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Universidade do Minho
2018/2019
A Pedagogia do Interesse Patente no Ensino da Direção de Leonard Bernstein
Índice
Introdução…………………………………………………………………………...… 3
Conclusão……………………………………………………………………...……... 11
Referências……………………………………………………………………...……. 12
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Introdução
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A Pedagogia do Interesse Patente no Ensino da Direção de Leonard Bernstein
Havia um pequeno grupo de maestros, do qual faziam parte Marin Alsop, atualmente
maestrina da Orquestra Sinfónica de Baltimore (EUA) e da Orquestra Sinfónica do Estado
de São Paulo (Brasil), Michael Tilson Thomas, atualmente maestro da Orquestra
Sinfónica de São Francisco (EUA) e Carl St. Clair, atualmente maestro da Orquestra
Nacional da Costa Rica e da Orquestra Pacific Symphony (EUA), que trabalhavam
regularmente com Leonard Bernstein e puderam trazer a público o método de ensino dele.
Marin Alsop descreve os momentos em que trabalhava com Bernstein como mágicos
e diz que sentia sempre que era a sua única aluna.
Foi quase uma experiência espiritual onde se perde consciência do que nos rodeia. E
cada segundo com ele parece uma hora. Lembro-me de cada pequena coisa que ele
me disse. Tu nunca sentias que ele te estava a ensinar, não era esse tipo de
experiência. Na verdade, ele estava a partilhar contigo a forma como se empolgava
com a música. (Simurda. 1991, p.3)
É claro, de acordo com o comentário de Marin Alsop, que Bernstein se assume como
um professor de mente aberta, cuja principal preocupação era levar a aluna numa viagem
espiritual, onde não havia uma sobreposição do aluno ao professor, eles os dois eram
apenas um.
Assim sendo, a sua pedagogia não tem o professor como protagonista do processo de
aprendizagem, mas sim a aluna, dando ênfase aos interesses subjetivos dela mais do que
ao interesse objetivo dos conteúdos de ensino. Há, também, referência a uma partilha de
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Esta aprendizagem começa quando a criança [neste caso a aluna] percebe, à sua
volta, factos ou saberes que satisfazem as suas necessidades espontâneas:
curiosidade, instinto de conhecer, de fazer ou de resolver problemas, etc.; como
reação subjetiva suscita-se na criança um interesse espontâneo em relação a tais
conteúdos, que, em consequência, são assimilados por ela de um modo natural, com
o consequente sentimento de prazer. (Claparède, citado por Cabanas, 2002, pp. 83-
84).
O segundo aluno a tecer comentário sobre Leonard Bernstein, Michael Tilson Thomas,
elogia a «extraordinária paciência e generosidade» (Ledbetter. 1988, p.94) de Bernstein
e acrescenta que ele fazia constantemente perguntas aos alunos para que eles ficassem a
pensar por algum tempo e respondessem assim que estivessem preparados para responder.
Sentia que Bernstein dava imensa importância aos processos de pensamento dos alunos e
fazia-os sentir que o pensamento e a forma como ele tinha de ser construído, era mais
importante do que a prática da direção.
Mais uma vez está patente a Pedagogia do Interesse no método de ensino do maestro
Bernstein. Na sua preocupação com os pensamentos dos alunos demonstra que lhe é mais
importante a forma como o aluno pensa sobre as matérias do que a técnica que o aluno
possa ter, ou seja, o conhecimento interior do aluno sobre a matéria é-lhe mais importante
do que o conhecimento sobre a técnica que deve ter para dominar essa matéria.
Na sua teoria acerca da Educação Funcional, Claparède afirma que a escola, ou neste
caso será o professor uma vez que as aulas eram individuais e privadas, tem de agarrar
uma «conceção funcional da educação e do ensino» (citado por Cabanas, 2002, p. 83) e
que essa conceção deve consistir em «considerar a própria educação como uma adaptação
progressiva dos processos mentais e ações determinadas por certos desejos» (citado por
Cabanas, 2002, p. 83). Deste modo, Bernstein apresenta-se como um professor
determinado em perceber esses processos mentais, nomeadamente os pensamentos e a
forma como o aluno atinge o objetivo final, de modo a que o aluno busque o conhecimento
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por si próprio. As questões que, propositadamente, lhe colocava, serviam como mediação
para o aluno atingir o seu fim, que era a compreensão dos conteúdos.
Por último, o terceiro aluno, Carl St. Clair, faz referência a muitas outras características
da pedagogia de Bernstein nomeadamente no que diz respeito à energia de que ele fazia
uso no momento em que trabalhava com os seus alunos.
Ele tira energia de todas as pessoas em que ele toca. Ele precisa dessa energia das
pessoas, mas dá em troca o seu amor e inspiração. O que quer que ele tire de ti, tu
voltas com interesse. E é por isso que eu sempre senti que precisava de ser tão aberto
quanto podia enquanto estava ao seu redor, para que eu pudesse obter o máximo que
pudesse dele. (Ledbetter. 1988, p.106)
Outras particularidades são também elogiadas por este maestro, nomeadamente a
capacidade de responder às questões juntamente com os alunos. Bernstein não dava a
resposta aos alunos, fazia com que eles se envolvessem numa pesquisa conjunta com ele,
com o objetivo de descobrir a resposta. Por exemplo, no que diz respeito a questões sobre
uma determinada partitura, Bernstein abria a partitura, chamava o aluno e esmiuçavam-
na juntos até o aluno encontrar, por si só, a resposta.
O primeiro aspeto a considerar é o uso da energia, que é uma prática pouco comum no
mundo da música nos dias de hoje. Os alunos são tecnicistas, preocupam-se demasiado
com não errar nenhuma nota e esquecem-se de que a música vive de energia, de intenção.
Bernstein certamente sabia o que fazia quando transmitia a sua importância com o uso da
energia a este seu aluno. Podemos imaginar que Carl. St. Clair era um aluno mais
introvertido, com pouca capacidade de expressar a música que já existia dentro de ele.
Por este motivo, Bernstein, como catalisador para o aluno se sentir mais à vontade, fá-lo
ver e sentir que a energia está em qualquer lado, em qualquer pessoa e que essa energia é
tudo o que ele necessita para ser mais extrovertido, mais natural e, por consequente, um
maestro mais musical.
É impossível não perceber que Bernstein nunca dava a resposta imediata a uma
pergunta, assim como também não respondeu diretamente a este aluno com estratégias
que o levassem a desinibir-se. Mais uma vez ele mostra-lhe o caminho, ele transforma-se
em algo que quer que o aluno acate para si mesmo, suscitando, deste modo, o interesse
nele para descobrir por si só a importância que tem de acatar aquela postura.
St. Clair também diz que Leonard Bernstein era muito permissivo no que diz respeito
aos gestos da direção. Contudo, ele tinha uma pedagogia própria que queria que os alunos
considerassem que consistia em deixar os gestos surgirem através da música e não apenas
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dirigir segundo o que dizem os livros de técnica. St. Clair acredita que o seu propósito era
«levar as pessoas a conhecer-se a elas próprias e deixar a música surgir através delas em
vez de impor algo de fora» (Ledbetter. 1988, p.108).
Em suma e com base nestas observações de alguns dos alunos de direção mais
próximos de Leonard Bernstein, pode assumir-se que o seu modelo de ensino consiste
numa aprendizagem centrada no aluno. Ele deixava cada um dos seus alunos aprender ao
seu próprio ritmo e dava-lhes liberdade para interpretar as matérias à sua maneira, com
base nas experiências que já tinham.
Visto de uma perspetiva geral, são três opiniões aparentemente distintas. Isto, pois,
como um professor cujo foco principal é o aluno e não ele próprio, cada aluno era único
e especial para ele. Não tinha uma metodologia igual para todos os alunos, não lecionava
da mesma forma estes três alunos, mas adequava a sua forma de ensinar com base no
aluno a quem estava a dar uma aula.
Por outro lado, a sua pedagogia era transversal num aspeto importantíssimo: não havia
uma preocupação pelo ensino das matérias, havia. Sim, pela aprendizagem de cada aluno.
Para isso, o maestro Bernstein criava diferentes metodologias, procurava conhecer o
interior do aluno, aquilo que ele já conhecia ou que lhe era familiar/natural para, através
disso, lhe transmitir as matérias que desejava.
Pode afirmar-se, com base nos comentários destes alunos e nas reflexões de Ledbetter
que a Pedagogia do Interesse, embora ainda hoje sendo posta um pouco de parte, era
realmente funcional com aqueles alunos, que hoje têm carreiras grandiosas no mundo da
direção de orquestra e que são reconhecidos pelas suas pedagogias e métodos de trabalho
subtis, diferentes dos demais e imensamente mais funcionais, isto porque, sem se
aperceberem ao princípio, os métodos de Leonard Bernstein estão intrinsecamente
ligados com os seus próprios métodos.
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Conclusão
Com a realização deste trabalho, concluo que na área do ensino, é importante ser
versátil e atender às dificuldades ou facilidades de cada um dos alunos. Consegui observar
mais aprofundadamente o método de ensino da Direção de um dos maestros de maior
renome mundial, Leonard Bernstein, e perceber que na sua pedagogia estão patentes
diversas ideias do ensino, o que fazia dele não um mentor tradicional para o aluno mas
sim uma pessoa que lhe dava os materiais, que o fazia aproximar das matérias e que se
dedicava a orientar o aluno para atingir os seus objetivos de ensino.
Foi interessante ver como Leonard Bernstein se reduziu ao seu papel de auxiliador e
não se deixava levar pelo típico cargo de professor, que colocava todo o seu foco
pedagógico no aluno e que se interessava pela compreensão dos pensamentos, das
sensações e do espírito crítico de cada um dos seus alunos muito mais do que ensinar os
conteúdos.
Fiquei a saber que Bernstein era muito paciente, esperava que os resultados dos seus
alunos chegassem da própria experiência deles aquando da aprendizagem das matérias;
Bernstein não tinha problemas em esperar semanas ou meses para que os seus alunos
atingissem os objetivos, pois para ele o importante era que conseguissem atingi-los por si
mesmos, baseando-se apenas nas oportunidades e nos encaminhamentos que lhe dava,
enquanto se mantinha um pouco à margem, observando a forma como os seus alunos
evoluíam e estavam cada vez mais perto do seu objetivo final.
Concluo que a Pedagogia do Interesse é, portanto, bastante evidente no método de
ensino da direção do maestro Leonard Bernstein, assim como um modelo de
aprendizagem focado no aluno e, tendo por base o sucesso profissional de todos os alunos
do maestro Bernstein, atrevo-me a concluir que é um método bastante eficaz no ensino
da direção, pois esta é uma área da música onde se tem mesmo de ter uma identidade
musical própria e isso não se consegue imitando o professor, assim como o professor não
deveria lecionar fazendo com que o aluno aprenda exatamente a ser como ele. A meu ver
esta é uma das graves lacunas do ensino da direção no mundo inteiro e, após a realização
deste trabalho, fico mais relaxado em saber que já no século passado havia um grande
maestro que a tentava combater.
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Referências
Ledbetter, S. (1988). Sennets & Tuckets (1a edição). Boston: David R. Godine Pub.
Simurda, S. J. (Julho, 1991). Maestro Lenny. Berkshire Magazine, pp.24-33.
Rozen, B. D. (1991a). Leonard Bernstein’s Educational Legacy. Music Educators
Journal, 78 (1), 43-46.
Rozen, B. D. (1991b). Reflections for teachers in all fields: Leonard Bernstein’s
Educational Legacy. Education Digest, 57 (4), 70-71.
Secrest, M. (1994). Leonard Bernstein: a life (1a edição). Nova Iorque: Vintage Books.
Cott, J. (1990). Leonard Bernstein: The Rolling Stone Interview. Rolling Stone, pp. 70-
93, 130.
Wikipedia (acedido em 18/12/2018). Leonard Bernstein. Recuperado de
https://pt.wikipedia.org/wiki/Leonard_Bernstein#Biografia.
Classical.org (acedido em 18/12/2018). Leonard Bernstein Praises Tea hing, The No lest
Profession in the World. The Holiday Experience. Retrieved from
https://bernstein.classical.org/features/leonard-bernstein-in-praise-of-teachers-the-noblest-
profession-young-peoples-concert-24/.
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