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APLICADO II
autora
LIDIA DUARTE VIVAS
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2018
Conselho editorial roberto paes e gisele lima
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2018.
isbn: 978-85-5548-575-6.
Atos cambiais 22
Saque e emissão 22
Apresentação, aceite, endosso e aval 22
Vencimento e pagamento 31
Ação cambial 38
Ação direta 38
Ação regressiva 39
Prescrição e defesa 39
Títulos de crédito em espécies: Letra de câmbio, nota promissória,
cheque e duplicata 39
Letra de câmbio 39
Nota promissória 43
Cheque 46
Duplicata Mercantil e de serviços 52
Comparativo entre nota promissória, cheque e duplicata 56
3. Contratos empresariais 61
Contratos de franquia 63
Contrato bancário 67
Contrato de depósito 68
Contrato de mútuo 69
Contrato de desconto 70
Contrato de abertura de crédito 71
Recuperação extrajudicial 91
Conceito 91
Pressupostos 92
Processamento 93
Recuperação judicial 94
Conceito, pressupostos, meios de recuperação 94
Do pedido e do processamento da recuperação judicial: 96
Do plano de recuperação judicial para microempresas e
empresas de pequeno porte 100
Da convolação da recuperação judicial em falência 101
5. Falência 107
Conceito e princípios 109
Conceito 109
Princípios 110
Legitimidade 112
Prezados(as) alunos(as),
Bons estudos!
7
1
Teoria geral dos
títulos de crédito
Teoria geral dos títulos de crédito
Os títulos de créditos, tais como o cheque, as duplicatas, a letra de câmbio
e a nota promissória estão presentes no dia a dia de todas as pessoas, seja como
agente empresarial (empresários, sócios ou acionistas), seja como consumidor de
produtos ou serviços.
Neste capítulo você irá encontrar informações e análises referente à teoria ge-
ral dos títulos de créditos. Sua história praticamente se confunde com o surgimen-
to da Letra de Câmbio. Assim, você irá concentrar a sua análise nos principais
institutos jurídicos específicos dos títulos de créditos, seu conceito, classificação,
suas figuras intervenientes, e seus principais institutos: saque, aceite, endosso, aval.
OBJETIVOS
O objetivo deste capítulo é conceituar os Títulos de Créditos e Princípios Norteadores
do Direito Cambiário; Enumerar as Características e Classificações dos Títulos de Crédito;
conhecer os principais institutos e Identificar a Legislação aplicada no Direito Cambiário.
capítulo 1 • 10
viável o estabelecimento de operações creditícias, a regulamentação das institui-
ções financeiras e a estrutura jurídica acerca das garantias oferecidas ao credor.
Desta maneira, o crédito se torna ferramenta jurídica e econômica com função
extremamente importante, pois permite maior circulação das riquezas, tornando
os capitais mais úteis e produtivos do que se ficassem paralisados nas mãos de
quem não sabe utilizá-lo.
Os títulos de crédito, por sua vez, tiveram sua origem na Idade Média, pro-
vavelmente no século XIII, surgindo como necessidade de se ter um documento
escrito para firmar acordos financeiros.
A partir do século XV, os títulos de crédito foram evoluindo em diferentes
lugares da Europa, buscando satisfazer os interesses dos comerciantes da época.
Em Roma, não tinha documento que provasse a existência dos títulos de crédito,
mas, no chamado período italiano (até 1673), o comércio funcionava com base na
confiança, ou seja, usava-se do câmbio apenas para trocar documento por moeda.
No período francês (1673 a 1848), os títulos de crédito passam a ser instru-
mento de pagamento. É nesta fase que surge o instituto do endosso, que viria
facilitar a circulação dos títulos de créditos.
No período alemão (1848 a 1930), o título se tornou abstrato, não tinha
necessidade de causalidade e nem exigência de fundos, mas existia o aceite, atri-
buindo responsabilidade de pagamento ao sacado. Surge, assim, a necessidade
de conceituação dos títulos de crédito, além de conferências para elaborar uma
legislação uniforme, uniformizadora das leis dos títulos de crédito. Esta convenção
veio a acontecer no período moderno (1930) em que alguns países se reuniram
para criar uma legislação única, que foi denominada Lei Uniforme de Genebra. O
Brasil incorporou esta lei apenas em 1966, através do Decreto 57.663/66. Antes
disso a lei aplicada no Brasil era apenas o Decreto 2.044/1908.
O conceito mais famoso acerca dos títulos de crédito é de Cesare Vivante,
quando afirma seu caráter de “documento necessário para o exercício do direito
literal e autônomo nele mencionado” (VIVANTE, p. 63 e 164).
Ressalte-se que apenas à primeira vista tal definição assemelha-se àquela cons-
tante do art. 887 do CC/2002 , in verbis: “Art. 887. O título de crédito, docu-
mento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente
produz efeito quando preenche os requisitos da lei.”
capítulo 1 • 11
Princípios ou atributos
Cartularidade (documentalidade)
O Código Civil Brasileiro de 2002 – art. 887 estabelece que o título de crédito
é um “documento necessário”. O emprego desta expressão faz indireta alusão ao
princípio da cartularidade.
A expressão cartularidade advém do latim chartula (papel pequeno, pedaço de
papel, escrito de pouca extensão), que remonta a ideia de papel, no sentido de que
a apresentação do documento seria essencial para o exercício do direito.
O princípio da cartularidade envolve as seguintes ideias e suas consequências:
1. O crédito deve estar materializado (coisificado) em um documento escrito
(título);
a) Não há que se falar em título de crédito verbal;
b) A materialização do documento não afasta a possibilidade de título
de crédito emitido a partir dos caracteres de computador ou meio técnico
equivalente (eletrônico ou virtual) – CCB/02 - Art. 889, § 3º;
c) Alguns autores identificam como Princípio da Incorporação ten-
do em vista que o direito de crédito se incorpora ao documento (ROSA
JÚNIOR, pg. 65).
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e) Sem apresentação do título de crédito o devedor não está obrigado ao
pagamento;
i) Pagamento feito de boa-fé a credor putativo que exige o crédito sem
apresentação do título de crédito não produz os efeitos do CCB/02 - Art.
309. Neste caso o devedor terá que pagar novamente ao credor que lhe
apresentar o título de crédito em original;
f ) Se o credor perder o título de crédito (extravio ou deterioração) ou for
injustamente desapossado (esbulho) pedir em juízo a substituição do título
de crédito ou impedir que o pagamento seja feito a terceiros – CCB/02 -
Art. 908 c/c art. 909.
Literalidade
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de um título de crédito (qualquer título de crédito) pressupõe a realização de um
contrato. O contrato não precisa ser escrito (pode ser verbal), embora a emissão do
título de crédito deva ser escrito por força do princípio da cartularidade.
As obrigações decorrentes dos contratos podem se submeter ao princípio da
acessoriedade e assim, podem ser classificadas conforme forem reciprocamente
consideradas. Desta maneira, dividem-se em obrigações contratuais principais e
acessórias.
As primeiras (principais) subsistem por si, sem depender de qualquer outra,
como a de entregar a coisa, no contrato de compra e venda.
As obrigações acessórias têm sua existência subordinada a outra relação jurí-
dica, ou seja, dependem da obrigação principal. É o caso, por exemplo, da fiança,
da cláusula penal, dos juros etc.
O princípio de que o acessório segue o destino do principal, foi acolhido pela
nossa legislação. CCB/02 - Art. 92: “principal é o bem que existe sobre si, abstrata
ou concretamente; acessório, aquele cuja existência supõe a do principal”. CCB/02 -
Art. 184, segunda parte, por sua vez diz que: “a invalidade da obrigação principal
implica a das obrigações acessórias, mas a destas não induz a da obrigação principal”.
CCB/02 - Art. 233 do mesmo diploma proclama que: “a obrigação de dar coisa
certa abrange os acessórios dela embora não mencionados, salvo se o contrário resultar
do título ou das circunstâncias do caso”.
Entretanto, com os títulos de créditos isto não ocorre em razão da incidência
do princípio da autonomia que pode ser visualizado e possui consequências sob
três ângulos:
1. Na emissão do título de crédito - A relação jurídica cartular é autônoma face
à relação jurídica contratual (causal).
Assim, a obrigação decorrente da emissão de um título de crédito não é a
mesma obrigação contida no contrato. São obrigações autônomas (separadas). A
autonomia, representa a separação e a dissociação entre as obrigações contratuais
e cambiárias.
Esta separação decorre da separação das relações jurídicas. Uma coisa é a rela-
ção jurídica contratual (compra e venda) outra coisa é a relação jurídica decorrente
da emissão do título de crédito (nota promissória).
A relação jurídica causal (o contrato) que origina o título de crédito (ex.: uma
compra e venda) não se confunde com a relação jurídica cartular (ex.: emissão de
uma nota promissória) dele decorrente.
capítulo 1 • 14
O título de crédito não é um documento comprobatório da relação jurídica
causal (contrato), mas sim um documento constitutivo de um direito novo e ori-
ginário (BORGES, pg.).
CCB/02 - Art. 888.
capítulo 1 • 15
a) Para alguns autores - Princípio da independência.
Para o professor Luiz Emygdio este aspecto da autonomia pode ser identifica-
do como “independência das obrigações” cambiárias. Assim, eventual vício existente
em uma das obrigações não se irradia para as demais, e, por isso os demais devedo-
res não ficam exonerados de suas obrigações pelos vícios das obrigações anteriores
(ROSA JÚNIOR, pg. 70).
3. Na cobrança do crédito - (Sub)Princípio da Inoponibilidade das Exceções
Pessoais ao Credor de Boa-Fé.
Este (sub)princípio é apenas a projeção processual do princípio da autonomia,
pois limita as matérias (exceções) que poderão ter sucesso em caso de arguição pelo
devedor executado em juízo.
Por este princípio, tendo o título de crédito circulado, o devedor de um título
de crédito não pode recusar o pagamento ao portador simplesmente alegando re-
lações pessoais com o sacador ou outros obrigados anteriores do título de crédito.
A importância prática desta concepção consiste na percepção de que, em mui-
tos casos, os títulos de créditos são emitidos em razão de contratos bilaterais com
obrigações sinalagmáticas.
• Obrigações sinalagmáticas - são aquelas em que ambas as partes têm di-
reitos e obrigações;
Nessas obrigações, existe um princípio, que é consequência lógica, da “exce-
ção do contrato não cumprido” – CCB/02 - Art. 476.
• Exceção do contrato não cumprido - Uma das partes pode se eximir de
cumprir com a sua obrigação (prestação) se demonstrar que a outra parte não
cumpriu com a obrigação dela.
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Isto significa que o possuidor de boa-fé exercita direito próprio, que não pode
ser restringido ou destruído em virtude das relações existentes entre os anteriores
possuidores e o devedor. Cada obrigação que deriva do título é autônoma em
relação às demais (REQUIÃO, p. 360).
OBS 01:
• Em toda fase de existência e circulação do título de crédito, o devedor pode-
rá ter sucesso em opor ao seu credor direto as defesas (exceções) de direito pessoal
que tenha contra ele (ex.: pagamento, prescrição etc.);
• A inoponibilidade das exceções pessoais ao credor de boa-fé incide se o
título de crédito houver saído das mãos do credor originário (circulado) e for apre-
sentado por um terceiro de boa-fé. Neste caso, nenhuma defesa (exceção) poderá
ter sucesso caso venha a ser apresentada (oposta) contra o terceiro (de boa-fé) se
estiver baseada na relação jurídica anterior;
• O terceiro, quando recebe o título de crédito o recebe purificado de todos
os vícios das relações jurídicas anteriores.
OBS 02:
Entretanto, HÁ EXCEÇÕES (DEFESAS) OPONÍVEIS. Por exemplo:
• Vícios formais do próprio título de crédito;
• Falta de requisitos para o legítimo exercício do direito de ação;
• Incapacidade do devedor principal (nulidade na emissão);
• Prova da má-fé do portador.
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Por este princípio as pessoas não dispõem de liberdade de inventar títulos de
créditos e dar ao invento efeitos jurídicos reservados por lei aos títulos de créditos
em sentido estrito.
Entretanto, a ausência dos requisitos legais apenas retira do título de crédito as
suas características de título, sem prejuízo do negócio jurídico que lhe deu causa.
CCB/02 - Art. 888.
a) Para alguns autores - Princípio da legalidade ou tipicidade.
Para o professor Luiz Emygdio este aspecto dos títulos de créditos pode ser
identificado como legalidade ou tipicidade em razão de ser numerus clausus.
(ROSA JÚNIOR, pg. 73).
a) Natureza empresarial;
Os títulos de créditos são, por natureza, comerciais desde as origens da disci-
plina, tendo em vista que independentemente da profissão ou atividade exercida
pelo emitente do título de crédito, bem como independe da natureza do contrato
celebrado que pode ser comum ou puramente empresarial.
Entretanto, há a exceção dos títulos de crédito de natureza rural (Decreto-lei
167/1967 – art. 10). Neste caso, o título de crédito é considerado de natureza civil
em razão da natureza não empresarial da atividade exercida pelo agente econômi-
co rural. Trata-se de mais um paradoxo da nossa legislação.
b) Formalismo;
Os títulos de créditos são considerados formais em decorrência do princípio
da legalidade ou tipicidade estrita no sentido de que as pessoas não dispõem de li-
berdade de inventar títulos de créditos e dar ao invento efeitos jurídicos reservados
por lei aos títulos de créditos em sentido estrito.
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c) Efeito pro solvendo;
Esta característica significa apenas que a simples emissão e entrega do título
ao credor, não significa que houve efetivação do pagamento. A simples emissão
título de crédito não significa que houve Novação. Representará, tão somente,
uma quantia em dinheiro que o credor receberá em momento futuro, ou seja,
para pagamento futuro. Se e quando este ocorrer, aí sim, haverá a extinção da
obrigação correspondente.
d) Bem móvel;
Em razão do princípio da cartularidade, os títulos de créditos não podem ser
verbais. Assim, em razão da necessidade de coisificação do título de crédito este
nascem como bens móveis. CCB/02 - Art. 47 e art. 48 c/c art. 82 a 84). A par-
tir desta característica que decorrem muitos efeitos do ato de endosso (estudado
a seguir).
e) Negociabilidade (Circulabilidade);
Em razão de ser um bem móvel que, por força do princípio da literalida-
de, contém expressamente um direito de crédito no título mencionado, este bem
móvel é suscetível de apreciação econômica. Por isso, é um bem suscetível de ser
negociado como qualquer outro bem com valoração econômica, como um dia-
mante, um automóvel, por exemplo. Portanto, o direito de crédito se materializa
no título e ambos, o documento e o crédito mencionado no título, podem ser
colocados em circulação como consequência de um negócio realizado.
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g) Certeza e liquidez da obrigação;
A obrigação contida nos títulos de créditos é considerada líquida por ser certa,
quanto à sua existência, e determinada, quanto ao seu objeto. Essa modalidade é
expressa por uma cifra, por um algarismo, quando se trata de dívida em dinheiro.
O estudo das classificações dos títulos de créditos tem por fim organizar e
sistematizar algumas características comuns às diversas espécies de títulos de crédi-
tos. Não há uma classificação mais adequada ou melhor que a outra. Adotaremos
as mais comuns utilizadas pela doutrina nacional.
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Quanto à estrutura
Quanto à modelo
Quanto à circulação
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b) Nominativos - São os que identificam o seu credor e sua transferência, pres-
supõe além da tradição o registros nos livros da entidade emissora.
I. Nominativos à ordem – Circulam mediante tradição, acompanhada de
endosso (assinatura no verso ou anverso do título);
II. Nominativos não à ordem - Circulam mediante tradição acompanhada
da cessão de créditos. (É um contrato).
Atos cambiais
Saque e emissão
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O endosso é a declaração cambial lançada no verso ou anverso do título
à ordem pelo seu possuidor com o objetivo de transferir esse título de crédito
para terceiro.
Essa declaração cambial integra a transmissão da posse e da propriedade do
título de crédito bem como o exercício e a titularidade do direito do direito de
crédito mencionado no título de crédito (Endosso Próprio - efeitos).
São sujeitos partícipes do endosso: a) O endossante (endossador) – quem rea-
liza o ato de endosso; b) O endossatário ou adquirente do título de crédito.
Na transferência por endosso não há sucessão jurídica entre endossante e en-
dossatário. Este, endossatário, adquire, pela autonomia das obrigações cambiárias,
um direito autônomo, não lhe cabendo assim indagar se houve irregularidade
no título.
Não se referindo o endosso apenas à circulação do direito, mas também da
posse do título de crédito, não há possibilidade de endosso parcial, por que não
pode ser parcial a transmissão da posse de uma coisa – CCB/02 - Art. 912, pará-
grafo único.
Efeitos do endosso: a) A transferência da posse e propriedade do título; b) A
responsabilidade solidária (cambiária) do endossante.
a) A transferência da posse e propriedade do título - O endossatário torna-se pos-
suidor, proprietário e titular dos direitos contidos no título, como se deles o tivesse
sido originariamente, podendo por vontade própria transmitir a outra pessoa;
b) A responsabilidade solidária (cambiária) do endossante - o endossante assume,
com o endosso, uma obrigação solidária (de regresso). Trata-se de uma obrigação
autônoma, como qualquer outra obrigação cambiária, e cuja assunção deve ser
mantida distinta da tradição do título. A responsabilidade solidária cambial é di-
versa da comum. Nesta (comum), se um codevedor paga a totalidade da dívida,
ela será repartida entre todos (CCB/02 - Art. 283). Enquanto na responsabilidade
solidária cambiária, se um paga, tem o direito de receber a totalidade da dívida dos
obrigados anteriores (LUG - Art. 47).
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Devedor não pode alegar contra o endossatário de boa-fé as exceções pessoais,
mas as pode alegar contra o cessionário.
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f ) Endosso sem data – Caso não seja atribuída data ao endosso, presume-se que
o endosso foi feito antes do protesto. Neste caso considera-se o endosso comum.
capítulo 1 • 25
Aval
O aval é um ato cambiário de garantia especial que tem por objetivo garantir
o pagamento de título de crédito cambiário. Portanto, o aval é uma manifestação
unilateral de vontade, caracterizada por ser uma garantia pessoal (fidejussória)
de pagamento de uma quantia mencionada o título de crédito dada por terceiro
(avalista), em favor de um obrigado cambiário (avalizado).
O avalista é um obrigado cambial, tendo ocupado a mesma posição jurídica
da pessoa por ele avalizada. Desta forma, o avalista pode ser um obrigado principal
ou coobrigado, dependendo da posição do avalizado. Por exemplo: o aceitante é
devedor principal. O avalista do aceitante também é devedor principal. O emi-
tente e os endossantes são codevedores garantidores. O avalista do emitente ou
de endossante também é codevedor, garantidor. Esta distinção é importante para
eventual ação executiva. A ação executiva proposta em face do devedor principal
(ou de seu avalista), não haverá necessidade de protesto, pois este é meramente
facultativo. Porém, se a ação executiva for proposta em face de um codevedor (ou
de seu avalista) o protesto é necessário.
Na realidade, obrigação do avalista é da mesma espécie que a do avalizado,
mas não é a mesma da do avalizado, pois essa obrigação (do avalizado) pode não
ser válida. Neste caso, a obrigação do avalista não sofre a menor restrição quanto
à validade e à eficácia.
O aval é obrigação autônoma, independente de quaisquer outras decorrentes
do título crédito cambiário, inclusive da do avalizado - LUG - Art. 32. Firmando
o aval, o avalista será responsável solidário em relação ao pagamento, do título,
sem embargo da falsidade, da falsificação ou da nulidade de qualquer outra assi-
natura LUG - Art. 47.
A garantia do avalista pode ser por todo o pagamento, ou apenas por parte
dele. Desta maneira admite-se o aval parcial – LUG - Art. 30 – 1ªP. Esclarece a lei
que essa garantia, o aval, pode ser dada por um terceiro ou mesmo por pessoa que
já seja signatária do título – LUG - Art. 30, 2ªP.
Em regra, o aval é dado na frente (anverso) do título de crédito e resulta da
simples assinatura do avalista – LUG - Art. 31, 2ªP.
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em que o credor confia que o pagamento vá ocorrer. No direito brasileiro as ga-
rantias podem ser: a) Reais (Hipoteca, Penhor, Anticrese, Alienação Fiduciária
em Garantia) e b) Pessoas/Fidejussórias (Fiança e Aval). Entretanto, não se deve
confundir tais institutos.
AVAL FIANÇA
DIFERENÇAS
É uma declaração unilateral de vontade É um Contrato – CCB/02 - Art.818
DIFERENÇAS
Fiador, salvo cláusula em contrário, é res-
Avalista é responsável solidário cambiário
ponsável subsidiário – CCB/02 - Art.827,
– LUG - Art. 47
caput e parágrafo único c/c art. 828, I.
PONTOS EM COMUM
1. São garantias pessoais.
Espécies de aval
capítulo 1 • 27
Aval pleno (total) e Aval parcial:
c) Aval pleno (total) - aquele em que o avalista garante a totalidade da dívida do
avalizado;
d) Aval parcial - Quando o avalista garante parte da dívida do avalizado LUG -
Art. 30, 1ªP;
I. Cada título de crédito, conforme sua lei específica, determina se o aval
poderá ou não ser total ou parcial;
II. A letra de câmbio, o cheque, e a nota promissória permitem aval total
ou parcial;
III. Já os demais casos (Duplicatas) permite-se apenas o aval total –
CCB/02 - Art. 897, parágrafo único.
capítulo 1 • 28
Pluralidade de Avais - Aval Simultâneo e Aval Sucessivo:
Inicialmente faz-se necessário entender que para se entrar nessa análise é pre-
ciso ter, no mínimo, duas pessoas como avalistas.
capítulo 1 • 29
Consentimento do cônjuge
Jurisprudência do STJ
capítulo 1 • 30
de crédito e afeta, por extensão, a sua aceitação no mercado. Segundo a Corte, a
interpretação do artigo 1647 do CCB/02 que mais se adequa às características
do aval como instituto cambiário é aquela que restringe a aplicação das regras do
Código Civil aos avais prestados nos títulos regidos pelo próprio código (atípicos),
não alcançando os títulos de créditos nominados (típicos), que são regrados por
leis especiais que não preveem a necessidade de outorga uxória ou marital.
Vencimento e pagamento
Segundo Fabio Ulhoa Coelho o vencimento ´pode ser definido como o fato
que torna o crédito cambiário exigível. (COELHO, pg. 491). Poderá der classifi-
cado em ordinário e extraordinário.
a) ordinário – em geral decorrente do decurso temporal, sendo esse o pressu-
posto para a cobrança do crédito documentado pelo título. Ocorrerá também, o
vencimento ordinário quando se tratar de título à vista, pois o fato que tornará
exigível o documento é sua apresentação;
b) extraordinário – ocorre em decorrência de situações específicas, como por ex.:
a recusa do aceite pelo sacado, falência do aceitante (LUG-art. 43).
ATIVIDADES
01. XX EXAME DE ORDEM
Cícero sacou uma letra de câmbio em favor de Amélia, tendo designado como sacado
Elísio, que acatou a ordem de pagamento. A primeira endossante realizou um endosso em
preto para Dario, com proibição de novo endosso. Diante do efeito legal da cláusula de proi-
bição de novo endosso, assinale a afirmativa correta.
a) Caso Dario realize um novo endosso, tal transferência terá efeito de cessão de crédito
perante os coobrigados e efeito de endosso perante o aceitante.
capítulo 1 • 31
b) Dario não poderá realizar novo endosso no título sob pena de desoneração de respon-
sabilidade cambial dos coobrigados.
c) Tal qual o endosso parcial, a proibição de novo endosso é nula por restringir a responsa-
bilidade cambiária do endossante e do sacador.
d) Amélia, embora coobrigada, não responde pelo pagamento da letra de câmbio perante
os endossatários posteriores a Dario.
02. Aval e Fiança constituem garantias pessoais, fidejussórias, contudo são insti-
tutos com características próprias. Com base nessa afirmativa, marque a alternati-
va CORRETA:
a) O aval é uma obrigação principal, enquanto que a fiança é uma obrigação acessória.
b) O aval poderá ser conferido em documento separado do título, enquanto que a fiança
somente no próprio contrato.
c) O aval apresenta benefício de ordem, enquanto que a fiança, tal procedimento é proibido.
d) O aval vincula-se às normas do direito derivado, enquanto que a fiança às normas do
direito autônomo.
03. Verificamos que ao classificarmos os tipos de endosso eles poderiam ser pró-
prios e impróprios. Considerando as normas do direito cambiário, pode-se afirmar
que o endosso póstumo, classificado como impróprio, é aquele realizado:
a) após a morte do sacador; c) após o vencimento do título;
b) no valor parcial do título; d) após o aceite do título.
REFLEXÃO
Neste capítulo você estudou os princípios gerais dos títulos de crédito, verificando a
cartularidade, como a materialização do direito em um documento, a literalidade, onde o título
vale somente pelo que nele está mencionado e o princípio matriz, a autonomia, que represen-
ta a independência das relações cambiais.
Conheceu as suas principais características, como sua natureza empresarial, negocia-
bilidade, título de apresentação e resgate necessários, dentre outros, visando um melhor
entendimento desta natureza peculiar de obrigação.
Com efeito, verificou suas classificações sob diversos aspectos, como por exemplo, tí-
picos e atípicos, modelo livre e vinculado, ordem e promessa de pagamento, dentre outros.
capítulo 1 • 32
Estudou também, os atos cambiais, como o saque, que constitui o ato de criação do títu-
lo, o aceite, como a declaração unilateral do sacado que o transforma em devedor principal,
além do endosso, instrumento de circulação dos títulos à ordem, com suas espécies e efeitos.
Não obstante, conheceu o instituto do aval, garantia pessoal em títulos de crédito, com as
suas modalidades, efeitos e distinção da fiança. Por fim, identificou o vencimento dos títulos,
suas modalidades e efeitos em relação ao pagamento e suas consequências.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASCARELLI, Tullio. Teoria geral dos títulos de crédito. São Paulo: Saraiva, 1943.
BORGES, João Eunápio. Títulos de Crédito. 2ª Edição- 7ª tiragem. Rio de Janeiro. Editora Forense,
1977.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. 19º ed. São
Paulo: Saraiva, 2015.
COSTA, Wille Duarte. Títulos de Crédito. 4ª ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2008.
MARTINS, Fran. Títulos de Crédito – Rio de Janeiro. Forense, 1998 – Vol. I
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. 2.º vol.
ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Títulos de Crédito. 4ª edição – Rio de Janeiro. Editora
Renovar. 2006.
VIVANTE, Cesare. Trattato di diritto commerciale. 5. ed. Milão: Francesco Vallardi, 1935. vol. III.
capítulo 1 • 33
capítulo 1 • 34
2
Títulos de crédito:
Protesto, ação
cambial e espécies
Títulos de crédito: Protesto, ação cambial e
espécies
OBJETIVOS
O objetivo deste capítulo é conhecer o protesto dos títulos de crédito e seu procedimen-
to; compreender as ações cambiais e sua aplicação e; identificar as distintas espécies de
títulos de crédito.
Protesto de títulos
Conceito e finalidade
capítulo 2 • 36
Fases do protesto
Ricardo Negrão sustenta que, “o protesto é ato jurídico, praticado pelo tabe-
lião de protestos de títulos, de natureza formal e solene”. (NEGRÃO, 2015, p.
97). Nesse sentido, o protesto é ato formal, composto por três fases, previstas na
Lei 9492/97. O cumprimento das três fases é obrigatório, sob pena de nulidade
do protesto, a saber: recepção e apontamento; qualificação e intimação e; lavratura
do instrumento.
A primeira fase consiste na recepção e apontamento, em que o credor apre-
senta o título ao tabelião, fase da recepção. Se houver mais de um tabelião no
município, haverá distribuição. O apontamento é o ato em que o tabelião realiza
a anotação no livro do protocolo. A segunda fase se inicia com a qualificação, em
que após o apontamento, o tabelião verifica a existência de vício formal do título.
Em caso de qualificação negativa, o título é devolvido ao credor. Caso haja qualifi-
cação positiva, procede-se à intimação do destinatário do título. A intimação pode
ser pessoal, postal ou por edital.
Caso o devedor não se manifeste após a intimação, ocorrerá a terceira fase, que
é a lavratura do instrumento de protesto.
Protesto especial
capítulo 2 • 37
Sustação do protesto
Protesto judicial
Ação cambial
Ação direta
capítulo 2 • 38
Ação regressiva
Prescrição e defesa
Nesta seção, você estudará quatros espécies de títulos de crédito: letra de câm-
bio, nota promissória, cheque e duplicata. Iniciaremos o estudo por meio da letra
de câmbio, seguida pela nota promissória, cheque e encerraremos o estudo dos
títulos de crédito com a duplicata.
Letra de câmbio
O primeiro título que será objeto de estudo nesta seção será a letra de câmbio.
A letra de câmbio encontra-se prevista no ordenamento jurídico brasileiro nos
artigos 1º a 74 do anexo I do Decreto 57.663/66, também conhecido como LUG,
Lei Uniforme de Genebra.
capítulo 2 • 39
Origem, finalidade e natureza jurídica
A letra de câmbio possui origem na Itália na idade média, cujo sistema polí-
tico era o feudal. A Europa organizava-se em feudo, cada qual com suas normas,
moedas e dialetos. Os comerciantes percorriam os feudos, distantes uns dos ou-
tros. As rotas se tornavam inseguras, tendo em vista que percorriam longas dis-
tâncias com grande quantidade de moedas. Segundo ULHOA (2017, p. 399), “os
comerciantes necessitavam, assim, de um instrumento que possibilitasse a troca
de diferentes moedas quando, com intuito de realizar negócios, deslocavam-se de
um lugar para outro.”
Neste sentido, surge a letra de câmbio, cuja finalidade consistia em viabilizar o
câmbio das moedas. Pode-se afirmar que existem três períodos referentes ao histó-
rico da letra de câmbio: a fase italiana, a fase francesa e a fase alemã. A fase italiana
surge no século XIII até o final do século XVII, envolve a troca de moedas distin-
tas e o deslocamento do titular do crédito. A fase francesa, que se inicia em 1673
e perdura até o final do século XIX, exigia um determinado recurso financeiro do
emitente junto ao destinatário. A fase alemã começou em 1848 e perdura até os
dias atuais e foi a responsável pela uniformização da letra de câmbio.
Quanto à natureza jurídica, trata-se de um título executivo extrajudicial, pre-
visto no Código de Processo Civil, no artigo 784, inciso I.
capítulo 2 • 40
a formação da letra de câmbio. A formação da letra de câmbio ocorre quando os
dois negócios jurídicos originários possuem em comum uma pessoa (sacador).
Esta pessoa, em um negócio jurídico assume a posição de devedor e no outro
negócio jurídico assume a posição de credor. Nesta forma, esta pessoa une os dois
negócios jurídicos ao ordenar que o seu credor (aceitante/sacado), pague ao seu
devedor (beneficiário) determinada quantia em uma determinada época. Por esta
razão, a letra de câmbio, quanto à estrutura é uma ordem de pagamento, em que
o sacador (aquele que emite) ordena que o aceitante (sacado) pague determinada
quantia ao beneficiário (credor).
A partir do momento em que foram celebrados os dois negócios jurídicos e
o sacador os reuniu, ao emitir uma ordem ao seu devedor do negócio jurídico
originário (sacado/aceitante) para que pague ao seu credor do negócio jurídico
originário (beneficiário) uma determinada quantia em um determinado momen-
to e entregou ao beneficiário, houve o saque da letra de câmbio. Assim, o saque
envolve a formação e emissão do título de crédito e a entrega ao beneficiário. O
próximo passo consiste na apresentação do título ao aceitante/sacado, para que
verifique se aceita ser devedor principal da obrigação contida no título de crédito,
que será examinada na próxima seção.
a) Aceite
O aceite é ato cambiário típico do aceitante. Isto significa que apenas será en-
contrado aceite em se tratando de títulos de crédito, além de ser ato exclusivo do
aceitante, ou seja, apenas tem competência para aceitar, o aceitante/sacado.
O aceite consiste no ato pelo qual o credor torna-se o devedor principal da
obrigação prevista na letra de câmbio. Caso aceite, se tornará o devedor principal.
O aceite pode ser total ou parcial. O aceite total ocorre quando aceita-se a inte-
gralidade das condições, ou seja, o aceitante concorda com a quantia e o prazo
capítulo 2 • 41
para pagamento. O aceite parcial é aquele em que existe alguma restrição. Neste
sentido, o aceite pode ser parcial limitativo ou parcial modificativo. O aceite par-
cial modificativo ocorre quando o aceitante não concorda com o vencimento da
letra de câmbio, ou seja, quando esta se torna exigível. O aceite parcial limitativo
verifica-se quando o aceitante não acorda em relação à quantia devida contida na
letra de câmbio.
A consequência do aceite total é a assunção da responsabilidade cambiária do
aceitante/sacado. Neste caso, este se torna o devedor principal da obrigação conti-
da na letra de câmbio. A consequência do aceite parcial, seja limitativo ou modi-
ficativo, consiste no vencimento extraordinário, tendo em vista que o vencimento
se tornará imediato, em função da vulnerabilidade em que se encontra o credor.
Neste caso, deverá ocorrer o protesto e o título se torna-se imediatamente exequí-
vel em face do sacador, que até então era o devedor principal do título de crédito.
O aceite na letra de câmbio é facultativo, tendo em vista que não existe ne-
nhuma relação jurídica celebrada entre sacado e beneficiário. Fabio Ulhoa ensina
que “o aceite é sempre facultativo. Isso significa que, mesmo na hipótese de o
sacado ser devedor do sacador ou tomador, ele não está obrigado a representar essa
sua dívida por um título de crédito” (ULHOA, 2017, p. 409). Assim, nada impe-
de que o sacado se recuse a ser o devedor principal da letra de câmbio. Compete
ressaltar que, a recusa do aceite enseja o protesto por falta de pagamento e o
vencimento extraordinário da letra de câmbio, uma vez que o título se torna ime-
diatamente exequível.
b) Endosso
O endosso é ato típico do direito cambiário, o que representa que o endosso
apenas pode ser utilizado para os títulos de crédito. O endosso é o ato pelo qual
se permite a circulabilidade da letra de câmbio. Assim, o endosso produz, via de
regra, dois efeitos: transferência da titularidade e assunção da responsabilidade
cambiária. Em relação à letra de câmbio, aplicam-se as mesmas regras estudadas
na parte geral dos títulos de crédito no capítulo 1. Cabe ressaltar que, nos ensina-
mentos de Ricardo Negrão, “a letra de câmbio é essencialmente emitida à ordem,
independentemente de cláusula expressa. É possível, entretanto, a inserção de
cláusula não à ordem, tornando o título intransmissível por endosso” (NEGRÃO,
2015, p. 85).
capítulo 2 • 42
c) Aval
O aval consiste em uma garantia cambiária fidejussória. Isto é, ato típico do
direito cambiário, ao se tratar de uma garantia extra, que apenas se aplica aos
títulos de crédito. Ademais, o aval é fidejussório, tendo em vista que encontra-se
pautado na fé, confiança conferida pelo avalista, que assume a posição de coobri-
gado pela letra de câmbio, sem necessidade de comprovação de meios pelos quais
pretende-se arcar com a obrigação assumida.
Em relação à letra de câmbio, aplicam-se todas as regras estudadas no capítulo
anterior. Assim, o aval pode ser total ou parcial e em relação às espécies, o aval
pode ser simultâneo ou sucessivo. Fabio Ulhoa estatui que “o aval representa ga-
rantia dada em favor de devedor da letra de câmbio. Ele é autônomo e equivalente
à obrigação do avalizado” (ULHOA, 2017, p. 422).
Protesto
Nota promissória
capítulo 2 • 43
Quanto à natureza jurídica, trata-se de um título executivo extrajudicial, pre-
visto no Código de Processo Civil, no artigo 784, inciso I.
A origem histórica da nota promissória se assemelha a da letra de câmbio.
Ambas oriundas na Europa da Idade Média. Na fase italiana da letra de câmbio,
os banqueiros emitiam documentos nos quais se comprometiam a pagar a soma
depositada ao depositante. A doutrina sustenta, que a nota promissória surge nes-
te momento. Aos longos dos anos evoluiu e passou a ser considerada título de
crédito.
Segundo Fabio Ulhoa, a nota promissória tem como finalidade realizar “uma
promessa do subscritor de pagar quantia determinada ao tomador, ou à pessoa a
quem esse transferir o título” (ULHOA, 2017, p. 440).
capítulo 2 • 44
jurídico originário, que passa a ser denominado de beneficiário. Por esta razão,
quanto à estrutura, a nota promissória é uma promessa de pagamento, em que o
promitente-devedor (aquele que emite) promete que pagará determinado valor ao
beneficiário (credor).
No momento em que se celebra o negócio jurídico originário e devedor deste
negócio jurídico emite uma promessa de pagamento, em que assume a condição
de devedor principal da obrigação contida na nota promissória em relação ao
credor do negócio jurídico originário o valor estipulado na data prevista, houve
o saque da nota promissória. Assim como na letra de câmbio, o saque envolve a
formação e emissão da nota promissória e a entrega ao beneficiário. Contudo, não
haverá a apresentação ao aceite, tendo em vista que o emissor da nota promissória
ao emiti-la, assume tanto a posição de sacador (emitente), como de sacado (deve-
dor principal) da nota promissória.
Os próximos passos dependerão do beneficiário, que poderá aguardar a data
do vencimento e cobrar diretamente o promitente-devedor ou poderá endossar a
nota promissória, que serão examinados na próxima seção.
Uma vez que tenha havido o saque da nota promissória e esta se encontra em
mãos do beneficiário (aquele que era o credor originário da obrigação pecuniária
originária), que poderá realizar o endosso ou aguardar o vencimento para execu-
tar o promitente-devedor. No capítulo 1, foi possível identificar os institutos do
aceite, endosso e aval, aplicáveis de forma genérica. Fabio Ulhoa sustenta que “o
regime da nota promissória é o da letra de câmbio com quatro ajustes” (ULHOA,
2017, p. 443). Nesta seção, estes institutos serão revisitados, porém com a pers-
pectiva direcionada para a nota promissória.
a) Aceite;
O aceite é ato cambiário típico do aceitante. Assim, apenas haverá aceite nos
títulos de crédito. Ademais, trata-se de ato exclusivo do aceitante, ou seja, ape-
nas tem competência para aceitar o título de crédito, aquele que figura como
aceitante/sacado.
O aceite consiste em o ato pelo qual o credor torna-se o devedor principal da
obrigação prevista na letra de câmbio. Caso aceite, tornar-se-á o devedor principal.
Contudo, diferentemente da letra de câmbio, não há espaço para o aceite na
nota promissória, uma vez que a nota promissória representa uma promessa de
capítulo 2 • 45
pagamento, emitida pelo próprio devedor, que ao sacá-la se torna automaticamen-
te o próprio devedor principal. Portanto, não há necessidade de que ele mesmo se
comprometa posteriormente.
b) Endosso;
O endosso é ato típico do direito cambiário, o que representa que o endosso
apenas pode ser utilizado para os títulos de crédito. O endosso é o ato pelo qual
se permite a circulabilidade da nota promissória. Assim, o endosso produz, via de
regra, dois efeitos: transferência da titularidade e assunção da responsabilidade
cambiária. Em relação à nota promissória, a LUG faz alusão às mesmas regras
previstas para a letra de câmbio. Desta forma, aplicam-se as normas analisadas no
capítulo 1.
c) Aval.
O aval consiste em uma garantia cambiária fidejussória. Isto é, ato típico do
direito cambiário, ao se tratar de uma garantia extra, que apenas se aplica aos
títulos de crédito. Ademais, o aval é fidejussório, tendo em vista que encontra-se
pautado na fé, confiança conferida pelo avalista, que assume a posição de coobri-
gado pela nota promissória, sem necessidade de comprovação de meios pelos quais
pretende-se arcar com a obrigação assumida. O aval pode ser total ou parcial e em
relação às espécies, o aval pode ser simultâneo ou sucessivo.
Em relação à nota promissória, aplicam-se as normas analisadas no capítulo
anterior, assim como ocorre em relação à letra de câmbio, tendo em vista a deter-
minação contida no art. 77 da LUG.
Protesto
Cheque
capítulo 2 • 46
Noções gerais, natureza jurídica e requisitos essenciais
capítulo 2 • 47
jurídico previu no art. 69 da Lei 7357/85, que compete ao Conselho Monetário
nacional traçar normas de padronização para os cheques. Assim, no cheque, além
de conter obrigatoriamente os requisitos essenciais contidos no art. 1º e 2º da Lei
do Cheque, apenas o cheque emitido pelas instituições financeiras, nos padrões
do Conselho Monetário Nacional possui valor como cheque e considera-se título
de crédito.
Considera-se ainda como requisitos essenciais a provisão de fundos e autoriza-
ção para emissão de cheque, nos termos do art. 4º. Isto significa que apenas pode
emitir cheque, se houver provisão de fundos, ou seja, se tiver recursos financeiros
disponíveis em conta bancária. Ademais, outro requisito essencial é a autorização
para a emissão de cheque que decorre do contrato de abertura de conta corrente
com a instituição financeira, que permite o saque de cheque.
capítulo 2 • 48
• Cheque visado - O cheque visado é aquele emitido pelo correntista, que
possui o visto do gerente. O objetivo do cheque visado é garantir ao credor a exis-
tência de recursos na conta do devedor. No entanto, a garantia da existência deste
valor permanece apenas durante o prazo de apresentação (que será examinado na
próxima seção). Isto porque, quando o gerente apõe seu visto no cheque, bloqueia
o valor da conta de devedor. Este valor permanecerá bloqueado durante o prazo
de apresentação. Caso no prazo de apresentação não haja provisão de recursos, o
gerente será pessoalmente responsável pelo não pagamento. Caso o cheque apenas
seja apresentado após o prazo de apresentação e ainda existir o valor, a instituição
financeira realizará o pagamento, contudo, caso não haja disponibilidade do valor,
não há que se falar de responsabilidade pessoal do gerente, tendo em vista que sua
responsabilidade perdura apenas no prazo de apresentação, conforme disposto no
art. 7º da Lei 7357/85;
• Cheque administrativo - O cheque administrativo, assim como o cheque
visado possuem como objetivo garantir ao beneficiário, a existência de recursos fi-
nanceiros destinados ao pagamento. Todavia, enquanto o cheque visado é emitido
pelo correntista, o cheque administrativo é emitido pela instituição financeira em
face dela mesma. Nesta espécie de cheque, o correntista solicita que a instituição
financeira emita um cheque em face dela mesma. O mecanismo de funcionamen-
to ocorre, tendo em vista que o gerente da instituição financeira fará a retirada dos
valores da conta corrente do devedor e transferirá para a conta da própria institui-
ção. A vantagem desta modalidade consiste em que a garantia não estará atrelada
apenas ao prazo de apresentação;
• Cheque cruzado - O cheque cruzado consiste em um cheque que possui
duas linhas em paralelo (popularmente, as linhas são feitas em diagonal, no canto
superior à esquerda, porém nada impede que sejam linhas horizontais, verticais no
canto superior ou inferior, independentemente dos lados), nos termos do art. 44
da Lei 7357/85. Objetiva-se com o cheque cruzado evitar seu pagamento direta-
mente nos caixas da instituição financeira. Desta forma, o beneficiário/portador
deste cheque apenas poderá endossar ou realizar o depósito. O cheque cruzado
se divide em cheque cruzado em branco e cheque cruzado em preto. O cheque
cruzado geral, também denominado de cheque cruzado em branco, é aquele em
que entre as linhas paralelas não existe nada escrito, ou seja, não existe a indicação
de um banco específico, de acordo com o previsto no art. 44, parágrafo 1º. Já o
cheque cruzado especial, conhecido ainda como cheque cruzado em preto, possui
capítulo 2 • 49
entre as linhas paralelas a indicação do nome do banco, nos termos do mesmo art.
44, parágrafo 1º;
• Cheque para crédito em conta - O cheque para crédito em conta é o
cheque cujo objetivo exclusivo é a realização do depósito em conta. Isto porque,
nesta modalidade de cheque, não é possível o endosso (isto é, não permite-se a
circulabilidade do cheque), nem mesmo a retirada diretamente do caixa. Cabe ao
beneficiário tão somente o depósito, de acordo com o previsto no art. 46 da Lei
7357/85. Em função do princípio da literalidade, em que vale tudo o que estiver
escrito no título de crédito e apenas o que estiver escrito (devidamente estudado
no capítulo 1, o cheque para crédito em conta será identificado por meio da escrita
da expressão “para ser creditado em conta”, nos termos do próprio art. 46, caput.
b) Endosso
Conforme devidamente estudado no capítulo anterior, o endosso é ato típico
do direito cambiário, o que representa que o endosso apenas pode ser utilizado
para os títulos de crédito. Assim, o endosso é o ato pelo qual se permite a circulabi-
lidade do cheque. A Lei 7357/85, nos artigos 17 a 28 aborda as regras aplicáveis ao
endosso, que são as analisadas no capítulo 1, que envolvem conceito, efeitos e es-
pécies de endosso. Todavia, cabe esclarecer que durante a vigência a Contribuição
Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), apenas foi permitida a inci-
dência de um único endosso, nos termos do art. 17 da Lei 9311/1996. O intuito
deste dispositivo consistia em evitar a circulabilidade do cheque.
“O endosso pode ser lançado em branco ou em preto, caracterizando o pri-
meiro pela simples assinatura do endossante, seguida ou não da expressão “ao
portador”; o segundo é aquele que especifica o nome do nome beneficiário, en-
dossatário do título” (NEGRÃO, 2015, p. 138). Desta forma, verifica-se que o
endosso em branco torna o cheque ao portador, enquanto o endosso em preto
torna o cheque nominativo.
Em relação à circulabilidade, Fabio Ulhoa nos ensina que “o cheque “não à
ordem” é transferível mediante cessão civil de crédito. Não se confunde com o
cheque “não transmissível, que não circula” (ULHOA, 2017, p. 449).
c) Aval.
Em relação ao cheque, aplicam-se as normas analisadas no capítulo anterior
em relação às espécies e características, conforme estabelecido nos artigos 29 a 31
da Lei 7357/85. Assim, o aval representa uma garantia cambiária fidejussória. Isto
é, ato típico do direito cambiário, ao se tratar de uma garantia extra, que apenas se
capítulo 2 • 50
aplica aos títulos de crédito. Ademais, o aval é fidejussório, tendo em vista que se
encontra pautado na fé, confiança conferida pelo avalista, que assume a posição de
coobrigado pela nota promissória, sem necessidade de comprovação de meios pe-
los quais pretende-se arcar com a obrigação assumida. “Trata-se de garantia, total
ou parcial, prestada por terceiro ou por qualquer signatário do título” (NEGRÃO,
2015, p. 139). Portanto, pode ser total ou parcial e em relação às espécies, o aval
pode ser simultâneo ou sucessivo.
a) Prescrição
Antes de estudarmos a prescrição e ação por falta de pagamento, compete
identificar que em relação ao cheque, existem duas espécies de prazo: o prazo de
apresentação e o prazo prescricional.
O prazo de apresentação consiste no prazo em que o beneficiário possui para
apresentar o título ao sacado (instituição financeira), para que este proceda ao
pagamento. “O cheque deve ser apresentado ao banco sacado em 30 dias, se da
mesma praça, e em 60, se de praças diferentes” (ULHOA, 2017, p. 451). Assim, o
prazo de apresentação pode ser de 30 dias ou de 60 dias. O prazo de apresentação
será de 30 dias quando for da mesma praça, ou seja, quando o local de emissão e
o local de pagamento forem do mesmo município. Já o prazo de apresentação será
de 60 dias se forem de praças distintas, isto é, quando o local de pagamento for
distinto do local de emissão, nos termos do art. 33 da Lei 7357/85.
Transcorrido o prazo de apresentação, sem que ele tenha sido apresentado ao
sacado, inicia-se o prazo de prescrição ou prazo prescricional, o que não impede
a apresentação do cheque ao longo deste período, em que se houver recursos sufi-
cientes, a instituição financeira procederá ao pagamento.
O prazo de apresentação é de seis meses, de acordo com o artigo 59 da
Lei 7357/85. Contudo, devemos estar atentos se trata-se da prescrição em face
da cobrança do devedor principal ou coobrigados em ação direita ou se trata de
prescrição em função de ação regressiva. Isto porque, em se tratando de cobrança
direta do beneficiário em face dos devedores, a prescrição começa a correr quan-
do termina o prazo de apresentação, caso o cheque não tenha sido apresentado.
Contudo, se o cheque foi apresentado ao pagamento, porém restou frustrado, o
prazo prescricional inicia com a data da frustração do pagamento.
capítulo 2 • 51
Quando se trata de exercício do direito de regresso, (ou seja, depois de satisfei-
to o beneficiário, aquele que o pagou e não seja o devedor principal terá direito de
regresso em função de todos os que se encontram acima dela na cadeia cambiária),
os seis meses do prazo prescricional, começam a fluir da data em que houve o
pagamento do cheque.
capítulo 2 • 52
serviços. Assim, verificamos que, quanto à emissão, a duplicata é um título de
crédito causal, tendo em vista que o ordenamento jurídico determina a causa de
emissão, ou seja, a duplicata apenas pode ter como negócio jurídico originário
uma compra e venda mercantil a prazo ou uma prestação de serviços, conforme
previsto nos artigos 1º e 20 da Lei 5474/68. “A duplicata é, ao mesmo tempo,
título causal e à ordem, isto é, liga-se na origem, a um negócio de compra e venda
mercantil e mantém a mais importante característica das cambiais: é endossável e
apto à circulação de crédito” (NEGRÃO, 2015, p. 168).
Entende-se por compra e venda mercantil, a celebrada entre empresários,
em que tanto no polo passivo quanto no polo ativo encontram-se empresários.
Ademais, para a configuração da duplicata, o pagamento deve ter previsão para sua
realização em outro momento.
Quanto ao modelo, a duplicata é um título de crédito de modelo vinculado,
o que significa que compete ao ordenamento jurídico brasileiro, por meio do
Conselho Monetário Nacional trazer a norma de padronização das duplicatas, nos
termos do art. 27 da Lei 5474/68.
Quanto à estrutura, a duplicata é uma ordem de pagamento. Contudo, dife-
rentemente da letra de câmbio e do cheque, que também materializam ordem de
pagamento, e necessitam de dois negócios jurídicos originários, a duplicata será
emitida com apenas um negócio jurídico. Assim, ocorrerá a emissão da duplicata
quando houver ou prestação de serviços ou compra e venda mercantil a prazo e
o credor (sacador) da obrigação jurídica originária emitir a ordem de pagamento
em face do devedor da relação jurídica originária (sacado/aceitante) tendo como
beneficiário o próprio emitente do título. Sendo assim, a duplicata merece dois
destaques. O primeiro destaque se refere ao fato de que a duplicata é um título
de crédito emitido pelo credor, enquanto os demais títulos são emitidos pelos
devedores. O segundo destaque se relaciona com os personagens jurídicos, uma
vez que a duplicata possui três personagens jurídicos: sacador (aquele que saca),
sacado (aquele que recebe a ordem de pagamento e caso aceite, se torna o devedor
principal da obrigação contida na duplicata) e o beneficiário (aquele que é o cre-
dor no negócio jurídico originário). Todavia, pela duplicata ser emitida pelo cre-
dor, inicialmente, a posição de sacador e beneficiário se confundem. Isto porque,
a duplicata, como título de crédito, foi criada para circular e uma vez circulada,
ou seja, transferida a titularidade da duplicata, o beneficiário originário deixará de
ser o sacador.
capítulo 2 • 53
Desta forma, a emissão da duplicata ocorre quando o sacador (credor do ne-
gócio jurídico originário) emite uma ordem de pagamento em face do sacado
(devedor do negócio jurídico originário) em favor dele mesmo (credor do negócio
jurídico originário).
A duplicata possui seus requisitos gerais e os essenciais previstos no art. 2º da
Lei 5474/68. Em relação ao endosso e aval, aplicam-se as mesmas regras previstas
na parte geral do capítulo 1.
Aceite
O aceite é ato cambiário típico do aceitante. Assim, apenas haverá aceite nos
títulos de crédito. Ademais, trata-se de ato exclusivo do aceitante, ou seja, ape-
nas tem competência para aceitar o título de crédito, aquele que figura como
aceitante/sacado.
O aceite consiste em o ato pelo qual o credor torna-se o devedor principal da
obrigação prevista na letra de câmbio. Caso aceite, tornar-se-á o devedor princi-
pal. Assim, podemos entender o aceite como “o ato de vontade materializado pela
aposição de assinatura no título, mediante a qual o sacado concorda com a ordem
do emitente da duplicata, tornando-se o principal responsável pelo pagamento
da quantia nela expressa na data de seu vencimento” (NEGRÃO, 2015, p. 162).
Contudo, diferentemente da letra de câmbio, o aceite na duplicata é obriga-
tório. Isto porque, enquanto na letra de câmbio não existe nenhuma relação jurí-
dica celebrada entre sacado e beneficiário, na duplicata existe um único negócio
jurídico celebrado entre sacado e beneficiário. Assim, não é cabível que o sacado se
recuse a realizar o aceite, a menos que haja vícios em relação à qualidade, preço ou
quantidade do produto, segundo o disposto nos artigos 8º e 21 da LUG.
Em função da obrigatoriedade do aceite, podemos identificar três espécies de
aceite: o aceite ordinário, o aceite por comunicação e o aceite presumido. O aceite
ordinário consiste no aceite em que houve a remessa ao aceitante e houve devo-
lução da duplicata no prazo correto pelo aceitante. O aceite por comunicação é
aquele em que ocorre a remessa do beneficiário ao endossante. Todavia, dentro do
prazo de devolução, o aceitante retém a duplicata consigo e envia para o beneficiá-
rio apenas uma carta, em que se materializa a comunicação de que o aceitante acei-
ta ser devedor principal do título de crédito, porém está realizando a retenção do
título de crédito consigo, uma vez que não deseja que haja a circulação de título
de crédito. O aceite presumido consiste no aceite em que houve a efetiva remessa
capítulo 2 • 54
da letra de câmbio. Porém, passado o prazo de devolução, o aceitante não aceita,
não comunica que aceita a duplicata e retém o título. Como o aceite é obrigatório,
presume-se que houve o aceite.
Fatura
A duplicata possui este nome, tendo em vista que representa um espelho, uma
cópia da fatura. “Fatura é o documento comprobatório de uma venda a prazo
de mercadoria devendo, por isso, ser presente ao comprador, para a necessária
conferência com as mercadorias remetidas” (MARTINS, 2016, p. 187). Já a nota
fiscal consiste no “documento que comprova a entrada ou saída de mercadorias de
estabelecimento empresarial e acompanha sua entrega aos destinatário, contendo
dados que identifiquem, para fins fiscais, a operação realizada” (NEGRÃO, 2015,
p. 156).
Nos termos do art. 1º, que determina que “a fatura discriminará as merca-
dorias vendidas ou, quando convier ao vendedor, indicará somente os números e
valores das notas parciais expedidas por ocasião das vendas, despachos ou entregas
das mercadorias”, além disso, o parágrafo 2º do mesmo diploma legal estabelece
que “Uma só duplicata não pode corresponder a mais de uma fatura”. Compete
mencionar que, a fatura é documento de emissão obrigatória para fins tributários,
enquanto a duplicata possui emissão facultativa, que pode ser livremente negocia-
da. Já a fatura não possui intuito comercial, não podendo ser livremente circulada.
A fatura é emitida no momento em que a mercadoria sai do estabelecimento.
Neste mesmo ato, o credor pode decidir se emitirá a duplicata, que deverá cumprir
os requisitos essenciais. Por esta razão, denomina-se duplicata.
capítulo 2 • 55
em conta inclusive que a fonte é a mesma: a escrituração mercantil do vendedor”
(ULHOA, 2017, p. 461).
Em caso de vencimento da duplicata e o devedor principal se recusa a realizar
o pagamento, após o protesto da duplicata, será possível o ajuizamento de execu-
ções pautadas no inadimplemento ou locupletamento, segundo o artigo 15, que
estatuiu que “a cobrança judicial de duplicata ou triplicata será efetuada de con-
formidade com o processo aplicável aos títulos executivos extrajudiciais”. Neste
contexto, a ação pode ser proposta, quando se tratar:
I. de duplicata ou triplicata aceita, protestada ou não;
II. de duplicata ou triplicata não aceita, contanto que, cumulativamente.
a) haja sido protestada;
b) esteja acompanhada de documento hábil comprobatório da entrega e
recebimento da mercadoria; e
c) o sacado não tenha, comprovadamente, recusado o aceite, no prazo,
nas condições e pelos motivos previstos nos arts. 7º e 8º da Lei. 5474/68.
Assim, para estes casos específicos, ajuíza-se ações que se encontram em lixão,
até mesmo cadeiras plásticas.
Discute-se acerca da fluência de juros e correção monetária nas ações funda-
das na duplicata. Fabio Ulhoa sustenta que devem incidir a partir do protesto do
título e não do vencimento (ULHOA, 2017, p. 463), tendo como base o art. 40
da Lei 9492/97.
capítulo 2 • 56
Quanto à estrutura, os títulos de crédito podem ser ordem de pagamento e
promessa de pagamento. A ordem de pagamento ocorre com três personagens
jurídicos (sacador, sacado e beneficiário), em que o sacador, ordena ao sacado, que
este pague ao beneficiário. A promessa de pagamento é composta pelo promiten-
te-devedor, que assume a posição de sacador e devedor principal e pelo beneficiá-
rio, em que o promitente-devedor promete que pagará ao beneficiário. Neste con-
texto, a nota promissória possui e estrutura de promessa de pagamento, enquanto
o cheque e a duplicata representam uma ordem de pagamento.
Quanto à hipótese de emissão, os títulos de crédito podem ser causais ou não
causais. Os títulos de crédito não causais ou abstratos são aqueles em que o orde-
namento jurídico não determina as hipóteses dos negócios jurídicos originários
capazes de ensejar a emissão do título de crédito. Já os títulos de crédito causais
são aqueles em que o ordenamento jurídico previamente estabelece as causas de
emissão do negócio jurídico originário. Assim, a nota promissória e o cheque são
títulos não causais. A duplicata é um título de crédito causal.
Ordem de
Cheque Modelo Vinculado Não causal
pagamento
Ordem de
Duplicata Modelo Vinculado Causal
pagamento
ATIVIDADES
01. (CRP-MG 2015) Assinale a alternativa correta. Ao realizar uma transação finan-
ceira de valor alto, foi emitido um cheque pelo banco, a pedido do proprietário da
conta, em favor de um terceiro. Que tipo de cheque foi entregue?
a) Cruzado;
b) Nominal;
c) Administrativo;
d) Ao portador.
capítulo 2 • 57
02. (TJ-RO 2017) Assinale a alternativa correta.
a) O protesto por falta de pagamento somente poderá ser efetuado antes do vencimento
da obrigação e após o decurso do prazo legal para o aceite ou a devolução.
b) Antes da lavratura do protesto, poderá o apresentante retirar o título ou documento de
dívidas, pagos os emolumentos e demais despesas.
c) O título do documento de dívida cujo protesto tiver sido sustado judicialmente poderá ser
pago, protestado ou retirado sem autorização judicial.
d) Poderá ser recusado pagamento oferecido dentro do prazo legal, mesmo que feito no
Tabelionato de Protesto competente e no horário de funcionamento dos serviços.
03. (Juiz Federal – 2017) Em relação aos títulos de crédito, assinale a opção correta.
a) A duplicata tem prazo prescricional de execução estipulado em seis meses, contados do
pagamento, para os coobrigados exercerem o direito de regresso.
b) A duplicata e o cheque são classificados como causais, e a nota promissória e a letra de
câmbio como não causais.
c) A cláusula “não aceitável” é cabível somente nos títulos de crédito com vencimento a
certo termo de vista.
d) A cláusula “sem despesas” transforma em facultativo o protesto necessário contra
quaisquer devedores. Após o aceite do título.
05. (XX – OAB/2016) Cícero sacou uma letra de câmbio em favor de Amélia, tendo
designado como sacado Elísio, que acatou a ordem de pagamento. A primeira en-
dossante realizou um endosso em preto para Dario, com proibição de novo endosso.
capítulo 2 • 58
Diante do efeito legal da cláusula de proibição de novo endosso, assinale a
afirmativa correta.
a) caso Dario realize um novo endosso, tal transferência terá efeito de cessão de crédito
perante os coobrigados e efeito de endosso perante o aceitante.
b) Dario não poderá realizar novo endosso no título sob pena de desoneração de respon-
sabilidade cambial dos coobrigados.
c) Tal qual o endosso parcial, a proibição de novo endosso é nula por restringir a responsa-
bilidade cambiária do endossante e do sacador.
d) Amélia, embora coobrigada, não responde pelo pagamento da letra de câmbio perante
os endossatários a Dario.
REFLEXÃO
Neste capítulo, você estudou o protesto dos títulos de créditos e seu mecanismo de
funcionamento, ao identificar sua finalidade, assim como as fases do protesto, bem como as
hipóteses de sustação e cancelamento.
Conheceu as ações cambais, que podem ser de duas espécies: as ações diretas e as
ações regressivas, além de identificar as hipóteses que podem ser alegadas como defesa e
o prazo prescricional das ações cambiais.
Compreendeu as distintas espécies de títulos de crédito como a letra de câmbio, nota
promissória, cheque e duplicata. No estudo da letra de câmbio e nota promissória, foi possível
aprender a evolução histórica, regras de forma e saque, além da aplicabilidade do endosso,
aceite, aval e protesto.
No estudo do cheque, você explorou as noções gerais, natureza jurídica e requisitos
essenciais bem como compreendeu a aplicação do endosso e aval. Foi possível também
identificar as espécies de cheque, como cheque visado, cheque administrativo, cheque cru-
zado e cheque para crédito em conta. Ainda no cheque, explorou a prescrição e as ações por
falta de pagamento.
Na duplicata mercantil e de serviços, você identificou suas principais características, as
noções gerais e os requisitos essenciais. Estudou também as ações fundadas na duplicata e
triplicata, além de observar o elo entre fatura e duplicata.
capítulo 2 • 59
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASCARELLI, Tullio. Teoria geral dos títulos de crédito. São Paulo: Saraiva, 1943.
BORGES, João Eunápio. Títulos de Crédito. 2ª Edição- 7ª tiragem. Rio de Janeiro. Editora Forense,
1977.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 1: direito de empresa. 21º ed. São
Paulo: Saraiva, 2017.
COSTA, Wille Duarte. Títulos de Crédito. 4ª ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2009.
MARTINS, Fran. Títulos de Crédito. vol. 1. 17ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016.
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. vol. 2. 32ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Títulos de Crédito. 4ª edição – Rio de Janeiro. Editora
Renovar. 2006.
VIVANTE, Cesare. Trattato di diritto commerciale. 5. ed. Milão: Francesco Vallardi, 1935. vol. III.
capítulo 2 • 60
3
Contratos
empresariais
Contratos empresariais
No capítulo anterior, você realizou o estudo acerca dos títulos de crédito. Neste
capítulo, procederemos à análise dos contratos empresariais. Esta temática encon-
tra-se dividida em três partes. Iremos inaugurar este capítulo com o contrato de
franquia, examinaremos o conceito, partes e objetivo deste contrato empresarial.
A segunda parte se destinará aos contratos bancários. Assim, estudaremos o
contrato de depósito, o contrato de mútuo, assim como o contrato de desconto
e o contrato de abertura de crédito. Em seguida, encerraremos este capítulo por
meio da análise do contrato de arrendamento mercantil e o contrato de cartão de
crédito.
OBJETIVOS
O objetivo deste capítulo é compreender os distintos contratos que fazem parte do con-
trato empresarial, como o contrato de franquia, o contrato bancário, o contrato de arrenda-
mento mercantil e o contrato e cartão de crédito.
capítulo 3 • 62
Os contratos podem ser bilaterais ou unilaterais. Os contratos unilaterais são
aqueles em que apenas uma das partes possui obrigações, como no contrato de
comodato ou mútuo, em que apenas o mutuante e o comodante assumem obri-
gações. Os contratos bilaterais são aqueles em que ambas as partes possuem obri-
gações. Pode-se mencionar como exemplo, o contrato de compra e venda, em que
tanto o comprador quanto o devedor assumem a obrigação.
Os contratos podem ser consensuais ou reais. Nos contratos consensuais apli-
ca-se o princípio do consensualismo, em que os contratos se formalizam com a
simples manifestação da vontade. Assim, basta “o encontro de vontade de dois
ou mais sujeitos de direito para a formação do contrato” (ULHOA, 2015, p.23).
Como exemplo de contratos consensuais, podemos mencionar o contrato de com-
pra e venda, que se aperfeiçoa com a manifestação de vontade das partes. Já os
contratos reais são os contratos que necessitam da entrega efetiva do bem, como
no contrato de mútuo, que apenas se concretizará no momento em que o mutuan-
te entrega o bem fungível ao mutuário.
Os contratos podem ser comutativos ou aleatórios. O contrato comutativo
consiste naquele em que as partes poderiam antecipar como será o executado,
como no contrato de representação comercial, em que já se estipulou o percentual
da comissão devida. O contrato aleatório representa aquele que não é possível que
as partes prevejam ou antecipem suas obrigações, como no caso do contrato de
jogo ou aposta e contrato de seguro.
Os contratos podem, ainda, ser contratos típicos ou atípicos. O contrato típico
consiste em um contrato que se encontra previsto no ordenamento jurídico, como
o contrato de representação comercial. Nestes contratos “o direito positivo con-
templa regras delimitadoras de direitos e obrigações dos contratantes” (ULHOA,
2015, p. 25). Já o contrato atípico não se encontra previsto no ordenamento jurí-
dico. Pode-se mencionar, o shopping Center como um contrato atípico.
Analisada a parte geral dos contratos empresariais, podemos prosseguir no
estudo dos contratos empresariais em espécie.
Contratos de franquia
capítulo 3 • 63
A franquia surgiu oficialmente nos Estados Unidos, em 1862, por meio da
Singer Sewing Company. Contudo, existem indícios deste sistema em Londres
ainda no século XII. O grande avanço das franquias no mundo surge no contexto
da pós segunda guerra mundial, em função da desqualificação e desemprego dos
homens que retornaram da guerra.
No Brasil, a franquia surge em 1910 por meio de um contrato verbal cele-
brado por Arthur de Almeida Sampaio com Calçados Stella. A franquia se tor-
nou extremamente popular no Brasil na década de 70, com as Lojas Ducal e
Mister Pizza. Atualmente, as franquias ainda destacam-se como relevante espécie
de contrato empresarial, em função do espírito empreendedor. De acordo com
NEGRÃO (2015, p. 308),
capítulo 3 • 64
Trata-se, consequentemente, de um contrato complexo, distribuição, compra
e venda, uso de marca, organização, know-how, comissão e mandato. Ademais,
via de regra, trata-se de um contrato de adesão, tendo em vista que o franqueador
apenas aceita em seu negócio aquele que admitir seus termos.
Pode-se mencionar como encargos do franqueador: o pagamento da taxa de
adesão; a remuneração sobre o faturado (royalt); a contribuição para o fundo de
propaganda; a exclusividade e a subordinação às normas do Franqueador.
Considera-se encargos do franqueador: a permissão para o uso da marca (Know
How); a prestação de serviços de organização empresarial; a reserva de território;
a assistência técnica-operacional permanente na gestão do negócio e a oferta da
Circular de Oferta de Franquia (COF).
Em relação à COF, esta encontra-se prevista no art. 3º da referida Lei, que
determina que:
“Art. 3º Sempre que o franqueador tiver interesse na implantação de sistema
de franquia empresarial, deverá fornecer ao interessado em tornar-se franqueado
uma circular de oferta de franquia, por escrito e em linguagem clara e acessível,
contendo obrigatoriamente as seguintes informações:
I. histórico resumido, forma societária e nome completo ou razão social do fran-
queador e de todas as empresas a que esteja diretamente ligado, bem como os
respectivos nomes de fantasia e endereços;
II. balanços e demonstrações financeiras da empresa franqueadora relativos aos
dois últimos exercícios;
III. indicação precisa de todas as pendências judiciais em que estejam envolvidos
o franqueador, as empresas controladoras e titulares de marcas, patentes e direitos
autorais relativos à operação, e seus subfranqueadores, questionando especifica-
mente o sistema da franquia ou que possam diretamente vir a impossibilitar o
funcionamento da franquia;
IV. descrição detalhada da franquia, descrição geral do negócio e das atividades
que serão desempenhadas pelo franqueado;
V. perfil do franqueado ideal no que se refere a experiência anterior, nível de es-
colaridade e outras características que deve ter, obrigatória ou preferencialmente;
VI. requisitos quanto ao envolvimento direto do franqueado na operação e na
administração do negócio;
VII. especificações quanto ao:
a) total estimado do investimento inicial necessário à aquisição, implanta-
ção e entrada em operação da franquia;
capítulo 3 • 65
b) valor da taxa inicial de filiação ou taxa de franquia e de caução; e
c) valor estimado das instalações, equipamentos e do estoque inicial e suas
condições de pagamento.
VIII. informações claras quanto a taxas periódicas e outros valores a serem pagos
pelo franqueado ao franqueador ou a terceiros por este indicados, detalhando as
respectivas bases de cálculo e o que as mesmas remuneram ou o fim a que se des-
tinam, indicando, especificamente, o seguinte:
a) remuneração periódica pelo uso do sistema, da marca ou em troca dos
serviços efetivamente prestados pelo franqueador ao franqueado (royalties);
b) aluguel de equipamentos ou ponto comercial;
c) taxa de publicidade ou semelhante;
d) seguro mínimo; e
e) outros valores devidos ao franqueador ou a terceiros que a ele sejam
ligados.
IX. relação completa de todos os franqueados, subfranqueados e subfranqueado-
res da rede, bem como dos que se desligaram nos últimos doze meses, com nome,
endereço e telefone;
X. em relação ao território, deve ser especificado o seguinte:
a) se é garantida ao franqueado exclusividade ou preferência sobre deter-
minado território de atuação e, caso positivo, em que condições o faz; e
b) possibilidade de o franqueado realizar vendas ou prestar serviços fora de
seu território ou realizar exportações.
XI. informações claras e detalhadas quanto à obrigação do franqueado de adquirir
quaisquer bens, serviços ou insumos necessários à implantação, operação ou ad-
ministração de sua franquia, apenas de fornecedores indicados e aprovados pelo
franqueador, oferecendo, ao franqueado, relação completa desses fornecedores;
XII. indicação do que é efetivamente oferecido ao franqueado pelo franqueador,
no que se refere a:
a) supervisão de rede;
b) serviços de orientação e outros prestados ao franqueado;
c) treinamento do franqueado, especificando duração, conteúdo e custos;
d) treinamento dos funcionários do franqueado;
e) manuais de franquia;
f ) auxílio na análise e escolha do ponto onde será instalada a franquia; e
g) layout e padrões arquitetônicos nas instalações do franqueado.
capítulo 3 • 66
XIII. situação perante o Instituto Nacional de Propriedade Industrial - (INPI)
das marcas ou patentes cujo uso estará sendo autorizado pelo franqueador;
XIV. situação do franqueado, após a expiração do contrato de franquia, em rela-
ção a:
a) know-how ou segredo de indústria a que venha a ter acesso em função
da franquia; e
b) implantação de atividade concorrente da atividade do franqueador;
XV. modelo do contrato-padrão e, se for o caso, também do pré-contrato-padrão
de franquia adotado pelo franqueador, com texto completo, inclusive dos respec-
tivos anexos e prazo de validade”.
Assim, a COF é instrumento obrigatório, devendo ser entregue pelo franquea-
dor quando houver interesse na implantação de sistema de franquia empresarial.
Ademais, nos termos do art. 4º, a COF deve ser “entregue ao candidato a fran-
queado no mínimo 10 (dez) dias antes da assinatura do contrato ou pré-contrato
de franquia ou ainda do pagamento de qualquer tipo de taxa pelo franqueado ao
franqueador ou a empresa ou pessoa ligada a este”. Em caso de descumprimento,
aplica-se o disposto no parágrafo único do art. 4º, que estipula que “o franqueado
poderá arguir a anulabilidade do contrato e exigir devolução de todas as quantias
que já houver pago ao franqueador ou a terceiros por ele indicados, a título de taxa
de filiação e royalties, devidamente corrigidas, pela variação da remuneração básica
dos depósitos de poupança mais perdas e danos”.
Cumpre mencionar que, em caso de informações falsas contidas no COF, o
franqueador poderá incidir em responsabilidade civil, assim como ocorre em caso
de não apresentação, nos termos do art. 6º da referida Lei.
Cumpre ressaltar que, a preocupação do legislador em relação ao COF ocorre,
tendo em vista que o interessado em assumir o estado de franqueado deve receber
um completo diagnóstico da organização do franqueador.
Uma vez identificada as principais características do contrato de franquia, na
próxima seção, procederemos à análise do contrato bancário e suas modalidades.
Contrato bancário
capítulo 3 • 67
consideram-se instituições financeiras, para os efeitos da legislação em vigor, as pes-
soas jurídicas públicas ou privadas, que tenham como atividade principal ou acessória
a coleta, intermediação ou aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros,
em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiros.
Contrato de depósito
capítulo 3 • 68
Haverá, após os depósitos de recursos financeiros por parte do correntista, em
que a Instituição Financeira se tornará a depositária destes valores, com a obriga-
ção de disponibilização dos recursos, tão logo seja solicitado pelo correntista, por
meio de cheque, cartão de débito ou saques diretamente em dinheiro
Trata-se de um contrato bancário passivo. Por meio do contrato de depósito
“o banco recebe para guarda e conservação o dinheiro do cliente e obriga-se a
restituí-lo, ou entregá-lo a terceiros, assim que solicitado ou no prazo contratado”
(ULHOA, 2015, p. 130). Desta forma, a Instituição Financeira deve cumprir o
disposto no contrato de abertura de conta corrente, sob pena de responder civil-
mente pelos prejuízos causados ao correntista em função do inadimplemento.
Contrato de mútuo
capítulo 3 • 69
Acrescente-se que, o contrato de mútuo bancário é unilateral, tendo em vista
que uma vez que a Instituição Financeira realiza o empréstimo dos valores, não há
que se falar em obrigações para esta, apenas ao mutuante (correntista), que deverá
restituir os valores nas condições ajustadas.
Contrato de desconto
Factoring
capítulo 3 • 70
empresário pode realizar factoring, desde que haja previsão no objeto social do
contrato social.
Distingue-se do contrato de desconto bancário também em função da
exclusividade.
Compete ressaltar que, a remuneração deste contrato ocorrerá por meio de
comissão ou ágio, cobrado sobre os valores dos títulos.
O contrato de factoring é regido pelo dever de sigilo, mesmo não se tratando
de instituições financeiras, em função do disposto no art. 1º, parágrafo 2º da
Lei Complementar 105/2001, ao estabelecer que: Ҥ 2o As empresas de fomento
comercial ou factoring, para os efeitos desta Lei Complementar, obedecerão às
normas aplicáveis às instituições financeiras previstas no § 1o.”
Ademais, aplica-se o disposto no art. 58 da Lei 9532/97 em relação ao Imposto
sobre Operação Financeira (IOF), que estabelece:
“Art. 58. A pessoa física ou jurídica que alienar, à empresa que exercer as ativi-
dades relacionadas na alínea "d" do inciso III do § 1º do art. 15 da Lei nº 9.249,
de 1995 (factoring), direitos creditórios resultantes de vendas a prazo, sujeita-se à
incidência do imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro ou relativas a
títulos e valores mobiliários - IOF às mesmas alíquotas aplicáveis às operações de
financiamento e empréstimo praticadas pelas instituições financeiras.
§ 1° O responsável pela cobrança e recolhimento do IOF de que trata este
artigo é a empresa de factoring adquirente do direito creditório.
§ 2° O imposto cobrado na hipótese deste artigo deverá ser recolhido até o
terceiro dia útil da semana subsequente à da ocorrência do fato gerador.”
O contrato de faturização possui duas modalidades: conventional factoring ou
maturity factoring. No conventional factoring, o factor garante o pagamento das
faturas, antecipando o valor ao faturizado. Já o maturity factoring, o factor paga o
valor das faturas apenas no vencimento.
Assim, é possível verificar as semelhanças e distinções entre os contratos de
faturização e desconto bancário.
capítulo 3 • 71
O contrato de abertura de crédito é popularmente conhecido como “cheque
especial” e tornou-se muito popular a partir da década de 80, com a utilização ma-
ciça dos cheques, em que a abertura de crédito evitava a devolução do cheque por
prazo indeterminado. Em relação a esta temática, o STJ já fixou jurisprudência no
sentido de que o contrato a abertura de crédito apenas pode ser materializado caso
haja a ciência do correntista e não a abertura unilateral do crédito.
Trata-se de uma espécie do contrato de mútuo, conforme Ulhoa preceitua
(2015, p. 135), uma vez que representa a situação em que a Instituição Financeira
coloca à disposição do correntista valores para serem utilizados. Ricardo Negrão
(2015, p. 368) estatui que no contrato de abertura de crédito, “a instituição finan-
ceira obriga-se a disponibilizar determinado limite de crédito ao contratante, em
determinado prazo, facultando-lhe o saque imediato ou fracionado de valores que
deverão ser restituídos no vencimento, acrescidos dos encargos convencionados.”
Cumpre esclarecer que, em caso de não utilização dos valores, não haverá
nenhuma obrigação por parte do correntista. Contudo, em caso de utilização dos
valores disponibilizados, o correntista deverá arcar com a devolução dos valores,
bem como dos juros remuneratórios advindos da utilização dos recursos financei-
ros que pertencem à Instituição Financeira.
Uma vez que procedemos ao estudo dos contratos bancários na seção ante-
rior, realizaremos, nesta seção, a análise do contrato de arrendamento mercantil.
O contrato de arrendamento mercantil também é conhecido como leasing e en-
contra-se regido pela Lei 6099/74, que foi alterada pela Lei 7132/83, seguida
pelas Resoluções 2309/96 do Banco Central, a Resolução 2659/99 e a Resolução
3175/2004.
O arrendamento mercantil pode ser conceituado nos termos do art. 1º, pará-
grafo único como
capítulo 3 • 72
O contrato de arrendamento mercantil não se confunde com o contrato de
locação. No arrendamento mercantil o arrendatário, enquanto vigente o contrato,
possui a posse do bem e paga o valor referente à posse. “No arrendamento mercan-
til, a coisa está em poder do arrendatário apenas para seu uso, e, contratualmente,
pertence ao arrendador” (NEGRÃO, 2015, p. 397). Por esta razão, na prática,
algumas pessoas confundem com a locação.
No entanto, no arrendamento mercantil, ao término do contrato, confere-se
ao arrendatário três possibilidades: continuar o arrendamento, comprar o bem
ou simplesmente extinguir o contrato. Assim, o arrendatário, deverá decidir qual
hipótese adotará no momento da extinção do contrato. Cumpre esclarecer que,
em caso de opção pela compra do bem, deverá ser pago o valor adicional referente
à propriedade do bem, denominado de valor residual.
O art. 5º da referida Lei orientará os elementos que estarão presentes no con-
trato de arrendamento mercantil, a saber:
capítulo 3 • 73
Nos termos do art. 6º da Res. 2309/96:
Ademais, em relação ao self leasing, cumpre esclarecer que não encontra-se am-
parado pela Lei 6099/74. Consequentemente, não se aplica os benefícios ficais, de
acordo com o disposto no art. 2º ao estatuir que “não terá o tratamento previsto
capítulo 3 • 74
nesta Lei o arrendamento de bens contratado entre pessoas jurídicas direta ou
indiretamente coligadas ou interdependentes, assim como o contratado com o
próprio fabricante.”
É importante frisar que, em relação ao arrendamento mercantil, aplica-se a
Súmula 369, ao estipular que “no contrato de arrendamento mercantil (leasing),
ainda que haja cláusula resolutiva expressa, é necessária a notificação prévia do
arrendatário para constituí-lo em mora”. Assim, verifica-se que a mora no arren-
damento mercantil é ex personae. Isto é, depende da notificação da outra parte para
constituir a mora.
Examinado o contrato de arrendamento mercantil, passaremos à análise do
contrato de cartão de crédito.
O cartão de crédito nasceu em 1950 em Nova York depois que um grupo de executivos
que saíra para jantar perceberam que não tinham dinheiro nem cheque para pagar a conta.
Na época, Frank MacNamara e seus convidados conseguiram dobrar o dono do res-
taurante, que permitiu o pagamento da dívida no dia seguinte depois de os executivos
assinarem uma espécie de nota promissória.
Após o embaraço, MacNamara descobriu que faltava uma opção de pagamento paras
os “esquecidos”. No mesmo ano, surgiu o primeiro cartão denominado Diners Club Card.
O “dinheiro de plástico” passou a ser aceito como forma de pagamento em 27 restau-
rantes. Apenas 200 pessoas tinham cartão em 1950 - a maioria amigos de MacNamara.
Trata-se de uma das formas mais comuns de concretização dos negócios ju-
rídicos, especialmente os de consumo. No Brasil, os cheques dominaram até a
década de 90. Contudo, o uso crescente dos cartões de crédito, levaram ao desuso
dos cheques, que atualmente são obsoletos em nossa sociedade.
capítulo 3 • 75
Ricardo Negrão (2015, p. 375) define o contrato de cartão de crédito como
o contrato atípico, bilateral e oneroso, pelo qual uma das partes contratantes, sempre
sociedade empresária, fica autorizada a emitir, em base física ou não, instrumento de
amplo reconhecimento como método de pagamento, apto a permitir ao outro contra-
tante a aquisição de bens e serviços oferecidos pela emitente ou por fornecedores
por ela previamente cadastrados, mediante identificação com código numérico único,
complementado ou não com o uso de senha pessoal ou assinatura de seu portador.
capítulo 3 • 76
ou do parcelamento das faturas. Estas pessoas acabam entrando em um círculo
contínuo de endividamento, que salvo raras exceções, conseguirão superá-lo. De
acordo com o Banco Central do Brasil, o superendividamento
1 Disponível em <https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2015/09/30/aprovado-projeto-que-altera-
codigo-de-defesa-do-consumidor-e-combate-o-superendividamento>. Acesso em 10.03.2018.
capítulo 3 • 77
• Dever do fornecedor de avaliar a condição do consumidor de pagar a dí-
vida, inclusive verificando se o mesmo se encontra com restrição nos órgãos de
proteção ao crédito;
• Limite de 30% da remuneração mensal líquida para o crédito consignado;
• Estabelecimento de uma garantia legal de dois anos nos produtos e serviços.
Isso significa que os produtos e serviços têm que ser prestados ou fabricados para
durarem pelo menos dois anos sem vícios;
• Proibição ao fornecedor de assediar ou pressionar o consumidor, princi-
palmente idosos, analfabetos, doentes ou em estado de vulnerabilidade agravada,
para contratar o fornecimento de produto, serviço ou crédito;
• Correlação do contrato de crédito utilizado para financiar a aquisição de
um produto ou serviço com o contrato principal de compra e venda. Assim, caso
o consumidor desista do contrato de compra e venda do veículo, o contrato de
crédito será cancelado também.”
Verifica-se, desta forma, que compete a população de uma forma geral a cons-
cientização com o intuito de evitar o superendividamento, bem como ao ordena-
mento jurídico criar meios de conscientização e auxiliar os que se encontram em
situação de superendividamento, especialmente acrescido pelo cartão de crédito.
Analisados os contratos empresariais neste capítulo, no próximo capítulo es-
tudaremos os institutos da recuperação judicial, recuperação especial, recuperação
extrajudicial e falência.
ATIVIDADES
01. (Juiz Substituto - AM 2016) Em relação aos contratos bancários, assinale a op-
ção correta.
a) No contrato de abertura de crédito, é abusivo cobrar do cliente comissão pela simples
disponibilização do montante, ainda que este não venha a ser utilizado.
b) O contrato de alienação fiduciária em garantia não pode ter por objeto bem que já inte-
grava o patrimônio do devedor.
c) Denomina-se leasing o contrato de fomento mercantil.
d) O depósito bancário é contrato real.
e) O mútuo bancário é uma operação passiva dos bancos.
capítulo 3 • 78
02. (TJ-MA – 2016) Leia as assertivas I a IV e depois assinale a alternativa correta,
considerando a realidade dos contratos mercantis:
I. Um contrato por meio do qual uma empresa “X” vende a outra “Y”, por um preço menor
que o valor correspondente, seu faturamento recebível a prazo, total ou parcialmente, sem
garantir que serão satisfeitos os créditos transferidos, cabendo a “Y” a título de remuneração,
a diferença do que apurar por ocasião dos recebimentos, caracteriza-se como um contrato
de fomento mercantil.
II. Um contrato mercantil no qual um comerciante licencia o uso de sua marca a outro
comerciante - para este realizar vendas -, obrigando-se o primeiro a prestar ao segundo,
serviços de organização empresarial, se caracteriza como um contrato de franquia.
III. Em um contrato de comissão mercantil, o comissário se obriga a realizar contratos mer-
cantis por conta do comitente, que permanece oculto, assumindo o comissário perante ter-
ceiros, a responsabilidade pessoal pelos atos praticados.
IV. Um contrato mercantil no qual um empresário se obriga a comercializar com exclusivi-
dade veículos automotores produzidos por outro empresário, estabelecendo cotas de venda
e ainda uma cláusula de territorialidade, se caracteriza um como contrato de representação
comercial.
03. (Juiz Federal – TRF5 / 2017) A respeito dos contratos empresariais, assinale a
opção correta.
a) No contrato de franquia, o franqueador deve fornecer aos interessados a circular de
oferta de franquia contendo, obrigatoriamente, as informações essenciais da operação
conforme a legislação especifica, sob pena de anulabilidade do contrato.
b) No contrato de fomento mercantil, as empresas faturizadoras não são obrigadas a man-
ter sigilo sobre as suas operações ativas e passivas e sobre os serviços.
c) No contrato de arrendamento mercantil, só pode ter por objeto bem imóvel ou móvel
produção nacional.
capítulo 3 • 79
d) No contrato de distribuição, o distribuidor ou agente serão obrigatoriamente remunera-
dos pelos negócios realizados fora do seu espaço, em razão do respeito à cláusula de
territorialidade.
e) No contrato de compra e venda mercantil, o vendedor deve transferir o domínio da coisa
vendida, mas não se compromete a responder por evicção e por vício redibitório.
capítulo 3 • 80
REFLEXÃO
Neste capítulo, você estudou os contratos empresariais, que foi fracionado em três par-
tes. Na primeira parte, iniciamos a análise por meio do contrato de franquia e examinamos
conceito, partes e objetivo deste contrato empresarial.
Em seguida, a segunda parte se destinou aos contratos bancários. Assim, estudamos o
contrato de depósito, o contrato de mútuo, assim como o contrato de desconto e o contrato
de abertura de crédito. A terceira parte conclui este capítulo por meio da análise do contrato
de arrendamento mercantil e o contrato de cartão de crédito.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERTOLDI, Marcelo M. Curso Avançado de Direito Comercial, 9ª Ed., São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2015.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, v. 3: direito de empresa. 19º ed. São Paulo:
Saraiva, 2015.
NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa, v. 3, 10ª ed, São Paulo: Saraiva,
2015.
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. v.2. 32ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
capítulo 3 • 81
capítulo 3 • 82
4
Recuperação
extrajudicial e
judicial
Recuperação extrajudicial e judicial
No capítulo anterior, você estudou sobre os contratos empresariais. Neste ca-
pítulo, iniciaremos o estudo do direito recuperacional e do direito falimentar, que
se dividirá em três partes. Inicialmente, se procederá a análise das disposições pre-
liminares comuns à recuperação judicial, extrajudicial e falência. Assim, a primeira
parte se concentra em examinar a legitimidade, o juízo competente e a atuação
do ministério público, bem como os títulos não exigíveis, os efeitos do processa-
mento, a habilitação e verificação dos créditos e os órgãos atuantes na recuperação
judicial e falência.
A segunda parte deste capítulo se dedicará ao estudo da recuperação extrajudi-
cial, ao analisar seu conceito, pressupostos e processamento. Em seguida, a terceira
parte deste capítulo, se encarrega de examinar a recuperação judicial, inclusive
conceito, pressupostos, meios de recuperação, processamento, procedimento e
convolação da recuperação judicial da falência. Ainda neste capítulo será identifi-
cado o plano de recuperação judicial para microempresas e empresas de pequeno
porte.
OBJETIVOS
O objetivo deste capítulo é compreender as disposições comuns que incidem em relação
à recuperação extrajudicial, recuperação judicial e falência; conhecer o processamento da
recuperação extrajudicial e; estudar a recuperação judicial, bem como seus pressupostos e
processamento.
capítulo 4 • 84
Após, estudaremos os efeitos do processamento para em seguida identificarmos
como funciona a habilitação e verificação dos créditos. Esta seção se finaliza com
o exame dos órgãos atuantes na recuperação judicial e falência.
Legitimidade
capítulo 4 • 85
O art. 2º do mesmo diploma legal exclui do processo falimentar e da recu-
peração, empresas públicas e sociedades de economia mista; assim como insti-
tuição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entida-
de de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à
saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legal-
mente equiparadas às anteriores. Estas sociedades são excluídas da aplicação da
Lei 11.101/2005, por captarem recursos da coletividade, de uma forma geral.
Portanto, em caso de crises econômicas ou forte inadimplemento, passarão por
procedimentos específicos, que não cabe ser aqui analisado.
O devedor, devidamente enquadrado neste conceito, terá a legitimidade or-
dinária ativa. Contudo, em caso de impossibilidade de o devedor ingressar com
o pedido de falência ou de recuperação, competirá extraordinariamente ao côn-
juge sobrevivente, sócio remanescente, inventariante ou herdeiro, nos termos do
art. 48, parágrafo 1º da Lei 11.101/2005. Portanto, o ordenamento jurídico bra-
sileiro confere legitimidade extraordinária ativa a estas pessoas.
Juízo competente
Ministério Público
capítulo 4 • 86
Disposições comuns
capítulo 4 • 87
havia informado seus débitos e sua natureza. A habilitação encontra-se prevista nos
artigos 7º ao 20 da Lei 11.101/2005. O procedimento de habilitação e verificação dos
créditos é comum, tanto para a recuperação judicial, quanto para a falência.
O procedimento da habilitação se inicia quando o juiz defere o processamen-
to da recuperação judicial (art. 52) ou decreta a falência (art. 99). Uma vez que
até então apenas existem informações prestadas pelo devedor, após o deferimento
do processamento (recuperação judicial) ou decretação de falência (falência), os
credores deverão se apresentar aos autos, indicando a natureza e o valor do seu
crédito. Este procedimento é o denominado de habilitação.
A habilitação deve ser realizada no prazo de quinze dias. A habilitação reali-
zada neste interregno é considerada uma habilitação tempestiva, ou seja, dentro
do lapso temporal previsto. “O ideal é que os pedidos sejam apresentados em
cartório e o decurso do prazo seja certificado pelo escrivão que, a partir de en-
tão, os entregará mediante carga ao administrador judicial” (NEGRÃO, 2015, p.
90). Contudo, caso o credor perca este prazo, ainda poderá ocorrer a habilitação.
Todavia, passará a ser denominada de habilitação retardatária, que sofrerá as con-
sequências previstas no art. 10.
Uma vez transcorrido o prazo de quinze dias para os credores se habilitarem,
começa a correr o prazo de quarenta e cinco dias para que o administrador judicial
(cuja figura estudaremos a seguir) elabore o Quadro Geral de Credores, conhecido
com QGC, nos termos do art. 7º, parágrafo 2º. Assim, ao término deste prazo,
deve estar estruturado o QGC. Compete ressaltar que, como são possíveis habili-
tações retardatárias, o QGC pode ser alterado a cada nova habilitação de crédito.
Uma vez elaborado o QGC, abre-se prazo de dez dias para a impugnação
dos créditos, conforme preceitua o art. 8º, caput. Cada crédito impugnado gera
autos apartados, que serão analisados individualmente. Os credores que tiveram
seus créditos impugnados, tem o prazo de cinco dias para contestarem a impug-
nação, nos termos do art. 11. Após esse prazo, o devedor e o comitê de credores
(caso haja), são demandados a oferecerem manifestação no prazo de cinco dias,
de acordo com o art. 12, caput. Em seguida, o administrador judicial é intimado
a ofertar um parecer, segundo o art. 12, parágrafo 1º. Após este procedimento, os
autos seguem ao juiz que procederá a sua decisão acerca da habilitação do crédito.
Uma vez que os créditos se encontrem devidamente habilitados, os credores
estarão divididos de acordo com a natureza de seu crédito, conforme previsto no
art. 83 da Lei 11.101/2005, que será estudado com mais profundidade no capítu-
lo posterior, que versará sobre a falência.
capítulo 4 • 88
Tal como na falência, na recuperação judicial é necessário proceder-se à verificação
dos créditos. A função do procedimento, porém, limita-se à legitimação dos integrantes
da Assembleia dos credores e ao peso proporcional de seus votos.
(ULHOA, 2015, p. 419).
a) Administrador judicial;
O administrador Judicial encontra-se previsto nos artigos 21 a 25. Antes da
edição da Lei 11.101/2005, o administrador judicial era denominado de síndico.
Desde a edição do diploma legal em 2005, os novos processos possuem adminis-
tradores judiciais.
O administrador pode ser pessoa física ou jurídica, desde que idônea, nos ter-
mos do art. 21, que estabelece ainda que, o administrador judicial deve ser prefe-
rencialmente contador, administrador, advogado ou economista. Temos que estar
atento ao uso da palavra preferencialmente e não obrigatoriamente. “Percebe-se o
cuidado do legislador em profissionalizar as funções, determinando que a escolha
se faça por critério de competência técnica, segundo as circunstâncias que o pro-
cesso em juízo existir” (NEGRÃO, 2015, p. 115).
Quando se trata de administrador pessoa jurídica, deve haver a indicação de
uma pessoa responsável pelo processo.
O administrador judicial encontra-se presente tanto na recuperação judicial
quanto na falência. Contudo, sua função varia drasticamente em cada um dos
procedimentos. Na recuperação judicial, o administrador assume basicamente a
função de fiscalização, nos termos do art. 22, incisos I e II. Na falência, o ad-
ministrador efetivamente realiza a administração da massa falida, nos termos do
art. 22, incisos I e III. Assim, nos dizeres de Negrão (2015, p. 108) “na recupe-
ração judicial, a atividade do administrador judicial é amplamente fiscalizatória
enquanto na falência sua função é, sobretudo, execução de atos de liquidação –
realização do ativo e pagamento do passivo”.
A remuneração do administrador judicial é estipulada pelo juízo competente,
que a fixará no ato em que defere o processamento da recuperação judicial ou no
capítulo 4 • 89
momento que decreta a falência, de acordo com o art. 24. O crédito devido ao
administrador judicial possui caráter alimentício, sendo considerado crédito ex-
traconcursal (será examinado no próximo capítulo), ou seja, que não participa do
concurso de credores.
Ao longo da recuperação judicial ou falência, o administrador judicial pode
vir a ser substituído ou destituído. A substituição consiste em uma retirada vo-
luntária, enquanto a destituição representa uma retirada coercitiva. O modo pelo
qual o administrador se desvincula, estará conectado a sua remuneração, tendo em
vista que se o administrador for substituído, fará jus ao recebimento proporcional
do tempo investido. Todavia, em caso de destituição, o administrador não terá
direito a qualquer remuneração, ainda que proporcional, conforme previsto no
art. 24, parágrafo 3º da Lei 11.101/2005.
b) Assembleia-geral de credores;
A Assembleia-Geral de credores, que se encontra prevista nos artigos 35 a 46
da Lei 11.101/2005, é o órgão máximo de deliberação dos credores. Na assem-
bleia-geral de credores, estes se encontram reunidos em quatro classes, conhecidas
como classe de credores, previstas no art. 41.
A primeira classe de credores é composta pelos titulares de créditos derivados da
legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho. A segunda classe possui
titulares de créditos com garantia real. A terceira classe é composta pelos titulares de cré-
dito quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral ou subordinados. Até
2014, os credores estavam divididos apenas em três classes. A Lei Complementar 147
instituiu a quarta classe, composta apenas por titulares de créditos enquadrados
como microempresa ou empresa de pequeno porte. Esta quarta classe foi criada com
intuito de conferir maior proteção aos micro e pequenos empresários. Cabe mencio-
nar que, as características de cada crédito serão desenvolvidas no capítulo seguinte.
A Assembleia-Geral poderá debater sobre um rol de temas não exaustivos pre-
vistos no art. 35, que irão se diferenciar, em se tratando de recuperação judicial
ou falência. Assim, por exemplo, na recuperação judicial, poderão aprovar, rejeitar
ou modificar o plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor; ou então
poderão deliberar sobre a constituição do Comitê de Credores, a escolha de seus
membros e sua substituição. Na falência, também poderão decidir sobre a consti-
tuição do comitê de credores, assim como qualquer outra matéria que possa afetar
os interesses dos credores.
capítulo 4 • 90
c) Comitê de credores.
O comitê de credores consiste em um órgão fiscalizatório da recuperação ju-
dicial e da falência, composto por quatro classes de credores. Todavia, existe uma
distinção entre a classe de credores da Assembleia-Geral de credores e dos comitês
de credores. As classes que compõem o comitê de credores encontram-se divididas,
conforme previsto no art. 26. A primeira classe é composta por um representante
indicado pela classe de credores trabalhista. A segunda classe possui um represen-
tante indicado pela classe de credores com direitos reais de garantia ou privilégios
especiais. Já a terceira classe é composta por representante indicado pela classe
de credores quirografários e com privilégios gerais. Assim, como na Assembleia-
Geral, o comitê de credores possuía apenas três classes. A quarta classe foi inserida
por meio da LC 147/2014, que se encontra constituída por representante da classe
de credores de microempresas e empresas de pequeno porte.
Como o comitê de credores possui a finalidade de fiscalizar, o comitê é um
órgão de constituição facultativa. Assim, compete aos credores, reunidos em
Assembleia-Geral, deliberar pela constituição e nomeação do comitê de credores.
Outra consequência importante decorrente da função fiscalizatória, consiste
no fato de que o comitê de credores não precisa estar constituído com os membros
de todas as classes de credores, conforme previsto no art. 26, parágrafo 1º da Lei
11.101/2005.
Ademais, como o comitê de credores atuará em defesa dos credores, não há
que se falar em remuneração dos membros do comitê de credores subsidiada pelo
devedor. As custas e despesas realizadas pelo comitê serão custeadas pelos próprios
credores, nos termos do art. 29 da Lei 11.101/2005.
Recuperação extrajudicial
Conceito
capítulo 4 • 91
sua empresa e, ainda, a insuficiência de recursos para o pagamento das obrigações
assumidas” (NEGRÃO, 2015, p. 157). A recuperação extrajudicial, assim como
a recuperação judicial se orientam pelo princípio da função social da empresa e o
princípio da manutenção da empresa, conforme mencionado na seção anterior.
Trata-se, de um instituto jurídico cujo intuito é preservar a empresa que desen-
volve uma função social, que enfrenta uma grave crise econômica e possui meios
para se recuperar.
Pressupostos
capítulo 4 • 92
Processamento
capítulo 4 • 93
Recuperação judicial
a) Conceito
A recuperação judicial é o mecanismo jurídico que, por meio de um processo
judicial, pretende-se auxiliar o devedor a superar sua crise econômico-financeira.
A recuperação judicial aplica-se em situações em que o devedor passa por uma
severa crise econômica. Porém, a crise é passível de recuperação. Isto porque, caso
não haja possibilidade de superação, o caminho que deverá ser percorrido pelo
devedor será o da falência.
Na recuperação judicial, as atividades empresariais permanecem sendo de-
senvolvidas. O devedor não deixa de exercer suas funções. A atividade econômica
organizada continua a ser exercida, tendo em vista que o intuito da recuperação
judicial é que o devedor supere sua crise econômico-financeira e para tanto, preci-
sa permanecer a exercer seu objeto social.
capítulo 4 • 94
b) Pressupostos
Aplicam-se na recuperação judicial os mesmos pressupostos analisados na re-
cuperação extrajudicial inseridos no art. 48 da Lei 11.101/2005, com o exceção
do lapso temporal de dois anos referente à obtenção da recuperação extrajudicial,
prevista no art. 161, parágrafo 3º do mesmo diploma legal. Assim, o devedor de-
verá comprovar que preenche, cumulativamente os seguintes pressupostos:
a) Exercício regular da atividade há mais de dois anos – Por exercício re-
gular da atividade empresária, considera-se que para fazer jus à recuperação,
o empresário deve ser um empresário regular há mais de dois anos. Isto
é, o empresário deve ter realizado o registro de seus atos constitutivos na
REPEM, assim como suas atualizações, além de cumprir as demais obriga-
ções profissionais do empresário, como a escrituração e leitura contábil;
b) Não ser falido – Caso já tenha sido declarado falido, que tenha ocorri-
do a extinção das obrigações decorrentes;
c) Não ter sido condenado por crimes falimentares – Ressalte-se que neste
caso, prevalece o princípio de presunção de inocência. Portanto, a conde-
nação deve ter transitado em julgado;
d) Cumprimento do lapso temporal – O devedor não pode ter obtido
recuperação judicial há menos de cinco anos, assim como não pode ter
obtido a recuperação especial há menos de cinco anos. Ressalte-se que, o
interregno previsto em relação à recuperação especial, era inicialmente de
oito anos. Contudo, a Lei Complementar 147/2014, reduziu o prazo para
cinco anos.
c) Meios de recuperação
Os meios de recuperação judicial que devem estar inseridos no plano de recu-
peração judicial estão previstos no art. 50 da Lei 11.101/2005. Este artigo elen-
ca dezesseis possibilidades, como concessão de prazos e condições especiais para
pagamento das obrigações vencidas ou vincendas; cisão, incorporação, fusão ou
transformação de sociedade, constituição de subsidiária integral, ou cessão de co-
tas ou ações; alteração do controle societário e; emissão de valores mobiliários.
Mas é válido mencionar, que conforme previsto no próprio artigo, não se trata
de um rol exaustivo. O devedor, portanto, ao elaborar seu plano de recuperação,
poderá escolher, dentre as opções contidas no art. 50, ou outras que forem mais
convenientes para atender as peculiaridades de seus credores.
capítulo 4 • 95
Do pedido e do processamento da recuperação judicial:
Petição inicial
III. a relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obrigação de
fazer ou de dar, com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a classifi-
cação e o valor atualizado do crédito, discriminando sua origem, o regime dos
respectivos vencimentos e a indicação dos registros contábeis de cada transação
pendente;
IV. a relação integral dos empregados, em que constem as respectivas funções,
salários, indenizações e outras parcelas a que têm direito, com o correspondente
mês de competência, e a discriminação dos valores pendentes de pagamento;
V. certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas, o ato
constitutivo atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores;
capítulo 4 • 96
VI. a relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores
do devedor;
VII. os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas eventuais
aplicações financeiras de qualquer modalidade, inclusive em fundos de investi-
mento ou em bolsas de valores, emitidos pelas respectivas instituições financeiras;
VIII. certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio ou
sede do devedor e naquelas onde possui filial;
IX. a relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais em que este figure
como parte, inclusive as de natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos
valores demandados.”
Desta forma, ao ajuizar o pedido de recuperação judicial, o devedor deverá
comprovar o rol de documentação, além de preencher os pressupostos. Caso aten-
da todas as exigências, o juiz deferirá o processamento da recuperação judicial.
Contudo, se não estiver preenchidas toda a documentação, assim como os pressu-
postos, o juiz indeferirá o pedido e extinguirá o processo.
É válido mencionar que, o deferimento do processamento não se confun-
de com o deferimento da recuperação judicial. O deferimento do processamento
consiste em que o juízo competente realizou um juízo de legalidade, ou seja, ve-
rificou se estavam previstas a documentação requerida no art. 51, bem como se
atendia aos pressupostos da recuperação judicial contidos o art. 48 para deferir
a recuperação judicial. “Também não se confunde o despacho que determina o
processamento da recuperação judicial com a decisão concessiva do benefício. Esta
última será proferida depois, na conclusão da fase deliberativa, caso confirmada a
viabilidade da empresa em crise” (ULHOA, 2015, p. 418).
O deferimento do processamento encontra-se previsto no art. 52 da
Lei 11.101/2005, que além de deferir o processamento, determina uma série
de atos:
“Art. 52. Estando em termos a documentação exigida no art. 51 desta Lei, o
juiz deferirá o processamento da recuperação judicial e, no mesmo ato:
I. nomeará o administrador judicial, observado o disposto no art. 21 desta Lei;
II. determinará a dispensa da apresentação de certidões negativas para que o de-
vedor exerça suas atividades, exceto para contratação com o Poder Público ou
para recebimento de benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, observando o
disposto no art. 69 desta Lei;
capítulo 4 • 97
III. ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o devedor, na
forma do art. 6o desta Lei, permanecendo os respectivos autos no juízo onde se
processam, ressalvadas as ações previstas nos §§ 1o, 2o e 7o do art. 6o desta Lei e as
relativas a créditos excetuados na forma dos §§ 3o e 4o do art. 49 desta Lei;
IV. determinará ao devedor a apresentação de contas demonstrativas men-
sais enquanto perdurar a recuperação judicial, sob pena de destituição de seus
administradores;
V. ordenará a intimação do Ministério Público e a comunicação por carta às
Fazendas Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios em que o devedor
tiver estabelecimento”.
capítulo 4 • 98
IV. substituição total ou parcial dos administradores do devedor ou modifica-
ção de seus órgãos administrativos;
V. concessão aos credores de direito de eleição em separado de administrado-
res e de poder de veto em relação às matérias que o plano especificar;
VI. aumento de capital social;
VII. trespasse ou arrendamento de estabelecimento, inclusive à sociedade cons-
tituída pelos próprios empregados;
VIII. redução salarial, compensação de horários e redução da jornada, mediante
acordo ou convenção coletiva;
IX. dação em pagamento ou novação de dívidas do passivo, com ou sem cons-
tituição de garantia própria ou de terceiros;
X. constituição de sociedade de credores;
XI. venda parcial dos bens;
XII. equalização de encargos financeiros relativos a débitos de qualquer natu-
reza, tendo como termo inicial a data da distribuição do pedido de recuperação
judicial, aplicando-se inclusive aos contratos de crédito rural, sem prejuízo do
disposto em legislação específica;
XIII. usufruto da empresa;
XIV. administração compartilhada;
XV. emissão de valores mobiliários;
XVI. constituição de sociedade de propósito específico para adjudicar, em paga-
mento dos créditos, os ativos do devedor.”
capítulo 4 • 99
Do procedimento de recuperação judicial
capítulo 4 • 100
especial também é conhecida como plano de recuperação judicial para microem-
presas e empresas de pequeno porte.
Trata-se de uma espécie de recuperação judicial, dedicada exclusivamente para
as microempresas e empresas de pequeno porte, prevista nos artigos 70 a 72. As
pequenas e microempresas possuem este procedimento específico, tendo em vista
a previsão constitucional que determina a proteção especial aos micro e peque-
nos empresários.
A recuperação especial é uma recuperação judicial, porém com o procedi-
mento mais simplificado. “Em razão da pequena dimensão do passivo e da pouca
complexidade da recuperação de microempresas ou empresas de pequeno porte
em crise, a lei adota procedimento simplificado e restringe os meios de reorgani-
zação ao parcelamento” (ULHOA, 2015, p. 431).
Até a edição da Lei Complementar 147/2014, a recuperação especial envol-
via apenas os credores quirografários (ou seja, credores sem garantia para seus
créditos) cujo crédito poderia estar parcelado em até 36 vezes iguais e sucessivas,
com juros de 12% ao ano e com até 180 dias para realizar o pagamento da pri-
meira parcela. Contudo, na prática, não atendia a realidade brasileira, tendo em
vista que os principais credores não eram quirografários. Portanto, a LC passou a
enquadrar todos os créditos na recuperação especial. Atualmente, nos termos do
art. 71 da Lei 11.101/2005, a recuperação especial abrangerá todos os créditos,
com pagamento em até 36 vezes iguais e sucessivas e juros baseados na taxa SELIC,
mantendo-se o pagamento da primeira parcela em até 180 dias.
Na recuperação especial, não há necessidade de convocação da Assembleia-
Geral, tendo em vista que basta o plano estar adequado ao disposto no art. 71.
Assim como não há suspensão das ações e execuções não envolvidas no plano, nos
termos do art. 71, parágrafo único.
capítulo 4 • 101
Neste sentido, a recuperação judicial tenta recuperar as expectativas dos credo-
res, no recebimento dos seus créditos. Muitas vezes, estes credores aceitam ceder
parte de seu crédito para viabilizar a recuperação judicial. Por esta razão, a recupe-
ração judicial não pode servir como um instrumento de manipulação ou simples
procrastinação para evitar o encerramento da atividade.
Assim, uma vez proposta a recuperação judicial, determinadas situações pode-
rão ensejar a convolação da recuperação judicial em falência. Isto é, a recuperação
judicial, que tem como finalidade a manutenção da empresa, será transformada
em uma falência. No próximo capítulo, estudaremos a falência e verificaremos
que, na falência ocorre o encerramento das atividades, ou seja, o empresário deixa
de exercer seu objeto social. Consequentemente, a convolação da recuperação ju-
dicial em falência ocorre em situações extremas, em que o que seria um mecanis-
mo para auxiliar a superar uma crise financeira e permanecer em funcionamento,
acarretará a extinção da sociedade por meio da falência.
As hipóteses encontram-se previstas no art. 73 da Lei 11.101/2005, a seguir:
“Art. 73. O juiz decretará a falência durante o processo de recuperação judicial:
I. por deliberação da assembleia-geral de credores, na forma do art. 42 desta Lei;
II. pela não apresentação, pelo devedor, do plano de recuperação no prazo do
art. 53 desta Lei;
III. quando houver sido rejeitado o plano de recuperação, nos termos do § 4o do
art. 56 desta Lei;
IV. por descumprimento de qualquer obrigação assumida no plano de recupera-
ção, na forma do § 1o do art. 61 desta Lei.”
capítulo 4 • 102
ATIVIDADES
01. (PGE-AC 2017) De acordo com a Lei 11.101, de 09 de fevereiro de 2005, que
regula a recuperação judicial; a extrajudicial e a falência do empresário e da so-
ciedade empresária, é CORRETO afirmar que ao administrador judicial compete na
recuperação judicial:
a) Relacionar processos e assumir a representação judicial da massa falida.
b) Avaliar os bens arrecadados.
c) Praticar os atos necessários à realização do ativo e ao pagamento dos credores.
d) Fiscalizar as atividades do devedor e o cumprimento do plano de recuperação judicial.
02. (ALERJ 2017) Assinale a alternativa correta. Luiz é sócio da sociedade Papéis
Fechados Ltda. que se encontra altamente endividada. Por essa razão, a referida
sociedade terá dificuldades para negociar com os credores e os seus funcionários.
Com relação à recuperação extrajudicial, considere os créditos a seguir:
I. Quirografário;
II. Com garantia real;
III. Subordinado;
IV. Trabalhista;
V. Tributário.
Os créditos que NÃO podem ser objeto da recuperação extrajudicial da Papéis Fechados
Ltda. são somente:
a) I e II.
b) III.
c) III e IV.
d) IV e IV.
capítulo 4 • 103
II. Os membros do Comitê de Credores não terão sua remuneração custeada pelo devedor
em recuperação
III. Ambos os procedimentos envolvem a negociação de todos os créditos oponíveis ao
devedor, sendo a recuperação extrajudicial reservada apenas às microempresas e empresas
de pequeno porte.
IV. Não pode ser incluído no plano de recuperação extrajudicial o crédito trabalhista.
V. Diferentemente do previsto para a recuperação extrajudicial, o pedido de recuperação
judicial poderá acarretar a suspensão de ações e execuções contra o devedor antes que o
plano de recuperação do empresário seja apresentado aos credores.
04. (XXIV – OAB/2017) A sociedade empresária Pará de Minas Veículos Ltda. pre-
tende requerer sua recuperação judicial. Ao analisar a minuta de petição inicial, o
gerente administrativo listou os impedimentos ao pedido de recuperação. Assinale
a opção que apresenta um desses impedimentos.
a) O devedor ter, há menos de 5 anos, obtido concessão de recuperação judicial.
b) O devedor possuir ativo que não corresponda a, pelo menos, 50% (cinquenta por cento)
do passivo quirografário.
c) O devedor deixar de requerer sua autofalência nos 30 (trinta) dias seguintes ao venci-
mento de qualquer obrigação líquida.
d) A sociedade ter como administrador pessoa condenada por crime contra o patrimônio
ou contra a fé pública.
05. (XX - OAB/2016) Mostardas, Tavares & Cia Ltda. EPP requereu sua recuperação
judicial tendo o pedido sido despachado pelo juiz com a nomeação de Frederico
Portela como administrador judicial. Em relação à remuneração do administrador
judicial, será observada a seguinte regra:
a) a remuneração não excederá 5% (cinco por cento) do valor devido aos credores subme-
tidos à recuperação judicial.
b) caberá ao devedor arcar com as despesas relativas à remuneração do administrador
judicial e das pessoas eventualmente contratadas para auxiliá-lo.
c) a remuneração deverá ser paga até o final do encerramento da verificação dos créditos
e publicação do quadro de credores.
d) será devida a remuneração proporcional ao trabalho realizado quando o administrador
judicial for destituído por descumprimento de deveres legais.
capítulo 4 • 104
REFLEXÃO
Neste capítulo, você iniciou o estudo do direito recuperacional e do direito falimentar, que
foi fracionado em três partes. Na primeira parte, você conheceu as disposições preliminares
comuns à recuperação judicial, extrajudicial e falência. Examinou a legitimidade, o juízo com-
petente e a atuação do ministério público, bem como os títulos não exigíveis, os efeitos do
processamento, a habilitação e verificação dos créditos e os órgãos atuantes na recuperação
judicial e falência, que são institutos comuns na recuperação judicial e falência.
Compreendeu, na segunda parte, o mecanismo da recuperação extrajudicial, ao analisar
conceito, pressupostos e processamento, identificando as hipóteses em que são cabíveis a
utilização da recuperação extrajudicial.
Examinou, na parte final, a recuperação judicial, inclusive conceito, pressupostos, meios
de recuperação, processamento, procedimento e convolação da recuperação judicial da fa-
lência. Ademais, identificou o plano de recuperação judicial para microempresas e empresas
de pequeno porte.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERTOLDI, Marcelo M. Curso Avançado de Direito Comercial, 9ª Ed., São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2015.
BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Lei de Recuperação de Empresas e Falências: Lei
11.101/2005, comentada artigo por artigo, 11ªed. rev. atual. Ampliada, São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2015.
CAMPINHO, Sérgio. Falência e Recuperação de Empresa, 7ª ed, Rio de Janeiro: Renovar, 2015.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 3: direito de empresa. 19º ed. São
Paulo: Saraiva, 2015.
FAZZIO JUNIOR, Waldo. Nova Lei de Falência e Recuperação de Empresas, 7ª Ed., São Paulo:
Atlas, 2015.
NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa, v. 3, 10ª ed, São Paulo: Saraiva,
2015.
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 32. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. 2.º vol.
capítulo 4 • 105
capítulo 4 • 106
5
Falência
Falência
No capítulo anterior, você estudou sobre a recuperação judicial, recuperação
extrajudicial e recuperação espacial, inseridas no contexto da Lei 11.101/2005.
Neste capítulo, procederemos ao estudo da falência sob seus diferentes aspectos.
Na primeira parte, identificaremos o conceito e princípios aplicáveis à falência,
assim como objetivos, pressupostos, legitimidade e demais institutos presentes na
fase pré-falimentar.
Na segunda parte, estudaremos a sentença na falência, o recurso cabível, além
dos efeitos da sentença sobre os bens, credores e contratos do falido. Em seguida,
na terceira parte abordaremos sobre as ações incidentais, como a ação revocatória
e a ineficácia de atos, além do procedimento de liquidação de ativo e pagamento
de passivo. Ainda neste capítulo, examinaremos o encerramento da falência, a
extinção das obrigações e encerra-se o capítulo por meio da verificação dos crimes
falimentares.
OBJETIVOS
O objetivo deste capítulo consiste em inicialmente compreender a falência na fase pré-
falimentar; identificar os efeitos da sentença que decreta a falência, que gera uma série de
efeitos em relação ao falido, aos bens do falido e aos contratos do falido; estudar as ações
incidentais e o modo pelo qual ocorre o encerramento da falência, extinguem-se as obriga-
ções e; enumerar os crimes falimentares.
capítulo 5 • 108
Conceito e princípios
Conceito
capítulo 5 • 109
Princípios
Objetivos e pressupostos
capítulo 5 • 110
Objetivos
Pressupostos
capítulo 5 • 111
falência. Todavia, para a decretação da falência não basta a simples insolvência,
deve-se ter uma insolvência qualificada. Desta forma, aquele que requer a falência
deverá comprovar as causas de insolvência que será observada ainda nesta seção.
O terceiro pressuposto para a falência é a sua decretação judicial. A falência é
uma execução coletiva. Portanto, um processo judicial, que configura um estado
de direito, que apenas restará caracterizado após decretação judicial. Sendo assim,
o processo de falência é composto por duas fases: a fase pré-falimentar e a fase fa-
limentar. A fase pré-falimentar se inicia com o pedido de falência e se encerra com
a decretação da falência. A fase falimentar se inicia justamente com a decretação
da falência.
Portanto, apenas haverá a falência se o devedor for um empresário, insolvente,
que teve sua insolvência qualificada decretada judicialmente.
Legitimidade
capítulo 5 • 112
“Art. 97. Podem requerer a falência do devedor:
I. o próprio devedor, na forma do disposto nos arts. 105 a 107 desta Lei;
II. o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante;
III. o cotista ou o acionista do devedor na forma da lei ou do ato constitutivo da
sociedade;
IV. qualquer credor.”
“Estão legitimados para o pedido de falência, além dos credores, a própria
sociedade devedora (autofalência) e seus sócios” (ULHOA, 2017, p.259). Em re-
lação à legitimidade ativa do credor, não obstante o inciso IV prever que a legiti-
midade compete a qualquer credor, o parágrafo 1º deste mesmo artigo estabelece
que se o credor for empresário, este deverá comprovar a regularidade do exercício
da sua atividade. Isto é, caso seja um devedor empresário, deverá ser um empre-
sário regular. “O credor está legitimado para o pedido de falência ainda que seu
crédito não esteja vencido, cabendo-lhe provar a impontualidade injustificada da
sociedade devedora ou a execução frustrada em relação à título de terceiros ou
ainda a prática de atos de falência (ULHOA, 2017, p.259)
Causas de insolvência
capítulo 5 • 113
b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de re-
tardar pagamentos ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de
parte ou da totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou não;
c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consenti-
mento de todos os credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu
passivo;
d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo
de burlar a legislação ou a fiscalização ou para prejudicar credor;
e) dá ou reforça garantia ao credor por dívida contraída anteriormen-
te sem ficar com bens livres e desembaraçados suficientes para saldar seu
passivo;
f ) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficien-
tes para pagar os credores, abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de
seu domicílio, do local de sua sede ou de seu principal estabelecimento;
g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano
de recuperação judicial."
Impontualidade
capítulo 5 • 114
Execução individual frustrada
Atos de falência
capítulo 5 • 115
d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo
de burlar a legislação ou a fiscalização ou para prejudicar credor;
e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem
ficar com bens livres e desembaraçados suficientes para saldar seu passivo;
f ) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficien-
tes para pagar os credores, abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de
seu domicílio, do local de sua sede ou de seu principal estabelecimento;
g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano
de recuperação judicial.”
Defesas pré-falimentares
capítulo 5 • 116
Depósito elisivo
capítulo 5 • 117
IV. pagamento da dívida;
V. qualquer outro fato que extinga ou suspenda obrigação ou não legitime a
cobrança de título;
VI. vício em protesto ou em seu instrumento;
VII. apresentação de pedido de recuperação judicial no prazo da contestação,
observados os requisitos do art. 51 desta Lei;
VIII. cessação das atividades empresariais mais de 2 (dois) anos antes do pedido
de falência, comprovada por documento hábil do Registro Público de Empresas,
o qual não prevalecerá contra prova de exercício posterior ao ato registrado.”
Sentença na falência
capítulo 5 • 118
Sentença denegatória da falência
A sentença denegatória de falência ocorre quando o juiz acolhe uma das defe-
sas preliminares da falência apresentadas pelo devedor. Assim, caso haja o depósito
elisivo da falência ou uma das causas impeditivas da falência, o juízo não decretará
a falência do devedor empresária e o processo se extingue sem que tenha decretada
a falência.
“A denegação da falência pode ter dois diferentes fundamentos: a elisão do
pedido pelo depósito ou o acolhimento da contestação da sociedade empresária
devedora. No primeiro caso, sucumbe a requerida, que reconhece de modo implí-
cito a procedência do pedido; no segundo, sucumbe o requerente, cujo pleito não
poderia ter sido atendido” (ULHOA, 2017, p. 273).
Como efeitos da sentença denegatória de falência, Ricardo Negrão (2015,
p. 360) enumera o fato de não impedir novo pedido falimentar por outra causa
petendi e poder condenar o autor ao pagamento de perdas e danos.
Natureza jurídica
Recurso
A decisão judicial que decreta a falência ocorre nas hipóteses em que o juízo
não identifica uma das causas impeditivas da falência ou a existência do depósito
elisivo. Sendo assim, não resta alternativa a não ser decretar a falência. Assim,
encerra-se a fase pré-falimentar e instaura-se a fase falimentar. Neste momento, o
devedor empresário tem efetivamente sua falência decretada, cujas consequências
serão examinadas ainda nesta seção.
capítulo 5 • 119
Natureza jurídica
Recurso
capítulo 5 • 120
do 1o(primeiro) protesto por falta de pagamento, excluindo-se, para esta finalida-
de, os protestos que tenham sido cancelados;
III. ordenará ao falido que apresente, no prazo máximo de 5 (cinco) dias, re-
lação nominal dos credores, indicando endereço, importância, natureza e classifi-
cação dos respectivos créditos, se esta já não se encontrar nos autos, sob pena de
desobediência;
IV. explicitará o prazo para as habilitações de crédito, observado o disposto no
§ 1o do art. 7o desta Lei;
V. ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o falido, ressal-
vadas as hipóteses previstas nos §§ 1o e 2o do art. 6o desta Lei;
VI. proibirá a prática de qualquer ato de disposição ou oneração de bens do
falido, submetendo-os preliminarmente à autorização judicial e do Comitê, se
houver, ressalvados os bens cuja venda faça parte das atividades normais do deve-
dor se autorizada a continuação provisória nos termos do inciso XI do caput deste
artigo;
VII. determinará as diligências necessárias para salvaguardar os interesses das
partes envolvidas, podendo ordenar a prisão preventiva do falido ou de seus ad-
ministradores quando requerida com fundamento em provas da prática de crime
definido nesta Lei;
VIII. ordenará ao Registro Público de Empresas que proceda à anotação da fa-
lência no registro do devedor, para que conste a expressão "Falido", a data da
decretação da falência e a inabilitação de que trata o art. 102 desta Lei;
IX. nomeará o administrador judicial, que desempenhará suas funções na for-
ma do inciso III do caput do art. 22 desta Lei sem prejuízo do disposto na alínea
a do inciso II do caput do art. 35 desta Lei;
X. determinará a expedição de ofícios aos órgãos e repartições públicas e ou-
tras entidades para que informem a existência de bens e direitos do falido;
XI. pronunciar-se-á a respeito da continuação provisória das atividades do fali-
do com o administrador judicial ou da lacração dos estabelecimentos, observado
o disposto no art. 109 desta Lei;
XII. determinará, quando entender conveniente, a convocação da assembleia-
geral de credores para a constituição de Comitê de Credores, podendo ainda au-
torizar a manutenção do Comitê, eventualmente, em funcionamento na recupe-
ração judicial quando da decretação da falência;
capítulo 5 • 121
XIII. ordenará a intimação do Ministério Público e a comunicação por carta às
Fazendas Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios em que o devedor
tiver estabelecimento, para que tomem conhecimento da falência.
Parágrafo único. O juiz ordenará a publicação de edital contendo a íntegra da
decisão que decreta a falência e a relação de credores.”
capítulo 5 • 122
Em relação aos credores do falido
capítulo 5 • 123
a falência sem o pagamento do crédito, voltam a correr a prescrição que esteve
suspensa durante a falência.
capítulo 5 • 124
III. não tendo o devedor entregue coisa móvel ou prestado serviço que vendera
ou contratara a prestações, e resolvendo o administrador judicial não executar o
contrato, o crédito relativo ao valor pago será habilitado na classe própria;
IV. o administrador judicial, ouvido o Comitê, restituirá a coisa móvel com-
prada pelo devedor com reserva de domínio do vendedor se resolver não continuar
a execução do contrato, exigindo a devolução, nos termos do contrato, dos valores
pagos;
V. tratando-se de coisas vendidas a termo, que tenham cotação em bolsa ou
mercado, e não se executando o contrato pela efetiva entrega daquelas e paga-
mento do preço, prestar-se-á a diferença entre a cotação do dia do contrato e a da
época da liquidação em bolsa ou mercado;
VI. na promessa de compra e venda de imóveis, aplicar-se-á a legislação
respectiva;
VII. a falência do locador não resolve o contrato de locação e, na falência do
locatário, o administrador judicial pode, a qualquer tempo, denunciar o contrato;
VIII. caso haja acordo para compensação e liquidação de obrigações no âmbito
do sistema financeiro nacional, nos termos da legislação vigente, a parte não fali-
da poderá considerar o contrato vencido antecipadamente, hipótese em que será
liquidado na forma estabelecida em regulamento, admitindo-se a compensação de
eventual crédito que venha a ser apurado em favor do falido com créditos detidos
pelo contratante;
IX. os patrimônios de afetação, constituídos para cumprimento de destinação
específica, obedecerão ao disposto na legislação respectiva, permanecendo seus
bens, direitos e obrigações separados dos do falido até o advento do respectivo
termo ou até o cumprimento de sua finalidade, ocasião em que o administrador
judicial arrecadará o saldo a favor da massa falida ou inscreverá na classe própria o
crédito que contra ela remanescer.”
capítulo 5 • 125
Arrecadação e custódia dos bens da massa falida
Uma vez decretada a falência, o juiz nomeará o administrador judicial, que se en-
carregará de proceder à arrecadação e custódia dos bens da massa falida, nos termos dos
arts. 108 a 114 da Lei 11.101/2005. Por esta razão, o administrador judicial deve
ser uma pessoa que tenha o conhecimento técnico sobre a atividade econômi-
ca desenvolvida.
Após a nomeação do administrador judicial, este tem o prazo de 48 horas para
assinar o termo de compromisso e ato contínuo, já procederá a arrecadação e cus-
tódia dos bens, conforme disposto nos art. 33 e 108 do mesmo diploma legal, em
nome do princípio da celeridade processual eu rege o processo falimentar.
O administrador judicial realizará a arrecadação e avaliação imediata dos bens.
Apenas em caso de impossibilidade, o art. 110, parágrafo 1º autoriza a apresenta-
ção do laudo no prazo de trinta dias. Cumpre ressaltar que, o devedor pode estar
presente neste procedimento, segundo estipula o art. 108, parágrafo 2º.
A arrecadação envolverá todos os bens na posse do devedor, ainda que não
sejam de sua propriedade, exceto os bens considerados impenhoráveis, nos termos
do art. 108, parágrafo 4º.
Após a arrecadação e avaliação dos bens, o administrador judicial elaborará
o auto de arrecadação, que deverá conter a assinatura do devedor, administrador
judicial e por pessoas que acompanharam o ato, de acordo com o art. 110. É
importante frisar que, os bens ficarão sob a custódia do administrador judicial e
poderão ser removidos, conforme preceitua o art. 112 da Lei 11.101/2005.
Ações incidentais
capítulo 5 • 126
é o meio utilizado para declarar a ineficácia dos atos praticados com a finalidade
de frustrar a execução concursal do processo de falência na medida em que ferem
o princípio da par conditio creditorum.
A ação revocatória ocorrerá nas hipóteses dos arts. 129 e 130 da Lei
11.101/2005, conforme analisado a seguir.
“Art. 129. São ineficazes em relação à massa falida, tenha ou não o contratan-
te conhecimento do estado de crise econômico-financeira do devedor, seja ou não
intenção deste fraudar credores:
I. o pagamento de dívidas não vencidas realizado pelo devedor dentro do
termo legal, por qualquer meio extintivo do direito de crédito, ainda que pelo
desconto do próprio título;
II. o pagamento de dívidas vencidas e exigíveis realizado dentro do termo le-
gal, por qualquer forma que não seja a prevista pelo contrato;
III. a constituição de direito real de garantia, inclusive a retenção, dentro do
termo legal, tratando-se de dívida contraída anteriormente; se os bens dados em
hipoteca forem objeto de outras posteriores, a massa falida receberá a parte que
devia caber ao credor da hipoteca revogada;
IV. a prática de atos a título gratuito, desde 2 (dois) anos antes da decretação da
falência;
V. a renúncia à herança ou a legado, até 2 (dois) anos antes da decretação da
falência;
VI. a venda ou transferência de estabelecimento feita sem o consentimento ex-
presso ou o pagamento de todos os credores, a esse tempo existentes, não tendo
restado ao devedor bens suficientes para solver o seu passivo, salvo se, no prazo
de 30 (trinta) dias, não houver oposição dos credores, após serem devidamente
notificados, judicialmente ou pelo oficial do registro de títulos e documentos;
VII. os registros de direitos reais e de transferência de propriedade entre vivos,
por título oneroso ou gratuito, ou a averbação relativa a imóveis realizados após a
decretação da falência, salvo se tiver havido prenotação anterior.
Parágrafo único. A ineficácia poderá ser declarada de ofício pelo juiz, alega-
da em defesa ou pleiteada mediante ação própria ou incidentalmente no curso
do processo.
Art. 130. São revogáveis os atos praticados com a intenção de prejudicar cre-
dores, provando-se o conluio fraudulento entre o devedor e o terceiro que com ele
contratar e o efetivo prejuízo sofrido pela massa falida”.
capítulo 5 • 127
A doutrina majoritária entende que as hipóteses do art.129 trazem a hipótese
objetiva, tendo em vista que não demandam a intenção do devedor para sua ocor-
rência. Já as hipóteses do art. 130 refletem a hipótese subjetiva, tendo em vista que
demandam a intenção do devedor.
Liquidação na falência
capítulo 5 • 128
mencionada, busca-se alcançar o maior valor possível com os bens que integram
o ativo.
Compete ressaltar que, compete ao juiz, desde que ouvido o administrador
judicial e o Comitê de credores optar por uma das modalidades de alienação pre-
vistas no art. 142 da Lei 11.101/2005, a saber: leilão, por lances orais; propostas
fechadas e; pregão.
capítulo 5 • 129
Pagamento do passivo na falência
capítulo 5 • 130
b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens
vinculados ao seu pagamento;
c) os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que excede-
rem o limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo;
VII. as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou
administrativas, inclusive as multas tributárias;
VIII. créditos subordinados, a saber:
a) os assim previstos em lei ou em contrato;
b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício."
Pela ordem de credores, verifica-se que os credores com prioridade são os cre-
dores trabalhistas. Porém, limitados a 150 salários-mínimos. Isto significa que,
caso o crédito trabalhista ultrapasse os 150 salários-mínimos, o valor excedente
será considerado quirografário, ou seja, sem garantia.
Consequentemente, o administrador judicial ao proceder aos pagamentos dos
credores está adstrito à ordem estabelecida pela Lei 11.101/2005.
Restituições
capítulo 5 • 131
Créditos extraconcursais
Encerramento da falência
Uma vez decretada a falência esta continuará enquanto for possível a reali-
zação do ativo e consequente pagamento do passivo. Assim, o encerramento da
falência ocorre quando não existe mais ativo a ser realizado, nos termos do art. 154
da Lei 11.101/2005.
capítulo 5 • 132
existem mais bens a serem partilhados. Já as obrigações se extinguem de acordo
com o art. 158 da Lei 11.101/2005.
“Art. 158. Extingue as obrigações do falido:
I. o pagamento de todos os créditos;
II. o pagamento, depois de realizado todo o ativo, de mais de 50% (cinquenta
por cento) dos créditos quirografários, sendo facultado ao falido o depósito da
quantia necessária para atingir essa porcentagem se para tanto não bastou a inte-
gral liquidação do ativo;
III. o decurso do prazo de 5 (cinco) anos, contado do encerramento da falência,
se o falido não tiver sido condenado por prática de crime previsto nesta Lei;
IV. o decurso do prazo de 10 (dez) anos, contado do encerramento da falência,
se o falido tiver sido condenado por prática de crime previsto nesta Lei”.
Crimes falimentares
A Lei 11.101/2005 retrata alguns crimes que podem ser praticados no con-
texto da falência. A doutrina os denomina de crimes falimentares, previstos nos
art. 168 a 178, que estabelecem as condutas e as penas mínimas e máximas cabí-
veis. Tratam-se de crimes que podem ser praticados no contexto do estado insol-
vência, como uma forma de salvaguardar o patrimônio do empresário devedor.
capítulo 5 • 133
ATIVIDADES
01. (XXIV – OAB/2017) O empresário individual Ives Diniz, em conluio com seus
dois primos, realizou empréstimos simulados a fim de obter crédito para si; por esse
e outros motivos, foi decretada sua falência. No curso do processo falimentar, o ad-
ministrador judicial verificou a prática de outros atos praticados pelo devedor e seus
primos, antes da falência; entre eles, a transferência de bens do estabelecimento a
terceiros lastreados em pagamentos de dívidas fictícias, com nítido prejuízo à mas-
sa. De acordo com o enunciado e as disposições da Lei de Falência e Recuperação
de Empresas, o advogado contratado pelo administrador judicial para defender os
direitos e interesses da massa deverá:
a) requer, no juízo da falência, a instauração do incidente de desconsideração da persona-
lidade jurídica.
b) ajuizar ação revocatória em nome da massa falida no juízo da falência.
c) ajuizar ação pauliana em nome do administrador judicial no juízo cível.
d) requerer, no juízo da falência, o sequestro dos bens dos primos do empresário como
medida antecedente à ação de responsabilidade civil.
02. (XIX – OAB/2016) A falência da sociedade XYZ Ltda. foi decretada em 5/6/2014.
Nessa data, a pessoa jurídica já possuía dois imóveis hipotecados para garantia de
dívidas diversas. A União tem créditos tributários a receber da sociedade, inscritos
em dívida ativa em abril de 2013. Baseado nos fatos narrados, assinale a afirmati-
va correta.
a) a União tem direito de preferência sobre todo e qualquer credor, porque o crédito tribu-
tário foi inscrito em dívida ativa antes da decretação da falência.
b) a União tem direito de preferência sobre os credores com garantia real, pois o cré-
dito tributário prefere qualquer outro, seja qual for sua natureza ou tempo de sua
constituição.
c) a União tem de respeitar a preferência dos credores hipotecários, no limite do valor dos
bens gravados.
d) a União tem de respeitar a preferência dos credores hipotecários, no limite do valor das
dívidas garantidas pelas hipotecas.
03. (XVII – OAB/2015) José adquiriu dois refrigeradores a prazo numa das filiais
de Comércio de Eletrodomésticos Ltda., tendo efetuado pagamento de entrada no
valor de 50% do preço. Foi decretada a falência da vendedora e esta não entregou
capítulo 5 • 134
a mercadoria. Interpelado o administrador judicial, este resolveu não executar o
contrato. De acordo com as informações do enunciado e as disposições da Lei nº
11.101/2005 (Lei de Falências e Recuperação de Empresas), assinale a afirmati-
va correta.
a) o comprador poderá pedir ao juiz da falência a reserva do valor de seu crédito.
b) o comprador poderá pedir a restituição em dinheiro do valor pago a título de entrada.
c) o comprador poderá ajuizar ação em face da massa para o cumprimento compulsório
do contrato.
d) o comprador terá seu crédito relativo ao valor pago habilitado como quirografário na
falência.
REFLEXÃO
Neste último capítulo do livro, você complementou o estudo sobre o direito falimentar,
que foi fracionado em três partes também. Na primeira parte, você compreendeu a falência
na fase pré-falimentar, por meio do estudo do seu conceito, objetivo, pressupostos e princí-
pios, além das causas de insolvência e defesas pré-falimentares.
Identificou, na segunda parte, os efeitos da sentença que decreta a falência, que gera
uma série de efeitos em relação ao falido, aos bens do falido e aos contratos do falido, bem
como o recurso cabível da decisão que decreta a falência.
Ao final, na terceira parte, estudou as ações incidentais, assim como o procedimento de
liquidação de ativo e pagamento de passivo, além do modo pelo qual ocorre o encerramento
da falência, extinguem-se as obrigações.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Amador Paes de. Curso de Falência e Recuperação de Empresa. 27ª ed., São Paulo:
Saraiva, 2017.
BERTOLDI, Marcelo M. Curso Avançado de Direito Comercial, 9ª Ed., São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2015.
BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Lei de Recuperação de Empresas e Falências: Lei
11.101/2005, comentada artigo por artigo, 11ªed. rev. atual. Ampliada, São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2015.
CAMPINHO, Sérgio. Falência e Recuperação de Empresa, 7ª ed, Rio de Janeiro: Renovar, 2015.
capítulo 5 • 135
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 3: direito de empresa. 19º ed. São Paulo:
Saraiva, 2015.
FAZZIO JUNIOR, Waldo. Nova Lei de Falência e Recuperação de Empresas, 7ª Ed., São Paulo:
Atlas, 2015.
NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa, v. 3, 10ª ed, São Paulo: Saraiva,
2015.
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 32. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. 2.º vol.
GABARITO
Capítulo 1
Capítulo 2
02. B 04. C
Capítulo 3
02. A 04. D
Capítulo 4
02. D 04. A
Capítulo 5
capítulo 5 • 136