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2010
ISBN: 978-85-387-0819-3
CDD 302.01
Socionomia........................................................................................................... 101
As influências da Socionomia.............................................................................................................101
A Socionomia............................................................................................................................................103
Os três ramos da Socionomia.............................................................................................................109
Esse conhecimento, que pode ser tido como um portentoso saldo da experiência
humana, não se limita nem decorre tão somente das observações e reflexões alcança-
das a partir de um referencial teórico-científico. Antes, ultrapassando os limites de racio-
nalizações e regramentos metodológicos, traz à tona um aprendizado decorrente das
práticas, ações, fenômenos e fatos que perpassam nosso cotidiano, instrumentalizando
nosso arsenal de intuições e ações, certas ou erradas, que terminam por se constituir
como verdades absolutas e passam a ser consideradas como comportamentos ine-
rentes à natureza humana. Deriva, desse conjunto de práticas habituais – conscientes,
impostas, reguladas conforme uma coleção de regras e preceitos harmônicos e con-
sensuais – , consagrado pelo uso e explicitado no fazer das crenças, rituais, cerimônias,
danças, reuniões, uma sabedoria, mesmo que intuitiva, que atribui ao grupo uma força
e papel, fundamentais e indispensáveis no processo de organização da vida social.
A essa noção de que, juntos, nós seres humanos adquirimos uma nova e fortale-
cida condição, se estende às mais diversas ações e atividades comunitárias, tais como
as cerimônias ritualísticas, a alimentação realizada sempre em conjunto com os demais
integrantes da comunidade, as festas e suas diversas ocorrências, como a dança, o
canto coletivo etc. Fato, que não se deve mover para o relento do esquecimento, é que
tais acontecimentos são revestidos de atribuições fundamentais à existência da coleti-
vidade, podendo se dizer que essa ação e mobilização se expressam como uma força
positiva do coletivo que é transmitida aos integrantes.
Não obstante ser possível perceber, a partir de uma observação tão somente
analógica, que algumas das definições remetem à ideia atual do vocábulo grupo, nó a
coesão, círculo a igualdade e espaço, círculo à reunião, o que em outros termos permite
pensar que, implicitamente, as noções de igualdade, união e ligação são inerentes às
origens do vocábulo “grupo”, é bem certo que o mesmo se referia a elementos circuns-
critos ao universo da matemática e das artes plásticas e não, necessariamente, aos seres
humanos, fato que pode ser “inferido do uso do termo na Renascença quando este era
utilizado para denominar um conjunto de esculturas, uma vez que olhá-las em grupo
conferia um sentido distinto de olhá-las uma a uma” (ZANELLA; PEREIRA, 2001, p. 106).
Até bem próximo do final do século XVIII, não tem lugar a aplicação do dito con-
ceito ao universo das relações sociais. Tal situação tende a um processo de mudança
no transcorrer do século XIX, mas teria de aguardar os primeiros períodos do século XX
para que passasse a ter uma aplicação de forma particular e de um modo único.
O francês seria, portanto, levado a tomar emprestadas de outras línguas – línguas estrangeiras
ou gírias usadas na escola ou nas diferentes profissões – palavras que designassem essa criança
pequena pela qual começava a surgir um novo interesse, foi o caso do italiano bambino, que daria
origem ao francês bambin. Mme. de Sévigne empregava também no mesmo sentido o provençal
pitchoun, […] Seu primo De Coulanges, que não gostava de crianças, mas que falava muito delas,
desconfiava dos “marmousets de três anos”, uma palavra antiga que evoluiria para marmots na língua
popular, “moleques de queixo engordurado que enfiam o dedo em todos os pratos”. Empregava-se
também termos de gíria dos colégios latinos ou das academias esportivas e militares: “um pequeno
“frater”, um “cadet”, e quando eram numerosos, “populo” ou “petit peuple”.
[…] Com o tempo, essas palavras se deslocariam e passariam a designar a criança pequena, mas já
esperta. Restaria sempre uma lacuna para designar a criança durante seus primeiros meses; essa
insuficiência não seria sanada antes do século XIX, quando o francês tomou emprestada do inglês
a palavra baby, que, nos séculos XVI e XVII, designava as crianças em idade escolar. Foi esta a última
etapa dessa história: daí em diante, com o francês bébé, a criança bem pequenina recebeu um
nome. (ARIÈS, 1981, p. 44-45)
O contexto histórico, social e político do século XIX que serviu de base para a aná-
lise dos pesquisadores, em particular os sociólogos e os psicólogos, colocava frente a
frente o indíviduo e a sociedade. Os fatos e os processos de mudanças profundos que
marcaram, assinaram e deram um significado especial a esse período terminaram por
marcar e conduzir acentuadamente o olhar dos observadores, um olhar totalizante
a observar uma sociedade em sua amplitude e totalidade. Consolidava-se um novo
sistema social marcado por uma nova estrutura social fundada na divisão por classes
sociais, formava-se uma nova estrutura do Estado, fundada na burocracia, e instituia-se
Não obstante no século XIX Émile Durkheim (1984), em sua abordagem sobre
as formas de controle social e pessoal, tenha considerado a importância das relações
e vínculos de grupo, e Georg Simmel (2006) tenha chamado a atenção para, em suas
análises sobre as relações sociais, o papel e a importância da ideia de reciprocidade,
tal condição, em si mesma, constitui exceção, face ao contexto da época. Em termos
gerais, o conhecimento científico elaborado no período tinha como objeto fundamen-
tal da análise o novo contexto social que emergia, e não aquele que iniciava seu pro-
cesso de desaparecimento. Instaurava-se uma divisão: o conhecimento sobre o “novo
indivíduo” em processo de mudança ficava a cargo da Psicologia. A abordagem sobre
a “nova sociedade”, a sociedade em sentido amplo e total, também em processo de
mudança, ficava a cargo da Sociologia. Nas palavras de Mills (1970, p. 14): “a nova Psi-
cologia lidava com o indivíduo, e a nova Sociologia com a sociedade total.”
Não obstante tal cenário conflituoso são os grupos sociais os elementos e objetos
básicos na elaboração de estudos e análises sociais, e não os indivíduos, uma vez que
é tão somente no desempenho de um conjunto de papéis – conforme uma posição
e status social – que esses indivíduos ganham importância. É nos grupos sociais aos
quais pertencem os indivíduos que ocorrem os processos de interação e relaciona-
mentos. Posto que a sociedade, em sua totalidade, se encontra estruturada segundo
um conjunto de grupos sociais, de tal forma interconectados entre si, que possibilita
serem considerados segundo uma ideia de coparticipação de uma unidade, de um
mesmo contexto cultural, que vão sendo forjadas inúmeras compreensões, sem que
O grupo social como objeto de estudo
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Cabe uma primeira diferenciação básica: “sociedade” é um conceito que reflete a superestrutura da realidade humana totalizante, enquanto “grupo social”
constitui a infraestrutura dessa realidade. É evidente que o grupo social não é apenas uma “pluralidade de pessoas” porque nesse sentido confunde-se com o
“público”, com a ‘massa” ou com simples “agregados” (TRUJILLO FERRARI. 1983, p. 308).
É atribuída a Albion Small, ao afirmar que grupo social “é uma designação socioló-
gica conveniente para indicar qualquer número de pessoas, grande ou pequeno, entre
as quais se estabeleceram tais relações que somente podem ser imaginadas como um
‘conjunto’” (1905, apud TRUJILLO FERRARI, 1983, p. 311), a inclusão desse sentido de
“grupo social” no universo da sociologia.
Gillin e Gillin (1961, apud TRUJILLO FERRARI, 1983, p. 311), levando em conta a
existência de relação e interação social entre os indivíduos, ponderam que pode ser
considerado como um “grupo social” um conjunto de duas ou mais pessoas.
Segundo Costa (2000, p. 142), “grupo social” poderia ser definido como
[…] organismo vivo formado por indivíduos que estabelecem determinados tipos de vínculos,
padrões, códigos, normas e relações. As características pessoais, no grupo, disseminam-se e diluem-
-se. A identidade grupal prevalece sobre a identidade pessoal, sendo a primeira o resultado da
“diluição” das identidades individuais. O grupo passa a ter estrutura personalizada como forma de
manter e de auto-organizar o conjunto de laços afetivos dos seus participantes, desenvolvendo
assim uma comunicação interpessoal própria.
Caráter funcional
Não obstante os indivíduos integrantes de um “grupo social” detenham uma
certa compreensão acerca das condições, obrigações e qualidades requeridas que se
impõem, estas são impostas e aceitas como disposições ideais e necessárias à existência
do referido “grupo social”. Tal configuração nem sempre atende às reais necessidades
de existência desse “grupo social” em relação à realização, desempenho, cumprimento
e alcance de certos objetivos ou fins, em termos de curto, médio ou longo prazo.
Muito embora o caráter funcional do “grupo social” não deva ser confundido com
as suas finalidades, afinal um “grupo social” pode ter e cumprir um sem-número de
fins, externos e internos, há que se considerar que em inúmeras situações esse caráter
funcional mantém relações e vínculos de subordinação.
Temporalidade e estabilidade
Os processos de integração e interação, a elaboração de normas, a instituição de
interesses coletivos, a definição dos diferentes status e papéis, envolvendo os diversos
indivíduos integrantes do grupo social, exigem certa duração no tempo. Essa condição
temporal é um elemento básico no processo de distinção do que vem a ser um grupo
social em relação a uma ocasional reunião de pessoas, um público, uma multidão.
Consciência de grupo
Decorre da exigência do “grupo social” quanto à necessidade de que seus com-
ponentes se identifiquem a si mesmo como tais. É necessário que entre os integran-
tes exista uma consciência particular de grupo e, em decorrência, cada elemento
se perceba como parte constituinte de uma unidade diferenciada de outras tantas,
constituída a partir de certos padrões socioculturais e manifestada segundo um con-
junto de símbolos coletivos, ideias, atitudes, ideologias etc.
Reconhecimento social
O processo de construção da identidade dos grupos sociais tem, entre suas ori-
gens, a inter-relação entre consciência de grupo e o reconhecimento exterior.
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“Assim, por exemplo, os membros de uma sociedade beneficente pensam que os seus propósitos são os de auxiliar os indigentes. Para tanto criam certos
estereótipos ou imagens desiderativas que podem estar fora da realidade, superestimando a sua ação, ao mesmo tempo em que podem subestimar e respon-
sabilizar, pela situação social dos indigentes, determinados programas políticos do governo ou certos grupos do poder”. (TRUJILLO FERRARI, 1983, p. 314)
Grupamentos sociais
(MANDELBAUM, 1982, p. 381-386)
Em sua maioria, os grupos a que uma pessoa pertence existiam antes de sua par-
ticipação e continuarão a existir depois que ela se for. Essas unidades sociais instituídas
são, de certa forma, como o time de futebol de um colégio: os jogadores, individualmen-
te, entram para o quadro e depois saem, mas o time continua.
[...] O grupo local é conhecido por vários nomes. É chamado horda nas descrições
da organização social dos aborígines da Austrália. Bando é outro termo frequentemente
empregado, especialmente em livros que tratam dos índios americanos. Entre as antigas
civilizações da Europa e do Oriente, a comunidade local é mais conhecida por vila. Nos
Estados Unidos é geralmente referida como vizinhança (neighborhood).
juntas no futuro.
Cada família dentro de um grupo local tem determinados hábitos que são diferen-
tes daqueles de seus vizinhos, mas todas têm certas maneiras comuns, especialmen-
te umas em relação às outras. Da mesma forma, num conjunto de grupos locais, cada
grupo tem particularidades próprias, mas todo o conjunto age de maneira idêntica no
que diz respeito a certos aspectos importantes, particularmente quanto aos aspectos
que determinam as relações entre os grupos. O tamanho do grupo local e a extensão
[...] O grupo local é de grande importância para os homens em todo o mundo, não
somente porque assinala a área dentro da qual a família reside e trabalha, mas também
porque é o lugar de cada um de seus membros. Dentro do território de sua comunidade,
uma pessoa conhece a disposição do terreno, sabe dos montes e caminhos, está fami-
liarizada com plantas e animais, reconhece quais são úteis e quais são perigosos. Na vida
urbana, o membro do grupo local conhece as ruas e lojas do lugar, estando familiarizado
com os sítios bons e aqueles que devem ser evitados. Além do mais, conhece as pessoas
e seus modos de ser. Em suas relações com vizinhos de quem não gosta, sabem em que
condições podem tornar-se desagradáveis. Ali se encontram seus amigos, e ele conhece
seus gestos e suas vozes; na Austrália central conhece até suas pegadas. É lá que geral-
mente se sente mais à vontade, mais seguro. Lá está em casa.
Aliás, é somente nas grandes cidades de origem recente, em nossa civilização, que
o grupo local perdeu parte da sua importância. O habitante de uma cidade pode não
conhecer quem mora na casa ou apartamento ao lado, e assim pouco se importa com a
O grupo social como objeto de estudo
vizinhança, ou dela pouco participa. Talvez seja exatamente por essa razão que existem
tantos esforços, sob a forma de centros de comunidade, clubes locais, associações regio-
nais, com o objetivo de restabelecer o cordial espírito de vizinhança perdido no curso do
rápido crescimento da metrópole. Muitas pessoas, que hoje vivem em cidades, cresce-
ram em vizinhanças unidas e tradicionais, e sentem falta das lealdades do grupo local.
Geralmente transferem a sua solidariedade para o grupo maior mais próximo, a própria
cidade. Tendem a se tornar seus grandes defensores e são devotos fanáticos de algum
símbolo da cidade, por exemplo, um prestigioso clube de futebol.
CIDADE de Deus. Direção de Fernando Meirelles. Brasil: 2002. Atores: Matheus Nachter-
gaele, Seu Jorge, Alexandre Rodrigues, Leandro Firmino da Hora, Roberta Rodrigues.
Duração: 2h15min.
Atividades
3. Se nem todo agrupamento humano constitui um “grupo social”, por que a cate-
goria conceitual “grupos sociais” se aplica tão somente à sociedade humana?
COSTA, Wedja Granja. Socionomia. In: COSTA, Wedja Granja; RIQUET, Silvia H.; ANDRA-
DE, Lêda A. Cronosplatia Holográfica Universal – Projeto Águas Belas. Transtornos
Psicoafetivos. Fortaleza: Fundação de Estudos e Pesquisas Socionômicas do Brasil,
2000.
GILLIN, John P.; GILLIN, John L. Sociología Cultural. Madrid: Instituto de Estudios Polí-
ticos y Sociales, 1961.
MORAES Filho, Evaristo de. O Sindicato Único no Brasil. São Paulo: Alfa-ômega, 1978.
ZANELLA, Andréa V.; PEREIRA, Renata S. Constituir-se enquanto grupo: a ação de sujei-
tos na produção do coletivo. Estud. Psicol. Natal, Natal, v.6, n.1, jan./jun., 2001.
desse universo a partir dos indivíduos, dos elementos que a compõem. É esse caráter
irredutível do comportamento do conjunto em relação ao comportamento dos seus
integrantes que tornaria as investigações sociológicas imprescindíveis à compreensão
da sociedade.
Eis o motivo pelo qual o fenômeno social não depende da natureza dos indivíduos. É que, na
fusão de que ele resulta, todos os caracteres individuais, divergentes por definição, se neutralizam
e se dissipam mutuamente. Só as propriedades mais genéricas da natureza humana sobrevivem.
Devido precisamente à sua extrema generalidade, é que elas nunca poderiam justificar as for-
mas muito especiais e complexas que caracterizam os fatos coletivos. Não é que elas nada
tenham a ver com o resultado: mas isso apenas se verifica em condições mediatas e longínquas.
O resultado não se produziria se elas o excluíssem; mas não são elas que determinam esse mesmo
resultado. (DURKHEIM, s.d., p. 198)
E, considerando qual seria enfim o trabalho a ser executado pela ciência, Tarde
afirmará que cabe à ciência o papel de,
[...] a despeito dos próprios cientistas [...], não [...] exorcizar as mônadas, mas acolhê-las em seu
âmago, procurando por toda parte no pequeno a resposta para o grande, vale dizer, pulverizando o
universo e multiplicando indefinidamente os agentes infinitesimais do mundo. (TARDE, 2003 apud
VARGAS, 2004)
PSICOLOGIA TRANSPESSOAL
DINÂMICA DO GRUPO
Essa concepção de “grupo social” enquanto “pequeno grupo” terminará por al-
cançar profunda importância no desenvolvimento de pesquisas e teorias relativas à
compreensão desse fenômeno social. Um conjunto de teorias que, por força de sua
abrangência, termina por contribuir na organização de numerosos resultados de pes-
quisa e, por conseguinte, no desenvolvimento de novos estudos.
Fernandes (2003, p. 49) alerta para uma peculiaridade dessa obra, que reme-
teria a inúmeras e desencontradas interpretações, proveniente das diversas utiliza-
ções dadas aos termos massa, multidão e grupo, presentes nas revisões aplicadas às
edições inglesa (1922) e alemãs (1923 e 1925), bem como no caso francês onde três
edições apresentavam, também, três diferentes traduções (Psychologie Collective et
Analyse du Moi, Psychologie des Foules et Analyse du Moi e Psychologie des Masses et
Analyse du Moi).
Assim, enquanto para Pichon-Rivière a Psicologia das Massas e Análise do Ego atin-
ge uma compreensão integral da inter-relação existente entre ser humano e sociedade,
para R. Kaës a mesma obra tão somente trataria-se de uma criação de “conceitos no do-
Freud, dando conhecimento de sua posição face à possível relação entre a Psico-
logia Social e a Psicologia Individual, afirma:
A oposição entre Psicologia Individual e Psicologia Social ou Coletiva, que à primeira vista pode nos
parecer muito profunda, perde grande parte de sua significação quando a submetemos a um exame
mais minucioso. A Psicologia Individual concretiza-se, certamente, no homem isolado, e investiga os
caminhos através dos quais ele tenta alcançar a satisfação de seus instintos, porém, só muito poucas
vezes, e sob determinadas condições excepcionais, lhe é dado prescindir das relações do indivíduo
com seus semelhantes. Na vida anímica individual, aparece integrado sempre, efetivamente, o outro
como modelo, objeto, auxiliar ou adversário, e desse modo a Psicologia Individual é ao mesmo
Teorias, estudos psicossociais e tipologia dos grupos sociais
tempo, e desde o princípio, Psicologia Social, em um sentido amplo, mas plenamente justificado.
(FREUD apud PICHON-RIVIÈRE, 1998a, p. 43)
Sob esse olhar, vem à tona o processo pelo qual as relações e influências dos outros
sobre o indivíduo aparecem integradas à vida anímica desse indivíduo, ou seja, o com-
portamento individual resultaria da influência simultânea de muitas pessoas sobre o
individuo. Esse processo de caráter inter-relacional dialético, onde há a permanente
interação entre o mundo interior e o mundo exterior, consubstancia, o que viria a ser
do ponto de vista de Pichon-Rivière, uma visão integral do problema da inter-relação
ser humano-sociedade. Nessa condição, onde “toda vida mental inconsciente, ou seja,
o domínio da fantasia inconsciente, deve ser considerada como a interação entre obje-
Dentre suas contribuições iniciais, destaca-se sua proposição de uma Teoria To-
pológica, construída a partir de elementos teóricos do campo da Física, objetivando a
descrição e compreensão do comportamento humano.
Após realizar estudos acerca das mudanças de hábitos alimentares, passou a de-
senvolver novos métodos de abordagem dos processos de mudança de comportamen-
to. Propõe a criação da disciplina “Dinâmica de Grupo”, termo que surgirá pela primeira
vez em 1944, em artigo sobre a relação entre teoria e prática em Psicologia Social. Em
1945, é convidado pelo Massachussets Institute of Tecnology (MIT) a fundar e dirigir o
Research Center for Group Dynamics (Centro de Pesquisa em Dinâmicas de Grupo).
Em 1913 dá início, em conjunto com Carl Colbert, editor do jornal Der Morgen (A
Entre 1934-1936 funda Beacon Hill Sanatorium, seu próprio hospital para “doentes
mentais”. São ainda construídos, em Beacon, o Instituto de Psicodrama de Nova York, vol-
tado à formação de Psicodramatistas, e o primeiro teatro terapêutico. Órgãos germinado-
res do Centro Mundial para Psicodrama, Sociometria e Psicoterapia de Grupo. Ainda em
1934, publica o livro Quem Sobreviverá?, posteriormente reeditado sob o nome de Funda-
mentos da Sociometria. Em 1935, funda o Sociometry – Journal of Interpersonal Relations.
Em 1941, funda o primeiro teatro terapêutico, no St. Elizabeth Hospital, de Washington.
Além das atividades desenvolvidas até então, foi a abordagem realizada junto a
um grupo de jovens delinquentes, mais especificamente mulheres, da New York States
Training School for Girls, da cidade de Hudson.
uma abordagem do “grupo social”, que considere sua estrutura de grupo social
e os indivíduos integrantes desse complexo;
Texto complementar
Daquilo que sabemos sobre a morfologia dos grupos podemos recordar que é
a causa do laço que os une uns aos outros. A mesma coisa se aplica a um exército. O
comandante-chefe é um pai que ama todos os soldados igualmente e, por essa razão,
eles são camaradas entre si. O exército difere estruturalmente da igreja por compor-se
de uma série de tais grupos. Todo capitão é, por assim dizer, o comandante-chefe e o
pai de sua companhia, e assim também todo oficial inferior o de sua unidade. É verda-
de que uma hierarquia semelhante foi construída na igreja; contudo, não desempe-
nha nela, economicamente, o mesmo papel, pois um maior conhecimento e cuidado
quanto aos indivíduos pode ser atribuído a Cristo, mas não a um comandante-chefe
humano.
É de notar, que nesses dois grupos artificiais, cada indivíduo está ligado por
laços libidinais por um lado ao líder (Cristo, o comandante-chefe) e por outro aos
demais membros do grupo. Como esses dois laços se relacionam, se são da mesma
espécie e do mesmo valor, e como devem ser descritos psicologicamente, consti-
tuem questões que devemos reservar para investigação subsequente. Mas, já agora,
nos aventuraremos a fazer uma leve censura contra os escritores anteriores, por não
terem apreciado suficientemente a importância do líder na psicologia de grupo, en-
quanto que nossa própria escolha disso como primeiro tema de investigação nos
colocou numa posição mais favorável. Pareceria que nos achamos no caminho certo
“pânico” seja claro e determinado sem ambiguidade. Às vezes ela é utilizada para des-
crever qualquer medo coletivo, outras até mesmo o medo no indivíduo quando ele
excede todos os limites, e, com frequência, a palavra parece reservada para os casos
em que a irrupção do medo não é justificada pela ocasião. Tomando a palavra ‘pânico’
no sentido de medo coletivo, podemos estabelecer uma analogia de grandes conse-
quências. No indivíduo o medo é provocado seja pela magnitude de um perigo, seja
pela cessação dos laços emocionais (catexias libidinais); este último é o caso do medo
neurótico ou ansiedade. Exatamente da mesma maneira, o pânico surge, seja devido
a um aumento do perigo comum, seja ao desaparecimento dos laços emocionais que
mantêm unido o grupo, e esse último caso é análogo ao da ansiedade neurótica.
Qualquer pessoa que, como McDougall (1920), descreva o pânico como uma
das funções mais claras da ‘mente grupal’, chega à posição paradoxal de que essa
mente grupal se extingue numa de suas mais notáveis manifestações. É impossí-
vel duvidar de que o pânico signifique a desintegração de um grupo; ele envolve a
Ampliando conhecimentos
CATWRIGHT, Dorwin; ZANDER, Alvin. Dinâmica de Grupo. São Paulo: Herder, 1967.
MINICUCCI, Agostinho. Dinâmica de Grupo: teorias e sistemas. São Paulo: Atlas, 2002.
Atividades
1. Por que para Auguste Comte (1798-1857) existiam tão somente dois campos
dentro da ciência do conhecimento: a Sociologia, enquanto ciência da “verda-
de”, e a Biologia, como ciência da vida?
Referências
BEAL, G. M.; BOHLEN, J. M.; RAUDABAUGH, J. N. Liderança e Dinâmica de Grupo. 6.
ed. Tradução de: GODOLPHIM, Walmir da Costa; GODOLPHIM Sigrid Faulhaber. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1972.
DURKHEIM, Émile. As Regras do Método Sociológico. 10. ed. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1982.
FREUD, Sigmund. Psicologia das Massas e Análise do Eu. Disponível em: <www.
scribd.com/doc/19371450/Sigmund-Freud-Psicologia-Das-Massas-e-Analise-Do-Eu>.
Acesso em: 28 set. 2009.
TOURINHO, Emmanuel Zagury; CARVALHO NETO, Marcus Bentes de; NENO, Simone. A
Psicologia como campo de conhecimento e como profissão de ajuda. Estud. Psicol.
Natal, Natal, v. 9, n. 1, abr. 2004. Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1413-294X2004000100003&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 15 out.
2009.
Mills (1970) salienta, como aspecto a ser levado em conta, o fato de que, a todo
momento, a partir da experiência e conhecimento acumulado, os seres humanos estão
construindo modelos mentais acerca de fatos e acontecimentos relativos a como as
“coisas” – matérias, objetos, animais, realidade, fatos, interesses, negócios, aconteci-
mentos, enigmas e mistérios – são e se desenvolvem. Tais modelos, verdadeiras im-
pressões da realidade, norteiam e influenciam a forma de pensar, agir, o que esperar, o
que é normal – ou parece normal –, o que é natural em determinado contexto.
Modelos sociológicos
Modelos sociológicos e tipologia dos pequenos grupos sociais
A Sociologia, tal qual qualquer Ciência, também desenvolve, conforme uma es-
trutura lógica e um corpo epistemológico peculiar, uma metodologia sociológica,
munida por – entre outros elementos como conceitos, variáveis, teorias – modelos so-
ciológicos. Tomando por fundamental a experiência e um conjunto de conhecimentos
acumulados e visando antes a explicação que a descrição, a Sociologia empreende a
construção de modelos que se instituem como representações da sociedade em sua
totalidade ou mesmo representações de subdivisões, setores ou segmentos sociais.
Muito embora não disponham de uma consensualidade entre os sociólogos acerca
de sua configuração ideal, os modelos em sua originalidade complexa almejam: pos-
sibilitar a criação de uma correspondência com a realidade social; realizar, reproduzir
e operacionalizar, segundo um conjunto de regras, diversas proposições; estruturar e
organizar os fenômenos observados; e simplificar o processo de construção de conhe-
cimento sobre o objeto investigado. No caso do “grupo social”, ou melhor dizendo, do
“pequeno grupo”, os modelos intentam-se como possibilidade de constituição de uma
diversidade de explicações.
Modelo semimecânico
O pequeno grupo social é abordado a partir de um conjunto de ações caracteri-
zadas como funções necessárias e imprescindíveis ao processo de interação do grupo.
Uma função motiva a realização de outra função: uma questão gera uma resposta que
promove uma outra resposta avaliativa. Os atos, enquanto funções, são tidos como uni-
versais e imutáveis e, portanto, objetos de manipulação. Quem fala, fala para alguém
determinado, conforme o assunto, o tema. Esse comportamento é passível de inúme-
ras repetições, em conformidade com o requerido e ordenado, por exemplo, num pro-
cesso de solução de problemas. Nesse caso, os atos e funções relativos à solução de
dado problema tendem a ser repetitivos e envolver os mesmos componentes. Circuns-
tâncias como essa tendem a instalar no “grupo social” uma situação na qual fatores,
como objetivos do grupo, tipos de problemas a serem enfrentados, individualidades e
diversidade de personalidades, são relegados a um segundo plano. Atos, funções e in-
divíduos podem ser substituídos por novos atos, funções e indivíduos. O grupo muda
sem se transformar.
Esse modelo tem o “grupo social” como um fenômeno natural, determinado pelos
elementos que o constituem. Natural no sentido de que é o desenvolvimento desses
Para tanto, tais grupos tidos como naturais se constituem enquanto realidades,
executando funções reais em um contexto real, e exigirão do sociólogo uma aborda-
gem também nesse contexto de ambiente real. O que vem a implicar em uma série de
dificuldades: a do contato; a originária de transformações inerentes à presença do ob-
servador, um ser estranho ao grupo; a da neutralidade e não interferência na realidade.
Modelo de conflito
O “grupo social” é apreendido como um espaço definido por um processo de con-
flitos derivados da condição dos indivíduos integrantes do “grupo social” em termos de
necessidades e desejos, tanto do ponto de vista interno como externo.
Modelo de equilíbrio
O “grupo social” é visto como um sistema em equilíbrio onde algumas ocorrências
tendem a perturbar esse estado de estabilidade e harmonia, situação social funda-
mental para que o “grupo social” atinja seus objetivos.
Modelo estrutural-funcional
O “grupo social” é abordado como uma organização que se distingue em função
da existência de um conjunto de ações, regras, técnicas etc., voltadas ao atendimento
de necessidades individuais, coletivas e procedentes do meio social, econômico, polí-
tico e ecológico em que estão inseridas.
No entanto, é nessa ideia de construção do “eu” que reside uma das principais
características dos “grupos primários”. Esse “eu social”, uma imagem social que o indiví-
duo constrói sobre si, segundo sua crença de como é visto pela sociedade, se elabora
no contexto dos grupos primários, por exemplo, a família.
Os “grupos primários” podem ainda ser percebidos segundo aspectos que contri-
buem para uma visão peculiar desse conjunto, um tipo de especificidade e particula-
ridade que, por estarem presentes em outros contextos e em outros tipos de grupos,
Modelos sociológicos e tipologia dos pequenos grupos sociais
são abordados em sua condição acidental. Assim, a propriedade de estar sempre junto,
cara a cara – enquanto fator relevante no estabelecimento de relações e de influências
mútuas –, bem como o elemento temporal – em especial o fato de vivenciar tal tipo
de grupo na mais tenra idade –, contribuem para que os efeitos das ações gestadas
nessa estrutura social sejam mais profundos e intensos no processo de formação do
indivíduo. Uma terceira propriedade ganha relevo devido ao seu caráter fundamental,
inerente, próprio e particular dos “grupos primários”: os aspectos funcional e emocio-
nal que, advindos de um processo relacional complexo e completo, face ao intenso
envolvimento dos indivíduos – relações cara a cara, entranhadas, afetuosas, íntimas,
cordiais e espontâneas – criam uma condição particular de sentimento e percepção do
grupo, onde o “nós” se sobrepõe.
Buscando explicações para esse fato notável, Roberto King Merton recorrerá ao
conceito de “grupo de referência”, entendido como aquele “grupo social”, que por ser
detentor de formas e funções peculiares termina por ter uma distinta ascendência
sobre os indivíduos não integrantes do grupo social, influenciando e gestando um
comportamento de assimilação, uma identificação mental e psicológica. Esse “grupo
de referência”, por conta de elementos sociais, econômicos, políticos e culturais, se
apresenta aos indivíduos como uma estrutura social diversa e positiva, se constituindo
como um cenário que por sua “natureza”, exposta em seus valores, atitudes e padrões,
insurge como referência, desperta aspirações. Um desejo ardente de ser e tomar parte
de um certo “grupo social” ao qual não pertence.
Ao adotar essa postura, denuncia uma visão predominante até então: a do “grupo
social” como uma estrutura fechada em si. Essa forma de observar o “grupo social” seria
proveniente dos processos de investigação experimentais, adotados principalmente
nos laboratórios. Semelhantes experimentos terminavam por constituir “ficções” de
grupos sociais: grupos fechados, sem relação com o contexto onde possivelmente es-
tariam inseridos, apartados da sociedade mais ampla, em estado total de isolamento
da realidade.
Texto complementar
Os pequenos grupos
(ÁVILA, 1996, p. 206-213)
Noção
Numa primeira aproximação do problema, podemos partir de uma definição
clássica de grupo, tal como é proposta por Albion W. Small: “O termo grupo é uma
designação sociológica válida para qualquer número de pessoas, as quais desco-
brem que têm relações entre si e que pensam em conjunto, relações mútuas essas
que são suficientemente expressivas para chamar a atenção.”
O contexto histórico
Dois grandes fenômenos históricos condicionaram a redescoberta da impor-
tância dos pequenos grupos na estrutura da sociedade global e estimularam os es-
tudos a respeito destes. O primeiro foi a emergência dos grandes totalitarismos e o
segundo a expansão das sociedades de consumo de massa.
A demolição das estruturas corporativas que, num primeiro momento, foi sau-
dada como uma libertação, deixou na realidade os indivíduos ao sabor de um poder
central, concretamente do Estado, que passou, cada vez com maior desenvoltura, a
arregimentá-los para seus próprios fins competitivos e nacionalistas.
máquina de propaganda jamais montada. Mais uma vez, as pessoas se acham sem
defesa ante o poder de absorção da sociedade global.
Esse contexto estimulou por reação a emergência das mais variadas, por vezes
das mais bizarras, formas de nucleação em pequenos grupos, pequenas comuni-
dades, que buscam novas formas de relacionamento capazes de preservar valores
qualitativos de espontaneidade e de criatividade.
Os métodos de abordagem
Os estudos sobre os pequenos grupos podem ser e têm sido conduzidos em
duas perspectivas.
Classificação
“Não se deve supor que o que une o grupo primário é meramente a harmo-
nia e o amor. Ele é sempre uma unidade diferenciada e geralmente competitiva,
supondo a autoafirmação e vários sentimentos próprios dessa diferenciação. Esses
sentimentos, entretanto, são socializados pela simpatia e tornam-se ou tendem a
tornar-se socializados sob a influência de um espírito comum. O indivíduo poderá
ser ambicioso, mas o objeto principal de sua ambição será um status no pensamento
dos outros e ele se sentirá intimamente ligado aos padrões comuns de ajuda mútua
e lealdade.”
“Os grupos são, pois, primários no sentido de dar ao indivíduo sua primeira
e mais complexa experiência de unidade social e também no sentido de que não
mudam no mesmo ritmo que as relações mais sofisticadas, mas são uma fonte per-
manente da qual essas se originam continuamente.”
“Tais grupos são, portanto, fontes de vida, não apenas para o indivíduo, mas
também para as instituições sociais ...”
seus membros são frias, impessoais, racionais, contratuais e formais. As pessoas não
participam dele com toda a sua personalidade, mas apenas com capacidades de-
limitadas e especiais. O grupo não é um fim em si mesmo, porém um meio para
outros fins. Os grupos secundários são tipicamente extensos e os seus membros
têm, habitualmente, apenas contatos intermitentes, frequentemente indiretos, es-
critos, mais do que orais”.
Assim, pois, todos os grupos primários são pequenos grupos, mas nem todos
os pequenos grupos são grupos primários.
Ampliando conhecimentos
KLEIN, Josephine. O Estudo de Grupos. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1972.
ÁVILA, Fernando Bastos de. Introdução à Sociologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1996.
CHINOY, Ely. Sociedade – uma introdução à Sociologia. São Paulo: Cultrix, 1973.
MERTON, Robert K. Sociologia: teoria e estrutura. São Paulo: Mestre Jou, 1968.
Desse modo torna-se imperativa uma apresentação, mesmo que breve, sobre esse
“universo de encantamento”, que é o científico, tendo em vista um melhor delineamento
sobre metodologia, método e técnica de investigação.
A metodologia
Uma questão que se coloca de antemão: por que todo e qualquer arrazoado, ainda
que contrariando a opinião majoritária e vigente, muito embora o mesmo possa ser in-
tencionalmente enganador, capcioso, ilusório e falaz, tende a ser aceito sem o menor
questionamento, quando o mesmo tem por origem o universo da ciência? Certamente
há de proliferar justificativas que, em geral e preventivamente, acorrerão ao caráter e
caracteres técnico, racional e às circunstâncias de um suposto conhecimento testado
e aprovado. Dessa condição decorre uma segunda controvérsia: de onde advém essa
percepção de “verdade de fato” atribuída à opinião científica, apesar de marcada por
contestações, mudanças, desvios, conjunturas? Em geral uma resposta se impõe, de
forma quase que resoluta, principalmente quando a mesma procede do universo das
ciências: a credibilidade da ciência decorre da sua metodologia científica. Assim, novas
Tendo em conta as observações anteriores, cabe ressaltar que, nesse momento, bus-
ca-se constituir um determinado olhar, uma abordagem sobre determinada enunciação
de metodologia enquanto uma demarcação afeita às Ciências Sociais, não necessariamen-
te descrevendo e discorrendo sobre o funcionamento e as aplicações de um método espe-
cífico, ou abordando os métodos mais comuns e as diversas correntes do pensamento nas
Ciências Humanas (fenomenologia, estruturalismo, dialética, positivismo, métodos sistê-
mico, tipológico e crítico). Assim, adotando-se como princípio que uma abordagem sobre
metodologia científica, em particular no universo das Ciências Sociais, invariavelmente
deve considerar em sua apreensão, além do conhecimento sobre aspectos fundamentais
relativos a como a disciplina – ou campo do saber científico – atua, como o mesmo in-
terfere no contexto e na realidade, bem como as características elementares e essenciais
Metodologias, métodos e técnicas de investigação social
O método científico
Existem inúmeras definições, em geral incompletas e insatisfatórias, que tentam
tratar sobre o que vem a ser a ciência, por exemplo:
[...] acumulação de conhecimentos sistemáticos; [...] conhecimento certo do real pelas suas causas;
[...] conjunto de enunciados lógica e dedutivamente justificados por outros enunciados; [...] estudo
de problemas solúveis, mediante método científico; [...], forma sistematicamente organizada de
pensamento objetivo. (LAKATOS; MARCONI, 1986, p. 22)
Há ainda um conjunto de outras ilações que, com certo grau de restrição, buscam
expressar, até com maior exatidão, afirmando ser a ciência um conjunto de conheci-
mentos, algo que se define pelo seu objeto material – objeto de observação – e pelo
seu objeto formal, constituído por métodos e conteúdos.
Um enunciado mais amplo e preciso vem a ser o elaborado por Trujillo Ferrari, que
possibilita uma percepção consideravelmente adequada dos elementos essenciais da
ciência. Assim, a ciência é, para o autor, “todo um conjunto de atitudes e atividades
racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser
Metodologias, métodos e técnicas de investigação social
Muito embora a utilização do método científico não seja privilégio único da ciên-
cia, é a utilização do mesmo que irá distinguir o conhecimento científico. Sua origem
não é revelada nem tampouco afirmada, em decorrência do seu objeto de estudo. O
A essa altura torna-se imprescindível salientar uma justa diferenciação entre método
de abordagem e os métodos procedimentais, em muito decorrente de aspectos filosó-
ficos, grau de abstração, finalidade e ação investigativa. Visando contribuir para a distin-
ção, Lakatos e Marconi afirmam que enquanto o método de abordagem (constituído
pelos métodos indutivo, dedutivo, hipotético-dedutivo e dialético) concerne a um tipo
mais amplo de abordagem e abstração sobre a realidade em um grau mais elevado, os
métodos de procedimento (métodos antropológicos e transculturais, método compa-
rativo, método correlacional, método de diagnóstico, método das narrações literárias,
método de estudos de casos, método de estudos descritivos causais, método de estudos
de observação participante, método de estudo quase-experimental, método descritivo,
método de estudos de investigação-ação, método dos testes, método estatístico, método
experimental, método funcionalista, método histórico, método idiográfico, método de
intervenção, método clínico, método experimental, método longitudinal, método mo-
nográfico, método nomotético, método tipológico, método transversal) apresentam
técnicas alçadas à condição de métodos, corresponderiam a etapas concretas de abor-
dagem da realidade menos abstratas, mais limitadas e circunscritas a determinadas áreas
do conhecimento, em especial às Ciências Humanas, muito embora não haja consenso
ou uma classificação única (LAKATOS; MARCONI, 1986, p. 79).
elaboração de hipóteses, coleta de dados, análise dos dados e dos resultados, conclu-
são e generalização dos resultados) e destacando suas características de facilitador no
desenvolvimento de qualquer empreitada de caráter científico, graças à sua contribui-
ção no processo de elaboração de problemas e hipótese, e no estabelecimento de um
percurso seguro, econômico, corrígivel, racional, sistemático, ordenado e replicável, se
constitui como instrumento fundamental no processo de investigação científica sobre
a realidade.
Método experimental
Geralmente realizado em ambiente laboratorial, portanto padronizado, caracteri-
za-se por uma rigorosa sistematização no processo de investigação que exige o cum-
primento por completo das fases do método científico. Visa à elaboração de conheci-
mentos científicos de forma rigorosamente verificada e comprovada, subordinando à
investigação controlada um determinado evento, onde são medidas as ocorrências e
as exceções. Assim, produz ou reproduz um fenômeno da realidade em condições sob
o mais absoluto controle do investigador, que intervém ativamente no evento, visan-
do, também de forma controlada, observar e descobrir quem produz e quem reproduz
certas reações na relação entre as variáveis observadas e manipuladas. A elaboração e
definição das hipóteses prévias são realizadas de forma minuciosa. Os participantes do
processo de estudo são selecionados de modo aleatório. Há um controle extremo das
variáveis, posto que o investigador pode manipular diretamente as variáveis, denomi-
nadas independentes, dependentes e estranhas, para observar o efeito de uma sobre
as outras que quer estudar. Muito embora nesse tipo de experimento as variáveis de-
nominadas estranhas possam influenciar o processo de investigação e, não obstante o
caráter artificial do experimento, dado ao fato de, majoritariamente, ser realizado em
laboratórios sob um contexto absolutamente controlado, esses estudos possibilitam a
realização de inferências causais, visando descobrir a relação causal existente entre as
variáveis dependentes e independentes, de modo metodologicamente seguro.
Método correlacional
Método descritivo
Geralmente realizados em ambientes naturais, trata-se de estudo voltado à obser-
vação e descoberta das regularidades, diferenças e frequências dos fenômenos, tendo
em vista, em geral, o recolhimento de informações para o desenvolvimento de um pro-
cesso de investigação posterior. O método permite um grau maior de generalização. São
utilizados grupos naturais, condição na qual se busca evitar influência ou manipulação
externa. O investigador tem um papel reduzido, haja vista que sua atuação está limitada
ao processo de registro e descrição do movimento e ação das variáveis, não havendo a
possibilidade de manipulação. Muito embora o grau de exigência de sistematização no
processo de investigação seja bastante reduzido, trata-se de uma observação sistemá-
Metodologias, métodos e técnicas de investigação social
tos (grupos, organizações). Busca informações quantitativas acerca das causas moti-
vadoras de determinadas ações, que posteriormente podem ser abordadas junto ao
grupo objeto do estudo, a partir do ponto de vista qualitativo das mais diversas técni-
cas como a entrevista, a observação, o psicodrama e o estudo de casos.
Introdução
(SANTOS, 2006, p. 17-19)
Ao longo dos últimos três séculos, os debates sobre a ciência tiveram sempre
estas duas vertentes: a natureza e o sentido das transformações do mundo operadas
Metodologias, métodos e técnicas de investigação social
A evolução dos debates tem a ver com uma pluralidade de fatores: com o cres-
cimento exponencial da produção científica e a consequente proliferação das co-
munidades científicas; com o extraordinário aumento da eficácia tecnológica propi-
ciada pela ciência, uma eficácia posta tanto ao serviço da guerra como da paz; com
as transformações na prática científica à medida que o conhecimento científico foi
transformado em força produtiva de primeira ordem e a questão das relações entre
a ciência e o mercado se transmutou na questão da ciência como mercado.
Ampliando conhecimentos
SOUZA SANTOS, Boaventura de. Um Discurso sobre as Ciências. 2. ed. São Paulo:
Cortez, 2004.
SOUZA SANTOS, Boaventura de. Conhecimento Prudente para uma Vida Decente:
um discurso sobre as ciências revisitado. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2006.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa. São Paulo:
Atlas, 1986.
3. Controle sobre o objeto observado – não há controle, pois tem como foco a
observação de fenômenos, buscando descobrir as correlações existentes entre
os diversos eventos;
Manipulação das variáveis – não manipula as variáveis;
Contexto da realização da observação – geralmente realizados em ambientes
naturais, ou seja, os participantes do evento são observados segundo o impac-
to de ocorrências naturais.
As influências da Socionomia
A Socionomia tem por influência três fontes de conhecimento: religião, filosofia
e arte, expressa segundo a arte de representar, ou melhor, de dramatizar presente na
arte teatral.
A Socionomia é perpassada por uma noção de ação. Essa noção decorre sobrema-
neira da crença fundada em uma ideia de experimentação. Remete à prática, ao ato de
experimentar em si. Subjaz a essa concepção uma ideia de ação decorrente de um pro-
cesso revolucionário de transformação da dramaturgia tradicional, movimento do qual
Moreno tomou parte quando ainda estava em Viena, cuja proposta era substituir a re-
presentação baseada nos roteiros pela livre e criativa representação de fatos, eventos
e demais ocorrências do dia a dia de forma espontânea. Esse movimento promoverá
uma ruptura com a dramaturgia e a instauração da arte da dramatização do momento,
que terá lugar no teatro da espontaneidade, espécie de laboratório onde a concepção
de ação toma corpo, dando lugar à experimentação de concepções meramente teóri-
cas, como a da espontaneidade, ao exercício – por em prática, repetir e refletir sobre os
comportamentos –, bem como à reflexão sobre esses comportamentos e a elaboração
de técnicas de comunicação interpessoal e de atuação. Assim, o teatro possibilitaria o
desenvolvimento de um processo onde o comportamento se tornaria objeto de expe-
rimentações, reexperimentações e de reflexões sobre o mesmo.
A Socionomia
A partir dos três domínios do conhecimento supracitados, a Socionomia será edi-
Socionomia
Não obstante, tais origens vienenses e europeias serão tão somente após a imi-
Socionomia
Tendo por base a observação dos fenômenos sociais, Moreno elabora uma con-
cepção, segundo a qual tais eventos envolvendo, em particular, sujeitos, grupos e sis-
temas sociais, são passíveis de alterações, mudanças e transformações. Dessa condição
decorre a ideia de um pesquisador ativo no processo de investigação científica e de
intervenção nos fenômenos estudados.
Esse ser humano sensível, criativo, espontâneo e portador de uma bondade con-
gênita é, no processo de desenvolvimento social, violentado e coagido por contextos
e sistemas sociais, que terminam por envilecer sua vivacidade e vitalidade construto-
ra, presentes desde os primórdios, desde o momento do nascimento, quando se dá a
primeira manifestação de vontade e espontaneidade particular do indivíduo como ser
participante da vida em sociedade. Essa disposição, de adaptação e amoldamento à
situação dada, será denominada por Moreno como Fator E2.
Socionomia
As redes social e sociométrica, inerentes ao grupo social em seu sentido mais amplo
e ao contexto no qual está inserido, e as instituições matriz de identidade e átomo social,
2
S no original, pois remete ao latim sponte, cujo significado é vontade.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 107
mais informações www.iesde.com.br
grupos sociais e sujeitos mais próximos do indivíduo, como a família, constituem obstá-
culos ao ser criativo e espontâneo em termos afetivos, emocionais e relacionais.
Não obstante essa valorização do ato individual, uma vez que, mesmo não cons-
cientemente, o ser humano age em sintonia com a apreensão particular que tem da
realidade, a Socionomia pressupõe que o processo de mudança exige atuação em
rede, portanto, coletiva.
O que está posto se constitui enquanto conservas culturais, mas já foi, anterior-
mente, em um momento específico, criação. Conserva cultural se traduz então por
criações cristalizadas no tempo e no espaço: padrões de comportamento, costumes,
hábitos, tradições e objetos, de certo modo, congelados, imutáveis.
dor do ato criativo. Cria-se a partir de algo e sobre algo já posto. Convive-se e transfor-
ma- -se o que está posto, segundo um procedimento dialético conato à condição de
genialidade do ser humano: cria e criador.
Por sua vez, a Sociometria trata do processo de comensuração das relações sociais
postas em prática pelos seres humanos. Através de instrumentos, bastante peculiares,
como o teste sociométrico e o teste sociométrico de percepção, visa medir, estimar,
calcular e avaliar metricamente as relações sociais.
Texto complementar
ta. Partiu para uma análise do social, por meio de instrumentos padronizados, que
ofereciam a possibilidade de expressar generalizações com precisão e objetividade.
Ampliando conhecimentos
DRUMMOND, Jocelli; SOUZA, Andrea Claudia. Sociodrama nas Organizações. São
Paulo: Ágora, 2008.
MORENO, Jacob Levy. Fundamentos do Psicodrama. 2. ed. São Paulo: Summus, 1993.
Socionomia
MORENO, Jacob Levy. Psicoterapia de Grupo e Psicodrama. São Paulo: Mestre Jou,
1959.
2. Em termos de ser compreendida como uma nova abordagem para além da So-
ciologia, por se preocupar em estudar as formações e tensões sociais no aqui e
agora, em status nascendi.
3. A Socionomia concebe o ser humano como um ser humano ideal, cuja criati-
vidade e espontaneidade o capacitam a criar e recriar sua realidade, operando
sobre seu próprio destino como um ser genial, uma espécie de Deus.
Socionomia
Jacob Levy Moreno aporta nos Estados Unidos da América em meados da década
de 1920. Entre as diversas motivações apontadas como motivos de sua emigração
encontram-se desde uma possível desavença com os atores do teatro do espontâneo
e a repercussão negativa de suas obras O Teatro do Espontâneo e As Palavras do Pai
ainda em Viena (Áustria) até uma invenção – o Radio Film, disco de aço no qual podiam
ser gravados sons – e possíveis dividendos que seriam obtidos em decorrência dos
royalties a serem pagos por uma indústria interessada no desenvolvimento, produção
e comércio do invento.
O conceito de Sociometria
De início, à Sociometria foi atribuída uma definição meramente matemática, em
termos de um estudo das diversas características psicológicas dos grupos sociais do
ponto de vista meramente quantitativo. Uma técnica experimental, cujos métodos
quantitativos e os resultados obtidos por meio da aplicação de tais métodos possibilita-
vam uma forma de medir os relacionamentos sociais empreendidos pelos indivíduos.
Tendo por princípio a concepção da humanidade como uma teia onde os diver-
sos componentes do todo empreendem ações e reações, e por compreender que tais
eventos são decorrentes de processos regulados por um conjunto de normas, regras e
procedimentos passível de ser conhecido e administrado, Jacob Levy Moreno conce-
berá que o
Sociometria: princípios e conceitos básicos
[...] pensamento sociométrico faz do universo humano a imagem de uma teia de inter-relações
[...] Se o universo é considerado como uma teia de inter-relacionamentos vivos, então a tarefa do
cientista torna-se aquela de descobrir com qual regularidade formam-se esses relacionamentos e
por intermédio de quais influências interagem e desenvolvem-se. (MORENO, 1983, p. 35)
Espontaneidade
Considerada como um dos atributos inerentes aos seres humanos, a espontanei-
dade se apresenta de forma particular e em consonância com cada indivíduo. Apresen-
ta-se como uma condição caracterizada pelo grau de originalidade e pela capacidade
do ser humano em se ajustar e responder adequadamente no presente a situações de
caráter vital, pessoal e existencial, se expressando na possibilidade de criação e inven-
ção artísticas, tecnológicas e sociais, no ato de atender às necessidades biológicas e
Criatividade
A criatividade também deve ser considerada como um atributo inerente ao ser
humano, que é originalmente dotado de potencial criativo, transformador e recriador
Sociometria: princípios e conceitos básicos
da sua própria humanidade e, por extensão, da própria criação. A criatividade – en-
quanto um fenômeno – corresponde a um evento universal e inseparável da vida. É
indispensável ser criativo para viver. No entanto, o empoderamento do princípio cria-
tivo está umbilicalmente vinculado ao princípio da espontaneidade. A criatividade so-
mente pode ser estimulada e provocada a revelar-se mediante um estado absoluto de
espontaneidade que estimula, dinamiza, incentiva e acelera o ato criativo.
A espontaneidade sem criatividade não tem vida. Sua intensidade vital aumenta e diminui em razão
direta da espontaneidade da qual partilha. A espontaneidade sem criatividade é vazia e abortiva. A
espontaneidade e a criatividade são, assim, categorias de ordem diferente; a criatividade pertence
à categoria de substância – é aqui a arquissubstância – enquanto a espontaneidade pertence à
categoria dos catalisadores – é o arquicatalisador. (MORENO, 1992, p. 147)
Conservas culturais
Da interação entre o princípio da criatividade e o princípio da espontaneidade se
origina o princípio da conserva cultural, uma espécie de produto melhor caracterizado
como modelo cultural. De fato, as conservas culturais se afiguram como arquivos e
memórias que, ao armazenar o fruto dos atos criativos e espontâneos e espontâneos
e criativos, visam assegurar a permanência e a continuidade de um legado, de uma
determinada herança cultural.
É uma mistura bem-sucedida de material espontâneo e criador, moldado de forma permanente.
Como tal, converte-se em propriedade do grande público, algo de que todos podem compartilhar.
Devido à sua forma permanente, é um ponto de convergência a que podemos regressar a bel-
prazer e sobre o qual pode ser assente a tradição cultural. Assim, a categoria conserva cultural é
uma categoria tranquilizadora. (MORENO, 2006, p. 159)
pode pôr em risco o ato criador que o criou. O espontâneo deixa de ser espontâneo
e passa a ser uma representação do momento do ato espontâneo e criativo. Passa a
se valorizar o produto acabado, a obra sacralizada, o costume, a tradição, mitificados
e imortalizados, e não o momento fértil e magnífico da criação. O status de cultura
conservada retira da ação criativa e espontânea seu caráter inato de criação, recriação
e transformação.
Inter-relação
O ser humano é um ser social, situação na qual a convivência com outros seres
humanos surge como fator indispensável à sua sobrevivência. O ser humano somen-
te pode ser compreendido a partir da sua necessidade inerente em estabelecer inter-
-relações. Nesse processo de criação e recriação de inter-relações esse ser humano
se instaura como produto dessa sociedade, uma vez que sua existência enquanto ser
humano decorre da absorção de um mundo social posto, em princípio, com seus ob-
jetos e significados, suas instituições, papéis, modelos e padrões de comportamen-
to e identidades elaborados anteriormente por outros seres humanos; mas esse ser
humano também se instaura como sujeitos que “são capazes de realizar seus desejos,
[...] verdadeiros autores e atores de transformações nos sistemas sociais, capazes de
tornarem-se os principais agentes de suas próprias evoluções e de seus grupos e or-
ganizações” (MARRA; COSTA, 2004, p. 114). Sujeito que se apropria dessa realidade,
transforma-a e cria uma nova história.
1. Fase da indiferenciação: onde a criança, a mãe e o mundo são uma coisa só.
2. Fase onde a criança concentra a atenção no outro, esquecendo de si mesma.
3. Aqui ocorre o movimento inverso: a criança está atenta a si mesma, ignorando o outro.
4. Já nessa fase a criança e o outro estão presentes de maneira concomitante, e ela já se arrisca a
tomar o papel do outro embora não suporte o outro no seu papel.
5. Nessa etapa já pode haver concomitância na troca de papéis entre a criança e a outra pessoa
(inversão de papéis). (GONÇALVES; WOLFF; ALMEIDA, 1998, p. 61-62)
Essas cinco fases representam a base psicológica para todos os processos de desempenho de papéis
e fenômenos tais como a imitação, a identificação, a projeção e a transferência. Por certo, os dois
atos finais de inversão não ocorrem nos dois primeiros meses de vida da criança. Mas, algum dia, a
criança inverterá o quadro, assumindo o papel de quem lhe dá alimento, a põe a dormir, a carrega
no colo e a passeia. Temos, pois, duas fases da matriz de identidade: primeiro, a fase da identidade
ou unidade, como no ato de comer, e, segundo, a fase de usar essa experiência para a inversão da
identidade. (MORENO, 2006, p. 112-113)
Átomo social
O conceito de átomo social decorre da percepção de Jacob Levy Moreno acerca
da sociedade humana, cuja estrutura o autor comparava à de uma estrutura atômi-
ca e, em outros termos, como uma espécie de célula em meio ao universo social, a
menor unidade. Em meio a uma coletividade é possível perceber “a posição ocupa-
da por cada indivíduo, [...] o núcleo de relações constituído ao redor de cada um.
Esse núcleo de relações constitui o átomo social, a menor das estruturas sociais”
(KAUFMAN, 1992, p. 68).
Tele
As relações de repulsa ou atração, presentes nos processos de inter-relação em-
preendidos pelos seres humanos em diferentes situações de grupos, são marcadas por
um “fluxo de sentimentos”, vivenciados de forma particular por cada indivíduo. No en-
tanto, tais sentimentos inerentes aos atos de atração e repulsa não se apresentam e
sequer são percebidos conscientemente.
Não obstante a tele tenha “[...] além de aspecto conativo, aspecto cognitivo e que
ambos entram nas escolhas e rejeições feitas” (CUKIER, 2002, p. 316), os sentimentos
e afetos – como o desejo, o querer e o preferir – vinculados ao universo denominado
conação, se manifestam de forma intempestiva face ao universo da cognição, univer-
so este vinculado às ações reflexivas e analíticas como o pensar, coordenar, perceber,
considera-se que o indivíduo, à medida que ocorra um processo de desenvolvimento e
maturação, alcance a “sensibilidade télica”, condição particular de reciprocidade, onde
os indivíduos passam a dispor de condições que o capacitem a avaliar as qualidades
reais do outro.
Rede sociométrica
As redes sociométricas constituem uma cadeia de complexas inter-relações que
unem entre si diferentes átomos sociais.
Partes do átomo social de um indivíduo se relacionam com partes de outros átomos sociais de
outros indivíduos, formando cadeias complexas de inter-relações que recebem o nome de redes
sociométricas. Estas são responsáveis pela formação da tradição social e da opinião pública.
(KAUFMAN, 1992, p. 68)
Nos grupos de estrutura institucional essa estrutura é dada como externa aos
membros do grupo. Nessa condição, os vínculos que unem os indivíduos estão de-
terminados pelo papel oficial ou pelas tarefas que cada um desempenha no grupo.
Trata-se de uma estrutura onde os vínculos que envolvem seus integrantes são frágeis,
volúveis e superficiais.
Os membros desses grupos podem ser dotados de status diferentes, que traduzem sua posição
na hierarquia da organização e sua qualificação profissional; seu sistema de valores, interesses e
objetivos que muitas vezes se opõem. Observam-se nesses grupos papéis sociais que podem ser
próprios à organização, mas não próprios ao grupo: seu estudo cabe na análise institucional, não na
dinâmica dos grupos. (COSTA, 2007, p. 26)
Os grupos ditos sociométricos têm por característica seu caráter espontâneo, ba-
seado nas atrações pessoais, sentimentos, preferências, simpatias, antipatias e repulsa
entre os membros que formam o grupo. É uma estrutura onde os integrantes estão
envolvidos e harmonizados segundo uma interação e entendimento bastante íntimo,
simbiótico, de tal forma que a comunicação ocorre de modo coinconsciente.
Sociometria: princípios e conceitos básicos
Indivíduos que se conhecem intimamente são suscetíveis de inverter seus papéis com muito maior
facilidade do que indivíduos que estão separados por uma larga distância psicológica ou étnica. A
causa dessas grandes variações é o desenvolvimento de estados coconscientes e coinconscientes.
(MORENO, 2006, p. 30-31)
Tricotomia social
A tricotomia social abarca três níveis de compreensão da realidade do social, três
agrupamentos dinâmicos: a realidade social externa, a matriz sociométrica e a realida-
de social.
O terceiro nível, realidade social, pode ser compreendido como uma realidade
síntese resultante da dinâmica dialética entre consciente e inconsciente comum (co-
consciente), decorre do processo dialético de realização e ou desintegração que ocorre
entre a realidade social externa e a matriz sociométrica.
Guarda aspectos de uma e de outra sem ser nenhuma delas, funciona na tricotomia social como um
terceiro nível de compreensão. No momento de seu surgimento é catártica pelo alívio da tensão
gerada no processo dialético. No seguimento desse processo, a realidade social vai se relacionando
com a realidade social externa. Desse jogo espontâneo do sistema, surge uma nova matriz
sociométrica, resultante do movimento anterior e necessária para manter os processos evolutivos
da sociedade. (COSTA, 1996, p. 50)
Teoria de papéis
(ALMEIDA, 2004, p. 53-56)
O termo papel vem da palavra role, que deriva do latim rotula. Na Grécia e na
Roma antiga as diversas partes dramáticas estavam escritas em rollos, os quais eram
lidos aos atores para que decorassem os respectivos papéis. A origem da palavra
está, portanto, no teatro. Nesse sentido, papel pode ser definido como uma pessoa
imaginária criada por um dramaturgo, por exemplo, Otelo ou Hamlet. [...] Também
pode ser definido como uma função assumida dentro da realidade social como o de
médico, advogado, policial etc. “Como formas reais e tangíveis que a pessoa assume”
(MORENO, 1972).
Segundo Moreno,
[...] pode-se definir papel como uma unidade de experiência sintética na qual se fundiram
elementos privados, sociais e culturais. [...] Toda sessão psicodramática demonstra que um papel
é uma experiência interpessoal e necessita de dois ou mais indivíduos para ser colocado em ação.
[...] O desempenho de papéis é anterior ao surgimento do ego. Os papéis não surgem do ego, e
sim o ego é que surge dos papéis. [...] os papéis são os embriões, os precursores do ego, e tendem
a agrupar-se e unificar-se.
Ampliando conhecimentos
MONTEIRO, André Mauricio; CARVALHO, Elsy Regina Souza de (Orgs.). Sociodrama e
Sociometria: aplicações clínicas. São Paulo: Ágora, 2008.
Referências
ALMEIDA, Lucia. O Trabalhador no Mundo Contemporâneo: psicodrama nas organi-
zações. São Paulo: Ágora, 2004.
COSTA, Wedja Granja. Socionomia. In: COSTA, Wedja Granja; RIQUET, Silvia H.; ANDRA-
DE, Lêda A. Cronosplatia Holográfica Universal – Projeto Águas Belas. Transtornos
Psicoafetivos. Fortaleza: Fundação de Estudos e Pesquisas Socionômicas do Brasil,
2000.
GONÇALVES, Camilla Salles; WOLFF, José Roberto; ALMEIDA, Wilson Castello de. Lições
de Psicodrama – introdução ao pensamento de J. L. Moreno. 8. ed. São Paulo: Ágora,
1998.
KNOBEL, Anna Maria. Moreno em Ato: a construção do psicodrama a partir das práti-
cas. São Paulo: Ágora, 2004.
MINICUCCI, Agostinho. Dinâmica de Grupo: teorias e sistemas. 5. ed. São Paulo: Atlas Sociometria: princípios e conceitos básicos
S.A., 2002.
SOEIRO, Alfredo Correia. Psicodrama e Psicoterapia. 2. ed. São Paulo: Ágora, 1995.
Sociometria: princípios e conceitos básicos
Há duas modalidades de teste sociométrico. Melhor seria dizer que este possui
duas formas, complementares, de realização conforme os objetivos: o teste sociomé-
trico objetivo e o teste sociométrico perceptual.
[...] o teste sociométrico objetivo vai averiguar como cada elemento do grupo efetivamente escolhe
e é escolhido pelos outros, a partir de um determinado critério. Por sua vez, o teste sociométrico
perceptual vai indicar como cada elemento do grupo acredita ser escolhido pelos demais, bem
como a maneira como é percebido pelos companheiros. (KAUFMAN, 1998, p. 39)
mantém no grupo e a posição revelada por suas escolhas. (CUKIER, 2002, p. 339)
O teste perceptual é um teste sociométrico que se dirige ao espírito dos pacientes ao invés de dirigir-se
à realidade social. [...] uma versão do teste sociométrico chamada de “autoavaliação sociométrica”, mas
que pode melhor ser chamada de “teste de percepção sociométrica”. (CUKIER, 2002, p. 331 e 336)
No término de um grupo, para esclarecer possíveis pendências nos vínculos. Isso dá suporte
para o término ou a continuidade das relações entre os ex-companheiros de grupo.
Algumas outras aplicações práticas do teste sociométrico são sugeridas por Martins:
Definição
O teste sociométrico é uma das técnicas de investigação da metodologia socio-
métrica que permite determinar o grau em que os indivíduos são aceitos ou rejeitados
em um grupo, desvelar as relações entre os indivíduos e revelar a estrutura do grupo e
desvelar o status sociométrico dos indivíduos que fazem parte dessa investigação.
O teste sociométrico tem por finalidade esclarecer a rede de vínculos que constituem a estrutura dos
grupos. Seu uso não pode ser indiscriminado: ele deve atender a um propósito claro – a reorganização
Teste sociométrico: elaboração e recolhimento de dados
de vínculos, a distribuição de tarefa, ou mesmo o estudo da estrutura interna de um grupo; deve ser
aplicado integralmente, e o ideal é que o próprio critério do teste seja estabelecido pelo grupo, e que
posteriormente a tarefa proposta seja realmente cumprida. (KAUFMAN, 1992, p. 68)
O investigador
O teste sociométrico é uma prática de ação. O investigador da estrutura, da di-
nâmica do grupo e suas respectivas configurações é colocado em uma situação pecu-
liar: como participante objetivo e como participante subjetivo. É um investigador, mas
também é um coprodutor, um agente participante efetivo do processo de exploração
investigativa. Não é apenas um observador privilegiado. Trata-se de um participante,
mas colocado numa situação tal que seu referencial é o referencial interno do grupo.
Uma vez que o processo de realização do teste sociométrico, que envolve diversas
etapas – definição de critérios, elaboração de questionário, aplicação, elaboração e
análise dos dados, comunicação –, requer a participação do grupo e é realizado na
presença de todos os integrantes participantes do teste sociométrico, o investigador é
praticamente retirado de uma possível posição de “espectador”. Trata-se de um inves-
tigador em status nascendi, de participante de algo em desenvolvimento, o funciona-
mento do grupo.
[...] A investigação social de qualquer comunidade, quando baseada em princípios sociométricos,
tem duas estruturas conceituais complementares. Uma é o investigador objetivado, tão preparado
Fases
O processo de elaboração e aplicação do teste sociométrico segue um conjunto
de etapas:
Ficha técnica
A etapa relativa à elaboração da ficha técnica está correlacionada a um período
de reflexão que antecede à elaboração do questionário e é destinado ao esclarecimen-
Elaboração do questionário
Ao processo de levantamento de informações o questionário é um instrumento
de fundamental importância e compreende os seguintes elementos:
título, que, dentre outros aspectos, deve manifestar o objetivo do teste socio-
métrico;
cabeçalho, onde se recolhem dados como o nome, a idade, o sexo, a etnia etc.;
em geral se baseia em quatro questões, que podem variar em função dos crité-
rios ou objetivos que se pretende avaliar;
a linguagem a ser adotada deve ser clara e sensível, frases curtas e numa oração
de ordem simples (sujeito + verbo + complemento);
visando uma melhor clareza e assimilação, o tamanho das letras (fontes) deve
contribuir para uma melhor apreensão da atenção dos participantes do teste
sociométrico. A título de exemplo, vide o quadro a seguir:
Quadro 3 – Tamanho das fontes de letras e em relação à idade
dosa de modo a não incluir elementos que possam distrair ou tirar a atenção
daqueles que estão respondendo às questões.
Critérios
Diz respeito ao primeiro momento da elaboração do questionário. Trata-se do
motivo que norteará o objetivo e o comportamento dos integrantes do grupo e parti-
cipantes do teste sociométrico. Critérios estão relacionados à dimensão do conteúdo,
dizem respeito aos objetivos e o que se pretende investigar. Em termos afetivos (quem,
em sua opinião, é mais simpático?), mas também em termos do universo do lúdico
(com quem você prefere jogar?), da liderança (em quem você votaria para a função de
chefe do seu grupo?), do trabalho em grupo (quem você escolheria para realizar um
trabalho em grupo?). Trata-se do recolhimento de informações acerca da proximidade,
grau de amizade existente entre os indivíduos de determinado grupo, elementos fun-
damentais ao teste sociométrico. Os critérios devem ser concebidos coletivamente.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A.,
148 mais informações www.iesde.com.br
O critério sociométrico é, segundo Moreno, “o motivo ou motor comum que direciona os indivíduos
com o mesmo impulso espontâneo a um determinado fim”. É ele que vai determinar “para que” se
escolhe, e por isso as configurações grupais estão intimamente relacionadas ao critério. Sem um
critério claramente estabelecido não se pode falar em escolha sociométrica. Resultaria num retorno
ao motivo básico, primário da esfera exclusiva dos afetos: “como desejo e sou desejado”.
Busca-se no momento da aplicação de um teste sociométrico a definição de um critério que seja de
real interesse para o grupo investigado. Isso vai propiciar maior grau de compromisso nas escolhas,
sobretudo porque o ideal é que o critério pra o qual se escolhe venha a ser efetivamente cumprido.
É claro, entretanto, que seria um tanto ingênuo acreditar que, ao se optar por um critério objetivo e
cognitivo, não estivessem embutidas questões da esfera afetiva.
Porque são tantas as possibilidades de escolha de critério, e tantas as maneiras como podem vir
a ser interpretadas pelos componentes do grupo, o critério deve ser amplo e exaustivamente
discutido, para que todas as escolhas possam ser feitas visando ao maior rigor de objetividade
possível. (KAUFMAN, 1998, p. 42)
2 – Quem, entre os integrantes do grupo, você acredita que não te escolheria para fazer um trabalho de His-
3 – Quem, entre os integrantes do grupo, você acredita que indicaria ser indiferente fazer um trabalho de
História em dupla contigo?
Escolha Indiferente
(1.°)________________________________________ (2.°)________________________________________
Explicite o motivo da ordem e da preferência:
Não caberia aqui uma descrição exaustiva de como são feitas a aplicação, a
tabulação e a análise de um teste sociométrico, pois esse aspecto é amplamente
tratado por Moreno, além do que tal empresa nos absorveria muito tempo e espaço.
Teste sociométrico: elaboração e recolhimento de dados
De modo geral, entretanto, pode-se dizer que seu objetivo é pesquisar a estrutura dos
agrupamentos humanos, suas configurações fixas e móveis, suas formações e transfor-
mações e toda a força criadora que os anima quando são transpassados por um movi-
mento espontâneo de abertura, participação e comprometimento com sua própria exis-
tência intersubjetiva, nos vários projetos que ela engloba e diferencia. Dir-se-ia, então,
que o teste sociométrico propõe-se a estudar as formações sociais em status nascendi
e no interior dos projetos que emergem do exercício da espontaneidade num âmbito
intersubjetivo. Dessa forma, no teste sociométrico de escolhas, cada um é convidado,
de acordo com um critério específico que define um projeto geral, a se posicionar
em relação ao outro na forma de escolhas positivas, negativas ou neutras (atração,
Ampliando conhecimentos
1. Por que é possível afirmar que o teste sociométrico possui um caráter quanti-
tativo?
Referências
BUSTOS, Dalmiro Manoel et al. O Psicodrama – aplicações da técnica psicodramática.
3. ed. São Paulo: Ágora, 1994.
MONTEIRO, Mauricio Monteiro; CARVALHO, Esly Regina Souza de. (Orgs). Sociodrama
e Sociometria – aplicações clínicas. São Paulo: Ágora, 2008.
_____. (Orgs). Psicoterapia de Grupo e Psicodrama. São Paulo: Mestre Jou, 1974.
Essa dinâmica grupal captada através do teste sociométrico pode ser revelada e re-
presentada visualmente através das sociomatrizes e dos sociogramas.
2
Guilherme (G)
3
Roberto (R)
4
Vinicius (V)
Fases
O processo de elaboração de uma sociomatriz obedece a uma série de etapas
permeadas por um conjunto de definições destinadas a facilitar o seu preenchimento
e compreensão.
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Elaboração da tabela
Na elaboração da tabela deve-se levar em conta os seguintes aspectos:
a tabela deve ter o formato sujeito X sujeito: num grupo constituído por
oito (8) integrantes, deve ser elaborada a tabela com nove (9) linhas e nove
(9) colunas;
Quadro 2 – Exemplo de uma Sociomatriz
4
Vinicius (V)
1 2
5
Allana (A)
1
6
Isabela (ISA)
1
7
Lilian (L)
2
8
Olga (O)
2
Olga (O)
2 1* 2
Valores sociométricos
A quantificação dos critérios sociométricos investigados em um teste sociométrico
possibilitam a construção de um conjunto de valores sociométricos: escolhas recebidas,
rejeições recebidas, escolhas realizadas, rejeições realizadas, escolhas recíprocas (recipro-
_
2.° Número de rejeições recebidas
n
=
5.° Número de escolhas recíprocas
p
=
6.° Número de rejeições recíprocas
n
´
7.° Número de indivíduos pelos quais o sujeito acredita ter sido escolhido
p
`
9.° Número de indivíduos que acreditam ter sido escolhidos pelo sujeito
p
`
10.° Número de indivíduos que acreditam ter sido rejeitados pelo sujeito
n
168
Quadro 8 – Exemplo de uma Sociomatriz
1 2 3 4 5 6 7 8
= =
Ismael Guilherme Roberto Vinicius Allana Isabela Lilian Olga p n
p n
(I) (G) (R) (V) (A) (ISA) (L) (O)
1
Ismael (I)
2 2 2 1* 2 2 1
(PRADOS, 2000. Adaptado.)
2
Guilherme (G)
1 2 1 1
3
Roberto (R)
2* 2 2 1 2 2 1
4
Vinicius (V)
2 1 2 2 3 1
5
Allana (A)
2 2* 1 2 1 1
6
Isabela (ISA)
1 2
7
Lilian (L)
1 2 2 1 2 2
8
2 1* 2 2 3 1 1
Fases
A elaboração da representação sociométrica – sociograma ou diagrama sociomé-
trico –, visando expressar as interconexões existentes entre os integrantes do grupo
social e sintetizando sua estrutura relacional, tem por base as valorações emitidas e
recebidas, e implica em percorrer algumas etapas.
Símbolos do sociograma
Deve se convencionar ou realizar uma atribuição de símbolos que possibilite a
caracterização e representação dos integrantes do grupo, os critérios de relação e as
estruturas inter-relacionais.
Tipos de sociograma
No processo de elaboração do sociograma ou diagrama sociométrico deve se
Teste sociométrico: sociomatrizes e sociogramas
L
R
A
Isa
I
R
Isa A
O L
Teste sociométrico: sociomatrizes e sociogramas
Isa A
R
G
I
Índice de popularidade:
_
Pop = p / (N-1)
_
Número de escolhas recebidas por um integrante.
p
Número máximo de escolhas possíveis de serem realizadas por um integrante do grupo, uma
N-1
vez que o integrante não pode escolher a si mesmo.
_
Ant = n / (N-1)
_
Número de rejeições recebidas por um integrante.
p
Número máximo de escolhas possíveis de serem realizadas por um integrante do grupo, uma
N-1
vez que o integrante não pode escolher a si mesmo.
=
IC = Σ /Nx (N-1)
p
IC Índice de Coesão.
=
Número de escolhas recíprocas.
p
Número máximo de escolhas possíveis de serem realizadas por um integrante do grupo, uma
N-1
vez que o integrante não pode escolher a si mesmo.
=
IC = Σ /dN
p
IC Índice de Coesão.
=
Número de escolhas recíprocas.
p
Tipos sociométricos
Teste sociométrico: sociomatrizes e sociogramas
Ficha técnica;
Relacione o nome de três colegas com quem você gostaria de fazer parceria
num projeto que precisasse estudar;
O aplicador deve avisar logo as pessoas que as folhas de papel só serão lidas por
ele – o aplicador – e que, portanto, as escolhas só serão por ele conhecidas. Deve expli-
car, também, que seu objetivo é tentar satisfazer o máximo a preferência das pessoas,
mas que, provavelmente, não será possível atender a todos nas suas três escolhas.
Alexandre
Francisco
Catarina
Carmem
Efigênia
Cristina
Marcos
Justina
Maria
Paulo
João
José
Inês
Quem escolhe
Alexandre 2 1 3
Carmem 2* 3 1*
Catarina 2* 1* 3*
Cristina 2 3 1
Efigênia 1 3 2
Francisco 1* 2* 3*
Inês 2 3 1
João 3* 2* 1*
José 3* 1* 2
Marcos 2 3 1
Maria Justina 2* 1* 3
Paulo 3* 1* 2*
1.ª escolha 0 0 3 0 0 1 0 2 0 0 3 3
2.ª escolha 0 3 2 0 0 1 0 2 2 0 1 1
3.ª escolha 0 0 1 0 0 3 1 2 2 1 0 2
Total 0 3 6 0 0 5 1 6 4 1 4 6
* Escolhas mútuas
Teste sociométrico: sociomatrizes e sociogramas
O sociograma
A terceira etapa é a organização do sociograma, que é a representação gráfica
da tabulação sociométrica. Nessa fase, os dados obtidos na tabulação das respostas
das pessoas são ordenados de forma pictórica, através do sociograma, para uma
melhor visualização da estrutura do grupo das relações entre seus membros. O so-
ciograma oferece um quadro elucidativo do ambiente social do setor. “Pode-se dizer
que um sociograma é, provavelmente, o melhor instrumento já planejado para re-
velar a estrutura social de um grupo. Apresenta as inter-relações entre os indivíduos
Alexandre
Carmen
Efigênia
Marcos
Inês
SLIWIANY, Regina Maria. Sociometria: como avaliar a qualidade de vida e projetos so-
ciais. Petrópolis: Vozes, 1997.
Atividades
3. Sociomatriz e o sociograma.