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SOCIOMETRIA

Edson Roberto de Jesus

2010

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escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

J58 Jesus, Edson Roberto de. / Sociometria. / Edson Roberto de Jesus. —


Curitiba : IESDE Brasil S.A., 2010.
188 p.

ISBN: 978-85-387-0819-3

1. Grupo Social. 2. Sociometria. 3. Teste sociométrico. 4. Sociograma. I. Tí-


tulo.

CDD 302.01

Capa: IESDE Brasil S.A.


Imagem da capa: IESDE Brasil S.A.

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Edson Roberto de Jesus
Mestrado em Antropologia Cultural pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Graduação e
Licenciatura Plena em Ciências Sociais pela PUC-SP, 1987.

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Sumário
O grupo social como objeto de estudo.........................................................11
O conceito de grupo................................................................................................................................13
Grupos, agrupamentos e grupos sociais..........................................................................................15
Características de um grupo social.....................................................................................................18

Teorias, estudos psicossociais e tipologia dos grupos sociais...............31


Estudos e enfoques teóricos sobre os grupos sociais..................................................................38

Modelos sociológicos e tipologia dos pequenos grupos sociais.........59


Modelos sociológicos..............................................................................................................................60
Tipologia dos grupos sociais: classificação dos grupos sociais................................................64

Metodologias, métodos e técnicas de investigação social.....................81


A metodologia............................................................................................................................................81
O método científico..................................................................................................................................84
Os métodos de investigação científica..............................................................................................86
Técnicas de investigação social e classificação...............................................................................90
A Sociometria como metodologia, método e técnica de investigação................................92

Socionomia........................................................................................................... 101
As influências da Socionomia.............................................................................................................101
A Socionomia............................................................................................................................................103
Os três ramos da Socionomia.............................................................................................................109

Sociometria: princípios e conceitos básicos.............................................. 117


O conceito de Sociometria..................................................................................................................118
Princípios e conceitos da Sociometria.............................................................................................120

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Teste sociométrico: elaboração e recolhimento de dados.................. 141
Definição e fases fundamentais.........................................................................................................144

Teste sociométrico: sociomatrizes e sociogramas.................................. 161


Sociomatrizes ou matrizes sociométricas: definição e fases...................................................162
Sociogramas: definição e fases...........................................................................................................169

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Apresentação
Segundo as concepções clássicas, os grupos sociais
constituiram uma organização coletiva resultante de uma
vontade individual e coletiva orientada para a realização
de objetivos, interesses e necessidades comuns. Essa orga-
nização, que tem na realização desses interesses comuns o
elemento propulsor do seu caráter associativo, é conside-
rada o alicerce, elemento de união fundamental à estrutu-
ra da sociedade. Afinal, nos grupos sociais se desenvolve o
processo de socialização pelo qual as pessoas são incorpo-
radas à sociedade.

Esse grupo – concebido para durar e permanecer es-


tável – passa por momentos de profundas mudanças em
suas estruturas e processos grupais. Em consonância com
as transformações tecnológicas que propiciam a instaura-
ção de uma sociedade midiática e globalizada, aniquilam
fronteiras e desmaterializam os limites entre o privado e
o público, instituem novas formas de comunicação e par-
ticipação, propiciam o surgimento de novas formas de
organização social num contexto difuso e volúvel, a ideia
de agregação, do criar e viver em grupo também se en-
contra em processo de mudança. Assiste-se à elaboração
de identidades fragmentadas, que não se constituem mais
com base em referências grupais estáveis, pois os indiví-
duos vivem diversos papéis em diferentes grupos, quase
que ao mesmo tempo. Uma nova forma de socialização se
gesta em função de uma nova concepção de agregação,
não mais norteada por interesses, ideais e necessidades
em comuns, mas de um modo mais informal, tal como
ocorrem na formação das redes sociais digitais. O informal
assume caráter fundamental no processo das inter-rela-
ções em uma nova dinâmica social.

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Nesse contexto, às abordagens científico-sociais de
cunho macrossociológico que visavam dar conta da inves-
tigação e interpretação da sociedade em termos das suas
grandes instituições e estruturas sociais, vêm se somar as
técnicas de investigação e intervenção social que adotam,
como ponto de partida, um enfoque microssociológico.

Os conteúdos abordados no presente livro foram


organizados tendo em vista, primeiramente, oferecer ele-
mentos básicos relativos às investigações e análises sobre
o que são os grupos sociais e as possibilidades e instru-
mentos para investigá-los e conhecê-los, em particular
a Sociometria. Nessa atualidade, tomar conhecimento
dos conceitos e instrumentos elaborados por Jacob Levy
Moreno constitui tarefa prioritária, posto que tais formu-
lações se revestem de contemporaneidade e revelam sua
potencialidade investigativa e interventiva na abordagem
dessas renovadas e complexas redes de interação social.

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O grupo social como objeto de estudo
O ser humano é um ser dependente do processo de interação social. A condição
de ser social e gregário constitui fato imprescindível à sua sobrevivência, vivência, de-
senvolvimento e, mesmo, manutenção da espécie. Somos sujeitos da necessidade de
contato com outros seres humanos.

A situação propícia ao desenvolvimento desse caráter relacional ocorre no con-


texto grupal: nas famílias, nas equipes, nos times, na escola, no trabalho e em tantos
outros tipos de grupos.

A tendência do ser humano em se associar traz implícita certa condição natural


à vinculação com outros indivíduos como forma de suportar e enfrentar as ameaças e
dificuldades. Tal fato não se trata de um fenômeno absolutamente surpreendente nem
mesmo se restringe à espécie humana. Estende-se a outras espécies com uma finalida-
de primordial: garantir a sobrevivência.

Essa condição de naturalidade parece ser a raiz básica na constituição e na insti-


tuição da vida em sociedade. Sendo assim, não é de causar surpresa que a humanidade
tenha se debruçado, observado, estudado e analisado esse tipo peculiar de organização
e sobre ele tenha reunido um amplo e suntuoso conjunto de ideias, noções e critérios,
destinados a aprender e explicar os fatos e fenômenos decorrentes das múltiplas formas
de relações – interpessoais e intrapessoais – travadas em uma situação de grupo.

Esse conhecimento, que pode ser tido como um portentoso saldo da experiência
humana, não se limita nem decorre tão somente das observações e reflexões alcança-
das a partir de um referencial teórico-científico. Antes, ultrapassando os limites de racio-
nalizações e regramentos metodológicos, traz à tona um aprendizado decorrente das
práticas, ações, fenômenos e fatos que perpassam nosso cotidiano, instrumentalizando
nosso arsenal de intuições e ações, certas ou erradas, que terminam por se constituir
como verdades absolutas e passam a ser consideradas como comportamentos ine-
rentes à natureza humana. Deriva, desse conjunto de práticas habituais – conscientes,
impostas, reguladas conforme uma coleção de regras e preceitos harmônicos e con-
sensuais – , consagrado pelo uso e explicitado no fazer das crenças, rituais, cerimônias,
danças, reuniões, uma sabedoria, mesmo que intuitiva, que atribui ao grupo uma força
e papel, fundamentais e indispensáveis no processo de organização da vida social.

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Essas formas peculiares de comprender o papel do grupo e a ideia de conferir
ao grupo uma função determinante na constituição e manutenção da vida social per-
passam diversas sociedades e culturas, desvelando os encargos de que se reveste a
organização grupal; sua contribuição objetiva na realização de certos processos so-
ciais como os de adaptação, integração ou continuidade das formas de organização
de uma sociedade, sua influência ativa sobre os indivíduos e a estrutura social podem
ser percebidas no palavreado corrente do dia a dia. Assim, “a união faz a força”, “juntos/
unidos venceremos”, “nas necessidades é que se conhecem os amigos”, ou mesmo esse
simples provérbio africano: “A união do rebanho obriga o leão a ir dormir com fome”.

A essa noção de que, juntos, nós seres humanos adquirimos uma nova e fortale-
cida condição, se estende às mais diversas ações e atividades comunitárias, tais como
as cerimônias ritualísticas, a alimentação realizada sempre em conjunto com os demais
integrantes da comunidade, as festas e suas diversas ocorrências, como a dança, o
canto coletivo etc. Fato, que não se deve mover para o relento do esquecimento, é que
tais acontecimentos são revestidos de atribuições fundamentais à existência da coleti-
vidade, podendo se dizer que essa ação e mobilização se expressam como uma força
positiva do coletivo que é transmitida aos integrantes.

No âmbito do conhecimento produzido a partir de métodos apoiados em pres-


supostos ontológicos, epistemológicos e éticos, usualmente denominados como co-
nhecimento científico, o “grupo social” tem sido objeto de abordagem em pesquisas
e estudos desenvolvidos pelas mais diversas disciplinas científicas, cada qual segundo
seus procedimentos metodológicos, o que veio propiciar a constituição de uma ampla
e diversificada literatura.

Enquanto algumas disciplinas, desde sua fundação, avocaram para si – como


pressuposto e perspectiva básicas de estudo e análise –, a ideia da sociedade como
um arranjo constituído por diversos grupos em um processo de interação dinâmico e
contínuo, atrelado a um contexto sociocultural particular, como no caso da Sociologia,
outras dirigiram seu olhar para a busca do conhecimento acerca das variadas formas
comportamentais assumidas pelos grupos sociais em função das diversas formas de
organização social, tal o caso dos estudos no campo da Antropologia, e outras ainda,
O grupo social como objeto de estudo

por exemplo a Psicologia e, em particular, a Psicologia Social, se esforçaram na elabo-


ração de estudos e análises sobre o comportamento dos seres humanos quando em
situação de grupo social.

Desse contexto decorre uma situação complexa: da diversidade, ou melhor, mul-


tiplicidade de abordagens teóricas, decorreu um fracionamento e uma pulverização
de conceitos sobre o que de fato venha a ser um grupo social.

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O conceito de grupo
Uma curta e rápida recuperação etimológica do vocábulo “grupo”. Tschiedel
(1998) apresenta duas origens: grop, que tem por origem Provença (França), e signi-
ficaria nó; e do termo germânico kruppa, que significa massa arredondada ou forma
arredondada, devido à sua forma circular. Alguns autores lhe atribuem o significado
de Terra. Esse termo teria passado, mais tarde, às línguas românicas ou línguas neo-
latinas (balcano-românico, galo-românico, ibero-românico e ítalo-românico) fazendo,
inicialmente, referência a um conjunto de pessoas representado através da pintura
ou da escultura e, posteriormente, a uma reunião de pessoas, uma multidão ou outras
coisas como várias figuras, um punhado de dinheiro. Os vocábulos groupe (francês) e
grupo (castelhano) teriam sua origem no termo italiano groppo ou gruppo.

Não obstante ser possível perceber, a partir de uma observação tão somente
analógica, que algumas das definições remetem à ideia atual do vocábulo grupo, nó a
coesão, círculo a igualdade e espaço, círculo à reunião, o que em outros termos permite
pensar que, implicitamente, as noções de igualdade, união e ligação são inerentes às
origens do vocábulo “grupo”, é bem certo que o mesmo se referia a elementos circuns-
critos ao universo da matemática e das artes plásticas e não, necessariamente, aos seres
humanos, fato que pode ser “inferido do uso do termo na Renascença quando este era
utilizado para denominar um conjunto de esculturas, uma vez que olhá-las em grupo
conferia um sentido distinto de olhá-las uma a uma” (ZANELLA; PEREIRA, 2001, p. 106).

Até bem próximo do final do século XVIII, não tem lugar a aplicação do dito con-
ceito ao universo das relações sociais. Tal situação tende a um processo de mudança
no transcorrer do século XIX, mas teria de aguardar os primeiros períodos do século XX
para que passasse a ter uma aplicação de forma particular e de um modo único.

Mas, anteriormente, o fenômeno grupo social existia?

O caso de não existência de um termo que singularize uma determinada condi-


ção ou prática social não implica necessariamente em sua inexistência enquanto fato.
Inúmeras línguas não dispõem de termos para designar certos fenômenos. Ariès (1981, O grupo social como objeto de estudo
p. 44-45) assinala tal situação em relação à inexistência de termos que possibilitassem
uma melhor identificação das diversas etapas da vida de um ser humano. Tanto a etapa
relativa à infância:
Por outro lado, havia em francês expressões que pareciam designar as crianças bem pequeninas.
Uma delas era a palavra poupart. Um dos Miracles Notre-Dame tinha como personagem um “petit
fils” que queria dar de comer a uma imagem do menino Jesus. “O bom Jesus, vendo a insistência

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e a boa vontade da criancinha, falou com ela e disse-lhe: ‘Poupart, não chores mais, pois comerás
comigo dentro de três dias’.” Mas esse poupart na realidade não era um “bebê”, como diríamos hoje:
também era chamado de clergeon (pequeno clérigo), usava sobrepeliz e ajudava à missa. […] Na
língua dos séculos XVII e XVIII, a palavra poupart não designava mais uma criança, e sim, sob a
forma poupon, o que hoje os franceses ainda chamam pelo mesmo nome, porém no feminino: uma
poupée, ou seja, uma boneca.

O francês seria, portanto, levado a tomar emprestadas de outras línguas – línguas estrangeiras
ou gírias usadas na escola ou nas diferentes profissões – palavras que designassem essa criança
pequena pela qual começava a surgir um novo interesse, foi o caso do italiano bambino, que daria
origem ao francês bambin. Mme. de Sévigne empregava também no mesmo sentido o provençal
pitchoun, […] Seu primo De Coulanges, que não gostava de crianças, mas que falava muito delas,
desconfiava dos “marmousets de três anos”, uma palavra antiga que evoluiria para marmots na língua
popular, “moleques de queixo engordurado que enfiam o dedo em todos os pratos”. Empregava-se
também termos de gíria dos colégios latinos ou das academias esportivas e militares: “um pequeno
“frater”, um “cadet”, e quando eram numerosos, “populo” ou “petit peuple”.

[…] Com o tempo, essas palavras se deslocariam e passariam a designar a criança pequena, mas já
esperta. Restaria sempre uma lacuna para designar a criança durante seus primeiros meses; essa
insuficiência não seria sanada antes do século XIX, quando o francês tomou emprestada do inglês
a palavra baby, que, nos séculos XVI e XVII, designava as crianças em idade escolar. Foi esta a última
etapa dessa história: daí em diante, com o francês bébé, a criança bem pequenina recebeu um
nome. (ARIÈS, 1981, p. 44-45)

Como a etapa relativa à juventude:


Embora um vocabulário da primeira infância tivesse surgido e se ampliado, subsistia a ambiguidade
entre a infância e a adolescência de um lado, e aquela categoria a que se dava o nome de juventude,
do outro. Não se possuía a ideia do que hoje chamamos de adolescência, e essa ideia demoraria a
se formar. (ARIÈS, 1981, p. 45)

Segundo Anzieu (1971), a associação de um conjunto de pessoas – em peque-


no número e com interesses, objetivos, hábitos, costumes e práticas comuns – não
possuía, nas línguas antigas, um termo apropriado que diferenciasse, distinguisse e
ressaltasse sua relevância. Nomear, atribuir uma representação simbólica, implica na
inserção do ente nomeado no universo das representações sociais. É atribuir existência
e significado. Assim, numa observação circunstancial, é possível considerar que uma
situação análoga se deu com o vocábulo “grupo”: enquanto fenômeno sempre existiu,
mas foi a partir da atribuição de um vocábulo que lhe diferenciasse e atribuísse sentido
e significado que esse fenômeno passou a receber olhares diferenciados de observa-
O grupo social como objeto de estudo

ção e pesquisas, e passou, formalmente, a existir.

O contexto histórico, social e político do século XIX que serviu de base para a aná-
lise dos pesquisadores, em particular os sociólogos e os psicólogos, colocava frente a
frente o indíviduo e a sociedade. Os fatos e os processos de mudanças profundos que
marcaram, assinaram e deram um significado especial a esse período terminaram por
marcar e conduzir acentuadamente o olhar dos observadores, um olhar totalizante
a observar uma sociedade em sua amplitude e totalidade. Consolidava-se um novo
sistema social marcado por uma nova estrutura social fundada na divisão por classes
sociais, formava-se uma nova estrutura do Estado, fundada na burocracia, e instituia-se

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e consolidava-se um novo sistema econômico. Ao mesmo tempo assistia-se à desagre-
gação e extinção das estruturas sociais comunitárias, que davam sentido às relações
interpessoais e intrapessoais. Olhava-se para o futuro. Observar, analisar e buscar a
compreensão sobre o que de “novo” se formava no horizonte próximo, remetendo para
um segundo plano, o “velho” ou, melhor dizendo, aquilo que principiava desaparecer.

Não obstante no século XIX Émile Durkheim (1984), em sua abordagem sobre
as formas de controle social e pessoal, tenha considerado a importância das relações
e vínculos de grupo, e Georg Simmel (2006) tenha chamado a atenção para, em suas
análises sobre as relações sociais, o papel e a importância da ideia de reciprocidade,
tal condição, em si mesma, constitui exceção, face ao contexto da época. Em termos
gerais, o conhecimento científico elaborado no período tinha como objeto fundamen-
tal da análise o novo contexto social que emergia, e não aquele que iniciava seu pro-
cesso de desaparecimento. Instaurava-se uma divisão: o conhecimento sobre o “novo
indivíduo” em processo de mudança ficava a cargo da Psicologia. A abordagem sobre
a “nova sociedade”, a sociedade em sentido amplo e total, também em processo de
mudança, ficava a cargo da Sociologia. Nas palavras de Mills (1970, p. 14): “a nova Psi-
cologia lidava com o indivíduo, e a nova Sociologia com a sociedade total.”

O estudo dos grupos, compreendidos enquanto grupos sociais, como objeto de


interesse científico, suscetível de descrição ou explicação, constitui um acontecimento
do século XX. Horkheimer e Adorno (apud TRUJILLO FERRARI, 1983, p. 308) assinalam
que o indíviduo se insere e participa da sociedade em sua totalidade, enfrentando suas
questões, problemas e contradições de caráter mais geral, a partir do grupo particular.
Essa tensão e contraste entre o particular e o universal, entre o geral e o específico,
entre a particularidade e a totalidade, o indivíduo e a sociedade, explicitará uma con-
dição única, na relação entre indivíduo e sociedade: “o indivíduo não se insere de forma
imediata na totalidade social, mas sim através de instâncias intermediárias. Essas ins-
tâncias intermediárias são as que se encontram abrangidas pelo conceito “grupo” (TRU-
JILLO FERRARI, 1983, p. 308). Ressalvando que “referem-se ao “grupo social”, porque o
conceito ‘grupo” pode dar lugar a noções mais diversas, de tal modo que os autores
muitas vezes não chegam a um consenso no seu emprego” (TRUJILLO FERRARI, 1983,
p. 308). O grupo social como objeto de estudo

Grupos, agrupamentos e grupos sociais


O termo grupo encontra sua utilização tanto no dia a dia como no universo
da ciência. No entanto, ao mesmo tempo em que pode ser utilizado para ordenar,
arranjar e classificar uma série de elementos, como o grupo das forças da natureza,
o grupo dos elementos que entram na composição de determinado objeto, o grupo
dos elementos geométricos, químicos, físicos etc., considerando os aspectos comuns
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de um conjunto de elementos iguais ou semelhantes também pode dizer respeito a
unidades que por mais iguais ou semelhantes guardam diferenças entre si. O termo
grupo também pode ser utilizado para denominar características e formas de organi-
zação social da realidade. Assim é que o conceito de “grupo”, enquanto “grupo social”,
termina por ter sua aplicação circunscrita às sociedades elaboradas, organizadas e
realizadas pelos seres humanos.

Entre outras manifestações que levam ao distúrbio da compreensão do conceito


de “grupo social” vem a ser o termo “agrupamento social” que Zimmerman (1997, apud
ZANELLA, PEREIRA, 2001, p. 106 ), buscando diferenciar o conteúdo inerente a ambos
os termos – grupo social e agrupamento social –, caracteriza como
[...] um conjunto de pessoas que partilha de um mesmo espaço e tem interesses comuns, podendo
vir-se a tornar-se um grupo. A passagem de um agrupamento a um grupo, propriamente dito,
resultaria, segundo o autor, da transformação de interesses comuns em interesses em comum, isto
é, os integrantes de um grupo reúnem-se em torno de uma tarefa e de um objetivo comum aos
interesses de todos.

Em outras palavras, um agrupamento social nem sempre é um grupo social.

Adotado e aplicado pelas diversas disciplinas das Ciências Sociais e Humanas, o


conceito de “grupo social” terminou por não se tornar exclusivo de nenhuma área do
conhecimento, recebendo diversos sentidos e formas de apropriação, se tornando um
tanto obscuro e levando à confusão com outros conceitos, como sociedade e classes
sociais1, por exemplo.

Não obstante tal cenário conflituoso são os grupos sociais os elementos e objetos
básicos na elaboração de estudos e análises sociais, e não os indivíduos, uma vez que
é tão somente no desempenho de um conjunto de papéis – conforme uma posição
e status social – que esses indivíduos ganham importância. É nos grupos sociais aos
quais pertencem os indivíduos que ocorrem os processos de interação e relaciona-
mentos. Posto que a sociedade, em sua totalidade, se encontra estruturada segundo
um conjunto de grupos sociais, de tal forma interconectados entre si, que possibilita
serem considerados segundo uma ideia de coparticipação de uma unidade, de um
mesmo contexto cultural, que vão sendo forjadas inúmeras compreensões, sem que
O grupo social como objeto de estudo

exista alguma unanimidade para o termo.

Uma das conceituações que trazem à luz inúmeras contradições é o conceito de


“grupo humano”, que considera como aspectos fundamentais à concepção de grupo,
a existência de um número diminuto e plural de indivíduos em relação e comunicação

1
Cabe uma primeira diferenciação básica: “sociedade” é um conceito que reflete a superestrutura da realidade humana totalizante, enquanto “grupo social”
constitui a infraestrutura dessa realidade. É evidente que o grupo social não é apenas uma “pluralidade de pessoas” porque nesse sentido confunde-se com o
“público”, com a ‘massa” ou com simples “agregados” (TRUJILLO FERRARI. 1983, p. 308).

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constante e direta por uma quantidade de tempo específica, atribuindo papel prodi-
gioso e exclusivo ao processo de interação, definindo-se, no “sentido de psicossocio-
lógico, como uma diversidade de pessoas que interagem umas com as outras, num
contexto dado, mais do que interatuariam com qualquer outra pessoa.” (TRUJILLO FER-
RARI, 1983, p. 309).

Uma outra abordagem, que também introduz inúmeros equívocos e ambiguida-


des em relação ao conceito de “grupo social”, denominada “grupo psicológico”, leva em
conta a condição temporária de um processo de interação entre um número restrito
de indivíduos e a natureza direta e intensa da relação, onde os componentes com-
partilham mutuamente um mesmo código de comportamento, baseados em regras,
valores e crenças, influenciando um ao comportamento do outro.

A introdução do conceito de “grupo social”, na literatura sociológica, constituía,


antes de tudo, um instrumento fundamental na definição da identidade da disciplina
por dar lugar a realização das pesquisas e a produção de conhecimentos empíricos,
considerando-se as possibilidades de análise, a narração minuciosa dos fatos e a pro-
dução de conhecimento abstrato, além da construção de definições e conceitos refe-
renciais. Situação essa explicitada nas palavras de Moraes Filho (1978, p. 19):
[…] a Sociologia abandonando o conceito genérico e universal de sociedade global, abrangendo
a humanidade inteira como um todo, para cingir-se a conceito mais modesto e limitado de grupo
social. […] Descobriu ela que, dentro da grande humanidade, existe uma infinidade de grupos
concretos, de todos os matizes e com os fins mais diversos possíveis.

É atribuída a Albion Small, ao afirmar que grupo social “é uma designação socioló-
gica conveniente para indicar qualquer número de pessoas, grande ou pequeno, entre
as quais se estabeleceram tais relações que somente podem ser imaginadas como um
‘conjunto’” (1905, apud TRUJILLO FERRARI, 1983, p. 311), a inclusão desse sentido de
“grupo social” no universo da sociologia.

A partir de um ponto de vista mais específico, que considera elementos como a


consciência de objetivos válidos para todos e a mobilização de todos em função de
uma ação e de um objetivo comum aos interesses de todos, surgirão uma quase infini-
dade de definições do conceito de “grupo social”. O grupo social como objeto de estudo

Gillin e Gillin (1961, apud TRUJILLO FERRARI, 1983, p. 311), levando em conta a
existência de relação e interação social entre os indivíduos, ponderam que pode ser
considerado como um “grupo social” um conjunto de duas ou mais pessoas.

Georg Simmel (2006), atribuindo fundamental importância aos processos de so-


cialização e interação – constituída pelas formas de socialização, como competição,
cooperação, convergência, subordinação, dominação, atração, indiferença etc. – e às

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formas de convivência, unificação e ação recíproca – elevará a noção de “grupo social”
à condição de um sistema de relações dinâmicas.

Trujillo Ferrari também proporá uma definição – própria à Sociologia – do concei-


to de “grupo social”:
[...]um grupo social é formado por um conjunto de pessoas que se identificam pelos “nós” e para
o qual estão suficientemente estruturados, dentro de um contexto temporal, integrados e em
interação, observando funções específicas ou gerais, graças aos padrões neuropsíquicos e socio-
culturais que observam na sua ação para a obtenção de metas de interesse coletivo. (TRUJILLO
FERRARI, 1983, p. 311)

Se estendendo, mas não muito, seguem ainda algumas outras conceituações


sobre grupo social, no campo da Psicologia.

Segundo Costa (2000, p. 142), “grupo social” poderia ser definido como
[…] organismo vivo formado por indivíduos que estabelecem determinados tipos de vínculos,
padrões, códigos, normas e relações. As características pessoais, no grupo, disseminam-se e diluem-
-se. A identidade grupal prevalece sobre a identidade pessoal, sendo a primeira o resultado da
“diluição” das identidades individuais. O grupo passa a ter estrutura personalizada como forma de
manter e de auto-organizar o conjunto de laços afetivos dos seus participantes, desenvolvendo
assim uma comunicação interpessoal própria.

Já Pichon-Rivière (1998a) define “grupo social” como


[…] o conjunto restrito de pessoas ligadas entre si por constantes de tempo e espaço, e articuladas
por mútua representação interna, que propõe, de forma explícita ou implícita, uma tarefa que
constitui sua finalidade. (PICHON-RIVIÈRE, 1998a, p. 234)

De certa forma, o conjunto de conceitos supracitados permite avistar e mesmo


entrever a sociedade, não como um conjunto de indivíduos, e sim como um conjunto
de grupos que se manifestam enquanto fenômenos sociais e psicossociais, passíveis
de estudos e análises de naturezas qualitativa e quantitativa.

Características de um grupo social


O grupo social como objeto de estudo

O que faz de uma pluralidade de pessoas um grupo social? Na intenção de


fornecer elementos que possam contribuir para a resposta a essa questão seguem
um conjunto de características cujas propriedades (espaço, tempo, lugar, ação, qua-
lidade, quantidade etc.) podem ser consideradas como predicativas da noção de
“grupo social”.

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Caráter estrutural
O caráter estrutural do “grupo social” decorre de dois aspectos intrínsecos e pecu-
liares: da forma como uma certa quantidade de indivíduos integrantes do “grupo social”
se juntam e da significação do conjunto. Manifesta, em outras palavras, não apenas
uma configuração derivada da maneira como os componentes – dois, dez, vinte ou “n”
membros do “grupo social” – se reúnem, se ajuntam, mas como os elementos de tal
conjunto, por conta de um processo – marcado por fenômenos de integração, intera-
ção, elaboração e compartilhamento de objetivos e valores etc. –, e que se desenvolve
por um dado intervalo de tempo, mais ou menos longo, alcança uma significação e
sentido próprios ao “grupo social”, que ultrapassam os limites da composição numérica
e das suas formas de agregação, propiciando-lhe visibilidade social.

Essas duas dimensões possibilitam a apreensão do “grupo social”, em termos de


objeto de estudos e análises, segundo o seu processo de agregação e tamanho – o
que levará à instituição de categorias sociais (pequeno grupo e grande grupo) –, os
elementos inerentes à sua organização e funcionamento – atitudes, procedimentos,
reações, comportamento etc – , e ao significado de sua existência.

Integração do grupo social


A integração é um processo no qual os integrantes do grupo social, no transcorrer
do desenvolvimento de suas relações sociais e em conformidade com um comporta-
mento coletivo, dão lugar a uma ação de estandardização, padronização e normati-
zação dos modos de proceder e agir, das atitudes, dos comportamentos e condutas.
Adequados à estrutura específica do grupo social, termina por gestar a identificação
do indivíduo com o grupo social, conduzindo a um estado de coesão e constituição de
uma consciência de pertencimento, favorável à existência e permanência do próprio
grupo social.

Interação mútua O grupo social como objeto de estudo

Interconectado ao fenômeno da integração, o processo de interação decorre da


rede de intercomunicação e inter-relação social, gestada e expressa interiormente nas
relações regulares e em situações específicas mantidas pelos componentes no grupo
social. Não obstante o caráter dúbio de sua ocorrência, afinal os indivíduos integrantes
do grupo social – em um processo de interação mútua – podem gerar situações de

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eternização ou destruição da própria unidade grupal, posto que situações de interação
são permeadas por conflitos, tensões e momentos de solidariedade, cooperação, acei-
tação e confraternização, tal ação não ocorre de modo caprichoso, discricionário ou
mesmo arbitrário. Integra-se aos padrões e normatizações instituídas pelo grupo social
e contribui para a cristalização de uma estrutura interna de status, distintas posições e
papéis dos indivíduos no grupo social.

Objetivos, valores e atividades compartilhadas


Um traço essencial na caracterização de grupo social é a existência de interesses
coletivos do grupo social. Estes, expressos segundo um conjunto de objetivos, valores,
atitudes e sentimentos construídos, consolidados e compartilhados, contribuem para
a consciência de pertencimento ao grupo social e estão entranhados com o sentimen-
to de existência do grupo.

Esse conjunto de interesses coletivos é materializado e consolidado em uma


malha de símbolos e rituais destinados a reforçar a consciência de grupo, afirmar a
vigência dos valores e atitudes compartilhadas, contribuindo para o domínio dos
interesses individuais (status, poder) e o revigoramento da unidade e identidade
do grupo.

Caráter funcional
Não obstante os indivíduos integrantes de um “grupo social” detenham uma
certa compreensão acerca das condições, obrigações e qualidades requeridas que se
impõem, estas são impostas e aceitas como disposições ideais e necessárias à existência
do referido “grupo social”. Tal configuração nem sempre atende às reais necessidades
de existência desse “grupo social” em relação à realização, desempenho, cumprimento
e alcance de certos objetivos ou fins, em termos de curto, médio ou longo prazo.

É o caráter funcional do “grupo social” que garante, a partir de processos de orien-


O grupo social como objeto de estudo

tação e ajustamento, a conciliação, o alinhamento e a harmonização dos seus integran-


tes às exigências inerentes à existência e permanência do “grupo social” enquanto tal.

Muito embora o caráter funcional do “grupo social” não deva ser confundido com
as suas finalidades, afinal um “grupo social” pode ter e cumprir um sem-número de
fins, externos e internos, há que se considerar que em inúmeras situações esse caráter
funcional mantém relações e vínculos de subordinação.

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Considerando aspectos relativos ao caráter funcional do “grupo social”, foi esbo-
çada a seguinte classificação:

“Grupo social unifuncional” – caracterizado por possuir uma única função,


por exemplo, o caso de uma banda cover de rock, cuja finalidade é interpretar
e imitar uma determinda banda de rock famosa;

“Grupo social multifuncional” – caracterizado por desempenhar diversas


funções, por exemplo, o caso dos grupos familiares;

“Grupo social suprafuncional” – caracterizado por desempenhar funções que


em muito se confundem com suas finalidades, por exemplo, o caso de grupos
e movimentos sociais de defesa de direitos sociais, econômicos, políticos e cul-
turais de determinados segmentos sociais, como mulheres, população negra,
idosos etc., onde a luta política emaranha-se às ações de atendimento.

Temporalidade e estabilidade
Os processos de integração e interação, a elaboração de normas, a instituição de
interesses coletivos, a definição dos diferentes status e papéis, envolvendo os diversos
indivíduos integrantes do grupo social, exigem certa duração no tempo. Essa condição
temporal é um elemento básico no processo de distinção do que vem a ser um grupo
social em relação a uma ocasional reunião de pessoas, um público, uma multidão.

Não obstante a duração no tempo constitui um critério relativo que depende


absolutamente das características de cada grupo social, afinal uma temporalidade,
uma noção de tempo, se manifesta segundo uma pluralidade de tempos e uma plu-
ralidade de ritmos de tempo inerentes aos grupos sociais e aos indivíduos perten-
centes a tais grupos; considerando-se o processo de duração dos grupos sociais, em
termos de origem, estabilidade e extinção, é possível instituir-se uma tipologia, con-
forme um processo de duração e estabilidade. Assim, os grupos sociais podem ser
considerados como:
O grupo social como objeto de estudo
“Grupos sociais temporais”– formados para a realização de uma tarefa concre-
ta e que se extinguem após atingir os objetivos para os quais se organizaram;

“Grupos sociais duradouros” – que desaparecem, não obstante tenham um


intervalo de tempo de existência maior, em decorrência de determinadas
ações, como a morte de alguém importante, a decisão adotada segundo uma
maioria, a separação, o divórcio etc.;

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“Grupos sociais permanentes” – cujos processos de dissipação não são pre-
nunciados, não estão previstos, como é o caso do Estado e de algumas insti-
tuições sociais.

Consciência de grupo
Decorre da exigência do “grupo social” quanto à necessidade de que seus com-
ponentes se identifiquem a si mesmo como tais. É necessário que entre os integran-
tes exista uma consciência particular de grupo e, em decorrência, cada elemento
se perceba como parte constituinte de uma unidade diferenciada de outras tantas,
constituída a partir de certos padrões socioculturais e manifestada segundo um con-
junto de símbolos coletivos, ideias, atitudes, ideologias etc.

O grupo social contribui para a construção de uma visão de si e de seus inte-


grantes como um nó perfeitamente diferenciado de outros nós. Constrói-se a cons-
ciência a partir das relações de complementação ou oposição e repulsa; a partir da
oposição dos “nós” face a eles, aos outros.2

Reconhecimento social
O processo de construção da identidade dos grupos sociais tem, entre suas ori-
gens, a inter-relação entre consciência de grupo e o reconhecimento exterior.

O reconhecimento é uma característica complementar à consciência do grupo.


A percepção da sociedade externa, da circunvizinhança, daqueles que não fazem
parte do grupo social, acerca desse próprio grupo social, constitui uma forma de
monitoramento e controle de suas atividades, discursos e práticas diferenciadoras.
Assim, assumir uma ideia de “nós” tendo como outros a sociedade, extrapola os li-
mites da construção da identidade a partir dos elementos internos do grupo social,
ou seja, assumir um “nós”, passando, assim, a uma outra condição, onde o “universo”
reconhece um “vós”. O universo – a sociedade – reconhece, ao grupo social, como um
O grupo social como objeto de estudo

ente diferenciado e atribui a ele qualidades e propriedades diferenciadoras.

2
“Assim, por exemplo, os membros de uma sociedade beneficente pensam que os seus propósitos são os de auxiliar os indigentes. Para tanto criam certos
estereótipos ou imagens desiderativas que podem estar fora da realidade, superestimando a sua ação, ao mesmo tempo em que podem subestimar e respon-
sabilizar, pela situação social dos indigentes, determinados programas políticos do governo ou certos grupos do poder”. (TRUJILLO FERRARI, 1983, p. 314)

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Texto complementar

Grupamentos sociais
(MANDELBAUM, 1982, p. 381-386)

Há numerosas formas segundo as quais as pessoas se organizam para viver e traba-


lhar em conjunto. Cada um de nós pertence a vários grupos sociais diferentes. O grupo
consiste em um conjunto de indivíduos que cooperam entre si, tendo em vista o mesmo
objetivo. Em certos casos, o número de membros do grupo é pequeno e seu objetivo
muito específico, como na situação de um clube de futebol ou dos feirantes da rua. Em
outras circunstâncias, o número é muito grande e o objetivo de caráter mais geral, como
no caso de um grande estabelecimento de ensino ou de um governo nacional.

Em sua maioria, os grupos a que uma pessoa pertence existiam antes de sua par-
ticipação e continuarão a existir depois que ela se for. Essas unidades sociais instituídas
são, de certa forma, como o time de futebol de um colégio: os jogadores, individualmen-
te, entram para o quadro e depois saem, mas o time continua.

A natureza dos grupos a que um indivíduo normalmente pertence varia entre os


diferentes povos do mundo. O membro de uma tribo australiana, um dos aborígenes
daquela ilha continental, interessa-se pelos grupamentos e subgrupamentos dos com-
panheiros de tribo que considera seus parentes. Sua própria posição nesses intrincados
grupos de parentes determina com quem pode casar e que cerimônias pode realizar. O
habitante de uma vila do sul da Índia sabe, desde os dias de sua infância, que pertence a
um grupo chamado casta. Sua participação hereditária nesse grupo não apenas deter-
mina com quem pode casar, mas regula também diversos assuntos, como a profissão ou
o negócio a que pode dedicar-se, os tipos de alimentos que pode comer e em compa-
nhia de quem pode fazer suas refeições.
O grupo social como objeto de estudo
[...] Qualquer que seja a diversidade entre os grupamentos sociais em todo o mundo,
existem pelo menos dois tipos que são encontrados em toda sociedade humana. A fa-
mília é um deles […]. Em todas as terras, entre todos os povos, a criança é normalmente
criada e educada dentro de uma família. E a família é o primeiro grupo social que ela vem
a conhecer.

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O outro tipo de agrupamento humano universal – e, na maioria dos casos, o segun-
do que a criança começa a reconhecer – é a comunidade local. Da mesma maneira que
normalmente nenhuma pessoa vive toda sua vida isolada, privada de qualquer famí-
lia, também, normalmente, nenhuma família vive inteiramente só, à parte de qualquer
outro grupo local. Todos nós – você, eu, o aborígine da Austrália e o homem da vila no
sul da Índia – temos vizinhos.

Vivemos com relação a esses vizinhos segundo regras e normas de comportamento


estabelecidas por nossas respectivas sociedades. E nossos vizinhos têm comportamento
semelhante, recíproco, em relação a nós. Essas regras e normas – padrões de comporta-
mento, como podem ser chamadas – quase nunca são conscientemente reconhecidas
ou escritas. [...] No entanto, os padrões são fixados e sancionados, embora não estejam
relacionados e classificados em um livro de regras. Em certas partes da Austrália, espera-
-se de cada boximane, e ele assim o faz, que defenda a área de caça compartilhada com
seus vizinhos contra intrusos não pertencentes ao seu grupo local.

[...] O grupo local é conhecido por vários nomes. É chamado horda nas descrições
da organização social dos aborígines da Austrália. Bando é outro termo frequentemente
empregado, especialmente em livros que tratam dos índios americanos. Entre as antigas
civilizações da Europa e do Oriente, a comunidade local é mais conhecida por vila. Nos
Estados Unidos é geralmente referida como vizinhança (neighborhood).

O conceito básico, qualquer que seja o termo usado, é o de um grupo de pessoas,


todas vivendo dentro de área limitada e cooperando entre si até certo ponto. A área
pode ser um vale, as praias de um lago ou o quarteirão de uma cidade, mas as famílias
aí localizadas geralmente se conhecem, ou pelo menos identificam suficientes interes-
ses comuns que as levam a atuar em conjunto, por certas formas, a fim de resolver pro-
blemas mútuos. Essa atuação recíproca para enfrentar problemas tem alcance maior
do que a simples realização de alguns objetivos específicos. Renova a solidariedade
das pessoas do grupo, preparando-as para novas atuações em conjunto. Porquanto,
ao atuarem em grupo, sentem-se recompensadas por fazê-lo, dispondo-se a trabalhar
O grupo social como objeto de estudo

juntas no futuro.

Cada família dentro de um grupo local tem determinados hábitos que são diferen-
tes daqueles de seus vizinhos, mas todas têm certas maneiras comuns, especialmen-
te umas em relação às outras. Da mesma forma, num conjunto de grupos locais, cada
grupo tem particularidades próprias, mas todo o conjunto age de maneira idêntica no
que diz respeito a certos aspectos importantes, particularmente quanto aos aspectos
que determinam as relações entre os grupos. O tamanho do grupo local e a extensão

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da área que ocupa dependem em grande parte da forma pela qual a comunidade se
sustenta. Um bando de índios crees das planícies, no Canadá ocidental, necessitava de
um vasto território para perseguir o búfalo migratório. Mas uma vila nas áreas mais fér-
teis da Índia não precisa mais do que alguns poucos quilômetros quadrados onde possa
plantar arroz em quantidades suficientes para alimentar sua população.

[...] O grupo local é de grande importância para os homens em todo o mundo, não
somente porque assinala a área dentro da qual a família reside e trabalha, mas também
porque é o lugar de cada um de seus membros. Dentro do território de sua comunidade,
uma pessoa conhece a disposição do terreno, sabe dos montes e caminhos, está fami-
liarizada com plantas e animais, reconhece quais são úteis e quais são perigosos. Na vida
urbana, o membro do grupo local conhece as ruas e lojas do lugar, estando familiarizado
com os sítios bons e aqueles que devem ser evitados. Além do mais, conhece as pessoas
e seus modos de ser. Em suas relações com vizinhos de quem não gosta, sabem em que
condições podem tornar-se desagradáveis. Ali se encontram seus amigos, e ele conhece
seus gestos e suas vozes; na Austrália central conhece até suas pegadas. É lá que geral-
mente se sente mais à vontade, mais seguro. Lá está em casa.

Desses sentimentos participam tribos que têm sido chamadas de selvagens.


Mesmo as pessoas com modos mais simples e rudes não vagueiam a esmo pelas
florestas ou através dos campos. As tribos australianas possuem tão poucas ferra-
mentas e bens quanto qualquer outro povo primitivo. No entanto, têm noção clara e
segura sobre o território de um grupo e sobre as famílias que, por direito, pertencem
a ele. Para os nativos australianos, como para a maioria dos homens, praticamente
toda a sociedade e toda a sua cultura está contida na comunidade local. A maio-
ria das pessoas que conhecem e estimam os costumes, as crenças e maneiras que
adotam existem dentro de sua comunidade.

Aliás, é somente nas grandes cidades de origem recente, em nossa civilização, que
o grupo local perdeu parte da sua importância. O habitante de uma cidade pode não
conhecer quem mora na casa ou apartamento ao lado, e assim pouco se importa com a
O grupo social como objeto de estudo
vizinhança, ou dela pouco participa. Talvez seja exatamente por essa razão que existem
tantos esforços, sob a forma de centros de comunidade, clubes locais, associações regio-
nais, com o objetivo de restabelecer o cordial espírito de vizinhança perdido no curso do
rápido crescimento da metrópole. Muitas pessoas, que hoje vivem em cidades, cresce-
ram em vizinhanças unidas e tradicionais, e sentem falta das lealdades do grupo local.
Geralmente transferem a sua solidariedade para o grupo maior mais próximo, a própria
cidade. Tendem a se tornar seus grandes defensores e são devotos fanáticos de algum
símbolo da cidade, por exemplo, um prestigioso clube de futebol.

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Ampliando conhecimentos
TROPA de elite. Direção de José Padilha. Brasil: 2007. Atores: Wagner Moura, Caio Jun-
queira, André Ramiro, Milhem Cortaz, Fernanda de Freitas. Duração: 1h58min.

CIDADE de Deus. Direção de Fernando Meirelles. Brasil: 2002. Atores: Matheus Nachter-
gaele, Seu Jorge, Alexandre Rodrigues, Leandro Firmino da Hora, Roberta Rodrigues.
Duração: 2h15min.

Os filmes Tropa de Elite e Cidade de Deus, na abordagem de suas temáticas apre-


sentam um conjunto de grupos sociais: usuários de drogas, traficantes que vendem
drogas ilegais, a polícia e o Estado. Nos contextos sociais abordados, os diversos grupos
sociais atuam e desenvolvem suas ações no sentido de realização de seus objetivos,
deixando à mostra elementos inerentes ao seu processo de constituição e diferencia-
ção, em termos estruturais, funcionais, valores, consciência de grupo.

Atividades

1. Por que as categorias conceituais “grupo humano”, “grupo psicológico” e “grupo


social” são consideradas mais que conceitos referenciais das Ciências Sociais?
O grupo social como objeto de estudo

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2. Como Zimmerman diferencia os termos “grupo social” e “agrupamento social”?

3. Se nem todo agrupamento humano constitui um “grupo social”, por que a cate-
goria conceitual “grupos sociais” se aplica tão somente à sociedade humana?

O grupo social como objeto de estudo

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Referências
ANZIEU, Didier. La Dinámica de los Grupos Pequeños. Buenos Aires: Kapelusz, 1971.

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Dora. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1981.

COSTA, Wedja Granja. Socionomia. In: COSTA, Wedja Granja; RIQUET, Silvia H.; ANDRA-
DE, Lêda A. Cronosplatia Holográfica Universal – Projeto Águas Belas. Transtornos
Psicoafetivos. Fortaleza: Fundação de Estudos e Pesquisas Socionômicas do Brasil,
2000.

DURKHEIM, Émile. A Divisão Social do Trabalho. Lisboa: Presença, 1984.

GILLIN, John P.; GILLIN, John L. Sociología Cultural. Madrid: Instituto de Estudios Polí-
ticos y Sociales, 1961.

MANDELBAUM, David G. In: SHAPIRO, Harry L. (Org.). Homem, Cultura e Sociedade.


Tradução de: CORACY, G. Robert; CORACY, Joana E.; OLIVA Margarida Maria C. . 3. ed.
bras. rev. e ampliada. São Paulo: Martins fontes, 1982. p. 381-386.

MILLS, Theodore M. Sociologia dos Pequenos Grupos. Biblioteca Pioneira de Ciências


Sociais. São Paulo: Pioneira, 1970.

MORAES Filho, Evaristo de. O Sindicato Único no Brasil. São Paulo: Alfa-ômega, 1978.

PICHON-RIVIÉRE, E. O Processo Grupal. Tradução de: VELLOSO, Marco Aurélio Fernan-


des. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

SIMMEL, Georg. Questões Fundamentais da Sociologia – indivíduo e sociedade. Rio


de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006. Coleção Nova Biblioteca de Ciências Sociais.

TRUJILLO FERRARI, Alfonso. Fundamentos de Sociologia. São Paulo: McGraw-Hill do


Brasil, 1983.
O grupo social como objeto de estudo

TSCHIEDEL, R. G. O Grupo como Espaço de Construção da Heterogeneidade à He-


terogênese. Dissertação de Mestrado não publicada. Porto Alegre: Pontifícia Universi-
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ZANELLA, Andréa V.; PEREIRA, Renata S. Constituir-se enquanto grupo: a ação de sujei-
tos na produção do coletivo. Estud. Psicol. Natal, Natal, v.6, n.1, jan./jun., 2001.

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Gabarito

1. Porque possibilitam apreender a sociedade não como um conjunto de indi-


víduos, e sim como um conjunto de grupos que se manifestam enquanto fe-
nômenos sociais e psicossociais, passíveis de estudos e análises de naturezas
qualitativa e quantitativa.

2. O fato de um conjunto de pessoas compartilharem um mesmo espaço e pos-


suírem interesses comuns não as torna de imediato um “grupo social”. Zim-
merman, considerando o conteúdo inerente a ambos os termos, afirma que a
passagem de “agrupamento social” a “grupo social”, propriamente dito, resulta
da transformação dos interesses comuns em interesses em comum, ou seja, os
integrantes de um grupo reúnem-se em torno de uma tarefa e de um objetivo
comum aos interesses de todos.

3. Não obstante seja possível atribuir a certos conjuntos de animais ou insetos a


existência de relações sociais ou subsociais entre seus integrantes, como por
exemplo as formigas e as abelhas, tal condição não é suficiente para definir
tal universo como constituindo um “grupo social” semelhante aos seres hu-
manos, haja vista se levarmos em conta não só a condição humana, já por si
só distinta dos demais animais, mas também as características inerentes aos
grupos sociais, tais como o seu caráter estrutural e funcional, o significado,
os processos de integração e interação entre os integrantes, a condição de
compartilhamento de objetivos, valores e crenças, a noção de temporalidade
e estabilidade, a consciência de grupo, a percepção de pertencimento, de re-
conhecimento social.

O grupo social como objeto de estudo

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Teorias, estudos psicossociais
e tipologia dos grupos sociais
Os estudos e abordagens teóricas tendo o “grupo social” como objeto de investi-
gação, análise e estudo, visando o estabelecimento de um conhecimento e compreen-
são sobre a dinâmica inerente aos grupos sociais e seu papel na sociedade, a institui-
ção de metodologias de intervenção e a instauração de teorias minuciosas e rigorosas,
não obstante o trabalho pioneiro desenvolvido no período circunscrito entre o final do
século XIX e o início do século XX, registraram considerável desenvolvimento a partir
do ano de 1940. Esse desenvolvimento se estendeu e envolveu um vasto campo do
conhecimento, das Ciências Sociais – Antropologia, Sociologia, Psicologia Social, Psi-
quiatria, Política etc. – às Ciências Exatas – Cibernética, Teoria Sistemática e Matemática
Aplicada, despertando curiosidade, alcançando relevância e fundando-se como reco-
nhecido campo de estudo e pesquisa social, clínica, experimental e laboratorial.

Desse ambiente surge um conjunto de prósperas contribuições ao estudo dos


grupos sociais, estabelecendo as condições de cientificidade imprescindíveis ao termo
“grupo social”, meio virtuoso ao qual foi atribuído status e importância fundamental
para a percepção do universo social, graças ao seu papel de agente socializador, ins-
tituidor da ordem social e provedor de valores, crenças e atitudes sociais, e enquan-
to uma representação – um microcosmo, um microsistema de uma sociedade mais
ampla, com seus códigos, regras, normas, valores, papéis, mitos, crenças, etc. –, realiza
um papel fundamental, manifesto em suas influências nos processos dinâmicos das
comunidades e no comportamento dos indivíduos, bem como, a partir da sua consti-
tuição e dinâmica grupal, se firma como um palco onde seus integrantes, num proces-
so de interação tenso e ativo, lidam com as pressões sociais e individuais.

Esse contexto virtuoso não se manifesta sem deixar aparente as marcas de um


debate que prenunciou o surgimento de diversas disciplinas do conhecimento, em
particular, o debate envolvendo os universos da Psicologia, mais especificamente da
Psicologia Social, e da Sociologia, que em termos simplórios poderiam ser colocados
enquanto a busca de uma resposta para as seguintes questões: é o individual que ex-
plica o social e o coletivo? É o social e o coletivo que explicam o individual, o social e
o coletivo?

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Auguste Comte (1798-1857), muito embora assumisse como probabilidade uma
concepção de sociedade enquanto um conjunto complexo de vários grupos – átomos
ou células sociais – em processo de interação, ao mesmo tempo em que asseverava
a existência de tão somente dois campos circunscritos dentro da ciência do conheci-
mento – a Sociologia, enquanto ciência da “verdade”, e a Biologia, como ciência da vida
–, negava a possibilidade de existência de um terceiro olhar, um campo do conheci-
mento intermediário, a Psicologia Social – mesmo apesar de atribuírem a ele a origem
do termo – ao considerar que a sociedade humana, enquanto tal, tinha sua origem e
era resultado da ação dos seres humanos –, por acreditar que os conhecimentos relati-
vos a essa ciência deveriam provir e serem apreendidos, compreendidos e explicados
pelo social.
Em seu Curso de Filosofia Positiva, publicado em seis volumes, de 1830 a 1842, o filósofo Auguste
Comte (1830-1842/1978) questionava a possibilidade ou pertinência de uma ciência psicológica, a
partir de dois problemas. Em primeiro lugar, argumentava que faltava à disciplina uma viabilidade
metodológica, posto que a introspecção como método era logicamente inconsistente; em segundo
lugar, indagava sobre o espaço para um saber sobre o homem que fosse diferente da abordagem
dos fatos biológicos e sociais. (TOURINHO; CARVALHO NETO; NENO, 2004, p. 18)

Posteriormente, o sociólogo Émile Durkheim (1858-1917), tendo como pressu-


posto a concepção de que o social e o coletivo contribuem para a explicação do indivi-
dual, considerará que à Psicologia somente restaria a abordagem individual, enquan-
to a Psicologia Social não seria mais que um termo, ou quando muito um arremedo
de procedimentos sem rigor, pleno de imprecisões e generalidades, e cujo objeto de
investigação era indefinido. À Sociologia, enquanto ciência autônoma que abordaria
os fatos sociais como coisas, caberia a abordagem do universo social, espaço pecu-
liar de investigação e tido como um nível superior e complexo do processo gradual e
progressivo da evolução psíquica dos seres humanos, cuja diversidade, característica
que marca as inúmeras formações sociais, atesta a impossibilidade de compreensão
Teorias, estudos psicossociais e tipologia dos grupos sociais

desse universo a partir dos indivíduos, dos elementos que a compõem. É esse caráter
irredutível do comportamento do conjunto em relação ao comportamento dos seus
integrantes que tornaria as investigações sociológicas imprescindíveis à compreensão
da sociedade.
Eis o motivo pelo qual o fenômeno social não depende da natureza dos indivíduos. É que, na
fusão de que ele resulta, todos os caracteres individuais, divergentes por definição, se neutralizam
e se dissipam mutuamente. Só as propriedades mais genéricas da natureza humana sobrevivem.
Devido precisamente à sua extrema generalidade, é que elas nunca poderiam justificar as for-
mas muito especiais e complexas que caracterizam os fatos coletivos. Não é que elas nada
tenham a ver com o resultado: mas isso apenas se verifica em condições mediatas e longínquas.
O resultado não se produziria se elas o excluíssem; mas não são elas que determinam esse mesmo
resultado. (DURKHEIM, s.d., p. 198)

Contemporâneo de Durkheim, Gabriel Tarde (1843-1904), expoente maior da so-


ciologia francesa do final do século XIX, ponderará que o universo social e coletivo
poderia ser explicado a partir do individual, e proporá a constituição de uma Socio-
psicologia, uma espécie de Psicologia Social, entendida como uma ciência psicológica
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do social. Aludindo que para a constituição de um ponto de vista sociológico universal
não haveria grandes distâncias ou mesmo diferenças que não pudessem ser suplanta-
das entre a sociedade e a natureza, afirmará que certas particularidades inatas de cada
indivíduo poderiam ter, ao mesmo tempo, uma origem social e, também, constituírem
um último marco ou expressão última e fronteiriça de caráter biológico, da vida ou da
natureza. Segundo Tarde,
[...] esses elementos últimos aos quais toda ciência chega – o indivíduo social, a célula viva, o átomo
químico – somente são últimos ao olhar de sua ciência particular, [...] eles mesmos são compostos”.
[...] Os “verdadeiros agentes seriam [...] esses pequenos seres que dizemos ser infinitesimais, e as
verdadeiras ações seriam essas pequenas variações que dizemos ser infinitesimais. (TARDE, 2003
apud VARGAS, 2004)

E, considerando qual seria enfim o trabalho a ser executado pela ciência, Tarde
afirmará que cabe à ciência o papel de,
[...] a despeito dos próprios cientistas [...], não [...] exorcizar as mônadas, mas acolhê-las em seu
âmago, procurando por toda parte no pequeno a resposta para o grande, vale dizer, pulverizando o
universo e multiplicando indefinidamente os agentes infinitesimais do mundo. (TARDE, 2003 apud
VARGAS, 2004)

Gustave Le Bon (1841-1931), cientista social e físico amador francês é, em função


de seus estudos sobre os fenômenos grupais, expostos em sua obra pioneira Psicologia
das Multidões, publicada em 1895, considerado, guardadas as devidas proporções, o
propositor das ideias básicas que irão alicerçar e fundamentar as concepções poste-
riores da Psicologia Social. Ideias essas corroboradas também em sua outra obra As
Opiniões e as Crenças.

Na elaboração do seu enfoque teórico, buscando fundar as bases para a análise


e compreensão do comportamento dos seres humanos quando envolvidos em mo-

Teorias, estudos psicossociais e tipologia dos grupos sociais


vimentos massivos, como no caso das multidões – um tipo de grupo social distinto
graças aos seus caracteres estrutural, funcional e temporal, haja vista sua organização
rápida e espontânea, comportamento desorganizado, homogêneo, emocional e su-
jeito a manipulações e sugestões externas e internas –, Le Bon, que segundo algumas
opiniões nutria profunda repulsa e antipatia pelo fenômeno das multidões, aponta
para o caráter hipnótico proveniente desse tipo de grupo, que possibilita aos seus in-
tegrantes realizações, às vezes primitivas e destrutivas, entre tantas outras que jamais
atentariam em situações diferentes, ou seja: por mais diferentes que sejam os elemen-
tos constituintes de um grupo com as características de uma multidão, em função do
caráter, gênio, humor, experiência, atividade profissional, escolaridade e modo de vida
de cada indivíduo, por exemplo, o exato momento em que se sentem transformados
num grupo os apodera de uma nova condição, um novo sentimento, uma nova forma
de pensar, uma nova forma de agir. Se abordados isoladamente, de modo individual, se
comportariam, em tudo, de forma absolutamente diferenciada. Ou seja, os indivíduos,
quando tomados por um tipo de espírito coletivo, são elevados a uma nova condição
onde o impossível não existe.
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Assim, para Le Bon (2001)
[...] o homem em multidão procede diferentemente do homem isolado. Ele é, pois, guiado por uma
lógica especial porquanto ela implica a existência de elementos somente observáveis nas multidões.
[...] A alma coletiva, momentaneamente criada por uma multidão, representa um agregado, muito
especial, em que o impossível não existe, a previdência é ignorada, a sensibilidade sempre se
manifesta hipertrofiada e a lógica racional é inteiramente desprovida de ação. [...] Entre todas as
variedades de contágio mental que nos constringem, uma das mais pujantes é, como já mostrei, a
do grupo social de que fazemos parte. Nenhuma vontade procura subtrair-se à sua ação. Ele dita
mesmo, às mais das vezes, as nossas opiniões e os nossos julgamentos, sem que o percebamos.
[...] Essa tirania dos grupos sociais, na qual insistiremos, não é inútil. Se os homens não tivessem
por guia as opiniões e a maneira de proceder daqueles que os cercam, onde achariam a direção
mental necessária à maior parte? Graças ao grupo que os enquadra, eles possuem um modo de
agir e de reagir quase constante. Graças ainda a ele, naturezas um pouco amorfas são orientadas
e sustentadas na vida. Assim canalizados, os membros de um grupo social qualquer possuem,
com uma personalidade momentânea ou durável, porém bem-definida, uma força de ação que
jamais sonharia qualquer dos indivíduos que a compõem. As grandes matanças da Revolução não
foram atos individuais. Os seus autores atuavam em grupos: girondinos, dantonistas, hebertistas,
robespierristas, termidorianos etc. Esses grupos, muito mais do que indivíduos, então se combatiam.
Deviam, portanto, empregar nas suas lutas a ferocidade furiosa e o fanatismo estreito, característicos
das manifestações coletivas violentas.

Alguns outros fatos e nomes irão surgir no processo de construção e sistemati-


zação do conhecimento, no assentamento de conceitos e na formulação de práticas
tendo o grupo social como foco. Assim, como tendo tomado parte desse caminho é
possível citar o psicólogo alemão Wilhelm Wundt que, em 1879, fundou o primeiro La-
boratório de Psicologia na Universidade de Leipzig, contribuindo para uma nova feição
da Psicologia de natureza objetiva e experimental. Também o médico norte-americano
Joseph Pratt – a quem é atribuído o desenvolvimento de uma abordagem metódica,
sistemática e deliberada das emoções coletivas com fins terapêuticos –, a partir de suas
atividades realizadas em um ambulatório de tratamento de Tuberculose, em Chicago,
1905 – quando implementou a realização de reuniões com os pacientes, onde além
Teorias, estudos psicossociais e tipologia dos grupos sociais

de serem fornecidas informações, realizadas orientações e acompanhamentos, se pro-


movia situações nas quais os pacientes, reunidos em grupo, trocavam experiências –
introduz um “método didático”, também denominado classes coletivas, “classeterapia”
ou repressão e reeducação moral, e contribui para o que mais tarde viria a ser denomi-
nado psicoterapia de grupo. Essa abordagem de Joseph Pratt tornou-se modelo para
outras organizações semelhantes, por exemplo, a Alcoólicos Anônimos.

Em 1917 foi criada, na Universidade de Harvard, a cátedra de Psicologia Social,


cujo titular seria, a partir de 1920, William McDougall (1871-1938), autor da primeira
obra consagrada à disciplina: Uma Introdução à Psicologia Social. Publicou ainda, em
1920, as obras A Mente Grupal (The Group Mind) e Uma Nota sobre a Sugestão, que
seriam objeto de comentários de Sigmund Freud em sua obra Psicologia de Grupo e
A Análise do Ego. Em A Mente Grupal apresenta uma reflexão sobre o “grupo social”,
seu comportamento e influência sobre os seus integrantes, abordagem denominada
psicologia coletiva. Compreendia que os indivíduos, cada indivíduo integrante de um
certo “grupo social”, eram mobilizados por um impulso comum, uma excitação, exalta-

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ção ou intensificação de emoção por ele denominado de “princípio da indução direta
da emoção por via da reação simpática primitiva”. Cogitava, então, a existência de uma
mente coletiva que influenciava todos os demais componentes de um determinado
grupo. A partir do entendimento de que um “grupo social”, para ser entendido como
tal, necessitava de, minimamente, princípios rudimentares de organização, além de
uma “homogeneidade mental” decorrente do fato de os indivíduos – quando em um
“grupo social” – terem objetivos em comum, participarem de uma predisposição emo-
cional análoga, em qualquer circunstância, e contarem com uma reciprocidade inequí-
voca, originária do processo de influências, pressupunha que, nessas condições, mais
prontamente ocorreriam as manifestações grupais, contribuindo para a constituição
de um grupo psicológico.

Em decorrência desse intenso pleito, sustentado com argumentos, razões e pai-


xões pelos partidários, tanto da Sociologia como da Psicologia, especialmente a Psi-
cologia Social, frutifica e se propaga uma diversidade de possibilidades – caminhos e
nexos diferentes e complementares –, numa rede composta por distintas correntes, te-
orias, técnicas e metodologias e, consequentemente, um conjunto de autores, melhor
dizê-los fundadores e estruturadores, de novos campos do conhecimento.

Desse processo de comunicação recíproca, troca e permuta no universo das Ciências


Sociais, sobretudo da Psicologia e da Sociologia, toma corpo um processo de transformação
radical nas abordagens sobre os grupos sociais. A partir de uma perspectiva intrarrelacio-
nal e de uma percepção do grupo social como microuniverso social, espaço privilegiado de
observação de inúmeras experiências e fenômenos que se sucedem na sociedade, ganha
força um enfoque que, buscando superar as especulações e as noções, ideias e opiniões
vagas e desprovidas de maior fundamento sobre o fenômeno dos grupos sociais, passou-
se a valer de uma variedade de instrumentos e formas de pesquisa empíricas de observa-

Teorias, estudos psicossociais e tipologia dos grupos sociais


ção, quantificação, mensuração, qualificação, experimentação e verificação, como etapas
de um processo metodológico de investigação do seu modus operandi. Em outras palavras,
buscava-se firmar uma distinção entre os dados e informações objetivas e as formulações
de bases fundamentalmente subjetivas, tendo em vista compreender o funcionamento
dos grupos sociais, construir um arcabouço prático e teórico, potencialmente aplicável e
verificável, passível de contribuir para o conhecimento e aperfeiçoamento das práticas so-
ciais. Uma metodologia baseada na análise, experimentação e generalização de um fato
em que o indivíduo se torna sujeito e objeto da investigação. Assim, uma das finalidades da
Sociologia seria “[...] estudar cientificamente o comportamento do grupo através da análi-
se, experimentação e generalização” (BEAL; BOHLEN; RAUDABAUGH, 1972). Cartwrigth e
Zander (1967, p. 4 apud CUZIN, 2008) com propriedade afirmam,
Quer se deseje compreender, quer se deseje aperfeiçoar o comportamento humano, é preciso
conhecer a natureza dos grupos. Não é possível ter uma visão coerente do homem, nem uma
tecnologia social adiantada, sem respostas seguras a uma série de questões referentes ao
funcionamento dos grupos e à relação entre estes e a sociedade mais ampla .

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Em outras palavras, essa nova metodologia implica na consideração e reconheci-
mento da possibilidade de demonstração, por parte do sujeito objeto da investigação,
do “fenômeno grupal do qual também participa enquanto membro desse grupo em
estudo. Ou seja, ele torna-se sujeito e objeto da pesquisa”(CUZIN, 2008, p. 37).

Essa nova forma de abordagem do fenômeno dos grupos sociais, caracterizada


pela instituição e sistematização de bases conceituais e práticas, distinta das suas ante-
cessoras, será denominada dinâmica de grupo, uma decorrência do debate incessante
no universo das Ciências Sociais sobre o fenômeno “grupo social”, que abarca diversos
campos e disciplinas do conhecimento e da sociedade, terminando por ser adotada no
universo das Ciências Humanas e, principalmente, da Psicologia Social.

Numa pretenciosa tentativa de esboçar um arranjo das várias vertentes re-


sultantes do debate supracitado, segue um quadro elaborado tão somente a título
de ilustração.

Quadro 1 – Vertentes do pensamento científico em Sociologia e Psicologia


sobre grupos sociais

(CUZIN, 2008, p. 40. Adaptado.)


PSICOLOGIA SOCIOLOGIA

PSICOLOGIA PSICOLOGIA MACROSSO-


MICROSSOCIOLOGIA
INDIVIDUAL SOCIAL CIOLOGIA

PSICOLOGIA FENOMENOLOGIA PSICOLOGIA PSICOLOGIA


Teorias, estudos psicossociais e tipologia dos grupos sociais

COMPORTAMENTAL EXISTENCIAL PSICANÁLISE DAS MASSAS DAS MASSAS

PSICOLOGIA TRANSPESSOAL
DINÂMICA DO GRUPO

Considerada como uma decorrência de um maior processo de aproximação e inter-


câmbio entre a Sociologia e a Psicologia Social, a dinâmica de grupo, em suas mais diversas
configurações – laboratórios experimentais de relações intergrupais e ou interpessoais (labo-
ratory training: laboratório de treinamento; sensitivity laboratory: laboratório de sensibilida-
de), grupo de diagnóstico, grupo de sensibilização –, emerge como expressão de uma nova
lógica de investigação do fenômeno “grupo social”, a partir da abordagem dos princípios,
regras, leis, nexos, vínculos, sentidos e características que norteiam as relações instituídas
entre os componentes do grupo social e o próprio grupo social, bem como do grupo social

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com a sociedade mais ampla. Cartwright e Zander apresentam a dinâmica de grupo com o
“estudo das forças que agem no seio dos grupos, suas origens, consequências e condições
modificadoras do comportamento do grupo” (1967 apud CUZIN, 2008, p. 35).

O amplo desenrolar de metodologias que, através da elaboração de teorias e sis-


temas de análise, atribuíram ao estudo dos grupos sociais – especificamente ao estudo
da natureza viva do viver em coletividade – certo grau de cientificidade, releva, nesse
processo, e é preciso notar, o alto grau de correlacionamento entre as mais diversas
áreas do conhecimento, muito em função dos objetivos e dos procedimentos, e mais,
fatalmente, por conta do objeto de estudo, originalmente advindo das ações humanas,
o que termina por imputar um caráter interdisciplinar e multidisciplinar às contribui-
ções. Cuzin (2008, p. 44) elabora uma pequena descrição de algumas áreas do conhe-
cimento e sua correspondente abordagem do fenômeno do “grupo social”, que segue
apresentada de forma sintética.

(CUZIN, 2008, p. 44. Adaptado.)


Áreas do Abordagem do fenômeno do grupo social
conhecimento

Psicologia Comportamento dos indivíduos em sua atuação interpessoal.

Sociologia Grupos sociais culturais.

Ciências Políticas Lideranças e grupos de pressão de persuasão, de influência.

Sindicatos, famílias e outros grupos e as consequências no mercado


Economia
consumidor.

Marketing e Publicidade Grupos consumidores e a mensagem de vendas.

Teorias, estudos psicossociais e tipologia dos grupos sociais


Pedagogia Aprendizagem e desenvolvimento do aluno.

Esporte O rendimento da equipe, seu entrosamento e produtividade.

Medicina Terapia de grupo e a vida hospitalar.

As investigações sobre o conceito de dinâmica de grupo e, por extensão, das re-


lações interpessoais tanto no campo da Sociologia como da Psicologia resultarão na
constituição de um conjunto de referenciais teóricos imprescindíveis à pesquisa sobre
o fenômeno do “grupo social”.

Considerando a relevância de alguns estudos, Cuzin (2008, p. 45) apresenta uma


sistematização dessas abordagens e orientações teóricas por sua importância e en-
foques complementares, que propiciaram um reconhecimento acadêmico e científi-
co aos estudos sobre “grupo social”, essencialmente no âmbito da Psicologia Social.
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(CUZIN, 2008, p. 45. Adaptado.)
Orientação teórica Descrição
Orientação voltada à construção de modelos científicos e à aná-
lise das relações causais. Investiga as estruturas e dinâmicas dos
Teoria de campo grupos sociais, como derivadas de um processo de interdepen-
dência, marcado por relações causais entre o particular e o geral,
entre o indivíduo e o “grupo social”.

Aborda o “grupo social” como um sistema de indivíduos que in-


Teoria da interação
teragem entre si.

O “grupo social” é considerado com um sistema de interação, de


Teoria de sistemas comunicação, de encadeamento de posições e papéis com várias
alternativas de entrada (input) e de saída (output).

Estuda as escolhas interpessoais que ligam o “grupo social” às


Teoria sociométrica
pessoas.

Estuda os processos motivadores e defensores do individual no


Teoria psicanalítica
grupal.

Investiga como o indivíduo recebe e exterioriza as informações


Teoria cognitivista sobre o mundo social e como essa cognição influencia o desem-
penho do seu comportamento.

A investigação do “grupo social” parte do pressuposto de que os


Teoria da orientação empírica
conceitos de dinâmica de grupo devem ser descobertos por um
e estatística
estatístico, e não construídos por um teórico.

Estudo do “grupo social” baseado na abordagem de somente al-


Teoria dos modelos formais guns aspectos do grupo, perpassado por extremo rigor formal e
Teorias, estudos psicossociais e tipologia dos grupos sociais

segundo uma orientação de tendência matemática.

Estudos e enfoques teóricos


sobre os grupos sociais
Entre as abordagens supracitadas, algumas contribuíram fundamentalmente para
o desenvolvimento da “dinâmica de grupo”. Por sua vez, Cartwright e Zander (1967 apud
CUZIN, 2008, p. 46) enfatizam três grandes contribuições: “os experimentos de comporta-
mento individual no grupo, a observação controlada da interação social e a Sociometria”.

Conforme a metodologia – técnicas e processos – e os referenciais teóricos con-


siderados na investigação sobre o “grupo social”, ou mesmo a partir de esboços que,

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antes de representar a forma, se voltam para a apreensão de suas relações e funções,
as diversas contribuições resultantes dos estudos, realizadas no âmbito da Sociologia e
da Psicologia Social, tendo em vista o estabelecimento de um maior rigor na definição
desse objeto de estudo, terminaram por envolver desde proposições teóricas de carac-
terísticas lógico-empirista até ponderações de caráter topológico. No transcorrer desse
processo foram invocados diversos critérios: da autoidentificação dos integrantes; da
qualidade particular dos contatos; do contato e interação; da posição ocupada pelo
“grupo social” em um contexto social mais amplo da sociedade.

Desse acúmulo de ofertas, ganha relevo a concepção de “grupo social” como o


“pequeno grupo”, definidos em termos de sua quantidade numérica – para alguns
uma média de sete indivíduos, para outros um número mínido de dois e um número
máximo de vinte indivíduos –, e das possibilidades de observação, análise e manuseio
laboratorial, por parte dos pesquisadores, daí decorrendo sua denominação de “grupos
experimentais”, considerados básicos nos estudos sobre o comportamento humano.

Essa concepção de “grupo social” enquanto “pequeno grupo” terminará por al-
cançar profunda importância no desenvolvimento de pesquisas e teorias relativas à
compreensão desse fenômeno social. Um conjunto de teorias que, por força de sua
abrangência, termina por contribuir na organização de numerosos resultados de pes-
quisa e, por conseguinte, no desenvolvimento de novos estudos.

Teoria de orientação psicanalítica


O enfoque de Sigmund Freud (1856-1939) sobre os grupos sociais e seu posicio-
namento face ao comportamento coletivo, compreendido como consequência de um

Teorias, estudos psicossociais e tipologia dos grupos sociais


processo de inter-relação entre um conjunto de pessoas determinadas e um indivíduo,
também determinado, é inferido, por alguns pesquisadores e autores, de uma de suas
obras intitulada Psicologia das Massas e Análise do Ego, onde o autor abordaria e propo-
ria uma distinção entre Psicologia Social ou Coletiva e Psicologia Individual.

Fernandes (2003, p. 49) alerta para uma peculiaridade dessa obra, que reme-
teria a inúmeras e desencontradas interpretações, proveniente das diversas utiliza-
ções dadas aos termos massa, multidão e grupo, presentes nas revisões aplicadas às
edições inglesa (1922) e alemãs (1923 e 1925), bem como no caso francês onde três
edições apresentavam, também, três diferentes traduções (Psychologie Collective et
Analyse du Moi, Psychologie des Foules et Analyse du Moi e Psychologie des Masses et
Analyse du Moi).

Assim, enquanto para Pichon-Rivière a Psicologia das Massas e Análise do Ego atin-
ge uma compreensão integral da inter-relação existente entre ser humano e sociedade,
para R. Kaës a mesma obra tão somente trataria-se de uma criação de “conceitos no do-

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mínio da Psicologia Social, para assegurar uma abertura intersubjetiva dos aparelhos
psíquicos [...] onde se poderia assegurar conjuntamente a estrutura do laço ou vínculo
libidinal entre vários sujeitos, a função das Identificações e dos Ideais e a formação do
Eu” (FERNANDES, 2003, p. 48). Ainda um outro grupo de analistas aponta para o caráter
diluidor da obra, posto considerarem a existência de uma postura marcada pela ten-
dência de apagar as diferenças entre Psicologia Social e Psicologia Individual, no que
diria respeito ao objeto de “trabalho” de ambas, especificamente no que se refere aos
mecanismos responsáveis pelo comportamento. Por sua vez, Paul-Laurent Assoun, no
entender de Fernandes, consideraria a abordagem da Psicologia Social engendrada
por Freud como uma tentativa de estabelecer uma mediação entre as abordagens da
Sociologia (saber social) e da Psicologia (saber individual), situação na qual o “grupo
social” se instituiria como uma realidade interposta entre esses dois domínios (FER-
NANDES, 2003, p. 48).

Pichon-Rivière, reforçando a concepção de um posicionamento absolutamente


nítido de Freud tendo em vista o suposto dilema entre Psicologia Individual e Psico-
logia Social, salienta que Psicologia das Massas e Análise do Ego trata-se de uma obra
pouco ou mal compreendida.

Freud, dando conhecimento de sua posição face à possível relação entre a Psico-
logia Social e a Psicologia Individual, afirma:
A oposição entre Psicologia Individual e Psicologia Social ou Coletiva, que à primeira vista pode nos
parecer muito profunda, perde grande parte de sua significação quando a submetemos a um exame
mais minucioso. A Psicologia Individual concretiza-se, certamente, no homem isolado, e investiga os
caminhos através dos quais ele tenta alcançar a satisfação de seus instintos, porém, só muito poucas
vezes, e sob determinadas condições excepcionais, lhe é dado prescindir das relações do indivíduo
com seus semelhantes. Na vida anímica individual, aparece integrado sempre, efetivamente, o outro
como modelo, objeto, auxiliar ou adversário, e desse modo a Psicologia Individual é ao mesmo
Teorias, estudos psicossociais e tipologia dos grupos sociais

tempo, e desde o princípio, Psicologia Social, em um sentido amplo, mas plenamente justificado.
(FREUD apud PICHON-RIVIÈRE, 1998a, p. 43)

Dessa forma, o indivíduo no processo de interação com seus pares e com um


conjunto diferenciado de grupos sociais mantém relações e recebe influências. Tais
relações, passíveis de serem consideradas como fenômenos sociais, são relações
que, internalizadas, reproduzem no indivíduo influências procedentes das relações
sociais externas.

Sob esse olhar, vem à tona o processo pelo qual as relações e influências dos outros
sobre o indivíduo aparecem integradas à vida anímica desse indivíduo, ou seja, o com-
portamento individual resultaria da influência simultânea de muitas pessoas sobre o
individuo. Esse processo de caráter inter-relacional dialético, onde há a permanente
interação entre o mundo interior e o mundo exterior, consubstancia, o que viria a ser
do ponto de vista de Pichon-Rivière, uma visão integral do problema da inter-relação
ser humano-sociedade. Nessa condição, onde “toda vida mental inconsciente, ou seja,
o domínio da fantasia inconsciente, deve ser considerada como a interação entre obje-

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tos internos (grupo interno), em permanente inter-relação dialética com os objetos do
mundo exterior” (PICHON-RIVIÈRE, 1998a, p. 44), possivelmente não seria necessário
invocar um outro conjunto de abordagens explicativas distintas daquelas utilizadas
na investigação do comportamento interindividual. Em outros termos, semelhantes
procedimentos explicativos concernentes aos processos intra e interindividuais seriam
passíveis de empreendimento na explicitação do comportamento coletivo.

Teoria de campo, dinâmica de grupo e pesquisa-ação


Oriundo da tradição da Psicologia da Gestalt, teórico da personalidade e pesqui-
sador no âmbito da Psicologia Social, Kurt Lewin (1890-1947) tem o estudo científico
do “grupo social” estreitamente ligado ao seu nome, posto ser considerado o criador da
Teoria de Campo e pioneiro na dinâmica de grupo.

Dentre suas contribuições iniciais, destaca-se sua proposição de uma Teoria To-
pológica, construída a partir de elementos teóricos do campo da Física, objetivando a
descrição e compreensão do comportamento humano.

Em 1933, em fuga do nazismo, parte para a Inglaterra e, posteriormente, para os


Estados Unidos. Em parceria com Ronald Lippit, desenvolve um estudo acerca do com-
portamento dos grupos tendo em vista analisar o tipo de liderança. Trata-se da aplicação
de um método experimental através da construção de ambientes distintos (autoritário,
democrático e laissez-faire). Publicado em 1938, na Revista Sociometry, os resultados de-
monstraram que o sentimento de pertencimento, a cooperação e a originalidade dos
integrantes dos grupos tidos como conduzidos por lideranças democráticas, ocorriam
de modo espontâneo e podiam ser considerados qualitativamente maiores do que da-

Teorias, estudos psicossociais e tipologia dos grupos sociais


queles registrados entre integrantes de grupos dirigidos por lideranças autoritárias, ou
melhor, autocráticas, onde os processos ocorriam de modo “imposto”, segundo coman-
dos e ordens. Possibilitaram, ainda, o estabelecimento de distinções entre grupos, até
hoje utilizados, conforme os estilos de liderança: grupos democráticos, autocráticos e
laissez-faire. Esse estudo impregnará o discurso do Estado norte-americano, no sentido
de vincular a liderança democrática ao espírito norte-americano.

Após realizar estudos acerca das mudanças de hábitos alimentares, passou a de-
senvolver novos métodos de abordagem dos processos de mudança de comportamen-
to. Propõe a criação da disciplina “Dinâmica de Grupo”, termo que surgirá pela primeira
vez em 1944, em artigo sobre a relação entre teoria e prática em Psicologia Social. Em
1945, é convidado pelo Massachussets Institute of Tecnology (MIT) a fundar e dirigir o
Research Center for Group Dynamics (Centro de Pesquisa em Dinâmicas de Grupo).

Há nesse período um frutífero processo marcado pela realização de experimen-


tos, desenvolvimento de metodologias, investigações, estudos, elaboração de teorias,

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bem como ações práticas, através de grupos vivenciais ou em grupos experimentais
no laboratório, posteriormente denominado “T-Group”, no campo de treinamento de
profissionais (militares, gerentes, educadores, pedagogos, líderes de diversos setores)
atuantes em campos de coordenação e gestão de relações humanas. Essas atividades
inspiraram, a partir dos métodos empreendidos em sua realização, a criação das famo-
sas “Técnicas de Dinâmicas de Grupo”.

A ideia de grupo, como um todo irredutível às partes, influencia o foco do ato


de investigar, centrado no grupo, e não no indivíduo, contribui para a definição do
problema a ser investigado – “a unidade do grupo e sua permanência como totalidade
dinâmica e as relações dinâmicas entre os elementos e as configurações de conjunto”
– e permite o estabelecimento de uma disciplina, a “Dinâmica de Grupo”, enquanto um
conjunto de conhecimentos teóricos e metodológicos.

A questão básica, que buscou responder quais estruturas, climas, dinâmicas e


tipos de lideranças possibilitam ao “grupo social” a criatividade de suas ações coletivas
e a consequente autenticidade, possibilitou a formulação de um conjunto de postu-
lados que ensejaram a “Teoria de Campo”. Uma abordagem destinada à investigação
da dinâmica dos grupos sociais; às forças de coesão ou repulsa que mantêm ou repe-
lem os indivíduos; às forças que agem sobre os integrantes de um determinado “grupo
social”, quando na condição de integrantes, membros etc.; e quais as forças que levam
os integrantes de um “grupo social” à realização ou não de certas atividades.

As investigações – promovidas por Kurt Lewin – sobre o fenômeno do “grupo


social” alcançaram relevo e destaque ao demonstrar ser o conjunto de interações de-
correntes do processo de relação realizado entre os diversos indivíduos de um “grupo
social”, em determinado espaço, tempo e situação social, que contribui para a expli-
cação do comportamento coletivo, e não as ações isoladas e individualizadas de cada
Teorias, estudos psicossociais e tipologia dos grupos sociais

componente, mesmo porque o comportamento individual deve ser percebido não só


como uma expressão da vontade própria, particular, mas como, inclusive, resultado do
processo de relação entre esse mesmo indivíduo e o “grupo social” no qual está inseri-
do. Tais fenômenos, passíveis de observação e de possível compreensão, por parte do
pesquisador, exigem a priori sua participação no processo vivencial do grupo, posição
que ensejaria os elementos que posteriormente contribuiriam para o estabelecimento
metodológico da “pesquisa-ação”.

A importância dos estudos de Lewin se devem ao fato de haver demonstrado


que o comportamento individual não deve ser entendido tão somente como fruto da
própria vontade individual, e sim como resultado da relação dinâmica que o indivíduo
mantém com a situação social mais próxima, basicamente com o grupo; e, por sua vez,
que o comportamento do grupo não se explica pela ação de cada um dos seus com-
ponentes, mas sim pelo conjunto das interações que se produzem entre os elementos
envolvidos em dada situação social, num determinado lugar e tempo.

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Teoria de orientação sociométrica e as relações interpessoais
Jacob Levy Moreno, natural da Romênia e de origem judaica (sefardim) – des-
cendente de família judia, oriunda da Península Ibérica –, vive e se educa na cidade
de Viena, no período compreendido entre o final do século XIX e o início do século
XX. Marcadamente influenciado pela filosofia existencialista e pelo movimento religio-
so judaico da Cabala – conhecido como hassidismo –, se notabilizará por sua postura
ativa na participação e intervenção social, envolvendo desde atividades no âmbito da
Medicina às atividades de cunho político, explicitadas em suas ações de mediação e
oposição às manifestações racistas contra os judeus.

Ingressa na Universidade de Viena, primeiro como estudante de Filosofia, depois


de Medicina. Já estudante de Medicina, funda entre 1908 e 1909, em uma ação conjun-
ta com um grupo de amigos, dentre eles Chaim Kellmer, a “Religião de Encontro”, por
alguns denominada “Casa de Encontro”, destinada ao acolhimento de refugiados que,
face à proeminência da guerra, se deslocavam para Viena. Em 1912, vem a conhecer
Sigmund Freud, na Clínica Psiquiátrica de Viena, donde se tornará clara e objetiva a
diferenciação das atividades desenvolvidas por ambos. Questionado por Freud acerca
de suas atividades, Moreno responderá: “[...] começo onde você termina [...] o senhor
vê as pessoas no ambiente artificial do seu Gabinete. Coloca-as em uma situação artifi-
cial em seu consultório. Analisa os sonhos das pessoas. Eu vejo-as na rua e em casa, em
seu meio natural. O senhor analisa os sonhos das pessoas. Eu tento lhes dar coragem
para sonhar ainda. Ensino as pessoas a como brincarem de ser Deus”. À luz dessa posi-
ção está presente a concepção de uma terapêutica coletiva, grupal, fenomenológica e
compreensiva, em processo de ruptura com uma terapêutica individualista.

Em 1913 dá início, em conjunto com Carl Colbert, editor do jornal Der Morgen (A

Teorias, estudos psicossociais e tipologia dos grupos sociais


Manhã), e Wilhelm Gruen, médico especialista em doenças venéreas, a atividades junto
aos bairros de prostituição da cidade de Viena, onde organiza ciclos de encontros pe-
riódicos com as mulheres prostitutas, tendo em vista propiciar situações terapêuticas
voltadas à escuta dos problemas e à busca de soluções. Essa experiência possibilitou a
Jacob Levy Moreno perceber, além do caráter positivo derivado de um processo no qual
um indivíduo, no transcorrer do curso de inter-relacionamento, termina por contribuir
terapeuticamente com um outro indivíduo integrante do mesmo “grupo social”, a rele-
vância de certos aspectos, como: a autonomia do grupo, a estrutura grupal, os papéis
desempenhados pelos integrantes, a existência de um conjunto de costumes, hábitos
e formas de conduta que independem dos participantes individuais, bem como, face
às metas e objetivos do “grupo social”, o sujeito se torna um ente ignorado.

Os elementos básicos que irão nortear a constituição da Sociometria como uma


nova disciplina têm sua origem vinculada às atividades médicas desenvolvidas por
Jacob Levy Moreno, no período entre 1915 e 1917, junto a refugiados italianos do Tirol

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no Campo de Mittendorf, localizado nos arredores da cidade de Viena. Nessa condição
se pôs a analisar o processo de organização e as possíveis relações estruturais existen-
tes nos grandes barracões de alojamento, as relações estruturais entre os barracões e
dos barracões com uma pequena fábrica anexa. A partir dessa investigação, visando
uma melhor condição de convivência e existência, encaminha ao “Departamento do
Interior da Monarquia Austro-húngara” uma proposta de organização sociométrica do
campo de refugiados. Trata-se, possivelmente, do primeiro momento em que o termo
“Sociometria” é registrado.

Juntamente com um grupo de poetas, filósofos e sociólogos cria, em 1918,


uma publicação influenciada pela filosofia existencialista denominado, inicialmente,
Daymon, posteriormente Der Neue Daymon e, por fim, Die Gefährten, do qual se torna
editor-chefe. Entre os colaboradores é possível citar Franz Kafka, Martin Buber, Max
Scheller, Francis James, Jacob Wasserman, Arthur Schmitzler e Franz Werfel. Funda, em
1921, o que posteriormente viria a ser a base de suas propostas de “Psicoterapia de
Grupo” e “Psicodrama”, o “Teatro da Espontaneidade” (Das Stegreiftheater), espaço des-
tinado à prática do teatro experimental e à representação espontânea, onde as plateias
são convidadas a tomar parte nas encenações improvisadas, cuja temática remetia aos
conflitos e problemas sociais.

No ano de 1924, publica o livro O Teatro da Espontaneidade, onde apresenta


quatro enquadros da abordagem psicodramática: o “axiodrama”, o “teatro de improvi-
so”, o “teatro terapêutico” e o “teatro do criador”.

Em 1925 emigra para os Estados Unidos da América, onde desenvolverá e estabe-


lecerá os fundamentos da disciplina Sociometria. Inicialmente, além de dirigir sessões
públicas no Carnegie Hall, onde instituiu o “Impromptu Theatre”, em 1927, dedicou-se
à introdução do “Psicodrama” no campo da saúde mental na Clínica de Higiene Mental
Teorias, estudos psicossociais e tipologia dos grupos sociais

do Hospital Monte Sinai e no Instituto Plymouth, no Brooklin. Procedeu a atividades


junto a prisioneiros da penitenciária de Sing Sing. Também, em 1927, lhe é concedida
a licença para exercer a Medicina nos Estados Unidos.

Em 1932, apresenta o trabalho denominado “Psicoterapia de Grupo”, que aborda


o trabalho desenvolvido com os presos da prisão de Sing Sing, no I Congresso de Psi-
quiatria da Sociedade Americana, na Filadélfia.

Entre 1934-1936 funda Beacon Hill Sanatorium, seu próprio hospital para “doentes
mentais”. São ainda construídos, em Beacon, o Instituto de Psicodrama de Nova York, vol-
tado à formação de Psicodramatistas, e o primeiro teatro terapêutico. Órgãos germinado-
res do Centro Mundial para Psicodrama, Sociometria e Psicoterapia de Grupo. Ainda em
1934, publica o livro Quem Sobreviverá?, posteriormente reeditado sob o nome de Funda-
mentos da Sociometria. Em 1935, funda o Sociometry – Journal of Interpersonal Relations.
Em 1941, funda o primeiro teatro terapêutico, no St. Elizabeth Hospital, de Washington.

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Em 1942, contando com a ajuda de seu irmão, monta a editora, a Beacon House,
para publicar, de forma independente e sem interferências, seus trabalhos. São publi-
cações da editora: a revista Sociometry e a edição americana de The Words of the Father
(Ética dos Pais).

Além das atividades desenvolvidas até então, foi a abordagem realizada junto a
um grupo de jovens delinquentes, mais especificamente mulheres, da New York States
Training School for Girls, da cidade de Hudson.

Na elaboração de sua abordagem teórica denominada “Sociometria”, parte, a


priori, do estabelecimento de alguns pressupostos considerados imprescindíveis ao
assentamento dessa Ciência Social, cuja preocupação e objeto de estudo eram o indi-
víduo e as relações empreendidas no interior do “grupo social” e com o “grupo social”.
Convencido de que a separação entre indivíduo e “grupo social”, dentro de uma pers-
pectiva psicossocial, seria contrária à razão e ao bom senso, posto que um indivíduo
isolado não diz nada a respeito da sua vivência em grupo, proporá que, à construção
de uma visão adequada da realidade social, são fundamentais:

uma abordagem do “grupo social”, que considere sua estrutura de grupo social
e os indivíduos integrantes desse complexo;

uma abordagem do indivíduo integrante de um determinado “grupo social”, não


enquanto um ente isolado que faz parte de um conjunto, mas sim considerando as
relações e os processos engendrados no transcorrer da vivência do “grupo social”.

Caberia assim, à Sociometria, forma de conhecimento que surge em função da


necessidade de estudo da estrutura social em seu conjunto e em suas partes, a análise
do universo psicossocial enquanto uma unidade de análise, postura que possibilitaria a

Teorias, estudos psicossociais e tipologia dos grupos sociais


apreensão das relações sociais a partir da verificação e constatação do estado, situação
e disposição de um conjunto de elementos inerentes ao processo de relações sociais,
interpessoais, e as influências recíprocas empreendidas entre a parte e o todo.

Teoria de orientação sistêmica


Desenvolvida por George C. Homans, a teoria de sistema teve seus conceitos e
proposições inicialmente apresentados em sua obra The Human Groups (1950). Publi-
cações posteriores como The Handbook of Social Psychology (1954) trouxeram algumas
alterações em suas ponderações.

Na elaboração de sua abordagem, Homans parte do seguinte pressuposto: a ela-


boração de conceitos e pressupostos tão próximos dos fenômenos observados quanto
possível. Dessa forma evitaria a constituição de conceitos abstratos, passíveis de apli-
cação às análises sobre as forças inerentes aos processos provenientes das relações em

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grupo e das situações individuais, porém, bem distantes da realidade. De outro modo
sua construção teórica alcançaria razoável consistência, posto que estaria em conso-
nância com a vida cotidiana, uma vez que esta seria sua origem.

Sua análise está estruturada de modo a apresentar aspectos elementares e con-


cretos do comportamento social, segundo três conceitos, relacionados entre si, e
alguns conceitos de caráter mais abstrato.

Entre os conceitos elementares que possivelmente descrevem o universo da vida


cotidiana, propôs a seguinte definição: conceito elementar de atividades – que corres-
ponde às ações e movimentos; conceito elementar de sentimentos – que corresponde
às sensações, atitudes e crenças; conceito elementar de interação – correspondente
ao comportamento em relação a outrem, tendo em vista a questão da reciprocidade.
Esses três conceitos elementares são elaborados e modificados pelos indivíduos de
diversas maneiras e estão relacionados de tal modo que a alteração de um deles leva
à alteração dos demais. Assim, sentimento/interação, atividades/interação, atividades/
sentimentos estão dinâmica e intrinsecamente relacionados, levando à percepção do
“grupo social” como um sistema de comportamentos relacionados entre si. Segundo
Shepherd (1969, p. 54), Homans conceberá um sistema social
[...] como o caráter e estado de relações entre interação, atividade e sentimento, em meio a um
grupamento de duas ou mais pessoas que são identificáveis como uma unidade (um grupo de
trabalho, uma família, uma turminha). Esse sistema social constitui-se de duas partes: um sistema
externo – as relações entre interação, atividade e sentimentos impostas a um grupo por forças que
lhe são externas (tais como um grupo maior, um administrador, um escritório central, a polícia
local); e um sistema interno – as relações entre interação, atividade e sentimento espontaneamente
elaboradas e padronizadas pelos membros do grupo.

Visto dessa forma, um sistema social comporta subsistemas internos e externos, em


franco processo de interação. Um subsistema pode predominar sobre o outro em deter-
Teorias, estudos psicossociais e tipologia dos grupos sociais

minados momentos e de forma e intensidade diferenciadas. Assim enquanto um “grupo


de trabalhadores” tem como preponderante a existência de um “grupo externo” bem-
definido e claro que estabelece as atividades e demais elementos que configuram e dão
sentido à existência desse “grupo de trabalhadores”, um outro tipo de configuração, “um
grupo de amigos”, teria como “contrapartida” um “grupo externo” difuso cujas influências
sobre o “grupo de amigos” seria resultante mais de limites e restrições com base em as-
pectos legais. Tal condição implica diretamente na forma como os grupos (trabalhadores
e amigos) constituem sua autonomia, que na conceituação de Homans significará o grau
de liberdade e independência do grupo para empreender a criação de sistemas internos
mais ou menos elaborados. Posto que a existência de interação entre sistemas externos e
internos pressupõe um certo grau de influência, concebe-se que sistemas externos mais
ou menos rígidos terminam por influenciar a constituição de sistemas internos mais ou
menos elaborados.

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No processo de criação desse sistema interno – permeado pela diferenciação
entre os integrantes do grupo segundo sua posição, atribuída tanto interna como
externamente; por expectativas quanto ao cumprimento das regras e normas que
orientam o que se exige e espera dos integrantes do grupo em termo de interação,
sentimentos e atividades; e pelos papéis desempenhados em função do cumprimento
das normas –, Homans considera que ocorrem três possibilidades: elaboração, enten-
dida como processo de refinamento das atividades do grupo; diferenciação, percebida
como processo no qual os integrantes do grupo adotam condutas diversas das exigên-
cia externas, reconhecem e atribuem valor a essas condutas, atividades, sentimentos
e formas de interação, e onde dá luz a instauração de reconhecimento e avaliação de
diferenças; padronização, momento no qual a diversidade de valores atribuídos e os
hábitos recém-adotados são mediados pelo estabelecimento de um padrão de rotina
no processo de realização das atividades, interações e sentimentos. Esse sistema inter-
no, também componente do sistema social mais amplo, afeta o sistema social externo
e o sistema social interno.

Texto complementar

V – Dois grupos artificiais: a igreja e o exército


(FREUD, 2009)

Daquilo que sabemos sobre a morfologia dos grupos podemos recordar que é

Teorias, estudos psicossociais e tipologia dos grupos sociais


possível distinguir tipos muito diferentes de grupos e linhas opostas em seu desen-
volvimento. Há grupos muito efêmeros e outros extremamente duradouros; grupos
homogêneos, constituídos pelos mesmos tipos de indivíduos, e grupos não homo-
gêneos; grupos naturais e grupos artificiais, que exigem uma força externa para
mantê-los reunidos; grupos primitivos e grupos altamente organizados, com estru-
tura definida. Entretanto, por razões ainda não explicadas, gostaríamos de dar ênfase
especial a uma distinção a que os que escreveram sobre o assunto, inclinaram-se a
conceder muito pouca atenção; refiro-me à distinção existente entre grupos sem
líderes e grupos com líderes. E, em completa oposição à prática costumeira, não
escolherei, como nosso ponto de partida, uma formação de grupo relativamente
simples, mas começarei por grupos altamente organizados, permanentes e artifi-
ciais. Os mais interessantes exemplos de tais estruturas são as igrejas – comunidades
de crentes – e os exércitos.

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Uma igreja e um exército são grupos artificiais, isto é, uma certa força externa é
empregada para impedi-los de desagregar-se e para evitar alterações em sua estrutu-
ra. Via de regra, a pessoa não é consultada ou não tem escolha sobre se deseja ou não
ingressar em tal grupo; qualquer tentativa de abandoná-lo se defronta geralmente
com a perseguição ou severas punições, ou possui condições inteiramente defini-
das a ela ligadas. Acha-se inteiramente fora de nosso interesse atual indagar a razão
por que essas associações precisam de tais salvaguardas especiais. Somos atraídos
apenas por uma circunstância, a saber, a de que certos fatos, muito mais ocultos em
outros casos, podem ser observados de modo bastante claro nesses grupos altamen-
te organizados, que são protegidos da dissolução pela maneira já mencionada. Numa
igreja (e podemos com proveito tomar a Igreja Católica como exemplo típico), bem
como num exército, por mais diferentes que ambos possam ser em outros aspectos,
prevalece a mesma ilusão de que há um cabeça – na Igreja Católica, Cristo; num exér-
cito, o comandante-chefe – que ama todos os indivíduos do grupo com um amor
igual. Tudo depende dessa ilusão; se ela tivesse de ser abandonada, então tanto a
Igreja quanto o exército se dissolveriam, até onde a força externa lhes permitisse fazê-
lo. Esse amor igual foi expressamente enunciado por Cristo: “Quando o fizestes a um
destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.” Ele coloca-se, para cada membro
do grupo de crentes, na relação de um bondoso irmão mais velho; é seu pai substi-
tuto. Todas as exigências feitas ao indivíduo derivam desse amor de Cristo. Um traço
democrático perpassa pela igreja, pela própria razão de que, perante Cristo, todos são
iguais e todos possuem parte igual de seu amor. Não é sem profunda razão que se
invoca a semelhança entre a comunidade cristã e uma família, e que os crentes cha-
mam-se a si mesmos de irmãos em Cristo, isto é, irmãos através do amor que Cristo
tem por eles. Não há dúvida de que o laço que une cada indivíduo a Cristo é também
Teorias, estudos psicossociais e tipologia dos grupos sociais

a causa do laço que os une uns aos outros. A mesma coisa se aplica a um exército. O
comandante-chefe é um pai que ama todos os soldados igualmente e, por essa razão,
eles são camaradas entre si. O exército difere estruturalmente da igreja por compor-se
de uma série de tais grupos. Todo capitão é, por assim dizer, o comandante-chefe e o
pai de sua companhia, e assim também todo oficial inferior o de sua unidade. É verda-
de que uma hierarquia semelhante foi construída na igreja; contudo, não desempe-
nha nela, economicamente, o mesmo papel, pois um maior conhecimento e cuidado
quanto aos indivíduos pode ser atribuído a Cristo, mas não a um comandante-chefe
humano.

Levantar-se-á justificadamente uma objeção contra essa concepção da estru-


tura libidinal de um exército, com base no fato de nela não se ter encontrado lugar
para ideias como as do próprio país, da glória nacional etc., de tanta importância para
manter unido um exército. A resposta é que esse é um caso diferente de laço grupal,
e não mais um laço simples, porque os exemplos dos grandes generais, como César,

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Wallenstein ou Napoleão, mostram que tais ideias não são indispensáveis à existência
de um exército. Tocaremos dentro em pouco na possibilidade de um líder ser substi-
tuído por uma ideia dominante, e nas relações entre ambos. Parece que o desprezo
desse fator libidinal num exército, mesmo quando não constitui o único fator em atu-
ação, não é apenas uma omissão teórica, mas também um perigo prático. O militaris-
mo prussiano, que era exatamente tão carente de psicologia quanto a ciência alemã,
pode ter sofrido as consequências disso na [Primeira] Guerra Mundial. Sabemos que as
neuroses de guerra que assolaram o exército alemão foram identificadas como sendo
um protesto do indivíduo contra o papel que se esperava que ele desempenhasse no
exército, e, de acordo com a comunicação de Simmel (1918), o duro tratamento dos
soldados pelos seus superiores pode ser considerado como a principal entre as forças
motivadoras da moléstia. Se a importância das reivindicações da libido no tocante a
isso houvesse sido mais bem apreciada, provavelmente não se teria acreditado tão
facilmente nas fantásticas promessas dos Quatorze Pontos do presidente americano,
e o esplêndido instrumento não se teria rompido nas mãos dos líderes alemães.

É de notar, que nesses dois grupos artificiais, cada indivíduo está ligado por
laços libidinais por um lado ao líder (Cristo, o comandante-chefe) e por outro aos
demais membros do grupo. Como esses dois laços se relacionam, se são da mesma
espécie e do mesmo valor, e como devem ser descritos psicologicamente, consti-
tuem questões que devemos reservar para investigação subsequente. Mas, já agora,
nos aventuraremos a fazer uma leve censura contra os escritores anteriores, por não
terem apreciado suficientemente a importância do líder na psicologia de grupo, en-
quanto que nossa própria escolha disso como primeiro tema de investigação nos
colocou numa posição mais favorável. Pareceria que nos achamos no caminho certo

Teorias, estudos psicossociais e tipologia dos grupos sociais


para uma explicação do principal fenômeno da psicologia de grupo: a falta de liber-
dade do indivíduo num grupo. Se cada indivíduo está preso em duas direções por
um laço emocional tão intenso, não encontraremos dificuldade em atribuir a essa cir-
cunstância a alteração e a limitação que foram observadas em sua personalidade.

Uma sugestão no mesmo sentido, a de que a essência de um grupo reside nos


laços libidinais que nele existem, pode também ser encontrada no fenômeno do
pânico, que se acha mais bem estudado nos grupos militares. Surge o pânico se um
grupo desse tipo se desintegra. Suas características são a de que as ordens dadas pelos
superiores não são mais atendidas e a de que cada indivíduo se preocupa apenas con-
sigo próprio, sem qualquer consideração pelos outros. Os laços mútuos deixaram de
existir e libera-se um medo gigantesco e insensato. Nesse ponto, mais uma vez, far-
se-á naturalmente a objeção de que ocorre antes exatamente o contrário, e a de que
o medo tornou-se grande a ponto de poder desprezar todos os laços e todos os senti-
mentos de consideração pelos outros. McDougall (1920a, p. 24) chegou mesmo a utili-

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zar o pânico (embora não o pânico militar) como exemplo típico daquela intensificação
da emoção pelo contágio (“indução primária”) a que dá tanta ênfase. Não obstante,
porém, esse método racional de explicação é aqui inteiramente inadequado. A própria
questão que necessita de explicação é saber por que o medo se torna tão gigantesco. A
magnitude do perigo não pode ser a responsável, porque o mesmo exército que agora
tomba vítima de pânico pode anteriormente ter enfrentado perigos iguais ou maiores
com sucesso total; pertence à própria essência do pânico não apresentar relação com o
perigo que ameaça, e irromper frequentemente nas ocasiões mais triviais. Se um indiví-
duo com medo pânico começa a se preocupar apenas consigo próprio, dá testemunho,
ao fazê-lo, do fato de que os laços emocionais, que até então haviam feito o perigo
parecer-lhe mínimo, cessaram de existir. Agora que está sozinho, a enfrentar o perigo,
pode certamente achá-lo maior. Dessa maneira, o fato é que o medo pânico pressupõe
relaxamento na estrutura libidinal do grupo e reage a esse relaxamento de maneira
justificável, e que a conceituação contrária, ou seja, a de que os laços libidinais do grupo
são destruídos devido ao medo em face do perigo, pode ser refutada.

A afirmativa de que o medo num grupo é aumentado em proporções enormes


através da indução (contágio), de modo algum é contraditada por essas observações.
A conceituação de McDougall atende completamente ao caso quando o perigo é
realmente grande e o grupo não possui fortes laços emocionais, condições que são
preenchidas, por exemplo, quando irrompe um incêndio num teatro ou numa casa
de diversões. Mas o caso verdadeiro instrutivo e que pode ser mais bem emprega-
do para nossos fins é o mencionado acima, no qual um corpo de tropa irrompe em
pânico, embora o perigo não tenha aumentado além de um grau que é costumeiro e
que anteriormente já foi amiúde enfrentado. Não é de esperar que o uso da palavra
Teorias, estudos psicossociais e tipologia dos grupos sociais

“pânico” seja claro e determinado sem ambiguidade. Às vezes ela é utilizada para des-
crever qualquer medo coletivo, outras até mesmo o medo no indivíduo quando ele
excede todos os limites, e, com frequência, a palavra parece reservada para os casos
em que a irrupção do medo não é justificada pela ocasião. Tomando a palavra ‘pânico’
no sentido de medo coletivo, podemos estabelecer uma analogia de grandes conse-
quências. No indivíduo o medo é provocado seja pela magnitude de um perigo, seja
pela cessação dos laços emocionais (catexias libidinais); este último é o caso do medo
neurótico ou ansiedade. Exatamente da mesma maneira, o pânico surge, seja devido
a um aumento do perigo comum, seja ao desaparecimento dos laços emocionais que
mantêm unido o grupo, e esse último caso é análogo ao da ansiedade neurótica.

Qualquer pessoa que, como McDougall (1920), descreva o pânico como uma
das funções mais claras da ‘mente grupal’, chega à posição paradoxal de que essa
mente grupal se extingue numa de suas mais notáveis manifestações. É impossí-
vel duvidar de que o pânico signifique a desintegração de um grupo; ele envolve a

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cessação de todos os sentimentos de consideração que os membros do grupo, sob
outros aspectos, mostram uns para com os outros.

A ocasião típica da irrupção de pânico assemelha-se muito à que é representa-


da na paródia de Nestroy, da peça de Hebbel, sobre Judite e Holofernes. Um soldado
brada: “O general perdeu a cabeça!” e, imediatamente, todos os assírios empreen-
dem a fuga. A perda do líder, num sentido ou noutro, o nascimento de suspeitas
sobre ele, trazem a irrupção do pânico, embora o perigo permaneça o mesmo; os
laços mútuos entre os membros do grupo via de regra desaparecem ao mesmo
tempo que o laço com seu líder. O grupo desvanece-se em poeira, como uma Gota
do Príncipe Rupert, quando uma de suas extremidades é partida.

A dissolução de um grupo religioso não é tão fácil de observar. Pouco tempo


atrás, caiu-me nas mãos um romance inglês de origem católica, recomendado pelo
Bispo de Londres, com o título When It Was Dark (Quando Estava Escuro). Esse roman-
ce fornecia um hábil e, segundo me pareceu, convincente relato de tal possibilidade
e suas consequências. O romance, que pretende relacionar-se com os dias de hoje,
conta como uma conspiração de inimigos da pessoa de Cristo e da fé cristã teve
êxito em conseguir que um sepulcro fosse descoberto em Jerusalém. Nesse sepul-
cro encontra-se uma inscrição em que José de Arimatéia confessa que, por razões
de piedade, retirou secretamente o corpo de Cristo de sua sepultura, no terceiro dia
após o sepultamento, e enterrou-o naquele lugar. A ressurreição de Cristo e sua na-
tureza divina são dessa maneira refutadas e o resultado da descoberta arqueológica
é uma convulsão na civilização europeia e um extraordinário aumento em todos os
crimes e atos de violência, os quais só cessam quando a conspiração dos falsificado-
res é revelada.

Teorias, estudos psicossociais e tipologia dos grupos sociais


O fenômeno que acompanha a dissolução que aqui se supõe dominar um
grupo religioso, não é o medo, para o qual falta a ocasião. Em vez dele, impul-
sos cruéis e hostis para com outras pessoas fazem seu aparecimento, impulsos
que, devido ao amor equânime de Cristo, haviam sido anteriormente incapazes
de fazê-lo. Mas, mesmo durante o reino de Cristo, aqueles que não pertencem à
comunidade de crentes, que não o amam e a quem ele não ama, permanecem fora
de tal laço. Desse modo, uma religião, mesmo que se chame a si mesma de religião
do amor, tem de ser dura e inclemente para com aqueles que a ela não perten-
cem. Fundamentalmente, na verdade, toda religião é, dessa mesma maneira, uma
religião de amor para todos aqueles a quem abrange, ao passo que a crueldade e
a intolerância para com os que não lhes pertencem são naturais a todas as religi-
ões. Por mais difícil que possamos achá-lo pessoalmente, não devemos censurar
os crentes severamente demais por causa disso; as pessoas que são descrentes

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ou indiferentes estão psicologicamente em situação muito melhor nessa questão
[da crueldade e da intolerância]. Se hoje a intolerância não mais se apresenta tão
violenta e cruel como em séculos anteriores, dificilmente podemos concluir que
ocorreu uma suavização nos costumes humanos. A causa deve ser antes achada
no inegável enfraquecimento dos sentimentos religiosos e dos laços libidinais que
deles dependem. Se outro laço grupal tomar o lugar do religioso – e o socialista parece
estar obtendo sucesso em conseguir isso –, haverá então a mesma intolerância para
com os profanos que ocorreu na época das Guerras de Religião, e, se diferenças entre
opiniões científicas chegassem um dia a atingir uma significação semelhante para
grupos, o mesmo resultado se repetiria mais uma vez com essa nova motivação.

Ampliando conhecimentos
CATWRIGHT, Dorwin; ZANDER, Alvin. Dinâmica de Grupo. São Paulo: Herder, 1967.

Dorwin Cartwright e Alvin Zander foram companheiros de Kurt Lewin.

Suas formulações refletem a perspectiva do campo teórico e a tradição iniciada


por Lewin.

MINICUCCI, Agostinho. Dinâmica de Grupo: teorias e sistemas. São Paulo: Atlas, 2002.

Apresenta uma síntese de aplicações e resultados de grande variedade de abor-


dagens, desde as sistematizações pioneiras da teoria de campo de Lewin até os mais
recentes modelos formais, de orientação acentuadamente matemática.
Teorias, estudos psicossociais e tipologia dos grupos sociais

Atividades

1. Por que para Auguste Comte (1798-1857) existiam tão somente dois campos
dentro da ciência do conhecimento: a Sociologia, enquanto ciência da “verda-
de”, e a Biologia, como ciência da vida?

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2. O sociólogo Émile Durkheim considerava ser irredutível o comportamento do
conjunto em relação ao comportamento dos seus integrantes? Explique.

Teorias, estudos psicossociais e tipologia dos grupos sociais

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3. Por que as multidões são consideradas um tipo de grupo social distinto?
Teorias, estudos psicossociais e tipologia dos grupos sociais

Referências
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Janeiro: Zahar Editores, 1972.

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Rio de Janeiro: Imago, 1975.

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Teorias, estudos psicossociais e tipologia dos grupos sociais

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Gabarito

1. Auguste Comte negava a possibilidade de existência de um terceiro olhar, um


campo do conhecimento intermediário, a Psicologia Social, por acreditar que
os conhecimentos relativos a essa ciência deveriam provir e serem apreendi-
dos, compreendidos e explicados pelo social.

2. Émile Durkheim tinha como pressuposto a concepção de que o social contribui


para a explicação do individual. Assim, à Psicologia somente restaria a aborda-
gem individual, enquanto a Psicologia Social não seria mais que um termo, ou
quando muito um arremedo de procedimentos sem rigor, pleno de impreci-
sões e generalidades, e cujo objeto de investigação era indefinido. À Sociologia,
enquanto ciência autônoma que abordaria os fatos sociais como coisas, caberia
a abordagem do universo social, espaço peculiar de investigação e tido como
um nível superior e complexo do processo gradual e progressivo da evolução
psíquica dos seres humanos, cuja diversidade, característica que marca as inú-
meras formações sociais, atesta a impossibilidade de compreensão desse uni-
verso a partir dos indivíduos, dos elementos que a compõem.

3. As multidões são consideradas um tipo de grupo social distinto em virtude de


seus caracteres estrutural, funcional e temporal: de sua organização rápida e
espontânea, comportamento desorganizado, homogêneo, emocional e sujeito
a manipulações e sugestões externas e internas.

Teorias, estudos psicossociais e tipologia dos grupos sociais

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Modelos sociológicos
e tipologia dos pequenos grupos sociais
Theodore M. Mills (1970), considerando que o desenvolvimento de teorias a res-
peito do “pequeno grupo” social é marcado por um processo de mudança contínua,
graças ao caráter complexo e diversificado inerente aos grupos sociais, apresenta o
que considera ser a forma como a Sociologia pensa o “grupo social”, no caso o “peque-
no grupo”.

Esse tipo de composição é considerado por Shepherd como


[...] uma das principais áreas da atual pesquisa em Sociologia e Psicologia Social. (Um) mecanismo
essencial de socialização e uma fonte importante da ordem social[...] (que) proporciona a principal
fonte de valores e atitudes que as pessoas têm, e uma fonte importante de pressões para que haja
conformidade aos valores e atitudes sociais. O pequeno grupo serve à função importante de mediar
entre o indivíduo e a sociedade. (SHEPHERD, 1969, p. 15)

No entanto, o próprio Shepherd alerta para o caráter arbitrário da definição de


“pequeno grupo” posto que os critérios, que em geral gozam de determinada aceita-
bilidade no universo científico, atestam, antes de tudo, a inexistência de um consen-
so. Considerando essa realidade, Mills concebeu os “pequenos grupos” como “unida-
des compostas de duas ou mais pessoas que entram em contato para determinado
objetivo, e que consideram significativo esse contato” (MILLS, 1970, p. 12), enquanto
Shepherd, numa aproximação em relação à definição de “pequeno grupo”, afirmará
que o mesmo se trata de “duas ou mais pessoas interagindo” (SHEPHERD, 1969, p. 16),
acrescentando que tal tipo de fenômeno social ultrapassa a ideia de uma “simplória”
reunião, encontro casual, por se tratar de uma relação social densa, organizada, com
extensão no tempo e espaço, e marcada por uma ação de continuidade.

Mills (1970) salienta, como aspecto a ser levado em conta, o fato de que, a todo
momento, a partir da experiência e conhecimento acumulado, os seres humanos estão
construindo modelos mentais acerca de fatos e acontecimentos relativos a como as
“coisas” – matérias, objetos, animais, realidade, fatos, interesses, negócios, aconteci-
mentos, enigmas e mistérios – são e se desenvolvem. Tais modelos, verdadeiras im-
pressões da realidade, norteiam e influenciam a forma de pensar, agir, o que esperar, o
que é normal – ou parece normal –, o que é natural em determinado contexto.

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Também os integrantes dos grupos sociais tecem seus modelos mentais sobre os
grupos sociais, sobre o seu próprio “grupo social”. E os grupos sociais tendem a realizar,
no seu processo de intra e inter-relações, as expressões contidas em tais modelos. De
certa forma, os modelos asseguram um comportamento presumível, preconcebido e
elaborado a partir de experiências. Limitam o que se considera possível e ou imaginável
ocorrer. Também a Sociologia, ou melhor, os sociólogos, aventa Mills (1970), constroem
seus modelos mentais acerca do “grupo social” a partir da sua experiência e conhecimen-
to. Tais modelos terminam por influenciar suas percepções, orientações e estratégias de
estudo e pesquisa. Não obstante exista a possibilidade da construção de “conhecimento”
a partir da busca de realidades que atendam aos modelos preconcebidos, o fato é que
tais conhecimentos somente são considerados úteis à medida que contribuem para o
desenvolvimento de um saber no campo sociológico e para os próprios integrantes dos
grupos sociais objetos da investigação, no processo de construção do conhecimento e
do autoconhecimento.

Segundo Mills (1970, p. 26), a


[...] Sociologia dos pequenos grupos é uma tentativa autoconsciente para criar modelos adequados
de grupo – adequados na medida em que ajudam a organizar dados separados num todo mais
coerente, na medida em que são apresentados de maneira suficiente clara para que possam
ser compreendidos por outros, na medida em que parecem de acordo com nossa experiência
intersubjetiva da realidade, na medida em que suas consequências possam ser examinadas,
verificadas e modificadas em função de modelos alternativos.

Modelos sociológicos
Modelos sociológicos e tipologia dos pequenos grupos sociais

A Sociologia, tal qual qualquer Ciência, também desenvolve, conforme uma es-
trutura lógica e um corpo epistemológico peculiar, uma metodologia sociológica,
munida por – entre outros elementos como conceitos, variáveis, teorias – modelos so-
ciológicos. Tomando por fundamental a experiência e um conjunto de conhecimentos
acumulados e visando antes a explicação que a descrição, a Sociologia empreende a
construção de modelos que se instituem como representações da sociedade em sua
totalidade ou mesmo representações de subdivisões, setores ou segmentos sociais.
Muito embora não disponham de uma consensualidade entre os sociólogos acerca
de sua configuração ideal, os modelos em sua originalidade complexa almejam: pos-
sibilitar a criação de uma correspondência com a realidade social; realizar, reproduzir
e operacionalizar, segundo um conjunto de regras, diversas proposições; estruturar e
organizar os fenômenos observados; e simplificar o processo de construção de conhe-
cimento sobre o objeto investigado. No caso do “grupo social”, ou melhor dizendo, do
“pequeno grupo”, os modelos intentam-se como possibilidade de constituição de uma
diversidade de explicações.

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A seguir são apresentados alguns modelos de “pequenos grupos” sociais, inferi-
dos por Mills (1970) a partir de noções que, de modo tácito, permanecem subjacentes,
implícitas e permeiam inúmeras abordagens sociológicas.

Modelo semimecânico
O pequeno grupo social é abordado a partir de um conjunto de ações caracteri-
zadas como funções necessárias e imprescindíveis ao processo de interação do grupo.
Uma função motiva a realização de outra função: uma questão gera uma resposta que
promove uma outra resposta avaliativa. Os atos, enquanto funções, são tidos como uni-
versais e imutáveis e, portanto, objetos de manipulação. Quem fala, fala para alguém
determinado, conforme o assunto, o tema. Esse comportamento é passível de inúme-
ras repetições, em conformidade com o requerido e ordenado, por exemplo, num pro-
cesso de solução de problemas. Nesse caso, os atos e funções relativos à solução de
dado problema tendem a ser repetitivos e envolver os mesmos componentes. Circuns-
tâncias como essa tendem a instalar no “grupo social” uma situação na qual fatores,
como objetivos do grupo, tipos de problemas a serem enfrentados, individualidades e
diversidade de personalidades, são relegados a um segundo plano. Atos, funções e in-
divíduos podem ser substituídos por novos atos, funções e indivíduos. O grupo muda
sem se transformar.

O modelo opera com o movimento de busca e o estabelecimento de regularida-


des e critérios. Torna-se limitado ao não abordar outros aspectos, como crenças, va-
lores etc., e por igualar significação e uniformidade. Afinal, atos uniformes podem ter
significados diferentes de acordo com a realidade do “grupo social”.

Modelos sociológicos e tipologia dos pequenos grupos sociais


Modelo organísmico
Semelhante a um organismo biológico, o “grupo social” possui como objetivos a
autorrealização (movimento interno) e a autopreservação (movimento externo). Surge
(como um conjunto de indivíduos com necessidades, ideias, objetivos, limitações e
potencialidades comuns), cresce (com a instituição de um padrão de comportamento),
e amadurece (instaurando processos de diferenciação das partes, estabelecendo fun-
ções específicas, promovendo processos complexos de integração). Do nascimento à
maturidade, o “grupo social” se embrenha em um processo de ampliação da sua com-
plexidade: mais diferenciado, mais interdependente, mais integrado.

Esse modelo tem o “grupo social” como um fenômeno natural, determinado pelos
elementos que o constituem. Natural no sentido de que é o desenvolvimento desses

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integrantes que propicia o desenvolvimento do grupo. Assim, um grupo homogêneo,
constituído tão somente por representantes do gênero masculino, terá um desenvol-
vimento diferente de um outro grupo constituído por representantes dos gêneros fe-
minino e masculino. O modelo atrai para si a ideia de mudança e transformação dada
à variedade, ou não, interna, e às relações de interdependência. Ambas voltadas ao
cumprimento de um plano aparentemente determinado. O “grupo social” cumpre e
desenvolve o plano. O sociólogo observa e compreende.

Para tanto, tais grupos tidos como naturais se constituem enquanto realidades,
executando funções reais em um contexto real, e exigirão do sociólogo uma aborda-
gem também nesse contexto de ambiente real. O que vem a implicar em uma série de
dificuldades: a do contato; a originária de transformações inerentes à presença do ob-
servador, um ser estranho ao grupo; a da neutralidade e não interferência na realidade.

Modelo de conflito
O “grupo social” é apreendido como um espaço definido por um processo de con-
flitos derivados da condição dos indivíduos integrantes do “grupo social” em termos de
necessidades e desejos, tanto do ponto de vista interno como externo.

As medidas encontradas para resolução dos conflitos acabam por influenciar o


sentido e o significado do “grupo social”, determinando o caminho e a nova situação,
um novo estágio.

Há conflitos de toda espécie envolvendo noções de liberdade, posição social e


prestígio, acesso a recursos, interesses, valorização individual.
Modelos sociológicos e tipologia dos pequenos grupos sociais

O olhar do observador se prende às situações conflituosas, desvelando aquilo que


o “grupo social” e os seus integrantes negam, escondem ou projetam em terceiros. Em
tal contexto, um processo de mudança não ocorre de modo natural.

O modelo de conflito apresenta limites, pois há a possibilidade de mudanças atra-


vés da construção de consensos.

Modelo de equilíbrio
O “grupo social” é visto como um sistema em equilíbrio onde algumas ocorrências
tendem a perturbar esse estado de estabilidade e harmonia, situação social funda-
mental para que o “grupo social” atinja seus objetivos.

Esse estado natural, invariável e estável no transcorrer do tempo, requer do “grupo


social” a arregimentação de energia potencial e real na realização de ações voltadas à

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resolução de instabilidades, possibilitando o retomar de uma situação de equilíbrio e
já com um novo movimento – uma vez que os vínculos internos podem ser alterados
com vistas à instituição de um novo contexto de integração – em direção ao cumpri-
mento dos objetivos do “grupo social”.

Tendo a noção de equilíbrio como elemento fundamental, nesse modelo os fenô-


menos complexos e independentes são organizados de modo bastante simples e co-
erente, muito embora tal circunstância não ocorra de modo homogêneo nos “grupos
sociais” e até mesmo nas diversas esferas e subdivisões existentes em um dado “grupo
social”, não podendo, portanto, ser generalizado enquanto forma de abordagem do
fenômeno “grupo social”.

Modelo estrutural-funcional
O “grupo social” é abordado como uma organização que se distingue em função
da existência de um conjunto de ações, regras, técnicas etc., voltadas ao atendimento
de necessidades individuais, coletivas e procedentes do meio social, econômico, polí-
tico e ecológico em que estão inseridas.

Nesse processo de busca do cumprimento dos seus objetivos, o “grupo social”


se submete a uma realidade plena de mudanças e transformações constantes que
compele e constrange o “grupo social” a aprender sempre, mobilizando uma relevan-
te quantidade de energia e capacidade, visando atender às exigências de adaptação,
integração e manutenção de padrões, aspectos essenciais para que o conjunto possa
se manter na busca pelo cumprimento de seus objetivos, que podem ocorrer em um

Modelos sociológicos e tipologia dos pequenos grupos sociais


novo cenário de “possível equilíbrio” ou de mudanças.

O modelo estrutural-funcional tende a possibilitar a apreensão do “grupo social”


em sua capacidade plena de aprender e de gestar processos de integração e desinte-
gração do “grupo social”.

Modelo de crescimento cibernético


O “grupo social” é considerado como um sistema de processamento de informa-
ções que a partir da observação e avaliação das exigências interna e externa agem,
tendo em vista a realização de seus objetivos. A eficiência ou ineficiência dessa ação
implica em destruição ou na instituição de um processo de aprendizagem, autodeter-
minação e crescimento do “grupo social”.

Nesse processo três momentos tornam-se norteadores e fundamentais: a busca


do objetivo, a reorganização do grupo e a consciência do processo.

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Com um objetivo coletivo em mente, os agentes do grupo verificam, por observação, se as ações
atuais levam o grupo na direção do alvo, ou não. Quando a verificação é positiva, os agentes podem
ou não fazer coisa alguma. Quando é negativa, tentam diminuir o erro, alterando a maneira pela
qual o grupo age no ambiente – depois observam os efeitos de sua intervenção e, se necessário,
novamente redirigem suas operações no ambiente, a fim de reduzir o erro. Através de observação,
intervenção e observação dos efeitos da intervenção, os agentes do grupo aprendem como
operar no ambiente, a fim de atingir os objetivos coletivos. [...] Quando os agentes observam uma
incoerência básica ou uma incompatibilidade entre os hábitos, costumes, crenças, técnicas e assim
por diante, do grupo e das realidades externas, um passo é considerar como a reorganização do
grupo poderia aumentar o ajustamento, [...] alterar os componentes internos do grupo, avaliar os
efeitos dessas tentativas. [...] A consciência é o fato de um sistema estar ciente de si mesmo. [...] Um
grupo contribui para a sua consciência quando, além de responder a exigências, seus membros
desenvolvem e comunicam ideias a respeito de seu caráter como um sistema que satisfaz às
exigências existentes. (MILLS, 1970, p. 39-40)

Esses momentos estão correlacionados de modo a estabelecer as relações, atri-


buir nexos e promover combinações entre as diversas ocorrências que tomam corpo
no transcorrer dessa sequência de acontecimentos. Esse fenômeno possibilitaria, ao
“grupo social”, seu crescimento, o controle sobre sua direção, a instituição de aspectos
diferenciadores dos demais grupos, a percepção de suas possibilidades.

Diferentemente dos grupos sociais voltados tão somente à sobrevivência e que


visam à manutenção de suas fronteiras enquanto encontram formas de satisfação
de suas necessidades, o “grupo social” orientado para o crescimento passa por uma
sucessão de etapas (adaptação, realização do objetivo, integração, manutenção e
extensão dos padrões) que possibilitam a abertura a novas possibilidades, a admis-
são de novos integrantes e se tornar fontes de origem de novos grupos. Enfim, trans-
põem suas fronteiras.

Tipologia dos grupos sociais:


Modelos sociológicos e tipologia dos pequenos grupos sociais

classificação dos grupos sociais


O “grupo social” – melhor dizendo, “pequeno grupo” –, pode, ainda, ser classifica-
do a partir de uma diversidade, para alguns uma infinidade, de critérios, envolvendo
seu tamanho, objetivos e contextos, estrutura (formal e informal), identificação (indi-
víduo-grupo: grupo de pertencimento e grupo de referência), papel no processo de
socialização (primário e secundário). Tais critérios são afetados e concernentes às áreas
de conhecimento.

Grupos de dentro – grupos de fora: o processo de diferenciação


Graças aos estudos desenvolvidos pelo sociólogo William Graham Summer, junto
a sociedades denominadas primitivas, surgiu a proposição da existência do fenômeno
do “grupo de dentro” (in group) e “grupo de fora” (out group).
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Não obstante possa ser atribuída a ocorrência de tais fenômenos a contextos bas-
tante específicos, por exemplo pequenas comunidades, essas noções se apresentam e
ganham irrepreensível notoriedade mesmo em contextos marcados pela existência de
grandes aglomerações populacionais.

O indivíduo tende a se identificar com aqueles do seu próprio grupo, fato do


qual se depreende que a existência de outros diferentes se pronuncia tão somente no
âmbito externo do seu grupo de identidade e pertencimento.

Esse processo de identidade e pertencimento, característico e presente em grupos


como a família, o partido político e a comunidade religiosa, deriva do nutrimento de
sentimentos, ações, atitudes e gestos solidários, cooperativos e de reciprocidade des-
tinados aos nossos, àqueles do “nosso grupo”. Aos de fora, aos estranhos, contrários
e apartados, são atribuídos os piores desígnios, os mais negativos e desclassificado-
res, afinal os outros são o que há de pior, o negativo, os incivilizados. Uma espécie de
“etnocentrismo” ganha amplitude, acentuando e denotando diferenças e diversidades
como aspectos intransponíveis.

Grupos primários e grupos secundários – o papel de socialização


Trujillo Ferrari (1983), a partir de considerações acerca das contribuições do so-
ciólogo alemão Ferdinand Tönnies, autor dos conceitos de comunidade (caracteriza-
do pela presença de laços interpessoais que tornam os indivíduos próximos, íntimos
e favorecem relações de confiança e reciprocidade) e sociedade (caracterizado pelo
espírito da competição, da rivalidade e da disputa), se reportará à contribuição do
também sociólogo Charles Horton Cooley, possivelmente um dos introdutores da

Modelos sociológicos e tipologia dos pequenos grupos sociais


ideia de existência de “grupos primários” e “grupos secundários”. De forma peculiar,
as concepções de comunidade e sociedade de Tönnies estariam em consonância
com as concepções de grupos primários e secundários de Cooley.

Segundo Cooley, os grupos primários poderiam ser definidos como


[...] os caracterizados por íntima associação e cooperação face a face. São primários em diversos
sentidos, mas principalmente por serem fundamentais na formação da natureza e dos ideais sociais
do indivíduo. Psicologicamente, o resultado da associação íntima é uma fusão de individualidade
num todo comum, de sorte que o próprio eu da pessoa, ao menos para muitos propósitos, é a vida
comum e o propósito comum do grupo. Talvez a maneira mais simples de descrever essa totalidade
seja dizer que se trata de um “nós”; envolva a espécie de solidariedade e identificação mútua para a
qual “nós” é uma expressão natural. A pessoa vive no sentimento do todo e encontra os principais
objetivos de sua vontade nesse sentimento.
Não se deve supor que a unidade do grupo primário seja uma unidade de simples harmonia e amor.
É sempre uma unidade diferenciada e habitualmente competidora, que justifica a autoafirmação
e várias paixões apropriadoras; mas essas paixões são socializadas pela solidariedade e caem ou
tendem a cair sob a disciplina de um espírito comum. O indivíduo será ambicioso, mas o principal
objeto de sua ambição será um lugar desejado no pensamento dos outros, e ele será fiel a padrões
comuns de serviço e lealdade. (COOLEY apud CHINOY, 1973, p. 177)

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Os “grupos primários” se caracterizam particularmente pela quantidade diminu-
ta de integrantes e por sua aptidão distinta de maleabilidade e flexibilidade, talvez
até uma resoluta frouxidão, que perpassam os processos de criação e elaboração de
padrões de comportamento aceitos ou passíveis de aceitação pelo “grupo social”. O
grupo constrói um cenário particular, distinto pela informalidade nas relações, pelo
estabelecimento de vínculos, pelo sentido de adesão e pelo processo de afirmação
da autoestima, em meio a um elevado patamar de solidariedade. Cooley considera os
“grupos primários” como uma decorrência de associação tão profundamente íntima
que o indivíduo e o grupo tendem a se confundir, um processo de amalgamação1 que
propiciará a constituição de uma dada totalidade onde o “eu” – que termina por se
identificar, na maioria das circunstâncias, com propósitos comuns do grupo – se equi-
vale a “nós”. (apud CHINOY, 1973)

No entanto, é nessa ideia de construção do “eu” que reside uma das principais
características dos “grupos primários”. Esse “eu social”, uma imagem social que o indiví-
duo constrói sobre si, segundo sua crença de como é visto pela sociedade, se elabora
no contexto dos grupos primários, por exemplo, a família.

Credita-se aos “grupos primários” o status de organização diferente, com origem


comum ao ser humano, cuja simplicidade afeta a percepção acerca do seu papel fun-
damental na constituição e transformação desse ser humano em um ser social. É no
universo dos “grupos primários” que são empreendidas as primeiras ações de sociali-
zação do indivíduo.

Os “grupos primários” podem ainda ser percebidos segundo aspectos que contri-
buem para uma visão peculiar desse conjunto, um tipo de especificidade e particula-
ridade que, por estarem presentes em outros contextos e em outros tipos de grupos,
Modelos sociológicos e tipologia dos pequenos grupos sociais

são abordados em sua condição acidental. Assim, a propriedade de estar sempre junto,
cara a cara – enquanto fator relevante no estabelecimento de relações e de influências
mútuas –, bem como o elemento temporal – em especial o fato de vivenciar tal tipo
de grupo na mais tenra idade –, contribuem para que os efeitos das ações gestadas
nessa estrutura social sejam mais profundos e intensos no processo de formação do
indivíduo. Uma terceira propriedade ganha relevo devido ao seu caráter fundamental,
inerente, próprio e particular dos “grupos primários”: os aspectos funcional e emocio-
nal que, advindos de um processo relacional complexo e completo, face ao intenso
envolvimento dos indivíduos – relações cara a cara, entranhadas, afetuosas, íntimas,
cordiais e espontâneas – criam uma condição particular de sentimento e percepção do
grupo, onde o “nós” se sobrepõe.

Segundo Cooley, o grupo primário se caracteriza pelo reduzido número de mem-


bros que o integram, o que permite relações únicas cara a cara entre todos os seus mem-
bros. No grupo primário, todos os membros se conhecem pessoalmente e mantêm re-
1
AMALGAMAR (2009): fazer ou sofrer mistura, combinação, fusão; misturar(-se), reunir(-se), juntar(-se).

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lações diretas; esse fato, unido há um clima afetivo geralmente intenso, torna possível a
expressão relativamente livre e espontânea da personalidade de seus membros. (apud
CHINOY, 1973)

Por sua vez, os “grupos secundários” se distinguem em função de um conjunto


de qualidades que asseveram seu caráter impessoal, a qualidade de quase anonimato
das relações sociais empreendidas entre seus integrantes, em muito proveniente do
número elevado de indivíduos que o integram, e do alto grau de formalidade evidente
em sua estrutura. Nesse universo que se processa a “socialização secundária”, momen-
to no qual o indivíduo é colocado frente a outros entes, indivíduos e grupos sociais,
instituições, num processo de interação e integração diferenciado. Nos “grupos secun-
dários”, a realização, ou não, dos objetivos a que se propõem essas estruturas sociais,
são atribuídos valores e interesses. Lá se permanece em função da importância, do
significado e da qualidade atribuída à relação em si mesma.

Grupo primário Grupo secundário


Processo de socialização primária Processo de socialização secundária

Construção do “eu” social Participação em instituições

Pequeno número de integrantes Grande número de integrantes

Relações pessoais, íntimas e diretas Relações formais, entre alguns, indiretas


Clima das relações: caracterizado pelo afeto e li-
Clima das relações: caracterizado pelo interesse
vre expressão da personalidade
Exemplo: famílias Exemplo: empresas, escolas

Modelos sociológicos e tipologia dos pequenos grupos sociais


Grupos formais e informais – as relações humanas
As descobertas de Georges Elton Mayo (1880-1949), baseadas em experiências
realizadas na fábrica de Hawthorne da Western Eletric, possibilitaram a criação da
teoria das relações humanas, expressa em suas obras The Humans Problems of an
Industrial Civilization (1933), The Social Problems of an Industrial Civilization (1945),
The Political Problem of an Industrial Civilization (1947) e o título de fundador da So-
ciologia Industrial e dos movimentos das relações humanas. Também estimulou o
surgimento e desenvolvimento da Psicologia do Trabalho, anteriormente denomina-
da Psicologia Industrial.

Não obstante a investigação, em princípio, buscasse explicar o resultado da pro-


dução através do estudo da relação entre o ambiente de trabalho e a produção dos tra-
balhadores, no caso, operários, e fosse notabilizada em fases intituladas como “Efeitos
do ambiente sobre o rendimento”, “Variações de rendimento versus Inovações nas con-
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dições de trabalho” e no estabelecimento de grupos isolados – grupos de referência e
grupos de controle –, o fato é que as respostas surgidas dessas empreitadas terminaram
por impossibilitar o estabelecimento de uma relação direta entre essas variáveis. Alguma
variável contrariava os resultados esperados. Desse ponto, a investigação toma outra di-
reção tomando por enfoque as relações humanas, empreendendo outras duas fases: o
“Estudo das relações humanas”, realizado através de um programa de entrevistas desti-
nadas a obter informações sobre as opiniões e sentimentos dos operários, e o “Estudo da
organização formal e informal dos operários” baseado na observação dos sentimentos e
as relações estabelecidas entre os integrantes de um determinado grupo de operários.

Desse processo emerge um conjunto de conclusões que remetem ao papel fun-


damental desempenhado pelo grupo social, os processos de integração social e a in-
fluência do comportamento do grupo sobre o indivíduo.

Tais estudos contribuíram ainda para uma formulação capaz de possibilitar a


caracterização do “grupo social”, conforme sua estruturação, como “grupo formal” ou
“grupo informal”.

Assim, formal e informal decorreriam de alguns atributos.

O “grupo formal” adviria de um processo de racionalização demandado a partir do


corpo dirigente, tendo por finalidade a preservação e manutenção da organização e
não o indivíduo, e baseada em um conjunto de prescrições, normas e regras fixas infle-
xíveis, que se impõem e terminam por contagiar os indivíduos e as situações.

O “grupo informal”, diversamente ao “grupo formal”, é movido em direção ao aten-


dimento das necessidades e experiências individuais, se deixa notar por uma série de
características inerentes aos processos espontâneos de interação, que ocorrem entre
Modelos sociológicos e tipologia dos pequenos grupos sociais

os integrantes de determinado grupo e entre os integrantes de determinado grupo e o


próprio grupo, marcados por acordos, práticas pessoais, habituais e afetividade.

Grupos formais Grupos informais


Planejamento Espontaneidade
Racional Afetivo
Voltado para os fins e necessidades do grupo Voltado para os fins e necessidades do indivíduo
Regras e normas: fixas e impostas Acordos, práticas pessoais e afetividade

Grupos de pertencimento e grupos de referência


A relação originada de um processo de identificação, mais ou menos intenso, entre
os indivíduos e determinados padrões de comportamento procedentes de determina-
dos grupos sociais, constitui o foco da formulação desenvolvida por Robert K. Merton,

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no sentido de explicitar duas situações de pertencimento: em quais situações um indi-
víduo conclui por aderir, de modo cabal, aos objetivos de um grupo social ao qual não
pertence e em quais circunstâncias se origina uma identificação completa e profunda.
(MERTON, 1968, p. 365-478)

Se há aqueles grupos sociais, aos quais os indivíduos pertencem, se identificam,


passam por um processo de socialização em comum, coincidente no tempo e no
espaço, onde as aspirações, sonhos, ambições e o comportamento são condiciona-
dos aos padrões instituídos pelo “grupo social”, também existe, principalmente em de-
corrência da complexidade da sociedade contemporânea, aqueles grupos sociais aos
quais os indivíduos desejam pertencer.

Buscando explicações para esse fato notável, Roberto King Merton recorrerá ao
conceito de “grupo de referência”, entendido como aquele “grupo social”, que por ser
detentor de formas e funções peculiares termina por ter uma distinta ascendência
sobre os indivíduos não integrantes do grupo social, influenciando e gestando um
comportamento de assimilação, uma identificação mental e psicológica. Esse “grupo
de referência”, por conta de elementos sociais, econômicos, políticos e culturais, se
apresenta aos indivíduos como uma estrutura social diversa e positiva, se constituindo
como um cenário que por sua “natureza”, exposta em seus valores, atitudes e padrões,
insurge como referência, desperta aspirações. Um desejo ardente de ser e tomar parte
de um certo “grupo social” ao qual não pertence.

Identificar-se com grupos sociais diferentes do “grupo social” ao qual pertence é


notório em sociedades onde brotam possibilidades de inter-relacionamento dos indi-
víduos com diferentes indivíduos e grupos sociais, direta ou indiretamente.

Modelos sociológicos e tipologia dos pequenos grupos sociais


Orientados por suas concepções bastante pessoais – que podem proceder das in-
fluências inerentes aos processos de convivência, portanto diretas, ou através dos mais
diversos meios de comunicação, onde todo um padrão de comportamento de deter-
minados grupos sociais são oferecidos, daí a ideia de uma influência indireta, que inde-
pende do viver em comum –, os indivíduos, que recebem e experimentam essas ações
e impressões de modo quase passivo, principalmente nas sociedades constituídas por
um enorme contingente populacional e por uma notável diversidade de grupos so-
ciais, tendem a eleger esses grupos referenciais como fontes de apoio e realização de
seus desejos e objetivos reais ou ideais, e como suportes para a aceitação social.

Essa possibilidade de responder e corresponder a um universo simbólico de um


“grupo social”, com o qual o indivíduo se sinta totalmente identificado aos seus valo-
res e objetivos, e – consciente ou inconscientemente – mesmo que não pertença ao
mesmo se esforce para se assemelhar a tal grupo. A esse grupo se atribui a denomina-
ção de “grupo de referência”, um tipo de “grupo social” que contribuirá para uma estru-
turação mental do indivíduo, um quadro de referência para a formação de opiniões e

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atitudes, para a elaboração das aspirações, para a tomada de consciência e, por fim,
como um padrão de comportamento.

Grupos sociais como sistemas abertos


A partir de uma concepção de “grupo social” como um sistema aberto, Dunphy
(apud PRADOS, 2000) apreende essa estrutura social considerando suas relações de
interatuação e intercâmbio com o contexto onde se situa.

Ao adotar essa postura, denuncia uma visão predominante até então: a do “grupo
social” como uma estrutura fechada em si. Essa forma de observar o “grupo social” seria
proveniente dos processos de investigação experimentais, adotados principalmente
nos laboratórios. Semelhantes experimentos terminavam por constituir “ficções” de
grupos sociais: grupos fechados, sem relação com o contexto onde possivelmente es-
tariam inseridos, apartados da sociedade mais ampla, em estado total de isolamento
da realidade.

Compreender o “grupo social” como um sistema aberto possibilita visualizar um


processo de inter-relação, um intercâmbio com o entorno social onde está inserido,
reconhecendo o fenômeno na “exata” extensão de sua existência, ou seja, que esse
“grupo social” estabelece relações em sociedade e que esse processo releva diversos
graus e intensidades que possibilitam a sustentação de determinada permeabilidade e
flexibilidade inerentes à construção e manutenção de identidade e a sua subsistência,
conservação e permanência.
Modelos sociológicos e tipologia dos pequenos grupos sociais

Texto complementar

Os pequenos grupos
(ÁVILA, 1996, p. 206-213)

Noção
Numa primeira aproximação do problema, podemos partir de uma definição
clássica de grupo, tal como é proposta por Albion W. Small: “O termo grupo é uma
designação sociológica válida para qualquer número de pessoas, as quais desco-
brem que têm relações entre si e que pensam em conjunto, relações mútuas essas
que são suficientemente expressivas para chamar a atenção.”

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O elemento que, nessa definição ampla, caracterizaria o pequeno grupo seria
exatamente a exiguidade de suas dimensões, que o tornam mais facilmente identi-
ficável pelo observador externo.

Não é possível determinar numericamente a dimensão além da qual o grupo


não seria mais um pequeno grupo. É evidente que uma classe social não é um pe-
queno grupo e que a família, por outro lado, tem dimensões que a enquadram nessa
categoria. Tanto vale dizer que o critério numérico não é suficiente para dirimir a
questão sobre a natureza dos casos limítrofes.

Para tratamentos estatísticos, um universo é um conjunto de indivíduos de uma


mesma categoria, constituindo o que se chama um agregado; por exemplo, indiví-
duos do mesmo sexo, da mesma classe de idade, da mesma profissão. Um agregado
não é um grupo, como um pequeno agregado pode não ser um pequeno grupo.

A contiguidade espacial efêmera não constitui um pequeno grupo. É ilustrativo


o exemplo apresentado por Michael S. Olmsted: vária pessoas que olham um tigre
na jaula de um zoológico não formam um pequeno grupo. Mas se o tigre fugir e as
pessoas tiverem tempo de procurar um refúgio, que pode ser a própria jaula vazia,
elas começam a funcionar como um pequeno grupo procurando superar o impasse
em que se encontram.

A consciência de relações necessárias para enfrentar uma situação ou um pro-


blema comum oferece um novo critério numa linha que unisse os terminais das di-
versas linhas de relações. Este estaria contido na linha que unisse os terminais das

Modelos sociológicos e tipologia dos pequenos grupos sociais


diversas linhas de relações. A natureza dessas relações permitirá distinguir vários
tipos de pequenos grupos.

Antes porém de entrar na questão de uma tipologia ou classificação dos pe-


quenos grupos, faremos uma referência ao contexto histórico que propiciou a emer-
gência do interesse por esse tema sociológico.

O contexto histórico
Dois grandes fenômenos históricos condicionaram a redescoberta da impor-
tância dos pequenos grupos na estrutura da sociedade global e estimularam os es-
tudos a respeito destes. O primeiro foi a emergência dos grandes totalitarismos e o
segundo a expansão das sociedades de consumo de massa.

No Antigo Regime, cuja liquidação podemos datar da Revolução Francesa e


antes da época do liberalismo, o quadro de referência da vida dos indivíduos não

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era a sociedade ou Estado, mas pequenos grupos, confrarias religiosas, corporações,
mutualidades e um sem-número de formas comunitárias em que se aglutinava o es-
pírito associativo. O poder da sociedade global sobre os indivíduos era mediatizado
por uma forte estrutura grupal.

A demolição das estruturas corporativas que, num primeiro momento, foi sau-
dada como uma libertação, deixou na realidade os indivíduos ao sabor de um poder
central, concretamente do Estado, que passou, cada vez com maior desenvoltura, a
arregimentá-los para seus próprios fins competitivos e nacionalistas.

Só quando o peso das estruturas estatais ameaçou esmagar os indivíduos foi


que se verificou que um valor inestimável havia sido destruído, representado pela
trama envolvente de instituições que, na tradição do pensamento social cristão, se
chamavam grupos intermediários. Sem uma grande vitalidade desses organismos,
as democracias nascidas do liberalismo ou tendiam para formas de estagnação
de um burocratismo rotineiro ou evoluíam para a autodestruição, fascinadas pelo
fragor dos sistemas totalitários que começavam já a fazer suas devastações. Sem
o vigor dos relacionamentos pessoais dos pequenos grupos, os indivíduos eram
presas fáceis da propaganda que incutia neles uma mentalidade acrítica, dócil aos
movimentos de massa e propensa aos fanatismos. A passo de ganso, a humanidade
ia caminhar para a maior hecatombe de sua história.

Serenada a tormenta, as sociedades desenvolvidas aceleram seu crescimento


no sentido da afluência. O modelo civilizatório da sociedade de consumo evolui para
a massificação das populações, utilizando os meios publicitários da mais poderosa
Modelos sociológicos e tipologia dos pequenos grupos sociais

máquina de propaganda jamais montada. Mais uma vez, as pessoas se acham sem
defesa ante o poder de absorção da sociedade global.

Esse contexto estimulou por reação a emergência das mais variadas, por vezes
das mais bizarras, formas de nucleação em pequenos grupos, pequenas comuni-
dades, que buscam novas formas de relacionamento capazes de preservar valores
qualitativos de espontaneidade e de criatividade.

Os métodos de abordagem
Os estudos sobre os pequenos grupos podem ser e têm sido conduzidos em
duas perspectivas.

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A primeira, que se chamaria de sociológica, focaliza mais o pequeno grupo
como uma unidade orgânica e se interessa por descobrir as leis de seu comporta-
mento dentro do contexto maior no qual está inserido. Trata-se de uma abordagem
numa perspectiva mais externa e responde mais a indagações sobre funções dos
pequenos grupos relativamente à organização da qual são parte, à sociedade global
e a todo o processo cultural.

Essa linha se orientou para objetivos predominantemente pragmáticos, tais


como os de descobrir as vantagens e os riscos da formação de pequenos grupos
dentro de uma empresa ou da estrutura burocrática de uma administração.

A segunda abordagem poder-se-ia chamar de psicológica e focaliza mais a pró-


pria vivência interna dos pequenos grupos e sua influência sobre as atitudes, os com-
portamentos, a percepção e a emocionalidade dos indivíduos que os compõem.

Essa abordagem utilizou em larga escala métodos experimentais e pesquisas


de laboratório bastante sofisticadas. É lícito duvidar entretanto se se atingiu uma
certa equivalência entre os vultuosos investimentos imaginativos e financeiros
feitos nessas pesquisas e os resultados obtidos. Das conclusões a que se chegou
com relativa certeza, algumas eram óbvias, já previsíveis pelo senso comum; outras
eram novas, mas ofereciam pequena garantia de sua validez na complexidade da
vida real, fora das precauções de laboratório.

Classificação

Modelos sociológicos e tipologia dos pequenos grupos sociais


É classificada em Sociologia a divisão dos grupos em primários e secundários.
Tal classificação se aplica de modo especial aos pequenos grupos. Aplicada a grupos
mais amplos, ela corresponde exatamente às categorias elaboradas por F. Tönnies
de comunidade e sociedade, descritas em capítulo anterior.

Foi o sociólogo americano Cooley que, desde o início do século, introdu-


ziu a distinção entre grupos primários e secundários. Numa passagem clássica de
sua obra descreve os grupos primários e em sua descrição antecipa de muitas
décadas algumas intuições fundamentais de sociólogos mais recentes, inclusive
Gurvitch: “Considero grupos primários os caracterizados por associação e coopera-
ção íntima e face a face. São primários em vários sentidos, dentre os quais o fun-
damental é o de formar a natureza social e os ideais do indivíduo. O resultado da

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associação íntima é uma certa fusão psicológica das individualidades no todo, de
modo que a personalidade de cada um, pelo menos em muitos aspectos, incorpora
a vida comum e o objetivo do grupo. Talvez o modo mais simples de descrever esse
fenômeno seja dizer que é um “Nós”; supõe uma espécie de simpatia e identificação
mútua cuja forma de expressão natural é “nós”. Cada pessoa vive em função do todo
e seus objetivos principais estão nesse todo: dá e recebe.”

“Não se deve supor que o que une o grupo primário é meramente a harmo-
nia e o amor. Ele é sempre uma unidade diferenciada e geralmente competitiva,
supondo a autoafirmação e vários sentimentos próprios dessa diferenciação. Esses
sentimentos, entretanto, são socializados pela simpatia e tornam-se ou tendem a
tornar-se socializados sob a influência de um espírito comum. O indivíduo poderá
ser ambicioso, mas o objeto principal de sua ambição será um status no pensamento
dos outros e ele se sentirá intimamente ligado aos padrões comuns de ajuda mútua
e lealdade.”

“Os grupos são, pois, primários no sentido de dar ao indivíduo sua primeira
e mais complexa experiência de unidade social e também no sentido de que não
mudam no mesmo ritmo que as relações mais sofisticadas, mas são uma fonte per-
manente da qual essas se originam continuamente.”

“Tais grupos são, portanto, fontes de vida, não apenas para o indivíduo, mas
também para as instituições sociais ...”

Os grupos secundários apresentam características opostas: “As relações entre


Modelos sociológicos e tipologia dos pequenos grupos sociais

seus membros são frias, impessoais, racionais, contratuais e formais. As pessoas não
participam dele com toda a sua personalidade, mas apenas com capacidades de-
limitadas e especiais. O grupo não é um fim em si mesmo, porém um meio para
outros fins. Os grupos secundários são tipicamente extensos e os seus membros
têm, habitualmente, apenas contatos intermitentes, frequentemente indiretos, es-
critos, mais do que orais”.

Assim, pois, todos os grupos primários são pequenos grupos, mas nem todos
os pequenos grupos são grupos primários.

A estrutura dos grupos


Os pequenos grupos são por si mesmos um laboratório de microexperiências
sociais espontâneas ou induzidas.

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A análise de sua estrutura revela como que maquetes constituem modelos
interessantes para o estudo das estruturas dos grupos amplos e das sociedades
globais.

Entendemos aqui por estruturas dos pequenos grupos as formas de relações


padronizadas entre os diversos membros que os compõem.

Dois sociólogos americanos, Georg G. Homans e Robert Bales, foram os que


levaram mais longe não só as observações empíricas, como também as teorizações
mais válidas sobre as estruturas dos pequenos grupos.

As pesquisas estruturais puderam revelar os mecanismos pelos quais o pe-


queno grupo atua sobre os seus membros, como neles funcionam os diversos tipos
de liderança autoritária ou democrática, como neles se formam os subgrupos em
função seja da própria permanência do grupos, seja de sua resposta a um problema
ou a uma situação com que se defronta.

Os pequenos grupos foram formas de subculturas, traduzindo em linguagem


própria as crenças, valores e símbolos da sociedade global da qual participam. Reve-
lam uma certa ambivalência tanto para suas funções internas quanto para as externas.
Internamente, as relações estruturais podem favorecer o desenvolvimento pleno das
personalidades, mas podem também gerar bloqueios e inibições. É o caso, por exem-
plo, dos grupos jovens que se sentem coibidos em suas pretensões de fazer de toda
a sociedade um grande grupo primário, de relacionamentos espontâneos e criativos.
Externamente, como resposta a desafios do contexto amplo, podem propiciar formas

Modelos sociológicos e tipologia dos pequenos grupos sociais


de ativismo, de aumento quantitativo da produtividade, de maior riqueza imaginativa,
mas podem favorecer as nucleações de subgrupos de resistência e de sabotagem.

Ampliando conhecimentos
KLEIN, Josephine. O Estudo de Grupos. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1972.

A autora apresenta um levantamento de estudos realizados por pesquisadores


norte-americanos e britânicos sobre os pequenos grupos.

OLMSTEAD, Michael S. O Pequeno Grupo. São Paulo: Herder/Edusp, 1970.

Introdução ao estudo de pequenos grupos. Apresenta um panorama e discussão


de diversas teorias, além de pesquisas e resultados de pesquisas. Aborda temas como:
funções do grupo para o indivíduo e a sociedade; estrutura social; grupos pequenos;
grupos primários; comportamento grupal; liderança e personalidade.

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Atividades

1. Qual a diferença entre grupos primários e grupos secundários?


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2. Caracterize um grupo de referência.

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3. O que são pequenos grupos?

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Referências
AMALGAMAR. In: HOUAISS, Antônio. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portu-
guesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

ÁVILA, Fernando Bastos de. Introdução à Sociologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1996.

CHINOY, Ely. Sociedade – uma introdução à Sociologia. São Paulo: Cultrix, 1973.

CUZIN, Marinalva Imaculada. As Relações Interpessoais à Luz do Psicodrama. 2008.


404 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Estadual de Campinas. Faculdade
de Educação, Campinas, 2008.

MERTON, Robert K. Sociologia: teoria e estrutura. São Paulo: Mestre Jou, 1968.

MILLS, Theodore M. Sociologia dos Pequenos Grupos. Biblioteca Pioneira de Ciências


Sociais. São Paulo: Pioneira, 1970.

SHEPHERD, Clovis R. Pequenos Grupos – aspectos sociológicos. São Paulo: Atlas,


1969.

TRUJILLO FERRARI, Alfonso. Fundamentos de Sociologia. São Paulo: McGraw-Hill do


Brasil, 1983.
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Gabarito

1. O grupo primário constitui a mais simples forma de organização associativa do


ser humano, uma estrutura social diferenciada, geralmente competitiva, desta-
cando-se por elementos acidentais – como a relação cara a cara e o aspecto tem-
poral – e por elementos considerados essenciais – como os aspectos funcional e
emocional que indicam a condição de pertencimento, as relações realizadas atra-
vés de contatos pessoais e espontâneos, o compartilhamento de experiências e
a possibilidade de assumir os papéis dos integrantes do grupo. Há a prevalência
do “nós” sobre o “eu”. O grupo secundário trata-se de uma outra forma associativa
essencialmente baseada em relações voluntárias, indiferenciadas, propositais e
impessoais. Há a predominância dos interesses individualizados numa situação
onde o relacionamento racional é estabelecido segundo um contrato.

2. Trata-se daqueles grupos aos quais os indivíduos desejam pertencer e consti-


tuem, de modo consciente ou inconsciente, relações de identificação plena com
o grupo. Em geral, a interação com os grupos de referência não se desenvolve
através de contatos físicos, diretos, ocorre de modo indireto, principalmente atra-
vés dos meios de comunicação. Tais grupos se tornam estruturas mentais para os
indivíduos, que passam a organizar seus objetivos e comportamento em relação
aos grupos de referência.

3. São expressões de pequenos conjuntos de indivíduos, portanto, definidos se-

Modelos sociológicos e tipologia dos pequenos grupos sociais


gundo sua dimensão numérica, em geral um mínimo de dois e um máximo de
vinte integrantes, e pelo fato de se instituírem como instrumentos de estudos
experimentais, daí serem denominados “grupos experimentais”, com a finalidade
de propiciar investigações e estudos sobre as relações internas e comportamen-
tais dos seres humanos.

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Metodologias, métodos
e técnicas de investigação social
A existência de distintas práticas, sistemas, formas e modos de investigar e conhe-
cer a realidade de um determinado “grupo social” estimula e compele à necessidade
de, não tão somente, tomar conhecimento e noção das distintas variáveis, sobrenu-
meráveis e, às vezes, obscuras, enigmáticas e, aparentemente, irresolutas formas de
denominar o ato de investigar, bem como dominar os conceitos inerentes ao campo
de estudo. Nesse ambiente, são empregados os termos metodologia, método e técni-
ca, de forma indistinta – como se um tivesse a mesma, ou quase a mesma, significação
que outro –, para denominar determinada investigação, façanha que termina por gerar
embaraços e desnorteios, dadas as dificuldades em reconhecer semelhanças, estabe-
lecer diferenças, ou mesmo distinguir os aspectos peculiares inerentes às diversas de-
nominações empregadas. Enfim, metodologia, método e técnica parecem ou surgem
como sendo a mesma coisa, mas não o são.

Desse modo torna-se imperativa uma apresentação, mesmo que breve, sobre esse
“universo de encantamento”, que é o científico, tendo em vista um melhor delineamento
sobre metodologia, método e técnica de investigação.

A metodologia
Uma questão que se coloca de antemão: por que todo e qualquer arrazoado, ainda
que contrariando a opinião majoritária e vigente, muito embora o mesmo possa ser in-
tencionalmente enganador, capcioso, ilusório e falaz, tende a ser aceito sem o menor
questionamento, quando o mesmo tem por origem o universo da ciência? Certamente
há de proliferar justificativas que, em geral e preventivamente, acorrerão ao caráter e
caracteres técnico, racional e às circunstâncias de um suposto conhecimento testado
e aprovado. Dessa condição decorre uma segunda controvérsia: de onde advém essa
percepção de “verdade de fato” atribuída à opinião científica, apesar de marcada por
contestações, mudanças, desvios, conjunturas? Em geral uma resposta se impõe, de
forma quase que resoluta, principalmente quando a mesma procede do universo das
ciências: a credibilidade da ciência decorre da sua metodologia científica. Assim, novas

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interrogações se interpõem: o que é metodologia e donde brota seu caráter delibera-
damente insofismável no domínio das ciências?

Há uma profusão de definições que, a título de explicação, vêm a se assumir e tomar


corpo como que respostas acerca do que vem a ser metodologia. Dessa forma, algumas
dessas explicações, entre tantas outras errantes, vagas, inconstantes e abstratas, conside-
rarão a metodologia como: forma de estudo ou conhecimento dos métodos utilizados
para a realização de pesquisas científicas ou acadêmicas; caminho para se chegar a um
determinado fim ou objetivo; elemento facilitador na produção de conhecimentos; modo
organizado de investigação e busca de respostas a problemas; reflexão ordenada e metó-
dica sobre os métodos e as técnicas; instrumento direcionador e ordenador da execução
das diversas etapas e processos do trabalho de investigação científica. Em suma, a bordo
dessas tantas e tantas compreensões é possível discorrer sobre qualquer metodologia,
tanto do ponto de vista mais geral como metafísico: da metodologia da pesquisa científica,
passando pela metodologia do trabalho científico e chegando à metodologia científica
propriamente dita.

Tendo em conta as observações anteriores, cabe ressaltar que, nesse momento, bus-
ca-se constituir um determinado olhar, uma abordagem sobre determinada enunciação
de metodologia enquanto uma demarcação afeita às Ciências Sociais, não necessariamen-
te descrevendo e discorrendo sobre o funcionamento e as aplicações de um método espe-
cífico, ou abordando os métodos mais comuns e as diversas correntes do pensamento nas
Ciências Humanas (fenomenologia, estruturalismo, dialética, positivismo, métodos sistê-
mico, tipológico e crítico). Assim, adotando-se como princípio que uma abordagem sobre
metodologia científica, em particular no universo das Ciências Sociais, invariavelmente
deve considerar em sua apreensão, além do conhecimento sobre aspectos fundamentais
relativos a como a disciplina – ou campo do saber científico – atua, como o mesmo in-
terfere no contexto e na realidade, bem como as características elementares e essenciais
Metodologias, métodos e técnicas de investigação social

à instituição de um patrimônio e de um saber científico: as bases e os fundamentos, os


instrumentos e suas instrumentalizações, a qualidade, legitimidade, validade e a aplicabili-
dade das proposições científicas.

Da abundância de definições acerca da metodologia científica é possível reconhe-


cer dois grandes conjuntos, em conformidade com a percepção de seus significados.
Em termos restritos, metodologia conduz a uma compreensão da ideia de metodologia
enquanto um instrumento técnico de processamento do conhecimento, forma ou con-
junto de métodos e procedimentos que devem ser seguidos em conformidade com uma
dada programação, planejamento, processo ou técnica. Por outro lado, considerando-se
a gênese semântica do vocábulo metodologia, que remete à língua grega clássica, onde,
atentando ao caráter etimológico dos termos, logia proveria do grego logos que significa

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palavra, discurso ou tratado sobre algo, e método, por sua vez, derivaria das raízes gregas
metá y odos, com metá significando ideia de movimento e odos como caminho, o vocábulo
metodologia adquire outra dimensão, a da metodologia como os estudos dos métodos.
Assim, reportar-se à metodologia como o estudo dos diferentes métodos prescritos e apli-
cados nas ciências possibilita considerá-la como o estudo acerca da matéria do conheci-
mento, visando contribuir para a definição dos sentidos e direções a serem adotados para
se alcançar ou se aproximar, de modo seguro, da realidade e da verdade, tendo em vista o
estabelecimento de certo grau de certeza no processo de estudo, análise, síntese, compro-
vação e manifestação científica.
Na antiga Grécia, méthodos (methá + odon) significava “caminho para chegar a um fim”. Com o
passar do tempo essa significação generalizou-se e o termo passou a ser empregado também para
expressar outras coisas, como “maneira de agir”, “tratado elementar”, “proceso de ensino” etc.
Isso, porém, não impediu que conservasse sua validade com o significado de “caminho para chegar
a um fim”, precisamente a acepção que nos interessa. Para nós, método é um conjunto de etapas,
ordenadamente disposta, a serem vencidas na investigação da verdade, no estudo de uma ciência,
ou para alcançar determinado fim. E metodologia (do grego methodos + logia) significa o “estudo do
método”. (RAMPAZZO, 2005, p. 13)

Conforme essa acepção, cabe à metodologia sujeitar a análise meticulosa, os


fundamentos, a validade e a aplicabilidade dos mais diversos instrumentos e recursos
técnicos elaborados e empregados pelas ciências no processo de composição da sua
estrutura científica, bem como suas repercussões no âmbito da sociedade. Procura,
desse modo, resposta às questões de caráter ontológicos, segundo a “teoria do ser”
(o que é e como a realidade existe?); epistemológicos, conforme a “teoria do conhe-
cimento” (como e até onde é possível conhecer e generalizar o conhecimento?); e ló-
gicos, consoante a “teoria do juizo correto” (qual o procedimento adequado, eficaz e
coerente na busca do conhecimento?).

Segundo Barros e Lehfeld, a metodologia pode ser abordada a partir da sua

Metodologias, métodos e técnicas de investigação social


divisão em três dimensões interconectadas, indispensáveis à edificação e instituição
da ciência:
a) Epistemológico – refere-se ao estudo das questões que se pode levantar na procura da
verdade, discussão dos limites, alcance e valor dos métodos científicos (estudo crítico: dos
métodos científicos);
b) Lógico – supõe a organização lógica do raciocínio na prática da investigação e da ação
científica;
c) Técnico – é o cientificismo das técnicas e procedimentos específicos utilizados e contextos
particulares das pesquisas temáticas problematizadas. (BARROS; LEHFELD, 2000, p. 14)

Há vários tipos de metodologias, como também há diversas formas de conhecimen-


to: conhecimento religioso (teológico), conhecimento popular (senso comum), conheci-
mento científico e conhecimento filosófico, aos quais estão correlacionados, especifica-
mente, problemas e demandas reputadas como inerentes às respectivas metodologias.

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O potente desenvolvimento das ciências, ocorrido a partir do século XVII, tornou ne-
cessária a produção de novos processos, métodos e ferramentas para abordar a realidade,
fazendo com que problemas atinentes à metodologia tomassem uma nova importância.

A metodologia “encorpa”, ganha e amplia seu prestígio, interesse e autoridade à


medida e em consonância com o desenvolvimento do conhecimento científico que, com
sua forma específica de conhecer, exige ações robustas e revigoradas no sentido da reflexão
acerca dos problemas metodológicos e enquanto fundamento e ciência dos métodos.

O método científico
Existem inúmeras definições, em geral incompletas e insatisfatórias, que tentam
tratar sobre o que vem a ser a ciência, por exemplo:
[...] acumulação de conhecimentos sistemáticos; [...] conhecimento certo do real pelas suas causas;
[...] conjunto de enunciados lógica e dedutivamente justificados por outros enunciados; [...] estudo
de problemas solúveis, mediante método científico; [...], forma sistematicamente organizada de
pensamento objetivo. (LAKATOS; MARCONI, 1986, p. 22)

Há ainda um conjunto de outras ilações que, com certo grau de restrição, buscam
expressar, até com maior exatidão, afirmando ser a ciência um conjunto de conheci-
mentos, algo que se define pelo seu objeto material – objeto de observação – e pelo
seu objeto formal, constituído por métodos e conteúdos.

Um enunciado mais amplo e preciso vem a ser o elaborado por Trujillo Ferrari, que
possibilita uma percepção consideravelmente adequada dos elementos essenciais da
ciência. Assim, a ciência é, para o autor, “todo um conjunto de atitudes e atividades
racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser
Metodologias, métodos e técnicas de investigação social

submetido à verificação” (TRUJILLO FERRARI, 1974, p. 8).

De certa forma, essa definição possibilita a explicitação de quatro dimensões ou


elementos essenciais e inerentes à ciência:

dimensão compreensiva ou conteúdo;

dimensão do campo de atuação;

dimensão metodológica ou procedimental;

dimensão do objetivo ou finalidade.

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Dimensão compreensiva ou conteúdo
A ciência, considerando a sua dimensão compreensiva ou do seu conteúdo, é
constituída por uma reunião de conhecimentos sobre a realidade. Conjuntos em forma
de termos, pressuposições, conceitos, leis e hipóteses interconectados entre si, e que
constituem as teorias científicas. Internamente consistentes, testáveis e de base empí-
rica comprovada, posto serem experimentalmente observáveis.

Dimensão do campo de atuação


A realidade observável, realidade deste mundo, é o espaço natural e particular de
atuação da ciência. Desse contexto deriva o experimento e a observação como ações
inerentes ao fazer científico. Manifestações que transcendem o limite da realidade e,
mesmo, o não empírico, estão postos à parte do campo de atuação da ciência.

Dimensão metodológica ou procedimental


A forma via procedimentos e operações intelectuais que integram e tipificam o
método científico, propiciam o controle, a observação racional, a experimentação, a in-
terpretação, a explicação e a verificação dos fenômenos e dos fatos, bem como a elabo-
ração de leis, o estabelecimento de princípios e a fundamentação do conhecimento.

A dimensão do objetivo ou finalidade

Metodologias, métodos e técnicas de investigação social


A finalidade ou objetivo como dimensões inerentes da atividade científica são ex-
plicitados segundo uma preocupação em explicar a realidade, ou mesmo em alcançar
ou obter a verdade, não no sentido absoluto, mas sim enquanto ação de busca volta-
da para o descobrimento, distinção e caracterização dos fenômenos abordados, bem
como pelo estabelecimento das leis gerais inatas que regem os fenômenos e fatos ob-
servados. Comprovando hipóteses e estabelecendo nexos entre a realidade observada
e a teoria científica.

Muito embora a utilização do método científico não seja privilégio único da ciên-
cia, é a utilização do mesmo que irá distinguir o conhecimento científico. Sua origem
não é revelada nem tampouco afirmada, em decorrência do seu objeto de estudo. O

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caráter diverso da ciência em relação às outras formas de conhecimento decorre do
fato de que esse conjunto de conhecimentos procede da aplicação do método cientí-
fico, sendo resultado desse método.

A essa altura torna-se imprescindível salientar uma justa diferenciação entre método
de abordagem e os métodos procedimentais, em muito decorrente de aspectos filosó-
ficos, grau de abstração, finalidade e ação investigativa. Visando contribuir para a distin-
ção, Lakatos e Marconi afirmam que enquanto o método de abordagem (constituído
pelos métodos indutivo, dedutivo, hipotético-dedutivo e dialético) concerne a um tipo
mais amplo de abordagem e abstração sobre a realidade em um grau mais elevado, os
métodos de procedimento (métodos antropológicos e transculturais, método compa-
rativo, método correlacional, método de diagnóstico, método das narrações literárias,
método de estudos de casos, método de estudos descritivos causais, método de estudos
de observação participante, método de estudo quase-experimental, método descritivo,
método de estudos de investigação-ação, método dos testes, método estatístico, método
experimental, método funcionalista, método histórico, método idiográfico, método de
intervenção, método clínico, método experimental, método longitudinal, método mo-
nográfico, método nomotético, método tipológico, método transversal) apresentam
técnicas alçadas à condição de métodos, corresponderiam a etapas concretas de abor-
dagem da realidade menos abstratas, mais limitadas e circunscritas a determinadas áreas
do conhecimento, em especial às Ciências Humanas, muito embora não haja consenso
ou uma classificação única (LAKATOS; MARCONI, 1986, p. 79).

Segundo Lakatos e Marconi, “o método é o conjunto das atividades sistemáticas e


racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo – conhe-
cimentos válidos e verdadeiros –, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e
auxiliando as decisões” (LAKATOS; MARCONI, 1986, p. 21-42). Assim, o método científico,
considerando, de modo generalizado, suas diversas etapas (formulação do problema,
Metodologias, métodos e técnicas de investigação social

elaboração de hipóteses, coleta de dados, análise dos dados e dos resultados, conclu-
são e generalização dos resultados) e destacando suas características de facilitador no
desenvolvimento de qualquer empreitada de caráter científico, graças à sua contribui-
ção no processo de elaboração de problemas e hipótese, e no estabelecimento de um
percurso seguro, econômico, corrígivel, racional, sistemático, ordenado e replicável, se
constitui como instrumento fundamental no processo de investigação científica sobre
a realidade.

Os métodos de investigação científica


Os métodos de procedimento, estruturados conforme um conjunto de fases e
etapas específicas inerentes ao método, de modo geral, caracterizam uma investiga-
ção concreta.
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Entre a diversidade de métodos de investigação existente no universo das Ciên-
cias Humanas, serão abordados os métodos experimental, correlacional e descritivo.

Método experimental
Geralmente realizado em ambiente laboratorial, portanto padronizado, caracteri-
za-se por uma rigorosa sistematização no processo de investigação que exige o cum-
primento por completo das fases do método científico. Visa à elaboração de conheci-
mentos científicos de forma rigorosamente verificada e comprovada, subordinando à
investigação controlada um determinado evento, onde são medidas as ocorrências e
as exceções. Assim, produz ou reproduz um fenômeno da realidade em condições sob
o mais absoluto controle do investigador, que intervém ativamente no evento, visan-
do, também de forma controlada, observar e descobrir quem produz e quem reproduz
certas reações na relação entre as variáveis observadas e manipuladas. A elaboração e
definição das hipóteses prévias são realizadas de forma minuciosa. Os participantes do
processo de estudo são selecionados de modo aleatório. Há um controle extremo das
variáveis, posto que o investigador pode manipular diretamente as variáveis, denomi-
nadas independentes, dependentes e estranhas, para observar o efeito de uma sobre
as outras que quer estudar. Muito embora nesse tipo de experimento as variáveis de-
nominadas estranhas possam influenciar o processo de investigação e, não obstante o
caráter artificial do experimento, dado ao fato de, majoritariamente, ser realizado em
laboratórios sob um contexto absolutamente controlado, esses estudos possibilitam a
realização de inferências causais, visando descobrir a relação causal existente entre as
variáveis dependentes e independentes, de modo metodologicamente seguro.

Método correlacional

Metodologias, métodos e técnicas de investigação social


Geralmente realizados em ambientes naturais, ou seja, os participantes no evento
são observados segundo o impacto de ocorrências naturais, trata-se de estudo de ca-
ráter comparativo que, por não manipular as variáveis e muito menos os aspectos
causais, tem como foco a observação de fenômenos, buscando descobrir as correla-
ções existentes entre os diversos eventos, tendo em vista tornar possível a previsão
da variabilidade de um fenômeno a partir da variabilidade do outro. Examina, enfim,
o grau de relacionamento ou mesmo o nível de associação que as variáveis mantêm
entre si. O tipo de análise ou a forma de medir empreendida no estudo das variáveis e
dos fenômenos observados é que irá caracterizar o método correlacional. Trata-se do
estabelecimento de coeficientes de correlação ou associação entre as variáveis obser-
vadas em um mesmo grupo ou no estabelecimento de coeficientes de diferenciação
(médias, frequências) decorrente da comparação de resultados entre os grupos ou as
condições analisadas.

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O método correlacional se caracteriza por uma menor exigência no que diz res-
peito ao nível de sistematização no curso da investigação. De forma geral, os partici-
pantes do processo investigativo são escolhidos aleatoriamente, tendendo a “utilizar”
grupos naturais, condição na qual se busca evitar influência ou manipulação externa.
No que diz respeito às fases da investigação, o rigor é relativamente menor se compa-
rado ao método experimental. As hipóteses, cujas fases de formulação, em diversas in-
vestigações, sequer são citadas, em geral são tratadas como objetivos de investigação
ou são elaboradas em função dos processos desencadeados tendo em vista as relações
causais entre variáveis. Por sua vez, as variáveis são selecionadas, conforme interesse
e importância, para a observação. O pesquisador observa a relação entre as variáveis,
denominadas independente e dependente, visando estabelecer relações (se uma está
relacionada a outra ou não) que são importantes para o estudo. Face à inexistência de
um controle rigoroso sobre a variável dependente, a mesma pode influenciar a variável
independente. Não há manipulação das variáveis.

Método descritivo
Geralmente realizados em ambientes naturais, trata-se de estudo voltado à obser-
vação e descoberta das regularidades, diferenças e frequências dos fenômenos, tendo
em vista, em geral, o recolhimento de informações para o desenvolvimento de um pro-
cesso de investigação posterior. O método permite um grau maior de generalização. São
utilizados grupos naturais, condição na qual se busca evitar influência ou manipulação
externa. O investigador tem um papel reduzido, haja vista que sua atuação está limitada
ao processo de registro e descrição do movimento e ação das variáveis, não havendo a
possibilidade de manipulação. Muito embora o grau de exigência de sistematização no
processo de investigação seja bastante reduzido, trata-se de uma observação sistemá-
Metodologias, métodos e técnicas de investigação social

tica da descoberta, distinção e registro da forma como os fenômenos observados, por


exemplo, padrões de comportamento, ocorrem no ambiente natural dos participantes
do evento. Um contexto ideal de observação seria caracterizado por uma condição na
qual o objeto observado não tenha consciência de estar sendo observado. Nem sempre
há a formulação de hipóteses e, em algumas situações, sequer o problema da investiga-
ção é elaborado. Somente os objetivos a atingir são formulados.

Considerando os métodos de procedimento investigativo é possível traçar alguns


quadros comparativos, haja vista a existência de alguns fatores e procedimentos
comuns aos três métodos abordados, mas que, no entanto, face ao modo como se ar-
ticulam nas respectivas abordagens, terminam por constituir elementos diferenciado-
res, tais como: controle sobre o objeto observado, naturalidade do objeto observado,
sistematização do processo de observação, manipulação das variáveis, tipo de relação
observada e ambiente ou contexto da realização da observação.

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Quadro 1 – Diferença entre os três métodos, segundo o controle sobre o
objeto observado

Método descritivo Método correlacional Método experimental

MENOR MÉDIO MAIOR

Quadro 2 – Diferença entre os três métodos, segundo a naturalidade do


objeto observado

Método descritivo Método correlacional Método experimental

MAIOR MÉDIO MENOR

Quadro 3 – Diferença entre os três métodos, segundo a sistematização do


processo de observação

Método descritivo Método correlacional Método experimental

BAIXA MÉDIA ALTA

Metodologias, métodos e técnicas de investigação social


Quadro 4 – Diferença entre os três métodos, segundo a manipulação das
variáveis

Método descritivo Método correlacional Método experimental


Não manipula Não manipula Manipula
Não seleciona Seleciona Seleciona

Quadro 5 – Diferença entre os três métodos, segundo o tipo de relação


observada

Método descritivo Método correlacional Método experimental


Regularidade e frequência Relação vinculada Relação causal

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Quadro 6 – Diferença entre os três métodos, segundo o contexto da realiza-
ção da observação

Método descritivo Método correlacional Método experimental


Contexto natural Contexto natural Laboratório

Técnicas de investigação social e classificação


Enquanto, contemporaneamente, a ciência é tida como um conjunto de propo-
sições e enunciados racionais, prováveis, coletados metódicamente, sistematizados,
verificáveis e relacionados a uma dada realidade, em síntese um conjunto de sabe-
res teóricos, e não necessariamente práticos, a técnica é considerada e posta quase
que em contraposição. Muito embora Marconi e Lakatos (1986, p. 56) definam técnica
como sendo “um conjunto de preceitos ou processos de que se serve uma ciência ou
arte; é a habilidade para usar esses preceitos ou normas, a parte prática”, alguns auto-
res salientam a amplitude do termo “técnica”, que tanto pode significar uma forma ou
habilidade específica para realizar algo existente como um conjunto de processos de
uma determinada área, como a do conhecimento, quando, por exemplo, trata-se, entre
outras, da “técnica administrativa” ou da “técnica contábil”. De certo modo, prevalece
no senso comum contemporâneo a ideia de técnica como um saber fazer, forma ou
procedimento prático, em quase oposição a esse saber téorico representado pelo co-
nhecimento científico.

O método científico, em termos sintéticos, mas bastante generalizantes, costu-


Metodologias, métodos e técnicas de investigação social

meiramente representado como um modelo ideal, uma sucessão de etapas – obser-


vação, elaboração da hipótese, experimentação, resultados, interpretação, conclusão,
também conhecida pela sigla OHERIC –, corresponderia a um caminho cujo percorrer
rigoroso, de todas as fases estipuladas, propiciaria o acesso ao universo do conheci-
mento científico. No entanto, tão somente o método não basta. Assim é que o método
científico termina por avocar, para si e para seu cumprimento, um caráter técnico e
instrumental que possibilita um aproximar-se dos fenômenos e fatos investigados e a
consequente aplicação do método. Esses componentes práticos correspondem a uma
multiplicidade de meios, métodos operacionais e procedimentos de ação adequados
ao objeto de estudo.
[...] o aspecto técnico da ciência pode ser caracterizado pelos processos de manipulação dos fenôme-
nos que se pretende estudar, analisar, interpretar ou verificar, cuidando para que sejam medidos ou
calculados com a maior precisão possível, registrando-se as condições em que os mesmos ocorrem,

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assim como sua frequência e persistência, procedendo-se à sua decomposição e recomposição,
sua comparação com outros fenômenos, para detectar similitudes e diferenças e, finalmente, seu
aproveitamento. Portanto, o aspecto técnico da ciência corresponde ao instrumental metodológico
e ao arsenal técnico que indica a melhor maneira de se operar em cada caso. (LAKATOS; MARCONI,
1986, p. 23-24)

Esses procedimentos de ação, passíveis de serem divididos segundo dois con-


juntos e enfoques, qualitativo e quantitativo, configuram as técnicas de investiga-
ção (pesquisa documental, pesquisa bibliográfica, pesquisa de campo, pesquisa de
laboratório, observação, entrevista, questionário, formulário, medidas de opinião e
atitudes, testes, análise de conteúdo, história de vida, técnicas mercadológicas, so-
ciometria), elementos concretos e imprescindíveis à implementação e cumprimento
das diversas etapas metodológicas.

As técnicas de investigação do tipo qualitativo se caracterizam por estarem


orientadas para a descoberta, descrição, compreensão e interpretação do fenômeno
observado, tendo como foco os sentidos e significados das ações sociais, e o caráter
humano presente e/ou atribuído aos eventos observados. Buscam uma abordagem e
compreensão caracteristicamente holística e integral do objeto observado, em toda a
sua extensão, considerando para tanto as variáveis existentes e seu processo de intera-
ção. Através de uma interpretação subjetiva, buscam uma compreensão do fenômeno,
oferecendo como resultados conclusões expressas, no geral, em linguagem natural. É
possível classificar no enfoque qualitativo algumas técnicas de investigação: a “obser-
vação”, “observação participante”, “grupos de discussão”, “histórias de vida (individuais
e coletivas)” e “entrevistas”.

As investigações do tipo quantitativo permanecem concentradas na busca de in-


formações sobre objetos passíveis de quantificação. Sua finalidade é a verificação atra-
vés da utilização de métodos quantitativos de medição, visando isolar, delinear, ana-

Metodologias, métodos e técnicas de investigação social


lisar ou avaliar os eventos observados, tanto do ponto de vista das variáveis internas
– instituindo proporções e elaborando correlações entre as variáveis – como também
da validade das ferramentas empreendidas no processo de investigação. Através de
medidas objetivas e via teste das hipóteses, busca construir explicações. Um conjunto
de elementos são preconizados no transcorrer do processo de investigação visando
à validação das informações: a possibilidade de generalização dos conhecimentos, a
replicabilidade dos testes aplicados, a objetividade e neutralidade, a credibilidade de-
corrente da interpretação o mais próximo da realidade observada. É metrificante, pres-
supõe a utilização do método estatístico e busca a explicação objetiva. É marcadamen-
te descritiva e não comparativa. Expressa suas conclusões em linguagem numérica e
formal. É possível classificar no enfoque qualitativo algumas técnicas de investigação,
como: “sondagens”, “medidas de opinião e atitudes,” “testes” e “testes sociométricos”.

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A Sociometria como metodologia, método
e técnica de investigação
O sentido geral da palavra Sociometria se originou do termo latino socius, cujo
significado é companheiro, e metrum, donde decorre a ideia de medir, quantificar.
Desse sentido deriva a concepção de mensuração social ou forma de medir as relações
sociais entre os integrantes de um determinado grupo.

A Sociometria, ou os estudos e investigações de cunho sociométricos, são cos-


tumeiramente aplicados em avaliações das relações interpessoais. No sentido restrito
aborda as relações interpessoais em situações particulares. Em um sentido mais amplo
é aplicada em investigações e trabalhos sociais. Tem por objetivo contribuir para a re-
organização da vida social, o estudo da personalidade e a obtenção de dados sobre
um grupo.
A Sociometria é formada por um conjunto de procedimentos quantitativos das relações interpessoais e
intergrupais cujo objetivo é descobrir uma base objetiva ao cálculo de aceitação, rejeição, isolamento,
das pessoas pelos seus pares em grupos sociais. [...] Na aplicação da Sociometria algumas questões
são básicas:
a) Elaboração do questionário sociométrico à base de questões perceptivas e projetivas.
b) Preparação do grupo e o teste de espontaneidade.
c) Construção da sociomatriz ou matriz sociométrica.
d) Representação gráfica dos dados analisado por meio do sociograma.
e) Considerar as técnicas sóciodramáticas. (TRUJILLO FERRARI, 1983, p. 73-74)

A Sociometria termina, assim, por se configurar como uma abordagem quantita-


tiva, que fornece informações sobre diversas ações e processos (acolhimento, repulsa,
status) que ocorrem nas situações de relações interpessoais em determinados contex-
Metodologias, métodos e técnicas de investigação social

tos (grupos, organizações). Busca informações quantitativas acerca das causas moti-
vadoras de determinadas ações, que posteriormente podem ser abordadas junto ao
grupo objeto do estudo, a partir do ponto de vista qualitativo das mais diversas técni-
cas como a entrevista, a observação, o psicodrama e o estudo de casos.

De um ponto de vista sintético e geral é possível localizar a Sociometria, consi-


derando os diversos conceitos até aqui abordados, enquanto uma metodologia, um
método de investigação e uma técnica de pesquisa. Metodologia: face ao seu caráter
sistemático, verificável, metódico. Método de investigação: face ao fato de selecionar
variáveis para a observação, sem exercer qualquer ação manipuladora. Técnica de in-
vestigação: posto que dentre as técnicas sociométricas se destaca o “Teste Sociomé-
trico”, processo quantitativo no qual a posição dos indivíduos, em um determinado
grupo, resulta em números e índices.

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Texto complementar

Introdução
(SANTOS, 2006, p. 17-19)

[...] O conhecimento científico é hoje a forma oficialmente privilegiada de co-


nhecimento e a sua importância para a vida das sociedades contemporâneas não
oferece contestação. Na medida das suas possibilidades, todos os países se dedicam à
promoção da ciência, esperando benefícios do investimento nela. Pode dizer-se que,
desde sempre, as formas privilegiadas de conhecimento, quaisquer que elas tenham
sido, num dado momento histórico e numa dada sociedade, foram objeto de debate
sobre a sua natureza, as suas potencialidades, os seus limites e o seu contributo para
o bem-estar da sociedade. De uma forma ou de outra, a razão última do debate tem
sido sempre o fato de as formas privilegiadas do conhecimento conferirem privilé-
gios extracognitivos (sociais, políticos, culturais) a quem as detém. Só assim não seria
se o conhecimento não tivesse qualquer impacto na sociedade, ou, tendo-o, se ele
estivesse equitativamente distribuído na sociedade. Mas não é assim.
Por um lado, só existe conhecimento em sociedade e, portanto, quanto maior
for o seu reconhecimento, maior será a sua capacidade para conformar a sociedade,
para conferir inteligibilidade ao seu presente e ao seu passado e dar sentido e dire-
ção ao seu futuro. Isto é verdade em qualquer que seja o tipo e o objeto de conheci-
mento. Mesmo que a natureza não existisse em sociedade e existe – o conhecimen-
to sobre ela existiria. Por outro lado, o conhecimento, em suas múltiplas formas, não
está equitativamente distribuído na sociedade e tende a estar tanto menos quanto
maior é o seu privilégio epistemológico. Quaisquer sejam as relações entre o privilé-

Metodologias, métodos e técnicas de investigação social


gio epistemológico e o privilégio sociológico de uma dada forma de conhecimento
– certamente complexas e, elas próprias, parte do debate –, a verdade é que os dois
privilégios tendem a convergir na mesma forma de conhecimento. Essa convergên-
cia faz com que a justificação ou contestação de uma dada forma de conhecimento
envolvam sempre, de uma maneira mais ou menos explícita, a justificação ou con-
testação do seu impacto social.

Desde o século XVII, as sociedades ocidentais têm vindo a privilegiar episte-


mológica e sociologicamente a forma de conhecimento que designamos por ciên-
cia moderna. Quaisquer que sejam as relações entre essa ciência e outras ciências
anteriores, ocidentais e orientais, a verdade é que essa nova forma de conhecimen-
to se autoconcebeu como um novo começo, uma ruptura em relação ao passado,
uma revolução científica, como mais tarde viria a ser caracterizada. Desde então,
o debate sobre o conhecimento centrou-se na ciência moderna, nos fundamentos

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da validade privilegiada do conhecimento científico, nas relações deste com outras
formas de conhecimento (filosófico, artístico, religioso etc.), nos processos (insti-
tuições, organizações, metodologias) de produção da ciência e no impacto da sua
aplicação. O que distingue o debate moderno sobre o conhecimento dos debates
anteriores é o fato de a ciência moderna ter assumido a sua inserção no mundo
mais profundamente do que qualquer outra forma de conhecimento anterior ou
contemporâneo: propôs-se não apenas compreender o mundo ou explicá-lo, mas
também transformá-lo. Contudo, paradoxalmente, para maximizar sua capacidade
de transformar o mundo, pretende-se imune às transformações do mundo.

Nos termos da consciência de si próprios que a ciência e os cientistas tende-


ram, dominantemente, a formar desde os tempos da revolução científica até um
período muito recente, o privilégio epistemológico que a ciência moderna se arroga
pressupõe que a ciência é feita no mundo, mas não é feita de mundo. A ciência inter-
vém tanto mais eficazmente no mundo quanto mais independente é dele. A ciência
opera autonomamente segundo as suas próprias regras e lógicas para produzir um
conhecimento verdadeiro ou tão próximo da verdade quanto é humanamente pos-
sível. A verdade consiste na representação fiel ou, pelo menos, o mais aproximada
possível da realidade que existe, independentemente das formas que assume e dos
processos através dos quais é produzido o conhecimento que se tem dela. Uma vez
criadas e estabilizadas as condições institucionais que garantem a autonomia da
ciência, tal verdade e tal representação não estariam sujeitas ao condicionamento
ou à manipulação por parte do mundo não científico.

Ao longo dos últimos três séculos, os debates sobre a ciência tiveram sempre
estas duas vertentes: a natureza e o sentido das transformações do mundo operadas
Metodologias, métodos e técnicas de investigação social

pela ciência; a natureza e a validade do conhecimento científico que produz e legitima


essas transformações. Em alguns períodos, dominou uma das vertentes e noutros, a
outra. Os debates começaram por ser entre cientistas e titulares de outros conheci-
mentos – filósofos, teólogos, artistas etc. –, mas, à medida que a ciência se expandiu e
diversificou, passaram a travar-se igualmente entre cientistas, ainda que, por vezes, o
debate tenha sido sobre o que é ser cientista e sobre quem o é.

A evolução dos debates tem a ver com uma pluralidade de fatores: com o cres-
cimento exponencial da produção científica e a consequente proliferação das co-
munidades científicas; com o extraordinário aumento da eficácia tecnológica propi-
ciada pela ciência, uma eficácia posta tanto ao serviço da guerra como da paz; com
as transformações na prática científica à medida que o conhecimento científico foi
transformado em força produtiva de primeira ordem e a questão das relações entre
a ciência e o mercado se transmutou na questão da ciência como mercado.

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Os debates têm assumido muitas formas. A mais recente ficou conhecida por
“guerras da ciência” e incidiu preferencialmente sobre a natureza e validade do co-
nhecimento que produz e legitima as transformações do mundo através da ciência.
Foi um debate essencialmente entre cientistas, ainda que o estatuto de cientista
tenha sido, ele próprio, parte do debate, e de tal modo que se, para alguns dos par-
ticipantes, o debate era entre cientistas, para outros tratava-se de um debate entre
cientistas e intelectuais estranhos ao mundo da ciência. Foi, acima de tudo, um
debate entre cientistas em geral e cientistas cujo objeto de investigação é a pró-
pria ciência enquanto fenômeno social. Eis algumas das questões que dominaram
debate: qual é a relação entre conhecimento científico e a realidade que ele pre-
tende conhecer? O conhecimento científico representa, descobre, cria ou inventa a
realidade que pretende conhecer? Quais os critérios por que se afere a adequação
ou a correção dessas relações? O conhecimento científico aspira à verdade, à efi-
cácia, à verossimilhança, à coerência, à referencialidade? Se as verdades científicas
de um dado momento histórico têm sido refutadas em momentos posteriores, há
algo mais na verdade do que a história da verdade? O modo como a ciência está
organizada e o modo como se realiza na prática interfere no tipo e na validade do
conhecimento que se produz? Quais as relações entre a ciência e outras formas de
conhecimento? Qual o verdadeiro papel do conhecimento científico? Como devem
interagir os cientistas com o “resto da sociedade” nos processos de decisão?

Ampliando conhecimentos
SOUZA SANTOS, Boaventura de. Um Discurso sobre as Ciências. 2. ed. São Paulo:
Cortez, 2004.

Metodologias, métodos e técnicas de investigação social


Trata-se de uma abordagem crítica da epistemologia positivista, tanto nas Ciên-
cias Físico-Naturais como nas Ciências Sociais. O autor observa nessa epistemologia
um sinal da crise final do paradigma científico dominante e identifica os traços princi-
pais de um paradigma emergente que confere às ciências sociais uma nova centralida-
de na busca de um novo senso comum.

SOUZA SANTOS, Boaventura de. Conhecimento Prudente para uma Vida Decente:
um discurso sobre as ciências revisitado. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2006.

O livro apresenta um debate sobre a ciência enquanto forma de conhecimento


e prática social. São abordados temas como: as verdades científicas; a organização da
ciência; a validade do conhecimento científico.

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Atividades

1. Indique quais são as duas possíveis percepções acerca do vocábulo meto-


dologia.
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2. Qual é o espaço natural e particular de atuação da ciência?

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3. Cite três características do método correlacional relacionadas ao controle sobre
o objeto, manipulação das variáveis e contexto da realização da observação.

Metodologias, métodos e técnicas de investigação social

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Referências
BARROS, A. Jesus da Silveira; LEHFELD, Aparecida de Souza. Fundamentos da Meto-
dologia Científica. 2. ed. São Paulo: Makron Books, 2000.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Científica. São


Paulo: Atlas, 1986.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa. São Paulo:
Atlas, 1986.

RAMPAZZO, Lino. Metodologia Científica – para alunos do curso de graduação e pós-


graduação. 3. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2005.

SANTOS, Boaventura de Souza. Introdução. In: _____. Conhecimento Prudente para


uma Vida Decente: um discurso sobre as ciências revisitado. 2. ed. São Paulo: Cortez,
2006. p. 17-19.

TRUJILLO FERRARI, Alfonso. Metodologia da Ciência. 2. ed. Rio de Janeiro: Kennedy,


1974.

TRUJILLO FERRARI, Alfonso. Fundamentos de Sociologia. São Paulo: McGraw-Hill do


Brasil, 1983.
Metodologias, métodos e técnicas de investigação social

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Gabarito

1. Em termos restritos, metodologia conduz a uma compreensão da ideia de me-


todologia enquanto um instrumento técnico de processamento do conheci-
mento, forma ou conjunto de métodos e procedimentos que devem ser segui-
dos em conformidade com uma dada programação, planejamento, processo
ou técnica. Por outro lado, o vocábulo metodologia adquire outra dimensão, a
da metodologia como estudo de métodos.

2. A realidade observável, realidade deste mundo, contexto do qual deriva o ex-


perimento e a observação como ações inerentes ao fazer científico.

3. Controle sobre o objeto observado – não há controle, pois tem como foco a
observação de fenômenos, buscando descobrir as correlações existentes entre
os diversos eventos;
Manipulação das variáveis – não manipula as variáveis;
Contexto da realização da observação – geralmente realizados em ambientes
naturais, ou seja, os participantes do evento são observados segundo o impac-
to de ocorrências naturais.

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Socionomia
A criação da Socionomia é atribuída a Jacob Levy Moreno, no alvorecer do século
XX, que viria a constituir para as Ciências Humanas e, em particular, para as Ciências
Sociais, um renovado patamar no processo de investigação dos grupos sociais, a bem
dizer, dos pequenos grupos sociais. Trata-se de uma abordagem e de um arranjo cien-
tífico, de caráter epistemológico e metodológico, fundado com base na abordagem
das relações sociais, que se divide em três eixos de conhecimento, interdependentes
e complementares, uma vez que se considera que as abordagens investigativas e tra-
tamentais sobre os grupos sociais requerem a concorrência de ambos: a Sociatria, a
Sociodinâmica e a Sociometria. Esses três campos utilizam diversos instrumentos de
investigação, como: os testes sociométricos objetivo e perceptual, interação de papéis
(role-playing), teatro espontâneo, sociodrama e o psicodrama, entre outros.

As influências da Socionomia
A Socionomia tem por influência três fontes de conhecimento: religião, filosofia
e arte, expressa segundo a arte de representar, ou melhor, de dramatizar presente na
arte teatral.

Do ponto de vista religioso, são diversas as influências que procedem do hassidis-


mo, originário da cabala judaica, cujos pressupostos religiosos – as ideias de onipre-
sença de Deus e a necessidade de uma postura otimista frente à vida – contribuíram
para a concepção do ser humano como um ser bom, interligado, de modo inseparável,
ao cosmos e potencialmente genial e criativo, características que lhe possibilita atuar
no sentido da criação e recriação de si e do contexto social, econômico, político e cul-
tural. Essa condição orientada por uma profunda e intensa crença religiosa colaborará
para a instituição de princípios éticos que nortearão a noção de responsabilidade – do
sujeito em relação a si, para si, com o outro e com o universo – como elemento de
união entre os seres humanos e como
[...] um elo importante que nos congrega e nos une a todos. Somos todos unidos pela responsabilidade.
Não existem limites para a responsabilidade nem responsabilidade parcial. E a responsabilidade nos
faz criadores do universo. E eu comecei a sentir que Eu sou. Eu sou o pai. Eu sou o responsável. Eu sou
responsável por todas as coisas que acontecerão no futuro e por todas as coisas que aconteceram no
passado e, mesmo que não tenha qualquer ajuda para fazer as coisas, para remover a razão de ser do
sofrimento ou para fazer qualquer outra coisa, eu tenho agora uma aliança operacional com o mundo

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inteiro. Todas as coisas pertencem a mim e eu pertenço a todas as pessoas. A responsabilidade é o elo
que nos une e que nos liga ao cosmos. (MORENO, 1992, p. 14)

Em termos filosóficos, a concepção da Socionomia aflora em função de diversas


contribuições, posteriormente reelaboradas por Moreno. Os conceitos de espontanei-
dade e criatividade que integrarão a concepção da Socionomia decorrem das influên-
cias filosóficas do pensamento de Henri Bergson, Martin Buber e da corrente existen-
cialista, quando ainda em seus primórdios. Entre as elaborações filosóficas de Henri
Bergson, algumas ideias irão marcar as concepções socionômicas: a necessidade de
compreensão da realidade em sua forma original, como a realidade é em si, termina-
ria por constituir um dos pontos cruciais da Socionomia que relevam a importância
fundamental da abordagem dos fenômenos e dos eventos a serem investigados no
instante exato de sua ocorrência, puros, particulares e originais, “não contaminados”
por elementos externos e passíveis de compreensão em consonância com o contex-
to onde ocorre. Outra contribuição decorreu dos conceitos da dureé e a doutrina do
élan “vital” elaboradas por Henri Bergson, que viriam a contribuir, embora de modo tão
somente aproximado das proposições originais, com o conceito de “momento”, fun-
damental para a construção dos princípios da “espontaneidade” e “criatividade”, que
corresponderão, em termos socionômicos, à competência criativa do ser humano em
elaborar soluções novas às circunstâncias novas ou velhas.

O pensamento de Martin Buber1(apud MARINEAU, 1992, p. 75) sobre o ser humano,


o processo de relação e o encontro também tomarão lugar de destaque no universo da
Socionomia. Para Buber, o ser humano só existiria em função das relações, e o encon-
tro consubstanciaria o momento decisivo da relação, situação crítica de fusão do “eu”
e o “tu” em um único “ser.” Essa fórmula, “o sentido do eu é o tu”, viria posteriormente a
contribuir na elaboração do conceito de “encontro”. Do mesmo autor, a concepção de
autorrealização como conceito afeito à concepção de um ser humano criador e criati-
vo, em oposição a uma concepção do ser humano reprodutor e mais apto e adaptável
às condições dadas, desencadeará a ideia de uma nova postura científica, um novo pa-
radigma, que se distancia de uma visão de mundo cartesiana, que conforma uma so-
ciedade aviltada pela ideia de progresso, crescimento econômico, avanço tecnológico,
um mundo mecânico habitado por um ser humano máquina e pleno de estereótipos,
se aproximando, por sua vez, de uma visão de mundo perpassada por uma concepção
holística
[...] que concebe o mundo como um todo integrado, e não como uma coleção de partes dissociadas.
Pode também ser denominada visão ecológica, se o termo ecológico for empregado num sentido
muito mais amplo e mais profundo que o usual. A concepção ecológica profunda reconhece a
interdependência fundamental de todos os fenômenos, e o fato de que, enquanto indivíduos e
sociedade, estão todos encaixados nos processos cíclicos da natureza (e, em última análise, somos
dependentes desses processos). (CAPRA, 1996, p. 30)

A Socionomia adotará tal princípio numa original construção: em sua formulação,


Socionomia

o ser humano somente existiria em função da existência do grupo. No grupo, o ser


1
Filósofo de origem judaica e adepto das concepções oriundas do hassidismo.

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humano, como sujeito ativo e em relação permanente com outros sujeitos, a partir
dos mais diversos papéis – ressalte-se a noção do papel, elaborada por George Mead
a partir do desenvolvimento da concepção da “estrutura do eu” – possibilitará outras
percepções sobre o fenômeno dos processos sociais, que desempenharia num proces-
so interativo, constituiria sua identidade.

Uma outra influência de cunho filosófico adviria do movimento existencialista,


notabilizada pela ideia de uma existência que propiciasse espaço a outros elemen-
tos inerentes ao existir do ser humano, como a loucura, o irracional e o diferente. Ex-
pressões de uma humanidade que teriam lugar de forma avessa ao predomínio da
razão. Esse sentido existencialista influenciará a Socionomia que considerará esse ser
humano como dotado de uma existência própria e particular, tendo em vista sua rea-
lização e transformação. Assim é que o psicodrama, contrariando diversas concepções
científicas, possibilitava, às forças anárquicas e criativas não dirigidas, lugar particular
no processo de investigação, ao declarar
[...] normal o patológico e proporcionar a todas as formas de comportamento patológico um mundo sui
generis [...] e proporcionar a todas as formas subjetivas da existência, inclusive à profética e à desviada
do normal, um lugar que possam realizar e, casualmente, transformar-se, ao abrigo das restrições da
cultura dominante. (MORENO, 1967, p. 342, tradução nossa)

A Socionomia é perpassada por uma noção de ação. Essa noção decorre sobrema-
neira da crença fundada em uma ideia de experimentação. Remete à prática, ao ato de
experimentar em si. Subjaz a essa concepção uma ideia de ação decorrente de um pro-
cesso revolucionário de transformação da dramaturgia tradicional, movimento do qual
Moreno tomou parte quando ainda estava em Viena, cuja proposta era substituir a re-
presentação baseada nos roteiros pela livre e criativa representação de fatos, eventos
e demais ocorrências do dia a dia de forma espontânea. Esse movimento promoverá
uma ruptura com a dramaturgia e a instauração da arte da dramatização do momento,
que terá lugar no teatro da espontaneidade, espécie de laboratório onde a concepção
de ação toma corpo, dando lugar à experimentação de concepções meramente teóri-
cas, como a da espontaneidade, ao exercício – por em prática, repetir e refletir sobre os
comportamentos –, bem como à reflexão sobre esses comportamentos e a elaboração
de técnicas de comunicação interpessoal e de atuação. Assim, o teatro possibilitaria o
desenvolvimento de um processo onde o comportamento se tornaria objeto de expe-
rimentações, reexperimentações e de reflexões sobre o mesmo.

A Socionomia
A partir dos três domínios do conhecimento supracitados, a Socionomia será edi-
Socionomia

ficada enquanto ciência


[...] que trata das leis naturais que regem os sistemas sociais de modo geral, dos grupos humanos
e do desenvolvimento do homem fundamentado em sua natureza inter-relacional. Concebe o

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homem como um ser natural e potencialmente genial, corresponsável pelo processo de criação
do universo. Traz em sua proposição um projeto de planificação social com características auto-
organizativas e autoafirmativas, a exemplo do que caracteriza a ciência moderna, especialmente a
teoria sistêmica. (COSTA, 1996, p. 136)

Partindo do pressuposto do ser humano, ou melhor, da humanidade como uma


unidade, social e real, Moreno (1967) propõe a abordagem e tratamento do indivíduo
no grupo, bem como do próprio grupo.

Tendo em vista que do processo de viver junto, em grupo, decorrem conflitos,


consensos e outras tensões inerentes às situações nas quais os indivíduos se aproxi-
mam ou se afastam uns dos outros, caberia à Socionomia investigar, analisar e sinte-
tizar o conhecimento sobre esse objeto de estudo, investigando o fenômeno social
no âmago, no corpo vivo da formação social e em seu princípio, em sua origem, no
seu rebentar. Distanciando-se, assim, das elaborações especulativas e das abstrações,
apreendendo o ser humano – como agente ativo e coparticipativo – no campo da rea-
lidade objetiva, no universo concreto das relações sociais.

Dessa forma, segundo Kaufman (1992, p. 57), “surge a Socionomia – vocábulo


oriundo do latim socius que significa companheiro, grupo; e do grego nomos, cujo
significado corresponde a regra ou lei –, que possibilita o estudo, análise, medida
e tratamento não apenas do grupo, mas do indivíduo e suas relações interpessoais
no grupo”.

Em termos mais gerais, à Socionomia, compreendida como uma nova abordagem


para além da Sociologia, nas palavras de Kaufman (1992, p. 56) “o projeto de uma nova
sociologia, que se preocupa em estudar as formações e tensões sociais no aqui e agora,
em status nascendi”, seria atribuído o estudo das relações psicossociais, sociais e cultu-
rais, bem como das circunstâncias que regem o desenvolvimento social.
[...] a socionomia surge como algo mais que uma simples teoria sociológica, pois propunha-se como
uma revisão crítica de antigas correntes e visava transportar as suas complexas elaborações teóricas
para o nível da realidade vivida no cotidiano, perseguindo no presente e por meio de investigações
diretas, o complexo estrutural dos intercâmbios e das interações humanas, tal como se realizava, se
cristalizava ou se transformava na realidade concreta e a partir de como esta era vivida e produzida
por cada sujeito humano. (NAFFAH NETO, 1979, p. 120)

A concepção de Moreno(1967) sobre esse ser humano é perpassada pela ideia


de que esse ser é, de modo singular, um ser social, que nasce, vive, convive e necessi-
ta da sociedade para sobreviver. Assim, esse sujeito, entranhado em meio às relações
sociais, somente existe em relação à sociedade, tendo por pressuposto as relações in-
terpessoais que, de certa forma, não têm lugar nas multidões, nos públicos, ou seja,
nos grandes agrupamentos, e sim nos pequenos grupos sociais. É nesse espaço que
esse ser humano, em convivência com outros e num processo marcado por atrações e
Socionomia

repulsões, desenvolverá sua personalidade.

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Não obstante seja tido como um ser coletivo e gregário, esse ser humano é res-
ponsável, em primeira e última instância, pela criação e recriação da vida social e da
própria vida. Ou seja, dá vida, constrói seus sonhos de forma coletiva.
O homem é um ser cósmico, é mais do que um ser psicológico, biológico e natural. Pela limitação da
responsabilidade do homem aos domínios psicológicos, sociais ou biológicos da vida, faz-se dele
um banido. Ou ele é responsável por todo o universo, por todas as formas de ser e por todos os
valores, ou sua responsabilidade não significa nada. (MORENO, 1959, p. 21)

Essa concepção de ser humano coletivo, potencialmente espontâneo e criativo


que, com razoável precaução, conforma uma idealização de um ser superior que tudo
pode, desde que em consonância com sua capacidade de lidar com tamanha liberda-
de, permanece subjacente às relações interpessoais. Apesar de serem essas condições
sem as quais não ocorre a existência e afirmação do ser humano enquanto ser social,
essa idealização de um ser humano especial instaura-se como pressuposto básico e
fundamental à proposição, através da Socionomia, da investigação dos preceitos, prin-
cípios e regras que gestam o comportamento social.
Para Moreno, o homem é seu agir. Mas é também o que ele pode vir a ser, o que ele virá a ser, se ele
é aquecido por si mesmo e pela situação (warmed up). Um homem é a soma dos seus atos, daquilo
que ele é e daquilo que ele pode vir a ser. Para Moreno, pode-se aprender a representar a própria
vida, repeti-la e preparar-se para isso como um ator desempenha o seu papel. Pode-se “aprender
a enfrentar” e a “dar a luz a si mesmo”. Moreno volta-se assim para a maiêutica de certos diálogos
socráticos e liga essa dialética do ser consigo mesmo, essa catarse e essa tomada de consciência,
à emoção, ao deslumbramento do encontro, em um contexto de criatividade e em uma ótica
existencial. (SCHUTZENBERGER, 2002, p. 25)

A concepção de um ser humano ideal, cuja criatividade e espontaneidade o ca-


pacitam a criar e recriar sua realidade, operando sobre seu próprio destino como um
ser genial, uma espécie de Deus, perpassa a elaboração teórico-conceitual da Sociono-
mia baseada nas relações sociais empreendidas pelos seres humanos, tendo em vista
o âmbito pessoal – de si para si – e a convivência social, tendo em vista os demais
sujeitos.

A fundamentação teórica da “Psicoterapia de Grupo” ou “Terapia do Encontro”


teve início com a elaboração do conceito de “encontro”, que remete às experiências no
campo de Mitterndorf e nos grupos de discussão com adultos, ocorridas no período
de 1913 a 1917, realizadas ainda na cidade de Viena, repercutidas, especialmente, no
“Teatro de Improvisação” (1923).
[...] os grupos de discussão com adultos (1913-1914) e as experiências no campo de Mitterndorf
(1915--1917) contribuíram muito para esclarecer questões essenciais. Em meus diálogos sobre o
encontro (1918-1920) e no meu “Teatro de Improvisação” (1923) esses esforços atingiram o seu
“ponto alto” provisório. (MORENO, 1959, p. 36)

Não obstante, tais origens vienenses e europeias serão tão somente após a imi-
Socionomia

gração para os Estados Unidos da América um contexto social, econômico, político,

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cultural e científico bastante favorável, que as investigações realizadas por Moreno to-
marão corpo, com um novo referencial teórico, métodos e de técnicas científicas.
Os Estados Unidos ofereciam um clima social favorável, porque o terreno já havia sido preparado
por filósofos e sociólogos norte-americanos, como John Dewey e Charles Cooley, que puseram em
relevo a importância dos grupos primários, assim como através do movimento de higiene mental e
das experiências de Osborn nas prisões norte-americanas. (MORENO, 1959, p. 36)

Tendo por base a observação dos fenômenos sociais, Moreno elabora uma con-
cepção, segundo a qual tais eventos envolvendo, em particular, sujeitos, grupos e sis-
temas sociais, são passíveis de alterações, mudanças e transformações. Dessa condição
decorre a ideia de um pesquisador ativo no processo de investigação científica e de
intervenção nos fenômenos estudados.

Visando a transformação das relações interpessoais que ocorrem no grupo e em


grupo, a Socionomia se constitui enquanto um método de pesquisa sobre esse univer-
so relacional, tendo por pressuposto uma concepção de ser humano como protagonis-
ta “ativo”, que num processo de evolução espontâneo e criativo, cria e recria sua história
de vida. Também emerge dessa concepção fundada na ideia de processo, segundo a
qual os fenômenos sociais podem ser investigados enquanto objeto de estudo, aná-
lise e compreensão, considerando-se a intersubjetividade decorrente do processo de
interação reinante nos contextos sociais, onde as relações sociais são criadas, recriadas
e ressignificadas.

Do ponto de vista da Socionomia é desenvolvido um conjunto de abordagens que


pode ser considerado como um “[...] marco importante de ruptura com as concepções
individualistas, uma vez que desenvolveram conceitos sobre a formação e a dinâmica
dos vínculos, a medida das relações sociais e o tratamento dos grupos e das relações”
(MARRA; COSTA, 2004, p. 101). Em outros termos, no processo vivo de significação e res-
significação da realidade, as relações sociais, bem como o movimento inerente à insti-
tuição e formação de vínculos, constituem fato fundamental para o desenvolvimento
coletivo, considerando-se a integração enquanto uma dimensão humana, como bem
cultural que mobiliza elementos éticos e a transformação de padrões de comportamen-
to, entre outros elementos. Assim, ao atribuir papel fundamental ao coletivo sem abrir
mão da dimensão individual, do ser humano como sujeito, a Socionomia rompe com as
concepções individualistas e tal dinâmica termina por possibilitar transformações e rup-
turas nas abordagens, nos paradigmas e na construção de modelos epistemológicos.

Ao adotar o estudo dos papéis, a Socionomia possibilita uma aprendizagem dife-


renciada, tendo em vista que permite o aprender e o educar, observando-se todas as
etapas do processo de produção e transmissão do conhecimento como componentes
de um processo único e inerente às ações espontâneas e criativas.
Socionomia

À Socionomia cabe contribuir para “[...] o desenvolvimento da espontaneidade e


criatividade para garantir a condição do amadurecimento, a conquista da autonomia
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no sentir, perceber, pensar e agir, possibilitando despertar o ser ético. A ética tem um
papel preponderante no exercício do olhar crítico sobre si mesmo e sobre o mundo”
(MARRA; COSTA, 2004, p. 104). Ao assumir, como prática, uma concepção de pesqui-
sa social fundamentada na ação e ao empregar uma metodologia que a caracterizará
como um modo de pesquisa e ação, empreende uma investigação em campo, num
espaço peculiar às relações interpessoais empreendidas entre os sujeitos e os grupos –
o sujeito de si para si, o sujeito como os sujeitos, o sujeito com o grupo, os sujeitos com
o grupo e o grupo com os grupos. Tendo por base a ideia de uma intervenção criativa e
espontânea, colabora, a partir de um conjunto de abordagens, para a instituição de um
espaço vivo para se vivenciar valores, relações e trocar experiências; investiga e toma
parte no processo, contribuindo, assim, para a instituição de um processo de desen-
volvimento autônomo – o sujeito como um agente ativo, ético, espontâneo e criativo
na condição de criador e recriador da realidade – e a constituição de novos contextos
sociais, permeados por novos valores e por novas práticas de relação e inserção social
e por uma ética renovada de convivência em sociedade.

Enquanto uma nova Sociologia, a Socionomia se volta às investigações das formas


de organização social e suas tensões, decorrentes da ação recíproca dos sujeitos en-
quanto atores e autores de tais sistemas sociais, no exato momento e no local – em
status nascendi – da sua ocorrência.

Considerado como método particular dessa nova abordagem científica, o psico-


drama – técnica de ação fundamentada no teatro –, elaborado anteriormente à Socio-
nomia, terminou por constituir-se em seu principal veículo representante da técnica
de ação e difundidor de novas ideias.

Do ponto de vista microssociológico a Socionomia propicia a investigação dos


grupos sociais em suas especificidades. Já do ponto de vista macrossociológico, a So-
cionomia contribui para uma abordagem em termos mais amplos dos grupos sociais,
uma determinada totalidade social, psicológica e psicossocial. Na parte (microssocio-
lógica) ou no todo (macrossociológico), o ser humano é apreendido como sujeito cria-
dor, recriador e coparticipante, coresponsável no processo de transformação social.

Esse ser humano sensível, criativo, espontâneo e portador de uma bondade con-
gênita é, no processo de desenvolvimento social, violentado e coagido por contextos
e sistemas sociais, que terminam por envilecer sua vivacidade e vitalidade construto-
ra, presentes desde os primórdios, desde o momento do nascimento, quando se dá a
primeira manifestação de vontade e espontaneidade particular do indivíduo como ser
participante da vida em sociedade. Essa disposição, de adaptação e amoldamento à
situação dada, será denominada por Moreno como Fator E2.
Socionomia

As redes social e sociométrica, inerentes ao grupo social em seu sentido mais amplo
e ao contexto no qual está inserido, e as instituições matriz de identidade e átomo social,
2
S no original, pois remete ao latim sponte, cujo significado é vontade.
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grupos sociais e sujeitos mais próximos do indivíduo, como a família, constituem obstá-
culos ao ser criativo e espontâneo em termos afetivos, emocionais e relacionais.

Romper com o processo de automatização do ser humano, marcado pela recorrente


padronização e estereotipagem do comportamento implica, em termos socionômicos,
na superação do Fator E, a partir do resgate do ser espontâneo e criativo. Enfim, essa pro-
posta de resgate implica na ruptura com o que é denominado por conservas culturais,
possibilitando ao indivíduo superar a condição de mero componente de um sistema ou
engrenagem, recuperando seu protagonismo e sua condição de sujeito histórico, criador
e recriador, dotado de vontade, iniciativa, espontaneidade e criatividade.

O ato de criar põe em movimento a criatividade, possibilita ligar e religar aspectos


inerentes ao contexto no qual o indivíduo está inserido, ao seu caráter de espontanei-
dade. Interconectados, ambos dão luz à criação. A espontaneidade se assume como
elemento vital que conduz à criação. Esse elemento novo, decorrente da conexão es-
pontaneidade/criatividade será, posteriormente, perpetuado em valores, tradições e
histórias do grupo social. Por outro lado, a interrupção do ato espontâneo será associa-
da a uma condição de alienação, uma forma de adequação e padronização do compor-
tamento aos ditames de outro ou outrem. Tal fase se distancia da ideia de ajustamen-
to preconizado na Socionomia: o indivíduo não se ajusta e se adequa aos desejos de
outrem (sujeitos, grupo, grupos sociais), e sim através da sua iniciativa pessoal, consigo
mesmo, enquanto ser humano, criador, recriador e transformador das relações sociais
e individuais.

Não obstante essa valorização do ato individual, uma vez que, mesmo não cons-
cientemente, o ser humano age em sintonia com a apreensão particular que tem da
realidade, a Socionomia pressupõe que o processo de mudança exige atuação em
rede, portanto, coletiva.

Espontaneidade e criatividade são indissociáveis, no sentido da primeira ser po-


tencializadora da segunda: criar e recriar, modificando ou transformando uma dada
realidade, implica em produzir o novo a partir de uma dada realidade que está posta,
momento sublime da afirmação da natureza do ser humano como ser livre.

O que está posto se constitui enquanto conservas culturais, mas já foi, anterior-
mente, em um momento específico, criação. Conserva cultural se traduz então por
criações cristalizadas no tempo e no espaço: padrões de comportamento, costumes,
hábitos, tradições e objetos, de certo modo, congelados, imutáveis.

Ademais, as denominadas conservas culturais, o que já foi produzido e agora é


conservado e, mesmo, cultuado, constituem elemento básico, estimulador e germina-
Socionomia

dor do ato criativo. Cria-se a partir de algo e sobre algo já posto. Convive-se e transfor-
ma- -se o que está posto, segundo um procedimento dialético conato à condição de
genialidade do ser humano: cria e criador.

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108 mais informações www.iesde.com.br
Espaço e tempo são consignados na categoria de análise “momento”, enquanto
local para se instaurar (lócus) e tempo e contexto (status nascendi) para se movimentar,
explicitados considerando-se aspectos interativos e sistêmicos, derivados e em conso-
nância com os elementos social, grupal e individual.

Os três ramos da Socionomia


A Socionomia se apresenta conforme três eixos epistemológicos e metodológi-
cos: a Sociodinâmica, a Sociatria e a Sociometria. Esses eixos empreendem recursos
e instrumentos fundamentais à investigação das relações interpessoais, visando con-
tribuir para a explicitação, investigação, intervenção e reflexão sobre os processos de
tensões e conflitos que permeiam as relações sociais.

Através do emprego de instrumentos e metodologias como a interpretação de


papéis (role-playing) e o teatro espontâneo, a Sociodinâmica busca investigar a es-
trutura dos grupos sociais – isolados ou não – e as leis, normas, preceitos, princípios
e as possíveis relações entre os fenômenos que manifestam a dinâmica dos diversos
grupos humanos.

Já a Sociatria se vale da ingerência e intervenção junto aos indivíduos e aos siste-


mas sociais, visando promover formas de tratamento, a partir do empreendimento de
métodos como a psicoterapia de grupo, o psicodrama pedagógico e clínico, e o socio-
drama institucional. Kaufman (1992, p. 58) sugere que a Sociatria
[...]se propõe a tratar as relações, os vínculos, utilizando o psicodrama (quando o foco é o indivíduo
com todos os seus papéis), o sociograma (quando o foco é o grupo e a ênfase é colocada nos papéis
institucionais) e a psicoterapia de grupo (com alternância de foco).

Por sua vez, a Sociometria trata do processo de comensuração das relações sociais
postas em prática pelos seres humanos. Através de instrumentos, bastante peculiares,
como o teste sociométrico e o teste sociométrico de percepção, visa medir, estimar,
calcular e avaliar metricamente as relações sociais.

Segundo Naffah Neto (1979, p. 133) “[...] os métodos sociométricos, sociodinâmi-


cos e sociátricos nada mais fazem do que penetrar na estrutura-dinâmica subjacente à
rede visível das relações grupais para catalisar em ação e interação as tensões latentes
e fazer delas a mola propulsora do processo”.

Os três eixos supracitados possuem um conjunto de métodos que, dentro do uni-


verso da Socionomia, apresentam-se em condição de extremo inter-relacionamento,
Socionomia

ou seja, estão intimamente relacionados.


Os três ramos do sistema socionômico estão estreitamente relacionados entre si e cada um deles
possui uma série de métodos. A Sociometria utiliza métodos sociométricos, principalmente o

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teste sociométrico e o teste de percepção. A Sociodinâmica emprega a interpretação de papéis. A
Sociatria utiliza, principalmente, a psicoterapia de grupo, o psicodrama e sociodrama. (MORENO,
1959, p. 39)

Ao empreender seus instrumentos metodológicos, a Sociatria contribui para o pro-


cesso de transformação das relações interpessoais explicitadas através dos estudos ma-
temáticos, de natureza experimental e quantitativa, desenvolvidos pela Sociometria.
A transposição dos dados frios decorrentes das medições sociométricas para um
universo pleno de relações interpessoais, ação essa realizada através de métodos da
Sociodinâmica, possibilita a investigação da dinâmica grupal, tendo em vista a análise
e a reflexão sobre os papéis desempenhados pelos indivíduos, seus conteúdos e estru-
turas. Desse ponto, é possível uma retomada da intervenção via Sociatria. Portanto, em
princípio, a divisão entre quantitativo e qualitativo tende a ser resolvida na Socionomia
de uma nova maneira. Ao buscar afastar a dicotomia entre a investigação quantitativa
e a qualitativa, contribui para o estabelecimento de uma nova noção onde o “[...] qua-
litativo está contido no quantitativo, não é destruído ou esquecido, mas sempre que
possível tratado como unidade” (MORENO, 1974, p. 13), que se instaura e se estabelece
potencial e concretamente como elemento fundamental.
Assim, a Socionomia, que propicia o inter-relacionamento de diversos saberes e
conhecimentos e contribui para a instituição de novos processos de aprendizagem
sobre o ser humano e suas criações, ao se debruçar sobre os sistemas sociais, busca
investigar, a partir da abordagem das relações interpessoais gestadas no interior dessa
estrutura, o processo de desenvolvimento do ser humano, atribuindo a esse ser o papel
ativo de criador e recriador dialético dessa realidade, que sob sua ação se transforma
e transforma o ator efetivo das mudanças, no mesmo momento de sua ação criativa.
Esse ser humano ganha identidade, passível de ser investigada através dos papéis que
desempenha e que são decorrentes dessa condição particular.

Texto complementar

A articulação quali-quanti da abordagem psicodramática


e o predomínio de um dos polos
(SCHMIDT, 2007)

Moreno procurou fundamentar sua teoria através de estudos de natureza


quantitativa, sobretudo porque viu-se “intimado” a demonstrar de forma métrica o
critério de confiabilidade de seus estudos para atender o rigor científico positivis-
Socionomia

ta. Partiu para uma análise do social, por meio de instrumentos padronizados, que
ofereciam a possibilidade de expressar generalizações com precisão e objetividade.

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Vale salientar, todavia, que o teste sociométrico não se reduz apenas a seleção
de pessoas num determinado grupo, mas sinaliza que essa técnica contém elemen-
tos potenciais que permitem o reconhecimento profundo das estruturas do grupo.
Esse reconhecimento demonstra existirem, nesse procedimento, subestruturas de
concepções qualitativas não aparentes, às quais não foi permitido que se tornassem
visíveis, tendo em vista o momento de sua construção.

Nesse sentido, no que se refere ao teste sociométrico, os dados de natureza


quantitativa e qualitativa se complementam, pois se por um lado a avaliação so-
ciométrica trabalha com a estatística para apreender os fenômenos concretos, por
outro a natureza qualitativa desse instrumento aprofunda o mundo dos significa-
dos das relações, um lado inapreciável e imperceptível nas médias graficamente
apresentadas. Assim sendo, podemos conceber que os pressupostos gerais do de-
senvolvimento da abordagem psicodramática estão alicerçados numa epistemo-
logia qualitativa.

A inserção de uma epistemologia qualitativa encontrou seu momento explí-


cito, na sua obra, a partir da concepção de que o “laboratório para o estudo da re-
alidade é a própria realidade” (MARTÍN, 1984, p. 78-79). Nessa citação, certamente
Moreno refere-se a sua concepção de que, nesse cenário empírico, a produção do
conhecimento acontece por meio dos indicadores expressos pelos atores sociais
pertencentes a essa realidade.

A partir dessas considerações, colocou como tarefa central de sua metodologia


a compreensão da realidade humana vivida socialmente, preocupou-se em explicar a
dinâmica dessas estruturas relacionais e mostrar que “toda situação social objetiva se
expressa com sentido subjetivo nas emoções e processos significativos que se produ-
zem nos protagonistas dessas situações” (REY, 2002, p. 43).

Mediante esse princípio, fica evidente que na práxis profissional moreniana,


comprometida com o coletivo construído e com o movimento das condições sociais
que o determinam, a construção do conhecimento para a compreensão dos indiví-
duos inclui a realidade na qual eles estão inseridos. Por esses motivos, é necessário
pontuar que essa vertente é essencialmente qualitativa. Sobretudo porque “a reali-
dade social é o próprio dinamismo da vida individual e coletiva com toda riqueza de
significados dela transbordante” (MINAYO, 2002, p. 15).

A metodologia psicodramática possui instrumentos capazes de desvendar


mais acuradamente a complexidade que é a vida dos seres humanos em sociedades.
Socionomia

Para isso, os procedimentos abordam um conjunto de técnicas de expressão verbal

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e não verbal por meio das quais é possível reconhecer “a questão do significado e da
intencionalidade como inerentes aos atos, às relações e às estruturas sociais, sendo
essas últimas tomadas, tanto no seu advento quanto na sua transformação, como
construções humanas significativas” (MINAYO, 1999, p. 10).

Consequentemente, o processo social – sob essa ótica – é entendido através


das determinações e transformações dadas pelos sujeitos, sendo a própria meto-
dologia instrumento de transformação da realidade, pois concebe que “a mudança
social ocorre por intermédio do indivíduo com implicações éticas no que diz res-
peito à responsabilidade de cada um, uma vez que os indivíduos relacionam-se via
papéis desempenhados com seus pares ou complementares, definindo o lugar de
cada um na relação. É dessa interação via papéis que o sujeito constrói conhecimen-
to, conhece a realidade a partir de uma certa concepção do que ela seja, organiza-se
ao mesmo tempo em que organiza e articula com sua realidade, na perspectiva de
abranger, ao mesmo tempo, uma dimensão do sujeito em sua subjetividade e seus
papéis sociais vividos no contexto” (MARRA; COSTA, 2002, p. 114).

Ampliando conhecimentos
DRUMMOND, Jocelli; SOUZA, Andrea Claudia. Sociodrama nas Organizações. São
Paulo: Ágora, 2008.

Trata-se de um relato exemplar das aplicabilidades das concepções morenianas.


Tendo por base a teoria elaborada por Jacob Levy Moreno, os autores buscam contri-
buir, através do sociodrama, para a intervenção em organizações empresariais, tendo
em vista a ocorrência de mudanças significativas nesse contexto, abordando as ques-
tões relativas à espontaneidade, à criatividade, ao acolhimento e propiciando a supe-
ração de conflitos, a conquista da autoestima e o crescimento pessoal e profissional.

MORENO, Jacob Levy. Fundamentos do Psicodrama. 2. ed. São Paulo: Summus, 1993.

Trata-se de um amplo debate sobre a obra de Moreno, travado por inúmeros e


expressivos cientistas, ocasião na qual conceitos básicos (teletransferência, terapia in-
terpessoal e vários outros) são abordados e esclarecidos.
Socionomia

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Atividades

1. Por que a espontaneidade e a criatividade são consideradas indissociáveis?

2. Explique em que medida a Socionomia pode ser considerada como uma


nova Sociologia?

3. A elaboração teórico-conceitual da Socionomia é perpassada pela ideia de um


ser humano semelhante a uma espécie de Deus. Por quê?

Socionomia

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Referências
CAPRA, Fritjof. Ponto de Mutação: a ciência, a sociedade e a cultura emergente. Tradu-
ção de: Álvaro Cabral. São Paulo: Cultrix, 1996.

COSTA, Wedja Josefa Granja. Socionomia de Base Sistêmica – método de apoio à


gestão de grupos na organização. 2007. 225 f. Dissertação (Mestrado Profissional em
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KAUFMAN, Arthur, Teatro Pedagógico – bastidores da iniciação médica. São Paulo:


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Socionomia

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Gabarito

1. São indissociáveis no sentido da primeira ser potencializadora da segunda.


Criar e recriar, modificando ou transformando uma dada realidade, implica em
produzir o novo a partir de uma dada realidade que está posta, momento subli-
me da afirmação da natureza do ser humano como ser livre.

2. Em termos de ser compreendida como uma nova abordagem para além da So-
ciologia, por se preocupar em estudar as formações e tensões sociais no aqui e
agora, em status nascendi.

3. A Socionomia concebe o ser humano como um ser humano ideal, cuja criati-
vidade e espontaneidade o capacitam a criar e recriar sua realidade, operando
sobre seu próprio destino como um ser genial, uma espécie de Deus.

Socionomia

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Sociometria: princípios e conceitos básicos
É lugar comum afirmar que a história da Sociometria está vinculada a Jacob Levy
Moreno, portador de profundas influências religiosas e filosóficas, e marcado por di-
versas tradições culturais. A ele também são atribuídas outras paternalidades: o pai do
teatro espontâneo, o pai da psicoterapia de grupo, o pai do psicodrama e sociodrama,
o pai da Sociometria.

Jacob Levy Moreno aporta nos Estados Unidos da América em meados da década
de 1920. Entre as diversas motivações apontadas como motivos de sua emigração
encontram-se desde uma possível desavença com os atores do teatro do espontâneo
e a repercussão negativa de suas obras O Teatro do Espontâneo e As Palavras do Pai
ainda em Viena (Áustria) até uma invenção – o Radio Film, disco de aço no qual podiam
ser gravados sons – e possíveis dividendos que seriam obtidos em decorrência dos
royalties a serem pagos por uma indústria interessada no desenvolvimento, produção
e comércio do invento.

Em um primeiro momento, as concepções acerca da Sociometria remetem à for-


mação dos grupos e subgrupos conforme determinações externas, por exemplo, no
Campo de Mittendory, que abrigava refugiados tiroleses entre 1915 e 1917, e onde
Jacob Levy Moreno teve como encargo a prestação de assistência médica. Data desse
período o primeiro registro do termo Sociometria, possivelmente incluso em uma
carta que Jacob Levy Moreno endereçou ao Departamento do Interior da Monarquia
austro-húngara, propondo a organização dos refugiados em função da posição e do
papel desempenhado por cada indivíduo no contexto do grupo de refugiados.

À ocasião, os Estados Unidos da América se apresentavam como o país das opor-


tunidades em busca da sua afirmação como potência mundial. Também se apresenta-
vam como um caldeirão, onde se encontravam, em processo de efervescência, diversos
povos, diversas culturas, diversas visões de mundo. Uma sociedade cujo quadro re-
presentativo será caracterizado pelo intenso movimento e deslocamento dos diversos
grupos pelo território, pela necessidade de integração desses diversos grupos sociais e
de constituição de uma cultura comum em âmbito nacional.

Entre as preocupações de Jacob Levy Moreno, se instituía, de forma latente, a


busca da compreensão acerca dos motivos que fundamentavam o processo de forma-
ção dos grupos, o que levava os indivíduos a movimentos, intragrupais e intergrupais,
de atração e rejeição, além das questões perceptíveis de intolerância social e religio-
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sa em meio a um quadro de dificuldades econômicas. Inquietações que já na Europa
constituíam o cerne das suas atividades práticas e teóricas.

Esse cenário – em eminente ebulição social, cultural, econômica e política – con-


tribuirá vertiginosamente para o desenvolvimento dos estudos sociométricos. Uma
fonte estimuladora do espírito empreendedor de Jacob Levy Moreno, propiciando um
acelerado desenvolvimento da Sociometria, a fundação de instituições e a criação de
uma gama de meios informativos, como jornais e revistas relativos ao tema dos estu-
dos sociométricos.

O conceito de Sociometria
De início, à Sociometria foi atribuída uma definição meramente matemática, em
termos de um estudo das diversas características psicológicas dos grupos sociais do
ponto de vista meramente quantitativo. Uma técnica experimental, cujos métodos
quantitativos e os resultados obtidos por meio da aplicação de tais métodos possibilita-
vam uma forma de medir os relacionamentos sociais empreendidos pelos indivíduos.

“A Sociometria trata do estudo matemático das propriedades psicológicas das


populações, da técnica experimental e dos resultados obtidos com a aplicação dos
métodos quantitativos” (CUKIER, 2002, p. 279).

No processo de desenvolvimento e aprimoramento da Sociometria, outras defini-


ções, tendo em vista uma melhor expressão da técnica, foram somadas, contribuindo
para uma ampliação e melhor enunciação conceitual.

Tendo por princípio a concepção da humanidade como uma teia onde os diver-
sos componentes do todo empreendem ações e reações, e por compreender que tais
eventos são decorrentes de processos regulados por um conjunto de normas, regras e
procedimentos passível de ser conhecido e administrado, Jacob Levy Moreno conce-
berá que o
Sociometria: princípios e conceitos básicos

[...] pensamento sociométrico faz do universo humano a imagem de uma teia de inter-relações
[...] Se o universo é considerado como uma teia de inter-relacionamentos vivos, então a tarefa do
cientista torna-se aquela de descobrir com qual regularidade formam-se esses relacionamentos e
por intermédio de quais influências interagem e desenvolvem-se. (MORENO, 1983, p. 35)

Assim, a Sociometria não se restringiria ao ato de medir as relações sociais, mas


também de contribuir para o conhecimento sobre o modo como os grupos se orga-
nizam, evoluem e funcionam e acerca da posição assumida por cada indivíduo nos
respectivos grupos.

As questões quantitativas não recebem uma maior valoração que as questões


qualitativas. A Sociometria se estabelece, assim, enquanto um método experimental,
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inerente às Ciências Sociais, revolucionário e dinâmico, contribuindo tanto para aná-
lises quantitativas como qualitativas. Conforme Bustos, “a Sociometria é uma ciência
da ação, tendo três referências: o SOCIUM (companheiro), o METRUM (medida) e o
DRAMA (ação)” (BUSTOS, 1979, p. 58).

A Sociometria se consubstancia em um instrumento objetivo para a obtenção de


informações acerca do papel e das escolhas realizadas pelos indivíduos em sociedade.
Um instrumento para investigar um universo de relações “caracterizadas por sua es-
pontaneidade, seu elemento criador, suas relações com o instante, sua integração em
configurações concretas e singulares” (GURVITCH apud MORENO, 1972a, p. 14).

Além de um método que investiga as relações interpessoais, mensurando uma


série de elementos relativos aos grupos e aos inúmeros papéis desenvolvidos pelos
indivíduos componentes do grupo, a Sociometria se constitui em instrumento de con-
tribuição para a organização social, posto que ao fazer emergir e tornar conhecida a
estrutura dos grupos sociais – a organização e evolução dos grupos e a posição que os
indivíduos ocupam em seu interior, considerando-se a estrutura interna de cada indi-
víduo – possibilita o empreendimento de ações de caráter terapêutico. De um modo
mais explícito: a Sociometria ao se voltar para o estudo das ligações interpessoais, a
análise das escolhas empreendidas pelos indivíduos em grupo, traz à luz, através de
elementos métricos, os padrões de relacionamento, os processos de afinidade e de
influência, possibilitando sua avaliação. Avaliação em termos qualitativos, posto que,
ao mapear quantitativamente as relações que ocorrem nos pequenos grupos sociais,
traz à tona elementos qualitativos presentes no universo grupal, como desejos, afetos,
lealdades, clima emocional, motivações, articulações, meios de convivência, mas que
estão subjacentes à estrutura do grupo. “A Sociometria é o estudo da estrutura psi-
cológica real da sociedade humana. A estrutura raramente visível na superfície dos
processos sociais; consiste em complexos padrões interpessoais que são estudados
por métodos quantitativos e qualitativos” (CUKIER, 2002, p. 276). Ou seja, a Sociome-
tria compreende, além de um conjunto de métodos de caráter mensural, formas de
medir os processos inter-relacionais empreendidos pelos indivíduos nos grupos so-
ciais, um corpo de princípios condizentes com o universo relativo à condição do in-
divíduo quando em grupo, seu processo de interação e desenvolvimento; métodos e Sociometria: princípios e conceitos básicos
experimentos considerados como clínico-terapêuticos. Desse modo, segundo Jacob
Levy Moreno (1992, p. 157), a
[...] velha dicotomia, o qualitativo contra o quantitativo, é resolvida dentro do método sociométrico
de maneira nova. O aspecto qualitativo da estrutura social não é destruído nem esquecido; é
integrado nas operações quantitativas, age de dentro para fora. Os dois aspectos da estrutura são
tratados juntos, como unidade.

Sinteticamente pode se aventar que a Sociometria compreende duas vertentes:


técnica e ciência. Técnica, enquanto um conjunto de métodos e instrumentos de in-
vestigação e terapia, uma vez que pode contribuir para a compreensão das relações

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sociais, dos papéis e dos processos de escolha desempenhados pelos indivíduos nos
mais diversos grupos sociais de que fazem parte. Ciência, enquanto ciência da medida
do relacionamento humano, que investiga as formas de afinidade, indiferença, rejei-
ções e suas possíveis correlações com aspectos de caráter psicossocial e dada à sua
influência sobre os mais diversos campos de investigação social, da Sociologia, Psico-
logia à dinâmica de grupos. Uma ciência que
[...] por seus próprios méritos e como tal, é prólogo indispensável para todas as Ciências Sociais.
Pode, portanto, ser chamada de sociologia dos eventos dinâmicos microscópicos, sem levar em
consideração o tamanho do grupo social ao qual se aplica, seja ele pequeno ou grande. [...] Para
o desenvolvimento futuro da Sociometria pode ser desejável separá-la como disciplina especial
e considerá-la a ciência microscópica e microdinâmica que sublinha todas as Ciências Sociais.
(MORENO, 1992, p. 154)

Princípios e conceitos da Sociometria


A Sociometria é composta por um conjunto de métodos e instrumentos simples
e versáteis passíveis de serem utilizados tanto como técnicas de pesquisa, investi-
gação e compreensão, ou como ferramentas de intervenção nos pequenos grupos
sociais, objetos da investigação. Portanto, constituem um riquíssimo utensílio desti-
nado ao estudo, avaliação e terapia das relações interpessoais em pequenos grupos
sociais.

Esse conjunto é norteado por um grupo de conceitos e princípios, um corpo teó-


rico que articula e propicia a transmissão do conhecimento que emerge desse sistema,
possibilitando a atribuição de sentido e significado, tanto no nível prático como no
nível do arcabouço teórico dessa ciência.

Em um sentido mais específico, a Sociometria, em essência, se consolida e se


apresenta como um espaço singular em toda a estruturação teórica e metodológica,
tomando para si o arcabouço teórico que fundamenta o espectro conceitual elabo-
rado por Jacob Levy Moreno, instituindo-se como origem e fim de todo um sistema
Sociometria: princípios e conceitos básicos

conceitual e aspirando a ser uma ciência.

Espontaneidade
Considerada como um dos atributos inerentes aos seres humanos, a espontanei-
dade se apresenta de forma particular e em consonância com cada indivíduo. Apresen-
ta-se como uma condição caracterizada pelo grau de originalidade e pela capacidade
do ser humano em se ajustar e responder adequadamente no presente a situações de
caráter vital, pessoal e existencial, se expressando na possibilidade de criação e inven-
ção artísticas, tecnológicas e sociais, no ato de atender às necessidades biológicas e

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na aptidão em tomar parte no processo de criação, recriação e transformação de sua
existência e da existência do cosmo, do universo. Explicitamente significa a capacidade
do ser humano em criar respostas adequadas e inovadoras aos contextos novos, des-
conhecidos ou mesmo conhecidos, que se oferecem como possibilidade de realização
da própria humanidade do ser humano. Em geral, a espontaneidade impulsiona o ser
humano ao desenvolvimento pleno de sua capacidade criativa e seu arrefecimento
implicaria, por decorrência, numa vulgarização e intimidação das suas capacidades e
faculdades, causa primeira das inúmeras modificações estruturais e/ou funcionais que
acarretam o adoecimento psicológico e social.

Segundo Holmes (1998, p. 79), o princípio da espontaneidade, elaborado por


Jacob Levy Moreno, se apresenta sobre quatro formas:
1. N a forma criativa de espontaneidade: onde poderão surgir novos trabalhos de arte, invenções
tecnológicas ou a criação de novas situações sociais.
2. Na forma original: num livre fluxo de expressão, por exemplo, dos desenhos e poemas infantis,
se acrescenta uma forma original, sem mudar a sua essência.
3. Na forma dramática: relacionada à qualidade da resposta, à novidade nos sentimentos, nas
ações e na fala.
4. Na adequação de resposta: referente à adequação das respostas a novas situações, sendo essa a
mais diagnóstica no processo psicodramático.

Os limites, impedimentos e barreiras que impossibilitam a plena realização do


princípio de espontaneidade decorrem da matriz de identidade, do átomo social e da
rede sociométrica, universos nos quais os indivíduos se inserem ou estabelecem rela-
ções de proximidade.

Criatividade
A criatividade também deve ser considerada como um atributo inerente ao ser
humano, que é originalmente dotado de potencial criativo, transformador e recriador
Sociometria: princípios e conceitos básicos
da sua própria humanidade e, por extensão, da própria criação. A criatividade – en-
quanto um fenômeno – corresponde a um evento universal e inseparável da vida. É
indispensável ser criativo para viver. No entanto, o empoderamento do princípio cria-
tivo está umbilicalmente vinculado ao princípio da espontaneidade. A criatividade so-
mente pode ser estimulada e provocada a revelar-se mediante um estado absoluto de
espontaneidade que estimula, dinamiza, incentiva e acelera o ato criativo.
A espontaneidade sem criatividade não tem vida. Sua intensidade vital aumenta e diminui em razão
direta da espontaneidade da qual partilha. A espontaneidade sem criatividade é vazia e abortiva. A
espontaneidade e a criatividade são, assim, categorias de ordem diferente; a criatividade pertence
à categoria de substância – é aqui a arquissubstância – enquanto a espontaneidade pertence à
categoria dos catalisadores – é o arquicatalisador. (MORENO, 1992, p. 147)

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Essa concepção da espontaneidade e da criatividade como substância e catali-
sador revelam o caráter complementar existente entre os dois princípios, cuja poten-
cialidade particular depende eminentemente da presença ativa do outro. Criatividade
sem espontaneidade e espontaneidade sem criatividade implicariam em situações
peculiares e sem analogia com qualquer outra: um ser humano criativo desprovido
da espontaneidade equivaleria a um criador sem poder de dar vida às suas criações;
ao passo que um ser humano no auge da explosão de sua espontaneidade quando
desprovido da criatividade equivaleria tão somente a um ser humano pretensioso e,
no extremo, “embirutado”.

Também aqui, os limites, impedimentos e barreiras que impossibilitam a plena


realização do princípio de criatividade decorrem da matriz de identidade, do átomo
social e da rede sociométrica.

Conservas culturais
Da interação entre o princípio da criatividade e o princípio da espontaneidade se
origina o princípio da conserva cultural, uma espécie de produto melhor caracterizado
como modelo cultural. De fato, as conservas culturais se afiguram como arquivos e
memórias que, ao armazenar o fruto dos atos criativos e espontâneos e espontâneos
e criativos, visam assegurar a permanência e a continuidade de um legado, de uma
determinada herança cultural.
É uma mistura bem-sucedida de material espontâneo e criador, moldado de forma permanente.
Como tal, converte-se em propriedade do grande público, algo de que todos podem compartilhar.
Devido à sua forma permanente, é um ponto de convergência a que podemos regressar a bel-
prazer e sobre o qual pode ser assente a tradição cultural. Assim, a categoria conserva cultural é
uma categoria tranquilizadora. (MORENO, 2006, p. 159)

Não obstante a conserva cultural possa aspirar a uma posição tranquilizadora à


medida que se oferece e almeja ser uma garantia de preservação e continuidade, há
que se ressaltar sua consequência eminente e perigosa: a perpetuação do já criado
Sociometria: princípios e conceitos básicos

pode pôr em risco o ato criador que o criou. O espontâneo deixa de ser espontâneo
e passa a ser uma representação do momento do ato espontâneo e criativo. Passa a
se valorizar o produto acabado, a obra sacralizada, o costume, a tradição, mitificados
e imortalizados, e não o momento fértil e magnífico da criação. O status de cultura
conservada retira da ação criativa e espontânea seu caráter inato de criação, recriação
e transformação.

As conservas culturais decorrem do processo de interação entre espontaneida-


de e criatividade, e não obstante aspirarem à condição de produto evidente, autên-
tico, indubitável e incontestável, devem se constituir em ponto de partida e base da
ação criativa.

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É evidente que um processo de criatividade espontânea é a matriz e o estágio inicial de qualquer
conserva cultural, seja em forma de religião, obra de arte ou um invento tecnológico. Isso põe em
relevo a relação entre o momento, a ação imediata, a espontaneidade e a criatividade, em contraste
com o nexo tradicional entre a espontaneidade e a resposta automática. (MORENO, 1992, p. 148)

Inter-relação
O ser humano é um ser social, situação na qual a convivência com outros seres
humanos surge como fator indispensável à sua sobrevivência. O ser humano somen-
te pode ser compreendido a partir da sua necessidade inerente em estabelecer inter-
-relações. Nesse processo de criação e recriação de inter-relações esse ser humano
se instaura como produto dessa sociedade, uma vez que sua existência enquanto ser
humano decorre da absorção de um mundo social posto, em princípio, com seus ob-
jetos e significados, suas instituições, papéis, modelos e padrões de comportamen-
to e identidades elaborados anteriormente por outros seres humanos; mas esse ser
humano também se instaura como sujeitos que “são capazes de realizar seus desejos,
[...] verdadeiros autores e atores de transformações nos sistemas sociais, capazes de
tornarem-se os principais agentes de suas próprias evoluções e de seus grupos e or-
ganizações” (MARRA; COSTA, 2004, p. 114). Sujeito que se apropria dessa realidade,
transforma-a e cria uma nova história.

Tal movimento de criação e recriação expressa o processo de construção da pró-


pria existência, uma particular apreensão, compreensão e visão de mundo, visão de si e
para si, e visão sobre os outros. Mas trata-se de uma existência responsável em termos
individuais e coletivos, uma vez que é no grupo social que os seres humanos estão
inseridos e onde se dá a convivência social e ocorrem os processos inter-relacionais e
é o grupo social que “[...] oferece apoio ao indivíduo em suas atividades, dando-lhe a
oportunidade de desenvolver a iniciativa e a criatividade” (MINICUCCI, 2002, p. 36).
O indivíduo nunca está sozinho: o fundamento da coexistência é a estrutura das relações humanas.
É uma estrutura de reciprocidade, que só se conhece como tal pela mediação do terceiro [...]
a reciprocidade, para vencer a separação original dos organismos práticos, deve sempre ser

Sociometria: princípios e conceitos básicos


ponderada, e cada um é assim, mediador e, consequentemente, “terceiro”, ao mesmo tempo em que
é mediado, como parceiro, na dupla em reciprocidade. O outro é sempre aquele que pode arrebatar
de mim aquilo de que necessito para viver; é um campo de conflito, mas é, ao mesmo tempo, o
campo da cooperação no trabalho social, que dá origem a um conjunto de objetos elaborados, de
produtos humanos. (CUZIN, 2008, p. 9)

Matriz da identidade e o desenvolvimento psicossocial


Ao nascer, o ser humano vem a ocupar um espaço preexistente, um espaço
físico e virtual predeterminados. Um espaço físico notabilizado pelo ambiente
familiar, institucional (maternidade), profissional, geográfico e o contexto social,
econômico, político e cultural e um espaço virtual onde está disposto um conjunto
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de condições que influenciarão o seu desenvolvimento e a formação de sua per-
sonalidade, tais como desejos e expectativas. É um espaço preexistente que será
modificado pela presença desse novo ser, mas que se estabelece como suporte
material, psicológico e social onde esse ser humano se constituirá enquanto indiví-
duo. Tal espaço, decisivo no processo de formação de sua personalidade, esse lugar
do nascimento (locus nascendi), é definido por Jacob Levy Moreno como a matriz
de identidade: um espaço eminentemente caracterizado pela proximidade afetiva
entre a criança, enquanto um ser humano recém-nascido, e os demais componen-
tes de determinado contexto social, em particular um espaço onde se dará um ato
compartilhado por mãe e feto. Será essa matriz de identidade, também denomina-
da de “placenta social”, a responsável por suprir as carências fisiológicas e psicosso-
ciais, bem como será responsável pela inserção desse ser humano recém-nascido
no grupo social. É nessa matriz de identidade que ocorrerá a construção do “eu” e
dos seus respectivos papéis sociais.

Segundo Gonçalves Wolff e Almeida (1998), Moreno definirá o processo de de-


senvolvimento e formação da matriz de identidade segundo cinco fases:

1. Fase da indiferenciação: onde a criança, a mãe e o mundo são uma coisa só.
2. Fase onde a criança concentra a atenção no outro, esquecendo de si mesma.
3. Aqui ocorre o movimento inverso: a criança está atenta a si mesma, ignorando o outro.
4. Já nessa fase a criança e o outro estão presentes de maneira concomitante, e ela já se arrisca a
tomar o papel do outro embora não suporte o outro no seu papel.
5. Nessa etapa já pode haver concomitância na troca de papéis entre a criança e a outra pessoa
(inversão de papéis). (GONÇALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1998, p. 61-62)

Ao nascer esse ser humano adentra a um mundo denominado primeiro univer-


so, dividido em dois tempos: período da identidade total (identidade total indife-
renciada), caracterizado pela relação de proximidade, indiferenciação de pessoas e
objetos, inexistência de outras temporalidades – a não ser o presente – e inexistência
de sonhos, e período da identidade total diferenciada/realidade total, caracterizado
pelo início da diferenciação de objetos e pessoas, possibilidade de sonhos, distan-
ciamento das relações. É nesse segundo tempo que o indivíduo dá início ao desen-
Sociometria: princípios e conceitos básicos

volvimento de dois processos distintos marcados pela diferenciação entre o mundo


social (papéis sociais) e o mundo da fantasia (papéis psicodramáticos). Esse segundo
momento é também denominado “brecha entre a fantasia e a realidade”.

Essas cinco fases representam a base psicológica para todos os processos de desempenho de papéis
e fenômenos tais como a imitação, a identificação, a projeção e a transferência. Por certo, os dois
atos finais de inversão não ocorrem nos dois primeiros meses de vida da criança. Mas, algum dia, a
criança inverterá o quadro, assumindo o papel de quem lhe dá alimento, a põe a dormir, a carrega
no colo e a passeia. Temos, pois, duas fases da matriz de identidade: primeiro, a fase da identidade
ou unidade, como no ato de comer, e, segundo, a fase de usar essa experiência para a inversão da
identidade. (MORENO, 2006, p. 112-113)

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Teoria dos papéis
O ser humano se caracteriza como um ser que vive em grupo e em permanente
estado de relação. No seu processo de desenvolvimento e maturação, constrói a sua
identidade a partir de um conjunto de papéis que irá desempenhar em sociedade.

É na matriz de identidade, a responsável pela sobrevivência e inserção social do


recém-nascido, que se manifestam o “eu” e os seus respectivos papéis – unidades cul-
turais de conduta –, decorrentes do processo de interação do recém-nascido com o
mundo social.

Há três tipos de papéis fundamentais: os papéis psicossomáticos ou fisiológicos


(funções indispensáveis à sobrevivência, como comer, beber, fazer as necessidades, e
que correspondem à experiência do corpo), os papéis sociais (funções sociais adotadas
pelos indivíduos no processo de relacionamento com o meio no qual está inserido e
que correspondem à experiência do ambiente) e os psicodramáticos ou psicológicos
(papéis decorrentes das ações criativas decorrentes das funções psicológicas do “eu” e
que correspondem à experiência da mente).

A partir do desempenho dos papéis, ou melhor, do desempenho das funções, é


que os papéis se manifestam. Assim, os papéis não decorrem do “eu”, mas o “eu” pode
decorrer do exercício das funções, que estabelecem o vínculo entre o ser humano e o
meio social, econômico, político, cultural e ecológico, no qual se encontra inserido.

A construção da identidade, integração entre corpo, mente e ambiente, decorre


do processo de desenvolvimento dos papéis que segue uma sequência: dos papéis
psicossomáticos ou fisiológicos aos papéis psicodramáticos ou psicológicos. Ou seja, o
percurso se dá das experiências do corpo, passando pela experiência do ambiente e
chegando à experiência da mente, resultando no “núcleo do eu”, integração corpo/
mente/ambiente. Assim, o ser humano constrói um “eu total” – “corpo, psique e socie-
dade são, portanto, as partes intermediárias do eu total” (MORENO, 1972b, p. 4)

Sociometria: princípios e conceitos básicos


Ligados aos mecanismos fisiológicos, no transcorrer da primeira e da segunda
fase da matriz de identidade, os papéis psicossomáticos se estruturam e, à medida
que ocorre a interação com o ambiente, o recém-nascido dá início a um processo de
ruptura com a condição de indiferenciação existente entre corpo, ambiente e mente,
delimitando-as. Na sequência, dá-se a segunda fase da matriz de identidade, condição
na qual age a função da realidade, são formados e impostos os papéis sociais (pai, mãe,
filho, avô, avó), modelos, conceitos e valores. Por fim, na terceira fase da matriz de iden-
tidade, momento em que sobrevém a brecha entre fantasia e realidade, onde ocorre
o exercício da criatividade e a possibilidade de atribuir qualidades pessoais às coisas,
dá-se o momento da personificação das coisas imaginadas.

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Esses papéis obedecem a um curso evolutivo onde primeiramente se observa a troca na relação em
função das necessidades orgânicas, tais como fome, sede e outras. Em seguida, configuram-se as
necessidades sociais, a fim de que possa internalizar modelos, pertencimento, conceitos e valores.
Finalmente, os papéis psicodramáticos permitem a oportunidade de registros individuais e o exercício
constante da criatividade. (COSTA, 2000, p. 139)

É na adoção e no desenvolvimento desses papéis que o ser humano penetra em


sua cultura através de um processo de socialização. Papéis como “[...] forma de funcio-
namento que assume um indivíduo no momento específico em que reage diante de
uma situação específica na qual estejam envolvidas outras pessoas ou outros objetos”
(MORENO, 1972b, p. 4 e 5) –, situação na qual o ser humano desempenha sua esponta-
neidade, respondendo adequadamente a situações novas ou não em função das suas
ideias e sentimentos, do seu “eu total”. “Se a cultura se define pelos papéis que nela
existem, devemos concluir que a integração numa cultura se faz através da adoção de
papéis” (MARTIN, 1996, p. 216).

Átomo social
O conceito de átomo social decorre da percepção de Jacob Levy Moreno acerca
da sociedade humana, cuja estrutura o autor comparava à de uma estrutura atômi-
ca e, em outros termos, como uma espécie de célula em meio ao universo social, a
menor unidade. Em meio a uma coletividade é possível perceber “a posição ocupa-
da por cada indivíduo, [...] o núcleo de relações constituído ao redor de cada um.
Esse núcleo de relações constitui o átomo social, a menor das estruturas sociais”
(KAUFMAN, 1992, p. 68).

O ser humano, do ponto de vista individual, constitui o núcleo do átomo social


e a amplitude desse átomo social expressa quais tipos de relações esse ser humano
estabelece.
Para Moreno, o átomo social é a configuração social das relações interpessoais que se desenvolvem
a partir do nascimento. Em sua origem, compreende a mãe e o filho. Com o correr do tempo vai
aumentando em amplitude com todas as pessoas que entram no círculo da criança e que lhe são
Sociometria: princípios e conceitos básicos

agradáveis ou desagradáveis e para as quais, reciprocamente, ela é agradável ou desagradável. As


pessoas que não lhe causam impressão alguma, nem positiva nem negativa, ficam fora do átomo
social como meros “conhecidos”. É por isso que o “átomo social tem uma tele-estrutura característica
e uma constelação em permanente mudança”. (GONÇALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1998, p. 63)

Assim o átomo social expressa determinações sociais e o fator tele os níveis de


atração e repulsa entre ser humano e os demais indivíduos que lhe são significativos
ou indiferentes, assim como em suas relações consigo mesmo, e “[...] mostra a imagem
de uma vida, de suas ramificações, de seus interesses, de seus sonhos e angústias [...]”
(SCHUTZENBERGER, 1997, p. 18).
Por exemplo: A tem 6 anos, mora com a mãe, um irmão e a avó, numa pequena vila. Seu pai foi
embora, ninguém sabe onde ele está. Além da escola e da vizinhança, A não tem acesso a outros

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ambientes. Vamos supor que não capte, de modo algum, a imagem ou o significado desse pai que
foi embora, nem sequer como pai ausente. Nesse caso, alguns entre eles ou todos, os familiares
mencionados fazem parte de seu átomo social, mas não o pai. Façamos agora outra hipótese: A tem
uma imagem vaga desse pai que o deixou e fantasias a respeito de sua ausência. Sua percepção
da ausência do pai corresponde à realidade e, nesse caso, a figura paterna faz parte de seu átomo
social. (GONÇALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1998, p. 62-63)

Efetivamente, o átomo social pode ser alterado e pode promover alterações no


ser humano em questão, haja vista que decorre de um processo dinâmico de intera-
ções que podem implicar em mudanças profundas na autoestima, na autoimagem,
nas crenças e convicções.
Designa, pois, os horizontes de um espaço social, definido pela intersubjetividade e que circunscreve
um campo de interação de vários sujeitos; interpenetração, oposição e síntese do atual e do virtual, do
real e do imaginário, do co-consciente e do co-inconsciente. [...] Os sociólogos aceitam tacitamente uma
escala que começa pelo indivíduo e termina com o universo inteiro. Nós, os sociômetras, recusamos
esse ponto de vista. É o átomo social que constitui a menor unidade social, e não o indivíduo. [...] Com
o conceito de átomo social, reencontramos a interioridade que [...] definia a própria Sociometria nas
suas propostas metodológicas. (NAFFAH NETO, 1997, p. 171)

Tele
As relações de repulsa ou atração, presentes nos processos de inter-relação em-
preendidos pelos seres humanos em diferentes situações de grupos, são marcadas por
um “fluxo de sentimentos”, vivenciados de forma particular por cada indivíduo. No en-
tanto, tais sentimentos inerentes aos atos de atração e repulsa não se apresentam e
sequer são percebidos conscientemente.

Desenvolvida no transcorrer no processo de realização de interações e vincu-


lações entre os indivíduos, atribuindo outros sentidos e dimensões às relações, esse
fluxo de sentimentos, definidos por Jacob Levy Moreno como Tele, representa
[...] um processo emotivo projetado no espaço e no tempo em que podem participar uma, duas ou
mais pessoas. É uma experiência de algum fator real na outra pessoa, e não uma ficção subjetiva.
É, outrossim, uma experiência interpessoal, e não o sentimento ou emoção de uma só pessoa.
Constitui a base emocional da intuição e da introvisão. Surge dos contatos de pessoa a pessoa e de
Sociometria: princípios e conceitos básicos
pessoa a objeto, desde o nível do nascimento em diante, e desenvolve gradualmente o sentido das
relações interpessoais. O processo tele é considerado, portanto, o principal fator para determinar-se
a posição de um indivíduo no grupo. (CUKIER, 2002, p. 317)

Esse fluxo de sentimentos não reconhecido, na visão de Jacob Levy Moreno, se


constitui em fios de atração e repulsa passíveis de geração de conflitos e disfunções,
consolidam processos de simpatia ou antipatia e se materializam em ações de aproxi-
mação, preferência, escolha, eleição, aversão e rejeição.

Inicialmente, esse “fluxo de sentimentos” foi denominado empatia, cujo significa-


do se afirmava por oposição ao termo “transferência”. Assim, expressava a ideia de par-
ticipação nos sentimentos de outros, sentir o que outro sente desde que colocado nas

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mesmas circunstâncias, uma via de direção única, enquanto o termo transferência ex-
pressava a ideia de projeção inconsciente dos sentimentos doentios sobre outras pes-
soas. No entanto o termo tele representa um fenômeno geral que engloba ao mesmo
tempo a empatia e a transferência.
Na transferência, o paciente desloca para o terapeuta certos sentimentos que já vivenciou em
outras situações, por exemplo, com figuras de autoridade retratadas pelo pai, mãe etc. Para Moreno,
o que o paciente sente em relação ao terapeuta é a sensação de duas pessoas que se encontram, e
não necessariamente um processo repetido da infância. Assim, tele é a capacidade de o indivíduo
perceber a outra pessoa sem distorções. A transferência é uma patologia da tele. O normal é
o indivíduo ter tele, perceber o mais objetivamente possível a outra pessoa com quem está se
relacionando. No psicodrama o que se deve conseguir é uma boa relação télica e não transferencial.
(SOEIRO, 1995, p. 22)

Também a ideia de reciprocidade, “tele é empatia recíproca” (CUKIER, 2002, p. 317),


enquanto a capacidade do ser humano em se colocar na situação do outro tende a inten-
sificar, positiva ou negativamente.

Não obstante a tele tenha “[...] além de aspecto conativo, aspecto cognitivo e que
ambos entram nas escolhas e rejeições feitas” (CUKIER, 2002, p. 316), os sentimentos
e afetos – como o desejo, o querer e o preferir – vinculados ao universo denominado
conação, se manifestam de forma intempestiva face ao universo da cognição, univer-
so este vinculado às ações reflexivas e analíticas como o pensar, coordenar, perceber,
considera-se que o indivíduo, à medida que ocorra um processo de desenvolvimento e
maturação, alcance a “sensibilidade télica”, condição particular de reciprocidade, onde
os indivíduos passam a dispor de condições que o capacitem a avaliar as qualidades
reais do outro.

Tele visa apresentar o processo de repulsa ou atração experimentado por cada


indivíduo, posto que em qualquer grupo, em qualquer tipo de grupo – até mesmo nos
animais – são vivenciadas situações ambivalentes e ambíguas, marcadas por sentimen-
tos de seletividade ou discriminação, dominância ou de submissão, comportamentos
negativos ou positivos em relação a outros, fluxos de afeição ou rejeição a pessoas ou
grupos. Tais eventos, que ocorrem de modo complexo, dado aos intricados processos
Sociometria: princípios e conceitos básicos

decorrentes do sistema nervoso dos seres humanos, onde os movimentos de rejeição


e atração são reelaborados segundo um vasto sistema de abstração, que se sobrepõem
aos instintos, são revelados de modo implícito, não apenas inconscientemente, antes,
de forma dinâmica, se interpõem explicitamente entre os indivíduos envolvidos.

Tele não expressa tão somente uma unidade de sentimento transmitida de um


indivíduo a outro que “como o ar [...] está sempre presente” (MORENO, 1983, p. 35).
Expressa também canais de comunicação, pois “o fenômeno tele opera em todas as
dimensões da comunicação” (CUKIER, 2002, p. 317), opera entre grupos e sociedades,
se constituindo enquanto redes sociais originadas do processo de relações empreen-
didas entre os mais diversos grupos, propiciando inter-relações grupais que darão luz

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às redes sociais sociométricas. Assim tele vem se instituir, inclusive, como “aquilo que
mantém o grupo e faz surgir a sua coesão” (CUKIER, 2002, p. 319).

Rede sociométrica
As redes sociométricas constituem uma cadeia de complexas inter-relações que
unem entre si diferentes átomos sociais.
Partes do átomo social de um indivíduo se relacionam com partes de outros átomos sociais de
outros indivíduos, formando cadeias complexas de inter-relações que recebem o nome de redes
sociométricas. Estas são responsáveis pela formação da tradição social e da opinião pública.
(KAUFMAN, 1992, p. 68)

Trata-se de estruturas com certo grau de permanência e constância, assemelha-


das ao sistema nervoso, cujos fios representam intrincadas vias de comunicação e
transporte, e expressam as diversas possibilidades de inter-relacionamentos. O átomo
social se localiza no ponto de convergência de uma rede de forças – uma rede socio-
métrica – e suas ações e reações não são passíveis de explicação nem compreensão se
não for considerado o campo dinâmico. Não expressam tão somente as diversas pos-
sibilidades de inter-relação empreendidas pelos indivíduos, têm também uma função
referencial, função de apoio e controle aos indivíduos que se aproximam de determi-
nadas redes, estabelecendo e fortalecendo vínculos, ou se afastam, numa atitude de
rejeição, rompendo e desestimulando possíveis vínculos.
Desse modo, um átomo social está composto por um grande número de estruturas tele; e por sua
vez, os átomos sociais formam parte de configurações mais amplas – as redes sociométricas – que
unem ou separam grandes grupos de indivíduos segundo as relações de sua tele. As primeiras
redes sociométricas formam parte de uma unidade mais considerável: a geografia sociométrica de
uma coletividade. Por fim, a coletividade é parte integral da configuração mais ampla: a totalidade
sociométrica da sociedade humana. (MORENO, 1972a, p. 64)

As redes sociométricas se ampliam ou se reduzem, se transformam, influenciam


e sofrem influências, numa relação até certo ponto complementar e tendo em vista
a experiência que possibilitam ser vivenciada. Também são empreendidas a partir
Sociometria: princípios e conceitos básicos
dos papéis desempenhados por cada indivíduo. Correntes de afetos e desprezos, que
percorrem todos os processos de inter-relações são fundamentais na configuração
do átomo social e contribuem para a determinação da riqueza ou pobreza do átomo
social. O conjunto de vínculos nos quais os indivíduos estão inseridos expressa uma
menor ou maior multiplicidade de papéis.
As redes são formadas por estruturas vinculares, que podem assumir várias configurações, conforme
seu campo de interesse. Essas organizações relacionais que aparecem com certa regularidade
seletiva, conforme o conteúdo veiculado (afetivo, sexual, racial etc.) funcionam como complexos
canais de transporte e de transformação da comunicação. (KNOBEL, 2004, p. 107)

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Estrutura externa (formal) e estrutura interna (informal)
Se a Sociometria se voltar para a análise da estrutura do grupo, se torna necessá-
rio a distinção entre dois tipos de estrutura grupal.

Um grupo é um organismo vivo constituído segundo um conjunto de elementos


como: objetivos, normas, valores, padrões e critérios comuns.

Do ponto de vista estrutural, os grupos se arquitetam conforme dois elemen-


tos: um elemento que funciona como mantenedor do sistema, tem origem oficial, se
baseia em papéis estipulados oficialmente, sua expressão gráfica mais próxima é o or-
ganograma, e é denominado institucional; e um elemento que funciona no sentido
de favorecer os processos de mudança no grupo, tem origem espontânea ou social, se
baseia segundo relações de atração, sua expressão gráfica mais próxima é o sociogra-
ma, e é denominado sociométrico.

Nos grupos de estrutura institucional essa estrutura é dada como externa aos
membros do grupo. Nessa condição, os vínculos que unem os indivíduos estão de-
terminados pelo papel oficial ou pelas tarefas que cada um desempenha no grupo.
Trata-se de uma estrutura onde os vínculos que envolvem seus integrantes são frágeis,
volúveis e superficiais.
Os membros desses grupos podem ser dotados de status diferentes, que traduzem sua posição
na hierarquia da organização e sua qualificação profissional; seu sistema de valores, interesses e
objetivos que muitas vezes se opõem. Observam-se nesses grupos papéis sociais que podem ser
próprios à organização, mas não próprios ao grupo: seu estudo cabe na análise institucional, não na
dinâmica dos grupos. (COSTA, 2007, p. 26)

Os grupos ditos sociométricos têm por característica seu caráter espontâneo, ba-
seado nas atrações pessoais, sentimentos, preferências, simpatias, antipatias e repulsa
entre os membros que formam o grupo. É uma estrutura onde os integrantes estão
envolvidos e harmonizados segundo uma interação e entendimento bastante íntimo,
simbiótico, de tal forma que a comunicação ocorre de modo coinconsciente.
Sociometria: princípios e conceitos básicos

Indivíduos que se conhecem intimamente são suscetíveis de inverter seus papéis com muito maior
facilidade do que indivíduos que estão separados por uma larga distância psicológica ou étnica. A
causa dessas grandes variações é o desenvolvimento de estados coconscientes e coinconscientes.
(MORENO, 2006, p. 30-31)

Tais grupos convivem em meio a um contexto social em que as situações e os es-


tados coconscientes e coinconscientes somente podem ser produzidos ou representa-
dos em conjunto. Assim, os integrantes de um determinado grupo desenvolvem uma
série de estados dos quais participam segundo um inconsciente comum. Em qualquer
ocasião em que há qualquer alusão a algum acontecimento inerente ao grupo, qual-
quer um dos integrantes desse grupo consegue abordar o tema, tratar da situação.

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Os estados coconscientes e coinconscientes são, por definição, aqueles que os participantes
experimentaram e produziram conjuntamente e que, por conseguinte, só podem ser reproduzidos
ou representados em conjunto. Um estado coconsciente ou coinconsciente não pode ser
propriedade de um único indivíduo. É sempre uma propriedade comum e sua representação
é impossível sem um esforço combinado. Se a representação desse estado coconsciente ou co-
inconsciente é desejável ou necessária, tem de efetuar-se com a colaboração de todos os indivíduos
envolvidos. (MORENO, 2006, p. 30-31)

Esses processos coconscientes e coinconscientes que ocorrem em ambas as dire-


ções, implicam no envolvimento de todos os integrantes de um dado grupo e do con-
texto inter-relacional, uma realidade profunda marcada pela profusão de elementos,
códigos, valores e padrões comuns, de coesão grupal, que ao mesmo tempo em que
manifesta a unidade grupal possibilita a existência do individual.

Tricotomia social
A tricotomia social abarca três níveis de compreensão da realidade do social, três
agrupamentos dinâmicos: a realidade social externa, a matriz sociométrica e a realida-
de social.

O nível da realidade social externa compreende a estrutura aparente, notoriamen-


te manifesta da sociedade, com suas regras, normas, leis e padrões de comportamento,
responsabilidades, obrigações, deveres e direitos institucionalizados e reconhecidos
como legais. É a realidade formal cumprida por todos os integrantes e grupos sociais. É
a sociedade oficial, onde “estão incluídos os grupos que se formam espontaneamente
e transitoriamente e instituições milenares, como a igreja, o exército etc. Esses grupos
são de fácil identificação e descrição. São visíveis, abertos e observáveis” (COSTA, 1996,
p. 47).

O nível correspondente à matriz sociométrica é a realidade informal do universo


das inter-relações. Compreende as estruturas consideradas não visíveis, não aparentes,
pois obedecem a um conjunto de elementos afetivos inerentes ao universo das afei-
ções, fascínios, atrações, recusas, distanciamentos, rejeições, desprezos e indiferenças,
Sociometria: princípios e conceitos básicos
onde não há regras, normas e padrões inscritos e preestabelecidos formalmente.

O terceiro nível, realidade social, pode ser compreendido como uma realidade
síntese resultante da dinâmica dialética entre consciente e inconsciente comum (co-
consciente), decorre do processo dialético de realização e ou desintegração que ocorre
entre a realidade social externa e a matriz sociométrica.
Guarda aspectos de uma e de outra sem ser nenhuma delas, funciona na tricotomia social como um
terceiro nível de compreensão. No momento de seu surgimento é catártica pelo alívio da tensão
gerada no processo dialético. No seguimento desse processo, a realidade social vai se relacionando
com a realidade social externa. Desse jogo espontâneo do sistema, surge uma nova matriz
sociométrica, resultante do movimento anterior e necessária para manter os processos evolutivos
da sociedade. (COSTA, 1996, p. 50)

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Texto complementar

Teoria de papéis
(ALMEIDA, 2004, p. 53-56)

O termo papel vem da palavra role, que deriva do latim rotula. Na Grécia e na
Roma antiga as diversas partes dramáticas estavam escritas em rollos, os quais eram
lidos aos atores para que decorassem os respectivos papéis. A origem da palavra
está, portanto, no teatro. Nesse sentido, papel pode ser definido como uma pessoa
imaginária criada por um dramaturgo, por exemplo, Otelo ou Hamlet. [...] Também
pode ser definido como uma função assumida dentro da realidade social como o de
médico, advogado, policial etc. “Como formas reais e tangíveis que a pessoa assume”
(MORENO, 1972).

Segundo Moreno,
[...] pode-se definir papel como uma unidade de experiência sintética na qual se fundiram
elementos privados, sociais e culturais. [...] Toda sessão psicodramática demonstra que um papel
é uma experiência interpessoal e necessita de dois ou mais indivíduos para ser colocado em ação.
[...] O desempenho de papéis é anterior ao surgimento do ego. Os papéis não surgem do ego, e
sim o ego é que surge dos papéis. [...] os papéis são os embriões, os precursores do ego, e tendem
a agrupar-se e unificar-se.

Nas palavras de Moreno, o conceito de papel foi construído pela experimen-


tação no trabalho psicodramático, levando em conta: a observação do processo de
papel no contexto da própria vida; o estudo do papel em condições experimentais;
o exame e ensino da conduta no “aqui e agora”, envolvendo o ensino de papéis,
ensino da conduta e da espontaneidade.

Ainda de acordo com a teoria moreniana, o processo de aprendizado e desen-


Sociometria: princípios e conceitos básicos

volvimento de um papel apresenta três fases: o role-taking, que representa o papel


pouco desenvolvido em que a aprendizagem se faz principalmente pela imitação; o
role-playing, representada pelo jogo do papel, quando o papel é considerado desen-
volvido, e o role-creating, que representa um papel bem desenvolvido sobre o qual
é possível criar (YOZO, 1996).

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Kaufman (1992) lembra que o termo role-playing também se refere ao jogo
de determinado papel e seu papel complementar em um vínculo específico, por
exemplo, role-playing da relação professor-aluno. Nesse ponto, torna-se fundamen-
tal salientar que o role-playing é parte constitutiva do psicodrama pedagógico, ex-
plicando que no contexto do pedagógico trabalhamos com um único papel, dife-
rentemente do psicodrama terapêutico, em que o indivíduo pode jogar qualquer
um dos seus papéis, isto é, envolve todos os papéis do indivíduo. No psicodrama
pedagógico, conforme já afirmamos, o foco está em um papel. E como um papel
não existe sem um complementar, no enfoque pedagógico do psicodrama, entra
em cena, por exemplo, a relação mãe-filho, de onde surge a expressão role-playing
de mães ou grupo de role-playing. Nesse caso, só será trabalhado o vínculo mãe e o
complementar filho ou filhos naquele grupo.

No caso do papel profissional, encontramos vários complementares diferentes,


como o chefe, os pares, os subordinados, os clientes, os fornecedores, dependendo
da função exercida pelo indivíduo no contexto em que atua. Com cada complemen-
tar é estabelecido um tipo de vínculo, constituindo uma relação. Por esse motivo o
jogo do papel profissional é mais complexo e requer habilidades e atitudes diferen-
ciadas de acordo com a relação em foco. Se estamos em uma relação com um clien-
te, por exemplo, nossa atitude será diferente daquela que teremos se estivermos
realizando um trabalho com um par. Será mais formal com o cliente e terá menos
formalidade com o par, por exemplo. Sem falar do conhecimento teórico específico
requerido pela área de atuação profissional. E a realidade contemporânea trouxe
maior complexidade e maiores desafios ao papel profissional, o que justifica colocá-
-lo em cena conforme propõe o presente estudo.

Gonçalves (1998) afirma que o conceito de papel que pressupõe inter-relação e


ação é central no conjunto articulado da teoria moreniana e imprescindível à com-
preensão e prática da metodologia psicodramática aplicada à educação ou à tera-
pia. Complementa dizendo que o conceito de papel expande-se a todas as dimen-
Sociometria: princípios e conceitos básicos
sões da vida, iniciando com o nascimento e se desenvolvendo ao longo de toda a
existência humana, não só como experiência individual, mas também como modo
de participação na sociedade. Para o autor,
[...] na vida real, em sociedade, os indivíduos têm funções, determinadas por circunstâncias
socioeconômicas, por sua inserção numa determinada classe social, por seu átomo social e
por sua rede sociométrica. Assim, há papéis profissionais: marceneiro, médico etc.; há papéis

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determinados pela classe social: patrão, operário, fazendeiro etc.; papéis constituídos por atitudes
e ações adotados a partir dos anteriores: líder, revolucionário, negociador etc.; papéis familiares:
pai, mãe, filho etc.; papéis nas demais instituições: diretor, coordenador, deputado etc.

Seria impossível esgotar todas as referências possíveis ao termo papel, mas


torna-se importante assinalar que os exemplos anteriores não são mutuamente ex-
clusivos, isto é, uma mesma pessoa pode representar uma combinação de vários
papéis de acordo com sua história de vida. E também é muito importante salientar
que o homem moderno desempenha uma multiplicidade de papéis, que se referem
a grupos diferentes, relacionando-se com diferentes pessoas em diferentes situações,
estabelecendo uma ampla rede de relações (rede sociométrica), que pode apresentar
valores e códigos diferentes entre si e talvez incoerentes, o que pode levar a respostas
e atitudes contraditórias e conflituosas. Essa é uma das questões que a modernidade
trouxe. E nesse enfoque a questão da alteridade coloca-se como fundamental, pois
ao pertencer a grupos diferentes e ao relacionar-se com pessoas diferentes, o homem
moderno poderá ter um desempenho mais adequado se puder reconhecer essas di-
ferenças, aceitá-las, respeitá-las e crescer no convívio com elas, sendo também reco-
nhecido e respeitado.

Ampliando conhecimentos
MONTEIRO, André Mauricio; CARVALHO, Elsy Regina Souza de (Orgs.). Sociodrama e
Sociometria: aplicações clínicas. São Paulo: Ágora, 2008.

Reunião de um conjunto de textos que abordam diversas experiências envolvendo


o sociodrama e a sociometria. Os capítulos constituem unidades especificas onde são
registrados, detalhadamente, o processo de intervenção e as técnicas empreendidas.

MARINEAU, René f. Jacob Levy Moreno 1889-1974 – Pai do psicodrama, da sociome-


tria e da psicoterapia de grupo. São Paulo: Ágora, 1992.
Sociometria: princípios e conceitos básicos

O livro, elaborado a partir de entrevistas com pessoas que conheceram Jacob L.


Moreno e de pesquisas realizadas nos arquivos de Viena, examina a história de Moreno
na Europa e os anos passados nos Estados Unidos. Trata-se de um panorama acerca do
pesquisador e de sua obra.

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Atividades

1. O que constitui a originalidade da Sociometria?

2. Explique a frase a seguir: “Enquanto ciência da medida do relacionamento hu-


mano, a Sociometria investiga as formas de afinidade, indiferença, rejeições e
suas possíveis correlações com aspectos de caráter psicossocial”.

Sociometria: princípios e conceitos básicos

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3. Qual a concepção de humanidade que norteia o pensamento sociométrico?

Referências
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zações. São Paulo: Ágora, 2004.

BUSTOS, Dalmiro Manoel et al. O Psicodrama – aplicações da técnica psicodramática.


3. ed. São Paulo: Ágora, 1994.
Sociometria: princípios e conceitos básicos

BUSTOS, Dalmiro Manoel. O Teste Sociométrico: fundamentos, técnica e aplicações.


São Paulo: Brasiliense, 1979.

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tização da teoria de Moreno. Fortaleza: Fundação de Estudos e Pesquisas Socionômicas
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COSTA, Wedja Granja. Socionomia. In: COSTA, Wedja Granja; RIQUET, Silvia H.; ANDRA-
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Psicoafetivos. Fortaleza: Fundação de Estudos e Pesquisas Socionômicas do Brasil,
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gestão de grupos na organização. 2007. 225 f. Dissertação (Mestrado Profissional em
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CUKIER, Rosa. Palavras de Jacob Levy Moreno: vocabulário de citações do psico-


drama, da psicoterapia de grupo, do sociodrama e da Sociometria. São Paulo: Ágora,
2002.

CUZIN, Marinalva Imaculada. As Relações Interpessoais à Luz do Psicodrama. 2008.


404 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Estadual de Campinas. Faculdade
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HOLMES, Paul; KARP, Márcia. O Psicodrama após Moreno: inovações na teoria e na


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KAUFMAN, Arthur, Teatro Pedagógico – bastidores da iniciação médica. São Paulo:


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KNOBEL, Anna Maria. Moreno em Ato: a construção do psicodrama a partir das práti-
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MARINEAU, René F. Jacob Levy Moreno 1889-1974: pai do psicodrama, da Sociome-


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Sociometria: princípios e conceitos básicos

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Gabarito

1. A originalidade da Sociometria decorre do fato de que a medida (metrum) apa-


rece somente como um meio técnico bem delimitado para alcançar melhor as
relações qualitativas com o socius; essas relações estão caracterizadas por sua
espontaneidade, seu elemento criador, suas relações com o instante, sua inte-
gração em configurações concretas e singulares.

2. A Sociometria tem por base as afinidades entre os indivíduos e as configura-


ções que resultam de suas interações espontâneas. Essas configurações contri-
buem para o processo de reconstrução dos grupos sociais. A Sociometria não
se restringe ao ato de medir as relações sociais, mas também contribuir para o
conhecimento sobre o modo como os grupos organizam, evoluem e funcio-
nam, e acerca da posição assumida por cada indivíduo nos respectivos grupos.

3. A concepção de humanidade remete à imagem de uma teia de inter-relações


vivas, de inter-relacionamentos vivos, onde relacionamentos tomam lugar, for-
mam-se, influenciam, interagem e se desenvolvem. Uma teia na qual alguns
fios são mais fortes como os cristais de neve, cristalizam-se em padrões dos
quais alguns são típicos, mas onde nunca há dois idênticos entre si.

Sociometria: princípios e conceitos básicos

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Teste sociométrico:
elaboração e recolhimento de dados
A Sociometria enquanto “ciência das relações interpessoais” (BUSTOS, 1994, p.
30) constitui-se como um marco referencial teórico do processo de investigação e in-
tervenção junto aos grupos sociais. Essa ciência, que possibilita a construção de um
conhecimento objetivo acerca das dinâmicas das inter-relações sociais, fundamenta
um portentoso corpo de conhecimentos, envolvendo o psicodrama, o sociodrama, a
psicoterapia de grupo e o teste sociométrico.

Para a investigação e compreensão dessa realidade, enquanto dimensão decor-


rente das ações e da dinâmica das relações interpessoais e das estruturas sociogrupais
empreendidas pelos indivíduos pertencentes a essa dada realidade, ou seja, a inves-
tigação da “dinâmica intra e intergrupal, tanto horizontalmente (entre aqueles que
têm um status equivalente) como verticalmente (entre os mais influentes e os menos)”
(KAUFMAN, 1992, p. 68), da natureza e qualidade dos vínculos que se estabelecem em
meio aos grupos sociais, essa realidade humana vivenciada socialmente, determinada
e transformada pelos sujeitos, a Sociometria se vale de um instrumento fundamental:
o teste sociométrico.

Segundo Jacob Levy Moreno, o teste sociométrico é um “exame da estrutura de


grupo [...] um instrumento para medir a quantidade de organização mostrada pelos
grupos sociais” (CUKIER, 2002, p. 337), cujos resultados possibilitam a demonstração da
estrutura sociométrica dos grupos, sua configuração particular, a existência de alguns
padrões inerentes à organização dos grupos, o status social ocupado pelos seus inte-
grantes. Um diagnóstico das interações entre os componentes de um determinado
grupo social, que possibilita a configuração e representação de fenômenos como a
tele, átomos, redes sociais e papéis, entre outros.

O teste sociométrico possibilita o estudo das estruturas sociais através da investi-


gação e análise da manifestação de escolha e rejeição dos integrantes do grupo social,
segundo um critério motivador da opção previamente estabelecido.

Muito embora se releve no teste sociométrico seu caráter comensurável, como


sendo “um meio de medir a organização dos grupos sociais, [...] um método de pesqui-
sa de estruturas sociais através da medida das atrações e rejeições que existem entre
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os membros de um grupo” (MORENO, 1999, p. 34), deve se atentar para uma ideia de
medir de forma diferenciada, em um sentido amplo que possibilite abarcar a ampli-
tude das relações sociais, conhecendo profundamente as estruturas e subestruturas
qualitativas. À apreensão quantitativa dos eventos concretos que ocorrem nos grupos
sociais vem se somar, de modo complementar, uma dimensão qualitativa que enfa-
tiza o universo dos significados das inter-relações. “Sociometria significa medida das
relações sociais, no sentido mais amplo, todas as medidas de todas as relações sociais”
(KAUFMAN, 1992, p. 68).
Verifica-se uma tendência parcial no uso do teste sociométrico. É comum vê-lo transformado num
procedimento meramente matemático, onde o que se busca é fundamentalmente a medida das
interações. Perde-se, com isso, a perspectiva da qualidade dos vínculos, levando a um consequente
desvirtuamento da proposta original. Cabe lembrar que é a partir do teste sociométrico que
emergem importantes conceitos teóricos como, por exemplo, tele, transferência, átomo social, rede
sociométrica. [...] Assim é que Moreno vai nos apresentar o teste sociométrico como um instrumento
que possibilita investigar a verdadeira natureza dos vínculos, das interações e comunicações emitidas
e recebidas pelos elementos de um grupo. É um método de ação, onde a investigação é feita em
status nascendi, no aqui e agora dos grupos, a partir do seu interior. (KAUFMAN, 1998, p. 39)

Há duas modalidades de teste sociométrico. Melhor seria dizer que este possui
duas formas, complementares, de realização conforme os objetivos: o teste sociomé-
trico objetivo e o teste sociométrico perceptual.
[...] o teste sociométrico objetivo vai averiguar como cada elemento do grupo efetivamente escolhe
e é escolhido pelos outros, a partir de um determinado critério. Por sua vez, o teste sociométrico
perceptual vai indicar como cada elemento do grupo acredita ser escolhido pelos demais, bem
como a maneira como é percebido pelos companheiros. (KAUFMAN, 1998, p. 39)

Para Jacob Levy Moreno,


Teste sociométrico (de um grupo) – mede o conflito entre a verdadeira estrutura de um grupo,
mantida por seus membros à época do teste, e a estrutura revelada por suas escolhas. Teste
sociométrico (de um indivíduo) – mede o conflito entre a posição real que determinado indivíduo
Teste sociométrico: elaboração e recolhimento de dados

mantém no grupo e a posição revelada por suas escolhas. (CUKIER, 2002, p. 339)

O teste perceptual é um teste sociométrico que se dirige ao espírito dos pacientes ao invés de dirigir-se
à realidade social. [...] uma versão do teste sociométrico chamada de “autoavaliação sociométrica”, mas
que pode melhor ser chamada de “teste de percepção sociométrica”. (CUKIER, 2002, p. 331 e 336)

Enquanto no teste sociométrico objetivo os componentes do grupo expressam


suas escolhas conforme critérios, previamente estabelecidos entre investigador e in-
tegrantes do grupo (aceitação – positivo; rejeição – negativo; indiferença – neutralida-
de), que implica na manifestação das motivações que levam os integrantes do grupo
a certos posicionamentos, ou seja, a projeção do indivíduo para o grupo e vice-versa,
no teste sociométrico perceptual há a manifestação da percepção de cada indivíduo
em relação a outrem, uma manifestação da capacidade télica de apreensão das razões
de ser ou não escolhido, rejeitado ou ignorado, por outrem. Resulta em uma visão, um
olhar interior, próprio, particular sobre si, seus pensamentos e sentimentos em relação
ao seu status, sua situação e posição no grupo. Assim, “enquanto o teste sociométrico

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repousa na dinâmica ‘da escolha’, o teste perceptual repousa na dinâmica da ‘percepção
social’ (CUKIER, 2002, p. 341). Segundo Bustos,
A Sociometria nos dá um elemento útil para a compreensão das estruturas grupais e das relações
interpessoais: o teste sociométrico. Moreno desenvolve dois tipos de testes, ambos muito mal
compreendidos em geral: o objetivo e o perceptual. Do primeiro surgem os gráficos das redes
de vínculos e as estruturas grupais, mutualidade e incongruências cuja relação chamo de índice
relacional direto, já que mede as relações interpessoais em seu nível mais óbvio de atrações e
repulsões. Não obstante, os desenvolvimentos importantes que estamos realizando referem-se ao
teste perceptual, já que este nos conecta a partir do interpessoal ao intrapsíquico. Da comparação
entre ambos os testes, surgem claramente as distorções transferenciais, o que nos permite elaborar
os índices de emissão de mensagens, o índice de percepção e o índice télico-transferencial. (BUSTOS,
1994, p. 32)

Ambos os instrumentos possibilitam descortinar não somente o status e a posi-


ção assumida por cada integrante no grupo, mas também a identificação da estrutura
do grupo, levantar a existência de possíveis subgrupos, evidenciar as estruturas de li-
derança e os possíveis líderes, trazer à tona as compatibilidades e incompatibilidades
perceptíveis ou não. Segundo Kaufman, o teste sociométrico pode ser aplicado nas
seguintes circunstâncias:
Na investigação da estrutura interna, subjacente, de um grupo, a ser confrontada com o
grupo oficial.

a) A real posição ocupada por cada um dos componentes do grupo.


b) A posição que cada um acredita ocupar.
c) A estrutura sociométrica do grupo: atrações, rejeições, indiferenças, mutualidade, incongru-
ências, isolamento e as respectivas motivações.

Em situações onde o grupo se vale de sua dinâmica, utilizando-a enquanto resistência ao


aprofundamento do trabalho psicoterápico frente a temas tabus: morte, sexualidade, loucura,
agressividade...

Para propiciar maior coesão e continência grupal.

Quando se julgar necessária a oficialização e/ou desmistificação de possíveis situações de alian-

Teste sociométrico: elaboração e recolhimento de dados


ça, fragilidade, tensão, agressividade e isolamento existentes no grupo.

Em grupos recém-formados, visando identificar:

a) os vínculos télicos, transferenciais e empáticos;


b) os vínculos preexistentes entre os membros do grupo;
c) o diagnóstico das necessidades e possibilidades atuais de intervenção;
d) o nível de risco e aprofundamento possíveis nessa fase do processo grupal.

No término de um grupo, para esclarecer possíveis pendências nos vínculos. Isso dá suporte
para o término ou a continuidade das relações entre os ex-companheiros de grupo.

Ao se fazer necessária uma reestruturação nos vínculos.

Para a distribuição de tarefas, em grupos operativos. (KAUFMAN, 1998, p. 41-42)

Algumas outras aplicações práticas do teste sociométrico são sugeridas por Martins:

Dissolução das “panelinhas” através da formação de grupos de atividades constituídas por


elementos de subgrupos diferentes;

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Aumento da coesão da turma pela utilização de modernas técnicas de dinâmica de grupo;
Aproveitamento dos integrantes do grupo considerados estrelas, após um bom estudo de seus
talentos pessoais, em afinidades;
Investigação das causas que levam certos alunos a serem isolados, esquecidos ou até rejeitados
pelo grupo. Reagrupamento de turma de modo que o indivíduo isolado ou rejeitado ocupe um
lugar próximo ao dos demais, como também a descoberta de aptidões e habilidades pessoais
do isolado ou rejeitado que o coloque em situação mais integrada ao grupo. (MARTINS apud
CUZIN, 2008, p. 174)

Definição e fases fundamentais


O feitio dos vínculos, a reciprocidade entre eles, as ações realizadas em função
desses vínculos, os processos interativos e os processos comunicativos envolvendo a
emissão, a transmissão e a recepção de informações através de sinais, signos, símbolos,
gestos e comportamentos, envolvendo os integrantes do grupo, expressam um padrão
estrutural peculiar passível de ser investigado através do teste sociométrico cuja ela-
boração e aplicação são extremamente simples e obedecem a algumas etapas.

Definição
O teste sociométrico é uma das técnicas de investigação da metodologia socio-
métrica que permite determinar o grau em que os indivíduos são aceitos ou rejeitados
em um grupo, desvelar as relações entre os indivíduos e revelar a estrutura do grupo e
desvelar o status sociométrico dos indivíduos que fazem parte dessa investigação.
O teste sociométrico tem por finalidade esclarecer a rede de vínculos que constituem a estrutura dos
grupos. Seu uso não pode ser indiscriminado: ele deve atender a um propósito claro – a reorganização
Teste sociométrico: elaboração e recolhimento de dados

de vínculos, a distribuição de tarefa, ou mesmo o estudo da estrutura interna de um grupo; deve ser
aplicado integralmente, e o ideal é que o próprio critério do teste seja estabelecido pelo grupo, e que
posteriormente a tarefa proposta seja realmente cumprida. (KAUFMAN, 1992, p. 68)

O teste sociométrico se divide em duas partes – o teste sociométrico objetivo e o


teste sociométrico perceptual – e em ambas toma a forma de um questionário. No teste
sociométrico objetivo, que possibilita o estabelecimento de uma classificação sociomé-
trica, é colocado aos integrantes do grupo um conjunto de perguntas que possibilitam
a esses componentes a manifestação das suas preferências, das suas opções de escolha
em relação aos demais integrantes do grupo. Assim, é solicitado ao indivíduo que indi-
que, a partir de um critério estipulado em conjunto e previamente, entre os integrantes
do seu grupo qual ou quais – entre os demais integrantes do grupo – desejaria ter como
parceiro na realização de determinada atividade. No teste sociométrico perceptual, que
possibilita a revelação dos ruídos e distorções presentes no processo de emissão, trans-
missão e recepção de informações e das relações télicas ou de transferências presentes
nos vínculos estabelecidos entre os integrantes do grupo, fatos que se interpõem entre a
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noção real do que é o grupo e a visão interna e particular de cada integrante, é colocado
a esse corpo de componentes um conjunto de perguntas que possibilitam a manifesta-
ção das suas percepções acerca dos processos de escolha e rejeição, ou seja, por ser ou
não ser escolhidos.
Tão importante quanto escolher e ser escolhido é ter a possibilidade de perceber (daí o termo
“perceptual”) corretamente a forma ou o sinal pelo qual se é escolhido pelos companheiros (positivo,
negativo ou neutro). Assim sendo, quanto melhor for seu índice de percepção ou perceptual, isto é,
quanto mais corretas forem suas percepções, mais claro fica para o indivíduo sua posição dentro do
grupo e o lugar que ocupa nele. (KAUFMAN, 1992, p. 69)

O investigador
O teste sociométrico é uma prática de ação. O investigador da estrutura, da di-
nâmica do grupo e suas respectivas configurações é colocado em uma situação pecu-
liar: como participante objetivo e como participante subjetivo. É um investigador, mas
também é um coprodutor, um agente participante efetivo do processo de exploração
investigativa. Não é apenas um observador privilegiado. Trata-se de um participante,
mas colocado numa situação tal que seu referencial é o referencial interno do grupo.
Uma vez que o processo de realização do teste sociométrico, que envolve diversas
etapas – definição de critérios, elaboração de questionário, aplicação, elaboração e
análise dos dados, comunicação –, requer a participação do grupo e é realizado na
presença de todos os integrantes participantes do teste sociométrico, o investigador é
praticamente retirado de uma possível posição de “espectador”. Trata-se de um inves-
tigador em status nascendi, de participante de algo em desenvolvimento, o funciona-
mento do grupo.
[...] A investigação social de qualquer comunidade, quando baseada em princípios sociométricos,
tem duas estruturas conceituais complementares. Uma é o investigador objetivado, tão preparado

Teste sociométrico: elaboração e recolhimento de dados


e tão avaliado que sua própria personalidade não é mais fator desconhecido nos resultados. A outra
consiste nos membros da comunidade que são levados a alto grau de participação espontânea na
investigação, através de métodos sociométricos, e que, portanto, contribuem com dados genuínos
e confiáveis. (CUKIER, 2002, p. 341)

Fases
O processo de elaboração e aplicação do teste sociométrico segue um conjunto
de etapas:

Ficha técnica
A etapa relativa à elaboração da ficha técnica está correlacionada a um período
de reflexão que antecede à elaboração do questionário e é destinado ao esclarecimen-

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to dos objetivos que se pretende alcançar, à caracterização do grupo, à definição dos
aspectos que serão abordados pelo teste sociométrico, bem como os procedimentos a
serem adotados no processo de aplicação.

Na elaboração da ficha técnica há que levar em conta os seguintes aspectos:

descrição de características gerais e específicas do grupo, em termos de: sexo,


idade, origens étnicas, socioeconômicas, tempo de existência do grupo, tempo
de pertencimento ao grupo, objetivos do grupo, indicação de integrantes que
foram recém-incorporados ou recém-afastados do grupo, relação de nomes
dos participantes;

informação acerca dos assuntos a serem abordados, sua relevância e


importância;

processos e procedimentos a serem adotados no transcorrer da aplicação do


teste sociométrico.

quais os objetivos ou critérios escolhidos, tipos de perguntas, possibilidade de


escolha e número de escolhas do questionário;

anotações sobre o número de participantes ou ausentes, quando ocorreu a


aplicação, duração da aplicação, quem aplicou as observações quanto a possí-
veis eventos relacionados à realização do teste sociométrico.
Quadro 1 – Exemplo de protocolo/Ficha técnica

(PRADOS, 2000. Adaptado.)


Características externas do grupo
NOME DA INSTITUIÇÃO: Escola Municipal de Ensino Fundamental Noé Bittencourt
LOCALIZAÇÃO: Vila Tirandentes
Teste sociométrico: elaboração e recolhimento de dados

GRUPO: 4.° ano – ciclo II


RESPONSÁVEL PELO GRUPO: Maria do Carmo
Características internas do grupo
RELAÇÃO DE ALUNOS: ver quadro 2
DATA DE FORMAÇÃO DO GRUPO: Fevereiro de 2009
ÚLTIMA MUDANÇA DO GRUPO: Agosto de 2009
OBJETIVO DO GRUPO: fazer um trabalho de História em dupla
Características do questionário do teste sociométrico
OBJETIVO: saber qual seriam as melhores duplas pra realizar o trabalho
TIPOS DE PERGUNTAS: quatro formas
POSSIBILIDADE DE ESCOLHA: somente os integrantes do grupo
N.° DE ESCOLHAS: no máximo 2

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Características da aplicação do teste sociométrico
AUSENTES: nenhum
DIA E HORA: 28 de agosto de 2009 – 10h00
DURAÇÃO: 20 minutos
APLICADOR RESPONSÁVEL: José da Silva
OBSERVAÇÕES: nenhuma

Quadro 2 – Relação dos alunos

(PRADOS, 2000. Adaptado.)


Lista dos membros do grupo
HOMENS IDADE MULHERES IDADE
Ismael 16 Allana 16
Guilherme 16 Isabela 15
Roberto 15 Lilian 15
Vinicius 15 Olga 16

Elaboração do questionário
Ao processo de levantamento de informações o questionário é um instrumento
de fundamental importância e compreende os seguintes elementos:

título, que, dentre outros aspectos, deve manifestar o objetivo do teste socio-
métrico;

cabeçalho, onde se recolhem dados como o nome, a idade, o sexo, a etnia etc.;

descrição clara das questões e sobre o que tratam;

Teste sociométrico: elaboração e recolhimento de dados


instruções claras e objetivas sobre como responder corretamente o questioná-
rio, critérios de escolha e rejeição, possível número de escolhas, ordenação das
indicações, frases motivadoras, texto assegurando o anonimato, a segurança
das informações e o cumprimento dos acordos realizados em conjunto com o
grupo, agradecimentos;

um teste sociométrico deve apresentar, a princípio, um questionário sintético;

em geral se baseia em quatro questões, que podem variar em função dos crité-
rios ou objetivos que se pretende avaliar;

o tempo de aplicação a ser adotado para as respostas deve levar em considera-


ção as características do grupo a ser investigado. Em se tratando de um grupo

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de crianças, por exemplo, não é conveniente ultrapassar mais de 15 minutos
para responder. O ideal é, no caso de uma questão relativa a conteúdo, formulá-
-la em quatro formas possíveis;

a linguagem a ser adotada deve ser clara e sensível, frases curtas e numa oração
de ordem simples (sujeito + verbo + complemento);

evitar o uso de vocabulário rebuscado;

visando uma melhor clareza e assimilação, o tamanho das letras (fontes) deve
contribuir para uma melhor apreensão da atenção dos participantes do teste
sociométrico. A título de exemplo, vide o quadro a seguir:
Quadro 3 – Tamanho das fontes de letras e em relação à idade

(PRADOS, 2000. Adaptado.)


Fontes das letras
TAMANHO IDADE EXEMPLO
8 a ninguém Teste sociométrico
10 a 12 adultos ou maiores de 14 anos Teste sociométrico
Teste sociométrico
14 a 16 entre 8 e 14 anos Teste sociométrico
Teste sociométrico
18 ou mais menores de 8 anos
Teste sociométrico
em um teste sociométrico, as questões devem estar relacionadas à realida-
de, em atenção às circunstâncias e experiências dos indivíduos;

a apresentação do teste sociométrico deve ser objeto de elaboração cuida-


Teste sociométrico: elaboração e recolhimento de dados

dosa de modo a não incluir elementos que possam distrair ou tirar a atenção
daqueles que estão respondendo às questões.

Critérios
Diz respeito ao primeiro momento da elaboração do questionário. Trata-se do
motivo que norteará o objetivo e o comportamento dos integrantes do grupo e parti-
cipantes do teste sociométrico. Critérios estão relacionados à dimensão do conteúdo,
dizem respeito aos objetivos e o que se pretende investigar. Em termos afetivos (quem,
em sua opinião, é mais simpático?), mas também em termos do universo do lúdico
(com quem você prefere jogar?), da liderança (em quem você votaria para a função de
chefe do seu grupo?), do trabalho em grupo (quem você escolheria para realizar um
trabalho em grupo?). Trata-se do recolhimento de informações acerca da proximidade,
grau de amizade existente entre os indivíduos de determinado grupo, elementos fun-
damentais ao teste sociométrico. Os critérios devem ser concebidos coletivamente.
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O critério sociométrico é, segundo Moreno, “o motivo ou motor comum que direciona os indivíduos
com o mesmo impulso espontâneo a um determinado fim”. É ele que vai determinar “para que” se
escolhe, e por isso as configurações grupais estão intimamente relacionadas ao critério. Sem um
critério claramente estabelecido não se pode falar em escolha sociométrica. Resultaria num retorno
ao motivo básico, primário da esfera exclusiva dos afetos: “como desejo e sou desejado”.
Busca-se no momento da aplicação de um teste sociométrico a definição de um critério que seja de
real interesse para o grupo investigado. Isso vai propiciar maior grau de compromisso nas escolhas,
sobretudo porque o ideal é que o critério pra o qual se escolhe venha a ser efetivamente cumprido.
É claro, entretanto, que seria um tanto ingênuo acreditar que, ao se optar por um critério objetivo e
cognitivo, não estivessem embutidas questões da esfera afetiva.
Porque são tantas as possibilidades de escolha de critério, e tantas as maneiras como podem vir
a ser interpretadas pelos componentes do grupo, o critério deve ser amplo e exaustivamente
discutido, para que todas as escolhas possam ser feitas visando ao maior rigor de objetividade
possível. (KAUFMAN, 1998, p. 42)

Categorias de escolhas e justificativas


O processo de escolha está intimamente ligado ao processo de definição dos cri-
térios. Quanto mais clara e objetiva a definição dos critérios maior a possibilidade de
rigor nas escolhas. Escolher está relacionado ao universo da forma, ao modelo das ques-
tões, em geral já padronizadas no transcorrer do desenvolvimento do teste sociométrico.
Podem ser aplicadas em questionários de escolha ou percepção expressando aspectos
positivos ou negativos. Conforme Kaufman, categorias e razões de escolha podem ser
Positiva: proximidade, atração, desejo de compartilhar.
Negativa: distância, rejeição, recusa a compartilhar.
Neutra: indiferença, ambivalência, nem desejo nem recusa. (KAUFMAN, 1998, p. 42)

Assim, o processo de elaboração de questões, envolvendo o caráter das escolhas


e as suas decorrentes justificativas, pode se expressar através de questões como: quem,
em sua opinião, é mais simpático? (caráter positivo); quem, em sua opinião, é menos
simpático? (caráter negativo); quem, em sua opinião, te elegeria como mais simpático?

Teste sociométrico: elaboração e recolhimento de dados


(Percepção positiva); quem, em sua opinião, te elegeria como menos simpático? (Per-
cepção negativa).
Os motivos ou razões por que se escolhe são uma referência preciosa para a compreensão do
indivíduo e de seus vínculos. Ao revelar as razões e a maneira pela qual procede as suas escolhas,
pode levar a importantes questões, não só relativas a possíveis distorções, mas também a respeito
de como lida com situações de aceitação, ambivalência ou rejeição nas suas interações. (KAUFMAN,
1998, p. 43)

Natureza dos vínculos


Os vínculos revelam uma intensidade da escolha e se manifestam segundo seu
grau de incongruência, que expressa o desencontro das indicações, ou conforme
seu grau de mutualidade, que expressa similaridade, equivalência e reciprocidade
nas indicações.

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Vínculo de mutualidade: quando duas pessoas se elegem com o mesmo sinal ou de acordo com
a mesma categoria. A mutualidade chama-se relativa quando não é percebida como tal pelos
componentes do vínculo e pode indicar a presença de situações transferenciais num vínculo com
aparente padrão télico de escolha. [...] Vínculo em incongruência: quando há desencontro nas escolhas,
ou seja, quando duas pessoas se elegem com diferentes sinais. (KAUFMAN, 1998, p. 43-44)

Aquecimento para aplicação do questionário e recolhimento dos dados


O contexto de aplicação do teste sociométrico é marcado pelo estabelecimento de
um clima inerente aos momentos nos quais os indivíduos são solicitados a externalizar
suas opiniões. Em geral, permeado por tensões, ansiedades, fantasias e desejos. Nessa
condição, a aplicação do teste sociométrico exige o cumprimento de uma série de proce-
dimentos indispensáveis à criação de um momento adequado à manifestação, por parte
de cada participante, de sua espontaneidade. Para Jacob Levy Moreno, “uma falha do
teste de percepção sociométrica, como nos testes sociométricos reais, é negligenciar ao
dar, ao sujeito, instruções materiais apropriadas, em não deixá-lo aquecer-se, adequada-
mente, para as situações que deve avaliar e perceber” (CUKIER, 2002, p. 337).

Assim, deve ser seguido todo um conjunto de procedimentos voltados à promo-


ção desse aquecimento propício ao desenvolvimento do teste sociométrico:

como condições prévias imprescindíveis que antecedem a aplicação do ques-


tionário: que exista um grupo; que tenha um tempo mínimo de existência que
possibilite um conhecimento mútuo; a existência de predisposição dos indiví-
duos para participar do teste sociométrico;
A teoria do teste sociométrico requer: a) que os participantes da situação sejam atraídos uns para
os outros através de um ou mais critérios, b) que o critério selecionado seja tal que os participantes
têm de responder a ele, no momento do teste, com alto grau de espontaneidade, c) que os sujeitos
sejam adequadamente motivados para que suas respostas possam ser sinceras, d) que o critério
selecionado para o teste seja forte, duradouro e definitivo, e não fraco, transitório e indefinido.
Teste sociométrico: elaboração e recolhimento de dados

(CUKIER, 2002, p. 339-340)

apresentar os critérios e propiciar o debate e questionamentos de modo a ga-


rantir a compreensão comum dos motivos que nortearam a elaboração desses
critérios: para que serão úteis, como e quando serão recolhidas as informações;

é recomendável explicar a todos os participantes os critérios e procedimentos


a serem adotados no transcorrer da aplicação do questionário do teste so-
ciométrico, solucionando e esclarecendo, antecipadamente, dúvidas e ques-
tionamentos que por acaso venham a surgir, prestando assessoria aos res-
pondentes no transcorrer da aplicação do questionário e contribuindo para a
criação de um clima de silêncio, tranquilidade e concentração;

o questionário do teste sociométrico deve ser respondido individualmente


por cada um dos integrantes do grupo, portanto deve se evitar a intercomu-

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nicação, verbalizações, comentários e outras manifestações no transcorrer da
aplicação do questionário. É conveniente comunicar antecipadamente sobre a
possibilidade de cancelamento de qualquer questionário decorrente de possí-
vel intercomunicação entre os participantes;

esclarecer sobre as possibilidades de escolhas cujo caráter é norteado se-


gundo a formulação de “n-1” escolhas, situação que propicia a possibilidade
de que todos os participantes sejam indicados, posto que “n” representa o
número total de participantes;

Informar sobre a necessidade de hierarquização das escolhas, que contribuirá


para a determinação da intensidade, bem como se deve alertar para a neces-
sidade de justificação das escolhas;

respeitar o ritmo de cada participante e adotar como prática a concessão de


tempo suficiente e necessário para que todos os participantes possam respon-
der ao questionário;

tendo em vista não incorrer em gerações de conflitos e ferimentos de susce-


tibilidades entre os integrantes do grupo, devem ser apresentadas ao grupo
as condições que assegurem o anonimato caso seja de interesse de todos os
participantes, mas também se deve tornar clara a existência de um acordo
prévio que possibilite a divulgação a todos de forma comum. Ou seja, pode
se asseverar que somente o responsável pela aplicação do teste sociométrico
terá acesso às informações (quem respondeu e quais as respostas) ou mesmo
que haverá a comunicação de forma comum, a todos, ou de forma privada e
particular a alguns participantes do teste sociométrico;

promover a adoção de distintas formas de aplicação do questionário desde

Teste sociométrico: elaboração e recolhimento de dados


que atendam aos critérios expostos anteriormente;

não tratar a aplicação do teste sociométrico como uma solenidade ou evento


extraordinário. Sua aplicação deve perseguir a naturalidade.

Aplicação do questionário e recolhimento dos dados


Superada a fase de aquecimento, são apresentados e entregues concomitante-
mente, aos participantes do teste sociométrico, os questionários correspondentes ao
teste sociométrico objetivo e ao teste sociométrico perceptual.

Teste sociométrico objetivo: considerando o critério proposto deve ser solicitado


a cada participante do grupo que indique de modo hierárquico os demais integrantes
do grupo e explique os motivos de escolha.

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Quadro 4 – Exemplo de questionário – Teste sociométrico objetivo

(PRADOS, 2000. Adaptado.)


Ajudando a sermos melhores e trabalharmos juntos
NOME E APELIDO:_____________________________________________________IDADE:____________________
SEXO:____________________GRAU DE INSTRUÇÃO:____________________________________
DATA:_____/______/______
INSTRUÇÕES:
1 – As questões que você vai responder a seguir contribuirão para os conhecermos melhor e possibilitar que
trabalhemos juntos e com muito mais prazer.
2 – Suas respostas somente serão conhecidas por você e pelo responsável pelo teste. Nenhuma outra pes-
soa terá acesso a esse formulário.
3 – Há um limite para a indicação dos nomes das pessoas: somente é possível escolher entre os compo-
nentes do grupo um nome ou no máximo dois. Caso não tenha nenhum nome pode deixar a questão em
aberto, sem preenchimento, em branco.
4 – Por favor, sua contribuição é extremamente importante, por isso solicitamos que responda às questões
do modo mais sincero possível.
1 – Se você tiver que fazer um trabalho de História em dupla, com quem, entre os integrantes do grupo,
preferiria fazê-lo?
Escolha Positiva
(1.°)________________________________________ (2.°)_________________________________________
Explicite o motivo da ordem e da preferência:

2 – Com quem, entre os integrantes do grupo, preferiria não fazê-lo?


Escolha Negativa
(1.°)________________________________________ (2.°)_________________________________________
Explicite o motivo da ordem e da preferência:
Teste sociométrico: elaboração e recolhimento de dados

3 – Com quem, entre os integrantes do grupo, lhe é indiferente fazê-lo?


Escolha Indiferente
(1.°)________________________________________ (2.°)_________________________________________
Explicite o motivo da ordem e da preferência:

Obrigado pela colaboração!

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Teste sociométrico perceptual: considerando o critério proposto deve ser solici-
tado a cada participante do grupo que indique como foi ou não escolhido pelos
demais integrantes do grupo e explique os motivos dessa possível escolha.

Quadro 5 – Exemplo de questionário – Teste sociométrico perceptual

(PRADOS, 2000. Adaptado.)


Ajudando a sermos melhores e trabalharmos juntos
NOME E APELIDO:_____________________________________________________IDADE:____________________
SEXO:____________________GRAU DE INSTRUÇÃO:____________________________________
DATA:_____/______/______
INSTRUÇÕES:
1 – As questões que você vai responder a seguir contribuirão para os conhecermos melhor e possibilitar que
trabalhemos juntos e com muito mais prazer.
2 – Suas respostas somente serão conhecidas por você e pelo responsável pelo teste. Nenhuma outra pessoa
terá acesso a esse formulário.
3 – Há um limite para a indicação dos nomes das pessoas: somente é possível escolher entre os componentes
do grupo um nome ou no máximo dois. Caso não tenha nenhum nome pode deixar a questão em aberto, sem
preenchimento, em branco.
4 – Por favor, sua contribuição é extremamente importante, por isso solicitamos que responda às questões do
modo mais sincero possível.
1 – Quem, entre os integrantes do grupo, você acreditaria que te escolheria para fazer um trabalho de História
em dupla?
Escolha Positiva
(1.°)________________________________________ (2.°)________________________________________
Explicite o motivo da ordem e da preferência:

2 – Quem, entre os integrantes do grupo, você acredita que não te escolheria para fazer um trabalho de His-

Teste sociométrico: elaboração e recolhimento de dados


tória em dupla?
Escolha Negativa
(1.°)________________________________________ (2.°)_________________________________________
Explicite o motivo da ordem e da preferência:

3 – Quem, entre os integrantes do grupo, você acredita que indicaria ser indiferente fazer um trabalho de
História em dupla contigo?
Escolha Indiferente
(1.°)________________________________________ (2.°)________________________________________
Explicite o motivo da ordem e da preferência:

Obrigado pela colaboração!


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Texto complementar

Do projeto socionômico: considerações gerais


(NAFFAH NETO, 1997)

[...] O principal método utilizado pela Sociometria é o teste sociométrico, que


constitui
um método de pesquisa de estruturas sociais através da medida das atrações e rejeições que existem
entre os membros de um grupo [...] O quadro dos “ir e vir” das relações entre os indivíduos de um
grupo é chamado “sociograma”[...] O teste sociométrico foi utilizado em grupos familiares, em grupo
de internados, em grupos escolares e profissionais. Ele determina a situação de cada pessoa dentro do
grupo a que pertence, onde ela vive ou trabalha. Com isso se demonstra que as estruturas psíquicas
existentes em um grupo distanciam-se bastante de sua forma oficial aparente. Essas estruturas
do grupo variam em dependência direta da faixa etária dos participantes de determinado grupo.
Verifica-se, além disso, que diferentes critérios ou atividades frequentemente levam a diferentes
agrupamentos dos mesmos indivíduos[...] Essas diferenças estruturais tiveram uma grande influência
sobre o desenvolvimento da terapia de família, bem como sobre a terapia profissional (do trabalho).
Os membros de um grupo se reagrupariam, frequentemente, de formas diversas, se tivessem poder
para isso. Esses grupos espontâneos e a maneira pela qual seus membros atuam, ou pretendem
atuar, têm uma influência definida sobre o comportamento do indivíduo ou do grupo em conjunto.
Constatamos que formas de agrupamentos outorgadas autoritariamente a grupos espontâneos
constituem fontes de diversos desacordos. Verificava-se ainda que as relações que se exprimem
através da livre escolha, frequentemente, distanciam-se bastante das relações interpessoais reais[...]
Indivíduos e grupos são, com efeito, englobados por uma rede de ramificações múltiplas. Assim toda
a comunidade a que pertencem deve ser submetida ao teste sociométrico.

Não caberia aqui uma descrição exaustiva de como são feitas a aplicação, a
tabulação e a análise de um teste sociométrico, pois esse aspecto é amplamente
tratado por Moreno, além do que tal empresa nos absorveria muito tempo e espaço.
Teste sociométrico: elaboração e recolhimento de dados

De modo geral, entretanto, pode-se dizer que seu objetivo é pesquisar a estrutura dos
agrupamentos humanos, suas configurações fixas e móveis, suas formações e transfor-
mações e toda a força criadora que os anima quando são transpassados por um movi-
mento espontâneo de abertura, participação e comprometimento com sua própria exis-
tência intersubjetiva, nos vários projetos que ela engloba e diferencia. Dir-se-ia, então,
que o teste sociométrico propõe-se a estudar as formações sociais em status nascendi
e no interior dos projetos que emergem do exercício da espontaneidade num âmbito
intersubjetivo. Dessa forma, no teste sociométrico de escolhas, cada um é convidado,
de acordo com um critério específico que define um projeto geral, a se posicionar
em relação ao outro na forma de escolhas positivas, negativas ou neutras (atração,

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rejeição, indiferença) e a expor as razões próprias que motivaram essas escolhas.
Complementarmente, no teste sociométrico perceptivo, cabe a cada um usar de
sua capacidade télica para descobrir por quem foi escolhido (positiva, negativa ou
neutramente) e as razões do outro. Desse processo, que se realiza num âmbito inter-
subjetivo, mas que, ao mesmo tempo, exige o comprometimento individual de cada
um, surge o sociograma, síntese gráfica das congruências e incongruências entre as
várias escolhas, esboço das configurações grupais que delas emergiram. A partir
desse momento, tem-se um esquema-diagnóstico daquele grupo humano e pode-
-se partir para a análise das relações intragrupais. As congruências (convergência ou
mutualidade de direção nas interescolhas), aliadas a uma capacidade recíproca dos
dois membros do vínculo de perceber a escolha e as razões do outro apontam, em
geral, para a existência de relações télicas. Por outro lado, as incongruências, quando
ancoradas na incapacidade de um ou de ambos os membros de perceber a escolha
e as razões do outro, são indícios da existência de relações transferenciais.

Quando utilizada nessa perspectiva, a Sociometria se prolonga pela sociatria


(do grego iatreia = terapêutica), em que a psicoterapia de grupo, o psicodrama e o
sociodrama vão continuar o trabalho de explicitação, desenvolvimento e transfor-
mação das relações intersubjetivas, seja numa dimensão que enfoca as tensões e as
ideologias sociais em suas formas de manifestação mais amplas (entre grupos, raças,
classes etc.), seja nas configurações específicas que elas assumem na existência con-
creta de cada indivíduo.

Ampliando conhecimentos

Teste sociométrico: elaboração e recolhimento de dados


AGUIAR, Moysés (Coord.). O Psicodramaturgo J. L. Moreno. São Paulo: Casa do Psicó-
logo, 1990.

Reúne um conjunto de textos que abordam as propostas de Jacob Levy Moreno,


avaliando seus aspectos positivos e informando acerca de possíveis restrições.

GIRARD, Céronique; CHALVIN, Marie Joseph. Um Corpo para Compreender e Apren-


der. São Paulo: Edições Loyola, 2001.

O livro apresenta um capítulo acerca da aplicação do teste sociométrico em sala


de aula visando investigar o processo de socialização dos alunos.

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Atividades

1. Por que é possível afirmar que o teste sociométrico possui um caráter quanti-
tativo?

2. Qual a importância da definição de um critério para a aplicação do teste socio-


métrico?
Teste sociométrico: elaboração e recolhimento de dados

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3. É possível afirmar que o teste sociométrico não se resume a um instrumento
quantificador das relações interpessoais. Por quê?

Referências
BUSTOS, Dalmiro Manoel et al. O Psicodrama – aplicações da técnica psicodramática.
3. ed. São Paulo: Ágora, 1994.

BUSTOS, Dalmiro Manoel. O Teste Sociométrico: fundamentos, técnica e aplicações.


São Paulo: Brasiliense, 1979.

CUKIER, Rosa. Palavras de Jacob Levy Moreno: vocabulário de citações do psico-

Teste sociométrico: elaboração e recolhimento de dados


drama, da psicoterapia de grupo, do sociodrama e da Sociometria. São Paulo: Ágora,
2002.

KAUFMAN, Arthur, Teatro Pedagógico – bastidores da iniciação médica. São Paulo:


Ágora, 1992.

KAUFMAN, Fani Goldenstein. O teste sociométrico. In: MONTEIRO, Regina Fourneaut


(Org.). Técnicas Fundamentais do Psicodrama. 2. ed. São Paulo: Ágora, 1998.

MARINEAU, René F. Jacob Levy Moreno 1889-1974: pai do psicodrama, da Sociome-


tria e da psicometria de grupo. Tradução de: WERNECK, José de Souza Mello. São Paulo:
Ágora, 1992.

MARTINS, José do Prado. Princípios e Métodos de Orientação Educacional. São


Paulo: Atlas, 1979.

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MINICUCCI, Agostinho. Dinâmica de Grupo: teorias e sistemas. 5. ed. São Paulo: Atlas
S.A., 2002.

MONTEIRO, Mauricio Monteiro; CARVALHO, Esly Regina Souza de. (Orgs). Sociodrama
e Sociometria – aplicações clínicas. São Paulo: Ágora, 2008.

_____. (Orgs). Psicoterapia de Grupo e Psicodrama. São Paulo: Mestre Jou, 1974.

_____. (Orgs). Fundamentos do Psicodrama. São Paulo: Summus Editorial, 1983.

_____. (Orgs). Psicoterapia de Grupo e Psicodrama. Campinas: Livro Pleno, 1999.

NAFFAH NETO, Alfredo. Psicodrama: descolonizando o imaginário. São Paulo: Plexus,


1997.

PRADOS, Juan Sebastian Fernández. Sociologia de los Grupos Escolares: sociometría


y dinâmica de grupo. Almería: Universidad de Almería, 2000.
Teste sociométrico: elaboração e recolhimento de dados

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Gabarito

1. Porque se trata de um instrumento para medir a quantidade de organização


mostrada pelos grupos sociais.

2. O estabelecimento de um critério possibilita a manifestação de escolha e rejei-


ção dos integrantes do grupo social, segundo um elemento básico, motivador
da opção previamente estabelecida.

3. Porque o teste sociométrico também se revela como um instrumento que


possibilita a investigação profunda das relações interpessoais em um sen-
tido amplo, o das relações sociais em termos de suas estruturas e subestru-
turas qualitativas.

Teste sociométrico: elaboração e recolhimento de dados

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Teste sociométrico:
sociomatrizes e sociogramas
A Sociometria abrange um conjunto de métodos de caráter terapêutico/pedagógico
e de caráter diagnóstico/investigativo passíveis de serem empregados em ações junto aos
pequenos grupos sociais.

As técnicas terapêuticas são notadamente de teor intervencionista junto a peque-


nos grupos sociais. Esses processos sociodramáticos implicam em ações cujos objetos de
abordagem, em termos individuais, são as relações interpessoais e de cunho privado, e, em
termos coletivos, as relações entre os grupos. Engloba técnicas como: sociodrama, psico-
drama e role-playing.

As técnicas diagnósticas ou de investigação abordam as configurações sociais, ou


seja, destinam-se ao levantamento, descrição, análise e explicação dos fenômenos deriva-
dos dos processos inter-relacionais ocorridos nos pequenos grupos sociais. Abrange dife-
rentes tipos de técnicas: teste sociométrico, teste de interação, teste de avaliações coletivas,
teste de espontaneidade, teste do papel, teste de escolha espontânea, teste de percepção
sociométrica, teste de comparação de pares, teste ordinal.

O teste sociométrico pode ser considerado como um instrumento estratégico no pro-


cesso de configuração do grupo social, posto que, ao oferecer informações referenciais ine-
rentes às dinâmicas das inter-relações gestadas nos grupos, como as relações de afinidade,
conflito ou indiferença, permeadas por processos de escolha e rejeição mútuos, recíprocos
ou incongruentes, possibilita apresentar a posição de cada integrante do grupo no grupo:
aquela que o integrante ocupa de fato e aquela posição que o integrante julga ocupar.

Tais informações, fundamentais à implementação das técnicas sociométricas tera-


pêuticas, explicitam a diversidade de processos individuais e coletivos contraditórios que
habitam um grupo social, onde escolher, rejeitar, ser escolhido ou ser rejeitado, constituem
movimentos que contribuem para a estruturação e reestruturação do grupo, a instituição
de subgrupos e o surgimento de lideranças, tornam inteligíveis as redes de vínculos e o
perfil relacional específico de um grupo, num processo dinâmico intenso de co-organiza-
ção extremamente complexo.

Essa dinâmica grupal captada através do teste sociométrico pode ser revelada e re-
presentada visualmente através das sociomatrizes e dos sociogramas.

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Sociomatrizes ou matrizes sociométricas:
definição e fases
Definição
As matrizes sociométricas ou sociomatrizes correspondem à elaboração quantita-
tiva dos dados recolhidos através da aplicação do teste sociométrico. São tabelas orga-
nizadas por colunas e linhas que possibilitam a dupla entrada de dados. Os nomes dos
integrantes do grupo que participaram do teste sociométrico são inscritos na primeira
linha e na primeira coluna da tabela. Os dados decorrentes da aplicação do teste socio-
métrico são inscritos nos demais campos, segundo um critério preestabelecido. Ou seja,
os dados são dispostos em uma tabela quadrada de sujeitos X sujeitos, registrando em
cada casa da tabela, a indicação realizada pelos integrantes do grupo que tomaram parte
na realização do teste sociométrico. Os dados dispostos nessa tabela representam a dis-
tribuição dos processos de escolha e rejeição empreendidos pelos participantes nos pro-
cessos inter-relacionais que ocorrem no grupo social investigado e são objetos de análise
tendo em vista a determinação dos índices sociométricos, bem como possibilitam notar
certas características e qualidades do grupo e de seus integrantes.
Quadro 1– Exemplo de uma Sociomatriz

(PRADOS, 2000. Adaptado.)


1 2 3 4
Ismael Guilherme Roberto Vinicius
(I) (G) (R) (V)
1
Ismael (I)
Teste sociométrico: sociomatrizes e sociogramas

2
Guilherme (G)
3
Roberto (R)
4
Vinicius (V)

Fases
O processo de elaboração de uma sociomatriz obedece a uma série de etapas
permeadas por um conjunto de definições destinadas a facilitar o seu preenchimento
e compreensão.
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Elaboração da tabela
Na elaboração da tabela deve-se levar em conta os seguintes aspectos:

os nomes de todos os integrantes do grupo que participaram do teste socio-


métrico devem ser inscritos na primeira coluna e na primeira linha da tabela;

a inscrição dos nomes dos participantes deve obedecer a um critério norteador,


por exemplo, ordenar os nomes conforme o gênero (sexo): em primeiro lugar
o grupo feminino e em seguida os representantes do gênero masculino;

a ordem de distribuição dos nomes dos integrantes do grupo que participa-


ram do teste sociométrico, tanto no sentidos horizontal (linha) como no verti-
cal (coluna) deve ser a mesma;

estabelecer um critério para a nomeação dos participantes: nome completo,


primeiro nome, abreviações ou mesmo implementar codificações;

a tabela deve ter o formato sujeito X sujeito: num grupo constituído por
oito (8) integrantes, deve ser elaborada a tabela com nove (9) linhas e nove
(9) colunas;
Quadro 2 – Exemplo de uma Sociomatriz

(PRADOS, 2000. Adaptado.)


1 2 3 4 5 6 7 8
Ismael Guilherme Roberto Vinicius Allana Isabela Lilian Olga
(I) (G) (R) (V) (A) (ISA) (L) (O)
1
Ismael (I)
2 2 1*
2
Guilherme (G)
1 2
3

Teste sociométrico: sociomatrizes e sociogramas


Roberto (R)
2* 1
4
Vinicius (V)
2 1 2
5
Allana (A)
2 2* 1
6
Isabela (ISA)
1
7
Lilian (L)
1 2 1
8
Olga (O)
2 1* 2

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as escolhas ou rejeições realizadas por cada integrante do grupo, cuja identifi-
cação está à esquerda e no sentido da coluna da tabela, devem ser registradas
na linha. Por exemplo: Ismael escolheu Roberto. Vinicius escolheu Allana;

as escolhas ou rejeições recebidas por cada integrante do grupo, ou seja, como


um integrante foi escolhido ou rejeitado pelos demais participantes do teste
sociométrico, cuja identificação está localizada na primeira linha da tabela,
devem ser registradas na coluna. Por exemplo: Roberto foi escolhido por Vini-
cius, Lilian foi escolhida por Allana;

as escolhas e rejeições mútuas devem ser registradas conforme a linha e


a coluna;

na linha (horizontal) são inscritas as escolhas ou rejeições realizadas (emitidas)


e na coluna (vertical) são inscritas escolhas ou rejeições recebidas;

posto que um integrante do grupo e participante do teste sociométrico não


deve escolher a si mesmo, deve ser traçada uma linha diagonal de modo a
inutilizar os espaços de cruzamento dos mesmos integrantes;
Quadro 3 – Exemplo de uma Sociomatriz – Escolhas Realizadas

(PRADOS, 2000. Adaptado.)


1 2 3 4 5 6 7 8
Ismael Guilherme Roberto Vinicius Allana Isabela Lilian Olga
(I) (G) (R) (V) (A) (ISA) (L) (O)
1
Ismael (I)
2
2
Guilherme (G)
2
3
Roberto (R)
Teste sociométrico: sociomatrizes e sociogramas

4
Vinicius (V)
1 2
5
Allana (A)
1
6
Isabela (ISA)
1
7
Lilian (L)
2
8
Olga (O)
2

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Quadro 4 – Exemplo de uma Sociomatriz – Rejeições Realizadas

(PRADOS, 2000. Adaptado.)


1 2 3 4 5 6 7 8
Ismael Guilherme Roberto Vinicius Allana Isabela Lilian Olga
(I) (G) (R) (V) (A) (ISA) (L) (O)
1
Ismael (I)
2
2
Guilherme (G)
1
3
Roberto (R)
1
4
Vinicius (V)
2
5
Allana (A)
2
6
Isabela (ISA)
7
Lilian (L)
1 1
8
Olga (O)
2

Quadro 5 – Exemplo de uma Sociomatriz – Escolhas e Rejeições Recíprocas


Realizadas

(PRADOS, 2000. Adaptado.)


1 2 3 4 5 6 7 8
Ismael Guilherme Roberto Vinicius Allana Isabela Lilian Olga
(I) (G) (R) (V) (A) (ISA) (L) (O)
1
Ismael (I)
1*

Teste sociométrico: sociomatrizes e sociogramas


2
Guilherme (G)
3
Roberto (R)
2*
4
Vinicius (V)
5
Allana (A)
2*
6
Isabela (ISA)
7
Lilian (L)
8
Olga (O)
1*
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a quantidade máxima de indicações estabelecidas no grupo corresponde à
quantidade de escolhas ou rejeições possíveis de serem realizadas. A essas in-
dicações pode ser atribuído um valor, tendo em vista criar uma indicação da
intensidade da escolha ou rejeição. Por exemplo: se for definida a quantidade
de realização de duas indicações, pode-se atribuir ao escolhido em primeiro
lugar o número dois (2) e ao escolhido em segundo lugar o número um (1);

convencionar uma atribuição de cores: a cor azul para representar as escolhas,


a cor vermelha para representar as rejeições, a cor verde para representar as
indiferenças, a cor preta para representar a percepção de escolha etc.
Quadro 6 – Exemplo de uma Sociomatriz

(PRADOS, 2000. Adaptado.)


1 2 3 4 5 6 7 8
Ismael Guilherme Roberto Vinicius Allana Isabela Lilian Olga
(I) (G) (R) (V) (A) (ISA) (L) (O)
1
Ismael (I)
2 2 1*
2
Guilherme (G)
1 2 1
3
Roberto (R)
2* 1
4
Vinicius (V)
2 1 2 1
5
Allana (A)
2 2* 1
6
Isabela (ISA)
1
7
Lilian (L)
1 2 1
8
Teste sociométrico: sociomatrizes e sociogramas

Olga (O)
2 1* 2

Valores sociométricos
A quantificação dos critérios sociométricos investigados em um teste sociométrico
possibilitam a construção de um conjunto de valores sociométricos: escolhas recebidas,
rejeições recebidas, escolhas realizadas, rejeições realizadas, escolhas recíprocas (recipro-

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cidade de sentimento), rejeições recíprocas (oposição de sentimento), indivíduos pelos
quais o sujeito acredita ter sido escolhido (percepção de escolha), indivíduos pelos quais
o sujeito acredita ter sido rejeitado (percepção de rejeição), indivíduos que acreditam ter
sido escolhidos pelo sujeito (impressão de escolha), de indivíduos que acreditam ter sido
rejeitados pelo sujeito (impressão de rejeição), percepção acertada de escolhas, percep-
ção acertada de rejeição, falsa percepção.

Georges Bastin (1965, p. 32) concebe um conjunto de valores sociométricos e seus


símbolos correspondentes.
Quadro 7 – Valores Sociométricos e Símbolos (I)

N.º de Definição Símbolo


ordem
_
1.° Número de escolhas recebidas
p

_
2.° Número de rejeições recebidas
n

3.° Número de escolhas realizadas p

4.° Número de rejeições realizadas n

=
5.° Número de escolhas recíprocas
p

=
6.° Número de rejeições recíprocas
n

´
7.° Número de indivíduos pelos quais o sujeito acredita ter sido escolhido
p

Teste sociométrico: sociomatrizes e sociogramas


8.° Número de indivíduos pelos quais o sujeito acredita ter sido rejeitado
n

`
9.° Número de indivíduos que acreditam ter sido escolhidos pelo sujeito
p

`
10.° Número de indivíduos que acreditam ter sido rejeitados pelo sujeito
n

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Teste sociométrico: sociomatrizes e sociogramas

168
Quadro 8 – Exemplo de uma Sociomatriz
1 2 3 4 5 6 7 8
= =
Ismael Guilherme Roberto Vinicius Allana Isabela Lilian Olga p n
p n
(I) (G) (R) (V) (A) (ISA) (L) (O)
1
Ismael (I)
2 2 2 1* 2 2 1
(PRADOS, 2000. Adaptado.)

2
Guilherme (G)
1 2 1 1
3
Roberto (R)
2* 2 2 1 2 2 1
4
Vinicius (V)
2 1 2 2 3 1
5
Allana (A)
2 2* 1 2 1 1
6
Isabela (ISA)
1 2
7
Lilian (L)
1 2 2 1 2 2
8
2 1* 2 2 3 1 1

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Olga (O)

p
1 1 3 2 3 3 3 1

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p 1 2 5 3 5 6 5 2
VAL

n
3 4 0 0 0 0 0 3

n 4 8 0 0 0 0 0 3
VAL
Sociogramas: definição e fases
Definição
Os sociogramas são representações gráficas do sistema de relações sociométricas
ou do conjunto de relações sociais detectadas entre os membros do grupo. É uma
representação visual das sociomatrizes. Ao possibilitar a representação do mapa da
estrutura grupal em forma de grafo – um diagrama composto de pontos, alguns dos
quais são ligados entre si por linhas – expressando as interconexões que ocorrem entre
os integrantes do grupo social em função dos critérios preestabelecidos, contribui e
facilita o estudo e a interpretação das estruturas relacionais onde os sujeitos são, por
sua vez, emissores e receptores de ponderações e juízos de valor.

Fases
A elaboração da representação sociométrica – sociograma ou diagrama sociomé-
trico –, visando expressar as interconexões existentes entre os integrantes do grupo
social e sintetizando sua estrutura relacional, tem por base as valorações emitidas e
recebidas, e implica em percorrer algumas etapas.

Símbolos do sociograma
Deve se convencionar ou realizar uma atribuição de símbolos que possibilite a
caracterização e representação dos integrantes do grupo, os critérios de relação e as
estruturas inter-relacionais.

Teste sociométrico: sociomatrizes e sociogramas


Quadro 9 – Exemplo de uma Sociomatriz
(PRADOS, 2000. Adaptado.)
Símbolos do sociograma
INDIVIDUAIS
Indivíduo masculino Triângulo
Indivíduo feminino Círculo
Indivíduo masculino extragrupal Duplo triângulo
Indivíduo feminino extragrupal Duplo círculo

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Critérios de relação
Escolha Seta azul
Rejeição Seta vermelha
Reciprocidade de escolha Dupla seta azul
Reciprocidade de rejeição Dupla seta vermelha
Percepção de escolha Flecha descontínua azul
Percepção de rejeição Flecha descontínua vermelha
Configurações grupais (estruturas)
Par – Configuração sociométrica formada quando duas integrantes do grupo se escolhem mutuamente
(Reciprocidade)
Triângulo – Configuração sociométrica formada quando três integrantes do grupo se escolhem mutua-
mente (Reciprocidade). No entanto, esses integrantes mantêm outras relações recíprocas com outros
integrantes do grupo.
Quadrado – Configuração sociométrica formada quando quatro integrantes do grupo se escolhem mu-
tuamente ou quando há a ocorrência por pelo menos dois entre eles.
Círculo – Configuração sociométrica formada quando três ou mais integrantes do grupo se escolhem
mutuamente entre si, mas a estrutura encontra-se fechada em si mesma.
Cadeia – Configuração sociométrica formada quando ocorre uma sucessão de escolhas entre diversos
integrantes do grupo. Trata-se de uma corrente ininterrupta de transmissões afetivas, sem que exista
necessariamente mutualidade. Assim, pode ser que dois integrantes (A e B) se escolham mutuamente.
Um outro conjunto formado pelos integrantes (C e D) também se escolhem mutuamente. Uma terceira
situação implica em que B escolhe C. Desse modo A termina por se “unir” a B através de intermediários.
Estrela – Configuração sociométrica formada quando um integrante do grupo apresenta a maior quan-
tidade de relações mútuas.
Isolamento – Configuração sociométrica formada quando os integrantes não apresentam relações mú-
tuas de escolha.

Tipos de sociograma
No processo de elaboração do sociograma ou diagrama sociométrico deve se
Teste sociométrico: sociomatrizes e sociogramas

observar a utilização de sociogramas específicos para expor as rejeições ou escolhas,


adotar uma representação simbólica e abreviaturas adequadas e previamente estabe-
lecidas, tendo em vista uma conveniente apresentação das relações sociais e o posicio-
namento dos integrantes do grupo.

O sociograma ou diagrama sociométrico apresenta duas configurações. o so-


ciograma ou diagrama sociométrico grupal e o sociograma ou diagrama sociomé-
trico individual.

O sociograma ou diagrama sociométrico grupal possibilita a elaboração de re-


presentações específicas: um tão somente para representar as escolhas e outro para
representar as rejeições. No caso da técnica do alvo (três círculos concêntricos) é ade-

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quado situar os integrantes a partir do centro do sociograma, dispondo-os segundo
a quantidade de indicações, ou seja, os mais escolhidos ou rejeitados no centro, os
menos escolhidos ou rejeitados nos círculos externos.

L
R

A
Isa
I

Teste sociométrico: sociomatrizes e sociogramas


Figura 1– Sociograma grupal de escolhas (alvo).

No caso do sociograma ou diagrama sociométrico individual há dois modelos di-


ferentes: o sociograma ou diagrama sociométrico expressa graficamente todo o con-
junto de relações que possui um integrante do grupo, possibilitando notar com quais
outros integrantes do grupo (B, C, D, E, F, G, H) o componente A mantém algum tipo de
relação. Não apresenta os demais integrantes do grupo que não têm qualquer relação
com o integrante A. Tal sociograma é denominado átomo social.

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R

R
Isa A

Figura 2 – Sociograma individual (átomo social).

O sociograma ou diagrama sociométrico expressa graficamente todo o conjunto de


relações que possui um integrante do grupo, possibilitando notar com quais outros inte-
grantes do grupo (B, C, D, E, F, G, H) o componente A mantém algum tipo de relação. No
entanto, acrescenta à representação todos os integrantes do grupo, mesmo aqueles que
não mantenham qualquer tipo de relação com o integrante A do grupo, mesmo que não
tenham qualquer tipo de relação entre eles. Tal sociograma é denominado constelação.

O L
Teste sociométrico: sociomatrizes e sociogramas

Isa A
R

G
I

Figura 3 – Sociograma individual (constelação).


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Índices sociométricos
As investigações de caráter sociométrico, de modo geral, tem se debruçado, so-
bretudo, na investigação e elaboração de diagnósticos visando desvelar a posição dos
indivíduos e as diversas repercussões dessa condição de convivência onde se desen-
volvem os processos inter-relacionais. No entanto, não é possível deixar passar ao largo
a importância da abordagem dos grupos sociais como uma totalidade social.

A relação entre os valores sociométricos e o número total do conjunto do grupo


(número de escolhas recebidas, número de rejeições recebidas etc.) possibilita o esta-
belecimento dos índices sociométricos. Assim, é possível estabelecer relações entre
um valor sociométrico e o número total do conjunto do grupo, bem como estabelecer
relações entre um dos valores sociométricos. Dessas relações emergem uma multipli-
cidade de índices sociométricos de caráter individual, quando se referem ao indivíduo,
e de caráter grupal, quando se referem ao grupo.

Índices sociométricos grupais


Muito embora a abordagem sociométrica acerca dos grupos sociais ainda esteja
a exigir uma ampliação dos estudos, os índices sociométricos grupais – até aqui ins-
tituídos – somente ganham sentido quando comparados com outros índices socio-
métricos grupais. Tal fato requer uma expansão e aprofundamento das investigações
de modo a possibilitar a construção de parâmetros adequados a estudos de tal porte.
Não obstante, segue – a título de apresentação – uma relação de índices sociométricos
grupais: índices de densidade (escolha, rejeição, percepção de escolha e percepção de
rejeição), índice de dissociação, índice de coesão, índice de conexão afetiva, índice de
intensidade social, índice de status sociométrico grupal, índice de atenção perceptiva,
índice de atenção perceptiva global, índice de realismo perceptivo e índice de realismo
perceptivo global.

Teste sociométrico: sociomatrizes e sociogramas


Índices sociométricos individuais
Um conjunto de índices sociométricos individuais, que contribuem profunda-
mente para o processo de compreensão e descrição das características mais significa-
tivas, em relação à posição sociométrica ocupada por cada integrante no grupo social
investigado, é elaborado a partir dos dados sociométricos recebidos e emitidos por
cada integrante do grupo. Tais índices são construídos a partir do estabelecimento de
relações específicas entre as mais diversas informações. Em geral o índice sociométrico
tem um intervalo entre 0 (zero) e 1 (um). Seu valor está relacionado ao tamanho do
grupo e às regras que determinam a quantidade de escolhas e rejeições. Os índices
tendem a ser mais baixos quando o grupo é maior.

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Os índices sociométricos possibilitam interpretações e comparações entre os ín-
dices dos indivíduos pertencentes ao grupo e entre grupos distintos, e correspondem
às seguintes definições:

Índice de expansividade – exista, ou não, uma ordem ou um critério de organi-


zação que estabeleça um número fixo de escolhas a serem realizadas, todas as
escolhas e rejeições, inclusive a ausência de escolha, possibilitam a existência
de algum tipo de resposta. Assim, tudo que é emitido por um determinado
integrante dá lugar à manifestação de algum tipo de reflexo direto ou indireto.
Em outros termos, a expansividade se expressa a partir de qualquer manifes-
tação das escolhas e rejeições emitidas, das percepções de escolha e rejeição,
e das ausências de escolha, rejeição e da percepção de escolha ou rejeição;

Índice de status – contribui para o esclarecimento a respeito da posição do


sujeito no grupo, refletindo tudo que o integrante recebe dos demais com-
ponentes do grupo social investigado. Está presente nas escolhas e rejeições
emitidas, nas percepções de escolha e rejeição, nas ausências de escolha, re-
jeição e da percepção de escolha ou rejeição;

Índice de reciprocidade – os elementos presentes na tele, a unidade de relação


empática e transferencial de um integrante em relação aos demais compo-
nentes do grupo, em termos das atrações e rejeições socioafetivas, positivas
ou negativas, que incidem sobre o estabelecimento de relações sociométricas,
perpassam as inter-relações de forma mútua e recíproca nas escolhas e rejei-
ções emitidas, nas percepções de escolha e rejeição, nas ausências de escolha,
rejeição e de percepção de escolha ou rejeição;

Índice de oposição de sentimentos e percepções – os elementos opostos pre-


sentes na tele, a unidade de relação empática e transferencial de um integrante
em relação aos demais componentes do grupo, em termos das atrações e rejei-
ções socioafetivas, positivas ou negativas, que incidem sobre o estabelecimento
Teste sociométrico: sociomatrizes e sociogramas

de relações sociométricas, manifestam-se de modo contraditório e em oposição


às escolhas e rejeições emitidas, às percepções de escolha e rejeição, às ausên-
cias de escolha, rejeição e de percepção de escolha ou rejeição. É de interes-
se fundamental na avaliação da totalidade das inter-relações engendradas no
grupo, principalmente na distinção entre os sentimentos de escolha e rejeição;

Índice de percepções coincidentes – reflete o grau de conhecimento que o


integrante do grupo tem do próprio grupo, posto que há equivalência entre
as percepções de escolha e rejeição emitidas e recebidas pelo integrante do
grupo, possibilitando a emersão da consciência do sujeito acerca da sua po-
sição no grupo. Se expressa segundo as escolhas e rejeições emitidas, as per-
cepções de escolha e rejeição, as ausências de escolha, rejeição e da percep-
ção de escolha ou rejeição;
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Índice das falsas percepções – expressa o grau de desconhecimento que o
integrante do grupo tem do próprio grupo, uma vez que as percepções de
escolha e rejeição emitidas pelo integrante do grupo não correspondem às
escolhas e rejeições recebidas;
Índice de liderança – expressa a capacidade de relação direta ou indireta atra-
vés de todas as cadeias que determinado integrante estabelece com os demais
integrantes do grupo na distância mais curta;
Índice de poder – expressa a intensidade das interconexões que cada sujeito
pode estabelecer com o restante dos membros do grupo, ou seja, a quanti-
dade máxima de relações que cada sujeito pode estabelecer com os demais
membros do grupo através de todas as cadeias possíveis e dos caminhos alter-
nativos de conexão entre os diferentes membros do grupo.
Desse universo destacam-se: os índices sociométricos de popularidade e antipatia
em termos individuais e o índice sociométrico de coesão grupal em termos grupais.

Índice de popularidade:

_
Pop = p / (N-1)

Pop Índice de Popularidade.

_
Número de escolhas recebidas por um integrante.
p

N Número de integrantes do grupo.

Número máximo de escolhas possíveis de serem realizadas por um integrante do grupo, uma
N-1
vez que o integrante não pode escolher a si mesmo.

Teste sociométrico: sociomatrizes e sociogramas


Índice de antipatia:

_
Ant = n / (N-1)

Ant Índice de Antipatia.

_
Número de rejeições recebidas por um integrante.
p

N Número de integrantes do grupo.

Número máximo de escolhas possíveis de serem realizadas por um integrante do grupo, uma
N-1
vez que o integrante não pode escolher a si mesmo.

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Índice de coesão (possibilidades de resposta ilimitadas):

=
IC = Σ /Nx (N-1)
p

IC Índice de Coesão.

=
Número de escolhas recíprocas.
p

N Número de escolhas recíprocas possível.

Número máximo de escolhas possíveis de serem realizadas por um integrante do grupo, uma
N-1
vez que o integrante não pode escolher a si mesmo.

Índice de coesão (possibilidades de resposta limitadas):

=
IC = Σ /dN
p

IC Índice de Coesão.

=
Número de escolhas recíprocas.
p

dN Número de escolhas recíprocas possíveis.

Tipos sociométricos
Teste sociométrico: sociomatrizes e sociogramas

A representação da configuração grupal, da rede sociométrica estabelecida a


partir dos vínculos e interconexões empreendidas pelos integrantes do grupo, pos-
sibilita visualizar a posição de cada integrante em função da totalidade do grupo e
estabelecer uma classificação desses integrantes em função dos valores sociométricos.
Essa classificação obedece a um conjunto de caracteres consolidados conforme os se-
guintes tipos sociométricos:

Populares ou líderes – configuração sociométrica formada quando um inte-


grante do grupo apresenta uma alta aceitação e uma baixa ou normal rejeição,
expressas em uma maior quantidade de relações mútuas;

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Rejeitados, excluídos, marginalizados – configuração sociométrica formada
quando os integrantes apresentam relações de escolha com índices bastante
baixos e relações de rejeição com índices bastante altos, um elevado status de
rejeição;

Esquecidos, ignorados ou isolados – configuração sociométrica formada quando


os integrantes apresentam relações de escolha com índices bastante baixos e re-
lações de rejeição com índices também bastante baixos;

Normais – configuração sociométrica formada quando os integrantes apre-


sentam relações de escolha e rejeição com índices tidos como normais
ou baixos.

Comunicação dos resultados


Os resultados sociométricos devem servir para contribuir para um possível processo
posterior de reestruturação do grupo social investigado. Assim, é imprescindível que os
resultados finais sejam reunidos em um conjunto coerente de informações que permita,
posteriormente, sua análise e interpretação. Esses resultados devem ser compilados em
uma comunicação de resultados, segundo Prados (2000, p. 72), composta por:

Ficha técnica;

Relação com os nomes dos participantes;

Modelo dos questionários aplicados;

Informe geral do grupo, contendo as sociomatrizes, os valores sociométricos,


os sociogramas, os índices grupais, as estruturas grupais (par, triângulos, ca-
deias etc.), as análises e interpretações dos resultados;

Teste sociométrico: sociomatrizes e sociogramas


Informe específico por integrante do grupo, contendo os valores sociométri-
cos individuais, os sociogramas individuais (átomo social, constelação), os ín-
dices individuais, as análises e interpretações dos resultados;

Orientações e encaminhamentos para a realização de uma intervenção


terapêutica;

Anexar os questionários utilizados.

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Texto complementar

Sociometria: analisando a integração grupal


(FESP-PR, 2010)

O emprego da técnica sociométrica


[A] técnica sociométrica mais conhecida e aplicada foi criada pelo psiquiatra
romeno J. L. Moreno, e consiste de algumas perguntas a serem respondidas.

A partir dessas perguntas, é realizada a tabulação das respostas e elaborado o


sociograma, que é a representação gráfica ou pictórica da tabulação sociométrica.

A técnica sociométrica e o sociograma (que é a sua representação gráfica) permi-


tem verificar como estão as relações sociais no ambiente de trabalho, reconhecer os
líderes aceitos e identificar as pessoas que, por algum motivo, estão marginalizadas,
reconhecer as redes sociais: conjuntos específicos de ligações entre um determina-
do conjunto de indivíduos; panelinhas: grupos informais relativamente permanentes,
envolvendo a amizade; estrelas: os indivíduos que fazem conexão entre dois ou mais
grupos, sem serem membros de qualquer um deles; pontes: os indivíduos que servem
de ligação ao pertencer a dois ou mais grupos; isolados: os indivíduos que não estão
conectados à rede social.

Será aqui adotada uma variação da técnica original de Moreno, eliminando as


perguntas negativas e ampliando o número de escolhas. Assim, de acordo com a
situação e o objetivo em vista, as questões formuladas podem ser:
Teste sociométrico: sociomatrizes e sociogramas

Relacione o nome de três colegas com quem você gostaria de fazer parceria
num projeto que precisasse estudar;

Relacione o nome de três colegas com os quais você gostaria de trabalhar


em equipe;

Relacione o nome de três colegas que você gostaria de ser gerenciado


ou dirigido;

Relacione o nome de três colegas com quem você gostaria de se divertir;

Relacione o nome de três colegas que você contaria um segredo ou pediria


conselhos.

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A primeira etapa na aplicação da técnica sociométrica consiste em formular uma ou
mais perguntas iguais às relacionadas acima, pedindo aos indivíduos que escrevam os
nomes de três colegas de sua preferência. Se houver mais de uma pessoa com o mesmo
nome no setor, pede-se para colocar, também, seu sobrenome ou apelido. Dessa forma,
cada pessoa anotará, em um pedaço de papel que será recolhido, o seu nome e, em se-
guida, os nomes de três colegas em ordem decrescente de preferência. Assim:

Nome (do colega que está escolhendo):_________________________________


Colegas escolhidos:____________________________________________________________
1-________________________________________________________________
2-________________________________________________________________
3-________________________________________________________________

O aplicador deve avisar logo as pessoas que as folhas de papel só serão lidas por
ele – o aplicador – e que, portanto, as escolhas só serão por ele conhecidas. Deve expli-
car, também, que seu objetivo é tentar satisfazer o máximo a preferência das pessoas,
mas que, provavelmente, não será possível atender a todos nas suas três escolhas.

A segunda etapa consiste na tabulação das respostas. Para essa tabulação


utiliza-se um quadro ou tabela onde são colocados e organizados os dados obti-
dos. Na coluna vertical, à esquerda, estão relacionadas as pessoas que fizeram suas
escolhas. Na parte de cima do quadro, aparecem os nomes das pessoas a serem
escolhidas. Cada primeira escolha é indicada pelo número 1, colocado no quadrado
abaixo do nome da pessoa escolhida. A segunda escolha é indicada pelo número
2 e a terceira pelo número 3. O asterisco ao lado do número indica escolha mútua.
Por exemplo, Francisco escolheu João em primeiro lugar, e João também escolheu
Francisco, como terceira escolha; portanto, os dois se escolheram mutuamente. Na
base da tabela é apresentado o número de vezes que cada aluno foi escolhido como

Teste sociométrico: sociomatrizes e sociogramas


primeira, segunda e terceira escolha. Abaixo, aparece o total de escolhas que cada
um teve. Através dessa tabela, podemos verificar quais as pessoas escolhidas e por
quem o foram, e constatar quantas escolhas cada um recebeu, ou então, se não foi
escolhido por ninguém. A técnica sociométrica só deve ser aplicada quando as pes-
soas já se conhecem e convivem já há algum tempo, sendo, por isso, capazes de
exprimir suas preferências no que concerne ao relacionamento. Não tem sentido
aplicar a técnica em grupos cujos membros não se conhecem o suficiente.
Exemplo de quadro de tabulação sociométrica

Questão: relacione três colegas com quem gostaria de trabalhar em equipe.

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Quem é escolhido

Alexandre

Francisco
Catarina
Carmem

Efigênia
Cristina

Marcos

Justina
Maria

Paulo
João

José
Inês
Quem escolhe

Alexandre 2 1 3

Carmem 2* 3 1*

Catarina 2* 1* 3*

Cristina 2 3 1

Efigênia 1 3 2

Francisco 1* 2* 3*

Inês 2 3 1

João 3* 2* 1*

José 3* 1* 2

Marcos 2 3 1

Maria Justina 2* 1* 3

Paulo 3* 1* 2*

1.ª escolha 0 0 3 0 0 1 0 2 0 0 3 3

2.ª escolha 0 3 2 0 0 1 0 2 2 0 1 1

3.ª escolha 0 0 1 0 0 3 1 2 2 1 0 2

Total 0 3 6 0 0 5 1 6 4 1 4 6
* Escolhas mútuas
Teste sociométrico: sociomatrizes e sociogramas

O sociograma
A terceira etapa é a organização do sociograma, que é a representação gráfica
da tabulação sociométrica. Nessa fase, os dados obtidos na tabulação das respostas
das pessoas são ordenados de forma pictórica, através do sociograma, para uma
melhor visualização da estrutura do grupo das relações entre seus membros. O so-
ciograma oferece um quadro elucidativo do ambiente social do setor. “Pode-se dizer
que um sociograma é, provavelmente, o melhor instrumento já planejado para re-
velar a estrutura social de um grupo. Apresenta as inter-relações entre os indivíduos

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e as relações de cada indivíduo com o grupo todo. Proporciona ao líder informações
que o auxiliarão a compreender o comportamento do grupo e a agir com maior
eficiência no seu trabalho. Em todo setor ou grupo existem muitas relações e sub-
grupos que não se evidenciam à primeira vista.” Através do sociograma podemos
identificar:

as escolhas mútuas ou recíprocas;

os subgrupos fechados ou coesos (panelinhas);

os líderes que são aceitos por vários colegas(estrelas);

os isolados, que não pertencem a nenhum grupo e poucas relações mantem;

as pontes, os que servem de elemento de ligação ao pertencer a dois ou


mais grupos.

Exemplo de sociograma representando as três escolhas das doze pessoas:

1.ª escolha 1.ª escolha mútua


2.ª escolha 2.ª escolha mútua
3.ª escolha 3.ª escolha mútua

Alexandre

Catarina Paulo Francisco

Carmen
Efigênia

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Cristina
José João
Maria
Justina

Marcos

Inês

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Ampliando conhecimentos
ALVES, Danny José. O Teste Sociométrico – sociogramas. Porto Alegre: Globo, 1974.

O livro traz uma abordagem aprofundada sobre o tema, desde conhecimentos


básicos de caráter teórico às normas e práticas que norteiam as aplicações do teste
sociométrico.

SLIWIANY, Regina Maria. Sociometria: como avaliar a qualidade de vida e projetos so-
ciais. Petrópolis: Vozes, 1997.

Apresenta um instrumental, a partir da Sociometria, de análise de qualidade de


vida de uma população e permite um melhor planejamento político, para otimização
do planejamento e administração da vida social.

Atividades

1. A Sociometria abrange um conjunto de métodos de caráter terapêutico/peda-


gógico e de caráter diagnóstico/investigativo passíveis de serem empregados
em ações junto aos pequenos grupos sociais. O que diferencia as técnicas tera-
pêuticas das técnicas diagnósticas ou de investigação?
Teste sociométrico: sociomatrizes e sociogramas

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2. Por que o teste sociométrico pode ser considerado como um instrumento es-
tratégico no processo de configuração do grupo social?

3. Quais ferramentas, empreendidas pelo teste sociométrico, possibilitam repre-


sentar a diversidade de processos individuais e coletivos contraditórios que ha-
bitam um grupo social e que contribuem para a estruturação e reestruturação
do grupo, a instituição de subgrupos e o surgimento de lideranças, tornando
inteligíveis as redes de vínculos e o perfil relacional específico de um grupo?

Teste sociométrico: sociomatrizes e sociogramas

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Referências
BASTIN, Georges. Los Tests Sociométricos. Buenos Aires: Editorial Kapelusz, 1965.

BUSTOS, Dalmiro Manoel et al. O Psicodrama – aplicações da técnica psicodramática.


3. ed. São Paulo: Ágora, 1994.

BUSTOS, Dalmiro Manoel. O Teste Sociométrico: fundamentos, técnica e aplicações.


São Paulo: Brasiliense, 1979.
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Gabarito

1. As técnicas terapêuticas são notadamente de teor intervencionista junto a pe-


quenos grupos sociais. Implicam em ações cujos objetos de abordagem, em ter-
mos individuais, são as relações interpessoais, de cunho privado e, em termos
coletivos, as relações entre os grupos, portanto, de cunho coletivo. As técnicas
diagnósticas ou de investigação abordam as configurações sociais. Destinam-
-se ao levantamento, descrição, análise e explicação dos fenômenos derivados
dos processos inter-relacionais ocorridos nos pequenos grupos sociais.

2. Pode ser considerado como um instrumento estratégico no processo de con-


figuração do grupo social, porque oferece informações sobre as dinâmicas das
inter-relações gestadas nos grupos que são fundamentais à implementação
das técnicas sociométricas terapêuticas.

3. Sociomatriz e o sociograma.

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Anotações

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