primariamente a, quando muito, garantir-lhes a sobrevivência física e
secundariamente, a mantê-los inofensivos, através de procedimentos inibidores, como as cirurgias
ou as drogas. Uma legião de "zumbis" vagavam e infelizmente, ainda vagam pelos pátios das
instituições ditas de "assistência à saúde mental". De que saúde se trata aí é um dos pontos que
pretendo desenvolver pelo viés da questão institucional.
Sob influência de um amplo movimento internacional, centrado principalmente na Itália,
em Cuba e de alguma forma nos Estados Unidos, e tomando como referência local a estrutura asilar
predominante em nossas instituições profissionais da saúde mental de diferentes formações tem
questionado o modelo vigente e proposto formas alternativas de assistência ao doente mental ao
mesmo tempo em que se reflete sobre as atuações disciplinares que visem a profilaxia e ações
preventivas na saúde mental de maneira global.
Afastar o doente mental, segregá-lo, isolá-lo de nossos olhares e convivência, retirar-lhe
os atributos e prerrogativas de cidadão e de ser humano é o mecanismo conseqüente que nos
sossega e nos faz crer que não corremos o mesmo risco. Resumidamente, grosso modo, a internação
e cronificação assim se justificam.
Acontece que não são apenas os doentes que se cronificam na internação
hospitalar/asilar. A repetição contínua de práticas ao longo do tempo, a estrutura
burocrático-administrativa que rigidamente se instala pela cristalização das interrelações
institucionais, reproduz na própria instituição assistencial o modelo cronificador dos
pacientes.
A esses fatores, junta-se um outro elemento extremamente poderoso na sociedade
capitalista em que vivemos: o financeiro. A "indústria da loucura" tem retorno
monetário seguro, rentável e permanente. Há uma grande resistência, por parte dos que
vivem da insanidade do outro em abandonar estratégias instituídas de ganhos
financeiros seguros que a cronificação aporta e que garante a perpetuação dos hospitais-
asilos. Mudar o modelo assistencial em saúde mental significa assim determinação ética
e política que passa por e acarreta mudanças nos níveis: social, institucional e
individual.
Social, através de uma ampla reflexão junto aos mais diversos setores da
sociedade civil, buscando criar no imaginário social um novo lugar na representação da
doença mental e de seu portador. Nesse sentido, o discurso e a atuação dos profissionais
da saúde mental é fundamental.
Institucional, em seus diferentes níveis: