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Equações Básicas da

Dinâmica dos Fluidos


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Sumário
Equações Básicas da Dinâmica dos Fluidos
Objetivos ............................................................................................. 04
Introdução ........................................................................................... 05
1. Equação da Continuidade ......................................................... 07
2. Equações de Momento e Energia .............................................. 14
2.1. Momento Linear ..................................................................... 14
2.2 Momento Angular ................................................................... 18
2.3 Energia e Entropia .................................................................. 19
Síntese .............................................................................................. 21
Referências .......................................................................................... 22
Objetivos
▪▪ Determinar quantidades mássicas utilizando a equação da
continuidade.
▪▪ Aplicar o teorema do transporte de Reynolds às propriedades gerais
do escoamento.

4 Fenômenos dos Transporte


Introdução
Em fenômenos dos transportes, podemos estudar o comportamento
individual das partículas de fluido percorrendo o espaço. Em cada ponto,
a partícula de fluido possui determinadas propriedades. Essa abordagem
para o estudo dos fluidos é chamada de abordagem de sistema, pois tem o
objetivo de determinar propriedades dos fluidos em pontos do espaço (com
coordenadas x, y e z) e em instantes de tempo (t).

Essa abordagem é relativamente complicada, pois, normalmente,
usamos equações diferenciais parciais para prever as propriedades dos fluidos
em cada ponto do espaço e tempo. Um exemplo desse tipo de equação é a
equação de Euler, que dá origem à equação de Bernoulli. Essa abordagem
pode ser interessante quando os engenheiros pretendem estudar a trajetória
do fluido no interior de dispositivos como válvulas de controle e, nesse
caso, o conhecimento da trajetória das partículas fluidas pode ser de suma
importância na otimização destes equipamentos.

Existem casos em que os engenheiros visam determinar a trajetória


da poluição em rios e correntes marítimas e, sendo assim, a abordagem de
sistema é essencial para fazer as previsões necessárias. Entretanto, existe
uma abordagem mais simplificada e mais prática que pode determinar as
propriedades dos fluidos quando escoam dentro de uma região específica do
espaço para os casos em que os engenheiros pretendem fazer análises mais
gerais do escoamento e não tão detalhadas.

Essa região é chamada de volume de controle e é definida pelo


próprio engenheiro durante sua análise do escoamento. A desvantagem dessa
abordagem é que as leis físicas que se aplicam somente a sistemas devem

Fenômenos dos Transporte 5


ser reformuladas para o volume de controle. Essa foi a tarefa de Osborne
Reynolds em seu teorema do transporte de fluidos.

Nesta unidade, você vai aprender o teorema do transporte de Reynolds


e como as equações básicas da dinâmica do escoamento podem ser aplicadas
à determinação das propriedades gerais do escoamento.

6 Fenômenos dos Transporte


1. Equação da Continuidade
A primeira propriedade conservativa do escoamento é a massa.
Como qualquer processo da natureza, o escoamento conserva massa, ou
seja, a quantidade mássica de um fluido não pode ser criada e nem pode ser
destruída, mas sempre poderá sofrer transformações químicas e/ou físicas.

Se uma determinada quantidade de massa flui para dentro de um


sistema, terá que sair, a menos que se acumule dentro desse sistema. Se
uma corrente de reagentes (massa por tempo) entra em um reator, ainda que
reajam e se transformem em produtos, a mesma quantidade mássica total
sairá do reator, desde que não haja acúmulo de substâncias dentro deste.

Na abordagem de volume de controle não pode ser diferente, isso


porque, nela, o volume de controle substitui o sistema e, logo, deve ser capaz
de conservar a massa. Da mesma forma que deve conservar a massa, o volume
de controle também deve conservar outras propriedades gerais do escoamento,
tais como energia e momento. A fórmula geral para a conservação de uma
propriedade geral de um sistema está apresentada a seguir:

∫ ηdm= ∫ η dV
Nsistema = M(sistema) ρ
V(sistema)

Em que o termo dm (elemento massa) foi substituído pelo termo ρdV


(densidade vezes o elemento volume), que é mais adequado para representar
os fluidos. Na equação acima, N representa uma propriedade geral extensiva
do escoamento, enquanto η representa a mesma propriedade, entretanto
em sua versão intensiva. Uma propriedade intensiva nada mais é do que a
propriedade extensiva (em toda a extensão do sistema) dividida pela unidade
de massa (kg no SI). Por exemplo, se a propriedade geral for a massa (M),
então, a sua versão intensiva (η) será igual a 1, pois kg/kg = 1, valendo, então,
a seguinte expressão:

Se N = M, então η=1

As outras propriedades gerais extensivas do escoamento também


possuem sua versão intensiva. Por exemplo, o momento linear (ou quantidade

Fenômenos dos Transporte 7


de movimento) que é igual à massa vezes a velocidade; quando dividido pela
unidade de massa, para representação de sua versão intensiva, fica apenas
velocidade, valendo outra expressão:

N = P, então η = V

O mesmo se aplica ao momento angular, valendo mais uma expressão:

N=H, então η = r x V

A energia (E) e entropia (S) têm suas versões intensivas representadas


por letras minúsculas das suas letras simbólicas tradicionais, valendo as
expressões:

N=E, então η=e


N=S, então η=s

O teorema do transporte de Reynolds afirma que a variação das


propriedades gerais de um sistema pode ser representada por termos integrais
separados, aplicados ao volume de controle e à superfície de controle,
respectivamente, de acordo com a seguinte equação:

dN ∂  
=
dt
) sistema ∫
∂t VC
ηρ dV + ∫ .d A
SC
ηρ V

É dessa forma que a formulação para o volume de controle substitui


a formulação para sistemas, por meio de dois termos representativos de uma
variação dentro do volume de controle (VC) e por meio da superfície de
controle (SC), respectivamente. Os termos da equação acima possuem o
significado de acordo com o Quadro 1:

dN É a taxa de variação da propriedade extensiva do sistema (N). Por


) sistema
dt exemplo, se N = M, obtemos a taxa de variação da massa.

É a taxa de variação da quantidade da propriedade N dentro


∂ do volume de controle. O termo é responsável pelas variações
∫ ηρ dV
∂t VC instantâneas dentro do volume de controle, ou seja, aquelas variações
que ocorrem em um determinado instante de tempo.

8 Fenômenos dos Transporte


É a taxa na qual a propriedade N está saindo (ou entrando) da
  superfície do volume de controle. O termo é responsável pelas taxas
∫ .d A
ηρ
SC
V de transferência da propriedade entrando ou saindo pelo elemento
de área da superfície de controle. Esse é o termo de fluxo líquido da
propriedade por meio da superfície do volume de controle.
Quadro 1: Significado dos termos do teorema de transporte de Reynolds. Fonte: Adaptado de Fox;
Pritchard; Mcdonald (2018).

Saiba Mais

Aprofunde seus conhecimentos sobre o desenvolvimento do teorema


do transporte de Reynolds lendo no capítulo 4 do livro Introdução à
mecânica dos fluidos.
Assista agora

No termo de fluxo (segundo termo à direita da igualdade), o produto


escalar entre o vetor velocidade e o vetor área deve ser sempre analisado de
acordo com o volume de controle adotado para a solução do problema. Para
fluxos de saída pela superfície de controle (superfície do volume), o produto
escalar é sempre positivo e, para fluxos de entrada, o produto escalar é sempre
negativo. A Figura 1 mostra esses resultados de acordo com o respectivo fluxo:

SC SC

Saída Normal Entrada Normal

Figura 1: Resultados do produto escalar entre o vetor velocidade e vetor área em uma determinada seção. Fonte: Adaptado
de Fox; Pritchard; Mcdonald (2018).

Na Figura 1, o sentido do vetor velocidade indica o sentido do fluxo


do fluido por meio da superfície de controle. Esses sinais se devem à regra
usual para produto escalar entre vetores. Você pode estar se perguntando:
“Como a área pode ser um vetor?”. A área é uma grandeza escalar, entretanto,

Fenômenos dos Transporte 9


o vetor representado na figura é, na verdade, o vetor normal à superfície que
tem seu módulo igual ao valor da área, ou seja, é uma representação vetorial
da área.

Um exemplo pode levar a um melhor entendimento da aplicação


do teorema. Suponha que você tenha detectado um vazamento de óleo de
algodão a 20°C em uma tubulação da indústria onde você trabalha. Você deve
determinar a exata quantidade mássica (carga) de fluido que se perde para
conhecer o prejuízo causado pelo imprevisto. A Figura 2 mostra o esquema
da tubulação com problema:

4
1

VC

Figura 2: Esquema de um divisor de corrente contendo um furo. Fonte: Adaptado de Fox; Pritchard; Mcdonald (2018).

Observe que se trata um dispositivo divisor de corrente com fluido


entrando pela seção 1 e saindo pelas seções 2 e 3 e ainda pelo furo que será
tratado com uma quarta seção. Observe que o volume de controle também
está indicado no esquema pela linha tracejada (VC) e, em cada seção, essa
linha tracejada é exatamente perpendicular ao fluxo da corrente (indicado
pela seta). É exatamente dessa forma que o engenheiro deve definir o volume
de controle ao redor do processo ou dispositivo que será analisado, atribuindo
uma linha envoltória tracejada que é sempre perpendicular ao fluxo nas áreas
de entrada e saída de fluido.

Conhecendo o projeto, você pode facilmente determinar a área de


cada seção por meio do valor de seu diâmetro. Suponha que as áreas sejam,
respectivamente, A1 = 0,002 m2 (tubo de 2 in), A2 = 0,0011 m2 (tubo de

10 Fenômenos dos Transporte


1,5 in) e A3 = 0,00013 m2 (tubo de 0,5 in). A área do furo não é conhecida,
mas isso, como veremos, não será obstáculo. As velocidades do escoamento
em cada seção também podem ser determinadas por meio de tubos de Pitot,
medidores de Venturi etc.

Suponha que as velocidades sejam, respectivamente, V1 = 0,0083


m/s, V2 = 0,009 m/s e V3 = 0,05 m/s. Esse problema pode ser resolvido
pelo teorema do transporte de Reynolds. Se o objetivo é determinar a vazão
mássica (ou carga) perdida, basta aplicar o teorema a conservação de massa.
Para essa situação, vale a expressão:

N=Meη=1

Logo, substituindo no teorema, ficamos com:


dM ∂  
dt
) sistema
= ∫
∂t VC
ρ dV + ∫ ρV .d A
SC

A conservação da massa total de um sistema, implica sua invariância,


de forma que:

dM
) sistema = 0
dt
Logo, a equação geral para a conservação da massa fica:
∂  

∂t VC
ρ dV + ∫ .dA=
SC
ρ V 0

Você ainda precisa determinar um outro aspecto importante do


problema, o seu comportamento no tempo, ou seja, se o processo está no
estado estacionário ou no estado transiente. O estado estacionário implica o
fato de que nenhuma propriedade do sistema (ou do volume de controle) varia
no tempo. Isso significa que não existe acúmulo de massa de fluido dentro
do volume de controle e o primeiro termo da equação pode ser cancelado, já
que este é responsável justamente por esse tipo de variação. Logo, a equação
acima fica mais específica:
 

SC
ρV . dA = 0

Fenômenos dos Transporte 11


A equação acima refere-se à superfície total do volume de controle,
então, precisamos atribuir uma superfície de controle para cada seção. Isso é
simples, basta fazer:
       

SC 1
ρV 1 ⋅ d A1 + ∫
SC 2
ρ V 2 ⋅ d A2 + ∫
SC 3
ρV 3 ⋅ d A3 + ∫
SC 4
ρ V 4 ⋅ d A4 =
0

E ainda resolver as integrais de forma igualmente simples:


       
ρV 1 . A1 + ρV 2 . A2 + ρV 3 . A3 + ρV 4 . A4 =
0
Observando a equação acima, podemos perceber que ela pode ser
generalizada para a seguinte equação:
N  
∑ ρV i . Ai = 0
i =1

Em que N é o número de seções de entrada ou saída. Essa equação é


chamada de equação da continuidade.

A solução desse tipo de problema (conservação da massa) pode


começar com a equação acima sem a formalidade vista anteriormente, desde
que contenha o número de termos corretos (N) relacionados ao número de
seções de escoamento.

Observe, ainda na equação acima, que a densidade do fluido (ρ) não


possui índice (1, 2, 3 etc.) associado à sua respectiva seção, pois, como se
trata de um fluido incompressível, a sua densidade será igual em todas as
seções. Para o caso de fluidos compressíveis (gases), as densidades deveriam
ser indexadas em cada seção e determinadas por uma equação de estado, tal
como a equação dos gases ideais, levando em consideração as condições de
temperatura e pressão em cada seção.

Agora, chegou o momento de resolvermos os produtos escalares de


cada seção. A seção 1 possui fluxo de entrada; logo, seu produto escalar é
negativo. As demais seções possuem fluxos de saída (incluindo o furo); logo,
seus produtos escalares são positivos. Sendo assim, ficamos com a equação:

− ρV1 A1 + ρV2 A2 + ρV3 A3 + ρV4 A4 =


0

12 Fenômenos dos Transporte


Dessa forma, basta você substituir os valores e resolver. A densidade
do óleo de algodão a 20 oC é 923 kg/m3, as velocidades e áreas de cada
seção já foram dadas. Entretanto, você pode perguntar: “E a seção 4, como
conhecemos sua área e velocidade?”. Nesse caso, o objetivo do problema
é determinar justamente a carga (ou vazão mássica em kg/s) de fluido na
seção 4. Basta uma análise dimensional do quarto termo da equação para
percebermos que o produto entre densidade, velocidade e área é igual à carga:

ρV=
4 A4 ρ=
Q4 m4
Ou, em termos de unidades:

kg m 2 kg m3 kg
= m =
m3 s m3 s s
O produto entre densidade, velocidade e área é igual à densidade vezes
vazão volumétrica, que, por sua vez, é igual à carga (em kg/s no SI). Partindo
da equação de solução, temos:

− ρV1 A1 + ρV2 A2 + ρV3 A3 + m4 =


0

A densidade pode ficar em evidência nos três primeiros termos da


equação:
ρ (−V1 A1 + ρV2 A2 + ρV3 A3 ) + m4 =
0
E esses termos podem ir para o lado direito da igualdade, desde que
tenham seus sinais invertidos. Logo:
.
m4= ρ (V1 A1 − V2 A2 − V3 A3 )
Depois, substituindo os valores, ficamos com:
.
m4 923 ( 0, 0083 . 0, 002 − 0, 009 . 0, 0011 − 0, 05 . 0, 00013)
=

E finalmente:
.
m4 2, 7690 ×10−4 kg / s
=
Essa taxa mássica pode ser multiplicada pelo preço de cada quilograma
de fluido e, assim, temos o prejuízo por cada segundo do escoamento.

Fenômenos dos Transporte 13


Curiosidade
Que tal desenvolver um projeto? Você pode desenvolver um experimento simples usando
um divisor de corrente, tal como um “T” de PVC (ou qualquer outro material), e alterar
as áreas das saídas por meio de dispositivos redutores ou adaptadores. Você pode medir o
diâmetro de cada seção com um paquímetro ou régua e calcular sua respectiva área. Você
também pode medir a velocidade do fluido em cada seção por meio de um copo aferido e
um cronômetro. Para isso, você deve, primeiramente, determinar a vazão em cada seção,
que é o volume de fluido no copo dividido pelo tempo de enchimento desse volume e,
depois, determinar a velocidade. A velocidade em cada seção é igual à vazão dividida pela
área da seção. Finalmente, você pode comparar o resultado de velocidade em cada seção
com os valores previstos pela equação da continuidade. Esse tipo de experimento em que
valores previstos são comparados a valores experimentais, são chamados de experimentos
de validação de modelos.

Vamos estudar, agora, o teorema do transporte de Reynolds aplicado


a outras propriedades gerais do escoamento.

2. Equações de Momento e Energia


Além da massa, o escoamento também possui outras propriedades
importantes e que precisam ser analisadas em outros processos. Vamos
estudar cada uma delas.

2.1. Momento Linear


O momento linear é também conhecido como quantidade de
movimento. A taxa de quantidade de movimento (momento por tempo)
nada mais é que a força. A força total (expressa em Newtons no SI) atuando
sobre o volume de controle é dividida em dois tipos, força de massa e força
de superfície. A força de massa ou força de campo está associada à atuação de
algum campo, tal como o campo gravitacional ou eletromagnético. A força de
superfície está associada à atuação por contato (pressão, força de atrito etc.)
na superfície do volume de controle. O teorema do transporte de Reynolds
aplicado à conservação do momento linear fica:

14 Fenômenos dos Transporte



dP    ∂    
) sistema =F =F S + F M = ∫ V ρ dV + ∫ V ρV . d A
dt ∂t VC SC

Logo:
  ∂    
F S=
+F M ∫
∂t VC
V ρ dV + ∫ ρV . d A
SC
V

A equação acima afirma que o somatório de forças (de massa


e superfície) que atuam em um volume de controle são resultado das
variações de momento linear dentro do volume de controle somadas às
variações no fluxo de momento linear por meio da superfície de controle.
Vamos a um exemplo:

Suponha que você esteja desenvolvendo um projeto para a geração


de jatos d’água de alta potência e deseje calcular a força do fluido expelido
pelo bocal. Em um de seus experimentos, você posiciona uma placa plana em
frente a um bocal (com área de seção transversal A = 0,0001 m2) para medir
a força de um jato d’água a 100 m/s. O esquema da configuração estudada
está na Figura 3:
VC
2
v
1
y y

x x 3

Figura 3: Esquema do bocal para a geração de jato d’água. Fonte: Adaptado de Fox; Pritchard; Mcdonald (2018).

Na Figura 3, o fluido sai do bocal e atinge a placa, “entrando” pela


seção 1, e “sai” da placa pelas seções 2 e 3 com vazões hipoteticamente iguais.

Você deve determinar a força do jato d’água com base no teorema do


transporte de Reynolds aplicado à conservação do momento linear.

Fenômenos dos Transporte 15


Em primeiro lugar, você deve definir, da mesma forma que se faz
com a análise da conservação da massa, o comportamento do processo em
relação ao tempo para verificar a possibilidade de cancelar o termo de variação
de momento linear dentro do volume de controle. Nesse caso, você pode
considerar que o processo está no estado estacionário, pois não ocorrem
variações de condições operacionais. Isso significa que a equação geral para a
conservação do momento linear fica, agora, mais específica:
    
FS + FM =∫ V ρV . d A SC

Em segundo lugar, você pode analisar as forças de superfície e de


massa atuantes no volume de controle. A Figura 4 mostra que a única força
atuante no volume de controle é a força de reação (Rx) à força do escoamento.

V2

V1 RX

x
V3
Figura 4: Volume de controle destacado com a representação dos vetores atuantes. Fonte: Adaptado de Fox; Pritchard;
Mcdonald (2018).
A única força de massa atuante no volume de controle seria a força
peso do volume de fluido na direção x; entretanto, você pode perceber que,
pela natureza do processo, o peso praticamente não tem influência na força
de reação, além de não existir na direção x. Logo, a equação fica ainda mais
restrita a esse problema:
  
RX = ∫ ρV . d A
SC
V

16 Fenômenos dos Transporte


Agora, precisamos atribuir uma integral de superfície à cada seção.
Sendo assim, ficamos com a seguinte equação:
       
R X =∫ V1 ρV1 . d A1 + ∫ V 2 ρ V 2 . d A2 + ∫ V 3 ρV3 . d A3
SC 1 SC 2 SC 3

Resolvendo as integrais, ficamos com:

         
R X =V 1 ρV 1 . A1 + V 2 ρV 2 . A2 + V 3 ρV 3 . A3

Agora, chegou o momento de resolvermos os produtos escalares e


substituirmos os vetores em suas respectivas posições. Não precisamos nos
preocupar com os valores numéricos por enquanto, pois ainda estamos em
fase de análise. Vamos analisar cada termo em relação ao sistema de referência
cartesiano adotado.

O primeiro termo refere-se à entrada de fluido no volume de controle;


logo, o produto escalar nessa seção é negativo. Ainda nesse termo, o vetor
velocidade (V1) está para a direita; logo, é positivo na direção x. Os segundo
e terceiro termos referem-se à saída de fluido do volume de controle; logo,
os produtos escalares nessas seções são positivos. Entretanto, ainda nesses
termos, o vetor velocidade na seção 2 (V2) está apontando para cima; logo,
é positivo na direção y, enquanto o vetor velocidade na seção 3 (V3) está
apontando para baixo, logo, é negativo na direção y. A força de reação
também deve ser analisada e, como podemos observar, ela está apontada para
a esquerda e, por isso, é negativa na direção x. Então, a expressão fica da
seguinte forma:

- Rx i = (V1 i ) ρ (-V1 A1 ) + (V 2 j ) ρ (V2 A2 ) + (-V3 j ) ρ (V3 A3 )

Observe, na equação acima, que os termos para a seção 2 e 3 se


cancelam. Você sabe por que? A razão para isso é simples! Lembre-se de que
as vazões nas seções 2 e 3 foram consideradas iguais no início do problema.
Isso significa que as velocidades nas seções também são iguais (considerando

Fenômenos dos Transporte 17


áreas iguais). Assim, como os termos são semelhantes na direção y, eles podem
ser cancelados, pois têm sinais opostos, o que significa que a força de reação
Rx não será afetada por essas vazões. Assim, a equação fica da seguinte forma:

− R= (V i ) ρ (−V A )
xi 1 1 1

Ou:

Rx = ρV12 A1
Finalmente, podemos substituir os valores e encontrar a solução.
Considerando a densidade da água como 1000 kg/m3, podemos resolver o
problema assim:

Rx = 1000∙1002 ∙ 0,0001 = 1000 N

Assim, descobrimos que o jato d’água a essa velocidade atinge a placa


com uma força de 1000 N.

2.2 Momento Angular


O momento angular está relacionado à força de rotação que atua no
volume de controle. A força de rotação é usualmente conhecida como torque
e é expressa em Newtons (N no SI). O teorema do transporte de Reynolds
aplicado à conservação de momento angular fica:

dH ∂      
dt
) sistema= ∫
∂t VC
r × V ρ dV + ∫ r × V ρV . d A
SC

Existem três termos de força de rotação que podem contribuir ou ser


resultados das variações do momento angular dentro do volume de controle
e do fluxo de momento angular através da superfície de controle. Essas forças
são, da esquerda para a direita na equação abaixo, o torque de superfície, o
torque gravitacional e o torque no eixo.

     ∂      
r × FS + ∫VC r × g ρ dV + T =
eixo
∫ r × V ρ dV +
∂t VC ∫
SC
r × V ρV . d A

18 Fenômenos dos Transporte


O torque de superfície é o resultado do produto vetorial entre uma força
atuando na superfície do volume de controle e o seu vetor posição. O torque
gravitacional ocorre quando o fluido escoa por meio de um funil, por exemplo.
O torque no eixo é a força produzida pela rotação do volume de controle.

2.3 Energia e Entropia


A conservação da energia é outra importante propriedade geral
do escoamento. A conservação da energia é prevista pela primeira Lei da
Termodinâmica. O teorema do transporte de Reynolds aplicado à conservação
de energia fica:

dE . . ∂  
) sistema =Q − W = ∫ eρ dV + ∫ eρV ⋅ d A
dt ∂t VC SC

Em que a energia intensiva do volume de controle possui três


componentes, da esquerda para a direita, a energia interna intensiva, a
energia cinética intensiva e a energia potencial gravitacional intensiva, como
na equação a seguir:

V2
e =u + + gz
2

A taxa de trabalho (ou potência) é dividida em trabalho devido a


tensões cisalhantes e outros tipos de trabalho. Na equação abaixo, esses tipos
de trabalho foram assinalados com os índices cis e outros, respectivamente.
Ainda na equação abaixo, a energia total intensiva foi somada à energia em
razão das forças normais ao escoamento (pv) e substituída no termo de fluxo
de energia por meio da superfície de controle.

∂  V2   
Q − Wcis −=
Woutros ∫
∂t VC
e ρ dV + ∫
SC 
u + pv +
2
+ gz  ρV ⋅ d A

Fenômenos dos Transporte 19


Saiba Mais
A equação geral da conservação da energia também dá origem à
equação de Bernoulli. Saiba mais sobre a dedução da equação de
Bernoulli por meio do teorema do transporte de Reynolds aplicado
à conservação da energia lendo o capítulo 4 do livro Introdução à
mecânica dos fluidos. Leia mais

A entropia é a grandeza termodinâmica associada à desordem das


moléculas de um determinado sistema. Essa variação é prevista pela segunda
Lei da Termodinâmica. A variação dessa grandeza também pode ser
determinada em um volume de controle por meio do teorema do transporte
de Reynolds. O teorema do transporte de Reynolds aplicado à variação de
entropia fica:
dS ∂t  
dt
) sistema
= ∫
∂t VC
s ρ dV + ∫ ⋅d A
SC
s ρ V

Logo, a formulação da segunda lei da termodinâmica aplicada ao


volume de controle é definida pela equação geral a seguir:

∂   1 Q

∂t VC
s ρ dV + ∫
SC
s ρ V ⋅ d A ≥ ∫   dA
SC
T  A

Nessa equação, tanto o fluxo local de calor (taxa de calor sobre área)
quanto a temperatura local, T, devem ser conhecidos para cada elemento de
área da superfície de controle.

20 Fenômenos dos Transporte


Síntese
Nesta unidade de aprendizagem, você teve a oportunidade de conhecer
e estudar as seguintes propriedades gerais do escoamento: a conservação da
massa, do momento linear, momento angular, energia e entropia.

Você pôde compreender, também, como essas propriedades podem


ser analisadas na abordagem de volume de controle por meio do teorema
do transporte de Reynolds. Este leva em consideração a variação de uma
propriedade geral dentro do volume de controle, bem como a variação de seu
fluxo por meio da superfície de controle.

Por fim, você foi capaz de analisar a variação dessas propriedades em


exemplos práticos e pode perceber sua importância nos projetos de engenharia.
Referências
BRAGA FILHO, W. Fenômenos de transporte para engenharia. 2 ed. Rio
de Janeiro: LTC, 2012.

FOX, R. W.; PRITCHARD, P. J.; MCDONALD, A. T. Introdução à


mecânica dos fluídos. 9 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2018.

22 Fenômenos dos Transporte

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