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CINÉTICA DOS PROCESSOS

FERMENTATIVOS
INTRODUÇÃO
• Formação de produto metabólito pode ser
relacionada a consumo de nutriente;
• Além do mais, formação de produto não pode
ocorrer sem a presença de células;
• Assim, é esperado que crescimento e formação de
produto estão intimamente relacionados à
utilização de nutrientes que dependendo dos
controles metabólitos regulatórios;
• A formação de produto será ligada a crescimento
e/ou concentração celular.
INTRODUÇÃO
• A relação cinética entre crescimento e formação de
produto depende do papel do produto no
metabolismo celular. As duas cinéticas mais comuns
são aquelas que descrevem a síntese do produto
durante o crescimento e após o crescimento ter
cessado. Um exemplo menos comum aplica ao caso
onde o crescimento inicialmente ocorre sem
formação de produto, mas após algum período de
tempo o produto começa a aparecer enquanto o
crescimento continua.
No gráfico (a), a formação de produto é associado ao
crescimento celular
No gráfico (b), temos formação de produto associado ao
crescimento, de uma forma mais ou menos confusa, chamada
de formação de produto parcialmente associada ao
crescimento

X X X
[ ] [ ] [ ]

P P P

(a) t (b) t (c) t

No gráfico (c), temos formação de produto não associada ao


crescimento.
Velocidade de Formação de Produto
• A velocidade de formação de produto é a
derivada de P em cada ponto dP/dt;
• Da mesma forma que dX/dt e dS/dt não é
usado, dP/dt (velocidade de formação de
protuto) pode ser transformada em
Velocidade Específica de Formação de
Produto (µp) que é definido como:

1 dP
µ p=
X dt
1 1
µ/µmax µ/µmax

µp/µpmax
Os gráficos
µp/µpmax mostram:
(d) formação de
(d) t (e)
t produto associada ao
crescimento;
1
(e) formação de
µp/µpmax
µ/µmax produto parcialmente
associada ao
crescimento e
(f) formação de
(f) produto não associada
t
ao crescimento.
FATORES DE CONVERSÃO
• Crescimento e formação de produto por microrganismos são
processos de bioconversão nos quais os nutrientes químicos
alimentados à fermentação são convertidos a massa celular
e metabólitos;
• Cada uma dessas conversões pode ser quantificada por um
coeficiente de rendimentos, expressão como massa de
célula ou produto formado por unidade de massa de
nutriente consumido, Yx/s e Yp/s, para célula e produto,
respectivamente;
• Assim, o coeficiente de rendimento representa a eficiência
de conversão.
• Nos processos cujo produto é a célula (ex. obtenção de
levedura de panificação) o gráfico representativo da
fermentação é mostrado abaixo
FATORES DE CONVERSÃO
[]
s

P
X

tempo
onde é maximizado o crescimento celular e minimizado a formação de
subprodutos.
O coeficiente de rendimento de célula por nutriente torna-se
Yx/s = ∆X/∆S
Nos processos cujo objetivo é a formação de um produto e não a
célula (ex. obtenção de etanol, antibióticos);
O gráfico representativo da fermentação é mostrado abaixo

[] s
P

P s
tempo

onde é maximizado a formação de produtos e minimizado o crescimento celular;


O coeficiente de rendimento do produto por nutriente será:
Yp/s = ∆P/∆S
A maneira usual de calcular rendimentos é medir a massa celular ou produto
produzido e substrato consumido sob um período de tempo e calcular Yx/s e Yp/s.
Obs.: Quando no meio há mais de um substrato de carbono, considera-se o
substrato limitante do crescimento.
INFLUÊNCIA DA CONCENTRAÇÃO DE NUTRIENTES NA
VELOCIDADE ESPECÍFICA DE CRESCIMENTO

• Durante a maioria das fermentações descontínuas


típicas, a velocidade específica de crescimento é
constante e independente da concentração de nutrientes
que está variando. Todavia, velocidade de crescimento,
como uma velocidade de reação química, é uma função
da concentração de compostos químicos. Os compostos
químicos nesse caso são os nutrientes essenciais para o
crescimento;
• A forma da relação entre velocidade de crescimento e
concentração de nutriente foi observada em 1949 por
Monod,
• O modelo de Monod tem a forma:
S
µ = µ m.
Ks + S
INFLUÊNCIA DA CONCENTRAÇÃO DE NUTRIENTES NA
VELOCIDADE ESPECÍFICA DE CRESCIMENTO

S
µ = µ m.
Ks + S

µ = vel. específica de crescimento;


µmax = vel. espec. de crescimento máximo;
S = concentração de nutriente;
KS = constante de saturação e é igual a S
quando µ = 0,5.µmax
INFLUÊNCIA DA CONCENTRAÇÃO DE NUTRIENTES NA
VELOCIDADE ESPECÍFICA DE CRESCIMENTO
A equação de Monod representa uma simplificação de várias situações
reais:

*Não prevê fase LAG (µx=0)


µx=0 S >>> Ks.
*Não prevê fase estacionária (embora S não seja nulo, S≠ 0; µx=0.
*Não prevê nem um tipo de inibição.
*Não se aplica a cultivos com limitação de outros nutrientes (apenas S
limitante).

Representação da equação de Monod. Ex: para µm = 0,14 h-1 e Ks = 0,60 mg/L (curva
B), Ks = 0,030 mg/L (curva A).
INFLUÊNCIA DA CONCENTRAÇÃO DE NUTRIENTES NA
VELOCIDADE ESPECÍFICA DE CRESCIMENTO
A curva apresentada pela µx em função do tempo (condições
experimentais), apresenta um trecho máximo e constante (AB), após a
fase LAG curta.

Variação da (µx) e do tempo de geração (tg), no cultivo descontínuo.


-Outros Modelos Matemáticos:

Estes modelos, como o de Monod, támbém não levam em conta o


fenômeno da inibição (pelo substrato ou pelo produto).
O fenômeno de inibição do crescimento celular (figura abaixo) somente
se aplica para valores de S relativamente baixos,menores ou iguais a
Ks.
Ks

Cinética de inibição pelo substrato (curva A) e sem inibição (---).


S K i ,s
µ x = µ m. *
K s + S K i,s + S Ks= Constante de saturação definida na Equação
de Monod;
Ki,s=Constante de inibição pelo substrato
Com o objetivo de explicar a redução da velocidade específica de
crescimento provocada pelos altos valores iniciais de substrato, uma
modificação foi proposta para a Equação de Monod:

S K i ,s
µ x = µ m. *
K s + S K i,s + S

Ks= Constante de saturação definida na Equação de Monod;

Ki,s=Constante de inibição pelo substrato;

µ max
µx =
Ki,s = Ks, quando: 2 , porém para um valor de S, que provoque a inibição,

sendo assim superior ao correspondente S da equação de Monod.


Quanto a inibição pelo produto, um equacionamento semelhante foi
proposto por JERUSALIMSKY & NERONOVA

S K i,P
µ x = µ m. *
K s + S K i,P + S

Ks= Constante de saturação definida na Equação de Monod;

Ki,p=Constante de inibição pelo produto;


MODELO DE MONOD

S
µ = µ m.
Ks + S
______________________________________CINÉTICA DE FERMENTAÇÃO

Modelo de Monod
• Em 1942, Jaques Monod propôs uma relação
matemática para descrever o efeito do crescimento
limitante em função da taxa específica de
crescimento.
• O crescimento da biomassa é dependente da
disponibilidade do nutriente.
• Quando estamos em condições de limitação do
nutriente a µx reduz-se até cessar completamente o
crescimento, em condições de exaustão do nutriente.
______________________________________CINÉTICA DE FERMENTAÇÃO

Modelo de Monod

where

µm taxa específica de crescimento máxima


Ks constante de saturação ou de Monod
S concentração do substrato limitante .
______________________________________CINÉTICA DE FERMENTAÇÃO

Modelo de Monod
V max[S ]
V=
Km + [ S ]
A taxa específica de crescimento máxima é a taxa máxima de crescimento
obtida para condições não limitantes.

A constante de Monod (Ks) é a concentração do nutriente limitante para a qual


a taxa de crescimento é metade da taxa de crescimento máxima;
Representa a afinidade do organismo para o nutriente.
Os valores de µm e Ks dependem do organismo do nutriente limitante do meio
de fermentação e de fatores como temperatura e pH
______________________________________CINÉTICA DE FERMENTAÇÃO

A linearização do modelo de MONOD:

1 ks
µ µ max

1
µ max
1
S
1 ks 1 1
= * +
µ µ max S µ max
______________________________________CINÉTICA DE FERMENTAÇÃO

Coeficiente de Rendimento

Rendimento define-se como a quantidade de produto


obtida para determinado substrato.

• Por exemplo, se 0.6 g de ácido cítrico é produzido a


partir de 1 g de glicose , então o rendimento de
ácido citrico de glicose é 0.6 g/g.
• O rendimento pode variar consideravelmente
durante a fermentação. Por isto, o rendimento
médio é frequentemente expresso como eficiência
da produção.
______________________________________CINÉTICA DE FERMENTAÇÃO

Coeficiente de Rendimento

Diferentes tipos de coeficientes de

• Rendimento de Biomassa (Yxs)

• Rendimento do produto (Yps).

• O rendimento à biomassa é a biomassa


(média) produzida por unidade de massa de
substrato consumido

• X0 and S0 são as concentrações iniciais de


biomassa e de substrato .
______________________________________CINÉTICA DE FERMENTAÇÃO

Coeficiente de Rendimento
O rendimento do produto :

Po and So são as concentrações iniciais.


EXEMPLO DE APLICAÇÃO
Mode Cinético:
Velocidade Específica de Crescimento: (1)

dx/dt: variação entre a concentração final (X)


e inicial (Xo ) de biomassa em função da variação de tempo
(g.L-1.h-1);
µmax: máxima velocidade específica de crescimento (h-1);
X: concentração de biomassa celular no instante t (g.L-1);
S: Concentração de glicose no instante t (g.L-1);;
Ks Constante de saturação de glicose do modelo de Monod
(g.L-1);
Aeração: 0,25 ou 1 L/min
EXEMPLO DE APLICAÇÃO
Velocidade de consumo de glicose sem formação de produto:
(2)

em que: ds/dt é a variação da concentração inicial (So)


e final (S) de glicose em função do tempo (g.L-1.h-1).
Yx/s: fator de conversão de glicose em biomassa (g.g -1)
EXEMPLO DE APLICAÇÃO
Yx/s = rx/rs

( x0 − x f )
Yx / s =
(S0 − S )
• X = X0 + Yx/s (So – S)
• então da equação 2, vem:
(k s + S ) µ max
(4) ds = −
S ( X o + Yx / s ( S o − S ) Yx / s
EXEMPLO DE APLICAÇÃO
Integrando a equação 4, tem-se:

Z = bU – d (equação da reta)
S
ln
So
z= −
t
Os parâmetros
Ks e µ
max
São estimados a partir de dados
experimentais:
Valores de µ max e Ks
Parâmetros KLa inicial (15 h-1) KLa Inicial (27 h-1)
S0 (g/L) 22,19 20,36
KLa (h-1) 15,0 27,0
Xo (g/L) 0,10 0,19
Yx/s (g/g) 0,355 0,344
µmax (h-1) 0,041 0,033
Ks (g/L) 13,03 6,15
______________________________________CINÉTICA DE FERMENTAÇÃO

Exercício:

4) Os dados obtidos de uma fermentação descontínua estão ilustrados na tabela


abaixo. Determine:
a) A forma linear do modelo matemático de Monod, demonstrando graficamente
os coeficientes linear e angular.
b) Os parâmetros cinéticos Ks e µm.

T (h) X (g/L) S (g/L)


0,00 15,50 74,00
0,52 22,50 61,00
0,86 28,60 49,00
1,18 35,30 37,00
1,43 41,10 26,00
1,74 48,20 11,00
2,06 53,00 3,00
______________________________________CINÉTICA DE FERMENTAÇÃO
CURVA DE CRESCIMENTO E PRODUTO
SUBSTRATO e PRODUTO
CONCENTRAÇÃO DE

80

60
Seqüência1
40
Seqüência2
20

0
0 1 2 3
TEMPO (h)

T (h) X (g/L) S (g/L) dx/dt


0,00 15,50 74,00 12,24
0,52 22,50 61,00 15,90
0,86 28,60 49,00 19,63
1,18 35,30 37,00 22,29
1,43 41,10 26,00 23,92
1,74 48,20 11,00 20,20
2,06 53,00 3,00 9,12
Le Duy & Zajic
MODELO DE LINVEWEABER-BURK
• O modelo de Monod tem a forma: µ = µ . S
m
Ks + S

• Lineweaver-Burk, inverteu a Equação de Monod


linearizando a equação, e assim facilitou as
determinações das constantes de Monod:

1 KS 1 1
= * +
µ µ max S µ max
A linearização do modelo de MONOD:

1 ks
µ µ max

1
µ max
1
S
1 ks 1 1
= * +
µ µ max S µ max
Alguns valores para Ks no modelo de Monod para
crescimento

Nutriente KS (mg/L) Microrganismo


Glicose 1,0 Enterobacter
aerogenes
Glicose 2,0-4,0 Escherichia coli
Glicose 25,0 Sacharomyces
cerevisiae

Observações:
a)Os valores de Ks são muito pequenos em relação à concentração do
nutriente nas fermentações industriais.
β)µ≈ µmax, quando S> 10 KS
c)para S< 10 KS, µ é uma forte função da concentração de nutriente.
d)Durante a fase exponencial µ é constante .
EVOLUÇÃO DE CALOR DURANTE A FERMENTAÇÃO
• A evolução de calor durante a fermentação está intimamente
relacionada à utilização da fonte de carbono e energia.
• a) Quando a fonte de carbono está sendo ativamente
incorporada à massa celular via crescimento, tipicamente
cerca de 40-50% da entalpia disponível é conservada na
biomassa e o restante, perdido como calor (50-60%);
• b) Quando a fonte de carbono está sendo metabolizada para
manutenção celular, toda a entalpia associada com
combustão é desprendida como calor. ;
• c) Se um produto está sendo formado, então o calor
envolvido por unidade de fonte de carbono metabolizada está
entre os dois extremos;
• O interesse na evolução do calor está na necessidade de
removê-lo durante o processo de fermentação e da utilidade
do calor como indicador da viabilidade metabólica.
INFLUÊNCIA DO AMBIENTE NO CRESCIMENTO
CELULAR
• A habilidade de um microrganismo crescer e
sintetizar produtos em um dado ambiente é
determinado pelo microrganismo (m.o);
• O desenvolvimento bem sucedido de
processos de fermentação é dependente,
primeiro da obtenção de boas linhagens por
isolamento e mutação, segundo, dos
parâmetros ambientais no crescimento celular
e formação de produto, principalmente
temperatura e pH.
Efeito da Temperatura no Crescimento Celular
Crescimento microbiano e formação de produto são
resultados de uma complexa série de reações químicas.
Como elas, eles são influenciados pela temperatura da
seguinte forma:
tipos de curvas crescimento-temperatura
Efeito da Temperatura no Crescimento Celular
A maioria dos m.os crescem num intervalo de temperatura
entre 20 e 40 oC;
µ pode ser dado pela equação de Arrhenius:
µ = Ae-Ea/RT
α = A’e-Ea’/RT
A e A’ = constante (h-1)
Ea e Ea’ = energia de ativação (cal/mol)
Morte R = 1,98 cal/mol K
Crescimento
T = temperatura (K)
µmax α = velocidade específica de morte (h-1).
µ = velocidade específica de crescimento (h-1

(1/T)

A velocidade de crescimento cresce rapidamente quando a


temperatura aumenta até a temperatura ótima, mas a partir
dessa, o crescimento cai também rapidamente;
A maioria dos m.o. apresenta o seguinte comportamento:
Efeito da Temperatura no Crescimento Celular
• A energia de ativação para crescimento varia de 15-
20kcal/mol e para morte de 60-70kcal/mol;
• Assim a velocidade específica de morte é muito mais sensível
à temperatura que a de crescimento.
• A temperatura também pode afetar outros aspectos
importantes do crescimento microbiano como Yx/s;
• Na produção de biomassa o importante é atingir a máxima
conversão de substrato à massa celular;
• Assim o coeficiente de rendimento Yx/s celular é de principal
interesse;
• Esse coeficiente de rendimento é mostrado na figura a seguir
para crescimento de bactérias em metanol, em função da
temperatura.
Efeito da Temperatura no Crescimento Celular

Yx/s

45 50 55 60 65
T(oC)
Efeito do pH no Crescimento Celular
µ Escherichia coli

µmax (bactéria)

5,0 6,0 7,0 8,0 9,0 10,0 pH

Bactérias pH 4
–8
Leveduras pH
3–6
Fungos pH 3 –
7
Efeito do pH no Crescimento Celular
• Como consequência o pH deve ser controlado nos seus
valores ótimos para melhorar a performance do processo;
• Durante a fermentação, o pH tem uma tendência a mudar por
várias razões;
• Quando a fonte de N é um sal de amônio NH4+ o m.o.
incorpora da forma R-NH3+ liberando H+, portanto o pH
diminui;
• Quando a fonte de N é NO3-, o m.o. remove H+ do meio para
reduzir o NO3- a R-NH3+ logo o pH aumenta.
• Outra razão para variação do pH ocorre quando ácidos
orgânicos são produzidos (ácido lático, pirúvico, acético e
etc.).
• Através da medida do ácido ou álcali adicionado para
neutralizar a mudança de pH, é possível obter informações
sobre crescimento (X) e formação de produto (P).
Efeito do pH no Crescimento Celular
A Figura abaixo mostra a relação entre a massa de NH4OH
adicionado ao cultivo para controle de pH e a concentração
celular.
O microrganismo utilizado foi E. coli BL21(DE3)pLysS para
produção da proteína recombinante Troponina C

X (g/L)
X = 0,68 +
0,85(NH4OH)
E. coli
BL21(DE3)pLysS

NH4OH (g)
Efeito do pH no Crescimento Celular

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