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dos Reis
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Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
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mover para todos os espaços da sua xícara até que sua concentração seja a
adequada;
• Quanto tempo o cheiro perfume dentro do banheiro permanecerá forte
(concentração acima de um valor considerado agradável) após um jovem
borrifá-lo no corpo? Para o cheiro ficar menos intenso, uma quantidade finita de
moléculas do aroma emitidas em uma borrifada deverá se mover da região de
onde as gotículas de perfume evaporaram em direção ao seio da corrente de ar
que corre fora do banheiro, diminuindo sua concentração na origem ao longo do
tempo;
• Quanto tempo levará para uma blusa secar no varal do meu apartamento? As
moléculas de água de sua blusa vão se transferir para a fase gasosa na superfície
da blusa para então se moverem para o seio da corrente de ar que passa em torno
do varal.
Em todos esses casos, deseja-se saber a taxa mássica que uma determinada espécie
química de interesse atravessa um espaço nas suas diferentes direções (volume de interesse).
Definido este espaço, observa-se que, em cada direção, há uma área transversal pela qual as
espécies estão atravessando para entrarem ou saírem do espaço de observação. Neste contexto,
conhecendo-se a área disponível para o transporte de massa em um determinado ponto de
observação, as taxas mássicas (ou de quantidade de matéria) são obtidas se tivermos
informações dos fluxos mássicos (ou de quantidade de matéria) das espécies. O fluxo (mássico
ou de quantidade de matéria) é, portanto, a variável fundamental dos fenômenos de
transferência de massa e é definido como a quantidade de uma determinada espécie química
que passa por uma unidade de área em um determinado intervalo de tempo, i.e.,
á $
= ⃗ =
"" ! " # !
é "" &" á! (I.1)
% -⋅ /( (0 !1 çã($
#' "( ) # ! "* + ," !* +
4
= 5⃗ =
6& " é! "" ! " # ! $
é "" &" á! (I.2)
% -⋅ /( (0 !1 çã($
#' "( ) # ! "* + ," !* +
Como podemos observar, ao longo deste curso, os símbolos minúsculos serão adotados
para grandezas mássicas e os símbolos maiúsculos para grandezas molares.
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a) Concentração mássica:
ρi [massa da espécie química i por unidade de volume da solução];
7 =
89
8
[concentração mássica da espécie química i dividida pela concentração
mássica total];
sendo ρ é a concentração mássica total :; = ∑>?
=@A ;= B e nc é número de componentes da
mistura.
=
D9
D
[concentração da espécie química i dividida pela concentração total];
Para misturas gasosas, é comum utilizar o símbolo K para denotar frações molares.
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E = E=
89 8
L9 L
e (I.3)
onde é a massa molar média de uma mistura definida pelas seguintes expressões:
= ∑"*
G M9
= ∑"*
@G @G
L L9
ou (I.4)
I.3 – Velocidades
= ∑"*
∑OP ∑OP
N⃗ = 9QR 89 1⃗9
∑S9QR 89
= 9QR 89 1⃗9
@G 7 N
⃗
8
(I.5)
Cabe ressaltar que a velocidade que aparece na equação do Movimento (Balanço de Momento)
é a velocidade média mássica (N⃗), definida pela Eq. (I.5).
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O termo convectivo (Y⃗* ou Z⃗* ) deve ser interpretado como o movimento das moléculas
de uma determinada espécie devido ao choque com as moléculas das demais espécies presentes
na mistura e, portanto, deve estar relacionado à velocidade média da mistura (N⃗ ou T⃗ ).
Como já foi mencionada, a transferência de massa trata da descrição do movimento de
um componente de uma mistura em relação ao comportamento da mistura, que pode estar em
movimento ou em repouso. A descrição do movimento da mistura pode ser feita através de
fluxos e taxas de transferência de massa, que, por sua vez, se relacionam com as velocidades
de cada espécie e da mistura como um todo.
dz
z
`⃗
dy x
dx
y
V=\⋅ (I.10)
e a quantidade do componente i presente nesse elemento de volume é dado pelo produto da sua
concentração e o volume da solução (A⋅dx⋅ci). Sendo ] a taxa molar desse componente, pode-
se determinar o tempo necessário para todo o volume atravessar a área pontilhada pela seguinte
expressão:
X=
^⋅ '⋅*9
_9
(I.11)
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N⃗ = =
' ' (I.12)
a⋅bc⋅P9
d9
d9
e⃗9
N⃗ a
ou N⃗ (I.13)
*9 *9
sendo o Fluxo Global do meio ou solução dados por 5⃗ ∑5⃗ e a sua concentração total,
∑ , de maneira análoga, define-se a velocidade média molar da mistura, em relação a eixos
fixos como:
∑e⃗9
T⃗
∑*9 1⃗f
(I.14)
∑*9 ∑*9
5⃗ ⋅ T⃗ e 5⃗ ∑ N⃗ (I.15)
h⃗
dz
z
h⃗
dy x
dx
y
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algumas abelhas tem a velocidade N⃗ para um observador externo e tem a velocidade de difusão
para um observador que se move à velocidade T⃗ do enxame.
O fluxo correspondente à velocidade de difusão do componente i, no referencial que se
move à velocidade T⃗ , dá-se o nome de Fluxo Difusivo do componente i (Z⃗). Desta forma,
Z⃗ = iN⃗ − T⃗ j ou Z⃗ = N⃗ − T⃗ (I.16)
T⃗ = * ⋅ N⃗ = 5⃗
e ⃗
mas e então,
Z⃗ = 5⃗ − *9 ⋅ 5⃗ 5⃗ = Z⃗ + ⋅ 5⃗
*
ou (I.17)
Assim, para uma mistura binária, A e B, o Fluxo Total do componente i, isto é, aquele
observado em um ponto fixado no referencial inercial, pode também ser expresso pela seguinte
equação:
sendo o primeiro termo do lado direito denominado por fluxo difusivo, responsável pelo
deslocamento da espécie em relação à mistura, enquanto o segundo termo corresponde ao
deslocamento do componente A, devido ao movimento da mistura como um todo (parcela
advectiva do fluxo). Aplicando o operador somatório na Eq. (I.16), tem-se:
⃗ ⃗
@G Z = ∑ @G iN⃗ − T j = ∑ @G
∑"* "* "*
N⃗ − T⃗ ∑"*
@G = ∑"* ⃗ ⃗ ⃗ ⃗
@G 5 − T = 5 − 5 = 0 (I.19)
Logo, um sistema formado pelo conjunto de nc-equações para os nc-fluxos individuais por
componente, do tipo
seria linearmente dependente e não poderá ser resolvido sem a inclusão de uma expressão
adicional envolvendo os fluxos. De maneira análoga se pode definir fluxos mássicos, difusivos
e total da mistura, em relação à velocidade média mássica da mistura:
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⃗ = Y⃗ + 7 ⋅ ⃗ = Y⃗ + 7 ⋅ : ⃗G + ⃗l +. . . + ⃗"* B (I.22)
Y*⃗ = m N⃗ (I.23)
acompanhado pelo balanço de momento. Por outro lado, sempre que houver reação química ao
longo da difusão sugere-se trabalhar com fluxos molares (Eq. I.20).
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II – Modelos de Fluxo
Os primeiros estudos sobre difusão se dividiam em estudos com gases e com líquidos.
Os estudos com gases eram de interesse daqueles que procuravam entender melhor os átomos.
Os estudos com líquidos eram, em geral, ligados à Medicina e Fisiologia, para entender melhor
o transporte biológico.
No estudo da transferência de massa, os sistemas contêm dois ou mais constituintes,
cujas concentrações variam de ponto a ponto. Nesses casos, existe uma tendência natural à
transferência de massa, visando minimizar as diferenças de concentração dentro do sistema. O
transporte de um ou mais constituintes, de uma região de potencial químico elevado para outra
de potencial químico baixo, é chamado de transferência de massa.
Teoria de Stefan-Maxwell
Existem duas propostas para o cálculo do
Fluxo Difusivo
1a Lei de Fick;
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A. Fick
J. C. Maxwell J. Stefan
Figura II.2 – J.C. Maxwell e J. Stefan os grandes pais da difusão (Taylor e Krishna, 1993)
Tarefa: Escreva nesse quadro por que o nível de água se elevava dentro do tubo ao longo
do tempo e como Graham chegou a sua conclusão.
Mais tarde, Graham (1850) passou a fazer experiências com líquidos. Em uma de suas
experiências, ele usou dois frascos conectados pelas bocas abertas, um contendo uma solução
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de cloreto de sódio (em baixo) e a outra, maior, com água (em cima). Após vários dias, ele
analisava o conteúdo dos dois bécheres.
Os resultados eram simples, mas foram suficientes para o elegerem para a Royal Society
aos 30 anos de idade:
a) a difusão em líquidos era pelo menos alguns milhares de vezes mais lenta do que em gases;
b) a difusão ficava mais lenta a medida o gradiente de concentração tornava-se menor;
c) o fluxo difusivo era proporcional à diferença de concentração entre o sal e a água pura;
d) a difusão era um processo diferencial, envolvendo volumes infinitesimais.
Tarefa: Escreva nesse quadro o que ele observou ao analisar as condutividades elétricas
nos dois frascos ao longo do tempo e explique cada uma das suas conclusões acima.
Em outras palavras, a difusão pode ser descrita na mesma base matemática que a lei de
Fourier (1822) da condução de calor ou a lei de Ohm, para a condução de eletricidade. De fato,
esta analogia é ainda uma ferramenta de uso pedagógico muito útil.
Fick (1955) reconheceu muito mais claramente do que Graham que a difusão era um
processo dinâmico a nível molecular. No início, Fick parecia um pouco nervoso em relação às
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suas hipóteses, mas se tornou mais confiante quando observou que as suas hipóteses estavam
consistentes com os resultados de Graham.
Z⃗ ∝ −o⃗ : X B
∂Ci
J i = − Di 1a Lei de Fick
∂Z (II.1)
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Posteriormente, visando garantir a consistência da Lei de Fick com a abordagem mais geral de
Stefan-Maxwell, determinou-se que a Lei Fundamental de Fick, na sua forma tridimensional,
deveria ser reescrita da seguinte maneira para uma solução binária:
v Z = v E iN⃗ − T⃗ j = v E iN⃗ − T⃗ j = v E N⃗ − T v E
@G @G @G @G @G
"* "*
∑"*
@G E N
⃗
= v E N⃗ − vE
E
@G @G
= ∑"* ⃗ − ∑"*
@G E N @G E N @G D = ∑ @G E N
⃗ ∑"* ⃗ − ∑"* ⃗ ∑"*
@G E N =0
9 "* D
@G (II.4)
então
5⃗ = −EU ∇⃗ + E T⃗ (II.12)
⃗ − mU ∇⃗7 + m N⃗ (II.13)
sendo o primeiro termo do lado direito denominado por fluxo resultante da contribuição
difusiva (ou Fluxo Difusivo) e o segundo termo denominado por fluxo resultante do movimento
global do meio ou solução (Fluxo Advectivo ou Convectivo). A 1a Lei de Fick na forma mássica
é recomendada sempre que a equação da continuidade (balanço de massa) for resolvida
simultaneamente à equação do movimento (balanço de momento), pois é a velocidade média
mássica que surge nesta última.
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Para entender as limitações da 1a Lei de Fick, é possível demonstrar que este modelo é
uma versão simplificada da abordagem mais geral de Stefan–Maxwell (Taylor e Krishna, 1993).
Esta proposta, além de descrever o transporte em sistemas multicomponentes, leva em conta a
não-idealidade termodinâmica e a influência de outros campos de força externos.
Por uma questão didática, antes de apresentar o caso mais geral da equação de Stefan-
Maxwell para sistemas multicomponentes, será descrito o transporte em um sistema binário
ideal formado pelos componentes gasosos A e B. Neste caso, será assumido que todas as
moléculas de um mesmo componente (A ou B) movem-se com a mesma velocidade em relação
ao referencial inercial, entretanto moléculas diferentes movem-se com velocidades diferentes
(módulo, direção e sentido). Por uma questão de simplicidade, será analisado, inicialmente, o
caso de estarem movendo-se na mesma direção (direção z). Por apresentarem velocidades
diferentes, a razoável assumir que, devido à transferência de momento entre as diferentes
moléculas, uma substância exerce uma força de arraste (ou atrito) sobre a outra. Assim,
assumindo válida a 2a Lei de Newton (Taylor, Krishna, 1993), tem-se
O momento poderá entrar e sair deste volume de controle devido ao movimento das
moléculas atravessando as fronteiras do elemento. Entretanto, se o elemento de volume caminha
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com a velocidade média da mistura, T⃗ , então a taxa de variação de momento do sistema é nula
(Taylor, Krishna, 1993). Ao longo do volume de controle, as moléculas da espécie A podem
transferir momento (perder ou ganhar) devido às colisões com as moléculas dos outros
componentes da mistura (em sistemas não ideais, os potenciais de interação e a geometria das
moléculas também devem influenciar este processo de transferência).
Assumindo ausência de campos externos atuando sobre o elemento de volume (ex.:
gravidade, campos elétricos, centrífugos, etc), têm-se apenas as forças de superfície, devido as
pressões atuando em cada face, e as tensões de cisalhamento devido aos gradientes de
velocidade. Assumindo que a mistura (sistema como um todo) está em repouso no referencial
inercial, pode-se concluir que não há variações de pressão ao longo de z. Entretanto, analisando
individualmente as espécies que compõem a mistura, observa-se variações de pressão parcial
ao longo do volume de controle. Desta forma, apesar da pressão total ser mantida constante em
todo o elemento de volume, a contribuição individual de cada componente varia. Esta variação
é somente justificada devido às colisões que este componente sofre com as moléculas das
demais substâncias presentes na mistura. A probabilidade de ocorrência de tais colisões
dependerá das composições de cada uma das espécies no meio e da velocidade relativa entre as
mesmas. Assim (Taylor, Krishna, 1993),
: ^ \B|q −: ^ \B|q{|q ∝ ^ k :N
⃗^ − N⃗k B (II.14)
−∇⃗ ^ = V^k ^ k :N
⃗^ − N⃗k B. (II.15)
Sendo −∇⃗ ^ a força atuando sobre o componente A, por unidade de volume de mistura,
fazendo-o mover através das moléculas do componente B com uma velocidade relativa
:N⃗^ − N⃗k B. ^ k é a probabilidade de choques entre essas espécies distintas na mistura e V^k é
o análogo ao coeficiente de atrito ou de arraste (Taylor, Krishna, 1993). A representação
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V^,k ≡ Ð
/
. (II.16)
a,t
− €/• ∇⃗
G 'a 't :1⃗a ‚1⃗t B
^ (II.17)
Ða,t
− €/• ∇⃗
G 't 'a :1⃗t ‚1⃗a B
k Ðt,a
(II.18)
Lembrando que, para sistemas onde a pressão total ( ) é constante ao longo do volume, as Eqs.
(II.17) e (II.18) podem ser reescritas da seguinte forma
−∇⃗
'a 't :1⃗a ‚1⃗t B
^ (II.19)
Ða,t
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−∇⃗
't 'a :1⃗t ‚1⃗a B
k Ðt,a
(II.20)
−∇⃗ ∑"*
'9 'ƒ i1⃗9 ‚1⃗ƒ j
w@G Ð9,ƒ
(II.22)
Assume-se, portanto, que o atrito total atuando sobre a espécie i é a soma das contribuições
individuais exercidas por cada uma das demais espécies do meio contínuo (mistura). A
representação esquemática dessa suposição é apresentada na Figura II.5 para uma mistura
ternária.
Por ainda utilizar explicitamente o conceito de velocidade absoluta das espécies, a Eq.
(II.22) é inadequada para cálculos de engenharia. Multiplicando ambos os lados da Eq. (II.22)
pela concentração total do sistema (da mistura), E e lembrando que o fluxo total de um
componente é dado por 5⃗ = E N⃗ , tem-se
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∇⃗
i'9 e⃗ƒ ‚'ƒ e⃗9 j
= ∑"*
w@G (II.23)
Ð9,ƒ
ou ainda,
∇⃗
i'9 „⃗ƒ ‚'ƒ „9 j
= ∑"*
w@G Ð9,ƒ
(II.24)
Até aqui, a discussão se limitou a misturas de gases ideais. Visando generalizar para
soluções não-ideais, multiplica-se ambos os lados da Eq. (II.24) por …†⁄ e recupera-se a
definição de potencial químico para soluções ideais (SMITH e VAN NESS, 1987):
ˆ = …† ln (II.25)
ou ainda,
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oˆ + oŒ• + oŽ + oŒ• + ⋯ =
sendo oŒ• o gradiente de energia interna devido a um diferencial de pressão total ao longo do
volume de controle, oŽ e oŒ• são os gradientes de potencial elétrico e centrífugo,
respectivamente.
ˆ = …† (II.28)
=‘ (II.29)
Aplicando a regra da cadeia na Eq. (II.27), tem-se para o caso unidirecional (direção z):
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Na Eq. (II.30), ˆ ⁄ pode ser reescrito utilizando as Eq. (II.28) e (II.29) da seguinte forma
™
˜R,–
= €1 + G p' •
p +" •R
ÐR,–
(II.36)
R
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A partir desta comparação, pode-se afirmar que a 1a Lei de Fick é rigorosamente válida apenas
sob o seguinte conjunto de condições:
1. misturas binárias ideais - Quando se tratar de misturas não-ideais, ainda assim pode-se
utilizar a 1a Lei de Fick, entretanto, o coeficiente de difusão perde o seu sentido físico,
pois incorpora a não idealidade do sistema. Neste caso, ele só pode ser obtido a partir
de dados experimentais e/ou modelos complexos que incorporam o potencial químico.
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N X ¢ ,
E 44 X 1
€ •=• Ÿ∙¡ V 4 ç £
Œ éX4 4 Xê
X
Fazendo um paralelo a Lei de Ohm, é possível propor uma expressão empírica para o
Fluxo Total de uma determinada substância da seguinte forma:
1 UV 4 ç
€ •=• Ÿ∙• Ÿ
Xé4 4 Xê E X4 çã
ou
N⃗ = ¥E ∙ :E − E ¦ B (II.37)
sendo, ¥D denominado por coeficiente de transferência de massa, que pode ser interpretado
como o inverso à resistência que o meio oferece a transferência de massa e tem dimensão de
velocidade (L⋅s-1); E e E ¦ são as concentrações do componente i na interface com o contorno
ativo (interface de fase ou superfície reativa) e no seio do escoamento (extremidade da camada
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limite mássica, a partir da qual não se observa, por hipótese, variações de concentração
transversais ao escoamento do fluido). Ao longo dessas notas, será mostrado que o coeficiente
de transferência de massa depende de fenômenos moleculares e das características do meio
de transporte: geometria e condições de escoamento.
Esta abordagem é mais simples, recomendada para modelar a transferência de massa de
substâncias na direção ortogonal ao escoamento de fluidos, quando há uma interface de fase
e/ou uma reação química (superfície ativa) em um dos contornos de uma camada limite de
momento. Nestes casos, são identificados gradientes locais de concentração nas proximidades
do contorno ativo, caracterizando uma camada limite mássica. Por não apresentar dimensão
conhecida, a abordagem em parâmetros distribuídos torna-se inadequada. Desta forma, assume-
se, por hipótese, que a camada limite mássica representa um perfil de concentração linear,
podendo, portanto, utilizar a Eq. (II.36) para representar o Fluxo Total. Existem diversos
trabalhos na literatura que adotam a Eq. (II.36) em outros cenários físicos, onde a hipótese de
perfil de concentração linear é uma aproximação grosseira do cenário real. Nesses casos, o
modelo final encontrado deveria ser utilizado apenas para cálculos preliminares.
Ao longo da história, cientistas estão sempre buscando expressar seus resultados da
maneira mais geral e fundamental possível. Neste sentido, sugere-se adotar os modelos
fundamentais, como a 1a Lei de Fick ou a abordagem de Stefan-Maxwell para descrever
matematicamente os fenômenos de transferência de massa. Entretanto, em muitos problemas
de engenharia, os experimentos e estratégia de scale up adotam procedimentos mais
aproximados que requerem menos informações fenomenológicas. Nestes casos, são
frequentemente adotadas estratégias mais simples, utilizando o conceito do coeficiente de
transferência de massa. Os modelos encontrados devem se limitar a descrever o fenômeno nas
condições dos experimentos e o coeficiente de transferência de massa deve ser utilizado como
parâmetro de scale up. Por essa abordagem mais simples, não será possível descrever os perfis
de concentração, pois apenas o fluxo, assumido constante ao longo do meio difusional, será
calculado.
Resumindo, os modelos baseados em coeficiente de difusão fornecem resultados mais
fenomenológicos que aqueles baseados em coeficiente de transferência de massa. Em termos
matemáticos, os modelos baseados em gradientes apresentam parâmetros distribuídos, por isso
permitem modelar a dependência das variáveis dependentes (concentração) como uma função
das variáveis independentes (posição e o tempo). Por outro lado, os modelos baseados em
coeficiente de transferência de massa apresentam parâmetros concentrados, fornecendo apenas
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¥D = ˜9§
+
(II.38)
sendo a espessura do gradiente de concentração. A Eq. (II.37) será imposta sempre que esta
espessura for desconhecida. Nas demais situações, a seleção do modelo de fluxo será mais uma
questão de gosto do que de precisão. Por outro lado, sempre que os perfis de concentração forem
necessários para a descrição do fenômeno, será exigido uma abordagem baseada nos modelos
baseados em coeficiente de difusão.
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y P Q L=2λ
x L
λ λ
Figura III.1 – Elemento de volume infinitesimal.
Os volumes dos elementos P e Q (T• e T_ ) são iguais e podem ser calculados a partir do
produto da área ¨ transversal ao eixo K e o comprimento ©. Define-se, então, © como o livre
percurso médio, isto é, a distância média percorrida por uma molécula entre duas colisões
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sucessivas. Considere que não há nenhum gradiente de potencial químico e nem de pressão
nesse elemento de volume.
O que você acha que está acontecendo com as moléculas dentro do elemento de
volume? As moléculas estão paradas ou em movimento?
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probabilidade desse potencial ser criado na direção K é 1/3. Então, para este movimento, define-
se a seguinte relação para o fluxo difusivo:
Z^ = − =−
ª1a "a ª1a Da
-ea« ° - °
(III.2)
Comparando a Eq. (III. 2) à 1a Lei de Fick (Eq. II.1), é possível propor, a partir da Teoria
Cinética dos Gases, a seguinte relação para o coeficiente de difusão Fickiano em gases diluídos:
U∝
ª1a
-
(III.3)
© ∝ "^
G
(III.4)
¶S·O¸
A energia cinética, Œ , de uma partícula “A” pode ser expressa por duas abordagens:
Mecânica Clássica: Œ = l ^ N^
G l
• , onde ^ é a massa da partícula:
-¹‹ G/l
N^ = € • (III.5)
a
¹‹ G/l
U ∝ "^ € •
G
(III.6)
¶S·O¸ a
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G/l
U^k ∝ € + •
G ‹ ‹
"^¶S·O¸ La Lt
(III.7)
sendo a massa molar do componente “i”. A raiz quadrada da constante universal dos gases
foi incluída na proporcionalidade (¥/ = …/ ). Particularizando a proporcionalidade da Eq.
(III.7) para o caso de gases ideais ( = º/¥†), tem-se a seguinte igualdade:
G/l
U^k = € + •
»′‹ ¼/– G G
•^¶S·O¸ La Lt
(III.8)
sendo ½′ uma constante de proporcionalidade que incorpora todos os termos constantes que
surgem da derivação da Eq. (III.8).
A Eq. (III.8), apesar de simplificada, é capaz de descrever várias das tendências
observadas, experimentalmente, no caso de difusão em gases:
• Quanto maior a temperatura, maior é a energia cinética das moléculas e,
consequentemente, maior será a mobilidade no meio;
• Quanto maior a pressão do sistema, maior é a densidade do meio e maior é a
possibilidade de choques entre moléculas. O aumento dos choques provoca uma
queda na mobilidade;
• Quanto maior for o tamanho da espécie que se difunde (isto é, maior \ ! " ), maior
é sua probabilidade de choques e, consequentemente, menor será sua mobilidade.
A partir da teoria Cinética dos Gases (Eq. III.8), diversos modelos semi-teóricos foram
propostos para se calcular o coeficiente de difusão em gases:
sendo U^k o coeficiente de difusão do modelo de Fick em m2/s, T (m3/kmol) é o volume molar
na temperatura normal de ebulição do componente “i” (temperatura na qual são vencidas as
energias de interação), é a pressão em atmosferas e é a massa molar do componente “i”
em kg/kmol. Nesta equação, a área transversal da molécula foi aproximada pelo quadrado da
raiz cúbica do seu volume molar na temperatura normal de ebulição.
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‹ R,ÂÃ G G G/l
U^k 1,0 10‚- R/¼ –
€ + • (III.10)
R/¼
/€:∑ 1Ba {:∑ 1Bt • La Lt
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(iii) O gás é diluído, ou seja, o caminho livre médio é grande comparado ao diâmetro das
moléculas;
(iv) Caos molecular, que assume a ausência de correlações entre momentos, ou seja,
velocidades e entre posições
Chapman e Enskog, trabalhando separadamente, propuseram na mesma época uma
modificação na Eq. (III.8) que, descartando a hipótese de esferas rígidas, incorpora o modelo
de energia potencial de Lennard-Jones 6-12 para relacionar as forças atrativas e repulsivas entre
os átomos no modelo de coeficiente de difusão para gases.
‹ ¼/– G G G/l
U^k 1,858 10‚- •Æ– €L + L • (III.11)
at ÇÈ a t
sendo T a temperatura absoluta (K), p a pressão em atm, É^k o diâmetro molecular cruzado das
moléculas “A” e “B” em Å e ʘ é a integral de colisão, que é uma função adimensional da
temperatura e do potencial de interação intermolecular entre duas moléculas “A” e “B” (ʘ
V:¥†/Ë^k B). Esta função representa o afastamento do fluido do modelo de esferas rígidas e
pode ser expressa pela seguinte equação:
^ D Ð Ò
ʘ :†∗ Bt
+ ÍÎÏ:˜†∗B + ÍÎÏ:ц∗B + ÍÎÏ:Ó†∗B (III.12)
¹‹
sendo † ∗ Ôat
e as constantes A-H apresentam valores universais listados na Tabela III.1. O
desvios médios observados nas estimativas calculados pela Eq. (III.11) estão em torno de 8%
quando comparados com valores experimentais (Cussler, 1997). Dados experimentais de
coeficientes de difusão mutua para alguns pares de substâncias em fase gasosa a 25oC
encontram-se disponíveis nas págs 102-104 do livro do Cussler (1997).
Æ Gl Æ Ö
ŒÕ„ :4^k B 4Ë^k %€!at • g €!at • - (III.13)
at at
33
Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
___________________________________________________________________________
Nas Eqs. (III.11) a (III.13), É^k e Ë^k denotam o diâmetro molecular cruzado e o parâmetro
de energia cruzado no potencial Lennard-Jones, respectivamente, e 4^k é a distância entre os
centros de duas moléculas “A” e “B”. Esses parâmetros moleculares são calculados a partir das
seguites regras de combinação:
Æa {Æt
É^k ; (III.14)
l
Pela Figura III.2, nota-se que o potencial de Lennard-Jones considera que a atração entre
duas moléculas aumenta à medida que elas se aproximam até uma distância limite onde o termo
de repulsão começa a predominar. Nesse modelo, apesar da forte repulsão, as moléculas podem
se sobrepor e o potencial tende a zero no infinito. Este modelo de potencial intermolecular é
capaz de representar algumas importantes tendências observadas experimentalmente em
fluidos, tais como, separação de fases e presença de ponto crítico.
34
Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
___________________________________________________________________________
•R ‹– -/l ÇÈ :‹R B
U^k :†l , ºl B U^k :†G , ºG B € • Ç :‹ B (III.16)
•– ‹R È –
• ‹ -/l
U^k :†l , ºl B U^k :†G , ºG B •R €‹–• (III.17)
– R
Solução (reparem que a equação utilizada está diferente. Isso se deve às unidades das variáveis de entrada e do
D calculado. Fiquem atentos, pois a mesma equação poderá apresentar constantes diferentes em função das
unidades adotadas):
Ôa
É^ = 2,827 x 10-10 m = 59,7 K
¹
Ôt
Ék = 2,900 x 10-10 m = 558,3 K
¹
Æa {Æt
É^k = 2,8635 x 10-10 m
l
¹‹ lÀ×
= = 1,632
Ôat G×l,ØÙ
ʘ = 1,158
G G
+ = 0,5588 mol/g
La Lt
35
Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
___________________________________________________________________________
Para uma mistura que contenha componentes polares, Brokaw (1969) sugeriu a seguinte
correlação na integral de colisão (Cremasco 2002):
–
áat
ʘ ʘ∗ + €0,196 ‹∗
• (III.18)
sendo ʘ∗ é obtida pela Eq. (III.12). O termo cruzado relacionado à polaridade é obtido como a
média geométrica dos valores dos componentes puros, obtidos pela Eq. (III.20).
G,Àã'GÚ¼ ’ä
–
â Áå9 ‹å9
9
(III.20)
sendo ˆ/9 o momento dipolar da molécula i em debyes. Valores de ˆ/9 para podem ser
encontrados na Tabela 1.2 da página 52 do livro do Cremasco (2002). Além da correção na
integral de colisão, Brokaw (1969) sugeriu alterações na estimativa tanto do diâmetro de colisão
quanto do mínimo da energia potencial de moléculas polares, seguindo as seguintes expressões:
G,Ø×ØÁå G/-
É % G{G,-á–9 - (III.21)
9
Ô9
¹
1,18:1 + 1,3â l B†09 (III.22)
Para este tipo de molécula, sugere-se média geométrica tanto para o parâmetro de energia
(Eq.III.15) quanto para o diâmetro de colisão:
36
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___________________________________________________________________________
- ¹‹ G/l
UÚ –
€ • (III.24)
×8Æ ç
37
Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
___________________________________________________________________________
- ¹‹ G/l
:UÚD BGl – €lç • (III.25)
×8ÆR– R–
Para fluidos puros densos, segue a seguinte equação para o coeficiente de autodifusão de
Enskog UÐ :
˜Ü
UÐ (III.26)
è:ÆB
sendo ¢:ÉB a função de distribuição radial avaliada no ponto de contato. Analisando a Equação
(III.26), verifica-se que à medida que a densidade aumenta, a difusão tende a zero, pois a função
de distribuição radial tende ao infinito. Por outro lado, quando a densidade tende a zero, ¢:ÉB
tende a um e UÐ tende a UÚ . Este modelo, apesar do seu rigor teórico, ainda é limitado para
descrever o processo de difusão em alguns sistemas a altas densidades. Por essa razão, um
grande número de correlações empíricas tem sido proposto para fluidos densos, tornando
possível descrever o fenômeno da difusão em sistemas cada vez mais complexos.
Recentemente, tem-se destinado muita atenção para o estudo das propriedades dos
fluidos simples, isto é, fluidos que interagem via potencial intermolecular de esferas duras (ED),
poço quadrado (PQ) ou Lennard-Jones (LJ). O estudo dos modelos envolvendo fluidos
hipotéticos torna mais simples o entendimento do efeito das interações moleculares sobre suas
propriedades macroscópicas. Além disso, a comparação dos resultados obtidos com esses
modelos aos dados experimentais de sistemas reais, possibilita verificar o quanto o modelo de
fluido adotado se aproxima do sistema real (Liu et al., 1998). Com relação às propriedades de
transporte, a simulação molecular se destaca por fornecer dados de difusão para os fluidos
descritos acima a partir de modelos baseados em hipóteses bem definidas, tornando-o rigoroso
dentro dos limites físicos utilizados nos modelos de fluido (forma, tamanho, potencial de
interação, etc.). Dessa forma, o caminho da dinâmica molecular para o estudo da difusão em
fluidos simples gera informações importantes, que são utilizadas no desenvolvimento de
correções empíricas ao modelo original de Enskog. Esse tipo de procedimento, denominado por
Teoria da Perturbação, vem sendo utilizado frequentemente na literatura (Dymond, 1985;
Speedy, 1987; Heyes, 1988; Sun et al., 1994; Ruckenstein e Liu, 1997; Yu e Gao, 1999)
38
Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
___________________________________________________________________________
trazendo grandes avanços à teoria de Enskog para o estudo da difusão em fluidos mais
complexos e em faixas mais amplas de temperatura e densidade.
Uma comparação entre os dados de simulação publicados e os modelos desenvolvidos é
apresentada na Tabela III.2.
¹‹
†∗ , m∗ m5É - , U∗ UéÔÆ– , (III.27)
Ô
39
Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
___________________________________________________________________________
44 çã
˜¸9§ è:ÆB
X 4 (III.28)
˜Ü
sendo o subscrito sim indica que esse coeficiente foi obtido por simulação molecular (dinâmica)
para um fluido hipotético qualquer.
O termo de correção incorpora o afastamento da nova equação do modelo de moléculas
monosegmentadas que se interagem a partir de um potencial de esferas duras em baixas
densidades. Ele pode ser função de densidade, temperatura e até do tamanho de cadeia. Sua
estrutura funcional dependerá do modelo de fluido que se deseja representar.
Dependendo do modelo de fluido adotado e da faixa de densidade e temperatura
utilizada para obtenção dos dados de simulação, é possível construir equações para o cálculo
de coeficientes de difusão, desde gases diluídos simples até líquidos formados por moléculas
polisegmentadas no limite de densidade de líquido (ex.: polímeros). O leitor interessado poderá
utilizar alguns dos podemos propostos pela teoria cinética para difusão em líquidos revisitando
os trabalhos listados na Tabela III.2.
î^ä 8t 1 –
=
l
(III.29)
40
Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
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= 3ñ ^ ðk :N^ − Nk B (III.30)
A equação (III.30) considera que a força de arraste que atua sobre uma molécula de A
deve-se apenas ao atrito desta com as moléculas de B circunvizinhas, então, a força de arraste
resultante sobre um mol de moléculas do componente A é o somatório das forças individuais
com que cada molécula contribui.
Einstein propôs a seguinte equação relacionando o coeficiente de difusão com o
coeficiente de atrito:
U=
¹‹
Ñ
(III.31)
Se a força de atrito for representada pelo modelo de força de arraste de Stokes-Einstein, obtém-
se o seguinte modelo de coeficiente de difusão para esferas rígidas a infinita diluição:
U^k =e
Ú )‹
aò -çót a
(III.32)
sendo o sobrescrito “0” representa infinita diluição. Além das considerações discutidas acima,
o modelo de força de arraste de Stokes-Einstein é rigorosamente válido somente nos casos em
que a espécie que se difunde for muito maior que as moléculas do solvente, considerado aqui
um meio contínuo. Por esse motivo, mesmo nas condições de infinita diluição de “A” em “B”,
a Eq. (III.32) falha. No sentido de melhorar sua performance frente a dados experimentais,
diversos autores propuseram modificações empíricas à equação original da teoria
hidrodinâmica, que apresenta a seguinte forma geral:
U^k =
Ú D´‹
R/¼
ót Áa
(III.33)
41
Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
___________________________________________________________________________
sendo T^
G/-
a raiz cúbica do volume molar na temperatura normal de ebulição, que procura
representar o diâmetro da molécula ( ^) e E´ uma constante não nula que incorpora os demais
termos constantes da Eq. (III.32). Os modelos propostos em alguns desses trabalhos são
apresentados a seguir:
• Wilke e Chang (1955) obtiveram uma equação baseada na Eq. (III.33) para predizer
coeficientes de difusão em soluções diluídas de não-eletrólitos:
U^k =
Ú Ù,ã'GÚÛõ :öt Lt BR/– ‹
(III.34)
ót ÁaÜ,÷
sendo U^k
Ú
o coeficiente de difusão de “A” a infinita diluição em “B” (cm2/s), T a temperatura
absoluta (K), ηB a viscosidade do fluido “B” (cP), T^ o volume molar na temperatura normal de
ebulição (cm3/mol), k a massa molar do componente “B”(g/mol) e øk o fator de associação
do solvente “B”. O termo entre parênteses :øk kB na Eq. (III.34) visa incorporar ao modelo a
influência da atração entre as moléculas do solvente e de massa molecular sobre o coeficiente
de difusão, negligenciadas na Eq. (III.33). Valores recomendados para o fator de associação
são: 1,0 para solventes apolares (ex. Benzeno, n-hexano, etc.); 1,5 para o etanol; 1,9 para o
metanol; e 2,6 para a água (Cremasco 2002). A Equação de Wilke e Chang (1955) não é
recomendada quando o soluto for água.
• Sitaraman et al. (1963) apresentam a seguinte proposta quando o soluto for água com erro
esperando em torno de 12% (Hines e Maddox, 1985):
sendo ùú^ e ùúk os calores latentes de vaporização do soluto e do solvente nas suas
temperaturas normais de ebulição (J/kg), respectivamente. Outros exemplos de equações
baseadas na teoria hidrodinâmica estão disponíveis na literatura (páginas 75-80 do livro do
Cremasco, 2002) para a estimativa do coeficiente de difusão de solutos não-eletrólitos a infinita
diluição. Cada exemplo apresenta suas limitações, que devem ser consideradas ao serem
selecionados para determinada aplicações. Os modelos diferem basicamente na maneira de
42
Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
___________________________________________________________________________
III.2.3. Teoria do estado ativado de Eyring para estimativa do coeficiente de difusão de não-
eletrólitos em fase líquida diluída
ü
ûea« Ð
ðk Át
€)‹· • (III.36)
ó
sendo ℎ a constante de Plank e Œ a energia de ativação para o deslocamento de duas camadas
de fluido B, ou simplesmente a energia de ativação da viscosidade.
Ü G{Öót /þ ä
˜at ót G
(III.37)
¹‹ -ç ä G{ãót /þ ä
sendo é o coeficiente de atrito que depende do tamanho das espécies. Se assumirmos que a
molécula A difunde através do volume livre (vagas) existente no meio e apresentarem volumes
iguais aos das moléculas de B, então torna-se igual a 0 e a Eq. (III.37) pode ser aproximada
por:
Ü
˜at ót G
(III.38)
¹‹ lç a
Ü
˜at ót G e G/-
€ a« • (III.39)
¹‹ lç Á a
43
Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
___________________________________________________________________________
Como na Eq (III.38) foi considerado que as espécies têm o mesmo tamanho, pode-se substituir
Tk por T^ na Eq. (III.36) e utilizá-la na Eq. (III.39), isto é
¹‹ Áa l/- ü
‚з ‚зÈ
U^k
Ú
€ • € • UÚ € • (III.40)
lçû ea« )‹ )‹
44
Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
___________________________________________________________________________
U^k
∗ :U^k
Ú B 't :U Ú B 'a
k^ (III.42)
U^k
∗
ð :U^k
Ú
ðk B't :Uk^
Ú
ð^ B'a (III.43)
Quando dados experimentais de viscosidade estão disponíveis, recomenda-se a Eq. (III.43) para
o cálculo de coeficientes de difusão em soluções concentradas. Cussler (1997) aponta que a
correção termodinâmica aplicada aos resultados das regras de mistura empíricas representadas
nessas notas pelas Eqs. (III.42) e (III.43) pode estar superestimada e sugere, nesses casos, elevá-
la a um expoente 0,6.
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Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
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tenham maior mobilidade que íons maiores e de maior valência, uma vez o volume camada de
solvatação dependerá de ambos aspectos do íon.
Na ausência de campos elétricos esternos, quando não há separação de cargas, as espécies
iônicas devem se difundir na mesma taxa, direção e sentido para garantir a eletroneutralidade
do meio. Nernst (1888) desenvolveu a primeira equação para predizer coeficientes de difusão
em soluções eletrolíticas (cm2/s), relacionando a difusividade à condutividade elétrica. Sua
equação é válida apenas em infinita diluição e apresenta a seguinte forma:
sendo ©GÚ a condutividade molar no limite de infinita diluição em água a 25oC, T a temperatura
absoluta e a, b e c constantes específicas para cada íon. A Tabela 1.11 da página 102 do
Cremasco (2002) apresenta valores para essas constantes para alguns cátions e ânions.
Assim como no caso dos modelos a infinita diluição para eletrólitos, as equações que se
propõe a estimar o coeficiente de difusão de íons em soluções eletrolíticas concentradas são
ainda muito limitadas (Cremasco 2002). Isso se deve fundamentalmente a complexidade do
sistema real que envolve não somente fortes interações intemolaculares (ex.: íon-dipolo), mas
também grandes diferenças entre densidades locais (mais elevada em torno do íon devido à
camada de solvatação) e densidades globais médias e elevada flutuação de tamanho das
unidades que se difundem no meio. Esta complexidade se revela, principalmente, no
46
Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
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p +" •∓ G ó
U^ U^Ú €1 + •€ •€ • (III.46)
p'§ * ∙Á óat
• :1 − 0,018 ∙ B%
p +" •∓ ˜ , ó
U^ = U^Ú €1 + p'§
,
∙ (" Ü
˜a
− ,
- €ó • (III.47)
at
,
sendo o número de hidratação do eletrólito (ex: 1,1 para NaCl; 0,8 para KCl; 0,5 para NH4Cl),
(" o número de íons formados a partir de uma molécula de soluto (ex.: 2 para NaCl; 3 para
NH4SO4) e UM,M o coeficiente de auto difusão da água a 25oC, cujo valor é 2,43 x 10-5 cm2⋅s-1.
Baseando-se em dados disponíveis na literatura, Cremasco (2002) apresenta a seguinte
expressão para a estimativa da contribuição termodinâmica nas Eqs. (III.46) e (III.47), válida
para soluções com m <4,0:
• = 1 + ∑GÚ
@G \ ∙
p +" •∓
€1 +
p'§
(III.48)
As constantes \ para alguns eletrólitos a 25oC encontram-se na Tabela 1.12 da página 105 do
livro do Cremasco (2002). Quando forem requeridos valores de coeficiente de difusão em outras
temperaturas, Poling, Prausnitz e O'connell (2001) sugere-se a seguinte correção:
U^ | ‹ = U^ |lÀ× » €lÀו
óat |– õ ‹
óat |
(III.49)
47
Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
___________________________________________________________________________
A difusão em sólidos pode ser separada em três estudos distintos: difusão em sólidos
porosos; difusão em sólidos amorfos poliméricos; e difusão em sólidos cristalinos.
Nesta seção, é apresentada uma breve introdução à difusão em materiais porosos devido
à sua importância em diversas áreas da engenharia química, tais como: catálise e reações em
sólidos porosos, reatores catalíticos, processos de separação por membranas porosas, colunas
de adsorção, peneiras moleculares, etc. Seja qual for a operação, deseja-se estimar o coeficiente
de difusão do soluto, gasoso ou líquido, difundindo por uma matriz porosa, cuja geometria e
tortuosidade dos poros (que configurarão o caminho difusional) não são conhecidas.
Quando confinada em poros, as moléculas se difundem promovendo não somente
choques entre as elas, mas também com as paredes dos poros. Tais choques adicionais, que
representarão uma resistência (atrito) adicional ao processo de difusão, ocorrerão com uma
frequência que dependerá do diâmetro do poro e do tamanho e energia cinética das moléculas
do fluido.
O coeficiente de difusão deverá incorporar esta resistência adicional e sua contribuição
é conhecida como coeficiente de difusão de Knudsen. A difusão de Knudsen ocorre quando o
diâmetro do poro é da ordem de grandeza do caminho livre médio da molécula (distância média
percorrida entre duas colisões). Para esse tipo de difusão, as moléculas colidem mais
frequentemente com as paredes do poro do que com outras moléculas do meio fluido confinado.
Tais colisões retardam o movimento das moléculas motivado pela diferença de potencial
químico. O coeficiente de difusão de Knudsen (U^,» ) é obtido a partir da teoria cinética,
relacionando o diâmetro do poro e o caminho livre médio do gás, como esquematicamente
representado na Figura III.3.
48
Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
___________________________________________________________________________
A probabilidade de choques
Para poros grandes: entre as moléculas é muito vA λ
(Difusão Ordinária) DA ∝
maior que a probabilidade 3
de choques com as paredes.
sendo © o caminho livre médio das moléculas e é o diâmetro do poro. Pela Teoria Cinética
dos Gases aplicada a um gás formado por esferas rígidas, tem-se a seguinte expressão de
velocidade:
×)‹ G/l
N^ = €çL • (III.50)
a
sendo 4 e d o raio e o diâmetro do poro, respectivamente. O raio do poro pode ser medido
experimentalmente a partir de medidas de área superficial e volume específico do poro. Como
usualmente os balanços de massa são desenvolvidos em termos de área da superfície porosa,
deve-se introduzir no coeficiente de difusão uma correção, pois apenas parte dessa superfície
está disponível para o transporte de massa. Essa correção é conhecida como porosidade do
material (Ë/ ). Os poros em sólidos reais são, na maioria das vezes, tortuosos. Esta tortuosidade
( ) interfere no caminho difusional e deve ser incorporada ao modelo de coeficiente de difusão.
Assim, o coeficiente de difusão de Knudsen efetivo assume a seguinte forma:
49
Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
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Ôä
U^,» # = U^,» (III.52)
Na Tabela 1.14 da página 114 do livro do Cremasco (2002), são encontrados valores de Ë/ e
para alguns sólidos porosos e substâncias gasosas. Na falta de informações, sugere-se utilizar
4,0 e 0,5 para e Ë/ , respectivamente, para cálculos preliminares de projeto (Cremasco 2002).
Cussler (1997) apresenta uma discussão mais detalhada sobre o efeito da tortuosidade sobre a
difusão, destacando alguns casos particulares tais como esferas sinterizadas e flocos
intercalados.
Existem, obviamente, casos onde tanto os choques com as paredes do poro, quanto os
choques entre as moléculas do meio confinado, contribuem para o retardo no movimento das
partículas. Nesses casos, o coeficiente de difusão efetivo pode ser estimado da seguinte forma:
G G G
˜a,
=˜ +˜ (III.53)
a, at
50
Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
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Volume livre de
buracos extra Volume específico de
equilíbrio do líquido
Volume específico de
VOLUME ESPECÍFICO
Volume livre
intersticial
Volume
ocupado
Tg
TEMPERATURA
sendo T o volume livre de vagas crítico específico do componente i requerido para um salto,
7 a fração mássica do componente i, a fração volumétrica do componente i, UÚ um fator
pré-exponencial constante, Œ ∗ a energia molar necessária para que a molécula supere as forças
atrativas que a mantém interagindo com os segmentos de polímero que a engaiolam, ‘ é um
fator de sobreposição que é introduzido porque o mesmo volume livre é avaliado para mais de
uma unidade de salto, † a temperatura absoluta e … a constante dos gases. Finalmente, ø denota
a razão do volume molar da unidade de salto do solvente e da unidade de salto do polímero. O
processo de difusão depende das características de volume livre do sistema através do termo
TÑÓ /‘, sendo TÑÓ o volume livre de vagas médio por massa de mistura. Para soluções soluto-
polímero elastomérico, TÑÓ /‘ pode ser calculado utilizando a seguinte equação:
acima da †è/ . Uma outra versão para o modelo de Vrentas/Duda foi sugerida por Vrentas e
Vrentas (1992) para misturas envolvendo polímero vítreo;
(iv) O volume livre específico do polímero e do solvente são considerados aditivos;
(v) O volume específico do polímero e do solvente na mistura são considerados
independentes da concentração, isto é o volume em excesso é considerado negligenciável;
(vi) O potencial químico do solvente na mistura é calculado pela equação de Flory-
Huggins, sendo o parâmetro de interação de Flory-Huggins ( /) considerado constante,
independente da temperatura, concentração e do massa molecular do polímero, para um dado
sistema polímero-soluto. A teoria de Flory-Huggins foi utilizada, pois esta fornece uma
representação simples, mas satisfatória, para o potencial químico do soluto para sistemas
polímero elastomérico-solvente. Uma expressão para o potencial químico do solvente em
sistemas soluto-polímero vítreo pode ser encontrada em Vrentas e Vrentas (1992).
(d) (e)
(a) Dois átomos trocam de posição em uma rede cristalina perfeita. Em cristais cuja
estrutura é muito empacotada, esse mecanismo não é adequado para explicar a difusão, devido
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Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
___________________________________________________________________________
à proximidade dos átomos. A difusão por esse mecanismo necessitaria de uma distorção na
estrutura cristalina, o que requer uma elevada energia de ativação;
(b) Quatro átomos da estrutura (para estruturas com número de coordenação iguais
a 4) trocam simultaneamente de posição formando um anel. O mecanismo do anel é uma
variação do mecanismo de troca direta que necessita de uma distorção menor na estrutura, mas
ainda assim requer uma elevada energia de ativação;
(c) A transferência por esse mecanismo ocorre pelo movimento de um átomo da sua
posição original para um sítio vago na rede cristalina. A difusão dependerá da probabilidade de
haver uma vaga no sítio vizinho a um átomo com energia suficiente para saltar. A energia de
ativação requerida por este mecanismo é significativamente menor comparada aos dois
anteriores;
(d) O mecanismo intersticial está usualmente associado com a difusão de um
pequeno átomo de soluto através de uma rede cristalina formada por átomos maiores. Este
mecanismo apresenta baixa energia de ativação;
(e) O mecanismo interfacial ocorre quando átomos de soluto e solvente são
aproximadamente do mesmo tamanho. Este mecanismo caracteriza-se pelo movimento de um
átomo de um interstício da rede para um sítio da mesma, forçando o movimento de um átomo
originalmente localizado no sítio para uma posição intersticial.
Estes mecanismos são válidos para o transporte de átomos em cristais perfeitos.
Entretanto, para a difusão em sólidos reais, podem haver diferentes mecanismos que regem o
comportamento de transporte de átomos. Os coeficientes de difusão calculados a partir desses
mecanismos são significativamente maiores do que os valores encontrados por outros
mecanismos mais realistas. Valores de coeficiente de difusão em sólidos cristalinos podem
variar de 10-10 m2/s a 10-37 m2/s.
Quando um átomo move de um sítio para o outro, é requerida uma energia de ativação
para ultrapassar a barreira energética associada à quebra das interações entre o átomo difusante
e seus vizinhos. Coeficientes de difusão para sólidos cristalinos obedecem empiricamente a
uma relação do tipo Arrhenius sobre um amplo intervalo de temperatura. Neste contexto,
Sherby e Simnad (1961) desenvolveram uma relação empírica para calcular coeficientes de
autodifusão em sólidos (sólido puro):
ܤ
U^^ = UÚ ¯−(½Ú + T) ‹
± (III.56)
54
Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
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_)
U^^ = UÚ ¯− ± (III.57)
‹
sendo Q a energia de ativação difusional do soluto na matriz (cal/mol), R a constante dos gases
(1,987 cal⋅mol-1⋅K-1) e T a temperatura absoluta (K). UÚ representa o coeficiente de difusão que
dependeria apenas nas interações soluto-sólido, isto é, aquele que não dependeria de uma
energia de ativação para um salto. Nessa expressão, é assumido que a resistência molecular à
difusão do soluto na matriz dependerá a interação soluto-sólido e do aspecto do salto difusivo.
A Tabela 1.13 da página 110 do livro do Cremasco (2002) apresenta valores de Q e UÚ para
alguns pares soluto-sólido cristalino. Analisando esta tabela, verifica-se que esses parâmetros
dependerão de alguns aspectos do par soluto-sólidos, tais como (Cremasco 2002):
(a) Tamanho do átomo do soluto – quanto maior, maior será a energia de ativação
necessária para um salto difusivo;
(b) Ligação entre os materiais - quanto maior, maior a barreira energética a ser vencida;
(c) Movimentos intersticiais demandarão mais energia do que movimento de vazios.
55
Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
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ferramenta, para ser útil, demanda dos seus usuários algumas habilidades. Neste caso, a
habilidade exigida é a capacidade do engenheiro químico em conectar o modelo matemático à
realidade física que se deseja modelar. Nesse contexto, a ênfase do trabalho de engenharia recai
fortemente sobre a análise física do problema de transferência de massa. Assim, antes de iniciar
o processo de modelagem matemática, o engenheiro deverá responder algumas questões, tais
como:
• Qual é o sistema de coordenadas mais adequado para descrever a região contínua, onde
se pretende modelar um fenômeno de transferência?
• Em que estado físico se encontra a região que se deseja modelar? Gasoso, líquido ou
sólido?
• Existe algum gradiente de potencial químico ao longo desta região contínua? Quais
espécies apresentam gradientes e em quais direções?
• Pode-se assumir mistura perfeita ou ausência de gradientes em alguma direção do
sistema de coordenadas? Isto é, a região que se deseja modelar está plenamente
misturada (parâmetros concentrados) ou a transferência de massa é unidimensional,
bidimensional ou tridimensional (parâmetros distribuídos)?
• Onde estão localizados os limites desta região contínua, isto é, seus contornos?
• O que acontece nos contornos desta região contínua?
• As composições das espécies presentes estão variando ao longo do tempo em alguma
posição desta região contínua? Isto é, o processo de transferência está ocorrendo em
regime permanente ou transiente?
• A temperatura e a pressão variam ao longo desta região contínua?
• Quais parcelas do fluxo total estão contribuindo na transferência de massa de cada
componente que compõe a região contínua em análise? Difusivo, convectivo ou ambos?
• Existe alguma relação clara entre os fluxos totais de espécies diferentes que são
características do fenômeno físico que se deseja modelar?
• A solução formada ao longo desta região contínua apresenta características de não
idealidade? As espécies envolvidas interagem por fortes forças de interação
intermolecular e/ou apresentam grandes assimetrias de forma e tamanho?
• Alguma espécie que se deseja modelar o fluxo ou o perfil de concentração encontra-se
à diluição infinita ao longo desta região contínua?
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Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
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Respondendo a essa lista (que não está necessariamente completa), o engenheiro estará
apto a:
(a) reconhecer que tipo de abordagem, baseada na lei de concervação de massa, que irá
adotar e os termos da equação da continuidade que são relevantes para modelar
adequadamente o fenômeno físico em análise (o modelo final será útil para fazer
previsões e projetos);
(b) definir as condições de contorno e as condições iniciais de cada sistema contínuo
envolvido no processo que se deseja modelar;
(c) optar por um modelo de fluxo apropriado em variáveis distribuídas (Fick ou Stefan-
Maxwell) ou aquele baseado em coeficiente de transferência de massa;
(d) optar por um modelo de coeficiente de difusão apropriado;
(e) identificar as condições de amarração do problema, isto é, alguma relação entre os fluxos
totais de espécies diferentes; e
(f) escolher um método matemático adequado para a resolução do sistema de equações
algébricas e/ou diferenciais resultantes da nossa análise.
Este último item, APESAR DE MUITO IMPORTANTE, não é o foco principal dessas
notas. Ao longo dos próximos capítulos, serão analisados e resolvidos alguns problemas típicos
de transferência de massa em engenharia química, focados na análise física do mesmo e nas
suas consequências sobre a formalização matemática dos fenômenos envolvidos. Para isso,
serão, frequentemente, necessários conceitos discutidos até agora, portanto, antes de prosseguir,
certifique-se de estar em dia com a matéria, garantindo a consolidação dos seus conceitos e
ferramentas.
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Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
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Nesse elemento de volume, reconhece-se a presença de uma fase contínua que poderá
estar em escoamento ou não. A este elemento de volume, se dá o nome de volume de controle
para o balanço de massa. O próximo passo é aplicar a lei de conservação de massa a um ou
mais componentes que formam o sistema em análise (Balanço por Componente), ou à fase
como um todo (Balanço Global). Nesta abordagem, a interconversão de massa e energia por
transformações nucleares não estão sendo consideradas (Hines e Maddox, 1985). Para uma
corrente escoando para dentro de um elemento de volume plenamente agitado fixado na terra
(referencial inercial), como apresentado na Figura IV.1, pode-se escrever um balanço de massa
generalizado da seguinte forma:
Repare que, neste caso, basta conhecer a volume do elemento de observação, sem a necessidade
de se definir sua geometria. Uma vez que o elemento se encontra plenamente misturado, suas
variáveis de estado (temperatura, pressão e composição) são bem representadas por valores
médios no volume. Neste caso, deseja-se calcular apenas as taxas e concentrações materiais na
saída do elemento, que serão as mesmas observadas, em média, no interior elemento de volume
em cada instante de tempo (mistura perfeita).
Aplicando o balanço material generalizado pela Eq. (IV.1) para um determinado
componente i no elemento de volume esquematizado na Figura IV.1, tem-se:
± Ü {|
" ! ! " #
+ Ü
= í
+ (IV.2)
" ! í
sendo e a massa do componente i na entrada e na saída do elemento de
volume, respectivamente, a massa do componente i no interior do elemento de volume em
! " #
um instante t qualquer, ùX o intervalo de tempo observado e a massa do componente i
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" ! " !
= ¨ " !
ùX (IV.3)
í
= í
¨ í
ùX (IV.4)
Ü
= m ÜT Ü (IV.5)
Ü {| Ü {|
=m T Ü {| (IV.6)
= 4 ′′′T ùX
! " #
(IV.7)
¶ #¶ ¶Ü #¶ ¶
€89 Ü ‚89 Ü Á ¶Ü •
+ 4 ′′′T =
í Á
" ! í
¨ " !
− ¨ (IV.8)
|
í í
+ 4 ′′′T =
" ! (89 Á)
¨ " !
− ¨ (IV.9)
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í í
+ 4 ′′′T =
" ! (89 Á)
m N¨ " !
−m N¨ (IV.10)
í
+ 4 ′′′T =
" ! (89 Á)
m N¨ " !
− m N¨ (IV.11)
í i∑OP
9QR 89 Áj
i∑"*
@G m
" !
N¨ " !
− ∑"*
@G m N¨ j + T ∑"*
@G 4 ′′′ = (IV.12)
ou
− m N¨ í
(8Á)
− im " !
N¨ " !
j=0 (IV.13)
sendo o número total de componentes no sistema. Como a massa do sistema deve ser
conservada, a soma das taxas de transformação de todos os componentes do sistema deverá ser
@G 4 ′′′ = 0). Cabe destacar que o produto da área transversal (¨) ao escoamento pela a
nula (∑"*
velocidade média da mistura (N) fornece a vazão volumétrica da corrente (]). Desta forma, as
Eqs. (IV.11) e (IV.13) podem ser reescritas da seguinte forma:
í
+ 4 ′′′T =
" ! (89 Á)
m ] " !
−m] (IV.14)
(8Á) í
− im " !
] " !
− m] j=0 (IV.15)
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Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
___________________________________________________________________________
Quando se decidir utilizar da equação do balanço global (Eq. IV.13), um dos balanços
individuais não poderá ser incluído na modelagem.
As Eqs (IV.11) - (IV.15) serão úteis apenas nas situações em que as propriedades de
estado do meio contínuo puderem ser representadas pelos seus valores médios no volume.
Fisicamente, esta situação será rigorosa apenas quando o elemento de volume se encontrar nas
condições de mistura perfeita. Alternativamente, quando se deseja uma informação mais
detalhada do sistema, a abordagem deverá ser capaz de descrever as variações espaciais e
temporais das propriedades ao longo meio contínuo que se deseja modelar. No que se refere às
composições e taxas materiais, a ferramenta utilizada é conhecida por Equação da
Continuidade. Esta equação é facilmente deduzida para o sistema de coordenadas cartesiano,
mas pode ser estendido para outras geometrias tais como a cilíndrica e a esférica. Esses três
sistemas de coordenadas, mais utilizados em fenômenos de transferência, são
esquematicamente apresentados na Figura IV.2.
contínuo distinto e deverá ser modelado por um balanço específico. As equações resultantes de
cada balanço serão conectadas identificando os fenômenos de interface entre as fronteiras
comuns entre os diferentes meios identificados. Assim, para cada meio contínuo envolvido no
fenômeno de transferência de massa, deve-se eleger um elemento de volume representativo do
meio, isto é, um volume de controle que apresente geometria similar àquela observada para o
sistema físico real.
ni,y+∆∆y
y n ∆z
i,z+∆
∆z
ni,x
ni,x+∆∆x
∆y
ni,z x
z ∆x n
i,y
Na Figura IV.3, a massa de entrada pela direção x é representada por ⃗ |' ùKù~ùX, a
massa de saída pela direção x é representada por ⃗ |'{|' ùKù~ùX, sendo ùKù~ a área transversal
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Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
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Usualmente, esta taxa é representada por uma taxa de reação química, mas pode também
representar a remoção ou adição de moléculas devido a outros fenômenos identificados na
situação física em análise.
No limite de ùX → 0, tem-se
= (4 $$$ −
("⃗9 |c #c ‚"⃗9 |c ) ("⃗9 |& #& ‚"⃗9 |& ) ("⃗9 |' #' ‚"⃗9 |' ) p89
+ + ) (IV.18)
|' |° |q p
O leitor atento deve ter percebido que o balanço de massa aplicado ao elemento de
volume cartesiano representado pelas Eqs. (IV.16) - (IV.18) seguiu, até o presente momento,
os mesmos passos adotados no balanço macroscópico, assumindo que a concentração m é
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constante ao longo desse elemento. Para que a expressão resultante desta análise possa ser
aplicada de forma mais geral, a consideração de m constante só poderá ser aceita se o volume
de controle for infinitesimal. Assim, a Equação da Continuidade mássica em coordenadas
cartesianas é obtida aplicando, à Eq. (IV.18), o limite do volume tendendo a zero, isto é,
ù ùKù~ → 0:
± = (4 $$$ −
p"⃗9,c p"⃗9,& p"⃗9,' p89
¯ + + ) (IV.19)
p' p° pq p
Esta equação é reescrita para os sistemas de coordenadas cilíndrico e esférico como apresentado
nas Eqs. (IV.20) e (IV.21), respectivamente:
E 4 4 +¯
p89 G pi!"9,S j
í : ± = 4 $$$
G p"9,) p"9,'
+ +
p !
(IV.20)
p! ! p* pq
E 4 Vé4 + ¯! –
p89 G pi! – "9,S j
: ± = 4 $$$
G pi "*"9,) j G p"9,+
p p!
+! "* p*
+! "* p•
(IV.21)
O termo entre colchetes nas Eq. (IV.19) - (IV.21) é conhecido como o divergente do
fluxo total do componente i para os três diferentes sistemas de coordenadas (operador
matemático que representa um produto escalar do vetor de derivadas em relação às direções do
sistema de coordenadas selecionado e o vetor fluxo total). Assim, uma representação mais geral
da Equação da Continuidade Mássica apresenta a seguinte forma:
+ o⃗ . ⃗ = 4 $$$
p89
p
(IV.22)
+ o⃗ . ∑ ⃗ = ∑ 4 $$$
p ∑ 89
(IV.23)
p
ou
p8
+ o⃗ . ⃗ = 0 (IV.24)
p
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$$$
Na Eq. (IV.24), está implícito que ∑"*
@G 4 = 0, que respeita a Lei de conservação de massa.
Lembrando que ⃗ = mN⃗, a Eq. (IV.24) pode ser reescrita da seguinte forma:
p8
ou
p8
+ o⃗ . (mN⃗) = 0 + mo⃗ . N⃗ + N⃗. o⃗ m = 0 (IV.25)
p p
+ mo. v⃗ = 0
˜8
˜
(IV.26)
+ o. 5⃗ = … $$$
pD9
(IV.27)
p
pD9
Coordenadas retangulares:
pe9,c pe9,& pe9,'
p
+ p'
+ p°
+ pq
= … ′′′ (IV.28)
E 4 4 +!
pD9 G pi!e9,S j
:
G pe9,) pe9,'
í p p!
+! p*
+ pq
= … ′′′ (IV.29)
E 4 Vé4 +
pD9 G pi! – e9,S j
:
G pi "*e9,) j G pe9,+
+ + = … ′′′
p !–
(IV.30)
p! ! "* p* ! "* p•
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III. O fluxo mássico no contorno é função da concentração neste ponto, por exemplo
5 ( Ú , KÚ , ~Ú ) = 5 (E Ú ). Esse tipo de contorno é encontrado, por exemplo: (a) se o fluxo
que atravessa o contorno (ex.: interface de fase ou entrada em sólido poroso) for igual aquele
que cruza uma camada limite mássica em um fluido escoando paralelamente a esta interface
(Figura IV.4). Na Figura IV.4, o fluxo do componente i que cruza a camada limite da Fase
2 e alcança a interface da Fase 1 em z = 0 é igual ao fluxo que abandona a interface e segue
para o interior da Fase 1, isto é, 5⃗ %q@Ú = 5⃗ %q@Ú . O fluxo 5⃗ %q@Ú será descrito em
Ñ G Ñ l Ñ G
função do modelo de fluxo adotado para o volume de controle adotado na Fase 1, enquanto
que o fluxo na camada limite será calculado pela abordagem do coeficiente de transferência
l
de massa, conforme a relação 5⃗ %q@Ú = ¥* (E Ú − E ∞ B, sendo C i 0 é a concentração do
Ñ
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Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
___________________________________________________________________________
E Ѧ l
z=δ
Fase 2 5⃗
z=0
Fase 1
E ÑÚ l
E ÑÚ G
Se o fluxo na Fase 1 for dominado pela difusão, a igualdade 5⃗ %q@Ú = 5⃗ %q@Ú poderá ser
Ñ G Ñ l
D9 Ñ G
−U / = ¥* (E ÑÚ l
g E Ѧ l
B (IV.31)
q q@Ú
D9 Ñ G
/
D9Ü·¸ R
gU ¥* • g E Ѧ l
Ÿ (IV.32)
q q@Ú »0
ou
D9 Ñ G
/
¹P
gU iE ÑÚ G
g ½ 6 E Ѧ l
j (IV.33)
q q@Ú »0
Ou ainda
D9 Ñ G
/ g E ∗B
¹P
:E ÑÚ G
(IV.34)
q q@Ú ˜9 » 0
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___________________________________________________________________________
D9 Ñ G
q1
/ 2 L :E Ú
Ñ G
g E ∗B (IV.35)
q 1 @Ú
2
+¹P
L (IV.36)
˜9 »9, 0
(b) a taxa de reação química por unidade de área no contorno pode ser especificada. Neste
caso, o fluxo de componente i que alcança o contorno por transferência de massa será igual
a taxa que este componente é consumido pela reação por unidade de área desse contorno.
Um exemplo seria um contorno formado pela superfície de um catalisador que transforma o
componente i por uma reação química elementar de primeira ordem, isto é 5 : Ú , KÚ , ~Ú B
¥G "E^Ú, sendo k1" é a constante cinética da reação.
X XÚ → m mÚ X X ∀ , K, ~ (IV.37)
X XÚ → m m Ú : , K, ~B (IV.38)
pD9
+ o⃗ . iE T⃗ j = o⃗ . iEU w ∇⃗ j + … $$$ (IV.40)
p
Sempre que a situação física impor, pode-se utilizar modelos cinéticos para descrever a
taxa de transformação no volume de controle (4 $$$ ou … $$$ ) para garantir que as Eqs (IV.33) e
(IV.34) apresentem apenas composições ou concentrações como variáveis dependentes.
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Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
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Aplicando a regra da cadeia para os termos de acúmulo e fluxo convectivo nas Eqs.
(IV.39) e (IV.40), pode-se reescrevê-las da seguinte forma:
ou
Os termos entre colchetes nas Eqs. (IV.43) e (IV.44) representam o balanço de massa
global em base mássica (Eq. IV.25) e sua análoga em base molar, respectivamente, e, por isso,
são nulos. Desta forma, para sistemas contendo nc componentes, pode-se montar um sistema
de equações diferenciais formado por (nc-1) equações individuais por componente linearmente
independente da seguinte forma:
Assim, para a solução do sistema, será necessário a inclusão de mais uma equação
envolvendo as composições do sistema. Esta equação adicional, denominada por Condição de
Amarração, é baseada em característica particulares do problema físico que se deseja modelar
e sairá da análise física do mesmo.
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Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
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Na sequência dessas notas, serão discutidas algumas situações físicas que, não somente
exemplificam situações frequentes em processos químicos, mas também recaem em diferentes
problemas matemáticos. O grau de dificuldade matemática dependerá tanto do número de
variáveis independentes necessárias para descrever o fenômeno de transferência de massa
(número de direções do sistema de coordenadas que se observa o transporte molecular e o
tempo, necessário em problemas em regime transiente), do tipo de sistema de coordenadas
adotado (cartesiano, cilíndrico e esférico), das condições de contorno (tipo I, II ou III) e do
modelo de fluxo (1a Lei de Fick ou Eq. de Stefan-Maxwell). Além disso, problemas
matemáticos de solução mais complexa são observados quando forem necessários ambos os
termos do fluxo total (difusivo e convectivo) e quando o coeficiente de difusão e a concentração
total do sistema variarem com a composição ao longo do meio que se deseja modelar. Por fim,
quanto mais componentes, mais igualdades serão necessárias para compor o sistema de
equações diferenciais construído a partir do balanço de massa no volume de controle utilizado
para descrever o fenômeno de transferência de massa.
A boa notícia é que, em muitas situações físicas envolvidas em problemas reais de
Engenharia Química, o problema matemático recai em casos de simples com solução analítica
ou numérica. Tais casos são reconhecidos a partir da imposição de algumas hipóteses físicas
simplificadoras coerentes com a situação real. Apesar de mais simples, uma análise cuidadosa
do engenheiro permitirá que este represente bem o fenômeno de transferência de massa que se
deseja modelar. Nos demais casos, que exigirão solução matemática mais complexa, o
engenheiro poderá sempre recorrer às técnicas numéricas para a solução de sistemas de
equações diferenciais, hoje amplamente difundidos e facilmente encontrados em diferentes
plataformas implementados por códigos computacionais. Algumas técnicas úteis voltadas para
problemas de Engenharia Química são encontradas na obra de Pinto e Lage (2001)
Na sequência desse capítulo, serão discutidos alguns dos casos mais simples que
apresentam solução analítica. Para tal, será necessário incorporar à Equação da Continuidade
um modelo de fluxo. Por uma questão de simplicidade, será adotada a 1a Lei de Fick, mas o
leitor atento saberá facilmente fazer a extensão para a abordagem de Stefan-Maxwell (II.35)
lembrando da relação envolvendo os coeficientes de difusão (Eq. II.36).
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m ⋅ N⃗ = 7 ⋅ ⃗ = 7 ⋅ ∑"*
w@G ⃗w (IV.47)
E ⋅ T⃗ = ⋅ 5⃗ = ⋅ ∑"* ⃗
w@G 5w (IV.48)
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___________________________________________________________________________
= U w o⃗ . i∇⃗m j + 4 $$$
p89
(IV.49)
p
= U w o⃗ . i∇⃗E j + … $$$
pD9
p
(IV.50)
p89
= U w o⃗ . i∇⃗m j (IV.51)
p
pD9
p
= U w o⃗ . i∇⃗E j (IV.52)
E 4 :
p89 p – 89
E 4X p
Uw pq –
(IV.53)
:
p89 G p p89
E 4 E 4 X 4 U w ! p! €4 • (IV.54)
p p!
:
p89 G p p89
E 4 Œ Vé4 X 4 U w ! – p! €4 l • (IV.55)
p p!
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Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
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Equações análogas podem ser escritas em termos de concentração molar. Devido a importância
das Eqs. (IV.53)-(IV.55), elas são também conhecidas por 2a Lei de Fick ou Equação da Difusão
Transiente Unidirecional. A 2a Lei de Fick é frequentemente adotada na adsorção de solutos em
sólidos porosos (ver destaque no item IV.4), secagem de grãos, cimentação de metais, entre
outros (Cremasco, 2002).
Finalmente, em processos que operam em regime permanente ou podem ser
aproximados por regime pseudo-permanente, o termo de acúmulo pode ser negligenciado:
:0
p – 89 p – 89
E 4 E 4X Uw 0 (IV.56)
pq – pq –
:
p p89
E 4 E 4 X 4 €4 • 0 (IV.57)
p! p!
:
p p89
E 4 Œ Vé4 X 4 €4 l • 0 (IV.58)
p! p!
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___________________________________________________________________________
:
p"⃗9
E 4 E 4X 0 (IV.59)
pq
:
p
E 4 E 4 X 4 :4 ⃗ B 0 (IV.60)
p!
:
p
E 4 Œ Vé4 X 4 :4 l ⃗ B 0 (IV.61)
p!
Para os três sistemas de coordenadas, a conclusão é que a taxa mássica do componente inerte é
constante ao longo do volume de controle. Como a taxa deste componente é nula nos contornos
da interface de fase ou da superfície do catalisador, pode-se afirmar que esta será nula em
qualquer posição do volume de controle. Como a taxa é o produto do fluxo total pela área
transversal ao eixo da transferência de massa e esta última possui valor finito, conclui-se que o
fluxo para o componente inerte nessas condições é zero para qualquer posição do volume de
controle. Esta será a condição de amarração do problema físico. Conclusão análoga pode ser
encontrada para o fluxo molar. Para um sistema binário ou pseudo-binário (todos os demais
componentes estão estagnados), o fluxo total para o soluto poderá ser expresso da seguinte
forma:
6⃗9
⃗ Y⃗ + 7 ⃗ + ⏟
0 → ⃗ :G‚M9 B
(IV.62)
#+&'( ( *( /(" " " !
ou
„⃗9
5⃗ :G‚'9 B
(IV.63)
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Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
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O leitor atento deve estar se perguntando como o outro componente mantem-se estagnado
mesmo na presença de um gradiente de concentração (se o soluto apresenta gradiente, o
solvente também apresenta em sentido contrário). Isso pode ser explicado assumindo que a
contribuição da difusão do componente inerte é anulada pela convecção provocada pelo
transporte do soluto no sentido contrário. Assim, a soma vetorial dos termos que compõe o
fluxo total do componente inerte se mantém nula para qualquer ponto do volume de controle.
Z⃗ " ! gZ⃗D" !
5⃗ g5⃗w (IV.64)
então
∑ 5⃗¹ 0 (IV.65)
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moldados a partir de espalhamento de soluções, grãos, etc.), difusão de monômeros nas etapas
finais de reações de polimerização, transporte de gases e vapores em líquidos viscosos (tais
como resinas, asfaltenos, pastas, ceras, etc), tratamento de alimentos sólido (preparo de frutas
secas, tratamento para conservação de produtos lácteos e carnes com gases, etc.). Repare que,
nessas situações, está imposta a hipótese de que o volume da mistura ou a posição do centro de
massa do sistema são pouco afetados pelas diferenças de concentração do soluto ao longo do
meio, portanto, é possível assumir também que coeficiente de difusão e concentração total do
meio são constantes ao longo do volume de controle.
Nesses casos, sugere-se trabalhar em base mássica e as versões da equação da
continuidade que serão úteis em diferentes cenários são aquelas apresentadas no Item IV.3.1
(Eqs. IV.49; IV.51; IV.53-IV.58).
Estas simplificações deverão ser revistas quando a estrutura do meio sólido for muito
afetada pela presença do soluto (inchamento ou contração de volume significativo), de modo
que o meio se torne não isotrópico (morfologia variando com a posição e com o tempo em
função das diferenças de concentração ao longo do meio sólido).
MEIO PSEUDO-HOMOGÊNEO
A transferência de massa no interior de sólidos porosos, membranas porosas, leitos
de partículas ou recheios ocorre fundamentalmente pelo interior dos poros. Na maioria dos
casos, se conhece a geometria do meio poroso, mas a estrutura dos poros é bastante complexa
e tridimensional, tornando impossível uma abordagem rigorosa em parâmetros distribuídos
(Balanço Microscópico). Uma alternativa frequentemente adotada é trata-los como meio
pseudo-homogêneos. Nesta hipótese, o meio poroso é tratado como um contínuo e a
concentração da solução no interior dos poros deverá vir sempre multiplicada pela
porosidade do meio (Ë T/(!( ⁄T ( ). Cabe lembrar que esta correção não é necessária
no termo difusivo, pois já estará contemplada no coeficiente de difusão efetivo (Eq. III.53).
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R ∞ R0
Z= δ
δ = R∞ − R0
Z=0
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REGIME PSEUDO-PERMANENTE
Um processo poderá ser assumido pseudo-permanente quando as variações
temporais são muito lentas e deseja-se apenas a informação do fluxo dos componentes nos
instantes iniciais.
Os modelos resultantes dessas abordagens não representarão bem os fluxos para
tempos longos do processo transiente. Nestes casos, sugere-se dividir o espaço temporal em
tempos curtos e, para cada intervalo de tempo, calcular o fluxo por um modelo pseudo-
permanente. Em cada intervalo, as condições de contorno deverão ser atualizadas para
contemplar as variações temporais. O fluxo obtido em cada intervalo de tempo poderá ser
atribuído ao instante médio do intervalo, formando pares ordenados fluxo em função do
tempo.
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Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
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Fenômenos de Transferência III Prof. Rodrigo A. dos Reis
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