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PALAVRAS 10

Teste de avaliação – 10.º ano

Educação Literária

Grupo I (100 pontos)

A (70 pontos)

Lê atentamente o seguinte texto e consulta as notas apresentadas.

Eno sagrad’en Vigo


bailava corpo velido:
amor ei!

En Vigo, no sagrado1,
Bailava corpo delgado:
amor ei!

Bailava corpo velido,


que nunca ouvera amigo,
amor ei!

Bailava corpo delgado,


Que nunca ouvera amado:
amor ei!

Que nunca ouvera amigo,


ergas2 no sagrad’, en Vigo:
amor ei!

Que nunca ouvera amado,


ergu’ en Vigo no sagrado:
amor ei!
Martín Codax, (CV 889, CBN 1232), in A Lírica Galego-Portuguesa, Elsa Gonçalves e Maria Ana Ramos,
Lisboa: Editorial Comunicação, Coleção Textos Literários, 1983, pp. 264-265.

Apresenta, de forma clara e bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.
1
adro da igreja.
2
senão.
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1. Caracteriza o ambiente onde se encontra o sujeito poético da cantiga e transcreve dois


exemplos textuais.
2. Relaciona as diversas formas de repetição utilizadas com o facto de as composições
serem acompanhadas por música.
3. Classifica formalmente esta composição poética.

B (30 pontos)

Redige uma exposição (120-150 palavras) sobre as características específicas da cantiga de


amigo, organizando os tópicos indicados.
 A poesia medieval é acompanhada por música.
 A cantiga de amigo é um género da lírica trovadoresca.
 Os sentimentos expressos na cantiga de amigo são os da donzela.
 A cantiga de amigo privilegia o ambiente rural.
 A cantiga de amigo apresenta várias formas de repetição.

Grupo II (50 pontos)


Leitura | Gramática

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.


Escreve, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.

O humor
Três grandes teorias procuraram, ao longo dos séculos, explicar o riso e o humor. A
primeira, que foi dominante durante cerca de dois mil anos (Platão até Thomas Hobbes), é a
chamada teoria da superioridade. Diz, em traços gerais (que são os únicos traços que o meu
entendimento costuma ser capaz de compreender), que o riso é a manifestação de um sentimento
de superioridade sobre os outros. No diálogo Filebo, Sócrates explica a Protarco que nos rimos
de quem procede como se interpretasse às avessas o conselho inscrito no Templo de Apolo, em
Delfos. Ou seja, rimo-nos daqueles que se desconhecem a si mesmos. São ridículos todos os que
julgam ser mais ricos, mais belos e mais virtuosos do que são. Ora, uma vez que a ignorância é
má, e tendo em conta que o riso proporciona prazer, quando rimos da ignorância dos outros
experimentamos um comprazimento com aquilo que é mau – o que faz do ato de rir um
comportamento eticamente problemático.
Aristóteles acredita, como Platão, que o riso é essencialmente motivado pelo escárnio e
resulta da constatação da nossa superioridade sobre os outros. Na Poética não há muito mais
sobre o tema do que aquela frase célebre segundo a qual a comédia é a imitação de pessoas
piores do que a média. Em Ética a Nicómaco, o filósofo acrescenta uma ideia que reforça a
associação do riso à agressividade. Diz ele: uma piada é um tipo de ofensa e, uma vez que a lei
proíbe certos insultos, talvez devesse proibir também certas piadas.
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Muitos séculos mais tarde, Thomas Hobbes cunharia uma expressão famosa: “sudden
glory”. “Glória súbita é a paixão que produz as caretas chamadas riso.” Ambas as palavras são
importantes: “glória”, porque lembra a existência de um elemento essencial de surpresa. Toda a
gente que já ouviu duas vezes a mesma anedota sabe que a primeira experiência é irrepetível.
Fernando Pessoa dizia que a maior desgraça da sua vida era não poder voltar a ler os Cadernos
de Pickwick, de Dickens, pela primeira vez.
Ricardo Araújo Pereira, A doença, o sofrimento e a morte entram num bar, Lisboa: Tinta da China, 2016, pp. 16-17.

1. O texto tem como tema


(A) as várias teorias do riso ao longo dos tempos.
(B) as mais relevantes teorias que refletiram sobre o humor.
(C) as grandes reflexões sobre o riso nas últimas décadas.
(D) a teoria de Platão sobre o humor.

2. As expressões “A primeira” (ll. 1-2) e “Ou seja” (l. 7) contribuem para


(A) embelezar o texto.
(B) marcar a discordância do jornalista face à posição tomada.
(C) assinalar a introdução de uma pequena narrativa.
(D) encadear as ideias dentro do texto.

3. O discurso parentético no segundo período do texto apresenta


(A) uma explicação.
(B) um comentário.
(C) um exemplo.
(D) uma crítica.

4. A expressão “Filebo” (l. 5) surge em itálico porque


(A) se pretende enfatizar a sua importância.
(B) é um diálogo.
(C) é o título de uma obra de Sócrates.
(D) é o título de uma obra de Protarco.

5. O narrador refere que o ato de rir pode ser um comportamento eticamente problemático
(A) porque muitas vezes nos rimos da insciência dos outros.
(B) uma vez que estamos sempre a rir-nos da falta de ignorância dos outros.
(C) visto que temos prazer no mal dos outros.
(D) porque brincamos com a felicidade alheia.

6. No texto, surgem várias referências a autores da Antiguidade clássica para


(A) marcar a diferença.
(B) comprovar a posição adotada.
(C) comprovar a importância dos deuses.
(D) assinalar a passagem do tempo.

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7. A expressão “Muitos séculos mais tarde” contribui para


(A) valorizar o presente.
(B) perspetivar uma visão sincrónica.
(C) assinalar as mudanças espaciais.
(D) marcar a passagem do tempo.

8. Identifica o campo lexical dominante no texto.


9. Classifica a oração subordinada presente na segunda frase do texto.
10. Classifica sintaticamente a oração “que o riso é essencialmente motivado pelo escárnio”
(l. 12).

Grupo III (50 pontos)


Escrita
Tendo em conta as características da síntese, constrói um texto que reduza este texto
original ao essencial por seleção crítica das ideias-chave.

O Galego-Português
O Galego-Português era a língua falada na faixa ocidental da Península Ibérica até
meados do XIV. Derivado do Latim, surgiu progressivamente como uma língua distinta
anteriormente ao século IX, no noroeste peninsular. Neste sentido, poderemos dizer que, mais do
que designar uma língua, a expressão Galego-Português designa concretamente uma fase dessa
evolução, cujo posterior desenvolvimento irá conduzir à diferenciação entre o Galego e o
Português atuais. Entre os séculos IX e XIV, no entanto, e com algumas pequenas diferenças
entre modos de falar locais, a língua falada ao norte e ao sul do rio Minho era sensivelmente a
mesma. E nem mesmo as fronteiras políticas que por meados do século XII se foram
desenhando, e que conduziram à formação de um reino português independente ao sul, parecem
ter afetado imediatamente esta unidade linguística e cultural, cujas origens remontam à antiga
Galiza romano-gótica. Da mesma forma, a extensão do novo reino português até ao extremo
sudoeste da Península (que se desenrola, até 1250, ainda no movimento da chamada reconquista
cristã), é um processo que pode ser entendido, nesta primeira fase, como um alargamento natural
desse espaço linguístico e cultural único. Assim, como escreve Carolina Michaëlis de
Vasconcelos, comentando este sentido alargado que dá ao termo Galego-Português: “Tal
extensão de sentido justifica-se pela uniformidade da língua desde o extremo da Galiza até ao
extremo do Algarve, apenas com algumas variantes provinciais, dentro de um tipo comum; e
também pela grande semelhança de modos de viver, sentir, pensar, poetar – uniformidade e
semelhança que falam eloquentemente a favor da afinidade primitiva de lusitanos e galaicos”.
Na verdade, pode dizer-se que, paralelamente à independência do reino de Portugal, é a
progressiva e lenta deslocação do centro político da Hispânia cristã do noroeste galego-leonês
para Castela (nomeadamente após a conquista de Toledo em 1085 e, posteriormente, a conquista
de Sevilha em 1248) que conduzirá gradualmente à rutura desta unidade, ao potenciar o
desenvolvimento das duas línguas que mais imediatamente correspondiam a entidades políticas
autónomas, o Português e o Castelhano. A partir desse momento, que poderemos situar, de forma
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genérica, em meados do século XIV, o Galego-Português deixa de ser uma designação


operacional: de facto, e ao mesmo tempo que a Galiza entra culturalmente no período que
habitualmente se designa por “séculos escuros”, com um castelhanismo acelerado das suas elites
e sem verdadeira produção cultural em língua própria, o Português assume a sua identidade
linguística e cultural autónoma, partilhando a partir de então com o Castelhano (e, até certa
altura, com o Catalão) o espaço cultural ibérico.
O período que medeia entre os séculos X e XIV constitui, pois, a época por excelência do
Galego-Português. É, no entanto, a partir de finais do século XII que a língua falada se afirma e
desenvolve como língua literária por excelência, num processo que se estende até cerca de 1350,
e que, muito embora inclua também manifestações em prosa, alcança a sua mais notável
expressão na poesia que um conjunto alargado de trovadores e jograis, galegos, portugueses, mas
também castelhanos e leoneses, nos legou.
Convém, pois, ter presente que quando falamos de poesia medieval galego-portuguesa
falamos menos em termos espaciais do que em termos linguísticos, ou seja, trata-se
essencialmente de uma poesia feita em Galego-Português por um conjunto de autores ibéricos,
num espaço geográfico alargado e que não coincide exatamente com a área mais restrita onde a
língua era efetivamente falada.
Projeto Littera (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa), in
(http://cantigas.fcsh.unl.pt/sobreascantigas.asp#7 (consultado em outubro 2017).

Bom trabalho!

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